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A exposição das indústrias frente à gestão dos incentivos fiscais na Zona Franca de

Manaus: um estudo de caso

Mariomar de Sales Lima


Jose Luiz Jorge

Resumo:

As discussões sobre incentivos fiscais no Brasil tornaram-se nas últimas décadas severas no ambiente político e
corporativo. Diante dessa constatação este artigo tem o objetivo de pesquisar e relacionar a exposição das indústrias
frente à gestão dos incentivos fiscais e a influência da política de incentivos fiscais em uma empresa localizada na
Zona Franca de Manaus (ZFM). Trata-se de uma pesquisa exploratória, realizada a partir de investigação
documental e de um estudo de caso. Os resultados mostram que a empresa pesquisada, desde sua fundação na ZFM,
buscou aproveitar em sua totalidade os incentivos fiscais ali oferecidos dentro dos âmbitos federais, estaduais e
municipais. Apesar de esses benefícios estarem disponíveis, as empresas que ali queiram utilizá-los, necessitam de
aprovação de seus projetos com a devida viabilidade econômica, estando também obrigadas a oferecer
contrapartidas pelos incentivos fiscais através de contribuições e benefícios sociais para a região. Pode-se observar
que em detrimento aos incentivos fiscais na ZFM, a necessidade da empresa alcançar o máximo de viabilidade na
gestão tributária foi impulsionada por dois fatores principais, o aumento dos concorrentes no mercado brasileiro e
sul americano e a lucratividade e velocidade de ingresso no Brasil dos produtos chineses.

Área temática: Gestão Estratégica de Custos


XIV Congresso Brasileiro de Custos – João Pessoa - PB, Brasil, 05 de dezembro a 07 de dezembro de 2007

A exposição das indústrias frente à gestão dos incentivos fiscais na


Zona Franca de Manaus: um estudo de caso
Mariomar de Sales Lima (UFAM) – msl@ufam.edu.br
Jose Luiz Jorge (UFAM) – jluizjorge@hotmail.com

Resumo
As discussões sobre incentivos fiscais no Brasil tornaram-se nas últimas décadas severas no
ambiente político e corporativo. Diante dessa constatação este artigo tem o objetivo de
pesquisar e relacionar a exposição das indústrias frente à gestão dos incentivos fiscais e a
influência da política de incentivos fiscais em uma empresa localizada na Zona Franca de
Manaus (ZFM). Trata-se de uma pesquisa exploratória, realizada a partir de investigação
documental e de um estudo de caso. Os resultados mostram que a empresa pesquisada, desde
sua fundação na ZFM, buscou aproveitar em sua totalidade os incentivos fiscais ali oferecidos
dentro dos âmbitos federais, estaduais e municipais. Apesar de esses benefícios estarem
disponíveis, as empresas que ali queiram utilizá-los, necessitam de aprovação de seus projetos
com a devida viabilidade econômica, estando também obrigadas a oferecer contrapartidas
pelos incentivos fiscais através de contribuições e benefícios sociais para a região. Pode-se
observar que em detrimento aos incentivos fiscais na ZFM, a necessidade da empresa alcançar
o máximo de viabilidade na gestão tributária foi impulsionada por dois fatores principais, o
aumento dos concorrentes no mercado brasileiro e sul americano e a lucratividade e
velocidade de ingresso no Brasil dos produtos chineses.

Palavras Chave: Incentivos fiscais, Zona Franca de Manaus, Gestão de Incentivos Fiscal

Área Temática: Controladoria

1 Introdução
O profundo conhecimento das obrigações tributárias das empresas e das várias
alternativas de procedimentos dos tributos, tendem a resultar em economias no cumprimento
do dever tributário e menor grau de eventuais penalidades fiscais, mas podem colocar em
risco os resultados a serem alcançados ou a própria sobrevivência da organização. Com a
presente carga tributária das empresas, considerando que a maior participação destes tributos
recai sobre o consumo, resulta cada vez mais na necessidade de se controlar esta variável,
buscando paralisar seus efeitos danosos sobre o resultado das empresas.
Conforme Rezende (1994), a teoria das finanças públicas relata que os incentivos
fiscais podem ser concedidos na forma de desoneração total ou parcial de tributos. Em geral
são concedidos no início das atividades das empresas, por prazos certos de tempo, de
preferência por prazos não muito longos e que sejam condicionados a inversão dos valores
incentivados nas atividades que resultem em aumento da produção, da produtividade e
desenvolvimento regional.
Com base no desenvolvimento regional, a União estabeleceu regime aduaneiro atípico
na região Norte, especificamente no estado do Amazonas, através da Zona Franca de Manaus,
fundada em incentivos fiscais. Os incentivos fiscais se configuram como isenção, redução da
base de cálculo ou alíquota, concessão de crédito presumido, alíquota zero, etc. Como
exceção aos princípios da generalidade e da universalidade da tributação, os incentivos fiscais
só podem ser concedidos para promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico
entre as diferentes regiões do país.
Os incentivos fiscais, defensáveis e desejáveis economicamente, vêm sendo instituídos
sob o interesse público e critérios meramente políticos. Os setores da economia que
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conseguem criar um lobby bem organizado tendem a conseguir maiores oportunidades em


