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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – FAFIC DEPARTAMENTO


DE FILOSOFIA – DFI

RAILSON FERREIRA DA SILVA

A ESSÊNCIA EVIDENCIADA SEGUNDO


SCHOPENHAUER

Mossoró
2023
RAILSON FERREIRA DA SILVA

A ESSÊNCIA EVIDENCIADA SEGUNDO


SCHOPENHAUER

Monografia apresentada ao Departamento


de Filosofia da Faculdade de Filosofia e
Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte como um
dos requisitos para obtenção do grau de
Licenciado em Filosofia.

Orientador: Prof. Elder Lacerda Queiroz

Mossoró
2023
RAILSON FERREIRA DA SILVA

A ESSÊNCIA EVIDENCIADA SEGUNDO


SCHOPENHAUER

Monografia apresentada ao Departamento


de Filosofia da Faculdade de Filosofia e
Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte como um
dos requisitos para obtenção do grau de
Licenciado em Filosofia.

Mossoró, 03 de abril de 2023

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Elder Lacerda


Queiroz – UERN
Orientador

Prof. Dr. William Coelho


de Oliveira - UERN

Prof. Dr. Josailton Fernandes de


Mendonça - UERN
Dedico este trabalho ao meus pais que me
incentivaram a ingressar e uma faculdade.
AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus professores do curso que me ensinaram muito durante


todo o curso. Aprendendo não somente sobre as temáticas de cada disciplina, mas
também aprendendo a ser um professor.
RESUM

Este trabalho tem por objetivo mostrar como o conceito de vontade em


Schopenhauer é trabalhada e evidenciada a partir de sua obra filosófica, visto que o
que normalmente aparece em plataformas como o do Youtube, satis do Google são
resumos, simplificações que por vezes podem soar simplistas demais diante da
grandeza do filósofo e sua importância, inclusive para os que o sucederam. Para
tanto, usarei como literatura principal: O Mundo como Vontade e Representação,
mais especificamente os livros I e II; ainda como texto auxiliar usarei Sobre a
Vontade na Natureza, do mesmo autor. Além de complementar com outros livros
como dicionários filosóficos, Filosofia- Idade Contemporânea. Vol. III, Uma História
da Filosofia- Do Iluminismo Francês a Nietzche. Vol.3, entre outros. Dessa forma,
procurarei mostrar como, e de certo modo até bastante intuitiva ele procura
demonstrar que a realidade última, aquilo com a qual Kant percebeu ser algo
inalcançável ao ser humano chegar à coisa mais fundamental da realidade, a partir
do filósofo ele consegue mostrar que esse mistério agora pode ser revelado. Entre
as nuances de todo o real Schopenhauer propõe mostrar que a vontade não é
somente uma faculdade do sujeito como em geral na filosofia se entendia, mas algo
que permeia toda a realidade. E que de fato ele consegue impor um rigor científico
para mostrar que a ideia da Vontade é um produto de uma razão lógica e bem
fundamentada. Ele caminha entre vários aspectos da realidade para fundamentar
sua ideia; e nisso ele chega a revelar a manifestação da Vontade desde o homem
até as leis que regem a natureza. No primeiro capítulo busco trabalhar um pouco
sobre o que antecede a ideia central da monografia, que seria a Representação e as
formas do intelecto. Noutro momento eu tratarei de mostrar como a Vontade é
revelada e a partir daí como ela é manifesta no homem, animais e plantas, o que
constitui o mundo orgânico. E por último, falo sobre a manifestação dela nas leis que
regem a natureza, e ainda acrescentando alguma observação.

Palavras-chave: Vontade; Representação; Formas do intelecto.


ABSTRA

This work aims to show a little more than is usually shown about
Schopenhauer's philosophy. Since what usually appears in the media in general are
summaries, simplifications that can sometimes sound too simplistic in the face of the
greatness of the philosopher and his importance, including for those who followed
him. For that, I will use as main literature: The World as Will and Representation,
more specifically books I and II; still as an auxiliary I will use Sobre a Vontade na
Natureza, by the same author. In addition to complementing with other books. In this
way, I tried to show how, and in a very intuitive way he tries to demonstrate that even
the last reality, that with which Kant feels to be something unreachable for the human
being to reach the most fundamental thing of reality, from the philosopher he
manages to show that this mystery can now be revealed. Among the nuances of all
reality, he proposes to show with empirical bases what fosters the idea of Will. And
indeed, he manages to impose an almost scientific rigor to show that the idea of Will
is a product of a logical and well-founded reason. He walks between various aspects
of reality to substantiate his idea; and this he manages to reveal the manifestation of
the Will from man to the laws that govern nature. In the first chapter I try to work a
little on what precedes the central idea of the monograph, which would be the
Representation and the forms of the intellect. In another moment I tried to show how
the Will is revealed and from there how it is manifested in man, animals and plants,
which constitutes the organic world. And finally, I talk about its manifestation in the
laws that govern nature, and still adding some observation.

Keywords: Willing; Representation; forms of intellect.


SUMÁRI

INTRODUÇÃO..............................................................................................................9
...........
1. A
. .REPRESENTAÇÃO
. . . . . . . . . . . . . . . . .E. .SUA
. . . .ESTRUTURA.........................................................12
..........
1. 1.
. .A
. .REPRESENTAÇÃO........................................................................................12
.................
1. 2.
. . ESPAÇO,
. . . . . . . . .TEMPO,
. . . . . . .CAUSALIDADE..................................................................15
.............
2. A
. .VONTADE
. . . . . . . . . MANIFESTA......................................................................................18
.........
2. 1.
. .A
. .DESCOBERTA
. . . . . . . . . . . . . DA
. . . VONTADE.......................................................................18
.........
2. 2.
. .A
. .VONTADE
. . . . . . . . . NO
. . . MUNDO
. . . . . . . .ORGÂNICO..............................................................22
..........
2. 3.
. .A
. .VONTADE
. . . . . . . . . NO
. . . MUNDO
. . . . . . . .INORGÂNICO..........................................................29
............
CONCLUSÃO.............................................................................................................30
..........
REFERÊNCIAS...........................................................................................................32
...........
9

