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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Fernando Testoni Knabben

APLICABILIDADE DE DISPOSITIVOS DE EXPANSÃO


DE AÇÃO VARIÁVEL EM REFRIGERADORES
DOMÉSTICOS

Florianópolis
Novembro de 2019
Fernando Testoni Knabben

APLICABILIDADE DE DISPOSITIVOS DE EXPANSÃO


DE AÇÃO VARIÁVEL EM REFRIGERADORES
DOMÉSTICOS

Tese submetida ao Programa de Pós-


Graduação em Engenharia Mecânica da
Universidade Federal de Santa Catarina
para a obtenção do título de Doutor em
Engenharia Mecânica.

Orientadores: Prof. Cláudio Melo, Ph.D.


(in memoriam) e Prof. Christian Johann
Losso Hermes, Dr. Eng.

Florianópolis
Novembro de 2019
FERNANDO TESTONI KNABBEN

APLICABILIDADE DE DISPOSITIVOS DE EXPANSÃO


DE AÇÃO VARIÁVEL EM REFRIGERADORES
DOMÉSTICOS

O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca


examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Cezar Otaviano Ribeiro Negrão, Ph.D., UTFPR – Relator

Prof. César José Deschamps, Ph.D., UFSC

Prof. Alexandre Kupka da Silva, Ph.D., UFSC

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que


foi julgado adequado para obtenção do título de doutor em Engenharia Mecânica,
especialidade Engenharia Mecânica, área de concentração Engenharia e Ciências
Térmicas.
Documento assinado digitalmente
Christian Johann Losso Hermes
Data: 06/12/2019 14:11:42-0300
CPF: 912.553.259-68

___________________________________________________________________
Prof. Christian Johann Losso Hermes, Dr. Eng. – Orientador

Assinado de forma digital por Jonny Carlos da Silva:51451506449


Dados: 2019.12.11 08:41:44 -03'00'
___________________________________________________________________
Prof. Jonny Carlos da Silva, Dr. Eng. – Coordenador do Curso

Florianópolis, novembro de 2019


Aos meus pais, Jacob e Cleide,
e a minha irmã, Carolina,
pelo carinho e apoio incondicional

À Karine,
pelo amor e companheirismo
Agradecimentos
Aos meus orientadores, em especial, ao saudoso Prof. Cláudio Melo, meu mentor
por quase 15 anos, pela estrutura de excelência disponibilizada para o desenvolvimento
das atividades, além dos conselhos e conhecimentos transmitidos, e ao Prof. Christian J.
L. Hermes, pela orientação, dedicação e incentivo.

Aos companheiros de POLO, engenheiros Joel Boeng e Rodolfo da Silva


Espíndola, pela amizade e momentos de alegria, pelo apoio e pelas relevantes discussões
técnicas.

A Gustavo Odair Medeiros, Jean Richter Backer, Débora Toshie Kohara, Matheus
Cé Machado e Larissa Mayara Kanzaki, pelo apoio incondicional na montagem e
instrumentação dos aparatos experimentais e na realização e processamento de testes.

Aos colegas, Paulo Christian Sedrez, Guilherme Zanotelli dos Santos, Igor de
Abreu Galvão, Caio Cesar Silva Dallalba, Isabel Janke, Diego Marchi, Vinícius Raulino
e Eduardo Ludgero da Silva pela amizade e discussões.

A Milton Miguel Pedroso Seifert, Jorge Luiz Sarochin Lubas, João Pedro
Anderson Siqueira, Amarilho Kruger e Diego Venceslau Rios pelo suporte técnico.

A Alexsandro dos Santos Oliveira e Pedro Augusto Bruggemann pela ajuda na


construção da parte elétrica do aparato experimental e calibração dos controles.

Aos engenheiros Fabian Fagotti, Adriano Franciso Ronzoni e Marco Carrilho


Diniz, da Embraco, pelas discussões e conhecimentos compartilhados.

À Embraco e à Embrapii pelo suporte financeiro.

A todos aqueles que contribuíram de alguma forma.


“…it ain't about how hard you hit.
It's about how hard you can get hit and keep moving forward.
How much you can take and keep moving forward.
That's how winning is done!”

Sylvester Stallone, filme Rocky Balboa


Resumo
O presente trabalho teve como objetivo investigar a aplicabilidade de válvulas de
expansão eletrônicas (EEVs) em sistemas domésticos de refrigeração. Primeiramente,
testes com nitrogênio foram realizados para avaliar o potencial de três válvulas de
orifícios distintos quando se verificou que elas se comportam de forma equivalente a
tubos capilares. Tal avaliação deu origem a uma bancada desenvolvida para estudar o
escoamento de HC-600a através das EEVs em função das pressões de evaporação e
condensação, e do sub-resfriamento na entrada. No total, 138 testes foram realizados com
isobutano, os quais permitiram a obtenção de dados de vazão para condições de
escoamento blocado e não-blocado, além de correlações para o coeficiente de vazão,
validadas dentro de uma faixa de ±10% de erro. Na sequência, a válvula mais promissora
foi montada num refrigerador doméstico para correlacionar a área de passagem com o
consumo de energia sob diferentes condições de funcionamento. Ensaios foram feitos
também com o mesmo refrigerador, mas montado com um tubo capilar. Em paralelo, um
modelo matemático foi desenvolvido para simular o efeito da carga de refrigerante e da
restrição sobre o desempenho do refrigerador, apresentando erros inferiores a 15%. Mais
de mil casos foram simulados e os resultados mostraram que o superaquecimento nulo
nem sempre é o melhor dos cenários. Além disso, notou-se que os menores consumos são
atingidos para as situações de maior carga e maior restrição. Observou-se também que é
possível ajustar o par carga-restrição de maneira independente da rotação do compressor.
Por fim, constatou-se que quando a temperatura ambiente ou a rotação do compressor são
modificadas, pode-se reduzir o consumo de energia alterando-se a restrição do dispositivo
de expansão, algo que só é possível com EEVs. O sistema montado com a EEV, no
entanto, apresentou consumos superiores aos observados com o sistema montado com o
tubo capilar para a maioria das condições, o que foi atribuído à arquitetura do ciclo e à
carga térmica gerada pela EEV. Porém, ao aumentar o comprimento do trocador de calor
interno e minimizar o calor gerado pela EEV, verificou-se que o sistema montado com
ela consumiu entre 4 e 9% menos energia que o sistema montado com o tubo capilar em
condições de operação diferentes daquela para a qual o tubo capilar foi dimensionado.

Palavras-chave: válvulas eletrônicas, refrigerador doméstico, consumo de energia.


Abstract
The aim of this work was to investigate the applicability of electronic expansion
valves (EEVs) in domestic refrigerators. Firstly, tests with nitrogen were carried out to
preliminarily evaluate the potential of three EEVs with distinct orifices where it was
observed that they behave like capillary tubes typically found in practice. Such an
evaluation gave birth to another test bench that was assembled to study the HC-600a flow
through the EEVs as a function of the evaporation and condensation pressures, and the
sub-cooling degree at the inlet. In total, 138 tests were conducted with isobutane and mass
flow rate data under choked and non-choked conditions were gathered. Based on these
results, correlations for the flow coefficient were proposed and validated within a ±10%
error band. After that, the most promising valve was installed in a domestic refrigerator
in order to correlate the flow area with the overall energy consumption under different
operating conditions. Tests with the same cabinet, but mounted with a capillary tube, were
also performed. In parallel, a mathematical model was devised to simulate the effect of
the refrigerant charge and the expansion device restriction on the system performance and
it was validated with errors of less than 15%. More than a thousand runs were simulated
and the results revealed that zero superheating is not always the best-case scenario. In
addition, it was noticed that the lowest energy consumptions were achieved for the highest
refrigerant charges and expansion device restrictions. It was also verified that it is possible
to adjust the pair charge-restriction independently of the compressor speed. Finally, it was
found that when the ambient temperature or the compressor speed are changed, the energy
consumption can be reduced by varying the restriction of the expansion device, which is
only possible with EEVs. The system mounted with the EEV, however, presented higher
energy consumptions than the system with the capillary tube for most conditions, which
was related to the cycle architecture and the thermal load generated by the valve.
Nevertheless, by increasing the length of the internal heat exchanger and minimizing the
heat generated by the EEV, it was found that the system assembled with the EEV
consumed between 4 and 9% less energy than the system mounted with the capillary tube
under operating conditions different from that the capillary tube has been sized.

Keywords: electronic valves, domestic refrigerator, energy consumption.


Lista de Figuras
Figura 1.1 – Ice houses: à esquerda, NBGW (2019) e à direita, Varney (1882) ............. 1
Figura 1.2 – Ciclo de refrigeração padrão (esquerda) e diagrama P x h (direita) ............ 2
Figura 1.3 – Ciclos de refrigeração atuais (esquerda) e seus respectivos diagramas P x h
(direita): (a) ciclo com tubo capilar e (b) ciclo com válvula de expansão ....................... 3
Figura 1.4 – Distribuição do consumo de energia residencial no Brasil (EPE, 2014)...... 5
Figura 1.5 – Etiqueta de classificação energética (esquerda) e selo Procel (direita)........ 5
Figura 1.6 – Sistema de circulação de ar de um refrigerador frost-free bottom-mount .... 7
Figura 1.7 – Evolução da eficiência de compressores alternativos (Fonte: Embraco) ..... 8
Figura 2.1 – Ponto de operação do sistema (Stoecker e Jones, 1985) ........................... 13
Figura 2.2 – Trocador tubo capilar-linha de sucção: (a) concêntrico e (b) lateral ......... 14
Figura 2.3 – Variação da pressão ao longo de um tubo capilar adiabático .................... 15
Figura 2.4 – Perfil de pressão dentro da válvula: formação e colapso de bolhas ........... 16
Figura 2.5 – Perfil de pressão dentro da válvula: formação e manutenção de bolhas .... 17
Figura 2.6 – Perfil de pressão dentro da válvula: ondas de evaporação e choque.......... 18
Figura 2.7 – Escoamento através de um orifício .......................................................... 19
Figura 2.8 – Vazão mássica x raiz quadrada da razão de pressão (Li, 2013)................. 22
Figura 2.9 – Esquema de uma válvula termostática de equalização interna .................. 23
Figura 2.10 – EEVs: motor de passo (esquerda) e PWM (direita) ................................ 25
Figura 2.11 – Estratégia PWM: variação do duty cycle para uma dada frequência ....... 25
Figura 3.1 – Número de publicações ao longo dos anos............................................... 26
Figura 3.2 – Aparato experimental utilizado por Shanwei et al. (2005)........................ 28
Figura 3.3 – Arranjo válvula PWM-tubo capilar utilizado por Ronzoni et al. (2013) ... 30
Figura 3.4 – Consumo de energia vs. carga de R600a e restrição (Björk e Palm, 2006) 33
Figura 3.5 – Redução de consumo vs. temperatura externa (Lazzarin e Noro, 2008) .... 34
Figura 3.6 – Desempenho do sistema em função da restrição (Boeng, 2012) ............... 35
Figura 3.7 – Desempenho do sistema em função da carga de R600a (Boeng, 2012) .... 36
Figura 3.8 – Consumo de energia vs. carga de HC-600a e restrição (Boeng, 2012) ...... 37
Figura 3.9 – Perdas cíclicas em função do fator de carga (Bagarella et al., 2013) ........ 38
Figura 3.10 – Comparação entre potência consumida e COP (Jia e Lee, 2015) ............ 39
Figura 3.11 – Taxa de aquecimento vs. tempo (Peng et al., 2016)................................ 40
Lista de Figuras

Figura 4.1 – Vista explodida do corpo da válvula ........................................................ 43


Figura 4.2 – Montagem na válvula no sistema ............................................................. 43
Figura 4.3 – Driver (esquerda) e controlador de superaquecimento (direita) ................ 44
Figura 4.4 – Esquema do controle de superaquecimento.............................................. 44
Figura 4.5 – Bancada para medição de vazão de nitrogênio ......................................... 45
Figura 4.6 – Circuito de escoamento de N2 (adaptada de Montibeller et al., 2016)....... 46
Figura 4.7 – Bancada para a caracterização das válvulas com HC-600a....................... 48
Figura 4.8 – Esquema do circuito de refrigeração da bancada de HC-600a .................. 49
Figura 4.9 – Sistema para ajuste fino da entalpia do fluido na entrada da válvula ........ 50
Figura 4.10 – Conexão do termopar de imersão (Ronzoni, 2014) ................................ 51
Figura 4.11 – Controle das pressões de condensação e evaporação .............................. 53
Figura 4.12 – Refrigerador estudado: Brastemp BRE51 (foto: Whirlpool S.A.) ........... 55
Figura 4.13 – Controle de temperatura dos compartimentos ........................................ 55
Figura 4.14 – Montagem do evaporador no refrigerador, sem o ventilador .................. 56
Figura 4.15 – Câmara climática................................................................................... 58
Figura 4.16 – Esquema do plano de testes para uma dada condensação e evaporação .. 60
Figura 4.17 – Interpolação do consumo de energia ...................................................... 63
Figura 4.18 – Sequência de testes de consumo de energia para o sistema com válvula . 64
Figura 4.19 – Teste de fluxo de calor reverso .............................................................. 66
Figura 5.1 – Fluxo de informações no modelo do sistema com EEV ........................... 68
Figura 5.2 – Fluxo de informações no modelo do sistema com tubo capilar................. 69
Figura 5.3 – Desenho esquemático do compressor ...................................................... 70
Figura 5.4 – Linha de descarga.................................................................................... 74
Figura 5.5 – Discretização das serpentinas dos trocadores de calor .............................. 75
Figura 5.6 – Desenho esquemático do escoamento dos fluidos no evaporador ............. 77
Figura 5.7 – Troca de calor entre aleta genérica e dois ambientes (Espíndola, 2017) ... 78
Figura 5.8 – Trechos de cada aleta: chapa externa e fita adesiva (Espíndola, 2017) ..... 79
Figura 5.9 – Trocador de calor interno linha de líquido-linha de sucção ...................... 80
Figura 5.10 – Esquema da transferência de calor no trocador interno .......................... 81
Figura 5.11 – Rede neural para o trocador interno tubo capilar-linha de sucção ........... 86
Figura 5.12 – Algoritmo de solução do modelo do sistema de refrigeração com EEV.. 95
Figura 6.1 – Vazão de N2 vs. abertura e pressão: EEV de menor orifício ..................... 97
Figura 6.2 – Vazão de N2 vs. abertura e pressão: EEV de orifício intermediário .......... 97
Figura 6.3 – Vazão de N2 vs. abertura e pressão: EEV de maior orifício ...................... 98
Lista de Figuras

Figura 6.4 – Tubos capilares equivalentes: EEV de menor orifício, P = 6 bar .............. 98
Figura 6.5 – Tubos capilares equivalentes: EEV de orifício intermediário, P = 6 bar ... 99
Figura 6.6 – Tubos capilares equivalentes: EEV de maior orifício, P = 6 bar ............... 99
Figura 6.7 – Comparativo: diâmetro interno, comprimento de 3 m ............................ 100
Figura 6.8 – Capacidade de refrigeração: EEV de menor orifício .............................. 101
Figura 6.9 – Capacidade de refrigeração: EEV de orifício intermediário ................... 101
Figura 6.10 – Capacidade de refrigeração: EEV de maior orifício ............................. 102
Figura 6.11 – Comparativo: capacidade de refrigeração, comprimento de 3 m .......... 103
Figura 6.12 – Vazão de HC-600a: EEV de orifício intermediário, Te = -28 ºC ........... 103
Figura 6.13 – Vazão de HC-600a: EEV de maior orifício, Te = -28 ºC ....................... 104
Figura 6.14 – Vazão vs. abertura: EEV de maior orifício, Tc = 45 ºC, Te = -10 ºC ...... 105
Figura 6.15 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, eev = 50%, Tc = 45 ºC . 106
Figura 6.16 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, Tc = 45 °C e eev = 50% 107
Figura 6.17 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício Tc = 35 °C e eev = 75% 108
Figura 6.18 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, Tc = 25 °C e eev = 95% 108
Figura 6.19 – Razão de pressão em escoamento blocado: EEV de maior orifício ....... 109
Figura 6.20 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, eev = 95% ................... 110
Figura 6.21 – Vazão vs. evaporação: EEV de orifício inter., Tc = 45 °C e eev = 95% 111
Figura 6.22 – Validação da correlação para os coeficientes de vazão das EEVs ......... 113
Figura 6.23 – Previsões de vazão de HC-600a com base nos dados de nitrogênio ...... 114
Figura 6.24 – Efeito do sub-resfriamento na pressão ao longo de um capilar ............. 115
Figura 6.25 – Resultados dos testes de pulldown ....................................................... 122
Figura 6.26 – Efeito da carga de refrigerante: sistema com capilar ............................ 123
Figura 6.27 – Validação do modelo do sistema: pressão de condensação ................... 125
Figura 6.28 – Validação do modelo do sistema: pressão de evaporação ..................... 125
Figura 6.29 – Validação do modelo do sistema: vazão mássica ................................. 126
Figura 6.30 – Vazão nos períodos de compressor ligado: sistema com capilar ........... 127
Figura 6.31 – Vazão nos períodos de compressor ligado: sistema com EEV .............. 127
Figura 6.32 – Validação do modelo do sistema: potência total................................... 128
Figura 6.33 – Validação do modelo do sistema: fração de funcionamento ................. 128
Figura 6.34 – Padrão de ciclagem irregular em alguns testes com EEV ..................... 129
Figura 6.35 – Validação do modelo do sistema: consumo de energia ......................... 129
Figura 6.36 – Atuação de damper e ventilador no sistema com o tubo capilar ........... 130
Lista de Figuras

Figura 6.37 – Atuação de damper e ventilador no sistema com a EEV ...................... 131
Figura 6.38 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 32 °C e Nk = 3600 rpm133
Figura 6.39 – Comparação entre carga e restrição altas e carga e restrição baixas ...... 134
Figura 6.40 – Consumos de energia ótimos globais ................................................... 135
Figura 6.41 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 32 °C e Nk = 2500 rpm136
Figura 6.42 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 16 °C e Nk = 3600 rpm .. 137
Figura 6.43 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 16 °C e Nk = 2500 rpm .. 137
Figura 6.44 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 32 °C e Nk = 3600 rpm .. 138
Figura 6.45 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 32 °C e Nk = 2500 rpm .. 138
Figura 6.46 – Intersecção dos contornos de menor consumo: sistema com EEV ........ 139
Figura 6.47 – Intersecção dos contornos de menor consumo: sistema com capilar ..... 139
Figura 6.48 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 16 °C e Nk = 3600 rpm140
Figura 6.49 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 16 °C e Nk = 2500 rpm141
Figura 6.50 – Comparação entre os consumos ótimos nos sistemas com e sem EEV . 142
Figura 6.51 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV ........................... 143
Figura I.1 – Esquema da bancada para calibração do transdutor de vazão mássica..... 161
Figura I.2 – Curva de calibração do transdutor de vazão mássica .............................. 162
Figura II.1 – Máquina de peso morto......................................................................... 164
Figura III.1 – Incerteza de medição do coeficiente de vazão ...................................... 168
Figura IV.1 – Validação do modelo do compressor: vazão ........................................ 169
Figura IV.2 – Validação do modelo do compressor: potência .................................... 169
Figura V.1 – Validação da rede contra o modelo de Hermes et al. (2008): ṁ ............. 171
Figura V.2 – Validação da rede contra o modelo de Hermes et al. (2008): h6 ............ 172
Figura V.3 – Validação da rede contra dados de Melo et al. (2002): ṁ ...................... 172
Figura V.4 – Validação da rede contra dados de Melo et al. (2002): T6 ..................... 173
Figura VI.1 – Validação da correlação para solubilidade ........................................... 175
Lista de Tabelas
Tabela 4.1 – Características geométricas dos orifícios das válvulas ............................. 43
Tabela 4.2 – Lista de equipamentos utilizados na bancada de vazão de nitrogênio....... 46
Tabela 4.3 – Constantes da equação de Kipp e Schmidt (1961) ................................... 47
Tabela 4.4 – Posicionamento dos termopares utilizados no refrigerador ...................... 57
Tabela 4.5 – Matriz de testes para Tc = 45 °C com a válvula de orifício intermediário . 61
Tabela 4.6 – Matriz de testes com o refrigerador para uma dada temperatura ambiente 63
Tabela 4.7 – Temperaturas adotadas nos testes de fluxo de calor reverso..................... 66
Tabela 5.1 – Calor gerado na EEV .............................................................................. 83
Tabela 6.1 – Vazão de refrigerante [kg/h]: Tc = 45 ºC e Te = -28 ºC ........................... 105
Tabela 6.2 – Vazão refrigerante [kg/h]: Tc = 45 ºC e Te = -10 ºC ............................... 105
Tabela 6.3 – Razão de pressão em escoamento blocado para a EEV de maior orifício109
Tabela 6.4 – Parâmetros adimensionais da correlação do coeficiente de vazão .......... 111
Tabela 6.5 – Coeficientes da correlação do coeficiente de vazão ............................... 112
Tabela 6.6 – Testes de fluxo de calor reverso: sistema com a EEV ............................ 116
Tabela 6.7 – Testes de fluxo de calor reverso: sistema com o tubo capilar ................. 116
Tabela 6.8 – Condutâncias térmicas dos refrigeradores, W/K .................................... 117
Tabela 6.9 – Matriz reduzida de ensaios com o refrigerador ...................................... 118
Tabela 6.10 – Consumo de energia: Ta = 32 °C, Nk = 3600 rpm e M = 46 g ............... 119
Tabela 6.11 – Consumo de energia: Ta = 16 °C, Nk = 3600 rpm e M = 46 g ............... 119
Tabela 6.12 – Consumo de energia: Ta = 16 °C, Nk = 2500 rpm e M = 46 g ............... 120
Tabela 6.13 – Consumo de energia: Ta = 32 °C, Nk = 3600 rpm e eev = 50% ............. 121
Tabela 6.14 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 32 °C, Nk = 3600 rpm 123
Tabela 6.15 – Diferenças de projeto entre os refrigeradores com e sem EEV ............. 131
Tabela 6.16 – Comparativo entre diferentes combinações de restrição e carga ........... 133
Tabela 6.17 – Consumos de energia ótimos globais ................................................... 135
Tabela 6.18 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV: consumo ........... 144
Tabela 6.19 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV: capacidade ........ 144
Tabela 6.20 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV: potência ............ 144
Tabela I.1 – Resultados da calibração do transdutor de vazão mássica....................... 162
Tabela III.1 – Incertezas inerentes dos sensores de medição ...................................... 167
Lista de Tabelas

Tabela IV.1 – Coeficientes do modelo matemático do compressor ............................ 170


Tabela V.1 – Fatores de peso da input layer para a hidden layer 1 ............................ 173
Tabela V.2 – Biases da input layer para a hidden layer 1........................................... 173
Tabela V.3 – Fatores de peso da hidden layer 1para a hidden layer 2 ........................ 174
Tabela V.4 – Biases da hidden layer 1para a hidden layer 2 ...................................... 174
Tabela V.5 – Fatores de peso da hidden layer 2 para a output layer........................... 174
Tabela V.6 – Biases da hidden layer 2 para a output layer......................................... 174
Lista de Símbolos
Símbolos romanos

Símbolo Descrição Unidade

A Área m2

cp Calor específico a pressão constante J/(kg.K)

cv Calor específico à volume constante J/(kg.K)

Cv Coeficiente de vazão Adimensional

COP Coeficiente de performance Adimensional

D Diâmetro m

G Fluxo de massa kg/(m2.s)

h Entalpia específica J/kg

ћ Coeficiente de transferência de calor por convecção W/(m2.K)

k Coeficiente de compressão isentrópica Adimensional

L Comprimento m

M Massa kg

ṁ Vazão mássica kg/s

N Rotação 1/s

P Pressão Pa

R' Resistência térmica por unidade de comprimento (m.K)/W

R'' Resistência térmica por unidade de área (m2.K)/W

Sub Grau de sub-resfriamento °C

Q Taxa de transferência de calor W


Lista de Símbolos

q" Fluxo de calor W/(m2.K)

T Temperatura ºC

t Tempo s

U Coeficiente global de transferência de calor W/(m2.K)

u Velocidade m/s

v Volume específico m3/kg

V Vazão volumétrica, volume m3/s, m3

x Título Adimensional

X Razão de pressão Adimensional

Xt Razão de pressão em escoamento blocado Adimensional

Y Fator de expansão Adimensional

Ẇ Potência W

z Coordenada axial m

Símbolos gregos

Símbolo Descrição Unidade

α Fração de vazio Adimensional

γ Razão entre calores específicos Adimensional

 Constante de Stefan-Boltzmann W/(m2.K4)

ε Emissividade Adimensional

 Fração de funcionamento do compressor Adimensional

η Eficiência Adimensional

 Fração de abertura da válvula Adimensional

κ Parâmetro de cálculo do tubo capilar Adimensional


Lista de Símbolos

λ Condutividade térmica W/(m.K)

μ Viscosidade dinâmica Pa.s

ν Viscosidade cinemática m2/s

 Efetividade Adimensional

ρ Densidade kg/m3

σ Tensão superficial N/m

τ Tensão de cisalhamento Pa

 Fração de vazão de ar Adimensional

 Solubilidade Adimensional
Sumário
1. Introdução ........................................................................................................... 1

1.1. Contexto histórico........................................................................................... 1


1.2. Políticas governamentais e consumo de energia .............................................. 4
1.3. Motivação ....................................................................................................... 6
1.4. Objetivos ...................................................................................................... 10
1.5. Estrutura do documento ................................................................................ 11
2. Aspectos Fundamentais..................................................................................... 12

2.1. Efeito da carga térmica sobre o sistema de refrigeração................................. 12


2.2. Tubos capilares ............................................................................................. 14
2.3. Válvulas de expansão.................................................................................... 16
2.3.1. Válvulas de expansão termostáticas (TEVs) ........................................... 22
2.3.2. Válvulas de expansão eletrônicas (EEVs) .............................................. 24
3. Revisão Bibliográfica ........................................................................................ 26

3.1. Trabalhos com foco no dispositivo de expansão ............................................ 27


3.2. Trabalhos com foco no sistema de refrigeração ............................................. 31
3.3. Síntese da literatura....................................................................................... 40
4. Trabalho Experimental ..................................................................................... 42

4.1. Micro válvulas de expansão eletrônicas ........................................................ 42


4.2. Caracterização preliminar das válvulas ......................................................... 45
4.3. Bancada para testes com fluido refrigerante .................................................. 48
4.3.1. Descrição geral ...................................................................................... 48
4.3.2. Procedimento de testes........................................................................... 52
4.4. Refrigerador ................................................................................................. 54
4.5. Câmara climática .......................................................................................... 58
4.6. Metodologia experimental ............................................................................ 59
4.6.1. Ensaios com a bancada para fluido refrigerante ...................................... 59
4.6.2. Ensaios com o refrigerador .................................................................... 62
4.6.2.1. Testes de performance .................................................................... 62
4.6.2.2. Testes de fluxo de calor reverso ...................................................... 65
5. Modelagem Matemática .................................................................................... 67

5.1. Compressor................................................................................................... 70
5.2. Linha de descarga ......................................................................................... 73
5.3. Condensador e evaporador ............................................................................ 74
5.4. Tubo anti-sudação......................................................................................... 77
5.5. Trocador de calor interno .............................................................................. 80
5.5.1. Sistema com a EEV ............................................................................... 80
5.5.2. Sistema com o tubo capilar .................................................................... 81
5.6. Dispositivos de expansão .............................................................................. 82
5.6.1. Válvula de expansão eletrônica .............................................................. 82
5.6.2. Tubo capilar........................................................................................... 84
5.7. Passador de sucção ....................................................................................... 88
5.8. Inventário de massa de refrigerante ............................................................... 89
5.9. Cálculo da carga térmica e do consumo de energia........................................ 91
5.10. Implementação .......................................................................................... 93
6. Resultados.......................................................................................................... 96

6.1. Testes em bancada ........................................................................................ 96


6.1.1. Vazão de nitrogênio ............................................................................... 96
6.1.1.1. Tubos capilares equivalentes........................................................... 96
6.1.1.2. Capacidade de refrigeração ........................................................... 100
6.1.2. Ensaios com fluido refrigerante HC-600a ............................................ 103
6.1.3. Coeficiente de vazão e escoamento blocado ......................................... 106
6.1.4. Vazão de nitrogênio vs. vazão de refrigerante ...................................... 113
6.2. Testes com o refrigerador............................................................................ 115
6.2.1. Ensaios preliminares ............................................................................ 116
6.2.1.1. Fluxo de calor reverso................................................................... 116
6.2.1.2. Medição do diâmetro interno do tubo capilar ................................ 117
6.2.2. Sistema montado com a EEV ............................................................... 117
6.2.3. Sistema montado com o tubo capilar .................................................... 122
6.3. Modelo matemático .................................................................................... 124
6.3.1. Validação do modelo ........................................................................... 124
6.3.2. Análise paramétrica ............................................................................. 130
6.3.2.1. Considerações iniciais................................................................... 130
6.3.2.2. Mapas de performance .................................................................. 131
7. Conclusões ....................................................................................................... 145

7.1. Considerações finais ................................................................................... 145


7.2. Sugestões para trabalhos futuros ................................................................. 147
Referências Bibliográficas ...................................................................................... 149
Apêndice I – Transdutor de vazão ......................................................................... 161

Apêndice II – Transdutores de pressão.................................................................. 164

Apêndice III – Incertezas de medição .................................................................... 166

III.1. Parâmetros medidos diretamente .................................................................. 166


III.2. Parâmetros medidos indiretamente ............................................................... 167
III.3. Cálculo da incerteza expandida do coeficiente de vazão ............................... 167
Apêndice IV – Curvas do compressor .................................................................... 169

Apêndice V – Rede neural ...................................................................................... 171

Apêndice VI – Solubilidade .................................................................................... 175


1. Introdução
1.1. Contexto histórico

Viver num ambiente termicamente confortável e conservar os alimentos por


longos períodos são duas das necessidades básicas da sociedade moderna que podem ser
atendidas através da refrigeração. De acordo com Gosney (1982), refrigerar nada mais é
que reduzir a temperatura de fluidos ou corpos a valores abaixo daqueles disponíveis num
certo ambiente ou local. Isso pode ser feito por meios naturais, com a extração de gelo de
lagos, por exemplo, ou por meios artificiais, com a utilização de sistemas de refrigeração.
Na Antiguidade não existia energia elétrica e, portanto, o abaixamento de
temperatura tinha que ser feito por meios naturais. Os egípcios e romanos, por exemplo,
enterravam comida no solo, onde a temperatura era naturalmente mais baixa. Os gregos
utilizavam vasos de cerâmica para armazenar vinho. Outros povos, como os chineses,
construíam vasos de terracota e os enterravam na tentativa de manter seus alimentos a
temperaturas inferiores à do ambiente externo.
Durante boa parte dos séculos XVIII, XIX e início do século XX, a extração de
gelo de regiões mais frias foi predominante. Na época, as chamadas ice houses (casas
com paredes espessas e isoladas com serragem) eram construídas para armazenar o gelo
(ver Figura 1.1).

Figura 1.1 – Ice houses: à esquerda, NBGW (2019) e à direita, Varney (1882)
Introdução 2

Paralelamente, tentativas de obter frio artificialmente começaram a surgir com o


intuito de contornar algumas das inconveniências associadas à venda de gelo natural,
como a poluição de rios e lagos, a necessidade de temperaturas mais baixas e problemas
de logística. Um dos trabalhos pioneiros foi o de William Cullen, que em 1755 conseguiu
obter gelo a partir da evaporação do éter. O processo, no entanto, não atraiu atenção, pois
exigia a reposição do éter com o tempo. A primeira descrição completa de um ciclo de
refrigeração fechado operando ciclicamente veio apenas em 1834, com Jacob Perkins.
Tal ciclo estabeleceu a base para os ciclos de refrigeração existentes atualmente.
O ciclo padrão por compressão mecânica de vapor é composto por quatro
componentes principais: um compressor, dois trocadores de calor e um dispositivo de
expansão. Como mostrado na Figura 1.2, o compressor é responsável por comprimir
isentropicamente o vapor oriundo do evaporador, elevando a pressão. Na sequência, o
vapor superaquecido é descarregado no condensador onde rejeita calor isobaricamente
para o ambiente externo e muda para o estado líquido saturado. O refrigerante expande
então adiabaticamente no dispositivo de expansão, dando origem a uma mistura bifásica
com temperatura e pressão reduzida. Tal mistura entra no evaporador onde absorve calor
a pressão constante do compartimento refrigerado e sai no estado de vapor saturado.
Finalmente, o fluido volta ao compressor fechando o ciclo. A razão entre a taxa de
transferência de calor no evaporador e a potência consumida no compressor define um
dos principais parâmetros de avaliação do ciclo, o COP, ou coeficiente de performance.

. P
Qc

Condensador
3 3 2

2
Compressor
Dispositivo de h=cte s=cte
expansão .
W
4 1

4 1
Evaporador

. h
Qe

Figura 1.2 – Ciclo de refrigeração padrão (esquerda) e diagrama P x h (direita)

Todavia, os ciclos atuais (ver Figura 1.3) possuem algumas características que os
diferenciam do ciclo padrão descrito anteriormente. A compressão, por exemplo, não é
isentrópica, pois há rejeição de calor na carcaça do compressor. O refrigerante na saída
Introdução 3

do condensador nem sempre é saturado. Em muitos casos, ele se encontra à esquerda da


linha de saturação, ou seja, sub-resfriado. A expansão, por sua vez, nem sempre é
isentálpica: em muitos sistemas a linha de sucção é colocada em contato com o próprio
dispositivo de expansão (no caso de tubos capilares, Figura 1.3a) formando um trocador
de calor em contracorrente. Já em refrigeradores com válvulas, o mesmo trocador é
formado pela união entre a linha de líquido oriunda do condensador e a linha de sucção,
resfriando ainda mais o fluido antes da expansão (ver Figura 1.3b). Finalmente, o estado
do refrigerante na saída do evaporador também não é de vapor saturado, mas sim
superaquecido.

. P
Qc

Condensador
3 3' 3 2
Linha de 1 2
líquido Linha de sucção Compressor
3'
Dispositivo de .
expansão W
4 5 1

4 5
.
Evaporador Q

. h
Qe

Figura 1.3 – Ciclos de refrigeração atuais (esquerda) e seus respectivos diagramas P x h (direita): (a)
ciclo com tubo capilar e (b) ciclo com válvula de expansão

Foi somente décadas mais tarde que o circuito de Perkins virou realidade. James
Harrison, em 1857, foi o responsável por transformar o princípio de compressão mecânica
de vapor num equipamento real. Tal equipamento era capaz de produzir blocos de gelo
Introdução 4

para suprir as geladeiras da época, que consistiam em armários divididos em gavetas, com
um grande bloco de gelo posicionado na parte superior.
Apesar da revolução causada pelo equipamento de Harrison, que eliminava a
necessidade de extração de gelo da natureza, o primeiro refrigerador doméstico, capaz de
produzir frio artificialmente, foi concebido somente na metade do século XIX por Karl
Von Linden. O conceito estabelecido por Von Linden tornou-se referência, evoluiu e os
refrigeradores passaram a ser produzidos em larga escala. O sistema de refrigeração
passou a ser hermético e a utilizar tubos capilares como dispositivo de expansão, por
exemplo. Com o tempo, a movimentação de ar nos compartimentos deixou de ser feita
por convecção natural e passou a ser promovida por um ventilador, e o degelo, que era
manual, passou a ser realizado automaticamente com resistências elétricas. Tais
modificações levaram ao surgimento dos refrigeradores frost-free (Jacobus, 1967),
amplamente disseminados atualmente.

