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Resumo:
As discussões sobre incentivos fiscais no Brasil tornaram-se nas últimas décadas severas no ambiente político e
corporativo. Diante dessa constatação este artigo tem o objetivo de pesquisar e relacionar a exposição das indústrias
frente à gestão dos incentivos fiscais e a influência da política de incentivos fiscais em uma empresa localizada na
Zona Franca de Manaus (ZFM). Trata-se de uma pesquisa exploratória, realizada a partir de investigação
documental e de um estudo de caso. Os resultados mostram que a empresa pesquisada, desde sua fundação na ZFM,
buscou aproveitar em sua totalidade os incentivos fiscais ali oferecidos dentro dos âmbitos federais, estaduais e
municipais. Apesar de esses benefícios estarem disponíveis, as empresas que ali queiram utilizá-los, necessitam de
aprovação de seus projetos com a devida viabilidade econômica, estando também obrigadas a oferecer
contrapartidas pelos incentivos fiscais através de contribuições e benefícios sociais para a região. Pode-se observar
que em detrimento aos incentivos fiscais na ZFM, a necessidade da empresa alcançar o máximo de viabilidade na
gestão tributária foi impulsionada por dois fatores principais, o aumento dos concorrentes no mercado brasileiro e
sul americano e a lucratividade e velocidade de ingresso no Brasil dos produtos chineses.
Resumo
As discussões sobre incentivos fiscais no Brasil tornaram-se nas últimas décadas severas no
ambiente político e corporativo. Diante dessa constatação este artigo tem o objetivo de
pesquisar e relacionar a exposição das indústrias frente à gestão dos incentivos fiscais e a
influência da política de incentivos fiscais em uma empresa localizada na Zona Franca de
Manaus (ZFM). Trata-se de uma pesquisa exploratória, realizada a partir de investigação
documental e de um estudo de caso. Os resultados mostram que a empresa pesquisada, desde
sua fundação na ZFM, buscou aproveitar em sua totalidade os incentivos fiscais ali oferecidos
dentro dos âmbitos federais, estaduais e municipais. Apesar de esses benefícios estarem
disponíveis, as empresas que ali queiram utilizá-los, necessitam de aprovação de seus projetos
com a devida viabilidade econômica, estando também obrigadas a oferecer contrapartidas
pelos incentivos fiscais através de contribuições e benefícios sociais para a região. Pode-se
observar que em detrimento aos incentivos fiscais na ZFM, a necessidade da empresa alcançar
o máximo de viabilidade na gestão tributária foi impulsionada por dois fatores principais, o
aumento dos concorrentes no mercado brasileiro e sul americano e a lucratividade e
velocidade de ingresso no Brasil dos produtos chineses.
Palavras Chave: Incentivos fiscais, Zona Franca de Manaus, Gestão de Incentivos Fiscal
1 Introdução
O profundo conhecimento das obrigações tributárias das empresas e das várias
alternativas de procedimentos dos tributos, tendem a resultar em economias no cumprimento
do dever tributário e menor grau de eventuais penalidades fiscais, mas podem colocar em
risco os resultados a serem alcançados ou a própria sobrevivência da organização. Com a
presente carga tributária das empresas, considerando que a maior participação destes tributos
recai sobre o consumo, resulta cada vez mais na necessidade de se controlar esta variável,
buscando paralisar seus efeitos danosos sobre o resultado das empresas.
Conforme Rezende (1994), a teoria das finanças públicas relata que os incentivos
fiscais podem ser concedidos na forma de desoneração total ou parcial de tributos. Em geral
são concedidos no início das atividades das empresas, por prazos certos de tempo, de
preferência por prazos não muito longos e que sejam condicionados a inversão dos valores
incentivados nas atividades que resultem em aumento da produção, da produtividade e
desenvolvimento regional.
Com base no desenvolvimento regional, a União estabeleceu regime aduaneiro atípico
na região Norte, especificamente no estado do Amazonas, através da Zona Franca de Manaus,
fundada em incentivos fiscais. Os incentivos fiscais se configuram como isenção, redução da
base de cálculo ou alíquota, concessão de crédito presumido, alíquota zero, etc. Como
exceção aos princípios da generalidade e da universalidade da tributação, os incentivos fiscais
só podem ser concedidos para promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico
entre as diferentes regiões do país.
