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DEZ 23
JAN24
N0 196 | R$ 30
neutralizadas
até 160.000 km
com créditos gerados
da Floresta Amazônica
Nós nos inspiramos na natureza para criar o inovador Kia Niro HEV. Um SUV híbrido com consumo eficiente de combustível
que chega para estabelecer um novo padrão em sustentabilidade. Projetado com o cuidado na redução do impacto
ambiental, desde o uso de materiais reciclados em seu interior até a escolha de tintas à base de água em sua pintura. E,
para amplificar nossa iniciativa sustentável, todos os veículos Niro vendidos a partir de 01/09/23 até o final de 2023, terão
suas emissões de CO2 neutralizadas até 160.000 km através de créditos de carbono gerados da Floresta Amazônica.
Saiba mais em www.kia.com.br/niro.
COLABORADORES: Amalia Safatle, Caroline Marino, Daniel Salles, Jennifer Ann Thomas, Lia Hama, Martina Medina e Miriam Sanger (texto);
Laís Rigotti (revisão); Marcelo Calenda e Zé Otavio (ilustração)
ESTÚDIO DE CRIAÇÃO
DIRETOR: Rodrigo Buldrini
EDITORES DE ARTE ASSISTENTES: Clayton Rodrigues e Daniel Pastori
DESIGNERS: Demetrios Cardozo, Felipe Yatabe, Pablo Gonzalez e Thiago de Jesus
COLABORADORA: Lessandra Martins (designer)
MERCADO ANUNCIANTE (ENTRETENIMENTO, SAÚDE E TURISMO): Barbara Roberta DIRETOR DE NEGÓCIOS (GOVERNO – SERVIÇOS
SEGMENTOS: FINANCEIRO – IMOBILIÁRIO Ferreira Conte EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: André Frascá PÚBLICOS SOCIAIS – ENERGIA): Luiz Fernando
– INFRA/LOG – INDÚSTRIA/ENERGIA Scorvo, Arthur Alves de Carvalho, Cesar Augusto Manso EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: Robert de Souza
DIRETOR DE NEGÓCIOS: Emiliano Morad Hansenn Picchi Daltozo, Eliana Lima Fagundes e Jessica Arslan Correa (ENERGIA), Claudia Cubeiro (GOVERNO)
GERENTES DE NEGÓCIOS: Catarina Augusta e Marcelo Valentim (PUBLICIDADE LEGAL)
Pedroso dos Santos e João Carlos Meyer ESCRITÓRIOS REGIONAIS
COORDENADORA DE NEGÓCIOS (PUBLICIDADE LEGAL): SEGMENTO: AGRONEGÓCIO COORDENADOR GERAL DE PME E NOVOS NEGÓCIOS:
Francimaria Pacheco da Silva Santos EXECUTIVOS DIRETORA DE NEGÓCIOS: Thaís Éboli Haddad GERENTE Fabio Paz do Lago COORDENADORES DE ÁREA:
DE NEGÓCIOS: Bruna Serrajordia Ros, Fabio DE NEGÓCIOS: Diana Maes COORDENADORA DE NEGÓCIOS Cyro Marçal e Jorge Guaiacy COORDENADORA
Bastos Ferreira de Andrade, Juliana Fernandes, DE TELEMARKETING: Valéria Brasil EXECUTIVO DE
(AGRONEGÓCIO): Cristiane Nogueira EXECUTIVA DE
Renata Ritzmann e Selma Teixeira da Costa NEGÓCIOS (CORRETORES): Miguel Fernandes
NEGÓCIOS: Ana Carolina Lima e Rodrigo Kanno
SEGMENTOS: EDUCAÇÃO – MONTADORAS – VAREJO
COORDENADORA DE NEGÓCIOS EDITORA GLOBO BRASÍLIA
– TELECOM – TECNOLOGIA – ELETRÔNICOS –
| EDIÇÕES GLOBO CONDÉ NAST: Renata Dias DIRETOR DE NEGÓCIOS: Luiz Fernando
ENTRETENIMENTO – SHOPPING – MÍDIA
Manso COORDENADORA ÁREA COMERCIAL:
DIRETORA DE NEGÓCIOS: Lilian Cassamassimo Baima
RIO DE JANEIRO Luciana Gomes de Oliveira Burnett
COORDENADORA DE NEGÓCIOS: Alecsandra Regina
da Cruz Altran EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: Cristina DIRETOR DE NEGÓCIOS: Marcelo Lima da Cunha
Mattos GERENTES DE NEGÓCIOS: Alessandra DESENVOLVIMENTO COMERCIAL
Furuko, Flávia Marangoni, Karina Penachio
Primon, Renata de Carvalho e Renato Arellas de Oliveira Correa Fernandes (ALIMENTOS E DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO COMERCIAL:
BEBIDAS – INDÚSTRIA – SAÚDE), Darlene Bastos Fernando Bovo G.LAB: Edward Pimenta
SEGMENTOS: MODA – BELEZA – HIGIENE Campos Machado (VAREJO) e Monica Monnerat PROJETOS ESPECIAIS (RJ/SP): Leonardo André
DOMÉSTICA E PESSOAL – DECORAÇÃO – SAÚDE C. da Gama e Silva (BELEZA – MODA – SHOPPING) EVENTOS (RJ): Christiano Coimbra
– CIAS AÉREAS – TURISMO – PUERICULTURA EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: André Rodrigues Ramos, EVENTOS (SP): Daniela Valente
– ALIMENTOS E BEBIDAS – OUTROS Beatriz dos Santos Alves, Claudia de Carvalho
DIRETORA DE NEGÓCIOS: Olivia Cipolla Bolonha Coutinho, Daniela Nunes Lopes, Kalinka Martins OPERAÇÕES COMERCIAIS
COORDENADORA DE NEGÓCIOS (DECORAÇÃO): Fátima Valadares de Araújo e Marley Ramos Trindade GERENTE DE OPERAÇÕES COMERCIAIS:
Regina Ottaviani COORDENADORA DE NEGÓCIOS Anderson Góes Silva
O Bureau V Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verificação,
adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa - Ano 2012,
da Editora Globo S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa
dos dados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em
conformidade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
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FUNDOS DE INVESTIMENTO PREMIADOS*
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A CAIXA Asset oferece um portfólio completo com
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NOTA MÁXIMA
PELAS AGÊNCIAS
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*Fonte: Revista Investidor Institucional - edição 359.
Material informativo. Antes de investir, leia o Regulamento e a Lâmina de Informações Essenciais.
Rentabilidade obtida no passado não representa garantia de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não
é líquida de impostos. Investimentos em fundos não são garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito - FGC.
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10 Editorial CAPA
ilustração: Marcelo Calenda
CAPA
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COMO VAMOS SALVAR A TERRA
PARA EVITAR OS PIORES EFEITOS DA CRISE CLIMÁTICA, É PRECISO INVESTIR EM SOLUÇÕES
INOVADORAS E DIZER ADEUS AOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
SEÇÕES ARTIGOS
98
Tecnologias verdes
Gernot Wagner e os
riscos das soluções
tecnológicas para o clima
13 20 27 106
Hub Persona Além do Vale Trabalho com 102
Em um Web Summit O investidor argentino A capital mexicana Propósito Na Fronteir@
Lisboa sem estrelas, o Hernán Kazah analisa recebe um parque Como Daniel Morais Eduardo Matias e a luta
entusiasmo ficou por o ecossistema sustentável com cara conecta voluntários, contra a desinformação
conta das startups latino-americano de avenida verde ONGs e empresas nas redes sociais
104
Ruptura
Guilherme Horn e as
iniciativas científicas que
O que é o G.LAB O G.LAB elabora conteúdos de qualidade patrocinados por empresas que são bem-sucedidas, mesmo
contratam seus serviços. Eles são identificados por expressões como “apresenta”, “apresentado
O que é o G.LAB por”, “oferecimento”, “especial publicitário”, “conteúdo publicitário”, “publieditorial” e “promo”. em um país pequeno
EDITORIAL
A HORA É AGORA
UEM ME CONHECE sabe parte do consumidor e dos demais stakeholders para que
que sou otimista. Mas as as empresas e os governos participem ativamente da tran-
COPs, como são conhe- sição para uma economia de baixo carbono. Nessa jor-
cidas as conferências do nada, a inovação será uma importante aliada. Reunimos
H U B
AUTÔNOMOS
SOB PRESSÃO
NA BERLINDA Acidentes envolvendo táxis sem motoristas em São Francisco, nos Estados Unidos, podem reduzir investimentos no setor
G M SE M D R I V ER L ES S A HO R A D O Q U B IT W E B S U M MIT L I S B OA
EMPRESA DECIDE DIMINUIR RITMO DE REINO UNIDO LANÇA PROJETO PARA TER BRASIL GANHA CONCURSO DE STARTUPS
PRODUÇÃO DO SEU MODELO CRUISE COMPUTADORES QUÂNTICOS ATÉ 2035 EM EVENTO COM POUCAS ESTRELAS
PÁG. 14 PÁG. 16 PÁG. 18
Foto: divulgação
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O DIA DEPOIS
DE AMANHÃ
OS NÚMEROS EXPLICAM
A INSISTÊNCIA DA
INDÚSTRIA NOS
CARROS QUE SE
DIRIGEM SOZINHOS
Foto: divulgação
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PAÍS LANÇOU um projeto com cinco metas navegação quânticos também em sete anos. Por fim,
essenciais para a computação quântica. A 2030 deve ser o ano em que os sensores quânticos es-
O primeira delas é que os computadores quân- tarão em todos os lugares, do transporte à geração de
ticos, que podem fazer 1 trilhão de operações energia, passando pelos setores de defesa do país.
ao mesmo tempo, sejam produzidos no Reino Unido até Para bancar as cinco missões em um projeto de 12
2035. Também naquele ano, o governo britânico quer anos, o governo deve dispender pelo menos R$ 15,3
ser o primeiro a financiar a criação da internet quântica. bilhões, o que está gerando críticas por parte de alguns
Os outros três objetivos têm como prazo final o ano setores da sociedade. Já as startups e os investidores
de 2030. Um deles é fornecer sensores quânticos – que consideraram as missões ousadas e visionárias.
usam partículas em nível atômico ou subatômico para Caso as metas sejam atingidas, os benefícios finan-
detectar as variações mínimas em campos magnéticos, ceiros podem ser substanciais: de acordo com um estudo
gerando medições extremamente precisas – para todas da McKinsey, os sistemas quânticos vão movimentar
as unidades de saúde da NHS (National Health Service, US$ 106 bilhões até 2040. No Brasil, embora o setor
o SUS do Reino Unido), o que vai facilitar o diagnóstico e financeiro (como os bancos Bradesco e Itaú, entre ou-
tratamento de doenças crônicas. As companhias aéreas tros) já esteja investindo na tecnologia, ainda não existe
devem receber equipamentos dotados de sistemas de nenhuma política pública para o setor.
US$ 100
BILHÕES É DE TODO O É O QUANTO AUMENTOU
QUANTO DEVE INVESTIMENTO EM A OFERTA DE VAGAS
MOVIMENTAR A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA LIGADAS À COMPUTAÇÃO
COMPUTAÇÃO FOI REALIZADO NOS QUÂNTICA EM 2022, NA
QUÂNTICA EM 2040 ÚLTIMOS DOIS ANOS COMPARAÇÃO COM 2021 MILHÕES
N
o cenário global de aceleradas
@ GETTY IMAGES
mudanças climáticas, diversas O projeto
do banco
soluções buscam compensar as
BV, iniciado
emissões de gases de efeito estufa (GEE). em 2021, já
Esse é o caso do mercado de crédito de compensou
carbono, que permite que empresas, países as emissões
e até mesmo pessoas físicas compensem de mais de
1,8 milhões
suas emissões por meio da compra de de veículos
créditos provenientes de empresas e até hoje
organizações que desenvolvem projetos
de redução ou captura de emissões de
carbono, tais como iniciativas de energia
renovável, eficiência energética, reflores-
tamento ou processos mais avançados de
captura de carbono do próprio ar.
Para garantir a integridade desse mer-
cado, esses projetos passam por rigoro-
sas verificações, sendo certificados por
entidades independentes com reconhe-
cimento internacional. “Uma vez aprova-
dos, cada tonelada de carbono (CO2) re-
tirada ou capturada torna-se um crédito
de carbono, registrado em organismos es- da sua cultura. Um exemplo é o banco BV, de 3 milhões de toneladas de CO2 desde o
pecíficos”, diz Marcelo Sarkis Donelian, que assumiu o compromisso de compen- início do compromisso, ou seja, já foram
responsável pela área de risco social, sar as emissões dos veículos que finan- utilizados mais de 3 milhões de créditos
ambiental e climático do banco BV. cia, adquirindo créditos de carbono. “O de carbono”, ressalta a especialista.
As transações de compra e venda projeto, iniciado em 2021, já compensou Por outro lado, também existem em-
ocorrem por meio do mercado de carbo- as emissões de mais de 1,8 milhões de ve- presas no mercado de carbono regulado.
no, que funciona de maneira semelhante ículos até hoje, montante que equivale a Na Europa, por exemplo, há regulamen-
ao mercado de commodities, com a rela- toda a frota do município de Curitiba”, tações que demandam que as organiza-
ção de oferta e demanda influenciando comenta Roberto Padovani, economista- ções compensem o que não foi possível
os preços. Existem dois tipos de merca- -chefe do banco BV. reduzir das emissões.
do de carbono: o voluntário, em que em- Patrícia Morita Fugita, da área de Além disso, existem ainda empresas
presas, pessoas ou governos optam pela sustentabilidade do banco BV, destaca que disponibilizam uma “calculadora”
compensação por escolha própria, e o re- que empresas que adquirem créditos no on-line para pessoas físicas apurarem as
gulado, no qual empresas são obrigadas a mercado voluntário direcionam recur- suas emissões. Essas empresas também
adquirir créditos se ultrapassarem limites sos financeiros espontaneamente para a prestam o serviço de venda de crédito de
de emissões definidos por reguladores. questão, incentivando e fomentando es- carbono para a sua devida compensação,
Nesse panorama, organizações que se mercado. “No programa de compensa- segundo explica Marcelo Sarkis Donelian,
compensam suas emissões de GEE por ção do BV, todos os créditos de carbono responsável pela área de risco social, am-
opção buscam demonstrar seu compro- adquiridos foram de projetos brasileiros biental e climático do banco BV. “Apesar de
misso com a migração para uma econo- com o objetivo de fomentar o mercado esses exemplos serem pontuais no mun-
mia de baixo carbono, além de validar nacional. Para se ter uma ideia da gran- do como um todo, acredito que essa é uma
que o tema ESG efetivamente faz parte diosidade, já foram compensadas mais tendência que veio para ficar”, finaliza.
