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O trabalho de Howard Gardner em torno das inteligências múltiplas, publicado pela primeira
vez em 1983 no livro Estruturas da Mente (Frames of Mind), teve e continua tendo um
impacto muito grande na prática educacional de escolas do mundo todo.
Dada a sua importância, esse artigo irá abordar essa revolucionária teoria, seus conceitos,
aplicações práticas e outros aspectos que possam influenciar no aprendizado de cada um de
nós.
Você vai conhecer mais sobre cada um dos 7 tipos de inteligências — mais 2 tipos foram
conceituados em Inteligência, um conceito reformulado (Intelligente Reframed), de 1999 —
propostos pelo pesquisador da universidade de Harvard no início da década de 80, além de
aprender como desenvolver cada um deles através de exercícios de diversos tipos.
Gardner desenvolveu sua teoria baseando-se no estudo de diversas pessoas, com diferentes
trajetórias de vida, profissões e aspirações. Ele realizou entrevistas e pesquisas cerebrais com
vítimas de derrame, prodígios, crianças autistas e os chamados “idiotas-prodígios“.
Você, que já deve estar curioso para saber em quais tipos de inteligência se sai melhor, pode
fazer o teste abaixo, que encontrei no Guia do Estudante. É interessante destacar, no entanto,
que o próprio Gardner, no livro Inteligências Múltiplas: A teoria na prática, afirma não
endossar (mas nem dissociar-se) das organizações que se esforçam por criar testes,
experimentos e publicações, no sentido comercial, em torno de sua teoria (GARDNER, 1995,
p. 5).
O problema é que esse tipo de avaliação serve apenas para (des)qualificar alunos especiais,
sejam os superdotados ou aqueles com problemas de aprendizado.
O ainda frequente uso de testes de Q.I. nas escolas, por exemplo, tem contribuído muito mais
para enquadrar estudantes em categorias que a auxiliar pais e professores a identificar
características cognitivas que precisem ser desenvolvidas ou estimuladas no jovem.
Imagine você em sua sala de aula com os seguintes alunos: J.K. Rowling, Sheldon Cooper,
Elis Regina, Pablo Picasso, Ronaldinho Gaúcho, Getúlio Vargas, Chico Xavier, Charles
Darwin, e Jean Paul Sartre.
Não fossem os nomes conhecidos, certamente a maioria dos professores descreveria essa
turma como caótica e indisciplinada. Que tal se, na próxima vez que você tiver a chance de
refletir sobre suas turmas, imaginar cada aluno como alguém que conseguiu potencializar ao
máximo suas inteligências?
A própria palavra entendimento, a partir das inteligências múltiplas, passa a ser vista de
diferentes ângulos. O problema “O que é areia”, pode receber contribuições científicas,
poéticas, artísticas, geográficas e até mesmo musicais.
Todo esse processo permite que o aluno sinta-se membro atuante dentro de sua cultura, pois
atividades baseadas nas I. M. também se aterão a questões essenciais sobre a existência
humana, tais como: de onde viemos? Do que o mundo é feito? O que a humanidade já
alcançou? O que ainda pode alcançar? Como se pode ter uma vida satisfatória?
A inteligência linguística
Pessoas com inteligência linguística bem desenvolvida têm facilidade em usar a fala e a
escrita. Se você é uma dessas pessoas, uma de suas principais características é a facilidade de
expressar-se, tanto verbalmente quanto em forma de texto.
Você adora brincar com o significado e com o som das palavras, seja em forma de rimas,
trava-línguas, métricas ou combinações novas.
As pessoas o admiram pelo número de palavras cujo significado você sabe e pela facilidade
que tem de falar em público. Além disso, sua facilidade em aprender outras línguas — ou
mesmo novas estruturas em sua língua materna — sempre foram um fator que lhe ajudou em
diversas situações.
Repita a matéria em voz alta para si mesmo, use gravações com explicações de determinado
conteúdo, escreva resumos, simule a apresentação de um telejornal em que aquele conceito é
explorado em uma reportagem — use a imaginação.
Essas duas propriedades da língua vão lhe ajudar a lembrar da matéria. Pegue uma música
conhecida e escreva uma paródia que utilize o conteúdo que você precisa estudar. Veja um
exemplo de paródia sobre genética.
Eles consistem em utilizar a primeira letra de cada item e formar uma nova frase, mais fácil
de lembrar, com outras palavras que comecem com as mesmas letras. Saiba mais sobre o
método mnemônico.
Um exemplo clássico para lembrar os nomes e a ordem dos planetas do Sistema Solar
é Minha Velha Tia Mandou Jogar Sal Úmido Nas Plantas — Mercúrio, Vênus, Terra, Marte,
Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão.
Quando ler algo em voz alta, varie a entonação e crie formas dramáticas diferente.
