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SOCIEDADE DE ANÁLISES PSICANALÍTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

INSTITUTO DE FORMAÇÃO FATEB


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CURSO DE FORMAÇÃO EM
PSICANÁLISE CLÍNICA

MÓDULO
SONHOS: ANÁLISE E INTERPRETAÇÕES

PLANO DE UNIDADE DIDÁTICO – PUD

O curso se propõe a embasar os futuros psicanalistas a noções de


interpretações de sonhos.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 SONHOS E PSICANÁLISE

A importância dos sonhos na psicanálise -------------------6 a 7

Conceitos Básicos da Teoria Psicanalítica dos sonhos------7 a 9

Os Sonhos e seus processos --------------------------------9 a 10

O Sonho à Luz da Psicanálise ------------------------------10 a 15

Os Mecanismos dos Sonhos como Forma de Realizar Desejos--


-----------------------------------------------------------------15 a 17

CAPÍTULO 2 SONHO
Sonho a mensagem do inconsciente----------------------17 a 21

CAPÍTULO 3 ANÁLISE E SIGNIFICADO DOS SONHOS


A importância ------------------------------------------------21 a 22

A Importância do Sonho na Terapia ----------------------22 a 24

A interpretação de um sonho -----------------------------24 a 28

O sonho em si é um sintoma neurótico ------------------28 a 30

O Simbolismo nos sonhos ---------------------------------30 a 35


Bibliografia --------------------------------------------------------36

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CAPÍTULO 1

SONHOS E PSICANÁLISE

A importância dos sonhos na psicanálise

Para alguns, os sonhos são uma ferramenta muito utilizada para se prever
acontecimentos ou até mesmo acreditam ser vozes de entidades divinas, devido a
isso, acaba-se despertando grande interesse nos indivíduos que cada vez mais estão
ligados a assuntos místicos, por trazerem uma carga de mistério, e por estarem mais
voltadas ao narcisismo, ao seu ego, procurando dessa forma um autoconhecimento ou
buscando uma falsa segurança, através de hipóteses e métodos falhos, embora na
realidade o significado dos sonhos não seja bem essa.
Os sonhos possuem grande importância nas terapias psicanalíticas por
proporcionarem ao terapeuta um conhecimento mais profundo do que se passa no
íntimo de seus pacientes, pois são carregados de informação sobre a vida destes e
concomitantemente oferecem ao analisando um conhecimento maior de si mesmo.
É importante ressaltar o quanto é desafiador o estudo e análise dos sonhos, pois
eles trazem ao indivíduo forte influência em sua psique, podendo em alguns casos,
alterar significativamente seu comportamento.
Os sonhos são importantes para a psicanálise. Aliás, com a publicação do livro A
Interpretação dos sonhos de Freud é que se tem inicio a história da psicanálise. Freud
deu tanta importância para essa obra que até mudou a data da edição. O livro foi
lançado em 1899, porém na contracapa ficou a data de 1900, para a psicanálise
começar junto com o século novo que se iniciava.
Até antes de Freud os sonhos tinham duas abordagens para o seu
entendimento. Ou eram considerados insignificantes, sem valor e apenas como
resíduos inúteis da mente, ou eram tratados como místicos, trazendo mensagens do
mundo espiritual ou divinas. Enfim, os sonhos não eram tratados com importância e
nem matéria digna de ser investigada.
Freud foi inovador ao postular uma interpretação diferente dos sonhos,
contrariando o que a ciência da sua época afirmava. Passou a ver os sonhos como
passiveis de entendimento e não como ininteligíveis ou como carregando significados
místicos. Ao atender pacientes, Freud percebeu que muito deles, relatando seus
pensamentos, também relatavam seus sonhos e viu que havia aí uma possibilidade de
entender melhor a mente e seu funcionamento. Só que os sonhos vêm, na grande
maior parte das vezes, confusos e estranhos e era preciso desenvolver uma maneira
de interpretá-los. Um sonho não deve ser entendido literalmente, mas sim como uma
metáfora, algo que necessita de associações para se chegar ao significado latente.

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Para se chegar ao significado de um sonho é necessária a ativa participação


de quem o sonhou. Sem isso é impossível uma interpretação. É que não existe uma
coisa tal como um catálogo dos sonhos. Para cada pessoa uma determinada coisa tem
sentidos diferentes. Se uma pessoa sonha com um objeto isso não quer dizer nem
que seja bom ou mau, é preciso investigar qual o sentido desse objeto para essa
pessoa específica. Falando de forma simples, a interpretação dos sonhos nada mais é
do que um trabalho de investigação e que pode revelar muito do inconsciente da
pessoa. Freud afirmou que o sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente. Após
Freud muitos outros psicanalistas e pensadores contribuíram muito para o
entendimento dos sonhos, enriquecendo a interpretação dessa manifestação
psicológica que tanto encanta e assombra.

Conceitos Básicos da Teoria Psicanalítica dos sonhos

Antigamente os povos primitivos acreditavam que os sonhos teriam um conteúdo


adivinhatório, que os sonhos traziam mensagens e revelações de deuses e demônios
e sendo assim, fariam vir à luz fatos que pudessem ocorrer no futuro. Era
simplesmente uma forma de se obter uma interpretação e significação do que se
sonhava, dando a eles um caráter de adivinhação. Não a respeito de quem sonhava,
mas com conteúdo geral, entretanto, estando contido neles uma carga de
acontecimentos relacionados com as instâncias divinas ou demoníacas, que tinham
como objetivo desorientar a pessoa que sonhava.
Antes de Freud se dedicar a interpretação dos sonhos, estes eram vistos como
indecifrável devido seu caráter divino ou demoníaco que lhe atribuíam. É através dos
sonhos que podemos nos encontrar com nosso eu verdadeiro, pois são através das
imagens de nossa vida onírica que entramos em contato com aquilo que realmente
somos ou queremos, mas que por diversos motivos acabamos escondendo de nós
mesmos. Para Freud não existe nos sonhos algo que lhe dê simbolismo dedutivo e que
possa assim prever o futuro e também não há nos sonhos os sentimentos morais, por
isso da importância de se interpretar os sonhos na terapia, pois eles são carregados
de emoções e sentimentos de nosso verdadeiro eu.
Antes de mergulharmos no universo de nossa vida onírica é necessário entender
os conceitos primordiais que nos levam a entender a significação de nossos sonhos.
Alguns conceitos muito utilizados em psicanálise e que neste presente trabalho
serão muito visto são a idéia de id, ego e superego e o mecanismo de recalque e
sublimação que são muito empregados nos sonhos, como forma de esconder algo ou
dar uma forma mais amena ao que realmente se quer dizer.
Segundo a teoria freudiana o id, ego e superego são estruturas da personalidade,
onde se tem que o id é o responsável pelos nossos instintos e impulsos mais primitivos
“temos, pois, que o id é o verdadeiro inconsciente ou a parte mais profunda da psique”
(CABRAL. A. NICK. E. 2006 p. 157). Enquanto que o ego é o mediador entre o id e o
superego, ele é o responsável pela relação da pessoa com seu meio circundante.

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É através do ego que aprendemos tudo sobre a realidade externa e orientamos o


comportamento no sentido de evitar os estados dolorosos, as ansiedades e punições.
(CABRAL. A. NICK. E, 2006, p.
94)

Enquanto que o superego é o autor de grande parte dos fatos reprimidos, pois é
ele que no direciona para determinadas atitudes que condizem com leis morais, com
o que deve ou não ser feito, nos segura para não agirmos de maneira instintiva e nos
priva muitas vezes de fatos que julga não ser ideal.
O superego é o representante de uma natureza superior no eu (Freud), atuando
no sentido de evitar punições por transgressões morais ou de fomentar a realização
de ideais moralmente aceitos. (CABRAL. A. NICK. E. 2006, p. 321)
Já os conceitos de recalque e sublimação pode-se fazer uma analogia a um
traficante que tenta passar a barreira do país, na primeira tentativa, ele tenta passar
pelos policias sem disfarce algum, mas é impelido a continuar pelos guardas quando
estes verificam sua documentação. Os guardas neste exemplo fizeram o papel do
recalque.
Operação pelo qual o sujeito procura impelir ou manter no inconsciente
representação (pensamentos, imagens, recordações) ligada a uma pulsão.
(Laplanche e Pontalis, 2001, p.430)

Neste exemplo, o desejo de se passar pela barreira foi recalcado tendo que voltar
a sua origem, em nosso inconsciente ocorre exatamente assim, quando algo que
desejamos não é realizado por ação muitas vezes de nosso superego, este desejo volta
para o inconsciente ficando “guardado” lá, até que algo o impulsione a sair novamente.
Já a sublimação tem papel importante neste caso, pois se o traficante tentasse
passar a barreira de maneira disfarçada e com documentação falsa, ele conseguiria de
forma muito tranqüila e sem ser pego. É assim também que ocorrem com nosso
inconsciente, muitos fatos que a primeira vista são proibidos, ele automaticamente
“disfarça” para que ao tomar consciência não nos afetem diretamente. “Freud
descreveu como atividades de sublimação principalmente a atividade artística e a
investigação intelectual” (Laplanche e Pontalis p.495). Sendo assim, nossos desejos
são realizados não de forma nua, mas configuram-se de maneira delicada aos nossos
olhos.

