Você está na página 1de 10

Disponível em : www.univali.

br/ periodicos

A FUNÇÃO MERAMENTE DECLARATIVA


DA AÇÃO CONDENATÓRIA
THE MERELY DECLARATI VE FUNCTI ON OF THE SENTENCE

LA FUNCI ÓN MERAMENTE DECLARATI VA DE LA ACCI ÓN CONDENATORI A

Je fe r son M a r in 1

Ca r los Albe r t o Lu n e lli 2

RESUMO

Conquant o reconhecida com o um a cat egoria na classifi cação das ações, de acordo com o crit ério da
efi cácia do provim ent o reclam ado, a ação condenat ória regist ra elem ent os que não perm it em m ant ê- la
com o cat egoria aut ônom a, j á que represent a, efet ivam ent e, a at ividade j udicial declarat ória. Assim , o
com ando condenat ório não a diferencia da ação declarat ória, não se j ust ifi cando a separação procedida
pelos j urist as. A aceit ação de que se t rat a de sim ples declaração j udicial e o afast am ent o das concepções
ideológicas que perm eiam o inst it ut o poderá cont ribuir para a efet ividade do processo, a part ir da redução
da ação à sua nat ureza, represent at iva da at ividade j urisdicional declarat iva.

PALAVRAS- CH AVE: Ação Condenat ória. Sent ença. At ividade Jurisdicional.

ABSTRACT

Alt hough recognized as a cat egory in t he classifi cat ions of act ions, according t o t he crit erion of t he
effect iveness of it s act ion, t he sent ence records elem ent s t hat do not allow it t o be m aint ained as a
st and- alone cat egory, since effect ively, it represent s declarat ory j udicial act ivit y. Thus, t he sent ence is no
different from t he declarat ory act ion, and t he dist inct ion m ade by j urist s is unj ust ifi ed. The accept ance of
t he sim ple j udicial declarat ion and t he rem ot eness of ideological concept ions t hat perm eat e t he I nst it ut e
can cont ribut e t o t he effect iveness of t he process, based on a reduct ion of t he act ion t o it s essence,
represent at ive of declarat ive j udicial act ivit y.

KEYW ORD S: Condem nat ory Sent ence. Act ion. Judicial Act ivit y.

RESUMEN

Aunque reconocida com o una cat egoría en la clasifi cación de las acciones, de acuerdo con el crit erio de
la efi cacia del aprovisionam ient o reclam ado, la acción condenat oria regist ra elem ent os que no perm it en

1 Advogado. Dout or em Direit o – UNI SI NOS ( RS) - BRA. Mest re em Direit o – UNI SC ( RS) - BRA. Profes-
sor do Program a de Mest rado em Direit o da UCS ( RS) - BRA. Mem bro do I EM – I nst it ut o de Est udos
Municipais ( RS) - BRA. CPF: 787.022.400- 68. Endereço: Rua 13 de Maio, 581, sala 402 – Cent ro -
Bent o Gonçalves – RS – Cep: 95700- 000. Telefone: ( 54) 9925- 6810. Fax: ( 54) 3452- 6244. E- m ail:
j dm arin@ucs.br.
2 Advogado. Dout or em Direit o – UNI SI NOS ( RS) - BRA. Mest re em Direit o – UNSI NOS ( RS) - BRA.
Professor do Program a de Mest rado da Universidade de Caxias do Sul – UCS ( RS) - BRA. CPF:
37401904004. Endereço: Rua 13 de Maio, 581, sala 402 – Cent ro - Bent o Gonçalves – RS – Cep:
95700- 000. Telefone: ( 54) 9973- 4709. Fax: ( 54) 3452- 6244. E- m ail: calunelli@gm ail.com .

Revist a NEJ - Elet rônica, Vol. 17 - n. 3 - p. 479- 488 / set- dez 2012 479
ISSN Eletrônico 2175-0491

m ant enerla com o cat egoría aut ónom a, ya que represent a, efect ivam ent e, la act ividad j udicial declarat oria.
Así, el com ando condenat orio no la dist ingue de la acción declarat oria, no j ust ifi cándose la separación
procedida por los j urist as. La acept ación de que se t rat a de sim ple declaración j udicial y el alej am ient o de las
concepciones ideológicas que perm ean el inst it ut o podrá cont ribuir para la efect ividad del proceso, a part ir
de la reducción de la acción a su nat uraleza represent at iva de la act ividad j urisdiccional declarat iva.

PALABRAS CLAVE: Acción Condenat oria. Sent encia. Act ividad Jurisdiccional.

INTRODUÇÃO

A classifi cação das ações do Processo Civil t em im port ant e papel na realização das pret ensões
que se apresent am ao Judiciário, porque delim it a o m odo de at uação da t ut ela j urisdicional. E a
ação condenat ória, um a das espécies de ações ident ifi cadas e reconhecidas nessa classifi cação, é
t am bém responsável pela const rução da cat egoria das ações processuais e, ainda, pelo t rat am ent o
dado às sent enças, especialm ent e de efi cácia declarat ória e condenat ória.

A sen t en ça con d en at ór ia est á alicer çad a em f u n d am en t os h ist ór icos com p r om et id os


ideologicam ent e, que produziram a dist orção dessa espécie de ação no processo cont em porâneo.

Percebida ainda no Direit o Rom ano, a ação condenat ória at ravessou o t em po, convivendo no
ordenam ent o processual at ual. Todavia essa herança não produz result ado sat isfat ório, na m edida
em que o inst it ut o veio ao processo m oderno carregado daqueles com ponent es ideológicos que o
j ust ifi cavam no seu nascedouro. Veio o inst it ut o, m as veio t am bém a ideologia que o sust ent ou e
o criou.

