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XXIV ENEGEP Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de novembro de 2004

Modelo econômico da Zona Franca de Manaus – Análise da


sustentabilidade a longo prazo frente à globalização e às novas
tecnologias.

Julio Cezar de Souza (SIDIA) julio.souza@samsung.com.br

Resumo
Este trabalho apresenta estudo que visa substanciar a hipótese de que o atual modelo
econômico da Zona Franca de Manaus, primariamente baseado em incentivos fiscais e
fortemente voltado à indústria, não será sustentável a longo prazo frente a uma nova
conjuntura onde o valor agregado por atividades eminentemente manufatureiras tende a ser
cada vez mais minimizado em favor de atividades de Pesquisa e Desenvolvimento que
busquem adicionar valor através do desenvolvimento de novas tecnologias que possam ser
posteriormente “embarcadas” (embedded) em produtos dos mais diversos segmentos.
Palavras chave: Pesquisa, Desenvolvimento, Indústria.

1. Introdução
A Zona Franca de Manaus foi instituída pelo governo federal em 1967 com o objetivo de
estabelecer um pólo de desenvolvimento industrial, comercial e agropecuário. Para compensar
as desvantagens geográficas da Amazônia, o decreto que instituiu a ZFM também a definia
como área de livre comércio de importação e exportação, além de contar com incentivos
fiscais especiais.
O modelo inicialmente proposto vem sofrendo deste então ajustes de forma a consolidar a
implantação da ZFM e tentando adequar o pólo às mudanças conjunturais dos mercados
nacional e internacional. Apesar dos diversos reveses macro-econômicos sofridos pelo país e
pela região desde a sua criação é inegável que a ZFM consolidou um parque industrial
bastante robusto na região, fortemente ancorado na indústria de eletrônica de consumo, duas
rodas e, mais recentemente, indústria de telefonia celular.
A viabilidade da permanência da ZFM está hoje totalmente atrelada a manutenção dos
incentivos fiscais federais e estaduais definidos em lei e com prazo definido para expirar.
Dessa forma, de tempos em tempos vemos a bancada de parlamentares do estado do
Amazonas defender a prorrogação do prazo de vigência da lei que estabelece os incentivos à
Zona Franca de Manaus.
No entanto, apesar do entusiasmo e competência dos parlamentares locais que tem
sistematicamente perseguido, e conseguido, a prorrogação de prazo para os incentivos, não
existe um debate mais aprofundado em torno do tema da viabilidade, à longo prazo, do atual
modelo econômico da Zona Franca de Manaus, visto que o mesmo tem um foco claramente
voltado ao incentivo industrial.
No atual cenário mundial os países ricos e empresas transnacionais buscam ser cada vez mais
competitivos em um mercado global e sem fronteiras, e procuram cada vez mais deter a
propriedade intelectual das tecnologias embutidas nos mais variados produtos, de forma a
auferir o recebimento de “royalties” pela “inteligência” embutida nestes equipamentos.
Atualmente os países e empresas que investem em tecnologia se concentram em aspectos de
projeto, desenvolvimento e marketing, que são as etapas que efetivamente agregam valor à

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empresa e/ou país, relegando à manufatura a algumas poucas empresas cuja grande escala de
produção justifica ter o negócio fabril como um fim em si, ou ainda países não desenvolvidos,
cuja ausência de domínio tecnológico não lhes deixa alternativa além de participar apenas da
etapa de produção dentro do ciclo de vida de um determinado produto. Dentro deste contexto
é emblemática a frase do presidente da Sun Microsystems, líder mundial de hardware e
software para sistemas de grande porte, Scott McNeally, que disse, referindo-se a participação
da Sun no ciclo de vida de seus produtos: “We just want to design, market and make
money...”.
A Zona Franca de Manaus tem efetivamente cumprido alguns de seus principais objetivos
definidos quando de sua criação, entre eles trazer uma alternativa de desenvolvimento
econômico para o coração da Amazônia ocidental, gerando dezenas de milhares de empregos
diretos e indiretos na região, sendo inegável a sua contribuição social para a economia e a
comunidade local. É também notório que muitas das indústrias instaladas na ZFM atingiram
um nível de excelência em seus processos fabris equiparável, e em alguns casos superior, aos
principais centros manufatureiros mundiais, sendo bastante comum que muitas empresas
multinacionais instaladas em Manaus tenham os melhores indicadores de produtividade em
nível mundial, superando inclusive suas matrizes.
Não obstante a significativa contribuição da ZFM à economia da região até o presente
momento, faz-se necessária uma análise aprofundada da viabilidade deste modelo,
basicamente industrial, no longo prazo, à luz de uma nova realidade mundial onde as
empresas/países, suportados por um alto capital intelectual humano, migraram ou estão
rapidamente migrando para um modelo que privilegia a inovação tecnológica, a propriedade
intelectual, os ganhos através do licenciamento de patentes, a “inteligência embarcada”, em
detrimento de uma atividade basicamente industrial onde os ganhos e o valor agregado são
significativamente menores.
A principal justificativa para este projeto é contribuir para essa discussão através de um
estudo que demonstre de forma não empírica, mas através de dados científicos e estudos de
caso, que o atual modelo econômico no qual se sustenta o pólo industrial da Zona Franca de
Manaus necessita rever o seu foco eminentemente industrial para um foco de geração de
tecnologia e incrementação do valor agregado em seus produtos, sob pena de se tornar
inviável, a despeito de todos os incrementos de incentivos fiscais ou da prorrogação da lei que
os regulamenta.

