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DEPARTAMENTO DE ARTES
Natal
2015
Weller Alves Pinheiro
Natal
2015
Pinheiro, Weller Alves
Objeto dançado: memória e sensações na criação em Dança
Contemporânea. / Weller Alves Pinheiro. – Natal, RN, 2015.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia Garcia Leal
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Departamento de Artes. Curso de Licenciatura Plena em Dança, 2015.
1. Dança Contemporânea. 2. Criação. 3. Memória. 4. Sentidos. I. Leal,
Patrícia Garcia. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
Weller Alves Pinheiro
Comissão Examinadora
Agradeço aos meus pais pelo amor, suporte e por sempre se preocuparem em me fornecer a
melhor educação possível.
Agradeço à minha orientadora, prof.ª Patrícia Leal, que se dispôs a me auxiliar neste desafio,
me estimulando, guiando e ajudando a encontrar o entendimento das minhas questões. Por me
ensinar a enxergar a dança e suas possibilidades de outra maneira.
Agradeço à Olavo Ataíde, por ouvir todas as minhas reclamações e estar ao meu lado quando
necessário.
Agradeço à minha madrinha, Rosa Silva, pela preocupação e por se fazer presente, mesmo
distante, neste período.
Por fim, agradeço à todos os amigos e familiares que, de maneiras diferentes, serviram de
base neste início da minha trajetória acadêmica.
RESUMO
O presente artigo discorre sobre as relações entre corpo e objeto pessoal e as influências que
as sensações e memórias desencadeadas por estas oferecem à movimentação. A pesquisa se
justifica por sua validez como método de preparação, interpretação e criação em Dança
Contemporânea. Este trabalho visa refletir sobre o corpo contemporâneo e a dança
contemporânea, além de investigar a potencialidade criativa das sensações e memórias no
processo de investigação do movimento, e ainda observar as escolhas que as memórias e as
sensações criam em relacionamento com o processo criativo, a partir do contato com objetos
de valor significativo. Para isso, foram estudados autores como Patrícia Leal, Karenine
Porpino, Rosely Conz, Bruna Bellinazzi Peres, Jussara Miller, Nirvana Marinho, Danilo
Silveira, Zeloi Martins dos Santos, entre outros. Junto à pesquisa foi desenvolvido um relato
de experiência que fornece um método de utilização da relação investigada e observa as
decisões tomadas pelos bailarinos nas atividades criativas. O estudo das relações entre corpo,
memória, sentidos e dança, referentes à presente pesquisa, se justifica pela contribuição
artística e educativa. Servindo de base para processos de criação em dança e ainda envolvendo
o sujeito em uma relação reflexiva e criativa, fornecendo contribuições para o contexto das
pesquisas em dança.
This article discusses the relationship between body and personal object and the influences
that sensations and memories triggered by these offer to the movement. The research is
justified by your validity as a preparation, interpretation and creation method in contemporary
dance. This paper aims to reflect about the contemporary body and the dance that is done in
contemporaneity as well as investigate the creative potential of sensations and memories in
motion investigation process, and also observe the choices made by memories and sensations
in relationship with the creative process, through the contact with significant value objects.
For this, authors like Patricia Leal, Karenine Porpino, Rosely Conz, Bruna Bellinazzi Peres,
Jussara Miller, Nirvana Marinho, Daniel Silveira, Zeloi Martins dos Santos, among others
were studied. Along the research it was developed a case study that provides a method of
using the investigated relationship and notes the decisions taken by dancers in creative
activities. The study of the relationship between body, memory, senses and dance, referring to
this research, is justified by the artistic and educational contribution. Providing the basis for
creative processes in dance and also involving the subject in a reflective and creative
relationship by giving contributions to the field of dance research.
INTRODUÇÃO
Desde crianças construímos uma relação de sentido com o mundo. Nosso corpo é a
primeira fonte de significações que a ele vamos emprestar. Portanto, na infância
estabelecemos estas relações, seja a partir do cheiro da mãe, a temperatura, o timbre da voz, o
carinho. Rosely Conz (2013) reflete sobre tal assunto em sua pesquisa, onde ela também
propõe a relação entre memória e criação em dança:
Esta construção de sentido decorrente das diversas experiências vividas, onde o corpo
percebe, repercebe, significa e ressignifica durante toda a sua trajetória, participa do coletivo
de informações que carregamos conosco. No processo criativo, somos convidados a utilizar
dessas informações como combustível para a investigação de movimento.