IA COLABORATIVA A startup Inspira, de São Paulo, sobe ao palco do Web Summit Lisboa para receber o prêmio Pitch
EALIZADO ENTRE 13 E 16 de novembro, o Depois de quatro dias de pitches com dezenas de startups
Web Summit Lisboa teve um caráter bastan- do mundo todo (2.608 delas foram ao evento), a campeã foi
R te diferente daquele a que o público do Altice revelada na noite de encerramento. Com uma plataforma de
Arena está acostumado. Nada de presidentes de IA que permite a colaboração entre profissionais jurídicos, a
big techs ou figurões de Hollywood: praticamente todos os legaltech brasileira Inspira ganhou os votos dos jurados e as
nomes de peso cancelaram no último minuto por conta da palmas animadas da plateia. Em segundo lugar, empatados,
polêmica envolvendo Paddy Cosgrave (ex-CEO do evento) ficaram a Cognimate, uma startup de saúde do Chipre, e a
e seus posts sobre a guerra Israel-Hamas. Kinderpedia, uma empresa de cuidados infantis da Romênia.
Com a desistência de empresas como Meta, Amazon, Para Henrique Ferreira, um dos fundadores, a vitória
Google, AWS, Siemens e Intel, coube a nomes do “segundo terá um enorme significado para as startups brasileiras –
escalão” segurar a onda. Palestras instigantes como as de que, neste ano, ganharam estande próprio organizado pela
Andrew McAfee, do MIT, Meredith Whittaker, da Signal, ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações
Sebastian Weidt, da Universal Quantum, e Jimmy Wales, e Investimentos). “Não tenho palavras para comentar”, disse
fundador da Wikipedia, mantiveram a atenção do público. Ferreira. “Se você vir alguém gritando, são meus sócios.
Mas quem realmente roubou a cena foram as startups. E, Para nós, ganhar esse prêmio significa a entrada em outros
nesse campo, o Brasil predominou. mercados. Lisboa é o voo mais curto para a expansão.”
Foto: DIVULGAÇÃO
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P E R S O N A
HERNÁN KAZAH
U M N O V O C O M E Ç O PA R A
O V E N T U R E CA P I TA L
PARA O ARGENTINO HERNÁN KAZAH, QUE AJUDOU A CRIAR A MAIOR GESTORA
DE RISCO DA AMÉRICA LATINA, 2024 SERÁ O ANO DA RETOMADA, COM FOCO
EM EMPRESAS QUE RESOLVEM PROBLEMAS RELEVANTES DA HUMANIDADE
LIA HAMA
FILHO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA ARGENTINA Sem recursos, Hernán Kazah fundou sua primeira empresa na garagem de um prédio comercial
Foto: divulgação
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ANO DE 2024 não deve repetir os recordes de apor- Com mais de US$ 1 bilhão de capital dis-
tes de 2020 e 2021, quando a tecnologia emergiu ponível para investir em novos negócios na
O como solução para muitos dos problemas causados América Latina, Kazah calcula que mais da
pelo lockdown durante a pandemia. Mas as indica- metade desse valor seja direcionado para star-
ções de melhora que surgiram em 2023 devem se acentuar no tups brasileiras. “Até agora, o Brasil tem sido
próximo ano, configurando um cenário de recuperação real. o mercado tecnológico mais desenvolvido na
A avaliação é do argentino Hernán Kazah, cofundador e managing região. Além disso, as mudanças geopolíticas
partner da Kaszek Ventures, a maior gestora de capital de risco da globais devem favorecer o país nos próximos
América Latina. “Provavelmente não veremos os recordes de 2021, anos”, analisa o investidor de 53 anos.
mas é muito possível que retornemos aos níveis de 2019 ou até mesmo Na avaliação de Andrea Minardi, profes-
os ultrapassemos”, afirmou Kazah em entrevista a Época NEGÓCIOS. sora senior fellow do Insper e conselheira do
Nesse novo recomeço, a tendência é que os empreendedores se Insper Angels, a experiência dos fundado-
concentrem nos problemas mais relevantes da sociedade e busquem res Kazah e Nicolas Szekasy – primeiro no
soluções inovadoras para resolvê-los, diz o executivo, para quem bio- Mercado Livre e depois na Kaszek – ajuda a
tecnologia, climate techs e infraestrutura para fintechs estarão entre fortalecer o ecossistema de startups latino-
os setores mais procurados para aportes. Para quem ainda está preso -americanas. “Eles serviram de inspiração
ao pessimismo dos últimos meses, o investidor visionário – que fez para outros empreendedores e acabaram for-
aportes em Nubank, Quinto Andar, Gympass e Loggi antes que estas mando um monte de gente com esse modelo
virassem unicórnios – manda um recado. As oscilações no mercado, diz, bem-sucedido de fundo, que injeta dinheiro,
referem-se a mudanças abruptas na disponibilidade de capital, não na experiência e conhecimento no mercado. Isso
demanda por tecnologia. “Essa demanda nunca caiu, pelo contrário. é muito positivo”, aponta.
Consumidores e empresas brasileiras têm utilizado cada vez mais Como muitos fundadores das empresas
soluções e plataformas tecnológicas, e nada vai mudar isso.” onde coloca seus aportes, o investidor come-
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PARCERIA Kazah e Szekasy deixaram o Mercado Livre juntos para fundar a Kaszek Ventures, maior gestora de capital de risco da América Latina
çou sua trajetória de sucesso numa garagem. mostrou acertada: em 2007, o Mercado Livre estreou na Nasdaq (hoje a
Formado em economia pela Universidade de empresa é avaliada em US$ 74 bilhões). Em 2011, Kazah deixou o e-com-
Buenos Aires, Kazah estudou em escolas pú- merce para se tornar um investidor de startups. Em parceria com Nicolas
blicas e sempre defendeu a cultura do esforço Szekasy, ex-CFO do Mercado Livre, criou a Kaszek, empresa de venture
e da superação. “Sou filho da educação pública capital focada na América Latina. “O objetivo era financiar equipes
argentina”, costuma dizer. Junto com Marcos excepcionais”, afirma. Os dois começaram com um fundo de US$ 94
Galperin, fundou a plataforma de comércio milhões – desde então, levantaram mais de US$ 3 bilhões, investindo
eletrônico Mercado Livre na garagem de um em mais de 120 empresas ao longo de 12 anos.
prédio comercial, em 1999. Os dois haviam aca- Uma de suas apostas mais bem-sucedidas foi o Nubank, fintech criada
bado de concluir seus MBAs na Universidade em 2013 por David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible. Junto
de Stanford, nos Estados Unidos. com a Sequoia Capital, a Kaszek foi responsável pela primeira rodada
“Naquela época, a internet estava nos está- de investimento no banco digital, no valor de US$ 2 milhões. Cinco anos
gios iniciais, impulsionada pelo lançamento do depois, a startup atingiu status de unicórnio – segundo projeções do banco
navegador Netscape, o que a transformou em americano Morgan Stanley, seu valuation pode ultrapassar os US$ 100
um produto de fácil acesso para os consumido- bilhões em 2026. “A Kaszek acreditou na nossa visão de negócios desde
res. Essa mudança desencadeou uma revolução o início. Esse apoio foi fundamental para impulsionar o crescimento do
tecnológica notável, especialmente nos merca- Nubank”, afirmou Vélez a Época NEGÓCIOS.
dos desenvolvidos, com maior penetração da No futuro, diz Kazah, todas as empresas do portfólio da Kaszek
internet”, recorda o ex-diretor de operações e serão de IA. “Estamos vivendo um dos momentos mais transforma-
ex-diretor financeiro do Mercado Livre. dores da evolução da tecnologia”, diz. “Como é típico dessas ocasiões,
A aposta de Kazah e Galperin era de que essa prever como e quando as coisas se desdobrarão é difícil. Mas estou
transformação ocorreria em toda a América convencido de que a transformação será muito mais profunda e
Latina. Com o tempo, a visão dos ex-sócios se abrangente do que qualquer um de nós pode imaginar”, afirma.
Foto: divulgação
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APRESENTADO POR
GETTY IMAGES
Brasil pode ser
referência em
hidrogênio verde
Eletrobras reforça compromisso de contribuir
para transição energética investindo na produção
de energia limpa ao mesmo tempo que visa
conquistar novos mercados
V
isto por muitos especialistas simples para a produção de combus- primeira planta dedicada à produção de
como combustível do futuro, tíveis sintéticos com até 99,999% de hidrogênio verde no Brasil, instalada
o hidrogênio verde já é uma pureza, porém, ainda custoso. na Usina hidrelétrica de Itumbiara, na
realidade na Eletrobras. Produzido a Reforçando o seu compromisso de divisa dos estados de Minas Gerais e
partir da eletrólise da água, processo que contribuir para a transição energética Goiás, operada pela Eletrobras Furnas.
consiste na separação de suas molécu- no Brasil e buscando tornar a sua produ- Nos últimos anos, foram feitos estu-
las nos gases hidrogênio e oxigênio por ção economicamente viável, a Eletrobras dos aprofundados sobre a tecnologia de
meio da passagem de corrente elétrica já investiu R$ 50 milhões desde 2018 produção do gás hidrogênio por eletró-
contínua, é um processo relativamente em pesquisas e na implementação da lise, análises de custos de produção,
testes de operação e manutenção do
LUIZ CROSARA/DIVULGAÇÃO/ELETROBRAS
empreendimento, além da eficiência e
durabilidade dos equipamentos e outros
aspectos relacionados à reconversão do
hidrogênio em energia elétrica.
“A planta de Itumbiara já possui uma
produção acumulada superior a três tone-
ladas desde o início da operação, há pouco
mais de dois anos”, afirma Victor Hugo
Goes Ricco, Gerente de E-Combustível
da Eletrobras. Ainda de acordo com o
Placas solares
da Usina de Itumbiara
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O preço do
hidrogênio
verde é um
dos principais
entraves para a
disseminação
da tecnologia
no Brasil, sendo
negociado por
valores próximos
a US$ 7 o quilo
executivo, a empresa vai investir mais R$ Temos potencial para ser um dos gran-
20 milhões até 2025 a fim de expandir a des players do setor no mundo”, afirma
oferta e reduzir os custos de produção. Ítalo Freitas Filho, Vice-Presidente
O preço, aliás, é hoje o principal “Brasil pode se Executivo de Engenharia de Expansão.
entrave para a disseminação da tecnolo- O hidrogênio já é amplamente utili-
gia no Brasil. Apenas como comparação, tornar um grande zado no Brasil, seja para a geração de
o hidrogênio cinza, produzido a partir
da queima de combustíveis fósseis,
exportador de energia elétrica, seja como combustível
industrial e veicular. Também pode ser
é vendido atualmente por menos de e-combustíveis” usado como matéria-prima na indústria
US$ 2 o quilo, enquanto o hidrogênio de transformação, em refinarias e siderur-
verde é negociado por valores próximos Ítalo Freitas Filho, gia, ou como insumo para o agronegócio.
a US$ 7 o quilo. A meta da Eletrobras, Vice-Presidente Executivo O barateamento da tecnologia, possí-
porém, é reduzir esse valor para de Engenharia de Expansão vel graças às inovações em curso e ao
US$ 2,50 a US$ 3 até 2030, o que tornaria aumento da produção, poderá repre-
a tecnologia competitiva no mercado. solares, o nível de emissões na produção do sentar uma revolução no setor energé-
Ainda que mais caro, o hidrogênio verde hidrogênio é ainda mais baixo. tico, tanto no mercado interno quanto
apresenta-se como uma alternativa muito “A planta conta com um eletrolisador no exterior. “Com uma produção em
mais sustentável, capaz de ajudar empresas de grande porte movido a energia solar, escala comercial de hidrogênio verde,
e países em suas metas de descarbonização. o mais antigo em operação no Brasil. o Brasil pode se tornar um grande
No caso da usina de Itumbiara, movida a Com isso, a Eletrobras traz uma compe- exportador de e-combustíveis”, conclui
energia hidrelétrica e equipada com placas titividade tremenda para o hidrogênio. Ítalo Freitas Filho.
A L É M D O V A L E
IA GENERATIVA
EM NOVO FORMATO
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NA LAPELA E NA MÃO Humane lança o AI Pin, que pode ser usado para consultar o ChatGPT e para projetar mensagens na pele
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SMARTPHONE INVISÍVEL
OA NOTÍCIA PARA OS AMANTES da tecnologia: o primeiro smartphone wearable já está disponível para
B encomenda, com preço inicial de US$ 699. O AI Pin, desenvolvido pela Humane, tem o tamanho de um broche
e foi concebido para ser afixado à blusa ou lapela. Quer fazer uma ligação? Basta pedir em voz alta. Prefere
ouvir música? Diga qual.
Ao receber uma mensagem, o usuário pode escolher escutá-la ou projetar o texto na palma da mão – que se trans-
forma em uma espécie de smartphone invisível – ou qualquer superfície próxima. Também é possível ditar mensagens
de texto, definindo inclusive o “tom” do recado. E mais: o AI Pin já nasceu atrelado ao ChatGPT e funciona de forma
independente, ou seja, sem a necessidade de nenhum equipamento adicional.
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PROJETO DA CIDADE superfuturista Neom, em construção na Arábia Saudita, continua provocando polêmi-
O cas em relação à sua viabilidade. Chamá-lo de audacioso é o mínimo: estão previstos dois arranha-céus com 225
e 275 metros de altura, em meio a um projeto urbanista sem ruas – a ideia é que todas as necessidades dos visi-
tantes possam ser supridas a uma distância máxima de cinco minutos de caminhada. Em relação à eletricidade, o projeto
prevê que ela seja 100% gerada de forma sustentável. A cidade está posicionada em frente ao litoral do Golfo de Acaba
e sua arquitetura deve criar as condições necessárias para um microclima agradável, um aspecto importantíssimo do
projeto, visto que a cidade está sendo erguida em pleno deserto. Com espigões e casas de luxo à beira-mar, a meta é que a
Neom se torne a cidade mais habitável do planeta, e o mais revolucionário resort de ecoturismo do mundo. Esse aspecto
é especialmente interessante, uma vez que, até pouco tempo atrás, a Arábia Saudita proibia o turismo não religioso em
seu território. O custo do projeto é exorbitante: US$ 320 bilhões apenas em sua primeira fase, a ser entregue em 2030.
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TECIDO INTELIGENTE FibeRobo, que passa agora por fase de testes no Massachusetts Institute of Technolo-
O gy (MIT), promete mudar a indústria de vestuário, garantindo que as roupas se ajustem automaticamente a mu-
danças de temperatura – quando está frio, as fibras aglomeram-se automaticamente e, sob o calor, se expandem,
permitindo mais ventilação. Essa função é realizada por elastômeros de cristal líquido entrelaçados às fibras do tecido já
no momento da manufatura. O processo não exige dos fabricantes nenhuma tecnologia adicional, uma vez que pode ser
aplicado com o maquinário tradicional de fabricação de tecidos.
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BALI u Indonésia
LUMI SHALA, NOVO espaço criado pelo Centro de Yoga Alchemi na ilha de Bali, na Indonésia, quer levar as
O pessoas a meditar em ambientes com tetos que lembram enormes pétalas de bambu. A construção usa apenas
materiais naturais: o telhado apoia-se sobre toras de madeira. Além disso, as ruas ao redor foram calçadas com
pedras da região. O projeto utilizou quase 28 mil metros de bambus, resultando em um salão de 277 metros quadrados
e nove metros de altura, que conta com ventilação e luz naturais. Sua construção, totalmente artesanal, foi conduzida
por 50 operários ao longo de oito meses de trabalho.
