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Cap 21
Cap 21
— Na verdade, foi uma grande aventura para mim também, papai. Sei que vocês vão se
espantar com o que vou dizer especialmente Hunter, mas não lamento nada do que
aconteceu. Aprendi muitas técnicas de sobrevivência. — Nunew corou, pensando nas
outras técnicas que também aprendeu.
— Hunter não veio porque a mãe dele está doente. Mas independente disso, ele
relutou, sabe? — Pa refletiu por alguns segundos antes de continuar: — Ele não
disse nada, mas eu percebi que ele temia sua reação ao vê-lo saindo à sua procura.
Ele tem medo de você, Nunew?
Nunew riu.
— Muitos, meu menino, mas não todos. — Ele piscou para a filha. — O Super-homem não
me parece do tipo que se intimida facilmente.
— E não é mesmo! — Ele baixou o tom de voz. — Além de sexista e preconceituoso, ele
é teimoso!
— Com licença — ele disse, exibindo cinco belos peixes. Pa não acreditava no que
via.
— Walleyes! — ele exclamou com satisfação. — Eu não como esse tipo de peixe desde
que era criança!
— Então, aproveite hoje! Vou limpá-los e assá-los na lareira — Zee avisou. — Não
demoro.
— Imagine que comemos faisão em nosso almoço de Natal — Nunew contou. — Eu lambi os
dedos, papai. Não sobrou nada.
— Nunew cozinha muito bem. Foi ele quem depenou, limpou, temperou e assou o faisão!
— Você deve ter frequentado o curso de Hunter sobre como liberar seu lado de
esposo, minha filho. — ele brincou.
— Por que não mostra a casa ao seu pai enquanto preparo os peixes? — Zee sugeriu a
Nunew.
— Assim que eu efetivar a compra da casa, vou providenciar uma serra elétrica e uma
lâmina de retirar neve para colocar na frente da minha caminhonete — Zee decidiu.
— Eu não tenho roupa! — Nunew lembrou. — Meu casaco de pele está no fundo do lago e
meu tailleur está irreconhecível.
— Leve meu casaco — Zee ofereceu. — Eu não vou a lugar algum até amanhã. Estou sem
gasolina.
— Papai...
Eles se olharam.
— De jeito nenhum! Fique você com a calça, Super-homem. — Ele tentou manter a voz
firme, mas o queixo tremeu.
Zee viu, assim como viu o brilho das lágrimas nos olhos dele.
Ele começou a rir. O riso deteria as lágrimas. Queria que ele pedisse novamente
para ficar. Se as coisas fossem diferentes, ele pensou. Se eles não fossem tão
diferentes...
— Entregarei sua oferta amanhã cedo e entrarei em contato assim que tiver uma
resposta.
Zee concordou com um gesto de cabeça e acompanhou-a até a porta. Antes de subir no
snowmobile, Nunew voltou-se e acenou em despedida.
Com as mãos em concha, Zee respondeu, mas Nunew não o ouviu. O ruído do snowmobile
abafou as palavras dele.
Nunew sorriu e enlaçou o pai pela cintura. O gesto protegeu-o do vento e do frio e
fez com que percebesse como se sentia segura com o pai no controle da situação. Pa
era um homem corajoso, e pela família seria capaz de fazer loucuras!
Tentou não pensar em Zee, pois de nada adiantaria desejar o que não podia ter.
Ele vivera dias de sonho, mas já era hora de deixar a fantasia para trás e encarar
a realidade. E a realidade tinha o nome de Hunter.
De repente, o homem sensível e compreensivo que ele tanto admirava parecia ter
perdido o encanto. O que faria com tanta compreensão e sensibilidade se não o
amava?
Estavam namorando havia quase um ano, e, no entanto, ele nunca havia vivido com
Hunter o que tivera em apenas três dias com Zee!
Em menos de uma hora, eles chegaram ao posto da Polícia Rodoviária. Nunew recusou-
se a entrar.
— Vou ligar para sua mãe — disse Pa. — Tem certeza de que não quer entrar e falar
com ela? Os policiais não tiveram um minuto de descontração neste Natal... Eles
precisam rir um pouco! Nunew torceu o nariz.
— Engraçadinho! — Naquele momento, elegância era o que menos contava para ele, mas
jamais permitiria que um batalhão de policiais a visse de cueca vermelha!
— Diga à mamãe que eu a amo e peça-lhe para avisar Hunter. Ao tirar o casaco de
Zee, experimentou uma sensação de perda, não só do calor da pele de carneiro, mas
perda de segurança e de alguma coisa mais, como se fosse um elo invisível que os
mantinha unidos.
— Falei. Ela ficou aliviada ao saber que estamos bem. Imagine, ela preocupada
comigo! Que bobagem!
— Ela me obrigou a prometer que dirigiria devagar. Eu a preveni para não nos
esperar antes da nove — ele continuou.
— Que bom!
Durante o trajeto, eles cantaram músicas de Natal. Nunew surpreendeu-se pelo pai
conhecer paródias irreverentes e maliciosas de canções natalinas e de outras
músicas populares.
Quando, finalmente, chegaram à rua em que moravam, viram que Ma acendera as luzes
decorativas.
— Tudo bem, Hunter? Sinto muito por tudo que aconteceu. Minha mãe já deve ter
explicado, não? Levei um cliente para ver uma propriedade no lago e ficamos retidos
por conta da nevasca.
— Nunew, você não precisa me pedir desculpas. Essas coisas acontecem. Eu entendi,
assim como você teria entendido se estivesse em casa para ver que faltei ao nosso
encontro.
— Eu sabia que havia uma explicação lógica para sua ausência, e até comentei com
seu pai sobre isso — Hunter continuou. — E tinha certeza de que, onde quer que
estivesse, você estaria perfeitamente bem.
— Será ótimo, Hunter. Espero que não neve mais. Dirija com cuidado. Até amanhã.
— Boa noite, Nunew. Não vejo a hora de vê-lo abrindo seu presente.
Nunew desligou e continuou com a mão no telefone. Realmente Hunter era o homem mais
compreensivo do mundo, jamais faria uma cena de ciúme. Era um homem maduro.
Ma ergueu as sobrancelhas.
— Vocês não tinham água para o banho?
— Tínhamos, mas não era quente. Tivemos que tomar banho frio. Banhos rapidíssimos!
— Vou pegar um roupão e chinelos. — Ma subiu a escada correndo. Nunew seguiu-a, mas
estava cansado demais para correr.
— Obrigada por ter ido tão longe para trazer nosso filho.
Pa afagou-lhe os cabelos.
— Você devia ter visto esse tal de Zee Pruk com quem ele passou os três dias. Alto,
musculoso, ombros largos... Um tanto rude, um verdadeiro brutamontes. O oposto de
Hunter. — Ele riu. — Nunew apelidou-o de Super-homem. Bem, você ouviu o que ele
disse.
— O quê?
— O quê?