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ORTODOXIA

e a Religião do Futuro
por Hieromonge Seraphim Rose

QUÃO ESTREITA é a PORTA, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o
encontram. Por seus frutos os conhecereis. Guardai-vos dos falsos profetas, que vem a vós com
vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Por seus frutos os conhecereis… nem todo
aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, senão o que faz a vontade de meu
Pai que está nos Céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu
nome, e em teu nome expulsamos demônios, e em teu nome fizemos muitos milagres? E então
lhes declararei: Nunca os conheci; apartai-vos de mim, fazedores de maldade. Qualquer, pois, que
me ouve estas palavras, e as pratica, lhe compararei a um homem prudente, que edificou sua casa
sobre a rocha.

[Mateus.7-14-16, 21-24]

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Conteúdo

Prefácio
Introdução

1. O “Diálogo com religiões Não-Cristãs” 7


2. Ecumenismo "cristão" e não cristão 11
3. “A Nova Era do Espirito Santo” 13
4. O Presente Livro 14

I. As Religiões “Monoteístas”. Nós temos o mesmo Deus que os Não-Cristãos têm? 16

II. O Poder dos deuses Pagãos: O Ataque do Hinduísmo ao Cristianismo. 20


1. As Atrações do Hinduísmo 20
2. A Guerra do Dogma 23
3. Lugares e práticas Hindus 24
4. Evangelizando o Ocidente 28
5. O Objetivo do Hinduísmo: A Religião Universal 31

III. O “Milagre” de um Faquir e a Oração de Jesus. 33

IV. A Meditação Oriental Invade o Cristianismo 37


1. “Yoga Cristã” 39
2. “Zen Cristão” 41
3. Meditação Transcendental 43

V. A “Nova Consciência Religiosa”. 48


O Espírito dos Cultos Orientais em 1970.

1. Hare Krishna em São Francisco 49


2. Guru Maharaj no Astrodome de Houston 50
3. Yoga Tântrico nas montanhas do Novo México 52
4. Treinamento Zen no norte da Califórnia 54
5. A Nova "espiritualidade" frente ao Cristianismo 57

VI. “Sinais do Céu:” 60


Um Entendimento Cristão Ortodoxo dos Objetos Voadores Não Identificados (Ovnis)

1. O Espirito da Ficção Científica 61


2. Avistamentos de Ovnis e a Investigação Científica Deles 64
3. Os Seis Tipos de Encontros com Ovnis 69

2
4. Explanação do Fenômeno OVNI 76
5. O significado de Ovnis 83

VII. A “Renovação Carismática” como um Sinal dos Tempos 87


1. O Movimento Pentecostal do Século XX 89
2. O Espírito Ecumênico da “Renovação Carismática” 90
3. “Falar em Línguas” 93
4. Mediunismo “Cristão” 96
5. Engano Espiritual 105
a) Atitude em direção a Experiências Espirituais. 107
b) Acompanhamentos Físicos das Experiências “Carismáticas” 110
c) "Dons Espirituais" que acompanham as experiências "Carismáticas" 114
d) O Novo “Derramamento do Espírito Santo” 117

VIII. Conclusão: O Espírito dos Últimos Tempos


1. A “Renovação Carismática” como um Sinal dos Tempos 121
a) Um “Pentecoste sem Cristo” 121
b) O “Novo Cristianismo” 123
c) “Jesus Está Vindo em Breve” 124
d) A Ortodoxia Deve se Juntar à Apostasia? 127
e) “Filhinhos, esta é a última hora” (I João 2:18) 129
2. A Religião do Futuro 131

Epílogo: sobre os anos 80. Jonestown e os anos de 1980. 135

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Prefácio

Toda heresia tem sua própria “espiritualidade”, sua própria abordagem característica da
vida religiosa prática. Assim, o Catolicismo Romano, até recentemente, tem uma abordagem
claramente distinguível de sua devoção, atrelado com o “sagrado coração”, o papismo, purgatório
e indulgências, as revelações de vários “místicos”, e um observador Ortodoxo cuidadoso poderia
detectar em alguns aspectos da espiritualidade Latina moderna os resultados práticos de erros
teológicos de Roma. O Protestantismo Fundamentalista, também tem sua própria abordagem de
oração, seus hinos típicos, sua abordagem de “renovação” espiritual; e em todas essas abordagens
podemos detectar a aplicação religiosa na vida de seus erros fundamentais na doutrina Cristã. O
presente livro trata sobre a “espiritualidade” do Ecumenismo, o chefe das heresias do século XX.

Até recentemente parecia que o Ecumenismo era somente algo artificial, algo sincrético,
que não tinha uma espiritualidade própria; a agenda “litúrgica” dos encontros Ecumênicos grandes
e pequenos pareciam ser não mais do que um elaborado culto de Domingo Protestante.

Mas das muitas naturezas da heresia Ecumênica – a crença de que não existe uma Igreja
de Cristo visível, e que ela está sendo formada somente agora – é tal que dispõe a alma sob sua
influência para certas atitudes espirituais que, com o tempo, deve produzir típicas “piedade” e
“espiritualidade” Ecumênicos. Em nossos dias isto parece estar acontecendo finalmente, à medida
que a atitude ecumênica de "expectativa" e "busca" religiosa começa a ser recompensada pela
atividade de um certo "espírito" que dá satisfação religiosa às almas estéreis do deserto
ecumênico e resulta em uma "piedade" característica que não é mais em tom meramente
protestante.

Este libro teve início em 1971 com um exame da última moda “Ecumênica” – a abertura do
“diálogo com religiosos não-Cristãos”. Quatro capítulos deste assunto foram impressos na The
Orthodox Word (A Palavra Ortodoxa) em 1971 e 1972, reportando os últimos eventos dos anos de
1960 até 1972. Os últimos destes capítulos são uma discussão detalhada da “renovação

4
carismática” que havia acabado de ser assumido por vários padres ortodoxos na América, e este
movimento foi descrito como uma forma de “espiritualidade Ecumênica” inclusive de experiências
religiosas que são distintamente não-Cristãs.

Especialmente seu último capítulo desperta muito interesse em pessoas Ortodoxas, e


ajudou a persuadir alguns a não participar do movimento “carismático”. Outros, quem já havia
participado no conhecimento “carismático”, deixou o movimento e confirmaram muitas das
conclusões deste artigo sobre isto. Desde então a “renovação carismática” em paróquias
“Ortodoxas” na América, a julgar pelo periódico do Pe. Eusebius Stephanou’s The Logos, foram
inteiramente adotadas a linguagem e técnicas da renovação Protestante, e sua característica não-
Ortodoxa se tornou clara para muitos observadores sérios. Apesar da mentalidade Protestante de
seus promotores, contudo, a “renovação carismática” como um movimento “espiritual” é
definitivamente algo mais do que protestantismo. A caracterização neste artigo como uma espécie
de mediunidade "cristã", que foi corroborado por vários observadores, o vincula à nova
"Espiritualidade Ecumênica" da qual está nascendo uma nova religião não-Cristã.

No verão de 1974, um dos monastérios Americanos da Igreja Ortodoxa Russa no Exterior


(ROCOR) foi visitada por um jovem homem que havia sido guiado pelo "espírito" por um dos
monges que constantemente o atendia. Durante sua breve visita, a história desse jovem se
desenrolou. Ele tinha uma formação protestante conservadora e que a considerava
espiritualmente estéril, e foi aberto a experiências "espirituais" por sua avó pentecostal: no
momento em que ele tocou uma Bíblia que ela lhe dera, ele recebeu "dons espirituais" – mais
notáveis, assistido por um "espírito" invisível que lhe deu instruções precisas sobre onde andar e
dirigir; e ele foi capaz de hipnotizar outros livremente e levá-los a levitar (um talento que ele usava
de brincadeira para aterrorizar conhecidos ateus). Ocasionalmente, ele duvidava de que seus
"dons" fossem de Deus, mas essas dúvidas foram superadas quando ele refletia sobre o fato de
que sua "esterilidade" espiritual havia desaparecido, que seu “renascimento espiritual” foi
provocado devido o contato com a Bíblia, e que lhe parecia estar levando uma vida muito rica de
oração e "espiritualidade". Ao se familiarizar com a Ortodoxia neste mosteiro, e especialmente
depois de ler o artigo sobre a "renovação carismática", ele admitiu que ali encontrara a primeira
explicação clara e abrangente de suas experiências "espirituais"; muito provavelmente, ele
confessou, seu "espírito" era maligno. Esta realização, reinventou, no entanto, aquilo não parecia
tocar seu coração, e ele partiu sem se converter à Ortodoxia. Dois anos depois, em sua próxima

5
visita, esse homem revelou que havia desistido das atividades "carismáticas" por considerá-las
muito assustadoras, e que agora estaria, espiritualmente contente, praticando a meditação Zen.

Esta estreita relação entre as experiências espirituais "Cristãs" e "Orientais" é típica da


espiritualidade "Ecumênica" de nossos dias. Nesta segunda edição, muito foi acrescentado sobre
os cultos religiosos orientais e sua influência hoje, bem como sobre um grande fenômeno
"secular" que está ajudando a formar uma "nova consciência religiosa" mesmo entre as pessoas
não-religiosas. Nada disso, pode existir por si só, pois tem um significado crucial na constituição
espiritual do homem contemporâneo; mas cada um à sua própria maneira tipifica o esforço dos
homens hoje para encontrar um novo caminho espiritual, distinto do Cristianismo de ontem, e a
soma deles revela uma unidade de propósito assustadora cujo objetivo final parece agora pairar
sobre o horizonte.

Pouco depois da publicação do artigo sobre a "renovação carismática", A Palavra Ortodoxa


(The Orthodox Word) recebeu uma carta de um respeitado escritor eclesiástico Ortodoxo Russo
que é bem versado na literatura teológica e espiritual Ortodoxa, dizendo: “O que você descreveu
aqui é a religião do futuro, a religião do Anticristo.” Cada vez mais, à medida que essa e outras
formas semelhantes de espiritualidade falsa se apoderam até mesmo dos Cristãos Ortodoxos
nominais, estremece-se ao ver o engano em que podem cair os Cristãos espiritualmente
despreparados. Este livro é um aviso para eles e para todos que tentam viver uma vida Cristã
Ortodoxa consciente em um mundo possuído por espíritos impuros. Ele não é um tratamento
exaustivo desta religião, que ainda não atingiu sua forma final, mas antes disso é uma exploração
preliminar daquelas tendências espirituais que, ao que parece, estão preparando o caminho para
uma verdadeira religião do anti-Cristianismo, uma religião exteriormente "Cristã", mas centrada
em uma experiência de "iniciação" pagã.

Que esta descrição da atividade cada vez mais evidente e descarada de Satanás, o príncipe
das trevas, entre os "Cristãos", inspire os verdadeiros Cristãos Ortodoxos com o medo de perder a
graça de Deus e leve-os de volta às fontes puras da vida Cristã: as Sagradas Escrituras e à Doutrina
espiritual dos Santos Padres da Ortodoxia!

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Introdução

1. O “Diálogo com religiões Não-Cristãs”

A NOSSA ERA espiritualmente desequilibrada, quando muitos Cristãos Ortodoxos são


jogados de um lado para outro, e carregados com todos os ventos de doutrina, pela astúcia dos
homens, por meio da qual estão à espreita para enganar (Efésios. 4:14). Na verdade, parece ter
chegado o momento em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas segundo suas próprias
concupiscências amontoarão para si mestres, (levados) pelo prurido de ouvir; e desviarão os
ouvidos da verdade e inclinar-se-ão às fábulas (II Tim. 4:3-4).

Lê-se perplexo sobre os últimos atos e pronunciamentos do movimento ecumênico. No


mais sofisticado nível, teólogos Ortodoxos representando a Conferência Permanente Americana
de Bispos Ortodoxos e os outros órgãos Ortodoxos oficiais conduzem "diálogos" eruditos com os
Católicos Romanos e Protestantes, e emitem "declarações conjuntas" em assuntos como a
Eucaristia, espiritualidade, e similares – sem nem mesmo informar aos heterodoxos que a Igreja
Ortodoxa é a Igreja de Cristo para a qual todos são chamados, que somente seus Mistérios tem o
Dom da Graça, que a espiritualidade ortodoxa pode ser entendida apenas por aqueles que a
conhecem por experiência dentro da Igreja Ortodoxa, que todos estes “diálogos” e “declarações
conjuntas” são uma caricatura acadêmica do verdadeiro discurso Cristão – um discurso que tem a
salvação de almas como seu objetivo. De fato, muitas testemunhas participantes Ortodoxos
nesses “diálogos” conhecem ou suspeitam que este não é o lugar para testemunhas Ortodoxas,
que a própria atmosfera do “liberalismo” ecumênico cancela qualquer verdade que possa ser
falada com eles; mas eles ficaram em silêncio, pois o "espírito dos tempos" hoje é frequentemente
mais forte do que a voz da consciência Ortodoxa. (Veja Diakonia, 1970, n.º 1, pág. 72; São
Vladimir1s Theological Quarterly, 1969, n.º 4, pág. 225; etc.)

No mais popular nível, “conferências” e “discussões” ecumênicas são organizadas, muitas


vezes com um “orador Ortodoxo” ou com até mesmo celebração de “Liturgia Ortodoxa”. As
abordagens destas “conferências” muitas vezes carecem de seriedade, que ao contrário de

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promoverem a "unidade", que seus promotores desejam, na verdade, servem somente para
provar a existência de um abismo intransponível entre a verdadeira Ortodoxia e a perspectiva
“ecumênica”. (Veja Sobornost, Winter, 1978, páginas 494-498, etc.)

No nível da ação, os ativistas ecumênicos aproveitam o fato de que os intelectuais e


teólogos são indecisos e desenraizados na tradição Ortodoxa, e usam suas próprias palavras
concernentes ao "acordo fundamental" em pontos sacramentais e dogmáticos como uma
desculpa para atos ecumênicos extravagantes, não excluindo a entrega da Santa Comunhão aos
hereges. E este estado de confusão por si mesmo dá a oportunidade para ideologistas ecumênicos
nos mais populares níveis emitirem declarações empíricas que reduzem as questões teológicas
básicas ao nível de comédia barata, como a qual o Patriarca Atenágoras se permitiu dizer: “Sua
esposa já perguntou o quanto de sal ela deveria colocar na comida? Certamente não. Ela tem a
infalibilidade. Que o Papa tenha também, se quiser” (Hellenic Chronicle, 9 de abril de 1970).

O informado e conciso Cristão Ortodoxo que bem perguntar: Onde isso tudo acabará? Não
há limite para a traição, a desnaturação, e a autodestruição da Ortodoxia?

Ainda não foi observado com muito cuidado para onde tudo isso está levando, mas
logicamente o caminho está claro. A ideologia por trás do ecumenismo, que foi inspirada por tais
atos e pronunciamentos ecumênicos como os acima citados é uma heresia já bem definida: a
Igreja de Cristo não existe, ninguém tem a Verdade, a Igreja só agora está sendo construída. Mas é
preciso pouca reflexão para ver que a auto- liquidação da Ortodoxia, da Igreja de Cristo, é
simultaneamente a autodestruição do Cristianismo em si; que se nenhuma igreja é a Igreja de
Cristo, então a combinação de seitas de todas as seitas também não será a Igreja, não no sentido
em que Cristo a fundou. E se todo grupo “Cristão” é relativo um para o outro, quando todos se
reunirem serão relativos uns para os outros grupos “religiosos”, e o ecumenismo “Cristão” só pode
terminar em uma religião mundial sincrética.

Este é de fato o objetivo indisfarçável da ideologia maçônica que inspirou o Movimento


Ecumênico, e esta ideologia tem tomado posse daqueles que participam no Movimento
Ecumênico que é o “diálogo” e a eventual união com os religiosos não-Cristãos passaram a ser o
próximo passo lógico para o cristianismo desnaturado de hoje. A seguir estão alguns dos muitos
exemplos recentes que poderiam ser dados que apontam o caminho para um futuro “ecumênico”
fora do Cristianismo.

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1. Em 27 de junho de 1965, a “Convocação da Religião pela Paz no Mundo” foi realizada
em São Francisco (EUA) em conexão com o 20º aniversário da fundação das Nações Unidas
naquela cidade. Diante de 10 mil espectadores ocorreram discursos sobre a fundação "religiosa"
da paz mundial por representantes Hindu, Budista, Muçulmano, Judeu, Protestante, Católico, e
Ortodoxo, e hinos de todas as religiões foram cantados por um coro "inter-religioso" de 2.000
vozes.

2. A Arquidiocese Grega da América Norte e Sul, na declaração oficial do 19º Congresso


Clero-Leigo (Atenas, julho de 1968), declarou: “Nós cremos que o movimento ecumênico, embora
seja de origem Cristã, deve se tornar um movimento de todas as religiões alcançando uma à
outra.”

3. O “Templo da Compreensão, Inc.” uma fundação Americana estabelecida em 1960


como um tipo de "Associação das Religiões Unidas" com o objetivo de “construir o Templo
simbólico em várias partes do mundo” (precisamente de acordo com a doutrina da maçonaria),
realizou várias "Conferências de Cúpula". Primeiramente, em Calcutá (Índia) em 1968, o Trapista
Latino Thomas Merton (quem foi acidentalmente eletrocutado em Bangcoc, Tailândia, no caminho
de volta desta Conferência) declarou: “Já somos uma nova unidade. O que devemos recuperar é
nossa unidade original.” O segundo ocorreu em Genebra, Suíça, em abril de 1970, oitenta
representantes das dez religiões mundiais se reuniram para discutir temas como “O Projeto da
Criação de uma Comunidade Mundial de Religiões”; o Secretário Geral do Conselho Mundial das
Igrejas, Dr. Eugene Carson Blake, fez um discurso apelando aos chefes de todas as religiões para a
unidade; e em 2 de abril, uma inédita oração supra confessional aconteceu na Catedral de São
Pedro, descrito pelo Pastor Protestante Babel como “uma grandiosa data na história das religiões”,
em que “cada um orou em sua própria língua e de acordo com os costumes da religião que ele
representava” e em que “a fé de todas as religiões foram convidados a coexistirem no culto do
mesmo Deus”, o serviço terminou com um “Pai Nosso” (La Suisse, 3 de abril de 1970). O material
promocional enviado pelo "Templo do Entendimento" revela que delegados Ortodoxos estiveram
presentes na segunda “Conferência da Cúpula” nos Estados Unidos no outono de 1971, e que o
Metropolita Emilianos do Patriarcado de Constantinopla é um membro do Templo do “Comitê
Internacional”. As “Conferências da Cúpula” ofereceram a delegados Ortodoxos a oportunidade de
entrar em discussões objetivando “criar uma comunidade mundial das religiões”, para "acelerar a

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realização do sonho da humanidade de paz e compreensão" de acordo com a filosofia de
“Vivekananda, Ramakrishna, Gandhi, Schweitzer”, e os fundadores de várias religiões; e os
delegados da mesma forma participar de serviços de oração supra confessionais "sem
precedentes", onde todos oram de acordo com os costumes da religião que representam. Só
podemos nos perguntar o que deve estar na alma de um Cristão Ortodoxo que participa de tais
conferências e ora junto com Muçulmanos, Judeus e pagãos.

4. No início de 1970 o WCC (World Concil of Churches) - “Conselho Mundial das Igrejas”,
patrocinou uma conferência em Ajaltoun, no Líbano, entre Hindus, Budistas, Cristãos, e
Muçulmanos, e uma conferência de acompanhamento de 23 “teólogos” da WCC em Zurique, na
Suíça, em junho declarando a necessidade de “diálogo” com as religiões não-Cristãos. Na reunião
do Comitê Central da WCC em Adis Abeba, na Etiópia, em janeiro daquele ano, o Metropolita
Georges Khodre de Beirute-Líbano (Igreja Ortodoxa de Antióquia) chocou até mesmo muitos
delegados Protestantes quando ele não apenas convocou essas religiões, mas deixou a Igreja de
Cristo para trás e pisou em 19 séculos de tradição Cristã, quando ele exortou os cristãos a
"investigar a vida, autenticamente espiritual, dos não batizados" e enriquecer sua própria
experiência com as "riquezas de uma comunidade religiosa universal" (Novos Serviços Religiosos),
pois “é unicamente Cristo que é recebido como luz quando a graça visita um Brâmane, um
Budista, ou um Muçulmano lendo suas próprias escrituras” (Christian Century, 10 de fev. de 1971).

5. O Comitê Central do Conselho Mundial das Igrejas foi realizado em Adis Abeba, Etiópia,
em janeiro de 1971, dando sua aprovação e encorajamento para a realização de possíveis reuniões
entre representantes de outras religiões, especificamente que “na fase atual, pode ser dada
prioridade a diálogos bilaterais de natureza específica”. De acordo com esta diretiva, um
importante “diálogo” Cristão-Muçulmano foi definido para meados de 1972 envolvendo cerca de
quarenta representantes de ambos os lados, incluindo um número de delegados Ortodoxos (Al
Montada, janeiro-fevereiro de 1972, pág. 18).

6. Em fevereiro de 1972, outro evento ecumênico “sem precedentes” ocorreu em Nova


Iorque, pela primeira vez na história, a Igreja Ortodoxa Grega (Arquidiocese Grega do Norte e Sul
da América) realizou um “diálogo” oficial teológico com os Judeus. Em dois dias de discussões
resultados definidos foram alcançados, o que pode ser considerado algo sintomático dos
resultados futuros do Cintura “diálogo com religiões não Cristãs”: os “teólogos” Gregos
concordaram "em revisar seus textos litúrgicos, em termos de melhorar as referências aos Judeus

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e ao Judaísmo onde eles são considerados negativos ou hostis” (Novos Serviços Religiosos). A
intenção do "diálogo" não se torna cada vez mais evidente? - para “reforma” do Cristianismo
Ortodoxo a fim de torná-lo adaptável para religiões deste mundo.

Esses eventos foram o princípio do “diálogo com religiões não Cristãs” no fim da década de
1960 e início de 1970. Nestes anos desde então, tais eventos se multiplicaram, e discussões
“Cristãs” (e até “Ortodoxas”) e adoração com representantes de religiões não Cristãs passaram a
ser aceitos como uma parte normal da moda intelectual da época; isto representa o estágio atual
do ecumenismo em seu progresso em direção a um sincretismo religioso universal. Agora olhemos
para a “teologia” e à meta de como isso acelera o diálogo e vejamos como ele difere do
ecumenismo “Cristão” que prevaleceu até agora.

2. Ecumenismo “Cristão” e Não-Cristão

O ecumenismo “Cristão” na melhor das hipóteses, pode ser visto como um erro sincero e
compreensível por parte de Protestantes e Católicos Romanos – o erro de não reconhecer que a
Igreja visível de Cristo realmente existe, e que eles estão fora dela. O “diálogo com religiões não
Cristãs”, no entanto, é algo bastante diferente, representando um desvio consciente até mesmo
daquela parte do genuíno crente Cristão e da consciência que alguns Católicos e Protestantes
afirmam. É o produto, não de simples "boas intenções" humanas, mas sim de uma “sugestão”
diabólica que pode capturar somente aqueles que já se afastaram para tão longe do Cristianismo
como o deus deste mundo, Satanás (II Cor. 4:4), e seguidores de todas as formas intelectuais que
esse deus poderoso é capaz de inspirar.

O ecumenismo “Cristão” conta para com um apoio de um sentimento vago, mas ainda
assim real de um "cristianismo comum", que é compartilhado por muitos que não pensam ou
sentem muito profundamente sobre a Igreja, e visa de alguma forma "construir" uma igreja que
inclua todos esses "Cristãos" indiferentes. Mas em qual apoio comum o "diálogo com os não-
Cristãos" pode contar? Em que base possível pode haver qualquer tipo de unidade, por mais
frouxa que seja, entre os Cristãos e aqueles que não apenas não conhecem a Cristo, mas – como é
o caso com todos os atuais representantes das religiões não-Cristãs quem estão em contato com o
Cristianismo – decisivamente rejeitar a Cristo? Aqueles que, como o Metropolita Georges Khodre

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do Líbano, lideram a vanguarda dos apóstatas Ortodoxos (um nome que é completamente
justificado quando aplicado para aqueles que radicalmente "se afastam" de toda a tradição da
Igreja Ortodoxa), falam das “riquezas espirituais” e da “autentica vida espiritual” das religiões não-
Cristãs; mas é apenas fazendo grande violência ao significado das palavras e lendo suas próprias
fantasias na experiência de outras pessoas que ele pode dizer que é "Cristo" e "graça" que os
pagãos encontram em suas escrituras, ou que “todo mártir na verdade, todo homem perseguido
por aquilo que acredita ser certo, morre em comunhão com Cristo”*. Certamente estas próprias
pessoas (Seja um que ateia fogo a si mesmo, ou um comunista que morre pela "causa" em que
acredita sinceramente, ou quem quer que seja) nunca diria que é "Cristo" que eles recebem ou
por quem morrem, e a ideia de uma confissão inconsciente ou o recebimento de Cristo é contra a
própria natureza do Cristianismo. Se um raro não-Cristão afirma a natureza do “Cristo”, isto pode
somente ocorrer da maneira que Swami Vivekananda descreve: “Nós Hindus não apenas
toleramos, nós nos unimos com a todas as religiões, orando nas mesquitas dos Muçulmanos,
adorando diante do fogo do Zoroastriano, e ajoelhando-se diante da cruz do Cristão” – isto é,
apenas uma de várias experiências Espirituais igualmente válidas.

Não: “Cristo”, não importa como redefinimos ou reinterpretemos, não pode ser um
denominador comum do “diálogo com religiões não-Cristãs”, Mas, na melhor das hipóteses, isto
só pode ser adicionado como uma reflexão tardia a uma unidade que é descoberta em outro lugar.
O único possível denominador comum entre todas as religiões é totalmente um vago conceito
“espiritual”, que de fato oferece aos liberais “religiosos” uma teologização nebulosa quase
ilimitada.

O discurso do Metropolita Georges Khodre na reunião do Comitê Central do “Conselho Mundial


das Igrejas” em Adis Abeba, na Etiópia, em janeiro de 1971 pode ser tomado como uma tentativa
experimental de estabelecer tal teologia “espiritual” do “diálogo com religiões não-Cristãs” 1. Ao
levantar a questão de “se o Cristianismo é tão inerentemente exclusivo de outras religiões como
geralmente tem sido proclamado até agora”, além de suas poucas “projeções” um tanto absurdas
de Cristo em religiões não-Cristãs, tem um ponto principal: é o “Espírito Santo”, concebido como
totalmente independente de Cristo e de Sua Igreja, que é realmente o denominador comum de
todas as religiões do mundo. Referindo à profecia que “Eu derramarei Meu Espírito sobre toda a
carne” (Joel 2:28), os estados Metropolitanos, “Isto deve ser entendido como um Pentecostes que
é universal desde o início… O advento do Espírito no mundo não é subordinado ao Filho… O
Espírito opera e aplica suas energias de acordo com sua própria economia e nós, então

1
Texto completo en ibid., pp.166-174

12
poderíamos, desse ângulo, considerar as religiões não-Cristãs como pontos onde sua inspiração
está em ação” (pág. 172). Devemos, ele acredita, “desenvolver uma eclesiologia e uma missiologia
em que o Espírito Santo ocupa um lugar supremo” (pág. 166).

Tudo isso, claro, constitui uma heresia que nega a própria natureza da Santíssima Trindade e não
tem nenhum objetivo, senão minar e destruir toda a ideia e realidade da Igreja de Cristo. Porque,
na verdade, Cristo deveria ter estabelecido uma Igreja se o Espírito Santo atua de forma bastante
independente, não apenas da Igreja, mas do próprio Cristo? Apesar disso, esta heresia é aqui
ainda apresentada de forma bastante provisória e autônoma, sem dúvidas com o objetivo de
testar a resposta de outros “teólogos” Ortodoxos antes de proceder mais categoricamente.

Na verdade, no entanto, a “eclesiologia do Espírito Santo” já foi escrita – e por um pensador


“Ortodoxo” e que, é um dos reconhecidos “profetas” do movimento “espiritual” de nossos
próprios dias. Examinemos, portanto, suas ideias em ordem para vermos a imagem que ele dá à
natureza e a meta do maior movimento “espiritual” em que o “diálogo com religiões não-Cristãs”
se coloca.

3. "A Nova Era do Espírito Santo"

Nicolas Berdyaev (1874-1949) em qualquer momento normal nunca teria sido considerado
como um Cristão Ortodoxo. Ele poderia melhor ser descrito como um filósofo humanista gnóstico,
que se inspirou mais em fontes sectários Ocidentais e “místicos” do que em algumas Ortodoxas.
Que ele é chamado em alguns círculos Ortodoxos até hoje de um “filosofo Ortodoxo” ou ainda
“teólogo”, esta é uma triste reflexão da ignorância religiosa de nossos tempos. Aqui, citaremos
seus escritos.2.

Olhando com desdém sobre os Padres Ortodoxos, sobre o “espírito ascético monástico da
Ortodoxia histórica”, na verdade sobre todo esse “Cristianismo conservador que… direciona as
forças espirituais do homem somente em direção à contrição e salvação”, Berdyaev procurou
antes a "Igreja interior", “a “Igreja do Espírito Santo”, a “visão espiritual da vida que, no século
XVIII, encontrou abrigo nas lojas Maçônicas”. “A Igreja”, ele crê, “ainda está em um estado
meramente potencial”, é “incompleta”, e ele olhou para a vinda de uma “fé ecumênica”, uma
“plenitude da fé” que iria se unir, não apenas a diferentes corpos Cristãos (por um “Cristianismo

2
Citado em J. Gregerson, "Nicolas Berdaev, Prophet of a New Age", Orthodox life, Jordanville N.Y., 1962,
n°6, onde encontramos referências completas.

13
que devia ser capaz de existir em uma variedade de formas na Igreja Universal”), mas também “as
verdades parciais de toda as heresias” e “todas as atividades humanísticas criativas do homem
moderno… com as experiências religiosas consagradas no Espírito”. Um “Cristianismo Novo” está
se aproximando de um "novo misticismo, que será mais profundo do que as religiões e deve uni-
las”. Pois “existe uma grande irmandade espiritual … ao qual não somente as Igrejas do Oriente e
Ocidente pertencem, mas também a todos aqueles cujas vontades são dirigidas a Deus e ao
Divino, todos de fato que aspirem algumas das elevações espirituais” – ou seja, pessoas de todas
as religiões, seitas, e ideologias religiosas. Ele previu o advento de “uma nova e última Revelação.”
A “Nova Era do Espírito Santo,” ressuscitando a predição de Joaquim de Floris, o monge Latino do
século XII, quem enxergou duas eras: a do Pai (Antigo Testamento) e a do Filho (Novo Testamento)
dando lugar a uma final, a “Terceira Era, do Espírito Santo.” Berdyaev escreveu: “As palavras estão
se movendo em direção a uma nova espiritualidade, e a um novo misticismo; nela não haverá mais
a visão ascética do mundo." “Os sucessos do movimento objetivando a unidade Cristã pressupõe
uma nova era no próprio Cristianismo, uma nova e profunda espiritualidade, que significa um novo
derramamento do Espírito Santo.”

Claramente, não há nada em comum entre essas fantasias super ecumênicas, e o


Cristianismo Ortodoxo que Berdiaev de fato desprezara.

No entanto, qualquer pessoa ciente do clima religioso de nossos tempos verá que estas fantasias
de fato correspondem para uma das principais correntes do pensamento religioso
contemporâneo. Berdyaev realmente parece ser um “profeta”, ou melhor, tem sido sensível a
uma corrente de pensamento religioso e sentimento que não era tão evidente em nossos dias,
mas tornou-se quase dominante hoje. Em todas as partes, se ouve dizer sobre um novo
“movimento do Espírito”, e agora um sacerdote Ortodoxo Grego, Padre Eusebius Stephanou,
convida Cristãos Ortodoxos para juntarem-se a este movimento, quando ele escreve sobre “o
poderoso derramamento do Espírito Santo em nossos dias” (O Logos, janeiro de 1972). Em todas
as partes, na mesma publicação (março de 1972, pág. 8) o editor associado Ashanin invoca não
apenas o nome, mas também o próprio programa, de Berdyaev: “Nós recomendamos os escritos
de Nikolai Berdyaev, o grande profeta espiritual da nossa era. Este gênio espiritual - [é] o
excelente teólogo da criatividade espiritual - Agora o casulo da Ortodoxia foi quebrado - O Logos
Divino de Deus está conduzindo Seu povo para um novo entendimento de Sua história e sua
missão n’Ele.

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4. O Presente Livro

Tudo isso constitui o pano de fundo do presente livro, que é um estudo do “novo” espírito
religioso de nossos tempos que constrói uma base e dá inspiração para o “diálogo com religiões
não-Cristãs”. Os três primeiros capítulos oferecem uma abordagem geral para religiões não-Cristãs
e suas diferenças radicais do Cristianismo, ambos em teologia e na vida espiritual. O primeiro
capítulo é um estudo teológico do “Deus” das religiões do Oriente-Próximo com que Cristãos
ecumênicos esperam se unir com bases no “monoteísmo”. O segundo é sobre a mais poderosa das
religiões Orientais, o Hinduísmo, baseado em uma longa experiência pessoal que encerrada pelo
autor convertido do Hinduísmo para o Cristianismo Ortodoxo; ele também dispõe uma
interessante análise do significado para o Hinduísmo do “diálogo” com o Cristianismo. O terceiro
capítulo é um testemunho pessoal de um Hieromonge Ortodoxo com um “trabalhador milagroso”
– uma confrontação direta da “espiritualidade” Cristã e não-Cristã.

Os próximos quatro capítulos são estudos específicos de alguns dos significantes movimentos
espirituais dos anos de 1970. Os capítulos Quatro e Cinco examinam a “nova consciência religiosa”
com particular referência a movimentos de “meditação” com os muitos atuais denominados
seguidores “Cristãos” (e quanto mais e mais “ex-Cristãos”). O Capítulo Seis olha para as
implicações espirituais dos aparentes fenômenos não religiosos de nossos tempos que está
ajudando a formar a “nova consciência religiosa” mesmo entre pessoas que pensam que estão
longe de quaisquer interesses religiosos. O sétimo capítulo discute em profundidade o movimento
mais controverso entre os “Cristãos” atuais – a “Renovação Carismática” – e tenta definir sua
natureza a luz da doutrina espiritual Ortodoxa.

Concluindo, o significado e objetivo da “nova consciência religiosa” é discutida a luz da profecia


Cristã sobre os últimos tempos. A “religião do futuro” para a qual eles apontam é estabelecida e
contrastada com a única religião a qual está irreconciliavelmente em conflito: o verdadeiro
Cristianismo Ortodoxo. Os “sinais dos tempos”, como nós abordamos a terrível década de 1980,
são todos muito claros; que os Cristãos Ortodoxos, e todos os que desejam salvar suas almas na
eternidade, prestem atenção e ajam!

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I. As religiões “Monoteístas”
NÓS TEMOS O MESMO DEUS QUE OS NÃO CRISTÃOS TÊM?

"Os povos hebreus e islâmicos, e os cristãos... estas três expressões de um monoteísmo idêntico,
falam com as vozes mais autênticas e antigas, e inclusive as mais ousadas e precisas. Por que não
deveria ser possível que o nome de um mesmo Deus, em lugar de engendrar uma oposição
inconciliável, conduza melhor ao respeito mútuo, a compreensão e a convivência pacífica? Não
deveria a referência ao mesmo Deus, ao mesmo Pai, sem prejuízo da discussão teológica, tomemos
melhor um dia para descobrir o que é tão evidente, mas tão difícil, que todos somos filhos do
mesmo Pai, e que, por tanto, somos todos irmãos?"
Papa Paulo VI, a Croix, 11 de agosto, 1970

Na quinta-feira do dia 2 de 1970, uma grande demonstração religiosa foi realizada em Genebra,
Suíça. Dentro do marco da Segunda Conferência da "Associação das Religiões Unidas", os
representantes das dez grandes Religiões foram convidados a reunirem-se na Catedral de São
Pedro. Esta "oração em comum" se baseou na seguinte motivação: "Os fiéis de todas estas
Religiões foram convidados a coexistir no culto ao mesmo Deus". Vejamos se esta afirmação é
válida à luz das Santas Escrituras.

Para explicar melhor este tema, nos limitaremos a as três Religiões que historicamente se tem
sucedido nesta ordem: Judaísmo, Cristianismo e Islam. Estas três Religiões reivindicam, de fato,
uma origem comum: como adoradores do Deus de Abraão. Portanto, é uma opinião muito
extensa, que dado que todos reclamamos a descendência de Abraão (os judeus e muçulmanos
segundo a carne, e os cristãos espiritualmente), todos temos como Deus ao Deus de Abraão e os
três adoramos (cada um à sua maneira, naturalmente) Ao mesmo Deus! E este mesmo Deus
constitui de alguma maneira nosso ponto de unidade e de "entendimento mútuo", e isto nos
convida a uma "relação fraterna", como enfatizou o Grande Rabino Dr. Safran, parafraseando o
Salmo: "Oh, que bom é ver os irmãos sentados juntos ... ".

16
Nesta perspectiva é evidente que Jesus Cristo, Deus e Homem, o Filho co-Eterno com o Pai sem
princípio, Sua Encarnação, Sua Cruz, Sua Gloriosa Ressurreição e Sua Segunda e Terrível Vinda, se
convertem em detalhes secundários que não podem impedir-nos de "confraternizar" com quem o
consideram como "um simples profeta" (segundo o Alcorão) ou como "o Filho de uma prostituta"
(segundo certas tradições talmúdicas). Por tanto, colocaríamos a Jesus de Nazaré e Maomé ao
mesmo nível. Não sei que cristão digno desse nome poderia admitir isto em sua consciência.

Se poderia dizer que nestas três religiões, passando por alto o passado, poderiam estar de acordo
em que Jesus Cristo é um ser extraordinário e excepcional, e que foi enviado por Deus. Mas para
nós os cristãos, se Jesus Cristo não é Deus, não podemos considerá-lo como um “profeta” ou como
um “enviado de Deus”, senão só como um Grande impostor sem igual, havendo-se proclamado
“Filho de Deus,” “Fazendo-se assim igual a Deus!” (São Marcos 14: 61,62). Segundo esta solução
ecumênica a nível supra confessional, o Deus trinitário dos cristãos seria o mesmo que o
monoteísmo do judaísmo, do Islã, do antigo herege Sabellius, do moderno ante-trinitarianismo, e
de certas seitas iluministas. Não haveria três pessoas em uma só divindade, senão uma só pessoa,
imutável para alguns, o que muda sucessivamente de “máscaras” (Pai-Filho-Espírito Santo) Para os
demais. Contudo, qualquer um poderia fingir que é o “mesmo Deus”!

Aqui alguns poderiam dizer ingenuamente: “Contudo, as três Religiões têm um ponto comum: as
três reconhecem ao Deus Pai!”. Mas segundo a Santa Fé Ortodoxa, isto é um absurdo.
Confessamos sempre: “Glória a Santa, Consubstancial, Vivificante e Indivisível Trindade”. Como
poderíamos separar Pai do Filho quando Jesus Cristo afirma que “Eu e o Pai somos um” (São João
10:30); e São João o Apóstolo, Evangelista e Teólogo, o Apóstolo do Amor, afirma claramente:
“Todo aquele que nega ao Filho, tão pouco tem ao Pai” (I João 2:23).
Mas inclusive se as três chamam a Deus Pai: de quem é realmente o Pai? Para os judeus e os
muçulmanos, Ele é o Pai dos Homens no plano da criação; enquanto, que para nós os cristãos, Ele
é "o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo por adoção" (Efésios 1: 4,5) no plano da redenção. Que
semelhança há, então, entre a Paternidade Divina no cristianismo e nas demais religiões?

Outros poderiam dizer: "Mas de todo modo, Abraão adorou ao Deus verdadeiro; e os judeus
através de Isaac e os muçulmanos através de Agar são os descendentes deste verdadeiro adorador
de Deus". Aqui há que esclarecer várias coisas: Abraão não adorou a Deus em absoluto na forma
do monoteísmo unipessoal dos demais, senão na forma da Santíssima Trindade. Lemos na Sagrada
Escritura: "Depois lhe apareceu Jeová na azinheira de Manre... e se prostrou na terra" (Gn. 18: 1,
2). Sob que forma Abraão adorou a Deus? Sob a forma unipessoal o sob a forma da Divina
Trinidade? Nós cristãos Ortodoxos veneramos esta manifestação do antigo Testamento da
Santíssima Trindade no dia de Pentecostes, quando adornamos nossas igrejas com ramos que
representam os carvalhos centenários, e quando veneramos por meio do ícone dos três Anjos,
como nosso Pai Abraão o venerou! A descendência carnal de Abraão não pode ser de utilidade
para nós se não somos regenerados pelas águas do Batismo na Fé de Abraão. E a Fé de Abraão foi
a Fé em Jesus Cristo, como o Senhor mesmo disse: "Abraão, teu pai, regozijou-se de que havia de
ver o meu dia; e viu-o, e alegrou-se" (São João 8:56). Tal também foi a Fé do Rei Profeta David,

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que escutou o Pai celestial falar com seu Filho Consubstancial: "O Senhor disse a meu Senhor"
(Sal. 109: 1; Atos 2:34). Tal foi a Fé dos três Jovens no forno de fogo quando foram salvos pelo
Filho de Deus (Dan. 3: 25); e do santo profeta Daniel, quem teve a visão das duas naturezas de
Jesus Cristo no Mistério da Encarnação quando o Filho do Homem veio ao Ancião (Dan. 7:13). É
por isso que o Senhor, dirigindo-se à posteridade (biologicamente incontestável) de Abraão, disse:
“Se fosseis filhos de Abraão, as obras de Abraão farias” (São João 8:39), e “Esta é a obra de Deus,
que creias no que Ele enviou” (São João 6:29).
Quem são então a posteridade de Abraão? Os filhos de Isaac segundo a carne, o os filhos de Agar a
egípcia? Isaac ou Ismael são a posteridade de Abraão? O que ensina a Sagrada Escritura pela boca
do divino Apóstolo? Agora, então, a Abraão e a sua descendência se lhes fizeram as promessas.
não disse: "E a as sementes, como se falasse de muitos, senão como de um: e a tua semente, a
qual é Cristo" (Gálatas 3:16). "E se vós sois de Cristo, certamente linhagem de Abraão sois, e
herdeiros segundo a promessa" (Gálatas 3:29). foi então em Jesus Cristo que Abraão chegou a ser
"pai de muitas nações" (Gen. 17: 5; Rom. 4:17). Depois de tais promessas e tais certezas, que
significado tem a descendência carnal de Abraão? Segundo a Sagrada Escritura, Isaac é
considerado como a semente da posteridade, mas somente como a imagem de Jesus Cristo. A
diferença de Ismael (o Filho de Agar; Gênesis 16: 1ss), Isaac nasceu na milagrosa “liberdade” de
uma mãe estéril, na velhice e contra das leis da natureza, similar a nosso Salvador, quem nasceu
milagrosamente de uma virgem. Subiu a colina do Monte Moriá justo como Jesus subiu ao
Calvário, levando sobre seus ombros a madeira do sacrifício. Um Anjo livrou Isaac da morte, assim
como um Anjo retirou a pedra para mostrar nos que a tumba estava vazia, que o Ressuscitado já
não estava ali. Para a hora da oração, Isaac se encontrou com Rebeca na planície e a conduziu para
a tenda de sua madre Sara, assim como Jesus se encontrará com sua Igreja nas nuvens para levá-la
para as mansões celestiais, a Nova Jerusalém, a tão desejada Pátria.

Não! Não temos, na mais mínima condição, o mesmo Deus que têm os não cristãos! A condição
sine qua non para conhecer ao Pai é o Filho: o que vê a mim, vê ao Pai; ninguém vem ao Pai senão
por mim (São João 14: 6,9). Nosso Deus é um Deus encarnado, a quem vemos com nossos olhos e
tocamos com nossas mãos (1 João 1: 1). O imaterial se fez material para nossa salvação, como
disse São João Damasceno, e Ele se revelou em nós. Quando Ele se revelou a si mesmo entre os
judeus e muçulmanos de hoje em dia para que possamos supor que eles conhecem a Deus? Se
eles, os muçulmanos, têm um conhecimento de Deus fora de Jesus Cristo, então, Cristo se
encarnou, morreu, e ressuscitou em vão!

Não, não conhecem ao Pai. Eles têm concepções sobre o Pai; mas toda concepção sobre Deus é
um ídolo, porque uma concepção é produto de nossa imaginação, uma criação de um Deus a
nossa própria imagem e semelhança. Para nós os cristãos, Deus é inconcebível, incompreensível,
indescritível e imaterial, como disse São Basílio o Grande. Para nossa salvação Ele chegou a ser (na
medida em que estamos unidos a Ele) concebido, descrito e material, por revelação no Mistério da
Encarnação de seu Filho. A Ele seja a glória, pelos séculos dos séculos! Amém! e por isso São
Cipriano de Cartago afirma que quem não tem a Igreja por Mãe, não tem a Deus por Pai!

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Que Deus nos proteja da Apostasia e da Vinda do Anticristo, cujos senais preliminares se
multiplicam dia a dia. Que Ele nos preserve da Grande aflição que nem sequer os eleitos poderiam
suportar sem a Graça daquele que encurtará estes dias, e que Ele nos preserve no “pequeno
rebanho”, o "resto segundo a eleição da Graça" para que nós, como Abraão, nos regozijemos ante
a Luz de seu Rosto, pelas orações da Santíssima Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, de todas as
hostes celestiais, uma nuvem de testemunhas, profetas, mártires, hierarcas, evangelistas e
confessores que foram fiéis até a morte, que derramaram seu sangue por Cristo, que nos gerou
pelo Evangelho de Jesus Cristo nas águas do Batismo. Somos seus filhos: débeis, pecadores e
indignos, sem dúvida; mas não estenderemos nossas mãos sobre um Deus estranho. Amém!
Padre Basile Sakkas
A Foi Transmise, 5 de abril, 1970

II. O Poder dos Deuses Pagãos


O Ataque do Hinduísmo ao Cristianismo

Todos os Deuses dos pagãos são demônios.


Salmos 95:5

El seguinte artigo provem da experiência de uma mulher que, depois de frequentar uma escola
secundária em um convento católico romano, praticou o hinduísmo durante vinte anos até que
finalmente, pela graça de Deus, se converteu à Fé Ortodoxa, encontrando o final de sua busca da
verdade na Igreja Russa Fora de Russa. Atualmente reside na costa oeste. Que suas palavras
sirvam para abrir os olhos daqueles Cristãos Ortodoxos que poderiam verem se tentados a seguir
aos cegos teólogos "liberais" que agora estão fazendo sua aparição inclusive na Igreja Ortodoxa, e
cuja resposta ao assalto do neopaganismo contra a Igreja de Cristo é levar a cabo um "diálogo"
com seus feiticeiros e unirem se a eles na adoração dos mesmos Deuses dos pagãos.

1. As atrações do hinduísmo

Haviam somente dezesseis anos quando dos acontecimentos marcaram o rumo de minha vida. Fui
para o Convento Católico Dominicano em São Rafael (Califórnia) e encontrei o cristianismo pela
primeira vez. No mesmo ano também encontrei o hinduísmo na pessoa de um monge hindu, um
Swami, que logo se converteria em meu guru ou mestre. Eu havia começado uma batalha, mas
não fui capaz de compreende-la por quase vinte anos depois.

No convento me ensinaram as verdades básicas do Cristianismo. Aqui reside a força dos humildes
e uma armadilha para os orgulhosos. O Apóstolo Santiago escreveu verdadeiramente: “Deus
resiste aos soberbos e dá graças aos humildes” (4: 6). E quão orgulhosa eu era; que não aceitava
o pecado original e tão pouco o inferno. E tinha muitos, muitos argumentos contra eles. Uma Irmã

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de Grande caridade me deu a chave quando disse: “Ore pelo dom da fé!”. Mas o treinamento do
Swami já havia sido engajado, e pensei que era degradante pedir a alguém, inclusive a Deus, por
qualquer coisa. Mas muito depois, recordei-me do que havia dito, então anos mais tarde, a
semente da Fé cristã que havia sido plantada em mim emergiu de um mar interminável de
desespero.

Com o tempo, descobri a natureza dos livros que levava comigo para a escola, todos em
envoltórios de cores lisas. Livros como o Bhagavad Gita, os Upanishads, o Vedantasara, o
Ashtavakra Samhita ... sem lugar a dúvidas as irmãs pensaram que era algo passageiro, como a
maioria dos conceitos intelectuais das jovens. Mas uma monja enérgica me disse a verdade. Uma
verdade muito impopular que alguém raramente ouve atualmente. Me disse que eu iria para o
inferno se morresse no hinduísmo depois de haver conhecido a verdade do Cristianismo. São
Pedro o expõe da seguinte maneira: “Porque o que é vencido por alguns é feito escravo do que o
venceu. Certamente, se havendo-se eles escapado das contaminações do mundo, pelo
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, prendendo-se outra vez nelas são vencidos, seu
posterior estado vem a ser pior que o primeiro. Porque melhor teria sido não haver conhecido o
caminho da justiça, que depois de haver lhe conhecido, voltar atrás do santo mandamento que
lhe foi dado” (2 Pedro 2:19-21). No entanto, desprezei essa irmã por sua intolerância, mas se ela
estivesse viva hoje, a agradeceria de todo coração. O que ela me disse me incomodou, como a
verdade o faria, e isto levou-me finalmente à plenitude da Santa Ortodoxia.

Algo importante que obtive no convento “foi uma régua de medir”, e um dia a usaria para
descobrir que o hinduísmo é uma fraude.

A situação mudou muito desde que estava na escola. O que foi um caso isolado de hinduísmo se
converteu em uma epidemia. Agora qualquer um deve ter uma compreensão inteligente da
dogmática hindu se quiser evitar que os jovens cristãos se suicidem espiritualmente quando se
encontram com Religiões orientais.

O atrativo do hinduísmo é de amplo espectro; há enaltecimento para cada faculdade (assimilada)


e apela a cada debilidade (do discípulo), particularmente ao orgulho. E sendo muito orgulhosa,
inclusive aos dezesseis anos, foi nisto em que primeiro me caí presa. O pecado original, o inferno e
o problema da dor me inquietavam. Nunca os havia tomado a sério antes de chegar ao convento.
Então, o Swami apresentou-me uma alternativa “intelectualmente satisfatória” para cada dogma
cristão incomodo. O inferno era, depois de tudo, só um estado temporal da alma provocado por
nosso próprio carma mal (ações passadas) nesta ou em uma vida anterior. E por suposto, uma
causa finita não poderia ter um efeito infinito. O pecado original foi maravilhosamente
transmutado em divindade Original. Este era meu direito de nascimento, e nada do que pudesse
fazer jamais poderia alterar este glorioso final. Eu era divina, eu era deus “a Sonhadora infinita”,
“uma Sonhadora, sonhando sonhos finitos”.