1.2. Políticas governamentais e consumo de energia

Sistemas de refrigeração operam de acordo com a segunda lei da termodinâmica


e, dessa forma, exigem a realização de trabalho no compressor e, consequentemente,
consomem energia. As irreversibilidades inerentes ao ciclo somadas à baixa eficiência de
seus componentes contribuem para o aumento do consumo de energia. O baixo
coeficiente de performance dos refrigeradores e fatores ambientais como aquecimento
global e efeito estufa, com o passar do tempo, aumentaram o nível de preocupação da
sociedade com o consumo de energia, que passou então a ter um papel importante no
setor de refrigeração.
No Brasil, por exemplo, pesquisas relacionadas ao panorama energético do Brasil
revelaram que em 2014 o consumo de energia elétrica foi de 473,4 bilhões de kWh, sendo
que 132 bilhões de kWh corresponderam ao consumo residencial, ou seja, 28% do total
(Procel, 2015). De acordo com dados de 2014 da Empresa de Pesquisa Energética – EPE,
refrigeradores e freezers representam 23% do consumo residencial (ver Figura 1.4) e 6%
da matriz energética do país.
Introdução 5

Figura 1.4 – Distribuição do consumo de energia residencial no Brasil (EPE, 2014)

A relevância dada ao consumo de energia de refrigeradores levou ao surgimento


de políticas governamentais e programas de etiquetagem e classificação energética. Com
o objetivo de auxiliar e fornecer subsídios aos consumidores na hora da compra e
estimular a competitividade entre os fabricantes na busca por sistemas mais eficientes,
em 1984, foi criado o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). A etiqueta, mostrada
na Figura 1.5, informa entre outros parâmetros o volume interno do refrigerador, a
classificação energética e o consumo de energia. Adicionalmente, em 1993, foi criado o
chamado Selo Procel de Economia de Energia, de responsabilidade do Instituto Nacional
de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), concedido aos equipamentos com
classificação A de acordo com os critérios do PBE.

Figura 1.5 – Etiqueta de classificação energética (esquerda) e selo Procel (direita)


Introdução 6

O governo brasileiro, a exemplo de outros países, estabelece periodicamente


novas metas de consumo de energia e novas classificações energéticas para os
refrigeradores domésticos. Até 2005, os refrigeradores no Brasil eram classificados, em
termos de consumo de energia, de A (mais eficiente) até G (menos eficiente). Em 2006,
os níveis mínimos de eficiência energética para cada classe foram reduzidos, incentivando
a produção de produtos cada vez mais eficientes. Além disso, a comercialização de
refrigeradores classificados como F e G foi proibida (Boeng, 2012).
Já na Europa, novas classes foram introduzidas em 2004 e 2010, como A+, A++
e A+++, que são respectivamente 25, 60 e 150 % mais eficientes que um produto classe
A (Directive 2003/66/EC, CECED, 2011).

1.3. Motivação

As medidas governamentais e a mudança de mentalidade dos consumidores têm


pressionado as indústrias do ramo a investir na pesquisa e desenvolvimento de sistemas
mais eficientes. Nesse sentido, várias foram as alternativas adotadas ao longo dos anos
visando à diminuição do consumo de energia. Todavia, muitas delas estão no limiar do
seu potencial ou apresentam um impacto limitado sobre o desempenho do refrigerador.
Um primeiro exemplo diz respeito ao circuito interno de ar em refrigeradores frost-free.
A Figura 1.6 ilustra o gabinete de um refrigerador do tipo bottom-mount de dois
compartimentos, freezer e fresh-food. Um ventilador insufla o ar frio em um plenum, de
onde é distribuído para cada compartimento. A distribuição da vazão é controlada por um
damper, cuja abertura é comandada pela temperatura do fresh-food. O ar retorna ao
evaporador por dutos instalados nas paredes traseira e inferior do freezer, fechando o
ciclo. Assim, o dimensionamento correto da geometria do circuito de ar tem como
objetivo minimizar as perdas ocasionadas por grades, dutos, prateleiras, orifícios e o
próprio damper, de forma a favorecer o escoamento e diminuir a potência consumida pelo
ventilador. Alguns fabricantes revelam que melhorias no circuito de ar podem reduzir o
consumo de energia em até 10% (Boeng, 2015). Porém, em muitos casos o circuito de ar
já é bem dimensionado, havendo pouco espaço para aprimoramentos que tenham um
impacto relevante sobre o consumo de energia do refrigerador.
Introdução 7

Figura 1.6 – Sistema de circulação de ar de um refrigerador frost-free bottom-mount

A otimização do circuito de ar também está atrelada à escolha adequada do


ventilador, o qual deve ser capaz de suprir de maneira eficiente o diferencial de pressão
necessário. Contudo, a gama de ventiladores disponíveis é limitada por questões de custo,
impedindo muitas vezes o uso de modelos de alta eficiência ou de rotação variável. Dessa
forma, a maioria dos refrigeradores trabalha com ventiladores de baixa performance e de
rotação constante, que não permitem a variação da vazão de ar em função das diferentes
condições de operação do sistema, restringindo os possíveis ganhos relacionados à
otimização do circuito de ar a uma dada condição de projeto.
No que tange os trocadores de calor, a grande maioria dos sistemas domésticos
adotam evaporadores do tipo tubo-aleta e condensadores do tipo arame-sobre-tubo
(Tagliafico e Tanda, 1997, Melo e Hermes, 2009). No caso do evaporador, o tipo tubo-
aleta no-frost é o mais usado e sua geometria já foi extensivamente estudada (Karatas et
al., 1996, Lee et al., 2002, Barbosa et al., 2009). Porém, por mais que as aletas sejam
aperfeiçoadas, os ganhos obtidos no coeficiente externo de transferência de calor podem
não representar uma redução significativa no consumo de energia. O mesmo pode ser dito
sobre o condensador. No caso do modelo arame-sobre-tubo de convecção natural, a única
alternativa é o aumento da área, mas esta é limitada pelo espaço físico disponível. Vários
tipos de condensadores também aramados, mas submetidos à convecção forçada, já foram
avaliados (Barnes e Bullard, 2000, Lee et al., 2001, Barbosa e Sigwalt, 2012, Rametta,
Introdução 8

2017). Na maioria dos casos, o seu uso, em substituição aos modelos de convecção
natural, acarreta uma redução no consumo de energia. Todavia, em muitos países a
preocupação da população com ruído impede o uso de ventiladores no condensador. Além
disso, alguns dos refrigeradores mais eficientes já contam com condensadores de
convecção forçada, sendo novamente o aumento da área a única alternativa. Mesmo que
haja espaço disponível, o aumento da área nem sempre leva a um melhor desempenho,
uma vez que o comportamento da taxa de transferência de calor é assintótico em relação
à área (Hermes et al., 2009). O mesmo vale para o aumento da vazão de ar.
Assim como os trocadores de calor, o compressor também está no seu limiar de
eficiência (Melo e Silva, 2010). A Figura 1.7 mostra uma evolução da eficiência de
compressores alternativos ao longo dos anos. Melhorias têm sido continuamente feitas
nos seus componentes internos (Coates, 1972, Johnson, 1974, Schroeder, 1976, Peruzzi,
1980, Fry, 1992, Possamai e Todescat, 2004 e Colmek, 2014), tais como válvulas,
mancais, cilindro, muffler, bomba de óleo, mas com um ganho de performance
percentualmente menor em relação ao obtido anos atrás.

Figura 1.7 – Evolução da eficiência de compressores alternativos (Fonte: Embraco)

Refrigeradores domésticos, em sua maioria, utilizam compressores alternativos de


velocidade constante, com controle on-off. Com o intuito de acelerar o transiente de
partida do produto, é prática comum instalar compressores com capacidades bem acima
da requerida para atingir as temperaturas necessárias. Desse modo, o compressor deve
ligar e desligar periodicamente para manter a temperatura desejada, o que acarreta perdas
(Janssen et al., 1992, Bagarella et al., 2013). Compressores superdimensionados, mesmo
que eficientes, consomem mais que o necessário. Nesse contexto, compressores de
Introdução 9

capacidade variável surgiram como uma alternativa promissora, pois permitem a variação
automática da rotação e, consequentemente, da capacidade de refrigeração. Ganhos de
performance da ordem de 30% foram observados por diversos fabricantes. Contudo, a
lógica de atuação do inversor de frequência ainda pode ser melhorada (Velásquez et al.,
2014).
O dispositivo de expansão utilizado em praticamente 100% dos refrigeradores é o
tubo capilar, que nada mais é que um tubo de diâmetro interno bastante reduzido e
comprimento relativamente longo. O dimensionamento de tal dispositivo deve ser feito
com base nas pressões de trabalho e na carga térmica imposta ao refrigerador. Como a
área transversal é fixa, uma vez dimensionado, o tubo capilar não permite que o sistema
de refrigeração se adapte a condições de operação diferentes daquela para a qual ele foi
projetado, reduzindo a eficiência energética do refrigerador.
O ideal é que o sistema desenvolva capacidades de refrigeração que se aproximem
ao máximo da carga térmica a qual ele é submetido e, dessa forma, não haja as oscilações
de temperatura características do padrão on-off de ciclagem e, consequentemente,
desperdício de energia. Todavia, nem sempre essa adequação entre carga térmica e
capacidade de refrigeração é alcançada de maneira eficiente, uma vez que a restrição do
tubo capilar é fixa. Isso porque o dispositivo de expansão deve regular o grau de
superaquecimento na saída do evaporador de forma a mantê-lo adequadamente
preenchido com fluido bifásico, independentemente da rotação de trabalho do compressor
ou das temperaturas interna e externa do refrigerador. Um grau de superaquecimento
elevado reduz a efetividade do evaporador e consequentemente a capacidade de
refrigeração (Pӧttker, 2006). Vê-se, com isso, a necessidade de dispositivos de expansão
que tenham ação variável, como válvulas termostáticas ou eletrônicas, por exemplo.
As válvulas de expansão termostáticas (TEVs) são bastante comuns em sistemas
de médio porte, onde regulam a vazão mássica de refrigerante numa ampla faixa de
operação por meio do controle do grau de superaquecimento no evaporador. Contudo,
para capacidades de refrigeração inferiores às nominais, as TEVs podem apresentar
instabilidades no controle do superaquecimento, aumentando o consumo de energia do
refrigerador. Tais instabilidades podem ser ainda mais pronunciadas em sistemas com
compressores de velocidade variável, onde a variação de capacidade pode ser
consideravelmente superior à de sistemas com compressores de velocidade fixa.
As válvulas de expansão eletrônicas (EEVs), por sua vez, apesar de similares às
termostáticas, têm a abertura do orifício feita eletricamente, e não mecanicamente. Dessa
Introdução 10

forma, por permitirem um controle eletrônico da abertura de passagem, as EEVs têm um


tempo de resposta inferior às termostáticas e promovem um controle mais estável do
superaquecimento no evaporador. O uso de válvulas desse tipo ainda é restrito em
sistemas de pequeno porte devido à dificuldade de se encontrar modelos que, além de
reunirem as características anteriormente citadas, tenham uma faixa de abertura adequada
às condições de pressão e vazão mássica tipicamente encontradas na prática.
Apesar de existirem diversos trabalhos na literatura a respeito de válvulas de
expansão eletrônicas, são raros os que estudaram esses dispositivos com foco em sistemas
de refrigeração doméstica, como será mostrado no Capítulo 3. São raros também os
trabalhos que buscaram investigar o comportamento da válvula quando submetida ao
escoamento do fluido dominante atualmente, o HC-600a (isobutano). Nesse contexto, o
presente trabalho se propõe a preencher essas lacunas, estudando o problema através da
realização de testes tanto em bancada como num refrigerador doméstico.

1.4. Objetivos

O objetivo principal do presente trabalho consiste em estudar numérica e


experimentalmente a aplicação de dispositivos de expansão variável com orifícios e
faixas de abertura capazes de atender às necessidades de um refrigerador doméstico
operando com HC-600a. Para tanto, pretende-se cumprir os seguintes objetivos
específicos:

 Caracterizar três válvulas, submetendo-as ao escoamento de nitrogênio numa


bancada construída especialmente para tal fim, e com isso determinar as curvas
de vazão em função da abertura e da pressão de entrada;
 Com base nas vazões de nitrogênio calcular a geometria dos tubos capilares cujas
respostas seriam equivalentes às das válvulas em questão;
 Utilizar as geometrias obtidas anteriormente para prever numericamente as faixas
de vazão mássica de fluido de refrigerante e capacidade de refrigeração, e, com
isso, verificar preliminarmente o envelope de aplicação das válvulas;
 Projetar, montar e calibrar uma bancada para testar as válvulas com o fluido
refrigerante HC-600a. A bancada deverá ser compacta e permitir o controle das
pressões de condensação e evaporação, e do grau de sub-resfriamento na entrada;
Introdução 11

 Desenvolver um modelo matemático simplificado para prever o escoamento de


refrigerante através das válvulas;
 Com base nas análises anteriores, eleger a válvula mais apropriada para
refrigeração doméstica e verificar o efeito desta sobre o desempenho de um
refrigerador típico montado com um compressor de velocidade variável;
 Num refrigerador de mesmo modelo (i.e., mesmo gabinete, trocadores de calor e
compressor), mas montado com um tubo capilar, conduzir testes de consumo de
energia com diferentes cargas de refrigerante e realizar análises comparativas;
 Desenvolver um modelo matemático capaz de prever o desempenho do
refrigerador e, com isso, subsidiar a análise dos experimentos e permitir a
identificação completa do comportamento do sistema em função da temperatura
ambiente, rotação do compressor, restrição do dispositivo de expansão e carga de
fluido refrigerante;
 Avaliar se a válvula mais promissora pode, de fato, contribuir para uma redução
no consumo de energia do refrigerador em relação aquele obtido com o dispositivo
de expansão original, o tubo capilar.

1.5. Estrutura do documento

O presente documento foi divido em sete capítulos. No primeiro, foi apresentado


o contexto no qual o trabalho está inserido, a motivação e as metas traçadas. Na sequência,
aspectos fundamentais acerca de dispositivos de expansão são discutidos. No terceiro
capítulo, são mostrados os principais trabalhos encontrados na literatura com foco em
válvulas de expansão e suas aplicações. O capítulo quatro, por sua vez, descreve o
trabalho experimental, incluindo um detalhamento dos aparatos, dos testes realizados e
dos procedimentos adotados. No capítulo seguinte, é descrito o modelo matemático
desenvolvido para simular o sistema de refrigeração em função de diferentes restrições
do dispositivo de expansão, cargas de refrigerante, rotações do compressor e temperaturas
ambiente. O sexto capítulo trata dos resultados, tanto experimentais como numéricos, e
de um comparativo entre válvula e tubo capilar. Por fim, no capítulo sete, são
apresentadas as principais conclusões do trabalho.
2. Aspectos Fundamentais
Antes de continuar com a descrição do trabalho é importante introduzir alguns
aspectos e conceitos fundamentais a respeito de dispositivos de expansão. A seguir é
abordada a relação entre a carga térmica imposta ao sistema de refrigeração e a abertura
do dispositivo de expansão. Além disso, são apresentadas as principais características de
dois dos dispositivos de expansão mais utilizados em sistemas de refrigeração de pequeno
e médio porte: tubo capilar e válvula de expansão.

2.1. Efeito da carga térmica sobre o sistema de refrigeração

De posse de dados do fabricante, ou a partir de medições em calorímetros, é


possível obter as curvas características de operação tanto do compressor como do
dispositivo de expansão em função das pressões de evaporação e condensação. Como
mostrado na Figura 2.1, a vazão deslocada pelo compressor cresce com o aumento da
pressão de evaporação, uma vez que a eficiência volumétrica aumenta com a redução da
razão de compressão. Para o dispositivo de expansão ocorre o contrário, visto que tal
componente estrangula o escoamento. Dessa forma, maiores diferenças de pressão são
necessárias para elevar a vazão. A intersecção das curvas de tais componentes revela o
ponto de operação do sistema, onde as vazões mássicas são iguais. Sendo assim, para uma
dada restrição (ou geometria), rotação e condição de operação, há somente um ponto de
equilíbrio onde a vazão admitida pelo dispositivo de expansão é idêntica à deslocada pelo
compressor (Gosney, 1982).
Contudo, para pressões de evaporação diferentes da pressão de equilíbrio, o
desempenho do sistema de refrigeração é afetado. Por exemplo, admitindo que o ponto 2
refere-se à condição de projeto, se a carga térmica aumentar, a tendência é que a
temperatura do compartimento a ser refrigerado aumente e, assim, suba também a pressão
de evaporação. Essa nova pressão de evaporação tira o sistema do equilíbrio, fazendo
com que a vazão fornecida pelo compressor seja momentaneamente superior à do
dispositivo de expansão. Como consequência, não haverá refrigerante o suficiente no
evaporador, o qual passará a operar subalimentado e com maior grau de
superaquecimento. Assim, a massa de refrigerante no condensador aumentará, forçando
Aspectos Fundamentais 13

o sistema a trabalhar numa pressão de condensação mais alta na tentativa de reestabelecer


o equilíbrio (ponto 3), aumentando também a temperatura de descarga. Tais efeitos levam
a uma redução no coeficiente de performance.

Vazão mássica

Figura 2.1 – Ponto de operação do sistema (Stoecker e Jones, 1985)

De maneira análoga, uma diminuição da carga térmica causa uma redução da


pressão de evaporação, fazendo com que a vazão admitida pelo dispositivo de expansão
seja maior que a que o compressor consegue fornecer. Consequentemente, o evaporador
é sobrealimentado, ou inundado de fluido refrigerante, ocasionando uma redução na
temperatura da sucção do compressor. Na busca pelo reequilíbrio (ponto 1), ocorre o
rompimento do selo de líquido no condensador, levando à entrada de fluido bifásico no
dispositivo de expansão. Com isso, a vazão mássica em tal componente diminui,
contribuindo para a queda da capacidade de refrigeração, e do desempenho do sistema
como um todo.
Os efeitos da má alimentação do evaporador são claramente vistos em sistemas
dotados de dispositivos de expansão com restrição fixa. Como tais dispositivos são
projetados apenas para determinadas condições de operação, qualquer variação na carga
térmica ou na pressão de condensação em relação à condição de projeto, representará uma
diminuição no coeficiente de performance. Uma das vantagens dos dispositivos de ação
variável é justamente a capacidade de se adaptar a diferentes condições de contorno por
meio da variação da restrição, mantendo, assim, o evaporador devidamente alimentado
com fluido refrigerante.
Aspectos Fundamentais 14

2.2. Tubos capilares

Tubos capilares são utilizados em praticamente todos os sistemas de refrigeração


doméstica e em muitos sistemas de pequeno porte e médio porte na área comercial, como
expositores de bebidas e condicionadores de ar. Como já mencionado, tais dispositivos
nada mais são que tubos relativamente longos, com comprimento de 1 a 4 m, e diâmetro
interno bastante reduzido, de 0,5 a 2,0 mm (Melo et al., 1992).
Em aplicações comerciais, muitas vezes a expansão ocorre de maneira adiabática.
Já em refrigeradores domésticos, o tubo capilar é posto em contato com a linha de sucção
formando um trocador de calor do tipo contracorrente. Com a transferência de calor do
capilar para a linha de sucção, o título na entrada do evaporador diminui e, com isso, o
efeito refrigerante específico e a capacidade de refrigeração aumentam, melhorando o
desempenho do sistema. Dependendo da configuração, o tubo capilar pode ser inserido
concentricamente na linha de sucção, ou soldado lateralmente a ela (ver Figura 2.2).

Figura 2.2 – Trocador tubo capilar-linha de sucção: (a) concêntrico e (b) lateral

Apesar da relativa simplicidade construtiva de um tubo capilar, a física envolvida


no escoamento de fluidos refrigerantes no seu interior é consideravelmente complexa.
Como mostrado na Figura 2.3, ao entrar no tubo capilar, o refrigerante oriundo do
condensador, normalmente líquido, sofre uma leve queda de pressão devido à mudança
abrupta na área da seção transversal. Do ponto 2 ao 3, a pressão cai linearmente em função
basicamente do atrito, enquanto a temperatura se mantém constante. No ponto 3 o fluido
Aspectos Fundamentais 15

atinge a saturação e a pressão do escoamento se iguala à pressão de saturação. Todavia,


essas curvas de pressão deveriam coincidir a partir desse ponto, mas não é o que acontece:
a pressão de saturação se mantém constante e superior a do escoamento, dando origem a
uma condição de líquido superaquecido metaestável entre os pontos 3 e 3’ (Hermes,
2006). A partir do ponto 3’ o refrigerante inicia a mudança de fase fazendo com que a
queda de pressão se acentue em virtude do atrito e da aceleração. A pressão de saturação
também cai, mas só coincide com a pressão do escoamento no ponto 4’. Observa-se,
então, entre os pontos 3’ e 4’ uma condição de não equilíbrio onde o refrigerante encontra-
se como uma mistura bifásica metaestável. O equilíbrio é restabelecido somente no ponto
4’. A pressão continua a diminuir até o ponto 4, onde atinge a condição crítica
(escoamento blocado). Em tal condição o escoamento não é mais afetado pela pressão a
jusante e passa a se propagar na velocidade do som. Como a pressão crítica é normalmente
maior que a de evaporação, o escoamento sofre uma expansão oblíqua no bocal difusor
formado na junção com o evaporador, fazendo com que a pressão seja reduzida até a
pressão de evaporação (4-5).

Figura 2.3 – Variação da pressão ao longo de um tubo capilar adiabático

Nota-se que o dimensionamento correto do tubo capilar passa pelo entendimento


dos fenômenos anteriormente citados. Nesse sentido, diversas combinações de diâmetro
interno e comprimento podem ser escolhidas para atender a uma determinada condição
Aspectos Fundamentais 16

de operação. No entanto, uma vez selecionada, tal combinação pode não permitir que o
tubo capilar se ajuste a variações de pressão ou carga térmica.

2.3. Válvulas de expansão

Assim como os tubos capilares, as válvulas de expansão apresentam aspectos


construtivos relativamente simples. E do mesmo modo, o escoamento de fluido
refrigerante e os fenômenos envolvidos são também complicados.
A queda de pressão em válvulas ocorre quase que localmente, diferentemente do
observado em tubos capilares, onde os efeitos de fricção ao longo do comprimento do
tubo têm um papel importante. Como mostrado na Figura 2.4, devido à redução da área
de passagem, a velocidade do escoamento aumenta à medida que o líquido atravessa o
orifício da válvula. Isso causa uma redução na pressão e uma consequente formação de
bolhas, caso a pressão atinja valores inferiores ao da pressão de vapor do líquido (Pv). Tal
fenômeno é conhecido como flashing. Na saída do orifício forma-se a chamada vena
contracta, onde a pressão atinge o seu valor mínimo. Em virtude do aumento de área após
o orifício, a velocidade cai e a pressão volta a subir (P2). Caso o aumento de pressão seja
suficiente para superar novamente a pressão de vapor do líquido, as bolhas colapsam,
uma vez que a pressão interna delas é inferior à do escoamento. A esse processo de
formação e colapso de bolhas de vapor dá-se o nome de cavitação.

Figura 2.4 – Perfil de pressão dentro da válvula: formação e colapso de bolhas


Aspectos Fundamentais 17

Dependendo das condições de operação, a pressão à jusante da vena contracta


pode se manter inferior à pressão de vapor do líquido, mesmo após a recuperação parcial
de pressão na saída do orifício (ver Figura 2.5). Dessa forma, as bolhas de vapor surgirão,
mas não colapsarão, gerando uma mistura bifásica que migrará em direção ao evaporador.
Tal situação é típica em sistemas de refrigeração por compressão mecânica de vapor.

Figura 2.5 – Perfil de pressão dentro da válvula: formação e manutenção de bolhas

A explicação anterior, no entanto, revela apenas superficialmente a física do


escoamento através do orifício de uma válvula. Como mostrado por Simões-Moreira e
Bullard (2003) os fenômenos envolvidos são ainda mais complexos. A Figura 2.6 ilustra
em detalhes a variação da pressão ao longo do comprimento de uma válvula.
Primeiramente, o fluido tem a velocidade aumentada na seção convergente de entrada da
válvula, com uma consequente diminuição de pressão. Devido à rápida despressurização,
o flashing é atrasado e o refrigerante torna-se superaquecido (metaestável) na garganta da
válvula. O flashing inicia-se, então, a partir da garganta, com uma súbita mudança de fase
na seção divergente do orifício atrelada a uma redução abrupta de pressão, dando origem
a uma onda de evaporação. Note que o surgimento da onda de evaporação é tratado como
um processo aproximadamente descontínuo, simbolizado graficamente por uma linha
oscilatória. Forma-se, então, um jato cônico com um núcleo de líquido com evaporação
na superfície. Na sequência, o escoamento é adicionalmente acelerado e torna-se
supersônico (pressão inferior à crítica). Assim, dá-se origem a uma onda de choque,
responsável por elevar a pressão de modo que ela se iguale a pressão a jusante da válvula
(pressão de evaporação).
Aspectos Fundamentais 18

Onda de
evaporação
P1 P2
Onda de
Núcleo de líquido
choque

Garganta
Pressão

Garganta

Figura 2.6 – Perfil de pressão dentro da válvula: ondas de evaporação e choque

Em face da dificuldade em quantificar tais fenômenos, muitos autores optam por


modelar o comportamento de válvulas tomando como base a equação de Bernoulli.
Considerando o volume de controle em torno do orifício, como mostrado na Figura 2.7,
e admitindo regime permanente, escoamento incompressível e ao longo de uma linha de
corrente, sem atrito, e velocidade uniforme ao longo das seções de entrada e saída, pode-
se escrever a equação de Bernoulli da seguinte forma:

2
1u22   u1  
P1  P2  1     (2.1)
2   u2  
 
Aspectos Fundamentais 19

Com a equação da continuidade é possível reescrever a expressão acima em


função da vazão mássica:

A2 21 P1  P2 
m  (2.2)
2
1   A2 A1 

Fluxo
A1 P1, u 1 A2 P2 , u 2

VC

1 2
Figura 2.7 – Escoamento através de um orifício

O problema é que a equação anterior é válida somente para as condições


mencionadas anteriormente. Em válvulas, geralmente os contornos de entrada e saída do
orifício não são suaves, o que invalida a hipótese de ausência de atrito. Além disso, as
dimensões de entrada e saída do orifício nem sempre são idênticas, ou seja, a área de saída
é usualmente muito menor que a de entrada, e difícil de ser estimada. Adicionalmente,
ocorre vaporização parcial do refrigerante ao atravessar a válvula e, dessa forma, a
densidade deixa de ser constante. A fim de levar em conta tais efeitos e ainda manter a
simplicidade da equação, adota-se um coeficiente de vazão, Cv, o qual deve ser obtido
empiricamente. A equação toma então a seguinte forma:

m  ACv 2 1  P1  P2  (2.3)

onde A é a área mínima de passagem.

Contudo, alguns autores como Roming et al. (1966), Davies e Daniels (1973) e Li
(2013) advogam que a incorporação dos efeitos de compressibilidade no coeficiente de
vazão pode levar ao cômputo incorreto da vazão em determinadas condições. Assim como
Aspectos Fundamentais 20

a norma ANSI/ISA-75.01 (2007), tais autores recomendam o uso de uma versão


modificada da equação anterior:

m  ACvY 2 1 P1 X (2.4)

onde X é a razão de pressão, dada por:

P1  P2
X (2.5)
P1

E Y é o chamado fator de expansão, cuja natureza é similar a dos coeficientes de


expansão utilizados no equacionamento de reguladores de vazão convencionais como
placas de orifício, bocais e tubos de Venturi. A definição de Y parte das seguintes
hipóteses:

 Y varia linearmente com X;


 Y é função do tipo de fluido, ou melhor, da razão entre os calores específicos do
fluido a pressão e volume constante, γ = cp/cv;
 Y depende da geometria e do tipo da válvula.

Da primeira hipótese, definindo Y  1  aX , pode-se escrever:

  1 aX X
m (2.6)

Derivando a equação anterior e igualando a zero, obtém-se o valor de X e Y para


os quais a vazão é máxima (escoamento blocado):

dm 1 3a X 1
  0 X  (2.7)
dX 2 X 2 3a

Assim,
Aspectos Fundamentais 21

1 2
Y 1 a (2.8)
3a 3

Como Y = 1 para X = 0 e Y = 2/3 para a vazão máxima, a equação de Y toma a


seguinte forma:

X
Y  1 (2.9)
3Xt

sendo Xt a de razão de pressão em escoamento blocado. Com isso leva-se em conta a


terceira hipótese. De fato, o valor de Xt deve ser obtido experimentalmente para cada tipo
de válvula. Finalmente, a dependência do tipo de fluido (segunda hipótese) é incorporada
através do fator de correção Fγ = γ/1,4, que expressa a razão entre o coeficiente de
expansão isentrópica do fluido em questão e o do ar. Assim,

X
Y  1 (2.10)
3F X t

A Figura 2.8, adaptada de Li (2013), ilustra o comportamento da vazão mássica


em função da raiz quadrada da razão de pressão, para condições de entrada constantes na
válvula. Os resultados mostrados foram medidos por Chuan et al. (2006) para uma
abertura de aproximadamente 50%, uma pressão de condensação de 17,29 bar e um sub-
resfriamento de 6,5 ºC. Observa-se que, inicialmente, o escoamento responde linearmente
à razão de pressão, e o uso da Equação (2.3) é apropriado. Porém, à medida que tal
parâmetro aumenta, o escoamento experimenta uma região de transição, onde a
dependência da vazão com a raiz quadrada da razão de pressão é menor. Nessa região, a
capacidade da válvula em converter queda de pressão em vazão é reduzida devido à
mudança de densidade do fluido ao atravessar a vena contracta. A vazão mássica passa
então a ser proporcional ao produto fator de expansão-raiz quadrada da razão de pressão,
e a Equação (2.4) é recomendada. A partir de um determinado ponto, no entanto,
aumentos subsequentes na razão de pressão deixam de produzir efeito sobre a vazão
mássica. O escoamento atinge, então, a velocidade do som e passa a ser blocado. Percebe-
Aspectos Fundamentais 22

se da Figura 2.8 que com o uso da Equação (2.4) foi possível captar corretamente a
tendência dos dados experimentais.

Figura 2.8 – Vazão mássica x raiz quadrada da razão de pressão (Li, 2013)

As válvulas têm como objetivo principal regular o superaquecimento na saída do


evaporador e garantir uma taxa de transferência de calor adequada, independentemente
da carga térmica e das condições de operação. Nesse sentido, dois tipos de válvulas são
tipicamente utilizados em sistemas de refrigeração: a termostática e a eletrônica. A seguir
apresenta-se uma breve descrição dos seus princípios de funcionamento.

2.3.1. Válvulas de expansão termostáticas (TEVs)

São válvulas automáticas controladas simultaneamente pela pressão de


evaporação e pela temperatura do fluido na saída do evaporador, com o intuito de manter
o fluido que sai do evaporador e é aspirado pelo compressor levemente superaquecido.
Tal dispositivo busca fornecer condições de fluxo equilibrado de refrigerante com o
compressor em função da variação da carga térmica. Se essa aumentar, a tendência é que
o superaquecimento aumente, então a válvula abre. Caso a carga térmica diminua, a
válvula fecha.
O ajuste do superaquecimento desejado é feito por um parafuso que exerce pressão
sobre a mola que movimenta a agulha contra o diafragma da válvula (ver Figura 2.9). A
Aspectos Fundamentais 23

temperatura da saída do evaporador é medida por um bulbo e o valor obtido é convertido


na pressão de saturação do fluido contido no bulbo. A abertura da válvula é definida,
então, por um balanço de forças no diafragma: de um lado atua a pressão do fluido do
bulbo e do outro a pressão da mola somada à pressão do evaporador. Esta pode ser medida
tanto na entrada quanto na saída da serpentina, dependendo do tipo de equalização de
pressão da válvula, interna ou externa.

Figura 2.9 – Esquema de uma válvula termostática de equalização interna

A Figura 2.9 mostra uma válvula de equalização interna, onde a pressão do


evaporador é medida na sua entrada. Tal modelo é indicado quando a queda de pressão
ao longo da serpentina não é significativa. Como a pressão do refrigerante diminui devido
ao atrito ao longo do comprimento do evaporador, o valor na saída é sempre menor que
na entrada. Quando a queda de pressão é significativa, o grau de superaquecimento
requerido para manter a condição de equilíbrio é maior. Com isso, a área do evaporador
que é efetivamente utilizada para resfriar o ar é reduzida, afetando negativamente o
desempenho do sistema. Nesse caso, opta-se por uma válvula com equalização externa,
onde a pressão do evaporador é medida diretamente na sua saída.
As válvulas de expansão termostáticas, no entanto, podem não ser apropriadas
para o controle de superaquecimento em determinadas condições de operação onde a
capacidade de refrigeração é inferior à nominal. Um processo chamado de hunting pode
ocorrer (Broersen e Van der Jagt, 1980), fazendo com que a válvula abra e feche
continuamente na busca pelo setpoint, causando oscilações na vazão mássica e
contribuindo para o aumento no consumo de energia do sistema. Adicionalmente,
válvulas desse tipo podem não se comportar bem durante determinados transientes em
sistemas com compressores de rotação variável. Nesses casos, uma queda na pressão de
Aspectos Fundamentais 24

evaporação seguida de uma variação da rotação pode impulsionar a frente de líquido em


direção ao compressor, correndo o risco de danificá-lo (Aprea e Mastrullo, 2002).

2.3.2. Válvulas de expansão eletrônicas (EEVs)

Apesar de construtivamente semelhantes às termostáticas, as válvulas de expansão


eletrônicas têm a abertura do orifício feita de maneira diferente. Enquanto que nas
termostáticas a regulagem é feita mecanicamente mediante um balanço de forças, nas
eletrônicas uma bobina solenoide controla eletricamente a abertura. Por serem
eletronicamente controladas, as EEVs respondem rapidamente às variações de carga
térmica e apresentam um controle mais estável do superaquecimento quando comparadas
às TEVs.
O movimento da agulha/obturador pode ser feito de maneira proporcional ou
pulsada. No caso proporcional, um motor de passo atua de forma a girar a agulha ao longo
de um fuso movimentando-o para cima ou para baixo (ver Figura 2.10). O motor de passo
normalmente possui duas ou quatro bobinas de corrente contínua, as quais são
alimentadas sequencialmente de forma a atrair a agulha fazendo-a girar num determinado
ângulo ou passo, seja no sentido horário ou anti-horário. A velocidade e o ângulo de
rotação são determinados respectivamente pela frequência e pelo número de pulsos
aplicados em cada bobina.
A estratégia pulsada, ou PWM (Pulse Width Modulated), consiste em abrir e
fechar a válvula de maneira cíclica e rápida. Para tanto, a bobina gera uma força
magnética que move o obturador para cima quando se deseja abrir o orifício, enquanto
que uma mola é responsável pelo retorno do obturador à posição de origem (ver Figura
2.10). A bobina é ligada e desligada numa certa frequência durante um período modulado
de tempo, o chamado duty cycle. Este é definido como o percentual de tempo em que a
bobina permanece energizada durante um ciclo (ver Figura 2.11). Por exemplo, um duty
cycle de 75% significa que a bobina está ativada durante 75%, e desativada durante os
25% restantes.
As válvulas que serão analisadas no presente trabalho diferem substancialmente
dos modelos descritos até então, pois operam de acordo com o princípio eletrotérmico,
onde o orifício abre ou fecha, de maneira proporcional ou pulsada, dependendo da
dilatação térmica causada pela passagem de uma corrente elétrica numa das camadas
internas da válvula. Maiores detalhes serão apresentados no Capítulo 4.
Aspectos Fundamentais 25

Figura 2.10 – EEVs: motor de passo (esquerda) e PWM (direita)

Figura 2.11 – Estratégia PWM: variação do duty cycle para uma dada frequência
3. Revisão Bibliográfica
A literatura é farta em trabalhos a respeito de dispositivos de expansão de restrição
fixa, como os tubos capilares e restritores (short tube orifices), mas são poucos os que
tratam de dispositivos de ação variável. Para se ter uma ideia, somente 83 trabalhos foram
encontrados na literatura aberta, o que corresponde a menos da metade das publicações
sobre tubos capilares, por exemplo. A Figura 3.1 ilustra a evolução no número de
publicações sobre válvulas de expansão desde o trabalho pioneiro de Nagaoka (1965).
Nota-se uma quantidade bastante limitada de estudos nas décadas de 60 a 80, com um
leve aumento na década de 90. Percebe-se que o tema começou a ganhar importância
apenas nos anos 2000, principalmente no que diz respeito às válvulas eletrônicas.