2. Evolução do modelo Zona Franca

A Zona Franca de Manaus foi idealizada e criada como Porto Livre em 1957. Dez anos
depois, o Governo Federal, através de decreto federal de 1967 ampliou essa legislação e
reformulou o modelo, estabelecendo incentivos fiscais por 30 anos para implantação de um
pólo industrial, comercial e agropecuário. Instituindo, assim, o atual modelo de
desenvolvimento, tendo como centro a cidade de Manaus. O modelo de desenvolvimento da
ZFM está assentado em Incentivos Fiscais e Extra-Fiscais, que propiciaram condições para
alavancar um processo de crescimento e desenvolvimento da área incentivada (MELO, 1997).
A dinâmica da ZFM pode ser configurada em 3 fases distintas: A primeira fase, de 1967 a
1976 constituiu o período de liberdade plena de importações, apresentando predominância da
atividade comercial. A segunda fase estendeu-se até o final de 1990 e foi caracterizada
principalmente pelo estabelecimento de Índices Mínimos de Nacionalização para produtos
industrializados na ZFM e comercializados nas demais localidades do território nacional. A
terceira fase iniciou-se em 1991 com a abertura do mercado Brasileiro às importações. A

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exposição do modelo ZFM à nova ordem exigiu profundas modificações na legislação, como
a substituição do critério dos Índices Mínimos de Nacionalização pela prática de Processo
Produtivo Básico – PPB (SUFRAMA, 2004).
O modelo econômico desenhado para a ZFM incentiva primariamente a produção industrial.
Isso contribuiu decisivamente para que segmentos industriais específicos se estabelecessem
na região, passando com o tempo a ganhar relativa importância nacional, com alguns de seus
produtos e setores passando a ter significativa representatividade em relação ao conjunto da
produção industrial do país. Acordos de cessão tecnológica, joint ventures, associados à
evolução constante de seus processos fabris permitiu uma especialização setorial que resultou,
para alguns produtos, na hegemonia da produção da ZFM em termos nacional, e para outros,
em menor número, competitividade no mercado internacioanl (SALAZAR, 2004).
No entanto, o modelo econômico atual se sustenta basicamente em uma malha de incentivos
fiscais inerente ao Decreto-Lei Nr. 288, de forma que a retirada de tais incentivos acarretaria
uma diminuição drástica da competitividade dos produtos produzidos na ZFM e conseqüente
migração das principais indústrias para regiões do país onde aspectos como proximidade dos
principais centros consumidores e facilidade logística seriam mais favoráveis às suas
atividades (BOTELHO, 1996).

3. Indicadores atuais do Pólo Industrial de Manaus


Os aparelhos de TV estão entre os principais produtos produzidos no Pólo Industrial de
Manaus, sendo portanto, um importante indicador da indústria de consumo eletrônico como
um todo. Em 2003 foram produzidos 5,8 milhões de aparelhos de tv enquanto que de janeiro a
dezembro de 2004 foram produzidos quase 7 milhões de aparelhos.

Fonte: (FIEAM, 2004)

Tabela 1 – Indicadores de vendas em empregos PIM

O volume de importações nos oito primeiros meses de 2004 cresceu significativamente em


relação ao mesmo período do ano anterior, registrando um total de US$ 2,32 bilhões enquanto
que as exportações ficaram em apenas US$ 607,28 milhões no mesmo período. A
desproporção fica, no entanto, na casa de aproximadamente US$ 1,71 bilhão, diferença
elevada para uma balança comercial. Os números, no entanto, mostram um tendência de
mudança, em favor das exportações.