INTRODUÇÃO

No presente trabalho que tem como tema "A Essência Evidenciada Segundo
Schopenhauer" pretendo trabalhar o conceito de vontade, assim como mostrar a
forma pela qual ela se manifesta na realidade. Vejo com certa importância esse
estudo pois ela se propõe, sobretudo, a mostrar na perspectiva do filósofo como
essa vontade é manifesta na realidade. Percebo que a tal conceito expresso por ele
na sua filosofia se constitui um marco filosófico, principalmente por tentar dar uma
resposta que seu antecessor, Kant, não deu 1, e com isso acabar chegando a uma
solução do problema deixado por Kant. Como tal conceito da Vontade é percebido
por mim como fato importante na obra do filósofo, penso que desenvolver, buscar
mais as razões que levaram Schopenhauer a gastar muitos anos de sua vida para
produzir toda uma filosofia é algo importante, e como tal me pus a trabalhar esse
conceito e sua razão de ser na realidade.
O que é a vontade e como ela se manifesta no mundo? Irei evidenciar como
essa Vontade concebida pelo filósofo se manifesta no mundo em suas mais variadas
formas e maneiras. Visto que esse conceito é muito trabalhado em outros filósofos
como Kant, Agostinho, em Schopenhauer tal conceito toma uma nova forma.
Portanto, essa pergunta acaba se tornando importante de ser respondida ao final do
trabalho.
De início me atenho a dar as bases que antecedem a Vontade. Com isso no
primeiro capítulo, seção "1.1. A representação" vemos que no livro O mundo como
representação- Livro Primeiro nos é apresentado um sujeito que conhece; e nessa
relação do conhecer ela se dá com outra coisa, no caso: o objeto. Noutro momento
demonstro uma parte que constitui um passo importante na filosofia de
Schopenhauer, pois ele demonstra que há uma realidade primeira que aparece ao
indivíduo, mas ela mesma não é a realidade última. A filósofa Jacqueline Russ
mostra esse aspecto da realidade ilusória que o filósofo trata " O que tomamos por
realidade e designamos como "mundo" nada é além de uma representação
subjetiva, de uma ilusão" (RUSS, 2015, p. 294). Sigo mostrando que a partir do
filósofo a relação sujeito-objeto se dá de tal modo que ambos produzem aquilo que
se chama de representação: "O mundo considerado como representação [...]
compreende duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis. A primeira é o
objeto [...] a segunda é o sujeito" (SCHOPENHAUER, 2001, p. 11). Em dado
momento diferencio diante da perspectiva do filósofo dois tipos de representações, a
saber, as intuitivas, e as abstratas. Já na seção "1.2. Espaço, Tempo, Causalidade"
desenvolvo os fundamentos da representação em Schopenhauer, que para Kant,

1 Resposta ao problema da impossibilidade de conhecimento da Coisa-em-Si.


1
desenvolvo os fundamentos da representação em Schopenhauer, que para Kant,
além do espaço e tempo teriam também as categorias 2. No entanto, em
Schopenhauer ele reduzirá as categorias em uma: causalidade. E sendo assim,
tempo, espaço e causalidade são estruturas a priori do conhecimento, e essas além
de se constituírem como a base para toda experiência do mundo fenomênico, são ao
mesmo tempo estruturas inseparáveis uma das outras. E por fim, nesse capítulo
finalizo mostrando que o espaço, tempo e causalidade são estruturas a priori
inseparáveis, pois segundo Schopenhauer, a ação da matéria sempre se dará nessas
condições: espacial, temporal e causal. Portanto seguindo para o capítulo seguinte
entendo que a representação nos é dada diante da relação, sujeito-objeto; que por
sua vez, é condicionada às leis a priori do espaço, tempo e causalidade.
No segundo capítulo desenvolvo a ideia mais geral de Schopenhauer. Na
seção " 2.1. A Descoberta da Vontade" procurarei mostrar como a vontade se
apresenta. Num primeiro momento mostro a visão do filósofo sobre a incapacidade
dos filósofos e das ciências de descobrir, chegar a descobrir a essência íntima da
realidade. Seguirei mostrando que essa busca empenhada por ele em dado
momento chega a se voltar ao sujeito. Nesse momento aquela realidade que antes
estava encoberta pelo véu de Maya, agora, a partir do filósofo, se mostra visível se
partirmos do sujeito, das suas ações. Ele, inclusive demonstra esse fato "[...] o
conhecimento que tenho da minha vontade, embora imediato, é inseparável do
conhecimento que tenho do meu corpo." (SCHOPENHAUER, 2001, p. 111). Em
demonstro alguns pontos que tornam a vontade algo tão característico. Na seção
"2.2. A Vontade no Mundo Orgânico" pretendo demonstrar a vontade de fato como
manifestação nos seus mais diversos seres. Nesse momento usarei bastante o livro
Sobre a Vontade na Natureza, pois reforça bastante a ideia do autor. No início,
começamos pelo homem, sujeito este por onde começou a busca da Vontade. Tal
sujeito é posto como morada de uma vontade que se manifesta nas ações
motivadas e involuntários por ocasião de atos do próprio corpo. Em seguida prossigo
trabalhando o agir nos animais. Os animais, diferente dos homens, não é dotado de
razão; portanto, tem suas carências. No entanto, tal carência é suprida com suas
potencialidades físicas. Nas plantas a vontade também é demonstrada nos seus
movimentos que aparentam uma intencionalidade, onde a vontade de viver se
afirma. Por último, na seção "2.3. A Vontade no Mundo Inorgânico" começo por
mostrar que Schopenhauer percebe que as ciências que estudam tais fenômenos só
conseguem estudar as condições em tais forças atuam, mas nunca elas em sua
2 As doze categorias em Kant, sendo essas: 1. Quantidade: Unidade, Pluralidade e Totalidade; 2.
Qualidade: Realidade, Negação e Limitação; 3. Relação: Da inerência e Subsistência (substância e
acidente), Da causalidade e Dependência (causa e efeito), Da reciprocidade (ação recíproca entre
agente e paciente); 4. Modalidade: Possibilidade-Impossibilidade, Existência-Inexistência e
Necessidade-Contingência.
1

essência. E por fim o filósofo segue mostrando como o agir da vontade em


determinado momento acaba demonstrando seu caráter irracional quando diferentes
forças atuam uma contra a outra. Nesse último capítulo é mostrado o caminho pelo
qual Schopenhauer chegou a utilizar para chegar à vontade a partir do mundo
inorgânico. E assim encerro o capítulo concluindo que há graus da manifestação da
vontade na natureza, passando do mundo inorgânico ao mundo orgânico e
chegando ao seu ponto máximo no homem.
1
1. A REPRESENTAÇÃO E SUA ESTRUTURA
1. 1. A REPRESENTAÇÃO

Antes de abordar a proposta central dessa monografia é importante analisar


os fundamentos das ideias de Schopenhauer. Para chegar à Vontade é preciso
começar por algo fundamental: A representação 3. Digo isso porque ele vai pensar
primeiro numa relação importante que é a relação Sujeito-Objeto
Como eu me relaciono com o mundo que está à minha volta? Como eu
concebo o mundo? Essa reflexão ele, como bom admirador de Kant, pegará e trará
para sua filosofia como ponto de partida. Ele no "Livro I-O Mundo como
Representação" logo de início começa com a afirmação "O mundo é a minha
representação..." (SCHOPENHAUER, 2001, p. 09). Aqui ele começa introduzindo
seu conceito inicial4 e entrando na sua epistemologia, por onde ele trabalhará como
o indivíduo percebe o mundo, os objetos à sua volta.
Ele coloca que essa ideia de Representação é uma verdade incontestável
principalmente para o homem pensante. Essa verdade se torna evidente a partir do
momento que tudo que existe tem uma relação muito ligada ao pensamento. O que
existe só existe no momento em que o indivíduo o pensa; o homem tenta dar sentido
à realidade que se mostra para ele, portanto, tudo o que o homem observa, tem
contato ele tem a tendência de conceituá-lo, dar sentido. Então sendo assim, o
mundo da experiência seria o mundo da representação em que o indivíduo dá
sentido às coisas. Nessa perspectiva da representação há uma relação muito forte
entre o sujeito que percebe o mundo e o objeto que está no mundo, pois não há
objeto sem o sujeito, mas há sujeito sem objeto; afinal de contas uma árvore não dá
sentido às coisas, somente o sujeito pode a partir de sua percepção, experiência.
Essa relação (Sujeito-Objeto) se dá quando há uma representação mental do
objeto e essa representação não se apresenta para o indivíduo como algo isolado e
separado, pois todas nossas representações estão relacionadas com outras, nós
percebemos os vários elementos daquele objeto e configuramos assim a forma
como nós entendemos tal objeto. Por exemplo, quando olhamos para uma algo no
formato da cadeira, identificamos que o que seria o assento serviria para sentar, o
encosto para apoiar as costas, etc. Nesse caso, é como se houvesse uma ligação de
elementos representacionais causando, gerando o conhecimento de determinado
objeto.
Como já colocado, existe a representação que nada mais é que o objeto
percebido e dado uma significação a ele; a representação, por sua vez, se constitui
de duas metades essenciais e inseparáveis: O sujeito e o Objeto. O sujeito é o que