20
Com respeito ao problema da dor, a filosofia Hindu conhecida como Vedanta tem um sistema
filosófico realmente elegante para soluciona lo. Em poucas palavras, a dor era maya ou uma
ilusão. Não teria existência real, e ademais, o Advaitin afirmava que poderia provar isto!

Em outra área, o Hinduísmo apela ao muito respeitável erro de assumir que o homem é perfectível
através da educação (em seus próprios termos, o sistema de guru) e através da "evolução" (o
desenvolvimento constante e progressivo da espiritualidade do homem). Também se faz um
argumento desde o ponto de vista da relatividade cultural, isto agora tem adquirido tal
respeitabilidade que é um verdadeiro pecado (para aqueles que não creem no pecado) o
questionar a relatividade de qualquer tipo. O que poderia ser mais razoável, dizem, do que
diferentes nações e povos adorando a Deus de diferentes maneiras? Deus, depois de tudo, é Deus,
e a variedade de modos de adoração contribuem a um “enriquecimento” geral religioso.

Mas quem sabe a atração mais convincente seja o pragmatismo. Toda a construção filosófica do
hinduísmo está respaldada pelas instruções religiosas práticas dadas ao discípulo por seu guru.
Com estas práticas convida-se ao discípulo a verificar a filosofia por sua própria experiência. Nada
tem que ser aceitado como dogma de fé. E contrariamente às noções populares, não há mistérios,
só uma enorme quantidade de material esotérico, pelo que simplesmente não há necessidade da
fé. Te diz: “Prove-o e verás se funciona”. Este enfoque pragmático é sumamente tentador para a
mente ocidental. Parece muito “científico”. Quase todos os estudantes caem diretamente em uma
espécie de falácia pragmática: ou seja, se as práticas funcionam (e de fato funcionam), creem que
o sistema é verdadeiro, e implicitamente, que é bom. Isto, por suposto, não é coerente. Tudo o
que realmente se pode dizer é: se funcionam, então funcionam. Mas sem tomar em conta este
fato, se pode ver a pouca experiência psíquica que se necessita para dar ao pobre estudante uma
Grande convicção.

Esto me leva ao último afago que mencionarei, que são as “experiências espirituais”. Estas são de
origem psíquico e/ou diabólicas. Mas, quem entre os praticantes têm alguma forma de distinguir o
engano da verdadeira experiência espiritual? Não contam com um ponto de referência. Mas não
creia que o que veem, ouvem, cheiram e tocam nestas experiências são o resultado de uma
simples aberração mental. Não são, são o que nossa tradição Ortodoxa chama de prelest. É uma
palavra importante, porque se refere a condição exata de uma pessoa que tem “experiências
espirituais” hindus. Não existe um equivalente preciso do termo prelest no léxico português. Cobre
toda a gama de experiências espirituais falsas: desde a simples ilusão e o engano até a possessão
real. Em todos os casos, a falsificação se considera genuína e o efeito geral é um crescimento
acelerado do orgulho. Uma sensação cálida e confortável de especial importância se assenta sobre
a pessoa em prelest, e isto compensa todas suas austeridades e dores3.

Em sua primeira epístola, São João adverte aos primeiros cristãos: “Amados, não creiais em todo
espírito, senão provai os espíritos se são de Deus”. (4: 1).

3
Mais adiante, prelest, p. 176ff

21
São Gregório do Sinai teve cuidado ao instruir seus monges sobre os perigos destas experiências:
“Por todas as partes, acerca dos principiantes e dos obstinados, os demônios tendem a lançar suas
redes de pensamentos e fantasias perniciosas, e preparam poucos para sua queda”. Um monge lhe
perguntou: “O que deve fazer um homem quando o demônio toma a forma de um anjo de luz?”. O
Santo respondeu-lhe: “Neste caso, um homem necessita de um grande poder de discernimento
para discriminar corretamente entre o bem e o mal. Portanto, em sua negligência, não se deixe
levar demasiadamente rápido pelo que tu vês, ao contrário sejas cauteloso e, provando
cuidadosamente tudo, aceite o bem e rechace o mal. Sempre deves provar e examinar, e só depois
crer. Saiba que as ações da graça são manifestas, e o demônio, apesar de suas transformações,
não pode produzi-las: especialmente a mansidão, o ser amistoso, a humanidade, o ódio ao mundo,
a erradicação das paixões e a luxuria, os quais são efeitos da graça. As obras dos demônios são:
arrogância, presunção, intimidação e todo mal. Mediante tais ações, poderá discernir se a luz que
brilha em teu coração é de Deus ou de satanás. A alface se parece com a mostarda e o vinagre com
a cor do vinho; mas ao prová-los o paladar discerne e define a diferença entre cada um. Da mesma
maneira a alma, se possui discernimento, pode distinguir por gosto mental os dons do Espírito
Santo das fantasias e ilusões de Satanás”.

O aspirante espiritual desorientado ou orgulhoso é mais vulnerável ao estado prelest. E o êxito e a


durabilidade do hinduísmo dependem em Grande medida deste falso misticismo, que é atrativo
para os jovens consumidores de drogas, que já se iniciaram neste tipo de experiências. Os últimos
anos se tem visto o florescimento e a proliferação de Swamis. Eles viram sua oportunidade de
obter fama e riqueza neste mercado já preparado o tomaram.

2. Uma guerra de dogmas

Hoje o cristianismo está enfrentando o ataque de um inimigo que é quase invisível para os fiéis. E
se pode, traspassará o coração antes de declarar seu nome. Este inimigo é o hinduísmo, e a guerra
que ele faz é uma guerra de dogmas.

Quando fundaram as Sociedades Vedanta neste país (EUA), em princípios do século XX, os
primeiros esforços se dirigiram para estabelecer que não existia uma diferença real entre o
hinduísmo e o cristianismo. Não só não havia conflito, senão que um bom cristão seria um melhor
cristão ao estudar e praticar o Vedanta; já que entenderia o verdadeiro cristianismo.

Em suas primeiras conferências, os Swamis buscaram mostrar que aquelas ideias que pareciam
peculiares do cristianismo, como o Logos e a Cruz, realmente teriam sua origem na Índia. E essas
ideias que pareciam peculiares do hinduísmo, como a reencarnação, a transmigração da alma e o
samadhi (um transe) também se encontravam nas escrituras cristãs, quando se interpretavam
corretamente.

22
Este tipo de atração capturou muitos cristãos sinceros, mas desorientados. O primeiro impulso foi
contra o que poderia Chamar-se de dogmas “sectários” por uma autoproclamada religião científica
baseada em um estudo comparativo de todas as religiões. A ênfase principal sempre esteve nisto;
não existe diferença. Todo é um. Todas as diferencias são superficiais; são aparentes ou relativas,
não reais. Tudo isto se desprende das conferências publicadas que ocorreram a princípios do
século XX. Hoje corremos um Grande perigo porque este esforço teve muito êxito.

Agora na linguagem cotidiano “dogma” se utiliza como um sentido depreciativo e zombeteiro. Mas
este desprezo não pode haver-se originado em quem sabe que “dogma” se refere à herança mais
preciosa da Igreja. Contudo, uma vez que a conotação negativa criou raízes, os covardes, a quem
nunca lhes gostavam serem associados com o impopular, empenharam a falar de “dogma rígido”,
que é redundante, mas que denota desaprovação. Assim que a atitude foi absorbida
insidiosamente pelos críticos “de mente ampla” que ou bem não sabiam que o dogma estabelece
o que é o cristianismo, ou simplesmente não lhes gostava o que é o cristianismo.

A predisposição resultante de muitos cristãos a recuarem quando enfrentam a acusação de


apegarem-se ao dogma tem proporcionado aos hindus uma grande ajuda. E a ajuda de dentro
teria vantagens estratégicas.

O fato incrível é que poucos veem que o mesmo poder que revogaria o dogma cristão não é em si
mesmo mais que um sistema de dogmas opostos. Os dois não podem mesclarem-se ou
“enriquecerem-se” um ao outro porque são totalmente antitéticos.

Persuadem aos cristãos a desejarem (o que é taticamente mais inteligente) para alterar seus
dogmas para adequá-lo à exigência de um cristianismo mais atualizado ou “universal”, ou hão
perdido tudo, porque o que os cristãos e os hindus valorizam deriva-se imediatamente de seus
dogmas. E os dogmas hindus são um repudio direto dos dogmas cristãos. Isto nos leva a uma
conclusão assombrosa: o que os cristãos creem que é mal, os hindus creem que é bom e
inversamente: o que os hindus creem que é mal, os cristãos creem que é bom.

A verdadeira luta encontra-se nisto: que o maior pecado para o cristão, é a realização suprema do
bem para o hindu. Os cristãos sempre tem reconhecido o orgulho como o pecado básico, a fonte
de todo pecado. E Lúcifer é o arquétipo quando diz: “Subirei aos céus, exaltarei meu trono sobre as
estrelas de Deus, ascenderei por cima das estrelas de Deus, serei como o Altíssimo”. Em um nível
inferior, é o orgulho o que converte inclusive as virtudes do Homem em pecados. Mas para o
hindu em geral, e o Advaitin ou o Vedanta em particular, o único “pecado” é o não crer em ti nem
na humanidade como sendo Deus mesmo, em palavras de Swami Vivekananda (quem foi o
principal defensor moderno do Vedanta): “Mesmo que não compreendam a Índia! Nós, os índios,
somos pessoas que adoram ao Homem, depois de tudo. Nosso Deus é o homem!”. A doutrina de
mukti ou salvação consiste nisto: “que o homem deve tornar-se divino mediante a realização do
divino”.

23
Com isso se pode ver os dogmas do hinduísmo e o cristianismo frente a frente, desafiando-se
entre si sobre a natureza de Deus, a natureza do homem e o propósito da existência humana.

Mas quando os cristãos aceitam a propaganda hindu que afirma de que não há conflito, que as
diferenças entre o cristianismo e o hinduísmo são só aparentes e não reais, então as ideias hindus
são livres para apoderarem-se das almas dos cristãos, ganhando a batalha sem nenhuma luta. E o
resultado final deste combate é realmente impactante; o poder corruptor do hinduísmo é imenso.
Em meu caso, com toda a sólida formação básica que recebi no convento, vinte anos no hinduísmo
me levaram às mesmas portas do amor ao mal. Na Índia “Deus” também é adorado como o Mal,
na forma da Deusa Kali. Mas falarei sobre isto na seguinte seção sobre práticas Hindus.

Este é o fim que nos espera quando não houver mais dogma cristão. Digo isto por experiência
pessoal, porque adorarei a Kali na Índia e neste país. E ela, que é satanás, não é uma brincadeira.
Se renunciar ao Deus vivo, o trono não permanecerá vazio.

3. Lugares e práticas Hindus

Em 1956 fiz um trabalho de campo com os caçadores de cabeças em Filipinas. Meu interesse
estava na religião primitiva, particularmente no que se denomina uma zona “inculturada”, onde
haviam poucos missionários. Quando cheguei a Ifugao (esse é o nome da tribo), eu não cria em
magia negra; quando fui embora dali, passei a crer. Um sacerdote Ifugao (um munbaki) chamado
Talupa se tornou para mim o melhor amigo e informante. Com o tempo soube que era famoso por
sua habilidade na arte negra. Me levou ao baki, uma cerimônia de magia ritualística que se realiza
quase todas as noites durante a temporada de colheita. Uma dezena de sacerdotes se reuniram
em uma cabana e passaram a noite invocando as deidades e antepassados, bebendo vinho de
arroz e fazendo sacrifícios para as duas pequenas imagens conhecidas como bulol, os quais eram
lavadas com sangue de frango, coletada em um prato e que era usado para adivinhar o futuro
antes de que se usasse para limpar as imagens. Depois disso estudavam o sangue para determinar
o tamanho e o número de bolhas que continha, o tempo que demorava para coagular-se;
também, a cor e a configuração dos órgãos dos frangos, tudo isto diziam eles que proporcionava
informação. A cada noite tomei notas diligentemente, mas isto foi só o começo. Não darei mais
detalhes sobre a magia de Ifugao; basta dizer que quando fui embora, havia visto tal variedade e
quantidade de sucessos sobrenaturais que qualquer explicação científica era virtualmente
impossível. Se houvesse estado predisposta a crer em algo quando cheguei, era que a magia tinha
uma explicação totalmente natural. Também, permitam-me dizer que não me assusto muito
facilmente. Mas de fato eu fui embora de Ifugao porque vi que não somente seus rituais
funcionavam, senão que também haviam funcionado a mim, ao menos duas vezes.

Digo tudo isto para que o que menciono sobre as práticas e lugares de culto hindu não pareça
incríveis ou produto de uma “mente fantasiosa”.

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Onze anos depois do episódio de Ifugao, fiz uma peregrinação à Cueva de Amarnath, no profundo
dos Himalaias. A tradição hindu o considera o lugar mais sagrado de adoração a Siva, o lugar onde
se manifesta a seus devotos e dá bençãos. É uma viagem longa e difícil sobre o Mahaguna, um
passo de 14.000 pés (4,26 km aproximadamente) e cruzando uma região glacial; portanto havia
muito tempo para adorá-lo mentalmente no caminho, especialmente porque o homem que
conduzia o pequeno cavalo da manada não falava nada de inglês e eu não falava nada de hindi.
Nesta ocasião eu estava predisposta a crer que o Deus que eu havia adorado e sobre o que havia
meditado por anos se manifestaria a mim misericordiosamente.
A imagem de Siva na caverna é em si mesma uma curiosidade: uma imagem de gelo formada pelo
gotejo da água. Aumenta e diminui com a lua, quando há lua cheia, a imagem natural chega ao
teto da caverna - uns 15 pies (4,6 metros aproximadamente) - e na escuridão da lua quase não
sobra nada. E assim cresce e diminui a cada mês. Que eu saiba, ninguém tem explicado este
fenômeno. Me aproximei à caverna em um momento propíscio, quando a imagem havia crescido
completamente. Estava pronta para adorar a mi Deus com coco verde, incenso, pedaços de tela
vermelhos e brancos, nozes, passas e açúcar, todos os artigos ritualmente prescritos. Entrei na
caverna com lágrimas de devoção. O que sucedeu então é difícil de descrever, o lugar era vibrante,
como uma cabana de Ifugao com baki em pleno apogeu. Atônita ao perceber que me encontrava
em um lugar de inexplicável maldade, sai com ânsia de vômitos antes que o sacerdote pudesse
terminar de fazer minha ofenda à Grande imagem de gelo.

A fachada do hinduísmo se havia rachado quando entrei na caverna de Siva, mas ainda passou
algum tempo antes que me libertasse. Durante o intermédio, busquei algo para segurar o edifício
que se desabava, mas não encontrei nada. Em retrospectiva, me parece que por muitas vezes
sabemos que algo está realmente mal, muito antes que possamos realmente crer. Isto se aplica
tanto a as “práticas espirituais” hindus como aos chamados “lugares santos”.

Quando um estudante é iniciado por um guru, lhe dão um mantra sânscrito (uma fórmula mágica
pessoal) e práticas religiosas específicas. Estas são completamente esotéricas e existem na
tradição oral. Não as encontrará impressas e é muito pouco provável que as conheça através de
um iniciado, devido as fortes sanções que são impostas para proteger este segredo. De fato, o
guru convida a seu discípulo a provar a filosofia por sua própria experiência. O ponto é que estas
práticas de fato funcionam. O estudante pode obter poderes o "siddhis". Se trata de coisas como
ler a mente, o poder de curar ou destruir, de produzir objetos, de predizer o futuro, etc., toda uma
gama de truques mortais psíquicos de sala. Mas muito pior que isto, invariavelmente é cair em um
estado de prelest (ilusão espiritual), onde a ilusão é tomada como a realidade. Se têm
“experiências espirituais” de doçura e paz ilimitadas. Têm visões de deidades e de luz. (Qualquer
um poderia lembrar que Lúcifer mesmo pode aparecer como um anjo de luz.) Por “engano” não
quero dizer que não se experimentam realmente estas coisas; melhor, quero dizer que não são de
Deus. Por suposto, existe aí uma construção filosófica que sustenta cada experiência, por que as
práticas e a filosofia se sustentam mutuamente e o sistema se volta muito estreito.

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Em realidade, o hinduísmo não é tanto uma busca intelectual como um sistema de práticas, e
estas são, literalmente, de magia negra. Ou seja, se faz “x”, obtém “e”: um contrato simples. Mas
os termos não são detalhados e raramente um estudante pergunta de onde se originam as
experiências ou quem lhe dá o crédito, em forma de poderes e “lindas” experiências. É a clássica
situação faustiana, mas o que o praticante não sabe é que o preço bem pode ser a sua alma
imortal.

Há uma ampla gama de práticas, práticas que se adaptam a todos os temperamentos. A deidade
elegida pode ter forma - um Deus ou uma Deusa; ou pode ser informe: o Brama Absoluto. A
relação com o Ideal elegido também varia: pode ser a de um Filho, uma mãe, um pai, um amigo,
um amado, um servo ou, no caso do Advaita Vedanta, a “relação” é a identificação. No momento
da iniciação, o guru lhe dá a seu discípulo um mantra e isto determina o caminho que seguirá e as
práticas que empreendera. O guru também dita como viverá o discípulo sua vida diária. No
Vedanta (o sistema monista) os discípulos solteiros não devem casar-se; todos seus poderes
devem estar dirigidos para o êxito em suas práticas. Um discípulo sincero tão pouco deve ser
carnívoro, porque a carne atenua o filo agudo da percepção. O guru é literalmente considerado
como Deus mesmo - é o Redentor do discípulo.

Basicamente, muitos dos exercícios “espirituais” se derivam de umas poucas práticas


fundamentais. Só mencionarei algumas a modo de exemplo.

Primeiro, está a idolatria. Pode ser a adoração de uma imagem ou um quadro, com ofendas de luz,
alcanfor, incenso, água e doces. Podendo abanar a imagem com uma cola de um yak, lavada,
vestida e deitada em uma cama. Isto soa muito infantil, mas é prudente não subestimar as
experiências psíquicas que podem provocar. A idolatria Vedântica toma a forma de auto adoração
a si mesmo – seja ela mental ou externamente, com todos os acessórios ritualísticos. Um aforismo
comum na Índia personifica este culto a si mesmo. É assim: So Ham, So Ham, ou "Eu sou Ele, Eu
sou Ele".

Logo está Japa (norma), ou a repetição do mantra sânscrito que é dado ao discípulo em sua
iniciação, de fato, é o canto de uma fórmula mágica.

O Pranaiama consiste em exercícios de respiração que se utilizam junto com o Japa. Há outras
práticas que são próprias do Tantra ou adoração de Deus como Mãe, o princípio feminino, o
poder, a energia, o princípio de evolução e ação. São conhecidas como os cinco M, são
abertamente malvadas e bastante doentias; portanto não as descreverei. Mas eles também têm
chegado a este país. Swami Vivekananda prescreveu este tipo de hinduísmo junto com o Vedanta.
Disse: “Adore o Terrível! É um erro segurar que em todos os Homens o prazer é o motivo. São
tantos os que nascem para buscar a dor. Adoramos ao Terror por si mesmo. Quão poucos se tem
atrevido a adorá-lo. Morte ó Kali! Adoremos à Morte!”. Citando novamente, as palavras do Swami
sobre a Deusa Kali: “Há alguns que zombam da existência de Kali. Contudo, hoje ela está ali entre
as pessoas. Estão frenéticos de medo, e os soldados foram chamados a enfrentarem-se para a

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morte. Quem pode dizer que Deus não se manifesta tanto como bem e tanto como mal? Mas
somente os hindus se atrevem a adorá-lo como o mal”4.

O que é uma verdadeira lástima é que esta prática concentrada no mal se leva a cabo com a firme
convicção de que é boa. E a salvação que se busca em vão através do árduo esforço pessoal no
hinduísmo pode somente ser outorgada por Deus através da modéstia Cristã.

4. Evangelizando o Ocidente

Em 1893 um desconhecido monge Hindu chegou ao Parlamento das Religiões em Chicago. Ele era
o Swami Vivekananda, a quem já mencionei. Causou uma grande impressão naqueles que o
escutaram, tanto por sua aparência – devido seu turbante, e uma túnica alaranjada e carmesim -
como pelo que havia dito. Foi imediatamente enaltecido pela alta sociedade em Boston e Nova
York, EUA. Os filósofos em Harvard estavam muito impressionados com ele. Em muito pouco
tempo reuniram um grupo proeminente de discípulos que o apoiavam a Ele e a seu grandioso
sonho: a evangelização do Mundo Ocidental pelo Hinduísmo, e mais especificamente, pelo
Hinduísmo Vedântico (monístico). Sociedades Vedanta foram estabelecidas nas grandes cidades
dos Estados Unidos e na Europa. Mas estes centros eram somente parte de seu trabalho. Mais
importante ainda era introduzir ideias Vedânticas na causa principal do pensamento acadêmico. A
meta era a disseminação. Para Vivekananda não lhe importava muito se o crédito lhe o davam ao
Hinduísmo ou não, desde que a mensagem do Vedanta chegasse a todos. Em muitas ocasiões ele
disse: “Toquem em cada porta. Diga-lhes a todos que Ele é Divino”.

Hoje partes de sua mensagem se encontram em livros de bolso que podem ser encontrados em
qualquer livraria - livros escritos por Aldous Huxley, Christopher Isherwood, Somerset Maugham,
Teilhard de Chardin, e inclusive Tomas Merton.

Thomas Merton, claramente, constitui uma ameaça particular para os cristãos, porque se
apresenta como um monge cristão contemplativo, e sua obra já tem afetado a parte vital do
Catolicismo Romano, seu monasticismo. Pouco antes de sua morte, o Padre Merton escreveu uma
introdução apreciativa para uma nova tradução do Bhagavad Gita, que é o manual espiritual ou a
“Bíblia” de todos os Hindus, e um dos pilares do monismo ou do Advaita Vedanta. Deve ser
lembrado que o Gita, se opõe a quase todas os ensinos importantes do Cristianismo. Seu livro
sobre os Mestres do Zen, publicado postumamente, é também digna de análise, porque toda a
obra está baseada em um traiçoeiro erro: a suposição de que as assim chamadas “experiências
místicas” em todas as Religiões são verdadeiras. As advertências contra isto são fortes e claras
tanto nas Santas Escrituras, como nos Santos Padres.

4
Nota dos editores: Poucos, inclusive os mais desejosos de estabelecer um ‘diálogo’ com as religiões
orientais e de expressar sua unidade religiosa básica com elas, têm uma concepção precisa das práticas e
crenças religiosas pagãs de cuja tirania ou bendito e rápido jugo de Cristo lançado à humanidade. A deusa
Kali, uma das deidades hindus mais populares, se representa com maior frequência por meio do alvoroço.

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Na atualidade, conheço um monastério Católico na Califórnia, onde os monges de clausura
experimentam as práticas religiosas Hindus. Foram treinados por um Hindu que se converteu em
um sacerdote Católico. A menos que o terreno não haja sido preparado, creio que estes tipos de
coisas não poderiam estar ocorrendo. Mas, depois de tudo, este era o propósito da Vinda de
Vivekananda ao Ocidente: preparar o terreno.
A mensagem de Vivekananda do Vedanta é bastante simples. Parece mais do que realmente é
devido a seus adornos: um jargão sânscrito deslumbrante e uma estrutura filosófica muito
intrincada. A mensagem é essencialmente esta: todas as Religiões são verdadeiras, mas o Vedanta
é a verdade final. As diferenças são somente uma questão de “níveis de verdade”. Nas palavras de
Vivekananda: “O homem não viaja do erro para a verdade, senão que ascende de uma verdade a
outra, de uma verdade inferior a uma verdade superior. A matéria de hoje é o espírito do futuro. O
verme de hoje é o Deus de amanhã”. O Vedanta se baseia nisto: que o Homem é Deus. Assim que
lhe corresponde ao homem trabalhar por sua própria salvação. Vivekananda o expressou desta
maneira: “Quem pode ajudar ao Infinito? Inclusive a mão que chega a ti através da escuridão terá
que ser a tua”.

Vivekananda foi o suficientemente astuto como para saber que o Vedanta puro seria demasiado
para que os cristãos o seguissem, de imediato. Mas os “níveis de verdade” proporcionaram uma
excelente ponte sobre o ecumenismo perfeito, onde não há conflito porque todos têm razão. Nas
palavras do Swami: “Se uma religião é verdadeira, então todas as demais também devem ser
verdadeiras. Portanto, a Fé hindu é tanto tua como minha. Nós, os hindus, não só toleramos, nos
unimos a todas as religiões, orando na mesquita dos muçulmanos, adorando ante o fogo dos
zoroastrianos, e nos ajoelhamos ante a cruz dos cristãos. Sabemos que todas as religiões, desde o
mais baixo fetichismo até o mais alto absolutismo, são só intentos da alma humana para captar e
realizar o Infinito. Assim que juntamos todas estas flores e, unindo-as com as cordas do amor, as
convertemos em um maravilhoso ramo de adoração”.

Mesmo assim, todas as Religiões eram só passos sobre a religião suprema, que era o Advaita
Vedanta. Sentia um desprezo especial pelo cristianismo, que no melhor dos casos era uma
“verdade inferior”, uma verdade dualista. Em uma conversação privada, disse que só um covarde
daria a outra face. Mas qualquer coisa que dizer sobre outras religiões, sempre voltou à
necessidade do Advaita Vedanta. “A arte, a ciência e a religião”, disse, “não são mais que três
formas diferentes de expressar uma só verdade. Mas para entender isto devemos ter a teoria do
Advaita”.

O atrativo disto para a juventude de hoje é indubitável. O Vedanta declara que a perfeita liberdade
de cada alma é ela mesma. Nega toda distinção entre o sagrado e o secular: são somente as
diferentes formas de expressar a verdade única. E o único propósito da religião é satisfazer as
necessidades de diferentes temperamentos: um Deus e uma prática para todos. Em uma palavra,
a religião é “fazer o que queiras”.

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Tudo isto pode parecer selvagem; mas Vivekananda fez um trabalho eficaz. Agora mostrarei o
êxito que teve ao introduzir estas ideias hindus no catolicismo romano, onde seu êxito tem sido
mais surpreendente.

Swami Vivekananda Chegou pela primeira vez aos Estados Unidos para representar o hinduísmo
no Parlamento das Religiões de 1893. Em 1968 foi celebrado o 75º aniversário deste evento, e
nesse momento foi levado a cabo um Simpósio de Religiões sob os auspícios da Sociedade
Vivekananda Vedanta de Chicago. O catolicismo romano esteve representado por um teólogo
dominicano da Universidade De Paul, o Padre Robert Campbell. O Swami Bhashyananda iniciou a
reunião com a leitura de mensagens de boa vontade de três pessoas muito importantes. O
segundo foi de um cardeal estado-unidense.

Padre Campbell começou a sessão da tarde com uma palestra sobre o conflito entre os
tradicionalistas e os modernistas no catolicismo moderno. Disse: “Em minha própria universidade,
as enquetes realizadas sobre as atitudes dos estudantes católicos mostram um Grande giro sobre
as opiniões liberais nos últimos cinco ou seis anos. sei que o Grande Swami Vivekananda estaria a
favor da maioria das tendências na direção do cristianismo liberal”. O que Padre Campbell
aparentemente não sabia era que, absolutamente as doutrinas modernistas, que ele descreveu
não eram cristãs; mas sim puro e simples Vedanta.

Para que não haja dúvidas de uma má interpretação, citarei as palavras do Padre sobre a
interpretação dos modernistas de cinco números, tal como apareceram em três revistas
internacionais: o Prabuddha Bharata publicado em Calcutá, o Vedanta Kesheri publicado em
Madrás e o Vedanta and the West, publicado em Londres.

Sobre as doutrinas: “A verdade é uma coisa relativa, estas doutrinas e dogmas (ou seja, a natureza
de Deus, como deve viver o Homem e o mais além) não são coisas fixas, mudam, e estamos
chegando ao ponto em que negamos algumas coisas que antes afirmamos como verdades
sagradas”.

Sobre Deus: “Jesus é divino, verdadeiro, mas qualquer um de nós pode ser divino. De fato, em
muitos pontos creio que encontraram que a perspectiva cristã liberal está se movendo na direção
ao Oriente em grande parte de sua filosofia, tanto em seu conceito de um Deus impessoal como
no conceito de que todos somos divinos”.

Sobre o pecado original: “Este conceito é muito ofensivo para o cristianismo liberal, que sustenta
que o homem é perfectível mediante um treinamento e uma educação adequada”.

Sobre o mundo: “... o liberal afirma que alguém pode melhorar e que devemos dedicarmos a
construir uma sociedade mais humana no lugar de suspirar por ir para o céu”.

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Sobre outras religiões: “O grupo liberal diz: ‘Não se preocupem pelas coisas antiquadas, como
buscar conversos, etc., senão que desenvolvamos melhores relações com outras religiões”.

Isso disse o Padre Campbell para os católicos modernistas. O modernista tem sido guiado como
um menino pela generosa oferta de uma verdade superior, uma filosofia mais profunda e uma
maior sublimidade, que pode ser obtida simplesmente subordinando ao Cristo vivo ao Homem
moderno.

Aqui, então, vemos o êxito espetacular do hinduísmo, o de Swami Vivekananda, o do poder por
detrás de Vivekananda. Tem arrasado o catolicismo romano. Seus cães guardiães têm tomado ao
ladrão como amigo do amo, e a casa está desolada ante seus olhos. O ladrão disse: “Tenhamos
entendimento inter-religioso”, e cruzou a porta. E o recurso foi tão simples. Os hindus cristãos (os
swamis) só teriam que recitar a filosofia Vedanta usando termos cristãos. Mas os cristãos hindus
(os católicos modernistas), tiveram que extrapolar sua religião para incluir o hinduísmo. Então,
necessariamente, a verdade se converteu em erro e o erro em verdade. Por desgraça, alguns
agora arrastrariam a Igreja Ortodoxa à esta casa desolada. Porém, que os modernistas recordem
das palavras de Isaías: “Ai dos que ao mal dizem bom, e ao bom mal; que fazem da luz trevas, e das
trevas luz; que põe o amargo por doce, e o doce por amargo! Ai dos sábios em seus próprios olhos,
e dos que são prudentes diante de si mesmos!” (Isaías 5: 20-21)

5. A Meta do Hinduísmo: a Religião Universal

Me surpreendeu ver os avanços que havia feito o hinduísmo durante minha ausência do
cristianismo. Poderia parecer estranho que descobrira todas estas mudanças a cada vez. Isto se
deve a que meu guru dominava cada uma de minhas ações e todo este tempo estive, literalmente,
“enclausurada”, inclusive no mundo. As ordens estritas do Swami me impediram de ler livros
cristãos ou falar com cristãos. Apesar de toda sua pretensiosa conversa de que todas as Religiões
são verdadeiras, os Swamis sabem que Cristo é sua nêmesis. Então durante vinte anos estive
totalmente imersa no estudo da filosofia oriental e na prática de suas disciplinas. Meu guru me
ordenou que me licenciasse em filosofia e antropologia, mas estes eram só passatempos que
preenchiam o tempo entre as partes importantes de minha vida: o tempo com Swami e o tempo
com os ensinamentos e práticas do Vedanta.

A missão de Swami Vivekananda se cumpriu em muitos aspectos, mas uma parte ainda não foi
cumprida. Isto é, o estabelecimento de uma religião universal. Nisso descansa a vitória final do
Diabo. Devido ao fato de que a Religião Universal pode não conter nenhuma ideia ‘individualista,
sectária’, não terá nada em comum com o cristianismo, exceto em sua semântica. O Mundo e a
Carne podem ser fogos na estufa e a lareira, mas a Religião Universal será uma conflagração total
do Cristianismo o ponto fundamental de tudo isto é que o sacerdote jesuíta Teilhard de Chardin já

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fundamentou as bases para uma “Nova cristandade”, precisamente segundo as especificações de
Swami Vivekananda para esta Religião Universal.

Teilhard de Chardin é uma anomalia porque, diferentemente dos teólogos romanos tradicionais, é
muito apreciado pelo clero erudito que, creio que não têm nem ideia do que está falando. Porque
as ideias de Teilhard são em grande medida plágios do Vedanta e do Tantra engomados com
jargão que soa cristão e fortemente adornada com evolucionismo.

Permita-me citar um exemplo: “O mundo que não vivo se torna divino. Contudo, estas chamas não
me consomem, nem estas águas me dissolvem; porque, a diferença das falsas formas de monismo
que nos impulsionam através da passividade para a inconsciência, ou pancristianismo que estou
encontrando, outorga lugares de união ao término de um árduo processo de diferenciação. Só
alcançarei ele mediante a liberação completa e exaustiva de todos os poderes da matéria ...
Reconheço que, seguindo o exemplo do Deus encarnado que a Fé Católica me revelou, posso
salvar-me só se me tornar um com o universo”. Isto é hinduísmo absoluto, e tem um pouco de
tudo: um verso reconhecível de um Upanishad e peças de vários dos sistemas filosóficos junto com
suas práticas.

Em uma conferência de imprensa dada pelo Padre Arrupe, General da Companhia de Jesus, em
junho de 1965, Teilhard de Chardin foi defendido com o argumento de que “não era um teólogo e
filósofo profissional, por que era possível que fora inconsciente de todas as implicações filosóficas e
teológicas associadas a algumas de suas intuições”. Então o Padre Arrupe o elogiou: “O Padre
Teilhard é um dos grandes mestres do pensamento contemporâneo, e seu êxito não deve nos
surpreender. Realizou, de fato, um grande intento de reconciliar o mundo da ciência com o mundo
de fé”. O resultado desta reconciliação é uma nova religião, e nas palavras de Teilhard: “A nava
religião será exatamente a mesma que nossa velha cristandade, mas com uma nova vida extraída
da legítima evolução de seus dogmas à medida que entrem em contato com novas ideias”. Com
estes antecedentes, vejamos a Religião Universal de Vivekananda e o “Novo Cristianismo” de
Teilhard.

A Religião Universal proposta por Vivekananda deve ter cinco características. Primeiro, deve ser
científica. Se baseará em leis espirituais. Portanto, será uma religião verdadeira e científica. Em
efeito, tanto Vivekananda como Teilhard usam o cientificismo teórico como um artigo de sua fé.

Em segundo lugar, sua base é a evolução, nas palavras de Teilhard: “Uma forma de religião até
agora desconhecida, uma que ninguém poderia haver imaginado ou descrito ainda, por falta de
um universo o suficientemente grande e orgânico para contê-la, está florescendo nos corações dos
homens, a partir de uma semente semeada pela ideia da evolução”. E novamente: “O pecado
original... nos ata de pés e mãos e nos drena o sangue” porque “como se expressa agora,
representa uma supervivência de conceitos estáticos que são um anacronismo em nosso sistema
de pensamento evolucionista”. Tal conceito pseudo-religioso de “evolução”, que foi

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conscientemente rechaçado pelo pensamento cristão, tem sido básico para o pensamento hindu
durante milênios; toda prática religiosa hindu o assume.

Em terceiro lugar, a religião universal não se baseará em nenhuma pessoalidade em particular,


senão que se baseará em “princípios eternos”. Teilhard está a caminho do Deus impessoal quando
escreve: “Cristo está se tornando cada vez mais indispensável para mim...”, “mas ao mesmo tempo
a figura do Cristo histórico está se tornando cada vez menos substancial e distinta para mim”. "...
Minha visão d’Ele me leva continuamente mais e mais alto para o eixo longo da (espero!)
Ortodoxia". É triste dizer, este espírito de “Cristo” não histórico é ortodoxia hindu, não cristã.

Quarto, o propósito principal da Religião Universal será satisfazer as necessidades espirituais de


homens e mulheres de diversos tipos. As Religiões individualistas e sectárias não podem oferecer
isto. Teilhard cria que o cristianismo não se ajustava às aspirações religiosas de todos. Aponta seu
descontentamento com estas palavras: “O cristianismo é ainda, até certo ponto, um refúgio, mas
já não abraça, nem satisfaz e nem sequer conduz a ‘alma moderna’”.

Quinto e último, dentro da Religião Universal (o Novo Cristianismo) todos estamos caminhando
em direção ao mesmo destino. Para Teilhard de Chardin é o ponto Ômega, que pertence a algo
que está mais além da representação. Para Vivekananda é o Om, a sílaba sagrada dos hindus:
“Toda a humanidade, convergindo ao pé desse lugar sagrado aonde está colocado o símbolo que
não é símbolo, o nome que está mais além de todo som”.

Onde terminará esta deformação do Cristianismo e triunfo do hinduísmo? Teremos o Om ou


teremos o Ômega?

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III. O ”milagre” de um faquir
E a oração de Jesus

Pelo Arquimandrita Nicholas Drobyazgin

O autor deste testemunho, um novo mártir do jugo Comunista, desfrutou de uma brilhante carreira
mundana como comandante naval, estando também profundamente envolvido no ocultismo como
editor da revista ocultista Rebus. Sendo salvo de uma morte quase segura no mar por um milagre
de São Serafim, fez uma peregrinação à Sarov e logo renunciou a sua carreira mundana e aos seus
vínculos ocultistas para converter-se em um monge. Depois de ser ordenado sacerdote, serviu
como missionário na China, Índia e Tibete, como sacerdote de várias igrejas de embaixadas e como
abade de vários monastérios. Depois de 1914 viveu no Monastério das Cavernas de Kiev, onde
dava palestras, sobre a influência do ocultismo nos acontecimentos contemporâneos na Russa, aos
jovens que o visitavam. No outono de 1924, um mês depois da visita de um tal Tuholx, autor do
livro Magia Negra, foi assassinado em sua cela por “desconhecidos”, com óbvia conivência
bolchevique, apunhalado por uma daga com um mango especial aparentemente com significado
oculto.

O incidente aqui descrito, que revela a natureza de um dos ”dons” mediúnicos que são comuns nas
religiões orientais, ocorreu não muito antes do ano de 1900, e foi registrado próximo de 1922 pelo

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Dr. AP Timofievich, um leigo do Convento de Novo-Diveyevo, NY (Texto em russo em Orthodox Life,
1956, núm. 1.)

Em uma maravilhosa manha tropical, nosso barco estava sulcando as águas do Oceano Índico,
aproximando-se da ilha de Ceilão (Sri Lanka). Os rostos animados dos passageiros, em sua maioria
ingleses com suas famílias que se dirigiam a seus postos de trabalho ou por negócios em sua
colônia índia, olhavam com ganância para longe, buscando com seus olhos a ilha encantada, que
para praticamente todos, estava ligada a eles desde a infância devido a tantas coisas interessantes
e misteriosas nos contos e descrições dos viajantes.

A ilha ainda era apenas visível quando uma fina e embriagadora fragrância das árvores que
cresciam nela envolvia cada vez mais o barco com cada brisa que passava. Finalmente, uma
espécie de nuvem azul deitava-se no horizonte, aumentando de tamanho à medida que a nave se
acercava rapidamente. Já se podiam notar os edifícios construídos ao longo da margem,
enterrados no verdor de majestosas palmeiras, e a multidão multicolor de habitantes locais que
aguardavam a chegada do barco. Os passageiros, que haviam se conhecido rapidamente durante a
viajem, no convés riam e conversavam animadamente entre eles, admirando a maravilhosa cena
da ilha dos contos de fadas que se desenvolvia ante seus olhos. O barco girou lentamente,
preparando-se para atracar na doca da cidade portuária de Colombo.
No referido lugar o navio parou para carregar carvão e os passageiros tiveram tempo suficiente
para desembarcar. O dia era tão caloroso que muitos passageiros decidiram não abandonar o
barco até o anoitecer, quando um agradável frescor substituiu o calor do dia. Um pequeno grupo
de oito pessoas, ao que me uni, estava sendo dirigido pelo Coronel Elliott, que havia estado antes
em Colombo e conhecia bem a cidade e seus arredores. Quem nos fez uma atrativa proposta.
“Damas e cavalheiros! Não lhes gostaria sair uns quilômetros fora da cidade e visitar a um dos
magos-faquires locais? Pode ser, que vejamos algo interessante”. Todos aceitaram com
entusiasmo a proposta do Coronel.

Já era de noite quando deixamos para atrás as ruidosas ruas da cidade e rodamos por um caminho
maravilhoso na selva que brilhava com as faíscas de milhões de vagalumes. Finalmente, de
repente o caminho se alargou e de frente a nós havia um pequeno clarão rodeado por todos os
lados pela selva. Na borda do clarão debaixo de uma grande árvore havia uma espécie de cabana,
junto à qual ardia uma pequena fogueira e um ancião magro, emaciado com um turbante na
cabeça estava sentado com as pernas cruzadas e o olhar imóvel dirigido ao fogo. Apesar de nossa
ruidosa chegada, o ancião permaneceu sentado completamente imóvel, sem prestarmos a menor
atenção. Em algum lugar da escuridão apareceu um jovem, e aproximou-se do Coronel, lhe
perguntou em voz baixa algo. E em pouco tempo ele retirou vários banquinhos e nosso grupo se
dispôs em um semicírculo não longe da fogueira. Levantou se uma fumaça leve e perfumada. O
ancião se sentou na mesma posição, aparentemente sem notar ninguém nem a nada. A lua
crescente que surgiu dissipou em certa medida a escuridão da noite, e em sua luz fantasmal todos
os objetos adquiriram contornos fantásticos. Involuntariamente, todos se aquietaram em silêncio
e esperaram para ver o que ocorreria.

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”Olhem! Olhem ali, na árvore!” Senhorita Mary clamou em um sussurro emocionado. Todos
giramos a cabeça na direção indicada. E de fato, toda a superfície da imensa copa da árvore baixa
o qual estava sentado o faquir parecia fluir lentamente como a suave luz da lua, e a árvore mesmo
começou a derreter-se gradualmente e perder seus contornos; literalmente, uma mão invisível lhe
havia lançado uma capa de ar que se tornava a cada momento mais concentrada. Logo a
ondulante superfície do mar se apresentou com total claridade ante nosso assombrado olhar. Com
um leve estrondo, uma onda seguiu a outra, formando capas brancas de espuma; ligeiras nuvens
flutuavam em um céu que havia se tornado azul. Aturdidos, não conseguíamos nos apartar desta
impactante imagem.

E logo, na distância, apareceu um barco branco. Uma fumaça espessa saiu de suas duas grandes
chaminés. Rapidamente se aproximou a nós, navegando na água. Para nosso grande assombro o
reconhecemos como nosso próprio navio, no qual havíamos chegado a Colombo! Um sussurro
recorreu nossas filas quando liamos na poupa, marcado em letras douradas, o nome de nosso
navio, Luísa. Mas o que mais nos assombrou foi o que vimos no navio: A nós mesmos! Não
esqueçam que no momento em que sucedeu tudo isto nem sequer havia se pensado na
cinematografia e era impossível sequer conceber algo assim. Cada um de nós nos vimos no convés
navio entre pessoas que riam e conversavam entre si. Mas o que foi especialmente assombroso:
não só foi que me ver a mim mesmo, senão que ao mesmo tempo via todo o convés do navio até o
mais mínimo detalhe - como a vista de um pássaro - o que, por suposto, simplesmente não podia
ser realmente. Ao mesmo tempo me vi a mim mesmo entre os passageiros, aos marinheiros
trabalhando no outro extremo do barco, e ao capitão em seu camarote, e inclusive a nosso
macaco “Nelly”, um dos favoritos de todos, comendo bananas no mastro principal. Todos meus
companheiros ao mesmo tempo, cada um à sua maneira, estavam muito emocionados pelo que
viam, expressando suas emoções em voz baixa e sussurros emocionados.

Havia esquecido por completo que era um Hieromonge e, ao parecer, não teria nada a ver com
participar em tal espetáculo. O feitiço foi tão poderoso que tanto a mente como o coração
guardaram silêncio. Meu coração começou a bater dolorosamente alarmado. De repente, estava
fora de mim. Um medo se apoderou de todo meu ser.

Meus lábios começaram a movimentarem-se e a dizer: ”Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tens
piedade de mim, pecador!”; então imediatamente me senti aliviado. Foi como se algumas
correntes misteriosas que me haviam atado começaram a cair. A oração se tornou mais
concentrada e com ela me retornou a paz da alma. Segui olhando a árvore e, de repente, como
perseguido pelo vento, a imagem ficou nublada e se dispersou. Não vi nada mais além da grande
árvore, iluminado pela luz da lua, e também o faquir sentado em silêncio junto à fogueira,
enquanto meus companheiros continuavam expressando o que viviam enquanto contemplavam a
imagem, pois para eles não havia sido quebrado.

35
Mas então, aparentemente, algo também lhe sucedeu ao faquir. Cambaleou-se em direção a um
lado. O jovem correu em direção a ele alarmado. A sessão interrompeu-se de repente.

Profundamente comovidos por tudo o que haviam experimentado, os espectadores se colocaram


de pé, compartindo animadamente suas impressões e não compreendendo absolutamente nada
por que tudo havia sido cortado de forma tão brusca e inesperada. O jovem explicou que se devia
à exaustão do faquir, que estava sentado como antes, com a cabeça baixa e sem prestar a menor
atenção aos presentes.

Depois de haver recompensado generosamente ao faquir através de seu jovem assistente pela
oportunidade de ser participantes de um espetáculo tão assombroso, nosso grupo se reuniu
rapidamente para a viagem de regresso. Ao iniciar minha partida, voltei me involuntariamente
uma vez mais para gravar em minha memória toda a cena e, de repente, me estremeci por um
sentimento desagradável. Meu olhar se encontrou com um olhar cheio de ódio do faquir. Foi só
por um instante, e logo voltou a assumir sua posição habitual; mas este olhar de uma vez por
todas me abriu os olhos para dar-me conta de quem era o poder que havia produzido este
“milagre”.

A “espiritualidade” oriental não se limita de modo algum aos “truques” mediúnicos que praticava
este faquir; veremos alguns de seus aspectos mais verdadeiros no próximo capítulo. Ainda assim,
todo o poder que se lhe outorga aos praticantes das religiões orientais provem do mesmo
fenômeno mediúnico, cuja característica central é uma passividade ante a realidade “espiritual”
que permite entrar em contato com os “deuses” das religiões não cristãs. Este fenômeno pode ser
visto na ”meditação” oriental (inclusive quando se lhe dão o nome de “cristã”), e talvez inclusive
nestes estranhos “dons” que em nossos dias de decadência espiritual denominam lhes
erroneamente “carismáticos”...

36
IV. A meditação oriental invade o cristianismo

Como resposta para a questão da possibilidade de um “diálogo” do cristianismo ortodoxo com as


diversas religiões não cristãs, se apresentou ao leitor o testemunho de três cristãos ortodoxos que
confirmam, sobre a base da doutrina ortodoxa e sua própria experiência, o que a Igreja Ortodoxa
sempre tem ensinado: que os cristãos ortodoxos não têm em absoluto o “mesmo Deus” que os
chamados “monoteístas” que negam a Santíssima Trindade; que os deuses dos pagãos são de fato
demônios; e que as experiências e poderes que os “deuses” pagãos podem proporcionar e
proporcionam são de natureza satânica. Tudo isto de nenhuma maneira contradiz as palavras de
São Pedro, que dizem: que Deus não faz acepção de pessoas, senão que em toda nação se
agrada do que lhe teme e faz justiça (Atos 10: 34-5); ou nas palavras de São Paulo, as quais
sinalizam que Deus em tempos passados permitiu que todas as nações caminhassem por seus
próprios caminhos. Se bem não se deixou a si mesmo sem testemunho, fazendo bem, dando-nos
chuvas do céu e tempos frutíferos, preenchendo de sustento e de alegria nossos corações. (Atos
14:17). Aqueles que vivem na servidão de Satanás o príncipe deste mundo (João 12:31), nas trevas
que não são iluminadas pelo Evangelho cristão, são julgados à luz desse testemunho natural de
Deus que todo homem pode ter, apesar desta escravidão.

37
Para o cristão, contudo, a quem foi dado a Revelação de Deus, nenhum “diálogo” é possível com
os que estão fora da Fé. “Não se unam com os incrédulos em um jugo desigual. Pois o que tem
em comum a justiça com a injustiça? E que relação pode haver entre a luz e as trevas? E quem
concordância tem Cristo com Belial? O que tem em comum o crente com o incrédulo? ...
Portanto, o Senhor disse: ‘Saiam do meio deles, e apartem-se; e não toquem o imundo; e eu os
receberei’” (II Cor. 6: 14-17). O Chamado cristão é melhor trazê-los à luz do Cristianismo Ortodoxo,
como o fez São Pedro com a casa temerosa de Deus de Cornélio o Centurião (Atos 10: 34-48), para
iluminar suas trevas e uni-los ao rebanho eleito da Igreja de Cristo.

Tudo isto é bastante obvio para os Cristãos Ortodoxos que conhecem e são fiéis à Verdade da
Revelação de Deus na Igreja de Cristo. Mas muitos que se consideram cristãos, tem muito pouca
consciência, da diferença radical entre o cristianismo e todas as demais outras religiões; e alguns
que podem ter esta consciência têm muito pouco discernimento na área das “experiências
espirituais”, um discernimento que tem sido praticado e transmitido nos escritos Ortodoxos e na
vida dos santos durante quase 2000 anos.

Na ausência de tal consciência e discernimento, a crescente presença de movimentos religiosos


orientais no Ocidente, especialmente na última década ou duas passadas, tem causado grande
confusão nas mentes de muitos aspirantes a cristãos. O caso de Thomas Merton vem
imediatamente à mente; um sincero converso ao catolicismo romano e ao monaquismo católico
faz uns quarenta anos (muito antes das reformas radicais do Vaticano II), terminou seus dias
proclamando a igualdade das experiências religiosas cristãs e a experiência do budismo zen e
outras religiões pagãs. Algo há “entrado no ar” nestas duas décadas passadas mais ou menos que
corroeu ou permaneceu de uma sólida perspectiva cristã no protestantismo e o catolicismo
romano e agora está atacando está mesma Igreja, a Santa Ortodoxia. O “diálogo com as religiões
não cristãs” é mais um resultado do que uma causa deste novo “espírito”.

Neste capítulo examinaremos alguns dos movimentos religiosos orientais que mais têm
influenciado na década de 1970, com especial ênfase nos intentos de desenvolver um sincretismo
do cristianismo e as religiões orientais, particularmente no âmbito das “práticas espirituais”. Tais
tentativas costumam citar a Filocalia e a Tradição Ortodoxa oriental da oração contemplativa
como mais afins que qualquer coisa que exista no Ocidente às práticas espirituais orientais; há
chegado o momento, então, de mostrar claramente o grande abismo que existe entre a
“experiência espiritual” cristã e não cristã, e por que a filosofia religiosa que é subjacente a este
novo sincretismo é falsa e perigosa.

1. Yoga Cristão

38
A yoga hindu é conhecida no Ocidente desde muitas décadas, e especialmente na América tem
dado lugar a inumeráveis cultos e também a uma forma popular de fisioterapia que supostamente
não é religiosa em seus objetivos. Há quase vinte anos, um monge beneditino francês escreveu
sobre suas experiências ao fazer da yoga uma disciplina “cristã”; a descrição que segue é retirada
de seu livro5.