O presente trabalho foi dividido em três partes: a primeira parte do artigo traz
reflexões acerca de aspectos que podem caracterizar a Dança Contemporânea. Seleciono os
que considero importantes para o entendimento do trabalho, com o intuito de contextualizar e
conduzir o leitor ao tema estudado, visando analisar tanto a dança na cena contemporânea,
quanto a criação. A segunda parte busca reflexões acerca da utilização das sensações e
memórias como ferramentas de pesquisa e criação em dança, buscando investigar também as
relações entre corpo e objeto e as influências que as sensações e memórias oferecem à
movimentação, assim como observar as direções tomadas pelo processo criativo em
relacionamento com as memórias e as sensações. Além disso, a pesquisa pode servir de apoio
para aqueles que desejam utilizar desta relação em seus trabalhos em dança. A terceira parte
faz referência ao relato de experiência desenvolvido junto ao Grupo de Dança da UFRN1,
onde ministrei três aulas, que ocorreram no horário normal de funcionamento do grupo, com a
intenção de por em prática os conceitos e metodologias estudados neste texto, assim como
desenvolver um trabalho de laboratório não vivenciado antes pelo grupo, enquanto projeto de
1
O Grupo de Dança da UFRN (GDUFRN) é um projeto de extensão universitária que está em atividade
permanente desde 1992. Conta com uma história de produção criativa e educativa no campo da dança. O
GDUFRN tem possibilitado aos discentes do Curso de Licenciatura em Dança uma formação significativa,
somada às demais ações curriculares. O Grupo desenvolve suas ações a partir de ensaios, composições
coreográficas, leituras de textos, práticas corporais para consciência corporal, entre outras, e se pauta em um
processo colaborativo de planejamento e realizações de suas ações, de modo que cada participante, acadêmico ou
da comunidade externa, tem a possibilidade de intervir nas tomadas de decisões do Grupo. (Texto retirado do
projeto escrito do Grupo de extensão).
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Estamos inseridos em uma sociedade cada vez mais configurada por complexos
recursos tecnológicos, de laços afetivos fragilizados, espaços multifocados e um corpo que
beira o materialismo. A ideia de perfeição e o narcisismo exacerbado nos torna obcecados
pela procura de uma linearidade, na tentativa de excluir as individualidades. Em seu texto,
Leal (2012) discorre sobre como a subjetividade está cada vez mais na aparência e no exterior
do homem, este que, com a ajuda da tecnologia, estabelece relações de pouca profundidade.
Em diálogo com Sant’Anna (2001), ela concorda com a valorização crescente do corpo aliada
à alta exploração comercial da beleza e saúde.
Há uma multidão de corpos que parecem estar literalmente sob o sol do deserto, sem
abrigo, sem segredo, sem diferença entre o lá e o aqui, esturricados pela exposição
midiática, destituída de pausa. A salvo desta luz devastadora está o interior do corpo.
Nada nele pode ser considerado belo. Nem feio. Um órgão, uma célula, uma veia, não
sugerem civilidade, não parecem pertencer ao reino da cultura (SANT’ANNA, 2001,
p. 66-67).
flexibilidade e liberdade que o corpo contemporâneo possui. Este que busca cada vez mais o
controle: a postura ideal, o cabelo perfeito, a barriga sarada, a juventude eterna.
Vemos aqui uma abordagem da Dança Contemporânea que não se caracteriza pela
padronização do movimento, indo além de uma técnica específica ou da criação de passos,
que se utiliza das especificidades do indivíduo, utilizando a sua trajetória, tanto artística
quanto pessoal, na movimentação. “Quando falamos de dança contemporânea, estamos
falando de diversidade, pluralidade, instabilidade, transdiciplinaridade. Ou seja, trata-se de
uma dança que tem transitoriedade e se transforma com o tempo.” (MILLER, 2011, p. 151).
A Dança Contemporânea não apresenta mais um interesse no padrão de movimentos e corpos,
mas dá direito ao diferente, quebra os papéis convencionais atribuídos ao homem e à mulher e
rompe os valores estéticos tradicionais sem deixar de lado a busca pela consciência e a
propriedade que o intérprete deve possuir sobre o que está fazendo. Este que passa a adquirir
autonomia e se torna capaz de construir sua movimentação através de procedimentos de
pesquisa com o corpo, permitindo que dialogue com o mundo em que vive e com a bagagem
que carrega, respeitando sua individualidade e limitações. Isto torna o bailarino não um mero
repetidor de propostas, mas uma erupção de possibilidades únicas, resultado da soma de suas
habilidades corporais e seus significados pessoais.