Os incentivos fiscais, defensáveis e desejáveis economicamente, vêm sendo instituídos
sob o interesse público e critérios meramente políticos. Os setores da economia que
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Durante 10 anos a Zona Franca de Manaus não tinha mecanismos adequados para sua
implementação. Em 26 de fevereiro de 1967 o governo regulamentou-a através do Decreto-
Lei nº 288, estabelecendo objetivos, ampliando a legislação, reformulando o modelo e
definindo incentivos fiscais para as atividades econômicas, objetivos estes que foram
manifestados em seu artigo 1 º.
Art. 1º. Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e
exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar
no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de
condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores
locais e da grande distancia que se encontram os centros consumidores de seus
produtos.
Ainda, um ano antes do Decreto-Lei nº 288, através da SUDAM (Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia), foi criado o incentivo baseado no Imposto de Renda, e após
mudanças nesta legislação, em 1974 foi criado o FINAM (Fundo de Desenvolvimento da
Amazônia), que permitiu a dedução do Imposto de Renda de qualquer empresa do território
nacional para investimentos em projetos localizados na região Norte e Nordeste.
Os benefícios através dos incentivos fiscais foram estendidos a toda Amazônia
Ocidental (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima) pelo Decreto Lei nº 356 de 15 de agosto de
1968. O Decreto-Lei nº 288 estabeleceu o prazo de 30 anos para a Zona Franca de Manaus,
mas em 1988, pela Constituição a área de incentivos especiais foi ampliada para mais 25 anos,
ou seja, ate 2013. Outra prorrogação foi aprovada em 19 de dezembro de 2003, pela Emenda
Constitucional nº 42, em seu art. 92 com a seguinte redação:
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Art. 92. São acrescidos dez anos ao prazo fixado no art. 40 deste Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias.
O modelo de desenvolvimento da Zona Franca de Manaus está baseado em incentivos
fiscais e extra fiscais, que criaram condições para alavancar um processo de crescimento e
desenvolvimento na área. Através da própria história da SUFRAMA, em seu endereço
eletrônico (http://www.suframa.gov.br/modelozfm_historia.cfm), podemos constatar que a
dinâmica da ZFM pode ser configurada em três fases distintas.
Conforme Coutinho Neto (2004, p. 79) a primeira fase, de 1967 a 1976, constituiu o
período de liberdade plena de importações, apresentando as seguintes características:
predominância da atividade comercial (sem limitação de importação de produtos,
exceto armas e munições, fumo, bebidas alcoólicas, automóveis de passageiro e
perfumes);
crescimento do fluxo turístico doméstico com consumidores buscando produtos de
elevada sofisticação cuja importação estava proibida no restante do país;
estabelecimento de limite para saída de bagagem de passageiro acompanhada.
expansão do setor terciário;
início da atividade industrial; e,
lançamento da pedra fundamental do Distrito Industrial (30/09/68).
A segunda fase estendeu-se até o final de 1990 e teve início com a edição dos
Decretos-Leis nº 1435/75 e nº 1455/76, que introduziram as seguintes modificações no
modelo ZFM:
estabelecimento de Índices Mínimos de Nacionalização para produtos
Industrializados na ZFM e comercializados nas demais localidades do Território
Nacional;
estabelecimento de limites máximos globais anuais de importação
(Contingenciamento);
Essa fase, apesar das limitações impostas, registrou um acentuado crescimento do
setor industrial que obteve seu melhor desempenho em 1990, quando atingiu um faturamento
de US$ 8,4 bilhões e geração de 80.000 empregos diretos. Tal desempenho caracterizou-se
pelos seguintes fatores:
acesso a modernas tecnologias;
substituição de importações, vez que na oportunidade cerca de 2000 produtos
estavam proibidos de ingressar no país;
contribuição para o desenvolvimento, de uma industria nacional de componentes e
outros insumos, localizada no Centro-Sul do País, especialmente em São Paulo.
A terceira fase iniciou-se em 1991, com a chamada Nova Política Industrial e de
Comércio Exterior do Governo Federal, promovendo a abertura do mercado Brasileiro às
importações. A nova ordem econômica fixou como paradigma a busca da “Qualidade e da
Produtividade”.