A yoga hindu é uma disciplina que pressupõe uma vida bastante abstemia e disciplinada, e
centrada no controle da respiração e certas posturas físicas que produzem um estado de
relaxamento no que se medita, geralmente com a ajuda de um mantra ou invocação sagrada que
ajuda à concentração. A essência da Yoga não é a disciplina em si, senão a meditação que é seu
fim. O autor tem razão quando escreve: “Os objetivos da yoga hindu são espirituais. É equivalente
a uma traição ignorar isto e reter só o lado puramente físico desta antiga disciplina, e ver nela
nada mais que um meio para a saúde corporal ou a beleza” (p. 54). Nisto há que adicionar, que a
pessoa que utiliza a Yoga só para o seu bem estar físico já está se dispondo a certas atitudes
espirituais e inclusive a experiências que indubitavelmente desconhece; mais sobre isto será dito
abaixo.

O mesmo autor continua: “A arte do yogui é estabelecer se num silêncio completo, e esvaziar se de
todos os pensamentos e ilusões, descartar e esquecer tudo menos esta ideia: o verdadeiro eu do
homem é divino; é Deus, e o resto é silêncio” (p. 63).

Claro, esta ideia não é cristã, mas sim pagã; no entanto o fim do “Yoga cristão” é utilizar a técnica
do Yoga para um objetivo espiritual diferente, que é para uma meditação “cristã”. O objetivo da
técnica do Yoga, deste ponto de vista, é fazer que um esteja relaxado, contente, irreflexivo e
passivo ou receptivo às ideias e experiências espirituais. “Tão logo que tenhas adotado a postura,
sentirás que teu corpo se relaxará e uma sensação de bem-estar geral se instalará em ti” (p. 158).
Os exercícios produzem uma “extraordinária sensação de calma”. (p. 6). “No começo, tem-se a
sensação de um relaxamento generalizado, de um bem-estar sustentado, de uma euforia que pode
ser e de fato é duradoura. Se os nervos têm estado tensos e sobrecarregados, os exercícios os
acalmam e a fadiga desaparece em pouco tempo” (p. 49). “O objetivo de todos os seus esforços
(do yogui) é silenciar o eu pensante nele fechando os olhos a todo tipo de tentação” (p. 55). A
euforia que traz o Yoga “bem poderia chamar-se um ‘estado de saúde’ que nos permite fazer mais
e fazê-lo melhor no plano humano para começar, e posteriormente no plano religioso espiritual
Cristão. A palavra mais adequada para o descrever é alegria, uma alegria que habita em corpo e
alma e nos predispõe ... em direção à vida espiritual” (p. 31). Toda a pessoalidade de uma pessoa
pode ser mudada por completo: “O Hatha Yoga influência no carácter para bem. Um homem,
depois de algumas semanas de prática, admite que já não se conhece a si mesmo, e todos notam
uma mudança em seu comportamento e reação. É mais gentil e mais compreensivo. Enfrenta à
experiência com calma. Está contente ... Toda sua pessoalidade foi alterada e ele mesmo a sente
estabilizar-se e abrir-se; daí surge então uma condição quase permanente de euforia, de
‘satisfação’” (p. 50).
5
J. M. Dechanet, Christian Yoga, Harper & Row, N.Y., 1972: Primeira tradução para o português, 1964.

39
Mas tudo isto é só uma preparação para um fim “espiritual”, que começa a fazer-se sentir em
muito pouco tempo: “Ao tornar-me contemplativo em questão de semanas, minha oração havia
adquirido um tom particular e novo” (p.7). Tornando-se extraordinariamente calmo, o autor nota
“a facilidade que senti ao entrar em oração, ao concentrar-me em um tema” (p. 6). Alguém se
torna “mais receptivo aos impulsos e indicações do céu” (p. 13). “A prática da Yoga aumenta a
flexibilidade e a receptividade e, portanto, a abertura para essas trocas pessoais entre Deus e a
alma que marcam o caminho da vida mística” (p. 31). Inclusive para o “aprendiz de yogui” a oração
se torna “doce” e “abraça a totalidade do homem” (p. 183). Esteja relaxado e “pronto para tremer
ante o toque do Espírito Santo, para receber e acolher o que Deus em sua bondade crê ser
conveniente para deixar-nos experimentar” (p. 71). “Estaremos preparando o nosso ser para que
seja levado, seja agarrado - e esta é seguramente uma das formas, de fato a mais alta da
contemplação cristã” (p. 72). “Todos os dias os exercícios, e de fato toda a disciplina ascética de
minha Yoga, facilitam as coisas para que a graça de Cristo flua em mim, sinto que cresce minha
fome de Deus, minha sede de justiça e meu desejo de ser cristão em toda a força da palavra” (p.
11).

Qualquer um que compreenda a natureza do engano espiritual ou prelest (veja mais adiante,
páginas 176-9) reconhecerá nesta descrição do “Yoga cristão” precisamente as características
daqueles que se têm se enganado espiritualmente, tanto em experiências religiosas pagãs ou
experiências “Cristãs” sectárias. A mesma busca de “sentimentos santos e divinos”, a mesma
abertura e vontade de ser “apreendido” por um espírito, a mesma busca não de Deus senão de
“conselhos espirituais”, a mesma embriagues que se confunde com um “estado da graça”, a
mesma incrível facilidade com a qual qualquer um se torna “contemplativo” ou ”místico”, as
mesmas “revelações místicas” e estados pseudo-espirituais são as características comuns de todos
os que se encontram neste estado particular de engano espiritual. Mas o autor de Christian Yoga,
sendo um monge beneditino, agrega algumas “meditações” particulares que o revelam
plenamente no espírito da “meditação” católica romana dos últimos séculos, com seu livre jogo de
fantasias sobre temas cristãos. Assim, por exemplo, havendo meditado sobre um tema da missa
de véspera de natal, começa a ver ao Menino nos braços de sua Mãe: “ Eu olho; nada mais. Cenas,
ideias (associações de ideias: Salvador-Rei-Luz-Auréola-Pastor-Criança-Luz novamente) vem um
após o outro, desfilam ... Todas estas peças de um sagrado quebra cabeças em seu conjunto
despertam em mim uma ideia ... uma visão silenciosa de todo o mistério da Natividade” (págs.
161-2). Qualquer um com o mais mínimo conhecimento da disciplina espiritual Ortodoxa verá que
este lastimoso “yogui cristão” caiu comodamente em uma armadilha preparada por um dos
demônios menores que possuem o buscador de “experiências espirituais”: nem sequer viu um
“anjo de luz”, só deu passo a suas próprias “fantasias religiosas”, produto de um coração e uma
mente totalmente sem preparação para a guerra espiritual e os enganos dos demônios. Este tipo
de “meditação” se pratica hoje em dia em vários conventos e monastérios católicos romanos.

O fato de que o livro conclua com um artigo do tradutor francês da Filocalia, junto com extratos da
Filocalia, só revela o abismo que separa a estes diletantes da verdadeira espiritualidade da

40
Ortodoxia, totalmente inacessível para os “sábios” modernos que já não entendem seu idioma.
Um indício suficiente da incompetência do autor para compreender a Filocalia é o fato de que dê o
nome de “oração do coração” (que na Tradição Ortodoxa é a oração mental mais elevada,
adquirida por muitos poucos só depois de muitos anos de luta ascética e humilhação por um
verdadeiro ancião portador de Deus) ao fácil truque de recitar sílabas ao ritmo dos batimentos do
coração (p. 196).

Comentaremos com mais detalhe a continuação dos perigos deste “Yoga cristão” ao mostrar o que
possuem em comum com outras formas de “meditação oriental” que se oferecem aos cristãos na
atualidade.

2. Zen Cristão

Uma prática religiosa oriental a um nível mais popular se oferece no livro de um sacerdote católico
irlandês: William Johnston, Christian Zen6. O autor parte basicamente do mesmo lugar que o autor
do Christian Yoga: um sentimento de insatisfação com o cristianismo ocidental, um desejo de dar
lhe uma dimensão de contemplação ou meditação. “Muitas pessoas, descontentes com as velhas
formas de oração, descontentes com as antigas devoções que alguma vez serviram tão bem, estão
buscando algo que satisfaça as aspirações do coração moderno” (p. 9). “O contato com o Zen ...
abriu-me novas perspectivas, ensinando-me que há possibilidades no cristianismo que nunca antes
havia sonhado existirem”. Pode-se “praticar o Zen como uma forma de aprofundar e ampliar sua
Fé cristã” (p. 2).

A técnica do Zen japonês é muito similar à do Yoga índio, do que se deriva em última instância,
embora seja bastante mais simples. Existe a mesma postura básica (mas não a variedade de
posturas do Yoga), técnica de respiração, a repetição de um nome sagrado caso desejado, assim
como outras técnicas próprias do Zen. O objetivo destas técnicas é o mesmo que o do Yoga: abolir
o pensamento racional e alcançar um estado de meditação tranquila e silenciosa. A posição
sentada “impede o raciocínio e o pensamento, discursivos” e lhe permite a qualquer um descer
para o “centro do seu ser em uma contemplação silenciosa e sem imagens” (p. 5) para um “reino
profundo e belo de vida psíquica” (p. 17), ao “profundo silêncio interior” (p. 16). A experiência
assim obtida é algo similar ao que se tem tomando drogas, porque “as pessoas que consomem
drogas entendem um pouco sobre o Zen, já que despertaram à compreensão de que há uma
profundidade na mente que vale a pena explorar" (pág.35). E, contudo, esta experiência abre
“uma nova abordagem a Cristo, uma que é menos dualista e mais oriental” (p. 48). Inclusive os
principiantes no Zen podem alcançar “um sentido de união e uma atmosfera de presença
sobrenatural” (p. 31), um sabor do “silêncio místico” (p. 30); através do Zen, o estado de

6
Harper & Row, New York, 1971.

41
contemplação até agora restringido a uns poucos “místicos” pode “ampliar-se” e “todos podem ter
visão, todos podem alcançar o samadhi” (iluminação) (p. 46).

O autor de Cristão Zen fala da renovação do cristianismo; mas admite que a experiência que ele
crê que pode provocá-la a pode ter qualquer um, cristão ou não cristão. ”Creio, que existe uma
iluminação básica que não é nem cristã, nem budista e nem nenhuma outra coisa. É simplesmente
humana” (p. 97). De fato, em uma convenção sobre meditação em um templo zen próximo de
Kioto, “o surpreendente da reunião foi a falta de uma fé comum. Ninguém parecia interessado no
mínimo que os demais criam ou não criam, e ninguém pelo que lembro, nem sequer mencionou o
nome de Deus" (p. 69). Este caráter agnóstico da meditação tem uma grande vantagem para
propósitos “missionários”, porque “desta maneira se pode ensinar a meditação para as pessoas
que têm pouca fé, aos que têm problemas de consciência ou temem que Deus esteja morto. Estas
pessoas sempre podem sentar-se e respirar. Para elas a meditação se converte em uma busca, e
descobri que as pessoas que começam a buscar desta maneira finalmente encontram a Deus. Não
ao Deus antropomórfico que têm rechaçado, senão ao grande ser em que vivemos, nos movemos e
somos" (p. 70).

A descrição do autor da experiência da “iluminação” Zen revela sua identidade básica com a
experiência “cósmica” proporcionada pelo xamanismo e muitas religiões pagãs, “Eu mesmo creio
que dentro de nós estão contidas torrentes e mais torrentes de alegria que podem ser liberadas
pela meditação; as vezes quebram com uma força incrível, inundando a pessoalidade com uma
felicidade extraordinária que vem de não se sabe onde” (p. 88). Curiosamente, o autor, ao
regressar à América depois de vinte anos vivendo no Japão, encontrou esta experiência muito
próxima à experiência pentecostal, e ele mesmo recebeu o “Batismo do Espírito” em uma reunião
“carismática” (p. 100). O autor concluiu: “Voltando ao encontro pentecostal, me parece que a
imposição das mãos, as orações do povo, a caridade da comunidade, podem ser forças que
libertam o poder psíquico que traz a iluminação à pessoa que estava praticando zazen
constantemente” (págs. 92-93). Examinaremos no sétimo capítulo deste livro a natureza da
experiência pentecostal ou “carismática”.

Pouco há que dizer ao criticar estes pontos de vista; que são basicamente os mesmos que os do
autor de Cristão Yoga, só que menos esotéricos e mais populares. Qualquer um que creia que a
experiência agnóstica e pagã do Zen pode ser usada para uma “renovação contemplativa dentro
do cristianismo”(p. 4) seguramente não sabe nada da grande tradição contemplativa da Ortodoxia,
que pressupõe uma Fé ardente, uma Fé verdadeira e uma intensa luta ascética; e contudo, o
mesmo autor não dúvida em mover à Filocalia e às “grandes escolas Ortodoxas” a sua narrativa,
afirmando que também conduzem à condição de “silêncio e paz contemplativos” e que são um
exemplo do “Zen dentro da tradição cristã.” (p. 39); e advoga pelo uso da Oração de Jesus
durante a meditação Zen para aqueles que o desejem (p. 28). Tal ignorância é positivamente
perigosa, especialmente quando quem a possui convida aos estudantes de suas conferências,
como um experimento de “misticismo”, a “sentar-se em zazen durante quarenta minutos cada
noite” (p. 30). Quantos falsos profetas sinceros e equivocados há no mundo de hoje, cada um

42
pensando que está trazendo benefício a seus semelhantes, no lugar de uma convocação ao
desastre psíquico e espiritual! Disto falaremos mais na conclusão abaixo.

3. Meditação Transcendental

A tônica da meditação oriental conhecida como “Meditação Transcendental” (ou "MT" abreviado)
alcançou tal popularidade em poucos anos, especialmente nos Estados Unidos, e é defendida em
um tom tão escandalosamente frívolo, que qualquer estudioso sério das correntes religiosas
contemporâneas se inclinará a princípio a descartá-lo como um mero produto exagerado da
publicidade e ou espetáculo estado-unidenses. Mas isto seria um erro, já que em suas sérias
afirmações não difere marcadamente do Yoga e o Zen, e um olhar sobre suas técnicas revela como
pode ser mais autenticamente “oriental” que qualquer um dos sincretismos algo artificial descritos
no “Cristão Yoga” e “Cristão Zen”.

Segundo um relatório padrão deste movimento7, a “Meditação Transcendental” foi trazida aos
Estados Unidos (onde teve seu êxito mais espetacular) por um yogui índio muito “pouco
ortodoxo”, Maharishi Mahesh Yogi, e começou a crescer notavelmente por volta de 1961. Em
1967 recebeu ampla publicidade quando a famosa banda os “Beatles” se converteu e
abandonaram as drogas; no ano seguinte a situação foi adversa para o Maharishi já que em sua
turnê estado-unidense, junto com outro grupo de cantantes conversos chamados “Beach Boys”,
foi suspensa devido a um fracasso financeiro. O movimento em si, contudo, continuou crescendo:
em 1971 havia uns 100.000 meditadores seguindo-o, com 2000 instrutores especialmente
capacitados, o que o tornou, bastante, no maior movimento de “espiritualidade oriental” da
América. Em 1975, o movimento alcançou seu ponto máximo, com aproximadamente 40.000
aprendizes por mês e mais de 600.000 seguidores no total. Durante estes anos foi amplamente
utilizado no exército, escolas públicas, prisões, hospitais e por grupos eclesiásticos, incluídas as
paróquias da Arquidiocese grega na América, como uma forma supostamente neutra de “terapia
mental” que é compatível com qualquer tipo de crença ou práticas religiosas. O curso "MT" está
especialmente desenhado para a forma de vida na América e foi chamado com simpatia “um curso
sobre como ter êxito espiritualmente sem esforçar se realmente” (pág. 17); o mesmo Maharishi o
chama de uma técnica que é “como escovar os dentes” (pág. 104). O Maharishi foi fortemente
criticado por outros yoguis hindus por baratear a longa tradição do Yoga na Índia ao fazer que esta
prática esotérica esteja disponível para as massas a troco de dinheiro (o valor cobrado em 1975
era de $ 125 pelo curso, $ 65 para os estudantes universitários e progressivamente menos para a
escola secundária, a escola primária e para os meninos mais pequenos).

7
Todas as citações neste trecho são de Jhan Robbins e David Fisher, Tranquility Without Pills (Tudo sobre a
meditação transcendental), Peter H. Wyden, Inc., N.Y., 1972.

43
Em seus objetivos, pressuposições e resultados, a “MT” não difere marcadamente do “Yoga
cristão” ou do “Zen cristão”; se diferencia deles principalmente na simplicidade de suas técnicas e
de toda sua filosofia, e na facilidade com que se atingem seus resultados. Como eles, ”a MT não
requer nenhuma crença, compreensão, código moral ou inclusive acordo com as ideias e a
filosofia” (pág. 104); é uma técnica pura e simples, que “se baseia na tendência natural da mente a
mover se em direção a uma maior felicidade e prazer ... Durante a meditação transcendental se
espera que sua mente siga o que seja mais natural e mais agradável” (pág. 13). “A meditação
transcendental é primeiro uma prática e depois uma teoria. É essencial a princípio que um
indivíduo não pense em absolutamente nada intelectualmente" (pág. 22).

A técnica que o Maharishi idealizou é invariavelmente a mesma em todos os centros de “MT” no


mundo: depois de duas conferências introdutórias, paga se a taxa cobrada e logo vem a
“iniciação”, que contempla uma coleção aparentemente estranha de coisas, sempre as mesmas:
três peças de fruta doce, ao menos seis flores frescas e um pano limpo (pág. 39). Estas coisas são
colocadas em uma cesta e são levadas à pequena “sala de iniciação”, onde as colocam sobre uma
mesa ante um retrato do guru do Maharishi, de quem receberam sua iniciação no yoga; na mesma
mesa queimam uma vela e um incenso. O discípulo fica só na habitação com seu mestre, que deve
receber a iniciação e ser instruído pessoalmente pelo Maharishi. A cerimônia ante o retrato dura
meia hora e se compõe de um suave canto em sânscrito (com significado desconhecido para o
iniciado) e um canto dos nomes dos “mestres” da Yoga do passado; ao final da cerimônia, o
iniciado recebe um “mantra”, uma palavra secreta em sânscrito que deve repetir sem cessar
durante a meditação, e que ninguém deve conhecer exceto seu mestre (pág. 42). A tradução para
o inglês desta cerimônia nunca é revelada aos iniciados; só está disponível para os professores e os
próprios iniciadores. Está contida em um manual inédito chamado “A Sagrada Tradição”, e seu
texto foi impresso agora pelo “Projeto de Falsificações Espirituais” em Berkeley como um folheto
separado. Esta cerimônia não é mais que uma cerimônia tradicional hindu de adoração aos deuses
(puja), incluído o guru deificado do Maharishi (Shri Guru Dev) e toda a linha de “mestres” através
dos quais ele mesmo recebeu sua iniciação. A cerimônia termina com uma série de vinte e duas
“oferendas” feitas ao guru do Maharishi, cada uma terminando com as palavras “Me prostro ante
Shri Guru Dev”. O próprio iniciador se inclina ante um retrato de Guru Dev ao final da cerimônia e
convida o iniciado a fazer o mesmo; só então este último é iniciado. (A reverência não é
absolutamente necessária para o iniciado, mas as oferendas sim, estas são).

Assim, o agnóstico moderno, geralmente desprevenido, foi introduzido no âmbito das práticas
religiosas hindus; com bastante facilidade se lhe obrigou a fazer algo ante o qual, seus próprios
antepassados cristãos, talvez, haviam preferido a tortura e uma morte cruel: no lugar de
oferecerem sacrifícios aos deuses pagãos. No plano espiritual, pode ser este pecado, mais que a
técnica psíquica em si, o que explique principalmente o espetacular êxito da “MT”.

Uma vez iniciado, o estudante de “MT” medita duas vezes ao dia durante vinte minutos cada vez
(exatamente a mesma quantidade recomendada pelo autor de Yoga cristão), deixando que a
mente divague livremente e repetindo o mantra com tanta frequência como pensa nela;

44
regularmente, as experiências do estudante são revisadas por seu mestre. Muito rapidamente,
inclusive no primeiro intento, se começa a entrar em um novo nível de consciência, que não é nem
sonho nem vigília: é o estado de “meditação transcendental”. “A meditação transcendental produz
um estado de consciência diferente a tudo o que tenhamos conhecido antes, e o mais próximo a
este estado é o Zen desenvolvido depois de muitos anos de intenso estudo” (p. 115). ”Em contraste
aos anos que se devem dedicar para dominar outras disciplinas religiosas e o Yoga, que oferecem
os mesmos resultados que afirmam os defensores da MT, os professores dizem que a MT pode ser
ensinada em questão de minutos” (págs. 110-111). Alguns que o experimentaram o descrevem
como um “estado de plenitude” similar a algumas experiências com drogas (p. 85), mas o mesmo
Maharishi o descreve em termos hindus tradicionais: “Este estado se encontra mais além de todo
sentimento de ver, ouvir, tocar, cheirar e saborear mais além de todo pensamento e sentimento.
Este estado da consciência pura, absoluta e não manifestada do Ser é o estado último da vida” (p.
23). “Quando um indivíduo desenvolve a capacidade de levar este estado profundo ao nível
consciente de forma permanente, se diz que alcançou a consciência cósmica, a meta de todos os
meditadores” (p. 25). Nas etapas avançadas da “MT” ensinam as posições básicas do Yoga, mas
não são necessárias para o êxito da técnica básica; tão pouco se requer alguma preparação
ascética. Uma vez que se tenha alcançado o “estado transcendental do ser”, tudo o que se requer
do praticante são vinte minutos de meditação duas vezes ao dia, já que esta forma de meditação
não está do tudo separada da vida diária, como na Índia, senão que é uma disciplina para quem
leva uma vida ativa. A distinção do Maharishi reside em levar este estado de consciência a todos,
não só a uns poucos escolhidos.

Existem numerosas histórias do êxito do ”MT”, o qual afirma ser eficaz em quase todos os casos;
através dele os hábitos das drogas são superados, as famílias se reencontram, qualquer um se
torna são e feliz; os professores de MT sorriem constantemente, transbordantes de felicidade.
Geralmente, a MT não substitui outras religiões, mas fortalece a crença em quase qualquer coisa;
os “cristãos”, já sejam protestantes ou católicos, também creem que a MT faz que suas crenças e
práticas sejam mais significativas e profundas (p. 105).

O rápido e fácil êxito da “MT”, se bem é um sintoma do declive da influência do cristianismo na


humanidade contemporânea, também provocou sua rápida decadência. Talvez mais que qualquer
outro movimento de “espiritualidade oriental”, tem o caráter de uma “moda passageira”, e o
objetivo anunciado do Maharishi de “iniciar” toda a humanidade está evidentemente condenado
ao fracasso. Depois de seu apogeu no ano 1975, o índice de matriculas nos cursos de “MT”
diminuiu constantemente, tanto que em 1977 a organização anunciou a abertura de uma série
completamente nova de cursos avançados, obviamente idealizados para recuperar o interesse e o
entusiasmo do público. Os cursos estavam destinados a conduzir aos iniciados aos “siddhis” ou
“poderes sobrenaturais” do hinduísmo: caminhar através das paredes, tornar se invisível, levitar e
voar pelo ar, e coisas do tipo. Os cursos geralmente foram recebidos com cinismo, embora um
folheto da “TM” apresentasse uma fotografia de um meditador "levitando" (ver Revista Time, 8 de
agosto de 1977, p. 75). Se os cursos (que custavam até $3000) produziram ou não os resultados
divulgados, que estão ao nível dos tradicionais “faquires” da Índia (ver acima, págs. 56-61) - a

45
“MT” em si mesma se revelou como uma fase passageira de interesse oculto na segunda metade
do século XX. Já haviam publicado muitos exemplos de mestres e discípulos do “MT” que estavam
aflitos pelas enfermidades comuns de quem invade no oculto: enfermidades mental e emocional,
suicídio, tentativas de assassinatos, possessão demoníaca, etc.

Em 1978, um tribunal federal dos Estados Unidos tomou a decisão de que a “MT” é de fato de
natureza religiosa e não pode ensinar nas escolas públicas8. Esta decisão, sem dúvida, limitará
ainda mais a influência da “MT”, que provavelmente continue existindo como uma das muitas
formas de meditação, que um grande número de pessoas enxerga como compatível com o
cristianismo, outro triste sinal dos tempos.

8
Veja TM in Court: The complete text of the Federal Court´s opinion in the case of Malnak v. Maharishi
Mahesh Yogi; Spiritual Counterfeits Project, P.P. Box 4308, Bekkeley, Ca., 94704; $ 2.00 postpaid.

46
V. A “Nova consciência Religiosa”

O ESPÍRITO dos CULTOS ORIENTAIS na DÉCADA DE 1970

OS três TIPOS de “meditação cristã” descritos anteriormente são só o começo; em geral, se pode
dizer que a influência das ideias e práticas religiosas orientais sobre o Ocidente, uma vez cristão,
alcançou proporções assombrosas na década de 1970. Em particular, nos Estados Unidos, que há
apenas duas décadas ainda era religiosamente “provincial” (salvo em algumas grandes cidades),
seu horizonte espiritual limitado em grande medida ao protestantismo e ao catolicismo romano,
viu uma deslumbrante proliferação de cultos e movimentos religiosos orientais (e pseudo-
orientais).

A história desta proliferação pode ser rastreada desde a inquieta desilusão da geração posterior à
Segunda Guerra Mundial, que se manifestou pela primeira vez na década de 1950 num protesto
vazio e de libertinagem moral da “geração beat”, cujo interesse pelas religiões orientais foi a
princípio bastante acadêmico e principalmente um sinal de insatisfação com o “cristianismo”.
Seguiu-se uma segunda geração, a dos “hippies” da década de 1960 com sua música “rock”,
drogas psicodélicas e a busca de uma “maior consciência” a qualquer preço; nesse momento os
jovens estado-unidenses se submergiram de todo coração nos movimentos políticos de protestos
(especialmente contra a guerra de Vietnam) por um lado, e a fervente prática das religiões
orientais e por outro lado os gurus índios, os lamas tibetanos, os mestres zen japoneses e outros
“sábios” orientais chegaram ao Ocidente e encontraram uma multidão de discípulos prontos para
fazê-los exitosos mais além dos sonhos dos swamis ocidentalizados das gerações precedentes; por
outra parte, os jovens viajaram aos confins do mundo, inclusive às alturas do Himalaia, para
encontrar a sabedoria ou o mestre ou a droga que lhes traria a “paz” e a “liberdade” que
buscavam.

Na década de 1970, uma terceira geração sucedeu aos “hippies”. Exteriormente mais tranquila,
com menos “demonstrações” e, em geral, com um comportamento menos extravagante, esta
geração aprofundou-se mais nas religiões orientais, cuja influência agora havia se tornado muito
mais generalizada do que nunca. Para muitos desta nova geração, a “busca” religiosa havia
terminado: haviam encontrado uma religião oriental de seu agrado e agora estavam seriamente
ocupados em praticá-la. Vários movimentos religiosos orientais já se haviam convertido em
“nativos” do Ocidente, especialmente na América: agora há monastérios budistas compostos
inteiramente por conversos ocidentais, e pela primeira vez haviam aparecido gurus estado-
unidenses e outros gurus ocidentais e mestres zen.

Olhemos em algumas descrições de fotos de acontecimentos reais a princípios e meados da


década de 1970 - que ilustram o domínio das ideias e práticas orientais entre muitos jovens
estado-unidenses (que são somente a “vanguarda” da juventude do mundo inteiro). As duas

47
primeiras imagens mostram uma implicação mais superficial com as religiões orientais, e talvez
sejam só um vestígio da geração dos anos sessenta; as duas últimas revelam a mais profunda
implicação característica dos anos setenta.

1. Hare Krishna em São Francisco

”Numa rua que passa pelo Golden Gate Park, na seção Haight-Ashbury de São Francisco, se
encontrava o templo da consciência de Krishna ... Sobre a entrada do templo estavam escrito em
uma madeira de sessenta centímetros de altura, ‘Hare Krishna’. As vitrines das tendas estavam
cobertas com mantas estampadas em vermelho e laranja.”

"Os sons de cânticos e música encheram a rua, ao redor haviam dezenas de pinturas de cores
brilhantes na parede, tapetes grossos vermelhos no piso e uma névoa de fumaça no ar. Esta
fumaça era incenso, um elemento próprio de cerimônias. As pessoas na sala estavam cantando
suavemente palavras em sânscrito apenas audíveis. A sala estava quase cheia, com umas
cinquenta pessoas que pareciam serem jovens sentadas no só. Reunidas à frente havia umas vinte
pessoas que vestiam roupa larga e folgada, vestiam túnicas laranjas e açafrão, com uma pintura
branca no nariz. Muitos deles haviam rapado a cabeça com a exceção de um rabo de cavalo. As
mulheres que os acompanhavam também tinham pintura branca no nariz e pequenas marcas
vermelhas na frente. Os Outros jovens na habitação não pareciam diferentes dos outros
habitantes de Haight-Ashbury, vestidos com bandanas para a cabeça, cabelos largos, barbas e uma
variedade de argolas, campanas e contas, e também participavam com entusiasmo na cerimônia.
As dez pessoas sentadas na parte de trás pareciam ser visitantes pela primeira vez.

“A cerimônia do canto (mantra) aumentou em ritmo e volume. Duas meninas com túnicas largas
de cor açafrão agora dançavam ao ritmo do cântico. O líder da cerimônia começou a gritar as
palavras (do canto em sânscrito) ... o grupo repetiu as palavras e tratou de manter a entonação e o
ritmo do líder. Muitos dos participantes tocavam instrumentos musicais. O líder tocava um tambor
de mão ao compasso de seu canto. As duas bailarinas, que se balanceavam, tocavam pratos com
os dedos. Um jovem soprava uma concha marinha, outro golpeava um pandeiro ... nas paredes do
templo havia mais de uma dezena de pinturas de cenas do Bhagavad-Gita.

“A música e os cânticos se tornaram muito fortes e rápidos. O tambor soava incessantemente.


muitos dos devotos começaram a gritar por sua conta, com as mãos estendidas, em meio ao
cântico geral. O líder se arrodeou em frente a uma foto do mestre espiritual do grupo em um
pequeno santuário acerca da frente da sala. O canto culminou em um forte crescendo e a sala
aquietou em silêncio. Os celebrantes se arrodearam com a cabeça no só enquanto o líder dizia

48
uma breve oração em sânscrito. Logo gritou cinco vezes: “Todas as glórias aos devotos reunidos”,
‘que os demais repetiram antes de sentarem-se”9.

Este é um dos típicos serviços de adoração do movimento “Consciência de Krishna”, que foi
fundado nos Estados Unidos em 1966 por um ex-empresário índio, A.C. Bhaktivedanta, para levar
a disciplina hindu do Bhakti yoga aos desorientados jovens buscadores de Ocidente. A fase
anterior de interesse nas religiões orientais (nos anos 50 e princípios dos anos 60) havia enfatizado
a investigação intelectual sem muita participação pessoal; esta nova fase exige uma participação
incondicional. Bhakti yoga significa unir-se a um mesmo com o “deus” escolhido para amá-lo e
adorá-lo, e mudar toda a vida para converter-se na ocupação central. Através dos meios não
racionais de adoração (canto, música, dança, devoção) a mente se “expande” e alcança-se a
“consciência de Krishna”, o qual, se suficientes pessoas o fazem, supõe-se que terminará com os
problemas de nossa idade desordenada e marcaram o começo de uma nova era de paz, amor e
unidade.

As túnicas brilhantes dos “Krishnas” se converteram em um espetáculo familiar em São Francisco,


especialmente no dia de cada ano em que o imenso ídolo de seu “deus” atravessava o Golden
Gate Park até o oceano, acompanhado de todos os sinais de devoção hindu de uma cena típica da
Índia pagã, mas que era algo novo para a América “cristã”. Desde São Francisco, o movimento se
estendeu ao resto de América e Europa Ocidental; em 1974 haviam 54 templos de Krishna em
todo o mundo, muitos deles próximos de colégios e universidades (os membros do movimento
eram quase todos muito jovens).

A recente morte do fundador do movimento criou interrogantes sobre seu futuro; e de fato sua
adesão, embora muito visível, foi bastante pequena em número. Contudo, como um “sinal dos
tempos”, o significado do movimento é claro e deveria ser muito perturbador para os cristãos:
hoje em dia muitos jovens buscam um “deus” a que adorar e a forma mais descarada de
paganismo não é demais para que eles a aceitem.

2. O guru Maharajji no Astrodome de Houston

No outono de 1973, vários gurus orientais da nova escola, dirigidos por Maharishi Mahesh Yogi
com sua "TM", haviam chegado ao Ocidente e haviam conseguido reunir a seguidores, somente
para sumirem da visão pública depois de um breve reinado sob o resplendor da publicidade. O
guru Maharaj-ji foi o mais espetacular e, poderia se dizer também, escandaloso destes gurus. Com
quinze anos, já havia sido proclamado “Deus”, sua família (mãe e três irmãos) era a “Sagrada
Família”, e sua organização (a “Missão Luz Divina”) teria comunidades (Ashrams) por toda
América. Se esperava que seus 80.000 seguidores (“premies”), como os seguidores de Krishna,
9
Charles Glock e Robert Bellah, The New Religious Consciousness, University of California Press, Berkeley,
1976 , pp . 31-32

49
abandonariam os prazeres mundanos e meditariam para alcançar uma consciência “expandida”
que os fizesse perfeitamente pacíficos, felizes e “bem-aventurados” - um estado de ânimo no que
tudo parece belo e perfeito tal como é. Em uma iniciação especial na que “recebem o
conhecimento”, aos discípulos se lhes mostra uma luz intensa e outros três sinais dentro de si
mesmos, sobre os quais logo podem meditar a vontade (The New Religious Consciousness, p. 54).
Além deste “conhecimento”, os discípulos estão unidos na crença de que Maharaj-ji é o “Senhor
do Universo” que veio para inaugurar uma nova era de paz para a humanidade.

Durante três dias em novembro de 1973, a “Missão da Luz Divina” alugou o Astrodome de
Houston (um imenso estádio desportivo completamente coberto por uma cúpula) para organizar
“o evento mais sagrado e significativo na história da humanidade”. Os “Premies” de todo o mundo
deviam reunirem-se para adorar a seu “deus” e começar a conversação da América (através dos
meios de comunicação, cujos representantes foram cuidadosamente convidados) ao mesmo culto,
começando assim a nova era da humanidade. Apropriadamente, o evento se chamou “Millenium
73”.

Rennie Davis foi um dos típicos discípulos convencidos de Maharaj-ji, um manifestante esquerdista
da década de 1960 e um dos “Sete de Chicago” acusado de incitar distúrbios na Convenção
Nacional Democrata de 1968. Passou o verão de 1973 dando conferências de imprensa e discursos
a quem quisesse escutar, dizendo-lhe à América:

“Este é o evento mais grande da história e dormimos através dele ... Me sinto - como que gritando
nas ruas. Se soubéssemos quem é, nos arrastraríamos através dos Estados Unidos sobre nossas
mãos e joelhos para descansar nossas cabeças a seus pés”10.

De fato, a adoração de Maharaj-ji se expressa em uma prostração completa ante ele com a cabeça
no só, junto com uma frase de adoração em sânscrito. Uma tremenda ovação recebeu sua
aparição no “Millenium '73”, se sentou em um alto trono, coroado por uma imensa “coroa de
Krishna” dourada, enquanto o marcador do Astrodome mostrava a palavra “G-O-D”. Os jovens
“premies” estado-unidenses choraram de alegria, outros dançavam no cenário, a banda tocou “O
Senhor do Universo”, adaptada de um antigo hino protestante (The Spiritual Supermarket, págs.
80, 94).

Tudo isto, digamos de novo, na América “cristã”, é algo que vai muito além da mera adoração de
“deuses” pagãos. Até faz muito poucos anos, tal adoração de um homem vivo haveria sido
inconcebível em qualquer país “cristão”; agora se converteu em algo comum para muitos milhares
de “buscadores” religiosos no Ocidente. Aqui já tivemos uma prévia visão da adoração do
Anticristo ao final da era – “que se senta no templo de Deus como Deus, Fazendo-se passar por
Deus”. (II Tessalonicenses. 2: 4).
O “Millenium '73” parece haver sido o ápice da influência de Maharaj-ji. Tal como estava, só
assistiram 15.000 seguidores (muito menos do que o esperado), e não houveram “milagres” ou
10
Robert Greenfield, The Spiritual Supermarket, Saturday Review Press, New York, 1975, p.43.

50
sinais especiais que indicaram que a “nova era” havia começado. Um movimento tão dependente
da publicidade midiática e tão ligado ao gosto popular de uma geração em particular (a música
“Millenium '73” compôs-se principalmente das canções populares da “contra-cultura” da década
de 1960) é esperável que passe de moda com bastante rapidez; e o recente matrimônio de
Maharaj-ji com sua secretaria enfraqueceu ainda mais sua popularidade como “deus”.

Outros dois movimentos “espirituais” de nosso tempo parecem estar menos sujeitos aos caprichos
da moda popular e são mais indicativos da profundidade da influência que as religiões orientais
estão adquirindo agora no Ocidente.

3. Yoga Tântrico nas Montanhas do Novo México

Em uma pastagem gramínea a 2286 metros de altura nas montanhas Jemez do norte do Novo
México, mil jovens estado-unidenses (a maioria deles entre as idades de 20 e 25 anos) se reuniram
para dez dias de exercícios espirituais no momento do solstício de verão em junho de 1973. Se
levantavam todos os dias as quatro da manhã e se reuniam antes do amanhecer (embrulhados em
mantas para protegerem-se da geada da manhã) para sentarem-se no só em filas, de frente a um
cenário ao ar livre. Juntos, começavam o dia com um mantra em punjabi (um idioma sânscrito)
para “sintonizar” com as práticas espirituais que deviam seguir.

Primeiro, há várias horas de kundalini yoga, uma série de vigorosos exercícios físicos, cânticos e
meditação destinados a adquirir um controle consciente dos processos do corpo e da mente e
prepará-los para a “realização de Deus”. Logo nesta cerimônia foi içado duas bandeiras: a bandeira
estado-unidense e a “bandeira da nação de Aquário”, sendo esta “nação” o povo pacífico da “Era
de Aquário” ou o milênio para o que se prepara este culto, acompanhado do canto de “Deus
abençoe a América” e uma oração para nação estado-unidense. Depois de uma refeição
vegetariana (típica de quase todos os novos cultos) e conferências sobre temas espirituais e
práticos, todos se prepararam para uma longa sessão de yoga tântrico.

Do yoga tântrico se tem ouvido falar pouco e quase nunca o mesmo é praticado no Ocidente até
agora. Todas as autoridades concordam em que é um exercício extremadamente perigoso,
praticado sempre por homens e mulheres juntos, que evocam uma energia psíquica muito
poderosa, que requer uma estreita supervisão e controle. Supostamente, só há um mestre de
yoga tântrico vivendo na terra em qualquer momento; os exercícios do “Solstício” no Novo México
foram dirigidos pelo “Gran Tântrico” de nossos dias, Yogi Bhajan.

Todos, vestidos identicamente de branco, se sintam em linhas largas e retas, os homens de frente
às mulheres, amontoados ombro a ombro em linhas e costas a costas com a seguinte linha.
Aproximadamente dez linhas duplas se estendem pelo cenário, cada uma de 23 metros de largura;

51
os assistentes se asseguram de que as linhas sejam perfeitamente retas para garantir o “fluxo”
adequado do “campo magnético” yóguico.

O canto de mantras começa com cantos especiais que invocam a um guru falecido que é o
“protetor especial” de Yogi Bhajan. O próprio Yogui, um homem impressionante – 1.83m de altura
com uma grande barba negra, vestido com túnica branca e turbante - aparece e começa a falar de
seu sonho de “uma nova e linda nação criativa” da América que possa ser construída pela
preparação espiritual das pessoas de hoje; os exercícios tântricos, chave nesta preparação,
transformam as pessoas em suas habituais “consciências individuais” para uma “consciência
grupal” e finalmente para a “consciência universal”.

Começam os exercícios. São extremadamente difíceis, implicam um Grande esforço físico e dor, e
evocam fortes emoções de medo, ira, amor, etc. Todos devem fazer exatamente o mesmo ao
mesmo tempo; as posições difíceis se manterem imóveis durante longos períodos; os mantras e
exercícios complicados devem ser executados em coordenação precisa com a parceira e com
todos na própria fila; cada exercício por separado pode levar de 31 a 61 minutos. A consciência
individual desaparece na intensa atividade grupal e se sente fortes sequelas: esgotamento físico e,
as vezes, paralisia temporal, esgotamento emocional ou alegria. Além disso, dado que ninguém no
“Solstício” tem permissão para conversar com ninguém mais, não há oportunidade de dar-lhe
sentido racional à experiência compartilhando a com outros; o objetivo é efetuar uma mudança
radical no mesmo.

Depois das aulas da tarde sobre temas como as artes orientais da autodefesa, a medicina prática e
a nutrição, e o funcionamento de um ashram, há uma sessão noturna (depois de outra refeição)
de “canto espiritual”: se cantam mantras em sânscrito com música folk e “rock” atual, “festival de
rock” e “adoração gozosa” em uma língua estrangeira se unem - parte do esforço de Yogi Bhajan
por fazer sua religião “nativa americana”11.

A religião descrita anteriormente é uma adaptação moderna da religião Sij do norte da Índia,
unida a várias práticas de yoga. A chamada “3HO” (Organização Saudável – Feliz – Sagrada), foi
fundada em 1969 em Los Angeles por Yogi Bhajan, quem originalmente veio aos Estados Unidos
para ocupar um posto de professor e só de maneira incidental se converteu em líder religioso
quando descobriu que seus cursos de yoga atraíram aos “hippies” do Sul da Califórnia.
Combinando a busca “espiritual” dos “hippies” com seu próprio conhecimento das religiões índias,
formou uma religião “estado-unidense” que se diferencia da maioria das religiões orientais por sua
ênfase em uma vida prática neste mundo (como os sijs na Índia, que são em sua maioria uma
classe mercantil); se requer que todos os membros sejam casados e tenham uma vida caseira
estável, um emprego responsável e serviço social.

Desde sua fundação em 1969, o “3HO” se há expandido a mais de 100 ashrams (comunidades que
servem como lugares de reunião para participantes não residentes) em cidades americanas, assim
11
The New Religious Consciousness, pp. 8-18

52
como algumas na Europa e Japão. Mesmo que externamente seja bastante distinto dos outros
novos cultos orientais (os membros de pleno direito do culto se converteram formalmente em sijs
e, a partir de então, usam o característico turbante sij e roupa branca), “3HO” é um deles ao atrair
aos ex-“hippies” a fazer da consciência “expandida” (o “universal” ou “transcendental”) seu
objetivo central, e a verem a si mesmos como uma “vanguarda” espiritual que trará uma nova era
milenária (que a maioria dos grupos veem em termos astrológicos como a “Era de Aquário”).

Como culto que advoga por uma vida relativamente normal em sociedade, o “3HO” segue sendo
um “sinal dos tempos” como os cultos hindus que promovem um óbvio “escapismo”; e que está
preparando uma “fúria, feliz e Santa” na América totalmente sem referência a Cristo. Quando os
estado-unidenses convencidos e “felizes” falarem com calma sobre Deus e seus deveres religiosos
sem mencionar a Cristo, um já não pode duvidar de que a era “pós-cristã” chegou.

4. Treinamento Zen no norte de Califórnia

Nas montanhas arborizadas do norte da Califórnia, à sombra do imenso monte Shasta, uma
montanha “sagrada” para os habitantes indígenas originais, e durante muito tempo um centro de
atividades e assentamentos ocultistas, que agora estão uma vez mais aumentando. Que desde o
ano de 1970 tem sido um monastério budista Zen. Muito antes de 1970 haviam templos Zen nas
maiores cidades da costa oeste onde os japoneses haviam se assentado, e houveram tentativas de
iniciar monastérios Zen na Califórnia; mas a “Abadia de Shasta”, como é chamada, é o primeiro
monastério zen estado-unidense exitoso (no budismo zen, um “monastério” é principalmente uma
escola de formação para os “sacerdotes” zen, tanto homens quanto mulheres).

Na Abadia Shasta o ambiente é muito ordenado e formal. Os visitantes (a quem se lhes permite
realizar visitas guiadas em horários restringidos, mas que não podem fraternizarem-se com os
residentes) encontram aos monges ou aprendizes com as tradicionais túnicas negras e com a
cabeça rapada; todos parecem saber exatamente o que estão fazendo, e há um claro sentido de
seriedade e dedicação.

A formação em si é um programa estrito de cinco anos (ou mais) que permite aos graduados
converterem-se em “sacerdotes” e mestres de Zen e levar a cabo cerimonias budistas. Algo igual
às escolas seculares, os alunos pagam uma tarifa por alojamento e refeição (175 dólares por mês,
pagamentos adiantados para cada mês, já é um meio para eliminar os candidatos pouco sérios!),
mas a vida mesma é a de “monges” em lugar de simples estudantes. As regras estritas governam a
vestimenta e o comportamento, as comidas vegetarianas são comidas em silêncio em
comunidade, não são permitidas visitas ou conversações ociosas; a vida se centra ao redor da sala
de meditação, onde os aprendizes comem e dormem além de meditar, e não se permitem práticas

53
religiosas não zen. A vida é muito intensa e concentrada, e cada evento da vida diária (inclusive o
asseio e o banho) têm sua oração budista, que se recita em silêncio.

Mesmo que a Abadia pertença a uma seita Sôtô Zen “reformada”, para enfatizar sua
independência do Japão e sua adaptação às condições de vida estado-unidenses, os ritos e
cerimônias pertencem à tradição Zen japonesa. Está a cerimônia de converter-se em budista, os
ritos do equinócio que celebram a “transformação do indivíduo”, o cerimonial de “alimentação
dos fantasmas famintos” (memória dos mortos), a cerimônia do “Dia do fundador” para expressar
gratidão aos transmissores do Zen até o mestre atual, o festival da iluminação de Buda e outros. A
homenagem se rende curvando-se ante as imagens de Buda, mas a ênfase principal do ensino está
na “natureza de Buda” em si.

O mestre zen da Abadia Shasta é uma mulher ocidental (a prática budista o permite): Jiyu Kennett,
uma inglesa nascida de pais budistas em 1924, que recebeu formação budista em várias tradições
do Distante Oriente, sendo “ordenada” em um Monastério Sôtô Zen no Japão. Veio aos Estados
Unidos em 1969 e no ano seguinte fundou o monastério com alguns seguidores jovens; desde
então, a comunidade cresceu rapidamente, atraindo principalmente a homens (e mulheres) jovens
de vinte poucos anos.

A razão do êxito deste monastério, além do atrativo natural do zen para uma geração enferma de
racionalismo e mera aprendizagem externa, parece residir na mística da “transmissão autêntica”
da experiência e tradição zen, que a “abadessa” proporciona através de sua formação e
certificação no Japão; suas qualidades pessoais como estrangeira e budista nativa que ainda está
em contacto estreito com a mentalidade contemporânea (com uma praticidade muito “estado-
unidense”), parecem focar sua influência na geração de jovens conversos budistas estado-
unidenses.

O objetivo do treinamento Zen na Abadia Shasta é preencher toda a vida com “Zen puro”. a
meditação diária (as vezes até oito ou dez horas em um dia) é o centro de uma intensa e
concentrada vida religiosa que conduz, supostamente a uma “paz e harmonia duradouras do
corpo e da mente”. Se faz ênfase no “crescimento espiritual”, e as publicações da Abadia - uma
revista bimestral e vários livros da Abadessa - revelam um alto grau de consciência da falsidade
das posses espirituais. A Abadia se opõe à adoção de costumes nacionais japoneses (em oposição
às budistas); adverte dos perigos de “pular de guru” e adorar falsamente ao Mestre Zen; proíbe a
astrologia, a adivinhação (inclusive o I Ching), as viagens astrais e todas as demais atividades
psíquicas e ocultas; faz escárnio do enfoque acadêmico e intelectual (em oposição ao experiencial)
do Zen; e enfatiza o trabalho duro e a formação rigorosa, com a eliminação de todas as ilusões e
fantasias sobre si mesmo e a “vida espiritual”. As discussões sobre assuntos “espirituais” por parte
dos jovens “sacerdotes” Zen (como se registra na Revista da Abadia) soam, em seu tom sóbrio e
entendido, notavelmente como discussões entre jovens conversos e monges ortodoxos sérios. Em
formação intelectual e perspectiva, estes jovens budistas parecem bastante próximos a muitos de
nossos conversos ortodoxos. O jovem cristão ortodoxo de hoje bem poderia dizer: “Se não fosse

54
pela graça de Deus, eu mesmo poderia estar lá”, de tão convincentemente autêntica que é a
perspectiva espiritual deste monastério Zen, que oferece quase tudo o que o jovem buscador
religioso de hoje poderia desejar, exceto, claro, Cristo o Deus verdadeiro e a salvação eterna que
só Ele pode dar.

O monastério ensina um budismo que não é “uma disciplina fria e distante”, senão que está
completo de “amor e compaixão”. Contrariamente às exposições habituais do budismo, a
abadessa enfatiza que o centro da fé budista não é a “nada” último, senão um “deus” vivente (que
ela afirma ser o ensino budista esotérico): “O segredo do Zen ... é saber com certeza, por si mesmo,
que o Buda Cósmico existe. Um verdadeiro mestre é aquele que não vacila em sua certeza e amor
pelo Buda Cósmico ... Me enchi de alegria quando finalmente soube com certeza que Ele existia; o
amor e a gratidão em mim não conheciam limites. Tão pouco nunca senti um amor como o dele;
quero que todos os demais também o sintam”12.

Atualmente há uns setenta sacerdotes aprendizes na Abadia Shasta e seus “priorados filiais”, se
encontram principalmente na Califórnia. O monastério se encontra agora em um estado de rápida
expansão, tanto em seus próprios terrenos como em sua “missão” para o povo estado-unidense; é
um movimento crescente de budistas leigos que fazem da Abadia seu centro religioso e,
frequentemente, o visitam, junto com psicólogos e outras pessoas interessadas, em retiros de
meditação de duração variável. Com suas publicações, assessoramento e instrução nas cidades da
Califórnia, como um projeto de uma escola para meninos e um lugar para idosos – a Abadia Shasta
está fazendo progresso em seu objetivo de “fazer crescer o budismo zen no Ocidente”.

Em direção ao cristianismo, a “abadessa” e seus discípulos têm uma atitude condescendente;


respeitam a Filocalia e outros textos espirituais Ortodoxos, reconhecendo a Ortodoxia como a
forma mais próxima a eles entre os corpos “cristãos”, mas se consideram a si mesmos “mais além
de coisas tais como teologias, disputas doutrinais e 'ismos’”, que consideram não pertencentes à
“Verdadeira Religião”13.