Temos, portanto, apontamentos que nos direcionam para uma relação da dança com o
espaço; mais do que uma relação artística e cultural, é uma relação social e política.
- O lugar que a dança ocupa define formas de atuação nesse lugar; e a própria
definição de “lugar” pode ganhar, aqui, novas conotações teóricas que contribuem
para um fazer da dança ainda mais complexo.
O termo improvisação, com tantas discussões e bibliografia em várias áreas das artes,
ainda aparece associado ao fazer sem elaboração prévia. Ao me deparar com uma
associação como esta, compreendo os grandes preconceitos e deturpações que a
improvisação em dança carrega, mesmo com o público da área. No contexto cotidiano
a palavra é comumente utilizada no sentido da falta de preparo e habilidade. Contudo,
para improvisar em dança é preciso colecionar ampla experiência motora, capacidade
de conexão e transformação dos movimentos e muita técnica (LEAL, 2012, p. 57).
Assim como Leal (2012), utilizo dessa associação entre preparação corporal, criação e
interpretação, onde uma não existe sem a outra. A pesquisadora relata que, como bailarina,
era comum a separação entre preparação corporal e criação, tornando o processo criativo
viciado em um repertório definido de movimentos meramente repetidos. De fato, a união
destes aspectos permite ao intérprete/criador maior área de alcance criativo, ampliando a
consciência de quem dança em relação ao seu próprio corpo e ao que está em sua volta,
estimulando a imaginação, a sensibilidade e permitindo maior abertura as possibilidades de
movimentação.
Não há mecanismos definidos e sim processos e formas de criação. Deste modo, existe
uma noção de corporalidade menos estratificada, buscando um sentido mais experimental. A
dança acaba por se aproximar mais de outras áreas de conhecimento, como a anatomia e a
cinesiologia. O indivíduo que dança passa a despertar uma consciência maior de seu corpo,
que aqui entendemos como todo o organismo humano, e de movimento. Entende qual
músculo está ativando, busca formas de prevenir lesões através de compensações e passa a
dançar com mais consciência de suas limitações físicas.
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A relação entre sujeito e objeto de cunho pessoal está presente desde o toque e o olhar,
até as ligações humanas mais profundas. O estudo dessas relações gera uma atividade crítica e
criativa, aprimorando a consciência de corpo e despertando realidades vividas, de forma a
desenvolver a sensibilidade e impulsionar a geração de movimentos. Observo e seleciono, a
partir da relação estudada, a memória e as sensações como fatores potentes e os focos
principais da investigação.
Rosely Conz (2013), ao dialogar com autores como Izquierdo, Fuchs, Kandel,
Caldewell e Dávila, reconhece a existência de um determinado tipo de memória que está
diretamente ligada ao aprendizado em dança. Ela é chamada de memória implícita, não
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Percebemos que aquilo que adquirimos no decorrer de nossas vidas se torna aquilo que
somos capazes de fazer hoje. Isto é observado na improvisação, onde podemos acessar uma
cartela de movimentos, decorrentes de nossa vivência técnica em dança, para a investigação.
Essa memória de habilidades, segundo Conz (2013), pode ser considerada o tipo de memória
mais exigida na dança e, no caso deste trabalho, é utilizada ao acessar repertórios de
movimento adquiridos na trajetória em dança pelo bailarino, estes que são lembrados ao
serem sentidos e experimentados, possibilitando a ressignificação. “Pode-se dizer que esta é
uma memória de sensações, e estas, por sua vez, são lembradas quando são sentidas,
experimentadas” (CONZ, 2013, p. 9).
[...] considero como padrões os movimentos que, após serem aprendidos, estabelecem
uma organização própria e, quando requisitados, tendem a gerar a mesma resposta,
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inclusive para diferentes estímulos. Os hábitos, por sua vez, são ações,
comportamentos e até pensamentos aprendidos por meio da repetição e que são
constantemente realizados. Após aprendidos, são executados sem a necessidade de se
dar muita atenção sobre o que se está fazendo (CONZ, 2013, p. 9)
A investigação pela percepção dos sentidos permite ao intérprete uma conexão plena
consigo mesmo, de forma a harmonizar o interno e o externo do corpo. Proporcionando ao
movimento partir de dentro para fora e construindo sentidos através da descoberta das
sensações. “Iniciar um processo de criação a partir dos sentidos significa sentir. Desenvolver a
consciência corporal mais fina e sutil durante a percepção. Permitir que o movimento
resultante da percepção seja a materialidade primeira do processo criativo” (LEAL, 2012, p.