A exposição do modelo ZFM à nova ordem, especialmente por conta de produtos
estrangeiros que passaram a entrar no mercado nacional e a forte recessão que assolou a
economia brasileira, agravando-se em nível local, exigiu profundas modificações na
legislação, o que ocorreu através da edição da Lei nº 8.387, de 30 de dezembro de 1991,
estabelecendo medidas, visando sua salvaguarda:
criação de Regimes de Áreas de Livre Comércio – ALC, priorizando faixas de
fronteiras, visando irradiar o modelo ZFM.
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No que diz respeito aos impostos da esfera estadual, com destaque para o ICMS, a
redução da carga tributária tem seu ponto forte na origem do fenômeno da guerra fiscal. Na
tentativa de minimizar esta guerra fiscal foi aprovada a Lei Complementar 24/75, como
instrumento para combater discrepâncias, afirmando que todo tipo de incentivo fiscal devera
ser formalizado através de convênios celebrados entre os estados por decisão unânime
representados em reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) com a
participação da maioria.
Ainda que a Lei Complementar estabelecesse limites e forma de aprovação de
incentivos fiscais de âmbito estadual, a referida Lei não foi regulamentada por lei ordinária.
Assim as decisões de ordem legal vêm sendo geradas de forma fragmentada pela CONFAZ,
sem registros de questionamentos jurídicos, gerando espaço para interpretações diversas ao
que é exatamente incentivo fiscal ou simplesmente a correta aplicação da lei.
4 Incentivos na Zona Franca de Manaus
Os incentivos na Zona Franca de Manaus compreendem três grandes pólos
econômicos: comercial, industrial e agropecuário. Até o final da década de 80, o pólo
comercial teve sua ascensão e queda pela abertura de mercado, com possibilidade de
importação de produtos pelo restante do Brasil. O industrial é considerado a base de
sustentação do regime da Zona Franca de Manaus nos dias atuais, possuindo mais de 450
indústrias de alta tecnologia e gerando milhares de empregos diretos e indiretos. O pólo
agropecuário contempla projetos voltados às atividades de alimentos, agroindústria,
piscicultura, turismo, beneficiamento de madeira, como os mais importantes.
A política tributaria de âmbito Federal, Estadual e Municipal na Zona Franca de
Manaus é diferenciada do restante do país, oferecendo benefícios fiscais como compensação a
custos de fretes e transportes, em virtude de sua localização no Brasil.
Aspecto relevante é considerado por Ariffin (2003, p. 31), dizendo que diferentemente
das experiências em outros paises, sobretudo na Ásia, a Zona Franca de Manaus destinava-se
a abastecer o mercado interno.
De âmbito do Governo Federal, as concessões destes incentivos correspondem à:
redução de ate 88% do Imposto de Importação (I.I.) sobre os insumos destinados a
industrialização, isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), redução de 75% do
Imposto de Renda Pessoa Jurídica, isenção da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS
nas operações internas na Zona Franca de Manaus.
No ambiente do Governo Estadual, os incentivos correspondem à: restituição total ou
parcial do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre a
Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS).
Ainda no âmbito do Governo Municipal, os incentivos correspondem à: isenção do
Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, Taxas de Serviços de Coleta de
Lixo, de Limpeza Publica, de Conservação de Vias e Logradouros Públicos e Taxas de
Licença para empresas que gerem um mínimo de quinhentos empregos de forma direta, no
inicio de suas atividades, mantendo este numero durante o gozo da isenção.
Destaca-se ainda, outras vantagens locacionais, como a disposição do investidor de
terreno a preço simbólico, com infra-estrutura de captação e tratamento de água, sistema
viário urbanizado, rede de abastecimento de água, rede de telecomunicações, rede de esgoto
sanitária e drenagem pluvial.
4.1 Vantagens Competitivas na Zona Franca de Manaus
Segundo Porter (1993, p. 48), existem dois tipos de vantagens competitivas, a primeira
relacionada a custos e a segunda relacionada à diferenciação dos produtos.
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de 27,5%. De outro lado, na participação da região do PIB nacional entre 1985 e 2000, saiu de
1,52% para 1,71%, incremento de 12,5% no período avaliado.