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Fonte: (FIEAM, 2004)

Tabela 2 – Balança commercial do Amazonas

O produto telefone celular encabeça a lista de produtos mais exportados (US$ 135,10 milhões
no período totalizando 20,65% de participação), permanecendo estável na posição em que
ocupa seguido de motocicletas 50cc (10%) e televisores (9,25%). Até dezembro/03, os
telefones celulares participavam com 48% do total das vendas externas.

Fonte: (MDIC/SECEX/SERPRO, 2004)

Tabela 3 – Países de origem das importações AM

Os países que mais exportam para o Amazonas são: China (20,18%), Japão (18,41%), Coréia
do Sul (12%), Estados Unidos (8,93%), Taiwan (4,78%) e Alemanha com 4,7%. As
exportações do Pólo Industrial de Manaus totalizam até o mês de agosto montante de US$
607,28 milhões, enquanto que o resultado de igual período de 2003 foi de US$ 771,99
milhões, uma redução de 21,3%.

4. Análise setorial
As grandes mudanças que delimitaram etapas no processo de evolução da humanidade sempre
tiveram o suporte da tecnologia, em que pese estarem calcadas no empirismo, gerando
conhecimento posterior. No mundo atual, o conhecimento antecede ao fato, ao investimento, à
criação de uma empresa ou mesmo aos grandes negócios internacionais. Robert Kurz, no seu
livro "Colapso da Modernização", destaca que a concorrência no mercado mundial torna
obrigatório um novo padrão de produtividade e qualidade, definido pela combinação de

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ciência, tecnologia avançada e grandes investimentos. A obsessão das empresas em buscar


padrões de produtividade contribuiu para fomentar um período significativo de criatividade e
transformação na economia mundial, que exigiu a mobilização e o emprego do crescimento.
Isso contribuiu para a evolução da história da teoria econômica sobre o desenvolvimento, na
qual o conhecimento torna-se elemento explícito numa relação de causa e efeito. Essa
abordagem foi desenvolvida por Paul Romer e outros, no estudo "Novas Teorias de
Crescimento" (1991).
Observa-se que, a criação de condições adequadas para a produção do conhecimento nos
países em desenvolvimento é uma tarefa que exige a definição de estratégias consistentes por
parte dos governantes. Nesse cenário, o Brasil encontra-se numa posição intermediária entre
os países que buscam colocar a produção de conhecimento no centro do desenvolvimento
econômico e social. Os recursos aplicados em ciência, pesquisa e fomento tecnológico
representam 0,89% do PIB, média semelhante à de nações como a Espanha (0,9%), mas muito
distante das maiores economias, como os Estados Unidos (2,7%) e Japão (3%), ou de tigres
asiáticos, como a Coréia do Sul (2,5%). Nestes países, por outro lado, a iniciativa privada, em
especial a indústria, responde por 60% dos investimentos em pesquisa e tecnologia, enquanto
no Brasil e outras nações intermediárias no setor o governo assume cerca de 60% dessas
inversões. Os investimentos aplicados em P&D no Brasil, em 2000, o setor público foi
responsável por 60,2%, enquanto os restantes 39,8% ficaram por conta do setor privado
(MCT, 2004). Os investimentos feitos em P&D naquele ano, alcançou 1,05% do PIB. A taxa
histórica brasileira é de 0,8% do PIB.
É oportuno destacar, nesse contexto, que o ranking de registro de patentes do Patent
Cooperation Treaty (PCT), acordo ligado a World Intellectual Property Organization (WIPO),
que possibilita registro de patentes em 123 diferentes países surge como um importante
indicador do desempenho na área de inovação tecnológica de um país. No ranking de 2003, os
Estados Unidos ocupa o primeiro lugar, com 39.250 pedidos de patentes (35,7% do total),
seguidos por Japão (16.774 pedidos, ou 15,2% do total) e Alemanha (13.979 pedidos,
representando 12,7% do total). A Coréia do Sul ocupa a sétima posição da relação, com 2.947
pedidos de patentes (ou 2,7% do total), um avanço de 15,5% no número de pedidos em relação
a 2002. O Brasil aparece no ranking com 221 pedidos de patentes (com 0,2% do total, na sexta
posição entre os emergentes), atrás da China (1.205), Índia (611), África do Sul (376), e
Cingapura (313), e à frente do México (123). 
Uma das explicações para o baixo desempenho do Brasil no citado ranking de pedidos de
registro de patentes do PCT está na proporção de pesquisadores que estão atuando nas
empresas. Nos países desenvolvidos, até 80% dos pesquisadores e seus estudos estão lotados
nas empresas, enquanto os restantes 20% se encontram na academia. Verifica-se que, nos
Estados Unidos, existem 800 mil cientistas fazendo pesquisa em empresas; na Coréia do Sul,
75 mil; no Brasil, menos de 30 mil. Esse baixo número de pesquisadores nas empresas decorre
do fato de que no Brasil essa proporção é inversa, havendo 80% da pesquisa na universidade e
20% nas empresas. Esses dados são preocupantes, visto que o esforço da academia não está
direcionado para a inovação tecnológica, ou seja, aquela inovação que busca transformar o
conhecimento em produtos ou ferramentas produtivas. O foco da universidade está na
pesquisa de longo prazo, que serve de base à inovação tecnológica. As inovações devem ser
desenvolvidas nas empresas, visto que dispõem de recursos e de interesses específicos na
valorização desse tipo de pesquisa. Dessa forma fica demonstrado que, a inclusão do Brasil no
cenário mundial de desenvolvimento tecnológico exige que sejam definas estratégias
consistentes para direcionar as atividades de pesquisa de desenvolvimento para dentro das
empresas. 