O result ado disso é que a est rut uração das ações nos t em pos at uais não consegue alcançar ao
processo m ecanism os para realização dos direit os que a sociedade reclam a. Cont ribui, ao cont rário,
para o est abelecim ent o de conceit os e cat egorias inút eis que em nada auxiliam na efet iva prest ação
da t ut ela.

É o caso da própria condenação, que t erm ina por realizar papel m eram ent e declarat ivo de direit os,
exigindo a adoção de processo post erior, dest inado à concret ização da pret ensão do aut or.

1. A QUESTÃO DA CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES QUANTO À EFICÁCIA DO


PROVIMENTO

A ideia de classifi cação das ações é decorrência da concepção de aut onom ia da ação que faz com
que est a assum a um conceit o puram ent e form al ou processual, fundado nas diferent es nat urezas
do provim ent o j udicial.

Assim , no processo cont em porâneo, a classifi cação das ações est á dist ant e do subst rat o m at erial
e t al classifi cação, de acordo com a efi cácia do provim ent o, t em um a feição processual. Esse
aspect o é reconhecido por Salvat ore Sat t a, quando afi rm a “ che pur essendo le azioni coordinat e
alla t ut ela di un int eresse sost anziale, per il solo fat t o di esercit arsi in un giudizio, esse present ano
un necessario cont enut o processuale e form ale, che non deve essere scam biat o com la essenza
st essa dell’azione” 3 .

De acordo com a efi cácia do provim ento reclam ado, as ações do processo de conhecim ento encontram
tríplice divisão, segundo a m aior parte dos processualistas: declaratórias, constitutivas e condenatórias.
Tal concepção tem profundas raízes ideológicas, atravessando os séculos e m antendo a fi delidade do
processo à ideia de que a feição rom ana da j urisdição tivesse apenas o propósito declarativo.

Essa divisão das ações em t rês cat egorias é aceit a pela im ensa m aioria dos processualist as
cont em porâneos que não incluem nessa t axonom ia m ais do que as ações declarat órias, ou de
m ero accert am ent o, com o referem os it alianos, as ações const it ut ivas, hábeis a criar, m odifi car ou

3 SATTA, Salvat ore. D ir it t o Pr oce ssu a le Civile . 6. ed. Padova: CEDAM, 1959. p. 105.

480 Jeferson Marin e Carlos Albert o Lunelli - A função m eram ent e declarat iva da ação ...
Disponível em : www.univali.br/ periodicos

ext inguir um a relação j urídica e, enfi m , a ação condenat ória, reconhecida m aj orit ariam ent e com o
aquela port adora de dupla pret ensão, de declaração e de form ação do t ít ulo execut ivo, reduzindo- a
inclusive à condição de procedim ent o prévio da execução.

De out ro lado, divergindo da m aior part e dos aut ores que produziram t al classifi cação, fi rm a- se
isoladam ent e Pont es de Miranda com sua célebre classifi cação quinária das sent enças, diferenciada
pelo reconhecim ent o dado às ações m andam ent ais e execut ivas, respect ivam ent e aquelas que
cont enham um a ordem e aquelas ações que se revelem capazes de realizar m at erialm ent e a
pret ensão do aut or.

Há, no ent ant o, dout rinadores que realizam ainda um a classifi cação diversa: é o caso de Jam es
Goldschm idt , que classifi cou as ações em declarat órias, condenat órias, const it ut ivas e m andam ent ais,
defi nindo as ações condenat órias com o aquelas que “ persigue la obt ención de una sent encia que
condene al dem andado a realizar det erm inada prest ación en favor del dem andant e y, en alguns
casos, exclusivam ent e a perm it ir la ej ecución forzosa” 4 . Assim , de acordo com t al ent endim ent o,
a condenação não t eria a rest rit a função de procedim ent o prévio à execução. Porém o m esm o
processualist a t erm ina por t rat ar do cont eúdo da condenação reconhecendo que, além da feição
declarat ória, t am bém encerra a ordem de execução que se dirige ao órgão execut ivo.

A curiosa posição de Goldschm idt que se arrisca a classifi car a ação condenat ória t am bém com o
m andam ent al, porque o t ít ulo execut ivo cont eria em si, t am bém , o m andado dirigido ao órgão de
execução t em , port ant o, sust ent ação a part ir do com ando exist ent e na sent ença. E o argum ent o
ut ilizado pelo processualist a t am bém m erece at enção: t raz o aspect o de que a condem nat io rom ana
perdeu, no processo m oderno, a sua feição privada e, assim , o t ít ulo execut ivo que a condenação
produz seria o bast ant e para agrupá- la ent re as ações m andam ent ais. Nessa linha, sust ent a ele,
depois de afi rm ar t am bém m andam ent al a condenação, que “ est a circunst ancia se explica sólo
por el hecho de que la “ condena” del proceso m oderno ha sobrepasado los efect os privados de la
“ condem nat io” de proceso rom ano, baj o el infl uj o de las concepciones j urídicas alem anas” 5 .

O ent endim ent o de Goldschm idt é credit ado a um “ gravíssim o erro” por part e de Pont es de
Miranda que a at ribui à “ confusão, corriqueira, ent re m andado int raprocessual, que depende de
m ero despacho ou decisão int erlocut ória, e o m andado sent encial”. 6 É por isso que Pont es perm it e-
se concluir que a ordem , desprovida de efi cácia de sent ença, não pode ser com preendida com o
sent ença m andam ent al.

Ent ão, a relevant e cont ribuição de Pont es de Miranda, que classifi cou essas m esm as ações do
processo de conhecim ent o, de acordo com sua carga de efi cácia, ou de result ado, em cinco espécies,
acrescent ando às declarat órias, const it ut ivas e condenat órias t am bém as espécies m andam ent ais
e execut ivas. Ao regist rar a espécie condenat ória, Pont es de Miranda a classifi ca com o aquela
que “ supõe que aquele ou aqueles, a quem ela se dirige, t enham obrado cont ra direit o, ou t enha
causado dano e m ereçam , por isso, ser condenados ( com - dam nare) ”. 7 Esse conceit o, de fat o, não
é nem m esm o capaz de conceit uar, porque em princípio t odas as ações, t am bém as const it ut ivas,
declarat órias, execut ivas e m andam ent ais podem enquadrar- se nesse “ obrar cont ra o direit o”.