Os Sonhos e seus processos


Sem dúvidas podemos dizer que o marco da grande história de Sigmund Freud foi
“A Interpretação dos Sonhos”, obra na qual antes não tinha grande importância para
a ciência, e que logo após tal publicação ganhou de fato seu devido valor. Através
destes estudos, foi possível trazer ao consciente os conteúdos inconscientes, na qual
tal processo, o fenômeno sonhar, traz o inconsciente de uma forma tão reveladora e
acessível para estudo. “Temos que concordar com Freud de que, os sonhos é o

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caminho para uma estrada que leva aos recessos inconscientes e obscuros da mente”.
O sonho é um fenômeno regressivo; no qual nos devolve aos estados primitivos da
infância.
O sonho, no entanto é decorrência de fatores diários psíquicos e do sono; portanto
julgamos necessário expor o processo do sono, para depois centrarmos nossa atenção
nos sonhos, que como expôs Freud, são os guardiões do sono.
O primeiro aspecto que a psicologia descobriu em relação ao sono é que existem
dois tipos de sono: NREM ( No Rapid Eye Movements) e REM (Rapid Eye Movements).
A diferença encontra-se na observação de tal ato. Durante o sono
REM observa-se uma variação no Sistema Nervoso Autônomo, a respiração e o
ritmo cardíaco ficam irregulares e mais rápidos, a pressão arterial fica mais elevada e
há um aumento na produção de hormônios supra-renais. Dentro do sono REM, nos
meninos e nas meninas ocorre à ereção. Tais pesquisas são medidas através de um
estudo feito em laboratório chamado eletroencefalograma, na qual mede as ondas
cerebrais.
No sono REM há quatro estágios, onde cada um é caracterizado por um padrão de
ondas cerebrais. O primeiro é chamado de sono leve, com duração de alguns minutos
e é o inicio do sono, o indivíduo nesse estágio pode, dependendo do individuo, pode
dar início aos sonhos; já o segundo estágio denominado de sono intermediário, onde
há um relaxamento maior, podem ocorrer experiências sensoriais, alucinações,
exemplo disso é quando temos a sensação de que estamos caindo; o estágio de sono
profundo, assim chamado o terceiro, é caracterizado por tornar o individuo insensível
aos sons e já oferece resistência ao acordar. O quarto e ultimo estágio chamado de
sono mais profundo, há uma “total entrega”, um relaxamento total, no que diz respeito
ao individuo; é o mais profundo desligamento do mundo exterior, nesta fase pode
haver irregularidades como o sonambulismo.
O sonho é também chamado de onírico, tal conteúdo é fundamental para a
psicanálise, pois é através dele que é feito grande parte da interpretação do “conflito”
que o paciente traz para a terapia. Através da descoberta de Freud, de que os sonhos
têm conteúdos fundamentais para análise de um paciente, tiramos por concluir de que,
é através do mesmo que podemos gozar pelos nossos verdadeiros prazeres, fugir de
uma sociedade que censura e dita regras, tanto de caráter e conduta, é nele e através
dele que podemos de fato vivenciar o que realmente gostaríamos de viver.
Chama-se de sonho manifesto, a experiência consciente durante o sono, que a
pessoa pode ou não recordar depois do despertar. Os conteúdos de latente do sonho
é aquilo que ameaçam acordar a pessoa. As operações mentais inconscientes que
existem por meio das quais o conteúdo latente do sonho se transforma em sonho
manifesto, e chamamos de elaboração do sonho. Sintetizando, porém, a teoria dos
sonhos da seguinte maneira, a experiência subjetiva que aparece na consciência
durante o sono e que, após o despertar, chamamos de sonho são apenas resultados

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finais de atividades mentais inconscientes que ocorrem durante esse período fisiológico
que por sua natureza ou intensidade ameaça interferir no próprio sono.

O Sonho à Luz da Psicanálise


Diante de tantos acontecimentos vividos diariamente, tantos compromissos e
atividades efetuadas de forma sistemática, acabamos nos defrontando com o cansaço
e o stress da vida moderna. Quando conseguimos nos desligar deste mundo atribulado
e cheio de informações, só pensamos em descansar a nossa mente e o nosso corpo e
prepará-lo para uma bela noite de sono.
Quando dormimos entramos em um “processo mágico”, pois é durante o sono que
alcançamos e sentimos o poder de mergulhar em um mundo totalmente novo e
secreto: o nosso Inconsciente.
Durante o sono dispomos de forças inconscientes que nos levam a sonhar, todas
as pessoas sonham e os sonhos como nos diz Freud, são a realização de um desejo.
Desejos esses que existem dentro de cada um, mas que devido aos costumes, cultura,
educação e a moral da sociedade, foram recalcados, reprimidos ficando assim, no mais
fundo e obscuro de nosso inconsciente, só manifestando seu poder durante os sonhos.
Os sonhos á luz da psicanálise são como uma válvula de escape para nossos
desejos mais secretos, desejos vistos como proibidos por nós mesmos através do que
a sociedade nos impõe, sublimados e manifestados nos sonhos.
A interpretação dos sonhos do qual Freud se dedicou a estudar nos diz que os
sonhos são, “a principal estrada que leva ao conhecimento dos aspectos inconscientes
de nossa vida psíquica” (FREUD, 1900, apud ESTEVAM, 1995, p. 44). Freud concebe
a idéia de que um insight (intuição) de algo proibido (desejo inconsciente) só ocorre
uma vez na vida.
Os conteúdos inconscientes sempre estiveram presentes e se manifestam em
nossa vida de diversas formas, entretanto, essas manifestações inconscientes só
tiveram total atenção com os trabalhos de Freud sobre a interpretação dos sonhos,
que até então era desprezada pelos cientistas da época.
Freud sempre focalizou aquilo que durante milênios foi o “ponto cego” de nossas
percepções, sentimentos e pensamentos, aquilo que, de certa maneira, sempre
esteve presente e ao que, no entanto, recusávamos conferir a dignidade de nossa
atenção. (MONZANI,
1989, p.57)

Os sonhos possuem conteúdos manifestos e latentes e fazer a distinção destes


conteúdos para Freud foi um canal de encontro para a estranheza das pessoas que
deparavam com seus pensamentos. Pois, os conteúdos latentes dos sonhos, indicavam
manifestações do inconsciente e eram necessários métodos exclusivos para se
entender o real significado, feito isso, os sonhos acabavam se revelando como desejos

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inconscientes sempre com material recalcado e infantil indicando uma relação com
algo de caráter sexual.
Entender os significados dos sonhos a priori foi de extrema importância para a
teoria psicanalítica, pois através de suas interpretações, foi possível desvendar o
material oculto de cada individuo e concomitantemente entender a sua construção
psíquica. “Freud compreendia que tudo o que sabemos a respeito de nós mesmos
representa apenas uma pequena parte daquilo que somos na realidade” (ESTEVAM,
1995, p. 46). Os sonhos aparecem como forma de externalizarmos conhecimentos que
possuímos, mas que insistimos em dizer que desconhecemos.
Os sonhos configuram-se como métodos de descargas de pensamentos, que são
sublimados para que dessa forma não afetem diretamente nosso imaginário, por isso
muitos sonhos são vistos como absurdos e ilógicos à primeira vista, embora seja
totalmente o contrário. O material dos sonhos possui conteúdo psicológico
fundamental para o estudo da mente. Como nos diz Freud “O sonho possui um
sentido”. (FREUD apud ESTEVAM, 1995, p. 47).
Para se analisar os sonhos são imprescindíveis que não se direcione a atenção
somente aos conteúdos manifestos, mas principalmente nos conteúdos latentes dos
sonhos, pois é ai que se encontra seu verdadeiro significado. “O conteúdo manifesto
é, assim, uma espécie de tradução resumida do conteúdo latente; um trailer de um
filme de longa-metragem” (FORRESTER, 2009, p.12).
Acontecimentos recentes (resíduos diurnos, elementos transferências) se ligam a
lembranças do passado, inclusive a “fantasias ou lembranças encobridoras”
temporárias – ou, quem sabe, mais permanentes. (FORRESTER, 2009, p. 79)

Portanto, dar atenção aos sonhos e aos seus significados é ao mesmo tempo dar
atenção aos conteúdos mentais que foram recalcados e sublimados da consciência pela
ação de nosso ego e superego, pois é nos sonhos que nossos desejos primitivos e
instintivos (id) encontram vazão para conquistar seu lugar ao sol.
Ao falarmos de sonho, estamos nos referindo ao termo “sonho manifesto”, que é
quando o indivíduo faz o relato do que vivenciou dentro do sonho, logo após ter
acordado, ou seja, é o ato de lembrarse. Quando nos referimos ao que o sonho traz,
seu significado, dizemos que este ato é especificado como “conteúdo latente do
sonho”.
O conteúdo latente do sonho é a primeira parte do processo de sonhar formado
por três componentes: I- impressões sensoriais noturnas; II- pensamentos e idéias
relacionadas às atividades do dia (fragmentos do nosso cotidiano, antes de pegamos
no sono); III- impulsos do ID.
São as impressões sensoriais do indivíduo que se referem ao que os sentidos
capturam mesmo durante o período de dormência ( os barulhos ao seu redor; seus
desejos, como beber água, calor, frio,etc.) tudo o que podemos adquirir nesse estágio
se refere ao conteúdo latente do sonho.