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CAPA T E C N O L O G I A S V E R D E S
DEZ 23/JAN 24
C O M O S A L VA R O
P L A N E TA T E R R A
NUNCA ESTIVEMOS TÃO DISTANTES DE CUMPRIR AS METAS DO ACORDO DE PARIS.
PARA QUE CONSIGAMOS MITIGAR O RISCO DE UMA CATÁSTROFE CLIMÁTICA,
SERÁ NECESSÁRIO NÃO APENAS INVESTIR EM NOVAS TECNOLOGIAS, MAS
TAMBÉM FAZER A TRANSIÇÃO PARA UMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO
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A
temperatura global, o que conduziria a humanidade a um
terreno totalmente desconhecido – e talvez inabitável.
Uma pequena amostra do que pode acontecer foi sentida
em 2023, ano em que o mundo atingiu uma temperatura
média global de 1,1 ºC acima dos níveis pré-industriais – e
foi devastado por ciclones, tsunamis, tempestades tropicais,
enchentes, ondas de calor, incêndios florestais e secas ex-
tremas. No Brasil, a Amazônia, região-chave para a redução
das emissões de carbono e a manutenção do equilíbrio
climático global – e para garantir as chuvas que sustentam
o agronegócio e alimentam as hidrelétricas –, registrou em
outubro a pior seca de que se tem notícia. O rio Negro, um
“A ERA DO AQUECIMENTO GLOBAL terminou; a era dos principais da Bacia Amazônica, atingiu o nível de 13,2
da ebulição global chegou”, declarou António Guterres, metros, o mais baixo dos registros históricos desde 1902.
secretário-geral da ONU, durante coletiva de imprensa No mundo das climate techs, o senso de urgência se
em Nova York, no dia 3 de agosto, depois que os cien- expressou em números. No que foi considerado pela Bloom-
tistas confirmaram que julho de 2023 havia sido o mês berg como o melhor trimestre de captação de recursos
mais quente de que há registro na Terra. “As alterações em quase dois anos, as empresas de tecnologia climática
climáticas estão aqui. São aterradoras. E isto é apenas o atraíram US$ 16,6 bilhões em investimentos entre julho
começo”, sentenciou. Outubro bateu novo recorde e foi e setembro deste ano, um aumento de 63% em relação ao
considerado o mês mais quente da história. No Brasil, o trimestre anterior. Os recursos foram para uma ampla
mês de novembro trouxe a maior temperatura já experi- gama de startups de descarbonização e de baixo carbono.
mentada no país, segundo o Inmet (Instituto Nacional de A mesma tendência de alta se vê no mercado de títulos
Meteorologia): 44,8 ºC, em Araçuaí, pequena cidade de verdes, instrumento relevante para financiar a transição
Minas Gerais. Novembro também foi o mês em que a média climática. Segundo a Climate Bonds Initiative, o mercado
da temperatura global ultrapassou pela primeira vez os global de obrigações verdes e ligadas à sustentabilidade
2 ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900): no dia (SLB) movimentou US$ 3,46 trilhões durante o primeiro
17, ela chegou a 2,07 ºC, enquanto a meta ideal estabelecida semestre do ano. Em novembro, o Tesouro brasileiro fez
pelo Acordo de Paris é 1,5 ºC. É verdade que esses recordes a sua primeira emissão de um título verde soberano no
são turbinados pelo fenômeno El Niño, mas este, por sua mercado internacional – a expectativa é que o Fundo Clima
vez, é potencializado pelo aquecimento global. receba dinheiro vinculado à emissão, chegando a um total
Um relatório divulgado pela ONU em setembro colocou de R$ 10 bilhões.
no papel o que o mundo já adivinhava: nunca estivemos tão Na COP 28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mu-
distantes de cumprir os compromissos assumidos por 195 danças Climáticas), que aconteceu no final de novembro e
países no Acordo de Paris, firmado em 2015 – que pretendia início de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos,
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PLANETAEMEBULIÇÃO
Temperaturas globais medidas pelo
modelo meteorológico CFSv2 em
2,07°C 28 de novembro de 2023 (em °C)
acima dos níveis pré-industriais: essa foi a
temperatura média global em 17 de novembro, dia
em que a Terra superou pela primeira vez os 2 ºC
NOBRASIL
O mês de novembro trouxe a maior temperatura
já experimentada no país, segundo o Inmet:
44,8 ºC, em Araçuaí, Minas Gerais (MG)
G20
Nenhum país do grupo reduziu
suficientemente suas emissões para atingir
a meta de carbono zero em 2050
50%
é a chance do planeta atingir ou ultrapassar,
até 2040, a meta de 1,5 °C acima da era pré-
industrial estabelecida pelo Acordo de Paris
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OS REGISTROS DE CALOR E FRIO INTENSO EM DIFERENTES PARTES DO GLOBO SÃO UMA AMOSTRA
DO QUE PODERÁ ACONTECER CASO AS METAS DO ACORDO DE PARIS NÃO SEJAM CUMPRIDAS
HIDROGÊNIO
É preciso aumentar em dez vezes as produções
anuais de hidrogênio verde e biocombustíveis
nos próximos 30 anos: assim, poderão contribuir
para reduzir as emissões de CO 2 em 22%
ZEROEMISSÕES
Para que a meta seja alcançada, os volumes
da produção de petróleo e gás devem diminuir
em 55% e 70%, respectivamente, e a energia
movida a carvão deve ser eliminada até 2050
COMBUSTÍVEISFÓSSEIS
A venda de carros a combustível deve zerar
em 2050; enquanto isso, os carros elétricos
devem sair dos atuais 5% das vendas totais
para 100%, para acabar com as emissões
US$9,2TRILHÕES
por ano deve ser a média de gastos em tecnologia
voltada à transição, o que inclui equipamentos
e infraestrutura de energias renováveis,
baterias e reciclagem, entre 2021 e 2050
Fontes: Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC); Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2023 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(Pnuma); Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);”Hydrogen for Net Zero” (2021), Hydrogen Council e McKinsey; “The net-zero transition”(2022)
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14
13
Temperatura do ar (°C)
12
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Jan Fev Mar Abr Mai Jun
o governo brasileiro anunciou que lançaria editais para Longe das discussões sobre justiça climática, soluções
financiar projetos da agenda climática no valor total de tecnológicas inovadoras para tentar frear o aumento da
R$ 20,85 bilhões. As expectativas globais em relação à temperatura global surgem com uma velocidade cada vez
conferência eram muitas, especialmente no que se refere maior. Aqui, porém, é preciso fazer algumas ressalvas.
à redução da produção de combustíveis fósseis e ao corte Em primeiro lugar, nem toda inovação tem a capacidade
de 50% nas emissões de metano até 2030, algo que já havia de reduzir as emissões com a intensidade e a eficiência
sido pré-acordado por 150 países antes mesmo do encon- desejada; em alguns casos, as propostas podem até mesmo
tro. Até o fechamento desta edição, ao menos um acordo servir como “desculpa” para que as empresas continuem
havia sido fechado, definindo que US$ 420 milhões serão poluindo – essa é uma das maiores críticas feitas às star-
encaminhados para um fundo que auxiliará países mais tups de captura de carbono, por exemplo. Outra dificul-
pobres e vulneráveis à crise do clima. dade está ligada à própria “novidade” das soluções: como
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ainda estão numa fase inicial, muitas delas não podem ser cando a última novidade high-tech capaz de fazer a di-
adotadas em escala, passo necessário para que tenham o ferença – ou, em outras palavras, os novos “paraquedas
impacto desejado. Por fim, é sempre importante lembrar coloridos” de Ailton Krenak, que poderão finalmente
que a tecnologia, sozinha, não será capaz de salvar o pla- interromper nossa queda rumo ao caos climático. Nesta
neta. Para solucionar a emergência climática, é preciso reportagem especial de Época NEGÓCIOS, você conhe-
fazer a transição para uma economia de baixo carbono, ce algumas das soluções mais promissoras dos últimos
o que implica em reduzir ao máximo uso dos combustí- tempos: biocombustíveis, hidrogênio verde em escala,
veis fósseis e tirar mais proveito das fontes renováveis de sensoriamento remoto de emissões, eDNA de ecossiste-
energia – algo que ainda pode demorar um pouco. mas, fazendas eólicas e baterias de sódio são apenas
Nada disso vai evitar, claro, que as grandes empresas, algumas das 30 tecnologias que podem trazer inspiração
os investidores e os fundadores de startups sigam bus- e esperança para os anos que vêm por aí.
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SUSTENTABILIDADE S E N S O R I A M E N T O R E M O T O
DEZ 23/JAN 24
P R E C I S ÃO PA R A
D E T E C TA R CA R B O N O
COM OBSERVAÇÃO DIRETA E INDEPENDENTE, AS EMPRESAS DE SENSORIAMENTO
COSTUMAM DETECTAR EMISSÕES BEM MAIORES QUE AS RELATADAS PELAS EMPRESAS
CAROLINE MARINO
FINANCIAMENTO O Google.org viabilizou o projeto Climate Trace, que reúne universidades, empresas e organizações sem fins lucrativos
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D
da Paz, foi enfático ao dizer que a subnotifica- org, braço de filantropia da gigante
ção das emissões de gases de efeito estufa é um de buscas, fez uma doação no valor
dos maiores obstáculos para o enfrentamento de US$ 8 milhões.
da crise climática. “Só é possível gerenciar o A Climate Trace foi projetada pelo
que podemos medir”, disse o ex-vice-presiden- empreendedor californiano Gavin
te dos Estados Unidos. Gore apontou a vulne- McCormick. No início, o trabalho
rabilidade da estrutura de autorrelato, que não era feito por mais de 200 voluntários,
permite a verificação dos dados. Por isso, disse, tecnologias independentes de muitos deles programadores, com o
sensoriamento remoto de emissões são essenciais. apoio e a participação de pesquisa-
Um dos maiores projetos na área é o Climate Trace, uma colaboração entre dores da University of California e
organizações sem fins lucrativos, empresas de tecnologia e universidades, além da Carnegie Mellon.
do próprio Gore. Entre os parceiros, estão CarbonPlan, Earthrise Alliance, Após a doação do Google.org, uma
Planet Labs, Michigan State University e Duke University. Embora a proposta equipe de bolsistas ajudou a construir
já existisse havia algum tempo, a viabilização do projeto – o primeiro capaz algoritmos para monitorar as usinas
O DONO DA IDEIA Gavin McCormick, criador e diretor-executivo da Climate Trace, fala sobre monitoramento de emissões durante o Collision
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SUSTENTABILIDADE N A V I O S L I M P O S
DEZ 23/JAN 24
LO G Í S T I CA CA R A
PA R A O P L A N E TA
O TRANSPORTE MARÍTIMO DE CARGA RESPONDE POR 2,9% DAS EMISSÕES GLOBAIS, ACIMA
DA AVIAÇÃO; NOVAS TECNOLOGIAS TENTAM REDUZIR ESSE ESTRAGO
DANIEL SALLES
MOVIDA A METANOL VERDE Nova frota da Maersk emite 100 toneladas de CO2 a menos do que os navios anteriores da empresa
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Foto: divulgação
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É UM DETALHE gigantesco que muitas em- Com US$ 81,5 bilhões de fatura-
presas de importação ou de exportação – que se mento no ano passado – o que repre-
dizem comprometidas com a sustentabilidade senta um salto de 32% em relação a
É
– adoram deixar de lado: a pegada de carbono 2021 –, a Maersk foi a primeira ope-
associada ao transporte marítimo de carga. De radora de cargueiros a adotar uma
acordo com a Organização para a Cooperação e unidade movida a metanol verde.
Desenvolvimento Econômico (OCDE), os navios Batizada de Laura Maersk e com
de carga respondem por 2,9% das emissões glo- capacidade para 2,1 mil contêineres
bais de CO2 , percentual ligeiramente maior ao de 20 pés, a embarcação singrou os
atribuído à aviação. E a mesma entidade estima mares pela primeira vez em setembro
que 90% das mercadorias rodam o mundo sobre as águas. As empresas que deste ano.
estão determinadas a chegar a 2050 com cadeias de valor carbono neutras, Ungida madrinha do navio, Ur-
portanto, não têm como ignorar o problema. sula von der Leyen, a presidente da
Enquanto muitas ainda dão de ombros, o cerco contra os navios car- Comissão Europeia, comandou a ce-
gueiros – 99% dos quais movidos a combustíveis fósseis, segundo a Agência rimônia de batismo – foi ela quem
Internacional de Energia (IEA) – começa a se fechar. A União Europeia quebrou a garrafa de champanhe
determinou que, a partir de 2024, qualquer navio de grande porte que sobre a proa, como é de praxe em
atracar na região deverá pagar pelo rituais do tipo. O nome escolhido
volume de CO 2 lançado na atmosfe- alternativas mais respiráveis. É o remete às origens do conglomera-
ra ao longo do trajeto. A partir de caso do metanol verde (CH 3 OH), que do dinamarquês, fundado por Peter
2026, o bloco também cobrará pelas difere radicalmente das variedades Maersk Moller (1836-1927). O primei-
emissões de metano (CH4) e de óxido que são classificadas como cinza e ro navio a vapor que ele comprou, em
nitroso (N2 O). azul. A origem dessas duas, nocivas 1886, também foi chamado de Laura.
O objetivo, obviamente, é tor- ao meio ambiente, são o gás natural A mais recente aquisição dispõe
nar os combustíveis fósseis menos e o carvão. Já o metanol verde vem de dois motores – um é movido a
atrativos para os navios cargueiros de fontes de energia renovável e sua combustível tradicional e outro a
e, de quebra, estimular a adoção de produção não gera poluentes. metanol verde. Em comparação às
demais embarcações da frota da
Maersk, a nova emite 100 toneladas
de dióxido de carbono a menos por
dia. “Representa um marco histórico
para o transporte marítimo”, decla-
rou Vincent Clerc, CEO da compa-
nhia, no lançamento da embarcação.
OUT R A ALTER NATI VA “Este novo navio verde é o avanço
de que precisávamos, mas ainda te-
AO C OMBU STÍ V EL mos um longo caminho a percorrer
antes de chegarmos à neutralidade
de emissões.”