3 Sobre a Representação Roger, Alain define tal conceito como "... a representação é o mundo, tal
como ele aparece no ato perceptivo, e ela se define como a relação indissolúvel do sujeito percipiente
com o objeto percebido." (ROGER, 2013, p. 64)
4 Conceito de Representação
1

conhece, e dotado de razão, ele é o único na relação que conhece. Podemos dizer
que o sujeito é ponto de partida do conhecer. Schopenhauer elucida bem esse
ponto:

Aquele que conhece todo o resto, sem ser ele mesmo conhecido, é o sujeito.
Por conseguinte, o sujeito é o substratum do mundo, a condição invariável,
sempre subentendida de todo fenômeno, de todo objeto, visto que tudo o que
existe, existe apenas para o sujeito. (SCHOPENHAUER, 2001, p. 11)

O objeto, por sua vez, é o que é conhecido; nunca é o que conhece. Essa
dependência do objeto para com o sujeito é primeira condição. Ambos não têm
muito sentido sem a existência do outro.
O filósofo colocará essa constatação do fenômeno como uma verdade que se
pode afirmar a priori "Se existe uma verdade que se possa afirmar a priori é esta,
pois ela exprime o modo de toda experiência possível e inimaginável, conceito muito
mais geral que os de tempo, espaço e causalidade que o implicam."
(SCHOPENHAUER, 2001, p. 09)
O objeto representado por ocasião da experiência não é algo que o indivíduo
simplesmente tem o contato e a partir daí ele apreende, conhece e dá sentido e logo
após o eleva à condição de representação, muito pelo contrário, dentro nesse
processo ele vai pensar em dois tipos de representações: intuitivas (INTUITIVE
VORSTELLUNGEN) e abstratas (ABSTRAKTE VORSTELLUNGEN). A primeira diz
respeito à percepção pura do objeto, ao objeto tal como ele se apresenta
fisicamente, onde o objeto da experiência está condicionado à forma subjetiva do
homem. A segunda, por sua vez, diz respeito à abstração e conceituação dos
objetos; nesse momento a razão é uma característica importante dessa
representação.
Aqui ele entende que a categoria das representações intuitivas é comum ao
homem e ao animal, já a abstrata, exclusiva do homem. É importante esse momento
porque é aqui que ele começa a tecer a diferença do homem para o animal.
Poderíamos pensar simplesmente que, haja vista que o objeto é percebido por um
sujeito, logo os animais estariam nessa categoria de sujeito; afinal de contas eles
são dotados de algum grau de razão. No entanto ele deixa claro que a razão do
homem é superior à dos animais. Mesmo assim, Schopenhauer não exclui os outros
seres vivos dessa relação que se manifesta no contato com a realidade. Muito pelo
contrário, ele deixa claro as diferenças de relação sujeito-objeto e, digamos, animal-
objeto. Frederick Copleston no seu livro "Uma história da Filosofia- Do iluminismo
francês a Nietzsche. Vol. III " relata um pouco essa diferença:
1
Há um mundo fenomênico não somente para o homem, mas também para os
animais. Pois as condições de sua possibilidade estão presentes também
nestes, sendo essas condições as formas de sensibilidade a priori, a saber, o
espaço e o tempo, e a categoria do entendimento, a saber, a causalidade
(COPLESTON, 2022, p. 634)

Os animais possuem a possibilidade de entendimento do objeto, mas


diferentemente do homem, ele não possui a razão (VERNUFT) no seu grau maior
que o levaria a conceituar o objeto, ou mesmo, refletir sobre algo de forma bem
abstrata. Portanto fica claro que a percepção do animal é limitada à espaço, tempo e
relações de causalidade.
1

1. 2. ESPAÇO, TEMPO, CAUSALIDADE

Agora há outro aspecto nesse mundo do fenômeno que é essencial, que são
as ideias de Espaço, Tempo e Causalidade. Dentro desse panorama do mundo da
representação esses elementos são também de extrema importância. Na
epistemologia Kantiana5 havia a sensação e era ela que ao intuir os objetos os
colocavam e situavam eles no espaço e no tempo. Com Schopenhauer ele traz
consigo a ideia kantiana, no entanto, retira as categorias do intelecto de Kant e
coloca no lugar a Causalidade 6. Ele a partir da própria experiência entende que nós
percebemos as coisas via causalidade e situada dentro do espaço e tempo. Ele quer
dizer com isso que os objetos da experiência nos são apresentadas a partir da
estrutura de causa e efeito, e que esse comportamento da matéria é ao mesmo
tempo uma ação situada do espaço e tempo. Esta compreensão via experiência e
suas condições são da ordem da representação intuitiva pois nela é que são
percebidas a realidade e sua estrutura do espaço, tempo e causalidade.
Esse conhecimento a priori7 é a condição de toda experiência, e é nesses
termos que a experiência é dada ao indivíduo, e portanto, o sujeito consegue
conhecer e conceituar o objeto. Digamos que essas formas da experiência (Espaço,
tempo e Causalidade) é a estrutura da realidade que dá a condição necessária do
homem conhecer, ser um sujeito à conhecer 8. Schopenhauer vai perceber essa
estrutura como algo de mais básico na interação do sujeito com o objeto. A
causalidade, por exemplo, constitui a realidade básica da matéria, pois a realidade
dela se manifesta na sua atividade; tal causalidade se torna visível na atividade da
matéria, uma vez que a atuação de um objeto sobre o outro só é percebida quando
um exerce uma ação física. Neste momento vemos a causalidade e percebemos ela
na sua forma imediata e o objeto acaba por ser nesse sentido "Causa e Efeito". Ora,
não existe uma ação sem uma causa que a possa descrevê-la; por isso que esse
princípio é uma realidade básica da matéria e não apenas mais uma característica,
um atributo, mas algo que na intuição se constitui como um dos princípios do real.
Schopenhauer faz questão de ressaltar a qualidade essencial da matéria "Ser causa
e efeito, eis portanto a própria essência da matéria; o seu ser consiste unicamente

5 Sobre o processo epistemológico Kantiano "Existem duas formas puras da intuição sensível, o
espaço e o tempo, representações necessárias para fundamentar todas as nossas intuições, ao
organizarem a experiência antes de qualquer trabalho do entendimento." (RUSS, 2015, p.243)
6 Roger faz uma consideração importante sobre a causalidade em Schopenhauer "Também é
importante não reduzir a causalidade à causa (Ursache), que é apenas uma de suas modalidades na
esfera fenomênica. A causa rege o mundo inorgânico, a excitação (Reiz), o mundo vegetal e o motivo
(Motiv, Motivation)." (ROGER, 2013, P.14)
7 Tempo, Espaço e Causalidade.
8 Russ comentando sobre as formas a priori no processo de conhecimento: "O mundo apresenta-se,
em primeiro lugar, como sensações, modificações do sujeito corporal dotado de sensibilidade, às
quais nosso intelecto impõe as formas intuitivas a priori do tempo e do espaço. O mundo, que emerge
deste modo, é o conjunto dos fenômenos ligados entre si pela lei da causalidade..."(RUSS, 2015,
p.295)
1

na sua atividade." (SCHOPENHAUER, 2001, p. 15).


