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VOCÊ É INTELIGENTE?

Margot Cardoso

O conceito de inteligências múltiplas coloca luz na compreensão do que é a inteligência humana .

O questionamento da nossa inteligência é quase ofensivo. Afinal, quem não se considera inteligente?
Mas, se a pergunta for "o que é ser inteligente?", a história complica. Santo Agostinho, quando foi
questionado se sabia o que era o tempo, respondeu:
"Se você perguntar se sei, digo que sim; se pedir para explicar, digo que não sei". Creio que o mesmo
raciocínio possa ser aplicado ao conceito do que é a inteligência.
Mas, tranqüilize-se, essa dificuldade conceitual não é só sua, é partilhada por muitas pessoas, inclusive
por aqueles que ganham a vida pesquisando o assunto.

Resolva seus problemas

O conceito é amplo porque há várias inteligências. Existe a inteligência dos astros, da natureza, das
células e, recentemente, descobriram que até a ameba tem inteligência. Para a espécie humana, o conceito
mais moderno - e aceito - é : inteligência é a capacidade de resolver problemas. O indivíduo é inteligente
na medida em que é capaz de assimilar informações, processá-las e transformá-las em outras informações
úteis para ele, dar certo "Para o homem, o dar certo significa sobreviver e se multiplicar. É usar bem e
ricamente as informações do ambiente e traduzi-las em comportamentos e atitudes úteis para ele mesmo",
explica o psiquiatra Dácio Bonoldi Dutra.
Se você voltar aos primórdios da história da humanidade, se dará conta de que a capacidade de se agrupar
foi a base da sobrevivência do homem. Ora, quem atende a necessidades, muda a realidade ao seu redor, é
útil, e, portanto, supervalorizado pelo grupo. Logo, os mais inteligentes lideram, têm o poder. É por isso
que todos querem ser inteligentes. E é assim até hoje.
Conceitos à parte, o que é afinal o resolver problemas? O psicólogo Steinberg, um dos maiores estudiosos
do assunto, definiu seis componentes dos meandros da resolução de problemas.
1. Primeiramente é ter a capacidade de estabelecer objetivos (lembre-se de que o foco é atender a
determinada necessidade). Ainda usando o exemplo do homem primitivo, se o grupo tinha fome, existia a
necessidade de buscar comida. Então, o problema era como consegui-la.
2. Depois, vem a etapa de buscar informações. Onde está a comida?
3. A seguir, deve-se selecionar as estratégias. Como faço para chegar lá? De barco? A pé?
4. Definir e planejar todos os passos da estratégia.
5. Aqui entra a criatividade. Ele precisa ter flexibilidade para contornar os obstáculos que não estavam
previstos no planejamento.
6. E, por fim, a competência para concretizar o objetivo.
Este último é a principal agrura do existir humano e pré-requisito que vale ouro no mercado de trabalho.
Você deve conhecer muitas pessoas com deficiência nesta última etapa. São pessoas que começam e não
terminam, têm o hábito da procrastinação (resolvem amanhã!). Têm todos os recursos, está tudo
preparado, mas não conseguem concluir.
Se você rapidamente fez uma auto-análise, não se desespere: ninguém tem nota 10 em todos os itens.
Alguns são melhores em planejar, outros em executar, etc. Vale uma emenda óbvia: é por isso que, no
trabalho em equipe, as chances de acerto são maiores.
Claro que este é um esquema básico para efeito didático. O homem - para sua sorte ou azar - é muito mais
capaz do que isso, ele vai além de ser um simples executor de tarefas. Tem a maravilhosa capacidade de
autogestão mental, é capaz de se perceber e de se sentir como gerente da própria mente (a consciência,
que não existe em outras espécies). E o azar é que ele tem, inclusive, a capacidade de criar novos
problemas.
Defeito genético

Bem, continuamos o caminho. Inteligência conceituada, muitas teorias. Voltemos um pouco no tempo.
Vou contar a breve história da inteligência. A busca incessante por uma definição deu origem, no século
XX, ao teste de quociente de inteligência, o QI, que não só estabelecia o que era ser inteligente como
também media a quantidade, o quanto o indivíduo era inteligente.
A teoria do QI tratava a inteligência como um elemento único, mensurável e estanque. Era um beco sem
saída. Se você nascia com QI alto, ótimo. Você era predestinado ao sucesso e seria feliz. Se não, coitado!
Era quase um defeito genético, não tinha conserto, o fracasso era certo. Como se acreditava que era
congênito, ninguém fazia nada, nem pais, nem educadores. E realmente a profecia se confirmava.
O teste de QI foi amplamente divulgado e valorizado. Porém a história do QI começou a ruir. Como? Seu
resultado prático. Percebeu-se que as pessoas que tinham um QI alto não necessariamente alcançavam
sucesso pessoal ou profissional. Ao contrário, muitas não conseguiam nem se relacionar. Seres
considerados superdotados de inteligência transformavam-se em pessoas infelizes, profissionais
fracassados e socialmente inaceitáveis.
Começaram a desconfiar da confiabilidade do teste (vale lembrar que o teste de QI é semelhante a uma
prova tradicional), e as buscas continuaram.