10
EEV
9
TEV
8

7
Publicações

Ano
Figura 3.1 – Número de publicações ao longo dos anos

Dentre os trabalhos analisados, alguns tiveram como foco caracterizar


exclusivamente o componente, isto é, buscaram identificar, seja numérica ou
experimentalmente, o comportamento do dispositivo de expansão em função de
determinadas condições de contorno. Enquanto isso, outros trabalhos tiveram como foco
o sistema de refrigeração, ou seja, investigaram o efeito da variação da restrição do
dispositivo de expansão no desempenho do refrigerador como um todo. Uma breve
descrição dos trabalhos mais relevantes encontrados na literatura é mostrada a seguir.
Revisão Bibliográfica 27

3.1. Trabalhos com foco no dispositivo de expansão

O objetivo principal dos trabalhos com foco no dispositivo de expansão é


identificar a vazão mássica resultante em função de parâmetros como as pressões de
condensação e evaporação, o grau de sub-resfriamento e a abertura do orifício.
Aprea e Mastrullo (2002) compararam experimentalmente duas válvulas de
expansão, uma termostática e outra eletrônica, submetidas ao escoamento de R22 e
R407C. Para tanto, uma bancada composta basicamente por um compressor semi-
hermético, um condensador tubo-em-tubo e um evaporador tubo-aletado foi construída.
Para garantir a ausência de óleo na seção de testes, um separador foi instalado na saída
do compressor. Um banho termostático com água foi conectado ao condensador para
permitir o controle da temperatura de saída do mesmo. O evaporador foi submetido a
temperaturas e vazões controladas de ar, mediante a ação conjunta de resistências elétricas
e um ventilador de rotação variável. Contudo, detalhes sobre os valores e a forma de
controle das pressões de operação e do grau de sub-resfriamento não foram apresentados.
As válvulas foram comparadas com base no COP do circuito de refrigeração, sendo que
a capacidade de refrigeração foi calculada por um balanço de energia no evaporador, tanto
no lado do ar quanto do refrigerante. O controle de cada válvula foi mantido ativo de
modo a garantir um superaquecimento de 10 ºC na saída do evaporador. Ensaios
conduzidos em regime permanente, variando tanto a temperatura da água na entrada do
evaporador (20 a 35 ºC) como a vazão de ar no evaporador (300 a 600 m3/h), mostraram
que as válvulas têm desempenhos similares, sendo que a eletrônica controlou o
superaquecimento de maneira mais estável. Testes em regime transiente também foram
realizados mantendo tanto a temperatura da água na entrada do condensador como a vazão
de ar no evaporador constantes para avaliar o transiente de partida do sistema em
condições equalizadas e não-equalizadas. Notou-se que a válvula eletrônica forneceu
maiores COP com menores oscilações de superaquecimento, além de atingir o valor de
setpoint mais rapidamente.
Shanwei et al. (2005) estudaram o comportamento de seis válvulas de expansão
eletrônicas do tipo agulha, com foco nos refrigerantes R407C e R410A como alternativas
para substituição do R22. Um aparato experimental capaz de controlar as pressões a
montante e jusante das válvulas e o grau de sub-resfriamento na entrada foi montado (ver
Figura 3.2). A bancada consiste basicamente num circuito fechado onde uma bomba de
líquido de rotação variável promove a circulação do fluido e o controle da pressão de
Revisão Bibliográfica 28

condensação. O líquido que sai da bomba escoa primeiramente num trocador de calor de
placas brasadas ligado em contracorrente com um banho termostático de água quente, que
permite o controle da temperatura na entrada da válvula. O fluido bifásico que sai da
válvula é condensado em outro trocador de placas brasadas conectado a um banho
termostático a baixa temperatura, que permite o controle da pressão de evaporação. As
seguintes condições de operação foram avaliadas: condensação de 40, 45 e 50 ºC,
evaporação de 0, 5 e 10 ºC, e sub-resfriamento de 1,5, 5 e 10 ºC. Uma correlação
polinomial empírica foi proposta para estimar o coeficiente de vazão em função do
diâmetro e da área do orifício, do grau de sub-resfriamento, da diferença de pressão a que
a válvula foi submetida, e dos volumes específicos do refrigerante na entrada e na saída
da válvula. Erros na faixa de ±10% foram verificados. É importante ressaltar que o
aparato experimental utilizado nos trabalhos a seguir segue em linhas gerais o descrito
por Shanwei et al. (2005).

Figura 3.2 – Aparato experimental utilizado por Shanwei et al. (2005)

Chuan et al. (2006) analisaram experimentalmente o escoamento dos fluidos R22


e R407C através uma única válvula eletrônica do tipo agulha. Assim como Shanwei et al.
(2005), Chuan et al. também avaliaram o efeito das temperaturas de condensação (30 a
50 ºC) e evaporação (5 a 30 ºC), do grau de sub-resfriamento (3 a 15 ºC) e da abertura do
orifício (10 a 100%). Uma correlação empírica baseada no teorema dos Pi de Buckingham
(Fox e McDonald, 2009) foi proposta e desvios de ±10% foram observados para o fluido
R22 e ±20% para o fluido R407C. Além dos parâmetros de operação citados
anteriormente, foram levados em conta fatores geométricos e construtivos da válvula e
Revisão Bibliográfica 29

propriedades do fluido como a densidade e a viscosidade dinâmica na entrada, a tensão


superficial, e o título na saída.
Park et al. (2007), em um estudo similar, caracterizaram experimentalmente o
comportamento de seis válvulas de expansão eletrônicas do tipo agulha submetidas ao
escoamento de R22 e R410A, em condições de operação tipicamente encontradas em
bombas de calor e condicionadores de ar para climatização de edificações. A vazão
mássica foi medida em função da temperatura de condensação (de 40,5 a 54,5 ºC), do
sub-resfriamento na entrada da válvula (3,5 a 11,5 ºC) e da abertura do orifício (de 20 a
100%). A temperatura de evaporação foi mantida em 7 ºC. Valores entre 50 e 450 kg/h
foram encontrados. Uma correlação empírica para o coeficiente de vazão da válvula foi
então obtida levando em conta condições do escoamento e geométricas, e uma
concordância de aproximadamente ±15% foi observada entre os valores de vazão
calculados e medidos.
Zhifang et al. (2008) também desenvolveram uma correlação empírica para o
coeficiente de vazão de duas válvulas eletrônicas do tipo agulha para aplicações com
bombas de calor operando com o fluido R134a. No total, 534 ensaios foram realizados
variando a pressão de condensação entre 9,17 e 22,12 bar, a pressão de evaporação entre
3,21 e 6,22 bar, e a temperatura de entrada entre 31,1 e 67,2 ºC. Como resultado, vazões
entre 75,6 e 257,4 kg/h foram encontradas. A correlação envolveu além dos parâmetros
previamente citados, dados geométricos e propriedades termofísicas do refrigerante,
como a viscosidade dinâmica e a tensão superficial. Os desvios entre os valores medidos
e calculados ficaram dentro de uma banda de ±7%.
Li (2013) desenvolveu um modelo matemático para prever o escoamento dos
fluidos refrigerantes R22, R410A e R407C em válvulas eletrônicas. O autor argumenta
que como o uso da equação de Bernoulli para o escoamento em orifícios não é capaz de
prever mudanças de fase e, consequentemente, alterações no volume específico do fluido
ao atravessar a válvula, a incorporação de tal efeito no coeficiente de vazão não traria
precisão suficiente no cômputo da vazão em alguns casos, sendo necessário então o uso
de um fator de expansão para levar em conta a variação de densidade (ANSI/ISA-75.01,
2007). Com a incorporação desse parâmetro adicional, foi possível captar de maneira
adequada o comportamento da válvula em função do aumento da pressão. Foi mostrado
que a variação da vazão mássica com a pressão experimenta três regiões distintas: (i)
vazão linearmente proporcional à raiz quadrada do diferencial de pressão da válvula, (ii)
relação não-linear entre vazão e diferencial de pressão e (iii) escoamento blocado (vazão
Revisão Bibliográfica 30

constante). Com a base de dados de Zhang et al. (2006) e Ye et al. (2007), uma equação
polinomial para o cômputo do coeficiente de vazão em função apenas da temperatura de
condensação, do grau de sub-resfriamento e da abertura do orifício foi proposta. De
acordo com o autor, devido à utilização do fator de expansão, não foi necessário
incorporar diversos outros parâmetros na correlação do coeficiente de vazão, como feito
por outros autores. Dessa forma, erros de ±5% foram encontrados.
Ronzoni et al. (2013) conduziram um trabalho numérico e experimental para
investigar o escoamento pulsado de R134a através de um arranjo em série de tubo capilar
adiabático e válvula eletrônica (ver Figura 3.3). Uma câmara intermediária de pequeno
volume foi instalada entre o capilar e a válvula com o objetivo de minimizar oscilações e
tentar igualar a vazão entre os dois dispositivos. Para tanto, um aparato foi construído e
parâmetros como a pressão de condensação (11 e 15 bar), o duty cycle (10, 25, 50, 75 e
90%), o período dos pulsos (2 e 8 s), e o diâmetro do orifício das válvulas (0,4 e 1,6 mm)
foram variados. Diferentemente dos trabalhos anteriores, a bancada utilizada pelos
autores utiliza um ciclo de compressão mecânica de vapor com um compressor de
capacidade variável. Para eliminar o efeito da circulação de óleo, dois separadores em
série foram instalados na descarga do compressor. A pressão de evaporação foi controlada
através de um by-pass da descarga do compressor para a saída do evaporador. A pressão
de condensação, por sua vez, foi regulada num trocador de calor conectado a um banho
termostático com vazão de água variável. Um modelo matemático também foi
desenvolvido, onde o escoamento através do tubo capilar foi avaliado em regime
permanente através do modelo proposto por Hermes et al. (2010), enquanto que a válvula
foi modelada pela equação de Bernoulli para o escoamento através de orifícios, com o
coeficiente de vazão ajustado empiricamente em função da restrição. Os efeitos
transientes relacionados ao acúmulo de refrigerante na câmara intermediária também
foram equacionados. Erros de ±10 % foram observados para 70% dos 60 pontos
experimentais avaliados. Adicionalmente, uma análise de sensibilidade revelou que a
vazão no tubo capilar nunca se iguala a da válvula quando o duty cycle é inferior a 10%.

Figura 3.3 – Arranjo válvula PWM-tubo capilar utilizado por Ronzoni et al. (2013)
Revisão Bibliográfica 31

3.2. Trabalhos com foco no sistema de refrigeração

Os trabalhos com foco no sistema de refrigeração têm com ideia principal avaliar
o efeito de diferentes restrições ou aberturas do dispositivo de expansão sobre parâmetros
como o grau de superaquecimento na saída do evaporador, a temperatura de evaporação
e o consumo de energia do sistema.
Tassou e Al-Nizari (1993) avaliaram experimentalmente o desempenho de um
chiller comercial de 25 kW de capacidade nominal e compressor de rotação fixa operando
em regime on-off, montado ora com uma válvula termostática e ora com uma eletrônica.
Testes em regime permanente foram realizados, além de testes transientes em partida
equalizada (após um longo período de inatividade) e não equalizada (durante o período
cíclico de operação). Os ensaios em regime permanente foram conduzidos com um
superaquecimento de 8 ºC e mostraram que ambas as válvulas fornecem COPs similares.
Nos ensaios transientes de partida equalizada, observou-se que a válvula eletrônica atinge
valores estabilizados de superaquecimento muito mais rapidamente quando comparada à
válvula termostática. Esta entra num loop de busca (hunting) pelo valor correto de
superaquecimento por um longo período de tempo até que a diferença entre as pressões
de condensação e evaporação sejam adequadas. Para condições de partida não equalizada,
foram notadas oscilações entre 2,5 e 3,0 ºC em torno do valor de setpoint de
superaquecimento mesmo após o sistema atingir um regime periódico de operação
quando montado com a válvula termostática.
Choi e Kim (2002) investigaram experimentalmente o efeito da carga de
refrigerante e do tipo de dispositivo de expansão sobre a performance de uma bomba de
calor de água operando em regime permanente com R22. Um tubo capilar de 1,2 mm de
diâmetro interno foi comparado a uma válvula eletrônica controlada por um motor de
passo. Para tanto, a carga de refrigerante foi variada entre ±20% do valor nominal de
1,35 kg. Adicionalmente, a temperatura da água na entrada do evaporador foi mantida em
25 ºC, enquanto a da entrada do condensador foi variada entre 30 e 42 ºC. Os resultados
revelaram que o sistema fica muito mais sensível à variação de carga de refrigerante e
carga térmica quando montado com o tubo capilar. Com o tubo capilar, a perda de
desempenho foi maior para cargas de refrigerante inferiores à ótima. O COP do sistema
com a EEV, por sua vez, mostrou pouca dependência em relação à carga de refrigerante,
mas foi fortemente afetado pela variação de carga térmica. Em geral, o ganho de
performance atingido com a EEV foi muito superior ao obtido com o capilar.
Revisão Bibliográfica 32

Björk e Palm (2006) também estudaram o impacto da carga de refrigerante e do


dispositivo de expansão no sistema de refrigeração. Experimentos foram conduzidos com
um refrigerador doméstico de um compartimento, com trocadores de calor de convecção
natural e um compressor de rotação fixa operando no modo on-off com HC-600a. Para
investigar o efeito da variação da restrição do dispositivo de expansão, uma válvula com
motor de passo foi instalada em série com o tubo capilar original de 0,6 mm de diâmetro
interno. Os ensaios foram realizados de acordo com a norma ISO 7371 (1995), mas sem
pacotes de tilose. O gabinete foi submetido a três temperaturas ambiente (16, 25 e 31 ºC),
e a temperatura do ar dentro do compartimento foi fixada em 5 ºC. Como mostrado na
Figura 3.4, para as temperaturas de 16 e 31 ºC existe uma região onde o consumo de
energia é mínimo para certas combinações de restrição e carga. Verificou-se que a região
de consumo mínimo foi deslocada para uma faixa de cargas de refrigerante menor quando
a temperatura ambiente mudou de 16 para 31 ºC, indicando que a carga ótima tende a
diminuir com o aumento da temperatura externa. Isso estaria relacionado à redistribuição
mais lenta de refrigerante no circuito em baixas temperaturas ambientes, causada pela
menor vazão mássica e pela maior absorção de refrigerante no óleo do compressor.
Observou-se também que para cargas de refrigerante muito baixas o superaquecimento
no evaporador foi excessivo. Já para cargas elevadas o evaporador foi ativado, mas a linha
de sucção ficou muito fria. Em ambos os casos o consumo de energia foi penalizado.
Adicionalmente, percebeu-se que para pequenas aberturas da válvula, o
superaquecimento também aumentou, juntamente com o consumo de energia.
Curiosamente, para aberturas elevadas o consumo de energia praticamente não se alterou
em função da carga de refrigerante. Isso foi explicado pela rápida redistribuição do
refrigerante pelo circuito de refrigeração, que minimizou as perdas na expansão, ou pela
condição termodinâmica aproximadamente constante na entrada da válvula, apesar da
variação da abertura. Contudo, vale ressaltar que os contornos apresentados na Figura 3.4
não se fecham, ou seja, ficam abertos para aberturas de válvulas maiores. Tal fato ocorreu
em virtude das limitações geométricas do tubo capilar, que tinha tanto diâmetro interno
como comprimento reduzido, o que não permitiu maiores variações na restrição. É
provável que para restrições ainda maiores a faixa de carga de refrigerante que minimiza
o consumo de energia seja menor.
Revisão Bibliográfica 33

Figura 3.4 – Consumo de energia vs. carga de R600a e restrição (Björk e Palm, 2006)

Marcinichen e Melo (2006) realizaram testes de pulldown e consumo de energia


para comparar o desempenho de um refrigerador doméstico do tipo top-mount, com
volume interno de 513 l, montado ora com um tubo capilar não adiabático e ora com uma
válvula de expansão eletrônica do tipo PWM. Para tanto, a carga de refrigerante ótima foi
determinada para cada configuração. Além disso, um trocador de calor formado pela
união da linha de líquido com a linha de sucção foi instalado para os testes com a válvula,
uma vez que o trocador de calor original foi removido juntamente com o tubo capilar. Os
testes de pulldown foram conduzidos sem carregamento de pacotes e em três temperaturas
ambiente: 18, 32 e 43 ºC. Os tempos de pulldown encontrados foram praticamente
idênticos em todos os casos. Apesar da válvula permitir uma alta taxa de resfriamento
durante a primeira hora (máximo duty cycle), a lógica de controle atuou de forma a
diminuir o duty cycle com o passar do tempo, o que levou o sistema a se comportar de
maneira similar ao montado com o tubo capilar. Já os testes de consumo de energia foram
realizados com pacotes de tylose e em três temperaturas externas (18, 32 e 43 ºC) e em
três diferentes rotações do compressor (2000, 3600 e 4500 rpm). Observou-se que o
consumo de energia do sistema com a válvula foi inferior ao do sistema com o tubo capilar
apenas para altas cargas térmicas (ambiente em 43 ºC) e baixas capacidades de
refrigeração (rotação de 2000 rpm). Os autores ressaltam, no entanto, que a performance
do sistema com a EEV foi diretamente afetada pelas instabilidades verificadas no controle
Revisão Bibliográfica 34

de superaquecimento, causadas em parte pela lógica de controle adotada (fornecida pelo


fabricante) e também pelo orifício da válvula que poderia estar superdimensionado para
o sistema em questão.
Lazzarin e Noro (2008) compararam numérica e experimentalmente o uso de
válvulas de expansão eletrônicas e termostáticas numa central de condicionamento de ar
composta por oito unidades de refrigeração operando com R22. Para tanto, ensaios foram
realizados ao longo de aproximadamente um ano, submetendo os equipamentos a
diferentes temperaturas externas. Cada unidade foi montada ora com uma válvula
termostática e ora com uma eletrônica. Esta funciona com um motor de passo controlado
com uma estratégia do tipo PID (proporcional integral derivativo) desenvolvida
especialmente para a aplicação em questão, sendo, portanto, melhor que a estratégia
utilizada pela válvula termostática.

Figura 3.5 – Redução de consumo vs. temperatura externa (Lazzarin e Noro, 2008)

Verificou-se que o consumo de energia é fortemente dependente da temperatura


ambiente. Durante os períodos mais frios do ano, onde a pressão de condensação é baixa,
a redução de consumo foi maior para a válvula eletrônica justamente pela sua capacidade
de ajuste de abertura em relação à termostática. Para a temperatura ambiente mais baixa
(5 ºC), a EEV permitiu pressões de condensação próximas a 12 bar, enquanto que com a
termostática tal valor não baixou de 17 bar. Como mostrado na Figura 3.5, a economia de
energia diminuiu drasticamente para as épocas mais quentes. Para temperaturas próximas
a 32 ºC as duas válvulas conseguiram operar na mesma pressão de condensação. Os
autores argumentam que a redução de consumo pode ser atribuída não somente à válvula
Revisão Bibliográfica 35

em si, mas também ao controle empregado. A contribuição da válvula foi atribuída ao


aumento da capacidade de refrigeração causado pelo menor superaquecimento, pela
operação mais estável e por uma vazão mássica média maior para temperaturas ambientes
mais baixas.
Boeng (2012) realizou um trabalho similar ao de Björk e Palm (2006) onde
desenvolveu um procedimento experimental para avaliar o efeito da carga de refrigerante
e da restrição do dispositivo de expansão no consumo de energia de um refrigerador
doméstico. Testes foram conduzidos em regime permanente (Hermes et al., 2013) com
um refrigerador frost-free de dois compartimentos operando com um compressor de
rotação fixa de HC-600a, sem pacotes de tilose e numa única temperatura ambiente
(32 ºC). Em todos os ensaios o freezer e o compartimento fresh-food foram mantidos
respectivamente em -18 e 5 ºC. Para permitir a variação da restrição, uma válvula
micrométrica com um motor de passo foi instalada em série com um tubo capilar de
diâmetro interno superior (0,83 mm) ao original (0,70 mm). Os resultados mostraram que
a vazão mássica aumenta linearmente com a abertura do orifício da válvula, para uma
carga de refrigerante fixa. O oposto ocorre com o efeito refrigerante específico, o que faz
com que surja uma capacidade de refrigeração ótima para certa abertura de válvula. A
combinação da curva de capacidade com a de potência de compressão leva a outro ponto
ótimo na curva de COP (ver Figura 3.6).

Figura 3.6 – Desempenho do sistema em função da restrição (Boeng, 2012)


Revisão Bibliográfica 36

Comportamento similar foi observado ao analisar o efeito da carga de refrigerante


para uma restrição fixa. Para cargas muito baixas, a maior parte do evaporador está
superaquecida e a capacidade de refrigeração é menor. Como consequência, a fração de
funcionamento do compressor e o consumo de energia do refrigerador como um todo
aumentam. À medida que a carga aumenta, por outro lado, o superaquecimento diminui
e a capacidade de refrigeração sobe. Todavia, quando o sistema é sobrealimentado, as
pressões de operação aumentam, a potência consumida se eleva e a capacidade de
refrigeração cai, levando a uma diminuição do COP. Como mostrado na Figura 3.7, as
curvas de COP e capacidade de refrigeração também apresentam um ponto ótimo.

Figura 3.7 – Desempenho do sistema em função da carga de R600a (Boeng, 2012)

A Figura 3.8 mostra o efeito combinado da carga de refrigerante e da restrição


sobre o consumo de energia. Partindo da região central da figura, nota-se que tanto para
cargas muito baixas quanto muito altas, o consumo aumenta independentemente da
restrição. Da mesma maneira, para uma carga fixa, tanto aberturas grandes quanto
pequenas levam a um aumento no consumo de energia. Percebe-se ainda que, para cargas
elevadas, o consumo é mínimo para maiores restrições. O contrário acontece para cargas
reduzidas. Isso está relacionado ao fato de que o superaquecimento na saída do
evaporador tende a diminuir com o aumento da carga ou da restrição.
Revisão Bibliográfica 37

Figura 3.8 – Consumo de energia vs. carga de HC-600a e restrição (Boeng, 2012)

Bagarella et al. (2013) conduziram um trabalho experimental para quantificar as


perdas ocasionadas pelo comportamento cíclico do compressor no desempenho de um
chiller quando montado com diferentes dispositivos de expansão. Foram comparadas três
válvulas: uma termostática, uma termostática em série com uma solenoide e uma válvula
eletrônica. O arranjo válvula termostática com válvula solenoide foi empregado para
evitar a migração de fluido refrigerante nos períodos em que o compressor está desligado,
funcionalidade está presente originalmente apenas na válvula eletrônica. Um chiller de
6,8 kW para resfriamento de água foi adotado. Todos os testes foram conduzidos nas
mesmas condições de operação: vazão de água constante, temperatura da água na entrada
do evaporador em 12 ºC, superaquecimento de 6 ºC na saída do evaporador e temperatura
de condensação de 52 ºC. Testes em regime permanente e cíclico foram realizados para
obter o COP do sistema. Em regime permanente, o COP foi definido como a razão entre
a capacidade de refrigeração e a potência consumida, sendo a capacidade obtida por um
balanço de energia no lado da água. Em regime transiente cíclico, a carga térmica foi
variada por meio de resistências elétricas e o COP foi calculado pela razão entre a
potência das resistências somada à transferência de calor pelas paredes do tanque de água,
e a potência consumida pelo compressor, ventilador e bomba d’água. A perda cíclica foi
então obtida dividindo-se o COP em regime pelo COP cíclico.
Revisão Bibliográfica 38

Figura 3.9 – Perdas cíclicas em função do fator de carga (Bagarella et al., 2013)

A Figura 3.9 ilustra a variação das perdas cíclicas em função do fator de carga,
definido como a razão entre a carga térmica e a capacidade de refrigeração. Para um fator
de carga de 100%, quando o sistema opera em regime permanente com carga térmica
igual à capacidade de refrigeração, obviamente não há perdas cíclicas. Essas começam a
se pronunciar apenas com fatores de carga inferiores a 70%. Até esse ponto não há
diferença substancial entre o desempenho da válvula termostática sozinha e dela em série
com a válvula solenoide. À medida que o fator de carga diminui, ou seja, o tempo de off
aumenta, os efeitos transientes tornam-se significativos e o impacto negativo da migração
de fluido refrigerante durante o off do compressor passa a ser relevante. Daí a explicação
para a diferença entre perdas cíclicas para a válvula termostática em relação ao arranjo
com a solenoide e a eletrônica. Esta, em geral, apresentou a melhor performance em toda
a faixa de fator de carga.
Jia e Lee (2015) realizaram experimentos para comparar o efeito de um tubo
capilar e de uma válvula termostática no comportamento térmico de um sistema de
condicionamento de ar acoplado a um tanque para aquecimento de água. Enquanto que o
calor absorvido pelo evaporador do condicionador de ar era utilizado para climatizar o
ambiente, o calor rejeitado pelo condensador era reaproveitado para aquecer a água do
tanque. Os ensaios foram conduzidos numa câmara climática de dois ambientes, um para
a unidade evaporadora e outro para a condensadora. A temperatura do ambiente da
condensadora foi variada entre 25 e 35 ºC. A temperatura do ambiente da evaporadora,
Revisão Bibliográfica 39

por sua vez, foi mantida em 18,5 ºC, forçando o compressor a trabalhar continuamente.
As análises foram feitas tomando como base um transiente de partida de 180 min.

1,20 6
Potência com TEV
Potência com Capilar
1,15 5
Potência consumida [kW]
COP com TEV
COP com Capilar
1,10 4

COP
1,05 3

1,00 2

0,95 1

0,90 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Tempo de operação [min]
Figura 3.10 – Comparação entre potência consumida e COP (Jia e Lee, 2015)

Observou-se que a atuação da válvula termostática contribuiu para um melhor


desempenho do sistema como um todo, uma vez que conseguiu regular adequadamente a
vazão mássica e o superaquecimento no evaporador. As capacidades de refrigeração e
aquecimento foram em média respectivamente 17,8% e 21,0% maiores quando
comparadas às fornecidas com o tubo capilar. Como mostrado na Figura 3.10, o COP da
configuração com válvula foi entre 12,5 e 20,9% superior em relação à configuração com
tubo capilar.
Peng et al. (2016) avaliaram numérica e experimentalmente o desempenho de uma
bomba de calor para aquecimento de água, com diferentes dispositivos de expansão:
válvula eletrônica, short tube orifice e tubo capilar. Um modelo quase-estático para prever
a performance do sistema de refrigeração foi proposto. Este foi avaliado em regime
permanente, incluindo modelos distribuídos para os trocadores de calor e para o
inventário de massa de refrigerante, enquanto que a água foi simulada em regime
transiente. Para validar as simulações, ensaios foram conduzidos em quatro temperaturas
ambiente: -7, 7, 20 e 43 ºC. A temperatura inicial da água foi também variada: 9, 15 e 29
ºC. A temperatura final, por sua vez, foi fixada em 55 ºC. Como mostrado na Figura 3.11,
para uma temperatura ambiente de 7 ºC, a EEV forneceu uma capacidade de aquecimento
maior que os demais dispositivos, sendo o tubo capilar o pior deles. Enquanto que a vazão
Revisão Bibliográfica 40

mássica de refrigerante varia muito pouco em função da temperatura da água quando a


EEV ou o short tube orifice são utilizados, o mesmo não se pode dizer sobre o tubo
capilar. Neste caso, a vazão sobe linearmente com a temperatura, levando a uma pressão
de condensação e uma potência maiores.

Figura 3.11 – Taxa de aquecimento vs. tempo (Peng et al., 2016)

3.3. Síntese da literatura

Em linhas gerais, os trabalhos analisados revelam que o uso de dispositivos de


expansão variável é de fato justificado e que válvulas de expansão eletrônicas podem
contribuir para a redução do consumo de energia de refrigeradores. Lazzarin e Noro
(2008), por exemplo, mostraram que o desempenho de um sistema de refrigeração pode
ser fortemente afetado em baixas temperaturas ambientes e baixas temperaturas de
evaporação, o que motivaria o uso de dispositivos de ação variável. Além disso, uma nova
versão da norma de consumo de energia IEC 62552 (2015) está prestes a entrar em vigor,
obrigando a realização de testes não só na usual temperatura ambiente de 32 ºC, como
previsto na antiga norma ISO 15502 (2005), mas também em 16 ºC, o que pode penalizar
sistemas montados com tubos capilares.
Contudo, de todos os trabalhos com foco no efeito do dispositivo de expansão
sobre o sistema de refrigeração, apenas Marcinichen e Melo (2006), Björk e Palm (2006)
e Boeng (2012) realizaram experimentos com refrigeradores domésticos. Björk e Palm
(2006) e Boeng (2012), no entanto, não tinham uma válvula capaz de suprir o diferencial
de pressão sozinha, isto é, tiveram que instalar um tubo capilar em série. Além disso,
Revisão Bibliográfica 41

conduziram seus ensaios em somente uma rotação do compressor. Marcinichen e Melo


(2006), por sua vez, além de testar diferentes rotações do compressor, mantiveram ativo
o controle de superaquecimento, porém, como os próprios autores mencionaram, eles
utilizaram uma lógica de controle imprópria e uma válvula com orifício
superdimensionado, o que mascarou possíveis ganhos de performance.
A respeito dos trabalhos com foco no dispositivo de expansão propriamente dito,
nenhum trabalho encontrado procurou analisar o comportamento termodinâmico de tal
componente em condições tipicamente encontradas em refrigeração doméstica. Todos os
estudos tiveram como foco aplicações comerciais e industriais de refrigeração, com
fluidos refrigerantes como R22, R407C e R410A, e faixas de pressão e vazão
completamente fora das observadas em sistemas de pequeno porte.
Nesse contexto, o presente trabalho pretende preencher essas lacunas através de
ensaios em condições típicas de refrigeração doméstica. Num primeiro momento, os
experimentos foram realizados numa bancada, onde o foco foi a caracterização das
válvulas em termos de vazão mássica. Posteriormente, a válvula mais promissora foi
instalada num refrigerador frost-free e o seu impacto no sistema de refrigeração foi
avaliado tanto numérica quanto experimentalmente.
4. Trabalho Experimental
Neste capítulo serão discutidos o princípio de operação e os aspectos construtivos
das válvulas, bem como a metodologia de ensaio adotada. Além disso, será apresentada
uma descrição detalhada do aparato experimental e dos procedimentos e testes realizados.

4.1. Micro válvulas de expansão eletrônicas

As válvulas analisadas no presente trabalho são na verdade micro válvulas


eletrônicas baseadas na tecnologia MEMS (Micro Electro Mechanical Systems), que
funcionam através do que o fabricante chama de princípio eletrotérmico (Arunasalam et
al., 2016). O corpo da válvula é formado por três camadas sobrepostas de silício (ver
Figura 4.1). A superior inclui os terminais para conexão elétrica e serve como uma capa
para a camada intermediária. Esta contém uma série de filamentos elétricos que recebem
uma corrente elétrica cuja intensidade varia em função da abertura desejada para o
orifício. Dependendo da corrente, a resistividade térmica de tais filamentos varia, fazendo
com que eles se contraiam ou dilatem em função do calor gerado e atuem como uma
espécie de placa deslizante que se move sobre as portas de passagem do fluido na camada
inferior, permitindo, então, o controle proporcional da abertura. O tempo de resposta, para
abrir ou fechar completamente o orifício é relativamente baixo, entre 45 e 65 ms. Pela
Figura 4.1 percebe-se que há três portas na camada inferior. A terceira é opcional e
permite que a válvula opere com três vias, sendo duas de saída (o que foge do escopo do
presente trabalho).
Antes de ser instalada num sistema de refrigeração, a válvula é encapsulada num
invólucro metálico com dois tubos de cobre, uma para a entrada e outro para a saída de
fluido refrigerante. Como mostrado na Figura 4.2, a válvula é montada junto com um
módulo MEMS que tem como função acomodá-la dentro do invólucro, garantir a vedação
por meio de dois o-rings, filtrar impurezas e estabelecer a comunicação elétrica.
As válvulas possuem orifícios retangulares de largura fixa. A regulagem da
abertura se dá pela variação do comprimento coberto pela placa deslizante. A abertura
pode ser fixada num determinado valor, ou variar de modo pulsado numa determinada
frequência e duty cycle impostos pelo usuário, seguindo uma estratégia PWM. A Tabela
Trabalho Experimental 43

4.1 mostra as faixas de variação dos parâmetros geométricos dos orifícios de cada uma
das três válvulas, de acordo com informações fornecidas pelo fabricante.

Figura 4.1 – Vista explodida do corpo da válvula

Figura 4.2 – Montagem na válvula no sistema

Tabela 4.1 – Características geométricas dos orifícios das válvulas


Comprimento Área máxima Diâmetro hidráulico
Válvula Largura fixa [mm]
máximo [mm] [mm2] máximo [mm]
1 0,22 0,120 0,0264 0,155
2 0,26 0,135 0,0351 0,178
3 0,32 0,135 0,0432 0,190

A comunicação entre a válvula e o computador (ou a placa eletrônica do


refrigerador) é feita por meio de um driver, mostrado na Figura 4.3, também fornecido
pelo fabricante. O driver recebe os parâmetros de entrada, como o grau de
superaquecimento desejado, por exemplo, e os envia ao controlador da válvula (ver
Figura 4.3). Tal controlador, chamado pelo fabricante de SuperHeat Controller (ou SHC),
Trabalho Experimental 44

é responsável por enviar os sinais que comandam a abertura da válvula em função do grau
de superaquecimento desejado. Para tanto, o controlador conta com um sensor do tipo
PT-100 para medir a temperatura na saída do evaporador, e um sensor de pressão, através
do qual a temperatura de evaporação é determinada. O superaquecimento é definido,
então, como a diferença entre tais valores de temperatura. A Figura 4.4 mostra um
esquema da montagem da válvula e do controlador de superaquecimento num sistema de
refrigeração.

Figura 4.3 – Driver (esquerda) e controlador de superaquecimento (direita)

Figura 4.4 – Esquema do controle de superaquecimento

É importante ressaltar que para testes em bancada, ou fora do refrigerador, onde


se deseja manter a abertura da válvula constante, o controlador de superaquecimento deve
ficar inativo, apesar de estar conectado. Para que isso aconteça o usuário deve informar
uma frequência de pulso igual ou maior que 60 Hz, uma vez que para frequências
inferiores a válvula opera no modo PWM. O software que acompanha o driver permite
que seja ajustado além da frequência de pulso, o duty cycle e o superaquecimento.
Trabalho Experimental 45

4.2. Caracterização preliminar das válvulas

A fim de checar o potencial das válvulas e a sua aplicabilidade em sistemas de


refrigeração de pequeno porte, uma caracterização preliminar foi feita submetendo-as ao
escoamento de nitrogênio. Para tanto, seguindo recomendações da norma ASHRAE 28
(1996), uma bancada foi construída especificamente para medir a vazão mássica
correspondente em função da pressão de entrada e do percentual de abertura de cada
válvula (ver Figura 4.5).

Figura 4.5 – Bancada para medição de vazão de nitrogênio

Um esquema da bancada é mostrado na Figura 4.6. O procedimento de ensaio é


relativamente simples. Primeiramente, define-se a abertura da válvula. Feito isso, abre-se
o registro e libera-se o nitrogênio do cilindro para o circuito. Em seguida regula-se a
pressão na entrada da seção de testes por meio de uma válvula micrométrica e por fim
mede-se a vazão mássica através de um medidor do tipo Coriolis. Como a massa de
nitrogênio dentro do cilindro decai com o tempo, a válvula micrométrica deve ser ajustada
suavemente para manter a pressão de entrada da válvula constante durante o teste. Cada
ponto é gravado apenas após dois minutos de estabilização. Terminada a gravação, uma
nova combinação de pressão a montante e percentual de abertura da válvula é escolhida.
A Tabela 4.2 lista os equipamentos utilizados na bancada.
Trabalho Experimental 46

Figura 4.6 – Circuito de escoamento de N2 (adaptada de Montibeller et al., 2016)

Tabela 4.2 – Lista de equipamentos utilizados na bancada de vazão de nitrogênio

Equipamento Fabricante/Modelo Faixa Incerteza


Transdutor de vazão Coriolis Siemens/MASS2100 0 a 10 kg/h ±0,1% da leitura
Transdutor de pressão absoluta HBM/P3IC 0 a 50 bar ±0,1 bar
Válvula micrométrica Swagelok/SS-4L-MH 10 voltas -
Sistema de aquisição de dados Agilent/34970A - -

Com isso, é possível calcular a geometria dos tubos capilares cujos


comportamentos seriam equivalentes aos das válvulas, isto é, que forneceriam as mesmas
vazões de nitrogênio, para cada abertura. Para tanto, utiliza-se a equação proposta por
Kipp e Schmidt (1961), que relaciona a vazão de nitrogênio com a pressão e a geometria
de tubos capilares. Como pode ser visto, informa-se um comprimento de tubo típico (L)
e, com base na pressão de entrada de nitrogênio (P) e na vazão volumétrica medida (V),
obtém-se o diâmetro interno do tubo capilar (D).