A ação, por assim dizer, da matéria sobre a matéria se constitui sempre na
modificação produzida por uma das partes sobre a outra; o nexo causal que se
origina da ação se conecta à experiência e clarifica toda a ideia que pretende
demonstrar que, nesse aspecto, tal ação sempre revelará ao indivíduo que aí estará
agindo a causalidade, e não menos que isso.
A atividade da matéria9 não é algo somente característico da causalidade, se
faz também característico como ação ligada ao espaço; afinal de contas, toda ação,
mudança está determinada espacialmente. Como dito anteriormente, o tempo e
espaço são inseparáveis, nesse sentido essa dada ação espacial também está
condicionada ao tempo. Ora, a mudança não é consequência somente do corpo no
espaço, mas também no tempo; há modificações resultantes do agir temporal que
são importantes também. A causalidade não é somente a sucessão de estados no
tempo, mas também considerando o espaço dado.
Schopenhauer faz questão de mostrar em seu texto a importância que essas
formas da experiência têm uma com a outra e levando o autor, inclusive a entender
que uma sem a outra é basicamente fora de questão; não há como ter uma sem a
outra:

Ora, constituindo a causalidade a própria essência da matéria, se a primeira


não existisse, a segunda desapareceria também. Para que a lei da
causalidade conserve todo o seu significado e necessidade, a mudança
efetuada não deve limitar-se a uma simples transformação dos diversos
estados considerados em si mesmos: é preciso antes de mais nada, que num
determinado ponto do espaço, tal estado exista agora e um outro a seguir; é
preciso, além disso, que, num determinado, tal fenômeno se produza aqui e
um outro acolá (SCHOPENHAUER, 2001, p. 16)

Interessante analisarmos que apesar do autor pensar que esses três


fundamentos da realidade são conhecimentos a priori e se estende a todo objeto,
ainda sim essa forma do conhecer é atributo da cognição diante das coisas e não
das coisas nelas mesmas. Ou seja, conhecemos o que os objetos nos aparentam,
mas nunca a essência delas. Diante disso o conhecer sempre se dará numa
perspectiva do sujeito. Toda forma de olhar o objeto será um olhar próprio do sujeito.
E nesse sentido há uma completa dependência do objeto para com o sujeito.

9 "A matéria é a reunião do espaço e do tempo, nesse sentido, "sinônimo de atividade" (M, p. 36) e de
causalidade..."(RUSS,2013, p. 44)
1
1
2. A VONTADE MANIFESTA
2. 1. A DESCOBERTA DA VONTADE

Agora entramos no momento em que há um novo dado na filosofia de


Schopenhauer, e agora, portanto, começamos a entrar no ápice de sua filosofia. O
filósofo não chega até aqui sem um objetivo, sobretudo no que tange a diferença de
sua filosofia com a de Kant ele se destaca e traz algo novo principalmente nesse
ponto acerca da Coisa-em-Si10.
Primeiramente o autor percebe que na história os filósofos percebiam e
trabalharam de formas diferentes usando abordagens diversas para o problema
metafísico11, mas que a procura deles, muito embora diferentes uma da outra
acabam sendo convergentes no que diz respeito à procurar o conteúdo, fundamento
de toda realidade, representação:

Inicialmente a filosofia parece-nos um monstro de várias cabeças, cada uma


das quais fala uma língua diferente. Contudo, sobre este ponto particular que
nos ocupa - a significação da representação intuitiva-, elas não estão todas
em desacordo, visto que, com exceção dos céticos e dos idealistas, todos os
filósofos se encontram, pelo menos quanto ao essencial, no que diz respeito
a um certo objeto, fundamento de toda representação. (SCHOPENHAUER,
2001, p. 105)

Assim não só os filósofos estão à procura do conteúdo do real e com isso


acabam encontrando várias perspectivas para o mesmo objetivo, mas também as
ciências, que segundo ele, também estão tentando encontrar tais respostas. A
matemática, por exemplo, vai lhe dar com a representação enquanto grandezas que
preenchem o espaço e tempo, e ela vai dar sempre a quantidade e grandeza, mas
como estas são sempre relativas quando comparadas uma com a outra, acaba que
esta não é a explicação que o autor pretende encontrar, ele procura algo mais
essencial e sem incompreensão. Schopenhauer agora vai para as ciências naturais,
que segundo ele, descrevem as formas e explicam a mudança que elas se propõem
a conhecer e a partir disso todo um sistema é criado para tentar explicar ao máximo
a realidade, ou parte dela. Com isso todos os fenômenos estudados aparecem com
muitas variações, mas com um único tema; no final das contas a força íntima de tudo
ainda será para essas ciências, um mistério. Schopenhauer com essa sua conclusão
10 COISA-EM-SI. Kant denominou "coisa-em-si" (Dingan sich) - às vezes "coisas-em-si" (Dinge an
sich) o que se acha fora do quadro da experiência possível, isto é, o que transcende as possibilidades
do conhecimento tal como foram delineadas na "Estética transcendental" e na "Analítica
transcendental" da Crítica da Razão Pura. A coisa-em-si pode ser pensada, ou, melhor dizendo,
pode- se pensar o conceito de uma coisa-em-si; a rigor, 'coisa-em-si' é o nome que recebe ''um
pensamento completamente indeterminado de algo em geral" (KrV, A 253). A coisa-em-si, contudo,
não pode ser conhecida, a ponto de poder ser chamada "o algo, x, do qual não sabemos nada nem,
em geral (...), nada podemos saber" (ibid., A 250). (MORA, 2000, p.493)
11 Busca acerca da compreensão da realidade suprassensível
1

acerca da limitação das ciências não pretende desmerecer toda a contribuição da


ciência, mas apenas demonstrar que elas em maior ou menor perfeição, ou grau,
conseguem dar explicação até certo ponto, a partir desse ponto elas se mostram
fracas na sua explicação. Sobre isto ele ressalta:

...embora a etiologia tenha atingido os seus resultados mais perfeitos na


mecânica, e os mais imperfeitos na fisiologia, todavia a força que faz cair uma
pedra, ou que impele um corpo contra outro, não é menos desconhecia e
misteriosa para nós na sua essência do que a que produz os movimentos e o
crescimento do animal (SCHOPENHAUER, 2001, p. 107).

