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CURRICULAR
MUNICIPAL
ANOS INICIAIS
DO ENSINO
FUNDAMENTAL
REFERENCIAL
CURRICULAR
MUNICIPAL
ANOS INICIAIS
DO ENSINO
FUNDAMENTAL
PARCEIRO TÉCNICO
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMAÇARI
Adenilton Costa Rita de Cassia Lima da Conceição Fonseca CAPÍTULO 1 Educação Física 130
Tatiane Patrícia da Silva Santos GERÊNCIA DA EJA (Educação de Jovens e Adultos)
Gildo Soares Costa Tatiana Martins Conceição Oliveira Princípios e valores da Educação Língua Estrangeira (Inglês) 148
de Camaçari 16
4.2 MATEMÁTICA
INSTITUTO CHAPADA DE EDUCAÇÃO E PESQUISA ELABORADORES* Direitos como princípio 17
PRESIDENTE ARTE Ana Elisabeth Simões Brandão (Beth Rangel) Matemática 166
Cybele Amado de Oliveira e Thiago Assis Entre o desafio e a arte: uma
CIÊNCIAS Valter Forastieri questão de direito 18 4.3 CIÊNCIAS DA NATUREZA
DIRETORAS
Eliana Muricy EDUCAÇÃO FÍSICA Artur Andrade Pinho
Relações étnico-raciais, Ciências da Natureza 216
Elisabete Monteiro GEOGRAFIA Marcelo Correia e Marcelo Faria
identidades culturais e gênero
Fernanda Novaes HISTÓRIA Heloísa Monteiro na educação integral 21 4.4 CIÊNCIAS HUMANAS
Patrícia Freitas
LÍNGUA ESTRANGEIRA Gina Maria Imbrosi Teixeira
4
GUARDAR A ESCOLA
“Guardar uma coisa é olhá- na Rede de Ensino e a garantia da qualida- Com essa refinada inspiração, vamos “ou-
-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, de social da Educação Pública, à luz do Plano vir”, ao longo dos capítulos deste Referencial,
isto é, iluminá-la ou ser por ela Municipal de Educação (PME). as vozes das educadoras e dos educadores
iluminado. de Camaçari. Ao longo de 2018, reunidos
“Naquela ocasião escrevi em formação continuada nos Grupos de Tra-
Guardar uma coisa é vigiá- uma carta aos meus pais, que balho (GTs) e por meio de consulta pública,
-la, isto é, fazer vigília por ela, moravam na fazenda, contando elas e eles refletiram e opinaram sobre a
isto é, velar por ela, isto é, estar que já decidira o que queria ser memória e a história educacional do muni-
acordado por ela, isto é, estar por no meu futuro. Que eu não queria cípio e definiram novos horizontes para a
ela ou ser por ela.” ser doutor. Nem doutor de curar, nossa educação. Esses ideais estão aqui tra-
Antonio Cícero nem doutor de fazer casas, nem duzidos em concepções, princípios teóricos
doutor de medir terras. Que eu e metodológicos, objetos de conhecimento,
Prezados educadores, familiares e toda a queria ser fraseador.” aprendizagens e orientações pedagógicas e
comunidade de Camaçari, Manoel de Barros (1916-2014) didáticas.
Com poesia de Antonio Cícero, anunciamos Com as palavras deste poeta mato-grossen- A Pedagogia da Esperança, urdida pelo edu-
os sentidos e significados desta publicação, se, que decidiu ser poeta aos 13 anos, destaca- cador pernambucano Paulo Freire (1921-
que guarda as utopias dos educadores de mos o compromisso do programa Mais e Me- 1997), está em curso em nossa rede, pelas
Camaçari na relação com princípios éticos, lhor Educação, política pública expressa neste mãos de cada um de vocês!
políticos, pedagógicos e didáticos para a Referencial. Ele destaca a proteção à infância,
Educação da nossa cidade. Este exemplar que não pode prescindir do desenvolvimento
também guarda os direitos de aprendizagem integral e integrado de todas as crianças, re-
que são assegurados a cada uma das crianças conhecidas como sujeitos da aprendizagem Bom trabalho a todas e todos!
deste território, ao longo dos cincos primei- e protagonistas de suas histórias acadêmi-
ros anos do Ensino Fundamental. A função cas, pautadas em sonhos e desejos. Para que Neurilene Martins Ribeiro
precípua do Referencial Curricular Munici- as meninas e os meninos sejam o que quise- Secretária de Educação de Camaçari
pal – Anos Iniciais do Ensino Fundamental rem ser, no âmbito da cidadania como direi-
é, portanto, oferecer um norte pertinente, to constitucional, é preciso que a elas e eles,
prudente e significativo para a realização de indistintamente, sejam garantidos o acesso à
projetos políticos pedagógicos plurais e con- escola, a permanência e a progressão nela.
textualizados, que transformem cada escola
em espaço-tempo de aprendizagens e desen- Porém, “um galo sozinho não tece uma
volvimento. Nesse sentido, o documento re- manhã”, conforme imortalizou o poeta per-
vela-se como estratégia precípua da Secreta- nambucano João Cabral de Melo Neto (1920-
ria de Educação (Seduc) para a implantação 1999) em seus versos.
da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
6
“estar sintonizada com a função precípua de A equipe do Instituto Chapada de Educa-
uma secretaria que sempre fez vigília por ção e Pesquisa (Icep) sente-se honrada em
uma educação colaborativa e utópica, no participar da elaboração conjunta deste do-
âmbito de uma construção coletiva”. É nesse cumento e orgulhosa de estar ao lado dos
contexto que entra o Icep, para dar continui- educadores e dos estudantes nesse caminho,
dade a essa experiência e sistematizá-la. na certeza de que, juntos, conseguimos en-
contrar boas respostas para a necessidade
8
INTRODUÇÃO
REPENSAR A EDUCAÇÃO
COM BASE EM A complexidade da época contemporânea
tem apresentado vários novos desafios, le-
vando a sociedade a repensar as relações
nas surgiu e, com ele, um grande interesse
em parcerias na busca de novas frentes de
ação, diversos e mais abrangentes sentidos e,
A rigor, a valorização da alteridade é uma O prefixo trans indica aquilo que está, ao gicas e complementares, que propiciam in- Experimentações de práticas metodológi-
característica marcante da pós-moderni- mesmo tempo, entre as disciplinas, através e terfaces e conversas entre sujeitos, contex- cas interdisciplinares, geradas nas últimas
dade. Formas diferenciadas de identidade, além delas. Transdisciplinaridade, portanto, tos internos e situações externas, em uma décadas por demandas pessoais e institucio-
visões de mundo, comportamentos, hábi- tem como objetivo levar à compreensão do permanente alternância de prioridades e nais, reverberaram no alargamento do con-
tos, referências históricas, geográficas, cul- mundo presente, para o qual um dos impera- demandas. A forma como se estruturam os ceito de disciplinas, o que provoca uma pre-
turais e/ou sociais têm atraído a atenção tivos é a unidade do conhecimento. elementos de cada campo estimula a pro- ocupação constante de revisão curricular no
de instituições e da sociedade em geral. Vi- dução de conhecimentos diferenciados. A que diz respeito às novas formas de pensar/
ve-se um momento de inclusão, não de ex- As recentes teorias do conhecimento pro- visão interdisciplinar gerada com base em agir/sentir o ensino e a aprendizagem em to-
clusão; de envolvimento e participação co- põem abordagens com características in- mudanças de paradigmas contribui para um dos os níveis da Educação.
letiva, principalmente de crianças e jovens, terdisciplinares que garantam um exercício novo olhar, que inclui a necessidade de uma
sujeitos de direito de futuras mudanças. da prática do pensamento complexo, tendo reflexão e ressignificação da compreensão Desse modo, a interdisciplinaridade surge
Assim, tornam-se imperativas as reflexões como base a presença e o trânsito entre lin- dos corpos-sujeitos no que diz respeito às não como metodologia, mas como necessi-
e revisões de pressupostos que sustentam guagens, áreas, campos e disciplinas, além implicações com os ambientes. dade natural de atuação compartilhada na
currículos, programas e projetos no âmbi- de conhecimentos afins requeridos por cada construção de um conhecimento complexo e
to da Educação. especificidade. Nesse contexto, é importante As articulações experienciadas no am- plural. Por sua vez, pressupõe também que o
reafirmar a flexibilidade e abertura a estra- biente pelos corpos-sujeitos são reconhe- atual paradigma que ela traz seja estimulado
tégias e construções ou configurações em fa- cidas como ações provenientes de um or- com exercícios frequentes no campo dos di-
INTERDISCIPLINARIDADE: vor desses processos – o que, em alguns cam- ganismo individual e, ao mesmo tempo, versos processos de aprendizagem.
EXERCÍCIO PARA O pos, já se colocam como práticas a caminho relacional, no lidar com o outro e com o
de uma consolidação. Como lembra Morin contexto enquanto um organismo criador. Para endossar o lastro conceitual em defesa
PENSAMENTO COMPLEXO (2000), no percurso de estudos e pesquisas, Essas redes de relações entre corpos e am- da complementaridade de conhecimentos, a
à medida que as informações são distingui- bientes colaboram com um repertório re- proposta é a ecologia de saberes, que se ba-
Em 1999, o físico romeno Basarab Nicoles- das, é preciso aprender a conhecer separan- novado de conceitos e estratégias que ins- seia na ideia do interconhecimento.
cu propôs o Manifesto da Transdisciplinari- do, analisando e sintetizando, para depois tigam reflexões contínuas. Pela repetição e
dade, documento em que referenda a neces- voltar a unir para ganhar autonomia. frequência, ganham sentido, imprimindo “Como ecologia de saberes, o pen-
sidade de laços entre as disciplinas. Sobre os formas a essas experiências, agregando-as samento pós-abissal tem como
conceitos de multi/pluridisciplinaridade e “Voltemos aos termos interdisci- como novos conhecimentos. Sousa Santos premissa a ideia da diversidade
interdisciplinaridade, ele discorre: plinaridade, multidisciplinaridade (1989) lembra que, “teoria não é só conhe- epistemológica do mundo, o reco-
e transdisciplinaridade, difíceis de cimento que se produz, como também o nhecimento da existência de uma
“[...] a multi/pluridisciplinaridade diz definir, porque são polissêmicos e modo como se produz”. pluralidade de formas de conheci-
respeito ao estudo de um objeto de imprecisos. [...] interdisciplinari- mento além do conhecimento cien-
uma mesma e única disciplina por vá- dade pode significar também troca Assim, em se falando de Educação, o gran- tífico.” (SANTOS, 2010)
rias disciplinas ao mesmo tempo. Com e cooperação, o que faz com que a de desafio de cidadãos e educadores é po-
isso, o objeto sairá assim enriquecido interdisciplinaridade possa vir a tencializar os recursos humanos e materiais A circunstância de trânsitos favorece trocas
pelo cruzamento de várias discipli- ser alguma coisa orgânica. A multi- existentes, por meio de proposição de ações e complementaridades entre informações
nas. A interdisciplinaridade tem uma disciplinaridade constitui uma as- compartilhadas interdisciplinares, que favo- indispensáveis. A noção de parte e todo se
ambição diferente daquela da multi/ sociação de disciplinas, por conta reçam o surgimento de novas formas de par- autoalimentam, em um processo gradual que
pluridisciplinaridade, ela diz respeito de um projeto ou de um objeto que ticipação, no sistema e nos processos educa- conflui e se organiza em subsistemas. Esses,
à transferência de métodos de uma lhes sejam comuns [...] De fato, são cionais, possibilitando o desenvolvimento de por sua vez, trazem novas informações que,
disciplina para outra”. (NICOLESCU, os complexos de inter-multi-trans- práticas educativas comprometidas e tendo ao seu tempo, descolam-se, viram autôno-
1999) -disciplinaridade que realizaram e os sujeitos como prioridade. mos e dão origem a novos campos de interes-
desempenharam um fecundo papel se. A relação dialógica deve ser organizada
Sabe-se que tanto multi/pluridisciplinari- na história das ciências; é preciso O desenvolvimento de novos e interati- com base no princípio da coparticipação e de
dade quanto interdisciplinaridade ultrapas- conservar as noções-chave que es- vos conhecimentos surge como formas de construção do trabalho coletivo, respeitan-
sam as disciplinas, porém suas finalidades tão implicadas nisso, ou seja, coo- capacitação instrumentais na Educação da do-se a dinâmica da complementariedade
continuam inscritas na estrutura da pesqui- peração; melhor, objeto comum; contemporaneidade. Tais competências vi- em que saberes e competências específicas
sa disciplinar. O que garantiria uma trans- e, melhor ainda, projeto comum.” sam colaborar para que, enquanto sujeitos são potencializados.
formação tanto no fazer quanto no pensar (MORIN, 2000) sociais, seja possível compreender e intera-
seriam mudanças de valores, pressupostos gir com o contexto como indivíduos únicos A Arte, neste sistema, apresenta-se como
e atitudes, comprometidos com um pensa- O caráter da relação interdisciplinar entre e singulares, cidadãos e seres coletivos e hu- uma engrenagem criativa que movimenta
mento complexo do homem e do mundo. os saberes cria redes de informações dialó- manos em evolução. processos de investigação de alternativas
12 13
Introdução Repensar a Educação com base em novos paradigmas
metodológicas, podendo atuar, em uma mes- • A possibilidade de prática conjunta en- e particulares, contidos na trajetória de afinidades individuais é estratégica, com
ma experiência, com mais de uma linguagem tre professores e professoras, especia- profissional de cada docente, sociali- convergências no fazer-pensar dos sujeitos
na interface com as demais áreas de conheci- listas de áreas distintas, pode contribuir zem suas potencialidades. participantes, facilitando o início de proces-
mento, transdisciplinarmente. para uma mudança de cultura e pensa- Por fim, a valorização das práticas inter, mul- sos colaborativos e provocando não só a tro-
mento diante de situações complexas ti/pluridisciplinares, construídas com base ca de informações como a criação de víncu-
propostas, tal como a Educação Básica. nas demandas de grupo específico, a exemplo los e laços profissionais e sociais.
POSSÍVEIS TRAMAS PARA • A interdisciplinaridade emerge como de estudantes de um determinado contexto,
A CONSTRUÇÃO DE REDES metodologia e como uma necessidade repercutem na ressignificação do conceito de Assim, a aproximação e o diálogo são mo-
natural de atuação compartilhada na sala de aula, como um lugar privilegiado para tivações na facilitação de práticas de meto-
COLABORATIVAS construção de um conhecimento com- o ato de aprender, trazendo a possibilidade de dologias interdisciplinares em sala de aula
plexo e plural. alternância de espaços e tempo. e, de forma indireta, na identificação pessoal
Diante da iniciativa e decisão institucio- A condução e a metodologia interdiscipli- e no reconhecimento perante o outro, gera-
nal de elaboração dos Referenciais Curri- nar e dialógica implicam num modelo fle- dos no campo profissional e ampliados para
culares da Rede Municipal de Educação de xível e comprometido socialmente, em que SOLIDARIEDADE COMO dimensões da convivência e do respeito. Em
Camaçari, a participação das professoras todos são responsáveis pela investigação e
FORMA DE CONHECIMENTO todas essas circunstâncias, professores e co-
e dos professores é fundamental, pois são aplicabilidade de estratégias procedimentais ordenadores dos processos precisam ser re-
protagonistas e mediadores do processo e pelo enfrentamento de desafios humanos e conhecidos como atores-autores, com capa-
educacional com as crianças e os jovens pela busca de oportunidades e soluções na e Em vista de tudo o que foi colocado até ago- cidade de organização em grupos de estudos
e, da mesma forma, atuam no processo de para a sociedade. ra, é importante ressaltar que os autores deste e trabalho, nos quais, diante de sucessivos
implantação e validação de mudanças no Referencial consideram a solidariedade como encontros sistemáticos, a aproximação e o
campo educacional do município. Sabe-se • As oportunidades abertas no processo uma forma de conhecimento obtido pela con- respeito se estabelecem e levam a parcerias
do desafio que é alterar um conhecimento de desenvolvimento de trabalho com- sideração do outro enquanto produtor de co- com atitudes e práticas solidárias. A Arte,
incorporado, na maioria das vezes consi- partilhado entre professores são cam- nhecimento, que sempre tem, na Educação, novamente, surge como área comprometida
derado como hegemônico, arraigado pela pos férteis para o exercício do diálogo, um campo propício para ser exercitada, crian- com processos de Educação emancipatória
história e pelo tempo em grande parte da da troca e das negociações, áreas em do elos mais resistentes de relações interpes- e estratégia de aproximação, diálogo, arti-
sociedade. Nesse sentido, a aceitação de que se revelam atitudes pessoais como soais. Além de fatores causais de encontros, o culação e complementaridade de saberes
novas teorias, assim como mudanças de respeito, flexibilidade e convivência e comprometimento pessoal e social são a base e fazeres em construções compartilhadas.
hábitos, culturalmente, não são processos refinam valores outros, essenciais em da atitude e da ação coletiva. Os conhecimentos construídos nesse pro-
fáceis de assimilação e de aceitação. espaços institucionais, como compro- cesso dialógico entre professores especia-
misso, ética e competência, indicadores Vale a atenção para as ações interdiscipli- listas contribuirão para uma reformulação
Nessa construção compartilhada, diante de importantes para a continuidade e sus- nares, concernentes aos processos de ensino de metodologias, conceitos e pensamentos,
significativas alterações de visão de mundo e tentação dessa ação feita com alianças. e aprendizagem no que diz respeito à neces- que repercutirão no papel da Educação, aqui
de sociedade, a Educação deve ser reafirmada Dessa forma, surgem outras práticas identi- sidade de pactos pedagógicos em torno de identificada como questão estruturante para
como direito. Nessa instância, são fundamen- ficadas na observação em ações pedagógicas atividades compartilhadas: a identificação a sociedade contemporânea.
tais a necessidade e o esforço de uma ressigni- desenvolvidas por variados professores em
ficação epistemológica e metodológica. diversos contextos, de forma compartilhada,
que podem ser consideradas em outras situ-
Com a identificação de prioridades e ações específicas:
emergências sociais, o estudo e a prática
continuada de movimentos inter, pluri e • O estímulo a grupos de estudos in-
multidisciplinares aproximam teorias e mé- terdisciplinares aproximam teorias e
todos específicos e diversificados, além do métodos específicos e diversificados,
exercício posto, a cada dia, de atitudes de estimulando a construção coletiva de
convivência, respeito, aceitação do novo e conhecimentos.
do diferente, no que diz respeito a professo- • O surgimento de uma dinâmica nova de
res especialistas em diferentes disciplinas e intercâmbio entre projetos interdisci-
áreas de conhecimento. plinares na escola, baseados em deman-
das postas e questões identificadas.
Aqui estão reflexões que podem contribuir • A aproximação e a negociação que
para os processos a serem vivenciados a par- emergem dos diálogos pedagógicos,
tir dessa nova concepção: possibilitando que estudos individuais
14 15
1.1 opinião política e todas as formas de opinião
DIREITOS COMO
de origem nacional ou social, condição econô-
mica ou nascimento” (trecho do Pacto Inter-
PRINCÍPIO
nacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais – ratificado pelo Brasil em 1992).
CAPÍTULO I
Nacional tem como finalidade o pleno de- vem, a do que não é admissível e a das garan-
senvolvimento dos estudantes, preparan- tias, é possível ressaltar que olhar somente
do-os para exercitar a cidadania e quali- as garantias pode ser perigoso por não ex-
16
Capítulo I Princípios e valores da Educação de Camaçari
que e como se ensina e, em especial, para efetivação dos direitos deve ser ime- concretizada. Um ponto controverso refere- A Declaração de Salamanca ressalta essa
quem se ensina. O atendimento das especifi- diatamente feito.” (DUSSEL, 2000) -se à própria denominação, educação inclu- extensão e traz uma visão de educação inclu-
cidades dos estudantes é um reconhecimen- siva, quase sempre tomada como sinônimo siva social que abrange todas as pessoas que
to de que todos são potentes, autônomos e Neste documento, os direitos de aprendi- de educação “especial”, quando, na verda- se encontram em situações desfavorecidas
capazes de aprender. Portanto, trata-se de zagem estão explícitos e são guiados pela de, precisa ser compreendida como uma social, educacional e financeiramente, não
um projeto que tem o estudante como centro equidade e inclusão, por uma escola plural e educação voltada para a cidadania plena e apenas os deficientes. Essa visão, portanto,
de suas definições de rumo. democrática, acessível a todos, que promove global, que reconhece, valoriza e respeita não se restringe ao campo educacional, pois
uma educação de qualidade e sem nenhum as diferenças; uma educação que envolve abrange uma educação mais ampla, pautada
A inclusão também assume um lugar de tipo de discriminação. todos aqueles que, tradicionalmente, dela nos direitos humanos para todos em todos
absoluta importância quando se fala de di- são excluídos, sejam crianças, adolescentes os aspectos.
1.2
reitos de aprendizagem. Entretanto, é con- e adultos de classes menos favorecidas, ne-
dição, para ter uma educação inclusiva, criar gros, indígenas e imigrantes, entre outros. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
ENTRE O DESAFIO
políticas públicas que a tenham como valor Conforme afirma Mantoan (2004), “há di- Deficiência (nº 13.146/2015), em seu artigo
e um currículo que valorize as diferenças, a ferenças e há igualdades, e nem tudo deve 3º, expressa bem a ideia discutida, ao definir:
E A ARTE:
forma de pensar e de aprender do estudante, ser igual, nem tudo deve ser diferente, [...] é
garantindo alternativas de ensino que aten- preciso que tenhamos o direito de ser dife- “I - acessibilidade: possibilidade e
condição de alcance para utiliza-
UMA QUESTÃO
dam as características físicas, psíquicas e so- rente quando a igualdade nos descaracteri-
ciais dos estudantes. A referência à inclusão, za e o direito de ser iguais quando a diferen- ção, com segurança e autonomia,
de espaços, mobiliários, equipa-
DE DIREITO
é bom esclarecer, não trata apenas de pato- ça nos inferioriza”.
logias. A inclusão aqui referida acolhe dife- mentos urbanos, edificações, trans-
renças e está alicerçada na perspectiva de Glat e Blanco (2007), reforçam essa afir- portes, informação e comunicação,
educação plural e democrática. mação e distinguem a educação inclusiva e a inclusive seus sistemas e tecnolo-
A busca por uma sociedade mais justa e educação especial da seguinte forma: gias, bem como de outros serviços
A forma como o sujeito é concebido revela o solidária levou diversos grupos, em âmbi- e instalações abertos ao público, de
quanto seus direitos são respeitados, por isso to mundial, a defender princípios humani- “A Escola Inclusiva significa um uso público ou privados de uso co-
a formação do estudante é para a vida – ou tários, procurando reconhecer os direitos novo modelo de escola em que é letivo, tanto na zona urbana como
seja, para além da formação para o trabalho. sociais e políticos daqueles que, por condi- possível o acesso e a permanência na rural, por pessoa com deficiên-
É direito de estudante ter uma formação in- ções peculiares, encontram-se em situação de todos os alunos, e onde os meca- cia ou com mobilidade reduzida;
tegral, que o considere do ponto de vista inte- de desvantagem. Essa articulação, na dé- nismos de seleção e discriminação, II - desenho universal: concepção
lectual, físico, social, emocional e cultural. cada de 1990, levou a Educação Inclusiva até então utilizados, são substituí- de produtos, ambientes, progra-
a ter seu princípio legitimado pelos países dos por procedimentos de identifi- mas e serviços a serem usados por
Uma equipe que encaminha um currícu- membros da Organização das Nações Uni- cação e remoção de barreiras para todas as pessoas, sem necessidade
lo pautado nessa definição de direitos de das (ONU), que teve como base a Declaração a aprendizagem. de adaptação ou de projeto espe-
aprendizagem precisa ser qualificada, por de Salamanca (Unesco, 1994), documento [...] Mais do que uma nova propos- cífico, incluindo os recursos de tec-
isso a existência de projetos de formação elaborado durante a Conferência Mundial ta educacional, a Escola Inclusiva nologia assistiva;
permanente e em serviço das equipes do- sobre Necessidades Educativas Especiais, pode ser considerada uma nova III - tecnologia assistiva ou ajuda
cente e gestora. A comunidade que faz a es- em 1994, naquela cidade espanhola. O pro- cultura escolar: uma concepção técnica: produtos, equipamentos,
cola é a protagonista na garantia dos direitos pósito do documento era instituir diretri- de escola que visa ao desenvolvi- dispositivos, recursos, metodolo-
de aprendizagem. zes para a formulação de políticas públi- mento de respostas educativas que gias, estratégias, práticas e ser-
cas direcionadas para o acesso de pessoas atinjam a todos os alunos. (GLAT e viços que objetivem promover a
Alípio Casali (2011) afirma que a educação portadoras de necessidades especiais nos BLANCO, 2007) funcionalidade, relacionada à ati-
de qualidade não se faz por privilégios e ex- sistemas de educação, ao redor do mundo, [...] O conceito de respostas edu- vidade e à participação da pessoa
clusão. Uma vez concluída as experiências como estratégia eficiente contra atitudes de cativas indica a preocupação da com deficiência ou com mobilidade
exitosas, ela passa a ser um direito a ser rei- ordem discriminatória. escola em responder às necessida- reduzida, visando à sua autonomia,
vindicado para ser acessível a todos. des apresentadas por seus alunos, independência, qualidade de vida e
No entanto, apesar de muitas ações inter- em conjunto, e a cada um deles em inclusão social.” (BRASIL, 2015)
“Há um princípio ético que está nacionais como fóruns e conferências con- particular, assumindo efetivamen-
implícito nesse direito imediato à tinuarem enfatizando o tema, a Educação te o compromisso com o sucesso Outro ponto desafiador, nas escolas, são as
qualidade, é o princípio da factibili- Inclusiva ainda é um campo repleto de de- da aprendizagem da totalidade do relações entre os diferentes tipos de alunos
dade, cuja formulação mais simples safios, pois existem divergências no modo corpo discente.” (GLAT e BLANCO, e alunas e a configuração de subgrupos iso-
seria: o que pode ser feito para a como a inclusão é entendida, percebida e 2007) lados do conjunto escolar, além das questões
18 19
Capítulo I Princípios e valores da Educação de Camaçari
relativas ao currículo, métodos de ensino e ências, para que pudessem ter, de fato, partici- à cidadania global plena e livre de preconcei- sões. Não se trata apenas de seu
de avaliação daqueles em situação de inclu- pação plena e igualdade de oportunidades. No tos, que reconhece e valoriza as diferenças. desenvolvimento intelectual, mas
são como temas centrais do debate, sem es- entanto, “seria necessário que não se pensas- Esse investimento implica em refletir sobre também do físico, do cuidado com
quecer a formação docente como campo de se tanto em adaptar as pessoas à sociedade, e a instituição e a formação das pessoas que sua saúde, além do oferecimento de
investigação e reflexão, conforme enfatiza o sim em adaptar a sociedade às pessoas” (JÖN- nela trabalham, porém não se pode transfor- oportunidades para que desfrute e
trecho da Declaração de Salamanca1: SON, 1994, apud SASSAKI, 1997). Depois dis- mar estas sem uma prévia mudança daquela. produza arte, conheça e valorize
so, no final da década de 1980, surge o concei- Se o Brasil assegurar realmente tudo o que sua história e seu patrimônio cultu-
“O princípio fundamental da esco- to de inclusão. O mundo passa a experimentar está escrito em suas leis, pode-se afirmar que ral, tenha uma atitude responsável
la inclusiva consiste em que todas novas transformações com avanços no campo uma nação realmente inclusiva, que se pre- diante da natureza, aprenda a res-
as pessoas devem aprender juntas, da Medicina, o desenvolvimento de novos co- ocupa com a situação social dos indivíduos, peitar os direitos humanos e os das
onde quer que isso seja possível, nhecimentos na área da Educação e, princi- está em construção. É importante ter cons- crianças e adolescentes, seja um
não importam quais dificuldades palmente, a criação do meio de comunicação ciência de que não se transformam atitudes, cidadão criativo, empreendedor
ou diferenças elas possam ter. Es- em tempo real com o mundo, como a internet, individuais ou coletivas, da noite para o dia, e participante, consciente de suas
colas inclusivas precisam reco- que veio determinar novas e significativas principalmente em um país com histórico de responsabilidades e direitos, capaz
nhecer e responder às necessida- transformações sociais. Na década de 1990 exclusão e preconceito, e trabalhar para que de ajudar o país e a humanidade a
des diversificadas de seus alunos, (Brasília: Ministério da Educação, Secretaria a inclusão seja uma ideia que tenha a atenção se tornarem cada vez mais justos e
acomodando os diferentes estilos de Educação Especial, 2004), à luz da defesa e a persistência de todos. solidários, a respeitar as diferenças
e ritmos de aprendizagem e asse- dos Direitos Humanos, reconhece-se que a di- e a promover a convivência pacífi-
gurando educação de qualidade ca e fraterna entre todos.”