detrimento aqueles com poder restrito. Com isto tem-se como resultado uma economia fiscal
desregulada como um todo, causando distorções sociais, ferindo o principio da isonomia.
Desde que a Zona Franca de Manaus foi criada em 1967 pelo Governo Federal, com a
finalidade de desenvolvimento da Amazônia, junto com ela foram introduzidos incentivos
fiscais Federais e Estaduais, principalmente, para beneficiar as empresas que ali fossem
implantadas, visando alcançar a finalidade de promover a integração nacional. Entre os
incentivos fiscais aprovados pelo Decreto nº 288, de 1968, está o IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados e o II (Imposto de Importação), este último através da redução de 88%,
quando das vendas internadas para o restante do país.
A administração da Zona Franca de Manaus cabe à Suframa (Superintendência da
Zona Franca de Manaus), entidade autárquica vinculada ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior.
Assim, este artigo tem o objetivo de pesquisar e relacionar a exposição das indústrias
frente à gestão dos incentivos fiscais e a influência da política de incentivos fiscais em uma
empresa localizada na Zona Franca de Manaus. Trata-se de uma pesquisa exploratória,
realizada a partir de investigação documental e de um estudo de caso.
O artigo esta estruturado em oito partes, incluindo esta introdução e a conclusão. As
três partes seguintes correspondem ao referencial teórico que fundamenta as questões da Zona
Franca de Manaus. A quinta parte apresenta os aspectos contábeis relacionados aos tipos de
incentivos fiscais no Brasil, na seqüência são demonstrados os aspectos metodológicos da
pesquisa e análise dos dados coletados.
2 Histórico da Zona Franca de Manaus
A Zona Franca de Manaus foi criada em 1957 em virtude de preocupações do
Governo Federal com a valorização econômica da Amazônia, com fim especifico naquele
momento para armazenamento de mercadorias oriundas de outros países, amparado pela Lei
nº 3173, de 06 de junho de 1957, durante o governo Juscelino Kubitschek.

Durante 10 anos a Zona Franca de Manaus não tinha mecanismos adequados para sua
implementação. Em 26 de fevereiro de 1967 o governo regulamentou-a através do Decreto-
Lei nº 288, estabelecendo objetivos, ampliando a legislação, reformulando o modelo e
definindo incentivos fiscais para as atividades econômicas, objetivos estes que foram
manifestados em seu artigo 1 º.
Art. 1º. Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e
exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar
no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de
condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores
locais e da grande distancia que se encontram os centros consumidores de seus
produtos.
Ainda, um ano antes do Decreto-Lei nº 288, através da SUDAM (Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia), foi criado o incentivo baseado no Imposto de Renda, e após
mudanças nesta legislação, em 1974 foi criado o FINAM (Fundo de Desenvolvimento da
Amazônia), que permitiu a dedução do Imposto de Renda de qualquer empresa do território
nacional para investimentos em projetos localizados na região Norte e Nordeste.
Os benefícios através dos incentivos fiscais foram estendidos a toda Amazônia
Ocidental (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima) pelo Decreto Lei nº 356 de 15 de agosto de
1968. O Decreto-Lei nº 288 estabeleceu o prazo de 30 anos para a Zona Franca de Manaus,
mas em 1988, pela Constituição a área de incentivos especiais foi ampliada para mais 25 anos,
ou seja, ate 2013. Outra prorrogação foi aprovada em 19 de dezembro de 2003, pela Emenda
Constitucional nº 42, em seu art. 92 com a seguinte redação:
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Art. 92. São acrescidos dez anos ao prazo fixado no art. 40 deste Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias.
O modelo de desenvolvimento da Zona Franca de Manaus está baseado em incentivos
fiscais e extra fiscais, que criaram condições para alavancar um processo de crescimento e
desenvolvimento na área. Através da própria história da SUFRAMA, em seu endereço
eletrônico (http://www.suframa.gov.br/modelozfm_historia.cfm), podemos constatar que a
dinâmica da ZFM pode ser configurada em três fases distintas.
Conforme Coutinho Neto (2004, p. 79) a primeira fase, de 1967 a 1976, constituiu o
período de liberdade plena de importações, apresentando as seguintes características:
 predominância da atividade comercial (sem limitação de importação de produtos,
exceto armas e munições, fumo, bebidas alcoólicas, automóveis de passageiro e
perfumes);
 crescimento do fluxo turístico doméstico com consumidores buscando produtos de
elevada sofisticação cuja importação estava proibida no restante do país;
 estabelecimento de limite para saída de bagagem de passageiro acompanhada.
 expansão do setor terciário;
 início da atividade industrial; e,
 lançamento da pedra fundamental do Distrito Industrial (30/09/68).
A segunda fase estendeu-se até o final de 1990 e teve início com a edição dos
Decretos-Leis nº 1435/75 e nº 1455/76, que introduziram as seguintes modificações no
modelo ZFM:
 estabelecimento de Índices Mínimos de Nacionalização para produtos
Industrializados na ZFM e comercializados nas demais localidades do Território
Nacional;
 estabelecimento de limites máximos globais anuais de importação
(Contingenciamento);
Essa fase, apesar das limitações impostas, registrou um acentuado crescimento do
setor industrial que obteve seu melhor desempenho em 1990, quando atingiu um faturamento
de US$ 8,4 bilhões e geração de 80.000 empregos diretos. Tal desempenho caracterizou-se
pelos seguintes fatores:
 acesso a modernas tecnologias;
 substituição de importações, vez que na oportunidade cerca de 2000 produtos
estavam proibidos de ingressar no país;
 contribuição para o desenvolvimento, de uma industria nacional de componentes e
outros insumos, localizada no Centro-Sul do País, especialmente em São Paulo.
A terceira fase iniciou-se em 1991, com a chamada Nova Política Industrial e de
Comércio Exterior do Governo Federal, promovendo a abertura do mercado Brasileiro às
importações. A nova ordem econômica fixou como paradigma a busca da “Qualidade e da
Produtividade”.
A exposição do modelo ZFM à nova ordem, especialmente por conta de produtos
estrangeiros que passaram a entrar no mercado nacional e a forte recessão que assolou a
economia brasileira, agravando-se em nível local, exigiu profundas modificações na
legislação, o que ocorreu através da edição da Lei nº 8.387, de 30 de dezembro de 1991,
estabelecendo medidas, visando sua salvaguarda:
 criação de Regimes de Áreas de Livre Comércio – ALC, priorizando faixas de
fronteiras, visando irradiar o modelo ZFM.
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 eliminação dos limites máximos globais anuais de importação;


