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SEE-SP
SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO
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Conhecimentos
1. Da atividade filosófica, suas características e desafios no mundo contemporâneo; da atividade filosófica frente as
transformações do mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2. Das relações entre o pensamento filosófico e realidade em diferentes contextos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3. Das diferentes concepções de política e poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Do pensamento político e da cidadania na história da Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5. Dos desafios da ética/bioética frente ao desenvolvimento tecnológico e a globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
6. Da ética da responsabilidade e os desafios ambientais contemporâneos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
7. Das reflexões filosóficas sobre o trabalho e as transformações tecnológicas no mundo moderno e contemporâneo . . . . . . . 32
8. Dos conceitos de alteridade e empatia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
9. Das contribuições da filosofia iluminista e contemporânea para o estabelecimento dos ideais de liberdade e Direitos Humanos 36
10. Das contribuições da filosofia contemporânea para a reflexão sobre o ser humano a partir da fenomenologia e do
existencialismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
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CONHECIMENTOS
Dessa maneira, sua teoria esteve pautada nas questões da exis- Martin Heidegger (1889-1976)
tência humana, destacando a relação dos homens com o mundo e Heidegger foi filósofo alemão e discípulo de Husserl. Suas con-
ainda, com Deus. tribuições filosóficas estiveram apoiadas nas ideias da corrente exis-
Nessa relação, a vida humana, segundo o filósofo, estaria mar- tencialista. Nela, a existência humana e a ontologia são suas princi-
cada pela angústia de viver, por diversas inquietações e desesperos. pais fontes de estudo, desde a aventura e o drama de existir.
Isso somente poderia ser superado com a presença de Deus. Para ele, a grande questão filosófica estaria voltada para a exis-
No entanto, está assinalada por um paradoxo entre a fé e a razão e, tência dos seres e das coisas, definindo assim, os conceitos de ente
portanto, não pode ser explicada. (existência) e ser (essência).
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CONHECIMENTOS
Sua obra mais emblemática é “A obra de arte na era da sua A crença neles era transmitida de geração a geração por meio
reprodutibilidade técnica”. Nela, o filósofo aponta que a cultura de da narrativa que chegava até os homens trazida pelo poeta rapso-
massa, disseminada pela Indústria Cultural, poderia trazer benefí- do. Esse poeta era alguém que narrava algo que testemunhou ou
cios e servir como um instrumento de politização. Isso porque ela lhe foi revelado pelos deuses ao permitirem que ele visse a origem
permitiria o acesso da arte à todos os cidadãos. de todas as coisas e de todos os seres para que pudesse transmitir
a verdade aos ouvintes. Sua palavra era dotada de autoridade, pois
Jurgen Habermas (1929-) o poeta rapsodo era um eleito dos deuses (Ibid.).
Filósofo e sociólogo alemão, Habermas propôs uma teoria ba- No entanto, algumas descobertas e invenções realizadas pelos
seada na razão dialógica e na ação comunicativa. Segundo ele, seria homens fizeram com que percebessem que verdades antes revela-
uma maneira de emancipação da sociedade contemporânea. das pelos deuses se tornavam questionáveis. Por exemplo, com as
Essa razão dialógica surgiria dos diálogos e dos processos argu- descobertas marítimas, foi possível constatar que onde os deuses
mentativos em determinadas situações. diziam haver monstros e seres fabulosos moravam seres humanos
Nesse sentido, o conceito de verdade apresentado pelo filósofo como quaisquer outros. Assim, a verdade revelada começa a ser
é fruto das relações dialógicas e, portanto, é denominado de verda- substituída pelas explicações fornecidas ao homem pelo próprio
de intersubjetiva (entre sujeitos). homem. Por outro lado, a invenção da política propôs que todos
eram capazes de discutir ideias e soluções para a vida social. Mas,
Michel Foucault (1926-1984) para propor e discutir, era preciso exercitar a atividade de pensar,
Filósofo francês, Foucault buscou analisar as instituições so- era preciso produzir respostas por meio do pensamento, ou seja, as
ciais, a cultura, a sexualidade e o poder. respostas e explicações para as indagações humanas passaram a ser
Segundo ele, as sociedades modernas e contemporâneas são produzidas pelos próprios homens (Ibid.).
disciplinares. Assim, elas apresentam uma nova organização do po- A política valorizou a discussão, a persuasão e a decisão racio-
der, que, por sua vez, foi fragmentado em “micropoderes”, estrutu- nal, criando condições para o surgimento da filosofia. Ou seja, a
ras veladas do poder. capacidade de explicar o mundo e as coisas que existem no mundo
Para o filósofo, o poder na atualidade engloba os diversos âm- passou a ser feita com o uso da razão e não mais por meio dos deu-
bitos da vida social e não somente o poder concentrado no Estado. ses. Dessa forma, surge a filosofia na Grécia entre os séculos VII e
Essa teoria foi esclarecida em sua obra “Microfísica do Poder”. VI a. C. (Ibid.).
Jacques Derrida (1930-2004) Podemos afirmar que o nascimento da filosofia marca uma
Filósofo francês nascido na Argélia, Derrida foi um crítico do ruptura com a mitologia e que, nessa ruptura, homens e deuses se
racionalismo, propondo a desconstrução do conceito de “logos” abandonaram. Mas como podemos definir e entender o que seja
(razão). filosofia?
Assim, ele cunhou o conceito de “logocentrismo” baseado na
ideia de centro e que inclui diversas noções filosóficas como o ho- Philo sophia: o Significado da Reflexão Filosófica
mem, a verdade e Deus. Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que foram os gregos,
A partir dessa lógica de oposições, Derrida apresenta sua teoria entre os séculos VII e VI a. C., que formaram a palavra filosofia e,
filosófica destruindo o “logos”, que, por sua vez, auxiliou na cons- portanto, amor deve ser compreendido no sentido grego e não no
truções de “verdades” indiscutíveis. sentido cristão, como conhecemos atualmente em nossa cultura.
O amor, como Eros, significa, antes de tudo, uma falta, refere-se
Karl Popper (1902-1994) a uma ausência, é o desejo daquilo que não se tem e que não está
Filósofo austríaco, naturalizado britânico, dedicou seu pensa-
presente. Os filósofos amam e desejam a sabedoria e começam a
mento ao racionalismo crítico. Crítico do princípio indutivo do mé-
filosofar exatamente porque não são sábios. Portanto, filosofar é
todo científico, Propper formulou o Método Hipotético Dedutivo.
uma forma de tornar presente aquilo que está faltando, está ausen-
Nesse método, o processo de pesquisa considera o princípio da
te. Para tornar presente aquilo que o filósofo reconhece que não
Falseabilidade a essência da natureza científica. A Sociedade Aberta
possui (a sabedoria a respeito de algo) ele começa a falar e a pensar
e Seus Inimigos e A Lógica da Pesquisa Científica são as suas obras
sobre o que lhe falta. Comparativamente, sabemos que esse tam-
mais conhecidas.
bém é o recurso daquele que ama alguém: quanto mais o amante
fala sobre seu amado mais este aparenta se tornar presente.
É importante considerarmos que o amor do filósofo está sempre
DAS RELAÇÕES ENTRE O PENSAMENTO FILOSÓFICO E ligado à ausência da coisa amada. É exatamente porque, não sendo
REALIDADE EM DIFERENTES CONTEXTOS sábio, ele deseja o saber; porque não sendo belo, deseja a sabedoria
acerca da beleza; porque não sendo corajoso, deseja a sabedoria
É na Grécia que encontramos os deuses que marcaram a história acerca da coragem, enfim, trata-se de um amor desejante e podere-
da civilização ocidental. Esses deuses, que eram responsáveis pelo mos compreender melhor isso se formos à origem da palavra desejo.
destino, fortuna e desventura dos homens, existiam na crença que Podemos pensar a origem da palavra desejo não na Era Clássica
possuíamos neles e se fortaleciam entre nós por meio do mito. (período histórico em que surge a filosofia), mas já em sua raiz lati-
A palavra mito se traduz para o português como narrar, contar, na e, ainda assim, aproximarmo-nos daquilo que nos interessa, ou
anunciar e, portanto, os deuses, de alguma forma, se materializam seja, do amor desejante da filosofia.
através das narrativas feitas acerca deles e de suas determinações, Desejo em língua portuguesa origina-se da palavra latina desi-
as quais forneciam as respostas e as explicações que buscávamos derare. Por sua vez, desiderare origina-se de sideris que quer dizer
sobre, por exemplo, como o universo passou a existir, sobre o que astro ou estrela. Bem, e qual relação está mantida entre desejo (de-
é a justiça ou sobre o que é o amor (CHAUÍ, 1998). siderare) e estrela (sideris)?
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CONHECIMENTOS
Na Roma Antiga, os adivinhos analisavam as estrelas para des- É muito fácil citar características do saber típico da ciência e do
cobrir o que aconteceria no futuro. Por exemplo, um guerreiro pró- saber cotidiano, pois com estes estamos plenamente familiarizados.
ximo a uma batalha recorria a um advinho para saber qual seria a Mas tudo se torna muito diferente quando se trata do saber da
sua sorte, se ele seria vencedor ou perdedor. Assim, o advinho, com filosofia, daquela nossa sophia, como dissemos anteriormente.
sua capacidade toda especial, analisava as estrelas e fazia a previ- Como já anunciado, vamos nos aproximar do saber filosófico
são do futuro daquele guerreiro. A esse ato de analisar as estrelas por diferença em relação ao saber da ciência e ao saber cotidia-
os romanos chamavam considerare, que em português originou o no. Mas antes precisamos de uma advertência, pois essa tarefa que
verbo considerar, avaliar, analisar. agora espera por nós é árdua e se escreve em linhas pouco habi-
Mas onde se encontra a origem da palavra desejo que tanto tuais.
nos interessa? Para os romanos, quando alguém estava absoluta- Não deixemos que a estranheza inicial provocada pelas consi-
mente sem esperanças quanto a uma situação futura e não tinha derações que serão feitas se transforme em hostilidade ao que é
ânimo sequer para consultar os adivinhos, dizia-se desiderare. Ou novo e em consequente rejeição.
seja, para a certeza de que algo não era possível, que não adiantava Deixemos cair por terra nossas armas sempre apontadas para
qualquer esperança de obtê-lo, dizia-se desiderare. E somente dizia tudo que está a nossa volta; deixemos de lado, como diz o Cazuza,
essa palavra aquele que tinha a certeza da impossibilidade, a cer- a velha “metralhadora cheia de mágoas”. É preciso ainda esclarecer
teza da ausência. que aquele saber da ciência e do cotidiano possui uma natureza
Portanto, para nós latinos, a palavra desejo, que origina-se de diferente do saber da filosofia, mas para os três saberes vigora o
desiderare, significa também certeza da ausência. Não é verdade pensamento. A ciência e o cotidiano (que será chamado daqui para
que desejamos exatamente aquilo que sabemos que está ausente? frente de senso comum) possuem o pensamento dotado daquelas
Ainda que tenhamos feito referência à etimologia da palavra características que mencionamos anteriormente e podemos dizer
desejo em latim, seu significado serve muito bem para compreen- que ambos se ocupam em conhecer para mais tarde empregar esse
dermos o amor desejante do filósofo, daquele que ama o saber. Ele conhecimento.
ama aquilo que tem certeza que está ausente e, embutido dessa Com a filosofia, já dissemos, é diferente. O pensamento na filo-
certeza de ausência, fala e pensa acerca do seu objeto de amor em sofia se preocupa com o significado que as coisas têm e não como
uma tentativa de torná-lo próximo e presente, embora saiba que elas podem ser utilizadas. O saber filosófico é de outra natureza
nunca o possuirá plenamente. e, portanto, possui outras características. Para a filosofia, o pensa-
Neste sentido, a filosofi a é uma busca constante do ausente. mento assume outra feição. Na filosofia, não é mais para fazer diag-
Bem, se compreendemos que philos-sophia é o amor ao saber nósticos que pensamos; não é para construir passarelas e nem opi-
e que a natureza desse amor desejante inspira o filósofo, devemos nar sobre uma nova tática que exercemos a atividade de pensar. Na
agora compreender que natureza possui esse saber. Qual a nature- filosofia, tanto o saber quanto o pensamento que busca esse saber
za dessa sophia? se apresentam em uma forma diferente daquela em que se apre-
Para responder a essa nova questão, faremos um caminho sentam o saber e o pensamento da ciência e do senso comum. Para
desconstrutivo e conheceremos o significado da nossa sophia pela que possamos nos aproximar da natureza desse saber que vigora
diferença em relação ao saber que temos familiaridade, ou seja, o na filosofia, elegemos três instâncias, as quais foram denominadas:
saber da ciência e o nosso saber ordinário que nos orienta na vida origem, caminho e lugar.
cotidiana.
Está claro para todos nós que o saber da ciência deve ser seguro A Origem
e exato. Afinal, esperamos do médico exatidão em um diagnóstico A origem da filosofia, e portanto do pensamento filosófico, é
de doença e, mais ainda, esperamos que a medicina nos ofereça o sempre dada por uma interrogação. Essa mesma interrogação nas-
melhor tratamento e a cura da enfermidade. Sabemos também que ce do espanto que os gregos denominavam thauma. Trata-se de um
as ciências médicas são objetivas e querem chegar a um resultado espanto diferente daquele que sentimos quando assistimos a um
em suas pesquisas: o médico pesquisador entra no laboratório para filme de terror. É um espanto admirativo em que permanecemos
descobrir a cura da AIDS, a vacina contra determinada doença etc. perplexos e sem saber o que dizer acerca daquilo que nos espantou.
Ainda no que diz respeito ao saber da ciência, podemos dizer Exatamente porque não sabemos o que dizer é que começamos a
que ele é demonstrável e um bom exemplo disso pode ser dado interrogar e é neste sentido que o início do pensamento é dado
pelo engenheiro, que, ao ser convocado para construir uma passa- por uma interrogação. Notem que não estamos falando em origem
rela, demonstra em seus cálculos quanto de material de construção como datado que possua dia, mês e ano.
será utilizado, em quais etapas o serviço será feito e quando ficará O pensamento é atemporal e inaugura-se no mundo, poten-
pronto. Neste sentido, o saber da ciência é também calculativo, ou cialmente, com o nascimento de todo e qualquer homem. Podemos
seja, é capaz de avaliar como será e quando será o resultado final. ainda dizer que a interrogação favorece o pensamento, pois é ela
Nosso saber cotidiano também é muito semelhante ao da ciên- que o desencadeia.
cia. Por exemplo, calculamos os ingredientes de um bolo e como Uma vez que a interrogação surja, o que fazemos com ela?
melhor misturá-los; dizemos tal coisa com o objetivo de agradar um Bem, poderemos lhe dar um tratamento filosófico e assim mantê-
amigo; tentamos agir com precisão quando dirigimos nosso carro; -la em seu vigor interrogativo, dando continuidade ao pensamen-
temos interesse na nova tática adotada pelo técnico do nosso time, to. Mas podemos também sufocá-la, conferindo-lhe uma resposta
pois, se a conhecemos, podemos emitir uma opinião a respeito; e imediata e, assim, matar o pensamento. Podemos dar um exemplo
há mesmo quem diga que ir ao Maracanã ver seu time jogar é uma simples, porém significativo: quando perguntamos a alguém “que
atitude lógica e objetiva, pois serve para “sentir emoção”. horas são?” e este alguém responde, não temos mais o que interro-
gar e neste sentido dizemos que a própria interrogação está morta,
ou seja, que perdeu o seu apelo interrogativo, pois foi sufocada pela
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CONHECIMENTOS
resposta e não há mais nada que se pensar a respeito. Por outro decisão for a de abandonar a filosofia porque ela não é útil, deve-
lado, se nos surpreendemos com a pergunta “o que é o tempo?” e mos saber que se isso for feito estaremos tomando uma atitude
não encontramos para ela nenhuma resposta conceitual e definiti- logo após o momento em que fizemos uma investigação filosófica.
va, mas, ainda assim, mantemos viva a interrogação e continuamos Como assim? Ora, fomos tomados por uma interrogação: o que é a
buscando o significado “do tempo”, então podemos dizer que co- utilidade? Demos à ela uma resposta apressada e logo decidimos
meçamos a filosofar, ou que começamos a pensar. pelo abandono da filosofia ao reconhecer que ela é inútil. Ok, mas
Se já sabemos que o pensamento nasce de uma interrogação, quem garante que a própria interrogação sobre a utilidade irá nos
podemos dizer também que o pensamento é pathos, é afetação, abandonar? Quem garante que daqui a pouco a mesma pergun-
é algo sofrido por nós e nunca provocado. O pensamento é aquilo ta não virá até nós e de forma inquietante ficará “martelando” em
que nasce espontaneamente e que nos acomete nos apanhando de nossa cabeça? E ainda mais: o que e quem podem nos garantir que
surpresa, sem que pudéssemos prever sua chegada. nossa decisão de abandonar a filosofia foi correta?
Tentativa de resposta: quanto a nossa suposta decisão de aban-
O Caminho donar a filosofia, não existe nada no mundo que possa nos garantir
Sendo o pensamento algo sofrido por nós e não provocado, sa- que ela foi acertada ou errada.
bemos que seu caminho é circular. Mas por quê? Para responder, Alguém pode comprovar, com o passar do tempo, que agiu
pensemos sobre a natureza do círculo. corretamente ao abandonar um amigo ingrato ou um vício per-
Em um círculo, início e fim estão unidos; as voltas dadas so- verso, mas o mesmo não se aplica à filosofia. Podemos dizer algo
bre ele passam sempre nos mesmos pontos; um círculo se encerra mais além da mera decisão sobre abandonar a filosofia: embora
em si mesmo e gira em torno de seu foco. Da mesma forma se dá ela seja inútil e não possua nenhuma aplicação prática no mundo,
o pensamento filosófico, que está sempre empenhado em pensar, não temos como abandoná-la pois a philo sophia (o nosso amor ao
em várias voltas, o mesmo assunto. Como o círculo, o pensamento saber) não é nada como um amigo que encontramos ou um vício
filosófico se encerra em si mesmo sem nenhuma saída possível e que adquirimos. O amor ao saber, a filosofia, nasce com a gente, se
gira em torno do seu foco, que é dado por aquela interrogação que inaugura no mundo em todo recém-nascido e somente poderemos
o desencadeia. abandoná-la quando deixarmos de ser homem, ou seja, na condi-
Por se encerrar em si mesmo, podemos dizer que o pensamen- ção extrema de nossa morte. Portanto, é desprovida de sentido a
to filosófico é aporético, ou seja, não possui poros. E isso significa decisão de abandonarmos a filosofia, pois, mesmo que o desejásse-
dizer que o pensamento não vaza, não sai de si, está empenhado mos, não teríamos como fazê-lo. Não temos como impedir que as
em ocupar-se consigo mesmo o tempo todo. O contrário ocorre interrogações venham sobre nós, como não podemos impedir que
com a ciência, pois ela se utiliza de seu pensamento calculativo para nos venham a chuva e o calor do sol.
mais tarde empregar seus resultados na vida prática. Ou seja, esse O que podemos fazer é procurar um abrigo que nos proteja
tipo de pensamento vaza para o exterior, se materializa no mundo deles. Porém, devemos estar conscientes de que o abrigo somente
em forma de descobertas científicas, medicamentos, pontes, viadu- passou a existir porque antes existiram a chuva, o sol e o pensamen-
tos construídos etc. to em forma de interrogação que se despejaram sobre nós.
Neste sentido, podemos concluir que o pensamento filosófico Bem, já sabemos que a filosofia é inútil, ou seja, que o saber
não possui ordem prática, ou seja, o filósofo não se dedica a pensar filosófico é inútil em comparação ao saber da ciência e do senso
para descobrir algo novo nas ciências. O que ele deseja é perma- comum. Sabemos também que, embora seja inútil, não tem como
necer entregue ao exercício de pensar. Para compreender melhor, ser completamente neutralizado, no máximo pode ser evitado, sem
podemos fazer a seguinte comparação: existem pessoas que fazem que por isso deixe de existir.
caminhadas diárias e dizem que isso ajuda a manter a saúde e em- Mesmo sendo inútil, o pensamento filosófico não é igual a
belezar o corpo, mas, além disso, dizem sentir muito prazer quando nada. A poesia de Fernando Pessoa, a música de Bethoven e as te-
caminham. las de Picasso são tão inúteis quanto as obras filosóficas e, no en-
Bem, o filósofo não pensa com nenhum objetivo. Ele não o faz tanto, também não são iguais a nada. Possuem significado, embora
para se sentir bem de saúde e nem mais prestigiado e bonito. Pensa não sejam úteis ao ponto de curar doenças ou construir viadutos e
pelo prazer de pensar, como se houvesse um caminhante que cami- passarelas.
nhasse apenas pelo prazer de caminhar sem se preocupar com as Não é mesmo fácil conviver com todo esse embaraço que o
consequências disso. pensamento provoca, ainda mais quando temos que enfrentar si-
Por não possuir ordem prática, o pensamento filosófico é livre tuações pouco habituais e desconcertantes. É por isso que o pensa-
e não produz provas – como faz a ciência, que prova que determina- mento é, em geral, risível. Todavia, não podemos confundir aquilo
da vacina é eficiente contra tal doença. Neste caso, em comparação que é risível com o que é irônico e debochado.
à ciência, podemos dizer que o saber filosófico é um saber inútil, O pensamento somente é risível porque é capaz de nos retirar
pois não é aplicável na vida prática. Ora, se a filosofia é inútil, por daquele ambiente familiar e plausível que é o ambiente cotidiano e
que estudá-la? Por que a universidade se ocupa com ela? nos colocar em uma posição bem distinta daquela em que normal-
Bem, antes que seja tomada a decisão apressada de abandonar mente nos encontramos quando estamos ocupados demais com as
a filosofia porque ela não é útil, podemos fazer algumas novas con- coisas mundanas e não estamos pensando.
siderações acerca do assunto. O filósofo (todo o amante do saber) é aquela figura risível exa-
O que é a utilidade? Podemos responder: “utilidade é aquilo tamente porque está sempre ocupado com questões embaraçosas,
que é útil, que traz benefícios e progressos, que melhora a saúde, como: “o que é o tempo?”, “o que é a beleza?”, “o que é o amor?”,
que promove o bem-estar, que faz ganhar dinheiro etc.” Se essa “como é possível conhecer?” etc.
pode ser a resposta, então, de fato, a filosofia é inútil, pois com ela
não alcançamos nada do que foi mencionado acima. Bem, se nossa
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
Portanto, os assuntos humanos não estão submetidos nem às leis 4. Período helenístico ou greco-romano (final do século III a.C.
rígidas da natureza e nem às leis inquestionáveis dos deuses mito- até o século VI d.C.)
lógicos. Esse período já abarca os pensadores de Roma e os primeiros
Ou seja, os assuntos humanos resultam da convenção humana padres da Igreja Católica. Seus grandes temas de discussão são a
(IGLÉSIAS, 1997). ética, o conhecimento humano, as relações entre o homem e a na-
Considerando que os sofistas são os primeiros filósofos que tureza e a relação destes com Deus.
descobriram as características dos assuntos humanos, tornaram-se Inscrevem-se aqui quatro grandes sistemas filosóficos: o estoi-
os professores da técnica de construir os discursos que deveriam cismo, o epicurismo, o ceticismo e o neoplatonismo.
expor as ideias pensadas. Assim, tornaram-se professores de retó- Principais representantes: Cícero; Pirro de Elis;
rica para os cidadãos que faziam política. Devemos considerar que Sexto Empírico; Sêneca e Epicuro (CHAUÍ, 1998).
a política grega, em especial a de Atenas, era feita em Assembleias
constituídas por homens livres e que todos tinham o direito à pa- Filosofia Patrística (do Século I ao Século VII)
lavra. Aquele que melhor defendesse as suas ideias, que soubesse Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São
melhor conduzir o seu discurso, ganharia a adesão dos demais, con- João. A filosofia patrística se esforçou em conciliar os princípios da
sequentemente, o poder político e, especialmente, ganharia admi- filosofia antiga com os dogmas do cristianismo e o objetivo disso
ração (Ibid.). foi converter os pagãos à doutrina católica. Assim, a filosofia pa-
Assim, dava-se o ensinamento sofístico: aulas que pretendiam trística irá discutir a possibilidade de conciliar razão e fé na busca
preparar os jovens para a composição de discursos. No entanto, Pla- da verdade. Isso irá dividir as opiniões, gerando três correntes de
tão irá tecer críticas contundentes aos sofistas. Irá afirmar que eles pensamento diferentes. São elas:
não estão preocupados em fazer com que os jovens desenvolvam o 1. Os que acreditavam que a razão e a fé não se conciliavam e
exercício de pensar. Dirá que os sofistas transmitem um saber pron- que a fé é superior a razão. O lema dessa corrente de pensamento
to e sem compromisso com a verdade, pois o grande objetivo é, é: “creio porque absurdo”;
apenas, o de vencer a disputa verbal (Ibid.). 2. Os que acreditavam que a razão e a fé são conciliáveis, mas
Em oposição aos sofistas, Platão faz referências a Sócrates que a razão é inferior a fé. O lema dessa corrente de pensamento é:
(469-399 a. C.). Para ele, seu mestre é o filósofo por excelência, o “creio para compreender”;
grande interrogador. Onde havia uma certeza, Sócrates trazia uma 3. Os que acreditavam que a razão e a fé são inconciliáveis e
interrogação e fazia o seu interlocutor desencadear a atividade de que possuem campos de conhecimento diferentes.
pensar. Valia-se desse expediente para também pensar mais uma
vez sobre a mesma questão. As características da reflexão filosófica. Assim, a razão deve se ocupar com tudo que se refere à vida
temporal dos homens e a fé com tudo que se refere à alma e à
Períodos da Filosofia: Cronologia e Representação eternidade (Ibid.).
Filosofia Antiga (do Século VI a.C. ao Século VI d.C.) Filosofia Medieval (do Século VIII ao Século XIV)
A filosofia antiga pode ser dividida em quatro períodos históri- Os temas de discussão da filosofia medieval versavam sobre
cos, os quais serão descritos a seguir. Deus e o infinito; corpo e alma; a hierarquização do Universo em
que os superiores governam os inferiores, condensando o mundo
1. Período pré-socrático ou cosmológico (final do século VII ao celeste e o terreno através da hierarquia dada entre Deus, arcanjos,
final do século V a. C.) anjos, alma, corpo, animais, vegetais e minerais. Além disso, tal qual
As preocupações fundamentais eram quanto à origem do mun- a filosofia patrística, discutia a possibilidade de conciliar a razão e a
do e as causas das transformações na natureza. fé. A partir do século XVII, a filosofia medieval é denominada de Es-
Principais representantes: Tales de Mileto; Anaxímenes de colática por ser ensinada nas escolas. Seus maiores infl uenciadores
Mileto; Anaximandro de Mileto; Heráclito de Éfeso; Pitágoras de foram Platão e Aristóteles (Ibid.).