1.3
versidade enriquece e humaniza a sociedade
para todos mediante currículos quando reconhecida, respeitada e atendida
apropriados, mudanças organiza-
RELAÇÕES ÉTNICO-
em suas peculiaridades, com a legitimação da Justino Sousa Jr. (1994) afirma que a om-
cionais, estratégias de ensino, uso Educação Inclusiva. nilateralidade contempla a formação huma-
de recursos e parcerias com suas
-RACIAIS, IDENTIDADES
na em suas múltiplas dimensões, opondo-se
comunidades.” (DECLARAÇÃO DE Vista num primeiro momento como uma a uma formação unilateral provocada pela
CULTURAIS E GÊNERO
SALAMANCA, 1994) novidade a mais na educação especial, a Edu- divisão social do trabalho, desenvolvida nas
cação Inclusiva vai, gradativamente, adqui- sociedades que tinham a burguesia enquan-
NA EDUCAÇÃO
A formação das professoras e dos professo- rindo espaço em todo o contexto educativo, to classe social hegemônica, pautando o tra-
res e dos demais profissionais da Educação com a potencialidade de ser uma educação balho alienado e detendo o monopólio dos
INTEGRAL
constitui um fator-chave como campo de in- de qualidade ao alcance de todos e colocar meios de produção.
vestigação e reflexão na luta pelo progresso fim no igual x diferente, normal x deficiente.
da Educação Inclusiva. Assim, o Brasil vem tentando abrir fronteiras A omnilateralidade tem como meta abran-
para tornar-se uma sociedade que reconhe- ger todas as dimensões que compõem a vida
Historicamente, segundo Jannuzzi (2004), ce e respeita a diversidade que o constitui e, Normalmente, a concepção de educação do ser social. Considera que os sujeitos estão
a formação docente baseava-se na vertente para isso, tem estabelecido políticas públicas integral é vinculada unicamente à tempora- inseridos em um contexto sócio-histórico
médico-pedagógica e era direcionada para e criado instrumentos legais que garantem lidade, ou seja, ao tempo que a criança e o e imersos no acervo cultural produzido ao
o ensino apenas dos alunos e das alunas os direitos de todos. jovem passam na escola. Contudo, no Refe- longo do tempo pela humanidade, deixado
com deficiência. Nessa vertente, o destaque rencial Curricular de Camaçari, essa noção como herança para as novas gerações. Essa
aponta para as potencialidades e ou incapa- Portanto, “temos de reconhecer as diferen- está vinculada ao conceito a uma formação base da educação integral assenta-se em di-
cidades, as possibilidades de reabilitação e o tes culturas, a pluralidade das manifestações omnilateral dos sujeitos. versos movimentos educacionais ao longo da
diagnóstico. intelectuais, sociais, afetivas, enfim, precisa- história da Educação, que, embora tenham
mos construir uma nova ética escolar, que De acordo com o Portal da Educação Integral algumas concepções que difiram de um para
Inspirada no mote do Ano Internacional das advém de uma consciência ao mesmo tem- do Ministério de Educação e Cultura (MEC): o outro, entendem a educação integral como
Pessoas Deficientes – Participação e Igualda- po individual, social e planetária”, conforme o modelo que mais se aproxima do desenvol-
de Plena (1981)2 –, grande parte dos países co- afirma Mantoan (2004). “Educação integral representa a vimento completo de um ser humano multi-
meçou a direcionar esforços na busca de um opção por um projeto educativo dimensional.
novo modelo, no trato das pessoas com defici- É preciso investir em uma educação voltada integrado, em sintonia com a vida,
as necessidades, possibilidades e No Brasil, a educação integral também es-
interesses dos estudantes. Um pro- teve presente nos ideais de diversos movi-
1 Texto disponível em <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>.
jeto em que crianças, adolescentes mentos educacionais, demonstrando que
2 Relatório de atividade da Comissão Nacional do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, disponível em: <www.socepel.com. e jovens são vistos como cidadãos coexistem posicionamentos político-filosófi-
br/_arquivos/DIVERSOS/Ano%20internacional%20das%20pessoas%20deficientes%20-%201981.pdf>. de direitos em todas as suas dimen- cos com pressupostos divergentes, mas que
20 21
Capítulo I Princípios e valores da Educação de Camaçari
objetivam em comum uma formação multi- correntes políticas e movimentos variados crítica dos sujeitos enquanto seres sociais das em nossa sociedade no sentido de supe-
dimensional dos seres humanos. Para tanto, discutindo educação, mais precisamente, emancipados. Nesse sentido, adota-se aqui rá-las pela via da empatia e do respeito. São
é exigida uma didática igualmente multidi- defendendo a educação integral com propos- uma postura que enfatiza a importância de diversas as pessoas, por isso as instituições
mensional. As pesquisadoras Maria Amélia tas político-sociais e teórico-metodológicas uma educação escolar permeada por ques- educacionais precisam abraçar e celebrar
Franco e Selma Pimenta (2016) chegaram à diversas. Nas primeiras décadas do século tões de Direitos Humanos – que não deve ser isso. Uma das maneiras de as escolas luta-
conclusão de que XX, com o movimento anarquista e os ideais apenas “não racista”, mas atuar em um viés rem por esses objetivos é convidar represen-
da teoria libertária, surge a ênfase na forma- antirracista (DAVIS, 2016); não deve ser ape- tantes das comunidades que estão inseridas
“(...) muitas vezes, o foco excessivo ção integral, propondo que o modelo escolar nas “não LGBT-fóbica”, mas atuar em um viés para participar de atividades pedagógicas
na dimensão disciplinar retira da apresentasse objetivos que recaíssem “(...) anti-LGBTfobias; não deve ser apenas “não como palestras, exposições e oficinas, entre
tarefa do ensino sua necessária sobre a igualdade, a autonomia e a liberdade machista”, mas atuar em um viés antimachis- outras.
multidimensionalidade. Acredita- humana, em uma clara opção política eman- mos. Uma educação que não deve ser isenta
mos que o ensino é uma atividade cipadora.” (BRASIL, 2009). Neste documento da discussão sobre classes sociais, uma vez Pensando a escola do ponto de vista do ce-
multidimensional em todas as es- que ora se apresenta, está a necessidade de que, em um mundo permeado por desigual- nário sócio-histórico, como um complexo so-
feras disciplinares. Empregamos uma perspectiva histórico-crítica de educa- dades, não serão todos que terão acesso aos cial inserido em um determinado contexto e
esse termo, em complemento à ção integral, com a perspectiva de formação produtos científico-tecnológicos desenvolvi- não como uma instituição à parte, cabe pau-
abordagem multirreferencial, pa- omnilateral para as crianças e os jovens, de dos. Deve saber valorizar as diferenças e lu- tar uma educação escolar estruturada nas
ra reafirmar nossa convicção de modo a construir um projeto educacional tar por uma sociedade mais equânime, que categorias raça, cor, gênero, classe e identida-
que o ensino, de qualquer discipli- para a cidadania, o respeito e a liberdade. refute qualquer tipo de discriminação ou de. O genocídio da juventude negra na Bahia
na do saber, requer uma dinâmica preconceito. é exorbitante de acordo com dados estatís-
de convergência nos atos e nas for- O Plano Municipal de Educação (PME) de ticos. Segundo o Atlas da Violência (2017),
mas de ensinar. Requer fundamen- Camaçari para o período entre 2015 e 2024 A historiografia sobre a cidade de Cama- produzido pelo Instituto de Pesquisa Apli-
tos pedagógicos essenciais, pois é contemplou metas como a universalização çari aponta que havia uma grande popula- cada (Ipea), a Bahia possuía, em 2017, nove
fenômeno complexo realizado en- da escolarização no município, superação ção ameríndia ocupando o território quan- municípios dentre os 30 com maior número
tre os sujeitos professores e alunos, das desigualdades e erradicação da discri- do a colonização portuguesa promoveu a de homicídios no Brasil. A cidade de Camaça-
situados em contextos, imbricado minação, valorização dos profissionais e das expropriação e o genocídio de ameríndios e ri é um deles, ocupando a 15ª posição nesse
nas condições históricas e mediado profissionais da Educação e ampliação do ameríndias (sobre esse tema, ver Friedrich ranking nefasto. A análise do perfil das víti-
por múltiplas determinações.” tempo escolar, entre outras. Este documento Siering, 2008). Camaçari, portanto, consis- mas aponta que a maioria são jovens negras
pontua uma meta voltada para estabelecer te em uma cidade com grande diversidade e negros, com idade entre 15 e 29 anos. Mais
Essa perspectiva é apontada no texto re- 50% das vagas na Educação Infantil em tem- étnico-racial. De acordo com pesquisas do de 92% dos homicídios ocorrem com pesso-
ferência para o debate nacional sobre esse po integral. Para projetar a Educação Básica IBGE (2011), é um dos municípios do Bra- as nessa faixa etária e a cada 100 assassina-
tema, elaborado pelo MEC: em uma perspectiva integral, além de polí- sil com grande incidência de comunidades tos no Brasil, 71 são de pessoas negras. As-
ticas públicas, é preciso pensar a formação ciganas que, por exemplo, sofrem profunda- sim, para a Bahia e, consequentemente, para
“No Brasil, na primeira metade do de professores e professoras, pois a figura mente com o preconceito e a discriminação Camaçari faz-se necessário discutir as ques-
século XX, encontramos investidas docente possui, ao lado das educandas e dos por falta de conhecimento e intolerância. O tões étnico-raciais em sala de aula, contem-
significativas a favor da Educa- educandos, um papel crucial no processo pe- imaginário popular criou um estereótipo de- plando a Lei Nº 10.639/2003, que em 2008
ção Integral, tanto no pensamento dagógico. Afinal, quem educa os educadores les muito distinto da realidade, uma imagem foi alterada para a Lei Nº 11.645.
quanto nas ações de cunho educa- e as educadoras? fantasiosa, discriminatória e abusiva, muitas
tivo de católicos, de anarquistas, vezes reproduzida pela própria mídia. As A Lei Nº 10.639/2003 alterou a LDB, de 20
de integralistas e de educadores Ser professora ou professor é uma atitu- saias longas e rodadas, a sedução, o roubo, de dezembro de 1996, para incluir a obri-
como Anísio Teixeira, que tanto de política, pois uma aula tem o poder de o dom de prever o futuro e a riqueza contida gatoriedade da temática “História e Cultura
defendiam quanto procuravam im- transformar pensamentos e ações. O ato em joias e dentes de ouro é tão somente uma Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede
plantar instituições escolares em pedagógico consiste em fazer com que as parte dessa tentativa de se criar estigmas de ensino e dar outras providências. A LDB
que essa concepção fosse viven- novas gerações se apropriem de um legado para a população cigana. Essa discriminação, já dispunha, em seu corpo, que o ensino
ciada. No entanto, cabe ressaltar sócio-histórico produzido ao longo dos tem- muitas vezes, acaba sendo reproduzida ou seria ministrado com base no respeito aos
que eram propostas e experiências pos pelo conjunto de homens e mulheres até reforçada pelo ambiente escolar. A escola princípios de igualdade de condições para o
advindas de matrizes ideológicas enquanto autores e agentes de sua própria contribui para reforçar o preconceito quan- acesso e permanência na escola; pluralismo
bastante diversas e, por vezes, até história (SAVIANI, 2009). Na perspectiva do não educa para a diversidade e para o res- de ideias e concepções pedagógicas e respei-
contraditórias.” (BRASIL, 2009) adotada aqui, educar é fazer com que a hu- peito (Cepac, 2006). to à liberdade e apreço à tolerância, dentre
manidade se desenvolva com a apropriação outros. No entanto, desde a promulgação, tal
Lígia Coelho (2009) defende que, naquele cultural das objetivações humanas, mas tam- É preciso pensar em estratégias didático- legislação não foi capaz de intervir na reali-
momento histórico, coexistiam tendências, bém por meio dos processos de constituição -pedagógicas que pautem as opressões vivi- dade no contexto das salas de aula brasilei-
22 23
Capítulo I Princípios e valores da Educação de Camaçari
ras, onde o estudo da trajetória da população privar do cumprimento dessa legislação. Se Isso é uma situação gravíssima porque, das as religiões. Não há, na história do mun-
negra no Brasil se restringia às discussões assim o fizessem, estariam reforçando as es- além de sofrer discriminação e violência nas do, uma só acepção de deus ou de deuses
estereotipadas da escravidão. tratégias de manutenção de subalternidades ruas e muitas vezes na família, também aca- ou deusas que pregue o ódio, a violência e
raciais oriundas do racismo estrutural que ba sendo alvo de violência dentro das esco- o desrespeito (CARTILHA, 2003). As esco-
Os estabelecimentos de Ensino Fundamen- há no Brasil. las. A situação para as crianças e jovens tran- las, enquanto complexos sociais destinados
tal e Médio, públicos e particulares, ficariam sexuais é ainda pior. Nos espaços públicos, à formação humana, precisam ser agentes
obrigados, desde o início de sua vigência, A sociedade é repleta de dicotomias hie- como a escola, eles são privados de direitos transformadores da realidade social que é
a ofertar o ensino sobre História e Cultura rárquicas que geram sistemas de opressões básicos, como usar seu nome social e acessar majoritariamente opressora e homicida. O
Afro-Brasileira. Diz o diploma legal: marcantes na vida das pessoas. Nesse sen- o banheiro. combate a qualquer tipo de preconceito ou
tido, a população negra é alterizada negati- discriminação e a valorização da diversida-
“Art. 26-A Nos estabelecimentos vamente por não ser branca; homossexuais Segundo a Organização Mundial de Saú- de e das diferenças deve ocorrer em todos
de Ensino Fundamental e Médio, são alterizados negativamente por não se- de (OMS), mais de 35% dos assassinatos de os níveis de ensino, contemplando todas as
oficiais e particulares, torna-se rem héteros; mulheres são subalternizadas mulheres no mundo são cometidos por seus áreas do conhecimento. Já existe bibliografia
obrigatório o ensino sobre História por não serem homens. No caso específico parceiros (VARIKAS, 2003). A cada dez minu- específica, por área de conhecimento ou dis-
e Cultura Afro-Brasileira. desses dois últimos grupos, a violência (fí- tos, uma mulher é vítima de estupro no Bra- ciplinas, que fornece ferramentas e estraté-
§ 1º O conteúdo programático a sica, psicológica e sexual) é consequência sil. Diariamente, esses crimes aparecem na gias para esse combate e essa valorização. As
que se refere o caput deste artigo da estrutura patriarcal que imperou e ainda mídia. Quantas outras meninas, jovens e mu- escolas de Camaçari, da Bahia, do Brasil e do
incluirá o estudo da História da persiste no Brasil. O patriarcado engloba o lheres serão estupradas ou mortas até que a mundo precisam se engajar na luta por uma
África e dos Africanos, a luta dos machismo, a misoginia, a homofobia, a les- sociedade, políticos(as) e religiosos(as) en- sociedade que valorize a diversidade.
negros no Brasil, a cultura negra bofobia, a bifobia e a transfobia, reflexos de tendam a importância de discutir a questão
brasileira e o negro na formação
1.4
uma sociedade contaminada por ideologias de gênero nas escolas?
da sociedade nacional, resgatando conservadoras e reacionárias, legitimadas
a contribuição do povo negro nas
PERSPECTIVAS
por um pensamento fundamentalista, que De acordo com Mano (2014), o Brasil li-
áreas social, econômica e política desrespeitam mulheres e LGBTIs. dera o (revoltante) ranking dos países mais
pertinentes à História do Brasil.
PARA O TRABALHO
homofóbicos no mundo. Pessoas estão
§ 2º Os conteúdos referentes à His- De acordo com Butler (1998), hoje as mu- morrendo e as escolas precisam se posicio-
tória e Cultura Afro-Brasileira se-
NAS CLASSES
lheres têm acesso à escola e ao trabalho, nar e ajudar a desenvolver uma cultura de
rão ministrados no âmbito de todo mas nem sempre foi assim. Essa conquista, respeito à vida. Todas as pessoas merecem
o currículo escolar, em especial nas
MULTISSERIADAS
recente no Brasil, é fruto da luta do movi- respeito, independentemente de orientação
áreas de Educação Artística e de mento feminista, de mulheres que lutaram sexual ou identidade de gênero. Esse deve
Literatura e História Brasileiras. pelo acesso a lugares antes reservados aos ser o principal propósito ao incluir e discu-
(...) Art. 79-B O calendário escolar homens. Mesmo assim, elas continuam so- tir essa temática nas escolas, para que, des-
incluirá o dia 20 de novembro co- frendo discriminações diversas como o não sa maneira, todas as crianças sejam respei- Ao propor referenciais curriculares para a
mo ‘Dia Nacional da Consciência reconhecimento e a não valorização de seu tadas e aprendam a respeitar, com base na educação, questões importantes precisam
Negra’.” trabalho, ganhando salários menores do que compreensão de que é na diversidade que ser colocadas: os encaminhamentos para o
os homens, muitas vezes ocupando os mes- reside a maior riqueza da espécie humana; trabalho em classes seriadas serão os mes-
A letra da lei é enfática ao afirmar que os mos cargos. Entre a população LGBTI, a di- para que aprendam, também, que essa di- mos para as classes multisseriadas? Por que
conteúdos referentes à História e à Cultura ficuldade de acesso à escola e permanência versidade não deve ser utilizada para clas- há a necessidade de um olhar específico para
Afro-Brasileira serão ministrados no âmbi- nela, majoritariamente provocados por dis- sificar ou hierarquizar as pessoas; que não os formatos de trabalho das classes multis-
to de todo o currículo escolar. Portanto, os criminação e preconceito, provoca a evasão se deve atribuir valor diferente a cada ser seriadas? Quais as principais questões, avan-
professores e as professoras não podem se escolar – ou pior, e expulsão da escola. humano de acordo com gênero, cor, etnia, ços, desafios e articulações necessários para
religião, orientação e/ou identidade sexual esse trabalho?
e cultural, entre outras diversidades. É, em
última instância, compreender e defender O Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da
nossa característica fundamental enquanto Educação Nacional, LDB (Lei nº 9.394/96)
humanidade. determina que
24 25
Capítulo I Princípios e valores da Educação de Camaçari
da, em cada sistema de ensino e em O desafio é que a escola do campo não seja tituíam-se em 97,5 mil turmas do Ensino que possam compartilhar experiências, dia-
cada estabelecimento escolar, por uma reprodução do modelo urbano, que pri- Fundamental no Brasil. O município de Ca- logar e refletir acerca das especificidades do
uma parte diversificada, exigida vilegie as demandas da cidade, com a visão maçari contava, em 2018, com 102 escolas e trabalho nas classes multisseriadas. Outro
pelas características regionais e de que esta significa desenvolvimento e o oito classes multisseriadas. ponto é buscar alternativas para superar a
locais da sociedade, da cultura, da campo, atraso. Romper com essa ideia e con- escassez de recursos pedagógicos e do acer-
economia e dos educandos.” (BRA- figuração é urgente. Também se constitui um Torna-se fundamental, então, definir os ca- vo literário nessas localidades. Os educado-
SIL, 1996. Grifo nosso) passo importante a organização de um currí- minhos do trabalho das classes multisseria- res e as educadoras precisam de ajuda para
culo que considere, valorize e inclua as pes- das no âmbito municipal, para que as dire- aprender a gerir uma classe multisseriada e
Na mesma lei, explicita-se, no artigo 28, soas que fazem parte da educação do cam- trizes de uma organização curricular de rede organizar o planejamento de ensino em to-
que será preciso que os sistemas de ensino po para pensar sobre o trabalho nas classes apoiem a reflexão sobre as especificidades das as áreas do conhecimento, considerando
promovam adaptações necessárias para que multisseriadas. do currículo. Esse encaminhamento oportu- as especificidades dos conteúdos para dife-
haja adequação às peculiaridades da vida niza a tomada de decisões no âmbito escolar rentes grupos de alunos e alunas.
rural e de cada região, quando da oferta da Essa organização curricular precisa estar contribuindo, cada vez mais, para a qualifica-
Educação Básica para a população rural. pautada em premissas básicas como o res- ção do trabalho de professoras e professores. Os desafios e as dificuldades vão sendo ul-
Especifica, ainda, que essas adaptações se peito à diversidade cultural, social e geográ- trapassados à medida que políticas públicas
referem a conteúdos curriculares e meto- fica do espaço em que a escola está inserida. A organização da classe multisseriada é pau- sejam implementadas e haja maior consci-
dologias, organização do calendário escolar Nesse cenário precisamos considerar que o tada no agrupamento de alunos e alunas com ência da natureza desse trabalho específico.
e adequação à natureza do trabalho nessas povo brasileiro é diverso e que pensar em es- diferentes faixas de idade. Vale a reflexão de Para isso, é fundamental contar com con-
localidades rurais. colas multisseriadas também envolve pensar que em qualquer classe, mesmo as seriadas, dições de trabalho para construção de um
em escolas do campo, das águas, das serras, há heterogeneidade, sendo necessário consi- projeto educativo que tenha um olhar atento
Mais adiante, as Diretrizes Operacionais das florestas, do cerrado, do semiárido etc. derar as individualidades, os tempos e os rit- para essas classes, e assumir, como bem co-
para a Educação nas Escolas do Campo esta- Toda essa diversidade encontra abrigo na mos de cada um. Porém, nas multisseriadas, loca Ferreiro (1994), o grande desafio que é
belecem a identidade da escola instalada no pedagogia libertadora encabeçada por Paulo esses aspectos são mais enfatizados, pois “a transformar a diversidade em uma vantagem
campo, considerando aspectos como tempo, Freire, em que a Educação se constrói sobre multisseriação tem a diferença como o úni- pedagógica.
espaço, recursos e saberes próprios de alu- a autonomia do sujeito e parte de sua reali- co modelo de existência” (PINHO apud RIOS,
nos, alunas e grupos comunitários que fazem dade e visão de mundo. 2011). Considerar essas diversas identidades O que uma criança de 6 anos pode aprender
parte dela. e essa heterogeneidade composta por dife- com uma de 8? O que elas podem aprender
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) rentes idades é um grande desafio. juntas? De que maneira quem está no início
Falar sobre educação do campo significa destaca que, ao elaborar os currículos, os sis- da escolaridade pode contribuir com quem
pensar sobre as especificidades de cada lugar temas ou redes de ensino e as instituições es- “[...] uma classe multisseriada não tem mais tempo de escolaridade, e vice-ver-
e sobre a luta da população que lá vive para a colares precisam contextualizar os conteúdos é uma soma de séries justapostas. sa? Essas perguntas possibilitarão uma dis-
garantia do direito à educação. Vale analisar dos componentes curriculares, tornando-os Para entendê-la na sua especifi- cussão sobre o planejamento pedagógico.
a realidade que foi construída historicamen- significativos e considerando a realidade do cidade, é fundamental assumi-la
te em relação às políticas públicas e mapear lugar e do tempo em que as aprendizagens como uma totalidade una e diver- Acreditar que todos e todas podem aprender
quantas escolas contam com bibliotecas ou se situam; decidir sobre formas de organiza- sa ao mesmo tempo, a fim de não nessa interação é um primeiro passo para se-
salas de leitura, computadores, água encana- ção interdisciplinar dos componentes curri- dicotomizá-la [...] as classes mul- guir qualificando o trabalho nas classes mul-
da e energia elétrica. Esse mapeamento con- culares, fortalecendo a gestão do ensino e da tisseriadas, ao mesmo tempo em tisseriadas. Para tanto, faz-se fundamental:
tribui para que se considere cada realidade a aprendizagem com estratégias mais dinâmi- que podem ser vistas como algo
fim de que seja tecido todo o planejamento cas, interativas e colaborativas; selecionar e fragmentado, são também coesas • Considerar as competências gerais
pedagógico com as pessoas que fazem parte aplicar metodologias diversificadas que aten- na sua forma particular de existir, para a Educação Básica.
das comunidades rurais. dam às especificidades dos diferentes grupos pois esta coesão é uma caracterís- • Relacionar as competências gerais com
de alunos e alunas, famílias e comunidades. A tica das sociedades contemporâne- as competências específicas das áreas
O nascimento da escola do campo localiza- BNCC enfatiza que as decisões quanto à orga- as”. (PINHO e SOUZA, 2012) e dos componentes curriculares.