Alívio nas descobertas

No início da década de 80, o pesquisador americano Howard Gardner desvendou o mistério com a sua
teoria das estruturas da mente. O psicólogo dizia que não havia apenas as inteligências verbal-lingüistíca
e lógico-matemática (as únicas medidas pelo teste de QI). O pesquisador afirmava que elas eram
múltiplas. Eram sete inteligências. Gardner acrescentou a sinestésica-corporal, a musical, a visual-
espacial, a intrapessoal (autoconhecimento) e a interpessoal (relacionamento). Além disso, aliviou um
grande fardo: Gardner declarou que todos nascem com o espectro de todas essas inteligências, que são
desenvolvidas de acordo com os estímulos.
Nem é preciso dizer que as descobertas do pesquisador caíram como uma bomba na área da educação e
que, 10 anos depois, Gardner lançou o livro Inteligências Múltiplas - a teoria na prática, fruto da
observação de suas teorias aplicadas nas escolas. A partir daí, suas descobertas foram assimiladas,
discutidas e aceitas pelo mundo.

Base na neurologia

Como o pesquisador fez esta divisão? Simples. Ele localizou cada uma delas dentro do cérebro humano.
Antes que você pense que Gardner foi um sanguinário perfurador de crânios, um esclarecimento para que
você possa entender como foi feito o mapeamento das inteligências.
Gardner estudava indivíduos portadores de AVC (acidente vascular cerebral), popularmente conhecido
como derrame, e associava a parte lesionada do cérebro com o tipo de deficiência apresentada.
"Cada uma destas inteligências/habilidades humanas tem uma localização cerebral e é por isso que elas
são vulneráveis a lesões", completa Dácio Bonoldi.

Janelas que se fecham

A má notícia destas descobertas - pelo menos para o adulto - é que cada uma destas inteligências tem
históricos de desenvolvimento diferentes. Isto é, há determinado prazo para elas serem estimuladas. "É
quando o cérebro está ávido por informações", explica Dácio. Expirou o prazo, adeus. É como se elas
tivessem data de validade. Gardner chamou o fenômeno de Janelas de Desenvolvimento. Sabe-se que a
janela da Inteligência musical é a mais precoce. Manifesta-se mais cedo e também expira mais
rápido."Talvez porque esteja associada a etapas do crescimento humano. Primeiro, a criança balbucia,
canta, para depois falar", explica Dácio.
Depois vem a janela do código verbal. Calcula-se que esta janela permanece aberta até os 12 anos. Por
exemplo, crianças que aprendem um segundo idioma antes desta idade, conseguem uma fluência quase
que perfeita. Cabe aqui uma constatação amarga. Este estudo tem de 15 a 20 anos, e as escolas continuam
inserindo o aprendizado do inglês no ensino médio por volta dos 14, 15 anos.
Não se sabe ao certo a idade do apogeu e da queda de cada uma das inteligências. Isso ainda está em
estudo, mas a regra é que, quanto mais cedo a criança for estimulada, mais inteligente ela será.
"Fala-se que nas escolas faltam proteínas, e as verbas vão para a merenda escolar. Mas também falta o
estímulo na hora adequada, e todas estas teorias estão gritando para serem aplicadas", conta Dácio. O
psiquiatra fala com conhecimento de causa. Ele coordena um projeto de implantação de Inteligência
Emocional na educação. O experimento está sendo aplicado na Escola Estadual Guilherme Kulmahn,
patrocinado pela Fundação Siemens. "O projeto está no quarto ano e está sendo ampliado com a aplicação
das inteligências múltiplas", completa ele. O projeto está sendo visto. Ganhou duas menções honrosas (98
e 99) na categoria Educação do Prêmio Eco.

Ainda dá tempo!

