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Rio de Janeiro
Novembro de 2022
ECONOMIA AZUL
VETOR PARA O
DESENVOLVIMENTO
DO BRASIL
Organizadores
Thauan Santos
André Panno Beirão
Moacyr Cunha de Araujo Filho
Andréa Bento Carvalho
Patrocínio
Apoio
AGRADECIMENTOS FICHA TÉCNICA
A Diretoria-Geral de Navegação agradece o patrocínio da empresa Vale S/A, Planejamento e Coordenação
indispensável para a edição deste livro, tendo a percepção da importância do tema para Diretoria-Geral de Navegação (DGN)
o engrandecimento do País.
Também agradece o apoio da Associação de Terminais Portuários Privados – ATP e da Capitão de Fragata Alexandre Fonseca de Azeredo
Empresa Gerencial de Projetos Navais – EMGEPRON, que contribuíram diretamente para a Servidora Civil Taíssi Pepe de Medeiros Farias
produção e lançamento do mesmo. Capitão-Tenente André Leonardo Magalhães de Faria
Agradecemos especialmente ao Almirante de Esquadra Marcelo Francisco Campos, antigo Capitão-Tenente (T) Laila Freitas Müller
Diretor-Geral de Navegação da Marinha, um dos grandes propulsores desta obra. Terceiro-Sargento (ES) Luiz Fernando Bandeira da Silva
Da mesma forma agradecemos à Diretoria de Assistência Social da Marinha e à Associação Produção Editorial
Abrigo do Marinheiro, parceira responsável pela interveniência administrativa. Essential Idea Editora Ltda.
Releva mencionar a equipe da Diretoria-Geral de Navegação, responsável pelo
planejamento e coordenação do projeto: Capitães de Mar e Guerra Márcio Borges Coordenação Editorial
Ferreira, Walid Maia Pinto Silva Seba, Frederico Medeiros Vasconcelos de Albuquerque; Sonia da Silva Fonseca
Capitão de Fragata Alexandre Fonseca de Azeredo; Servidora Civil Taíssi Pepe de Medeiros Editor
Farias; Capitão-Tenente André Leonardo Magalhães de Faria; Capitão-Tenente (T) Laila Rogerio Raupp Ruschel
Freitas Müller e Terceiro-Sargento (ES) Luiz Fernando Bandeira da Silva; que contribuíram
para o sucesso desta publicação. Revisão de Texto
À equipe do Departamento Industrial Gráfico da Base de Hidrografia da Marinha em Luciana Moreira
Niterói (BHMN).
Projeto Gráfico, Diagramação e Capa
Nosso apreço à equipe técnica da Essential Idea Editora que participou desta obra com
Yvonne Sarue
dedicação e profissionalismo.
Agradecimento especial aos 83 autores que fizeram este projeto tornar-se realidade. Capa
Foto de Lazyllama
Finalização de Gráficos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Willy Kiyoshi Okamoto
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Impressão
Economia azul : vetor para o desenvolvimento do
Brasil / organizadores Thauan Santos . . . [et al.]. Departamento Industrial Gráfico da Base de Hidrografia da
-- São Paulo, SP : Essential Idea Editora, 2022. Marinha em Niterói (BHMN)
Vários autores.
Outros coordenadores: André Panno Beirão, Moacyr C.
Araujo Filho, Andréa B. Carvalho.
Bibliografia.
ISBN 978-65-86394-07-8
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua
1. Brasil. Marinha 2. Desenvolvimento sustentável Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
3. Economia 4. Governança 5. Investimentos 6. Mar
7. Oceano 8. Recursos naturais I. Santos, Thauan. Os textos desta obra não refletem, necessariamente, o posicionamento institucional
II. Beirão, André P. III. Araujo Filho, Moacyr C. do patrocinador, apoiadores ou coordenadores do projeto. Trata-se de um trabalho
IV. Carvalho, Andréa B. acadêmico cujo apoio e coordenação se deu visando à difusão de debates
na temática nacional.
22-124726 CDD-333.7 Copyright © 2022 Diretoria-Geral de Navegação.
Índices para catálogo sistemático:
1. Economia azul 333.7
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8 / 9380
PREFÁCIO DO MINISTRO
DE ESTADO DA ECONOMIA
Paulo Guedes
O
livro Economia Azul: vetor para o como reservas de petróleo e gás, e na zona o turismo no Brasil; e financiamentos a em- a exploração regular da biodiversidade exis-
desenvolvimento do Brasil é uma costeira se desenvolve grande parte do turis- presas desse setor. São iniciativas que pro- tente em fundos marinhos, tendo como
importante contribuição para a dis- mo brasileiro. Portanto, mapear as atividades movem o turismo de natureza no país, sen- finalidade a busca de recursos genéticos,
cussão da exploração do espaço marítimo econômicas que contribuem para o Produto do este um setor que representa importante bioquímicos e químicos para fins industriais,
nacional preservando os recursos naturais. Interno Bruto – “PIB do Mar”, mensurando oportunidade de desenvolvimento. começa a ser uma realidade em vários lu-
A Economia Azul, “o uso sustentável os respectivos aportes à economia do país, No âmbito da pesca, de grande relevân- gares do mundo. No Brasil, vários grupos
dos recursos marinhos para o desenvolvi- culminando com seu cálculo regular, é uma cia para a segurança alimentar de nossa nacionais estão investigando substâncias
mento econômico, melhoria do bem-es- importante contribuição para orientar políti- população, segundo o X Plano Setorial para isoladas em algas, fungos e invertebrados
tar social e geração de empregos, conser- cas públicas para o setor, tarefa em curso pelo os Recursos do Mar (PSRM), a ampliação da marinhos e seu potencial biotecnológico.
vando a saúde dos ecossistemas oceânicos GT PIB do Mar, coordenado pelo Ministério produção pesqueira passa por investimen- Outra área emergente relacionada à
e costeiros”1, encontra-se alinhada às neces- da Economia, no âmbito da Comissão Inter- tos na diminuição dos desperdícios na pesca Economia Azul diz respeito à utilização do
sidades de recuperação dinâmica de cresci- ministerial para os Recursos do Mar (CIRM). e na adoção de medidas de maior sustenta- potencial energético dos ventos, das ondas
mento da economia brasileira que vêm sendo Quanto à exploração de gás natural, cuja bilidade ambiental. Segundo o PSRM, esses e marés. Aqui vale mencionar a enorme
implementadas pelo atual governo. O desen- maior parte da produção nacional provém objetivos serão concretizados por meio da oportunidade da energia eólica offshore,
volvimento econômico deve ocorrer pari pas- de campos localizados no mar, em 2021 foi formação de recursos humanos, do desen- que em muitos casos aumenta a fauna ma-
su com a exploração inteligente das riquezas editada a Nova Lei do Gás, com o objetivo volvimento de tecnologias e implementação rinha local. A ameaça de “crise energética”
naturais, pois de nada adiantaria a geração de de atrair novos investidores para o setor de de medidas que reduzam as capturas de é um incentivo à diversificação das fontes
riquezas e empregos se não houvesse possibi- transporte de gás, aumentar a concorrência fauna acompanhante e de espécies amea- de energia, em especial da renovável.
lidade de sua manutenção, o que depende da e diminuir o preço para o consumidor final. çadas, tornando a atividade menos impac- Uma terceira área emergente pode ser
exploração equilibrada e sustentável. Na área de transportes, foi editada, em ja- tante do ponto de vista ecológico e reduzin- ressaltada: a mineração no mar. Nessa
Em um momento de reconfiguração das neiro de 2022, a lei que institui o Programa de do as perdas no manuseio e na conservação esfera, o X PSRM prioriza a pesquisa sobre
cadeias produtivas em nível global, a integra- Estímulo ao Transporte por Cabotagem (BR do pescado a bordo. Isso elevará a produti- o aproveitamento dos recursos minerais da
ção da economia brasileira às cadeias globais do Mar) com a flexibilização para o uso de na- vidade e a qualidade do pescado. Amazônia Azul como alternativa às fontes
de valor deve ocorrer por meio da abertura vios estrangeiros no transporte de cabotagem Para fazer frente a esses desafios, o Go- continentais. Foca-se em fertilizantes, insu-
econômica e da criação de um bom ambiente em benefício dos consumidores e aumento verno Federal planeja implementar várias mos para a construção civil e siderurgia e
de negócios, estimulando-se o investimento da competitividade da economia nacional. medidas, como: reestruturação do Sistema insumos para a reconstrução de praias, ten-
privado no território nacional, inclusive para No setor de Turismo, o programa A Hora do Registro Geral da Atividade Pesqueira; do em vista os processos de erosão costeira.
exploração das riquezas da área marítima. do Turismo, presente no Plano Plurianual apoio à realização de cursos de formação Em suma, haja vista a importância es-
A Economia Azul abrange atividades eco- (PPA) 2020-2023, destaca algumas iniciati- profissional do pescador; combate à pesca tratégica e geopolítica da Amazônia Azul
nômicas que já geram expressivas riquezas, vas que buscam apoiar essa atividade eco- ilegal; apoio à realização de ações de com- como vetor de desenvolvimento do País,
bem como outras atividades em áreas emer- nômica com grande potencial de geração bate ao lixo no mar, entre outras. este livro veio em boa hora para subsidiar
gentes que apresentam potencial de cresci- de emprego e renda. Este programa promo- Quanto às atividades econômicas refe- a discussão de políticas públicas para a sua
mento e de geração de valor. São exemplos ve a competitividade e o desenvolvimento rentes às áreas emergentes, os ecossistemas exploração sustentável, mantendo-se um
dessas últimas a utilização do potencial sustentável do turismo brasileiro através de costeiros e marinhos brasileiros são muito equilíbrio entre o desenvolvimento socioe-
biotecnológico marinho, energias renováveis várias políticas públicas, como: qualificação diversos, com incontáveis espécies da flora e conômico e o meio ambiente.
offshore e a prospecção mineral no oceano. de pessoas no setor de turismo; promoção da fauna e constituindo-se em uma grande Brasília-DF, agosto/2022
O mar, principal via de comércio exterior de destinos e qualificação de serviços turís- oportunidade de desenvolvimento da bio- PAULO GUEDES
do país, é riquíssimo em recursos naturais, ticos; realização de obras para estruturar tecnologia marinha. Conforme o X PSRM, Ministro de Estado da Economia
1 Versão preliminar do conceito de Economia Azul, apresentada pelo Grupo Técnico (GT) PIB do Mar, na
146ª Sessão Ordinária da Subcomissão para o Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM), ocorrida no
dia 6 de abril de 2022, no âmbito da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM).
MENSAGEM DO COMANDANTE
DA MARINHA
Almir Garnier Santos
Almirante de Esquadra
Comandante da Marinha
Autoridade Marítima Brasileira
E
m 5 de dezembro de 2017, a Organização das Nações Unidas (ONU) de- No momento em que os mares e oceanos alcançam inédita evidência no cenário
clarou os anos de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o internacional, a Marinha orgulha-se de poder desempenhar importante papel
Desenvolvimento Sustentável. Com muitos de seus interesses vitais atrelados nas discussões em torno do conceito de Economia Azul, mantendo rumo constan-
ao mar, o Brasil encontra-se, no alvorecer desta “Década dos Oceanos”, diante de te na proteção das nossas riquezas, no trabalho em prol das atividades marítimas e
um auspicioso horizonte, descortinado, em grande parte, pelo profícuo e histórico no apoio à produção de conhecimentos que possam contribuir para o uso otimiza-
esforço da Marinha do Brasil (MB) em conhecer e evidenciar a relevância e as po- do e sustentável dos recursos naturais em nossas Águas Jurisdicionais. O presente
tencialidades do ambiente marinho para o País. Esse trabalho levou, por exemplo, livro é mais uma importante iniciativa nesse sentido, congregando dados e fontes
à adoção do termo Amazônia Azul para designar as imensas áreas marítimas sobre renomadas e propondo reflexões acerca do potencial marítimo brasileiro.
as quais o Brasil tem jurisdição e direitos exclusivos de exploração econômica, cha- Grandes desafios globais, como a segurança alimentar e energética, demanda-
mando a atenção para sua importância no tocante à biodiversidade, aos recursos rão cooperação internacional e ações sobre os recursos marinhos. Nesse cenário,
naturais, à vastidão e às vulnerabilidades, à semelhança da Floresta Amazônica. o Brasil, como grande nação costeira de inevitável vocação para o mar, se vê
diante de grandes oportunidades, que serão tão melhor aproveitadas quanto
Destinada precipuamente ao preparo e emprego do Poder Naval para a Defesa
maior for o envolvimento de todos os setores da sociedade com a construção e
da Pátria, a Marinha do Brasil também exerce as atribuições da Autoridade Ma-
condução de políticas públicas voltadas para os mares e oceanos.
rítima Brasileira (AMB), desempenhando uma ampla gama de tarefas em prol
do desenvolvimento do potencial marítimo do País, a exemplo das atividades Definitivamente, precisamos promover a saúde das nossas águas, conhecer cien-
de segurança da navegação; formação de pessoal especializado para a Marinha tífica e profundamente o patrimônio marítimo brasileiro e estimular o crescimen-
Mercante; sinalização náutica; salvaguarda da vida humana no mar e águas in- to da Economia Azul. Esses devem ser compromissos nacionais perenes. Vamos
teriores; prevenção da poluição hídrica causada por embarcações, plataformas juntos embarcar nesta missão! Sejam todos muito bem-vindos a bordo do livro
e suas instalações de apoio; combate a ilícitos, como a pesca ilegal; além das “Economia Azul: vetor para o desenvolvimento do Brasil”.
atividades de hidrografia, oceanografia e meteorologia marinha. Viva a Amazônia Azul!
A AMB também coordena a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar Viva a minha, a sua, a nossa Marinha!
(CIRM), que presta relevante apoio às pesquisas científicas realizadas a bordo de
Tudo pela Pátria!
navios da Marinha, em nossas ilhas oceânicas e no continente antártico. Além ALMIR GARNIER SANTOS
disso, a MB, sensível à urgente e grave questão da poluição hídrica por resíduos Almirante de Esquadra
sólidos, vem se engajando em campanhas de conscientização e em ações efeti- Comandante da Marinha
Autoridade Marítima Brasileira
vas de combate ao lixo no mar.
APRESENTAÇÃO DO DIRETOR-GERAL DE NAVEGAÇÃO
Wladmilson Borges de Aguiar
Almirante de Esquadra
O
s oceanos cobrem aproximadamente 71% da superfície terrestre, o que
equivale a 361 milhões de quilômetros quadrados, com um volume de
cerca de 1,3 bilhões de quilômetros cúbicos. Nessa imensidão, encontra-se
97% da água disponível do nosso planeta.
Nessa esteira, frisa-se que o Brasil é uma nação de vocação marítima e possui
uma das maiores Zonas Econômicas Exclusivas do mundo, uma área equivalen-
te à Amazônia Verde ou mais da metade do território nacional. Desse modo,
nosso país posiciona-se entre os maiores produtores mundiais de petróleo e gás
offshore, além de constituir um dos maiores hubs de cabos submarinos do mundo.
A partir da exploração marítima, retira-se cerca de 97% do petróleo e 86% do
gás natural produzidos, de acordo com os dados obtidos junto à Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP); pelas rotas marítimas, escoa-se
mais de 95% do comércio exterior brasileiro. Nesse aspecto, o Brasil alcançou re-
sultados significativos nos setores mencionados e pode consolidar, a curto prazo,
posição destacada nos setores emergentes relacionados ao mar, como aquicultura
marinha, energia eólica offshore, biotecnologia marinha, produtos e serviços ma-
rítimos de alta tecnologia, terminais e portos tecnológicos com alta capacidade de
exportação e importação adaptados ao e-Navigation, entre outros.
De acordo com projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), o valor gerado pela indústria oceânica pode dobrar de 1,5 tri-
lhão de dólares em valor agregado, em 2010, para 3 trilhões de dólares, em 2030.
Nesse diapasão, aponta-se que a aquicultura marinha, a pesca, o processamen-
to de pescado, as atividades marítimas portuárias e eólicas offshore, es-
pecialmente, foram vistas como as de maior potencial para o crescimento.
Outrossim, destaca-se que são notórias as amplas iniciativas que têm ocorrido propicia comunicação objetiva sobre o tema junto à sociedade civil, de forma a
no âmbito global, regional e local em torno da temática dos mares e oceanos. abordar diversas áreas do conhecimento, quais sejam: Geologia, Meteorologia,
Em 2015, líderes mundiais reuniram-se na sede da ONU e decidiram um plano Oceanografia, Biologia, Engenharia, Direito, Administração, Economia, Turismo,
de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas Ciência Política e Relações Internacionais.
alcancem a paz e a prosperidade. Esse encontro culminou na Agenda 2030, A visão que norteia esta obra, portanto, busca conferir visibilidade à Economia
composta por um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Azul e aos elementos que contribuirão para o incremento do chamado Produto
Cumpre acentuar, igualmente, o ODS nº 14, de acordo com o qual se estabelece Interno Bruto (PIB) do mar, com base em estudos iniciais acerca da importância de
o compromisso de conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares e os mensurar, de maneira contínua e sistemática, tal índice. Assim, objetiva-se que esse
recursos marinhos. entendimento possa repercutir positivamente nos eixos econômico, institucional,
Registra-se, ainda, que o ano de 2021 marcou o começo da Década da Ciência infraestrutura, ambiental e social da Estratégia Federal de Desenvolvimento para
Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), também chamada o Brasil, no período de 2020 a 2031, instituída pelo Decreto nº 10.531/2020,
de “a Década do Oceano”, proposta pelas Nações Unidas, em 5 de dezembro de de tal modo que o mar seja visto como um aliado importante para suplantar os
2017. Tal iniciativa se insere no escopo da Agenda 2030, qual seja, a promoção variados desafios nacionais estipulados na referida estratégia.
de avanços científicos e tecnológicos, de forma a atingir os seguintes resultados: Com esteio nas colocações apontadas, faz-se oportuno compartilhar com
oceano limpo, saudável e resiliente, previsível, seguro, sustentável e produtivo, os estimados leitores algumas indagações: como podemos estimular a
transparente e acessível e conhecido e valorizado por todos. competitividade da economia brasileira não apenas nos setores tradicionais da
A Diretoria-Geral de Navegação (DGN), criada em 1968, é um Órgão de Direção Economia do Mar, mas também nos setores que têm emergido no contexto da
Setorial da Marinha do Brasil e atua como um elo do Poder Marítimo, com Economia Azul? Quais são as oportunidades econômicas advindas da promoção
vistas à manutenção de uma forte interlocução, com a comunidade marítima. da Economia Azul? Como pode o Brasil transicionar para uma perspectiva de
Nessa direção, a DGN apresenta diversas atuações importantes, voltadas para a Economia Azul? Quais ações políticas são necessárias para acelerar essa transição?
Amazônia Azul, no tocante às atividades marítimas, à segurança da navegação, à Tais provocações não se restringem apenas à realidade brasileira, muitos países se
salvaguarda da vida humana no mar e em águas interiores, à prevenção da poluição encontram imbuídos das mesmas reflexões ora demarcadas.
hídrica por embarcações e instalações de apoio, à hidrografia, à oceanografia Cumpre ressaltar, ainda, que a presente obra não pretende esgotar a temática, de
e à meteorologia marinha, de modo a contribuir para o desenvolvimento da modo a exaurir todas as questões referentes à Economia Azul. Contudo, almeja-se,
Economia Azul e em apoio à política externa do país. por meio desta produção científica, a construção de uma contundente contribuição
Nesse sentido, a DGN, por meio de sua Assessoria de Espaços Marinhos e à análise de questões fundamentais para o contexto marítimo brasileiro.
Mentalidade Marítima, coordenou esta obra científica inédita, intitulada Economia Por fim, objetiva-se que este livro trace seus rumos na direção de um relevante
Azul: vetor para o desenvolvimento do Brasil. Este livro foi idealizado no intuito instrumento educacional, de forma a constituir uma referência acadêmica
de acentuar a relevância da Economia Azul para o país. É embasado por quatro no âmbito do ensino nacional, com vieses aplicados ao desenvolvimento da
renomados doutores, responsáveis pela coordenação científica, e um corpo de mentalidade marítima brasileira, bem como aviste oportunidades no cenário
oitenta e três autores, espalhados pelas diversas regiões do país e diferentes econômico internacional.
instituições. Ademais, está alinhado ao ideário de promoção da conscientização Faço votos de uma excelente leitura!
cívica acerca do papel essencial que os oceanos desempenham no equilíbrio do
“O futuro do Brasil está no mar”.
planeta, o qual consta do cerne do programa “Cultura Oceânica para Todos”, da
Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO.
WLADMILSON BORGES DE AGUIAR
Desse modo, assenta-se que esta publicação apresenta dados e caminhos para Almirante de Esquadra
o aproveitamento sustentável das potencialidades da Economia Azul brasileira e Diretor-Geral de Navegação
SUMÁRIO
•
SEÇÃO
•
de relevância mundial; seja nacionalmen- mar, de forma racional e sustentável, tem
te, com uma mirada mais acurada sobre sido objeto de aprofundamento teórico, Como essa magnitude de possibilidades
o quanto o mar é relevante ao desenvolvi- aplicado e de estudo recente – no Brasil e de exploração sustentável pode ser geren-
mento dos países. Internacionalmente, tal no mundo. De fato, há uma escassa biblio- ciada de forma sinérgica, o que já se regula
protagonismo vê-se presente, por exemplo, grafia internacional efetivamente focada na internacionalmente e nacionalmente?
na inclusão de objetivos do desenvolvimen-
to sustentável da chamada Agenda 2030
economia do mar. No Brasil, contudo, ela
é ainda mais escassa e recente. O desafio • Se muito já conhecemos, ainda há mui-
to por conhecer em relação ao oceano? E
da Organização das Nações Unidas (ONU), assumido na concepção e consecução da Na seção 1, são apresentadas as princi-
ainda, como a ciência e suas perspectivas
pela indicação da década 2021-2030 como presente obra, portanto, fora árduo! Tarefa pais questões teóricas, conceituais e de po-
podem ajudar nesse desenvolvimento sus-
a “Década da Ciência Oceânica para o De- desafiadora que aceitamos empreender! lítica internacional, que nortearão boa parte
tentável da economia azul?
•
senvolvimento Sustentável”, ou mesmo pela Para consolidar uma obra de tamanha das discussões que se seguem ao longo do
realização recente de duas Conferências das envergadura, complexidade e alcance, as- Como estamos em termos de conheci- livro. Para tal, o capítulo 1 apresenta os con-
Nações Unidas para os Oceanos, em 2017 pectos práticos de gestão e de financiamen- mento e mensuração do que exploramos no ceitos e as definições relacionados à eco-
e 2022. Nacionalmente, essa relevância se to, além de apoio editorial e institucional, mar, seja diretamente ou indiretamente? nomia azul, com base em pesquisa biblio-
deve por sua crescente importância – como eram necessários e, de forma bastante sinér- métrica, cobrindo mais de sessenta anos de
diz o título da obra – como vetor para o de- gica e colaboradora, foram fundamentais os Ou seja, trata-se de uma obra que con- pesquisa na temática. O capítulo 2, de modo
senvolvimento do Brasil. É inegável que este apoios de coordenação, financiamento e templa um amplo conhecimento pouco similar, evidencia os diferentes métodos e
país nasceu a partir do mar e, por conse- editoração da Diretoria Geral de Navegação consolidado no Brasil. Para isso, não havia indicadores econômicos utilizados na litera-
quência, essa porta que se abre generosa- da Marinha do Brasil (DGN-MB), de patro- como realizar uma obra superficial e não tura internacional e nas políticas voltadas ao
mente no tempo presente é fundamental, cinadores do projeto e da editora Essential científica. Por isso, é uma obra densa que mar. Ambos os capítulos são responsáveis,
tanto em termos de ligação com o resto do Idea, que já vem se consolidando com forte congrega mais de 35 capítulos, quase uma portanto, pelo enquadramento dos recortes
planeta, quanto no que se refere às oportuni- portfólio de obras na temática marítima. centena de autores, privilegiando a autoria teóricos e metodológicos que protagonizam
dades de exploração dos recursos marinhos e Nós, os quatro organizadores, procu- nacional, que conhece nossas particularida- as discussões conduzidas nos demais capí-
da promoção das atividades marítimas. ramos delinear a obra de forma bastante des, mas sem prescindir da colaboração de tulos e nas demais seções desta obra. Em
22 23
seguida, o capítulo 3 destaca os diferentes SEÇÃO ainda há longo caminho por se percorrer. Já uma de suas mais relevantes organizações
instrumentos econômicos (impostos, taxas,
encargos, subsídios, sistemas de licenças ne-
2 o capítulo 12 aprofunda-se na explicação da
necessidade de bem se conhecer o que se
internacionais específicas – a Organização
Marítima Internacional (IMO) – e como o Bra-
gociáveis, e pagamento por serviços ecossis- pode fazer e, como se pode fazer, tal ati- sil tem se posicionado nesse amplo fórum de
têmicos – PSE) e financeiros (investimento de vidade em cada lugar desse mar que nos debates. Assim, a seção procura emoldurar
impacto, dívida, equity, financiamento mis- margeia – a necessidade de um bom pla- como o globo tem balizado a economia azul
to e subsídios) aplicados à economia azul. Já nejamento espacial marinho (PEM), inclusi- e como o Brasil tem se esforçado em alavan-
o capítulo 4 analisa o caso brasileiro, desta- ve apontando como o mundo tem evoluído car essa maritimidade.
cando a relevância da Amazônia Azul, parti- nesse planejamento. O capítulo 13 passa a
cularmente no contexto da Elevação do Rio tratar uma típica solução nacional de geren- SEÇÃO
Grande (ERG), e endereça especificamente o
desafio da mineração offshore no Brasil.
ciamento das regiões urbanas litorâneas e o
mar próximo, aprofundando nas peculiari- 3
Os capítulos 5, 6, 7 e 8 lidam com grandes dades do gerenciamento costeiro nacional e
questões da agenda global. O capítulo 5, seu aproveitamento econômico sustentável.
por exemplo, destaca o papel da Agenda Por sua vez, o capítulo 14 ressalta um dos
2030 e de seus 17 Objetivos de Desenvol- A seção 2, já após a conceituação fun- maiores problemas da relação humana com
vimento Sustentável (ODS) sobre a vida e damental apresentada na seção 1, procura o mar – a poluição marinha – principalmen-
os recursos marinhos, além de sobre as mostrar como tem (e se tem) sido gerencia- te a decorrente de despejos oriundos de ter-
atividades marítimas, evidenciando sua da essa economia azul pelos diversos atores ra que, proporcionalmente, é muito superior
interface com diferentes ODS. Na sequên- partícipes dessa governança do mar, que à também decorrente de meios marítimos.
cia, o capítulo 6 reforça a necessidade de pertence, sinergicamente, tanto aos interes- O capítulo 15 remete a um clamor funda-
se promover uma governança do mar no ses nacionais quanto a todo o planeta. Isso mental – o brasileiro precisa acolher o mar 374 A ECONOMIA AZUL Uma Ciência Azul 375
contexto da Década da Ciência Oceânica se deve à crescente preocupação de que como sua prioridade, seja para conhecê-lo
para o Desenvolvimento Sustentável, tam- não basta explotar recursos, devendo essa e preservá-lo, seja como oportunidade de A seção 3 descreve a Economia Azul
bém conhecida como “Década do Ocea- utilização ser gerenciada de forma racional, desenvolvimento – por isso, evoca à menta- como uma economia baseada no “conhe-
no”, destacando as iniciativas brasileiras que atenda tanto ao desenvolvimento na- lidade marítima nacional e sua evolução. Em cimento”, na qual dados e informações
nesse contexto. Já o capítulo 7 reforça a cional quanto à sustentabilidade do planeta seguida, o capítulo 16 aponta as principais são capazes de orientar a obtenção de so-
relevância da governança e traz a contri- e às novas gerações. Para tanto, o capítulo 9 opções nacionais, expressas “no que o país luções para os desafios presentes e futuros
buição da cooperação e da diplomacia do traz essa abordagem fundamental de todos deseja para o mar”, em suas políticas públi- da nossa sociedade. O foco da seção é, por-
oceano no contexto da atual agenda de os múltiplos atores que interagem na gover- cas de mais alto nível; apresentando a com- tanto, reconhecer as diversas necessidades
desenvolvimento sustentável global; além nança do oceano, sendo essa uma tendên- plexidade de construção contínua e crescente e estimular a discussão sobre como buscar
disso, destaca oportunidades para a diplo- cia global. O capítulo 10 resgata a principal dessa regulação nacional desejada. O capítu- esses futuros usuários e motivar o maior
macia científica no contexto da economia utilização dos mares – seu meio de comuni- lo 17 mostra que esse movimento científico- nível de suporte possível para o interesse
azul pensando o caso do Brasil. Por fim, o cação de bens e pessoas – portanto, aborda -tecnológico-sustentável-econômico voltado do país mirando uma Economia Azul. No
capítulo 8 analisa as contribuições da cul- como essas linhas de comunicação têm evo- ao mar tem despertado múltiplos interesses capítulo 19 é apresentado um panorama
tura oceânica (ocean literacy) para a pro- luído, inclusive, com nova perspectiva que é e crescentes arranjos, tanto internacionais – de algumas iniciativas brasileiras em curso,
moção da economia azul, com particular o “transporte de dados” por cabos submari- exemplificados –, quanto nacionais, com di- envolvendo órgãos federais, universidades,
atenção à interface com o setor privado e nos. O capítulo 11 refaz a trajetória difícil de versos exemplos inovadores, sublimando que algumas empresas privadas, com foco nas
o comprometimento com um futuro sus- regulação internacional do uso dos mares. algumas unidades federativas têm empres- iniciativas associadas ao monitoramento
tentável. Em seguida, a próxima seção visa Mesmo cobrindo mais de 70% da superfície tado relevante esforço nessa maritimidade oceânico. É dado destaque ao Programa
a analisar a base normativa para a maioria terrestre, somente no século XX pode-se crescente. Por fim, capítulo 18 procura res- GOOS-Brasil, coordenado pela Marinha
das discussões, à luz das contribuições da considerar que essa consolidação regu- gatar como o mundo tem procurado atuar do Brasil (MB), correspondendo ao sistema
governança e da regulação do oceano. latória começou a se estruturar, mas que na regulação do uso do mar, fazendo uso de mais longevo existente em âmbito nacional,
24 25
subsidiando ações que visem à maximiza- SEÇÃO um modelo, nomeado, Design de Negó- bal Biodiversity Information Facility (GBIF)
ção dos benefícios socioeconômicos e ao
retorno seguro do investimento público na 4 cios Azuis, para identificar setores e ativi-
dades econômicas mais compatíveis aos
e a Global Fishing Watch. No capítulo 36
o turismo costeiro é destacado através de
área da Economia Azul. No capítulo 20 é territórios dos municípios costeiros. O capí- uma abordagem econômica e de identifi-
abordado, a partir de exemplos concretos, tulo 30 empenha-se em apresentar o esta- cação das áreas potencialmente beneficia-
o estado da arte da compreensão de alguns do da arte das ocorrências de hidratos de das pelo turismo azul, sem antes propor
dos principais fenômenos geofísicos asso- gás na margem continental, destacando uma definição de turismo azul de acordo
ciados às mudanças climáticas que possuem sua abundância nos oceanos e a projeção com as características das economias das
consequências importantes sobre o oceano de possível substituição progressiva do regiões brasileiras. Por fim, o capítulo 37
e o clima e, consequentemente, sobre os gás natural. No capítulo 31 destacam-se ocupa-se em expressar o perfil do traba-
diferentes setores da economia do país. O as possibilidades vislumbradas no espaço lhador associado às atividades litorâneas
capítulo 21 enfoca que processos oceânicos SEÇÃO
567
oceânico para o aproveitamento energéti- da zona costeira metropolitana brasileira.
e escalas são observados e como essas ob- 566 ECONOMIA
566 ECONOMIAAZUL
AZUL
4
OOBrasil
Brasildo
doMar
Mareeda
daCosta
Costa 567
co renovável, entre eles, as fontes de ener- Neste sentido, são abordados aspectos
servações são (ou podem ser) utilizadas para gia de onda e corrente de maré e o grande das ocupações classificadas como costei-
prover apoio à Economia Azul no Brasil. O A seção 4 da obra aprofunda-se nas interesse e planejamento de empreendi- ras e do mar, considerando variáveis como
capítulo 22 aborda algumas das principais questões mais econômicas e mensuráveis mentos em parques eólicos offshore em escolaridade, gênero, idade, salário, ad-
tecnologias inovadoras necessárias para da Economia Azul brasileira. Ressaltando diferentes países, inclusive no Brasil. O ca- mitidos e desligados à luz das estatísticas
o desenvolvimento da Economia Azul. Já que existem poucos dados estatísticos pítulo 32 é dedicado ao transporte marí- oficiais nacionais.
no capítulo 23 é analisado o potencial dos específicos sobre a contribuição do mar timo e infraestrutura portuária, evidencia Desta forma, ainda que haja um longo
biorrecursos marinhos, muitos deles ainda para a economia brasileira, reforçando a o importante papel econômico, pois ope- caminho a percorrer tanto em termos de
inexplorados, como fonte de novos produ- importância da obra. Assim, o capítulo ram, por exemplo, como meios integrado- melhor conhecermos e aproveitarmos as po-
tos e processos, e as formas que estes po- 27 apresenta estatísticas concernentes à res das cadeias logísticas locais, regionais tencialidades marítimas que se apresentam
dem ajudar o Brasil a enfrentar os desafios economia marinha e costeira brasileira, e internacionais. O capítulo 33 dedica-se a ao Brasil, dada sua privilegiada posição oce-
globais na promoção da saúde e na geração buscando apresentar, quantitativamente, apresentar um panorama da indústria de ânica, quanto em termos de mapearmos e
de alimentos e de energia. O capítulo 24 o PIB do Mar, sua contribuição ao PIB na- construção naval brasileira, destacando valorarmos toda essa intrincada rede de ex-
apresenta uma visão estratégica de proteção cional, bem como o contingente de tra- sua evolução e importância socioeconô- ternalidades, espera-se que a presente obra
e monitoramento de nossa Economia Azul. balhadores formais e informais, especial- mica para o país. No capítulo 34 são en- apresentada seja um relevante marco ao co-
No Capítulo 25 são apresentadas e discuti- mente comparando com dados anteriores fatizadas contribuições que a Segurança e nhecimento científico e em perspectiva sobre
das as diversas tecnologias, que envolvem por meio de uma Matriz Nacional de In- a Defesa prestam à atividade econômica o valor da economia azul para o desenvolvi-
reações e processos nucleares, que foram sumo-Produto que criou os setores mari- sustentável no ambiente marítimo. O ca- mento nacional. Contando com a contribui-
criadas e aprimoradas ao longo dos anos, nhos, denominada Matriz Insumo Produto pítulo 35 enfatiza a análise da distribuição ção de especialistas de diferentes áreas do sa-
seus espectros de aplicação e sua utilização do Mar do Brasil (MIPBr Mar), enfatizando espacial das frotas pesqueiras no mar bra- ber, o livro busca apresentar uma abordagem
no ambiente marinho. Por fim, no capítulo que tal método -Matriz Insumo Produto - sileiro visando a contribuição com os sub- nacional e, particularmente, interdisciplinar
26 são apresentadas as informações preli- é utilizado pelo Instituto Brasileiro de Ge- sídios para o planejamento espacial e or- para dar conta dos complexos desafios e das
minares sobre as ações empreendidas pelo ografia e Estatística (IBGE) para mensurar denamento da pescaria. É dado destaque diversas oportunidades para a promoção da
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações o PIB brasileiro. O capítulo 28 propõe uma para bases de dados como o Ocean Biodi- economia azul do Brasil como vetor de de-
(MCTI) e demais instituições com interesse na ferramenta de financiamento atual e efe- versity Information System (OBIS), o Glo- senvolvimento sustentável brasileiro.
pesquisa oceânica, em prol da qualificação tiva para a economia azul brasileira dada
de uma Organização Social (OS), cuja missão a pouca discussão da oferta firme de re-
será a de promover as ciências do mar de for- cursos financeiros, suas origens, seus ins-
ma integrada e transdisciplinar, permitindo o trumentos e as possibilidades estratégicas
enfretamento dos desafios nacionais nessa para que se garanta um retorno apropriado
área em prol de um oceano sustentável. aos projetos. No capítulo 29 é apresentado
26 27
PERFIL DOS AUTORES
Organizadores
Thauan Santos – Organizador da Seção I
Professor Adjunto de Economia do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola
de Guerra Naval (PPGEM/EGN) e Coordenador do Grupo Economia do Mar (GEM). Economista
(UFRJ), mestre em Relações Internacionais (PUC-Rio) e doutor em Planejamento Energético (COPPE/
UFRJ)
André Panno Beirão – Organizador da Seção II
Doutor em Direito Internacional pela UERJ. Mestre em Ciências Navais (EGN) e em Ciência Políti-
ca (UFRJ). Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra
Naval (Mestrado e Doutorado Profissionais), Coordenador do Observatório de Políticas Marítimas.
Moacyr Cunha de Araújo Filho – Organizador da Seção III
Professor Associado do Departamento de Oceanografia e Vice-reitor da Universidade Federal
de Pernambuco – UFPE. Coordenador da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climá-
ticas Globais – Rede CLIMA.
Andréa Bento Carvalho – Organizadora da Seção IV
Professora Adjunta do Instituto de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da Univer-
sidade Federal do Rio Grande (ICEAC/FURG). Doutora em Economia pela PUCRS (2018). Mestre
em Geografia pela FURG (2011). Economista pela Universidade Federal de Pelotas (2008).
Autores
Adolpho Herbert Augustin Aldo Aloísio Dantas da Silva
Geólogo pela UFRGS (2005). Mestre em Geo- Geógrafo. Professor Titular do Departamen-
química pela UFRGS (2007). Atua na área de to de Geografia da UFRN. Especialista e Pes-
geofísica marinha há 11 anos no IPR/PUCRS. quisador na área de Planejamento e Análise
Coordena e participa de missões oceanográfi- Territorial.
cas para coleta de dados geofísicos e amostras
de hidratos de gás. Alexandre Rocha Violante
Professor Colaborador em Relações Interna-
Adriana Isabelle Barbosa de Sá Leitão
cionais do INEST-UFF. Instrutor de Relações
Doutoranda em Direito Comercial, Direito In-
Internacionais da Escola de Guerra Naval e
ternacional e Europeu e Processo na Universi-
Coordenador Executivo do Centro de Estudos
tà di Pisa – Itália. Mestra e Bacharela em Direi-
Estratégicos e Planejamento Espacial Marinho
to pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
(CEDEPEM).
Estagiária do Centro Internacional de Direito
Ambiental Comparado (CIDCE). Pesquisadora Ana Flávia Barros-Platiau
do DIsF, do GEDAI/UFC e do CEDMAR/USP. Doutora em Relações Internacionais pela
Adriano Roessler Viana Université de Paris I (Panthéon-Sorbonne).
Geólogo pela Universidade Federal do Rio Gran- Professora Associada da Universidade de Bra-
de do Sul. Doutor em Sedimentologia e Geo- sília, no Instituto de Relações Internacionais.
logia Marinha pela Universidade de Bordeaux, Diretora do Brasilia Research Centre do Earth
França. Atua na Petrobras desde 1986 e, no System Governance. Pesquisadora do Centro
momento, na Academia da Exploração. de Estudos Globais da UnB.
29
Andrei de Abreu Sodré Polejack Legislativo no Senado Federal para as áreas de Geólogo de acompanhamento na EXLOG (Labomar) da Universidade Federal do Ceará
Pesquisador da World Maritime University Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. (BAKER). Atualmente coordena o grupo de (UFC). Atua nas áreas de Dinâmica Oceâni-
(ONU) e Analista Sênior do Ministério da Ci- Doutorando no Instituto de Relações Interna- geoquímica de superfície no Centro de Pes- ca, Interações Oceano-Atmosfera, intercone-
ência, Tecnologia e Inovações, atuando nos cionais da Universidade de Brasília. quisas da Petrobras (CENPES). xões entre os oceanos tropicais e previsibili-
temas afetos ao papel da ciência na gover- Caroline Schio Eduardo Rodrigues Sanguinet dade climática.
nança do oceano e da Antártica. Recente- Presidente do Instituto Monitoramento Mi- Bacharel em Economia (UFSM). Mestre em Giovanni Roriz Lyra Hilliebrand
mente tem se dedicado ao estudo da diplo- rim Costeiro. Bacharela em Oceanografia. Desenvolvimento Rural (UFRGS). Doutor em Professor de Relações Internacionais no Insti-
macia científica no oceano. Pós-Graduação em Economia e Gestão Pes- Economia Aplicada (menção em Estudios Re- tuto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e
Andréia Pereira de Freitas queira. Mestre em Agroecossistemas. Douto- gionais – UCN, Chile). Doutor em Economia do Pesquisa (IDP). Doutorando em Relações Inter-
Doutora e Mestre em Economia do Desen- randa em Didática das Ciências na Universi- Desenvolvimento (concentração em Economia nacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e
volvimento pela PUCRS. Especialista em Eco- dade de Lisboa. Regional – PUCRS), Pós-Doutor em Economia membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
nomia e Finanças pela UFRGS. Economista Cláudia Maria Resende de Souza (USP). Atualmente é Professor e Pesquisador do Segurança Internacional (GEPSI/UnB). Atua na
pela Faculdade Integrada Candido Mendes Advogada pela UCAM. MBA em Direito da Instituto de Economia Agraria da Universidad área de Política Internacional.
(FCM). Atua como pesquisadora nas áreas Economia e da Empresa pela FGV-RJ e Dou- Austral de Chile.
Giselle Pinto de Faria Lopes
de índices econômicos, mercado de traba- toranda em Biotecnologia e Biodiversidade Fabiana Abreu di Valle Ventura Piassi Biomédica. Mestre e Doutora em Ciências
lho e inovação. pela UnB. Representante em conselhos fe- Doutoranda em Ciências Jurídicas Internacio- Morfológicas (UFRJ) com Doutorado San-
Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho derais e fóruns internacionais nas áreas de nais e Europeias pela Faculdade de Direito da dwich na França. Pós-Doutora em Oncologia
Consultor Técnico da Amazul. Assessor Especial biodiversidade, biotecnologia, oceanos, ex- Universidade de Lisboa (FDUL). (INCA) e Bioprospecção (UFBA) com período
da Agência Naval de Segurança Nuclear e Qua- tensão da plataforma continental jurídica Fábio Nascimento de Carvalho Sandwich em Taiwan. Pesquisadora Associada
lidade – AgNSNQ/MB. Professor Titular (aposen- brasileira e exploração mineral marinha. Pesquisador da COPPE/UFRJ desde 1989. En- e docente da Pós-Graduação em Biotecnolo-
tado) do Instituto de Física da UFRJ. Professor Claudio Coreixas de Moraes genheiro Eletrônico. Mestre em Instrumenta- gia Marinha da UFF/IEAPM.
Colaborador do CBPF. Ex-Presidente do CNPq; Capitão de mar e guerra do Corpo da Arma- ção Oceanográfica e Doutor em Hidrodinâ- Guilherme da Silva Sineiro
ex-Diretor da ABDI, Finep, CNPEM e Inmetro. da. Comandou o AvIn GM Jansen da Escola mica. Atua em Instrumentação e coordena o Assessor Especial da AgNSNQ. Assessor do
Carlos Alessandre Domingos Lentini Naval. Mestre em Modelagem e Simulação programa Melhores Práticas na Observação Núcleo do Escritório de Desenvolvimento
Doutor em Oceanografia Física e Meteorologia em Ambientes Virtuais na Naval Postgraduate do Oceano do GOO-Brasil. Tecnológico Industrial da Marinha (NuED-
pela Rosenstiel School of Marine and Atmos- School (NPS) em Monterey, CA (EUA). Dou- Fabrice Paul Antonie Hernandez TI). Gerente Participante dos EM 19 e 20 do
pheric Science da Universidade de Miami, EUA. torando na COPPE/UFRJ em Simulação Hidro- PhD em Oceanografia. Pesquisador do Institut PROSUB. Chefe do Departamento de P&D
Desde 2007, é Professor do Departamento de dinâmica. Gerente de desenvolvimento de de Recherche pour le Développement (IRD, do IPqM. Assessor Técnico do Grupo de Es-
Física da Terra e do Meio Ambiente do Instituto simuladores da MB. França). Membro do comitê da PIRATA (Fran- pecialistas Técnicos do Regime de Controle
de Física da Universidade Federal da Bahia. Claudio da Silva Tarrisse Fontoura ça). Especialista em sensoriamento remoto, de Tecnologia de Mísseis (Missile Technology
Carlos Alberto Eiras Garcia Bacharel em Engenharia Naval (1978). Atua na oceanografia operacional e tropical. Atua no Control Regime – MTCR).
Bacharel em Física pela Unicamp. Mestre e Diretoria de Engenharia Naval – Comando da Brasil como Professor Visitante no Departa- Guilherme Lopes da Cunha
Doutor em Oceanografia pela Universidade de Marinha desde 1979. Atualmente é Assessor mento de Oceanografia da UFPE desde 2018, Professor Adjunto e Coordenador Acadêmico
Southampton (UK) e Pós-Doutor em Sensoria- da Diretoria. Cursou a ESG – Curso de Altos em colaboração com o IRD. da Divisão de Assuntos Militares da Escola Su-
mento Remoto dos Oceanos pela GSFC/NASA Estudos de Política e Estratégia (2015). Frederico Medeiros Vasconcelos De Albu- perior de Guerra (ESG), Ministério da Defesa.
(USA). Coordena o Sistema de Monitoramento Clemente Augusto Souza Tanajura querque Pós-Doutor em Relações Internacionais pelo
da Costa Brasileira (SIMCosta). Especialista em assimilação de dados oceano- Bacharel pela EN (1998). Mestre em Pesquisa Instituto de Relações Internacionais (UnB).
Carlos Henrique de Lima Zampieri gráficos e modelagem oceânica atmosférica. Operacional pela UFRJ (2011). Curso Avança- Doutor e Mestre em Economia Política Inter-
Contra-Almirante. Doutor em Ciências Navais Professor Associado do Instituto de Física da do de Estado-Maior na Escola de Guerra de nacional (UFRJ).
pela Escola de Guerra Naval. MBA de Adminis- UFBA. Vice-Coordenador da REMO e mem- Minas belgo-holandesa (EGUERMIN-2012). Gustavo Calero Garriga Pires
tração de Empresas com Ênfase em Gestão pela bro do Comitê Científico do OceanPredict. Foi Assessor de Espaços Marinhos e Mentalida- Contra-Almirante, comandou o Navio-Patru-
Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, exerce o pesquisador do LNCC/MCTI. de Marítima da Diretoria Geral de Navegação lha Gurupá, a Fragata União, o Navio-Esco-
cargo de Subchefe de Assuntos Marítimos do Dennis James Miller em 2021 e Capitão dos Portos de Pernambu- la Brasil e o Centro Integrado de Segurança
Estado-Maior da Armada. Bacharel em Geologia pela Northern Arizo- co de 2022 a 2024. Marítima (CISMAR). Atualmente exerce o car-
Carlos Henrique Tomé na University (EUA-1984) e Mestre em Siste- Gbekpo Aubains Hounsou-Gbo go de Comandante de Operações Marítimas
Engenheiro Civil e Advogado. Consultor mas Petrolíferos pela UFRJ – COPPE (2006). Professor no Instituto de Ciências do Mar e Proteção da Amazônia Azul (COMPAAz) e
30 31
de Subchefe de Operações do Comando de mestre em Estudos Estratégicos (PPGEST/UFF). científicos nas temáticas de gerenciamento Luiz Frederico Rodrigues
Operações Navais. Pesquisadora do Núcleo de Avaliação da Con- costeiro e geoprocessamento. Doutor em Química Analítica pela UFSM
Gustavo Inácio de Moraes juntura (NAC) da Escola de Guerra Naval; e do Karen de Oliveira Silverwood Cope (2010). Pós-Doutor em Geoquímica Isotópica
Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ- Grupo Economia do Mar (GEM), no subgrupo Especialista em Políticas Públicas e Gestão pela UFF (2016). Foi Geoquímico na PUCRS
-USP. Mestre em Desenvolvimento Econômico de Construção e Reparação Naval. Governamental do Ministério da Economia (2010-2022). Atualmente é Professor Visitan-
pela UFPR (2005) e Bacharel em Ciências Eco- João Batista Barbosa no Governo Federal em temas relacionados te da FURG na Escola de Química e Alimentos.
nômicas pela FEA-USP (1999). Atualmente é Comandante do Navio Patrulha Poti e do ao meio ambiente e mudança do clima des- Marcelo Francisco de Nóbrega
Professor Doutor da PUCRS. Navio Patrulha Roraima. Capitão dos Portos de 2009. Atualmente é Coordenadora-Geral Biólogo. Doutor em Oceanografia Biológica pela
Ilques Barbosa Júnior de Sergipe. Assessor de Defesa no Itamaraty. de Oceano, Antártica e Geociências no Mi- Universidade Federal de Rio Grande. Atualmen-
Na Marinha do Brasil, exerceu 15 cargos de Comandante do Centro Integrado de Segu- nistério de Ciência, Tecnologia e Inovações. te é Professor do Departamento de Oceano-
Comando e Direção, entre os quais Coman- rança Marítima. Atualmente é o Comandan- Karina Simone Sass grafia da Universidade Federal de Pernambuco.
dante-em-Chefe da Esquadra, Diretor-Geral te do Centro de Operações Marítimas (CO- Bacharela em Ciências Econômicas (UFPR). Atua na área de geoprocessamento e dinâmica
do Pessoal da Marinha, Chefe do Estado pMar), cumulativamente com o Comando Mestra em Desenvolvimento Econômico populacional de estoques pesqueiros marinhos.
Maior da Armada e Comandante da Mari- Local do Controle Operativo Brasil. (UFPR). Doutora em Economia do Desenvol- Marcelo José das Neves
nha. Atualmente é assessor da Presidência João Luiz Nicolodi vimento (USP). Atualmente é Pesquisadora na Doutorando em Estudos Marítimos pela Es-
da Transpetro. Doutor em Geociências pela Universidade Fe- Universidade dos Açores (Portugal). cola de Guerra Naval. Mestre em Direito pela
Israel de Oliveira Andrade deral do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Leandra Regina Gonçalves Universidade Católica de Santos. Pós-Gradua-
Professor universitário. Pesquisador do Insti- do Instituto de Oceanografia da Universidade Professora no Instituto do Mar e da Univer- ção em Direito Marítimo pela Fundação Getú-
tuto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Federal de Rio Grande (FURG). Coordenador sidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Bió- lio Vargas – FGV/RJ. Bacharel em Direito pela
Atua em assuntos de soberania e defesa na- do Grupo de Pesquisa vinculado ao CNPq – loga e Doutora em Relações Internacionais. Universidade de Taubaté. Professor de Direito
cional, economia de defesa, base industrial de Grupo de Ações Integradas em Gerenciamen- Há mais de 10 anos pesquisa as diferentes Marítimo na Escola de Formação de Oficiais
defesa e economia azul. Organizador de livros to Costeiro – GAIGERCO. dimensões da gestão e governança costeira da Marinha Mercante (EFOMM/RJ).
e autor de capítulos e artigos científicos sobre João Marcelo Medina Ketzer e marinha. Marcio Borges Ferreira
defesa e segurança, no Brasil e no exterior. Bacharel em Geologia pela Universidade Fe- Doutor em Oceanografia. Capitão de Mar e
Letícia Cotrim da Cunha
Jade Moreira deral do Rio Grande do Sul (1994) e Mestre Professora associada de Oceanografia Quí- Guerra da Marinha do Brasil e Chefe da Di-
Bacharela e licenciada em Geografia pela Pon- em Geociências pela mesma universidade mica da UERJ. Foi coautora do 6º Relatório visão de Pesquisas do Colégio Interamerica-
tifícia Universidade Católica do Rio Grande (1997). Doutor pela Universidade de Uppsa- de Avaliação do Clima do IPCC. Integra a no de Defesa em Washington, D.C. Exerceu
do Sul – PUCRS (2013). Mestre em Geogra- la (Suécia-2002) e Pós-Doutor pelo Instituto Rede Clima desde 2018 e colidera a Rede a função de Assessor de Espaços Marinhos e
fia pela Universidade Federal do Rio Grande Francês do Petróleo (2004). Atualmente é Brasileira de Pesquisa sobre Acidificação dos Mentalidade Marítima na DGN.
– FURG (2021). Atualmente é Doutoranda em Professor Titular do Departamento de Biolo- Oceanos.
gia e Ciências Ambientais da Universidade de Mariana Graciosa Pereira
Geociências – Geologia Marinha pela Univer-
Linnaeus (Suécia). Lohengrin Dias de Almeida Fernandes Mestre em Economia pela Universidade de
sidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Pesquisador-chefe da Divisão de Biotecno- Brasília. Analista Ambiental do IBAMA na Di-
Jaílson Bittencourt de Andrade Jorge Eduardo Lins Oliveira logia Aplicada. Líder do grupo de Microbio- retoria de Licenciamento Ambiental. Atuou
Professor Titular e Pró-reitor de Pesquisa e Doutor em Ciências. Professor Titular da Uni- logia Marinha/Plâncton e Professor do Pro- na Divisão de Assuntos Oceânicos e Direito do
Pós-Graduação do Centro Universitário SENAI versidade Federal do Rio Grande do Norte. grama de Pós-Graduação em Biotecnologia Mar da Organização das Nações Unidas e no
CIMATEC. Pesquisador do CNPq desde 1988, José Antonio Cupertino Marinha IEAPM/UFF. Departamento de Áreas Protegidas do Minis-
atualmente está no nível 1A. Bacharel em Geologia (1978). Doutor em Ci- tério do Meio Ambiente.
Luan Santos
Janice Romaguera Trotte-Duhá ências (D.Sc.) na área de estratigrafia (2000). Pós-Doutor em Economia do Clima e do Meio Marinez Eymael Garcia Scherer
Oceanógrafa, com 36 anos de serviços na MB, Atualmente desempenha a função de asses- Ambiente (Universität Graz, Áustria). Doutor Bióloga. Doutora em Ciências do Mar. Profes-
em cargos no Brasil e no exterior (COI – UNES- sor de pesquisa do Instituto do Petróleo e dos e Mestre em Planejamento Energético e Am- sora e Pesquisadora da Universidade Federal
CO) ligados às Observações Oceânicas. De 2011 Recursos Naturais/PUCRS. biental (PPE/COPPE/UFRJ). Bacharel em Mate- de Santa Catarina (UFSC). Coordenadora do
a 2013, cedida ao MCTI, participou de discus- José Maurício de Camargo mática (IME/UFF) e em Administração (FACC/ Laboratório de Gestão Costeira Integrada –
sões para a criação da OS-INPO. Na DGDNTM, Geógrafo. Técnico Agrimensor e Técnico UFRJ). Professor da Faculdade de Administra- LAGECI. Suas principais áreas de interesse são
contribuiu para a criação da ComTecPolÓleo. em Informática. Mestre em Gerenciamen- ção e Ciências Contábeis (FACC/UFRJ) e do Gestão Integrada da Zona Costeira, Planeja-
Jéssica Pires Barbosa Barreto to Costeiro e Doutor em Geografia. Atua Programa de Engenharia de Produção (PEP/ mento Espacial Marinho, Gestão com Base
Mestre em Estudos Marítimos (PPGEM/EGN) e em consultoria ambiental e projetos técnico- COPPE/UFRJ). Escossistêmica e Gestão da Orla.
32 33
Matheus Assis de Oliveira Fluvial pela Universidade Estadual Paulista UNESP Geodésica e Geomática pela University of Coordenadora do Projeto Meio ambiente
Bacharel em Biologia pela Universidade Fede- – Faculdade Tecnologia de Jahu (FATEC-Jahu). New Brunswick (Canadá). costeiro face a crise do sargassum – Proc.
ral de Pernambuco. Atualmente integra o La- Paschoal Prearo Junior 2019/22201-4 FAPESP. Bolsista de Produtivi-
Rodrigo Fernandes More
boratório de Avaliação e Geoprocessamento Advogado. Pós-Graduado em Direito Am- dade em pesquisa CNPq.
Professor do Instituto do Mar da Universidade
de Estoques Pesqueiros, pesquisando a diver- biental (UCAM). Doutorando em Sistemas de Federal de São Paulo. Taíssi Pepe de Medeiros Farias
sidade taxonômica e funcional da ictiofauna Gestão Sustentáveis (UFF). Professor da Uni-
Rogério de Oliveira Gonçalves Bacharela em Relações Internacionais (UFF).
em Pernambuco na Pós-Graduação em Ocea- versidade Veiga de Almeida (UVA) e da Fun-
Advogado (UnB) e Pós-graduando em Direito Mestra em Estudos Marítimos (PPGEM – Es-
nografia (mestrado) – UFPE. dação de Estudos do Mar (FEMAR). Consultor
Marítimo e Portuário (MLAW, Brasil). Capitão cola de Guerra Naval). Assessora na DGN-MB,
Maurício Pires Malburg da Silveira Técnico-Jurídico e Auditor. tendo atuado no setor marítimo e em institui-
de Mar e Guerra (RM1) da Marinha do Brasil.
Diretor do CASNAV (2017 a 2020). Encarrega- Paulo Nobre ções e empresas públicas, CEPE-MB/AMAZUL
Research Fellow no CEDMAR/USP.
do da Divisão de Sistemas da Subchefia de BS. USP; M.Sc. INPE; Ph.D. University of e EMGEPRON, com participação direta na
Operações do Comando de Operações Na- Ronaldo Adriano Christofoletti fundação do Cluster Tecnológico Naval do RJ.
Maryland, EUA (1993) Meteorologia, Pós-Dou-
vais (2011 a 2017). Responsável pelo desen- Professor do Instituto do Mar da Universidade
tor pela Columbia University, EUA (1999) Ocea- Tiago Vinicius Zanella
volvimento do SisNC2 entre os anos de 1997 Federal de São Paulo (IMAR – UNIFESP). Coor-
nografia. Prof. M.Sc., Dr. INPE; Coordenador de Professor da Escola de Guerra Naval (EGN).
e 2007. Bacharel e Pós-Graduado em Tecnolo- denador do Programa Maré de Ciência. Membro
Projetos PIRATA-BR; SisMOM/MCTI. Membro do Doutor em Ciências Jurídico-internacionais e
gia da Informação. Curso Superior da Escola de do Programa Ocean Literacy With All – Unesco.
Safe Landing Climate Lighthouse Activity WCRP. Europeias pela Faculdade de Direito da Uni-
Guerra Naval. Ricardo Coutinho
Raquel Costa versidade de Lisboa. Presidente do IBD Mar
Miguel Marques Geóloga marinha com especialização em Ci- Pesquisador Titular do Instituto de Estudos do (Instituto Brasileiro de Direito do Mar). Con-
Especialista internacional em assuntos do mar. ências da Educação. Formadora de professo- Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM). Chefe sultor Jurídico da UNODC (Escritório das Na-
Autor de dezenas de estudos internacionais res, editora e revisora de artigos de Literacia do Departamento de Biotecnologia Marinha. ções Unidas para drogas e crimes).
sobre o estado da economia do mar e funda- do Oceano. Coordena o programa nacional Coordenador da Pós-Graduação em Biotec-
Tarin Cristino Frota Mont’Alverne
dor do primeiro centro de excelência mundial Escola Azul do Ministério da Economia e do nologia Marinha do IEAPM/UFF. Pesquisador
Professora da Faculdade de Direito da Univer-
dedicado à economia azul. Mar de Portugal e integra a coordenação do IB (CNPq). Ph.D em Biologia pela University
sidade Federal do Ceará (UFC). Coordenadora
All Atlantic Blue School. of South Carolina (1987). Pós-Doc pela Duke
Milad Shadman do Módulo Jean Monnet. Coordenadora do
University (2003) e WHOI (2004), EUA.
Professor Visitante do Programa de Engenha- Regina Rodrigues Rodrigues Projeto de Pesquisa “Estratégias para a gestão
ria Oceânica da COPPE/Universidade Federal Professora Associada da UFSC na área de Oce- Segen Farid Estefen sustentável dos resíduos plásticos nos mares e
do Rio de Janeiro (UFRJ-2020) pela COPPE/ anografia Física e Coordenadora da Sub-rede Professor Titular de Estruturas Oceânicas e oceanos: contribuições para um diálogo entre o
UFRJ. Faz pesquisas relacionadas à análise das Desastres Naturais da Rede CLIMA. Membra Engenharia Submarina da COPPE – Universi- nacional, o regional e o internacional”, financia-
turbinas eólicas flutuantes, projeto e controle do WGIII do IPCC, do Comitê Científico do dade Federal do Rio de Janeiro. Coordenador do pelo CNPQ. Bolsista por produtividade – PQ.
dos conversores de energia de onda. Programa PIRATA e do corpo editorial da re- do Grupo de Energia Renovável no Oceano.
Vínicius França Machado
vista Nature Comms. Earth & Env. Coordena Fellow American Society of Mechanical Engine-
Natalia Ramos Corraini Gerente Geral de Pesquisa, Desenvolvimento
o Painel Regional do Atlântico do CLIVAR e a ers e Society for Underwater Technology. Mem-
Bacharela em Ciências Biológicas, com habili- e Inovação no CENPES, Centro de Pesquisas
Atividade Meu Risco Climático do WCRP. bro da Academia Brasileira de Engenharia.
tação em Biologia Marinha e Gerenciamento da Petrobras. Bacharel em Engenharia Civil.
Costeiro pela Universidade Estadual Paulista Renato Machado Cotta Sérgio Ricardo da Silveira Barros Pós-Graduado em Engenharia do Petróleo.
(UNESP). Mestre em Oceanografia pela Uni- Engenheiro Mecânico/Nuclear (UFRJ). PhD Mech. Professor Associado da Universidade Fede- MSc em Engenharia Civil pela COPPE e MBA
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC). & Aerospace Eng. NCSU (EUA). Doctor Hono- ral Fluminense no Departamento de Análise Executivo pela Fundação Dom Cabral. Atua
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação ris Causae pela Université de Reinms (França). Geoambiental do Instituto de Geociências e há 18 anos em P,D & I nas áreas de Exploração
de Geografia da Universidade Federal de San- Membro da Academia Brasileira de Ciências, da do Programa de Pós-Graduação em Sistemas e Produção de Petróleo.
ta Catarina (UFSC). Academia Nacional de Engenharia e da World de Gestão UFF. Coordenador da REMADS –
William de Sousa Moreira
Academy of Sciences (TWAS). Membro do Con- Rede UFF de Meio Ambiente e Desenvolvi-
Newton Narciso Pereira Professor Doutor do Programa de Pós-Gra-
selho Nacional de Política Energética (CNPE). mento Sustentável.
Professor Adjunto da Universidade Federal Flu- duação em Estudos Marítimos da Escola de
minense lotado na Escola de Engenharia Indus- Rodrigo de Campos Carvalho Solange Teles da Silva Guerra Naval (EGN). Capitão de Mar e Guerra
trial Metalúrgica de Volta Redonda (EEIMVR). Oficial da Marinha do Brasil. Bacharel em Professora da Faculdade de Direito – Gradu- (RM1), é assessor de CT&I da EGN. Doutor em
Pós-Doutor, Doutor e Mestre em Engenharia Eletrônica pela Escola Naval. Graduado no ação e Programa de Pós-Graduação stricto Ciências Navais (EGN) pelo sistema de Ensino
Naval e Oceânica pela USP. Engenheiro de Pro- Curso de Hidrografia pela Diretoria de Hidro- sensu em Direito Político e Econômico – da Naval e Doutor em Ciência Política pela Uni-
dução pela Universidade Guarulhos e Tecnólogo grafia e Navegação. Mestre em Engenharia Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). versidade Federal Fluminense.
34 35
SEÇÃO CONCEITOS, MÉTODOS
1 E AGENDA GLOBAL
mencionam a Amazônia Azul – razão pela no Unido, Itália, Espanha, Alemanha, Gré-
qual não é possível fornecer uma análise cia, Noruega e Portugal), Ásia (China, Índia, 300
detalhada do caso deste país neste capítu- Rússia, Paquistão, Japão e Tailândia). Do
lo, baseando na pesquisa bibliométrica.4 hemisfério sul, destacam-se países da Oce- 250
50
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
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2016
2017
2018
2019
2020*
Fonte: Santos (2021a, 2022)
que não tiveram nenhuma publicação iden- baixa produção sobre o tema; (ii) 2001-
tificada neste estudo. 2010, com um leve aumento da produ-
Quando se trata dos países mais citados, ção; e (iii) 2011-2020*, com crescimento
há uma considerável assimetria nesta análi- exponencial em publicações sobre o tema,
se, com os EUA muito à frente do segundo especialmente após a Conferência das
país no ranking. Entre os 5 países mais ci- Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
tados, destacam-se os EUA (2.508 citações), Sustentável (Rio+20), em 2012. A última
Reino Unido (649), Austrália (628), Canadá década foi responsável por 84,2% das pu-
(582) e Itália (311), respectivamente. O Bra- blicações na área, destacando a crescente
sil ocupa a 13ª posição, com 167 citações. relevância da agenda dos mares e oceano
Considerando os 20 países mais citados, nos últimos anos.
apenas China (281), Brasil (167), Taiwan
(92) e Jamaica (77) estão localizados fora da 2.2. Principais fontes
América do Norte ou Europa.
A Figura 2 mostra o crescimento da A Figura 3 apresenta as 10 fontes mais
produção no tema ao longo do tempo. A relevantes acumuladas sobre o assunto,
série cronológica pode ser dividida em três concentrando 84,7% dos estudos. Consi-
Fonte: Santos (2021a, 2022) períodos particulares: (i) 1959-2000, com derando o total acumulado no período de
40 ECONOMIA
40 ECONOMIA AZUL
AZUL Economia e o Mar: Métodos e Definições 41
1959 a 2020*, destacam-se os seguintes 1982. Ambos os journals concentram as Figura 4. Nuvem de palavras das 50 palavras mais frequentes baseadas em
journals, respectivamente: Marine Policy publicações desta natureza até meados dos palavras-chave extraídas dos artigos contemplados, 1959-2020*
(178 artigos, 30,6%), Journal of Coastal anos 1990, quando a Ocean and Coastal
Research (110, 18,9%), Ocean and Coastal Management publicou pela primeira vez na
Management (62, 10,7%), Frontiers in Ma- área, em 1994. Apesar de ter sua primeira
rine Science (31, 5,3%) e Maritime Policy publicação sobre o tema em 2015, o Jour-
and Management (24, 4,1%). nal of Coastal Research mais do que tripli-
Como no caso dos países mais citados e cou suas publicações entre 2019-2020*.
mais relevantes, a concentração desta variá- Embora o número de periódicos neste
vel analisada é novamente clara. Só a fonte assunto tenha aumentado nas últimas dé-
mais relevante é responsável por quase um cadas, o tema foi concentrado neste Top
terço das publicações acumuladas na área. 5 journals, já que a participação de outros
Se somadas à segunda posição, alcançam estava diminuindo ao longo do tempo em
metade das publicações da área; somadas, termos percentuais: 1990 (50,0%), 2000
as 5 primeiras representam quase 70% da (38,7%), 2010 (40,5%) e 2020 (30,4%).
produção acumulada do tema. Além disso, permanece o aumento signi-
Marine Policy é o journal que por mais ficativo acumulado de publicações sobre o
tempo publica sobre o tema, tendo sua pri- assunto, particularmente nas duas últimas
meira publicação em 1980, seguido pela décadas 2001-2010 (+117,6%) e 2011-
Maritime Policy and Management, cuja 2020* (+646,2%). Nos últimos anos, o nú-
primeira publicação sobre o tema data de mero de publicações sobre o tema cresceu
Fonte: Santos (2021a, 2022)
44 ECONOMIA
44 ECONOMIA AZUL
AZUL Economia e o Mar: Métodos e Definições 45
Mais recentemente, os anos de 2010 rentes indicam questões e agendas distin-
testemunharam um aumento nos temas, tas. Entretanto, é possível argumentar que Figura 7. Conceitos relacionados à Economia Azul
atores e sua frequência. Ao contrário das a década de 2010 é o período que compre-
análises temporais anteriores, é difícil iden- ende a discussão a partir da abordagem de
tificar a discussão (e sua natureza) que con- governança, destacando sua relevância nas
duz o período, uma vez que termos dife- seguintes questões:
1. Introdução
64 ECONOMIA
64 ECONOMIA AZUL
AZUL Economia e o Mar: Métodos e Indicadores 65
saúde e condição ecológica; (iii) benefício de custos de degradação (ONU, 2021). A Figura 2 proporciona melhor entendimento das relações entre as contas e os ecossiste-
para a sociedade: benefícios para as pessoas, Contudo, não é trivial a integração de mas considerados. Cabe destacar que o ecossistema marinho ser avaliado no referido escopo.
a economia e a sociedade – abrange tam- variáveis caracterizadas como estoques
bém um viés econômico ao incorporar os (em geral, abrangem dados do ecossis- Figura 2. A relação entre as contas do SEEA-EA
serviços ecossistêmicos; (iv) valor de ativos: tema) a variáveis fluxos (em especial, as ECOSYSTEM TYPES
ativos que fornecem serviços e benefícios no monetárias), o que desperta a atenção e
futuro, dependendo de seu estado ecológico evidencia o grande potencial do sistema Forests I Wetlands I Coral reefs I Agricultural land I ...
ACCOUNTS
e das demandas sociais por serviços ecossis- contábil em elaboração. A Tabela 2 apre-
têmicos; e (v) propriedade institucional: con- senta as relações das contas do SEE-EA, Opening and closing area
Extent account Ecosystem conversions
teúdos pertinentes a governança e alocação em termos físicos e monetários.
