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PROFESSORA ARQUITETA SOLANGE IRENE SMOLAREK DIAS - doutoranda 2

APOSTILA DE ESTUDOS
SUMÁRIO
1. SABER VER A ARQUITETURA
1.1. Interpretação política
1.2. Interpretação filosófico-religiosa
1.3. Interpretação científica
1.4. Interpretação econômico-social
1.5. Interpretação materialista
1.6. Interpretação técnica

TEORIA DA 1.7. Interpretação fisio-psicológica


1.8. Interpretação formalista
1.9. Interpretação espacial

ARQUITETURA E DO 2. A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO DA ARQUITETURA


2.1. Apresentação
2.2. Por uma linguagem da arquitetura

URBANISMO I 2.3. O sentido do espaço


2.3.1. Uma definição de arquitetura
2.3.2. Semiologia da arquitetura
2.4. Eixos organizadores do sentido do espaço
2.4.1. 1º Eixo: interior x exterior
2.4.2. 2º Eixo: privado x comum
2.4.3. 3º Eixo: construído x não construído
2.4.4. 4º Eixo: artificial x natural
2.4.5. 5º Eixo: amplo x restrito
2.4.6. 6º Eixo: vertical x horizontal
2.4.7. 7º Eixo: geométrico x não geométrico

CAU-FAG 2.5. Conclusão

3. OS QUATRO GRANDES
3.1. Introdução às propostas da arquitetura moderna
3.2. Biografias
3.2.1. Walter Gropius
3.2.2. Ludwig Mies Van Der Rohe
3.2.3. Le Corbusier

2008 – 2° SEMESTRE 3.2.4. A arquitetura orgânica : Frank Lloyd Wright


3.3. Arquitetura racional x arquitetura orgânica

4. A IGNORÂNCIA DA ARQUITETURA
4.1. O espaço, protagonista da arquitetura
4.2. Síntese
4.3. A representação do espaço
PROFESSORA ARQUITETA
5. AS VÁRIAS IDADES DO ESPAÇO
SOLANGE IRENE SMOLAREK DIAS doutoranda 5.1. A escala humana dos gregos
5.2. O espaço estático da antiga Roma
BIBLIOGRAFIA : 5.3. A diretriz humana do espaço cristão
1- SABER VER A ARQUITETURA – BRUNO ZEVI 5.4. A aceleração direcional e a dilatação de Bizâncio
2- A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO NA ARQUITETURA – J TEIXEIRA COELHO NETTO 5.5. A barbárica interpretação dos ritmos
3- PROPOSTAS DA ARQUITETURA MODERNA : OS QUATRO GRANDES 5.6. A métrica românica
• PESQUISAS EM EQUIPES DE ALUNOS CAUFAG TAR II 2003 5.7. Os contrastes dimensionais e a continuidade do gótico
• HISTÓRIA GERAL DA ARTE – ARQUITETURA VI – Ediciones Del Prado – Espanha 5.8. As leis e as medidas do espaço do século XV
• HISTÓRIA DA ARQUITETURA – DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS – Jan Gympel – 5.9. Volumetria e plástica do século XVI
Konemann – Colônia – Alemanha 5.10. O espaço urbanístico do século XIX
• HISTÓRIA DA ARQUITETURA – DO SÉCULO XX – Jungen Tietz – Konemann – Colônia – 5.11. Quadro da idade do espaço
Alemanha
• ARQUITETURA MODERNA - www.geocities.com/Paris/Gallery/9390/arqmoderna.htm 6. CALENDÁRIO ACADÊMICO 2006.2
• ARQUITETURA DO SEÉCULO XX - www.cimentoeareia.com.br
www.buildnet.es/recursos/guia_arquitectos.html 7. PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA 2006.2
www.datarq.fadu.uba.ar/datarq/arq/homepage.html
8. PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES NO SEMESTRE 2006.2

TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2


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Em 1453, os turcos tomaram Constantinopla e um vasto numero de artistas bizantinos emigra para
MÓDULO 1- AS INTERPRETAÇÕES DA ARQUITETURA Europa e Inglaterra. Trazem consigo a experiência secular das cúpulas orientais. E eis que,
após trezentos anos de agulhas góticas e campanários, voltam a surgir no solo britânico as primeiras
cúpulas

A maior dificuldade que se encontra ao compilar uma história da crítica arquitetônica, consiste no A reação contra a arquitetura rococó tem também uma raiz política : o rococó fora o estilo do
fato de uma grande parte das mais geniais instituições sobre a arquitetura se encontrar salão aristocrático e, como tal, depois da revolução acabou sendo destruído em nome do ideal
espalhada em livros de filosofia, estética geral, poemas, romances, contos e páginas de clássico.
arquitetos.
Em 1933, os nazistas tomam o poder na Alemanha e isso determina o fim da Bauhaus. A imigração
Se consultarmos os historiadores, os filósofos, os estetas, encontraremos continuamente dos arquitetos modernos alemães para a Inglaterra é a razão pela qual o movimento funcionalista
observações agudas e precisas : "a profunda originalidade da arquitetura como tal reside na se desenvolve no pais
massa interior. dando uma forma definida a este espaço oco, ela cria seu próprio universo. Sem
dúvida, os volumes exteriores e seus perfis introduzem um elemento novo e exclusivamente humano Por que motivo a arquitetura moderna na Itália não pode comparar-se com as escolas francesas e
no horizonte das formas naturais, a que sua conformidade ou seu acordo melhor calculado alemãs antes de Hitler? Porque na Itália o regime político favorecia a corrente retórico-
acrescentam sempre algo inesperado: por outro lado, considerando bem, a maravilha mais estranha é monumental mais do que a direção racionalista. Na escola de Piacentini, um fato político (aliança da
ter concebido e criado uma espécie de reverso do espaço. O homem caminha e age no exterior de Itália com Alemanha) produz a megalomania classicista
todas as coisas; está sempre de fora e, para passar para alem das superfícies, é necessário que as
rompa. O único privilégio da arquitetura, entre todas as artes, quer crie habitações, igrejas ou Como se vê, a interpretação política diz respeito às causas das correntes arquitetônicas.
interiores, não é hospedar uma cavidade cômoda e rodeá-la de defesas, mas construir um
mundo interior que mede o espaço e a luz segundo as leis de uma geometria, de uma mecânica
e de uma óptica necessariamente implícitas na ordem natural, mas de que a natureza não se serve. 1.2- A INTERPRETAÇÃO FILOSÓFICA-RELIGIOSA

O método de uma historia viva da critica arquitetônica deverá ser um método empírico, experimental, A arquitetura é o aspecto visual da história, o modo pela qual surge a história :
desenvolvido sobre exemplos concretos. Para que uma interpretação tenha sentido, ela deve iluminar
um aspecto permanente da arquitetura. A interpretação técnica é, por isso, uma interpretação • a reforma protestante marca a morte da arquitetura gótica na Inglaterra e o advento da
autentica, aplicável a todos os monumentos da arquitetura renascença
Se, ao contrario, se considerar tese a verdade estática, segundo a qual para se obter uma sensação • o neoplatonismo reflete-se na arquitetura da época helenística, e explica sua revolta contra
de solidez, é necessário que a parte inferior de um edifício mostre uma consistência maior que a parte a determinação volumétrica e plástica do templo grego.
alta, pode-se dizer que se trata de uma interpretação? Não, evidentemente que é um equivoco. O
equivoco consiste na generalização, fazer surgir uma norma poética particular com valor de principio,
• se renascença quer dizer protestantismo, é natural que a igreja de Roma se revolte e
à qual não estão sujeitos a arquitetura moderna com seus volumes suspensos.
estimule a arquitetura barroca.
Em que relação a interpretação espacial se encontra relativamente às outras interpretações da
arquitetura? Incluiu-as todas, resume em si algumas das outras, ou é uma simples interpretação entre
1.3- A INTERPRETAÇÃO CIENTÍFICA
muitas, ainda que a mais importante? Para responder a tais quesitos será oportuno expor brevemente
as principais interpretações correntes que, como veremos, se enquadram substancialmente em três
grandes categorias : • a geometria euclidiana, configurando o ser sensível, segundo precisas dimensões
mensuráveis, acompanha a sensibilidade espacial grega
• as que se relacionam com o conteúdo ( política, filosófico-religiosa, científica, econômico-
social, materialista, técnica )
• sem a convergência das duas entidades espaço e tempo, declarada pelos matemáticos
• as fisiopsicológicas
modernos e sem a contribuição de Einstein ao conceito de simultaneidade, não teriam
• as formalistas
surgido o cubismo, o neoplasticismo, o construtivismo, o futurismo e seus derivados

1.1- A INTERPRETAÇÃO POLÍTICA


1.4- A INTERPRETAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAL
Qual a época áurea da arquitetura grega? O séc. V a . C.. Porque em 490 Atenas vencera a
A arquitetura é a autobiografia do sistema econômico e das instituições sociais
batalha de maratona e houveram outros feitos. Primeiro a afirmação política, depois, ou
conseqüentemente, a atuação arquitetônica
• o que é arquitetura medieval ? Ela encontra seus fundamentos na economia agrícola da
Como se explica o ímpeto construtivo gótico na França e na Inglaterra? Com o advento do aldeia, no sistema de co-participação e das corporações e nas necessidades práticas da
nacionalismo e o fervor das cruzadas. defesa. Eis porque quando na historia se apresentam condições econômicas
semelhantes, encontramos um paralelismo entre as formas arquitetônicas.

• o que é a arquitetura da renascença? O produto da dissolução da aldeia medieval, do


O gótico perpendicular constitui um estilo inglês que não tem paralelo no continente. Por que? deslocamento da economia da herdade para o mar, da conseqüente ruptura da
Porque o isolacionismo da política externa inglesa corresponde ao amadurecimento de um período consciência comunal que se verifica pela formação das classes econômicas.
artístico genuinamente britânico.

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• a que corresponde o classicismo quinhentista? A um processo de estabilização econômica


em que encontramos uma oligarquia da terra que mantém todos os privilégios feudais sem Investigações arqueológicas e suas conseqüências :
as responsabilidades sociais implícitas na economia medieval. • a renascença italiana nasce depois de 1416, após descobertos os textos de Vitrúvio
• o neo-helenismo surge na Inglaterra quando em 1800 é transportada para o museu britânico
• o que é ecletismo ? A arquitetura da expansão industrial. Quando surge o contraste entre a de Londres a coleção de fragmentos arquitetônicos desta época
utilidade e a vida, entre o mito e a arte, apresentam-se os dois aspectos da civilização • nasce o neoclássico depois 1750, quando as escavações descobrem Pompéia e
industrial : Herculano, e a arquitetura reage ao rococó.
o o romantismo dirigido ao passado, • o neogótico da Inglaterra depois de 1850 ocorre pela decisão de reconstruir em estilo
o e o mecanicismo dirigido ao futuro. perpendicular no parlamento inglês
A curiosidade exótica, a habilidade mimética, a exigência do conforto são características de
todas as épocas ecléticas. Por isso, não existe diferença fundamental entre o ecletismo dos Na interpretação racial, a teoria é de que:
séculos I e II d.C., o inglês do final do século XVIII e o americano da segunda metade do • a arquitetura local reproduz a silhueta do homem local.
século XIX. • a coluna e o capitel grego repetiriam as formas dos feixes de ramos do antigo templo
• as árvores da Escandinávia crescem segundo linhas curvas e por isso sugerem na imitação
• em suas formas mais pesadas, estáticas e severas, o classicismo é a arquitetura do uma arquitetura menos angulosa do que a do concreto e do aço.
período econômico chamado imperialismo: é "arquitetura de compensação: oferece
pedras grandiloquentes a um povo a quem se subtraiu pão, sol e tudo o que é digno do
homem". 1.6- A INTERPRETAÇÃO TÉCNICA

A interpretação econômico-social tem também as suas aplicações simbolistas. A cúpula do Capitólio A historia da construção é parte importante da história de um monumento. Errado é supor que as
de Washington, uma semi-esfera apoiada num tambor de colunas eqüidistantes não é símbolo de formas arquitetônicas seriam determinadas pelas técnicas construtivas. Muitas vezes, assistimos ao
uma lei soberana sobre a igualdade dos cidadãos? E os arranha-céus de Nova York não são processo inverso : as formas repetem uma técnica já superada pelos fatos. por exemplo :
símbolo de um individualismo satânico, do poder dos trustes, que lançam na sombra toda a • nas formas egípcias há a aparência de ramos primitivos, quando há séculos o material
arquitetura circundante? utilizado já era a pedra.
• a ordem grega obtém seus perfis dos elementos de madeira do templo arcaico e os traduzem
em mármore
1.5- AS INTERPRETAÇÕES MATERIALISTAS • as atuais construções de concreto limitam-se em colunas e traves, repetindo formas da
construção metálica
As formas que a arquitetura pode tomar se explica através das condições geográficas e Por que o motor do carro está na frente, a despeito dos problemas e transmissão às rodas
geológicas dos lugares onde surgem os monumentos : traseiras? Isso deriva do hábito de ver a força motriz dos cavalos à frente do condutor

• no templo grego não há espaço interior porque as cerimônias religiosas decorrem ao ar Os manuais de composição arquitetônica estabeleceram uma distinção entre construção real e
livre construção aparente. Dizem que não basta um edifício apresentar uma efetiva solidez
• no Egito = telhados planos. Na Grécia = leves inclinações. na Inglaterra e na Noruega = estrutural : ele deve também demonstrar uma solidez aparente. Tem por isso razão os modernistas
acentuada inclinação. tudo pelo peso da neve. que julgam que a uma nova técnica deve seguir-se uma nova sensibilidade estrutural
• no Egito o granito permite estátuas e decoração em grande escala, porem sem o
requintado modelar helênico, só possível pela moleza do mármore. A interpretação funcionalista, em seu duplo significado utilitário e tecnicista, é fruto de uma inibição
• a cor da arquitetura babilônica, assíria e persa justifica-se pelo uso dos tijolos e terracota mental que, nascida da polêmica contra "a arte pela arte", insígnia da não-arte tradicionalista, na
• a madeira qualifica a arquitetura escandinava apologia do mundo industrial moderno e dos fins imanentes e sociais da arquitetura, não fez mais do
que escolher o outro termo deste binômio – arte e técnica – em que se quis desintegrar, desde os
F L Writht, quando escreveu seu livro, denominou-o : a natureza dos materiais mais antigos tratadistas, a produção arquitetônica.

Quando críticos defendem a arquitetura moderna, falam do concreto e do aço


1.7- AS INTERPRETAÇÕES FISIOPSICOLÓGICAS
O gótico resistiu mais nos países do norte que nos do sul, pois no norte o sol é mais baixo e seus
raios mais tangenciais. Por isto, as linhas verticais são as mais eficazes no uso da luz como São "estados de espíritos" produzidas por "estilos arquitetônicos":
instrumento arquitetônico. Este é o mesmo motivo pelo qual no norte há mais arquitetura romântica • Egito = idade do medo
que no sul, onde o classicismo está mais presente • Grécia = idade da graça
• Roma = idade da força e pomposidade
Regras da arquitetura, segundo Ruskin : • protocristão = idade da piedade e do amor
• terreno plano = arquitetura funcionalista • gótico = idade da aspiração
• onde estiver conservada a vegetação natural = pitoresca • renascença = idade da elegância
• céu sereno = arquitetura horizontal • revivals = idade da memória
• céu nublado = linearismo vertical
A emoção artística consiste na identificação do espectador com as formas, e por isto no fato de a
Interpretação utilitarista = todo edifício deve responder ao seu objetivo. Mas qual a finalidade do arquitetura transcrever os estados de espírito nas formas de construção, humanizando-as e
Taj Mahal?, senão a de um puro e eterno tributo de um homem à esposa? Então, a interpretação animando-as
utilitarista possui sentido somente se alargar seus horizontes para o campo psicológico e • linha horizontal = dá o sentido do racional, do intelectual
espiritual

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• linha vertical = é o símbolo do infinito, do êxtase e da emoção. Nunca encontra obstáculos e • expressão ou caráter = um edifício deve exprimir o que é, o seu propósito, nem mais e nem
limites, ilude acerca de seu comprimento, é por isto símbolo do sublime. menos, como um homem deve exprimir o que é, e o propósito de sua vida. Não nos agradam
• linhas retas e curvas = retas significam decisão, rigidez e força. As curvas hesitações, os homens que pretendem ser o que não são, e não nos agradam, igualmente, os edifícios
flexibilidade ou valores decorativos que tem uma falsa mascara, quer seja monumental, quer funcional
• helicoidal = é o símbolo do ascender, do desprendimento, da libertação da matéria terrena • verdade = dever ser os edifícios verdadeiros ou falsos? Devem ser sinceros? A verdade, na
• o cubo = representa a integridade arquitetura, como na vida, é controlada pela propriedade.
• o circulo = dá a sensação de equilíbrio • propriedade = a propriedade de um pavimento é poder andar sobre ele, e esta propriedade
• a esfera e as cúpulas semi-esféricas = representa a perfeição, a lei final, conclusiva vale muito mais que a verdade estrutural. Entre os homens, assim como entre os edifícios
• a elipse = nunca permite que a vista repouse existem os mentirosos profissionais, e são odiosos, e existem os que têm necessidade de
dizer sempre a verdade, e que acabam sendo irritantes.
A interpretação das formas geométricas é símbolo de dinamismo e movimento contínuo. • urbanidade = é a qualidade que falta aos imitadores atuais do clássico, aos egocêntricos, aos
maníacos que precisam chamar a atenção, que tem necessidade de afirmar sua própria
De uma ciência do belo é sempre fácil passar para uma regra do belo, nas interpretações : personalidade. Na arquitetura comercial moderna todos, inteligentes e estúpidos, querem se
• das proporções = existem proporções arquitetônicas belas por sí sós impor, fazer boa figura: falam, gritam, chamam a atenção, e ninguém se dispõe a ouvi-los. O
• geométrico-matemáticas = os autores mais sensatos limitam-se a constatar a geometria resultado é um opaco alarido que lembra com saudade as conversas educadas, ligeiramente
latente em muitas composições arquitetônicas inibidas, úteis e agradáveis nos edifícios do século XIX.
• antropomórfica = justificava as ordens pela sua consonância com o corpo humano • estilo = é a língua ou lingüística do desenho. Quando nossos pedantes tradicionalistas
perguntam se é proibido fazer uma casa no estilo antigo, devia-se responder com uma contra-
Numa das teorias, a critica da arquitetura consiste na capacidade de transferir o próprio espírito pergunta : é possível escrever hoje, de uma maneira espontânea, uma poesia em latim?
para o edifício, em humaniza-lo, faze-lo falar, vibrar com ele, numa inconsciente simbiose em que o Quem tem algo a dizer, exprime-o simplesmente na língua corrente
nosso corpo tende a repetir o movimento da arquitetura, como nos exemplos :
• uma linha será ousada ou insignificante, tensa ou relaxada, poderosa ou fluída.
1.9- DA INTERPRETAÇÃO ESPACIAL
• uma superfície será vulgar, cheia de elementos ecléticos ou ampla e serena, insípida e muda,
forte e dramática
Linhas, superfícies, sombras e luz, massas e valores pictóricos, cavidades atmosféricas, sólidos e
• os volumes serão maciços, articulados e sólidos, flexíveis e cortesmente convidativos,
vazios, e todas as especificações mais sutis de símbolos visuais – apesar se sua imensa
freneticamente tensos, doces e requintadamente femininos, poderosos e austeros, alegres e
utilidade, desvinculado a critica dos preceitos tradicionais – não bastam para fazer compreender a
variados, elegantes e festivos, alegres ou terríveis, sorrindo escarniadamente do sentido de
instabilidade humana profunda diferença existente entre uma obra de arte e outra e, alem disso, carecem de elementos
necessários para a caracterização.
As estéticas antigas afirmavam que a arquitetura era a arte que sabia oferecer a mais restrita
A beleza de um edifício era considerada completamente independente de seu valor social.
gama de emoções. Representava a calma (Grécia), a força (Roma) ou o êxtase (gótico). A teoria da
perguntamos : mas é belo para quem? Respondemos : para o homem. Mas isso se refere aos
simpatia desestruturou esse preconceito, atribuindo à arquitetura todas as expressões do
volumes, às massas murais e à decoração. E quanto ao espaço?
homem : incluindo o sentido da farsa e do cômico, do nauseabundo.
Conclusões de Scott :
• o valor próprio, original da arquitetura, é o espaço interior
1.8- A INTERPRETAÇÃO FORMALISTA
• todos os outros elementos : volumétricos, plásticos e decorativos, valem para a apreciação do
edifício, segundo o modo como o acompanham
• a unidade = o propósito de todos os artistas é exprimir em seu trabalho uma única idéia.
Compor é o contrário de justapor • o valor espacial está interessado nestes mesmos elementos que dizem respeito ao valor
utilitário, isto é, aos vazios.
• a simetria = é o equilíbrio dos edifícios formais, de caráter axial
• equilíbrio ou balance = é a simetria na arquitetura aformal, sem eixos. Com relação a um
Qual o conteúdo da arquitetura? Qual o conteúdo dos espaços ?
plano, mesmo invisível, colocado na parte central de um edifício, é necessário que de um lado
• são os homens que vivem os espaços
e do outro existam massas do mesmo "peso" no caso dos pesos serem dispostos igualmente
sobre dois pratos de uma balança, haverá simetria se de um lado estiverem sobrepostos em • são as ações que neles se exteriorizam
cone e do outro simplesmente alinhados, e a balança estiver em equilíbrio • é a vida física, psicológica espiritual que decorre neles
• ênfase ou acentuação = toda composição tem necessidade de um centro de interesse O conteúdo da arquitetura é o seu conteúdo social
visual, um ponto focal que prenda a vista
Uma grande parte da obrigação do arquiteto é dedicada à :
• contraste = para que um edifício seja "vivo", é necessário que sua vitalidade seja expressa
pelo contraste entre linhas verticais e horizontais, entre vazios e cheios, entre formas • função do edifício
cortantes e formas vagas, entre volumes e massas • à técnica
• proporção = é o meio pelo qual se subdivide um edifício para atingir as qualidades da • à arte
unidade, do balance, da ênfase, do contraste da harmonia e do ritmo Nas três classes fundamentais em que se dividem as interpretações do nascimento e da realidade da
• escala = é o elemento essencial na apreciação arquitetônica. No entanto, é preciso evitar arquitetura, existe um elemento comum que condiciona e determina sua validade :
equívocos: se o homem é o padrão de todas as coisas, estabelecer-se uma proporção sem • o reconhecimento de que, na arquitetura, o que dirige e vale é o espaço.
estabelecer uma escala é absurdo. Também é absurdo estabelecer uma escala sem
proporções. O principio da escala não deve ser confundido com a interpretação Esta é a conclusão
antropomórfica, que mencionamos no capitulo precedente. Escala significa "dimensão relativa
ao homem" , e não dimensão do homem. Chegamos, estão às conclusões da interpretação espacial :