1 a3
 VLa2 
D  (4.1)
 a P2 1 
 1 

Na equação anterior, as constantes a1, a2 e a3 foram obtidas primeiramente por


Kipp e Schmidt (1961). Posteriormente, Boeng (2012) testou tubos capilares com
diâmetros entre 0,64 e 1,07 mm e comprimentos de 1, 2 e 3 m, e estendeu a faixa de
validade da equação. Juntando seus dados aos de Boeng (2012), Montibeller et al. (2016)
ampliou ainda mais a faixa de aplicação de tal equação ao realizar 21 novos testes com
Trabalho Experimental 47

tubos capilares de diâmetros internos entre 0,263 e 0,448 mm e comprimentos de 2, 3 e


4 m. No presente trabalho serão utilizados os coeficientes propostos por Montibeller et
al. (2016), visto que são mais atuais e cobrem uma ampla faixa de operação. A Tabela
4.3 mostra os coeficientes propostos por cada autor.

Tabela 4.3 – Constantes da equação de Kipp e Schmidt (1961)

Autor a1 a2 a3
Kipp e Schmidt (1961) 2,500 0,500 2,500
Boeng (2012) 2,362 0,496 2,657
Montibeller et al. (2016) 2,369 0,465 2,574

Na sequência, com as geometrias dos tubos capilares equivalentes, o modelo para


tubos capilares adiabáticos proposto por Hermes et al. (2010) foi utilizado para estimar
as vazões mássicas de fluido refrigerante e as capacidades de refrigeração que seriam
encontradas na prática com o uso das válvulas em questão. Em linhas gerais, o modelo
consiste na seguinte equação explícita para a vazão mássica:

1  2d 
 2d 2 2d 3 D 5d   Pc  Pf Pf  Pe b  aP  b  

m    2 ln e   (4.2)
c  d
L  v a a  aP  b 
 f f  f  

onde c = 0,14, d = 0,15, a = vf (1 – κ), b = vf Pf κ e κ = 1,63.105Pf -0,72. Pc, Pe e Pf são as


pressões de condensação, evaporação e flash, respectivamente, e μf e vf são
respectivamente a viscosidade e o volume específico do líquido calculados em Pf.

Tal equação foi obtida a partir das equações da conservação da energia e


quantidade de movimento assumindo que o processo se dá em regime permanente, que o
termo de aceleração na equação da quantidade de movimento é desprezível quando
comparado ao de fricção, e que a expansão é isentálpica. Dessa forma, impondo as
pressões de entrada e saída do tubo e a entalpia na entrada do mesmo, pode-se determinar
o ponto de flash e, consequentemente, a vazão mássica de refrigerante.
A capacidade de refrigeração, por sua vez, foi calculada simplificadamente por:

Q  m
 h1  h3  (4.3)
Trabalho Experimental 48

onde h1 é a entalpia do refrigerante na pressão de evaporação considerando a temperatura


na sucção do compressor igual a 32,2 ºC (Jähnig et al., 2000 e ASHRAE 23, 2010) e h3 é
a entalpia do líquido sub-resfriado na saída do condensador. Dessa forma, impondo
pressões e graus de sub-resfriamento tipicamente encontrados na prática pode-se
delimitar o envelope de aplicação das válvulas.

4.3. Bancada para testes com fluido refrigerante

4.3.1. Descrição geral

A caracterização completa de um dispositivo de expansão ainda requer, no


entanto, testes com fluido refrigerante visto que alguns fenômenos físicos como mudança
de fase, por exemplo, não são captados nos testes com nitrogênio. Assim, para preencher
essa lacuna, outra bancada foi especificamente projetada para avaliar o escoamento de
HC-600a através das válvulas, como ilustrado na Figura 4.7.

Figura 4.7 – Bancada para a caracterização das válvulas com HC-600a

O aparato foi projetado de forma a ser ágil e conseguir controlar de maneira


automática as pressões de condensação e evaporação, além do grau de sub-resfriamento.
Para tanto, a bancada foi montada com dois compressores de capacidade variável do
modelo Embraco VEMY9C em paralelo de forma a garantir uma maior capacidade de
refrigeração. Um esquema da bancada e do diagrama pressão vs. entalpia correspondente
é apresentado na Figura 4.8.
Trabalho Experimental 49

Seção de testes

Sub-resfriador

4 5 3 Resistência/Válvula 2

Resistência

6 1
RPM ou válvula

Figura 4.8 – Esquema do circuito de refrigeração da bancada de HC-600a

Percebe-se que após ser comprimido, o refrigerante passa por dois separadores de
óleo (um para cada compressor) e três filtros coalescentes em série (1-2), para evitar a
presença de óleo na válvula de expansão. Após a filtragem, o fluido passa por um medidor
do tipo Coriolis e, em seguida, pelo condensador, onde muda de fase (3). Este é do tipo
tubo-aletado, com 12 fileiras de tubos na direção transversal ao escoamento de ar e 4 na
direção longitudinal, e conta com uma resistência elétrica no lado do ar que, em conjunto
com um ventilador centrífugo, é utilizada para regular a pressão de condensação. O
ventilador, do modelo RER-190 fabricado pela empresa EMB Papst, opera com uma
rotação fixa enquanto que a resistência tem sua potência modulada em até 1000 W por
um controlador do tipo PI (proporcional integrativo) para garantir a pressão desejada.
Uma unidade de refrigeração paralela foi também acoplada ao condensador para reduzir
Trabalho Experimental 50

a temperatura do ar ambiente e permitir a operação em temperaturas de condensações


mais baixas, como 25 °C, por exemplo.
Na sequência, o líquido é sub-resfriado (4) num pequeno trocador de calor de
placas brasadas sujeito ao escoamento em contracorrente de água fria proveniente de um
banho termostático. O trocador em questão é fabricado pela empresa GEA, modelo
Ecobraze AB, com capacidade máxima de 1 TR. A temperatura do fluido refrigerante na
saída do trocador é garantida mediante a abertura de uma válvula micrométrica instalada
na saída de água do banho.
Para garantir o ajuste fino do sub-resfriamento na entrada da válvula, o fluido é
então aquecido numa serpentina helicoidal de 30 cm de comprimento mediante a ação de
uma resistência elétrica flexível (Silva, 2008) capaz de dissipar até 300 W, cuja ação é
controlada por um controlador do tipo PI (ver Figura 4.9). A potência da resistência é
medida com um analisador digital modelo Yokogawa WT-230 com incerteza de ±0,1%
do valor medido mais 0,1% do fundo de escala.

Resistência

Poliuretano

Serpentina
Figura 4.9 – Sistema para ajuste fino da entalpia do fluido na entrada da válvula

Como mostrado na Figura 4.9, para minimizar a parcela de calor perdida para o
ambiente, a serpentina foi encapsulada concentricamente num tubo de 20 cm de diâmetro
externo, isolado termicamente com uma camada de 10 cm de poliuretano expandido com
aproximadamente 20 mW/(m.K) de condutividade térmica. Entre o sub-resfriador e a
serpentina de aquecimento, uma válvula micrométrica foi adicionalmente instalada para
reduzir manualmente a pressão de condensação quando necessário.
Seguindo o circuito, o refrigerante escoa por um visor de vidro, onde o padrão de
escoamento é registrado de modo a garantir a ausência de bolhas de vapor durante os
testes, e expande de maneira aproximadamente isentálpica na válvula (5-6). Tanto pressão
como temperatura são medidas na entrada e saída da válvula. A temperatura é registrada
Trabalho Experimental 51

por meio de sondas de imersão com termopares do tipo T, fabricados pela empresa
Omega, com incerteza de aproximadamente 0,2 °C. O esquema de montagem das sondas
é mostrado na Figura 4.10. Já as pressões a montante e jusante são monitoradas por
transdutores de pressão absoluta do modelo P3IC, da fabricante HBM, com faixas de
medição de 0 a 20 bar e 0 a 10 bar, e incertezas de ±0,02 bar e ±0,01 bar, respectivamente.

Figura 4.10 – Conexão do termopar de imersão (Ronzoni, 2014)

Após expandir na válvula, o fluido entra no evaporador onde novamente muda de


fase, saindo superaquecido. O evaporador nada mais é que uma tubulação com diâmetro
interno de 9,5 mm e cerca de 2 m comprimento que se estende desde a válvula até o
compressor, ao redor da qual é enrolada uma resistência elétrica flexível. Esta tem a
função de gerar cargas térmicas artificiais para garantir a presença de vapor
superaquecido e manter a temperatura aproximadamente constante na sucção do
compressor. Para eliminar a formação de gelo e garantir que o evaporador absorva calor
apenas da resistência e não do ar, o conjunto tubulação-resistência foi coberto por mantas
de material isolante. A pressão de evaporação, por sua vez, foi controlada pela variação
da rotação dos compressores por meio de um controlador do tipo PI que atua com base
no sinal enviado por um transdutor de pressão instalado na saída da válvula. Outra válvula
micrométrica, instalada entre a seção de testes e o evaporador, foi também operada
manualmente para elevar a pressão de evaporação quando preciso.
Trabalho Experimental 52

4.3.2. Procedimento de testes

Um procedimento padronizado de testes foi adotado para garantir a confiabilidade


dos resultados. As etapas, que foram rigorosamente seguidas em todos os ensaios, são
descritas a seguir.
Primeiramente, o quadro elétrico é ligado juntamente com o computador, o
sistema de aquisição de dados e os transdutores de pressão e vazão mássica. Na sequência,
aciona-se o ventilador do condensador numa rotação fixa equivalente ao sinal de 7 mA.
Vale frisar que a rotação pode ser variada proporcionalmente entre 4 e 20 mA.
Com o ventilador do condensador ativado, ligam-se os dois compressores
simultaneamente na rotação de 4000 rpm para agilizar o transiente de partida. Aguarda-
se então o pulldown do sistema de refrigeração para que haja a distribuição adequada do
fluido refrigerante em todos os componentes do ciclo. À medida que o fluido refrigerante
expande na EEV, a frente de líquido começa a preencher o evaporador. A partir desse
momento, liga-se a resistência elétrica para manter a temperatura na sucção do
compressor próxima de 20 ºC.
Após o transiente inicial acionam-se os controles das pressões. A resistência
elétrica no lado do ar do condensador começa a atuar de forma a subir a pressão de
condensação, enquanto que a rotação de um dos compressores varia automaticamente
para manter a pressão de evaporação no valor desejado. É importante ressaltar que apenas
um compressor é modulado. Verificou-se que, com a rotação de um deles fixa, o controle
da pressão fica mais estável.
Atingida a pressão de condensação desejada, aguarda-se até que a saída do
condensador fique pelo menos 15 ºC sub-resfriada. Caso o grau de sub-resfriamento não
seja suficiente, liga-se o banho termostático e libera-se a circulação de água gelada em
contracorrente no trocador de calor de placas brasadas. Depois disso, ativa-se o controle
da resistência elétrica para o ajuste fino do sub-resfriamento.
Após todos os procedimentos citados anteriormente, aguarda-se a bancada entrar
em regime permanente para iniciar a gravação dos dados (ver Figura 4.11). Tal condição
foi definida com base no critério proposto por Waltrich (2008) e Silva (2008). O critério
em questão tem como base um ajuste linear dos pontos registrados para uma determinada
variável durante um intervalo de 30 minutos:
Trabalho Experimental 53

f  t   at  b (4.5)

O ensaio é considerado estável quando a diferença em módulo entre o ponto inicial


e cada ponto do intervalo é inferior a três vezes o desvio padrão da amostra (Dp). No
presente trabalho, considerou-se que o regime permanente é alcançado quando tais
critérios são atendidos simultaneamente para a vazão mássica, para as pressões e para o
grau de sub-resfriamento:

f (t)  f (t0 )  3Dp (4.6)

7
Condensação
Resistência do condensador
Evaporação
6

5
Pressão [bar]

Transiente inicial
4

Controles ativados Regime permanente


3
Partida dos
2 compressores

Rotação do compressor
1

0
0 400 800 1200 1600 2000 2400 2800 3200
Tempo [s]
Figura 4.11 – Controle das pressões de condensação e evaporação

Os resultados obtidos com a bancada servirão de subsídio para o desenvolvimento


de um modelo matemático para prever o escoamento de refrigerante através das válvulas.
A principal variável de interesse é a vazão mássica e, a partir dela, é possível determinar
o coeficiente de vazão, Cv. Para tanto, será adotada a abordagem citada no Capítulo 2.
Assumindo escoamento monofásico e incompressível, a equação de Bernoulli pode ser
simplificada e o Cv expresso em função da vazão mássica da seguinte maneira:

m
Cv  (4.7)
AY 2eev,in Pc X
Trabalho Experimental 54

onde A é a área do orifício e ρeev,in é a densidade do fluido na entrada.

Como já mencionado, a equação anterior cobre apenas escoamento monofásico.


Contudo, sabe-se que, num ciclo de refrigeração, a vaporização parcial do fluido é
observada na saída do orifício da válvula (Park et al., 2007). O efeito do refrigerante
bifásico sobre a vazão será incorporado então no coeficiente de vazão. O intuito é
apresentar uma correlação do tipo π que envolva os principais parâmetros que afetam o
comportamento da válvula, como mostra a equação abaixo:

Cv  f  Pc , Pe , , Sub, , ... (4.8)

onde  é a fração de abertura e Sub é o grau de sub-resfriamento na entrada da válvula.


Os parâmetros ν e σ referem-se à viscosidade cinemática e à tensão superficial do
refrigerante na entrada da válvula, respectivamente.

O procedimento de cálculo das incertezas de medição da vazão mássica, da


temperatura na entrada da válvula, das pressões de condensação e evaporação, e do
coeficiente de vazão é discutido no Apêndice III.

4.4. Refrigerador

O refrigerador escolhido para o presente trabalho é do modelo Brastemp BRE51.


Trata-se de um refrigerador frost-free do tipo bottom-mount com dois compartimentos,
sendo um freezer de 120 l montado na parte inferior e um fresh-food de 303 l montado na
parte superior (ver Figura 4.12). O compressor é do modelo VEMX9C, fabricado pela
Embraco e opera no modo on-off com a rotação variando entre 1200 e 4500 rpm. O
refrigerador opera com fluido refrigerante HC-600a e carga nominal de 46 g. Sua tensão
de alimentação é de 220 V na frequência de 60 Hz.
O ar é distribuído internamente através de um ventilador axial de corrente
alternada, que fica posicionado acima do evaporador. O ventilador succiona o ar frio
oriundo do evaporador e o insufla num plenum de onde é direcionado para cada um dos
compartimentos. Parte da vazão total é desviada para o fresh-food por meio de um damper
eletrônico de duas posições (totalmente aberto ou totalmente fechado), mantendo a
temperatura do ar nesse compartimento no valor desejado. A temperatura do freezer, por
Trabalho Experimental 55

sua vez, é controlada por um termostato localizado próximo ao evaporador, que atua sobre
a fração de funcionamento do compressor.

Figura 4.12 – Refrigerador estudado: Brastemp BRE51 (foto: Whirlpool S.A.)

Os botões de controle das temperaturas dos compartimentos são ambos digitais e


estão posicionados na porta do gabinete (ver Figura 4.13). Para cada compartimento há
cinco ajustes possíveis: mínimo (Min, temperatura mais alta), médio (Med, temperatura
média), máximo (Max, temperatura mais baixa), e dois níveis intermediários, o médio-
mínimo (Med-Min) e o médio-máximo (Med-Max).

Figura 4.13 – Controle de temperatura dos compartimentos


Trabalho Experimental 56

O evaporador é do tipo tubo-aletado de alumínio. As aletas são contínuas, com


0,15 mm de espessura, e igualmente espaçadas em cada fileira de tubo. A quantidade de
aletas e o espaçamento entre elas varia de uma fileira para outra. No total, são 20 fileiras
de tubos, sendo 10 na direção longitudinal e 2 na direção transversal ao escoamento de
ar. Para garantir o degelo automático, o evaporador conta com uma resistência de degelo
do tipo distribuída (Knabben et al., 2016), com potência nominal de 230 W, colocada em
contato direto com as aletas. Ainda, o evaporador possui bloqueadores de poliestireno
para evitar o by-pass de ar pelas laterais. A montagem é mostrada na Figura 4.14.

Figura 4.14 – Montagem do evaporador no refrigerador, sem o ventilador

O condensador, por sua vez, é do tipo arame-sobre-tubo, montado na parede


traseira do refrigerador, com 25 fileiras de tubos e 41 pares de arames desencontrados.
Após o condensador, encontra-se o chamado tubo anti-sudação, com aproximadamente
6 m de comprimento e mesmo diâmetro e espessura do condensador. Tal tubo é colado
na superfície interna da chapa metálica que reveste o gabinete, ao longo do perímetro da
porta do freezer, através de uma fita de polietileno de baixa condutividade térmica
(k~0.5 W m-1K-1). Como o próprio nome diz, o tubo anti-sudação atua como uma
extensão do condensador e serve para evitar a condensação de vapor d’água sobre a
parede externa do refrigerador.
O dispositivo de expansão original do refrigerador é um tubo capilar com 2,7 m
de comprimento e 0,63 mm de diâmetro interno nominal. O tubo capilar é soldado
lateralmente à linha de sucção formando um trocador de calor contracorrente com 1,8 m
de comprimento. Conforme mencionado anteriormente, dois refrigeradores do mesmo
Trabalho Experimental 57

modelo foram selecionados para o presente trabalho: um montado com um tubo capilar e
outro com a válvula de expansão mais promissora. No último, o trocador de calor interno
é formado pela união da linha de sucção com a linha de líquido, posicionada entre o tubo
anti-sudação e a válvula. A fim de garantir uma maior efetividade térmica, optou-se por
soldar a linha de líquido na linha de sucção e utilizar o maior comprimento de troca de
calor disponível, que neste caso era o mesmo do trocador com tubo capilar.
Os compartimentos foram instrumentados cada um com três termopares do tipo T
distribuídos uniformemente ao longo da altura e posicionados no centro geométrico de
cada prateleira. O circuito de refrigeração também foi monitorado com termopares do tipo
T instalados sobre a superfície dos tubos de entrada e saída de cada componente do
sistema. Adicionalmente, dois transdutores de pressão foram instalados na sucção e
descarga do compressor para permitir o cômputo das pressões de evaporação e
condensação, respectivamente. Um medidor de vazão do tipo Coriolis foi instalado na
descarga do compressor. Por fim, a potência consumida pelo refrigerador foi medida por
um wattímetro modelo WT-230, fabricado pela Yokogawa, com incerteza de ±0,1% do
valor medido mais 0,1% do fundo de escala.

Tabela 4.4 – Posicionamento dos termopares utilizados no refrigerador

Número Posição
1 Ar ambiente – esquerda
2 Ar ambiente – frente
3 Ar ambiente – direita
4 Carcaça do compressor
5 Refrigerante na sucção do compressor
6 Refrigerante na descarga do compressor
7 Refrigerante na saída do tubo anti-sudação
8 Refrigerante na entrada do condensador
9 Refrigerante no meio do condensador
10 Refrigerante na saída do condensador
11 Refrigerante na entrada do evaporador
12 Refrigerante no meio do evaporador
13 Refrigerante na saída do evaporador
14 Ar no topo do gabinete
15 Ar no meio do gabinete
16 Ar no fundo do gabinete
17 Ar na gaveta de legumes
18 Ar no topo do congelador
19 Ar no meio do congelador
20 Ar no fundo do congelador
Trabalho Experimental 58

4.5. Câmara climática

Todos os ensaios com o refrigerador foram realizados no interior de uma câmara


climática com velocidade, temperatura e umidade relativa do ar controladas. Os sistemas
de controle da câmara permitem variações de temperatura entre 15 e 50 ºC, e umidade
relativa entre 40 e 90 %. A velocidade do ar, por sua vez, é mantida abaixo de 0,25 m/s.
Para atender tais faixas, a câmara conta com um sistema de refrigeração dedicado,
ventiladores, resistências elétricas de aquecimento e um umidificador.
Um esquema do funcionamento da câmara é ilustrado na Figura 4.15. Os
ventiladores movimentam o ar oriundo da área de testes em direção ao evaporador, o qual
resfria e desumidifica a corrente de ar. Paralelamente, vapor d’água é liberado no ar com
o auxílio de uma resistência elétrica imersa no umidificador, cuja potência é modulada
por um controlador do tipo PID, que permite o ajuste da umidade relativa com base no
sinal enviado por um transdutor de umidade relativa posicionado no teto perfurado. Após
os ventiladores, o ar é aquecido num banco de resistências elétricas acionadas por outro
controlador PID que atua com base na leitura de três termopares do tipo T instalados a
30 cm das laterais e da porta do refrigerador. Na sequência, o ar é descarregado num
plenum, de onde é direcionado à área de testes através do teto perfurado. Por fim, a
corrente de ar retorna ao evaporador através de um piso perfurado, fechando o ciclo.

Teto perfurado
Resistências
elétricas

Área de testes Ventiladores

Piso perfurado

Umidificador
Evaporador

Figura 4.15 – Câmara climática


Trabalho Experimental 59

4.6. Metodologia experimental

Nesta seção é apresentado o planejamento experimental para os testes em bancada


e com o refrigerador na câmara climática. Primeiramente, será discutida a matriz de
ensaios com as válvulas instaladas na bancada. Em seguida, será mostrado o plano de
testes para o refrigerador montado com a válvula mais promissora. Serão abordados os
tipos de ensaio e as condições de operação as quais o refrigerador será submetido.

4.6.1. Ensaios com a bancada para fluido refrigerante

Quatro fatores principais foram variados em cada ensaio: temperatura de


condensação, temperatura de evaporação, sub-resfriamento na entrada da válvula e fração
de abertura do orifício. Os ensaios foram realizados dentro das seguintes faixas de
operação:

 Temperatura de condensação: 25 a 45 °C em três níveis, 25, 35 e 45 °C.


 Temperatura de evaporação: -28 e -10 °C
 Sub-resfriamento na entrada da válvula: de 5 a 15 °C em três níveis, 5, 10 e 15 °C.
 Fração de abertura do orifício: 25 a 95 %, em quatro níveis, 25, 50, 75 e 95 %.

A escolha das temperaturas de condensação e evaporação está diretamente


relacionada aos níveis de temperatura tipicamente observados nos ambientes interno e
externo ao refrigerador. A faixa de temperaturas de condensação está alinhada com a faixa
de temperatura ambiente empregada em ensaios com refrigeradores domésticos: 16 a
32 °C (IEC 62552, 2015). Normalmente, a diferença entre temperatura ambiente e
condensação é próxima de 10 °C, dependendo do tipo de condensador utilizado, o que
explica os valores de 25 a 45 °C aqui adotados. A explicação da faixa de temperaturas de
evaporação é análoga. Para refrigeradores de dois ou mais compartimentos, que possuem
um congelador dedicado, a temperatura do ar interno pode variar entre 5 e -18 °C (ISO
15502, 2005). Assim como para o condensador, a diferença entre a temperatura do fluido
refrigerante e do ar é próxima de 10 °C, daí a faixa de -28 a -10 °C. A Figura 4.16 mostra
um esquema do planejamento dos testes a serem realizados com cada válvula para uma
dada temperatura de condensação e evaporação. Optou-se por realizar testes apenas com
Trabalho Experimental 60

líquido sub-resfriado por duas razões: (i) devido à dificuldade inerente no controle de
título, principalmente para as baixas vazões encontradas em aplicações com isobutano, e
(ii) a presença do tubo anti-sudação em série com trocador de calor linha de líquido-linha
de sucção elimina a presença de vapor na entrada da válvula na aplicação real. Deve-se
ressaltar que graus de sub-resfriamento inferiores a 5 °C não foram avaliados em bancada
uma vez que bolhas foram observadas no escoamento, mesmo com as medições indicando
a presença exclusiva de líquido. Tal condição é reportada na literatura por diversos
autores, como Boeng (2012) e Seo et al. (2016).

Figura 4.16 – Esquema do plano de testes para uma dada condensação e evaporação

Contudo, o planejamento fatorial completo para as três válvulas, tal qual


apresentado previamente, pode ser extremamente oneroso e até mesmo inviável. Dessa
forma, tendo em mente os resultados da análise preliminar mostrados anteriormente,
decidiu-se manter a matriz completa apenas para a válvula de maior orifício, considerada
a mais promissora. Para a válvula de orifício intermediário, optou-se por uma matriz
reduzida, como detalhado a seguir. Como tal válvula é insensível para aberturas inferiores
a 30 % (ver Capítulo 6), escolheu-se como limite inferior 25 %. Para a temperatura de
condensação de 45 °C (ver Tabela 4.5), foram realizados testes em dois níveis de sub-
resfriamento (5 e 15 °C), nas quatro frações de abertura (25 a 95%) e em duas evaporações
(-28 e -10 °C). Já para as condensações de 25 e 35 °C, apenas um nível de sub-
resfriamento foi testado: 5 °C. Infelizmente, a válvula de menor orifício não foi avaliada,
pois demonstrou-se instável e praticamente insensível à variação dos parâmetros
operacionais, apresentando vazões extremamente baixas.
Trabalho Experimental 61

Tabela 4.5 – Matriz de testes para Tc = 45 °C com a válvula de orifício intermediário


Temperatura de Grau de Fração de
Teste evaporação sub-resfriamento abertura
[ºC] [ºC] [%]
1 -28 15 25
2 -28 5 25
3 -28 15 50
4 -28 5 50
5 -28 15 75
6 -28 5 75
7 -28 15 95
8 -28 5 95
9 -10 15 25
10 -10 5 25
11 -10 15 50
12 -10 5 50
13 -10 15 75
14 -10 5 75
15 -10 15 95
16 -10 5 95

Testes adicionais com temperaturas de evaporação superiores a -10 °C foram


realizados com o objetivo de verificar a ocorrência de escoamento blocado e determinar
a razão de pressão a partir da qual se atinge a condição crítica, Xt, parâmetro este
necessário para o cômputo do coeficiente de vazão das válvulas. Então, para uma dada
condensação, fração de abertura e sub-resfriamento, a temperatura de evaporação foi
variada até valores tão altos quanto a própria temperatura de condensação. Com isso,
foram geradas curvas completas de vazão mássica, como a mostrada na Figura 2.8. No
total, 101 ensaios foram conduzidos com a válvula de maior orifício e 37 com a de orifício
intermediário.
Trabalho Experimental 62

4.6.2. Ensaios com o refrigerador

4.6.2.1. Testes de performance

Basicamente, os ensaios com os refrigeradores foram realizados com o objetivo


de determinar o consumo de energia. O primeiro refrigerador a ser analisado foi o
montado com a válvula de expansão eletrônica de maior orifício. Para tanto, os testes
foram feitos seguindo as recomendações da norma IEC 62552 (2015), sucessora da ISO
15502 (2005). De acordo tal norma, o sistema deve ser testado em duas temperaturas
ambientes, 16 e 32 °C, com a umidade relativa do ar entre 45 e 75 %. O consumo de
energia deve ser avaliado durante um intervalo não inferior a 24 h, considerando um
número inteiro de ciclos e pelo menos dois degelos. A norma exige ainda que a
temperatura média do ar interno seja ajustada para -18 °C no freezer (no caso de
classificação três estrelas), e 4 °C no fresh-food. Devido à dificuldade em obter
temperaturas exatamente iguais a essas em todos os ensaios, dois testes devem ser
realizados para cada condição ambiente: um com as temperaturas internas abaixo e outro
com as temperaturas internas acima dos valores de referência. O consumo de energia de
cada teste é determinado pela integração da potência total do sistema num intervalo de
tempo entre dois degelos seguidos. O consumo final, correspondente às temperaturas de
-18 °C (CEfz) e 4 °C (CEff), é obtido pela interpolação linear entre os consumos medidos
nos testes acima (CE+) e abaixo da referência (CE-), conforme mostrado na Figura 4.17.
Por fim, o consumo de energia global do refrigerador é dado pela média entre os
consumos interpolados para o freezer e para o fresh-food.
A norma IEC 62552 (2015) também estabelece diversos outros procedimentos
experimentais e numéricos que devem ser seguidos e que tornam o cômputo do consumo
de energia uma tarefa um tanto quanto trabalhosa. Para contornar tais empecilhos e dar
agilidade aos testes, optou-se por calcular o consumo a partir de uma integração simples
num intervalo de no máximo cinco horas, considerando somente ciclos completos de liga-
e-desliga do compressor, depois de atingido o regime transiente periódico de operação
(Thiessen, 2016).
Nesse contexto, o sistema foi testado com sua carga nominal (46 g) em diferentes
temperaturas externas (16 e 32 ºC), rotações do compressor (2500 e 3600 rpm) e frações
de abertura da válvula (25, 50, 75 e 95%). Para cada uma dessas condições, dois testes
foram conduzidos: um com a temperatura dos compartimentos acima e outro abaixo dos
Trabalho Experimental 63

valores de referência. Quatro ensaios adicionais foram realizados na temperatura


ambiente de 32 ºC, com abertura de 50% e cargas de refrigerante de 49 e 52 g.

Figura 4.17 – Interpolação do consumo de energia

A estratégia de ensaios foi a seguinte. Primeiramente, é definida a temperatura


ambiente (16 °C, por exemplo). Para tal condição, escolhe-se um setting para o termostato
do compressor e outro para o damper (controles na porta do refrigerador) de modo a
garantir que a temperatura do ar para cada compartimento fique abaixo dos valores de
referência (Med-Min e Med-Min, por exemplo). Com isso, é ajustada a primeira fração
de abertura (25%). É feito então o primeiro teste a 2500 rpm. A seguir, a rotação é alterada
para 3600 rpm e um novo ensaio é realizado. Terminado o teste a 3600 rpm, a fração de
abertura é alterada e outro ensaio a 2500 rpm é realizado. Tal procedimento se repete até
que todas as aberturas da válvula sejam avaliadas, como mostrado na Tabela 4.6.

Tabela 4.6 – Matriz de testes com o refrigerador para uma dada temperatura ambiente
Fração de Rotação do
Teste abertura compressor
[%] [rpm]
1 25 2500
2 25 3600
3 50 2500
4 50 3600
5 75 2500
6 75 3600
7 95 2500
8 95 3600
Trabalho Experimental 64

Finalizados os testes com as temperaturas dos compartimentos abaixo da


referência de norma (os chamados testes frios), define-se uma nova combinação de
termostato e damper para que os testes quentes (temperaturas acima da referência) sejam
feitos (Min e Min, por exemplo). Assim, são realizados 16 ensaios para a primeira
temperatura ambiente. Na sequência, a temperatura ambiente é modificada para 32 °C e
novos 16 testes são conduzidos, totalizando 32. Um esquema é mostrado na Figura 4.18.

Figura 4.18 – Sequência de testes de consumo de energia para o sistema com válvula

Para o refrigerador montado com o tubo capilar, em virtude da dificuldade em


variar a restrição do dispositivo de expansão, a qual requereria a abertura da parede do
refrigerador para a troca do tubo, optou-se por realizar testes em apenas uma temperatura
ambiente (32 °C) e uma rotação do compressor (3600 rpm), mas variando a carga de
fluido refrigerante de 42 a 60 g. No total, considerando todos os testes (frios e quentes),
10 ensaios foram feitos.
Trabalho Experimental 65

Além dos testes cíclicos de consumo de energia, testes de abaixamento de


temperatura, comumente chamados de pulldown, também foram realizados com o
refrigerador montado com a válvula. O objetivo principal de um teste de pulldown é
avaliar o transiente inicial de partida de um refrigerador. Mais especificamente, deseja-se
determinar o tempo necessário para que a temperatura do ar no freezer atinja -18 ºC, e no
fresh-food 4 ºC. Além disso, é de interesse também monitorar o tempo necessário para
ativar completamente o evaporador, ou seja, para que o superaquecimento (ou a diferença
entre a temperatura de entrada e saída de refrigerante) seja nulo. A ideia era verificar se
uma redução da restrição do dispositivo de expansão poderia de fato acelerar o transiente
de partida. Nesse contexto, foram realizados quatro testes, com frações de abertura da
válvula de 35, 50, 75 e 95%. Todos os ensaios foram conduzidos com o ambiente a 32 ºC
e carga de refrigerante de 46 g. Em todos eles, o termostato do compressor foi desativado,
assim como a resistência de degelo. Adicionalmente, o damper foi ajustado manualmente
para a posição de máxima abertura.

4.6.2.2. Testes de fluxo de calor reverso

Por fim, testes de fluxo de calor reverso foram feitos para estimar a condutância
térmica global (UA) das paredes dos compartimentos de ambos os refrigeradores,
parâmetro este que fornece um indicativo da qualidade do isolamento térmico. Como os
gabinetes não são idealmente idênticos, uma leve diferença entre os resultados é esperada
e deve ser verificada. Além disso as condutâncias dos compartimentos são essenciais para
o modelo matemático do refrigerador (descrito no capítulo seguinte), visto que permitem
o cômputo da carga térmica e, consequentemente, da fração de funcionamento do
compressor e do consumo de energia do produto.
Os testes foram realizados seguindo, em linhas gerais, as recomendações
propostas por Gonçalves et al. (2000). Assim, os refrigeradores foram posicionados
dentro da câmara climática mantida em 20 ºC. Os ensaios foram conduzidos em regime
permanente e com o sistema de refrigeração desligado. Os compartimentos foram então
aquecidos com resistências elétricas estrategicamente posicionadas de modo a minimizar
a estratificação de temperatura (ver Figura 4.19). Com isso, criou-se um fluxo de calor
reverso, ou seja, de dentro para fora do gabinete, daí a denominação do teste. Durante
esse processo, apenas o ventilador do evaporador foi mantido ligado, de forma a manter
a distribuição de ar original. As condições de operação são mostradas na Tabela 4.7 e
Trabalho Experimental 66

foram definidas a fim de criar diferenças de temperatura entre o interior e o exterior do


refrigerador semelhantes às encontradas quando o sistema de refrigeração está ligado.

Figura 4.19 – Teste de fluxo de calor reverso

As condutâncias térmicas do freezer e do fresh-food, UAfz e UAff, foram obtidas


ajustando-se através do método dos mínimos quadrados a equação que descreve o balanço
de energia num volume de controle em torno de todo o refrigerador aos dados
experimentais relacionados na Tabela 4.7.

UAfz T fz  Ta   UAff T ff  Ta   Wv ,e  W fz  W ff   0 (4.9)

onde Ẇv,e, Ẇfz e Ẇff correspondem respectivamente às potências do ventilador do


evaporador e das resistências do freezer e do fresh-food.