 substituição do critério dos Índices Mínimos de Nacionalização pela prática de
Processo Produtivo Básico – PPB;
 desregulamentação de procedimentos; e,
 criação do Entreposto Internacional da Zona Franca de Manaus – EIZOF.
 Decreto nº 205, de 05 de setembro de 1991, que trata da eliminação dos limites
máximos globais.
As medidas adotadas ensejaram, a partir de 1993, o início da recuperação da Zona
Franca de Manaus constatando-se progressiva adequação do seu setor industrial, caracterizada
por significativa reconversão industrial com redução de custos que propiciaram maior
competitividade de seus produtos, a partir da elevação dos padrões de qualidade e adoção das
Normas Técnicas da série ISO 9000 de cumprimento obrigatório pelo Decreto nº. 783, de 25
de março de 1993.
O resultado mais expressivo decorrente da reestruturação efetivada no parque
industrial traduziu-se pelo seu faturamento, que em 1996 foi de US$ 13,2 bilhões.
Presentemente, os desafios consistem na capacidade de aproveitamento da dinâmica
que o modelo Zona Franca de Manaus imprimiu, visando buscar elementos que possibilitem a
auto-sustentabilidade da região. Neste sentido a SUFRAMA
(http://www.suframa.gov.br/modelozfm_historia.cfm), direciona suas ações
baseadas em algumas premissas:
 fortalecer o parque industrial de Manaus com ponderável base tecnológica, a partir
de reforço à cadeia produtiva de subsetores industriais através de incentivos
adicionais à produção de componentes que apresentem vantagens competitivas em
sua fabricação local;
 fortalecer o projeto Zona Franca, dada sua importância nacional e regional,
perseguindo sua auto-sustentação em harmonização com os demais segmentos da
indústria brasileira;
 fortalecer o papel da Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA
nas ações Governamentais objetivando desenvolver a Amazônia Ocidental e
promover a integração da Fronteira Norte do País, mediante a implementação de
um programa de interiorização que se consolide através de projetos
economicamente viáveis, que contemplem o aproveitamento das matérias-primas
regionais e da biodiversidade existente na Amazônia.
Com mais de quarenta anos de sobrevivência, a Zona Franca de Manaus conseguiu
sobrepujar a todas as etapas que foi obrigada a se adaptar, de acordo com o mercado interno e
externo.
Nos dias atuais, a região esta passando por novos desafios, quer seja no ambiente da
biotecnologia, podendo ser criado naturalmente um novo pólo bioindustrial, como também no
ambiente ecológico e turístico, este último com dimensões internacionais e de grande
preocupação por todo o meio ambiental.
Também é importante registrar que a questão do desenvolvimento regional sustentável,
sempre foi requisito importante nas diretrizes do Governo, durante todas as fases da Zona
Franca de Manaus.
3 Incentivos Fiscais ou Guerra Fiscal
Conforme Ruschmann (2005, p. 95), o inciso I do Art. 151 da CF (Constituição
Federal), é vedado a União “instituir tributo que não seja uniforme em todo o território
nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou
a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a
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promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do


País”.
Os incentivos fiscais estão dentro dos institutos jurídicos da não-incidência, da
imunidade e da isenção, que se identificam entre si, embora por justificativas diferentes,
conforme Ruschmann (2005, p. 144).
Segundo Ruschmann (2005, p. 165), podemos compreender que os incentivos fiscais
utilizados na Zona Franca de Manaus estão amparados pelo instituto da isenção, a qual
somente por lei, em sentido formal, pode estabelecer as hipóteses da isenção tributaria (CTN,
art. 97, VI, c/c o art. 176).
Os incentivos fiscais e a tributação discriminatória afetam sobramaneira as decisões
corporativas no Brasil, na hora de decidir quanto investir, o que produzir ou o que exportar.
Nesse âmbito crucial, o impacto tributário pode ser avassalador sobre os recursos financeiros
e a rentabilidade do capital investido.
Assim os incentivos fiscais exercem um efeito direto sobre as decisões de
investimento e avaliação econômica. A política industrial, em seu conjunto, e a de incentivos
fiscais, carece de clareza em seus conceitos, pois geram conflitos e sobreposições entre os
instrumentos e objetivos pretendidos.
Frequentemente há situações em que a legislação fiscal pertinente é complexa e
detalhista, sem oferecer regulamentos claros de aplicabilidade e gestão, dificultando seu
entendimento, por parte dos agentes econômicos e mesmo pelos responsáveis da
administração publica.
A administração de todo processo enquanto os incentivos fiscais permanecerem, sob o
ponto de vista de sua eficiência e eficácia, recai desde sua formulação ate sua avaliação e
controle. Diversas situações são freqüentes, como vários órgãos envolvidos com a
administração de incentivos fiscais que trabalham de forma desordenada; falta de articulação
entre os órgãos que administram incentivos fiscais e os que tratam dos demais instrumentos
da política econômica, insuficiências no processo de planejamento, carência de pessoal
qualificado, burocratização excessiva do processo decisório e corrupção, trafico de influencia.
De acordo com Rodrigues Junior (2003, p. 68) no âmbito federal, o destaque dos
incentivos fiscais torna a região Norte e Nordeste como as mais favorecidas. Entretanto
escândalos e denuncias na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM) e Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), mostraram que
este tipo de desenvolvimento pode comprometer substancialmente os recursos provenientes
destes incentivos, gerindo negativamente o crescimento destas regiões com suas finalidades
iniciais.
No âmbito estadual o principal ponto recai sobre a diferença de alíquota do ICMS
entre os estados, favorecendo as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. Quando o ICMS foi
instituído, a motivação inicial foi um misto entre origem e destino, evitando a grande
concentração de arrecadação em poucos estados ricos, deixando com estes últimos a
arrecadação da diferença de alíquota interestadual e a interna.
Prado e Cavalcante (2000, p. 15) afirmam que essa tendência de aproximação da
cobrança do tributo para o principio da origem guarda uma relação direta com a guerra fiscal.