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• a interpretação espacial não é uma interpretação que disputa o caminho com as outras, 1.10. QUADRO – AS INTERPRETAÇÕES DO ESPAÇO - BRUNO ZEVI
porque não decorre do mesmo plano. Não é uma interpretação específica como as outras,
porque pode-se dar ao espaço interpretações N. INTERPRETAÇÃO CARACTERÍSTICAS MARCANTES
01 POLÍTICA ÁS CAUSAS DAS CORRENTES ARQUITETÔNICAS
o políticas • ÉPOCA ÁUREA DA ARQUITETURA GREGA? O SÉC. V A . C
o sociais • GÓTICO NA FRANÇA E NA INGLATERRA? NACIONALISMO E O FERVOR DAS
o científicas CRUZADAS
o técnicas • NEOCLASSICO : REAÇÃO CONTRA A ARQUITETURA ROCOCÓ
o fisiopsicológicas 02 FILOSÓFICO- A ARQUITETURA É O ASPECTO VISUAL DA HISTÓRIA
o musicais RELIGIOSA • A REFORMA PROTESTANTE :A MORTE DO GÓTICO ADVENTO DA
o geométricas RENASCENÇA
o formalistas • NEOPLATONISMO: ÉPOCA HELENÍSTICA
03 CIENTÍFICA • GEOMETRIA EUCLIDIANA, ACOMPANHA A SENSIBILIDADE ESPACIAL GREGA
• ENTIDADES ESPAÇO E TEMPO: SURGE O CUBISMO, O NEOPLASTICISMO, O
• em arquitetura,
CONSTRUTIVISMO, O FUTURISMO E SEUS DERIVADOS
o o conteúdo social 04 ECONÔMICO- ARQUITETURA :AUTOBIOGRAFIA DO SISTEMA ECONÔMICO
o o efeito psicológico SOCIAL • ARQUITETURA MEDIEVAL : ECONOMIA AGRÍCOLA DA ALDEIA
o valores formais • ARQUITETURA DA RENASCENÇA? O PRODUTO DA DISSOLUÇÃO DA ALDEIA
se materializam todos no espaço. Interpretar o espaço significa por isso incluir todas as MEDIEVAL
realidades de um edifício • CLASSICISMO É A ARQUITETURA DO PERÍODO ECONÔMICO CHAMADO
IMPERIALISMO
Quem penetra na mais complexa investigação da unidade orgânica do homem e da arquitetura sabe 05 MATERIALISTA AS FORMAS SE EXPLICAM NAS CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS E GEOLÓGICAS
já que o ponto de partida de uma visão integrada, compreensiva da arquitetura é o da interpretação • TEMPLO GREGO : CULTOS AO AR LIVRE
espacial, e julgará todos os elementos que entram no edifício com a medida do espaço • TELHADOS INCLINADOS : NEVE
06 TÉCNICA MUITAS VEZES AS FORMAS REPETEM UMA TÉCNICA JÁ SUPERADA PELOS
FATOS
• MOTOR DO CARRO ESTÁ NA FRENTE: HÁBITO DE VER A FORÇA MOTRIZ
DOS CAVALOS À FRENTE DO CONDUTOR
• INIBIÇÃO MENTAL
07 FISIO- "ESTADOS DE ESPÍRITOS"
PSICOLÓGICA EMOÇÃO ARTÍSTICA :IDENTIFICAÇÃO DO ESPECTADOR COM AS FORMAS
REGRA DO BELO:
• DAS PROPORÇÕES
• GEOMÉTRICO-MATEMÁTICAS
• ANTROPOMÓRFICA
08 FORMALISTA • UNIDADE
• SIMETRIA
• EQUILÍBRIO OU BALANCE
• ÊNFASE OU ACENTUAÇÃO
• CONTRASTE
• PROPORÇÃO
• ESCALA
• EXPRESSÃO OU CARÁTER
• VERDADE
• PROPRIEDADE
• URBANIDADE
• ESTILO
09 ESPACIAL BELO PARA QUEM? PARA O HOMEM
• A INTERPRETAÇÃO ESPACIAL NÃO É UMA INTERPRETAÇÃO QUE DISPUTA
O CAMINHO COM AS OUTRAS
• INTERPRETAR O ESPAÇO SIGNIFICA INCLUIR TODAS AS REALIDADES DE
UM EDIFÍCIO
JULGAR TODOS OS ELEMENTOS QUE ENTRAM NO EDIFÍCIO COM A MEDIDA DO
ESPAÇO

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Perret
MÓDULO 2- A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO DA ARQUITETURA - é a arte de organizar espaços

O segundo discurso a ser aqui abordado é o elaborado pela estética do espaço. Estética :a simples
2.1. APRESENTAÇÃO menção deste termo talvez já seja suficiente para abrir um enorme claro entre os eventuais arquitetos
leitores. A estética aglutina duas correntes opostas em arquitetura:
Uma edificação não tem apenas um significado formal, estético, e outro funcional : há nela sentidos - os tecnocratas
ligados tanto ao poético quanto ao sociológico, movidos por vagos impulsos inconscientes, ou por um - os humanistas
nítido projeto ideológico. No entanto, boa parte da arquitetura contemporânea tem deixado escapar
esses nexos ou, pior ainda, manipula-os de maneira inconsciente, criando um cenário onde a Os tecnocratas não vêem nenhuma utilidade para a estética ou para a arte. Arquitetura se resume
arquitetura não fala mais, apenas balbucia coisas que não raro chegam ao insensato, resultando daí o em "equacionar" adequadamente
progressivo esmagamento de seu destinatário essencial, o homem. - forças
- material
É da crítica desta solução que A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO NA ARQUITETURA parte para a sua - tempo
procura básica : a de uma linguagem na arquitetura cuja adequada operacionalização possa - e dinheiro
transformar o atual arquiteto-técnico no propositor de espaços já vislumbrados em outros períodos
mas perdidos na esteira da Revolução Industrial e no decurso de uma época em que o produto Para os vanguardistas, estética é igualmente detestável, como signo de um ensino arcaico e
arquitetural surge sobretudo como valor de troca, e não de uso. classista. Para eles, estética diz respeito às categorias do belo e do feio, às questões de forma e
conteúdo, harmonia, composição, equilíbrio, ritmo, etc. O que não é clássico (no sentido do ritmo,
harmonia, etc)? Brasília é, La Defense, em Paris, é. A arquitetura dita "moderna" o é, de modo
2.2. POR UMA LINGUAGEM DA ARQUITETURA esmagador. O arquiteto distanciado dos problemas de estética é um manco de duas pernas, e a obra
por ele proposta, ainda que pare em pé, vale tanto quanto aquela que desaba, mal se tira a última
Os arquitetos não falam mais : apenas balbuciam coisas sem sentido. Se os arquitetos não falam escora : isto é, vale nada.
mais, supõe-se que alguma vez devam ter-se expressado de modo não apenas coerente, como
adequado e atraente. Quando foi isto? Este estudo propõe-se a examinar as bases de uma linguagem da arquitetura. Considerar o espaço
como uma forma genérica de expressão que efetivamente informa o homem (e com o qual os
O arquiteto grego sabia o que falava, conhecia aquilo com que falava, e o mesmo se pode dizer do homens se informam, de modo consciente ou não) e como detentor de sentidos passíveis de uma
arquiteto do gótico, da renascença, nas não, obviamente, de todos os arquitetos dos neos : o formalização necessária para a operação sobre este mesmo espaço, para a prática arquitetural.
neogótico, o neoclássico, etc.

Aqueles arquitetos tinham formulado um estoque preciso de conceitos e de signos do qual 2.3. O SENTIDO DO ESPAÇO
retirávamos elementos para compor uma arquitetura onde cada elemento se define por sí só e, ao
mesmo tempo, em relação aos demais, num discurso que responde a determinadas necessidades do 2.3.1. Uma definição de arquitetura
homem da época e que este compreende.
Bruno Zevi : aquilo que realmente importa na e orienta uma configuração arquitetural ou urbana é
Uma linguagem arquitetural não é privilégio das grandes obras ou dos grandes nomes. Deve ser uma
exatamente algo que não vem expressamente indicado : o espaço
linguagem precisa. Se a arquitetura é uma arte, é uma arte específica que necessita de uma
linguagem de antemão, e que esteja ao alcance simultâneo do criador e do receptor.
Vitrúvio : ciência que deve ser acompanhada de uma grande diversidade de estudos e
conhecimentos por meio dos quais ela avalia as outras artes que lhe pertencem. O acesso à esta
Quais os elementos desta linguagem? São :
ciência se faz através da prática e da teoria. A arquitetura é composta por : ordenamento, disposição,
• o discurso primeiro do espaço em sí mesmo (o discurso do arranjo espacial) eurritmia, proporção, conveniência e distribuição. A pergunta surge de imediato : ordenamento,
• e o discurso estético do espaço (o arranjo espacial sob uma forma artística) disposição, distribuição de que? Do espaço.
Que se deve considerar como aquilo que constitui o objeto de estudo referente ao primeiro Alberti : solidez, comodidade, prazer
discurso? Afinal, o que é espaço? Espaço é ISSO que nos cerca! Mas o que é isso? Efetivamente
ainda não existe ainda um corpo de conhecimentos orgânicos capaz de reunir uma série de noções Blondel : construção, distribuição, decoração
fragmentadas sobre o espaço, de modo a fornecer-nos um conceito operacional, manipulável. E se
chega ao absurdo de se ter uma série de teorias altamente elaboradas sobre o modo de tratar de algo Society of Historians of Architectes: beleza, solidez, utilidade
que não se sabe definir!
Societé Centrale des Architectes : o belo, o verdadeiro, o útil
Como Vitrúvio conceituava arquitetura?
- é ordenamento, disposição, proporção, distribuição. De que? Do espaço, por certo, mas isto Guimard : sentimento, lógica, harmonia
era dado como algo já estabelecido
Nervi : função, forma e estrutura
E Alberti ?
- solidez, comodidade prazer (voluptas, firmitas, commoditas). E o espaço? Resposta possível : E recentemente, ficamos no binômio : forma x função
está implícito
Se a maior simplicidade começa com Viollet-Le-Duc : arquitetura é a arte de construir, o erro só
Viollet-Le-Duc
começa a ser corrigido por Luçart , que delimita o campo da arquitetura como sendo o dos volumes
- arquitetura é a arte de construir
TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2 TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2
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que se levantam no espaço, que são determinados pelas superfícies que se encontram e cujas Como se coloca a arquitetura com relação a este eixo? Privilegia ela um ou outro destes dois
proporções exatas são indicadas pela luz. Volume, superfície, espaço e luz são portanto, para terminais ou, ao contrário, só pode ser entendida como relacionando-se a ambos simultaneamente?
Luçart, os componentes da arquitetura.
De início é necessário rechaçar a tendência para considerar o Espaço Interior como o domínio da
Le Corbusier afirma que arquitetura é "por em ordem": ordenar objetos, ordenar funções. arquitetura, e o Espaço Exterior como o domínio do urbanismo.

Augusto Perret propõe um conceito inteiramente adequado de arquitetura : a arte de organizar o Como se coloca a arquitetura em relação ao eixo Exterior x Interior ? Qual o espaço que efetivamente
espaço, que se exprime através da construção. define, aqui, o pensamento arquitetural?

Arquitetura é simplesmente trabalho sobre o espaço, produção do espaço, e não pensamento do Não há exterior sem interior, e vice-versa. Quando comparados um em relação ao outro, se
espaço, é ação, não apenas reflexão – este é o elemento específico da arquitetura, escamoteado em deveria falar antes em complementação : são como as duas faces de uma moeda, e se faltar
todos estes séculos e ainda hoje. uma, a moeda não pode existir.

O que é afinal o espaço, qual o sentido do elemento sobre o qual a arquitetura trabalha às cegas? Deve-se, então, abolir definitivamente as barreiras entre a casa e a cidade. A respeito da dialética
Uma série de disciplinas atuais pôs em realce não apenas o caráter totalmente relativo da noção de casa x cidade é necessário observar ainda um ponto : até quando se suportará a distinção arquitetura
espaço, como a conseqüente necessidade de estudar e delimitar, os sentidos específicos do espaço, e urbanismo?
conforme o lugar e o tempo.
O que interessa mesmo é percorrer todo o caminho de volta até a Renascença, e tentar contar de
Qual o sentido do espaço, afinal? novo com homens que pensem a cidade sem se esquecer que ela é feita de casas, e que proponham
casas integradas à malha coletiva.
2.3.2. Semiologia da Arquitetura
2.4..2 - 2°° Eixo do Espaço Arquitetural : Espaço Privado x Espaço Comum
Objeto da arquitetura = produção do espaço. Surge então a questão de saber de que espaço se
trata, quais as sua espécies, suas delimitações, para a seguir ser possível indagar de seus Como se percebe um espaço interior e um espaço exterior ? A noção fundamental é a que diz
respectivos sentidos, o que está intimamente ligado à espécie. respeito aos diferentes usos que se faz de um certo espaço e aos diferentes sentidos que se atribuem
a estes espaços, conforme a cultura e a época.
É totalmente lícito perguntar se existe um conjunto de regras básicas. O que deve interessar é o
significado do modo de organizar o espaço, a maneira pela qual a arquitetura é normalmente recebida Cabe ao arquiteto e ao urbanista a pesquisa precisa dos sentidos do espaço reconhecidos em seu
e sentida (ou manipulada) pelo homem e pela sociedade. país ou cultura, ANTES de propor sugestões arquitetônico-urbanísticas, sejam quais forem.

Depara-se apenas com uma soma intensa de dados importantes mas que, pela falta de organicidade, Para o arquiteto, o problema que se coloca aqui, de modo específico, é o de saber como, numa dada
resultam inoperantes. Como se viu, Luçard por exemplo tentou apontar a coluna vertebral, a estrutura cultura, se percebe o espaço como sendo privado e como se percebe um outro espaço, como sendo
básica, imprescindível e suficiente da arquitetura, quando a definiu como volume, superfície, comum, isto é, quais os limites de um e de outro, até que ponto um espaço pode ser estendido sem
espaço, luz. Mas se sua descrição é uma das primeiras a tentar essa operação de delimitação do se ferir os Espaços Privados, até que ponto estes permitem e aceitam aqueles.
essencial em arquitetura, ela ainda é, como se viu, inadequada, incompleta. Não identificando,
erroneamente, a arquitetura com o espaço, a questão ainda tem de ser colocada e respondida : Observações sobre o segundo eixo definidor do espaço arquitetural coloca o arquiteto-urbanista
- o que é pertinente para o espaço arquitetônico ? diante de um duplo problema :
• primeiro ; o de determinar as significações que assumem para os membros de uma cultura
Os princípios a reger a teoria exposta nesta seção serão dois : cada um dos terminais do eixo (privado e comum),e saber na direção de qual deles "tende" a
• a teoria constituirá um sistema dedutivo puro prática social desse grupo
• as premissas enunciadas na teoria são aquelas das quais o teórico sabe por experiência que • segundo : resolver esta oposição
preenchem as condições necessárias para a análise, e que são tão gerais quanto possível, de
modo a serem aplicáveis a um grande número de dados da experiência. Não resta a menor dúvida, como já concluíram disciplinas como a sociologia e a psicologia social, de
que as possibilidades de uma sociedade melhor residem justamente na demolição pelo menos parcial
Enunciados os princípios norteadores, que ponto de vista adotar para a formulação dessas premissas dos redutos de individualismo excessivo que ainda regem as relações humanas. Esta modificação
gerais e tão amplas quanto possível? O ponto de vista será o de proceder de início a posições nunca poderá ser levada se não for seguida por uma modificação análoga no modo de
binárias. relacionamento dos homens entre sí e dos homens com o espaço.