A gente pode perceber que esse é o problema, segundo o autor, da limitação


das ciências enquanto resposta acerca da essência da realidade. Ele ressalta
também da impossibilidade da ciência de se chegar à resposta mais fundamental:

Mas a essência íntima das forças assim demonstradas deverá permanecer


sempre desconhecida, porque a lei a que a ciência obedece não conduz a
ela, e desse modo será preciso limitarmo-nos aos fenômenos e à sua
sucessão (SCHOPENHAUER, 2001, p. 108).

Schopenhauer entende que Kant estava errado ao colocar a Coisa-Em-Si


como algo incognoscível12, que está para além de nossa capacidade de apreender o
mundo, portanto, só temos acesso ao fenômeno. Com isso Schopenhauer não se
sentindo satisfeito começa a procurar a forma pela qual podemos ter acesso à
Coisa-Em-Si. Schopenhauer vai em busca, investiga uma forma pela qual o homem
consiga chegar à realidade última das coisas.
Nesse ponto é importante dizer que assim como Kant, Schopenhauer segue
ele colocando a representação como algo separado da coisa-em-si. Então, nesse
caso, o mundo como representação não é a coisa-em-si. O filósofo traz consigo
ideias do hinduísmo para ilustrar o que o fenômeno 13é para ele. Ele chega a dizer
que o fenômeno é ilusão, que ele concebe como sendo o Véu de Maya 14, pois no
hinduísmo esta expressão diz respeito à uma realidade encoberta, feita de aparência
e que nela há algo para além dessa aparente realidade. Portanto, para o filósofo a
realidade se mostra para o sujeito como mera ilusão, uma aparência que cobre a
verdadeira essência de tudo.
12 "Kant sustentava que a coisa-em-si, a correlativa do fenômeno, é incognoscível. Schopenhauer,
porém, nos diz o que ela é. Ela é Vontade." (COPLESTON, 2022, p.638)
13 Segundo a definição de RUSS "todo objeto de experiência possível, ou seja, o que as coisas são
para nós, relativamente a nosso modo de conhecimento." (RUSS, 2015, p.237)
14 Expressão do hinduísmo que em Schopenhauer serve para ilustrar que a realidade que é
percebida pelo sujeito não passa de algo aparente, e que esconde uma essência oculta.
2

Se existe uma realidade encoberta, como se chegar à realidade última? Ele


entende que há uma maneira de encontrar o númeno 15 de Kant e procura uma forma
de encontra-lo, um meio de acesso, ao que para Kant, é algo que foge à nossa
visão. Copleston em seu livro Uma história da filosofia - Do iluminismo francês a
Nietzche chega a perceber e explicar o ponto fundamental na filosofia de
Schopenhauer:

A discussão da natureza desta realidade e de suas formas de


automanifestação são a parte realmente interessante do sistema de
Schopenhauer. Pois a teoria do mundo como representação, embora seja
na opinião de Schopenhauer uma parte indispensável da sua filosofia, é um
desenvolvimento óbvio da posição de Kant, ao passo que a teoria do mundo
como representação é original (COPLESTON, 2022, p. 635).

Nessa busca fica claro para o filósofo que não é de fora que devemos partir
em busca da coisa-em-si, pois assim chegaríamos a enganos e nisso é que deixa
claro o erro dos filósofos.
Ele vai em direção ao sujeito. Sujeito este que é ao mesmo tempo
representação e sujeito conhecedor. Partindo do sujeito ele percebe nas
manifestações e ações do corpo algo que para ele se chama Vontade. Aqui está o
achado que ele procurava. A essência íntima de toda realidade que Schopenhauer
destaca:

A essência íntima destas manifestações e ações do seu corpo ser-lhe-ia


como lhe agradasse, força, qualidade ou caráter, e não saberia nada mais
por isso. Mas não acontece assim; longe disso, o indivíduo é ao mesmo
tempo o sujeito do conhecimento e encontra aí a chave do enigma: essa
palavra é Vontade. (SCHOPENHAUER, 2001, p. 109).

Essa Vontade seria a essência do homem, aquilo que de mais fundamental


ele tem. A coisa-em-si antes dada por Kant, em Schopenhauer não há mais nada
que possa esconder, encobrir a essência, tudo está à mostra.
Mas o que seria a Vontade? Ela não é no sentido comum da palavra uma
ação do indivíduo provocada, estimulada por algo exterior, mas sim uma força,
impulso cego e irracional que anima o cosmo16.

15 MORA define o númeno: "Númeno ' é um vocábulo técnico na filosofia de Kant. Não é fácil
distinguir em Kant o conceito de númeno do conceito de coisa [VER] 'Númenos' e 'coisas-em-si' [VER]
são expressões que designam o que se acha fora do marco da experiência possível, tal como traçado
na "Estética transcendental" e na "Analítica transcendental" da Crítica da razão pura." (MORA, 2001,
p.501-502)
16 Sobre a extensão da vontade ROGER comenta "...do ponto de vista metafísico, "o mundo é minha
vontade" (M, P.25), ou, mais exatamente, a vontade, pois esta se estende ao conjunto dos fenômenos
e adquire, assim, um estatuto cosmológico." (ROGER, 2013, p.72)
2
No homem ela se dá na ação, movimento do corpo como um todo, mas como
mostrarei a ação da vontade no homem se manifesta não somente no movimento
voluntário do braço, mas em todo o corpo por meio de ações voluntárias ou
involuntárias.
E outro ponto que ele considera é que a vontade não é semelhante a todos os
objetos da representação, visto que ela não é o objeto, mas o próprio conteúdo da
realidade, e essa se diferencia em muitos aspectos; um deles é a independência
dele do sujeito. Por exemplo, nos capítulos anteriores foi observado que o objeto
não é nada sem o sujeito que lhe dá contornos representacionais; e diferente do
objeto a vontade não é condicionada a existir a partir do sujeito. Ela existe
independentemente do sujeito. Além disso ela não é sujeita às leis que regem o
mundo fenomênico. O filósofo mesmo constata isso no seu livro Sobre a Vontade na
Natureza:

...por isso, essa vontade, longe de, como supunham todos os filósofos até
agora, ser inseparável da cognição e mesmo um mero resultado da mesma
– dela, que é totalmente secundária e tardia –, é fundamentalmente distinta e
plenamente independente desta, e que consequentemente essa vontade
pode também existir e se manifestar sem ela, o que é realmente o caso em
toda a natureza, dos animais para baixo. (SCHOPENHAUER, 2013, p. 27).