O princípio da origem é a condição essencial que permite ao governo local negociar


com cada empresa as condições e eventualmente a própria obrigatoriedade do
recolhimento do imposto. Mesmo na situação extrema em que toda a produção seja
exportada para outras unidades da Federação – há muitos casos próximos disso – o
governo que sedia a produção tem a possibilidade real de, como destinatário legal da
arrecadação, eventualmente de conceder incentivos, diferimentos e isenções do
imposto. Assim, devido ao estimulo macroeconômico gerado, torna-se interessante
para um estado qualquer atrair empreendimentos de outras regiões, abrindo mão de
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sua arrecadação, através da devolução do imposto, mesmo que o mercado


consumidor da empresa esteja situado em outras localidades.

No que diz respeito aos impostos da esfera estadual, com destaque para o ICMS, a
redução da carga tributária tem seu ponto forte na origem do fenômeno da guerra fiscal. Na
tentativa de minimizar esta guerra fiscal foi aprovada a Lei Complementar 24/75, como
instrumento para combater discrepâncias, afirmando que todo tipo de incentivo fiscal devera
ser formalizado através de convênios celebrados entre os estados por decisão unânime
representados em reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) com a
participação da maioria.
Ainda que a Lei Complementar estabelecesse limites e forma de aprovação de
incentivos fiscais de âmbito estadual, a referida Lei não foi regulamentada por lei ordinária.
Assim as decisões de ordem legal vêm sendo geradas de forma fragmentada pela CONFAZ,
sem registros de questionamentos jurídicos, gerando espaço para interpretações diversas ao
que é exatamente incentivo fiscal ou simplesmente a correta aplicação da lei.
4 Incentivos na Zona Franca de Manaus
Os incentivos na Zona Franca de Manaus compreendem três grandes pólos
econômicos: comercial, industrial e agropecuário. Até o final da década de 80, o pólo
comercial teve sua ascensão e queda pela abertura de mercado, com possibilidade de
importação de produtos pelo restante do Brasil. O industrial é considerado a base de
sustentação do regime da Zona Franca de Manaus nos dias atuais, possuindo mais de 450
indústrias de alta tecnologia e gerando milhares de empregos diretos e indiretos. O pólo
agropecuário contempla projetos voltados às atividades de alimentos, agroindústria,
piscicultura, turismo, beneficiamento de madeira, como os mais importantes.
A política tributaria de âmbito Federal, Estadual e Municipal na Zona Franca de
Manaus é diferenciada do restante do país, oferecendo benefícios fiscais como compensação a
custos de fretes e transportes, em virtude de sua localização no Brasil.
Aspecto relevante é considerado por Ariffin (2003, p. 31), dizendo que diferentemente
das experiências em outros paises, sobretudo na Ásia, a Zona Franca de Manaus destinava-se
a abastecer o mercado interno.
De âmbito do Governo Federal, as concessões destes incentivos correspondem à:
redução de ate 88% do Imposto de Importação (I.I.) sobre os insumos destinados a
industrialização, isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), redução de 75% do
Imposto de Renda Pessoa Jurídica, isenção da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS
nas operações internas na Zona Franca de Manaus.
No ambiente do Governo Estadual, os incentivos correspondem à: restituição total ou
parcial do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre a
Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS).
Ainda no âmbito do Governo Municipal, os incentivos correspondem à: isenção do
Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, Taxas de Serviços de Coleta de
Lixo, de Limpeza Publica, de Conservação de Vias e Logradouros Públicos e Taxas de
Licença para empresas que gerem um mínimo de quinhentos empregos de forma direta, no
inicio de suas atividades, mantendo este numero durante o gozo da isenção.
Destaca-se ainda, outras vantagens locacionais, como a disposição do investidor de
terreno a preço simbólico, com infra-estrutura de captação e tratamento de água, sistema
viário urbanizado, rede de abastecimento de água, rede de telecomunicações, rede de esgoto
sanitária e drenagem pluvial.
4.1 Vantagens Competitivas na Zona Franca de Manaus
Segundo Porter (1993, p. 48), existem dois tipos de vantagens competitivas, a primeira
relacionada a custos e a segunda relacionada à diferenciação dos produtos.
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Uma empresa detentora de vantagens competitivas pode se destacar em relação a seus