-se, originalmente, na sede das fazendas ou nização dos currículos precisam atender às • Realizar um diagnóstico sobre a com-
na casa dos professores. Ela é organizada em orientações das Diretrizes Curriculares Na- Para que, cada vez mais, haja a qualificação posição da turma e os principais sabe-
uma única sala e uma única professora ou cionais e serem adequadas às diferentes mo- do trabalho pedagógico nessas classes, é im- res e aprendizagens dos alunos e das
professor para realizar o trabalho com alu- dalidades de ensino. portante considerar as dificuldades e os de- alunas.
nas e alunos de diferentes idades. Essa esco- safios enfrentados nesse âmbito. O primeiro • Definir os objetivos e conteúdos que
la era chamada de unidocente – atualmente No contexto das classes multisseriadas, desafio é romper com o isolamento em que serão foco de investimento no planeja-
multisseriada – quando, em 1920, foram o Movimento Todos Pela Educação pontua muitos educadores e educadoras se encon- mento anual.
criadas as séries nas escolas urbanas. que, de acordo com o Censo 2017, elas cons- tram, geográfica e pedagogicamente, para • Realizar um planejamento anual espe-
26 27
Capítulo I Princípios e valores da Educação de Camaçari
cificando os objetivos, os conteúdos e cálculo. Com base nos resultados, antecipa-se to e seu tema, pesquisando em meios cipar de situações didáticas com sentido
as propostas didáticas para toda a tur- os conteúdos e situações didáticas, articulan- impressos ou digitais, sempre que for social, como escritas cotidianas de forma
ma e outras específicas, segundo os co- do-os ao planejamento anual. Por exemplo, preciso, informações necessárias à individual, em pequenos grupos ou em du-
nhecimentos dos alunos e das alunas, em uma turma que demande de investimen- produção do texto, organizando em tó- plas: produção de listas de títulos de livros
definindo as modalidades organiza- to no campo aditivo com números naturais e picos os dados e as fontes pesquisadas. do cantinho de leitura; trabalho com nomes
tivas do tempo didático – quais serão racionais, pode-se elaborar uma sequência di- • Reler e revisar o texto produzido com a próprios no registro de empréstimo de livros
os projetos didáticos, as sequências di- dática de compra e venda em feira e mercadi- ajuda da professora, ou do professor, e e lista de responsáveis por uma atividade; e
dáticas e as atividades permanentes a nho, e nela tratar com todos e todas a leitura, a a colaboração das colegas e dos colegas agendas de leitura que possibilitarão situa-
serem implementadas. escrita, a comparação de números; sendo que para corrigi-lo e aprimorá-lo, fazendo ções de escrita ou cópia dos títulos dos livros
haverá o trabalho com problemas do campo cortes, acréscimos, reformulações, cor- já lidos com comentário sobre a obra lida e,
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO aditivo com números naturais para um grupo, reções de ortografia e pontuação. com isso, ter controle na organização das lei-
• Editar a versão final do texto, em cola-
POSSÍVEIS NUMA CLASSE e problemas envolvendo os números racio- turas. Alunos e alunas que estão mais avan-
nais para outro grupo. boração com as colegas e os colegas e çados e produzem com maior autonomia
MULTISSERIADA com a ajuda da professora, ou do pro- podem resolver problemas relacionados à
Nas demais áreas do conhecimento, a pre- fessor, ilustrando, quando for o caso, ortografia, à separação entre as palavras, ao
As modalidades organizativas do tempo di- missa é a mesma: organizar sequências didá- em suporte manual ou digital. uso da letra maiúscula etc.
dático contribuem para que as situações de ticas em que toda a turma estará envolvida, o Assim, a organização coletiva da classe fo-
ensino aconteçam com maior intencionali- que será foco do trabalho coletivo em peque- cará em investimentos para ensinar os conte- Há desafios em favorecer que todas e to-
dade e podem ser um importante aliado do nos grupos, duplas e individual. údos do processo redacional a todos e todas, dos avancem em seus conhecimentos e que
educador e da educadora no planejamento contribuindo para que avancem no processo possam interagir e aprender em um grupo
do seu trabalho. Com esse foco, planeja-se os A professora, ou o professor, não deve ter de planejar, produzir, revisar e editar os tex- sempre heterogêneo. Como em classes mul-
projetos didáticos, as sequências didáticas e vários planejamentos, um para cada ano de tos produzidos. tisseriadas as idades e os graus de escolari-
as atividades permanentes que serão imple- escolaridade. Além de ser uma tarefa sofrida, dade diversos são a base de sua existência,
mentadas, o tempo para cada um deles du- é pouco fecundo. O importante é pensar si- Nas situações didáticas em pequenos grupos é essencial organizar, distribuir e alternar as
rante a semana e a duração no decorrer do tuações didáticas que podem ser planejadas ou em duplas, a professora, ou o professor, de- diferentes situações didáticas ao longo do
período letivo. para todos e todas, e outras que precisarão fine o papel de cada estudante: enquanto um ano, dos bimestres e trimestres letivos e das
ser organizadas para agrupar alunos e alu- ajuda na produção do texto, por exemplo, ou- aulas, considerando o que sabem os alunos
Em Língua Portuguesa, por exemplo, pode- nas por ciclo ou por conhecimentos próxi- tro faz o registro, pois pode escrever com mais e as alunas e o que precisam aprender. Para
-se planejar um projeto didático de reescrita mos. Duas situações podem acontecer simul- autonomia naquele momento. tanto, é imprescindível as contribuições e
de contos populares com toda a turma; al- taneamente. Por exemplo, um trabalho para participações colaborativas entre profissio-
gumas atividades permanentes para alunos “seguir um autor”, em que um grupo lê livros Os alunos e as alunas em processo de cons- nais da educação que estão cotidianamente
e alunas do primeiro ciclo ou com conheci- com poemas de Cecília Meireles e outro, crô- trução do sistema de escrita podem parti- realizando o trabalho nessas classes.
mentos próximos, voltadas para alfabetiza- nicas de Carlos Drummond de Andrade; no
ção inicial, e outras voltadas para o segundo fim, eles trocam entre si em uma situação co-
ciclo, com foco em aspectos ortográficos, letiva de exposição oral.
caso já tenham construído o sistema alfabé-
tico de escrita. Ao definir as aprendizagens esperadas é
possível planejar quais projetos didáticos
Com isso, será importante definir o que serão relevantes implementar. Conforme a
será tratado com toda a turma de forma co- BNCC, alunas e alunos do 1º ao 5º ano do En-
letiva, quais as situações didáticas que serão sino Fundamental precisam aprender a:
realizadas em duplas ou pequenos grupos
e quais serão feitas individualmente. Para • Planejar, com a ajuda da professora, ou
tanto, uma questão essencial é considerar o do professor, o texto que será produzi-
nível de complexidade das tarefas de forma do, considerando a situação comunica-
que esteja adequado ao que os alunos e as tiva, os interlocutores (quem escreve/
alunas sabem e precisam aprender. para quem escreve); a finalidade ou o
propósito (escrever para quê); a cir-
Em Matemática, por meio de um diagnósti- culação (onde o texto vai circular); o
co, é possível mapear os saberes dos estudan- suporte (qual é o portador do texto); a
tes quanto aos números e às estratégias de linguagem, organização e forma do tex-
28 29
CAPÍTULO 2
CONCEPÇÕES
PEDAGÓGICAS, POLÍTICAS O principal diálogo que um documento cur-
ricular estabelece é com a prática realizada
nas escolas que ele se propõe a orientar. Isso
discussões foram refletidas.
Esperamos que contribua
para melhorar a qualidade da
No dicionário Houaiss está a seguinte de- (1996). Todos esses documentos apontam mais adequado seria falar de in- ser comemorado e reconhecido como um
finição: equidade é o “respeito à igualdade para a necessidade de uma escola para to- fâncias e adolescências no plural”. grande avanço na história da educação brasi-
de direito de cada um, que independe da lei dos, onde as crianças possam formar valores (BRASIL, 2013) leira (os Parâmetros Curriculares Nacionais
positiva, mas de um sentimento do que se e aprender sobre normas e atitudes. de 1998 já traziam essa questão, mas não
considera justo, tendo em vista as causas e O Ensino Fundamental recebe estudantes com caráter de lei).
as intenções”. Portanto, direito a igualdade Segundo López (2005), existem ao menos de uma ampla faixa etária. Este documento
remete à função da escola de garantir a to- quatro princípios de equidade no campo fará referência somente à faixa entre os 6 e Esse novo cenário traz implicações diretas
dos os seus estudantes o direito de apren- educativo: os 10 anos de idade, que é a que frequenta os na concepção de infância vigente em muitas
der, considerando suas características e seus anos iniciais daquela etapa. Considera-se que escolas. Hoje, o que uma criança diz, o que
contextos de origem e vida, pois o princípio • igualdade no acesso; esse é o período em que acontece o desen- ela pensa e como pensa, suas escolhas, sua
é que todos eles são potentes e autônomos, • igualdade nas condições ou meios de volvimento da capacidade de representação, história de vida e o contexto em que está in-
com plenas condições de desenvolver-se. aprendizagem; marcando uma importante transformação na serida importa muito na construção dos cur-
• igualdade em conquistas ou resulta- vida das crianças, colocando-as em outro lu- rículos. Mais que isso: define-os. A criança é
A busca pela equidade é um ponto crucial dos; e gar no contexto em que vivem e no mundo. um sujeito de direitos e, nessa condição, tem
da agenda das políticas públicas de Educação • igualdade na realização social dessas assegurado em qualquer ambiente social –
no Brasil há bastante tempo, desde a Decla- conquistas. Com essa capacidade, as crianças estão ap- escola também – condições de opinar e fazer
ração dos Direitos Humanos (1948), do Es- Atualmente, no Brasil, 97% das crianças e tas a se apropriar da leitura, da escrita e dos escolhas, inclusive as relacionadas à defini-
tatuto da Criança e do Adolescente (1990), dos jovens entre 4 e 17 anos estão matricu- conceitos matemáticos, além de serem ca- ção de trajetos que incluem a ela e seu grupo.
da Constituição Brasileira (1988) e da Lei lados em alguma instituição de ensino – isto pazes de estabelecer relações sobre fatos da É disso que se trata quando se menciona um
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é, o direito de todos a frequentar uma esco- história e cultura tanto dos lugares em que currículo com protagonismo da criança.
la independentemente de sua origem está estão inseridos como dos mais distantes. A
praticamente garantido. O desafio, agora, é conquista da linguagem como forma de ex- A ideia de protagonismo traz para a infân-
buscar a igualdade de condições ou meios de pressão traz novas condições de interação e cia a concepção de criança potente, crítica
aprendizagem e de conquistas ou resultados. um novo posicionamento social. Frequentar e autora da sua aprendizagem, que carrega
A BNCC afirma ser dever do Estado assegu- a escola traz novos desafios: a convivência, seus saberes e experiências que devem ser
rar aos estudantes o direito de aprendiza- a resolução de conflitos e a construção de respeitados e valorizados pela escola. É uma
gem e desenvolvimento, independentemente valores, por exemplo. Cabe à escola criar mudança de paradigma que reserva para a
das suas condições sociais, econômicas, cul- condições para que eles possam ser viven- infância um lugar central tanto no proces-
turais, étnico-raciais ou geográficas. Só assim ciados em sua plenitude. Como destacado so de ensino como, principalmente, no de
garante-se a equidade. nas Diretrizes Curriculares Nacionais de aprendizagem.
2013, no intervalo entre os 6 e os 10 anos
2.2
de idade há um deslocamento de uma po- Para a escola, essa visão renovada de infân-
sição egocêntrica para outra mais descen- cia impõe novos materiais usados e uma re-
RESPEITO À INFÂNCIA
trada. Por isso as questões de interações se organização de tempo e espaços que acolham
colocam, assim como se ampliam as possi- a criança na sua integralidade e potenciali-
bilidades de aprendizagem dos elementos dade. Os materiais precisam propor desafios
da cultura. É o tempo da “construção da au- qualificados, que tragam bons problemas
tonomia e a aquisição de valores morais e para serem resolvidos – os velhos exercícios
“Os alunos do Ensino Fundamental éticos”. (BRASIL, 2013) de repetição e treino não atendem mais às
regular são crianças e adolescen- crianças, estão aquém de suas potências e
tes de faixas etárias cujo desenvol- Há pouco tempo, essas especificidades das não dialogam com o que faz sentido na vida
vimento está marcado por interes- crianças não eram objeto de atenção das es- delas. Os espaços devem ser organizados de
ses próprios, relacionados aos seus colas, uma vez que a orientação do projeto modo a garantir a interação e autonomia dos
aspectos físico, emocional, social e pedagógico era dada pela centralidade do alunos e das alunas – cadeiras enfileiradas
cognitivo, em constante interação. adulto. Portanto, importava as escolhas do que pretendem garantir bom comportamen-
Como sujeitos históricos que são, adulto e sua visão sobre a criança para esta- to, isolando os estudantes, ou que colocam
as características de desenvolvi- belecer os programas de ensino. materiais fora do alcance deles para preser-
mento dos alunos estão muito rela- vá-los, são exemplos de organização que não
cionadas com seus modos próprios Ter um documento como a Base Nacional atendem aos princípios de desenvolvimento
de vida e suas múltiplas experiên- Comum Curricular, que coloca os direitos das e aprendizagens. Neste documento, defende-
cias culturais e sociais, de sorte que crianças em forma de lei, é um fato que deve mos a interação como condição para a cons-
33
Capítulo 2 Concepções pedagógicas, políticas e epistemológicas
trução do conhecimento e desenvolvimento em seu texto, deve indicar as melhores con- acolher a perspectiva do aprendiz.” “(...) o conhecimento se constrói na
da autonomia progressiva. dições para que a rede de escolas construa (WEISZ, 1999) relação da ação – reflexão do apren-
uma educação de qualidade, direitos e res- diz – esse aprendiz é compreendido
É urgente que a gestão do tempo na esco- peito a todas as individualidades, sem que o Embora hoje já se tenha produção de didá- como alguém que sabe alguma coi-
la seja revisto, pois sem ele e sem continui- coletivo se perca como forma de ação e inter- ticas específicas para ajudar a compreender sa e que, diante de novas informa-
dade não há possibilidade de os estudantes venção social, política e humanitária. como crianças e jovens aprendem os diferen- ções que para ele fazem sentido, re-
colocarem seus conhecimentos em jogo para tes conhecimentos produzidos pela cultura, aliza um esforço para assimilá-las.
testar, compartilhar, discutir e rever ideias. O Do ponto de vista histórico, a concepção os professores ainda não se apoiam nessas Ao deparar com questões que a ele
tempo minutado não acolhedor de um aluno não foi sempre essa. Há alguns anos, o ensi- pesquisas para planejar suas ações. Ainda se colocam como problema, depa-
potente e protagonista da sua aprendizagem. no prevalecia sobre a aprendizagem e cabia existe uma concepção de que o ensino pro- ra-se também com a necessidade de
aos alunos e às alunas se adequarem ao que duz a aprendizagem por ele determinada e superação. E o conhecimento novo
Resta ainda considerar a importância da for- era proposto. As divergências eram tratadas, o estudante é mero receptor. Se a aprendi- aparece como resultado de um pro-
mação dos professores como condição essen- na sua maioria, como problemas de natu- zagem não acontecer, o problema está no cesso de ampliação, diversificação e
cial para inverter os rumos e trazer o aluno reza pessoal, muitas vezes patológicos, ou aluno, exclusivamente, que não recebeu os aprofundamento do conhecimento
para o cenário central da escola. Se há uma familiar. Quando um estudante não obtinha ensinamentos que foram passados. Portanto, anterior que ele já detém”. (WEISZ,
mudança de paradigma na visão de infância, bons resultados, a primeira medida era ava- trata-se de um estudante passivo e sem pro- 1999)
deve haver também uma mudança nos pro- liá-lo para ter certeza de que o problema não tagonismo, submetido às escolhas do adulto.
jetos, nos planejamentos e nas intervenções era de saúde física ou mental. A família era o Temos então um novo cenário que reco-
dos professores. A formação, como espaço tópico seguinte a ser analisado, procurando Não é essa a posição defendida neste docu- loca a concepção de ensino e de aprendiza-
de reflexão da prática, é o único caminho que algum problema ou “desajuste” que justifi- mento. Entendemos que o estudante é pro- gem. Quando se fala de ensino, pensa-se em
pode ajudar a equipe de professores a ganhar casse o “atraso”, como era tratada a condição tagonista do processo de aprendizagem por- criar boas condições para que os estudantes
autonomia e ser reais interlocutores dos estu- de quem não aprendia. Fatores econômicos que desde que nasce está inserido no mundo possam pesquisar, dialogar, colocar em jogo
dantes. Ter a formação assegurada é condição e sociais também faziam parte das preten- do conhecimento com o qual interage de ma- o que sabem, discutir, refletir e trocar – pro-
para ajudar os estudantes a acreditar mais em sas justificativas das dificuldades escolares: neira intensa e continuada, num movimento cessos que ajudam os estudantes a ser auto-
si mesmos, desenvolver a autoconfiança e va- quanto mais pobre a origem, mais dificulda- de troca que questiona o que se sabe, oferece res de suas aprendizagens.
lorizar suas potencialidades. des teriam os estudantes. novas possibilidades e cria condições para o
sujeito avançar a partir do seu patamar ini- Isso não significa que a responsabilidade
2.3
A fórmula assim se definia: problemas de cial de conhecimento. Logo, não há como a dos professores e das professoras diminua.
aprendizagem = a problemas de ordem pes- escola ser compreendida como o único espa- Ao contrário, também eles passam a ser au-
CONCEPÇÃO
soal, familiar ou de classe social, ou tudo isso ço de produção de conhecimento. tores da sua prática, conduzindo-a de acordo
somado. Infelizmente, essa ideia ainda não com o seu conhecimento sobre o objeto que
DE ENSINO
foi totalmente superada, pois análises que a Portanto, o binômio ensino-aprendizagem, ensina e sobre como os estudantes, em geral,
sustentam ainda são ouvidas em muitas es- ou seja, o aluno deve aprender aquilo que foi e cada um, especificamente, aprendem esse
E APRENDIZAGEM
colas brasileiras. ensinado, embora presente em muitas reali- determinado objeto, considerando as infor-
dades, não se sustenta mais. Perde lugar para mações que já trazem para a escola. Esse é o
Também remetendo à história, a percepção uma outra relação em que ensino e aprendi- diálogo entre o ensino e a aprendizagem.
do adulto sempre prevaleceu nas decisões zagens são dois processos distintos, embora
Como indicado inicialmente, os princípios curriculares. Como nessa visão “adultos não intimamente relacionados, sem uma relação É a reflexão sobre a própria prática que le-
aqui tratados estão intimamente articulados. erram”, os problemas estavam, obviamente, direta – ou seja, o ensino é um mobilizador vará os docentes a propor intervenções ade-
Não é possível falar de concepções de ensino no aluno ou, melhor dizendo, na aprendiza- de muitos conhecimentos que se movimen- quadas, que potencializem as competências
e aprendizagem sem ter como eixos centrais gem. O ensino era intocável, pois na lógica tam e impulsionam o estudante a outra esca- dos alunos, mobilizem desafios e ofereçam
a educação integral, inclusiva e democrática, adultocêntrica, ele estava sempre correto. la do saber. condições para que as crianças explicitem e
a equidade e a formação para autonomia, Telma Weisz explica: troquem entre si as descobertas que fazem.
com a escola sendo o espaço em que o direito O reconhecimento dessa separação se mos- Não podemos deixar de recuperar a análise
de aprendizagem deve ser assegurado para “A adoção adultocêntrica não é trou importante para a construção de novos feita por Telma Weisz (1999) sobre o que ca-
todos, sem nenhum tipo de distinção. Da uma decisão voluntária dos pro- caminhos. A educação deixa de ser um pro- racteriza as boas situações de aprendizagem:
mesma forma, o acesso à cultura deve ser en- fessores. É o ponto de vista que se cesso de reprodução de conhecimento, mas
tendido como direito de todos os estudantes. tende a adotar quando o conheci- inclui e se define, como um processo de tro- • Os alunos colocando em jogo o que sa-
mento científico disponível no mo- cas, nas quais os saberes são colocados em in- bem e pensam sobre o conteúdo da ta-
O documento curricular, ainda que não ga- mento ainda não permite a cons- teração na busca da produção de entendimen- refa proposta.
ranta a concretização dos desejos que estão trução de outro olhar capaz de tos e de atribuição de sentidos para o mundo. • Os alunos tendo problemas a resolver e
34 35
Capítulo 2 Concepções pedagógicas, políticas e epistemológicas
CAPÍTULO 3
lidade. Por essa razão, cabe ao poder público
“O aluno aprende, adaptando-se a contribuir, elaborando políticas de formação
um meio que é fator de contradi- que apoiem o professor nesse processo.
ções, de dificuldades, de desequilí-
brios, um pouco como fez a socie-
dade humana. Este saber, fruto da
Nesse modo de pensar, pressupõe-se que
a aprendizagem não é um processo que
AVALIAÇÃO
adaptação do aluno, se manifesta
por respostas novas que são a pro-
va da aprendizagem.”
acontece de modo individual. Ao contrário,
quanto mais as alunas e os alunos estiverem
juntos para pensar e resolver as boas situ-
NA REDE MUNICIPAL
Nessa perspectiva cabe à professora e ao
professor provocarem na aluna e no aluno as
ações-problema colocadas pelas professo-
ras e pelos professores, melhores serão as
condições de aprendizagem. Por isso, nessa
DE CAMAÇARI
adaptações desejadas, com uma escolha cor- concepção de trabalho, a organização grupal
reta de problemas propostos. é o movimento metodológico por excelência.
Os encontros no GTE para mim foram muito produtivos
pelo fato de fortalecer o conhecimento que já possuía
e também de ampliar com os novos saberes trazidos
pelas formadoras. O mais interessante foi a abertura dada
para uma construção verdadeira do documento que irá
nortear a Educação em Camaçari, considerando a realidade
do município, dos profissionais que aqui trabalham
e da população que aqui reside e usufrui dos serviços públicos
fornecidos pela prefeitura.”