Como escolher, agora, os elementos que formarão as posições? As sociedades humanas em geral continuam a caminhar para o isolamento cada vez maior dos
homens entre sí. O arquiteto tem uma responsabilidade enorme nesta situação

2.4. EIXOS ORGANIZADORES DO SENTIDO DO ESPAÇO Toda investigação antropológica no sentido do espaço só pode ser efetivamente operacional se
validada e corrigida pela análise histórica do momento social.
2.4.1 - 1°° Eixo do Espaço Arquitetural : Espaço Interior x Espaço Exterior
O usufruto do Espaço Privado é conseqüência de uma situação sócio-econômica privilegiada, de tal
O ponto de partida se constitui o primeiro eixo de oposições da demarcação do espaço arquitetural : forma que a preferência pelo Espaço Privado ou pelo Comum não é determinante absoluta de
Interior x Exterior. O confronto entre ambos constitui realmente a noção e a operação de manipulação determinada cultura mas, sim, decorrência de outros fatores.
do Espaço mais importante para o homem, quer no plano estritamente material, quer num plano
psicológico e social. E a conseqüência para o arquiteto é : não basta operar a partir de determinadas noções espaciais que
se propõem como dados primeiro de uma cultura, é necessário, A PARTIR destes dados, PROPOR
organizações espaciais que funcionem como informadoras e formadoras (educadoras) dos usuários
TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2 TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2
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na direção de uma mudança de comportamento que possa ser considerada como aperfeiçoadora das especialmente sob a forma de estádios ou clubes esportivos. A praça como experiência de
relações inter-humanas e motrizes do pleno desenvolvimento individual livres encontros humanos é de uma inexistência praticamente total.

Conhecer o significado preciso que uma ordenação espacial assume para determinado grupo social é A praça está em desaparecimento. A razão deste procedimento estará sem dúvida não apenas na
efetivamente fundamental : porém, fazer dessa observação um molde rigoroso da prática arquitetural destruição das cidades para abrir-se caminho ao carro mas, especialmente, na tendência cada vez
é, via de regra, contribuir para a fixação de modos do comportamento. mais acentuada para o confinamento, para o construído.

Daí a necessidade do arquiteto propor novas concepções de utilização deste espaço com base na É muito significativo que quando os tumultos e choques de rua em Paris, em 1968, se tenha falado,
combinação dialética entre privado e comum : com um certo horror em nada disfarçado, em "tomada das ruas pelo povo". Por que "tomada das ruas
- nem o privado deve ser objeto único das preocupações de arquitetura, nem a pelo povo", se este povo não estivesse justamente sendo afastado das ruas e das praças? Não, não
imposição do comum deve erigir-se em programa de ação absoluto. parece haver, em nossa época, o adequado jogo entre Espaços Comuns e Espaços não Construídos.

2.4.3 - 3°° Eixo do Espaço Arquitetural : Espaço Construído x Espaço não Construído 2.4..4 - 4°° Eixo do Espaço Arquitetural : Espaço Artificial x Espaço Natural

O fato da oposição Construído x Não Construído seria mais evidente se tivessem sido abordados dois Este eixo assume uma importância que, a esta altura, com a intensidade das vozes que se fazem
termos : Espaço Ocupado x Espaço Livre. ouvir em favor da ecologia, não é necessário evidenciar. Este eixo é importante para o projeto
arquitetural, especialmente se levado em consideração sob o aspecto da oposição Espaço Construído
Uma razão já foi dada para o afastamento do conceito "ocupação" : arquitetura é ordenação, – Espaço Não Construído.
disposição do espaço, que pode ou não implicar numa ocupação. Outra razão é o conceito de
ocupação estar demasiadamente ligado, com toda a evidência, ao conceito de privado, de Se arquitetura é construção de um espaço, não seria inadequado e contraditório propor a noção de
propriedade particular. Como a ocupação pode ser feita por todos e não apenas por um, o espaço arquitetural natural?
"construído" é, assim, um conceito que supera o "ocupado".
Não :
Não há como negar : o "espaço livre" é o lugar de libertação do homem, um espaço de festa. • Primeiro, porque antes de ser construção de um espaço, a arquitetura é uma disposição,
organização de um espaço, que pode tanto ser um espaço por ela criado como um espaço
A arquitetura como prisão? O conceito de "prisão" inerente à noção de espaço construído é a que a ela se oferece como dado inicial e já pronto.
oposição ao conceito de "proteção, abrigo". O conflito dialético é manifesto e se reflete inteiramente na • Em segundo lugar, porque é inadequado o conceito que o homem ocidental faz da natureza e
concepção da casa, da construção do espaço construído : proteção – prisão. do espaço natural.

Diz-se que o francês médio, especialmente o parisiense, conduz sua vida social nos cafés. Ele recebe Os jardins à francesa são um exemplo berrante. Não existe em Versalhes o diálogo natural x artificial :
no café. O espaço de que dispõe em sua casa, mínimo, deve ser compartilhado com os membros da tudo ali é artificial.
família e praticamente não pode ser estendido a terceiros.
O ponto de vista do oriental é não apenas mais prático, como realmente mais racional e mais
E se de outros povos não se diz que recebem em cafés é simplesmente porque não existem esses adequado à operação arquitetural. Para o oriental a natureza sem algum arranjo, sem alguma
lugares onde é possível a conversação sentado, com uma xícara de café apenas, por um par de disposição do homem (e não uma disposição humana excessiva) não tem muito significado.
horas – mas nem por isso deixam de sentir suas "casas" como gaiolas sufocantes.
Um outro aspecto relativo a este eixo é o que diz respeito aos espaços arquiteturais não construídos
Como superar essa situação? A casa egípcia, a pompeana e a renascentista assim se organizavam : sob duas formas possíveis, exatamente a artificial e a natural. Exemplos excelentes :
ao invés da concepção de apartamento (um confronto entre o aberto e o fechado), organizavam-se no • de Espaço Não Construído Artificial : a praça de São Marcos, em Veneza
sentido de um espaço construído envolvendo um espaço não construído. Nestas condições, não há • de Espaço Não Construído Natural : Hyde Park, em Londres
prisão: o corpo e a imaginação do homem se expandem elasticamente.
A praça de São Marcos é reconhecida de modo praticamente unânime como modelo de praça
O modelo de estrutura do espaço segundo o eixo Construído x Não construído varia acentuadamente perfeita, isto é, humana.
através dos momentos históricos :
• nas sociedades egípcias arcaicas e na Grécia antiga, o lugar do povo, do coletivo, é sempre O Espaço Não Construído Natural apresenta-se normalmente como de mais fácil realização quando
do lado de fora, o exterior. se visa oferecer ao indivíduo um lugar agradável : Hyde Park, Parque Palermo em Buenos Aires,
• Já em Roma, o lugar do coletivo passa a ser um lugar construído. A basílica era um edifício Central Park em New York.
onde se reuniam os cidadãos romanos para discutir, conversar, encontrar-se.
• Mais tarde a religião cristã irá oficializar seus cultos neste espaço : a basílica, e o povo A solução mais adequada ainda seria aquela onde este espaço exterior não construído
permanece admitido dentro do "construído". (artificial ou natural) seja tal que se integre no tecido urbano. Estes projetos de integração
• A igreja românica é por excelência o lugar de reunião pública artificial-natural não são, de fato, de todo irrealizáveis : na China Continental, após a revolução
• O mesmo se dá com a catedral gótica comunista, a população plantou milhões de árvores nas grandes cidades, obtendo a
• As ágoras gregas somente reaparecerão na renascença. diminuição de 2 graus na temperatura média no verão e uma estabilização desta mesma
temperatura durante o inverno.
Há afirmações segundo as quais a arquitetura grega era uma arquitetura concebida a partir do
exterior, enquanto a romana era a partir do interior, e a arquitetura do nosso tempo procuraria A cidade-jardim não é um ideal risível : é imperiosa necessidade
um compromisso entre uma e outra. No entanto, não é tão tranqüila a afirmação de que a
arquitetura de hoje procura um equilíbrio entre interior e exterior. De modo cada vez mais 2.4.5 - 5°° Eixo do Espaço Arquitetural : Espaço Amplo x Espaço Restrito
acentuado, o que se constata é uma proposição maciça de espaços comuns construídos,

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De início, a constatação primeira que vem à mente é a de que o Espaço Amplo está intimamente onde a vida é sem encantos porque sem mistérios, já que não há porão e a polaridade básica
associado ao Espaço Exterior, e que o Espaço Restrito relaciona-se de modo particular com o Espaço instauradora do homem (e que se reflete na casa), foi rompida.
Interior.
O conceito de que a vida em apartamento é uma existência da verticalidade leva de imediato, e de
A questão colocada é: início, ao gótico. No gótico, esta é a tese, se teria finalmente uma forma de composição onde o
• até que ponto se pode identificar a experiência do Espaço Restrito como o espaço da exterior deixa transparecer o interior. Um estilo onde de certa forma não existe uma fachada, algo que
intimidade, da proteção e, separa uma coisa da outra (interior do exterior), que fecha, que desune.
• inversamente, a do Espaço Amplo com a do espaço comum não protetor e, mesmo, hostil e,
• até que ponto o Espaço Restrito é necessário? Os aspectos da verticalidade aqui abordados são eminentemente metafóricos : é metafórico o sentido
da proposição de Bachelard segundo a casa ser um ser vertical e que sua parte superior é o lugar do
Que significado adquire enfim para o homem a oposição Amplo x Restrito, que valores atribuir a um racionalismo. É metafórica a colocação de Panofsky sobre o racionalismo da verticalidade gótica,
em relação ao outro? Uma constatação da psicanálise : assim como é metafórico o sentido através do qual se aponta essa mesma arquitetura como
• a imaginação constrói muros – com as ilusões, os sonhos, as sombras. Isto é: a imaginação manifestação de um misticismo. O efeito prático da verticalidade ou da horizontalidade sobre o
protege o indivíduo, seu foro interno ou sua última ligação consigo mesmo homem precisa com toda a evidência ser determinado.
• por outro lado, nenhum muro verdadeiro, nenhuma sólida muralha, por mais grossa e dura
que seja, impede a imaginação de tremer de medo, de suspeitar, de sentir-se ao aberto, Algumas casas das quais se diz que o morar atingiu nelas um ponto ótimo são construções
exposta, insegura. essencialmente na horizontal, como a casa pompeana.

Sonha-se com imensidão, mas pratica-se o restrito. E nem sempre por impossibilidades econômicas Os planos do percurso humano são dois e sempre dois em conjunto : horizontal e vertical. E é através
ou materiais. É o homem, e especialmente o homem ocidental, que receia a imensidão e se refugia no de uma proposta desse gênero que se pode por em prática um dos elementos programáticos
pequeno : a grandeza parece destinada a ser apenas contemplada e não vivida. fundamentais da arquitetura moderna : a temporização do espaço.

A amplidão exibe o poder de seu possuidor. E atemoriza. É o mesmo terror que o homem sente Criar um jogo de permutações entre horizontal e vertical, isto é, propor desníveis, a necessidade de
diante do Vazio – do Universo, do Infinito. Na verdade, a imensidão é tão misteriosa quanto o restrito subir e descer para ir de um lugar para outro é bem um meio – e bastante adequado – de temporizar o
(o íntimo, o fechado), tão habitada por fantasmas quanto o espaço reduzido. espaço : um espaço onde o movimento é não só possível como exigido, um espaço, enfim, vivido.

Haverá por certo distinções entre o fascínio / temor exercido pela imensidão e aquele provocado pelo Os espaços atuais não são vividos, são espaços vistos. O ver precisa ser substituído pelo viver, pelo
restrito sentir, e que em arquitetura se define como experimentar, tocar, percorrer, modificar : numa palavra :
• o restrito é tangível ação.
• a vertigem provocada pela imensidão é absoluta, definitiva e em nada apreensível.
Em New York se vê, em Veneza, se vive. Em Veneza é preciso tempo para conhecer a cidade,
O que conduz à conclusão da maior praticabilidade da mitologia do restrito : casa, canto, cofre,
enquanto New York se oferece, inteirinha ao menor toque de botão num painel luminoso. Por ter
gaveta, envelope, em comparação com a da amplidão, formadora de vagas idéias gerais logo
tempo, Veneza vive ainda, e não morrerá. New York é uma ficção do inferno : já se começou a
abandonadas.
abandoná-la há muito tempo.
Diante da vertigem do amplo, do imenso, o homem se recolhe para trás dos muros da imaginação ou
Temporizar o espaço : propor um espaço que se modifica pela possibilidade de vivê-lo realmente, de
tenta preencher esse vazio com os primeiros conceitos à mão. Seu fascínio pelo restrito, no entanto,
percorrê-lo.
leva-o para o domínio da ação prática, ainda que assaltado por temores. Afinal, é sua dimensão.

Como determinar e medir na prática as dimensões reais, físicas, desse espaço humano que se A ação sobre o eixo vertical-horizontal, com uma proposta de ambos os planos
identifica antes com o espaço reduzido do que com o amplo – mas que não pode descer abaixo de simultaneamente, na casa e na cidade, é um dos instrumentos básicos contra o tédio e a
certos limites sob pena de igualmente tornar-se inumano? opressão arquitetônicos

Os japoneses sempre consideraram o tatame como um módulo de determinação da área, de tal modo 2.4.7 - 7°° Eixo do Espaço Arquitetural : Espaço Geométrico x Espaço Não Geométrico
que um aposento é uma função de determinados números de tatames. Le Corbusier propôs
igualmente seu discutido e criticado módulo. Até que ponto a geometria é inerente ou mesmo essencial para a arquitetura?

Seja qual for o critério que se adote, a posição das áreas e volumes de um espaço só pode Vejamos duas questões :
atender aos desejos do homem se for feito ao redor de uma dialética contínua entre Amplo e
Restrito 2.4.7.1. Relacionamento entre geometria e pensamento arquitetural :

2.4.6 - 6°° Eixo do Espaço Arquitetural : Espaço Vertical x Espaço Horizontal • Exige a análise da relação entre geometria e pensamento. A geometria é um dos
instrumentos fundamentais do pensamento científico – e mesmo do pensamento filosófico
Nada mais natural que a arquitetura evolua ao redor da noção de horizontal e seu oposto, o vertical. • A esquematização geométrica favorece um esclarecimento dos aspectos visados, um tornar
Bachelard diz que a casa é imaginada como um ser vertical. A questão que surge desde logo é : e a mais claro, mais imediato uma determinada realidade. Em termos de pensamento científico é
horizontalidade da casa? Como funcionam as noções de horizontal e vertical para o homem ? impossível negar esse papel à geometria
• Aceitando esta prática evidente, a geometria pode ser um intermediário entre o concreto e o
Bachelard analisa a questão de um ponto de vista bastante particular, talvez demasiado subjetivo. abstrato.
Para ele, a verticalidade da casa é uma realidade assegurada pela polaridade entre o porão e o sótão.
Desta posição inicial, Bachelard parte para uma análise da existência nos prédios de apartamentos, Sob este aspecto, o pensamento arquitetural pode manter relações com a esquematização
geométrica, criando assim uma representação de seu objeto, que é o Espaço Real

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• Privado x Comum
2.4.7.2. O papel da geometria na prática da arquitetura • Construído x Não Construído
• Artificial x Natural
• O arquiteto representa um espaço (pensa um espaço) e acha a coisa mais natural do mundo • Amplo x Restrito
que seu modelo, sua representação, se comporte e seja aceita na prática tal como ele a • Horizontal x Vertical
representou. Lamentável e trágico engano. • Geométrico x Informal
• Bachelard enuncia de modo claro : é necessário que nos livremos de toda a intuição definitiva
– e o geometrismo registra intuições definitivas - se é que queremos seguir .......as audácias A leitura ou análise desses eixos procurou apreender aqueles aspectos que podem ser considerados
dos poetas que nos chamam para..........”escapadas” da imaginação. fundamentais dentro de cada eixo, mas que não se apresentam como os únicos possíveis. A análise
• Alguma dúvida de que as casas e as cidades de hoje sofrem de geometrice aguda? Não. geral, e este foi o objetivo aqui, é exemplificar as leituras possíveis (para outros trabalhos de reflexão
• Segundo Zevi : sobre arquitetura) e possíveis linhas de ação (para a prática da arquitetura)
Por centenas de milênios, a comunidade paleolítica ignora a geometria. Mas assim que se
estabilizam as bases do neolítico, e os caçadores-criadores são sujeitados a um chefe de
tribo, surge o tabuleiro de xadrez. Todos os absolutismos políticos geometrizam,
organizam o cenário urbano com eixos e depois outros eixos paralelos e ortogonais.
Todas as casernas, as prisões, as instalações militares são rigidamente geométricas.

O geométrico (a marionete) se impõe à vida (o orgânico), o artificial ao natural, o condicionamento à


liberdade.

A Teoria da Informação confirma que se o tortuoso, a desordem, não são em sí o belo, são altamente
importantes para sua obtenção. O que não se deve aceitar é sua tese, freqüentemente retomada,
mesmo atualmente (ou em particular atualmente) de que com o ortogonal a cidade é livre, e o
indivíduo também. Enorme absurdo, pois é justamente o contrário!

Ortogonal = liberdade? Absurdo total! (Em todos os momentos da história urbanística No Império
Romano ou nas colônias da Espanha) a imposição de um traçado geométrico rígido para a malha
viária sempre teve por objetivo reduzir ou eliminar a liberdade do indivíduo, facilitando seu controle, e
não protegê-lo do exterior ou mesmo libertá-lo.

Tudo é previsto, nada é deixado ao acaso, o que significa que as necessidades orgânicas (a
liberdade) são eliminadas : o dirigismo é total.

Zevi fala mesmo em acabar com a prática da régua T para o estudante de arquitetura a fim de que ele
não se deixe tentar pela facilidade do geometrismo e aprenda a deixar já o seu próprio traço em
liberdade!

Isto sem mencionar que é justamente o “tortuoso” um dos elementos fundamentais para a animação
de um espaço, para a visualização, para a eliminação do tédio de “habitar”

Em Roma, Veneza ou mesmo Paris, há sempre um quartiere, um quartier que é nosso. E por outro
lado, há sempre algo a conhecer, a descobrir, a viver, porque os outros quartiers são igualmente
diferentes.

Um bairro como o Pacaembu é projetado sob um traçado tortuoso justamente para dificultar o transito
de “estranhos”, para impedir a devassa pelos automóveis, para garantir a “residencialidade” do local

O informal é efetivamente elemento fundamental para a respiração do espaço e por conseguinte do


indivíduo, já que junto com o eixo vertical – horizontal é um dos motores da temporização do espaço.

Obviamente o informal absoluto não é praticável em arquitetura – mas que se entenda pelo
menos como oposição ao "sempre reto", às paredes contínuas, ao corredor imenso, nos
cruzamentos sempre em ângulo reto. Seja o que for, mas sempre em oposição ao geométrico.