O zen, de fato, não tem nenhum fundamento teológico, se baseia inteiramente na “experiência” e,
Portanto, cai na “falácia pragmática” que já foi indicado anteriormente neste livro, no capítulo
sobre o hinduísmo: Se funciona, deve ser verdadeiro e bom”. O Zen, sem nenhuma teologia, não é
mais capaz que o Hinduísmo de distinguir entre as experiências espirituais boas e más; só pode
afirmar o que parece ser bom porque traz “paz” e “harmonia“, segundo o julgamento pelos
poderes naturais da mente e não por alguma revelação; todas as demais são rechaçadas como
algo mais ou menos ilusório. O Zen apela ao orgulho sutil, tão estendido hoje em dia, de quem
pensam que podem salvarem a si mesmos e, portanto, não necessitam nenhum Salvador além
deles mesmos.

12
The Journal of Shasta Abbey, Jan. - Feb., 1978, p.6
13
Journal, Jan. — fev., 1978, p. 54

55
De todas as correntes religiosas orientais de hoje, o Zen é provavelmente a mais sofisticada
intelectualmente e a mais sóbria espiritualmente. Com seu ensino de um “Buda Cósmico”
compassivo e amoroso é talvez um ideal religioso tão elevado o quanto a mente humana pode
alcançar, sem Cristo. Sua tragédia é precisamente que não tenha Cristo em si, e portanto não tem
salvação, e sua mesma sofisticação e sobriedade impedem efetivamente que seus seguidores
busquem a salvação em Cristo. Em sua forma tranquila e compassiva, é talvez o mais triste de
todos as recordações dos tempos “pós cristãos” em que vivemos. A “espiritualidade” não cristã já
não é uma importação estrangeira no Ocidente; se converteu em uma religião nativa dos Estados
Unidos que criou raízes profundas na consciência do Ocidente. Sejamos advertidos disto: a religião
do futuro não será um mero culto ou seita, senão uma orientação religiosa poderosa e profunda
que será absolutamente convincente para a mente e o coração do homem moderno.

5. A nova “espiritualidade” frente ao Cristianismo

Poderiam ser dados outros exemplos dos novos cultos orientais no Ocidente; pois a cada ano
encontramos novos, ou novas transformações dos já existentes. Além dos cultos abertamente
religiosos, a última década viu um aumento dos “cultos de consciência” seculares, como os chama
uma popular revista de notícias (U.S. News and World Report, 16 de fevereiro de 1976, p. 40).
Estes grupos de “terapia mental” incluem o “Erhard Seminars Training” estabelecido em 1971,
“Roling”, “Silva Mind Control” e várias formas de “encontro” e "biofeedback", todos eles oferecem
uma “liberação de tensões” e um aproveitamento das capacidades “ocultas” do homem,
expressado em um jargão “científico” mais ou menos plausível do século XX. Também se recordam
a Outros movimentos de “consciência” que depositaram menos de moda na atualidade, desde a
“Ciência Cristã” até a “Ciência da mente” e a “Cientologia”.

Todos estes movimentos são incompatíveis com o cristianismo. Aos cristãos Ortodoxos se lhes
deve dizer que se mantenham absolutamente afastados deles.

Por que falamos tão categoricamente?

1. Estes movimentos não têm nenhum fundamento na tradição ou prática cristãs, senão que são
puramente produto das religiões pagãs orientais ou do espiritismo moderno, mais ou menos
diluído e frequentemente apresentado como “não religioso”. Conforme a doutrina Cristã eles não
tão somente ensinam equivocadamente, quanto à vida espiritual; mas também nos conduz, seja
através de experiências religiosas pagãs ou por meio de experimentos psíquicos, a um caminho
espiritual equivocado cujo final é um desastre espiritual e psíquico e, em última instância, à perda
eterna da alma.

56
2. Especificamente, a experiência de “quietude espiritual” que se dá mediante vários tipos de
meditação, seja sem conteúdo religioso específico (como se afirma a “TM”, algumas formas de
Yoga e Zen, e os cultos seculares) ou com conteúdos religiosos pagãos (como no Hare Krishna, a
“Missão da Luz Divina”, “3H0”, etc.), é uma entrada ao reino espiritual “cósmico” de onde o lado
mais profundo da pessoalidade humana entra em contato real com os seres espirituais. Estes
seres, no estado caído do Homem, são antes de tudo os demônios ou espíritos caídos que estão
mais próximos do homem14. Os mesmos meditadores budistas zen, apesar de todas as suas
precauções sobre as “experiências” espirituais, descrevem seus encontros com estes espíritos
(mesclados com fantasias humanas), enfatizando todo o tempo que não se deve “agarrar-se” a
eles15.

3. A “iniciação” às experiências do reino psíquico que proporcionam os “cultos da consciência” ou


envolve a si em algo mais além do controle consciente da vontade humana; assim, uma vez que se
haja “iniciado”, frequentemente é muito difícil desprender-se das experiências psíquicas
indesejáveis. Desta maneira, a “nova consciência religiosa” se converte em um inimigo do
cristianismo muito mais poderoso e perigoso que quaisquer das heresias do passado. Quando se
enfatiza a experiência por cima da doutrina, as salvaguardas cristãs normais que protegem a um
contra os ataques dos espíritos caídos se eliminam ou neutralizam, e a passividade e a “abertura”
que caracterizam “os novos cultos” literalmente si abrem a um para serem utilizados pelos
demônios". Os estudos das experiências de muitos dos “cultos da consciência” mostram que há
uma progressão regular neles de experiências que ao princípio são “boas” ou “neutras” a
experiências que se voltam estranhas e aterradoras e ao final claramente demoníacas. Inclusive o
lado puramente físico das disciplinas psíquicas como o Yoga é perigoso, porque derivam-se das
atitudes e experiências psíquicas e predispõe-se a um em direção a elas, sinto este o propósito
original da prática do Yoga.

O poder sedutor da “nova consciência religiosa” é tão grande hoje que pode apoderar-se de
alguém ainda que creia que segue sendo cristão. Isto é certo não só para quem se entrega aos
sincretismos superficiais ou combinações do cristianismo e das religiões orientais que foram
mencionadas anteriormente; é certo também dizer o mesmo para um número crescente de
pessoas que se consideram cristãos fervorosos. A profunda ignorância da verdadeira experiência
espiritual cristã em nosso tempo está produzindo uma falsa “espiritualidade” cristã cuja natureza é
próxima à “nova consciência religiosa”.

No capítulo VII examinaremos com cuidado a corrente mais difundida da “espiritualidade cristã”
na atualidade. Nele veremos a aterradora perspectiva de uma “nova consciência religiosa” que se
apodera de cristãos bem-intencionados, inclusive cristãos Ortodoxos, a tal ponto que não

14
Veja a exposição do Bispo Ignatius Brianchaninov sobre o ensino Ortodoxo sobre a percepção espiritual e
sensorial dos espíritos e a abertura das “portas da percepção” do homem, em The Orthodox Word, n ° 82,
1978.
15
Veja Jiyu Kennett, “Cómo fazer crescer uma flor de lotus”, Shasta Abbey, 1977 - uma descrição de um
mestre zen de suas visões acerca da morte.

57
podemos deixar de pensar na espiritualidade do mundo contemporâneo nos termos apocalípticos
do “forte engano” que enganará a quase toda a humanidade antes do fim da era. Sobre este tema
voltaremos a tratar ao final deste livro.

VI. "Sinais do céu"

UM ENTENDIMENTO CRISTÃO ORTODOXO


DE OBJETOS VOADORES NÃO IDENTIFICADOS (OVNIS)

Nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, que foram testemunhas do assombroso
aumento dos cultos religiosos orientais e de sua influência no Ocidente, também viram o começo
e a propagação de um fenômeno paralelo que, mesmo que à primeira vista pareça totalmente
alheio à religião, ante um exame mais minucioso resulta ser um sinal da era "pós-cristã" e da
"nova consciência religiosa" assim como os cultos orientais. Este fenômeno é o dos "objetos
voadores não identificados" que supostamente foram vistos em quase todas as partes do mundo
desde que se descobriu o primeiro "disco voador" em 1947.

A credulidade e a superstição humana, que não estão menos presentes na atualidade que em
qualquer outro momento da história da humanidade, provocaram que este fenômeno se
relacionasse em certo grau com a "franja excêntrica" do mundo do oculto; mas também tem
havido um interesse suficientemente sério e responsável nele como para produzir várias
investigações governamentais e livros de cientistas de renome. Estas investigações não têm dado
nenhum resultado positivo na identificação dos objetos como realidade física. Contudo, as
hipóteses mais recentes formuladas por vários investigadores científicos para explicar os
fenômenos parecem estar mais próximos de uma explicação satisfatória que outras teorias que
hão proposto no passado; mas ao mesmo tempo, estas hipóteses mais novas o levam qualquer um
a "bordo da realidade" (como se chama um dos novos livros científicos sobre este tema), a os
limites da realidade psíquica e espiritual que estes investigadores não estão equipados para
manejar. A riqueza do conhecimento bíblico e da patrística precisamente desta última realidade
coloca o observador cristão Ortodoxo em uma posição única e vantajosa desde a qual para avaliar
estas novas hipóteses e os fenômenos "Ovnis" em geral.

O observador cristão Ortodoxo, contudo, está menos interessado nos fenômenos em si mesmos
que na mentalidade associada a eles: Como as pessoas comumente interpretam os OVNIS e por
que? Entre os primeiros a abordar a questão OVNI desta maneira, num estudo sério, esteve o
renomado psicólogo suíço C. G. Jung. O qual em seu livro de 1959, Discos voadores: um mito
moderno das coisas vistas nos céus, abordou os fenômenos como algo primordialmente
psicológico e religioso em seu significado; até mesmo porque ele não buscou identificá-los como

58
uma "realidade objetiva", não obstante, ele compreendeu o reino do conhecimento humano ao
que realmente pertencem. Os investigadores de hoje, ao contrário partem do princípio "objetivo"
e não do lado psicológico da questão, também têm encontrado a necessidade de criar hipóteses
"psíquicas" para explicar tais fenômenos.

Ao abordar o lado religioso e psicológico dos fenômenos Ovni, é importante para nós, em primeiro
lugar, compreendermos a base de fundamento dos termos pelos quais os "discos voadores"
geralmente têm sido interpretados (por aqueles que creem em sua existência) desde a época de
sua primeira aparição na década de 1940. O que os homens estavam dispostos a ver no céu? A
resposta a esta pergunta pode ser encontrada numa breve olhada na literatura popular da "ficção
científica".

1. O espírito da ficção científica

Os historiadores da ficção científica geralmente remontam suas origens desta forma literária em
princípios do século XIX. Alguns preferem ver seu começo nos contos de Edgar Allen Poe, que
combinam um realismo no estilo persuasivo com uma temática sempre tomada do "misterioso" e
o oculto. Outros veem à primeira escritora da ficção científica na contemporânea inglesa de Poe,
Mary Wollstonecraft Shelley (esposa do famoso poeta); em sua obra Frankenstein ou o
Prometheus moderno, que combina a ciência fantástica com o ocultismo de uma maneira
característica de muitas histórias de ficção científica desde então.

Não obstante, a típica história da ficção científica, chegaria a finais do século XIX e princípios do
XX, desde Julio Verne e H.G. Wells até nossos dias. A partir de uma forma de literatura em grande
parte de segunda categoria nas "polpas" de jornais estado-unidenses dos anos trinta e quarenta, a
ficção científica tem alcançado uma maioria de idade e se converteu numa forma literária
internacional respeitável nas últimas décadas. Mais adiante, uma série de películas muito
populares demostraram o quanto o espírito da ficção científica tem cativado a imaginação
popular. As películas de ficção científica mais baratas e sensacionais da década de 1950 cederam
seu lugar na última década a películas de "ideias" de moda como 2001: uma Odisseia Espacial, a
Guerra das Galáxias e Encontros Próximos do Terceiro Tipo, sem mencionar uma das séries de
televisão estado-unidense mais populares e duradouras, "Viagem às Estrelas".

O espírito da ficção científica se deriva de uma filosofia ou ideologia subjacente, mais


frequentemente implícita que expressada em muitas palavras, que compartem praticamente
todos os que acreditam nas distintas formas da ficção científica. Esta filosofia pode ser resumida
nos seguintes pontos principais:

59
1.- A religião, no sentido tradicional, está ausente ou está presente de uma maneira muito
incidental ou artificial. A forma literária em si mesma é obviamente um produto da era "pós cristã"
(evidente já nas histórias de Poe e Shelley). O universo da ficção científica é totalmente secular,
mesmo que frequentemente possua conotações "místicas" do tipo oculto ou oriental. "Deus", se é
mencionado, é um poder vago e impessoal, não um ser pessoal (por exemplo, a "Força" de Star
Wars, uma energia cósmica que tem tanto seu lado mal como bom). A crescente fascinação do
homem contemporâneo pelos temas de ficção científica é um reflexo direto da perda dos valores
religiosos tradicionais.

2.- O centro do universo da ficção científica (no lugar do Deus ausente) é o homem; geralmente
não é o homem como é agora, senão o homem como "será" no futuro, de acordo com a mitologia
moderna da evolução. Mesmo que os heróis das histórias de ficção científica geralmente sejam
humanos reconhecidos, o interesse da história frequentemente se centra em seus encontros com
vários tipos de "super homens" de raças "altamente evoluídas" do futuro (ou, às vezes, do
passado), o de distantes galáxias. A ideia da possibilidade de vida inteligente "altamente evoluída"
em outros planetas se tem convertido em uma parte tão importante da mentalidade
contemporânea que inclusive especulações científicas (e semicientíficas) respeitáveis a assumem
como algo natural. Assim, uma série popular de livros (Erich von Daniken: Carros dos Deuses,
Deuses do espaço exterior) encontram supostas evidências da presença de seres "extraterrestres"
ou "deuses" na história antiga, que supostamente foram os responsáveis da aparição repentina de
inteligência no homem, o que é difícil de explicar por uma teoria evolutiva habitual. Cientistas
sérios da União Soviética especulam que a destruição de Sodoma e Gomorra ocorreu devido a
uma explosão nuclear, na qual seres "extraterrestres" teriam visitado a Terra há séculos, que Jesus
Cristo pode haver sido um "cosmonauta" e que hoje "podemos estar no umbral de uma 'segunda
Vinda' de seres inteligentes do espaço exterior 16. Cientistas ocidentais igualmente sérios pensam
que a existência de “inteligências extraterrestres” é suficientemente provável, sendo que durante
ao menos 18 anos os mesmos hajam buscado estabelecer contacto com elas por meio de rádio
telescópios, e atualmente, astrônomos de todo o mundo realizam ao menos seis buscas de sinais
de rádio inteligentes procedentes do espaço. Os "teólogos" protestantes e católicos romanos
contemporâneos - que se acostumaram a seguir onde quer que a "ciência" pareça estar
conduzindo - especulam por sua vez no novo âmbito da "Exoteologia" (a "teologia do espaço
exterior") sobre qual natureza "as raças extraterrestres" poderiam ter (veja a revista Time, 24 de
abril de 1978). Dificilmente se pode negar que o mito por detrás da ficção científica tem uma
fascinação poderosa inclusive entre muitos homens sábios de nossos dias.

Considera-se que os futuros seres "evoluídos" na literatura de ficção científica "superaram" as


limitações da humanidade atual, em particular as limitações da "pessoalidade". Como o "Deus" da
ficção científica, o "homem" também se tornou estranhamente impessoal. Na obra Fim da
Infância, de Arthur C. Clarke, a nova raça humana tem a aparência de meninos com rostos
16
Sheila Ostrander e Lynn Schroeder, “Descobertas psíquicas atrás da Cortina de Ferro”, Bantam Books,
1977, págs. 98-99. Ver artigos em russo de Dr. Vyacheslav Zaitsev, "Visitantes do espaço exterior", em
Sputnik, janeiro de 1967, e "Templos e naves espaciais", Sputnik, janeiro de 1968.

60
desprovidos de pessoalidade; que estão a ponto de serem guiados para transformações
"evolutivas" ainda mais elevadas, no caminho de serem absorbidos por uma "Mente Suprema"
impessoal. Em geral, a literatura de ficção científica - em contraste direto com o cristianismo, mas
exatamente de acordo com algumas escolas de pensamento Oriental - vê o "avanço evolutivo" e a
"espiritualidade" em termos de uma maior impessoalidade.

3.- O mundo futuro e a humanidade são vistos pela ficção científica aparentemente em termos de
"projeções" dos descobrimentos científicos atuais; em realidade, contudo, estas "projeções"
correspondem de maneira bastante notável à realidade cotidiana da experiência oculta e
abertamente demoníaca ao longo da história. Entre as características das criaturas "altamente
evoluídas" do futuro se encontram: a comunicação mental telepática, a capacidade de voar,
materializar-se e desmaterializar-se, transformar as aparências das coisas ou criar cenas e
criaturas ilusórias mediante o "pensamento puro", viajar a velocidades muito além do que
qualquer tecnologia moderna, tomar possessão dos corpos dos terrestres; e a exposição de uma
filosofia "espiritual" que está "mais além de todas as religiões" e promete um estado no qual as
"inteligências avançadas" já não dependerão da matéria. Todas estas são as práticas padrão e as
afirmações de feiticeiros e demônios. uma história recente da ficção científica nota que "um
aspecto persistente da visão da ficção científica é o desejo de transcender a experiência normal
através da apresentação de personagens e eventos que transgridem as condições do espaço e o
tempo tal e como os conhecemos"17. Os scripts de "Star Trek" e outras histórias de ficção
científica, com seus dispositivos "científicos" futuristas, se leem em partes como extratos das vidas
dos antigos santos ortodoxos, de onde se descrevem as ações dos feiticeiros em uma época em
que a feitiçaria ainda era uma parte forte da vida pagã. A ficção científica em geral geralmente não
é muito científica em absoluto, e tão pouco muito 'futurista'; em todo caso, é um retrocesso às
origens "místicas" da ciência moderna: a ciência antes da era da "ilustração" dos séculos XVII e
XVIII, que estava muito mais próxima do ocultismo. Pela mesma história da ficção científica nota-
se que "as raízes da ficção científica, como as raízes da mesma ciência, estão na magia e na
mitologia" (Scholes e Rabkin, p. 183). As investigações e os experimentos atuais na
"parapsicologia" apontam também a uma conexão futura da "ciência" com o ocultismo, um
desenvolvimento com o que a literatura da ficção científica está em plena harmonia.

A ficção científica na União Soviética (onde é tão popular como no Ocidente, além do seu
desenvolvimento ter sido um pouco diferente) aborda exatamente os mesmos temas que a ficção
científica ocidental. Em geral, os temas "metafísicos" da ficção científica soviética (que trabalha
sob o atento olhar dos censores "materialistas") proveem da influência de escritores ocidentais ou
da direta influência hindu, como no caso do escritor lvan Efremov. A ficção científica soviética,
segundo um crítico, "emerge com uma vaga capacidade para distinguir as demarcações críticas
entre ciência e magia, entre científico e feitiçaria, entre futuro e fantasia". A ficção científica tanto

17
Robert Scholes and Eric S. Rabkin, Science Fiction: History, Science, Vision, Oxford Universitu Press, 1977,
p.175.

61
oriental como ocidental, diz o mesmo escritor, como outros aspectos da cultura contemporânea,
"todos confirmam o ato de que a etapa superior do humanismo é o ocultismo"18.

4. Quase por sua própria natureza de "futurista", a ficção científica tende a ser utópica; poucas
novelas ou histórias descrevem realmente uma futura sociedade perfeita, mas a maioria delas
tratam sobre a "evolução" da sociedade atual em direção a algo mais elevado, ou o encontro com
uma civilização avançada em outro planeta, com a esperança ou a capacidade de superar os
problemas de hoje e as limitações da humanidade em general. Em Efremov e em outros escritores
de ficção científica soviéticos, o comunismo mesmo se torna "cósmico" e "começa a adquirir
qualidades não materialistas", e apontam que "a civilização pós industrial será como a hindu"
(Grebens, págs. 109-110). Os "seres avançados" do espaço exterior frequentemente estão dotados
de qualidades de "salvador", e os pousos de naves espaciais na terra frequentemente pressagiam
eventos "apocalípticos", geralmente a chegada de seres benevolentes que guiarão aos homens em
seu "avanço evolutivo".

Em uma palavra, a literatura da ficção científica do século XX é em si mesma um sinal claro da


perda dos valores cristãos e da interpretação cristã do mundo; convertendo-se em um poderoso
veículo para a disseminação de uma filosofia de vida e história não cristã, em grande parte sob a
influência do oriente e do ocultismo; e em um momento crucial de crises e transição na civilização
humana, tem sido uma força primordial na criação da esperança e a real expectativa ante os
"visitantes do espaço exterior" que resolverão os problemas da humanidade e conduzirão ao
Homem a uma nova era "cósmica" de sua história. Mesmo que se pareça ser científica e não
religiosa, a literatura de ficção científica ela é em realidade um importante propagador (numa
forma secular) da "nova consciência religiosa" que está se expandindo à medida que o cristianismo
se retira.

Tudo isto é um fundo necessário para discutir as manifestações reais dos "Objetos Voadores não
Identificados", que estranhamente correspondem às expectativas pseudo religiosas que se têm
suscitado no homem "pós cristão".

2. Avistamentos de ovnis e a investigação científica deles.

Mesmo que a ficção, podemos dizer, tenha sido preparada de alguma maneira aos homens para a
aparição de ovnis, nossa compreensão de sua realidade "objetiva" obviamente não pode derivar-
se da literatura ou das expectativas de fantasias humanas. Antes que possamos compreender
quais poderiam ser, devemos saber algo sobre sua natureza e a confiabilidade das observações
que fizeram delas. Há realmente algo "lá fora" no céu, ou este fenômeno é inteiramente uma
18
G. V. Grebens, Ivan Efremov' 3 Theory of Soviet Science Fiction, Vantage Press, New York, 1978, pp.
108,110.

62
questão de percepção errônea por um lado, e cumprimento de desejos psicológicos e pseudo
religiosos por outro lado?

O Dr. Jacques Vallee, um cientista francês que agora vive na Califórnia, que possui vários títulos
avançados em astrofísica e informática e esteve envolvido na análise científica de informes OVNI
durante vários anos, ele tem apresentado um esquema confiável dos fenômenos OVNIS. Seu
testemunho é muito mais valioso para nós porque ele tem estudado acerca dos avistamentos de
ovnis fora dos Estados Unidos, especialmente na França, portanto pode nos dar uma imagem
internacional justa de sua distribuição.

O Dr. Vallee descobriu que embora haja observado estranhos objetos voadores em vários
momentos nos séculos passados, esta "história moderna", como fenômeno de massas, começa
justamente nos anos durante e depois da Segunda Guerra Mundial. O interesse estado-unidense
começou com os avistamentos em 1947, mas houve vários avistamentos antes disso na Europa.
Na Segunda Guerra Mundial, muitos pilotos informaram sobre luzes estranhas que pareciam estar
sob um controle inteligente (p. 47), e em 1946, particularmente em julho, ocorreram toda uma
série de avistamentos na Suécia e Outros países do norte da Europa (pp. 47-53). Os avistamentos
nesta "onda escandinava" foram interpretados primeiro como "meteoritos", logo como "foguetes"
(ou "foguetes fantasma") ou "bombas", e finalmente como algum "novo tipo de avião" capaz de
realizar movimentos extraordinários no céu, mas sem deixar rastro no solo, inclusive quando
pareciam aterrizar. A imprensa europeia estava cheia de informes desta onda de avistamentos, e
todos na Suécia falavam deles; foram informados alguns milhares de avistamentos, mas em
nenhuma só vez foi sugerida a hipótese de uma "origem extraterrestre" ou "interplanetário". O Dr.
Vallee conclui que a "onda" foi causada por objetos reais, mas não identificados e não por nenhum
"rumor OVNI" previamente existente ou como uma expectativa de "visitantes do espaço exterior"
(p. 53). Nesta e em sucessivas "ondas de discos voadores" encontrou uma ausência total de
qualquer correlação entre o interesse generalizado na ficção científica e os picos de atividade
OVNI; antes, também, não havia ocorrido uma "onda de discos voadores" até o momento do
pânico estado-unidense pela adaptação radiofônica de 1938 de Orson Welles da guerra dos
mundos de H. G. Wells.

Conclui-se que "o nascimento, crescimento e expansão de uma onda OVNI é um fenômeno objetivo
independente da influência consciente ou inconsciente dos testemunhos e suas reações ante ela"
(p. 31).

O primeiro avistamento anunciado nos Estados Unidos ocorreu em junho de 1947, quando
Kenneth Arnold, um vendedor que voava em seu próprio avião, viu nove objetos em forma de
disco, que pareciam algo assim como "discos", voando perto do monte Rainier no estado de
Washington. Os jornais coletaram a história e começou então a era do "disco voador".
Curiosamente, contudo, este não foi em realidade o primeiro avistamento estado-unidense;
outros avistamentos não publicados haviam sido realizados nos meses anteriores a isto. Também
houve uma onda de ovnis (com cinquenta informes) na Hungria a princípios de junho. Portanto, os

63
avistamentos de 1947 não podem ser atribuídos a uma histeria pelo incidente de Arnold.
Aconteceram outros avistamentos na onda estado-unidense de 1947, principalmente em junho,
julho e agosto. Mesmo que alguns jornais especulavam sobre "visitantes interplanetários", estes
avistamentos foram tomados a sério pelos cientistas, que assumiram que eram o resultado de
uma tecnologia humana avançada, provavelmente estado-unidense ou possivelmente russa (págs.
54-57).

Uma segunda onda ocorreu em julho de 1948, com avistamentos nos Estados Unidos e França.
Nos Estados Unidos houve um avistamento noturno espetacular realizado pelos pilotos de um
avião da Eastern Airlines DC-3 que reportaram uma nave em forma de torpedo com duas linhas de
"olhos de boi", rodeados de um brilho azul e com uma calda de chamas alaranjadas, que
manobrou para evitar a colisão e desapareceu. Em agosto do mesmo ano ocorreram muitos
avistamentos em Saigon e outras partes do sudeste asiático de um "objeto grande parecido com
um peixe" (págs. 57-59).

Em 1949 houve informes de estranhos discos e esferas na Suécia e mais ovnis na América,
incluídas duas observações de observadores astronômicos treinados (págs. 60-62). Pequenas
ondas de ovnis, assim como avistamentos isolados, continuaram em 1950 e 1951, especialmente
nos Estados Unidos, mas também na Europa (págs. 62-65).

Alguns anos mais tarde em 1952 ocorreu a primeira onda OVNI internacional real, com muitos
avistamentos nos Estados Unidos, França e ao norte da África. Acima da onda, ocorreram dois
avistamentos sensacionais sobre o Capitólio e a Casa Branca em Washington, DC. (área sob
constante controle por radares). Em setembro houve uma onda que abarcou a Dinamarca, Suécia,
Polônia e o norte de Alemanha. Ao mesmo tempo, na França foi relatado a primeira "aterrisagem"
de ovnis, junto com uma descrição de "homenzinhos" (págs. 65-69).

No ano seguinte, em 1953 não houve mais ondas, mas sim vários avistamentos individuais. O mais
notável ocorreu em Bismarck, Dacota do Norte, onde quatro objetos voaram e manobraram sobre
uma estação de filtro de ar durante três horas pela noite; o relato oficial deste evento constava de
várias centenas de páginas, com informações de muitas testemunhas, principalmente pilotos e
pessoal militares (págs. 69-70).

Em 1954 se produziu a maior onda internacional até agora. A França se viu literalmente inundada
de avistamentos, com dezenas de relatos todos os dias em setembro, outubro e novembro. Na
onda francesa estão bem demostrados os problemas que enfrentam uma investigação científica
séria dos fenômenos OVNI: "O fenômeno foi tão intenso, o impacto na opinião pública tão
profundo, a reação dos jornais tão emotiva que os reflexos científicos se saturaram muito antes de
que pudesse se realizar uma investigação séria. Como resultado, nenhum cientista podia arriscar
sua reputação estudando abertamente um fenômeno tão distorcido emocionalmente, portanto os
cientistas franceses permaneceram em silêncio até que a onda passou e morreu" (p. 71).

64
Durante a onda francesa, as características típicas dos encontros posteriores com ovnis
frequentemente estiveram presentes: "aterrissagens" de ovnis (com ao menos alguma evidencia
circunstancial deles), raios de luz que são emitidos pelo ovni em direção à testemunha, parada de
motores nas proximidades de avistamentos, pequenos seres estranhos em "trajes de mergulho",
graves danos físicos e psíquicos às testemunhas.

Desde 1954 se tem produzido muitos avistamentos a cada ano em vários países, com grandes
ondas internacionais em 1965, 1967 e 1972-3; os avistamentos têm sido especialmente
numerosos e profundos em seus efeitos nos países da América do Sul.

A investigação governamental mais conhecida sobre ovnis foi a empreendida pela Força Aérea dos
Estados Unidos pouco depois dos primeiros avistamentos estado-unidenses em 1947; esta
investigação, conhecida a partir de 1951 como "Projeto Livro Azul", durou até 1969, quando foi
abandonada por recomendação do "Relatório Condon" de 1968, o trabalho de um comitê
científico dirigido por um destacado físico da Universidade de Colorado. Contudo, observadores
próximos tanto do "Livro Azul" como do Comitê Condon, notaram que nenhum deles tomou a
sério os fenômenos OVNI e que sua ocupação principal era a melhor tarefa de "relações públicas"
de explicar os fenômenos aéreos desconcertantes para acalmar os temores públicos. Alguns
grupos de crentes nos "discos voadores" afirmaram que o governo dos Estados Unidos estava
utilizando estas investigações como um "encobrimento" de seu próprio conhecimento da
"natureza real" dos ovnis; mas toda a evidencia aponta ao fato de que as investigações mesmas
foram simplesmente descuidadas porque os fenômenos não foram tomadas a sério,
especialmente depois de que algumas das histórias de ovnis mais estranhas haviam começado a
fazer que o tema fosse desagradável para os cientistas. O primeiro diretor do projeto "Livro Azul",
o Capitão Edward Ruppelt, admitiu que "se a Força Aérea houvesse tentado jogar uma tela de
confusão, não poderiam haver feito um melhor trabalho ... o problema foi abordado com uma
confusão organizada. . . Tudo estava sendo avaliado sob a premissa de que os ovnis não poderiam
existir"19. O Relatório Condon contém algumas "explicações" clássicas dos ovnis; uma, por
exemplo, afirma que "este avistamento incomum deveria, por tanto, ser atribuído à categoria de
algum fenômeno natural que quase com certeza que é tão raro que aparentemente nunca foi
informado antes ou depois". O consultor científico chefe do "Livro Azul" durante a maior parte de
seus 22 anos, o astrônomo da Universidade Northwestern J. Allen Hynek, chama abertamente a
todo o assunto "de um projeto pseudocientífico"20.

Em seus 22 anos de investigações, o "Projeto Livro Azul" recompilou mais de 12.000 casos de
fenômenos aéreos desconcertantes, 25% dos quais permaneceram "sem identificação" inclusive
depois de suas "explicações" frequentemente forçadas. Muitos milhares de outros casos têm sido
e estão sendo recompilados e investigados por organizações privadas nos Estados Unidos e em
outros países, mesmo que quase todas as organizações governamentais se abstiveram de
comentar sobre eles. Na União Soviética, o tema foi mencionado publicamente pela primeira vez
19
Ruppelt, Report on Unidentified Flying Objects, Ace Books, New York, 1956, pp. 80, 83.
20
Hynek, The UFO Experience: A Scientific Inquiry, Ballantine Books, New York, 1977, pp. 215, 219.

65
(o que significa aprovação do governo) em 1967, quando o Dr. Felix U. Ziegel do Instituto de
Aviação de Moscou, em um artigo da revista soviética Smena, declarou que "os radares soviéticos
detectaram objetos voadores não identificados durante vinte anos" 21. ao mesmo tempo, houve
uma conferência científica soviética "Sobre civilizações espaciais", dirigida pelo astrônomo
armênio Victor Ambartsumyam, que instou a um estudo preliminar dos problemas científicos e
técnicos de comunicar-se com essas "civilizações", cuja existência se deu como verídica. No ano
seguinte, contudo, o tema dos ovnis se tornou uma vez mais proibido na União Soviética, e desde
então os cientistas soviéticos têm contado suas investigações e hipóteses só de maneira
extraoficial aos cientistas ocidentais.

Nos Estados Unidos, o tema dos ovnis segue sendo algo "fora dos limites" para os militares e
cientistas, mas nos últimos anos, um número crescente, especialmente entre os cientistas mais
jovens, tem começado a tomar o tema a sério e a reunirem-se para discuti-lo e sugerir meios para
o investiga. Os doutores 'Hynek e Vallee falam de uma "universidade invisível" de cientistas que
agora estão ativamente interessados nos fenômenos ovni, mesmo que a maioria deles não deseja
que seus nomes se associem publicamente com o tema.

Por suposto, há quem continua negando o fenômeno por completo, o explicando como
percepções errôneas de objetos naturais, globos, aviões, etc., sem falar de enganos e "projeções"
psicológicas. Um deles, Philip Klass, se deleita em "desacreditar" os ovnis, investigando alguns dos
avistamentos e descobrindo que são fenômenos naturais ou fraudes. Seu estudo o há convencido
de que "a ideia de maravilhosas naves espaciais de uma civilização distante é realmente um conto
de fadas que se adapta à mentalidade adulta 22. Contudo, tais teimosos investigadores geralmente
limitam-se aos casos nos que se tem deixado uma prova física real de um OVNI (os chamados
"Encontros Próximos da Segunda Classe", como veremos mais adiante); e inclusive os defensores
firmes de sua realidade se veem obrigados a admitir que há muito pouco deste tipo de “provas”
inclusive nos avistamentos de ovnis mais convincentes. O único que há persuadido a vários
cientistas nos últimos anos a tomarem os fenômenos a sério não são as provas físicas, senão o fato
de que muitas pessoas sérias e confiáveis hão visto algo que não se pode explicar e que
frequentemente há produzido um efeito poderoso sobre eles. O Dr. Hynek escreve sobre sua
investigação: "Invariavelmente tenho tido a sensação de que estava falando com alguém que
estava descrevendo um evento muito real. Para ele ou ela representava uma experiência
sobressalente, vívida e absolutamente onírica, um evento para o qual o observador geralmente
não estava preparado, algo que logo entendeu como algo mais além da compreensão" (The UFO
Experience, p. 14).

21
”UFOs, What Are They?" em Smena, Apr. 7, 1967. Veja também o artigo ”Unidentified Flying Objects” em
Soviet Life, Fev. , 1968; Ostrander e Schroeder, Psychic Discoveries Behind the Iron Curtain, pp. 94-103.
22
Felix Ziegel, "On Possible Exchange of Information with Extra—Terrestrial Civilizations,” ensaio
apresentado no Instituto de Engenharia da União em Moscou, 13 de março de 1967; Descobrimentos
psíquicos, pág. 96.

66
Esta combinação de uma realidade frequentemente intensa da experiência do encontro com um
OVNI (especialmente nos "Encontros Próximos"), e a quase total falta de evidencia física do
mesmo - faz que a investigação dos Ovnis por natureza não se centre principalmente em um
exame de fenômenos físicos, senão melhor em uma investigação dos relatos humanos, sua
credibilidade, consistência, etc. Já isto coloca tal investigação de certo modo no âmbito da
Psicologia, o que é suficiente para dizermos que o enfoque unicamente que busca a "prova física"
é inadequado. Contudo, a opinião do Sr. Klass de que as "maravilhosas naves espaciais" são um
"conto de fadas para adultos" que talvez tão pouco esteja longe da verdade. Uma coisa são as
observações que se fazem dos ovnis, e outra muito distinta é a interpretação que as pessoas dão
as suas observações (ou para as de outros): a primeira poderia ser real e a segunda um "conto de
fadas" ou um mito de nosso tempo.

O Dr. Hynek fez muito para eliminar alguns dos conceitos errôneos comuns sobre os avistamentos
de ovnis. Portanto, ele deixa claro que a maioria dos avistamentos de ovnis não são reportados
por pessoas instáveis ou sem educação. Os poucos relatos realizados por estas pessoas
geralmente se identificam facilmente como pouco confiáveis e não são investigados mais a fundo.
Mas os relatos mais coerentes e articulados provem de pessoas normais e responsáveis (dez por
cento com formação científica), que ficam realmente surpreendidas ou consternadas por sua
experiência e simplesmente não sabem como explicá-la (The UFO Experience, págs. 10-11); quanto
mais forte é a experiência e mais próxima veem o OVNI, menos dispostos estão as testemunhas a
informá-la. Os registros de ovnis são uma coleção de "histórias incríveis contadas por pessoas
credíveis", como tem indicado um general da Força Aérea. Não pode haver nenhuma dúvida
razoável de que há algo por detrás dos muitos milhares de relatos sérios sobre ovnis.

3. Os Seis Tipos de Encontros com Ovnis

O Dr. Hynek, que tem estudado a questão mais a fundo do que qualquer outro cientista
distinguido, dividiu convenientemente os fenômenos OVNI em seis categorias gerais 23. A primeira,
"Luzes noturnas", é a mais comumente reportada e a menos estranha de todas. A maioria destes
relatos se explicam facilmente como corpos celestes, meteoritos, etc., e não são considerados
como ovnis. As luzes noturnas realmente desconcertantes (as que permanecem "não
identificadas"), que parecem mostrar uma ação inteligente, mas que não se pode explicar como
aviões ordinários, frequentemente são vistas por múltiplas testemunhas, incluindo agentes de
polícia, pilotos de aviões e operadores de aeroportos.

A segunda categoria de ovnis são os "discos de luz diurna", cujo comportamento se aproxima ao
das luzes noturnas. Estes são os "discos voadores" originais e, de fato, quase todos os
avistamentos não identificados nesta categoria são discos que variam desde uma forma circular
23
The Hynek UFO Report, Dell Publishing Co., New York, 1977, chs. 4-9; The UFO Experience, ch s . 5-10.

67
para uma forma de um charuto. Em muitas vezes são de aparência metálica, e são relatados que
eles podem realizar arranques e paradas extremadamente rápidas e a altas velocidades, assim
como manobras (como reversões repentinas de direção e anel de voo estacionário) que estão mais
além da capacidade do que as de quaisquer aviões atuais. Há muitas supostas fotos retratas de
tais discos, mas nenhuma delas são muito convincentes devido à distância envolvida e a
possibilidade de uma fotografia enganosa. Alguns iguais a luzes noturnas, quase sempre são
relatados que os ovnis desta categoria são totalmente silenciosos e, às vezes, são vistos dois ou
mais deles.

A terceira categoria é a dos relatos do "Radar Visual", ou seja, os visores de radares que se
confirmam mediante a observação visual independente (o radar por si mesmo está sujeito a vários
tipos de percepções errôneas). A maioria destes casos ocorrem a noite, e os melhores casos
envolvem avistamentos simultâneos de aviões (as vezes enviados intencionalmente para seguir ao
OVNI) a uma distância bastante próxima; nestes casos, o OVNI sempre manobra fora do alcance
do avião, as vezes o segue, e finalmente desaparece em uma explosão de alta velocidade (até uns
6400 km por hora ou mais). Às vezes, como também nas categorias 1 e 2, o objeto parece dividir-
se e converter-se em dois ou mais objetos distintos; já as vezes, os avistamentos visuais claros de
tais objetos por parte dos pilotos no ar não são captados pelo radar em absoluto. Os avistamentos
nesta categoria, iguais aos dois primeiros, duram desde uns poucos minutos até várias horas.

Vários casos das três primeiras categorias estão bem documentados, com numerosas testemunhas
confiáveis, experimentados e independentes. Contudo, qualquer caso, como nota o Dr. Hynek,
poderia ser devido a um conjunto de circunstancias extremadamente incomuns e não a um
fenômeno novo e totalmente desconhecido. Mas quando se acumulam muitos casos bem
documentados, todos similares entre si, as possibilidades de que todos sejam percepções errôneas
incomuns de objetos familiares se tornam muito pequenas 24. Esta é a razão pela qual os
investigadores sérios de ovnis agora estão se concentrando na recompilação de uma série de
casos bem documentados, e a comparação de quantidades de testemunhos confiáveis já começa a
mostrar patrões definidos de atividade ovni.

A resposta emocional daqueles que têm presenciado ovnis das três primeiras categorias é de
simples perplexidade e desconcerto; hão visto algo cujo comportamento parece totalmente
inexplicável, e se encontram com um desejo aterrador de vê-lo ... um pouco mais de perto. Solo
em alguns poucos casos, geralmente os pilotos que tentaram perseguir os objetos não
identificados, tem algo assim como medo real experimentado nos encontros com algo que parece
dirigido inteligentemente e que possui uma tecnologia mais avançada do que qualquer coisa
conhecida hoje. Em casos que envolveram "Encontros Próximos", por outro lado, a resposta
humana se torna muito mais profunda e o lado dos fenômenos é mais pronunciado.

Os "Encontros Próximos de Primeiro Tipo" (PE-I) são avistamentos de um objeto luminoso a curta
distância (ao redor de 150 metros ou menos), a luz é as vezes muito brilhante e geralmente
24
The UFO Experience, p. 92

68
projeta uma luminescência no solo. Quando se descreve a forma do objeto, geralmente dizem que
é oval, as vezes com uma cúpula na parte superior, e as luzes frequentemente se descrevem como
giratórias, geralmente em sentido anti-horário. Os objetos frequentemente flutuam próximos do
solo, sem som ou (ocasionalmente) com um zumbido, e as vezes se movem próximos ao solo a
distâncias consideráveis e, finalmente, descolam-se de forma extremamente rápida,
silenciosamente e geralmente até em cima. Existem numerosos relatos de testemunhas múltiplas
de tais "Encontros Próximos"; estes relatos são invariavelmente bastante similares entre si, como
se de fato fossem de um mesmo objeto (ou objetos similares) o que se observa em todos os casos
bem documentados. No geral, estes casos ocorrem de noite em áreas escassamente povoadas e
há um pequeno número de testemunhas para cada avistamento (uma média de três a quatro nos
casos examinados pelo Dr. Hynek).

Os "encontros próximos do primeiro grau" são sempre assombrosos e, frequentemente,


aterradores, mas não deixam marcas visíveis; as testemunhas geralmente ficam tão
sobrecarregados pela experiência que se negam a tirar fotografias do objeto inclusive quando há
uma câmera próxima. Segue um típico efeito sobre as testemunhas é este comentário num relato
OVNI de 1955: "Lhes posso assegurar, uma vez que alguém viu um objeto como este tão de perto e
por um período inclusive de um minuto, seria gravado em sua memória para todo a vida"25. A
experiência é tão incomum que frequentemente não se crê nas testemunhas quando o informam,
um fato que faz com que muitos a denunciem somente de forma confidencial, depois de muitos
anos, ou não o façam absolutamente. A experiência é intensamente real para quem a
experimentam, mas em grande medida incrível para os demais.

Um típico "Encontro Próximo de primeiro grau" envolveu a dois oficiais de justiça adjuntos do
condado de Portage, Ohio, em 1966. Aproximadamente às cinco horas da manhã do dia 16 de
abril, depois de pararem para investigar um automóvel estacionado em uma rodovia rural, viram
um objeto "tão grande como uma casa" que se elevava até o nível da copa de uma árvore (uns 30
metros). À medida que se aproximava dos oficiais, ficava cada vez mais brilhante, iluminando a
área ao redor, logo se deteve e pairou se sobre eles com um zumbido. Quando se afastou, o
perseguiram durante uns 112 quilômetros até a Pensilvânia, a velocidades de até 170 quilômetros
por hora. Outros dois agentes de polícia viram o objeto claramente a uma altura maior antes de
mesmo subir e desaparecer ao amanhecer. A pressão do Congresso obrigou ao "Projeto Livro
Azul" a investigar este caso; foi "explicado" como uma "observação de Vênus", os oficiais que
presenciaram tal avistamento foram ridiculizados pela imprensa, o que levou à ruptura familiar de
um oficial e à ruína de sua saúde e carreira 26. As tragédias pessoais deste tipo entre pessoas que
têm "Encontros Próximos" com Ovnis são tão comuns que definitivamente deveriam se incluir
entre as "características típicas" deste fenômeno.

Os "Encontros Próximos de Segundo Grau" (CE-II) são essencialmente similares às experiências CE-
I, com a única diferencia de que deixam um efeito físico e / ou psicológico chamativo de sua
25
The Hynek UFO Report, p. 145
26
The UFO Experience, págs.114-124

69
presença. Estes efeitos incluem marcas no solo, queimaduras ou murchamentos de plantas e
árvores, interferência com circuitos elétricos que causam efeito de rádio estática e a parada de
motores de automóveis, desconforto para os animais evidenciada por um comportamento
estranho e efeitos em humanos que incluem paralisia temporal ou dormência, sensação de calor,
náuseas ou outras moléstias, leveza temporal (as vezes causando levitação), cura repentina de
chagas e dores e diversas sequelas psicológicas e físicas, incluindo marcas estranhas no corpo. Este
tipo de encontro OVNI brinda uma maior possibilidade de investigação científica, já que além do
testemunho humano há evidencia física que pode ser examinada; mas em realidade se há
realizado pouca investigação, tanto porque a maioria dos cientistas têm medo de envolverem-se
em toda a questão dos ovnis, quanto porque a evidência em si mesma não costuma ser concluinte
ou parcialmente subjetiva. Se existe compilado um catálogo de mais de 800 casos deste tipo em
24 países27. Contudo, nunca foi autenticado nenhum “papel” real de um OVNI, e as marcas
deixadas no solo são frequentemente tão desconcertantes como os avistamentos mesmos. A
marca mais frequente que fica no solo depois de um avistamento (o OVNI em si mesmo tem sido
visto no solo ou justamente encima dele) é uma área queimada, desidratada ou deprimida em
forma de anel, geralmente de 6 a 9 metros de diâmetro e de 30 a 90 centímetros de espessura;
estes "anéis" persistem durante semanas ou meses e se relata que o interior do anel (e as vezes
todo o círculo) fica estéril durante uma temporada ou duas depois do avistamento. Algumas
análises químicas do solo em tais anéis não tem surtido conclusões definitivas sobre a possível
origem desta condição.

Os "Encontros Próximos de Segundo Grau" frequentemente ocorrem a pessoas durante a noite


em seções isoladas da estrada. Em muitos casos similares, um objeto brilhante aterriza em um
campo próximo ou na estrada em frente a um automóvel ou caminhão, o motor e os faróis do
automóvel falham e os ocupantes se aterrorizam até que o ovni vá embora, frequentemente
elevando-se repentinamente sem emitir nenhum som; o motor do veículo torna a funcionar e,
frequentemente, se liga só.

Os mais estranhos de todos os relatos OVNI são aqueles que tratam de "Encontros Próximos de
Terceiro Grau" (CE-III) – ou seja, de experiências OVNI que envolvem "seres animados"
("ocupantes" ou "humanoides"). O primeiro pensamento de muitas pessoas quando escutam
estes relatos é imaginar a "homenzinhos verdes" e descartar todo o fenômeno como incrível: um
engano ou uma alucinação. Contudo, o êxito do recente filme de ficção científica estado-unidense,
nomeado precisamente por esta categoria de fenômenos ovnis, Encontros Próximos de Terceiro
Grau, (para a qual o Dr. Hynek se desempenhou como consultor técnico), junto com a evidência da
encosta Gallop Poll em 1974 que apontou que os 54% dos que tem ouvido falar dos ovnis creem
que são reais, e os 46% de todos os entrevistados creem na vida inteligente em outros planetas 28
(a porcentagem hoje, sem dúvida, seria maior) – aponta à aceitação cada vez maior por parte dos
homens contemporâneos da possibilidade de encontros reais com inteligências "não humanas". A
27
The Hynek UFO Report, p. 30
28
J. Allen Hynek e Marques Vallee, The Edge of Reality: A Progress Report on Unidentified Flying Objects,
Henry Regnery C ., Chicago , 1975, pp . 289- 290.

70
ficção científica tem dado as imagens, a "evolução" tem produzido a filosofia, e a tecnologia da
"era espacial" tem proporcionado a plausibilidade para tais encontros.

Surpreendentemente, estes encontros parecem estar ocorrendo hoje em dia, como o atesta a
evidência de muitas testemunhas credíveis. Por tanto, é de crucial importância a interpretação
que deve fazer-se destes sucessos; A realidade detrás deles é um contato real com "visitantes do
espaço exterior", ou isto é somente uma explicação proporcionada pelo "espírito da época" para
um contato de um tipo completamente diferente? Como veremos a continuação, os
investigadores científicos atuais de ovnis já se tem feito estas perguntas.

O doutor Hynek admite sua própria repugnância ante a possibilidade das experiências CE-III: " Para
ser franco, com muito gosto omitiria esta parte se pudesse, sem ofender a integridade científica"29.
Contudo, dado que seu fim é a objetividade científica, lhe resulta impossível ignorar os casos bem
documentados, de testemunhas credíveis, deste estranho fenômeno. De quase 1250 "Encontros
Próximos" reportados em um catálogo pelo Dr. Jacque Vallée, 750 deles reportam a aterrissagem
de uma nave, e mais de 300 reportam "humanoides" não próximo da nave; um terço de todos
estes são casos de múltiplas testemunhas30.

Em um caso "humanoide", que ocorreu em novembro de 1961, num dos estados das planícies do
norte dos Estados Unidos, quatro homens regressavam de uma viagem de caça pela noite, quando
um dos homens notou que um objeto em chamas descia, como se fosse um avião que se caia a
uma altura de uns 800 km de distância deles. Quando chegaram ao lugar do "acidente", os quatro
homens viram um campo com forma de silo cravado no solo em ângulo, com quatro figuras
aparentemente humanas parados ao redor (isto foi a uma distância de aproximadamente 150
jardas, equivalente a uns 137 metros). Fizeram brilhar uma luz sobre uma das figuras, que media
uns 4 pés de altura (aproximadamente 1 metro e 20 centímetros) e vestia o que se parecia com
uma bata branca; e que fizeram um gesto aos homens para que se ficassem atrás. Depois de
algumas dúvidas (ainda pensando que havia sido um acidente de avião), foram a um povoado
próximo para buscarem um oficial de polícia, e quando regressaram só viram algumas pequenas
luzes vermelhas, algo assim como luzes de automóvel. Entraram no campo com o oficial e
seguiram as luzes, e descobriram que haviam desaparecido repentinamente, sem deixar rastro
algum, apesar do lodo do campo. Depois de que o desconcertado oficial de polícia se foi, os
homens viram novamente o "silo" descendo do céu com um platô vermelho resplandecente.
Imediatamente depois que o objeto "aterrizou", duas figuras eram visíveis junto a ele; foi
disparado um tiro (mesmo que nenhum dos homens admitiu terem feito) e uma das figuras
recebeu um "golpe" no ombro com um baque, girou e caiu de joelhos; vencidos pelo pânico, os
homens correram para o carro deles e fugiram rapidamente, combinando entre eles de não
mencionar o incidente a ninguém. Regressaram a casa com a estranha sensação de que havia um
período de tempo "perdido" durante a noite. No dia seguinte, um dos homens foi visitado em seu
trabalho por vários homens bem arrumados de "aparência oficial", quem lhes fizeram perguntas
29
The UFO Experience, p. 158
30
ibid, p. 161

71
sobre o incidente (mas sem mencionar o tiroteio) e logo o levaram em seu automóvel para sua
casa, onde o interrogaram sobre sua roupa e botas e logo se foram, dizendo-lhe que não dissesse
nada sobre o incidente a ninguém. O caçador assumiu que estes homens eram investigadores da
Força Aérea dos Estados Unidos que tentavam ocultar algum novo "dispositivo secreto", mas os
Homens nunca se identificaram e nunca voltaram a contactá-lo. Os quatro homens estavam
extremadamente chocados pelo incidente e, depois de seis anos, um deles se sentiu obrigado a
contar toda a história a um agente do tesouro31.

