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SUMÁRIO

1. Introdução .................................................................................................................................. 1

2. Escolha de períodos de retorno para o


dimensionamento de obras hidráulicas ...................................................... 1

3. Cálculo de Vazões Máximas ...................................................................................... 4


3.1 Métodos com Séries Históricas ................................................................................. 4
3.1.1 Log Pearson III ....................................................................................................... 7
3.1.1.1 Roteiro de Cálculo ..................................................................................... 8
3.1.1.2 Exemplo de Aplicação ................................................................................ 11
3.1.2 Gradex ........................................................................................................................... 13
3.1.3 CTH .................................................................................................................................. 17
3.2 Métodos Sintéticos .............................................................................................................. 23
3.2.1 Racional ....................................................................................................................... 24
3.2.2 I-Pai-Wu ........................................................................................................................ 26
3.2.2.1 Roteiro de Cálculo .................................................................................. 32
3.2.3 Profº. Kokei Uehara ............................................................................................ 36
3.2.3.1 Roteiro de Cálculo ................................................................................... 40
3.2.4 Exemplos de Aplicação ..................................................................................... 43
3.2.4.1 I-Pai-Wu ............................................................................................................. 44
3.2.4.2 Profº. Kokei Uehara ................................................................................. 46
3.3 Propagação de Ondas de Cheias ................................................................................ 50

4. Cálculo de Vazões Médias e Mínimas ............................................................. 53


4.1 Estudo de Regionalização de Variáveis Hidrológicas ............................... 54
4.1.1 Vazão Média de Longo Período ..................................................................... 55
4.1.2 Vazões Mínimas de (d) Meses Consecutivos ......................................... 60
4.1.3 Volume de Regularização Intra-Anual .................................................... 63
4.1.4 Curvas de Permanência ...................................................................................... 65
4.1.5 Vazão Mínimas Anuais de Sete Dias Consecutivos ............................ 67
4.2 Exemplo de Aplicação ...................................................................................................... 70

5. Considerações Finais ....................................................................................................... 73

6. Referências Bibliográficas ...................................................................................... 75

7. Equipe Técnica ......................................................................................................................... 76

ANEXO
Anexo 1 - Carta de Isoietas Médias

RELAÇÃO DE TABELAS

TABELA
PÁGINA
2.1 - Probabilidade de ocorrência de um evento hidrológico
em função do período de retorno ........................................................... 3
2.2 - Períodos de Retorno (T) mínimos ............................................................ 4
3.1 - Valores de Kp para coeficiente de assimetria (g) .................................... 10
3.2 - Vazões ou Descargas Máximas anuais observadas no Rio Jaguari ......... 11
3.3 - Determinação dos Xi .............................................................................. 12
3.4 - Método Gradex ...................................................................................... 15
3.5 - Eventos hidrológicos típicos observados no Ribeirão dos Meninos......... 19
3.6 - Coeficiente de Escoamento Superficial (runoff) ...................................... 25
3.7 - Grau de impermeabilização do solo em função de seu uso..................... 30
3.8 - Coeficientes Volumétricos de Escoamento ............................................. 31
4.1 - Parâmetros Regionais.............................................................................. 59

RELAÇÃO DE FIGURAS

FIGURA
PÁGINA
3.1 - Determinação de Vazões Máximas ....................................................... 6
3.2 - Curva de Freqüência ............................................................................. 16
3.3 - Hidrogramas Percentuais Típicos .......................................................... 20
3.4 - Relação chuva-área .............................................................................. 22
3.5 - Relação chuva-área p/ 3 horas de duração ........................................... 23
3.6 - Hidrograma admitido no método I-PAI-WU .......................................... 29
3.7 - Coeficiente de Distribuição Espacial da Chuva (K) ................................. 35
3.8 - Hidrograma Sintético e seus Parâmetros .............................................. 36
3.9 - Bacia Hidrográfica e Parâmetros ......................................................... 38
3.10 - Divisão de uma bacia em sub-bacias .................................................. 51
4.1 - Determinação de vazões médias e mínimas ......................................... 54
4.2 - Cálculo da precipitação anual média ................................................... 56
4.3 - Vazão específica média plurianual ........................................................ 58
4.4 - Volume de regularização ...................................................................... 64
4.5 - Regiões hidrológicas semelhantes ........................................................ 67
4.6 - Regiões semelhantes quanto ao parâmetro C7,m ................................. 70
4.7 - Isoietas da Bacia Hidrográfica do Rio Buquira ...................................... 71
ii
PRINCIPAIS SÍMBOLOS

T = período de retorno
Q = vazão de cheia
Qp = vazão máxima de projeto
Dt = intervalo do tempo de cálculo
A = área de drenagem da bacia
r = coeficiente médio de runoff
C = coeficiente de escoamento superficial
J,i = intensidade de chuva
tc = tempo de concentração
L = comprimento do talvegue
S = declividade equivalente do curso de água
v = velocidade média do escoamento
n = coeficiente de rugosidade de Manning
RH = raio hidráulico
K = coeficiente de distribuição espacial da chuva
ts = tempo de escoamento superficial
tp = tempo de pico
CI = coeficiente de forma
VI = volume do hidrograma no trecho ascendente
VT = volume total do hidrograma
C2 = coeficiente volumétrico de escoamento
Ie = precipitação efetiva
tr = “lag” ou tempo de retardamento da bacia
Lq = distância da seção de controle até a
projeção do centro de gravidade da bacia no talvegue
Ct = coeficiente numérico de Snyder
td = tempo de duração de chuva
tb = tempo de base do hidrograma
h = altura de chuva
h = altura de chuva uniforme
hexc = altura de chuva excedente
S = declividade equivalente do curso d’água
J = declividade média do curso d’água
Vesd = volume de escoamento superficial direto
Qb = vazão de escoamento de base
P = precipitação média anual
Q = vazão média de longo período
iii
iv
1 - INTRODUÇÃO

O presente trabalho destina-se a fornecer subsídios aos técnicos do Departa-


mento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo, nas atividades de cálculo
hidrológico de vazões máximas, médias e mínimas.

Procuram-se apresentar os conceitos de forma didática e simplificada, abdi-


cando-se em alguns casos do rigor e detalhamentos matemáticos.

Esta publicação é o resultado da experiência acumulada no próprio Depar-


tamento, tendo por objetivo orientar principalmente os Centros de Gerenciamento
de Recursos Hídricos das Diretorias de Bacia, nos procedimentos metodológicos de
cálculo.

As metodologias são apresentadas discutindo-se suas principais característi-


cas e limitações de aplicabilidade, seguindo-se exemplos de aplicação.

Os diversos métodos de cálculo foram agrupados em função da extensão da


série histórica de dados hidrológicos disponíveis. Apresentam-se métodos regionaliza-
dos para o Estado de São Paulo, fruto de extensivas pesquisas e estudos realizados
pelo DAEE.

Os sempre necessários aprimoramentos e evoluções inerentes a qualquer


manual técnico advirão, principalmente, do seu emprego e do intercâmbio entre
usuários.

2 - ESCOLHA DE PERÍODOS DE RETORNO


PARA O DIMENSIONAMENTO DE OBRAS HIDRÁULICAS

O Período de Retorno (T) de uma chuva ou de um pico de cheia está dire-


tamente relacionado com o grau de segurança que se deseja proporcionar aos bens
protegidos e, portanto, ao dimensionamento das obras.

A seleção do período de retorno de um evento hidrológico de um projeto


qualquer requer, usualmente, um estudo técnico-econômico que indique qual o risco
do capital aplicado nessas obras. Este risco está associado aos danos provocados por
evento hidrológico de mesma probabilidade que o de projeto e deve, portanto, ser
minimizado.

A título de exemplo, seja o caso de uma estrada de rodagem municipal, fora


da zona urbana, cuja vida esperada é de 25 anos. Uma investigação mostrou que um
bueiro projetado para resistir a um pico de vazão correspondente a uma chuva de
período de retorno estimado em 10 anos causaria uma inundação da estrada, caso
ocorresse uma chuva de período de retorno de 50 anos, mas sem dano apreciável.
Todavia, a destruição parcial do aterro da estrada, com prejuízos consideráveis para
o tráfego de veículos e propriedades vizinhas, poderia ocorrer se caísse uma chuva de
período de retorno de 200 anos. O engenheiro baseará seu raciocínio ao tomar a sua
decisão quanto à escolha do período de retorno, considerando o seguinte:

O risco de uma vazão produzida por uma chuva de 200 anos ocorrendo du-
rante a vida estimada da estrada (25 anos), é somente de 11,8% (TABELA 2.1). Este
risco é justificado, em vista do fato de que o custo adicional de um bueiro, projetado
para suportar um pico correspondente a uma chuva de período de retorno de 200
anos, seria maior do que o custo estimado do dano que poderia resultar em função da
dimensão adotada. E, mesmo construindo esse bueiro, a probabilidade teórica de que
ele não acarrete danos consideráveis é a complementar, que é de 88,2%, lembrando
que a vida estimada da obra é 25 anos.

Se o bueiro for projetado utilizando uma chuva de projeto com período de


retorno de 50 anos, o risco de dano é de 39,6% e assim a probabilidade de que ele
não acarrete danos consideráveis é de 60,4%.

Obtido através da seguinte expressão:

n
 1
R = 1−  1− 
 T
onde:
R����������������������������������������������������������������������
�����������������������������������������������������������������������
= Risco de Projeto ou probabilidade de falha no horizonte de planeja-
mento


T = Período de Retorno em anos;
n = Horizonte de planejamento em anos.

ou através da TABELA 2.1

PERÍODO DE PROBABILIDADE DE QUE O EVENTO SERÁ IGUALADO OU EXCEDIDO PELO ME-


RETORNO T EM NOS UMA VEZ EM UM PERÍODO DE ANOS DE:
ANOS DO EVENTO 05 10 15 20 25 50 75 100
05 0,672 0,892 0,964 0,988 0,996 - - -
10 0,410 0,651 0,794 0,878 0,928 0,955 - -
15 0,292 0,498 0,646 0,748 0,822 0,968 0,994 0,999
20 0,266 0,402 0,537 0,642 0,723 0,923 0,979 0,995
25 0,185 0,366 0,458 0,558 0,640 0,870 0,954 0,983
50 0,096 0,183 0,262 0,332 0,396 0,636 0,701 0,868
75 0,063 0,122 0,178 0,230 0,278 0,480 0,635 0,730
100 0,049 0,096 0,140 0,181 0,222 0,395 0,549 0,634
200 0,025 0,049 0,073 0,095 0,118 0,222 0,314 0,394
500 0,009 0,020 0,030 0,039 0,049 0,095 0,140 0,181

TABELA 2.1 - PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE UM EVENTO HIDROLÓGICO EM


FUNÇÃO DO PERÍODO DE RETORNO

Estas probabilidades podem ser consideradas como fatores de risco, visto


que representam o risco de dano e destruição que o engenheiro deseja assumir quan-
do na ocasião do projeto de uma estrutura de drenagem.

Sugere-se, a título de orientação, em função do tipo de obra a ser projetada,


a utilização de eventos hidrológicos com os períodos de retorno indicados na TABELA
2.2.


OBRAS DE MICRO DRE- TIPOS DE USO E OCUPA- T ( ANOS )
NAGEM ÇÃO DO SOLO
Residencial 2
Galerias e Ruas Comercial, Edif. Públicos 5
Comercial, Alta Valorização 5 a 10
OBRAS DE MACRO DRE- TIPO DE REVESTIMENTO T ( ANOS )
NAGEM
Terra
Gabião
50
Canal a céu aberto Pedra Argamassada
Rachão
Concreto 100
Pontes, Bueiros e Estruturas
Concreto 100
Afins
Canal em galeria Concreto 100
Diques marginais (em áreas
Concreto 100
urbanas)

TABELA 2.2 - PERÍODO DE RETORNO ( T ) MÍNIMOS

Nota: Para os canais, pontes e bueiros convém obedecer uma borda livre mínima de
0,40 m.

3 - CÁLCULO DE VAZÕES MÁXIMAS

3.1 - MÉTODOS COM SÉRIES HISTÓRICAS

A determinação de vazões máximas é analisada neste trabalho em função


da extensão da série histórica de dados fluviométricos, conforme ilustrado na FIGURA
3.1.

Quando a extensão da série histórica de dados fluviométricos é maior que 25


anos, recomenda-se a aplicação da análise estatística, ajustando-se distribuições de
probabilidade à série de dados. Recomenda-se neste estudo a aplicação do MÉTODO
LOG-PEARSON TIPO III.

Desta forma associa-se à probabilidade de ocorrência de uma vazão máxima,


a probabilidade de ocorrência de um evento de natureza estatística, descrito por uma
função densidade de probabilidade conhecida, no caso a LOG-PEARSON.

