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Resumo
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1. Introdução
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A psicanálise freudiana acreditava-se que os pensamentos oníricos são
similares aos pensamentos em estado de vigília. Porém, diferentemente de quando
estamos acordados, na manifestação onírica do pensamento o inconsciente é quem está
comandando. (FREUD, 2018/1900)
Partindo das relações estabelecidas entre as vivências oníricas e sinais e
sintomas encontrados no espectro da esquizofrenia, o presente trabalho objetiva
apresentar a relação dos sonhos no processo de diagnóstico de esquizofrenia,
apontando se há ou não evidências de marcadores específicos que influenciam nessa
relação. Para isso, propõe-se apontar as características de um diagnóstico de
esquizofrenia; conceituar o sonho a partir da perspectiva da psicanálise e da
neurociência e analisar a relação do construto sonho com o processo de diagnóstico de
esquizofrenia. Tal tema mostra-se de grande relevância a pesquisadores e clínicos
devido às semelhanças fenomenológicas.
A fim de encontrar evidências sobre a relação entre sonhos e esquizofrenia, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica, estruturada em forma de revisão narrativa. Como
estratégia de busca foi utilizada a base de dados do Google Acadêmico, Pepsic e
PubMed usando as palavras “esquizofrenia” and “sonhos” and “psicose”. A seleção de
artigos se deu considerando o espaço temporal de 2003 a 2023, com artigos que
fossem pertinentes ao tema. Não foram encontrados artigos nas bases de dados Pepsic
e PubMed. Encontrou-se 3.990 resultados no Google Acadêmico, que devido a
escassez de produção acadêmica sobre a relação dos sonhos com o diagnóstico de
esquizofrenia, optou-se por ampliar o espaço temporal para além dos últimos 5 anos.
Foram incluídos livros e artigos em português e inglês publicados nos últimos 20 anos
que fossem disponibilizados de forma gratuita no Google Acadêmico e que pudessem
contribuir para o problema de pesquisa. Foram descartados todos os livros e artigos
que não atenderam ao objetivo geral do presente estudo. Esse processo levou à seleção
de 13 artigos e três livros que foram selecionados da base de dados do Google
Acadêmico.
Levando em consideração que não há muitos artigos discutindo sobre a relação
dos sonhos no processo de diagnóstico de esquizofrenia, este artigo torna-se um dos
precursores sobre o tema, ainda que de forma exploratória inicial, o que pode
contribuir para antecipar o diagnóstico de esquizofrenia utilizando os sonhos como
uma ferramenta de análise. O presente artigo busca contribuir com futuras pesquisas
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sobre o tema e tem interesse em elucidar acerca da perspectiva do constructo sonho
para a psicanálise freudiana e para a neurociência.
Para alcançar o objetivo geral buscou-se avaliar o construto sonho a partir da
perspectiva da psicanálise freudiana e da neurociência, discutiu-se de forma
contextualizada a história da esquizofrenia apontando as características de uma
avaliação diagnóstica em casos de hipótese diagnóstica de transtornos do espectro da
esquizofrenia e outras psicoses, e por fim, foram apresentadas a relação do construto
sonho com o processo de diagnóstico de esquizofrenia.
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nível da consciência (CHENIAUX, 2006). Freud (1900/ 2018) afirma que na área da
psicologia dos sonhos, psicólogos juntamente com os médicos precisam voltar seus
olhares para a psicopatologia dos sonhos.
Nas últimas duas décadas, houve uma relativa abundância de pesquisas sobre
cognição na esquizofrenia, muitas delas formuladas no âmbito da compreensão da
neurociência cognitiva da esquizofrenia. Essa ênfase na cognição na esquizofrenia se
deve em parte ao crescente corpo de pesquisa que sugere que a função cognitiva na
esquizofrenia é um dos determinantes mais críticos da qualidade de vida da pessoa,
potencialmente mais do que a gravidade de outros aspectos/sintomas da esquizofrenia,
como como alucinações, delírios.
Menegotto e Konkiewitz (2010) mostram que as teorias sobre os sonhos com o
tempo começaram a ser mais biologicamente fundamentadas. A hipótese de
ativação-síntese proposta por Hobson e McCarley (2006) rejeita que o sonhar seja um
fenômeno mental. A hipótese da ativação-síntese propõe que os sonhos são formados
por associações e memórias produzidas pelo córtex cerebral causadas por descargas
aleatórias originadas no bulbo durante o sono. Tal hipótese confronta a teoria
psicanalítica sobre os sonhos assimilando eles a delírios.
Baird, Rolim e Dresler (2019) revisaram a literatura neurocientífica sobre sonhos
lúcidos, incluindo estudos eletroencefalográficos, de neuroimagem, de lesões
cerebrais, farmacológicos e de estimulação cerebral e na pesquisa é destacado o
quanto os sonhos são relevantes não apenas para a neurociência da consciência, mas
também pode ter implicações clínicas e científicas e mostra potencial emergente como
metodologia na neurociência cognitiva da consciência.