Francisco de Assis Santana Filho,
Escola Municipal Aloísio de Oliveira
36
Capítulo 3 Avaliação na Rede Municipal de Camaçari
A avaliação tem como função verificar os a prioridade do ensino. Quando a trole. O envolvimento dos alunos é essencial da educação”. (HOFFMANN, 2002)
resultados com vistas à melhoria das ações necessidade de avaliar predomina para que as atividades de avaliação sejam
pedagógicas. Caso contrário, não teria sen- sobre os objetivos didáticos, quan- uma reflexão construtiva de sua evolução e Ainda existem avaliações escolares arbitrá-
tido avaliar. Nos sistemas educacionais, são do (...) a exigência de controlar a seu desenvolvimento pessoal em um proces- rias, severas e incoerentes, ou sem a devida
identificados diferentes níveis de avaliação. aprendizagem se erige em critério so de aprendizagem compreensivo, reflexivo transparência de procedimentos e critérios,
de seleção e hierarquização dos e prático. A avaliação, bem utilizada, é uma deixando dúvidas sobre o que se deseja al-
• Para monitorar o desenvolvimento conteúdos, produz-se uma redu- ferramenta de conhecimento, sendo possível cançar com o processo avaliativo – exami-
dos sistemas educativos e medir o im- ção no objeto de ensino porque criar modalidades de trabalho que incluam nar? Selecionar? Certificar o estudante?
pacto das políticas públicas de Educa- sua apresentação se limita àque- momentos durante os quais o controle seja
ção (avaliação externa). les aspectos que são mais suscetí- de responsabilidade dos alunos. Apesar das discussões, estudos e produ-
• Para que as escolas funcionem melhor veis de controle.” (LERNER, 2002) ções acerca da avaliação escolar, ela ainda é
e com mais eficiência e ofereçam con- Nessa perspectiva, o ideal é optar – como um tema que provoca interpretações e ações
dições que favoreçam a aprendizagem Na avaliação da aprendizagem, é imprescin- feito neste documento – por instrumentos diversas tanto para pesquisadores como
de qualidade para todos os estudantes. dível considerar as condições que foram colo- e estratégias que favoreçam uma avaliação para professores e outros atores envolvidos
• Para avaliar as aprendizagens con- cadas pelo ensino – isto é, só pode ser avaliado formativa, sem testes que induzem à memo- no ambiente escolar e fora dele. Muito já se
quistadas pelos estudantes. o que foi ensinado. A avaliação necessita, por- rização e provas que tornam os processos de avançou nessa área. Contudo, ainda apare-
• Neste documento, a avaliação é trata- tanto, basear-se na singularidade e nas neces- ensino homogêneos e dificultam a igualdade cem dúvidas acerca da mais elementar per-
da no último nível. Segundo Delia Ler- sidades dos estudantes e ser uma ferramenta de oportunidades. gunta sobre o tema: qual o real papel da ava-
ner, ela é um instrumento fundamen- para conhecer a evolução, as conquistas e as liação no processo educacional?
tal para planejar melhor os processos dificuldades de cada um. Ao mesmo tempo, Entender a avaliação como um meio para
de ensino desenvolvidos. deve ser usada para avaliar a adequação das a melhoria educacional implica considerá-la Para melhor compreender o assunto e res-
propostas didáticas dos professores. como parte do processo de planejamento de ponder a esse questionamento, este capítulo
“A avaliação é uma necessidade le- ensino e de aprendizagem, integrando os di- tratará do tema na perspectiva de travar um
gítima da instituição escolar, é um Entretanto, como tão precisamente aler- ferentes saberes. diálogo, à luz da compreensão da Rede Públi-
instrumento que permite determi- ta Delia Lerner, é preciso ter cuidado com a ca Municipal de Ensino de Camaçari de refe-
nar em que medida o ensino alcan- pressão da avaliação sobre as práticas escola- rências, documentos oficiais e leituras.
çou seu objetivo, em que medida foi res, não raro se sobrepondo às necessidades HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO
possível fazer chegar aos alunos a de ensino e de aprendizagem em nome de
mensagem que o docente se propôs uma competição sem sustentação no mundo Apresentada ao mundo escolar entre os sé- CATEGORIAS DA AVALIAÇÃO
a comunicar. A avaliação da apren- da Educação. Os resultados das avaliações culos XVII e XVIII, porém exigida nas escolas
DA APRENDIZAGEM
dizagem é imprescindível, porque externas têm, muitas vezes, comandado o a partir do século XIX, quando a escolaridade
proporciona informação sobre o currículo e, em alguns casos, reduzindo-o a tornou-se obrigatória, a avaliação está pre-
funcionamento das situações didá- fim de melhor “treinar” os estudantes para sente nas lembranças de todos que passaram No entendimento do coletivo que elaborou
ticas e permite então reorientar o que tirem boas notas nos testes avaliativos. pelo ensino regular. Para alguns, deixou boas este Referencial, a avaliação da aprendizagem
ensino, fazer os ajustes necessários lembranças; para outros, a palavra remete ao é entendida como etapa contínua e progressi-
para avançar até o cumprimento Para evitar que a avaliação dirija o ensino, fracasso e à incapacidade. va no processo de construção do conhecimen-
dos propósitos. os propósitos referentes à aprendizagem de- to pelos alunos e vinculada à ação intencional
No entanto, a prioridade da ava- vem estar em primeiro plano, e assim não Para a educadora Jussara Hoffmann, a ava- e planejada conjuntamente por todos os sujei-
liação deve terminar onde começa fiquem subordinados à necessidade de con- liação sempre foi reconhecida como estando: tos envolvidos no processo educacional.
38 39
Capítulo 3 Avaliação na Rede Municipal de Camaçari
longo de um processo avaliativo: avaliação resolvê-la, mobilize seus conhecimentos em de uma sequência didática com a função sejam por meio de condutas, atitudes e/ou
inicial (ou diagnóstica), avaliação reguladora contato direto com o conteúdo estudado, para de constatar em que grau os objetivos de habilidades presentes na relação pedagógi-
(ou formativa) e avaliação final (ou somati- que ela exiba o conhecimento em ação. aprendizagem propostos foram alcançados ca dos sujeitos envolvidos. É o professor, na
va). Essas categorias não são opções mutua- pelos estudantes. Mesmo representando o condição de avaliador, munido de suas con-
mente excludentes. Elas funcionam em arti- Os resultados dessa etapa irão esclarecer o fechamento de uma etapa, a avaliação final cepções e vivências que vai atribuir sentidos
culação umas com as outras, sendo partes de professor sobre os pontos fortes e fracos da não é uma fatalidade ou a última chance de à avaliação escolar. Nessa perspectiva,
um todo, que é o processo avaliativo. Logo, turma, orientando a tomada de decisões para o estudante mostrar que aprendeu. Como
não há professores que aplicam avaliação so- uma nova etapa de estudos, ressaltando os avaliação é um processo, nesse ponto tam- “Uma avaliação espelha um juízo
mativa e outros que aplicam formativa. Um conteúdos que merecem maior investimento bém haverá a elaboração de um diagnóstico de valor, uma dada concepção de
processo dessa natureza tem seus momentos de tempo ou variedade de recursos e estraté- da situação do estudante para a formação de mundo e de educação, e por isso
diagnósticos, formativos e somativos. gias. Assim, leva-se em conta que os estudan- um juízo. Toda essa informação servirá para vem impregnada de um olhar ab-
tes têm repertórios diferentes e aprenderão guiar as mudanças que devem acontecer nas solutamente intencional que re-
A avaliação inicial ou avaliação diagnóstica por vias distintas. A sofisticação e beleza do sequências didáticas seguintes e para refletir vela quem é o educador quando
acontece no início de um novo ano letivo, de trabalho do professor estão em entender essa sobre como os estudantes poderão alcançar interpreta os eventos da cena pe-
uma unidade ou de uma nova sequência didá- diversidade de formas de pensar da turma e as aprendizagens ainda não conquistadas na dagógica.” (SORDI, 2001)
tica, etapa que permite conhecer o ponto de saber combinar as estratégias de ensino para etapa anterior.
partida de quem aprende, sua situação inicial criar condições em que todos aprendam. É Para Álvarez Méndez, a avaliação está es-
e seus conhecimentos prévios em relação aos um trabalho que vai muito além em complexi- tritamente ligada à natureza do conhecimen-
objetivos de aprendizagem definidos no pla- dade do que a simples ação de explicar, visão AVALIAÇÃO E CURRÍCULO to, e uma vez reconhecida essa natureza, a
nejamento escolar. Percebe-se aí a relação que o senso comum tem da docência. avaliação deverá ajustar-se a ela se quiser
planejamento-avaliação, pois tudo será ava- De acordo com as Diretrizes Curriculares ser fiel e manter a coerência epistemológica.
liado de acordo com os objetivos traçados no A avaliação com função reguladora é co- Nacionais para a Educação Básica (BRASIL, Esse autor afirma que
plano de ensino. As teorias da aprendizagem nhecida como avaliação formativa ou pro- 2013), os processos avaliativos são consi-
cognitivistas: construtivismo (Jean Piaget, cessual e tem a função de acompanhar o derados partes integrantes do currículo e “(...) o conhecimento deve ser o
Emilia Ferreiro) e aprendizagem significativa trabalho dos estudantes para perceber se devem zelar pela aprendizagem dos alunos, referente teórico que dá sentido
(David Ausubel, Joseph Novak) e a psicologia vão atingindo os objetivos de aprendizagem bem como oferecer condições e meios, que global ao processo de realizar uma
histórico-cultural (Lev Vygotsky) ressaltam o propostos (CASTILLO ARREDONDO E CA- possibilitem a recuperação de estudantes avaliação, podendo diferir segun-
papel imprescindível do entendimento acerca BRERIZO DIAGO, 2009). É nesse processo com menor rendimento, prevalecendo sem- do a percepção teórica que guia a
do ponto de partida de quem aprende para a que o professor obtém, sintetiza e interpreta pre os aspectos qualitativos e os resultados avaliação. Aqui está o sentido e o
construção do conhecimento, de forma que informações para que tome as decisões que ao longo do período letivo. significado da avaliação e, como
nunca saberemos se nossas estratégias de permitirão modificar e melhorar o ensino substrato, o da educação”. (MÉN-
ensino foram eficazes se não soubermos qual durante uma sequência didática, unidade ou Considerando que avaliar é mais do que DEZ, 2002)
era a situação inicial do estudante. ano letivo. A avaliação funciona totalmente a atribuir notas e conceitos ou classificar o de-
favor da otimização das aprendizagens, sem sempenho estudantil, vale lembrar que ela se Parte-se, então, do pressuposto de que a
Saber como o estudante mobiliza seu conhe- a preocupação de pontuar ou dar um concei- faz presente em todos os domínios da ativi- avaliação, como prática escolar, não é uma
cimento para resolver uma situação-proble- to aos alunos, mas de entender quais são os dade humana, seja através das reflexões in- atividade neutra ou meramente técnica. Ao
ma é essencial para entender como ele pen- obstáculos que devem ser superados para formais que orientam as frequentes opções contrário, é pautada, principalmente, por um
sa, ou melhor, como articula suas habilidades que todos alcancem a aprendizagem. do dia a dia, ou seja, formalmente, por meio modelo teórico de mundo, ciência e educa-
e conteúdos no enfrentamento de desafios, da reflexão organizada e sistemática que de- ção, traduzida em prática pedagógica.
sejam eles de leitura, escrita ou cálculo, ou Os dados que alimentam essa etapa podem fine a tomada de decisões (DALBEN, 2005).
de interpretação de fenômenos da natureza ser obtidos por instrumentos avaliativos Outro pressuposto que merece destaque
ou da realidade social. O pensamento se dá convencionais (provas, desenhos, murais, É importante salientar que, em qualquer ní- é o relativo à prática de avaliação dos pro-
no enfrentamento de situações desafiadoras. maquetes etc.), porém necessitam de com- vel de ensino em que ocorra, a avaliação não cessos de ensino e aprendizagem, que se dá
Estratégias como roda de conversa para que plementação por outros dois tipos de evi- existe e não opera por si mesma; estará sem- por meio da relação pedagógica, envolvendo
os alunos expressem o que sabem sobre um dências: as observações sistemáticas e os re- pre a serviço de um projeto ou de um conceito intencionalidades de ação, objetivadas em
determinado assunto, apesar de necessárias, gistros (anotações, fotos, áudios, vídeos etc.) teórico, ou seja, é determinada pelas concep- condutas, atitudes e conhecimentos dos ato-
não são suficientes para uma avaliação diag- produzidos pelo professor. ções que fundamentam a proposta de ensino. res envolvidos. Portanto, faz-se necessário a
nóstica, pois têm pouco poder de mobilização compreensão e acordância de que o processo
das estratégias de pensamento. Nessa etapa, é A avaliação final ou somativa acontece Portanto, avaliação nunca foi nem será uma de avaliação esteja sempre a serviço do de-
importante que a pessoa se depare com uma ao término de um processo ou de um perí- prática escolar neutra, pois haverá sempre senvolvimento progressivo da aprendizagem
situação-problema para que, no esforço de odo de ensino. Geralmente aparece no fim intencionalidades (as mais diversas) de ação, com todas as suas especificidades e caracte-
40 41
Capítulo 3 Avaliação na Rede Municipal de Camaçari
rísticas, bem como que possa assumir o pa- mediante os objetivos previstos pa- com os alunos excelentes oportunidades, es- São eles: atividade avaliativa escrita, ativida-
pel de diagnosticar e acompanhar todas as ra esta etapa da escolarização (...).” tratégias e instrumentos que possibilitem o de avaliativa oral e atividades extraclasse. É
etapas de promoção da aprendizagem. Essa (BRASIL, 2013) estreitamento de relações e conhecimentos, fundamental recordar que a avaliação deve
perspectiva permite que ações vivenciadas com vistas à consolidação de vínculos positi- ser um processo sistemático e contínuo ao
e reflexões criadas, tanto pelos professores Dessa forma, é possível criar condições e vos (afetivos, sociais e cognitivos) entre estu- longo do ano, por meio de atividades con-
como pelos estudantes, possibilitem ajus- possibilidades de formação do sujeito nas dantes, professores, escola, pais e sociedade. textualizadas para que se possa observar a
tes nas estratégias de ensino com vistas à diversas dimensões: educacional, identitá- evolução dessas crianças. Para que esse pro-
progressão das aprendizagens propostas. A rio, econômico, social, ético, criativo, crítico, cesso seja bem-sucedido, o educador precisa
avaliação precisa estar presente no processo diversificado, múltiplo e autônomo, contex- INSTRUMENTOS AVALIATIVOS registrá-lo diariamente de forma organizada,
educacional, assumindo a qualidade de ele- tualizando e possibilitando que o aluno re- com vistas a oferecer melhores oportuni-
mento efetivo e permanente no processo for- flita e ressignifique seu aprendizado e que É necessário que as estratégias e os instru- dades de identificação do desempenho do
mativo do estudante e do aluno. Deve estar o professor pondere e redefina sua prática. mentos utilizados no processo avaliativo es- educando e de suas dificuldades e necessida-
sempre a serviço da ação e reflexão, buscan- Para tanto, é preciso que o docente esteja tejam de acordo com perspectivas e critérios des. Nesse sentido, seriam de grande auxílio
do fazer o diagnóstico e o acompanhamento, atento e certo de que sua prática tenha como estabelecidos e predeterminados no projeto os registros reflexivos da prática, como os
e assim possibilitar ajustes na rota a ser se- meta o desenvolvimento do aluno. É com esse político-pedagógico. Diversos instrumentos potfólios, dossiês e relatórios de avaliação.
guida na progressão das aprendizagens pro- educando que a escola, a comunidade escolar avaliativos podem ser utilizados. Nenhum
postas e esperadas. (professores, gestores, familiares e demais deles é bom ou ruim por natureza, desde que
parceiros) devem estar envolvidos, conside- estejam alinhados com os objetivos de apren- OS ERROS E A AVALIAÇÃO
“A prática da avaliação da apren- rando as práticas pedagógicas e o processo dizagem. Eles devem ser diversificados e qua-
dizagem, em seu sentido pleno, só de avaliação da aprendizagem. Esse processo lificados para corresponder de forma clara Antigamente, o erro era tratado como algo
será possível na medida em que se compreende o aprimoramento e a formação às expectativas de aprendizagem esperadas vergonhoso e o acerto deveria acontecer
estiver efetivamente interessado do ser humano, em que estão presentes as- no processo para oferecer aos estudantes sempre, se possível, logo na primeira tenta-
na aprendizagem do educando, ou pectos como: afetividade, cognição, desenvol- diversas possibilidades de serem avaliados. tiva. Quando a aluna e o aluno erravam uma
seja, há que se estar interessado vimento psicomotor, a corporeidade e os mo- Cada instrumento possui uma intenção e um resposta, o comum era fazer com que ela ou
em que o educando aprenda aquilo dos de ver e interagir com o mundo. objetivo, que poderá se realizar em diferen- ele apagassem para substituir pela resposta
que está sendo ensinado.” (LUCKE- tes momentos, dependendo da disciplina, certa. Nesse processo, o avaliador perdia a
SI, 2003) O processo avaliativo do aluno é parte fun- do conteúdo a ser avaliado e da frequência oportunidade de buscar compreender as es-
damental e inerente ao fazer pedagógico e com que é aplicado. Importante reconhecer tratégias de pensamento que os produziam.
O processo de avaliação que visa etapas de ao processo de aprendizagem. É, portanto, que cada aluno tem um ritmo de aprendiza-
aprendizagem do estudante não se estabele- de caráter essencial e contínuo. Sendo assim, do e nem todos alcançam o mesmo nível ao Essa concepção já era criticada pelas linhas
ce sem o entendimento e a implementação o docente deve ser atento e pragmático nos mesmo tempo. Cada um tem seu ritmo e sua psicológicas da aprendizagem (construtivis-
de uma prática pedagógica que lhe dê o su- encaminhamentos metodológicos, gestão em forma de aprender. Levando-se em conside- mo, aprendizagem significativa e psicologia
porte necessário. Não há como desvincular sala de aula, procedimentos de observação e ração essas variáveis, pode-se oferecer opor- histórico-cultural). Atualmente, os estudos
uma da outra. Portanto, ambas devem estar registro, criação de estratégias e aplicação de tunidades de assegurar a aprendizagem de e as pesquisas na área de neurociência re-
presentes em todo o processo de ensino e instrumentos que possam dimensionar o ní- forma mais fidedigna e consistente possível. forçam essa crítica. Quando, ao realizar um
aprendizagem comungando dos mesmos vel da aprendizagem dos estudantes, sobre- desafio, uma pessoa erra e depois consegue
princípios norteadores, formados com rigor tudo no início do Ensino Fundamental. “Outros instrumentos de coleta de entender por que errou, ela mobiliza muito
técnico e científico, garantindo unidade, se- dados, respondidos diretamente mais seu sistema nervoso do que quem acer-
riedade e honestidade com os princípios que “(...) atendendo às especificidades pelo estudante (por escrito, verbal- tou de primeira.
norteiam o currículo, conforme do desenvolvimento infantil, a ava- mente ou de forma demonstrati-
liação deverá basear-se, sobretudo, va), na medida em que sejam ade- Esse uso produtivo do erro, já defendido
“Art. 7º De acordo com esses princí- em procedimentos de observação e quados à circunstância, podem e pela psicologia há décadas, ganha agora no-
pios, e em conformidade com o art. registro das atividades dos alunos devem ser utilizados para ampliar vas evidências a seu favor (BOALER, 2016).
22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 e portfólios de seus trabalhos, se- a capacidade de observação do O erro cometido pelos alunos também é uma
(LDB), as propostas curriculares do guidos de acompanhamento con- avaliador [...].” (LUCKESI, 2011) evidência de suas estratégias de pensamento
Ensino Fundamental visarão desen- tínuo e de revisão das abordagens e, se for analisado pelo professor, serve como
volver o educando, assegurar-lhe a adotadas, sempre que necessário”. Segundo esse mesmo autor, os instrumen- um dado sobre como o estudante pensa. Essa
formação comum indispensável pa- (BRASIL, 2013) tos avaliativos precisam ser escolhidos e/ informação é fundamental para a tomada de
ra o exercício da cidadania e forne- ou elaborados, aplicados e corrigidos com decisão sobre as estratégias que podem ser
cer-lhe os meios para progredir no Com base nesses princípios, o professor base em decisões que ocorreram antes des- usadas para que o estudante tome consciên-
trabalho e em estudos posteriores, poderá analisar os resultados e construir sa ação, por meio dos critérios estabelecidos. cia do erro e busque superá-lo.
42 43
4.1
a unidade de trabalho é o texto. É nele que o
discurso se materializa e se torna linguagem,
LINGUAGENS
lugar de manifestação de valores e ideolo-
gias. Isso é bastante diferente de trabalhar
com temas do cotidiano, entendendo ser isso
“práticas sociais”. Não basta, por exemplo,
LÍNGUA PORTUGUESA
eleger um tema como “astrologia” para as
crianças lerem ou escreverem sobre; é pre-
ciso definir o propósito social da leitura e da
escrita, a finalidade dos textos, o destinatário
e o gênero, para produzir algo que dialogue
MARCOS DO com os meios sociais em que eles vão circu-
da língua nas quatro atividades (ouvir, falar, necessária. Recordando o que diz Telma ciedade de garantir que todas as crianças a escrever perdeu a cena e a atenção se vol-
ler e escrever) para que eles possam atingir Weisz sobre as características de uma boa alcancem a conquista da escrita alfabética tou a desvendar os processos envolvidos na
graus de proficiência aos quais têm direito. situação de aprendizagem: até os 8 anos, no máximo. Sem isso, não se aprendizagem. Por consequência a essa in-
Produzir um texto, por exemplo, com claro pode pensar em garantias de direito em Lín- versão, descobre-se uma criança potente, ati-
propósito social, delega ao aluno a responsa- • os estudantes precisam colocar em gua Portuguesa nem em outras áreas do co- va, que produz conhecimento. Ela se interes-
bilidade de se expressar com maior clareza, jogo o que sabem e pensam sobre o nhecimento, uma vez que a aprendizagem da sa pelo mundo e quer saber como escrever e
portanto, com ganhos na qualidade do que o conteúdo da tarefa proposta; língua escrita não se resume à aquisição de como ler; aprende na interação com os pares
estudante produz. • é preciso que os estudantes tenham uma ferramenta; ao contrário, é ela que inse- e com os objetos da cultura.
problemas a resolver e decisões a to- re o estudante no campo da comunicação e
A linguagem é um modo de compreensão mar em função do que se propõem da participação social. O livro Psicogênese da Língua Escrita (1985),
do mundo, das pessoas e das relações que produzir; das pesquisadoras Ana Teberosky e Emilia
são estabelecidas entre elas. Ela tanto é • a organização da tarefa precisa garan- A conquista da escrita alfabética não encer- Ferreiro, documenta uma investigação des-
constituída pelos sujeitos que interagem por tir a máxima circulação de informação ra o processo de alfabetização – assunto que crevendo o processo pelo qual a escrita se
meio dela, quanto constitui esses mesmos entre todos; e o conteúdo trabalhado será mais detalhado no tópico Concepção de constitui em objeto de conhecimento para
sujeitos. (Currículo da Cidade, 2018) deve manter as características de obje- Alfabetização –, pois considera-se que ela in- a criança. Sua publicação foi um marco re-
to sociocultural real. clui também a produção textual e oral quali- volucionário nesse percurso. Se até então se
Aparecem, então, os novos princípios nor- ficada, assim como a leitura proficiente. pressupunha que as crianças aprendiam só
ENSINAR E APRENDER EM teadores: os saberes dos alunos, as situa- depois de entrar na escola, os conteúdos de-
LÍNGUA PORTUGUESA ções-problema para alavancar a aprendiza- Portanto, é direito do estudante ter aces- veriam ser organizados do mais fácil para o
gem, a interação entre sujeitos e os objetos so ao que se tem de melhor produzido pela mais difícil (letras, sílabas, palavras, frases e,
socioculturais reais como conteúdos. cultura, para que esta aprendizagem de fato por fim, textos), e os métodos seriam o treino
Neste componente, o ensino e a aprendiza- represente o alcance da proficiência e inser- e a repetição, com a chegada da psicogênese
gem são vistos como dois sistemas que se in- ção social. da língua escrita evidenciou-se a necessidade
tegram, mantêm permanente diálogo entre si, DIREITOS DE APRENDIZAGEM de um novo olhar sobre o sujeito aprendiz.
mas não uma relação de causa e efeito. O estu- Tornou-se imperativa a busca por um modelo
dante chega à escola trazendo sua experiência Os direitos de aprendizagem, tal como didático mais coerente e atualizado. Desco-
com a língua e a linguagem. É com essa baga- apresentados na BNCC, têm como objeti- CONCEPÇÃO DE bre-se que todas as crianças passam por um
gem que o professor deve dialogar e planejar
bons desafios que promovam um avanço no
vo assegurar o acesso ao conhecimento e
a apropriação dele por todas as crianças e
ALFABETIZAÇÃO processo de análise da escrita, buscando com-
preender a correspondência entre as partes
estágio inicial do conhecimento. Ter conheci- os jovens, a fim de construir uma socieda- do falado e as partes do escrito.
mento a respeito do que sabem os estudantes de mais justa e solidária. No caso da Língua “Para aprender a ler e a escrever é preciso
e considerá-los nas propostas feitas à turma é Portuguesa, isso se traduz no direito de ser pensar sobre a escrita, pensar sobre o que Na busca pela compreensão sobre a natu-
condição para qualificar o ensino. usuário proficiente da língua nas suas quatro a escrita representa e como ela representa reza da escrita, as crianças vão construindo
dimensões (ler, escrever, ouvir e falar). graficamente a linguagem.” (Parâmetros Cur- suas hipóteses de como se escreve, partindo
Este é um modo de pensar o ensino e a riculares Nacionais, Weisz, 2016) de um ponto em que a relação entre grafia e
aprendizagem cuja centralidade está na Cabe ao poder público assegurar todas as som não está posta, e seguem em busca dos
criança. Portanto, uma mudança de paradig- condições para que esse direito seja concre- É essencial definir o que se compreende chamados critérios de legibilidade até chega-
ma, já que, usualmente, o que se encontra tizado. Sabemos da necessidade de uma re- por alfabetização, posto que, ao longo da rem a uma escrita convencional.