Samos; Parmênides de Eléia; Zenão de Eléia; Empédocles de Agri-
gento e Demócrito de Abdera. Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI)
Esse é o período que tenta fazer renascer o vigor dos pensa-
2. Período socrático ou antropológico (final do século V e todo mentos de Platão e Aristóteles, que foram sufocados pelos dogmas
o século VI a. C.) da Igreja católica em toda a Idade Média. Algumas obras de Platão
As investigações filosóficas se relacionavam com as questões que eram desconhecidas na Idade Média passam a ser lidas, assim
humanas, isto é, com a ética, a política e as técnicas. como são recuperadas as obras de grandes autores e artistas gregos
Principais representantes: Sócrates; Platão e os filósofos sofis- e romanos.
tas Protágoras de Abdera; Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas. Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio
Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Eras-
3. Período sistemático (final do século IV ao final do século III mo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa (Ibid.).
a.C.)
Período de reunião e sistematização dos escritos filosóficos so- Filosofia Moderna (do Século XVII a Meados do Século XVIII)
bre a cosmologia e a antropologia. Esse período é marcado pelo uso e primazia da razão e a figura
O grande interesse era o de ressaltar que tudo pode ser objeto do sujeito do conhecimento ganha a cena, respondendo pela per-
para a investigação filosófica. gunta sobre a verdade em oposição à forma de conhecer presente
Principal representante: Aristóteles. na Idade Média, que era baseada na verdade revelada e presente
nas obras de Deus. Esse período da história da filosofia também é
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CONHECIMENTOS
conhecido como o Grande Racionalismo Clássico. O surgimento do do pensamento moderno: as aparências são ativamente enganosas,
sujeito do conhecimento e a concepção de que esse sujeito deve o aparato sensorial, a razão e a fé são inadequados para receber a
construir os seus objetos de conhecimento a partir de suas próprias realidade, e que é preciso averiguar as aparências com um instru-
representações mentais caracterizam esse fase do pensamento fi- mento construído por processos de sua mente.
losófico (Ibid.). Descartes, com seu pensamento apaixonado, destrói a confian-
ça que se possuía no senso comum ao reconhecer que os sentidos,
Os principais pensadores desse período foram: por serem enganosos, não poderiam conferir realidade alguma ao
Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, homem. Se era o sexto sentido – ao unir os cinco sentidos com o
Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, parecer de outras pessoas que compartilhavam o mesmo contexto
Newton, Gassendi (Ibid.). onde as coisas apareciam – que garantia a realidade de algo, Des-
cartes, ao se recusar a esses cinco sentidos internos, recusa-se à
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (Meados do Século XVIII realidade que é conferida por eles. O mundo introjetado em sua
ao Começo do Século XIX) mente transforma-se em realidade, pois tornou-se um objeto da
Esse período também é marcado pelo uso e pela primazia da introspecção - porque o filósofo pensa, o mundo existe. A mundani-
razão. A ideia de ilustração e de iluminismo advém das luzes que dade do sexto sentido, – do senso comum –, que era garantida pela
devem se opor ao obscurantismo que caracterizou toda a Idade Mé- realidade, é abandonada e, na modernidade, a realidade, que era o
dia. Acreditava-se que por meio da razão o homem seria capaz de sentimento compartilhado por muitos, passa a ser garantida pelos
conquistar a liberdade e a felicidade social e política, o que influen- processos solitários do pensamento duvidante.
ciou diretamente a concepção da Revolução Francesa em 1789. As O que era comum a todos – o comumente compartilhado –
artes serão eleitas como o lugar onde serão expressos o grau de pertencia a um mundo externo ao homem.
progresso da civilização e a ideia de evolução será uma tônica desse Suas sensações internas, seus cinco sentidos, o adequavam a
período, tornando-se presente na biologia e na filosofia da vida. viver com outros homens e a compartilhar em comum no mundo,
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, o que lhes era, aparentemente, o mais interno e pessoal – os cin-
D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (Ibid.). co sentidos – que, a rigor, jamais podem ser os mesmos, mas que
tornavam-se comuns (em comum-idade), orientando-os no mundo.
Filosofia Contemporânea Descartes, na solidão do pensamento, procura trazer à reali-
A filosofia contemporânea se estende de meados do século XIX dade que se manifesta no mundo externo a natureza particular da
até os dias de hoje. As diferenças e as características das corren- atividade de pensar, e o faz a partir do pensamento duvidante que
tes filosóficas desse momento histórico ainda estão se desenhando descrê da realidade conferida pelos cinco sentidos. O pensamento
para nós, daí a dificuldade em defini-las (Ibid.). moderno passa a ter esta característica: se relaciona com o mundo
a partir de uma estrutura de raciocínio comum – o pensamento du-
O Advento da Filosofia Moderna vidante – em que a realidade passa a ser dada pelos processos da
mente. Estes passam a ser o que os homens têm em comum e isso
A Separação entre Filosofia e Ciência os faz estar em comum com o mundo quanto à realidade, a qual
Descartes é o fundador da filosofia moderna e Galileu, o funda- passa a ser comum porque deriva do mesmo processo de raciocí-
dor da ciência moderna. A invenção do telescópio por Galileu trou- nio. Os homens modernos passam a ter em comum o processo de
xe ao conhecimento humano a certeza de que não era o Sol que produção da realidade, dado por meio do pensamento duvidante.
girava em torno da Terra; ao contrário, era a Terra que girava em Assim, concluímos que, para compreender o que uma coisa é,
torno do Sol. A certeza de que se mudava de um sistema geocên- devemos construir esse objeto de conhecimento no interior de nos-
trico para um sistema heliocêntrico não era conferida ao homem sa própria mente. Assim, toda a realidade pode ser um objeto da
nem pela razão, nem pela especulação e nem pela contemplação. construção humana. Portanto, não importa qual seja o objeto a ser
A certeza de um sistema geocêntrico foi dada por um instrumento construído, pois a mente é capaz de realizar qualquer construção.
feito pela mão do homem, instrumento que deixou para o passa- Assim, podemos fabricar a sociedade, os processos educacionais e,
do a confiança de que o aparato sensorial, a razão e a fé eram sufi inclusive, o que sempre nos foi percebido como dado e gratuito: a
cientes para que o homem vivesse no mundo e pudesse inferir a natureza. Afinal, não é isso a que temos assistido a partir das tec-
realidade que o cercava. nologias sofisticadas que ingressam no curso natural da vida, por
Mais do que uma mudança nas leis da astrofísica, a invenção exemplo, a produção dos transgênicos e dos clones?
do telescópio trouxe consigo a compreensão de que a verdade e a Da mesma forma, podemos concluir que ciência e filosofia se
realidade não são dadas, e que nem uma nem outra se apresenta separaram na Era Moderna porque a filosofi a não é capaz de cum-
como de fato é. prir uma exigência especial da ciência moderna, pois é incapaz de
Portanto, somente na eliminação das aparências pode haver produzir provas, de demonstrar seguramente as suas verdades pro-
esperança de atingir-se o verdadeiro conhecimento. duzidas. Modernamente, compreendemos que conhecimento con-
Foi um instrumento construído pela mão do homem que trou- fiável é aquele que produz provas e produz resultados. Estudamos
xe a certeza que nem o aparato sensorial e nem as aparências são na Unidade I do nosso curso que o fôlego do pensamento filosófico
confiáveis. Mais do que isso, as aparências podem dar a entender o está, justamente, nessa capacidade de refazer o que ele mesmo fez
contrário daquilo que realmente são. Sejam quais forem as conclu- sem se preocupar com a comprovação do seu resultado no mundo.
sões retiradas das aparências, estas só podem ser ilusórias. Mas isso se indispõe frontalmente com o que deseja a ciência mo-
A trajetória que o Sol descreve diariamente ficou para sempre derna. Por isso a separação que anunciamos inicialmente.
como um engano perceptivo após o telescópio ter flagrado o mo-
vimento da Terra. E mais significativo do que isso foi a nova certeza
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
Então, os indivíduos não só são sujeitos a experiências diver- as circunstâncias favoreçam tal estratégia. O caso mais claro é o das
sas, como veem também, em curto lapso de tempo, aplicados e formas de “transposição”, para a direita ou para a esquerda, do eixo
abandonados princípios diferentes e até mesmo opostos. Além dis- político, geradas muitas vezes pelas reações em cadeia.
so, a instauração de um novo regime leva amiúde à tentativa de Que significado tem para uma sociedade a existência de um
criar novo Consenso; e, quando o regime muda, com a difusão e elevado ou baixo grau de Consenso?
interiorização dos novos princípios se mantêm muitas vezes vivos Podemos imaginar rapidamente as consequências de um baixo
os resíduos do sistema anterior. Isto chama a atenção, em terceiro grau de Consenso, pensando nos resultados de uma situação em
lugar, para mecanismos de socialização, isto é, para veículos que que as motivações do comportamento de cada um se baseassem
conduzem à formação e persistência de orientações e à adesão a exclusivamente no temor da coerção ou na busca dos interesses
certos valores entre os membros da população. Pelo que se sabe, particulares. A existência de valores largamente compartilhados se
estes instrumentos ou agentes funcionam tanto melhor como me- apresenta, portanto, como um elemento fundamental de solidarie-
canismos de transmissão do Consenso às novas gerações, quanto dade, constituindo, por assim dizer, um aspecto importante do teci-
mais congruentemente operarem, isto é, sem discrepâncias; mas do conectivo de uma sociedade. Uma outra função do Consenso é
a presença de subculturas heterogêneas entre si e a existência de a de conter ou reduzir o uso da violência como meio de solução das
experiências políticas contrárias fazem com que os mecanismos de controvérsias. Finalmente, o Consenso pode ser considerado como
socialização estejam frequentemente caracterizados pela desconti- fator de cooperação e como elemento fortalecedor do sistema po-
nuidade e incongruência. Do ponto de vista da formação e manu- lítico; ajudará uma sociedade a superar momentos de dificuldade
tenção do Consenso, a socialização política, é bom lembrar, é uma como, por exemplo, casos de guerra ou de crise econômica.
espada de dois gumes: transmite a bagagem cultural das gerações
precedentes; porém, se o grau de Consenso for baixo e a cultura Conflito
política fragmentária, transmitir-se-ão e perpetuar-se-ão, também, I. PARA UMA DEFINIÇÃO DO CONCEITO E DE SEUS COMPONEN-
e principalmente, elementos de discrepância: TES. — Existe um acordo sobre o fato de que o Conflito é uma forma
Outro fator negativo é a existência de ideologias rigorosamente de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades
contrapostas umas às outras e de visões sistemáticas e exclusivistas que implica choques para o acesso e a distribuição de recursos es-
do mundo, que não toleram — ou toleram só de forma contingen- cassos. Esta proposição, porém, suscita imediatamente diferencia-
te, principalmente por razões táticas — coabitar com outros esque- ções e divergências atinentes à maior parte dos problemas ligados
mas muitas vezes também exclusivistas e intolerantes. Flexibilidade ao conceito de Conflito e à sua utilização. Neste estudo, antes de
e pragmatismo são, do ponto de vista de tais posições, fraqueza; tudo, não se falará de Conflitos entre indivíduos em sentido psico-
quando essas ideologias se tornam dominantes, as forças delas lógico, mas se focalizará o Conflito social e o Conflito político (de
derivadas tentam forjar o Consenso sobre as regras do jogo, mais que o Conflito internacional pode ser considerado uma importante
com a imposição e doutrinamento que com o acordo. Mais: as mu- categoria (v. GUERRA).
danças econômico-sociais de relevo, as transformações estruturais Obviamente o Conflito, é apenas uma das possíveis formas
em larga escala e as inovações tecnológicas não são certamente de de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletivida-
transcurar; elas criam condições novas, submetem amplos estratos des. Uma outra possível forma de interação é a cooperação. Qual-
da população a experiências novas, criam novas necessidades, e quer grupo social, qualquer sociedade histórica pode ser definida
acentuam os limites das instituições e usos em vigor. Todavia, ao em qualquer momento de acordo com as formas de Conflito e de
considerar o papel destes fatores, consideram-se ao menos como cooperação entre os diversos atores que nela surgem. Mas só uma
tão importantes os padrões de interpretação, os esquemas mentais perspectiva deste tipo introduz já diferenciações relevantes entre
com que tais experiências são vividas, dando-se lhes um significa- os autores que se ocuparam da análise do Conflito, como veremos.
do. E é sob este aspecto que se torna crucial o papel dos grupos, Antes de abordar essa problemática, é oportuno analisar os
geralmente restritos, de intelectuais, divulgadores e profetas, nor- componentes do Conflito. Dissemos que seu objetivo é o contro-
malmente os primeiros a notar e a evidenciar a maturação de exi- le sobre os recursos escassos. Prevalentemente estes recursos são
gências novas. É precisamente nestes grupos que se inicia muitas identificados no poder, na riqueza e no prestígio. É claro que, de
vezes a crítica às instituições e às ideias dominantes. É por isso que acordo com os tipos e os âmbitos do Conflito, poderão ser iden-
a sua função como fatores de ruptura do Consenso não pode ser tificados outros recursos novos ou mais específicos. Por exemplo,
subestimada. nos casos de Conflitos internacionais, um importante recurso será
Não se esqueça, por último, a importância da interação entre as o território; nos casos de Conflitos políticos, o recurso mais am-
diversas forças políticas, mormente onde seu sucesso depende, em bicionado será o controle dos cargos em competição; no caso de
grande parte, da habilidade em obter a adesão e apoio de grandes Conflitos industriais, como salienta Dah-rendorf, objeto do Confli-
massas. É claro, por exemplo, que os partidos políticos não se limi- to e, portanto, recurso em jogo serão as relações de autoridade e
tam simplesmente a refletir em suas posições as divisões existentes de comando. A estas anotações se acresce que, enquanto alguns
na sociedade, mas se apresentam, outrossim, como fatores ativos recursos podem ser procurados como fins em si mesmos, outros
de Consenso ou dissensão, na medida em que operam, por meio recursos podem servir para melhorar as posições em vista de novos
das suas estruturas organizacionais diretas ou indiretas, como me- prováveis Conflitos.
canismos independentes ou semi-independentes de canalização, Os Conflitos — como se disse — podem acontecer entre indiví-
isto é, como veículos de formação e de transformação das opiniões. duos, grupos, organizações e coletividades. Naturalmente existem
Afastado do âmago da luta política por sua pouca importância ou também Conflitos que contrapõem indivíduos a organizações (um
por falta de popularidade, um partido político pode, conscien- Conflito pela democracia interna no partido entre um discordante e
temente ou não, orientar diretamente sua ação à polarização do os dirigentes), grupos a coletividades (um Conflito entre uma mino-
sistema, isto é, cavar um sulco entre as diversas formações, onde ria étnica e o Estado), entre organizações e coletividades (Conflitos
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CONHECIMENTOS
entre a burocracia e o Governo como representante da coletivida- desarmonia e o desequilíbrio que constituem a norma e isto é um
de). Existem então, diversos níveis nos quais podem ser situados bem para a sociedade. Através dos Conflitos surgem as mudanças e
os Conflitos e seus diversos tipos, de modo que seria possível cen- se realizam os melhoramentos. Conflito é vitalidade. Naturalmente,
trar somente a atenção sobre os Conflitos de classe (esquecendo os uma clara dicotomia não pode fazer esquecer que alguns autores
conflitos étnicos) de um lado ou sobre os conflitos internacionais não podem ser simplesmente classificados entre uns ou outros,
(esquecendo os Conflitos políticos internos dos Estados, como os como Kant, Hegel ou Max Weber, que analisaram e identificaram
contrastes entre maioria e oposição ou as guerras civis) do outro quer as condições da ordem ou do movimento, quer os fatores que
lado. levam à harmonia como os que produzem os Conflitos.
Os vários tipos de Conflitos podem ser distintos entre eles com Na posição intermediária se encontram também aqueles es-
base em algumas características objetivas: dimensões, intensidade, tudiosos — e são muitos — que aderem, numa forma ou noutra,
objetivos. Quanto à dimensão, o indicador utilizado será constituí- à metodologia funcionalista. É indicativa a maneira como eles se
do pelo número dos participantes, quer absoluto, quer relativo à interessaram pela problemática dos Conflitos e como chegaram a
representação dos participantes potenciais (por exemplo, uma gre- considerá-los como o produto sistemático das estruturas sociais.
ve na qual participam todos os trabalhadores das empresas envol- Apesar disso, a metodologia destes autores os conduziu, na melhor
vidas). A intensidade poderá ser avaliada com base no grau de en- das hipóteses, a considerar os Conflitos como algo que traz mal-es-
volvimento dos participantes, na sua disponibilidade a resistir até o tar para o funcionamento de um sistema, isto é em síntese, uma
fim (perseguindo os chamados fins não negociáveis) ou a entrar em disfunção. Para os estudiosos funcionalistas mais atentos, como Ro-
tratativas apenas negociáveis. A violência não é um componente da bert Merton, o Conflito é disfuncional em dois sentidos: é produto
intensidade; ela, de fato, não mede o grau de envolvimento; mas do não ou do mau funcionamento de um sistema social e produz
assinala a inexistência, a inadequação, a ruptura de normas aceitas por sua vez obstáculos e problemas, strains and síresses no funcio-
por ambas as partes e de regras do jogo (obviamente, no caso de namento do sistema.
conflitos internacionais o assunto é diferente, mesmo quando nos Não é preciso acrescentar muita coisa a quanto foi escrito
encontramos perante a violência “controlada”, como na tentativa pelos estudiosos da harmonia e do equilíbrio social. Dahrendorf
de codificar até as várias possibilidades de uma guerra atômica). A (1971:256-57) resumiu lucidamente as posições destes em quatro
hipóteses:
violência pode ser considerada um instrumento utilizável num Con-
1) toda a sociedade é uma estrutura (“relativamente”) estável e
flito social ou político, mas não o único e nem necessariamente o
duradoura de elementos (hipótese da estabilidade);
mais eficaz.
2) toda a sociedade é uma estrutura bem equilibrada de ele-
Distinguir os Conflitos com base nos objetivos não é fácil, se
mentos (hipótese do equilíbrio);
não se faz referência a uma verdadeira teoria que atualmente não
3) todo o elemento de uma sociedade tem uma função, isto é,
existe. É possível compreender e analisar os objetivos dos Conflitos
contribui para o funcionamento dela (hipótese da funcionalidade);
somente na base de um conhecimento mais profundo da socieda-
4) toda a sociedade se conserva graças ao consenso de todos
de concreta em que os vários Conflitos emergem e se manifestam. seus membros em determinados valores comuns (hipótese do con-
Portanto, a distinção habitual entre Conflitos que têm objetivos de senso),
mudanças no sistema e os que se propõem mudanças do sistema
é substancialmente insuficiente. Nada impede, de fato, que uma Os expoentes de uma visão conflitual da vida social se baseiam
série de mudanças no sistema provoque uma transformação do habitualmente em duas correntes de pensamento: de um lado, a
sistema; nem que tentativas de mudanças do sistema acabem por corrente marxista, do outro, a corrente liberal descendente de John
cooperar para reforçar e melhorar o sistema que se visava destruir, Stuart Mill. No centro da reflexão marxista está um tipo particular
derrubar ou transformar estruturalmente. Analisemos, portanto, as e notório de Conflito: a luta de classes (“A história de toda a so-
necessárias teorias do Conflito e da mudança social. ciedade que existiu até o presente é história de luta de classes»,
do Manifesto do partido comunista, 1948). Mas, paradoxalmente,
II. INTERPRETAÇÕES DOS CONFLITOS SOCIAIS E POLÍTICOS. — a concepção marxista é menos “conflitual” do que se pensa. Se, de
Sociólogos e politólogos se questionaram seriamente sobre o Con- fato, é verdade que a luta de classes é a principal força motriz da
flito social e, de acordo com suas teorias implícitas ou explícitas, história e que a luta ( = Conflito) entre burguesia e proletariado é
forneceram interpretações diferentes. O continuum parte daqueles a grande alavanca da mudança social, Marx concebe este Conflito
que veem qualquer grupo social, qualquer sociedade e qualquer como o Conflito para acabar com todos os Conflitos. Abolida a divi-
organização como algo de harmônico e de equilibrado; harmonia são entre as classes, o Conflito, consequentemente, acabará.
e equilíbrio constituiriam o estado normal (Comte, Spencer, Pare- Embora nem todos aqueles que se consideram “liberais” e
to, Durkheim, e entre os contemporâneos, Talcott Parsons). Todo o descendentes de John Stuart Mill consigam manter-se fiéis a uma
Conflito, então, é considerado uma perturbação; mas não é somen- concepção conflitual da sociedade, é fora de dúvida que é entre
te isso; já que o equilíbrio e uma relação harmônica entre os vários os sociólogos e politólogos fautores de uma concepção semelhante
componentes da sociedade constituem o estado normal, as causas (às vezes acompanhada por uma revisão das teorias marxistas) que
do Conflito são meta-sociais, isto é, devem ser encontradas fora da se encontram as contribuições mais importantes para a análise dos
própria sociedade, e o Conflito é um mal que deve ser reprimido e Conflitos sociais e políticos (e também internacionais) que não pri-
eliminado. O Conflito é uma patologia social. vilegiam acriticamente as bases econômicas dos Conflitos e que não
Na posição oposta ao “continuum” estão Marx, Sorel, John levam ou não têm uma visão teleológica (os conflitos como força
Stuart Mill, Simmel e entre os contemporâneos Dahrendorf e Tou- para realizar um sistema social definido antecipadamente).
raine, que consideram qualquer grupo ou sistema social como cons- É ainda Dahrendorf que formula as hipóteses com base na teo-
tantemente marcados por Conflitos porque em nenhuma sociedade ria alternativa acima mencionada, isto é, a teoria da coerção da in-
a harmonia ou o equilíbrio foram normais. Antes, são exatamente a tegração social (1917:257):
17
CONHECIMENTOS
1) toda a sociedade e cada um de seus elementos estão sujei- atores têm uma certa discricionariedade em seus comportamentos
tos, em qualquer período, a um processo de mudança (hipótese da quer no modo de ampliar o número daqueles que estão envolvidos
historicidade); ou de reduzi-lo quer no modo de aumentar a intensidade do con-
2) toda a sociedade é uma estrutura em si contraditória e ex- flito ou de moderá-lo quer no modo de institucionalizar o Conflito
plosiva de elementos (hipótese da explosividade); ou de mantê-lo fora e além das regras precisas e aceitas por todos.
3) todo o elemento de uma sociedade contribui para a mudan- Um conflito social e político pode ser suprimido, isto é, blo-
ça da mesma (hipótese da disfuncionalidade ou produtividade); queado em sua expressão pela força, coercitivamente, como é o
4) toda a sociedade se conserva mediante a coerção exercida caso de muitos sistemas autoritários e totalitários, exceto o caso em
por alguns de seus membros sobre outros membros (hipótese da que se reapresente com redobrada intensidade num segundo tem-
constrição). po. A supressão dos conflitos é, contudo, relativamente rara. Assim
como relativamente rara é a plena resolução dos Conflitos, isto é, a
Em aberta polêmica com as interpretações funcionais e com eliminação das causas, das tensões, dos contrastes que originaram
Parsons e seus discípulos, Dahrendorf daí conclui que “uma teo- os Conflitos (quase por definição um Conflito social não pode ser
ria aceitável do Conflito social pode ser criada somente se assu- “resolvido”).
mimos como plataforma a teoria da coerção da integração social” O processo ou a tentativa mais frequente é o de proceder à
(1971:258). Em polêmicas igualmente explícitas com a maior parte regulamentação dos Conflitos, isto é, à formulação de regras acei-
das interpretações de origem marxista e com algumas formulações tas pelos participantes que estabelecem determinados limites aos
do próprio Marx, que deixam entender um conflito com raízes de Conflitos. A tentativa consiste não em pôr fim aos Conflitos mas em
natureza econômica, Dahrendorf afirma drasticamente que “Confli- regulamentar suas formas de modo que suas manifestações sejam
to de classe indica qualquer conflito de grupo derivado da estrutura menos destrutíveis para todos os atores envolvidos. Ao mesmo
de autoridades de associações coordenadas por normas imperati- tempo a regulamentação dos Conflitos deve garantir o respeito das
vas e relativo a elas” (1963:413). Ele, portanto, coloca no centro do conquistas alcançadas por alguns atores e a possibilidade para os
Conflito de classes o problema das relações de autoridade, de su- outros atores de entrar novamente em Conflito. O ponto crucial é
bordinação e de superorde-nação. Dessa forma tenta oferecer uma que as regras devem ser aceitas por todos os participantes e, se
explicação para a persistência do Conflito de classes também nas mudadas, devem ser mudadas por recíproco acordo. Quando um
sociedades pós-industriais (ou caracterizadas como tais), nas quais Conflito se desenvolve segundo regras aceitas, sancionadas e ob-
os Conflitos sobre a distribuição dos recursos parecem (pareciam) servadas, há sua institucionalização.
se ter atenuado. Esta observação conduz à análise de causas e con- A real ou presumida atenuação do Conflito de classes deve-se,
seqüências do Conflito social. em parte, à recíproca aceitação dos atores em campo e, em parte,
à consciência de que, não podendo proceder à eliminação da par-
III. CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DO CONFLITO. — Para efeito de te contrária, o procedimento melhor consiste na estipulação e na
clareza é oportuno fazer novamente referência a Dahrendorf a fim observância de regras explícitas e precisas. O mesmo discurso vale
de definir as causas dos Conflitos: “todas as sociedades produzem para o Conflito político: uma vez esclarecido que os custos da des-
constantemente em si antagonismos que não nascem casualmente truição das minorias e das oposições por parte da:, maiorias e dos
nem podem ser arbitrariamente eliminados” (1976:239). Embora Governos são demasiado altos, as vantagens extraídas de regras
dentro de um quadro teórico diferente, à mesma conclusão chega explícitas para a gestão do poder, para a expressão das divergên-
Touraine (1975) que sublinha a importância das tensões, dos de- cias, para a rotatividade e a troca nos cargos são o passo sucessivo
sequilíbrios, dos contrastes entre os diversos níveis da realidade que institucionaliza a democracia política. No decorrer do processo
social. Ambos os autores acentuam a necessidade de analisar, para se apresenta também a possibilidade de expressar os Conflitos po-
compreendê-los, os conflitos no âmbito de sociedades históricas. líticos de maneira produtiva, canalizando-os dentro de estruturas
O aspecto importante é que é rejeitada qualquer causa exóge- apropriadas e sem deixá-los explodir improvisadamente e sem saí-
na, meta-social do Conflito. O mesmo desenvolvimento técnico, às das previsíveis.
vezes considerado motor relevante do Conflito social, é considera-
do causa marginal. Somente se explorado pelas forças em campo, IV. O FUTURO DO CONFLITO. — As sociedades organizadas
pelos autores sociais e se inserido no contexto social, o desenvol- procuram diluir o Conflito, canalizá-lo dentro de formas previsíveis,
vimento técnico pode ser causa de Conflitos. Para compreender, submetê-lo a regras precisas e explícitas, contê-lo e, às vezes, orien-
porém, o Conflito que daí decorre, será, contudo, indispensável tar para o sentido preestabelecido o potencial de mudança. Talvez
focalizar a configuração da sociedade. os dois fenômenos mais relevantes das sociedades, que somente
Num sentido bem definido, portanto, não existem causas espe- por brevidade e comodidade podem ser definidos de pós-indus-
cíficas do Conflito, nem do Conflito de classes. De fato, todo Conflito triais, são, de um lado, o declínio da intensidade e, em geral, uma
é ínsito na mesma configuração da sociedade, do sistema político, melhor regulamentação do Conflito de classes (que, prescindindo
das relações internacionais. Ele resulta em elemento ineliminável das razões de Dahrendorf, se apresenta com conotações bem dife-
que conduz à mudança social, política, internacional. Ineliminável rentes daquelas que foram focalizadas por Marx) e, de outro lado,
a longo prazo, porque a curto e a médio prazo, o Conflito pode ser o aparecimento de novos Conflitos cujos veículos nas sociedades
sufocado ou desviado. É nesta fase que intervém os instrumentos pós-industriais têm sido os movimentos coletivos e sociais (v. MO-
políticos através dos quais os sistemas contemporâneos procuram VIMENTOS SOCIAIS).
abrandar o impacto dos Conflitos sobre suas estruturas. A ligação entre Conflitos e mudanças, quer na esfera social
Partindo de uma determinada configuração social, em presen- quer na esfera política e internacional, é clara e indiscutível. Natu-
ça de determinados Conflitos, condicionados em larga medida pe- ralmente, daí não se segue absolutamente que todas as mudanças
los próprios sistemas sociais, se produz uma situação na qual os decorrentes dos Conflitos tenham sinal positivo, indiquem melho-
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CONHECIMENTOS
ramentos e produzam maior adesão aos valores da liberdade, da onde Política mantém o significado de reflexão sobre a atividade
justiça e da igualdade. Todavia, onde os Conflitos são suprimidos política, equivalendo, por isso, a “elementos de filosofia política”.
ou desviados ou não chegam a se realizar, a sociedade estagna e Uma prova mais recente é a que se pode deduzir do uso enraizado
enfraquece e sua decadência se torna inevitável. Sem precisar con- nas línguas mais difundidas de chamar história das doutrinas ou das
cordar plenamente com a conclusão de Dahrendorf, baseada no ilu- ideias políticas ou, mais genericamente, história do pensamento
minismo, segundo a qual “no Conflito se esconde o germe criativo político à história que, se houvesse permanecido invariável o sig-
de toda a sociedade e a possibilidade da liberdade, mas ao mesmo nificado transmitido pelos clássicos, teria de se chamar história da
tempo a exigência de um domínio e controle racional das coisas hu- Política, por analogia com outras expressões, como história da físi-
manas” (1971: 280), fica claro que as sociedades conflituais sabem ca, ou da estética, ou da ética: uso também aceito por Croce que, na
acionar mecanismos de adaptação, da autorregularem e de mudan- pequena obra citada, intitula Para a história da filosofia da política
ça de que as sociedades consideradas consensuais (com consenso o capítulo dedicado a um breve excursus histórico pelas políticas
conformista ou coacto) são carentes, carência que é gravemente modernas.
prejudicial para elas.