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Em relação aos pesadelos, eles foram um dos maiores desafios que Freud
encontrou, ele era a prova de fogo que desafiava a doutrina do pai da psicanálise.
Pensando que o sonho era a realização de um desejo reprimido; não poderíamos sentir
a tristeza, ou seja, o desespero e a angústia do pesadelo, se de certa forma o objetivo
central do sonho era a realização do próprio desejo e por conseqüência a nossa
realização.
É em nossos sonhos que procuramos realizar os nossos mais profundos e sinceros
desejos que, se feitos à luz do dia seriam motivo de vergonha e horror para aqueles
que junto conosco compõem uma sociedade impostas de valores e conceitos. Quando
temos o ato de fecharmos nossos olhos, temos isso como um passaporte para outro
país, o país das maravilhas, bom de certo modo a maravilha que gostaríamos que
fosse nossa vida.
Entrando profundamente nesse vasto mundo de desejos reprimidos e não
realizados; fazemos um mergulho direto para nosso inconsciente, ou seja, para dentro
de nós mesmos, tentando procurar o máximo de realização.
Há dentro de nós certo grau elevado de aspirações sociais; tendências em que
somos criados, e que cria em nós mesmo certo tipo de censura.
O pesadelo se dá quando há uma satisfação consciente da personalidade que visa
os princípios morais, em vez de haver uma satisfação dos desejos reprimidos
instintivos. Buscamos em primeiro lugar a “tranqüilidade” em estabelecer uma
satisfação com nossa consciência moral do que com nossos desejos, é assim que
acontecem os pesadelos.
Os desejos que provocam os sonhos não são; freqüentemente; desejos aceitos pelo
consciente; ao contrário, são desejos que ele combate, reprime e censura. Por
conseguinte, o retorno desses desejos recalcados, embora seja uma causa de
desprazer para a parte superior. Esquecemo-nos freqüentemente que o homem é
um ser duplo, disputado por tendências de sentido contrário. A censura reage pela
angústia quando ela não pode dominar o desejo animalesco que sobe das
profundezas do inconsciente. (ESTEVAM, 1995, p. 61-62.)

Os fatos que em si visam os princípios morais nos angustiam e nos desesperam a


certo ponto em que acordamos, e quando isso não ocorre, vivenciamos um sonho em
que se torna “torturante” e mesmo embora sua principal função seja o de dar prazer,
ficamos expostos ao desgosto de um sonho não prazeroso.
O pesadelo é freqüentemente a realização não velada de um desejo, mas de um
desejo que, em vez de ser bem vindo, foi repelido e recalcado. A angústia que
acompanha a realização desse desejo recalcado mostra-se mais forte do que a
censura e de que ele esta realizando ou vai se realizar, contrariando a censura. O
sentimento de angústia diante da força desses desejos que, até aquele momento,
tínhamos conseguido reprimir. (ESTEVAM, 1995, p.63)

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E por que não nos lembramos do sonho? Por que só tomamos ciência dos sonhos
logo após acordamos; ao refazer o ato de relembrar do mesmo, temos a sensação de
que sempre há algo a mais, isso significa que lembramos fragmentos deste sonho.
Acontece na maioria dos casos o ato de saber que se sonhou; mas sem saber o
que foi sonhado. Podemos associar esse fato do esquecimento do sonho em relação a
“excitação” tanto referente ao dia a dia quanto aos fragmentos em que nosso sonho
nos proporciona, isto é; quando estamos acordado nos esquecemos de muitas
sensações e percepções de imediato; seja talvez pela quantidade de excitação que
damos as mesmas, a importância, a atenção dada a certos detalhes do cotidiano em
que demos menos energia psíquica, tem menos influência em nossa mente e psique,
isso se aplica as imagens oníricas, as partes esquecidas, são aquelas em que os nossos
desejos se manifestam com menos intensidade, a energia psíquica que damos a tal
desejo em que nosso inconsciente não lhe dá a atenção que dá a imagens que temos
como mais interesse; mas o fato da intensidade aplicada as percepções, não é o
suficiente por si só, para determinar se uma imagem onírica será lembrada ou não.
Logo após o despertar o mundo do lado de fora, faz como uma “pressão” sobre os
sentidos e se apossam de imediato das atenções do individuo; fazendo com que muitas
poucas imagens conseguem resistir. ”Os sonhos cedem ante as impressões de um
novo dia, da mesma forma que o brilho das estrelas cede à luz do sol.” (Freud, 1900,
p. 63)
Há um fato em que é fundamental para que se lembre dos sonhos, é necessário
interesse pelos mesmos, o indivíduo em que se aplica mais na interpretação de seus
sonhos, por conseqüência passará a sonhar mais, isto
Significa que ele passou e passará a sonhar mais nitidamente e com muito mais
freqüência lembrará seus sonhos. “Como o fato que, quando um sonho parece pela
manhã, ter sido esquecido, ainda assim pode ser recordado no decorrer do dia, caso
seu conteúdo, embora esquecido, seja evocado por alguma percepção casual” (FREUD,
1900, p. 63)
Os Mecanismos dos Sonhos como Forma de Realizar Desejos

Como já vimos, os sonhos possuem conteúdo manifesto e latente e a forma com


que o sonho se apresenta para que seu conteúdo latente se traduza em manifesto,
Freud deu a isso o nome de trabalho do sono.
Existem quatro tipos de mecanismos sendo eles, a condensação, o deslocamento,
a dramatização e a simbolização. Essas são as formas com que os conteúdos latentes
se transformam em manifestos.
O mecanismo de condensação “tem a ver com certo laconismo do sonho em relação
aos pensamentos oníricos que subjazem a ele” (FORRESTER, 2009, p. 12). É como se
fosse um resumo do sonho, daquilo que realmente sonhamos segundo Estevam
(1995), seria igual quando queremos escrever uma carta, mas não temos tempo,
então enviamos um telegrama.

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Os sonhos normalmente são curtos, são meros resumos do que realmente


acontece, do que nos leva a sonhar. Os processos psíquicos envolvidos e que
ocasionam os sonhos são complexos, eles acontecem no inconsciente, mas só são
manifestados nos sonhos de maneira lacônica.
O outro mecanismo é o deslocamento, que afasta de seu objeto real seu valor
desviando para outro objeto sua carga afetiva. “a carga afetiva desvia sua direção e
vai recair sobre um objeto secundário, aparentemente insignificante” (ESTEVAM,
1995, p.67) Por exemplo, quando se sonha com uma briga com uma pessoa
aparentemente inocente ou desconhecida, é o deslocamento entrando em ação, que
faz com que a raiva sentida por alguém do individuo que sonha seja transportada para
um terceiro.
O mecanismo de dramatização consiste na imaginação de nossa mente, pois
quando estamos acordados racionalizamos tudo que entra em contato conosco,
(idéias, pensamentos, sentimentos), entretanto, quando estamos dormindo esse
processo se desliga e entra em ação a capacidade de imaginar tudo àquilo que durante
o dia racionalizamos, entra em ação o papel de formular imagens para aquilo que
vivemos. Segundo Estevam (1995), é uma atividade mental inferior ao pensamento
racional, cabe aos sonhos a tradução dos pensamentos e idéias em imagens, por isso
a interpretação dos sonhos deve ser feita de maneira minuciosa e criteriosa para se
desvendar o significado das imagens dos sonhos, pois elas trazem uma bagagem de
conteúdos racionais importantíssimos.
A simbolização, outro mecanismo do sonho se dá quando as imagens presentes no
sonho trazem relação com outras imagens, quando a pessoa sonha com algum objeto
e este objeto é mascarado e diz respeito a algo que a pessoa viveu ou desejou. Um
exemplo segundo Estevam (1995) diz de uma moça que sonhou com um homem que
tentava montar em um cavalo castanho e só conseguiu depois da terceira vez. Esta
moça na terapia revelou que seu namorado havia tentado abusar dela três vezes e em
seu sonho ela apareceu simbolizada pelo cavalo.
Os sonhos utilizam esses mecanismos para trazer a consciência seus verdadeiros
conteúdos inconscientes de maneira delicada, pois:
À noite o relaxamento muscular provocado pelo sono reduz a censura interna, a
resistência aos desejos, nessas horas de recolhimento sobre si mesmo a resistência
perde um pouco de seu poder. (FORRESTER, 2009, p. 13)

Com isso, vemos que “a força motivadora dos sonhos é a realização de desejos”
(FORRESTER, 2009, p. 12). Os desejos reprimidos em nosso inconsciente acham lugar
para se chegar à consciência através dos sonhos, pois neles não há resistência e nem
a ação de nosso superego.
Freud nos diz a respeito dos desejos que eles são a falta de alguma coisa que
desejamos, mas que não conseguimos realizar, ou por que algo nos impede ou devido

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ao nosso ego e superego, que exercem força considerável em nossa consciência


reprimindo o desejado.
Os desejos que provocam os sonhos não são, freqüentemente, desejos aceitos pelo
consciente, ao contrário são desejos que ele combate, reprime e censura. Por
conseguinte, o retorno desses desejos recalcados, embora seja uma causa de prazer
para a parte inferior do homem, é uma causa de desprazer para a parte superior.
(FREUD, 1900 In. apud ESTEVAM, 1995, p. 62)

Ou seja, a angústia que sentimos quando acordamos é fruto da guerra entre o


desejo e a censura, quando durante o sonho o fato reprimido vem à tona “sem
censura”, nos sentimos angustiados ao acordar, ou se não acordamos, temos sonhos
sofridos, dolorosos, os pesadelos.
Freud (1900) relata em sua interpretação dos sonhos que os desejos podem ter
origens do tipo, o desejo despertado durante o dia, e que não pode ser satisfeito e
também aquele que é abandonado pela psique, vindo a ser reprimido; também relata
dos estímulos do qual o corpo sofre durante a noite, a fome, por exemplo; e finalmente
o desejo de nosso inconsciente que se manifesta durante o sono, nos sonhos.