Já sei o que está se passando pela sua cabeça. Acha que é tarde demais e que você é um caso sem
solução? Calma, não é bem assim. Estas janelas têm prazo de validade, mas elas nunca se fecham
completamente. E melhor: as inteligências intrapessoal e interpessoal, que compõem a inteligência
emocional, praticamente permanecem escancaradas quase que durante toda a sua existência.
Todas, independentemente da idade da pessoa, podem e devem ser constantemente treinadas e
estimuladas. Comece já. A partir daqui, você conhecerá cada uma delas e o que você pode fazer para
desenvolvê-las.
Verbal-lingüística

É a capacidade de se comunicar através de símbolos, pela palavra falada e escrita. Os contemplados com
esta inteligência têm o dom da comunicação. Apenas com o uso da palavra são capazes de persuadir e
sensibilizar leitores, ouvintes ou interlocutores.
Advogado, político, jornalista, vendedor e orador são algumas das profissões que mais exigem esta
inteligência.
Para não incorrer no erro do maniqueísmo, vale dizer que quem consegue deixar alguém louco de raiva,
sabe provocar, ferir com a palavra, também é um inteligente verbal-lingüístico. Quer um exemplo? O
maníaco do parque, assassino confesso de várias mulheres. Muitos não entendem como alguém poderia
cair em uma armadilha tão banal. Pouca instrução das vítimas? Sabe-se que entre elas havia duas
advogadas. O segredo? Seu alto poder de comunicação. Em uma entrevista concedida direto de sua cela, o
maníaco exibia suas armas: articulado, envolvente, sedutor. Resultado da entrevista? Ibope nas nuvens e
várias cartas de mulheres solidárias à sua existência atormentada.

Como treinar - Há várias formas de desenvolver esta inteligência, que podem ser utilizadas durante toda
a vida. "É importante ter um programa de leitura de qualidade. Por exemplo, gostar de um autor e
procurar ler todas as obras dele. E mais que isso, contar ou escrever sobre o que você leu. Alfabetizar
alguém. Quando você ensina, necessariamente presta atenção em todos os passos do processo inteligente.
Mais consciente destas etapas, você vai usá-las com mais destreza. É por isso que quem ensina sabe mais.
"É um ótimo exercício", explica Dácio.
Aprenda palavras novas. Anote durante o dia e, quando chegar em casa, pesquise o significado. Em cinco
ou seis anos você terá o vocabulário de um escritor.
O psicólogo Dartan Gravina, consultor em desenvolvimento humano, explica que o vídeo fornece alguns
recursos. "Assista a um filme sem som, tente imaginar o que eles conversam e depois repasse a fita.
Quanto mais próxima for a sua percepção do diálogo, mais desenvolvido você é. Ah, também alugue
alguns filmes mudos", sugere.
Uma das deficiências no desenvolvimento desta inteligência, segundo Dartan, é a fala. "No ensino formal
não existe nada para o desenvolvimento verbal, daí a distância entre a comunicação verbal e a escrita.
Quando vemos alguém falar certo, próximo à escrita, costumamos chamá-lo de chato, pedante. Não
esqueça que a inabilidade para a comunicação verbal traz muitos prejuízos, basta perceber os problemas
de relacionamentos causados por mal-entendidos".
Dica? Matricule-se em uma oficina de teatro. Você vai desenvolver sua dicção, sua performance e a
habilidade para falar em grupo. O ganho pessoal é muito grande", diz. Se você quer começar de forma
mais light, comece sendo mais ativo nas reuniões, prepare um tema e fale para o grupo.

Lógico-matemática

Estamos falando da capacidade de resolver problemas através de cálculo numérico, o pensamento lógico.
Já ouvi várias pessoas argumentando que não têm esta inteligência porque são ruins de matemática.
Devagar, esta inteligência não é tão exata assim.
Por exemplo, quando você assimila que, na vida, para toda ação existe uma reação, este é um pensamento
lógico. Você tem o dom da escrita e elabora ótimos relatórios? Saiba que todo relatório exige uma
estrutura lógica muito apurada.
O psicopedagogo Nilbo Ribeiro Nogueira, autor do livro Uma prática para o desenvolvimento das
múltiplas inteligências e mestrando em "Inteligências múltiplas aplicadas às novas tecnologias", alerta
que as inteligências acontecem simultaneamente. Às vezes, uma ação exige vários tipos de inteligências,
elas se interelacionam e se completam.
Por exemplo, você é advogado, não trabalha com números, por isso não precisa desenvolver essa
inteligência. Engano. "Um advogado precisa de muita lógica para estruturar seus argumentos. Ele usa a
inteligência verbal-lingüística, mas é o raciocínio lógico que dá sustentação e força ao discurso. Há
brilhantes advogados de defesa que conseguem absolver seu cliente porque convencem o júri de que o seu
cliente precisava matar a mãe para participar do baile dos órfãos", brinca Nilbo.
O caso citado do maníaco do parque: sua habilidade verbal-lingüística de nada valeria se ele não tivesse
também a inteligência interpessoal (de que falaremos adiante).