Tabela 4.7 – Temperaturas adotadas nos testes de fluxo de calor reverso

Ponto Fresh-food [°C] Freezer [°C]


1 50 45
2 40 50
3 45 55
4 50 60
5. Modelagem Matemática
Nos capítulos anteriores foi mostrado que dispositivos de expansão variável
podem permitir a alimentação adequada do evaporador, o controle da vazão mássica em
circulação, além de possibilitar o balanço entre carga térmica e capacidade de
refrigeração. Contudo, tais potencialidades da válvula dependem da temperatura
ambiente, da rotação do compressor e da carga de fluido refrigerante. A fim de captar os
efeitos de tais parâmetros sobre o consumo de energia do refrigerador e explorar seu
comportamento em condições de operação diferentes daquelas testadas, um modelo
matemático foi proposto e será detalhado a seguir.
Como esquematizado na Figura 5.1, o sistema de refrigeração forma um ciclo
fechado onde as informações de saída de um componente (como massa e energia, por
exemplo) correspondem à entrada do seguinte. O acoplamento físico entre eles depende,
então, das transferências de massa, energia e quantidade de movimento no interior do
sistema (Hermes, 2006). Assumindo uma modelagem em regime permanente, ou seja,
desprezando-se os acúmulos de massa nos componentes, tem-se a mesma vazão
circulando por todo o ciclo, ou seja, a vazão descarregada pelo compressor é a mesma
admitida pelo dispositivo de expansão.
Além disso, como consequência dos processos de transferência de calor nos
componentes, verifica-se que no ciclo com válvula há nove entalpias principais: entrada
do compressor (h1), descarga do compressor (entrada da linha de descarga, h2), saída da
linha de descarga (entrada do condensador, h2'), saída do condensador (entrada do tubo
anti-sudação, h3), saída do tubo anti-sudação (entrada da linha de líquido, h3'), saída da
linha de líquido (entrada da EEV, h3''), saída da EEV (entrada do evaporador, h4), saída
do evaporador (entrada da linha de sucção, h5), saída da linha de sucção (entrada do
passador de sucção, h6) e, por fim, fechando o ciclo, saída do passador de sucção (entrada
do compressor). Adicionalmente, o lado do ar é acoplado ao lado do refrigerante nos
trocadores de calor e no compressor: o ambiente externo é aquecido devido à troca de
calor com as superfícies quentes da linha de descarga, do condensador, do tubo anti-
sudação, do compressor e do passador de sucção (Qdis, Qc, Qat, Qk e Qps-a,
respectivamente). O ar no interior do gabinete, por sua vez, é resfriado ao ceder calor ao
evaporador (Qe) e aquecido ao circular pelo freezer, em virtude da carga térmica que
Modelagem Matemática 68

infiltra pelas paredes oriunda do ambiente externo (Qt,a) e do tubo anti-sudação (uma
parcela de Qat), do calor gerado pela EEV (Qeev) e da potência do ventilador (Ẇv,e).
Observa-se ainda que alguns componentes transferem calor um para o outro, como é o
caso da linha de líquido, que aquece a linha de sucção (Qll-ls), e da carcaça do compressor,
que aquece o passador de sucção (Qk-ps).

.
Qdis

Linha de
descarga

Pc h2' h2 Pc
. Ẇk
Qc
Condensador Compressor
.
. Qk
Pc h3 Qk-ps h1 Pe

.
Qat Tubo anti- Passador de
sudação sucção .
Qps-a

Pc h3' h6 Pe

.
Linha de Qll-ls Linha de
líquido sucção

h3''

EEV
Pc

Pe h4

h5

Evaporator
Pe

.
Ta,e,out Qe Ta,e,in
.
Ẇv,e Qeev
Gabinete .
Qt,a

Figura 5.1 – Fluxo de informações no modelo do sistema com EEV

Já no sistema com tubo capilar, observam-se oito entalpias (ver Figura 5.2), ou
seja, todas as citadas anteriormente, exceto a que se refere à saída linha de líquido, h3'',
ausente nessa configuração de ciclo.
Modelagem Matemática 69

.
Qdis

Linha de
descarga

Pc h2' h2 Pc
. Ẇk
Qc
Condensador Compressor
.
. Qk
Pc h3 Qk-ps h1 Pe

.
Qat Tubo anti- Passador de
sudação sucção .
Qps-a

Pc h3' h6 Pe

.
Qtc-ls Linha de
Tubo capilar
sucção

Pe h4
h5

Evaporator
Pe

.
Ta,e,out Qe Ta,e,in
.
Ẇv,e Qeev
Gabinete .
Qt,a

Figura 5.2 – Fluxo de informações no modelo do sistema com tubo capilar

Conforme ressaltado por Hermes (2006), observa-se ainda que, devido à natureza
parabólica da advecção, a massa e a energia são transportadas sempre no sentido do
escoamento. As pressões de evaporação e condensação (Pe e Pc, respectivamente), por
sua vez, propagam-se em todas as direções devido a sua característica elíptica, menos no
dispositivo de expansão, onde o escoamento pode blocar. Vale lembrar que as quedas de
pressão no lado do refrigerante nos trocadores de calor foram desprezadas, o que explica
o cômputo de apenas duas pressões ao longo do ciclo.
Assim, a modelagem matemática do refrigerador consiste na obtenção de todos os
parâmetros citados anteriormente mediante a solução acoplada de submodelos para cada
um dos componentes do sistema de refrigeração e do gabinete. Como será mostrado a
seguir, tais submodelos se baseiam essencialmente na aplicação, em regime permanente,
das equações da conservação energia e quantidade de movimento, em conjunto com
correlações empíricas de fechamento.
Modelagem Matemática 70

5.1. Compressor

A Figura 5.3 mostra um desenho esquemático do interior do compressor. A


modelagem matemática deste componente envolve o entendimento dos processos de
transferência de calor que ocorrem no volume livre da carcaça, e do processo de
compressão do refrigerante dentro do cilindro. Para tanto, algumas hipóteses
simplificativas foram adotadas:

 A queda de pressão do passador de sucção até a câmara de sucção é desprezível;


 O escoamento no interior do cilindro é quase-estático e adiabático;
 A temperatura da parede da carcaça é uniforme;
 O óleo e o refrigerante livre na carcaça estão na mesma temperatura;
 Não há migração de óleo do compressor para os demais componentes do ciclo.

ṁ h1 ṁ hk h2 * ṁ h2
Cilindro
Passador de Passador de
sucção UAd (T2 - Tk) descarga
Volume
livre
Mk
UAi,k (Tk - Tw,k) UAe,k (Tw,k - Tamb)
Ẇk

Motor

Óleo + Refrigerante Mko

Figura 5.3 – Desenho esquemático do compressor

Escrevendo a equação da conservação da energia para o refrigerante livre na


carcaça chega-se a:

m  hk  h1   UAi , k Tk  Tw,k   UAd ,k T2  Tk  (5.1)


Modelagem Matemática 71

sendo hk e Tk respectivamente a entalpia específica e a temperatura do fluido refrigerante


contido na carcaça. Os parâmetros UAi,k e UAd,k referem-se respectivamente às
condutâncias térmicas globais associadas à transferência de calor do refrigerante livre
para a parede da carcaça e do passador de descarga para o refrigerante livre. A temperatura
T2 refere-se ao fluido no passador de descarga enquanto que Tw,k é a da parede da carcaça.

A massa de refrigerante dentro da carcaça, Mk, é dada pelo produto entre o volume
interno e a densidade, k, avaliada na entalpia hk. A massa de refrigerante dissolvida no
óleo, Mko, pode ser obtida a partir do conceito de solubilidade da mistura, , dado por:

Mo
Mko  (5.2)
1  1

onde Mo é a massa de óleo.

A conservação da energia aplicada ao cilindro (assumido adiabático) fornece:

 k Wid  mh
mh  2* (5.3)

onde Ẇid é a potência de compressão assumindo um processo isentrópico, dada por:

11 k
 k  Pc  
 k Pe
Wid  mv    1 (5.4)
k  1  Pe  

Da câmara até a saída do passador de descarga, o fluido refrigerante perde calor


para o interior da carcaça. Assim, chega-se ao seguinte balanço de energia:

m  h2*  h2   UAd T2  Tk  (5.5)

Por fim, considerando um volume de controle envolvendo a parede da carcaça,


tem-se o seguinte balanço de energia para o cômputo da sua temperatura:
Modelagem Matemática 72

UAi , k Tk  Tw,k   UAe ,k Tw, k  Ta  (5.6)

A determinação da vazão mássica deslocada pelo compressor e da potência


consumida por ele requer a modelagem do processo de compressão. A vazão é obtida
dividindo-se o volume do cilindro e a rotação pelo volume específico na câmara de
sucção. Como o processo não é ideal, a equação é multiplicada pelo rendimento
volumétrico, ηv:

vVc,k Nk

m (5.7)
vk

Para o cômputo do rendimento volumétrico adotou-se o modelo proposto por Li


(2012), onde:

1/ k
P 
v  a0  a1  c  (5.8)
 Pe 

sendo k o coeficiente de compressão isentrópica. Repare que tal equação é bastante


similar à definição de rendimento volumétrico de um compressor ideal com volume
morto. As constantes a0 e a1 foram obtidas a partir de dados experimentais.

Já a potência, por sua vez, foi determinada tendo como base a definição proposta
por Negrão et al. (2011):

W
Wk  Wloss  id (5.9)
s

onde o termo Ẇloss refere-se a uma perda fixa causada por ineficiências eletromecânicas
e ηs é o rendimento isentrópico do compressor. Novamente, optou-se pela correlação de
Li (2012) que expressa empiricamente o rendimento global em função das pressões de
sucção e descarga da seguinte forma:
Modelagem Matemática 73

1 b1 b2
 b0   (5.10)
s Pe Pc

onde as constantes b0, b1 e b2 também são regredidas de dados experimentais.

Note que toda a modelagem descrita anteriormente é válida para uma dada rotação
de referência, assumida igual à nominal (3600 rpm). Para rotações diferentes, as seguintes
equações de correção foram propostas para a vazão mássica e a potência:

2 3
  Nk   Nk   Nk  
m  m
 3600 d0  d1    d2    d3   (5.11)
  3600   3600   3600  
2 3
  Nk   Nk   Nk  
 
W  W3600 e0  e1    e2    e3   (5.12)
  3600   3600   3600  

onde ṁ3600 e Ẇ3600 são, respectivamente, a vazão mássica e a potência consumida, ambas
avaliadas na rotação de referência, e Nk é a rotação desejada. Abordagem semelhante foi
utilizada por Li (2013).

5.2. Linha de descarga

A linha de descarga é um trecho de aproximadamente 1,5 m de tubo não-aletado,


vertical e ascendente que liga o compressor ao condensador (ver Figura 5.4). Apesar do
seu comprimento reduzido, tal tubulação pode levar a uma significativa redução de
temperatura do fluido refrigerante e deve, portanto, ser analisada. Um balanço global de
energia no refrigerante fornece:

m  h2  h2'    i , d Ai ,d T2'  Tw, d  (5.13)

sendo ћi,d o coeficiente de transferência de calor interno (obtido pela correlação de


Gnielinski, 1976, em caso de escoamento monofásico, e Shah e Sekulic, 2003, quando o
fluido é bifásico), e h2' e T2', respectivamente a entalpia e a temperatura do fluido na saída
Modelagem Matemática 74

da linha de descarga. A temperatura da parede, Tw,d, é obtida aplicando-se a equação da


conservação da energia no próprio tubo:

 i , d Ai ,d T2'  Tw,d    e,c ,d Ae,d Tw,d  Ta    Ae,d Tw4,d  Ta4  (5.14)

onde os termos do lado direito da equação representam as parcelas de transferência de


calor por convecção natural e radiação. O parâmetro ћe,c,d é o coeficiente de troca de calor
por convecção com o ar, dado pela correlação de Churchill e Chu (1975),  é a constante
de Stefan-Boltzmann e  a emissividade (igual a 0,81, segundo Melo e Hermes, 2009).

Figura 5.4 – Linha de descarga

5.3. Condensador e evaporador

Em linhas gerais, o equacionamento utilizado tanto para o evaporador quanto para


o condensador é o mesmo. As diferenças básicas residem no cálculo da geometria e dos
coeficientes de transferência de calor no lado do ar e do refrigerante. Assim como Hermes
(2006), optou-se aqui por utilizar modelos distribuídos, os quais permitem o cômputo das
Modelagem Matemática 75

propriedades termodinâmicas do refrigerante e, consequentemente, dos graus de sub-


resfriamento e superaquecimento, em todo o domínio.
A modelagem baseia-se na divisão da serpentina em n volumes de controle (ver
Figura 5.5) e na aplicação das equações da conservação da energia em cada um deles. A
fim de contornar problemas de convergência numérica e face aos baixos valores
encontrados na prática, assumiu-se que a queda de pressão no lado do refrigerante é
desprezível, o que eliminou a necessidade do uso da equação da conservação da
quantidade de movimento. Adicionalmente, as seguintes simplificações foram adotadas:

 A resistência térmica de condução pela parede dos tubos é desprezível;


 As variações de energia cinética e potencial são insignificantes;
 A temperatura do refrigerante é uniforme em cada volume de controle;
 O escoamento é unidimensional no lado do refrigerante;
 Não há formação de geada no evaporador ou acúmulo de sujeira no condensador.

Figura 5.5 – Discretização das serpentinas dos trocadores de calor

Aplicando-se a conservação da energia no fluido refrigerante num volume de


controle, tem-se:

m  hin , j  hout , j    i , j Ai , j Tj  Tw, j  (5.15)

onde os sub-índices in e out referem-se respectivamente à entrada e à saída do volume. O


parâmetro ћi,j é o coeficiente de transferência de calor interno dado pela correlação de
Shah e Sekulic (2003) para o condensador e Björk e Palm (2008) para o evaporador, em
caso de escoamento bifásico. Em caso de escoamento monofásico utilizou-se em ambos
os trocadores a correlação de Gnielinski (1976) para Reynolds maior que 3000, e admitiu-
se Nusselt igual a 3,66 para escoamento laminar. Assumiu-se que entalpia na saída é a
entalpia representativa do volume de controle (ou seja, hout,j = hj) e que a temperatura Tj e
a densidade ρj são calculadas com base nela.
Modelagem Matemática 76

Com um balanço de energia na parede dos tubos, incorporando a eficiência de


aleta no coeficiente de transferência de calor externo, chega-se à seguinte equação:

 i , j Ai , j T j  Tw, j    e, j Ae, j Tw, j  Ta  (5.16)

sendo ћe,j é o coeficiente de transferência de calor externo obtido com base nos dados de
Melo e Hermes (2009) para o condensador e Barbosa et al. (2009) para o evaporador. O
parâmetro Ta diz respeito à temperatura do ar, assumida igual à temperatura ambiente em
todo o domínio do condensador.

No caso do evaporador, por se tratar de convecção forçada, a temperatura do ar


varia ao escoar pelas fileiras de tubos e aletas. Assim, a temperatura do ar na saída do
volume de controle é determinada a partir do seguinte balanço:

 a, j cp,a Ta,in, j Ta,out, j    e, j Ae, j Ta, j  Tw, j 


m (5.17)

onde Ta,j é dada pela média entre as temperaturas de entrada e saída do volume de
controle, e ṁa,j é a vazão mássica de ar.

Deve-se ressaltar que o evaporador possui um circuito onde o refrigerante escoa


em duas colunas de 10 tubos cada, dispostas transversalmente ao escoamento de ar (ver
Figura 5.6). Na primeira coluna, ar e refrigerante escoam em direções opostas, ou seja,
enquanto o refrigerante que entra no trocador desce, o ar sobe. Na segunda coluna, ambos
os fluidos seguem na mesma direção (para cima), rumo à saída do trocador de calor.
Observa-se, então, que o processo de marcha nos volumes de controle do evaporador é
iterativo, uma vez que não se conhece a temperatura de entrada do ar no primeiro volume,
mas apenas no 10º e 11º. Nesses volumes, a temperatura de entrada do ar é assumida igual
à da mistura entre as correntes que retornam do freezer e do fresh-food, dada pela seguinte
equação:

Ta,in,10  Ta,in,11  Tfz  1   Tff (5.18)

onde  é a fração da vazão insuflada pelo ventilador que é direcionada ao freezer.


Modelagem Matemática 77

Figura 5.6 – Desenho esquemático do escoamento dos fluidos no evaporador

5.4. Tubo anti-sudação

Como descrito anteriormente, o tubo anti-sudação, também conhecido como heat


loop, nada mais é que um tubo preso por meio de uma fita adesiva à chapa metálica que
reveste o refrigerador. Tendo em mente que o tubo está quente e a uma temperatura
superior à dos meios a que está exposto, boa parte do calor liberado é direcionada ao
ambiente externo enquanto o resto infiltra no freezer. Nota-se, então, que tal componente
se comporta de maneira idêntica a um condensador skin e pode, portanto, ser avaliado
através de um modelo matemático como o de Espíndola (2017), desenvolvido para esse
tipo de trocador de calor. Uma breve descrição do equacionamento envolvido é
apresentada a seguir.
A abordagem inicia dividindo-se o tubo em uma série de volumes de controle de
comprimento Δz e a variação de entalpia é obtida aplicando-se a equação da conservação
da energia em cada um deles:

Q j
h j  h j 1  (5.19)

m

onde a taxa de transferência de calor, Qj, foi determinada a partir da identificação dos
possíveis caminhos para transferência de calor e com base nos perfis de temperatura da
fita adesiva e da chapa externa, as quais foram tratadas como aletas unidimensionais e
independentes.
Modelagem Matemática 78

A variação de temperatura numa aleta genérica sujeita à troca de calor com dois
ambientes distintos (A e B) é obtida a partir do balanço de energia no volume mostrado
na Figura 5.7. Com isso, chega-se a seguinte equação diferencial para o perfil
unidimensional de temperaturas:

Figura 5.7 – Troca de calor entre aleta genérica e dois ambientes (Espíndola, 2017)

d 2T x
2
 T x p2  r  0 (5.20)
dx

sendo os termos p2 e r representados respectivamente por:

z  1 1 
p2     (5.21)
 At  RA'' RB'' 

z  TA TB 
r    (5.22)
 At  RA'' RB'' 

onde  é a condutividade térmica da aleta e R" é a resistência térmica por unidade de área
entre a aleta e o ambiente de temperatura T. O termo At refere-se à área da seção
transversal.

É interessante notar que a equação diferencial anterior possui solução analítica:

r
T  x  C1e px  C2 e  px  (5.23)
p2
Modelagem Matemática 79

Com isso, os perfis de temperatura tanto da fita como da chapa metálica podem
ser obtidos desde que as condições de contorno apropriadas para cada trecho indicado na
Figura 5.8 sejam aplicadas e as constantes C1 e C2 sejam determinadas.

Figura 5.8 – Trechos de cada aleta: chapa externa e fita adesiva (Espíndola, 2017)

Contudo, deve-se ressaltar que a solução anterior é válida apenas nos trechos onde
os valores de TA, TB, RA" e RB" são constantes, o que não ocorre no trecho III onde fita e
chapa interagem. A solução particular para esse caso pode ser vista no trabalho de
Espíndola (2017).
A troca de calor em qualquer região pode ser computada, então, integrando-se o
respectivo perfil de temperatura de acordo com a seguinte equação:

xf
z
Qk ,m,n   T  x  Tn  '' dx (5.24)
xi
Rk ,m,n

onde o sub-índice k refere à aleta em questão (fita, f, ou chapa, c), e m e n dizem respeito
respectivamente ao trecho (de I a IV) e ao ambiente (A ou B). As coordenadas xi e xf
correspondem aos limites de integração do trecho considerado.

O calor que infiltra no freezer, Qin,j, é calculado através da soma das parcelas de
calor trocadas na face superior da fita com a trocada na face superior do trecho IV da
chapa metálica. Já o calor transferido ao ambiente externo, Qex,j, é dado pelo somatório
Modelagem Matemática 80

das parcelas relativas à face inferior da chapa. Por fim, o calor total trocado em cada
volume de controle, Qj é obtido pela soma entre Qin,j e Qex,j.


Q in, j  2 Q f ,I , A  Q f ,II , A  Q f ,III, A  Q c,IV , A  (5.25)

Q ex, j  2Q c, I , B  Q c,II ,B  Q c,III,B  Q c,IV ,B  (5.26)

Q j  Q in, j  Q ex, j (5.27)

Finalmente, o calor total que infiltra no gabinete, Qat, é dado pela soma dos valores
de Qin,j de todos os volumes de controle:

N
Q at  Q in, j (5.28)
j 1

5.5. Trocador de calor interno

5.5.1. Sistema com a EEV

Como já mencionado, no refrigerador montado com a EEV, o trocador de calor


interno consiste num arranjo contracorrente formado pela união soldada entre a tubulação
de saída do condensador (de aço) e a linha de sucção do compressor (de cobre), como
mostrado na Figura 5.9. Devido à diferença de temperatura, a linha de sucção é aquecida
ao receber calor da linha de líquido.

Figura 5.9 – Trocador de calor interno linha de líquido-linha de sucção


Modelagem Matemática 81

A abordagem matemática baseia-se naquela proposta por Incropera et al. (2008),


onde a taxa de transferência de calor de um tubo para o outro é calculada a partir do
cômputo da condutância térmica global, UAihx, obtida através da seguinte associação de
resistências térmicas:

1 1 R' 1
  ct  (5.29)
UAihx   A ll Lihx   A ls

onde um tubo é visto como uma aleta do outro (ver Figura 5.10), sendo que ambos são
acoplados pela região soldada cuja resistência de contato por unidade de comprimento,
Rct', é igual a 0,01 m.K/W (Incropera et al., 2008). Note que η é a eficiência de aleta e
que os sub-índices ll e ls referem-se respectivamente à linha de líquido e à linha de sucção.
O coeficiente de transferência de calor por convecção para as linhas de líquido e sucção
são obtidos respectivamente pelas mesmas correlações utilizadas no condensador e no
evaporador.

Figura 5.10 – Esquema da transferência de calor no trocador interno

A variação de entalpia ao longo das linhas é obtida, então, dividindo-se ambas em


volumes de mesmo comprimento e aplicando os seguintes balanços de energia:

hll, j  hll, j1  hls, j  hls, j1 (5.30)

m  hls , j 1  hls , j   UAihx , j Tll , j  Tls , j  (5.31)

5.5.2. Sistema com o tubo capilar

No sistema montado com o tubo capilar, o trocador de calor interno é formado


também por uma união soldada, mas entre a linha de sucção e o próprio tubo capilar. A
Modelagem Matemática 82

grande diferença deste caso em relação ao anterior reside na forte variação de pressão
experimentada pelo refrigerante no processo de expansão, o que inviabiliza, em termos
numéricos, a discretização simultânea de ambos os tubos, tal qual feito para o sistema
com EEV. Dessa forma, a troca de calor foi calculada de maneira global, assumindo-se
um fluxo de calor uniforme ao longo do comprimento. Para tanto, a entalpia na saída da
linha de sucção, h6, foi calculada a partir do conceito de efetividade, mas não em função
de temperaturas (como feito por Hermes et al., 2010), mas em termos de entalpias, pois
pode ocorrer mudança de fase também na linha de sucção:

h6  h5
 (5.32)
h*  h5

onde h* é a máxima entalpia que o refrigerante na linha de sucção pode alcançar, calculada
na temperatura de entrada do tubo capilar e na pressão de evaporação. Em face, da
escassez de dados na literatura, a efetividade, , foi obtida pela correlação empírica
proposta por Zangari (1998):

   0  1 Lihx   2 Dls  3 m (5.33)

sendo que o coeficiente 0 foi reajustado para melhor representar dados de vazão
exclusivamente relacionados ao escoamento de HC-600a. Assim, 0 = 0,7, 1 = 0,172,
2 = -27,6 e 3 = -111,0.

5.6. Dispositivos de expansão

5.6.1. Válvula de expansão eletrônica

A válvula de expansão eletrônica foi modelada com base na versão modificada da


equação do orifício, como mostrado nos capítulos anteriores:

m  ACvY 2  eev ,in Pc X * (5.34)


Modelagem Matemática 83

onde eev,in corresponde à densidade do fluido na saída da linha de líquido (ou entrada da
EEV). O fator de expansão foi calculado da seguinte maneira, desprezando-se o termo
que expressa a razão entre o coeficiente de expansão isentrópica do refrigerante e o do ar:

X*
Y  1 (5.35)
3X t

A razão de pressão, X*, depende da condição do escoamento. Caso ele não esteja
blocado, a razão de pressão é dada diretamente por:

Pc  Pe
X*  (5.36)
Pc

Em caso de escoamento sônico, deve-se substituir Pe pela própria pressão de


blocagem na equação anterior, e X* passa ser igual a Xt. Dessa forma, tem-se que o fator
de expansão assume o valor de 0,66. Em virtude da dificuldade em se calcular a pressão
de blocagem, optou-se por correlacionar Xt a partir dos dados experimentais obtidos em
bancada. Adicionalmente, uma correlação do tipo  foi proposta para o coeficiente de
vazão, Cv. Maiores detalhes serão apresentados no capítulo de resultados.
Por fim, o escoamento foi assumido isentálpico. Para tanto, admitiu-se que o calor
gerado pelo módulo MEMS é inteiramente transferido para o interior do freezer, o que é
plausível dada a área reduzida do orifício. Deve-se ressaltar que o calor trocado varia com
a fração de abertura, eev. Os valores medidos são mostrados na Tabela 5.1. A fim de
incorporar tais valores na simulação, a seguinte equação foi ajustada:

Qeev  0,000286eev
2
 0,114eev  0,463 (5.37)

Tabela 5.1 – Calor gerado na EEV

Abertura [%] Calor [W]


25 2,2
50 4,5
75 6,5
95 7,8
Modelagem Matemática 84

5.6.2. Tubo capilar

A vazão mássica através do tubo capilar foi obtida com base no modelo proposto
por Hermes et al. (2008), onde o tubo é dividido em diversos volumes de controle nos
quais as equações da conservação da energia e quantidade de movimento são resolvidas.
Optou-se por tal modelo por se tratar de uma abordagem mais robusta que a de Hermes
et al. (2010), a qual não previa a entrada de refrigerante bifásico.
Admitiu-se que: (i) o tubo capilar é horizontal e reto, (ii) o escoamento é
plenamente desenvolvido, homogêneo e em regime permanente, (iii) o escoamento se dá
somente na direção axial, (iv) a resistência térmica de condução pela parede do tubo é
desprezível, (v) as perdas de carga nas seções de entrada e saída do tubo são
insignificantes e (vi) a metaestabilidade não é considerada. Assim, as equações
governantes, obtidas a partir da conservação da massa, energia e quantidade de
movimento, podem ser expressas da seguinte maneira:

G2dv  dP  fG2vdz 2Di,cap  0 (5.38)

dh  G2vdv  q"G1dz  0 (5.39)

onde o diferencial total do volume específico, que é função de P e h, é dado por:

dv   v Ph dP   v h P dh (5.40)

Dessa forma, adotando a pressão como domínio de integração, as equações


anteriores podem ser reescritas da seguinte forma:

2
dz Di,cap 1  G v  v h  P   v P h 
 (5.41)
dP 4  1  G2v  v h  P   q "G  v h  P

dh  G2v  v P h   q "G1 1  G2  v Ph 


 (5.42)
dP  1  G2v  v h  P   q "G  v P h

onde τ é a tensão de cisalhamento na parede do tubo e q" é o fluxo de calor trocado com
a linha de sucção, considerado uniforme e obtido a partir do conceito de efetividade (como
Modelagem Matemática 85

já mencionado). Para o cômputo da tensão de cisalhamento adotou-se a correlação de


Churchill (1977) tanto para a região monofásica como bifásica. Para esta, o número de
Reynolds foi calculado com base na correlação de McAdams et al. (1942) para a
viscosidade.

Percebe-se que a solução das equações (5.41) e (5.42) para cada volume de
controle leva a um laço iterativo em função da vazão mássica, e que as não-linearidades
do problema, conforme descrito por Negrão e Melo (1999), podem elevar
substancialmente o custo computacional e trazer sérios problemas de convergência
quando o modelo for acoplado ao de simulação do ciclo completo. De forma a contornar
tal inconveniente, optou-se pela utilização de uma rede neural artificial. Uma descrição
resumida do processo de geração de uma rede neural é apresentada a seguir.
Uma rede neural artificial (ou do inglês, Artificial Neural Network – ANN) é uma
ferramenta matemática que, em linhas gerais, conecta ou correlaciona um conjunto de
dados de entrada (inputs) a um determinado conjunto de saídas (outputs). Tal conexão é
feita através de simples operações matriciais de adição e multiplicação. De acordo com
Hornik et al. (1989), uma ANN é capaz de reproduzir ou aproximar qualquer função não-
linear a partir do conhecimento prévio dos conjuntos de inputs e outputs. Assim, ela tem
um poder de ajuste de dados superior ao das tradicionais correlações do tipo  e
polinomiais (Yang e Zhang, 2009).
As ANNs são divididas em N camadas, sendo a primeira e a última
respectivamente as chamadas input e output layers. As camadas intermediárias são
chamadas de hidden layers (ou camadas ocultas). As conexões entre cada camada são
feitas através de neurons, cujas quantidades são impostas pelo usuário. Cada neuron na
input layer realiza uma soma ponderada de todos os neurons na primeira hidden layer e
passa adiante esse somatório através de uma função de transferência. Da mesma maneira,
cada neuron na primeira hidden layer faz a soma ponderada de todos os neurons na
segunda hidden layer (ou na output layer, caso haja apenas uma camada intermediária) e
passa a informação adiante através de outra função de transferência. Matematicamente
tais conexões podem ser expressas da seguinte forma:

 I 
hj  g   u j ,i xi  b 1, j   j  1...J (5.43)
 i 1 
Modelagem Matemática 86

 J 
y k  g   wk , j h j  b N 1, k   k  1...K (5.44)
 j 1 

onde I, J, K são respectivamente o número de neurons na camada de entrada,


intermediária e de saída. O termo xi refere-se aos parâmetros de entrada, hj são as
respostas da hidden layer e yk são os parâmetros de saída. O termo ui,j, por sua vez, diz
respeito ao fator de peso conectado pelo neuron i da input layer ao neuron j da hidden
layer. Finalmente, wk,j é o peso conectado por cada neuron j da hidden layer a cada neuron
k da output layer. As variáveis b1,j e bN-1,k são respectivamente os biases de cada neuron
j da hidden layer em relação a input layer e cada neuron k da output layer em relação a
penúltima camada.

Tendo como base o trabalho de Heimel et al. (2014), optou-se no presente estudo
por uma rede com quatro camadas, sendo duas intermediárias (ver Figura 5.11). A input
layer foi definida com oito neurons ou parâmetros de entrada: as pressões de evaporação
e condensação (Pc e Pe), as entalpias na entrada do tubo capilar e da linha de sucção (h3'
e h5), o diâmetro interno e o comprimento do tubo capilar (Di,cap e Lcap), e os
comprimentos adiabático de entrada e de troca de calor (Lin,ad e Lihx). Na primeira hidden
layer, foram impostos 10 neurons, enquanto na segunda 8. A output layer foi montada,
finalmente, com dois neurons, ou seja, dois parâmetros de saída: a vazão mássica, ṁ, e a
entalpia na saída da linha de sucção, h6.

Figura 5.11 – Rede neural para o trocador interno tubo capilar-linha de sucção
Modelagem Matemática 87

Como função de transferência entre a input layer e a hidden layer 1 e esta e a


hidden layer 2 adotou-se a chamada tan-sigmoid, ou tangente sigmoidal:

2
g  x  1 (5.45)
1  e2 x

Já para a função de transferência entre a hidden layer 2 e a output layer,


considerou-se uma função linear:

g  x  x (5.46)

A rede foi treinada com uma base de dados de 4400 pontos gerados aleatoriamente
a partir do modelo de Hermes et al. (2008) considerando o escoamento de HC-600a dentro
das seguintes faixas de operação:

 Pressão de condensação: 3 a 8,5 bar;


 Pressão de evaporação: 0,25 a 0,85 bar;
 Entalpia na entrada do tubo capilar: 176,5 a 504,0 kJ/kg (ou seja, tanto monofásico
como bifásico);
 Entalpia na entrada da linha de sucção: 323,0 a 581,5 kJ/kg (ou seja, tanto
monofásico como bifásico);
 Diâmetro interno do tubo capilar: 0,55 a 0,85 mm;
 Comprimento total do tubo capilar: 1,8 a 3,2 m;
 Comprimento adiabático de entrada: 0,1 a 1 m;
 Comprimento de troca de calor: 0,8 a 2 m.

Com o modelo acima, obtém-se ṁ e h6 e, a partir do seguinte balanço global de


energia no trocador interno, determina-se a entalpia na saída do tubo capilar, h4:

h4  h3  h5  h6 (5.47)
Modelagem Matemática 88

Os coeficientes da rede neural, assim como os resultados da validação contra os


dados gerados pelo modelo de Hermes et al. (2008) e contra os dados experimentais de
Melo et al. (2002) são apresentados no Apêndice V.

5.7. Passador de sucção

Entre o ponto onde a linha de sucção sai da parede do gabinete e a carcaça do


compressor há um trecho adicional de 0,835 m de tubo, o chamado passador de sucção.
Tal tubulação troca calor com o ambiente do nicho compressor, além de atuar como uma
aleta da carcaça dele. Sendo assim, a temperatura do refrigerante varia ao longo do
comprimento em função da transferência de calor longitudinal.
A variação de entalpia do refrigerante pode ser obtida dividindo-se o passador em
diversos volumes de controle a aplicando o seguinte balanço de energia no refrigerante
contido em cada um deles:

 ps , j 1   i , ps , j Di , ps  z ps Tw , ps , j  T ps , j 
mh
h ps , j  (5.48)
m

onde o sub-índice j indica o número do volume de controle e ps diz respeito ao passador


de sucção. Os parâmetros Di,ps e Δzps são o diâmetro interno e comprimento de cada
volume de controle, respectivamente.

A temperatura da parede Tw,ps,j é calculada por meio da equação da conservação


da energia no tubo, dada por:

w, ps Aw, ps Tw, ps , j 1  Tw, ps , j 1  2Tw, ps , j 


  De, ps  e, ps , j Tw, ps , j  Ta  
z 2ps (5.49)
 Di , ps  i , ps , j Tw, ps , j  Tps , j 

sendo w,ps a condutividade térmica do material, Aw,ps a área da coroa e ћe,ps,j e ћi,ps,j
respectivamente os coeficientes de transferência de calor por convecção interno e externo
em cada volume. Por se tratar de uma equação de segunda ordem, duas condições de
Modelagem Matemática 89

contorno são necessárias: fluxo de calor nulo na entrada e temperatura igual à da carcaça
do compressor na saída do passador.

5.8. Inventário de massa de refrigerante

Para o fechamento da simulação é necessário resolver a equação da conservação


global de massa de refrigerante no ciclo:

N
M  Mx (5.50)
x 1

onde M é a carga total de fluido, N é o número de componentes no sistema e Mx a massa


contida em cada um:

n
M x    jVi , j  (5.51)
j 1

sendo n o número de volumes de controle em cada componente, Vi,j o volume interno de


cada um e j a densidade do refrigerante.

Expandindo-se a equação anterior, tem-se:

M  Mk  Mko  Md  Mc  Mat  Mll  Me  Mls  Mps (5.52)

sendo Mk, Mko, Md, Mc, Mat, Mll, Me, Mls e Mps respectivamente as massas: (i) contida no
volume livre da carcaça do compressor, dissolvida no óleo do compressor, na linha de
descarga, no condensador, no tubo anti-sudação, na linha de líquido, no evaporador, na
linha de sucção e no passador de sucção. Note que Mll = 0 para o sistema montado com
tubo capilar. A massa contida no tubo capilar, por sua vez, foi desprezada, dado o volume
interno irrisório de tal componente.

O cálculo da massa de refrigerante (HC-600a) dissolvida no óleo (alquilbenzeno


linear, ISO5), Mko, foi feito correlacionando-se empiricamente os dados de Marcelino
Modelagem Matemática 90

Neto e Barbosa (2010) para a solubilidade da mistura em função da temperatura e pressão


do vapor superaquecido no interior da carcaça do compressor (ver Apêndice VI):

Pe3
   0 1Tk Pe  2Tk Pe3  3  4 Pe3 (5.53)
Tk2

onde 0 = 0.0340285, 1 = 2.13448E-9, 2 = 3.14139E-20, 3 = 1.40986E-14 e 4 = -


4.39459E-18. A massa de óleo foi calculada com base no volume fornecido pelo
fabricante (220 ml) e na densidade (o = 793,9 kg/m3).

A massa nos demais componentes foi calculada multiplicando-se a densidade do


refrigerante pelo respectivo volume interno. Este foi calculado com base em parâmetros
geométricos. Já a densidade foi estimada diretamente a partir das propriedades
termodinâmicas do fluido, no caso de escoamento monofásico, e por meio de correlações
disponíveis na literatura, no caso de escoamento bifásico.
Para as situações onde o refrigerante é bifásico, nas quais as fases de líquido e
vapor escoam com velocidades diferentes, optou-se por utilizar o modelo de fração de
vazio, , definida como a razão entre área ocupada pelo vapor e a área da seção
transversal do tubo. Assim, a densidade passa a ser calculada por:

  v  1  l (5.54)

onde v e l são respectivamente as densidades do vapor e do líquido saturado.