A evolução da receita tributária entre os anos de 1996 e 2001, saiu de R$ 1,626
bilhões para R$ 1,689 bilhões, representando apenas 3,86% de crescimento, mesmo sendo o
Amazonas detentor do parque industrial da Zona Franca de Manaus. Assim torna-se
importante avaliar a movimentação do ICMS, conforme demonstrado na Tabela 1.
planejamento da pesquisa exploratória seja bastante flexível, na maioria dos casos assume a
forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso”.
O estudo se desenvolve na interpretação e uso da base teórica pesquisada com a
realização de estudo de caso, apresentando evidências encontradas em uma cultura
empresarial examinada. Em função do objetivo proposto, foi necessário selecionar uma
empresa que se enquadrasse em dois requisitos básicos iniciais: a) estivesse estabelecida na
Zona Franca de Manaus há mais de dez anos; e b) fosse uma indústria detentora de incentivos
fiscais federais e estaduais.
A empresa selecionada para o estudo de caso é uma indústria do Pólo Industrial de
Manaus. Por questões de sigilo das informações e preservação de sua identidade será
designada neste estudo de empresa Planaudio.
A empresa Planaudio, que é de origem japonesa e iniciou suas atividades em Manaus
no ano de 1984, para atuar na fabricação de produtos de áudio e vídeo. Atualmente contando
com mais de 1.000 funcionários, produz produtos de alta tecnologia, importando
conhecimento tecnológico de sua matriz e afiliadas ao redor do mundo.
A obtenção dos dados foi desenvolvida por meio de pesquisa documental de fontes
primarias. A pesquisa documental consistiu na obtenção de informações que poderiam
evidenciar a obtenção dos incentivos fiscais na Zona Franca de Manaus, sempre com
documentos oficiais que não deixasse duvida quanto à obtenção dos incentivos.
Pela limitação de estudos no Brasil relacionados a incentivos fiscais, e pela dificuldade
de obtenção de informações estratégicas de gestão tributária nas empresas, recomenda-se o
estudo em outras empresas de pequeno, médio e grande porte, que usufruam dos incentivos
fiscais em seu controle e estratégias, aumentando o conhecimento nesta disciplina.
7 Descrição e análise dos dados
A empresa Planaudio, é uma empresa de capital estrangeiro, e parte integrante de um
conglomerado mundial, um dos mais importantes grupos empresariais nacionais atuantes no
segmento de áudio e vídeo.
A empresa tem como objetivo social, a indústria, comércio, importação, exportação,
representação de matérias eletroeletrônicas, eletrodomésticos, material didático, seus
equipamentos e outros produtos finais; assistência técnica, pesquisa técnica e pesquisa e
mercado; prestação de serviços; laboratório de processamento de filmes e videotape;
prestação de serviços de gravação de videocassetes e de produção de matrizes-masters em
vídeo tape para transcrição em videocassete e outros afins; importação e distribuição de fitas
de videocassetes; pecuária; promoção de convenções, congressos, feiras de amostras,
exposições de produtos e eventos culturais.
Através de portaria específica, do estado do Amazonas, a empresa Planaudio, obteve
autorização para incorporação de duas empresas estabelecidas no distrito industrial da Zona
Franca de Manaus.
Dividindo seus projetos em componentes e produtos, pode-se relatar inicialmente seus
projetos de componentes. Em 1985 a empresa aprovou os projetos de mecanismo deck
montado, através da Resolução nº 498/85, em 1990 pela Resolução nº 088/90 foi aprovado
para produção do mecanismo para toca disco-laser.
Já em 1992, procurando adequar sua produção as recentes inovações tecnológicas do
mercado, a empresa aprovou o projeto de atualização para os produtos mecanismo para toca
fitas e placas de circuito impresso montada, e em 1993 pela Resolução nº 397/93 teve seu
projeto de ampliação aprovado para produção de mecanismo ótico e placas de circuito
impresso montada.
Em 1994, acompanhando as necessidades de mercado e objetivando atender estas
necessidades, a empresa novamente ampliou sua produção de placas de circuito impresso
montadas e mecanismos óticos, pela Resolução nº 296/94.
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Referências
GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo, Atlas, 2006.
PORTER, Michael E. A Vantagem Competitiva das Nações. Rio de Janeiro, Campos, 1993.
PRADO, S., CAVALCANTI, Carlos E. G. A Guerra Fiscal no Brasil. São Paulo, Fundap;
Fapesp; Brasília, IPEA, 2000.