Tabela 2. As contas ecossistêmicas
Condition account Opening and closing condition
Contas
Conta Variáveis
Variáveis Propostas
Propostas
Ampliação do ecossistema Físicas Indicadores de composição e mudança nos
Ecosystem services Supply & Use Provisioning / Regulating & maintenance /
tipos de ecossistemas
flow accounts Cultural services
Condição do ecossistema Físicas Medição da capacidade de um ecossistema de
(Physical & Monetary
fornecer diferentes serviços ecossistêmicos; Used by: Business / Governments / Households
Integridade ecológica
Fluxo de serviços Físicas As TRUs registram os fluxos de serviços Monetary ecosystem Opening and Closing Values
asset account Ecosystem enhancement and Ecosystem degradation
ecossistêmicos ecossistêmicos finais fornecidos por ativos
ecossistêmicos e usados por unidades
Fonte: ONU (2021)
econômicas
4. Considerações finais
Registro de fluxos de serviços intermediários
entre ativos ecossistêmicos O escopo do presente capítulo foi Ao transformarem dados em informações,
apresentar uma concisa revisão de lite- as análises advindas de tais modelagens ha-
Fluxo de serviços Monetárias Estimativas de serviços ecossistêmicos são
ratura no que tange às principais meto- bilitam, por exemplo, a alteração, ou então,
ecossistêmicos baseadas na estimativa de preços de serviços dologias empregadas para contabilizar a criação de políticas públicas mais eficientes
ecossistêmicos individuais multiplicados pelas economia relacionada ao mar e quanti- para zonas costeiras e municípios litorâneos.
quantidades físicas registradas na conta de ficar seus impactos em países pioneiros Entre os métodos apontados, dois destacam-
e emergentes na referida temática. Os -se, sejam eles: Modelo IO e o Sistema de
fluxo de serviços ecossistêmicos físicos
principais objetivos que justificam a men- Contas Nacionais. Embora tenham suas limi-
Ativos do ecossistema Monetárias Registrar informações sobre estoques e suração da contribuição, quantificação e tações, como a não incorporação de mudan-
monetário variações de estoques dos ativos análise dos impactos inerentes dão-se no ças comportamentais dos agentes, ainda são
Tem por base a avaliação monetária dos âmbito da tomada de decisões por atores os mais utilizados e com grande capacidade
serviços ecossistêmicos a partir do VPL4
governamentais, players e a sociedade. preditiva, fazendo uso das Contas Nacionais.
66 ECONOMIA AZUL
66 ECONOMIA AZUL Economia e o Mar: Métodos e Indicadores 67
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INSTRUMENTOS ECONÔMICOS E
FINANCEIROS APLICADOS À ECONOMIA AZUL
Mariana Graciosa Pereira
Luan Santos
1. Introdução
1. Introdução
Thauan Santos
1. Introdução
102
102A ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Economia Azul
Economia Azul ee aa Agenda
Agenda 2030
2030 103
2. Agenda 2030 e seus 17 ODS logotipo dos ODS é alterado, mas o deba- et al. (2019) reuniram os ODS 13, 14 e 15
Em 2015, a Agenda 2030 foi aprovada, .. 14.1 poluição marinha; te acadêmico sobre a necessidade de en-
frentar e compreender a Agenda 2030 de
em um cluster de sistemas terrestres que de-
sejam identificar as sinergias e trade-offs no
levando ao estabelecimento dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que .. 14.2 oceano saudável;
14.3 acidificação oceânica;
forma integrada e conjunta é ampliado.
Diferentes atores, como os subnacionais,
encontro de vários ODS simultaneamente,
através de um Modelo de Avaliação Integra-
entraram em vigor a partir de 1º de janei- 14.4 pesca sustentável – sobrepesca e nacionais ou supranacionais, públicos e/ou da (IAMs, sigla em inglês). Em consonância
ro de 2016. Com 17 objetivos interligados, pesca ilegal, não declarada e não regula- privados, precisam considerar suas ativida- com estes autores que propõem diferentes
169 metas e 232 indicadores associados, a
ambiciosa Agenda 2030 foi adotada pela ..mentada (IUU, sigla em inglês);
14.5 áreas marinhas protegidas;
des como parte de um todo a ser alcança-
do, e não como um objetivo em si. Diante
estruturas para estruturar e agrupar os ODS,
Niestroy (2016) sugere três círculos concên-
Organização das Nações Unidas (ONU) para
enfrentar os grandes desafios do século . 14.7
14.6 subsídios à pesca;
benefícios econômicos para Peque-
deste dilema, cresce o debate sobre o agru-
pamento dos ODS, bem como a identifica-
tricos como uma ferramenta para agrupar
os ODS com base no bem-estar (ODS 1, 3,
XXI. O conjunto de objetivos, metas e in- nos Estados Insulares em Desenvolvimento ção e a medição de sua interdependência e 4, 5 e 10), na produção, distribuição e entre-
dicadores foca nas pessoas, no planeta, na (SIDS, sigla em inglês) e Países Menos De- influências mútuas, positivas ou negativas. ga de bens e serviços (ODS 2, 6, 7, 8, 9, 10
prosperidade, na paz e nas parcerias (co-
nhecidos como “os 5Ps”) e pode ser enten- ..
senvolvidos (LDCs, sigla em inglês);
14.a conhecimento e tecnologia;
Como será visto na seção 4 deste capí-
tulo, na prática existem diferentes interli-
e 12) e no ambiente natural (ODS 13, 14 e
15). Como já mencionado, os ODS 16 e 17
dido como uma abordagem mais holística
do que os ODM. . 14.b pesca em pequena escala; e
14.c desenvolvimento e implementação
gações e trade-offs entre os 17 objetivos
(ALLEN et al., 2018; BREUER et al., 2019;
são “colocados fora do círculo como meta
subjacente aos Meios de Implementação e
A agenda trata de diferentes tópicos, de leis. LU et al., 2015; LUSSEAU; MACINI, 2019; outras metas relacionadas à governança”
como pobreza (ODS 1), fome (ODS 2), MOYER; BOHL, 2019; NERINI et al., 2018; (NIESTROY, 2016, p. 10).
boa saúde e bem-estar (ODS 3), educação Portanto, o foco na perspectiva bio- PRADHAN, 2019; SANTOS; 2020, 2021; Apesar dessas abordagens alternativas,
de qualidade (ODS 4), igualdade de gê- lógica e ambiental do ODS 14 é bastante SANTOS; SANTOS, 2017; SCHERERER et muitas delas ainda reproduzem os proble-
nero (ODS 5), água limpa e saneamento evidente, o que também considera a assi- al., 2018). Portanto, o sucesso da Agenda mas que se propõem a resolver e superar,
(ODS 6), energia limpa e acessível (ODS metria entre diferentes estados no sistema 2030 depende do alcance conjunto dos di- tornando evidente a lógica segmentada dos
7), trabalho decente e crescimento eco- internacional ao abordar especificamente ferentes ODS, mesmo porque eles precisam ODS. Assim, como os ODS são influenciados
nômico (ODS 8), indústria, inovação e in- os SIDS e os PMDs (UN, 2016). Cabe des- ser pensados coletivamente. Em alguns ca- pelos ODM, dividindo os temas em dife-
fraestrutura (ODS 9), desigualdades (ODS tacar que este ODS também tem uma es- sos, como será demonstrado, a realização rentes objetivos, metas e indicadores, pode
10), cidades e comunidades sustentáveis treita relação com os objetivos da Década de uma meta específica associada a alguns ser limitado lidar com os atuais desafios do
(ODS 11), consumo e produção respon- do Oceano da ONU (UN, 2017) – objeto de ODS pode comprometer ou mesmo impe- sistema internacional em transição em dife-
sáveis (ODS 12), ação climática (ODS 13), discussão do próximo capítulo. dir a realização de outra meta, o que jus- rentes áreas com base na mesma lógica e
vida marinha (ODS 14), vida na terra (ODS De fato, a maioria dos trabalhos que tra- tifica esta complexa abordagem conjunta. instrumentos pré-existentes (SANTOS; SAN-
15), paz, justiça e instituições fortes (ODS ta da relevância dos mares e do oceano na Galvão (2020, p. 11) argumenta que “as TOS, 2017). Os desafios se tornam ainda
16) e parcerias para os objetivos (ODS Agenda 2030 tende a se concentrar exclu- interações sinérgicas dos ODS (ODS-Si) va- mais complexos em certas agendas, devido
17). Vale notar que o ODS 17 tem uma sivamente no ODS 14. A visão social e eco- riariam desde a parada (a interação mais a sua governança multinível e a sua natu-
natureza particular, pois lida com meios nômica associada às atividades que depen- negativa) até a inseparável (a forma mais reza transversal. Nesses casos, é necessário
de implementação (MoI, sigla em inglês), dem diretamente dos mares e do oceano é forte de interação positiva)”. considerar diferentes níveis de hierarquias,
como finanças, tecnologia, capacidade, desacreditada, aparecendo apenas margi- A abordagem do nexo pode proporcionar reunindo trade-offs entre coordenação do-
comércio, Coerência de Políticas para o nalmente nas metas 14.4, 14.6 e 14.b (que uma maior integração horizontal e vertical méstica e internacional. Este é precisamente
Desenvolvimento Sustentável (PCSD, si- tratam da pesca, incluindo a atividade ar- das políticas (LUCAS et al., 2016), de modo o caso dos mares e do oceano.
gla em inglês), parcerias e dados (OCDE, tesanal) e 14.7 (que tratam dos benefícios que “as responsabilidades devem ser defini-
2015). Paralelamente, alguns ODS tam- econômicos para os SIDS e PMDs). das, os sistemas de responsabilização colo- Oceans cover more than 70% of the
bém têm seu próprio MoI. Logo, consciente dos riscos associados cados em prática e as capacidades humanas planet’s surface and play a crucial role in
Em resumo, o ODS 14 (vida na água) à interpretação limitada a caixas fechadas construídas em conformidade” (WAAGE et planetary resilience and the provision of
aborda: em seus respectivos temas, não apenas o al., 2015, p. 87). Como exemplo, van Soest vital ecosystem services. [Given this key
108
108ECONOMIA
ECONOMIAAZUL
AZUL Economia Azul e a Agenda 2030 109
4. Mar e oceano na Agenda 2030 Tabela 1. Economia Azul na Agenda 2030 além do ODS 14, por ODS e metas
Conforme destacado na seção 2, fre- pesca IUU (em nível nacional), nutrição, ODS/
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 a b c d
Metas
quentemente se menciona apenas o ODS cooperação científica, contribuição eco-
1 X X X X X
14 quando se fala de mar e oceano no nômica e saúde dos oceanos. ICSU (2017)
2 X X
contexto da Agenda 2030 – ainda que se destaca que o ODS 14 está entre as que
3 X X
conheça os diferentes setores da economia mais interagem com as demais, tendo for-
4 X X X X X
do mar e, por extensão, suas interfaces tes relações com o ODS 1, 2, 8, 11, 12 e 13,
5 X X
com demais ODS. Portanto, com impactos totalizando 61 (interações positivas), 1 (inte-
6 X X X X X X X
nacionais e geopolíticos, esses setores con- ração neutra) e 35 (interações negativas). A
7 X X
templam muito mais do que apenas “vida publicação indica uma análise além de tra-
8 X X X X X
marinha” (foco do ODS 14). Não se defende de-offs e sinergias através da escala de sete 9 X X X X
aqui que a abordagem dos ODS seja inade- pontos, sugerindo algumas relações extras 10 X X
quada ou inapropriada, ou que se faça algo entre o ODS 14 e os outros não menciona- 11 X X X X X
diferente do que o mundo tem feito e vem dos acima – em linha com Santos (2019). 12 X X X X
fazendo. No entanto, há uma simplificação Singh et al. (2019, p. 317) argumentam 13 X X X X
relevante e um viés biológico significativo que “espera-se que a mudança influencie 14 X X X X X X X X X X
ao se analisar mares e o oceano na Agenda negativamente os serviços dos ecossiste- 15 X X X
2030 e, com frequência, na Década do Oce- mas marinhos através de estresses glo- 16 X X X X
ano, apenas por meio do ODS 14. bais – como o aquecimento dos oceanos 17 X X X X X X X
Em vista da proposta de agrupamen- e a acidificação – mas também através da Tabela 1. Economia Azul na Agenda 2030 além do ODS 14, por ODS e metas.
Fonte: Elaboração própria com base em UN (2016, 2017b)
to de ODS já apresentada, van Soest et al. amplificação de estresses locais e regionais, Fonte: Elaboração própria com base em UN (2016, 2017b).
(2019) mostram pouca interação entre ODS como o escoamento de água doce e a car-
14 e outros, sendo a interação mais próxima ga poluente”. Quando se trata da frequ-
com ODS 13 (mudança climática). Le Blanc ência com que cada ODS aparece nas seis
(2015) enfatiza a estreita relação entre ODS primeiras prioridades, o ODS 14 tem uma However, as the political framework no contexto da Agenda 2030 exige uma
14 e ODS 8 (crescimento e emprego) e ODS participação global menor (apenas 5,4%), that the SDGs provide does not reflect mudança de perspectiva, principalmente
12 (consumo e produção sustentáveis), con- atingindo uma participação máxima na Ásia the full picture and as some areas and porque se trata de um tema transversal. Este
cluindo que os ODS são mais completos e Oriental e no Pacífico (13,6%) e uma par- goals are rather weakly connected (in é o assunto principal da subseção seguinte.
mais interligadas do que os ODM. OCDE ticipação mínima na Europa e Ásia Central particular the SDGs 14 Oceans [...]), A Tabela 1 apresenta todos os ODS di-
(2015) destaca a estreita relação entre o ODS (1,6%), de acordo com McDonnell (2018). attempts towards policy integration reta e/ou indiretamente relacionados com
14 e a dimensão ambiental da Agenda 2030, Logo, o ODS 14 teria uma relação mais will require the inclusion of studies on o mar/oceano – além do próprio ODS 14
embora algumas de suas metas afetem as di- estreita através de cobenefícios com os biophysical, social and economic sys- – com base nos setores relacionados à
mensões econômica (14.1, 14.3, 14.4, 14.5, ODS 1, 2, 11, 13 e 15. Na prática, há uma tems (NIESTROY, 2016, p. 12). Economia Azul. O número de metas para
14.6 e 14.7) e social (14.3, 14.6 e 14.7). forte relação de compromisso com o ODS 2 cada ODS varia muito, porém todos eles
Diante do ODS 14, a SDSN (2015) pro- (OCDE, 2015) e o ODS 11, que pode even- Embora não seja a melhor perspectiva estão relacionados com as atividades ma-
põe três níveis de monitoramento, a saber, tualmente tornar-se sinergias (KROLL et al., para enfrentar a relevância dos mares e do rítimas e oceânicas. Mais uma vez, isso
nacional, global e temático. Entre os temas, 2019) a partir dos estímulos apropriados se oceano, mesmo a análise limitada existente destaca a relevância da Década do Oce-
destacam sua estreita relação com as ODS políticas e estratégias mútuas ocorrerem. ao ODS 14 mostra que há diversos cobene- ano da ONU, principalmente porque se
2, 6, 12, 13 e 15 especialmente quando Essas interligações e trade-offs do ODS 14 fícios em alcançar suas metas. Assim como propõe a expandir o conhecimento e os
se trata de poluição, proteção, resiliência, são de fato limitadas, porque o objetivo o ODS 11, 13, 16 e 17, o ODS 14 tem trade- dados sobre estas atividades.
acidificação oceânica, pesca excessiva, ma- trata, de fato, principalmente da vida mari- -offs e não associações com outros ODS no Da proposta metodológica deste capítu-
nejo sustentável, perda de biodiversidade, nha (SANTOS, 2019). futuro. Portanto, lidar com mares e oceano lo, os mares e o oceano têm um espectro
GOVERNANÇA DO MAR
NA DÉCADA DA CIÊNCIA OCEÂNICA
1. Introdução
.
paração e resiliência das comunidades;
Garantir um sistema sustentável de ob-
colaborativas, necessárias tanto à concep-
ção quanto à implementação de ações da
volvimento de capacidade e transferência
de tecnologia marinha para SIDS) e BBNJ
da o Oceano em si, as sugestões a seguir
podem orientar as Fundações no desen-
servação do oceano com ampla abrangên- Década, afirma-se que será necessária uma (conhecimento e soluções para a conserva- volvimento de uma mistura personalizada
cia espacial e temporal em todas as bacias “ciência transformadora” e uma “revolu- ção e o uso sustentável da biodiversidade de formas de engajamento: co-branding
oceânicas, que forneça dados e informa- ção em como essa ciência é produzida, uti- marinha fora da jurisdição nacional), por e patrocínio de chamadas para ações da
ções acessíveis a todos os interessados no lizada e divulgada” (UNESCO, 2021a). exemplo (IOC-UNESCO, 2021b). década; desenvolvimento de ações da dé-
tempo adequado para implementar ações Em linha com o defendido no capítulo Sendo assim, de maneira resumida, cada através de co-design; apoiar com re-
e gerar conhecimento, assim como poten- anterior, embora a Década esteja muito destaca-se que a Década do Oceano apre- cursos ações da Década; apoio aos custos
cializar a gestão dos sistemas socioecoló- relacionada com o ODS 14, ela não se li- senta 3 principais objetivos (identificar os de coordenação; apoiar as comunicações
.
gicos marinhos;
Através da colaboração de vários inter-
mita a ele – quando pensada da maneira
mais ampla, inserida no contexto da Agen-
conhecimentos necessários para o desen-
volvimento sustentável; gerar abrangente
e as atividades de divulgação; incentivar
a participação de bolsistas na Década do
venientes, desenvolver uma representação da 2030. Dessa forma, o “o oceano que conhecimento e compreensão do ocea- Oceano; liderar ou participar em comitês
digital abrangente do oceano, incluindo um queremos” (7 resultados esperados) possui no; e aumentar o uso do conhecimento e grupos de trabalho nacionais e regionais
mapa dinâmico de acesso livre e gratuito relação com o ODS 1 (conhecimento e so- dos oceanos), 10 desafios (entender e ou grupos de especialistas; e envolver no-
que permita explorar, descobrir e visualizar luções para uma economia oceânica sus- vencer a poluição marinha; proteger e vos parceiros filantrópicos na Década do
as condições do oceano no passado, presen- tentável), ODS 2 (conhecimento e soluções restaurar ecossistemas e biodiversidade; Oceano (IOC-UNESCO, 2020).
te e futuro, utilizando sistemas de observa- para a pesca sustentável e a aquicultura), alimentar de forma sustentável a popula- Com destaque para o papel de cien-
ção do oceano, de uma forma que possa ser ODS 3 (conhecimento e inovação para sis- ção mundial; desenvolver uma economia tistas, practioners/stakeholders e apoia-
.
relevante para todas as partes interessadas;
Assegurar o desenvolvimento de recur-
temas de alerta precoce multiperigosos),
ODS 4 (educação formal e informal sobre
oceânica sustentável e equitativa; desblo-
quear soluções baseadas no oceano para
dores (funders), ressalta-se o papel-chave
da governança para o sucesso da inicia-
sos humanos e competências relacionadas a importância do oceano para o desenvol- a mudança climática; aumentar a resiliên- tiva, razão pela qual ela será detalhada-
às atividades socioeconômicas voltadas vimento sustentável), ODS 5 (aumento da cia da comunidade aos riscos oceânicos; mente analisada na próxima seção. Dentre
para o mar, assim como garantir o aces- equidade de gênero na ciência dos oce- expandir o sistema global de observação as diferentes questões que precisam ser
so equitativo aos dados, à informação, ao anos), ODS 7 (conhecimento e soluções do oceano; criar uma representação digi- endereçadas, estão temas relacionados
conhecimento e à tecnologia referente a para energia oceânica de baixo impacto), tal do oceano; habilidades, conhecimen- ao financiamento adequado e sustenta-
todos os aspectos da ciência do oceano e ODS 8 (conhecimento e soluções para tos e tecnologia para todos; e mudar a do; às instituições baseadas no local ou
.
para todas as partes interessadas; e
Assegurar que os vários valores e ser-
uma economia oceânica sustentável), ODS
10 (envolvimento dos SIDS, PMDs e LDCs,
relação da humanidade com o oceano) e
7 resultados esperados (um oceano lim-
no regional, que sejam capazes de esta-
bilizar as interações transdisciplinares que
viços que o oceano aporta ao bem-estar incluindo maior acesso a dados, informa- po; um saudável e resiliente oceano; um visam abordar desafios oceânicos comple-
humano, à cultura e ao desenvolvimento ções, capacidades e tecnologias), ODS oceano produtivo; um oceano previsto; xos; padrões profissionais e institucionais,
sustentável sejam compreendidos, além de 11 (conhecimento e soluções para a resi- um oceano seguro; um oceano acessível; normas e incentivos, que rompam com os
identificar e ultrapassar quaisquer barreiras liência da comunidade) e ODS 13 (maior e um inspirador e envolvente oceano) (IO- tradicionais modelos disciplinares e de go-
às mudanças de comportamento necessá- compreensão do nexo oceano-climático) C-UNESCO, 2020). vernança; e gerenciamento adequado de
rias para uma alteração gradual da relação (IOC-UNESCO, 2021b). Há diferentes foundations para promo- projetos, engajamento e habilidades inter-
da sociedade com o oceano. Dentre os exemplos de interações possí- ção da Década do Oceano, com especial pessoais (UNESCO, 2021a).
veis com o arranjo de governança oceânica
Fica evidente a estreita relação da déca- global já existente, destaca-se com: UN-
da com a Economia Azul, especialmente se FCCC (maior compreensão do nexo ocea-
considerado o terceiro desafio. Com base no-climático), CDB (conhecimento para a
GOVERNANÇA, COOPERAÇÃO E
DIPLOMACIA NO OCEANO
1. Introdução
.
No entanto, apesar da grande aceitação so- des epistêmicas sob certas condições. bros da comunidade; há casos anômalos em que o argumento
bre a importância da ciência para a formu- O argumento central é que, norma- Crenças causais compartilhadas ou falhou, como desertificação e caça à baleia
lação de políticas públicas, ainda existem tivamente, as comunidades epistêmicas julgamento profissional (shared causal (HAAS, 2015).
percepções divergentes de como, quando fornecem melhores recomendações cien- beliefs or professional judgment): tais A ciência influenciará os tomadores de
e em que condições a ciência influencia as tíficas do que outros modos de orientação crenças fornecem razões analíticas e decisão quando o projeto institucional do
políticas e, consequentemente, sobre a for- política, porque é provável que o parecer explicações de comportamento, ofere- acordo permitir uma visão científica orga-
ma como a interação entre ciência e polí- especializado seja garantido. Ao contrário cendo explicações causais para as múl- nizada e incluir um grupo forte e isolado
tica deve ser melhor organizada (LIDSKOG; de outros grupos de interesse organizados tiplas ligações entre as possíveis ações de especialistas que possuem um “conhe-
.
SUNDQVIST, 2015). Estudos comparativos e ativos na política e na formulação de po- políticas e os resultados desejados; cimento útil”. Embora o conhecimento
de regimes ambientais confirmaram que a líticas públicas, as comunidades epistêmi- Noções comuns de validação (com- utilizável tenha sido usado em diferentes
experiência científica organizada teve uma cas têm crenças internas que as tornam mon notions of validity): critérios in- contextos e situações, o termo engloba um
influência notável sobre a eficácia desses re- mais propensas a fornecer informações tersubjetivos, definidos internamente núcleo substantivo que o torna útil para os
gimes (HAAS, STEVENS 2011; HAAS, 2015). que são politicamente inalteradas e, por- para validar o conhecimento. Isso per- formuladores de políticas e uma dimen-
Peter Haas argumenta que, através tanto, mais propensas a “trabalhar” no mite que os membros da comunidade são processual que fornece um mecanis-
do desenvolvimento de uma comunidade sentido político de que essa informação se diferenciem com confiança entre mo para a sua transmissão da comunida-
epistêmica, a ciência pode desempenhar será enquadrada e seguida por autorida- reivindicações garantidas e injustifica- de científica para o mundo das políticas
um papel importante na definição de de- des políticas no que concerne à necessi- das sobre estados do mundo e políti- (HAAS; STEVENS, 2011).
.
cisões políticas e aprimorar processos de dade de serem imparciais (HAAS, 2015). cas para mudar esses estados; Há cada vez mais a necessidade de que
cooperação e diplomacia. Ele enfatiza a Enquanto as comunidades epistêmicas Um grupo com política comum (a seja construída uma agenda de priorização
importância da ciência e, em particular, do podem estar entre os principais agentes common policy enterprise): um con- para a ciência no Brasil. E no caso em tela,
conhecimento consensual na formulação responsáveis pela articulação de tais prin- junto de práticas associadas a um con- para a ciência oceânica, que inclui não ape-
de políticas. Para o autor, a ciência baseada cípios, normas e regras, a extensão em que junto central de problemas que devem nas as ciências naturais, mas também as ci-
no consenso pode desempenhar um papel eles se difundem e são embutidos inter- ser abordados, por convicção de que ências sociais, humanas e aplicadas.
independente e importante influenciando nacionalmente tem a ver com a influên- o bem-estar humano será melhorado Isso se torna ainda mais relevante no
e até mesmo reformulando os interesses cia política dos membros da comunidade como consequência. contexto da Década do Oceano, em que o
1. Introdução
A cultura oceânica (ocean literacy) pode A cultura oceânica é a tradução do in- 4. O Oceano permite que a Terra seja habitável
ser definida como a compreensão da influ- glês ocean literacy, também utilizada como
ência do oceano em nossas vidas e de nossas literacia do oceano em outros países lusó-
ações sobre o oceano. Desta forma, a cul- fonos ou mesmo como alfabetização oce-
5. O Oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de ecossistemas
tura oceânica é um conceito essencial para ânica. Ela possui uma estrutura definida
que todos os indivíduos e as instituições, com 7 princípios (Figura 1), que tratam das
próximos ou longe do mar, possam com- diferentes dimensões do oceano e sua rela-
preender sua relação com o oceano e tomar ção com o planeta e a sociedade. Ela tam- 6. O Oceano e a humanidade estão fortemente interligados
decisões em prol da sustentabilidade. Se o bém possui conceitos relacionados, muitas
fortalecimento e a promoção da Economia vezes considerados como sinônimos, como
Azul demandam que todos os setores envol- a mentalidade marítima, a educação am-
vidos na cadeia produtiva azul, incluindo os biental marinha e costeira e a educomuni- 7. Há muito por descobrir e explorar no Oceano
consumidores, tenham conhecimento para cação marinha.
uma tomada de decisão sustentável, logo, A cultura oceânica surgiu nos EUA no
a promoção da cultura oceânica para esses início deste século como resposta à fal-
setores é um eixo essencial de desenvolvi- ta de conteúdos científicos relacionados Fonte: Elaboração própria
mento da Economia Azul. com o oceano nos programas escolares
172
172 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Governança do Oceano: as Balizas da História 173
Figura 1 - Quadro de pesquisa do Projeto Governança do Sistema Terra da ONU e com mandatos específicos, mui- O segundo grupo de organizações cor-
tas vezes pautadas pelos debates no âm- responde às instituições de Bretton Woods,
bito da Assembleia Geral e/ou do Con- criadas logo após a Segunda Guerra Mun-
selho de Segurança. Temas como fome e dial, às margens do sistema da ONU: o
pobreza, desenvolvimento, comércio justo, Fundo Monetário Internacional (FMI), o
segurança alimentar, segurança humana, Sistema Banco Mundial e o Acordo Geral
mudança global do clima, migrações, entre de Tarifas e Comércio (GATT). Em 1995 a
tantos outros, tornaram-se recorrentes nas OMC atualizou a arquitetura comercial.
agendas da Organização das Nações Uni- Houve outras iniciativas ao longo das dé-
das para Agricultura e Alimentação (FAO, cadas subsequentes, criadas com gover-
em inglês), da Organização das Nações Uni- nança e princípios próprios, além de ban-
das para o Desenvolvimento Industrial (UNI- cos de financiamento do desenvolvimento
DO, em inglês), do Programa das Nações internacional, como o Banco Nacional de
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Desenvolvimento Econômico e Social (BN-
Programa das Nações Unidas para o Meio DES) brasileiro, entre outros arranjos. Por
Ambiente (PNUMA) e da Organização In- funcionarem pela lógica de financiamento
ternacional do Trabalho (OIT), entre outras. e economia, o conceito de governança que
O sistema ONU adotou o conceito de go- eles contribuíram para consolidar remete
vernança a partir do Relatório da Comissão à capacidade do governo de cada país de
sobre Governança Global (UNCGG, 1996). honrar seus compromissos econômicos e
Tal como adotado, o conceito de governan- financeiros, conjugados com o seu alinha-
ça trazia uma forte carga normativa, em mento político. Assim, interessava menos
Fonte: Earth System Governance nome do interesse geral da humanidade. a legitimidade e a qualidade do regime no
Science and Implementation Plan (p. 19). Serviu, em ampla medida, como um chama- poder, e mais a sua capacidade de pagar
Disponível em: https://bit.ly/3B0LrU5.
Acesso em: 7 fev. 2022 do geral à solidariedade dos povos e à cons- suas dívidas com boas condições de previsi-
trução de sinergias entre os diferentes ato- bilidade e evitar o risco de mudança radical
Parte 1 – A governança global nas relações internacionais res, dos setores público e privado (mercado de governo. Para o sistema econômico e
e sociedade organizada). A mensagem era financeiro internacional, os fluxos de em-
A governança global é um conceito in- Norte, no Cone Sul, e na Europa, na África e que o sistema internacional unipolar, com a préstimos e investimentos são conectados e
terdisciplinar muito empregado a partir da na Ásia e à emergência de acordos megarre- ordem assegurada pelos Estados Unidos, su- correspondem ao ponto de partida da go-
década de 1990 em razão do contexto inter- gionais, implicando incertezas para uma go- perpotência vencedora da Guerra Fria, seria vernança. Longe do conceito normativo e
nacional à época, da arquitetura institucional vernança global do comércio (WOODS et al., mais estável, segura e justa. Ou seja, antes da igualdade soberana do sistema ONU, a
em vias de consolidação e das agendas da 2013; BOHNENBERGER, 2016). de completar 50 anos, a ONU finalmente ideia de “boa governança” se aproximava
ONU. Os anos 1990 foram marcados pela A arquitetura institucional correspondia poderia exercer efetivamente as funções de muito de conceitos de governança empre-
competição econômica e tecnológica, crises ao cenário de fortalecimento do eixo político- regulação das relações internacionais para sarial, com receitas impostas para o sucesso
energéticas, o processo de descolonização -econômico euro-atlântico, de derrocada so- as quais fora criada. Essa percepção poderia econômico, como no caso do Consenso de
afro-asiático, e a doutrina Gorbachev, para viética e de início da ascensão chinesa nos ta- ser sintetizada como a prevalência do Direi- Washington, de novembro de 1989.
citar apenas alguns. Esta última conduziu ao buleiros multilaterais. Desta forma, merecem to Internacional Público e a limitação do uso O terceiro grupo de grandes atores que
fim da Guerra Fria e à chamada ordem bi- destaque três grandes grupos de organiza- da força. Em termos simples, seria a opor- contribuíram para a evolução do concei-
polar. Como resultado, o ambiente tornou- ções que ajudam a explicar a origem do ter- tunidade ímpar de funcionamento da ONU, to de governança global é composto pela
-se favorável à criação Organização Mundial mo governança nas relações internacionais. dado o fim da clivagem Leste-Oeste, ou a União Europeia (UE) e os emergentes, prin-
do Comércio (OMC), ao fortalecimento de O primeiro grupo é composto por orga- “vitória do Ocidente”, com seu modelo de cipalmente China, Índia e Brasil. A cons-
blocos econômicos regionais na América do nizações intergovernamentais sob a égide democracia e livre comércio. trução da UE foi fortemente marcada pela
174 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Governança do Oceano: as Balizas da História 175
estratégico sino-russo e com o projeto chinês defendemos algo mais próximo às teorias
necessidade de criação de instituições para para tratar das agendas econômica, comer-
de implementação da Nova Rota da Seda, de estabilidade hegemônica, quando os
fortalecer o Bloco, e pelo enorme desafio cial, social e ambiental, com vistas à constru-
evidenciado pela preocupação do Ocidente estados mais poderosos patrocinam suas
de promoção da participação dos cidadãos ção de uma nova ordem internacional. Ape-
na cúpula do G7 de dezembro de 2021 em preferências dentro e fora do sistema ONU
europeus nos processos decisórios para su- sar da persistência e até aprofundamento da
Liverpool, denominando Rússia e China como ao mesmo tempo. Concomitantemente, as
perar o “déficit democrático” identificado clivagem Norte-Sul, diante da crescente con-
global agressors no caso da crise na Ucrânia. mudanças por que passou o conceito de
na literatura da época. Neste sentido, a go- centração de renda no Norte, houve resul-
Em segundo lugar, um deslocamento do se- segurança durante a segunda metade do
vernança significou também criar mecanis- tados positivos no sentido da construção de
tor público para o privado, em que as empre- século XX indicam um aggiornamento, alte-
mos de diálogo, com prestação de contas agendas multilaterais mais robustas, porém
sas se tornam atores poderosos da necessária rando a percepção de que o Estado seria o
(accountability) e construção de confiança com resultados mitigados. Nesse contexto,
transição energética, das inovações tecnoló- único elemento relevante. A proposta de Bu-
para legitimar novos processos de integra- cabe destacar a Agenda 21, adotada na Con-
gicas e da exploração do espaço sideral, do zan (1983) para que o componente humano
ção política e delegação de competências. ferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
alto-mar e dos fundos marinhos. ganhasse importância nos estudos de segu-
Com os sucessivos alargamentos da UE e o biente e Desenvolvimento (Rio-92), a Agen-
No que concerne à lente de pesquisa rança contribuiu para que o meio ambien-
desenvolvimento do seu arcabouço políti- da do Milênio, que estabeleceu os Objetivos
“justiça e alocação”, usaremos três pontos te passasse a ser um dos setores decisivos
co-normativo, o desafio da governança tor- de Desenvolvimento do Milênio – ODM (de
de entrada para a reflexão sobre a gover- nessa perspectiva. Em suma, para garantir a
nou-se ainda maior. Outros blocos, como o 2000 a 2015), e a Agenda 2030, que instituiu
nança global: a perspectiva geopolítica (re- sua segurança e a segurança internacional,
Tratado Norte-Americano de Livre Comércio os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
cursos de poder); a econômica, financeira os Estados precisam fazer mais com menos
– NAFTA (Estados Unidos, Canadá e México) – ODS, iniciada em 2015. Entre as diversas
e comercial (recursos financeiros) e a de recursos de poder. Nesse cenário, os Estados
e o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e agendas multilaterais e regionais que inte-
ciência, tecnologia e inovação (recursos de encontram-se obrigados a navegar em con-
Uruguai) nos anos 1980-90, contribuíram ressam ao processo, três fatores se mostram
conhecimento e capacidades). textos de crescente complexidade e incerte-
para o debate sobre a governança regional. mais relevantes para a origem e evolução do
Sob a perspectiva geopolítica, “justiça za (PRANTL; GOH, 2022).
Nessa linha, a promoção do multilatera- emprego do conceito de governança: a he-
e alocação” raramente entram no cálculo Partindo da perspectiva econômica, finan-
lismo como princípio organizador das rela- gemonia norte-americana com a revitalização
estratégico. Quando entram, servem para ceira e comercial, o fim da Segunda Guerra
ções internacionais serviu para engajar po- da ONU como garantidora da governança
garantir os direitos soberanos dos Estados Mundial levou à vitória da chamada “ordem
los emergentes de poder na construção da global e com o aval da UE; a crescente rele-
mais poderosos, mas não de todos de for- liberal ocidental” (PRANTL, 2014), ancorada
“nova ordem”, durante o governo George vância da OMC e dos bancos de desenvolvi-
ma coletiva. Prevalecem os interesses das no eixo euro-atlântico. Sua característica mais
H. W. Bush. À crescente e assimétrica inter- mento internacional (Orliange, 2020), incluin-
grandes potências, que moldam a lógica da relevante atualmente é o empoderamento de
dependência econômica e comercial entre do o Banco dos BRICS (Rael, 2022) e o Banco
ação coletiva para o bem comum, institu- empresas gigantes, cujo impacto direto sobre
Estados (Prantl, 2021), somavam-se fatores Asiático de Investimento em Infraestrutura –
cionalizada principalmente na ONU e gra- a governança global é significativo. Além de
como a multipolaridade crescente, a necessi- AIIB (Cunha et al., 2019); e a emergência de
dativamente menos efetiva. Um dos casos não serem consideradas de forma adequada
dade de reformas no sistema onusiano para a potências econômicas, notadamente China,
mais emblemáticos atualmente é o do lixo no Direito Internacional Público (VARELLA,
acomodação de potências tecnológicas como Índia e Brasil. Dos três, o Brasil foi o que mais
espacial, que além de ser mal regulado pelo 2012), competem ou colaboram com os ato-
Japão e Alemanha, bem como de stakehol- perdeu relevância e capacidade de interlocu-
direito internacional, geralmente termina res estatais na regulação das relações interna-
ders diversos, o atendimento das agendas ção multilateral na última década.
no fundo do mar. O tema envolve Estados cionais em todos os setores.
de desenvolvimento do então denominado Com o novo milênio, o conceito de
Unidos, China e Rússia, notadamente de- Tomando as quatro agendas prioritá-
“Terceiro Mundo” na década de 1960, tra- governança global evoluiu para defini-
pois que um teste russo causou inseguran- rias de Young (2021) – clima, pandemia,
tado mais recentemente como “Sul Global” ções muito mais sofisticadas, com quadros
ça para as operações da Estação Espacial ciberespaço e biotecnologia –, fica clara a
(BARROS-PLATIAU; SOENDERGAARD, 2021). analíticos e teóricos que remetem à nossa
Internacional, em janeiro de 2022. Com o participação contínua e relevante de atores
A década de 1990 foi então considerada capacidade de moldar o futuro (Woods et
Programa Orbital Prime, autoridades norte- do setor privado nos processos decisórios
pela literatura ocidental como a Década da al., 2013), em função de megatendências
-americanas pretendem regular a questão internacionais. Por entenderem que os Es-
ONU, em resposta ao Consenso de Washin- que conduzem a um duplo deslocamento
com apoio do setor privado. tados não entregam sozinhos os resultados
gton. Nesta década, a ONU realizou diversas de poder. Em primeiro lugar, um desloca-
Embora alguns autores descrevam o fe- esperados, esses atores investem em prá-
conferências mundiais com um nível sem pre- mento do Ocidente para a Ásia do Sudeste,
nômeno como “crise do multilateralismo”, ticas ambientais, sociais e de governança
cedentes de participação de seus membros, com a consolidação do eixo energético-
Thousand megawatts
12 1,2
40
vulneráveis que dependem diretamente de armas, e seria usado apenas para fins
Million km2
Million km2
40
8 0,8
20
20
dos recursos marinhos, em função de fato- de pesquisa científica, no interesse geral
res que vão da contaminação da zona cos- da humanidade. Os pleitos territoriais de
4 0,4
0
1970 1980 1990 2000 2010 2020
0
1970 1980 1990 2000 2010 2020
0
1970 1980 1990 2000 2010 2020
0
1970 1980 1990 2000 2010 2020
teira por elementos químicos à acidificação Argentina, Austrália, Chile, França, No-
Marine genetic resources World Ocean Database 8 Shipping Submarine cables
do oceano decorrente do aquecimento ruega, Nova Zelândia e Reino Unido não
12 12 1,2 global. A poluição por plásticos, a perda foram contestados e nem aceitos, apenas
da riqueza biológica, as intensificações da suspensos pelo Tratado. Foi estabelecido
Thousand megawatts
Thousand megawatts
Million km2
Million km2
pesca, da navegação e do turismo em áreas um regime único, segundo o qual outros
8 8 0,8
4
4 4
2
0,4 específicas, entre outras atividades, contri- Estados poderiam tornar-se Partes, sob a
buem para ameaçar a saúde do oceano, condição de comprovarem pesquisa cientí-
bem como a saúde e o sustento de popu- fica substancial aos demais membros con-
0 0 0 0
1970 1980 1990 2000 2010 2020 1970 1980 1990 2000 2010 2020 1970 1980 1990 2000 2010 2020 1970 1980 1990 2000 2010 2020
30 Cruise tourism Offshore windfarms Marine protected areas 40 Extended continental shelf lações que dela mais dependem, como as sultivos. Atualmente existem 29 membros
20
30
comunidades de pescadores (VIRDIN; ÖS- consultivos (com direito a voto), inclusive o
Thousand megawatts
Thousand megawatts
30
20
TERBLOM; JOUFFRAY, 2021). Brasil, e 25 membros não consultivos. Im-
Million km2
Million km2
20
logo após o grande crack da Bolsa de Nova da Convenção sobre Diversidade Biológica
Fonte: Jouffray et al. (2020, p. 47) York, não resultou em compromissos in- e do Protocolo de Nagoya, por exemplo,
ternacionais concernentes à questão da não se aplicam diretamente à região e,
expansão dos direitos soberanos sobre o na ausência de acordo específico sobre o
mar. Em 1945, baseado no direito consue- tema, a regulação sobre acesso a recursos
tudinário, o então Presidente Truman de- genéticos é ainda incipiente na região (LIU;
The Blue Acceleration
clarou o direito de os Estados Unidos con- BROOKS; QIN, 2019).
Global trends in (A) marine aquaculture protection; (F) accumulated number of trolarem os recursos naturais na sua Plata- A primeira Conferência da ONU sobre
production; (B) deep offshore hydrocar- casts added to the World Ocean Data- forma Continental. Isso levou a reações de Direito do Mar (UNCLOS I) foi realizada em
bon production, including gas, crude oil, base; (G) container port traffic measured outros países e ao consenso sobre a necessi- 1958 e produziu quatro convenções: uma
and natural gas liquids below 125m; (C) in Twenty-Foot Equivalent Units (TEU); dade de desenvolvimento do direito do mar. sobre o alto-mar, uma sobre a zona terri-
total area seabed under mining contract (H) total length of submarine fiber optic Além das lições tiradas da Segunda Guerra torial e a zona contígua; uma sobre o mar
in areas beyond national jurisdiction; (D) cables; (I) number of cruise passengers; Mundial, com o emprego de submarinos, territorial; e outra sobre a pesca e recursos
cumulative contracted seawater desali- (J) cumulative offshore wind energy ca- a expansão da pesca e da mineração cada vivos no alto-mar. A segunda (UNCLOS II),
nation capacity: (E) accumulated num- pacity installed; (K) total marine area vez mais distantes da costa, bem como as de 1960, não resultou em novos tratados.
ber of marine genetic sequences asso- protected; (L) total area of claimed ex- guerras coloniais içaram o oceano ao topo Nos anos 1970, firmou-se a Convenção
ciated with a patent with international tended continental shelf. de agendas multilaterais, em plena Guerra Internacional para a Prevenção da Polui-
Fria. Neste contexto, foram estabelecidos ção Causada por Navios (MARPOL 73/78).
1. Introdução
ECONOMIA AZUL
204 ECONOMIA AZUL Governança do Oceano como Vetor de Comunicação 205
se todos os proprietários dos sistemas de . Projeto para Porto Alegre do Cabo redução dos custos operacionais do transpor- vegação de cabotagem vem, a cada ano,
cabos vigentes no Brasil instalassem todos Submarino Malbec. te por cabotagem a fim de incentivar maior obtendo números expressivos no transpor-
os equipamentos disponíveis nas extremi- Fica evidente que, a exemplo do participação deste modo de transporte na te de mercadorias. Somente em relação de
dades dos seus respectivos cabos. Comércio e do Transporte marítimo, a movimentação de bens e insumos no país. 2021 a 2020, o aumento foi de quase 40%
Alguns novos projetos de cabos submari- comunicação estabelecida pela rede de Diante dessa última medida citada, sur- em quantidade de carga transportada.
nos e fluviais estão em andamento, confor- cabos submarinos que cruza os oceanos e giu o Programa de Estímulo ao Transpor- Perguntas para as quais ainda não há
me o relato do 10ª Semana de Infraestrutura rios tem importância estratégica e é vital ao te por Cabotagem, conhecido como BR respostas: após a regulamentação do BR
da Internet no Brasil, mas ainda é cedo para crescimento econômico do Estado brasileiro, do Mar. Com suas discussões iniciadas no do Mar, teremos aumento na frota de na-
que se tenha plena certeza se realmente sendo um componente fundamental da ano de 2019, o programa envidou esforços vios na cabotagem? Teremos empresas ha-
.
serão implantados:
Projeto de cabo fluvial da Amazônia
Economia Azul fortalecendo o Produto
Interno Bruto.
para garantir a perenidade da frota, através
da flexibilização de normas de afretamen-
bilitadas no programa? O que temos certe-
za até o momento é que a governança do
.
Integrada e Sustentável – PAIS.
Projeto de cabo fluvial entre Macapá e
Nessa medida, importa muito ao Estado,
exercendo seu papel de Agente Regulador,
to, permitindo o ingresso de navios estran-
geiros para realizar a navegação de cabota-
Estado brasileiro no setor de transporte e
comércio aquaviário vem crescendo ano a
.
Belém.
Projeto de Cabo Fluvial Santarém x
de cuidar muito bem desse mercado com
todos os seus agentes e nas questões em
gem na costa brasileira. O argumento para
a viabilidade do projeto foi a redução do
ano, ao passo que se toma consciência do
peso da Economia Azul no PIB nacional.
.
Alenquer.
Projeto do Cabo Submarino Atlantix
que a Concorrência se torne desleal que
órgãos como o Conselho Administrativo de
custo do frete em decorrência do aumento
de concorrência entre empresas de nave-
Por fim, abordou-se na presente pesqui-
sa a governança no quadro regulador de
.
Litoral.
Projeto para Recife do Cabo Submarino
Defesa Econômica (CADE) e o Poder Judici-
ário entrem em ação para dirimir quaisquer
problemas desse importante mercado.
gação. Uma medida viável em termos con-
correnciais, mas de difícil aplicação em um
cabos submarinos no país, chegando-se à
conclusão da importância vital e estraté-
Seabras-1. mercado tão verticalizado. gica ao crescimento econômico do Estado
Todavia, como demostrando nesta pes- brasileiro, sendo um componente funda-
6. Considerações finais quisa, antes mesmo do BR do Mar, a na- mental da Economia Azul.
Por meio de uma abordagem metodoló- uma excelente estratégia do Estado para o
gica de argumentação jurídica, o presente seu pleno desenvolvimento. Dados econômi- Referências
artigo procurou abordar a governança na- cos demonstraram que, por conta de certos
cional nas questões ligadas ao transporte produtos econômicos, em particular, as com- AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES BRASIL. Constituição Federal (1988).
marítimo de bens e pessoas quanto ao qua- modities minerais e agrícolas, a governança AQUAVIÁRIOS (Brasil). Painel Estatístico Constituição da República Federativa
dro regulatório especificamente no que tan- da atividade de transporte marítimo é vital à Aquaviário. Brasília, DF: ANTAQ, 2022. do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal:
ge a regulamentação do tráfego marítimo balança comercial brasileira e ao seu PIB. Disponível em: https://www.gov.br/antaq/ Centro Gráfico, 1988.
como indutor econômico e de comunicação Todavia, identificou-se que o setor de pt-br/noticias/2022/setor-portuario-movi- BRASIL. Lei no 9.432 de 08 de janeiro
no contexto da Economia Azul, em um re- transporte marítimo sofre demasiadamente menta-1-2-bilhao-de-toneladas-de-cargas- de 1997. Dispõe sobre a ordenação do
corte temporal que contempla os marcos le- com o Custo Brasil, e, diante disso, a Política -em-2021. Acesso em: 18 mar. 2022 tráfego aquaviário e dá outras providên-
gais atualmente vigentes até a mais recente Nacional de Transportes foi atualizada para AMORIM, Daniel Correa; TRAVIZANE, cias. Brasília, DF: Presidência da República,
mudança trazida pela lei no 14.301, de 7 de propiciar um ambiente seguro e confiável Erika dos Santos da Silva; GOMES, Fabri- 1997. Disponível em: http://www.planalto.
janeiro de 2022, que instituiu o Programa para novos investimentos no setor de trans- cio de Brito; NOGUEIRA, Rosana Maria gov.br/ccivil_03/leis/l9432.htm. Acesso
de Estímulo ao Transporte por Cabotagem portes, com o estabelecimento de políticas César Dell Picchia. Projeto BR do mar e em: 18 mar. 2022.
(BR do Mar), de modo a identificar a contri- públicas voltadas à melhoria da infraestrutu- o comércio nacional e internacional: BRASIL. Lei no 9.537 de 11 de dezem-
buição da atividade do tráfego, do comércio ra e da manutenção das condições das vias reflexões e perspectivas sobre a política bro de 1997. Dispõe sobre a ordenação
e comunicação pelo uso do vetor marítimo navegáveis, e ao incentivo ao desenvolvimen- de estímulo à cabotagem. Mogi das Cru- do tráfego aquaviário e dá outras pro-
nas contas do Produto Interno Bruto. to da frota mercante brasileira de longo cur- zes, FATEC, 2021. Disponível em: https:// vidências. Disponível em: http://www.
Restou constatado que a boa governan- so, de cabotagem, de navegação interior e fateclog.com.br/anais/2021/parte3/1130- planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9537.htm
ça dos oceanos no transporte marítimo é de apoio portuário e marítimo, e ainda, para 1607-1-RV.pdf. Acesso em: 18 mar. 2022. Acesso em: 18 mar. 2022.
A REGULAÇÃO DO MAR:
CONSOLIDAÇÃO E PERSPECTIVAS
André Panno Beirão
Tiago Vinícius Zanella
1. Introdução
Em que pese cerca de 70% da Crosta O presente trabalho vem, portanto, mais
Terrestre esteja coberta de águas – princi- que apresentar conclusões a partir de fatos
palmente não de águas consideradas inte- pregressos, apresentar algumas perspecti-
riores ou arquipelágicas, essas submetidas a vas que demonstrem essa contínua busca
regime jurídico igual ao território seco dos pela codificação e pelo consensual uso do
Estados que as inserem – essa maior parte mar. Diante de uma abordagem analítica
do Planeta foi uma das últimas grandes ques- sucinta, pretende abordar como foi esse
tões enfrentadas para regulação. Seja para lento processo de regulação da maior parte
resolver sua relação com os Estados costeiros da superfície terrestre, diante de breve re-
(e mesmo sem litoral, que também foram trospectiva histórica que demonstre como
incorporados aos direitos e deveres), seja esse debate é crescente. A seguir, procu-
para tentar buscar o uso sustentável a todo ra demonstrar que, para sua consolidação
o Planeta para sua conservação, exploração, houve necessidade de criação de novas ins-
explotação ou mesmo o uso, essas metas so- tituições e mesmo de corte internacional
mente conseguiram chegar a termo no final que buscasse consolidar as inúmeras quere-
do século XX. Logo, seria prematuro conside- las de disputa existentes no mar.
rar que esse exercício regulatório internacio- O terceiro aspecto a ser abordado pro-
nal teria se esgotado e consolidado todas as cura demonstrar como esse processo não é
demandas e potencialidades em relação ao estático e que se encontra com reais pers-
mar, principalmente considerando a imensa pectivas de novas regulamentações, algu-
nova revolução tecnológica em curso. mas mesmo que podem influir na mudança
Assim sendo, parece prematuro consi- de paradigmas de utilização do mar, cada
derar o chamado Direito do Mar, ou como vez mais como fonte de recursos, além de
outros doutrinadores optam, o Direito In- meio de comunicação. Por fim, procura ilus-
ternacional do Mar – já aceito como ramo trar algumas novas perspectivas de uso do
especial do Direito – como algo estático e mar e carências regulatórias que justificam
pragmático, apenas servindo à reflexão, e a crescente adesão da temática marítima na
considerado como premissa seu estágio agenda global, especialmente na década de
atual (TANAKA, 2015). 2021-2030.
O presente trabalho, mais que uma podem ser extraídos desse ecossistema. AUGUSTO, Thaís. Cabos submarinos: como ces with the Law of the Sea Conven-
apresentação histórica da evolução da re- Concomitante a essa maciça visão do mar funciona a tecnologia que conecta pessoas tion. In the 23rd Annual Seminar of the
gulação do mar ao longo do tempo pro- como fonte de recursos vivos e não vivos, e continentes. In: CANALTECH. Disponí- Center for Ocean Law and Policy. Charlot-
curou refletir sobre a efetiva utilização do também cresceu a atenção global em re- vel em: https://canaltech.com.br7telecom/ tesville: University of Virginia, 2000.
mar e como o homem vem atuando para lação às questões ambientais e de susten- cabos-submarinos-como-funciona-a-tec- BUSTAMANTE, José Luis de Azcárraga.
tentar convencionar o uso do mar. Iniciou tabilidade que são temáticas crescentes e nolgia-que-conecta-pessoas-e-continen- Los Derechos sobre la Plataforma Subma-
mostrando quão demorado foi o início que se tornaram centrais na atual década tes-133033/ Acesso em: 26 fev. 2019. rina. In: Revista Española de Derecho
da formulação de Atos Internacionais que (2021-2030). BAPTISTA, Eduardo Correria. Ius cogens Internacional, vol. II, Madrid, 1949.
se tornassem o costume codificado. Para Entretanto, tentou apresentar como em Direito Internacional. Lisboa: Ed. BUTLER, Charles. The Life of Hugo Gro-
tanto, fez uma breve retrospectiva históri- essa apropriação do uso do mar ainda tem Lex, Lisboa; 1997. tius. Londres: Lincoln’s-Inn,1826.
ca que remonta mesmo ao período pré-e- desafios regulatórios no porvir. Dentre di- BASTOS, Fernando Loureiro. A interna- CHARNEY, Jonathan I. The implications
ra cristâ, mas que, efetivamente, tem sua versas outras possibilidades, optou-se por cionalização dos Recursos Naturais of expanding international dispute settle-
maior consolidação somente no século XX abordar algumas das temáticas que ainda Marinhos: contributo para a compreen- ment systems: the 1982 convention on
após o surgimento da ONU. demandam maior consolidação. A busca são do regime jurídico-internacional do the law of the sea. American Journal of
Ainda assim, mostrou que foram ne- crescente pela codificação de atividades aproveitamento conjunto de petróleo International Law, vol. 90, n. 1, p. 69-
cessárias três conferências para, em 1982 (desde a explotação de recursos não vivos e de gás natural nas plataformas conti- 75, jan. 1996.
ter a assinatura da Convenção das Nações da Área, por exemplo), a crescente atua- nentais, do potencial aproveitamento de CORBETT, Julian S. Some Principles of
Unidas sobre o Direito do Mar, que ain- ção estatal em delimitação cada vez maior recursos minerais na Área, da pesca no Maritime Strategy. Londres: Longmans,
da assim, somente tornou-se vigente em de espaços marítimos sob alguma forma Alto Mar e os efeitos da regulamentação 1918.
1994 quando alcançou o mínimo de esta- de subordinação ao poder estatal costei- convencional respectiva em relação a ter- COSTA E SILVA, Paula. A resolução de
dos parte exigido. Mostrou também que ro e, também, decorrente de evolução ceiros Estados. Lisboa: AAFDL, 2005. controvérsias na Convenção das Nações
em algumas temáticas específicas ou em tecnológica natural que introduzirá maior BEIRÃO, André Panno; PEREIRA, Antônio Unidas sobre o direito do mar. In. Estu-
regiões específicas já havia iniciativas re- capacidade de apropriação econômica da Celso Alves (orgs.) Reflexões sobre a dos em homenagem ao Prof. Doutor
gulatórias prévias. biotecnologia marinha e de sua decor- Convenção do Direito do Mar. Brasília: Armando Marques Guedes. Pp. 541-
Assim, mostra o quão recente esse pro- rente propriedade intelectual ou mesmo FUNAG, 2014. p. 21-66. 602, FDL, 2004.
cesso de formalização da regulação do uso da crescente possibilidade de navegação BEIRÃO, André P.; MARQUES, Miguel; DEAN, Arthur H. The second Conferen-
do mar é e, consequentemente, ainda é bas- autônoma. Essa navegação autônoma al- RUSCHEL, Rogério (org.). O Valor do ce on the Law of the Sea: the fight for
tante evolutivo e mesmo controverso. Pelo terará paradigmas trabalhistas, de capa- Mar: uma visão integrada dos recursos freedom of the seas. American Society
viés da solução de controvérsias mostrou citação, de segurança e, principalmente do oceano do Brasil. São Paulo: Essential of International Law, vol. 54, n°. 4,
que seu uso ainda demanda muita conso- poderá alterar a tradicional premissa cen- Idea, 2018. Washington, 1960.
lidação pacificada o que justificou a criação trada no Estado de Bandeira e da presença BEIRÃO, André Panno. The new territoria- FERREIRA, Ana Maria Pereira. O essencial
do Tribunal Internacional do Direito do Mar decisória de seu comandante. lization of the Seas. In: Power and the sobre Portugal e a origem da liberda-
(ITLOS) e como é crescente o número de ca- Assim, procurou-se demonstrar que Maritime Domain: A Global Dialogue. de dos mares. Lisboa, 1988
sos e temáticas apreciadas. não se pode considerar que o direito do Londres: Routledge, 2022 (no prelo). GIDEL, Gilbert. Le Droit International
Por fim, mostrou que o uso do mar mar e mesmo o direito marítimo são te- BERNAERTS, Arnd. Bernaerts’ Guide to Public de la Mer. Tomo I. Paris: Recueil
tem vivido uma forte mudança paradig- máticas quase estáticas e já plenamente the 1982 United Nations Convention Sirey, 1934.
mática recente que é de deixar de ser consolidadas. São recentes e ainda com on the Law of the Sea: Including the GUEDES, Armando M. Marques. Direito
primordialmente apreciado como meio grandes perspectivas de readequação às text of the 1982 UN Convention & Agree- do Mar. 2. ed. Coimbra: Coimbra Edioto-
de comunicação, para também ganhar necessidades decorrentes da crescente ment Concerning Part XI of 1994. Bloo- ra, 1998.
especial relevância sua apreciação en- visão do mar como ecossistema central à mington: Trafford Publishing, 2006. GROTIUS, Hugo. Le droit de la guerre
quanto fonte de recursos intrínsecos que existência humana. BLANCO-BAZÁN, Agustín. IMO interfa- et de la pax pradier. Trad. francesa de P.
A RELEVÂNCIA ESTRATÉGICA DO
PLANEJAMENTO ESPACIAL MARINHO PARA A
ECONOMIA AZUL
1. Introdução
Utilizar o mar para abertura de oportu- O mar pode trazer enormes oportunida-
nidades no futuro do país, bem como ame- des de desenvolvimento político, econômi-
nizar a escassez de recursos naturais, am- co e social que não podem ser negligencia-
pliar o bem-estar da população, melhorar das pelo governo. Segundo o estrategista
a qualidade de vida dos trabalhadores liga- naval e geopolítico Mahan, em seu clássico
dos diretamente ao mar, gerar empregos livro de 1890, “The Influence of Sea Power
são questões de tomada de decisão dos upon History (1660-1783)”, ao abordar os
decisores políticos que afetam o presente aspectos geopolíticos de sua teoria para o
e os anos vindouros. desenvolvimento de potências marítimas,
0O
vação da natureza em um Parque Marinho relação à natureza real em termos práticos
da Grande Barreira de Corais, localizado do desenvolvimento do PEM. Os planeja-
10OS
no nordeste da Austrália, há mais de 40 mentos ligados ao mar estão servindo como
anos. No início da década de 2020, 20 instrumentos de reafirmação do papel do
países possuem seus Planos de Gestão estado no controle dos seus direitos e inte-
Espacial Marinho aprovados e em imple- resses no espaço marinho, porém de forma
mentação para suas águas jurisdicionais individualizada em setores, sem a coope-
(cobrindo 22% das ZEE mundiais). Outros ração e integração necessárias. Isso estaria
26 países estão em processo de aprovação permitindo maior fragmentação nacional e
20OS
dos seus Planos para as águas sob suas declínio de ações supranacionais
jurisdições (cobrindo 25% das ZEE mun-
diais). Este segundo grupo inclui países da 3.1 Quais os custos e onde se preten-
União Europeia que se comprometeram a de alcançar com um PEM nacional?
elaborar seus Planos de Gestão Espacial
Marinho até 2021; da África, tais como Detentor de um litoral com cerca de
30OS
Quênia, I. Maurício, Moçambique e Namí- 7.367 km de extensão e de uma área ma-
bia; da América, com excelente progresso rítima com cerca de 5,7 milhões de km2, o
no México, Peru e Uruguai; o mesmo na Brasil possui dimensões continentais. Isso
Coréia do Sul, Irã e Japão na região asiá- eleva os custos envolvidos em um Proje-
tica e na Oceania, com muitos exemplos to de implantação único e simultâneo do 60OW 50OW 40OW 30OW
em pequenos Estados insulares em de- PEM para toda a Amazônia Azul . Diante Regiões do Projeto PEM Zona Econômica Exclusiva (ZEE)
senvolvimento, como Kiribati, Palau e nas disso, a Amazônia Azul foi dividida em Nordeste Divisão Política
Ilhas Salomão (UNESCO-IOC, 2021b). Norte
quatro áreas geográficas, como ilustrado
Sudeste
Cabe ressaltar que mais 82 países tam- na figura 1: Norte, Nordeste, Sudeste e Sul Fonte: SECIRM – Elaboração dos autores
bém se comprometeram a desenvolver o Sul. O intuito dessa divisão foi discretizar o
.
tivada, basicamente, pelos seguintes fatores:
Representatividade, sua área marinha
fronteira com a Guiana Francesa (Estado
departamental francês). Nessa ocasião, se-
Fonte: SECIRM. Elaboração dos autores
correspondente a 13% de toda a área da rão necessárias tratativas do Estado brasi- Uma vez implantado o Projeto Piloto, Desenvolvimento Sustentável 14 (Report
.
Amazônia Azul;
Relevância, concentra variados ecossis- .
leiro com a França; e
Concentração de diversas instituições
a estratégia do Comitê Executivo PEM é
replicar o modelo adotado no Sul para as
of the United Nations Conference to Su-
pport the Implemantation of Sustainable
temas marinhos, unidades de conservação, de pesquisa com tradição em estudos cos- demais regiões marinhas do País (Norte, Developmente Goal 14: Conserve and
além de atividades econômicas diversifica- teiros e marinhos nos três estados da re- Nordeste e Sudeste), de forma a honrar sustainably use the oceans, seas and mari-
.
das e expressivas;
Disponibilidade de dados e de meta-
gião Sul (PR – UFPR; SC–UFSC e a UNIVALI;
RS –UFPel, com o Centro de Estudos Estra-
o compromisso voluntário assumido pelo
Brasil na ONU, em 2017, de implantar o
ne resources for sustainable development)
(UN, 2017). Importante salientar que essa
dados marinhos mínimos para implantação tégicos e Planejamento Espacial Marinho PEM no País até 2030. Tal compromis- “replicação” considerará as peculiaridades
.
do PEM;
Fronteira marítima com outro país, a
(CEDEPEM), em parceria com o NEA-UFF;
a FURG, UFRGS e IFRS).
so encontra-se registrado como a Ação
Oceânica 19704 (#OceanAction19704)
das outras regiões nacionais. Ademais, os
fatores que foram preponderantes para a
experiência a ser adquirida com a implan- O Projeto Piloto prevê três Fases, con- no item 334 do Anexo II do Relatório escolha da Região Sul, como projeto pilo-
tação do PEM na região fronteiriça com o forme a Figura 2, cada qual com 12 meses da Conferência das Nações Unidas para to, serão buscados paralelamente à con-
Uruguai será relevante, posteriormente, de duração: Apoio à Implementação do Objetivo de secução do projeto piloto.
BENEFÍCIOS
licenciamento das áreas para atividades econômicas.
Melhores oportunidades para a participação da comunidade e do
das atividades do mar, que representam a
sociedade. Isso faz parte do “jogo” demo-
.
com as planejadas para os próximos anos; e
Necessidade de fortalecimento da
mentalidade marítima e da cultura oceâ-
SOCIAIS cidadão. crático e deve sempre ser buscado para que
nica no País. A fragilidade desses dois pi-
Identificação dos impactos das decisões sobre a alocação do espaço se convertam conflitos em oportunidades.
lares no seio da sociedade brasileira pode
oceânico (ex: fechamento de áreas para certos usos, áreas protegidas Há que perceber, ainda, alguns setores que
comprometer os efeitos desejados das po-
etc.) para comunidades e economias em terra (ex: emprego, distribuição podem e devem ser privilegiados em relação
líticas e dos demais instrumentos públicos
de renda). a outros, em situações muito específicas, em
de gestão voltados para o mar.
caso de impasses econômicos e ambientais
Identificação e melhor proteção do patrimônio cultural.
(VIVERO et al., 2020). Tais dificuldades mostram o quanto a
Identificação e preservação de valores sociais e espirituais relacionados maritimidade da população e o caráter de
ao uso do oceano. governos voltados às lides do mar são ex-
Fonte: Ehler e Douvere (2009, p. 21, tradução dos autores) tremamente importantes para que o Brasil
240
240 AECONOMIA
ECONOMIAAZUL
AZUL A Relevância Estratégica do Planejamento Espacial 241
configure, de fato, seu poder potencial em permitir a integração de dados, subsidiando a Figura 3. Limites dos espaços marinhos e marítimos sob jurisdição nacional
poder real como um país de verdadeira elaboração do Plano de Gestão Espacial Ma- representados no Geoportal da INDE: Linha de Base, Mar Territorial,
vocação a ser uma Potência Marítima no rinho e dos Mapas de Situação, que apresen- Zona Contígua, ZEE e limite exterior da Plataforma Continental
Atlântico Sul. tarão a distribuição espacial e temporal dos
Como consequência da migração das ati- usos e das atividades em curso e potenciais.
vidades econômicas para o mar e suas dimen- Adicionalmente, a disponibilização de
sões o Planejamento Espacial Marinho tem se todos esses valiosos dados marinhos na
tornado um instrumento público cada vez INDE começa a permitir o acesso das ins-
mais relevante para o efetivo ordenamento tituições governamentais e não governa-
dessas atividades. Há um longo caminho a mentais a dados marinhos de alto custo,
ser percorrido para o Planejamento Espacial tais como, batimetria, geologia, geofísica,
Marinho nacional. O Estado pode intensificar oceanografia, entre outros, coletados em
as tratativas para a elaboração do PEM, em toda a Amazônia Azul e que são capazes
parcerias com a iniciativa privada. de revelar áreas de elevado potencial de
No entanto, não se pode esquecer que exploração/explotação, até então desco-
atores transnacionais, em um mundo cada nhecidas por determinados setores estra-
vez mais globalizado, possuem grande in- tégicos (petróleo e gás, mineração, dentre
teresse em recursos dos países periféricos outros). Com isso, mitigam-se, significati-
(MILTON SANTOS, 2001). Os conflitos de vamente, os custos operacionais (finan-
interesse, principalmente com investimentos ceiros e temporais), referentes às extensas
unicamente privados, podem ocasionar em pesquisas marítimas em uma área de 5,7
priorizações não tão racionais em um ecos- milhões de km².
sistema marinho com diversas interações po- Ademais, o acesso público ao Geoportal Fonte: SECIRM. Elaborado pelos autores
lítico-econômicas (VIOLANTE, 2021b). da INDE evitará a redundância na coleta de
dados marinhos pelas diversas instituições, A Infraestrutura Nacional de Dados Espa- A catalogação dos dados geoespaciais é fei-
4.3 Quais áreas de conhecimento o otimizando o emprego do capital público e ciais – INDE foi instituída pelo Decreto Nº 6.666 ta mediante seus respectivos metadados pelos
de 27/11/2008, com o propósito de catalogar, próprios produtores e/ou gestores dos dados.
PEM poderá motivar? privado investido, aumentando a eficiência
integrar e harmonizar dados geoespaciais pro- Pelo Decreto o compartilhamento e dissemina-
e a competitividade das empresas que ope- ção dos dados geoespaciais e seus metadados
duzidos ou mantidos e geridos nas instituições
A elaboração e implementação exitosa ram na “Amazônia Azul”. de governo brasileiras, de modo que possam ser é obrigatório para todos os órgãos e entidades
do PEM no país pressupõe a existência e a Destaca-se, ainda, o comprometimento facilmente localizados, explorados em suas ca- do Poder Executivo federal e voluntário para os
manutenção contínua de uma infraestrutu- da INDE em salvaguardar os dados sigilosos racterísticas e acessados para os mais variados órgãos e entidades dos Poderes Executivos es-
ra nacional de dados, capaz de garantir o das instituições, bem como os de relevância fins por qualquer usuário com acesso à Internet. tadual, distrital e municipal.
acesso, de modo fácil, rápido e seguro, a para a Segurança Nacional. A facilidade de
todo o acervo de dados marinhos coletados acesso aos dados marinhos na INDE deverá
na Amazônia Azul. estimular o desenvolvimento de uma série 4.4 Perspectivas Econômicas Futuras culinária. Dessas atividades, apenas para
A contribuição do Instituto Brasileiro de de pesquisas e de inovações em diferentes exemplificar a enorme importância do
Geografia e Estatística (IBGE) tem sido funda- áreas do conhecimento, destacadamente Dentre as principais atividades eco- mar para a economia nacional, destaca-se
mental, ao disponibilizar a Infraestrutura Na- no campo das ciências oceânicas . nômicas diretamente influenciadas pelo que os campos marítimos, em fevereiro
cional de Dados Espaciais (INDE), estabeleci- No âmbito do PEM, alguns dados ma- mar no Brasil destacam-se: petróleo e de 2021, foram responsáveis por 96,7%
da por meio do Decreto nº 6.666, de 27 de rinhos já foram inseridos no Geoportal gás, defesa, portos e transporte maríti- do petróleo e 83,4% do gás natural pro-
novembro de 2008. Tal fato tem representa- da INDE, tal como os limites dos espaços mo, indústria naval, extração mineral, tu- duzidos no País e que cerca de 95% do
do redução significativa de tempo e de cus- marítimos sob jurisdição nacional (BRASIL, rismo e esportes náuticos, pesca e aqui- comércio exterior brasileiro é escoado por
tos para a implantação do PEM no Brasil ao 2022a) (Figura 3). cultura, biotecnologia, cultura popular e via marítima (ANP, 2021).