Diversas combinações entre as correlações de fração de vazio disponíveis na


literatura, como aquelas baseadas na taxa de deslizamento e no fluxo de massa, foram
avaliadas. Na linha de descarga, no condensador e no tubo anti-sudação utilizou-se a
correlação proposta por Premoli et al. (1971), baseada no fluxo de massa. Para a linha de
líquido, assumiu-se que a massa de refrigerante é basicamente função do líquido presente,
ou seja,  = l.
Para o evaporador, no entanto, em face da completa ausência de dados de fração
de vazio para as condições de operação observadas em refrigeração doméstica e para o
escoamento de HC-600a, nenhuma das correlações encontradas mostrou bons resultados.
Modelagem Matemática 91

Janssen et al. (1992), por exemplo, relatou tal problema e teve que adotar a equação de
Premoli et al. (1971) com fatores empíricos de correção entre 1,5 e 4 na fração
volumétrica de líquido. Tal abordagem foi aqui testada, mas forneceu resultados
satisfatórios apenas para uma parcela dos testes de consumo de energia realizados. A fim
de contornar tal dificuldade, optou-se por adotar a correlação de Turner e Wallis (1965),
baseada na taxa de deslizamento, mas com o coeficiente relativo à razão entre
viscosidades modificado:

c d 1
  1  x   v   l  
b

  1  a        (5.55)
  x   l   v  

onde a = 1, b = 0,72, c = 0,4 e, para a correlação original, d = 0,08. O coeficiente d foi


então reajustado para 0,3 para melhor representar os dados obtidos com os sistemas
montados tanto com o tubo capilar como com a EEV. A mesma correlação foi utilizada
para o cômputo das massas de refrigerante na linha e no passador de sucção.

5.9. Cálculo da carga térmica e do consumo de energia

O objetivo principal do cômputo da carga térmica é avaliar a fração de


funcionamento do compressor e, consequentemente, o consumo de energia. De acordo
com Hermes et al. (2009), quando o refrigerador está operando em regime cíclico, toda a
energia que entra no gabinete ao longo de um ciclo deve ser retirada pelo sistema de
refrigeração durante o período em que este permanece ligado. Desta forma, a fração de
funcionamento do produto, ζ, definida como a razão entre o tempo de compressor ligado
e o tempo total de um ciclo (tempo ligado mais tempo desligado), pode ser derivada do
balanço de energia ao longo de um ciclo:

e on  Qt ,onoff  ton  toff   Qt ,onton


Qt (5.56)

onde Qe é a capacidade de refrigeração, Qt,on-off é a parcela de carga térmica que atua tanto
com o compressor ligado como desligado e Qt,on refere-se à carga térmica dissipada
apenas quando o compressor está em funcionamento.
Modelagem Matemática 92

Assumiu-se que parcela Qt,on-off é composta pela soma das cargas térmicas
oriundas do ambiente externo Qt,a, e da EEV, Qeev. Já Qt,on deve-se a uma parte do calor
dissipado pelo tubo anti-sudação e ao calor gerado pelo ventilador, que funciona em
sincronia com o compressor. A carga térmica proveniente do ambiente externo pode ser
expressa por:

Qt,a  UAfz Ta Tfz  UAff Ta  Tff  (5.57)

onde UAfz e UAff são respectivamente as condutâncias térmicas globais das paredes de
cada compartimento (freezer e fresh-food, respectivamente), tal como mostrado na
descrição do teste de fluxo de calor reverso. Com isso, chega-se a uma expressão final
para a fração de funcionamento do compressor:

ton UAfz Ta Tfz  UAff Ta Tff   Qeev


  (5.58)
ton  toff Qe  Qat Wv,e

O consumo de energia, por sua vez, deve ser calculado pela integração da potência
total consumida num ciclo de operação:

ton toff
0,72 
CE   Wdt (5.59)
ton  toff 0

onde Ẇ representa a soma de todas as potências consumidas e a constante 0,72 é o fator


de conversão de [W] para [kWh/mês]. Contudo, de posse do valor da fração de
funcionamento, pode-se aproximar o consumo de energia por:

CE  0,72  Wk Wv,e Winv,on   Winv,stb  Wel  (5.60)

sendo Ẇel a potência consumida pela placa eletrônica do refrigerador, a qual opera 100%
do tempo, e Ẇinv a potência do inversor de frequência do compressor. O inversor consome
um valor fixo durante todo o período (potência de stand-by, Ẇinv,stb = 1 W), e uma parcela
adicional quando o compressor está ligado (Ẇinv,on = 4 W).
Modelagem Matemática 93

5.10. Implementação

O modelo matemático do refrigerador foi implementado na plataforma EES –


Engineering Equation Solver (Klein, 2019), que permite a solução do sistema de equações
não-lineares descrito anteriormente através de uma versão aprimorada do método de
Newton-Raphson multivariável, sem a necessidade de programação sequencial.
Os coeficientes das curvas de desempenho do compressor (ηv e Ẇ) foram
regredidos através do método dos mínimos quadrados a partir das medições com o
compressor montado no próprio sistema de refrigeração, uma vez que as condições de
operação do sistema nem sempre são iguais às de calorímetro. Os resultados são
mostrados no Apêndice IV. Os parâmetros UAi,k, UAe,k e UAd,k foram aproximados com
base em informações do fabricante (Diniz, 2018), sendo respectivamente iguais a 10, 1,5
e 2 W/K. O volume interno da carcaça, necessário para o cálculo da massa de refrigerante
livre no seu interior, foi considerado igual a 1,5 l.
Para captar com maior precisão o grau de superaquecimento na saída do
evaporador e o de sub-resfriamento na saída do condensador, ambos foram discretizados
através do método tubo-por-tubo proposto por Domanski (1991), onde cada volume
corresponde a um passe de tubo da serpentina. Dessa forma, foram utilizados 20 volumes
de controle para o evaporador e 25 para o condensador. As condutâncias térmicas do lado
do ar tanto do condensador como do evaporador (ћeAe) foram estimadas globalmente a
partir dos dados de Melo e Hermes (2009) e Barbosa et al. (2009), respectivamente. Para
o evaporador, obteve-se ћeAe = 20 W/K e para o condensador 6 W/K. A fim de minimizar
problemas de convergência e reduzir o custo computacional, tais valores foram assumidos
constantes e divididos igualmente para cada volume de controle.
Como já mencionado, a linha de descarga foi modelada globalmente, ou seja, um
único volume de controle. O tubo anti-sudação, o trocador linha de líquido-linha de
sucção (no caso do sistema com EEV) e o passador de sucção foram divididos em
respectivamente 12, 20 e 5 volumes de controle.
A vazão volumétrica de ar no evaporador, Va,e = 37,09 m3/h, e a fração dessa vazão
que é insuflada no freezer,  = 0,82, foram retiradas do trabalho de Knabben et al. (2014)
que mediram tais parâmetros com o auxílio de um túnel de vento específico para um
refrigerador com circuito de ar idêntico ao do aqui estudado.
Adicionalmente, a fim de suavizar as transições abruptas entre escoamento
monofásico e bifásico de refrigerante ao longo dos trocadores de calor, os perfis dos
Modelagem Matemática 94

coeficientes de transferência de calor foram ajustados através de curvas de Bezier de


terceira ordem nos intervalos correspondentes a variações de título de ±5% em torno da
linha de saturação.
Além disso, com o intuito de reduzir o tempo computacional das simulações e
evitar os problemas de convergência associados às não-linearidades inerentes das
equações de estado, as propriedades termodinâmicas do fluido refrigerante foram
previamente computadas e armazenadas em matrizes em função da pressão e da entalpia.
Assim, as propriedades desejadas são procuradas nas tabelas a partir do método de busca
da bisseção, e interpoladas em duas dimensões quando necessário.
Como exemplo, o fluxograma mostrado na Figura 5.12 ilustra o algoritmo de
solução do modelo para o sistema montado com a EEV. Primeiramente, é feita a leitura
dos dados de entrada, como as condutâncias térmicas dos trocadores de calor, as curvas
de desempenho do compressor, a temperatura ambiente e outros. A simulação do ciclo de
refrigeração começa num laço iterativo externo onde os parâmetros h1, Pc e Pe são
inicialmente estimados e posteriormente corrigidos a partir do método de Newton-
Raphson multivariável. O primeiro submodelo a ser resolvido é o do compressor, que
fornece como resposta, além da potência, a vazão de refrigerante (ṁ) e a entalpia de saída
(h2). Na sequência, resolve-se o submodelo da linha de descarga para obter a entalpia de
entrada do condensador (h2'). Este é então resolvido através de uma marcha sequencial
nos volumes de controle, fornecendo a entalpia na entrada do tubo anti-sudação (h3).
Aplicando a equação da conservação da energia em cada um dos volumes de controle do
tubo anti-sudação, obtém-se a entalpia de entrada da linha de líquido (h3') e a parcela de
calor que infiltra no freezer.
Em seguida, entra-se num laço iterativo interno para solucionar o acoplamento
entre a linha de líquido e a linha de sucção. Assim, com uma estimativa para a entalpia
na saída do evaporador, h5*, resolve-se a linha de líquido obtendo-se h3'' e,
consequentemente, h4, pois o escoamento pela EEV é isentálpico. Depois, o submodelo
do evaporador é simulado dando como resposta um novo valor para a entalpia de saída
(h5). Observe que o modelo da válvula também fornece como resposta um novo valor
para a vazão mássica, o qual é utilizado para corrigir indiretamente a estimativa de Pc. Se
a diferença entre os valores de h5 e h5* estiver dentro da tolerância imposta, a entalpia h6,
obtida do modelo da linha de sucção, é aceita e segue-se para o passador de sucção. O
ciclo termina com a solução do passador de sucção, que permite o cômputo e a correção
da estimativa de h1. Finalmente, de posse da carga de refrigerante em cada componente,
Modelagem Matemática 95

verifica-se a conservação global da massa e corrige-se indiretamente a estimativa inicial


de Pe. A simulação termina caso as diferenças entre os valores estimados e os calculados
de h1, Pc e Pe atendam os critérios de convergência.

Fim Início

Sim

Erro < Tol? Estimativas


Não
h1* Pc* Pe*

Compressor

h2 ṁ

Linha de descarga

h2'

Condensador

h3

Tubo anti-sudação

h3'
h5*
Trocador interno

h3'' h6

EEV

h4 Pc

Evaporador

h5
Sim
Pc |h5* - h5|<Tol?
Não
Sim h6

Passador de
h1
sucção
ΣM
Inventário de
Pe
Massa

Figura 5.12 – Algoritmo de solução do modelo do sistema de refrigeração com EEV


6. Resultados
Neste capítulo são apresentadas, inicialmente, as análises preliminares das
válvulas com base nos ensaios com nitrogênio. Os dados de vazão volumétrica são
discutidos e a conversão para tubos capilares equivalentes é averiguada. Na sequência,
são mostradas as medições realizadas através da bancada de HC-600a. Os resultados de
vazão mássica são relatados, uma análise da ocorrência de escoamento blocado é
realizada e a correlação proposta para o coeficiente de vazão das válvulas é apresentada
e validada. Por fim, são discutidos os resultados extraídos dos experimentos com a válvula
de maior orifício montada no refrigerador, a validação do modelo de simulação do sistema
de refrigeração completo e as projeções para comparar sistemas operando com válvula ou
tubo capilar.

6.1. Testes em bancada

6.1.1. Vazão de nitrogênio

6.1.1.1. Tubos capilares equivalentes

Os ensaios foram realizados com a pressão na entrada entre 4 e 15 bar, faixa esta
que engloba aplicações tanto com HC-600a como HFC-134a. A fração de abertura do
orifício de cada válvula foi alterada dentro dos limites impostos pelo fabricante: de 2 a
95 %. As Figuras 6.1 a 6.3 mostram a vazão volumétrica de nitrogênio em função da
fração de abertura e da pressão de entrada, para as três válvulas.
Nota-se que as válvulas de menor orifício e a de orifício intermediário são
praticamente insensíveis a frações de abertura inferiores a 30 %. A válvula de maior
orifício, por outro lado, apresentou uma faixa de operação bem mais ampla, inclusive com
frações de abertura inferiores a 30 %.
Resultados 97

16
15 15 bar
14 14 bar
13 12 bar

Vazão volumétrica [l/min]


12 10 bar
11 8 bar
6 bar
10
4 bar
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.1 – Vazão de N2 vs. abertura e pressão: EEV de menor orifício

16
15 15 bar
14 14 bar
13 12 bar
Vazão volumétrica [l/min]

12 10 bar
11 8 bar
6 bar
10
4 bar
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.2 – Vazão de N2 vs. abertura e pressão: EEV de orifício intermediário

As válvulas podem ser equivalentes a uma família de tubos capilares. Para cada
abertura, dependendo do comprimento escolhido, é possível compor inúmeras geometrias
de tubos capilares. Com base nos resultados anteriores e na Equação (4.1), calculou-se o
diâmetro de tubo capilar equivalente para três comprimentos distintos, 2, 3 e 4 m. As
Figuras 6.4 a 6.6 mostram os resultados de cada uma das válvulas para a pressão de
entrada de 6 bar, típica de sistemas com HC-600a (Espíndola et al., 2016 e Colombo et
al., 2016).
Resultados 98

16
15 15 bar
14 14 bar
13 12 bar

Vazão volumétrica [l/min]


12 10 bar
11 8 bar
10 6 bar
4 bar
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.3 – Vazão de N2 vs. abertura e pressão: EEV de maior orifício

1,0
4m
0,9
3m
2m
Diâmetro interno [mm]

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.4 – Tubos capilares equivalentes: EEV de menor orifício, P = 6 bar

Percebe-se que a válvula de menor orifício corresponde a tubos capilares com


diâmetros internos entre 0,3 a 0,6 mm. Tubos capilares com essa geometria são
normalmente empregados em microssistemas de refrigeração (Lara, 2014) ou em
aplicações que exigem baixas vazões mássicas e/ou baixas temperaturas de evaporação.
Resultados 99

1,0
4m
0,9
3m
2m
Diâmetro interno [mm]
0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.5 – Tubos capilares equivalentes: EEV de orifício intermediário, P = 6 bar

1,0
4m
0,9
3m
2m
Diâmetro interno [mm]

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.6 – Tubos capilares equivalentes: EEV de maior orifício, P = 6 bar

A Figura 6.7 mostra um comparativo geral entre as válvulas considerando a


pressão de entrada igual a 6 bar e fixando o comprimento do tubo capilar equivalente em
3 m, típico de sistemas domésticos (Boeng, 2012). Nota-se que o comportamento da
válvula de orifício intermediário é similar ao da válvula de menor orifício, e que a válvula
de maior orifício é equivalente a tubos capilares de até 0,90 mm, dependendo das
condições de operação. Por exemplo, para uma fração de abertura de 90%, as válvulas de
Resultados 100

orifício menor e intermediário produzem respectivamente uma vazão mássica equivalente


a capilares de 0,57 e 0,66 mm, enquanto que a válvula de maior orifício apresenta vazões
iguais às de tubos capilares com 0,85 mm de diâmetro interno. Tal análise permite
afirmar, ao menos preliminarmente, que as válvulas em questão têm potencial para serem
aplicadas em sistemas domésticos de refrigeração, uma vez que a faixa de tubos capilares
encontrada condiz com as geometrias observadas na prática (Melo et al., 2002).

1,0
Menor orifício
0,9
Orifício intermediário
Diâmetro interno [mm]

0,8 Maior orifício

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.7 – Comparativo: diâmetro interno, comprimento de 3 m

6.1.1.2. Capacidade de refrigeração

A fim de dar um caráter mais realista à avaliação anterior, uma análise adicional
foi feita calculando-se a vazão mássica de HC-600a e a capacidade de refrigeração
correspondente através das Equações (4.2) e (4.3), respectivamente. Para tanto, tomou-se
como base as geometrias dos tubos capilares equivalentes obtidas previamente, e admitiu-
se pressões de evaporação e condensação respectivamente de 0,5 e 6 bar, e um grau de
sub-resfriamento de 10 ºC. Os valores obtidos são mostrados nas Figuras 6.8 a 6.10.
Resultados 101

300
4m

Capacidade de refrigeração [W]


250 3m
2m
200

150

100

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.8 – Capacidade de refrigeração: EEV de menor orifício

300
4m
Capacidade de refrigeração [W]

250 3m
2m
200

150

100

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.9 – Capacidade de refrigeração: EEV de orifício intermediário

A Figura 6.11 mostra um comparativo geral entre as válvulas considerando o


comprimento do tubo capilar equivalente fixo em 3 m. Uma breve inspeção dos resultados
mostra que a válvula de menor orifício pode produzir capacidades de refrigeração
relativamente baixas, entre 20 a 90 W, sendo atrativa para alguns refrigeradores
domésticos disponíveis no mercado, especialmente para os mais eficientes. Observa-se
ainda que a válvula de orifício intermediário consegue produzir capacidades de
Resultados 102

refrigeração de até 150 W, mas somente com frações de abertura superiores a 80%.
Percebe-se também que a válvula de maior orifício cobre a faixa de aplicação das válvulas
anteriores, gerando capacidades de refrigeração entre 40 a 250 W, com frações de abertura
entre 2 a 95%. De acordo com Ronzoni et al. (2013) e Hermes et al. (2013), muitos
refrigeradores domésticos operam com uma capacidade de refrigeração próxima de
100 W. Dessa forma, pode-se afirmar que as três válvulas fornecem capacidades
condizentes com a realidade. Ainda, também é possível dizer que a válvula de maior
orifício é a mais promissora, pois além de cobrir uma larga faixa de capacidades, pode ter
sua abertura controlada a partir de 2 %.

300
4m
Capacidade de refrigeração [W]

250 3m
2m
200

150

100

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.10 – Capacidade de refrigeração: EEV de maior orifício

Contudo, é importante enfatizar que os resultados aqui apresentados são


preliminares e tratam apenas de uma estimativa do comportamento real das válvulas.
Testes com fluido refrigerante, sejam em bancada ou no próprio refrigerador, são ainda
necessários. Os resultados de tais testes são apresentados a seguir.
Resultados 103

300
Menor orifício

Capacidade de refrigeração [W]


250 Orifício intermediário
Maior orifício
200

150

100

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.11 – Comparativo: capacidade de refrigeração, comprimento de 3 m

6.1.2. Ensaios com fluido refrigerante HC-600a

Baseado nas análises anteriores, testes com fluido refrigerante foram conduzidos
em bancada com a válvula de orifício intermediário e a de maior orifício. As Figuras 6.12
e 6.13 apresentam a vazão mássica de ambas as válvulas em função da fração de abertura,
da temperatura de condensação e do sub-resfriamento, para uma temperatura de
evaporação constante em -28 °C.

1,5
Tc = 45 °C Sub = 15 °C
Sub = 5 °C
Tc = 35 °C
Tc = 25 °C
Vazão mássica [kg/h]

1,0

0,5

0,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.12 – Vazão de HC-600a: EEV de orifício intermediário, Te = -28 ºC
Resultados 104

4
Tc = 45 °C
Sub = 15 °C
Tc = 35 °C Sub = 10 °C
3 Tc = 25 °C Sub = 5 °C

Vazão mássica [kg/h]

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.13 – Vazão de HC-600a: EEV de maior orifício, Te = -28 ºC

Traçando-se uma linha vertical ao longo de uma dada fração de abertura, pode-se
identificar os pontos associados a diferentes graus de sub-resfriamento na entrada (5, 10
e 15 °C). Um olhar criterioso revela que tais pontos são praticamente coincidentes,
indicando que as válvulas são quase insensíveis ao sub-resfriamento. Isso está associado
a fraca dependência da vazão com a densidade do fluido na entrada (como sugere a
equação do orifício) e a pequena variação da densidade para a faixa de temperaturas aqui
analisada. Outra constatação importante é que, assim como observado nos testes com
nitrogênio, o comportamento da vazão é suave em função da fração de abertura, o que
confere uma boa controlabilidade. Deve-se ressaltar que devido a instabilidades
experimentais, os pontos para condensação de 35 °C e fração de abertura de 25% não
foram registrados para a EEV de orifício intermediário.
As Tabelas 6.1 e 6.2 mostram os valores de vazão para a EEV de maior orifício
na condensação de 45 °C e em duas evaporações, -28 °C e -10 °C. Observa-se que as
vazões são muito próximas, mesmo com temperaturas de evaporações diferentes,
fornecendo um forte indício de escoamento blocado.
É importante ressaltar que, devido a limitações operacionais da bancada, não foi
possível atingir a condição de -10 ºC de evaporação para a fração de abertura de 25%. A
fim de compensar esse fato, testes adicionais foram realizados com a abertura em 30% e
a evaporação em -15 ºC, uma vez que tais condições, dentre as obteníveis, foram as que
mais se aproximaram das originalmente desejadas. Mesmo com a nova temperatura sendo
Resultados 105

diferente da original, observa-se na Figura 6.14 que a vazão resultante seguiu a tendência
dos pontos obtidos a -10 ºC, fornecendo mais uma evidência da ocorrência de escoamento
blocado.

Tabela 6.1 – Vazão de refrigerante [kg/h]: Tc = 45 ºC e Te = -28 ºC

Fração de abertura [%]


Sub-resfriamento [ºC]
25 50 75 95
5 1,03 1,85 2,64 2,88
10 1,01 1,88 2,56 2,98
15 1,03 1,91 2,61 3,04

Tabela 6.2 – Vazão refrigerante [kg/h]: Tc = 45 ºC e Te = -10 ºC

Fração de abertura [%]


Sub-resfriamento [ºC]
25 50 75 95
5 - 1,80 2,56 2,91
10 - 1,90 2,59 3,07
15 - 1,94 2,62 3,17

Te = -15 °C

3
Vazão mássica [kg/h]

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura [%]
Figura 6.14 – Vazão vs. abertura: EEV de maior orifício, Tc = 45 ºC, Te = -10 ºC

A fim de comprovar a ocorrência de escoamento blocado, testes adicionais foram


conduzidos variando a pressão de evaporação e mantendo a abertura em 50%, a
Resultados 106

temperatura de condensação em 45 ºC e o sub-resfriamento em 10 ºC. Como mostrado na


Figura 6.15, a vazão permaneceu aproximadamente constante para toda a faixa de
evaporação testada, confirmando a hipótese. Na seção seguinte são mostradas curvas de
vazão em escoamento blocado para outras condensações e frações de abertura.

2,5

2,3
Vazão mássica [kg/h]

2,0

1,8

1,5
-40 -35 -30 -25 -20 -15 -10 -5 0
Temperatura de evaporação [°C]
Figura 6.15 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, eev = 50%, Tc = 45 ºC

6.1.3. Coeficiente de vazão e escoamento blocado

Como já mencionado em capítulos anteriores, para levar em conta efeitos como


mudança de fase e compressibilidade no cômputo da vazão e ainda manter a simplicidade
do equacionamento envolvido, utiliza-se uma versão modificada da conhecida equação
do orifício, a qual deve ser corrigida pelo coeficiente de vazão, Cv, a ser correlacionado
empiricamente. Dada a importância de tal equação, ela é repetida abaixo:

m  ACvY 2  eev ,in Pc X * (6.1)

onde o fator de expansão Y é dado por:

X*
Y  1 (6.2)
3X t
Resultados 107

sendo Xt a razão de pressão a partir da qual o escoamento torna-se blocado. Define-se que
Y pode variar entre 0,667 e 1, onde 1 representa a situação onde a densidade do fluido não
muda ao atravessar a válvula e 0,667 corresponde às condições de escoamento blocado.

Note que Xt é desconhecido e deve ser obtido a partir de dados experimentais.


Como mostrado previamente, os experimentos indicaram que o escoamento estava
blocado para várias condições de operação. Testes adicionais, onde a temperatura de
evaporação foi variada e ambas as temperaturas de condensação e entrada da válvula
foram mantidas constantes, foram realizados com o intuito de obter as pressões de
blocagem e caracterizar a vazão mássica em condições de escoamento não-blocado.
As Figuras 6.16 a 6.18 ilustram a vazão mássica para a válvula de maior orifício
em função da temperatura de evaporação para um sub-resfriamento constante de 10 °C e
temperaturas de condensação de 45, 35 e 25 °C, e para frações de abertura de 50 e 75
e 95%.

2,5
Blocado Transição Líquido

2,0
Vazão mássica [kg/h]

1,5

1,0

0,5 Escoamento bifásico na saída da EEV


Experimental
Calculado
0,0
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
Temperatura de evaporação [°C]
Figura 6.16 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, Tc = 45 °C e eev = 50%

Em todos os casos se observa que, inicialmente, para temperaturas maiores que a


de saturação, há líquido tanto na entrada como na saída da válvula e a vazão responde de
modo aproximadamente linear com a raiz quadrada da razão de pressão. Porém, com a
diminuição da evaporação, aumentam também os efeitos de compressibilidade e a
dependência da vazão com a raiz quadrada de X* diminui. O fator de expansão passa a ter
Resultados 108

relevância e o comportamento da curva deixa de ser linear. A partir de certo ponto,


contudo, atinge-se a velocidade do som e decréscimos na temperatura de evaporação
deixam de produzir efeito na vazão. Diz-se, então, que o escoamento está blocado.

2,5
Blocado Transição Líquido

2,0
Vazão mássica [kg/h]

1,5

1,0

Escoamento bifásico na saída da EEV


0,5
Experimental
Calculado
0,0
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40
Temperatura de evaporação [°C]
Figura 6.17 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício Tc = 35 °C e eev = 75%

2,5
Blocado Transição Líquido

2,0
Vazão mássica [kg/h]

1,5

1,0

Escoamento bifásico na saída da EEV


0,5
Experimental
Calculado
0,0
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30
Temperatura de evaporação [°C]
Figura 6.18 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, Tc = 25 °C e eev = 95%

Adicionalmente, verificou-se que o escoamento estava blocado para temperaturas


de evaporação inferiores a -10 °C em todas as situações. A Tabela 6.3 mostra os valores
Resultados 109

medidos de Xt para aberturas de 50, 75 e 95% considerando as diferentes temperaturas de


condensação mostradas nas figuras anteriores.

Tabela 6.3 – Razão de pressão em escoamento blocado para a EEV de maior orifício

Abertura [%] Condensação [°C] Xt [-]


50 45 0,82
75 35 0,77
95 25 0,69

Assumindo que Xt depende fortemente da fração da abertura, isto é, sua


dependência com as temperaturas de condensação é desprezível (Monsen, 2015), uma
correlação quase linear pode ser observada entre os dados da Tabela 6.3 (como mostrado
na Figura 6.19).

1,0

0,9
Razão de pressão, X t [-]

R² = 0,953

0,8

0,7

0,6

0,5
25 35 45 55 65 75 85 95
Fração de abertura [%]
Figura 6.19 – Razão de pressão em escoamento blocado: EEV de maior orifício

Assim, para verificar tal hipótese, testes adicionais foram realizados para
diferentes temperaturas de condensação (35 e 45 °C), mas mantendo a mesma fração de
abertura (95%) e grau de sub-resfriamento (10 °C). Os resultados mostrados na Figura
6.20 indicaram algo que já era esperado: a pressão de blocagem, Pch, mudou com a
temperatura de condensação. Contudo, Xt permaneceu aproximadamente constante em
Resultados 110

0,69, o que validou a hipótese anterior. Finalmente, um ajuste linear baseado na Figura
6.19 foi realizado, fornecendo:

X t  0,003246eev  1 (6.3)

Observa-se que a intercepção da curva é igual a 1, mostrando que, para frações de


abertura muito pequenas, Xt  1. Em outras palavras, à medida que eev  0, o mesmo
acontece com a pressão na saída da EEV, o que resulta na razão de pressão unitária.
Assumindo que isso vale para qualquer válvula, apenas uma curva de vazão como a
mostrada na Figura 6.16 é de fato necessária para ajustar a reta. Assim, para a válvula de
orifício intermediário, apenas uma curva foi levantada para a abertura de 95% e
condensação de 45 °C (ver Figura 6.21), resultando em Xt = 0,75.

3,5
Pch = 1,86 bar, Xt = 0,69
3,0
Pch = 1,47 bar, Xt = 0,68
Vazão mássica [kg/h]

2,5
Pch = 1,08 bar, Xt = 0,69
2,0

1,5

1,0
Tc = 45 °C
0,5 Tc = 35 °C
Tc = 25 °C
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Razão de pressão [-]
Figura 6.20 – Vazão vs. evaporação: EEV de maior orifício, eev = 95%
Resultados 111

2,5
Blocado Transição Líquido

2,0

Vazão mássica [kg/h]


1,5

1,0

0,5 Escoamento bifásico na saída da EEV


Experimental
Calculado
0,0
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
Temperatura de evaporação [°C]
Figura 6.21 – Vazão vs. evaporação: EEV de orifício inter., Tc = 45 °C e eev = 95%

Com isso, de posse de uma ampla base de dados de escoamento de HC-600a


através das válvulas, incluindo curvas completas de vazão em função da temperatura de
evaporação e demais parâmetros operacionais, pode-se propor uma correlação para o
coeficiente de vazão. Nesse sentido, a seguinte correlação do tipo π foi proposta:

Cv  c01c12c23c34c4 (6.4)

Os parâmetros adimensionais, π1 a π4, são descritos na Tabela 6.4, onde ρl, σl, µl e
hl são respectivamente a densidade, tensão superficial, viscosidade e entalpia do líquido
saturado na pressão de entrada. A variável A é a área livre de passagem do orifício, Dh é
o máximo diâmetro hidráulico do orifício, hin é a entalpia do fluido na entrada da válvula
e hcrit é a entalpia crítica. Os coeficientes para cada válvula são listados na Tabela 6.4.

Tabela 6.4 – Parâmetros adimensionais da correlação do coeficiente de vazão

π Definição Descrição
π1 X* Razão de pressão
π2 A/Ao Fração de abertura do orifício
π3 1+(hl-hin)/hcrit Efeito do sub-resfriamento
π4 µl2/(ρlσlDh) Atrito e nucleação de bolhas
Resultados 112

Tabela 6.5 – Coeficientes da correlação do coeficiente de vazão

Válvula - Orifício
Coeficiente [-]
Intermediário Maior
c0 0,00000806 0,00155
c1 0,323 0,235
c2 1,500 0,938
c3 0,184 0,362
c4 -1,0772 -0,634

Uma correlação do tipo π foi escolhida, já que ajustes polinomiais podem fornecer
valores inconsistentes em interpolações e, principalmente, extrapolações (Jähnig et al.,
2000). Ainda, a entalpia específica foi utilizada ao invés de temperatura no parâmetro
adimensional relativo ao sub-resfriamento para minimizar possíveis problemas com
escoamento bifásico na entrada da válvula, algo que inviabilizaria o uso da correlação no
modelo do sistema de refrigeração completo. Note também que na Equação (6.1) foi
assumido que A = Ao é a máxima área do orifício, de forma que o efeito da fração de
abertura foi incorporado no coeficiente de vazão.
A Figura 6.22 mostra a validação do modelo contra os dados experimentais. Uma
razoável concordância entre valores medidos e calculados foi observada, com 94,2% dos
pontos dentro de uma faixa de erros de a ±15% e 89,1% entre ±10%. Deve-se frisar que
a concordância seria ainda melhor se não fossem pelos erros maiores verificados para
alguns pontos para aberturas de 25% com a válvula de orifício intermediário, causados
principalmente pelas baixas vazões envolvidas (menores que 0,5 kg/h). Os valores de erro
também foram um pouco maiores (entre 15 e 20%) para pontos envolvendo razões de
pressão muito baixas, como alguns mostrados para a válvula de maior orifício. Em tais
condições o escoamento não é blocado e encontra-se na região de líquido mostrada nas
curvas completas de vazão, onde pequenas variações na temperatura de evaporação levam
a grandes variações na vazão mássica. Todavia, o modelo proposto captou corretamente
todas as tendências experimentais, incluindo as de escoamento não-blocado.
Deve-se ressaltar que apenas 20 de todos os pontos disponíveis foram utilizados
para ajustar os coeficientes de cada uma das válvulas. Após uma extensa análise dos dados
experimentais, observou-se que se os seguintes passos fossem seguidos ao selecionar os
20 pontos, a qualidade do ajuste seria tão boa quanto aquela obtida ao utilizar todos os
pontos:
Resultados 113

1. Definir a maior e a menor temperatura de condensação (25 e 45 °C);


2. Para cada condensação, escolher três aberturas distintas (25, 50 e 95%);
3. Para cada fração de abertura, selecionar dois pontos: um para o maior e outro para
o menor grau de sub-resfriamento (5 e 15 °C);
4. Selecionar oito pontos adicionais que ilustrem a transição de escoamento blocado
para não-blocado (como mostrado na Figura 6.16), para uma dada condensação,
sub-resfriamento e fração de abertura (respectivamente 25 °C, 10 °C e 95%), de
forma que Xt também seja obtida.

1,8

1,6
+10%
1,4

1,2
C v calculado [-]

-10%
1,0

0,8

0,6

0,4
Orifício intermediário
0,2
Maior orifício
0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8
C v experimental [-]
Figura 6.22 – Validação da correlação para os coeficientes de vazão das EEVs

6.1.4. Vazão de nitrogênio vs. vazão de refrigerante

De posse dos valores experimentais de vazão mássica de HC-600a, pôde-se


validar as estimativas obtidas com a conversão de vazão de nitrogênio em tubos capilares
equivalentes. Os resultados da validação são mostrados na Figura 6.23. Deve-se
mencionar que a comparação leva em conta apenas as combinações de pressão de entrada
e fração de abertura testadas com HC-600a as quais estão dentro da faixa de testes de
nitrogênio. Observa-se que a ampla maioria dos dados está concentrada numa faixa de
±20% de erro, e que tal faixa se deve em parte às diferenças entre os dispositivos de
expansão, tanto com respeito à física do escoamento como às suas características
construtivas.
Resultados 114

No geral, erros maiores foram verificados para baixos graus de sub-resfriamento.


Tubos capilares são mais sensíveis ao sub-resfriamento, como pode ser visto através do
modelo matemático discutido nos capítulos anteriores e nos dados experimentais de Melo
et al. (1999), já que os efeitos de fricção são dominantes em relação aos de aceleração
(seus comprimentos são algumas ordens de grandeza maiores que os de válvulas). Como
resultado, o ponto de flash se move dentro do tubo, fazendo com que a porção de fluido
bifásico seja maior ou menor dependendo do sub-resfriamento na entrada.

4
L=1m
+20 %
Vazão mássica calculada [kg/h]

L=2m
3 L=3m

-20 %
2

0
0 1 2 3 4
Vazão mássica experimental [kg/h]
Figura 6.23 – Previsões de vazão de HC-600a com base nos dados de nitrogênio

A Figura 6.24 mostra os resultados gerados com o modelo de Hermes et al. (2010)
para ilustrar o efeito do sub-resfriamento no perfil de pressão ao longo de um tubo capilar
de 1 m de comprimento e diâmetro interno de 0,55 mm, para uma pressão de entrada de
6,04 bar (Tc = 45 °C) e pressão de saída de 0,515 bar (Te = -28 °C). Nota-se claramente a
variação do comprimento ocupado com fluido monofásico (Lsp) e, consequentemente, a
mudança do ponto de flash.
A redução de pressão em válvulas, por sua vez, ocorre quase que localmente,
diferentemente do que se observa em tubos capilares. Em válvulas, o efeito de atrito é
insignificante, dado a comprimento milimétrico de passagem, e é mascarado pelo efeito
preponderante de aceleração. Como já mencionado, quando o fluido entra numa válvula,
a queda abrupta de pressão causada pela variação de seção transversal e o atrito junto ao
corpo da válvula são insuficientes para que o flashing ocorra dentro dela.
Resultados 115

5
[bar]
Pressure[bar]
4
Pressão

Sub = 5 °C (Lsp = 0.47 m)


2
Sub = 10 °C (Lsp = 0.67 m)
1 Sub = 15 °C (Lsp = 0.78 m)

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Length [m] [m]
Comprimento
Figura 6.24 – Efeito do sub-resfriamento na pressão ao longo de um capilar

Analisando mais a fundo a Figura 6.23, nota-se que o espalhamento entre os


pontos diminui suavemente para menores comprimentos de tubo capilar. De fato, quanto
menor o comprimento do tubo capilar, mais parecido com uma válvula ele se torna.
Contudo, os erros não decrescem continuamente com a redução de comprimento. Para
comprimentos menores que 1 m, a tendência se inverte e os erros voltam a subir, uma vez
que tanto a equação de Kipp e Schmidt como o modelo matemático de tubos capilares
ficam fora de suas faixas de validade. Finalmente, espera-se também que os erros estejam
em parte associados às incertezas do procedimento de cálculo. O modelo de Hermes et
al. (2010), por exemplo, foi validado dentro de uma banda de erros de ±10%. A equação
de Kipp e Schmidt, por sua vez, mesmo com as constantes reajustadas por Montibeller et
al. (2016), apresenta apenas 59% dos pontos com erros de ±5% e 79% deles entre ±10%.