CAPÍTULO 2 SONHO
Sonho a mensagem do inconsciente
Sonho é tido como uma “mensagem do inconsciente”, uma forma de o inconsciente
se revelar simbolicamente, enquanto o organismo se acha no estado de repouso
conhecido por sono. Quando em estado de vigília (isto é, quando estamos
acordados) há mecanismo psíquicos que impedem de se revelarem as tendências e
os substratos do inconsciente, daí sobrevirem esses elementos, durante o sono. A
organização dos sonhos segue os mesmos princípios gerais que norteiam o
funcionamento do consciente no estado de vigília, e, portanto há muitas
semelhanças entre os sonhos e o consciente. Essa organização se caracteriza por
aspectos da percepção, de pensamentos e de sentimentos do individuo. O aspecto
perceptual é provável, por exemplo, através de experiências que mostra ser o
individuo influenciado por estímulos externos: se despejarmos um pouco d’ água no
acordar tendo um sonho em que entra banho, chuva, ou alguma imagem com o
elemento água. Por outro lado, o aspecto cognitivo pode ser mostrado por sonhos à
pessoa dormir: o estudante está sob tensão por causa do exame de matemática, e o
estudo sobre essa matéria se prolonga noite e dentro; quando ele vai dormir sonha
com o que estudou. Outro exemplo: o individuo vai ver uma exposição de quadros e
depois enquanto dorme, sonha com determinada obra que o sensibilizou mais
particularmente. C.A. Scherner notou o aspecto de símbolos que certas imagens
apresentam, num sonho (e nesse sentido Scherner foi um precursor de Freud). G.
Wundt viu nas excitações (físicas ou psíquicas e nas preocupações a origem dos
sonhos. Com S. Freud o sonho passou a ser considerado com maior importância para
o estudo dos fenômenos psicológicos. Ele formulou a primeira teoria coerente que vê

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nos sonhos uma função e uma significação. De fato, o método psicanalítico de Freud
se utiliza muito dos sonhos, primeiro proporcionando oportunidade ao paciente de
contar seus sonhos livremente, procurando depois analisar os aspectos revelados,
para saber o seu “conteúdo latente”, em geral ainda oculto sob o “conteúdo
manifesto”. Freud considerava o sonho a “estrada principal” que pode revelar
aspectos profundos e muitas vezes escondidos do inconsciente, e por isso afirmava
(outros psicanalistas também são essas opinião) que o sonho freqüentemente
constitui um reflexo de angustia e conflitos reprimidos. Além da narração dos
sonhos, o método de analise da psique proposto e aplicado por Freud inclui outros
processos, que se completam. Como diz o criador da psicanálise: “Nossa técnica
consiste em, deixando a associação (de idéias) agir livremente, fazer surgir outras
formações substitutivas dos elementos dos sonhos e servindo-nos dessas formações
para trazer à superfície o conteúdo inconsciente do sonho.” No livro “A interpretação
dos sonhos”, Freud distingue o “conteúdo manifesto” (as imagens em seu sentido
direto, literal) do “conteúdo latente” (ou seja, o significado oculto dessas imagens, e
que se referem a impulsos reprimidos, que podem ser de natureza sexual ou não, e
que em geral visam à satisfação de um desejo, embora sendo uma satisfação
simbólica.)

Ainda conforme Freud, o sonho pode ser elaborado pelo inconsciente, ou seja, (neste
caso, é porque o ego se impõe com maior energia). Os desejos conscientes são
importantes para a motivação dos sonhos: a criança sonha “com a realização de
desejos que o dia anterior fez nascerem nela”, sem que ela pudesse satisfazê-los na
realidade. Por outro lado, os adultos muitas vezes não entendem bem seus próprios
sonhos, mas isso é explicado pelo fato de o “conteúdo latente” se mostrar sob
formas disfarçadas, simbólicas, modificadas do real motivo. Explicar Freud, no livro
“cinco lições sobre a psicanálise”, que é precisão distinguir duas coisas: de um lado,
o sonho tal como nos parece, tal como o evocamos de manhã, tão vago a ponto de
termos dificuldades em narrá-lo, em traduzi-lo em palavras; é o que chamamos o
“conteúdo manifesto do sonho. De outro lado, temos o conjunto das “ideias oníricas
latentes”, que supomos presidir aos sonhos do fundo mesmo do inconsciente.
entrementes, o conteúdo manifesto é a realização “disfarçada dos desejos
recalcados”, e se ele vem assim disfarçado é porque o sonho precisa efetuar-se de
maneira aceitável pela consciência do individuo. O sonho, afinal é a “libertação do
instinto pelo símbolo”. a elaboração do sonho visa a “satisfação de um impulso, se
ele decorre do id, ou então a liquidação de um conflito, a eliminação de uma duvida,
a realização de um projeto, se ele decorre de um resíduo de atividade pré-consciente
do estado de vigília”. Na elaboração do sonho, entram especialmente dois
mecanismos: condensação e descolamento. Pela condensação, pessoas, coisas e
lugares podem aparecer como uma só pessoa, coisas, e lugares podem aparecer
como uma só pessoa, uma só coisa, um só lugar: “uma pessoa, dessa maneira, tem
o aspecto de A, veste-se como B, faz cosas que lembram C e, com tudo isso,
sabemos tratar-se de D. nessa mistura encontra-se naturalmente posto em relevo
um caráter ou atributo comum às quatro pessoa” quando estamos acordados,
porém, essa coincidência de elementos não ocorre. Se a condensação é importante,

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o deslocamento é mais ainda, já que ele faz com que o inconsciente, possa
“enganar” o consciente, usando de um elemento para outro.

Desse jeito, coisas que são indiferentes para individuo quando ele esta desperto
passam a ser causa de perturbações maior ou menor no sonho. O deslocamento
também Poe ter uma forma um tanto diferente, que se chama derivação para um
objeto substantivo; exemplo disso é a substituição da pessoa do pai que é muito
temido, pela figura de Um animal forte. Freud ainda atribui muita importância às
impressões adquiridas Ana infância, as quais influenciam bastante os sonhos do
individuo adulto: “pelo sonho, é a criança que continua a viver no homem”. Outro
psicanalista que estudou o sonho, formulando sua própria teoria, foi A. Adler. Ele
discorda, alias dos conceitos freudianos, explicando de outra forma a origem e os
significados dos sonhos. Para começar, diz que “não é à realização dos desejos
infantis e à regressão que temos de nos ter no sonho, mas a uma simples tentativa
antecipada de conquistar segurança, tentativa em que é feito uso de recordações
tendenciosamente agrupadas, nada tendo que ver com aos desejos libidinosos ou
sexuais da infância.” Nesse aspecto, parece viável considerar-se que tanto Freud
quando Alder foram radicais em seus respectivos conceitos, já que se pode propor
como muito aceitável a existência de outros aspectos, paralelamente ou como
complemento das teorias de ambas. Segundo Alder, o sonho mostra o intimo da
personalidade do individuo. Através do sonho se podem ver atitudes do individuo
para com os outras pessoas, traços se seu caráter, e uma espécie de orientação
pessoal e fictícia que o individuo possui. Por outro lado, os sonhos expressam
também desvios neurológicos. Podem-se considerar alguns conceitos de Adler, como
segue.

• Sonhos curtos significam que uma resposta incisiva e rápida foi dada em
relação a uma dúvida;
• Sonhos que são esquecidos talvez contenham uma forte afetividade.
• Com freqüência, sonhos angustiados traduzem um forte medo de fracasso;
• Sonhos que incluem queda mostram que o individuo tem (ou deseja?) uma
situação elevada, e também que o individuo sente medo de perde o
sentimento de seu próprio valor;
• Sonhos em que o individuo voam alto significa ambição de ter atividade de
níveis superior às atuais, de gozar de uma situação elevada, sobrepujando
outras pessoas;
• Sonha com uma pessoa morta quer dizer que possivelmente o individuo ainda
mantém, em sua mente, uma considerável afetividade com o morto;
• Sonhar que se tem falha na roupa, e durante o sonho ficar perturbado por isso,
pode ser sinal de medo dos próprios defeitos, ou medo de que esses defeitos
venham a ser descobertos;

• Sonhos em que ocorre homossexualismo mostram arrebatamento contra o


sexo oposto.