2.5 – CONCLUSÃO

Procurou-se determinar e analisar, assim, os eixos em torno dos quais se organiza o discurso
arquitetural e que se revelam em n. de sete :
• Interior x Exterior

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Dito isto de modo de introdução, estudaremos a seguir as 4 personalidades decisivas que


MÓDULO 3- OS QUATRO GRANDES condicionam a arquitetura do nosso tempo, pelo menos desde a primeira década do século XX e só
contestadas por algumas correntes ditas pós modernas, atuais, e que começam a procurar novos
rumos.
3.1. INTRODUÇÃO AS PROPOSTAS DA ARQUITETURA MODERNA

No racionalismo arquitetônico, no começo do séc. XX, a arquitetura marchava para a 3.2. BIOGRAFIAS
desornamentação e, com isto, para a ruptura com o passado acadêmico. O que os racionalistas se
propõe a fazer é promover uma nova metodologia para por em marcha um processo produtivo, em 3.2.1. WALTER GROPIUS
um momento de especial turvação social e de estrepitoso fracasso dos antes veneráveis ideais.
Walter Gropius (1883–1969) é o representante mais destacado do Bauhaus, do qual foi o principal
Gropius procura, para estabelecer um novo pragmatismo, a ajuda da técnica e de suas enormes animador e ideólogo. Estudou arquitetura entre 1903 e 1907 em Berlin e Munique, sem obter nenhum
possibilidades produtivas, na convicção de que estas permitirão dar à nova arquitetura um conteúdo diploma ou titulo. Trabalha como principal colaborador de Behrnes quando constrói a famosa fabrica
social com o qual resolver muitos dos problemas pleiteados pela sociedade industrial. de turbinas. Em 1910 começa sua própria atividade profissional, interessando-se já pelas casas
normalizadas. Em 1911 constrói a fabrica Fagos, sua primeira obra importante, que se caracteriza
Com este novo pragmatismo fundou-se em Weimar, em 1919, o Staatliches Bauhaus, escola de pelas grandes superfícies envidraçadas e a supressão dos suportes de ângulo. Em 1914 constrói,
arquitetura e artes aplicadas que – especialmente após o seu traslado para Dassau em 1925 – atuaria com a colaboração de Adolf Meyer, a fabrica modelo da exposição de Colônia. É uma fabrica de
como desencadeante de uma verdadeira revolução no terreno da arquitetura, promovendo as bases tamanho médio com os escritórios administrativos incorporados. Chamaram a atenção as caixas de
desse racionalismo ou funcionalismo. escadas circulares dentro de jaulas de vidro. Passada a guerra, como vimos, funda o Bauhaus em
Weimar. Em 1926 constrói sua obra prima, a nova sede do Bauhaus em Dessau: é um dos mais altos
Gropius foi o criador do Bauhaus que, curiosamente, apesar da rejeição dos ideais estéticos, foi uma exemplos da arquitetura racionalista e uma das obras onde melhor podemos perceber o impacto do
grande escola de arte. Em seu curso preparatório, a maior parte dos professores – Itten, Moholy- cubismo.
Nagy, Alberts, Kandinsky, Klee, etc – eram pintores. É muito difícil resumir em poucas palavras o
ideário do Bauhaus, que em grande parte coincide com o do próprio Gropius. Tratava-se de libertar a
arte de toda ideologia, de toda mitificação e de vinculá-la à técnica e às férreas leis econômicas e de
produção : de uni-las à indústria, cuja exaltação está sempre na boca de Gropius. E o protagonismo
dos pintores de sua etapa inicial foi, de certo modo, um reconhecimento do papel desempenhado pela
pintura na renovação de formas. De fato, o curso de arquitetura não começou a constituir-se até 1927
– oito anos depois da fundação do Bauhaus – ocupando-se inicialmente dele Hannes Meyer e
continuando-o em 1930 Mies Van der Rohe.

Fechada em 1933 pelos nazistas, a escola de Bauhaus manteve-se, no entanto, vigente durante
muitos anos. Nela integrou-se, embora por caminhos próprios, outro grande arquiteto : o suíço Le
Corbusier. Este, em seus primeiros anos de atividade, tinha alcunhado um novo vocábulo
programático para a arquitetura : o maquinismo, que veio somar-se ao racionalismo e ao
funcionalismo. Para entender o que com ele queria significar, nada melhor que recolher sua famosa
frase de que a casa é a máquina de viver, aforismo que lhe serviu de bandeira de combate até que
mais tarde abandonou e condenou aquelas idéias.
GROPIUS – FÁBRICA FAGUS 1910-14 GROPIUS – BAUHAUS - DESSAU – 1925-26
Porem quem verdadeiramente superaria o racionalismo, o funcionalismo e o maquinicismo seria um
excepcional arquiteto norte-americano : Frank Loyd Wright. Formado em um meio completamente
diferente e até antagônico ao do racionalismo do Bauhaus, pois provinha da escola americana de
Louis Sullivan, Wright influenciou poderosamente nos meios europeus e acabou conquistando
posições que antes pareciam inexpugnáveis. Não é que rejeitasse os conceitos do racionalismo, do
funcionalismo ou daquela arquitetura maquinista que imitavam as produções da técnica industrial –
automóveis, navios, aviões, etc – mas que ele sentia-se sobretudo ligado aos fenômenos naturais e
ao valor fundamental da terra e da matéria. Também não era um fanático das superfícies lisas,
geométricas, das formas metálicas. Para ele, para refletir a terra onde se pousava, a arquitetura tinha
de nascer organicamente como nasce uma árvore, ficando suas raízes no húmus propício. Assim, nas
obras de Frank aparece a madeira, a argila, a pedra, sobretudo em formas rudes e quase selvagens;
algo que ofendia à sensibilidade dos maquinistas. Mas a personalidade do arquiteto norte-americano
era tão grande, que sua obra comoveu a todos e pôs em situação difícil o domínio absoluto dos
herdeiros do Bauhaus. Entre as duas correntes houve uma prolongada e tenaz luta, estabelecendo-se
uma coexistência que não podemos considerar certamente pacífica. Quando as perseguições do
nazismo obrigaram a emigrar a quase todos os mestres do Bauhaus, apontados como semitas,
muitos o fizeram para os Estados Unidos e, Gropius em Harvard e Mies em Chicago, mantiveram com GROPIUS – BAUHAUS 1926
Frank as espadas em alto.
Emigrado da Alemanha em 1934 se estabelece na Inglaterra até 37. Colabora com Maxwell Fry em
A escola organicista encontrou também um valioso auxiliar em um arquiteto jovem vindo da Finlândia projeto de residências e edifícios escolares até que é chamado pela universidade americana de
que chamava-se Alvar Alto e que deixou uma importante presença da sua obra. Harvard, onde preside a faculdade de arquitetura de 38 a 51. Este é outro dos períodos mais fecundos

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de sua vida, da vida de um homem que para desenvolver-se plenamente necessita verter-se nos Em 1908 começou a colaborar com Peter Behrens, em cujo estúdio conheceu a Gropius e Le
outros através de um trabalho pedagógico que é para ele uma verdadeira necessidade espiritual. No Corbusier. No entanto, até aquele momento, o que foi mais decisivo para o jovem artesão, que
campus da própria universidade de Harvard constrói o grupo de quartos de graduados, que é uma de começava a conhecer novos panoramas intelectuais, foi o conhecimento do neoclassicismo e de
suas obras mais serenas e melhor implantadas sobre o terreno. Os diversos corpos seguem Schinkel. O temperamento de Mies não podia deixar de ser afim a rigorosa e maravilhosa
disposições em esquadra mitigadas por alguma suave curva. Os espaços interiores que os diversos conceituação formal da arquitetura Schinkeriana. Em 1911 dirigiu, por recomendação de Behrens, o
blocos lineares definem e permitem zonas de repouso muito agradáveis. projeto em estilo neoclássico das obras da embaixada alemã em San Petersburgo, com o qual se
afirmou sua tendência neo-classicista.

Separado de Behrens, trabalhou por conta própria e viajou pela Holanda onde não deixou de
impressionar-lhe a obra de Berlage, como o demonstram suas posteriores construções em tijolo. De
volta a Berlin abriu um estúdio e construiu umas casas particulares em estilo neoclássico romântico.
Após o parêntese da guerra Mies surge como um homem novo participando no Novembergruppe:
grupo de artistas revolucionários e dirigindo a revista G (inicial de Gestaltung). Para a exposição do
Novembergruppe prepara entre 1919 e 23 uma serie de projetos teóricos: seus famosos arranha-céus
de vidro, um edifício de escritórios de concreto com casca de vidro e algumas casas de tijolo.

GROPIUS HARVARD MASSACHUSETTS 1950 GROPIUS – ED PANAM N Y


1958-63
Nos anos de Harvard colabora com Marcel Breuer em diversas obras, muitas delas casas de
professores em varias localidades de Massachusetts: como a casa de J. Ford, a de Chamberlain ou a
do próprio Breuer. No ano de 1945 funda com um grupo de alunos a T. A. C. ( The Arquitects
Colaborative Ind. ). Gropius encontra-se no seu próprio meio que, como sempre que lhe é possível,
tenta reconstruir, embora sem alcançar nunca, o ideal do Bauhaus. A T. A. C. empreende uma serie
de obras, sobretudo casas individuais em Massachusetts. Alguns projetos de envergadura não
passam deste estado.
MIES – ED APTOS STUTGART 1927 PAVILHÃO BARCELONA
Transcorrem alguns anos antes de receber pleno reconhecimento oficial e encomendas como a
embaixada dos EUA em Atenas em 1956. Edifício algo eclético porque trata de condicionar-se ao
ambiente clássico da capital grega. Em 58 intervem como consultor no edifício da Pan Am de Nova No ano de 1927, como vice-presidente da Werkbund, planeja a exposição de arquitetura moderna em
York, onde colabora com Pietro Belluschi. A obra corre a cargo da firma Emery, Roth and Sons. De Stuttgart, onde joga um destacado papel. Em 1929, com motivo da exposição internacional de
qualquer maneira suas soluções em edifícios em altura, o projeto do Chicago Tribune ou esse prédio Barcelona, recebe a encomenda de construir o pavilhão da Alemanha. É a obra culminante de todo o
da Pan Am são os menos afortunados de sua produção, talvez por ser um tema que não convinha à seu período europeu. Uma pedra milenar na historia da arquitetura moderna, que desapareceu ao ser
sua mais intima formação. Mais tarde, e sempre enquadrado na T. A. C., realiza vastos projetos para demolida a exposição e que hoje voltou a reconstruir-se, felizmente. Alguns críticos viram no teto
as universidades de Bagdá (1960) e Moçou (Iraque), projetos em marcha mas de duvidosa realização. flutuante e na planta aberta um reflexo de Wright; na disposição rítmico-dinamica dos muros, a
Terminam seus anos na Alemanha (1969) rodeado da estima de seus compatriotas e com as influencia de Stijl, Mondrian e Van Doesburg; na elevação da estrutura sobre um pódio, um toque de
máximas honras. Schinkel. Mas o importante é que todos estes elementos fundem-se na imaginação de Mies para
produzir uma obra de arte original.

3.2.2. LUDWIG MIES VAN DER ROHE

Ludwig Mies Van Der Rohe (1886–1969), nascido em Aachen - Alemanha, um ano mais velho que
Gropius e falecido no mesmo ano que ele, é considerado como um dos grandes mestres da primeira
metade do século 20. Sua vinculação ao Bauhaus não pode ser mais estreita, desde que em 1930
figura como subdiretor; a isso temos que somar sua participação nas tarefas genéricas da escola e,
como coisa própria, o desenvolvimento das possibilidades técnicas dos novos materiais e a procura
de um rigoroso funcionalismo. Mies tem uma personalidade que não se deixa absorver pela
linguagem comum do Bauhaus. Talvez a sua complexa formação inicial lhe condiciona de uma
determinada maneira. Finalmente tem que, praticamente, lutar consigo mesmo para conseguir a sua
linguagem mais pura e essencial; e neste caminho de perfeição, verdadeiro exercício de ascensão,
realiza-se sempre como arquiteto.

Por maior que fosse a atenção dos últimos anos, nos quais não saem de uma forma única e quase
obsessiva, Mies não perde nunca sua qualidade de artista refinado, sendo seu esteticismo a base de MIES – PAVILHÃO DE BARCELONA 1929 MIES ED SEAGRAM NY 1954-58
sua personalidade em uma medida que não o era por exemplo para Gropius.

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Apesar das tentativas de Mies de manter o Bauhaus, inclusive como instituição privada, apesar – logo
fracassado propósito – de permanecer na Alemanha do exercício livre da sua profissão, chegou um "Less is more". Menos é mais. Mas seria conhecer mal Mies o considerar-se que este lema o
momento que, vendo fechadas todas as suas possibilidades e, a falta de um clima propício, teve que conduziria a uma arquitetura despojada. Pelo contrário : nas suas obras, a preferência ia para a
emigrar para os EUA, aonde chegou em 38 para dirigir a seção de arquitetura do Armour Institute de aplicação de matérias nobres como o mármore e o aço inoxidável brilhante como, por exemplo, o
Chicago: que depois recebeu o nome de Illinois Institute of Technology. famoso pavilhão alemão da exposição mundial de Barcelona em 1929.

Entre 50 e 51 pode levar a cabo seu ideal de muitos anos: construir um arranha-céu de vidro. Assim o
sonho de 22 tinha se tornado realidade. No entanto, não se tratava já daqueles painéis de superfícies 3.2.3. LE CORBUSIER E SUA AVENTURA
curvas mas, fiel ao seu dogmatismo, de prismas puramente retangulares, como barras de gelo. As
torres, apartamento de Lake Shore Drive em Chicago, levantaram-se na melhor zona residencial do Desde que Le Corbusier irrompe na cena do movimento moderno, fez-se notar pelas suas peculiares
centro da cidade, como a mais pura expressão das idéias intransigentes de seu autor. A caixa de aço condições de agitador. Mais que um profeta da nova arquitetura é um ativista que coincide em seu
resulta excessivamente dura e se desvanece na impressão diáfana do vidro, a cor negra abruma um talento com tantos e tantos agitadores revolucionários que comovem com seus radicalismos, sua
pouco. polêmica, agressiva e insistente propaganda à instalação de uma insegura e amedrontada burguesia
e, neste caso, o declínio de prestígio do respeitável academicismo.
De todas maneiras Mies converteu-se em um ídolo para a América. Depois da exposição da sua obra,
que apresentou no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque em 47, tudo lhe estava permitido. Durante Graças a Le Corbusier as controvérsias produzidas pelo despertar de uma nova arquitetura, que antes
a década de 50 não houve arquiteto no ocidente que gozasse de mais prestigio e autoridade. Os se mantinha em uma área minoritária, umas vezes estritamente profissional e outras exclusivamente
jovens estudantes de arquitetura de todos os paises o veneravam com idolatria. No entanto, os partidista, transcenderam a zonas muito mais amplas, popularizando-se os princípios do racionalismo
homens de gerações mais próximas a ele, que não se sentiam igualmente alucinados, começaram a ou funcionalismo em cujo gênese tinham participado numerosas figuras da arte e da cultura, muitas
sofrer o fastio de tantos edifícios que copiavam do mestre. Mies era único – reconheciam – mas vezes marginalizadas até então. Le Corbusier estendeu, propagou e colocou no plano de uma cidade
aquela proliferação de copiadores não podia levar mais que à própria condenação dos protótipos, e comum toda a ideologia que tinha nascido em luta com o ambiente imperante.
assim sucedeu.
O trabalho de Le Corbusier consistiu em colocar o credo do racionalismo na rua. Mais que suas idéias
Mies lançou seu ultimo torpedo no coração de Nova York em plena Park Avenue. Sua arquitetura, é própria a sua maneira de explicar as idéias dos outros, umas vezes formuladas e outras difusas. Em
num tempo a serviço dos ideais da revolução alemã, serviu de eco ao capitalismo americano e a sua seu primeiro livro de 1923 está recopilado o principal de sua ideologia, com ênfase verdadeiramente
agressiva apetência publicitária. Este homem, austero e rígido, converteu-se em uma alavanca de polêmico. Seu título Vers une architecture (Sobre uma arquitetura) tem um sentido dinâmico : dirige-
prestigio. O Seagram Building, de 56, foi um alarde de riqueza e de poder. O aço pintado de negro dos se, deseja-se, procura-se algo. Propõe-se um caminho, uma direção, mais que uma meta. Este
primeiros edifícios de Chicago transformou-se em cobre pavoneado, como se fosse o monumento de sentido dinâmico mantém o livro em uma expectante situação, esperançosa. Este é o vetor direcional
um sátrapa oriental. Mies se deixou conduzir pela sugestão do ambiente e reforçou a verticalidade do que Le Corbusier nos propõe ao mesmo tempo com arrogância e com esperança, que não deixa de
seu edifício para satisfazer a vaidade dos clientes. Uma cobertura sem janelas, mas fortemente raiado ter sua vertente romântica, porque Le Corbusier é também um romântico em potencial.
por estrias verticais (que escondem elementos utilitários), acentua o americanismo dessa estrutura. O
puritano de outros tempos já não podia sentir-se inocente e, ao perder essa inocência, perdia do Le Corbusier nasceu em La Chaux-de-Fonds, pequena localidade da Suíça francesa, em outubro de
mesmo modo sua alegria criadora. Sua obra posterior se ressentiria disso. 1887. Seu pai era pintor de caixas e esferas de relógio e orientou seu filho pelo caminho da arte. Entre
1911 e 12 viaja pelos Bálcãs, Grécia e Constantinopla. Esta viagem põe fim a sua etapa de formação
e a partir desta peregrinação à Meca da arquitetura, que é a Grécia, terá que começar a falar por sí
próprio. Sua personalidade foi modelando-se rapidamente com o choque com as pessoas da
arquitetura de vanguarda de seu tempo e com as paisagens mais estranháveis do inexausto
Mediterrâneo. Suas viagens foram decisivas nesta etapa, sua marca ficou para sempre. Basta folhear
Vers une architecture para compreendê-lo. Grécia, a Acrópole, o Partenon o fazem prorromper nas
mais líricas exclamações.

Em maio de 1928 a Revista Ocidente publicou um artigo de Le Corbusier titulado Arquitetura da época
maquinista. Foi algo assim como o resumo de umas conferências dadas em Madrid naquele ano e
nos parece que é a melhor exposição do dogma maquinista e de seus princípios, que pode encontrar-
se.

Sintetizando muito, diríamos que os princípios maquinistas de Le Corbusier se reduzem a 5 :


1. A casa sobre pilotis para que o chão fique livre como um jardim.
2. O teto-jardim para que, em lugar dos telhados inclinados, os terraços sejam outros jardins a
mais.
3. O plano livre, não rigidamente distribuído por paredes fixas.
4. A janela contínua, desenvolvida em horizontal.
5. A fachada livre, isto é, independente da estrutura portante. Isto é o que permite, precisamente,
a janela contínua.

Não vale dizer que este pentálogo tenha sido ditado a Le Corbusier em um ato de revelação por uma
inspiração superior. À planta livre, à fachada livre, à janela contínua, ao teto com terraço tinham
cooperado todos os arquitetos do pré-racionalismo e racionalismo, mas insistimos em que o arquiteto
suíço-francês soube dar publicidade e uma especial claridade e contundência a estas idéias difusas.
MIES – ED SEAGRAM N Y 1954-58 Talvez sua idéia de casa sobre pilotis ou sobre postes seja a mais original a que podemos considerar

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de colheita própria : por isto aferrou-se tanto a ela e sempre tratou de impô-la, embora a experiência este arquiteto uma qualidade crescentemente independente, sendo aplicado nas fachadas, ao lado de
não demonstrou que fosse a panacéia que ele pensava. outros materiais, em igualdade de circunstâncias.

Os anos 20, talvez os mais criativos de Le Corbusier, quando seu espírito movia-se com mais Enquanto estudava e realizava estes edifícios funcionais de caráter social, Le Corbusier viu-se
originalidade e brio, são anos de menos realizações que projetos, mas uma e outros tem caráter solicitado por uma encomenda totalmente diferente, que exigia outras propostas que não entravam na
decisivo. A Ville Stein em Garches (1927) e a Ville Savoye em Poissy (1928) são as duas melhores trajetória do veterano arquiteto mecanicista. A capela de peregrinação de Notre Dame du Haut, em
criações da etapa maquinicista : os cinco pontos cumprem-se nestas casas residenciais, embora na Ronchamp. Deve ter sido um estímulo que desencadeou em Le Corbusier incontidas apetências. A
primeira faltem os pilotis. Os paramentos exteriores são como planos de cartolina, quase imateriais, estética estrita do racionalismo estava em crise por volta de 1950 e Le Corbusier, acostumado a ser
cuja brancura contrasta com as cercas negras da carpintaria metálica e com os escuros das protagonista, não podia ficar ancorado no passado. Como Picasso, seu papel era sempre de
superfícies envidraçadas. Não existe a menor concessão decorativa e se levam a suas máximas surpreender. Surpreendeu a todos com uma obra atrevida, que lhe pode levar a descrédito, mas que
conseqüências os princípios de Loos, o mais próximo antecedente desta arquitetura puritana. As resultou simplesmente genial.
plantas, evidentemente, são livres, os tetos ajardinados e a morfologia complicam-se por perfurações
espaciais de dentro para fora ou de um andar para outro, criando processos arquitetônicos muito Se Ville Savoye representa o cubismo analítico, Ronchamp é cubismo sintético. A avassaladora
diversificados. imaginação plástica desta capela surpreende e também dá indefinível emoção religiosa.