concorrentes. Estas vantagens irão determinar a sua competitividade no mercado, interno ou
externo, podendo estar presentes em mão-de-obra especializada, localização privilegiada,
consumidores exigentes, infra-estrutura, demanda interna aquecida, e a rivalidade entre as
indústrias é sinônimo de competitividade.
Conforme Michiles (2001, p. 26) as empresas devem enxergar além dos seus
concorrentes, se quiserem competir. O cenário perfeito para a competição é aquele em que
existam ameaças de novas empresas, ameaças de novos produtos ou serviços e poder de
barganha dos compradores. O ambiente econômico na Zona Franca de Manaus apresenta
algumas destas características, pois se encontram ali indústrias dinâmicas, na busca da
inovação.
As estratégias para redução de custo, verificadas nas indústrias da Zona Franca de
Manaus, têm mantido a competitividade no mercado interno, e é a principal estratégia
utilizada neste ambiente.
Conforme Porter (1993, p. 52), para obter vantagens competitivas, a empresa tem de
proporcionar valor comparável para o comprador, desempenhando suas atividades com maior
eficiência do que seus concorrentes internos ou externos, ou agregar valor excepcional, para
obter maior preço.
4.2 Gestão Tributária nas Indústrias da Zona Franca de Manaus
O sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos do ambiente internacional,
exigindo um exaustivo e continuo entendimento de sua aplicabilidade. Este sistema tributário
afeta o desenvolvimento de atividades produtivas no Brasil, prejudicando diretamente o
crescimento da produção, oferta de empregos e no próprio desenvolvimento do país, pois
reduz significativamente novos investimentos nacionais e estrangeiros em detrimento ao
complexo controle necessário para salvaguardar as obrigatoriedades e aplicabilidade da
legislação.
Conforme Nascimento (apud TUNG, 1974), o conceito de Gestão Tributária é recente
no âmbito da Controladoria, não prestando a devida atenção aos custos tributários nas décadas
de 70 e 80, pois o principal foco era prover informações para as suas matrizes.
Ainda é evidente que a gestão tributária é considerada apenas como apuração dos
tributos em uma organização. Mas há outros aspectos que podem afetar as rotinas fiscais, e é
com este foco que a controladoria deve implementar um modelo de gestão tributária aos
gestores, que possa evidenciar a interpretação e execução das atividades fiscais, reduzindo a
exposição da organização a contingências fiscais e estudar de forma lícita as formas de
redução de pagamento de tributos.
4.3 Zona Franca de Manaus e seus principais indicadores econômicos
Os resultados produzidos pela Zona Franca de Manaus, mediante o exame dos
principais indicadores econômicos e sociais na década de 90, quando ocorreu mudança
paradigmática do modelo, com a inserção do País na economia internacional e dos custos de
seus incentivos fiscais medidos a partir do termo renúncia fiscal, tentou-se responder questões
relacionadas ao efetivo resultado positivo ou não do modelo.
Conforme Pereira (2005, p. 130), em 1990 o faturamento da Zona Franca de Manaus
foi de 8,3 bilhões de dólares, já em 1996 foi de 13,2 bilhões de dólares, fechando o ano de
2000 com 10,3 bilhões de dólares. Este nível de faturamento supera o PIB de muitos paises
como Angola, Bolívia, Camarões, Estônia, Guine, Nicarágua entre outros.
Pereira (2005, p. 130), ainda destaca que o PIB do Amazonas no período de 1990 a
2000 teve crescimento médio anual de 2,04%. Já o crescimento da população no período de
1991 a 2000 obteve um crescimento demográfico na ordem de 3,3% de media anual.
A taxa de crescimento do PIB per capita no período de 1995 a 1998 (BENCHIMOL,
2002), reflete o desempenho econômico da região, obtendo um crescimento médio no período
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de 27,5%. De outro lado, na participação da região do PIB nacional entre 1985 e 2000, saiu de
1,52% para 1,71%, incremento de 12,5% no período avaliado.
A evolução da receita tributária entre os anos de 1996 e 2001, saiu de R$ 1,626
bilhões para R$ 1,689 bilhões, representando apenas 3,86% de crescimento, mesmo sendo o
Amazonas detentor do parque industrial da Zona Franca de Manaus. Assim torna-se
importante avaliar a movimentação do ICMS, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1 - Arrecadação do ICMS na ZFM 1996/2002 (em Us$ 1,00)


Ano Valor devido Restituído Recolhido (%)
1996 724.738.764 476.627.491 248.111.272 34,23
2002 409.430.376 323.765.951 85.664.425 20,92
Fonte: Pereira (2005, p. 135)

No indicador econômico de maior discussão quando se fala em Zona Franca de


Manaus, é certamente renúncia fiscal. Assim antes de qualquer conclusão, é relevante ver os
números, conforme demonstrado na Tabela 2..

Tabela 2 - Renúncia Fiscal 1995-1998 (em Us$ milhões)


Ano Renúncia fiscal total Renúncia ZFM ZFM (%)
1995 6.407 2.472 38,6
1996 6.929 2.347 33,9
1997 8.493 2.610 30,7
1998 8.385 3.313 39,5
Fonte: Pereira (2005, p. 136)

O tema acima denota controvérsia quanto à inadequação da natureza conceitual do


problema em relação à fabricação de produtos que ainda não existem, pois no ato da
concessão dos incentivos, através da aprovação dos projetos econômicos, ainda não existe a
receita tributaria, sendo assim, não poderia ser considerada perda de receita, e um ponto
adicional seria a falta de estatísticas confiáveis sobre o assunto.
Outra polêmica se dá no custo do emprego na Zona Franca de Manaus para a União,
em torno dos incentivos fiscais. Considerando os valores da renúncia fiscal anteriormente
descrita, e o montante de mão de obra ocupada neste mesmo período. Pode-se pelo resultado
de um simplificado resultado aritmético chegar aos dados da Tabela 3.

Tabela 3 – Custo do emprego na ZFM para a União (1995-1998)


Ano Renúncia ZFM Mão de Obra Ocupada Custo do emprego
(R$ 1,00)
1995 2.472 48.760 50.697
1996 2.347 48.494 48.397
1997 2.610 50.674 51.505
1998 3.313 49.575 66.828
Fonte: Pereira (2005, p. 138)

Diante da Tabela 3, pode-se inferir que o governo federal, de certa forma,


desembolsou, ou deixou de arrecadar, mensalmente a cada pessoa empregada na Zona Franca
de Manaus, em 1995 o equivalente a R$ 4.224,77 mensais, em 1996 R$ 4.033,15 mensais, em
1997 R$ 4.292,14 mensais e em 1998 R$ 5.569,00 mensais.
Analisando de outro ângulo, pode-se verificar que de fato estes valores não chegaram
às mãos dos trabalhadores, mas se forem analisados estes valores em comparação com o
faturamento, expressariam de fato que o modelo Zona Franca de Manaus deixa nas mãos dos
trabalhadores, em termos de fatia de seu faturamento total.
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Na tentativa de deixar a comparação mais clara, evidencia-se na Tabela 4, em conjunto


com a participação do ICMS e dos salários no faturamento das empresas da Zona Franca de
Manaus.