Para séries históricas compreendidas entre 10 e 25 anos, sugere-se o em-


prego do MÉTODO GRADEX, que correlaciona os resultados da análise de freqüência
de dados de precipitações intensas com respectivas vazões máximas.

Em se tratando de séries históricas compreendidas entre 3 e 10 anos, sugere-


se a utilização de metodologia empírica, baseada na técnica do hidrograma unitário e
desenvolvida pelo CENTRO TECNOLÓGICO DE HIDRÁULICA (CTH).

Nos casos em que houver menos de 3 anos de dados fluviométricos, con-


sidera-se conveniente o emprego de métodos sintéticos, aplicando-se métodos como
o RACIONAL, I-PAI-WU ou Prof. KOKEI UEHARA, dependendo da área de drenagem da
bacia em estudo.

Caso a área de drenagem da bacia em estudo supere 600 km2, recomenda-se


a divisão da bacia em sub-bacias, a determinação de hidrogramas unitários sintéticos
para os tributários e a propagação das ondas de cheia geradas ao longo do sistema
hidrográfico.


FIGURA 3.1 - DETERMINAÇÃO DE VAZÕES MÁXIMAS


3.1.1 - LOG-PEARSON III

A análise estatística tem grande aplicação em cursos de água, cujas bacias se


encontram em condições naturais. Nas grandes bacias, onde os efeitos do processo de
urbanização no seu regime de deflúvios são negligenciáveis, e ainda em pequenos cur-
sos de água, cujas bacias disponham de observações fluviométricas e que não estejam
sujeitos a processos intensos de modificação das características de uso e ocupação do
solo.

O enfoque estatístico para se determinar a magnitude das vazões de pico de


cheias, consiste em definir uma relação (vazão máxima - freqüência de ocorrência) a
partir do estudo de uma série de dados observados. A suposição básica é de que as
cheias verificadas durante um determinado período possam ocorrer em outros perío-
dos, guardando características hidrológicas similares, isto é, com uma expectativa de
sua repetição.

O propósito da análise estatística é o de utilizar os eventos hidrológicos de


vazões observadas num dado período, como meio para se efetuar a sua projeção para
um período de tempo maior. Para um período de 25 anos, o maior valor registrado é
geralmente considerado como tendo um período de retorno de cerca de 25 anos. Ao
fim desse período de 25 anos, face à suposição de que o mesmo se repita, pode-se
esperar que o maior valor registrado será igualado ou ultrapassado, uma vez mais,
durante os 25 anos seguintes aos primeiros.

Desde que haja disponibilidade de dados por um período igual ou superior a


25 anos, existem várias distribuições de probabilidade que podem ser utilizadas para
a estimativa de vazões com períodos de retorno superiores.

Estas distribuições estatísticas permitem, então, que com uma série de ex-
tensão restrita, como é o caso dessas séries de 25 anos, obtenham-se vazões com
períodos de retorno superiores a estes 25 anos.

Caso tenham-se à disposição recursos computacionais, existem inúmeros


programas, v. KITE (01), que permitem ajustar séries de dados segundo diversas dis-
tribuições de probabilidades. Esses programas normalmente dispõem de rotinas que
testam a aderência dos dados às distribuições, verificando-se qual função densidade


de probabilidade melhor se ajusta aos dados disponíveis.

Não havendo disponibilidade de recursos computacionais, sugere-se a plota-


gem dos valores máximos da série histórica em papéis de probabilidade, utilizando-se
em primeira aproximação ajuste visual para fins de verificação de aderência.

De acordo com orientação do “Water Resources of Federal Government” dos


Estados Unidos (02), o emprego do método log-Pearson Tipo III, é recomendado para
situações em que se deseja determinar a vazão máxima para um projeto onde os even-
tos hidrológicos considerados são as vazões de cheias máximas anuais (série anual).

O método de Pearson Tipo III foi originalmente apresentado por H. A. Foster


em 1924 (03). Conforme Foster, o método requeria o uso dos dados observados para
se calcular a média, o desvio padrão e o coeficiente de assimetria da distribuição. No
entanto, a prática corrente consiste primeiro em transformar os dados observados
em forma de logaritmos, e então calcular os parâmetros estatísticos. Por causa dessa
transformação, o método é denominado de log-Pearson Tipo III. Os seguintes símbolos
são usados no método de log-Pearson Tipo III:

Y = valor numérico do evento hidrológico vazão de cheia anual, [Y] = m³/s;


X = logaritmo de Y;
N = nº de eventos hidrológicos considerados;
Mx = média de Xi;
DXi= Xi - Mx;
Sx = desvio padrão de Xi;
g = coeficiente de assimetria;
Kp = coordenada Pearson Tipo III expressa em números de desvios padrões
em relação à média, para vários períodos de retorno;
Q = vazão de cheia calculada para um determinado período de retorno,
[Q]  = m³/s.

3.1.1.1 - ROTEIRO DE CÁLCULO

1 - Transformar as N vazões máximas anuais Y1,Y2,Y3,...Yi...YN nos correspondentes


logaritmos: X1,X2,X3...Xi...XN.

2 - Calcular a média dos logaritmos:


N
∑ Xi
i=1
Mx =
N (3.1)

3 - Calcular o desvio padrão dos logaritmos:

N
∑ ( X i − Mx )2
i=1
Sx =
N−1 (3.2)

4 - Calcular o coeficiente de assimetria:

N2
g= (Mx 3 − 3Mx 2Mx + 2Mx 3 )
(N − 1)(N − 2) (3.3)

N N
∑ x i3 ∑ x i2
i=1 i=1
Mx 3 = Mx 2 =
N (3.4) e N (3.5)

5 - O fator (Kp) é determinado através da TABELA 3.1 para o valor de (g)


calculado e considerando-se também o período de retorno selecionado.

6 - Calcular os logaritmos das vazões correspondentes a determinados perío-


dos de retorno, através da expressão:
log Q = Mx + KpSx (3.6)

O log Q é o logaritmo da vazão de cheia procurada.

7 - Achar o antilog do log Q, para se determinar a vazão de cheia (Q) de


projeto.


Intervalo de recorrência em anos
Coeficiente
2 5 10 25 50 100 200 1000
de
Porcentagem de probabilidade de ocorrência
assimetria
50 20 10 4 2 1 0,5 0,1
3,0 -0,396 0,420 1,180 2,278 3,152 4,051 4,970 7,250
2,5 -0,360 0,518 1,250 2,262 3,048 3,845 4,652 6,600
2,2 -0,330 0,574 1,284 2,240 2,970 3,705 4,444 6,200
2,0 -0,307 0,609 1,302 2,219 2,912 3,605 4,298 5,910
1,8 -0,282 0,643 1,318 2,193 2,848 3,499 4,147 5,660
1,6 -0,254 0,675 1,329 2,163 2,780 3,388 3,990 5,390
1,4 -0,225 0,705 1,337 2,128 2,706 3,271 3,828 5,110
1,2 -0,195 0,732 1,340 2,087 2,626 3,149 3,661 4,820
1,0 -0,164 0,758 1,340 2,043 2,542 3,022 3,489 4,540
0,9 -0,148 0,769 1,339 2,018 2,498 2,957 3,401 4,395
0,8 -0,132 0,780 1,336 1,998 2,453 2,891 3,312 4,250
0,7 -0,116 0,790 1,333 1,967 2,407 2,824 3,223 4,105
0,6 -0,099 0,800 1,328 1,939 2,359 2,755 3,132 3,960
0,5 -0,083 0,808 1,323 1,910 2,311 2,686 3,041 3,815
0,4 -0,066 0,816 1,317 1,880 2,261 2,615 2,949 3,670
0,3 -0,050 0,824 1,309 1,849 2,211 2,544 2,856 3,525
0,2 -0,033 0,830 1,301 1,818 2,159 2,472 2,763 3,380
0,1 -0,017 0,836 1,292 1,785 2,107 2,400 2,670 3,235
0 0,000 0,842 1,282 1,751 2,054 2,326 2,576 3,090
-0,1 0,017 0,836 1,270 1,716 2,000 2,252 2,482 2,950
-0,2 0,033 0,850 1,258 1,680 1,945 2,178 2,388 2,810
-0,3 0,050 0,853 1,245 1,643 1,890 2,104 2,294 2,675
-0,4 0,066 0,855 1,231 1,606 1,834 2,029 2,201 2,540
-0,5 0,083 0,856 1,216 1,567 1,777 1,955 2,108 2,400
-0,6 0,099 0,857 1,200 1,528 1,720 1,880 2,016 2,275
-0,7 0,116 0,857 1,183 1,488 1,663 1,806 1,926 2,150
-0,8 0,132 0,856 1,116 1,448 1,606 1,733 1,837 2,035
-0,9 0,148 0,854 1,147 1,407 1,549 1,660 1,749 1,910
-1,0 0,164 0,852 1,128 1,366 1,492 1,588 1,664 1,800
-1,2 0,195 0,844 1,086 1,282 1,379 1,449 1,501 1,625
-1,4 0,225 0,832 1,041 1,198 1,270 1,318 1,351 1,465
-1,6 0,254 0,817 0,994 1,116 1,166 1,197 1,216 1,280
-1,8 0,282 0,799 0,945 1,035 1,069 1,087 1,097 1,130
-2,0 0,307 0,777 0,895 0,959 0,980 0,990 0,995 1,000
-2,2 0,330 0,752 0,844 0,888 0,900 0,905 0,907 0,910
-2,5 0,360 0711 0,771 0,793 0,798 0,799 0,800 0,802
-3,0 0,396 0,636 0,660 0,666 0,666 0,667 0,667 0,668

TABELA 3.1 - VALORES DE (KP) PARA COEFICIENTES DE ASSIMETRIA

10
3.1.1.2 - EXEMPLO DE APLICAÇÃO

O método Log-Pearson tipo III foi aplicado à série histórica de 34 anos de


vazões máximas observadas no Rio Jaguari, pertencente à bacia hidrográfica do Rio
Piracicaba.
A TABELA 3.2 apresenta os valores de vazões máximas observadas, dispostos
em ordem decrescente.

N Q (m³/s) N Q (m³/s)
1 490 18 167
2 425 19 165
3 314 20 163
4 302 21 153
5 289 22 139
6 250 23 135
7 244 24 123
8 240 25 121
9 237 26 116
10 225 27 113
11 212 28 109
12 212 29 102
13 206 30 96
14 205 31 95
15 182 32 93
16 171 33 76
17 169 34 52

TABELA 3.2 - VAZÕES MÁXIMAS ANUAIS OBSERVADAS NO RIO JAGUARI

Seguindo-se o roteiro de cálculo apresentado, deve-se:

1. Transformar as descargas anuais nos correspondentes logaritmos. Os va-


lores transportados, e outras passagens auxiliares de cálculo, encontram-se indicados
na TABELA 3.3.

11
N Xi=log Q X² X³ N Xi=log Q X² X³
1 2,69 7,24 19,47 18 2,22 4,93 10,94
2 2,63 6,92 18,19 19 2,22 4,93 10,94
3 2,50 6,25 15,63 20 2,21 4,88 10,79
4 2,48 6,15 15,25 21 2,18 4,75 10,36
5 2,46 6,05 14,89 22 2,14 4,58 9,80
6 2,40 5,76 13,82 23 2,13 4,54 9,66
7 2,39 5,71 13,65 24 2,09 4,37 9,13
8 2,38 5,66 13,48 25 2,08 4,33 9,00
9 2,37 5,62 13,31 26 2,06 4,24 8,74
10 2,35 5,52 12,98 27 2,05 4,20 8,62
11 2,33 5,43 12,65 28 2,04 4,16 8,49
12 2,33 5,43 12,65 29 2,01 4,04 8,12
13 2,31 5,34 12,33 30 1,98 3,92 7,76
14 2,31 5,34 12,33 31 1,98 3,92 7,76
15 2,26 5,11 11,54 32 1,97 3,88 7,65
16 2,23 4,97 11,09 33 1,88 3,53 6,64
17 2,23 4,97 11,09 34 1,72 2,96 5,09

TABELA 3.3 - DETERMINAÇÃO DOS Xi

Da TABELA 3.3, resultam:

Mx2 = 4,99
Mx3 = 11,29

2. Calcular a média dos logaritmos:

Mx = 2,22

3. Calcular o desvio padrão dos logaritmos:

Sx = 0,212

12
4. Calcular o coeficiente de assimetria:

g = 0,70

5. Determina-se Kp com auxílio da TABELA 3.1 (pag. 10):

Kp = 2,824

6. Calcula-se, o logaritmo da vazão correspondente ao período de retorno


desejado. Por exemplo, para T = 100 anos, tem-se:

log Q = Mx + KpSx = 2,22 + 2,824 . 0,212 = 2,819

7. O antilogaritmo fornece a vazão com o período de retorno desejado:

Q100 = 659 m³/s.