1. Introdução
Conforme Gunter Pauli, um dos for- Azul tem destaque. Mas, é impossível pen-
muladores do conceito de Economia Azul, sar em uma economia com base ecossistê-
uma economia vibrante é essencial para a mica sem considerar todo o contínuo do
sustentabilidade, mas o oposto também gradiente fluviomarinho, ou seja, o com-
está correto: sem uma autêntica sustenta- plexo conjunto de bacias hidrográficas, ZC
bilidade, a economia não pode continuar e oceanos (Nicolodi et al, 2009). Estes três
funcionando por longo período. Para o sistemas estão profundamente interligados
autor, os males de nossa economia resi- e a compreensão deste fator dentro de um
dem em não compreender e aplicar a lógica contexto do planejamento estratégico do
ecossistêmica. A transformação, ainda que território torna-se vital para a consecução de
parcial, do atual e descendente ciclo econô- metas e objetivos de uma Economia Azul.
mico para outro com base na lógica ecossis- Nesse sentido, o presente capítulo irá
têmica permitiria satisfazer as necessidades abordar a gestão da ZC no Brasil (Sistema
básicas da sociedade e criar uma autêntica GERCO), sob a ótica do Planejamento Ter-
economia sustentável, ou seja, uma Econo- ritorial Estratégico, e destacará alguns de
mia Azul (Pauli, 2011). seus principais aspectos de integração com a
Evidentemente tal mudança de paradig- gestão de bacias hidrográficas e com a Zona
ma não é trivial. Os complexos ciclos eco- Econômica Exclusiva (ZEE), principalmente
nômicos vinculados às estruturas financei- através do Planejamento Espacial Marinho
ras, às matrizes energéticas, aos modais de (PEM). O PEM se configura em uma das prin-
transporte e logística estão arraigados na cipais ferramentas para operacionalizar um
sociedade humana e geram uma depen- sistema econômico com base ecossistêmica,
dência quase inquebrantável destes ciclos. tendo como objetivo final a geração de rique-
Por suposto, este argumento não invali- zas, a sustentabilidade e a equidade social.
da (pelo contrário deve incentivar) a propo- Com objetivo de identificar como os
sição e aplicação de novos conceitos, méto- sistemas de gestão destes três espaços in-
dos e paradigmas, principalmente quando terligados (Bacias Hidrográficas, Zonas Cos-
o tema são os oceanos, onde a Economia teiras e Zona Econômica Exclusiva - ZEE)
1. Introdução
MENTALIDADE MARÍTIMA
E DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Ilques Barbosa Júnior
1. Introdução
Após alguma dificuldade inicial, devido de uma navegação estimada, uma propos-
a amplitude e a complexidade do tema, ta de definição de “Mentalidade”.
adotou-se como ponto de partida a ela- Mentalidade, pode ser conceituada como:
boração de estudos visando identificar as “estado, qualidade daquilo que é mental, do
influências da mentalidade marítima no que caracteriza os processos e atividades da
desenvolvimento nacional. Como renoma- mente” (PINHEIRO, 2016). Adicionalmente,
dos cientistas, professores e marinheiros “um conjunto de manifestações de ordem
analisaram esse relevante assunto, efetu- mental (crenças, maneira de pensar, dispo-
aremos uma navegação, certamente, esti- sições psíquicas e morais), que caracterizam
mada; considerando, as mencionadas am- uma coletividade, uma classe de pessoas ou
plitude e complexidade e, por isso, empre- um indivíduo; mente, personalidade”.
gando uma linguagem marinheira, sem a Entretanto, os conceitos acima não de-
pretensão de encerrar a faina (...trabalho vem ser entendidos dentro da especifici-
que participa a tripulação de um navio...). dade que se espera no presente trabalho,
Como primeiro ponto na carta e visan- há de se caracterizar então a “mentalida-
do, desde logo, neutralizar as incertezas de marítima”.
.
de Sobrevivência. Para relembrar: cisivos na contribuição para a continuidade modo a estarmos preparados para adotar potências marítimas.
da vida no planeta Terra.
.
Portugal – As Grandes Navegações;
A preservação ambiental, na Mentali- 3. Conclusão
Inglaterra – Pax Britanica. O Império dade Marítima, traz para o debate a liga-
.
onde o Sol nunca se põe!; ção da vida com os desdobramentos rela- No Brasil, devemos, o quanto antes, ele-
Estados Unidos da América – Pax Ame- cionados com os estados físicos da água: var a dinâmica de estudos sobre os espaços influência dos espaços oceânicos, apesar de
.
ricana; e sólido, líquido e gasoso. Na verdade, caso oceânicos. Para tal, iniciativas relacionadas analisada em diversos estudos geopolíticos,
os oceanos inexistissem, a Terra seria inviá- com a Mentalidade Marítima são prioritá- deixou de alcançar à mesma relevância que a
China – A Rota da Seda. Em disputa de
vel devido ao calor irradiado pelo Sol. Os rias e com a convicção de que, muitas mi- das áreas terrestres.
espaços oceânicos.
estados físicos da água contribuem, de for- lhas ainda precisam ser navegadas, para al- Essa realidade decorreu, basicamente,
O acesso a conhecimentos e a tecnolo- ma significativa, com a proteção do planeta cançarmos uma adequada amplitude e pro- da necessidade de um elenco de conheci-
gias que permitem ampliar a permanência ao existir, na atmosfera e na terra, a água fundidade de conhecimentos sobre assuntos mentos sobre as atividades marítimas que,
do ser humano em um ambiente hostil, nos estados sólido, gasoso e líquido. Essa diversos e de grande complexidade. A Ocea- no Século XIX e início do Século XX, ainda
como o marítimo, permite um contínuo constatação, justifica a preferência, para nopolítica, que emprega os conhecimentos, eram incipientes. Nesse contexto, coube
equacionamento de dificuldades e a neu- muitos, pela substituição da denominação as tradições e as crenças da Mentalidade ao Almirante Mahan formular os conceitos
tralização de ameaças existentes em terra, de nosso habitat: planeta Água. Marítima, por consequência, depende des- que atribuíram aos espaços oceânicos uma
para o acesso a recursos minerais, alimen- Em retrospectiva histórica, lembramos sa base de sustentação para influenciar, de maior capacidade de influenciar os destinos
tos e energia. que, a princípio, os oceanos eram barrei- forma efetiva, o desenvolvimento nacional. dos Estados; sendo que o conjunto desses
A Economia Azul ou, ainda, a Nova ras, que impediam o deslocamento huma- Também, podemos entender que a conceitos passou a ser denominado de Teo-
Economia, segundo a Organização para no. A seguir, os deslocamentos passaram Mentalidade Marítima e a Oceanopolítica ria do Poder Marítimo.
a Cooperação e Desenvolvimento Econô- a ocorrer, tanto para o comércio, guerra e orientam a elaboração de pensamentos e A evolução dessa Teoria vem permitin-
mico, OECD (sigla em inglês), no livro The incipiente exploração e explotação de seus ações, que formulam diretrizes e procedi- do que um conjunto de conceitos, parcial-
Ocean Economy in 2030, em tradução livre: recursos naturais. Atualmente, temos seres mentos, induzem atividades em terra, em mente decorrentes de estudos da Geopo-
“... é essencial para o desenvolvimento e humanos trabalhando, em diversos tipos de benefício daquelas realizadas no mar e lítica, passasse a integrar e a aperfeiçoar
a prosperidade da humanidade. Fonte de atividades, em áreas oceânicas afastadas de as atividades no mar, ao envolver as refe- a Oceanopolítica; a ciência que formula
alimentos, energia, minerais, saúde, lazer terra e mesmo, o que era impossível há pou- rências para a superação dos desafios dos orientações para o desenvolvimento na-
e transporte de mercadorias e pessoas....”. co tempo, submersos por longos períodos. oceanos, rios e lagos. cional, considerando, prioritariamente, as
E continua: “... As novas tecnologias es- De Grotius até a III Convenção das Nações As análises dos conceitos apresen- atividades marítimas.
tão viabilizando a energia proveniente de Unidas sobre o Direito do Mar observamos tados pela Geopolítica permitem que, a Ainda favorecendo o desenvolvimento
correntes marítimas, de marés e do vento, um contínuo crescimento da Mentalidade partir de fatores observados – principal- da Mentalidade Marítima e da Oceanopolí-
novas fontes de proteínas e indicam, com Marítima, tanto em amplitude dos assuntos, mente – em espaços terrestres, sejam es- tica temos a possibilidade de escassez dos
absoluta clareza, a fundamental ligação da quanto na profundidade e complexidade tabelecidos os fundamentos necessários recursos naturais existentes nos territórios
preservação ambiental dos oceanos com as dos conhecimentos alcançados. Nos fení- para as atividades no mar. continentais, as dificuldades relacionadas
alterações climáticas...”. cios, encontramos os mesmos fundamentos A predominância da influência dos ter- à preservação do ambiente no ambiente
“O Mar que nos Cerca”, de autoria da Mentalidade Marítima que permanecem ritórios continentais, na Geopolítica, pode ter terrestre, o ordenamento jurídico e as con-
da distinta bióloga marinha Rachel Car- impulsionando os estudos de Oceanopolíti- alcançado o seu apogeu com Mackinder, que sequências político-estratégicas decorren-
son (2010), aponta a importância dos ca e viabilizando as atividades da Economia passou a ser considerado como o formulador tes da promulgação da III Convenção das
rios formados de água em estado gasoso, Azul e o desenvolvimento nacional. da Teoria do Poder Terrestre. Entretanto, a Nações Unidas sobre o Direito do Mar e a
1. Introdução
O tema Políticas Públicas tem, cada vez conceito de outra ciência, que lhe é bastan-
mais, feito parte da agenda nacional. Seja te correlata, que é o Direito. Basicamente,
em esferas mais técnicas, seja mesmo na o Direito é uma ciência post-factu, ou seja,
opinião pública, muitas vezes manifesta diante do fato social que se impõe, a so-
pela imprensa. Entretanto, apesar de mui- ciedade recorre ao seu pacto social para
to citado, poucas vezes há a clara defini- regulamentar o que pode (direito positivo)
ção do que se trata por Políticas Públicas. ou que não pode (direito negativo) (CANO-
Algumas vezes, são entendidas como “lei TILHO, 2007). Por exemplo, não se vislum-
que versa sobre o assunto”, outras vezes, brava regular a separação conjugal antes da
“como o poder público age em determi- efetiva união conjugal. Primeiro a realidade
nado setor”. Ou seja, acaba entrando para se impôs e o direito teve que se mover para
a lista dos conceitos difusos e abstratos do regulamentar. Portanto, associar o concei-
imaginário nacional. Não deveria ser assim. to de Políticas Públicas, de forma restritiva,
Quando se pretende estudar Políticas Públi- ao do direito, dizendo que é o conjunto de
cas e seus efetivos instrumentos, há de se leis de regulam determinado assunto é im-
compreender sua delimitação e seu caráter próprio. Em verdade, pode-se entender que
científico. Mesmo no meio acadêmico, é te- Políticas Públicas voltam-se para o presente/
mática recente que a pós-graduação stricto futuro, ou seja, estão mais associadas ao
sensu brasileira – tão respeitada por sua cre- “dever ser”. Elas são a vontade manifes-
dibilidade e critérios científicos – vem se de- ta de como se pretende que determinado
bruçando há pouco mais de uma década1. assunto ou atividade se estabeleça em prol
Em verdade, para se entender o que da sociedade. Logo, se apenas se relacio-
se insere no conceito de Políticas Públicas, nassem com leis, estariam sempre fadadas
dentre outras formas, pode-se recorrer ao à olharem mais para o passado que para o
. Havia equilíbrio quantitativo das to de alto nível adotada no Brasil, dologia proposta pelo Observatório de Políti- Coordenador do GTI “poderá convidar re-
a alocação financeira não estaria cas Marítimas, o GTI-PMN pode concluir que: presentantes de outros órgãos e entidades
.
Políticas similares internacionais na no nível “o que se quer” – políti- públicos e de instituições privadas e espe-
adoção de estrutura discursiva, vá- ca, e sim em seus desdobramentos As políticas mais recentemente cialistas, para participar de suas reuniões,
rias delas assemelhando-se a estudos decorrentes “como se alcançar” instituídas (posteriores ao ano de sem direito a voto”.
acadêmicos exemplificativos e com – estratégia, programas ou planos 2000) procuram ter estruturas simi- Basicamente, esse processo de partici-
dados sobre a importância do mar; decorrentes. lares, construída de forma articulada pação social pode se dar por três alternati-
. a questão da cooperação interna- e não holística; vas: tomada pública de subsídios, consulta
. nacional norteador. A maior parte das po- tos vieses distintos que dificulte o processo,
a maioria (8 de 11) faziam questão líticas possuem temática específica, ainda propositivos, facilita a eventual “es- quando em fase embrionária. Portanto, op-
de explicitar seus “princípios nortea- que atuem em diversos ambientes, não o colha política” de alteração do instru- tou-se por não a adotar. Ainda assim, sem-
dores” que, apesar de serem docu- inverso. Por exemplo, a Política Nacional mento normativo a ser usado (decre- pre houve a preocupação de proporcionar
mentos de cunho nacional, suas in- do Meio Ambiente (Lei Nº 6.938, de 31 de to, lei, etc.); esse amplo debate nacional. Se o mar é
.
junto ao nascimento da Constituição Brasi- belecer seus “planos de gerenciamento delimitação geográfica do que se consi- se sobrepõe;
leira, ainda anterior a ela, em 16 de maio costeiro”. Em 07 de dezembro de 2004, dera como “zona costeira” em seu Art.
3 a incorporação da dimensão ambien-
de 1988, pela Lei Federal Nº 7.661. Antes portanto, mais de 15 anos após a primeira 3º, limitando externamente com a exten-
tal nas políticas setoriais voltadas à gestão
mesmo da internalização da CNUDM, de lei federal sobre o gerenciamento costei- são de doze milhas náuticas (correspon-
integrada dos ambientes costeiros e mari-
1993. Ou seja, por esse dispositivo legal ro, e diversas normatizações estaduais e dente ao Mar Territorial, no caso brasi-
nhos – o que reforça a intercorrência com
nasce o “Plano Nacional de Gerenciamento municipais, por meio do Decreto Fede- leiro, em que todo ele tem sua largura
uma série de outras políticas públicas no
Costeiro” (PNGC). ral Nº 5.300, foi regulamentada a lei nº máxima e, internamente, na sua faixa
.
mesmo ambiente;
Esse dispositivo define a “Zona Costei- 7.661/1988 que instituiu o Plano Nacio- terrestre, compreendido pelos limites dos
ra” como “o espaço geográfico de inte- nal de Gerenciamento Costeiro. Essa re- Municípios que sofrem influência direta 4 a produção e difusão do conhecimento
ração do ar, do mar e da terra, incluindo gulamentação veio para estabelecimento dos fenômenos ocorrentes na zona cos- para o desenvolvimento e aprimoramento
seus recursos renováveis ou não, abran- de bases para a formulação de políticas, teira (o que seria um conceito tautológi- das ações de gestão da zona costeira – o
gendo uma faixa marítima e outra terres- planos e programas federais, estaduais co, uma vez que usa em sua delimitação que confere um objetivo mais difuso liga-
tre, que serão definidas nos respectivos e municipais; estabelecendo os limites, o próprio conceito que tenta instituir). do às políticas de educação, ciência e tec-
Planos”. Note-se que a definição busca princípios, objetivos, instrumentos e Ainda agrega novas delimitações que vi- nologia e gestão.
regulamentar de forma particular uma competências da gestão da Zona Cos- sam, então, definir quais seriam os muni-
Decorrente dessa regulamentação, di-
área física (não definida) mas que, certa- teira e da orla marítima. O decreto traz cípios abrangidos por essa faixa terrestre
versos estados e municípios criaram ór-
mente concorre com todas as atividades os limites da faixa terrestre e da faixa da zona costeira (não apenas os defron-
gãos, planos decorrentes e novas regula-
exploratórias de recursos vivos, não-vivos marítima da zona costeira. Traz a defi- tantes, mas também não-defrontantes,
mentações. Inclusive em termos infracio-
e mesmo econômicas. Passando, assim a nição, pela primeira vez, de um espaço estuarino-lagunares, etc.).
nais e de penas atribuídas.
ser um novo e decisivo instrumento de geográfico de gestão do território, a Orla Cabe menção aos objetivos dessa re-
Estabelece ainda novas subáreas com
política pública com recorte geográfico e Marítima: faixa contida na zona costeira, gulamentação. São quatro:
.
características ainda mais especiais, como a
não temático. de largura variável, compreendendo uma
orla marítima (que define como tendo limite
Mais que isso, o PNGC complemen- porção marítima e outra terrestre, caracte- 1 a promoção do ordenamento do uso
marítimo da isóbata de 10 metros e terrestre
ta agregando novos atores decisores na rizada pela interface entre a terra e o mar. dos recursos naturais e da ocupação dos
de cinquenta metros em áreas urbanas e de
questão: define que os Estados e Muni- Além disso, estabelece os Instrumentos de espaços costeiros – o que, certamente con-
duzentos metros em áreas não urbanas).
cípios podem instituir os seus respectivos Gestão para a Zona Costeira e para a Orla correrá com outras políticas como de pesca,
Assim, mais que aprofundar aqui quais
.
Planos de Gerenciamento Costeiro e que Marítima, bem como as competências de ocupação fundiária e habitacional, etc.;
foram os reais e efetivos desmembramentos
os três níveis (federal, estadual e muni- de cada ente federativo na estruturação,
2 o estabelecimento do processo de ges- ocorridos a partir dessa criação nacional, o
cipal) poderão normatizar o uso e ocu- implementação, execução e acompanha-
tão para elevar a qualidade de vida de sua que se procurou mostrar é a complexidade
pação do solo, do subsolo e das águas. mento da Gestão Costeira.
população e a proteção de seu patrimônio em correlacionar tantos ambientes, níveis
Note-se apenas como exemplo, a com- Ao analisar mais detalhadamente esse
natural, histórico, étnico e cultural – no- de decisão, temáticas e setores envolvidos –
plexidade dessa rede. Como já dito, a re- decreto de regulamentação do Plano Na-
te-se, ao incluir seu patrimônio histórico e todos intrinsicamente ligados ao mar.
gulamentação da exploração do subsolo cional de Gerenciamento Costeiro, da lei
marinho no Mar Territorial é de compe- federal anterior à Constituição, vê-se que
tência exclusiva da União. Entretanto, por há subjacente, uma escolha temática.
esse dispositivo, legal, porém, infracons- Essa escolha é bem mais focada no aspec-
titucional, o subsolo dessa área marítima to ambiental e sustentável que em outros
adjacente à costa (sem definir limite de aspectos como econômico e de transpor-
extensão) poderia ser gerenciado por pla- te. Tanto o é que estabelece uma série
nos estaduais e municipais. de competências ao Ministério do Meio
Miguel Marques
Taíssi Pepe de Medeiros Farias
1. Introdução
344 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Os Arranjos Inovadores da Economia do Mar 345
Fortaleza 2040 e Ceará 2050, os quais aju- compõem a governança criada conjunta-
consolidar a cooperação entre os setores Em complemento, fruto de debates
daram a evidenciar a importância do “Ceará mente com a Agência de Desenvolvimento
governamentais, acadêmicos e empresa- impulsionados pelo CTN-RJ, o governo
Azul”. Esse “Ceará Azul” vai além dos 149 do Ceará (ADECE).
riais e contribuir para o desenvolvimento do estado do RJ publicou o Decreto nº
mil km² do “Ceará terrestre”, ou seja, mais Entre os diversos projetos já implemen-
das atividades econômicas relacionadas 47.813/2021, que criou a Comissão Estadu-
249 mil km² de um vasto território submer- tados com impacto nas atividades que
ao mar no estado do Rio de Janeiro (RJ). O al de Desenvolvimento da Economia do Mar
so, o qual integra o espaço marítimo brasilei- compõem a Economia Azul, destaca-se o
CTN-RJ se alinha ao Mapa do Desenvolvi- (CEDEMAR), responsável pela elaboração
ro conhecido por Amazônia Azul. Atlas de Energias Renováveis do Ceará,
mento do estado do Rio de Janeiro 2016- de políticas públicas para o setor. Vinculada
O Sistema Federação das Indústrias do ferramenta online que mapeou o poten-
2025, formulado pelo Sistema Federação à Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Estado do Ceará (Sistema FIEC) elaborou e cial eólico offshore do Ceará, contribuindo
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro Econômico, Energia e Relações Internacio-
executa um portfólio de projetos interins- para o posicionamento entre os três esta-
(FIRJAN), que tem entre seus objetivos, am- nais (SEDEERI), a comissão terá represen-
titucionais para desenvolvimento dos se- dos do Brasil com maior número de proje-
pliar a participação da iniciativa privada nos tantes da Assembleia Legislativa, FIRJAN,
tores portadores de futuro para o Ceará, tos de geração nessa modalidade.
diversos setores da economia e fortalecer a SEBRAE, Fecomércio, CTN-RJ, universidades
com destaque para a economia do mar. O Sistema FIEC formalizou seu portfó-
gestão, a governança e a produtividade nas e dos setores de infraestrutura e logística, de
Iniciado em 2014, a partir do projeto pros- lio para a Economia Azul no Programa
empresas do Rio de Janeiro (RJ). óleo e gás, do turismo e da pesca. No mes-
pectivo que reuniu mais de duzentos to- Ceará Mar de Oportunidades, implemen-
Nasce a partir da percepção de que o mo ano, a Assembleia Legislativa do Estado
madores de decisão em cada uma das sete tado em parceria com o Serviço Brasileira
Rio de Janeiro concentra cadeias produti- do Rio de Janeiro (ALERJ) aprovou o Projeto
mesorregiões cearenses em painéis de es- de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
vas relacionadas à projeto e integração de de Lei nº 4.698/21, criando a Política Esta-
pecialistas, o trabalho de apoio do Sistema (SEBRAE), com objetivo de fomentar e
sistemas de meios navais, planejamento e dual da Economia do Mar cujo texto mapeia
FIEC ao desenvolvimento da economia do apoiar a automação de processos na in-
execução do apoio logístico, construção, trinta grupos de atividades econômicas re-
mar introduziu-se a partir de um levanta- dústria de beneficiamento de pescado e
reparação e manutenção de navios e em- lacionadas ao litoral fluminense. A medida
mento de tendências tecnológicas, sociais na aquicultura, a elaboração do Atlas Ma-
barcações de apoio, infraestrutura de Esta- incentiva o Governo do Estado a articular a
e mercadológicas que culminou na priori- rinho do estado do Ceará e a certificação
leiros, Bases Navais e Arsenal de Marinha, aprovação, no Conselho Nacional de Política
zação desse setor em todas as quatro me- de barcos de pesca do estado.
indústrias fornecedoras de insumos básicos Fazendária (Confaz), de um convênio para
sorregiões cearenses que possuem litoral. Sob articulação do setor público, em
(siderurgia, metalurgia, plásticos, borrachas incentivos tributários às atividades ligadas à
Em continuidade, implementa o proje- março de 2022, foi divulgada a iniciativa do
e mobiliário de madeira), peças, equipamen- economia do mar e ainda prevê o apoio a
to Rotas Estratégicas Setoriais 2025 (Siste- Observatório Costeiro e Marinho do Ceará
tos e equipagens de emprego naval, além instituições científicas que desenvolvam ini-
ma FIEC, 2017). Para otimizar o processo (OCMCeará)2, capitaneada pela Secretaria
de sediar em seu território algumas das mais ciativas relacionadas à temática.
de operação, neste projeto os 17 setores do Meio Ambiente (SEMA), por meio do
conceituadas universidades do Brasil, escolas Dados do governo do estado indicam que
identificados como promissores para o de- Cientista Chefe do Meio Ambiente, pro-
militares e mão de obra qualificada. De acor- a economia do mar representa 44% do PIB
senvolvimento do Estado foram reagrupa- grama desenvolvido em parceria com a
do com seu Plano de Desenvolvimento de fluminense, da pesca artesanal às indústrias
dos em 13 rotas estratégicas, entre elas, Fundação Cearense de Apoio ao Desenvol-
Negócios, para o biênio 2021/2022, foram naval e de petróleo, incluindo as atividades
a Rota Estratégica da Economia do Mar, vimento Científico e Tecnológico (FUNCAP)
estabelecidos os segmentos-foco: constru- econômicas que não têm o mar como ma-
com roadmap construído coletivamente e Superintendência Estadual do Meio Am-
ção e reparação naval, descomissionamento téria-prima, mas que são realizadas nas suas
contendo as ações de curto, médio e lon- biente (SEMACE). O projeto também conta
e desmantelamento de plataformas e navios, proximidades. O estado tem 27% de seus
go prazo para garantir sinergia de esfor- com o apoio da Universidade Estadual do
serviços marítimos, exploração e explotação municípios voltados para o mar, com popu-
ços das instituições na implementação da Ceará (UECE), Universidade Federal do Ce-
de recursos renováveis e não-renováveis do lação estimada em 11 milhões de pessoas, o
visão do futuro, bem como a identificação ará (UFC), Instituto Federal de Educação,
mar, defesa e segurança. que representa 67% do Rio de Janeiro.
de tecnologias prioritárias essenciais para Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Ma-
Desde 2021, o cluster está aberto para
a competitividade. Dessa forma, foram co- rinha do Brasil, Secretaria do Patrimônio da
a adesão de outras empresas. Em seu Plano Estado do Ceará (CE)
criados coletivamente a agenda prioritária União (SPU) e Sistema FIEC.
Estratégico, espera-se que seja uma referên-
e o portfólio de projetos de alto impacto O Observatório insere-se no projeto do
cia a ser replicada por toda a extensão da O potencial do mar do Ceará foi abor-
para economia do mar, relevantes direcio- Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará
vasta costa brasileira, visando a consolidação dado previamente como eixo temático no
nadores do trabalho das instituições que (PCM) e tem por missão ser um instrumento
de um grande Cluster Marítimo Brasileiro. desenvolvimento dos planos estratégicos
Cingapura . Desenvolver o cluster marítimo através Carga em contentores (containers) movimentada no porto de Cingapura
de: (i) aumentar o número de entidades de (milhões de TEUs)
Desde sempre Cingapura teve uma transporte marítimo; (ii) captar maior quo- 40
forte relação com o mar e com o comér- ta de mercado no transporte marítimo; (iii)
cio marítimo. Sendo um secular ponto de reforçar a indústria de seguros marítimos 35
desenvolver uma forte estratégia de cres- através de: (i) promover as atividades do clus- 20
0
pura é um dos maiores centros marítimos ção marítima vibrante e promover a digita- 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
do mundo, devido à sua excelente localiza- lização através de: (i) reforçar o investimen-
ção geográfica, nas principais rotas de co- to articulado entre o setor público e o setor
mércio intercontinental. As suas sofistica- privado; (ii) alavancar big data, internet of
das infraestruturas, as suas leis adaptadas
à realidade do mundo dos negócios e a sua .
things e intelligence systems.
Desenvolver uma força de trabalho com
capacidade de estar permanentemente a competências múltiplas e que pensa a nível
aprimorar a sua estratégia, adaptando-a à global, através de: (i) fortalecer a qualidade (milhões de TEUs)
evolução dos tempos, reforça essa sua po- da formação e treino marítimo; (ii) continu-
sição de liderança a nível global. ar a sofisticar os standards de profissiona- 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
De acordo com o relatório de Cinga- lismo na indústria; (iii) promover o perfil da 29,1 30,6 32,3 33,3 34,6 31,7 31,6 33,6 37,3 37,1 36,8 37,1
pura International Maritime Centre 2030
(International Maritime Center, [2017]), .
indústria marítima para atrair talento.
Estabelecer Cingapura como o standard Fonte:UNCTAD; PSA Singapore (2022)
hoje em dia, mais de 140 grandes grupos global da indústria marítima, através de:
ECONOMIA AZUL
352 ECONOMIA AZUL Os Arranjos Inovadores da Economia do Mar 353
.
Austrália
Quadro 1 -Modelo de govemança da Noruega de atividades no oceano
A Austrália considera que os oceanos desenvolver competências trans-disci-
.
Steering Committee são o futuro econômico do país. Espera em plinares
2025, que as indústrias marinhas contribu-
.
Ministry of Climate and Environment Ministry of Transport construir navios de pesquisa
am em aproximadamente 100 bilhões de
Ministry of Petroleum and Energy Ministry of Labour and Social Affairs
.
dólares por ano para a economia, esperan- investigar, mapear e monitorizar
Ministry of Trade, Industry and Fisheries Ministry of Finance do-se que a contribuição da economia do
Ministry of Local Government and Modernisation Ministry of Justice and Public Security definir a base de partida das ciências
mar, para a economia da Austrália, cresça
.
Ministry of Foreign Affairs Ministry of Defence marinhas
a um ritmo três vezes superior ao ritmo do
crescimento da economia geral. cooperar
Estrategicamente, a Austrália considera
que o conhecimento dos oceanos é instru- Estados Unidos da América
mento fundamental para extrair o máximo
Forum for Integrated Ocean Management Advisory Group on Monitoring Os Estados Unidos da América têm
proveito, de forma sustentável, dos recur-
• Norwegian • Norwegian • Institute of Marine • Norwegian Institute uma Agência Federal, que pertence ao De-
sos marinhos.
Environment Agency Meteorological Research for Nature Research partamento de Comércio (“Ministério da
• Norwegian Institute • Norwegian • Norwegian Institute Neste contexto, construiu um plano na-
Radiation and Economia”) que é uma referência mundial
• Norwegian Water Radiation and for Water Research cional de ciência marinha (National Marine
Nuclear Safety Resources and Energy Nuclear Safety • Geological Survey em relação às matérias dos oceanos, espe-
Authority Directorate Authority of Norway Science Committee (Australia) e Gunn, 2015)
cialmente nas matérias relacionadas com
.
• Directorate of • Norwegian Polar • Directorate of • Norwegian Polar que visa responder aos seguintes objetivos:
Fisheries Institute Fisheries Institute o conhecimento das dinâmicas naturais
.
• Institute of Marine • Norwegian • Norwegian • Norwegian manter a soberania e segurança marítimas dos oceanos e do seu impacto sócio eco-
Research Petroleum Directorate Meteorological Maritime
nômico, que se chama NOAA – National
.
• Norwegian • Petroleum Safety Institute Authority atingir a segurança energética
Mapping Authority Authority • Norwegian Oceanic and Atmospheric Administration.
• Norwegian Coastal • Norwegian Environment Agency
.
assegurar a segurança alimentar Na estratégia 2021-2025 da NOAA para a
Administration Maritime Authority
Economia Azul (Leboeuf et al., 2021) cons-
conservar a boa saúde dos ecossistemas
tam os seguintes objetivos estratégicos:
. .
Fonte: Meld. St. 20, Report to the Storting (white paper), marinhos e da sua biodiversidade
Norway’s integrated ocean management plans (2020)
criar um desenvolvimento urbano costei- Contribuir para o desenvolvimento do
. .
ro, sustentável transporte marítimo
Sendo que, os objetivos do plano no- em conjunto, sem ultrapassar os limites de compreender e adaptar-se às alterações Mapear, pesquisar e caracterizar a ZEE
. .
rueguês para o mar são: sustentabilidade ambiental dos ecossiste- climáticas dos EUA
.
gerir os recursos pesqueiros de forma marinhos de forma equitativa e balanceada de da indústria alimentar do mar
temas marinhos de forma a ser criado valor
.
sustentável;
e emprego, de forma sustentável, ao longo Os passos que serão dados na implementa- Expandir o turismo costeiro, oceânico e
. .
do tempo;
.
efetuar a exploração de petróleo offsho- ção do plano, serão os seguintes: nos grandes lagos
re de forma segura e em total respeito pe-
as indústrias do mar terão que promo- construção de ferramentas de suporte à Aumentar a resiliência dos oceanos, cos-
.
los mais exigentes standards ambientais;
. .
ver a criação de valor e de bem-estar para decisão tas e grandes lagos
.
todo o país; desenvolver as energias renováveis
. .
criação de modelos de previsão Desenvolver o crescimento azul sustentável
.
offshore;
a existência de coordenação entre to-
estabelecimento de parcerias entre a in- Alavancar as oportunidades externas de
das as atividades de natureza comercial criar as condições para um transporte ma-
dústria e o Estado desenvolvimento da Economia Azul
que possibilite a coexistência das mesmas rítimo seguro e ambientalmente sustentável;
354 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Os Arranjos Inovadores da Economia do Mar 355
De acordo com a conta satélite da eco- os principais setores da economia marinha que teve como principais prioridades: Atualmente, o plano de ação para o
nomia marinha dos EUA (NOAA, 2021), dos EUA são os seguintes: (i) promover o empreendedorismo e a inova- Atlântico, gerido pelo comité executivo
ção; (ii) proteger e desenvolver os ecossiste- constituído pela Comissão Europeia, por
Tabela 3 . Principais setores da economia marinha dos EUA mas marinhos; (iii) melhorar a acessibilidade e Portugal, pela Espanha, pela França e pela
.
a conectividade e (iv) criar um modelo de de- Irlanda, tem os seguintes quatro pilares:
Valor Agregado Bruto (milhões de dólares) 2019 senvolvimento social, inclusivo e sustentável. os portos do Atlântico e o seu papel na
Turismo Oceânico e Costeiro 132.984 Adicionalmente, a União Europeia ce-
.
Economia Azul
lebrou acordos estratégicos de coopera-
Defesa Marítima e Administração Pública 104.233
.
ção internacional, para melhor conhecer as competências azuis e a literacia oceânica
Minerais Offshore 78.028
.
os oceanos, destacando-se o Acordo do as energias marinhas renováveis
Transporte e Logística Marítima 21.268 Galway, que lançou a cooperação entre
um oceano saudável e zonas costeiras
Construção e Reparação Naval 3.694 a União Europeia o Canadá e os Estados
resilientes
Unidos, estabelecendo a “Atlantic Oce-
Ciência e Educação 6.613
an Reserach Alliance (AORA)”. Logo após Na totalidade da União Europeia, o Va-
Recursos Marinhos Vivos 12.028 o Acordo Galway, celebrou o Acordo de lor Agregado Bruto da Economia Azul (Eu-
Outros 26.203 Belém, estabelecendo cooperação entre a ropean Comission, 2021), no ano de 2018,
Valor Agregado Bruto da Economia Marinha dos Estados Unidos 385.051 União Europeia, a África do Sul e o Brasil. ultrapassou os 176 bilhões de euros.
da América Tabela 4. Valor Agregado Bruto da Economia Azul União Europeia
Fonte: NOAA (2021)
União Europeia Valor Agregado Bruto (milhões de dólares) 2018
Apesar de, até esse ponto, as inicia- biotecnologia marinha, das energias oceâ- Recursos Vivos 19.100
.
tivas de arranjos tenham tido como ator nicas, entre outros; Recursos não Vivos 4.243
central o Estado (tanto no caso brasilei- Energia Offshore 1.495
dados e conhecimentos marinhos – per-
ro, quanto nos exemplos internacionais),
mitir o acesso à informação sobre o mar, Atividade Portuária 26.481
há ainda de sublinhar iniciativas decor-
capaz de ser utilizada por todas as entida- Construção e Reparação Naval 14,654
rentes de rearranjos interestatais como
des, gerando conhecimento e valor através
o caso europeu. Transporte Marítimo 30.047
.
da análise desses dados;
A União Europeia tem sido pioneira na Turismo Costeiro 80.049
construção de uma visão integrada de to- planejamento do espaço marinho – re-
Valor Agregado Bruto da Economia Azul União Europeia 176.069
das as atividades que acontecem no mar. duzir os conflitos entre setores, encorajar
Fonte: Comissão Europeia (2021)
Em 2007, após um período de produção o investimento, aumentar a cooperação
de documentos estratégicos sobre o mar, entre Estados e proteger o meio ambiente; Transformação da Economia a nível global
a União Europeia iniciou a sua Política vigilância marítima integrada – permitir às A pandemia Covid-19 causou uma ruptura pré-pandemia, que já apresentava baixas
Marítima Integrada, também chamada de autoridades marítimas dos diversos Esta- a nível global, com o Produto Interno Bruto taxas de crescimento do PIB (1% a 2%)
“Livro-Azul”. Esta política foi concebida dos, terem um ambiente comum de parti- mundial tendo caído cerca 3,3%, no ano e sinais alarmantes de poluição, fenóme-
.
para reforçar o desenvolvimento sustentá- lha de informação; de 2020 (Fundo Munetário Internacional, nos climáticos extremos. A Economia Azul
vel da União Europeia através do mar. 2022.) — uma queda sem precedentes nas tem, portanto, a oportunidade de contri-
estratégias marítimas por bacia – permi-
Os eixos estruturais e suas pretensões, últimas quatro décadas, de acordo com o buir para uma recuperação sustentável
tir, de forma diferenciada, resolver as fra-
.
desta visão integrada, são: relatório internacional Burgee (Marques que transforme positivamente o modelo
quezas e realçar as forças de cada região
M., 2021), é importante que a recupera- de desenvolvimento econômico global.
o crescimento azul – desenvolver seto- marítima da União Europeia. Em 2011, o
ção signifique também a transformação Uma abordagem baseada em dois pilares:
res com grande potencial de crescimen- primeiro plano de ação por bacia, foi o plano
do modelo de crescimento econômico na ciência, que irá alimentar este processo
to, como é o caso da aquacultura, da de ação da União Europeia para o Atlântico,
1. Introdução
Dentre as diversas agências especializa- Assim como para o Brasil, o mar se des-
das integrantes do Sistema da Organização taca no concerto de outros Estados como
das Nações Unidas (ONU), a Organização elemento primordial para o progresso eco-
Marítima Internacional (International Mariti- nômico. Nesse contexto, um grande núme-
me Organization – IMO)1 denota expressiva ro de iniciativas são apresentadas e defendi-
relevância, mundialmente, por representar das no âmbito da Organização. Estas iniciati-
a autoridade instituída e especialmente de- vas encontram-se, muitas vezes, envoltas sob
dicada, por meio de seus Estados membros, um manto de cooperação de ordem tecno-
Organizações Intergovernamentais e Orga- lógica. Se, por uma vertente, impulsionam o
nizações Não Governamentais, à formula- futuro do setor marítimo internacional, por
ção de regramentos, sempre por meio do outra contribuem para polarizar discussões e
princípio da cooperação, destinados à se- deliberações em prol de soluções que aten-
gurança e à preservação do meio ambiente dam a interesses econômicos, tecnológicos e
no contexto do transporte marítimo inter- políticos específicos.
nacional, por meio da prevenção à poluição Consegue-se inferir tal posicionamento
marinha e atmosférica causada por navios. à medida que se observam, por exemplo,
Desde o ano de 1963 o Brasil é membro iniciativas no campo da segurança maríti-
da IMO. Tal fato assevera a significância que ma (safety), marcadas pela busca expedita
o País empresta à Organização e às decisões da regulamentação do emprego de navios
colegiadas dela originadas, primordiais para autônomos marítimos de superfície (MASS –
um ator global de destacada expressão, que Maritime Autonomous Surface Ships) e no
utiliza o transporte marítimo para o escoa- campo ambiental, por questões relacionadas
mento de seu comércio exterior, na ordem ao desenvolvimento de novos combustíveis
de mais de 95% (BRASIL, 2017, p. 1.2). menos agressivos à atmosfera, ocasionando
1. Introdução
GLIDERS/ MARÉGRAFOS
MODELAGEM
Essential Ocean Variables AUV/ ASV
SENSORIA- HIDROGRAFIA HIDRODINÂMICA
MENTO FUNDEIOS
REMOTO ÁGUAS RASAS MODELAGEM
DERIVADORES/ ONDAS
ARGO FUNDEIOS NAVIOS DE
Buoys, Satellites ÁGUAS OPORTUNIDADES
Aircraft PROFUNDAS REDE
Moorings DADOS
Data Assembly
Data Products
RASTREAMENTO
Issues Impact
MARINHOS
Opportunitiy Operated
Underwater
(HF) High, Vehicles Fonte: GOOS-Brasil, 2022
Vehicles
Frequency
Radar
Floats, Sub-surface Drifters 4. Outros sistemas de observação e modelagem oceânica
disponíveis no Brasil
Observations Deployment
Observatório Costeiro da de auxiliar diversos setores socioeconômi-
and Maintenance Amazônia (OCA) cos da região, a partir de modelos hidro-
dinâmicos em escala regional (toda a zona
Fonte: Lindstrom et al., 2012 Devido à dimensão territorial, alta com- costeira da Amazônia) e em escala local
plexidade e importância da zona costeira (pequenos estuários e planícies alagadas).
amazônica no contexto global, o Observa- Além disso, o OCA desenvolve projetos de
tório Costeiro da Amazônia (OCA) foi cria- ciência cidadã, para integrar conhecimen-
do para sistematizar e padronizar os dados tos científicos e tradicionais, nas questões
meteoceanográficos que vêm sendo cole- do monitoramento ambiental marinho.
tados, disponibilizando-os e promovendo o Em particular, o Observatório vem apoian-
desenvolvimento científico multidisciplinar do o desenvolvimento científico e publi-
na região. Modelos operacionais meteocea- cações em temas primordiais e peculiares
nográficos estão sendo desenvolvidos pela para aquela região, como a propagação da
plataforma OCA-Predict, com o propósito maré (ROLLNIC e ROSÁRIO, 2013; PRESTES
ECONOMIAAZUL
386 ECONOMIA AZUL Observação dos Oceanos 387
et al., 2017), modelo de descarga (BORBA estações fixas conforme aquelas existentes de instituições formadas por este Edital, o no-atmosfera; 6. Serviço de supercompu-
e ROLLNIC, 2016; PRESTES et al., 2020), na rede SiMCosta, bem como a manuten- MCTI realizou encomenda visando ao de- tação e armazenagem de dados; 7. Estudo
Amazon Plume (MASCARENHAS et al., ção de iniciativas de pesquisa ecológica a senvolvimento do Sistema Multiusuário de sistemas marítimos não tripulados; e 8.
2016), intrusão de sal em estuários (VALEN- longo prazo (LTER/PELD) são estratégicas de Detecção, Previsão e Monitoramento Estudo de constelação de satélites. Algorit-
TIM et al., 2018), microplástico (NOVAES et para a avaliação permanente do estado de de Manchas de Óleo no Mar – SisMOM, mos de inteligência artificial serão aplica-
al., 2020) e meiofauna (BAIA et al., 2021). acidificação dos oceanos e seu impacto na apoiado com recursos emanados do Fundo dos transversalmente às oito metas do pro-
biodiversidade no país. Nacional de Desenvolvimento Científico e jeto, sendo que o produto final esperado é
Rede Brasileira de Pesquisa em Tecnológico (FNDCT), por meio da Finan- um conjunto de informações em suporte à
Acidificação dos Oceanos (BrOA) Sistema Multiusuário de Detecção, ciadora de Estudos e Projetos (FINEP). O vigilância das AJB pelas autoridades mari-
Previsão e Monitoramento de SisMOM envolve 21 instituições e mais de nhas e ambientais brasileiras.
A acidificação dos oceanos refere-se ao Manchas de Óleo no Mar – SisMOM 100 (cem) cientistas, representando inicia- O SisMOM será implementado com
declínio do pH da água do mar, concentra- tiva de cooperação técnico-científica inte- o acompanhamento do pessoal da Ma-
ção de íons de carbonato e a consequen- A poluição marinha decorrente de ativi- rinstitucional, voltada ao monitoramento e rinha do Brasil engajado na implantação
te diminuição do estado de saturação de dades antrópicas, como derramamentos de modelagem oceânica para a detecção de do Sistema de Monitoramento da Ama-
carbonato de cálcio na água do mar. Essas óleo, lançamento de lixo, sobretudo plásti- derrame de óleo no mar. O projeto é cons- zônia Azul (SisGAAz), que visa monitorar,
mudanças na química da água do mar são cos (do macro ao microplástico) e de produ- tituído por oito metas interconectadas, de forma integrada, as AJB e as áreas in-
causadas pelo aumento da concentração tos químicos no mar representam uma cres- a saber: 1. Detecção de embarcações no ternacionais sob responsabilidade do país,
atmosférica de CO2 das emissões humanas cente ameaça aos ecossistemas marinhos. mar; 2. Detecção de manchas de óleo no para apoio em operações de busca e resga-
e pela subsequente absorção pelos ocea- O projeto de desenvolvimento de Sis- mar; 3. Modelagem da dispersão de óleo te e resposta rápida em casos de ameaça,
nos de cerca de um terço do excesso de tema Multiusuário de Detecção, Previsão no mar; 4. Sala de situação integradora das emergência, desastre ambiental, conflito
carbono na atmosfera (DONEY et al., 2009; e Monitoramento de Manchas de Óleo no metas 1 a 3; 5. Modelagem acoplada ocea- ou atividade criminosa.
JIANG et al., 2019). Mar – SisMOM nasce da constatação de
A Rede Brasileira de Acidificação Oce- uma necessidade inadiável de vigilância 5. Redes de Observação a partir de plataformas orbitais
ânica (BrOA) foi criada em 2012 por um sobre incidentes por derrame de óleo em
grupo de cientistas interessados no ciclo águas jurisdicionais brasileiras (AJB), a par- O uso de ferramentas de sensoriamen- a investigação da bomba biológica do car-
do carbono marinho e nos efeitos antro- tir do colossal derramamento de óleo que to remoto para monitorar os oceanos é bono; a conversão de medidas in situ do
pogênicos de CO2 na água do mar. A rede atingiu o litoral do Brasil durante os meses um elemento facilitador para uma melhor comportamento das partículas para es-
hoje conta com pesquisadores de 14 uni- de agosto e dezembro de 2019 (SOARES et compreensão cientifica do oceano, gan- timar a exportação global, conversão de
versidades e instituições de pesquisa no al., 2022; NOBRE et al., 2022). hos de eficiência econômica e operacional, observações com sensores óticos em ta-
Brasil, cujo principal tema de pesquisa é Várias iniciativas foram empreendidas apoiando uma ampla gama de benefícios manho, tipo, concentração e fluxos de
a observação de áreas costeiras marinhas pelo poder público federal e estadual, que sociais e econômicos relacionados à se- partículas nos oceanos; a reconstrução de
e oceânicas abertas (KERR et al., 2016), culminaram na abertura de frentes de fi- gurança e soberania nacional, eficiência perfis verticais de propriedades mapeadas
compreendendo a avaliação dos efeitos da nanciamento para projetos de pesquisa. operacional e regulação de atividades cos- superficialmente pelos sensores remotos;
acidificação dos oceanos em organismos Dentre esses, destacou-se a Chamada Pú- teiras e oceânicas (LENTINI & MENDONÇA, as análises e detecção de padrões de estru-
marinhos por meio de bioensaios ou em blica MCTI/CNPq n. 06/2020, na qual 15 2022), consequentemente, de elevada im- turas de mesoescala nos oceanos e zonas
estudos in situ. A rede BrOA identificou projetos de pesquisa foram contemplados portância para a Economia Azul. costeiras (frentes oceânicas, vórtices, etc.).
os ecossistemas mais sensíveis à acidifica- e, mediante a adição de recursos financei- Quando se reúnem resultados de ex- O uso de sensores passivos e ativos a
ção dos oceanos como os recifes de coral ros de parte da Marinha do Brasil, foram perimentos em laboratórios, modelagem bordo de satélites que detectam radiação
e leitos de rodolitos ao longo da platafor- contemplados quatro projetos voltados e análises dos dados obtidos in situ e por eletromagnética de diferentes partes do es-
ma leste e nordeste do Brasil. A extensão exclusivamente para o monitoramento e satélites, grandes avanços ocorrem no pectro é hoje uma realidade e significantes
e heterogeneidade do litoral brasileiro e a a previsão de manchas de óleo nas AJB. campo da pesquisa oceânica, plenamente avanços ocorreram nas últimas décadas.
Zona Econômica Exclusiva constituem um Com base no ganho de qualidade previs- aproveitáveis pelo setor produtivo nacional Diferentes agências espaciais, em especial a
desafio a ser superado. Séries de tempo de to pelo trabalho cooperativo entre as redes e internacional. Citam-se, como exemplos: Agência Espacial Europeia (ESA – European
1. Introdução
As regiões que possuem parte significa- 2019, para o caso do semiárido brasileiro).
tiva de suas economias baseadas na produ- Carro-chefe das exportações brasileiras, por
ção agrícola e/ou pecuária dependente da exemplo, as análises alertam para os riscos
chuva são muito vulneráveis à variabilidade do agronegócio, uma vez que a redução
climática interanual, com impactos socioe- da produtividade da agricultura e pecuá-
conômicos notáveis sobre a população lo- ria trará consequências importantes para a
cal. As constatações do último relatório do economia nacional e para a subsistência e
grupo de trabalho acerca das bases científi- para a segurança alimentar e nutricional de
cas das alterações do clima, elaborado pelo milhares de pessoas.
Painel Intergovernamental sobre Mudan- Mas os impactos não se limitam à pro-
ças Climáticas (IPCC, 2021), indicam que dução de alimentos em terra. As mudanças
as mudanças climáticas terão um profundo climáticas irão provocar alterações impor-
impacto em todo o sistema de produção tantes também na pesca comercial e de
alimentar no mundo, com consequências subsistência em água doce e marinha e na
negativas para a produção agrícola, com aquicultura. O aumento da temperatura dos
risco inclusive do incremento da fome e oceanos, em particular nas regiões tropicais,
consequente intensificação de processos tem provocado ameaças já visíveis sobre di-
migratórios em vários locais do planeta. ferentes ecossistemas marinhos, como os
Um exemplo-chave é a relação direta recifes de corais, que possuem papel-chave
entre o desmatamento da Floresta Ama- na manutenção da biodiversidade e do ci-
zônica e a dinâmica econômica nacional, clo de vida de milhares de espécies. Para
envolvendo riscos à manutenção das segu- além do feito de estresse térmico, essas al-
ranças alimentar, energética, hídrica e so- terações têm modificado a troca oceano-
cioambiental do país (e.g., ARAUJO et al., atmosfera de CO2, resultando na acidificação
Figure 1a 0.0
-0.2
ATL3 (JAS(0) x OND(0)
a Lead-lag correlation [OND(0) ATL3] & NINO3 -0.4 NINO3 (OND(0) x FMA(1)
OND(+1) ATL3 (JAS(0) x NINO3 OND(0)
-0.6 ATL3 (OND(0) x NINO3 OND(1)
II Nino3 lagging
ASO(+1)
ATL3 (JAS(0) x OND(0)
JJA(+1) -0.8 NINO3 (OND(0) x FMA(1)
ATL3 (JAS(0) x NINO3 OND(0)
AMJ(+1) ATL3 (OND(0) x NINO3 OND(1)
FMA(+1) -1.0
Fonte: Hounsou-Gbo et al. (2020)
06 5
0
16 5
21 0
5
31 0
5
41 0
46 5
0
56 5
61 0
66 5
0
76 5
81 0
5
91 0
5
DJF (0)
-2
-3
-3
-4
-4
-5
-5
-6
-6
-7
-7
-8
-8
-9
-9
-0
-0
-1
-1
01
11
26
36
51
71
86
OND(0)
ASO(0)
Nino3 leading
90 9
4
Figura 2
a ENEB MJJ(0) & (SST & WIND) ND (-1)J(0) b ENEB MJJ(0) & (SST & WIND) MJJ (0)
c SETA ND(-1)J(0) X (SST, SLP, WIND & Omega) MJJ(0) 2.3. Eventos extremos meteorológicos US$ 350 milhões de dólares1. Desta for-
na região Sul-Sudeste do Brasil: o ma, torna-se evidente que a necessidade
caso do ciclone Catarina de compreender as variações de intensida-
de e frequência de eventos extremos em
No que se refere a eventos extremos na uma determinada região depende de quão
América do Sul, apesar das teleconexões abrangente é o conhecimento científico so-
oceano-atmosfera e suas consequências bre os fatores ambientais que os controlam.
descritas anteriormente com enfoque no Nesse contexto, o potencial modulador do
Atlântico Tropical, a importância dos ciclo- oceano vem sendo cada vez mais explo-
nes extratropicais na região sul/sudeste do rado. No caso do Catarina, o fenômeno
Brasil também merece ser enfatizada. Por que atingiu o litoral de Santa Catarina em
exemplo, a passagem de um ciclone extra- 28 de março de 2004 foi caracterizado
tropical, que posteriormente deu origem a como um ciclone2, e não um furacão, de
um ciclone subtropical nessa mesma área, acordo com Cunha et al. (2004) em cita-
-1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
esteve relacionada ao desenvolvimento do ção a Nota Técnica conjunta emitida pelo
primeiro furacão já documentado no Atlânti- CPTEC/INPE e INMET. Independentemente
co Sul: o Catarina. Ele atingiu o sul do Brasil da terminologia, a análise do conteúdo de
Fonte: Hounsou-Gbo et al. (2019) no final de março de 2004, deixando mais calor do oceano (Ocean Heat Content –
de 27,5 mil desalojados, quase 36 mil ca- OHC), é uma medida do calor potencial
sas danificadas, 518 feridos e 11 mortos. que o oceano tem para manter e intensifi-
Os prejuízos totalizaram aproximadamente car os ciclones tropicais (e.g., HALLIWELL
10 30 S
0
0 2
25 S
0
pondentes de março de 2004 [painéis anomalias onde os pontos coloridos in-
1
do meio – b), e), h), k) e n)] e do período dicam o início de cada etapa.
300S 0
-5 10
Pezza e Simmonds (2005) argumentam março. Esse ambiente deu origem ao maior
20
350S que a TT Catarina começou com a forma- pico de GPI (Figura 3a), que correspondeu
-10 30
ção do CST, quando o núcleo da tempes- ao segundo maior pico de vorticidade (Fi-
f) 30
tade começou a mudar de frio para quen- gura 3d). Além disso, a umidade relativa
rel. humidity (%)
60 20
25 S
0
te. A conclusão da TT ocorreu em 25 de foi alta durante a maior parte de 24 de
10
40 0
março, após o sistema ter experimentado março (Figura 3g). Ao mesmo tempo, o
30 S
0
-10
condições particularmente propensas à ci- OHC estava principalmente abaixo da cli-
20 20 clogênese tropical durante a tarde de 24 de matologia (Figura 4a).
35 S
0
-30
Figure 4
k) l) 8
H2 Ts
pot. int. (m s-1)
60 250S
4
3 clim 0.8
0 250S
40 300S 2004
0. 4
-4 2
30 S
0 0. 0
20 350S -8
-0. 4
1
35 S -0. 8
o)
0
40 h) 12
wind shear (m s-1)
ECONOMIA AZUL
408 ECONOMIA
408 AZUL Oceano e Clima: Novos Desafios 409
O Catarina tornou-se um furacão de ca- convectiva durante o período do Catarina ocorreram no Pacífico Norte, Atlântico Nor- atmosféricos sobre o sudeste do Brasil são
tegoria 1 na manhã de 26 de março (MC- e foram encontradas como as principais te, Austrália Ocidental e Mar Mediterrâneo responsáveis por até 60% dos eventos de
TAGGART-COWAN et al., 2006). Nesse dia, componentes das anomalias positivas do (SCANNELL et al., 2016; HOBDAY et al., OCM no Atlântico Sul sudoeste durante o
a tempestade interagiu com fatores am- GPI. No entanto, os três maiores picos de 2016; OLIVER et al., 2017). As OCMs po- verão. A falta de nuvens permite que mais
bientais que produziram o segundo maior GPI só apareceram depois que o sistema dem ser causadas por processos atmosfé- radiação solar chegue tanto ao continente
pico de GPI (Figura 3a). Notavelmente, esse se dirigiu para a região de baixa tensão ricos ou oceânicos, dependendo do evento quanto ao oceano causando o aquecimen-
pico foi formado durante o forte aumento de cisalhamento do vento (entre os níveis e da localidade (HOLBROOK et al., 2019). to da superfície da terra e do mar que leva
de umidade observado entre 25 e 26 de de 850 e 200 hPa). Portanto, confirman- As OCMs têm um impacto devastador às ondas de calor sobre o continente e no
março (Figura 3g). Enquanto isso, o OHC do que a transição de Catarina foi iniciada para ecossistemas marinhos (SMALE et al., oceano, respectivamente. A causa desses
estava próximo de sua climatologia (Figura pelo padrão atípico de bloqueio de dipolo 2019). Por exemplo, o evento que ocorreu bloqueios também foi identificada e está
4a). Foi apenas em 27 de março que o fura- (MCTAGGART-COWAN et al., 2006). no Mediterrâneo em 2003 causou uma associada a Oscilação de Madden Julian,
cão encontrou o OHC anormalmente alto e As áreas de anomalias positivas do mortalidade em massa de pelo menos 25 principalmente quando esta se encontra
o campo de vento se intensificou para um OHC sugerem que as condições oceâni- espécies de invertebrados de costões ro- mais ativa no Oceano Índico (RODRIGUES
máximo de 34,7 m/s (VIANNA et al., 2010). cas podem ter sido favoráveis à ciclogê- chosos (BLACK et al., 2004; OLITA et al., & WOOLLINGS, 2017). Além disso, Costa
Os resultados sugerem uma estreita nese. No entanto, não houve correspon- 2007; GARRABOU et al., 2009). Os da- e Rodrigues (2021), usando saídas dos mo-
correspondência entre grandes anoma- dência significativa entre tais anomalias e nos causados pelas OCMs não se limitam delos climáticos do Coupled Model Inter-
lias positivas do GPI e os principais está- os principais estágios do desenvolvimen- a organismos demersais ou ecossistemas comparison Project Phase 6 (CMIP6), iden-
gios do ciclo de vida de Catarina, princi- to do Catarina. Ao contrário do OHC em costeiros. A OCM que ocorreu no Noroes- tificaram uma tendência de aumento na
palmente quando o sistema desenvolveu março de 2004, o GPI foi o mais alto en- te do Oceano Atlântico em 2012 teve um ocorrência, intensidade, duração e extensão
estrutura de ciclone subtropical, passou tre março de todos os anos (1990-2019). impacto nos pescados de grande importân- espacial dessas OCMs no Atlântico Sul su-
por transição tropical e se intensificou em Portanto, os resultados de Lauton et al. cia comercial (MILLS et al., 2013). Quando doeste, tanto para o período de 2021-2050
um furacão de categoria 1. Lauton et al. (2021) indicam que o GPI é potencial- as temperaturas são tão extremas quan- como para o período de 2071-2100, anali-
(2021) especulam que até mesmo o pre- mente um bom índice para a obtenção to o evento que persistiu no noroeste do sando um cenário moderado e outro mais
cursor extratropical do Catarina recebeu de um limiar para a ciclogênese na re- Oceano Pacífico de 2014 a 2016, a OCM extremo de mudanças climáticas. Além dis-
importantes contribuições da interação gião. Provavelmente, isso afetará futu- pode ter efeitos negativos até em aves e so, os resultados mostram que o Atlântico
com altos valores do GPI. As anomalias ras investigações sobre os impactos das outros animais marinhos (CAVOLE et al., Sul sudoeste pode atingir um estado quase
de vorticidade a 850 hPa e umidade re- mudanças climáticas na probabilidade de 2016). Recentemente, Smith et al. (2021) permanente de OCMs até o fim do século
lativa a 600 hPa favoreceram a atividade outros eventos extremos desse tipo. forneceram uma perspectiva global sobre XXI, com OCMs durando todo o verão.
os impactos das OCMs nas sociedades hu- Ainda são inexistentes estudos sobre
3. Ondas de Calor Marinhas manas. Impactos ecológicos variaram des- OCMs em outras partes do Atlântico Sul e
de proliferação de algas nocivas e eventos Tropical, mas a Figura 5 mostra um aumen-
As mudanças climáticas afetam subs- eventos de temperatura extrema nos oce- de mortalidade em massa até reconfigura- to da ocorrência desses eventos extremos
tancialmente o planeta e a sociedade, es- anos, chamados de Ondas de Calor Mari- ções de ecossistemas inteiros, afetando o em praticamente todo Atlântico Sul e Tro-
pecialmente por aumentar a intensidade nhas (OCMs). Uma OCM é definida como habitat, regulação e serviços ecossistêmi- pical durante o verão, com valores de in-
e frequência de eventos extremos, como um evento prolongado (de no mínimo de cos globalmente. Os custos econômicos tensidade acumulada positivos ao longo de
inundações, secas e ondas de calor, sendo 5 dias) de temperaturas da superfície do de eventos individuais de OCM excederam quase toda a costa do Brasil. Infelizmente,
países subdesenvolvidos e em desenvol- mar (TSM) acima do limite do 90° per- US$ 800 milhões em perdas diretas e US$ os impactos das OCMs nos ecossistemas
vimento os mais afetados (TRENBERTH centil em relação a uma climatologia de 3,1 bilhões em perdas indiretas de serviços marinhos do Atlântico Sul e Tropical e seus
et al., 2007). Apesar da maior parte dos pelo menos 30 anos de dados (HOBDAY ecossistêmicos por vários anos. desdobramentos econômicos não foram es-
estudos focarem em extremos sobre os et al., 2016, 2108). Além dos estudos em Embora comprovada sua importância, tudados a fundo. Brauko et al. (2020) iden-
continentes, Oliver et al. (2018) constata- escala global sobre a duração, frequência são escassos estudos de OCMs e suas pro- tificaram uma diminuição da diversidade
ram que houve um aumento significativo e intensidade de OCMs, pesquisas foram priedades para o Atlântico Sul. Rodrigues de espécies nas comunidades planctônicas
na frequência, duração e intensidade dos conduzidos para eventos específicos que et al. (2019) mostraram que os bloqueios e bênticas na região costeira de Santa
ECONOMIA AZUL
414 ECONOMIA
414 AZUL Oceano e Clima: Novos Desafios 415
espaço urbano contribuem para a elevada cenários distintos em 2100: (i) elevação de A preocupação em proteger o patrimônio Na tentativa de valorar os imóveis lo-
vulnerabilidade da área. De fato, o Centro 0,5 m; e (ii) elevação de 1,0 m com relação público (calçadões, ruas) e privado (edifícios, calizados nas zonas potencialmente inun-
Metropolitano do Recife combina topogra- ao nível médio do mar. Os resultados, mos- casas, hotéis) é notória. Entretanto, ques- dadas, foram obtidos junto à prefeitura
fia baixa, urbanização intensa, densidade trados na Figura 7, indicam que o município tões simples, como o valor médio do metro de Recife valores médios do m² em algu-
demográfica e elevada ecologia, valores tu- terá cerca de 11,7% (25,4 km2) de sua área quadrado dos imóveis em áreas protegidas, mas ruas e bairros (Tabela 1). Os valores
rísticos e econômicos (ARAUJO et al., 2009; total inundada periodicamente num cenário a arrecadação de impostos nestas áreas, a foram estimados com base na experiên-
COSTA et al., 2010). Além disso, o município de 0,5 m de aumento, e que estes números contribuição dessas áreas para a economia cia dos técnicos do setor de ITBI (Imposto
de Recife apresenta vários conflitos no lito- sobem para 15,5% (33,7 km2) de sua área municipal ou a perda do município em ar- sobre a Transmissão de Bens e Imóveis),
ral sobre o uso da terra e do litoral, que é para o cenário de 1,0 m de aumento do ní- recadação, não são conhecidas. Tampouco uma vez que para a determinação do va-
uma das razões pelas quais tornou-se uma vel do mar em 2100. são conhecidas informações acerca das con- lor do imposto a ser cobrado (entre 1%
das primeiras regiões do Brasil a ser objeto Uma vez delimitadas as zonas poten- sequências econômicas e sociais da perda e 2%) é realizada uma avaliação do valor
de estudos integrados sobre a problemas da cialmente inundadas, é de grande impor- de áreas por erosão/ inundação. dos imóveis.
erosão costeira, com a colaboração diversas tância conhecer os recursos em risco, i.e.,
esferas do poder público (FINEP/UFPE, 2009). quantificar áreas afetadas; identificar ti- Figura 7. Áreas inundadas do município do Recife para os cenários
Um outro ponto de vulnerabilidade local tra- pos de uso e ocupação; estimar população de aumento do nível do mar de 0,5 m e 1,0 m em 2100
ta da pressão antrópica. Pernambuco é o es- afetada; mensurar valor de imóveis; iden-
tado que possui maior taxa de ocupação da tificar atividades econômicas desenvolvi-
Inundation Areas
faixa litorânea brasileira. Mais de 1000 hab./ das, perdas econômicas e consequências Recife - PE
km2, maior do o Rio de Janeiro, São Paulo para a economia do município. O conhe-
e outros estados. E o município de Recife cimento dessas informações é de suma
tem um peso importante nesta ocupação importância para que os gestores possam
costeira do estado, com um total de quase avaliar as possibilidades de ação em cada
1,7 milhões de habitantes no município; essa área. A presente análise limitou-se aos
taxa de ocupação sobe para cerca de 7.000 dois primeiros parâmetros – mensuração
pessoas/km2, grande parte localizada ao lon- de áreas afetadas e identificação dos tipos
go da faixa litorânea e nos estuários e canais de uso e ocupação –, embora uma peque-
que cortam a cidade. Estamos falando facil- na explanação acerca dos aspectos econô-
mente em cerca de 600 mil pessoas que se- micos seja a seguir apresentada. 1:70.000
rão afetadas direta e indiretamente pelo au- Nos municípios estudados, as informa- Meters
0 501.000 2.000
mento do nível do mar na cidade do Recife. ções referentes aos assuntos supracitados,
Dados de observação e resultados de embora pudessem servir como subsídio Projection:UTM
Datum: SAD1969
modelagem confirmam uma elevação de para a gestão dos problemas de erosão
3,6 mm/ano no período 2006-2015, ou seja, enfrentados, são escassas. Em visitas às
cerca de 2,5 vezes mais rápida do que o va- prefeituras, observa-se que este tipo de
lor médio 1,4 mm/ano, observado no último informação, quando existente, não se en-
século (1901-1990) (IPCC, 2019). Mantidas contra sistematizada e acessível. Sua con-
estas taxas, o que seria por si só uma posi- tribuição poderia nortear a tomada decisão
Legend
ção conservadora, teríamos no final do sé- por parte do poder público quanto à opção 0.5m SLR
culo um incremento médio do nível do mar política a ser adotada em cada caso (não 1m SLR
City Boundary
que variaria entre 0,43 m (RCP2.6) e 0,84 fazer nada, o que corresponde ao cenário Atlantic Ocean
1. Introdução
Depth (m)
100 0,2
(m.s-1)
temas observacionais através dos chama- nais, nos quais dados sintéticos são usados 200 0
300 -0,2
dos experimentos com sistemas observa- para capacitar o sistema a assimilar novos 400
XBT
cionais (OSEs – Observing System Experi- dados e investigar o possível impacto que 0
(m.s-1)
200 0
sistemas observacionais (OSSEs – Obser- previsor. Por exemplo, a partir de 2023, os 300
FREE
-0,2
ving System Simulation Experiments). Os dados altimétricos do satélite Surface Wa- 400
0
OSEs são experimentos de sensibilidade ter and Ocean Topography (SWOT) aporta- 100 0,2
(m.s-1)
200 0
das análises às observações que buscam rão novas informações sobre a circulação
300 -0,2
identificar a importância relativa dos sis- submeso e mesoescala no oceano global e 400
RODAS
0
temas observacionais, ou de grandezas há hoje um grande esforço em andamen- 0,2
100
observadas, na análise e na previsibilidade to nos principais centros de oceanografia
(m.s-1)
200 0
(OKE et al., 2015; FUJI et al., 2019; TANA- operacional para realizar OSSEs e preparar 300
RODAS XBT - BKG
-0,2
400
JURA et al., 2020). os sistemas de assimilação e previsão para 0
0,2
Por exemplo, em Dorfschäfer et al. receberem esses dados (BONADUCE et al., 100
(m.s-1)
200 0
(2020), um OSE foi realizado para identifi- 2018; FUJII et al., 2019). Os desafios são 300 -0,2
RODAS XBT - ANL
car a importância de dados de temperatura grandes, pois o número de dados altimé- 400
-40 -39 -38 -37 -36 -35 -34 -33 -32 -31
de XBTs no sistema HYCOM+RODAS. Em tricos a serem assimilados aumentará em Longitude
uma integração, foram assimilados de TSM, duas ordens de grandeza e os erros asso- Fonte: Adaptado de Dorfschäfer et al. (2020)
AASM e de perfis T/S do Argo e, em ou- ciados estarão correlacionados no tempo
Figura 1. Seção vertical da velocidade assimilação. Terceira linha: HYCOM+RO-
tra integração, foram incluídos os dados de e no espaço. Entretanto, os benefícios que
meridional (m/s) ao longo da linha de DAS com assimilação de TSM, ASM e
XBTs, como os da linha AX-97 da NOAA en- eles trarão têm enorme valor, tanto para a
XBTs AX-97 (posição dos sensores repre- perfis T/S do Argo. Quarta linha: HY-
tre Vitória e a Ilha da Trindade, mantida em ciência como para uma cadeia de serviços
sentada por pontos pretos) em 27 de fe- COM+RODAS imediatamente antes da
parceria da NOAA com o MCTI no contexto na Economia Azul que prosperam a partir
vereiro de 2012. Primeira linha: velocida- assimilação dos dados de XBTs; Quinta
do projeto MOVAR. Só quando os dados de dos avanços científicos.
des estimadas geostroficamente a partir linha: HYCOM+RODAS imediatamente
XBTs foram assimilados houve uma repre-
dos dados. Segunda linha: HYCOM sem após a assimilação dos dados de XBTs.
sentação acurada dos meandramentos da A cadeia de valor da oceanografia
Corrente do Brasil na região de Vitória-Trin- operacional
dade. Como mostrado na Figura 1, apesar oceanografia e meteorologia e os centros de que puderam melhor definir uma ampla
da diferença em magnitudes, a complexa Nos anos 1990, os centros de previsão previsão de tempo e clima interessados em gama de aplicações e de usuários finais e
estrutura de velocidades meridionais só é oceânica emergentes, organizados através verificar como uma representação mais rea- se uma determinada aplicação era econo-
bem reproduzida com a assimilação dos da comunidade do GODAE, adotaram uma lista da dinâmica da superfície oceânica po- micamente confiável. Desta forma, os usu-
dados de XBTs. Esse resultado indica que se estratégia passo a passo para servir a usuá- dia em tempo real melhorar a representação ários finais pavimentaram o caminho para
houvesse um permanente monitoramento rios específicos (BELL et al., 2009). Os centros dos campos atmosféricos. O “núcleo” desses que os “usuários intermediários” transfor-
de perfis T/S, com gliders, por exemplo, operacionais criaram e apoiaram esforços produtos oceânicos foi baseado em saídas de massem os produtos básicos em produtos e
na região, a Corrente do Brasil poderia ser governamentais, concentrando-se inicial- modelos, i.e., variáveis oceânicas básicas nas serviços úteis para o mercado da Economia
melhor reproduzida e prevista a curto pra- mente em prover rotineiramente produtos grades nativas dos modelos, as quais eram Azul. Esse mecanismo de desenvolvimento
zo pelo HYCOM+RODAS. Assim, os OSEs de larga escala do oceano com os mais con- fáceis de manipular por usuários não espe- tem sido apoiado com sucesso na Europa
podem efetivamente contribuir para a sus- fiáveis modelos, sistemas de observação e cialistas em modelagem (BAHUREL et al., através do programa GMES com os projetos
tentabilidade dos sistemas observacionais técnicas de assimilação disponíveis na épo- 2009). Isso levou, posteriormente, a mode- MERSEA e MyOcean (e.g., JOHANNESSEN
e para um melhor planejamento das suas ca. Usuários óbvios desses primeiros produ- los e produtos mais consolidados dedicados et al., 2006; BAHUREL et al., 2009). Essa
futuras configurações. tos foram a comunidade de pesquisa em a um grupo de “usuários intermediários” estratégia ainda prevalece hoje ao redor do
446
446 ECONOMIA AZUL Da Observação à Utilização de Dados 447
4. Setor privado se beneficiando dos dados observados e dos avanços
da oceanografia operacional
Apesar do conceito da Economia Azul, cais do nível do mar por efeitos de maré
combinando oportunidades de desenvol- e ventos. Amostragens diárias de aporte
vimento da oceanografia com a defesa e de água doce e sedimentos de rios são
proteção do meio-ambiente, estar ainda necessárias para investigação biogeoquí-
sujeito a debates, em particular em rela- mica, bloom de algas nocivas e impacto
ção à governança e potenciais conflitos de poluentes em áreas costeiras. A previ-
entre partes interessadas (VOYER et al., são de espalhamento de lixo, difusão de
Figura 3. Resultados da Sala de Situação respondentes ao número de dias anterior à 2018; CISNERO-MONTEMAYOR, 2021), poluentes e deslocamento de manchas de
Experimental do SisMOM: (esquerda) lo- data de toque no litoral) e pontos coloridos, uma série de mercados ou setores já estão óleo nas regiões costeiras requer mode-
calização dos pontos de toque de resíduos indicando a proximidade temporal/espacial claramente definidos. A Tabela 1 mostra lagem na escala de pelo menos 1 km e
oleaginosos no litoral da Paraíba entre os de navios petroleiros (cortesia Emanuel Gia- os setores usados pelo CMEMS e alguns em alta frequência que considere os efei-
dias 31/12/2021 e 1/1/2022 (Fonte: IBAMA); rolla Xavier (INPE); (c) probabilidades da pre- estão associados à relevantes aplicações tos das marés e do acoplamento com a
(centro) derrota do óleo como computado sença de petróleo a coluna d’água segundo no Brasil e às EOVs. Estão também iden- camada limite da atmosfera. A correção
por trajetórias lagrangeanas reversas (faixa modelagem com o modelo OSCAR (cortesia tificados na tabela as observações que desses modelos com as observações atra-
em cinza com traço central em cores; cor- Angelo Lemos, UFSB). apoiam os setores, potenciais desenvol- vés da assimilação e do aperfeiçoamento
vimentos e os usuários alvo. O sistema dos modelos requer esforços específicos,
observacional do Atlântico Sul (FOLTZ et por exemplo, com a criação de uma rede
cujos resultados são mostrados à direita na mais clorofila, visto que nessas condições al.2019) já oferece dados do PIRATA, Argo de radares de alta frequência que com-
Figura 3. As correntes oceânicas utilizadas há maior probabilidade da presença de e satélites que permitem adequadas corre- plementaria os radares meteorológicos.
tanto para o cálculo das trajetórias reversas cardumes. ções dos modelos de circulação oceânica Próximo a portos, marégrafos e outros
com o modelo de parcelas quanto para a Um exemplo recente de usuário inter- em mesoescala. Esforços recentes em mo- sensores poderiam oferecer a requerida
dispersão do óleo foram obtidas do siste- mediário de previsões oceânicas é o Obser- delagem biogeoquímica junto com assimi- referência da “verdade” do estado físico
ma operacional Europeu CMEMS/Merca- vatório do Mar Brasileiro sediado no Centro lação de dados de clorofila e cor de saté- para os sistemas previsores.
tor. Os campos de ventos utilizados foram de Estudos do Mar da Universidade Federal lites, por exemplo, dão acesso à descrição A Tabela 2 apresenta uma lista não
do ERA5. Em tempo, o experimento foi do Paraná (UFPR), em Pontal do Paraná, de alguns parâmetros chave do ciclo bio- exaustiva de aplicações onde os dados
posteriormente refeito utilizando campos com apoio de empresas privadas e agên- lógico e de carbono em mesoescala, como observados são empregados, ferramentas
de correntes do HYCOM do CHM/REMO e cias do governo brasileiro (veja em: https:// apresentado no catálogo do CMEMS. Isso e abordagens, sistemas observacionais e
ventos do modelo Kosmos do CHM. portal.brazilianseaobservatory.org). Ele em- permite o desenvolvimento de aplicações usuários ou potenciais usuários das infor-
prega produtos do CMEMS e roda modelo e serviços associados à variabilidade do mações. Pode-se observar que apenas par-
Outros serviços operacionais no Brasil oceânico regional com resolução 3-5 vezes clima em larga escala. Entretanto, próxi- te dos interessados no Brasil hoje podem se
maior que o modelo global. Recentemen- mo à costa e em escalas menores, muitas beneficiar com a oceanografia operacional
Previsões oceânicas são também empre- te, passou também a usar os produtos do aplicações relevantes para algumas inicia- e os serviços oceânicos. Na prática, produ-
gadas pela indústria do petróleo offshore CHM desenvolvidos no contexto da REMO. tivas e usuários ao redor do mundo ainda tos chave para a maioria das Variáveis Cli-
para orientar a execução de perfuração e o O principal objetivo é prover estimativas da não estão prontas para serem operacio- máticas Essenciais (VCEs) e das EOVs em es-
uso de equipamentos, pela indústria do tu- dinâmica oceânica em alta resolução em nalizadas por interessados no Brasil. Um cala média no tempo e no espaço são ago-
rismo e dos esportes náuticos no auxílio da regiões costeiras ao largo do Sul e Sudeste programa de observação costeiro com alta ra oferecidos por centros internacionais,
definição de rotas mais seguras e rápidas, do Brasil. Outros casos de usuários estão densidade observacional é ainda necessá- como CMEMS e a NOAA, ou por iniciativas
para recreação e pela indústria da pesca. apresentados pelo CMEMS (https://marine. rio juntamente com modelos, batimetria brasileiras como a REMO. Tais produtos são
Essa última, particularmente, se beneficia copernicus.eu/services/use-cases) e a maio- e assimilação em alta resolução, para ofe- plenamente usados pela comunidade de
com a previsão de águas mais frias e com ria deles poderiam ser aplicados ao Brasil. recer melhor estimativa de elevações lo- pesquisa e acadêmica no Brasil, a qual se
448
448 ECONOMIA AZUL Da Observação à Utilização de Dados 449
mostra como o primeiro beneficiário dos medições, mas também pela melhoria do
Setores Aplicações e Serviços Variáveis-chave
avanços existentes. Esses produtos também gerenciamento e processamento dos da-
permitem que usuários intermediários e es- dos dos sistemas brasileiros, que podem ser Alimentos do mar Tomada de decisão sobre pesca, EOVs costeiras e estuarina
piscicultura, carcinicultura e alertas
pecialistas elaborem serviços demandados centralizados ou distribuídos. O CMEMS
biológicos e de bloom de algas nocivas
pela Economia Azul quando possível. Este conta com um sistema de organização dos Serviços costeiros Adaptação à erosão costeira Nível do mar, estado do mar,
é o caso das aplicações do SisMOM e do dados observacionais distribuídos em toda Gerenciamento de portos correntes, batimetria
Observatório do Mar da UFPR. Entretanto, a Europa que é eficiente. Esse modelo po- Sargaço e bloom de algas perigosas Parâmetros biogeoquímicos
dentre os setores identificados da Econo- deria ser empregado para integrar iniciati- Qualidade da água
mia Azul, muitos serviços ainda necessitam vas regionais e federais no Brasil, visando Detecção de lixo marinho com
de aprimoramentos no sistema observa- coletar e dar acesso ao conteúdo completo participação de cidadãos
cional das águas costeiras, não somente das observações disponíveis para uma vas- Marinha mercante e Planejamento de rotas de navios Parâmetros de superfície: pressão,
navegação Busca e salvamento precipitação, vento, estado do
pelo aumento do número de plataformas e ta comunidade de usuários.