F ÓS S I L É A AMÔNI A Determinada a atingir a neutra-
lidade de carbono até 2040, a Maer-
V ER DE, U MA APOSTA sk encomendou outros 24 navios do
tipo, com entregas previstas para os
próximos quatro anos. Atualmente,
DA AUSTR ALI ANA ela opera mais de 700 embarcações,
400 das quais de terceiros. Para
F O R TESCU E 2030, o conglomerado se impôs a
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LAURA MAERSK Nome da embarcação homenageia o primeiro navio a vapor da empresa; batismo contou com Ursula von der Leyen
meta de usar combustíveis verdes Com 493 cargueiros que circulam Outra alternativa aos combustí-
para transportar no mínimo 25% de por 594 portos mundo afora, a chinesa veis fósseis é a amônia verde, cuja
carga, o que vai demandar cerca de Cosco também está investindo nesse produção se vale da eletrólise da água
6 milhões de toneladas por ano de combustível. Em setembro, anunciou e não gera emissão de poluentes. A
metanol verde. a criação de um projeto de coopera- substância, segundo a IEA, poderá
De olho nisso, a família que con- ção entre as companhias chinesas que responder por até 45% da demanda
trola a Maersk montou uma segun- investem em metanol verde. “O acordo de combustível para navegação até
da empresa, a C2X, especializada na representa um passo significativo em 2050. Uma das companhias que apos-
produção de metanol verde – a meta é direção à aplicação de novas energias tam alto nessa solução é a minerado-
produzir 3 milhões de toneladas por e à transformação verde da indústria ra australiana Fortescue, que faturou
ano até 2030. Pelas contas da nova naval”, declarou a Cosco por meio de US$ 17,3 bilhões no ano passado. De-
companhia, a demanda global por sua assessoria de imprensa. Pouco an- cidida a atingir a neutralidade de
metanol, principalmente pela varie- tes, a empresa, que faturou cerca de carbono em 2030, a empresa quer usar
dade verde, deverá atingir a marca US$ 58 bilhões em 2022, havia anun- a amônia verde para abastecer seus
de 300 milhões de toneladas por ano ciado a encomenda de 12 embarca- cargueiros e imprimir mais susten-
em 2050, o triplo do tamanho desse ções com dois motores iguais ao do tabilidade à mineração de ferro, uma
mercado hoje. Laura Maersk. de suas principais atividades.
Foto: divulgação
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PLÁSTICO DE ALGAS
EMBALAGENS DO
FUNDO DO MAR
A partir de algas marinhas, os
engenheiros de design Rodrigo Garcia
Gonzalez e Pierre Paslier idealizaram
embalagens biodegradáveis para
substituir o plástico. Por meio da
startup britânica Notpla, lançaram,
em 2014, a embalagem comestível
Ooho. No formato de uma bolha
d’água, possui impacto ambiental O mercado de prédios inteligentes deve chegar a
PRÉDIOS INTELIGENTES
até 90% menor do que garrafas US$ 121,6 bilhões em 2026, segundo pesquisa da
plásticas, levando seis semanas para consultoria global MarketsandMarkets. Com o aumento da
se decompor. A empresa recebeu
1 milhão de libras do The Earthshot
EFICIÊNCIA temperatura média global, a procura por ar-condicionado
irá explodir: até 2050, mais de 5 bilhões de pessoas terão
Prize, criado pelo príncipe William.
Usar algas para substituir o plástico
ENERGÉTICA o equipamento, mais do dobro de hoje, segundo o estudo
State of the Transition 2023, da Breathrough Energy, de Bill
também ajuda a combater a crise Gates. Com isso, três demandas ganharão força: a busca por
climática. Enquanto subproduto de automatização, para controlar a eficiência energética e reduzir
petróleo, carvão mineral e gás natural, custos; a corrida para diminuir as emissões do aparelho, para
o plástico é um contribuinte-chave não comprometer ainda mais o clima; e a exigência de novas
de emissões de carbono, segundo regulações, que permitam às construtoras usar diferentes
relatório do Center of International materiais e instalar equipamentos dotados de IoT, sem ter
Environmental Law (CIEL). que lidar com queixas sobre privacidade.
Foto: divulgação
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TECNOLOGIA SOLAR
VIDROS QUE
GERAM ENERGIA
Desde 2016, pesquisadores da
Universidade Estadual de Michigan,
nos EUA, desenvolvem uma tecnologia
que pode transformar janelas e outras
superfícies de vidro em coletoras de
energia solar, sem impedir a visão.
Trata-se do vidro solar transparente,
capaz de gerar uma eficiência de
15% ou mais em relação aos painéis
tradicionais, ao mesmo tempo em que
deixa 50% da luz passar pela janela.
O vidro fotovoltaico utiliza células
semitransparentes e se assemelha
bastante a um vidro comum, podendo
ser utilizado em construções, veículos
e até telas de celulares. Enquanto
se ajusta aos desafios, que incluem
custo mais alto e necessidade de área
maior em relação aos painéis solares,
a equipe instalou os equipamentos,
fabricados pela Ubiquitous Energy, em
um prédio da universidade.
SUSTENTABILIDADE e D N A
DEZ 23/JAN 24
e D N A : A N O VA T É C N I C A
Q U E C O M BAT E E F E I TO S
DA C R I S E C L I M ÁT I CA
TECNOLOGIA É CAPAZ DE MAPEAR ECOSSISTEMAS COMPLEXOS E FORNECER
INFORMAÇÕES SOBRE OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA BIODIVERSIDADE
CAROLINE MARINO
DA UNIDADE AO TODO A tecnologia eDNA consegue mapear um bioma inteiro usando apenas amostras de água, terra ou até mesmo ar
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E
ID Week, que aconteceu em Boston, nos Estados tudo com uma precisão sem prece-
Unidos. Além de falar sobre os aprendizados da dentes. Também dá para avaliar como
pandemia e discutir como as mudanças climáticas as mudanças climáticas estão afetan-
devem impactar a saúde da população, a conferên- do determinado bioma – provocando
cia, promovida pela Infectious Diseases Society of migrações de espécies, por exemplo
America (IDSA), deu destaque ao eDNA – abrevia- – e tomar medidas para reverter seus
ção de environmental DNA, ou DNA ambiental. efeitos. Fora isso, a tecnologia tam-
Em uma definição breve, o eDNA é uma tecnologia capaz de mapear o fun- bém permite detectar espécies inva-
cionamento de ambientes complexos de uma só vez, usando amostras simples soras, rastrear animais ameaçados ou
de água, terra ou ar. Funciona assim: à medida que animais e insetos se movem esquivos e monitorar águas residuais,
no ambiente, liberam fragmentos de material genético, como células da pele, em busca de doenças e agentes pa-
resíduos e outros fluidos corporais. A mesma lógica vale para as plantas, que togênicos. E enquanto as pesquisas
têm seus fragmentos espalhados pelo vento. tradicionais para mapear ambientes
Com o mapeamento genético desses fragmentos, é possível entender me- podem levar anos para serem con-
AMOSTRAGEM DE MILHÕES Para o professor José Eduardo Levi, dos Laboratórios Dasa, o uso do eDNA vai se tornar constante no futuro
Foto: divulgação
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SUSTENTABILIDADE E L I M I N A Ç Ã O D E
M I C R O P L Á S T I C O S
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S O L U ÇÃO D E M ÃO D U P L A
PARA ACABAR COM OS MICROPLÁSTICOS, É PRECISO ATUAR EM DUAS PONTAS. ALÉM DE
CRIAR TECNOLOGIAS PARA CAPTURAR OS RESÍDUOS, É PRECISO REDUZIR DRASTICAMENTE
A PRODUÇÃO DO MATERIAL, UM DOS MAIORES GERADORES DE GASES DE EFEITO ESTUFA
ONIPRESENTE Estima-se que existam 51 trilhões de partículas de microplásticos no oceano – 500 vezes mais do que estrelas na Via Láctea
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CONTEMPLAR O CÉU em uma noite escura do, segundo a agência, são práticas e
e o mar durante um mergulho com cilindro acessíveis: eliminar embalagens em
tem uma indesejada similaridade. A poluição excesso, aumentar a reutilização do
C
por plásticos é um problema tão grande que, material e substituir o plástico por
segundo o Programa das Nações Unidas para alternativas mais ecológicas. Esse
o Meio Ambiente (Pnuma), há cerca de 51 tri- corte de 80% evitaria 500 milhões
lhões de partículas de microplásticos no ocea- de toneladas de emissões de CO2 por
no – 500 vezes mais do que a quantidade de ano, o equivalente às emissões do
estrelas na Via Láctea. Canadá, diz o Pnuma.
Diferentemente das estrelas, visíveis a olho Enquanto a diplomacia interna-
nu, o microplástico passa despercebido para a maioria das pessoas, pois o cional não avança em acordos regu-
tamanho das partículas é inferior a 5 milímetros. Mas estudos científicos latórios, há iniciativas e tecnologias
comprovam que esse tipo de resíduo está em todos os lugares – na água, no que buscam amenizar as consequên-
solo, no ar e até mesmo no organismo humano. Para enfrentar o problema, cias da poluição desenfreada. O pro-
tratados globais estão em discussão. Desde março de 2022, 193 países, in- fessor do Departamento de Ciências
cluindo o Brasil, vêm discutindo na ONU um acordo internacional sobre Ambientais da Universidade Federal
plásticos, semelhante ao Acordo de Paris. “A forma como produzimos, de São Paulo (Unifesp) Décio Semensa-
usamos e descartamos os plásti- tto trabalha em pesquisas para melho-
cos está poluindo os ecossistemas, de novembro, fracassou novamente, rar a mensuração de microplásticos em
criando riscos para a saúde humana por conta do boicote de um grupo de amostragens e os impactos que essas
e desestabilizando o clima”, disse nações produtoras de petróleo, que partículas podem ter no meio ambien-
Inger Andersen, diretora-executiva inclui Irã, Arábia Saudita e Rússia. te, como no litoral de São Paulo e na
do Pnuma, durante o lançamento da Caso um acordo fosse fechado, foz do Rio Amazonas.
iniciativa. Infelizmente, as reuniões a poluição plástica global poderia Os microplásticos podem ser pri-
realizadas até agora não geraram ser reduzida em 80% até 2040, diz a mários ou secundários. Os primários
nenhum resultado. A última delas, ONU. As mudanças que precisariam são aqueles produzidos no tamanho
em Nairóbi, no Quênia, entre 13 e 19 ser feitas para alcançar esse resulta- diminuto, como as pequenas esferas
usadas em produtos esfoliantes. Já os
secundários surgem a partir da quebra
e decomposição de plásticos maiores,
que podem se transformar em cente-
nas de partículas. Uma das maiores
fontes é a indústria têxtil – estudos in-
dicam que até 35% dos microplásticos
PE SQ UIS ADORES lançados nos oceanos teriam origem
na lavagem de tecidos sintéticos.
DE HONG KONG De acordo com Semensatto, as tec-
nologias de limpeza existentes partem
de técnicas já conhecidas e são adapta-
CRIARAM REDES DE das para os microplásticos. “Os méto-
dos mais comuns usam carvão ativado,
BACTÉRIA S PA RA filtros ou microrganismos. Mas a maio-
ria não está em um nível de aplicação
de grande escala”, afirma.
CA PTURA R A S Um exemplo de pesquisa em de-
senvolvimento é o dispositivo chama-
MIC ROPAR TÍCULAS do de “A Noiva”, criado por pesquisa-
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VILÕES DOS OCEANOS O professor da Unifesp Décio Semensatto pesquisa os impactos das partículas de plástico no meio ambiente
dores do Programa de Recuperação da e a quantidade de microplásticos em microplásticos da água antes que eles
Biodiversidade Marinha (Rebimar) e cada região vão mostrar que tipo de cheguem ao oceano. O processo envolve
do Instituto Federal do Paraná, que solução pode ser tomada em cada caso. a criação de uma espécie de redemoinho.
monitora a presença de microplásticos Outra iniciativa é da Universida- Nesse ambiente, adiciona-se o composto
no litoral do estado. Os primeiros re- de Politécnica de Hong Kong (PolyU). Wasser 3.0 PE-X, feito de géis de sílica
sultados mostram que há resíduos em Inspirados na natureza, pesquisadores híbridos. O produto atua como um agen-
todos os locais onde amostras foram querem aplicar uma propriedade das te aglomerante e reúne os pedaços de
coletadas. Para funcionar, o objeto, que bactérias para criar redes pegajosas microplásticos, que se tornam bolotas
é feito com cano, madeira e tela, preci- de micróbios semelhantes a fitas e, parecidas com pipoca. Maiores, eles so-
sa flutuar na água por cinco minutos. assim, capturar os microplásticos. As bem à superfície e podem ser removidos
O líquido que atravessa a abertura bactérias têm uma tendência natural com uma peneira.
do aparelho é medido por um fluxôme- de agrupamento e aderência às super- Embora inovadoras, todas essas ini-
tro, e a tela funciona como um filtro, fícies. Esse comportamento é o que cria ciativas sofrem com o mesmo problema:
que prende microplásticos em uma o biofilme, uma substância adesiva. os projetos estão em estágios iniciais e
rede. Com a amostra coletada, leva- Na Alemanha, uma proposta promis- não têm a escala necessária para gerar
-se o material ao laboratório e faz-se sora é da empresa Wasser 3.0, dedicada um impacto significativo no meio am-
a análise. Os dados sobre a presença a desenvolver soluções para remover os biente. Pelo menos por enquanto.
Foto: divulgação
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PROTEÇÃO À
BIODIVERSIDADE
HIDRELÉTRICAS BOAS
PARA OS PEIXES
Embora sejam boas alternativas a
usinas poluentes, as hidrelétricas
também impactam o meio ambiente.
Estudo da Universidade McGill, no
Canadá, em parceria com o World
Wildlife Fund (WWF), concluiu que
só 37% dos 246 rios mais longos
do mundo estão livres de represas, Durante a maior parte da história da aviação, as aeronaves
AERONAVES ELÉTRICAS
reservatórios e outras estruturas que elétricas foram uma espécie de fantasia. Mas os avanços
impedem o fluxo livre de espécies tecnológicos, especialmente em baterias de baixo impacto
aquáticas. Da Califórnia, a Natel ambiental, e os milhões de dólares de investimento fizeram
Energy, fundada pelos irmãos Gia e
Abe Schneider, oferece uma solução.
MOBILIDADE a ficção sair do papel em viagens de curta distância. A
americana Beta recebeu mais de US$ 800 milhões de
A companhia, que amealhou NAS ALTURAS fundos como Fidelity, Climate Pledge Fund, da Amazon,
e o private equity TPG Capital, e já tem aeronaves no céu.
US$ 20 milhões de investimentos na
Outras conterrâneas, como a Joby Aviation e a Archer
rodada Série B, em 2021, desenvolve
Aviation, também se aventuram na área, que conta ainda
turbinas por meio das quais os peixes com fabricantes tradicionais como Airbus, Boeing e Embraer
podem circular em segurança. Já tem em empreitadas elétricas. As aeronaves elétricas deverão
operações no Maine e no Oregon, e há concorrer principalmente com helicópteros e carros, levando
outras a caminho. poucos passageiros e fazendo trajetos mais curtos.
Foto: divulgação
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BIOINOCULANTES
PLANTIO EM
REGIÕES EXTREMAS
Os fundadores da startup argentina
Puna Bio estudaram por mais de 20
anos a biodiversidade de uma região
dos Andes a 4,5 mil metros de altitude.
Nesse cenário, com solo desértico,
salino e afetado por vulcões ativos,
eles identificaram organismos que
evoluíram ao longo de 3,5 bilhões
de anos. Isoladas, as bactérias
encontradas na região são capazes
de resistir a temperaturas extremas, à
falta de nutrientes, a secas prolongadas
e a concentrações de sal dez vezes
superiores à do mar. Elas deram origem
a um bioinoculante que substitui
fertilizantes sintéticos de nitrogênio –
vilões do clima, por gerarem emissões
em sua produção e depois de aplicados
no solo, quando produzem um gás de
efeito estufa muito potente, o óxido
nitroso. O bioinoculante da Puna Bio
ainda favorece o cultivo em solos
degradados e em ambientes extremos.
Mais importante do que detectar o desmatamento que já aconteceu é impedir que mais árvores venham
abaixo, reduzindo ainda mais a capacidade das florestas de remover gases de efeito estufa da atmosfera.