são propostas centradas no ensino, como adequação de múltiplas frentes nas escolas história da Educação e entre os documen-
se não houvesse singularidade entre os para que se garanta os direitos dos estudan- tos oficiais que circulam, existem diferenças Graças às investigações sobre a psicogêne-
estudantes. Pensar a aprendizagem nessa tes, que vão desde as questões referentes importantes que exigem um posicionamen- se da língua escrita, sabe-se que há um longo
perspectiva exige reconceitualizar o que se aos espaços oferecidos às relações pessoais to mais claro da concepção de alfabetização processo de apropriação da escrita. Segundo
concebia como uma boa situação de apren- estabelecidas, os recursos disponíveis para aqui assumida. o texto de Sofia Vernon, Quanto És Un Peda-
dizagem. Se antes o trabalho individual, as potencializar o ensino e, principalmente, o cito? El Análisis Que los Niños Nacen de las
imensas listas de exercícios de fixação e os investimento na formação do professor. É As pesquisas da psicogenética propõem uma Partes de la Palavra, as crianças passam por
textos elaborados exclusivamente para en- importante ser realizada uma análise técni- inversão fundamental para reconceitualizar o diferentes períodos que podem ser caracteri-
sinar a ler e a escrever (cartilhas) eram vis- co-pedagógica para avaliar as condições da que se entendia por alfabetizar. O foco, que até zados, resumidamente, como:
tos como o melhor caminho para o ensino, unidade escolar. Sem isso, esses direitos não certo tempo, era no como se ensina e, agora,
hoje eles não atendem às demandas da nova alcançam a escola. passou a ser no como se aprende. ESCRITA PRÉ-SILÁBICA As crianças não fa-
concepção de Língua, de práticas sociais e zem nenhum tipo de relação entre letras e
de estudante. Uma mudança na ordem foi No Brasil, merece atenção o dever da so- A busca por métodos para ensinar a ler e unidades de som. Os critérios que elas per-
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
mitem decidir quando um encadeamento é fundamental o investimento das redes de texto, mesmo antes de saber grafar de cas envolvidas na alfabetização e, com base
de letras pode ser interpretado como uma ensino na formação do professor, para que próprio punho, tendo a professora ou o nelas, interage com a linguagem e os pares,
unidade linguística, chegando às seguintes todo corpo docente possa conhecer o pro- professor como escriba; alcançando patamares mais avançados do
hipóteses: cesso evolutivo de construção da escrita • tenha muitas oportunidades de ler e conhecimento. Por isso precisa, desde a sua
pelo qual passam os alunos e elaborar um escrever, por si mesmo, textos de dife- entrada na escola, ser convidado a ler, a es-
a) os nomes escritos devem ter uma quan- adequado repertório de intervenções qua- rentes gêneros e com apoio de diferen- crever e sobretudo, a pensar sobre como leu
tidade mínima de letras (duas ou três); lificadas, que permitam ajudar o aluno a tes parcerias; e e escreveu.
avançar. Esse é o único caminho para ofe- • participe de inúmeras situações de refle-
b) as letras, dentro da cadeia gráfica, de- recer às crianças situações produtivas de xão sobre como se lê e como se escreve. O professor também ganha novos lugares:
vem ser diferentes (variedade interna); e escrita e leitura em que elas tenham opor- ao invés de organizar propostas de treino e
tunidade de pensar, analisar e descobrir/ A ESCRITA repetição, iguais para todos os estudantes,
c) deve haver diferenças entre um nome reconstruir como o sistema alfabético de recebe o desafio de saber quais conheci-
escrito e o outro, que podem ser esta- escrita se organiza. A escrita é um sistema de representação. mentos seus alunos trazem e, com base ne-
belecidas mudando a ordem ou a quan- Essa é uma concepção bem diferente daquela les, organizar situações nas quais as crian-
tidade das letras que a compõem. Para Há outra ponderação importante quando se que a assume como um código apresentado ças tenham bons problemas para resolver.
cada cadeia gráfica, as crianças fazem fala em alfabetizar. Se esse processo é enten- pela associação de sons e letras, num proces- O pressuposto é que quanto mais puderem
corresponder uma totalidade oral (uma dido como uma construção discursiva, não so de transcrição que se realiza pelo apren- ler, escrever com parceiros que pensem di-
palavra ou oração, conforme a nomen- há como negar que a alfabetização só ocorre dizado de uma técnica. A referência, aqui, é à ferentemente dele e receber intervenções
clatura adulta). Um exemplo deste tipo na interação entre os sujeitos e em espaços natureza conceitual desse sistema de repre- que os faça repensar o que produzem, mais
de escrita é OLIEOT para dinossauro ou sociais, em que a unidade de comunicação é sentação, como nos esclarece, Ferreiro. rapidamente avançarão.
TOE para formiga. o texto. Isso significa que, antes mesmo de
produzir a escrita convencional, uma criança “A consequência última dessa di-
ESCRITA SILÁBICA SEM VALOR SONORO pode, por sua inserção no mundo letrado, ter cotomia se exprime em termos
CONVENCIONAL As crianças fazem corres- condição de falante da língua e participação ainda mais dramáticos: se a es- ORGANIZAÇÃO DO
pondências sonoras na escrita com a sílaba
como referência. Cada letra corresponde a
em situações de leitura, produzir linguagem
escrita. Principalmente em situações didáti-
crita é concebida como um código
de transcrição, sua aprendizagem
CURRÍCULO EM LÍNGUA
uma sílaba da palavra oral, com qualquer cas em que possa ditar suas ideias e, assim, é concebida como a aquisição de PORTUGUESA
letra representando qualquer sílaba, como produzir seus textos tendo a professora ou o uma técnica; se a escrita é conce-
em OIE para tucano, ou UVI para formiga. professor como escriba, de acordo com suas bida como um sistema de repre-
possibilidades e informações. sentação, a sua aprendizagem se EIXOS ORGANIZADORES
ESCRITA SILÁBICA COM VALOR SONORO converte na apropriação de um
DO TRABALHO
CONVENCIONAL As crianças percebem o Essa premissa permite organizar, dentro novo objeto de conhecimento,
valor sonoro das letras e vão incorporando- do trabalho didático de alfabetização, pro- ou seja, em uma aprendizagem
-o ao sistema silábico de escrita, como em postas de produção de texto antes mesmo conceitual.” (FERREIRO, 2001) A opção de organizar esta proposta curri-
UAO para tucano. de a criança ter concluído seu percurso de cular por eixos tem como principal motivo
compreensão do sistema alfabético. reiterar que a linguagem é uma prática social
ESCRITA SILÁBICO-ALFABÉTICA As crian- Os resultados das investigações de Emilia que se manifesta em diferentes esferas, sem
ças começam a usar um sistema aparente- Portanto, para que a criança viva seu pro- Ferreiro indicaram a necessidade da recon- que se desconsidere as características essen-
mente misto de representação: em alguns cesso de alfabetização inicial de forma qua- ceitualização do que vem a ser “escrita” e, ciais dos objetos de conhecimento. Portanto,
casos representando cada sílaba e em ou- lificada, atendendo tanto a dimensão da em consequência, trouxeram uma demanda esta organização deve revelar que o objeto de
tros unidades subsilábicas, como em MAIO- construção do sistema de escrita como a de mudanças nas práticas vigentes de alfa- conhecimento tem suas especificidades, que
SA para mariposa e FOIGA para formiga. dimensão da aprendizagem da linguagem betização. A escola passou a ter a responsa- os estudantes têm o direito de se apropriar
escrita, é importante que ela: bilidade de organizar situações nas quais os dele, desde que as práticas sociais sustentem
ESCRITA ALFABÉTICA As crianças começam alunos pudessem pensar sobre como se lê e as propostas didáticas – não em situações
a usar de maneira consistente o princípio al- • tenha acesso a textos diversos e de qua- se escreve, sem perder de vista os propósi- meramente escolarizadas que, em geral, de-
fabético, mesmo que no início seja difícil re- lidade; tos sociais das propostas. Atuar dessa for- formam o objeto de estudo.
presentar sílabas complexas, em que há duas • participe frequentemente de situações ma, implicou rever a visão de aluno e tam-
consoantes juntas ou ditongo. de leitura feita pela professora ou pelo bém a de professor. Os eixos guardam entre si uma relação ín-
professor como caminho para acessar tima, uma vez que a língua se constitui como
Para que as crianças reconstruam todo a linguagem escrita; O aluno passou a ser visto como alguém um único objeto e sua expressão máxima está
esse processo e avancem em suas análises, • participe de situações de produção de que constrói conhecimento sobre as práti- nos textos orais e escritos. Para atingir a pro-
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
ficiência plena, é imprescindível que os es- tros dois aspectos que perpassam todas Essa é uma forma de garantir a circulação derados em todos os planejamentos, pois as
tudantes saibam se comunicar em situações as práticas elencadas: a visão de erro que dos saberes e espaços de compartilhamen- decisões tomadas impactam na progressão
reais de uso da linguagem. Por essa razão, as sustenta a concepção de ensino e aprendi- to de aprendizagens. A prática de trabalhos da aprendizagem.
práticas de leitura e escrita que existem fora zagem defendida neste documento e a ques- só individuais, muito presente nas escolas,
da escola precisam estar presentes nas situa- tão da avaliação das aprendizagens, que geralmente está a serviço de garantir o bom
ções didáticas da sala de aula como objeto de precisa receber um tratamento alinhado a comportamento e não de favorecer a apren- A AVALIAÇÃO EM LÍNGUA
ensino, considerando como referência aquilo essas concepções. dizagem. É preciso selecionar estratégias que
PORTUGUESA
que os leitores e escritores experientes fazem ajudem os estudantes, desde os anos iniciais,
quando exercitam essas práticas. a aprender a trabalhar em parcerias, objeti-
O TEMPO E A DIVERSIDADE vando tanto a aprendizagem dos diferentes A avaliação, aqui, também é processual e
Considerando a urgente necessidade de conteúdos didáticos como a aprendizagem formativa. Por essa razão, os instrumentos de
superarmos o abismo que separa a prática O tempo para aprender não é o do relógio e da convivência. acompanhamento ganham mais importância
escolar da prática social da leitura e da escri- nem único para um coletivo que reúne tantas que os tradicionais testes que têm como úni-
ta, seguem os eixos que organizam a presen- especificidades. Ao contrário, é um tempo co objetivo ganhar nota e passar de ano. Uma
te proposta curricular e que serão detalha- expandido que permite idas e vindas sobre PROGRESSÃO DOS DESAFIOS avaliação deve sempre considerar as condi-
dos mais adiante: o estudo de um mesmo conteúdo; um tempo
E GRAU DE AUTONOMIA ções de ensino garantidas naquele período.
que respeita o ritmo de cada um, possibilita Não é justo cobrar dos estudantes o que não
• Práticas de leitura a pesquisa e, sobretudo, garante a continui- foi oferecido, nem culpar professores ou fa-
• Práticas de produção de textos escritos dade. No mesmo grau de importância está A organização dos objetos de conhecimen- miliares por avanços não conquistados sem
• Práticas de escuta e produção de textos o acesso à diversidade cultural. A referência to não pode ser aleatória porque, se assim antes avaliar se todas as condições (especi-
orais dos estudantes está no que a eles é ofereci- fosse, desconsideraria que o estudante, ao ficidades das propostas, espaço, materiais,
• Práticas de análise linguística do. Se não houver diversificação das fontes ter boas oportunidades de aprendizagens, acervo, formação da equipe pedagógica,
de informações escritas e faladas, certamen- avança no patamar de conhecimento. Se no gestão, características da comunidade etc.)
te a produção deles será empobrecida. A in- 1º ou 2º ano as crianças podem escrever um foram asseguradas. Essas variáveis precisam
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS teração com os objetos da cultura ampliam convite ou bilhete, por exemplo, no 5º ano a ser levadas em consideração e analisadas
o repertório cultural dos estudantes. Estar proposta pode ser mais complexa, como re- para que se defina o que pode ser esperado
GERAIS apartado dessa diversidade é investir em um digir um texto de opinião para ser publicado dos estudantes e também do corpo docente.
mínimo que não contribui com a aprendi- em um jornal de circulação do bairro. O de- Garantia das condições e avaliação são pares
Para cada uma das práticas acima elenca- zagem plena dos objetos de conhecimento, safio de aprender a produzir textos escritos que devem caminhar sempre juntos.
das, existem orientações didáticas específi- tampouco com o desenvolvimento pessoal e está mantido nos diferentes anos; no entan-
cas a serem contempladas. Entretanto, há al- social. É, portanto, responsabilidade da esco- to, a complexidade do gênero a ser produzi- Nos anos iniciais, a sondagem é um instru-
gumas que perpassam todas elas e merecem la garantir diversidade e qualidade em tudo do muda conforme o avanço na escolaridade. mento que auxilia o professor a saber o que
um espaço exclusivo. que oferece e dar acesso ao estudante. pensam as crianças sobre o funcionamento do
Isso deve acontecer em todas as práticas: sistema de escrita e a acompanhar a progres-
A forma como é apresentada a aprendiza- uma progressão no grau de complexidade são dessas ideias. Consiste em um ditado de
gem da Língua Portuguesa, neste documen- MOVIMENTO METODOLÓGICO – daquilo que é proposto ao estudante. uma lista de palavras criteriosamente plane-
to, tem uma implicação direta na formação
INTERAÇÃO jada pelo professor, com posterior análise do
pessoal do estudante, uma vez que o coloca Também se aumenta a complexidade quan- nível de conceitualização da escrita em que se
como sujeito que transforma a si, ao outro e do o grau de autonomia é alterado. Embora a encontra o aluno. Deve ser realizada com re-
os contextos que habita. Um sujeito ativo e As interações entre os pares é algo que im- produção coletiva seja essencial, quanto mais gularidade, seguindo as orientações de elabo-
potente. Entretanto, para que os estudantes pacta diretamente as aprendizagens e, por experiente a criança se torna, maior a exigên- ração e aplicação. Sua importância reside nas
possam aprender dessa forma, é fundamen- essa razão, são assumidas como movimento cia de autonomia na produção. Ainda no mes- informações que oferece sobre cada aluno,
tal que o projeto pedagógico da escola seja metodológico. Todas as atividades – sejam mo exemplo, se as crianças do 1º e do 2º anos para que o professor possa replanejar ações
revisitado no que concerne a algumas condi- de leitura, de produção de textos escritos podem produzir diferentes textos e preparar que ajudem as crianças a avançarem na con-
ções didáticas: a gestão do tempo, a oferta de e/ou orais ou ainda de análise linguística – um breve seminário, sempre em colaboração, quista da escrita alfabética.
diversidade, as possibilidades de interação, a precisam prever um movimento que respei- no 5º ano pode-se esperar que textos de me-
atenção à progressão dos desafios propostos te e favoreça a aprendizagem de cada um e nor complexidade, discutidos nos anos ante- Conhecer o que as crianças sabem sobre
aos alunos e o grau de autonomia esperado de todos. Esse movimento parte do coletivo, riores, sejam produzidos individualmente. o sistema de escrita é, portanto, condição
no decorrer da escolaridade. passando pelos grupos/duplas, chega ao in- imprescindível para planejar as situações
dividual e, com as aprendizagens realizadas, Sendo assim, os gêneros propostos, bem didáticas que farão parte da rotina da tur-
Além dessas condições, destacam-se ou- volta ao coletivo. como o grau de autonomia, devem ser consi- ma. Selecionar atividades, determinar sua
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
frequência na rotina, definir as parcerias de identificar as letras. Essa é uma boa Se olhado pela aprendizagem em relação ao âmbito escolar. Os alunos têm de aprender
trabalho e planejar intervenções são tarefas informação, pois revela que a criança grupo e também a ele mesmo, o percurso dos a ativar comportamentos leitores, capaci-
inerentes ao trabalho da professora, que se consegue fazer uma atribuição silábica estudantes ganha maior relevância, pois sa- dades e procedimentos de leitura. Sem isso,
tornam ainda mais intencionais e eficazes a cada parte – ou seja, para cada seg- be-se que os ritmos são variados e que todos corre-se o risco de permanecer na ilusão da
quando balizadas por um diagnóstico inicial mento do oral há uma correspondência precisam avançar em relação aos resultados formação de leitores, sem nenhum avanço
dos saberes das crianças. Realizá-lo significa na escrita. apresentados na avaliação diagnóstica (mar- efetivo.
assumir uma concepção de ensino e aprendi- • Solicitar que a criança leia o que es- co zero).
zagem; assumir que as crianças, desde bem creveu logo em seguida, pois esse pro- Visando que todos os alunos possam se
pequenas, pensam sobre a língua escrita e cedimento revelará se ela estabelece transformar em bons leitores para as exigên-
têm ideias próprias acerca desse complexo ou não uma relação entre o que lê em cias da vida social, este documento defende a
objeto de conhecimento. voz alta e o que escreve, entre partes AS PRÁTICAS COMO ideia de que ler é atribuir sentido, ou seja, ler
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
A formação de leitores plenos é de respon- da quantidade, uma biblioteca organizada e A proposta de produção de texto na escola da produção textual, os aspectos gramati-
sabilidade da escola. A leitura é um conteúdo acessível para toda a comunidade e acesso a precisa ter sentido para o aluno, ou seja, pre- cais, ortográficos e notacionais ganham um
que precisa ser cuidado, porque, ao contrá- recursos digitais. cisa responder a algum propósito (para que lugar de relevância que nem sempre se tra-
rio do que muitos pensam, sua aprendiza- escrever? com qual finalidade?), ter um des- duz em qualidade textual. Pode-se encon-
gem não é algo que acontece naturalmente. No que refere à frente de trabalho didática, tinatário, um leitor (para quem escrever?) e trar um texto equivocadamente bem ava-
É preciso intencionalidade didática. Nesse a presença de projetos e sequências didáticas ajustar-se a algum gênero textual (qual gêne- liado apenas porque está ortograficamente
sentido, cabe assegurar algumas condições nos planejamentos pedagógicos também se ro se ajusta melhor à situação comunicativa correto, no entanto, se analisado do ponto
essenciais sem as quais essa formação fica faz essencial para ajudar os alunos no desen- proposta?). Por exemplo: é possível escrever de vista da linguagem, muitas vezes, nem
muito fragilizada: volvimento dos comportamentos, capacida- um convite para um amigo, uma carta de lei- compreensível ele é.
des e procedimentos de leitura. Ter a opor- tor para um jornal de circulação para mani-
• reconhecer que a leitura é uma prática tunidade de seguir um autor, aprofundar-se festar uma opinião, uma poesia para presen- Segundo Joaquim Dolz, Roxane Gagnon e
social e, portanto, deve ser tratada na em leituras de um gênero específico, preparar tear alguém querido, entre outros textos que Fabrício Decândio, no livro Produção Escrita
escola tal como se encontra fora dela, uma leitura em voz alta para outra turma de cumpram uma função social de comunicação. e Dificuldades de Aprendizagem, para produ-
pois é dessa forma que os alunos cons- alunos ou ler textos com diferentes propósi- zir um texto, o autor mobiliza cinco opera-
truirão o sentido e o desejo de ler; tos são fundamentais na formação leitora. A necessidade da presença de uma situa- ções principais:
• garantir a leitura de gêneros variados; ção comunicativa que dê sentido à produção
• compreender que há diferentes propó- A garantia de atividades permanentes de inverte os rumos do que, em geral, se produz • Contextualização Capacidade de definir
sitos de leitura que geram diferentes leitura na rotina, em cada sala, também pre- nas escolas, ou seja, propostas de produção de e recuperar as características da situa-
modalidades, procedimentos e capaci- cisa receber um cuidado especial. Isso inclui textos, tendo como leitores apenas os profes- ção de comunicação em que o texto será
dades de leitura; criar espaço para as diferentes modalidades sores, e com a finalidade de corrigir e avaliar. produzido prevendo quem irá ler, a fina-
• garantir as diversas interpretações de leitura que o ensino pode oferecer: lei- lidade da comunicação, o melhor gênero
plausíveis para um único texto; e tura em voz alta feita pelo professor, leitura Situações de produção que só existem na para comunicar o que se pretende e o lo-
• garantir o acesso à cultura digital. colaborativa, leitura programada, rodas de escola e só servem para avaliar precisam ser cal em que o texto irá circular. Trata-se da
leitura, apreciação e empréstimos de livros, revisadas urgentemente, pois não cumprem capacidade de considerar as característi-
leitura livre etc. nenhuma função comunicativa e estão, mui- cas da situação comunicativa e produzir
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO tas vezes, atreladas a temas como “Minhas um texto coerente com ela.
Em síntese, aqui se defende a formação de férias”, “O cachorro do meu vizinho”, “Minha • Elaboração e tratamento dos conte-
DE LEITURA NA ESCOLA um leitor pleno, que compreende o que lê; viagem” e outros similares. údos temáticos Pesquisa de informa-
reconhece, identifica e analisa as apreciações ções, fatos ou mesmo a criação de uma
Para superar essa situação de divórcio en- e os valores veiculados nos textos e se posi- Vale insistir que, para um texto ser conside- trama, quando se trata de texto de au-
tre a versão escolar e a versão social da lei- ciona criticamente diante deles. Para isso, é rado bem escrito, é condição que seja dado toria.
tura, várias frentes de trabalho precisam ser imprescindível que a escola assuma para si a ele um contexto de produção: o que se vai • Planificação Elaboração de um plano
acionadas. Destacam-se duas: a institucional a tarefa de formar leitores e ofereça as con- escrever, para que, para quem e como. Essas do texto, prevendo cada uma das par-
e a didática. dições necessárias para que esse direito seja são as chamadas condições de produção de tes que o comporá e em que ordem
garantido, de fato, em cada escola para todos texto. O como escrever será dado pela defini- vão aparecer, visto que, considerando
A primeira necessita viabilizar e implemen- os estudantes. ção do gênero, no entanto, é importante des- o gênero, os conteúdos temáticos obe-
tar projetos de leitura (para compreender tacar que não se trata de estudar as caracte- decem a uma relação de causalidade e
melhor essa forma de organizar os conteúdos rísticas do gênero. O conhecimento sobre ele devem ser organizados de modo a defi-
leia reportagem sobre Modalidades Orga- 2) PRÁTICAS DE PRODUÇÃO se dá pelas oportunidades de ler ou ouvir a nir as relações que serão estabelecidas
nizativas, disponível em novaescola.org.br/
DE TEXTOS ESCRITOS leitura de diferentes gêneros para que os es- e como serão articuladas.
conteudo/1869/o-quebra-cabeca-das-mo- tudantes possam se aproximar das caracte- • Textualização A escrita; a elaboração
dalidades-organizativas) que atinjam a co- rísticas e regularidades de cada um. do texto utilizando os recursos dispo-
munidade interna e externa, tais como: ses- Uma prática de produção de texto escrito só níveis na língua. Para essa etapa os alu-
sões simultâneas de leitura, saraus de poesia pode ser assim considerada se estiver atre- Na prática escolar, fatores como imagina- nos devem considerar as operações an-
e leituras; indicações literárias feitas pelos lada a uma função comunicativa. Segundo ção e criatividade recebem muita impor- teriores – as características da situação
alunos para a comunidade; organização de Roxane Gagnon, professora de Linguística da tância quando se analisa o texto de um es- de produção, a recuperação do conteú-
espaços de leitura para uso dos pais e da co- Universidade Estadual de Campinas, em re- tudante, porém não são esses fatores que do temático e a planificação.
munidade; organização de feira de livros etc. portagem da revista Nova Escola, “para que agregam qualidade, mas sim a qualidade – e • Revisão Operação que acontece duran-
Para que isso possa acontecer, as escolas pre- alguém se coloque na posição de escritor, é as condições de produção são o primeiro te a produção (revisão processual) e no
cisam ter garantido um bom acervo de livros, preciso que sua produção tenha circulação passo para qualificar a produção. Da mesma momento posterior à primeira versão
tanto do ponto de vista da qualidade como garantida e leitores de verdade”. forma, na perspectiva tradicional de ensino (revisão final).
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
Embora não seja visível, sempre que se tem alunos vão percebendo problemas no texto, e entrar em contato com os textos. circulação. Aqui, a progressão de desafios é
de produzir um texto, qualquer pessoa, não como no final, quando há um distanciamento marcada pela escolha do gênero.
importa a idade, refaz esse caminho. O que da produção que permite tornar observável PRODUÇÃO DE AUTORIA
varia é o grau de experiência de cada uma. A problemas textuais que ainda permanecem e Dentro dessa perspectiva, a aprendizagem
escola é, portanto, responsável por ensinar assim buscar soluções. O texto de autoria também deve ser pro- da produção de texto escrito é algo que assu-
aos estudantes essas operações desde os anos posto desde os anos iniciais. Nessas situa- me um lugar de relevância dentro da escola,
iniciais, inclusive antes de saber grafá-los. Nesse momento do processo, é imprescin- ções, os estudantes enfrentam dois desafios pois permite colocar o estudante no contex-
dível que as condições didáticas (o que escre- simultâneos: pensar o que e como escrever. to social de modo muito mais potente, inclu-
A prática da leitura no processo de produ- ver, como, para quem e com que finalidade) Por essa razão, é preciso considerar a com- sive para o exercício da cidadania.