3.1.2 - GRADEX

Proposto por GUILLOT (04), este método pode ser incluído no conjunto dos
procedimentos de cálculo que correlacionam os resultados da análise de freqüência
de dados de precipitações intensas e de vazões máximas. As extrapolações dos valores
de vazão com períodos de retorno maiores que 10 anos são efetuadas baseando-se
exclusivamente na análise dos gradientes de chuvas intensas. Recomenda-se sua apli-
cação nos casos em que as séries de dados se situem entre 10 e 25 anos.

O método em questão apresenta as seguintes hipóteses principais:

a) a retenção média de água numa bacia hidrográfica atinge seu limite para
vazões com o período de retorno igual a 10 anos. Para períodos de retorno maiores,
a todo suplemento de precipitação corresponderá um igual acréscimo de escoamento
superficial;

13
b) a freqüência das precipitações diárias ou horárias máximas anuais tem
um acréscimo exponencial do tipo e-X/A, que se traduz num gráfico de GUMBEL por
uma reta de tangente A. Denomina-se o parâmetro A de GRADEX, o qual caracteriza
a probabilidade ou o risco de ocorrência de chuvas intensas numa dada bacia.

Dessas duas hipóteses decorre que a função de repartição das vazões ex-
tremas pode ser extrapolada, após a vazão decenal, paralelamente à função de distri-
buição das precipitações extremas, ou seja, através de uma reta de tangente igual ao
GRADEX. A extrapolação deve ser efetuada sobre um gráfico de GUMBEL, conforme
a hipótese b, e o intervalo de tempo para os cálculos deve ser próximo ao tempo de
base dos hidrogramas característicos.

O método GRADEX foi aplicado à bacia hidrográfica do ribeirão dos Meninos,


para fins de exemplificação.

Os dados pluviométricos foram obtidos a partir de registros contínuos da sé-


rie histórica disponível na Estação Meteorológica do Instituto Astronômico e Geofísico
da USP, localizada nas proximidades da bacia em que o método do GRADEX foi apli-
cado.

Às precipitações máximas anuais de duração igual a 6 horas foi ajustada a


distribuição de GUMBEL. Este intervalo de tempo corresponde ao tempo base médio
de ondas de cheia isoladas observadas na bacia em estudo.

Os dados pluviométricos foram obtidos no posto Guido Albert, mantido e


operado pelo CTH e localizado na bacia do ribeirão dos Meninos.

As vazões de pico foram analisadas como série parcial de 4 valores por ano,
tendo por objetivo obter somente uma estimativa da vazão de pico com 10 anos de
período de retorno, mas satisfazendo as condições de aplicação do método GRADEX.

Na FIGURA 3.2 apresenta-se a curva de freqüência de precipitações máximas


anuais de 6 horas de duração em papel probabilístico de GUMBEL, juntamente com a
banda de 95% de confiança.

Encontra-se na mesma figura, curva correspondente à extrapolação das

14
vazões máximas. Note-se que o ponto de partida nesse caso corresponde à estimativa
da vazão com 10 anos de período de retorno e que a declividade da reta é idên-
tica àquela do ajuste das observações pluviométricas, conforme estabelece o método
GRADEX.

Na TABELA 3.4 apresentam-se os valores das precipitações intensas de 6


horas de duração e as vazões de pico para diversos períodos de retorno.

Encontram-se indicados também os desvios para nível de significância de


95%.

PERÍODO DE RETORNO PRECIPITAÇÃO VAZÃO DE PICO


( anos ) ( mm / 6h ) ( m3 / s )
2 60 ± 3 -
5 74 ± 5 -
10 84 ± 7 173 ± 23
20 91 ± 8 305 ± 31
50 103 ± 10 391 ± 53
100 111 ± 12 483 ± 72
200 120 ± 13 575 ± 91
500 131 ± 15 696 ± 117

TABELA 3.4 - PRECIPITAÇÕES INTENSAS E RESPECTIVAS VAZÕES DE PICO DA BACIA


DO RIBEIRÃO DOS MENINOS PARA DIVERSOS PERÍODOS DE RETORNO
OBTIDOS PELO MÉTODO GRADEX

15
FIGURA 3.2 - CURVA DE FREQÜÊNCIA

16
3.1.3 - CTH

Recomendado para casos em que houver série histórica de dados fluviométri-


cos compreendidos entre 3 e 10 anos, constitui metodologia desenvolvida pelo Centro
Tecnológico de Hidráulica - CTH (1983), especificamente para a determinação das
vazões de projeto de canalização de córregos urbanos na Grande São Paulo, e que
consiste na estimativa dos picos de enchentes correspondentes às chuvas arbitrando-
se coeficientes de runoff e coeficientes de dispersão (relação chuva na área - chuva no
ponto), aplicados a hidrogramas percentuais típicos das bacias.

A vazões máximas são calculadas neste método a partir da seguinte rela-


ção:

P(%) P
Q= ⋅ A ⋅ PP ⋅ r ⋅ A
100.Dt PP (3.7)

Onde:
P = Porcentagem do pico do hidrograma percentual de projeto; [P] = (%)
Dt = intervalo de tempo de cálculo; [t] = s;
A = área de drenagem da bacia; [A] = m²;
Pp = precipitação de projeto no ponto;
r = coeficiente médio de runoff;
Pa/Pp = coeficiente de dispersão na área A (relação chuva na área - chuva no
ponto).

A aplicação do método empírico requer que se faça uma síntese das princi-
pais características de eventos hidrológicos típicos observados nas bacias em estudo.
Uma sinopse de cada um dos eventos hidrológicos deve compreender:
- Alturas pluviométricas registradas em cada posto durante a tormenta;
- Isoietas da chuva acumulada em cada posto;
- Curva de distribuição cronológica da chuva média acumulada sobre a bacia
e em porcentagem;
- Hietograma da chuva bruta geradora da cheia;
- Hidrograma de volume unitário de deflúvio direto com as ordenadas em
porcentagem;

17
- Tempos característicos do hidrograma de cheia;
- Relação chuva na área-chuva no ponto;
- Coeficiente de runoff;
- Tempo de duração da chuva bruta.

A partir do estudo dos eventos hidrológicos, são selecionados hidrogramas


de volume unitário de deflúvio direto típicos da bacia. Em função de sua semelhança,
os hidrogramas típicos são agrupados em famílias, definindo-se então um hidrograma
percentual de projeto, que geralmente corresponde ao hidrograma percentual médio
observado.

A vazão de pico do hidrograma de projeto é dada então pela EQUAÇÃO


(3.7).

Com o propósito de se definir a chuva de projeto, o método recorre a estudos


de probabilidades de ocorrência de chuvas de curta duração, bem como à determina-
ção de coeficientes de dispersão.

Recomenda-se a utilização das publicações “Precipitações Máximas no Es-


tado de São Paulo” (05), e do Manual de Drenagem Urbana (06), para fins de obten-
ção de estimativas de chuvas intensas de dada probabilidade e dos coeficientes de
dispersão das tormentas (relações chuva na área - chuva no ponto).

Caso haja dados disponíveis de várias tormentas observadas na bacia em


estudo, efetua-se uma análise entre as precipitações máximas nos epicentros das tor-
mentas e as chuvas médias sobre a bacia. Constroem-se, então, curvas de relação
chuva na área-chuva no ponto, em porcentagem, em função da área de drenagem,
para chuvas de várias durações. Adota-se, então, para uma dada duração, a curva
envoltória superior para definir a tormenta de projeto.

O Método CTH foi aplicado à bacia do ribeirão dos Meninos, em São Paulo -
SP. Na TABELA 3.5 apresenta-se uma síntese das principais características dos eventos
hidrológicos típicos observados na bacia do ribeirão dos Meninos. Foram selecionados
10 eventos hidrológicos mais representativos das enchentes na bacia.

A partir do estudo dos eventos hidrológicos, foram selecionados hidrogramas

18
de volume unitário de deflúvio direto típicos da bacia. Estes hidrogramas foram agru-
pados em famílias, em função das semelhanças entre si.

Na FIGURA 3.3 apresentam-se os hidrogramas de uma família que repre-


sentam ondas de cheia de maior pico percentual e menor volume. Estes hidrogramas
típicos constituem a base para a definição das cheias de projeto.

No caso de ocorrer grande variabilidade nos valores dos picos percentuais,


costuma-se adotar para projeto um hidrograma percentual médio.

Precipitação Tempo de
Duração
Máx. Porcent. Deflúvio Volume Re- Coef.
Carga Vazão Ascen-
EVENTO

Acum. Média Corresp. Base Deflúvio cessão Médio


DATA Pa/Pp Pluv. de Pico são da
no Bacia Ao Pico Médio Direto da de
Bruta Onda
ponto Onda Runoff
(mm) (mm) (h) (m³/s) (%) (m³/s) (m³/s) (h) (h)
01 18/10/82 20,5 11,9 0,58 4 46 19,0 6,0 405600 2,0 4,0 0,30
02 07/12/82 14,6 12,2 0,84 5 82 19,9 8,9 744571 2,0 4,5 0,54
03 26/02/83 9,9 3,5 0,35 3 13 17,5 6,5 62748 2,0 4,5 0,16
04 27/02/83 40,0 31,6 0,79 3 107 22,6 8,8 828900 2,0 4,0 0,23
05 04/03/83 22,0 16,3 0,74 5 56 16,7 8,0 571200 2,0 4,5 0,31
06 05/03/83 31,0 22,0 0,71 4 76 24,2 10,1 528000 2,0 4,0 0,21
07 06/03/83 64,9 53,0 0,82 4 203 11,3 13,7 3265200 3,3 6,6 0,55
08 07/03/83 67,2 40,4 0,60 4 182 13,3 15,1 2358000 2,0 6,0 0,52
09 18/03/83 18,8 11,5 0,61 3 43 18,2 7,8 392400 2,0 3,5 0,30
10 19/03/83 56,0 41,8 0,75 5 139 15,6 11,8 1451880 2,5 5,0 0,31

TABELA 3.5 - EVENTOS HIDROLÓGICOS TÍPICOS OBSERVADOS NO RIBEIRÃO DOS MENINOS

19
FIGURA 3.3 - HIDROGRAMAS PERCENTUAIS TÍPICOS - RIBEIRÃO DOS MENINOS

Relativamente ao estudo da relação (chuva na área - chuva no ponto), apre-


sentam-se na FIGURA 3.4, para tormentas de diferentes durações, as alturas pluvio-
métricas médias em função da área abrangida pelas mesmas. Constata-se em geral
que a redução da chuva média em função da área de drenagem é menor para chuvas

20
de menor duração.

Na FIGURA 3.5, apresentam-se as curvas de relação (chuva na área-chuva


no ponto) em porcentagem em função da área de drenagem para chuvas de 3 horas
de duração, correspondentes a três das tormentas observadas. Estas curvas foram
utilizadas para o cálculo da chuva bruta de projeto. Admitiu-se com base nos eventos
hidrológicos estudados que à chuva bruta de 3 horas de duração correspondesse uma
chuva efetiva de 2 horas de duração, hipótese já corroborada em estudos anteriores,
como na “Revisão dos Estudos Hidrológicos do Rio Tamanduateí”, (07).

Uma vez definidos os parâmetros de projeto de acordo com os procedimen-


tos anteriormente descritos, a obtenção das vazões decorre da aplicação direta da
EQUAÇÃO (3.7).

Com base nos estudos realizados pode-se, por exemplo, adotar para definição
de enchentes de projeto o seguinte critério:
- duração da chuva efetiva: td = 2 horas
- período de retorno da chuva máxima no ponto: T = 50 anos
- altura precipitada com T = 50 anos e td = 2 horas:
Pp= 85,9 mm
- coeficiente de dispersão: Pa / Pp = 0,60
- porcentagem de pico do hidrograma de volume unitário:
Ppico = 18%
- intervalo de tempo de cálculo = 1800 s (corresponde ao intervalo de leitura
das observações).

O hidrograma de enchentes que corresponde às condições do exemplo apre-


senta uma vazão de pico de 415 m³/s e um volume de deflúvio de 3,97.106 m³.

21
FIGURA 3.4 - ALTURAS PLUVIOMÉTRICAS MÉDIAS DE VÁRIOS EVENTOS EM FUNÇÃO DAS ÁREAS ABRANGIDAS PELAS
MESMAS, E PARA VÁRIAS DURAÇÕES

22
FIGURA 3.5 - RELAÇÃO CHUVA NA ÁREA/CHUVA NO PONTO, PARA TORMENTAS DE 3 HORAS DE DURAÇÃO

3.2 - MÉTODOS SINTÉTICOS

A ausência de séries históricas de dados hidrológicos estatisticamente repre-


sentativas é particularmente sentida em pequenas bacias hidrográficas.

