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7. INTELIGÊNCIA
Por exemplo, a observação me mostra que você esteve esta manhã na agência postal
da Wingmore Street, mas a dedução me faz saber que, ao chegar lá, expediu um
telegrama. – Correto – exclamei. – Correto em ambos os pontos! Mas confesso não
perceber como possa ter chegado a isso. Foi uma coisa que de repente me deu na
telha, e não mencionei a ninguém. — Pois é a própria simplicidade — afirmou ele,
rindo da minha surpresa. Tão absurdamente simples que torna supérflua qualquer
explicação. Contudo, pode servir para definir os limites da observação e da dedução.
A observação me diz que você tem um pequeno torrão avermelhado preso à sola do
sapato. Exatamente em frente à agência postal da Wigmore Street, abriram a calçada,
deixando um pouco de terra no caminho, de forma que é difícil não pisá-la ao entrar.
A terra é de um vermelho típico, que, até onde sei, não se encontra em qualquer outro
lugar das redondezas. Tudo isso é observação. O resto é dedução. — Como deduziu,
então, que mandei um telegrama? — Ora, evidentemente, eu sabia que não tinha
escrito uma carta, uma vez que passei toda a manhã sentado à sua frente. Vejo, além
disso, que há uma folha de selos na sua escrivaninha e um grosso maço de postais.
Para que iria, então, à agência postal, senão para mandar um telegrama? Elimine
todos os outros fatores, e o que restar deve ser a verdade.
Dois tópicos são recorrentes no estuda da inteligência, a forma como ela é mensurada
e os modelos que buscam explicar sua estrutura e funcionalidade. Na verdade, a história da
mensuração da inteligência é totalmente intrincada com a própria tentativa de se defini-la.
Durante algumas décadas, os behavioristas consideraram que a inteligência era justamente
aquilo que os testes mediam. Evidentemente essa tautologia vai se mostrar equivocada,
principalmente com a chegada da psicologia cognitiva, por volta dos anos 1960. Ainda assim, a
história da testagem da inteligência é crucial para sua compreensão e ainda desempenha um
importante papel na psicologia nos dias atuais.
MENSURAÇÃO DA INTELIGÊNCIA
Um dos primeiros teóricos a tentar mensurar a inteligência foi o britânico Francis
Galton, que foi motivado pelo possível papel que a genética teria na manifestação da
inteligência. Pela lógica de Galton, que era primo de Charles Darwin, algumas famílias tinham
mais membros inteligentes, e até gênios, em detrimento de outras famílias que, aparentemente,
não apresentavam parentes dotados com a mesma capacidade cognitiva. Ele tomou isso como
evidência de que a hereditariedade poderia ter um papel importante na determinação da
inteligência. Claro que Galton não considerou a importância do meio ambiente, uma vez que as
famílias que tinham mais pessoas inteligentes eram justamente as que possuíam mais recursos
e, consequentemente, melhores oportunidades de educação, mais tempo para estudar, além
de serem capazes de ter acesso a materiais valiosos para a aprendizagem.
Quando chegou aos Estados Unidos, a escala Binet-Simon passou por uma revisão sob a
supervisão de Lewis Terman (1916), psicólogo da universidade de Standford, que padronizou
sua aplicação e incorporou o conceito de Quociente de Inteligência (QI) proposto por Willian
Stern (1912). O Quociente de Inteligência (QI) era a razão entre a idade mental e a idade
cronológica, multiplicada pelo valor 100. O resultado era uma proporção de inteligência que
permitia a comparação do desenvolvimento do QI entre diferentes grupos etários. O teste
passou a ser conhecido como a Escala de Inteligência Stanford-Binet, e é um dos testes de
inteligência mais populares até os dias de hoje.
A tabela a seguir adapta alguns exemplos apresentados por Sternberg (2012) para
ilustrar os tipos de itens e áreas avaliadas pela Escala de Inteligência Stanford-Binet. É
importante destacar que os itens da tabela não representam itens verdadeiros do teste, mas
apenas exemplos arbitrários que seguem a mesma estrutura das perguntas do teste.
Raciocínio quantitativo Completar série de números 1,3,5,7,9, que número vem a seguir?
Memória de curto prazo Ouvir uma sentença e repeti-la Repita a sentença: “Joana foi dormir
tarde e acordou cedo na manhã
seguinte”
Sua pontuação é feita em três fatores: uma pontuação verbal, uma pontuação de
desempenho e uma pontuação geral, obtida pelo somatório das duas anteriores. Apesar da
popularidade do teste, Wechsler não acreditava que a inteligência pudesse ser representada por
pontuações nos testes, mas que devia ser compreendida em sua aplicação na vida diária
(Davidoff, 2012). Essa distinção é fundamental para se compreender a diferença entre aplicar
um teste e realizar uma avaliação da inteligência.