Os principais incidentes desta história são típicos de muitos "Encontros próximos do terceiro tipo".
Um caso um pouco diferente deste tipo é a famosa "aterrissagem" OVNI em Kelly, um pequeno
povoado próximo de Hopkinsville, Kentucky, que foi largamente investigado pela polícia, a Força
Aérea e investigadores independentes. Na tarde e noite de 21 de agosto de 1955, sete adultos e
quatro meninos de uma casa agrícola tiveram um prolongado encontro com "humanoides". O
incidente começou às sete horas em ponto, quando o filho adolescente da família viu um objeto
voador "aterrissar" atrás da casa sede da fazenda. Ninguém acreditou nele, mas uma hora depois
um "homenzinho" emitindo um "estranho esplendor" chegou caminhando em direção a casa com
as mãos ao alto. Dos dois homens da casa, por medo, dispararam na criatura quando ela estava a 6
metros de distância; este deu um salto mortal e desapareceu na escuridão. Logo apareceu outra
criatura similar em uma janela; tornaram a disparar contra ele e de novo desapareceu. Ao sair, os
homens dispararam contra outra criatura com uma mão em forma de garra que viram no teto;
outro mais em uma árvore próxima caiu ao solo quando foi alcançado. Outras criaturas também
foram vistas e impactadas (ou podem ter sido as mesmas criaturas reaparecendo), mas os homens
viram que as balas pareciam rebatê-las e não tinham nenhum efeito real; o som era como disparar
em um balde. Depois de disparar balas de quatro caixas de munição, sem nenhum efeito, as onze
pessoas, completamente aterrorizadas, se dirigiram à Delegacia de Polícia de Hopkinsville. A
polícia chegou na casa de campo após as zero horas e fez um registro minucioso do local,
encontrando algumas marcas incomuns e vendo vários "meteoritos" estranhos em direção à casa
de campo, mas não encontraram "criaturas". Depois que a polícia se foi, as criaturas
reapareceram, causando mais consternação na casa.

Os "humanoides" neste caso foram descritos como tendo aproximadamente 1 a 1,2 metro(s) de
altura, com mãos e olhos enormes (sem pupilas nem pálpebras), orelhas grandes e pontiagudas e
braços longos pendurados até solo. Pareciam não terem roupas, mas sim que eram "banhados a
níquel". Se aproximavam à casa sempre pelo lado mais escuro e quando as luzes de fora estavam
acesas se afastavam32.

O Dr. Hynek distingue claramente entre os casos de "Encontros próximos do terceiro tipo" e de
"contactados". Os "contactados" têm repetidos encontros com seres Ovnis, os quais
frequentemente entregam mensagens pseudo religiosos sobre seres "altamente evoluídos" em
outros planetas que estão a ponto de virem a trazer "paz para a Terra" e que geralmente estavam
31
Edge of Reality, págs. 129-141
32
Vallee, UFOs in Space, pp. 187-191; Hynek, The UFO Experience, pp.172-177

72
conectados com cultos religiosos OVNI. As experiências ordinárias de CE-III, em mudança, são em
geral muito similares a outros "Encontros Próximos"; lhes ocorrem a pessoas de ocupações e
confiabilidade similares, são muito inesperados e produzem o mesmo tipo de comoção ao ver algo
tão incrível. Dizem que os "ocupantes" que são vistos (as vezes numa pequena distância)
geralmente coletam amostras de terra e rochas, e também que mostram um aparente interesse
nas instalações humanas e em seus veículos, ou que as vezes eles são vistos "consertarem" sua
própria nave. Se há descrito a estes "humanoides" com cabeças grandes com características em
grande parte não humanas (sem olhos ou com grandes olhos muito espaçados, nariz pequeno ou
sem nariz, uma fenda nua para a boca), pernas finas, sem pescoço; hão informado que alguns são
de tamanho humano, e outros de aproximadamente 1 metro de altura, como no incidente de
Kelly-Hopkinsville. Recentemente se há compilado um novo catálogo de mais de 1000 casos CE-
III33.

Tem ocorrido uma série de casos, informados seriamente por pessoas aparentemente confiáveis,
de "sequestros" por ocupantes de ovnis, geralmente com o propósito de levar a cabo algum tipo
de "provas". Quase toda evidencia destes casos (sem excluirmos aos "contactados") tem sido
obtido mediante hipnose regressiva; a experiência é tão traumática para as testemunhas que a
mente consciente não recorda da mesma, e só um tempo depois, algumas dessas pessoas aceitam
ser hipnotizadas para explicar alguma misteriosa "perda de tempo" em relação com sua
experiência de "encontro próximo" - a primeira parte ou a que recordam.

Um dos casos de "sequestro" mais conhecidos ocorreu ao redor da meia noite de 19 de setembro
de 1961, próximo de Whitfield, New Hampshire. O mesmo foi o tema de um livro de John Fuller (A
viagem interrompida), que foi impresso em forma condensada na revista Look. Nessa noite,
Barney e Betty Hill regressavam de uma viagem de férias quando viram descer um OVNI que
aterrissou justo em frente de seu automóvel em uma rua lateral. Alguns "humanoides" se
aproximaram deles, e o seguinte que lembraram foi somente em duas horas depois e a uns 56
quilômetros mais adiante dali. Esta amnésia que lhes provocou transtornos físicos e mentais lhes
intrigou, pelo que finalmente foram a um psiquiatra. Sob hipnose, ambos relataram
independentemente o que havia sucedido durante o tempo perdido. Ambos declararam que
haviam sido levados a bordo da "nave" pelos "humanoides" e submetidos a exames físicos, como
coletas de amostras de unhas e pele. Foram liberados depois de receber a sugestão hipnótica de
que não lembrariam nada da experiência. Sob hipnose relacionaram a experiência com uma
grande perturbação emocional34.

Em um caso similar, às 2:30 da manhã do dia 3 de dezembro de 1967, um policial em Ashland,


Nebraska, viu um objeto com uma fila de luzes piscando na estrada, que decolou no ar quando ele
se aproximou. O oficial fez um relato de um "disco voador" a seus superiores e foi se embora para
sua casa com uma forte dor de cabeça, um zumbido nos ouvidos e um vergão vermelho debaixo
da orelha esquerda. Posteriormente se soube que havia transcorrido um lapso de vinte minutos
33
Hynek, The UFO Experience, p. 31
34
The UFO Experience, pág. 178-184

73
nessa noite dos que não recordava nada; sob hipnose revelou que havia seguido ao OVNI, que
tornou a aterrissar. Os ocupantes lhe dirigiram uma luz brilhante e logo o levaram a bordo de sua
"nave", onde viu painéis de controle e computadores como máquinas. (Um engenheiro na França
havia visto algo similar quando foi "sequestrado" durante 18 dias) os "humanoides", vestidos com
macacão com um emblema de serpente alada, lhe disseram ao policial que eles vieram de uma
galáxia próxima, e que tinham bases nos Estados Unidos, e operavam sua nave por
"eletromagnetismo inverso"; que costumavam contactar com as pessoas ao acaso e que "queriam
com isto confundir as pessoas". Soltaram o homem dizendo-lhe que "não seria sábio falar sobre
esta noite"35.

À primeira vista, estes incidentes parecem simplesmente incríveis, como alguns casos estranhos
de alucinações. Mas tem havido muitos deles agora para descartá-los tão facilmente. Como os
relatos de encontros com aviões físicos reais, sem dúvida, não são muito convincentes. Ademais,
os psiquiatras mesmos advertem que os resultados da "hipnose regressiva" são muito incertos; e a
pessoa que está sendo hipnotizada é frequentemente incapaz de distinguir entre experiências
reais e "sugestões" plantadas em sua mente, seja pelo hipnotizador ou por alguém mais no
momento do suposto "Encontro Próximo".

Mas inclusive se estas experiências não são completamente "reais" (como fenômenos objetivos no
espaço e no tempo), o fato mesmo de que tantas delas hajam sido "implantadas" na mente
humana nos últimos anos já é bastante significativo. Sem dúvida, também há algo por detrás das
experiências de "abdução", e recentemente os investigadores de ovnis têm começado a olhar
numa direção diferente em busca de uma explicação.

Tais experiências, e especialmente os "Encontros Próximos" da década de 1970, estão


notavelmente ligados a fenômenos "paranormais" ou ocultos. As pessoas as vezes têm estranhos
sonhos justo antes de ver um ovni, ou escutam batidas na porta quando não há ninguém, ou têm
visitantes estranhos depois de um encontro; alguns testemunhos recebem mensagens telepáticas
dos ocupantes dos ovnis; os ovnis agora as vezes simplesmente se materializam e desmaterializam
em lugar de ir e vir a grandes velocidades; as vezes produzem "curas milagrosas" em sua presença
ou quando alguém está exposto à sua luz 36. Mas os "Encontros Próximos" com ovnis também têm
dado como resultado leucemias e enfermidades por radiação; frequentemente há efeitos
psicológicos trágicos: deterioração da pessoalidade, da sanidade, e suicídios37.

O aumento do "componente psíquico" nos avistamentos de ovnis tem levado aos investigadores a
buscarem semelhanças entre as experiências dos ovnis e os fenômenos ocultos, e a buscarem a
chave para compreender os ovnis nos efeitos psíquicos que produzem 38. Muitos investigadores
notam a semelhança entre os fenômenos OVNI e o espiritismo do século XIX, que também

35
The Invisible College, pág. 57-5
36
Jacques Vallée, The Invisible College, E.P. Dutton, Inc., New York, 1975, pp. 17, 21.
37
John A. Keel, UFOs: Operation Trojan Horse, G.P. Putnma´s Sons, New York, 1970, p 303.
38
The Invisible College, p.29

74
combinou fenômenos psíquicos com estranhos efeitos físicos, mas com uma "tecnologia" mais
primitiva. Em geral, a década de 1970 tem visto uma redução da lacuna entre os fenômenos OVNI
"normais" do passado e os cultos OVNI, de acordo com a maior receptividade da humanidade
nesta década para as práticas ocultas.

4. Explanação do Fenômeno OVNI

O novo livro mais recente do Doutor Jacques Vallée sobre ovnis, The Invisible College, revela o que
os investigadores científicos de renome estão pensando agora sobre eles crerem que agora
estamos "muito próximos" de compreender o que são. Aponta que a ideia de vida inteligente
"extraterrestre" se há colocado em poucos anos assombrosamente na moda, tanto entre os
cientistas como entre os adivinhos, como resultado de "uma grande sede de contato com mentes
superiores que guiarão o nosso pobre, assediado e agitado planeta"39. Seu livro vê de maneira
significativa que a ideia dos visitantes do espaço exterior se tem convertido num grande mito ou a
"maravilhosa verdade" de nosso tempo: "Se há tornado muito importante para um grande número
de pessoas que esperam visitantes do espaço exterior"40.

Porém, é uma ingenuidade crer neste mito: "Esta explicação é muito simples para dar conta da
diversidade do comportamento informado dos ocupantes e sua interação percebida com os seres
humanos"41. O Dr. Hynek tem indicado que para poder explicar os diversos efeitos produzidos
pelos ovnis, devemos assumir que são "um fenômeno que sem dúvida tem efeitos físicos, mas
também tem os atributos do mundo psíquico"42. O Dr. Vallée acredita que "se eles constroem tanto
como artefatos físicos (um fato que durante muito tempo me pareceu inegável) e como
dispositivos psíquicos, cujas propriedades exatas ainda precisam ser definidas"43. Em realidade, a
teoria de que os ovnis não são uma nave física em absoluto, senão uma espécie de fenômeno
"parafísico" ou psíquico, foi sugerida por vários investigadores a princípios da década de 1950;
mas esta opinião foi em Grande parte submersa mais tarde, por um lado pelos ocultistas, com sua
insistência na origem "extraterrestre" dos ovnis, e por outro lado pelas explicações oficiais do
governo, que correspondiam com a opinião popular amplamente difundida de que todo o
fenômeno era imaginário44. Só recentemente os investigadores sérios começaram a estar de
acordo de que os ovnis, se bem que tenham certas características "físicas", não podem ser
explicados em absoluto como as "naves espaciais" de alguém, senão que são claramente algo do
reino oculto.

Por que, de fato, há tantas "aterrissagens" de ovnis precisamente em meio das estradas? Por que
estas embarcações fantasticamente "avançadas" frequentemente necessitam "reparações"? Por
39
Ibid., p.195
40
Ibid., p.207
41
Ibid., p.27
42
The Edge of Reality, p.259
43
The Invisible College, p. 202, escrito original
44
Keel, UFOs: Operation Trojan Horse, pp 38-41

75
que os ocupantes necessitam recolher pedras e madeira (uma e outra vez durante 25 anos!), e
"provar" a tanta gente - se em realidade são veículos de reconhecimento de outro planeta, como
os "humanoides" geralmente reivindicam? O Dr. Vallée pergunta se a ideia dos "visitantes do
espaço exterior" não poderia "desempenhar precisamente um papel de distração ao mascarar a
natureza real, infinitamente mais complexa, da tecnologia que dá lugar aos avistamentos"45. Crê
que "não estamos tratando com ondas sucessivas de visitas vindas do espaço. Estamos tratando
com um sistema de controle"46. "O que ocorre através dos encontros próximos com ovnis é o
controle das crenças humanas"47. "Com cada nova onda de ovnis, o impacto social se torna maior.
Mais jovens se fascinam com o espaço, com os fenômenos psíquicos, com novas fronteiras na
consciência. Aparecem mais livros e artigos, mudando nossa cultura"48. Em outro livro nota se que
"é possível fazer crer a grandes setores de qualquer população na existência de raças
sobrenaturais, na possibilidade de máquinas voadoras, na pluralidade de mundos habitados,
expondo-os a umas poucas cenas cuidadosamente desenhadas, ou detalhes dos quais estão
adaptados à cultura e superstições de um tempo e lugar em particular"49.

Uma pista importante sobre o significado destas "cenas desenhadas" pode ser vista numa
observação que frequentemente fazem os observadores cuidadosos dos fenômenos OVNI,
especialmente nos casos de CE-III e de "contactados": que estas são profundamente "absurdas" ou
contêm ao menos tanto de absurdos como de racionalidade 50. Os "Encontros Próximos"
individuais têm detalhes absurdos, como as quatro panquecas que um ocupante de um ovni deu a
um criador de galinhas de Wisconsin em 1961 51; o que é mais significativo, os encontros em si
mesmos são estranhamente inúteis, sem um propósito ou significado claro. Um psiquiatra da
Pensilvânia sugeriu que o absurdo presente em quase todos os encontros próximos com ovnis é
em realidade uma técnica hipnótica. "Quando a pessoa está perturbada pelo absurdo ou
contraditório, e sua mente está buscando um significado, está extremadamente aberta à
transferência de pensamentos, a receber uma cura psíquica, etc."52. O Dr. Vallée compara esta
técnica com os koans irracionais dos Mestres Zen 53, e nota a semelhança entre os encontros OVNI
e os rituais de iniciação oculta que "abrem a mente" a um "novo conjunto de símbolos"54. Tudo isto
aponta ao que ele chama "a próxima forma de religião"55.

45
The Invisible College, p. 28
46
Ibid., p. 195
47
Ibid., p.3
48
Ibid., pp.197-8
49
Vallée, Passport to Magonia, Henry Regnery Co., Chicago, 1969, pp.150-1
50
The Invisible College, p. 196
51
Vallée, Passport to Magonia, pp.23-25. Uma das panquecas foi analisada pelo Laboratório de Alimentos e
Medicamentos do Departamento de Saúde, Educação e Bem estar dos EUA, e se descobriu que era "de
origem terrestre".
52
The Invisible College, p.115
53
Ibid., p.27
54
Ibid., p.117
55
Ibid., p.202

76
Portanto, os encontros com ovnis não são mais que uma forma contemporânea de um fenômeno
oculto que há existido ao longo dos séculos. Os Homens têm abandonado o cristianismo e buscam
"salvadores" do espaço exterior e, portanto, o fenômeno proporciona imagens de naves espaciais
e seres espaciais. Mas, que fenômeno é este? Quem está fazendo a "engenharia" e com que
propósito?

Os investigadores de hoje já têm proporcionado as respostas de ao menos as duas primeiras


perguntas, mesmo que, ao não ter competência no âmbito dos fenômenos religiosos, não
compreendem completamente o significado do que hão encontrado. Um investigador, Brad
Steiger, professor universitário de Iowa que escreveu vários livros sobre o tema, depois de um
estudo detalhado recente dos arquivos do "Livro Azul" da Força Aérea, concluiu: " Estamos lidando
com um fenômeno parafísico multidimensional, que é em grande parte autóctone ao planeta
terra"56. os doutores Hynek e Vallée tem adiantado a hipótese dos "extraterrestres terrestres"
para dar conta dos fenômenos OVNI, e especulam sobre "universos entrelaçados" aqui na terra de
onde poderiam surgir, como os "poltergeists" que produzem efeitos físicos sem deixar de ser
invisíveis. John Keel, quem começou sua investigação OVNI como um cético e ele mesmo é um
agnóstico em religião, escreve: "A verdadeira história UF0 ... são as de espectros e fantasmas e
estranhas aberrações mentais; de um mundo invisível que nos rodeia e ocasionalmente nos
envolve ... são um mundo de ilusão ... onde a realidade mesma está distorcida por forças estranhas
que aparentemente podem manipular o espaço, o tempo e a matéria física, forças que estão quase
por completo mais além de nosso poder de compreensão ... as manifestações OVNI parecem ser,
em geral, variações menores do antigo fenômeno demonológico"57. Em uma bibliografia recente
de fenômenos OVNI preparada pela Biblioteca do Congresso para a Oficina de Investigação
Científica da Força Aérea dos Estados Unidos, a introdução estabelece que "muitos dos relatos
OVNI que se publicam agora na imprensa popular relatam supostos incidentes que são
surpreendentemente similares a possessão demoníaca e fenômenos psíquicos que os teólogos e
parapsicólogos conhecem a muito tempo"58. A maioria dos investigadores de ovnis agora se estão
voltando para o reino oculto e à demonologia para compreender os fenômenos que estão
estudando.

Vários estudos recentes de ovnis, realizados por protestantes evangélicos, reúnem toda esta
evidência e chegam à conclusão de que os fenômenos ovni são de origem precisamente
demoníacos59. O investigador cristão Ortodoxo dificilmente pode chegar a uma conclusão
diferente dessa. Algumas ou muitas das experiências, pode ser, o resultado de enganos ou
alucinações; mas é simplesmente impossível descartar todos os milhares de relatos OVNI seguindo
tal lógica. Um grande número de médiuns modernos e seus fenômenos espíritas também são
fraudulentos; mas o espiritismo mediúnico, em si mesmo, quando é genuíno, sem dúvida produz
56
Canadian UFO Report, verão de 1977
57
UFOs : Operation Trojan Horse, págs. 46, 299
58
Lynn G. Catoe, UFOs and Related Subjects: An Annotated Bibliography, U.S. Goverment Printing Office,
Washington, D.C., 1969
59
Clifford Wilson e John Weldon, Close Encounters: A Better Explanation, Master Books, San Diego, 1978;
Spiritual Counterfeits Project Journal, Berkeley, Calif., Agosto, 1977: "UFOs: Is Science Fiction Coming True?”

77
fenômenos "paranormais" reais sob a ação de demônios. Os fenômenos Ovnis, que têm a mesma
fonte, e não são menos reais.

As histórias de casos de pessoas que têm entrado em contacto com Ovnis revelam as
características padrão que acompanham tais encontros com a participação de demônios do reino
oculto. Um oficial de polícia do Sul da Califórnia, por exemplo, começou a ver ovnis em junho de
1966 e, a partir de então, os viu com frequência, quase sempre de noite. Depois de uma
"aterrissagem", ele e sua esposa viram distintos rastros do OVNI no solo. "Durante estas semanas
de avistamentos tentadores, fiquei obcecado por completo com os ovnis, convencido de que algo
grandioso estava por acontecer. Abandonei minha leitura diária da Bíblia e dei as costas a Deus
quando comecei a ler todos os livros de ovnis que podia encontrar ... Muitas noites olhei em vão,
tratando de comunicar-me mentalmente com o que então pensava que eram seres extraterrestres
e quase rezava para eles, para que aparecessem e estabelecessem algum tipo de contato comigo".
Finalmente teve um "Encontro Próximo" com uma "nave" de uns 24 metros de diâmetro, com
luzes rotativas brancas, vermelhas e verdes. Se emocionou e ficou à espera de que sucederia algo
"grandioso", mas nunca sucedeu nada, os Ovnis deixaram de aparecer e, em sua frustração,
recorreu ao álcool, entrou em depressão e começou a ter pensamentos suicidas, até que sua
conversão a Cristo terminou tal fase de sua vida. As pessoas que realmente se hão colocado em
contato com os seres relacionados aos Ovnis têm experiências muito piores; os seres algumas
vezes literalmente os "possuem" e tratam de matá-los quando há resistência 60. Tais casos nos
lembra efetivamente que, aparte do significado dos fenômenos OVNI em seu conjunto, cada
"Encontro Próximo" OVNI tem o propósito específico de enganar ao indivíduo que é contactado e
levá-lo, senão a mais "contatos" e à difusão da "mensagem" OVNI, e logo ao menos à confusão e
desorientação espiritual pessoal.

O aspecto mais desconcertante dos fenômenos Ovnis para a maioria dos investigadores, a saber, é
a estranha mescla de características físicas e psíquicas neles, o que não é nenhum enigma para os
leitores de livros espirituais Ortodoxos, especialmente as Vidas dos Santos. Os demônios também
têm "corpos físicos", mesmo que a "matéria" neles seja de tal sutileza que os homens não podem
percebê-la a menos que se abram suas "portas da percepção" espirituais, seja pela vontade de
Deus (como no caso dos santos) ou contra ela (como no caso dos feiticeiros e médiuns)61.

A literatura Ortodoxa tem muitos exemplos de manifestações demoníacas que se ajustam


precisamente ao padrão OVNI: aparições de seres e objetos "sólidos" (sejam demônios em si
mesmos ou suas criações ilusórias) que de repente "materializam-se" e "desmaterializam-se",
sempre com o objetivo de assombrar e confundir as pessoas e, em última instância, levá-las à

60
UFOs: A Better Explanation, pp. 298-305
61
A doutrina ortodoxa de demônios e anjos, suas manifestações e a percepção humana deles, como resume
o grande Padre Ortodoxo do século XIX, o Bispo Ignatius Branchaninov, exposto no livro The Soul After Death,
St. Herman Brotherhood , Platina, Califórnia, 1979.

78
perdição. As vidas de Santo Antônio o Grande do século IV 62 e de São Cipriano o ex-feiticeiro do
século III63 estão repletas de tais incidentes.

A vida de São Martim de Tours (+397) relatada por seu discípulo, Sulpicius Severus, contem um
exemplo interessante do poder demoníaco em conexão com uma estranha manifestação "física"
que se assemelha muito aos "Encontros Próximos" dos Ovnis de hoje. Um jovem chamado
Anatólio se tornou um monge próximo do monastério de São Martim, mas por sua falsa
humildade se tornou uma vítima de um engano demoníaco. Imaginou que conversava com
"anjos", e para persuadir aos outros de sua santidade, estes "anjos" concordaram em dar-lhe um
"manto resplandecente do céu" como sinal do "Poder de Deus" que habitava no jovem. Numa
noite, próxima da maia noite, produziu se um tremendo ruído de pés batendo dançando e um
murmúrio como de muitas vozes na ermita, e acendeu-se uma luz na cela de Anatólio. Logo veio o
silêncio, e o enganado saiu de sua cela com a prenda "celestial". "Ele trouxe uma luz e então
inspecionou cuidadosamente a prenda. Era sumamente suave, com um brilho insuperável, e de
uma cor escarlate brilhante, mas era impossível precisar a natureza do material. Ao mesmo tempo,
sob o mais exato escrutínio de olhos e dedos, parecia uma prenda e nada mais". Na manhã
seguinte, o Padre espiritual de Anatólio o tomou da mão para levá-lo a São Martin e descobrir se
em realidade se tratava de um ardil do diabo. Atemorizado, o enganado se negou a ir, "e quando o
obrigavam a ir contra sua vontade, entre as mãos dos que o arrastavam a prenda desapareceu". O
autor do relato (que presenciou o incidente ele mesmo o teve por testemunhas presenciais)
concluindo que "o diabo não pode manter suas ilusões ou ocultar sua natureza quando deviam ser
submetidas aos olhos de Martin". "Estava tão plenamente imbuído em seu poder ver ao diabo que
o reconhecia sob qualquer forma, seja que se mantivera em sua própria natureza ou se mudava a
qualquer das diversas formas de 'maldade espiritual", incluídas as formas dos deuses pagãos e a
aparição de Cristo mesmo, com túnicas e coroas reais, e envolto em uma luz vermelha brilhante 64.

Está claro que as manifestações dos “discos voadores” de hoje são muito similares à "tecnologia"
dos demônios; de fato, nada mais pode dar-nos uma explicação melhor. Os múltiplos enganos
demoníacos da literatura Ortodoxa se têm adaptado à mitologia do espaço exterior, nada mais; o
Anatólio mencionado anteriormente seria conhecido hoje simplesmente como um "contactado". E
o propósito do objeto "não identificado" em tais relatos é claro: assombrar aos espectadores com
um sentido do "misterioso", e outorgar "provas" das "inteligências superiores" ("anjos", se a
vítima crer neles, ou "visitantes do espaço" para os homens modernos), e desse modo ganha a
confiança na mensagem que desejam transmitir. Veremos em que consiste esta mensagem na
continuação.

Um "sequestro" demoníaco muito próximo das "abduções" de Ovnis se descreve na Vida de São
Nilo de Sora, o fundador do século XV da vida monástica em Skete na Russa. Algum tempo depois
do repouso do Santo viveu em seu monastério um sacerdote com seu filho. Um dia, quando
62
Eastern Orthodox Books, 1976
63
The Orthodox Word, 1976, no. 5
64
F.R. Hoare tr., The Western Fathers, Harper Torchbacks, New York, 1965, pp. 36-41.

79
enviaram ao menino para dar um recado, "de repente se aproximou lhe um homem estranho que o
agarrou e o levou, como o vento, a um bosque impenetrável, levando-o para uma grande
habitação em sua habitação e colocando-o no meio desta, frente à janela". Quando o sacerdote e
os monges oraram pedindo ajuda a São Nilo para encontrar ao menino perdido, o Santo "acudiu
em ajuda ao menino e parou-se em frente à habitação onde este estava, e quando bateu na
moldura da janela com seu bastão, o edifício foi sacudido e todos os espíritos imundos caíram na
terra". O Santo disse ao demônio que devolvesse o menino ao lugar de onde o havia levado, e logo
se tornou invisível. Logo, depois de alguns uivos entre os demônios, "o mesmo estranho pegou o
menino e o levou à Skete como o vento ... colocando-o em um palheiro, onde se tornou invisível".
Depois de ser visto pelos monges, "o menino lhes contou tudo o que lhe havia passado, o que
havia visto e ouvido. e a partir desse momento este menino se tornou muito humilde, como se
houvesse o deixado estupefato. O sacerdote por terror abandonou o Skete com seu filho"65. Em um
"sequestro" demoníaco similar acontecido na Rússia do século XIX, um jovem, depois de que sua
mãe o xingou, se converteu em escravo de um demônio "avô" durante 12 anos e foi capaz de
atuar de maneira invisível entre os homens para ajudar ao demônio a semear confusão entre
eles66.

Tais histórias reais de atividade demoníaca eram algo comum nos séculos anteriores. É um sinal da
crise espiritual de hoje que os homens modernos, apesar de toda sua orgulhosa "iluminação" e
"sabedoria", estejam tornando a ser conscientes de tais experiências, mas já não têm o marco
cristão para explicá-las. Os investigadores contemporâneos de OVNIS, que buscam uma explicação
dos fenômenos que se têm tornado demasiadamente impermeáveis para passá-los por alto, têm
se unido aos investigadores psíquicos de hoje em uma tentativa de formular uma "teoria de
campo unificado" que abarque tanto os fenômenos psíquicos como os físicos. Mas tais
investigadores só continuam com o enfoque "iluminado" dos homens modernos e confiam em
suas observações científicas para dar respostas a um âmbito espiritual que não se pode abordar
"objetivamente" em absoluto, senão só mediante a fé. O mundo físico é moralmente neutro e um
observador objetivo pode conhecê-lo relativamente bem; mas o reino espiritual invisível
compreende seres tanto bons quanto maus, e o observador "objetivo" não tem forma de distingui-
lo do mundo físico a menos que aceite a revelação que o Deus invisível há feito deles ao homem.
Portanto, os investigadores OVNI de hoje colocam a inspiração Divina da Bíblia ao mesmo nível
que a escritura automática do espiritismo de inspiração satânica, e não distinguem entre as ações
dos anjos e a dos demônios. Agora sabem (depois de um longo período no que reinavam os
prejuízos materialistas entre os científicos) que existe um reino não físico que é real, e veem seus
efeitos nos fenômenos OVNI; mas enquanto se aproximam deste reino "cientificamente", os
poderes invisíveis os enganarão com a mesma facilidade que ao "contactado" mais ingênuo.
Quando tentam determinar quem ou o que está por trás dos fenômenos OVNI, e qual poderia ser
o propósito dos fenômenos, se veem obrigados a entregarem-se às especulações mais loucas.
Portanto, o Dr. Vallée se confessa desconcertado sobre se a fonte das manifestações OVNI poderia
65
The Northhern Thebaid, St. Herman of Alaska Brotherhood, 1975, pp. 91.92
66
S. Nilus, The Power of God and Man´s Weakness (in Russian), St Sergiu´s Lavra, 1908; St. Herman
Brotherhood, 1976, pp. 279-98

80
ser um "mecanismo de relojoaria sem alterações" moralmente neutra, uma "reunião solene de
sábios" benévola (como o mito "extraterrestre" nos que fazer crer), ou "uma terrível
monstruosidade sobre-humana cuja só a contemplação tornaria louco a um homem", ou seja, a
atividade dos demônios67.

Una verdadeira avaliação da experiência OVNI pode ser realizada só sobre a base da revelação e a
experiência cristãs, e é acessível só para o crente cristão humilde que confia nestas fontes.
Certamente, ao homem não lhe está dado por completo "explicar" o mundo invisível de anjos e
demônios; mas se nos há dado suficiente conhecimento cristão para saber como atuam estes
seres em nosso mundo e como devemos responder a suas ações, particularmente para escapar
das redes dos demônios. Os investigadores de OVNIS têm chegado à conclusão de que os
fenômenos que têm estudado são essencialmente idênticos aos fenômenos que geralmente
chamam de "demoníacos"; mas só o cristão — o cristão Ortodoxo, iluminado pela compreensão
patrística das Escrituras e a experiência de 2000 anos de encontros dos santos com seres visíveis
— é capaz de conhecer o significado pleno desta conclusão.

5. O significado dos Ovnis

Então, qual é o significado do fenômeno OVNI de nosso tempo? Por que eles têm aparecido justo
neste momento da história? Qual é sua mensagem? A que futuro apontam?

Primeiro, os fenômenos OVNI são só uma parte de uma vertiginosa avalanche de eventos
"paranormais", o que faz tão somente uns anos a maioria das pessoas haveriam considerado como
"milagres". O Dr. Vallée, em The Invisible College, expressa a apreciação secular deste fato:
"Observações de eventos incomuns repentinamente surgem em nosso entorno por milhares"68,
causando "uma mudança geral dos patrões de crenças do homem, de toda sua relação com o
conceito do invisível"69. "Algo está sucedendo à consciência humana"70; a mesma "força poderosa
[que] tem influenciado a raça humana no passado, torna a influenciar ela agora"71. Na linguagem
cristã isto significa: um novo derramamento demoníaco está sendo desatado sobre a humanidade.
No ponto de vista apocalíptico cristão (ver o final deste livro), podemos ver que o poder que até
agora há contido a manifestação final e mais terrível da atividade demoníaca na terra foi
retirado72, o governo Cristão Ortodoxo e a ordem pública (cujo principal representante na terra era
o Imperador Ortodoxo) e a cosmovisão cristã Ortodoxa já não existem como um todo, e satanás
foi "desatado de sua prisão", onde foi mantido pela graça da Igreja de Cristo, com o fim de
"enganar as nações"73 e prepará-las para adorar ao Anticristo no final dos tempos. Talvez nunca,
67
The Invisible College, p. 206
68
Ibid., p. 187
69
Ibid., p.114
70
Ibid., p. 34
71
Ibid., p.14
72
11 Ts. 2: 7
73
Apoc. 20: 7-8

81
desde o começo da era cristã, os demônios hajam aparecido tão aberta e amplamente como hoje.
A teoria dos "visitantes do espaço exterior" não é mais que um dos pretextos que estão utilizando
para ganhar aceitação da ideia de que "seres superiores" agora farão cargo do destino da
humanidade74.

Em segundo lugar, os ovnis não são mais que a mais nova das técnicas mediúnicas mediante as
quais o diabo obtém iniciados em seu reino oculto. São um sinal terrível de que o homem se há
tornado susceptível à influência demoníaca como nunca antes na era cristã. No século XIX
geralmente era necessário buscar salas de espiritismo escuras para entrar em contacto com os
demônios, mas agora só há que olhar ao céu (geralmente de noite, é verdade). A humanidade tem
perdido o que ainda possuía da compreensão cristã básica, e agora se coloca passivamente a
disposição de qualquer "poder" que possa descer do céu. A nova película, Encontros próximos do
terceiro tipo, é uma revelação impactante do quão supersticioso que se há tornado o homem "pós
cristão", pronto num instante e incondicionalmente para crer e seguir a demônios apenas
disfarçados para onde quer que o possam conduzir75.

Em terceiro lugar, a "mensagem" dos ovnis é: prepara-te para o Anticristo; o "salvador" do mundo
apóstata que vem para governá-lo. Pode ser que ele mesmo venha no ar, para completar sua
personificação em Cristo (Mateus 24:30; Atos 1:11); talvez só os "visitantes do espaço exterior"
aterrissarão publicamente para oferecer a adoração "cósmica" de seu mestre; ou pode ser o "fogo
do céu" (Apo. 13:13) será só uma parte dos grandes espetáculos demoníacos dos últimos tempos.
De todos os modos, a mensagem para a humanidade contemporânea é: espere a liberação, não da
revelação cristã e a Fé em um Deus invisível, senão dos veículos no céu.

Um dos sinais dos últimos tempos é que "haverá grandes terremotos em diferentes lugares,
fomes e pragas; e haverá terror e grandes sinais do céu"76. inclusive faz muitos anos, o Bispo
Ignatius Brianchaninov, em seu livro On Miracles and Signs77, comentou sobre "o esforço que se

74
muitos dos relatos de "Bigfoot" e outros "monstros" mostram as mesmas características ocultas que os
avistamentos de ovnis, e frequentemente ocorrem em conexão com tais avistamentos.
75
Outros dois fenômenos "paranormais" recentemente descobertos revelam com que audácia os demônios
estão utilizando agora os meios físicos (em particular os dispositivos técnicos modernos) para entrar em
contato com os homens. (1) Um investigador letão (agora seguido por outros) descobriu o fenômeno de
vozes misteriosas que aparecem inexplicavelmente em gravadoras, inclusive quando a gravação realiza-se
em condições clínicas numa atmosfera totalmente silenciosa, com resultados muito similares aos das sessões
espíritas. A presênça de um médium ou "psíquico" na habitação parece ajudar ao fenômeno (Kónstantin
Raudive, Break through: An Amazing Experiment in Electronic Communication with the Dead, Taplinger
Publishing Co., Nueva York, 1971). (2) As "pessoas do espaço" de voz metálica durante algum tempo
supostamente estiveram usando o telefone para comunicarem-se tanto com os "contactados" como com os
investigadores de ovnis. A possibilidade de que se produza um engano num fenômeno como este, claro, é
alta. Mas nos últimos anos as vozes dos mortos que convencem a quem são contactados, são escutadas em
conversações telefônicas com seus seres queridos. Dificilmente se pode negar, como nota o repórter deste
fenômeno, que "os demônios de antigamente estão andando novamente entre nós", até num grau inaudito
nele passado (Keel, UFOs: Operation Trojan Horse, p. 306).
76
Lucas 21:11
77
Yaroslavl, 1870, reimpresso por Holy Trinity Monastery, Jordanville, NY, 1960

82
pode encontrar na sociedade cristã contemporânea para ver milagres e inclusive realizar
milagres ... Tal esforço revela o auto engano, fundado na autoestima e na vanglória, que habita na
alma e na pose"78. Os verdadeiros fazedores de maravilhas hão diminuído e se extinguiram, mas as
pessoas "têm mais sede de milagres que nunca ... Estamos nos aproximando gradualmente ao
tempo em que se abrirá uma vasta arena para numerosos e surpreendentes falsos milagres, para
atrair à perdição a esses desafortunados filhos da sabedoria carnal que serão seduzidos e
enganados por estes milagres"79.

Algo de especial interesse para os investigadores é o de que os ovnis são " os milagres do Anticristo
que se manifestarão principalmente no reino aéreo, onde satanás tem principalmente seus
domínios. Os sinais poderão ser captados sobre tudo pelo sentido da vista, encantando e
enganando. São João o teólogo, ao contemplar na revelação os acontecimentos que precederão ao
fim do mundo, disse que o Anticristo realizará grandes sinais e inclusive fará descer fogo do céu
sobre a terra a vista dos homens 80.Este é o sinal indicado pela Escritura como o maior dos sinais do
Anticristo, e o lugar onde acontecerá este sinal é o ar: será um espetáculo esplendido e terrível"81.
São Simeão, o novo teólogo, por esta razão nota que "o que se esforça na oração raramente deve
olhar ao céu por temor aos espíritos malignos que causam muitos e diversos enganos no ar"82. "Os
homens não entenderão que os milagres do Anticristo não têm um propósito bom, racional,
nenhum significado definido, que são alheios à verdade, que estão cheios de mentiras, que são
uma obra de teatro monstruosa, maliciosa, sem sentido, que aumenta para assombrar, reduzir à
perplexidade e ao esquecimento, enganar, seduzir, atrair com a fascinação de um efeito pomposo,
vazio, estúpido"83. "Todas as manifestações demoníacas têm a característica de que é perigoso
inclusive prestar a menor atenção a elas; de tal atenção mesmo se inclusive esta seja feita sem
nenhuma simpatia por tal manifestação, qualquer um pode ficar marcado com uma impressão
sumamente prejudicial e sujeito a uma séria tentação"84. Milhares de "contactados" por OVNIS e
inclusive simples testemunhas têm experimentado a terrível verdade destas palavras; poucos
escapam uma vez que se envolvem profundamente.

Inclusive os investigadores seculares dos fenômenos OVNIS têm considerado oportuno advertir às
pessoas sobre seus perigos. John Keel, por exemplo, escreve: "Atacar aos OVNIS pode ser tão
perigoso como atacar na magia negra. O fenômeno se alimenta dos neuróticos, os crédulos e os
imaturos. Pode resultar em esquizofrenia paranoica, demonomania e inclusive suicídio, e já
ocorreram vários casos. Uma leve curiosidade pelos ovnis pode converter-se numa obsessão
destrutiva. Por esta razão, recomendo encarecidamente que os pais proíbam a seus filhos de

78
Ibid., p. 32
79
Ibid., pp. 48-49
80
Apo. 13 : 13
81
Ibid., p. 13
82
Philokalia, "The Three Forms of Heedfulness
83
Ibid., p.11
84
Ibid., p. 50

83
participar em atividades relacionadas com o tema OVNI. Os mestres de escola e outros adultos não
devem alentar aos adolescentes a que se interessem por este tema"85.

Num lugar diferente, o Bispo Ignatius Brianchaninov registrou com assombro e apreensão a visão
de um simples ferreiro russo num povo próximo de Petersburgo nos alvoreceres de nossa era
atual de incredulidade e revolução (1817). Na metade do dia, de repente viu uma multidão de
demônios em forma humana, sentados nos ramos das árvores do bosque, com roupas estranhas e
gorros pontiagudos, e cantando, com o acompanhamento de instrumentos musicais incrivelmente
estranhos, uma canção repugnante e espantosa: "Chegaram nossos anos, faça-se nossa
vontade!"86.

Vivemos próximos do final deste terrível era do triunfo e regozijo demoníaco, quando os
misteriosos "humanoides" (outra das máscaras dos demônios) se fizeram visíveis para milhares de
pessoas e por meio de seus absurdos encontros se apoderam das almas desses homens de quem a
graça de Deus se tem apartado. O fenômeno OVNI é um sinal para que os Cristãos Ortodoxos
caminhem com maior cautela e sobriedade pelo caminho da salvação, sabendo que podemos ser
tentados e seduzidos não só por religiões falsas, senão inclusive por objetos aparentemente físicos
que simplesmente chamam a atenção. Em séculos anteriores, os cristãos eram muito cautelosos
com os fenômenos novos e estranhos, sabendo as artimanhas do diabo; mas depois da era
moderna da "iluminação", a maioria das pessoas se tornaram meramente curiosas sobre essas
coisas e inclusive as persegue, relegando ao diabo a um mero reino imaginário. A consciência da
natureza dos ovnis, então, pode ser uma ajuda para despertar aos Cristãos Ortodoxos para uma
vida espiritual consciente e uma cosmovisão Ortodoxa que não siga facilmente as ideias da moda
de nossa época.

O Cristão Ortodoxo consciente vive em um mundo que está claramente caído, tanto a terra como
as estrelas estão igualmente perdidos pelo que luta afastados do paraíso. Ele é parte de uma
humanidade que sofre, todos descendentes do único Adão, o primeiro homem, e todos
igualmente necessitados da redenção oferecida gratuitamente pelo Filho de Deus através de seu
sacrifício salvífico na Cruz. O Cristão Ortodoxo sabe que o homem não há que "evoluir" para algo
"superior", nem tem nenhuma razão para crer que há seres "altamente evoluídos" em outros
planetas; mas as vezes sabe muito bem que no universo existem certamente "inteligências
avançadas", além dele mesmo que são de duas classes, e que ele deve esforçar-se para viver e
para morar com os que servem a Deus (os anjos) e evitar o contato com os outros que rechaçaram
a Deus e se empenham em sua inveja e malicia para levar o homem a sua desgraça (os demônios).
Ele sabe que o homem, por amor próprio e debilidade, se inclina facilmente a seguir o erro e crer
em "contos de fadas" que prometem o contato com um "estado superior" ou "seres superiores"
sem a luta da vida cristã; de fato, precisamente como um escape da luta da vida cristã. Já que
desconfia de sua própria capacidade para ver através dos enganos dos demônios e, Portanto, se

85
UFOs: Operation Trojan Horse, p. 220
86
S. Nilus, Svyatynya pod Spudom, Sergiev Posad, 1911, p . 122 .

84
aferra com maior firmeza às diretrizes bíblicas e patrísticas que a Igreja de Cristo proporciona para
sua vida.

Tal pessoa tem a possibilidade de resistir a religião do futuro, a religião do Anticristo, em qualquer
forma que se apresente; o resto da humanidade, salvo por um milagre de Deus, está perdida.

VII. A ''Renovação Carismática''

COMO SINAL dos TEMPOS

Costa Deir pegou o microfone e nos disse como o seu coração estava sobrecarregado na Igreja
Ortodoxa Grega. Ele pediu ao Padre episcopal Driscoll que orasse para que o Espírito Santo
limpasse essa Igreja como o estava fazendo com a Igreja Católica. Enquanto o Padre Driscoll
rezava, Costa Deir chorou pelo microfone. Depois da oração houve uma longa mensagem em
línguas e uma interpretação igualmente longa que dizia que as orações haviam sido escutadas e
que o Espírito Santo sopraria e despertaria a Igreja Ortodoxa Grega ... nesse momento havia tanto
pranto e gritos que me separei de toda a emotividade do lugar ... contudo, escutei a mim mesmo
dizendo algo surpreendente. “Algum dia, quando lermos como está se movendo o Espírito na
Igreja Ortodoxa Grega, recordemos que estávamos aqui no momento em que começou”87.

Seis meses depois do evento que aqui descrito ocorrera em uma reunião “carismática” inter
denominacional em Seattle, os cristãos ortodoxos realmente começaram a escutar que o “espírito
carismático” estava se movendo na Igreja Ortodoxa Grega. A partir de janeiro de 1972, a revista
The Logos do Padre Eusebius Stephanou começou a informar sobre este movimento, que havia
começado antes em várias paróquias gregas e sírias na América, e agora estava se estendendo a
várias outras, sendo promovido ativamente pelo Padre Eusebius. Depois que o leitor havia lido a
descrição deste “espírito” a partir das palavras de seus principais representantes nas páginas que
seguem, não lhe será difícil crer que, de fato, foi evocado e inculcado no mundo ortodoxo por tão
urgentes súplicas de “cristãos Inter denominacionais”. Porque se uma conclusão surge desta
descrição, deve ser certamente a de que a espetacular “renovação carismática” atual não é mais
que meramente um fenômeno de um super emocionalismo e uma renovação protestante –
mesmo que se estes elementos estejam também fortemente presentes, mas em realidade é a
obra de um “espírito” que pode ser invocado e que opera “milagres”. A pergunta que tentaremos
responder nestas páginas é: O que ou quem é este espírito? Como cristãos Ortodoxos sabemos

87
Pat King, em Logos Journal, setembro-outubro de 1971, pág. 50. Esta "revista carismática internacional"
não deve ser confundida com a publicação The Logos do padre E. Stephanou.

85
que não é só Deus quem opera os milagres; o diabo tem seus próprios “milagres” e, de fato, pode
imitar e de fato imita praticamente todos os milagres genuínos de Deus. Portanto, buscaremos
nestas páginas sermos cuidadosos na hora de “provar os espíritos para ver se são de Deus”88.

Começaremos com um breve fundo histórico, já que ninguém pode negar que a “renovação
carismática” tenha chegado ao mundo ortodoxo através das denominações protestante e católica
romana, que por sua vez o receberam das seitas pentecostais.

1. O movimento pentecostal do século XX

O Movimento Pentecostal Moderno, mesmo que teve antecedentes no século XIX, sua origem se
remonta mais precisamente às 7 horas da manhã, na véspera de Ano Novo do ano 1900. Durante
algum tempo antes desse momento, um ministro metodista em Topeka, Kansas, Charles Parham,
como resposta à debilidade confessada de seu ministério cristão, estava estudando
concentradamente o Novo Testamento com um grupo de seus alunos com o objetivo de descobrir
o poder secreto de um cristianismo apostólico. Os estudantes finalmente deduziram que este
segredo residia no “falar em línguas” que, pensavam, sempre acompanhava a recepção do Espírito
Santo nos Atos dos Apóstolos. Com crescente entusiasmo e tensão, Parham e seus estudantes
resolveram orar até que eles mesmos recebessem o “batismo do Espírito Santo” junto com o falar
em línguas. No dia 31 de dezembro de 1900, oraram da manhã à noite sem êxito, até que uma
jovem sugeriu que um ingrediente faltava neste experimento: “a imposição de mãos”. Parham
colocou suas mãos sobre a cabeça da menina, e imediatamente ela começou a falar em uma
“língua desconhecida”. Em três dias ocorreram muitos desses “batismos”, incluindo o do mesmo
Parham e o de outros doze ministros de várias denominações, e todos eles foram acompanhados
pelo falar em línguas. Logo a renovação se estendeu ao Texas, e logo teve um êxito espetacular
em uma pequena igreja negra em Los Angeles. Desde então se tem estendido por todo o mundo e
conta atualmente com dez milhões de membros.

Durante meio século, o movimento pentecostal permaneceu sectário e em todas as partes foi
recebido com hostilidade pelas denominações estabelecidas. Logo, contudo, o falar em línguas
começou a aparecer gradualmente nas próprias denominações, mesmo que a princípio se
manteve melhor em secreto, até que em 1960 um sacerdote episcopal cerca dos Anjos deu ampla
publicidade a este feito ao declarar publicamente que havia recebido o "Batismo do Espírito
Santo" e que falava em línguas. Depois de certa hostilidade inicial, a "renovação carismática"
obteve a aprovação oficial e não oficial de todas as principais denominações e se tem estendido
rapidamente tanto nos Estados Unidos como no estrangeiro. Inclusive mesmo sendo antes rígida e
exclusivista a Igreja Católica Romana, assim que assumiu a sério a “renovação carismática” ao final
da década de 1960, se viu envolta com entusiasmo neste movimento. Nos Estados Unidos, os
bispos católicos romanos deram sua aprovação ao movimento em 1969, e os poucos milhares de
88
1 João 4: 1

86
católicos envolvidos nele desde então se tem aumentado a incontáveis centenas de milhares, que
se reúnem periodicamente em conferências "carismáticas" locais e nacionais cujos participantes
são algumas vezes numeradas em dezenas de milhares. Os países católicos romanos de Europa
também se têm tornado entusiasticamente "carismáticos", como o demonstra a conferência
"carismática" no verão de 1978 em Irlanda, a que assistiram milhares de sacerdotes irlandeses.
Pouco antes de sua morte, o Papa Pablo VI se reuniu com uma delegação de "carismáticos" e
proclamou que ele também era um pentecostal.

Qual pode ser a razão de um êxito tão espetacular de uma renovação "cristã" em um mundo
aparentemente "pós-cristão"? Sem dúvida, a resposta está em dois fatores: primeiro, no terreno
receptivo que têm esses milhões de "cristãos" que sentem que sua religião é seca, sobre-racional,
meramente externa, sem fervor nem poder; e segundo, o "espírito" evidentemente poderoso que
se esconde por detrás dos fenômenos, que é capaz, nas condições adequadas, de produzir
multidões e variedades de fenômenos "carismáticos", incluída a cura, o falar em línguas, a
interpretação, a profecia, e, subjacente a tudo isto, uma experiência muito pesada que se chama o
"Batismo de (ou não com) o Espírito Santo".