Tabela 4 – Participação do ICMS e salários no faturamento da ZFM em us$ 1,00


Ano Faturamento ICMS (%) Mão de Obra (%)
1996 13.266.059.377 1,87 2,58
1997 11.730.680.363 1,57 3,15
1998 9.938.590.992 1,40 3,32
1999 7.216.772.729 1,39 2,58
Fonte: Pereira (2005, p. 139)

Outro indicador de bastante conotação atualmente se chama Índice de


Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH de um país ou uma região é a media aritmética
simples dos três índices que medem: a longevidade, a educação e a renda. A partir de 2002
sofreram alterações os seguintes índices: de longevidade para esperança de vida ao nascer
(anos), de taxa de alfabetização para taxa de alfabetização de adultos, de taxa combinada de
matrícula para taxa de escolaridade bruta combinada e de índice de renda para índice do PIB.
De acordo com Pereira (2005, p.141), foi estabelecido pelo PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) os seguintes índices de faixa de variações para
classificar o grau de desenvolvimento:

a) IDH < 0,5 baixo desenvolvimento humano;


b) 0,5 = IDH <0,8 médio desenvolvimento humano
c) 0,8 = IDH = 1 alto desenvolvimento humano

Avaliando os índices de desenvolvimento humano nos estados que compõem a região


abrangida pelos incentivos fiscais no período de 1991 e em 2000, pode-se verificar a Tabela 5.

Tabela 5 – Evolução do IDH nos Estados 1991/2000


Estado 1.991 2.000 Variação (%)
Acre 0,624 0,697 11,70
Amazonas 0,664 0,713 7,38
Rondônia 0,660 0,735 11,36
Roraima 0,692 0,764 7,80
Fonte: Pereira (2005, p. 140)

Na análise dos indicadores econômicos relacionados à década de 90, apresentou uma


taxa de crescimento médio de 2,04% contra uma taxa de crescimento demográfico de 3,3%,
conseqüentemente, o estado do Amazonas não se desenvolveu durante este período.
Sobre os indicadores sociais, dentre os estados da região da Amazônia, o estado do
Amazonas foi o que apresentou menor índice de melhoria de desempenho. Quando parte-se
para as comparações das capitais da região da Amazônia, depara-se com o menor nível do
índice de desenvolvimento humano na capital Manaus, sede do parque industrial da Zona
Franca de Manaus.
Nestas ultimas décadas, mais especificamente na década de 90, por todo o conjunto de
dados e variáveis disponíveis, e baseando-se nos incentivos fiscais já internalizados na
economia da Zona Franca de Manaus, configura como insustentável esta região sem os
incentivos fiscais ali concedidos e praticados, criando um ambiente vulnerável e incapaz de se
manter sem as vantagens competitivas relacionados ao modelo.
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5 Esquema de Contabilização dos Incentivos Fiscais, Subvenções, Contribuições,


Auxílios e Doações
O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) emitiu em 13 de dezembro de 2001, a
Resolução nº 922/01, que foi revogada pela Resolução nº 1.026/05 de 15 de abril de 2005,
estabelecendo critérios e procedimentos específicos de avaliação e registro contábil dos
componentes patrimoniais. Incluindo também as informações mínimas que deverão constar
nas notas explicativas das organizações que receberam aportes de qualquer natureza, como
subvenções, contribuições, auxílios e doações, bem como direitos de propriedade de bens
móveis e imóveis.
No âmbito desta pesquisa, foi definido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
através da Resolução nº 1.026/05, NBC 19.4.2.1 (Normas Brasileiras de Contabilidade), que
incentivo fiscal se caracteriza por ser uma renúncia total ou parcial de receita do governo em
favor de entidades públicas ou privadas com o objetivo de geração de benefícios sociais e
econômico, sendo:
 Isenção Tributária: desobrigação legal de pagamento de tributo;
 Redução Tributária: desobrigação legal de pagamento parcial de tributo.
Ainda dentro do enfoque desta pesquisa, enfatiza-se o conceito de subvenções o qual
foi definido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) através da Resolução nº 1.026/05,
como sendo contribuição pecuniária, prevista em lei orçamentária, concedida por órgãos do
setor público a entidades públicas ou privadas, com o objetivo de cobrir despesas com a
manutenção e o custeio destas, com ou sem contraprestação de bens ou serviços da
beneficiária dos recursos.

Via de regra o esquema de contabilização para subvenções, contribuições, auxílios e