De qualquer m aneira, o t rabalho de Pont es de Miranda não j ust ifi ca de form a sat isfat ória o
est abelecim ent o da ação condenat ória. Mesm o que se reconheça o cont ribut o do j urist a, m ant eve
ele est reit a ligação com o paradigm a dogm át ico, afi nado à herança do racionalism o. Nas palavras
de Ovídio Bapt ist a da Silva:

A ‘t eoria da const ant e quinze’, a reverência que Pont es prest ou ao racionalism o, a sedução
pelas soluções m at em át icas, perm it iu- lhe apequenar a relevant íssim a const rução das sent enças
execut ivas e m andam ent ais [ ...] de m odo que o sist em a fosse afi nal preservado. 8

4 GOLDSCHMI DT, Jam es. D e r e ch o Pr oce sa l Civil. Traducción de Leonardo Priet o Cast ro. Barcelona:
Labor, 1936. p. 100.
5 GOLDSCHMI DT, Jam es. D e r e cho Pr oce sa l Civil. p. 113. Refere: “ essa circunst ância explica- se apenas
pelo fat o de que a condenação do processo m oderno superou os efeit os privados da “ condem nat io”
do processo rom ano, sob o infl uxo das concepções j urídicas alem ãs” ( t radução livre do aut or) .
6 PONTES DE MI RANDA, Francisco Cavalcant i. Tr a t a do da s Açõe s. São Paulo: Revist a dos Tribunais,
1970. p. 10.
7 PONTES DE MI RANDA, Francisco Cavalcant i. Tr a t a do da s Açõe s. p. 121.
8 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. A Açã o Con de n a t ór ia com o Ca t e gor ia Pr oce ssu a l. Da Sent ença

Revist a NEJ - Elet rônica, Vol. 17 - n. 3 - p. 479- 488 / set- dez 2012 481
ISSN Eletrônico 2175-0491

Em bora Pont es de Miranda t enha reconhecido que as ações acum ulam diferent es efi cácias9 ,
deixou de perceber que a ação condenat ória regist ra um a peculiaridade dent re as cinco espécies:
é a única que exige, para realização da pret ensão nela afi rm ada, a ut ilização de um processo
post erior. Ou sej a, não há efet ivam ent e a ação, m as apenas a pret ensão. I sso Pont es fez a part ir
de um a concepção de que quem condena faz m ais do que sim plesm ent e declarar ou, nas palavras
de Pont es, “ condenar não é declarar a inj úria; é m ais: é ‘reprovar ’, ordenar que sofra”. 10 De fat o,
Pont es deixou de considerar que a condenação não realiza a pret ensão do aut or, que t erá de
socorrer- se de out ra ação.

De fat o, a ação condenat ória é aquela que t raz a ideia de “ invasão da esfera j urídica do
dem andado” 11 e represent a no Direit o Processual Civil – de acordo com o ent endim ent o de grande
part e da dout rina – um processo ant erior ao de execução.

Essa necessidade de ut ilização de dois procedim ent os dist int os e para um único fi m cert am ent e
conspira cont ra a efet ividade do processo 12 , m as t em suas raízes ainda no Direit o Rom ano que
acaba det erm inando alguns inst it ut os do Direit o Processual Cont em porâneo, sust ent ados num a
visão exegét ica e dogm át ica que at ende a com prom issos ideológicos.

2. A AFIRMAÇÃO DA CONDENAÇÃO NO PROCESSO CONTEMPORÂNEO

A equivocada com preensão do conceit o de condenação im plicou a dist orção de out ros inst it ut os,
decisivos para a Ciência Pr ocessual. Por exem plo, foi a par t ir da condenação que os j ur ist as
const ruíram a Teoria da Ação, criando a cat egoria das ações processuais e, ainda, perm it iram - se
desvirt uar out ros inst it ut os, com prom et endo decisivam ent e o cum prim ent o do papel do Direit o
Processual, com o é o caso da ação reivindicat ória.

Para inúm eros processualist as, a condenação represent a o est abelecim ent o da cert eza acerca
de um fat o j urídico que im plica um a sanção. Trat a- se de at ividade declarat ória do j uiz, que cont ém
a im posição da responsabilidade. No ent ant o diversas foram as t eorias que procuraram explicar a
condenação.

Na célebre Polem ica I nt orno all’Act io, Windscheid 13 percebe a vinculação da ação com a obrigação,
apont ando que a act io rom ana é a expressão im ediat a da obligat io, reconhecendo inclusive que se
ut iliza frequent em ent e a expressão act io, quando se quer designar a obligat io.

Mas ele m esm o r econhece que a act io não se lim it a à obligat io, por que act io é a ex pr essão
ut ilizada para indicar a pr et ensão e, ainda, a ex pr essão que ser ve para indicar aquilo que se pode
pr et ender de out r o. Ele m esm o, enfi m , obser va que os r om anos ut ilizavam act io para designar
t ant o um dir eit o pr ocessual com o um dir eit o m at er ial, em bora t enha adm it ido que “ l’or dinam ent o
giur idico r om ano non è l’or dinam ent o dei dir it t i, m a l’or dinam ent o delle pr et ese ( Anspr üche)
giudizialm ent e per seguibili” 14 .