Gerenciamento de portos oceano, correntes
Recursos naturais e Exploração de petróleo, gás e recursos Ventos, estado do mar e
Tabela 1. Lista de setores da Economia Azul, aplicações e serviços e energia minerais correntes de superfície
variáveis chave em termos de Variáveis Oceânicas Essenciais (EOVs) e Fazendas eólicas
Variáveis Climáticas Essenciais (ECVs) Fonte: Elaboração própria
TECNOLOGIAS INOVADORAS
1. Introdução
O Homem ainda não pisou o fundo do o foco nas tecnologias mais avançadas e
oceano, apesar de tê-lo feito na Lua há inovadoras, mas quais são as tecnologias
mais de 50 anos. Conseguiu se deslocar necessárias para o desenvolvimento da Eco-
a velocidades superiores à do som, tanto nomia Azul? A resposta totalmente correta
no ar quanto em terra, mas está longe de não existe, pois depende dos objetivos al-
fazê-lo na água. O ambiente marinho é mejados. Pode-se resolver uma necessidade
um desafio para as tecnologias existentes, de monitoramento de temperatura da água
seja pela ação das ondas, dos ventos, das em um tanque de aquacultura com um sen-
correntes, da salinidade, das grandes pres- sor de poucas dezenas de dólares, mas para
sões, seja por outros fatores que o tornam estudos de mudanças climáticas ou de ge-
extremamente hostil. ofísica do solo marinho, esse instrumento
Lord Kelvin (1824-1907) fez uma im- deve custar poucos milhares de dólares.
portante colaboração para o avanço do Estratégias que possibilitem e fortale-
conhecimento quando proclamou a im- çam a existência de uma estrutura criativa e
portância da medição e da expressão nu- competente em tecnologia oceânica devem
mérica de resultados. Já o Método Cien- fazer parte dos preceitos de Estado de uma
tífico destaca a relevância da associação nação. Esta necessidade foi demonstrada
do conhecimento teórico com as técnicas recentemente durante a pandemia de co-
experimentais para a construção e teste de vid-19 que deixou explícita a importância
hipóteses, e a busca de respostas para os da detenção do conhecimento e da fabri-
questionamentos científicos ou para os de- cação local de componentes eletrônicos e
safios tecnológicos. Tudo isso pode jogar de insumos farmacêuticos.
458ECONOMIA
458 AZUL
A ECONOMIA AZUL Tecnologias Inovadoras
Tecnologias Inovadoras 459
459
A exemplo de outras áreas que atuam Todos esses fatores se conectam atra- 2. Tecnologias modernas na observação e exploração do oceano
em uma economia globalizada e com forte vés da criação de uma mentalidade marí-
dependência de tecnologias estrangeiras, tima sólida no seio da sociedade, poten- Pesquisadores que faziam medições no de velocidade e direção dos ventos, em per-
como o agronegócio, a indústria farma- cializando o sentimento de importância mar, no início da década de 1970, costu- filadores de correntes por efeito doppler,
cêutica, a aeroespacial, a de telecomuni- da Economia Azul e seu impacto na vida mam dizer que naquela época havia uma os Acoustic Doppler Current Profilers, em
cações entre outras, o avanço tecnológico de cada um dos indivíduos nela inserido. crença que instrumento oceanográfico sistema sonares ativos e passivos e siste-
nacional para a economia ligada ao mar Segundo o Vice-Almirante Paulo Moreira, bom é aquele com menos de um transis- mas de comunicação e de posicionamento
exige altos investimentos para obtenção Patrono da Oceanografia na Marinha do tor. Tal rejeição certamente era função da submarino. Estas aplicações se ramificam
do conhecimento, sejam eles financeiros, Brasil, não basta proclamarmos que as ri- péssima imagem de confiabilidade que os em diversas outras, quando se adiciona
em infraestrutura de pesquisa ou industrial, quezas do mar são nossas, elas precisam equipamentos eletrônicos tinham. Hoje, complexidade ao hardware e a capacidade
em formação de recursos humanos, sejam ser conhecidas por nós e transformadas não se consegue imaginar um instrumen- de processamento dos sistemas de recep-
em ações operacionais. Investimentos estes em riquezas humanas. As tecnologias oce- to que seja desprovido de controle progra- ção. Hoje em dia, pode-se ter uma imagem
que devem obedecer a um plano de desen- ânicas inovadoras são fundamentais para mável de leitura, digitalização, armazena- 3-D de um pequeno objeto, localizado em
volvimento estratégico que busque realiza- que o País conheça seus recursos no mar e mento interno e transmissão digital dos águas profundas, se um sonar multifeixe for
ções a curto prazo para atender demandas seja capaz de explorá-lo de forma susten- dados. O aprimoramento dos materiais, acoplado a um veículo submarino autôno-
reprimidas e a médio e longo prazos para a tável e inteligente. dos processos de usinagem e fabricação, mo, tripulado ou controlado remotamente.
busca da autonomia tecnológica e do em- Nas últimas três décadas, o avanço das dos sistemas eletrônicos e computacionais, Os modernos submarinos de defesa e na-
preendimento de soluções, com embasa- tecnologias, em especial a da eletrônica, da telemetria por rádio, telefonia móvel ou vios de sísmica utilizam arranjos complexos
mento e visão estruturante, que envolvam da computação, da acústica submarina, satélites, dos algoritmos de análise, proces- de receptores para “ouvirem” o ambiente
todos os níveis de governos, a academia, da nanotecnologia, dos satélites, dentre samento e controle e o uso de ferramentas marinho ao seu redor ou o eco de ondas so-
centros de ciência e tecnologia, empresas e outras, permitiu ao homem evoluir mui- recentes como a Inteligência Artificial (IA), noras no fundo oceânico, respectivamente.
demais atores da sociedade civil. to no seu conhecimento sobre o Oceano, Realidades Virtual (RV) e Aumentada (RA) e Os exemplos acima, somados a apli-
Além destes desafios estratégicos, a mas ainda resta muito o que fazer, como nanotecnologia têm possibilitado o aperfei- cações como a de redes de comunicação
observação in situ e a realização de ativi- apresentado por Claudet e colaboradores çoamento e a aparição de dispositivos para acústica para controle e posicionamento
dades operacionais num ambiente desfa- (2020) nas demandas para a Década da uso nas diversas áreas ligadas ao oceano, de veículos e equipamentos (procurando
vorável como o marinho são desafios para Ciência Oceânica. Este conhecimento, desde sensores para estudos do Fitoplânc- suprir a inoperância dos sistemas de comu-
as tecnologias existentes. As adversidades transformado em agente provedor e fo- ton, até grandes geradores de energia eóli- nicação eletromagnética e de navegação
a serem vencidas passam pela sua ampli- mentador de ações transversais que bus- ca offshore ou máquinas autônomas para por satélite dentro d’água), demonstram a
dão e condições severas, pela pluralidade quem soluções para o monitoramento monitoramento ou mineração. diversidade de áreas do conhecimento en-
de atores e necessidades, pelos custos, e integral do Oceano e Zonas Costeiras, e Dissertar sobre as diversas tecnologias volvidas nestas tecnologias. O desenvolvi-
até pela inexistência de soluções. A miti- a Pesquisa, o Desenvolvimento e a Inova- ligadas ao oceano seria uma missão qua- mento destes equipamentos exige de suas
gação destas contrariedades depende não ção (P,D&I) para o progresso nacional, co- se impossível e não atenderia aos objeti- equipes conhecimentos de química dos
só de uma indústria forte, mas também da laborará para a criação, dentro dos pre- vos desta publicação. Como exemplo des- materiais, eletrônica, mecânica/robótica,
necessidade do desenvolvimento científico ceitos da Economia Azul, de novos polos ta grandiosidade, pode-se citar o guia de computação, processamento de sinais, físi-
e técnico para a geração de inovações que indústrias fortes e consolidados, como os compras 2022 da revista Sea Technology ca da propagação do som na água, poden-
tragam o progresso, a melhoria do acesso já existentes nas áreas de exploração de (Sea Technology Buyers Guide Directory do passar por técnicas de compactação de
e gestão de dados e a formação de recur- óleo e gás em águas profundas e da in- 2022), que classifica mais de 240 produtos dados, aprendizado de máquina (Machine
sos humanos. dústria aeroespacial. com fornecedores no mercado mundial. Learning) entre outras, dependendo da apli-
Nas últimas três décadas, os sistemas cação: geologia, oceanografia, biologia etc.
acústicos vêm ganhando destaque em ati- O universo de robôs é outro aglutina-
vidades como o monitoramento ambiental, dor de diferentes e modernas tecnologias.
a comunicação e a Defesa. Suas tecnolo- Leva-se anos entre a concepção inicial de
gias são utilizadas em simples medidores um modelo e os testes bem sucedidos de
474 ECONOMIA
474 ECONOMIA AZUL
AZUL Tecnologias Inovadoras 475
i. Apoio ao monitoramento ambiental iii. Formação de infraestrutura e recur- estímulo fiscal e a diminuição de entraves degários na exportação ou reimportação de
– Este pode ser feito através da Montagem sos humanos, e fomento industrial – Para o alfandegários. Não há motivos para não ha- mercadorias agrava a deficiência de serviços
de um Centro de Calibração para sensores estímulo a formação de recursos humanos ver a simplificação e redução da carga tri- de manutenção e calibração de instrumen-
de salinidade, temperatura e pressão (os e atração de profissionais para as áreas de butária, nos moldes da Lei do ICMS para as tação no país. Há a necessidade da criação
CTDs) e medidores de Ondas com rastrea- Tecnologia Oceânica, deve-se visar: ao in- indústrias aeronáutica e naval. O Convênio de mecanismos que agilizem os trâmites al-
bilidade internacional. Estes sensores são centivo à formação e à especialização, esti- ICMS 75/91 que dispõe sobre a concessão fandegários no envio e retorno de equipa-
importantes na oceanografia física e para mulando as instituições de ensino médio e de redução de base de cálculo do ICMS para mentos ou partes.
a economia nacional, pois seus dados são superior, direcionadas às áreas tecnológicas itens aeronáuticos, constitui-se em um im- O fortalecimento da cadeia produtiva é es-
utilizados para calibração e assimilação a abrirem suas grades de ensino à área de portante mecanismo de fomento à indústria tratégico, seja por questões econômicas, so-
em modelos de previsão meteorológica e instrumentação; à realização de oficinas so- aeronáutica nacional e a toda a sua cadeia cioambientais, seja de soberania. Tem-se que
oceanográficas e importantes para a so- bre Instrumentação Oceanográfica e Tecno- produtiva. Deve-se também buscar mecanis- buscar soluções locais para limitações como
ciedade civil e indústrias como da pesca, logias Oceânicas, onde profissionais e estu- mos que facilitem a atuação das empresas, as restrições impostas pelo Departamento de
turismo e Óleo & Gás. Deve-se também dantes destas áreas poderão apresentar seus com a emissão de certidões de existência Comércio dos EUA, que através do Bureau
atuar no mapeamento, articulação e coo- trabalhos e interagir com geradores de de- ou não de produto similar de fabricação na- of Industry and Security, controla e muitas
peração em P,D&I, buscando formas de mandas. Essas oficinas devem abranger tam- cional para fins de atendimento a regras de vezes restringe a exportações de itens como
aglutinar os grupos de pesquisa, as em- bém outras áreas como: energias renováveis, licitações e compras governamentais, como conversores de sinais, sensores inerciais e
presas geradoras de demandas e as pres- segurança à navegação e logística portuária, é feito pela ABINEE- Associação Brasileira sistemas acústicos (Commerce Control List)
tadoras de serviços, as organizações do pesca, aquacultura, turismo, inclusão social, da Indústria Elétrica e Eletrônica para seus ou a crise de respiradores mecânicos ocorrida
terceiro setor, os possíveis patrocinadores defesa, obras costeiras, exploração do solo associados. As dificuldades e custos alfan- durante pandemia de covid-19.
e os demais atores que podem atender ou marinho, mineração, entre outras.
serem usuários das entregas a serem fei- Considerações finais
tas. A preocupação com a existência de Para o apoio ao crescimento industrial e
uma infraestrutura para Dados Oceâni- a existência de uma cadeia de fornecedores/ O universo entorno das tecnologias oce- desenvolvimentos necessários nesta área.
cos e Costeiros possibilitará a gestão efi- prestadores de serviços forte, comprometi- ânicas é vasto e deve atender ao mercado A conexão das tecnologias recentes,
caz do processo da obtenção dos dados, da e entregando qualidade, deve haver um de energias renováveis, à segurança à na- como a Inteligência Artificial, a Robótica,
auxiliando a documentação de procedi- órgão de fomento industrial. Este tem que vegação e da logística portuária, à pesca e a Tecnologia Submarina, a Modelagem
mentos, da preparação, de detalhes na contribuir para a normalização, certificação, aquacultura, ao turismo, à defesa, à realiza- Computacional, a Bio e a Nanotecnologias,
observação, do controle de qualidade (em rastreabilidade, respeito à Propriedade Inte- ção de obras costeiras, à mineração, entre entre outras, com os conhecimentos mais
inglês Quality Control – QC) e da geração lectual, o incentivo transferência de tecno- outras áreas. Suas soluções são de grande tradicionais é necessária para o desenvolvi-
de metadados que descrevam a estrutura logia e cooperação industrial. Deve assim importância para o crescimento da Econo- mento de equipamento básicos e baratos,
do conjunto de dados principal de forma fomentar a existência de um complexo cien- mia Azul, seja para o melhor conhecimento e até os mais sofisticados e custosos. Estes
a torná-lo confiável. tífico-tecnológico-industrial em torno das do ambiente marinho, a sua preservação, a devem atender às demandas da sociedade,
pesquisas oceânicas e hidroviárias no Brasil, salvaguarda da vida humana, seja ou o uso com seus desenvolvimentos buscando a
ii. Investimento em Inovação Tecnológi- aos moldes do IFI – Instituto de Fomento e do oceano de forma sustentável. formação de uma cadeia robusta de forne-
ca – Investir em P&D&I em todos os níveis Coordenação Industrial que prestar servi- Áreas da economia nacional como a de cedores de serviços e produtos.
TRL das diversas áreas com demandas por ços nas áreas de normalização, metrologia, óleo e gás, de software, o agronegócio e a O mapeamento das demandas a curto,
tecnologias, unindo os diferentes atores certificação e coordenação industrial, para indústria aeroespacial demonstram que com médio e longo prazos, incluindo as reprimi-
do país será primordial. Um Plano de Ação produtos e sistemas aeronáuticos militares planejamento e investimentos estratégicos das, é estratégico para a atuação nas diversas
para isto deve incluir as articulações para e espaciais, a fim de fomentar o desenvol- é possível ter no país um polo tecnológico áreas ligadas à Economia Azul. A busca de
cooperações nacionais e internacionais em vimento de soluções científico-tecnológicas forte e inovador para as tecnologias oceâni- recursos e a articulação para fomentar a
C,T&I fortalecendo a colaboração na Trípli- no campo do poder aeroespacial brasileiro. cas. Estes casos de sucesso confirmam que pesquisa científica e tecnológica, e a ino-
ce Hélice da Inovação (Empresas, Universi- Uma importante ação é na articulação há localmente conhecimento e mão de obra vação industrial para o atendimento destas
dades e Governo). para a redução das burocracias, isenção/ especializada para enfrentar os desafios dos demandas é um desafio a ser vencido.
DESENVOLVIMENTO DA BIOTECNOLOGIA
MARINHA, BIOPROSPECÇÃO, FÁRMACOS E
DERIVADOS
Ricardo Coutinho
Lohengrin Dias de Almeida Fernandes
Giselle Pinto de Faria Lopes
1. Introdução
480 ECONOMIA
480 AZUL
A ECONOMIA AZUL Desenvolvimento da Biotecnologia Marinha 481
processos). Trata-se, portanto, de uma rede potencial de crescimento sustentável. Os de políticas, é essencial primeiro chegar a cultiváveis resistentes a doenças, plásticos
complexa de conhecimentos onde ciência biorrecursos marinhos têm potencial inex- uma definição clara da biotecnologia mari- biodegradáveis, detergentes mais eficien-
e tecnologia se entrelaçam e complemen- plorado como fonte de novos produtos nha, para em seguida formular indicadores tes, biocombustíveis, e também processos
tam (Figura 1). A Biotecnologia Marinha, e processos, e podem ajudar o Brasil a apropriados dos efeitos das ações políticas industriais menos poluentes, biorreme-
ou Biotecnologia Azul, é definida no pre- enfrentar os desafios globais na promo- e por fim proceder à avaliação. diação de poluentes, testes de diagnós-
sente capítulo como a aplicação da ciência ção da saúde e na geração de alimentos Para o Brasil, a biotecnologia marinha, tico e medicamentos mais eficazes. Em
e tecnologia a organismos marinhos vivos, e energia. Assim, espera-se que além de que utiliza os biorrecursos marinhos como geral, eles incluem o conhecimento de
bem como suas partes, produtos e modelos contribuir para o desenvolvimento socioe- fonte para o desenvolvimento biotecno- produtos (know-how técnico) gerados
dos mesmos, para otimizar a produção de conômico sustentável e fortalecimento lógico, representa o vetor de desenvolvi- a partir de pesquisa e desenvolvimento
conhecimento, bens e serviços. das indústrias nacionais, a biotecnologia mento científico, tecnológico e socioeco- em biotecnologia. Na área emergente da
Como resultado de expressivos avanços marinha seja um dos mecanismos funda- nômico para as áreas de Saúde (Produtos saúde, a bioprospecção marinha tem de-
científicos ao longo dos últimos anos, a mentais para a concretização desse poten- Naturais e Fármacos), Energia (Reatores e monstrado ser essencial, principalmen-
biotecnologia marinha vem sendo consi- cial de desenvolvimento. Biocombustíveis), Materiais (Biopolímeros te no estudo dos produtos naturais, que
derada uma área estratégica e, portanto, Atentos a esse potencial, vários países e Biocorrosão) e Defesa (NBQR e Bioin- constituem a base principalmente para a
tem despertado o interesse em distintos têm elaborado estratégias para promover vasão), além de representar a soberania produção de alimentos a base de proteí-
setores da indústria. Nosso crescente co- o crescimento da Biotecnologia Marinha. brasileira no Atlântico Sul e Tropical, e na nas alternativas e para o desenvolvimen-
nhecimento sobre a biodiversidade mari- A implementação dessas estratégias tem Antártica (Figura 1). to de novos fármacos, buscando em um
nha e o subsequente desenvolvimento de sido usualmente acompanhada por planos De fato, não será possível desenvol- futuro próximo atender as necessidades
tecnologias para acessar e estudar orga- de financiamento e investimento, aliados ver plenamente a Bioeconomia e por crescentes da população mundial. Por
nismos e ecossistemas marinhos apresen- a uma avaliação das ações de apoio. Nes- consequência a Economia Azul sem a outro lado, aplicações inovadoras através
tam oportunidades promissoras e grande se tipo de processo de desenvolvimento contribuição do potencial dos oceanos da aquicultura também têm demonstrado
para a produção de biomassa e alimen- estratégias impactantes na produção de
Figura 1. Setores da Indústria com potencial associação tos. A produção de algas de produtos alimentos, o que converge no importan-
à Biotecnologia Marinha químicos de base biológica, plásticos e te papel da biotecnologia marinha para a
biocombustível tem se mostrado promis- saúde e o bem-estar ao longo da vida.
sora. Sua aplicação no desenvolvimento O Brasil possui uma costa de 8.500km,
de biorrefinarias marinhas integradas para uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de
a produção de produtos biológicos de alto 3.540.000km2 que, somados aos 960.000
valor será crucial para impactar na dimi- km2 da proposta de extensão da Platafor-
nuição dos custos dessa produção e capi- ma Continental, totalizam uma área marí-
talizar as oportunidades disponíveis. tima de 4,5 milhões de km2 – a Amazônia
Os produtos e processos biotecnológi- Azul (Figura 2). Nessa região se encontram
cos fazem parte de nosso dia a dia, tra- reservas de petróleo e gás, de minérios e
zendo oportunidades de emprego e in- por ser a principal via de transporte do co-
vestimentos. Produtos biotecnológicos são mércio exterior do País tem destaque na
definidos como produtos ou serviços, cujo economia nacional. Aliado a isso, a mul-
desenvolvimento é obtido a partir do uso tiplicidade de recursos naturais, como a
de uma ou mais técnicas biotecnológicas pesca, a influência sobre o clima brasilei-
(DNA/RNA, proteínas e outras moléculas, ro (em particular sobre a pluviosidade e a
cultura e engenharia de células e tecidos, temperatura) e a reconhecida biodiversi-
técnicas de processamento biotecnológico, dade de espécies elevam a biotecnologia
Fonte: Elaboração própria (2022) vetores de genes e RNA, bioinformática e marinha ao patamar de área estratégica
nanotecnologia). Tratam-se de organismos no Plano Nacional de Ciência e Tecnologia
ECONOMIA AZUL
482 ECONOMIA AZUL Desenvolvimento da Biotecnologia Marinha 483
2. Impactos da bioprospecção marinha na sociedade brasileira e mundial
Figura 2. A relevância da Amazônia Azul
no contexto da Biotecnologia Marinha O impacto da bioprospecção marinha na apenas 2 medicamentos baseados em pro-
sociedade é evidenciado pela quantidade dutos naturais marinhos aprovados para uso
crescente de estudos envolvendo a biotec- clínico contra o câncer. Entretanto, na última
nologia marinha e as grandes áreas da Saú- década esse número subiu para 12, o que
de, Energia, Materiais e Defesa, consolidan- supera muito as previsões feitas originalmen-
do seu grande potencial atual e futuro para te. No Brasil, há duas inovações brasileiras
a sociedade brasileira e mundial (Figura 3). baseadas em produtos naturais aprovados
00S Em 2010, Erwin e colaboradores demons- para uso clínico, o Acheflan® como anti-in-
traram uma estimativa monetária para o va- flamatório, obtido de Cordia verbenacea,
lor farmacêutico da biodiversidade marinha a conhecida como erva baleeira ou maria-
partir do potencial de descoberta de medica- -milagrosa, pelos Laboratórios Aché, e do
mentos para tratamento do câncer. Estiman- Helleva® para disfunção erétil, constituído
do até 600 mil novas substâncias químicas, de carbonato de lodenafila, substância sin-
sendo que 90% estariam aguardando sua tética desenvolvida pela indústria Cristália
descoberta, sugeriram que esse estudo po- Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.
200S deria resultar no desenvolvimento de mais de Especificamente na área da saúde, no-
200 novos medicamentos anticâncer, o que vas drogas eficazes de origem marinha es-
equivalia a um valor entre US$ 563 bilhões e tão sendo descobertas e testadas a todo
US$ 5,69 trilhões. Ressalta-se que na época momento através dos ensaios pré-clínicos.
em que esse trabalho foi publicado existiam A maioria das vezes, essas novas moléculas
Desenvolvimento da
Desenvolvimento da Biotecnologia
BiotecnologiaMarinha
Marinha
40 S
0
Publicações (2010-2022)
Fonte: Elaboração própria (2022)
Publicações (2010-2022)
70000
70000
60000
60000
50000
50000
40000
40000
e no Livro Branco da Defesa (MD, 2012; advogados, empresários, economistas, etc.
30000
30000
PNCT, 2000) Figura 2. A proposta do capítulo é avaliar os fun-
20000
20000
No presente capítulo, a biotecnologia damentos da biotecnologia, com ênfase
10000
10000
é definida como a atividade baseada em na bioprospecção marinha e na produção
0o
conhecimentos multidisciplinares, que uti- de fármacos derivados, revisando os im- Defesa
Defesa Materiais
Materiais Energia
Energia Saúde
Saúde
liza agentes biológicos para fazer produtos pactos para a sociedade, os setores eco-
úteis ou resolver problemas. Esta definição nômicos envolvidos no Brasil, as diretrizes Figura 3. Publicações registradas no revisões, com todas as palavras chaves em
é suficientemente abrangente para en- para o pleno desenvolvimento da Econo- Google Acadêmico entre 2010 e 2022. qualquer lugar do artigo “biotechnolo-
globar atividades tão variadas como as de mia Azul no país e, por fim, como a bio- Os critérios da busca foram: artigos de gy”, “marine” e alterando entre “defen-
engenheiros, químicos, agrônomos, veteri- tecnologia se aplica em diversos setores qualquer natureza e idioma, exceto as se”, “material”, “energy” e “health”.
nários, microbiologistas, biólogos, médicos, produtivos da sociedade. Fonte: Elaboração própria (2022)
.
transcriptoma e metaboloma) e do próprio entre organismos marinhos. disso, recentemente, o FDA aprovou que vem demonstrando propriedades de
animal marinho permitiria um maior de- O peptídeo Conotoxina MVIIA (Zi- um alcaloide análogo à trabectedi- analgesia, particularmente promissoras no
senvolvimento através da biologia sintética conotide®), originalmente extraído na, também encontrado no mesmo combate à dor neuropática periférica in-
e da bioinformática. Esse conhecimento, e purificado do veneno do caracol organismo marinho, chamado lurbi- duzida pela quimioterapia.
tem se tornado a base para possibilitar o marinho Conus magus, originou a nectedina (Zepzelca®), usado no tra- Indo ao encontro da inovação dos bio-
desenvolvimento de métodos terapêuticos molécula sintética ziconotida, a qual tamento de pacientes com câncer de produtos marinhos, há 5 anos, a tendência
.
através da elaboração de um produto ou foi o primeiro fármaco de origem ma- pulmão metastático; multidisciplinar vem sendo a associação da
processo biotecnológico sustentável. As- rinha liberado pela Food and Drug Ad- O mesilato de Eribulina (Halaven®) bioinformática e das áreas de “ômicas”
sim, espera-se assegurar o processo de pes- ministration (FDA), em 2004, para o é uma cetona sintética derivada da para o refinamento e aceleração da ino-
.
quisa e desenvolvimento de bioprodutos tratamento da dor crônica severa; halicondrina B, produto natural da es- vação tecnológica nessa área de biotec-
marinhos candidatos a se tornarem novos A Citarabina (CytosarU®, Ara-C) é ponja marinha Halichondria okadai e nologia marinha no desenvolvimento de
fármacos, com atividade potencial contra um nucleosídeo de pirimidina sintético é utilizada no tratamento de câncer fármacos e derivados. Considerando es-
diversas doenças. Atualmente, a maioria isolado principalmente de uma espécie de mama inicial e metastático, pro- tratégias terapêuticas alvo-específicas, de
dos fármacos aprovada pelas agências re- de esponja caribenha Tethya crypta. longando positivamente a sobrevida acordo com um estudo de 2019, os tuba-
gulatórias são utilizados no tratamento de Esse medicamento também é aprova- dos pacientes. rões-brancos têm uma vida útil média de
diferentes tipos de câncer, a 2ª doença de do pela FDA e usado principalmente Os exemplos acima listam casos de 70 anos, e o primeiro mapa do DNA des-
maior incidência e letalidade do mundo. em diferentes tipos de leucemia, in- sucesso no desenvolvimento e emprego ses tubarões revelou mutações que pro-
Essas estratégias impactam diretamente a cluindo leucemia mielocítica aguda, de fármacos no bem estar humano. A tegem esses animais do câncer e outras
sociedade, uma vez que os estudos têm leucemia linfocítica, leucemia menín- estratégia terapêutica mais inovadora foi enfermidades. A pesquisa também mostra
o intuito de descobrir alternativas tera- gea e fase de crise blástica da leucemia a associação de produtos naturais mari- que os grandes brancos, que existem há
.
pêuticas que proporcionam uma melhor mieloide crônica; nhos com a imunoterapia, o brentuximab quase 16 milhões de anos, são capazes
qualidade de vida, a extensão da sobre- A Vidarabina (adenina arabinosídeo, vedotin (Adcetris®). O fármaco consiste de reparar seu DNA, mantendo a estabi-
vida, a diminuição dos efeitos colaterais, ara-A ou arabinofuranosiladenina) é da conjugação de monometil auristatina lidade do genoma, o que preserva a sua
inovação na especificidade/eficácia do um nucleosídeo purínico sintético iso- E, uma endolastatina derivada inicial- integridade, algo que os humanos não
tratamento. Apesar de haver uma varie- lado da mesma esponja caribenha T. mente de um molusco da lebre do mar conseguem. Em contraste, a instabilidade
dade de estudos pré-clínicos nessa área, o crypta e desenvolvido a partir de es- Dolabella auricularia, e posteriormente nos genomas, que é causada por danos
avanço dos estudos clínicos somente será ponguridina é atualmente obtido de de cianobactérias marinhas. É utilizado ao DNA, é conhecida por provocar câncer
possível através do envolvimento das em- Streptomyces antibiótico. É aprovado como primeira linha na terapêutica do e outras doenças relacionadas à idade. Em
presas farmacêuticas. Há uma empresa pelo FDA para uso como antiviral em linfoma de Hodgkin em combinação com outras palavras, a habilidade do tubarão-
global de biotecnologia marinha que se ceratite epitelial, ceratoconjuntivite a quimioterapia convencional. -branco de reconstruir seu próprio DNA
.
sobressai e contribui para o desenvolvi- aguda e para ceratite superficial; Em 2021, com a pandemia do SARS- evoluiu, enquanto a nossa, não. Logo,
mento desses medicamentos desde 1986, A Trabectedina (Yondelis®) é um -COV2, foram aprovados ensaios clínicos esse exemplo evidencia a necessidade do
chamada PharmaMar. Com sede em Ma- produto natural marinho extraído de de fase III (última fase para aprovação e conhecimento de como isso acontece,
drid, Espanha, foca especialmente na área uma espécie de tunicado (Ecteinasci- comercialização) do uso de Plitidepsina para que possa ser aplicado aos humanos.
de oncologia, na busca por moléculas com dia turbinata) habitante do Mar Me- (Aplidin ®), que é um peptídeo isolado Além das doenças, através de uma
atividade anticâncer proveniente do mar e diterrâneo e do Caribe. A molécula originalmente a partir de um tunicado pesquisa pública feita recentemente por
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cimento da academia e de financiamento que o padrão de colaboração não seja o
Of
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para inovação para produzir bens e serviços. esperado no modelo da Tríplice Hélice.
Universidades e institutos fazem pesquisa Um dos instrumentos normalmente
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utilizando recursos públicos e privados. Por utilizados para aproximar as partes dentro
sua vez, governos, agências e comitês for- do modelo academia-indústria-governo é
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mulam políticas de C,T&I e respondem pela o estabelecimento de Polos Tecnológicos,
estrutura de regulação, atividades que pre- que são ambientes propícios à interação
cisam estar afinadas com empresas e acade- entre instituições públicas, empresas pri-
mia para que sejam efetivas. vadas e a comunidade científica. Tais Polos
Compreender a biotecnologia perpas- servem como ambientes de cooperação
sa pelo entendimento desse complexo de entre a iniciativa empreendedora e a co-
interdependências, por isso as três esferas munidade acadêmica, visando ao fortale-
podem ser utilizadas como recurso analíti- cimento da capacidade de inovação, ge-
co. A ideia-base sugere que inovação bio- ração de riqueza e bem-estar da socieda-
tecnológica só é possível no momento em de. Ainda, esses ambientes possuem alto
que conhecimento novo é direcionado para potencial para transpor o abismo que há
atender demandas de desenvolvimento so- entre a geração do conhecimento cientí-
cioeconômico, que em seguida são analisa-
das, gerenciadas e comercializadas por enti-
fico e o desenvolvimento socioeconômico
(o paradigma da Inovação).
Demanda
dades privadas e empresas. Nesse caminho, Ainda que esse modelo pareça bem Fonte: Elaboração própria (2022)
há o estímulo de políticas públicas que visem resolvido, existem outros mais recentes
a coordenar o desenvolvimento do potencial que reconhecem o protagonismo de in-
de cada setor e a gerir os modelos contra- vestidores e usuários dentro do fluxo de 4. A Biotecnologia nas empresas
tuais das parcerias entre os diferentes atores desenvolvimento; a chamada hélice tripla
(incluindo as patentes). Nessa perspectiva, de inovação expandida. Nesta visão, o O termo “Biotecnologia” abrange di- pós-graduação em biologia molecular e
os atores (governos, indústria e academia) modelo da TH está ultrapassado e falha ao versas tecnologias empregadas na pesqui- com a associação da Embrapa (Empresa
precisam aumentar sua interação para criar desconsiderar dois grupos centrais no mo- sa e na indústria, que variam desde a pro- Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a algu-
inovações que contribuam para o desenvol- delo, que são empreendedores e clientes. dução de enzimas por bactérias genetica- mas universidades do Estado de São Paulo
vimento econômico, a competitividade e o Segundo um estudo do Instituto de Tec- mente modificadas até terapias utilizando para o desenvolvimento de programas de
bem-estar social. E é justamente nesse ponto nologia de Massachusetts (MIT), 93% da ino- células-tronco. A biotecnologia em si, no engenharia genética em animais, a biotec-
que falha o modelo de inovação. vação têm origem fora de empresas estabele- Brasil, iniciou-se por volta de 1930, quan- nologia foi pouco a pouco se consolidando
A academia está distante das empresas. cidas. A principal razão está no paradigma da do o Instituto Agronômico de Campinas no cenário nacional.
Os empresários normalmente são avessos a Inovação supramencionado: organizações e (IAC) começava a desenvolver pesquisas Apesar de o país ser essencialmente agrí-
inovação. E falta ao governo políticas ativas industrias estabelecidas reconhecem o abis- para melhoramento genético de café, cola, somente 10% das empresas de bio-
e integradoras para inovação. E embora o mo entre inovação e mercado, e optam por milho e outras espécies. Gradualmen- tecnologia estão voltadas para a agricultura.
esforço inovativo apresente crescimento no evitar os riscos inerentes à inovação. te, com o surgimento de programas de Cerca de 40% atuam em saúde humana e
.
em expansão, que acompanha os desen- mesmo medicamento biológico devido às do se quantifica a bioeconomia; de biotecnologia marinha enfrenta no pró-
volvimentos e avanços nas pesquisas den- várias tecnologias passíveis de proteção. A participação da biotecnologia marinha ximo milênio é:
.
gia, embora vasto e atraente, ainda está são definidos como os processos de pro- a economia oceânica;
.
las dotadas de uma estrutura simples. Com biotecnológica para produzir produtos, requisitos especiais; importantes para definir conceitos de bio-
a ascensão e o entendimento dos mecanis- serviços e/ou pesquisa. Apesar de não A natureza compartilhada e dinâmica dos tecnologia de acordo com o entendimento
mos complexos atrelados à modificação de estar destacada na Política de Desenvol- recursos biológicos oceânicos, juntamente do INPI e para auxílio na análise de paten-
genes e ao uso de células e microrganis- vimento da Biotecnologia Brasileira, a com o enorme volume de oportunidades teabilidade em pedidos de proteção. Con-
mos, propiciados pelos novos profissionais Biotecnologia Marinha está se tornando de desenvolvimento (e desafios), significa tudo, sabe-se que o maior problema atual-
melhor qualificados, tornou-se possível a rapidamente uma importante área do que a cooperação nacional e internacional mente enfrentado pelo INPI é o backlog (ou
fabricação de medicamentos biológicos, setor biotecnológico global, por seu po- é um requisito básico para o desenvolvi- atraso no exame de pedidos de patentes),
que consistem de moléculas maiores e de tencial para contribuir com os desafios mento de infraestrutura para apoiar a bio- onde a espera pela emissão de um parecer
.
estrutura complexa. Dessa forma, inven- futuros da humanidade, gerar riquezas tecnologia marinha; técnico é longa, afetando o tempo para
ções direcionadas a produtos e processos e contribuir para o desenvolvimento de Uma das necessidades mais urgentes que uma decisão final seja emitida.
biológicos têm se tornado promissoras economias mais verdes e inteligentes. Por relacionadas à infraestrutura de pesquisa Sob a ótica das empresas nacionais e
no tratamento e prevenção de uma gama outro lado, a biotecnologia marinha não é é a padronização de protocolos e procedi- estrangeiras, a Biotecnologia é atualmente
maior de doenças, como câncer, esclerose um campo autônomo, mas espera-se que mentos – de coleta dados ou de amostras, a fonte de maior inovação. Todavia, existe
múltipla, artrite reumatoide e asma. contribua no futuro para o desenvolvimen- de armazenamento e gerenciamento, de uma necessidade de grande investimento
Na última década, o número de pro- to de uma bioeconomia madura, baseada curadoria, de capacidade de análise, arma- em pesquisa e desenvolvimento (P&D) por
cessos e produtos oriundos da Biotecno- na biomassa de origem marinha para bio- zenamento e cálculo, além de estruturas trás dos medicamentos biológicos, que é
logia refletidos em depósitos de pedidos combustível por exemplo, e em produtos legais para usar dados (brutos). A ligação influenciado basicamente pela necessida-
de patente tem crescido de forma ex- de base biológica de ponta provenientes de e a comunicação entre bancos de dados é de de estudos laboratoriais longos e mais
pressiva. Dentre os bioprodutos de maior recursos marinhos. um desafio particular; complexos, e de materiais e reagentes que
nas Brasil, a Abiquifi e a Apex-Brasil estão 63% delas foram criadas ainda na última
50000
trabalhando no mapeamento de startups década. Entretanto, 78% dessas empresas
40000 no Brasil que trabalham com ingredien- dependem do financiamento público para
tes farmacêuticos, compostos químicos e executar suas funções. A área de atuação de
30000
biológicos, equipamentos médicos, saúde maior destaque é a de pesquisa em saúde
20000 digital, produtos farmacêuticos humanos humana (cerca de 40%), seguida pela área
e animais, nutrição animal e biotecnologia de saúde animal (14%). As áreas de agri-
10000 em geral. Também mapeará os principais cultura, ambiente e bioenergia reunidas
0
clusters de inovação do país nestas áreas; abrangem 25% das empresas de biotec-
o tipo de soluções sendo pesquisadas; e os nologia brasileiras. De todas essas entida-
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Uma pesquisa realizada pela Biominas que sofrem com a falta de investimentos,
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Pesquisa Patentes
até 10 funcionários, e jovem, com menos Normalmente na criação das empresas
de 10 anos de idade. Quase 70% das em- (Startups por exemplo), ainda que haja re-
Fonte: Elaboração própria (2022) presas já fizeram algum tipo de coopera- cursos disponíveis para a fase inicial de pes-
ção internacional e todos os entrevistados quisa, usualmente há falta para a fase de
Figura 5. Publicações e patentes regis- lavras chaves em qualquer lugar do texto demonstraram interesse em realizar futu- testes de produtos e para a desvinculação
tradas no Google Academic e no Google “biotechnology”, “marine” e alterando ras atividades de cooperação. As grandes das incubadoras. As incubadoras normal-
Patents, respectivamente, entre 2010 e entre “anti-parasitic”, “antifungal”, “an- empresas também estão buscando inova- mente são mantidas com aporte de recur-
2022. Os critérios da busca foram: artigos tihypertensive”, “anti-inflammatory” , ção por meio de projetos de biotecnologia. sos federais provenientes da Financiadora
ou patentes de qualquer natureza e idio- “antiviral”, “neuroprotective”, “analge- De acordo com a Pesquisa de Inovação do de Estudos e Projetos (Finep), e as empresas
ma, exceto as revisões, com todas as pa- sic” , “antibiotic” e “anticancer”. Brasil (PINTEC), o número de empresas ino- incubadas dependem desses recursos tan-
vadoras que usam biotecnologia cresceu to para desenvolver seus produtos quanto
ECONOMIA AZUL
494 ECONOMIA AZUL Desenvolvimento da Biotecnologia Marinha 495
para investir em gestão e marketing. Pou- ro de empreendimentos envolvidos em as tendências para o futuro. São reunidas é analisada a partir da avaliação da tecno-
co é investido pelo empresário, mesmo na biotecnologia, ainda que haja empresas informações sobre outros produtos dispo- logia utilizada e suas formas de produção;
.
fase inicial da criação da empresa. atuantes em outras subáreas: níveis (concorrentes e substitutos), assim além da avaliação da tecnologia e produção
Apesar dos fatos desfavoráveis, as com- Bioenergia: desenvolvimento de novas como seus posicionamentos (preço, quali- dos possíveis fornecedores.
.
panhias de biotecnologia brasileiras con- tecnologias para biocombustíveis; dade ou nicho de mercado), seus desempe- Contudo, um outro aspecto importante
tam com profissionais de alta competência Meio ambiente: biorremediação, geren- nhos e as tecnologias utilizadas. é que os pesquisadores da área de biotec-
técnica. Em empresas com 1 a 10 funcioná- ciamento de resíduos e recuperação de Já o Planejamento do Negócio corres- nologia marinha brasileira ainda encontram
.
rios, aproximadamente 40% são doutores áreas devastadas; ponde ao planejamento do produto susten- muitas dificuldades para transformar suas
e 20% têm mestrado. Com bons profissio- Agricultura: controle biológico de pra- tável e seu modelo de comercialização. En- invenções em inovações, fazendo com que
nais sendo formados e atraídos, espera-se gas, biofertilizantes, sementes transgênicas globa a definição da estratégia, através das muitas invenções acabem sendo publica-
.
que o resultado seja o aporte de mais inves- e melhoramento vegetal; atividades de identificação dos stakeholders das e depois não avancem para produtos.
timentos, a adoção de políticas de estímulo Saúde animal: melhoramento animal, (partes interessadas) envolvidos e parceiros A razão disso é o fato de que os pes-
e, finalmente, a consolidação da biotecno- drogas e vacinas, desenvolvimento de tec- potenciais; mapeamento do ciclo de vida do quisadores de biotecnologia marinha, bem
.
logia no desenvolvimento socioeconômico nologias em reprodução animal; produto; definição dos requisitos técnicos como as instituições que apoiam a geração
brasileiro. Convém ressaltar que embora os Reagentes: enzimas, kits diagnósticos, necessários para a produção e comerciali- de inovação nas Instituições de Ciência e
.
pesquisadores conheçam muito bem a parte moléculas bioativas e anticorpos; zação do produto; mapeamento da cadeia Tecnologia (ICTs) do País não conseguem
do desenvolvimento técnico dos produtos, Bioinformática: análise de testes diag- de valor (macroprocessos e processos de atender, ainda, às premissas essenciais para
sabem pouco sobre o mercado em que se nósticos, sequenciamento e consultoria. produção e comercialização); e identificação o desenvolvimento de produtos sustentá-
encontram inseridos. Isso resulta em dificul- As empresas dessas áreas encontram- dos diferenciais e fatores críticos de sucesso. veis na área. Assim, poucos são os produ-
dades adicionais na escolha de estratégias -se concentradas principalmente na região Engloba também a realização dos estudos tos efetivamente disponibilizados para a
para alavancar seus produtos e/ou sua mar- sudeste, mantendo São Paulo em primeiro de viabilidade técnica, econômica, ambien- sociedade, o que reforça o abismo entre
ca, e, por fim, escalonar seus empreendi- lugar com 18% do número total de com- tal e social. A viabilidade técnica do produto inovação e desenvolvimento.
mentos à economia de mercado. panhias, seguido por Minas Gerais (13%),
Como foi citado anteriormente, a área Rio de Janeiro (12%) e Rio Grande do Sul 7. Desenvolvimento da Biotecnologia Marinha no Brasil
da saúde humana se destaca pelo núme- (5%), no sul do país.
A Biotecnologia Marinha tem tido um Marinha no Brasil carecem de uma maior es-
6. Biotecnologia marinha e o desenvolvimento de novos produtos enorme crescimento nos últimos anos no pecificidade, pois foram estabelecidas para
Brasil e no mundo. Esse fato está relaciona- o mar de uma forma geral. O setor da Bio-
Para se chegar a um produto em biotec- instituições de apoio, pesquisa e financia- do principalmente a prioridades que o go- tecnologia Marinha, por sua complexidade e
nologia marinha é necessário que além do mento, além de todo um arcabouço jurídi- verno tem estabelecido para aplicação de importância, deveria ter uma política pública
conhecimento oriundo da pesquisa básica co devem estar alinhadas. recursos. Contudo, ainda existe um grande própria que pudesse juntar questões do uso
exista um processo de ideia, descoberta, in- A avaliação estratégica do mercado é o espaço a ser ocupado pelas empresas para dos recursos marinhos às questões ambien-
venção e produção do produto para a sua co- processo que engloba o estudo da viabili- que esse crescimento possa atingir um pa- tais e legais. Da forma como existe hoje, a
mercialização e disponibilização para a socie- dade mercadológica do produto. Em outras tamar de forma a que os benefícios para a Biotecnologia Marinha reúne decretos de
dade, remetendo-se a uma escala de maturi- palavras, é a verificação da viabilidade de sociedade sejam mais visíveis. lei que estão pulverizadas nas regulamen-
dade tecnológica que leva em média 10 anos. comercialização do bioproduto, na qual são As políticas públicas estabelecidas pelos tações das atividades pelas agências regula-
Essa escala de maturidade, corroborada detalhadas as necessidades do mercado, governos precisam ser reformuladas de for- doras. Essas agências têm contribuído para
pela legislação brasileira, demonstra que identificando clientes potenciais, concor- ma a atender as novas demandas nacionais e o fortalecimento das atividades no mar, mas
para serem consideradas produtos, as des- rentes e toda cadeia de suprimentos. Além internacionais. Hoje as políticas públicas para elas ainda não estão consolidadas.
cobertas em biotecnologia marinha preci- disso, são avaliadas as demandas do mer- o setor estão formuladas dentro de um ema- Existem obrigações legais que essas
sam ser disponibilizadas para a sociedade. cado, ou seja, as quantidades demandadas ranhado de leis e decretos que dificultam sua agências têm na atuação em atividades de
E para que isto possa ocorrer, toda uma do produto, o crescimento do mercado nos compreensão e implementação. Hoje as po- C,T&I de setores regulados, contando para
estrutura de transferência de tecnologia, últimos anos, o crescimento estimado e líticas públicas para a área da Biotecnologia tanto com recursos das chamadas cláusulas
504 ECONOMIA
504 AZUL
A ECONOMIA AZUL SISGAAZ, uma Visão Estratégica 505
públicas e privadas relacionadas que en- uso inteligente dos recursos naturais e das Neste contexto, a Estratégia Nacional risdição brasileira, conforme diretrizes da
volvem o uso sustentável dos recursos do matérias-primas. de Defesa (END), que consiste de um pla- END, requerem a capacidade de “perceber
oceano (World Bank and United Nations Tal patrimônio deve ser monitorado e no de ações estratégicas estruturantes, os elementos no ambiente, compreendê-
Department of Economic and Social Af- protegido, mantendo esta área sob vigilân- com o objetivo de modernizar, a médio e -los dentro da moldura temporal e espa-
fairs, 2017), abrangendo todo o cresci- cia constante, que o Brasil passou a chamar longo prazos, a estrutura nacional de de- cial, e projetar seus estados no futuro”,
mento econômico gerado pelos oceanos e de “Amazônia Azul”, buscando alertar a fesa, visa preparar o Brasil para o exercí- conhecida como o estabelecimento da
também em terra, o que não deve ser uma sociedade sobre a importância estratégica cio pleno da soberania e da governança Consciência Situacional2 (SIMON, 2006.
oportunidade para exploração sem fim deste imenso espaço marítimo, pois além de seu patrimônio. Este exercício requer p. 225, tradução nossa).
(Our Ocean, 2017). Partindo dessa premis- da ampla gama de naturais, sua importân- a preparação para a proteção de nossa Desta forma, evidencia-se que ser capaz
sa, o conceito de Economia Azul foi desve- cia estratégica é evidente por sua grande soberania, organizando as Forças Públi- de comandar e controlar ações que ocor-
lado pela primeira vez na Conferência Rio extensão e posicionamento no Atlântico cas para a estruturarem-se sob o trinômio ram em função da detecção e identificação
+ 20 em 2012, enfatizando justamente a Sul (CHAVES JUNIOR, 2013), servidoura de Monitoramento/Controle, Mobilidade e de uma ameaça, antes ou logo após que
conservação e o manejo sustentável (World força motriz de uma economia vigorosa em Presença, a concebendo as diretrizes para ela concretize seu intento, em função de
Bank and United Nations Department of desenvolvimento. a sua atuação em rede, de forma proativa, sua intempestividade e dinâmica, menos
Economic and Social Affairs, 2017). fazendo-se presentes em todas as áreas afetas a planejamentos, tem implicações
Olhando para 2030, de acordo com a En este marco, es preciso destacar la de jurisdição brasileira, sendo capazes de na estrutura de monitoramento e Coman-
Organização para Cooperação e Desen- capacidad de la industria de defensa y atuar de forma tempestiva e flexível. do e Controle, mais amplas dos que as
volvimento Econômico (OECD1), muitas seguridad a la hora de generar riqueza Entretanto, as atividades proativas – previstas em situações de crises – que, em
indústrias oceânicas têm potencial para en términos económicos y de seguridad entendendo-se pró-atividade como a ati- algum grau, implicam ações deliberadas de
superar o crescimento da economia glo- nacional, así como en materia de inno- tude diligente de agir antes que fatos des- Estados – sendo, razão das estruturas tradi-
bal como um todo, tanto em termos de vación y desarrollo de alta tecnología, favoráveis ocorram – nas plataformas e cionais de Comando e Controle, puramen-
valor agregado como de emprego, entre lo que la convierte en una pieza clave demais áreas e recursos marítimos sob ju- te voltadas para a defesa da pátria.
as quais destacamos, no nosso interesse, en el entramado industrial de cual-
a “Vigilância e Segurança Marítima” que quier país. [Neste quadro, é necessário 2. O SISGAAz e as vertentes da Amazônia Azul
relaciona produtos e serviços em diferen- destacar a capacidade da indústria de
tes campos marítimos, desde o controle da defesa e segurança em gerar riqueza Os estudos empíricos mostram pouco positivos sobre el conjunto de la econo-
pesca e da poluição marinha até a busca e em termos econômicos e de seguran- consenso sobre os impactos e efeitos dos mía”. [a importância do gasto público vol-
salvamento (OECD, 2016), o que tem im- ça nacional, bem como em termos de gastos com defesa no crescimento econô- tado para estimular o investimento privado
pacto direto no setor de Defesa Nacional, inovação e desenvolvimento de alta mico, em que as implicações parecem advir como possível gerador de efeitos positivos
principalmente no caso do Brasil. tecnologia, o que a torna um elemen- de diferentes modelos e estimadores. Kha- na economia como um todo.] (JIMÉNEZ &
Com efeito, o imenso território brasilei- to-chave da rede industrial de qualquer lid e Noor (2015) integram os estimadores FONFRÍA, 2017, p. 100).
ro está envolto pelo Oceano Atlântico, um país] (MUÑOZ, 2015, p. 219). do Método Generalizado dos Momentos Porém, Aizenman e Glick (2006) aler-
patrimônio natural ainda pouco explorado (GMM3) na análise entre 2002 e 2010 para tam que o setor de defesa pode expulsar
e que tem muitas riquezas a descobrir, bem Assim, grandes investimentos públicos 67 países em desenvolvimento, onde os re- recursos para consumo e investimento pelo
como recursos naturais e uma rica biodiver- são necessários para alavancar o progres- sultados indicam um efeito positivo e signi- lado da demanda, eliminando mão de obra
sidade ainda pouco conhecida. São mais so tecnológico, material e humano, capaz ficativo sobre o crescimento econômico dos qualificada e insumos de capital da produ-
de 8.500 km de litoral e mais de 95% do de desenvolver ativos adequados à pro- países da amostra. A dinâmica dos estudos ção civil pelo lado da oferta, com a corrup-
fluxo de comércio exterior brasileiro por via teção da Amazônia Azul e, consequente- foi considerada relevante resultando que ção gerando externalidades negativas, ou
marítima; das reservas marinhas são extra- mente, tornar-se um fator de geração de despensas militares têm, de fato, um im- em decorrência dos efeitos sobre os salá-
ídos cerca de 95% do petróleo brasileiro, valor agregado para Ciência, Tecnologia pacto significativo no PIB dos Estados, onde rios em setores de bens não comercializá-
80% do gás natural e 45% da produção do e Inovação (C,T&I) como um contribuidor se verifica “la importancia del gasto públi- veis, mas também considerando o impacto
pescado (Marinha do Brasil, 2020a), onde a positivo para o desenvolvimento e cresci- co que se destina a estimular la inversión sobre a eficiência do ambiente burocrático,
natureza exige cada vez mais que façamos mento nacionais. privada como posible generador de efectos onde os países que vinculam altos gastos
1. Introdução
As tecnologias nucleares têm sua ori- outro núcleo pesado fissionável. No ano
gem em avanços científicos e tecnológicos seguinte, Fermi e Szilárd construíram a
das décadas de 1930 e 1940. Com efeito, “Pilha de Fermi”, considerada o protóti-
a primeira reação nuclear foi investigada, po do primeiro reator nuclear.
em1932, por Sir John Douglas Cockcroft O primeiro reator nuclear para produ-
e Ernest Thomas Sinton Walton (agracia- ção controlada de energia, o de Obninsk,
dos com o Nobel de Física – 1951). Em na União Soviética, capaz de gerar 5 MWe
1933, Léo Szilárd propôs a ideia de uma (megawatts de potência elétrica), surgiu
reação em cadeia para produção copio- em 1954. Um ano depois, entrou em ope-
sa de nêutrons e liberação de energia ração o primeiro submarino com propulsão
nuclear. No ano seguinte, Enrico Fermi nuclear, o Nautilus, resultado do progra-
(Nobel de Física – 1938) sugeriu mecanis- ma nuclear da Marinha dos EUA, liderado
mos para a moderação da energia desses pelo Almirante Hyman George Rickover. É
nêutrons. Quatro anos mais tarde, Otto bastante razoável considerar esse evento
Hahn (Nobel de Química – 1944) e Fritz como o marco inicial da aplicação de tec-
Strassmann chegaram à fissão do núcleo nologias nucleares no mar. Desde então,
de urânio e à reação em cadeia sugerida diversas tecnologias que envolvem reações
por Szilárd. A explicação teórica da fissão e processos nucleares foram criadas e apri-
nuclear foi proposta, em 1939, por Lise moradas tiveram seu espectro de aplicação
Meitner e seu sobrinho, Otto Robert Fris- ampliado e tornaram-se de uso corrente
ch. Já na década de 1940, Glenn Theo- pela sociedade. Nas demais seções deste
dore Seaborg e Edwin Mattison McMillan capítulo, iremos descrevê-las, reservando
(contemplados com o Nobel de Química – para o final a discussão de seu uso no am-
1951) descobriram, em 1941, o plutônio, biente marítimo.
530 ECONOMIA
530 AZUL
A ECONOMIA AZUL Tecnologias Nucleares para o Mar 531
2. Tecnologias nucleares para geração de energia neutralidade de emissões de carbono até avançados, com destaque para os cerca
lá. Até aqui, cerca de metade dos países de 50 projetos de reatores modulares de
Inicialmente, as tecnologias nucleares fo- altas temperaturas, com alta eficiência e da UE concordou com a expansão do uso pequeno porte (Small Modular Reactors
ram direcionadas para a produção de ener- com preços competitivos. da energia nuclear na transição energética. – SMR). Estes últimos são construídos de
gia, seja em aplicações civis, em usinas nu- Ao final de 2019, de acordo com o Nu- A utilização da energia nuclear para pro- maneira modular, em sítios industriais, e
cleares, seja em aplicações militares, seja em clear Technology Review 2020 da Agência pulsão de meios navais iniciou-se em 1955, transportados para o local de utilização.
propulsão nuclear naval. Em ambos os casos, Internacional de Energia Atômica – AIEA, com o já mencionado submarino Nautilus, Produzem potência térmica na faixa entre
houve avanços tecnológicos notáveis. Tenta- havia 443 reatores nucleares em operação, da Marinha dos EUA. Submarinos com 20 e 300 MWt (megawatts térmicos), têm
remos traçar um panorama dessa evolução. com capacidade de gerar 392,1 GWe. As propulsão nuclear vêm sendo igualmente projetos mais simples e mais robustos, são
As usinas nucleares em terra empre- projeções da AIEA, no cenário mais pessi- construídos e operados pelas Marinhas bri- menos sujeitos a problemas operacionais e
gam reatores nucleares para produção de mista, preveem redução dessa capacidade tânica, russa, francesa, chinesa e indiana, acidentes severos, mais independentes da
energia térmica por meio de reações em até 2030, seguida de aumento, de modo a algumas das quais também constroem e ação do operador e incorporam as lições
cadeia nas quais átomos pesados, como os atingir 371 GWe em 2050. No cenário mais operam navios de guerra e porta-aviões de do acidente de Fukushima (geração III+),
de urânio, são fissionados em átomos mais otimista, a capacidade deve aumentar 25% propulsão nuclear. Pode-se distinguir ao me- bem como a experiência prévia em pro-
leves, com grande liberação controlada de até 2030, chegando a 496 GWe, e 80% até nos quatro gerações desses meios navais. jeto e operação. Seu licenciamento deve
energia e de nêutrons. A energia térmica 2050, chegando a 715 GWe. A participa- Cada nova geração incorporou elementos ser mais ágil e eles terão maior disponi-
é convertida em energia elétrica por meio ção da energia nuclear na geração global de segurança nuclear naval e trouxe me- bilidade e vida operacional de 60 anos.
de turbinas a vapor acopladas a geradores de energia elétrica seria de 6% ou 12% em lhorias quanto à versatilidade e capacidade Há também projetos de micro-reatores
elétricos. Ao longo dos anos, foram desen- 2050, conforme o cenário adotado, número operacional. Em relação à segurança, algu- (potência < 20 MWt), em geral para apli-
volvidas quatro gerações de reatores, que a ser comparado com 10% em 2019. Vale mas Marinhas optam por usar combustível cações offgrid, como em regiões inóspitas
serão descritas brevemente. notar que havia 54 reatores em construção nuclear de baixo teor de enriquecimento ou zonas de conflito ou de desastres natu-
A geração I, predominante nos anos ao fim de 2019, 35 deles na Ásia, e que 74 (< 20%, low enrichment uranium – LEU), rais, que se juntam aos SMR para oferecer
1950-1960, usava, como combustíveis, reatores foram conectados à rede elétrica em vez do alto teor (> 90%, high enrich- uma gama de possibilidades de aplicação
urânio (U) metálico ou dióxido de urânio desde 2005, dos quais 61 na Ásia. ment uranium) utilizado, por exemplo, por de sua energia elétrica e do seu calor re-
(UO2); como moderadores, grafite, água Trinta países usam energia nuclear e há estadunidenses e russos. Revisitaremos os jeitado, que inclui dessalinização e produ-
pesada, água leve ou berílio (Be); como cerca de 28 candidatos a ingressar nesse meios navais na seção dedicada à utilização ção de hidrogênio. Esses reatores, além de
refrigerantes, líquidos ou gases; e atingia grupo. O interesse na área nuclear advém de tecnologias nucleares no mar. contribuírem para uma economia de baixo
potências entre 5 e 180 MWe. A geração II, de considerações sobre sua relevância para Atualmente, com o progresso tecnoló- carbono, devem ampliar a participação do
dos anos 1970-1990, corresponde à maio- a mitigação de mudanças climáticas, ga- gico, busca-se construir reatores nucleares setor nuclear na economia.
ria dos reatores em operação atualmente, rantia de segurança energética e imple-
Usina Nuclear de Angra dos Reis - RJ
de tipo PWR (pressurized water reactor) ou mentação de políticas ambientais e socioe-
BWR (boiling water reactor). A geração III, conômicas. A International Conference on
pós-1990, incorporou sistemas passivos de Climate Change and the Role of Nuclear
segurança e tem projeto, operação e ma- Power, organizada pela AIEA e pela Orga-
nutenção simplificados e padronizados. En- nização para a Cooperação e Desenvolvi-
globa reatores recentes, de grande porte, mento Econômico – OCDE, em outubro
como o AP1000 – PWR da Westinghouse, de 2019, discutiu amplamente o papel do
de 1.100 MWe, o EPR – PWR da Areva, setor nuclear na transição para uma eco-
de 1.650MWe e o ABWR – BWR da GE- nomia de baixo carbono. A União Europeia
-Hitachi, de 1.350 MWe. A geração IV, em recentemente reconheceu que precisará
franco desenvolvimento, incluirá sistemas investir mais de 500 bilhões de euros em
passivos de segurança adicionais, repro- energia nuclear até 2050 (50 bilhões de
cessamento de combustível e operação em euros até 2030), para honrar suas metas de
NAUTILUS
tro, gerando 300 MWe, e outra de 75 m de para quantificar a dispersão de plásticos e 1964
SEAWOLF
Caças 1993
diâmetro, gerando 1100 MWe. contaminantes, a AIEA apoia laboratórios
57 mil Hh (Hh) Homens/ hora
A evolução dos micro e pequenos reato- em todo o mundo para gerar conhecimento Automóveis 30 mil cp (cp) Componentes
res certamente facilitará sua instalação e sua científico nos impactos da poluição por plás- 23 Hh 10 t
(t) Toneladas
3 mil cp
operação contínua em regiões remotas. Ilhas ticos em ecossistemas marinhos e costeiros.
e bases oceânicas se enquadram nessa cate- Em paralelo, empregando radiação gama
1,9 t
. . . . . . . . . Tempo de
fabricação
0 10 20 30 40 50 60 70 80 (meses)
goria. SMRs ou microrreatores, dependendo e feixes de elétrons em complemento aos
da necessidade, podem ser uma solução de métodos mecânicos e químicos tradicionais, Fonte: Adaptado do National Shipbuilding Research Program
custo-benefício compensador para garantir certos tipos de resíduos plásticos podem ser (NSRP) – Advanced Shipbuilding Enterprise (ASP)
autonomia e segurança energética às popu- modificados para reúso ou reciclagem.