ção de texto ocupa um lugar relevante tam- sejam recuperadas e consideradas, ajudando plexidade dos textos para saber qual deve
bém, pois é nos diversos textos lidos ou ouvi- a nortear os alunos durante a revisão. O re- ser proposto para cada ano escolar. Bilhetes, Portanto, cabe à escola organizar um tra-
dos (leitura em voz alta para a turma) que as pertório construído ao longo das situações convites, legendas de imagens, verbetes do balho didático que garanta a definição do
crianças aprendem a linguagem escrita. Ler de análise de recursos linguísticos também tipo “Você sabia que...” são gêneros adequa- contexto em que o texto será produzido, o
ensina a escrever. Além de ler para os alunos, assume relevância, uma vez que passa a ser dos para os anos iniciais. No entanto, para os ensino das operações de produção e um mo-
é preciso planejar algumas intervenções, de- a fonte de recursos para melhoria do texto. anos finais, podem já não ser tão desafiado- vimento metodológico que garanta a máxi-
finindo focos de análise para que os estudan- res se comparados, por exemplo, com a pro- ma circulação de informação e a aprendiza-
tes observem: como iniciam-se os contos de A seguir, os dois tipos mais relevantes de dução de uma carta de leitor a um jornal de gem pela interação.
fadas, por quem são narrados determinados propostas de produção:
textos, como os personagens são descritos
ou quais as palavras que enriquecem o texto, REESCRITA
proporcionando, assim, uma leitura cuja fun-
ção seja aprender a escrever. A isso damos o Estratégia muito potente para aprender a
nome de “leitura e análise dos recursos lin- produzir texto porque, nessas situações, o
guísticos do texto-fonte”. estudante sabe o que vai escrever, já que co-
nhece bem o conteúdo, a temática do texto-
Outro aspecto que deve ser considerado é -fonte, a sequência de fatos, a descrição dos
a forma como os estudantes são organizados personagens e os cenários, e assim pode se
para o momento da produção. Ter a oportu- concentrar na tarefa de como escrever, já que
nidade de produzir um texto com toda a tur- o que escrever está dado. Ou seja, ele irá se
ma qualifica muito a aprendizagem porque ocupar das questões da organização e do uso
permite uma troca de conhecimento que co- da linguagem escrita. É importante compre-
loca em discussão todos os aspectos já indi- ender que reescrever nessa perspectiva não
cados como essenciais. A troca e a circulação é “escrever novamente”, tendo como objetivo
da informação são condições que devem ser produzir uma versão revisada, ou ainda fazer
garantidas sempre que se inicia uma propos- uma cópia fiel do texto-fonte. A reescrita é
ta de produção de texto. Entretanto, há que uma estratégia que favorece a aprendizagem
se organizar produções em dupla e também da produção de texto.
individuais, que seguem a coletiva, pois mo-
dalidades desse tipo incidem no aumento Teberosky e Tolchinsky (1996) propõem
do desafio e na exigência de produção com a reescrita como imitação e explicam que
maior autonomia. Esse é o movimento meto- “para imitar é necessário desarmar o que se
dológico, descrito no item Orientações Didá- quer imitar para ver como funciona, qual é
ticas Gerais (pág. 50). o seu mecanismo. Depois repetir, trocar de
lugar, deslocar, transpor, inverter, ampliar,
A revisão, parte essencial do processo de transgredir e transformar”. Esse processo de
produção, é uma etapa muito importante, reescrever um texto tendo outro como apoio
pois exige que o estudante circule entre a contribui para a aprendizagem de capaci-
posição de escritor e revisor, refletindo so- dades e procedimentos de escrita. As auto-
bre o que escreveu em duas posições dife- ras indicam duas condições para reescrever
rentes. A revisão deve ser foco de reflexão e um texto: ter a leitura como condição básica,
análise tanto durante a produção, quando os com muitas referências da linguagem escrita,
56 57
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
3) PRÁTICAS DE ESCUTA E voz alta como práticas de produção de texto Destaca-se aqui dois momentos para olhar de modo a garantir que tenham bons pro-
PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS oral. Não é bem assim: o primeiro tem por essas práticas: o primeiro voltado para os blemas a resolver em conjunto com a tur-
objetivo a recuperação dos fatos de um texto anos iniciais, cujo foco está na aquisição do ma, a dupla ou a professora ou o professor.
de forma ordenada para reproduzi-lo, usan- sistema alfabético de escrita, articulado à
Apresentar essa prática implica, primei- do a linguagem escrita. O segundo é uma aquisição da linguagem escrita; e o segundo, ATIVIDADES DE LEITURA São aquelas
ramente, diferenciar linguagem oral de ora- prática para dizer o que está escrito em um com maior intensidade nos anos finais, pre- que apresentam o desafio da leitura antes
lidade. A primeira pressupõe que há um determinado suporte escrito (livro, jornal, vê o trabalho com conteúdos relativos aos de o estudante saber ler convencionalmen-
gênero que sustenta e organiza o discurso, cartaz, manual etc.). Portanto, em nenhum aspectos discursivos, textuais, gramaticais, te, exigindo que ele coloque em jogo seus
a segunda se relaciona à transmissão oral. dos casos há desafios voltados para a produ- pragmáticos e notacionais. conhecimentos sobre o funcionamento do
Essa distinção tem impactos nas aprendiza- ção de texto oral. sistema de escrita, o gênero textual em que
gens. O fato de uma pessoa falar não signi- Todos esses conteúdos devem ser tratados o texto se apresenta e o contexto verbal
fica que está exercendo uma prática de lin- A escola deve oferecer situações específicas no seu contexto de origem, ou seja, o texto, oferecido, levantando, assim, algumas pis-
guagem, por exemplo, quando alguém lê em com intencionalidade declarada, em que as e não isolados, como se não fizessem parte tas para dar conta de ler. Nas situações nas
voz alta; embora esteja falando, a prática é de situações orais exigirão uma fala planejada, da linguagem, e supostamente ensinados no quais são oferecidos aos alunos textos que
leitura. O tratamento dos procedimentos da tais como roda de conversa sobre determi- formato de exercícios de fixação. sabem de cor – como parlendas, quadri-
fala – escutar, esperar a vez para falar e falar nado tema, debates, seminários, saraus lite- nhas, cantigas de roda etc. –, ajustar o fala-
em voz alta – não está no campo da prática rários, entrevistas e exposições, entre outras do (o que se sabe de memória) ao escrito
da produção de texto oral, embora também situações. (as informações providas pelo texto) reve-
precise ser ensinado na escola. LER E ESCREVER NOS la-se um bom caminho para aprender a ler.
O que merece atenção aqui, porque em ge- 4) PRÁTICAS DE ANÁLISE ANOS INICIAIS ATIVIDADES DE ESCRITA São situações nas
ral estão excluídos, são os gêneros orais, os
LINGUÍSTICA quais os estudantes são convidados a escre-
conteúdos temáticos e as marcas linguísticas Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ver, mesmo sem produzir ainda uma escrita
que cabem em cada gênero. Quanto mais um espera-se que todos os estudantes tenham o alfabética. Bons aliados para esse momento
estudante souber adequar o que precisa falar Práticas de análise linguística são aquelas domínio do sistema de escrita, que compre- são os textos breves como listas, legendas,
às marcas linguísticas do gênero, melhor sa- “que tomam determinadas características endam a lógica do funcionamento do siste- adivinhas, parlendas, cantigas etc. Para isso,
berá se colocar. da linguagem como objeto de reflexão” (Pa- ma alfabético, apresentando, portanto, uma os alunos devem lançar mão do que já sabem
râmetros Curriculares Nacionais – Língua escrita alfabética. Em função dessa meta, a sobre funcionamento do sistema de escri-
Na escola, por exemplo, uma atividade mui- Portuguesa, MEC, 1997). As situações de escola deve ter seu processo de formação de ta, discutindo com os pares para explicitar
to comum é o seminário, cuja preocupação é análise linguística podem estar relacionadas professores muito aquecido para que esses o que pensam, receber novas informações
sempre o conteúdo temático. Contudo, é raro à escrita de textos, à produção de textos orais possam atuar com os alunos de modo a aju- e avançar. Pensar em quantas e quais letras
os professores se ocuparem da tarefa de en- e às atividades de leitura. Diz os PCNs: “O tra- dá-los a pensar sobre como se lê e escreve usar e em que ordem colocá-las são bons
sinar como se fala em um seminário e quais balho didático de análise linguística (...) se – portanto, uma prática bem distante das có- problemas para esse momento da alfabeti-
recursos podem ser utilizados para apoiar organiza tendo como ponto de partida a ex- pias, treinos e associações. zação inicial. Disponibilizar escritos que fun-
essa fala (slides, resumo, quadro). Isso faz ploração ativa e a observação de regularida- cionem como fontes de informação seguras
com que o resultado nem sempre seja o es- de do funcionamento da linguagem. Isso é o Para que os alunos avancem no conhecimen- (lista de nomes dos alunos da sala e registro
perado e, não raro, a responsabilidade seja contrário de partir da definição para chegar to sobre o sistema de escrita, é condição que da rotina do dia ou textos que saibam de me-
transferida aos estudantes. Afinal, eles ficam à análise (como tradicionalmente a escola tenham, diariamente, oportunidades de ler e mória, como parlendas e cantigas) é condi-
nervosos e envergonhados e esquecem o que costuma fazer). Trata-se de situação em que escrever mesmo antes de saber fazê-lo con- ção para fazer com que os alunos avancem na
deveriam apresentar. Mais reflexivo que res- se busca a adequação da fala ou da escrita vencionalmente. Todos devem ser tratados escrita, pois esses recursos permitem que te-
ponsabilizar as alunas e os alunos por um própria ou alheia, a avaliação sobre a eficácia como leitores e produtores de textos desde o nham um lugar para pesquisar no momento
desempenho não satisfatório é analisar o ou adequação de certas expressões no uso primeiro dia de aula. Na troca de informações de produzir novos escritos.
ensino e verificar se todas as condições ne- oral ou escrito, os comentários sobre formas com seus pares, que precisa ocorrer sempre, é
cessárias à aprendizagem dessa forma de de falar ou escrever, a análise da pertinên- que eles vão chegar ao melhor produto para o Para estabelecer um clima de análise e re-
comunicar um saber foram asseguradas aos cia de certas substituições de enunciados, a momento de conhecimento em que se encon- flexão sobre a língua escrita na sala de aula
estudantes. Percebe-se, portanto, que a pro- imitação da linguagem utilizada por outras tram, principalmente no caso de crianças que e chegar a um processo qualificado de alfa-
dução de texto oral é um conteúdo que preci- pessoas, o uso de citações, a identificação de chegam à escola pela primeira vez. betização, são imprescindíveis algumas con-
sa ser ensinado na escola. marcas da oralidade na escrita e vice-versa, dições:
a comparação entre diferentes sentidos atri- Considerando o período de alfabetização
Vale atentar para um equívoco comum que buídos a um mesmo texto, a intencionalida- inicial, as atividades de leitura e escrita pro- • Inserir propostas de leitura e escrita
é tratar as situações de reconto e leitura em de implícita em textos lidos ou ouvidos, etc.”. postas às crianças precisam ser planejadas em contextos comunicativos reais. As
58 59
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
sequências didáticas são bons contex- literários, informativos, jornalísticos etc.) atentos a essas questões e recebam orienta- ta-se de uma anotação pessoal em que leitor
tos, uma vez que trazem propósitos que possam ajudá-los na aprendizagem da ções para avançar. e autor são a mesma pessoa.
comunicativos e didáticos. Atividades linguagem escrita, assim como na constitui-
isoladas não geram o esforço necessá- ção como leitor. Na escola, se o aluno ler ou produzir da
rio para aprender. LER E ESCREVER mesma forma todos os textos a ele ofereci-
• Apresentar, com frequência, propostas
EM TODAS AS ÁREAS dos, não conseguirá, ao longo de sua esco-
de escritas coletivas ou em colabora- LER E ESCREVER laridade, compreender ou produzir textos
ção – aquelas em que os estudantes
NOS ANOS FINAIS mais complexos como os artigos de opinião,
pensam juntos, no coletivo ou em du- É impossível aceitar que as crianças pas- reportagens, relatos científicos etc. Para a su-
plas, como escrever determinada pa- sem de um ano ao outro sem estar alfabetiza- peração de situações como essa, é importan-
lavra e, em seguida, compartilham as Essa é a fase de consolidar as conquistas das. É responsabilidade da escola e de cada te que a leitura e a escrita sejam ensinadas
decisões com a turma. Entretanto, só anteriores, inclusive com tempo para aqueles professor, de todos os anos, alfabetizar os dentro das suas especificidades – ou seja, as
agrupar ou socializar não é suficiente. que ainda não alcançaram as aprendizagens alunos. Sem o domínio do sistema de escrita que existem fora da escola.
É importante o professor garantir que esperadas. Aqui, os estudantes já devem ler e e da leitura nos anos iniciais, há um compro-
haja trocas de informações nas quais escrever com autonomia suficiente para am- metimento no desenvolvimento escolar que Cada professor deve assumir a responsa-
os estudantes explicitem suas ideias e pliar suas capacidades de compreensão dos impede o aluno de avançar em qualquer área bilidade de ensinar a ler e a escrever no seu
as coloque em discussão. textos e o estabelecimento de relações inter- do conhecimento. componente, abrindo mão da ideia de que
• Garantir desafios reais que levem os es- textuais. basta ler para os alunos que eles entenderão
tudantes a pensar além do estágio em Muitos se queixam que os estudantes não o que foi lido. É preciso mais:
que se encontram. Para isso, os profes- Com relação à produção de texto, espera-se têm sucesso nos estudos porque não sabem
sores precisam saber como pensam os avanços no tratamento dos aspectos discur- ler nem escrever. Essa pode, sim, ser uma das “Saber ler, quando é para obter in-
alunos em relação ao sistema de escrita. sivos e propostas de ensino com maior va- razões dos problemas escolares. No entanto, formação e estudar, está muito lon-
• Garantir espaços regulares de produ- riação de gêneros no uso de cada especifici- não é possível responsabilizar os alunos. Ler ge de simplesmente poder repetir
ção de textos breves e ditado ao profes- dade. As propostas de revisão textual devem e escrever em todas as áreas é um direito, aquilo que aparece no texto. É poder
sor de textos mais complexos ou longos incluir o trabalho com os aspectos ortográfi- algo que se aprende e se ensina – portanto, participar de uma cultura na qual a
para que os estudantes façam uso da cos e gramaticais, o que não significa ofere- de responsabilidade da escola. escrita está presente nas discussões,
linguagem escrita e reflitam sobre ela. cer aos alunos listas de exercícios de fixação debates, tomada de posição, ques-
isolados, como comumente encontramos na Como já mencionado anteriormente, fora tionamentos e demandas sobre os
Favorecer que os estudantes estejam mer- escola. A proposta é que, inseridos na prática da escola a leitura e a escrita têm diferentes diversos problemas sociais e natu-
gulhados em situações de leitura (de textos de produção de texto, os estudantes estejam propósitos e finalidades. As pessoas leem rais que existem em nosso mundo
para se informar, apreciar a literatura, para atual, que existiram no mundo que
estudar; escrevem para não esquecer, co- nos precedeu e formou, e que espe-
municar-se com alguém distante etc. São os ramos existam no futuro que imagi-
propósitos e as finalidades que indicam as namos ou desejamos. É muito mais
modalidades de leitura ou escrita mais efi- que estarmos informados, que saber
cientes para cada caso. Por exemplo, quando o que acontece, porque supõe uma
se lê para estudar, é comum grifar alguns tre- progressiva compreensão de saber
chos, retomando passagens mais complexas, por que as coisas acontecem, como
fazendo uma leitura mais cuidada e anota- chegamos ao que acontece hoje, co-
ções. Já a leitura para divertir, possivelmen- mo poderia ter sido o presente se o
te, será mais rápida e menos controlada. Na passado tivesse sido diferente, qual
escrita não é diferente: são ativados compor- será o futuro possível. Compreender
tamentos, capacidades e procedimentos de tudo isso não pressupõe somente
acordo com cada situação comunicativa: se saber ler, mas, visto que pertence-
um texto será publicado em um veículo de mos a uma cultura letrada, signi-
grande alcance, é preciso preocupar-se com fica transitar inevitavelmente pela
a revisão e vale submeter o texto a um lei- leitura.” (CASTEDO, 1999)
tor crítico antes de enviá-lo ao seu destino
final. Já se o propósito é tomar notas sobre Ler para estudar é o que mais se indica aos
o conteúdo de uma palestra, por exemplo, a alunos, principalmente dos anos finais. No
revisão exaustiva não é necessária, pois tra- entanto, são raras as situações nas quais os
60 61
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
professores tomam essa modalidade de lei- as alunas e os alunos vão estudar/pesquisar e OBJETOS DE CONHECIMENTO DO COMPONENTE LÍNGUA PORTUGUESA
tura como objeto de ensino. Quando se lê permite marcar que não há cisão entre o que
para estudar, é necessário que o tema seja eles precisam aprender, a forma como apren- OBJETOS DE CONHECIMENTO DE PRÁTICAS DE LEITURA
reconstruído como forma de compreender dem e as características específicas do obje-
o que foi lido. Paralelamente, há que se pen- to em estudo. É deste modo que devem ser •• Compreensão e leitura.
sar na escrita, pois nas situações de estudo, compreendidos os objetos de conhecimento •• Fluência leitora.
tomar notas, fazer resumos e retomar anota- envolvidos em cada eixo. •• Apreciação literária.
ções pessoais são bons caminhos de estudo
e necessitam ser tomados como objetos de Eles se repetem para todos os anos, porque
ensino para que possam ser ativados na hora o grau de complexidade – a progressão dos OBJETOS DE CONHECIMENTO DE PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE TEXTO ESCRITO
de estudar um texto. desafios – é dado pelos diferentes gêneros
propostos e/ou pelo grau de autonomia com Reescrita
Portanto, para que os alunos cheguem à o qual o estudante enfrentará os desafios pro-
proficiência leitora e escritora esperada, é postos. •• Condições didáticas de produção de texto.
condição que os professores de todas as áre- •• Procedimentos escritores nos contextos de produção.
as os ajudem a ler e a escrever os diferentes Analisar as aprendizagens esperadas e os
textos, respeitando a natureza textual de indicadores para medir o alcance às expec- Produção de autoria
cada um e a situação comunicativa em que tativas torna observável a evolução da com-
estão inseridos. plexidade dada ao tratamento dos objetos de •• Condições didáticas de produção de texto.
conhecimento. •• Procedimentos escritores nos contextos de produção.
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
1º ANO
Apreciação de textos literários Apreciação de textos literários
APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
Apreciar textos e participar de •• Pergunta sobre o momento que
rodas de leitores com a realização vai acontecer a leitura em voz alta
de troca de ideias e opiniões de contos do acervo da escola?
posteriores à leitura. Solicita a releitura de alguns
Compreensão e leitura
Escolher livros, em rodas de leitura deles?
Ler e compreender em colaboração com os
e disponíveis em meios digital, Solicita os livros que compõem
colegas e com a ajuda da professora, ou do
orientando-se por diferentes o acervo da sala para folheá-los,
professor: Compreensão e leitura, critérios e informações, justificando observar as ilustrações e/ou ler
Considerando a situação com o apoio da professora e do professor: a escolha e compartilhando com as as histórias?
comunicativa e o tema/assunto colegas e os colegas sua opinião, •• Nas rodas de apreciação,
•• Compreende os textos apoiando- faz comentários de forma
do texto, relacionando sua forma após a leitura.
-se nos conhecimentos sobre a
LINGUAGENS
Fluência leitora
Fluência leitora com o apoio da professora,
Ler, por si mesmo, textos diversos
ou do professor (quando necessário):
nos diferentes campos de atuação
(placas de identificação, listas, •• Lê utilizando pistas escritas (a
manchetes de jornal, legendas, primeira e a última letra, listas
histórias em quadrinhos, tiras, disponíveis na sala etc.)?
rótulos etc.), utilizando pistas •• Lê utilizando pistas contextuais
linguísticas e contextuais para para antecipar, inferir e validar
antecipar, inferir e validar o que o que está escrito?
está escrito.
64 65
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
2º ANO 3º ANO
APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
As aprendizagens esperadas e os indicadores já citados no 1º ano mais os que seguem, As aprendizagens esperadas e os indicadores já citados no 1º e 2º anos mais os que seguem,
avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia. avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia.
Considerando a situação comunicativa Inferir o sentido de palavras ou •• Busca no próprio texto a resolução da
e o tema/assunto do texto, relacionando - a temática? expressões desconhecidas em dúvida?
sua forma de organização à sua - as características do gênero? textos, com base no contexto da •• Recorre a outras fontes que
finalidade e aos campos de atuação: - as características do portador? frase ou do texto. favorecem a compreensão do texto?
campo da vida cotidiana; campo da vida - as características dos campos Recuperar, em colaboração, as •• Lê com intenção de que o próprio
pública; campo da prática de estudo de atuação? relações entre partes de um texto, texto permita resolver as dúvidas?
e pesquisa; campo artístico-literário. - o sistema de escrita? utilizando os conhecimentos •• Reconhece que o próprio contexto do
Realizando antecipações, inferências •• Sabe verificar as informações gramaticais e textuais já texto pode solucionar as dúvidas?
e verificações ao longo do processo antecipadas? internalizados para, em situações de
de leitura, a partir da recuperação do •• Antecipa as informações com uso, constituir os sentidos do texto
contexto de produção e de recepção do base nas pistas dadas nos escrito, consolidá-los e/ou resolver
texto a ser lido, bem como do universo textos? problemas de compreensão.
temático em jogo. •• Localiza informações explícitas?
Localizando informações explícitas no •• Recupera o contexto de Apreciação Apreciação
texto. produção da obra?
•• Compreende outras Perceber diálogos em textos •• Reconhece outros aspectos que não
Identificando a presença de outras
linguagens? narrativos, observando o efeito de só as marcas gráficas nos diálogos nas
linguagens como constitutiva do sentido
•• Relaciona texto com ilustrações sentido de verbos de enunciação e, situações de textos narrativos com
dos textos impressos ou digitais, por
e outros recursos gráficos? se for o caso, o uso de variedades base no sentido atribuído ao texto?
exemplo: boxes de complementação,
infográfico, negrito, nota de rodapé, linguísticas no discurso direto. •• Reconhece as marcas específicas
cores, imagens, entre outros. Apreciar poemas e outros textos de um poema com base no sentido
Com a ajuda do colega: versificados, observando rimas, atribuído ao texto?
Reconhecendo a função de textos
utilizados para apresentar informações •• Seleciona texto de pesquisa aliterações e diferentes modos de •• Reconhece outros aspectos que
coletadas em atividades de pesquisa usando apoio como títulos, divisão dos versos, estrofes e refrão não só as marcas gráficas presentes
(enquetes, pequenas entrevistas, subtítulos, imagens e negritos? e seu efeito de sentido. nos textos dramáticos com base no
Identificar funções do texto sentido atribuído ao texto?
registros de experimentações). •• Identifica textos pertinentes
66 67
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
4º ANO 1º ANO
para distinguir em textos conhecidas pertencentes ao reconto?
em textos (informativos, jornalísticos,
(informativos, jornalísticos, campo artístico-literário, lidas pela •• Nas situações de reconto, deixa de
publicitários etc.).
publicitários etc.) fatos de professora ou pelo professor. fazer uso de marcas de oralidade,
Reconhecer a função de gráficos, opiniões? tais como aí, daí etc.?
diagramas e tabelas em textos como
•• Utiliza recursos como gráficos, •• Reconta recuperando a sequência
forma de apresentação de dados
diagramas e tabelas como de episódios essenciais na ordem
e informações.
formas de apresentação de que se apresenta?
dados? •• Utiliza, no reconto, algumas
características da linguagem dos
textos lidos pela professora ou
pelo professor?
68 69
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
- planejamento do texto?
- textualização?
Planejar, com a ajuda da professora
- revisão no processo?
ou do professor, o texto que
Na organização da produção de texto, com - revisão final?
será produzido, considerando as
a ajuda da professora ou do professor, Produzir, em colaboração com - finalização?
operações de produção de texto
considera as seguintes operações: os colegas e a ajuda do professor, •• Dita o texto à professora, ou ao
(análise de recursos linguísticos)
- análise de recursos linguísticos? textos de diferentes gêneros professor, considerando:
de texto-fonte, planejamento,
- planejamento do texto? dos campos da vida cotidiana, - as especificidades do gênero?
textualização, revisão no processo
- textualização? investigativo, artístico-literário, - quem vai ler?
e final, pesquisando em meios
- revisão no processo? atuação cidadã, jornalístico e - onde o texto vai circular?
impressos ou digitais, sempre que
preciso, as informações necessárias
- revisão final? publicitário. •• Usa algumas características da
- finalização? linguagem escrita nos textos que
à produção do texto, organizando
em tópicos os dados produz?
e as fontes pesquisadas. •• Retoma o texto-fonte para
resolver problemas da produção?
•• Reconhece que os campos de
Com a ajuda do professor: circulação marcam diferenças no
•• Participa, dando ideia para texto produzido?
planejar o que o grupo vai
escrever?
•• Considera onde o texto vai circular
na elaboração do planejamento
do que vai escrever?
•• Considera as especificidades
do gênero na elaboração do Em parceria com as colegas e os
•• Com a ajuda da professora, ou do
Produzir uma parte inicial ou final planejamento do que vai escrever? colegas e a ajuda da professora,
de um texto conhecido, tendo a •• Participa das seguintes operações professor e em parceria:
ou do professor, fazer uso de
professora ou o professor como de produção de textos: - faz uso do que já escreveu para
procedimentos escritores, como
escriba. - análise de recursos linguísticos? continuar?
reler o que está escrito para
- planejamento do texto? - faz uso do planejamento de texto
continuar, consultar o planejamento
- textualização? durante a produção?
para tomar decisões no momento
- revisão no processo? - faz uso do planejamento de texto
da escrita e revisar no processo
- revisão final? durante a revisão?
e ao final.