CORBU – VILLE SAVOYE 1928 CORBU UNIDADE DE HABITAÇÃO MARSELHA 1945-52

O pensamento urbanístico de Le Corbusier é talvez tão importante ou mais que o que inspira a CORBU – CAPELA RONCHAMP 1950-54 CORBU – CENTRO ARTES VISUAIS HARVARD
arquitetura. Do ano de 1933 é a Carta de Atenas nascida do IV congresso do CIAM (Congressos 1961
Internacionais de Arquitetura Moderna), celebrado num barco durante a singradura de Marselha a
Atenas. A Carta de Atenas é o evangelho da urbanística do racionalismo e considera que a tarefa do Seduzido pelo tema religioso, Le Corbusier realiza anos depois (195/60) o convento La Tourette em
urbanista consiste em organizar as funções da vida coletiva, sem preconceitos esteticistas, no plano Lyon. Ante Ronchamp e La Tourette o resto da produção final de Le Corbusier decai muito, sem que
estrito do funcionalismo. Estas funções podem dividir-se em quatro grandes grupos : com isto queiramos dizer que a poderosa personalidade do mestre não esteja no todo. Chandigard – a
• Casa nova capital do estado indiano de Punjab - é, enquanto empenho, programa, volume e representação,
• Trabalho a obra mais importante deste arquiteto que esteve sempre à espera de grandes ocasiões urbanística-
• Ócio e diversão arquitetônicas; no entanto, não é a mais consagrada.
• Transporte
Os princípios da Carta de Atenas serviram de base a Josep Sert, um dos mais conspícuos discípulos Este grande arquiteto, lutador infatigável, que rapidamente ganhou fama universal por seus escritos,
de Le Corbusier para escrever seu livro Can our citadel survive?, publicado em 1942 em seus inovadores projetos e seu talento polemista, viu-se também quase sempre rejeitado à hora de
Cambridge, USA. Hoje em dia a Carta de Atenas é motivo e abominação por muitos urbanistas. realizar sua idéias. Conseguiu em seus últimos anos não só uma autoridade indiscutível, mas uma
clientela mundial que o disputava pondo a prova sua enorme capacidade de trabalho. Morreu aos
Ao nível de projeto uma de suas últimas concepções urbanísticas foi o plano de Saint-Dié (1945), setenta e oito anos de um ataque cardíaco, em 1965. Apesar de sua idade encontrava-se, como o
junto com outros com os quais se ocupou nos planos de reconstrução da França após a II Guerra provam as circunstancias de sua morte ( nadando no mar ), em plena altivez física e espiritual.
Mundial. Os edifícios se dispersam em forma de grandes unidades de altura, muito separadas, no
meio de uma paisagem natural. É a aplicação urbanística da “unidade modular”, tema que por uns
anos o obsessiona. 3.2.4. A ARQUITETURA ORGÂNICA: FRANK LLOYD WRIGHT

Em 1947 Le Corbusier pode finalmente iniciar um de seus grandiosos projetos, que neste caso não O novo estado de inquietude que surge na arquitetura no final dos anos 30 e que aparece como uma
vai ficar no papel : A Unidade Modular de Marselha ( Unité ), que terminará em 1953. O enorme bloco vaga e, às vezes, inconclusa reação contra o funcionalismo, muito freqüentemente não se declara e
conta com 330 apartamentos e sua população oscila em torno de 1600 habitantes. Planejou-se como inclusive esconde-se como um pecado. Os dogmas do racionalismo arquitetônico ainda influenciam
uma comunidade de trabalhadores, como realização de marcado sentido social. muito, e o prestigio dos sumo sacerdotes era muito grande. Por isso fazia falta um novo dogma, ou
pelo menos uma nova definição e um novo sacerdote. Ambas necessidades cobriu plenamente
Wright. Primeiro alcunhou um conceito, já meio esboçados por Sullivan, o da arquitetura orgânica, que
A Unité também dá um novo realce à questão da aplicação dos materiais. O concreto armado bruto, soava bem e que podia ser aceito sem desdouro por quem também não queria renegar a sua
sem revestimento – beton brut – sem o qual as suas obras seriam impensáveis, foi ganhando com modernidade e funcionalismo. Se não era funcional não podia ser moderno. Em 1939 proferiu
conferências no Royal Institute British Architects an Organic Architeture: the Architeture of Democracy.
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A partir de então todos manejamos este conceito, umas vezes para explicar determinados detalhes ou Em 1938 construiu em Scottsdale, Arizona, Taliesin West. No meio do campo, sob a estrutura
matizes de uma arquitetura e outras para resenhar uma etapa ou estilo. Por outra parte ninguém inclinada em asnas de madeira da sala de desenho, os estudantes de Taliesin estabeleciam quase
podia avantajar a Wright em suas funções sacerdotais, nem discutir sua categoria de arquimandrita que uma comunhão espiritual com o seu egocêntrico super-pai. Quem vive assim encara a cidade
da arquitetura americana. Os Gropius, os Mies, Preuer puderam varrer sem dificuldades os arquitetos com hostilidade. Frank escreveu sobre Chicago : "Era tão fria, tão negra, tão úmida!. A luz de um azul
que representavam o passado acadêmico ou eclético (varrer sua estética, não sua função esbranquiçado das lâmpadas dominava tudo. Eu tiritava." Em conformidade, projetava sobretudo para
profissional), mas nada poderiam fazer com a figura, erguida como um carvalho, do velho Wright, espaços livres.
maior que eles e de uma personalidade tão irredutível como vigorosa.
Frank projetou um modelo anti-urbano contra as metrópoles semelhantes a Nova Iorque : em "Usonia"
É relativamente fácil traçar as etapas decisivas da vida e obra de Wright. Em geral, cada vez que as pessoas deveriam viver todas como em Taliesen. Ao contrário da cidade-jardim européia, Usonia
sucede um acontecimento decisivo na sua vida, às vezes do tipo catastrófico, produz-se uma não parte da comunidade, mas sim da liberdade individual sobre a qual se baseia a sociedade
mudança substancial em sua obra. Wright, ao contrario de outros artistas cuja obra admiramos, mas americana.
cuja biografia carece de relevo ou interesse, é um homem de biografia, com uma vida rica e
contrastada, como um herói do renascimento. Terminada a primeira guerra mundial, Wright volta outra vez aos temas fantásticos, com preferência
pelo imaginativo com uma tendência muito destacada às formas circulares e ao desenvolvimento em
Nasce Wright em Richland Center (Wisconsin) em junho de 1869, filho de um pastor protestante que espiral. A obra prima deste período final é o Guggenheim Museun (1943/59) da cidade de Nova York,
abandona a família em 1883. Estuda na escola local e nunca teve uma formação acadêmica que lhe mas ao mesmo tempo surgem outros temas – que algumas vezes ficam em projetos – que
propiciasse uma abordagem teórica da arquitetura. Por motivos econômicos, pode apenas freqüentar completam o quadro vivíssimo de seus últimos anos de produção. Por exemplo, dos edifícios
um curso de desenho numa universidade estatal de terceira categoria no Wisconsin, que interrompeu religiosos, a sinagoga de Filadélfia e a igreja grega de Milwaukee.
para iniciar o seu trabalho. Na primavera de 1887 traslada-se à Chicago onde trabalha em vários
estúdios de arquitetos e finalmente no de Adler e Sullivan. Wright tem 18 anos e Sullivan 31 anos. Em 1959 aos 90 anos de idade morreu o maior e mais polemico dos arquitetos americanos depois de
Está o mestre empenhado no projeto do auditorium em Chicago. ter recebido os mais altos reconhecimentos de todo o mundo.

No ano de 1889 Wright se casa e constrói o seu lar em Oak Park. Enquanto pertence ao estúdio de
Adler e Sullivan começa a trabalhar clandestinamente até que, descoberto o fato, parte com Sullivan
em 1893. Esta data cancela a primeira etapa da vida do jovem arquiteto. Inaugura-se a Columbian
Exhibition, morre a escola de Chicago, partem Sullivan e Wright, este inaugura um estúdio próprio no
edifício Schiller, obra de seu mestre Sullivan.

Esta segunda etapa vai de 1893 a 1911. Durante os primeiros anos de trabalho lhe chovem
encomendas, tem êxito e bons protetores. Em Oak Park, onde tem sua própria casa, constrói
residências de luxo para particulares, muitas delas autenticas obras primas. Em 1895, e graças a um
bom contrato com a American Luxfer Prim Co., para a qual projeta um curioso edifício com uma
fachada precedente do muro cortina, pode construir um edifício para o seu próprio estúdio na mesma
casa de Oak Park. Este projeto do ano de 1895 é do maior interesse, com um certo tom
monumentalista.

Em uma linha parecida à do seu estúdio constrói em 1906 o templo unitário de Oak Park. Em 1909
viaja pela Europa para preparar uma edição de suas próprias obras. Acompanha-lhe Cheney, mulher
de um cliente para quem construiu uma casa em 1904. Abandona sua primeira mulher e vive com sua
amante em Florença até 1911, quando volta para os Estados Unidos. Começa a terceira etapa de sua
FRANK – MUSEU GUGGENNHEIM NY 1956-59
vida. Esta terceira etapa é dramática, tormentosa e difícil. Constrói a sua casa e estúdio em Spring
Green, Wisconsin. É o primeiro Taliesin, onde começa uma nova vida. Os clientes são escassos. No
O tema verdadeiramente desenvolvido pelo autodidata Frank, e ao qual dedicou toda a sua vida com
ambiente puritanos da sociedade americana a vida de Wright é motivo de escândalo. As encomendas
um fervor missionário, foi a arquitetura orgânica. "Um edifício só é orgânico quando o exterior e o
já não lhe chegam das famílias burguesas, mas de fontes muito variadas.
interior se estabelecem numa correspondência entre sí, quando ambos se harmonizam com o caráter
e a natureza da sua função, da sua realização, da sua localização, e do seu tempo de gênese."

No seu testamento Frank reconhece, com resignação : " A América é o único país que passou
diretamente do estado da barbárie ao da decadência.

3.3. ARQUITETURA RACIONAL X ORGÂNICA

A chamada arquitetura moderna racionalista surge justamente das novas necessidades da sociedade
industrial com uma nova estética, marcada pela eliminação dos dogmas da arquitetura ocidental do
século XIX, como a rigidez das formas e da imagem dos edifícios (ex.: simetria e ortogonalidade
obrigatórias), decorativismo (elementos escultóricos) e elementos simbólicos. Outra característica da
arquitetura moderna racionalista era seu propósito social de democratizar o acesso à arquitetura
através da redução dos custos, obtida pela simplificação e pela padronização de soluções, a chamada
FRANK – CASA CASCATA – PENSILVÂNIA 1935-39 "standardization" (uso de elementos repetitivos, muitas vezes industrializados, como portas e janelas,
por exemplo).

TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2 TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2
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As características básicas da arquitetura moderna racionalista podem ser assim resumidas:


• Simetria e ortogonalidade não obrigatórias, mas sem proibição de seu uso;
4- A IGNORÂNCIA DA ARQUITETURA – Bruno Zevi
• Eliminação do decorativismo;
O público interessa-se por pintura e música, por escultura e literatura, mas não por arquitetura.
• Eliminação do simbolismo;
• Todos os elementos arquitetônicos deveriam ter uma razão para existir, dentro da lógica
A arquitetura continua a ser a grande esquecida pela imprensa.
racionalista;
• Uso de estruturas independentes das paredes dos prédios (viabilizado pelos progressos nas A censura funciona para filmes e para literatura, mas não para evitar escândalos urbanísticos e
tecnologias de estruturas de concreto armado e metálicas), possibilitando a utilização de arquitetônicos, cujas conseqüências são bem mais graves e mais prolongadas que a publicação de
paredes de fechamento mais leves e flexíveis e paredes divisórias mais adequadas à planta um romance pornográfico.
dos edifícios, a chamada "planta livre";
• Uso de áreas envidraçadas maiores (também viabilizado pelos progressos nas tecnologias de Ninguém pode fechar os olhos diante das construções que constituem o palco da vida citadina e
estruturas), aproveitando melhor a insolação e ventilação naturais, com melhor controle de trazem a marca do homem no campo e na sua paisagem.
doenças contagiosas, originando as janelas contínuas e as fachadas cortina (totalmente
envidraçadas); Há dificuldades objetivas e incapacidade por parte dos arquitetos pela incompreensão da arquitetura,
• Volumes suspensos sobre pilares, os chamados "pilotis", deixando os térreos livres para pelo menos entre a maioria das pessoas cultas.
circulação de ar e integração com a paisagem;
• Adoção de vãos livres maiores (outro benefício dos progressos nas tecnologias de estruturas); O turista comum sente o dever de visitar, mas visita, no mesmo dia : uma igreja barroca, uma ruína
• Uso de elementos de forma curvilínea ou orgânica isolados (reservatórios de água circulares, romana, uma praça moderna. No dia seguinte, faz o mesmo.
paredes em forma de "S", piscinas em forma de ameba, etc.);
• Uso de elementos padronizados e repetitivos (esquadrias, por exemplo); É possível reunir na Europa quadros de um mesmo pintor, e revelar sua personalidade em grandes
• Relação direta da forma com a função (um hospital deve ter forma adequada a seu exposições. O mesmo com os músicos.
funcionamento) – vem daí a célebre frase do arquiteto francês Le Corbusier - "A forma vem
da função."; Isto não ocorre com a arquitetura.
• Unificação da composição das formas: o todo de um edifício deveria ser compreendido de
maneira única, mesmo que composto por vários volumes; O arquiteto profissional não tem hoje, em sua grande maioria, uma cultura que lhes permita entrar de
• Tentativa de adoção de um estilo único, independente da região ou país em que o edifício uma forma legítima, no debate histórico e crítico.
esteja sendo implantado, o chamado "international style" (estilo internacional).
Há, mesmo entre os bons profissionais, um desinteresse pelas obras autênticas do passado.
Paralelamente ao modernismo racionalista, surgia no início do século XX outra corrente modernista, o
chamado modernismo organicista, ou arquitetura moderna orgânica. Como o próprio nome indica, a Olhos que não viam a beleza das formas puristas não entendem as lições da arquitetura tradicional.
corrente organicista procurava nas linhas da natureza as formas para composição dos volumes e
imagens, e, mais importante, tentava integrar ao máximo possível o edifício à paisagem, sem A arquitetura moderna insere-se na cultura arquitetônica, propondo antes de tudo uma revisão crítica
contrapô-la, muito menos agredi-la. Em certo sentido, a corrente orgânica era uma mudança mais desta mesma cultura.
radical do que a corrente racionalista em relação à arquitetura do século XIX.
Quando formos capazes de adotar os mesmos critérios de avaliação para a arquitetura
Não havia oposição frontal entre as correntes mas, apesar de haver muitas características contemporânea e para a que foi edificada nos séculos anteriores, teremos dado um decisivo passo
semelhantes, como a eliminação do decorativismo e do simbolismo e a simplificação das linhas, em frente, na senda desta cultura:
certos aspectos da corrente racionalista não eram aceitos na corrente orgânica:
• Os edifícios deveriam ser assimétricos. A simetria não era aceita pois não existiria na 1- Nos volumes de caráter arqueológico histórico, acrescentem o capítulo sobre a arquitetura
natureza. Este aspecto é questionável, pois existe simetria tanto nos reinos vegetal como moderna e verifiquem se os conceitos críticos informadores continuam a ter validade.
animal;
• A ortogonalidade e as linhas retas deveriam ser evitadas, pois não existiam na natureza, 2- Façam o mesmo com as obras sobre arquitetura Moderna.
embora fosse difícil obedecer esta regra;
• A repetição dos elementos deveria ser evitada; Vejam se, em ambos os casos, o livro tem a capacidade de falar de interesses palpitantes a homens
• Composição dos volumes em planos independentes. Uma caixa deveria ser decomposta em vivos.
planos, que seriam remontados de maneira casual, como ocorre na natureza;
• O estilo internacional não seria possível, pois a arquitetura deveria adaptar-se às Os críticos de arte, hoje, deram um passo à frente. No entanto alem da aparência quantitativa, a
características de cada região. Neste aspecto ficou provado que os organicistas estavam substância é, muitas vezes, insatisfatória.
certos. Muitas obras racionalistas não tiveram sucesso por não respeitarem as características
locais (clima, topografia, cultura, materiais, etc.). Um dos defeitos característicos consiste no fato dos edifícios serem apreciados como se fossem
É importante lembrar que não havia uma linha demarcatória bem definida entre as correntes esculturas e pinturas, ou seja, externa e superficialmente, como simples fenômenos plásticos.
racionalista e organicista. Arquitetos de uma corrente, freqüentemente trafegavam pela outra,
dependendo das necessidades de cada projeto em particular, da fase das suas respectivas vidas Gritou-se aos 4 ventos que o conteúdo não tinha valor e, então, excluiu-se o conteúdo.
profissionais, e, porque não dizer, de seu próprio estado de espírito.
Há críticos que comparam a arquitetura Com outras artes : uma bailarina de degas com a galeria das
máquinas.

Um quadro de Mondrian com Mies Van der Rohe.

TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2 TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2
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Um urbanismo de le Corbousier com volutas.


A descoberta da perspectiva poderia levar os artistas do séc XV a acreditar que possuíam finalmente
Há dois fatos neste critério: as dimensões da arquitetura e o método de representa-las. Com a perspectiva foi possível a
representação adequada dos ambientes interiores e das vistas exteriores da arquitetura
1- Continua-se a usar conceitos da arte pictórica para a análise da arquitetura
Quando, no último decênio do séc XIX, a reprodução de fotografias se tornou comum, isto facilitou
2- A crítica e historia da arquitetura desta forma, não progridem. sua difusão em massa.

Se engenheiros continuarem a escrever histórias da arquitetura como se fossem histórias da No entanto, quando tudo parecia criticamente claro e tecnicamente alcançado, a mente humana
construção técnica, de que maneira o grande público poderá acompanhá-los? descobriu que, alem das 3 dimensões da perspectiva, existe uma quarta. E foi a revolução cubista do
período imediatamente anterior à guerra quem a revelou.
Por que razão o público deveria deter-se sobre a arquitetura E não se dirigir às fontes primordiais, ou
seja, à pintura e à escultura ? A realidade do objeto não se esgota nas 3 dimensões da perspectiva. O outro elemento é o
deslocamento sucessivo do angulo visual: o tempo, a quarta dimensão.
Se quisermos, de fato, saber ver a arquitetura, necessitamos de clareza de método.
Os cubistas não pararam por aí. Em cada fato corpóreo, alem da forma externa, existe o organismo
interno: alem da pele, existem os músculos e o esqueleto, a constituição interna. A conquista cubista
4.1. O ESPAÇO, PROTAGONISTA DA ARQUITETURA da quarta dimensão é de grande alcance histórico, independentemente da avaliação estética, positiva
ou negativa, que se pode fazer das pinturas cubistas
A falta de uma história da arquitetura que possa ser considerada satisfatória deriva da falta de hábito
da maior parte dos homens, de entender o espaço, e do insucesso dos historiadores e dos críticos Em arquitetura existe o mesmo elemento: tempo. Então, o problema pareceu mais uma vez
da arquitetura na aplicação e difusão de um método coerente para o estudo espacial dos edifícios. solucionado, assim como na descoberta da perspectiva.