doações, podem ser classificados da seguinte forma:
 Reserva de Capital (Patrimônio Líquido)  Incentivos para despesas de capital e
doações para investimentos e imobilizações.
 Receita (Resultado)  Subvenções e doações para atender as despesas de custeio
(cobertura de prejuízos, déficits).
Em relação às empresas privadas, as subvenções para investimentos mais comuns,
dentro da acepção legal ainda existente, são na forma de devolução, isenção ou redução de
impostos devidos pela empresa. Em se tratando de imposto de renda que deixa de ser pago
deve ser apropriado a crédito de reserva de capital (sub-conta reserva de incentivos fiscais).
Essa apropriação é comumente feita contra o recebimento integral de despesa de imposto de
renda no resultado do exercício.
As subvenções do ICMS (Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de
Mercadorias e sobre a Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação) são destinadas a determinados empreendimentos, devido sua localização ou
ramo de atividade, a critério da Legislação Estadual. Elas poderão ser concedidas como
incentivo fiscal, redução do ICMS devido ou devolução de ICMS recolhido, e os recursos
correspondentes devem ser obrigatoriamente aplicados na expansão da empresa
(investimentos).
As organizações devem revelar nas notas explicativas as informações de critérios de
apuração das receitas e de constituição de reservas, especialmente as pertinentes a subvenções,
doações, auxílios e contribuições.
6 Metodologia da pesquisa
Este estudo caracteriza-se como pesquisa exploratória, realizada por meio de um
estudo de caso, com abordagem qualitativa. Segundo Gil (2006, p.41), “embora o
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planejamento da pesquisa exploratória seja bastante flexível, na maioria dos casos assume a
forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso”.
O estudo se desenvolve na interpretação e uso da base teórica pesquisada com a
realização de estudo de caso, apresentando evidências encontradas em uma cultura
empresarial examinada. Em função do objetivo proposto, foi necessário selecionar uma
empresa que se enquadrasse em dois requisitos básicos iniciais: a) estivesse estabelecida na
Zona Franca de Manaus há mais de dez anos; e b) fosse uma indústria detentora de incentivos
fiscais federais e estaduais.
A empresa selecionada para o estudo de caso é uma indústria do Pólo Industrial de
Manaus. Por questões de sigilo das informações e preservação de sua identidade será
designada neste estudo de empresa Planaudio.
A empresa Planaudio, que é de origem japonesa e iniciou suas atividades em Manaus
no ano de 1984, para atuar na fabricação de produtos de áudio e vídeo. Atualmente contando
com mais de 1.000 funcionários, produz produtos de alta tecnologia, importando
conhecimento tecnológico de sua matriz e afiliadas ao redor do mundo.
A obtenção dos dados foi desenvolvida por meio de pesquisa documental de fontes
primarias. A pesquisa documental consistiu na obtenção de informações que poderiam
evidenciar a obtenção dos incentivos fiscais na Zona Franca de Manaus, sempre com
documentos oficiais que não deixasse duvida quanto à obtenção dos incentivos.
Pela limitação de estudos no Brasil relacionados a incentivos fiscais, e pela dificuldade
de obtenção de informações estratégicas de gestão tributária nas empresas, recomenda-se o
estudo em outras empresas de pequeno, médio e grande porte, que usufruam dos incentivos
fiscais em seu controle e estratégias, aumentando o conhecimento nesta disciplina.
7 Descrição e análise dos dados
A empresa Planaudio, é uma empresa de capital estrangeiro, e parte integrante de um
conglomerado mundial, um dos mais importantes grupos empresariais nacionais atuantes no
segmento de áudio e vídeo.
A empresa tem como objetivo social, a indústria, comércio, importação, exportação,
representação de matérias eletroeletrônicas, eletrodomésticos, material didático, seus
equipamentos e outros produtos finais; assistência técnica, pesquisa técnica e pesquisa e
mercado; prestação de serviços; laboratório de processamento de filmes e videotape;
prestação de serviços de gravação de videocassetes e de produção de matrizes-masters em
vídeo tape para transcrição em videocassete e outros afins; importação e distribuição de fitas
de videocassetes; pecuária; promoção de convenções, congressos, feiras de amostras,
exposições de produtos e eventos culturais.
Através de portaria específica, do estado do Amazonas, a empresa Planaudio, obteve
autorização para incorporação de duas empresas estabelecidas no distrito industrial da Zona
Franca de Manaus.
Dividindo seus projetos em componentes e produtos, pode-se relatar inicialmente seus
projetos de componentes. Em 1985 a empresa aprovou os projetos de mecanismo deck
montado, através da Resolução nº 498/85, em 1990 pela Resolução nº 088/90 foi aprovado
para produção do mecanismo para toca disco-laser.
Já em 1992, procurando adequar sua produção as recentes inovações tecnológicas do
mercado, a empresa aprovou o projeto de atualização para os produtos mecanismo para toca
fitas e placas de circuito impresso montada, e em 1993 pela Resolução nº 397/93 teve seu
projeto de ampliação aprovado para produção de mecanismo ótico e placas de circuito
impresso montada.
Em 1994, acompanhando as necessidades de mercado e objetivando atender estas
necessidades, a empresa novamente ampliou sua produção de placas de circuito impresso
montadas e mecanismos óticos, pela Resolução nº 296/94.
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Dois anos depois, em 1996 a empresa apresentou e aprovou seu projeto de