DEPÓSITO
DEPÓSITO
(PWR), que futuramente poderá ser adap- Laboratório de Tecnologias em
>> SUBMARINO NUCLEAR
tado para utilização dual, de forma modu- Energias Sustentáveis, LATES-IPqM
SUBMARINO NUCLEAR lar, provendo energia e água, via dessalini-
zação, para regiões com baixa quantidade
>>
>>
>>
Referências
1. Introdução
O presente trabalho propõe-se a apre- entidade privada sem fins lucrativos, para
sentar informações preliminares sobre as apoio à gestão da pesquisa marinha, nos
ações empreendidas pelo Ministério da níveis tático e operacional”, cuja demanda,
Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) expressa por instituições com interesse na
e demais instituições com interesse na pesquisa oceânica, data de alguns anos.
pesquisa oceânica, em prol da qualifica- A OS é um modelo de organização pú-
ção de uma Organização Social (OS), cuja blica não estatal, destinada a absorver ati-
missão será a de promover as ciências do vidades publicizáveis mediante qualificação
mar de forma integrada e transdiscipli- específica. Trata-se de uma forma de pro-
nar, permitindo o enfretamento dos de- priedade pública não estatal, constituída
safios nacionais nessa área, em distintas pelas associações civis sem fins lucrativos,
escalas, bem como provendo o embasa- que não são propriedade de nenhum indi-
mento técnico para a implementação de víduo ou grupo, mas estão orientadas ao
políticas públicas que beneficiem a socie- atendimento do interesse público. O Con-
dade brasileira e a ampliação do papel do trato de Gestão (CG) é o instrumento que
Brasil no cenário internacional em prol de regula as ações de uma OS.
um oceano sustentável. Cabe ressaltar algumas características
A proposta de criação de uma OS para básicas de uma OS, que garantem a trans-
o mar encontra-se fundamentada no Pro- parência na execução dos contratos, a exce-
grama Ciência no Mar (Portaria MCTI no. lência e a economicidade na aplicação dos
4.719/2021), que preconiza a “viabilização recursos públicos, em modelo de contrata-
da qualificação de uma organização social, ção entre uma entidade sem fins lucrativos
548
548 ECONOMIA AZUL
A ECONOMIA AZUL Nova
Nova Organização
Organização Social
Social para
para o
o Mar 549
Mar 549
e o Governo, avaliado por gestores públicos car alternativas fundamentadas no setor A ausência de uma instituição nacio- Ministério da Economia (ME), foram esta-
como opção eficiente para projetos que privado e que promovam o fortalecimento nal, com fins operacionais, de execução, belecidas as bases para uma ação articula-
precisam ser executados de forma susten- do Sistema Nacional de C,T&I no Brasil. facilitação e promoção das atividades pre- da entre o Governo, a comunidade cien-
tável, em prol da melhoria dos serviços do O que se espera, como “efeito de- conizadas pelos principais programas e tífica, bem como futuras conexões com a
Estado. Importante ressaltar que é vedada sejado”, ademais do amplo apoio que planos de ação nacionais, tornam muito iniciativa privada, para o estabelecimento
a qualificação de OS para desenvolvimento a OS para o mar já angaria de parte tênues o alcance de tais políticas nacionais de uma OS para o mar, vocacionada para
de atividades exclusivas de Estado. da comunidade cientifica no País, é o e planos decorrentes. subsidiar ações de expressão das políticas
O alinhamento de instituições com alinhamento da pesquisa com a infraes- Empresas estatais poderão ter poten- públicas nacionais, nas áreas afetas aos
elevada representatividade nacional, tais trutura operacional e administrativa, cial interesse no nicho de atuação da OS, oceanos. A publicação da Portaria Inter-
como a Academia Brasileira de Ciências bem como o desenvolvimento de novas como EMBRAPA e CPRM, da mesma forma ministerial ME/MCTI no. 2.828, de 9 de
(ABC) e a Sociedade Brasileira para o Pro- tecnologias, em parceria com a iniciativa que empresas de economia mista e priva- março de 2021, autorizou o processo de
gresso da Ciência (SBPC), completam o privada, que permitam a geração de co- das, tais como Petrobras, Vale, Shell, Total publicização da OS-INMAR.
regime de colaboração entre os entes na- nhecimento sobre os oceanos, com vistas Energies, Equinor, Neoenergia e Engie, en- A criação da OS-INMAR decorreu de per-
cionais, com vistas à promoção do desen- a atender às demandas do Poder Público, tre outras, ademais de empresas de menor severantes esforços do MCTI, com apoio de
volvimento científico e tecnológico no País, da sociedade e do setor privado. porte, vocacionadas para a área de inova- diversas instituições, entre muitas: Acade-
congregando assim os setores federal, as Assim, o objetivo principal do presente ção em oceanos e energias renováveis, que mia Brasileira de Ciências, Marinha do Brasil
instituições de pesquisa, o setor empresa- artigo é o de avaliar os potenciais impactos podem gerar expressivo desenvolvimento (MB), Sociedade Brasileira para o Progresso
rial e outros setores locais envolvidos, em que a implementação da OS para o mar econômico e social em âmbito nacional. da Ciência (SBPC), Conselho Nacional das
pleno respeito aos critérios do interesse pú- (cuja sinonímia pode ser encontrada ao lon- A Academia Brasileira de Ciências Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa
blico atinentes às ciências do mar. go do texto como OS-INMAR, ou OS-INPO) (ABC), ao endossar a Década da Ciência (CONFAP) e Conselho Nacional de Desen-
A pesquisa oceânica é atrativa para di- poderá exercer, para a governança brasileira Oceânica, reconhece as dificuldades que volvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
ferentes setores econômicos, possibilitan- nas atividades de pesquisa oceânica, tendo afetam a capacidade do Brasil em contri- Por iniciativa do MCTI, a MB participou, por
do a venda de serviços, de informações e em vista o contexto geopolítico do Oceano buir com a ciência oceânica, em nível glo- meio da então Secretaria de Ciência e Tec-
de dados. Entretanto, não gera um modelo Atlântico e o seu entorno estratégico, bem bal. Entretanto, ressalta que o país tem o nologia da Marinha (hoje, Diretoria-Geral
de negócio ancorado em lucro, mas sim na como a sua relevância, para o desenvolvi- potencial de promover mudanças para al- de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico
produção de conhecimento. É preciso bus- mento econômico e social do País. cançar os resultados esperados frente aos da Marinha, DGDNTM), de reunião realiza-
desafios propostos pela Década, mediante da em 16 de novembro de 2016, cuja Ata
2. Considerações iniciais ações relevantes a serem apoiadas, como é indica a intenção do órgão em apoiar a cria-
o caso da OS para o mar (ABC, 2021). ção da OS para o Mar.
O Brasil possui instituições e especia- MCTI, na promulgação de políticas públi- O Decreto n. 9.190, de 1º de novembro Desde a estrutura administrativa ini-
listas em ciências do mar reconhecidos in- cas marinhas, nas quais a ciência oceâni- de 2017, impôs a necessidade de chama- cial até a contratação de equipe responsá-
ternacionalmente. Entretanto, a influência ca exerça papel central, como é o caso da mento público para se dar início à implan- vel pelos projetos, a OS está alicerçada na
das ciências oceânicas e a grande impor- Política Nacional para os Recursos do Mar tação de uma OS para o mar. Cumprido o meritocracia. No seu CG, cada etapa do
tância dos espaços marinhos brasileiros nos (PNRM) e os seus Planos e Programas Seto- disposto no Artigo 6º do referido Decreto, projeto é acompanhada pelo Conselho de
aspectos socioeconômicos nacionais, bem riais (PSRM); o Programa Ciência no Mar; o processo de qualificação de entidade pri- Administração, formado por profissionais
como na geopolítica internacional, ainda o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e vada sem fins lucrativos compreendeu uma voluntários designados por órgãos de Go-
se fazem restritos, revelando grande con- Inovação para Oceanos; bem como o Plano fase de publicização e seleção de entidade, verno e da sociedade civil. A equipe de pro-
traste com a imensa área geográfica que Nacional da Década da Ciência Oceânica que precede a fase de publicação do ato de fissionais da OS é contratada pelo regime
a zona econômica exclusiva, a Amazônia no Brasil, no qual se projeta a promoção da qualificação e a celebração de um Contrato de CLT. Relatórios periódicos são avaliados e
Azul, encerra para o País. ciência como base para a tomada de deci- de Gestão, cuja expectativa é a de ser fir- aprovados pelo referido Conselho.
Esforços são continuamente exercidos são e desenvolvimento de ações coordena- mado ainda em 2022. O fomento à ciência, tecnologia e ino-
pela Comissão Interministerial para os das, que venham a transformar o oceano Após um amplo estudo de viabilidade vação em ciência oceânica no país ainda é
Recursos do Mar (CIRM), bem como pelo que temos no oceano que queremos. realizado pelo MCTI, com o concurso do predominantemente de natureza pública,
554 ECONOMIA
554 ECONOMIA AZUL
AZUL Nova Organização Social para o Mar 555
(BPBES, 2021), que está em construção, aspectos referentes aos setores da pesca e um importante desafio para o sucesso da serviços básicos de calibração, manuten-
bem como inúmeros textos científicos que da aquicultura marinha, objetivando maior futura OS. Esse gerenciamento será feito em ção e certificação de equipamentos. Alia-
ponderam sobre a temática (ex. CEMBRA, segurança nos investimentos dos respecti- conjunto com as instituições proprietárias/ do a isso, há necessidade de que o desen-
2012; Turra & Denadai, 2016; Turra et al., vos setores e a geração de emprego e ren- gestoras das infraestruturas, inclusive embar- volvimento científico e tecnológico, om-
2013; Claudet et al., 2020; Lana & Castel- da no médio e longo prazo. cações, respeitando suas políticas internas e breado com as inovações, impliquem na
lo, 2020; Franz et al., 2021). Grande parte prioridades de uso, mas será um importan- melhoria do acesso e à gestão de dados
4.3. Objetivo 3
desses documentos contou com a lideran- te facilitador de atividades de manutenção e usando os princípios FAIR, sigla em inglês
ça e/ou participação dos pesquisadores que Apoiar a manutenção, ampliação e uso de embarcações, incluindo o Programa que indica que os dados devem ser facil-
construíram e apoiaram a proposta apre- modernização da infraestrutura nacio- de Experiência Embarcada do Programa de mente descobertos, acessíveis, interope-
sentada para a OS-INPO. nal, laboratorial e embarcada, em apoio Formação em Recursos Humanos em Ciên- ráveis e reutilizáveis (MONS, 2018). Tanto
Estabelecido o Diagnóstico Nacional às suas atividades, mediante a moderni- cias do Mar (PPGMAR/SECIRM), gerando o desenvolvimento quanto a manutenção
sobre o Oceano, serão especificadas as en- zação e/ou a implantação de laborató- oportunidades de embarque para alunos e a calibração de equipamentos são es-
tregas prioritárias previstas para o primeiro rios, centros de pesquisa, bancos de da- dos cursos nacionais de oceanografia. senciais para a criação de um parque de
ano de atividades da OS-INPO, e de anos dos, preferencialmente em cooperação A OS-INPO propõe-se a implementar instrumentos para uso compartilhado pela
subsequentes, que, funcionando como com instituições públicas ou privadas. uma articulação muito próxima com os co- comunidade científica, conforme preten-
um “hub” e centro de síntese do conhe- Para que a OS-INPO possa cumprir sua mitês gestores das diferentes embarcações dido pelo Objetivo 3 acima descrito.
cimento, em diálogo permanente com os missão, é essencial que uma visão tática e de pesquisa oceanográfica existentes do A OS-INMAR deverá, também, realizar
diferentes setores da sociedade, contribuirá operacional de manutenção, ampliação, País, bem como o acompanhamento das ações coordenadas que visem ao planeja-
para a construção da identidade e reputa- modernização e uso compartilhado e arti- atividades e participação nas reuniões do mento e implementação de um Programa
ção da OS-INPO, em estado de permanente culado da infraestrutura de pesquisa nacio- Comitê Executivo para o Programa GOOS- de Inovação Tecnológica. Esta atuação em
aferição, por meio de Seminários Nacionais nal, a ser construída e bem implementada. -Brasil, sempre que julgado necessário, P,D&I deve abranger o desenvolvimento de
de Integração entre Oceano e Sociedade, Para isso, destaque deve ser dado ao apoio ademais de reuniões com instituições par- sensores, plataformas como ROVs, AUVs,
a alimentar o Planejamento Estratégico da a iniciativas já estruturadas no âmbito da ceiras que integram os principais projetos gliders e drones, métodos e procedimentos
OS-INPO e Plano de Trabalho Plurianual, a oceanografia operacional, tais como aque- e programas de observação oceânica (ex. de coleta de dados, além de metrologia,
serem também definidos no primeiro ano las vinculadas ao Programa GOOS-Brasil, Rede Clima, PELDs e INCTs). materiais e modernas técnicas de medições
de atividade da OS. em que projetos e redes vêm sendo imple- e avaliação de dados, como big data, in-
4.4. Objetivo 4
mentadas, tais como o PIRATA (Prediction teligência artificial (IA) e realidade aumen-
4.2. Objetivo 2
and Research Moored Array in the Atlan- Apoiar a inovação por meio da ar- tada (RA). O apoio ao desenvolvimento de
Apoiar a promoção de estudos, pes- tic), SAMOC (South Atlantic Meridional ticulação da comunidade científica e produtos e processos biotecnológicos e de
quisa e desenvolvimento, inovação e Overturning Circulation) e SIMCOSTA (Sis- tecnológica com o setor privado, bem serviços também será parte desse Progra-
outras atividades de interesse público, tema de Monitoramento da Costa Brasilei- como pelo apoio a novas empresas de ma. Os parques tecnológicos das universi-
nas áreas de sua atuação. ra), dentre outros, e que envolvem a coo- base tecnológica nas áreas de sua atua- dades brasileiras poderão ter uma grande
Com a implementação da agenda cien- peração e a articulação em níveis nacional ção, buscando soluções nacionais aos sinergia para as atividades propostas de
tifica prevista no Objetivo 1 acima, e uma e internacional (como é o caso do PIRATA desafios relacionados aos oceanos. inovação, e serão mapeados e envolvidos
vez identificados os problemas nacionais e do SAMOC). Igualmente, novas redes de A OS-INPO buscará criar um Programa nas discussões. Exemplos de outros seto-
mais prementes, serão aprofundados os es- observação dos oceanos, que servem como de Instrumentação Oceanográfica, como res nacionais de sucesso, como óleo e gás,
tudos e buscadas as atividades de inovação “motores” da Economia Azul (vide Capítulo agente fomentador de ações transversais aeroespacial, fármacos e cosméticos, de-
tecnológica capazes de auxiliar no solucio- 19), deverão ser identificadas e fomentadas. com a iniciativa privada. Essa demanda há vem ser analisados na busca de eficiência e
namento do desafio que é imposto à so- O estabelecimento de um processo eficaz muito domina o cenário das observações aproveitamento de fornecedores nacionais
ciedade brasileira. Como exemplo, citam-se para o compartilhamento de infraestruturas oceânicas no País, em que sensores básicos e internacionais para os sensores e compo-
os aspectos referentes às fontes de energia de pesquisa, assim como do compartilha- para a obtenção de dados oceanográficos nentes a serem utilizados, bem como sobre
renováveis do oceano, o transporte maríti- mento de custos para o uso adequado e a importantes requerem que remessas se- processos que potencializem a produção
mo e as operações portuárias, bem como manutenção dessas instalações, conferem jam feitas ao exterior, para a realização de de moléculas bioativas.
.
grada e urgente a questão do lixo no mar Associação Instituto Nacional de Pesquisas bros do CF será indicado pelo MCTI; e
4.9. Objetivo 9
e dos poluentes emergentes, muitos deles Oceânicas (OS-INPO), entidade privada sem Conselho Científico (CC), que será
Apoiar sistemas públicos de gestão de origem terrestre, e com severo impacto fins lucrativos, atendeu aos requisitos neces- constituído de 17 membros, sendo nove
de riscos e prevenção de desastres na- sobre o ambiente marinho, ressaltando-se, sários para que a referida associação fosse indicados pelo Poder Público e ratificados
turais e antrópicos no mar. mais uma vez, a gravidade da presença de qualificada como OS, estando estruturada pelo CA e oito representantes da sociedade
Dentre os objetivos estratégicos estabe- nano, micro e macroplásticos que são se- pelos seguintes Conselhos superiores: civil designados pelo CA, dentre personali-
.
de modelos e aprimoramento de protocolos e as atividades econômicas nos centros ur- da comunidade a ser atendida pela OS; nível médio. Considerando a necessidade
voltados para os aspectos mais prementes banos costeiros. O transporte marítimo e as Conselho Fiscal (CF), que será consti- de uma estrutura mínima e eficiente, as ati-
referentes à poluição marinha (detecção, operações portuárias também podem ser tuído de três membros, tendo o objetivo, vidades administrativa-financeiras contarão
monitoramento, mitigação e remediação), impactados e estudos em curso sobre distin- dentre outros previstos no Estatuto, de com a participação de cinco fundações de
sempre de forma coordenada com a Com- tos aspectos marítimos associados a portos opinar sobre os balanços e relatórios de apoio que formalizaram o Acordo de Par-
TecPolÓleo, conforme expresso pela Portaria nacionais podem ser apoiados pela OS-IN- desempenho financeiro e contábil e sobre ceria com a associação INPO, sob a respon-
313/MB, em seu Artigo 3º, Inciso V. PO. No que concerne à segurança alimentar, as operações patrimoniais realizadas, emi- sabilidade direta da Coordenação Adminis-
Sendo assim, a OS-INPO continuará florações de algas nocivas podem impactar tindo pareceres para o Conselho de Admi- trativa-Financeira e Captação da OS.
preconizando e aprimorando mecanismo áreas de maricultura e trazer riscos severos à nistração. Tendo em vista que a autoridade A minuta de Organograma da OS-INPO
de coordenação e articulação inclusivo, biodiversidade e à população humana. supervisora do Contrato de Gestão a ser encontra-se expressa na Figura 3.
.
Conselho de
perados, onde se destacam: mento científico nacional estará diretamen-
Administração o aporte de conhecimento científico e te vinculada aos grupos de pesquisa e in-
Conselho Científico tecnológico em áreas prioritárias para a fraestrutura laboratorial das universidades
Diretor-Geral sociedade, tais como prevenção de de- e centros de pesquisa, públicos e privados.
sastres, a partir de monitoramento oce- Em função disso, a considera na sua estra-
Assessoria ânico contínuo de variáveis relevantes, tégia de governança a Rede de Pesquisa,
Comunicação Coordenação de Diretor de Operações
Infraestrurura (Logística,
desenvolvimento sustentável e seguran- Inovação e Infraestrutura (RPII), que inclui
Navios e Lab Embarcados ça alimentar, contribuindo assim para o lideranças científicas, laboratórios especia-
Assessoria Monitoramento Oceânico
Jurídica
avanço da nova fronteira socioeconômi- lizados, INCTs, sociedades técnico-científi-
e Gestão de Riscos
ca: a ECONOMIA AZUL; cas e empresas parceiras que comporão a
.
Coordenação
Administrativa-Financeira a redução de custos operacionais, com massa crítica que atuará em conjunto com
Assessoria de Relações Empreendedorismo e
e Captação
Institucionais e Inovação o aumento da capacidade de atuação co- a OS-INPO em suas ações.
Internacionais ordenada de projetos a serem executados Ressalta-se a necessidade de aprofundar
Capacitação e Cultura simultaneamente, sobretudo em campa- o conhecimento sobre todo o processo que
Rede de Fundações Parceiras Oceânica
nhas oceanográficas, bem como o apoio pautará as ações a serem desenvolvidas
à infraestrutura laboratorial, por meio de pela OS-INPO, quais foram as suas princi-
Comitê gestor do RPII
Quadro Científico uma gestão integrada entre estes projetos pais motivações, quais são os impactos
Rede de Pesquisa, Inovação e Infraestrutura - RPII
e suas demandas de coleta e aquisição de previstos e decorrentes de sua criação para
dados e amostras de múltiplos usos. Den- todos os setores envolvidos com as ciências
Fonte: elaborado pelos autores
tre esses projetos, destaque para aqueles do mar no Brasil, bem como a identificação
6. Perspectivas futuras com a implementação da OS-INPO voltados à proposição de soluções para mi- sobre como será o delineamento de con-
tigação e adaptação das mudanças climáti- tribuições futuras a setores estratégicos no
.
Vislumbra-se, com clareza, o interesse sores. Isso se soma às novas iniciativas de cas, bem como à poluição marinha; País. De antemão, estima-se que a OS-IN-
da OS-INPO no apoio ao setor de Inovação órgãos internacionais, visando a limitação em todo tempo, a indução à INOVAÇÃO, PO terá potencial para a indução de novas
para a pesquisa oceânica, cuja contribuição do aquecimento global a níveis próximos em face às oportunidades identificadas e empresas de base tecnológica (start-ups) e
.
é ainda bastante modesta, na busca por de 1,5 oC. A inserção nacional no esforço oriundas dos recursos oceânicos; e que poderá conduzir ações em cooperação
soluções nacionais aos desafios relaciona- global de descarbonização da economia primordialmente, a criação de um am- com os setores empresariais e a academia.
dos ao Atlântico sul. poderá gerar oportunidades nas ativida-
A importância da interlocução entre ór- des de base tecnológica desenvolvidas no 7. Conclusão
gãos governamentais que regulam as ativi- mar. Nesse contexto, as energias renová-
dades econômicas na zona econômica ex- veis no oceano, incluindo a eólica offshore, Para além da pluralidade de interpreta- Tropical, a fim de reduzir a vulnerabilidade
clusiva e a área científica e tecnológica, de apontam para novas possibilidades na ge- ções e inspirações sobre as incertezas do econômica e social no Brasil, decorrente
forma a subsidiar as decisões e políticas pú- ração elétrica, na produção de hidrogênio futuro e o futuro das incertezas no univer- de eventos extremos e dos impactos da
blicas desses órgãos, é uma das mais impor- verde e na dessalinização da água do mar. so científico das ciências do mar, o que se variabilidade do clima e da ação antró-
tantes externalidades positivas da OS-INPO. Projetos inovadores e de elevado conte- espera das ações que estarão a cargo da pica no mar. Esta nova base de conhe-
A eficiência desse relacionamento poderá údo tecnológico serão fomentados, em OS-INPO, em parceria com os setores de cimento deverá ser capaz de subsidiar e
representar ganhos econômicos e sociais particular, aqueles que se caracterizam inovação existentes no País, é a expansão otimizar a transição de uma Economia
relevantes para o país, com a agregação de como exemplos de economia circular. A da base do conhecimento sobre os oce- do Mar para uma Economia Azul na-
empregos de qualidade em setores promis- possibilidade de se implementar projeto anos, com ênfase para o Atlântico Sul e cional. Para tal, será necessário apoiar
1. Introdução
Os diferentes usos dos recursos do mar Brasil? Quais são as atividades predomi-
e suas atividades correlatas são importantes nantes? O Modelo Insumo-Produto (MIP)
estratégias para o crescimento e desenvolvi- foi escolhido para atender aos objetivos
mento econômico sustentável das nações. almejados pelo trabalho resultando na Ma-
Para tanto, é necessário a devida identifica- triz Insumo-Produto Brasileira do Mar 2018,
ção da contribuição econômica, por meio doravante denominada MIP Br Mar 2018.
de quantificação de seus usos, e os estudos A crescente demanda pelos recursos
nesta área são uma tendência mundial por costeiros-marinhos impõe a relevância de
diversos motivos, entre eles: (i) aumento identificar o PIB do mar e costeiro como
da procura de recursos ambientais cos- um indicador de contribuição dos usos
teiros para a sobrevivência humana, pro- ofertado pelo recurso natural para a eco-
teção costeira, recreação e climatização; nomia, além de ser um indicador relevan-
(ii) crescimento populacional global e eco- te de crescimento econômico que pode
nômico (pressão sobre todo o ambiente apoiar e direcionar a formulação de políti-
costeiro); (iii) conservação do ecossiste- cas públicas e investimentos.
ma marinho (HEINRICH BÖLL, 2017); (iv) Para isso, o capítulo está dividido em
governança de recursos e usos nas Zonas mais quatro seções, além da introdutória.
Econômicas Exclusivas. A próxima seção apresenta algumas carac-
Assim, no tocante à realidade Brasileira terísticas geográficas e econômicas dos Es-
o presente capítulo intenciona apresentar tados costeiros e municípios defrontantes
um panorama e discutir a contribuição eco- ao mar. A terceira seção apresenta os resul-
nômica do mar e da costa nacional. Logo, tados mensurados e os discute no contexto
as principais perguntas que se pretendem da economia costeira e marinha Brasileira.
responder são: Qual é a contribuição da A quinta e última seção apresenta as consi-
economia relacionada ao mar para o derações finais do trabalho.
568 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL O Brasil do Mar e da Costa 569
Tabela 1 – Região do país, Estado costeiro, quantitativo de municípios defrontantes Gráfico 1 – População estimada total dos municípios de-
ao mar e população total estimada nos anos de 2015, 2018 e 2020 frontantes ao mar, por Estado, nos anos de 2015, 2018 e 2020
572 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL O Brasil do Mar e da Costa 573
3. O Brasil do Mar e da Costa Marinha apresentou maior crescimento jacentes ao Mar (20%). A participação do
percentual no PIB (35%). Uma variação PIB do Mar e da Costa na economia Brasi-
A metodologia utilizada na obtenção a economia do mar (3,0% do PIB nacional menos pronunciada ocorre em relação à leira nos anos de 2015 e 2018 é apresenta-
dos dados da economia do mar e costeira em 2018 ante a 2,6% em 2015); (ii) Adjacen- economia costeira, ou seja, no escopo Ad- do no Gráfico 2.
para o ano de 2018 foi o Modelo Insumo- te ao Mar, relacionado indiretamente com a Gráfico 2 – Participação do PIB do Mar e da Costa na economia nacional – 2015 e 2018
-Produto. No presente caso, apresenta-se a economia do mar, ou seja, pertinente a eco-
segunda MIP Br Mar, uma vez que a pri- nomia costeira2 (em torno de 16,5% do PIB
meira contabilizou os dados referentes ao nacional nos anos pesquisados). Cabe ressal- 2015 2018
ano de 2015. tar que no anexo A encontram-se as ativida-
des do escopo Dimensão Marinha (Tabela
3.1 Produto Interno Bruto do Mar e A.1), que se constituem as mais importantes
da Costa Brasileira desta porção da economia por apresentarem
alta dependência do recurso natural.
Identificou-se um crescimento no in- Para melhor visualização da evolução do
dicador para os anos apontados, embora indicador, a Tabela 4 desagrega em setores.
modesto: Assim, observa-se que: (i) Dimen- Na comparação dos valores entre os Mar Mar
são Marinha, relacionada diretamente com anos de 2015 e 2018, o escopo Dimensão Outros Setores Outros Setores
Fonte: Elaborado pela autora
Tabela 4 - Produto Interno Bruto do Mar
No ano de 2018, a fatia representativa períodos instáveis, conforme ilustra o Grá-
e da Costa Brasileira
das atividades relacionadas direta e indire- fico 3. O PIB nacional apresentou queda
Setor PIB (bilhões) 2015- tamente ao mar registrou 19,5% de par- expressiva em meados do ano de 2014,
2015 % Mar 2018 % Mar 2018 ticipação na economia nacional (0,6 p.p apontando os decréscimos na atividade eco-
acima do ano de 2015). Antes de entrar nômica e mercado de trabalho, elevação da
Recursos Vivos do Mar 10,768 1,0 18,501 1,4 0,72
nas análises propriamente ditas do PIB do inflação e juros nos anos seguintes.
Energia do Mar 16,790 1,5 49,437 3,6 1,94 Mar e a desagregação setorial, é preciso O ano de 2015 foi marcado por uma
Manufaturas do Mar 38,083 3,4 27,298 2,0 -0,28 ressaltar que a economia brasileira atravessa profunda recessão no país; o PIB recuou
(%)
Variação(%)
Secundários Adjacentes ao Mar 173,472 15,5 191,213 14,0 0,10 3,0
3,0
2 1,8
1,8
Variação
2 1,9
1,9 1,3
1,3
1,4
1,4
Terciários Adjacentes ao Mar 762,717 68,2 937,505 68,7 0,23 0,5
0
0
Adjacentes ao Mar 960,080 85,9 1152,67 84,4 0,20 2010
2010 2011
2011 2012
2012 2013
2013 2014
2014 2015
2015 2016
2016 2017
2017 2018
2018 2019
2019 2020
2020
-2
-2
Total 1117,56 100 1365,05 100 0,22 -3,3
-3,3
-4
-4 -3,5
-3,5 -4,1
-4,1
Participação na economia nacional 18,9 19,4
-6
-6
Fonte: Elaboração com metodologia proposta por Carvalho (2018)
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados do IBGE (2021)
574 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL O Brasil do Mar e da Costa 575
3,5% em relação ao ano anterior. O com- do Mar 2018 sugere a captação da variação Podemos notar que o padrão setorial setor de turismo e lazer com belas praias
portamento do PIB nos anos de 2017 e negativa citada, pois tem ênfase nas cons- do ano de 2015 se repete parcialmente banhadas pelo Oceano Atlântico.
2018 esboçou discreta evolução positiva, truções relacionadas ao mar, entre outros em 2018. O setor Serviços do Mar conti- Ainda no que diz respeito aos seto-
sugerindo uma recuperação gradual da segmentos econômicos. Em contraste ao nua com pronunciada participação (6,1%) res que tiveram a participação na eco-
economia, que não se sustentou nos anos setor industrial, encontra-se o setor de servi- e crescimento vigoroso no período (37% nomia do mar e costeira intensificada,
seguintes, sendo agravada pela pandemia ços, apontando sucessivos crescimentos nos no período 2015-2018), assim como a vale destacar o setor Energia do Mar
de covid-19 em 2020. segmentos de transportes e atividades imo- concentração (68,7%) nas atividades (de 1,5% para 3,6%) atualmente, rela-
De acordo com os dados oficiais brasilei- biliárias – da mesma forma, acredita-se que terciárias desenvolvidas nas adjacências cionado principalmente aos recursos da
ros, no ano de 2015 o segmento econômi- os resultados exibidos na MIP Br Mar, Ta- do mar (crescimento de 23% no mesmo exploração de petróleo e gás offshore.
co nacional que apresentou crescimento foi bela 4 ano de 2018, estejam captando tais período). Ou seja, a economia relaciona- Na comparação da produção nacional de
o setor agropecuário. De fato, a MIP Br Mar achados, já que os setores Serviços de Mar e da – direta e indiretamente – ao mar está petróleo entre os anos de 2010 e 2020
no ano de 2015 mostrou que a economia do Terciários Adjacentes ao Mar apresentam ro- imbuída por atividades de turismo, outras os valores apresentaram crescimento de
mar e costeira era comparável ao setor agro- bustas participações, assim como variações categorias de transporte, alojamentos e 43,5% – 1.076,0 ante a 749,9 mil barris
pecuário brasileiro (responsável por quase positivas no período analisado. alimentação, entre outras. (Gráfico 5). Ao observarmos a produção
20% do PIB nacional) com atores incorpora- Embora não muito expressivo, o au- Carvalho (2018) aponta que o setor de nacional entre os anos de 2015 e 2018,
dos a jusante e a montante de suas cadeias mento na participação das atividades rela- turismo é muito desenvolvido no Brasil, a nota-se crescimento de 6,1% – 944,1
produtivas (CARVALHO; MORAES, 2021). cionadas ao mar no PIB nacional é impor- maior parte de seu território mantém tem- ante a 889,6 milhões de barris. É interes-
Ao longo do ano de 2018, entre os se- tante, pois remonta a um período de maior peraturas em torno de 30 ºC durante todo sante desagregar segundo a localização
tores produtivos nacionais, cabe destaque deterioração na atividade econômica e no o ano. Quase 20% da população nacio- da produção do petróleo no período. A
o setor industrial registrando queda no mercado de trabalho. nal está localizada na orla marítima, e 120 produção em mar registrou um aumento
desempenho3. Nele, o segmento da cons- Na decomposição do PIB do Mar e da (43%) municípios defrontantes ao mar es- de 8,7% – 903,3 ante a 831,2 milhões de
trução registrou a maior variação negativa Costa, pode-se dizer que dos 9 setores, tão localizados em regiões metropolitanas barris. De forma distinta, a produção em
– o resultado referido levanta a hipótese apenas 2 registraram variação negativa – ou aglomerações urbanas. Assim, o turista terra registrou queda de 30,4% – 40,6
de que o mesmo esteja ocorrendo no setor Manufaturas do Mar e Transporte do Mar encontra uma infraestrutura urbana de- ante a 58,3 milhões de barris no mesmo
Manufatura do Mar (MMar) em compara- – ao comparar o desempenho do referido senvolvida, especialmente um poderoso período (ANP 2019; 2021).
ção ao ano de 2015 (Tabela 4). Ou seja, a indicador entre os anos de 2015 e 2018
queda do setor MMar na participação do PIB (Gráfico 4).
Gráfico 5 – Evolução da produção do petróleo entre os anos
Gráfico 4 – Variação do PIB do Mar e da Costa entre os anos de 2015 e 2018 de 2010 a 2020 em mar e terra
1.200.000
1.200.000
0,23
0,00 0,10 800.000
800.000
1,94 0,21
0,37
(barris)
mil(barris)
-0,28 600.000
600.000
-0,20
mil
400.000
400.000
0,72
200.000
200.000
Terra
Terra
Mar 00
Mar
BR 2010
2010 2011
2011 2012
2012 2013
2013 2014
2014 2015
2015 2016
2016 2017
2017 2018
2018 2019
2019 2020
2020
RMar EMar MMar TMar SMar DMar PAM SAM TAM BR
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da ANP (2019; 2021)
Fonte: Elaborado pela autora
de3 m3
magnitude do aumento no pré-sal passan- 35.000,0
sim, é deveras importante apontar o re-
25.000,0
de m
30.000,0
corte por produção proveniente exclusiva- do de 280,0 milhões de barris para 521,5
milhões
25.000,0
mente do mar – foco da MIP Br Mar – em milhões de barris (crescimento de 86,2%) 20.000,0
milhões
20.000,0
que as diferenças na taxa de participação entre 2015 e 2018. (ANP, 2021). 15.000,0
15.000,0
10.000,0
10.000,0
5.000,0
5.000,0
-
2010
2010 2011
2011 2012
2012 2013
2013 2014
2014 2015
2015 2016
2016 2017
2017 2018
2018 2019
2019 2020
2020
Gráfico 6 – Evolução da produção de petróleo nas camadas
Brasil
Brasil Terra
Terra Mar
Mar
pré e pós-sal entre os anos de 2015 e 2018
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANP (2019; 2021)
600.000
600.000
Direcionando a análise para os anos de Embora o Brasil esteja entre os maiores
500.000
500.000
2015 e 2018, a produção nacional de gás produtores de P&G do mundo, o Instituto
natural apresentou crescimento de 16%. Brasileiro do Petróleo (IBP, 2020) cita que
400.000
400.000 Desagregando por localização, observa-se o país deve aproveitar todas as suas fon-
que a produção advinda do mar apresenta tes de energia, explorando estratégias de
mil(barris)
barris
300.000
300.000
valores significantemente acima dos campos descarbonização e transição energética.
mil
200.000
200.000
localizados em terra. Ou seja, no mar em Esses são desafios existentes, pois o mun-
2018 a participação nacional foi de 80,4% do continuará consumindo petróleo e gás,
100.000
100.000 ante a 76,1% em 2015; já em terra no ano mas com maior preocupação em reduzir e
de 2018, obteve-se participação de 19,6% compensar as emissões de carbono (CAR-
-
2015
2015 2016
2016 2017
2017 2018
2018 ante a 23,9% em 2015 (ANP 2019; 2021). VALHO; MORAES, 2021).
Pré-sal
Pré-sal Pós-sal
Pós-sal
Na comparação entre os resultados dos Além do setor supracitado, a extração de
campos marítimos localizados no mar, o recursos vivos registrou aumento de parti-
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da ANP (2021) padrão encontrado na produção de petró- cipação na economia relacionada direta e
leo se repete. Ou seja, no pré-sal (30,2% indiretamente ao mar (de 1,0% para 1,4%)
em 2015 e 51,4% em 2018) e no pós-sal no mesmo período. De acordo com a esta-
(45,9% em 2015 e 29,0% em 2018) per- tística pesqueira mundial publicada pela FAO
mitindo dizer que o pré-sal assume a li- (2020), a importância dos países em desen-
O Brasil obteve a 10ª posição no Algo semelhante ocorreu na produ- derança na produção em comparação ao volvimento como consumidores de pescado
ranking dos países maiores produto- ção nacional de gás natural entre o perí- pós-sal a partir do ano de 2016 (Gráfico 8). tem aumentado constantemente refletindo
res de petróleo; em 2018 e em 2020 odo analisado. Na comparação entre os Registra-se que em 2018 o Brasil passou a urbanização e a expansão da classe média
subiu para a 9ª colocação no referido anos de 2010 e 2020, os valores apre- para 31ª posição e em 2020 para 30ª posi- consumidora de pescado. Contudo, avaliar
ranking mundial (CBIE, 2020; ANP, sentaram crescimento de 103% – 46,6 ção no ranking mundial de produtores de a participação brasileira dentro deste merca-
2019; 2021). ante a 22,9 milhões de m3 (Gráfico 7). gás natural (ANP, 2019; 2021). do é complexo, em especial pela lacuna de
578 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL O Brasil do Mar e da Costa 579
dados oficiais de produção (captura e aqui- pescado e alavancar o mercado domésti-
Gráfico 8 – Comparação da evolução da produção de gás natural cultura) à FAO desde o ano de 2014. co. Ou seja, “possui alta disponibilidade
nas camadas pré e pós-sal entre os anos de 2015 e 2018 A Figura 2 mostra que a produção de mão de obra, características ambien-
brasileira por captura e aquicultura cres- tais propícias à produção em mar aberto
25.000
25.000,0
ceram no comparativo 2015/2018. Xime- e localização estratégica para escoamento
nes (2021) aponta que o Brasil reúne as da produção para o Cone Sul, Europa e
20.000
20.000,0 condições de se tornar grande produtor de EUA” (XIMENES, 2021, p. 2).
de m33
15.000
milhõesde
15.000,0
milhões
10.000
10.000,0
rando os anos apontados: (i) Dimensão ra4 (em torno de 17,6% das ocupações
Marinha, relacionada diretamente com nacionais nos anos pesquisados). Des-
5.000
5.000,0
a economia do mar (2,2% da ocupa- tacando que os valores compreendem
ção nacional em 2018 ante a 2,1% em trabalhadores formais e informais, a Ta-
00
2015
2015 2016
2016 2017
2017 2018
2018 2015); (ii) Adjacente ao Mar, relacionado bela 5 desagrega os referidos escopos
Pré-sal
Pré-sal Pós-sal
Pós-sal indiretamente com a economia do mar, em setores.
2000
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
1200,000
2015 2018
20,05% 19,86% 1000,000
800,000
600,000
79,95% 80,14%
400,000
Mar Mar
Outros Setores Outros Setores 200,000
2015 2018
No ano de 2018, registrou-se 19,8% apresentaram recuo nas ocupações na
de participação na ocupação nacional comparação 2015-2018.
Fonte: Elaboração própria
(0,19 p.p do ano de 2015). O Instituto O Gráfico 10 ilustra a comparação do
de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) ano de 2015 e 2018 da produtividade
aponta que o mercado de trabalho apre- por setor do escopo Dimensão Marinha
sentou até o período da análise (referente – ressaltando que os setores que formam 5. Conclusões
ao período de 2015 a 2018) uma trajetó- o referido escopo constituem-se os mais
ria de lenta recuperação, refletindo o bai- importantes da economia relacionada ao Iniciativas que visam ao reconhecimento classificados empregaram, entre formais
xo dinamismo da economia brasileira. mar por apresentarem alta dependência da contribuição, dimensionando a partici- e informais, perto de 21 milhões de pes-
Vale destacar duas situações dentre do recurso natural. pação do mar para a economia nacional, soas, gerando mais de R$ 530 bilhões em
outras que o Cadastro Geral de Emprega- A produtividade mede o grau de eficiên- ainda são recentes no Brasil, apesar de salários. A demanda final dos setores foi
dos e Desempregados (CAGED) apud IPEA cia com que determinada economia utiliza apresentar umas das maiores extensões estimada em R$ 1,5 trilhão.
(2019) retrataram no ano de 2018, sejam seus recursos para produzir bens e serviços costeiras do mundo. Focando no escopo Dimensão Ma-
eles: i) o setor de serviços foi grande ge- de consumo (MESSA, 2013). No presente Desta forma, o presente capítulo joga rinha, o mais importante da economia
rador de emprego na economia brasileira; caso, o Gráfico 10 ilustra a produtividade luz à temática respondendo às perguntas relacionada ao mar, outros dois setores
ii) a indústria de transformação registrou do trabalho entre os diferentes setores rela- norteadoras relativas à contribuição da se destacaram no ano de 2018 com au-
fraca geração de emprego. É interessan- cionados diretamente ao mar nos anos de economia relacionada ao mar para o Brasil mentos substanciais na participação to-
te notar que entre os setores apontados 2015 e 2018. Assim, os setores de energia e suas atividades predominantes. A eco- tal: Energia do Mar e Recursos Vivos do
na Tabela 5 os relacionados ao Serviços do mar, extração de recursos vivos e defe- nomia do mar e costeira nacional atinge, Mar. O Brasil é um expoente mundial na
do Mar e Terciários foram os maiores sa do mar são aqueles que combinam po- no ano de 2018, 19,5% de participação produção de petróleo e gás, com ênfase
empregadores e apresentaram variações tencial de renda e níveis de produtividade no PIB nacional (0,6 p.p acima do ano de ao oriundo da camada pré-sal. Quan-
positivas mais acentuadas, na compa- importantes para alavancar a geração de 2015), e tem como atividade predomi- to aos Recursos Vivos, o Brasil no ano
ração 2015-2018. Por outro lado, os se- empregos qualificados, com vocações dis- nante o setor Serviços do Mar, com desta- de 2018 ainda experimentava a maior
tores Manufatura do Mar e Secundários tribuídas para todas as regiões Brasileiras. que para o turismo. Para mais, os setores produção pesqueira advinda da captura.
1. Introdução
5,0
O escritor Júlio Verne, ainda no sécu- possibilidades de melhoria substancial no
2,5 lo 19, imaginou viagens interplanetárias e desempenho dos produtos e na integração
0,0 também viagens ao fundo do mar. Aquilo da indústria. Aventuras, portanto, sempre
que não era o meio natural da humani- geram conhecimentos significativos e solu-
-2,5 dade sempre desafiou a imaginação, bem ções novas: o meio natural nos proporcio-
-5,0 como encorajou os mais ousados a pensa- na desafios para serem vencidos através de
1932
1937
1942
1947
1952
1957
1962
1967
1972
1977
1982
1987
1992
1997
2002
rem soluções para tornarem viáveis aquilo soluções engenhosas.
que era tão somente ficção. A raça huma- De outra parte, os atores envolvidos na
na, dentro de seu grau de inteligência e missão eram nações que do ponto de vista
PIB 10 por. Méd. Móv. (PIB)
persistência, sempre encontrou soluções econômico e tecnológico, na melhor das hi-
para seus desafios. póteses, estavam no mesmo nível do Brasil
Ainda em 2021, três missões espaciais há 40 anos, muito provavelmente atrás. A
Fonte: Publicado em Carvalho e Lima (2009) a partir de dados do IPEADATA
chegam a Marte, usufruindo, entre ou- realidade geopolítica muda em quatro dé-
tros aspectos, da proximidade recente do cadas e somos apanhados em inferioridade
A primeira alternativa é o capital priva- de receitas, reconhecidamente regressivas, planeta vermelho à Terra. O congestiona- frente a nações que direcionaram recursos
do. Este segmento nunca foi relevante no e no perfil de despesas, e quem os gastos mento de naves espaciais em Marte chama aos objetivos que as obrigam a revolucio-
Brasil, parte pela ausência de educação fi- com o resgate do passado, previdência, as- atenção pelos países envolvidos: Estados nar tecnologias. Para o Brasil, alcançá-las
nanceira, sobretudo relacionada a seguros sistência social e trabalho, ocupam parcela Unidos, China e Emirados Árabes, uma lista nesse momento é muito difícil pela defa-
e previdência, fundos emprestáveis a longo desproporcional, ainda que sejam necessá- que há 2 décadas seria difícil de imaginar e sagem e pela ausência de recursos frente
prazo, mas também pela renda per capita rios, em relação a gastos produtivos, volta- há 4 décadas seria simplesmente impensá- a setores público e privado que pouco in-
baixa, consequência da pequena produti- dos ao futuro, como educação e saúde. vel. O fato nos convida a pensar sobre o vestem em tecnologia. Nessas condições,
vidade e qualificação da mão de obra. É A terceira e última alternativa em objetivo e sobre os atores envolvidos. recomenda-se que o Brasil persiga objetivo
urgente que essa agenda apareça no pla- consonância com a história brasileira é o A conquista espacial, por muitos con- distinto, evitando a competição aberta e
nejamento da economia brasileira, via qua- financiamento externo: a atração de ca- siderada inútil, em realidade é um desafio focando seus recursos em áreas onde ain-
lificação do mercado de trabalho, mas para pitais, especulativos ou produtivos, neces- gigantesco e que exige soluções tecnoló- da há espaço para o desenvolvimento de
as próximas décadas é improvável qualquer sita uma correspondência com produtos e gicas em várias dimensões para ser viabili- ganhos significativos.
choque representativo nessa dimensão. instrumentos que qualifiquem, remunerem zada: softwares, materiais, comunicações, Além da conquista espacial, o outro
A segunda alternativa é o financiamen- e gerem uma expectativa de retorno con- produção de imagens, eletrônica etc., um meio não natural ao homem e que nos
to pelo setor público. Desde o problema dizente com a estrutura capitalista inter- sem-número de campos tecnológicos e de desafia são os oceanos. Para obter-se co-
do endividamento externo, o setor público nacional. Significa dizer que a economia soluções integradas para colocar um sa- nhecimento do oceano e realizar a sua ade-
brasileiro tem dificuldade de equilibrar-se brasileira seria atrativa não apenas por sua télite em outro planeta. Essas tecnologias quada exploração é necessária uma carga
na atual estrutura de receitas e despesas. estrutura e potencial de produção e con- são testadas nas viagens interplanetárias e de tecnologia que rivaliza com a tecnolo-
Parece-nos que há um problema de captura sumo, mas também por ofertar segurança aplicadas no cotidiano e na vida civil com gia espacial. Há desafios como a pressão
de de instrumentos nacionais já existen- tável e coordenação entre as diferentes
tes, ainda assim cabe identificar as iniciati- nações, haja vista que os efeitos na região Fundos Setoriais Fintechs
vas internacionais de sucesso que podem de uma ação podem ser sentidas em vá-
ser reproduzidas no contexto nacional. Em rias comunidades e nações (MATHEW;
particular, destacaremos 4 experiências in- ROBERTSON, 2021). É relevante notar a
ternacionais ligadas exclusivamente ao fi- participação do financiamento de portos
nanciamento das atividades oceânicas. com design sustentável, em que cargas
A primeira é o programa Pro Blue do de alta periculosidade e terminais petro-
World Bank, iniciado em 2018, que visa, líferos recebem uma gestão de risco com Venture Capital, com Venture Capital, com
no seu objetivo principal, ao desenvolvi- investimento superior à própria despesa risco diversificado risco acentuado
mento sustentável da economia do mar, com equipamentos, implantando uma
sobretudo em economias emergentes. A política de responsabilização e gestão
seleção acontece através de projetos e os paralela à introdução de equipamentos
fundos do World Bank são acompanha- (TIRUMALA; TIWARI, 2020).
dos de consultoria técnica especializada Uma terceira iniciativa é localizada em
para garantir o sucesso do empreendi- Seychelles, no Oceano Índico, ao largo da Carteiras de bancos
mento (SATIZÁBAL; DRESSLER; FABINYI costa da África, onde o governo local, em de investimentos Índices Setoriais
et al., 2020; McFARLAND, 2021). Em vá- parceria com o World Bank, lançou os cha- privados referenciados
rios sentidos, encontra paralelo em ou- mados Blue Bonds, ou “Títulos Azuis”, ga-
tras linhas da instituição, como os fundos rantidos pelo órgão multilateral, mas ge-
voltados para o saneamento básico ou ridos pelo governo local (KEMPER, 2019;
para a educação. MATHEW; ROBERTSON, 2021). A aquisi-
O programa do World Bank, em bases ção desses títulos é a garantia de que são
permanentes, é também o primeiro a ser investidos no setor oceânico, central para
desenhado por uma instituição multilate- o desenvolvimento da nação. Mas como se
Emissão de títulos
ral (NAGIBA; HSING; HUANG; TANAKA, trata de uma pequena nação, que arrecada Carteiras de bancos de
públicos com
2021; McFARLAND, 2021) e sua recente poucos tributos e cujos títulos são pouco investimento públicos
garantias próprias ou
aplicação demonstra que a iniciativa pode recomendados no mercado internacional,
de terceiros
ser reproduzida por outros bancos de in- o World Bank garante a emissão dessa dí-
vestimento localizados no Brasil, como o vida, com resgate a longo prazo (KEMPER,
BNDES, o BRDE, o BNB e o BASA. 2019; McFARLAND, 2021).
Seguindo a mesma tradição de insti- Essa fórmula em que a garantia dos
tuições multilaterais colaborando para o títulos, prazo de resgate e administração
financiamento das atividades oceânicas, dos fundos é compartilhada indica uma Fonte: Elaborado pelos autores
o Asian Development Bank em 2019 lan- possibilidade para governos subnacionais
çou linhas de crédito voltadas para a Ásia ao redor do mundo, mas especialmente
e o Oceano Pacífico (NAGIBA; HSING; aos estados e municípios brasileiros. Na
HUANG; TANAKA, 2021). Como região de medida em que muitos deles são econo
forte impacto oceânico, em transportes, mias significativas, mas com credibilidade
.
(2016). Segundo a Comissão Europeia
geração de valor, devendo estar conectado pação na gestão é fundamental. Para que
Circularidade da economia, no sentido (2021), se a economia azul global fosse um
ao território onde é desenvolvido (NICOLET- o modelo seja bem-sucedido, é necessário
da transformação de modelos lineares de país, seria a sétima maior do mundo, e o
TI; SCALETSKY; FRANZATO, 2018). que a região consiga definir três fatores:
produção para modelos circulares, desafio oceano, como entidade econômica, seria
O Design de Negócios Azuis (DNA) tem visão sobre o futuro desejável; estabelecer
que é transversal a todos os setores e espe- membro do G7, assegurando 4,5 milhões
sua matriz no design estratégico, contudo, um elenco de prioridades e implementar as
cialmente ao setor pesqueiro (conservação de postos de trabalho diretos com o cresci-
está atrelado aos ODS1 (Objetivos do De- ações mais adequadas.
e transformação) e das indústrias navais; mento de setores inovadores, como: ener-
senvolvimento Sustentável), principalmente
. Transição digital, desafio transversal a to- gia marítima renovável; bioeconomia azul;
biotecnologia e dessalinização (COMISSÃO
aos que têm grande aderência aos temas li-
gados às zonas costeiras e regiões oceânicas
3.1. Metodologia para aplicação do
design
dos os setores, estabelecidos e emergentes; EUROPEIA, 2021).
adjacentes, eliminação da pobreza e gera-
ção de renda. Sua definição é a proposição O Design de Negócios Azuis possui sua
3. Design de Negócios Azuis (DNA) de um conjunto de atividades econômicas origem em Barros (2007) e contém 4 (qua-
viáveis e emancipadoras, para os diversos tro) fases na sua execução, possuindo um
A dificuldade da gestão integrada dos fragilidades econômicas das relações entre espaços marinhos e costeiros, através caráter interdisciplinar através de um diálo-
espaços costeiros tem como base a dificul- os sistemas continental e oceânico adjacen- de um design de negócios inovador e go de saberes entre os diversos atores: aca-
dade dos órgãos governamentais, em suas tes, o que causam múltiplos conflitos sobre instigante, observando características dêmicos, governamentais e da sociedade
diferentes escalas, de articular, sistema- as dimensões econômicas, sociais, ambien- locais, o papel da política, inovação e o civil em um contexto de grupo focal. A me-
tizar e gerenciar informações que permi- tais e políticas nas estratégias nacionais meio ambiente, voltado, principalmente, todologia parte da análise histórico-espacial,
tam o conhecimento das potencialidades e de desenvolvimento. Sendo assim, foram para geração de emprego e renda. Uma considerando seus usos e conflitos de modo
.
bem de uso comum do povo, fundando tureza; A Escala; os Objetos e as Dinâmicas ou seja, aqueles que sentem os efeitos da neamento dos espaços costeiros deverão:
uma nova titularidade, fora da esfera do (Quadro 1). nova forma de usos de espaços. Para isso, é
Ter delimitação da área de atuação do
.
direito público e privado, que é o direito da Na prática dos conflitos, as classes do- importante um ordenamento do território
planejamento;
coletividade. Existe uma grande dificulda- minantes estabelecem suas estratégias de que avaliem esses usos, e um exemplo é o
Possuir o conhecimento da realidade so-
de em entender que a titularidade de uma ação, que, segundo Bourdieu (2004), ten- zoneamento ecológico-econômico.
cioeconômica e cultural da área de planeja-
.
das partes do conflito é a coletividade. O dem a reforçar a crença na legitimidade de
mento;
titular sempre é o grupo, e não as pessoas sua dominação, tanto dentro de sua classe 3.1.3. Fase III – Zoneamento ecológico-
Criar um diagnóstico dos fatores que po-
individualmente, embora umas possam se como fora dela. Os processos de apropriação econômico (ZEE)
dem facilitar e dificultar o desenvolvimento
Quadro 1: Modelo de identificação dos conflitos de usos
Elementos de Descrição do conceito
Segundo Salim e Melo (2004), o ZEE
é um instrumento político e técnico de
.
local;
Estabelecer um prognóstico que busca
antecipar os possíveis desdobramentos fu-
planejamento cujo objetivo é otimizar o
análise turos da realidade atual, que terá por obje-
uso do espaço e as políticas públicas. É,
Os atores
tivo identificar as oportunidades que a re-
Indivíduos, grupos, organizações ou o Poder Público sem dúvida, uma ferramenta de gestão
envolvidos no são movidos por interesses, valores e percepções próprias gião poderá oferecer no futuro e os fatores
.
para organizar as informações sobre o
conflito a cada um. exógenos que poderão constituir ameaças;
território, necessárias ao planejamento da
Selecionar as ações convergentes e articula-
Os que têm naturezas diferentes (campos do poder) ocupação racional e ao uso sustentável dos
A natureza das capazes de transformar a realidade atual.
econômica; política; socioambiental. recursos naturais. É um instrumento políti-
co para aumentar a eficácia das decisões O que Buarque (2002) propõe está bem
A escala Lugar, regional e global. políticas e da intervenção pública na gestão alinhado aos caminhos que a DNA percor-
do território e para criar canais de nego- re para propostas estratégicas de atividades
Os objetos Podem ser bens ou símbolos (material ou simbólica); ciação entre as várias esferas de governo e compatíveis com a Zona Costeira. Dessa
público ou privado; profana ou sagrado. a sociedade civil. O fator limitante desses forma, a próxima fase contempla as etapas
zoneamento ecológico-econômico são os finais, em que deverão ser apresentados
As dinâmicas As dinâmicas trazem em si as componentes históricas do
aspectos legais, os seja, deve-se compati- planos e projetos estratégicos de atividades
processo de apropriação e usos dos espaços; dos danos e
impactos ambientais.
bilizar as legislações gerais e específicas de econômicas alinhadas a um zoneamento
ordenamento territorial de modo a se evi- ecológico-econômico costeiro, bem como
Fonte: baseado nos modelos de Theodoro (2005) tar conflitos jurisdicionais. a mitigação dos conflitos de usos.
Áreas de Proteção e conservação (APC); Obs.: estas áreas deverão estar relacionadas à classificação Fonte: Elaborado pelos autores
pela CONAMA nº 357, que estabelece para essas atividades a classe 1 para águas salinas e salobras.
P – Fatores Políticos locais que po- regulamentação ambiental; gestão de re-
Áreas de uso econômico exclusivo (AUEE) Obs.: estas áreas deverão estar relacionadas à classificação
dem influenciar os negócios, são eles: síduos e efluentes; sustentabilidade; ade-
pela CONAMA nº 357, que estabelece para essas atividades a classe 2 para águas salinas e salobras.
mudança de governo; políticas gover- rência aos protocolos ou acordos para
Áreas de uso econômico intensivo (AUEI) Obs.: estas áreas deverão estar relacionadas à classificação
namentais; conflitos internos; relação redução de emissão de carbono; certi-
pela CONAMA nº 357, que estabelece para essas atividades a classe 1 para águas salinas e salobras.
público e privado etc. ficações visando à gestão sustentável.
Fonte: Barros (2007)
E – Fatores Econômicos que influen- L – Fatores Legais (regulatórios): Planos
ciam os negócios: geração de renda; Diretores, Zoneamentos Territoriais, Lei
4 - Plano estratégico para atividades econômicas compatíveis com a taxa de juros; câmbio; índices de preço; Trabalhista; Proteção do Consumidor;
zona costeira e oceânicas adjacentes sazonalidade de produção; economia Regulamentação e Normas do segmen-
local; índices de confiança; relações co- to específico; Órgãos regulatórios; Legis-
Um plano estratégico deverá alinhar e compatibilizar programas com objetivos merciais; nível de mão de obra; taxa de lação atual e tendências de mudança.
seu foco em ações futuras que gerem va- e metas, procurando otimizar projetos desemprego etc.
lor para o território, permitindo conciliar onde serão gerados os produtos de todo S – Fatores Sociais que influenciam os Importante esclarecer que os fatores aci-
metas de desenvolvimento econômico o planejamento. Os Projetos estratégicos negócios: expectativa de vida; cresci- ma são exemplificações, podendo entrar na
e de minimização às desigualdades so- (Design de Negócios Azul) deverão seguir mento populacional; taxa de natalida- análise de cada fator outros argumentos re-
ciais, aliado à conservação dos espaços o roteiro abaixo (Quadro 3): de; padrões de consumo; papéis sociais lacionados ao tema. As propostas das ativi-
naturais. Para se estabelecer um plano Os projetos estratégicos, alinhados por idade e gênero; cultura local. dades econômicas mais viáveis deverão ser
estratégico, os municípios costeiros de- em atividades econômicas, serão pro- T – Fatores Tecnológicos que influenciam transformadas em projetos estratégicos para
verão instituir o seu Plano Municipal de postos a partir dos impactos provocados os negócios: legislação em relação à tec- sua viabilidade ou aumento de sua poten-
Gerenciamento Costeiro, observadas as pelos fatores do acrônimo PESTAL, são nologia; maturidade tecnológica; tecno- cialidade naquele referido território costeiro
normas e diretrizes do Plano Nacional de eles: POLÍTICO, ECONÔMICO, SOCIAL, logias emergentes; pesquisa e inovação. conforme sua análise a partir da PESTAL.
Gerenciamento Costeiro, bem como seu TECNOLÓGICO, AMBIENTAL E LEGAL, A – Fatores Ambientais que influenciam Como exemplo, podemos citar o esta-
Plano Diretor. Ao plano cabe sistematizar exemplificados abaixo: os negócios: gestão de sustentabilidade; do do Rio de Janeiro, que aprovou a Lei nº
TECNOLÓGICO
mia do Mar, como estratégia de desenvolvi- avaliação de um grupo focal. Esta avaliação
ECONÔMICO
ECONÔMICO
AMBIENTAL
AMBIENTAL
mento socioeconômico do estado. Esta lei parte de uma análise qualitativa, em que o
TECNOLÓGICO
SETOR
SETOR ATIVIDADE
ATIVIDADE
POLITICO
ECONÔMICO
POLITICO
AMBIENTAL
estabelece uma lista com as principais ati- 0 (zero) representa que o fator é neutro, e
SOCIAL
SOCIAL
SETOR ATIVIDADE
LEGAL
TOTAL
TOTAL
LEGAL
POLITICO
vidades relacionadas à Economia do Mar e não tem relevância com a atividade propos-
SOCIAL
TOTAL
LEGAL
que foi a base para a matriz de avaliação do ta, até o valor 5 (cinco), onde o fator tem Captura ee processamento
Captura processamentodedepescado
pescadoe frutos
e frutos
DNA. Nesse contexto, o modelo DNA avalia total relevância (benéfica), ou até -5 (menos setor
setorde
depesca
pescae do
do mar
mar
Captura e processamento de pescado e frutos 0 3 3 0 -3 0 3
e aquicultura
aquicultura Atividades deaquicultura
aquicultura
as atividades econômicas fazendo um cruza- cinco), onde o fator tem total relevância ne- setor de pesca
Atividades
do mar de 3
0 33 3
3 30 -3 3
0 0 15
3
Comercialização
Comercialização depescado
de pescadoe frutos
e frutos
dodo mar;
mar; 03 33 33 03 00 0 6
mento com a PESTAL, de modo que o ges- gativa (adversa). Abaixo encontra-se o qua- e aquicultura Atividades de aquicultura 3 15
Atividades
Atividades de
de apoio
apoio à àextração
extração dede óleo
óleo e
e gásgás
tor possa ter um elenco de atividades que dro de análise qualitativa (Quadro 4). Comercialização de pescado e frutos do mar;
offshore 0 3 3 0 0 0 6
offshore de apoio à extração de óleo e gás
Atividades 0 5 1 -3 -5 0 -2
Exploraçãoeeextração
Exploração
offshore extraçãodedeóleo
óleoe gás
e gás natural
natural
Quadro 4: Avaliação qualitativa dos impactos offshore; 0 5 1 -3 -5 0 -2
offshore; e extração de óleo e gás natural
Exploração 5 5 1 -3 -5 0 3
setor
setor de
de óleo
óleo&& gás
gás
Atividades de
Atividades
offshore; de escoamento,
escoamento, transporte,
transporte,
5 5 1 -3 -5 0 3
5 IMPACTA MUITO POSITIVAMENTE setor de óleo & gás distribuição
distribuiçãode
Atividades ee processamento
natural offshore;
processamentode degás
escoamento, transporte,
gásnatural
1. Introdução
Hidratos de gás são sólidos com estru- gás (BOHRMANN; TORRES, 2006). Assim,
tura cristalina da família dos clatratos (do sem o suporte das moléculas aprisionadas,
latim clatratus = gaiola), formados por uma quando ocorre o degelo da molécula de
estrutura externa de moléculas de água (si- água, a grade estrutural se colapsa, libe-
milar à estrutura do gelo) que aprisionam rando a água o gás. Para sua estabilidade
em seu interior uma molécula de gás (Figu- é necessário um ambiente de baixa tempe-
ra X1). Hidratos de gás não são compostos ratura e alta pressão, condições facilmente
químicos, pois não há ligação molecular encontradas nas formações mais rasas pre-
entre a molécula de água e a molécula de sentes em águas oceânicas.
622 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 623
Hidratos de gás ocorrem nas regiões de de gás substituam progressivamente o gás baseadas nestes dados sísmicos desper-
permafrost (solos permanentemente conge- Figura X2: BSR (Bottom- natural (GRAULS, 2001), podendo fomen- taram o interesse pela área (estimado em
lados das regiões polares), e como resultado Simulating Reflector) – reflexão tar uma nova revolução energética. Segun- 780 tcf) (SAD et al. 1998).
da diagênese de sedimentos de lagos e ma- aproximadamente paralela do Kvenvolden (1993), 1m3 de hidrato de A confirmação da existência de hidratos
res profundos (> 500 m de lâmina-d’água), à reflexão do fundo do mar, gás metano contém 164 m3 de metano e de gás em território brasileiro (Bacia de Pe-
quando condições apropriadas de pressão, com polaridade invertida, 0,8 m3 de água, quando levado à superfí- lotas) só ocorreu com o desenvolvimento
temperatura e saturação de gás são encon- presumivelmente causada pelo cie (STP). Este número ele chama de fator do “Projeto CONEGAS: Origem, ocorrência
tradas. O equilíbrio físico-químicos destas contraste entre sedimentos de expansão do hidrato. Por outro lado, e caracterização de depósitos de hidrato de
estruturas pode ocorrer na coluna de água, sobrepostos contendo hidrato Sloan (2003) afirma que, se cada cavidade gás no Cone de Rio Grande, Bacia de Pelo-
na interface água-sedimento e nos poros de gás e sedimentos subjacentes estiver preenchida com uma molécula de tas”, (MILLER et al., 2015). Posteriormen-
dos sedimentos, caracterizando a zona de saturados de gás, devido à gás, 1m3 de hidrato contém 180 m3 (STP) te, em 2015, uma missão oceânica à Foz
estabilidade de hidratos de gás (gas hydrate diferença nas densidades. Indica de metano. A conclusão é que reservató- do Amazonas ratificou a ocorrência deste
stability zone, ZEHG – Figura 2). A liberação o limite inferior da zona de rios portadores de hidrato contêm mais recurso na área (KETZER et al, 2018). Tais
catastrófica de metano pela desestabiliza- estabilidade dos hidratos de gás, metano por m3 quando comparado com projetos foram desenvolvidos pela equipe
ção de tais depósitos devido às mudanças a ZEHG, onde os hidrocarbonetos o volume de gás livre no mesmo espaço do Instituto do Petróleo e dos Recursos Na-
climáticas globais que vêm sendo observa- ficam aprisionados em uma (KVENVOLDEN,1993). turais da PUCRS ao longo de uma década.
das pode apresentar uma retroalimentação estrutura sólida. No Brasil, estudos de detalhe sobre hi- Estas descobertas em território brasileiro
negativa nestes processos, acelerando tais dratos de gás são ainda incipientes, ape- despertaram a necessidade da realização
mudanças, pois a liberação instantânea des- sar de seu enorme potencial dada a gran- de pesquisas adicionais que fomentem o
tes gases aumenta o chamado efeito estufa. de área das bacias oceânicas brasileiras. entendimento de suas formas de ocorrên-
Adicionalmente, a desestabilização desses A existência de depósitos de hidratos de cia e o futuro aproveitamento deste recur-
depósitos representa um risco geológico, gás no país era, até o início deste século, so em outras bacias sedimentares, além
devido ao seu potencial para causar desliza- apenas fundamentada em evidências ou das conhecidas, as bacias de Pelotas e da
mentos, terremotos e tsunamis. marcadores indiretos, como a presença do Bacia da Foz do Amazonas (Figura X3).
A origem dos hidrocarbonetos para chamado BSR (Bottom Simulating Reflec- Além da sua importância como recurso
formação dos hidratos pode ser biogênica, tor) em seções sísmicas (FONTANA, 1989; energético, os estudos de hidratos de gás
resultante da ação de micro-organismos FONTANA; MUSSUMECI, 1994; SAD et al., também fornecem importantes informa-
metanogênicos nos sedimentos, termogê- 1997 e 1998). Este marcador consiste em ções sobre o ciclo do carbono na Terra e
nica, associada à migração de gás prove- um refletor sísmico paralelo ao fundo do as mudanças climáticas. As pequenas al-
niente de campos de hidrocarbonetos em mar (Figura X2), normalmente entre 200 e terações nas condições de temperatura da
profundidade, ou mista. Os gases mais 700 m de profundidade, causado pela mu- água dos oceanos podem, por exemplo,
comuns que formam hidratos são o meta- dança abrupta de impedância acústica na causar a dissociação e liberação de gran-
no, butano, propano e dióxido de carbono base da zona de estabilidade de hidratos des quantidades de metano e dióxido de
(MILLER et al., 2015). de gás (ZEHG) no maciço sedimentar, em carbono para a atmosfera. A desestabiliza-
Mesmo sendo uma substância pou- função da existência de uma zona com hi- ção maciça do sistema de hidratos de gás
co conhecida, os hidratos de metano são dratos de gás (acima) e uma zona com gás em uma determinada região pode também
abundantes nos oceanos de todo o mun- livre (abaixo) deste refletor nos sedimentos ocasionar grandes movimentos de massa
do. Estimativas conservadoras apontam (MACKAY et al., 1994). No Cone do Rio submarinos, com potencial impacto em
que os recursos energéticos associados a Grande (CRG), em uma espessa sequência instalações submarinas, como plataformas
hidratos de gás podem ultrapassar todos sedimentar depositada durante o Neóge- de petróleo e cabos de comunicação sub-
os demais combustíveis fósseis somados no, foi identificada a presença do BSR de marinos, ou até mesmo grandes catástro-
(COLLET et al., 2009). A partir deste enor- Fonte: Elaboração própria (2022) modo contínuo nos levantamentos sísmi- fes em áreas costeiras como a geração de
me potencial, é esperado que os hidratos cos. Estimativas de volumes significativos tsunamis (MIENERT et al., 2010).
624 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 625
Figura 1y
626 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 627
Fig. 1y (A) Mapa de localização mostran- tos mostram a localização de plumas, A partir do mapeamento de fundo, fo- de ocorrência dos hidratos de gás sejam nó-
do a posição do Leque da Foz do Amazo- enquanto as estrelas verdes representam ram identificados diversos mounds subma- dulos dispersos na matriz de lama, camadas
nas (linha vermelha) e a área de levan- locais onde foram recuperados hidratos rinos com relevo entre 10-20 m de altura, maciças de 10 cm de espessura também fo-
tamento com ecobatímetro de multifeixe de gás em pistão (piston cores). A linha em lâmina-d’água de 1000-1800 m de ram recuperadas (KETZER et al., 2018).