Calam andrei conceit ua a condenação a par t ir da t ransfor m ação da obr igação do devedor,
t ransform ado pelo com ando condenat ório de suj eit o at ivo em obj et o passivo da vont ade de out ro,

Lim inar à Nulidade da Sent ença. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 249.
9 Na classifi cação quinária das ações, Pont es de Miranda reconhece que as ações regist ram diferent es
cargas de efi cácia, havendo de apurar- se a preponderant e para realizar a classifi cação.
10 PONTES DE MI RANDA, Francisco Cavalcant i. Tr a t a do da s Açõe s. São Paulo: Revist a dos Tribunais,
1970. p. 209.
11 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. Se n t e n ça e Coisa Ju lga da . 4. ed. rev. am pl. Rio de Janeiro: Forense,
2003. p. 46.
12 FRANCI SCI , Piet ro de. Sint e sis H ist or ica de l D e r e cho Rom a no. Madrid: Revist a de Derecho Privado,
1954. p. 556.
13 WI NDSCHEI D, Bernhard. MUTHER, Theodor. Pole m ica I nt or no All’Act io. Traduzione de Ernst Heinit z.
Firenze: Sansoni, 1954. p. 11. Refere Windscheid que “ l’act io è l’espressione im m ediaa ed esaurient e
del dirit t o di credit o, dell’obligat io, ed è not o che le nost re font i parlano frequent em ent e di act io, quando
vogliono designare l ‘obligat io’” : “ a act io é a expressão im ediat a e exaurient e do direit o de crédit o,
da obligat io, e percebe- se que as nossas font es falam freqüent em ent e de act io, quando desej ariam
designar a obligat io” ( t radução livre do aut or) .
14 WI NDSCHEI D, Bernhard. MUTHER, Theodor. Pole m ica I n t or n o All’Act io. p. 08.

482 Jeferson Marin e Carlos Albert o Lunelli - A função m eram ent e declarat iva da ação ...
Disponível em : www.univali.br/ periodicos

em relação ao cum prim ent o da obrigação. É assim que sit ua a caract eríst ica essencial da condenação
na “ t ransform azione dell’obbligo, per il cui adem pim ent o il dirit t o cont ava sulla volont à at t iva
dell’obbligat o, in assogget t am ent o passivo alla forza alt rui, cont ro la quale la volont à del condannat o
non cont a più”. 15 Assim , Calam andrei reconhece a condenação com o t ransform ação da obrigação
em suj eição do devedor à vont ade do credor.

A nat ureza da sit uação declarada foi o pont o do qual part iu Chiovenda que t am bém sust ent ou a
condenat ória com o a produção de um Est ado j urídico novo frent e ao adversário, quando afi rm ou que
“ l’azione è dunque a m io parere un dirit t o pot est at ivo, anzi è il dirit t o pot est at ivo per eccellenza” 16 ,
e, a part ir dessa concepção, percebeu a exist ência da suj eição do adversário ao exercício desse
poder, de part e do aut or.

Carnelut t i seguiu a t eoria da nat ureza da sit uação j urídica declarada, afi rm ando que “ la condena
a su vez se resuelve en la declaración de cert eza de la responsabilidad”. 17 Além disso, em obra
dist int a, Carnelut t i dest aca a presença de “ ot ro elem ent o de la sent encia de condena: la orden de
ej ecución”. 18 Num a linha sim ilar, Kisch represent ou a t eoria fundada na declaração da pret ensão,
afi rm ando que a sent ença condenat ória é aquela que é “ est im at oria de la pret ensión” 19 .

A t eoria que explicou a ação condenat ória a part ir do com ando foi sust ent ada por Jam es
Goldschm idt , dizendo que “ el cont enido de la acción de condena es siem pre la obt ención de un fallo
condenat orio” 20 , ou sej a, pressupõe a condenação à expedição de com ando ao órgão execut ivo. A
crít ica que se faz a essa t eoria é a de que o com ando não decorreria propriam ent e da sent ença,
m as se j ust ifi caria em decorrência da própria lei.

I nt eressant e é o ent endim ent o de Ugo Rocco acerca da ação condenat ória, que percebe nessa
espécie de ação, um a inj unção, a part ir da qual o Est ado im põe a observância de um a condut a
que t enha sido declarada com o devida por um suj eit o frent e a out ro. Diz o processualist a, assim ,
que “ m ediant e quest a ingiunzione, lo St at o si sost it uisce all’avent e dirit t o nei richiam are il subiet t o
dell’obbligo giuridico, che è st at o accert at o, alla osservanza del dirit t o”. 21 A part ir dessa concepção,
Rocco reconhece que, ant es de proceder à realização forçada do Direit o, o Est ado cham a o t it ular
da obrigação ao adim plem ent o, “ ingiungendo di uniform are la propria condot t a al precet t o del
dirit t o”. 22 No ent ant o a condenação ainda perm it e a livre at uação do obrigado que pode, ou não,
cum prir a sent ença que o condenou.

Liebm an sust ent ou a condenação a part ir da aplicação da sanção, dizendo que “ a condenação
represent a exat am ent e o at o do j uiz que t ransform a a regra sancionadora de abst rat a e lat ent e
em concret a, viva, efi cient e”. 23 Refere, aliás, que essa aplicação em concret o da sanção const it ui a
novidade da condenação em relação à sim ples declaração.