23
Em contrapartida, são as pequenas bacias as que mais comumente se apre-
sentam no dia a dia do engenheiro envolvido no dimensionamento de obras hidráuli-
cas.

Apresentam-se a seguir algumas metodologias sintéticas de cálculo de


vazões máximas, recomendadas e desenvolvidas para bacias hidrográficas com áreas
de drenagem de diversas ordens de grandeza. A saber:
- Método Racional: Área da Bacia < 2 km²
- Método I-PAI-WU: Área da Bacia 2 < A < 200 km²
- Método Prof. KOKEI UEHARA: Área da Bacia 200 < A < 600 km²

3.2.1 - RACIONAL

Para bacias que não apresentam complexidade e que tenham até 2 km² de
área de drenagem, é usual que a vazão de projeto seja determinada pelo MÉTODO
RACIONAL. Esse método foi introduzido em 1889 e é largamente utilizado nos Es-
tados Unidos e em outros países. Embora tenha sido freqüentemente sujeito a críti-
cas acadêmicas por sua simplicidade, nenhum outro método foi desenvolvido dentro
de um nível de aceitação geral. O Método Racional, adequadamente aplicado, pode
conduzir a resultados satisfatórios em projetos de drenagem urbana, que tenham es-
truturas hidráulicas como galerias, bueiros, etc, e ainda para estruturas hidráulicas
projetadas em pequenas áreas rurais.

O Método pode ser colocado sob a seguinte fórmula:

Q = 166,67 . C . i . A . D (3.8)
Onde:
Q = vazão máxima; [Q] = l/s,
C = coeficiente de escoamento superficial, função das características da ba-
cia em estudo.

Apresentam-se na TABELA 3.6 alguns valores típicos de projeto,


i = intensidade da chuva crítica; [i] = mm/min,
A = área da bacia de contribuição; [A] = ha,
D = coeficiente de distribuição da chuva

24
Para: A < 50 ha, D=1

L
A > 50 ha D = 1− 0,009 ⋅
2
onde L = comprimento do talvegue, em km.

USO DO SOLO OU GRAU DE VALORES


URBANIZAÇÃO Mínimos Máximos
Área totalmente urbanizada
0,50 0,70
Urbanização futura
Área parcialmente urbanizada
0,35 0,50
Urbanização moderada
Área predominatemente de planta-
ções, pastos, etc 0,20 0,35
Urbanização atual

TABELA 3.6 - COEFICIENTE DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL (RUNOFF)

Para o cálculo da intensidade de precipitação, deve-se adotar um tempo de


duração de chuva crítica. Este tempo, conhecido também como o de chuva de projeto,
é adotado como sendo igual ao tempo de concentração da bacia estudada na seção
de interesse.
Existem vários métodos de cálculo do tempo de concentração. Dentre eles
podem-se citar:

a) “California Culverts Practice”, que utiliza a seguinte fórmula empírica:

0 ,385
 L3 
t c = 57 ⋅  
 Dh  (3.9)

25
Onde:
tc = tempo de concentração; [tc] = min,
L = comprimento do talvegue do curso de água ; [L] = km,
Dh = diferença de nível; [ Dh ] = m.

b) “Onda cinemática “, baseado na velocidade média do escoamento. A ex-


pressão geral do método é a seguinte:

L
tc =
V (3.10)

Onde:
tc = tempo de concentração ; [tc] = s,
L = comprimento do talvegue do curso de água principal; [L] = m,
V = velocidade média de escoamento no curso de água; [V] = m/s

A velocidade de escoamento real pode ser estimada pela fórmula de Chézy


com coeficiente de Manning:

1 2 1
V = RH 3 J 2
n (3.11)

Onde:
V = velocidade média; [V] = m/s,
n = coeficiente de rugosidade, segundo Manning;
Rh = raio hidráulico; [Rh] = m,
J = declividade média do curso de água; [J ] = m/m.

3.2.2 - I-PAI-WU

Este método constitui-se num aprimoramento do Método Racional, podendo


ser aplicado para bacias com áreas de drenagem de até 200 km².

26
A fórmula racional, apesar de não se constituir na metodologia de cálculo
mais recomendável em projetos da moderna engenharia, permite, entretanto, um
aperfeiçoamento através de uma análise e ajuste dos diversos fatores intervenientes.
Os fatores adicionais a serem considerados na fórmula Racional referem-se ao arma-
zenamento na bacia, à distribuição da chuva e à forma da bacia. Sua aplicação torna-
se adequada na medida em que se exerce um julgamento criterioso das inúmeras
variáveis em jogo no desenvolvimento de uma cheia.

A expressão-base para aplicação do método advém do método racional, qual


seja:

Q = 0,278 . C . i . A0,9 . K (3.12)

Onde:
Q = vazão de cheia [Q] = m3/s,
C = coeficiente de escoamento superficial,
i = intensidade da chuva crítica; [i] = mm/h,
A = área da bacia de contribuição ; [A] = km²,
K = coeficiente de distribuição espacial da chuva.

Os principais fatores intervenientes, que deverão ser avaliados em cada ba-


cia, são os seguintes:
a - Forma, área e declividade da bacia hidrográfica,
b - Intensidade e distribuição da chuva crítica,
c - Características da superfície da bacia hidrográfica envolvendo:
- provável utilização futura dos terrenos,
- grau de impermeabilização do solo,
- existência de depressões ou bacias de acumulação que diminuam os picos
de cheias,
- grau de saturação do solo devido a chuvas antecedentes,
d - Tempo de escoamento superficial (ts),
e - Tempo de concentração (tc),
f - Tempo de pico (tp).

No Método Racional admite-se que a chuva crítica, numa dada bacia hidrográfica,

27
tenha uma duração igual ao tempo de concentração. Entretanto, em bacias de forma
alongada, no sentido do talvegue, o tempo de concentração poderá ser superior ao
tempo de pico. Isto corresponde a dizer que a chuva que cai na parte mais remota da
bacia chegará tarde demais à seção estudada para contribuir para a vazão máxima.
Assim, o efeito da forma da bacia pode ser considerado através do coeficiente de
forma (C1).

C1 = tp / tc (3.13)

Onde:
tc = tempo de concentração,
tp = tempo de pico.

O coeficiente de forma também é dado pela expressão:

4
C1 =
( 2 + F) (3.14)

Onde (F) é o fator de forma da bacia, que relaciona a forma da bacia com um
círculo de mesma área, ou seja, ele mede a taxa de alongamento da bacia. Assim se
uma bacia fosse exatamente circular F = 1.

Levando-se em conta apenas o formato das bacias, C1 deverá ser menor que
1 para bacias alongadas. No Método Racional admite-se C1 = 1.

Adotando-se
����������������������������������������������������������������������
a nomenclatura utilizada nos estudos de I-PAI-WU (08), de-
monstra-se que o coeficiente de escoamento da fórmula racional pode ser calculado
por:
C2
C=f
C1 (3.15)

Onde:

2V1
f=
V (3.16)

28
O parâmetro ( f ) é a relação entre o volume de escoamento da parte ascen-
dente do hidrograma ( V1 ), admitindo este com forma triangular, e o volume total do
escoamento superficial ( VT ), FIGURA 3.6.

FIGURA 3.6 - HIDROGRAMA ADMITIDO NO MÉTODO DE I-PAI-WU

O coeficiente C2, que é o coeficiente volumétrico de escoamento, é definido


pela seguinte equação:

VT
C2 =
Ie.A (3.17)

Onde:
Ie - representa a quantidade de chuva efetiva que passa pela seção estudada,
ou seja, são descontadas as perdas durante a ocorrência da chuva de projeto.
Essas perdas na chuva de projeto são devidas à infiltração no solo, à inter-
ceptação pela cobertura vegetal e ao efeito do armazenamento de água superficial em

29
pontos específicos na bacia.

Portanto, na aplicação deste método, inicialmente determina-se a chuva crí-


tica, conhecida também como a de projeto. A partir desta e descontando-se as perdas
mencionadas, obtém-se a chuva efetiva.

A parcela da chuva crítica que se infiltra no solo depende do grau de imper-


meabilização do mesmo. O grau de impermeabilidade do solo é classificado a partir do
conhecimento do uso do solo, do grau de urbanização, da cobertura vegetal e do tipo
de solo, conforme é indicado na TABELA 3.7.

GRAU DE IMPERMEABI- COBERTURA OU TIPO DE USO DO SOLO OU GRAU DE


LIDADE DO SOLO SOLO URBANIZAÇÃO
- com vegetação rala e/ou - zonas verdes não urbaniza-
esparsa das
Baixo
- solo arenoso seco
- terrenos cultivados
- terrenos com manto fino de - zona residencial com lotes
material poroso amplos (maior que 1000 m²)
Médio - solos com pouca vegetação - zona residencial rarefeita
- gramados amplos
- declividades médias
- terrenos pavimentados - zona residencial com lotes
- solos argilosos pequenos (100 a 1000 m²)
Alto - terrenos rochosos estéreis
ondulados
- vegetação quase inexistente

TABELA 3.7 - GRAU DE IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO EM FUNÇÃO DO SEU USO

O coeficiente C2 deverá ser obtido pela ponderação dos coeficientes das


áreas parciais ou sub-bacias, coeficientes estes que são classificados pelo grau de
impermeabilidade e que estão especificados na TABELA 3.8.

30
GRAU DE IMPERMEABILIDADE COEFICIENTE VOLUMÉTRICO DE
DA SUPERFÍCIE ESCOAMENTO
Baixo 0,30
Médio 0,50
Alto 0,80

TABELA 3.8 - COEFICIENTES VOLUMÉTRICOS DE ESCOAMENTO (C2)

A desigualdade de distribuição das chuvas na bacia será levada em conta


mediante a aplicação de um coeficiente redutor (K) de distribuição de chuvas, obtido
da FIGURA 3.7.

A determinação da intensidade de precipitação se faz de modo análogo ao


utilizado no Método Racional.

O efeito do armazenamento de água na bacia, que ocorre em pontos locali-


zados nos leitos de cursos de água ou mesmo em galerias e obras afins, é levado em
consideração através de um expoente redutor (n) aplicado sobre o parâmetro área de
drenagem da bacia. Adota-se usualmente n = 0,9.

Sempre que a área da bacia em estudo apresentar diferentes usos do solo,


costuma-se considerar um valor médio do coeficiente de escoamento, calculado atra-
vés da equação:

( SC2I.A I )
C2 =
A (3.18)

Onde a área Ai, corresponderá a C2i, lembrando que A = S Ai.

Com esses parâmetros obtém-se o hidrograma relativo à chuva de projeto.


Este hidrograma foi admitido como triangular, determinando-se então o volume total
de escoamento superficial e a vazão de cheia.

Finalmente, à vazão de cheia determinada, deve ser adicionada a vazão de

31
base, esta última admitida como sendo da ordem de 10% daquela. Assim, obtém-se a
vazão máxima de projeto.

3.2.2.1 - ROTEIRO DE CÁLCULO

a) - Determinar o divisor de águas da bacia que contribui para a seção em


estudo
b) - Calcular a área de drenagem correspondente (A), usualmente através de
planimetria
c) - Determinar a declividade equivalente através do processo gráfico, ou
através da expressão:

(3.19)

Onde:
[L] = km
[J] = m/m
[S] = m/m, para transformar em m/km, deve-se multiplicar por 1000.

OBS: Uma prática comum é adotar os Li como sendo a distância entre curvas
de nível consecutivas, medidas em planta.

d) - Determinar o fator de forma (F) da bacia hidrográfica através da fórmu-


la:
L
F= 1
2( A / π) 2
(3.20)

32
Onde:
L = comprimento do talvegue do rio, [L] = km
A = área da bacia de contribuição, [A] = km²

e) - Calcular o tempo de concentração através da fórmula :

0 ,385
 L2 
t c = 57 
S

Onde:
tc = tempo de concentração, [tc] = min,
L = comprimento do talvegue do rio, [L] = km,
S = declividade equivalente, [S] = m/km.

f) - Calcular as porcentagens (P) de áreas com coeficientes C2 indicados e


calcular o valor ponderado de C2, através da expressão:

C21.A1+ C22.A2 + ⋅ ⋅ ⋅ + C2N.A N


C2 =
SA I

g) - Determinar a intensidade da chuva crítica, através das equações de


chuva, que podem ser encontradas em (05).
OBS: Verificar se existe equação de chuva para a localidade em estudo, não
havendo deverá ser utilizada a equação de chuva da localidade mais próxima.

h) - Determinar o coeficiente de distribuição espacial da chuva (K), que é


função da área de drenagem (em km2) e do tempo de concentração (em horas) através
do gráfico apresentado na FIGURA 3.7.

i) - Determinar o coeficiente (C1), através do coeficiente de forma da bacia


(F).
4
C1 =
( 2 + F)
j) - Calcular o coeficiente (C), através da expressão:

33
2 C2
C= ⋅
1 + F C1

l) - Calcular o volume total do hidrograma (V), através da expressão:

V = (0,278 . C2 . i . tc . 3600 . A0,9 . K) . 1,5 (3.21)

Onde:
V = volume total do hidrograma, [V] = m³,
i = intensidade da chuva, [i] = mm/h,
tc = tempo de concentração, [tc] = horas,
A = área da bacia de contribuição, [A] = km²,
C2 = coeficiente volumétrico de escoamento,
K = coeficiente de distribuição espacial da chuva.

m) - Calcular a vazão de cheia ( Q ), através da expressão:

Q = 0,278 . C . i . A0,9 . K

Onde:
Q = vazão de cheia, [Q] = m³/s,
i = intensidade da chuva, [i] = mm/h,
A = área da bacia de contribuição, [A] = km².

n) - Determinar a vazão máxima de projeto (Qp), acrescentando uma vazão


de base (Qb), da ordem de 10% da vazão de cheia.