Como treinar - Se a aplicação não é tão perceptível, o estímulo desta inteligência é óbvio. Jogue xadrez,
batalha naval, aprenda a usar o ábaco, faça previsão de cálculos estatísticos, aprenda qualquer linguagem
de computador, faça relatórios, resolva charadas, etc.
E mais que isso: detalhe o pensamento lógico, estimule-o. "Jogue batalha naval e pergunte ao seu
adversário que raciocínio ele usou para dar aquele tiro", exemplifica Dartan. Um alerta para os espertos
imediatistas: não pense que basta comprar um tabuleiro de xadrez, jogar duas vezes e o problema está
resolvido. Há muitas formas de treinamento e todas exigem muito tempo. O trabalho deve ser contínuo e
com vários instrumentos.
"Leia livros que falem sobre descobertas e invenções da ciência. Neles, os cientistas contam como
raciocinaram para chegar às suas descobertas. Você aprende modelos de raciocínio, como o cérebro
funcionou e generaliza para o seu cotidiano", acrescenta Dácio.
Aproveito para dar o serviço completo. Dicas de leitura: O universo, de Isaac Asimov, que conta todo o
entendimento do universo pelo homem de um jeito muito didático para leigos, e As grandes descobertas
da medicina, que, além de ser um ótimo exercício de aprendizado, permite que você ainda conheça um
pouco da sua "máquina".

Corporal-Sinestésico

Acertou. É a inteligência dos atletas, dos bailarinos. Mas não são apenas eles os grandes privilegiados
com esta dádiva. Não esqueça que usamos muito o corpo para a comunicação, e ela faz parte da nossa
sobrevivência. "Cuide mais do seu corpo, imagine que você pode resolver problemas com ele", aconselha
Nilbo.
Quando falamos em corpo, estamos falando de forma holística. Aí está incluída a capacidade de manusear
objetos (como o marceneiro, o cirurgião, etc.), a percepção do paladar (gourmets, chefs de cozinha), etc.
"Sem contar que quem tem a habilidade para lidar com o corpo, sentir o corpo, quem tem consciência
corporal, tem mais saúde, vive mais e melhor, porque, no desequilíbrio, o corpo inteligente se auto-regula,
portanto não adoece", afirma Dartan.
Quando falamos em saúde do corpo, entenda também "postura correta". Não subestime o poder da
postura. Quer ver? Ande muito tempo de cabeça baixa e você ficará triste. "Daí a analogia de estados
emocionais com a postura. Quando alguém está deprimido, se diz que o indivíduo não vê o horizonte, que
fulano está derrubado... E, para consolar e dar ânimo, o caminho é o oposto: Vamos, levante a cabeça,
peito para frente, encare o problema", detalha Dartan Gravina.
Afinal, se você não cuidar do corpo, onde você vai viver? Não esqueça que o corpo é o lugar onde
acontece as nossas experiências biológicas, emocionais e sociais.
Como treinar - Pratique qualquer tipo de esporte, artes marciais, dance, corra, ande na grama, na areia,
mova-se em todos os sentidos. Lembre-se de que as inteligências atuam simultaneamente, e o estímulo
também pode ser plural. A oficina de teatro, sugerida para a verbal-lingüística, também é excelente para
você aprimorar a inteligência corporal. O cinema mudo também é uma excelente ferramenta para você
usar com destreza seu corpo na comunicação. O mestre Reinaldo Polito afirma que o corpo é responsável
por 85% da comunicação. Não menospreze o poder da linguagem do corpo.
Para treinar o paladar, experimente comidas diferentes e estude o gosto. Deguste alimentos e bebidas de
olhos vendados e tente adivinhar o que são. Parece brincadeira, e é, mas que mal há nisso? Siga o
exemplo das crianças, que usam a brincadeira para aprender, compreender e experimentar o mundo.