Em bora não represent e um aspect o decisivo, no cam po prát ico releva considerar que, para alguns
aut ores, com o Salvat ore Sat t a, a condenação encerra t am bém um carát er const it ut ivo que é diverso

15 CALAMANDREI , Piero. La Con da n n a . Opere Giuridiche. Napoli: Morano, 1972. Vol. V. p. 491.
16 CHI OVENDA, Giuseppe. Sa ggi di D ir it t o Pr oce ssu a le Civile . Milano: Giuffrè, 1993. Volum e Terzo.
p. 23.
17 CARNELUTTI , Francesco. D e r e cho y Pr oce sso. Traducción de Sant iago Sent is Melendo, Buenos Aires:
Ediciones Juridicas Europa-Am erica, 1971. p. 57.
18 CARNELUTTI , Francesco. Est u dios de D e r e ch o Pr oce sa l. Traducción de Sant iago Sent ís Melendo.
Buenos Aires: Ediciones Juridicas Europa-Am érica, 1952. Vol. I . p. 207. Diz: “ out ro elem ent o da sen-
t ença de condenação: a ordem de execução” ( t radução livre do aut or) .
19 KI SCH, Wilhelm . Ele m e n t os de D e r e ch o Pr oce sa l Civil. Traducción de Leornardo Priet o Cast ro. 2.
ed. Madrid: Revist a de Derecho Privado, 1940. p. 330. Refere: “ est im at ória da pret ensão” ( t radução
livre do aut or) .
20 GOLDSCHMI DT, Jam es. D e r e ch o Pr oce sa l Civil. Traducción de Leonardo Priet o Cast ro. Barcelona:
Labor, 1936. p. 103. Cit a: “ o cont eúdo da ação de condenação é sem pre a obt enção de um com ando
condenat ório” ( t radução livre do aut or) .
21 ROCCO, Ugo. Tr a t t a t o di D ir it t o Pr oce ssu a le Civile . Torino: Torinese, 1957. Tom o I . p. 50. Diz:
“ m ediant e est a inj unção, o Est ado subst it ui ao que t em direit o, na reclam ação diant e do suj eit o da
obrigação j urídica, que foi declarada, à observância do direit o” ( t radução livre do aut or) .
22 ROCCO, Ugo. Tr a t t a t o di D ir it t o Pr oce ssu a le Civile . p. 50. Refere: “ ordenando a adequar a própria
condut a ao preceit o do direit o” ( t radução livre do aut or) .
23 LI EBMAN, Enrico Tullio. Pr oce sso de Ex e cu çã o. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1963. p. 15.

Revist a NEJ - Elet rônica, Vol. 17 - n. 3 - p. 479- 488 / set- dez 2012 483
ISSN Eletrônico 2175-0491

do direit o obrigacional e que se represent a pelo direit o ao efet ivo alcance do bem devido, expresso
concret am ent e, com o refere o processualist a, “ nell’azione esecut iva che sorge dalla condanna
st essa”. 24 Ainda, Aldo At t ardi t am bém refere concordar com “ il cont enut o carat t erist ico della sent enza
di condanna nella cost it uzione di uno st at o di soggezione dell’obbligat o” 25 e, a part ir desse est ado
de suj eição, reconhece o liam e que liga a condenação à sucessiva execução forçada.

A nat ureza sim ilar à da ação const it ut iva, t odavia, é rechaçada por Mandrioli, especialm ent e
sob o argum ent o de que nas ações const it ut ivas, t al qual nas declarat ivas, “ la t ut ela giurisdizionale
si esaurisce frut t uosam ent e” 26 , enquant o que na sent ença condenat ória apenas se esgot a um a fase
da prest ação da t ut ela.

Com o se observa, em bora as diferent es t eorias que procuraram explicar a ação condenat ória,
os processualist as m ant êm um a posição dogm át ica acerca da condenação, buscando sust ent á- la
em argum ent os de duvidosa validez. Dizer que a condenação perm it e a proposit ura da execução,
ou que faz um a suj eição do devedor ou, ainda, que é a aplicação da sanção no caso concret o não
parece const it uir j ust ifi cat iva razoável para garant ir a afi rm ação do com ando condenat ório.

A verdade é que, fi el aos seus com prom issos ideológicos, a ação condenat ória at ravessou o
t em po, sust ent ando- se com o um dos inst it ut os do processo civil, m esm o diant e das sucessivas e
quase que inacredit áveis m udanças por que passou a sociedade. E a relevância da invest igação
acerca do efet ivo papel da ação condenat ória é claram ent e percebida por Ovídio Bapt ist a da Silva,
quando afi rm a que:

A at ualidade da análise do conceit o de condenação revela- se quando se const at a que foi at ravés
dela que se m ant eve o sist em a exageradam ent e “ privat izado”, at ravés da redução de t odo o
direit o m at erial ao Direit o das Obrigações, de m odo que a execução fi casse lim it ada às execuções
prom ovidas por credores cont ra devedores, com o est á dit o no art . 566, com que nosso CPC abre
o Livro da “ execução em geral”. 27

Essa privat ização do processo, produt o da redução do direit o m at erial ao Direit o das Obrigações,
operou um a defi ciência na com preensão do conceit o de pret ensão, deixando de fora as ações
execut ivas e m andam ent ais – que represent ariam os int erdit os rom anos – e, com o refere Ovídio
Bapt ist a da Silva, 28 “ para assegurar o vínculo do Direit o Processual com a dout rina da “ divisão dos
poderes”. De fat o, a at ividade j urisdicional rest a lim it ada à função de dizer o direit o, relegando- se
a at ividade execut iva para m om ent o post erior do at o j urisdicional.

A declarat ividade da função j urisdicional t am bém at ende a um a exigência do liberalism o m oderno