Qb = 0,10 . Q

Qp = Qb + Q

34
FIGURA 3.7 - COEFICIENTE DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA CHUVA (K)

35
3.2.3 - PROF. KOKEI UEHARA

Este método é uma adaptação do Método de Snyder para as condições bra-


sileiras, podendo ser aplicado para bacias com áreas de drenagem entre 100 e 600
km². Snyder (09) propôs um grupo de equações baseado em observações de rios nas
regiões montanhosas dos Apalaches. Linsley (10) mostrou, em 1943, que as equações
de Snyder poderiam ser empregadas em outras regiões do país modificando algumas
constantes.

O método de Snyder admite um hidrograma sintético, isto é, construído a


partir de certos valores adotados para os parâmetros envolvidos. O hidrograma sinté-
tico está representado na FIGURA 3.8 com seus parâmetros básicos.

FIGURA 3.8 - HIDROGRAMA SINTÉTICO E SEUS PARÂMETROS

36
Onde:

Q = vazão de cheia,
td = duração da chuva,
tr = tempo de retardamento,
tc = tempo de concentração,
tb = tempo de base do hidrograma, varia entre 3,0 tc a 3,5 tc.

O primeiro parâmetro básico é o “lag” ou tempo de retardamento da bacia


(tr), definido como o intervalo de tempo compreendido entre o instante corresponden-
te ao centro de gravidade do hietograma da chuva excedente e o pico do hidrograma
unitário. Snyder propôs a seguinte expressão:

Ct
tr = (L.La)0,3
1,33 (3.22)

onde:

tr = tempo de retardamento da bacia, [tr] = h;


L = comprimento do talvegue, [L] = km;
La = distância da seção de controle até a projeção do centro de gravidade da
bacia no talvegue (FIGURA 3.9), [La] = km;
Ct = coeficiente numérico que depende da forma da bacia, que varia entre
1,8 e 2,2 com uma média de 2,0 para as áreas estudadas por Snyder. Para as condi-
ções brasileiras, esse coeficiente varia entre 0,8 e 2,0 com uma média de 1,4 para as
áreas estudadas pelo Prof. Kokei Uehara.

37
FIGURA 3.9 - BACIA HIDROGRÁFICA E PARÂMETROS

Onde:

CG = Centro de gravidade da bacia,


L = Comprimento do talvegue,
Sc = Seção de controle ou de saída da bacia,
CGP = Centro de gravidade projetado no talvegue,
La = Distância entre a seção de controle e o CGP.

A chuva de projeto é o segundo parâmetro envolvido. Para definir essa chuva


são necessários dois parâmetros: a duração (td) e a intensidade (i). A duração da chu-
va, segundo Snyder e adaptado para as condições brasileiras, é dado pela equação:

tr
td =
4,0 (3.23)

onde:

td = duração da chuva, [td] = h;


tr = tempo de retardamento, [tr] = h.

38
A altura da precipitação (h) é o resultado da aplicação das equações de chu-
vas, utilizando-se, como parâmetros o tempo de duração da chuva (td) e o período de
retorno (T).

A intensidade de precipitação é encontrada em (05), e é função de (td) e do


período de retorno (T). Obtido (i), a altura de chuva é dada por:

h = i.td (3.24)

A partir dessa altura de chuva é considerado um coeficiente de distribuição


espacial de chuva (K). Assim, é determinada a altura de chuva uniforme sobre toda
bacia e é dada pelo produto:

h = K.h (3.25)

O coeficiente de distribuição espacial, segundo Chow (11), é função da área


da bacia e da duração da chuva (FIGURA 3.7).

Outros parâmetros já apresentados também estão envolvidos, como o tempo


de concentração e o coeficiente de escoamento. Este mede o grau de impermeabi-
lidade do solo e é classificado a partir do conhecimento do uso do solo, do grau de
urbanização, da cobertura vegetal e do tipo de solo (TABELA 3.7).

Como neste método as áreas das bacias hidrográficas são maiores, o tipo de
uso do solo pode variar. Então, o coeficiente de escoamento superficial (C) utilizado
neste método é o resultado da média ponderada, calculado através da seguinte ex-
pressão:

C1.A1+ C2.A2 + ⋅ ⋅ ⋅ + Cn.An


C=
SA i

Onde C1, C2 ... Cn correspondem aos diferentes usos de solo nas respectivas
áreas A1, A2 ... An, lembrando que A = SAi.

39
O coeficiente de escoamento superficial deve, então ser introduzido nos cál-
culos. Isto se faz ao tomar o produto entre a altura da chuva uniforme sobre toda a
bacia ( h ) e o coeficiente de escoamento superficial, determinando a altura excedente
de chuva (hexd). Esta é a parcela de chuva que de fato, vai se transformar em escoa-
mento superficial:

hexd = C.h (3.26)

Onde:

hexd = altura de chuva excedente, [hexd] = mm,


C = coeficiente superficial de escoamento,
h = altura de chuva uniforme, [ h ] = mm.

Com todos esses parâmetros já determinados, pode-se calcular a área do


hidrograma (FIGURA 3.8), que, sendo um produto entre vazão e tempo, dá o volume
escoado superficialmente. Esse volume de escoamento superficial direto (Vesd) é igual
ao produto da altura da chuva excedente (hexd) pela área da bacia drenagem (A).

A vazão de cheia (Q) é calculada geometricamente através da área do hidro-


grama, que é um triângulo. Nele a altura corresponde à vazão de cheia (Q), a área ao
volume de escoamento superficial direto (Vesd) e a base ao tempo de base do hidro-
grama (tb).

Finalmente, à vazão de cheia calculada, acrescenta-se a vazão de base do


escoamento, que é da ordem de 10% da vazão de cheia, obtendo-se a vazão máxima
de projeto ( Qp).

3.2.3.1 - ROTEIRO DE CÁLCULO

a) Determinar o divisor de águas da bacia que contribui para a seção em


estudo.
b) Determinar a área de drenagem correspondente (A); [A] = km2.
c) Determinar o comprimento do talvegue (L); [L] = km.

40
d) Determinar o centro de gravidade (CG) da bacia.
e) Determinar a distância do centro de gravidade projetada no talvegue até
a seção em estudo: [ La ] = km

f) Determinar a declividade equivalente através da fórmula abaixo, ou pelo


processo gráfico:

g) Calcular o tempo de concentração através da fórmula:

0 ,385
 L2 
tc = 57 
S
Onde:

tc = tempo de concentração; [tc] = mim,


L = comprimento do talvegue do rio; [L] = km,
S = declividade equivalente; [S] = m/km

h) Determinar o tempo de retardamento da bacia (tr).

Ct
tr = (L.La)0,3
1,33

Onde:
[tr] = h
[L] = km
[La] = km.

i) Determinar a duração da chuva (td).

41
tr
td =
4,0

Onde:
[td] = h
[tr] = h

j) Determinar a altura da precipitação (h): [h] = mm


Verificar se existe equação de chuva para a localidade em estudo. Não haven-
do, deverá ser utilizada a equação de chuva do local mais próximo.

l) Determinar o coeficiente de distribuição espacial da chuva (K), em função


da área de drenagem e da duração da chuva, sendo [A] = km2 e [td] = h.

m) Determinar a chuva uniforme na bacia ( h ):

h = K.h

Onde:
h = mm

[h=mm]
n) Determinar a chuva excedente (hexd)

hexd = C.h

Onde:
[hexd] = mm
h = mm

42
o) Determinar o volume de escoamento superficial direto (Vesd)

Vesd = 1000.hexd . A

Onde:
[hexd] = mm
[A] = km²
[Vesd] = m³

p) Determinar a vazão de cheia (Q)

2.Vesd
Q=
tb.3600
Onde:
[Q] = m³/s
[Vesd] = m³
[tb] = h

q) Determinar a vazão máxima de projeto (Qp), acrescentando uma vazão de


base (Qb), da ordem de 10% da vazão de cheia.

Qb = 0,10 . Q

Qp = Qb + Q

3.2.4 - EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Para exemplificar as metodologias apresentadas, foram utilizados os estudos


das enchentes do rio São Domingos, na área urbana da cidade de CATANDUVA.

As características mais importantes da bacia do rio São Domingos a montan-


te de Catanduva são:

43
Área da bacia 270 km²
Perímetro da bacia 82,0 km
Índice de compacidade 1,41
Declividade equivalente 0,0018 m/m
Densidade de drenagem 9,95 km/km²
Comprimento do talvegue 35,0 km
Ocupação do solo: pastagens, cafezais e pequena área
0,30
urbanizada
Distância do centro de gravidade da bacia até a zona
13,0 km
urbanizada de Catanduva

3.2.4.1 - I-PAI-WU

Cálculo de Vazão Máxima de período de retorno de 50 anos:

- Cálculo do fator de forma da bacia

L 35,0
F= 1
= 1
= 1,88
 A 2  270  2
2⋅  2⋅ 
π  π 
L = comprimento do talvegue do rio, em km
A = área da bacia, em km2

- Tempo de concentração

0 ,385 0 ,385
 L2   35,0 2 
tc = 57  = 57 

S  1,8 
tc = 702 minutos = 11,7 horas
S = declividade equivalente do perfil longitudinal do rio, em m/km

44
- Cálculo do coeficiente volumétrico de escoamento (C2)

Grau de impermeabilidade da superfície: baixo (pastagens e cafezais)


C2 = 0,30

- Cálculo do coeficiente C1

tp 4
C1 = =
tc 2 + F

tp = tempo de ascensão
tc = tempo de concentração
F = fator de forma

4
C1 = = 1,03
2 + 1,88

- Cálculo da intensidade da chuva crítica de T = 50 anos com a equação da


chuva de Bauru e t =11,7 horas (tempo de concentração)

i = 0,188 mm/min = 11,28 mm/h

- Cálculo do coeficiente de distribuição espacial da chuva (gráfico próprio)


K = 0,91

- Cálculo de C

C2 2 0,30 2
C= ⋅ = ⋅ = 0,20
C1 1+ F 1,03 1+ 1,88

- Cálculo do volume total do hidrograma

V = (0.278 . C2 . i . tc . A0,9 . K) . 1,5


V = (0,278 . 0,30 . 11,28 . 11,7 . 3600 . 2700,9. 0,91) . 1,5
V = 8,3 . 106 m³

45
- Cálculo da vazão de cheia ( T = 50 anos )

Q = 0,278 . C . i . A0,9 . K

Q = 0,278 . 0,20 . 11,28 . 2700,9 . 0,91 = 88,0 m³/s

- Vazão máxima de projeto

Qb = 0,10.Q = 8,8 m³/s

Qp = Qb + Q = 8,8 + 88,0 = 96,8 m³/s

3.2.4.2 - PROF. KOKEI UEHARA

- Cálculo do tempo de concentração

Com a fórmula estabelecida para o Planalto Paulista, pelo Engº Adolfo San-
tos Junior

tc = 43,6 . A0,514

onde [tc] = min


A = km²

tc = 43,6 . 2700,514 = 774,8 minutos = 12,9 horas

- Pela fórmula de California Culverts Practice, California Highways and Public


Works, modificada

46
0 ,385 0 ,385
 L2   L2 
tc = 57  = 57 
S  1,8 

tc = 702 minutos = 11,7 horas


Os dois valores de tc são da mesma ordem de grandeza.

- Cálculo do tempo de retardamento (intervalo de tempo entre instante cor-


respondente a metade da duração da chuva e o instante do pico do hidrograma).
Pela fórmula empírica de Snyder:

2,2
tr = ⋅ (L.La)0,3
1,33

2,2
tr = ⋅ (35 × 13)0,3 = 10,37 h
1,33

- Duração da chuva que poderá provocar as cheias, segundo Snyder e adap-


tada ao Brasil.