[GIANFRANCO PASQUINO] II. A TIPOLOGIA CLÁSSICA DAS FORMAS DE PODER. — O con-
ceito de Política, entendida como forma de atividade ou de práxis
Política humana, está estreitamente ligado ao de poder. Este tem sido tra-
I.. O SIGNIFICADO CLÁSSICO E MODERNO DE POLÍTICA. — Deri- dicionalmente definido como “consistente nos meios adequados
vado do adjetivo originado de pólis (politikós), que significa tudo o à obtenção de qualquer vantagem” (Hobbes) ou, analogamente,
que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, como “conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos dese-
público, e até mesmo sociável e social, o termo Política se expandiu jados” (Russell). Sendo um destes meios, além do domínio da na-
graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, tureza, o domínio sobre os outros homens, o poder é definido por
que deve ser considerada como o primeiro tratado sobre a natureza, vezes como uma relação entre dois sujeitos, dos quais um impõe ao
funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de Governo, outro a própria vontade e lhe determina, malgrado seu, o compor-
com a significação mais comum de arte ou ciência do Governo, isto tamento. Mas, como o domínio sobre os homens não é geralmente
é, de reflexão, não importa se com intenções meramente descriti- fim em si mesmo, mas um meio para obter “qualquer vantagem”
vas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discriminá- ou, mais exatamente, “os efeitos desejados”, como acontece com
veis, sobre as coisas da cidade. Ocorreu assim desde a origem uma o domínio da natureza, a definição do poder como tipo de relação
transposição de significado, do conjunto das coisas qualificadas de entre sujeitos tem de ser completada com a definição do poder
um certo modo pelo adjetivo “político”, para a forma de saber mais como posse dos meios (entre os quais se contam como principais o
ou menos organizado sobre esse mesmo conjunto de coisas: uma domínio sobre os outros e sobre a natureza) que permitem alcançar
transposição não diversa daquela que deu origem a termos como justamente uma “vantagem qualquer” ou os “efeitos desejados”.
física, estética, ética e, por último, •cibernética. O termo Política foi O poder político pertence à categoria do poder do homem sobre
usado durante séculos para designar principalmente obras dedica- outro homem, não à do poder do homem sobre a natureza. Esta
das ao estudo daquela esfera de atividades humanas que se refere relação de poder é expressa de mil maneiras, onde se reconhecem
de algum modo às coisas do Estado: Política methodice digesta, só fórmulas típicas da linguagem política: como relação entre gover-
para apresentar um exemplo célebre, é o título da obra com que nantes e governados, entre soberano e súditos, entre Estado e cida-
Johannes Althusius (1603) expôs uma das teorias da consociatio dãos, entre autoridade e obediência, etc.
publica (o Estado no sentido moderno da palavra), abrangente em Há várias formas de poder do homem sobre o homem; o poder
seu seio várias formas de consociationes menores. Na época mo- político é apenas uma delas. Na tradição clássica que remonta espe-
derna, o termo perdeu seu significado original, substituído pouco cificamente a Aristóteles, eram consideradas três formas principais
a pouco por outras expressões como “ciência do Estado”, “doutrina de poder: o poder paterno, o poder despótico e o poder político.
do Estado”, “ciência política”, “filosofia política”, etc, passando a ser Os critérios de distinção têm sido vários com o variar dos tempos.
comumente usado para indicar a atividade ou conjunto de ativida- Em Aristóteles se entrevê a distinção baseada no interesse daquele
des que, de alguma maneira, têm como termo de referência a pólis, em benefício de quem se exerce o poder: o paterno se exerce pelo
ou seja, o Estado. interesse dos filhos; o despótico, pelo interesse do senhor; o políti-
Dessa atividade a pólis é, por vezes, o sujeito, quando referidos co, pelo interesse de quem governa e de quem é governado, o que
à esfera da Política atos como o ordenar ou proibir alguma coisa ocorre apenas nas formas corretas de Governo, pois, nas viciadas,
com efeitos vinculadores para todos os membros de um determi- o característico é que o poder seja exercido em benefício dos go-
nado grupo social, o exercício de um domínio exclusivo sobre um vernantes. Mas o critério que acabou por prevalecer nos tratados
determinado território, o legislar através de normas válidas erga jusnaturalistas foi o do fundamento ou do princípio de legitimação,
omnes, o tirar e transferir recursos de um setor da sociedade para que encontramos claramente formulado no cap. XV do Segundo
outros, etc; outras vezes ela é objeto, quando são referidas à esfera tratado sobre o governo de Locke: o fundamento do poder paterno
da Política ações como a conquista, a manutenção, a defesa, a am- é a natureza, do poder despótico o castigo por um delito cometi-
pliação, o robustecimento, a derrubada, a destruição do poder esta- do (a única hipótese neste caso é a do prisioneiro de guerra que
tal, etc Prova disso é que obras que continuam a tradição do tratado perdeu uma guerra injusta), do poder civil o consenso. A estes três
aristotélico se intitulam no século XIX Filosofia do direito (Hegel, motivos de justificação do poder correspondem as três fórmulas
1821), Sistema da ciência do listado (Lorenz von Stein, 1852-1856), clássicas do fundamento da obrigação: ex natura, ex delicio, ex con-
Elementos de ciência política (Mosca, 1896), Doutrina geral do Es- tractu. Nenhum dos dois critérios permite, não obstante, distinguir
tado (Georg Jellinek, 1900). Conserva parcialmente a significação o caráter específico do poder político. Na verdade, o fato de o poder
tradicional a pequena obra de Croce, Elementos de política (1925), político se diferenciar do poder paterno e do poder despótico por
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CONHECIMENTOS
estar voltado para o interesse dos governantes ou por se basear natários das mensagens ideológicas emitidas pela classe dominan-
no consenso, não constitui caráter distintivo de qualquer Governo, te, só o uso da força física serve, pelo menos em casos extremos,
mas só do bom Governo: não é uma conotação da relação política para impedir a insubordinação ou a desobediência dos subordina-
como tal, mas da relação política referente ao Governo tal qual de- dos, como o demonstra à saciedade a experiência histórica. Nas
veria ser. Na realidade, os escritores políticos não cessaram nunca relações entre grupos sociais diversos, malgrado a importância que
de identificar seja Governos paternalistas, seja Governos despóti- possam ter a ameaça ou a execução de sanções econômicas para
cos, ou então Governos em que a relação entre Governo e súditos levar o grupo hostil a desistir de um determinado comportamento
se assemelhava ora à relação entre pai e filhos, ora à entre senhor (nas relações entre grupos é de somenos importância o condiciona-
e escravos, os quais nem por isso deixavam de ser Governos tanto mento de natureza ideológica), o instrumento decisivo para impor
quanto os que agiam pelo bem público e se fundavam no consenso. a própria vontade é o uso da força, a guerra.
Esta distinção entre três tipos principais de poder social se
III. A TIPOLOGIA MODERNA DAS FORMAS DE PODER. — Para encontra, se bem que expressa de diferentes maneiras, na maior
acharmos o elemento específico do poder político, parece mais parte das teorias sociais contemporâneas, onde o sistema social
apropriado o critério de classificação das várias formas de poder global aparece direta ou indiretamente articulado em três subsis-
que se baseia nos meios de que se serve o sujeito ativo da relação temas fundamentais, que são a organização das forças produtivas,
para determinar o comportamento do sujeito passivo. Com base a organização do consenso e a organização da coação. A teoria
neste critério, podemos distinguir três grandes classes no âmbito de marxista também pode ser interpretada do mesmo modo: a base
um conceito amplíssimo do poder. Estas classes são: o poder eco- real, ou estrutura, compreende o sistema econômico; a supra es-
nômico, o. poder ideológico e o poder político. O primeiro é o que trutura, cindindo-se em dois momentos distintos, compreende o
se vale da posse de certos bens, necessários ou considerados como sistema ideológico e aquele que é mais propriamente jurídico-polí-
tais, numa situação de escassez, para induzir aqueles que não os tico. Gramsci distingue claramente na esfera supra estrutural o mo-
possuem a manter um certo comportamento, consistente sobretu- mento do consenso (que chama sociedade civil) e o momento do
do na realização de um certo tipo de trabalho. Na posse dos meios domínio (que chama sociedade política ou Estado). Os escritores
de produção reside uma enorme fonte de poder para aqueles que políticos distinguiram durante séculos o poder espiritual (que hoje
os têm em relação àqueles que os não têm: o poder do chefe de chamaríamos ideológico) do poder temporal, havendo sempre in-
uma empresa deriva da possibilidade que a posse ou disponibilida- terpretado este como união do dominium (que hoje chamaríamos
de dos meios de produção lhe oferece de poder vender a força de poder econômico) e do imperium (que hoje designaríamos mais
trabalho a troco de um salário. Em geral, todo aquele que possui propriamente como poder político). Tanto na dicotomia tradicional
abundância de bens é capaz de determinar o comportamento de (poder espiritual e poder temporal) quanto na marxista (estrutura
quem se encontra em condições de penúria, mediante a promessa e supra estrutura), se encontram as três formas de poder, desde
e concessão de vantagens. O poder ideológico se baseia na influên- que se entenda corretamente o segundo termo em um e outro caso
cia que as ideias formuladas de um certo modo, expressas em cer- como composto de dois momentos. A diferença está no fato de que,
tas circunstâncias, por uma pessoa investida de certa autoridade na teoria tradicional, o momento principal é o ideológico, já que
e difundidas mediante certos processos, exercem sobre a conduta o econômico-política é concebido como direta ou indiretamente
dos consociados: deste tipo de condicionamento nasce a importân- dependente do espiritual, enquanto que, na teoria marxista, o mo-
cia social que atinge, nos grupos organizados, aqueles que sabem, mento principal é o econômico, pois o poder ideológico e o político
os sábios, sejam eles os sacerdotes das sociedades arcaicas, sejam refletem, mais ou menos imediatamente, a estrutura das relações
os intelectuais ou cientistas das sociedades evoluídas, pois é por de produção.
eles, pelos valores que difundem ou pelos conhecimentos que co-
municam, que se consuma o processo de socialização necessário à IV. O PODER POLÍTICO. — Embora a possibilidade de recorrer à
coesão e integração do grupo. Finalmente, o poder político se ba- força seja o elemento que distingue o poder político das outras for-
seia na posse dos instrumentos mediante os quais se exerce a força mas de poder, isso não significa que ele se resolva no uso da força;
física (as armas de toda a espécie e potência): é o poder coator no tal uso é uma condição necessária, mas não suficiente para a exis-
sentido mais estrito da palavra. Todas estas três formas de poder tência do poder político. Não é qualquer grupo social, em condições
fundamentam e mantêm uma sociedade de desiguais, isto é, dividi- de usar a força, mesmo com certa continuidade (uma associação de
da em ricos e pobres com base no primeiro, em sábios e ignorantes delinquência, uma chusma de piratas, um grupo subversivo, etc),
com base no segundo, em fortes e fracos, com base no terceiro: que exerce um poder político. O que caracteriza o poder político é
genericamente, em superiores e inferiores. a exclusividade do uso da força em relação à totalidade dos grupos
Como poder cujo meio específico é a força, de longe o meio que atuam num determinado contexto social, exclusividade que e o
mais eficaz para condicionar os comportamentos, o poder político resultado de um processo que se desenvolve em toda a sociedade
é, em toda a sociedade de desiguais, o poder supremo, ou seja, o organizada, no sentido da monopolização da posse e uso dos meios
poder ao qual todos os demais estão de algum modo subordinados: com que se pode exercer a coação física. Este processo de monopo-
o poder coativo é, de fato, aquele a que recorrem todos os grupos lização acompanha pari passu o processo de incriminação e punição
sociais (a classe dominante), em última instância, ou como extrema de todos os atos de violência que não sejam executados por pes-
ratio, para se defenderem dos ataques externos, ou para impedi- soas autorizadas pelos detentores e beneficiários de tal monopólio.
rem, com a desagregação do grupo, de ser eliminados. Nas relações Na hipótese hobbesiana que serve de fundamento à teoria
entre os membros de um mesmo grupo social, não obstante o es- moderna do Estado, a passagem do Estado de natureza ao Estado
tado de subordinação que a expropriação dos meios de produção civil, ou da anarchía à archia, do Estado apolítico ao Estado político,
cria nos expropriados para com os expropriadores, não obstante a ocorre quando os indivíduos renunciam ao direito de usar cada um
adesão passiva aos valores do grupo por parte da maioria dos desti- a própria força, que os tornava iguais no estado de natureza, para
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CONHECIMENTOS
o confiar a uma única pessoa, ou a um único corpo, que doravante toda a coletividade, no concernente à distribuição e destinação dos
será o único autorizado a usar a força contra eles. Esta hipótese abs- recursos (não apenas econômicos). Por inclusividade se entende a
trata adquire profundidade histórica na teoria do Estado de Marx e possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as esferas
de Engels, segundo a qual, numa sociedade dividida em classes an- possíveis da atividade dos membros do grupo e de encaminhar tal
tagônicas, as instituições políticas têm a função primordial de per- atividade ao fim desejado ou de a desviar de um fim não desejado,
mitir à classe dominante manter seu domínio, alvo que não pode por meio de instrumentos de ordenamento jurídico, isto é, de um
ser alcançado, por via do antagonismo de classes, senão mediante conjunto de normas primárias destinadas aos membros do grupo
a organização sistemática e eficaz do monopólio da força; é por isso e de normas secundárias destinadas a funcionários especializados,
que cada Estado é, e não pode deixar de ser, uma ditadura. Neste com autoridade para intervir em caso de violação daquelas. Isto
sentido tornou-se já clássica a definição de Max Weber: “Por Esta- não quer dizer que o poder político não se imponha limites. Mas
do se há de entender uma empresa institucional de caráter político são limites que variam de uma formação política para outra: um Es-
onde o aparelho administrativo leva avante, em certa medida e com tado autocrático estende o seu poder até à própria esfera religiosa,
êxito, a pretensão do monopólio da legítima coerção física, com vis- enquanto que o Estado laico para diante dela; um Estado coletivista
tas ao cumprimento das leis” (I, 53). Esta definição tornou-se quase estenderá o próprio poder à esfera econômica, enquanto que o Es-
um lugar-comum da ciência política contemporânea. tado liberal clássico dela se retrairá. O Estado todo-abrangente, ou
Escreveram G. A. Almond e G. B. Powell num dos manuais de seja, o Estado a que nenhuma esfera da atividade humana escapa,
ciência política mais acreditados: “Estamos de acordo com Max We- é o Estado totalitário, que constitui, na sua natureza de caso-limite,
ber em que e a força física legítima que constitui o fio condutor da a sublimação da Política, a politização integral das relações sociais.
ação do sistema político, ou seja, lhe confere sua particular quali-
dade e importância, assim como sua coerência como sistema. As V. O FIM DA POLÍTICA. — Uma vez identificado o elemento es-
autoridades políticas, e somente elas, possuem o direito, tido como pecífico da Política no meio de que se serve, caem as definições te-
predominante, de usar a coerção e de impor a obediência apoiados leológicas tradicionais que tentam definir a Política pelo fim ou fins
nela... Quando falamos de sistema político, referimo-nos também que ela persegue. A respeito do fim da Política, a única coisa que se
a todas as interações respeitantes ao uso ou à ameaça de uso de pode dizer é que, se o poder político, justamente em virtude do mo-
coerção física legítima” (p. 55). A supremacia da força física como nopólio da força, constitui o poder supremo num determinado gru-
instrumento de poder em relação a todas as outras formas (das po social, os fins que se pretende alcançar pela ação dos políticos
quais as mais importantes, afora a força física, são o domínio dos são aqueles que, em cada situação, são considerados prioritários
bens, que dá lugar ao poder econômico, e o domínio das ideias, que para o grupo (ou para a classe nele dominante): em épocas de lutas
dá lugar ao poder ideológico) fica demonstrada ao considerarmos sociais e civis, por exemplo, será a unidade do Estado, a concórdia, a
que, embora na maior parte dos Estados históricos o monopólio paz, a ordem pública, etc; em tempos de paz interna e externa, será
do poder coativo tenha buscado e encontrado seu apoio na impo- o bem-estar, a prosperidade ou a potência; em tempos de opressão
sição das ideias (“as ideias dominantes”, segundo a bem conheci- por parte de um Governo despótico, será a conquista dos direitos
da afirmação de Marx, “são as ideias da classe dominante”), dos civis e políticos; em tempos de dependência de uma potência es-
deuses pátrios à religião civil, do Estado confessional à religião de trangeira, a independência nacional. Isto quer dizer que a Política
Estado, e na concentração e na direção das atividades econômicas não tem fins perpetuamente estabelecidos, e muito menos um fim
principais, há todavia grupos políticos organizados que consentiram que os compreenda a todos e que possa ser considerado como o
a desmonopolização do poder ideológico e do poder econômico; seu verdadeiro fim: os fins da Política são tantos quantas são as me-
um exemplo disso está no Estado liberal-democrático, caracterizado tas que um grupo organizado se propõe, de acordo com os tempos
pela liberdade de opinião, se bem que dentro de certos limites, e e circunstâncias. Esta insistência sobre o meio, e não sobre o fim,
pela pluralidade dos centros de poder econômico. Não há grupo so- corresponde, aliás, à communis opinio dos teóricos do Estado, que
cial organizado que tenha podido até hoje consentir a desmonopo- excluem o fim dos chamados elementos constitutivos do mesmo.
lização do poder coativo, o que significaria nada mais nada menos Fale mais uma vez por todos Max Weber: “Não é possível definir
que o fim do Estado e que, como tal, constituiria um verdadeiro e um grupo político, nem tampouco o Estado, indicando o alvo da sua
autêntico salto qualitativo, à margem da história, para o reino sem ação de grupo. Não há nenhum escopo que os grupos políticos não
tempo da utopia. se hajam alguma vez proposto. . . Só se pode, portanto, definir o
Consequência direta da monopolização da força no âmbito de caráter político de um grupo social pelo meio... que não lhe é certa-
um determinado território e relativas a um determinado grupo so- mente exclusivo, mas é, em todo o caso, específico e indispensável
cial, assim hão de ser consideradas algumas características comu- à sua essência: o uso da força” (I, 54).
mente atribuídas ao poder político e que o diferenciam de toda e Esta rejeição do critério teleológico não impede, contudo, que
qualquer outra forma de poder: a exclusividade, a universalidade e se possa falar corretamente, quando menos, de um fim mínimo na
a inclusividade. Por exclusividade se entende a tendência revelada Política: a ordem pública nas relações internas e a defesa da inte-
pelos detentores do poder político ao não permitirem, no âmbito gridade nacional nas relações de um Estado com os outros Estados.
de seu domínio, a formação de grupos armados independentes e Este fim é o mínimo, porque é a conditio sitie qua non para a con-
ao debelarem ou dispersarem os que porventura se vierem for- secução de todos os demais fins, conciliável, portanto, com eles.
mando, assim como ao iludirem as infiltrações, as ingerências ou Até mesmo o partido que quer a desordem, a deseja, não como
as agressões de grupos políticos do exterior. Esta característica dis- objetivo final, mas como fator necessário para a mudança da ordem
tingue um grupo político organizado da “societas” de “latrones” (o existente e criação de uma nova ordem. Além disso, é lícito falar da
“latrocinium” de que falava Agostinho). Por universalidade se en- ordem como fim mínimo da Política, porque ela é, ou deveria ser,
tende a capacidade que têm os detentores do poder político, e eles o resultado imediato da organização do poder coativo, porque, por
sós, de tomar decisões legítimas e verdadeiramente eficazes para outras palavras, esse fim, a ordem, está totalmente unido ao meio,
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CONHECIMENTOS
o monopólio da força: numa sociedade complexa, fundamentada co, seja o poder ideológico, seja qualquer outro poder. O poder pelo
na divisão do trabalho, na estratificação de categorias e classes, poder é um modo deturpado do exercício de qualquer forma de
e em alguns casos também na justaposição de gentes e raças di- poder, que pode ter como sujeito tanto quem exerce o grande po-
versas, só o recurso à força impede, em última instância, a desa- der, qual o político, quanto quem exerce o pequeno, como o do pai
gregação do grupo, o regresso, como diriam os antigos, ao Estado de família ou o do chefe de seção que supervisiona uma dezena de
de natureza. Tanto é assim que, no dia em que fosse possível uma operários. A razão pela qual pode parecer que o poder como fim em
ordem espontânea, como a imaginaram várias escolas econômicas si mesmo seja característico da Política (mas seria mais exato dizer
e políticas, dos fisiocratas aos anarquistas, ou os próprios Marx e de um certo homem político, do homem maquiavélico), reside no
Engels na fase do comunismo plenamente realizado, não haveria fato de que não existe um fim tão específico na Política como o que
mais política propriamente falando. existe no poder que o médico exerce sobre o doente ou no do rapaz
Quem examinar as definições teleológicas tradicionais de Polí- que impõe o jogo aos seus companheiros. Se o fim da Política, e não
tica, não tardará a observar que algumas delas não são definições do homem político maquiavélico, fosse realmente o poder pelo po-
descritivas, mas prescritivas, pois não definem o que é concreta e der, a Política não serviria para nada. É provável que a definição da
normalmente a Política, mas indicam como é que ela deveria ser Política como poder pelo poder derive da confusão entre o conceito
para ser uma boa Política; outras diferem apenas nas palavras (as de poder e o de potência: não há dúvida de que entre os fins da
palavras da linguagem filosófica são não raro intencionadamente Política está também o da potência do Estado, quando se considera
obscuras) da definição aqui apresentada. Toda história da filosofia a relação do próprio Estado com os outros Estados. Mas uma coisa
política está repleta de definições normativas, a começar pela aris- é uma Política de potência e outra o poder pelo poder. Além disso,
totélica: como é bem conhecido, Aristóteles afirma que o fim da a potência não é senão um dos fins possíveis da Política, um fim que
Política não é viver, mas viver bem {Política, 1278b). Mas em que só alguns Estados podem razoavelmente perseguir.
consiste uma vida boa? Como é que ela se distingue de uma vida
má? E, se uma classe política oprime os seus súditos, condenando- Poder
-os a uma vida sofrida e infeliz, será que não faz Política, será que o 1. DEFINIÇÃO. — Em seu significado mais geral, a palavra Poder
poder que ela exerce não é um poder político? O próprio Aristóteles designa a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos.
distingue as formas puras de Governo das formas deturpadas, coisa Tanto pode ser referida a indivíduos e a grupos humanos como a
que já antes dele fizera Platão e haviam de fazer, durante vinte sé- objetos ou a fenômenos naturais (como na expressão Poder calorí-
culos, muitos outros escritores políticos: conquanto o que distingue fico, Poder de absorção).
as formas deturpadas das formas puras, seja que nestas a vida não Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja,
é boa, nem Aristóteles, nem todos os escritores que lhe sucede- na sua relação com a vida do homem em sociedade, o Poder tor-
ram, lhes negaram nunca o caráter de constituições políticas. Não na-se mais preciso, e seu espaço conceptual pode ir desde a capa-
nos iludam outras teorias tradicionais que atribuem à Política fins cidade geral de agir, até à capacidade do homem em determinar o
diversos do da ordem, como o bem comum (o mesmo Aristóteles comportamento do homem: Poder do homem sobre o homem. O
e, depois dele, o aristotelismo medieval) ou a justiça (Platão): um homem é não só o sujeito mas também o objeto do Poder social. E
conceito como o de bem comum, quando o quisermos desemba- Poder social a capacidade que um pai tem para dar ordens a seus
raçar da sua extrema generalidade, pela qual pode significar tudo filhos ou a capacidade de um Governo de dar ordens aos cidadãos.