Eis o princípio da PrevisIA, criada pela Microsoft em parceria com o Fundo Vale e com o Instituto do
DESMATAMENTO ZERO
Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Trata-se de uma plataforma que se vale da IA para prever
áreas com risco de desmatamento na Amazônia. Por meio de um algoritmo, cruza dados socioeconômicos,
IA EM PROL de estradas legais e ilegais, topografia, cobertura do solo e infraestrutura urbana. O intuito é municiar as
autoridades com informações estratégicas sobre desmatamentos futuros. A área da Amazônia que corre o
DAS FLORESTAS risco de vir abaixo em 2024, aponta a plataforma, é três vezes maior que a cidade de São Paulo.
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D O E S P A Ç O
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FRONTEIRA
FINAL
NO FUTURO, ESTAÇÕES ESPACIAIS COM PAINÉIS SOLARES
IRÃO SUPRIR A DEMANDA DE ENERGIA DA TERRA
DANIEL SALLES
LUZ DO SOL A energia captada supriria até 15% do consumo da União Europeia, contribuindo para sua neutralidade de carbono até 2050
61
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O
resolver esse e outro problema – o fato de que graças à mobilidade das estruturas
uma hora o sol se põe –, a Agência Espacial Eu- idealizadas, similares às dos satéli-
ropeia propôs uma solução que lembra ficção tes. Daí bastaria direcionar a energia
científica: instalar placas fotovoltaicas acima capturada para a nossa rede elétrica.
das nuvens, mais exatamente no espaço. Como fazer isso? A ideia em dis-
No ano passado, o órgão anunciou um programa cussão é transmiti-la na forma de ra-
batizado de Solaris, cujo objetivo é determinar se diação de micro-ondas para estações
é economicamente viável, além de tecnologicamente possível, colocar estruturas receptoras que precisariam ser cons-
solares em órbita – e utilizá-las para captar a energia solar e enviá-la para a Terra. truídas no solo terrestre. Estas con-
Em tese, a iniciativa poderia ajudar a suprir a demanda aqui embaixo já na próxima verteriam a energia novamente em
década. E representar de 10% a 15% do consumo energético da União Europeia, eletricidade e alimentariam nossas
contribuindo com a meta do bloco de atingir a neutralidade de carbono até 2050. tomadas. Para dar certo, porém, seria
No topo da atmosfera, como é de imaginar, a luz solar é bem mais in- preciso investir valores estratosféri-
tensa – dez vezes mais do que na superfície da Terra. E lá no alto – estamos cos, que ainda estão sendo calculados.
ENERGIA DO ESPAÇO Imagem produzida pela Astrostrom GmbH mostra como seria a usina solar planejada pela Agência Espacial Europeia
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D E C A R B O N O
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D O C É U AO C H ÃO
CONTROVERSA, A TECNOLOGIA DE CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CARBONO PODE SER
IMPORTANTE ALIADA PARA REDUZIR EMISSÕES EM INDÚSTRIAS ALTAMENTE POLUIDORAS
CAPTURA EM ALTA O mundo já conta com 30 projetos em operação, 11 em construção e 153 em desenvolvimento
64
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E
fósseis e implementar estratégias que ace- evitar a emissão de 423 mil toneladas de
lerem a remoção dos gases de efeito estufa carbono na atmosfera por ano. O valor
já emitidos na atmosfera. Nesse contexto, a atualizado do investimento no projeto,
tecnologia de captura e armazenamento de se este se provar geologicamente viável,
carbono, conhecida pela sigla CCS (Carbon é de cerca de R$ 300 milhões.
Capture and Storage, em inglês), embora polê- As duas estratégias de captura –
mica, apresenta-se como uma alternativa inte- CCS e CCUS – são motivo de contro-
ressante, assim como o seu desdobramento, a CCUS (Carbon Capture, Usage vérsia entre os ambientalistas. Eles ar-
and Storage, em inglês), que inclui o uso do carbono já capturado para fins gumentam que a captura de carbono
como combustíveis e materiais de construção. estaria sendo usada pela indústria de
No Brasil, esse mercado ainda é incipiente. Sem uma regulação específica combustíveis fósseis como uma “des-
para definir como as operações devem ser desenvolvidas, falta segurança jurí- culpa” para continuar com suas ativida-
dica para que as empresas invistam nesse tipo de tecnologia. Uma exceção é a des poluentes, como se o gás capturado
Petrobras, que faz uso da tecnologia de CCUS. A petroleira separa o combustível fosse suficiente para justificar todas as
fóssil extraído do CO2 e reinjeta o gás emissões passadas e futuras do setor.
nos reservatórios, para facilitar a extra- gases não é barato nem simples, mas Afirmam ainda que os equipamentos
ção de petróleo e gás – a regulação do é fundamental. Com características de captura deveriam ser reservados
setor prevê essa atividade. Fundada por únicas, o Brasil pode ser um expoente apenas para aquelas indústrias que têm
Nathalia Weber, engenheira de arma- nessa tecnologia”, diz Isabela. grande dificuldade para descarbonizar
zenamento de CO2, e Isabela Morbach, A FS Bio tem um projeto de seus processos, como a de cimento, por
advogada focada na economia de baixo BECCS – bioenergia com captura e es- exemplo. Para as outras, dizem, melhor
carbono, a CCS Brasil quer se tornar tocagem de carbono. O sistema consiste mesmo seria investir na transição para
uma alternativa para redução de emis- em capturar, comprimir e transportar fontes de energia renováveis, mais ba-
sões no mercado brasileiro. “Remover o CO2 gerado na fabricação de etanol, ratas e eficientes.
As empresas que querem adotar a
CCUS precisam definir como será cada
uma das três etapas: captura, transpor-
te e armazenamento de carbono. Para a
captura, uma das técnicas mais comuns
é o uso de solventes, que permitem a
separação do gás e literalmente absor-
AVALIAÇÕES vem o CO2. Na liderança do desenvolvi-
mento desse solvente está a Mitsubishi
GE OLÓGICA S S ÃO Heavy Industries, que lançou o produto
KS-21. Depois de capturar o carbono, é
preciso comprimi-lo e transportá-lo ao
NE CES S Á R IA S local onde será armazenado; isso pode
ser feito por meio de gasodutos, navios
PA RA GA R A NTIR A ou caminhões-tanques.
Na última etapa, uma das possibi-
lidades é injetar o carbono no subsolo,
ARMAZENAG EM P OR em profundidades entre 800 metros e 1
quilômetro, para que seja armazenado
MILHARES DE ANOS em formações rochosas – a tecnologia
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AR MAIS LIMPO Usina de captura de carbono Orca, instalada pela Climeworks nas proximidades de Reykjavik, na Islândia
é similar à utilizada na indústria de global. Na região da Ásia e do Pacífico, desenvolvimento. Os Estados Unidos
petróleo e gás, com equipamentos de o investimento aumentou para US$ 1,2 têm o maior número de projetos. Na
perfuração e injeção. Avaliações geo- bilhão devido a projetos na Austrália e Europa, Reino Unido, Holanda e No-
lógicas são necessárias para identificar na Malásia. A China encomendou um ruega têm planos para desenvolver a
quais locais têm as condições técnicas projeto piloto para capturar 0,2 mi- tecnologia em agrupamentos regionais.
necessárias para receber o CO2 , pois o lhão de toneladas de CO2 por ano em Um desses projetos é o holandês
objetivo é que ele permaneça no subsolo um complexo petroquímico. O finan- Por t hos. Com invest imento de
por milhares de anos. Caso a empresa ciamento da União Europeia para CCS US$ 1,37 bilhão, a expectativa é que o
queira reutilizar o carbono em outros consistiu, principalmente, em capital sistema esteja operacional até 2026. A
produtos, há opções nas áreas de com- de risco, que fluiu para empresas como proposta é capturar o gás de empresas
bustíveis e materiais de construção. a Climeworks, que garantiu US$ 650 como Air Liquide e ExxonMobil, que
De acordo com a BlombergNEF, o milhões em abril. vão investir em instalações próprias.
investimento em captura e armazena- De acordo com a London School O CO2 será transportado do porto de
mento de carbono mais do que dupli- of Economics, 61 novas instalações fo- Roterdã até campos de perfuração a
cou desde 2022, atingindo o recorde de ram criadas globalmente em 2022, o 20 quilômetros de distância no Mar
US$ 6,4 bilhões. Os EUA lideraram os que levou a um total de 30 projetos em do Norte, onde será permanentemen-
investimentos, com 45% do montante operação, 11 em construção e 153 em te armazenado no solo oceânico.
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DRONES SEMEADORES
RESTAURAÇÃO
QUE CAI DO CÉU
No ano passado, de acordo com a
plataforma Global Forest Watch,
a perda de florestas tropicais foi
equivalente a 11 campos de futebol
por minuto. Em conjunto, as
árvores que desapareceram eram
responsáveis pela compensação de 2,7
gigatoneladas de dióxido de carbono,
o mesmo tanto que a Índia emite por
ano com combustíveis fósseis. Uma
startup inglesa, a Dendra, restaura
florestas com drones geridos por
inteligência artificial. Eles são capazes
de fazer diagnósticos de áreas
desmatadas e semear até 60 hectares
por dia, além de registrar onde cada
semente foi depositada e chegar a
trechos de difícil acesso. Até 2060, a
empresa planeja plantar 500 bilhões
de árvores. Em 2020, na rodada de
investimentos Série A, ela amealhou
recursos de US$ 10 milhões.
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ESTOCANDO VENTO
BATERIAS PARA
ENERGIA RENOVÁVEL
Buscando cumprir as metas
estabelecidas pelo Acordo de Paris,
governos e empresas procuram
aumentar a adoção de fontes de
energia renováveis, como solar e
eólica. O problema é que essas
energias são geradas de maneira
intermitente: quando o Sol para
de brilhar ou o vento desaparece,
provocam variações de potência
que comprometem a produção. Para
usar fontes renováveis com escala, é
preciso produzir grandes sistemas de
baterias (BESS, na sigla em inglês).
Hoje, a maioria é feita de lítio, mas
alternativas estão surgindo (leia mais
na pág. 84). Segundo a McKinsey, em
2022 foram investidos US$ 5 bilhões
na área, o triplo do ano anterior. A
expectativa é que o mercado de BESS
alcance US$ 15 bilhões em 2030.
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O F F S H O R E
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V E N TA N I A
E M A LTO - M A R
CONSTRUIR PARQUES EÓLICOS NOS OCEANOS PODE MULTIPLICAR POR SETE
A ATUAL CAPACIDADE ENERGÉTICA DO MUNDO. E FAZER COM QUE
O BRASIL GANHE UM NOVO PRÉ-SAL, MAS DE ENERGIA LIMPA
MARTINA MEDINA
A FAVOR O mar garante ventos mais fortes e logística simplificada, sem as limitações da terra – mas o custo é maior
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ALÉM DE POUPAR o uso da terra, levar par- gás offshore –, o grupo de interessa-
ques eólicos ao oceano é garantia de ventos mais das inclui gigantes globais ainda sem
fortes e constantes, pois não encontram nenhu- atuação no Brasil, como a espanhola
A
ma barreira pelo caminho, e de uma captação BlueFloat e a britânica Corio. Outro
energética mais eficiente. Gerada por turbinas destaque é a Ocean Winds (OW), joint
instaladas no mar, a energia eólica offshore é venture formada pela Engie e pela
uma forte tendência em todo o planeta. Segundo EDP Renováveis, presente em sete
o Banco Mundial, a capacidade de produção países. “Uma indústria eólica offsho-
desse tipo de energia em todo o globo é de 70 re expressiva no Brasil é questão de
terawatts (TW), sete vezes mais do que a capa- tempo”, afirma Rafael Palhares, dire-
cidade energética mundial ativa hoje. A China responde pela metade dos 64,3 tor de desenvolvimento de negócios
gigawatts (GW) produzidos por fazendas eólicas offshore, de acordo com o da OW Brasil e América do Sul. “É
Conselho Global de Energia Eólica. Em seguida, estão Reino Unido e Alema- como se fosse um novo pré-sal, mas
nha. A Europa foi pioneira na tecnologia, com o primeiro parque construído de energia limpa.”
nos anos 1990, na Dinamarca. O setor aguarda, ainda este ano, a
O Brasil ainda não possui nenhum parque eólico marinho, mas o que aprovação de um marco legal que pro-
não falta são operadores querendo mudar isso. Há mais de 90 projetos mete destravar os projetos. Se a lei em
dessa tecnologia no país, que abriga tramitação no Congresso for aprovada
uma generosa costa de 8 mil quilô- Banco Mundial é ainda maior: 1.228 em 2023, estima-se que as primeiras
metros, a 14ª mais extensa do mundo. GW para até 100 metros. usinas eólicas estarão operando no
As iniciativas somam uma produção Entre as vantagens da costa bra- mar brasileiro em uma década.
eventual de 219 GW, o que não chega sileira estão os ventos constantes, o Mas nem só de bons ventos vive
a um terço do potencial do Brasil, clima ameno e a ausência de tsuna- a tecnologia, que gera impactos so-
estimado em 700 GW pela Empre- mis. Outro atrativo é a nossa tradição cioambientais significativos. O enge-
sa de Pesquisa Energética (EPE), em operações em alto-mar. Além da nheiro Rafael Vasconcelos, pesqui-
considerando instalações em até 50 Petrobras – um dos principais players, sador sênior em energia eólica pela
metros de profundidade. A aposta do por sua experiência no setor de óleo e Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, viajou pela Europa para
pesquisar formas de mitigá-los. Na
França, Vasconcelos presenciou a
resistência de pescadores contra o
parque Saint-Brieuc; na Alemanha,
o impacto visual do parque de Nor-
dergrunde, a 15 km da costa. Como
HÁ MAIS DE 90 resultado da jornada, publicou um
estudo que ajudou o Ibama a criar o
PROJETOS NO primeiro documento referência para
esse modelo de produção energética
no Brasil, em 2019.
BRAS IL, QUE JÁ Segundo o especialista, os im-
pactos na vida marinha são maiores
TE M EXP ER TIS E durante a construção da obra. Sen-
síveis ao ruído, os mamíferos ficam
desorientados e os peixes se afastam.
