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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO - FDRP


DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO E DE PROCESSO CIVIL

GABRIELA BEATRIZ SILVA LEITE

O valor social das cooperativas e a importância do FATES

Pesquisador responsável

Prof. Dr. Gustavo Saad Diniz

Ribeirão Preto

Junho/2022
1. Título: O valor social da sociedade cooperativa e a importância do FATES

Instituição sede: Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de


São Paulo (FDRP/USP)
Professor responsável: Gustavo Saad Diniz

2. Resumo: O projeto objetiva avaliar as peculiaridades, a instrumentalidade e o valor


social das sociedades cooperativas, em especial, quanto ao destino e função do
FATES - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social. A pesquisa se justifica
por dois motivos: considerada a importância de encarar a sociedade cooperativa além
da funcionalidade capitalista, deve-se observá-la pelo viés social e pelos benefícios
que gera à comunidade cooperativa, seja pela possibilidade de emancipação
econômico-social, seja pelo potencial de gerar ganhos diretos no patrimônio do
cooperado. Secundariamente, tendo em vista a pouca disponibilidade de investigações
relativas a sociedades cooperativas, a proposta é trabalhar um tema pouco explorado
a fim de corroborar com os estudos na área. Para análise, propõe-se avaliações
bibliográficas e a metodologia de estudo de caso, com metodologia dedutiva, que
contam com fases de levantamento de dados documentais, pareceres de especialistas
e informações colhidas com próprios cooperados e de cooperativas. Como resultados,
espera-se a possibilidade de avaliar com melhor discernimento no que se refere a
adequada utilização do FATES, além do próprio fomento à pesquisa sobre as
Sociedades Cooperativas.

3. Justificativa

O nascimento da sociedade cooperativa se deu como entidade não lucrativa,


mas de prática de trabalho ou forma de obter determinado bem ou serviço, que visava
à inserção de determinado grupo no mercado, norteado por princípios de estímulo
social dos membros. A gênese dos Pioneiros de Rochdale permitiu compreender esse
tipo societário a partir do mutualismo entre os sócios, com definição de uma identidade
cooperativa principalmente a partir dos ganhos sociais gerados pela geração de mais
valia, escoamento de produção em escala e rateio de sobras operacionais
proporcionalmente à produção de cada sócio.
Nesse sentido, o interesse dos cooperados por meio dos serviços prestados
atribuem natureza específica na busca pelo desenvolvimento da atividade econômica
das cooperativas. Com as diversas organizações em grupos e transformações da
realidade econômica, a sociedade cooperativa também tem que assumir postura
atuante, agindo de modo competitivo e eficiente perante o mercado e garantindo os
interesses e a satisfação dos cooperados.
Justifica-se também, dessa forma, que o estudo das sociedades cooperativas
seja ampliado e reconheça um modo de operar além da sua origem, tendo em vista as
alterações modernas que se configuram diariamente, uma vez que “ao lado das
coletividades civis e das comerciais, devemos ter as sociedades cooperativas, como
gênero próprio, regidas por regras próprias, com princípios, valores e ética próprias,
estudadas por um ramo academicamente autônomo do Direito, que é o Direito
Cooperativo. (BECHO, 2002, p. 53).”
Não bastassem tais características demarcadoras da identidade cooperativa,
ainda é preciso constar que essas estruturas societárias, no direito brasileiro, devem
manter investimentos para a emancipação econômica dos associados. Para tanto,
determinou-se a criação de um fundo especial, reservado exclusivamente para a
geração de benefícios sociais ao cooperado, seus familiares e funcionários. Assim,
prevê o art. 28, inciso II, da Lei nº 5.764/71 (LCoop):
Art. 28. As cooperativas são obrigadas a constituir:
II - fundo de assistência técnica, educacional e social, destinado à
prestação de assistência aos associados, seus familiares e, quando
previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa, constituído de
5% (cinco por cento), pelo menos, das sobras líquidas apuradas no
exercício.
Não bastasse tal preceito, a LCoop ainda prevê no 2º, do mesmo art. 28:
§ 2º. Os serviços a serem atendidos pelo fundo de assistência técnica,
educacional e social poderão ser executados mediante convênio com
entidades públicas e privadas.
Dessa forma, o FATES se compõe com retenção de sobras líquidas e com o
resultado de operações realizadas com não cooperados (art. 87 da LCoop) de modo a
serem utilizados em favor dos cooperados em atividades de melhora técnica e
educacional, sem que isso seja efetivamente definido em lei. A prática acaba revelando
alternativas aos gestores da cooperativa, que nem sempre geram segurança para a
utilização desse fundo indivisível.
As cooperativas não devem ser entendidas como entes isolados, mas sim
como sociedades capazes de estabelecer relações e se organizar no mercado além
do art. 88 da LCoop, inclusive em grupos concentrados e com captação de
investimento diversa, a fim de expandir suas possibilidades de organização e gestão
de fundos, desde que, evidentemente, em busca do seu propósito social em interesse
dos cooperados.
Visto a importância das sociedades cooperativas como parte do sistema que
atua tanto socialmente quanto no mercado, e os poucos estudos sobre sua relevância,
o presente projeto de pesquisa pretende fomentar as discussões acadêmicas acerca
das sociedades cooperativas, além de sua função e do alcance de seus objetivos por
meio do fundo. Além disso, deve ser analisada a melhor forma de operacionalizar os
Fundos e qual seria o mais adequado destino do FATES.