- finalização?
•• Usa algumas características da
linguagem escrita nos textos que
produz em substituição ao uso de
aí, daí, repetições etc.?
70 71
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
professor, e em parceria:
Analisar, em colaboração com
•• Reconhece algumas características
colegas e professores, textos dos 2º ANO
do gênero em questão com base
gêneros em questão para extrair
no texto-fonte? APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
as características.
•• Organiza as informações retiradas
do gênero em questão?
•• As aprendizagens esperadas e os indicadores já citados no 1º ano mais os que
seguem, avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia
Com o apoio da professora, ou do
professor:
72 73
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
- as especificidades do gênero?
e as fontes pesquisadas. •• Usa algumas características da
linguagem escrita nos textos que
Planejar, com a ajuda da produz?
professora ou do professor,
o texto que será produzido, Coletivamente (1º semestre) e em dupla
considerando as operações (2º semestre):
de produção de texto (análise
Na produção, considera as seguintes
de recursos linguísticos de
operações na organização do texto:
texto-fonte, planejamento,
- análise de recursos linguísticos?
textualização, revisão no processo
- planejamento do texto?
e final), pesquisando em meios Coletivamente (1º semestre) e em dupla
- textualização?
impressos ou digitais, sempre (2º semestre):
- revisão no processo?
que for preciso, informações
- revisão final?
necessárias à produção do texto, •• Participa das operações de
- finalização?
organizando em tópicos os dados produção de textos considerando:
e as fontes pesquisadas. - análise de recursos linguísticos?
- planejamento do texto?
- textualização?
Em dupla: - revisão no processo?
•• Participa dando ideia para planejar Produzir, em colaboração com - revisão final?
o que o grupo vai escrever? as colegas e os colegas e a - finalização?
•• Participa das operações de ajuda do professor, textos de •• Dita o texto ao professor
produção de textos considerando: diferentes gêneros dos campos considerando:
- análise de recursos linguísticos? da vida cotidiana, investigativo, - as especificidades do gênero?
- planejamento do texto? artístico-literário, atuação cidadã, - quem vai ler?
- textualização? jornalístico e publicitário. - onde o texto vai circular?
Produzir, em dupla, uma parte - revisão no processo? •• Usa algumas características da
inicial ou final de um texto - revisão final? linguagem escrita nos textos que
conhecido ou um texto completo. - finalização? produz?
•• Na elaboração do planejamento do •• Retoma o texto-fonte para resolver
que vai escrever, considera: problemas da produção?
- onde o texto vai circular? •• Reconhece que os campos marcam
- quem vai ler? diferenças no texto produzido?
- as especificidades do gênero?
•• Usa algumas características da
linguagem escrita nos textos que
produz?
74 75
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
LÍNGUA PORTUGUESA
76 77
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
78 79
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
Em dupla: Em dupla:
LÍNGUA PORTUGUESA
81
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
coletivamente, histórias - o narrador?
conhecidas modificando o - o tempo?
narrador, o tempo ou - o lugar?
o lugar. •• Usa características da linguagem escrita nos
textos que dita ao professor?
Editar a versão final do texto, com Em dupla: •• Dita o texto ao professor considerando:
a ou o colega de dupla, ilustrando, - as especificidades do gênero?
quando for o caso, em suporte •• Reconhece as marcas de edição como - quem vai ler?
adequado, manual ou digital (uso constitutiva do texto? - onde o texto vai circular?
de software). •• Sabe usar alguns recursos de edição?
Individualmente:
82 83
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
Fazer uso,
individualmente, de
LÍNGUA PORTUGUESA
Individualmente: Individualmente:
procedimentos escritores,
como reler o que está •• Faz uso do que já escreveu para continuar? •• Participa das operações de produção de textos
escrito para continuar, •• Faz uso do planejamento de texto durante considerando:
consultar o planejamento a produção? - análise de recursos linguísticos?
para tomar decisões •• Faz uso do planejamento de texto durante - planejamento do texto?
no momento da escrita a revisão? - textualização?
e revisar no processo - revisão no processo?
e ao final. - revisão final?
- finalização?
Produzir, individualmente,
Individualmente: textos de diferentes •• Na produção, considera:
Analisar, individualmente, gêneros dos campos - as especificidades do gênero?
•• Reconhece algumas características do gênero em
textos dos gêneros em da vida cotidiana, - quem vai ler?
questão com base no texto-fonte? - onde o texto vai circular?
questão para extrair as investigativo, artístico-
•• Organiza as informações retiradas do gênero em •• Usa algumas características da linguagem escrita
suas características. -literário, atuação cidadã,
questão?
LINGUAGENS
84 85
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
•• Observa se o texto está dirigido ao destinatário •• Planeja o texto que vai reescrever?
especificado?
•• Na reescrita, consegue manter o texto,
mas mudar:
Produzir reescrita, - o narrador?
individualmente, de histórias - o tempo?
conhecidas modificando o - o lugar?
Utilizar, em colaboração, •• Usa características da linguagem escrita
narrador, o tempo ou o lugar.
ao produzir um nos textos que escreve individualmente?
texto, conhecimentos Coletivamente (1º semestre) e em dupla (2º semestre): •• Escreve considerando:
linguísticos e gramaticais, - as especificidades do gênero?
tais como ortografia, •• Durante a produção relê, observando aspectos:
- quem vai ler?
regras básicas de - ortográficos?
- onde o texto vai circular?
concordância nominal - regras básicas de concordância nominal
e verbal, pontuação e verbal?
(ponto final, ponto de - pontuação (ponto final, ponto de exclamação,
exclamação, ponto de ponto de interrogação e vírgulas em
interrogação e vírgulas enumerações)?
em enumerações) e - pontuação do discurso direto, quando for
pontuação do discurso o caso?
direto, quando for o caso.
Individualmente:
•• Produz considerando:
Produzir, individualmente, - a especificidade do gênero?
Editar a versão final do finais de histórias do campo - a temática?
texto, individualmente, Individualmente: artístico-literário, cujo final - a sequência de episódios iniciais?
ilustrando, quando for se desconhece. - o ambiente?
•• Reconhece as marcas de edição como
o caso, em suporte constitutiva do texto? - os personagens?
adequado, manual ou •• Produz finais para histórias utilizando
•• Sabe usar alguns recursos de edição?
digital (uso de software). recursos da linguagem escrita?
86 87
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
88 89
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
2º ANO
90 91
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
•• Organiza a fala de acordo com a Explicar, em colaboração com •• Explica temas relacionados a estudo
situação comunicativa? as e os colegas e com a ajuda de diferentes áreas?
Relatar com certa autonomia, •• Considera o interlocutor? da professora ou do professor, •• Em situação de estudo:
experiências vividas. •• Expressa-se com clareza? aspectos relacionados a temas - escuta com atenção?
•• Preocupa-se em ser compreendido? estudados nas diferentes áreas - formula perguntas?
•• Pede ajuda para adequar a fala a do conhecimento. - comenta, dando sua opinião sobre
situações de comunicação? o tema tratado?
92 93
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
•• Escuta apresentações?
•• Sabe formular perguntas pertinentes 4º ANO
Escutar, com atenção,
ao tema?
apresentações de trabalhos
•• Faz pergunta quando é necessário?
APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
realizados por colegas ou outras
pessoas. •• Tem atitude respeitosa durante a
apresentação de um tema (saber ouvir As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º , 2º e 3º anos mais os que seguem,
e falar)? avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia.
Com autonomia:
Recitar, com certa autonomia, •• Recita parlendas, quadras, quadrinhas, Atribuir, com autonomia, •• Observa, durante a comunicação:
diferentes gêneros da trava-línguas e outros gêneros do significado a aspectos não - a direção do olhar?
comunicação oral. campo da vida cotidiana? linguísticos. - risos e gestos?
•• Usa entonação na recitação? - expressão corporal?
•• Observa as rimas na recitação?
94 95
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
Com autonomia:
•• Participa de debates?
•• Recorre a pesquisas em jornais e
Debater, em colaboração, outras fontes para fundamentar suas
aspectos controversos, ideias?
relacionados a temas da
•• Emite opinião durante o debate?
LINGUAGENS
Com autonomia:
96 97
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
1º ANO
Com autonomia:
99
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
Em dupla:
Coletivamente:
•• Escreve com letras móveis justificando
as letras que escolhe para escrever? •• Lê texto memorizado?
•• Participa das discussões dando Ler e compreender texto com •• Lê texto memorizado fazendo ajuste do
opinião de quais letras usar para o apoio da professora ou do falado ao escrito?
escrever a palavra da lista em professor. •• Lê texto memorizado apoiando-se em
LINGUAGENS
100 101
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
•• Escreve, ainda que não Escrever, em colaboração, listas •• Escreve com letras móveis justificando as
convencionalmente, texto memorizado? de palavras e/ou títulos. letras que escolhe?
Escrever palavras ou texto com
o apoio da professora ou do •• Escreve texto não memorizado usando •• Participa das discussões dando opinião
professor. pistas de outras escritas? de quais letras usar para escrever a
•• Escreve palavras não memorizadas, ainda palavra da lista em questão?
que não convencionalmente?
•• Escreve, convencionalmente, palavras
não memorizadas? Em dupla:
Escrever alfabeticamente, em
Com o apoio da professora ou do professor:
colaboração, textos que sabe
de cor (parlendas, adivinhas, •• Escreve alfabeticamente texto
quadrinhas, canções, trava- memorizado, ainda que com erros
-línguas, entre outros), trechos ortográficos?
de receitas culinárias e listas •• Escreve alfabeticamente trechos
em geral, ainda que com alguns de receitas, ainda que com erros
erros ortográficos. ortográficos?
102
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
105
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
Em dupla:
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
e em dupla:
Escrever convencionalmente.
autonomia?
da pontuação referentes a •• Faz uso de pontuação final (ponto final, de em colaboração, nas situações de interrogação e de exclamação) de
possibilidades de pontuação interrogação e de exclamação), de acordo de produção e revisão acordo com a intenção desejada?
do discurso direto, uso com a intenção desejada? de texto, considerando •• Pontua adequadamente o discurso
de maiúscula, ponto final, •• Ao pontuar as produções escritas, no caso os aspectos discursivos direto?
interrogação e exclamação de enumeração, faz uso do conhecimento referentes a pontuação, •• Nas produções escritas, faz uso de
e uso da vírgula em casos de recente, substituindo o E pela vírgula? discurso direto, uso de vírgula em situação de enumeração?
enumeração. •• Faz escolhas adequadas ao pontuar maiúscula, ponto final, •• Identifica que o uso da pontuação
discurso direto? interrogação, exclamação está relacionado à intenção de quem
e uso da vírgula. escreve?
•• Ao produzir textos, faz uso da
pontuação, considerando o efeito de
sentido que quer causar no leitor?
Com certa autonomia (1º semestre) e com
autonomia (2º semestre):
Segmentar o texto em
palavras. •• Construiu a noção de palavra?
•• Identifica espaços entre as palavras?
•• Segmenta o texto em palavras?
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
Em dupla:
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Portuguesa
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Arte
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Arte
organização de pensamento ligados às múl- 4. Experienciar a ludicidade, a percepção, CONCEITUAÇÃO E Comum Curricular, este documento consi-
tiplas formas de linguagem. a expressividade e a imaginação, ressig-
ESTRUTURA DOS OBJETOS dera a experiência artística como uma ação
nificando espaços da escola e de fora intencional e potente como aprendizagem,
Como garante o documento da BNCC, essas dela no âmbito da Arte. DO CONHECIMENTO E DA com capacidade de mediar a relação do su-
dimensões não serão tratadas de maneira EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA jeito com os saberes de cada linguagem deste
estanque, mas sim enquanto caminhos pos- 5. Mobilizar recursos tecnológicos como componente curricular. Assim, mais que pin-
síveis correlacionados, compondo a constru- formas de registro, pesquisa e criação Artes Visuais, Dança, Música e Teatro apre- tar, dançar, tocar e dramatizar, o que se busca
ção de conhecimento em Arte no ambiente artística. sentam-se como áreas autônomas da lingua- é que essas ações deixem de ser vistas como
escolar e instigando os aspectos e as apren- gem da Arte que guardam suas especificida- um fazer artístico meramente procedimental
dizagens não hierárquicas a serem desenvol- 6. Estabelecer relações entre arte, mídia, des, constituídas por materialidades verbais e passem a ser compreendidas como ações
vidas nas experiências artísticas educativas. mercado e consumo, compreendendo, e não verbais, sensíveis, corporais, visuais, cognitivas do corpo na ação de aprender, o
de forma crítica e problematizadora, plásticas, sonoras e musicais – nomeadas, na que equivale a dizer que não há fazer desco-
A BNCC recomenda a Arte como componen- modos de produção e de circulação da BNCC, de unidades temáticas. lado do pensar, do refletir.
te da área de Linguagens. Ela se expressa e arte na sociedade.
concretiza com as linguagens das Artes Visu- Por sua vez, os objetos do conhecimento Quando se executa uma prática em Arte,
ais, da Dança, da Música e do Teatro, que têm 7. Problematizar questões políticas, so- apresentados por fluxos compreendem os não está em jogo somente o procedimento
competências que as distinguem enquanto ciais, econômicas, científicas, tecnológi- processos ou as experiências artísticas e uma técnico ali engendrado, mas também a mobi-
campos autônomos do conhecimento. Cen- cas e culturais, por meio de exercícios, gama de habilidades e conceitos que deem lização de conceitos e dimensões históricas
trado no trabalho para o Ensino Fundamen- produções, intervenções e apresenta- conta da aprendizagem em Arte, atendendo da formulação epistemológica desses conhe-
tal, prevê-se, em Arte, segundo a BNCC, as ções artísticas. aos contextos e se adequando às propostas cimentos, que incluem, ao lado de constru-
seguintes competências gerais (balizadoras pedagógicas de cada escola. ções procedimentais e conceituais, também
da construção das aprendizagens esperadas 8. Desenvolver a autonomia, a crítica, a au- as atitudinais, aproximando o sujeito de uma
para a Rede Municipal de Camaçari): toria e o trabalho coletivo e colaborati- Para compreender os fluxos de conheci- experiência total dada no reconhecimento da
vo nas artes. mentos, a proposta é fazer arranjos de con- integralidade do conhecimento e de outros
1. Explorar, conhecer, fruir e analisar cri- teúdos, agrupados didaticamente, conside- sujeitos.
ticamente práticas e produções artís- 9. Analisar e valorizar o patrimônio artís- rados de forma aberta e com possibilidades
ticas e culturais do seu entorno social, tico nacional e internacional, material e de traduções por cada uma das linguagens Desse modo, ao promover a apreensão de
dos povos indígenas, das comunidades imaterial, com suas histórias e diferen- artísticas, sem a hierarquização dos objeti- habilidades, a experiência artística estimula
tradicionais brasileiras e de diversas tes visões de mundo (BRASIL, 2017). vos de aprendizagem da área. A proposição a investigação, a criação e a produção de no-
sociedades, em distintos tempos e es- dos fluxos de conhecimentos como objetos vos fazeres que, por sua vez, instigam a con-
paços, para reconhecer a arte como um Ao considerar a demarcação das competên- do conhecimento em Arte é: textualização, reflexão e crítica desses no-
fenômeno cultural, histórico, social e cias gerais para a área de Arte e reconhecer a vos conhecimentos, articulando-os a outras
sensível a diferentes contextos e dialo- realidade da Rede Municipal de Camaçari, que 1. Contextos identitários e matrizes cultu- formas de leitura e interpretação dos fatos e
gar com as diversidades. ainda não dispõe de um quantitativo suficien- rais e estéticas. da vida. É considerada também capaz de am-
te de professores para atuar especificamente pliar níveis de sensibilidade, criatividade e
2. Compreender as relações entre as lin- em cada uma das linguagens artísticas, foram 2. Processos de criação e elementos das flexibilidade, facilitadores nos processos de
guagens da Arte e suas práticas inte- definidas as aprendizagens esperadas para linguagens artísticas. mudanças de atitudes, práticas e conceitos.
gradas, inclusive aquelas possibilitadas o componente curricular de maneira ampla.
pelo uso das novas tecnologias de in- Espera-se que possam ser desenvolvidas por 3. Apreciação estética de processos e Nas próximas páginas, está uma tabela
formação e comunicação, pelo cinema vias das diferentes linguagens que constituem obras de arte. com os objetos do conhecimento em Arte e
e pelo audiovisual, nas condições parti- a Arte, com vista a tornar essa proposta curri- as aprendizagens esperadas, por ano e por
culares de produção, na prática de cada cular mais próxima do contexto ao qual ela se Além das quatro áreas artísticas, são indi- eixo, a serem exploradas nas experiências
linguagem e nas suas articulações. destina. cadas também as Artes Integradas como uni- artísticas, com base nos diferentes trata-
dade temática, propondo a exploração das mentos dados às linguagens artísticas nesta
3. Pesquisar e conhecer distintas matrizes Considerando que uma das funções da Arte relações e articulações entre as diferentes proposta curricular. Mais que uma listagem
estéticas e culturais – especialmente na escola é a formação de um cidadão sen- linguagens e práticas, inclusive aquelas pos- de conteúdos ordenados em anos escola-
aquelas manifestas na arte e nas cul- sível, crítico, criativo e propositor, deseja-se sibilitadas pelo uso das novas tecnologias de res, o que se propõe são possibilidades de
turas que constituem a identidade bra- que os estudantes tenham um espaço para informação e comunicação. consolidar aprendizagens significativas por
sileira –, sua tradição e manifestações construir experiências artísticas como acio- meio de saberes oriundos da autonomia
contemporâneas, reelaborando-as nas namentos de atribuição de significado às re- Ao tomar por base as dimensões do conhe- e especificidade de cada área de conhe-
criações em Arte. lações (extra) escolares. cimento em Arte propostas na Base Nacional cimento do componente curricular Arte.
118 119
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Arte
ARTE
essa questão por meio da relação da Arte na
A avaliação deve ter o princípio da apren- escola, percebe-se que ainda é preciso supe- APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
dizagem como um fenômeno personificado rar a ideia que considera as habilidades ar-
que, embora ocorra em exercícios coletivos tísticas como disposições inatas, quando os
de interação entre os sujeitos aprendentes, avanços acerca dos processos educacionais
trata-se sempre de uma experiência singular, em Arte desvelam que as habilidades, sejam
assentada no entendimento de que cada um elas artísticas ou não, desenvolvem-se com •• Estabelece, por meio de associação
aprende de um jeito específico e em um rit- base nas relações que os sujeitos vão tra- direta ou com estímulos da
Identificar a presença da Arte no professora ou do professor, relações
mo próprio. çando com o mundo. Todo corpo pode dan-
cotidiano e a sua relação com os entre as Artes Visuais, a Dança,
çar, desenhar, pintar, dramatizar, cantar etc.
contextos culturais e sociais em a Música e o Teatro com o seu
LINGUAGENS
Esse entendimento convida a considerar a Com essa perspectiva, afasta-se a avaliação que está inserido/inserida. cotidiano, sobretudo no que se
sala de aula como um espaço heterogêneo em Arte que busca a genialidade, a perfei- refere aos seus contextos sociais (na
em que o docente, ao avaliar a aprendizagem ção e o talento, até mesmo porque essa área, rua, no bairro, na cidade)?
das e dos estudantes, considera a complexi- na escola, não está a serviço da formação de
dade tecida entre a história de desenvolvi- artistas. Ao contrário, esse componente cur-
mento de cada um, bem como os seus limites, ricular se coloca na perspectiva de propiciar
avanços e possibilidades – ou seja, avalia-se experiências formativas que façam sentido
o processo sem dissociar o sujeito do seu para o estudante, para que ele possa cons-
percurso de aprendizagem. truir as conexões entre os saberes da Arte e Desenvolver atividades artísticas •• Demonstra, na prática das atividades
a vida dele. coletivas que contribuam para artísticas, o desenvolvimento de
Freire (1989) sinaliza que a avaliação pode o desenvolvimento de valores habilidades socioemocionais:
ser compreendida como uma leitura da re- Embora haja uma exigência de uma atribui- pessoais, na perspectiva curiosidade, autoconfiança,
alidade para que o sujeito que avalia possa ção numérica ou conceitual para classificar da formação de cidadãos imaginação e sociabilidade, entre
participativos, criativos e críticos. outros?
se ler. A avaliação da aprendizagem não se os estudantes dentro do sistema escolar –
faz descolando-se do contexto em questão. fruto de uma Pedagogia centrada na tradição
A professora e o professor se implicam na de conteúdos em detrimento do significado
tentativa de compreender cada vez mais as social a ele atribuído pelo estudante – con-
relações entre as orientações metodológicas sidera-se a possibilidade de democratizar
propostas e como elas estão sendo efica- os processos de aprendizagem com a ado- •• Articula os saberes apreendidos
zes ou não na consecução dos objetivos de ção de dispositivos menos tradicionais que Compreender a importância das na experiência artística, sobretudo
aprendizagem. os testes e as provas (que, em muitos casos, culturas africana e indígena na aqueles referentes ao estudo
afere apenas a habilidade de dar respostas construção de um referencial cultural dos principais grupos
Félix Diaz (2011, apud LUCKESI 2003) con- previsíveis a questões diretivas). A sugestão contemporâneo de Arte, étnicos que formam o povo
ceitua que a avaliação da aprendizagem é: é para que a professora e o professor adotem sobretudo no que se refere brasileiro, com dimensões históricas
uma variedade de instrumentos, tais como à produção artística local. da
sua cidade?
“[...] um ato pelo qual, através de uma dispo- portfólio; seminários, em que as alunas e os
sição acolhedora, qualificamos alguma coisa alunos possam narrar suas aprendizagens
(um objeto, ação ou pessoa), tendo em vista, ao seu modo; rodas de conversa, com foco na
de alguma forma, tomar uma decisão sobre autoavaliação das aulas; e a escuta individu-
ela; e no caso de pessoas, junto com elas... alizada do desejo de aprendizagem dos estu-
Quando atuamos junto a pessoas, a qualifica- dantes. Considera-se, também, a criatividade Vivenciar, coletivamente e/ou
ção e a decisão necessitam de ser dialogadas. das e dos docentes que atuam com a Arte individualmente, experiências •• Demonstra identificação com as
O ato de avaliar não é um ato impositivo, mas artísticas, sinestésicas, visuais, linguagens artísticas, elucidando
para construir modos autorais de gerenciar
expressivas e sonoras, que o seu gosto pessoal e o desejo de
sim dialógico, amoroso e construtivo. A refle- a aprendizagem de seus estudantes.
tenham como foco a construção aprender, ao mesmo tempo que
xão é parte constitutiva do processo avaliati- da identidade – a percepção de respeita as escolhas dos outros?
vo. Refletir implica ser sujeito proativo frente si nas relações com o outro.
ao seu próprio fazer”.
120 121
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Arte
•• Mostra-se interssada ou interessado EIXO CONTEXTOS IDENTITÁRIOS, SOCIAIS, MATRIZES CULTURAIS E ESTÉTICAS
por pesquisar possibilidades de
Manipular objetos e explorar espaços organizar o pensamento artístico 4º E 5º ANOS
ARTE
•• Contextos culturais como ambientes propícios para o desenvolvimento de redes imaterial. transparecendo o seu desejo por
de relações. aprender acerca da História da Arte?
•• Exercício de leituras de si e do mundo, implicadas no processo contínuo de
construção da cidadania com base em experiências artísticas.
•• Construção de identidades com base nas relações com o outro.
•• Histórias de vida e contextos socioculturais e históricos como a escola, o bairro e a
família.
•• Questões identitárias e das diversidades, incluindo as culturas étnico-raciais, como
as de matrizes africanas, indígenas e ciganas, a cultura sertaneja, dentre outras,
•• Estabelece relações entre os
com base em expressões estéticas. Ampliar a percepção da presença
saberes das linguagens artísticas
•• Experiência artística, com as áreas das Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, que da Arte em seu cotidiano (escola,
trabalhadas na escola e os saberes
possibilite a compreensão do trânsito entre elementos de culturas eruditas e bairro, cidade, estado e país),
oriundos de sua experiência
contemporâneas. apontando relações entre os
cotidiana, deflagrando a presença
•• Trabalho com o corpo na sua totalidade (emoção, percepção, intuição, saberes das linguagens da Arte
de elementos das Artes Visuais,
sensibilidade e intelecto). e as leituras de mundo.
Dança, Música e Teatro?
•• Práticas de educação somática como forma de percepção corporal.
•• Experimentação de danças e cantigas populares e manifestações culturais dos
territórios de identidades.
Vivenciar, coletivamente,
•• Demonstra capacidade de empatia
experiências artísticas, sejam elas
e respeito aos seus gostos pessoais
sinestésicas, visuais, expressivas
sem detrimento daquilo que gostam
ou sonoras, focalizando no
os demais colegas nas relações de
fortalecimento da construção
aprendizagem que envolvem outros
da identidade e no respeito à
sujeitos?
alteridade.
123
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Arte
125
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Arte
EIXO PROCESSOS DE CRIAÇÃO E ELEMENTOS DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS Experimentar diferentes formas
de expressão artística (cênicas, •• Demonstra curiosidade na
4º E 5º ANOS visuais e sonoras) fazendo uso de exploração de materiais recicláveis
ARTE
•• Demonstra interesse na
Explorar aspectos da vida cotidiana Experimentar as novas tecnologias articulação entre recursos das
(entonações de voz, diferentes como recurso para a produção, a novas tecnologias e o processo
•• Revela apreensão de conceitos
fisicalidades, diversidade de pesquisa e o registro de criações de criação em Arte, articulando os
e procedimentos relativos à
personagens e narrativas etc.) artísticas. elementos da linguagem por meio
linguagem
como materialidade artística para de suportes tecnológicos?
do Teatro?
processos de criação na linguagem
teatral.