ou nada, e lhe quisermos atribuir um significado plausível, ele nada Por outro lado, não é Poder social a capacidade de controle que
mais poderá designar senão aquele bem que todos os membros de o homem tem sobre a natureza nem a utilização que faz dos re-
um grupo partilham e que não é mais que a convivência ordena- cursos naturais. Naturalmente existem relações significativas entre
da, numa palavra, a ordem; pelo que toca à justiça platônica, se o Poder sobre o homem e o Poder sobre a natureza ou sobre as
a entendermos, desvanecidos todos os fumos retóricos, como o coisas inanimadas. Muitas vezes, o primeiro é condição do segundo
princípio segundo o qual é bom que cada um faça o que lhe incum- e vice-versa. Vamos dar um exemplo: uma determinada empresa
be dentro da sociedade como um todo (República, 433a), justiça e extrai petróleo de um pedaço do solo terrestre porque tem o Poder
ordem são a mesma coisa. Outras noções de fim, como felicidade, de impedir que outros se apropriem ou usem aquele mesmo solo.
liberdade, igualdade, são demasiado controversas e interpretáveis Da mesma forma, um Governo pode obter concessões de outro Go-
dos modos mais díspares, para delas se poderem tirar indicações verno, porque tem em seu Poder certos recursos materiais que se
úteis para a identificação do fim específico da política. tornam instrumentos de pressão econômica ou militar. Todavia, em
Outro modo de fugir às dificuldades de uma definição teleoló- linha de princípio, o Poder sobre o homem é sempre distinto do
gica de Política é o de a definir como uma forma de poder que não Poder sobre as coisas. E este último é relevante no estudo do Poder
tem outro fim senão o próprio poder (onde o poder é, ao mesmo social, na medida em que pode se converter num recurso para exer-
tempo, meio e fim, ou, como se diz, fim em si mesmo). “O caráter cer o Poder sobre o homem.
político da ação humana, escreve Mário Albertini, torna-se patente, Por isso não se podem aceitar as definições que, inserindo-se
quando o poder se converte em fim, é buscado, em certo sentido, numa tradição que remonta a Hobbes, ignoram este caráter rela-
por si mesmo, e constitui o objeto de uma atividade específica” (p. cionai e identificam o Poder social com a posse de instrumentos
9), diversamente do que acontece com o médico, que exerce o pró- aptos à consecução de fins almejados. A definição de Hobbes, tal
prio poder sobre o doente para o curar, ou com o rapaz que impõe como se lê no princípio do capítulo décimo do Leviatã, é a seguinte:
seu jogo preferido aos companheiros, não pelo prazer de exercer “O Poder de um homem... consiste nos meios de alcançar alguma
o poder, mas de jogar. A este modo de definir a Política se poderá aparente vantagem futura”. Não é diferente, por exemplo, o que
objetar que ele não define tanto uma forma específica de poder Gumplowicz afirmou: que a essência do Poder “consiste na posse
quanto uma maneira específica de o exercer, ajustando-se, por isso, dos meios de satisfazer as necessidades humanas e na possibilidade
igualmente bem a qualquer forma de poder, seja o poder econômi- de dispor livremente de tais meios”. Em definições como estas, o
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
negativo ou positivo de intensidade moderada; “moral”, intensa- matéria. Quanto ao segundo ponto, não se há de esquecer o fato
mente positivo. Combinando juntamente os três tipos de poder e de que toda a Autoridade “estabelecida” se formou num determi-
os três tipos de orientação dos subalternos, Etzioni descobre três nado lapso de tempo, surgindo inicialmente como uma Autoridade
casos “congruentes” de Autoridade e organização e diversos outros “emergente” e acumulando pouco a pouco crédito ou uma aquies-
casos “incongruentes” ou mistos. Os congruentes são: a Autoridade cência cada vez mais sólida e mais vasta no ambiente social circuns-
e as correspondentes organizações “coercitivas” (poder coercitivo tante, até se transformar exatamente em Autoridade estabelecida,
e orientação alienada); a Autoridade e as organizações “utilitárias” ou seja, em poder continuativo e cristalizado. De fato, entre Au-
(poder remunerativo e orientação calculadora); a Autoridade e as toridade estabelecida e Autoridade emergente, se manifestam fre-
organizações “normativas” (poder normativo e orientação moral). A quentemente duros conflitos que constituem uma dimensão muito
estes diversos tipos de Autoridade e de organização são depois liga- importante da dinâmica de um sistema político (veja-se a propósito
dos numerosos aspectos da estrutura e do funcionamento das or- B. de Jouvenel, De la poliüque purê, Paris 1963).
ganizações.) ames S. Coleman, por sua vez, fez recentemente uma
distinção entre sistemas de Autoridade “disjuntos”, em que os su- Dominação
balternos aceitam a Autoridade para obter vantagens extrínsecas, I. DA ANARQUIA MILITAR A DIOCLECIANO. — Por Dominato ou
por exemplo, um salário, e sistemas de Autoridade “conjuntos”, em monarquia absoluta entende-se o período do advento ao poder de
que os subalternos esperam benefícios (intrínsecos) do seu exercí- Diocleciano (ano 284 d.C.) ou, conforme alguns estudiosos, a épo-
cio; e entre sistemas de Autoridade “simples”, onde a Autoridade é ca que vai desde Constantino (que coincide com a vitória de Ponte
exercida pelo seu detentor, e sistemas de Autoridade “complexos”, Mílvio, em 312 d.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente
onde a Autoridade é exercida por lugar-tenentes ou agentes delega- (476 d.C). Desejando, porém, obedecer à problemática jurídica (es-
dos pelo detentor da Autoridade; baseado em tais distinções, pro- pecialmente a privativa, mas também a publicista), devemos então
pôs algumas hipóteses interessantes sobre a estática e a dinâmica lembrar o período que chega até a morte do imperador do Oriente
das relações de Autoridade. Justiniano (565 d.C).
A Autoridade, tal como a temos entendido até aqui, como po- Recapitulemos brevemente os fatos que ocorreram desde a
der estável, continuativo no tempo, a que os subordinados prestam, queda da dinastia dos Severos até Diocleciano e, depois, até Cons-
pelo menos dentro de certos limites, uma obediência incondicional, tantino, a fim de poder ilustrar a instauração do novo regime jurí-
constitui um dos fenômenos sociais mais difusos e relevantes que dico e político.
pode encontrar o cientista social. Praticamente todas as relações de A morte de Alexandre Severo (235 d.C.) abre no Estado romano
poder mais duráveis e importantes são, em maior ou menor grau, um turbulento tempo de anarquia militar. No breve período da su-
relações de Autoridade: o poder dos pais sobre os filhos na família, bida ao poder de Massimino, o Trácio (ainda 235 d.C.) a Numeriano
o do mestre sobre os alunos na escola, o poder do chefe de uma (284 d.C), contam-se de fato vinte e quatro imperadores. A estes de-
igreja sobre os fiéis, o poder de um empresário sobre os trabalha- vemos acrescentar os chamados trinta tiranos (isto é, pretendentes
dores, o de um chefe militar sobre os soldados, o poder do Governo ao poder imperial). As causas desta crise foram individualizadas de
sobre os cidadãos de um Estado. A estrutura de base de qualquer diversas formas pelos historiadores. Uma das teses mais importan-
tipo de organização, desde a de um campo de concentração à or- tes é a de Rostovzev, que focaliza a existência de uma luta de classes
ganização de uma associação cultural, é formada, em grande par- entre os camponeses e os privilegiados habitantes das cidades.
te, à semelhança da estrutura fundamental de um sistema político Hoje, porém, considera-se que na base da crise existiam muitas
tomado como um todo, por relações de Autoridade. Não há, pois, causas (políticas, sociais, econômicas, militares, etc). Estas causas,
por que admirar-se se o conceito de Autoridade ocupa um lugar de interagindo, teriam provocado uma verdadeira “desintegração” da
primeiro plano na teoria da organização; nem é de admirar que tão ordem constituída. Nessa crise, a partir do longo reinado de Galieno
frequentemente se faça uso do conceito de Autoridade para definir (de 253 a 260 d.C. reinou juntamente com o pai, e de 260 a 268 so-
o Estado ou a sociedade política. Ainda recentemente o politólogo zinho), inserem-se elementos inovadores para uma recomposição
H. Eckstein propôs que se identificasse a política pelas “estruturas constitucional (que se traduziu, na ocasião, na exclusão dos sena-
de Autoridade”; e definiu a estrutura de Autoridade como “um dores do comando militar). Uma certa estabilização política começa
conjunto de relações assimétricas, entre membros de uma unidade a surgir a partir do final da anarquia militar propriamente dita, ou
social ordenados de um modo hierárquico, que têm por objeto a seja, no início do reinado de Aureliano (um dos restitutores ilíricos,
condução da própria unidade social”. Na realidade, a estratificação que reinou de 270 a 275 d.C). O poder de Aureliano é decisivamente
da Autoridade política na sociedade é um fenômeno tão persistente militar; é muito significativo o apelido de domnus et deus que ele
que se afigura a vários autores como parte da hereditariedade bio- recebeu (embora não seja uma novidade absoluta). Após uma últi-
lógica da espécie (veja-se a resenha de estudos de Fred H. Willhoite ma tentativa de restaurar o pleno poder dos senadores, com Tácito
Ir. Primates and political authority: A biobehavioral perspective, em e Probo, abrese, praticamente, a era diocleciânica.
“American political science re-view”, vol. LXX-1976, pp. 1110-26). Diocleciano, também de origem ilírica, conquistou sozinho o
Até agora ressaltamos, de forma acentuada, por um lado, o poder em 285 d.C, criando assim as premissas para uma série de
caráter hierárquico, por outro, a estabilidade da Autoridade. Mas importantes inovações. Lembramos aqui as relativas à organização
observe-se, no tocante ao primeiro ponto, que a Autoridade, tal territorial (as províncias fracionadas foram reconstituídas em dio-
como a definimos até aqui, se é particularmente característica das ceses bem mais amplas), ao exército (com a distinção entre tropas
estruturas hierárquicas, não pressupõe, contudo, necessariamen- estáveis, distribuídas ao longo das fronteiras, e exército móvel, que
te a existência de tal estrutura, nem mesmo de uma organização acompanhava sempre o imperador e por isso dependia de seu co-
formal. Pode verificar-se também em relações de poder informal. mando direto), e às inovações relativas à economia em geral (com
Por exemplo, C pode estar disposto a aceitar incondicionalmente reformas monetárias, fiscais e com a promulgação de um edictum
as opiniões de R (um escritor ou jornalista) no âmbito de uma certa rerum venalium, isto é, de um tabelamento dos preços).
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CONHECIMENTOS
A respeito do fundamento constitucional e político do poder da Legitimidade do regime. A característica fundamental da ade-
imperial, podemos falar de uma monarquia do tipo militar, porque são a um regime, principalmente quando tem seu fundamento
o imperador é aclamado pelo exército. É duvidoso que ao exército na crença da legalidade, está no fato de que os governantes e sua
tenha se juntado o Senado. Ao fazermos uma comparação com as política são aceitos, na medida em que os aspectos fundamentais
monarquias do tipo oriental, devemos admitir que mesmo estando do regime são legitimados, abstraindo das pessoas e das decisões
presentes na monarquia de Diocleciano muitos elementos religio- políticas específicas. A consequência é que quem legitima o regi-
sos, não se pode ainda falar de uma verdadeira concepção teocrá- me tem que aceitar também o Governo que veio a se concretizar e
tica do poder. que busca atuar de acordo com as normas e os valores do regime,
Este fato impede alguns historiadores de reconhecerem em mesmo não o aprovando ou até chegando a lhe fazer oposição bem
Diocleciano o autêntico fundador do Dominato e os leva a identi- como à sua política. Isto depende do fato de que existe um interes-
ficarem Constantino como o verdadeiro autor do novo curso insti- se concreto que une as forças que aceitam o regime: a sustentação
tucional. Aceitando-se esta interpretação, deve-se sublinhar mais das instituições que regulam a luta pelo poder. O fundamento desta
uma vez a complexidade das passagens, que levam até a afirma- convergência de interesses está em que o regime é assumido como
ção total e exclusiva de elementos já presentes in nuce no primeiro plataforma comum de luta entre os grupos políticos, visto estes o
principado, juntamente com a resistência das formas e dos órgãos considerarem como uma situação que apresenta condições favorá-
da Constituição republicana. veis para a manutenção de seu poder, para a conquista do Governo
e para a concretização parcial ou total de seus objetivos políticos.
Legitimidade c) O Governo é o conjunto dos papéis em que se concretiza o
I. DEFINIÇÃO GERAL. — Na linguagem comum, o termo Legiti- exercício do poder político. Vimos que normalmente, isto é, quan-
midade possui dois significados, um genérico e um específico. No do a força do Governo repousa na definição institucional do poder,
seu significado genérico, Legitimidade tem, aproximadamente, o para ele ser qualificado como legítimo é suficiente que tenha se
sentido de justiça ou de racionalidade (fala-se na Legitimidade de estruturado de conformidade com as normas do regime e que exer-
uma decisão, de uma atitude, etc). É na linguagem política que apa- ça o poder de acordo com os mesmos, de tal forma que se achem
rece o significado específico. Neste contexto, o Estado é o ente a respeitados determinados valores fundamentais da vida política.
que mais se refere o conceito de Legitimidade. O que nos interessa, Todavia pode acontecer que a pessoa que chefia o Governo seja ela
aqui, é a preocupação com o significado específico. mesma objeto da crença na Legitimidade. No Estado moderno, isto
Num primeiro enfoque aproximado, podemos definir Legitimi- acontece quando as instituições políticas se encontram em crise e
dade como sendo um atributo do Estado, que consiste na presença, os únicos fundamentos da Legitimidade do poder são a superiori-
em uma parcela significativa da população, de um grau de consen- dade, o prestígio e as qualidades pessoais de quem se encontra no
so capaz de assegurar a obediência sem a necessidade de recorrer vértice da hierarquia do Estado. Encontra-se, em todos os regimes,
ao uso da força, a não ser em casos esporádicos. É por esta razão embora em diferentes medidas, uma certa dose de personalização
que todo poder busca alcançar consenso, de maneira que seja re- do poder; como consequência deste fato, os homens nunca permi-
conhecido como legítimo, transformando a obediência em adesão. tem que o papel desenvolvido pelos seus chefes os faça esquecer
A crença na Legitimidade é, pois, o elemento integrador na relação suas qualidades pessoais. O que é essencial, porém, para distinguir
de poder que se verifica no âmbito do Estado. o poder legal e o tradicional do poder pessoal ou carismático (esta
célebre tripartição é de Max Weber) é isto: a Legitimidade do pri-
II. OS NÍVEIS DO PROCESSO DE LEGITIMAÇÃO. — Encarando o meiro tipo de poder tem seu fundamento na crença de que são
Estado sob o enfoque sociológico e não jurídico, constatamos que o legais as normas do regime, estabelecidas propositalmente e de
processo de legitimação não tem como ponto de referência o Esta- maneira racional, e que legal também é o direito de comando dos
do no seu conjunto, e sim nos seus diversos aspectos: a comunida- que detêm o poder com base nas mesmas normas; a Legitimida-
de política, o regime, o Governo e, não sendo o Estado independen- de do segundo tipo assenta no respeito às instituições consagradas
te, o Estado hegemônico a quem o mesmo se acha subordinado. pela tradição e à pessoa ou às pessoas que detêm o poder, cujo
Consequentemente, a legitimação do Estado é o resultado de um direito de comando é conferido pela tradição; a Legitimidade do
conjunto de variáveis que se situam em níveis crescentes, cada uma terceiro tipo tem seus alicerces substancialmente nas qualidades
delas cooperando, de maneira relativamente independente, para pessoais do chefe e, somente de forma secundária, nas instituições.
sua determinação. É, pois, necessário examinar separadamente as Este tipo de Legitimidade, pela sua ligação com a pessoa do chefe,
características destas variáveis que constituem o ponto de referên- tem existência efêmera, por não resolver o problema fundamental
cia da crença na Legitimidade. para a continuidade das instituições políticas, isto é, o problema da
a) A comunidade política é o grupo social, com base territorial, transmissão do poder.
que congrega os indivíduos unidos pela divisão do trabalho polí- d) Só nos resta examinar o caso do Estado, que, por não ser
tico. Este aspecto do Estado é objeto da crença na Legitimidade, independente, não está em condição de cumprir sua missão pri-
quando encontramos na população sentimentos difusos de identi- mordial de garantir a segurança dos cidadãos (e até o próprio de-
ficação com a comunidade política. No Estado nacional, a crença na senvolvimento econômico). Não temos, neste caso, um Estado no
Legitimidade é caracterizada, com maior evidência, por atitudes de sentido pleno da palavra, e sim um país conquistado, uma colônia,
fidelidade à comunidade política e de lealdade nacional. um protetorado ou um satélite de uma potência imperial ou hege-
b) O regime é o conjunto de instituições que regulam a luta pelo mônica. Uma comunidade política que se acha nesta situação en-
poder e o exercício do poder e o conjunto dos valores que animam contra grandes dificuldades para despertar a lealdade dos cidadãos
a vida destas instituições. Os princípios monárquico, democrático, por não ser um centro de decisões autônomas. Consequentemente,
socialista, fascista, etc, caracterizam alguns tipos de instituições, e sua Legitimidade encontrará suas bases de apoio, inteira ou parcial-
dos valores correspondentes, que se caracterizam como alicerces mente, na Legitimidade do sistema hegemônico ou imperial em que
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CONHECIMENTOS
se acha inserida. O ponto de referência da crença na Legitimidade cos, O necives ad arma veniant é o fim último da ação do Governo,
será, neste caso, inteira ou parcialmente, a potência hegemônica que tem por obrigação eliminar toda a guerra privada, dos duelos
ou imperial. às lutas civis, a fim de manter a paz, essencial para enfrentar a luta
com outros Estados na arena internacional. Externamente cabe ao
Soberania soberano decidir acerca da guerra e da paz: isto implica um sistema
I. DEFINIÇÃO. — Em sentido lato, o conceito político-jurídico de Estados que não têm juiz algum acima de si próprios (o Papa
de Soberania indica o poder de mando de última instância, numa ou o imperador), que equilibram suas relações mediante a guerra,
sociedade política e, consequentemente, a diferença entre esta e as mesmo sendo esta cada vez mais disciplinada e racionalizada pela
demais associações humanas em cuja organização não se encontra elaboração, através de tratados, do direito internacional ou, mais
este poder supremo, exclusivo e não derivado. Este conceito está, corretamente, do direito público europeu. A nível externo o sobe-
pois, intimamente ligado ao de poder político: de fato a Soberania rano encontra nos outros soberanos seus iguais, achando-se conse-
pretende ser a racionalização jurídica do poder, no sentido da trans- quentemente numa posição de igualdade, enquanto, a nível inter-
formação da força em poder legítimo, do poder de fato em poder no, o soberano se encontra numa posição de absoluta supremacia,
de direito. Obviamente, são diferentes as formas de caracterização uma vez que tem abaixo de si os súditos, obrigados à obediência.
da Soberania, de acordo com as diferentes formas de organização
do poder que ocorreram na história humana: em todas elas é pos- Ideologia
sível sempre identificar uma autoridade suprema, mesmo que, na I. PRELIMINAR. — Tanto na linguagem política prática, como
prática, esta autoridade se explicite ou venha a ser exercida de mo- na linguagem filosófica, sociológica e políticocientífica, não existe
dos bastante diferentes. talvez nenhuma outra palavra que possa ser comparada à Ideologia
II. SOBERANIA E ESTADO MODERNO. — Em sentido restrito, pela freqüência com a qual é empregada e, sobretudo, pela gama
na sua significação moderna, o termo Soberania aparece, no final de significados diferentes que lhe são atribuídos. No intrincado e
do século XVI, juntamente com o de Estado, para indicar, em toda múltiplo uso do termo, pode-se delinear, entretanto, duas tendên-
sua plenitude, o poder estatal, sujeito único e exclusivo da política. cias gerais ou dois tipos gerais de significado que Norberto Bobbio
Trata-se do conceito político-jurídico que possibilita ao Estado mo- se propôs a chamar de “significado fraco” e de “significado forte” da
derno, mediante sua lógica absolutista interna, impor-se à organiza- Ideologia. No seu significado fraco, Ideologia designa o genus, ou a
ção medieval do poder, baseada, por um lado, nas categorias e nos species diversamente definida, dos sistemas de crenças políticas:
Estados, e, por outro, nas duas grandes coordenadas universalistas um conjunto de ideias e de valores respeitantes à ordem pública e
representadas pelo papado e pelo império: isto ocorre em decor- tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos.
rência de uma notável necessidade de unificação e concentração O significado forte tem origem no conceito de Ideologia de Marx,
de poder, cuja finalidade seria reunir numa única instância o mo- entendido como falsa consciência das relações de domínio entre
nopólio da força num determinado território e sobre uma determi- as classes, e se diferencia claramente do primeiro porque mantém,
nada população, e, com isso, realizar no Estado a máxima unidade no próprio centro, diversamente modificada, corrigida ou alterada
e coesão política. O termo Soberania se torna, assim, o ponto de pelos vários autores, a noção da falsidade: a Ideologia é uma cren-
referência necessário para teorias políticas e jurídicas muitas vezes ça falsa. No significado fraco, Ideologia é um conceito neutro, que
bastante diferentes, de acordo com as diferentes situações históri- prescinde do caráter eventual e mistificante das crenças políticas.
cas, bem como a base de estruturações estatais muitas vezes bas- No significado forte, Ideologia é um conceito negativo que deno-
tante diversas, segundo a maior ou menor resistência da herança ta precisamente o caráter mistificante de falsa consciência de uma
medieval; mas é constante o esforço por conciliar o poder supremo crença política.
de fato com o de direito. Na ciência e na sociologia política contemporânea, predomi-
na nitidamente o significado fraco de Ideologia, tanto na acepção
A Soberania, enquanto poder de mando de última instância, geral quanto na particular. A primeira acepção se acha nas tenta-
acha-se intimamente relacionada com a realidade primordial e es- tivas mais acreditadas de teoria geral, tradicionais e inovadoras.
sencial da política: a paz e a guerra. Na Idade Moderna, com a for- Acha-se também na interpretação dos vários sistemas políticos e na
mação dos grandes Estados territoriais, fundamentados na unifica- análise comparada dos diversos sistemas. Encontra-se ainda na in-
ção e na concentração do poder, cabe exclusivamente ao soberano, vestigação empírica dirigida à averiguação dos sistemas de crenças
único centro de poder, a tarefa de garantir a paz entre os súditos de políticas como se apresentam nos estratos politizados ou na massa
seu reino e a de uni-los para a defesa e o ataque contra o inimigo dos cidadãos. Na acepção particular, aquilo que é «ideológico» é
estrangeiro. O soberano pretende ser exclusivo, onicompetente e normalmente contraposto, de modo explícito ou implícito, ao que
onicompreensivo, no sentido de que somente ele pode intervir em é “pragmático”. E o caráter da Ideologia é atribuído a uma crença,
todas as questões e não permitir que outros decidam: por isso, no a uma ação ou a um estilo político pela presença, neles, de certos
novo Estado territorial, são permitidas unicamente forças armadas elementos típicos, como o doutrinarismo, o dogmatismo, um for-
que dependam diretamente do soberano. te componente passional, etc, que foram diversamente definidos
Evidencia-se, assim, a dupla face da Soberania: a interna e a e organizados por vários autores. A este uso particular ou, melhor,
externa. Internamente o soberano moderno procede à eliminação a este grupo de usos particulares do significado fraco de Ideologia
dos poderes feudais, dos privilégios dos Estados e das categorias, se liga o tema do “fim” ou do “declínio das ideologias” nas socieda-
das autonomias locais, enfim dos organismos intermediários, com des industriais do Ocidente, originado entre os anos 50 e 60 pelas
sua função de mediador político entre os indivíduos e o Estado: isto interpretações de sociólogos como Raymond Aron, Daniel Bell e
é, ele procura a eliminação dos conflitos internos, mediante a neu- Seymour Martin Lipset, terminando, depois, num complexo e longo
tralização e a despolitização da sociedade, a ser governada de fora, debate que, em certos aspectos, dura ainda hoje.
mediante processos administrativos, antítese de processos políti-
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CONHECIMENTOS
O significado forte de Ideologia sofreu, por sua vez, singular pouco útil para o estudo empírico dos fenômenos políticos. Giovan-
evolução. Em Marx, Ideologia denotava ideias e teorias que são ni Sartori exprimiu com clareza este ponto de vista. “As discussões
socialmente determinadas pelas relações de dominação entre sobre a Ideologia”, escreve ele, “caem geralmente em dois grandes
as classes e que determinam tais relações, dando-lhes uma falsa setores: A Ideologia no conhecimento e/ou a Ideologia na política.
consciência. Na evolução sucessiva do significado da palavra, per- No que se refere à primeira área de indagação, o problema é se o
deu-se geralmente, salvo na linguagem polêmica da política práti- conhecimento do homem é condicionado ou distorcido ideologica-
ca, a conexão entre Ideologia e poder. Quanto ao mais, o destino mente e em que grau o pode ser. Quanto à segunda área de indaga-
deste significado de Ideologia foi centrado nas relações entre dois ção, o problema é se a Ideologia é um aspecto essencial da política
dos elementos constitutivos da formulação originária: o caráter da e, uma vez concluído que o seja, o que é que ela é e como pode ser
falsidade da Ideologia e a sua determinação social. De uma parte, explicada. No primeiro caso, a Ideologia ê contraposta à verdade,
manteve-se e se generalizou o princípio da determinação social do à ciência e ao conhecimento válido, em geral. No segundo caso, o
pensamento, com o resultado de perder de vista o requisito da fal- que importa não é o valor da verdade, mas, por assim dizer, o valor
sidade: a Ideologia se dissolveu no conceito geral da sociologia do funcional da Ideologia”.
conhecimento. De outra parte, manteve-se, generalizou-se e rein- A objeção que se pode apresentar contra esta posição é que,
terpretou-se o requisito da falsidade, com o resultado de perder na interpretação originária do conceito, ou seja, na interpretação
de vista a determinação social da Ideologia: o ponto de chegada é, de Marx, a falsidade e a função social da Ideologia não são reci-
neste caso, a crítica neopositivista da Ideologia. procamente independentes e sim estreitamente ligadas entre si. De
Na primeira direção, a virada fundamental foi feita por Karl uma parte, a falsa consciência, velando ou mascarando os aspectos
Mannheim, onde a crítica do uso polêmico, que Marx fez da palavra mais duros e antagônicos do domínio, tende a facilitar a aceitação
Ideologia, traz consigo, quase que inadvertidamente, o abandono da situação de poder e a integração política e social. De outra par-
da interpretação marxista da gênese social da Ideologia (as relações te, porque falsa consciência, a crença ideológica não é uma base
de dominação); e onde, sobretudo, com a passagem da noção de independente do poder e a sua eficácia e sua estabilidade depen-
“especial” para a de “geral” de Ideologia, a atenção se desloca para dem, em última análise, das bases efetivas da situação de domínio
o fenômeno muito generalizado da determinação social do pensa- (para Marx, as relações de produção). Ora, se a estas proposições
mento de todos os grupos sociais enquanto tais. Segundo Merton, se pode conferir um significado descritivo e empírico, mais do que
esta generalização, que envolve “não apenas o erro ou a ilusão ou polêmico-descritivo e meta-empírico, o conceito forte de Ideologia
a crença não autêntica, mas também a descoberta da verdade”, é torna-se, por isso mesmo, um conceito importante para o estudo
a “revolução copemicana” no campo da sociologia do conhecimen- científico do poder e portanto para o estudo científico da política. A
to. Do ponto de vista da criação da disciplina geral da sociologia averiguação do caráter ideológico de uma crença política permitiria,
do conhecimento, a observação de Merton é verdadeira. Mas, ao na verdade, tirar conclusões significativas sobre a relação de poder
mesmo tempo, não devemos omitir ou desmerecer o fato de que a que a crença se refere: por exemplo, sobre sua potencial confli-
a generalização da determinação social do pensamento foi toma- tualidade e sobre sua estabilidade.