6.2. Testes com o refrigerador

A análise dos testes em bancada revelou que a válvula mais promissora é a de


maior orifício. Sendo assim, ela foi instalada no refrigerador e testes padronizados de
consumo de energia e pulldown foram realizados. Tais testes exploraram basicamente o
efeito da restrição do dispositivo de expansão. Como já mencionado, outro refrigerador,
de mesmo modelo do anterior, mas montado com um tubo capilar, foi também ensaiado.
Neste caso, a avaliação teve como foco o impacto da carga de fluido refrigerante sobre o
consumo de energia. Maiores detalhes são discutidos na sequência.
Resultados 116

6.2.1. Ensaios preliminares

Previamente, alguns ensaios preliminares de caracterização do produto, como o


de fluxo de calor reverso e a medição do diâmetro interno do tubo capilar foram realizados
para dar suporte ao modelo matemático.

6.2.1.1. Fluxo de calor reverso

Os resultados dos testes de fluxo de calor reverso são mostrados nas Tabelas 6.6 e 6.7.
Para ambos os refrigeradores, a regressão das condutâncias foi realizada com erros
relativos inferiores a 1% para todos os pontos:

UAfz Tfz  Ta   UAff Tff  Ta   Wv,e  Wfz  Wff 


Erro[%]  100 (6.5)
W v ,e  Wfz  Wff 

Tabela 6.6 – Testes de fluxo de calor reverso: sistema com a EEV

Ponto #1 #2 #3 #4
Temperatura do fresh-food, ºC 47,9 38,3 42,9 47,7
Temperatura do freezer, ºC 43,1 47,9 53,0 58,0
Temperatura ambiente, ºC 20,0 19.8 20,1 20,1
Resistências do fresh-food, W 44,4 0,0 4,6 10,5
Resistências do freezer, W 0,0 34,2 37,4 41,2
Ventilador, W 5,5 5,5 5,5 5,5
Erro, [%] 0,0 -0,4 0,9 -0,5

Tabela 6.7 – Testes de fluxo de calor reverso: sistema com o tubo capilar

Ponto #1 #2 #3 #4
Temperatura do fresh-food, ºC 48,2 38,1 42,9 47,7
Temperatura do freezer, ºC 43,2 48,2 53,1 57,9
Temperatura ambiente, ºC 20,3 20,1 20,1 20,1
Resistências do fresh-food, W 43,4 0,0 6,1 14,7
Resistências do freezer, W 3,2 35,6 40,0 40,4
Ventilador, W 6,2 6,1 6,1 6,1
Erro, % 0,1 1,0 -1,0 0,2
Resultados 117

Os resultados obtidos com o método dos mínimos quadrados são apresentados na


Tabela 6.8. Nota-se certa diferença entre os valores de cada compartimento dos
refrigeradores, o que provavelmente se deve a variabilidade entre as amostras e ao
processo de injeção da espuma nas paredes, uma vez que tanto o agente expansor
(ciclopentano) como o isolante térmico (poliuretano) são os mesmos em ambos os
refrigeradores.

Tabela 6.8 – Condutâncias térmicas dos refrigeradores, W/K

Compartimento Com EEV Com tubo capilar


Freezer 0,51 0,61
Fresh-food 1,37 1,39

6.2.1.2. Medição do diâmetro interno do tubo capilar

O diâmetro interno do tubo capilar é um parâmetro de extrema importância no


desempenho de um refrigerador, uma vez que variações da ordem de 0,01 mm podem ter
um forte impacto sobre a vazão mássica em circulação. Sendo assim, para verificar o
diâmetro nominal informado pelo fabricante, acoplou-se a bancada de medição de vazão
de nitrogênio mencionada no Capítulo 4 ao próprio refrigerador. As duas extremidades
do capilar foram, então, desconectadas do ciclo de refrigeração e uma delas foi ligada à
bancada enquanto a outra ficou aberta para a atmosfera. A pressão de entrada foi ajustada
em 7,89 bar (como recomendado pela norma ASHRAE 28, 1996) e a vazão de nitrogênio
foi medida com o sensor Coriolis. Aplicando-se a equação de Kipp e Schmidt (1961), e
considerando um comprimento de tubo de 2,7 m, obteve-se um diâmetro de 0,661 mm,
valor cerca de 5% superior ao nominal, de 0,630 mm. Assim, para fins de simulação,
adotou-se o valor medido.

6.2.2. Sistema montado com a EEV

Como mencionado no Capítulo 4, diversos testes de consumo de energia foram


realizados com o refrigerador montado com a EEV. A matriz de testes original
contemplava trinta e dois ensaios envolvendo duas temperaturas ambiente, 16 e 32 °C,
duas rotações do compressor, 2500 e 3600 rpm, e quatro frações de abertura da válvula,
de 25 a 95%. No entanto, para algumas condições, a temperatura desejada não foi
alcançada no freezer, seja por falta de capacidade de refrigeração (como nos casos de alta
Resultados 118

carga térmica e baixa rotação e abertura), seja por instabilidades da válvula (algo visto
nos testes com abertura de 25%). Tais testes foram, então, descartados e a nova matriz de
ensaios foi reduzida a vinte pontos, como mostrado na Tabela 6.9.

Tabela 6.9 – Matriz reduzida de ensaios com o refrigerador


Fração de Rotação do Temperatura
Teste abertura compressor ambiente
[%] [rpm] [°C]
1 50 2500 32
2 50 3600 32
3 75 3600 32
4 95 3600 32
5 50 2500 16
6 50 3600 16
7 75 2500 16
8 75 3600 16
9 95 2500 16
10 95 3600 16

A Tabela 6.10 ilustra os resultados obtidos no teste de consumo de energia


realizado na temperatura ambiente de 32 °C, rotação do compressor de 3600 rpm e carga
nominal de 46 g de refrigerante. Os valores mostrados referem-se a médias envolvendo
apenas os trechos de compressor ligado de cada ciclo. Percebe-se que à medida que se
aumenta a fração de abertura da EEV, menor é o grau de superaquecimento na saída do
evaporador, visto que a vazão de refrigerante aumenta. Assim, tem-se mais área de
serpentina ocupada por fluido bifásico. Pensando apenas do ponto de vista de
transferência de calor entre refrigerante e tubo, isso é desejável, pois o coeficiente de troca
térmica por convecção para escoamentos bifásicos é algumas ordens de grandeza superior
ao de escoamentos monofásicos. Contudo, nota-se também que o enchimento do
evaporador levou a um aumento da temperatura de evaporação, o que nem sempre é
benéfico. Isso porque se a temperatura de evaporação subir demais, a diferença de
temperatura do evaporador em relação ao ar pode ficar muito pequena levando a um
aumento da fração de funcionamento do compressor, o que explica o aumento de
consumo de energia para as aberturas de 75 e 95%. Além disso, superaquecimento nulo
pode significar título na saída do evaporador, o que é sinônimo de perda de capacidade.
Resultados 119

Apesar de não mostrada na Tabela 6.10, uma abertura ótima, muito provavelmente entre
25 e 50%, minimizaria o consumo de energia. Aberturas inferiores à ótima novamente
levariam a um aumento de consumo, uma vez que a tendência seria de queda forte de
vazão e aumento excessivo da região superaquecida no evaporador. Como reportado por
Bjork e Palm (2006) e Boeng (2012), para uma carga fixa existe uma restrição ótima.

Tabela 6.10 – Consumo de energia: Ta = 32 °C, Nk = 3600 rpm e M = 46 g


eev Tfz Tff Te Sup  CE CE interp.
Teste
[%] [°C] [°C] [°C] [°C] [-] [kWh/mês] [kWh/mês]
Frio 50 -19,4 3,1 -26,1 3,1 0,79 51,58
48,04
Quente 50 -16,1 4,4 -24,8 5,5 0,68 45,54
Frio 75 -20,0 2,4 -25,1 0,3 0,85 56,95
49,03
Quente 75 -15,8 4,0 -24,1 4,8 0,68 46,13
Frio 95 -19,5 2,0 -23,8 0,0 1,00 71,35
61,06
Quente 95 -17,5 4,2 -22,8 0,0 0,81 58,90

Os dados da Tabela 6.11 mostram uma análise similar a anterior, mas para
temperatura ambiente de 16 °C. Mais uma vez percebe-se que a diminuição da restrição
alterou a posição da frente de líquido no evaporador, fazendo com que o
superaquecimento diminuísse. Novamente, a pressão de evaporação subiu devido ao
acúmulo de massa no evaporador. Nota-se que para uma carga térmica menor, a abertura
da EEV não teve impacto significativo no consumo de energia. Devido à baixa demanda
de capacidade de refrigeração, a diferença de temperatura entre evaporador e ar mostrou-
se alta o suficiente para manter o desempenho do refrigerador em todos os casos, mesmo
naqueles com graus de superaquecimento maiores (i.e., menores aberturas). Deve-se
ressaltar que tais conclusões são válidas para uma carga de 46 g.

Tabela 6.11 – Consumo de energia: Ta = 16 °C, Nk = 3600 rpm e M = 46 g


eev Tfz Tff Te Sup  CE CE interp.
Teste
[%] [°C] [°C] [°C] [°C] [-] [kWh/mês] [kWh/mês]
Frio 50 -21,3 3,6 -36,3 12,8 0,59 29,11
27,75
Quente 50 -15,8 5,3 -35,3 17,3 0,52 25,86
Frio 75 -21,0 4,0 -31,3 7,4 0,49 27,50
26,94
Quente 75 -15,7 4,2 -29,5 10,8 0,43 24,23
Frio 95 -21,1 3,9 -30,5 6,4 0,49 28,03
26,77
Quente 95 -15,7 4,2 -28,1 9,3 0,43 24,95
Resultados 120

Os resultados da Tabela 6.12 reportam o comportamento do sistema para as


mesmas condições da tabela anterior, mas com rotação de 2500 rpm. Como era de se
esperar, a redução da rotação do compressor casou uma diminuição da vazão (e da
potência) e uma perda de capacidade, algo que se refletiu no aumento da temperatura de
evaporação quando comparado aos resultados de 3600 rpm. Nota-se que mesmo com a
perda de capacidade, os consumos de energia foram inferiores aos observados para
rotação de 3600 rpm, pois a redução de potência foi mais significativa que a redução de
capacidade. Observa-se também que mais uma vez o consumo de energia foi pouco
afetado pela variação de abertura da EEV. Os valores para aberturas de 50 e 75%, por
exemplo, foram praticamente idênticos, pois tanto a evaporação quanto o
superaquecimento foram adequados para compensar a carga térmica do ambiente externo.

Tabela 6.12 – Consumo de energia: Ta = 16 °C, Nk = 2500 rpm e M = 46 g


eev Tfz Tff Te Sup  CE CE interp.
Teste
[%] [°C] [°C] [°C] [°C] [-] [kWh/mês] [kWh/mês]
Frio 50 -19,4 3,5 -30,5 8,3 0,56 23,54
22,57
Quente 50 -16,0 5,3 -29,7 11,2 0,49 20,73
Frio 75 -19,3 3,7 -26,4 4,2 0,55 24,05
22,44
Quente 75 -15,7 4,1 -24,7 6,2 0,47 21,16
Frio 95 -19,6 3,6 -25,8 3,3 0,57 25,14
23,17
Quente 95 -15,8 4,1 -24,0 5,3 0,48 21,92

Ensaios adicionais foram realizados com duas cargas diferentes: 49 e 52 g. Os


resultados são mostrados na Tabela 6.13 para uma fração de abertura da EEV fixa em
50%, rotação do compressor de 3600 rpm e temperatura ambiente de 32 °C. A explicação
aqui é análoga a dos dados da Tabela 6.10. Assim como a diminuição da restrição da
expansão, o aumento de massa no sistema leva a uma redução do superaquecimento no
evaporador. Todavia, vê-se que não faz sentido em ter superaquecimentos nulos se a
diferença de temperatura entre evaporador e ar subir demais. Observa-se que há um ponto
ótimo de consumo de energia para a carga de 49 g. Quanto maior a carga, maior é a vazão
deslocada pelo compressor e maior a potência consumida. Porém, dependendo da
condição de operação do sistema, um aumento de carga pode significar ganho de
capacidade, desde que a redução de superaquecimento não leve a uma mistura bifásica na
saída do evaporador e a diferença de temperatura em relação ao ar se mantenha adequada.
Resultados 121

No caso em questão, houve aumento de capacidade de refrigeração, o que se refletiu em


diminuição da fração de funcionamento do compressor. Assim, como o aumento de
capacidade superou o aumento na potência, o consumo de energia diminuiu em relação
ao obtido com 46 g.

Tabela 6.13 – Consumo de energia: Ta = 32 °C, Nk = 3600 rpm e eev = 50%


M Tfz Tff Te Sup  CE CE interp.
Teste
[g] [°C] [°C] [°C] [°C] [-] [kWh/mês] [kWh/mês]
Frio 46 -19,4 3,1 -26,1 3,1 0,79 51,58
48,04
Quente 46 -16,1 4,4 -24,8 5,5 0,68 45,54
Frio 49 -19,8 3,1 -25,0 0,5 0,75 52,29
46,91
Quente 49 -16,5 4,4 -23,8 2,9 0,62 43,86
Frio 52 -19,9 3,1 -24,4 0,0 0,76 54,02
52.17
Quente 52 -17,1 4,9 -21,8 0,0 0,67 50,88

Um dos possíveis potenciais de uma válvula é acelerar o transiente de partida de


um refrigerador equalizado, ou seja, reduzir o tempo necessário para atingir as
temperaturas desejadas nos compartimentos. Como o aumento da abertura da válvula leva
a uma elevação da vazão mássica, o evaporador pode ser preenchido mais rapidamente e,
com isso, intensificar a taxa de absorção de calor do ar. Tendo isso em mente, ensaios de
abaixamento de temperatura, comumente chamados de testes de pulldown, foram
conduzidos na temperatura ambiente de 32 °C, na rotação de 3600 rpm e com a carga
nominal de 46 g, variando-se a fração de abertura entre 35 e 95%.
A Figura 6.25 mostra os tempos de pulldown para atingir -18 °C no freezer e 4 °C
no fresh-food, além do tempo de ativação do evaporador. Como esperado, o tempo para
que a temperatura na saída do evaporador se igualasse a da entrada (ativação), foi
reduzido drasticamente com o aumento da abertura. Todavia, isso não se traduziu em
diminuição dos tempos de pulldown, pois nem sempre diminuição de restrição se reflete
em ganho de capacidade de refrigeração. Com o aumento da abertura, o
superaquecimento diminuiu, mas a temperatura da serpentina subiu. De maneira oposta,
com a redução da abertura, a temperatura de evaporação caiu, mas o superaquecimento
aumentou devido à diminuição de vazão. Há, portanto, um balanço entre temperatura de
evaporação, superaquecimento e temperatura do ar, como evidenciado nos testes de
consumo de energia. Nota-se que existe uma abertura ótima que minimiza o tempo de
Resultados 122

pulldown do freezer. Vale ressaltar que, como o damper foi mantido 100% aberto durante
os ensaios, o tempo de pulldown do fresh-food foi pouco afetado.

12
Freezer
Fresh-food
10
Evaporador
Tempo de pulldown [h]

0
35 50 75 95
Fração de abertura [%]
Figura 6.25 – Resultados dos testes de pulldown

Como se pôde observar, a avaliação do efeito da carga de refrigerante foi apenas


superficial nos ensaios com o refrigerador montado com a EEV. Para suprir essa lacuna,
o modelo matemático descrito no Capítulo 5 foi utilizado.

6.2.3. Sistema montado com o tubo capilar

As tendências mostradas na Tabela 6.14 e Figura 6.26 para o sistema com tubo
capilar são análogas às apresentadas na Tabela 6.13 para o sistema com EEV, onde se
percebe que, para uma restrição fixa do dispositivo de expansão, o consumo de energia
apresenta um valor mínimo em função da carga de fluido refrigerante. Novamente, nota-
se que, para cargas baixas, o alto superaquecimento leva a um consumo de energia maior.
Porém, com o aumento da massa de refrigerante, o evaporador é gradativamente
preenchido e o consumo cai. É interessante observar que o consumo mínimo não ocorre
para a condição de capacidade máxima (ou superaquecimento zero) devido ao balanço
entre temperatura de evaporação e temperatura do ar. Tal constatação também foi feita
por Boeng (2012). Com a adição de mais carga a tendência se inverte devido ao avanço
Resultados 123

da frente de líquido, que eventualmente ultrapassa a fronteira do evaporador e faz com


que o refrigerante saia com título.

Tabela 6.14 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 32 °C, Nk = 3600 rpm
M Tfz Tff Te Sup  CE CE interp.
Teste
[g] [°C] [°C] [°C] [°C] [-] [kWh/mês] [kWh/mês]
Frio 42 -19,1 2,5 -26,2 4,6 0,60 43,49
41,57
Quente 42 -17,0 4,9 -24,8 5,1 0,53 40,07
Frio 46 -19,0 2,7 -25,2 2,5 0,57 42,87
41,23
Quente 46 -16,8 5,2 -23,6 3,0 0,50 39,53
Frio 49 -19,1 2,8 -24,5 0,0 0,56 43,17
41,66
Quente 49 -16,9 5,2 -22,9 0,0 0,50 40,15
Frio 52 -19,1 2,7 -24,4 0,0 0,56 43,57
42,41
Quente 52 -16,5 5,1 -23,3 0,0 0,51 41,16
Frio 60 -19,1 2,3 -25,9 0,0 0,64 51,27
48,03
Quente 60 -16,8 4,9 -23,8 0,0 0,54 45,46

49

48
Consumo de energia [kWh/mês]

47

46

45

44

43

42

41

40
35 40 45 50 55 60 65
Carga de refrigerante [g]
Figura 6.26 – Efeito da carga de refrigerante: sistema com capilar
Resultados 124

6.3. Modelo matemático

Os resultados experimentais mostrados anteriormente forneceram informações


relevantes a respeito do comportamento dos refrigeradores em função de parâmetros
como restrição do dispositivo de expansão e carga de refrigerante. Contudo, a análise não
foi completa, uma vez que o efeito da carga foi explorado superficialmente no produto
com EEV, e o efeito da expansão não foi avaliado no sistema com tubo capilar. Para suprir
essa demanda, o modelo matemático foi utilizado.

6.3.1. Validação do modelo

Antes de realizar análises paramétricas com o modelo matemático, é necessário


validá-lo contra os dados experimentais obtidos. A comparação foi feita em termos das
seguintes variáveis: consumo de energia, fração de funcionamento do compressor, vazão
mássica, pressões de evaporação e condensação, e potência total. Os resultados são
mostrados a seguir.
De um modo geral, nota-se uma razoável concordância entre os dados
experimentais e os previstos com o modelo matemático, com a maioria dos pontos dentro
de uma banda de erro de 15%. Como mostrado na Figura 6.27, a pressão de condensação
foi bem prevista tanto para o sistema montado com EEV como com o tubo capilar. Para
o sistema com EEV, o modelo foi capaz de captar o efeito da variação de temperatura
ambiente, que afeta diretamente o desempenho do condensador. Deve-se ressaltar que
devido a problemas no transdutor de pressão, apenas três pontos foram medidos para o
sistema com tubo capilar.
Resultados 125

Pressão de condensação calculada [bar]


+15%
7

6
-15%
5

1 Sistema com EEV


Sistema com capilar
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Pressão de condensação experimental [bar]
Figura 6.27 – Validação do modelo do sistema: pressão de condensação

1,0
Pressão de evaporação calculada [bar]

+15%
0,9
0,8
0,7 -15%
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
Sistema com EEV
0,1
Sistema com capilar
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Pressão de evaporação experimental [bar]
Figura 6.28 – Validação do modelo do sistema: pressão de evaporação

Para o sistema montado com a EEV, a pressão de evaporação foi razoavelmente


bem estimada para a maioria das condições, com exceção daquelas que representaram
valores inferiores 0,4 bar (ver Figura 6.28). É importante frisar, no entanto, que tais
valores são extremamente baixos, estando no limite inferior da faixa de medição do
transdutor, calibrado entre 1 e 10 bar. Vale pontuar também que a curva de pressão vs.
temperatura de saturação do HC-600a possui um comportamento tal que pequenas
variações de temperatura podem levar a significativas variações de pressão. Para o
Resultados 126

sistema montado com o tubo capilar, por sua vez, o modelo subestimou a pressão de
evaporação. Como consequência, a vazão mássica (Figura 6.29) e a potência consumida
(Figura 6.32) também foram subestimadas. Todavia, como a fração de funcionamento do
compressor foi levemente superestimada, os erros do consumo de energia foram
balanceados.

3,0
+15%
Vazão mássica calculada [kg/h]

2,5

-15%
2,0

1,5

1,0

0,5 Sistema com EEV


Sistema com capilar
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Vazão mássica experimental [kg/h]
Figura 6.29 – Validação do modelo do sistema: vazão mássica

Deve-se lembrar, que a modelagem aqui utilizada se baseia na hipótese de regime


permanente para o sistema de refrigeração. Assim, os valores extraídos dos experimentos
para parâmetros como pressões, vazão e potência representam médias considerando
apenas os períodos de compressor ligado dos ciclos. Dessa forma, dependendo da
configuração analisada e de quão rápido o sistema de refrigeração se estabiliza durante
os trechos de on do compressor, os valores médios coletados podem ser afetados em parte
pelos transientes de partida e serem, com isso, maiores que os estimados pelo modelo.
Tal condição foi particularmente observada nos testes com o sistema montado com o tubo
capilar. Como ilustrado na Figura 6.30, verifica-se que a vazão mássica não estabiliza ao
longo de cada ciclo, fazendo com que a média ao longo do tempo seja afetada pelos altos
valores observados no transiente inicial. Tal constatação não foi feita para o sistema
montado com a EEV, onde os valores de vazão rapidamente estabilizaram nos ciclos (ver
Figura 6.31).
Resultados 127

5
Compressor ligado
Vazão mássica [kg/h] 4

0
12 13 14 15 16 17 18
Tempo [h]
Figura 6.30 – Vazão nos períodos de compressor ligado: sistema com capilar

5
Vazão mássica [kg/h]

4 Compressor ligado

0
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo [h]
Figura 6.31 – Vazão nos períodos de compressor ligado: sistema com EEV

A concordância obtida para a fração de funcionamento do compressor foi também


satisfatória para a maioria dos casos, com exceção daqueles cujos erros de pressão de
evaporação e vazão foram maiores (ver Figura 6.33). Em tais situações a capacidade de
refrigeração foi superestimada, o que explica os menores valores de fração de
funcionamento. Vale ressaltar, que os pontos com maiores erros na fração de
funcionamento foram aqueles em que o padrão de ciclagem do compressor foi irregular,
devido à lógica de controle do refrigerador (como mostrado na Figura 6.34). Observa-se
Resultados 128

também que, em alguns casos, o intervalo entre dois degelos consecutivos foi muito curto,
ou seja, não foi possível adotar um número maior de ciclos para a análise, o que não é
recomendado por norma.

120
110 +15%
100
Potência calculada [W]

90
-15%
80
70
60
50
40
30
20 Sistema com EEV
10 Sistema com capilar
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Potência experimental [W]
Figura 6.32 – Validação do modelo do sistema: potência total

1,1
Fração de funcionamento calculada [-]

1,0 +15%

0,9
0,8 -15%
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
Sistema com EEV
0,1 Sistema com capilar
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1
Fração de funcionamento experimental [-]
Figura 6.33 – Validação do modelo do sistema: fração de funcionamento
Resultados 129

250

200
Degelo Degelo
Potência [W]
150

100

50

0
9 10 11 12 13 14 15 16
Tempo [h]
Figura 6.34 – Padrão de ciclagem irregular em alguns testes com EEV

Por fim, concluiu-se que o modelo foi capaz de prever o desempenho dos sistemas
montados tanto com a EEV como com o tubo capilar para diversas condições de operação,
envolvendo diferentes temperaturas do ar interno e externo, rotações do compressor,
cargas de fluido refrigerante e restrições do dispositivo de expansão. Os dados de
consumo de energia são mostrados na Figura 6.35.

90
Consumo de energia calculado [kWh/mês]

+15%
80

70
-15%
60

50

40

30

20
Sistema com EEV
10
Sistema com capilar
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Consumo de energia experimental [kWh/mês]
Figura 6.35 – Validação do modelo do sistema: consumo de energia
Resultados 130

6.3.2. Análise paramétrica

Após o exercício de validação, o modelo matemático foi utilizado para prever o


desempenho do sistema em condições diferentes daquelas testadas e, com isso, avaliar o
possível potencial da válvula como dispositivo de expansão variável. Antes disso, no
entanto, algumas considerações iniciais devem ser feitas.

6.3.2.1. Considerações iniciais

Os dois refrigeradores aqui testados, apesar de teoricamente idênticos,


apresentaram algumas diferenças de projeto devido a atualizações feitas pelo fabricante,
uma vez que foram adquiridos em épocas distintas. Como exemplo, pode-se citar as
condutâncias térmicas dos compartimentos. Além disso, as lógicas de controle eram
levemente diferentes: enquanto no sistema com capilar o damper, o compressor e o
ventilador atuavam de modo sincronizado, no caso do sistema com EEV, a posição do
damper podia variar ao longo do período de on de um ciclo. Tais situações são mostradas
respectivamente nas Figuras 6.36 e 6.37, onde a curva do damper refere-se a um sinal de
0 a 3,5 V, sendo que 0 significa damper fechado e 3,5 significa damper aberto. O
ventilador, por sua vez, pode ser analisado pela variação de potência consumida. Observa-
se na Figura 6.37 (sistema com EEV) que o damper se fecha mesmo com o ventilador
ainda ligado, o que explica a mudança de tendência na temperatura do freezer.

15

10

5
Temperatura [°C]

0
Freezer
-5
Fresh-food
-10 Damper
Fan
-15

-20

-25
14 15 16 17
Tempo [h]
Figura 6.36 – Atuação de damper e ventilador no sistema com o tubo capilar
Resultados 131

15

10

5
Temperatura [°C]
0
Freezer
-5
Fresh-food
-10 Damper
Fan
-15

-20

-25
2 3 4 5 6 7
Tempo [h]
Figura 6.37 – Atuação de damper e ventilador no sistema com a EEV

As placas eletrônicas e os ventiladores também apresentaram consumos distintos.


Um resumo das diferenças entre os refrigeradores é apresentado na Tabela 6.15. Tais
fatores inviabilizaram uma comparação direta e justa entre as amostras tendo como base
somente os dados experimentais. Sendo assim, a análise comparativa foi realizada via
simulação numérica. Para tanto, definiu-se como base de comparação um sistema com as
condutâncias térmicas do gabinete e a potência da placa eletrônica e do ventilador do
evaporador iguais às do refrigerador montado com a válvula eletrônica.

Tabela 6.15 – Diferenças de projeto entre os refrigeradores com e sem EEV

Parâmetro EEV Tubo capilar


UAfz, W/K 0,51 0,61
UAff, W/K 1,37 1,39
Damper Variável Sincronizado com ventilador
Ẇel, W 1 3
Ẇv,e, W 5,5 6,3

6.3.2.2. Mapas de performance

A fim de preencher as lacunas deixadas na análise experimental, superfícies com


mais de 125 pontos cada uma, contemplando variações de carga de fluido refrigerante
Resultados 132

entre 35 e 65 g e frações de abertura entre 25 e 95%, foram geradas para temperaturas


ambiente de 16 e 32 °C e rotações do compressor de 2500 e 3600 rpm com o objetivo de
analisar o desempenho do sistema montado com a EEV. Analogamente, quatro
superfícies também foram criadas para o sistema montado com o tubo capilar, mas nesse
caso com variações de diâmetro interno entre 0,55 e 0,85 mm. Em todas as simulações
assumiu-se Tfz = -18 °C e Tff = 4 °C, como previsto pela nova norma.
Gráficos tridimensionais de consumo de energia em função de carga e restrição
foram plotados através do método Multi-Quadratic Radial Basis Function Interpolation.
Tal método consiste na interpolação multidimensional de dados dispersos através da
solução de um conjunto de n equações (sendo n o número de pontos) para prever a melhor
função de ajuste com base em fatores de peso e de parâmetros de suavização. Assim, nos
mapas a seguir, cada curva de contorno representa uma região de consumo de energia
constante, onde o gradiente de cores indica a escala de valores.
Uma análise geral revela que, dentre todos os cenários, os menores valores de
consumo de energia podem ser alcançados com diversas combinações de restrição do
dispositivo de expansão e carga de fluido refrigerante, tal qual observado por Boeng
(2012). Há uma tendência também de que os valores ótimos (ou mínimos) sejam obtidos
para maiores cargas e maiores restrições (canto superior esquerdo dos gráficos), como
mostrado na Figura 6.38. Cargas maiores são benéficas, pois diminuem o
superaquecimento no evaporador. Mas, por outro lado, podem elevar a temperatura de
evaporação para valores indesejados, comprometendo a capacidade de refrigeração.
Sendo assim, para compensar, alia-se a alta carga a uma maior restrição. Poder-se-ia
pensar, então, em operar nas condições representadas pelo canto inferior direito do
gráfico, isto é, menores cargas e menores restrições, uma vez que o efeito sobre a
evaporação seria similar. Tomando como exemplo os dois pontos mostrados na Tabela
6.16, referentes à Figura 6.38, tem-se evaporações próximas, mas com consumos de
energia bastante diferentes. Um dos pontos representa o consumo ótimo geral (carga de
65 g e restrição de 0,58 mm, canto superior esquerdo) e o outro a menor carga e a menor
restrição, ou seja, no canto inferior direito (carga de 35 g e restrição de 0,85 mm). A
explicação fica mais clara analisando-se os dois casos no diagrama P x h mostrado na
Figura 6.39.
Resultados 133

65 47,95

60

Carga de refrigerante [g]


55

50 41,05

45

40

34,14
35
0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85
Diâmetro interno do tubo capilar [mm]
Figura 6.38 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 32 °C e Nk = 3600 rpm

Tabela 6.16 – Comparativo entre diferentes combinações de restrição e carga

Parâmetro Canto superior esquerdo Canto inferior direito


Carga, g 65 35
Diâmetro interno, mm 0,58 0,85
Evaporação, °C -29,0 -28,8
Condensação, °C 53,6 46,2
Superaquecimento, °C 4,2 8,7
Sub-resfriamento, °C 10,8 0,0
Vazão, kg/h 1,75 1,74
Potência, W 92,6 89,3
Capacidade, W 148,3 119,2
Consumo, kWh/mês 34,09 42,35

Com pouca carga há menos massa de refrigerante para absorver calor no


evaporador, o que se reflete numa menor capacidade de refrigeração. Com mais carga,
tem-se mais sub-resfriamento na entrada do capilar e, consequentemente, menor título na
entrada do evaporador. Como nos dois casos o superaquecimento é da mesma ordem de
grandeza, ou seja, entalpia similar na saída do evaporador, o efeito do título na sua entrada
tem forte impacto sobre a capacidade. Observa-se que mesmo com uma potência
Resultados 134

levemente inferior, devido à menor temperatura de condensação, o ciclo de menor carga


apresentou um consumo maior, pois a perda de capacidade superou a redução de potência.

x 105
50,0
M = 65 g e Di,cap = 0,58 mm

M = 35 g e Di,cap = 0,85 mm

10,0 Entrada do capilar


Pressão [Pa]

1,0

Entrada do evaporador Saída do evaporador

0.2 0.4 0.6 0.8

0,1
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Entalpia [J/kg] x 103
Figura 6.39 – Comparação entre carga e restrição altas e carga e restrição baixas

Adicionalmente, verificou-se que graus de superaquecimento e sub-resfriamento


nulos na saída do evaporador e do condensador, respectivamente, nem sempre são
sinônimos de consumo de energia ótimo. Uma prática comum na indústria é ajustar carga
e expansão para zerar tais parâmetros e garantir uma troca de calor com mudança de fase
ao longo de toda a extensão das serpentinas. No entanto, não adianta ter Sup = 0 se isso
se traduzir em altas temperaturas de evaporação, ou mistura bifásica na saída do
evaporador. Analogamente, não vale a pena ter Sub = 0 se isso significar vapor na entrada
do dispositivo de expansão, pois a vazão mássica será reduzida pela presença de bolhas
no escoamento. A Tabela 6.17 e a Figura 6.40 ilustram os menores consumos de energia
obtidos para cada combinação de temperatura ambiente e rotação do compressor. Notam-
se graus de sub-resfriamento relativamente altos, principalmente no produto com EEV, o
que se deve à presença da linha de líquido, a qual resfria o refrigerante antes da expansão.
Além disso, como o processo de expansão é isentálpico, é de se esperar um sub-
resfriamento maior no sistema com a EEV, para garantir uma capacidade de refrigeração
similar à obtida com o tubo capilar, onde a expansão ocorre com extração de calor e
diminuição de entalpia.
Resultados 135

Tabela 6.17 – Consumos de energia ótimos globais


Consumo Carga Restrição Sup Sub
Cenário
[kWh/mês] [g] [% ou mm] [°C] [°C]
EEV, 32 °C, 3600 rpm 38,52 65 40% 7,0 34,8
EEV, 32 °C, 2500 rpm 33,88 65 35% 4,5 33,6
EEV, 16 °C, 3600 rpm 18,68 65 55% 4,5 28,9
EEV, 16 °C, 2500 rpm 16,43 65 45% 6,5 27,5
Cap, 32 °C, 3600 rpm 34,09 65 0,58 mm 4,2 10,8
Cap, 32 °C, 2500 rpm 31,04 65 0,55 mm 5,9 10,8
Cap, 16 °C, 3600 rpm 15,98 60 0,64 mm 4,8 7,7
Cap, 16 °C, 2500 rpm 14,26 58 0,62 mm 2,8 4,5

Vale ressaltar que na análise acima os graus de superaquecimento e sub-


resfriamento foram definidos da seguinte forma:

Sup  T5  Te (6.6)

Sub  Tc  Texp,in (6.7)

onde Texp,in representa a temperatura na entrada do dispositivo de expansão, que, no caso


do sistema com EEV, é dada pela temperatura na saída da linha de líquido.

45
Consumo de energia
40 Sub-resfriamento
Sup e Sub [°C], CE [kWh/mês]

Superaquecimento
35

30

25

20

15

10

0
32 °C 32 °C 16 °C 16 °C 32 °C 32 °C 16 °C 16 °C
3600 rpm 2500 rpm 3600 rpm 2500 rpm 3600 rpm 2500 rpm 3600 rpm 2500 rpm

EEV Tubo capilar


Figura 6.40 – Consumos de energia ótimos globais
Resultados 136

Outra constatação comum a todos os cenários é que, independentemente da


temperatura ambiente, quando rotação é reduzida de 3600 para 2500 rpm, o ponto ótimo
de consumo de energia tende a ser levemente deslocado para esquerda, ou seja, para
maiores restrições do dispositivo de expansão. Isso ocorre porque o sistema perde
capacidade de refrigeração em rotações mais baixas, fazendo com que a temperatura de
evaporação aumente e a fração de funcionamento do compressor suba. Assim,
restringindo-se a expansão, tem-se uma a queda de pressão mais acentuada através do
dispositivo, o que leva a uma menor temperatura de evaporação. Nesses casos, o
dispositivo de expansão mais restrito também causa uma redução de vazão mássica que,
por sua vez, contribui para uma menor potência consumida pelo compressor. Para o
sistema com tubo capilar na temperatura de 32 °C, por exemplo, admitindo uma carga de
60 g, tem-se uma mudança no diâmetro ótimo de 0,58 para 0,55 mm quando a rotação é
alterada de 3600 para 2500 rpm, respectivamente. Essa mudança de restrição em
2500 rpm levaria então a uma redução de 5% no consumo de energia (ver Figura 6.41).
No caso do sistema com a EEV, considerando uma temperatura ambiente de 16 °C, carga
de 60 g e rotação de 3600 rpm (ver Figura 6.42), tem-se uma abertura ótima de 55%.
Nesse cenário, quando a rotação é reduzida a 2500 rpm (ver Figura 6.43), a nova abertura
ótima passa a ser de 50%, o que representa uma redução de 10% de consumo de energia
em relação ao consumo que seria obtido caso a abertura original fosse mantida.