(polígono preto), os pontos vermelhos preta C–C’ indica a posição da linha sísmi- profundidade (Fig y3). Estas feições estão Figura y3: Imagens do fundo marinho ge-
indicam locais perfurados durante o ODP ca em C. (C) perfil sísmico SW-NE cortan-
localizadas próximas da borda da zona de radas a partir de levantamento com ecoba-
155 (PIPER et al., 1997). A isóbata linha do as estruturas de direção NW-SE e um
estabilidade de hidrato de gás e associadas tímetro de multifeixe, ilustrando zonas de
de -600 m (em vermelho) representa a detalhe mostrando o refletor BSR (linha
a falhas; em uma delas foram recuperadas escapes de fluidos no fundo do mar associa-
profundidade aproximada da borda da amarela) e detalhe das falhas profundas
as amostras de hidrato de gás. Os mounds das com plumas de gás na coluna-d’água:
zona de estabilidade do hidrato de me- que atingem a superfície de descolamen-
do fundo do mar estão frequentemente as- (A) Plumas alinhadas ao longo de falha
tano na área. (B) Detalhe da área do le- to (linha vermelha).
sociados as exsudações de gás (plumas) re- NW-SE ilustrando a variação na altura de
vantamento multifeixe: hexágonos pre- Fonte: Modificado de Ketzer et. al., (2018) acordo com o acréscimo de profundidade
conhecidas na coluna de água (KETZER et
da lâmina-d’água; a linha tracejada verme-
Os estudos sobre a ocorrên- al., 2018, 2019). As exsudações localizadas
lha corresponde à linha sísmica C-C’ (Figura
cia de hidratos de gás tiveram perto da borda da zona de estabilidade de y1); (B) Conjunto de plumas alinhadas, as-
maior interesse a partir de 2010, hidratos de gás podem estar ligadas à dis- sociadas ao limite superior ZEHG (linha tra-
com o lançamento do projeto sociação de hidratos relacionada ao aque- cejada amarela), isóbata ~600m, nota-se a
Tucuxi na Bacia da Foz do Ama- cimento oceânico contemporâneo (KETZER presença de mounds submarinos (setas).
zonas. Este projeto incluiu o et al., 2019). Embora a forma mais comum Fonte: Elaboração própria (2022)
mapeamento do fundo do mar
do leque superior através de
um ecobatimetro de multifeixe
(MBES) montado no casco (pri-
meira missão em 2012) e a per-
furação do substrato usando um
testemunhador de pistão (piston
cores) com 6 m de comprimento
(segunda missão em 2015). Na
primeira missão foram identi-
ficadas inúmeras estruturas de
escape de gases ativas na coluna
de água e pockmarks no fundo
marinho. A partir destas infor-
mações foi formulada a segun-
da missão para amostragem de
sedimentos de testemunho em
Figura 2y: Fotografia de
alvos específicos, anteriormente
testemunho a pistão coletado
identificados com os dados do
no Leque da Foz do Amazonas
MBES. Foram coletados 10 tes- – sedimentos finos com nódulos
temunhos que resultaram na pri- de hidrato de gás (seta preta).
meira recuperação de hidrato de
gás em águas profundas (Fig 2y) Fonte: Rodrigues et al., (2019)
na Margem Equatorial brasileira
(RODRIGUES et al., 2019).
628 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 629
O mapeamento do refletor BSR na Foz durante a campanha marítima do Projeto
Figura y4
do Amazonas indicou uma área com 28.000 Tucuxi, em 2015.
km2, presente em seções sísmicas obtidas em Os hidratos de gás recuperados através
lâminas de água de 600 a 2800 m, numa de testemunhos perfurados em lâmina-
profundidade cerca de 450 m abaixo do -d’água de 1900 m, internamente a um ca-
fundo do mar (Figura y4). O BSR ocorre de nal onde o escape de gás está ativo, apre-
modo descontínuo nas linhas sísmicas, es- sentaram composição de CH4 (85-98%),
tando comumente associado à charneira de CO2 (2-15%) e traços de C2H6. Valores iso-
dobramentos anticlinais na zona compressiva tópicos do carbono presente no metano
5o0’0’’N
do leque. Estes refletores desaparecem em indicam uma origem biogênica com valores
direção aos flancos (KETZER et al., 2022). Asde δ13C entre -81.1 e -77.3‰ (RODRIGUES
razões para esse padrão de ocorrência ainda et al., 2019). Os hidratos de gás apresentam
são pouco compreendidas, mas podem es- na sua composição CH4 (95%), CO2 (4%)
tar relacionadas ao fluxo diferencial de fluido
e C2H6 (1%); análise isotópicas do metano
nas estruturas (PRAEG et al., 2018). Sad et (δ13C entre -61.7 e -59.2‰ e δD entre -206
al., (1998), usando o volume total de sedi- e -205‰) e do etano (δ13C entre -31.5 e
mentos existente na ZEHG e assumindo uma -30.8‰) indicam uma origem fundamen-
saturação de 1,5% de hidratos de gás pre- talmente biogênica com possível conta-
sentes, estimaram um volume potencial de minação termogênica (RODRIGUES et al.,
metano na ordem de 12 trilhões m3 (ou 430 2019). Esta mistura pode ter ocorrido duran-
tcf) de CH4 na superfície. te a migração vertical de gases termogênicos
O poço 938, perfurado durante a mis- através dos sedimentos, até alcançar os de-
são IOPD 155, indicou a presença de me- pósitos de gás microbiano em profundidades
0o0’0’’
tano dissolvido nos sedimentos. A análise mais rasas. Esta influência termogênica pos-
geoquímica destas amostras indica uma ori- sivelmente está relacionada à conexão pro-
gem in situ essencialmente biogênica, suge- piciada por falhas conectando fontes de gás
rindo como fonte a formação dos hidratos profundas aos depósitos superficiais. Segun-
de metano presentes na ZEHG, identificada do Rodrigues (2019), o reconhecimento da
nos dados sísmicos (ARNING et. al., 2013). mistura deve ser baseado em análises base-
A presença de hidratos de gás juntamente adas nos valores de 13C-CH4 vs. C1/(C2+C3),
nos sedimentos do Leque do Amazonas foi como pode ser visto nas análises da área do
50o0’0’’W 45o0’0’’W
confirmada pela recuperação de amostras talude continental (Figura y5).
TWTT (s)
100.000 Figura y5. Gráfico mostrando a relação
BSR Fundo marinho –1,5
BIOGÊNICO entre as composições de C1/(C2+C3) versus
10.000 13
C de gases de hidratos, plumas e gases
BSR –2 dissolvidos em sedimentos do Leque da
1.000 Foz do Amazonas. Círculos abertos (HG)
C1 / C2+C3
e círculos sólidos (gases dissolvidos e plu-
–2,5 100
mas). Amostras de área proximal do Leque
10 TERMOGÊNICO do Amazonas. Triângulos abertos (HG);
triângulos sólidos (gases dissolvidos e plu-
Figura y4. Mapa do Leque da Foz do micas 2D, coincidente com as dobras 1 mas). Amostras da área do talude conti-
Amazonas ilustrando as áreas de ocor- anticlinais, linha sísmica abaixo (d-d’). -110 -100 -90 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 nental a nordeste do leque.
rência do BSR mapeadas nas linhas sís- Fonte: Elaboração própria (2022) δ13C de CH4 (0/00 VPDB) Fonte: Modificado de Rodrigues (2019)
630 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 631
Figura Z1
A Província de Hidratos de Gás do Cone de Rio Grande
30o0’0’’S
de. A espessura máxima de sedimentos che- fechamento que formam desníveis da ordem
ga a cerca de 5.000 m (FONTANA, 1996), de 200 m no fundo marinho (SILVEIRA e MA-
depositados desde o Mioceno inferior, há CHADO, 2004; CASTILLO et al., 2009).
cerca de 23 M.a. O CRG é composto, prin- Diferentemente da região do Leque da
cipalmente, por sedimentos siliciclásticos Foz do Amazonas, o refletor BSR se apre- Legenda
finos, cuja construção é atribuída a fluxos senta de modo contínuo nas linhas sísmi- Bacia_de_Pelotas
provenientes de três drenagens distintas, cas, desde a batimetria de 520 m até apro- BSR
35o0’0’’S
nhuma drenagem de porte ali desaguando. (Fig Z1), com espessura média em torno
Da mesma forma que o Leque da Foz do de 200-300 m (SAD et al., 1998; OLIVEIRA
Amazonas, o CRG está em processo de colap- et al., 2010). Sad et al. (1998), assumindo 50o0’0’’’W 45o0’0’W
so gravitacional, onde a porção superior es- estes parâmetros volumétricos e estiman- Domínio Distensional Domínio Compressional
base da sequência miocênica. As estruturas gás, concluem existir um volume possível 2.000
formadas na região do CRG têm sua gênese de 780 tcf (~22 trillhões de m3) de metano 3.000
TWTs
relacionada ao rápido acúmulo de sedimen- na região. Ressalte-se que estes números 4.000
6.000
Esta superfície de descolamento fez com que – Linha sísmica A-A’ mostrando superfície TWTs
todas as camadas acima dela se movimen- de descolamento, em amarelo, e os domí-
5.000
tassem, formando dois domínios tectônicos nios distensional e compressional; no do- 6.000
com características estruturais distintas, o do- mínio distensional são reconhecidas falhas
mínio distensional e o domínio compressio- normais lístricas (preto) e falhas normais
nal (MILLER et al., 2015 – Figura Z1). planas, sintéticas e antitéticas (verde). O
3.500
receram a migração de gás na posição do de- nha azul tracejada corresponde ao BSR. B
pocentro, e o aumento da pressão nos sedi- – Retângulo vermelho correspondente ao
mentos provocou a formação de diápiros de detalhe das dobras. C – Nota-se o cavalga- 4.500
632 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 633
Figura Z2
Fig. Z2: Pockmark PC22, Cone do Rio casco e veículo autônomo submarino (AUV),
Grande. A) Imagem de retroespalhamento propiciando a compreensão com alto deta-
do fundo (sonar de varredura lateral lhamento do assoalho oceânico, permitindo
e multifeixe – dados obtidos por AUV) a localização dos pockmarks e a expressão
associada a dados de coluna-d’água, das falhas. Também foram coletados dados
ilustrando associação entre as feições de da coluna-d’água que permitiram a identifi-
fundo e o escape de fluidos (plumas). cação de exsudações (MILLER et al., 2015)
B) Detalhe do pockmark PC22 e seu associadas aos pockmarks (Fig. Z2). Amos-
relevo onde foram recuperados diversos tras de hidratos de gás e de gás livre associa-
testemunhos a pistão (piston cores). do a zonas de escape de fluidos (chaminés)
A partir de 2010 o conhecimento do CRG foram recuperadas em mais de uma deze-
sofreu grande avanço através da execução na de locais e pontos de amostragens por
do Projeto CONEGAS (termo de cooperação testemunho a pistão e coleta de gases por
científica PUCRS/PETROBRAS). Durante uma veículo submarino – ROV, em coluna-d’água
década foram realizadas seis missões ocea- entre 500 e 1500 m de profundidade. Os
nográficas que efetuaram a coleta de infor- hidratos gasosos do CRG ocorrem como lâ-
mações geológicas e geofísicas em diversas minas, nódulos disseminados na matriz de
posições do CRG. A região central do cone lama, tubos e camadas maciças (até 25 cm
foi mapeada com batimetria multifeixe de de espessura; Fig. Z3).
634 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 635
O levantamento eletro-magnético com menor resistividade. Outros locais na área Figura Z5
fonte controlada 3-D (controlled source também indicam chaminés relacionadas ao
electromagnetic – CSEM) das áreas onde fluxo de fluido ainda não conectadas à su-
se concentram os pockmarks permitiu a perfície (Figura Z4). A inversão dos dados
distinção entre uma chaminé que possivel- do CSEM revela também que o gás abaixo
mente tenha fluido preso e uma chaminé do BSR migra ao longo das falhas através
que parece ter deixado todo o gás vazar da GHSZ formando corpos ricos em hidrato
em direção ao fundo do mar (THARIME- de gás com saturação de hidrato de gás de
LA et al., 2019). O método se baseia na 40-60% (THARIMELLA et al., 2019), bem
diferença de resistividade entre o gás livre como que as amplitudes anômalas abaixo
altamente resistivo e o sedimento porta- do BSR nos dados sísmicos podem repre-
dor de água salgada e/ou de hidrato com sentar acumulações de gás livre (Figura Z5).
Fig. Z4 – (a) Imagem do fundo marinho o perfil sísmico de alta resolução, correla-
ressaltando a expressão das falhas em to. As maiores anomalias de resistividade
superfície e a área coberta pelo levan- dentro da zona de estabilidade do hidra-
tamento eletromagnético de fonte con- to de gás estão possivelmente associadas
trolada (3D CSEM polígono amarelo). A a saturações de hidrato de gás. Note-se
seta amarela ressalta a ocorrência do po- que também revelou chaminés de gás
ckmark 22 - Fig Z2). (b) Perfil ilustrando ainda não conectadas a superfície, bem
as anomalias identificadas na inversão como a expressão CSEM em subsuperfície
dos dados CSEM (cores quentes), abaixo da área do pockmark.
Figura Z4
636 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 637
A principal contribuição da matéria tos orgânicos “antigos” (> 50 ka) para a
de gás com diferentes saturações de hi- gás. Observe que as anomalias CSEM em
orgânica na formação dos HG foi do car- superfície, fator que influencia na matéria
dratos. A inversão dos dados do CSEM cor amarela abaixo do BSR sugerindo a
bono orgânico marinho com base nos orgânica original e, portanto, mascara as
revela que as maiores anomalias de resis- existência de uma zona de maior concen-
resultados do isótopo estável de carbono idades da matéria orgânica.
tividade dentro da zona de estabilidade tração de gás livre. Os dados acústicos
(δ13C-org) e análises da relação carbo- Acumulações de hidrato de gás próximo
do hidrato de gás estão possivelmente (anomalias de amplitude abaixo do BSR)
no orgânico total/nitrogênio total (RO- ao fundo do mar em pockmarks do CRG
associadas a saturações de hidrato de englobam esta zona CSEM anômala.
DRIGUES et al., 2019). Rodrigues et. al., parecem estar associadas a bolsões de gás
(2019) observam uma contribuição de de profundidades rasas (dezenas de me-
O gás no hidrato é principalmente me- ficada como biogênica. Da mesma forma, fluidos provenientes de sedimentos pro- tros abaixo do fundo do mar – Rodrigues
tano com traços de etano, e os isótopos os estudos dos gases livres em sedimentos fundos, os quais transportaram compos- et al., 2017) que, por sua vez, sustentam
de carbono estáveis do metano indicam foram produzidos pelo produto da meta-
uma origem microbiana (valores de δ13C nogênese microbial, ou seja, os hidrocar- Figura Z7
de -69,3 a -66,7; Miller et al., 2015; Ro- bonetos gasosos foram gerados, princi-
drigues et al., 2019). De acordo com os palmente, pela via de redução microbiana Imagens obtidas
diagramas, a origem dos gases foi classi- do CO2 (Figura Z6). na área do PC22
em que ocorrem
poliquetas
Figura Z6 - Relação entre os valores de δ13C2H6 e δ13CH4
tubículas
para amostras de diferentes áreas do Cone do Rio Grande
do gênero
(Projeto CONEGAS, 2021)
Escarpia, os
mais frequentes
integrantes da
comunidade
quimiossintética.
As imagens
foram feitas com
um remotely
operated vehicle
(ROV) e com um
autonomous
underwater
vehicle (AUV),
ambos usados
nas missões
do projeto
CONEGAS.
638 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 639
Figura Z8
comunidades quimiossintéticas (GIONGO et Esta interseção do refletor BSR com o fun-
al., 2016). Nas comunidades quimiossinté- do do mar foi observada em apenas algumas
ticas foram descritos microrganismos que outras regiões do mundo (e.g. margem da
vivem aderidos externamente (epibiontes) Mauritânia, Davies et al., 2015). A raridade
a tubos do verme Escarpia (Fig Z7). Trata-se de tais características é enigmática, pois o afi-
de um grupo de bactérias metanotróficas, namento da zona de estabilidade do hidrato
o que indica que estas formas de vida se de gás relacionado à diminuição da pressão
encontram adaptadas à presença de meta- (profundidade da água) e aumento da tem-
no, localizadas junto das exsudações deste peratura da água de fundo deveria natural-
gás (MEDINA-SILVA et al., 2018 a e b). mente levar a afloramentos de BSR. A posi-
Além das exsudações de gás associa- ção da borda da ZEGH no fundo do mar do
das à presença de falhas e “pockmarks”, CRG, calculada a partir das medições atuais
ocorrem ainda nas porções onde a zona da temperatura da água de fundo, situa-se
de estabilidade afina na região proximal mais distal ao do afloramento BSR, indican-
do CRG. Ketzer et al. (2022) identificam a do um desequilíbrio termodinâmico entre
presença de um fenômeno singular, onde o sistema de hidratos e as águas de fundo
a ZEHG (base do BSR) afina em direção (KETZER et al., 2020). O aquecimento das
ao fundo marinho até desaparecer, ca- águas de fundo em profundidades >500
racterizando uma zona de afloramento m no Atlântico Sul, que pode ser rastreado
do BSR. Esse fenômeno ocorre entre as pelo menos desde a década de 1970 (SCH-
isóbatas de 515 e 520 m de água (KET- MIDTKO e JOHNSON, 2012), fornece fortes
ZER et al., 2020 – Figura Z8) onde foram evidências de que esse desequilíbrio pode
detectadas 394 plumas de gás atingindo estar ligado às mudanças climáticas con-
alturas de até 50 m na coluna-d’água. temporâneas (KETZER et al., 2019; KETZER
Margens com afloramentos de BSR bem et al., 2020). As taxas de transferência de
definidos constituem locais únicos para metano dos sedimentos para o oceano fo-
investigar as interações entre os sistemas ram estimadas por Ketzer et al. (2020) entre
de hidratos de gás marinhos e as mudan- 31,3 e 144 MgCH4/ano (megagramas de
ças climáticas, pois a borda da ZEHG é metano por ano), nesta região.
o local mais suscetível à dissociação de Modelagens numéricas efetuadas para
hidratos de gás impulsionada pelo aque- esta área envolvendo escala de centenas
cimento das águas do fundo do oceano de anos confirmaram a sensibilidade dos
(Ruppel, 2011). hidratos as variações da temperatura de
fundo, provocando a sazonalidade no li-
Fig. Z8 – (A) Perfil sísmico mostrando a mite da ZEHG, podendo recuar significa-
zona de afloramentos do BSR no Cone tivamente talude abaixo, dependendo da
do Rio Grande; (B) Detalhe de (A) mos- taxa de aumento das temperaturas. Isso
trando o afloramento do BSR no fundo resultaria na completa dissociação dos hi-
do mar a 515-520 m de lâmina-d’água, a dratos e em liberações significativas de
faixa de ocorrência das plumas de gás e metano para o oceano. Outro fenômeno
a faixa atual da zona de estabilidade de relacionado a liberações de gás para o oce-
hidratos de gás (ZEHG). ano é o colapso dos depocentros, talude
Fonte: Modificado de Ketzer et al., (2020) abaixo, induzido pela gravidade. De acordo
642 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 643
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646 ECONOMIA AZUL Estado da Arte das Ocorrências de Hidratos de Gás 647
31
Milad Shadman
Segen Farid Estefen
1. Introdução
648 ECONOMIA
648 AZUL
A ECONOMIA AZUL Energias Renováveis no Oceano 649
Apesar de décadas de esforços para o de 1966, e no Lago Sihwa, na Coreia do Sul, paralela à direção de propagação da onda; (CAMPOREALE et al., 2011; CARRELHAS
aproveitamento energético, o seu poten- desde 2011. Projetos marítimos avançados absorvedores pontuais (OLAYA et al., 2014; et al., 2019), hidráulico (FALCÃO, 2008;
cial mundial ainda é muito pouco explorado para geração de energia de correntes de ma- TODALSHAUG et al., 2016), Figura 2e, que ZHANG et al., 2019), acionamento me-
(REN21, 2018). Na última década, o uso de rés, variando de 10 kW a 1 MW foram im- possuem dimensões pequenas em relação cânico direto (ALBERT et al., 2017; YIN,
fontes de energia oceânica teve um cres- plantados, principalmente, no Reino Unido, ao comprimento de onda predominante et al. 2017) e acionamento elétrico dire-
cimento significativo. Desde 2010, muitos Canadá, na Austrália e China. No entanto, e, geralmente, são axissimétricos em rela- to (MUELLER, 2002; LI et al., 2016). Uma
dispositivos foram implantados em todo o esses projetos de demonstração continuam ção ao seu eixo vertical; e corpos oscilantes descrição detalhada desses sistemas pode
mundo para capturar a energia de ondas, com custos elevados e ainda não alcançaram submersos (SERGIIENKO et al., 2016). (Figu- ser encontrada em (OZKOP et al., 2017;
correntes e amplitudes de maré e gradientes a economia de escala necessária para a redu- ra 2f), que são boias submersas de grandes WANG et al., 2018).
térmico e de salinidade. Globalmente, esse ção significativa de custos (IEA, 2021). As tec- dimensões. O overtopping utiliza o fenôme-
crescimento mais que dobrou, de 244 MW nologias de energia renovável oceânica ainda no de galgamento para suprir de água um 2.2 Conversão de energia das marés
em 2009 para 526,8 MW em 2021 (IRENA, estão nos estágios conceitual, de P&D ou de reservatório, no qual água escoa através de
2021) . No entanto, mais de 90% dessa ca- protótipo demonstrativo. No caso de ondas e turbinas de baixa queda acopladas a gerador Barragens de marés usam a variação de
pacidade operacional é representada por correntes de marés, com base nos desenvol- para produzir eletricidade (KOFOED, 2006; amplitudes das marés durante as condi-
duas barragens de marés, que operam co- vimentos atuais, a aplicação comercial global LIU, 2017), Figura 2g. Outros, descrevendo ções de baixa (vazante) e alta (cheia) para
mercialmente, em La Rance, na França, des- é esperada a médio prazo. conceitos diferentes das categorias acima, acionar turbinas similares às utilizadas em
por exemplo, o wave carpet (ALAM, 2012) e barragens hidrelétricas. A maior variação
2. Conceitos e tecnologias a rotating mass (DURAND et al., 2007; ZHAN de amplitude das marés resulta em maior
et al., 2017), que utiliza o movimento de um extração de energia pela usina. A forma da
2.1 Conversores de energia de onda casco para acelerar e manter as revoluções estrutura é semelhante às barragens hidre-
Atualmente, há um grande número oscilante e overtopping. A coluna de água de uma massa giratória em seu interior. létricas, sendo geralmente construídas no
de conceitos e patentes sobre o uso da oscilante (OWC) comprime e descompri- Existem diferentes tipos de sistemas de estuário de rios ou baías para o armaze-
energia das ondas. O processo de conver- me o ar em uma câmara, a partir da ele- PTO adotados para os conversores de ener- namento de água na maré alta. A diferen-
são da energia das ondas pode ser dividi- vação da onda, para acionar uma turbina gia das ondas, por exemplo, pneumático ça das alturas das superfícies da água nos
do em três etapas principais: a etapa de acoplada a um gerador, produzindo eletri-
conversão primária, a etapa de conversão cidade. Dependendo do local de instala- Figura 2 - Categorias dos conversores de energia de onda
secundária e a etapa de conversão terciá- ção, os dispositivos OWC podem ser ins-
ria (E. R., 2019). No estágio de conversão talados na costa (HEATH, 2012; FERNAN-
primária, o conversor de ondas captura a DES et al., 2018). Figura 2a, ou flutuantes,
energia cinética das ondas por meio de in- Figura 2b (BULL et al., 2016; FALCÃO et
terações entre o conversor e a onda, por al., 2014). Corpos oscilantes utilizam os
exemplo, oscilação de boia, fluxo de ar ou movimentos das ondas para excitar dois
fluxo de água. O estágio secundário con- corpos de um conversor, de forma que o
verte a energia do movimento do corpo movimento relativo entre os corpos, com
em eletricidade através do gerador elétri- o auxílio de um gerador, produza eletrici-
co (power take-off – PTO). No estágio ter- dade. De acordo a dimensão e orientação,
ciário, as características da energia produ- esses sistemas também podem ser classi-
zida são adaptadas aos requisitos da rede ficados como terminadores (DIAS et al.,
com interface eletrônica de potência. Com 2017), Figura 2c, posicionados com gran-
base nos princípios de funcionamento dos des extensões horizontais perpendiculares
estágios de conversão primária e secun- à direção de propagação da onda; atenua-
dária do conversor de onda, a classifica- dores (YEMM, 2012; ZHENG, 2017) (Figu-
ção inclui coluna da água oscilante, corpo ra 2d), com grande extensão horizontal Fonte: SHADMAN et al., 2019
652 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Energias Renováveis no Oceano 653
essas estruturas sofrem grandes cargas hi- por cravação de pilar é a mais utilizada nas 3. Potencial dos recursos
drodinâmicas, o que leva a um aumento no instalações existentes, seguida pela jaque-
custo, devido ao aumento de suas dimen- ta. Os projetos implementados em maiores Esta seção utiliza quatro trabalhos prin- norte equatorial do Brasil, com velocidade
sões (DEWAN et al., 2015). Para superar profundidades fazem uso das fundações cipais: SHADMAN et al., 2019, HERNANDEZ de 1,52 m/s. Essa região está localizada a
esse problema, foram propostos conceitos flutuantes. Até agora, o único parque eóli- C. et al., 2021 e ASSIS TAVARES et al., 2021, uma distância entre 120 e 300 km do lito-
flutuantes. Como mostra a Figura 4a, o co flutuante comercial é o Hywind Scotland, para apresentar os recursos renováveis no ral, com valores de densidade de potência
tipo de fundação fixa pode ser categoriza- instalado no final de 2017, que inclui cinco oceano ao longo da costa brasileira. O con- superiores a 500 W/m2. Todavia, a longa
do em quatro tipos, incluindo base de gra- aerogeradores flutuantes, com fundação junto de dados de onda é obtido usando distância da costa implica custos substan-
vidade, pilar (monopile), tripé e jaqueta. A tipo spar, com turbinas de 6 MW. Alguns o sistema operacional global de análise e ciais dos cabos submarinos, o que pode
fundação flutuante pode ser categorizada exemplos do tipo semissubmersível são os previsão oceânica da Météo-France que está inviabilizar o projeto de transmissão de ele-
em três tipos: semissubmersível, spar e pla- projetos Windfloat, Sea Angle, Eolink Pro- disponível para o CMEMS (Copernicus Mari- tricidade para o continente.
taforma de pernas tracionadas (TLP), con- totype e Kincardine, que estão em fase de ne Environment Monitoring Service). O mo- De acordo com SHADMAN et al., 2019,
forme mostrado na Figura 4b. A fundação demonstração (WIND EUROPE, 2019). delo tem uma resolução horizontal de 1/12° ao longo da costa brasileira, exceto para a
(~9 km) e campos instantâneos de 3 horas região do extremo Sul, abaixo de 27°S, a
Figura 4 – Fundações de turbinas eólicas offshore de parâmetros de onda integrados. Os con- variação térmica média anual, que repre-
a – Fundações fixas juntos de dados para velocidades e tempe- senta a diferença térmica entre profundi-
Gravity Monopile Tripod Jacket Tripile ratura das correntes oceânicas foram obtidos dades de 20 m e 1000 m, é cerca de 20
Foundation Foundation Foundation Foundation Foundation (superfície até 5500 m) do produto modelo °C ou superior. Os autores consideraram
numérico disponível para o CMEMS. O con- doze usinas de OTEC de 10 MW ao lon-
junto de dados tem uma grade horizontal go da costa. Os pontos selecionados estão
regular com resolução de 1/12° (~9 km) ba- a distâncias entre 30 e 200 km da costa.
seada na grade tripolar ORCA (GM, 1996), As regiões Norte e Nordeste apresentam
50 níveis verticais com 22 camadas dentro maior potência média anual comparadas
dos 100 m superiores da superfície, batime- com as regiões Sul e Sudeste. Os resulta-
tria de ETOPO1 (AMANTE, 2018), e forçantes dos mostraram que a diferença térmica de
atmosféricas do ECMWF (Centro Europeu de 20 °C pode ser atingida em profundidades
Previsões Meteorológicas de Médio Prazo). de até 500 m na região nordeste. Em ter-
De acordo com SHADMAN et al., 2019, mos econômicos, tem-se considerável re-
a potência total da energia de onda foi es- dução de custos para a elevação da água
timada em 91,8 GW ao longo da costa, fria a 500 m ao invés de 1000 m.
b – Fundações flutuantes
considerando a extensão dada costa bra- A Empresa de Pesquisa Energética do Bra-
sileira. Na prática, apenas uma pequena sil (EPE) estimou o potencial eólico offshore
parcela desse valor pode ser extraída pe- na zona econômica exclusiva do Brasil em
los dispositivos de conversão de energia 1.78 TW (MME, 2020), com cerca de 700
das ondas, devido a diferentes questões GW em regiões de profundidades até 50 m
associadas a desafios técnicos, impactos (EPE, 2020). No estudo foi utilizada a turbina
ambientais, economia, uso diferenciado eólica DTU de 10 MW para calcular a pro-
da área marítima e impactos sociais. No dução de energia e o fator de capacidade.
entanto, apenas um quinto desse potencial Os resultados mostrados por HERNANDEZ
equivale a cerca de 35% da demanda bra- C. et al., 2021, revelam a existência de três
sileira de eletricidade em 2017 (EPE, 2018). áreas de interesse nas regiões Nordeste,
Uma média anual máxima de corrente Sudeste e Sul, com velocidade média anual
Fonte: COMH, 2021 oceânica pode ser observada na margem de vento superior a 8 m/s. Como mostrado
654 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Energias Renováveis no Oceano 655
nas referências (RODRIGUES et. al., 2015; os estados do Rio de Janeiro e Espírito San- Ele foi desativado em 2014, devi- com capacidade de 50 kW, que consiste
PIMENTA et al., 2019), os estados do Mara- to apresentam potencial eólico offshore do ao projeto de ampliação do porto em um corpo oscilante e uma estrutura de
nhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, expressivo. Entretanto, conforme mostrado O dispositivo, denominado conversor hi- suporte fixada no leito marinho. A parte
cada um com uma ampla plataforma con- por (Idem, 2020), nessas regiões as velo- perbárico de energia de onda COPPE, oscilante é um cilindro cônico que pode se
tinental e águas relativamente rasas (pro- cidades do vento atingem uma média de com capacidade instalada de 100 kW, é move na direção vertical. A estrutura fixa
fundidades de até 50 m), são as áreas mais 9 m/s em áreas com lâmina-d’água entre composto por um corpo flutuante, com é tipo jaqueta com quatro colunas com
atrativas do nordeste para implantação de 50 m e 3000 m, onde a implantação das 10 m de diâmetro, conectado a braço me- diâmetros pequenos em relação ao com-
turbinas eólicas offshore. Na região Sul, re- plataformas fixas, como monopile ou base cânico de bombeamento, com 22 m de primento de onda predominante, para se
curso eólico offshore significativo, com ve- de gravidade, não é tecnicamente viável. comprimento, um acumulador hidropneu- evitar o efeito de difração. A estrutura é
locidades de até 9 m/s, pode ser observado Ressalta-se que 86% dos recursos eólicos mático, uma câmara hiperbárica e uma montada no fundo do mar por uma base
ao longo do litoral dos estados de Santa offshore das regiões Sudeste e Sul estão unidade geradora. O movimento do corpo de concreto. Oito rolamentos facilitam a
Catarina e Rio Grande do Sul (TAVARES et localizados em regiões com profundidades flutuante na direção vertical (heave), de- oscilação da boia na direção vertical. Eles
al., 2020; idem, 2022) . Na região Sudeste, superiores a 50 m (Idem, 2020). vido às interações entre o flutuador e as são colocados na parte superior e inferior
ondas, aciona o atuador da bomba que da seção cilíndrica. O sistema de conver-
desloca a água dentro do circuito fecha- são está localizado no convés superior e é
4 Estágio atual de desenvolvimento do para o acumulador hidropneumático. composto por uma caixa de engrenagens,
O acumulador é conectado a uma câmara que aumenta a velocidade de rotação for-
4.1 Mundo tipo spar, instalada no final de 2017. Outros hiperbárica pressurizada. Em seguida, a necida pela boia, e um gerador rotativo. O
projetos piloto, como WindFloat, Sea Angle, água pressurizada aciona uma turbina hi- movimento vertical da boia é transferido
Exceto barragens de marés e eólica of- Eolink Protoype e Kincardine estão em fase dráulica acoplada a um gerador elétrico. através de uma haste central para a caixa
fshore, as demais tecnologias de conversão pré-comercial (WIND EUROPE, 2018). A câmara hiperbárica funciona como um de engrenagens. Em seguida, o movimen-
das fontes renováveis no oceano estão na Desde 2009, muitos dispositivos foram sistema de armazenamento de energia, to vertical é convertido em rotação ade-
fase pré-comercial. Primeira barragem de implantados em todo o mundo para captu- que suaviza as flutuações causadas pela quada ao gerador elétrico.
marés com capacidade de 240 MW foi ins- rar a energia de ondas, correntes, amplitu- natureza oscilatória das ondas do mar. A Um sistema de controle denomina-
talada em La Rance, França, em 1966. Em des de maré, gradientes térmicos e de sali- pressão aplicada está na faixa de 250-400 do latching, proposto por Budal e Falnes
2011, a Coreia do Sul inaugurou a maior nidade. A Europa tem o maior número dos m de coluna de água (mwc) (COSTA et al., (1980), foi aplicado no conversor de on-
barragem no mundo, Sihwa, com capacida- projetos de fontes renováveis do oceano, 2010). Na fase de projeto, os testes expe- das para compensar a redução do diâ-
de de 254 MW (BAE et al., 2010). Existem cerca de 60,66%, seguida pela América do rimentais de modelo reduzido em escala metro da boia, adequada à amplificação
projetos em avaliação na China, Rússia e Norte, Ásia, Oceania, África, América Cen- de 1:10 foram realizados no Laboratório dinâmica, visando à redução de custos
Grã-Bretanha (HOOPER et al., 2013). Cerca tral e Caribe e América do Sul com 17,10%, de Tecnologia Oceânica (LabOceano) da (SHADMAN et al., 2018; Idem, 2021). O
de 81% das turbinas eólicas offshore insta- 13,35%, 5,62 %, 1,64%, 0,94% e 0,7%, UFRJ, onde foi observada uma razão de sistema de controle latching utiliza um
ladas no mundo é do tipo monopile. Apenas respectivamente (SHADMAN et al., 2019). largura de captura entre 19% e 36% para dispositivo de travamento, que represen-
alguns projetos usaram turbinas com base Os projetos de conversores de onda e de o conversor de energia das ondas (ESTE- ta o método de controle mecânico que
flutuante, incluindo Hywind Scotland, do corrente de maré são predominantes. FEN et al., 2012; Idem, 2008). O segun- sintoniza o período natural da boia com
do projeto, mostrado na Figura 5b, é um o período da onda atuante, segurando e
5. Brasil conversor de energia de onda nearshore, liberando a boia na extremidade superior
com instalação prevista em águas relativa- do movimento vertical. Consequentemen-
5.1 Energia de onda Renovável no Oceano do Laboratório de mente rasas (profundidades entre 18 e 30 te, maiores amplitudes e velocidades de
Tecnologia Submarina da COPPE/UFRJ. m) na costa do Rio de Janeiro. A tecnolo- movimento da boia podem ser alcança-
No Brasil, existem dois principais pro- Como ilustrado na Figura 5a, o primei- gia está em fase de pesquisa e desenvolvi- das, levando a uma maior produção de
jetos de energia de onda com diferentes ro é um dispositivo em escala real, com mento, TRL 4, e será brevemente testada energia. Na prática, um sistema hidráulico
níveis de prontidão tecnológica (TRL), dois flutuadores instalados no Porto de no LabOceano. O sistema é um conversor é utilizado para travar mecanicamente a
ambos realizados pelo Grupo de Energia Pecém, no estado do Ceará, em 2011. de energia de onda do tipo point absorber, boia oscilante.
Base Seafloor
Fonte:
COPPE/UFRJ
658 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Energias Renováveis no Oceano 659
6. Aspectos regulatórios no Brasil proteção ambiental. O Relatório de Impac- da política nacional de meio ambiente,
to Ambiental – RIMA é outro importante preservando os recursos naturais e fiscali-
No Brasil, os processos de concessão e horizonte a médio prazo. O objetivo do documento, elaborado simultaneamente zando seu uso racional, impondo sanções
licenciamento de petróleo e gás offshore e roadmap eólico offshore brasileiro publicado ao EIA, que visa apresentar à população, administrativas e executando as normas de
eólico onshore pela ANP (Agência Nacional pela EPE é identificar as principais barreiras e de forma inteligível, as informações técni- proteção ambiental, inclusive as de nature-
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) desafios que devem ser considerados para o cas contidas no EIA. O Instituto Brasileiro za criminosa. O sistema de licenciamento
são baseados no regime de licitação, no qual desenvolvimento desse setor no Brasil. Além do Meio Ambiente e dos Recursos Natu- ambiental é regulamentado pelo Decreto
o órgão regulador oferece locais específicos disso, indica recomendações nos aspectos rais Renováveis (IBAMA), criado em 1989, nº 99.274/1990, com emissão de licenças
onde os reservatórios poderão ser explora- de planejamento e regulamentação. é responsável pela elaboração e execução diferentes para cada fase.
dos. A fase de pré-desenvolvimento inclui a O roadmap eólico offshore da EPE (2020)
concessão/licença da área para realização concluiu que a legislação atual, que vem sen- 7. Sinergia com óleo e gás
de estudos preliminares. A ANEEL (Agência do aplicada no setor eólico onshore, poderia
Nacional de Energia Elétrica) é a agência re- ser aplicada para a eólica offshore, conside- O Brasil possui abundantes recursos pe- localizada nas profundidades superiores.
guladora responsável pelo processo de con- rando pequenas adaptações. No entanto, trolíferos, desenvolvidos nas atividades de ex- A presença de infraestrutura e instala-
cessão para a produção de energia na zona o roadmap destacou que a diferença bási- ploração, produção e refino. A infraestrutura ções de óleo e gás em locais com alto po-
econômica exclusiva. O IBAMA analisa as ca entre a eólica onshore e offshore é que do setor de óleo e gás offshore incluem pla- tencial eólico offshore pode causar conflitos
condições ambientais e possíveis impactos as áreas eólicas onshore são propriedades taformas, poços e dutos, sendo as refinarias de uso do espaço no mar para instalação
para a concessão das licenças preliminar, privadas, enquanto as áreas offshore são localizadas em terra. Segundo a ANP (https:// das turbinas eólicas offshore em larga es-
de instalação e de operação. O Decreto N. propriedade federal, onde o Estado brasilei- www.gov.br/anp), em janeiro de 2020 a pro- cala. Por outro lado, o reaproveitamento
10.946, de 25 de janeiro de 2022, dispõe ro tem jurisdição e direitos soberanos para dução total de petróleo e gás natural no Bra- da infraestrutura de óleo e gás, a partir do
sobre a cessão de uso de espaços físicos e o fins de produção de energia, nos termos do sil era de aproximadamente 4,041 milhões descomissionamento de instalações pode
aproveitamento dos recursos naturais para art. 56 da Convenção das Nações Unidas so- de barris de óleo equivalente por dia. Isso representar oportunidades para a instalação
a geração de energia elétrica a partir de bre o Direito do Mar (UNCLOS), internaliza- representa cerca de 47% da oferta interna de turbinas eólicas, conversores de energia
empreendimentos offshore. O roadmap da do pelo ordenamento jurídico brasileiro no de energia do Brasil em 2018, conforme re- de ondas e turbinas de corrente oceânica
eólica offshore elaborado pela EPE (2020), Decreto nº 99.165/1990. Além disso, é es- latado pela EPE (2019). A produção offshore (LEPORINI et al., 2019; KLABUČAR et al.,
Termo de Referência ambiental do IBAMA, sencial, no caso de implantação de parques representada 96,9% do petróleo e 80,8% 2020). Além disso, as atividades existentes
e o Decreto acima referido são iniciativas de energia renovável offshore, considerar do gás natural em relação ao volume total. associadas à indústria de petróleo e gás,
relevantes para propiciar segurança jurídica dois marcos legais brasileiros que regem as As bacias de Campos e Santos, locali- dados ambientais e experiência em licencia-
para os investimentos no espaço oceânico políticas relacionadas ao mar, a Política Ma- zadas na região sudeste ao longo do litoral mento ambiental podem representar opor-
para aproveitamento de energia renovável. rítima Nacional (PMN), aprovada pelo Decre- do RJ e SP, são as bacias sedimentares mais tunidades para desenvolver projetos eólicos
O Plano Nacional de Energia – PNE2050 to nº 1.265, de 11 de outubro de 1994, e a produtivas e com maior potencial offsho- offshore nessas áreas (COMH et al., 2021).
(MME, 2020) publicado pela EPE é o pri- Política Nacional para os Recursos do Mar re de óleo e gás do país. Elas estão numa As fontes renováveis nas regiões offshore
meiro documento que contém a temática (PNRM), aprovada pelo Decreto nº 5.377, de faixa entre 2 km a 487 km da costa, em ocupadas pela indústria de óleo e gás po-
eólica offshore, com o mapeamento dos 23 de fevereiro de 2005. profundidades entre 12 m e 2796 m. Os dem ser utilizadas no esforço de descarbo-
recursos energéticos disponíveis no país A Lei nº 6.938/1981 instituiu o Conse- reservatórios do pré-sal são a mais recente nização do setor, fornecendo energia elétri-
no horizonte a longo prazo. Este pode ser lho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e importante descoberta das últimas duas ca para as atividades de exploração e pro-
considerado o primeiro esforço institucional órgão consultivo e deliberativo do Sistema décadas, sendo atualmente responsáveis dução de petróleo (RIBOLDI et al., 2019).
para apresentar, de forma sistemática, o re- Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). por cerca de 70% da produção brasileira. Uma aplicação das energias oceânicas que
curso eólico offshore ao longo da costa bra- Em 1986, o Conama criou o Estudo de Na região Nordeste, o litoral norte do esta- tem sido avaliada é referente à recuperação
sileira. Mais recentemente, o Plano Decenal Impacto Ambiental (EIA), considerado um do do Rio Grande do Norte possui ativida- de petróleo em poços maduros e o aumen-
de Expansão de Energia – PDE 2029 (MME, dos mais importantes instrumentos utiliza- des intensivas de produção de petróleo e to da produção em reservatórios do pré-sal
2019) considerou a energia eólica offsho- dos para buscar a compatibilização entre gás em águas rasas de até 50 m. No entan- pela injeção de água e gás por equipamen-
re uma fonte candidata para expansão no desenvolvimento econômico sustentável e to, a maioria dos blocos exploratórios está tos submarinos (SHADMAN et al., 2020).
1. Introdução
Capacidade em TEUS
ca de 2.779 ordens para construção de novos res que as importações, pois somos um país
navios em países que não membros da OECD exportador de commodities em grandes
20.000
(WP6), tendo a China como maior protago- quantidades. Por outro lado, observa-se
nista, com cerca de 70,7% das ordens para que na Ásia e mais especificamente a Chi-
novas construções, em que a maior parte dos na, sendo um grande importador. Por isso, 15.000
novos contratos de construção são para gra- existe uma inversão em relação ao fluxo de
neleiros (DANIEL et al., 2021). cargas, ou seja, muitas cargas importadas 10.000,
A densidade de transporte marítimo são processadas em território asiático, para
está concentrada no Hemisfério Norte em posteriormente serem consumidas interna-
5.000
função das questões econômicas destas mente e depois embarcadas para exporta-
nações, ou seja, a riqueza do mundo em ção. Esta dinâmica do transporte marítimo
termos de valor das mercadorias transporta- em termos de oferta e demanda é o que 0
das. Existe um intenso transporte marítimo rege sua atividade. 1996 1997 2012 2003 2005 2006 2012 2013 2014 2018 2019 2020
no eixo entre Ásia-Europa (Eurásia), o que Ano
mostra a importância desse fluxo para a ma- 1.2 Economia de escala
triz econômica global. Do lado do Oceano Fonte: Adaptado de Rodrigue (2020)
Pacífico também se verifica um fluxo Ásia- O setor de transporte marítimo vive um
-América do Norte (costa oeste), bem como momento crucial para redução dos custos Em 1996, a capacidade dos navios de os portos na Ásia são Shanghai, Ning-bo,
Europa-América do Norte na sua costa leste, unitários da tonelada transportada a bordo contêineres eram de 6.400 TEUs. Já em Xiamen, Yantian e Hong Kong, na Ásia; e
concentrando o fluxo de transporte de car- dos navios. Quando comparamos a evolu- 2020, essa capacidade passou para 23.964 na Europa Algeciras, Aarhus, Barcelona,
gas de alto valor agregado. ção dos tamanhos dos navios, nota-se que TEUs, um aumento de 3,74 vezes. A am- Bremerhaven, Gothenburg, Port of Poti,
Os dados de Sirimanne et al. (2021), em 1980 houve um movimento de cons- pliação da capacidade dos navios em ter- Rotterdam-Maasvlakte, Rotterdam-Maas-
publicados no Review of Maritime Trans- trução de grandes navios petroleiros, para mos de movimentação de contêineres de vlakte 2, Wilhelmshaven-JadeWeser Port,
portation (2021) da United Nations Confe- movimentação de carga. Contudo, o cres- certo modo acompanhou o processo de Valencia, Gijon, Izmir, Zeebrugge, Vado Li-
rence of Trade and Development (UNCTAD) cimento destes navios trouxe um problema globalização, bem como o aumento das gure Reefer Terminal e Vado Gateway. Ou
mostram a participação internacional das para os portos, uma vez que estes ficaram exportações de produtos acabados produ- seja, nesta rota esses portos são aqueles
regiões no mercado marítimo. No que tan- limitados nas rotas onde poderiam operar. zidos na China para os países da Europa. capazes de receber esses navios em função
ge ao embarque, a distribuição é a seguin- Um exemplo disto foi o navio Knock Nevis, Esses navios foram projetados para operar da infraestrutura disponível (profundidade,
te: África 7%; Américas 22%; Ásia 41%; com 458 m de comprimento, 67 m de boca em poucos portos do mundo, por exemplo, berço e equipamentos de movimentação).
vios começaram então a aguardar para do Japão, Sudeste Asiático e Coreia do Sul. A
atracar, causando um desbalanceamento unidades utilizadas pelo indicador referem-se
na oferta e demanda de serviço de trans- a USD/TEU (USD/FEU é para serviços da costa $8.000
$
espalhamento do vírus pelo globo, outras gura 3 apresenta o World Container Index
fronteiras também fecharam, como foi o desenvolvido pela Drewry, mostrando a
caso de muitos países da Europa e dos Es- evolução dos valores de frete marítimo e as
$4.000
tados Unidos (LAZARIN; VIEIRA, 2021). sobretaxas marítimas associadas de rotas
O efeito cascata fez os navios ficarem de navegação individuais no mercado spot.
parados nas pontas, ou seja, junto aos por- Em termos absolutos, no início de 2020 $2.000
tos aguardando a oportunidade para carre- um contêiner na rota Shangai-Santos custava
gar ou descarregar. A consequência disso em torno de US$ 2.000. No início de 2021, o
foi a ruptura na cadeia de abastecimento valor do frete passou para US$ 9.000. Já em $0
global, em que produtos começaram a fi- junho de 2021, o valor alcançou patamares 9 0 0 20 0 0 0 21 1 1 21 1 1 1
-1 v-2 -2 ai- l-2 t-2 -2 n- -2 -2 n- -2 -2 -2
dez fe abr -ju se ov ja ar abr ju go out ez
car estocados nas pontas, gerando uma de US$ 10.000 (Figura 3), e alguns embarca- 2- 06- 02- 8-
m
23 17- 2-
n
07- 4-
m
29- 24- 9-
a
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d
1 2 1 0 1 0
redução no número de navios disponíveis dores reportaram valores na ordem de US$ Período
no sistema para realizar o transporte, falta 15.000 em dezembro de 2021. Fonte: Drewry (2021)
Margem EBIT
2020, observou-se uma recuperação parcial 66,2% de todo o volume de carga, mos- 24,5%
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21
os preços de frete subam, trazendo maior dities. A análise dos dados do anuário da
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2
retorno financeiro aos armadores, uma Agência Nacional dos Transportes Aquaviá-
Q
Período
vez que o custo operacional não cresce na rios (ANTAQ) mostra que as cinco principais Fonte: statista.com
mesma proporção. Além disso, o efeito da cargas são: (i) minério de ferro (370 Milhões
economia de escala por transportar cargas de toneladas – Mt – 31%); (ii) Petróleo e de- Figura 5 - Evolução dos principais produtos exportados pelo Brasil
em navios maiores ajuda na redução dos rivados (óleo bruto) – (195 Mt – 16%); (iii) entre 1995-2019
custos unitários, o que maximiza a receita, contêineres (133 Mt – 11%); (iv) soja (109 What did Brazil export between 1995 and 2019?
cujas margens no terceiro trimestre de 2021 Mt – 9%); (v) petróleo e derivados (sem óleo $3008
$2808
alcançaram patamares de 56%, conforme bruto) (84 Mt – 7%). Com o agrupamento $2608 Serv
ices
amplamente divulgado na imprensa. de todas as cargas movimentadas, temos: $2408
$2008
1.5 Desenvolvimento econômico e conteinerizada – 11% e carga geral – 5%.
$1208 Minerals
Os portos são a linha de frente do trân- Ponta da Madeira (182,36 Mt) – privado; (ii) $1008
sito das riquezas de uma nação, ou seja, Santos (113,28 Mt) – público; (iii) Terminal $808
são por eles que o PIB do país circula. Essas Aquaviário de Angra dos Reis (64,14 Mt) $608
Agriculture
$408
infraestruturas refletem diretamente em – privado; (iv) Terminal de Tubarão (64,09 $208
como a economia de um país está pauta- Mt) – privado e; (v) Itaguaí (54,47 Mt) – pú- $0
da. O Brasil é um país com dimensões con- blico. Considerando o fluxo por natureza
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tinentais, com cerca de 8.500 km de costa das cargas, 65,3% das movimentações são PRODUCT
SEARCH IN
SECTORS
marítima, com 37 portos públicos e mais de embarques e 34,7% são desembarques, o 1995
VISUALIZATION
2019
200 terminais de uso privados (TUP) instala- que mostra a vocação exportadora do país.
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
dos ao longo da costa, bem como aqueles As movimentações de cargas nos portos
Figura 5 - Evolução dos principaisFonte: Atlas
produtos da complexidade
exportados pelo Brasileconômica de Harvard (2021)
entre 1995-2019
instalados em bacias fluviais. brasileiros estão ligadas às características Fonte: Atlas da complexidade econômica de Harvard (2021)
observar que ao longo dos últimos anos o onde temos a maior concentração da ativi- 4% Stone X
Brasil ampliou significativamente sua ex- dade agropecuária, é onde está ocorrendo Minerals X
3.5% Metals X
portação de produtos agrícolas, bem como a maior expansão das demandas de trans-
Chemicals X
de minerais (minério, combustíveis e deriva- porte e exportação destes produtos no país, 3%
Vehicles X
dos). Produtos como químicos, farmacêuti- pela infraestrutura das regiões Sul e Sudeste
se mantiveram estáveis nos períodos, em Isso pode ser observado pela Figura 7, 2%
Services X
possível notar que a movimentação de mi- em 4,25%, sendo os dados de até 2019. 0% 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
.
to nesta participação internacional quando (2.80 – 2000 – 1ª posição – 2.49 – 2019 – 1ª diretamente relacionados com seu nível de Management and Policy (2021), sendo:
comparado entre o início e final da série, posição), Coreia do Sul (1.25 – 2000 – 20ª complexidade, e os nove primeiros mun-
Fabricações diversas incluem artigos
principalmente em produtos de maior valor posição – 2.05 – 2019 – 4ª posição), bem diais estão concentrados na Ásia, e como
feitos de plástico (por exemplo, sacolas),
agregado, que demandam de uma infraes- como a China (0.44 – 2000 – 39ª posição – demonstrado na seção anterior, a região
brinquedos, artigos esportivos ou material
trutura específica de movimentação de car- 1.35 – 2019 – 16ª posição), Singapura (1.55 que ampliou seu ICE. Somente o porto de
.
de escritório;
gas, como os terminais de contêineres. – 2000 – 11ª posição – 2.00 – 2019 – 5ª po- Rotterdam é o único europeu que vigora
Deste modo, podemos identificar pelas sição) e Vietnã (0.59 – 2000 – 93ª posição entre os primeiros do mundo, na décima Máquinas elétricas incluem máquinas
cargas que exportamos e movimentamos – 0.05 – 2019 – 56ª posição), mostrando que posição. Quando analisamos o caso do movidas a eletricidade, como cabos elétri-
no país o grau de complexidade econô- alguns países aumentaram sua complexidade Brasil, verificamos que no mesmo período cos, eletrodomésticos, baterias e circuitos
.
mica. Assim, o desenvolvimento econô- de produção nos últimos anos. Isso mostra os terminais que tiveram maior crescimen- integrados;
mico requer o acúmulo de conhecimento que o desenvolvimento logístico portuário to nas exportações foram os ligados a mi-
Hortaliças e frutas compõem um im-
produtivo e seu uso em setores cada vez tem forte correlação com o grau de comple- nérios e granéis sólidos vegetais. O porto
portante segmento de transporte por con-
mais complexos. As classificações de país do xidade econômica global. de Santos, que é o maior público Brasilei-
têineres refrigerados. Este setor tem sido
Harvard Growth Lab avaliam o estado atu- ro, encontra-se na posição 45ª em termos
objeto de notável crescimento com logísti-
al do conhecimento produtivo de um país, 1.6 Complexidade econômica re- de movimentações globais totalizando
.
ca de cadeia de frio mais confiável;
por meio do Índice de Complexidade Eco- flete no transporte de contêineres (2,6 milhões de unidades – 4,23 milhões
nômica (ICE). Os países melhoram seu ICE de TEU), conforme o anuário do Porto de Têxteis e artigos confeccionados in-
aumentando o número e a complexidade A movimentação de contêineres pode ser Santos 2020. cluem fios, fibras tecidas, cobertores, len-
dos produtos que exportam com sucesso, utilizada como um termômetro para avaliar a Do ponto de vista macroeconômico, çóis, cortinas e tapetes.
ou seja, produtos de maior tecnologia repre- economia de um país, considerando a natu- essa posição mostra diretamente o efei-
sentam maior grau de ICE, que representa reza das principais cargas que em geral estão to da economia brasileira, em termos de Neste contexto, podemos comparar o
maior valor agregado. a bordo dessas caixas. O exemplo recente bens e produtos gerados para exportação, Índice GS1 Brasil de Atividade Industrial,
Em 2000, o ICE brasileiro era de 0.86 (26ª desse fenômeno ocorreu com a covid-19. Por bem como insumos e produtos de impor- que mostra o reflexo das atividades indus-
posição) e 2019 foi de 0.10 (53ª posição). Ou alguns meses a economia global entrou em tação. É sabido que as principais cargas triais no país. Neste índice são analisados
seja, esses dados, quando comparados com processo de estagnação, mas quando houve conteinerizadas são aquelas de maior va- os setores como alimentos, bebidas, têxtil
a Figura 7, mostram que devido a maior par- a sua retomada todo o reflexo se pautou na lor agregado. Isso tem uma relação dire- vestuário e produtos diversos. Uma análise
ticipação no market share global de produtos escassez de contêineres, filas de navios nos ta com a indústria. As principais cargas global é mostrada na Figura 8.
como commodities (agrícolas e minerais), o portos e congestionamentos. Isso foi um
país foi reduzindo sua complexidade em ter- sinal positivo de retomada econômica nas Figura 8 - Série histórica do Índice GS1 no Brasil
mos da produção para exportação. Isso signi- maiores economias do mundo. Para validar – 2002-2020 –
fica dizer que as cargas que são embarcadas nossa afirmação, basta realizarmos um com- Índice GS1 Brasil
em grandes volumes nos portos brasileiros parativo dos principais terminais de contêine-
180,00
apresentam menor complexidade de produ- res globais nos últimos anos, e o contêiner é 160,00
ção em relação à carga de outros países com uma carga que em geral transporta produtos 140,00
160,00
maior grau de industrialização e agregação de maior valor agregado, que consequente-
Índice
120,00
100,00
de valor tecnológico nos produtos exporta- mente tem uma correlação com ICE dos pa- 80,00
dos. Este fenômeno não é apenas brasileiro, íses. O principal porto de movimentação de 60,00
40,00
ocorre também com outros países como Ar- contêineres é Shanghai – 45 MTEU (milhões
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gentina (0.14 – 2000 – 54ª posição – 0.24 de TEUS) em 2020; Singapura (37 MTEU);
– 2019 – 73ª), Estados Unidos (1.99 – 2000 Ningbo-Zhoushan (32 MTEU); Shezhen (26 Meses/ano
– 6ª posição – 1.57 – 2019 – 11ª posição), MTEU); Rotterdam (15 MTEU). Fonte: www.gs1br.org
PIB Industrial
PIB - Estado
20% 20%
a isso, existe o fato da infraestrutura de tributos oriundos da atividade industrial 12%
15% 15%
transporte do estado de São Paulo per- (Figura 10). Para melhor compreensão 11%
10% 10%
mitir também capturar cargas em vários destas relações econômicas versus a in- 7% 8%
5%
4% 4%
estados que estão na sua hinterlândia. Os fraestrutura disponível para movimenta- 5%
1%
3%
2% 2% 2% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 0% 1% 1% 0% 0% 0% 0%
5%
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Estados
Figura 10 - Ranking de arrecadação de contribuição previdenciária (CSS) Fonte: Adaptado de Perfil da Indústria (2022)
da Indústria dos Estados
A análise integrada desses dados per- mais de uma integração modal, em que
Ranking dos Estados Brasileiros em Arrecadação da Indústria x No Terminais de Contêineres - Dados de 2017 mite-nos identificar que embora verifica- a cabotagem tem um papel fundamental
5
R$ 35.000,00 mos um crescimento ano a ano da movi- para essa atividade, reduzindo o custo da
No de Terminais de Contêineres
R$ 30.000,00 4 mentação de contêineres em alguns dos cadeia logística.
R$ 25.000,00 portos brasileiros, este fator não é expli- De maneira geral, isso mostra a impor-
3
R$ 20.000,00 cado pelo desenvolvimento da atividade tância do planejamento, bem como da
R$ 15.000,00 2 industrial (crescimento médio 2017-2021 análise sistêmica para o desenvolvimento e
R$ 10.000,00 = 0,29%), mas pela oportunidade de mi- crescimento das operações de contêineres
1
R$ 5.000,00
gração modal, ou seja, cargas que estão no Brasil, considerando a integração entre
R$ 0,00 0 migrando do transporte rodoviário para a polos consumidores e produtores, além de
cabotagem têm aumentado a movimenta- uma infraestrutura logística que permita
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notamos um crescimento mais acelerado multimodal. É pouco provável que sem es-
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686 ECONOMIA
ECONOMIA AZUL
AZUL Transporte Marítimo e Infraestrutura Portuária 687
1.7 Infraestrutura para commodities do ponto de vista logístico no país, este
foi o corredor de maior crescimento neste Figura 12 - Agropecuária no Brasil. Referência: 2019
A Figura 7 mostrou que o país tem período, principalmente no transporte de
uma participação da ordem de 4,1% no cargas como soja e milho. Isso refletiu dire-
market share global das exportações liga- tamente na conjuntura de movimentação
das à agricultura, tendo como carro-chefe das commodities brasileiras, que culminou
a exportação de soja. Diferentemente das numa nova alternativa logística, bem como
atividades industriais, a atividade agrope- uma nova alavanca propulsora para o de-
cuária concentra-se no interior do país, senvolvimento regional.
principalmente na região do Centro-Oeste Assim, com a expansão da infraestrutu-
e ramificações para o Sul-Sudeste e, mais ra portuária na região houve também a ne-
recentemente, para Norte e Nordeste, re- cessidade da melhoria nos acessos, sendo
gião também conhecida como MATOPIBA um marco para o país o asfaltamento da BR
(sigla que reúne as iniciais dos estados do 163, nos estados de Mato Grosso e Pará,
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) (Figura que permitiu aumentar a capacidade de es-
12). Neste sentido, a expansão portuária coamento e movimentação destas cargas
está se desenvolvendo principalmente nas nesta região até Miritituba.
regiões Norte e Nordeste do Brasil, sendo Por outro lado, isso também gerou um
impulsionada pelos projetos do Arco Norte. impacto em relação aos portos do Sudes-
De 2010 à 2020 foi possível observar te, uma vez que retirou a sobrecarga so-
um crescimento exponencial na infraestru- bre este sistema portuário. Neste contex-
tura de transporte alocada na região Norte to, cabe salientar que não se pode realizar
do país, no que tange à instalação de es- uma análise isolada, mas o resultado final Fonte: IBGE (2019)
tações de transbordo em Miritituba, novos deste desenvolvimento foi a geração de
terminais portuários no Pará, nas cidades uma série de novos serviços e demandas
de Santarém e Vila do Conde, além do de- para o desenvolvimento da região do Arco destas cargas, que naturalmente está liga- realizar investimentos em ferrovias, com a
senvolvimento de tecnologias específicas Norte, que reflete no processo de geração da ao seu grau de complexidade econômi- garantia da construção e operação ferro-
para movimentação de carga por meio de de emprego e renda na região para desen- ca, em função do que se é capaz de produ- vias, ramais, pátios e terminais ferroviários
barge to ship e operações offshore. volver e manter uma nova infraestrutura zir internamente no Brasil. por meio de autorização.
Adicionalmente, projetos de infraestru- de transporte. Cabe ressaltar que existem A tendência ao se observar a maior par- Os novos projetos de concessões previs-
tura para a região têm sido previstos, como ainda novas perspectivas de projetos es- te dos projetos de infraestrutura portuária tos nas zonas portuárias brasileiras, em ter-
melhoria das condições de passagem dos truturantes para ampliar a capacidade de apresentadas para os próximos anos são mos da natureza das cargas, não são muito
navios pela Barra Norte (AM), derroca- movimentação de cargas nesta região de novos terminais que envolvem principal- diferentes das que já são movimentadas
mento do canal do Lourenço, dragagem e influência do Arco Norte, com a possível mente a movimentação de commodities, por esses complexos existentes, seguindo
balizamentos nos rios Madeira e Tapajós, construção futura da ferrovia Ferrogrão por exemplo, o Terminal de Alcântara, no a tendência do índice de complexidade
asfaltamento da BR 163/PA até Miritituba (SINOP-Itaituba), expansão do trecho ferro- Maranhão, localizado numa posição pri- econômica nacional. Por fim, cabe salien-
já concluída, de acordo com a ATP (2020). via Norte-Sul de Açailândia para Barcarena vilegiada em termos de acesso marítimo, tar que para o mercado das commodities
Tudo isso reflete o aumento da movimenta- ainda sem previsão. profundidade natural de 25 metros, porém ainda existem alguns gargalos a serem
ção de cargas nesta região, com crescimen- Portanto, percebe-se que a infraestru- com restrições ainda de acesso terrestre, superados, como a ampliação das draga-
to médio anual de 19,9% de 2010-2020, tura portuária tende a se desenvolver em que poderão ser mitigadas com a constru- gens, duplicação de canal de acesso, orde-
sendo os dados apresentados no Diagnós- função das características principais das ção da ferrovia que já entrou no projeto namento do tráfego de navios e barcaças,
tico Logístico 2020 da Empresa de Plane- cargas movimentadas pelo país, em função estruturante do governo federal chamado zonas para realização de transhipment
jamento e Logística – EPL. Observando da demanda prevista para movimentação Pró Trilhos, que garante a iniciativa privada na área de Santarém, derrocamentos,
1. Introdução
Thousand cgt
Marinha de destaque e mantendo a Europa nal. Na década de 1960, a Europa perdeu
15000
Ocidental no centro do mercado mundial seu posto de maior indústria para o Japão
até meados da década de 1960. Apesar e, depois, na década de 1980, para a Co-
do destaque no cenário internacional, os reia do Sul e China (BOTELHO, 2007). 10000
países também dependiam enormemente Nas décadas de 1950 e 1960, o Japão
da ajuda estatal para manter sua produção se utilizou do setor de construção naval 5000
(idem). É importante evidenciar que, apesar para gerar emprego e renda para socieda-
das características dos estaleiros serem fun- de e reconstruir seu parque industrial após
damentais nas compras internacionais, por a Segunda Guerra Mundial. Uma das estra- 0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
influenciar a qualidade e desenvolvimento tégias do país foi o controle de 35% dos
tecnológico das embarcações, as especifici- estaleiros nacionais através da criação de Completions New contracts
dades dos países e suas relações bilaterais uma agência governamental. Assim, o do-
mínio do mercado internacional pelo país Fonte: OCDE (2021b, p. 14)
também interferem na escolha (LEE, 2019).
2,5 35,0 ampla, não tratando somente do transpor- barcações encomendado nas três fases do
Empregados (em mil) te marítimo, mas da estrutura legal e orga- Programa totalizou 223.
2,0 28,0 nizacional do setor de petróleo e gás. É por Paralelamente aos programas desenvol-
esse diploma legal que se cria a Agência vidos pela Petrobras, existiam outras inicia-
1,5 21,0 Nacional do Petróleo (ANP) e se quebra o tivas do governo. Uma delas, importante
monopólio estatal do setor, permitindo, para a indústria Naval, foi o Programa Nave-
1,0 14,0 em seu art. 5º, que as atividades desta- ga Brasil, conduzido a partir dos anos 2000,
cadas abaixo passassem a ser passíveis de que abordava as ações de melhoria de crédi-
0,5 7,0 concessão, autorização ou contratação sob to para o setor naval, com aumento de valo-
o regime de partilha de produção, por em- res e de prazo de financiamento de crédito.