da ao pé da letra e muito banalmente, produzindo uma concepção Por conseguinte, um discurso sobre o estado dos empregos e
que coloca no mesmo plano todas as crenças, limitando-se a julgar da utilidade do conceito de Ideologia na análise política não pode
igualmente verdadeiras todas as visões do mundo das diversas so- deixar de ocupar-se do significado forte da palavra, ao mesmo
ciedades, classes, igrejas, seitas, etc, e colocando definitivamente tempo que de seu significado fraco. É isto que faremos na parte
de lado o conceito de Ideologia no seu significado originário (por restante deste ensaio, que, por isso mesmo, será dividido em duas
ex., W. Stark, Sociology of knowledge, London, 1958, trad. ital., Mi- seções distintas. Na primeira, passaremos em resenha alguns dos
lano 1963). usos principais do significado fraco da Ideologia, tanto na acepção
Na segunda direção, a virada fundamental encontrasse no geral como na acepção particular; e lembraremos os aspectos mais
pensamento de Vilfredo Pareto, onde a crítica das Ideologias é, em importantes do debate que se acendeu em torno da tese “declínio
grande parte, uma crítica minuciosa e incansável da falsidade e dos das Ideologias”. Na segunda parte, examinaremos as perspectivas
tipos particulares de falsidade, das teorias sociais e políticas. Aí, atuais de uma reformulação do significado forte de Ideologia, de
também, em relação à gênese da Ideologia, o domínio social passa modo a convertê-lo num instrumento legítimo e promissor para a
para segunda ordem e deixa lugar para os instintos fundamentais ciência política; e mostraremos, em particular, os problemas que
da natureza humana. Segue-se daí que “aquilo que para Marx é um daí emergem, tomando esta direção de indagação em relação com
produto de uma determinada forma de sociedade, para Pareto tor- a estrutura da Ideologia, isto é, em primeiro lugar, em relação ao
na-se um produto da consciência individual”, objeto de uma análise seu caráter de “falsidade”.
psicológica (Bobbio, 1969, p. 117). Pareto abre, assim, o caminho
para a interpretação neopositivista, segundo a qual Ideologia de- Hegemonia
signa as deformações que os sentimentos e as orientações práticas I. O USO DO TERMO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. — Parte
de uma pessoa operam nas suas crenças, travestindo os juízos de da literatura política designa com o termo Hegemonia — decalque
valor sob a forma simbólica das asserções de fato. Deste modo, é latino da palavra grega egemonia, que significa “direção suprema”,
mantido o requisito da falsidade da Ideologia, mesmo se interpre- usada para indicar o poder absoluto conferido aos chefes dos exér-
tado de modo muito particular; mas perdeu-se completamente a citos, chamados precisamente egemónes, isto é, condutores, guias
sua gênese social. — a supremacia de um Estado-nação ou de uma comunidade políti-
Sendo as coisas deste modo, não é de surpreender que a ciên- co-territorial dentro de um sistema. A potência hegemônica exerce
cia política contemporânea tenda a pôr de lado o significado forte sobre as demais uma preeminência não só militar, como também
de Ideologia, relegando-o para o domínio da crítica ou da sociolo- frequentemente econômica e cultural, inspirando-lhes e condicio-
gia do conhecimento e considerando-o explícita ou implicitamente nando-lhes as opções, tanto por força do seu prestígio como em
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
de acordo com Max Weber, somente no Estado moderno podemos do direito de acordo com leis é a garantia de um tratamento igual
encontrar a concretização plena deste princípio. O Estado moderno, para todos os que pertencem à categoria definida na lei, liberta,
de fato, está se organizando como uma grande empresa, assumindo pois do perigo de existir um tratamento preferencial ou prejudicial
os meios de serviço que nos Estados anteriores pertenciam, como para este ou aquele indivíduo, este ou aquele grupo, o que aconte-
propriedade particular, aos que estavam investidos de funções pú- ceria num julgamento casuístico.
blicas. Temos aqui, pois, uma forma de poder que M. Weber chama
“legal e racional” e que, contrariamente à forma do poder tradicio- Representação Política
nal e do poder carismático, tem sua própria legitimidade no fato de O conceito de Representação política, tanto em suas implica-
ser definido por leis e exercido de conformidade com as leis que a ções teóricas como em suas traduções práticas, é sem dúvida um
definem. Para caracterizar o poder legal, também Max Weber re- dos elementos-chaves da história política moderna. Todavia se —
corre à contraposição entre poder definido por leis e poder pessoal: ao menos nas democracias ocidentais — a opinião corrente é ge-
enquanto na situação de poder tradicional é a pessoa do senhor ralmente concorde em identificar, nas assembleias parlamentares
que tem direito à obediência e na situação de poder carismático periodicamente eleitas, a expressão concreta da Representação
a pessoa do chefe, em se tratando de poder legal o cidadão deve política, o conteúdo exato desse conceito permanece bastante mais
obediência “ao ordenamento impessoal definido legalmente e aos controverso. Deste fato se pode dar uma dupla explicação. Antes de
indivíduos que têm funções de chefia neste ordenamento, em virtu- tudo, convém ter presente o fato histórico da representação. Fren-
de da Legalidade formal das prescrições e no âmbito das mesmas” te às significativas mudanças ocorridas por toda a parte nas outras
(Economia e società, trad. it. Milano 1961, I, p. 210). instituições políticas, particularmente nas executivas e em todo o
Como todas as ideias fundamentais da teoria política, tam- sistema político, ela apresenta, por seu lado, juntamente com ino-
bém o princípio de Legalidade não é uma ideia simples. Podemos vações relevantes (o fim da representação por camadas sociais, o
distinguir, pelo menos, entre três significações, de acordo com os sufrágio universal, a presença dos partidos de massa), importantes
diferentes níveis em que é considerada a relação entre a lei, vista elementos de continuidade que, em casos como o inglês, remon-
como norma geral e abstrata, e o poder. O primeiro nível é caracte- tam à Idade Média. Isto comporta, necessariamente, uma mutação
rizado pela relação entre a lei e a pessoa do príncipe: neste nível, no tempo da “posição relativa” da representação. Portanto, se nos
Governo da lei significa, conforme a fórmula de Bracton acima cita- fixarmos em tais funções e no aspecto exterior, os representantes
da, que o príncipe não é mais legibus solutus, consequentemente de hoje recordam muito os de ontem e de anteontem. Se porém
tem que governar não conforme seu próprio beneplácito, mas de aprofundarmos o papel que eles têm no sistema político, emergem
conformidade com leis a ele superiores, mesmo não se tratando profundas mudanças.
de leis positivas e sim consideradas de origem divina ou natural, ou A segunda explicação é de ordem semântica. Em todas as lín-
se tratando das leis fundamentais do país, cuja validade depende guas europeias, o verbo “representar” e o substantivo “representa-
da tradição ou do pacto constitutivo do Estado. O segundo nível ção” se aplicam a um universo muito vasto e variado de experiên-
é o da relação entre o príncipe e seus súditos: neste nível, a ideia cias empíricas. É compreensível, portanto, dada a polivalência da
do Governo das leis tem que ser interpretada no sentido de que os palavra, que, tratando-se daquela representação específica que é a
governantes devem exercer o próprio poder unicamente pela pro- Representação política, se evoque automaticamente uma multipli-
mulgação de leis, e só excepcionalmente através de ordenações e cidade de significados. É portanto oportuno examinar sucintamente
decretos, isto é, mediante normas que tenham validade para todos, quais são as indicações de significado que podem deduzir-se das
e não para grupos particulares ou, o que seria ainda pior, para indi- várias acepções da palavra que se encontram tanto na esfera do
víduos; normas, enfim, que, justamente pela sua abrangência geral, direito como na da política (os diplomatas são “representantes”, o
tenham como objetivo o bem comum e não o interesse particular chefe de Estado “representa” a unidade nacional, etc), e também
desta ou daquela categoria de indivíduos. O terceiro nível é o que em experiências bem mais distantes, como a experiência artística
diz respeito à aplicação das leis em casos particulares: neste nível figurativa ou a dramática. Substituir, agir no lugar de ou em nome
o princípio de Legalidade consiste em exigir dos juízes que definam de alguém ou de alguma coisa; evocar simbolicamente alguém ou
as controvérsias, a eles submetidas para apreciação, não com base alguma coisa; personificar: estes são os principais significados. Na
em juízos casuísticos diferenciados, isto é, conforme os casos espe- prática, podem dividir-se em: a) significados que se referem a uma
cíficos, mas com base em prescrições definidas na forma de normas dimensão da ação, — o representar é uma ação segundo determi-
legislativas. A expressão tradicional deste aspecto do princípio de nados cânones de comportamento; b) significados que levam a uma
Legalidade é a máxima: “Nullum crimen, nulla poena, sine lege”. dimensão de reprodução de prioridades ou peculiaridades existen-
Por outro lado, tomando como ponto de partida a distinção funda- ciais; representar é possuir certas características que espelham ou
mental existente entre o momento da produção e o momento da evocam as dos sujeitos ou objetos representados. Esta distinção é
aplicação do direito, podemos afirmar que em relação ao primeiro importante enquanto põe à luz as duas polaridades entre as quais
momento o princípio de Legalidade exprime a ideia da produção do se pode mover a própria Representação política segundo as situa-
direito através de leis, e que em relação ao segundo momento ex- ções e sua colocação no sistema político.
prime a ideia da aplicação de acordo com leis. Quer consideremos Estas indicações contudo não são de grande utilidade se an-
os três níveis quer consideremos os dois momentos, a importância tes não se individuar o que diferencia a Representação política das
do princípio de Legalidade consiste em garantir os dois valores fun- outras experiências, isto é, se não se identificar o que ela tem de
damentais cuja concretização forma a essência do papel do direito, proprium. O significado deste fenômeno se manifesta melhor se
o valor da certeza e o valor da igualdade (formal). A produção do observarmos como o regime político representativo se coloca em
direito através de leis, isto é, através de normas gerais e abstratas, oposição, por um lado, com os regimes absolutistas e autocráticos,
possibilita prever as consequências das próprias ações, liberta, pois, desvinculados do controle político dos súditos e, por outro, com a
da insegurança proveniente de uma ordem arbitrária: a aplicação democracia direta, ou seja, com o regime no qual, em teoria, de-
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CONHECIMENTOS
veria desaparecer a distinção entre governantes e governados. O (alimentação, reprodução, abrigo etc.) sem grandes dificuldades;
sentido da Representação política está, portanto, na possibilidade acostumado desde a infância às intempéries da natureza, à inten-
de controlar o poder político, atribuída a quem não pode exercer sidade das estações, à fadiga, a defender de mãos vazias e nu a si
pessoalmente o poder. Assim, pode ser satisfeita a exigência fun- mesmo e à sua prole de animais ferozes ou deles escapar correndo,
damental que desde as primeiras e incertas origens fez surgir a ins- valendo-se para isso apenas de seu próprio corpo, mostrava-se fisi-
tituição da representação, exigência expressa na Idade Média no camente robusto e ágil, muito mais do que qualquer homem pode-
axioma quod omnes tangit ab omnibus probari debet. Com base em ria ser nos tempos atuais; graças à sua robustez, praticamente não
suas finalidades, poderíamos portanto definir a representação com conhecia doenças, exceto os ferimentos naturalmente decorrentes
um “mecanismo político particular para a realização de uma relação da velhice; visto que a conservação de sua vida era praticamente
de controle (regular) entre governados e governantes. Devemos sua única preocupação, era natural que os sentidos mais desenvol-
partir deste núcleo para esclarecer os vários aspectos do fenômeno. vidos fossem aqueles mais diretamente voltados para esse objetivo
Em que relação estão as seguintes expressões: representação, regi- (subjugar a presa ou escapar de tornar-se uma), como a vista, a au-
me representativo? E quando é que a estas expressões correspon- dição e o olfato, ao passo que o tato e o paladar podiam permane-
dem não apenas inconsistentes aparências mas fenômenos reais da cer rudes. Em suma, a exemplo do que ocorre com os animais que,
vida política? uma vez domesticados, perdem força, vigor e coragem, também o
TRÊS MODELOS DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA. — No que tan- homem, no estado de natureza, é muito melhor fisicamente do que
ge ao conteúdo da função representativa e ao papel dos represen- no estado social.
tantes na bibliografia política foram longamente discutidos três mo- Do ponto de vista moral, ao contrário dos animais que se limi-
delos interpretativos alternativos. Vejamo-los: tam a seguir as regras prescritas pela natureza, o homem se cons-
1) a representação como relação de delegação; titui como agente livre, podendo escolher ou rejeitar essas regras.
2) a representação como relação de confiança; Assim, enquanto “um pombo morre de fome perto de uma
3) a representação como “espelho” ou representatividade so- vasilha cheia das melhores carnes, e um gato sobre uma porção
ciológica. de frutas ou de grãos, embora ambos pudessem nutrir-se com os
No primeiro modelo, o representante é concebido como um alimentos que desdenham, se procurassem experimentá-los”, o ho-
executor privado de iniciativa e de autonomia, das instituições que mem, dotado de vontade, é capaz não apenas de diversificar seus
os representandos-lhe distribuem; seu papel aproxima-se muito ao alimentos, como também de continuar a comer quando sua neces-
de um embaixador. Este modelo é de origem medieval e as moder- sidade natural já foi satisfeita, ainda que isso lhe cause prejuízo à
nas constituições estatais rejeitam-no fazendo proibição explícita saúde.
do “mandato imperativo”. Encontramo-lo comumente, entretanto, É justamente essa sua condição de agente livre, e a consciência
nas organizações e comunidades internacionais ou em entidades que possui dessa liberdade, uma das diferenças entre o homem e
políticas pouco integradas. os animais, segundo Rousseau.
O segundo modelo atribui ao representante uma posição de “A natureza manda em todo animal. O homem experimenta a
autonomia e supõe que a única orientação para sua ação seja o in- mesma impressão, mas se reconhece livre de aquiescer ou de resis-
teresse dos representados como foi por ele percebido. A esta con- tir; e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a
cepção de representação se referia Edmund Burke quando em sua espiritualidade de sua alma”.
obra Speech to the electors of Bristol descrevia o papel do repre- Outra característica distintiva do ser humano é a sua perfectibi-
sentante como um “trabalho de razão e de juízo” a serviço do “bem lidade, isto é, sua “faculdade de se aperfeiçoar”.
comum” e não do simples “querer” e dos “preconceitos locais”. Ao contrário do animal, que “é, no fim de alguns meses, o
O terceiro modelo — o da representação como espelho — di- que será toda a vida, e sua espécie, ao cabo de mil anos, o que
ferentemente dos dois primeiros é centrado mais sobre o efeito de era no primeiro desses mil anos”, o homem pode, com o auxílio
conjunto do que sobre o papel de cada representante. Ele concebe das circunstâncias, desenvolver suas potencialidades, as quais se
o organismo representativo como um microcosmos que fielmente encontram tanto no indivíduo quanto na espécie. Infelizmente, diz
reproduz as características do corpo político. Segundo uma outra Rousseau, é justamente essa capacidade distintiva e quase ilimitada
imagem corrente poderia ser comparado a uma carta geográfica. do homem para aperfeiçoar-se a fonte de todos os seus males, uma
vez que é ela a responsável por tirá-lo do estado de natureza no
qual ele “passaria dias tranquilos e inocentes”.
DO PENSAMENTO POLÍTICO E DA CIDADANIA NA HIS- Quanto aos valores morais, Rousseau considera que, no estado
TÓRIA DA FILOSOFIA de natureza, os homens não eram nem bons, nem maus, nem pos-
suíam vícios ou virtudes, uma vez que não havia entre eles nenhum
Homem Como Um Ser Da Natureza tipo de relação moral ou de deveres recíprocos. Na realidade, a
Segundo Rousseau2 (Discurso sobre a origem da desigualdade única virtude natural que possuíam era a piedade, entendida como
entre os homens), antes de existir no estado social, isto é, de viver uma “repugnância inata de ver sofrer seu semelhante”.
em sociedade, o homem existia no estado de natureza. Decorre daí a ideia do bom selvagem, frequentemente asso-
Do ponto de vista físico, esse homem primitivo, embora fosse ciada à teoria de Rousseau. Dessa virtude natural é que resultam as
menos forte e ágil em certos aspectos do que muitos animais, no virtudes sociais como a generosidade, a clemência, a humanidade,
conjunto levava vantagem sobre todos eles; a terra, naturalmente a benquerença e a comiseração.
fértil e coberta de florestas imensas “que o machado jamais mu- Essa piedade natural do homem opõe-se ao seu amor-próprio,
tilou”, lhe permitia satisfazer todas as suas necessidades naturais nele gerado pela razão e pela reflexão, típicas do estado de socie-
2 Texto adaptado de ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem da desigualdade dade. É por causa da reflexão que o homem é capaz de pensar pri-
entre os homens. http://www.humanidades.esy.es/desigualdade_rousseau.htm meiro em si e, vendo sofrer um seu semelhante, dizer: “Morre, se
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
Psicanálise e o Marxismo
A Psicanálise contribuiu com a ética ao confirmar a existência DAS REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE O TRABALHO E
de uma parte inconsciente nos homens. Isso faz com que alguns AS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS NO MUNDO
atos sejam atribuídos a essa parte inconsciente, cabendo assim um MODERNO E CONTEMPORÂNEO
julgamento ético diferenciado.
Vale frisar que não devemos considerar ética determinada ati- Trabalho é um conjunto de atividades realizadas, é o esforço
tude que antes era vista como antiética apenas pelo fato de ser fru- feito por indivíduos, com o objetivo de atingir uma meta. O trabalho
to do inconsciente humano. Entretanto esse ponto deve ser seria- também pode ser abordado de diversas maneiras e com enfoque
mente analisado antes de se obter o resultado de um julgamento. em várias áreas, como na economia, na física, na filosofia, a evolu-
O Marxismo vê o homem como ser produtor, criador, inventivo, ção do trabalho na história, etc4.
transformador, social e histórico. Dá especial atenção ao proletaria- É o trabalho que faz com que o indivíduo demonstre ações,
do, que segundo os marxistas dá origem a uma sociedade verdadei- iniciativas, desenvolva habilidades. É com o trabalho que ele
ramente humana. também poderá aperfeiçoá-las. O trabalho faz com que o homem
Essas vertentes éticas distinguem-se das duas citadas anterior- aprenda a conviver com outras pessoas, com as diferenças, a não
mente pelo fato de considerarem o outro em suas premissas. Não ser egoísta e pensar na empresa, não apenas em si.
se baseiam em um individualismo egoísta nem fazem generaliza- O trabalho faz com que o indivíduo aprenda a fazer algo com
ções sobre os fatos acontecidos. um objetivo definido, desde a época do trabalho escolar no colégio,
É bom lembrarmos também que todas as correntes da ética e com isso, o ser humano começa a conquistar seu próprio espaço,
contemporânea são contra o universalismo e o racionalismo respeito e consideração dos demais. Quando a pessoa realiza um
absoluto, e a favor do reconhecimento do irracional e da descoberta trabalho bem feito, também contribui para a sua autoestima, satis-
da ética dentro do próprio homem. Entretanto consideramos fação pessoal e realização profissional.
o Pragmatismo e o Existencialismo correntes demasiadamente Muitas pessoas se questionam a respeito da diferença entre
individualistas e pouco aplicáveis em nosso dia - a – dia, visto que o trabalho e emprego, sendo que algumas pessoas confundem os
somos animais sociais e não conseguimos viver fora desse ciclo dois conceitos. O trabalho é uma tarefa que não necessariamente
social. confere ao trabalhador uma recompensa financeira. O emprego é
um cargo de um indivíduo em uma empresa ou instituição, onde o
Neopositivismo e a Filosofia Analítica seu trabalho (físico o mental) é devidamente remunerado. O con-
Consideramos o Neopositivismo e a Filosofia Analítica como ceito de emprego é bem mais recente do que o de trabalho, e surgiu
sendo as duas correntes da mais completas da Ética Contempo- por volta da Revolução Industrial e se propagou com a evolução do
rânea. Sua atenção é voltada ao que hoje definimos como ética: capitalismo.
A análise da linguagem moral, tratando o homem como algo que
pode sim ser definido, defendendo também os conceitos de obri- Trabalho Infantil
gação, dever, justeza. Trabalho infantil é o trabalho exercido por crianças e adoles-
A partir dessas correntes, que aceitam o homem como ser so- centes, que estejam abaixo da idade mínima legal permitida para o
cial, e que assume a liberdade como algo que deve ser aproveita- trabalho, e isso pode variar de cada país. No Brasil, qualquer criança
do juntamente com o outro, e que defende os direitos essenciais ou adolescente, que trabalhe com menos de 16 anos, é considerado
à todos os seres humanos, como o direito à vida e à educação, é trabalho infantil, que é proibido por lei.
que tomamos a liberdade de criticar alguns hábitos e costumes que Além do trabalho infantil ser proibido, qualquer forma de tra-
não consideramos fundamentos cabíveis a construção de uma ética balho que seja cruel ou nociva, como tortura e maus tratos, tam-
racional global. bém constituem crime.
O famoso “jeitinho brasileiro”, e inúmeros outros costumes
mundiais devem sim ser repensados para que possamos chegar a Trabalho em Equipe
um mundo onde o fim último de todas nossas ações possa ser al- Trabalho em equipe é quando um grupo realiza um esforço co-
cançado: A felicidade. Assim como vários hábitos devem ser arrai- letivo para atingir um objetivo ou solucionar um problema. Traba-
gados em diferentes tipos de moral, já que são considerados como lho em equipe é um tema muito debatido em organizações, pois
virtudes éticas por todos aqueles que os presenciam. acredita-se que todos os funcionários devem saber trabalhar em
O que não podemos é nos acomodar nessa zona de conforto, equipe, para atingir metas mais rápidas.
pretendendo manter esse status quo que por tanto tempo tomou Saber trabalhar em equipe é uma característica muito impor-
conta de nossa sociedade e de nossas vidas. O importante é que tante nos dias atuais, uma vez que facilita a convivência, faz com
haja um movimento a favor da mudança, um esforço para melhorar, que as tarefas sejam realizadas de forma mais eficiente e com muito
fazendo da filosofia e da ética nossas armas de combate, para que mais agilidade.
assim cheguemos o mais próximo da tão esperada justa-medida, Trabalho em equipe é também muito importante nos esportes.
novamente citando Aristóteles. Esportes como o futebol, basquete, vôlei, e muitos outros, precisam
do trabalho em equipe de todos, para atingir o objetivo que é a
vitória nas partidas.
4 https://bit.ly/2j76Od5
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
Diferentemente do fordismo que está destinado para fabrica- duplicaremos o poder aquisitivo para esses bens.” Dentro dessa li-
ção de produtos padronizados e homogêneos em grande quanti- nha de ideias, o aparecimento de desempregados em certas épocas
dade e para mercados de massa em que os consumidores não se era explicado como a resultante de um desajustamento temporá-
distinguem. A produção flexível oferece produtos específicos para rio. O ajustamento (ocupação da força de trabalho desempregada)
públicos distintos. Os produtos podem ser carros adaptados ou ocorreria quando os trabalhadores decidissem aceitar voluntaria-
personalizados, softwares para empresas segundo sua necessida- mente os salários mais baixos oferecidos pelos empresários.
de, calçados, móveis, objetos, acessórios personalizados de acordo
com a vontade do consumidor. Teorias
Isso é possível, principalmente, devido, as tecnologias basea- John Maynard Keynes contestou essas afirmações, negando
das na computação. Desse modo, o domínio da informática ganha que haja um ajustamento automático para o pleno emprego no re-
cada vez mais importância no mundo do trabalho. gime da propriedade privada dos meios de produção. Afirmam os
- Produção em grupo: Ao contrário do fordismo, em que as em- keynesianos que a lei do mercado dos clássicos, segundo a qual “a
presas tinham uma gerência que funcionava como uma espécie de oferta cria a sua própria procura”, é ilusória e que o pleno emprego
“cérebro da empresa”, que pensava todas as etapas da produção, é uma situação excepcional, de pouca duração e raramente atingi-
na acumulação flexível, a tendência é que os grupos de trabalha- da. Para Keynes, é a procura efetiva que determina a maior produ-
dores colaborem no desenvolvimento de todo o processo de pro- ção e em consequência o mais alto nível de emprego, enquanto a
dução. A atividade do trabalhador não se resume mais à execução produção global nem sempre encontra procura efetiva. “Quando a
de uma tarefa repetitiva e exaustiva: deve também ajudar a propor procura efetiva é insuficiente, o sistema econômico se vê forçado a
soluções para a empresa. contrair a produção”, o que resulta no desemprego. “Não há meio
- Trabalho em equipe: Ao invés de ter um cargo definido, com de assegurar maior nível de ocupação, a não ser pelo aumento do
um conjunto fixo de tarefas a serem realizadas, o trabalhador deve consumo.” A procura efetiva estaria na dependência da renda real,
enfrentar situações distintas em grupos colaborativos. ou seja, do efetivo poder de compra da comunidade, e o subconsu-
Forma-se um grupo para realizar um projeto e, logo depois, mo, causador do desemprego, seria consequência do fato de que
dissolve-se esta equipe, deslocando seus membros para novos pro- “uma parte excessivamente grande do poder de compra fica com
jetos. Ex: agências de publicidade, projetos de engenharia, grupos os beneficiários de rendas importantes”, como disse Bertrand de
de pesquisa, etc. Jouvenel.