Musical

É a inteligência que dá a capacidade de compreensão do ritmo, dos sons. O.K. Se você não é músico e
acha que não precisa se preocupar em desenvolver esta inteligência, reformule. Historicamente, a música
foi muito utilizada para coesão e mobilização de grupos humanos. Os soldados iam para a guerra
cantando marchas, estas serviam para fortalecer a união e impor um ritmo.
Havia os gritos de guerra, que até hoje são usados por equipes esportivas. Atualmente, a música ainda tem
esta aplicação nas artes. Em espetáculos e filmes, a música é usada para mobilizar a emoção da platéia
(começa a música e todos choram) ou como ferramenta para criar determinado ambiente. O casamento
tem um fundo musical, e por aí vai.
Hoje, sua aplicação para mobilizar quase não existe. Mas descobriram outras serventias. Há, por exemplo,
tratamentos à base de música, como a musicoterapia. Segundo Dácio, a música muda o clima emocional
das pessoas, daí ser usada para o combate ao estresse. A serenidade proporcionada pela música espanta
conflitos e esvazia a mente, deixando o homem livre para criar, pensar, e tudo flui melhor. O ser humano
não aproveita muito o potencial da música.
Um adendo: claro que não estamos falando de qualquer tipo de música. O barulhento metal e o irado rap,
óbvio, não podem ser usados para combater o estresse. Mas podem, claro, dar ritmo à sua corrida no
parque, à aula na academia, etc.
Já que toquei no assunto - só para você ter uma idéia do poder da música - alguns radicais, que afirmam
que o rock incita a violência, não estão totalmente errados.
Mais um detalhe, a inteligência musical também é muito usada na comunicação. Como? Você já ouviu
expressões do tipo: "Isso não me soou muito bem" ou "o timbre da sua voz falou outra coisa (referência a
uma informação contraditória)". Percebeu? A inteligência musical é uma espécie da carta na manga da
fala, dá um certo refinamento, dá sutileza à comunicação.
Convenceu-se do poder da música? Então, comece seu treinamento.
Como treinar - Aprenda a tocar um instrumento (também um exercício lógico-matemático), ouça
músicas de ritmos variados, preste atenção à letra de uma música, vá a um karaokê, participe de um coral
e faça (por que não?) a linha Hermeto Paschoal. Extraia música de vários objetos.

Visual-Espacial

Inteligência responsável pela sua capacidade de se orientar no mundo físico. São pessoas que conseguem
construir mentalmente um mundo e operar nele.
Esta inteligência é mais aguçada em decoradores, arquitetos, outros profissionais da construção civil e até
no webdesigner. "Pergunte a um pedreiro de quantos tijolos ele precisa para fazer determinada parede. A
resposta será muito próxima da exatidão. Ele pode não ter sido estimulado na inteligência verbal-
lingüística, mas a vida o estimulou a ser um bom pedreiro e ele desenvolveu esta inteligência", detalha
Nilbo.
Só para estes profissionais esta inteligência é importante? Não. Ela é fundamental para você dirigir, por
exemplo, orientar-se nas ruas, estacionar. "Esta é a grande prova de que as inteligências são treináveis.
Lembra quando você começou a dirigir, como era difícil?", questiona Dartan.
Sem contar que esta foi uma inteligência decisiva para estarmos aqui hoje. Já imaginou o homem
primitivo? Há dias maquinando a captura de um mamute, várias luas de perseguição, finalmente ele abate
sua presa e... não consegue achar o caminho de volta. Sua família faminta, o animal em estado de
deterioração e o "burro visual-espacial" perdido.

Como treinar - Faça a planta da sua casa, do seu escritório, analise um objeto e imagine-o sob várias
perspectivas. Adquira o hábito de consultar um mapa quando precisar ir a um lugar novo.

Intrapessoal*

Acabamos de chegar ao terreno das emoções. A inteligência intrapessoal é a capacidade de reconhecer e


lidar com seus sentimentos enquanto eles estão ocorrendo. Esta habilidade também atende pelo nome de
autoconhecimento, o ponto de partida do crescimento e da implementação de mudanças. "É a capacidade
de se reconhecer, saber o que você tem de bom e de ruim", conta Nilbo. "É a história do chato que vai
continuar a ser chato por uma razão simples: ele não sabe que é chato", continua ele.
Para explicar, Nilbo usa sua própria história. "Evitava falar em público e só depois de muito tempo
descobri que morria de medo. Problema descoberto, fui atrás da solução. Estudei, descobri técnicas,
treinei e perdi o medo. Há dois anos descobri que tenho facilidade para escrever, hoje tenho seis livros
editados. O autoconhecimento é o passo primeiro do aprendizado. Se eu não tivesse me conscientizado
das minhas falhas, jamais teria estes diferenciais".

Como treinar - Dácio Bonoldi explica que é fundamental que você tire um tempo para a introspecção.
"Pense no seu dia, no que fez, por que fez, que sentido está tendo a sua vida, se as suas atitudes estão
coerentes com os seus valores e quais são estes valores. O que é mais importante para você? Preste
atenção nas suas contradições". Ufa! Que labirinto!
Dácio afirma que livros sobre reflexões de vida também ajudam muito. Obras que tratam das emoções,
como Crime e Castigo, de Dostoievski, Acima de qualquer suspeita, de Scott Turow ,ou qualquer obra de
Machado de Assis são excelentes fontes de autoconhecimento.
Tenha e cultive um interlocutor com quem você possa falar sobre o que sente. "Infelizmente o mundo
hoje não favorece este tipo de prática. Estamos em uma época de muita preocupação com o futuro.
Falamos muito de planos, do que vamos fazer. O mal deste comportamento é que o referencial é externo,
então deixamos de saber o que queremos", diz ele.
Cada um deve buscar se conhecer. Pode ser através de uma terapia com um profissional habilitado. As
conversas e a troca de experiências com pessoas também são importantes para o autoconhecimento.
Dartan reconhece que se expor não é uma tarefa fácil, envolve muitos riscos. "Escapar do superficial é um
campo delicado e requer muita força, coragem e honestidade emocional. Porque você abre a guarda, dá
espaço para a crítica e, às vezes, não é fácil lidar com ela", completa ele.
O ideal é buscar o caminho do meio e não se abalar quando se deparar com seus esqueletos no armário.
Lembre-se de que o mal é coletivo, todos passam por isso. Console-se ouvindo Gal Costa cantar que
"cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Dartan Gravina argumenta que hoje se recorre muito a livros de auto-ajuda. Cuidado, alerta ele. "As
pessoas estão indo longe demais com isso, virou uma febre. Decorar frases feitas não resolve, as pessoas
não podem viver de pronto-socorro, de paliativos. Elas precisam de processos contínuos, de educação
profunda", diz.