que privilegia o m ét odo exegét ico no Direit o Processual. Essa const at ação, percebida por Crist ina
Rapisarda, t am bém produz a “ t endenza a privilegiare i valori di libert à individuale rispet t o ai pot eri
di int ervent o st at ale, in base ad una rigida osservanza del principio della divisione dei pot eri”. 29 Um a
j urisdição que apenas declara represent a m enor int ervenção dessa at ividade nas funções est at ais,
m ant endo- se a at ividade execut iva fora da at ividade j urisdicional.
24 Sat t a refere: “ na ação execut iva que surge da própria condenação” ( t radução livre do aut or) .
25 ATTARDI , Aldo. L’I n t e r e sse a d Agir e . Padova: CEDAM, 1958. p. 103. “ o cont eúdo caract eríst ico da
sent ença de condenação na const it uição de um est ado de suj eição do obrigado” ( t radução livre do
aut or) .
26 MANDRI OLI , Crisant o. L’Azione Esecut iva . Milano: Giuffrè, 1955. p. 310. Cit a: “ a t ut ela j urisdicional se
exaure frut uosam ent e” ( t radução livre do aut or) . O aut or esclarece que “ nella cat egoria delle sent enze
di m ero accert am ent o ed in quella delle sent enze cost it ut ive si há cont est ualm ent e un accert am ent o
del rapport o di sanzione e la sua at t uazione, m ent re nella cat egoria delle sent enze di condanna il rap-
port o di sanzione è solt ant o accert at o nella sua esigenza di at uazione at t raverso un’ult eriore at t ivit à
giurisdizionale”. “ na cat egoria das sent enças de m era declaração e naquela das sent enças const it ut ivas
há cont ext ualm ent e um a declaração da relação de sanção e a sua at uação, porém na cat egoria das
sent enças de condenação a relação de sanção é apenas declarada na sua exigência de at uação at ravés
de um a post erior at ividade j urisdicional” ( t radução livre do aut or) .
27 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. A Açã o Con de n a t ór ia com o Ca t e gor ia Pr oce ssu a l. Da Sent ença
Lim inar à Nulidade da Sent ença. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 248.
28 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. D ir e it o M a t e r ia l e Pr oce sso. Revist a Jurídica, São Paulo: Not a, n.
321, p. 16, dez./ j ul. 2004a. p. 321.
29 RAPI SARDA, Crist ina. Pr ofi li de lla Tu t e la Civile I n ibit or ia . Padova: CEDAM, 1987. p. 15. Diz: “ t en-
dência a privilegiar os valores de liberdade individual relat ivam ent e aos poderes de int ervenção est at al,
baseada num a rígida observância do princípio da divisão dos poderes” ( t radução livre do aut or) .

484 Jeferson Marin e Carlos Albert o Lunelli - A função m eram ent e declarat iva da ação ...
Disponível em : www.univali.br/ periodicos

Enfi m , o com ponent e ideológico que perm eia o Direit o Processual Civil perm it iu sua afi rm ação
com o ciência aut ônom a e descom prom et ida com a realização do direit o m at erial. Serviu, por out ro
lado, para consolidar a form ação dogm át ica, por m eio da criação de inst it ut os vinculados à herança
do racionalism o. Ent re eles est á a própria sust ent ação das ações processuais que prescindem dos
fat os sobre os quais deverão incidir.

3. AÇÃO E SENTENÇA CONDENATÓRIA: PRODUTOS DE UMA CATEGORIA PROCESSUAL

É possível afi r m ar que a j ust ifi cação dout r inár ia da ação condenat ór ia foi r esponsável pelo
est abelecim ent o do conceit o de ação pr ocessual. Essa const r ução conceit ual de ação com o
cat egor ia m er am ent e pr ocessual per m it e m ant er- se fi el à cient ifi cidade, pr escindindo dos fat os:
é a ex at idão cient ífi ca, ver dadeira hom enagem que, ao longo do t em po, o pr ocesso cont inua
pr est ando ao Racionalism o.

Essa construção é produto de um a abstração processual, sustentada nas diversas teorias criadas com
o propósito de explicar e j ustifi car os conceitos de ação. O interessante é que, para m anter a fi delidade
ao Racionalism o, o processo deixou de lado corretos e adequados entendim entos, entendendo- os
“ superados”. Assim é que Ovídio Baptista da Silva afi rm a que a Teoria Civilista da Ação, repudiada pelos
processualistas m odernos, expressa efetivam ente o adequado conceito de ação de direito m aterial:

O que se indica com o t eoria “ civilist a” da ação corresponde, port ant o, à “ ação de direit o m at erial”,
ação de quem t em direit o! A cham ada “ t eoria civilist a”, ao cont rário do que se t em dit o, não
é um a errônea com preensão da “ ação” processual. É um a corret íssim a defi nição da ação de
direit o m at erial! 30

É possível, ainda, recuperar o pensam ent o de Pont es de Miranda, quando apont a que “ os dois
ordenam ent os j urídicos, o m at erial e o processual, são dist int os, suscet íveis de linhas discret ivas,
m ais ou m enos precisas; porém , isso não quer dizer que não haj a cont act os e reações, que levem ,
de um a out ro, m aior efi ciência, ou a dim inuam ” 31 .

É, port ant o, necessário concluir que o sist em a processual cont em porâneo t rat a da condenação
a part ir de um enfoque rest rit o, deixando de considerar o conj unt o circunst ancial que a envolvia
no Direit o Rom ano. Se exist ia a condenação perant e o j uiz privado rom ano, t am bém coexist iam
os int erdit os, as com inações de penas para a hipót ese de descum prim ent o da condenação, que
funcionavam com o coadj uvant es, no sent ido de buscar conferir efet ividade ao processo.

Esses elem ent os não vieram ao sist em a processual cont em porâneo, ao m enos com o inst rum ent os
coadj uvant es da condenação, de form a que a condem nat io afi rm ou- se isoladam ent e, deixando para
t rás aqueles out ros inst rum ent os que garant iam a realização das pret ensões no Direit o Rom ano.

É provável que um a das causas desse fat o resida, exat am ent e, no carát er das ações do Direit o
Rom ano, que eram com preendidas isoladam ent e, com o inst rum ent os dist int os. É assim que Jhering
resum e a quest ão, aduzindo que “ a ideia geral da prot eção j urídica se fraccionava at ravés do prism a
da int eligência rom ana num a som a de ações isoladas, com plet am ent e det erm inadas, podendo
cont ar- se um a a um a”. 32 Jhering reconhece que as raízes desse conceit o rom ano de ação acham - se
expressas no sist em a das ações da lei, ou legis act iones, que afi rm aram , pela prim eira vez, a ideia
de individualidade j urídica que serve de base à ação.