- Habilidades múltiplas: Como dito anteriormente, a participa- Marx também formulou uma lei da população para explicar
o desemprego. Chamou-a de “lei capitalista do desemprego”, e a
ção do empregado não é mais exigida somente em uma única tarefa
considerou uma consequência da propriedade privada dos meios
repetida à exaustão, mas em uma variedade de tarefas. Por isso, o
de produção. Segundo ele, na sociedade burguesa a acumulação
mercado exige um empregado capaz de resolver problemas e pro-
do capital faz com que uma parte da população operária se torne
por ideias criativas.
inevitavelmente supérflua. É eliminada da produção e condenada à
As decisões em relação à contratação de um funcionário não
fome. Essa “superpopulação relativa” toma diferentes nomes, se-
são mais baseadas exclusivamente na sua escolarização e qualifi-
gundo os aspectos que apresenta:
cações, mas na capacidade desse funcionário de se adaptar e ad-
- Superpopulação flutuante, constituída pelos operários que
quirir novas habilidades com rapidez. (Isso não quer dizer que não perdem seu trabalho por certo tempo, em consequência da queda
devemos nos qualificar, ao contrário, quer dizer que devemos estar da produção, do emprego de novas máquinas, do fechamento de
constantemente nos atualizando, dominando novos recursos). empresas. Com o incremento da produção, uma parte desses de-
sempregados volta a se empregar; e também consegue emprego
Emprego e Desemprego na Atualidade uma parcela dos novos trabalhadores que alcançaram a idade pro-
Ter um emprego não só constitui o principal recurso com que dutiva. O número total dos operários empregados aumenta, mas
conta a maioria das pessoas para suprir suas necessidades mate- numa proporção decrescente em relação ao aumento da produção.
riais como também lhes permite plena integração social. Por isso, - Superpopulação latente, constituída pelos pequenos produto-
a maior parte dos países reconhece o direito ao trabalho como um res arruinados e principalmente pelos camponeses pobres e pelos
dos direitos fundamentais dos cidadãos. operários agrícolas que estão ocupados na agricultura somente du-
Emprego é a função e a condição das pessoas que trabalham, rante parte do ano. Ao contrário do que ocorre no setor industrial, o
em caráter temporário ou permanente, em qualquer tipo de ativi- progresso técnico na agricultura provoca uma diminuição absoluta
dade econômica, remunerada ou não. Por desemprego se entende da demanda de mão-de-obra.
a condição ou situação das pessoas incluídas na faixa das “idades - Superpopulação estagnada, constituída pelos grupos numero-
ativas” (em geral entre 14 e 65 anos), que estejam, por determi- sos de pessoas que perderam definitivamente seu emprego e cujas
nado prazo, sem realizar trabalhos em qualquer tipo de atividade ocupações irregulares são pagas muito abaixo do nível habitual de
econômica, remunerada ou não. salário. Encontram-se entre esses os trabalhadores domésticos e os
As possibilidades de emprego que os sistemas econômicos po- que vivem de trabalho ocasional.
dem oferecer em certo período relacionam-se com a capacidade de
produção da economia, com as políticas de utilização dessa capaci- Classificação
dade e com a tecnologia empregada na produção. Costuma-se classificar o desemprego segundo sua origem:
Os economistas clássicos entendiam que o estado de pleno em- - Desemprego estrutural, característico dos países subdesen-
prego dos fatores de produção (entre eles o trabalho) era normal, volvidos, ligado às particularidades intrínsecas de sua economia. Ex-
estando a economia sempre em equilíbrio. John Stuart Mill dizia: plica-se pelo excesso de mão-de-obra empregado na agricultura e
“Se pudermos duplicar as forças produtoras de um país, duplicare- atividades correlatas e pela insuficiência dos equipamentos de base
mos a oferta de bens em todos os mercados, mas ao mesmo tempo que levariam à criação cumulativa de emprego.
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CONHECIMENTOS
- Desemprego tecnológico, que atinge sobretudo os países mais adiantados. Resulta da substituição do homem pela máquina e é
representado pela maior procura de técnicos e especialistas e pela queda, em maior proporção, da procura dos trabalhos meramente
braçais.
- Desemprego conjuntural, também chamado desemprego cíclico, característico da depressão, quando os bancos retraem os créditos,
desestimulando os investimentos, e o poder de compra dos assalariados cai em consequência da elevação de preços.
- Desemprego friccional, motivado pela mudança de emprego ou atividade dos indivíduos. É o tipo de desemprego de menor signifi-
cação econômica.
- Desemprego temporário, forma de subemprego comum nas regiões agrícolas, motivado pelo caráter sazonal do trabalho em certos
setores agrícolas.
Exército de Reserva
Thomas Robert Malthus, economista inglês do século XVIII, atribuiu o desemprego a leis eternas da natureza. De acordo com a sua “lei
da população”, desde a origem da sociedade humana a população aumenta em progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32...) e os meios de
subsistência, dado o caráter limitado das riquezas naturais, aumentam em progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6...). Esta, segundo Malthus,
é a causa original dos excedentes de população, de fome e de miséria. Segundo Malthus, para se libertar da miséria e da fome o proleta-
riado deveria reduzir artificialmente os nascimentos.
A desocupação de uma percentagem de três por cento da força de trabalho é considerada nos países capitalistas como desemprego
mínimo ou normal e só acima desse índice é que se fala em desemprego. Há quem considere essa quota como necessária ao desenvolvi-
mento da indústria. Os defensores dessa tese afirmam que uma certa porcentagem de desemprego é salutar à economia, por constituir
uma reserva de mão-de-obra para a expansão industrial. E alegam que nos períodos de recuperação e avanço industrial, quando o cresci-
mento rápido da produção se impõe, uma quantidade suficiente de empregados estará à disposição dos empresários.
Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem na sua vertente social tem uma relação de interação e dependência
com o outro. Por esse motivo, o “eu” na sua forma individual só pode existir através de um contato com o “outro”.
Quando é possível verificar a alteridade, uma cultura não tem como objetivo a extinção de uma outra. Isto porque a alteridade implica
que um indivíduo seja capaz de se colocar no lugar do outro, em uma relação baseada no diálogo e valorização das diferenças existentes.
Por essa definição alteridade teria o mesmo significado de empatia?
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CONHECIMENTOS
Para o sociólogo francês Claude Dubar, a identidade de alguém é aquilo que ele tem de mais particular. O indivíduo a constrói pelos
processos de socialização (primária e secundária), inicialmente pela família e, posteriormente, por grupos sociais (na escola, nos clubes,
no trabalho etc.). De maneira que, as identidades podem ser observadas em duas temporalidades, a identidade para si e a identidade para
os outros.
À primeira vista, o título deste texto5 levanta uma questão: existe realmente uma filosofia dos Direitos Humanos? A filosofia sempre
se apresentou como a ciência dos princípios últimos, o que lhe reserva um lugar privilegiado diante das outras disciplinas.
Pode-se fazer filosofia de tudo: filosofia da ciência, do direito, da política, inclusive, filosofia dos direitos humanos. O que se pretende
com a epígrafe filosofia dos Direitos Humanos não passa de uma tentativa de buscar as razões últimas daqueles chamados Direitos Fun-
damentais da pessoa humana, aos quais se referem tantas declarações, como a nossa Constituição de 1988. O início do Art. 5 de nossa
Carta Magna declara: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
[...]”. A pergunta que todo “espírito filosófico” faz é: Por que todos são iguais perante a lei? O que fundamenta essa igualdade de
direitos à vida, à liberdade, à segurança etc.? É a lei que me faz igual a todos ou a lei apenas reconhece essa igualdade? Que direito tem
o Estado de punir o indivíduo que desrespeita esses direitos? Todas essas perguntas são refletidas no âmbito da filosofia e, sem esta, o
debate sobre os Direitos Humanos perderia aquela profundidade especulativa que nenhuma outra ciência pode oferecer. Neste artigo,
apresento um tipo de filosofia que afirma ser possível uma fundamentação última dos Direitos Humanos e, a partir dela, traço as relações
destes com os direitos civis e o poder estatal.
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CONHECIMENTOS
Direitos humanos e fundamentação filosófica ela sempre foi a ciência dos princípios. Embora essa visão de filoso-
A reflexão sobre os Direitos Humanos está estreitamente re- fia tenha seus críticos, vale ressaltar que nenhuma ciência empírica
lacionada à ideia do ser humano que uma sociedade fomenta. Di- pode fornecer uma fundamentação última de princípios. Se justifi-
ferentes culturas apresentam uma pluralidade de visões a respeito car princípios é possível, então somente à filosofia competirá essa
dos direitos da pessoa, o que nos leva a questionar se seria possível função.
a pretensão de universalidade elaborada pelos países ocidentais. A No debate sobre os Direitos Humanos, a ela pertence a especí-
pergunta crucial de nosso tempo traduz-se em: é possível, na diver- fica tarefa de fundamentar de forma universalmente válida aquele
sidade cultural na qual nos inserimos chegar a um consenso sobre princípio básico de onde emergirá o direito essencial do homem, a
quem seja o ser humano e, desta forma, garantir direitos funda- saber: a dignidade humana.
mentais válidos para todas as culturas e povos? Podemos chegar a O que é o ser humano segundo a filosofia aqui defendida?
um consenso sobre o que é o homem para além de suas vicissitudes Resposta: um ser que pensa! Ser capaz de pensamento constitui a
históricas? raiz daquela dignidade que nenhum outro ser possui. Afirmar que
A pergunta sobre aquilo que é comum a todos os homens e o homem é um ser pensante por natureza parece não constituir
que, ao mesmo tempo, nos diferencia dos outros seres não encon- nenhuma novidade. Torna-se vazia a palavra pensamento se não a
tra resposta apenas nas ciências naturais. A Física e a Química sozi- contextualizamos ou precisamos seu sentido. Pensar significa refle-
nhas não são suficientes para apontar as diferenças essenciais exis- tir, ou seja, dobrar-se sobre si mesmo ou sobre o mundo. De fato,
tentes entre o ser humano e, por exemplo, uma pedra. Ambos têm somente o homem tem consciência de si e do mundo que o cerca.
elementos físico-químicos iguais e, mesmo que existam elementos No dizer de Pascal, o homem supera todo o universo pelo pensa-
diferenciais dessa natureza, esses não constituem aquilo que essen- mento:
cialmente nos distingue enquanto seres humanos. Nem a biologia O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza,
tem mais sorte. Aquilo que nos distingue biologicamente dos gran- mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro
des primatas, como orangotangos, chimpanzés e gorilas não é mais se arme para esmagá-lo. Um vapor, uma gota d’água, é o bastante
que 1,4%, ou seja, 98, 6% de nosso DNA são semelhantes ao desses para matá-lo. Mas, quando o universo o esmagasse, o homem seria
macacos. ainda mais nobre do que o que o mata, porque sabe que morre; e a
A diferença é 10 vezes menor do que aquela entre um camun- vantagem que o universo tem sobre ele, o universo a ignora. Toda a
dongo e um rato. Não estamos aqui negando a contribuição dessas nossa dignidade consiste, pois, no pensamento.
ciências, apenas relativizando-a na elaboração de uma ideia comum Descartes também afirmava: “Sou uma coisa que pensa, isto é,
sobre quem é o homem. Aquilo que determina o homem enquanto que duvida que afirma que nega que conhece poucas coisas, que
homem não se constitui objeto direto das ciências naturais, mas das ignora muitas, que ama que odeia que deseja que não deseja que
ciências do espírito, entre as quais, a Filosofia. imagina também e que sente”.
As características fundamentais que distinguem o homem dos O pensamento constitui, portanto, o diferencial do homem que
outros seres e os unem entre si podem ser resumidas em duas: o distingue dos outros seres e, para além de qualquer arrogância
inteligência e vontade livre. Ambas são pressupostas por todas as antropocentrista, garante seu lugar privilegiado na natureza.
ciências, mas tematizadas especialmente pela Filosofia. Nenhuma A reflexão ou a capacidade de reflexão pode ser aplicada ao
outra ciência senão a filosofia procura as razões últimas de ques- homem de forma universal. Essa premissa tem seus opositores. Se
tões do tipo: o que é o pensamento humano? Somos realmente o pensar é o fundamento da dignidade da pessoa humana, o que
seres livres? Inteligência e liberdade são características reduzíveis dizer de seres humanos com deficiências mentais, seres humanos
a fenômenos físico-químicos ou possuem um estatuto ontológico em coma profundo ou mesmo de crianças? Possuem estes uma dig-
próprio? Não vamos entrar aqui na atual discussão sobre a possibi- nidade humana, uma vez que não exercem ou não podem exercer
lidade de uma redução da inteligência e liberdade a estados neuro- a reflexão? Eles detêm direitos humanos? O problema em saber
nais; discussão bastante pontual, que, porém extrapola os objetivos quem são os legítimos portadores da dignidade e, consequente-
deste artigo. mente, dos direitos humanos traz bastante discussão e implica con-
Nossa visão pressupõe que estados mentais (inteligência e sequências político-ético-sociais importantes.
vontade livre) não se reduzem a estados neuronais. Tal pressuposto Afirmo aqui que os portadores legítimos da dignidade humana
desvela o vasto campo do espírito humano, que fundamenta todo e são todos os seres que pertencem geneticamente à espécie huma-
qualquer discurso sobre os chamados Direitos Humanos. O adjetivo na. A diferença entre pessoa humana e ser humano não constitui
humano revela que esses direitos são radicados numa natureza co- nenhuma ruptura. Uma é consequência da outra. Somente seres
mum da qual participam seres concretos e históricos. A expressão humanos podem desenvolver-se como pessoa humana, ou seja,
natureza humana talvez esteja em desuso. Podem-se até utilizar somente estes podem desenvolver uma inteligência e vontade li-
outros termos como razão, condição humana etc. Nesse sentido, vre. No entanto, nem todo ser humano desenvolve as capacidades
não se pode negar que homens e mulheres concretos são caracte- de pensamento e liberdade. Pensemos em crianças especiais. Esse
rizados pelos traços essenciais da inteligência e vontade livre, ainda fato empírico não significa que existem seres humanos que não são
que esses se apresentem de formas variadas. pessoas, pelo menos em potência. Todo ser humano é uma pessoa,
Se a elaboração de uma ideia comum sobre o homem cons- seja em ato ou em potência.
titui tarefa primordial da filosofia, especialmente da Antropologia Isto quer dizer que há pessoas humanas que não puderam, não
filosófica, tanto mais o será o problema da validade universal de podem e nem poderão desenvolver as faculdades da inteligência
tal ideia. Como pode uma ciência arrogar o direito de validade uni- e vontade livre devido a algum motivo contingente, físico ou bio-
versal de sua visão de homem? Esse é um dos grandes desafios de lógico.
nosso tempo e exige muito diálogo, abertura e esforço intelectual.
A contribuição da filosofia neste aspecto sobrepõe-se, uma vez que
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
quiserem ser coerentes com sua visão universal de Direitos Huma- Locke e os movimentos democráticos, entre eles a Revolução
nos, cuja validade é fundada na dignidade humana e não somente Francesa de 1789, cujo fruto foi a Déclaration des droits de l´hom-
nas leis de um Estado concreto. me et du citoyen (Declaração dos direitos do homem e do cidadão),
O papel da Lei ou de um Estado de Direito não seria o de criar ajudaram a superar o absolutismo de Hobbes, mas seu positivismo
os direitos fundamentais, mas somente o de reconhecer publica- puro parece ainda perdurar. Deve uma lei estar submetida a con-
mente sua validade. Entendido dessa forma, podemos afirmar que cepções morais? Pode-se ainda abordar um Direito Natural capaz
Direitos Humanos não podem ser reduzidos a Direitos Civis. de orientar o Direito Positivo? Os positivistas negam que exista uma
Aqueles têm uma validade universal enquanto estes valem so- instância ética supralegal reguladora do direito positivo. Outros
mente no limite de um Estado concreto. Direitos Humanos devem filósofos e juristas procuram ressuscitar aquele chamado Direito
se transformar em Direitos Civis, ou seja, devem alcançar um re- Natural (ética) como fundamento do Direito Positivo e sustentam
conhecimento estatal e, dessa forma, serem defendidos pela força que alguns Direitos do homem não valem somente no âmbito legal,
da Lei. O ideal seria que tivéssemos um “Estado de Direito univer- mas também moral. Para estes, Direitos Humanos fazem parte do
sal” onde Direitos Humanos seriam plenamente reconhecidos e, mundo ético e devem ser assegurados pela lei positiva. Qualquer
somente assim, poder-se-ia falar de uma identificação dos Direitos lei positiva que fira esses direitos éticos fundamentais deveria ser
Humanos com Direitos Civis. Mas, mesmo nesse “Estado ideal”, não considerada ilegítima, mesmo se outorgada por uma autoridade
poderíamos dizer que os Direitos Humanos são válidos porque são competente. Dessa forma, não seria a autoridade aquela instância
reconhecidos legalmente. Direitos Humanos valem não porque haja última que legitimaria as leis fundamentais (isto é, leis que assegu-
um consenso sobre eles, mas por serem baseados na dignidade hu- ram os direitos básicos da pessoa), mas a dignidade humana ine-
mana. Porque são direitos humanos é que devem se tornar lei e não rente a cada cidadão. A ética tornar-se-ia, nessa visão, a instância
o contrário. reguladora do Direito positivo. Legisladores poderiam certamente
A Lei que assegura o respeito aos Direitos Humanos não tem, elaborar leis amorais que regulamentem situações concretas; não
portanto, sua legitimação última no puro consenso dos legislado- teriam, todavia, o poder de elaborar leis imorais que contradigam
res. O consenso integra o rol daquelas características que compõem normas éticas básicas.
uma lei justa, mas não pode ser o critério decisivo. As leis, pelo me-
nos aquelas que asseguram o respeito aos Direitos Humanos, de- Direitos humanos e política
vem ter seu fundamento na Ética. Até o presente procurei esclarecer a relação entre Direitos
A relação entre Ética e Direito é bastante discutida desde a Humanos, Filosofia e Direito. Importa ainda refletir sobre a função
Metafísica dos Costumes de I. Kant. Para o referido filósofo, a mo- do Estado no que diz respeito aos direitos fundamentais da pessoa
ral diz respeito à consciência do indivíduo e a lei deve assegurar o humana, ou seja, faz-se mister tematizar a relação entre Direitos
bem moral na esfera pública através da força estatal. O Direito seria, Humanos e Política. Do ponto de vista puramente histórico, deve-se
portanto, complementar à Moral ao mesmo tempo em que deveria reconhecer que os Direitos Humanos desenvolveram-se em oposi-
submeter-se a ela. Não é o caso para Kant que todo o sistema ju- ção ao Estado absolutista. Proteger o indivíduo contra os abusos do
rídico deva ser moralizado. Existem leis que não têm ligação direta Império fora uma das maiores conquistas jurídicas no início da época
com moral, a exemplo da regulamentação das leis de trânsito. Ou moderna. Tendo início na Inglaterra do século 17, o movimento em
seja, há leis que podem ser obviamente amorais, porém não podem favor dos direitos individuais foi avançando até culminar nos docu-
existir leis que sejam imorais. mentos declarativos dos direitos básicos como foram a Magna Charta
A ruptura entre ética e direito acontece de forma patente so- de 1679, a Bill of rights de 1689, a Virginia bill of rights de 1776 e a
mente com Thomas Hobbes, para quem a Lei não deve conhecer Déclaration des droits de l´homme et du citoyen de 1789. Todos es-
outro fim senão a utilidade. Para esse filósofo, os homens são racio- ses documentos se dirigiam ao Estado como tentativa de proteger o
nalmente egoístas e querem sobremaneira salvaguardar suas vidas indivíduo diante dos abusos do poder político. O Estado sempre foi o
em confronto com os outros. Da necessidade de sobreviver surge a outro lado da “relatio ad alterum” dos Direitos Humanos.
figura do Leviatã (o Estado). Como exemplo do afirmado acima, pode-se citar uma das pri-
Os cidadãos saem daquela situação primitiva de conflito através meiras conquistas legais do “direito de ir e vir” que nasceu contra os
de um Pacto Social que dá todos os poderes e direitos individuais ao abusos do Império inglês, que prendia cidadãos de forma arbitrária.
Estado, único capaz de salvaguardar o interesse de todos através da Desse fato nasceu o ato jurídico da Magna Charta de 1679, expres-
Lei. Toda lei, segundo Hobbes, deve ajudar ao Estado a garantir seu so no art. 5, inciso LXVIII, chamado de habeas corpus. A ordem de
poder e assegurar a justiça entre os indivíduos. Ético será aquilo que prisão era dada com a seguinte frase: “Habeas corpus ad subicien-
servir às necessidades práticas do governo. Isto significa: quem faz dum” e significava que o império teria o poder sobre o corpo do in-
a lei não é a verdade ou o bem, mas a autoridade. Dela emana toda divíduo para submetê-lo à justiça. O ato jurídico contra uma ordem
e qualquer lei válida, não importando alguma relação com a ética de prisão arbitrária, chamado depois de habeas corpus, declarava:
em sentido clássico. Com a Ética, desaparece aquela instância nor- “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se
mativa fundante e reguladora das leis que existia no pensamento achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
clássico até Kant. O Leviatã se reveste assim de traços divinos que, locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. O império, a partir
por meio de sua vontade, estabelece o que é bem e o que é mal. de então, já não podia dispor da liberdade de “ir e vir” do cidadão
Hobbes não consegue explicar, porém, por que o Estado tem o sem estar fundamentado em razões pertinentes.
direito de colocar a vida dos cidadãos em perigo (no caso de guer- Por causa disso, a “Magna Charta” é considerada um dos pri-
ra), se sua obrigação é a de preservar a vida deles! A crítica de John meiros passos em direção à declaração universal dos Direitos Hu-
Locke torna-se aceitável, pois, conforme ele, não se pode entender manos afirmado por países pertencentes à ONU em 1948, quase
por que alguém que teme perder a vida diante de lobos vai se atirar 160 anos depois da Declaração feita após a Revolução Francesa con-
nos braços de um leão! tra o absolutismo dos reis na França.
39
CONHECIMENTOS
Mas o Estado não representa somente aquele “Leviatã” que fendê-los e promovê-los com força estatal? Como mostrado acima,
pode massacrar o indivíduo através da força. Ele é também a instân- o consenso não constitui uma condição suficiente para a validade
cia que protege o indivíduo dos abusos de outros indivíduos. Esta última de certos direitos básicos. É preciso mostrar a inteligibilidade
é a concepção de Hobbes. O problema da visão hobesiana é que o destes, isto é, sua fundamentação racional e o valor intrínseco da
Estado suga dos sujeitos qualquer direito que eles possuam. Este dignidade humana. Admite-se, por exemplo, que pessoas podem
é o preço que o cidadão tem que pagar para ver-se protegido dos entrar em acordo sobre um mal moral.
outros e conseguir sobreviver. O absolutismo de Hobbes protegia O acordo entre um sadista e um masoquista de provocarem e
o indivíduo de outros indivíduos, mas não os protegia do próprio receberem dores corporais não pode ser visto como algo legítimo,
Estado, que dispunha da vida do cidadão de forma arbitrária. A ainda que ambos estejam de acordo sobre isso. Além do consenso,
Magna Charta significou então uma afirmação do sujeito e de seus faz-se mister o respeito à dignidade humana. Esta constitui a instân-
direitos intocáveis, que não podem ser simplesmente transferidos cia objetiva que deve pautar qualquer ato, consenso ou lei.
para o Estado. Esta é a visão de J. Locke, para quem o Estado não O Estado democrático não produz os Direitos Humanos através
é o detentor, mas apenas o representante dos direitos do cidadão. do consenso. Ao invés, ele pressupõe esses direitos, deve reconhe-
Como representante, o Estado constitui a única instância legí- cê-los através da Lei, defendê-los e promovê-los com a força estatal.
tima a quem é permitido utilizar da violência para proteger os cida- Na visão da filosofia aqui defendida, o Estado não pode ser reduzido
dãos. O Direito serve ao Estado como instrumento legítimo para tal. a um Estado positivista que produz a lei como “Deus cria o céu e a
Estar fundado na Lei revela-se a característica principal do Estado terra”. A função do Estado consiste, sobretudo, em reconhecer o va-
moderno, ou seja, ele é um Estado de Direito. Estado sem Direito lor da dignidade humana e produzir todos os meios legítimos para
constituiria uma tirania, da mesma forma que o Direito sem a força assegurar que todo homem e mulher cidadãos sejam respeitados e
coercitiva do Estado mostraria sua inutilidade. É nessa conjuntu- se respeitem mutuamente. As funções do Direito e da Política são
ra política que se pode afirmar que o Estado de Direito é a maior complementares à Ética, onde os Direitos Humanos têm sua mora-
garantia do respeito aos Direitos Humanos. Pressuposto para isso da. Em poucas palavras: porque são direitos humanos é que devem
será, sem dúvida, o reconhecimento social e a investidura legal des- se tornar direitos civis e, consequentemente, devem ser defendidos
tes direitos. Somente a partir daí é que eles podem ser defendidos pelo Estado.
e promovidos através da força estatal. No que concerne à forma
de organização estatal, faz-se ainda mister dar uma palavra sobre a Uma estrada difícil, mas necessária
relação entre Direitos Humanos e Democracia. A discussão sobre os Direitos Humanos não é fácil, nem den-
Os direitos fundamentais da pessoa foram elaborados contra o tro de um Estado de Direito, muito menos entre Estados com di-
absolutismo dos reis. ferentes organizações políticas. Perguntas teóricas emergem nesse
Dessa situação é que surgiram os movimentos democráticos. debate: o que são Direitos Humanos? Quem são os portadores de
Isto nos faz pensar que existe uma relação intrínseca entre Demo- tais direitos?
cracia e Direitos Humanos. Seria possível o desrespeito aos Direitos Como fundamentá-los racionalmente? Todas elas exigem diá-
Humanos numa democracia? Nada mais fácil de responder! Sim, é logo e paciência. A finalidade do diálogo é chegar a um reconhe-
possível! cimento desses direitos e a proteção dos mesmos através da lei e
A realidade nos assegura a verdade desse fato. O Brasil é, por da força do Estado. O papel da reflexão filosófica nesse debate é
exemplo, uma das democracias mais fortes da América Latina, com fundamental, mesmo se “filosofias” existam em abundância e de
uma Constituição que defende explicitamente os direitos funda- diferentes matizes. Muitas são as filosofias que, inclusive, negam
mentais, como também apoia com força de lei as principais declara- o que aqui foi elucidado. Para discernir a filosofia mais inteligível e
ções internacionais sobre os Direitos do Homem. Nem por isso dei- coerente faz-se necessário testar as bases de seu quadro referencial
xa-se de ver uma agressão contínua e institucionalizada dos Direitos teórico. O quadro referencial no qual inserimos aqui a discussão so-
básicos da pessoa. Constata-se assim que a democracia sozinha não bre a dignidade humana parece ter a vantagem de não poder ser
garante a promoção dos direitos fundamentais. Primeiro porque, negado pelas outras filosofias sem autocontradição interna.
na realidade, não existe uma democracia no sentido estrito da pa- Além dos entraves puramente teóricos da discussão, reconhe-
lavra. Democracia significaria ipsis litteris um “governo do povo”, ce-se a dificuldade em âmbito prático. No Brasil, o debate sobre
mas isto parece não ser possível. O povo não pode ser governado os Direitos Humanos, sobretudo com o atual Programa Nacional
e governar ao mesmo tempo! Aquilo que chamamos democracia de Direitos Humanos (PNDH - 3), vai alcançar níveis cada vez mais
não passa do governo de alguns em nome e em favor dos interesses complexos e difíceis, seja porque esta discussão é oferecida a um
do povo. Se pudéssemos falar numa democracia ideal, onde todo o público bem vasto, seja porque muitas vezes é controlada por mino-
povo governasse e fosse governado, constituiria uma contradição rias intelectualizadas que procuram inserir seus interesses entre os
interna qualquer agressão aos direitos humanos, uma vez que o direitos humanos. É bom para a democracia que esse debate acon-
povo não poderia fazer leis ou ações contra si mesmo. Numa demo- teça! É preciso, porém, fazer uma distinção entre o interesse das
cracia ideal, Direitos Humanos seriam o mesmo que Direitos Civis. minorias e o interesse de todos.