O caráter essencial da arquitetura está no fato de agir com um vocabulário tridimensional que Mas o espaço arquitetônico não se esgota em 4 dimensões, pois em arquitetura o fenômeno é
inclui o homem. diferente que na pintura e escultura: aqui é o homem que, movendo-se mo edifício, estudando-o de
pontos de vista sucessivos cria, por assim dizer, a quarta dimensão, dá ao espaço sua realidade
A pintura atua sobre duas dimensões. integral.
A escultura sobre 3, mas o homem fica de fora.
A arquitetura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha. A quarta dimensão é suficiente para definir o volume arquitetônico, isto é, o invólucro mural que
encerra o espaço. Mas o espaço em sí – a essência da arquitetura – transcende os limites da quarta
Quando queremos construir uma casa, apresentamos uma perspectiva e uma vista exterior. dimensão.
Apresentamos plantas e cortes. Isto provem de nossa falta de educação espacial. E uma realidade
que ninguém vê a não ser no papel. As fachadas e as seções servem para medir as alturas, assim Então, quantas dimensões tem este "vazio" arquitetônico, o espaço? Cinco, dez? Talvez infinitas.
como as plantas os comprimentos e larguras. Mas a arquitetura não provem de um conjunto de Basta estabelecer que o espaço arquitetônico não pode ser definido nos termos das dimensões da
alturas, comprimentos e larguras dos elementos. Ela provem mais precisamente do vazio, do pintura e da escultura.
espaço encerrado, do espaço interior em que os homens andam e vivem, assim como a poesia é algo
mais do que um grupo de belos versos. Tendo chegado a este ponto, a pergunta "o que é arquitetura" já encontrou sua resposta. A definição
mais precisa que se pode dar atualmente da arquitetura é a que leva em conta o espaço interior. A
Quem quer se iniciar no estudo da arquitetura deve, antes de tudo, compreender que uma planta pode bela arquitetura será a arquitetura que tem um espaço interior que nos atrai, nos eleva, nos
ser abstratamente bela no papel, 4 fachadas podem parecer bem estudadas pelo equilíbrio dos cheios subjuga espiritualmente.
e dos vazios, o volume total do conjunto pode mesmo ser proporcionado, e no entanto o edifício pode
resultar arquitetonicamente pobre. Tudo o que não tem espaço interior, não é arquitetura dedica-se uma infinidade de pág, para
prospectos de edifícios, mas estes são esculturas, plástica em grande escala, e não arquitetura no
O espaço interior é o protagonista do fato arquitetônico. Saber vê-lo, constitui a chave que nos sentido espacial da palavra. Um obelisco, uma fonte podem ser obras-primas poéticas, mas não são
dará a compreensão dos edifícios. Continuaremos a usar indistintamente palavras como ritmo, escala, arquitetura.
etc, até darmos a eles um ponto de aplicação específico na realidade em que se concretiza a No entanto, deste conceito, podem surgir 2 grande equívocos :
arquitetura : o espaço.
1- Que a experiência espacial arquitetônica só é possível no interior do edifício
Para quem pretende ler Hamlet, seria absurdo deter-se nos detalhes da língua inglesa, deixando de 2- Que o espaço não somente é o protagonista da arquitetura, mas esgota a experiência
lado o motivo original e o seu objetivo último, que é reviver o poema trágico. arquitetônica.

O que é arquitetura? A experiência espacial própria da arquitetura prolonga-se na cidade, nas ruas e praças, onde
E, o que mais interessa agora, o que é a não-arquitetura? quer que a obra do homem haja limitado vazios, isto é, tenha criado espaços fechados. Uma auto–
estrada retilínea pode não ser uma experiência arquitetônica, mas é um espaço urbanístico
Já dissemos que 4 fachadas, por mais belas que sejam, constituem apenas a caixa dentro da qual
está encerrada a jóia arquitetônica. Por mais bela que sejam continua a ser invólucro. Então, os edifícios possuem dois espaços: os interiores, definidos perfeitamente pela obra
arquitetônica, e os exteriores ou urbanísticos, encerrado nesta obra e nas continuas
Em cada edifício, o continente é o invólucro mural e o conteúdo é o espaço interior. Existe uma
diferença nítida entre continente e conteúdo e, com grande freqüência, o invólucro mural foi objeto de Então, todos os temas que excluímos como arquitetura, entram em jogo na formação dos espaços
maiores preocupações e trabalho que o espaço arquitetura urbanísticos: o que interessa é a sua função como determinantes de um espaço fechado.

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Nesta conceituação magníficas obras de arquitetura podem limitar um péssimos espaço urbanístico, e
vice-versa. Conteúdo = vazio = espaço interior

O segundo equivoco é que ao dizer que o espaço interior é a essência da arquitetura, não significa Dimensão = tempo na arquitetura ⇒ homem movendo-se dentro do edifício
dizer que o valor de uma obra arquitetônica se esgota em seu valor espacial.
O que é arquitetura?
Se for certo que uma bela decoração nunca criará um espaço bonito, também é verdade que um É a obra que tem um espaço interior que nos atrai, nos eleva, nos subjuga
espaço satisfatório, quando não complementado por um tratamento adequado das paredes que o
encerram, não cria um ambiente artístico, pelo menos enquanto a decoração não for renovada. Possíveis equívocos :

Após um século de arquitetura predominantemente decorativa, baniu-se a decoração dos edifícios, 1- Experiência espacial só no interior do edifício?
insistindo na tese de que os únicos valores arquitetônicos legítimos são os volumétricos e espaciais. A Não, prolonga-se na cidade, nas ruas, nas praças
arquitetura racionalista voltou-se para os valores volumétricos, enquanto o movimento orgânico se
fixou nos espaciais. Passados 20 anos de nudismo arquitetônico, de desinfecção decorativa, a Então, tudo o que excluímos como arquitetura, compõe o espaço urbano
decoração está entrando de novo na arquitetura, e é justo que assim seja.
Conclusão :
Se a decoração tem importância, se a escultura e a pintura, excluídas inicialmente voltam ao campo É possível lindas obras arquitetônicas, mas péssimo espaço urbano
da arquitetura para que serviu todo este discurso? Ou vice-versa

Foi não só para descobrir novas idéias, mas apenas para ordenar e orientar as idéias que existem e 2- Valor da arquitetura Não se esgota no espaço interior
que todos pressentem. De que forma isto acontece? Não indistintamente, como se poderia julgar.
Relacionam-se na equação arquitetônica, nos lugares de substantivos e adjetivos. Equação arquitetônica = julgamento arquitetônico

A historia da arquitetura e, antes de tudo, a historia das concepções espaciais. O julgamento a- Espaço interior negativo = edificação não é arquitetura, mesmo com boa decoração
arquitetônico é fundamentalmente um julgamento sobre o espaço interior dos edifícios. Se ele não b- Espaço interior pos = é arquitetura, mesmo com má decoração
pode ser expresso pela falta de espaço interno, como o arco de Tito, a coluna e Trajano, passa a
integrar, como conjunto volumétrico, a historia do urbanismo. Quando espaço interior e decoração são positivos, temos as grandes obras

Se o julgamento sobre o espaço interior for negativo, o edifício faz parte da não-arquitetura, ou da má
arquitetura mesmo que, mais tarde os seus elementos decorativos possam ser abrangidos pela Conclusão :
história escultórica.
É o espaço interior, arquitetônico ou urbanístico, que vale
Se o julgamento sobre o espaço de um edifício for positivo, este entra na história da arquitetura
mesmo que a decoração seja ineficaz. O vazio é o protagonista da arquitetura, pois é nele que vivemos nossa vida

Quando, por fim o julgamento sobre a concepção espacial de um edifício, sobre sua volumetria e
seus prolongamentos decorativos, for positivo, encontramo-nos então junto das grandes e
4.3. A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO
integras obras
Em 1475, Gutenberg gravou em pedacinhos de madeira as letras do alfabeto, justapôs e formou
Concluindo: se pudermos encontrar arquitetura nas contribuições de outras artes, é o espaço interior,
palavras linhas, etc. Assim, abriu caminho para as que as obras poéticas deixassem de ser
o espaço que nos rodeia e nos inclui, que dá o lá no julgamento sobre se um edifício, está catalogado
propriedade e instrumento de uma classe restrita de intelectuais, e chegasse às classes populares
com sim ou o não em todas as sentenças estéticas sobre arquitetura
Em 1839 Daguerre inventou a fotografia. As experiências visuais, humanas e artísticas deixaram de
O fato de o espaço, o vazio, ser o protagonista da arquitetura é, no fundo, natural, porque a
ser exclusivas das poucas pessoas que podiam pagar a um pintor, e passaram ao plano coletivo.
arquitetura não é apenas arte e nem só imagem da vida histórica ou da vida vivida por nós e pelos
outros :
Em 1877 Edison registrou, pela primeira vez, sons. A música difundiu-se pelo rádio e pelos
fonógrafos.
É, também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida.
Neste contínuo progresso científico, a arquitetura mantém-se isolada e só. O problema da
representação do espaço, longe e ter sido resolvido, ainda nem foi colocado. Por não termos até
4.2. SÍNTESE agora a definição exata da consistência e do caráter do espaço arquitetônico, faltou à exigência de
representa-lo e difundi-lo. O método de representação ainda é: plantas, elevações e cortes, fotografias
Homem = falta de hábito e entender o espaço
Se não existe uma maneira satisfatória de representar as concepções espaciais há, sem dúvida, uma
Arquitetura = caráter tridimensional problemática dos meios que possuímos. Vamos discutí-los:
Apresentamos mal ⇒ plantas, perspectivas, etc Plantas :
Espaço interior = protagonista da arquitetura São uma coisa abstrata porque estão completamente fora de todas as concretas experiências visuais
de um edifício. Mas, ainda hoje, são um dos meios fundamentais da representação arquitetônica.
Fachadas = casca = invólucro
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Tenhamos como exemplo a planimetria feita por Michelangelo Buonarroti, da basílica de São Pedro, Ela é completamente satisfatória? Não diríamos tal coisa: a modelagem revela-se muito útil, deveria
em Roma. Olhando a planta, nenhuma pessoa de bom senso poderá dizer que esta é a melhor ser amplamente aplicada no ensino da arquitetura, mas não pode satisfazer plenamente, porque
representação da concepção espacial de Buonarroti para um jovem que se inicie no estudo da omite um fator-chave de toda a concepção espacial: o parâmetro humano.
arquitetura.
O caráter de toda obra arquitetônica é determinado, quer no espaço interior, quer na volumetria das
Na planta, existe uma ostentação de detalhes, que confunde neste primeiro momento crítico, paredes, por um elemento fundamental, a escala, isto é, a relação entre as dimensões do edifício e as
em que todo o esforço é dedicado à ilustração da essência espacial da arquitetura. dimensões do homem.

Na didática literária, dedica-se considerável parte do trabalho à simplificação da matéria, enquanto a


didática arquitetônica, dirigida ao grande público, ainda ignora, em grande parte, o problema Fotografias

Antes e representar uma tragédia, os gregos ouviam seu argumento resumido num prólogo, e A fotografia cumpre a importante missão de reproduzir fielmente tudo o que existe de bi e
acompanhavam, assim, o desenrolar da ação. tridimensional na arquitetura, ou seja, todo o edifício, menos a sua essência espacial.

Na educação arquitetônica, a síntese antecede à análise, a estrutura antecede aos acabamentos, o Se, como já esclarecemos, o caráter primordial da arquitetura é o espaço interior, e se o seu valor
espaço às decorações. Para propor a um leigo a compreensão de uma planta de Michelangelo, o deriva do viver sucessivamente todas as suas etapas espaciais, é evidente que nem uma, nem cem
processo crítico, deve ser feito no mesmo sentido em que Michelangelo desenvolveu sua criação. fotografias poderão esgotar a representação de um edifício.

No modelo tradicional, as paredes pintadas de preto separam o espaço exterior ou urbanístico do A fotografia tem muitas vantagens em relação às maquetes porque (sobretudo se compreende uma
espaço interior, mais propriamente arquitetônico. O importante, a essência da arquitetura, não é o figura humana), dá o sentido da escala ao edifício: por outro lado, tem a desvantagem de nunca
limite posto à liberdade espacial, mas esta liberdade delimitada, definida e potencializada entre as representar, nem mesmo com as vistas aéreas, o conjunto completo do edifício
paredes. Na representação tradicional em planta, não se representa o "vazio" por onde a visão se
espraia e na qual se exprime o valor da criação de Michelangelo. Se percorrermos um edifício com uma filmadora e, em seguida, projetarmos o filme, reviveremos os
nossos passos e uma grande parte da experiência espacial que os acompanhou.
Michelangelo não concebeu, separadamente, primeiro o interior e depois o exterior da basílica: ele
criou todo o conjunto de São Pedro ao mesmo tempo. Quando a história da arquitetura for ensinada mais com o cinema do que com os livros, a
tarefa da educação espacial das massas será amplamente facilitada.
Nas obras edificadas por camadas sucessivas, em épocas diferentes, e por vários arquitetos, onde
um tenha criado o interior, outro as fachadas, aceita-se as diferenças. Mas nas concepções unitárias Plantas, fachadas e seções, maquetes e fotografias, cinematografia : eis os nossos meios para
existe uma coerência, uma interdependência e diria mesmo quase uma identidade entre espaço representar os espaços.
interior e volumetria – por sua vez, fator do espaço urbanístico – criados e definidos simultaneamente
por uma mesma aspiração, um mesmo tema, um mesmo artista. A arquitetura., como já concluímos anteriormente, tem dimensões que ultrapassam as 4. A
cinematografia representará um, dois, três caminhos possíveis do observador no espaço, mas este se
Nas criticas da obra da basílica, um autor poderá realçar a forma em cruz da igreja, outro julgará apreende através de caminhos infinitos.
oportuno sublinhar a predominância arquitetônica da cúpula central, um terceiro dará maior valor às 4
cúpulas e às abóbadas. Cada uma destas interpretações exprime um elemento real do espaço Existe um elemento físico e dinâmico na criação e na apreensão da quarta dimensão com o próprio
desejado por Michelangelo, mas cada uma dela é insuficiente. caminho; é a diferença que existe entre dançar e ver dançar, entre amar e ler romances de amor.
Falta, na representação fotográfica, este impulso de participação completa
Mesmo que ninguém consiga encontrar um método para exprimir adequadamente em planta uma
concepção espacial, poder-se-á ensinar a compreender o espaço, a saber ver a arquitetura. Onde quer que exista uma perfeita experiência espacial a viver, nenhuma representação é suficiente.
Precisamos nós mesmos ir, ser incluídos, tornarmo-nos e sentirmo-nos parte e medida do conjunto
arquitetônico. Devemos nós mesmos nos mover. Todo o resto é didaticamente útil, praticamente
Fachadas necessário, intelectualmente fecundo, mas é mera alusão e função preparatória dessa hora em que,
todos nós, seres físicos, espirituais e sobretudo humanos, vivemos os espaços com uma adesão
O raciocínio que se desenvolveu em relação às plantas repete-se, simplificado, para as elevações. Se integral e orgânica.
percorrermos os livros de arquitetura, encontraremos descrições do método linear. Pode-se imaginar
um método menos pensado e mais contradizente? Será esta a hora da arquitetura.

Vamos caindo na moda de uma grafia abstrata, decididamente antiarquitetônica. Aliás, visto tratar-se
de um problema essencialmente escultórico, tal representação equivaleria à que, para reproduzir uma
estátua, colocássemos em destaque linear apenas os seus contornos.

Quando depois passamos a um edifício cuja estrutura não está encerrada dentro de uma forma
simples, esse método de representação é simplesmente ridículo: nem um leigo, e nem mesmo o
arquiteto mais habituado a ler um desenho de imagem de uma concepção arquitetônica, poderia
compreender, por esse prospecto, como é feita, por exemplo, a casa da cascata (falling water)

Cada vez que este invólucro sugere temas predominantemente volumétricos, a técnica representativa
deve ser substancialmente diferente. A justaposição e a interpenetração dos volumes nos fornecem
os instrumentos necessários para esta representação.
TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2 TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2
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5- AS VÁRIAS IDADES DO ESPAÇO 5- Análise da escala


A arquitetura corresponde às exigências da natureza tão diferentes que descrever adequadamente o São as relações dimensionais do edifício relativamente ao parâmetro humano
seu desenvolvimento significa entender a própria história da civilização. Há diferentes concepções
espaciais e é a história e apreciação dos valores artísticos, isto é, das personalidades criadoras que,
com base naquela cultura espacial ou naquele gosto arquitetônico, que produziram obras-primas. Na análise clássica da critica volumétrica e plástica dos monumentos, o que falta e a educação
espacial, livre de mitos e protecionismos culturais, francamente atrevida. A critica arquitônica precisa
No processo histórico-artístico há pressupostos a serem considerados, que veremos a seguir: de uma declaração de independência dos tabus monumentais e arquitetulógicos.

Por isto é preferível para o nosso objetivo traçar um arco, ainda que unilateral e apenas superficial,
1- Pressupostos sociais : das idades espaciais, da antiguidade até nossos dias, em vez de acrescentar mais uma monografia
crítica particular que deixaria de solucionar a questão sobre a validade geral da interpretação espacial
Todos os edifícios são resultados de um programa construtivo. Este se fundamenta na situação aqui difundida
econômica do país e dos indivíduos que promovem as construções, e no sistema de vida, nas
relações de classe e nos costumes que delas derivam
5.1. A ESCALA HUMANA DOS GREGOS

2- Pressupostos intelectuais : O templo grego caracteriza-se por uma enorme lacuna e uma supremacia incontestada através de
toda a historia.
Incluem não só aquilo que são a coletividade e o indivíduo, mas também o que querem ser
A lacuna consiste na ignorância do espaço interior,

3- Pressupostos técnicos : A glória na escala humana.


O progresso das ciências e das suas aplicações no artesanato e na indústria Se, em todos os tempos da critica arquitetônica grega encontramos frente a frente exaltadores e
detratores do templo grego, é porque uns consideraram a negação do espaço, e outros a exaltação da
escala humana
4- O mundo figurativo e estético :
Quem investigar arquitetonicamente o templo grego buscando, sobretudo uma concepção espacial
O conjunto das concepções e interpretações da arte e o vocabulário figurativo que, em cada época, fugirá horrorizado, assinalando-o ameaçadoramente como exemplar típico de não-arquitetura. Mas
forma a língua de onde os poetas extraem palavras e frases para exprimir, em linguagem individual, quem se aproxima do Partenon e o admira como uma grande escultura, fica encantado como só
as suas criações acontece diante e pouquíssimas obras do gênero humano.

Todos estes fatores, analisados no conjunto de suas relações variáveis, apresentam a cena sobre a Os elementos construtivos do templo grego são, como é sabido, uma plataforma elevada, uma série
qual nasce a arquitetura. São sempre os produtos da coexistência e do equilíbrio de todos os de colunas apoiadas sobre ela e um entablamento continuo que sustenta o teto. O espaço interior,
componentes de civilização em que surgem nunca foi pensado, do ponto de vista criativo, porque não respondia às funções e interesses sociais

A critica dos monumentos também pode articular-se esquematicamente na seguinte classificação O templo grego não era concebido como a casa dos fiéis, mas como a morada impenetrável
aproximativa: dos deuses. Os ritos realizavam-se do lado de fora, ao redor do templo.