Ao invés de usar uma voz monótona para ler aquele capítulo chato, torne o texto inspirado e
vibrante imaginando que ele seja o discurso de posse de um político, ou o monólogo de um
personagem moribundo em uma cena de teatro. Isso não apenas ajudará sua memória, mas
também sua técnica de oratória melhorará significativamente.
A inteligência lógico-matemática
Você que possui a inteligência lógico-matemática bem desenvolvida gosta de usar a razão
para tarefas complexas, reconhece padrões facilmente, bem como conexões entre conteúdos
aparentemente não relacionados.
Sua característica principal é trabalhar bem com números e outras atividades que exijam
a lógica. Você sabe usar o básico de trigonometria e matemática mesmo sem ter sido
orientado formalmente quanto a isso e impressiona as pessoas com sua capacidade de fazer
cálculos de cabeça.
Criar agendas, itinerários e listas de tarefas são formas típicas de organização dessas pessoas.
Seu modo científico de pensar o leva a, frequentemente, usar argumentos do tipo lógico ou
estatístico para defender seus pontos de vista, percebendo facilmente incoerências lógicas nas
palavras ou ações de outras pessoas, apontando-as sempre que puder — o que nem sempre é
bem recebido.
Você gosta de imaginar estratégias e fazer simulações. Jogos como xadrez, gamão e damas,
ou os eletrônicos Dune II, Star Craft e Age of Empires são os seus passatempos prediletos.
Frases típicas pronunciadas por essas pessoas refletem, além de sua característica principal, o
seu sentido de aprendizado mais desenvolvido – visual, auditivo ou cinestésico. Ainda assim,
é típico ouvirmos:
Isso é lógico.
Siga o passo-a-passo.
Siga as regras.
Não existe padrão nisso.
Vamos dividir em tópicos.
Que estatísticas comprovam isso?
Faça relações
Tenha como objetivo entender as conexões entre o conteúdo que está estudando com outros já
estudados. Entenda as razões, os motivos, as relações. Aprender não é o suficiente.
Compreenda os detalhes de cada matéria para que sua busca compulsória por novas
informações permita que você memorize e aprenda efetivamente determinada matéria.
Listas e Estatísticas
Enquanto estuda, crie listas com os tópicos principais do conteúdo. Você pode, além disso,
querer usar estatísticas para ajudá-lo a identificar áreas em que precisa focar-se mais: o
número de páginas lidas de cada assunto, o tempo que passou estudando cada capítulo e assim
por diante.
Preste atenção a sua forma física, pois você tem uma tendência enorme de supervalorizar sua
mente, em detrimento do corpo. Lembre-se que você também é um “sistema”, como todos os
demais equipamentos com os quais você lida o tempo todo.
Faça o máximo que puder para entender as relações entre diversas partes de um sistema de
modo a entender aquele conteúdo como um todo — lembre-se da máxima de que o todo é
normalmente maior que a soma das partes. Por exemplo, você pode ter um ótimo
entendimento sobre sistemas de navegação e interfaces de voo em aviões, mas pode não
compreender como isso influencia no equilíbrio da aeronave. Desenhe diagramas e faça
conexões para ajudá-lo na tarefa.
Você acha difícil mudar determinados comportamentos ou hábitos, por mais que
racionalmente saiba dos benefícios que isso poderia trazer. Para amenizar tal situação, você
pode tentar a técnica de mudar hábitos ruins (que você identificou em si mesmo) por outros
bons. A matéria de capa da revista Galileu de junho de 2012 é um ótimo guia.
Em certos momentos é possível que você analise em excesso certos aspectos de seu
aprendizado ou treinamento. Isso pode levar a uma espécie de estagnação — você estará
ocupado, mas não com algo que o ajude a alcançar seu objetivo.
Quando perceber que já gastou muito tempo escolhendo, avaliando ou planejando, pare e
tente focar-se em atividades que lhe permitam avançar em outra área. Tenha em mente que
planejar exatamente quanto tempo deverá gastar com cada capítulo do livro só faz você perder
tempo de leitura
Se você costuma sofrer com o tipo de paralisia analítica citado acima, escreva lembretes em
letras maiúsculas com “FAÇA AGORA” em torno de seu ambiente de trabalho ou estudo, em
locais estratégicos.
Esse é o tipo de inteligência mais presente nas salas de aula repletas de membros da geração
Y.
Quem possui esse tipo de inteligência tenta visualizar e conceitualizar novas ideias
mentalmente. Seu método de estudo preferido consiste em ler o material novamente e,
frequentemente, reescrevê-lo em um ambiente silencioso e sem a menor perturbação.
Para um professor, pode ser interessante prestar atenção na fala de seus alunos. De acordo
com o estilo de aprendizagem de cada um, sua estrutura de raciocínio tende a manifestar-se
oralmente. Veja como isso acontece com a inteligência espacial ou visual:
Vejamos algumas ideias que podem ser usadas por professores em sala de aula e também por
autodidatas:
Organize-se através de cores, use associações espaciais e palavras visuais como “ver”,
“visual”, “perspectiva”, “mapeamento”, etc. em suas asserções.