Liebm an não conseguiu perceber a inexist ência da ação condenat ória no plano m at erial, em bora
t enha ut ilizado exat am ent e esse aspect o para j ust ifi car a condenação. Diz o processualist a que
“ enquant o os fat os da vida corrent e t ornam concret as as regras abst rat as cont idas nas norm as do
direit o m at erial, não são sufi cient es para t ornar concret as as regras sancionadoras, para o que se
necessit a um a operação que o j uiz realiza m ediant e a sent ença condenat ória” 33 .

30 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. Direit o Mat erial e Processo. Re vist a Ju r ídica , São Paulo: Not a, n. 321,
p. 16, dez./ j ul. 2004. p. 321.
31 PONTES DE MI RANDA, Francisco Cavalcant i. Tr a t a do da s Açõe s. São Paulo: Revist a dos Tribunais,
1970. p. 25.
32 JHERI NG, Rudolf Von. O Espír it o do D ir e it o Rom a n o. Tradução de Rafael Benaion. Rio de Janeiro:
Alba, 1943. Vol. I . p. 239.
33 LI EBMAN, Enrico Tullio. Pr oce sso de Ex e cu çã o. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1963. p. 21.

Revist a NEJ - Elet rônica, Vol. 17 - n. 3 - p. 479- 488 / set- dez 2012 485
ISSN Eletrônico 2175-0491

É possível, assim , const at ar que Liebm an aproxim ou- se da percepção da inexist ência da ação
condenat ória no plano m at erial. Porém , em vez de invest igar as evident es diferenças que se
apresent am ent re a ação processual condenat ória e as dem ais com as respect ivas correspondent es
no plano m at erial, o processualist a agarra- se ao dogm át ico argum ent o de que o ordenam ent o
j urídico, em que gravit am as relações j urídicas, dispõe dos aparelhos coat ivos necessários. Essa
posição dogm át ica, quase que num a análise exegét ica, im pediu o processualist a de reconhecer a
inexist ência da ação condenat ória no plano m at erial.

Acerca da ação condenat ória, Bot elho de Mesquit a afi rm a que “ não visa diret am ent e à produção
de nenhum efeit o de direit o m at erial. A expressão sacram ent al ‘condeno o réu’ a cum prir t al ou
qual obrigação, não produz qualquer alt eração na obrigação em si m esm a, que cont inua a ser o que
ant es da sent ença j á era”. 34 A part ir daí, Bot elho de Mesquit a perm it e- se concluir que os efeit os da
condenação são unicam ent e processuais.

Assim , o que falt ou para Liebm an not ar, exat am ent e, é que o t it ular da relação não poderá exigir
do devedor um com port am ent o que se assem elhe ao result ado prát ico da condenação. No ent ant o
t al aspect o foi habilm ent e percebido por Ovídio Bapt ist a da Silva, quando diz:

[ ...] no plano do direit o m at erial, o t it ular do direit o ( verdadeiro t it ular, porque no direit o m at erial
não exist em os falsos t it ulares de direit o) pode exigir ( exercer pret ensão) do dest inat ário do
dever j urídico que ele declare, crie ou desfaça um a cert a relação j urídica, execut e ou cum pra
ordens, derivadas de exercício regular do direit o, porém não haverá lugar para que ele exij a do
devedor um cert o com port am ent o que se possa ident ifi car com o o exercício ou o result ado de
um a condenação. 35

Não pret ende dizer o processualist a, com isso, que a condenação sej a um a criação livre do
processo ou, com o ele m esm o refere, “ a sent ença condenat ória exist e porque, no plano do direit o
m at erial, exist e um a relação obrigacional de que ela se origina, e a que o processo haverá de fi car
est rut uralm ent e vinculado” 36 .

Ainda a pr opósit o dessa quest ão, Buzaid não per cebeu esse im por t ant e elem ent o, quando
afi r m ou que “ a sent ença condenat ór ia, ao cont r ár io, não se consum a em si m esm a: ela é pr ofer ida
em v ist a da possibilidade de que, per durando o inadim plem ent o do dev edor, deva o cr edor
pedir a ex ecução; a sent ença condenat ór ia at r ibui- lhe est a faculdade e é condição necessár ia e
sufi cient e do pedido cor r espondent e”. 3 7 Ora, se per durando o inadim plem ent o, o cr edor ainda
dev er á pedir a ex ecução, com o r efer e Buzaid, ent ão é necessár io concluir, de acor do com o
lúcido ensinam ent o do Pr ofessor Ov ídio, que no plano m at er ial não há a cor r espondência com o
r esult ado da condenação, o que dem onst ra que se t rat a de um a cr iação do Dir eit o Pr ocessual,
a par t ir da r elação obr igacional ex ist ent e.

Enfi m , a sit uação em que se colocam os dout rinadores, na at ualidade, é m uit o clara, no sent ido
de dist inguir as duas ações. O cont rapont o, na espécie, fi ca por cont a do ent endim ent o de Ovídio
Bapt ist a da Silva, que é cat egórico ao repelir a exist ência de diferença ent re ação condenat ória e
ação declarat ória, pensam ent o que prim a pela lucidez e m erece ser acom panhado, quando diz que
“ haverem os, port ant o, de classifi car as ações não em cinco classes, com o o fez Pont es de Miranda,
m as em quat ro – declarat órias, const it ut ivas, execut ivas e m andam ent ais – post o que est a, com o
as dem ais classifi cações possíveis, referem - se às ações de direit o m at erial” 38 .

A inexist ência, no plano do direit o m at erial, de um a pret ensão à condenação não perm it e
classifi cá- la aut onom am ent e, o que, aliado à sua inafast ável sem elhança com a ação declarat ória,
conduz à acert ada conclusão de que a dist inção procedida na dout rina não encont ra fundam ent ação
cient ífi ca, sendo de recusar- se t al separação.