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Milhares de sonhos foram analisados por C. G. Jung, que também formulou sua
teoria sobre os fenômenos da vida onírica. Admitindo que os sonhos sejam muitos
complexos, Jung acha que eles constituem “compensações da situação consciente
que os viu nascer”. Conforme o conceito desse psicólogo suíço alguns conteúdos
psíquicos são excluídos pela consciência ou são inibidos por ela, e vão para o
inconsciente. Daí pode surgir tensões, de maneira que os conteúdos do inconsciente
inibido voltam para a consciência como sonhos e imagens espontâneas. É uma forma
de compensação. “que regulariza, inconscientemente, a atividade consciente”.
Portanto, para Jung o sonho é, em essência, um fenômeno de compensação, que
serve para auto- regula convenientemente o psiquismo do individuo. “o homem e o
descobrimento de sua alma” – “ São inumeráveis e inumeráveis e inesgotáveis,
embora com experiência acabamos por ver que se cristalizam alguns princípios
fundamentais. Não pretendo, absolutamente, ao propor a teoria das compensações,
seja ela a única que justifique o sonho ou que ela de conta completamente de todos
os fenômenos da vida onírica. “O sonho é uma aparição extraordinária complexa”.
De acordo com essa teoria, os desejos (aos qual Freud deu muita ênfase) têm uma
importância apenas secundarias na elaboração dos sonhos, devendo-se estudar de
outra parte os aspectos ligados ao “inconsciente coletivo”, aos qual o sonho está
relacionado. Quando ocorre neurose, é porque e diferença ou a oposição entre o
inconsciente e o consciente é tão violenta, que prejudica aquela compensação. E
para interpretar acertadamente os sonhos, de um paciente, fazem-se necessários
muitos sonhos, tirando-se então uma média de elementos e uma quantidade de
conteúdos simbólicos que levam ao tratamento. Como considerações finais convêm
dizer que, conforme a opinião de diversos psicólogos, os sonhos podem revelar
angustia conflitos reprimidos e problemas menos graves, uma vez que eles
constituem manifestações do inconsciente. Mas os motivos dos sonhos devem ser
encarados como muito variáveis, e não apenas encarados unilateralmente –
digamos: não sempre o sexo ou qualquer outro fato como motivo constante. Alias
pode-se dizer também da existência de sonho que não simbolizam obrigatoriamente
nada especifico, mas seria uma espécie de devaneio de fantasia. Mesmo porque,
muitos sonhos são uma síntese de estímulos (recentes, ou longínquos e que ficaram
no inconsciente), bem como situações emocionais que cercam o individuo.

Experiências recentes, inclusive com o uso de aparelhos para medir os impulsos


elétricos do cérebro quando em repouso, mostram que o sonho é necessário:
interrompia-se o sonho (e o sono) do individuo cada vez que os registros indicavam
uma atividade maior do cérebro, no fim de várias horas se sono-sonho-interrupção o
indivíduo se mostrava quase que tão cansado quanto ao começar o repouso muitas
vezes interrompido nos momentos de sonho.

CAPÍTULO 3 ANÁLISE E SIGNIFICADO DOS SONHOS

A importância

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Entender o significado dos sonhos é mais importante do que julga a maioria das
pessoas. Contudo, até agora ninguém conseguiu dizer toda a verdade sobre a
atividade onírica. Alguns pesquisadores, entre os quais se destacam Freud, Jung,
Adler, Dr. F. Alexander e J. A. Hadfield aproximaram-se da verdade e abriram novas
perspectivas ao estudo dos sonhos.

Os sonhos, a exemplo dos atos falhos, ainda hoje são encarados com reservas pela
ciência, embora a arte de interpretar os sonhos exista desde os tempos de José das
histórias fidedignas da Bíblia. Os governantes da Antiguidade, quando iniciavam
expedições importantes, escolhiam aos mais famosos estudiosos oniromantes, para
acompanhá-los e orientá-los, pois não compreendiam as conquista de novos
domínios, antes de uma consulta aos adivinhos.

Os sonhos telepáticos ainda não foram suficientes explicados, mas nesse sentido, já
se conseguiu algum resultados positivos. Por exemplo: os casos em que no sonho
recebemos a informação sobre a morte de um parente, e outros. Existem os sonhos
precógnitos, que até o presente não foram satisfatoriamente interpretados.

O sonho, a exemplo dos atos falhos, não revela a sua verdadeira intenção; seu
conteúdo aparece, na maioria das vezes, de modo mascarado; daí a importância de
sua interpretação, especialmente por aqueles que desejarem exercer,
razoavelmente, a psicanálise.

Sabemos, através dos atos falhos, que, geralmente, perde-se um objeto quando ele
esta gasto ou quando se tem a intenção de substituí-lo por um novo. Deixar cair ou
quebrar um objeto tem o mesmo sentido. Esquecer de devolver livros que nos foram
emprestados, ou de pagar dividas. Em suma, um grande número de casos desta
natureza tem como causa uma vontade contraria.

A Importância do Sonho na Terapia


Durante a terapia o paciente em seus relatos pode descrever algum sonho que lhe
ocorra de maneira recorrente ou não, depois de se verificar durante o processo de
análise deste paciente, a transferência, a resistência e demais mecanismos do mesmo,
é possível assim, fazer a análise do material descritivo e significativo que este paciente
traz ao analista. Através do método de associações livres em que o paciente fala tudo
o que lhe vem à mente em relação ao fato, é possível ir montando o quebra-cabeça
do sonho.
Para analisar os sonhos é necessário “decompô-lo em elementos e aplicar a cada
um deles a técnica da associação livre” (FORRESTER, 2009, p.26), pois, não é possível
interpretá-lo em sua totalidade, porque ele é formado pelo inconsciente e, portanto,
de meros fragmentos da realidade, configurando-se muito confuso e fantástico.
Durante o sono, tomamos as imagens oníricas por imagens reais graças ao nosso
hábito mental (que não pode ser adormecido) de supor a existência de um modo
externo com o qual estabelecemos um contraste com o nosso ego.

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A análise do sonho possibilita acompanhar a evolução do caso, do tratamento, pois


os sonhos são a expressão de nosso mundo interno aquilo que sentimos, vivemos ou
desejamos, mas que não encontram a maneira certa de se externalizar, ficando a
cargo dos sonhos esse papel.
Por agirmos muitas vezes baseados em nosso ego e superego, naquilo que é tido
como certo aos olhos da sociedade, negligenciamos o papel fundamental de nosso id,
pois seu conteúdo pode fugir ao controle e aos moldes das leis morais e também de
nosso ideal de eu. Contudo, surgem assim os conflitos psíquicos inconscientes que nos
atormentam e nos angustiam, causando sofrimentos ao individuo, e que encontram
nos sonhos um meio de se libertarem.
Os indivíduos acometidos por esses sofrimentos psíquicos, não se sentem
preparados para lidar com essas mudanças de pensamentos e ações, pois os sonhos
interferem em sua vida e em seus comportamentos de maneira significativa,
principalmente quando são mal elaborados e colocados à prova. Devido isso, o
individuo procura ajuda e orientação profissional para melhor compreender o que se
passa em seu interior, para entender quais são as suas necessidades psíquicas. “Não
é possível dizer que um sonho é “somente” um sonho, na medida em que ele é um
ato mental a parte integrante da vida interior de cada um” (SAROLDI apud
FORRESTER, 2009, p. 16)
O recalcamento e sublimação de fatos, pensamentos, idéias ou imagens que foram
jogados no inconsciente por ação do ego e do superego impedindo a ação do id,
acarreta um dos motivos para o surgimento das neuroses, pois esse indivíduo tem
forte poder de reprimir o que deseja anulando a voz de seu id, e esse fato o leva a
gerar conflitos internos, como a neurose.
Logo, a análise dos sonhos na terapia é imprescindível, pois é através dessa análise
juntamente com todas as técnicas de psicanálise, que o terapeuta pode focalizar no
paciente quais são seus conflitos internos, suas angústias, medos e porque eles
ocorrem com maior ou menor intensidade. Os sonhos são capazes de nos dar
informação suficiente, para entender o indivíduo muito mais do que as palavras
proferidas por ele na terapia, pois os sonhos possuem conteúdos que nós mesmos
“desconhecemos”.
Os sonhos trazem do nosso inconsciente para a consciência desejos mais
reprimidos e “proibidos”, desejos recalcados, no qual sublimamos, ou seja, inibimos
nossos objetos de desejo, é que através dos sonhos temos a capacidade de vivência-
los.
Sua linguagem simbólica; traz para o psicólogo um desafio na capacidade da
interpretação; cada sonho vivido pelo paciente pode ser visto como uma carta
enigmática que com o auxilio de um psicólogo deverá ser traduzida. Há certa luta entre
paciente e psicólogo, onde de um lado o paciente com seu sonho puxa de um lado,
utilizando de mecanismos de defesa, e transformando o sonho em uma fantasia em
si, e do outro o psicólogo com sua perspicácia e observação.

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Freud traz e nos ensina através de sua obra que se tornou essencial na área de
psicanálise a importância dos sonhos, quando escreve A Interpretação dos Sonhos,
mostra que acabamos realizando nossos desejos que não conseguimos admitir querê-
los, ou muitas vezes nos envergonhamos tanto por desejá-los que a sociedade nos
“proibiu” ou determina “proibidos”, colocando nossos valores morais em primeiro
lugar, reprimimos tais desejos e os jogamos no nosso mais profundo e obscuro abismo,
o Inconsciente. Quando conseguimos sair de uma rotina, uma
Sociedade que impõe sobre nós, suas aquisições, mergulhamos através do sonho
nesse abismo em busca de realizá-los, uma busca em satisfação de nossas realizações,
pois os sonhos são a única forma de realização de desejos reprimidos
inconscientizados.
É fundamental para o psicólogo entender tal formação dos sonhos e como serão
elaborados seus mecanismos de defesa, bem como os princípios de sua devida
interpretação. A interpretação de um sonho
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”. (Freud, 1898 e1899). Antes
de Freud, os sonhos eram considerados apenas símbolos, analisados como se fossem
manifestações sobrenaturais. Quando Freud escreveu, então a sua obra-prima - “A
Interpretação dos Sonhos”, e a partir da análise dos sonhos, mostrou que a essência
dos sonhos é a realização de um desejo infantil reprimido e a partir daí elaborou bases
do método psicanalítico. Por meio dessa análise, mostrou a existência do inconsciente
e transformou algo que era tido pela consciência como o “limbo dos pensamentos”, no
caso dos sonhos, em um forte instrumento revelador da personalidade humana.
Constatou que os sonhos mostram uma óbvia preferência pelas impressões dos dias
anteriores, ou seja, das mais primitivas da nossa infância, e fazem surgir detalhes
desse período de nossa vida, que acreditávamos ter caído no esquecimento.
Para que aconteça a interpretação de um sonho é importante que não procuremos
entendê-lo em sua totalidade em um primeiro momento, pois como é formado no
inconsciente, existem fragmentos da realidade, logo vai parecer no primeiro momento,
muito confuso. Ele deve ser dividido em partes, de acordo com o contexto vivido e
assim vai sendo decifrado lentamente, sem adotar um critério cartesiano, pois o
mesmo conteúdo pode guardar sentido diferente, variando de pessoa para pessoa ou
situações diferentes.
O sonho é considerado o fenômeno da vida psíquica pelo qual os processos do
inconsciente são revelados de uma forma clara e acessível ao estudo. Para Freud, o
sonho é produto da atividade do inconsciente e sempre tem sentido intencional, ou
seja, a realização, ou não, de um desejo reprimido. Assim eles vão revelando a
natureza do homem e são meios os quais podemos ter acesso ao conhecimento do
interior oculto da mente.
Para Carl Jung os sonhos não reduzem à satisfação de desejos reprimidos no
inconsciente pessoal, como o fez Freud. Ele os toma como mensageiros de complexos.
Segundo ele, anexo a nossa consciência imediata existe um segundo sistema psíquico,