Use esquemas, também conhecidos como mapas mentais. Há diversas ferramentas on-line
muito boas para isso. As que eu mais gosto (que são grátis) são a MindMeister e a Mindomo.
Para momentos em que não tiver um computador à disposição, certifique-se de ter ao menos 4
canetas com cores diferentes para desenhar diagramas que resumam o conteúdo que você está
aprendendo.
Lembre-se sempre de fazer associações de forma hierárquica, para você entender rapidamente
as relações entre os diversos elementos daquela matéria. Quando possível, substitua palavras
por desenhos ou colagens.
Em suas aulas expositivas, utilize até dois elementos visuais, como um gráfico ou vídeo, para
ilustrar o conceito que está explicando. Lembre-se que suas instruções orais sempre devem ser
complementadas com outras, visuais.
Ao dar instruções sobre como os alunos devem realizar uma tarefa, abuse de elementos
visuais. Pequenas setas no quadro negro, criando uma espécie de passo a passo, farão uma
grande diferença para o aprendiz visual.
Promova atividades lúdicas que envolvam o uso de cartazes, cartões e outros elementos
visuais. Permitindo que os alunos produzam tal material você estará estimulando, inclusive, o
desenvolvimento de outras inteligências.
Portanto, palestras, atividades e instruções orais que não incluam um elemento visual podem
causar sérios problemas de aprendizagem a quem dispõe de inteligência espacial melhor
desenvolvida. O barulho é outro fator que influenciará negativamente esse processo.
Lembre-se que a abordagem das inteligências múltiplas é apenas uma das formas de
encarar como cada um de nós aprende.
Há ainda, por exemplo, os clássicos estilos de aprendizagem definidos como visual, auditivo e
cinestésico. Para saber mais sobre eles, confira nosso infográfico sobre o tema.
A inteligência interpessoal
Pessoas com inteligência interpessoal bem desenvolvida caracterizam-se por comunicar-se
com facilidade, seja verbalmente ou não.
Outras pessoas tendem a ouvi-las e procurá-las em busca de conselhos, pois são bastante
sensitivas em relação aos sentimentos e emoções dos outros, sendo capazes de ouvir e
entender seus pontos de vista.
Você que possui esse tipo de inteligência em nível elevado tem o aprendizado potencializado
através do trabalho em grupo ou, por outro lado, em aulas particulares — momento perfeito
para interagir de perto com a pessoa do professor.
Além disso, uma ótima forma de aprendizado a seu dispor é a comparação de suas ideias com
as de outras pessoas — o grupo, para você, é muito importante.
Um de seus costumes é ficar na sala após as aulas para conversar com o professor ou colegas
sobre os temas recém debatidos — novamente a atitude social como prioridade.
Entre seus interesses estão os jogos que envolvem outras pessoas, é claro, como cartas ou
jogos de tabuleiro. Nos esportes, todos os jogos em equipe, como futebol, vôlei e basquete lhe
atraem.
Um termo que tem sido bastante usado no meio empresarial é o coaching, atividade que se
refere ao ato de encorajar, apoiar, manter a motivação e acompanhar o plano de ação de seu
coachee — uma carreira perfeita para quem possui forte inteligência interpessoal.
Assim como as pessoas com inteligência lógico-matemática, suas frases comuns refletem seu
estilo de aprendizado preferido — auditivo, visual ou cinestésico. Ainda assim, há afirmações
muito características a quem ama as relações interpessoais:
Seja engajado com sua turma e utilize sua habilidade de fazer amizades para motivar colegas
a estudar com você. Caso isso não seja possível, monte um grupo de estudos próprio, com
amigos de outras turmas ou até mesmo outras escolas que tenham um nível semelhante ao
seu.
Aponte alguém que vá para o quadro elaborar o mapa conforme as ideias de outras pessoas
vão surgindo. Dessa forma, uma boa discussão pode acontecer quando vocês perceberem que
uma ideia pode contradizer ou complementar outra.
Ao trabalhar em grupos, preste atenção nos erros e acertos de cada um. Para não parecer
impertinente, em casa faça uma lista de erros e acertos de cada integrante (incluindo você) e
tenha essa lista em mente para um trabalho futuro.
Lembre-se de que num grupo há diversas pessoas que, possivelmente, possuem inteligências
diferentes e estilos de aprendizagem diferentes.
Vale a pena tirar um tempo para que cada um faça um teste das inteligências múltiplas.
Baseando-se nisso, fica mais fácil fazer um divisão de tarefas conforme a aptidão de cada
integrante.
Referências
André Gazola
André Augusto Gazola é formado em Letras, professor de Literatura e História da Arte, pós-
graduando em Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura e fundador do blog
Lendo.org.É casado e mora em Bento Gonçalves-RS.
Dispomível em http://www.lendo.org/teoria-inteligencias-multiplas-gardner/