10,37
td = = 2,59 h
4,0

47
- Cálculo da chuva intensa, em função da equação da chuva de Bauru, dura-
ção da chuva td = 2,59 horas = 155 minutos, e período de retorno de T = 50 anos.

h = 100,4 mm

- Cálculo do coeficiente de distribuição espacial da chuva (K), segundo o Prof.


Ven Te Chow (11) (gráfico):

K = f(A, td)
onde: A é a área da bacia e
td a duração da chuva
A = 270 km2
td = 2,59 h
K = 0,84

48
- segundo a fórmula empírica do Engº Adolfo Santos Junior para o Altiplano
Paulista

K = 0,848 . A-0,0564
A = área da bacia ...... km2
K = 0,848 . 270-0,0564 = 0,62
Essa expressão não leva em consideração a duração da chuva. Por isso ado-
tar-se-á K = 0,84 do Prof. Ven Te Chow.

- Chuva uniforme na bacia

h = K.h = 0,84 . 100,4 = 84,3 mm

- Chuva excedente (hexd)


Considerando-se o coeficiente de produção de escoamento superficial C =
0,30, adotado em função das características da bacia

hexd = 0,30 . h = 0,30 . 84,3 = 25,3 mm

- Volume do escoamento superficial direto


Vesd = hexd . A = 25,3.10-3 . 270 . 106 = 6,83 . 106 m3
A = área da bacia

- Cálculo da vazão de cheia ( T = 50 anos ).


A altura do hidrograma adotado (forma triangular) corresponde a vazão de
cheia.
2.Vesd
Q= = 95,6 m3 / s
39,7 × 3600

- Cálculo da vazão máxima de projeto.

Qb = 0,10.Q = 0,10 . 95,6 = 9,6 m³/s


Qp = Qb + Q = 9,6 + 95,6 = 105,2 m³/s

49
Este valor está próximo do resultado do cálculo obtido pelo método de I-PAI-
WU, Qp = 96,8 m3/s.

OBS: A vazão de projeto do canal do Rio São Domingos, em Catanduva, a ser


adotada, será um valor médio obtido pelos dois métodos empíricos.

Qp = 101,0 m3/s ( T = 50 anos ).

3.3 - PROPAGAÇÃO DE ONDAS DE CHEIA

Para o cálculo de vazões máximas em bacias hidrográficas desprovidas de sé-


ries históricas de dados estatisticamente representativos, mas com áreas de drenagem
superiores a 600 km2, recomenda-se que o procedimento de estimativa de vazões má-
ximas seja análogo aos expostos nos itens anteriores. Assim, obtém-se hidrogramas
unitários sintéticos, mas não para a bacia como um todo, e sim para sub-bacias com
áreas de drenagem dentro dos limites de validade recomendados para as metodolo-
gias anteriormente expostas.

Entretanto, após o cálculo da vazão máxima de uma dada sub-bacia, há


necessidade de se proceder à propagação da onda de cheia calculada através da rede
hidrográfica da bacia situada imediatamente a jusante.

50
FIGURA 3.10 - DIVISÃO DE UMA BACIA EM SUB-BACIAS

Ao se atingir o exutório da bacia de jusante, soma-se à descarga propagada


da bacia de montante a contribuição da bacia de jusante, calculada pelos procedi-
mentos tradicionais. Trata-se, evidentemente, de uma simplificação do comportamento
hidrológico de rede hidrográfica, mas torna mais criteriosa a estimativa de vazão de
projeto na seção requerida.

Sugere-se como método de propagação de cheias o denominado método de


Muskingum (12), onde o armazenamento num trecho de canal prismático é assumido
como uma função linear das vazões afluentes (QI) e efluentes (QO), sendo dado pela
expressão:

SA = KA [XP . QI + (1-XP) . QO] (3.27)

onde (KA) é uma constante de armazenamento, que é assumida constante para todas
as vazões, e (XP) é um fator da ponderação. (KA) tem unidade de tempo e é próximo do
tempo de trânsito da onda de cheia. (XP) na prática varia entre 0 e 0,5, sendo utilizado
normalmente igual a 0,2 para canais naturais, segundo Croley (13).
Os valores de (KA) e (XP) devem ser determinados a partir de hidrogramas
observados. Na ausência de dados, valem estimativas indiretas do tempo de trânsito e
da adoção de parâmetros médios regionais.

51
Assumindo-se a seguinte forma aproximativa da equação da continuidade
para um intervalo Dt :

(QI1 + QI2 ) (QO1 + QO2 ) (S A1 − S A 2 )


− =
2 2 Dt (3.28)

onde os índices 1 e 2 se referem ao início e ao fim do intervalo de tempo


considerado, e combinando-a com a equação de armazenamento, chega-se à seguinte
expressão para o cálculo da vazão efluente:

QO2 = CM1 . QI1 + CM2 .QI2 + CM3 . Q01 (3.29)

Onde:
CM1 = (KA XP + Dt/2) / (KA - KA XP - Dt/2)

CM2 = - (KA XP - Dt/2) / (KA - KA XP + Dt/2)

CM3 = (KA - KA XP - Dt/2) / (KA - KA XP + Dt/2)

De forma geral, pode-se escrever:

Q01 = CM1 . QI i-1 + CM2 . QI i + CM3 . Q0 i-1

KA e Dt devem ter as mesmas unidades temporais;


QI e QO as mesmas unidades de vazão

Note-se que Cm1 + Cm2 + Cm3 = 1, o que se constitui numa forma prática
de verificar se os valores das constantes estão de acordo.

O procedimento de cálculo é o seguinte:


- dados K, X e Dt, calculam-se Cm1, Cm2 e Cm3.
- dado o primeiro valor de vazão efluente QO1 e valores de vazões afluentes
QI a intervalos iguais Dt, calculam-se as descargas efluentes através da expressão
(3.29)

52
4 - CÁLCULO DE VAZÕES MÉDIAS E MÍNIMAS

Para a determinação de vazões mínimas em uma seção podem-se empregar


dois métodos, em função da disponibilidade de dados locais. Um método é o estatís-
tico, que associa às vazões mínimas observadas uma função densidade de probabili-
dade, ou seja, associa-se a cada vazão observada uma certa probabilidade, sendo esta
descrita por uma função própria.

Na ausência de série histórica significativa, recomenda-se utilizar um outro


método descrito em (14) e apresentado a seguir.

No caso de vazões médias, a existência da série histórica representativa per-


mite trabalhar diretamente com as informações para obtenção dos parâmetros de
projeto necessários, tais como vazão média plurianual, volumes de regularização, etc.,
bastando aplicar as técnicas estatísticas convencionais para cada caso. A apresenta-
ção dessas técnicas, no entanto, também, foge do escopo deste Manual.

Para locais onde a extensão da série histórica de dados fluviométricos for in-
ferior a 10 anos, recomenda-se a utilização do “Estudo de Regionalização de variáveis
hidrológicas”, desenvolvido pelo DAEE (14).

Na FIGURA 4.1, apresenta-se um esquema resumindo a aplicabilidade dos métodos.

53
FIGURA 4.1 - DETERMINAÇÃO DE VAZÕES MÉDIAS E MÍNIMAS

4.1 - ESTUDO DE REGIONALIZAÇÃO DE VARIÁVEIS HIDROLÓGI-


CAS

Para a determinação de vazões médias e/ou mínimas em locais onde não


existe série histórica de dados hidrológicos, ou onde a extensão da série observada
é inferior a 10 ANOS, utiliza-se o “ESTUDO DE REGIONALIZAÇÃO DE VARIÁVEIS HI-
DROLÓGICAS”, desenvolvido pelo DAEE.

Esse estudo baseou-se nos totais anuais precipitados em 444 postos pluvio-
métricos, o que permitiu a elaboração da carta de isoietas médias anuais, as séries de
descargas mensais observadas em 219 estações fluviométricas e as séries históricas
de vazões diárias de 88 postos fluviométricos.

A análise conjunta dos parâmetros estudados para a obtenção dessas vari-


áveis hidrológicas possibilitou identificar 21 regiões hidrologicamente homogêneas
no Estado de São Paulo. Assim, através desse estudo, pode-se estimar as seguintes
variáveis:

54
- vazão média de longo período;
- vazão mínima de duração variável de um a seis meses associada à probabi-
lidade de ocorrência;
- curva de permanência de vazões;
- volume de armazenamento intra-anual necessário para atender dada de-
manda, sujeito a um risco conhecido;
- vazão mínima de sete dias associada à probabilidade de ocorrência;

4.1.1 - VAZÃO MÉDIA DE LONGO PERÍODO

Verificou-se que a descarga específica média plurianual, numa dada seção


de um curso de água, pode ser obtida com boa aproximação, através de relação linear

dessa vazão ( Qesp ) com o total anual médio precipitado na bacia hidrográfica ( P ).

Qesp = a + b.P
(4.1)

Onde: (a) e (b) são parâmetros da reta de regressão.

Para que o cálculo da regressão entre chuva média anual (mm/ano) e vazão
específica média plurianual (l/s.km²) pudesse ser realizado, foi elaborado um mapa de
isoietas para o Estado de São Paulo, na escala 1:1.000.000 (ver ANEXO 1) baseado
nas informações observadas em 444 estações pluviométricas. A partir desse mapa cal-
culou-se a precipitação média plurianual em cada uma das 219 bacias hidrográficas
selecionadas que possuem série histórica de vazão. Em bacias hidrográficas com gran-
des áreas de drenagem, maior que 5000 km², foram utilizados dados de precipitação
e vazão parciais, ou seja, correspondentes à área de drenagem compreendida entre o
posto e o resto(s) imediatamente a montante. A precipitação média anual (P) em cada
uma dessas bacias foi calculada pela média ponderada da precipitação, interpolada
entre duas isoietas consecutivas (Pi*), e a área de drenagem ( Ai ) entre essas mesmas
isoietas. Assim:

P=
( )
S A i .Pi*
SA i (4.2)

55
conforme esquema apresentado na FIGURA 4.2.

P=
( )
S A i .Pi*
SA i

A 1.P1* + A 2 .P2* + A 3 .P3* + A 4 .P4 * + A 5 .P5*


P=
A1 + A2 + A3 + A 4 + A5
Onde:
Ai = área entre as isoietas Pi e Pi+1

Pi* = chuva média na área Ai, obtida por interpolação entre Pi e Pi+1

FIGURA 4.2 - CÁLCULO DA PRECIPITAÇÃO ANUAL MÉDIA

56
A FIGURA 4.3 mostra a equação das retas de regressão nas quatro regiões homogê-
neas identificadas no estudo, e os respectivos coeficientes de correlação. Na TABELA
4.1, de parâmetros regionais encontram-se listados os valores de (a) e (b) da reta de
regressão, onde com o auxílio da FIGURA 4.5 é possível localizar espacialmente cada
uma dessas regiões homogêneas.

Dessa forma pode-se obter através do estudo, a estimativa da vazão específi-


ca média plurianual de qualquer seção do curso d’água a partir da precipitação anual
média, calculada através do mapa de isoietas do ANEXO 1.

Para a determinação da Vazão Média de Longo Período, basta multiplicar o


valor da vazão específica média plurianual pela sua respectiva área da bacia de con-
tribuição.