Portanto, observa-se que, segundo Schopenhauer, devemos partir do sujeito


na investigação sobre qual seria o conteúdo de toda realidade. E partindo do sujeito,
de suas ações percebemos que se apresenta para nós aquilo a que chamamos de
Vontade. Vontade essa que não é algo próprio do sujeito, mas do cosmo.
2

2. 2. A VONTADE NO MUNDO ORGÂNICO

Agora irei trabalhar um pouco sobre as variadas formas de manifestação da


vontade na realidade. Nesse primeiro momento pretendo a manifestação no mundo
orgânico, pois para Schopenhauer o homem não é o único portador dessa essência
íntima do real, mas um microcosmo dentro do macro.
A partir desse momento podemos dizer que o sujeito, até então, unicamente
ligado aos objetos numa espécie de relação Sujeito-Objeto, agora toma uma nova
forma de nós olharmos ele; o sujeito agora pode ter um aspecto de dualidade porque
ele pode ser dado de duas maneiras: como objeto no conhecimento fenomenal
submetido às leis de Espaço, Tempo e Causalidade; e também como sujeito portador
da vontade. E com isso Schopenhauer percebe que ao mesmo tempo que o
movimento do corpo, ação dela de forma voluntária ou involuntária, se constitui
como ato da vontade, ela se torna vontade objetivada:

Todo ato real, efetivo, da vontade é imediata e diretamente um ato fenomenal


do corpo; e, pelo contrário, toda ação exercida sobre o corpo é por esse fato
e imediatamente uma ação exercida sobre a vontade: como tal, ela designa-
se dor quando vai contra a vontade; quando lhe é conforme, pelo contrário,
chama-se bem-estar ou prazer (SCHOPENHAUER, 2001, p. 110).

O conhecimento que temos da vontade acaba sendo inevitavelmente o


conhecer os atos do corpo; a condição do conhecimento da vontade passa pelo
conhecimento do meu corpo. Schopenhauer chega a chamar o conhecimento da
vontade de verdade filosófica por excelência.
Ele observa que a manifestação da vontade se torna visível, por exemplo, na
ação de seres cognoscentes por meio de motivos, ou mesmo através das funções
vitais e de eventos do funcionamento do corpo. Entendendo que "Motivos" 17 nada
mais são que a ação do indivíduo motivada por um querer, percebemos que a ação
da vontade no corpo se dá, entre outras formas, como uma ação em busca de algo
que o sacie.
Em Sobre a vontade na natureza Schopenhauer diz ter encontrado
confirmações através do médico dinamarquês Joachim Dietrich Brandis em seus
escritos18. Nesse escrito o médico retrata a reação do corpo a algo prejudicial;
reação natural de defesa do corpo:

17 Comentário sobre motivo "O motivo pode ser definido como um estímulo externo, cuja ocasião
gera uma imagem no cérebro, sob cuja mediação a vontade realiza o efeito propriamente dito, a ação
corporal." (SCHOPENHAUER, 2013, p.40)
18 Erfahrungen über die Anwendung der Kälte in Krankheiten [Experiências sobre a aplicação do frio
em doenças], Berlim 1833
2
Isso ocorre até mesmo nos processos vitais mais elevados da inflamação:
algo de novo é formado e o prejudicial é expulso; mais do elemento formável
é levado até o local pelas artérias e mais sangue venoso escoa, até que o
processo de inflamação esteja completo e a vontade orgânica aplacada. Essa
vontade pode, porém, ficar também tão excitada que não é mais possível
aplacá-la. Essa causa excitante (estímulo) age ou imediatamente sobre o
órgão singular (veneno, contagium), ou afeta a vida como um todo, ao que
essa vida logo começa a fazer os maiores esforços para afastar o danoso ou
para alterar a disposição da vontade orgânica, incitando funções vitais críticas
em certas partes individuais – inflamações – ou também exaurindo a vontade
insatisfeita (SCHOPENHAUER, 2013, p. 33).

O filósofo faz ainda uma relação interessante entre a manifestação da


vontade e as partes do corpo:

...os dentes, o esôfago e o canal intestinal são a fome objetivada; as mãos


que agarram, os pés rápidos correspondem ao exercício já menos imediato
da vontade que eles representam. Do mesmo modo que a forma humana em
geral corresponde á vontade humana em geral, a forma individual do corpo,
muito característica e muito expressiva por consequência, no seu conjunto e
em todas as suas partes... (SCHOPENHAUER, 2001, p. 118).

Ele vai concluir também que as ações dirigidas pelo sistema nervoso e seus
processos que mantêm o corpo em perfeito funcionamento também são ações
submetidas à vontade. Aqui vemos Schopenhauer adentrando cada vez mais na
estrutura fisiológica do corpo e como esta é nada menos que a vontade manifesta,
sobretudo em suas ações. Ele também não se atém somente aos atos movidos por
motivos; em dado momento ele começa a alargar ainda mais as possibilidades e
chega a explicar os atos movidos por estímulos:

Há também provas específicas para o fato de os movimentos segundo


estímulos (os não arbitrários) partirem, assim como os segundo motivos (os
arbitrários), da vontade: como os casos em que o mesmo movimento ocorre
ora segundo um estímulo, ora segundo um motivo, como, por exemplo, a
contração da pupila: ela ocorre segundo um estímulo com o aumento da luz e
segundo um motivo ao nos esforçarmos por observar um objeto muito
próximo e pequeno com precisão; pois a contração da pupila permite ver com
nitidez a uma distância mínima, efeito que pode ser aumentado ainda mais se
olharmos através de um buraco furado com uma agulha em uma folha de
papel.. (SCHOPENHAUER, 2013, p. 43-44).

E cabe aqui uma diferença entre estímulo e motivo: o estímulo segundo


2

Schopenhauer, advêm de uma reação imediata; já o motivo advém a partir do


estímulo da imagem, que por sua vez, passa pelo cérebro e então reage como ato.
A gente pode ver mais atos involuntários no corpo, que para se hidratar estando em
ambiente de muito calor necessita transpirar. Agora atos voluntários se manifesta a
partir da ereção que é ocasionada por motivo via representação, que por sua vez
atuará por meio da excitação. Nisso a gente pode perceber que a ação do corpo não
se dá somente em atos voluntários, mas de mesmo modo em involuntários também.
Vemos com isso que a vontade não se dá apenas em partes do corpo, mas em todo
corpo; portanto, o corpo inteiro é a expressão da vontade, vontade objetivada.
Em um primeiro momento podemos pensar que o intelecto, a razão não tem
uma menor importância dado que a vontade, um impulso que é independente de
tudo, livre, cega, irracional, que a vontade é poderosa de modo a sujeitar a razão à
seu querer, pois razão sempre está sujeita à vontade. No entanto ela tem sua razão
de ser. O intelecto tem limitações, mas estas só no que tange a determinação sobre
a vontade. Nesse sentido o intelecto pode clarear os motivos, mas nunca subjugar a
vontade.
Para o filósofo a vontade sempre avança impulsivamente em suprir seus
desejos. Sendo assim, o homem sempre se manterá submisso ao querer da vontade
de viver, à afirmação da vida Ele afirma que a vontade se coloca e se reafirma numa
espécie de VONTADE DE VIVER na natureza. Copleston mostra como isso se dá a
partir dessa ideia "Os pássaros, por exemplo, constroem ninhos para os jovens que
ainda não conhecem. Os insetos depositam seus ovos onde a larva pode encontrar
nutrição." (COPLESTON, 2022, p. 639)
O que Schopenhauer quer mostrar é a natureza manifesta, a ideia da vontade
de viver através da vida animal. Outro exemplo é a do trabalho incansável das
abelhas e formigas que buscam comida para satisfazer sua fome. Isso acontece
como uma forma desesperada se viver, de manutenção da vida animal. E isso não
acontece somente nos animais; vemos nos homens também. Essa observação
Copleston também faz de forma muito interessante:

E se olharmos para o homem, com sua indústria e comércio, com suas


invenções e tecnologias, devemos admitir que todo esse esforço serve em
primeira instância apenas para sustentar e trazer uma certa quantidade de
conforto adicional a indivíduos efêmeros em seu breve tempo de existência, e
por meio deles para contribuir para a manutenção da espécie (COPLESTON,
2022, p. 639).