Interpessoal*

Estamos olhando através da "janela" que nunca se fecha: a capacidade de lidar com outras pessoas e,
através delas, implementar e realizar determinados objetivos. Presenciamos esta inteligência em ação
todos os dias, desde o surgimento do homem no planeta. São os líderes que sabem persuadir e envolver, o
político que muda o discurso, dependendo do público.
Ah, essa é boa! Além de ser exímio manipulador da fala, ter pensamento lógico, ser forte fisicamente,
etc., ainda tem mais esta? Tem. Quer ver como essa inteligência é importante? Imagine um político que
domina a comunicação como ninguém, tem discurso perfeito. Só que seu público é composto de várias
pessoas, de vários segmentos sociais. Ele precisa conhecer os sonhos e as necessidades de cada grupo e
ter um discurso próprio para cada segmento. Outro exemplo ao avesso são os doutores e Ph.Ds. Eles
reúnem uma platéia, falam e ninguém entende nada.
Sobre a liderança, você viu recentemente que Milosevic, presidente da iugoslávia, foi enxotado pelo
povo. Adiantou ele estar no poder? O líder precisa ser reconhecido por seus liderados e isso só é possível
se ele tiver a inteligência interpessoal.
Como se consegue isso? "O ponto que considero vital é a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do
outro, de sentir o que o outro está sentindo. É a filosofia do líder moderno, o coach. Ele tem um
relacionamento pessoal com o liderado, entende e sente o que o outro está sentindo e, quando volta ao seu
papel de gerente, é muito mais eficiente para ajudar na qualidade e na quantidade do trabalho dele",
esclarece Dartan.
Esta inteligência, por exemplo, é a base do treinamento dos profissionais que atuam em atendimento ao
cliente. Sem empatia é impossível o bom atendimento.

Como treinar - Experimente todos os tipos de atividade em grupo, equipes de trabalho, de discussão,
esportes coletivos, participe como voluntário de grupos de apoio (tipo CVV). Depois faça uma análise
sobre qual foi a sua contribuição para o grupo, o que você fez para melhorar o seu local de trabalho.
"Conheça uma pessoa nova por dia (ou uma por semana), estabeleça vínculos, pratique 15 minutos por
dia de escuta ativa. Como se faz? Você escuta, dá mais linha para o seu interlocutor fazendo perguntas
abertas, estimula para que ele se aprofunde na questão. É assim que se estabelecem níveis de contato mais
profundos. Quanto mais você aprofunda, mais conhecerá o outro", ensina Dácio Bonoldi.
 O psicólogo Daniel Goleman denominou estas duas últimas habilidades de inteligência emocional. Se
você quiser mais detalhes, leia na Vencer!, edição nº 9, "Você tem inteligência emocional?".
As pesquisas continuam...

Em tempo: Especula-se que existem muito mais inteligências e há vários estudos no mundo tratando do
assunto. No Brasil, pesquisadores da Universidade de São Paulo já acrescentaram mais uma inteligência,
a pictórica, que é a habilidade de se expressar ou resolver problemas através do desenho. Esta também é
reconhecida por Gardner, mas ele a inclui na visual-espacial, porque elas se manifestam na mesma parte
do cérebro e Gardner usou a neurologia como base para a manifestação das inteligências.
Há cerca de dois anos, outros pesquisadores acrescentaram ainda a inteligência naturalista. "É a
capacidade de enxergar outros tipos de vida, outras formas de problema na área ecológica", explica Nilbo.
É a inteligência que capacita você para amar desde o seu bicho de estimação até se preocupar com o
destino de uma floresta tropical. Um exemplo desta inteligência foi o vazamento na Petrobras. Você foi lá
limpar a asa do passarinho contaminado pelo óleo negro? Não, né? Não estou condenando, porque eu
também não fui. A maioria não enxerga como um problema seu, é do país, do mundo... Quem tem essa
inteligência vê maior, sente-se responsável, vai lá e se engaja na resolução do problema.