82). A pesquisa pela percepção nos proporciona a habilidade de se apresentar mais sensível ao
mundo e transformar a relação atual com o mesmo, permitindo uma visão mais plena e
profunda daquilo que se encontra ao nosso redor.
Discutiremos a autora em diálogo com Bruna Bellinazzi Peres (2013), que também a
utilizou como referência em seu trabalho, para adentrarmos mais nas sensações de paladar,
olfato, tato, audição e visão e suas potencialidades para a investigação criativa. Utilizo da
descrição do trabalho prático desenvolvido por Peres (2013) e suas impressões sobre as
vivências realizadas em conjunto com a possibilidade metodológica de uma dinâmica “usual”,
chão, centro e diagonal, de aula de dança, criada por Leal (2012), como proposta para o
desenvolvimento interpretativo e criativo a partir da percepção sensitiva nas observações a
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seguir. Não observaremos todas, mas algumas possibilidades descritas nos trabalhos das
pesquisadoras. Introduzo a questão com a seguinte citação:
A visão, que pode possuir como estímulo uma imagem, um objeto, uma foto, uma
pessoa ou o próprio espaço resulta em uma interpretação completamente subjetiva, segundo
Leal (2012). Porém a pesquisadora observa tendências como a imitação da imagem focalizada
ou até do movimento do próximo, sendo estas conscientes ou não.
Ao mesmo tempo que a atuação da nossa visão é praticamente constante, temos uma
tendência a banalizá-la, ou seja, vivemos um processo de exclusão de imagens, de
criação pré-concebida de significados e estamos o tempo todo olhando, mas não
observando com atenção (PERES, 2013, p. 73).
Redescobrir a visão, redistribuindo sentido a ela é uma tarefa complicada, visto que
estamos habituados a passar com os olhos pelo mundo sem enxergá-lo de fato. Nesse
momento percebemos novamente a importância do trabalho de percepção e redescoberta do
mundo e de si mesmo. Se referindo à audição, Patrícia Leal (2012) percebe que o som gera
uma dinâmica de decisão que se relaciona com o tempo, seja súbita, como quando escutado
um som agudo e curto repetidas vezes; de duração alongada, como ao ouvir um som grave;
breve; acelerada; lenta; moderada etc.
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Já o tato favorece o relacionamento, seja este entre indivíduos, com o espaço, com
objetos. Peres (2013) observa a reprodução das características dos elementos experimentados
na movimentação, onde, por exemplo, caso ele fosse pontiagudo os movimentos realizados
seriam retos e diretos. O conforto e intimidade, ou falta dessas características, as texturas,
temperaturas e tamanhos também influenciam nas qualidades corporais. O tato em cinesfera
reduzida favorece as relações do espaço próprio e do outro, do coletivo. Percebendo que o
corpo ocupa determinado espaço. Em cinesfera ampliada, possibilita o deslocamento espacial,
utilizando a referência da textura, do tempo, da tensão muscular (LEAL, 2012).
Foi previamente solicitado que cada participante trouxesse de casa um objeto cujo
significado fosse importante para ele. As três aulas se iniciaram do mesmo modo. Ao entrar
na sala, era pedido ao aluno que começasse um alongamento individual, visando iniciar o
preparo corporal. Em seguida que deitasse no chão, em decúbito dorsal, deixando seu objeto
ao lado, sem manter contato com ele. Nesse momento era realizado um mapeamento do
corpo, onde se observava, com os olhos fechados, o estado físico e emocional em que se
encontravam, as partes do corpo tencionadas, a respiração, quais partes tocavam e não
tocavam o chão, resultando em uma espécie de diagnóstico corporal. Após isto, os
participantes davam início a uma lubrificação das articulações, explorando todas as
possibilidades de movimentação possíveis de cada uma. Ao ativar o corpo inteiro, eles
poderiam experimentar a locomoção e junto a ela explorar outros níveis espaciais, até que
todos alcançassem o nível alto. O aquecimento seguia com uma aceleração e desaceleração do
movimento, comandada por mim, e era encerrada com o início do contato com os objetos.