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de natureza coletiva, universal e impessoal, que se revela idêntico em todos os


indivíduos.
“Pois a pesquisa psicológica mostra que o sonho é o primeiro membro de uma classe
de fenômenos psíquicos anormais, da quais outros membros, como as fobias
histéricas, as observações e os delírios, estão fadados por motivos práticos, a
constituir um tema de interesse para os médicos”. (Freud, – 1898).

Os sonhos e as histéricas foram o sopro inicial para a psicanálise, com Freud. Em


sua teoria, eles despertam atos, idéias, sentimentos, que ao dormir surgirão como um
episódio onírico que se apresenta em enredos que apreciam nos sonhos, cujos
personagens povoam nossa realidade, voltando-se para os objetos do dia a dia, e
sendo sempre um amigo ou uma pessoa que nos desperta uma paixão. Os sonhos vão
acontecendo até que um deles nos permita a interpretação do seu sentido e despertar
do sonho ao qual estávamos mergulhados.
Existem critérios para determinar se estamos ou não sonhando, critério esse que
está empiricamente ligado ao fato de acordarmos, assim, tudo que experimentamos
enquanto dormimos e acordamos é ilusão até que nos percebemos deitados na cama.
Tornar as imagens dos nossos sonhos reais é graças ao nosso hábito mental, assim a
interpretação dos sonhos desvela, contudo, os conteúdos mentais, pensamentos,
dados e experiências reprimidos ou recalcados, excluídos da consciência pelas defesas
do ego e do superego e enviadas ao inconsciente. Já a parte do Id, com acesso
impedido à consciência, é o que fica envolvido na origem das neuroses. Daí o interesse
de Freud pelos sonhos, que se originam no fato de constituírem processos normais,
mas atuantes na formação dos sintomas neuróticos.
Segundo Freud (A interpretação dos sonhos, p.), existe quatro tipos de fontes de
sonho: 1 - Excitação sensorial externa (objetivas, onde todo ruído indistintamente
percebido provoca imagens oníricas correspondentes); 2 - Excitações sensoriais
internas (subjetivas) dos órgãos dos sentidos; 3 - Estímulos somáticos internos
(orgânicos) e 4 - Fontes psíquicas de estimulação: material importante para chegar
ao inconsciente, muito necessário para o tratamento psicanalítico.
São diversas as causas para o esquecimento dos sonhos, geralmente esquecemos,
e temos dificuldade de lembrar o que nos parece desordenado e confuso, não damos
muita importância aos nossos sonhos, daí a facilidade de esquecimento.
“Pois o fato notável é que os sonhos extraem seus elementos não dos fatos
principais e excitantes, nem dos interesses poderosos e imperiosos do dia anterior,
mas dos detalhes casuais, dos fragmentos sem valor, poder-se-ia dizer, do que se
vivenciou recentemente, ou do passado mais remoto. Uma morte na família, que nos
tenha comovido profundamente e sob cuja sombra imediata tenha adormecido tarde
da noite, é apagada de nossa memória até que, com nosso primeiro momento de
vigília, retorna a ela novamente com perturbadora violência. Por outro lado, uma
verruga na testa de um estranho que vimos na rua, e em quem não pensamos mais

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depois de passar por ele, tem um papel a desempenhar em nosso sonho…”.


(Hildebrandt (1875)

Embora uma boa parte dos sonhos deva pertencer a um evento mental corrente,
esse não é suficiente para produzi-lo, ele só se forma quando esse evento recente
entra em contato com um impulso passado, quase sempre um desejo infantil. O que
aparece na consciência durante o sono e que quando acordamos chamamos de sonho
é o resultado de uma atividade mental inconsciente durante um processo fisiológico
que interfere com o próprio sonho, que ao invés de acordar a pessoa sonha.
Nas crianças, os sonhos são frequentemente pura realização de desejos e são
desinteressantes comparados aos adultos, pois não levantam problemas para serem
solucionados, contudo são importantes para provar que representam realizações de
desejos.
Existem sonhos que têm como tema central a frustração de um desejo ou algo
claramente indesejado, esses sonhos podem ser elaborados quando um paciente se
encontra em um estado de resistência ao analista ou está relacionado a um
componente masoquista na constituição sexual de muitas pessoas, pois os sonhos
desprazeirosos são realizações de desejos, pois satisfazem suas inclinações
masoquistas. Já os sonhos de angústias se originam da vida sexual e corresponde à
libido que se desviou de sua finalidade e não encontrou aplicação, ou seja, um desejo
recalcado encontrou um meio de fugir à censura. Já o sonho recorrente é quando o
sujeito teve, pela primeira vez, o sonho na infância e depois ele reaparece
constantemente, de tempos em tempos, nos sonos adultos. Os que ocorrem com
situações de morte, de parentes queridos encontraram a situação extremamente
incomum de um pensamento onírico formado por um desejo recalcado, no caso da
morte, que foge inteiramente à censura e passa para o sonho sem modificações.
As fontes somáticas de estimulação durante o sono, a menos que sejam de
intensidade comum, desempenha na formação dos sonhos o mesmo papel das
impressões recentes deixadas pelo dia anterior, ou seja, são introduzidas para ajudar
na formação de um sonho caso se ajustem apropriadamente ao conteúdo de
representações derivados das fontes psíquicas do sonho, mas não de outra forma.
Assim podemos explicar que, o fato de o conteúdo onírico resultado de estímulos
somáticos de intensidade não incomum, deixa de aparecer nos sonhos.
O fenômeno da distorção dos sonhos acontece quando temos um sonho e não
queremos interpretá-lo ou lembrá-lo, porque estamos tentando esconder ou não
queremos enfrentar algo que não está muito bem resolvido em nós, ou seja, está
recalcado em nosso inconsciente. Podemos reconhecer que os sonhos recebem sua
forma em cada ser humano, mediante a ação de suas forças psíquicas e que uma
dessas forças constrói o desejo que é expresso pelo sonho, enquanto outra exerce
uma censura sobre esse desejo onírico, e através dessa censura carrega forçadamente
uma distorção do desejo.

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Os sonhos, em sentido teórico, possuem três entidades distintas: o sonho


manifesto, os pensamentos oníricos latentes e o funcionamento do sonho. Tudo que o
paciente recorda e relata como sonho, sonho manifesto, é uma mensagem que exige
decifração. As idéias e os sentimentos, subjacentes ao sonho, muitos pertencentes ao
presente, outros do passado, alguns pré-conscientes outros conscientes, é o chamado
conteúdo latente. Já os pensamentos latentes dão origem ao sonho manifesto.
O conteúdo latente é a parte mais importante do sonho, pois nele, está toda a
significação de desejos, problemas, neuroses e até predisposições psicóticas.
Chamamos de elaboração do sonho essas operações mentais inconscientes as quais o
conteúdo latente se transforma em sonho manifesto. Todo esse processo responsável
por essas transformações, Freud considerava a parte essencial da atividade onírica, e
é o funcionamento do sonho. O que se torna claramente compreensiva, para comparar
o conteúdo do sonho com os pensamentos oníricos é que ali se efetuou um trabalho
de condensação em larga escala. Os sonhos são curtos, insuficientes em comparação
com a riqueza dos pensamentos oníricos, se formos escrever um sonho, talvez ocupe
uma meia página, já os pensamentos oníricos ocupariam até oito ou doze vezes mais
espaço.
“Não há dúvida de que, juntamente com a psicologia dos sonhos, os médicos terão
algum dia, de voltar sua atenção para uma psicopatologia dos sonhos”. (FREUD,
1898).

Sobre a complexidade da interpretação dos sonhos, assim se expressou Freud:

“Descobriu-se um dia que os sintomas mórbidos de certos nervosos tem sentido. Foi
esse o ponto de partida do tratamento psicanalítico. No decorrer desse tratamento,
verificou-se que os doentes alegavam sonhos a guisa de sintomas. Supôs-se, então
que esses sonhos também desviam ter um sentido.

