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O velho “centrão” não mais existe

Adriano Cerqueira, Cientista Político e professor do IBMEC-BH


É um jargão na imprensa o termo “centrão”, nome pejorativo para um bloco não
oficial de deputados federais que fazem parte de partidos pequenos e médios e que se
posicionam ideologicamente na centro-direita. Esse termo pejorativo associou-se, desde
o fim do século XX, a outros preconceitos que identificavam um comportamento venal
(fisiologismo) por parte desse bloco informal, ao mesmo tempo que denominavam essa
bancada de “baixo clero”, que contrastava com os membros do “alto clero” e que faziam
parte de grandes partidos de então, como o PMDB, PT, PSDB, DEM.
Mas será que ainda existe esse “centrão”? Será que partidos e parlamentares que
hoje são identificados como membros do “centrão” são, de fato, oriundos de pequenas
legendas?
A resposta é não. A estrutura partidária brasileira mudou sensivelmente nos
últimos anos, e oquem era “alto clero” virou, hoje, “baixo clero”, e quem era “baixo
clero” é, hoje, “alto clero”.
Para se ter uma base de comparação, veremos alguns partidos que no início do
século XXI faziam parte do chamado “centrão”. Na legislatura de 2003 a 2007, o PP
tinha 42 deputados, o PR tinha 23 e o PTB tinha 22. Por outro lado, os maiores partidos
(“alto clero”) eram PMDB, que tinha 89 deputados, o PT tinha 83, o PSDB tinha 65 e o
DEM tinha 65. Na legislatura de 2011-2015, os maiores partidos eram PT, com 88
deputados, o PMDB tinha 78, o PSDB tinha 53, e o DEM já apresentava sinais de
enfraquecimento, com 43 deputados. Os partidos do “centrão” eram o PP, que tinha 44
deputados (maior que o DEM), o PR tinha 40 e o PTB tinha 22. Já se nota os sinais de
mudança, que se intensificaram nos anos seguintes.
Assim, na legislatura de 2019-2023, o PSL, até então uma minúscula
representação partidária, por ter sido escolhido como o partido do candidato Jair
Messias Bolsonaro, ele conseguiu eleger 52 deputados federais, só perdendo para o PT,
que elegeu 55 deputados. Mas no primeiro ano do governo Bolsonaro, ele rompeu com
a direção do partido e o PSL encolheu significativamente, a ponto de se unir ao DEM
para fundarem o União Brasil. Por outro lado, o PP obteve 57 deputados nessa
legislatura, o Republicanos, antigo PRB, teve 41 deputados e o PL, que acolheu o
presidente Bolsonaro para ser o candidato à reeleição, chegou no final da legislatura
com 75 deputados. O MDB, ex-PMDB, encolheu para 36 deputados e o PSDB encolheu
para 25 deputados. Ou seja, na legislatura 2019-2023 os outrora grandes partidos
(MDB, DEM e PSDB) ficaram menores e procuraram sanar essa desidratação com
reformas partidárias (DEM se fundindo ao PSL para formar o União Brasil) e o PSDB
formando uma federação partidária com o Cidadania.
Essa tendência se manifestou na atual legislatura (2023-2027), pois o maior
partido é o PL, com 97 deputados, o União Brasil tem 59, o PP tem 50 e o Republicanos
tem 41. Por outro lado, o MDB tem 43 e a Federação PSDB Cidadania tem 18
deputados.
Concluindo, o antigo “centrão” não mais existe. Os partidos que o integravam
cresceram e ocuparam o lugar antes ocupados por PMDB, DEM e PSDB. Os líderes dos
partidos do antigo “centrão” têm outros objetivos, agora: assumir a presidência da
Câmara dos Deputados, eleger prefeitos e governadores e serem parceiros privilegiados
na composição de candidaturas aos executivos federal e estadual. O Brasil tem, hoje,
uma nova formação partidária e os antigos grandes partidos perderam espaço
significativo. Eles ficaram pequenos.

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