A força motriz da pregação cristã (introspecção), e que teve a sua primeira manifestação arquitetônica
1- Análise urbanística : nos obscuros silêncios das catacumbas, estava longe do pensamento grego. A civilização grega se
exprimiu ao ar livre, fora dos espaços interiores e das habitações humanas, fora mesmo dos templos
Isto é, a história dos espaços exteriores em que surge o monumento e que ele contribui para criar divinos, nos recintos sagrados, nas acrópoles, nos teatros descobertos. A historia da arquitetura das
acrópoles é essencialmente uma historia urbanística

2- Análise arquitetônica : Toda a arquitetura responde a um programa construtivo e, nas épocas ecléticas, quando falta
inspiração original, os arquitetos vão buscar nas formas do passado os temas que servem, funcional
É a historia da concepção espacial ou simbolicamente, para as suas construções.

Recorreu-se a arquitetura helênica nos grandes temas monumentais e nos elementos decorativos, em
3- Análise volumétrica: problemas de superfície plástica e volumétrica, nunca de arquitetura. Feitas algumas exceções
neoclássicas, as repetições e as cópias espalhadas por todo o mundo constituem tristes
é o estudo do invólucro mural que contem o espaço mascaramentos de invólucros murais que encerram espaços interiores e conservam, por isto, todas
as características negativas da arquitetura grega carecendo, porem, ao mesmo tempo, da qualidade
de escala humana que os monumentos originais possuíam.
4- Análise dos elementos decorativos:

Da escultura e da pintura aplicadas a arquitetura e sobretudo aos seus volumes


TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2 TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2
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Podemos notar mais este fato: no templo grego, o homem caminha apenas no peristilo, isto é, O tema basilical exalta-se e exaspera-se no período bizantino. O problema do arquiteto bizantino não
no corredor que vai da colunata à parede exterior da cela. é de caráter estrutural, mas limita-se a introduzir no esquema longitudinal paleocristão a urgência de
uma aceleração

5.2- O ESPAÇO ESTÁTICO DA ANTIGA ROMA Como na basílica longitudinal se negam as relações verticais e se exaspera o ritmo diretor até uma
velocidade alucinante, assim nos edifícios de planta cêntrica, o espaço é dilatado até as fluências
O Partenon é obra não arquitetônica, mas nem por isto deixa de ser obra-prima artística. Muitos mais velozes e às tensas distancias. O que dizer do espaço dilatado? Partindo de dois pontos fixos do
edifícios romanos não eram obras de arte, mas nunca podermos afirmar que não eram arquitetura. O ambiente principal, a superfície mural foge do centro do edifício, lança-se elasticamente para o
espaço interior está presente de maneira grandiosa e se os romanos não tinham o sensível requinte exterior num movimento centrifugo que abre, rarefaz e dilata o espaço interior.
dos escultores-arquitetos gregos, tinham o gênio dos construtores-arquitetos que é, no fundo, o
gênio da arquitetura. No terreno crítico dos resultados arquitetônicos, deve ser reconhecido que a dilatação dos espaços
romanos, por mais ampla e tecnicamente corajosa que seja, encontra o seu limite na manifesta
Deve-se repudiar como insensata a posição crítica de alguns tratados estrangeiros em que a robustez das suas estruturas murais
arquitetura romana é definida como filha ou escrava da grega. A pluriformidade do programa romano
no que diz respeito á construção, está ausente da construção grega. Para quem quiser confrontar o espaço paleocristão (primeiros cristãos) com o bizantino, é fácil
demonstrar que existe entre eles não só diversidade, mas oposição. É uma mensagem nova cuja voz
Se colocarmos lado a lado as plantas de um templo grego e de uma basílica romana, o que será ouvida nos séculos seguintes, no XI e XII, e o seu eco será sentido em toda a arquitetura oriental
verificamos? Fundamentalmente os romanos tomaram as colunatas que cingem o templo grego e as e, sobretudo, na arquitetura russa, que, em pleno século XV, procurará resistir até mesmo ao
transportaram para o interior. A civilização grega conheceu poucas colunatas interiores, mas onde humanismo italiano
existem, elas respondem às necessidades construtivas de sustentar as traves de cobertura, e não a
uma concepção espacial interior. Em Roma, ao lado da necessidade técnica, que se tornou mais
precisa devido à escala monumental da arquitetura imperial, surge o tema social basílica 5.5- A BARBÁRICA INTERRUPÇÃO DOS RITMOS

Roma, no domínio de outras terras, absorve a arquitetura das terras conquistadas Numa resenha tão esquemática e incompleta seria legitimo passar do bizantinismo para o românico,
ignorando os três séculos, entre VIII e X. Estes séculos, na crônica factual são séculos bárbaros,
O caráter fundamental do espaço romano é ser pensado estaticamente. Impera nos ambientes cheios de invasões, lutas e ditaduras, são vistos na historia da arquitetura como produtores de
circulares e retangulares a simetria, a autonomia absoluta quanto aos ambientes contíguos, monumentos aparentemente toscos, vulgares. No entanto, nestes séculos descobrimos a origem e o
sublinhada pelos espessos muros que os separam presságio da arquitetura românica, a intuição das concepções espaciais dos séculos XI e XII que
constituem o primeiro renascimento da arquitetura européia
Fundamentalmente a arquitetura romana exprime uma afirmação de autoridade, é o símbolo que
domina a multidão de cidadãos e anuncia que o império existe, e é potencia e razão de toda a Os elementos que formam a originalidade da produção desses séculos são:
vida. A escala da arquitetura romana é a escala deste mito. Não é e não quer ser a escala do homem 1- A elevação do presbitério (capela-mor)
2- O ambulacro ou deambulatório (galeria que circunda o altar-mor)
O estilo romano serve hoje para os interiores de grandes bancos americanos, para as imensas salas 3- O engrossamento das paredes
de mármore das estações ferroviárias, em obras que impressionam pela grandeza e pelas 4- O gosto pelo material bruto, ladrilhos, pedras ásperas, calhaus (seixos)
dimensões, mas não comovem pela inspiração. São obras quase sempre frias, onde não nos
sentimos em nossa casa. O que significam essas inovações, em se tratando de espaço?
1- Elevar o presbitério significa interromper o comprimento do ambiente
2- Introduzir o ambulacro que dizer, articular o edifício, torna-lo um organismo mais complexo
5.3- A DIRETRIZ HUMANA DO ESPAÇO CRISTÃO em detrimento de uma visão espacial unitária
3- Injetar no invólucro mural o sentido de peso, de uma gravidade dominante, e substituir o
Os cristãos reuniram na igreja a escala humana dos gregos e a consciência do espaço interior manto superficial do cromatismo bizantino por materiais brutos e naturais implica a inversão
romano. Em nome do homem, produziram uma revolução funcional no espaço latino da intenção espacial e dos adjetivos decorativos.

A igreja cristã não é o espaço misterioso que guarda um deus, mas o lugar de reunião, de comunhão Da influencia dilatadora e da velocidade direcional do oriente volta-se para o sentido sólido e
e de oração dos fiéis. É lógico que os cristãos se inspiraram na basílica, mas mudaram a sua construtivo da tradição latina
concepção.
Quando pilares, até agora puramente desenhados, conjugando a ressuscitada técnica das abóbadas
A revolução espacial consistiu em ordenar todos os elementos da igreja na linha do caminho em cruz, adquirirem nova fé em sí próprios e se destacarem da parede para formar o conjunto
humano. Ao compararmos uma basílica romana a uma das primeiras igrejas cristãs, encontramos estrutural, então a idade românica terá surgido
relativamente poucos elementos de diferenciação, alem da escala.

Os gregos haviam alcançado a escala humana numa relação estática de proporção entre coluna e 5.6- A MÉTRICA ROMÂNICA
estatura do homem, mas a humanidade do mundo cristão aceita e glorifica o caráter dinâmico do
homem, orientando todo o edifício segundo o seu caminho, construindo e encerrando o espaço ao Na segunda metade do século XI e ao surgir do século XII a arquitetura românica institui, depois do
longo de seu caminhar final do império romano, o primeiro período em que a civilização de toda a Europa se agita
sincronicamente em nome de uma mesma renovação do conjunto arquitetônico

5.4- A ACELERAÇÃO DIRECIONAL E A DILATAÇÃO DE BIZÂNCIO Quando se chega ao românico, não se trata já apenas de uma idade espacial, estamos diante e um
autentico terremoto orgânico que, depois de ter voltado a propor criticamente nos 3 séculos

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anteriores, todos os problemas da arquitetura paleocristã e bizantina, destroça esta arquitetura,


criando algo de integralmente distinto Há, contudo, outro significado da escala que diz respeito não às relações de proporção entre o edifício
e o homem, mas às proporções do edifício em si, relativamente ao homem. Toda a arquitetura
Até agora, a igreja cristã, se quisermos reconstruí-la plasticamente com uma maquete de papel ocidental até o românico exprimiu essas proporções de duas maneiras :
cartão, é uma estrutura extremamente simples : bastam poucos retângulos para formar paredes,
vertentes do telhado, pavimento e o lugar normalmente reservado para as mulheres. 1. Com o equilíbrio das diretrizes visuais. O equilíbrio perfeito encontra-se nos templos gregos e
nos edifícios de esquema central da cristandade.
Basta uma única maquete para todas as basílicas longitudinais cristãs até o românico. Esta maquete, 2. Com a predominância de uma diretriz. Encontramos a predominância de uma diretriz nos
com um sopro de vento cairá, por ser composta de planos de papel-cartão justapostos entre sí, sem templos egípcios de Karnak ou de Luxor (diretriz horizontal), ou então na basílica bizantina
encaixe. (diretriz horizontal)

Já na igreja românica, o conjunto estrutural, os fios de ferro que, cravados no solo se levantam até No gótico, coexistem e constatam numa antítese silenciosa mas aguda, duas diretrizes : a
o teto, atravessam diagonalmente as arcadas e voltam ao solo, não caem com um sopro de vento vertical e a longitudinal tratam-se da relação entre o retângulo de seção e o retângulo de planta e,
porque seus elementos estão estreitamente ligados. apenas em segundo lugar, da relação entre esses dois retângulos e o homem.

Estamos diante de um conjunto românico caracterizado por dois fatos: Se confrontarmos o gótico italiano, francês e inglês, verificamos que o contraste se acentua à medida
que se sobe em direção ao norte. A arquitetura gótica inglesa apresenta uma qualidade
1- A concatenação de todos os elementos do edifício absolutamente moderna, que designamos pelo nome orgânica: a da expansão, da possibilidade de
2- A métrica espacial crescimento, da articulação dos edifícios.

No que diz respeito à primeira característica, pode-se dizer que a arquitetura deixa de agir em termos Enquanto a catedral de Milão ou Notre-Dame são construções isoladas, as catedrais inglesas
de superfícies, de pele, e se exprime em termos de estruturas e ossaturas. A civilização barbárica conjugam-se com uma série de outras construções, prolongam-se nelas e as dominam.
e primitiva dos séculos VIII a X havia arrancado as vestes bizantinas, desnudando a máscula rudeza
do corpo estrutural. Agora o corpo torna-se organismo, toma consciência da sua unidade e da sua A característica narrativa da arquitetura e do urbanismo medieval vive um único valor, uma única
circulação. Numa palavra, move-se. beleza – a do conjunto : em que nada se pode eliminar nem acrescentar

Na métrica, o significado substancial da contribuição românica está no fato de não mais se falar em
termos bidimensionais. Mas de uma unidade de arcadas tridimensionais em si mesmas, 5.8. AS LEIS E AS MEDIDAS DO ESPAÇO DO SÉCULO XV
englobando o espaço interior dentro de sí
Com o gótico encerra-se o primeiro volume dos manuais de historia da arte: com o
Se : renascimento, abre-se o segundo. A renascença foi, durante longo tempo, objeto de dois
1- Na igreja paleocristã o passo do homem era uniformemente cadenciado preconceitos antitéticos :
2- Deslizante na bizantina 1. O primeiro queria apresenta-la como uma novidade absoluta em relação ao período
3- Nas catedrais românicas de toda a Europa, o caminho do homem responde às solicitações precedente e era, por isso, incapaz de lhe conferir uma historicidade
psicológicas muito mais complexas do que uma diretriz unívoca 2. O segundo queria reduzi-la a um neo, a um retorno da arquitetura romana, retirando-lhe todos
os predicados de vitalidade criadora.

5.7. OS CONTRASTES DIMENSIONAIS E A CONTINUIDADE DO GÓTICO Qual o elemento novo que aparece imediatamente na arquitetura do século XV? Busca-se uma
ordem, uma lei, uma disciplina contra a incomensurabilidade, a infinitude, a dispersão do espaço
Entre os equívocos mais definidos existe aquele segundo o qual o gótico seria um simples derivado gótico, e a casualidade do românico. Quando se entra nas basílicas de San Lorenzo e de Santo
do românico, ou melhor, constituiria seu amadurecimento, o ponto de chegada que o arquiteto do séc. Spirito, mede-se, em poucos segundos de observação, todo o espaço, e possui-se facilmente sua lei.
XII pretendia atingir. O equivoco baseia-se na confusão filosófica entre progresso técnico e suposto
progresso artístico e, o que é pior criticamente, na indiferença em relação ao espaço interior e à Trata-se de uma inovação radical do ponto de vista psicológico e espiritual : até agora o espaço do
escala dos edifícios edifício havia determinado o tempo da caminhada do homem, conduzido sua vista ao longo das
diretrizes desejadas pelo arquiteto; com Brunelleschi, pela primeira vez, já não é o edifício que
O conjunto românico torna-se mais leve e se estende e, nos três séculos seguintes, mesmo em pleno possui o homem, mas este que, aprendendo a lei simples do espaço, possui o segredo do
séc XVI, na França, na Inglaterra e na Alemanha, alcança o paroxismo da tensão, um feixe de ossos, edifício
fibras e músculos, um esqueleto construtivo coberto de cartilagem imaterial.
A grande conquista italiana do século XV é levar o mesmo sentido que vive no templo para o campo
Existe um tema espacial que distingue a arquitetura gótica da românica. É o contraste das dos espaços interiores, e mais precisamente traduzir em termos de espaço a métrica que no período
forças dimensionais. Pela primeira vez na historia da arquitetura, os artistas concebem espaços que românico e gótico fora eminentemente planimétrica.
estão em antítese polemica com a escala humana e que produzem no observador não uma clama
contemplação, mas um estado de espírito de desequilíbrio, de afetos e solicitações contraditórios, de A renascença foi o berço da mais ousada experiência moderna. Nossa tolerância liberal em
luta. relação a tudo que, atuando sobre o homem, o domina e o oprime, nossa recusa contemporânea da
arquitetura monumental, a premissa social da cidade do homem, da casa pensada segundo as
Já mencionamos a escala humana em oposição á escala monumental, sabemos distinguir um edifício exigências materiais, psicológicas e religiosas do cidadão moderno ; toda essa nossa atitude sempre
concebido e construído para o homem de um edifício-simbolo, construído para representar uma idéia, existente, orgânica e espiritual, encontra um fundamento na arquitetura do século XV, exatamente
um mito que impressione, se oponha, domine o homem. Até aqui estabelecemos uma diferença de porque então se lançam as bases do pensamento moderno na construção, segundo o qual é o
ordem quantitativa e psicológica, deixando claro que todo edifício é qualificado pela relação existente homem que dita leis ao edifício, e não o contrario
entre as suas dimensões e as do homem

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A luz desta exigência intelectual, era natural que os arquitetos do século XV revissem todos os O movimento e a interpenetração no espaço barroco.
esquemas distributivos tradicionais. Para controlar inteiramente o espaço, para tornar unitária a
concepção arquitetônica. Brunelleschi sentiu a necessidade de negar ao máximo o eixo longitudinal e Michelangelo não inicia o período barroco, como ainda repetem tantos manuais de história da arte.
de criar uma circularidade ao redor da cúpula. Os outros elementos originais da arquitetura do século Michelangelo escultor não pode abandonar o espaço quinhentista em nome de um novo tema, mas o
XV justificam-se sobretudo em nome das mesmas exigências espaciais. alterou, subverteu-lhe, no maior drama da história arquitetônica: nos volumes e paredes.
Colocado em crise o invólucro mural, o artista deteve-se. Mas havia aberto caminho para o espaço
A tentativa paleocristã e bizantina havia sido levar uma dinâmica até mesmo aos edifícios cêntricos; barroco.
agora encontramos exatamente o inverso, isto é, o programa de controlar racionalmente toda energia
dinâmica inserida nos eixos O barroco é a liberação espacial. É a libertação mental das regras dos tratadistas, das
convenções, da geometria elementar e da estaticidade, é libertação a simetria e da antítese entre
No trabalho mural encontramos o mesmo programa. Todos os fatores decorativos de dispersão espaços interior e exterior. Não utilizamos a palavra "barroco" no sentido genérico de revolta moral,
medieval, começando pelo cromatismo, são abolidos ; a bicromia dos edifícios de Brunelleschi, mas no propriamente arquitetônico, isto é, espacial.
comparada com a riquíssima paleta pictórica das superfícies do séc XV, foi polemica e mordaz
como a abolição da decoração por parte do funcionalismo em relação à ornamentação Onde por muito tempo a critica, e ainda agora vastos setores da opinião pública se detém, é
arquitetônica do século XIX exatamente quando o barroco não se limita a comentar com novo gosto esquemas antigos, mas cria
uma nova concepção espacial, isto é, precisamente quando é maior.
Os palácios medievais apresentam superfícies não trabalhadas em que as janelas são fatos casuais,
inseridas sem ordem compositiva. Eis que Albeti, com o Palazzo Rucellai, divide e mede a O movimento do espaço barroco nada tem em comum com o dinamismo gótico. Este vivia o
superfície volumétrica com pilares, e a ritma segundo módulos simples. O que Brunelleschi fez nos contraste entre duas diretrizes visuais e bidimensionalmente, isto é, com relação ao invólucro
espaços interiores, Alberti efetuou nas superfícies arquitetônico, valia-se de indicações de perspectivas afirmadas através do jogo linear. Mas o
dinamismo barroco segue toda experiência plástica e volumétrica do séc XVI : recusa seus ideais,
É esta a detestada decoração aplicada? Certamente. Trata-se de uma decoração aplicada que, se mas não os instrumentos. Uma linha gótica obriga a vista a deslizar sobre a superfície e por isso tira
nos plagiários se tornou inércia de academismo. No século XV respondeu ao tema espacial da época, solidez ao muro; no barroco, entretanto, todo o muro se ondula e dobra para criar um novo
e concluiu nas paredes uma inspiração realizada na construção de vazios, foi um ato de profunda espaço. O movimento barroco não é conquista espacial, é um conquistar espacial na medida em que
coerência e por isso de intima validade cultural e artística. representa espaço, volumetria e elementos decorativos em ação