O sonho em si é um sintoma neurótico


A título de preparação para o estudo das neuroses, vamos demonstrar o sentido dos
sonhos. Esta inversão da ordem da exposição é justificada pelo fato de que não só o
estudo dos sonhos constitui a melhor preparação para o estudo das neuroses, mas
também o sonho em si é um sintoma neurótico, e um sintoma que apresenta para
nós a vantagem inapreciável de poder ser observado em toda a gente, mesmo nos
indivíduos sãos. Ainda mesmo que todos os homens fossem sãos e se contentassem
com sonhar, poderíamos, pelo exame de tais sonhos, chegarem às mesmas
observações que obtemos pela análise das neuroses. É assim que o sonho se torna
objeto da investigação psicanalítica. Fenômeno ordinário, fenômeno a que se liga
pouca importância, aparentemente desprovido de qualquer valor prático, como os
atos falhos, com os quais tem em comum o fato de também se produzir em pessoas
sãs, o sonho se depara à nossa investigação em condições até desfavoráveis.

Para Freud, o sonho é, na maioria dos casos, uma manifestação de desejos; segundo
ele, o sonho disfarça por intermédio de um símbolo o seu verdadeiro significado. É o

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meio de escapar à censura e satisfazer o desejo, sem aparentar que se esteja


fazendo isso. Jung sustenta que a função do símbolo é trazer ao espírito, de maneira
mais vivida, os fatos do inconsciente esta procurando dizer. O símbolo é o processo
de compreensão por meio de analogia. A linguagem simbólica dos sonhos, segundo
Jung, afirma J. A. Hadfield o seguinte:

“o pensamento primitivo não é abstrato, mas concreto, e é essa razão por que os
sonhos assumem a forma de símbolos, pois estes são a representação material de
sensação ou idéias que não podemos exprimir ou estamos proibidos de exprimir
diferentemente. As pessoas cegas de nascença não têm sonhos visuais; sonham
principalmente em termos de tato, conforme descobri em minhas pesquisas.”

“os sonhos, vindos como vêm de formas primitivas, argumentam dessa maneira
completamente ilógica. Têm suas próprias leis e argumentos. Não é de esperar que
possamos compreender-lhe o significado enquanto não conhecemos sua linguagem.
Requer toda a habilidade do antropologista compreender o modo de pensar do
homem primitivo e poder, assim falar com sua linguagem. Requer toda a habilidade
dos sonhos e, em nenhum dos casos, conseguiu-se uma compreensão absoluta.”

Pelo exposto concluímos que, apesar do progresso que se obteve neste campo de
estudos, ainda estamos engatinhando.

Vamos ao exemplo de uma cliente de Freud que sonhou ver sua única filha, de
quinze anos, morta, deitada dentro de um caixão. Como é de esperar, ela não podia
aceitar o argumento apresentado por Freud de que aquele sonho realizava o desejo
inconsciente que ela, paciente, tinha de ver sua filha morta. Contudo, depois de
submetida à técnica das associações espontâneas, confessou a Freud que, de fato,
se recordava ter ficado desgostosa quando soubera, a quinze anos atrás, de sua
gravidez prematura. E, por várias vezes, desejava abortar a criança.

Para Freud, o sonho é a principal comunicação entre o consciente e o inconsciente.


Para Jung, o sonho é a compensação, isto é o material do inconsciente que é
reprimido, aparece nos sonhos; é, obviamente, o oposto do que esta no consciente,
compensando-o, portando, do que a esta falta. O homem cruel, nos seus sonhos é o
mais sentimental, diz Hadifield; diz, ainda que o filósofo esta mais sujeita a sonhos
irracionais.

Quando sonhamos, o nosso verdadeiro “eu” aparece à superfície. Revelamos o nosso


verdadeiro caráter, desejos secretos, medos, amores, ódio etc.

Embora a interpretação dos sonhos seja um trabalho difícil e complexo, é bom alvitre
não relegá-lo a um plano insignificante, pois eles lhe dirão muita coisa sobre você
mesmo. Através da analise de seus sonhos, poderá conhecer inclusive os fatores
subconscientes que estejam contribuindo para torná-lo infeliz.

Os sonhos repetidos com cenas da infância, em certos casos, revelam que você esta
preso a problemas inconscientes. Procure desenterrálos, trazendo-os à tona,
evitando que eles ocasionem doenças emocionais. Ser-lhe-à melhor preocupar-se
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em levar uma vida serena. O passado é uma página lida e que só deve ser relida se
o conteúdo for altamente instrutivo e, conseqüentemente, possa abrir boas
perspectivas para o amanhã. Por outro lado, os sonhos constantes, ligados a
personagens importantes ou grandes fortunas, prestigio etc., significam na maioria
das vezes, compensação de algum complexo.

Seja calmo ao interpretar um sonho; convém não esquecer que os sonhos absurdos
às vezes são apenas produto de nossa imaginação. A neurose obsessiva, por
exemplo, provoca sonhos e pesadelos esquisitos.

A maior dificuldade em interpretar sonhos consiste no fato de a maioria dos autores


adicionarem ao que sabem, seriamente, algo da imaginação, a pesquisa. O certo é
dirigir as pesquisas de modo palpável, se possível com provas em laboratório de
analise psicológicas.

Os sonhos contribuem significativamente para a saúde física e mental. Quando mais


é investigado esse campo desconhecido do sono, mais se ampliam as regiões ainda
inexploradas e, por conseguinte, a maioria dos trabalhos elaborados a esse respeito
vão ficando irremediavelmente ultrapassados.

É freqüente sermos recriminados em sonhos, pelo que fazemos em desacordo com a


nossa consciência, ou em prejuízo de outrem, isto é, o sonho adverte de que não
devemos comporta-nos de modo errado, por exemplo: sonhar que dormimos ou que
nos distraímos na direção de um automóvel, simboliza advertência para manter-se
alerta ao dirigir qualquer veículo ou a nós mesmo, pois o automóvel, ou outro
veiculo, simboliza o corpo do sonhador. Daí a grande importância de nós mesmo
interpretarmos os nossos sonhos.

A simbologia dos sonhos, embora válida, não deve ser aplicada genericamente.
Todos nós temos, apesar de pertencermos à mesma espécie, certas peculiaridades
decorrentes daquilo que apreciamos e do meio em que vivemos razão pela qual a
interpretação por intermédio de símbolos sofre pálidas alterações. Uma simples
posição incomoda, quando estamos dormindo, pode alterar o significado de um
sonho, por exemplo: uma deficiência respiratória pode provocar um sonho de morte
por asfixia, ou de que está sendo asfixiado por alguém.

O Simbolismo nos sonhos

Para entender o significado dos sonhos, segundo Freud, precisamos conhecer o que
representa cada símbolo, pois o inconsciente fala através dos símbolos, a exemplo
de alguns povos antigos, que se expressavam por intermédio dos objetos
cuneiformes. Para Freud, o simbolismo constituía a parte mais importante da teoria
dos sonhos.

Contudo, não basta conhecer o sentido dos símbolos para interpretar,


satisfatoriamente, um sonho; é necessário conhecer a personalidade, um sonho; é
necessário conhecer a personalidade do sonhador e as circunstâncias em que o
sonho se elaborou.

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A serpente, por exemplo, é um símbolo fálico; para Moisés, a serpente era o símbolo
da cura. Ergue-a no deserto para curá-la de doenças aqueles que a contemplassem.
A arvore representa a vida: a viagem de trem, o progresso, segundo Hadfield; mas
Freud interpreta a viagem de trem como sendo o estigma da morte; as casas de
paredes lisas são símbolos masculinos, as que apresentam saliências e varandas, as
quais podem tatear, são símbolos femininos. Os pais têm como símbolos femininos o
imperador e a imperatriz, o rei e a rainha, ou outras pessoas eminentes.

Para que tenhamos uma noção maior do significado dos símbolos, vejamos um
comentário de Freud sobre a matéria:

A parte principal, e para os dois sexos a mais interessante, do aparelho genital do


homem, o pênis, encontra em primeiro lugar suas substituições, simbólicas nos
objetos que se lhe assemelham pela forma, a saber: bengalas, guarda-chuvas,
haste, árvores etc. em seguida nos objetos que têm de comum com o membro viril e
poderem penetrar no interior de um corpo e causar ferimentos: armas pontudas de
toda espécie, tais como facas, punhais, lâminas, sabres, ou ainda armas de fogo,
tais como fuzis, pistolas e, mais particularmente, a arma que, por sua forma, se
presta especialmente, a esta comparação, isso é o revolver. Nos pesadelos das
moças, a perseguições por um homem armado de um punhal ou de uma arma de
fogo representa um grande papel. É talvez o caso mais freqüente do simbolismo dos
sonhos, e sua interpretação não apresenta a menor dificuldade. Não menos
compreensível é a interpretação do membro masculino por objetos de onde jorra um
liquido: torneiras de água, jarros, fontes de repuxo, e por outros que são suscetíveis
de alongar-se, tais como lâmpadas de suspensão, lápis, etc. o fato de os lápis, as
canetas, as limas para unhas, os martelos e outro instrumentos serem,
incontestavelmente, representações simbólicas do órgão masculino, prende-se, por
sua vez, a uma concepção facilmente compreensível desse órgão.