Auto-Avaliação de Múltiplas Inteligências

"É de suma importância que reconheçamos e nutramos todas as várias inteligências humanas, e todas as
combinações de inteligências também. Todos nós somos muito diferentes, especialmente porque temos
diferentes combinações de Inteligências. Eu acho que, se reconhecermos esse fato, provavelmente
teremos uma chance maior de lidar adequadamente com os muitos problemas com que nos deparamos no
mundo." Howard Gardner
Avalie seu potencial intelectual, levando em consideração a relação abaixo. Simplesmente leia as
afirmações que se aplicam a cada categoria de inteligência e responda s ou n para a sua situação.

Inteligência Verbal-Lingüística

( ) Os livros são muito importantes para mim.


( ) Escuto as palavras em minha mente antes mesmo de lê-las, falá-las ou escrevê-las.
( ) Aprendo e aproveito mais ouvindo rádio ou uma fita cassete falada do que com a televisão ou os
filmes.
( ) Desfruto jogos, como anagiomas, palavras-cruzadas e jogos de construção de palavras.
( ) Entretenho-me e também aos outros torcendo a língua, com asneiras sem pé nem cabeça ou piadas.
( ) Algumas vezes os outros me param e me pedem para explicar os sentidos das palavras que escrevo.
( ) Inglês, Estudos Sociais e História foram mais fáceis para mim na escola do que Matemática e Ciências.

( ) Quando eu passo por uma rodovia grande (Ex.: marginal Pinheiros), costumo prestar mais atenção nas
palavras escritas nos outdoors do que na paisagem.
( ) Meus diálogos, conversas, incluem freqüentemente referências a coisas que eu já tenha lido ou
escutado.
( ) Tenho escrito algumas coisas recentemente das quais eu estava particularmente orgulhoso e mereci até
reconhecimento dos outros.
Inteligência Lógico-Matemática
( ) Posso facilmente completar os números em minha mente.
( ) Matemática e/ou Ciências eram minhas matérias favoritas na escola.
( ) Divirto-me jogando ou resolvendo um quebra-cabeça que requer um pensamento lógico.
( ) Gosto de inventar pequenos experimentos, como, por exemplo: o que acontecerá se eu colocar o dobro
da quantidade de água em minha roseira por semana.
( ) Minha mente investiga as coisas por padrões, regularidades e seqüência lógica.
( ) Sou interessado no novo desenvolvimento da ciência.
( ) Acredito que a maioria das coisas tem uma explicação lógica. ( ) Algumas vezes penso em conceitos
claros, sem palavras e sem imagens.
( ) Gosto de encontrar faltas lógicas nas coisas que as pessoas dizem ou fazem, em casa ou no trabalho.
( ) Sinto-me mais à vontade quando algo é mensurado, categorizado, analisado ou quantificado de alguma
forma.

Inteligência Visual-Espacial

( ) Com freqüência vejo imagens claramente, quando fecho os olhos.


( ) Sou sensível às cores.
( ) Freqüentemente uso uma câmera ou uma filmadora de vídeo para gravar o que vejo a minha volta.
( ) Divirto-me montando quebra-cabeça, labirinto e outros jogos visuais.
( )Tenho sonhos nítidos à noite.
( ) Posso geralmente encontrar meu caminho quando me vejo em território estranho.
( ) Gosto de desenhar e rabiscar.
( ) Geometria era mais fácil para mim, na escola, do que álgebra.
( ) Posso imaginar facilmente como as coisas poderiam parecer se eu estivesse olhando de cima, dentro de
um avião
Inteligência Sinestésico-Corporal
( ) Empenho-me nos esportes e nas atividades físicas de forma regular.
( ) Encontro dificuldade para me manter sentado(a) tranqüilamente por um longo período de tempo.
( ) Gosto de trabalhar com as mãos em atividades concretas, como costura, tecelagem, carpintaria ou
moldes de construção.
( ) Minhas melhores idéias chegam a mim quando estou fora, em uma longa caminhada ou corrida, ou
quando estou empenhado em alguma atividade física.
( ) Freqüentemente gosto de gastar meu tempo ao ar livre.
( ) Freqüentemente gesticulo com as mãos ou as uso de outras formas na linguagem corporal quando
converso com alguém.
( ) Preciso tocar as coisas durante um tempo para aprender mais sobre elas.
( ) Poderia me descrever como bem coordenado(a) em meus movimentos.
( ) Preciso praticar uma nova habilidade melhor, a simplesmente ler sobre um assunto ou assistir a um
vídeo.
Inteligência Musical
( ) Tenho uma agradável entonação de voz para cantar.
( ) Posso perceber quando uma nota musical está desafinada.
( ) Freqüentemente ouço uma música do rádio, de fitas cassetes ou e CDs.
( ) Toco um (ou mais) instrumento(s) musical(is).
( ) Minha vida poderia ser desagradável se não existisse música. ( ) Algumas vezes me apanho
caminhando pela cidade com uma melodia de TV ou algum outro tom que persiste em minha mente, por
horas.
( ) Posso facilmente reservar tempo para um pedaço de música com um simples instrumento de percussão.