E M OP ERAÇÕES Após a instalação, os recifes artificiais
que se formam na estrutura voltam a
OF F S HORE atrair peixes e aves – e estas muitas
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REDUÇÃO DE DANOS Há como isolar os ruídos que afetam mamíferos marinhos e as aves das turbinas, diz Rafael Vasconcelos
vezes acabam colidindo com as turbi- Outro entrave é o custo: os par- costa, sem a necessidade de fixá-las no
nas. “Mas hoje já existem técnicas para ques offshore custam mais do dobro fundo do oceano. Sensores e controles
mitigar ou isolar os ruídos, além de do que aqueles em terra, segundo especiais garantem que as turbinas
sistemas que emitem sons ao detectar dados da EPE. Vasconcelos afirma permaneçam de pé, mesmo sob a pres-
a presença de aves, de forma a evitar a que os valores devem baixar com são das ondas e dos ventos.
colisão”, observa o pesquisador. o desenvolvimento do mercado e o Para a próxima década, o Conselho
No caso brasileiro, um grande de- ganho de escala de produção, o que Global de Energia Eólica prevê um
safio está na falta de preparo dos por- deve acontecer no médio prazo. Para acréscimo de 380 GW de potência ins-
tos para receber os componentes das Palhares, da joint venture OW, a pos- talada em projetos de eólica offshore.
turbinas, que costumam aumentar de sibilidade de construir parques eóli- A questão é se a cadeia de suprimentos
tamanho cada vez que surge uma ino- cos offshore junto de estruturas de dará conta da demanda. “É preciso
vação tecnológica. “A construção de hidrogênio verde também aumenta evitar os gargalos na cadeia de supri-
novos portos como o Porto-Indústria a viabilidade econômica. mentos, que impactam os preços e o
Verde, no Rio Grande do Norte [voltado Outra tendência que tem desponta- prazo de entrega”, diz Palhares. “Mas
à energia renovável], e melhorias nos já do são as plataformas flutuantes, que esse é um cuidado natural para uma
existentes estão sendo planejadas para possibilitam a colocação de turbinas indústria de alta tecnologia que está
atender ao setor”, diz o pesquisador. em mares mais profundos, longe da se expandindo tão rapidamente.”
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E N E R G I A R E N O VÁV E L
GA N H A F O R ÇA N O PA Í S
O HIDROGÊNIO VERDE JÁ MOVIMENTA US$ 100 BILHÕES POR ANO. CASO CONSIGA SE
ESTRUTURAR, O BRASIL TEM CHANCES DE ASSUMIR PAPEL RELEVANTE NO SEGMENTO
MARTINA MEDINA
NOVA ENERGIA LIMPA Promessa para a descarbonização global, o hidrogênio verde depende de infraestrutura e logística para se consolidar
74
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U
produzido por meio da eletrólise, que usa ele- verde há apenas dois anos, quando o
tricidade para quebrar moléculas de água, se- governo do Ceará anunciou o primeiro
parando o oxigênio do hidrogênio, o elemento complexo industrial da tecnologia no
químico mais abundante do planeta. Mas, para país. O estado atende a um requisito
ser chamado de verde, esse processo deve partir fundamental para a exploração do hi-
de fontes renováveis, como hidrelétrica, eólica e drogênio verde: estrutura portuária com
solar. Assim, a tecnologia é vista como essencial alta capacidade de exportação.
para que o mundo consiga zerar as emissões de carbono até 2050. O projeto recebeu US$ 30 bilhões
O hidrogênio verde serve como substituto de insumos fósseis em diversos de empresas nacionais e estrangeiras.
setores industriais, especialmente o petroquímico e o de fertilizantes. Ele tam- Os recursos serão usados para insta-
bém pode ser base de combustíveis de zero emissão, tendo aplicação em todos lar usinas de produção e terminais de
os modais de transporte: carros, ônibus, trens, caminhões, navios e aviões. Outra armazenamento de hidrogênio verde
aplicação é na geração de eletricidade descentralizada, substituindo geradores a no Complexo Industrial e Portuário do
diesel em prédios e áreas isoladas, por exemplo. Estudo da Empresa de Pesquisa Pecém. A EDP Energias de Portugal, que
Energética (EPE) indica que o mercado fez um investimento de R$ 42 milhões,
de hidrogênio já movimenta mais de ternacional de energia, e países que pos- apresentou em janeiro sua usina solar
US$ 100 bilhões por ano no mundo. suem abundância de fontes de energias com capacidade de 3 megawatts pico
Com uma matriz elétrica composta renováveis vão se tornar produtores e (MWP), para garantia de origem reno-
por mais de 80% de energia renovável, exportadores de hidrogênio verde e de- vável, e um módulo eletrolisador para
o Brasil é visto como forte candidato a rivados”, afirma Monica Saraiva Panik, produção de combustível, com capaci-
se tornar uma potência do hidrogênio consultora da Federação das Indústrias dade para produzir 250Nm3 (metros
verde, especialmente por seu poten- do Estado do Ceará (FEIC) e diretora de cúbicos normais) do gás.
cial exportador. “A transição energética Relações Institucionais da Associação Outras multinacionais estão interes-
mudará a geopolítica do comércio in- Brasileira de Hidrogênio (ABH2). sadas em investir. A Qair Brasil anun-
ciou que deve alocar R$ 35 bilhões em
duas plantas com capacidade de pro-
duzir mais de 2 mil MW de hidrogênio
verde já na primeira fase de implemen-
tação, prevista para 2025. A companhia
planeja usar energia elétrica gerada em
parques de energia eólica que devem ser
O HI DROG ÊNI O construídos em Acaraú, no Ceará. Já
a Engie prevê uma unidade industrial
V ER DE AI NDA C U STA com capacidade instalada de 100 a 150
MW até 2026. A Fortescue anunciou o
início da sua operação para 2028, e a
Q UASE QUATRO AES Brasil, para 2029.
A iniciativa incluiu um acordo en-
VEZ ES MAI S QU E tre os portos de Pecém e de Roterdã.
A capital holandesa prepara-se para
importar 4 milhões de toneladas do
O C I N ZA, OB TI DO produto e distribuí-lo por meio de ga-
sodutos, caminhões e navios à Europa.
DE F ONTE FÓSSI L Para atingir suas metas climáticas, a
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INVESTIMENTO Primeiro hub da tecnologia no país, complexo no Ceará recebeu US$ 30 bilhões de empresas nacionais e estrangeiras
União Europeia pretende importar 10 Camaçari (Bahia), com capacidade ins- verde no país. Para isso, é necessário
milhões de toneladas até 2030. talada de 100 mil toneladas por ano de fortalecer a indústria nacional, fomen-
O sucesso do complexo cearense na hidrogênio verde até 2027. A primeira tando a produção de componentes,
atração de investimentos – incluindo etapa do projeto, já em curso, teve inves- máquinas e equipamentos até 2030.
US$ 135 milhões do Banco Mundial timento de R$ 600 milhões e conta com Também é preciso reduzir o valor geral
para expansão do porto do Pecém – três eletrolisadores produzidos pela ale- das energias renováveis, que corres-
motivou outros estados a entrarem no mã ThyssenKrupp. “Temos acesso à in- pondem a 60% do custo do hidrogênio
segmento. Existem hoje 59 projetos de fraestrutura e a fontes de energia limpa verde. “Políticas públicas e incentivos
hidrogênio em todo o país. no Polo Petroquímico de Camaçari. E fiscais são essenciais na redução do
Outra iniciativa de peso foi anun- operamos um dos dois únicos terminais custo e garantia do protagonismo do
ciada pela Unigel no início de 2023. de amônia no Brasil, no porto de Aratu, Brasil”, diz Juliano Bonacin, professor
A empresa anunciou que pretende também na Bahia”, declarou Roberto do Instituto de Química da Unicamp e
ser pioneira no país na produção de Noronha Santos, CEO da Unigel. especialista no tema. “Se o Brasil inves-
hidrogênio verde em grande esca- Passar das plantas piloto para a es- tir corretamente, podemos virar refe-
la. Com investimentos estimados em cala comercial, aumentando a produção rência mundial na produção de hidro-
R$ 7,8 bilhões, a meta é concluir até e reduzindo os custos, é um dos grandes gênio verde. Nós reunimos todos os
2027 a construção de uma planta em desafios para o avanço do hidrogênio fatores para isso.”
ENERGIA LÍQUIDA
DESCARBONIZANDO
A AVIAÇÃO
A P2X-Europe, joint venture criada
pelas empresas alemãs H&R e a
Mabanaft, desenvolve a tecnologia
Power-to-Liquid, que tem como
objetivo descarbonizar a aviação e a
indústria química por meio de novos
combustíveis líquidos. O produto
da joint venture é composto por
hidrocarbonetos sintéticos verdes,
gerados a partir da combinação de
CO2 capturado e hidrogênio verde. Os
chamados e-combustíveis prometem
reduzir de 90% a 100% as emissões
de gases de efeito de estufa, quando
comparados ao combustível de
aviação convencional, segundo
a empresa. Além da Alemanha,
países como Portugal e Espanha já
autorizaram a instalação de fábricas
da P2X-Europe em seu território. A
previsão é que a produção comercial
comece em 2026.
Pioneira na instalação de parques de energia solar no mar, a Oceans of Energy surgiu em 2016 como
alternativa à escassa área terrestre na Holanda. Há três anos, os painéis fotovoltaicos flutuantes
enfrentam as águas agitadas do Mar do Norte, onde geram 0,5 MW de energia, escaláveis por meio de
ONDA VERDE
ampliação da estrutura. Em 2022, o parque resistiu à tempestade mais forte em meio século, com ondas
de dez metros e ventos de 140 km/h por seis dias seguidos. O sistema de amarração no fundo do mar
PLACAS SOLARES mantém o parque fixo nas condições mais adversas. A iniciativa enfrenta críticas de impacto na vida
marinha mas, segundo a empresa, os fitoplânctons, que dependem de luminosidade para reprodução, não
NO MAR são afetados, já que as correntes marítimas impedem que fiquem muito tempo sob a estrutura.
A construção civil responde por 37% das emissões globais, segundo o Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma), enquanto a indústria do cimento, sozinha, responde por 7%. A Votorantim
Cimentos aposta no coprocessamento, tecnologia que substitui o combustível fóssil por materiais
BIOMATERIAIS
alternativos, como resíduos e biomassas, nos fornos de produção. O caroço de açaí, por exemplo, é um dos
materiais utilizados. Globalmente, a empresa planeja investir R$ 977 milhões nos próximos cinco anos
SOLUÇÕES para ampliar a capacidade de gerenciamento de resíduos. Outra solução para descarbonizar a construção
civil é o uso da casca do murumuru, um fruto da Amazônia, para substituir o cimento na produção de
CONCRETAS concreto - pesquisa nesse sentido foi divulgada pelar Universidade Federal do Pará.
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DANIEL SALLES
NOVO PRODUTO Em relação ao diesel verde, produzido de gorduras animais ou óleos vegetais, o BeVant, da Be8, custa quase a metade
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produto para a Europa e os Estados Unidos. No emissões da temida fumaça preta em
ano passado, quando faturou R$ 9,6 bilhões, a até 90%, e as de monóxido de carbo-
companhia produziu mais de 889 milhões de no em até 50%. “Os biocombustíveis
litros desse combustível, o que representa 14,24% são uma solução competitiva para
do market share do segmento. Em outubro, ela superarmos, no curto prazo, os de-
lançou um novo biocombustível, o Be8 BeVant, safios da descarbonização”, afirma
que serve de alternativa para o óleo diesel, cuja Erasmo Carlos Battistella, fundador
queima é altamente poluente. Trata-se de um metil éster bidestilado que pode e presidente da Be8. “Essa alternati-
ser usado para abastecer qualquer veículo a diesel, a exemplo de caminhões va não depende de investimento em
e ônibus. Também por ser misturado com o diesel tradicional, sem prejuízo infraestrutura ou troca de motores,
para o funcionamento dos motores. É indicado tanto para veículos quanto para como no caso da adoção do hidro-
geradores de energia e equipamentos utilizados por setores diversos. gênio e do biometano, e até mesmo
Em relação ao diesel verde, que é produzido a partir do processamento dos veículos elétricos”. A companhia
de gorduras animais ou de óleos vegetais, como o de soja e o de palma, o também pretende produzir etanol em
VANTAGEM Biocombustíveis não requerem nova infraestrutura ou troca de motores, diz Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8
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M E T A I S R A R O S
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D O S A L AO A L G O DÃO,
N O VA S S O L U Ç Õ E S P A R A
ARMAZENAR ENERGIA
ABUNDANTE E DE FÁCIL EXTRAÇÃO, O SÓDIO GANHA ESPAÇO ENTRE AS ALTERNATIVAS DE
ARMAZENAMENTO DE ENERGIA COM MENOR IMPACTO AMBIENTAL
MARTINA MEDINA
ABUNDANTE Presente no sal marinho, o sódio é o principal elemento das novas baterias, que são mais limpas mas rendem menos que as de lítio
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A
construir grandes sistemas de baterias, capa- e cascas de sementes de melão, tam-
zes de armazenar a energia gerada por fontes bém é estudado como matéria-prima
intermitentes, como a fotovoltaica e a eólica. para baterias. “A utilização de mate-
Só assim será possível garantir o fornecimen- riais mais comuns tende a diminuir
to estável – as interrupções trazem danos aos muito os custos de produção”, diz
sistemas de transmissão – e fazer uma reserva Daniel Caiche, professor de pós-gra-
considerável, para cobrir os períodos em que duação em ESG e Sustentabilidade
essas fontes não estarão disponíveis. Outra questão fundamental envolve a Corporativa da FGV. “Alguns desses
substituição das baterias atuais, que, em sua maioria, levam em sua composi- materiais também podem ser mais
ção o lítio, um recurso escasso na natureza. Outros ingredientes são o cobalto facilmente reciclados.”
e o níquel, outros metais raros que, como o lítio, geram impacto ambiental Elemento presente no sal mari-
durante sua extração e processamento. nho, abundante nos oceanos, o sódio
Como alternativa sustentável, a indústria tem procurado desenvolver tem sido a maior aposta industrial
baterias com componentes mais abundantes, como o ferro-fosfato, o sódio para reduzir o uso do lítio. A China
e o carbono. A empresa PJP Eye, em impera no mercado, com 34 empre-
conjunto com pesquisadores da Uni- O próximo passo, se tudo der certo, sas nacionais produzindo baterias
versidade Kyushu, ambas do Japão, serão os veículos elétricos. de sódio, incluindo a CATL, a maior
produz baterias de carbono a partir Enquanto isso, na New York fabricante de baterias de lítio do pla-
da queima de algodão residual da in- University, pesquisadores estudam neta. O estudo de baterias com novas
dústria têxtil. Por enquanto, as no- o potencial de baterias feitas com composições químicas foi definido
vas baterias são usadas apenas para quinonas, como são chamados os como uma das prioridades do atual
abastecer caixas eletrônicos. Em uma pigmentos biológicos encontrados plano quinquenal do país, que domina
próxima etapa, serão empregadas nas plantas. Nessa primeira fase, o 80% do mercado global de baterias.
para alimentar bicicletas elétricas. objetivo é que sejam aplicadas a apa- Entre as empresas fora da China com
destaque na produção estão Altris, na
Suécia, AR4 Tech, na Índia, Faradion,
no Reino Unido, e a francesa Tiamat.
No Brasil, um grupo da Faculdade
de Engenharia Elétrica e Computação
da Universidade Estadual de Cam-
pinas (Feec-Unicamp) desenvolve o
A C HINA IMP ERA primeiro protótipo de bateria de sódio
do país. A equipe liderada pelo físico
N E SSE MER CA DO, Hudson Zanin produz um protótipo
com a mesma capacidade de armaze-
namento das baterias mais simples
COM 34 EMP R ES AS de lítio – aquelas que contêm ferro e
fosfato e são usadas nos carros elé-
NACIONA IS tricos da chinesa BYD, por exemplo.
“As baterias de sódio têm condições
de ocupar uma fatia importante do
PRODUZINDO mercado. Segundo as nossas proje-
ções, 25% do mercado de bateria será
BATE RIA S DE S ÓDIO ocupado por sódio”, diz Zanin.