Q = Qesp .A (4.3)

onde:
Q = vazão média de longo período [ Q ] = l/s
Qesp = vazão específica média plurianual [ Qesp ] = l/s.km²

A = área da bacia de contribuição [ A ] = km²

57
Região 1: Qesp = 0,0292.P − 2 2 ,14
Região 3: Qesp = 0,0278.P − 2 6 , 2 3
R=0,8722 R=0,9402

Região 2: Qesp = 0,0315.P − 2 9, 4 7 Região 4: Qesp = 0,0098.P − 4 , 6 2


R=0,9861 R=0,8282

FIGURA 4.3 - VAZÃO ESPECÍFICA MÉDIA PLURIANUAL


58
Média Plu Valores de
Valores de XT Curvas de Permanência qp
(Q) AeB
REGIÃO

Período de Retorno ( T ) Freqüência Acumulada (P [X>x]) em porcentagem


a b A B
10 15 20 25 50 100 5 10 15 20 25 30 40 50 60 70 75 80 85 90 95 100

A -22,14 0,0292 0,708 0,674 0,655 0,641 0,607 0,581 0,3532 0,0398 2,608 2,045 1,618 1,325 1,165 1,093 0,950 0,810 0,693 0,590 0,535 0,498 0,443 0,393 0,348 0,260

B -29,47 0,0315 0,708 0,674 0,655 0,641 0,607 0,581 0,4174 0,0426 2,150 1,734 1,505 1,366 1,250 1,153 0,994 0,846 0,745 0,640 0,588 0,545 0,498 0,430 0,371 0,165

C -29,47 0,0315 0,748 0,723 0,708 0,698 0,673 0,656 0,4174 0,0426 2,150 1,734 1,505 1,366 1,250 1,153 0,994 0,846 0,745 0,640 0,588 0,545 0,498 0,430 0,371 0,165

D -22,14 0,0292 0,708 0,674 0,655 0,641 0,607 0,581 0,5734 0,0329 1,947 1,597 1,394 1,271 1,193 1,111 0,996 0,897 0,820 0,727 0,687 0,646 0,607 0,560 0,510 0,423

E -22,14 0,0292 0,708 0,674 0,655 0,641 0,607 0,581 0,4775 0,0330 2,142 1,676 1,496 1,372 1,278 1,160 0,960 0,834 0,744 0,664 0,626 0,580 0,546 0,504 0,440 0,358

F -22,14 0,0292 0,708 0,674 0,655 0,641 0,607 0,581 0,6434 0,0252 1,797 1,533 1,400 1,297 1,232 1,165 1,003 0,905 0,822 0,743 0,715 0,672 0,643 0,598 0,558 0,465

G -26,23 0,0278 0,632 0,588 0,561 0,543 0,496 0,461 0,4089 0,0332 2,396 1,983 1,664 1,442 1,255 1,121 0,923 0,789 0,679 0,592 0,547 0,506 0,469 0,420 0,363 0,223

H -29,47 0,0315 0,748 0,723 0,708 0,698 0,673 0,656 0,4951 0,0279 2,089 1,788 1,579 1,389 1,239 1,118 0,957 0,845 0,750 0,664 0,627 0,590 0,538 0,490 0,434 0,324

I -29,47 0,0315 0,708 0,674 0,655 0,641 0,607 0,581 0,6276 0,0283 1,913 1,538 1,365 1,270 1,173 1,103 0,980 0,895 0,808 0,740 0,705 0,673 0,635 0,585 0,540 0,413

J -29,47 0,0315 0,708 0,674 0,655 0,641 0,607 0,581 0,4741 0,0342 2,272 1,792 1,526 1,366 1,231 1,125 0,948 0,807 0,715 0,628 0,596 0,566 0,523 0,462 0,414 0,288

K -26,23 0,0278 0,689 0,658 0,639 0,626 0,595 0,572 0,4951 0,0279 2,089 1,788 1,579 1,389 1,239 1,118 0,957 0,845 0,750 0,664 0,627 0,590 0,538 0,490 0,434 0,324

L -26,23 0,0278 0,759 0,733 0,717 0,706 0,677 0,654 0,6537 0,0267 1,770 1,517 1,390 1,310 1,225 1,158 1,012 0,915 0,827 0,748 0,717 0,667 0,628 0,583 0,527 0,420

M -4,62 0,0098 0,759 0,733 0,717 0,706 0,677 0,654 0,6141 0,0257 1,970 1,666 1,468 1,294 1,181 1,096 0,961 0,874 0,790 0,714 0,679 0,646 0,604 0,570 0,516 0,429

N -26,23 0,0278 0,689 0,658 0,639 0,626 0,595 0,752 0,4119 0,0295 2,396 1,983 1,664 1,442 1,225 1,121 0,923 0,789 0,679 0,592 0,547 0,506 0,469 0,420 0,363 0,223

O -26,23 0,0278 0,689 0,658 0,639 0,626 0,595 0,752 0,3599 0,0312 2,408 2,010 1,750 1,538 1,346 1,179 0,935 0,775 0,645 0,574 0,505 0,462 0,418 0,374 0,316 0,170

P -26,23 0,0278 0,619 0,577 0,552 0,535 0,492 0,459 0,3599 0,0312 2,408 2,010 1,750 1,538 1,346 1,179 0,935 0,775 0,645 0,574 0,505 0,462 0,418 0,374 0,316 0,170

Q -4,62 0,0098 0,633 0,572 0,533 0,504 0,426 0,358 0,6537 0,0267 1,770 1,517 1,390 1,310 1,225 1,158 1,012 0,915 0,827 0,748 0,717 0,667 0,628 0,583 0,527 0,420

R -4,62 0,0098 0,661 0,629 0,610 0,598 0,568 0,546 0,6141 0,0257 1,940 1,640 1,453 1,320 1,203 1,113 0,967 0,873 0,803 0,713 0,670 0,627 0,577 0,527 0,463 0,340

S -4,62 0,0098 0,661 0,629 0,610 0,598 0,568 0,546 0,5218 0,0284 2,325 1,823 1,588 1,352 1,188 1,097 0,925 0,810 0,708 0,633 0,598 0,563 0,525 0,488 0,420 0,293

T -4,62 0,0098 0,661 0,629 0,610 0,598 0,568 0,546 0,4119 0,0295 2,471 2,156 1,751 1,468 1,324 1,109 0,880 0,781 0,674 0,581 0,517 0,481 0,429 0,380 0,316 0,241

U -4,62 0,0098 0,594 0,518 0,469 0,433 0,330 0,240 0,4119 0,0295 2,471 2,156 1,751 1,468 1,324 1,109 0,880 0,781 0,674 0,581 0,517 0,481 0,429 0,380 0,316 0,241

Vazão Média de Longo Período Volume de Regularização


Q(l / s) = [a + b.P (mm / ano )]. Área(km²) [Qp − ( x T .A.Q )]2
Vc = ⋅K
4.x T .B.Q
Vazão Mínima de Duração ( d ) e Período de Retorno ( T )
Duração Crítica
Q d,T = x T .Q.( A + B.d)
Qp − ( x T .A.Q )
Curva de Permanência dc =
2.x T .B.Q
Qp = qp .Q

TABELA 4.1 - PARÂMETROS REGIONAIS

59
4.1.2 - VAZÕES MÍNIMAS DE (d) MESES CONSECUTIVOS

Para se obter a vazão mínima de (d) meses de duração associada à probabi-


lidade de ocorrência em um ano qualquer, foram utilizadas as séries de vazões médias
mensais observadas para derivação dos resultados.

A partir dessas séries observadas de vazões médias mensais foram obtidas


doze séries de vazões mínimas anuais de 1, 2 , 3...11 e 12 meses consecutivos, para
cada posto fluviométrico estudado, selecionando-se as vazões mínimas dessas du-
rações para cada ano civil. Essas novas séries foram padronizadas, dividindo-se os
valores originais da série pela média das vazões mínimas de cada duração.

Denotando-se por ( Qd ) a série de vazões mínimas anuais de duração (d)


meses e ( Qd ) a vazão média das mínimas de mesma duração, define-se a variável
adimensional:

Qd
Xd = (4.4)
Qd

Às séries originadas a partir desta nova variável aleatória padronizada (Xd)


foram aplicadas as seguintes distribuições teóricas de probabilidade:

- LOG-NORMAL 3 PARÂMETROS
- PEARSON TIPO III
- LOG-PEARSON TIPO III
- EXTREMOS TIPO III
- LOG-EXTREMOS TIPO III

Dessas cinco distribuições, três (log-Pearson tipo III, extremos tipo III e log-
extremos tipo III), apresentaram na grande maioria dos casos, valores muito próximos
para períodos de retorno entre 5 e 100 anos. A distribuição EXTREMOS TIPO III foi
selecionada principalmente por já ter sido empregada em estudos realizados anterior-
mente, e pela boa aderência verificada.

60
A semelhança entre as distribuições acumuladas para as diversas durações
permitiu agrupar as doze amostras numa única. Portanto, a variável (Xd) não depende
mais da duração (d), e a EQUAÇÃO (4.4) pode ser reescrita:

Qd
X= (4.5)
Qd

A função de distribuição acumulada da distribuição extremos tipo III é dada


pela equação:
α
 x−y 
− 
Fx (x ) = 1− e  β − γ  (4.6)

onde ( α ), (β ) e ( γ ) são respectivamente os parâmetros de escala, locação e


limite inferior da variável aleatória (X). Como:

1
Fx (x ) = (4.7)
T
substituindo-se a EQUAÇÃO (4.7) na EQUAÇÃO (4.6) pode-se calcular o
valor de ( XT ) da variável aleatória (X) em função do período de retorno (T):

1
  1  α
X T = γ + (β − γ ).− l n  1−  (4.8)
  T 

Utilizando-se este procedimento para a variável (X), derivada da padroniza-


ção das vazões mensais de cada posto fluviométrico, foram calculados os valores de
(XT) para períodos de retorno (T) de 10, 15, 20, 25, 50 e 100 anos. Como os valores de
(XT) são adimensionais, foi possível comparar os valores obtidos, para os vários postos
estudados e agrupá-los em nove regiões homogêneas.

Dada a possibilidade de se obter os valores (XT) para qualquer bacia, e pela


própria gênese da variável aleatória (X) - EQUAÇÃO (4.5), tem-se:

61
Q d,T = X T .Qd (4.9)

ou seja, para se calcular a vazão mínima de duração (d) de período de retorno (T)-
(Qd,T) é preciso determinar a média das vazões mínimas de duração (d) meses ( Qd
). Em estudos realizados, verificou-se que a média das vazões de estiagem ( Qd ) varia
linearmente com a duração (d). O mesmo comportamento foi comprovado neste estu-
do para valores (d) menores ou iguais a seis meses. Assim sendo, é possível representar
essa vazão média ( Qd ) por uma equação do tipo:

Qd = a + b.d para d < 6 meses (4.10)

Para que os resultados de cada posto pudessem ser comparados entre si e


agrupados, a EQUAÇÃO (4.10) foi adimensionalizada dividindo-se ambos os lados da
equação pela vazão média de longo período ( Q ), resultando:

Qd a b
= + ⋅d (4.11)
Q Q Q

a b
Substituindo-se ( ) e ( ) por (A) e (B) respectivamente, tem-se:
Q Q

Qd = (A + B.d).Q (4.12)

A similaridade dos valores de (A) e (B) entre postos fluviométricos permitiu


a regionalização, ou seja, a delimitação das áreas onde esses parâmetros podem ser
considerados homogêneos. A regionalização dos parâmetros (A) e (B) levou à delimi-
tação de 14 regiões. Substituindo-se a EQUAÇÃO (4.12) na EQUAÇÃO (4.9) tem-se:
Q d,T = X T .(A + B.d).Q (4.13)

Portanto, com o uso da EQUAÇÃO (4.13) pode-se obter o valor da vazão

62
de (d) meses de duração e probabilidade de ocorrência (1/T) a partir da vazão média
de longo período, já que os parâmetros ( XT ), (A) e (B) são conhecidos para todo o
Estado. Deve-se lembrar ainda que como a vazão média de longo período ( Q ) pode

ser obtida a partir da vazão específica média plurianual ( Qesp ) - EQUAÇÃO (4.1), o
resultado fica bastante simplificado.

4.1.3 - VOLUME DE REGULARIZAÇÃO INTRA-ANUAL

Quando
�����������������������������������������������������������������������
a demanda a ser atendida supera a vazão mínima que pode ocorrer
num curso de água, muitas vezes com armazenamento relativamente pequeno, pode-
se aumentar significativamente o nível de atendimento da demanda, sem incorrer nos
gastos requeridos por aproveitamentos com regularização plurianual.

Desta forma, o estudo desenvolvido procurou estimar os volumes de arma-


zenamento necessários para atender demandas que superam sazonalmente as dis-
ponibilidades hídricas, restringindo-se portanto às estiagens intra-anuais.

A metodologia utilizada para o cálculo do volume de regularização pode


ser representado graficamente pela FIGURA 4.4. A reta superior representa o vol-
ume necessário para atender uma demanda firme ( QF ), e a curva inferior indica
o volume disponível naturalmente para um determinado período de retorno (T) (ou
probabilidade de ocorrência). O volume disponível para o período de retorno (T) é
obtido multiplicando-se a EQUAÇÃO (4.13) pelo número de segundos em (d) meses
(K.d). A maior diferença entre a demanda e a disponibilidade (Vc) representa o volume
de regularização intra-anual necessário para suprir a demanda (QF), com um risco de
(100/T)% de não atendimento em um ano qualquer.

63
QF = Vazão firme a ser regularizada (m³/s)
XT = Fator relativo à probabilidade de sucesso
A e B = Coeficientes da reta de regressão da média das vazões mínimas
Q = Vazão média de longo período (m³/s)
K = Número de segundos de um mês
d = Duração em meses

FIGURA 4.4 - VOLUME DE REGULARIZAÇÃO

64
Algebricamente, obtém-se o volume de regularização pela maximização da
função:

[ ]
VR = QF − X T .(A + B . d ). Q . K . d (4.14)

onde (QF) é a vazão firme a ser regularizada com dada probabilidade de sucesso implí-
cito no fator (XT), (A) e (B) são os coeficientes da reta de regressão entre a média das
vazões mínimas ( Qd ) e a duração (d), ( Q ) é a média de longo período e (K) o número
de segundos do mês.