A notável propriedade que ele possui de poder ergue-se contrariando as leis da


gravidade, propriedade que fez parte do fenômeno de ereção, criou a representação
simbólica que se vale de balões, aviões e, mais recentemente, dirigíveis. Mas o
sonho ainda conhece outro meio, muito mais expressivo, de simbolizar a ereção. Faz
do órgão sexual a essência mesma da pessoa e faz com que toda esta se ponha a
voar. Não se admirem se lhes disser que os sonhos freqüentemente tão belos que
todos conhecemos, nos quais o vôo representa tão importantes papéis, devem ser
interpretados como tendo por base uma excitação sexual geral, o fenômeno da
ereção. Entre os psicanalistas, foi Federn quem estabeleceu esta interpretação,
mercê de provas irrefutáveis, mas mesmo um experimentador tão imparcial, tão
alheio e talvez mesmo tão ignorante da psicanálise como Moury-Vold, chegou às
mesmas conclusões, depois de suas experiências que consistiam em dar aos braços
e às pernas, durante o sono, posições artificiais. Não me objetem o fato de que as
mulheres também podem sonhar que voam. Lembrem-se antes que nossos sonhos
pretendem serem realizações de desejos, consiste ou inconsciente de ser homem, é
muito freqüentemente na mulher. E aqueles dentre os senhores que são mais ou
menos versados na anatomia nada encontrarão de espantoso no fato de a mulher

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estar em condições de realizar esse desejo com a ajuda das mesmas sensações que
o homem experimenta. A mulher possui, com efeito, em seu aparelho genital um
pequeno membro semelhante ao órgão masculino, e esse pequeno membro, o
clitóris, desempenha na infância e na idade que parecem as relações sexuais o
mesmo papel que pênis do homem.

Entre os símbolos sexuais masculinos menos compreensíveis citaremos os repteis e


os peixes, mas, sobretudo o famoso símbolo da serpente. Por que recebeu o chapéu
e a capa a mesma aplicação? É o que não é fácil de adivinhar, mas sua significação
simbólica é incontestável. Podemos, enfim, perguntar-nos se a substituição do tal
como pé ou mão, deve igualmente ser considerada côo simbólica. Creio que,
considerado o conjunto do sonho e levando em conta os órgãos correspondentes da
mulher, seremos cada vez mais obrigados a admitir esta significação.

O aparelho genital da mulher é representado simbolicamente por todos os objetos


cujas características consistem em circunscrever uma cavidade em que se pode
alojar alguma coisa: minas, fossos, cavernas, vasos e garrafas, caixas de todas as
formas, cofres, bolsos, etc. o navio também faz parte desta série. Certos símbolos
como armários, fornos e, sobretudo quartos referem-se antes ao útero que ao
aparelho sexual, propriamente dito. O símbolo quarto toca aqui o de casa, porta e
portão, que por sua vez se tornam símbolos que designam o acesso ao orifício
sexual. Tem ainda uma significação simbólica os objetos feitos com esses materiais,
tais como mesa e livro. Entre os animais, os caracóis e os moluscos que têm conchas
são incontestavelmente símbolos femininos citaremos ainda, entre os órgãos do
corpo, a boca como símbolo do orifício genital e, entre os edifícios, a igreja e a
capela. Conforme vêem, nem todos esses símbolos são igualmente inteligíveis.

Devemos considerar como fazendo parte do aparelho genital os seios que, como
hemisférios que são no corpo feminino, encontram sua representação simbólica nas
maças, pêssegos, frutas em geral. Os pelos que guarnecem o aparelho genital nos
dois sexos são descritos pelo sonho sob o aspecto de uma floresta ou de um bosque.
A complicada topologia do aparelho genital feminino faça com que freqüentemente o
representemos como uma paisagem, como rochedo, floresta, água, enquanto o
imponente mecanismo do aparelho genital do homem é simbolizado sob a forma de
todas as espécies de maquinas complicadas, difíceis de descrever.

Outro símbolo interessante do aparelho genital da mulher é representado pelo cofre


de jóias; jóias e tesouro são as caricias que dirigimos, mesmo em sonhos, à pessoa
amada; as gulodices servem freqüentemente para simbolizar o prazer sexual. A
satisfação sexual obtida sem o concurso de uma pessoa do sexo oposto é
simbolizada por todas as espécies de ocupações musicais, entre outras por tocar
piano. O deslizamento, a descida brusca, o arrancamento de um ramo são
representações finamente simbólicas do orgasmo. Temos, ainda, uma representação
particularmente notável na queda de um dente, na extração de um dente: este
símbolo significa certamente a castração, encarada como punição pelas praticas
contra a natureza. Os símbolos destinados a representar mais particularmente as

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relações sexuais são menos numerosos nos sonhos do que possuímos. Podemos cita,
como pertencentes a esta categoria, atividades rítmicas tais como a dança, a
equitação, a ascensão, assim como acidentes violentos, como por exemplo, o fato de
ser atropelado por um veículo. Acrescentemos ainda certas atividades manuais e,
naturais a ameaça com uma arma.

O uso e a tradução destes símbolos são menos simples do que os senhores talvez
creiam. Um e outro comportam numerosos pormenores inesperados. Assim,
constatamos este fato incrível de que as diferenças sexuais muitas vezes são mal
acentuadas nestas representações simbólicas. Muitos símbolos designam um órgão
genital em geral- masculino ou feminino, pouco importa; tal o caso dos símbolos em
que figuram uma criança pequena, um menina pequena, um menino pequeno.
Outras vezes, um símbolo masculino serve para designar uma parte do aparelho
genital feminino, e viceversa. Tudo isto permanece incompreensível, enquanto não
estamos o par do desenvolvimento das representações sexuais dos homens. Em
certos casos, esta ambigüidade dos símbolos mais incisivos, tais como bolso, arma,
caixa, não tem esta aplicação.

Começando não pelo que o símbolo representa, mas pelo símbolo em si, vou passar
em revista os domínios de onde se retiram os símbolos sexuais, fazendo seguir esta
investigação de algumas considerações relativas principalmente aos símbolos cujos
fatores comuns se mantêm incompreendido. Temos um símbolo obscuro deste
gênero no chapéu, talvez em todos os objetos que servem para cobrir extremidades,
de significação geralmente masculina, mas às vezes também feminina. Assim
também um manto serve para designar um homem, se bem que muitas vezes de
outro ponto de vista que não o sexual. Estão no direito de perguntar qual a razão
disto. A gravata, que desce sobre o peito e não é usada. Pela mulher, é
manifestamente um símbolo masculino. Roupa branca, fazendas, são em geral
símbolos femininos; vestem, uniformes são já o sabemos, símbolos destinados a
exprimir a nudez, as formas do corpo; sapatos, chinelos, designam simbolicamente
os órgãos genitais da mulher. Já falamos destes símbolos enigmáticos, mas
seguramente femininos, que são a mesa, a madeira. Escada, escadaria, rampa,
assim como o ato de subir uma escada etc. são certamente símbolos que exprimem
as relações sexuais. Refletindo sobre isto de perto, encontramos como um fator
comum a rítmica da ascensão, talvez também o crescendo da excitação-opressão, à
medida que se sobe.

Já mencionamos a paisagem, como representação do aparelho genital feminino.


Montanha e rochedo são símbolos do membro masculino, jardim é um símbolo
freqüente dos órgãos genitais da mulher. O fruto designa não a criança, mas o seio.
Os animais selvagens servem para representar, em primeiro lugar, homens
apaixonados, em seguida os maus instintos, as paixões. Botões e flores designam os
órgãos genitais da mulher, e mais especialmente a virgindade. Recordem a este
respeito que os botões são efetivamente os órgãos genitais das plantas. Já
conhecemos os símbolos aposento. Desenvolvendo-se a representação, as janelas,
as entradas e saída do aposentado adquirem a significação de aberturas, de orifícios

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do corpo. Quarto aberto, quarto fechado, participam do mesmo simbolismo, e a


chave que abre é incontestavelmente um símbolo, masculino. Tais são os materiais
que entram na composição do simbolismo dos sonhos. Estão, aliais, longe de ser
completos: nossa exposição poderia ter-se estendido tanto em superfície como em
profundidade. Penso, todavia, que minha numeração lhes perecerá mais que
suficiente.

O significado do simbolismo não é tão difícil de ser compreendido, se levarmos em


consideração que muitas palavras foram, antigamente, tomada, de objetos
materiais.

Acordamos durante os sonhos em que revivemos um problema sem solução. Isso


explica, segundo Hadfild, porque acordamos em certos sonhos e não em outros,
pois, assim como vamos dormir para esquecer as preocupações do dia, também
acordamos nos sonhos para esquecer-se dos problemas da noite.

Sonhar que cai, para alguns autores, esta associada ao fato de dizermos “cair no
sonho”. Outros acham que a queda é resultante de más intenções. Vôos significam
desejos sexuais não satisfeitos; significam também vontade de vencer, de ser
importante etc.

Os distúrbios orgânicos e os desejos sexuais reprimidos provocam certos sonhos e


pesadelos. Aqueles que vivem pensando somente em coisas negativas: crimes,
ciúmes mórbidos, inveja, ódio e vingança, têm sonhos e pesadelos esquisitos. Quem
tem paz interior e vive satisfeito com o que tem e com o que é esta menos sujeita a
tal atividade onírica, pois o pesadelo é uma das causas mais comuns da repressão da
raiva, do medo, da melancolia, etc. os pesadelos constantes causam, inclusive,
insônia. É um erro incutir na criança a existência do diabo; tal sugestão pé uma das
causas dos pesadelos infantis.

BIBLIOGRAFIA

Freud, Sigmundo; Editora Alemã:Leipzig Und Win; Franz


Deuticke; Die Traumdeutung ;A Interpretação de sonhos;
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Volume IV, Ano 1900;

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