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ATRASO Para Hudson Zanin, da Feec-Unicamp, a falta de regulação para baterias de sódio retarda a transição: risco alto para o investidor
Mas, afinal, por que o lítio con- celulares, carros elétricos e satélites, reduzindo ao máximo o uso de mine-
tinua imperando nas baterias, ape- por exemplo. Mas seu uso continua rais raros. Não existe milagre.”
sar de todas as vantagens do sódio valendo para veículos de carga pesa- Apesar de sua potencial aplicabi-
e das demais baterias? “A resposta da, como caminhões, trens e navios, lidade em setores importantes, a ba-
está na menor densidade e eficiência bem como nos chamados sistemas teria de sódio enfrenta outro grande
energética dessas baterias alternati- estacionários, que incluem painéis desafio em muitos países: a falta de
vas, que tendem a ser inferiores em solares e turbinas eólicas. regulamentação para o seu uso. Sem
comparação com as baterias de íon de “É um equívoco achar que a ba- uma legislação regendo o produto e
lítio, o que pode limitar sua aplicação teria de sódio vai resolver nossos seu processo fabril, torna-se difícil
em certos contextos”, diz Caiche, da problemas de armazenamento de investir em sua expansão. “É um ris-
FGV. “Mas é possível que venham a energia”, diz Caiche, lembrando que co muito alto para o investidor”, afir-
apresentar um melhor desempenho a nova opção também precisa de ma Zanin, para quem a China conti-
no futuro.” pelo menos um mineral raro em sua nuará fornecendo bateria de sódio
As baterias de sódio, por exemplo, produção: o vanádio. “A mineração para os demais países por algum
são 30% menos potentes do que as de sempre estará envolvida na produção tempo. “No Brasil, pode levar até dez
lítio. Além disso, são maiores e mais das baterias. O que podemos fazer é anos até conseguirmos uma regula-
pesadas, o que limita sua aplicação a mitigar o impacto no meio ambiente, mentação para o tema.”
Foto: divulgação
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ENERGIA DO OCEANO
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REDUÇÃO DE DANOS
MINERAÇÃO
PÉ NO CHÃO
O Brasil tem 5,4 milhões de hectares
de minas legalmente ativas. Se todas
forem exploradas, estima-se que
2,55 gigatoneladas de gás carbônico
equivalente serão emitidas, seja
pela perda de vegetação, seja por
mudanças no solo, segundo a Escola
RESTAURAÇÃO Os recifes de coral estão entre os ecossistemas de
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
DE ECOSSISTEMA
(Esalq). Para reduzir os danos, uma maior valor ecológico e econômico do planeta. Cobrindo
menos de 0,1% do oceano, eles sustentam mais de 25%
alternativa é construir tecnossolos
– solos artificiais feitos a partir de A FANTÁSTICA da biodiversidade marinha, fundamental para manter
as características do oceano e evitar os impactos das
resíduos da própria atividade, ou FÁBRICA DE CORAIS mudanças climáticas. Além disso, servem de apoio a
industriais e urbanos. Os tecnossolos 1 bilhão de pessoas, fornecendo proteção costeira, produção
servem de substrato para plantas e pesqueira e rendimentos turísticos. Mas, nos últimos 30
sequestram carbono com o acúmulo anos, cerca de 50% dos corais morreram, e 90% podem
desaparecer até o fim deste século. No Brasil, a startup
de matéria orgânica. Há potencial de
Biofábrica de Corais trabalha com sua restauração em Porto
reter até 1 gigatonelada de carbono, de Galinhas, no litoral de Pernambuco. Um dos financiadores
ou 60% do que seria emitido por é a Fundação Grupo Boticário, que destinou R$ 300 mil
mudanças no solo. para a metodologia de transplantação de corais.
Até a metade do século, seremos quase 10 bilhões de pessoas. Um dos desafios será alimentar a
população do futuro com baixa emissão de carbono. A produção de proteína animal em laboratório é
uma das apostas para isso. A carne continuará sendo um produto de origem animal, mas o alimento será
CARNE CULTIVADA
gerado a partir de células cultivadas, e não de um ser vivo. Com isso, elimina-se o problema do metano, gás
altamente poluente gerado pelo processo digestivo dos bovinos. Em julho deste ano, os EUA aprovaram
CARDÁPIO DE esse tipo de produção de duas empresas: Upside Foods e Good Meat. No Brasil, a expectativa é que o
produto esteja disponível a partir de 2024. A JBS construiu o primeiro centro de inovação e pesquisa
LABORATÓRIO dedicado ao tema no país em Florianópolis (SC), com investimento de US$ 22 milhões.
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ENTREVISTA H I M A N S H U G U P T A
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E M B U S CA DA
R E S I L I Ê N C I A C L I M ÁT I CA
USANDO IA, DEEP LEARNING E DADOS ARTIFICIAIS, A CLIMATEAI CONSEGUE PREVER EVENTOS
EXTREMOS, COMO ONDAS DE CALOR, CICLONES E FURACÕES. É ASSIM QUE HIMANSHU GUPTA
QUER AJUDAR EMPRESAS E GOVERNOS A ENFRENTAREM A CRISE CLIMÁTICA
NENHUM PROBLEMA É hoje mais grave ou urgente do que a crise climática. Por isso,
além de tentar reduzir o volume de emissões dos gases de efeito estufa, empresas, governos
e organizações deveriam criar planos de resiliência climática: medidas preventivas que os
N
ajudassem a enfrentar os eventos que ainda estão por vir, como ondas extremas de calor
e frio, secas, enchentes, ciclones, furacões e tsunamis. É nisso que acredita Himanshu
Gupta, que fundou a ClimateAi em São Francisco, ao lado de Maximilian Evans, com
quem havia estudado na universidade de Stanford.
O objetivo da startup é criar uma espécie de “economia à prova de mudanças climáticas”.
Para alcançar essa meta, lançaram a ClimateLens. A plataforma, eleita uma das invenções
do ano de 2022 pela revista Time, combina inteligência artificial, machine learning, big data e deep learning para entregar
insights e recomendações práticas aos agricultores, às empresas e ao poder público. Hoje, a ClimateAi tem como clientes
45 empresas – entre elas, três gigantes da alimentação dos Estados Unidos: McCain Foods (receita anual de US$ 11 bilhões),
Dole (US$ 6,5 bilhões) e The Wonderful Company (US$ 4 bilhões). Mas o objetivo maior de Gupta – que, entre 2013 e 2014,
foi o responsável por elaborar o plano de redução de emissões de carbono do governo da Índia – é ajudar a garantir a segu-
rança alimentar do planeta, além de preservar a sua biodiversidade. Ele contou como quer fazer isso a Época NEGÓCIOS.
ZE OTÁVIO
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ONDA DE CALOR São Paulo atingiu a temperatura de 37,1 ºC em novembro; sensação térmica chegou a 40 ºC
ÉPOCANEGÓCIOS Por que decidiu criar uma balhei para o governo da Índia. Todos artificial, machine learning, deep lear-
empresa voltada para a resiliência os anos, os produtores de algodão no ning e big data para entregar insights
climática? oeste do país eram afetados pela seca e e recomendações práticas aos clientes,
HIMANSHUGUPTA Veja bem, eu cresci numa ficavam arruinados. Naquela época, em que podem assim adaptar suas ope-
cidade muito pequena no norte da Índia, 2014, empresas de moda como H&M e rações e esquemas de prevenção (no
em uma região de agricultores que depen- Levi’s se aproximaram do governo para caso dos governos), reduzir o risco
diam muito das chuvas de monções. Elas buscar uma solução que melhorasse a climático para suas colheitas (no caso
começavam em junho e continuavam até resiliência dos produtores de algodão. dos agricultores) ou cadeias de supri-
setembro. Todos os anos, se houvesse um Percebi que, em pouco tempo, todas as mentos (para os outros setores).
atraso ou uma variação no volume das companhias iriam ter o mesmo proble-
chuvas, as torneiras secavam. Lembro-me ma: como criar cadeias de suprimentos NEGÓCIOS Qual o diferencial em relação a
de fazer uma viagem com minha mãe e sem ter informações precisas sobre as outras empresas ou organizações que
três de meus irmãos, num calor de 42 ou variações do clima? Foi aí que começou já fazem previsões climáticas?
43 graus, para buscar água num rio próxi- a nascer a ideia da ClimateAi. GUPTA Uma simples previsão do tempo
mo. Foi um chamado pessoal: eu precisava feita por um aplicativo geralmente se
mudar aquela situação. NEGÓCIOS Como funciona a tecnologia? estende por até duas semanas. Mas nós
Mais tarde, voltei a me deparar com GUPTA Criamos uma plataforma, a Cli- vamos muito além disso. Porque, se você
uma situação semelhante quando tra- mateLens, que combina inteligência é empresário, governante ou agricultor,
é claro que vai precisar de muito mais climáticas serão a principal razão para a muitos testes, o que tomaria de três a
antecedência para tomar decisões. É aí disrupção dos mercados. A resiliência e quatro anos, e custaria muito dinheiro.
que reside a nossa singularidade: forne- a capacidade de adaptação vão separar Agora é possível fazer isso com dados
cer dados para tomadas de decisão em os vencedores dos perdedores no mundo sintéticos, simulando digitalmente o
um prazo de duas semanas até 40 anos. industrial. Veja bem, a única linguagem desempenho de novas variedades. E
Um dos recursos que usamos para que as empresas entendem é a linguagem lançar as sementes resistentes antes
isso são os dados sintéticos. Veja bem, os do retorno sobre o investimento. Cita- dos concorrentes, o que torna a em-
furacões e as tempestades tropicais são mos para elas uma pesquisa da Comissão presa mais competitiva.
um grande problema em nível mundial, Global para a Adaptação da ONU, que é
mas não há muitos registros públicos dis- o maior órgão mundial sobre o tema. A NEGÓCIOS Parece ótimo para os negócios,
poníveis, mesmo nos Estados Unidos. pesquisa diz que cada dólar investido em mas como isso ajuda o planeta?
Você pode criar conjuntos de dados ar- adaptação e resiliência traz um retorno GUPTA Veja, existem múltiplas dimensões
tificiais, como gerar um furacão sintético de cinco a seis vezes sobre o investi- para as mudanças climáticas e o modo
e ver para onde ele viaja e quais cidades mento. No caso dos governos, além de como elas estão impactando o planeta.
ele impacta. Depois, adicionamos esse apontar o retorno do investimento para Vamos falar sobre os sistemas alimenta-
conjunto de dados sintéticos aos dados as empresas da região, também falamos res, por exemplo. Basicamente, sabemos
reais para enriquecê-los. E alimentamos em geração de empregos e renda. Além que as indústrias da agricultura e da
nossos modelos para prever qual cidade disso, há um ganho enorme em conseguir alimentação são as mais vulneráveis ao
estará sob maior risco nos próximos três prever com antecedência eventos extre- clima, mas também a tábua de salvação
meses ou nos próximos 20, 30 anos. mos como furacões, tsunamis e ondas de da economia mundial. Podemos viver
calor. Pode ser a diferença entre evitar sem roupas novas, sem tecnologia, sem
NEGÓCIOS Seu trabalho envolve convencer ou não uma catástrofe. internet, mas não sem comida. A procu-
empresas e autoridades de que preci- ra por alimentos está aumentando, mas
sam desenvolver essa resiliência. Como NEGÓCIOS Pode dar um exemplo prático a oferta está diminuindo. O problema é
são essas conversas? desse uso da IA? que cada vez mais agricultores abando-
GUPTA Não falamos com eles sobre ESG GUPTA Digamos que uma empresa de nam o negócio, porque não é mais ren-
ou crise climática, nada disso. Para as alimentação queira lançar um tipo tável. Se pudermos ajudar as empresas
empresas, nosso argumento é muito sim- de soja resistente à seca no Brasil. de sementes e as empresas alimentares
ples. Daqui para a frente, as mudanças Normalmente, ela precisaria realizar a melhorarem a resiliência dos agricul-
tores, isso vai ajudar o setor a se tornar
mais eficiente e gerar menos emissões,
além de garantir a segurança alimentar.
A tecnologia também pode ser usa-
da para simular a biodiversidade de
“ DAQ UI PA R A A F RENTE, determinado local. Em vez de sair plan-
tando eucaliptos, uma empresa que
A CAPAC IDA DE DE S E queira combater as mudanças climáticas
pode simular o formato original daque-
le bioma e replicá-lo, para que remova
ADAPTAR AO CLIMA carbono do ar. No futuro, quem sabe
nós consigamos simular o desempenho
VAI S EPA R A R OS de materiais como potenciais supercon-
dutores? Se pudéssemos criar tecnolo-
gias de supercondutores em escala,
VE NCEDOR ES DOS poderíamos armazenar energia infini-
tamente. Imagine o ganho que isso tra-
PE RDEDOR ES ” ria ao meio ambiente.
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ENTREVISTA E M M A M A Z H A R I
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C O R R E ÇÃO D E R OTA
LÍDER DE ENERGIA E DE TRANSIÇÃO ENERGÉTICA DA MAERSK, EMMA
MAZHARI EXPLICA COMO O SETOR DE TRANSPORTE MARÍTIMO PODE
REDUZIR AS EMISSÕES DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
DANIEL SALLES
ONA DA MAIOR frota marítima do mundo, a Maersk opera em 130 países e emprega
mais de 100 mil pessoas. Apesar de ser uma das líderes mundiais de transporte por mar
utilizando combustíveis fósseis – em 2022, sua receita foi de US$ 81,5 bilhões –, a empresa
D
tem feito esforços concretos para reduzir suas emissões de carbono. Para atingir esse
objetivo, conta com a determinação de Emma Mazhari, head de Mercados de Energia
e de Recursos Verdes. Há oito anos na empresa, Emma foi uma das maiores defensoras
da transição para combustíveis limpos como o metanol verde e a amônia verde. “Está
ficando evidente que o metanol verde é a escolha certa para o transporte marítimo nesta
década”, diz a executiva.
O primeiro cargueiro verde a singrar os oceanos pertence ao conglomerado dinamarquês, que encomendou outras 24
embarcações do tipo. “O fornecimento adequado para a crescente demanda por combustível verde é a principal barreira
para que nosso setor diminua o uso de opções fósseis”, acrescenta Emma. “E só conseguiremos uma transição completa
de energia na indústria de transporte marítimo se houver uma regulamentação global que ajude a reduzir as diferenças
de preços dos combustíveis.” Leia, a seguir,os melhores trechos da entrevista que Mazhari concedeu a Época NEGÓCIOS.