( ) Se ouvir uma seleção musical uma ou duas vezes, geralmente já fico apto a cantá-la.
( ) Freqüentemente ouço música ou canto pequenas melodias enquanto trabalho ou estudo ou quando
estou fazendo outra atividade.
Inteligência Intrapessoal
( ) Regularmente gasto tempo meditando sozinho(a), refletindo ou pensando sobre questões importantes
da vida.
( ) Tenho participado de sessões de terapia ou grupos de desenvolvimento pessoal, para aprender mais
sobre mim mesmo(a).
( ) Em geral, reajo às situações de escolha colocando obstáculos com flexibilidade.
( ) Tenho um hobby especial ou interesse em manter-me belo(a) para mim mesmo(a).
( ) Tenho alguns objetivos importantes sobre os quais eu penso em cima de bases regulares (firmes).
( ) Tenho uma visão realista de minhas potencialidades e fraquezas.
( ) Prefiro perder um fim de semana sozinho em uma cabana em uma floresta do que numa estação
fantástica com muitas pessoas em minha volta.
( ) Tenho um diário pessoal para lembrar dos eventos sociais ou de minha vida íntima.
( ) Sou autônomo ou tenho pensado seriamente sobre começar um negócio meu.
Inteligência Interpessoal
( ) Sou uma pessoa de sorte (qualidade), pois as pessoas do trabalho e da vizinhança me pedem
informações e conselhos.
( ) Prefiro esportes grupais, como handebol, voleibol ou futebol de salão, a esportes individuais, como
natação ou corrida.
( ) Quando tenho um problema, é mais provável que eu procure outra pessoa para me ajudar do que tente
trabalhar a questão comigo mesmo(a).
( ) Tenho apenas três melhores amigos.
( ) Desfruto os desafios ou as doutrinas.
( ) Considero-me um líder (ou os outros me chamam assim).
( ) Sinto-me à vontade no meio de uma multidão.
( ) Gosto de ficar envolvido em atividades sociais relacionadas com meu trabalho, igreja ou comunidade.
( ) Prefiro ocupar minhas noites com uma festa animada a ficar em casa sozinho(a).
Inteligências Múltiplas

Pense neste teste como um passo inicial para você iniciar seu processo de autoconhecimento de suas
diferentes inteligências. No final, ele lhe mostrará seu verdadeiro QI. Para um melhor aproveitamento de
suas inteligências, lembre-se:
1. As inteligências em que você pontuou mais alto indicam "como você pensa, o que aprende com mais
eficiência, seus estilos preferenciais de representação e compreensão do mundo".
2. O importante é o Cenário Completo de suas inteligências. Você pode ser um gênio matemático, um
atleta razoável, um bom leitor, um bom visualizador, um bicho-do-mato nas relações pessoais e um
surdo-mudo musical. Tudo isso junto, num "pacote" magnífico e único, que é você. Por isso é importante
você saber mais sobre cada uma delas, para não ter uma visão míope e rotulada de si mesmo que
atrapalhe seu progresso no caminho de seu sucesso.
3. Celebre seus pontos fortes. Por razões culturais, históricas, a sociedade atual valoriza os aspectos
verbais e lógicos da nossa inteligência. Você poderá reconhecer outros pontos fortes e se apoiar neles para
dar sua contribuição.
4. Preste atenção a suas inteligências ocultas. Você poderá, ao responder aos testes, redescobrir
habilidades de que se esquecera, na infância e na adolescência, que ficaram negligenciadas. Seja por falta
de demanda no trabalho, de estímulo na escola, seja por falta de valorização em geral. Reconsidere seu
aproveitamento no quadro atual e futuro de seu projeto pessoal.
5. Seja otimista em relação a suas vulnerabilidades. Todos temos nossas vulnerabilidades, nossas
inteligências mais fracas. Picasso nunca conseguiu se lembrar de todo o alfabeto. Beethoven era
extremamente desajeitado. Moisés (das Escrituras) gaguejava. Planeje para se preparar com as suas
fraquezas de modo que elas não o prejudiquem. Há modos para desenvolver suas inteligências mais
fracas.

Revista Vencer – Novembro/2000

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