Mas, o que é precisamente este "espírito"? Significativamente, esta pergunta raramente ou nunca
é feita por seguidores da "renovação carismática"; sua própria experiência "batismal" é tão
poderosa e tem sido precedida por uma preparação psicológica tão eficaz em forma de oração
concentrada e expectativa, que não há dúvida em suas mentes de que têm recebido o Espírito
Santo e que os fenômenos que têm experimentado e visto são exatamente os descritos nos Atos
dos Apóstolos. Além do mais, a atmosfera psicológica do movimento é frequentemente tão
unilateral e tensa que se considera uma blasfêmia contra o Espírito Santo abrigar dúvidas a
respeito das centenas de livros que já têm aparecido sobre o movimento, só uns poucos
expressam alguma dúvida, mesmo que seja leve, quanto à sua validade espiritual.

Para ter uma melhor ideia das características distintivas da "renovação carismática", examinemos
alguns dos testemunhos e práticas de suas participantes, sempre verificando-os com o padrão da
Santa Ortodoxia. Estes testemunhos serão tomados, com algumas exceções como se tem indicado,
dos livros e revistas apologéticas do movimento, escritos por pessoas favoráveis ao mesmo e que
evidentemente publicam só aquele material que parece apoiar sua posição. Também, faremos um
uso mínimo de fontes estritamente pentecostais, limitando-nos principalmente aos participantes
protestantes, católicos e ortodoxos na "renovação carismática" contemporânea.

2. O espírito "ecumênico" da "renovação carismática"

Antes de citar os testemunhos "carismáticos", devemos tomar nota de uma característica principal
do movimento pentecostal original que raramente é mencionada pelos escritores "carismáticos",
apesar de que o número e variedade de seitas pentecostais seja assombroso, cada um com sua
própria ênfase doutrinal, e muitos deles não têm comunhão com os demais. Há "Assembleias de

87
Deus", "Igrejas de Deus", corpos "Pentecostais" e "Santidade", grupos do "Evangelho Completo",
etc., muitos deles divididos em seitas mais pequenas. A primeira coisa que haveria que ser dita
sobre o "espírito" que inspira tal anarquia é que certamente não é um espírito de unidade, em
marcado contraste com a Igreja Apostólica do primeiro século a que o movimento professa
regressar. Contudo, fala se muito, especialmente na” renovação carismática” dentro das
denominações na última década, da” unidade” que inspira. Mas, que tipo de unidade é esta? - A
verdadeira unidade da Igreja a qual conhecem os cristãos Ortodoxos do século I e do século XX, ou
a pseudo-unidade do Movimento Ecumênico, que nega a existência da Igreja de Cristo?

A resposta a esta pergunta é expressa com bastante claridade talvez pelo principal "profeta" do
pentecostalismo do século XX, David Du Plessis, quem durante os últimos vinte anos tem estado
difundindo ativamente a notícia do "Batismo do Espírito Santo" entre as denominações do Concílio
Mundial de Igrejas, em resposta a uma 'voz' que lhe ordenou fazê-lo em 1951. “A renovação
pentecostal dentro das igrejas está ganhando força e velocidade. O mais notável é que esta
renovação se encontra nas chamadas sociedades liberais e muito menos nos evangélicos e nada
nos segmentos fundamentalistas do protestantismo. Os últimos mencionados são agora os mais
veementes opositores a esta gloriosa renovação porque é no Movimento Pentecostal e nos
Movimentos modernistas do Conselho Mundial que encontramos o maior poder do Espírito.”89

Na Igreja Católica Romana igualmente, a "renovação carismática" está se produzindo


precisamente em círculos "liberais", e um de seus resultados é inspirar ainda mais seu
ecumenismo e experimentação litúrgica (“missas com guitarra” e similares); enquanto que os
católicos tradicionalistas são opositores ao movimento como o são os protestantes
fundamentalistas. Sem nenhuma dúvida a orientação da "renovação carismática" é fortemente
ecumênica. Um pastor luterano "carismático", Clarence Finsaas, escreveu: “muitos se
surpreendem de que o Espírito Santo possa mover-se também nas diversas tradições da Igreja
histórica ... se a doutrina da igreja tem um fundo de calvinismo ou arminianismo, isto pouco
importa, comprovando assim que Deus é maior do que qualquer um de nossos credos e que
nenhuma denominação tem um monopólio sobre Ele”89. Um pastor episcopal, falando da
“renovação carismática”, informa que “ecumenicamente está conduzindo a uma notável união de
cristãos de diferentes tradições, principalmente a nível da igreja local” 90. O jornal “carismático”
Inter-Church Renewal da Califórnia está repleto de demonstrações de “unidade” como esta: “ A
idade das trevas foi dissipada e uma monja católica romana e um protestante puderam amarem-
se com um estranho novo tipo de amor, ‘o que prova que’ as velhas barreiras denominacionais
estão si desmoronando. As diferenças doutrinais superficiais estão sendo deixadas de lado para
que todos os crentes entrem na unidade do Espírito Santo”. O sacerdote ortodoxo Pe. Eusebio
Stephanou crê que “este derramamento do Espírito Santo transcende as linhas denominacionais ...
o Espírito de Deus se move ... tanto dentro como fora da Igreja Ortodoxa”91.

89
Christenson, p. 99
90
Harper, p. 17
91
Logos, janeiro de 1972, p. 12

88
Aqui o cristão ortodoxo que está alerta para “provar aos espíritos” se encontra em um terreno
familiar, semeado dos habituais clichés ecumênicos. E sobre tudo, observemos que este novo
“derramamento do Espírito Santo”, exatamente como o próprio Movimento Ecumênico, surge
fora da Igreja Ortodoxa; essas poucas paróquias ortodoxas que agora o estão assumindo,
obviamente, seguem uma moda dos tempos que tem amadurecido completamente fora dos
limites da Igreja de Cristo.

Mas, o que é que os que estão fora da Igreja de Cristo são capazes de ensinar aos cristãos
Ortodoxos? Certamente é verdade (nenhuma pessoa Ortodoxa consciente o negará) que os
cristãos Ortodoxos algumas vezes são colocados em ridículo pelo fervor e o zelo de alguns
Católicos Romanos e Protestantes por assistir à igreja, atividades missionárias, orar juntos, ler a
Escritura e coisas do tipo. As pessoas fervorosas não Ortodoxas podem envergonhar aos
Ortodoxos, inclusive no erro de suas crenças, quando se esforçam mais por agradar a Deus do que
muitos Ortodoxos enquanto possuem toda a plenitude do cristianismo Apostólico. Os Ortodoxos
fariam bem em aprender deles e despertar as riquezas espirituais de sua própria Igreja que não
veem devido à preguiça espiritual ou aos maus hábitos. Tudo isto se relaciona com o lado humano
da fé, com os esforços humanos que podem ser gastos em atividades religiosas, independente da
crença ser correta ou não.

O movimento "carismático", contudo, afirma estar em contato com Deus, haver encontrado um
meio para receber o Espírito Santo, a efusão da graça de Deus. E, contudo, é precisamente a Igreja,
e nada mais, o que nosso Senhor Jesus Cristo estabeleceu como meio para comunicar a graça aos
homens. Devemos crer que a Igreja agora será substituída por alguma “nova revelação” capaz de
transmitir a graça fora da Igreja, entre qualquer grupo de pessoas que possam crer em Cristo, mas
que não têm conhecimento ou experiência dos Mistérios (Sacramentos) que Cristo instituiu e sem
nenhum contato com os Apóstolos e seus sucessores a quem designou a administrarem tais
Mistérios? Não: é tão certo hoje como no século I que os dons do Espírito Santo não se revelam
aos que estão fora da Igreja. O grande Padre Ortodoxo do século XIX, o Bispo Teófano o Recluso,
escreveu que o dom do Espírito Santo se dá “precisamente através do sacramento do Crisma, que
foi introduzido pelos Apóstolos no lugar da imposição de mãos” (que é a forma que toma o
Sacramento em Atos dos Apóstolos). “Todos nós, que fomos batizados e crismados, temos o dom
do Espírito Santo ... mesmo que não esteja ativo em todos”. A Igreja Ortodoxa proporciona os
meios para ativar este dom, e “não há outro caminho ... sem o Sacramento do Crisma, assim como
antes sem a imposição das mãos dos Apóstolos, o Espírito Santo nunca desceu e nem descerá”92.
Em uma palavra, a orientação da “renovação carismática” pode ser descrita como a de um
ecumenismo novo e mais profunda ou “espiritual”: cada cristão “renovado” em sua própria
92
Bispo Theophan o Recluso, O Que é a Vida Espiritual, Jordanville, N.Y., 1962, págs. 247—8 (em russo). O
padre Eusebius Stephanou (Logos, janeiro de 1972, p. 13) tenta justificar a atual 'recepção do Espírito Santo'
fora da Igreja citando o relato da casa de Cornélio o Centurião (Atos 10), que recebeu o Espírito Santo antes
do batismo. Mas o diferente nestes dois casos é crucial: a recepção do Espírito Santo por parte de Cornélio e
sua casa foi o sinal de que deviam unirem se à Igreja pelo batismo, enquanto que os pentecostais
contemporâneos por sua experiência só se confirmam em seu engano de que não há uma Igreja de Cristo
que salve a ninguém.

89
tradição, mas ao mesmo tempo estranhamente unido (pela mesma experiência) com outros
igualmente “renovados” em suas próprias tradições, todas as quais contêm vários graus de heresia
e impiedade! Este relativismo conduz também à uma abertura a práticas religiosas
completamente novas, como quando um sacerdote ortodoxo permite aos leigos “impor as mãos”
frente às portas reais de uma igreja ortodoxa 93. Esta é a visão super ecumênica do líder “profeta”
pentecostal, quem diz que muitos pentecostais “começaram a visualizar a possibilidade de que o
Movimento se converterá na Igreja de Cristo nos últimos dias. Contudo, esta situação mudou
completamente durante os últimos dias. Muitos de meus irmãos agora estão convencidos de que o
Senhor Jesus Cristo, a cabeça da Igreja, derramará seu Espírito sobre toda carne e que as igrejas
históricas serão revividas ou renovadas e logo, nesta renovação, serão unidas pelo Espírito
Santo”94. Claramente, não há lugar na “renovação carismática” para aqueles que creem que a
Igreja Ortodoxa é a “Igreja de Cristo”. Não é de estranhar que inclusive alguns ortodoxos
pentecostais admitam que a princípio “suspeitaram da ortodoxia” deste movimento95.

Mas agora comecemos a olhar mais além das teorias e práticas ecumênicos do pentecostalismo
além daquilo que realmente inspira e fortalece à “renovação carismática”, a experiência real do
poder do “Espírito”.

3. “Falar em línguas”

Se olharmos com cuidado os escritos da “renovação carismática”, encontraremos que este


movimento se parece muito a muitos movimentos sectários do passado ao se basear
principalmente ou inclusive completamente em uma ênfase doutrinal ou prática religiosa bastante
extravagante. A única diferença é que a ênfase agora se coloca em um ponto específico que
nenhum sectário no passado considerava tão central: falar em línguas.

Segundo a constituição de várias seitas pentecostais, “o batismo dos crentes no Espírito Santo é
testemunhado por um sinal físico inicial de falar em outras línguas” 96. E não é só este o primeiro
sinal de conversão a uma seita ou orientação pentecostal: segundo as melhores autoridades
pentecostais, esta prática deve continuar ou se pode perder o “espírito”. Escreve David Du Plessis:
“A prática de orar em línguas deve continuar e aumentar nas vidas daqueles que são batizados no
Espírito, do contrário, poderão perceber que as outras manifestações do Espírito virão raras vezes
ou sessarão por completo”97. Muitos testemunham, igualmente a um protestante, de que falar em
línguas “agora se converteu em um acompanhamento essencial de minha vida devocional” 98. E um
livro católico romano sobre o tema, com mais cautela, é dito que dos “dons do Espírito Santo” o

93
Logos, abril de 1972, p. A
94
Du Plessis, p. 33
95
Logos, abril de 1972, p. 9
96
Sherrill, p. 79
97
Du Plessis, p. 89
98
Lillie, p. 50

90
falar em línguas “é frequentemente, mas não sempre, o primeiro que se recebe. Para muitos é,
pois, um limiar através do qual se passa ao reino dos dons e frutos do Espírito Santo”99.

Aqui já se pode notar uma ênfase excessiva que certamente não está presente no Novo
Testamento, na qual o falar em línguas tem um significado decididamente menor, servindo como
sinal da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2) e em duas outras ocasiões (Atos
10 e 19). Depois do primeiro século, o talvez do segundo, não há registro dele em nenhuma fonte
Ortodoxa, e não se registra que haja ocorrido nem sequer entre os grandes Padres do deserto
egípcio, que estavam tão plenos do Espírito de Deus que realizaram numerosas obras e milagres
assombrosos, incluída nelas a Ressurreição dos mortos. A atitude Ortodoxa sobre o genuíno falar
em línguas, então, pode resumir se nas palavras do Abençoado Agostinho (de Hipona): nos
primeiros tempos, o Espírito Santo desceu sobre os que criam, e falaram em línguas que não
haviam aprendido, já que o Espírito lhes deu expressão. Estes foram sinais adaptadas ao tempo.
Porque era apropriado que houvesse este “sinal do Espírito Santo em todas as línguas para mostrar
que o Evangelho de Deus ia fluir em todas as línguas sobre a terra. Isso foi feito como um sinal, e
não voltou a ocorrer”. E como para responder aos pentecostais contemporâneos com sua estranha
ênfase neste ponto, o Beato Agostinho continua: “Se espera agora que aqueles sobre quem se
impõe as mãos falar em línguas? Ou quando impusermos nossa mão sobre estes meninos, espera
cada um de vocês verem se falando em línguas? E quando vimos que não falavam em línguas,
algum de vocês foi tão perverso de coração tal como para dizer 'Estes não receberam o Espírito
Santo'?”100.

Os pentecostais modernos, para justificar seu uso de línguas, se referem sobre tudo à Primeira
Epístola de São Pablo aos Coríntios (cap. 12-14). Mas São Pablo escreveu esta passagem
precisamente porque as “línguas” se haviam convertido em uma fonte de desordem na Igreja de
Corinto; e mesmo que não as proíba, decididamente minimiza seu significado. Esta passagem,
portanto, longe de alentar uma renovação moderna de “línguas”, pelo contrário, deveria
desencoraja-la, especialmente quando se descobre (como os mesmos pentecostais admitem) que
há outras fontes de falar em línguas além do Espírito Santo! Como cristãos Ortodoxos já sabemos
que falar em línguas é um verdadeiro dom do Espírito Santo que não pode aparecer entre os que
estão fora da Igreja de Cristo, mas obervemos mais acerca deste fenômeno moderno e vejamos se
ele possui características que podem nos revelar de que fonte o mesmo provem.

Se já suspeitamos da importância exagerada que os pentecostais modernos dão às “línguas”,


devemos estar muito atentos quando examinamos as circunstâncias em que ocorrem.

Longe de ocorrerem livre e espontaneamente, sem a interferência do homem — como são os


verdadeiros dons do Espírito Santo —, o falar em línguas pode se produzir de maneira bastante
previsível mediante uma técnica regular de “oração” grupal concentrada acompanhada por hinos
protestantes psicologicamente sugestivos (“Vem! Vem!”), que culminam numa “imposição de
99
Ranaghan, p. 19
100
Homilias sobre João, VI.10

91
mãos” e, às vezes, implicam esforços puramente físicos como repetir uma frase determinada uma
e outra vez101 ou simplesmente fazendo sons com a boca. Uma pessoa admite que, como muitas
outras, que depois de falar em línguas “costuma pronunciar sílabas sem sentido em um esforço por
iniciar o fluxo da oração em línguas”102; e tais esforços, longe de serem desanimados, são, em
realidade, animados pelos pentecostais. “Fazer sons com a boca não é 'falar em línguas', mas pode
significar um ato honesto de fé, que o Espírito Santo honrará ao dar a essa pessoa o poder de falar
em outro idioma”103. Outro pastor protestante disse: “O obstáculo inicial para falar em línguas, ao
que parece, é simplesmente a compreensão de que deves 'falar' ... as primeiras sílabas e as
palavras podem soar estranhas a seu ouvido. Podem ser vacilantes e inarticuladas. É possível que
tenha a ideia de que o esteja o inventando. Mas à medida que continue falando com fé… o Espírito
lhe dará forma a uma linguagem de oração e louvor” 104. Um “teólogo” jesuíta conta como colocou
em prática este conselho: “Depois do café da manhã me senti quase fisicamente atraído para a
capela onde me sentei para orar. Seguindo a descrição de Jim de sua própria recepção do dom de
línguas, comecei a dizer-me em voz baixa: ‘A la, la, la’. Para minha imensa consternação, se
produziu um rápido movimento da língua e dos lábios, acompanhado de um tremendo sentimento
de devoção interior”105.

Algum cristão ortodoxo pode em são juízo confundir estes perigosos jogos psíquicos com os dons
do Espírito Santo? Claramente não há nada cristão, nada espiritual aqui no mais mínimo possível.
Este é o reino, mais especificamente, dos mecanismos psíquicos que podem ser colocados em
funcionamento mediante técnicas psicológicas ou físicas definidas, e o “falar em línguas” parece
ocupar um papel chave, como uma espécie de “acionador”, neste reino. Em qualquer caso,
certamente não se parece em nada ao dom espiritual descrito no Novo Testamento, estando algo
mais próximo do “falar em línguas” xamânico como se pratica nas religiões primitivas, onde o
xamã ou o bruxo tem uma técnica regular para entrar em transe e logo dar uma mensagem em
direção ou de um “deus” em uma língua que não aprendeu 106. Nas páginas seguintes, nos
encontraremos com experiências “carismáticas” tão estranhas que a comparação com o
xamanismo não parecerá terrivelmente louca, sobre tudo se entendemos que o xamanismo
primitivo não é mais que uma expressão particular de um fenômeno “religioso” que, longe de ser
estrangeiro ao Ocidente moderno, em realidade joga um papel significativo na vida de alguns
“cristãos” contemporâneos: a mediunidade.

4. Mediunismo “cristão”

101
Koch, p. 24
102
Sherrill, p. 127
103
Harper, p. 1
104
Christenson, p. 130
105
Gelpi, .1
106
Ver Burdick, pp. 66-67

92
O pastor alemão luterano Dr. Kurt Koch 107 realizou um estudo cuidadoso e objetivo do “Falar em
línguas”. Depois de examinar centenas de exemplos deste “dom” manifestado nos últimos anos,
chegou à conclusão, baseando-se nas Escrituras, que só quatro destes casos poderiam ser iguais
ao dom descrito nos Atos dos Apóstolos; mas não estava seguro de nenhum deles. O cristão
Ortodoxo, com toda a tradição patrística da Igreja de Cristo com ele, seria mais estrito em seu
juízo que o Dr. Koch. contudo, em comparação com estes poucos casos possivelmente positivos, o
Dr. Koch encontrou vários casos de indubitável possessão demoníaca, porque “falar em línguas” é
de fato um “dom” comum dos possuídos. Mas é na conclusão final do Dr. Koch onde encontramos
o que talvez seja a chave de todo o movimento. Conclui que o movimento das “línguas” não é em
absoluto uma “renovação”, porque há pouco arrependimento ou convicção de pecado, senão
principalmente a busca de poder e experiência; o fenômeno das línguas não é o dom descrito em
os Atos dos Apóstolos, nem é (na maioria dos casos) possessão demoníaca real, no entanto, "se
torna cada vez mais claro que talvez mais de 95% de todo o movimento de línguas é de carácter
mediúnico”108.

O que é um “médium”? Um médium é uma pessoa com certa sensibilidade psíquica que
lhe permite ser o veículo ou meio para a manifestação de forças ou seres invisíveis (onde os seres
reais estão envolvidos com espíritos caídos cujo reino é este, e não os “espíritos dos mortos”
imaginados pelos espíritas, assim como o Starets Ambrósio de Optina disse claramente 109,). Quase
todas as religiões não cristãs fazem um grande uso de dons mediúnicos, como a clarividência, a
hipnose, a cura “milagrosa”, a aparição e desaparição de objetos, assim como seu movimento de
um lugar para outro, etc.

Cabe apontar que os santos Ortodoxos também possuíram vários dons similares, mas há uma
imensa diferença entre o verdadeiro dom cristão e sua imitação mediúnica. O verdadeiro dom
Cristão de cura, por exemplo, ou de Deus diretamente em resposta a uma oração fervorosa e
especialmente à oração de um homem que é particularmente agradável a Deus, um homem justo
ou santo110, e também através do contato na Fé com objetos que foram santificados por Deus
(água benta, relíquias de santos, etc.111). Mas a cura mediúnica, como qualquer outro dom
mediúnico, se alcança por meio de certas técnicas definidas e estados psíquicos que podem ser
cultivados e colocados em uso com a prática, e que não têm relação alguma nem com a santidade
nem com a ação de Deus. A habilidade mediúnica pode ser adquirida por herança ou por
transferência através do contato com alguém que tem o dom, ou inclusive mediante a leitura de
livros ocultistas112.

107
The Strife of Tongues
108
Koch, p. 35
109
V. P. Bykov, Tikhie Priyuty, Moscow, 1913, pp. 168-170.
110
Santiago 5:16
111
Ver Atos 19:12; 11 Reyes 13:21
112
Ver Kurt Koch, Occult Bondage and Deliverance, Kregel Publications, Grand Rapids, Mich., 1970, pp. 168-
170.

93
Muitos médiuns afirmam que seus poderes não são absolutamente sobrenaturais, senão que
proveem de uma parte da natureza da qual se sabe muito pouco. Até certo ponto, isto é sem
dúvida, certo; mas também é certo que o reino de onde provem estes dons é o reino especial dos
espíritos caídos, quem não deixa de tirar vantagem da oportunidade que lhes dá a gente que
ingressa neste reino para atrai-los em direção a suas próprias redes, agregando seus próprios
poderes e manifestações demoníacas para levar as almas à destruição. E qualquer que seja a
explicação dos diversos fenômenos mediúnicos, Deus em sua revelação à humanidade proibiu
estritamente qualquer contacto com este reino oculto: “Não seja encontrado em ti quem faça
passar a seu filho ou a sua filha pelo fogo, nem quem pratique adivinhação, nem agoureiro, nem
feiticeiro, nem mágico, nem encantador, nem adivinho, nem mago, nem quem consulte aos
mortos. Porque é abominação para com Jeová qualquer um que faz estas coisas”113.

Na prática, é impossível combinar o mediunismo com o cristianismo genuíno, já que o desejo de


fenômenos ou poderes mediúnicos é incompatível com a básica orientação cristã orientada para a
salvação da alma. Isto não quer dizer que não haja “cristãos” que estejam envolvidos no
mediunismo, frequentemente inconscientemente (como veremos); quer dizer melhor que não são
cristãos genuínos, que seu cristianismo é só um “novo cristianismo” tal como o que pregou
Nicholas Berdyaev, o qual será discutido novamente mais adiante. O Dr. Koch, inclusive desde sua
origem protestante, faz uma observação válida quando fala: “A vida religiosa de uma pessoa não
se vê prejudicada pelo ocultismo ou pelo espiritismo. De fato, o espiritismo é em grande medida
um movimento “religioso”. O diabo não nos tira nossa ‘religiosidade’ ... [Mas] há uma grande
diferença entre ser religioso e nascer de novo pelo Espírito de Deus. É triste dizer que nossas
denominações cristãs têm mais pessoas 'religiosas' do que cristãos verdadeiros”114.

A melhor forma conhecida de mediunismo no Ocidente moderno é a sessão espírita, onde se faz
contacto com certas forças que produzem efeitos observáveis como êxitos, vozes, vários tipos de
comunicações como a escritura automática (psicografia) e o falar em línguas desconhecidas, ou
movimento de objetos, e a aparição de mãos e figuras “humanas” que as vezes podem ser
fotografadas. Estes efeitos se produzem com a ajuda de atitudes e técnicas definidas por parte dos
presentes, pelo que citaremos aqui um dos livros de texto padrão sobre o tema115.

1. Passividade: “A atividade de um espírito se mede por seu grau de passividade ou


submissão que encontra no sensitivo ou médium”. “A mediunidade … pode ser alcançada
mediante uma preparação rigorosa por qualquer um que se entregue deliberadamente seu

113
Deut. 18: 10-12; veja também Levítico 20: 6
114
Kurt Koch, Between Christ and Satan, publicações Kregel, 1962, pág. 124. Este livro e Occult Bondage del
Dr. Koch oferecem uma confirmação notável, baseada na experiência do século XX, de praticamente todas as
manifestações de mediunidade, magia, feitiçaria, etc., que se encontram nas Sagradas Escrituras e nas Vidas
de Santos Ortodoxos: a fonte de tudo o qual, claro, é o diabo. O leitor ortodoxo só terá que corrigir suas
interpretações em alguns pontos.
115
Simon A. Blackmore, 5.1., Spiritism Factsand Frauds, Benziger Bros., New York, 1924: capítulo IV,
"Mediums,” pp. 89-105 passim.

94
corpo, com seu livre arbítrio e faculdades sensitivas e intelectuais, a um espírito invasor ou
controlador”.

2. Solidariedade na fé: Todos os presentes devem ter uma “atitude compassiva em apoio do
médium”; os fenômenos espíritas são “facilitados por uma certa simpatia que surge de
uma harmonia de ideias, pontos de vista e sentimentos existentes entre os assistentes e o
médium. Quando esta simpatia e harmonia, assim como a entrega pessoal da vontade,
faltam nos membros do 'círculo', a sessão é um fracasso”. Além disso, “o número dos
assistentes é de grande importância. Se é maior, impedem a harmonia tão necessária para
o êxito”.

3. Todos os presentes “unem suas mãos para formar o chamado círculo magnético.
Mediante este circuito fechado, cada membro contribui com uma energia de uma certa
força que se comunica coletivamente ao médium”. Contudo, o “círculo magnético” só se
requer nos médiuns menos desenvolvidos. Madame Blavatsky, fundadora da “teosofia”
moderna, ela mesma uma médium, zombou das toscas técnicas do espiritismo quando se
encontrou com médiuns muito mais poderosos no Oriente, em cuja categoria pertença
também o faquir descrito no Capítulo III.

4. “A atmosfera espírita necessária se induz comumente por meios artificiais, como o canto
de hinos, a execução de música suave e inclusive a oferenda de oração”.

A sessão espírita, sem dúvida, é uma forma bastante tosca de mediunismo, mesmo se, por essa
mesma razão, suas técnicas sejam ainda mais evidentes, e só raras vezes produz resultados
espetaculares. Há outras formas mais sutis, algumas delas com o nome de “cristão”. Para se dar
conta disto alguém só necessita olhar as técnicas de um “curador pela fé” como Oral Roberts
(quem foi que até se uniu à igreja Metodista há alguns anos, o mesmo era ministro da seita da
Santidade Pentecostal), quem provoca curas “milagrosas” formando um verdadeiro “círculo
magnético” composto por pessoas com a simpatia adequada, passividade e harmonia da “fé” que
ao impor suas mãos sobre o televisor enquanto ele está no ar são curadas; as curas podem
inclusive se produzir bebendo um vaso de água que tenha sido colocado no televisor e que
absorveu assim o fluxo de forças mediúnicas que entraram em ação. Mas tais curas, como as
produzidas pelo espiritismo e a bruxaria, podem ter um alto custo, provocando futuras desordens
psíquicas, sem mencionar os transtornos espirituais116.

Neste âmbito deve se ter muito cuidado, porque o diabo constantemente imita as obras de Deus,
e muitas pessoas com dons mediúnicos continuam pensando que são cristãos e que seus dons
vêm do Espírito Santo. Mas, é possível dizer que isto é certo da “renovação carismática”, que de
fato, como dizem alguns, é principalmente uma forma de mediunismo?
116
Em Oral Roberts, veja Kurt Koch, Occult Bondage, pp. 52—55.

95
Ao aplicar as provas mais obvias do mediunismo à “renovação carismática”, qualquer um se
surpreende em primeiro lugar pelo fato de que os principais requisitos prévios para a sessão
espírita descrita anteriormente estejam todos presentes nas reuniões de oração “carismáticas”,
enquanto que nenhuma destas características está presente na mesma forma ou grau no
verdadeiro culto cristão da Igreja Ortodoxa.

1. A “passividade” da sessão espírita corresponde ao que os escritores “carismáticos”


chamam “uma espécie de deixar-se ir... isto implica mais que a entrega da própria
existência consciente através de um ato de vontade; também se refere a uma área grande,
inclusive oculta, da vida inconsciente da pessoa... Tudo o que se pode fazer é oferecer o eu,
o corpo, a mente e inclusive a língua, para que o Espírito de Deus possa ter plena
possessão... Estas pessoas estão preparadas: as barreiras estão derrubadas e Deus se
move poderosamente sobre e através de todo seu ser” 117. Tal atitude “espiritual” não é a
do cristianismo; é melhor a atitude do budismo zen, do “misticismo” oriental, da hipnose e
do espiritismo. Uma passividade tão exagerada é completamente alheia à espiritualidade
Ortodoxa e é só um convite aberto à atividade dos espíritos enganadores. Um observador
compreensivo aponta que nas reuniões pentecostais as pessoas que falam em línguas ou
que o interpretam “parecem quase entrar em um transe”118. Esta passividade é tão
pronunciada em algumas comunidades “carismáticas” que aboliram por completo a
organização da igreja e qualquer ordem estabelecida de serviços e fazem absolutamente
tudo como indica o “espírito”.

2. Há uma “solidariedade na fé” definida, e não meramente solidariedade na fé cristã e a


esperança de salvação, senão uma unanimidade específica no desejo e a expectativa dos
fenômenos “carismáticos”. Isto é certo para todas as reuniões de oração “carismáticas”;
mas se requer uma solidariedade ainda mais pronunciada para a experiência do “Batismo
do Espírito Santo”, que geralmente se realiza em uma pequena habitação separada em
presença de só uns poucos que já tiveram dita experiência. A presença de uma só pessoa
que tenha pensamentos negativos acerca da experiência é frequentemente suficiente
para que o “Batismo” não ocorra, exatamente da maneira em que os receios e a oração do
sacerdote Ortodoxo descritas anteriormente119 foram o suficiente para romper a
impressionante ilusão produzida pelo faquir de Ceilão.

3. O “círculo magnético” espírita corresponde à “imposição das mãos pentecostal”, que


sempre o fazem aqueles que já experimentaram o “Batismo” no falar em línguas, e que

117
Williams, págs. 62-63
118
Sherrill, p. 87
119
págs. 60-61

96
servem, nas palavras dos próprios pentecostais, como “canais do Espírito Santo”120 -
palavra utilizada pelos espíritas para referir se aos médiuns.

4. A “atmosfera carismática”, como a espírita, se induz mediante sugestivos hinos e orações,


e frequentemente também com as palmas das mãos, tudo isso da “um efeito de crescente
entusiasmo e uma qualidade quase embriagadora”121.

Ainda se pode objetar que todas estas semelhanças entre o mediunismo e o pentecostalismo são
só uma coincidência; e de fato, para demostrar se a “renovação carismática” é realmente
mediúnica, teremos que determinar que tipo de “espírito” é o que se comunica através dos
“canais” pentecostais. Vários testemunhos daqueles que o experimentaram, e que creem que seja
o Espírito Santo, mostram claramente a sua natureza. “El grupo se acercou a mim. Era como se
estivessem formando com seus corpos um funil através do qual se concentrava o fluxo do Espírito
que palpitava pelo quarto. Fluiu dentro de mim enquanto estava sentada ali” 122. Em uma reunião
de oração católica pentecostal, “ao entrar num quarto, uma pessoa estava praticamente morta
pela forte presença visível de Deus”123. Outro homem descreve sua experiência “batismal” 124: “Dei
conta de que o Senhor estava no quarto e que estava se acercando a mim… não podia vê-lo, mas
senti que me empurrava de costas. Pareceu me flutuar até o solo...” 125. Mais adiante deram outros
exemplos similares na discussão dos acompanhamentos físicos da experiência “carismática”. o
espírito palpitante, “visível”, “empurrador” que “se acerca” e “flutua” pareceria confirmar o
caráter mediúnico do movimento “carismático”. Sim, certamente! O Espírito Santo nunca poderia
descrever-se desta maneira!

Recordemos uma estranha característica do falar em línguas “carismática” que já temos


mencionado: que se dá não só na experiência inicial do “Batismo do Espírito Santo”, senão que se
supõe que deve continuar (tanto em privado como em público) e converter-se em um
“acompanhamento essencial” da vida religiosa, ou do contrário os “dons do Espírito” podem
cessar. Um escritor “carismático” presbiteriano fala da função específica desta prática na
“preparação” para as reuniões “carismáticas”: “Frequentemente se dá o caso... que um pequeno
grupo passará um tempo antes da reunião orando no Espírito [quer dizer, em línguas]. ao fazê-lo,
se multiplica enormemente o sentido da presença e o poder de Deus que se traslada à reunião” . E
novamente: “Descobrimos que a oração silenciosa no Espírito durante a reunião ajuda a manter a
abertura à presença de Deus…”. Porque “depois de que um se acostume a orar em línguas em voz
alta... logo se converte em uma habilidade para a respiração, movendo-se através das cordas
vocais e a língua, para manifestar a respiração do Espírito e, Portanto, para que a oração continue
120
Williams, p. 64
121
Sherrill, p. .23
122
Sherrill, p. 122
123
Ranaghan, p. 79
124
Compare a atmosfera “vibrante” em alguns ritos pagãos e hindus; veja acima, págs. 41-42.
125
Journal Logos, novembro-dezembro de 1971, p. 47

97
em silêncio, mas profundamente, no interior”126. Recordemos também que falar em línguas pode
ativar-se mediante dispositivos artificias como “fazer sons com a boca”, e chegamos à inevitável
conclusão de que o falar em línguas “carismático” não é um “dom” em absoluto, senão uma
técnica adquirida por outras técnicas e, por sua vez, pode desencadear outros “dons do Espírito”,
se um continua praticando-a e cultivando-a. Não temos aqui uma pista da principal realização real
do Movimento Pentecostal moderno: que descobriu para uma nova técnica mediúnica ao entrar e
preservar um estado psíquico no qual os “dons” milagrosos se tornem comuns? Se isto é certo,
logo a definição “carismática” da “imposição das mãos” - “o simples ministério de uma ou mais
pessoas que são eles mesmos canais do Espírito Santo para outros que ainda não foram tão
abençoados”, no que “o importante” [é] que aqueles que o administram tenham “experimentado
o movimento do Espírito Santo” 127 - descreve precisamente a transferência do dom mediúnico por
parte daqueles que já o adquiriram e se converteram eles mesmos em médiuns. O “Batismo do
Espírito Santo” se converte assim numa iniciação mediúnica.

De fato, se a “renovação carismática” é em realidade um movimento mediúnico, se torna claro


então o porquê não é coerente o ver como um movimento cristão. O movimento surge na
América, que a cinquenta anos antes havia dado à luz ao espiritismo em um clima psicológico
similar: uma fé protestante morta e racionalizada se vê repentinamente sobrecarregada por uma
experiência real de um “poder” invisível que não se pode explicar racional ou cientificamente. O
movimento tem mais êxito naqueles países que têm uma significativa história associada ao
espiritismo ou ao mediunismo: América e Inglaterra em primeiro lugar, logo o Brasil, Japão,
Filipinas, África negra. Apenas se pode encontrar um exemplo de “falar em línguas” e fora do
contexto nominalmente cristão durante mais de 1600 anos depois da época de São Paulo, que
inclusive era um então fenômeno histérico isolado e de curta duração, até o advento do
movimento Pentecostal do século XX, como foi indicado pelo erudito historiador do “entusiasmo”
religioso128; e contudo, este “dom” possui numerosos xamãs e feiticeiros das religiões primitivas,
assim como os médiuns espíritas modernos e os possuídos por demônios. As “profecias” e
“interpretações” nos serviços “carismáticos”, como veremos, são estranhamente vagas e
estereotipadas em sua expressão, sem conteúdo especificamente cristão ou profético. A doutrina
está subordinada à prática: o lema de ambos movimentos poderia ser, como dizem uma e outra
vez os entusiastas carismáticos, “funciona”, a mesma armadilha a que, como temos visto, o
hinduísmo leva às suas vítimas. Absolutamente, não pode haver nenhuma dúvida de que a
“renovação carismática”, a respeito de seus fenômenos, se parece muito mais ao espiritismo e em
geral a uma religião não-cristã do que ao cristianismo Ortodoxo. Mas ainda teremos que dar
muitos exemplos para demostrar o quão certo é isto.

Até este ponto estamos citando, além das declarações do Dr. Koch, escritos e testemunhos
somente de quem estão a favor da “renovação carismática”, quem só dá seus testemunhos do que

126
Williams, p. 31
127
Williams, p. 64
128
Ronald A. Knox, Enthusiasm, A Chapter in. the History of Religion, Oxford (Galaxy Book), 1961, pp. 550—
551.

98
eles imaginam que são as obras do Espírito Santo. Citemos agora o testemunho de várias pessoas
que abandonaram o movimento “carismático”, ou se negaram a entrar nele, porque descobriram
que o “espírito” que o anima não é o Espírito Santo.

1. “Em Leicester (Inglaterra), um jovem informou o seguinte. Ele e seu amigo haviam sido
crentes durante alguns anos quando um dia foram convidados à reunião de um grupo que
falava em línguas. O ambiente da reunião se apoderou deles e logo oraram pela segunda
benção e o batismo do Espírito Santo. Depois de uma intensa oração, foi como se algo
quente se apoderara deles. Se sentiam muito emocionados por dentro. Durante umas
semanas se deleitaram com esta nova experiência, mas pouco a pouco estas ondas de
sentimentos diminuíram. O homem que me disse isto se deu conta de que havia perdido
todo desejo de ler a Bíblia e orar. Examinou sua experiência à luz das Escrituras e se deu
conta de que aquilo não era de Deus. Se arrependeu e o denunciou. . . seu amigo, por outro
lado, continuou nestas 'línguas' e isso o destruiu. Hoje nem sequer considera a ideia de
seguir adiante como cristão”129.

2. Dois ministros protestantes foram a uma reunião de oração “carismática” em uma igreja
presbiteriana em Hollywood. “Ambos acordamos de antemão que quando a primeira
pessoa começasse a falar em línguas, oraríamos vigorosamente o seguinte: ‘Senhor, se este
dom é teu, abençoe a este irmão, mas se não o é, detenha-o e que não haja outra oração
em línguas em nossa presença’ … um jovem iniciou o encontro com uma breve devoção
depois o mesmo se abriu à oração. Uma mulher começou a orar com fluência num idioma
estrangeiro sem balbuciar nem vacilar. Não deu nenhuma interpretação. O Rev. B. e eu
começamos a orar em silêncio como havíamos acordado antes. O que sucedeu? Ninguém
mais falava em línguas, mesmo que geralmente nestas reuniões todos, exceto um
arquiteto, oravam em línguas desconhecidas”130. Percebi aqui que na ausência da
solidariedade mediúnica da fé, os fenômenos não aparecem.

3. “A São Diego, Califórnia, veio uma mulher para receber conselho. Me contou sobre uma má
experiência que havia tido durante uma missão sustentada por um membro do movimento
de línguas. Havia ido a suas reuniões nas que ele havia falado sobre a necessidade do dom
de línguas, e em uma reunião posterior havia permitido que se lhe impusessem as mãos
para receber o batismo do Espírito Santo e o dom de falar em línguas. Nesse momento caiu
inconsciente. Ao voltar-se de novo em si, encontrou-se deitada no solo com a boca ainda
aberta e fechando-se automaticamente sem pronunciar uma palavra. Estava terrivelmente
assustada. De pé a seu arredor estavam algumas das pessoas que eram seguidores deste
evangelista e exclamaram: “Oh irmã, realmente falou maravilhosamente em línguas. Agora
tem o Espírito Santo”. Mas a vítima deste suposto batismo do Espírito Santo se curou. Mas

129
Koch, p. 28
130
Koch, p. 15

99
nunca mais voltou a este grupo de falantes de línguas. “quando veio a mim em busca de
conselho, ainda estava sofrendo os maus efeitos deste “batismo espiritual””131.

4. Um cristão Ortodoxo na Califórnia relata um encontro privado com um ministro “cheio do


espírito” que compartilhou a mesma plataforma com os principais representantes
católicos, protestantes e pentecostais da “renovação carismática”: “Durante cinco horas
falou em línguas e usou todo artificio (psicológico, hipnótico e 'imposição das mãos') para
induzir aos presentes a receber o ‘batismo do Espírito Santo’. A sena foi realmente terrível.
Quando impôs as mãos sobre nossa amiga, ela emitiu sonos guturais, gemeu, chorou e
gritou. Este ministro estava muito satisfeito com isto. Disse que ela estava sofrendo pelos
demais, intercedendo por eles. Quando ‘impôs as mãos’ sobre minha cabeça, houve um
pressentimento de maldade real. Suas ‘línguas’ estavam misturadas com inglês: “Tens o
dom da profecia, posso senti-lo”. “Basta abrir sua boca e sairá”. “Estás bloqueando ao
Espírito Santo”. Pela graça de Deus, mantive a boca fechada, mas estou bastante seguro de
que se eu houvesse falado, alguém mais haveria ‘interpretado’132.

5. Os leitores de The Orthodox Word recordarão o relato da “oração de vigília” celebrada pela
Arquidiocese Síria Antioquena de Nova York em sua convenção em Chicago em agosto de
1970, onde, depois de que uma atmosfera dramática e emotiva foi criada, os jovens
começaram a “testificar” como o “espírito” movia os. Mas várias pessoas que estavam
presentes relataram mais tarde que a atmosfera era “sombria e sinistra”, “asfixiante”,
“sombria e má”, e por uma intercessão milagrosa de Santo Herman do Alasca, cujo ícone
estava presente no ambiente, toda a reunião se dissolveu e a atmosfera maligna se
dissipou133.

Há muitos Outros casos em os quais as pessoas têm perdido o interesse na oração, a leitura das
Escrituras e o cristianismo em geral, e inclusive chegando a crer, como o fez um estudante, que “já
não necessitaria ler a Bíblia. Já que Deus Pai se lhe aparecia e lhe falaria”134.

Ainda teremos ocasião de citarmos o testemunho de muitas pessoas que não encontram nada
negativo ou mal em sua experiência “carismática”, e examinaremos o significado de seu
testemunho. Contudo, sem chegar ainda a uma conclusão sobre a natureza precisa do “espírito”
que causa os fenômenos “carismáticos”, sobre a base da evidencia aqui reunida já podemos estar
de acordo até aqui com o Dr. Koch: “O movimento de línguas é a expressão de uma condição
delirante através da qual se manifesta uma irrupção de poderes demoníacos” 135. Ou seja, o

131
Koch, p. 26
132
Conversação privada.
133
The Orthodox Word, 1970, núm. 4-5; _pp. 196-199
134
Koch, p. 29
135
Koch, p. 47

100
movimento, que certamente é “delirante” ao entregar-se à atividade de um “Espírito” que não é o
Espírito Santo, não é demoníaco em intenção nem em si mesmo (como certamente o são o
ocultismo e o satanismo contemporâneos), senão por sua natureza, se abre particularmente à
manifestação de forças obviamente demoníacas, que de fato as vezes aparecem.

Este livro foi lido por várias pessoas que têm participado na “renovação carismática”; muitos deles
abandonaram então este movimento, reconhecendo que o espírito que haviam experimentado
nos fenômenos “carismáticos” não era o Espírito Santo. A essas pessoas, envolvidas no movimento
“carismático”, que agora estão lendo este livro, desejamos dizer-lhes: é possível que sintam que
sua experiência no movimento “carismático” tem sido em grande medida algo bom (mesmo que
tenha reservas sobre algumas coisas que tem visto ou experimentado); é possível que você possa
crer que haja algo demoníaco no referido movimento. Ao sugerir que o movimento “carismático”
é de inspiração mediúnica, não queremos negar a totalidade de sua experiência enquanto estevo
envolvido nele. Se através dele, você despertou-se ao arrependimento por seus pecados, para
uma compreensão de que o Senhor Jesus Cristo é o Salvador da humanidade, ao amor sincero por
Deus e seu próximo, tudo isto é realmente bom e não se perderá se abandonar os grupos
“carismáticos”. Mas se pensa que sua experiência de “falar em línguas” ou “profetizar”, ou
qualquer outra coisa “sobrenatural” que haja experimentado, provenha de Deus, então este livro
é um convite para que você descubra que o reino da verdadeira experiência espiritual cristã é
muito mais profundo do que você tem sentido até agora, que as artimanhas do diabo são muito
mais sutis do que pode haver imaginado, que a vontade de nossa natureza humana caída de
confundir a ilusão com a verdade, o conselho emocional com a experiência espiritual, é muito
maior do que se pensa. A próxima seção deste capítulo discutirá estes temas em detalhe.

Enquanto à natureza precisa das “línguas” que se falam hoje, provavelmente não se possa dar
uma resposta simples. Sabemos com bastante certeza que no pentecostalismo, igualmente assim
como no espiritismo, os elementos tanto de fraude como de sugestão jogam um papel
importante, sob pressões as vezes intensas aplicadas em círculos “carismáticos” para forçar a
aparição dos fenômenos. Neste sentido, um membro do “Movimento de Jesus”, em grande parte
pentecostal, testifica que quando falou em línguas “foi só uma acumulação emocional, na qual
murmurei um monte de palavras”, e outro admite francamente: “Quando me converti em cristão
pela primeira vez as pessoas com as que estava me disseram que eu teria que encará-lo. Então
rezei para poder fazê-lo, e cheguei a copiá-los para que ‘pensassem que eu possuía o dom’” 136. Por
tanto, algumas das supostas “línguas” não são, sem dúvida alguma, genuínas ou, no melhor dos
casos, são o produto de uma sugestão em condições de quase histeria emocional. Contudo,
existem casos documentados de pentecostais que falam em um idioma antes nunca aprendido 137;
também é o testemunho de muitos acerca da tranquilidade, a segurança e a calma (sem nenhuma
condição histérica) com a que podem entrar no estado de “falar em línguas”; e há um carácter
claramente sobrenatural no fenômeno relacionado de “cantar em línguas”, onde o “espírito”
também inspira a melodia e muitos se unem para produzir um efeito que se descreve de diversas
136
Ortega, p. 49
137
Sherrill, págs. 90-95

101
maneiras como “inquietante, mas extraordinariamente bonito”138 e “inimaginável, humanamente
impossível”139. Portanto, pareceria evidente que nenhuma explicação meramente psicológica ou
emocional pode explicar grande parte dos fenômenos do “falar em línguas” contemporâneo. Se
não se deve à obra do Espírito Santo - e a estas alturas é muito evidente que não poderia ser assim
- então o “falar em línguas” de hoje como um autêntico fenômeno “sobrenatural” só pode ser a
manifestação de um dom de algum outro espírito.

Para identificar este “espírito” com mais precisão e compreender o movimento “carismático” mais
plenamente, não só em seus fenômenos senão também em sua “espiritualidade”, teremos que
recorrer mais profundamente às fontes da tradição Ortodoxa. E antes de nada mais teremos que
voltar a um ensino da tradição ascética Ortodoxa que já foi discutida nesta série de artigos,
concernente à explicação do poder que o hinduísmo exerce sobre seus devotos: o prelest ou
engano espiritual.

5. Engano Espiritual

O conceito de Prelest, chave no ensino ascético Ortodoxo, está completamente ausente no mundo
católico-protestante que produz o movimento “carismático”; e este fato explica por que um
engano tão óbvio pode gerar tal domínio sobre círculos nominalmente “cristãos”, e também por
que um “profeta” como Nicholas Berdyaev, que provem de uma base ortodoxa, deveria considerar
absolutamente essencial que na “nova era do Espírito Santo não exista mais a cosmovisão
ascética”. a razão é óbvia: a cosmovisão ascética Ortodoxa outorga o único meio pelo qual os
homens, havendo recebido o Espírito Santo em seu batismo e cristianismo, podem
verdadeiramente continuar adquirindo o Espírito Santo em suas vidas; e ensina como distinguir e
proteger-se contra o engano espiritual. A “nova espiritualidade” com a qual sonhou Berdyaev e a
qual a “renovação carismática” realmente prática, tem um fundamento completamente diferente
e se ver como uma fraude à luz do ensino ascético Ortodoxo. Portanto, não há lugar para ambas
concepções no mesmo universo espiritual: pois para aceitar a “nova espiritualidade” da
“renovação carismática”, há que rechaçar o cristianismo Ortodoxo; e ao inverso disso, para seguir
sendo um cristão Ortodoxo, deve-se rechaçar a “renovação carismática”, que é uma falsificação da
Ortodoxia cristã.

Para deixar isto bastante claro, no que segue daremos o ensino da Igreja Ortodoxa sobre o engano
espiritual, principalmente como se encontra no resumo do século XIX deste ensino feito pelo Bispo
Ignatius Branchaninov, ele mesmo um Padre Ortodoxo dos tempos modernos, no volume um de
suas obras completas.

Há duas formas básicas de prelest, ou de engano espiritual. A primeira e mais espetacular ocorre
quando uma pessoa se esforça para alcançar um estado espiritual elevado ou visões espirituais
138
Ibid., p. 118
139
Williams, p. 33

102
apoiando-se em seu próprio juízo e sem haver-se purificada previamente de suas paixões. A tal
pessoa o diabo lhe concede grandes “visões”. Há muitos exemplos deste tipo em “Vidas dos
Santos”, um dos principais livros de texto do ensino ascético Ortodoxo. Assim foi como São
Nicetas, Bispo de Novgorod (31 de janeiro), entrou na vida solitária sem estar preparado e contra
o conselho de sua Abade, e logo escutou uma voz que rezava com ele. Então “o Senhor” lhe falou
e enviou um “anjo” para orar em seu lugar e para instrui-lo para que lesse livros no lugar de orar, e
para ensinar aos que fossem a ele. Isto ele fez, sempre vendo ao “anjo” acerca dele orando, e as
pessoas estavam assombradas por sua sabedoria espiritual e os “dons do Espírito Santo” que
parecia possuir, incluídas as “profecias” que sempre se cumpriam. O engano foi descoberto só
quando os Padres do monastério descobriram de sua aversão pelo Novo Testamento (mesmo que
ele podia citar o Antigo Testamento de memória, o qual nunca havia lido), e por suas orações foi
levado ao arrependimento, seus “milagres” cessaram, e mais tarde alcançou a santidade genuína.
Mais uma vez, Santo Isaac das Cavernas de Kiev (14 de fevereiro) viu uma grande luz e “Cristo” lhe
apareceu acompanhado de “anjos”; quando Isaac, sem fazer a sinal da Cruz, se prostrou ante
“Cristo”, os demônios ganharam poder sobre ele e, depois de dançar freneticamente com ele, o
deixaram quase morto. Mais tarde também alcançou a santidade genuína. Há muitos casos
similares em que “Cristo” e “anjos” apareceram aos ascetas e lhes concederam poderes
assombrosos e “dons do Espírito Santo”, que frequentemente levavam ao asceta a ilusão e
finalmente à loucura ou ao suicídio.