0,0 0,0 presas constituídas sob as leis brasileiras, Outra iniciativa conduzida pelos Ministé-
1960
1961
1965
1970
1971
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2000
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2007
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2009
4.1. Conceitos e definições b) produtos tecnologicamente aprimora- A Lei federal n. 10.973 de dezembro de 4.3. Particularidades da indústria da
dos. Um produto tecnologicamente novo é 2004, regulamentada e posta em aplicação construção naval
De forma sucinta, pode-se definir “ino- um produto cujas características tecnológi- no dia 11 de outubro de 2005, alterada em
vação” como a exploração, com sucesso, cas ou usos pretendidos diferem daqueles 2016 e regulamentada pelo DEC 9.283/2018 A indústria naval possui um lento proces-
de novas ideias. Sucesso, para as empresas, dos produtos produzidos anteriormente. de 7/2/2018, é a chamada Lei da Inovação. so de inovação tecnológica, no que diz res-
subentende-se aumento de faturamento, Tais inovações podem envolver tecnologias Essa Lei estabelece medidas de incentivo peito ao produto final “navio”. A busca de
acesso a novos mercados, aumento das radicalmente novas, podem basear-se na à inovação e à pesquisa científica e tecno- inovações pelos estaleiros normalmente é de-
margens de lucro, sustentabilidade, entre combinação de tecnologias existentes em no- lógica no ambiente produtivo, com vistas à terminada pela necessidade de atender aos
outros benefícios. vos usos, ou podem ser derivadas do uso de capacitação tecnológica, ao alcance da au- requerimentos dos armadores (demand pull),
Como referência, será utilizado o Manual novo conhecimento. Já um produto tecnolo- tonomia tecnológica e ao desenvolvimento quase sempre como obrigação de atendi-
de Oslo – Proposta de Diretrizes para Cole- gicamente aprimorado é um produto existen- do sistema produtivo nacional e regional do mento à legislação ambiental ou normas de
ta e Interpretação de Dados sobre Inovação te cujo desempenho tenha sido significativa- país. Tem como princípio a promoção das segurança. A evolução tecnológica na cons-
Tecnológica. Esse documento foi editado mente aprimorado ou elevado. Um produto atividades científicas e tecnológicas como trução naval visa em maior grau à obtenção
em 1990 pela Organização para a Coopera- simples pode ser aprimorado (em termos de estratégias para o desenvolvimento eco- de embarcações mais seguras e eficientes, se-
ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE) melhor desempenho ou menor custo) através nômico e social. Além disso, regulamenta guindo normas de segurança ou ambientais,
e tem o objetivo de orientar e padronizar de componentes ou materiais de desempe- parcerias no modelo “Tríplice Hélice” (ins- do que a busca de aumento de faturamento,
conceitos, metodologias e construção de es- nho melhor, ou um produto complexo que tituições de ensino – empresas – governo), margens de lucro ou outros benefícios.
tatísticas e indicadores de Pesquisa e Desen- consista em vários subsistemas técnicos inte- criando ambientes propícios a parcerias pú- Ademais, a falta de garantia de encomen-
volvimento (P&D) de países industrializados. grados pode ser aprimorado através de modi- blico-privadas no desenvolvimento de solu- das a longo prazo faz com que as empresas
A primeira tradução para o português foi ficações parciais em um dos subsistemas. ções e estimulando a aplicação do conhe- foquem apenas no dia a dia, sem um pla-
produzida e divulgada pela FINEP em 2004. Inovação tecnológica de processo é a cimento acadêmico no mundo corporativo. nejamento com foco em inovação, longo e
De acordo com o Manual, as Inovações adoção de métodos de produção novos ou Em resumo, os principais pontos da Lei duradouro. Sendo assim, a inovação verifica-
Tecnológicas em Produtos e Processos (TPP) significativamente melhorados, incluindo da Inovação, são: a) Autoriza a incubação da nos processos da construção naval, con-
compreendem as implantações de produtos métodos de entrega dos produtos. Tais mé- de empresas dentro de institutos de ciência sequência, principalmente, do crescimento
e processos tecnologicamente novos e subs- todos podem envolver mudanças no equi- e tecnologia (ICT); b) Permite a utilização de da informática, tem permitido, de fato, uma
tanciais melhorias tecnológicas em produtos pamento ou na organização da produção, laboratórios, equipamentos e instrumentos, evolução tecnológica tanto no que tange ao
e processos. Uma inovação TPP é considerada ou uma combinação dessas mudanças, e materiais e instalações dos ICTs por empre- gerenciamento da construção como no fer-
implantada se tiver sido introduzida no mer- podem derivar do uso de novo conheci- sa; c) Facilita o licenciamento de patentes e ramental utilizado para a obtenção das diver-
cado (inovação de produto) ou usada no pro- mento. Os métodos podem ter por objeti- a transferência de tecnologias desenvolvidas sas partes que compõem o navio.
cesso de produção (inovação de processo). vo produzir ou entregar produtos tecnolo- pelos ICTs; d) Promove a participação dos O “navio”, como um produto complexo
A inovação tecnológica de produto gicamente novos ou aprimorados que não pesquisadores dos ICTs nas receitas advindas com vários subsistemas técnicos integrados,
pode assumir duas formas abrangentes: possam ser produzidos ou entregues com de licenciamento de tecnologias para o pode, e tem sido aprimorado, como con-
a) produtos tecnologicamente novos; e os métodos convencionais de produção, ou mercado; e) Autoriza a concessão de recursos sequência de modificações em seus vários
1. Introdução
712 ECONOMIA
712 AZUL
A ECONOMIA AZUL Segurança, Defesa e Economia do Mar 713
Nesse contexto, a saúde dos oceanos se dê no âmbito da soberania, da integri- 2. Espaços marítimos, segurança e atividade econômica
passou a ser um imperativo do nosso tem- dade territorial ou de ofensa aos interesses
po e o debate conceitual associado a esses nacionais no mar, a capacidade de defesa O entendimento de que a delimitação responsabilidade, uma vez que águas segu-
fenômenos tem gerado novas expressões do país proporcionado pelas Forças Arma- dos espaços marítimos é fundamental para ras combinadas com recursos naturais atra-
ou atualizado significados já existentes. das torna-se primordial. Em qualquer dos a segurança internacional e para o uso em interesses e investimentos. São, pois,
Um exemplo é a ascensão da “economia casos, a Marinha do Brasil (MB) tem uma compartilhado dos oceanos levou a comu- fundamentais as instituições criadas para
azul”, que emergiu como forma de chamar responsabilidade central, uma vez que o nidade internacional a buscar instrumentos prover a segurança marítima ou restaurá-la
a atenção para a necessidade de um uso Comandante da Marinha é designado por de governança nessa área. Um significati- em caso de necessidade.
mais inteligente e ponderado dos abun- lei a Autoridade Marítima brasileira. vo avanço foi obtido com a assinatura da Cabe lembrar que o Poder Naval inte-
dantes recursos marinhos, em prol do de- Convém lembrar que as capacidades Convenção das Nações Unidas para o Direi- grado deve contribuir para uma defesa de
senvolvimento. A economia azul se deixa mencionadas ganham concretude nas suas to do Mar (CNUDM), em Montego Bay, Ja- amplo espectro dos interesses marítimos
pensar por uma miríade de atividades de bases materiais, humanas e organizacio- maica, em dezembro de 1982. Formalmen- nacionais. Além da defesa naval clássica
geração e troca de bens e serviços que, de nais. A existência de forças bem equipadas te em vigor após a sexagésima assinatura contra atores estatais, deve também ga-
alguma forma, estão relacionados com os e treinadas, com infraestrutura de coman- de estado-parte, em 1994, a Convenção rantir a segurança (security) desses inte-
espaços marítimos e faixas de terra litorâ- do e controle e de apoio, são um requisito conta na atualidade com a ratificação de resses contra ilícitos e ameaças dinâmicas
neas. O termo sugere um modelo de de- fundamental. A construção e manutenção 168 membros, incluindo o Brasil. e multifacetadas. Da mesma forma, em
senvolvimento que não considere somente dessas forças requerem investimentos e Entre os conceitos fundamentais esta- outra acepção de segurança (safety), deve
a perspectiva dos negócios, mas que leve mobilizam setores da economia ligados ao belecidos na Convenção para balizar os salvaguardar a vida humana no mar e o trá-
em conta o impacto da saúde dos oceanos mar, para atender demandas de constru- espaços marítimos estão: águas interio- fego seguro de embarcações e, adicional-
para o clima e para os ecossistemas costei- ção naval, de sistemas de combate, equi- res, mar territorial (MT), zona contígua, mente, contribuir para a proteção do meio
ros, alinhado à agenda de desenvolvimento pamentos de comunicações, sensoriamen- zona econômica exclusiva (ZEE), platafor- ambiente.
sustentável da ONU (WORLD BANK, 2017). to, propulsão, manutenção e logística em ma continental (PC) estendida e alto-mar2. Mostra-se importante aprofundar os
Há que se considerar que a alavancagem geral, bases navais, atividades portuárias, Esse arcabouço conceitual é a base para o dois eixos que contribuem para a seguran-
da atividade econômica não pode prescindir apenas para citar alguns exemplos. trato de temas de segurança e defesa. ça marítima mencionados acima. No caso
de um ambiente de segurança e estabilidade, Assim, os instrumentos do Estado para No caso brasileiro, a enorme extensão da segurança/security, para prover a “Pro-
em que os atores se sintam livres de ameaças. o uso legítimo da força no mar têm uma da área formada pelo somatório do MT, teção Marítima” considera-se o empre-
Nos espaços marítimos, há acentuada de- dupla contribuição para o desenvolvimen- da ZEE e da PC estendida deu origem ao go coercitivo de parcela de forças navais,
manda por instrumentos de governança e de to da atividade econômica no ambiente conceito de “Amazônia Azul”. Nela estão juntamente com outros órgãos governa-
preservação da boa ordem no mar.1 Assim, a marítimo. Por um lado, pela preservação 95% do petróleo e 80% do gás produzidos mentais, entre eles Polícia Federal, Receita
manutenção da segurança marítima requer ou resgate da segurança marítima, dando no país, além de outros recursos minerais Federal, IBAMA, em operações interagên-
um ordenamento jurídico apropriado e a respostas tempestivas a eventuais ame- que constituem reservas de importância cias, contra ilícitos como: pirataria, roubo
existência de expedientes de implementação aças que porventura sobrevenham; por estratégica. Ressalta-se a relevância das li- armado, sabotagem, contrabando, pesca
e garantia desse ordenamento. outro, como indutor do desenvolvimento nhas de comunicação marítimas, em que ilegal, tráfico de drogas e de seres huma-
Num contexto em que ameaças de di- nacional à medida que é gerador de de- o tráfego marítimo responde por 95% do nos. No que tange ao caso segurança/sa-
versas naturezas se manifestam no am- mandas por ampla gama de materiais e comércio exterior brasileiro. A atividade fety, objetiva-se que o tráfego seguro de
biente marítimo, as Forças Armadas e, em serviços de diversas naturezas, em geral, pesqueira e a indústria do turismo, rela- embarcações se realize conforme as leis e
especial, a Marinha, juntamente com as intensivos em tecnologia, estimulando va- cionado à bela região litorânea brasileira, normas vigentes, atuando-se por meio de
demais forças de segurança e agências do riados setores da economia. complementam um panorama que requer inspeções e vistorias de modo a prevenir a
Estado, têm um papel primordial na manu- Tendo como base o contexto apresenta- segurança e estabilidade para o desenvol- poluição hídrica, a ocorrência de acidentes
tenção da segurança necessária à atividade do, o presente capítulo se volta a explorar vimento econômico do país. e incidentes da navegação.
econômica. Se a ameaça se dá no âmbito as contribuições que a Segurança e a Defe- Preservar a segurança no ambiente ma- No caso brasileiro, na estrutura orga-
da segurança pública, as forças policiais e sa prestam à atividade econômica susten- rítimo é uma primordial atribuição do Es- nizacional do setor de Defesa, a Marinha
as agências se tornam fundamentais. Caso tável no ambiente marítimo. tado costeiro, sobretudo nas áreas de sua do Brasil prepara e emprega o Poder Naval
1 “Boa ordem no mar” é uma expressão ao ambiente marítimo (TILL, 2018; MEDEI-
encontrada na literatura relativa à estraté- ROS; MOREIRA, 2017; MOREIRA, 2018)”.
gia naval, notadamente na discussão sobre 2 Para definições adotadas no regime jurídico
as tarefas e atribuições subsidiárias das ma- brasileiro, ver: BRASIL. LEI Nº 8.617, de 4 de ja-
rinhas. Ela sugere um estado de segurança neiro de 1993. Dis-põe sobre o mar territorial,
alcançado de uma forma ampla, a partir de a zona contígua, a zona econômica exclusiva e
atividades de natureza policial voltadas à a plataforma continental brasileiros, e dá outras
prevenção de ilícitos e a implementação da providências. Disponível em: http://www.pla-
lei e dos regimes de governança pertinentes nalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8617.htm.
A pesca é uma das atividades mais municípios, incluindo ainda a faixa marítima
antigas exercidas pelo homem, data do formada pelo mar territorial, com largura de
período anterior ao neolítico, e sua impor- 12 milhas a partir da linha da costa.
tância além da econômica é também cultu- Já a Zona Econômica Exclusiva (ZEE)
ral e simbólica. Diversos grupos humanos apresenta uma área aproximada de 4,3
têm sua origem fundada na atividade, sen- milhões de quilômetros quadrados e 8,5
do responsável por sua reprodução física e mil quilômetros de costa. Ao longo des-
social de seus membros (DIEGUES, 2004). sa extensão, abriga diversos e complexos
No Brasil a pesca se notabilizou desde os ecossistemas costeiros, considerando um
períodos coloniais como uma atividade im- gradiente latitudinal no sentido Norte-Sul,
portante como fonte de alimentação para desde 4,2°N até 34°S. Estas dimensões
os engenhos de cana-de-açúcar e para as continentais e as diversidades climáticas
cidades litorâneas (DIEGUES, 2004). É exer- e morfológicas de sua região costeira e
cida em águas interiores (rios, reservató- oceânica tornaram necessárias a adoção
rios, dentre outros corpos-d’água), na Zona de medidas e coleta de dados de produção
Costeira e na Zona Econômica exclusiva. A dos recursos pesqueiros considerando-se
Zona Costeira se estende por mais de 8.500 as regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul,
km, abrangendo 17 estados e mais de 400 separadamente (Figura 1).
730 ECONOMIA
730 AZUL
A ECONOMIA AZUL A Exploração Pesqueira na Zona Econômica 731
Quanto à produção pesqueira nacional, t, seguida pelo grupo de outros peixes,
Figura 1. A costa e a Zona Econômica Exclusiva Brasileira (ZEE),
dividida em quatro regiões, incluindo a Ilha de Trindade segundo de Zamboni et al. (2020), estima- com 40.168. O bonito-listrado representou
e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP) -se que atualmente oscile ao redor de 500 30.563 t (Figura 2c). Em relação à produ-
mil toneladas anuais, colocando o Brasil ção de crustáceos, o camarão-sete-barbas
50o0’0oW 45o0’0oW 40o0’0oW 35o0’0oW 30o0’0oW 25o0’0oW 20o0’0oW
na 33ª posição mundial entre os produ- (Figura 2d) e o camarão-rosa (Figura 2e)
tores de pescados de captura marinha do foram as espécies mais capturadas, com
mundo. Por outro lado, os últimos dados 15.417 t e 10.331 t, respectivamente, re-
10oo0’0’’N 10o0’0’’N estatísticos detalhados das capturas foram presentando 45% do total da produção
publicados pelo Ministério da Pesca e Aqui- de crustáceos marinhos no Brasil. A lagos-
cultura através do Boletim Estatístico de ta (Figura 2f), uma das principais espécies
5oo0’0’’N 5o0’0’’N Pesca e Aquicultura em 2011. A partir des- destinadas à exportação de pescados do
te ano, não houve continuidade na coleta e Brasil, representou 12% do total captura-
divulgação de dados de desembarques da do do grupo dos crustáceos, com 6.929 t.
0o0’0’’ 0o0’0’’ atividade pesqueira nacional. Desta forma, As capturas do camarão-branco (Figura 2g)
somente considerando-se os últimos dados contribuíram com 4.115 t. Entre os molus-
publicados (MPA, 2011) constata-se que o cos, o mexilhão (Figura 2h) foi a espécie
5o0’0’’S 5o0’0’’S Brasil produziu 1.431.974 t. Neste período, mais capturada, com 3.772 t, representan-
a pesca extrativa marinha foi a principal do 27% do total desta categoria, sendo o
fonte de produção de pescado nacional, sururu (Figura 2i) a segunda espécie mais
10o0’0’’S 10o0’0’’S com 553.670 t, seguidos pela aquicultura capturada, com 2.133,3 t, seguida do pol-
continental (544.490 t), pela pesca extra- vo (Figura2j), com 2.089 t. A captura de
tiva continental (249.600 t) e aquicultura lulas (Figura 2k) foi de 1.623 t e de ostras
15o0’0’’S 15o0’0’’S marinha (84.214 t). A região Nordeste re- (Figura 2l) 1.233 t (MPA, 2011).
gistrou a maior produção de pescado, com As espécies de atuns e afins são cap-
454.216,9 t (31,7%). As regiões Sul, Norte turadas pela frota que atua com espinhel
20oo0’0’’N 20o0’0’’N e Sudeste registraram 336.451 t (23,5%), pelágico, apresentando relevante valor
326.128 t (22,8%) e 226.233 t (15,8%), comercial e participação na pesca mari-
respectivamente. O estado de Santa Cata- nha principalmente na região oceânica.
25o0’0’’S 25o0’0’’S rina foi o maior produtor de pescado do Representaram 4,8% (26.629 t) da pesca
Brasil, com 194.866 t (13,6%), seguido pe- extrativa marinha em 2011, considerando
los estados do Pará (153.332 t – 10,7%) e o total capturado no período de 553.670 t
30oo0’0’’N 30o0’0’’N Maranhão 102.868 t (7,2%). (MPA, 2011). As principais espécies captu-
Os peixes representaram 87% da pro- radas por essa frota são: albacora-laje (Fi-
dução total, seguido pelos crustáceos, com gura 2m), albacora-bandolim (Figura 2n),
10%, e moluscos com 3%. Em 2011, a albacora-branca (Figura 2o), albacorinha
35o0’0’’S 35o0’0’’S
produção pesqueira marinha foi dividida (Figura 2p), espadarte (Figura 2q), tubarão-
da seguinte forma: peixes representaram -azul (Figura 2r), agulhão-vela (Figura 2s),
482.335 t, crustáceos, 57.344 t e molus- agulhão-verde (Figura 2t), dourado (Figura
40o0’0’’S 40o0’0’’S
cos, 13.989 t. Entre as espécies de peixes 2u) e cavala-preta (Figura 2v).
50 0’0 W
o o
45 0’0 W 40 0’0 W 35 0’0 W 30 0’0 W 25 0’0 W 20 0’0 W
o o o o o o o o o o o o
mais capturadas, a sardinha-verdadeira Apesar de a atividade pesqueira mari-
0 310 620 1.240 1.860 2.480 3.100 (Figura 2a) apresentou o maior volume nha no Brasil estar estagnada e a pesca
Kilometers
(75.122 t). O segundo recurso mais captu- costeira se caracterizar por ser artesanal
Fonte: Elaboração própria rado foi a corvina (Figura 2b), com 43.369 e de baixo rendimento (XIMENES, 2021),
pode ainda ser considerada uma das ativi- de embarcações no mapa Global Fishing
J K
dades mais tradicionais para os habitantes Watch, o Brasil aumenta a governança so-
L de todas as quatro regiões costeiras brasi- bre sua frota que operam em águas juris-
leira, contribuindo com R$ 5 bilhões para dicionais, dando um exemplo importante
o PIB e gerando 3,5 milhões de empregos e melhorando a transparência da pesca
diretos e indiretos (RUFFINO et al., 2016). em toda a região.
Desde a descontinuidade do Programa Na- A Global Fishing Watch e as autori-
cional de Estatística Pesqueira em 2009, o dades brasileiras trabalham em conjunto
M N O
Brasil vive um cenário de poucas perspec- para garantir uma boa gestão pesqueira
tivas quanto à estatística pesqueira, tor- e promover a sustentabilidade dos esto-
nando muito mais complexa a avaliação ques pesqueiros do país, que incluem es-
do grau de vulnerabilidade dos estoques pécies de alto valor, como a sardinha bra-
pesqueiros no país. sileira, atuns, lagostas e outras espécies
P Q R Por outro lado, apesar da carência de demersais. Desde 2007, o Brasil emprega
3. O processo de qualificação da os para o mar – situação atual dados estatísticos para o setor pesqueiro um sistema de rastreamento de embarca-
brasileiro nos últimos 12 anos, o Brasil as- ções para monitoramento (Programa Na-
sinou um memorando de entendimento cional de Rastreamento de Embarcações
de compartilhamento de dados em abril Pesqueiras por Satélite – PREPS), controle
S T
de 2021 entre a Global Fishing Watch, site e vigilância de sua frota pesqueira nacio-
que fornece informações globais sobre as nal. Ao longo dos anos, o programa au-
atividades de pesca comercial, e o Minis- xiliou na verificação das autorizações de
tério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- pesca, no monitoramento e análise das
V mento, representado pela Secretaria de atividades de pesca e na avaliação de al-
U
Aquicultura e Pesca. Este acordo marcou gumas medidas de gestão pesqueira. A
o início oficial de colaboração do Brasil, parceria entre a Global Fishing Watch e
significando um marco importante na jor- a Secretaria de Aquicultura e Pesca do
nada em direção à transparência de dados Ministério da Agricultura, Pecuária e Ca-
Fontes: A. Acervo Revista Pesca e Companhia; B. Acervo agro20; C, Q. Scandinavian Fishing Year Book; e governança oceânica equitativa. Com deia de Abastecimento é uma grande
D, E, G. Acervo Clara Costa Delia; F. Acervo Convemar; H. Acervo Biotrends; I. Acervo Fineartamerica,
Ikon Images; J, K, P, S, T, U, V. Domínio público; L. Acervo Wikimedia Hectonichus; M. Diane Rome
a decisão de compartilhar publicamente oportunidade para o setor pesqueiro bra-
Peebles, 1992; N. Diane Rome Peebles, 1998; O. Acervo Chartinh Nature; R. Acervo Kano Serrano. os dados do sistema de monitoramento sileiro mostrar a intenção de promover a
O espinhel pelágico de deriva é utiliza- e utilizados em diferentes profundidades Figura 5. Ilustração de uma embarcação de espinhel de deriva
do direcionado a espécies de peixes pe- (GARCÍA-BARCELONA et al., 2016; UHRIN
lágicos. As espécies mais frequentes nas et al., 2020). A interpolação dos registros
capturas no Atlântico Ocidental são os gerados para o esforço aparente de pesca
atuns albacora-laje (Thunnus albacares), do PREPS, para a frota brasileira que opera
albacora-bandolim (Thunnus obesus), al- com espinhel de deriva na ZEE brasileira
bacora-branca (Thunnus alalunga) e alba- e região adjacente oceânica internacional,
corinha (Thunnus atlanticus). O espadarte resultou os maiores esforços e frequên-
(Xiphias gladius) é uma espécie importan- cia de embarcações nas áreas da ZEE na
te nas capturas da frota de espinhel, assim região Sul do Brasil, no Rio de Janeiro e
como o tubarão-azul (Prionace glauca) e Espírito Santo, no sul da Bahia, no entro-
algumas espécies do gênero Carcharhinus. no da Ilha de Trindade, na região oceâni-
O agulhão-vela (Istiophorus albicans) e ca no extremo nordeste da ZEE brasileira
agulhão-verde (Tetrapturus pfluegeri) são e região oceânica, nas proximidades do
eventualmente capturados. O dourado Arquipélago de São Pedro e São Paulo e
(Coryphaena hippurus) e a cavala-preta em direção oeste na região oceânica in-
(Acanthocybium solandri) são espécies ternacional (Figura 6). Essa frota represen-
menos frequentes nas capturas. Os anzóis tou 32,4% dos registros das embarcações
Fonte: Cochrane & Garcia, 2009
podem variar em sua forma e tamanho rastreadas pelo PREPS entre 2013 e 2021.
25o0’0’’S 25o0’0’’S
30o0’0’’N 30o0’0’’N
35o0’0’’S 35o0’0’’S
40o0’0’’S 40o0’0’’S
55o0’0oW 50o0’0oW 45o0’0oW 40o0’0oW 35o0’0oW 30o0’0oW 25o0’0oW 20o0’0oW
0 310 620 1.240 1.860 2.480 3.100
Kilometers
Figura 8. Pesca passiva por linha de mão (abaixo), vara isca viva (direita)
e trollers– corso (esquerda). Diferentes tipos e formas de anzóis
evidenciados, pesca com embarcação em movimento (a esquerda-corso) e
com embarcação parada (direita)
30o0’0’’S 30o0’0’’S
35o0’0’’S 35o0’0’’S
Fonte: Elaborado pelos autores utores baseado na Global Fishing Watch (2022)
Fonte: Cochrane (2005)
15o0’0’’S 15o0’0’’S
20o0’0’’N 20o0’0’’N
25o0’0’’S 25o0’0’’S
A frota que opera com vara e isca viva participam eventualmente das capturas.
apresentou maiores esforços entre os anos de Uma área isolada de atuação foi estimada na
2013 e 2021 na região Sul e nos estados de região Nordeste do Brasil, entre os estados de
35o0’0’’S 35o0’0’’S
São Paulo, Rio de Janeiro e sul do Espírito San- Pernambuco e Paraíba, entre as áreas de 300
to, de 300 m até áreas com profundidades de e 2.000 m de profundidade (Figura 10).
2.000 metros. A frota apresenta ainda áreas A distribuição espacial da frota que atuou
de atuação além da ZEE brasileira, a leste da re- com linha de mão entre 2013 e 2021 apre-
50o0’0oW 45o0’0oW 40o0’0oW 35o0’0oW 30o0’0oW
gião Sul do Brasil em áreas oceânicas interna- senta os maiores esforços direcionados para
0 237.5 475 950 1.425 1.900 2.375
cionais, nas proximidades da elevação do Rio a região Sul e nos estados de São Paulo,
Kilometers
Grande, direcionados principalmente ao bo- Rio de Janeiro e Espírito Santo, da costa até
nito-listrado. Algumas espécies de Scombri- profundidades de 300 metros. Nessa região, Fonte: Elaborado pelos autores baseado na Global Fishing Watch (2022)
dae, como o bonito Euthynnus alletteratus a frota atua até profundidades superiores a
20o0’0’’N 20o0’0’’N
25o0’0’’S 25o0’0’’S
30o0’0’’N 30o0’0’’N
35o0’0’’S 35o0’0’’S
Fonte: Elaboração dos autores, utilizando dados da Global Fishing Watch (https://globalfishingwatch.org/) Fonte: Modificado de Cochrane (2005) e Acervo FAO Fishing Gear Type
5o0’0’’S 5o0’0’’S
10o0’0’’S 10o0’0’’S
15o0’0’’S 15o0’0’’S
frota, como tainhas (Mugil spp.), enchova bolsa, há equipamentos especialmente di-
20 0’0’’N
o
20 0’0’’N
o
(Pomatomus saltatrix), cavalinha (Scomber- recionados para a regulação da abertura
japonicus), sardinha-laje (Opisthonemao- de malha para selecionar as espécies que
glinum), palombeta (Chloroscombruschry- serão capturadas, sendo estas redes man-
surus), galo (Selene setapinnis) e savelha tidas horizontalmente por boias e âncoras
(Brevoortia spp.), entre outras (VALENTIN; (ou portas) verticais (FAO, 2022; SPEDICA-
25o0’0’’S 25o0’0’’S PEZZUTO, 2006). TO et al., 2019).
Geralmente nas grandes embarcações
2.6 A rede de arrasto são utilizados equipamentos para o mane-
jo das redes de arrasto, como sensores que
As redes de arrasto (Figura 17) possuem identificam velocidade, simetria, captura,
30o0’0’’N 30o0’0’’N formato de cone que dependem da aber- profundidade, distância e altura, também
tura de malha e podem ser direcionadas ao são utilizados tambores de rede para soltar
ambiente pelágico, meia água ou de fundo e recolher as redes (FAO, 2022). Embarca-
(FAO, 2022). Possuem uma abertura hori- ções de arrasto apresentam variações, sen-
zontal que é ligada a uma ou duas (par de do denominados navios de arrastos fábri-
35o0’0’’S 35o0’0’’S arrasto) embarcações, nas quais rebocam cas e navios de arrasto freezers, que são
50o0’0oW 45o0’0oW 40o0’0oW 35o0’0oW a rede, ainda duas redes de arrasto para- utilizados para garantir a integridade do
0 190 380 760 1.140 1.520 1.900
lelas (redes gêmeas) podem ser utilizadas recurso pescado em águas mais distantes
Kilometers (SARMIENTO-NATAFE et al., 2015; SPEDI- (HOFF & FROST, 2007).
CATO et al., 2019). O tamanho da malha No Brasil, a modalidade de arrasto de
Fonte: Elaborado pelos autores baseado na Global Fishing Watch (2022)
das redes pode ser regulável na região da portas possui duas frotas distintas, a dos
25o0’0’’S 25o0’0’’S
Navio de arrasto
Abertura da
Saco Cabo mestre boca
30o0’0’’S 30o0’0’’S
Cabos varredouros
Cabo de Cabos de
fundo arrasto
35o0’0’’S 35o0’0’’S
Asa Portas de
arrasto
Fonte: Elaboração dos autores, utilizando dados da Global Fishing Watch (https://globalfishingwatch.org/)
1. Introdução
758 ECONOMIA
758 AZUL
A ECONOMIA AZUL Turismo Azul
Turismo azul no
no Brasil
Brasil 759
759
cerca de US$ 1,5 trilhão por ano, corres- também para os esforços de conservação MCCORMICK, 2002), com o turismo rural riquezas naturais, a produção de energia
pondendo a aproximadamente 3% do valor ambiental das áreas azuis do país. (FARMAKI, 2012) e impactos sobre econo- limpa e o transporte marítimo (EUROPEAN
agregado mundial (WORLD BANK, 2021). Para contribuir com esta discussão, este mias regionais (HADDAD; PORSSE; RABAHY, COMISSION, 2021; TEGAR; SAUT GUR-
No Brasil, o Ministério do Turismo capítulo apresenta uma proposta de defini- 2013) também têm sido reportados. NING, 2018; TONAZZINI et al., 2019).
(MTUR, 2018) tem desenvolvido diferentes ção de turismo azul de acordo com as carac- Uma característica comum aos estudos Neste sentido, o turismo azul pode ser
estratégias regionais para o fortalecimento terísticas das economias das regiões brasi- em economia do turismo é o recorrente des- apontado como uma atividade econômica
e mapeamento do turismo, promovendo leiras. Este mapeamento é importante para taque ao nível de atratividade dos ambientes particularmente relevante para fomentar a
ações e políticas que busquem estimular o orientar a tomada de decisão em relação à costeiros, marinhos e marítimos (BATISTA economia azul, o que se reflete nos estu-
desenvolvimento regional baseado na ativi- valorização das riquezas naturais em torno E SILVA et al., 2021; SHARAFUDDIN; MA- dos aplicados ao campo econômico e social.
dade turística e revalorização das riquezas do turismo como uma das vertentes da eco- DHAVAN, 2020), principalmente em países Sharafuddin e Madhavan (2020) analisaram
naturais. No âmbito da economia azul, o nomia azul. A análise permitirá identificar a e regiões insulares e com fronteira marítima. a evolução dos temas de pesquisa relaciona-
papel das pequenas e médias empresas, localização das áreas potencialmente benefi- Os aspectos naturais do espaço costeiro e dos com economia e turismo azul entre 2000
da integração em cadeias de valor, a sus- ciadas pelo turismo azul, assim como revelar marítimo implicam uma maior disposição e 2019, apontando que os conceitos ecotu-
tentabilidade no contexto da mudança cli- onde os benefícios da atividade econômica a pagar por parte dos viajantes para visitar rismo, desenvolvimento do turismo, turismo
mática e gênero e da diversidade tornam-se estão ocorrendo e em que nível, contribuin- cidades costeiras, ou regiões naturalmente marinho, turismo de cruzeiros e sustentabili-
elementos de alcance da gestão do turismo do para uma melhor compreensão analítica compostas por praias, recifes de coral e dade, além de turismo costeiro e a indústria
azul. Para as regiões costeiras brasileiras, do setor de turismo, e orientar investimen- paisagens marítimas. Essas características de cruzeiros, evoluíram conjuntamente com
que são dependentes do turismo, a capita- tos de proteção aos sistemas naturais que do espaço marítimo e costeiro tornam es- os estudos aplicados de impacto econômi-
lização dos recursos marítimos e costeiros sustentam a própria atividade turística. tas regiões potencialmente atrativas para o co da atividade turística (BALLANTYNE; PA-
requer investimentos em manutenção da O capítulo está estruturado, além da fomento da economia do turismo azul. Tal CKER; SUTHERLAND, 2011; CATLIN et al.,
riqueza oceânica, com investimentos plane- seção introdutória, em mais cinco seções. atratividade regional costeira e marítima 2010; HOSANY; WITHAM, 2009; HUANG;
jados, gestão territorial marinha e políticas Na próxima, se apresenta uma revisão de tem sido ainda mais ressaltada desde a im- HSU, 2009). Essas características apontam
inclusivas que permitam comunidades lo- literatura sobre economia e turismo azul. plementação da Agenda 2030 para o De- para o potencial do turismo azul em gerar
cais serem beneficiadas do capital natural Na sequência, se apresenta uma definição senvolvimento Sustentável das Nações Uni- estruturas produtivas e desenvolvimento de
existente. No entanto, no Brasil, os estudos conceitual e uma métrica de especialização das, principalmente no contexto da econo- escala local (HUH; VOGT, 2007; LI; PETRICK,
aplicados em economia e turismo azul ainda regional em turismo azul para o Brasil. A mia azul. Em 2022, o enfoque de economia 2008; NUNKOO; RAMKISSOON, 2009), prin-
são incipientes, requerendo-se análises que seção 4 mostra os principais resultados da azul tem sido considerado uma importante cipalmente desde o ponto de vista de comu-
permitam mapear e caracterizar o potencial estimação, comparando-se regiões turísticas estratégia de desenvolvimento econômico nidades e das populações costeiras (DIEDRI-
econômico do turismo azul, de forma sus- azuis e não azuis em termos de aptidão à sustentável, em que distintas organizações CH; GARCÍA-BUADES, 2009)).
tentável. Esse conhecimento é importante atividade turística local. A última seção apre- mundiais e governos nacionais, principal- A pesquisa aplicada em turismo costei-
não apenas para a indústria do turismo, mas senta conclusões e considerações finais. mente na União Europeia, têm avançado ro e marítimo também reforça a ideia de
rapidamente na sua incorporação dentro do que o capital oceânico e cultural é capaz
2. Economia do turismo azul marco de desenho de políticas regionais de de motivar as famílias a decidir seus desti-
crescimento econômico sustentável. nos de viagens, em que a experiência com-
Esta seção apresenta o estado da arte ROGERSON, 2013), na economia costeira Em termos gerais, a economia azul pode portamental e econômica dos passageiros
da literatura enfocada em turismo, eviden- (MIKULIĆ; KREŠIĆ; KOŽIĆ, 2015), com enca- ser entendida como uma estrutura para o (tanto de cruzeiros como de outros meios
ciando como os estudos empíricos foram deamentos com o setor de transporte (EIJGE- desenvolvimento sustentável que considera de transporte) se reflete nos gastos em por-
evoluindo e incorporando elementos rela- LAAR; THAPER; PEETERS, 2010) e rodoviário os principais elementos dos ecossistemas. tos e no conjunto setorial econômico local
cionados com a economia azul. Em geral, os (ASAFU-ADJAYE; TAPSUWAN, 2008; NAVAR- Os oceanos são entendidos como espaços (LARSEN et al., 2013). A intenção compor-
estudos sobre os impactos econômicos do RO JURADO et al., 2012), assim como o papel de desenvolvimento, em que o planejamen- tamental nos locais de destino turístico con-
turismo se ampliaram a partir de 2010. Des- do turismo alternativo e ecológico (BOXILL, to espacial marítimo integra diferentes di- tribui para valorizar a gestão e o manejo das
tacam-se a contribuição da atividade turística 2003). Além disso, estudos relacionados com mensões, como a social, a conservação am- praias, assim como se relaciona com dispo-
no desenvolvimento regional e local (PILLAY; a preservação patrimonial (BESCULIDES; LEE; biental, o uso sustentável dos recursos e das sição a pagar dos atores locais e não locais
.
Turismo (MTur).
municípios e governos locais já incorporam fica a relevância das atividades econômicas
∑ot é o emprego total na região turística t; e
Identificação de municípios costeiros essa lógica, por vezes adotando os termos ligadas ao turismo em relação ao total da
∑o é o emprego total das regiões turísticas
compondo a região turística, de acordo “circuitos”, “zonas” ou “polos” turísticos. atividade econômica nas regiões turísticas.
(costeiras e não costeiras).
com a classificação do Instituto Brasileiro A partir da identificação das Regiões Tu- Para isso, utilizaremos dados do mercado de
rísticas, o MTur adotou algumas variáveis trabalho para estimar a participação relativa Assim, valores de LQt>1 indicam espe-
.
de Geografia e Estatística (IBGE).
que traduzem a economia do turismo e as do emprego nos setores de hospedagem e cialização regional em atividades turísticas
Nível de atividade econômica dos municí-
utiliza para orientar a elaboração de políticas alojamento em cada região turística em re- em uma determinada região t e quanto
pios que compõem as regiões turísticas, re-
públicas voltadas a esse setor. Essas variáveis lação ao total setorial de cada região turís- maior o valor, maior a especialização da re-
lacionadas com setores ligados ao turismo,
são apresentadas na Tabela 1 e serão utili- tica e também em relação à participação de gião na referida atividade. Em outras pala-
especificamente hospedagem e alojamento.
zadas no âmbito desse trabalho para traçar cada região turística em relação ao total se- vras, a região t é relativamente mais impor-
Desta forma, adotaremos a definição de um panorama do turismo azul no Brasil, torial de todas as regiões turísticas do país. tante, dentre todas as regiões turísticas, em
regiões turísticas do MTur, que são enten- comparando-o com a turismo desenvolvido Desta forma, calcularemos um índice termos da participação relativa da atividade
didas como territórios que possuem carac- longe da costa (turismo não azul). similar ao quociente locacional (LQ), o turística do que em termos gerais de todos
que nos permitirá diferenciar o nível de os demais setores econômicos.
Tabela 1. Variáveis utilizadas para categorizar as regiões turísticas no Brasil
Por fim, para analisar a especialização de corais do mundo. Isso sugere que a pre-
PIB per capita médio (R$) 29.562,02 27.439,08
da atividade turística nas RTs brasileiras foi servação de ecossistemas e outros recursos
Fonte: Elaborado pelos autores, com base em IBGE (2021, 2022). calculado o para cada uma delas. Na Figu- naturais nessas regiões é de fundamental
ra 2 são apresentados os LQt das RTAs (os importância para o desenvolvimento de
A Tabela 3 faz uma comparação entre não azuis. Isso pode ser um indicativo da valores podem ser conferidos no Apêndi- atividades de turismo, pois são muito va-
regiões de turismo azul e não azul com base maior importância do turismo para a eco- ce A). As RTAs com os dois maiores LQt, lorizadas pelos visitantes. De outro lado, os
nas variáveis descritas na Tabela 1. Cada va- nomia local nas RTAs, quando comparado ou seja, regiões mais especializadas em menores valores (valores menores que 1),
riável foi ponderada individualmente para às RT não azuis. turismo, estão localizadas em estados da ou seja, regiões não especializadas em tu-
permitir uma comparação direta entre as Em relação aos visitantes internacionais região Nordeste: Costa do Descobrimento rismo, são da Região Turística das Florestas
regiões. Com base nessas informações, e nacionais, os indicadores utilizados (total (BA) e Costa dos Corais (AL). A Costa do do Marajó (PA) e do Polo Lagos e Campos
podemos visualizar um padrão distinto en- de visitas estimadas pelo emprego total da Descobrimento é uma área tombada pelo Floridos (MA), regiões que oferecem diver-
tre RTs azuis e não azuis. Primeiramente se região) apontam para dois padrões. Primei- Patrimônio Natural Mundial da Unesco e sas atividades ligadas ao ecoturismo.
nota que a participação dos empregos no ro, em ambas as regiões as visitas nacio- oferece diversos atrativos naturais como Essas evidências nos permitem supor
setor de alojamento no total de empregos nais se sobressaem às internacionais. Ou praias, baías, recifes de corais, manguezais, que destinos mais conhecidos de praia e
e a participação do número de estabeleci- seja, os turistas brasileiros são a maioria rios navegáveis, além de oferecer condi- que tradicionalmente recebem muitos tu-
mentos de alojamentos no total de esta- dos visitantes e provavelmente são os que ções para prática do turismo de aventura ristas, como os destinos da região Nordes-
belecimentos são relativamente pequenas mais contribuem para a geração de renda e ecoturismo.3 A Costa dos Corais é uma te, são os que apresentam maior grau de
em ambas regiões, porém, os valores nas e emprego vinculada ao turismo em to- área de proteção ambiental com 135 km especialização em atividades relacionadas
regiões azuis são quase o dobro das regiões das as RTs. O segundo padrão sugere uma de extensão, ela é a segunda maior barreira ao turismo. Da mesma maneira, destinos
5. Considerações finais
Fonte: os autores
As atividades produtivas associadas ao turismo azul também incluem, direta e A atividade turística permite incrementar os encadeamentos com outros se-
indiretamente, os cruzeiros, os resorts e o ecoturismo, que podem produzir im- tores econômicos, o que contribui para o crescimento econômico local sinérgico e
pactos ambientais e sociais relacionados com a exploração dos recursos naturais e integrado. Os setores econômicos não vinculados ao turismo também se beneficiam
das próprias comunidades locais, por meio de mudanças no uso da terra, poluição indiretamente dos encadeamentos para trás e para frente, seja como fornecedor
marinha e do ar, alteração da biodiversidade e consumo de materiais ou serviços para outras indústrias e setores, seja como comprador de outros setores produtivos.
ecossistêmicos. Desse modo, em muitas regiões costeiras, o turismo é visto como Em nível de consumidores individuais, é intuitivo considerar que o agente econô-
motor de crescimento econômico e um meio para aumentar a riqueza e de promo- mico viajante demanda bens e serviços de outros setores da economia do destino
ver o desenvolvimento econômico em nível local. turístico, como hospedagem, alojamento, alimentação, consumo cultural etc. Neste
Desde uma perspectiva ampla da sustentabilidade – incluindo-se as dimen- sentido, o turismo azul permite que as áreas costeiras, marinhas e com paisagens
sões social, econômica e ambiental – o turismo baseado nas riquezas naturais naturais associadas a elementos da água sejam consideradas um potencial elemento
é um aspecto transversal. O fomento ao ecoturismo, por exemplo, seria uma de promoção de encadeamentos intersetoriais, o que também está de acordo com a
estratégia que permitiria integrar à economia azul ações concretas de revalori- definição de Região Turística adotada pelo Ministério do Turismo (2017).
zação do patrimônio cultural e natural dos oceanos, reduzindo assim as exter- Como enfoque de política pública, os vínculos intersetoriais entre o turismo e os
nalidades negativas nos territórios. Como consequência, esse fomento poderia demais setores da economia – como agricultura, manufatura e serviços – ganham
se converter em um conjunto mais amplo de efeitos positivos sobre as regiões uma outra perspectiva quando consideramos elementos azuis. Para além da visão
turísticas azuis (Scott et al., 2012). Nesta linha, Tegar e Gurning (2018) sugerem setorial, a literatura em economia dos negócios e do turismo aponta que em am-
que o enfoque em turismo azul pode garantir o desenvolvimento sustentável em bientes costeiros, marinhos e marítimos, o crescimento econômico local se associa
sentido ecológico e social, para além do puramente econômico. De acordo com ao fortalecimento de atividades operações e gestão de cruzeiros, turismo costeiro,
os autores, esse desenvolvimento poderia ser fomentado desde um modelo eco- gestão de acomodações costeiras, gestão de praias e atividades de lazer maríti-
nômico enfocado na sustentabilidade ecossistêmica que, por definição, contem- mas. Em termos de potenciais efeitos de encadeamento do turismo azul, podemos
plaria cinco princípios interdependentes: (1) eficiência dos recursos naturais; (2) considerar que dentro das dimensões sociais, econômicas, culturais, ambientais e
desperdício zero (circularidade); (3) inclusão social (autossuficiência, igualdade ecológicas há espaço para o fortalecimento e promoção dos encadeamentos liga-
social e oportunidades); (4) sistemas cíclicos de produção: geração sem fim à re- dos à segmentação de mercado, ao planejamento operacional e à eficiência, ao
generação, equilibrando produção e consumo, e (5) inovação aberta e adaptação comportamento de compra de gastos dos turistas, responsabilidade social corpora-
(princípios da lei da física e adaptação natural contínua). tiva azul4, além de ordenamento do território e do desenvolvimento comunitário.
Particularmente, o setor turístico é dependente das riquezas naturais e das No entanto, o setor turístico sofreu muito com a crise do covid-19, de forma a
paisagens marinhas para atender as preferências dos turistas e consumidores fomentar a discussão sobre abordagens inovadoras para o turismo sustentável e
finais dos setores associados à atividade turística. Ao depender da qualidade para as atividades de lazer que podem estar direta e indiretamente relacionadas.
dos ecossistemas naturais para atrair visitantes, é importante ter um olhar es- O turismo costeiro e marítimo depende fortemente das boas condições ambien-
pecífico para a dimensão da sustentabilidade nestas regiões. As empresas e os tais e, em particular, da boa qualidade da água. Qualquer atividade marítima ou
governos locais devem levar em consideração que o fortalecimento da institu- terrestre que prejudique o meio ambiente pode afetar negativamente o turismo.
cionalidade em torno da preservação do meio ambiente é algo favorável ao de- As áreas costeiras também podem ser diretas ou indiretamente afetadas por
senvolvimento econômico baseado na economia e no turismo azul. Portanto, o uma série de impactos relacionados às mudanças climáticas, como enchentes,
turismo costeiro e marítimo, como parte do turismo e economia azul, enfrenta erosão, intrusão de água salgada, aumento da temperatura do ar e da água do
desafios em nível local e global relacionados à interligação do turismo com o mar e secas. Além disso, os portos também são cruciais para o crescimento eco-
compromisso de sustentabilidade, como o Acordo de Paris ou a Agenda 2030 nômico das áreas costeiras e do interior. O transporte de passageiros e cruzeiros
e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), destacando-se o ODS é um meio importante para o desenvolvimento do turismo marítimo e costeiro,
14 de Conservação do Oceano. enquanto o transporte de mercadorias pode ser visto como uma atividade com-
petitiva em termos de espaço.
1. Introdução
778 ECONOMIA
778 AZUL
A ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 779
o Direito do Mar (CNUDM) – compreenden- Em decorrência de tal proposta, o ca- Existem ocupações que podem ser mais e caça”. Optou-se por tal recorte exemplifi-
do a totalidade do mar territorial2 e uma pítulo está dividido em 7 seções, além da facilmente identificadas como atreladas ao cativo pelo nível de agregação apresentada
faixa terrestre, que corresponde ao espaço introdutória. A segunda seção dedica-se mar e à costa. O recorte estratificado do pela fonte consultada. Ou seja, as ocupa-
compreendido pelos limites dos municípios a exemplificar algumas classificações das setor aquaviário e pesca e caça é apresen- ções relacionadas ao transporte e pesca
que sofrem influência direta dos fenômenos ocupações adotadas em países de três di- tado na Tabela 1: “trabalhadores do trans- estão desagregadas, possibilitando a visu-
ocorrentes na zona costeira. ferentes continentes; a terceira refere-se a porte aquático” e “trabalhadores da pesca alização direta dos dados.
A zona costeira brasileira, conforme a apontamentos sobre as ocupações formais
Portaria MMA no 34, de 2 de fevereiro de associadas ao mar e a costa das RM lito- Tabela 1: Recorte e perspectiva estratificada do setor aquaviário
2021, possui 443 municípios. Este capítulo râneas; a quarta seção traça um perfil das e da pesca e caça nos EUA
apresenta o perfil do trabalhador associa- ocupações formais das RM Litorâneas re- Ocupações Código Empregados Projeção Variação
dos às atividades litorâneas da zona costei- lacionadas à Economia do Mar e Costeira; SOC[i] 2020 Emprego 2020/2030 (%)
ra metropolitana brasileira. Neste sentido, a quinta, fala da participação feminina nas
Trabalhadores do
serão abordados aspectos das ocupações RM litorâneas da Economia do Mar e Cos- transporte aquático (Total) 53-5000 66,7 74,5 12
classificadas como costeiras e do mar brasi- teira; e a sexta apresenta uma comparação
Marinheiros e petroleiros marinhos 53-5011 26,4 29,2 10
leiro, considerando variáveis como: escola- entre a Economia do Mar e Costeira das
ridade, gênero, idade, salário, admitidos e RM Litorâneas e a Economia Nacional, por Capitães, oficiais de convés e
desligados a luz da RAIS e CAGED. fim as conclusões a que se chegaram. pilotos de embarcações 53-5021 29,9 33,9 13
Operadores de lanchas 53-5022 2,6 3 15
2. Considerações sobre ocupações relacionadas ao mar e costa em três Engenheiros de navios 53-5031 7,8 8,4 8
continentes heterogêneos Trabalhadores da pesca e caça
(Total) 45-3031 32,3 35,8 11
A subseção pretende exemplificar que não estão definidos na CIUO-08, pois espe- Fonte: Adaptado do Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA,
países diferentes podem ou não adotar ra-se que os próprios países desenvolvam programa de projeções de emprego (2022). (Tradução Livre)
classificações ocupacionais semelhantes, esse subnível de detalhe conforme as suas
conforme especificidades e necessidades, necessidades. Há diversos países que ado- Observa-se na Tabela 1 a previsão de e (iv) profissões emergentes identificadas
à luz da classificação internacional. Des- tam a referida classificação, o que facilita criação de empregos no transporte aqua- pela Comissão Nacional de Competências.
taca-se que a proposta não é esgotar in- o alinhamento das informações referentes viário em 12% no período de 2020 a 2030 A ANZSCO 2021 estruturou-se em oito
teiramente o debate, e sim exemplificar entre os Estados, e, em alguns casos, ha- (acima da média de crescimento de todas grandes grupos ocupacionais, 43 subgru-
como os referidos dados sobre ocupações bilitando a comparabilidade internacional. as ocupações da economia estadunidense, pos principais e 1070 ocupações, diferen-
são apresentados em variadas nações. Ou Adiante, observam-se alguns exemplos estimada em 8%). Espera-se que muitas temente da CIUO-08, que apresenta dez
seja, expor o quão complexo pode ser de classificações e comparações entre 5 vagas resultem da necessidade de substi- grandes grupos como já mencionado ante-
identificar as ocupações dos trabalhadores nações. tuir trabalhadores que se transferem para riormente. Além disso, a ANZSCO propõe
de um país, associadas à costa e ao mar, diferentes ocupações ou saem da força de para os cargos ocupados por membros das
dificultando a quantificação, qualificação e 2.1 Estados Unidos trabalho, devido à aposentadoria. forças armadas classificações equivalentes
comparabilidade do mercado de trabalho a civis, quando existentes, ou por outras
propriamente dito. O programa de Estatísticas de Emprego 2.2 Austrália e Nova Zelândia ocupações específicas das forças de defesa.
A Classificação Brasileira de Ocupações e Salários Ocupacionais (OEWS) do Depar- Assim, na Tabela 2 exemplifica-se duas
(CBO) segue a Classificação Internacional tamento do Trabalho dos Estados Unidos A Classificação Padrão de Ocupações ocupações australianas relacionadas a ocu-
Uniforme de Ocupações (CIUO), preconi- produz anualmente estimativas de empre- da Austrália e da Nova Zelândia3 (ANZS- pações marítimas e costeiras. Optou-se por
zada pela Organização Internacional do go e salário para mais de 800 ocupações. CO) foi atualizada em 2021 e apresenta este recorte pois tratam-se de ocupações
Trabalho (OIT), atualizada no ano de 2008 Essas estimativas estão disponíveis para a ocupações associadas a quatro áreas prio- que podem mais facilmente ser identifi-
(CIUO-08) contendo dez grandes grupos nação, estados, áreas metropolitanas e não ritárias: (i) agricultura, silvicultura e pesca; cadas como atreladas ao mar e à costa na
ocupacionais. Os subníveis de “ocupação” metropolitanas. (ii) cibersegurança; (iii) construção naval; fonte consultada.
780 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 781
Tabela 2: Exemplo de ocupações marítimas e costeiras Tabela 3: Comparativo entre a Classificação Ocupacional Internacional
na Austrália (milhar) e a Classificação do Canadá
Ano 2019 2020 2021 Variação Primei Classificação Internacional Uniforme NOC 2021 Versão 1.0 –
ro de Ocupações Versão 2008 (CIUO-08) Categorias Ocupacionais
2019/2021
Dígito – Grandes Grupos Ocupacionais Amplas
(%)
1 Gerentes Ocupações de negócios,
Grupo Ocupações nov ago mai fev nov ago mai fev nov ago mai fev finanças e administração
1211 Aquicultores 3,2 1,7 2,5 3 1,1 1,5 2,2 1,9 3,8 0,2 1,5 1 19 2 Profissionais Ciências Naturais e Aplicadas e
profissões afins
2312 Profissionais
3 Técnicos e profissionais associados Ocupações de saúde
do Transporte 4 Trabalhadores de apoio Ocupações em educação, direito
Marítimo 10 9 6,8 9 9,5 9,1 8,3 11 13 9,7 5,8 7 21 administrativo e serviços sociais,
comunitários e governamentais
Fonte: Adaptado do Escritório Australiano de Estatísticas (2022). (Tradução Livre)
5 Trabalhadores de serviço e vendas Ocupações em arte, cultura,
recreação e esporte
6 Trabalhadores qualificados da Ocupações de vendas e serviços
2.3 Portugal 2.4 Canadá agricultura, silvicultura e pesca
7 Trabalhadores artesanais es Comércios, operadores de
A Classificação Portuguesa de Profis- A Classificação Ocupacional Nacional relacionado transporte e equipamentos e
sões 2010 (CPP 2010) está integrada à do Canadá (NOC) passou por uma exten- ocupações relacionadas
CIUO-08 e organiza-se em 43 subgrupos sa revisão em 2021, nomeado NOC 2021 8 Operadores de plantas e máquinas Recursos naturais, agricultura e
principais e 708 ocupações. A atualização versão 1.0. O NOC 2021 apresenta uma e montadores ocupações de produção
realizada no ano de 2010 permitiu obter nova estrutura hierárquica de 5 dígitos, re- relacionadas
ganhos de qualidade e de relevância es- visando e introduzindo a estrutura “nível 9 Ocupações elementares Ocupações em manufatura e
tatística, segundo o Instituto Nacional de de habilidade” (skill level) que representa serviços públicos
Estatística (INE) de Portugal. o grau de Treinamento, Educação, Experi- 0 Ocupações das forças armadas Ocupações legislativas e de alta
Embora os dados para ocupações não ência e Responsabilidades (TEER) necessá- administração
sejam divulgados, a exemplo dos demais rio para uma ocupação. Assim, o primeiro Fonte: Adaptado da Agência de Estatística do Canadá e Escritório de Estatísticas do
países, é possível extrair o número de dígito identifica a ocupação e o segundo Trabalho dos EUA, programa de projeções de emprego (2022)
trabalhadores por atividade econômica, dígito identifica o TEER, ambos chama-
assim como a remuneração bruta men- dos de Grupo Principal. Organiza-se em Em relação à classificação do Cana- em uma ocupação. Desse modo, per-
sal média por trabalhador (total, regular 89 subgrupos principais e 516 ocupações. dá, as categorias foram definidas com cebe-se que no Canadá há uma agen-
e base) e uso de tecnologia e intensidade Contudo, não foi possível localizar dados a base no setor de emprego e na área da de relação intrínseca entre educa-
do conhecimento. respeito do número de trabalhadores com de estudo necessária para o ingresso ção e trabalho.
base na classificação atualizada.
Abaixo, apresenta-se uma Tabela com- 3. Apontamentos sobre as ocupações formais relacionadas ao
parativa entre grupos ocupacionais da clas- mar e costa das RM litorâneas
sificação internacional e aqueles da classifi-
cação canadense. No presente panorama constam 176 regulamentado pela Portaria MMA N. 34
municípios que compõem a RM litorânea, de 2 de fevereiro de 2021 do Ministério
de acordo com a listagem dos municípios do Meio Ambiente (MMA) – Anexo 1.
da zona costeira brasileira (municípios) Tal exercício se justifica pela marcante
782 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 783
concentração industrial que se desenvol- 2.0 – classe) selecionadas pela referida au- Setor Atividade Código
ve, em especial, nas regiões metropoli- tora, foram agregadas cinco atividades em CNAE
tanas, corroborado pelo Macro Diagnós- função da amostra de municípios reuni- Manufatura Fabricação de máquinas e equipamentos para a prospecção e 28.51-8
tico das Zonas Costeiras (2008). O fluxo rem aqueles banhados exclusivamente por extração de petróleo
derivado destas indústrias necessita de águas interiores, totalizando 45 atividades Construção de embarcações e estruturas flutuantes 30.11-3
uma logística estruturada que certamente econômicas. Além da inserção tratada an- Construção de embarcações para esporte e lazer 30.12-1
concorre com espaços já demandados por teriormente, foi incorporado o município Fabricação de artefatos para pesca e esporte 32.30-2
outras atividades, por exemplo, transpor- de Paranaguá no estado do Paraná ao re- Manutenção e reparação de embarcações 33.17-1
te, setor petrolífero, recreação e serviços corte espacial das RM. Embora não esteja Incorporação de empreendimentos imobiliários 41.10-7
(com destaque para o turismo). incluso nas RM do estado do Paraná, trata- Obras portuárias marinhas e fluviais 42.91-0
Na pesquisa são utilizadas as classes das -se de importante vetor de desenvolvimen- Transporte Transporte marítimo de cabotagem 50.11-4
atividades econômicas (CNAE 2.0 – Classe) to da Economia do Mar e Costeira nacio- e Logística Transporte marítimo de longo curso 50.12-2
diretamente relacionadas ao mar, ou seja, nal, em especial pelo setor portuário. Transporte por navegação interior de carga 50.21-1
do escopo dimensão marinha (CARVALHO, Sendo assim, as variáveis como escola- Transporte por navegação interior de passageiros em linhas 50.22-0
2018) associadas à Classificação Brasileira ridade, gênero, idade, salário, admitidos e regulares
de Ocupações (CBO – Família). Seguindo desligados podem ser individualmente apre- Navegação de apoio 50.30-1
o expediente de Carvalho (2018), para a sentadas através das bases de dados RAIS Transporte por navegação de travessia 50.91-2
presente pesquisa foi escolhido o escopo e complementados pelos fluxos expressos Transportes aquaviários não especificados anteriormente 50.99-8
dimensão marinha por compreenderem pelo CAGED/MTE. A Tabela 4 apresenta os Gestão de portos e terminais 52.31-1
as atividades que apresentam ligação di- setores e atividades da Economia do Mar e Atividades de agenciamento marítimo 52.32-0
reta com o mar, constituindo-se a catego- Costeira, bem como os códigos, conforme a Atividades auxiliares dos transportes aquaviários não 52.39-7
ria mais importante da Economia do Mar CNAE 2.0. Para tanto, as ocupações foram especificadas anteriormente
e Costeira brasileira. Para tanto, além das classificadas por intermédio da Classificação Serviços Hotéis e similares 55.10-8
40 classes de atividades econômicas (CNAE Brasileira de Ocupações (CBO) 2002 Família. Outros tipos de alojamento não especificados anteriormente 55.90-6
Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de 56.11-2
Tabela 4: Setores e atividades CNAE alimentação e bebidas
Serviços ambulantes de alimentação 56.12-1
Setor Atividade Código Atividades imobiliárias de imóveis próprios 68.10-2
CNAE Intermediação na compra venda e aluguel de imóveis 68.21-8
Aluguel de equipamentos recreativos e esportivos 77.21-7
Pesca e Pesca em água salgada 03.11-6 Agências de viagens 79.11-2
Aquicultura Pesca em água doce 03.12-4 Operadores turísticos 79.12-1
Aquicultura em água salgada e salobra 03.21-3 Serviços de reservas e outros serviços de turismo não 79.90-2
Aquicultura em água doce 03.22-1 especificados anteriormente 93.29-8
Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado 10.20-1 Atividades de recreação e lazer não especificadas
Extração e Extração de petróleo e gás natural 06.00-0 anteriormente 93.11-5
Energia Atividades de apoio à extração de petróleo e gás natural 09.10-6 Gestão de instalações de esportes
Atividades de apoio à extração de minerais exceto petróleo e 09.90-4 Clubes sociais, esportivos e similares 93.12-3
gás natural Defesa Defesa 84.22-1
Extração de pedra, areia e argila 08.10-0
Extração e refino de sal marinho e sal-gema 08.92-4 Fonte: Adaptado de Carvalho (2018). Elaboração própria com base nos dados da CNAE 2.0.
Extração de gemas (pedras preciosas e semipreciosas) 08.93-2 Observamos na Tabela 4 que, mesmo espontânea com recurso natural alvo do
as atividades que não possuem ligação estudo, mas são desenvolvidas no litoral,
784 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 785
apresentam agregação de valor, seja por cadas pelo presente capítulo (Tabela 4) –
fruto da localização, seja por ofertarem perfazendo 0,71% do total de postos de Gráfico 2: Ocupações com maiores fluxos do emprego formal por setor
produtos ou serviços que se beneficiam trabalho gerados no Brasil. do mar e costa – ano de 2019
do habitat em algum dos estágios de No Gráfico 1, verifica-se o comporta-
suas operações. Além disso, diversas ati- mento do saldo das ocupações por setor
Ocupação com Maior Saldo por Setorcom Maior Saldo por Setor
Ocupação
vidades apresentadas são recorrentes nos de atividades relacionadas ao mar e cos- 7000 7000
estudos dos principais países da presente ta nas RM litorâneas no ano de 2019. Por 6000
Ocupação Setor Saldo
6000 Pescadores de Água Costeira e
pesquisa. Por exemplo, as atividades off- meio dele podemos notar que o setor de 5000
A
Alto Mar
Pesca e Aquicultura -251
5000
shore e as ligadas ao turismo, como ho- Pesca e Aquicultura apresentou mais des- 4000 Trabalhadores da Extração de
4000 B Extração e Energia 108
Minerais Líquidos e Gasosos
téis e restaurantes. ligamentos do que admissões no período, 3000
3000
Trabalhadores da Navegação
tornando o saldo negativo, a exemplo do 2000 C
Marítima, Fluvial e Regional
Manufatura -43
2000
3.1 Fluxo dos trabalhadores: CAGED setor de Manufatura. Embora na econo- 1000 D
Trabalhadores da Navegação Transporte e
314
1000 Marítima, Fluvial e Regional Logística
mia nacional observe-se a criação de em- 0
Garçons, Barmen, Copeiros e
A B C 0 D E F E Serviços 6084
No ano de 2019 foram gerados 3.947 pregos formais na indústria, para o recorte -1000 A B C Sommeliers
D E F
-1000 F Defesa Defesa 0
postos de trabalho nas RM litorâneas em das ocupações elencadas como do mar e -2000
-2000
setores relacionados às atividades elen- costeira o destaque foi negativo.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do CAGED/MTE (2022)
3.000
3.000
Gráfico 3: Fluxos de maiores destaques do emprego formal relacionados
2.000 às ocupações dos setores do mar e costa – ano de 2019
2.000
do observado na economia nacional. O e alto-mar e trabalhador da navegação Source: Own elaboration based on CAGED/MTE data (2022
Gráfico 2 mostra os maiores saldos das marítima, fluvial e regional apresentam
ocupações nos seis setores considerados. as maiores quedas.
786 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 787
Observa-se que as ocupações estão rela- pode-se inferir que tal setor seja um dos Gráfico 4: Faixa Etária, Escolaridade e Faixa Salarial das ocupações formais
cionadas ao setor de serviços. Tratando-se grandes responsáveis por esta dinâmica no prevalentes do Setor de Pesca e Aquicultura nas RM litorâneas – ano 2019
das localidades com forte apelo turístico, mercado em questão.
Faixa Etária Escolaridade Faixa Salarial
4. Perfil das ocupações: CBO 600
500
800
600
1200
400 800
400
300 400
200 200
0
4.1 Pesca e Aquicultura Anexo 2 encontra-se a Tabela 6 indican- 100
0
0
M C T U N Outras
M C T U N Outras
M C T U N Outras
do as 22 ocupações que formam o setor, Analfabeto Até 5ª Incompleto
Não Ativ Dez
1,01 a 1,50 SM
Até 0,50
1,51 a 2,00 SM
0,51 a 1,00 SM
2,01 a 3,00 SM
5ª Completo Fundamental 6ª a 9ª Fundamental
No setor de Pesca e Aquicultura há que também podem ser visualizadas na
15 A 17
25 A 29
18 A 24
30 A 39 Fundamental Completo
Médio Completo
Médio Incompleto
Superior Incompleto
3,01 a 4,00 SM 4,01 a 5,00 SM 5,01 a 7,00 SM
40 A 49 50 A 64
predominância do gênero masculino Figura abaixo à direita, apontadas pelas 65 OU MAIS
Superior Completo
Doutorado
Mestrado
7,01 a 10,00 SM
Mais de 20,00 SM
10,01 a 15,00 SM
{ñ class}
15,01 a 20,00 SM
Gênero dosGênero
Trabalhadores
dos Trabalhadores
e Ocupaçõese Ocupações
do do U Trabalhadores de Apoio ao Extrativismo da Pesca 175 2 177
A B A B
Setor de Pesca e Aquicultura
Setor de Pesca e Aquicultura C D C D
Outras Soma das demais ocupações do Setor 212 22 234
12% 5% 12%
12% 5% 12%
E F E F Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022)
G H G H
Mulheres Mulheres
1% 1%
I J I J 4.2 Extração e Energia
K L K L
M N M N
61% 61%
O P O P
Direcionando a análise para as ocupações (Anexo 2, Tabela 7), somente duas (biólo-
Homens Homens contempladas pelo Setor Extração e Energia,
99% 99%
Q R Q R gos e afins; garçons, barmen, copeiros e
S T S T
observa-se maior diversidade de funções e sommeliers) apresentam destaque para o
U V U V
concentração do gênero masculino. gênero feminino, e empate em outra (en-
Dentre as 28 ocupações apontadas genheiros ambientais e afins).
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022)
788 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 789
De acordo com Gráfico 5, identifica-se Em relação ao nível de instrução, os ge- na faixa etária entre 30 e 49 anos de idade, Entre as ocupações destacam-se: (i) operado-
que os trabalhadores da extração de mine- ólogos e geofísicos possuem curso superior, além de uma remuneração acima de 7,01 res de processos das indústrias de transforma-
rais líquidos e gasosos (25%), seguido da contendo 25% de profissionais pós-gradua- SM, respectivamente em 73% e 48%. ção de produtos químicos, petroquímicos e
função geólogos e geofísicos (20%), são dos, o que reflete na remuneração da ocu- afins (21%); (ii) trabalhadores na navegação
preponderantes no setor. Duas ocupações pação, indicando 66% de trabalhadores ob-
4.3 Manufaturas marítima, fluvial e regional (15%); (iii) mecâ-
que apresentam alta afinidade ao setor – tendo um ganho acima de 15,01 SM e 12%, A Figura 3 apresenta um panorama da nicos de manutenção naval (em terra) (12%);
operadores de processos das indústrias de entre 7,01 e 15,00 SM. Já os operadores de composição das funções do setor de Manu- (iv) eletricistas-eletrônicos de manutenção
transformação de produtos químicos, petro- processos das indústrias de transformação fatura. As mulheres, seguindo a dinâmica dos veicular (aérea, terrestre e naval) (10%); (v)
químicos e afins, e trabalhadores na nave- de produtos químicos, petroquímicos e afins, setores apontados acima, são minoria (11%). carpinteiros navais e de aeronaves (9%).
gação marítima, fluvial e regional represen- e os trabalhadores na navegação marítima,
Figura 3: Ocupações formais do setor de Manufatura nas RM litorâneas – ano 2019
tam apenas 9% do setor, cada. fluvial e regional são duas ocupações de ní-
Desagregando as ocupações por faixas vel médio de instrução, e os operadores au- Gênero dos Trabalhadores e Ocupações
Gênero dos Trabalhadores e Ocupações AA BB A
A BB
etárias, observa-se a prevalência de traba- ferem um ganho acima de 7,01 SM (82%), do Setor de Manufatura CC DD C
C DD
lhadores da extração de minerais líquidos e enquanto os trabalhadores na navegação do Setor de Manufatura EE FF E
E F
F
9%
9% 15% 9% G H
gasosos com idade intermediária (30 a 39 marítima, fluvial e regional, uma remunera- 15%
10%
G
G H
H 15% 10%
10%
G
I J
H
II JJ I J
anos); geólogos e geofísicos aproximada- ção entre 5,01 e 10,00 SM (50%). Mulheres
Mulheres K L
KK LL K L
mente 70% encontram-se na faixa etária de Das Ocupações de maior empregabilidade 11%
11%
M
M N
N
M
M
N
O PN
30 a 49 anos de idade; operadores de pro- no setor de Extração e Energia, ainda desta- O
O PP 21%
12%
O
Q RP
12% 12%
cessos das indústrias de transformação de cam-se a de oficiais de convés e afins; e técni-
Faixa Etária Escolaridade 21%
Homens Q
Q RR 21% SQ TR
Homens
89% SS TT S
U VT
produtos químicos, petroquímicos e afins, e cos em transportes
400 intermodais, perfazendo 600
89% U
U VV X
U W
V
os trabalhadores na navegação marítima, na 6% cada. Ambas300as ocupações possuem mais 400
YX ZW
200 200
XX W
W
mesma faixa, apresentam respectivamente, de 50% trabalhadores
100
com nível superior e YY ZZ
AA
Y Z
0
78% e 71% de trabalhadores. um pouco mais 0de 70% de trabalhadores
AA H N AB M Outras
AA H N AB M Outras
AA
AA AA
Até 5ª Incompleto 5ª Completo Fundamental 6ª a 9ª Fundamental
Gráfico 5: Faixa Etária, escolaridade e faixa salarial das ocupações
30 A 39
formais
40 A 49
18 A 24 25 A 29
Fundamental Completo Médio Incompleto Médio Completo Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022)
prevalentes do Setor Extração e Energia nas RM litorâneas50 A–64 ano65 OU2019
MAIS
Superior Incompleto Superior Completo Mestrado
Doutorado
O Gráfico 6 mostra com mais detalhes os A segunda ocupação que mais emprega
postos de trabalhadores do mar do setor de no setor de manufatura é a de trabalhado-
Faixa Etária Escolaridade Faixa Salarial
400 manufatura. Observamos que 94% dos ope- res na navegação marítima, fluvial e regio-
400 600
300 400
300
radores de processos das indústrias de trans- nal. Essa função é exercida praticamente
200
200 200 100 formação de produtos químicos, petroquími- por homens (99%), 64% dos trabalhadores
100 0
AA H N AB M Outras
0
AA H N AB M Outras cos e afins possuem ensino médio completo, tem ensino médio, 26% possuem o funda-
0
AA H N AB M Outras Até 0,50 0,51 a 1,00 SM 1,01 a 1,50 SM
no entanto, a faixa salarial se divide em 1,01 mental e médio incompleto, e os demais,
Até 5ª Incompleto 5ª Completo Fundamental 6ª a 9ª Fundamental 1,51 a 2,00 SM 2,01 a 3,00 SM 3,01 a 4,00 SM
18 A 24
30 A 39
25 A 29
40 A 49
Fundamental Completo Médio Incompleto Médio Completo 4,01 a 5,00 SM 5,01 a 7,00 SM 7,01 a 10,00 SM a 1,5 SM (50 pessoas), 1,51 a 2,00 (36) e a níveis mais baixos de instrução. Do total de
50 A 64 65 OU MAIS
Superior Incompleto
Doutorado
Superior Completo Mestrado 10,01 a 15,00 SM 15,01 a 20,00 SM Mais de 20,00 SM
2,01 a 3,00 SM (41), 3,01 a 4,00 SM (27), trabalhadores 85% se dividem quase pro-
{ñ class}
4,01 a 5,00 SM (32) e 5,01 a 7,00 SM (37). porcionalmente entre as faixas etárias de 30
Ocupações mais prevalecentes no Setor de Extração e Energia
Faixa Salarial Homens Mulheres Total
A maioria são jovens (18 a 24 anos) e adultos a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 64 anos. A
AA Trabalhadores da Extração de Minerais Líquidos e Gasosos 782 12 794
400
300 H Geólogos e Geofísicos 479 151 630
jovens (25 a 39 anos) e 32% estão na faixa remuneração de 2,01 a 4,0 SM representa
200
Operadores de Processos das Indústrias de Transformação de Produtos Químicos, Petroquímicos e
de 40 a 64 anos de idade, o que equivale a 58% (74 trabalhadores de um total de 127),
100 N 263 19 282
0
Afins
78 operadores. Isso nos leva a pensar que a de 4,01 a 7,00 SM, 31% (39), e apenas 5%
AB Trabalhadores
ABna Navegação Marítima, Fluvial e Regional 276 2 278
(6) recebem de 7,01 a 15,00 SM e os demais
AA H N M Outras
10,01 a 15,00 SM
5,01 a 7,00 SM
15,01 a 20,00 SM
7,01 a 10,00 SM
Mais de 20,00 SM
pessoas de um total de 245 nessa ocupação, Os mecânicos de manutenção naval
{ñ class} Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022) recebem na faixa de 4,01 a 10,00 SM. (em terra) representam 12% do setor de
790 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 791
manufatura, assim como os trabalhadores setor de manufatura, enquanto os carpintei- Figura 4: Ocupações formais do setor de Transporte e Logística
na navegação marítima, fluvial e regional, ros navais e de aeronaves representam 9%. nas RM litorâneas – ano 2019
são ocupações exercidas pelo sexo masculi- Do total de eletricistas, 80% possuem ensi- Gênero dos dos
Trabalhadores e Ocupações do
Gênero
Gênero dos
Gênero Trabalhadores
Trabalhadores
dosdos
Trabalhadores e Ocupações
Ocupações do
no. Na sua maioria são adultos jovens (25 a no médio (79 trabalhadores com curso com- Gênero Trabalhadoresee Ocupações
Ocupações dodo
Setor de
do Transporte
Setor e Logística
de Manufatura AAA ABBBA A B
39 anos) e adultos (40 a 64), que represen- pleto e 13 incompleto), 4% ensino superior Setor
Setorde
deTransporte
Setor Transporte
de Logística
Transporteee Logística
Logística CCC
E
CD
EF
DDC C D
F
B B
DD
tam respectivamente 46% e 40%. O nível (se dividem em completo e incompleto) e os EEG GH
FFE E H F F
14% 14% GGI I JHHG G J HH
de instrução médio é o dominante (65% do 16% restantes têm até o fundamental. A 14%
14% 14%
14% IIK KLJJ I I L J J
total de trabalhadores), abaixo desse nível escolaridade reflete uma diversificada faixa Mulheres
8%
8% KKM MN LL K K N L L
8%
8%
11% 47% 47% MMO OPN NM M P NN
de escolaridade se encontram 27% dos tra- salarial da ocupação: 3% ganhando 0,51 a OOQ QRPPO O R P P
47%
47% 47%
47% S STRRQ Q T
balhadores e acima apenas 8%. A maioria 1,50 SM; 22%, de 1,51 a 3,00 SM; 57%, 11% 11% QQ R R
11%
11% SSU UVTTS S V T T
dos trabalhadores recebem de 2,01 a 4,00 3,01 a 5,00 SM; 12%, 5,01 a 7,00 e 6%, Escolaridade
Escolaridade 6% 6%13% 11%
11%
13% UUX XW
VVU U W V V
92%
Homens
Faixa
Faixa Etária
Etária 6%
6% 6%6%
Y
XXAA
YZ
W
Z
WX X AB WW
SM (48%) os demais se distribuem nas fai- acima de 7,00 SM. Cerca de 70% da ocupa- 250
250
200
92%
92%
89% 13%
13% 13%
13%
YYAC
AAAB
ZZ Y Y Z Z
200 92% ACAD AD
xas de 4,01 a 7,00 SM (25%), abaixo de ção é composta por trabalhadores entre 25 150
150 AA
AA
AE AE AB
AFABAAAAAF ABAB
100 100 AC
AC
AG AG AD
AHADACACAH ADAD
2,01 SM (15%) e acima de 7,01 SM (12%). e 49 anos de100idade. Já os carpinteiros con- 100
50
50 AE
AE AEAE
AF
AF AFAF
Os eletricistas-eletrônicos de manuten- centram aproximadamente
50
50 60% nessa faixa00 O Z M E A Outras
AG
AG AGAG
AH
AH AHAH
O Z M E A Outras
ção veicular (aérea, terrestre e naval) cor- etária, 60% deles
0
auferem uma renda 1,51 Analfabeto
Analfabeto
5ª Completo Fundamental
Até 5ª Incompleto
Até
6ª a
5ª
9ª
Incompleto
Fundamental
0 Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022)
respondem a 10% dos trabalhadores do a 4,01 SM, e 63% O nível
O Z
Z
15 A 17
médio
M
M
E
E de
18 A 24
A
A instrução.