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O sucesso de uma política industrial depende do volume dos investimentos direcionados pelo
Estado para a inovação tecnológica no país (COUTINHO, 1994). Esse esforço de gerar
estímulos às atividades de pesquisa e desenvolvimento, especialmente no âmbito das
empresas, é uma medida indispensável, visto que os investimentos feitos nesse setor são
caracterizados pelo elevado grau de risco. Observa-se, com base nos referenciais
internacionais, que o Brasil possui uma base de pesquisa acadêmica competitiva. A base de
pesquisa empresarial, entretanto, é bastante frágil. Dessa forma, o grande obstáculo a ser
superado é a geração de estímulos para que as empresas do Brasil possam empregar cientistas
e engenheiros para fazer desenvolvimento tecnológico nas empresas (BRITO CRUZ, 2004).
Isso explica, em parte, porque os investimentos em P&D das empresas brasileiras é tão
reduzido. Observa-se que, uma elevada prioridade dada pelo país nessa área produz reflexos
positivos no campo das inovações tecnológicas. Quando isso ocorre, o país também aumenta a
sua participação no volume de patenteamento no mundo.
Neste contexto observa-se que nos países hoje desenvolvidos os pólos antes eminentemente
manufatureiros vieram a tornar-se centros voltados às atividades de pesquisa e
desenvolvimento, mantendo localmente apenas a manufatura de produtos de alta tecnologia e,
consequentemente, alto valor agregado, além, evidentemente das instituições voltadas à
pesquisa e desenvolvimento. Esse movimento pode ser claramente percebido a partir dos anos
setenta quando o Japão começou a transferir às suas indústrias de produtos de consumo
eletrônicos “commodities” para os então emergentes triges asiáticos: Coréia do Sul, Taiwan,
Hong Kong e Cingapura. Na década seguinte os chamados tigres começaram essa
transferência em direção a paises como Tailândia, Indonésia, Filipinas, depois China,
Vietnam, etc. Tal movimentação, indubitavelmente, se deve a diversos fatores, como por
exemplo a busca por mão-de-obra barata, mas também deve-se claramente ao fato desses
países/corporações estarem buscando focar na fase do ciclo de vida dos produtos cujo valor
agregado é consideralvemente maior em termos de retorno, que é a fase de pesquisa e
desenvolvimento, relegando a manufatura propriamente dita a locais que ofereçam condições
adequadas à atividade fabril, quais sejam: custo de mão-de-obra, condições logísticas,
incentivos fiscais, etc.