Uma outra hipótese apresentada por Pinheiro e Herzog (2017) defende a teoria
freudiana da realização de desejos provindos do Id por meio dos sonhos. Tal hipótese
se baseia na investigação da área tegmental ventral (VTA), que está relacionada com a
busca de recompensas e satisfação física. Quando essa área é lesionada, o paciente
experimenta modificações negativas em seus desejos (imaginação, interesse em
interagir, planejamento e iniciativa) e quando se há uma hiperativação dessa área,
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induz a pessoa a ter pesadelos e sonhos que parecem ser muito reais e a apresentarem
sintomas psicóticos, mostrando a importância dos processos mentais durante o sonho.
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perda de energia, humor depressivo, isolamento, comportamento inadequado,
negligência com a higiene, podem durar semanas e até meses antes da aparição dos
sintomas mais característicos como: alucinações, delírios, transtornos de pensamento e
fala, perturbação das emoções e afeto, déficits cognitivos e perda de motivação.
Segundo o DSM-5-TR (2023) para que seja feito um diagnóstico de
esquizofrenia, são necessárias várias alterações tanto em âmbito cognitivo quanto no
emocional e no comportamental, seguido de sinais e sintomas que associados ao
funcionamento social e profissional, fazem com que os mesmos sejam prejudicados.
Para um diagnóstico preciso, é necessário que o indivíduo tenha pelo menos dois
sintomas dos critérios adotados pelo DSM-5-TR, sendo eles alucinações delírios,
discurso desorganizado, comportamentos grosseiros, desorganizados ou catatônicos,
com persistência de até seis meses em algum desses sintomas. A esquizofrenia causa
prejuízo nas principais áreas de funcionamento como por exemplo no trabalho,
autocuidado e relações interpessoais, e se iniciada na infância ou adolescência, essas
pessoas não atingem o nível esperado de seu funcionamento.
O tratamento da esquizofrenia é através da interação entre psicoterapia,
socioterapia e intervenção medicamentosa com antipsicóticos. A psicoterapia e a
socioterapia são abordagens oferecidas e administradas de acordo com cada paciente e
o contexto em que está inserido. Enquanto a medicação pode reduzir os sintomas, o
apoio psicoterapêutico auxilia na adaptação ao ambiente e enfrentamento do estresse.
(DA SILVA, 2006).
Souza e Coutinho (2006) falam sobre o grande impacto que a esquizofrenia
causa tanto na história de vida dos diagnosticados quanto na de suas famílias e a
sociedade como um todo. A esquizofrenia acaba afetando uma grande parcela da
sociedade que é economicamente ativa, que são os jovens, o que acaba sendo algo
custoso para a sociedade. Oliveira, Facina e Júnior (2012) mostram que pessoas
diagnosticadas com esquizofrenia ainda são rotuladas e tratadas de forma pejorativa
pela sociedade, e com essa rotulação, a sociedade acaba por esquecer que a doença se
manifesta em cada indivíduo de forma diferente. É necessário que se haja uma
preocupação com a inserção dessas pessoas diagnosticadas com esquizofrenia na
sociedade, pois fatores como segurança pessoal, pobreza e isolamento social podem
acabar prejudicando e dificultando uma boa qualidade de vida.
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3.3 - A relação do sonho no processo de diagnóstico de esquizofrenia
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pessoa entrará em surto. O indivíduo esquizofrênico possui alterações
eletrofisiológicas e também neuroquímicas fazendo com que o mesmo possua
alterações no sono REM, causando uma mistura entre os estados de sonho e vigília e
impedindo que as memórias sejam processadas adequadamente.
Pandarakalam (2019) em seu artigo nos mostra que os neurocientistas têm se
empenhado em converter o conhecimento obtido com a pesquisa da esquizofrenia em
um modelo neuroquímico da mente. Infelizmente, não há modelos claros do complexo
cérebro-mente-consciência que possam ser adotados para explicar os sintomas da
esquizofrenia. É preciso mapear a consciência normal para estudar os estados
anormais. A consciência é como um grande quebra- cabeça com muitas peças ainda
faltando ou mal colocadas e que precisam ser descobertas e reorganizadas. As
perspectivas da neurociência nos estudos atuais consegue promover uma discussão de
como a atividade neuronal no cérebro causa consciência como uma aglomerado
funcional de conexões neuronais interativas no sistema tálamo-cortical que disparam
em múltiplas interações reentrantes milissegundo a milissegundo. Isso é relevante para
se obter uma explicação neurobiológica ou validação da ideia freudiana do
inconsciente (SHAW, 2016).
Já no que se refere a estudos de Psicanálise, Freud (1920) apud Chenianux
(2006) aponta que os sonhos repetidos devido a algum trauma não são manifestações
de desejos como anteriormente abordado no livro “Além do Princípio do Prazer”.
Esses sonhos, de acordo com o autor, têm como finalidade o acatamento ou
predomínio da euforia ocorrido através da recordação do trauma. Hartmann (1998)
apud Chenianux (2006) fala sobre sonhos de alguns indivíduos que vivenciaram
alguma experiência traumática e diz que os pesadelos não são uma exceção e que
formam um protótipo de todos os sonhos. Entretanto, no início constatou que não
passava de uma repetição do evento traumático, mas logo pôde-se notar que os
sentimentos de culpa ou pesar e medo permaneciam no sonho de outra forma. A
emoção era a mesma sentida no evento traumático e não tinha o estímulo sensorial
referente ao mesmo. Os sonhos descrevem a emoção dominante e a forma de
representá-la é através da pictórica. Sua suposição é que os sonhos têm a função de
reproduzir experiências traumáticas ou ameaçadoras vividas anteriormente na vigília.