4. Objetivos

Identificar quais procedimentos de escolha e destinação do FATES estão


sendo adotados e quais deveriam ser adotados para garantir o alinhamento com valor
social das sociedades cooperativas.

Entre os objetivos específicos estão:

● Analisar a natureza jurídica e forma de constituição do FATES;


● Especificar os usos possíveis do FATES, de modo a garantia que a
cooperativa cumpra a sua função social;
● Analisar a destinação do FATES em caso de crise da cooperativa e
também no caso de dissolução, liquidação e extinção da sociedade.
● Verificar, na prática do cooperativismo, seja por contato com cooperativa,
seja pela doutrina e jurisprudência, as formas de utilização da FATES e
a compatibilidade com o sistema jurídico.
5. Métodos

Considera-se que, dentre os métodos, um dos possíveis para abarcar esse


objeto de pesquisa é o estudo de caso, que é conceituado por Robert K. Yin (2015, p.
17) como “uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo (o
“caso”) em profundidade e em seu contexto de mundo real, especialmente quando os
limites entre o fenômeno e o contexto puderem não ser claramente evidentes”.
Conforme se depreende, o método de estudo de caso não se confunde com
o experimento, uma vez que o pesquisador não tem controle sobre as variáveis que
influenciam seu objeto, mas também não se trata do método histórico, já que visa a
investigar um fenômeno contemporâneo. Assim, trata-se de uma pesquisa qualitativa
que cujo material de análise precisa refletir a mesma complexidade do objeto (GIL,
2009, p. 19). Por isso, não se exclui os instrumentos de coleta de dados de campo
(VERGARA, 2012, p. 2).
Após os resultados obtidos na primeira etapa da pesquisa, permite que seja
somada à avaliação externa do objeto de estudo, realizada por meio do levantamento
da legislação, uma avaliação interna, permitindo a compreensão sob a perspectiva
dos membros que compõem as Sociedades Cooperativas.
Esse tratamento dos dados, em ambos os levantamentos a serem realizados,
segue os parâmetros estabelecidos na literatura, quais sejam: (i) redução; (ii) exibição;
(iii) e interpretação (GIL, 2009, p. 100).
A primeira etapa consiste na redução da complexidade dos dados obtidos
das diversas fontes selecionadas. Por conta disso, é nela em que ocorrem processos
de seleção, para detectar possíveis falhas no levantamento, e codificação, que
consiste na classificação dos dados conforme determinadas categorias e atribuição de
um código a cada dado colhido (MARCONI; LAKATOS, 2012, p. 20).
A codificação realizada na primeira etapa é fator essencial para o sucesso da
segunda etapa do tratamento dos dados, que consiste na decisão sobre a forma de
exibição das informações. No caso da pesquisa qualitativa, é comum a utilização de
matrizes e diagramas (GIL, 2009, p. 104).
Por fim, o processo de interpretação dos dados tratados é aquela fase mais
desafiadora na utilização do estudo de caso como metodologia, posto que não existe
consenso sobre a ferramenta adequada para a construção de significados, mas um
amplo rol de possibilidades. Portanto, especifica-se como roteiro metodológico:

● organizar sistematicamente casos práticos e doutrinas;


● categorizar os principais pontos críticos identificados pela literatura;
● identificar os atores (especialistas e cooperados) capazes de responder
os questionamentos propostos;
● realizar a compilação resultante da bibliografia, respostas obtidas e
dados coletados;
● elaborar o relatório final da pesquisa.