5. Conclusão
A minimização da forte dependência atual da política de incentivos será efetiva quando a
contribuição do pólo industrial do Manaus ao ciclo de vida do produto for além da simples
manufatura do mesmo. O alargamento do escopo de pólo manufatureiro para uma abordagem
mais ampla envolvendo as etapas de pesquisa e desenvolvimento, de forma a incrementar
consideravelmente o valor agregado à cadeia do produto, pode vir a ser um diferencial
determinante para a competitividade das empresas instaladas em Manaus, independentemente
da diminuição dos incentivos fiscais .
A criação das bases necessárias para o estabelecimento de um ambiente voltado à pesquisa e
desenvolvimento de novos processos e produtos está fortemente ligada à formação de uma
massa crítica de cientistas e pesquisadores que, nas empresas, virão ser os transformadores
da ciência, gerada no centros acadêmicos, em inovação tecnológica e que posteriormente se
traduzirão em novos produtos e processos.
Destaca-se o fato de que certos países - sobretudo os chamados tigres asiáticos: Coréia do Sul,
Taiwan, Hong Kong e Cingapura, e os tigres da segunda geração: Malásia, Filipinas e
Indonésia - iniciaram o caminho ascendente de suas indústrias de tecnologia, entre as quais a
de bens de eletrônica de consumo (BEC), a partir de funções menos qualificadas. O que
ocorreu foi a atração de investimentos estrangeiros de forma generalizada, sobretudo em

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virtude do fator mão-de-obra, que, pouco a pouco, engendraram efeitos sinérgicos e


permitiram às empresas desses países a assunção de funções mais desenvolvidas (o que
estimulou também empresas nacionais).
Atrativos locais preexistentes (sobretudo mão-de-obra barata), investimentos em conjunto e
demanda em crescimento revelaram-se fatores muito mais atraentes para o desenvolvimento
qualitativo de indústrias em países seguidores do que simplesmente medidas de incentivos
criadas artificialmente, sem as quais as corporações multinacionais não teriam estímulos
suficientes para canalizar seus investimentos diretos e tampouco atribuir funções mais nobres
a suas filiais.
A indústria brasileira de BECs apresenta simultaneamente empresas, nacionais e estrangeiras,
movidas predominantemente pelos incentivos tributários da ZFM ao lado de algumas
iniciativas de empresas dispostas a dedicar-se a atividades geradoras de maior valor agregado,
haja vista a implantação do instituto Genius sob iniciativa da brasileira Gradiente. Aventa-se
aqui que as empresas nacionais estariam mais dispostas a investir em funções de maior
dinamismo, mas enfrentam dificuldades de acesso a recursos a taxas competitivas (a despeito
da existência de algumas alternativas mais razoáveis de organismos como a Finep e o
BNDES) ao passo que as estrangeiras, apesar de terem maior acesso a financiamento (seja
oriundo da própria corporação, de bancos e financiadoras internacionais ou das mesmas fontes
nacionais supra citadas), não encontram estímulos que lhes façam decidir, em conformidade
com as estratégias intra-corporativas, pela promoção de atividades de maior valor adicionado
no Brasil.
Para o Brasil, os benefícios que podem originar-se de empresas dinâmicas de BECs, nacionais
ou estrangeiras, vão além da geração de empregos e dos spillovers de conhecimento (ao longo
da cadeia produtiva bem como em setores afins). Os desdobramentos que as empresas geram
afetam igualmente a inserção internacional da economia onde estão instaladas. Atividades
altamente agregadoras de valor, como a P&D, desencadeiam, a reboque, ramificações
sinérgicas na economia: uma maior autonomia na produção de bens tecnologicamente mais
avançados, sobretudo os componentes, alivia pressões sobre a Balança Comercial do Balanço
de Pagamentos em Transações Correntes. Ademais, reduzem-se os pagamentos de royalties a
título de transferência de tecnologia, na Conta de Serviços.

Referências
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E ENGENHARIA DAS EMPRESAS
INOVADORAS. Documento Internet URL http: //www.anpei.org.br. Acesso em 03/04/2004.
BOTELHO, José Antônio. “ Redesenhando o projeto ZFM: Um estado de alerta”. Editora Sebrae, 1996.
COUTINHO, L.; FERRAZ, J.C. “Estudo da competitividade da indústria brasileira”. Editora Papirus, 1994.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO AMAZONAS. “Indicadores industriais”. Assessora de
dados estatísticos, 2004.
MELO, Paulo R. S.; ROSA, Sérgio E. S. “A indústria eletrônica na Zona Franca de Manaus”. BNDES, 1997.
PEREIRA, José M. “Economia brasileira”. Editora Atlas, 2003.
SALAZAR, Admilton P. “Amazônia – Globalização e sustentabilidade”. Editora Valer, 2004.
SUPERINTENDÊNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS. Documento Internet URL http:
//www.suframa.gov.br/mzfm_historia.cfm. Acesso em 02/04/2004.

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ANEXO

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