5.9- VOLUMETRIA E PLÁSTICA DO SÉCULO XVI 5.10- O ESPAÇO URBANÍSTICO DO SÉC XIX
Os temas espaciais fundamentais inaugurados no séc XV prolongam-se no séc. Seguinte. Os Após o final da época barroca, encontramos o período neoclássico e o ecletismo do séc. XIX, com
motivos culturais e arqueológicos predominam em termos ideológicos no séc XVI. todos os seus numerosos revivals, em que o mais deteriorado romantismo literário se casa com a
ciência arqueológica. Do ponto de vista dos espaços interiores, o séc XIX apresenta variações
Para o que diz respeito aos temas espaciais, o séc XVI desenvolve a aspiração cêntrica do séc XV, a de gosto, mas nunca novas concepções. É uma época de mediocridade inventiva e de esterilidade
visão do espaço absoluto, facilmente perceptível de todos os ângulos visuais, exprimindo-se em poética.
equilíbrios eurrítmicos (regularidade entre as partes de um todo) de proporção.
A pequena villa burguesa, um dos pontos principais do programa arquitetônico do final do ê XIX
O Tempietto, que inaugura o séc XVI é um pouco o Partenon da época e, como tal, possui todos os e do começo do séc XX, representa em sua generalidade a falência total do espaço interior e por
efeitos e qualidades da obra prima helênica. Mas a analogia entre a Grécia e o séc XVI não vai alem isto da arquitetura.
deste comum ideal formal, uma vez que o programa arquitetônico do séc XVI impõe os espaços
interiores. A verdadeira redenção do séc XIX realiza-se nos espaços exteriores, isto é, na urbanística. O séc
XIX defronta-se com problemas do espaço urbano, irrompe para alem dos muros antigos, cria novos
Se o gótico havia marcado a vontade do espaço continuo infinito no comprimento dispersivo de seus bairros periféricos, formula os temas sociais da urbanística no sentido moderno da palavra, e constrói
visuais, se a primeira renascença não chegou a fechar o espaço, mas o ordenou segundo uma a cidade jardim.
métrica racional que o tornava definível e mensurável agora, o séc XVI qualifica a mesma busca
espacial em termos eurrítmicos. O séc XIX, pelo menos, tentou refrear o desastre urbanístico, esclareceu os problemas e propôs as
primeiras soluções para a cidade moderna
O caráter da arquitetura do séc XVI concretiza-se como num novo sentido de volumetria, do
equilíbrio estático e formal das massas.
A “planta livre” e o espaço orgânico da idade moderna
Em nome deste gosto, todas as diretrizes visuais dinâmicas são excluídas. Se uma torre gótica
impele a vista para o alto, para a agulha, se a basílica cristã dá o tempo da caminhada do homem, se As características do espaço moderno: ele se fundamenta na “planta livre”. A exigência social que
o palácio e o pátio do séc XV, com suas estruturas esbeltas e com complacências lineares indicam já não coloca à arquitetura temas de aulas e monumentais, mas o problema da casa para a família
um itinerário visual circular, ainda que dentro do esquema simétrico, no séc XVI todas as forças média, da habitação operária e camponesa até agora fracionada em pequenos e sufocantes cubos
dinâmicas, que antes haviam sido travadas mas não extintas, acalmam-se definitivamente. justapostos, e a nova técnica construtiva do aço e do concreto, que permite concentrar os elementos
de resistência estática em finíssimo esqueleto estrutural, materializam as condições de execução para
Com o desaparecimento das diretrizes lineares, triunfam o volume e a plástica. Na critica da a teoria da “planta livre”
arquitetura do séc XVI, é bastante fácil cair em erro: essa vontade estática, corpórea, de perfeição,
nunca deve ser confundida com o espaço estático romano. A arquitetura moderna reproduz o sonho gótico no espaço e, explorando acertadamente a nova
técnica para realizar com extremo apego e audácia as suas intuições artísticas, estabelece com os

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amplos vitrais, que se tornaram agora paredes de vidro, o contato absoluto entre os espaços interior e É lei da cultura arquitetônica orgânica a escala humana, o repúdio de toda a arquitetura que se
exterior. sobrepõe ao homem ou que é independente dele.

A divisão de paredes interna cria a possibilidade de conjugar os ambientes, de unir entre ê os


múltiplos cubos do séc XIX, de passar do plano estático da casa antiga para o livre e elástico do 5.11. QUADRO – A IDADE DO ESPAÇO
edifício moderno.
N. Idades Características marcantes
O espaço moderno reassume, portanto: 01
• O desejo gótico da continuidade espacial e do estudo minucioso da arquitetura, como Escala humana no exterior
conseqüência de uma reflexão social: Grega Sem espaço interior
• Retoma toda a experiência barroca das paredes onduladas e do movimento volumétrico, por
considerações funcionais que se superam em magníficas imagens poéticas, nas quais a 02
massa das paredes barroca é substituída por divisórias muito mais leves, Espaço estático
• Retoma a métrica espacial da renascença em edifícios industriais e coletivos, bem como, Romana Arquitetura como símbolo do império
também da renascença, o gosto pelas divisões modulares, traduzindo-o nos termos do atual
programa arquitetônico. 03
Diretrizes humanas com:
As duas grandes correntes espaciais da arquitetura moderna são : Cristã • Escala humana dos gregos
• O funcionalismo (le Corbusier) e • Espaço interior dos romanos
• O movimento orgânico (Frank Loyd Wright).
Tendo em comum o tema planta livre, essas correntes entendem o espaço de forma diferente: 04
• Apenas racionalmente no funcionalismo e Bizantina Espaço dilatado
• Organicamente e com plena humanidade no movimento orgânico.
05
ê Corbusier começa com uma planta estrutural, um quadrado regularmente ritmado por pilares. Românica Estruturas e ossaturas
Encerra o espaço em quatro paredes de janelas continuas. As divisões não são estáticas, mas
formadas por finas paredes móveis. Tudo isto se realiza em liberdade absoluta mas dentro de um 06
preciso esquema estereométrico (cálculo dos volumes dos sólidos) Contrastes bidimensionais :
Gótica • Verticalidade
Para Wright, a aspiração à continuidade especial tem uma vitalidade muito mais expansiva: sua • Longitudinalidade
arquitetura centraliza-se na palpitante realidade dos espaços interior e nega, portanto, formas
volumétricas elementares. A planta livre é o resultado de uma conquista que se exprime em termos 07
espaciais, partindo de um núcleo central e projetando os vazios em todas as direções. Renascentista Métrica espacial

A arquitetura funcional respondeu, na América e na Europa, às exigências mecânicas e da 08


civilização industrial, com a “casa de todos” padronizada e anônima. Espaço dinâmico :
Barroca • Volumetria
A arquitetura orgânica responde ás exigências funcionais mais complexas, isto é, funcional não só • Plástica
com relação á técnica e à utilidade, mas à psicologia do homem
09
A arquitetura abre-se hoje e humaniza-se, não por arbitrariedade romântica, mas pelo progresso Neoclássica Falência do espaço interior
natural do pensamento cientifico. Se o problema do urbanismo e das massas proletárias empenhou: Soluções urbanísticas
• Os funcionalistas para resolver problemas quantitativos,
• A arquitetura orgânica sabe que se o homem tem uma dignidade, uma personalidade e uma 10
mensagem espiritual, isto é, se distingue do autômato, o problema da arquitetura é também "Planta Livre"
um problema qualitativo. Moderna • Arquitetura funcionalista
• Arquitetura orgânica
O espaço orgânico é rico em movimento, indicações direcionais, ilusões de perspectivas, em vivas e
geniais invenções; de criar espaços belos em si e representativos da vida orgânica dos seres que
nesse espaço vivem.

Essa instancia social, coletiva e individual, que guia e inspira a urbanística e a arquitetura
moderna, em sua origem funcionalista e em sua evolução orgânica, é, de fato, um grande
movimento religioso, que possui uma força e uma sugestão não inferiores aos movimentos
religiosos e espirituais que inspiraram a criação dos espaços nas épocas do passado. É um
movimento que, na era atômica e em nome de um mais alegre e fértil destino do homem, lança o
apelo de uma cena física integrada, para uma urbanística e uma arquitetura que sejam sinal e
promessa, ou pelo menos conforto, para a nossa civilização.

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CALENDÁRIO ACADÊMICO - CAUFAG 2008.2 - TAR I – 2º período PLANO DE ENSINO 2008/2

4 aulas teóricas semanais:


CARGA HORÁRIA
• terças das 20:50 às 22:30 CÓDIGO DISCIPLINA PERÍODO
TEÓRICA PRÁTICA TOTAL
• quintas das 19:00 às 20:40
ARQ202 Teoria da Arquitetura e Urbanismo I 2º 72 0 72
JULHO
seg ter qua qui sex sab
21 22 23 24 25 26 DOCENTE Solange Irene Smolarek Dias
28 29 30 31
AGOSTO
seg ter qua qui sex sab EMENTA:
01 02 Análise dos vários enfoques da crítica arquitetônica e urbanística.
04 05 06 07 08 09 OBJETIVOS
11 12 13 14 15 16
18 19 20 21 22 23 Ser capaz de análise crítica da produção da arquitetura.
25 26 27 28 29 30
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO (Enumerar títulos e subtítulos)
SETEMBRO
seg ter qua qui sex sab 1. SABER VER A ARQUITETURA
01 02 03 04 05 06 1.1. Interpretação política
08 09 10 11 12 13 1.2. Interpretação filosófico-religiosa
15 16 17 18 19 20 1.3. Interpretação científica
22 23 24 25 26 27 1.4. Interpretação econômico-social
29 30 1.5. Interpretação materialista
OUTUBRO 1.6. Interpretação técnica
seg ter qua qui sex sab 1.7. Interpretação fisio-psicológica
01 02 03 04 1.8. Interpretação formalista
06 07 08 09 10 11 1.9. Interpretação espacial
13 14 15 16 17 18
20 21 22 23 24 25 2. A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO DA ARQUITETURA
27 28 29 30 31 2.1. Apresentação
NOVEMBRO 2.2. Por uma linguagem da arquitetura
seg ter qua qui sex sab 2.3. O sentido do espaço
01 2.3.1. Uma definição de arquitetura
03 04 05 06 07 08 2.3.2. Semiologia da arquitetura
10 11 12 13 14 15 2.4. Eixos organizadores do sentido do espaço
17 18 19 20 21 22
2.4.1. 1º Eixo: interior x exterior
24 25 26 27 28 29
2.4.2. 2º Eixo: privado x comum
DEZEMBRO 2.4.3. 3º Eixo: construído x não construído
seg ter qua qui sex sab 2.4.4. 4º Eixo: artificial x natural
01 02 03 04 05 06 2.4.5. 5º Eixo: amplo x restrito
08 09 10 11 12 13 2.4.6. 6º Eixo: vertical x horizontal
15 16 17 18 19 20
2.4.7. 7º Eixo: geométrico x não geométrico
22 23 24 25
2.5. Conclusão
CONVENÇÕES 3. OS QUATRO GRANDES
Início e termino do período letivo
3.1. Introdução às propostas da arquitetura moderna
Trabalhos internos
3.2. Biografias
Feriados
3.2.1. Walter Gropius
Avaliações bimestrais
3.2.2. Ludwig Mies Van Der Rohe
Prazo final de lançamento das notas bimestrais e/ou exames finais
Exames finais
3.2.3. Le Corbusier
Recesso discente 3.2.4. A arquitetura orgânica : Frank Lloyd Wright
ECCI 3.3. Arquitetura racional x arquitetura orgânica
Dias letivos
4. A IGNORÂNCIA DA ARQUITETURA
4.1. O espaço, protagonista da arquitetura
4.2. Síntese
4.3. A representação do espaço
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PROFESSORA ARQUITETA SOLANGE IRENE SMOLAREK DIAS - doutoranda 51 PROFESSORA ARQUITETA SOLANGE IRENE SMOLAREK DIAS - doutoranda 52

Avaliação individual, escrita, subjetiva, sobre assuntos estudados na disciplina. Dia 09/12/08, das 20:50 hs às 22:30 hs. Sem
5. AS VÁRIAS IDADES DO ESPAÇO consulta a material bibliográfico e anotações pessoais. Avaliação contendo assuntos estudados na disciplina (pertencentes a
5.1. A escala humana dos gregos bibliografia básica e complementar, bem como aos assuntos debatidos em classe por professor e alunos), e que sirvam para
5.2. O espaço estático da antiga Roma verificar, em exame final, o grau de compreensão e atingimento dos objetivos da disciplina pelo aluno.
5.3. A diretriz humana do espaço cristão
5.4. A aceleração direcional e a dilatação de Bizâncio 2.4. Divulgação das avaliações
5.5. A barbárica interpretação dos ritmos As notas das avaliações bimestrais e exame final serão divulgados através do Sistema SAGRES, até o prazo limite determinado pelo
5.6. A métrica românica calendário acadêmico da FAG. As avaliações bimestrais serão devolvidas aos alunos, com as respectivas correções dos
5.7. Os contrastes dimensionais e a continuidade do gótico professores. Os exames finais serão entregues na Secretaria Acadêmica, juntamente com o Diário de Classe.
5.8. As leis e as medidas do espaço do século XV
5.9. Volumetria e plástica do século XVI 2.5. Incongruência de avaliações
5.10. O espaço urbanístico do século XIX Conforme decisão de colegiado definida em reunião de 28/05/2008, havendo a percepção pelo professor, de que trabalhos de
5.11. Quadro da idade do espaço avaliações de aprendizagens entregues por alunos, possuem incongruência de linguagem (escrita e/ou gráfica) com o desempenho
do aluno em sala de aula, será possível a argüição oral, gráfica e/ou textual do aluno/autor; o objetivo será a comprovação de
autenticidade, autoria e correta avaliação do aluno. Caberá ao professor da disciplina a definição de hora, local, instrumento
METODOLOGIA DE ENSINO / RECURSOS avaliatório, bem como se a argüição oral, gráfica e/ou textual do aluno/autor ocorrerá com o auxílio de outro professor, ou não. Se
ficar claro o vício do instrumento avaliatório entregue pelo aluno, opta-se pela nota obtida na argüição oral, gráfica e/ou textual,
cabendo ao professor da disciplina o relato do fato no Diário de Classe - prontuário do aluno; e à coordenação, para os trâmites
Serão utilizados os seguintes recursos metodológicos: legais pertinentes.
• Aulas expositivas
• Estudos em grupos
• Visualização de imagens BIBLIOGRAFIA
• Interdisciplinaridade com demais disciplinas do curso
BÁSICA
Interdisciplinaridade: Durante todo o transcorrer a disciplina, haverá interdisciplinaridade com demais disciplinas do período e do curso.
COELHO NETO, J. T. A Construção do Sentido na Arquitetura: Perspectiva. 2002
COLIN, Silvio. Introdução à Arquitetura.Rio de Janeiro: UAPÊ,2000
RECURSOS HUMANOS / MATERIAIS OU FÍSICOS DIAS, Solange Irene Smolarek. Apostila de Estudos de HAU II, versão 2008.2
HUMANOS: MATERIAIS OU FÍSICOS: Atelier ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2002
Autoridades Visitas técnicas e/ou viagens de estudo à Laboratórios:
Profissionais da área centros de pesquisa, entidades, ambientes Conforto Ambiental
Profissionais de outras áreas naturais ou construídos, e outros Modelos Reduzidos COMPLEMENTAR
Pessoas da comunidade Levantamento de campo Projetos KIEFER, Flávio. LIMA, Raquel Rodrigues. MAGLIA, Viviane Villas Boas (orgs.). Crítica na Arquitetura – V encontro de teoria e história da
Alunos de outras turmas Fitas em vídeo Técnicas Retrospectivas arquitetura. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis. Jun.2001. v 3. Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2001.
Alunos monitores (se houverem) Televisão e vídeo Tecnologia e Materiais de MARIANI, Riccardo. A Cidade Moderna entre a História e a Cultura. São Paulo: Studio Nobel: Instituto Italiano di Cultura di São Paulo,
Professores auxiliares: Datashow Construção 1986.
Retroprojetor Informática CECKA, Jan. Tendencia de la Arquitectura Contemporánea. Barcelona: Gustavo Gili, 1999
DVD Geoprocessamento
Outros:
DATA: 07/07/2008 Aprovado pelo colegiado conforme ata n.º 07/2008
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

1) Avaliação Geral da Instituição: _____________________________________________ ____________________________________________


- Serão aprovados os(as) alunos(as) que obtiverem: média A ≥ 7,00 Profº Arq. Solange Irene Smolarek Dias, doutoranda Profª Arq. Solange Irene Smolarek Dias, doutoranda.
Docente titular da Disciplina Coordenador do Curso Arquitetura e Urbanismo
- Exame: 3,00 ≤ Média A < 7,00 obtido através da fórmula: A = (NB1+ NB2) / 2,00
- Nota do Bimestre = (∑ Nota Trabalho X Peso Trabalho) + (∑ Nota Prova X Peso Prova)
- NB = (NT1 + NT2+...NTn X PT) + (NP X PP)

2) Específico da Disciplina (provas e trabalhos, juntamente com seus respectivos pesos):

2.1. 1º bimestre
Avaliação escrita individual, objetiva e/ou subjetiva, com permissão de consulta a material bibliográfico e apontamentos originais e
individuais. Dia 09/09/08, das 20:50 hs às 22:30 hs. A nota será de 0 a 10, com peso de 100% na nota bimestral.

2.2. 2º bimestre
Avaliação escrita individual, objetiva e/ou subjetiva, com permissão de consulta a material bibliográfico e apontamentos originais e
individuais. Dia 18/11/08, das 20:50 hs às 22:30 hs. A nota será de 0 a 10, com peso de 100% na nota bimestral.

2.3. Exame final

TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2 TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2
PROFESSORA ARQUITETA SOLANGE IRENE SMOLAREK DIAS - doutoranda 53

CÓDIGO DISCIPLINA PERÍODO CARGA HORÁRIA


ARQ202 Teoria da Arquitetura e Urbanismo I 2º 72 horas
DOCENTE Solange Irene Smolarek Dias
Aula nº Data Dia Conteúdo Planejado
01/02 24/07 Qui Apresentação do Plano de Ensino, bibliografia e sistema de avaliação da disciplina.
03/04 29/07 Ter Saber ver a arquitetura

05/06 31/07 Qui Interpretação política – Interpretação filosófico-religiosa

07/08 05/08 Ter Interpretação científica – Interpretação econômico-social

08/10 07/08 Qui Interpretação materialista – Interpretação técnica

11/12 12/08 Ter Interpretação fisio-psicológica

13/14 14/08 Qui Interpretação formalista - interpretação espacial

15/16 19/08 Ter Construção do sentido da arquitetura: o sentido do espaço

17/18 21/08 Qui 1º e 2º Eixos

19/20 26/08 Ter 3º e 4º Eixos

21/22 28/08 Qui 5º e 6º Eixos

23/24 02/09 Ter 7º Eixo e Conclusão

25/26 04/09 Qui Revisão do conteúdo do 1º bimestre


27/28 09/09 Ter Avaliação 1º bimestre 20:50 às 22:30
29/30 11/09 Qui Feedback da aprendizagem, com correção e seminário da avaliação do 1º bimestre
31/32 16/09 Ter Os 4 grandes

33/34 18/09 Qui Gropius

35/36 23/09 Ter Mies

37/38 25/09 Qui Corbusier

39/40 30/09 Ter Frank Lloyd Wright

41/42 02/10 Qui Arquitetura racional

43/44 07/10 Ter Arquitetura orgânica

45/46 09/10 Qui A ignorância da arquitetura

47/48 14/10 Ter As várias idades do espaço : introdução

49/50 16/10 Qui As várias idades do espaço : gregos e romanos

51/52 23/10 Qui As várias idades do espaço : cristãos e bizantinos

53/54 28/10 Ter As várias idades do espaço : bárbaros e românicos

55/56 30/10 Qui As várias idades do espaço : gótico e renascimento

57/58 04/11 Ter As várias idades do espaço : séculos XVI e XIX

59/60 06/11 Qui As várias idades do espaço : quadro da idade do espaço

61/62 11/11 Ter As várias idades do espaço : conclusão

63/64 13/11 Qui Revisão do conteúdo do 2º bimestre


65/66 18/11 Ter Avaliação 2º bimestre 20:50 às 22:30
67/68 20/11 Qui Feedback aprendizagem, com correção e seminário da avaliação do 2º bimestre
69/70 25/11 Ter Seminário de integração de conteúdos da disciplina
71/72 27/11 Qui Seminário de avaliação da metodologia de ensino da disciplina no semestre
Exame Final: 09/12/08, terça-feira, das 20:50 às 22:30 na sala de aula da disciplina

TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO I – CAUFAG 2008.2

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