O valor máximo da função é dado por:

VC =
[Q − (X
F T .A.Q )]2.K (4.15)
4.X T .B.Q

É importante salientar que a metodologia pode ser empregada para durações


críticas de no máximo seis meses, sendo esta duração calculada pela equação:

dC =
(
QF − X T .A.Q ) (4.16)
2.X T .B.Q

Portanto, fixada uma demanda qualquer é possível, com os resultados obti-


dos, calcular o volume de reserva intra-anual necessária para atender a demanda com
uma probabilidade de sucesso ( ou fracasso ) pré-determinada em um ano qualquer,
em função dos estudos recomendados nos itens anteriores.

4.1.4 - CURVAS DE PERMANÊNCIA

Pode-se saber a amplitude de variação das vazões e principalmente a freqüên-


cia com que cada valor de vazão ocorre numa determinada seção do rio, através da
curva de permanência de vazões numa seção, uma vez que para cada vazão possível
de ocorrer naquele local, está associada a freqüência (ou número de vezes) que ela é

65
excedida.

A
�����������������������������������������������������������������������������
regionalização das curvas de permanência foi realizada a partir da análise
das freqüências acumuladas, calculadas para as séries de vazões mensais observadas,
em cada um dos 219 postos fluviométricos estudados. Para que os resultados pudes-
sem ser comparados, as séries originais foram padronizadas dividindo-se as vazões
mensais pela média de longo período da série ( Q ). Assim a variável padronizada é
definida por:

Q
q= (4.17)
Q

Ordenando-se os valores de q em ordem decrescente, pode-se estimar a


freqüência acumulada, também denominada permanência (P), por:

i
P = Fq(q≥ qi ) = (4.18)
N
onde (i) representa o número seqüencial do valor (qi) da variável (q) na série ordenada,
(N) o número total de elementos na série e ( Fq(q≥qi ) ) a freqüência com que o valor (qi)
é excedido ao longo do traço histórico.

A partir das séries ordenadas ( qi ) e ( i/N ) de cada posto foram calculados,


por interpolação linear, os valores ( qp ) da variável padronizada ( q ), para diferentes
valores de permanência (P); comparando-se os valores de ( qp ) nas diferentes estações
fluviométricas estudadas, foi possível identificar quinze regiões com comportamento
semelhante TABELA 4.1.

Com os valores de ( qp ) e pela EQUAÇÃO (4.17), pode-se calcular a vazão média


mensal para uma dada permanência (P) por:

QP = qP .Q (4.19)

66
FIGURA 4.5 - REGIÕES HIDROLÓGICAS SEMELHANTES

4.1.5 - VAZÕES MÍNIMAS ANUAIS DE SETE DIAS CONSECUTIVOS

Uma solicitação freqüente sobre vazões mínimas refere-se àquela com sete
dias de duração, cuja vantagem é sofrer menos influência de erros operacionais e

67
intervenções humanas no curso de água do que a vazão mínima diária, além de ser
suficientemente mais detalhada que a vazão mínima mensal. Assim, esta vazão é uti-
lizada com freqüência como indicador da disponibilidade hídrica natural num curso de
água.

Em estudo anterior verificou-se que a função distribuição de probabilidade


da variável padronizada (XN), definida por:

QN
XN = ⋅ n =7,30,60,....180 dias (4.20)
QN

onde (QN) é a vazão mínima anual de N dias consecutivos e ( QN ) é a média


das mínimas de N dias, independe do valor de N, ou seja, é possível considerar as
amostras (XN) como provenientes de um mesmo universo, e portanto determinar uma
única distribuição de probabilidade para a variável padronizada.

Admitiu-se que a distribuição de probabilidade das séries de vazões mínimas


padronizadas de 1,2,....12 meses consecutivos (Xd) é a mesma das séries de vazões
mínimas padronizadas (Xn) de 30,60,...180 dias consecutivos. Portanto, supõe-se que
os valores de (XT) da EQUAÇÃO (4.8) valem para as vazões mínimas anuais padroni-
zadas de sete dias consecutivos (X7).

Pode-se reescrever a EQUAÇÃO (4.9) da seguinte maneira:


Q7 ,1 0 = X T .Q7 (4.21)

Dessa forma, para se calcular a vazão mínima anual de sete dias consecutivos
e período de retorno (T) anos é necessário obter a média dessas vazões mínimas de
sete dias ( Q7 ). Com esse objetivo foram analisadas as séries diárias de 88 postos flu-
viométricos, a partir das quais calculou-se o valor de Q7 . Passou-se então a estudar
a relação ( C7,m ) entre a média das mínimas anuais de sete dias consecutivos ( Q7 ) e
a média das mínimas anuais de um mês ( Qm ) definida por:

68
Q7
C7,m = (4.22)
Qm
Analisando-se os valores de C7,m para os 88 postos foi possível definir três
regiões que aparecem delimitadas na FIGURA 4.6.
Substituindo-se ( Q7 = C7,m .Qm ) na EQUAÇÃO (4.21), tem-se:

Q7,T = C7,m .X T .(A + B).Q (4.23)

onde o valor de C7,m é obtido a partir da FIGURA 4.6, os valores de (XT), (A) e (B) da
TABELA 4.1, e ( Q ) é calculado em função da precipitação anual média a partir dos
valores (a) e (b) , também listados na TABELA 4.1.

69
FIGURA 4.6 - REGIÕES HIDROLÓGICAS SEMELHANTES QUANTO AO PARÂMETRO (C7,m)

4.2 - EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA

Foi escolhido o rio Buquira ou do Ferrão, na bacia hidrográfica do rio Paraíba


do Sul, para exemplificar o emprego da metodologia apresentada.

Na FIGURA 4.7, reprodução ampliada do mapa de isoietas anuais médias,

70
encontra-se delimitada a bacia hidrográfica em questão, com área de 401,5 km2 e
precipitação anual média de 1685 mm/ano calculada de acordo com a EQUAÇÃO
(4.2). A bacia situa-se na região H da FIGURA 4.5 e Z da FIGURA 4.6.

FIGURA 4.7 - ISOIETAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BUQUIRA

- Cálculo da vazão média de longo período ( Q ):


aplicando-se os valores de (a) e (b) (ver tabela) válidos para a região H, na EQUAÇÃO
(4.1),
tem-se:

Qesp = a + b.P = -29,47 + 0,0315 . 1685 = 23,61 l/s.km²

utilizando-se a EQUAÇÃO (4.3), obtém-se:

Q = 23,61 . 401,5 = 9479 l/s ou 9,48 m³/s.

71
- Vazão mínima anual de um mês de duração e 10 anos de período de retorno
(Q1,10), com valores de (X10), (A) e (B) listados na tabela para a região H, calcula-se pela
EQUAÇÃO (4.13):

Q 1,10 = X 10 .(A + B.1). Q = 0,748.(0,495 + 0,0279 . 1).9,48

Q1,10 = 3,70 m3/s.

- Volume necessário para se regularizar 5,0 m3/s com 10% (T = 10 anos) de


probabilidade de não atendimento em um ano qualquer.

Aplicando-se a EQUAÇÃO (4.15) com os parâmetros da região H, tem-se:

VC =
[5,0 − (0,748 × 0,4951× 9,4 8)]2 × 2.628.000 = 7,4 × 10 6 m3
4 × 0,748 × 0,0279 × 9,4 8

e sendo a duração crítica calculada utilizando-se a EQUAÇÃO (4.16) e os parâmetros


da mesma região:

5,0 − (0,748 × 0,4951× 9,4 8 )


dC = = 3,8 meses
2 × 0,748 × 0,0279 × 9,4 8
- Vazão para 95% de permanência (Q95):
substituindo-se o valor de ( q95 ) obtido na tabela, e ( Q ) na EQUAÇÃO (4.19), tem-
se:

Q95 = q95 . Q = 0,434 . 9,48 = 4,11 m3/s

- Vazão mínima anual de sete dias consecutivos e período de retorno de 10 anos


(Q7,10): da FIGURA 4.6 obtém-se o valor de (C7,m), e aplicando-se os valores de (x10),
(A) e (B) retirados da TABELA 4.1 à EQUAÇÃO (4.23), calcula-se:

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Q7,10 = C . X10 . (A + B) . Q
Q7,10 = 0,85 . 0,748 . (0,495 + 0,0279) . 9,48

Q7,10 = 3,15 m3/s.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização das metodologias inseridas neste Manual, levará a resultados


satisfatórios desde que os levantamentos de dados e os parâmetros adotados sejam
determinados criteriosamente para o local em questão.

Salientamos que são de fundamental importância os dados referentes à ba-


cia de contribuição, tais como:
- Área da bacia de contribuição;
- Comprimento do talvegue;
- Declividade;
- Tempo de concentração, e etc...

Com relação aos parâmetros, os mesmos deverão ser criteriosamente deter-


minados, em função dos elementos gráficos e observações “in loco” da bacia.

Enfatizamos, também, a importância da instrumentação das pequenas bac-


ias, para que num futuro próximo, possam ser aferidos os valores que foram obtidos
através de metodologias indiretas ou regionalizadas, com finalidade de calibração dos
modelos aplicados.

Lembramos que a experiência mostra que a vazão determinada através de


várias metodologias, poderá apresentar resultados díspares. Assim sendo, em função
da experiência de técnicos envolvidos no assunto sugeriu-se, então, a utilização dos
métodos apresentados neste manual, com a finalidade de uniformização dos resulta-
dos dentro do Departamento.

Finalmente, o conhecimento das vazões máximas, médias e mínimas, é es-

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sencial para o dimensionamento de obras hidráulicas.

Exemplificando, utiliza-se a vazão máxima para obras de macro e micro-dre-


nagem, dimensionamento de canais, galerias, bueiros, estruturas hidráulicas de bar-
ragens, diques, drenagem de águas pluviais e etc.

O conhecimento da vazão mínima conduz à verificação da necessidade de


execução de barragem de regularização ou não, da seguinte forma: caso a demanda
seja menor que a vazão mínima, a captação poderá ser feita diretamente no manan-
cial a fio d’água. Caso contrário, sendo a demanda maior que a vazão mínima e menor
que a vazão média, deverá ser executada barragem de regularização de vazões.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(01) - KITE, G.W.: “Frequency and Risk Analysis in Hydrology”, Water Resour-
ces Publications, 1978
(02) - WATER RESOURCES GOVERNMENT
(03) - FOSTER, H.A.: “Duration curves”, Trans. A.S.C.E., vol. 99, pp. 1213-
1235, 1934
(04) - GUILLOT (1966)
(05) - DAEE: “Precipitações Intensas no Estado de São Paulo”, DAEE/CTH,
São Paulo, 1982
(06) - DAEE: “Manual de Drenagem Urbana”, DAEE/CETESB, São Paulo,
1980
(07) - DAEE: “Revisão dos Estudos Hidrológicos da Bacia do Rio Tamandua-
teí”, DAEE/CTH, São Paulo, 1983
(08) - WU, I-PAI: “Design hydrographs for small watersheds in Indiana”, Proc.
A.S.C.E., J. Hyd. Div., vol. 89, nº NY6, pt. 1, pp. 35-66, November,
1963
(09) - SNYDER, F.F.: “Synthetic unit-graphs”, Trans. Am. Geophys. Union, vol.
19, pp. 447-454, 1938
(10) - LINSLEY, R.K., Jr., M.A. Kohler e J.L.H. Paulhus: “Hydrology for Engine-
ers”, McGraw-Hill Book Company, Inc, New York, 1958
(11) - CHOW, V.T.: “Handbook of Applied Hydrology”, McGraw-Hill Book
Company, New York, 1964
(12) - MUSKINGUM
(13) - CROLEY, T.E.: “Hydrologic and Hydraulic Computations on Small
Programmable Calculators”, Iowa Institute of Hidraulic Research, Iowa,
1979
(14) - LIAZI, A., CONEJO, J.G.L, PALOS, J.C.F e CINTRA, P.S.: “Regionalização
Hidrológica no Estado de São Paulo”, Revista Águas e Energia Elétrica,
Ano 5, nº14, 1988.

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EQUIPE TÉCNICA RESPONSÁVEL

CONSULTORIA

PROF. DR. KOKEI UEHARA

ELABORAÇÃO

ALEXANDRE LIAZI (DRH)


ANÍCIA APARECIDA BAPTISTELLO PIO
ANTONIO EDUARDO GIANSANTI
JORGE SIMÃO JUNIOR
MARCO ANTONIO PALERMO
MARIO KIYOCHI NAKASHIMA (DPO/GTTP)

EDITORAÇÃO

FLAVIO YUKI NAKANISHI (DPO/GTTP)

REVISÃO GERAL

JOSÉ MARIO DE TOLEDO BARROS

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