Diversos autores presumem da relevância que os sonhos têm para a execução
de traumas e conflitos psíquicos, com papel terapêutico similar ao da psicoterapia.
Para elucidar a execução, tem sido utilizado o modelo da neurociência computacional.
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Acredita-se ainda, que as redes neurais se unem no sono com mais aptidão do que
durante a vigília. Portanto, essa união não ocorre de maneira aleatória, as redes neurais
seriam ordenadas pelas emoções que são associadas a outras que têm a mesma
conotação afetiva (CHENIAUX, 2006).
Segundo Parlikar, Bose e Venkatasubramanian (2019), na esquizofrenia, a
alucinação é encoberta pela percepção verídica e elas são simultâneas com o
processamento mental em andamento. Frequentemente, os sonhos não são lembrados
ao acordar e raramente afetam a experiência que a pessoa tem de si; as alucinações
ocorrem durante a vigília e não apenas são bem lembradas, mas também interferem na
compreensão que a pessoa tem de si e do mundo em que vive. Os sonhos e outras
experiências relacionadas ao sono, como a hipnagogia, compartilham algumas
características que se sobrepõem às alucinações como: descrições subjetivas como
complexidade, carga emocional e aceitação de cenários bizarros ou implausíveis, etc.;
e mecanismo neural subjacente. No entanto, existem diferenças cruciais e claras entre
os dois em características fenomenológicas e mecanismos neurais. Enquanto os sonhos
e a hipnagogia são experiências multissensoriais com modalidade visual dominando a
apresentação, na esquizofrenia, as alucinações são principalmente auditivas.
4. Considerações finais
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os sintomas psicóticos. Sintomas psicóticos são característicos da esquizofrenia,
transtorno mental caracterizado por uma série de peculiaridades que afetam a vida do
indivíduo em diversas áreas da vida. Pela observação dos aspectos analisados, a
neurociência é o campo onde encontra-se a maior parte dos estudos sobre a relação
entre o processo de diagnóstico de esquizofrenia e os sonhos.
Nesta pesquisa objetivou-se verificar a relação dos sonhos no processo de
diagnóstico de esquizofrenia, em vista que não há muitas pesquisas com o tema
proposto, este trabalho contribui para o enriquecimento do estado da arte e para
possíveis pesquisas futuras, já que o tópico recebeu atenção crescente nos últimos anos
devido à sua relevância para a emergente neurociência da consciência, dado que a
escolha do método de revisão bibliográfica foi uma das limitações encontradas durante
a pesquisa. Inicialmente denominada como demência precoce por Emil Kraepelin
(1856-1926) e posteriormente este termo sendo substituido para esquizofrenia por
Eugène Bleuler (1857-1939) com o intuito de indicar alterações no comportamento,
pensamento e emoção, o diagnóstico da esquizofrenia auxiliará no entendimento do
processo de diagnóstico de esquizofrenia, sintetizando a perspectiva da psicanálise
freudiana e da neurociência em relação ao conceito de sonho, mostrando que dentro da
neurociência há um antagonismo entre a hipótese que defende a teoria freudiana sobre
os sonhos e outra que afirma tratar-se de associações e memórias.
Sendo assim, essa pesquisa ajudará futuros pesquisadores interessados no tema a
se beneficiar desse material produzido, sugere-se um aprofundamento do tema com o
enfoque para a utilização do artigo como embasamento de estudos qualitativos,
optando por um modelo de entendimento profundo de ligações entre elementos,
direcionado à compreensão da manifestação do objeto de estudo, para analisar
pacientes que possuem ou não o transtorno mental da esquizofrenia e sua possível
correlação com os sintomas de alucinação ou delírio, estruturando pesquisas a partir de
um funcionamento fenomenológico, a perspectiva da psicanálise freudiana e da
neurociência em relação ao conceito de sonho e assim alcançando um resultado
fidedigno e como efeito enriquecer o tema futuramente.
5. Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatísticos de
transtornos mentais (DSM-5-TR: Texto Revisado). Tradução: Maria Inês Corrêa
Nascimento et al,. 5ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2023.
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BAIRD B., ROLIM S. A. M., DRESLER M. The Cognitive Neuroscience of Lucid
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Disponível em:
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<https://www.researchgate.net/profile/James-Paul-Pandarakalam/publication/3329102
76_Issue_02_Page_129-147_Pandarakalam_JP_Where_Schizophrenia_and_Consciou
sness_Intersect_Disorders_of_Consciousness_in_Schizophrenia/links/5cd19e6145851
5712e989fd6/Issue-02-Page-129-147-Pandarakalam-JP-Where-Schizophrenia-and-Co
nsciousness-Intersect-Disorders-of-Consciousness-in-Schizophrenia.pdf.>
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