A vontade de viver também se reafirma também nas potencialidades dos


animais. Há animais, por exemplo, que tem toda uma estrutura física preparada para
2

viver em árvores longe dos predadores com os quais não teriam chance
alguma. O bicho-preguiça, por exemplo, não é muito capaz de andar, pois sua
condição corpórea lhe dá vantagem trepando nas árvores. Para isso, Schopenhauer
considera ser isso um feito da própria vontade:

A absoluta conformidade aos fins, a evidente intencionalidade em todas as


partes do organismo animal indica de modo demasiado nítido que aqui não
agiram forças da natureza casuais e desorientadas, mas sim uma vontade,
para que isso jamais pudesse ser ignorado seriamente (SCHOPENHAUER,
2013, p. 50).

Como demonstrado acima, a natureza supõe uma racionalidade, muito


embora sendo os feitos nela obra de um impulso irracional, isto é, obra de uma
vontade não guiada por razão. É como se a vontade manifesta no reino animal
mostrasse a quão caótica é esse ambiente. Como se o grau de manifestação de tal
vontade fosse total. Diferente dos homens que apesar da vontade ser suprema, há
de ser percebido que o caos no reino animal não é o mesmo no "reino do homo
sapiens". Nesse em questão há uma certa ordem que faz prevalecer ainda mais a
vontade de viver.
Uma questão que o filósofo nos apresenta é a seguinte: o modo de vida dos
animais teria se ajustado à sua constituição física, ou a constituição física deles teria
se ajustado ao modo de vida? De início ele pretende demonstrar que aparentemente
a resposta é a de que o modo de vida se ajustou à constituição física, visto que a
organização física antecede o modo de vida, de modo que o animal se apoderou do
modo de vida que se adequava à sua estrutura física utilizando-as da melhor forma;
ou seja, "...o pássaro voa por ter asas; o touro chifra por ter chifres, e não o
contrário." (SCHOPENHAUER, 2013, p. 52).
No final das contas ele chega à conclusão de que é a constituição física deles
que teria se ajustado ao modo de vida:

isso tudo comprova que foi o modo de vida querido pelo animal para sua
manutenção que determinou a sua constituição – e não o contrário; isso
comprova também que a coisa tenha ocorrido justamente dessa forma, como
se um conhecimento do modo de vida e de suas condições externas tivesse
antecedido a sua constituição, como se cada animal tivesse escolhido, assim,
o seu equipamento, antes que se corporificasse. (SCHOPENHAUER, 2013,
p. 53).

Essa constatação dele deixa claro que há ali a vontade de viver querendo se
2

apossar da manutenção da espécie deixando-a sobreviver na natureza do mais


forte.
Schopenhauer também se vale de Lamarck para reforçar mais ainda sua
resposta à pergunta antes feita. Para ele o naturalista estava certo ao mostrar que
as "armas próprias" de cada espécie não fora dada de forma alguma na sua origem,
seu nascimento; mas sobretudo, foi sendo dada no seu desenvolvimento gradativo
no tempo e de geração a geração e a partir da circunstância do ambiente; ou seja,
as características físicas dos animais que lhe confere a habilidade de sobrevivência
não nasce com ele em seu estado final, mas foi sendo dado conforme a sua espécie
foi de geração em geração se adaptando:

Desse modo, diz ele, as aves e os mamíferos aquáticos obtiveram


gradativamente suas membranas natatórias somente por terem afastado os
dedos dos pés ao nadar; aves pantaneiras obtiveram pernas e pescoços
longos por consequência de seu vadear; os bovídeos obtiveram seus chifres
gradualmente somente porque, na falta de uma mandíbula apropriada,
lutavam apenas com a cabeça, e essa vontade de lutar gerou gradualmente
chifres ou galhadas... (SCHOPENHAUER, 2013, p. 54-55).

Com isso ele reforça a ideia de que a constituição física do animal pressupõe
o agir da vontade de viver em seu estado mais puro; pois há animais voltados à
caça, tendo, portanto, mandíbulas, garras, há também os animais que tem por
excelência se proteger. Nesse ponto fica claro que todo desejo da vontade de se
afirmar na natureza está posta. Sua organização física deve estar disposta de tal
modo à uma finalidade que nada pode ser encontrado como algo inútil ou contrário,
de modo a dar dificuldades.
Um ponto importante que Schopenhauer mostra é que o homem e o animal
tem suas potencialidades e suas carências, o filósofo traz esse ponto para mostrar a
diferença de ambos. No homem há a razão e o entendimento que são superiores à
dos animais justamente pelo homem conter carências quanto a seus aspectos
físicos em diferença com a de outros animais. Há certas características físicas que
enquanto um tem de sobre, noutro tem em falta. O homem, por exemplo, não tem a
mesma força que um gorila; do mesmo modo, o leão não tem a mesma capacidade
de inteligência que um homem. Portanto, a faculdade da razão nasce no homem
como forma de suprir sua carência diante das outras espécies; não que nas outras
espécies não haja um grau de razão, mas cada qual em um dado grau e estando
apenas lá para suprir a carência de cada espécie.
Schopenhauer irá perceber que a vontade se manifesta também onde
aparentemente não há vida. E assim, as plantas vão aparecer nos estudos de do
2

filósofo de forma muito interessante e tornando seu conceito de vontade ainda mais
abrangente.
De início ele considera a partir da leitura do Dicionário de ciências naturais a
vontade de viver na forma como as plantas se comportam:

Enquanto os animais demonstram, em sua busca por alimento, um apetite, e,


na escolha do mesmo, uma faculdade distintiva, vemos também as raízes
das plantas se voltarem em direção à terra mais rica, chegando a buscar nas
rochas as menores rachaduras de onde possam extrair algum alimento: suas
folhas e seus ramos apontam diligentemente para o lado em que encontram
mais ar e luz. Se dobramos um galho de tal modo que a superfície superior
das folhas fique voltada para baixo; então até mesmo as folhas giram seus
talos para retornar à posição mais apropriada ao exercício de suas funções
(isto é, com o lado liso para cima). Sabe-se ao certo que isso se passa sem
consciência? (SCHOPENHAUER, 2013, p. 66).

Como uma espécie de tentativa de sobrevivência as plantas demonstram a


vontade de viver, de modo que noutro momento ele mostra outro exemplo:

Uma evidência clara da manifestação da vontade nas plantas nos é dada nas
trepadeiras, as quais, quando não têm por perto nenhum apoio para se
agarrar, orientam, na busca por ele, seu crescimento sempre ao local mais
sombreado, até mesmo em direção a um papel de cor escura, onde quer que
seja colocado: por outro lado, fogem do vidro, por reluzir (SCHOPENHAUER,
2013, p. 67)
.