O problema é que uma democracia dessa forma não pode ser Direitos humanos são direitos das pessoas enquanto humanas
pensada. O governo do povo se dá através de legisladores e go- e, por isso, deveriam ser aplicados a todas as pessoas independen-
vernantes legítimos. No entanto, mesmo se uma democracia ideal temente de sexo, raça, religião ou nacionalidade. Não poderiam
fosse possível, apareceria novamente aquela questão mais sutil, a ser incluídos na discussão sobre direitos humanos direitos apenas
saber: constituiria o consenso democrático a última instância de le- privados ou de classes. Direitos humanos são universais e incluem
gitimação de leis ou dos Direitos Humanos? Isto é, o simples fato de dentre outros, o direito à vida, à integridade do corpo, à liberdade
entrar em acordo (democrático) em relação ao respeitar certos di- de pensamento-expressão-religião-reunião-ação, direito à privaci-
reitos básicos daria a tais direitos a legitimidade suficiente para de- dade e ao igual tratamento perante o Estado. Esses direitos têm
40
CONHECIMENTOS
aplicação imediata, como assegura a Constituição brasileira (art. 5º, pelo vento, essa experiência é, toda ela, um fenômeno interior, que
§ 1º), pois são absolutos e ilimitados. Eles não podem ser mitiga- se passa essencialmente dentro da consciência. Os objetos exterio-
dos, a não ser que haja algum conflito entre eles numa situação res são apenas condições para que se crie a percepção, a vivência
concreta. desse fenômeno interior. A fenomenologia se prende, por meio
Nesse caso, serão princípios como os da convivência das liber- da atitude reflexiva, nesses fenômenos ou estados da consciência
dades públicas, da razoabilidade e proporcionalidade que poderão e prescinde da realidade exterior das coisas, ou como diz Husserl,
resolver tais conflitos, o que se pode fazer somente em consonância coloca-se entre parênteses. É o que ele chama de epokhé, ou seja,
com a ética e a lei. o ato de liberar a atenção do exterior para que ela se detenha na
análise da vivência ou experiência pura.
A fenomenologia é, portanto, uma descrição daquilo que se
mostra por si mesmo, de acordo com o “princípio dos princípios”:
DAS CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA CONTEMPORÂ- toda intuição primordial é fonte legítima de conhecimento. Situa-
NEA PARA A REFLEXÃO SOBRE O SER HUMANO A PAR- -se como anterior a toda crença e juízo e despreza todo e qualquer
TIR DA FENOMENOLOGIA E DO EXISTENCIALISMO pressuposto: mundo natural, senso comum, proposição científica
ou experiência psicológica.
O conhecimento da realidade essencial dos fenômenos e a pos- Essa mudança de orientação teve grande importância para a
sibilidade desse conhecimento foi preocupação constante da filo- filosofia, pois a eximiu de cuidar da explicação do mundo e das coi-
sofia até princípios do século XX, quando a fenomenologia deixou sas. A ciência é que explica o mundo e seus aspectos acessíveis à
de olhar para os elementos exteriores que cercam os fenômenos e nossa experiência. Ao voltar-se para o conteúdo ou para o fenôme-
passou a considerá-los em si mesmos, por seu reflexo na consciên- no existente na consciência, a fenomenologia encontrou um objeto
cia, como única maneira de apreendê-los. que a capacita a transformar-se em ciência autêntica, como preten-
Fenomenologia é o estudo dos fenômenos em si mesmos, in- dia seu fundador. Esse conteúdo é antes suscetível de descrição do
dependentemente dos condicionamentos exteriores a eles, cuja fi- que de medida. Fazer tal descrição é a tarefa dessa filosofia.
nalidade é apreender sua essência, estrutura de sua significação. É Os críticos da obra de Husserl dividem-se em dois grupos prin-
também um método de redução, pelo qual o conhecimento factual cipais. De um lado estão os que, como os neokantianos, concordam
e as suposições racionais sobre os fenômenos como objeto, e a ex- em que a fenomenologia se realizou como perspectiva ontológica;
periência do eu, são postas de lado, para que a intuição pura da es- do outro, os que sustentam que ela significou apenas uma tomada
sência do fenômeno possa ser rigorosamente analisada. É o estudo de posição epistemológica, como Nicolaio Hartman. Em outras pa-
dos fenômenos, distinto do estudo do ser, ou ontologia. lavras, os que admitem ser ela uma perspectiva do ser, e os que a
Na história da filosofia, a fenomenologia tem três significados consideram apenas como uma investigação do conhecer.
especiais. Na segunda metade do século XVIII, era sinônimo de Em seus primeiros escritos, Husserl não põe em dúvida a exis-
“teoria das aparências”, expressão cunhada pelo filósofo Jean-Hen- tência dos objetos independentemente dos atos mentais. Mais tar-
ri Lambert para distinguir a aparência das coisas do que elas são de, introduz a noção problemática de uma redução transcendental
em si mesmas. Com Hegel, em Phänomenologie des Geistes (1807; fenomênica, mediante a qual se descobre o ego (o eu) transcen-
Fenomenologia do espírito), é uma espécie de lógica do conteúdo e dental, diferente do ego fenomênico da consciência ordinária. Em
uma introdução à filosofia, história das fases sucessivas, das aproxi- consequência, Husserl passa de um realismo primitivo a uma mo-
mações e das oposições pelas quais o espírito se eleva da sensação dalidade de idealismo kantiano. Sua influência foi muito profunda,
individual à razão universal, ou, para usar sua fórmula: “é a ciência em especial entre os existencialistas (Martin Heidegger, Jean-Paul
da experiência que faz a consciência”. Foi com Husserl que a palavra Sartre, Maurice Merleau-Ponty) que, apesar de se considerarem
ganhou, nas primeiras décadas do século XX, o significado de que fenomenologistas, preocupavam-se mais com a ação do que com
hoje se reveste, de estudo dos fenômenos em si mesmos, que visa o conhecimento.
à evidência primordial, e de denominação de um movimento que Em psicologia, fenomenologia é um método de descrição e
influiu de modo significativo no pensamento filosófico dessa época. análise desenvolvido a partir da fenomenologia filosófica, aplicado
A fenomenologia husserliana é uma meditação sobre o co- à percepção subjetiva dos fenômenos e à consciência, em especial
nhecimento. Considera que aquilo que é dado à consciência é o nos campos da psicologia da Gestalt, análise existencial e psiquiá-
fenômeno (objeto do conhecimento imediato). Esse fenômeno só trica.
aparece numa consciência; portanto, é a essa consciência que é
preciso interrogar, deixando de lado tudo o que lhe é exterior. A Fenomenologia de Edmundo Husserl6
consciência, para Husserl, só pode ser entendida como intencional, Edmund Husserl (1859-1938) que, juntamente com BERGSON,
isto é, não está fechada em si mesma, mas define-se como uma cer- exerceu e continua ainda exercendo a influência mais profunda e
ta maneira de perceber o mundo e seus objetos. Mostrar os diver- duradoura sobre o pensamento contemporâneo, foi discípulo de
sos aspectos pelos quais a consciência percebe esses objetos e sob BRENTANO. Estudou também com o psicólogo CARL STUMPF (1848-
os quais eles lhe aparecem, o que a sua presença supõe, constitui o 1936). Desenvolveu sua atividade acadêmica nas universidades de
estudo e o objetivo essencial da fenomenologia. Halle, Goettingen e Friburgo de Brisgóvia. Trabalhador infatigável,
Para Husserl, portanto, a tarefa da filosofia é a pesquisa, exame aliava uma extraordinária capacidade de análise a uma rara pene-
e descrição do fenômeno, como conteúdo da consciência. Trata-se tração de espírito. Sua obra, muito extensa, é de leitura extrema-
de uma mudança radical de sentido na orientação filosófica, antes mente difícil, não por deficiências de linguagem, senão por causa da
voltada para as coisas, para o mundo exterior, e que com ele passou aridez do assunto. Como escritor de filosofia, é modelo de precisão
a interessar-se pela consciência, pelo mundo interior. Assim, por 6 J. M. Bochenski. A Fenomenologia de Edmund Hussearl. http://twixar.me/
exemplo, se alguém vê as folhas de uma palmeira serem agitadas sKrn
41
CONHECIMENTOS
e, neste particular, faz recordar Aristóteles. Quanto ao seu sistema, lidade, que HUSSERL recebeu de BRENTANO e, mediatamente, da
depende, em parte, de BRENTANO e de STUMPF e, indiretamente, escolástica. Entre as vivências sobressaem algumas que possuem a
através do primeiro, da escolástica. Nota-se, outrossim, nele, uma propriedade essencial de ser vivências de um objeto. Estas vivências
certa influência neokantiana. recebem o nome de “vivências intencionais” (intentionale Erlebnis-
HUSSERL começou sua carreira com trabalhos matemáti- se), e na medida em que são consciência (amor, apreciação, etc.) de
cos. Foi então que publicou o primeiro volume de sua importan- alguma coisa, diz-se que tem uma “relação intencional” com esta
te Philosophie der Arithmetik, obra que não prefigura por forma coisa. Aplicando agora a redução fenomenológica a estas vivências
nenhuma o caminho por onde sua filosofia iria enveredar. Nos intencionais, chegamos, por um lado, a captar a consciência como
anos 1900-1901 apareceu sua obra principal, Logische Untersu- um puro centro de referência da intencionalidade, ao qual o objeto
chungen (Investigações lógicas), na qual dirige a atenção para os intencional é dado, e, por outro lado, chegamos a um objeto que,
fundamentos da lógica. Esta obra monumental divide-se em duas depois da redução, não tem outra existência senão a de ser dado
partes: a primeira, os Prolegomena zur reinen Logik (Prolegômenos intencionalmente a este sujeito. Na própria vivência, considera-se o
à lógica pura), contém uma crítica do psicologismo e do relativismo, ato puro, que parece ser, simplesmente, a referência intencional da
de um ponto de vista intelectualista e objetivista, ao passo que a consciência pura ao objeto intencional.
segunda mostra a aplicação dos princípios enunciados na pri- Deste modo a fenomenologia se converte na ciência da essên-
meira a alguns problemas particulares da filosofia da lógica. cia das vivências puras. A realidade inteira aparece como corrente
Em 1913, HUSSERL, publica suas Ideen zu einer reinen Phäno- das vivências concebidas como atos puros. É mister advertir insis-
menologie (Ideias relativas a uma fenomenologia pura). Aqui a tentemente que esta corrente nada tem em si de psíquico, que por
fenomenologia converte-se numa “filosofia primeira” e aplica-se conseguinte se trata unicamente de puras estruturas ideais; portan-
ao estudo do conhecimento em geral, tornando-se já patentes to, a consciência pura (que no estado de atualização se chama “co-
as conclusões idealistas. Estas conclusões encontram seu pleno gito“) não é um sujeito real, nem seus atos são mais do que relações
desenvolvimento nos dois livros seguintes: Formale und Transzen- meramente intencionais, e o objeto não é mais do que um ser dado
dentale Logik (1929) e Erfahrung und Urteil (1939) (Lógica formal e a este sujeito lógico. HUSSERL opera ainda na corrente das vivências
transcendental e Experiência e Juízo). Globalmente considerados o uma distinção entre a hylé (matéria) e a morphé (forma) visada.
caminho seguido pelo pensamento de HUSSERL, pode resumir-se Chama “noese” àquilo que configura a matéria em vivencias inten-
da seguinte maneira: partindo do estudo filosófico da matemática, cionais, e “noema” à multiplicidade dos dados que se podem mos-
desenvolve primeiramente um método objetivista e intelectual e, trar na intuição pura. No caso de uma árvore, por exemplo, distin-
na aplicação deste método à consciência, desemboca no idealismo. guimos o sentido da percepção da árvore (seu noema) e o sentido
A influência de HUSSERL opera em várias direções. Em primeiro da percepção como tal (noese); de igual modo, distingue-se no juízo
lugar, as penetrantes análises de suas Investigações lógicas repre- o enunciado do juízo (isto é, a essência dêste enunciado, a noese do
sentam sério golpe no positivismo e no nominalismo, que impera- juízo) e o juízo enunciado (o poema do juízo). Este último poderia
vam no século XIX. Ao mesmo tempo, seu método, que sublinha o ser denominado “proposição em sentido puramente lógico”, se
conteúdo e a essência do objeto, contribuiu poderosamente para o noema não contivesse, além de sua forma lógica, uma essência
a elaboração de um pensamento antikantiano. Sob este aspecto, material.
é um dos grandes pioneiros da nova filosofia. Por outro lado, criou
um método, denominado fenomenológico, aplicado hoje em dia O existencialismo é o nome dado à corrente filosófica inicia-
por grande parte dos filósofos. Além disso, seus trabalhos contém da no séc. XIX pelo filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard (1813-
tamanha quantidade de análises sutilíssimas e penetrantes que pa- 1855). Como o próprio nome diz, o conjunto de doutrinas existen-
rece ser mais que duvidoso que esta multidão de conhecimentos cialistas tem foco na existência, isto é, na condição de existência
tenha sido aplicada e aproveitada em sua totalidade. Tem-se a im- humana.
pressão de que a obra de HUSSERL esteja prestes a se converter O termo “existencialismo” foi cunhado somente no século XX
numa fonte clássica da filosofia do porvir. HUSSERL foi o fundador por Gabriel Marcel, filósofo francês, em meados de 1940. O existen-
de uma escola muito numerosa e importante. Mas sua influência cialismo francês do pós-guerra ficou popularizado em razão da obra
não se confina nesta escola, senão que se estende, como dissemos, de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus.
a toda a filosofia contemporânea. O tema da existência humana foi trabalhado por diversos pen-
É claro que não podemos pretender resumir aqui nem sequer sadores, mas é Kierkegaard que faz das perguntas existenciais o
uma só de suas obras riquíssimas de conteúdo. Com maior razão do foco de sua pesquisa filosófica. Escreveu sobre a aparente falta de
que noutros casos, torna-se mister remeter o leitor para o próprio sentido da vida, da busca de sair desse tédio existencial e sobre a
texto, especialmente para as Investigações lógicas. Limitamo-nos a realização de escolhas livres. Assim, o homem, em sua liberdade,
dar uma vista de conjunto muito sumária do método de HUSSERL, escolhe para definir sua natureza.
de sua teoria da lógica e do caminho por onde ele chegou ao Influenciado por Kierkegaard, o filósofo alemão Martin Heide-
idealismo. gger (1889-1976) desenvolveu sua ideia de Dasein. Para ele, o ho-
mem não é um ser abstrato ou uma substância, mas uma existência
Intencionalidade e Idealismo presente, um Dasein (do alemão: Ser-aí).
A redução transcendental é a aplicação do método fenomeno- O auge do pensamento existencialista ocorre na França, com
lógico ao próprio sujeito e a seus atos. HUSSERL já tinha afirma- Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo francês, e Albert Camus
do anteriormente que o domínio da fenomenologia precisava ser (1913-1960), filósofo argelino, que popularizaram o termo e as
constituído com diferentes regiões do ser. Uma destas regiões do ideias escrevendo, além de textos teóricos, romances e peças de
ser, região característica, é a consciência pura. Chega-se a esta cons- teatro. Essa força nos anos pós-guerra tem muito a ver com a recu-
ciência pura mediante o muito importante conceito de intenciona- peração de conceitos como liberdade e individualidade.
42
CONHECIMENTOS
O pensamento existencialista defende, em primeiro lugar, que 2.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
a existência vem antes da essência. Significa que não existe uma A Ciência é conceituada pela maioria dos filósofos da ciência
essência humana que determine o homem, mas que ele constitui como um conhecimento aberto. Isto porque
a sua essência na sua existência. Esta construção da essência se dá (A) aceita explicações dos fatos por meio de teorias concorren-
a partir das escolhas feitas, visto que o homem é livre. Nessa con- tes entre si.
dição na qual o homem existe e sua vida é um projeto, ele terá de (B) substitui explicações de teorias antigas por explicações de
escolher o que quer ser e efetivar sua vontade agindo, isto é, esco- teorias novas.
lhendo. (C) atua para reforçar as explicações segundo as teorias vigen-
Se a condição humana é esta, então o homem vive numa an- tes.
gústia existencial. Ter de escolher a todo instante é angustiante, (D) faz a incorporação das teorias antigas pelas novas.
pois cada escolha irá refletir diretamente no que se é. A angústia é (E) explica os fatos de maneira definitiva.
o reflexo da liberdade humana, dessa ampla possibilidade de esco-
lher e ser responsável por cada escolha. 3.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
Outra característica da condição humana é o desespero. Aqui- Na ordem do tempo, nenhum conhecimento precede em nós a
lo que nos torna quem somos pode ser perdido e nos deixar em experiência e é com esta que todo o conhecimento tem o seu início.
desespero. Um atleta que sofre um acidente e fica incapacitado de Se, porém, todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso
competir certamente entraria em desespero. Porém, toda existên- não prova que todo ele derive da experiência.
cia humana está em desespero, pois o homem precisa de coisas (Immanuel Kant, Crítica da razão pura)
externas, que ele não controla, para se sentir quem ele é. Assim,
mesmo vivendo sem o desespero, o homem está vivendo num Nesse texto, Kant assinala a diferença entre o empirismo e o
constante desespero. criticismo. O criticismo kantiano pode ser definido como
Um tema abordado por Sartre é bem interessante, o desam- (A) uma teoria empirista do conhecimento, segundo a qual
paro. Somos livres, escolhemos, temos a angústia de escolher e o todo conhecimento é derivado da experiência.
desespero de perder tudo. Mas, também estamos desamparados, (B) uma abordagem dialética da realidade em que a história é
isto é, não temos muletas, desculpas ou a quem culpar por nossas levada em conta no processo de aquisição do conhecimento.
escolhas. (C) Uma compreensão materialista da história para a qual as
Com isto, o existencialismo é o conjunto de ideias que coloca relações de produção determinam o conhecimento.
no ser humano a responsabilidade por se construir e por seus atos. (D) Uma teoria crítica da razão em que se analisam as condi-
Não há desculpas e justificativas para nossas ações. O que somos ou ções que tornam possível o conhecimento.
o que fazemos não é produto de nossa infância, de nossa criação, (E) Um idealismo absoluto, de acordo com o qual a razão é ca-
do destino ou da divindade. Estamos sozinhos, lançados no mundo, paz de conhecer toda a realidade sem recorrer à experiência
para nos inventar, pois não há nada anterior à nossa existência para sensível.
definir o que somos.
4.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
Se houvesse apenas um conjunto de problemas científicos, um
QUESTÕES único mundo no qual ocupar-se deles e um único conjunto de pa-
drões científicos para sua solução, a competição entre paradigmas
poderia ser resolvida de uma forma mais ou menos rotineira, em-
1.(VUNESP - 2018 - Professor de Educação Básica I) pregando-se algum processo como o de contar o número de proble-
Fundamentos sócio-filosóficos são a base para o entendimento mas resolvidos por cada um deles. Mas, na realidade, tais condições
da educação na sociedade, de forma crítica, construída através da nunca são completamente satisfeitas. Aqueles que propõem os pa-
reflexão, da pesquisa, da observação [...] Para o professor/educa- radigmas em competição estão sempre em desentendimento, mes-
dor, é fundamental filosofar sobre sua prática, pensar sobre o seu mo que em pequena escala. (...) A competição entre paradigmas
fazer pedagógico diário, buscar respostas para as dificuldades e não é o tipo de batalha que possa ser resolvido por meio de provas.
para as conquistas do dia-a-dia. (Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas)
(Queiroz; Moita, 2007)
A partir do texto, assinale a alternativa correta.
E o que é filosofar? De acordo com as autoras, filosofar é (A) Para Thomas Kuhn, as revoluções científicas são simples.
(A) construir ideias próprias sobre questões ainda não pensa- (B) O autor afirma o caráter irrefutável das verdades científicas.
das. (C) Thomas Kuhn explica a incomensurabilidade dos paradig-
(B) desenvolver a capacidade de abstrair a realidade que nos mas científicos.
cerca. (D) Thomas Kuhn defende o falsificacionismo de Popper.
(C) assumir uma postura metafísica diante dos problemas co- (E) Para Thomas Kuhn, o anarquismo teórico é o melhor méto-
tidianos. do científico.
(D) conhecer as principais ideias filosóficas da história da hu-
manidade. 5.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
(E) colocar tudo como objeto a ser refletido, perguntar sobre A ideia de que a ciência é um conhecimento eficaz, isto é, per-
tudo. mite ao homem dominar e transformar o mundo,
(A) encontra-se presente já nos filósofos pré-socráticos, em es-
pecial Tales de Mileto, com sua cosmologia.
43
CONHECIMENTOS
(B) contrapõe-se à concepção de Kant, para quem a ciência 9.(VUNESP - 2022 - Vestibular (UNESP)/”2023”)
seria um conhecimento demonstrativo. O lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências dis-
(C) é o cerne da discussão de Theodor Adorno e Karl Popper, na tintas e outras perspectivas. A teoria do ponto de vista feminista
obra Dialética do Esclarecimento. e lugar de fala nos faz refutar uma visão universal de mulher e de
(D) surge entre o final do Renascimento e o início da Filosofia negritude, e outras identidades, assim como faz com que homens
Moderna, com Francis Bacon, Galileu e Descartes. brancos, que se pensam universais, se racializem, entendam o que
(E) inicia-se no século XX, com a concepção construtivista, a significa ser branco como metáfora do poder.
qual busca modelos explicativos para a realidade. (Djamila Ribeiro. O que é: lugar de fala?, 2017. Adaptado.)
6.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP) O excerto aborda um conceito que propõe uma nova perspec-
Cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada na justiça que tiva de análise filosófica, sobretudo em relação
nem o bem-estar de toda a sociedade pode desconsiderar. Por isso, (A) ao estabelecimento de uma ética pluralista.
a justiça nega que a perda da liberdade de alguns se justifique por (B) à recusa de instituições políticas.
um bem maior desfrutado por outros. Não permite que os sacrifí- (C) ao reconhecimento de um eurocentrismo epistêmico.
cios impostos a poucos sejam contrabalançados pelo número maior (D) à negação de hierarquias sociais.
de vantagens de que desfrutam muitos. (E) à reconstrução de discursos representativos.
(John Rawls, Uma teoria da justiça)
10. (VUNESP - 2022 - Vestibular (UNESP)/”2023”)
A tese exposta no excerto impõe limites à ação política que O homem que não tem a menor noção da filosofia caminha
possa interferir na vida dos indivíduos. Tal concepção de justiça pela vida afora preso a preconceitos derivados do senso comum,
prioriza sobretudo das crenças habituais da sua época e do seu país, e das convicções
(A) o direito do governante de agir de acordo com o bem co- que cresceram na sua mente sem a cooperação ou o consentimento
mum. deliberado de sua razão. Para tal homem, o mundo tende a tor-
(B) a liberdade individual de cada cidadão. nar-se finito, definido, óbvio. Ao contrário, quando começamos a
(C) princípios relativos a uma determinada época. filosofar, imediatamente nos damos conta de que mesmo as coisas
(D) os valores religiosos das diversas comunidades. mais vulgares levantam problemas para os quais só podemos dar
(E) as normas às quais os indivíduos não estão submetidos. respostas muito incompletas. A filosofia livra-nos da tirania do há-
bito.
7.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP) (Bertrand Russell. Os problemas da filosofia, 1972. Adaptado.)
A extrema desigualdade na maneira de viver; o excesso de
ociosidade de uns; o excesso de trabalho de outros; a facilidade de De acordo com o filósofo Bertrand Russell nesse excerto, o en-
irritar e de satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade; os ali- frentamento da “tirania do hábito” pela filosofia contribui para
mentos muito rebuscados dos ricos, que os nutrem com sucos abra- (A) o descarte dos fundamentos da cosmogonia.
sadores e que determinam tantas indigestões; a má alimentação (B) o estabelecimento do ceticismo absoluto.
dos pobres, que frequentemente lhes falta e cuja carência faz que (C) a rejeição dos saberes tradicionais.
sobrecarreguem, quando possível, avidamente seu estômago; as vi- (D) a expansão das bases do conhecimento.
gílias, os excessos de toda sorte; os transportes imoderados de to- (E) a reprodução do discurso científico.
das as paixões; as fadigas e o esgotamento do espírito, as tristezas e
os trabalhos sem-número pelos quais se passa em todos os estados 11. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2021”)
e pelos quais as almas são perpetuamente corroídas – são, todos, A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco,
indícios funestos de que a maioria de nossos males é obra nossa e
um continente de ideias esquecidas que merece ser visitado apenas
que teríamos evitado quase todos se tivéssemos conservado a ma-
por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnolo-
neira simples, uniforme e solitária de viver prescrita pela natureza.
gia, especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas
(Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem da desigualdade –
próximas décadas, sem saberem que, ao defender esse ponto de
primeira parte)
vista, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutí-
vel. Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea pas-
Segundo o trecho, o fim da felicidade e da inocência naturais
saram a ser discutidas pelas ciências. Mas há outras, no campo da
do homem teve origem
(A) no abandono da simplicidade natural. ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para
(B) na maldade natural do homem anterior ao pacto social. as quais a ciência não tem, até agora, fornecido nenhuma solução.
(C) na ignorância do homem no estado de natureza. (João de Fernandes Teixeira. Por que estudar filosofia?, 2016.)
(D) na luta de classes ao longo da história.
(E) no livre arbítrio de Adão que ocasionou o pecado original. De acordo com o texto, a filosofia
(A) mostra-se incapaz de lidar com os dilemas das ciências.
8.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP) (B) contribui para os questionamentos e debates científicos.
Em uma sociedade democrática moderna, pode-se afirmar que (C) impede o progresso científico e tecnológico.
(A) o contrapoder social é evitado. (D) evita desenvolver pesquisas e estudos em parceria com
(B) os interesses individuais são atendidos. cientistas.
(C) o poder se identifica com os ocupantes do governo. (E) pretende oferecer respostas absolutas aos problemas da
(D) a participação dos cidadãos no poder é direta. ciência.
(E) o conflito é considerado legítimo e legal.
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CONHECIMENTOS
12. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2022”) O compromisso assumido pelo Brasil como signatário da Decla-
As certezas do homem comum, as verdades comuns da expe- ração Universal dos Direitos Humanos implica que
riência cotidiana, os filósofos vivem-nas, por certo, e não as negam, (A) as forças nacionais de segurança têm a obrigação legal de
enquanto homens. Mas, enquanto filósofos, não as assumem. respeitar os direitos humanos.