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A segunda aula utilizou da relação pelo olhar como condução para a improvisação.
Alguns bolsistas utilizaram o mesmo objeto e outros fizeram uso de um diferente. Sem
contato físico com o objeto e encarando-o, os alunos responderam a algumas questões, de
forma não verbal, apresentadas por mim. Dentre elas estavam: “Qual o motivo da escolha
desse objeto?”; “Qual a história por trás dele?”; “Esse objeto te lembra alguém? Quem?”;
“Que sentimentos ele desperta em você?”; “Pra que lugar esse objeto te leva?”. As respostas
foram respondidas através da movimentação deles e se seguiram de outros estímulos, quando
necessários. Em seguida, houve a seleção de outros cinco movimentos e uma interação em
duplas, onde cada um mostraria ao outro, ao mesmo tempo, o resultado da experimentação.
Para o último encontro, pedi que fossem lidas todas as anotações antes do início da
aula. Após o aquecimento habitual, foi dada a liberdade de resgatar o trabalho desenvolvido
nas aulas passadas, partindo das sensações utilizadas, do modo que bem entendessem. Após o
momento de improvisação, os movimentos selecionados foram realizados em percursos
escolhidos pelos próprios participantes e, no final da aula, os percursos foram feitos
alternadamente, iniciados e pausados ao meu comando, de modo que todos puderam realizar e
observar o trabalho construído pelo próximo.
Ao falar sobre o tato na primeira abordagem de sua pesquisa em relação aos sentidos,
no que se refere a docência, construindo uma disciplina de improvisação fundamentada na
Eukinética de Laban. Patrícia Leal (2009) nota que:
Partindo das sensações táteis, das mais superficiais na pele até as mais profundas na
musculatura, a improvisação pelos sentidos permite desenvolver força e sensibilidade
como resultados de uma compreensão perceptiva entre as qualidades de firmeza e
leveza associadas ao tato (LEAL, 2009, p. 68).
A autora percebe que pela sensação tátil é possível reconhecer a força necessária para
empurrar um objeto, ficar em pé, carregar algo ou abraçar alguém. O movimento responde as
sensações fornecidas pelo contato, sejam elas macias, rígidas, elásticas, frágeis, porosas, lisas,
permitindo que qualidades de fatores de movimento sejam experimentadas, como o peso. Ao
entrar em contato com um objeto leve e macio, como uma toalhinha de rosto, o corpo
demonstra uma fluência livre, com o peso leve e um tempo mais lento. Durante as aulas, pude
observar que o corpo dos alunos aparentava possuir os mesmos aspectos dos objetos trazidos.
De modo que a pele estivesse transformada naquele mesmo material. Muitas vezes a relação
era reproduzida no contato com o chão, onde a maioria insistiu em permanecer durante grande
parte do trabalho.
As sensações táteis foram exploradas por todo o corpo, apesar do uso inicial apenas
das mãos, o objeto percorreu toda a superfície da pele com o intuito de fornecer uma
experiência mais rica em estímulos e proporcionar ainda mais o aumento das possibilidades
de movimento.
A autora nos mostra, em seu trabalho, que o cérebro utiliza das emoções como peças
fundamentais no armazenamento, codificação e resgate implícito de nossas memórias. Mas,
em alguns momentos, as emoções se tornarem um empecilho ao resgatar momentos tristes e
doloridos. Cabe ao criador lidar com essas informações, filtrá-las, ressignificá-las, beber nelas
e permitir que se transformem em movimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo das relações entre corpo, memória, sentidos e dança, referentes à pesquisa
apresentada, se justifica pela contribuição artística e educativa, uma vez que pode servir de
base para processos de criação em dança. Destaco que ainda envolve o sujeito em uma relação
reflexiva e criativa, trazendo contribuições para o contexto das pesquisas em dança. Através
de processos metodológicos desenvolvidos e como consequência da relação descrita pelo
relato de experiência, o presente estudo propicia o desenvolvimento criativo e permite ao
bailarino descobrir e redescobrir possibilidades de movimentação e percepção. O corpo se
torna capaz de estabelecer relações de sentido com o objeto pessoal, em consequência do
contato com o mesmo, uma vez que, por si só, o objeto já possui sentido para o intérprete.
Tais ações vividas, compartilhadas, percebidas, sentidas se transformam em gatilho para a
produção de novas configurações gestuais em dança.
REFERÊNCIAS