34 BOTELHO DE MESQUI TA, José I gnácio. D a Açã o Civil. São Paulo: Revist a dos Tribunais, 1975. p.
104.
35 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. A Açã o Con de n a t ór ia com o Ca t e gor ia Pr oce ssu a l. Da Sent ença
Lim inar à Nulidade da Sent ença. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 233.
36 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. p. 234.
37 BUZAI D, Alfredo. A Açã o D e cla r a t ór ia n o D ir e it o Br a sile ir o. 2. ed. rev. e aum . São Paulo: Saraiva,
1986. p. 135.
38 BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. A Açã o Con de n a t ór ia com o Ca t e gor ia Pr oce ssu a l. Da Sent ença
Lim inar à Nulidade da Sent ença. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 234.

486 Jeferson Marin e Carlos Albert o Lunelli - A função m eram ent e declarat iva da ação ...
Disponível em : www.univali.br/ periodicos

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É curioso observar um a ciência que se propõe ao papel de realizadora de pret ensões, com o
é o Direit o Processual Civil e que m ant ém acesos inst it ut os que im pedem o cum prim ent o dessa
m issão. A ação condenat ória – ilust re represent ant e do sist em a de ações do Processo Civil – opera
exat am ent e no sent ido inverso ao da realização das pret ensões que se apresent am e, m esm o assim ,
paira incólum e ent re os t radicionais inst it ut os do Direit o Processual.

Na verdade, nem de ação se t rat a. Const it ui não m ais do que um passo para a ação de execução,
m as, m esm o assim , agrega um a sust ent ação em grande part e da criação int elect ual que opera
no Direit o Processual, represent ando o produt o de um a const rução hist órica, que t em profundas
raízes ideológicas.

O procedim ent o da act io rom ana veio ao direit o m oderno de m odo m ais ou m enos isolado ou,
pelo m enos, sem fazer- se acom panhar de out ros inst it ut os rom anos, que perm it iam a sust ent ação
daquele sist em a. Desse m odo, m ant ém - se a defesa de um inst it ut o que não serve para garant ir a
realização da pret ensão do aut or da ação. Bast a ver que a sent ença proferida na ação condenat ória
não at ende à pret ensão do aut or, servindo apenas para o início da ação de execução.

A const rução hist órica da condenação, fundada na ideia de j urisdição declarat iva – o j uiz diz,
m as não faz; condena, m as não execut a – e que t erm ina por sust ent ar a criação da cat egoria das
ações processuais, represent a a subserviência do sist em a ao m odo de produção e garant ia da
ordem vigent e.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ATTARDI , Aldo. L’I nt eresse ad Agire. Padova: CEDAM, 1958.

BAPTI STA DA SI LVA, Ovídio A. A Ação Condenat ória com o Cat egoria Processual. Da Sent ença Lim inar à
Nulidade da Sent ença. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

______. Direit o Mat erial e Processo. Revist a Jurídica. São Paulo: Not a, n. 321, p. 16, dez./ j ul. 2004.

______. Sent ença e Coisa Julgada. 4. ed. rev. am pl. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

BOTELHO DE MESQUI TA, José I gnácio. Da Ação Civil. São Paulo: Revist a dos Tribunais, 1975.

BUZAI D, Alfredo. A Ação Declarat ória no Direit o Brasileiro. 2. ed. rev. e aum . São Paulo: Saraiva, 1986.

CALAMANDREI , Piero. La Condanna. Opere Giuridiche. Napoli: Morano, 1972. Vol. V.

CARNELUTTI , Francesco. Derecho y Processo. Traducción de Sant iago Sent is Melendo, Buenos Aires:
Ediciones Juridicas Europa-Am erica, 1971.

______. Est udios de Derecho Procesal. Traducción de Sant iago Sent ís Melendo. Buenos Aires: Ediciones
Juridicas Europa-Am érica, 1952. Vol. I .

CHI OVENDA, Giuseppe. Saggi di Dirit t o Processuale Civile. Milano: Giuffrè, 1993. Volum e Terzo.

FRANCI SCI , Piet ro de. Sint esis Hist orica del Derecho Rom ano. Madrid: Revist a de Derecho Privado,
1954.

GOLDSCHMI DT, Jam es. Derecho Procesal Civil. Traducción de Leonardo Priet o Cast ro. Barcelona: Labor,
1936.

JHERI NG, Rudolf Von. O Espírit o do Direit o Rom ano. Tradução de Rafael Benaion. Rio de Janeiro: Alba,
1943. Vol. I .

KI SCH, Wilhelm . Elem ent os de Derecho Procesal Civil. Traducción de Leornardo Priet o Cast ro. 2. ed. Ma-
drid: Revist a de Derecho Privado, 1940.

LI EBMAN, Enrico Tullio. Processo de Execução. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1963.

Revist a NEJ - Elet rônica, Vol. 17 - n. 3 - p. 479- 488 / set- dez 2012 487
ISSN Eletrônico 2175-0491

MANDRI OLI , Crisant o. L’Azione Esecut iva. Milano: Giuffrè, 1955.

PONTES DE MI RANDA, Francisco Cavalcant i. Tr at ado das Ações. São Paulo: Rev ist a dos Tr ibunais,
1970.

RAPI SARDA, Crist ina. Profi li della Tut ela Civile I nibit oria. Padova: CEDAM, 1987.

ROCCO, Ugo. Trat t at o di Dirit t o Processuale Civile. Torino: Torinese, 1957. Tom o I .

SATTA, Salvat ore. Dirit t o Processuale Civile. 6. ed. Padova: CEDAM, 1959.

WI NDSCHEI D, Bernhard. MUTHER, Theodor. Polem ica I nt orno All’Act io. Traduzione de Ernst Heinit z.
Firenze: Sansoni, 1954.

488 Jeferson Marin e Carlos Albert o Lunelli - A função m eram ent e declarat iva da ação ...

Você também pode gostar