Nesse sentido em que as desqualificam, pode-se dizer que as re- (B) a declaração não se aplica diretamente no Brasil por se tra-
cusam. Desqualificação teórica, recusa filosófica, empreendidas em tar de tratado internacional.
nome da racionalidade que postulam para a filosofia. Assim é que (C) a obrigação de respeitar os direitos humanos não se aplica
boa parte das filosofias opta por esquecer “metodologicamente” nas ações da Polícia Militar.
a visão comum do Mundo, recusando-se a integrá-la ao seu saber (D) as empresas de segurança privada não são obrigadas a res-
racional e teórico. Não podendo furtar-se, enquanto homens, à expe- peitar os direitos humanos.
riência do Mundo, não o reconhecem como filósofos. O Mundo não (E) as polícias estaduais Militar e Civil devem respeitar apenas a
é, para eles, o universo reconhecido de seus discursos. Desconside- legislação de seu Estado.
rando filosoficamente as verdades cotidianas, o bom senso, o senso
comum, instauram de fato o dualismo do prático e do teórico, da vida 15. (VUNESP - 2017 - Aluno-Oficial (PM SP)
e da razão filosófica. Instauram, consciente e propositadamente, o A que campos da filosofia correspondem, respectivamente, os
divórcio entre o homem comum que são e o filósofo que querem ser. seguintes objetos: o verdadeiro, o belo e o justo?
(Oswaldo Porchat Pereira. Rumo ao ceticismo, 2007. Adaptado.) (A) Ética, epistemologia e estética.
(B) Política, estética e metafísica.
O “divórcio” entre o homem comum e o filósofo, segundo o (C) Ética, moral e estética.
autor, ocorre em função da (D) Política, filosofia da linguagem e estética.
(A) negação do homem comum em entender a realidade. (E) Epistemologia, estética e ética.
(B) restrição do saber comum no fazer filosófico.
(C) diferença de mundos que buscam compreender. 16. (VUNESP - 2016 - Aluno-Oficial (PM SP)
(D) falta de correspondência factual do saber comum. Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso co-
(E) proposição de respostas necessariamente divergentes. mum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias domi-
nantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a
13. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2022”) significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o
A Ecologia Profunda é um conceito filosófico que considera que sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for
todos os elementos vivos da natureza devem ser respeitados, assim útil; se dar a cada um denós e à nossa sociedade os meios para serem
como deve ser garantido o equilíbrio da biosfera. O termo surgiu em conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdadee
1972, com o filósofo e ambientalista norueguês Arne Naess (1912- a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é
2009). Ele distinguiu as correntes ambientais entre movimentos o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.
rasos e movimentos profundos. Os movimentos rasos limitam-se (Marilena Chauí, Convite à Filosofia)
a tentar minimizar os problemas ambientais e garantir o enriqueci-
mento das sucessivas gerações humanas, enquanto a Ecologia Pro- Sobre o método filosófico, é correto afirmar que
funda vai na raiz dos problemas ambientais e defende os direitos de (A) a utilidade da filosofia relaciona-se com horizontes éticos e
toda a comunidade biótica. críticos sobre a realidade.
(José E. D. Alves. “Os oito princípios da ecologia profunda”. (B) proporciona conhecimentos politicamente neutros e cien-
www.ecodebate.com.br, 05.06.2017. Adaptado.) tificamente objetivos.
(C) a reflexão filosófica tem por objetivo reproduzir os precon-
A partir do texto, o aspecto filosófico de “Ecologia Profunda” ceitos do senso comum.
implica uma mudança de conduta, pois requer a (D) produz um pensamento para o qual a aparência das coisas
(A) criação de um novo paradigma na relação entre ser humano é igual à sua essência.
e natureza. (E) a filosofia é um conhecimento abstrato incapaz de induzir
(B) mobilização social em torno de campanhas por economia verde. transformações sociais.
(C) revisão da dependência das tecnologias de produção.
(D) transformação dos acordos multilaterais entre diferentes nações. 17. (VUNESP - 2011 - Vestibular (UNESP)
(E) manutenção dos impactos da crise ambiental. Num mundo onde cresce sem parar a compulsão para obrigar
as pessoas a levar uma vida “correta” no maior número possível
14. (VUNESP - 2018 - Aluno-Oficial (PM SP) das atividades que formam o seu dia a dia, a mesa tornou-se uma
A concepção de direitos humanos tem sido alvo de muitas contro- das áreas que mais atraem a atenção dos gendarmes empenhados
vérsias em nosso país nos últimos anos, embora o Brasil seja signatário em arbitrar o que é realmente bom para você. É uma provação per-
da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa declaração, apro- manente. Médicos, nutricionistas, personal trainers, editores e edi-
vada pela ONU em 1948, tem como um de seus objetivos propiciar toras de revistas dedicadas à forma física, ambientalistas, militan-
“[...] o advento de um mundo em que mulheres e homens gozem de tes da produção orgânica, burocratas, chefs de cozinha, críticos de
liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo dote- restaurantes e mais uma multidão de diletantes prontos a dar tes-
mor e da necessidade, a mais alta aspiração do ser humano comum.” temunho expedem decretos cada vez mais frequentes, e cada vez
(Declaração Universal dos Direitos Humanos. mais severos, sobre os deveres do cidadão na hora de comer. O fato
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133. é que toda essa gente, quase sempre com as melhores intenções,
htm, Adaptada) acabou construindo um crescente sistema de ansiedade em torno
45
CONHECIMENTOS
do pão nosso de cada dia – e o resultado é que o prazer de comer (E) pela resistência dos grupos nacionalistas às invasões e ao
bem vai sendo substituído pela obrigação de comer certo. Modelos, expansionismo estrangeiro.
atrizes e outras pessoas que precisam pesar pouco para fazer sucesso
chegam aos 30 anos de idade, ou mais, praticamente sem ter feito uma 20. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2021”)
única refeição decente na vida. Propõe-se, como virtude alimentar, um A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar que o
mundo sombrio de pastas, mingaus, poções, soros de proteína e sa- ensinamento sofístico limita-se a uma mera técnica ou habilidade
be-se lá o que ainda vem pela frente. Não está claro o que se ganha argumentativa que visa a convencer o oponente daquilo que se diz,
em toda essa história. A perspectiva de morrer, um dia, no peso ideal? mas não leva ao verdadeiro conhecimento. A consequência disso
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.) era que, devido à influência dos sofistas, as decisões políticas na
Assembleia estavam sendo tomadas não com base em um saber,
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o autor, ou na posição dos mais sábios, mas na dos mais hábeis em retórica,
(A) é positiva a adoção de procedimentos científicos no campo que poderiam não ser os mais sábios ou virtuosos.
nutricional. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2010.)
(B) o tema da qualidade de vida deve ser enfocado sob crité-
rios morais. De acordo com o texto, a crítica socrática aos sofistas dizia respeito
(C) os padrões hegemônicos vigentes na sociedade atual no (A) ao entendimento de que o verdadeiro conhecimento base-
campo da nutrição são elogiáveis. ava- se no exercício da retórica.
(D) a felicidade depende do número de calorias ingeridas pelo (B) à desvalorização da pluralidade de opiniões e de posiciona-
ser humano. mentos político-ideológicos.
(E) a autonomia individual deveria ser o critério para definir os (C) ao prevalecimento das técnicas discursivas nas decisões da
parâmetros de uma vida adequada. Assembleia acerca dos rumos das cidades-Estado.
(D) ao predomínio de líderes pouco sábios e com poucas virtu-
18. (VUNESP - 2019 - Vestibular (UNESP)/”2020”) des na composição da Assembleia.
Em 4 de julho de 2012, foi detectada uma nova partícula, que (E) à defesa de formas tirânicas de exercício do poder desenvol-
pode ser o bóson de Higgs. Trata-se de uma partícula elementar vida pela retórica convincente.
proposta pelo físico teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do
modelo padrão, segundo a qual o bóson de Higgs seria a partícu-
la elementar responsável pela origem da massa de todas as outras GABARITO
partículas elementares.
(Jean Júnio M. Pimenta et al. “O bóson de Higgs”. In: Revista brasileira
de ensino de física, vol. 35, no 2, 2013. Adaptado.) 1 E
O que se descreve no texto possui relação com o conceito de 2 B
arqué, desenvolvido pelos primeiros pensadores pré-socráticos da 3 D
Jônia. A arqué diz respeito
(A) à retórica utilizada pelos sofistas para convencimento dos 4 C
cidadãos na pólis. 5 D
(B) a uma explicação da origem do cosmos fundamentada em
6 B
pressupostos mitológicos.
(C) à investigação sobre a constituição do cosmos por meio de 7 A
um princípio fundamental da natureza.
8 E
(D) ao desenvolvimento da lógica formal como habilidade de
raciocínio. 9 E
(E) à justificação ética das ações na busca pelo entendimento 10 D
sobre o bem.
11 B
19. (VUNESP - 2018 - Vestibular (UNESP) 12 B
O aparecimento da filosofia na Grécia não foi um fato isolado.
Estava ligado ao nascimento da pólis. 13 A
(Marcelo Rede. A Grécia Antiga, 2012.) 14 A
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CONHECIMENTOS
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
ALBORNOZ, SUZANA. DO QUE SE TEM PENSADO SO- CAMARGO, DIÓGENES RAFAEL DE; SILVESTRI, KÁTIA
BRE O TRABALHO. IN: O QUE É TRABALHO. 6. ED. SÃO VANESSA TARANTINI. AS DIFERENTES CONCEPÇÕES
PAULO: BRASILIENSE, 2014. P. 43-77 DE NATUREZA NA SOCIEDADE OCIDENTAL: DA PHYSIS
AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. FILOSOFIA E
O livro “O que é trabalho”, organizado por Suzana Albornoz, HISTÓRIA DA BIOLOGIA, SÃO PAULO, V. 16, N. 1, P. 59-
apresenta uma coletânea de textos que abordam de forma ampla 85, 2021
e profunda as diferentes perspectivas sobre o trabalho. Publicado
em sua 6ª edição em 2014, o livro tem como objetivo explorar os O artigo “As Diferentes Concepções de Natureza na Sociedade
principais debates e reflexões acerca desse tema central na vida das Ocidental: Da Physis ao Desenvolvimento Sustentável”, escrito por
pessoas e na sociedade. D.R.D. Camargo e K.V.T. Silvestri, foi publicado na revista “Filosofia
Um dos capítulos destacados é intitulado “Do que se tem pen- e História da Biologia” em 2021. O artigo aborda as diversas con-
sado sobre o trabalho”, de autoria da própria Suzana Albornoz. cepções de natureza ao longo da história da sociedade ocidental,
Nesse texto, a autora explora diversas abordagens teóricas e con- desde a concepção grega antiga até a perspectiva contemporânea
ceituais sobre o trabalho, oferecendo uma visão panorâmica das do desenvolvimento sustentável.
principais correntes de pensamento que permeiam esse campo de Um dos principais temas explorados no artigo é a concepção
estudo. de natureza na filosofia grega antiga. Os autores discutem como os
Ao longo do capítulo, Albornoz discute questões como a evolu- filósofos pré-socráticos, como Tales de Mileto e Heráclito, conce-
ção histórica do conceito de trabalho, as transformações no mundo biam a natureza como uma força primordial (physis) em constante
do trabalho ao longo do tempo, as relações entre trabalho e identi- transformação. Eles exploram as diferentes visões desses filósofos
dade, bem como a relação entre trabalho e subjetividade. A autora sobre a origem e a natureza do universo, bem como seu impacto
também aborda diferentes perspectivas teóricas, como o marxis- nas concepções posteriores de natureza.
mo, o funcionalismo, o taylorismo e o fordismo, o pensamento hu- Outro aspecto abordado é a mudança na concepção de nature-
manista e as teorias contemporâneas sobre o trabalho. za na modernidade. Os autores discutem como a ciência moderna,
A importância desse capítulo e do livro como um todo reside na influenciada por pensadores como René Descartes e Francis Bacon,
sua capacidade de fornecer uma visão abrangente e crítica sobre o passou a conceber a natureza como um objeto a ser dominado e
trabalho. Ao explorar diferentes perspectivas e teorias, o texto de explorado pelo ser humano. Eles analisam como essa visão instru-
Albornoz convida os leitores a refletirem sobre as múltiplas dimen- mental da natureza contribuiu para a exploração desenfreada dos
sões do trabalho, suas implicações sociais, econômicas e culturais, recursos naturais e para a crise ambiental que enfrentamos atual-
e os desafios enfrentados pelas pessoas no mundo contemporâneo. mente.
O estudo e a compreensão do trabalho são de fundamental Além disso, o artigo explora a perspectiva contemporânea do
importância, uma vez que ele desempenha um papel central na desenvolvimento sustentável. Os autores discutem como a preocu-
vida das pessoas e na organização da sociedade. Compreender as pação com a preservação e a conservação da natureza tem levado
diversas abordagens teóricas e reflexões sobre o trabalho permite a uma nova concepção de relação entre ser humano e ambiente.
uma análise crítica das relações trabalhistas, das transformações Eles exploram os princípios do desenvolvimento sustentável, que
do mundo do trabalho e das questões relacionadas à justiça social, buscam conciliar as necessidades humanas com a proteção e a con-
equidade e qualidade de vida. servação dos recursos naturais, promovendo a harmonia entre so-
Dessa forma, o capítulo “Do que se tem pensado sobre o tra- ciedade e natureza.
balho”, presente no livro “O que é trabalho”, contribui para ampliar É fundamental destacar a relevância desse artigo para compre-
o conhecimento sobre esse tema complexo e multifacetado. Ao ex- endermos as diferentes concepções de natureza ao longo da histó-
plorar diferentes perspectivas teóricas e oferecer uma visão crítica, ria e refletirmos sobre a nossa relação atual com o ambiente natu-
Suzana Albornoz estimula os leitores a refletirem sobre o significa- ral. O texto oferece uma análise crítica e abrangente das mudanças
do e o impacto do trabalho em suas vidas e na sociedade como um de concepção de natureza na sociedade ocidental e incentiva os
todo. leitores a buscar o artigo completo, “As Diferentes Concepções de
Natureza na Sociedade Ocidental: Da Physis ao Desenvolvimento
Sustentável”, na revista “Filosofia e História da Biologia”, para apro-
fundar seu conhecimento sobre o tema e explorar outras perspecti-
vas apresentadas pelos autores.
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
desafios éticos impostos pelo avanço tecnológico, incentivando os Além disso, o artigo aborda as diferentes perspectivas e deba-
leitores a buscar o artigo completo, “Hans Jonas: Porque a Técnica tes sobre a bioética e as pesquisas em seres humanos, levando em
Moderna é um Objeto para a Ética”, na revista “Natureza Humana”, consideração as peculiaridades e os desafios desse tipo de pesqui-
para uma compreensão mais abrangente do tema e para explorar sa. Os autores também discutem a importância da regulamentação
outras perspectivas apresentadas pelo autor. adequada e do acompanhamento ético das pesquisas, visando pro-
teger os participantes e promover a integridade científica.
MARCONDES, DANILO. INICIAÇÃO À HISTÓRIA DA Em resumo, o artigo “Bioética e Pesquisas em Seres Humanos”
FILOSOFIA: DOS PRÉ-SOCRÁTICOS A WITTGENSTEIN.. oferece uma reflexão aprofundada sobre a importância da ética e
RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2010. PARTES III E IV dos princípios bioéticos na condução de pesquisas científicas envol-
vendo seres humanos. O texto contribui para o debate ético e jurídi-
co nessa área, destacando a necessidade de garantir a proteção dos
direitos e o bem-estar dos participantes de pesquisas, promovendo
O livro “Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a assim a ciência de forma responsável e ética.
Wittgenstein”, escrito por Danilo Marcondes, abrange as partes III
e IV da obra, que tratam da filosofia moderna e contemporânea,
respectivamente. O livro tem como objetivo proporcionar ao leitor SARTRE, JEAN-PAUL. O EXISTENCIALISMO É UM HU-
uma introdução à história da filosofia, abordando desde os primei- MANISMO. 4. ED. SÃO PAULO: VOZES, 2014
ros filósofos pré-socráticos até os pensadores contemporâneos.
Na parte III do livro, intitulada “A Filosofia Moderna”, Marcon-
des apresenta os principais filósofos e movimentos filosóficos que O livro “O Existencialismo é um Humanismo”, escrito por Je-
surgiram durante os séculos XVII e XVIII. Nessa seção, são discutidos an-Paul Sartre e traduzido por João Batista Kreuch, aborda os prin-
temas como o racionalismo, o empirismo, o iluminismo, o idealismo cípios fundamentais do existencialismo como corrente filosófica.
e o positivismo. O autor explora as ideias de filósofos renomados, Publicado em 2014 pela editora Vozes, o livro é considerado uma
como Descartes, Locke, Hume, Kant e Hegel, entre outros. das principais obras de Sartre.
Já na parte IV, intitulada “A Filosofia Contemporânea”, o autor No livro, Sartre explora temas como a liberdade, a responsa-
aborda os principais movimentos e correntes filosóficas dos séculos bilidade individual e a existência humana. Ele argumenta que, no
XIX e XX. Nessa seção, são discutidos temas como o existencialis- existencialismo, a existência precede a essência, o que significa que
mo, o pragmatismo, o positivismo lógico e a filosofia da linguagem. cada indivíduo é responsável por criar seu próprio sentido e pro-
Marcondes explora as contribuições de filósofos como Nietzsche, pósito na vida. Sartre critica as visões deterministas e defende a
Heidegger, Sartre, Russell e Wittgenstein, entre outros pensadores ideia de que o ser humano é livre para fazer escolhas e moldar sua
importantes desse período. própria existência.
O livro “Iniciação à História da Filosofia” oferece ao estudan- Sartre discute questões éticas e políticas relacionadas à liberda-
te uma visão panorâmica da evolução da filosofia ao longo dos sé- de individual, destacando a importância de agir de forma autêntica
culos, apresentando os principais temas, correntes e filósofos que e assumir a responsabilidade por nossas ações. Ele também aborda
marcaram cada período. Ressalta-se a importância de buscar a obra o conceito de angústia, que surge da consciência da liberdade e da
na íntegra para um estudo mais aprofundado e detalhado sobre a responsabilidade.
história da filosofia. A obra “O Existencialismo é um Humanismo” é considerada
uma introdução acessível ao pensamento de Sartre e ao existen-
cialismo como um todo. Sartre argumenta que o existencialismo é
OLIVEIRA, PAULO HENRIQUE DE; ANJOS FILHO, RO- uma filosofia que valoriza a humanidade, pois coloca o ser humano
BERIO NUNES DOS. BIOÉTICA E PESQUISAS EM SERES no centro de suas reflexões e enfatiza sua capacidade de escolha e
HUMANOS. REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO, SÃO criação.
PAULO, V. 101, P. 1187-1227, JAN./ DEZ. 2006 Ressalta-se a importância do estudante buscar o livro na ínte-
gra para aprofundar seu conhecimento sobre o existencialismo e as
ideias apresentadas por Sartre.
O tema do artigo “Bioética e Pesquisas em Seres Humanos”,
escrito por Paulo Henrique de Oliveira e Roberio Nunes dos Anjos
Filho, aborda a importância da bioética no contexto das pesquisas SAVIAN FILHO, JUVENAL. ARGUMENTAÇÃO: A FERRA-
envolvendo seres humanos. O artigo, publicado na Revista da Facul- MENTA DO FILOSOFAR. SÃO PAULO: WMF MARTINS
dade de Direito, São Paulo, em 2006, apresenta uma análise crítica FONTES, 2010
dos aspectos éticos e legais que envolvem a realização de pesquisas
científicas com seres humanos.
No texto, os autores exploram os princípios fundamentais da O livro “Argumentação: A Ferramenta do Filosofar”, escrito por
bioética, como o respeito à autonomia, a beneficência, a não ma- Juvenal Savian Filho e publicado em 2010 pela editora WMF Mar-
leficência e a justiça. Eles discutem as questões éticas e legais que tins Fontes, aborda o papel fundamental da argumentação no exer-
surgem durante o processo de pesquisa, destacando a necessidade cício da filosofia.
de obter o consentimento informado dos participantes, garantir a Um dos temas principais explorados no livro é a importância
confidencialidade dos dados, minimizar os riscos e respeitar a dig- da argumentação na construção do pensamento filosófico. O autor
nidade e os direitos dos indivíduos envolvidos. discute como a argumentação é essencial para o desenvolvimento
do raciocínio crítico e para a análise e avaliação de ideias e argu-
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
8.O que significa o termo “inteligências coletivas” conforme 15.Qual é a relação entre a argumentação e a comunicação fi-
abordado na palestra? losófica, de acordo com o autor?
(A)A soma das inteligências individuais de um grupo. (A)A argumentação é irrelevante para a comunicação filosófica.
(B)A inteligência artificial aplicada em comunidades online. (B)A argumentação é um obstáculo para a comunicação filo-
(C)A capacidade de colaboração e criação de conhecimento sófica.
compartilhado por meio da internet. (C)A argumentação é central na transmissão e na defesa de
(D) O desenvolvimento de uma única inteligência superior por ideias filosóficas.
meio da cooperação. (D) A argumentação prejudica o entendimento entre os inter-
locutores.
9.Quais são alguns dos desafios mencionados por Pierre Levy
em relação às inteligências coletivas? 16.O autor destaca a importância de uma postura ética na ar-
(A)A falta de conectividade global. gumentação filosófica. O que isso significa?
(B)A manipulação de informações nas redes sociais. (A)Utilizar falácias e manipulações para fortalecer os argumen-
(C)O excesso de privacidade no ambiente digital. tos.
(D) A escassez de plataformas colaborativas. (B)Ser respeitoso e honesto na apresentação e no debate de
argumentos.
10.Qual é o objetivo principal do livro “Iniciação à História da (C)Ignorar princípios lógicos e valores éticos no processo argu-
Filosofia”? mentativo.
(A)Apresentar um estudo detalhado sobre a filosofia contem- (D) Desconsiderar a coerência e a fundamentação dos argu-
porânea. mentos.
(B)Explorar a filosofia pré-socrática e seu impacto na história
da filosofia. 17.Qual é o tema principal abordado no livro “O Outro”?
(C)Oferecer uma introdução à história da filosofia desde os pré- (A)A identidade individual e coletiva.
-socráticos até os filósofos contemporâneos. (B) A importância do diálogo na sociedade.
(D) Analisar a influência da filosofia moderna nos movimentos (C) A alteridade e a relação com o outro.
artísticos do século XIX. (D) A diversidade cultural e social.
11.Quais são algumas das correntes filosóficas abordadas na 18.O que o autor destaca como essencial na construção de uma
parte III do livro? sociedade mais justa e inclusiva?
(A)Racionalismo, empirismo, idealismo e positivismo. (A)O respeito às diferenças e a valorização da diversidade.
(B)Existencialismo, pragmatismo, positivismo lógico e filosofia
(B)A busca por uma identidade coletiva unificadora.
da linguagem.
(C)O estabelecimento de leis e regulamentos rígidos.
(C)Fenomenologia, hermenêutica, estruturalismo e descons-
(D) A defesa dos próprios interesses individuais.
trução.
(D) Realismo, nominalismo, escolástica e positivismo.
19.De acordo com o autor, qual é a importância do diálogo na
relação com o outro?
12.Quem são alguns dos filósofos mencionados na parte IV do
(A)Permite estabelecer uma identidade coletiva homogênea.
livro?
(A)Platão, Aristóteles, Descartes e Spinoza. (B)Promove a compreensão mútua e a superação do egocen-
(B) Kant, Hegel, Nietzsche e Heidegger. trismo.
(C) Sócrates, Rousseau, Marx e Freud. (C)Reforça a segregação e a exclusão social.
(D) Wittgenstein, Russell, Popper e Quine. (D) Impede a expressão da individualidade.
13.De acordo com o artigo, quais são alguns dos aspectos éti- 20.Qual é o objetivo principal do livro “Os Clássicos da Política
cos abordados nas pesquisas em seres humanos? 1”?
(A)Consentimento informado, critérios de seleção e responsa- (A)Apresentar uma visão abrangente da história política mun-
bilidades dos pesquisadores. dial.
(B)Avanços científicos, benefícios para a saúde e critérios de (B)Expor as ideias políticas contemporâneas.
segurança. (C)Analisar as políticas governamentais ao longo dos séculos.
(C)Impacto social, direitos humanos e regulamentação gover- (D) Proporcionar uma compreensão aprofundada dos funda-
namental. mentos da teoria política.
(D) Autonomia dos participantes, custos financeiros e promo-
ção da justiça social. 21.O livro “Os Clássicos da Política 1” reúne textos de quais
pensadores políticos?
14.Qual é a importância destacada pelos autores no artigo? (A)Apenas pensadores contemporâneos.
(A)Promover um diálogo interdisciplinar entre profissionais da (B)Apenas pensadores brasileiros.
saúde. (C)Apenas pensadores do século XX.
(B)Estabelecer diretrizes rígidas para as pesquisas em seres hu- (D) Pensadores políticos clássicos de diferentes períodos his-
manos. tóricos.
(C)Fomentar a competição entre instituições de pesquisa.
(D) Priorizar os benefícios científicos em detrimento da ética.
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
22.Qual é a importância de buscar o livro completo para o es- 29.Segundo o autor, qual é a visão proposta para o ensino de
tudo da teoria política? filosofia no ensino médio?
(A)Para conhecer a visão política do organizador, Francisco C. (A)Uma abordagem desvinculada da realidade dos estudantes.
Weffort. (B)Uma ênfase na memorização de conceitos filosóficos.
(B)Para obter uma visão completa da história política mundial. (C)Uma prática de questionamento e reflexão crítica.
(C)Para aprofundar o conhecimento sobre as teorias políticas (D) Um foco exclusivo na história da filosofia.
clássicas.
(D) Para discutir as políticas governamentais contemporâneas. 30.Como o autor propõe a relação entre a filosofia e os proble-
mas vivenciados pelos estudantes?
23.Quais são os temas abordados no livro “Filosofia e Ensino: (A)Desvinculando a filosofia das questões da realidade.
Um Diálogo Transdisciplinar”? (B)Estabelecendo uma conexão entre a filosofia e os interesses
(A)O ensino de matemática e ciências no contexto escolar. dos estudantes.
(B)A relação entre a filosofia e a política contemporânea. (C)Limitando a filosofia a conceitos teóricos distantes do coti-
(C)A interdisciplinaridade entre a filosofia e outras disciplinas. diano.
(D) A história da filosofia desde os pré-socráticos até os dias (D) Priorizando a memorização de conteúdos filosóficos.
atuais.
31.Qual é o papel do professor de filosofia, de acordo com o
24.Qual é o público-alvo principal do livro “Filosofia e Ensino: autor?
Um Diálogo Transdisciplinar”? (A)Transmitir conhecimentos filosóficos de forma autoritária.
(A)Professores de filosofia em universidades. (B)Desencorajar a participação ativa dos estudantes.
(B)Estudantes de filosofia interessados na área do ensino. (C)Estimular o pensamento crítico e o diálogo.
(C)Educadores e professores de diversas disciplinas. (D) Ignorar a importância do ensino de filosofia no ensino mé-
(D) Filósofos profissionais que atuam na área de educação. dio.
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