diversificação de acordo com a Resolução nº 026/96 para fabricação de sintonizador de TV e
áudio.
Com base no exame de documentos da empresa Planaudio, descreve-se na seqüência
seus projetos relacionados a produtos finais. A empresa teve seu projeto de implantação
aprovado através da Resolução nº 007/81 para fabricação de amplificador, aparelho de som 3
em 1, head phone, rádio gravador, receiver, sintonizador tape-deck e toca discos.
Após alguns anos de significativa atuação e expressão no mercado brasileiro a
empresa obteve seu projeto de atualização, aprovado pela Resolução nº 181/92, para produção
de aparelho integrado de som, fone de ouvido, televisão, toca disco laser, vídeo câmera e
walkman.
Em 1993, a Planaudio aprovou seu projeto de diversificação por meio da Resolução
nº 264/93 para produção de monitor de vídeo. No mesmo ano aprovou pela Resolução nº
382/93 seu projeto de ampliação para a fabricação de aparelho integrado de som, televisão,
toca disco laser, vídeo câmera, vídeo cassete e walkman.
No ano seguinte, 1994, a empresa teve seu projeto de ampliação aprovado pela
Resolução nº 297/94 para a fabricação de toca disco laser, aparelho integrado de som, vídeo
câmera, vídeo cassete e televisor. Em 1995, a empresa diversificou novamente através da
Portaria nº 356/95, com o projeto de diversificação para a produção de auto rádio com toca
fitas e auto rádio com toca discos a laser.
De acordo com os documentos coletados e analisados a empresa procura buscar na sua
totalidade os níveis máximos de incentivos fiscais. Podem-se destacar nas diversas esferas
governamentais como segue:
Na esfera Federal:
 Redução do Imposto de Importação – II (Art. 7.o do Decreto Lei nº 288/67,
alterado pela Lei nº 8387/91).
 Isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI (Art. 9.o do Decreto Lei
nº 288/67).
 Redução do Imposto de Renda ao nível de 75% (Medida Provisória nº 2199-14 de
24/08/2001).
Na esfera Estadual:
 Produtos de Áudio e Vídeo, incentivos fiscais com base na Lei nº 2826/03.
i) ICMS – crédito estimulo de 55%
ii) Incidência de FMPES 6% do credito estímulo
iii) Incidência de Contribuição UEA 1,5% do credito estímulo
iv) Incidência de FTI ao nível de 2% sobre o valor FOB das importações
Contudo, as empresas situadas na Zona Franca de Manaus, para usufruir dos
incentivos fiscais, devem contribuir para o desenvolvimento da região. Contribuições estas
devem apoiar o incremento do nível de aproveitamento industrial do Estado com a aquisição
de insumos produtivos locais, substituindo importações estrangeiras, gerarem novos empregos
e renda para a população da cidade de Manaus, aumentando a massa salarial. Adicionalmente
deverá aumentar o PIB estadual com o faturamento dos produtos, incrementarem a economia
local com a aquisição de bens e serviços necessários a operação do empreendimento,
aumentar a arrecadação tributária das esferas Federal, Estadual e Municipal, os quais estarão
sendo revertidos em investimentos governamentais no Estado.
Além das contribuições que os empreendimentos devem propor a executar, existem
obrigatoriedades em relação aos benefícios sociais que são oferecidos aos funcionários,
atendendo ao art. 212 § 1. da Constituição Estadual. Entre eles destacam-se o fornecimento de
refeição diária em refeitório da empresa, convenio com entidades privadas e clínicas, bem
como odontologia que atenda os funcionários e dependentes. Dispor de área de lazer,
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realizando atividades periódicas de confraternização e atividades esportivas, realização de


cursos de aperfeiçoamento técnico dos funcionários, cursos na área de qualidade e ISO 9000,
cursos de processo de produção e administrativa; fornecimento de vale transporte para todos
os funcionários nos trajetos residência empresa e empresa residência, convênio com o SESI,
com oferta de creche para filhos de funcionários, seguro de vida em Grupo e convênios para
compra de medicamentos e material escolar.
Com as modificações introduzidas pela Lei nº 8387, de 30 de dezembro de 1991, que
estabeleceu medidas de salvaguardas à economia brasileira, impactou a Planaudio,
substituindo o critério dos índices mínimos de nacionalização pela pratica de Processo
Produtivo Básico (PPB). As alterações naquele momento, e inúmeras outras modificações nos
PPBs, iniciaram estudos mais profundos nas introduções e fabricação de novos modelos na
Zona Franca de Manaus, para atendimento ao mercado brasileiro.
Faz-se necessário, que os responsáveis pelas áreas de Controladoria, Engenharia e
Produção, conheçam os detalhes dos PPBs aplicados aos produtos fabricados, que
estabelecem as etapas mínimas que a organização deve cumprir, para ter direito aos incentivos
fiscais. Os PPBs são publicados e fixados por produtos, mediante Portaria Interministerial
assinada pelos Ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior e da Ciência e
Tecnologia. Qualquer alteração nos PPBs deve ser discutida em consulta publica, onde serão
apresentadas sugestões por todos os interessados, aprovando-se o novo PPB.
No caso da empresa em questão nesta pesquisa, todos os esforços são concentrados
para chegar à viabilidade econômica e financeira dos produtos a serem fabricados, gerando
discussões com os centros tecnológicos nas plantas mães, para conseguir adequar os processos
produtivos da fabrica em Manaus.
8 Conclusão
Este artigo objetivou pesquisar e relacionar a exposição das indústrias frente à gestão
dos incentivos fiscais e a influência da política de incentivos fiscais em uma empresa
localizada na da Zona Franca de Manaus. Trata-se de uma pesquisa exploratória, realizada a
partir de investigação documental e de um estudo de caso.
Uma discussão atual entre os autores pesquisados, e também constatados no caso real
descrito nesta pesquisa fica evidenciado que os incentivos fiscais consistem de detalhes
individuais dentro das empresas, não podendo afirmar que existe uma padronização no
planejamento ou controle dos incentivos fiscais nas empresas.
Todo o acompanhamento do planejamento tributário através dos incentivos fiscais na
Zona Franca de Manaus demanda conhecimento de seus administradores. Para formar uma
base concreta e direcionada às suas necessidades e de acordo com as atividades da empresa e
de seus produtos, deverá buscar e aperfeiçoar na sua totalidade as vantagens competitivas que
a região oferece em detrimento da competição com empresa e produtos importados de áreas
extremamente competitivas ao redor do mundo, com maior consideração aos da Ásia.
Os incentivos fiscais também têm sua participação no campo da motivação
organizacional, principalmente nos níveis de diretoria e gerenciais. Os incentivos fiscais
requerem níveis de maturidade exemplares de controle da legislação tributaria, pois pode
influenciar certas atitudes e procedimentos negativos à empresa, podendo resultar em
penalidades pesadas em contrapartida às inúmeras obrigações concernentes a região.
Conclui-se assim que a empresa Planaudio, busca manter sua filosofia, valores,
princípios, regras e procedimentos, mesmo em um ambiente diferente daquele de sua origem,
sem com isto, deixar de praticar de forma democrática e participativa as discussões a cerca do
planejamento tributário e estratégia da introdução de seus produtos no Brasil ou outra região
do mundo.
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