6. Detalhamento das atividades a serem desenvolvidas pela bolsista

As atividades realizadas pelo bolsista elaboração da metodologia da


pesquisa exploratória que nesta etapa da pesquisa será: (i) categorização do material
coletado; (ii) estudo de casos; (iii) investigação com pareceres e atores envolvidos; (iv)
compilação dos dados e (v) análise dos resultados.

7. Resultados previstos e seus respectivos indicadores de avaliação

Como resultado, objetiva-se a redação de relatório de pesquisa que seja


capaz de transmitir as principais medidas que estão sendo realizadas pelos envolvidos
no processo de seleção, regulação e implementação do FATES. Para tanto, prevê-se
como contribuições subsidiárias da pesquisa a descrição das concordâncias, lacunas
e pontos para aperfeiçoamento.
A proposta de disseminação dos resultados alcançados é a publicação de
artigos sobre o tema e demais alternativas de divulgação que forem pertinentes.
A avaliação dos resultados da pesquisa será feita por meio do fator de
impacto do relatório de pesquisa publicado e por meio do acolhimento por parte de
agentes públicos ou privados das medidas de aperfeiçoamento sugeridas.

8. Cronograma de execução
A proposta de pesquisa é que sua realização ocorra no prazo de 12 meses
após aprovação pelo órgão financiador, conforme etapas e prazos estipulados na
tabela a seguir:

Mês Medida 1 2 3 4 5 6

Levantamento de doutrina, legislação x x x


e críticas de diversos autores

Identificação e estudo dos principais x x x


conceitos envolvidos: capital social,
fundos e FATES

Mês Medida 7 8 9 10 11 12

Aplicação dos instrumentos de coleta x x x


de dados

Sistematização dos dados levantados x x

Redação do relatório final x

9. Bibliografia

BECHO, Renato Lopes. Elementos do direito cooperativo. São Paulo: Dialética, 2002.

BRAGA, Ricardo Peake. Cooperativas à luz do Código civil. Quartier Latin; 1ª edição,
2006.

BULGARELLI, Waldírio. As sociedades cooperativas e a sua disciplina jurídica. 1998.

BULGARELLI, Waldírio. Elaboração do direito cooperativo: um ensaio de autonomia.


São Paulo: Atlas, 1967.

BULGARELLI, Waldírio. Regime jurídico das sociedades cooperativas. São Paulo:


Livraria Pioneira, 1965.

DINIZ, Gustavo Saad. O paradoxo do autofinanciamento das cooperativas. Revista


Direito Empresarial (Curitiba) , v. 14, p. 135-154, 2010.

DINIZ, Gustavo Saad. Grupos de cooperativas. REVISTA DIREITO EMPRESARIAL


(CURITIBA) , v. 14, p. 185-205, 2017.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

FRANKE, Walmor. Direito das sociedades cooperativas: direito cooperativo, 1973.

GIL, Antonio Carlos. Estudo de caso. São Paulo: Atlas, 2009.

IRION, João Eduardo. Cooperativismo e economia social. São Paulo: STS, 1997.

KRUEGER, Guilherme. A disciplina das cooperativas no novo código civil: a ressalva


da lei 5.764/71. In: BECHO, Renato Lopes (Coord.). Problemas atuais do direito
cooperativo. São Paulo: Dialética, 2002.

KRUEGER, Guilherme (Coord). Comentários à legislação das sociedades


cooperativas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2007.

KRUEGER, Guilherme (Coord). Cooperativismo e o novo código civil. Belo Horizonte:


Mandamentos, 2003.

MAFFIOLETTI, Emanuelle Urbano. As sociedades cooperativas e o regime jurídico


concursal. São Paulo. Almedina. 2015.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 7. ed.


São Paulo: Atlas, 2012.

NAMORADO, Rui. Introdução ao direito cooperativo: para uma expressão jurídica da


cooperatividade. Coimbra: Almedina, 2000.

PERIUS, Vergílio Frederico. Cooperativismo e lei. São Leopoldo. 2001.

POLÔNIO, Wilson Alves. Manual das sociedades cooperativas. 3. ed. São Paulo.
Atlas, 2004.

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de coleta de dados no campo. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2012.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5. ed. Porto Alegre:


Bookman, 2015.

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