Há um artigo que ele também comenta com relação à mobilidade das plantas:

em solo ruim, estando próximas a um que seja melhor, algumas plantas


afundam um ramo no solo bom; depois, a planta original definha; o ramo,
porém, medra e torna-se agora ele mesmo a planta. Uma planta desceu de
um muro por meio desse procedimento (SCHOPENHAUER, 2013, p. 68).

Saindo um pouco do que pode aparentar, o filósofo ressalta que a consciência


não é uma condição à vontade; afinal de contas as plantas não tem essa
consciência. No caso, a vontade é algo primário, enquanto que a cognição,
secundária. Lembrando que com relação à cognição estar em maior ou menor grau
dependendo da espécie, nas plantas não há necessidade da mesma, visto que as
plantas tem menos carências que os animais e o homem.
Ele vai entender que nas plantas o estímulo é algo essencial; que no caso,
substitui a cognição. A cognição, então, acaba sendo mais forte nos animais e
2

homens que nas plantas; sendo estas últimas receptivas aos estímulos "O serviço
prestado aos animais e homens pela cognição como meio dos motivos é prestado às
plantas pela receptividade a estímulos..." (SCHOPENHAUER, 2013, p. 71).
2

2. 3. A VONTADE NO MUNDO INORGÂNICO

Resta agora, para finalizar, entrar no campo das leis físicas, da ação de
corpos sobre outrem. No mundo inorgânico o desenvolvimento se dá observando o
grau mais baixo da objetivação da vontade; ela, manifesta em toda a matéria e leis,
como, por exemplo: A Gravidade.
Schopenhauer entende que há forças que são estudadas por determinadas
áreas da ciência que só conseguem explicar a circunstância em que a força se
manifesta e suas leis que regem, mas de fato, não conseguem explicá-la na sua
essência, mesmo tal ciência conheça bem as condições em que tal força se dá:

...Um poderoso imã pode agora agir sobre o ferro dos pesos e vencer a
gravidade: imediatamente o movimento da máquina para, e a matéria torna-
se de imediato o palco de uma outra força natural bastante diferente, o
magnetismo; a explicação etiológica mais uma vez não nos ensina nada além
das condições em que esta força se manifesta." (SCHOPENHAUER, 2001, p.
144).

Outro ponto interessante que o filósofo aborda é quanto à ação de forças que
acabam se resistindo umas às outras. Ele dá exemplos de tais eventos e colocando-
as como objetidade da vontade:

...o mundo reduzido a não mais do que uma esfera, exposto a uma luta entre
a força de atração e a força de repulsão, a primeira agindo como gravidade,
que se esforça de todos os lados em direção ao centro, a segunda agindo
como impenetrabilidade, que resiste à outra, seja como solidez ou
elasticidade... (SCHOPENHAUER, 2001, p. 158).

A vontade tem seus graus de "força" na sua manifestação na realidade; como


vimos, no mundo inorgânico é onde a sua manifestação aparece em menor grau.
Mesmo assim, a vontade como mostrada no decorrer desse desenvolvimento, ela é
soberana em toda instância da realidade.
3

CONCLUSÃO

O trabalho apresentado foi feito em busca de ressaltar a partir do conceito de


vontade a importância do filósofo pois ele trouxe uma nova perspectiva metafísica
para a história. A questão e proposta de demonstrar o conceito de vontade e sua
manifestação diversa na natureza se torna muito importante, pois além de dar um
olhar mais próximo ao conceito em si, trata-se também de mostrar em que se
fundamenta tal conceito do filósofo. Portanto, se torna essencial esse trabalho como
forma de mostrar que tal conceito proposto pelo filósofo se mostra evidenciada,
segundo sua perspectiva, nas mais diversas esferas da realidade. Se dando da vida
orgânica à vida inorgânico e se mostrando em graus diferentes de ação da própria
vontade
No primeiro capítulo como um todo foquei em trabalhar gradualmente cada
elemento pré-vontade. Portanto, na seção 1.1 "A representação" foi estabelecida o
que o filósofo chamou de Representação e, a partir da mesma se desenvolve a
relação sujeito-objeto e como essa relação se constitui; e concluindo trabalhei nos
aspectos das representações intuitivas e abstratas. Na seção 1.2 "Espaço, Tempo,
Causalidade" demonstrei como se dá as formas a priori da intuição na interação com
o objeto e como cada elemento é inseparável da outra. E Concluindo que ambas
categorias se constituem elementos centrais e base para todo conhecer do sujeito.
No segundo capítulo, seção 2.1 "A Descoberta da Vontade" foi trabalhado como se
dá o processo que levou Schopenhauer a descobrir ser a vontade, força cega,
irracional que anima tudo. Onde ele partindo do sujeito a investigação chega à
vontade como elemento mais essencial da realidade e concluindo que tal
investigação não se situa apenas no sujeito, mas abarca toda a realidade. Na seção
2.2 "A Vontade no Mundo Orgânico" expus como se dá a vontade manifesta no
homem, animal e plantas. No homem a partir das ações voluntárias e involuntárias;
nos animais e plantas a partir dos estímulos; e por fim mostrando como a vontade se
coloca na realidade como uma manifestação de uma vontade de viver e se reafirmar.
E por último, na seção 2.3 "A Vontade no Mundo Inorgânico" passei um pouco sobre
a vontade e sua relação com as leis físicas, sendo esse mundo inorgânico onde a
vontade se manifesta em seu menor grau.
A vontade como demonstrado nesse trabalho parte do conceito de ser uma
força, impulso cego, irracional; que se manifesta em tudo, no entanto, é no homem
que ela se evidencia no seu mais alto grau. Já nos animais ela é evidenciada, só que
não da mesma forma que o homem, visto que o animal não tem consciência
racional. No entanto, essa falta é suprida em suas características físicas. A vontade
não é algo, como demonstrado por meio de suas diversas formas de manifestar,
individualizado, mas algo macro; ela supera qualquer individualidade e se mostra
3

como sendo impulso de amplitude macro.


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REFERÊNCIAS

COPLESTON, frederick. Uma História da Filosofia: do iluminismo francês a


Nietzche. 1 ed. Campinas-SP: vide editorial, v. 3, 2022.

MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia: Tomo I (A-D). São Paulo-SP: Edições


Loyola, 2000.

MORA, J.Ferrater. Dicionário de Filosofia: Tomo III (K-P). São Paulo-SP: Edições
Loyola, 2001.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. FILOSOFIA: Idade Contemporânea. 2 ed. São


Paulo: Paulus, v. 3, 2018.

ROGER, Alain. Vocabulário de Schopenhauer. 1 ed. São Paulo-SP: Editora WMF


Martins Fontes, 2013.

RUSS, Jacqueline. Filosofia: os autores, as obras. Petrópoles-Rj: vozes, 2015.

SCHOPENHAUER, arthur. O mundo como vontade e representação. 1 ed. Rio de


Janeiro: contraponto, 2001.

SCHOPENHAUER, arthur. Sobre a Vontade na Natureza. 1 ed. porto alegre:


L&PM, 2013.

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