ZE OTÁVIO
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ÉPOCA NEGÓCIOS Qual é o papel dos na- emissões, o design inteligente de navios NEGÓCIOS Qual é o espaço do metanol
vios verdes no desenvolvimento de e a adesão a padrões de certificação verde no futuro do transporte ma-
cadeias de abastecimento neutras ambiental contribuem para a sustenta- rítimo?
em carbono? bilidade geral das embarcações. MAZHARI Estamos atualmente focando
EMMAMAZHARI Eles desempenham um pa- Deve haver um comprometimento no metanol verde para nossos novos
pel crucial. Em conjunto, as cadeias de ao longo de todo o processo para re- navios porque é a tecnologia disponível
abastecimento são responsáveis por duzir as emissões no ciclo de vida dos para causar impacto em nossa indústria
11% das emissões globais de carbono, navios, desde a produção até a desa- já nesta década. Motores a metanol já
enquanto o transporte marítimo res- tivação. Com navios mais eficientes e estão disponíveis no mercado. E expe-
ponde por 3%. Enfrentamos, atualmen- maiores e o aprimoramento da produti- riências com a operação segura dessa
te, uma crise climática, e é imperativo vidade portuária, o que inclui a redução opção em condições marítimas tam-
priorizar a eficiência energética e a dos tempos de espera das embarcações, bém já existem. Portanto, é a solução
descarbonização do transporte oceâ- a Maersk reduziu suas emissões em mais viável, hoje em dia, para o trans-
nico, com a transição para os com- quase 40% entre 2008 e 2022. Temos porte oceânico reduzir suas emissões.
bustíveis verdes. A incorporação de compromisso com os clientes que so- No entanto, é preciso acelerar
tecnologias de ponta que aumentam licitam cadeias de abastecimento zero o desenvolvimento do mercado de
a eficiência energética e reduzem as emissão antes de 2040. metanol verde. Sem embarcações en-
A FORÇA DA LEI Uma legislação global poderia nivelar parte da diferença de preço entre os combustíveis fósseis e os verdes
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ARTIGO T E C N O L O G I A S V E R D E S
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OS RISCOS
DA S S O L U Ç Õ E S
T E C N O L Ó G I CA S PA R A A
C R I S E C L I M ÁT I CA
ACHAR QUE A TECNOLOGIA NOS SALVARÁ É UM RISCO MORAL, QUE PODE NOS LEVAR A
TOMAR ATITUDES ARRISCADAS OU COMPLACENTES
GERNOT WAGNER *
T
tar também suas implicações no uso do solo e das redes de
transmissão. Assim como não podemos defender o hidrogênio
verde sem abordar as potenciais consequências do vazamen-
to do gás, que pode rapidamente transformar uma solução
promissora em uma fonte de grandes problemas ambientais.
É louvável aplaudir o rápido crescimento do mercado de
veículos elétricos, mas é igualmente importante considerar
o vasto potencial de alternativas como as e-bikes (ou mesmo
as bicicletas tradicionais) e as cidades inteligentes, nas quais
talvez os veículos não sejam necessários.
Transformar esses debates em dilemas é inútil. Não temos
que escolher entre veículos elétricos e e-bikes. Mendigos cli-
TUDO, DE CINTOS DE SEGURANÇA a preservativos, pas- máticos como nós não têm direito a escolha. Mas as discussões
sando pelo seguro saúde ou pelos resgates dos governos aos sobre os prós e contras são cruciais, e revelam muito sobre
bancos, nos convida a adotar atitudes perigosas, ou o que os nossas prioridades e visões de mundo. Por que, quando se
economistas chamam de “risco moral” – uma situação em fala em Alemanha, o foco fica todo na eliminação da energia
que o indivíduo, ao ver diminuídos os riscos de uma perda nuclear, que todos esperam que aconteça dez anos antes de
ou o seu ônus, acaba por assumir um comportamento mais o país deixar de usar o carvão? Por que, em vez disso, não
arriscado, como acelerar mais o carro porque tem seguro, elogiar os prédios inteligentes alemães e adotá-los como um
por exemplo. Até mesmo as intervenções mais justificadas e modelo para o resto do mundo? As “janelas bem seladas” da
bem intencionadas podem ter consequências imprevisíveis Alemanha não ganham manchetes, mas os investimentos nes-
– e indesejáveis. Nas décadas de 1960 e 1970, muitos am- sa tecnologia sem graça podem contribuir mais para a redução
bientalistas se opuseram à energia nuclear, porque sua pro- das emissões do que algumas inovações mais exuberantes.
messa de energia barata e ilimitada contrariava o movimen- Nessa discussão sobre soluções climáticas, o que realmen-
to deles por eficiência energética e consumo consciente. te importa é a integração entre tecnologia, políticas públicas
Esse tipo de debate continua até hoje. Quais tecnologias e mudança de comportamento. Embora os fogões de indução
climáticas merecem nosso apoio e quais são apenas distrações (movidos por energia elétrica) por si sós não causem uma
que poderão nos levar à complacência, com a falsa promessa grande redução nas emissões globais ou individuais de gases
de uma solução mágica? A lista de “soluções” climáticas está de efeito estufa, trocar o fogão tradicional por um de indução é
em constante expansão, e hoje inclui tudo, desde tecnologias muitas vezes o último passo antes de desligar completamente
futuristas de fusão nuclear até o hidrogênio verde, de bombas os aparelhos movidos a gás. Esses novos fogões estão entre as
de calor até um melhor isolamento de ambientes – passando, tecnologias climáticas que permitiram que os edifícios inte-
é claro, pelas energias solar e eólica. ligentes se livrassem completamente do gás. E, como todos
A mídia adora paparicar os “unicórnios” da tecnologia precisam comer e regular a temperatura da casa, nenhuma
verde (startups com avaliações acima de US$ 1 bilhão) que das tecnologias gera muito risco moral.
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Consideremos agora as tecnologias de captura de car- zação que já foi alcançado. Existem dezenas de maneiras de
bono. Elas têm um papel crucial a desempenhar na criação reduzir as emissões em 5%, 10% ou mesmo 20% em cada setor.
de um futuro com baixas emissões, mas também encerram A maioria delas envolve mudanças de processos destinadas a
a promessa – justificável ou não – de permitir que continue- aumentar a eficiência. Um aquecimento a gás mais efetivo, por
mos vivendo sem modificar nossos padrões de produção e exemplo, reduzirá rapidamente as emissões em 10% ou 20%.
consumo – afinal, todo o carbono que produzirmos será, em Mas simplesmente aprimorar os atuais processos baseados
tese, removido do ar. Será esse um raciocínio válido? em combustíveis fósseis não vai nos levar muito longe.
O que queremos preservar do antigo mundo, e quais so- Para reduzir a geração de gases de efeito estufa em algo
luções inovadoras iremos adotar é, em última instância, uma como 80% ou mais, é preciso substituir os combustíveis fósseis
questão política. Enquanto alguns aprovarão os veículos elé- por fontes de energia limpas. Na maioria dos setores, existe
tricos como forma de descarbonizar suas viagens dos bairros apenas uma ou duas formas de reduzir as emissões nesse nível.
para o centro, outros verão aí um novo risco moral. Afinal, Na construção civil, por exemplo, grandes reduções exigem a
quanto mais eficientes se tornarem os carros, mais livres de instalação de isolamento e bombas de calor. No aço, envolvem
culpa poderemos dirigir – e menos nos importaremos com o hidrogênio verde ou a eletrificação total da indústria – um
as emissões geradas pela fabricação daquele veículo. sistema de reciclagem de carbono em circuito fechado é um
Em vez de continuarmos gastando tempo com longos forte candidato a se tornar a terceira alternativa.
deslocamentos, por que não realizar mudanças de zoneamento A questão-chave quando se considera o risco moral cli-
que tornem os bairros mais acessíveis a pé? Em vez de sempre mático, então, é se uma tecnologia aproxima uma empresa ou
procurar o que há de mais moderno, podemos descobrir que um setor de alcançar 80% ou mais de redução de emissões,
algumas das soluções tecnológicas mais poderosas já estão em vez de algo como 10% ou 20%, o que apenas empurra
funcionando no mundo real. Basta olhar para uma cidade eu- o problema para mais tarde. Seu novo veículo elétrico não
ropeia tradicional. Andrej Karpathy, ex-chefe de inteligência reduzirá suas emissões de transporte a zero por si, mas pelo
artificial da Tesla, se deslumbra: ela é “mais compacta, mais menos tem potencial para ser uma solução de 80%.
densa e mais amigável para pedestres e ciclistas”. É um risco moral pensar que a tecnologia nos salvará – isso
Uma consideração final é sobre como algumas tecnologias pode nos deixar preguiçosos e irresponsáveis. No entanto, é
climáticas são tão absurdas que podem nos levar a evitar o igualmente perigoso ignorar as inovações que poderão mudar
risco moral. A geoengenharia solar – a proposta de injetar o jogo, se forem acompanhadas por certos tipos de práticas,
compostos químicos na atmosfera para reduzir o influxo de investimentos e compromissos políticos. Afinal de contas, a
raios solares e, assim, “resfriar” o planeta – é considerada possibilidade de uma solução climática criar um risco moral
tão radical e controversa que a simples menção a ela pode tem pouco a ver com a solução em si, e tudo a ver conosco.
nos motivar a reduzir mais, e mais rapidamente, as emissões.
Mas, claro, não devemos apostar nesse efeito.
Como, então, avaliar se alguma tecnologia climática cum- *GERNOT WAGNER é economista do clima, professor da New York Univer-
prirá sua promessa? Embora não exista um método infalível, sity, autor do livro Geoengineering: The Gamble (2021), e coautor do livro
muito se pode aprender observando o grau de descarboni- Choque Climático, ao lado de Martin L. Weitzman
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A DEMOCRACIA NA
ERA DIGITAL
A LUTA CONTRA A DESINFORMAÇÃO NAS REDES SOCIAIS DEPENDE DA AÇÃO PROATIVA
DAS PLATAFORMAS, QUE CONTAM COM UMA SÉRIE DE FERRAMENTAS PARA ISSO. O
FUTURO DA DEMOCRACIA NA ERA DIGITAL PODE DEPENDER DESSA AÇÃO
E de publicidade direciona-
da, depende da captura da
A exclusão (deletion) de contas ou de conteúdo passa pela
verificação inicial de usuários, primeiro passo para elimi-
atenção dos usuários, e está nar bots e perfis falsos que infestam as plataformas. Isso
comprovado que fake news deve reduzir comportamentos antissociais, como ameaças
podem garantir muitos cli- e comentários discriminatórios, já que estes são intensi-
ques. Na eleição presiden- ficados pelo anonimato na internet. Porém, só o trabalho
cial de 2016 nos Estados Unidos, por exemplo, a reportagem humano não dá conta da tarefa, e por isso ela vem sendo
intitulada Papa Francisco choca o mundo, endossa Donald automatizada pelo uso de inteligência artificial.
Trump para presidente foi compartilhada, comentada ou O banimento de pessoas ou comunidades e a exclusão
curtida quase 1 milhão de vezes, mesmo que o líder da de publicações suscitam, entretanto, preocupações sobre
Igreja Católica jamais tivesse dito isso. censura. Para limitar o conteúdo prejudicial sem ferir a
Por outro lado, as plataformas têm percebido que devem liberdade de expressão, adota-se outra tática, a de “rebai-
evitar se transformar em ambientes tóxicos, a menos que xar” os posts nocivos (demotion), alterando sutilmente os
queiram perder usuários e anunciantes. Isso é algo que o X, algoritmos para diminuir sua visibilidade, sem removê-los
antigo Twitter, constatou recentemente, quando seu dono, completamente.
o empresário Elon Musk, publicou um post concordando Outra estratégia é retardar a disseminação online da
com uma teoria conspiratória antissemita. A postagem le- desinformação (delay), introduzindo “fricções” em seu pro-
vou corporações do porte da Apple e da Disney a suspender cesso de propagação. Pesquisas demonstram que cada passo
seus gastos com publicidade naquela rede. adicional necessário para compartilhar notícias falsas – por
Talvez mais pelo receio da perda de receita do que pelo exemplo, obrigar a pessoa a copiar e colar manualmente o
amor ao discurso saudável, diversas estratégias vêm sendo texto em uma nova postagem – reduz significativamente
desenvolvidas para controlar o que circula nas redes. Natha- a probabilidade de que estas viralizem.
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* EDUARDO FELIPE MATIAS É AUTOR DOS LIVROS A HUMANIDADE E SUAS FRONTEIRAS E A HUMANIDADE CONTRA
AS CORDAS, GANHADORES DO PRÊMIO JABUTI, E COORDENADOR DO LIVRO MARCO LEGAL DAS STARTUPS. DOUTOR
EM DIREITO INTERNACIONAL PELA USP, FOI VISITING SCHOLAR NAS UNIVERSIDADES DE COLUMBIA, EM NY, E
BERKELEY E STANFORD, NA CALIFÓRNIA. É SÓCIO DA ÁREA EMPRESARIAL DE ELIAS, MATIAS ADVOGADOS
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quanto ao objeto de pesquisa. Como ele é uma sumidade permitiu descobrir a estrutura e as funções do ribossomo, o
num determinado assunto, trata-se da melhor pessoa para componente subcelular que produz a proteína. Seu trabalho
definir o que vai pesquisar. Dessa maneira, conta com total estabeleceu uma base para o desenvolvimento de medica-
liberdade de escolha, algo que não costuma acontecer na mentos para vários tipos de leucemia, glaucoma e HIV, assim
grande maioria dos centros de pesquisa. como antipsicóticos e antidepressivos. Por essa descoberta,
Com 89 anos de história, o instituto é responsável por Yonath recebeu o Prêmio Nobel de Química em 2009.
inúmeras descobertas que usamos no nosso dia a dia. Na dé- Para não ficar só no campo da saúde, o professor Michael
cada de 1950, o professor Efraim Frei desenvolveu o sistema Adams desenvolveu uma tecnologia de compressão de ima-
T-Scan para detecção do câncer de mama. Na mesma época, gens digitais, que denominou JPEG, e que hoje é um impor-
o professor Leo Sachs descobriu que células extraídas do tante padrão de armazenamento e transmissão de imagens.
líquido amniótico podiam ajudar a diagnosticar possíveis Os produtos originados no Instituto Weizmann movi-
anomalias genéticas ou infecções pré-natais em fetos em mentam hoje cerca de US$ 37 bilhões. O centro é um exem-
desenvolvimento. Seu trabalho se tornou conhecido como plo de como iniciativas científicas podem ser bem-sucedi-
amniocentese, um procedimento de rotina até hoje reali- das, mesmo em um país pequeno, com total ausência de
zado em mulheres grávidas em todo o mundo. recursos naturais, com um pequeno mercado consumidor
Foi no Weizmann que a professora Ada Yonath criou um e cercado por nações inimigas. Imaginem o que poderíamos
laboratório para estudo da cristalografia de proteínas, que fazer num país como o Brasil.
FERRAMENTA QUE SALVA Daniel Morais criou um site para quem quer fazer trabalho voluntário, mas não sabe por onde começar
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COLABORAÇÃO.
FAZENDO A ECONOMIA
CIRCULAR GIRAR.
O trabalho em equipe da SABIC está revolucionando a reciclagem.
É por isso que a SABIC introduziu a iniciativa TRUCIRCLE™ para trabalhar em
colaboração com nossos parceiros e repensar a reciclagem. As colaborações
da SABIC estão possibilitando a criação de materiais de qualidade alta o
suficiente para embalagens de alimentos, transformando resíduos plásticos
complexos e de baixa qualidade de volta ao seu estado original. Podemos
usar, reutilizar e reaproveitar mais os nossos recursos sem o uso de novos.
Através de uma inovadora tecnologia que está tornando a economia circular
uma realidade com Chemistry that Matters™.