Mas há outra forma de engano espiritual mais comum e menos espetacular, que não lhes oferece
às suas vítimas grandes visões, senão simplesmente exaltados “sentimentos religiosos”. Isto
ocorre, como foi escrito pelo Bispo Ignácio, “quando o coração deseja e luta pelo desfrute de
sentimentos santos e divinos não estando ainda completamente apto para eles. Todo aquele que
não tenha um espírito contrito, que reconheça algum tipo de mérito ou valor em si mesmo, quem
não preserva com firmeza o ensino da Igreja Ortodoxa e forma seu próprio critério arbitrário com
base a alguma outra tradição ou que há seguido um ensino não-Ortodoxo se encontra neste
estado de engano”. A Igreja Católica Romana tem manuais espirituais completos escritos por
pessoas neste estado; tal é a Imitação de Cristo de Tomás de Kempis. O Bispo Ignácio disse sobre
este livro o seguinte: “Reina neste livro e respira por suas páginas a unção do espírito maligno,
envaidecendo ao leitor, intoxicando-o.... o livro conduz ao leitor diretamente à comunhão com
Deus, sem uma purificação prévia mediante o arrependimento … Deste livro a pessoa carnal se
aliena com um deleite e intoxicação obtida sem dificuldade, sem abnegação, sem arrependimento,
sem a crucificação da carne por suas paixões e desejos140, por meio do enaltecimento de seu estado
caído”. E o resultado, como foi escrito por I.M. Kontzevitch, o grande transmissor do ensino da
patrística141, é que “o asceta, esforçando-se por ascender em seu coração o amor por Deus
enquanto descuida do arrependimento, se esforça por alcançar um sentimento de deleite, de
êxtase, e como resultado alcança precisamente o contrário: 'entra em comunhão com satanás e se
infecta com o ódio ao Espírito Santo' (Bispo Ignácio)”.

140
Gálatas 5:24
141
Veja The Orthodox Word, 1965, no. 4, pp. 155—158.

103
E este é o estado real no qual se encontram os seguidores da “Renovação Carismática”, inclusive
sem suspeitarem disso. Isto pode ser visto mais claramente ao examinarmos suas experiências e
pontos de vista, ponto por ponto, que vão contra o ensino dos Padres Ortodoxos como tem sido
estabelecido pelo Bispo Ignácio.

A. Atitude para com as experiências “espirituais”

Tendo pouco ou nenhum fundamento nas fontes genuínas da experiência espiritual cristã – dos
Santos Mistérios da Igreja e o ensino espiritual de Cristo e Seus Apóstolos transmitidos pelos
Santos Padres - os seguidores do movimento “carismático” não têm meios para distinguir a graça
de Deus de sua falsificação. Todos os escritores “carismáticos” mostram, em maior ou menor grau,
uma falta de cautela e discriminação sobre as experiências que têm. Alguns pentecostais católicos,
sem dúvida, “exorcizam a Satanás” antes de pedir o “batismo no Espírito”; mas a eficácia deste
ato, como logo será evidente por seu próprio testemunho, é similar a dos judeus em Atos, cujo
“exorcismo” respondeu o espírito maligno: “A Jesus conheço, e sei quem é Paulo; mas vós, quem
sois?”142 São João Cassiano, o grande Padre ortodoxo do Ocidente do século V, quem escreveu
com grande discernimento sobre a obra do Espírito Santo em sua Conferência sobre os “Dons
Divinos”, mostra que “as vezes os demônios [fazem milagres]” para aumentar o orgulho no
homem que crê possuir o dom milagroso, e assim prepará-lo para uma queda ainda mais
milagrosa. Fingem estar queimando-se e ser jogados fora dos corpos nos que moravam através da
santidade da pessoa que eles sabem que é profana... no Evangelho lemos: “Se levantarão falsos
Cristos e falsos profetas ... “143.

O “visionário” sueco do século XVIII, Emanuel Swedenborg, que foi um estranho precursor da
renovação “espiritual” e ocultista atual, teve uma ampla experiência com seres espirituais, a quem
ele via com frequência e com quem se comunicava. Ele distinguiu duas classes de espíritos, os
“bons” e os “maus”; sua experiência foi confirmada recentemente pelas descobertas de um
psicólogo clínico em seu trabalho com pacientes “alucinados” em um hospital psiquiátrico estatal
em Ukiah, Califórnia. Este psicólogo tomou a sério as vozes que escutavam seus pacientes e
começou uma série de “diálogos” com eles (através da intermediação dos próprios pacientes).
Concluiu, como Swedenborg, que há duas classes de “seres” muito diferentes que têm entrado em
contato com os pacientes: os “superiores” e os “inferiores”. Em suas próprias palavras: “As vozes
de ordem inferior são similares aos vagabundos bêbados em um bar aos que lhes gosta molestar e
atormentar só pelo gosto de fazê-lo. Sugerem atos sensuais e logo repreendem ao paciente por
haver-lhes feito caso. Encontram um ponto débil da consciência e trabalham nela sem cessar... o
vocabulário e a gama de ideias de ordem inferior são limitados, mas têm uma vontade persistente
de destruir… trabalham em cada debilidade e crença, reivindicam poderes assombrosos, mentem,
fazem promessas e logo minam a vontade do paciente... Todos os de ordem inferior são irreligiosos
ou antirreligiosos... A uma pessoa lhe pareciam demônios convencionais e se referiam a si mesmos
como demônios...
142
Atos (19:15)
143
Conferência XV:2, in Owen Chadwick, Western Asceticism, Filadelfia, Westminster Press, 1958, p. 258.

104
“Em contraste direto estão as alucinações menos frequentes de ordem superior... Este contraste
pode ser ilustrado pela experiência de um homem. Ele havia escutado aos de ordem inferior
discutir durante muito tempo sobre como o assassinariam. (Mas) também havia uma luz que se lhe
acercava pela noite, como o sol. Sabia que era uma ordem diferente porque a luz respeitava sua
liberdade e se retirava se o assustava. Quando o homem se animou a aproximar-se a esse sol
amistoso, entrou num mundo de poderosas experiências misteriosas... [Uma vez] apareceu uma
figura muito poderosa e impressionante parecida a de Cristo... alguns pacientes experimentam
tanto a ordem superior como a inferior em diversas ocasiones e se sentem atrapados entre um céu
e um inferno privado. Muitos só conhecem os ataques de ordem inferior. A ordem superior reclama
poder sobre a ordem inferior e, de fato, o mostra as vezes, mas não o suficiente como para dar
tranquilidade à maioria dos pacientes... a ordem superior parecia estranhamente dotado, sensível,
sábia e religiosa”144.

Qualquer leitor de Vidas dos Santos Ortodoxos e de outra literatura espiritual sabe que todos
estes espíritos, tanto “bons” como “maus”, “inferiores” e “superiores”, são igualmente demônios,
e que o discernimento entre o bem verdadeiro, os espíritos (anjos) e estes espíritos malignos não
podem criar-se sobre a base dos próprios sentimentos ou impressões. A prática generalizada do
“exorcismo” nos círculos “carismáticos” não oferece nenhuma garantia de que os espíritos
malignos sejam realmente expulsos; os exorcismos também são muito comuns (e aparentemente
exitosos) entre os xamãs primitivos145, quem também reconhecem que há diferentes tipos de
Espíritos, que são todos, contudo, igualmente demônios, já seja que pareçam fugir quando lhes
exorcize ou que venham quando lhes invoca para obter poderes xamânicos.

Ninguém negará que todo o movimento “carismático” tenha uma posição ao contrário do
ocultismo e do satanismo contemporâneo. Mas os espíritos malignos mais sutis aparecem como
“anjos de luz”146, e se requer um grande dom de discernimento, junto com uma profunda
desconfiança sobre todas as experiências “espirituais” extraordinárias, para que uma pessoa não
seja enganada. Frente aos inimigos sutis e invisíveis que lideram uma guerra invisível contra a raça
humana, a atitude ingenuamente de confiança da maioria das pessoas envolvidas no movimento
“carismático” sobre suas experiências é uma convocação aberta ao engano espiritual. Um pastor,
por exemplo, aconselha a meditação em passagens das Escrituras para logo escrever qualquer
pensamento “desencadeado” por tal leitura: “Esta é a mensagem pessoal do Espírito Santo para
ti”147. Mas qualquer estudioso sério da espiritualidade cristã sabe que, por exemplo, que “ ao
começo da vida monástica alguns dos demônios imundos instruem [aos noviços] na interpretação
das Divinas Escrituras. . . enganando-os gradualmente para que possam ser levados à heresia e à
blasfêmia”148.
144
Wilson Van Dusen, The Presence of Other Worlds, Harper & Row, New York, 1974, pp. 120—125.
145
Ver I.H. Lewis, Ecstatic Religion, An Anthropological Study of Spirit Possession and Shamanism, Penguin
Books, Baltimore, 1971, pp. 45,88, 156, etc., and illustration 9.
146
Il Cor. 11:14
147
Christenson, p. 139
148
A Escada de São João Clímaco, Etapa 26: 152

105
Lamentavelmente, a atitude dos seguidores ortodoxos da “renovação carismática” não parece
mais perspicaz que a de católicos e protestantes. Obviamente, não conhecem bem aos Padres
Ortodoxos ou a Vidas dos Santos, e quando chegam a citar a um Padre, frequentemente está fora
de contexto149. O chamado “carismático” é principalmente um experimentador. Um sacerdote
ortodoxo escreveu: “Alguns têm se atrevido a etiquetar esta experiência como 'prelest' - orgulho
espiritual. Ninguém que tenha se encontrado com o Senhor desta maneira poderia cair neste
engano”150. Mas é muito raro um cristão Ortodoxo que seja capaz de distinguir formas muito sutis
de engano espiritual (onde o “orgulho”, por exemplo, pode tomar a forma de “humildade”)
unicamente sobre a base de seus sentimentos sobre eles sem tomar referência na tradição
patrística; só aquele que já tenha assimilado completamente a tradição patrística em seu próprio
pensamento e prática, e tenha alcançado uma grande santidade pode presumir de alcançar isto.

Como o cristão Ortodoxo está preparado para resistir a tal engano? Ele tem o corpo completo das
escrituras patrísticas inspiradas por Deus as quais, junto com as Santas Escrituras, apresentam o
critério da Igreja de Cristo mantida por mais de 1900 anos com respeito a virtualmente cada
experiência espiritual e pseudo-espiritual concebível. Mais adiante veremos que esta tradição tem
um juízo muito definido precisamente sobre a questão principal que cria o movimento
“carismático”: a possibilidade de uma nova e generalizada “efusão do Espírito Santo” nos últimos
dias. Mas inclusive antes de consultar aos Padres sobre questões específicas, o cristão Ortodoxo
está protegido contra o engano pelo mesmo conhecimento de que tal engano não só existe, senão
que está em todas as partes, inclusive dentro de si mesmo. O Bispo Ignácio escreve: “ Todos
estamos enganados. Tal conhecimento é a maior prevenção contra o engano. Por outra parte, é o
maior engano crer que um esteja livre de enganos”. Cita São Gregório o Sinaíta, que nos adverte:
“Não é um trabalho pequeno alcançar a verdade com precisão e purificar-se de tudo o que se opõe
à graça; porque é habitual que o diabo mostre seu engano, especialmente aos principiantes, na
forma de verdade, dando uma aparência espiritual ao que é o mal”. E “Deus não fica bravo com
aquele que, por temor ao engano, se cuida a si mesmo com extrema precaução, ainda que não
aceite algo enviado por Deus... ao contrário, Deus louva a tal pessoa por seu bom sentido comum”.

Portanto, desprevenido totalmente para guerra espiritual, sem saber que existe o engano
espiritual do tipo mais sutil (a diferencia das formas obvias de ocultismo), o católico, o
protestante, o cristão ortodoxo desinformado vai a uma reunião de oração para ser “batizados (ou
preenchidos) do Espírito Santo”. O ambiente da reunião é extremadamente relaxado, sendo
intencionalmente deixado “aberto” à atividade de algum “espírito”. Assim descrevem os católicos
(que professam ser mais cautelosos que os protestantes) algumas de suas reuniões pentecostais:
“Parecia não haver barreiras, sem inibições... Sentaram-se no solo com as pernas cruzadas. As
mulheres com calças. Um monge com túnica branca. Fumando cigarros. Bebendo café. Orando em
forma livre... Ocorreu me que estas pessoas estavam se divertindo e orando! Era isso ao que se
referiam quando dizem que o Espírito Santo mora entre eles?” e em outra reunião católica
149
Veja mais adiante sobre São Serafim
150
Logos, abril de 1972, p. 10

106
pentecostal, “exceto pelo fato de que ninguém estava bebendo, parecia um coquetel” 151. Nas
reuniões “carismáticas” interdenominacionais, a atmosfera é igualmente suficientemente informal
como para que ninguém se surpreenda quando o “espírito” inspire a uma idosa, em meio de um
ataque de pranto geral, e a colocar-se de pé e “dançar um pouco” 152. Para o cristão Ortodoxo
sensato, o primeiro que se nota em tal atmosfera é a falta total do que ele conhece em seus
próprios serviços Divinos como a verdadeira piedade e a reverência, que procedem do temor de
Deus. E esta primeira impressão só se confirma surpreendentemente ao observar os efeitos
verdadeiramente estranhos que produzem o “espírito” pentecostal quando desce a esta
atmosfera relaxada. Examinaremos agora alguns destes efeitos, colocando-os ante o juízo dos
Santos Padres da Igreja de Cristo.

B. Acompanhamentos físicos da experiência “carismática”

Uma das respostas mais comuns à experiência do “Batismo do Espírito Santo” é o riso. Um católico
declarou: “Estava tão feliz que tudo o que pude fazer foi rir enquanto deitava no solo” 153. Outro
católico: “O sentido da presença e o amor de Deus era tão forte que posso lembrar me de estar
sentado na capela durante meia hora rindo de alegria pelo amor de Deus” 154. Um protestante
testemunhou que em seu “Batismo” “comecei a rir ... só queria rir e rir como quando te sentes tão
bem que não podes falar del. Eu agarrei os dois lados e ri até me cansar” 155. Outro protestante: “A
nova língua que me foi dada se misturava com ondas de alegria nas quais cada medo que tinha
parecia desaparecer. Era uma língua de alegria” 156. Um sacerdote ortodoxo, o Padre Eusebius
Stephanou, escreve: “Não pude esconder um largo sorriso em meu rosto que em qualquer
momento poderia haver explodido em gargalhadas - um riso do Espírito Santo suscitando em mim
uma liberação refrescante”157.

Poderíamos recolher muitos, muitos exemplos desta reação verdadeiramente estranha a uma
experiência “espiritual”, e alguns apologistas “carismáticos” têm toda uma filosofia de “alegria
espiritual” e “loucura de Deus” para explicá-la. Mas esta filosofia não é nem no mais mínimo
possível cristã; um conceito como o “riso do Espírito Santo” é inaudito em toda a história do
pensamento e a experiência cristã. Aqui, pode ser mais claramente que em qualquer outro lugar, a
“renovação carismática” se revela como nada cristã no que diz respeito à orientação religiosa; esta
experiência é puramente mundana e pagã, e onde não se pode explicar em termos de histeria
emocional158, só pode ser devido a algum grau de “possessão” por parte de um ou mais dos deuses
pagãos, que a Igreja Ortodoxa chama demônios. Aqui, por exemplo, há uma experiência de

151
Ranaghan, pp. 209, 157
152
Sherrill, pág.118
153
Ranaghan, p. 28
154
Ibid., p. 64
155
Sherrill, p. 113
156
Ibdi., p. 115
157
Logos, abril de 1972, p. A
158
Para o padre Eusébio, de fato, o riso proporciona “alivio” e “libertação” de “um intenso sentimento de
autoconsciência e vergonha” e “devastação emocional”

107
“iniciação” comparável à de um xamã pagão esquimó: ao não encontrar a iniciação, “as vezes me
colocava a chorar e me sentia infeliz sem saber por quê. Então, sem nenhuma razão, tudo mudava
repentinamente, e sentia um gozo grande e inexplicável, um gozo tão poderoso que não podia
contê-lo, mas tive que começar a cantar, um canto poderoso, com espaço para uma só palavra:
gozo, gozo! e tive que usar toda a força de minha voz. E logo, em meio a um ataque de misterioso
deleite muito pesado me converti em xamã. . . podia ver e ouvir de uma forma totalmente
diferente. Havia ganhado minha iluminação. . . e não era só eu quem podia ver através das trevas
da vida, senão que a mesma luz brilhante também brilhava em mim. . . e todos os espíritos da
terra, do céu e do mar vieram a mim e se converteram em meus espíritos auxiliares”159.

Não é de estranhar que os “cristãos” despreparados, havendo-se aberto deliberadamente a uma


experiência pagã similar, ainda a interpretem como uma experiência “cristã”; psicologicamente
seguem sendo cristãos, mesmo se espiritualmente entraram no reino das atitudes e práticas
claramente não cristãs. Qual é o juízo da tradição ascética Ortodoxa com respeito a algo como o
“riso do Espírito Santo”? São Barsanufo e São João, os ascetas do século VI, dão a resposta
Ortodoxa inequívoca ao responder a um monge Ortodoxo que estava atormentado deste
problema (Resposta 451): “No temor de Deus não há riso. A Escritura nos fala dos tolos, que
levantam sua voz em riso (Eclesiástico 21:23); e a palavra dos tolos sempre está perturbada e
privada de graça”. Santo Efraim o Sírio ensina com a mesma clareza: “O riso e a familiaridade são
o início da corrupção da alma. Se ver isto em ti mesmo, deves saber que há chegado às
profundidades dos males. Não deixes de orar a Deus para que te livre desta morte ... o riso nos tira
a benção que se prometeu aos que choram (Mateus 5: 4) e destrói a edificação. O riso ofende ao
Espírito Santo, não beneficia a alma, e desonra o corpo. O riso expulsa as virtudes, não recorda a
morte nem pensa nas torturas”160. Isto não é evidente se considerarmos a ignorância do
cristianismo básico?

Ao menos tão comum quanto o riso como resposta ao “Batismo” carismático, sua parente
psicologicamente mais próxima são, as lágrimas. Isto ocorre a indivíduos e, muito
frequentemente, a grupos inteiros as vezes (neste caso bastante à margem da experiência do
“Batismo”), propagando-se infecciosamente sem razão aparente no absoluto 161. Os escritores
“carismáticos” não encontram a razão disso na “convicção do pecado” que produz tais resultados
nas renovações protestantes; não dão absolutamente nenhuma razão, e parece que não há
nenhuma, exceto que esta experiência simplesmente chegue a alguém que esteja exposto à
atmosfera “carismática”. Os Padres Ortodoxos, como aponta o Bispo Ignácio, ensinam que as
lágrimas normalmente acompanham à segunda forma de engano espiritual. São João Clímaco,
falando das diferentes causas das lágrimas, algumas boas e outras más, adverte: “Não confies em
tuas fontes de lágrimas antes de que tua alma haja sido perfeitamente purificada” (Escada de São
João Clímaco, cap. 7); e de um tipo de lágrimas afirma definitivamente: “As lágrimas sem

159
Lewis, Ecstatic Religion, p. 37
160
Philokalia, Russiam ed., Moscow, 1913: vol,2, p.448
161
Ver Sherrill, págs. 109, 117

108
pensamento são próprias de uma natureza irracional e não de uma racional” (Escada de São João
Clímaco, cáp 7).

Além do riso e das lágrimas, e frequentemente junto com elas, há uma série de outras reações
físicas ao “Batismo do Espírito Santo”, que incluem calor, muitos tipos de tremores e contorções, e
quedas ao solo. Todos os exemplos que são dados aqui, devemos enfatizar, que são de
protestantes e católicos comuns, e não de algum extremista pentecostal, cujas experiências são
muito mais espetaculares e desenfreadas.

“Quando colocaram as mãos encima de mim, imediatamente me senti como se todo meu peito
estivesse tratando de subir para minha cabeça. Meus lábios começaram a tremer e meu cérebro
começou a dar voltas. Logo comecei a sorrir"162. Outra foi “sem emoção depois do evento, mas com
uma grande cordialidade de corpo e uma grande tranquilidade” 163. Outro testemunho deste: “Tão
logo após ter me ajoelhado, comecei a tremer.... De repente me enchi do Espírito Santo e me dei
conta de que 'Deus é real'. Comecei a rir e chorar ao mesmo tempo. Eu soube que após isto estava
prostrado ante o altar e cheio da paz de Cristo” 164. Um relato: “Enquanto me ajoelhava em silêncio
para agradecer ao Senhor, D. estava prostrado e de repente começou a suspirar pelo poder de
alguém invisível. Por uma intuição que deve haver sido inspirada divinamente. Sabia que D. estava
sendo movido visivelmente pelo Espírito Santo"165. Outro comentou: "Minhas mãos (geralmente
frias devido à má circulação) se umidificaram e aqueceram. O calor me envolveu"166. Outro disse:
"Sabia que Deus estava trabalhando dentro de mim. Podia sentir sossegas distintas em minhas
mãos, e imediatamente me banhei em um suor intenso"(Ranaghan, p.102). Um membro do
"Movimento de Jesus" disse: "Sinto algo brotar 'dentro de mim e de repente estou falando em
línguas"(Ortega, p. 49). Um apologista "carismático" enfatiza que tais experiências são típicas do
"Batismo no Espírito Santo", que "frequentemente tem sido marcada como uma experiência
subjetiva que tem levado o receptor a um maravilhoso novo sentido de proximidade com o Senhor.
Isto as vezes exige uma expressão de culto e adoração tal que não pode ser contida dentro das
restrições usuais impostas pela etiqueta de nossa sociedade ocidental, em tais ocasiões, se sabe
que alguns tremem violentamente, levantam suas mãos para o Senhor, levantam a voz além do
tom normal, ou inclusive caem ao solo"(Lillie, p. 17).

Não se sabe de que espantar-se mais: da total incongruência de tais sentimentos e experiências
histéricas com qualquer coisa que pareça espiritual ou da incrível leveza que leva as pessoas tão
enganadas a atribuir suas contorções ao "Espírito Santo", à "inspiração divina", "à paz de Cristo".
Se trata claramente de pessoas que, no âmbito espiritual e religioso, não só são totalmente
inexperientes e sem orientação, senão que são absolutamente analfabetas. Em toda a história do
cristianismo ortodoxo não é conhecido tais experiências "extáticas" produzidas pelo Espírito

162
Ranaghan, p. 67
163
Ibid., p.91
164
Ibid., p.34
165
Ibid., p.29
166
Ibid., p.30

109
Santo. É um absurdo que alguns apologistas "carismáticos" se atrevam a comparar estas
experiências infantis e histéricas, abertas a absolutamente todos, com as revelações divinas
concedidas aos maiores santos, como a São Paulo no caminho a Damasco ou a São João o
Evangelista em Patmos. Estes santos se prostraram ante o Deus verdadeiro (sem contorções, e
certamente sem riso), enquanto que estes pseudocristãos simplesmente reagem à presença de
um espírito invasor e adoram somente a si mesmos. O Staretz Macário de Optina escreveu para
uma pessoa em um estado similar: "Pensando encontrar o amor de Deus nos sentimentos
consoladores, não estás buscando a Deus senão a ti mesmo, ou seja, teu próprio consolo, enquanto
evitas o caminho das dores, considerando-te supostamente perdido sem consolos espirituais"167. Se
estas experiências "carismáticas" são experiências religiosas, então são experiências religiosas
pagãs; e de fato parecem corresponder exatamente com uma experiência de iniciação mediúnica
de possessão espiritual, que é causada por "uma força interior que brota interiormente buscando
tomar o controle" (Koch, Occult Bondage, p. 44). Supostamente, nem todos os "batismos no
Espírito Santo" são tão extasiados como algumas destas experiências (embora algumas sejam
ainda mais em êxtase); mas isto também está de acordo com a prática espírita: " Quando os
Espíritos encontram um médium amigável ou bem disposto a ser submisso ou passivo
mentalmente, entram silenciosamente como em sua própria casa; enquanto que, pelo contrário,
quando o psíquico está menos disposto devido a alguma resistência, ou falta de passividade da
mente, o espírito entra com mais ou menos força, e isto se reflete frequentemente nas contorções
do rosto e o tremor dos membros do médium" (Blackmore, Spiritism, p. 97).

Esta experiência de "possessão espiritual", contudo, não deve ser confundida com a possessão
demoníaca real, que é a condição na qual um espírito imundo se instala permanentemente em
alguém e produz desordens físicas e psíquicas que não parecem ser mencionadas nas "fontes
carismáticas". A "possessão" mediúnica é temporal e parcial, o médium consciente em ser
utilizado para uma função particular pelo espírito invasor. Mas os próprios textos "carismáticos"
deixam bastante claro que o que está envolvido nestas experiências, quando são genuínas e não
meramente o produto de uma sugestão, não é meramente o desenvolvimento de alguma
habilidade mediúnica, senão a possessão real de um espírito. Estas pessoas pareceriam terem
razão ao chamar-se a si mesmas "cheias do Espírito", mas certamente não é o Espírito Santo com
quem estão cheias!

O Bispo Ignácio dá vários exemplos de tais acompanhamentos físicos do engano espiritual: em um


monge que tremia e emitia sons estranhos e que identificou estes sinais como os "frutos da
oração"; e em outro, um monge que conheceu ao Bispo e que como resultado de seu método de
êxtase de oração sentiu tanto calor em seu corpo que não necessitava de roupas de frio no
inverno, e este calor inclusive podia ser sentido por outras pessoas. Como princípio geral, o Bispo
Ignácio escreve, que o segundo tipo de engano espiritual segue acompanhado de "um calor
material e apaixonado por sangue"; "o comportamento dos ascetas do latinismo, abraçados pelo
engano, sempre têm um estado de êxtase, por causa deste extraordinário calor material e
apaixonado" — A conduta dos "santos" latinos como Francisco de Assis e Ignácio de Loyola. Este
167
Starets Macarius de Optina, Harbin, 1940, p. 100 (em Russo).

110
calor material do sangue, uma marca dos enganados espiritualmente, deve ser distinguido do
calor espiritual que sentem aqueles como São Serafim de Sarov que genuinamente adquiriu o
Espírito Santo, mas o Espírito Santo não se adquire por experiências de êxtases "carismáticos",
senão por um longo e duro caminho do ascetismo, o "caminho das dores" do qual falou o Staretz
Macário, dentro da Igreja de Cristo.

C. "Dons espirituais" que acompanham a experiência "carismática"

A principal afirmação dos seguidores do movimento da "renovação carismática" é a de que hão


adquirido dons "espirituais". Um dos primeiros "dons" que se faz notar nos "batizados com o
Espírito Santo" é um novo poder e audácia "espirituais". O que lhes dá tal audácia é a experiência
definitiva da qual, ninguém pode duvidar, embora qualquer um certamente pode duvidar de sua
interpretação da mesma. Alguns exemplos típicos: "Não tenho que crer em Pentecostes, porque eu
o vi" (Ranaghan, p. 40). "Comecei a sentir que sabia exatamente o que dizer aos demais e o que
precisavam escutar... Descobri que o Espírito Santo me deu uma valentia real para falar e houve
um efeito que me marcou" (Ranaghan, p. 64). "Tinha tanta confiança em que o Espírito seria fiel à
sua palavra que orei sem nenhum tipo de vacilo. Orei por vontade e não por dever, e em qualquer
outro tipo de declaração positiva" (Ranaghan, p. 67). Um exemplo ortodoxo: "Oramos por
sabedoria e de repente nos tornamos sábios no Senhor. Oramos por amor e o amor verdadeiro se
manifestou por todos os homens. Oramos por curas e a saúde foi restaurada. Oramos por milagres
e, crendo, vemos ocorrerem milagres. Oramos por sinais e os recebemos. Oramos em línguas
conhecidas e línguas desconhecidas"(Logos, abril de 1972, p. 13).

Aqui novamente, uma característica ortodoxa genuína, adquirida e provada por longos anos de
trabalho ascético e amadurecimento na fé, supostamente é obtida instantaneamente mediante a
experiência "carismática". Está certo, claro, que os Apóstolos e Mártires receberam uma magnífica
valentia pela graça especial de Deus; mas é ridículo quando todo "cristão carismático", sem
nenhuma noção sobre o que seja a graça Divina, queira comparar-se com estes grandes santos.
Estando baseada em uma experiência de engano, a audácia "carismática" não é mais do que uma
imitação febril e "revivalista" da verdadeira audácia cristã, e só serve como outra marca de
identificação do engano "carismático". O Bispo Ignácio escreve que uma certa "autoconfiança e
ousadia geralmente são notados nas pessoas que se enganam a si mesmas, supondo que são
santas ou estão fazendo progresso espiritualmente. Uma pomposidade extraordinária aparece nos
afligidos por este engano: estão como embriagados de si mesmos, por seu estado de auto engano,
vendo n’Ele um estado de graça. Estão encharcados, transbordantes de altivez e orgulho, enquanto
que parecem humildes ante muitos que julgam pelas aparências sem poder julgar pelos frutos".

Más além de falar em línguas, o dom "sobrenatural" mais comum dos "batizados no Espírito" é a
recepção direta de "mensagens de Deus" em forma de "profecias" e "interpretações". Uma
menina católica disse sobre seus amigos "carismáticos" o seguinte: "Em alguns deles fui
testemunha do falar em línguas, algumas das quais eu pude interpretar. As mensagens sempre

111
têm sido de grande consolo e gozo no Senhor" (Ranaghan, p. 32). Uma "interpretação" se resume
assim: "Falava palavras de Deus, uma mensagem de consolação" (Ranaghan, p. 181). As
mensagens não são nada se não são ousadas, em uma reunião "outra jovem anunciou uma
'mensagem de Deus', falando em primeira pessoa"(Ranaghan, p. 2). Um protestante "carismático"
escreveu que em tais mensagens "A Palavra de Deus se fala diretamente! A Palavra pode ser
pronunciada repentinamente por qualquer um dos presentes, e assim, de diversas maneiras,
qualquer um 'Assim disse o Senhor' entra em comunhão em primeira pessoa (embora nem
sempre), como 'Estou contigo para abençoar-te" (Williams, p. 27).

Nos livros apologéticos do movimento "carismático" há alguns textos específicos que são
apresentados de "profecia" e "interpretação":

1. "Seja como uma árvore que se balança com sua vontade, enraizada em sua força,
alcançando seu amor e sua luz" (Ford, p. 35).

2. "Asim como o Espírito Santo desceu sobre Maria e Jesus foi formado dentro dela, assim o
Espírito Santo desce sobre vocês e Jesus está no meio de vocês” - falado em línguas por um
católico romano e "interpretado" 'por um protestante (Ford, pág.35).

3. "Os pés do que caminhava pelas ruas de Jerusalém estão atrás de ti. Teu olhar cura aos
que se aproximam, mas dá a morte aos que fogem", isto teria um significado especial para
um membro do grupo de oração (Ford, p. 35).

4. "Te estendo minha mão. Só necessitas a pegar e te guiarei" - esta mesma mensagem foi
dada uns minutos antes a um sacerdote católico em outra sala; ou escreveu e entrou na
sala de oração justo a tempo para escutá-lo pronunciado exatamente com as palavras que
havia escrito (Ranaghan, p. 54).

5. "Não te preocupes, estou satisfeito com a posição que tens tomado. isto é difícil para ti,
mas trará muita benção a outro" - isto lhe deu finalmente consolo a uma pessoa presente
com respeito a uma recente difícil decisão (Sherrill, p. 88).

6. "Minha esposa entrou e começou a tocar o órgão. De repente, o Espírito de Deus veio
sobre ela e começou a falar em línguas e a profetizar: "Filho meu, estou contigo. Porque
tens sido fiel nas pequenas coisas irei lhe utilizar de uma maneira grandiosa. Te levo nas
mãos. Eu estou lhe guiando, não temas. Estás no centro de minha vontade. Não olhes à
direita nem à esquerda, porém continue aí" - esta "profecia" foi acompanhada por uma
“visão" e foi diretamente responsável pela fundação de uma organização pentecostal

112
grande e influente, a "Fraternidade Internacional de Homens de Negócios do Evangelho
Completo" (Logos Journal, setembro-outubro de 1971, p. 11.).

Bem, podemos crer, que de acordo com o testemunho de pessoas que notam que tais mensagens
se aplicam diretamente a eles, que há algo sobrenatural em algumas delas, que não são
simplesmente "inventadas". Porque, o Espírito Santo usa tais métodos para comunicar-se com os
homens? (Os "espíritos" nas sessões de espiritismo certamente o fazem!) Por que a linguagem é
tão monótona e estereotipada, as vezes digna das máquinas de adivinhação dos cafés estado-
unidenses? Por que as mensagens são tão vagas e oníricas, que em verdade soam como se se
estivessem em transe? Por que seu conteúdo é sempre de "consolo", "conforto e alegria",
tranquilidade, precisamente sem carácter profético ou dogmático - como se o "espírito", inclusive
igualmente como os "espíritos" nas sessões espíritas, estão especialmente satisfeitos com sua
audiência não denominacional? Quem, depois de tudo, é o "eu" estranhamente sem carácter que
fala? Estamos equivocados ao aplicar as palavras de um verdadeiro Profeta de Deus a tudo isto?
-"Que não vos enganem seus profetas, que estão no meio de vós, nem seus adivinhadores, nem
escutem os sonhos que têm[b]. 9 Porque lhes profetizam falsamente em Meu nome. Eu não os
enviei”, declara o Senhor" (Jeremias 29: 8-9).

Assim como um "batismo no Espírito" geralmente tem a habilidade de falar em línguas em suas
devoções privadas, e em geral é consciente de que "o Senhor" está constantemente com ele,
assim também, inclusive fora do ambiente da reunião de oração, Ele frequentemente tem
"revelações" privadas, que incluem vozes audíveis e "presenciais" tangíveis. Assim descreve o
"profeta" da "renovação carismática" sobre uma de suas experiências: "Me despertei de um sonho
profundo e reparador por uma voz que parecia forte e clara . . . dizendo-me claramente: 'Deus não
tem netos'. . . Então pareceu como se houvesse alguém em meu quarto e a presença me fez sentir
bem. De repente me dei conta. Deve ser o Espírito Santo quem me fala" (Du Plessis, p. 61).

Como se pode explicar essas experiências? O Bispo Ignácio escreve: "O possuído por este tipo de
engano espiritual se imagina a si mesmo [a segunda forma de prelest se chama 'fantasia', mnenie
em russo] que transborda nos dons do Espírito Santo. Esta fantasia se compõe de conceitos e
sentimentos falsos, neste carácter que pertence plenamente ao representante do reino da
falsidade, o Diabo. Aquele que, ao orar, se esforça para revelar no coração o sentimento do
homem novo, mas não tem nenhuma possibilidade de fazê-lo, substitui estes sentimentos de sua
própria invenção, falsificando-a, a qual tal ação dos espíritos caídos não tarda a unir-se. Crendo
que seus sentimentos incorretos, tanto os próprios como os dos demônios, são verdadeiros e
dotados de graça, recebe concepções que correspondem a tais sentimentos".

Precisamente tal processo tem sido observado por escritores dedicados ao tema do espiritismo.
Para alguém seriamente envolvido no Espiritismo (e não só os médiuns mesmos), chega um
momento em que toda a falsa espiritualidade que cultiva a passividade da mente e a abertura a
atividades dos "espíritos", se manifesta inclusive em passatempos aparentemente inocentes como

113
o uso de um tabuleiro Ouija, podendo por este meio efetuar uma possessão real desta pessoa por
um espírito invasor, depois do qual começam a aparecer indubitavelmente fenômenos
"sobrenaturais"168.

Na "renovação carismática" este momento de transição se identifica como a experiência do


"batismo do Espírito Santo", que, quando é genuíno, é precisamente o momento em que o auto
engano se converte em engano demoníaco, e a vítima "carismática" está virtualmente segura de
que a partir de então seus "sentimentos religiosos" enganados podem esperar uma resposta do
"Espírito" e entrar em uma "vida de milagres".

D. A nova "efusão do Espírito Santo"

Em geral, os seguidores da "renovação carismática" têm a sensação de estarem (como repetem


constantemente) "cheios do Espírito". "Me senti livre, limpo e uma pessoa nova e completamente
cheio do Espírito Santo" (Ranaghan, p. 98). "Devido ter me iniciado no batismo do Espírito, agora
comecei a ter mais visão do que é a vida no Espírito. É em verdade uma vida de milagres e
preenchida uma e outra vez com o amor do Espírito de Deus" (Ranaghan, p. 65). Invariavelmente
caracterizam seu estado "espiritual" com palavras similares; um sacerdote católico escreveu,
"quaisquer que sejam outros efeitos particulares que possam haver ocorrido, a paz e a alegria
parecem haver sido recebidas por todos, quase sem exceção, daqueles que foram tocados pelo
Espírito" (Ranaghan, pág. 185). Um grupo "carismático" interconfessional afirma que o objetivo de
seus membros é "mostrar e difundir o amor, a alegria e a paz de Jesus Cristo onde quer que se
encontrem" (Renovação Inter eclesiástica). Neste estado "espiritual" (no qual, caracteristicamente,
tanto o arrependimento como a salvação raras vezes são mencionadas), alguns se elevam a
grandes alturas. Um católico comenta que o dom do "Espírito" "provocou o surgimento dentro de
mim de longos períodos (várias horas) de um estado próximo ao um quase êxtase nos que juraria
que estava experimentando uma antecipação do Reino dos Céus" (Ranaghan, p.103). Contam
histórias espetaculares sobre a libertação do uso de drogas e coisas neste estilo. O sacerdote
grego Eusebius Stephanou resume esta "espiritualidade" citando a um sacerdote católico que
afirma que o movimento "carismático" implica "num novo sentido da presença de Deus, uma nova
consciência de Cristo, um maior desejo de orar, uma capacidade de louvar a Deus, um novo desejo
de ler as Escrituras, que estas ganham vida com a Palavra de Deus, um novo anseio de que outros
conheçam a Cristo, uma nova compaixão pelos demais e uma sensibilidade sobre suas
necessidades, um novo sentido de paz e alegria ... ". E o Pe. Eusebio apresenta o argumento final
de todo este movimento: "A árvore é conhecida pelos seus frutos ... Estes frutos demostram a
presença do Diabo ou do Espírito santificador de Cristo? Nenhum ortodoxo em seu são juízo que
tenha visto os frutos do Espírito com seus próprios olhos pode dar uma resposta equivocada a esta
pergunta" (Logos, janeiro., 1972, p.13).

168
Ver Blackmore, Spiritism, pp. 144-175, onde há um exemplo de um sacerdote católico que foi perseguido
fisicamente por uma tabua ouija (impulsada, claro, por um demônio) quando tentou deixar de usá-la.

114
Não há razão para duvidar deste testemunho. É certo que também há muitos testemunhos -
demos alguns exemplos - que contradizem isto e afirmam definitivamente que o "espírito" da
"renovação carismática" é algo obscuro e sinistro; ainda mais que não se pode duvidar que muitos
seguidores da "renovação carismática" realmente sentem que é algo "cristão" e "espiritual".
Enquanto estas pessoas permaneçam fora da Igreja Ortodoxa, poderíamos deixar suas opiniões
sem comentários. Mas quando um sacerdote ortodoxo nos diz que os fenômenos sectários são
produzidos pelo Espírito Santo, e inclusive nos exorta: "Não fique de fora. Abra teu coração aos
impulsos do Espírito Santo e seja parte da crescente renovação carismática". (loc. cit.) - então
temos o direito e o dever de examinar suas opiniões muito proximamente, julgando-as não pelo
padrão do vago "cristianismo" humanista que prevalece no Ocidente e está disposto a chamar
"cristão" simplesmente porque algo "se sente" assim, senão que segundo o padrão bastante
diferente do cristianismo ortodoxo. E segundo este padrão, não há um só elemento na lista
anterior de "frutos espirituais" que não possa ser, e foram nos movimentos sectários e heréticos
do passado, produzidos pelo Diabo que aparece como um "anjo de luz", precisamente com o
objetivo de afastar as pessoas da Igreja de Cristo levando-os para algum outro tipo de
"cristianismo". Se o "espírito" da "renovação carismática" não é o Espírito Santo, então estes
"frutos espirituais" tão pouco são de Deus.

Segundo o Bispo Ignácio, o engano conhecido como fantasia "se satisfaz com a invenção de
sentimentos e estados falsos da graça, dos quais nasce uma concepção falsa e errônea de todo o
compromisso espiritual ... Constantemente inventa estados pseudo espirituais, um
companheirismo íntimo com Jesus, uma conversação interior com Ele, revelações místicas, vozes,
gozos ... Desta atividade o sangue recebe um enganoso movimento pecaminoso, que se apresenta
como um deleite produzido pela graça... Se reveste com a máscara de humildade, piedade,
sabedoria". A diferença da forma mais espetacular de engano espiritual, a fantasia, mesmo que
"leve a mente ao erro mais espantoso, não a conduz ao delírio", de modo que o estado pode
continuar durante muitos anos ou toda a vida e não ser detectado facilmente. Aquele que cai
neste cálido, confortável e febril estado de engano, praticamente comete um suicídio espiritual,
cegando-se a si mesmo o seu verdadeiro estado espiritual. Escreveu o Bispo Ignácio: "Ao imaginar-
se a si mesmo que esteja cheio de graça, nunca receberá a graça ... o que se atribui a si mesmo
dons de graça mediante esta 'fantasia' cria uma muralha ao derredor seu que impede a entrada da
graça divina, e abre de par em par a porta à infecção do pecado e dos demônios ". "Porque tu
dizes: Eu sou rico, e me enriqueci, e de nenhuma coisa tenho necessidade; e não sabes que tu
eres um infeliz, miserável, pobre, cego e nu" (Apóc. 3:17).

Os infectados com o engano "carismático" não só estão "cheios do espírito", senão que também
veem a seu redor o começo de uma "nova era" de "derramamento do Espírito Santo", crendo,
como faz o Pe. Eusebius Stephanou, que "o mundo está no umbral de um grande despertar
espiritual" (Logos, fevereiro de 1972, p. 18); e as palavras do profeta Joel estão constantemente
em seus lábios: "derramarei meu Espírito sobre toda carne" (Joel 2.28). O cristão ortodoxo sabe
que esta profecia se refere em geral à última época que começou com a Vinda de nosso Senhor, e
mais especificamente em Pentecostes (Atos 2), e a todo santo ortodoxo que verdadeiramente

115
possui em abundância os dons do Espírito Santo como São João de Kronstadt e São Nectário de
Pentapolis, que realizaram milhares de milagres inclusive neste corrupto século XX. Mas para os
"carismáticos" de hoje, os dons milagrosos são para todos; quase todos os que querem podem
falar em línguas ou o podem fazer, havendo manuais que explicam como o fazer.

Mas, o que nos ensinam os Santos Padres da Igreja Ortodoxa? Segundo o Bispo Ignácio, os dons do
Espírito Santo "existem só nos cristãos ortodoxos que alcançaram a perfeição cristã, purificados e
preparados de antemão pelo arrependimento". Estes "se dão aos santos de Deus unicamente pela
boa vontade de Deus e pela ação de Deus, e não pela vontade dos homens nem por seu próprio
poder. São entregados inesperadamente, muito raramente, em casos de extrema necessidade,
pela maravilhosa providência de Deus, e não ao azar" (São Isaac o Sírio). "Cabe apontar que na
atualidade os dons espirituais são concedidos com grande moderação, o que corresponde ao
debilitamento que envolve ao cristianismo em geral. Estes dons servem inteiramente às
necessidades da salvação. Pelo contrário, a 'fantasia' produz seus dons em abundância ilimitada e
com a maior velocidade".

Numa palavra, o ''espírito'' que de repente produz seus ''dons'' sobre esta geração adúltera que,
corrompida e enganada por séculos de falsa crença e pseudo-piedade, busca só um ''sinal'' e não é
o Espírito Santo de Deus. Estas pessoas nunca conheceram ao Espírito Santo e nunca o adoraram.
A verdadeira espiritualidade está tão longe deles que, para o observador sóbrio, só zombam dela
com seus fenômenos psíquicos e emocionais e, às vezes, demoníacos e suas declarações
blasfemas. Sobre os verdadeiros sentimentos espirituais, escreveu o Bispo Ignácio, "o homem
carnal não pode formar nenhum conceito: porque uma concepção dos sentimentos sempre se
baseia nos sentimentos já conhecidos pelo coração, enquanto que os sentimentos espirituais são
completamente alheios ao coração que só conhece os sentimentos carnais e emocionais. Um
coração assim nem sequer sabe da existência de sentimentos espirituais".

Fontes citadas no texto deste capítulo

Burdick, Donald W., Tongues To Speak or not to Speak. Moody Press, 1969.

Christenson, Larry, Speaking in Tongues. Dimension Books, Minneapolis, 1968.

DuPlessis, David]., The Spirit Bade Me Go. Logos International, Plainfield, New Jersey, 1970.

Ford, J. Massingberd, The Pentecostal Experience. Paulist Press, N.Y., 1970.

Gelpi, Donald L., S.J., Pentecostalism, A Theological Viewpoint. Paulist Press, N.Y ., 1971.

Harper, Michael, Life in the Holy Spirit. Logos Books, Plainfield, N. J, 1966.

Koch, Kurt, The Strife of Tongues. Kregel Publications, Grand Rapids, 1969.

116
Lillie, D.G., Tongues under Fire. Fountain Trust,London, 1966.

Ortega, Ruben, compiler, The Jesus People Speak Out. David C. Cook Publishing Co., Elgin, I 11. ,
1972.

Ranaghan, Kevin and Dorothy, Catholic Pentecostals. Paulist Press, 1969.

Sherrill, John L., They Speak with Other Tongues. Spire Books, Old Tappan, N. J., 1965.

Williams, J. Rodman, The Era of the Spirit. Logos International, 1971.

VIII. Conclusão

O ESPÍRITO DOS ÚLTIMOS TEMPOS

1. A '' renovação carismática '' como sinal dos tempos

"Até o final desta era não faltarão Profetas do Senhor Deus, como também servos de satanás, mas
nos últimos tempos os que verdadeiramente servirão a Deus conseguiram esconder-se dos homens
e não realizarão no meio deles sinais e maravilhas como no tempo presente, senão que transitarão
por um caminho de atividade misturado com humildade, e no Reino dos Céus serão mais grandes
que os Padres que foram glorificados pelos sinais. Porque nesse momento ninguém realizará ante
os olhos dos homens milagres que inflamariam aos homens coxos e os inspirariam a lutar com zelo

117
pelos trabalhos ascéticos… muitos, possuídos pela ignorância, cairão ao abismo, desgarrados na
amplitude do caminho largo e espaçoso".
[Profecia de São Niphon de Constantia, Chipre]169

A. Um "Pentecostes sem Cristo"

Para os cristãos ortodoxos, as '' línguas '' atuais, como as descritas no Novo Testamento, são
também um ''sinal'', mas agora são um sinal, não do princípio do Evangelho de salvação para
todos, senão de seu fim. Para um Cristão Ortodoxo sério não será difícil estar de acordo com os
apologistas da "renovação carismática" quanto à afirmação de que este novo "derramamento do
espírito" pode significar de fato que "a consumação dos séculos esteja próximo" (P. Eusebius
Stephanou em Logos, abril de 1972, p. 3). "Mas o Espírito disse claramente que nos tempos
vindouros alguns apostatarão da fé, escutando a espíritos enganadores e a doutrinas de
demônios" (I Tim. 4: 1). Nos últimos dias veremos os espíritos dos demônios, obrando milagres
(Apo. 16:14).

As Sagradas Escrituras e os Padres Ortodoxos nos dizem claramente que o carácter dos últimos
tempos não será absolutamente o de uma Grande ''renovação'' espiritual, de um ''derramamento
do Espírito Santo'', e que ao contrário será o de um carácter de apostasia quase universal, de um
engano espiritual tão sutil que mesmo os eleitos, se isso fosse possível, seriam enganados, do
virtual desaparecimento do cristianismo da face da terra. "Quando vier o Filho do Homem,
encontrará Fé na terra?" (Lucas 18: 8.) é precisamente nos últimos tempos que Satanás será
desatado (Apo. 20: 3) para produzir o derramamento final e maior de maldade sobre a terra.

A ''renovação carismática'', produto de um mundo sem sacramentos, sem graça, um mundo


sedento de ''sinais'' espirituais sem poder de discernimento dos espíritos que lhes dão origem, é
em si mesmo um ''sinal'' destes tempos apóstatas. O movimento ecumênico em si segue sendo
sempre um movimento de ''boas intenções'' e débeis ''boas ações'' humanitárias; mas quando se
une a um movimento com ''poder'', de fato com todo o poder, com sinais e prodígios mentirosos (II
Tes.2: 9), então, quem poderá detê-lo? A "renovação carismática" vem para o resgate de um
ecumenismo que oscila e ou se movimenta para este objetivo. E este objetivo, como vimos, não é
de natureza meramente ''cristã'' para uma ‘'refundação da Igreja de Cristo'', para usar a expressão
blasfema do patriarca Atenágoras de Constantinopla, que é só o primeiro passo em direção a um
objetivo mais amplo que se encontra completamente fora do cristianismo: o estabelecimento da
"unidade espiritual" de todas as religiões, de toda a humanidade.

Porém, os seguidores da "renovação carismática" creem que sua experiência é "cristã", que não
tem nada a ver com o ocultismo e as religiões orientais; e sem dúvidas rechaçam redondamente
toda a comparação nas páginas precedentes da "renovação carismática" com o espiritismo.
Contudo, é muita verdade que religiosamente a "renovação carismática" está em um nível mais
169
Publicado em russo com os escritos dos Santos. Barsanulfo o Grande e João, Moscou, 1855, págs. 655.

118
alto que o espiritismo, que é produto de uma credulidade e superstição bastante grosseira; que
suas técnicas são mais refinadas e seus fenômenos mais abundantes e mais fáceis de se obter; e
que toda sua ideologia dá uma aparência de ser "cristã" não ortodoxa, senão algo que não está
longe do fundamentalismo protestante com um tom "ecumênico" adicionado.

E, contudo, vemos que a experiência "carismática", e em particular a experiência central do


"Batismo no Espírito Santo", é em grande medida, se não totalmente, uma experiência pagã,
muito mais próxima à "possessão espiritual" do que a qualquer coisa cristã. Sabemos também que
o pentecostalismo nasceu a margem do "cristianismo" sectário, onde ainda resta muito pouco de
atitudes e crenças cristãs genuínas, e que em realidade foi "descoberto" como resultado de um
experimento religioso, no que os cristãos não participam. Mas a muito pouco tempo foi possível
encontrar um testemunho claro do carácter não cristão da experiência "carismática" nas palavras
de um apologista "carismático". Este apologista nos informou que a experiência do '' Batismo no
Espírito Santo '' pode ser obtida sem Cristo.