A seguir será apresentada uma tabela com exemplos de como as perguntas do teste são
feitas. Da mesma forma que o exemplo apresentado para a escala de Binet, os itens da tabela
são adaptados dos livros de Sternberg (2012) e Weiten (2016) e não são itens reais do teste, mas
apenas exemplos criados para ilustração:
Ouvir uma série de algarismos e Repita esses números na ordem inversa: “8, 5, 9, 6, 3”
repetir na ordem solicitada.
Solucionar quebra-cabeças,
combinar diferentes formas para
obter um determinado objeto
Fator G
Um dos primeiros modelos estruturais da inteligência foi proposto por Charles
Spearman (1863-1945) e ainda é um dos mais defendidos até hoje. Segundo o modelo de
Spearman, que ficou conhecido como Fator G, considera que a inteligência é um grande fator
geral (G), que representa toda a nossa capacidade, e que se manifesta em habilidades
específicas (s), que dependem de treinamento prévio ou da aprendizagem. Dessa forma, se eu
afirmo que uma pessoa possui elevada inteligência (fator G), estou considerando que este
indivíduo vai demonstrar habilidades em diversas esferas, podendo ser um bom orador, escritor,
jogador ou músico, desde que tenha a oportunidade de desenvolver essas habilidades. Para que
seja um bom músico, deve ter a oportunidade de entrar em contato com instrumentos musicais,
ou até mesmo ter acesso a informações sobre a música. Da mesma forma, ser bom em
matemática requer o conhecimento prévio de equações, notações e funcionamento do cálculo
matemático. O modelo do fator geral pressupõe o potencial em demonstrar desempenho nas
mais diversas competências, mas esse desempenho depende do contexto para o
desenvolvimento das habilidades específicas.
Múltiplos Fatores
Louis Thurstone (1887-1955) propôs que a inteligência não está estruturada em um
único fator geral, mas que seria composta por sete diferentes fatores. Esses fatores seriam
capacidades mentais básicas que incorporam as habilidades de compreensão verbal, fluência
verbal, raciocínio indutivo, visualização espacial, habilidade numérica, capacidade de memória
e rapidez perceptiva.
Quadro 1. Descrição dos fatores da inteligência segundo o modelo de Thurstone.
Inteligências Múltiplas
Howard Gardner propôs a ideia de que teríamos não apenas uma, mas sim múltiplas
inteligências que englobariam diferentes capacidades e que funcionariam em módulos
totalmente independentes. Esses módulos, ao contrário do modelo de Thurstone, não são
fatores que se unem para definir a inteligência. Cada uma das inteligências funciona como um
sistema separado, embora elas possam interagir entre si quando necessário. Gardner propôs
oito tipos de inteligência, descritos no quadro abaixo:
Como o nome já sugere, a relação com a experiência se refere à interação dos três tipos
de componentes de processamento de informação com as nossas experiencias anteriores. Dessa
forma, quando uma tarefa é apresentada pela primeira vez, ela requer um maior esforço para
sua solução, mas, à medida que se torna familiar, passa a ser realizada de forma automática,
requerendo pouco esforço consciente para sua execução. Como se relaciona com o nível de
experiência individual, que por sua vez reflete diretamente na nossa capacidade de inovar,
Sternberg denomina essa relação como inteligência criativa.
Por fim, a relação com o mundo externo, também chamada de inteligência prática,
todos os aspectos da inteligência são aplicados para exercerem três funções nos diferentes
contextos do nosso cotidiano: adaptação aos ambientes existentes; moldagem de novos
ambientes; e seleção de novos ambientes. A relação com o mundo externo mostra como nossa
inteligência é aplicada ao cotidiano, em questões diversas do dia a dia. Essa parte da teoria de
Sternberg, em particular, mostra o papel fundamental do contexto e da aplicação prática da
inteligência, diferenciando-se da inteligência analítica, usualmente mensurada pelos testes de
inteligência.
Como é a primeira vez que a tarefa é realizada, ela vai requerer um considerável esforço
e dedicação (relação com a experiência), mas se for bem sucedida, certamente irá ser aprendida
e terá seu nível de dificuldade reduzido na próxima vez.
Já na relação com o mundo externo, nos dias iniciais do trabalho, você está tentando
entender como as coisas funcionam, quais as regras, como é a hierarquia do escritório, o estilo
do seu chefe e de seus colegas, bem como a forma que deve se vestir e se portar (adaptação ao
ambiente). Como sua primeira tarefa mostrou-se bem árdua, você decide que seria interessante
organizar bem seu ambiente de trabalho, comprar material adicional que possa melhorar seu
desempenho e, principalmente, fazer novos amigos que possam te orientar em suas tarefas
(moldar o ambiente). Por fim, caso isso não seja possível e você perceba que não está se
adaptando bem para aquele tipo de trabalho, pode decidir procurar uma nova função no
escritório ou, até mesmo, um novo emprego (selecionar novo ambiente).
REFERÊNCIAS:
Gleitman, H., Reisberg, D., & Gross, J. (2009). Psicologia. Porto Alegre: ArtMed.
Hockenbury, D. H., & Hockenbury, S. E. (2003). Descobrindo a Psicologia. São Paulo: Manole.
Weiten, W. (2016). Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage Learning.