Outras
Outras
5ª Completo Fundamental
Fundamental Completo
Fundamental Completo
Médio Completo
6ª a 9ª Fundamental
Médio Incompleto
Médio Incompleto
Superior Incompleto
15 A 17 18 A 24 Médio Completo Superior Incompleto
25 A 29
25 A 29
40 A 49
30 A 39
30 A 39
50 A 64
Superior Completo
Superior Completo
Mestrado
Mestrado As ocupações dos trabalhadores na nave- Os técnicos em transportes intermodais
Gráfico 6: Faixa Etária, escolaridade e faixa salarial das ocupações formais 40 A 49
65 OU MAIS
65 OU MAIS
50 A 64 Doutorado
Doutorado
gação marítima, fluvial e regional empregam totalizam 1511 trabalhadores, conforme
prevalentes do Setor Manufatura nas RM litorâneas – ano 2019
Escolaridade quase 50% do setor de Transporte e Logís- Tabela 9 no Anexo 2. Destes, 41% estão
Faixa Etária Escolaridade Faixa
Faixa Salarial
Salarial
250 tica, 73% dos trabalhadores têm escolarida- na faixa de 30 a 39 anos de idade e a esco-
Faixa Etária 200
250
100
100
150
200 80
80
de média completa e a maior faixa etária da laridade prevalecente da ocupação é a de
100 100 60
150
50
100
60
40
ocupação está entre 30 a 49 anos de idade, nível intermediário. Cerca de 80% da re-
100 40
50 500
O Z M E A
20
Outras 20
representando 64% dos trabalhadores. Já os muneração dos técnicos se divide em: 44%
0 0
50
O
Analfabeto Z M E Até 5ªAIncompleto
Outras 0 O Z M E A Outras oficiais apresentam 56% na faixa etária de de 2,01 a 4,00 SM, 14% de 4,01 a 5,00
0 5ª Completo Fundamental 6ª a 9ª Fundamental O Z M E A Outras
0
O Z M E A Outras Analfabeto
Fundamental Completo
5ª Completo Fundamental
Até 5ª Incompleto
Médio Incompleto
6ª a 9ª Fundamental Não Ativ Dez Até 0,50 0,51 a 1,00 SM
30 a 49 anos de idade e 66% deles tem cur- SM, 19% de 5,01 a 7,00 SM.
15 A 17 18 A 24 Médio Completo Superior Incompleto
O Z M E A Outras
25 A 29
15 A 17
40 A 49
30 A 39
18 A 24
50 A 64
Fundamental Completo
Superior Completo
Médio Completo
Médio Incompleto
Mestrado
Superior Incompleto
Não Ativ Dez
1,01 a 1,50 SM
1,01 a 1,50 SM
Até 0,50
1,51 a 2,00 SM
1,51 a 2,00 SM
0,51 a 1,00 SM
2,01 a 3,00 SM
2,01 a 3,00 SM
so superior (sendo 9 pós-graduados num to- A ocupação de técnicos marítimos, flu-
Doutorado 3,01 a 4,00 SM 4,01 a 5,00 SM 5,01 a 7,00 SM
25 A 29
65 OU MAIS
40 A 49
30 A 39
50 A 64
Superior Completo
Doutorado
Mestrado 3,01 a 4,00 SM
7,01 a 10,00 SM
7,01 a 10,00 SM
4,01 a 5,00 SM
10,01 a 15,00 SM
10,01 a 15,00 SM
5,01 a 7,00 SM
15,01 a 20,00 SM
15,01 a 20,00 SM
tal de 1258). A escolaridade explica os 83% viários e regionais de convés é representa-
65 OU MAIS Mais de 20,00 SM {ñ class}
Mais de 20,00 SM {ñ class} dos oficiais auferindo renda superior a 7,01 da pela escolaridade média em 72% (dos
Faixa Salarial
Ocupações mais prevalecentes no Setor de Manufatura
Faixa Salarial
Homens Mulheres Total SM (destes, 24% na faixa de 15,01 a 20,00 797, 35 apresentam nível de instrução
100 Operadores de Processos das Indústrias de Transformação de Produtos Químicos, Petroquímicos e
80
100
O
Afins
218 27 245 SM e 26% na faixa de mais de 20,00 SM). médio incompleto e 542 médio completo).
60
80 Z Trabalhadores na Navegação Marítima, Fluvial e Regional 168 1 169 Dos técnicos em transportes por vias na- Já a remuneração da função se encontra
40
60
20
40
M Mecânicos de Manutenção Naval (em Terra) 135 1 136 vegáveis e operações portuárias, 69% estão distribuída nas faixas: abaixo de 2,00 SM;
E Eletricistas-Eletrônicos de Manutenção Veicular (Aérea, Terrestre e Naval) 112 2 114
200
OA Z M E
na faixa etária de 30 a 49 anos de idade. A 3,1%, de 2,01 a 4,00 SM, 10%; de 4,01 a
0 Carpinteiros Navais e deAAeronaves
Outras 108 0 108
O Z M E A Outras escolaridade característica da ocupação é o 5,00 SM, 3,9%; de 5,01 a 7,00 SM, 19%;
Outras
Não Ativ Dez
Soma das demais ocupações do Setor
Até 0,50 0,51 a 1,00 SM Fonte: Elaboração própria com
287base nos102
dados RAIS389(2022)
1,01 a 1,50 SM
Não Ativ Dez
1,51 a 2,00 SM
Até 0,50
2,01 a 3,00 SM
0,51 a 1,00 SM Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022) nível intermediário (52%), mas ainda apre- 7,01 a 10,00 SM, 25%; de 10,00 a 15,01
3,01 a 4,00 SM
1,01 a 1,50 SM
7,01 a 10,00 SM
4,01 a 5,00 SM
1,51 a 2,00 SM
10,01 a 15,00 SM
5,01 a 7,00 SM
2,01 a 3,00 SM
15,01 a 20,00 SM
senta 40% de técnicos com curso superior SM, 19%; e acima de 15,00 SM, 5,5%. A
3,01 a 4,00 SM 4,01 a 5,00 SM 5,01 a 7,00 SM
4.4 Transporte e logística
Mais de 20,00 SM
7,01 a 10,00 SM
{ñ class}
10,01 a 15,00 SM
15,01 a 20,00 SM transportes por vias navegáveis e operações (575 trabalhadores com superior completo faixa etária predominante é adulto acima
Mais de 20,00 SM {ñ class}
portuárias (13%), técnicos em transportes in- e 142 incompletos). E a remuneração mos- de 50 anos (46%, o equivalente a 369 tra-
O setor de Transporte e Logística destaca termodais (11%) e técnicos marítimos, fluvi- tra 79 técnicos na faixa de 0,50 a 1,50 SM; balhadores); a faixa de 40 a 49 anos repre-
as seguintes ocupações: trabalhadores na na- ários e regionais de convés (6%). Observa-se 347, de 1,51 a 3,00 SM; 360, de 3,01 a sentam 32%; a de 30 a 39 anos, 21%; e
vegação marítima, fluvial e regional (47%), que a participação da mulher nesse setor é de 5,00 SM; 660, de 5,01 a 10,00 SM; e 276, os mais jovens (18 a 29 anos) são apenas
oficiais de convés e afins (14%), técnicos em 8%, conforme a Figura 4. acima de 10,00 SM. 1,1% dos trabalhadores.
792 ECONOMIA
ECONOMIAAZUL
AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 793
Faixa
Faixa
Etária
Etária Escolaridade
Escolaridade
1200012000 2000020000
1000010000 1500015000
8000 8000 1000010000
6000 6000 5000 5000
4000 4000 0 0
2000 2000 AG AG R R AB AB AA AA AD AD
Outras
Outras
0 0
AG AGR RAB ABAA AAAD AD
Outras
Outras Analfabeto
Analfabeto Até 5ª Até
Incompleto
5ª Incompleto 5ª Completo
5ª Completo
Fundamental
Fundamental
6ª a 9ª6ª
Fundamental
a 9ª Fundamental Fundamental
Fundamental
Completo
Completo Médio Médio
Incompleto
Incompleto
18 A 24
18 A 24 25 A 29
25 A 29
Gráfico 7: Faixa etária, escolaridade e faixa salarial das ocupações formais 30 A 39
30 A 39 40 A 49
40 A 49 Médio Médio
Completo
Completo Superior
Superior
Incompleto
Incompleto Superior
Superior
Completo
Completo A ocupação garçons, barmen, copeiros (71%), conforme indica o Gráfico 8. A ocu-
50 A 64
50 A 64 65 OU 65
MAIS
OU MAIS
prevalentes do Setor Transporte e Logística nas RM litorâneas – ano 2019 Mestrado
Mestrado Doutorado
Doutorado
e sommeliers é a que mais emprega em to- pação aponta uma remuneração de 1,01 a
Faixa Etária
Faixa Etária das as faixas etárias: 15 a 29 anos (57%); 3,00 SM, para 65% dos gerentes e 16%,
Faixa Etária Escolaridade
Escolaridade
Escolaridade Faixa
Faixa
Salarial
Salarial
12000
12000
12000 12000 2000020000
20000 20000 5000 5000 30 a 49 anos (36%); 50 a 64 anos (7%) e na faixa salarial de 3,01 a 5,00 SM.
10000
10000
10000 10000
80008000
8000 8000
15000
10000
15000
15000 15000
10000 10000
4000 4000
3000 3000 ainda mais de 65 anos (0,5%). Caracteri- Os supervisores dos serviços de trans-
10000
60006000
6000 6000
40004000
4000 4000
50005000
5000 5000 2000 2000
1000 1000 zada pela baixa escolaridade, em que 17% porte, turismo, hotelaria e administração
0 0 0 0
20002000
2000 2000 AG AGAG RAGR
R AB R ABAB AAABAA AA ADAAAD ADOutras
AD
OutrasOutras
Outras
0 0
AG AG R R AB AB AA AA AD AD
Outras
Outras dos trabalhadores possuem nível de instru- e edifícios são ocupações caracterizadas
0 00 0
AG AG
AG R AGR
R AB RAB
AB AA AB
AA AD AA
AA AD
Outras
AD Outras
AD Outras
Outras Analfabeto
Analfabeto
Analfabeto
Analfabeto Até 5ª
Até
Incompleto
5ª Incompleto
Até 5ª Incompleto
Até 5ª Incompleto 5ª Completo
5ª Completo
Fundamental
5ª Completo
Até 0,50
Fundamental
Até 0,50
Fundamental
5ª Completo Fundamental
0,51 a 1,00
0,51 SM
a 1,00 SM 1,01 a 1,50
1,01 SM
a 1,50 SM ção fundamental (7815 pessoas com cur- pela instrução média (76%), na maioria
18 A18
24A
18 A 24
2418 A2524A25
29A
25 A 29
2925 A 29
6ª a 9ª
6ªFundamental
6ª aa 9ª
9ª Fundamental
Fundamental
6ª a 9ª FundamentalFundamental
Fundamental
Fundamental
Completo
Fundamental Completo
CompletoCompleto
MédioMédio
Incompleto
Médio Incompleto
1,51 a 2,00
Médio Incompleto
Incompleto
1,51 SM
4,01 a 5,00
a 2,00 SM 2,01 a 3,00
4,01 SM
2,01 SM
5,01 SM
3,01 SM
7,01 aSM
10,00 SM
so incompleto e 15553 completo) e 81% de adultos entre 30 e 49 anos (64%) e
30 A30
30
39A
A 39
3930 A4039A40
49A
40 A 49
4940 A 49
50 A50
64A 64
50 A 6450 A6564
OU65
65 OU MAIS
MAIS
OU 65 OU MAIS
MAIS
MédioMédio
Completo
Completo
Médio
Médio Completo Completo Superior
Superior
Incompleto
Superior
Incompleto
Incompleto
Superior Incompleto Superior
Superior
Completo
Superior
Completo
Superior CompletoCompleto
10,01 a10,01
15,00aSM 15,01 a15,01
15,00 SM 20,00aSM Mais deMais
20,00 SM 20,00
deSM20,00 SM ensino médio (16014 incompletos e 96613 remuneração de 1,01 a 3,00 SM (63%).
Mestrado
Mestrado
Mestrado Mestrado Doutorado
Doutorado
Doutorado
Doutorado
{ñ class}
{ñ class}
completos), o que se reflete na remunera- Enquanto os técnicos em turismo repre-
Faixa Salarial
Faixa
Faixa Salarial
Salarial
Ocupações mais prevalecentes no Setor de Transporte e Logística Homens Mulheres Total ção de 80% das pessoas recebendo até 2,0 sentam 60%, na mesma faixa etária, per-
AG Trabalhadores na Navegação Marítima, Fluvial e Regional 6581 102 6683
50005000
5000
40004000
4000
5000
4000 SM e 12% 2,01 a 4,00 SM. fazem 98% da escolaridade dividida em
R Oficiais de Convés e Afins 1715 200 1915
30003000
3000
20002000
2000
3000
2000 Dos gerentes de operações de turismo, 45% no ensino médio e 53% no ensino
AB Técnicos em Transportes por Vias Navegáveis e Operações Portuárias 1628 153 1781
10001000
1000
0 0 0
1000
0 AA Técnicos em Transportes Intermodais 1135 376 1511 alojamento e alimentação, 31% são jovens superior. Além de apresentar 78% da ocu-
Escola
Esco
AG AG
AG RAG R
R ABR AB
AB AAABAA
AA ADAAAD
ADOutras
AD
OutrasOutras
Outras
de 18 a 29 anos de idade e 56% são adul- pação dividida entre as faixas de remune-
Faixa Escola
Até 0,50
Até
Até 0,50
AD
0,50Até 0,50 0,51 a0,51
0,51
Técnicos Marítimos, Fluviários e Regionais de Convés
1,00aaSM
1,00
0,51SM
1,00 a 1,00
SM 1,01
SMa1,01
1,50aaSM
1,01 1,50
1,01SM
1,50 a 1,50 SM
SM
783 14 797
FaixaEtária
Faixa Etária
Etária 120000
1,51 a1,51
1,51
2,00aaSM Outras
2,00
1,51
2,00 SM
a 2,00
SM 2,01 3,00aaSoma
SMa2,01
2,01 SM
3,00 das
2,01SM
3,00 SM demais
a 3,00
3,01 4,00ocupações
SMa3,01
3,01 aaSM
4,00 a 4,00do
3,01SM
4,00 SM SMSetor 1243 222 1464 tos de 30 a 49 anos. A escolaridade predo- ração: 1,01 a 2,00 SM (38%); 2,01 a 3,00 120000 120000
100000
100000
100000
80000
50000 80000
4,01 a4,01
4,01
5,00aaSM
5,00
4,01SM
5,00 SM
a 5,00
5,01
SMa5,01
5,01
7,00aaSM
7,00
5,01SM
7,00 SM
a 7,00
7,01
SMa7,01
7,01
10,00
aa 10,00
10,00
SM
7,01 SM
SM
a 10,00 SM
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022) minante na ocupação é a de ensino médio SM (27%) e 3,0150000 a 4,00 SM (13%).
50000
40000
40000
40000
80000
60000
60000
60000
40000
10,0110,01
a 15,00
aa 15,00
10,01
SM SMa 15,00
15,01SM
15,01
a 20,00
aa 20,00
15,01
SM SMa 20,00
Mais SM
de
Mais
20,00
de 30000 40000
40000
10,01 15,00 SM 15,01 20,00 SM Mais de Mais
20,00
SM deSM
20,00 20,00 SM
SM 30000
30000 20000
20000 20000
20000
20000 20000
0
{ñ class}
{ñ class}
class}{ñ class} 10000
{ñ
10000
10000 0 0
0 L O
4.5 Serviços de garçons, barmen, copeiros e sommeliers 0 0
L
L L
O AA AG AK Outras
O O AAAA AGAG AKAKOutras
Outras Analfabeto
L L O O
Até 5ª I
(85% de participação no setor de serviços). Gráfico 8: Faixa Etária, Escolaridade e Faixa Salarial das ocupações
10 A 14 15 A formais
17
Analfabeto
Analfabeto
6ª a 9ª Fundamental
AtéAté
5ª I
Fundam
10 A1014A 14 15 A1517A 17 6ª a6ª9ªaFundamental
9ª Fundamental Fund
Fundam
18 A 24 25 A 29
O Setor de Serviços apresenta uma dis- Os gerentes de operações de turismo, prevalentes do Setor de Serviços nas RM litorâneas 3030–AA303939ano
18 A1824A 24
A 39
2019
25 A2529A 29
40 A 49
40 A4049A 49
Médio Completo
Médio
Médio Completo
Completo
Superio
Supe
Superio
50 A 64 65 OU MAIS Mestrado Doutora
tribuição mais equilibrada nas ocupações alojamento e alimentação representam Escolaridade 50 A5064A 64 65 OU
65 OU MAIS
MAIS Mestrado
Mestrado Dou
Doutora
794 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 795
4.6 Defesa na Figura 6, que exibe um panorama das representam 10% cada. A primeira tem (67%) e acima de 65 anos (33%). Os Téc-
ocupações que compõem o setor, indican- apenas mulheres, nas faixas de 40 a 49 anos nicos em Transportes Intermodais apresen-
As ocupações dos trabalhadores do Mar do um percentual de 31% de participação (33%) e de 50 a 64 anos (67%), e 33% de- tam escolaridade média e a remuneração de
do setor da Defesa podem ser observadas feminina e 69% masculina. las possuem ensino superior e as demais 5,01 a 7,00 SM (67% ) e de 7,01 a 10,00
instrução intermediária, enquanto que a re- SM (33%). E os Técnicos Marítimos, Fluviá-
Faixa Etária Escola
Figura 6: Ocupações formais do setor de Defesa nas RM litorâneas – ano 2019 muneração se segmenta em 4,01 a 5,00 SM rios e Regionais6 de Convés, 67% possuem3,5
(33%) e 5,01 a 7,00 SM (67%). As outras ensino fundamental
5
4
e 33% ensino médio e3
2,5
duas ocupações são compostas apenas por auferem ganhos3 de 1,51 a 2,00 SM (67%) e2
Gênero dos Trabalhadores e Ocupações do 2
homens, nas faixas etárias de 50 a 64 anos de 2,01 a 3,00 1SM (33%). 1,5
Setor de Defesa 0
1
G A D B C Outras 0,5
A 0
14% 4% B
Gráfico 9: Faixa Etária, escolaridade e faixa salarial das ocupações formais 30 A 39 40 A 49 G A D
50 A 64 65 OU MAIS 6ª a 9ª Fundamental Funda
Mulheres 10% 31% C prevalentes do Setor de Defesa nas RM litorâneas – ano 2019 Superior Completo Mestr
31% D
10%
E Faixa 10,01
7,01 a 10,00 SM
Etária
a 15,00 SM {ñ class}
Escolaridade Faixa Salarial
Homens 10%
4%
6 3,01 a 4,00 SM 4,01 a 5,00 SM 5,01 a 7,00 SM 3,5
69% 17% F 4
5 1,01 a 1,50 SM 1,51 a 2,00 SM 2,01 a 3,00 SM 3
4 3
G 2,5
3 2
H G A D B C Outras 2
2 0 1
1,5
1 0
1 1
0 G A D B C Outras
2 0,5
G A D B C Outras
3 0
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022) 4 30 A 39 40 A 49 G A D B C Outras
1,01 a 1,50 SM 1,51 a 2,00 SM 2,01 a 3,00 SM
50 A 64 65 OU MAIS 6ª a 9ª Fundamental Fundamental Completo Médio Completo 3,01 a 4,00 SM 4,01 a 5,00 SM 5,01 a 7,00 SM
Faixa Salarial Superior Completo Mestrado 7,01 a 10,00 SM 10,01 a 15,00 SM {ñ class}
A Figura 6 destaca a ocupação de balhadores com mais de 50 anos de idade, Faixa Salarial
Ocupações mais prevalecentes no Setor de Defesa
Superior Completo Mestrado Homens Mulheres Total
com uma participação de 31% do setor anos de idade e os técnicos, 75% com mais 3
2 G
A
A
Gerentes de Operações de Serviços em 0Empresa de Transporte, de Comunicação e de Logística (Armazenagem e
Distribuição)
D B C Outras 0,5
5 0 5
forme ilustra o Gráfico 9. A escolaridade escolaridade se distribui em: 20% curso su- Faixa 10,01
7,01 a 10,00 SM Etária
a 15,00 SM {ñ class} Escolaridade
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2022)
da ocupação continua sendo a média, no perior, 40% ensino médio e 40% fundamen-
entanto, nesse setor, a ocupação mostra tal. Já os trabalhadores, metade têm ensino De maneira geral, a escolaridade do tra- Ainda encontramos diferenças na mesma
uma parcela de trabalhadores (11%) com médio e a outra metade ensino fundamental balhador do mar preponderante é a inter- ocupação nos diferentes setores: os traba-
nível superior, o que tem impacto direto na (dividido em curso completo /curso incomple- mediária, ou seja, ensino médio; e essa tem lhadores da extração de minerais líquidos e
remuneração, apresentando uma faixa sa- to). O baixo e segmentado nível de instrução influência na remuneração da ocupação, gasosos do Setor de Extração e Energia, aci-
larial (4,01 a 10,00 SM) mais elevada que leva uma remuneração também segmentada levando em consideração as peculiaridades ma mencionados, quase 40% deles recebem
os outros setores na mesma ocupação. (1,01 a 1,50 SM, 1,51 a 2,00 SM e 2,01 a de cada ocupação e setor. Por exemplo, acima de 5,01 SM (18%, 5,01 a 10,00 SM
A ocupação de gerentes de operações de 3,00 SM) com 25% cada. Dos trabalhadores, encontramos ocupações de nível médio e 20%, mais de 10,01 SM ). Essa função no
serviços em empresa de transporte, de comu- 25% ganham de 5,01 a 7,00 SM. Isso fica de instrução auferindo renda mais elevada setor de Transporte e Logística contém 63%
nicação e de logística (armazenagem e distri- bem visível na ilustração do Gráfico 9. que outras de mesmo nível de escolarida- de trabalhadores de ensino médio, ganhan-
buição) representa 17% do setor de Defesa, As ocupações do setor de Defesa: Téc- de, como a ocupação dos trabalhadores da do 4,01 a 5,00 SM (16%) e 5,01 a 10,00 SM
enquanto os trabalhadores na navegação nicos de Apoio à Biotecnologia, Técnicos extração de minerais líquidos e gasosos do (31%), enquanto o setor de Manufatura pos-
marítima, fluvial e regional têm participação em Transportes Intermodais, Técnicos Ma- Setor de Extração e Energia, com 87% no sui 74% de empregados no ensino médio e
de 14%. Ambas as funções apresentam tra- rítimos, Fluviários e Regionais de Convés ensino médio, recebendo mais de 5,01 SM. 87% auferindo ganhos de 2,01 a 3,00 SM.
798 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 799
A ocupação de garçons, barmen, copei- homens e 21 mulheres (14 pessoas com o Em relação ao sexo dos trabalhadores e na Economia Nacional, o único setor que
ros e sommeliers é uma função que emprega nível fundamental e 10 com nível médio), nas das ocupações dos setores econômicos, aparece 50% ocupado por homens e mu-
em todas as faixas etárias, de forma geral faixas salariais 0,51 a 1,00 SM(1), 1,01 a 1,50 a Economia do Mar e Costeira das RM Lito- lheres é o de Serviços, os demais setores
apresenta baixo nível de escolaridade e de SM (4), 1,51 a 2,00 SM (11), 2,01 a 3,00 SM râneas é preponderante no sexo masculino são ocupados em maioria por homens.
salários. Quando a ocupação é repartida (6), e não classificado (2).
Tabela 5: Comparativo das ocupações por setores na economia do Mar e
com as mulheres, isso tende a ser ainda No Setor da Defesa, a ocupação garçons,
Costeira nas RM litorâneas e a Economia Nacional – dados de 2019
mais agravado. No setor de Extração e barmen, copeiros e sommeliers é realizada
Energia, a função mostra: (i) em Pernambu- pelo taifeiro, que tem uma remuneração Ocupações
co apenas 2 mulheres com ensino Médio, mais elevada em função do soldo. Assim, Setores Economia do Mar e Costeira Economia Nacional
ganhando na faixa de 0,51 a 1,00 SM (1) os salários mais altos não se verificam no das RM Litorâneas
e 1,01 a 1,50 SM (1); (ii) no Rio de Janeiro, restante dos setores analisados. Todos
M F T M F T
11 mulheres (6 com ensino fundamental e apresentam idade acima de 50 anos
5 com ensino médio) e remuneração se di- de idade: (i) no Rio Grande do Norte, Pesca e Aquicultura 3.337 46 3.383 334.762 49.866 384.628
vide em: 0,51 a 1,00 SM (1), 1,01 a 1,50 encontramos 1 pessoa do sexo masculino e Extração e Energia 2.756 393 3.150 222.260 129.784 352.044
SM (2), 1,51 a 2,00 SM (4), 2,01 a 3,00 SM 2 do Feminino, todos com ensino médio e Manufatura 1.028 133 1.161 6.554.161 2.207.043 8.761.204
(2), e 3,01 a 4,00 SM (1), não classifica- a remuneração está na faixa de 4,01 a 5,00
Transporte e Logística 13.085 1.067 14.151 1.972.766 398.342 2.371.108
do (1). Se usarmos os mesmos Estados no SM (2) e não classificado (1); no Rio de
setor de Manufatura, encontramos: (i) em Janeiro, 2 homens e 4 mulheres, 5 pessoas Serviços 94.631 69.272 163.903 12.147.338 12.355.462 24.502.800
Pernambuco 7 mulheres (1 analfabeta, 3 com nível fundamental e 1 nível superior e Defesa 20 9 29 135.504 26.028 161.532
ensino fundamental e 3 ensino médio) com as faixas de remuneração são 5,01 a 7,00 Total 114.857 70.920 185.777 21.366.791 15.166.525 36.533.316
remuneração nas faixas 1,01 a 1,50 SM (3) SM (4) e 7,01 a 10,00 SM (2). Esse também
e 3,01 a 4,00 SM (1), não classificado (3); é mais um exemplo de remuneração mais Obs: atividades que não entram na conta- síduos e descontaminação; organismos inter-
(ii) no Rio de Janeiro, temos na função 3 elevada na região Sudeste e Sul. gem: agricultura, pecuária, produção flores- nacionais e outras instituições extraterritoriais;
tal; água, esgoto, atividades de gestão de re- administração pública, seguridade social.
6. Comparação da Economia do Mar e Costeira das RM Litorâneas com Fonte: Elaboração própria com base nos dados RAIS (2022)
a Economia Nacional
7. Considerações finais
A Tabela 5 a seguir indica uma compa- percentuais que a Economia do Mar e Cos-
ração das ocupações dos trabalhadores dos teira das RM Litorâneas equivale a 0,51% Os ecossistemas marinhos e costeiros formais e informais da Economia do Mar e
setores econômicos da Economia do Mar da Economia Nacional. fornecem produtos e serviços como: petró- Costeira são responsáveis por aproximada-
das RM Litorâneas e da Economia Nacional. A composição dos setores econômicos leo, alimentos, proteção costeira, lazer, en- mente 19 milhões de postos, representan-
Cabe salientar que as atividades agricultura, da Economia do Mar das RM Litorâneas tre outros; sendo indiscutível a sua relevân- do 20% da ocupação nacional.
pecuária, produção florestal; água, esgoto, perfaz a seguinte combinação: (i) Pesca e cia para a economia de uma nação. O Brasil Dito isso, ressalta-se que o Brasil, dife-
atividades de gestão de resíduos e descon- Aquicultura (1,82%); (ii) Extração e Ener- possui muitas cidades próximas e contíguas rentemente de outros países, ainda não
taminação; organismos internacionais e ou- gia (1,7%); (iii) Manufatura (0,62%); (iv) ao mar, o que evidencia ainda mais a impor- trata o mar como um setor econômico,
tras instituições extraterritoriais; administra- Transporte e Logística (7,62%); (v) Serviços tância do Setor Marítimo. Como estimado deixando de aproveitar plenamente o re-
ção pública, seguridade social não entram (88,23%); e (vi) Defesa (0,02%). em Carvalho (2018), o PIB do mar em 2015 curso. Detentor de uma extensão conti-
na contagem da totalidade das ocupações. Os setores que mais empregam na representa 19% na participação no PIB na- nental e um dos maiores litoral costeiros
Dito isso, a Economia Nacional mostra Economia do Mar e Costeira das RM cional, sendo maior que países como Fran- do mundo, não mensura o setor, e des-
um total de 36.533.316 ocupações, en- Litorâneas são o de Serviços (83%) e ça, Austrália, China, EUA, que são nações sa forma, não explora adequadamente a
quanto a Economia do Mar e Costeira das o de Transporte e Logística (11%), já que entendem o mar como potencial eco- imensa riqueza que possui. Assim, a falta
RM Litorâneas indica um total de 185.777 na Economia Nacional são o de Servi- nômico, apresentando políticas voltadas a desse olhar também mostra poucos es-
ocupações, o que representa em termos ços (57%) e o de Manufatura (31%). ele. E em relação ao emprego, as ocupações tudos e análises na área, de modo que a
800 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 801
temática é pouco pesquisada. Nesse senti- de Extração e Energia, apontando um nível Referências
do, esse trabalho tem um caráter pioneiro intermediário de instrução, faixa etária pre-
na contribuição para a evolução do pano- valecente de 30 a 49 anos de idade, predo- BRASIL. Ministério do Trabalho. Classifi- volvimento, PUCRS, Porto Alegre, 2018.
rama das ocupações dos trabalhadores das minância do sexo masculino e rendimentos cação Brasileira de Ocupações (CBO). CLEMENTE, C. C. Faces do Pré-Sal Brasi-
RM litorâneas associadas ao mar e à costa. mais elevados; Setor de Manufatura, tam- Disponível em: http://www.mtecbo.gov. leiro: Migração, Trabalho e Sociabilidade.
Este capítulo apresentou o perfil dos bém prevalecente no sexo masculino e na br/cbosite/pages/informacoesGerais.jsf;j- Ideias, Campinas, SP, v. 5, n. 2, p. 40–64,
trabalhadores associados às atividades li- escolaridade média, exibe distribuições de sessionid=gU1YWO66OijJFMlLAENnQSsH. 2015. DOI: 10.20396/ideias.v5i2.8649429.
torâneas da Zona costeira metropolitana ocupações nas diferentes faixas etárias e sa- slave17:mte-cbo. Acesso em: dez. 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.
brasileira. Primeiro, indicando a classifica- lariais; Setor de Transporte e Logística, ocu- BRASIL. Ministério do Trabalho. Relação unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/
ção ocupacional adotada pelas nações, tra- pados na maioria por homens, de faixa etá- Anual das Informações Sociais. Disponível view/8649429. Acesso em: 3 set. 2021.
zendo alguns exemplos para ilustrar o quão ria intermediária e nível médio de instrução em: https://bi.mte.gov.br/bgcaged/caged_ DECRETO Nº 5.300 DE 7 DE DEZEMBRO
complexo é quantificar e qualificar os tra- e faixas salariais mais elevadas; Setor de Ser- rais_vinculo_id/caged_rais_vinculo_basico_ DE 2004. Regulamenta a Lei no 7.661,
balhadores relacionados à costa e ao mar, viços, mais equilibrado, em relação ao sexo, tab.php. Acesso em: dez. 2021 de 16 de maio de 1988, que institui o
lembrando que diferentes dimensões das nas ocupações, apresenta baixa escolarida- BRASIL. Ministério do Trabalho. Cadastro Plano Nacional de Gerenciamento Cos-
nações e as suas peculiaridades retratam de e salários mais baixos, e é o que emprega Anual Geral de Empregados e Desem- teiro – PNGC, dispõe sobre regras de uso
realidades e condutas próprias, dificultando em todas as faixas etárias; o Setor de De- pregados. Disponível em: https://bi.mte. e ocupação da zona costeira e estabelece
a comparabilidade das ocupações. fesa, caracterizado por escolaridade média, gov.br/bgcaged/caged_acerto/caged_acer- critérios de gestão da orla marítima, e dá
Segundo, apresentando a entrada e idade acima de 50 anos, remuneração seg- to_basico_tabela.php. Acesso em: dez. 2021 outras providências. Disponível em:
saída das ocupações associadas ao mar mentada em diferentes faixas salariais. BUREAU OF LABOR STATISTICS, U.S. De- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
e à costa, que conforme dados do IBGE As ocupações dos trabalhadores do partment of Labor, Occupational Out- ato2004-2006/2004/decreto/d5300.htm.
no ano de 2019, em comparação ao ano mar são exercidas na maioria por homens, look Handbook, Water Transportation INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION.
de 2018, as ocupações relacionadas aos e onde se verifica a presença da mulher, se Workers. Disponível em: https://www.bls. International Standard Classification
setores do mar e da costa apresentaram observam mais faixas salariais na ocupação, gov/ooh/transportation-and-material-mo- of Occupations (ISCO). Disponível em:
ving/water-transportation-occupations. https://ilostat.ilo.org/resources/concepts-
fluxos menores de contratações, contudo, assim como os níveis salariais na ocupação
htm. Acesso em: 19 abr. 2022. -and-definitions/classification-occupation/.
o saldo manteve-se positivo. A ocupação tendem a ser mais baixos. Percebe-se tam-
BUREAU OF LABOR STATISTICS, U.S. Fishing Acesso em: 5 maio 2022.
de maior fluxo do emprego formal por se- bém que ocupações apresentam diferenças
and Hunting Workers. Disponível em: ht- INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA.
tor mar e costa no ano de 2019 foi a de entre si, dependendo do setor e da região.
tps://www.bls.gov/ooh/farming-fishing-and- Classificação Portuguesa das Profissões:
garçons, barmen, copeiros e sommeliers Comparando os setores que mais empre-
-forestry/fishers-and-related-fishing-workers. 2010. Lisboa: INE, 2011. Disponível em:
(6084 postos); essa mesma ocupação foi gam da Economia do Mar e Costeira das
htm. Acesso em: 19 abr. 2022. https://www.ine.pt/xurl/pub/107961853.
também a que mais contratou, enquanto RM Litorâneas com os setores da Economia
CARVALHO, A. B. Economia do Mar: Acesso em: 5 maio 2022.
a Gerentes de operações de Turismo, Alo- Nacional, a primeira, os setores que mais
Conceito, Valor e Importância para o Bra- MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Macro-
jamento e Alimentação; e a de Superviso- empregam são os Setores de Serviços e de sil. 2018. Tese (Doutorado) – Programa de diagnóstico da Zona Costeira e Mari-
res dos Serviços de Transportes, Turismo, Transporte e Logística; enquanto o da Eco- Pós Graduação em Economia do Desen- nha do Brasil. Brasília, DF. 2008. 242 p.
Hotelaria e Administração e Edifícios fo- nomia Nacional são os de Serviços e o de
ram as que mais perderam postos (respec- Manufatura.
tivamente, -1490 e -691). De toda forma, as ocupações de manei- ANEXO 1
Seguindo, exibiu-se o perfil das ocupa- ra geral, diferem não só entre os setores e DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO
ções formais associadas ao mar e à costa as regiões, mas também sofrem influência Publicado em: 3/2/2021| Edição: 23| Seção: 1| Página: 53
das RM litorâneas. Para isso, apresentou-se de todo o contexto que as envolvem, des- Órgão: Ministério do Meio Ambiente/Gabinete do Ministro
uma análise por setores: Setor de Pesca e de disponibilidade de pessoas aptas à de- PORTARIA MMA Nº 34, DE 2 DE FEVEREIRO DE 2021
Aquicultura, indicando quase que a totali- terminada função até características como: Aprova a listagem atualizada dos municí- O MINISTRO DE ESTADO DO MEIO AM-
dade de homens, idade média e avançada, escolaridade, habilidades técnicas, expe- pios abrangidos pela faixa terrestre da zona BIENTE, no uso de suas atribuições, e tendo
de baixa escolaridade e rendimento; Setor riência e capacidade de adaptação. costeira brasileira. em vista o disposto no Decreto nº 10.455,
802 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 803
de 11 de agosto de 2020, no art. 4º do De- Municípios abrangidos pela faixa terrestre Olinda, Paulista, Recife, Rio Formoso, São tacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu,
creto nº 5.300, de 7 de dezembro de 2004, da zona costeira, serão disponibilizados no José Coroa Grande, Sirinhaém e Tamandaré. Duque de Caxias, Guapimirim, Iguaba
e o que consta no Processo Administrativo portal do Ministério do Meio Ambiente na ALAGOAS: Atalaia, Barra de Santo Antônio, Grande, Itaboraí, Itaguaí, Macaé, Magé,
nº 02000.000303/2021-91, resolve: rede mundial de computadores. Barra de são Miguel, Coqueiro Seco, Coru- Mangaratiba, Maricá, Mesquita, Nilópolis,
Art. 1º Aprovar a listagem atualizada dos Art. 2º Fica revogada a Portaria nº 461, de ripe, Feliz Deserto, Igreja Nova, Japaratinga, Niterói, Nova Iguaçu, Paraty, Quissamã, Rio
Municípios abrangidos pela faixa terres- 13 de dezembro de 2018. Jequiá da Praia, Maceió, Maragogi, Marechal das Ostras, Rio de Janeiro, São Francisco
tre da zona costeira do País. Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data Deodoro, Messias, Murici, Paripueira, Passo do Itabapoana, São Gonçalo, São João da
Parágrafo único. Os arquivos digitais, em de sua publicação. de Camaragibe, Penedo, Piaçabuçu, Pilar, Barra, São João do Meriti, São Pedro da Al-
formato shapefile, com a delimitação dos RICARDO SALLES Porto Calvo, Porto de Pedras, Rio Largo, Ro- deia, Saquarema e Seropédica.
teiro, Santa Luzia do Norte, São Luís do Qui- SÃO PAULO: Bertioga, Cananeia, Caragua-
ANEXO I tunde, São Miguel dos Milagres e Satuba. tatuba, Cubatão, Guarujá, Iguape, Ilhabe-
LISTAGEM ATUALIZADA DOS MUNICÍPIOS ABRANGIDOS PELA FAIXA TERRESTRE DA SERGIPE: Aracaju, Barra dos Coqueiros, la, Ilha Comprida, Itanhaém, Mongaguá,
ZONA COSTEIRA BRASILEIRA Brejo Grande, Carmópolis, Divina Pastora, Peruíbe, Praia Grande, Santos, São Sebas-
Estância,General Maynard, Ilha das Flores, tião, São Vicente e Ubatuba.
AMAPÁ: Amapá, Calçoene, Cutias, Itaubal, do Maranhão, São João Batista, São José Indiaroba, Itaporanga d’Ajuda, Japaratu- PARANÁ: Antonina, Guaraqueçaba, Gua-
Macapá, Mazagão, Oiapoque, Pracuúba, de Ribamar, São Luís, Serrano do Mara- ba, Japoatã, Laranjeiras, Maruim, Neópolis, ratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e
Santana, Tartarugalzinho e Vitória do Jari. nhão, Turiaçu, Tutóia e Viana. Nossa Senhora do Socorro, Pacatuba, Pi- Pontal do Paraná.
PARÁ: Abaetetuba, Afuá, Anajás, Ananin- PIAUÍ: Bom Princípio do Piauí, Cajueiro da rambu, Riachuelo, Rosário do Catete, San- SANTA CATARINA: Araquari, Araranguá,
deua, Augusto Corrêa, Bagre, Barcarena, Praia, Ilha Grande, Luís Correia e Parnaíba. ta Luzia do Itanhy, Santo Amaro das Brotas, Balneário Arroio do Silva, Balneário Barra do
Belém, Benevides, Bragança, Breves, Cacho- CEARÁ: Acaraú, Amontada, Aquiraz, Aracati, São Cristóvão e Siriri. Sul, Balneário Camboriú, Balneário Gaivota,
eira do Arari, Capanema, Castanhal, Cha- Barroquinha, Beberibe, Camocim, Cascavel, BAHIA: Alcobaça, Araçás, Aratuípe, Bel- Balneário Piçarras, Balneário Rincão, Barra
ves, Colares, Curralinho, Curuçá, Gurupá, Caucaia, Chaval, Cruz, Eusébio, Fortaleza, monte, Cachoeira, Cairu, Camaçari, Ca- Velha, Biguaçu, Bombinhas, Camboriú, Ca-
Inhangapi, Magalhães Barata, Maracanã, Fortim, Icapuí, Itapipoca, Itarema, Jijoca de mamu, Canavieiras, Candeias, Caravelas, pivari de Baixo, Florianópolis, Garopaba, Ga-
Marapanim, Marituba, Melgaço, Muaná, Jericoacoara, Paracuru, Paraipaba, Pindoreta- Cardeal da Silva, Catu, Conde, Dias d’Ávi- ruva, Governador Celso Ramos, Içara, Imaruí,
Oeiras do Pará, Ponta de Pedras, Portel, Pri- ma, São Gonçalo do Amarante e Trairi. la, Entre Rios, Esplanada, Igrapiúna, Ilhéus, Imbituba, Itajaí, Itapema, Itapoá, Jaguaruna,
mavera, Quatipuru, Salinópolis, Salvaterra, RIO GRANDE DO NORTE: Areia Branca, Arês, Itabuna, Itacaré, Itanagra, Itaparica, Itube- Joinville, Laguna, Maracajá, Navegantes, Pa-
Santa Bárbara do Pará, Santa Cruz do Arari, Baía Formosa, Caiçara do Norte, Canguareta- rá, Jaguaripe, Jandaíra, Lauro de Freitas, lhoça, Passo de Torres, Paulo Lopes, Penha,
Santa Izabel do Pará, Santarém Novo, Santo ma, Ceará Mirim, Extremoz, Galinhos, Gros- Madre de Deus, Maragogipe, Maraú, Mata Pescaria Brava, Porto Belo, Santa Rosa do Sul,
Antônio do Tauá, São Caetano de Odivelas, sos, Guamaré, Macaíba, Macau, Maxaran- de são João, Mucuri, Nazaré, Nilo Peçanha, São Francisco do Sul, São João do Sul, São
São João da Ponta, São João de Pirabas, São guape, Mossoró, Natal, Nísia Floresta, Parna- Nova Viçosa, Pojuca, Porto Seguro, Prado, José, Sombrio, Tijucas e Tubarão.
Sebastião da Boa Vista, Soure, Terra Alta, mirim, Pedra Grande, Pendências, Porto do Salinas de Margarida, Salvador, Santa Cruz RIO GRANDE DO SUL: Arambaré, Arroio do
Tracuateua, Vigia e Viseu. Mangue, Rio do Fogo, São Bento do Norte, Cabrália, Santa Luzia, Santo Amaro, São Sal, Arroio do Padre, Arroio Grande, Bal-
MARANHÃO: Água Doce do Maranhão, São Gonçalo do Amarante, São Miguel do Félix, São Francisco do Conde, São Sebas- neário Pinhal, Barra do Ribeiro, Camaquã,
Alcântara, Anajatuba, Apicum-Açu, Araio- Gostoso, Senador Georgino Avelino, Tibau, tião do Passé, Saubara, Simões Filho, Tape- Capão da Canoa, Capão do Leão, Capivari
ses, Arari, Axixá, Bacabeira, Bacuri, Bacu- Tibau do Sul, Touros e Vila Flor. roá, Una, Uruçuca, Valença e Vera Cruz. do Sul, Chuí, Cidreira, Cristal, Dom Pedro de
rituba, Barreirinhas, Bequimão, Cajapió, PARAÍBA: Alhandra, Baía da Traição, Bayeux, ESPÍRITO SANTO: Anchieta, Aracruz, Cariaci- Alcântara, Imbé, Itati, Jaguarão, Mampitu-
Cândido Mendes, Carutapera, Cedral, Caaporã, Cabedelo, Conde, João Pessoa, ca, Conceição da Barra, Fundão, Guarapari, ba, Maquiné, Morrinhos do Sul, Mostardas,
Central do Maranhão, Cururupu, Godo- Lucena, Marcação, Mataraca, Pitimbu, Rio Itapemirim, Jaguaré, Linhares, Marataízes, Pi- Osório, Palmares do Sul, Pelotas, Rio Gran-
fredo Viana, Guimarães, Humberto de Tinto e Santa Rita. úma, Presidente Kennedy, São Mateus, Serra, de, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio
Campos, Icatu, Luís Domingues, Mirinzal, PERNAMBUCO: Abreu e Lima, Barreiros, Sooretama, Viana, Vila Velha e Vitória. da Patrulha, São José do Norte, São Louren-
Morros, Paço do Lumiar, Paulinho Neves, Cabo de Santo Agostinho, Fernando de No- RIO DE JANEIRO: Angra dos Reis, Ararua- ço do Sul, Tapes, Tavares, Terra de Areia, Tor-
Porto Rico do Maranhão, Primeira Cruz, ronha, Goiana, Igarassu, Ilha de Itamaracá, ma, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, res, Tramandaí, Três Cachoeiras, Três Forqui-
Raposa, Rosário, Santa Rita, Santo Amaro Ipojuca, Itapissuma, Jaboatão Guararapes, Belford Roxo, Cabo Frio, Campos dos Goy- lhas, Turuçu, Viamão e Xangri-Lá.
804 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 805
ANEXO 2 Tabela 7: Ocupações formais do Setor de Extração e Energia das RM Litorâneas
Fundamental Completo
Completo
9ª Fundamental
Fundamental
Superior Incompleto
Incompleto
Superior Completo
Completo
20,00 SM
SM
Médio Incompleto
Incompleto
15,00 SM
SM
20,00 SM
SM
5ª Incompleto
Incompleto
Médio Completo
Completo
10,00 SM
SM
1,00 SM
SM
1,50 SM
SM
2,00 SM
SM
3,00 SM
SM
4,00 SM
SM
5,00 SM
SM
7,00 SM
SM
de 20,00
a 15,00
a 20,00
Fundamental
Fundamental
Fundamental
a 10,00
5ª Completo
Completo
a 1,00
a 1,50
a 2,00
a 3,00
a 4,00
a 5,00
a 7,00
Ou Mais
Mais
Tabela 6: Ocupações formais do Setor de Pesca e Aqüicultura das RM Litorâneas
Ocupações
Ocupações
Doutorado
Doutorado
Masculino
Masculino
Mestrado
Mestrado
Feminino
Feminino
Até 0,50
0,50
Superior
Superior
A 24
24
A 29
29
A 39
39
A 49
49
A 64
64
Mais de
{ñ class}
class}
10,01 a
15,01 a
a 9ª
0,51 a
1,01 a
1,51 a
2,01 a
3,01 a
4,01 a
5,01 a
7,01 a
Médio
Médio
65 Ou
Até 5ª
10,01
15,01
Total
Total
18 A
25 A
30 A
40 A
50 A
Mais
0,51
1,01
1,51
2,01
3,01
4,01
5,01
7,01
6ª a
Até
Até
18
25
30
40
50
65
5ª
6ª
{ñ
Fundamental
Superior Incompleto
AA 11 22 33 00 00 22 11 00 00 00 00 00 00 00 00 00 22 11 00 00 00 00 00 00 11 00 00 00 00 11 00 11
a 9ª Fundamental
Superior Incompleto
9ª Fundamental
Completo
Superior Incompleto
Mais de 20,00 SM
Incompleto
10,01 a 15,00 SM
a 20,00 SM
5ª Incompleto
Completo
0,50 Completo
SM
Incompleto
Mais de 20,00 SM
Médio Incompleto
SM
a 20,00 SM
Incompleto
SM
SM
Incompleto
Completo
20,00SM
Médio Completo
Médio Completo
SM
SM
BB 23
23 99 32
32 00 00 44 10
10 17
17 11 00 00 00 00 00 00 22 18
18 99 33 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 14
14 18
18
SM
1,50 SM
SM
SM
SM
5,00 SM
SM
a 1,00 SM
1,00 SM
1,51 a 2,00 SM
SM
3,01 a 4,00 SM
4,01 a 5,00 SM
4,00 SM
0,51 a 1,00 SM
1,01 a 1,50 SM
1,51 a 2,00 SM
SM
3,01 a 4,00 SM
4,01 a 5,00 SM
5,01 a 7,00 SM
20,00
15,00
15,00
Dez
Fundamental
Fundamental
15,01a a10,00
5ª Completo
Fundamental
7,01 a 10,00
t l
7,01 aa 10,00
Completo
65Completo
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65 Ou Mais
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Ou Mais
Analfabeto
a 3,00
Mais
Doutorado
Analfabeto
Analfabeto
Doutorado
Ocupações
Doutorado
Masculino
Completo
Masculino
Masculino
Completo
Mestrado
Mestrado
Feminino
Mestrado
Feminino
0,510,50
Feminino
Ativ
Até 0,50
Superior
Superior
l t
17
24
25 A 29
39
A 49
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17
24
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Superior
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Mais de
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Médio
Médio
Até 5ª
Médio
65 Ou
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15,01
Total
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Total
F d
Total
A
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50 A
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Não
Até
Até
Até
Até
15
18
30
40
18
25
30
5ª
6ª
5ª
6ª
Fundamental Completo
Completo
Fundamental Completo
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9ª Fundamental
Fundamental
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Incompleto
Incompleto
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Superior Completo
Completo
Superior Completo
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SM
SM
Médio Incompleto
Incompleto
Médio Incompleto
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SM
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SM
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SM
5ª Incompleto
5ª Incompleto
Incompleto
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SM
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SM
SM
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SM
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a 2,00 SM
SM
2,00 SM
SM
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SM
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SM
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SM
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SM
5,00 SM
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de 20,00
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15 18
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Fundamental
a 10,00
0
5ª Completo
Completo
Completo
a 1,00
1,00
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a 3,00
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Ou Mais
Ou Mais
Mais
Ocupações
Ocupações
Ocupações
Doutorado
Doutorado
Doutorado
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Masculino
Masculino
Masculino
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Mestrado
Mestrado
Mestrado
Feminino
Feminino
Feminino
0,50
Até 0,50
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Superior
Superior
Superior
A 24
18 A 24
24
A 29
25 A 29
29
A 39
39
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A 64
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de
Mais de
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a
a
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a
1,01 a
1,51 a
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5,01 a
7,01 a
Médio
Médio
Médio
65 Ou
Até 5ª
10,01
15,01
15,01
d
FFF6ª ad
Total
Total
Total
18 A
25 A
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40 A
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Mais
Mais
0,51
0,51
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2,01
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Até
Até
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65
65
5ª
5ª
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19
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15
15
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16
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68
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54
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10
10
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12
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VVVV32
VV32
VV32
32
V32
32
V0V
32
032
V032
V032
0
V32
032
0V32
0VV
32
32
032
32
032
032
032
32
32
032
0032
1032
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0100132
132
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001012
01012
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12
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0812
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011
12
0811
011
12
811
0812
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0
12
12
11
802
8011
011
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280
11
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0220211
11
2011
20
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00018
0018
0018
018
0
6018
6018
618
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0618
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6118
618
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49
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21
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39
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19 16
16
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Fonte: Elaboração Própria com base nos dados da RAIS (2022)
AA
AAAA782
AA 782
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79415
794 15
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60
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441
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199
199
19974
74
74
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11
11
11691
691
691
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10
10
10 69
69
69
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151
151
151105
105
105
10553
53
53
5383
83
83
8356
56
56
5672
72
72
7224
24
242462
62
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176
176
176
AB
AB
AB
AB276
276
276
276 2222 278
278
278
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111
111
111 87
87
87
87 58
58
58
5811
11
1111 0000 0000 2222 25
25
25
25 3333 222
222
222
22214
14
14
14 12
12
12
12 0000 0000 0000 0000 2222 1111 14
14
14
14 17
17
17
17 22
22
22
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77
77
7761
61
61
6139
39
39
39 8888 6666 31
31
31
31
(A) Biólogos e Afins; (B) Carpinteiros Navais e Mecânicos de Manutenção Naval (em Terra; Fonte: Elaboração Própria com base nos dados da RAIS (2022)
de Aeronaves; (C) Criadores de Animais Aquá- (L) Oficiais de Convés e Afins; (M) Pescadores
ticos; (D) Diretores de Produção e Operações de Água Costeira e Alto-Mar; (N) Pescadores (A) Biólogos e Afins; (B) Diretores de Pes- ção de Produtos Químicos, Petroquímicos e
em Empresa Agropecuária, Pesqueira, Aquí- Polivalentes; (O) Pescadores Profissionais Ar- quisa e Desenvolvimento; (C) Diretores de Afins; (O) Operadores de Produção e Refino
cola e Florestal; (E) Eletricistas-Eletrônicos tesanais de Água Doce; (P) Supervisores de Produção e Operações de Serviços de Arma- de Petróleo e Gás; (P) Operadores Polivalen-
de Manutenção Veicular (Aérea, Terrestre e Produção em Indústrias Químicas, Petroquí- zenamento, Transporte e Comunicação; (D) tes de Instalações Químicas, Petroquímicas,
Naval); (F) Garçons, Barmen, Copeiros e Som- micas e Afins; (Q) Supervisores dos Serviços de Diretores de Serviços de Informática; (E) Ele- e Afins; (Q) Pesquisadores das Ciências Bioló-
meliers; (G) Geólogos e Geofísicos; (H) Geren- Transporte, Turismo, Hotelaria e Administra- tricistas-Eletrônicos de Manutenção Veicular gicas; (R) Supervisores da Extração Mineral;
tes de operações de Serviços em Empresa de ção e Edifícios; (R) Técnicos em Aquicultura; (Aérea, Terrestre e Naval); (F) Engenheiros (S) Supervisores dos Serviços de Transporte,
Transporte, de Comunicação e de Logística (S) Técnicos em Transportes Intermodais; (T) Ambientais e Afins; (G) Garçons, Barmen, Turismo, Hotelaria e Administração e Edifí-
(Armazenagem e Distribuição); (I) Gerentes Técnicos Marítimos, Fluviários e Regionais de Copeiros e Sommeliers; (H) Geólogos e Geo- cios; (T) Técnicos em Geologia, Geotecnolo-
de Pesquisa e Desenvolvimento; (J) Gerentes Convés; (U) Trabalhadores de Apoio ao Extra- físicos; (I) Gerentes de operações de Serviços gia e Geofísica; (U) Técnicos em Mineração;
de Produção e Operações em Empresa Agro- tivismo da Pesca; (V) Trabalhadores na Nave- em Empresa de Transporte, de Comunicação (V) Técnicos em Transportes (Aduaneiros);
pecuária, Pesqueira, Aquícolas e Florestal; (K) gação Marítima, Fluvial e Regional e de Logística (Armazenagem e Distribui- (X) Técnicos em Transportes Intermodais; (W)
ção; (J) Gerentes de operações de Turismo, Técnicos em Transportes por Vias Navegáveis
Alojamento e Alimentação; (K) Gerentes de e Operações Portuárias; (Y) Técnicos Marí-
Pesquisa e Desenvolvimento; (L) Gerentes de timos, Fluviários e Regionais de Convés; (Z)
Produção e Operações em Empresa Agrope- Técnicos Petroquímicos; (AA) Trabalhadores
cuária, Pesqueira, Aquícolas e Florestal; (M) da Extração de Minerais Líquidos e Gasosos;
Oficiais de Convés e Afins; (N) Operadores (AB) Trabalhadores na Navegação Marítima.
de Processos das Indústrias de Transforma- Fluvial e Regional.
806 ECONOMIA AZUL Panorama das Ocupações das Regiões Metropolitanas 807
Tabela 8: Ocupações formais do Setor de Manufatura das RM Litorâneas Tabela 9: Ocupações formais do Setor de Transporte e Logísticadas RM Litorâneas
6ª a 9ª Fundamental
Superior Incompleto
Fundamental Completo
Superior Completo
Mais de 20,00 SM
Médio Incompleto
10,01 a 15,00 SM
15,01 a 20,00 SM
Até 5ª Incompleto
6ª a 9ª Fundamental
Superior Incompleto
Médio Completo
7,01 a 10,00 SM
Superior Completo
Mais de 20,00 SM
Médio Incompleto
10,01 a 15,00 SM
15,01 a 20,00 SM
Até 5ª Incompleto
0,51 a 1,00 SM
1,01 a 1,50 SM
1,51 a 2,00 SM
2,01 a 3,00 SM
3,01 a 4,00 SM
4,01 a 5,00 SM
5,01 a 7,00 SM
Médio Completo
7,01 a 10,00 SM
0,51 a 1,00 SM
1,01 a 1,50 SM
1,51 a 2,00 SM
2,01 a 3,00 SM
3,01 a 4,00 SM
4,01 a 5,00 SM
5,01 a 7,00 SM
t l
Fundamental
5ª Completo
Analfabeto
Ocupações
Doutorado
65 Ou Mais
Masculino
Analfabeto
Ocupações
Doutorado
Mestrado
Masculino
Feminino
Até 0,50
Mestrado
l t
Feminino
15 A 17
18 A 24
25 A 29
30 A 39
40 A 49
50 A 64
Até 0,50
{ñ class}
18 A 24
25 A 29
30 A 39
40 A 49
50 A 64
{ñ class}
F d
Total
Total
C
A 5 2 7 0 0 5 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2 1 3 0
A 108 0 108 0 4 11 25 28 37 3 1 0 7 8 22 10 58 0 2 0 0 0 0 0 5 17 23 25 12 6 2 0 0 0 18
B 11 0 11 0 0 3 4 3 1 0 1 1 1 1 1 6 0 0 0 0 0 0 1 0 2 5 1 1 0 0 0 0 1
B 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 C 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
C 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 D 2 0 2 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0
D 2 0 2 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 E 36 4 40 0 1 4 15 19 1 0 0 0 0 1 0 2 2 33 2 0 0 0 0 0 1 0 2 1 1 1 3 26 5
F 1 4 5 1 0 0 0 3 1 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 3
E 112 2 114 0 9 20 47 15 18 5 0 1 2 6 9 13 79 2 2 0 0 0 0 1 2 7 15 36 19 12 4 0 2 0 16
G 0 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0
F 5 4 9 0 1 1 5 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 0 0 0 0 0 0 1 3 1 0 1 1 2 0 0 0 H 7 0 7 0 0 1 3 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 4 0
G 23 58 81 0 6 5 16 24 26 4 1 4 2 11 22 8 32 0 1 0 0 0 0 7 24 26 11 3 0 0 0 0 0 0 10 I 113 3 116 4 7 44 34 25 2 0 0 1 2 5 6 87 6 1 0 0 0 1 1 3 8 12 17 8 34 18 5 0 9
H 3 0 3 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 J 15 15 30 0 6 19 3 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 27 2 1 0 0 0 2 0 4 5 3 8 4 0 2 2
K 39 35 74 1 4 21 19 23 6 1 2 1 9 12 8 39 0 2 0 0 0 4 28 14 16 2 0 0 0 0 0 0 10
I 16 2 18 0 1 0 8 5 3 1 0 0 0 0 0 0 4 1 11 2 0 0 0 0 1 0 1 2 1 1 3 0 2 6 1
L 3 3 6 0 0 5 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 4 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 3 0 2 0
J 1 1 2 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 M 462 89 551 21 56 199 162 107 6 2 0 0 7 5 8 156 68 292 6 7 1 0 8 11 47 48 39 54 65 75 50 88 65
K 22 15 37 0 0 2 19 11 5 0 0 0 0 0 0 0 3 1 33 0 0 0 0 0 0 0 2 0 2 1 3 8 8 9 4 N 2 2 4 0 0 0 2 2 0 0 0 0 0 0 0 3 0 1 0 0 0 0 0 0 0 3 0 1 0 0 0 0 0
L 2 0 2 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 14 20 45 152 69 1183 101 624 13 39 75 237 276 283 419 244 198 115 133 181
O 41 17 58 0 3 22 22 11 0 0 45 21 22
Fundamental Completo
Completo
Fundamental Completo
Completo
Fundamental Completo
Completo
Completo
Completo
9 3 7 1 1 7 4 6 0 3 0 5 1 4 3 6 8 9 6 7
M 135 1 136 1 13 18 45 32 22 5 0 2 0 10 15 10 88 4 7 0 0 0 0 3 3 13 20 40 15 16 2 6 2 5 11 P 3 2 5 3 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2 2 0 0 0 0 3 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
6ª a 9ª Fundamental
a 9ª Fundamental
Fundamental
9ª Fundamental
Fundamental
9ª Fundamental
Fundamental
Superior Incompleto
Superior Incompleto
Incompleto
Superior Incompleto
Incompleto
Superior Incompleto
Incompleto
Superior Completo
Superior Completo
Completo
Completo
Completo
Superior Completo
Completo
24 20,00 SM
20,00 SM
SM
SM
20,00 SM
SM
SM
Médio Incompleto
Incompleto
Incompleto
Médio Incompleto
Incompleto
Médio Incompleto
Incompleto
Médio Incompleto
a 15,00 SM
Total a 20,00 SM
15,00 SM
SM
15,00 SM
SM
15,00 SM
SM
20,00 SM
SM
SM
SM
SM
Até 5ª Incompleto
5ª Incompleto
Incompleto
Incompleto
5ª Incompleto
Incompleto
5ª Incompleto
Incompleto
N 37 0 37 0 0 3 11 7 15 1 0 0 0 3 7 1 16 1 9 0 0 1 0 0 1 2 3 2 2 3 6 9 0 6 2 Q 12 12 0 0 1 5 4 2 0 0 0 0 0 5 1 0 0 0 0 0 6 00 1 2 4 2 1 1 0 0 0 1
Médio Completo
Completo
Completo
Médio Completo
Completo
Completo
Médio Completo
Completo
a 10,00 SM
10,00 SM
SM
SM
10,00 SM
SM
SM
SM
0,51 a 1,00 SM
1,01 a 1,50 SM
1,51 a 2,00 SM
2,01 a 3,00 SM
3,01 a 4,00 SM
4,01 a 5,00 SM
5,01 a 7,00 SM
SM
SM
1,00 SM
SM
1,00 SM
SM
1,00 SM
1,50 SM
SM
1,50 SM
SM
SM
SM
1,50 SM
2,00 SM
SM
SM
2,00 SM
SM
SM
SM
3,00 SM
3,00 SM
SM
3,00 SM
2,01 a 3,00 SM SM
SM
SM
4,00 SM
SM
SM
3,01 a 4,00 SM SM
5,00 SM
SM
5,00 SM
SM
SM
5,00 SM
SM
7,00 SM
SM
7,00 SM
SM
SM
7,00 SM
SM
20,00
de 20,00
20,00
de 20,00
10,01 aa 15,0015,00
10,01 aa 15,00
10,01 aa 20,0020,00
15,01 aa 20,0020,00
20,00
a 20,00
171 191 20 124
O 218 27 245 0 57 19 91 52 26 0 0 1 0 0 2 1 231 7 3 0 0 0 0 1 50 36 41 27 32 37 10 0 0 0 3
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
Fundamental
5,01 aa 10,00
7,01 aa 10,00
10,00
7,01 aa 10,00
7,01 a a10,00
R 47 285 699 376 422 86 1 1 9 5 58 13 526
5 4 0 1 11 73 18 44 33 38 66 183 439 452 503 98
5ª Completo
AtéCompleto
Completo
5ª Completo
Completo
Completo
5ª Completo
Completo
aa 1,00
a 1,00
0,51 aaa 1,00
0,51 aa 1,001,50
1,01 aa 1,50
1,01 aa 1,50
1,01 aa 2,00
1,51 aaa 2,00
2,00
1,51 aa 2,00
1,51 aa 2,00
2,01 aa 3,003,00
2,01 aa 3,00
aa 4,00
4,00
3,01 aa 4,004,00
4,00
4,01 aa 5,00
4,01 aa 5,00
5,00
4,01 aaa 5,00
5,01 aa 7,00
5,01 aa 7,007,00
7,00
10,01 a 15,00 SM65 Ou Mais
Ou MaisMais
Ou MaisMais
Mais
Mais
Mais
5 5 0 9
Analfabeto
Analfabeto
Analfabeto
Analfabeto
Analfabeto
Analfabeto
Ocupações
Ocupações
Ocupações
Ocupações
Ocupações
Ocupações
Ocupações
Ocupações
Doutorado
Doutorado
Doutorado
Doutorado
Doutorado
Doutorado
Doutorado
Doutorado
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Mestrado
Mestrado
Mestrado
Mestrado
Mestrado
Mestrado
Mestrado
Mestrado
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
P 14 0 14 0 0 1 5 5 3 0 0 0 0 0 0 0 14 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 5 5 1 0 0 0 1
Até 0,50
0,50
Até 0,50
0,50
Até 0,50
0,50
Até 0,50
0,50
Superior
Superior
Superior
Superior
Superior
Superior
Superior
S 47 47 0 0 4 10 9 23 1 0 0 1 3 3 1 29 0 8 2 0 0 0 0 0 0 0 9 14 17 5 2 0
18 A 24
25 A 29
30 A 39
40 A 49
24
A 24 24
24
A 24 24
29
29
A 29 29
29
25 A 29 29
A 39 39
A 39 39
A 39
30 A 39 39
A 49 49
A 49 49
49
40 A 49 49
A 64 64
A 64 64
A 64 64
64
A de
{ñ class}
15,01de de
Mais de
Mais de de
{ñ class}
class}
class}
{ñ class}
class}
{ñ class}
class}
a
9ª
6ª aaa 9ª
6ª a 9ª
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
a
a
a
a
a
65 Ou
65 Ou
Ou
Ou
Ou
Até 5ª
Até 5ª 5ª
5ª
10,01
15,01
10,01
10,01
10,01
15,01
15,01
15,01
15,01
15,01
6ª a 9ª Fundamental
Superior Incompleto
293 985 712 551 75 18 26 54 197 82 1460 120 716 16 46 97 297 359 343 475 302 237 126 150 235
Total
Total
Total
Total
Total
Total
Q 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
18 A
18 A A
A
A
A
25 A A
A
30 A
30 A
30 A
40 A
40 A A
A
50 A
50 A
50 A A
Mais
Mais
Mais
Mais
Mais
Mais
7,01
0,51
0,51
0,51
0,51
0,51
1,01
1,01
1,01
1,51
1,51
1,51
1,51
2,01
2,01
2,01
2,01
3,01
3,01
3,01
3,01
3,01
4,01
4,01
4,01
4,01
5,01
5,01
5,01
5,01
7,01
7,01
7,01
7,01
a
T 210 9 219 2 29 69 32 25
Até
Até
Até
Até
Até
Até
Até
Até
Superior Completo
Médio Incompleto
18
18
18
18
18
25
25
25
25
25
30
30
30
40
40
40
40
50
50
50
50
65
65
65
65
65
Até 5ª Incompleto
2 4 9 7 6 5 9 7 6 8 0 1 8 4 9 6 5 4 0 2 5 5 9 5 3
Mais de 20,00 SM
5ª
5ª
5ª
5ª
5ª
6ª
6ª
6ª
6ª
{ñ
{ñ
{ñ
{ñ
Médio Completo
R 3 1 4 0 0 0 0 2 1 1 0 0 0 0 0 1 3 0 0 0 0 U 0 230 10 0
23 20 13 07 1 8 0 50 00 0
0 00 00 0 0 1 11 6 5 0 0 0 0 0 0 0 0 1 U
U
UUUUU
U
0U
U23
23
23
23
23
23
23
23
23
23
6 1111116
111123
23
23
23
23
23
423
23
23
23000
4000000032
333333333 7777777777 8888888888 5555555555 0000000000000000000000000000000000000000000000000000000000111111111111
11
11
11
11
11
11
11
11
11666666666655555555550000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000 0000000000 1111111111 0000000000 666666666666666666664444444444444444442222222222
0,51 a 1,00 SM
1,01 a 1,50 SM
1,51 a 2,00 SM
2,01 a 3,00 SM
3,01 a 4,00 SM
4,01 a 5,00 SM
5,01 a 7,00 SM
Fundamental
Fundamental
S 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 V 0 00 10 1 00 01 00 0 0 0 00 00 0 00 00
Não Ativ Dez
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 VVVVVVV0
VVV0000000000 1111110
1111 11111011111 000000000010
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5ª Completo
65 Ou Mais
Analfabeto
Ocupações
Doutorado
Masculino
Completo
Mestrado
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0 XXXXXXX0 10
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1010
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10
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11
11
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01
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21
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Feminino
Até 0,50
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WWWW W
WWW
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2020
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2424
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2020
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47