Este escritor conta a história de uma pessoa que havia recebido o "Batismo" falando em línguas e
estava animando a todos a buscá-lo. Contudo, admitiu que o arrependimento não havia sido parte
de sua experiência e que não só não havia sido libertado de hábitos pecaminosos, senão que
inclusive não teria nenhum desejo particular de libertar-se deles. O escritor conclui: "Um
pentecostes sem arrependimento, um pentecostes sem Cristo, isso é o que alguns estão
experimentando hoje ... Têm ouvido falar em línguas, desejam identificar-se com uma experiência
de estado, por que buscam a alguém a quem impor-lhes as mãos para uma participação rápida,
barata e fácil a qual negligencia a Cristo e sua Cruz". Apesar disso, este escritor admite que o falar
em línguas é inegavelmente "a consequência ou confirmação inicial" do "batismo no Espírito
Santo" (Harry Lunn, em Logos Journal, novembro-dezembro de 1971, págs. 44, 47).

Aqueles que contribuem com ideias cristãs à experiência assumem que o "Batismo no Espírito
Santo" é uma experiência cristã. Mas pode-se dar a aqueles que simplesmente buscam uma
experiência de estado (status) fácil e barata, então não há nenhuma conexão necessária entre esta
experiência e Cristo. A mesma possibilidade de uma experiência de um "Pentecostes sem Cristo"
significa que a experiência em si mesma não é cristã absolutamente; os "cristãos",
frequentemente sinceros e bem intencionados, estão lendo na experiência um conteúdo cristão
que em si mesmo não têm.

Não temos aqui o denominador comum de "experiência espiritual" que se necessita para uma
nova religião mundial? Não é por acaso esta a chave da "unidade espiritual" da humanidade que o
movimento ecumênico tem buscado em vão?

B. O "novo cristianismo"

Talvez haja quem duvide de que a "renovação carismática" é uma forma de mediunismo; e essa é
somente uma questão secundária dos meios ou a técnica pela qual se comunica o "espírito" da

119
"renovação carismática". Mas está muito claro que este "espírito" não tem nada a ver com o
Cristianismo Ortodoxo. E de fato este "espírito" segue quase ao pé da letra as "profecias" de
Nicholas Berdyaev sobre um "Novo cristianismo". Deixa completamente para trás o "espírito
ascético monástico da ortodoxia histórica", que expõe da maneira mais eficaz sua falsidade. Não
está satisfeito com o "cristianismo conservador que dirige as forças espirituais do homem em
direção à contrição e à salvação", senão que, aparentemente, crê como Berdyaev que tal
cristianismo ainda está "em sua totalidade" junta a um segundo nível de fenômenos "espirituais",
nenhum dos quais é especificamente cristão em carácter (no entanto qualquer um é livre para
interpretá-los como "cristãos"), que estão abertos à pessoas de todas as denominações com ou
sem arrependimento, e que não têm nenhuma relação com a salvação. Busca "uma nova era no
cristianismo, uma espiritualidade nova e profunda, o que significa uma nova efusão do Espírito
Santo", em completa contradição com a tradição e a profecia ortodoxas.

Este é verdadeiramente um "Novo Cristianismo" - mas o ingrediente especificamente "novo" neste


"cristianismo" não é nada original ou "avançado", senão simplesmente uma forma moderna da
antiga religião do diabo, o paganismo xamânico. O periódico "carismático" ortodoxo "The Logos",
recomenda ao Nicholas Berdyaev como sendo um "profeta" precisamente porque foi "o maior
teólogo da criatividade espiritual" (Logos, Marc, 1972, p. 8). E de fato, são precisamente os xamãs
de cada tribo primitiva quem sabiam colocar-se em contacto e utilizarem os poderes "criativos"
primordiais do universo - esses "espíritos da terra, do céu e do mar" que a Igreja de Cristo
reconhece-os como demônios, e no serviço ao que de fato é possível alcançar um êxtase e uma
alegria "criativa" (o entusiasmo e êxtase do nietzschenismo ao que Berdiaev se sentia tão próximo)
o que é desconhecido para os fatigados e desenganados "cristãos" que caem no engano
"carismático". No entanto não há Cristo aqui. Deus proibiu o contacto com este reino oculto com o
qual os "cristãos" têm tropeçado por ignorância e auto-engano. A "renovação carismática" não
terá necessidade de entrar num "diálogo com as religiões não cristãs", porque, sob o nome de
"cristianismo", já está ao mesmo tempo adotando a religião não cristã e se convertendo na nova
religião que Berdyaev previu, combinando estranhamente o "cristianismo" e o paganismo.

O estranho espírito "cristão" da "renovação carismática" se identifica claramente nas Sagradas


Escrituras e na Tradição Patrística Ortodoxa. Segundo estas fontes, a história do mundo culminará
em uma figura "cristã" quase sobre-humana, o falso Messias o Anticristo. Será "cristão" no sentido
de que toda sua função e seu próprio ser se centrarão em Cristo, a quem imitará em todos os
aspectos possíveis, e não será simplesmente o maior inimigo de Cristo, senão que também para
enganar aos cristãos se parecerá com Cristo, que virá à terra pela segunda vez e governará desde o
Templo restaurado em Jerusalém. "Ninguém de modo algum vos engane; porque isto não virá
sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem de pecado, o filho de perdição, o qual
se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou seja objeto de culto; tanto que se
sentará no templo de Deus como Deus, fazendo-se passar por Deus… a vinda dele é por obra de
Satanás, com grande poder e sinais e prodígios mentirosos, e com todas as seduções (enganos)
da iniquidade para os que se perdem, porque não abraçaram (receberam) o amor da verdade
para serem salvos. Por isto Deus lhes enviará um poder enganoso (um artifício do erro), de tal

120
modo que creiam na mentira, a fim de que sejam condenados todos os que não creram na
verdade, mas que se comprouveram na iniquidade". (II Tes. 2: 3-4, 9-12).

O ensino ortodoxo sobre o Anticristo é um tema amplo em si mesmo e não podemos apresentá-lo
em sua totalidade aqui. Mas se, como creem os seguidores da "renovação carismática", os últimos
dias estão realmente próximos, é de crucial importância para o Cristão Ortodoxo estar informado
deste ensino sobre alguém que, assim como o Salvador mesmo disse nos, junto com os "falsos
profetas" desse tempo, mostrarão grandes sinais e prodígios, de tal maneira que, se fosse possível,
enganariam até mesmo os escolhidos (Mat. 24:24). E os "escolhidos" certamente não são estas
multidões de pessoas que estão chegando a aceitar o engano grosseiro e anti bíblico de que "o
mundo está no umbral de um grande despertar espiritual", senão melhor o "pequeno rebanho" ao
que só nosso Salvador prometeu: "dar-vos o reino" (Lucas 12:32). Inclusive os verdadeiros
"eleitos" serão severamente tentados pelos "grandes sinais e milagres" do Anticristo, mas a
maioria dos "cristãos" o aceitarão sem nenhuma dúvida, porque seu "novo cristianismo" é
precisamente o que buscam.

C. "Jesus virá logo"

Só nos últimos anos, significativamente, a figura de "Jesus" adquiriu uma estranha proeminência
nos Estados Unidos. No cenário (teatros) e nos filmes foram revogadas as antigas proibições de
retratar a pessoa de Cristo. Musicais sensacionalmente populares apresentam paródias blasfemas
de sua vida. O "Movimento de Jesus", que é em grande medida "carismático" em sua orientação,
se propaga espetacularmente entre os adolescentes e os jovens. A forma mais crua da música
popular estado-unidense se "cristianizou" nos "festivais de Rock de Jesus (Gospel)", e as melodias
"cristãs" pela primeira vez se converteram nas mais populares do país. E por detrás de todo este
estranho conglomerado de sacrilégio e absoluta mundanismo não iluminado está a expressão
constantemente reiterada da expectativa e esperança que todos parecem temer: "Jesus virá logo".

Em meio a esta devastação psíquica e "religiosa" da terra estado-unidense, um sucesso "místico"


sintomático está se repetindo nas vidas dos estado-unidenses largamente distanciados. Um editor
de uma revista "carismática" relata como percebeu pela primeira vez este fato, contado por
alguém em uma reunião de pessoas de ideias afins:

"Meu amigo e sua esposa iam de carro para Boston pela estrada (Rota 3), quando eles pararam
para dar carona a um mochileiro. Era um jovem e tinha barba, mas não se vestia como um hippie.
Se sentou no assento traseiro sem dizer muito, e seguiram conduzindo o carro. Depois de pouco
tempo, disse em voz baixa: "O Senhor virá logo". Meu amigo e sua esposa ficaram tão
surpreendidos que cada um deles se voltou para olhá-lo. E não havia ninguém ali, ficaram muito
chocados, que entraram no primeiro posto de gasolina em que avistaram. Tinham que contar
aquilo à outra pessoa, sem importar a reação da mesma. Enquanto o assistente do local escutava,
ele não entrou em riso. Ao contrário, tudo o que ele disse foi: "Você é o quinto motorista que vem
aqui com essa história".

121
"Enquanto ele escutava, apesar da luz do sol enevoada, um escalafrio começou a subir por minha
coluna vertebral. Contudo, isso foi só o começo, pois houveram casos ao redor daquela região, em
que outras pessoas foram contaram incidentes similares, até que houveram seis no total, ao longo
do país, e todos haviam ocorrido em algum lugar - nos últimos dos anos "- em Los Angeles,
Filadelfia, Duluth (treze informes à polícia em uma noite), Nova Orleans; as vezes o mochileiro era
um homem, em outras vezes uma mulher. Mais tarde, um sacerdote episcopal contou ao editor
sua própria experiência idêntica no norte do estado de Nova York. Para o editor, tudo isto indica
que, de fato, "Jesus virá logo" (David Manuel, Jr., em Logos Journal, jan.- fev. 1972, p. 3).

O observador atento ao panorama religioso contemporâneo - especialmente na América, onde se


originam as correntes religiosas mais populares desde mais de um século - não pode deixar de
notar um ar muito decidido de expectativa quiliástica. E isto não só se aplica aos círculos
"carismáticos", senão inclusive aos círculos tradicionalistas ou fundamentalistas que têm
rechaçado a "renovação carismática". Portanto, muitos católicos tradicionalistas creem, na
chegada de uma quiliástica "Era de Maria" antes do fim do mundo, e esta é só uma variante do
erro latino mais estendido do qual fala de "santificar o mundo", ou, como o Arcebispo Thomas
Connolly de Seattle se expressou há quinze anos, "transformando o mundo moderno no Reino de
Deus em preparação para o seu regresso". Evangelistas protestantes como Billy Graham, em sua
equivocada interpretação pessoal do Apocalipse, esperam o "milênio" quando "Cristo" reinará na
terra. Outros evangélicos em Israel acham que sua interpretação milenarista do "Messias" é justa
ou que é necessária para "preparar" aos judeus para sua Vinda 170. e o arque-fundamentalista Carl
McLintire se prepara para construir uma réplica em tamanho real do Templo de Jerusalém na
Florida (próximo da Disneylândia); crendo que se aproxima o momento em que os judeus
construirão o mesmíssimo "Templo ao qual o Senhor mesmo regressará como o prometido"
(Christian Beacon, nov. 11, 1971; jan. 6, 1972). Assim, inclusive os ante ecumênicos encontram
possibilidade em prepararem para se unirem ao pecado judio impenitente dando boas-vindas ao
falso Messias - Anticristo - em contraste com o restante de Fé dos judeus que aceitaram a Cristo
como prega a Igreja Ortodoxa, quando o Profeta Elias regressará à Terra.

Portanto, não é um grande consolo para um Cristão Ortodoxo sério que conhece as profecias
bíblicas sobre os últimos dias, quando um ministro protestante "carismático" lhe diz que "é
glorioso o que Jesus pode fazer quando nos abrimos a Ele. Não é de estranhar que as pessoas de
todos os credos agora podem orar juntos" (Harold Bredesen, em Logos Journal, jan.- fev., de 1972,
p. 24); ou quando um pentecostal católico lhe diz que os membros de todas as denominações
agora "começam a olhar por cima desses muros de separação só para reconhecer nos demais a
imagem de Jesus Cristo" (Kevin Ranaghan em Logos Journal, Nov.-Dez., de 1971, pág.21). Que
"Cristo" é este para quem agora se está fazendo em todo o mundo um programa acelerado de
preparação psicológica e inclusive física? - Este é o nosso verdadeiro Deus e Salvador Jesus Cristo,
quem fundou a Igreja onde os homens podem encontrar a salvação? Ou é o falso Cristo que virá
170
Veja por exemplo Gordon Lindsay, Israel´s Destiny and the Coming Deliverer, Christ for the Nations Publ.
Do., Dallas, Texas, pp.28-30

122
em seu próprio nome (João 5:43) e unirá a todos os que rechaçam ou pervertem o ensino da única
Igreja de Cristo, a Igreja Ortodoxa?

Nosso Salvador mesmo nos advertiu: "Então, se alguém vos disser: Eis aqui está o Cristo, ou ei-lo,
acolá, não deis crédito, porque se levantarão falsos Cristos, e falsos profetas, e farão grandes
milagres e prodígios, de tal modo enganariam se fosse possível, também aos escolhidos. Eis que
eu vo-lo predisse. Assim que, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saias; ou, eis que
ele está no lugar mais retirado da casa, não deis crédito. Porque, assim como o relâmpago que
sai do Oriente e se mostra até ao Ocidente, assim será também a Vinda do Filho do Homem ".
(Mateus 24: 23-27).

A segunda Vinda de Cristo será inconfundível: será repentina, desde o céu (Atos 1:11), e marcará o
fim deste mundo. Para este evento, não há absolutamente uma "preparação", salvo somente a
preparação Cristã Ortodoxa do arrependimento, a vida espiritual e a vigilância. Aqueles que estão
se "preparando" para ele de qualquer outra maneira, que dizem que Ele está em qualquer lugar
"aqui" - especialmente "aqui" no Templo de Jerusalém - ou que pregam que "Jesus virá logo" sem
advertir do grande engano que precederá à Sua Vinda: são claramente os profetas do Anticristo, o
falso Cristo que deve vir primeiro e enganar ao mundo, incluindo a todos os "cristãos" que não são
ou não chegam a serem verdadeiramente Ortodoxos. não haverá futuro "milênio". Para que
possam recebê-Lo, o "milênio" do Apocalipse (Apo. 20: 6) é agora; é a vida da graça na Igreja
Ortodoxa durante todos os "mil anos" entre a Primeira Vinda de Cristo e o tempo do Anticristo 171.
Isto, de que os protestantes devam esperar o "milênio" no futuro é somente sua confissão de que
não vivem n’Ele no presente, ou seja, que estão fora da Igreja de Cristo e não provam a graça
divina.

D. A Ortodoxia deve se unir à apostasia?

Hoje alguns sacerdotes Ortodoxos, dirigidos pelo Pe. Eusebius Stephanou, que tentaram
persuadir-nos de que mesmo a “renovação carismática”, teve seu princípio e continua em
majoritariamente fora da Igreja Ortodoxa, é, contudo, “Ortodoxa”, e inclusive nos advertiram que:
“Não nos permaneçamos de fora”. Mas ninguém que tenha estudado este movimento nas obras
de seus principais representantes, muitas das quais têm sido citadas anteriormente, poderá ter
qualquer dúvida de que esta “renovação”, na medida em que seja “cristão”, é totalmente
protestante em sua origem, inspiração, intenção, prática, “teologia” e fim. É uma forma de
“renovação” protestante, que é um fenômeno que conserva só um fragmento de algo
genuinamente cristão, substituindo o cristianismo por uma histeria emocional “religiosa” cuja
vítima cai no fatal engano de que está “salva”. Se a “renovação carismática” difere da renovação
protestante, esta diferença é então somente quanto à adição de uma nova dimensão dos

171
Assim é o ensino Ortodoxo dos Santos Basílio o Grande, Gregório o Teólogo, André de Cesárea e muitos
outros Padres. Veja Arcebispo Averky, Guia para o estudo do Novo Testamento, Parte II (em russo),
Jordanville, N.Y., 1956, págs. 434-438.

123
fenômenos cripto-espíritas que são mais espetaculares e mais objetivos que a mera renovação
subjetiva.

Este fato evidente só se confirma de maneira surpreendente ao examinar o que Pe. Eusebius
Stephanou tentou fazer-se passar por um “despertar Ortodoxo” em seu periódico The Logos.

Este sacerdote ortodoxo disse a seus leitores que “a Igreja Ortodoxa não está participando do
despertar cristão moderno” (fevereiro de 1972, p. 19). Ele mesmo agora viaja para celebrar
reuniões carismáticas de estilo protestante, junto com o “chamado ao altar” protestante, que vai
acompanhado dos habituais “soluços e lágrimas” característicos das reuniões da renovação
carismática (abril de 1972, p. 4). Pe. Eusébio mesmo com a típica falta de modéstia dos
carismáticos, nos informa que “agradeço e louvo a Deus por derramar algo da luz de seu Espírito
em minha alma em resposta às orações incessantes que tenho feito dia e noite” (fevereiro de
1972, pág.19); e mais tarde se declara abertamente um “profeta” (abril de 1972, p. 3). Não
menciona absolutamente nada da interpretação Ortodoxa dos eventos Apocalípticos e, contudo,
repete a interpretação protestante fundamentalista de Billy Graham do “Arrebatamento” que
precederá ao “milênio”: “se aproxima o dia da Grande Tribulação. Se permanecermos fiéis a Cristo,
seguramente seremos arrebatados para estar com Ele ao som do grito de gozo do arrebatamento
e seremos livrados da horrível destruição que cairá sobre o mundo” 172 (abril de 1972, p. 22). E,
contudo, nem sequer todos os fundamentalistas estão de acordo com este erro 173 que não tem
fundamento nas Sagradas Escrituras174; pois retira daqueles que o seguem toda necessidade de
velar plenamente contra o engano do Anticristo, do qual imaginam que se salvarão.

Tudo isto nem sequer é uma pseudo-ortodoxia; é simplesmente um protestantismo, e nem sequer
o melhor tipo de protestantismo. Em vão é visto o periódico Logos do Pe. Eusébio Stephanou por
uma indicação de que seu “despertar” está inspirado nas fontes da tradição ascética Ortodoxa: a
vida dos santos, os santos Padres, o século de serviços da Igreja, a interpretação ortodoxa da
Sagrada Escritura. Ora! Alguns “carismáticos” ortodoxos, claro, fazem uso de algumas destas
fontes. E, os misturam com “muitos outros livros escritos por cristãos devotos envolvidos com o
movimento carismático” (Logos, março de 1972, p. 16) e assim os leem “carismaticamente”: como
todos os sectários, lendo nos escritos ortodoxos o que têm aprendido de seu novo ensino, que
vem de fora da Igreja.

É muito correto afirmar, sem dúvidas, que um despertar ortodoxo seria muito desejável em nossos
dias, nos quais muitos cristãos Ortodoxos têm perdido o sal do verdadeiro cristianismo, e a
verdadeira e fervente vida cristã Ortodoxa, que de fato, raramente se vê. A vida moderna há se
tornada demasiadamente cômoda; a vida mundana se tornou muito atrativa; para muitos, a

172
Compare com Billy Graham, World Aflame, Doubleday (Pocket Cardinal Ed.), Nova York, 1966, pág. 178; C.
H. Mackintosh, The Lord's Coming, Moody Press, Chicago, pág. 30-31; e muitos outros fundamentalistas.
173
Ver Kurt Koch, Day X, Kregel Publications, Grand Rapids, Mich., p. 116-7.
174
l Tes. 4: 16-17 se refere à Segunda Vida de Cristo, que segundo os Santos Padres vem depois da
"tribulação" e o reinado do Anticristo.

124
ortodoxia tem se convertido simplesmente em uma questão de filiação em uma organização da
igreja ou o cumprimento "correto" de ritos e práticas externas. Haveria suficiente necessidade de
um verdadeiro despertar espiritual Ortodoxo; mas isto não é o que vemos nos ortodoxos
"carismáticos". Assim como os ativistas "carismáticos" entre os protestantes e os católicos
romanos, estão em total harmonia com o espírito da época; não estão em contato vivo com as
fontes da tradição espiritual Ortodoxa, preferindo as técnicas protestantes de renovação
atualmente na moda; são uma só corrente principal do "cristianismo" apóstata de hoje: o
movimento ecumênico. No início de 1978, o Arcebispo Lakovos da Arquidiocese Grega da América
do Norte e do Sul finalmente deu sua aprovação oficial para as atividades do Padre Eusebius
Stephanou, incluir ou permitir que fosse pregado em todas as partes especificamente sobre os
"dons do Espírito Santo"; assim a organização da igreja em sua figura mais modernista e
ecumênica se uniu à "renovação carismática", refletindo o profundo parentesco que os une. No
entanto, o verdadeiro cristianismo nisto não existe.

Existiram verdadeiros ortodoxos "despertados" no passado: se pensarmos imediatamente em São


Cosme de Aitolia, que caminhou de povo em povo na Grécia do século XVIII instando as pessoas a
voltarem-se para o verdadeiro cristianismo de seus antepassados; ou São João de Kronstadt em
nosso próprio século, quem levou a antiga mensagem da vida espiritual Ortodoxa para as massas
urbanas de Petersburgo. Logo estão os instrutores monásticos ortodoxos que verdadeiramente
estavam "cheios do Espírito" e deixaram seus ensinos aos monges, assim como para os leigos dos
últimos tempos: se pensarmos no grego São Simeão o Novo Teólogo no século X, e no russo São
Serafim de Sarov no século XIX. São Simeão é muito mal usado pelos ortodoxos "carismáticos" (ele
estava falando de um Espírito diferente do deles!); e São Serafim é citado invariavelmente fora de
contexto para minimizar sua ênfase e a necessidade de pertencer à Igreja Ortodoxa para ter uma
verdadeira vida espiritual. Na "Conversação" de São Serafim com o leigo Motovilov sobre a
"aquisição do Espírito Santo" (que os ortodoxos "carismáticos" citam sem as partes aqui em
cursiva), este Grande Santo nos disse: "A graça do Espírito Santo que nos foi dada a todos, os fiéis
de Cristo, no sacramento do Santo Batismo, está selada pelo sacramento da Crisma nas partes
principais do corpo, segundo o designado pela Santa Igreja, o guardião eterno desta graça". E de
novo: "O Senhor escuta por igual ao monge e ao simples cristão leigo, desde que ambos sejam
Ortodoxos".

A diferença da verdadeira vida espiritual Ortodoxa, para com a "renovação carismática" é só o


lado experiencial da moda "ecumênica" predominante: um cristianismo falso que trai a Cristo e sua
Igreja. Nenhum ortodoxo "carismático" poderia objetivar a "União" vinda daqueles mesmos
protestantes e católicos romanos com quem, como diz a canção "carismática"
interdenominacional, já são "um no Espírito, um no Senhor", e que os têm guiado e inspirado em
sua experiência "carismática". O "espírito" que tem inspirado a "renovação carismática" é o
espírito do Anticristo, ou mais precisamente, esses "espíritos de demônios" dos últimos tempos
cujos "milagres" preparam o mundo para o falso Messias.

E. "Filhinhos, é a última hora" (1 João 2:18)

125
Desconhecido para os febris "avivadores" ortodoxos, o Senhor Deus tem preservado no mundo,
como nos dias de Elias o Profeta, sete mil Homens que não dobrarão os joelhos ante Baal (Rom.
11: 4). Um número desconhecido de verdadeiros Cristãos Ortodoxos que, não estão mortos
espiritualmente — como os ortodoxos "carismáticos" se queixam de que estavam seus rebanhos
— nem tão pouco pomposamente "cheios do espírito", tal como tais rebanhos teriam se tornado,
segundo sugeriram os mesmos "carismáticos". (Este número de verdadeiros Cristãos Ortodoxos)
não se deixam levar pelo movimento da apostasia nem por nenhum falso "despertar", senão que
continuam enraizados na santa e salvadora Fé da Santa Ortodoxia na tradição que os Santos
Padres lhes transmitiram, observando os sinais dos tempos e recorrendo ao caminho estreito da
salvação. Muitos deles seguem aos Bispos das poucas jurisdições Ortodoxas que têm tomado
posições firmes contra a apostasia de nosso tempo: a Igreja das Catacumbas 175 da Rússia, a Igreja
Russa fora da Russa, os Verdadeiros cristãos Ortodoxos (Veterocalendaristas) da Grécia. Mas
também restam alguns em outras jurisdições, lamentando a apostasia cada vez mais evidente de
seus hierarcas e esforçando-se de alguma maneira para manter intacta sua própria ortodoxia; e
até há outros fora da Igreja Ortodoxa que pela graça de Deus, com o coração aberto a Seu
chamado, sem dúvida alguma se unirão à genuína Santa Ortodoxia. Estes "sete mil" são a base da
futura e única Ortodoxia dos últimos tempos.

E fora da genuína ortodoxia, a escuridão só cresce. A julgar pelas últimas notícias "religiosas", a
"renovação carismática" bem pode ser só o débil começo de toda uma "era de milagres". Muitos
protestantes que haviam discernido a fraude da "renovação carismática" agora aceitam como
"real" a espetacular "renovação" na Indonésia onde, nos foi dito, que realmente estão ocorrendo
"as mesmas coisas que se encontra reportadas nos Atos dos Apóstolos". No espaço de três anos
200.000 pagãos se converteram ao protestantismo sob condições constantemente milagrosas:
ninguém faz nada exceto em absoluta obediência às "vozes" e "anjos" que aparecem
constantemente, geralmente citando as Escrituras por número e versículo; ou água se torna veio
cada vez que chega o serviço da comunhão protestante; aparecem do nada mãos desprendidas
para distribuir refeição milagrosa aos famintos; vê-se que toda uma banda de demônios abandona
uma aldeia pagã porque um "mais poderoso" ("Jesus") veio para tomar seu lugar; os "cristãos"
têm uma "conta atrás" para um pecador impenitente, e quando chegam a "zero", morre; ensinam
para as crianças novos hinos protestantes com vozes que vêm do nada (e repetem a canção umas
vinte vezes para que os meninos a lembrem); "a gravadora de Deus" grava a canção de um coro
de crianças e a reproduz no para as crianças assombradas; o fogo desce do céu para consumir
imagens religiosas católicas ("o Senhor" na Indonésia é muito anticatólico); 30.000 pessoas foram
curadas; "Cristo" aparece no céu e "cai" sobre as pessoas para curá-las; as pessoas são
transportadas milagrosamente de um lugar para outro e caminham sobre a água; as luzes
acompanham aos evangelistas e os guiam pela noite, e as nuvens os seguem e lhes dão abrigo
durante o dia; os mortos ressuscitam176.
175

176
Veja Kurt Koch, The Revival in Indonesia, Kregel Publications, 1970; e Mel Tari, Like a Mighty Wind.
Creation Housea, Carel Stream, 111., 1971.

126
Curiosamente, em algumas partes do "ressurgimento" da Indonésia, o elemento de "falar em
línguas" está quase totalmente ausente e inclusive está proibido (no entanto está presente em
muitos lugares), e o elemento de mediunismo parece as vezes ser substituído por uma intervenção
de espíritos caídos. Bem, pode ser que esta nova "renovação", mais poderoso que o
pentecostalismo, seja uma etapa mais desenvolvida do mesmo fenômeno "espiritual" (assim como
o pentecostalismo em si é mais avançado que o espiritismo) e pressagia a iminência do Terrível dia
em que, como também proclamam as "vozes" e os "anjos" na Indonésia, "o Senhor" há de vir,
porque sabemos que o Anticristo demostrará ao mundo que Ele é "Cristo" mediante estes
"milagres".

Em uma época de trevas e enganos quase universais, quando para a maioria dos "cristãos" Cristo
se converteu precisamente no que o ensino identifica com o anticristo, a Igreja Ortodoxa de Cristo
é a única que possui e comunica a graça de Deus. Este é um tesouro incalculável cuja existência
mesma nem sequer é suspeitada pelo mundo "cristão". O mundo "cristão", de fato, se une às
forças das trevas para seduzir aos fiéis da Igreja de Cristo, confiando em ignorantes da Terrível
advertência do Senhor: "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu
nome, e em teu nome expelimos demônios, e em teu nome fizemos muitos milagres? Então, eu
lhes declararei: Nunca os conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" (Mateus 7:
22-23).
São Paulo continua sua advertência sobre a Vinda do Anticristo com este mandamento: "Assim
pois, irmãos, estejais firmes, e retenham a doutrina que haveis aprendido, seja por palavra, ou
por carta nossa" (II Tes. 2:15). "Mas, mesmo que um de nós, ou um anjo do céu, os anunciar
outro evangelho diferente do que vos temos anunciado, seja anátema. Como antes temos dito,
também agora o repito: se alguém vos pregar um evangelho diferente do que haveis recebido,
seja anátema" (Gal. 1:8-9).

A resposta Ortodoxa a cada nova "renovação", e inclusive a terrível "renovação" final do


Anticristo, é este Evangelho de Cristo, que só a Igreja Ortodoxa tem conservado sem alterações
em uma linha ininterrupta de Cristo e Seus Apóstolos, e a graça do Espírito Santo que só a Igreja
Ortodoxa comunica, e só a seus filhos fiéis, que receberam no Crisma e têm guardado o
verdadeiro selo do Dom do Espírito Santo. Amém!

2. A religião do futuro

É profundamente indicativo do estado espiritual da humanidade contemporânea que as


experiências "carismáticas" e de "meditação" estejam criando raízes entre os "cristãos". É inegável
que uma influência religiosa oriental esteja operando em tais "cristãos", mas isto existe somente
como resultado de algo muito mais fundamental: a perda do mesmo sentimento e sabor do

127
cristianismo, devido ao qual algo tão alheio ao cristianismo como a "meditação" oriental pode
apoderar-se das almas "cristãs".

A vida de egocentrismo e autossatisfação vivida pela maioria dos "cristãos" de hoje é tão
onipresente que efetivamente os isola de qualquer compreensão da vida espiritual; e quando
essas pessoas empreendem a "vida espiritual", é só como outra forma de autossatisfação. Isto
pode ser visto com bastante clareza no ideal religioso totalmente falso tanto do movimento
"carismático" como das diversas formas de "meditação cristã": todas elas prometem (e dão muito
rapidamente) uma experiência de "alegria" e "paz". Mas este não é absolutamente o ideal cristão,
que em todo caso pode se resumir como uma batalha e luta feroz. O "contentamento" e a "paz"
descritos nestes movimentos "espirituais" contemporâneos são claramente o produto do engano
e da autossatisfação espiritual, que é a morte absoluta da vida espiritual orientada a Deus. Todas
estas formas de "meditação cristã" operam unicamente no nível psíquico e não têm nada em
comum com a espiritualidade cristã. A espiritualidade cristã se forma na árdua luta para adquirir o
Reino Eterno dos Céus, que começa plenamente só com a dissolução deste mundo temporal, e o
verdadeiro lutador cristão nunca encontra repouso nem sequer nos avanços da bem-aventurança
eterna que se lhe podem ser outorgadas nesta vida; mas as Religiões orientais, para as que não se
lhes foi revelado o Reino dos Céus, se esforçam unicamente para adquirir estados psíquicos que
começam e terminam nesta vida.

Em nossa era de apostasia que precede à manifestação do Anticristo, o diabo foi liberado em um
momento (Apo. 20: 7) para realizar os milagres falsos que não pode realizar durante os "mil anos"
da graça na Igreja de Cristo (Apo. 20: 3), e recolher em sua infernal colheita a aquelas almas que
"não receberam o amor da verdade" (II Ts. 2: 10). Podemos dizer que o tempo do Anticristo está
verdadeiramente próximo pelo fato de que esta colheita satânica agora está coletando não só
entre os povos pagãos, que não ouviram falar de Cristo, mas mais ainda entre os "cristãos" que
têm perdido o sabor do cristianismo. É da natureza mesma do Anticristo apresentar o reino do
diabo como se fosse de Cristo. O atual movimento "carismático" e a "meditação cristã", e a "nova
consciência religiosa" da que formam parte, são precursores da religião do futuro, a religião da
última humanidade, a religião do anticristo e sua principal função "espiritual" é colocar à
disposição dos cristãos a iniciação demoníaca até aqui restringida ao mundo pagão. Ainda que
estes "experimentos religiosos" sejam de natureza tentativa, e que haja neles ao menos tanto
autoengano psíquico como rito de iniciação genuinamente demoníaco; sem dúvidas, nem todos os
que têm "meditado" com êxito pensam que receberam o "Batismo do Espírito" receberam
realmente a iniciação no reino de Satanás. Mas este é o objetivo destes "experimentos", e não há
dúvida de que as técnicas de iniciação serão cada vez mais eficientes à medida que a humanidade
se prepare para elas mediante as atitudes de passividade e abertura para novas "experiências
religiosas" inculcadas por estes movimentos.

O que há levado a humanidade, e de fato a "cristandade", a este estado de desespero?


Certamente não se trata de uma adoração aberta ao diabo, que sempre se limita a algumas

128
poucas pessoas; no entanto, é algo muito mais sútil, e algo sobre o que um Cristão Ortodoxo
consciente deve refletir: é a perda da graça de Deus, que segue à perda do sabor do cristianismo.

No Ocidente, sem dúvidas, a graça de Deus foi perdida há muitos séculos. Os católicos romanos e
os protestantes de hoje não provam a graça de Deus, fato de que não é surpreendente que sejam
incapazes de discernir sua falsificação demoníaca. Mas infelizmente! O êxito da espiritualidade
falsa, inclusive entre os cristãos ortodoxos de hoje, revela o quanto também têm perdido o sabor
do cristianismo e, portanto, já não podem distinguir entre o verdadeiro cristianismo e o pseudo
cristianismo. Durante demasiado tempo, os cristãos Ortodoxos têm tomado por certo o precioso
tesouro de sua Fé e têm se descuidado do uso do ouro puro de seus ensinos. Quantos cristãos
ortodoxos conhecem sequer a existência dos textos básicos da vida espiritual Ortodoxa, que
ensinam precisamente como distinguir entre a espiritualidade genuína e a falsa, textos que nos
mostram a vida e o ensino de homens e mulheres santos que alcançaram uma abundante medida
da graça de Deus nesta vida? Quantos têm tomados para si os ensinos da História Lausíaca, a
Escada de São João Clímaco, as Homilias de São Macário, as Vidas dos Padres do deserto que
levam a Deus, a Guerra Invisível, Minha Vida em Cristo de São João de Kronstadt?

Na Vida do Grande Padre do deserto egípcio, São Paisius o Grande (19 de junho), podemos ver um
exemplo impactante do quão fácil que é perder a graça de Deus. Uma vez, um discípulo seu
caminhava em direção à uma cidade do Egito para vender sua obra. No caminho se encontrou com
um judeu que, vendo sua, simplicidade começou a enganá-lo dizendo: "Ó querido, por que crês
num homem simples, crucificado, e que não era absolutamente o Messias esperado? Outro está
por vir, mas não é Ele". O discípulo, débil de mente e simples de coração, começou a escutar estas
palavras e se permitiu dizer: "Pode ser que dizes esteja correto". Quando regressou ao deserto, São
Paisius se apartou dele e não lhe disse uma só palavra. Finalmente, depois de uma longa súplica
do discípulo, o Santo lhe disse: "Quem eres tu? Não te conheço. Meu discípulo era cristão e tinha
sobre ele a graça do batismo, mas tu não eres tal; se em verdade es meu discípulo, então a graça
do Batismo te há abandonado e a imagem de um cristão foi apagada". O discípulo entre lágrimas
lhe relatou sua conversa com o judeu, ao que o Santo lhe respondeu: "Ó miserável! O que poderia
ser pior e mais repugnante que essas palavras, pelas quais as que renunciaste a Cristo e seu divino
batismo? Agora veja e chora por ti como queiras, porque não tens lugar comigo; teu nome está
escrito com os que renunciaram a Cristo, e juntos a eles receberás juízo e tormentos". Ao escutar
este juízo, o discípulo se encheu de arrependimento, e ante sua súplica o Santo se fechou e rogou
ao Senhor que perdoasse o pecado de seu discípulo. O Senhor escutou a oração do Santo e lhe
outorgou um sinal de seu perdão ao discípulo. O Santo lhe advertiu então: "Ó filho, da glória e
ação de graças a Cristo Deus junto comigo, porque o espírito ineficaz e blasfemo se há apartado de
ti, e em seu lugar desceu sobre ti o Espírito Santo, restaurando-te o espírito de graça do Batismo.
Portanto, cuida-te agora, para que não seja que por preguiça e descuido as redes do inimigo caiam
sobre ti de novo e, havendo pecado, escutes o fogo da geena".

Significativamente, é entre os "cristãos ecumênicos" onde se têm arraigado os movimentos


"carismáticos" e de "meditação". A crença característica da heresia do ecumenismo é esta: que a

129
Igreja Ortodoxa não é a única Igreja verdadeira de Cristo; que a graça de Deus está presente
também em outras denominações "cristãs", e inclusive em Religiões não cristãs; que o estreito
caminho da salvação segundo o ensino dos Santos Padres da Igreja Ortodoxa é só "um caminho
entre muitos" em direção à salvação; e que os detalhes da crença de alguém em Cristo são de
pouca importância, como o é a de pertencer a uma igreja em particular. Nem todos os
participantes ortodoxos no movimento ecumênico creem nisto completamente (no entanto os
protestantes e os católicos romanos certamente o creem); mas por sua mesma participação neste
movimento, que inclusive invariavelmente a oração comum com aqueles que creem
erroneamente acerca de Cristo e sua Igreja, lhes dizem aos hereges que os contemplam: "Pode ser
que o que dizes seja correto", tal como fez o descuidado discípulo de São Paisius. Não se requer
mais que isto para que um cristão ortodoxo perda a graça de Deus; E quanto trabalho lhe custará
recuperá-la!

O quanto, então, devem caminhar os cristãos ortodoxos no temor de Deus, tremendo para não
perder sua graça, que de nenhuma maneira é dada a todos, senão somente a aqueles que têm a
verdadeira Fé, e levam uma vida de luta cristã e atesouram a graça de Deus que os guia em
direção ao Céu. E quanto mais cauteloso devem caminhar os cristãos ortodoxos hoje sobre tudo,
quando estão rodeados de um cristianismo falso que dá suas próprias experiências de "graça" e do
"Espírito Santo", podendo citar abundantemente as Escrituras e os Santos Padres para "prevenir"
isso! Seguramente estão próximos os últimos tempos, quando virá um engano espiritual tão
persuasivo que enganará, "se fosse possível, até aos escolhidos" (Mat. 24:24).
Os falsos profetas da era moderna, inclusive muitos que são oficialmente "ortodoxos", anunciam
cada vez mais em alta voz o iminente advento da "nova era do Espírito Santo", o "Novo
Pentecostes", o "Ponto Ômega". Precisamente o que, na genuína profecia ortodoxa, se chama o
reinado do Anticristo. É em nosso próprio tempo, hoje, que esta profecia satânica começa a
cumprir-se, através do poder demoníaco. Toda a atmosfera espiritual contemporânea está
carregada com o poder de uma experiência de iniciação demoníaca à medida que o "Mistério da
Iniquidade" entra em sua penúltima etapa e começa a tomar possessão das almas dos homens, de
fato, a tomar possessão da mesma Igreja de Cristo, se isso fosse possível.

Contra esta poderosa "experiência religiosa", os verdadeiros cristãos ortodoxos devem armar-se
agora a sério, tornando-se completamente conscientes do que é o cristianismo ortodoxo e de como
seu objetivo é diferente ao de todas as demais religiões, "cristãs" ou não cristãs.

Cristãos Ortodoxos! Agarram-se à graça que tens; nunca deixes que se converta em uma questão
de costume; nunca o meça por padrões meramente humanos nem esperes que seja lógico ou
compreensível para aqueles que não entendem nada mais alto que o que é humano ou que
pensam obter a graça do Espírito Santo de alguma outra maneira que não seja a que a única Igreja
de Cristo há transmitido para nós. A verdadeira Ortodoxia, por sua própria natureza, deve parecer
totalmente fora de lugar nestes tempos demoníacos, uma minoria crescente de despreciados e
"loucos", em meio de uma "renovação" religiosa inspirada por outro tipo de espírito. Mas

130
consolemo-nos nas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo: "Não temas, ó pequenino rebanho,
porque a vosso Pai lhe agrada dar-vos o reino" (Lucas 12:32).

Deixemos que todos os verdadeiros Cristãos Ortodoxos se fortaleçam para a batalha que se
avizinha, sem esquecermos nunca que em Cristo a vitória já é nossa. Ele prometeu que as portas
do inferno não prevaleciam contra sua Igreja (Mat. 16:18), e que para o bem dos eleitos encurtará
os dias da última grande tribulação (Mat. 24:22). E em verdade, se Deus está por nós, "quem
poderá contra nós?" (Rom. 8:31) inclusive em meio das mais cruéis tentações, Ele nos manda
termos bom ânimo; "mas confiem, Eu venci o mundo" (João 16:33). Vivamos, como têm vivido os
verdadeiros cristãos de todos os tempos, esperando o fim de todas as coisas e a Vinda de nosso
amado Salvador; porque "Ele que testifica estas coisas disse: Sim, venho logo. Amém! Venha,
Senhor Jesus" (Apo. 22: 20).

Epílogo
JONESTOWN e os 80

Este livro foi deliberadamente "subestimado". Nossa intenção foi a de apresentar uma visão a
mais tranquila e objetiva possível das atitudes religiosas não cristãs que estão preparando o
caminho para a "religião do futuro"; apenas temos tocado algumas das "histórias de terror" que
podemos citar de algumas das seitas mencionadas neste livro: histórias reais que revelam o que
sucede quando nossa participação com os poderes demoníacos invisíveis se completa e um
homem se converte em uma ferramenta disposta de seus maus propósitos.

131
Mas então, nas vésperas da publicação da nova edição deste livro, o mundo inteiro se deu conta
de repente de uma destas "histórias de terror": o suicídio massivo de Jim Jones e mais de 900 de
seus seguidores de sua comuna marxista-religiosa de "Jonestown" nas selvas da Guiana, na
América do Sul.

Não se podia ter imaginado um "sinal dos tempos" mais chamativo; Jonestown é um claro pré-
aquecimento, e uma profecia, do futuro da humanidade.

A impressa secular, compreensivelmente, não sabia muito bem o que fazer com este monstruoso
evento. Parte da imprensa estrangeira o tomou como um simples exemplo de mais violência e
extremismo estado-unidenses; a imprensa estado-unidense descreveu a Jim Jones como um
"louco" e o evento em si mesmo como resultado da influência maligna das "seitas"; jornalistas
mais honestos e sensíveis admitiram que a magnitude e o grotesco de todo o fenômeno os
desconcertaram.

Poucos observadores viram a Jonestown como um sinal autêntico de nosso tempo, uma revelação
do estado da humanidade contemporânea; mas há muitos indícios de que efetivamente foi assim.

O mesmo Jim Jones estava indiscutivelmente em contacto com a corrente principal do mundo
político-religioso de hoje. Seu passado religioso como "profeta" e "curador" capaz de fascinar e
dominar a certos tipos de homens modernos inquietos e "inquisitivos" (principalmente negros
urbanos de classe baixa), lhe deu um lugar respeitado no expecto religioso estado-unidense,
bastante mais aceitável que nossos tempos mais tolerantes que seu herói de uma geração
anterior, o "Padre Divino". Suas inumeráveis "boas ações" e inesperadamente generosos
presentes aos necessitados, o converteram em um representante destacado do cristianismo
"liberal" e chamaram a atenção do stablishment político liberal da Califórnia, onde sua influência
aumentava ano após ano. Entre seus admiradores pessoais se encontravam o prefeito de São
Francisco, o governador da Califórnia e a esposa do presidente dos Estados Unidos.

Sua filosofia política marxista e sua comuna na Guiana o colocaram na respeitável vanguarda
política; o vice governador da Califórnia visitou pessoalmente Jonestown e ficou impressionado
favoravelmente, assim como outros observadores externos. Mesmo tendo havido queixas,
especialmente no último ano ou dois, contra a forma as vezes violenta de Jones de dominar a seus
seguidores, inclusive este aspecto de Jonestown estava dentro dos limites permitidos pelo
Ocidente liberal para os governos comunistas contemporâneos, que não se olhavam com
demasiado desagrado nem sequer por liquidar a algumas centenas, milhares ou milhões de
dissidentes.

Jonestown foi um experimento completamente "moderno", completamente contemporâneo; mas


qual foi o significado de seu final espetacular?

132
O fenômeno contemporâneo que pode ser que esteja mais próximo ao espírito da tragédia de
Jonestown é um que à primeira vista poderia não estar associado com ele: a rápida e brutal
liquidação por parte do governo comunista do Camboja, em nome do brilhante futuro da
humanidade, de talvez dois milhões de pessoas inocentes. - Uma quarta parte ou mais da
população total do Camboja. Este "genocídio revolucionário", pode ser o caso mais deliberado e
cruel até agora no sangrento século XX, é um paralelo exato do "suicídio revolucionário" 177 em
Jonestown: em ambos os casos, o puro horror da morte em massa se justifica como pavimentação
ou caminho para o futuro perfeito prometido pelo comunismo até uma humanidade "purificada".
Estes dois eventos marcam uma nova etapa na história do "Arquipélago Gulag" - a corrente de
campos de concentração desumanos que no ateísmo foi estabelecido para transformar a
humanidade e abolir o cristianismo.

Em Jonestown se demostra uma vez mais a incrível precisão do diagnóstico da mente


revolucionária do século XIX de Dostoyevsky: uma figura chave em sua novela os possuídos (mais
precisamente, os demônios) é Kirillov, quem crê que o ato final que prova que se tornou Deus é
precisamente um suicídio. Para pessoas "normais", claro, não há como entender tal lógica; mas a
história raramente faz pessoas "normais", e o século XX tem sido por excelência o século do
triunfo de uma "lógica revolucionária" que é colocada em prática por homens que se tornaram
completamente "modernos" e renunciaram conscientemente aos valores do passado, e
especialmente a verdade do cristianismo. Para quem crê nesta "lógica", os suicídios de Jonestown
são um Grande ato revolucionário que "prova" que não existe Deus e apontam à proximidade do
governo totalitário mundial cujo "profeta" Jones mesmo queria ser. O único arrependimento por
este ato nessas mentes foi expressado por um dos residentes de Jonestown, cuja nota de último
minuto foi encontrada no corpo de Jones: "Pai: não vejo saída, estou de acordo com tua decisão,
só temo que sem ti, o mundo não poderia chegar ao comunismo"178. Todos os ativos da comuna de
Jonestown (uns sete milhões de dólares) foram doados ao Partido Comunista da URSS (The New
York Times, Dee. 18, 1978, p. 1).

Jonestown não foi um ato isolado de um "louco"; é algo muito próximo a todos os movimentos
que vivemos nestes tempos. Um jornalista sentiu isto quando escreveu sobre Jones (com quem
teve algum contato pessoal em São Francisco): "Seu poder quase religioso e definitivamente
místico, sua maldade bem escondida, de alguma maneira deve ser interpretada como uma pista do
mistério que é a década de 1970". (Herb Caen, The Suicide Cult, pág. 192).

A fonte deste "poder místico" não é difícil de ser descoberta. A religião do "Templo do Povo" não
era nem remotamente cristã (apesar de que Jim Jones, seu fundador, era um ministro ordenado
dos "Discípulos de Cristo"); devia muito mais à experiência espírita de Jones nos anos 50, quando
estava formando sua visão do mundo. Afirmou não ser simplesmente a "reencarnação" de Jesus,
Buda e Lenin; senão que declarou abertamente que era um "oráculo ou médium para entidades
177
O nome que lhe deu o próprio Jones e os fanáticos que ajudaram a realizar; veja a revista Time, 4 de
dezembro de 1978, pág. 20.
178
Marshall Kilduff e Ron Javers, The Suicide Cult, Bantam Books, 1978, pág. XVI.

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desencarnadas de outra galáxia"179. Em outras palavras, se entregou ao poder dos espíritos
malignos, que sem dúvida desencadearam seu ato final de loucura "lógica". Jonestown não pode
ser entendido a margem da inspiração e atividade dos demônios; de fato, esta é a razão pela qual
os jornalistas seculares não podem entendê-lo.

É muito provável que Jonestown não seja mais que o começo de coisas muito piores que viriam na
década de 1980, coisas nas quais que somente aqueles com a Fé cristã mais profunda e clara
podem sequer atrever-se a pensar. Não se trata simplesmente de que a política esteja se tornando
"religiosa" (porque os massacres no Camboja foram atos realizados com "religião", ou seja, com
fervor demoníaco), ou que a religião está tornando-se "política" (neste caso de Jonestown); coisas
já têm ocorrido antes. No entanto, pode ser que agora estejamos começando a ver, em atos
históricos concretos, a mesclagem particular de religião e política que parece ser necessária para
os fanáticos do Anticristo, o líder político-religioso da última humanidade. Este espírito, sem
dúvida, já esteve presente até certo ponto nos primeiros regimes totalitários do século XX; mas a
intensidade do fervor e a devoção necessários para o suicídio em massa (em oposição ao
assassinato em massa, que foi cometido muitas vezes em nosso século) converte a Jonestown em
um marco no caminho em direção a iminente culminação dos tempos modernos.

Satanás, aparentemente, agora está entrando nu na história da humanidade. Os anos vindouros


prometem ser mais terríveis do que ninguém pode facilmente conceber.

Este estouro de energia inspirada por Satanás levou a quase 1000 pessoas ao suicídio
revolucionário; que a dos muitos outros enclaves de energia satânica, alguns muito mais
poderosos que este pequeno movimento, que até não foram manifestados?

Uma visão realista do estado religioso do mundo contemporâneo é suficiente para inspirar temor
e estremecimento a qualquer cristão ortodoxo sério por sua própria salvação. As tentações e
provas que nos esperam são imensas: "porque então será grande a “tribulação, como nunca foi,
desde o princípio do mundo até agora”, nem jamais será". (Mateus 24:21). Algumas destas
provas virão junto aos agradáveis enganos, das "falsos milagres e prodígios" que começamos a ver
inclusive agora; outras virão do mal feroz e no que já é visível em Jonestown, Camboja e o
Arquipélago Gulag. Aqueles que desejam ser verdadeiros cristãos nestes espantosos dias, é melhor
que comecem a tomar a sério sua Fé, aprendendo o que é o verdadeiro cristianismo, aprendendo
a orar a Deus em espírito e em verdade, aprendendo a saber quem é Cristo, em Quem somente no
qual temos a salvação.

179
Neil Duddy and Mark Albrecht, "Questioning Jonestown" in the periodical Radix, Berkeley, Ca., Jan.- fev.,
1979, p.15.

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