65
46

60
Carga de refrigerante [g]

55

38,78
50

45

40

31,19
35
0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85
Diâmetro interno do tubo capilar [mm]
Figura 6.41 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 32 °C e Nk = 2500 rpm
Resultados 137

65
31,6

60

Carga de refrigerante [g]


55

25,31
50

45

40

18,71
35
20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura da válvula [%]
Figura 6.42 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 16 °C e Nk = 3600 rpm

65
34

60
Carga de refrigerante [g]

55

25,5
50

45

40

16,49
35
20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura da válvula [%]
Figura 6.43 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 16 °C e Nk = 2500 rpm

Além disso, verificou-se que para uma temperatura ambiente fixa é possível obter
um consumo próximo do ótimo ajustando-se carga e restrição independentemente da
rotação do compressor, algo de particular interesse da indústria do setor de refrigeração
doméstica. Para o sistema com tubo capilar a 32 °C de ambiente, por exemplo, é possível
obter um consumo satisfatório tanto para 2500 como para 3600 rpm considerando em
Resultados 138

ambos os casos a mesma carga de 50 g e o mesmo diâmetro interno de 0,60 mm.


Similarmente, para o sistema com a EEV pode-se trabalhar de maneira eficiente nas duas
rotações utilizando carga e abertura de válvula fixos em 55 g e 35% (ver Figuras 6.44 e
6.45), respectivamente.

65
70,83

60
Carga de refrigerante [g]

55

55,46
50

45

40

39,31
35
20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura da válvula [%]
Figura 6.44 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 32 °C e Nk = 3600 rpm

65
51,02

60
Carga de refrigerante [g]

55

42,5
50

45

40

34,03
35
20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fração de abertura da válvula [%]
Figura 6.45 – Consumo de energia: sistema com EEV, Ta = 32 °C e Nk = 2500 rpm
Resultados 139

Tais situações podem ser mais facilmente entendidas sobrepondo-se os contornos


que delimitam as regiões azuis de cada gráfico. É interessante notar que há uma pequena
região de intersecção no caso do sistema com EEV, onde é possível obter com apenas
uma configuração de abertura e carga um consumo otimizado independentemente não só
da rotação, mas também da temperatura ambiente (ver Figura 6.46). Essa intersecção
também é vista no sistema com o tubo capilar (ver Figura 6.47), mas sem atender a
condição de temperatura ambiente de 16 °C e rotação de 3600 rpm.

Figura 6.46 – Intersecção dos contornos de menor consumo: sistema com EEV

Figura 6.47 – Intersecção dos contornos de menor consumo: sistema com capilar
Resultados 140

Deve-se ter em mente, no entanto, que os contornos realçados anteriormente não


fornecem exatamente os menores consumos globais, mas sim uma região sub-ótima, que
atende às diferentes condições de operação. Sendo assim, o par capilar-carga ajustado
numa temperatura ambiente pode não ser o melhor para a outra, como evidenciado pelas
Figuras 6.38 e 6.48, e Figuras 6.41 e 6.49. Para a temperatura ambiente de 32 °C, rotação
de 3600 rpm e carga de 50 g, por exemplo, o melhor diâmetro de capilar foi o de 0,60
mm, enquanto para a mesma carga e rotação, mas ambiente a 16 °C, o diâmetro ótimo foi
de aproximadamente 0,67 mm (ver Figura 6.48). Seria possível, então, um ganho de 10%
no consumo de energia caso o diâmetro do tubo capilar pudesse ser alterado. Essa é
justamente uma das motivações para a aplicação de uma válvula, já que para uma mesma
carga de refrigerante, pode-se alterar a restrição para minimizar o consumo de energia em
função da variação de carga térmica.

65 20,63

60
Carga de refrigerante [g]

55

18,34
50

45

40

16,03
35
0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85
Diâmetro interno do tubo capilar [mm]
Figura 6.48 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 16 °C e Nk = 3600 rpm
Resultados 141

65
17,94

60

Carga de refrigerante [g]


55

16,15
50

45

40

14,33
35
0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85
Diâmetro interno do tubo capilar [mm]
Figura 6.49 – Consumo de energia: sistema com capilar, Ta = 16 °C e Nk = 2500 rpm

Repara-se que até agora não foi feita nenhuma comparação direta entre os sistemas
com e sem EEV. A pergunta que surge é: será que o ciclo de um refrigerador montado
com uma válvula pode de fato fornecer menores consumos de energia que o ciclo de um
sistema com tubo capilar? Um paralelo entre os respectivos mapas de performance mostra
que não. Em geral, os consumos de energia obtidos com o sistema com EEV foram
superiores aos obtidos com o sistema com tubo capilar. Como mostrado na Tabela 6.17,
os consumos ótimos obtidos com a EEV são em média 11,9% superiores aos alcançados
com o tubo capilar. Uma das diferenças relevantes entre tais configurações é a carga
térmica gerada pelo módulo da EEV, a qual é inexistente no sistema com capilar. É
importante mencionar ainda que o módulo da EEV tem um impacto duplamente negativo
no consumo de energia, pois além da carga térmica há o consumo de potência. No entanto,
a potência não foi considerada nas análises em questão. Simulando novamente os casos
da Tabela 6.17, mas desconsiderando o calor gerado pela válvula, chega-se a uma
diferença média em relação ao sistema com tubo capilar de 4,3% de consumo de energia.
Se, além disso, o comprimento do trocador de calor interno for otimizado, tal diferença
diminui ainda mais. Aumentando-se o comprimento de 1,8 m para 3,0 m, atinge-se a uma
diferença média de 2,3% (ver Figura 6.50).
Resultados 142

45
EEV c/ Qeev <> 0 e Lihx = 1,8 m
40 EEV c/ Qeev = 0 W e Lihx = 1,8 m

Consumo de energia [kWh/mês]


3,6%
EEV c/ Qeev = 0 W e Lihx = 3 m
35 1,4% Tubo capilar
30

25

20 1,2%
2,8%
15

10

0
32 °C, 3600 rpm 32 °C, 2500 rpm 16 °C, 3600 rpm 16 °C, 2500 rpm

Figura 6.50 – Comparação entre os consumos ótimos nos sistemas com e sem EEV

Nota-se que mesmo com as modificações anteriores, o sistema montado com a


EEV ainda forneceu consumos de energia levemente superiores aos observados no
sistema com o tubo capilar. Contudo, como mencionado anteriormente, é possível, para
uma carga de refrigerante fixa, alterar a fração de abertura da válvula para que o consumo
de energia seja minimizado caso a temperatura ambiente ou a rotação do compressor
mudem. Isto é, uma vez que o refrigerador foi projetado, a carga de refrigerante não pode
mais ser modificada e, no caso do sistema com capilar, o seu diâmetro interno também
não. Como os dados da Tabela 6.17 fornecem cargas e restrições diferentes para o sistema
com tubo capilar em função da temperatura ambiente e rotação do compressor, para tornar
a comparação mais justa, definiu-se que tanto a massa de refrigerante como o diâmetro
interno do tubo capilar são fixos e iguais àqueles ajustados para Ta = 32 °C e
Nk = 3600 rpm, que são as condições nominais de projeto do refrigerador. A comparação
final passa a ser a mostrada na Figura 6.51.
Uma das formas de mostrar algum ganho do sistema com EEV em relação ao
montado com tubo capilar é comprovando que a redução de consumo de energia obtida
pela variação de restrição, quando a temperatura ambiente ou rotação do compressor
forem diferentes dos valores nominais, é superior à diferença média mostrada
anteriormente. A comparação final é apresentada na Tabela 6.18. Como esperado, o
sistema montado com tubo capilar teve desempenho superior ao com EEV apenas para
Ta = 32 °C e Nk = 3600 rpm. Neste caso, o tubo capilar conseguiu alimentar
Resultados 143

adequadamente o evaporador, fornecendo um superaquecimento de 4,2 °C contra 7,8 °C


da EEV, e uma capacidade de 148,3 W contra 138,8 W. Como as potências foram
similares (92,5 W contra 88,7 W), o sistema com tubo capilar teve melhor desempenho.
O interessante é que fora das condições de projeto, o sistema montado com a EEV
consumiu entre 4 e 9% menos energia que o sistema com tubo capilar, justamente pela
variação da restrição. Para a temperatura ambiente de 32 °C e rotação de 2500 rpm, por
exemplo, tanto o sub-resfriamento como o superaquecimento foram nulos no sistema com
tubo capilar. Porém, isso se traduziu num título de 0,02 na entrada do capilar e 0,79 na
saída do evaporador, resultando numa capacidade 4% menor que a obtida com o sistema
com EEV. Para a abertura em questão, a vazão mássica foi menor no sistema com EEV,
o que se refletiu numa menor potência. Assim, os fatores combinados levaram a um
consumo 8,3% menor. Para o cenário de temperatura de 16 °C e rotação de 3600 rpm, por
sua vez, apesar de não haver título na entrada do capilar, a restrição imposta levou a um
superaquecimento excessivo (16,2 °C contra 6,1 °C) e uma razoável redução de vazão
(1,3 contra 1,7 kg/h). Tais fatores contribuíram para que a capacidade de refrigeração do
sistema com tubo capilar fosse aproximadamente 19% menor em relação a do sistema
com EEV (121,8 W contra 149,8 W). Mesmo com a potência consumida pelo refrigerador
com EEV sendo 13% maior (82,0 W contra 72,5 W), a relação capacidade/potência
(COP) foi favorável. As Tabelas 6.19 e 6.20 mostram respectivamente os valores de
capacidade de refrigeração e potência total para cada caso.

Figura 6.51 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV

Percebe-se, então, a importância da alimentação adequada do evaporador, e que


isso não necessariamente significa superaquecimento nulo. Deve-se frisar, no entanto,
que todas as análises aqui discutidas são dependentes do produto em estudo. Assim,
Resultados 144

ensaios similares devem ser conduzidos com outros refrigeradores, pois as diferenças
percentuais observadas podem variar de um produto para outro.

Tabela 6.18 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV: consumo

Com EEV (M = 65 g) Com capilar (M = 65 g)


Diferença
Cenário Restrição Consumo Restrição Consumo [%]
[%] [kWh/mês] [mm] [kWh/mês]
32 °C, 3600 rpm 40 35,37 0,58 34,09 3,6
32 °C, 2500 rpm 35 31,48 0,58 34,10 -8,3
16 °C, 3600 rpm 55 16,18 0,58 17,61 -8,9
16 °C, 2500 rpm 45 14,67 0,58 15,27 -4,1

Tabela 6.19 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV: capacidade

Com EEV (M = 65 g) Com capilar (M = 65 g)


Diferença
Cenário Restrição Capacidade Restrição Capacidade [%]
[%] [W] [mm] [W]
32 °C, 3600 rpm 40 138,8 0,58 148,3 -6,8
32 °C, 2500 rpm 35 120,4 0,58 115,6 4,0
16 °C, 3600 rpm 55 149,8 0,58 121,8 18,7
16 °C, 2500 rpm 45 123,4 0,58 114,8 7,0

Tabela 6.20 – Comparação final entre os sistemas com e sem EEV: potência

Com EEV (M = 65 g) Com capilar (M = 65 g)


Diferença
Cenário Restrição Potência Restrição Potência [%]
[%] [W] [mm] [W]
32 °C, 3600 rpm 40 88,7 0,58 92,6 -4,3
32 °C, 2500 rpm 35 66,8 0,58 69,0 -3,4
16 °C, 3600 rpm 55 82,0 0,58 72,5 11,5
16 °C, 2500 rpm 45 59,6 0,58 58,1 2,6
7. Conclusões
7.1. Considerações finais

Um estudo de caráter inédito foi apresentado neste documento com o objetivo de


investigar a aplicabilidade de válvulas de expansão eletrônicas em sistemas domésticos
de refrigeração. A busca na literatura aberta mostrou que não há trabalhos que tenham
caracterizado válvulas especificamente construídas para atender as necessidades de um
refrigerador doméstico. A maioria dos trabalhos encontrados focou em sistemas de grande
porte, onde não só o fluido refrigerante, mas também as condições de vazão, pressão e
capacidade de refrigeração são diferentes. Apenas um trabalho analisou o efeito de uma
válvula de expansão eletrônica num sistema doméstico, mas o fluido refrigerante era o
HFC-134a e tratava-se de uma válvula pulsante e com orifício superdimensionado.
Uma análise experimental preliminar das válvulas foi realizada com o auxílio de
uma bancada de medição de vazão de nitrogênio. Os resultados permitiram obter a
geometria dos tubos capilares que seriam equivalentes às válvulas e com isso foi possível
afirmar que elas realmente se comportam como tubos capilares com diâmetro e
comprimento encontrados em refrigeradores domésticos. Adicionalmente, para
corroborar tal conclusão, uma estimativa da vazão mássica de refrigerante e da capacidade
de refrigeração do sistema operando com tais válvulas foi feita, onde se comprovou que
a faixa de variação de tais parâmetros condiz com os valores observados na prática.
A fim de caracterizar o escoamento de fluido refrigerante através das válvulas,
outra bancada foi especialmente construída para tal finalidade. O aparato foi capaz de
controlar a temperatura de condensação em valores tão baixos quanto 25 °C e a
temperatura de evaporação em patamares tão altos como os da própria temperatura de
condensação. Deve-se frisar também que, embora o presente estudo tenha se concentrado
na caracterização de um tipo específico de válvula, o aparato construído pode ser utilizado
para medições com diversos outros tipos de dispositivos de expansão, como válvulas
termostáticas, restritores (short tube orifices) e tubos capilares adiabáticos de pequeno
comprimento.
Os resultados com a válvula de maior orifício submetida ao escoamento de HC-
600a mostraram que ela é realmente capaz de suprir os diferenciais de pressão tipicamente
Conclusões 146

encontrados em refrigeradores domésticos, sem a necessidade de um tubo capilar


instalado em série. Ou seja, a válvula consegue, sozinha, expandir o fluido refrigerante a
pressões de evaporações baixas o suficiente para atender as temperaturas desejadas no
interior dos compartimentos refrigerados. Além disso, os ensaios revelaram que o
dispositivo é pouco sensível a variações de sub-resfriamento e que o escoamento é
blocado para a maioria das condições de operação observadas na prática. Curvas
completas de vazão em função da temperatura de evaporação foram geradas, incluindo
condições de escoamento não-blocado, o que é inédito na literatura. A partir de tais testes,
uma correlação do tipo  foi proposta para o coeficiente de vazão e validada dentro de
uma banda de ±10% de erro.
As estimativas de vazão de refrigerante obtidas a partir dos testes com nitrogênio
foram, então, comparadas aos valores reais obtidos com a bancada de HC-600a e erros
dentro de uma faixa de ±20% foram observados. A análise com nitrogênio não substitui,
portanto, os ensaios com refrigerante, mas fornece uma boa estimativa preliminar do
envelope de aplicação das válvulas. Verificou-se que isso se deve principalmente às
diferenças construtivas entre tubo capilar e válvula e a aspectos físicos por trás do
escoamento de refrigerante através de ambos.
Por fim, ensaios foram realizados com dois refrigeradores domésticos para avaliar
o efeito do dispositivo de expansão sobre o consumo de energia numa aplicação real.
Testes foram feitos com o sistema montado tanto com o tubo capilar original como com
a válvula mais promissora e uma análise comparativa, subsidiada por um modelo
matemático, foi realizada.
O modelo matemático para simular o refrigerador foi desenvolvido em regime
permanente e mostrou-se capaz de captar o efeito não só da expansão como também da
carga de refrigerante sobre o consumo de energia, algo complexo e raro na literatura
(Klein, 1998). O exercício de validação evidenciou uma boa concordância entre dados
experimentais e numéricos, com erros dentro de uma faixa de ±15% para os parâmetros
mais relevantes.
Mais de mil casos foram rodados para gerar superfícies que expressam o consumo
de energia do refrigerador em função da carga de refrigerante (entre 35 e 65 g), da
restrição do dispositivo de expansão (entre 25 e 95% para a EEV e 0,55 e 0,85 mm para
o tubo capilar), temperatura ambiente (32 e 16 °C) e rotação do compressor (3600 e 2500
rpm). Os resultados mostraram que nem sempre superaquecimento nulo na saída do
evaporador significa melhor desempenho. Observou-se também que cargas e restrições
Conclusões 147

maiores levam a menores consumos de energia. Além disso, notou-se que é possível
ajustar o par carga-restrição independentemente da rotação do compressor.
Adicionalmente, verificou-se que se pode reduzir o consumo de energia alterando-se a
restrição do dispositivo de expansão quando a temperatura ambiente ou a rotação
variarem, algo impossível em sistemas montados com tubos capilares. O sistema montado
com a EEV, no entanto, apresentou consumos superiores aos observados com o sistema
montado com o tubo capilar para a maioria das condições, o que foi atribuído
principalmente à arquitetura do ciclo e à carga térmica gerada pela EEV. Contudo,
aumentando-se o comprimento do trocador de calor interno e admitindo-se que a geração
de calor do módulo da EEV pode ser otimizada, observou-se que o sistema montado com
a EEV apresentou consumos de energia entre 4 e 9% mais baixos que os do sistema com
tubo capilar, onde a restrição era fixa. É importante enfatizar, no entanto, que, por mais
que o modelo matemático indique benefícios da válvula em algumas situações e que as
tendências simuladas tenham significado físico, as diferenças percentuais de consumo de
energia encontradas para os sistemas com e sem EEV são relativamente pequenas e, do
ponto de vista prático, estão próximas das incertezas experimentais (Thiessen et al.,
2016). Por fim, deve-se ressaltar que as análises realizadas são produto-dependentes, ou
seja, as diferenças de consumo de energia aqui obtidas podem ser diferentes em outro
refrigerador.

7.2. Sugestões para trabalhos futuros

Apesar dos avanços e descobertas do presente trabalho, algumas lacunas ainda


não foram preenchidas. Nesse sentido, as seguintes sugestões foram deixadas para
trabalhos futuros:

 Realizar testes em bancada submetendo as EEVs ao escoamento bifásico de HC-


600a. Com isso, readequar a correlação para o coeficiente de vazão;
 Conduzir mais ensaios com o refrigerador com o intuito de verificar
experimentalmente as análises paramétricas realizadas com o modelo matemático;
 Implementar um modelo transiente para o sistema de refrigeração, de modo a
captar as diferentes lógicas de controle de damper, ventilador e compressor
observadas na atualidade, além do impacto de perdas cíclicas e da variação da
abertura da válvula ao longo do tempo;
Conclusões 148

 Modelar a variação de pressão ao longo do comprimento da válvula utilizando a


teoria de ondas de evaporação;
 Desenvolver uma estratégia de medição da fração de vazio para o escoamento
evaporativo de HC-600a em baixas pressões utilizando técnicas de tomografia;
 Simular o efeito da temperatura do ar no interior dos compartimentos na escolha
do par carga-restrição que minimiza o consumo de energia;
 Avaliar o potencial da válvula como um dispositivo de retenção, ou como
chamada na prática, uma check valve. A EEV, além de permitir a variação da
restrição em função de carga térmica e rotação, poderia ser utilizada para bloquear
a migração de fluido quente do condensador para o evaporador quando o
compressor desliga;
 Testar uma lógica de controle capaz de variar a abertura da válvula
automaticamente em função da carga térmica, de modo a minimizar o consumo
de energia e o tempo de pulldown;
 Repetir em outros refrigeradores domésticos os testes e as análises aqui realizadas.
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Referências Bibliográficas 160

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ZHIFANG, X., LIN, S., HONGFEI, O., 2008. Refrigerant flow characteristics of
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experiment. Applied Thermal Engineering, v. 28(2-3), p. 238-243.
Apêndice I – Transdutor de vazão
Como já mencionado, o transdutor de vazão mássica utilizado neste trabalho é do
tipo Coriolis e foi instalado na linha de descarga do compressor para garantir a presença
de fluido monofásico. Sua calibração foi realizada com o auxílio de um aparato construído
exclusivamente para tal finalidade, como mostrado na Figura I.1.

Figura I.1 – Esquema da bancada para calibração do transdutor de vazão mássica

A bancada consiste essencialmente em dois circuitos paralelos de água, onde a


circulação é promovida pela ação de uma bomba de palhetas acionada por um motor
elétrico de rotação variável. A água é succionada do reservatório de um banho
termostático, passa por um filtro de impurezas, por uma válvula micrométrica e, por fim,
é direcionada ao medidor de vazão para que a leitura da tensão correspondente seja feita.
Antes de iniciar a medição, a água é forçada a escoar apenas num dos circuitos paralelos,
percorrendo um ciclo fechado da entrada para a saída do banho termostático. Assim que
a leitura do medidor estabiliza, uma válvula de três vias é ativada e o fluxo é desviado
para o outro circuito. A água é, então, descarregada num recipiente posicionado sobre
uma balança de precisão, onde a massa de água (∆M) é coletada num dado intervalo de
tempo (∆t). Assim, a vazão mássica é obtida pela razão entre ∆M e ∆t. A variação da
vazão para a obtenção de cada ponto da calibração é feita mediante a alteração da rotação
do motor da bomba e/ou da abertura da válvula micrométrica. Ao término de cada ponto,
Apêndice I – Transdutor de vazão 162

a massa coletada é redirecionada ao banho termostático através de uma válvula solenoide


posicionada abaixo do recipiente da balança. A válvula de três vias é então desativada e
a água volta a circular em circuito fechado até uma nova estabilização.
No presente trabalho, o conversor foi configurado para fornecer um sinal de
corrente de 4 a 20 mA linearmente proporcional ao fundo de escala escolhido, de 0 a
6 kg/h. O sinal de tensão correspondente, registrado no sistema de aquisição de dados, foi
obtido mediante a instalação de um resistor de 220,16 Ω (medido a quatro fios). Os
resultados do processo são mostrados na Tabela I.1 e na Figura I.2.

Tabela I.1 – Resultados da calibração do transdutor de vazão mássica

Ponto Tensão [V] ∆t [h] ∆M [kg] Vazão [kg/h]


0 0,8805 - 0,000 0,000
1 1,1711 0,069722 0,035 0,498
2 1,4877 0,042500 0,044 1,034
3 2,0514 0,034722 0,069 1,995
4 2,6469 0,024167 0,073 3,022
5 3,2325 0,030833 0,123 3,998
6 3,8257 0,030556 0,154 5,033
7 4,4116 0,040556 0,243 5,999

Figura I.2 – Curva de calibração do transdutor de vazão mássica


Apêndice I – Transdutor de vazão 163

Nota-se que a curva ajustada experimentalmente é linear (R2 = 0,99998) e


praticamente coincidente com a apresentada pelo fabricante, o que comprova o sucesso
da calibração. Seguem abaixo a curva de calibração e a fornecida pelo fabricante:

m  1, 702126V  1, 495637 (I.1)


m  1, 703307V  1,500000 (I.2)
Apêndice II – Transdutores de pressão
Os transdutores utilizados para medir as pressões absolutas a montante e jusante
da válvula são do tipo Strain Gauge, com faixas de 0 a 10 bar e 0 a 20 bar. A aferição dos
mesmos foi feita empregando-se um barômetro de coluna e uma máquina de peso porto.
O barômetro é do modelo 5110.2000, fabricado pela empresa Theodor Friedrichs, com
uma incerteza de ±1 hPa. A máquina de peso morto, por sua vez, é do modelo 580,
fabricada pela DH Budenberg (ver Figura II.1).

Figura II.1 – Máquina de peso morto

Os valores de pressão absoluta utilizados como referência para a calibração de


cada transdutor são obtidos adicionando-se a pressão atmosférica, medida com o
barômetro, à pressão exercida por massas padronizadas de aço inox alocadas sobre a
máquina de peso morto. Esta última deve ser corrigida pela equação abaixo, fornecida
pelo fabricante, para levar em conta possíveis efeitos de variação da gravidade e dilatação
térmica das massas em função da temperatura.

g
Pc  Pn 1 α20 T  (II.1)
9,80665

onde Pc é a pressão real, ou corrigida, Pn é a pressão nominal, α é o coeficiente de correção


térmica (1,65.10-5/ºC), T é a temperatura ambiente (~23 ºC) e g é a gravidade local
(9,791 ± 0,001 m/s2, de acordo com o Observatório Nacional).
Apêndice II – Transdutores de pressão 165

Os transdutores possuem uma sensibilidade de 2 mV/V e são alimentados com


uma tensão contínua de 12 V. Então, fornecem um sinal de 0 a 24 mV, linearmente
proporcional ao fundo de escala. Assim como para o transdutor de vazão mássica, as
curvas ajustadas experimentalmente apresentaram comportamento linear, ambas com R2
próximo de 1. Seguem abaixo as curvas de calibração dos transdutores de 10 e 20 bar:

P  414,630385V  0,098819 (II.1)

P  829,073977V  0,161786 (II.2)


Apêndice III – Incertezas de medição
O cálculo das incertezas de medição dos principais parâmetros envolvidos na
análise das EEVs na bancada de HC-600a foi feito com base nas recomendações do guia
do INMETRO (2003) e é discutido a seguir. Para tanto, os parâmetros foram divididos
em dois tipos: os medidos diretamente e os medidos indiretamente.

III.1. Parâmetros medidos diretamente

As variáveis medidas de maneira direta são aquelas determinadas pela indicação


do respectivo sensor, e não dependem da medição de outro parâmetro para o seu cálculo.
A temperatura, a pressão e a vazão mássica são os parâmetros medidos diretamente no
presente trabalho. A incerteza combinada, uc, de uma variável genérica y medida
diretamente, deve-se à incerteza inerente do sistema de medição (comumente fornecida
pelo fabricante), us, e à incerteza padrão das observações, uo. Caso y seja invariável com
o tempo, uo é dada por:

uo  D p n (III.1)

onde Dp é o desvio padrão de y e n o número de medições.

Se o parâmetro variar com o tempo, a incerteza padrão das observações é o próprio


desvio padrão:

uo  D p (III.2)

Assim, uc é finalmente obtida por:

u c  y   u s2  u o2 (III.3)

As incertezas inerentes dos sensores de medição são fornecidas na Tabela III.1.


Apêndice III – Incertezas de medição 167

Tabela III.1 – Incertezas inerentes dos sensores de medição

Parâmetro Incerteza, us
Pressão de condensação 0,02 bar
Pressão de evaporação 0,01 bar
Temperatura na entrada da EEV 0,2 °C
Vazão mássica 0,1% da leitura

III.2. Parâmetros medidos indiretamente

As variáveis medidas indiretamente são aquelas calculadas a partir de medições


de duas ou mais variáveis medidas diretamente. No presente trabalho, o coeficiente de
vazão das válvulas, Cv, foi considerado um parâmetro medido indiretamente, pois é
calculado através da equação do orifício em função das pressões de evaporação e
condensação, da densidade do refrigerante na entrada e da vazão mássica.
Admitindo que as variáveis utilizadas no cálculo do parâmetro indireto não sejam
correlacionadas, a incerteza combinada, uc, de uma variável y é dada pela lei de
propagação de incertezas:

2
n
 y 
u c  y   f x1 , x 2 ...x n     u xi  (III.4)
i 1  x i 

sendo xi as variáveis diretas e u(xi) suas respectivas incertezas combinadas.

III.3. Cálculo da incerteza expandida do coeficiente de vazão

Por fim, a incerteza expandida, U, do coeficiente de vazão é calculada


multiplicando-se sua incerteza combinada, uc, pelo coeficiente de Student, k, considerado
igual a 2 para 95% de probabilidade em todos os casos. Como já mencionado, Cv depende
das duas pressões, da densidade do refrigerante na entrada da EEV e da vazão mássica:

m
Cv  (III.5)
AY 2 eev ,in Pc X *
Apêndice III – Incertezas de medição 168

onde X* é função das pressões e Y é função de X*.

A equação para U toma, então, a seguinte forma:

2 2 2 2
 C   Cv   C   C 
U  k  v u  m     u  eev ,in     v u  Pc     v u  Pe   (III.6)
 m   eev ,in   Pc   Pe 

onde a densidade também é um parâmetro medido indiretamente, pois é função tanto da


temperatura como da pressão na entrada da válvula. Vale ressaltar que a incerteza
relacionada à área do orifício também deveria ser incluída no cálculo anterior, mas como
a medição de tal parâmetro seria destrutiva, optou-se por não a realizar.

Com o auxílio do software EES (Klein, 2019), as derivadas parciais da equação


anterior foram avaliadas numericamente e a incerteza expandida dos 138 pontos
experimentais foi calculada. Por conservadorismo, considerou-se a incerteza padrão das
observações dos parâmetros medidos diretamente, uo, igual ao seu próprio desvio padrão.
Como mostrado na Figura III.1, a maioria dos pontos apresentou valores inferiores a 5%.
Incertezas de até 25% foram observadas para alguns pontos de baixa vazão (menores que
0,5 k/h) e para pontos relativos a escoamento não-blocado, onde pequenas variações na
temperatura de evaporação podem levar a grandes erros de vazão mássica.

Figura III.1 – Incerteza de medição do coeficiente de vazão


Apêndice IV – Curvas do compressor
As Figuras IV.1 e IV.2 mostram o resultado da validação do modelo matemático
do compressor contra os dados de vazão mássica e potência obtidos dos experimentos
com o refrigerador. Verifica-se uma razoável concordância, com todos os pontos dentro
de uma banda de ±10% de erro. Os coeficientes regredidos pelo método dos mínimos
quadrados são listrados na Tabela IV.1.

Figura IV.1 – Validação do modelo do compressor: vazão

Figura IV.2 – Validação do modelo do compressor: potência


Apêndice IV – Curvas do compressor 170

Tabela IV.1 – Coeficientes do modelo matemático do compressor

Coeficiente Valor
a0 0,7292
a1 0,008197
b0 75,56
b1 1,017
b2 -33348
b3 -171644
d0 0,14
d1 0,7697
d2 0,3727
d3 -0.2798
e0 0,05879
e1 0,7738
e2 0,2098
e3 -0,04224
Apêndice V – Rede neural
A rede neural utilizada para simular o tubo capilar foi regredida contra cerca de
4400 pontos gerados pelo modelo de Hermes et al. (2008). Considerando que a rede tem
4 camadas, sendo a primeira (input layer) com 8 neurons, a segunda (hidden layer 1) com
10 neurons, a terceira (hidden layer 2) com 8 neurons e a quarta e última (output layer)
com mais 2 neurons, chegou-se a um total de 196 coeficientes, os quais são listados nas
Tabelas V.1 a V.6. A rede foi validada contra os próprios dados gerados através do
modelo de Hermes et al. (2008) e também contra os dados experimentais de Melo et al.
(2002). A Figura V.1 mostra que a rede foi capaz de reproduzir com razoável
concordância os dados de vazão simulados com o modelo de Hermes et al. (2008),
estando a ampla maioria dos pontos situada numa faixa de ±10% de erro. Discrepâncias
maiores foram observadas apenas para vazões inferiores a 1 kg/h, dificilmente observadas
na prática. A entalpia na saída da linha de sucção, por sua vez, foi validada com erros
inferiores a 5% para todos os pontos (ver Figura V.2).

Figura V.1 – Validação da rede contra o modelo de Hermes et al. (2008): ṁ


Apêndice V – Rede neural 172

Figura V.2 – Validação da rede contra o modelo de Hermes et al. (2008): h6

Como mostrado na Figura V.3, o comparativo com os dados medidos por Melo et
al. (2002) evidenciou que a rede proposta também previu satisfatoriamente os valores de
vazão mássica, com erros inclusive similares aos obtidos por Hermes et al. (2008) para o
mesmo conjunto de dados. A temperatura na saída da linha de sucção, por sua vez, foi
validada dentro de uma banda de ±5 °C (ver Figura V.4).

Figura V.3 – Validação da rede contra dados de Melo et al. (2002): ṁ


Apêndice V – Rede neural 173

Figura V.4 – Validação da rede contra dados de Melo et al. (2002): T6

Tabela V.1 – Fatores de peso da input layer para a hidden layer 1

1 2 3 4 5 6 7 8
0,6635 -2,277 0,01624 0,1377 0,03158 0,05412 -0,1365 0,01642
-0,06555 0,1326 -0,002597 0,8458 -0,06597 0,02197 0,008425 0,0883
-0,03482 0,08644 -0,005496 1,416 -0,04598 0,05417 -0,02673 -0,07106
0,9932 0,978 -0,03357 -0,2544 -0,3949 -0,04921 0,1719 -0,003403
-1,045 3,825 -0,02278 -0,182 -0,1605 -0,03467 0,1321 -0,007544
-0,2088 0,4348 0,0008483 0,3829 -0,1692 -0,001429 0,1336 0,01418
-1,634 5,751 -0,03926 -0,04612 -0,05841 -0,2485 0,4212 0,07739
-0,4803 -0,1594 0,01027 0,06732 0,08587 0,004967 -0,03566 0,08338
-0,552 2,172 -0,0144 -0,02961 -0,01888 -0,09481 0,1469 0,007295
0,595 -0,6333 0,01438 0,2118 0,3929 -0,1357 0,06892 0,02287

Tabela V.2 – Biases da input layer para a hidden layer 1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0,2272 0,06117 -0,1624 0,7408 -0,1205 0,05776 -0,1531 -2,007 0,0985 -1,29
Apêndice V – Rede neural 174

Tabela V.3 – Fatores de peso da hidden layer 1para a hidden layer 2

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-0,1659 0,6677 0,3226 -0,6255 0,04231 -0,5571 -0,2124 -6,9 0,2096 0,04372
0,0325 1,418 -1,042 0,05227 0,2197 -0,5071 0,07632 -3,363 0,12 -0,4121
-0,2173 0,2395 -0,7146 0,754 -0,157 0,2488 0,5102 -1,011 -0,249 0,3478
-0,7592 0,3906 -0,1205 -0,01584 0,3149 0,03941 -0,03984 -1,996 -0,9813 0,6485
0,7791 0,05708 -0,5075 -0,2944 1,6 2,176 -1,093 0,4671 0,4072 0,217
0,9477 0,4278 -0,1929 0,3513 -0,9314 0,1738 0,4153 0,05793 0,04606 -0,3553
0,04883 -0,516 0,8927 0,5895 0,1159 -2,924 14,91 -1,429 -16,21 1,552
-0,9506 1,096 -0,8161 0,1592 -2,201 1,774 -15,04 2,422 17,01 -2,58

Tabela V.4 – Biases da hidden layer 1para a hidden layer 2

1 2 3 4 5 6 7 8
-6,516 -4,633 -0,7734 -0,8543 1,768 -0,04839 -4,335 4,905

Tabela V.5 – Fatores de peso da hidden layer 2 para a output layer

1 2 3 4 5 6 7 8
-0,5642 -0,1359 -0,4341 2,083 -3,198 0,2294 0,7353 1,105
1,749 1,505 0,7918 0,4289 1,248 0,5659 -0,003157 0,01766

Tabela V.6 – Biases da hidden layer 2 para a output layer

1 2
1,812 -0,355
Apêndice VI – Solubilidade
Como mencionado no Capítulo 5, o cômputo da massa de refrigerante dissolvida
no óleo da carcaça do compressor foi feito com base no conceito de solubilidade, onde:

  M ko  M ko  M o  (VI.1)

sendo Mko a massa de refrigerante no óleo e Mo a massa de óleo.

A solubilidade depende basicamente de dois parâmetros, a temperatura (Tk) e a


pressão do refrigerante (Pe). Assim, optou-se por correlacioná-la a partir dos dados de
Marcelino Neto e Barbosa (2010) da seguinte forma:

Pe3
   0 1Tk Pe  2Tk Pe3  3 2
 4 Pe3 (VI.2)
Tk

onde 0 = 0.0340285, 1 = 2.13448E-9, 2 = 3.14139E-20, 3 = 1.40986E-14 e 4 = -


4.39459E-18. A Figura VI.1 mostra que a correlação proposta foi capaz de captar
corretamente as tendências experimentais para todas as temperaturas e pressões avaliadas.

Figura VI.1 – Validação da correlação para solubilidade

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