OBJETOS DO CONHECIMENTO
126
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Arte
EIXO APRECIAÇÃO DE PROCESSOS E OBRAS DE ARTE EIXO APRECIAÇÃO DE PROCESSOS E OBRAS DE ARTE
1º AO 3º ANO 4º E 5º ANOS
ARTE
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
130 131
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
o homem não nasceu pulando, sal- introduzir e integrar o estudante na cultu- Fundamental – Anos Iniciais, os componen- pa se construa com base no que a
tando, arremessando, balançando, ra corporal, à luz da sua formação como ci- tes curriculares tematizam diversas práticas, criança sabe e é capaz de fazer, em
jogando etc. Todas essas ativida- dadão crítico, capaz de transformá-la para considerando especialmente aquelas rela- uma perspectiva de continuidade
des corporais foram construídas atender às necessidades individuais e coleti- tivas às culturas infantis tradicionais e con- de seu percurso educativo.” (BRA-
em determinadas épocas históri- vas de sua comunidade. temporâneas.” (BRASIL, 2018) SIL, 2018)
cas como resposta a determinados
estímulos, desafios ou necessidades Para tanto, é papel do professor direcionar Apoiada nos elementos da cultura corporal, A Educação Física escolar, assim como
humanas.” (TAFAFEL et alli 1999) intencionalmente, com os estudantes, quais a Educação Física tem como obrigação esta- qualquer componente curricular, deverá es-
componentes e manifestações da cultura belecer relações entre os eixos temáticos, os tabelecer vínculos positivos entre os sujeitos
Para alguns pesquisadores, o surgimen- corporal (jogos e brincadeiras, lutas, espor- objetivos de aprendizagem e os respectivos presentes na ação pedagógica e as situações
to das teorias críticas foi muito importante tes, danças, ginásticas etc.) deverão ser pro- conteúdos, mantendo um diálogo com a cul- de aprendizado, tornando-o significativo e
para contrapor as perspectivas com viés tec- blematizados, interpretados, relacionados tura e os costumes locais. Um exemplo disso valoroso tanto para professores como para
nicista implementado nas aulas de Educação ao contexto escolar e à realidade local. é ressignificar jogos e brincadeiras da cultura os estudantes, sem abrir mão dos referen-
Física, mas trouxe consigo alguns problemas. corporal realizados em épocas passadas ou, ciais didáticos que norteiam a prática peda-
Para outros, o excesso de crítica provocou até mesmo, traçar um paralelo entre brinca- gógica.
a negação ao movimento, ocasionando um MARCOS DA CONCEPÇÃO deiras atuais e antigas. Essa é uma maneira de
desequilíbrio na relação entre as práticas analisar, conhecer, criticar e intervir no pre- A compreensão acerca da relação entre o
corporais vividas nas aulas e as discussões e Ainda tendo o movimento e suas relações sente, com experiências e contextualizações currículo, conteúdos e os objetivos da Educa-
sistematizações no campo das ideias. como cerne principal para sua prática e re- nas manifestações de jogos e brincadeiras. ção Física escolar perpassa o entendimento
flexão, o ensino da Educação Física se trans- precípuo de alguns questionamentos: o que
Tal situação provocou, nos professores, um formou através dos tempos e hoje emprega o Outro exemplo é a intervenção no espaço e são? Como são constituídos? Quais as fina-
desajuste metodológico, pois não ficava claro entendimento de que o desenvolvimento se nos materiais utilizados, criando condições e lidades deles na organização da ação peda-
a quais objetivos a aula de Educação Física dá com base nos aspectos cognitivos, afeti- adaptando suas funções para atender às ne- gógica e da sua importância e no processo
atenderia. A aula perdeu o sentido de práxis vos, corporais e motores. cessidades e demandas e, dessa forma, inter- “consciente” do desenvolvimento do estu-
pedagógica, passando, em alguns casos, a vindo na realidade apresentada, buscando dante?
ser dividida em aula prática (na quadra, com “Caberá à Educação Física pro- maneiras de interação e transformação dos
movimento, ginástica e esporte) e teórica (na porcionar aos alunos experiências elementos culturais e estruturais de forma É preciso criar situações de aprendizagens
sala de aula, ou outro espaço, com conteúdos pedagógicas que viabilizam tanto crítica, autônoma, individual e coletiva. para os estudantes que sejam coerentes com
classificados como teóricos, pois atendiam a prática das manifestações corpo- a proposta curricular desejada. As práticas
ao campo das ideias e dos conceitos). rais presentes no universo cultural O professor deve estar atento às mudanças pedagógicas nas aulas de Educação Física
próximo e afastado como a refle- e transformações que ocorrem nessa fase de devem estar de acordo com as intenções e
Darido (2008) também aponta outra pro- xão crítica acerca das diversas re- transição de etapas da vida escolar dos estu- finalidades, e para isso se faz necessário o
blemática gerada pela negação: a falta de presentações culturais veiculadas dantes, pois também é um período de transi- alinhamento justo entre a escolha, a aplica-
propostas que apontassem uma intenciona- pelas brincadeiras, lutas, esportes, ção no desenvolvimento global. Para a BNCC, ção e a ação-reflexão acerca dos objetivos,
lidade pedagógica. Para ela, ginásticas e danças, oferecendo a conteúdos e encaminhamentos metodológi-
cada aluno a oportunidade de se “A transição entre essas duas eta- cos. O currículo não é algo fixo e rígido, ele é
“(...) assistimos ao desenvolvimen- posicionar como produtor de cul- pas da Educação Básica requer dinâmico e se altera constantemente. Porém,
to de um modelo no qual os alunos tura corporal.” (NEIRA & NUNES, muita atenção, para que haja antes de tudo, é preciso
é que decidem o que vão fazer na 2009) equilíbrio entre as mudanças in-
aula, escolhendo o jogo e a forma troduzidas, garantindo integra- “(...) considerar que o projeto curri-
como querem praticá-lo, e o papel Não há como garantir aprendizagens sem a ção e continuidade dos processos cular possui a finalidade de orientar
do professor se restringe a oferecer construção de uma prática pedagógica inten- de aprendizagens das crianças, e nortear o trabalho do professor,
uma bola e marcar o tempo”. cional, afetiva, funcional, reflexiva e transfor- respeitando suas singularidades e permitindo um diálogo constante
madora. O aprendizado ocorre com a junção as diferentes relações que elas es- com as relações cotidianas, para
A proposta apresentada pelo coletivo que de vários elementos inter-relacionados em tabelecem com os conhecimentos, que toda prática pedagógica possua
preparou este Referencial entende que a ações, reações, pensamentos e sentimentos. assim como a natureza das me- a mesma intenção final – colaborar
Educação Física não deve estar voltada ape- Nesse sentido, a Educação Física vem buscar diações de cada etapa. Torna-se com a formação do sujeito global,
nas para o ensino de modalidades esportivas novos caminhos e possibilidades para pro- necessário estabelecer estratégias levando em consideração aspectos
e menos ainda para a reprodução do gesto mover uma maior inserção do sujeito/estu- de acolhimento e adaptação tanto formais e informais inerentes ao
motor, mas sim que a disciplina compreen- dante na sua realidade por meio da cultura para as crianças quanto para os processo de ensino-aprendizagem”.
dida pela a rede municipal de Camaçari deve e do conhecimento científico. “No Ensino docentes, de modo que a nova eta- (DÓREA & PINHO, 2012)
132 133
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
O professor precisa estar atento em todas Ao ter contato com a cultura corporal de Outro aspecto importante a ser garantido tados, caberá ao professor ter sensibilidade
as etapas do processo de ensino, procuran- forma ampla, contraditória e sistematizada, é a progressividade dos direitos de apren- e percepção e refletir sobre as situações re-
do refletir sobre suas práticas, avaliando e as crianças têm a oportunidade de enrique- dizagem e seus indicadores, bem como dos lacionadas ao aprendizado dos estudantes e
ressignificando possibilidades, instrumen- cer o repertório sociocultural para além do objetos de conhecimento. É interessante ob- o seu papel de mediador de transformações,
tos e intervenções, buscando criar cenários e gesto motor, permitindo uma maior rela- servar que a ideia de progressão deverá le- bem como da importância da Educação Físi-
terrenos férteis ao aprendizado. Adotar uma ção com o mundo e intervindo nele para var em consideração aspectos relacionados ca nesse processo.
postura reflexiva e ativa é imperativo, pois a apropriar-se de novos saberes corporais, ao desenvolvimento e à formação cognitiva,
vida pulsa e se recria nos espaços dentro e comportamentais, emocionais e científicos. social, afetiva e motora dos estudantes dos Sendo assim, faz-se necessário refletir so-
fora da escola. Dessa forma, a Educação Física garante aos anos iniciais do Ensino Fundamental do mu- bre aspectos importantes no entendimento
estudantes aprendizagens, para além dos nicípio de Camaçari. do papel da Educação Física como elemento
“O currículo da educação física tem gestos, oportunizando experiências colabo- curricular obrigatório no currículo escolar,
o papel de contemplar as aprendi- rativas fundamentais à formação de um su- “Cada prática corporal propicia tais como:
zagens necessárias para uma pro- jeito crítico e autônomo, que dialoga com a ao sujeito o acesso a uma dimen-
funda compreensão sobre toda a sua realidade e intervém nela. são de conhecimentos e de experi- 1. Qual a importância da sua existência no
produção em torno das manifesta- ências aos quais ele não teria de currículo das escolas no município de
ções da cultura corporal, visando Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, outro modo. A vivência da prática Camaçari?
alcançar uma participação mais a Educação Física integrada à proposta pe- é uma forma de gerar um tipo de
intensa e digna na esfera social.” dagógica dá oportunidade aos estudantes de conhecimento muito particular e 2. Como os eixos temáticos contemplados
(NEIRA E NUNES, 2009) ter contato com outras culturas e fazer aná- insubstituível e, para que ela seja no currículo de Educação Física garan-
lises, reflexões e intervenções na realidade, significativa, é preciso problema- tem o aprendizado e a formação de su-
Garantindo competências específicas ao dentro e fora do ambiente escolar. Por meio tizar, desnaturalizar e evidenciar a jeitos críticos, autônomos e atuantes na
tratar dos elementos presentes na cultura da vivência dos elementos da cultura corpo- multiplicidade de sentidos e signi- sociedade?
corporal, a Educação Física se estabelece ral e de experiências socioculturais e afetivas ficados que os grupos sociais con-
como componente curricular obrigatório da que vão favorecer: ferem às diferentes manifestações 3. Como garantir o acesso a diversos ele-
área de linguagens. O trabalho pedagógico, da cultura corporal de movimento. mentos da cultura corporal de forma
portanto, deve estar atrelado a princípios • aprendizados significativos, com desa- Logo, as práticas corporais são tex- funcional, significativa e sistematizada?
metodológicos que justifiquem suas inter- fios e descobertas e atividades corpo- tos culturais passíveis de leitura e
pretações e ações com base nas propostas rais individuais e coletivas; produção.” (BRASIL, 2018) 4. De que forma é possível tratar os obje-
político-pedagógicas e curriculares, manten- • reconhecimento de experiências moto- tos de conhecimento nas aulas de Edu-
do uma postura coerente com a garantia das ras coletivas e individuais que favore- Para melhor compreensão e ajustamento cação Física de forma progressiva, pos-
aprendizagens preestabelecidas, em confor- çam os vínculos, as aprendizagens e o dos conhecimentos tratados nas aulas de sibilitando aprendizagens significativas
midade com os documentos oficiais, a legis- prazer durante as aulas; Educação Física no município de Camaçari, aos estudantes de Camaçari?
lação educacional, as pretensões e os desejos • desenvolvimento da empatia e amplia- vale ressaltar a valorização das especifici-
de cada educador. ção de vínculos afetivos com outros dades inerentes às realidades e aos anseios 5. Como contemplar as diversidades pre-
estudantes, entendendo que todos têm locais. Não é pretensão deste documento sentes no contexto escolar nas aulas de
Cabe à Educação Física tematizar e tratar os mesmos direitos e deveres; delimitar ou restringir as ações pedagógicas Educação Física?
as práticas corporais com seus códigos e • compreensão de que os acordos e as dos professores nem “engessar” o currículo
significados sociais, dando ao movimento o normas estabelecidos coletivamente a ponto de inviabilizar o ajustamento dele às 6. Como realizar uma prática pedagógica
destaque de manifestações culturais criadas são códigos que devem ser garantidos e realidades apresentadas e ao projeto peda- que possibilite ao estudante compreen-
e vividas pela raça humana durante sua his- cumpridos por todos, pois são indicado- gógico de cada unidade escolar. A sua inten- der a relação entre o desenvolvimento
tória. Como componente curricular obrigató- res de valores e condutas socioculturais ção é contemplar as especificidades e diver- cognitivo e motor?
rio, deve possibilitar que os estudantes com- determinados de forma colaborativa; sidades do município, permitindo que cada
preendam o movimento de forma diversa, • apreciação da cultura local como ele- realidade seja representada de forma inten- 7. De que forma a avaliação em Educação
plural e contraditória na formação individual mento formador da identidade, por- cional, sistemática, refletida, lógica, funcio- Física pode ser um processo contínuo,
e coletiva dos sujeitos; como algo que se de- tanto rico em simbolismos e especifi- nal e afetiva. Para tanto, visa garantir que os em que as aprendizagens estão se de-
senvolve e se reestrutura, com a apropriação cidades importantes na formação do eixos temáticos, direitos de aprendizagem e senvolvendo, e não como processo fini-
e ressignificação dele pelos sujeitos envolvi- sujeito; objetos de conhecimento colaborem no de- to, que visa selecionar os mais fortes e
dos na ação. Um mesmo gesto pode ter signi- • percepção da coexistência estabelecida senvolvimento cognitivo, psicomotor, social, hábeis.
ficados e simbologias distintas, dependendo entre os elementos da cultura corporal ético, crítico e autônomo dos estudantes.
do local e da época em que se apresentam. e os outros componentes presentes no O grupo de professores de Camaçari enten-
currículo escolar. Pensando em garantir todos os aspectos ci- de, assim como a BNCC, que os elementos da
134 135
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
cultura corporal de movimento devem estar marcas de tempo, distância ou saltos e apoios, gestos presentes em e chegando às modalidades de outras
distribuídos no currículo, tratados como ei- peso. Exemplos: provas de atletis- várias expressões motoras humanas. localidades – como judô, aikido, jiu-jít-
xos temáticos a serem tematizados ao longo mo, ciclismo, natação e remo. Podem se apresentar de várias ma- su, muay thai, boxe, chinese boxing, es-
de todo o Ensino Fundamental, de acordo • Precisão O resultado depende do neiras e intenções, como competição, grima, kendo etc.
com a relevância social e dentro do contexto acerto ou da proximidade com a condicionamento e treinamento físico O eixo Práticas corporais de aventura
cultural dos estudantes do município. meta ou o alvo. Exemplos: tiro es- ou conscientização corporal. Para o co- não será abordado neste Referencial, pois
portivo, arco e flecha e curling. letivo que preparou este Referencial, a trata-se de atividades que, pelas caracterís-
Para melhor entendimento acerca dos ei- • Técnico-combinatório São anali- ginástica deverá ser abordada nas au- ticas de risco e alto grau de dificuldade são
xos temáticos indicados, seguem algumas sados a qualidade e os padrões téc- las de Educação Física nos anos iniciais mais apropriadas para os estudantes dos
explicações: nicos dos movimentos combinados do Ensino Fundamental como veículo anos finais do Ensino Fundamental.
e sincronizados, com ou sem músi- motor e expressão cultural dele, fa-
• BRINCADEIRAS E JOGOS Também co- ca, executados por um atleta ou um vorecendo a ampliação e reflexão dos A organização e disposição de cada eixo te-
nhecidos como jogos populares, são grupo. Exemplos: nado sincroniza- gestos, visando o desenvolvimento hu- mático tem como objetivo promover apren-
atividades corporais, coletivas ou não, do, ginástica artística ou rítmica, mano. Deve proporcionar aos estudan- dizagens significativas ao desenvolvimento
com características voluntárias e li- patinação e saltos ornamentais. tes experiências como o autoconheci- do estudante e atender às especificidades e
vres. Seu código de regras é instável e • Rede/quadra Esportes caracte- mento e o aprendizado compartilhado, diversidades apresentadas nas escolas e loca-
pode sofrer interferência ou mudanças rizados por arremessar, lançar ou com vistas à funcionalidade e ressigni- lidades da Rede Municipal de Camaçari, per-
de acordo com a apreciação e vontade rebater em determinados locais da ficação do gesto e não sua reprodução mitindo que cada realidade seja representada
de seus praticantes, podendo, portan- quadra. Exemplos com rede: vôlei, pura e limitada. no currículo de forma intencional, sistemáti-
to, atribuir novas características a de- tênis e badminton. Exemplos com • DANÇAS Integra o conjunto de práticas ca, refletida, lógica, funcional e afetiva.
pender da situação, da necessidade, do parede: raquetebol e squash. corporais tematizadas pela Educação
local e dos objetos usados. O jogo é um • Campo e taco A característica é Física, tendo como característica mo- Sendo assim, é preciso indicar não só as
eixo temático muito utilizado, pois per- rebater a bola lançada pelo adver- vimentos rítmicos, organizados em práticas corporais, como também a forma de
mite que o estudante interprete a sua sário o mais longe possível, para gestos e passos coreografados sempre organizá-las, distribuí-las, ajustá-las e tratá-
realidade de forma analítica e crítica, tentar percorrer o maior número cadenciados musicalmente. É um ele- -las progressiva e sistematicamente, favore-
pondere situações de conflito, discuta de vezes as bases ou a maior dis- mento cultural com forte presença na cendo aprendizagens significativas para os
com seus pares e proponha soluções tância possível entre elas – e assim vida de qualquer criança, pois está in- estudantes nos anos iniciais. A inclusão ou
que possam sanar situações conflitan- somar pontos – enquanto os defen- timamente ligado às diversas manifes- exclusão de eixos temáticos ou de objetos
tes, visando o bem do grupo. Ou seja: sores não recuperam o controle da tações e atividades culturais e infantis de conhecimento se dará com base nas refe-
fazendo uma intervenção social em bola. Exemplos: beisebol, críquete como brincadeiras, cantigas de roda, rências socioculturais e nas aprendizagens
menor escala. Baleado ou queimada, e softbol. roda de capoeira, jogos cantados, pular a serem consolidadas em cada ano ou ciclo.
esconde-esconde, cabra-cega, amare- • Invasão ou territorial Permitem corda e outras expressões lúdicas pre- Ao realizar o devido ajustamento das práti-
linha, pega-pega ou picula, dentre ou- invadir o campo ou a quadra adver- sentes no contexto popular. cas corporais aos encaminhamentos didáti-
tros jogos, pertencem à cultura popu- sária conduzindo uma bola ou ten- • LUTAS Uma das expressões mais an- co-pedagógicos, o professor transformará
lar brasileira e local. tando acertar determinado alvo ou tigas da humanidade, presente nas os elementos do cotidiano dos estudantes
• ESPORTES Atividades corporais coleti- setor específico, ao mesmo tempo disputas pela sobrevivência, defesa e em situações de aprendizagem concretas e
vas ou individuais com regras determi- que impede a outra equipe ou o ou- resistência, foram sistematizadas e de- funcionais. Com isso, proporcionará apren-
nadas por agentes reguladores (fede- tro atleta de realizar o mesmo fei- senvolvidas de diversas formas, filoso- dizagens que garantirão aos sujeitos fazer
rações, confederações ou associações). to. Exemplos: basquetebol, frisbee, fias e significados, por povos e culturas leituras, interpretações e intervenções, cola-
Essas organizações esportivas contro- futebol, futsal, futebol americano, distintas. Consiste em ações corporais borando na formação de um cidadão capaz
lam e determinam condutas, regras e handebol, hóquei sobre grama, que se configuram como ataque e de- de “enfrentar as exigências da vida social, o
torneios das respectivas modalidades polo aquático e rúgbi. fesa, em que os participantes utilizam exercício da cidadania e as lutas pela melho-
esportivas. Para facilitar a compreen- • Combate Disputas corporais utili- táticas e técnicas com o objetivo de ria das condições de vida, de trabalho e de
são desse eixo temático, ele foi dividi- zando objetos ou não, com técnicas subjugar ou excluir seu oponente de lazer”. (DARIDO, 2007)
do em sete categorias. As modalidades e táticas que auxiliam a subjugar o um determinado espaço. Nas aulas de
utilizadas como exemplos não são de- adversário. Exemplos: judô, boxe, Educação Física, é possível aprofun-
terminações ou sugestões, são apenas esgrima e tae kwon do. dar o debate sobre essas expressões
citações que visam facilitar a compre- • GINÁSTICA O termo vem do grego com base nas especificidades e gêne-
ensão do modelo de classificação. São gymnastiké, que significa a arte de for- se, iniciando pelas lutas presentes no
elas: tificar e dar agilidade. São atividades contexto regional e brasileiro – como
• Marca O resultado é indicado com baseadas em movimentos como giros, capoeira, luta marajoara e huka-huka –
136
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
1º E 2º ANOS 3º AO 5º ANO
138 139
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
EIXO ESPORTES
EDUCAÇÃO FÍSICA
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Esportes de marca.
•• Esportes de precisão.
140 141
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
3º AO 5º ANO 1º E 2º ANOS
Conhecer, experimentar e
•• Conhece, experimenta e ressignifica
ressignificar diversas modalidades Conhecer e experimentar diferentes
diversas modalidades de campo e •• Conhece e realiza diferentes
de campo e taco, rede e parede, gestos ginásticos, expressando-os
taco, rede e parede, e invasão? gestos ginásticos ao praticar
e invasão. ao realizar brincadeiras e jogos
motores pertencentes à cultura atividades corporais
•• Cumpre com as regras e normas popular e presentes no contexto e brincadeiras?
Reconhecer valores, marcas
estabelecidas em grupo? local, regional e brasileiro.
culturais e sociais presentes nos
•• Resolve os conflitos por meio do
diversos esportes de campo e taco,
diálogo, mantendo uma postura
rede e parede, e invasão.
positiva?
Desenvolver e ampliar o repertório
•• Realiza os gestos ginásticos com
Adaptar e ressignificar gestos, motor com base na vivência de
regras e materiais ajustando as •• Adapta gestos, regras e materiais, relativo domínio e conforto, de
movimentos como giros, apoios,
modalidades esportivas campo e buscando atender às necessidades acordo com as necessidades e os
saltos, cambalhotas, estrelinhas
LINGUAGENS
taco, rede e parede, e invasão às e demandas individuais e do grupo desafios indicados pela situação
e outros elementos acrobáticos
necessidades e demandas do grupo •• Valoriza o trabalho coletivo? vivida?
pertinentes a este eixo temático.
e da escola.
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
3º AO 5º ANO 1º E 2º ANOS
•• Reconhece semelhanças e
Adotar postura de proteção pessoal Perceber as variadas nuances de diferenças entre os diversos tipos
•• Pondera danos físicos e
e coletiva ao realizar movimentos ritmos e significados presentes nas de danças e músicas pertencentes
riscos antes de realizar alguns
ginásticos, garantindo sua danças regionais e estadual. à cultura corporal regional
movimentos ou atividades de
integridade física e a das outras e estadual?
maior grau de complexidade?
crianças envolvidas na atividade.
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Educação Física
3º AO 5º ANO 3º AO 5º ANO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
146 147
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
LÍNGUA ESTRANGEIRA
preciso ressignificar a práxis por meio de re- linguísticos e sistêmicos de ambos os idio- palhados no mundo inteiro, cuja realização
flexão crítica, elaboração de materiais, curso mas. Ao conhecer outras culturas, aparece a se dá em multimodalidades que requerem
e minicursos, diálogo com documentos ofi- oportunidade de desenvolver maior consci- múltiplos letramentos. Esse documento, por-
O presente documento foi elaborado com ciais e interação com colegas. Espera-se que ência e valorização de sua própria, diminuin- tanto, propõe o inglês como língua não per-
base na leitura de diversos documentos cur- essas orientações possam subsidiar o ensino do, portanto, as distâncias na compreensão tencente a território algum; trata-se de uma
riculares oficiais nacionais e de alguns muni- e que, por meio delas, outras alternativas e do outro, como preconizam os Parâmetros língua desterritorializada, em que é possível
cípios e nas discussões entre especialistas e formas sejam encontradas para um ensino Curriculares Nacionais de Língua Estrangei- enfatizar a diversidade intercultural. A inter-
educadores que atuam nos anos iniciais do de qualidade significativo, tanto para os alu- ra: “(...) ao entender o outro e sua alteridade culturalidade é vista aqui como uma capaci-
Ensino Fundamental de Camaçari. Para que nos quanto para os professores. pela aprendizagem de uma língua estrangei- dade de “desestabilizar a pretensa universa-
alcance o sucesso desejado no processo en- ra, ele aprende mais sobre si mesmo e sobre lidade dos conhecimentos, valores e práticas
sino-aprendizagem no componente de Lín- o mundo plural marcado por valores cultu- que configuram as ações educativas e pro-
gua Estrangeira, a proposta deve contar com POR QUE ENSINAR LÍNGUA rais diferentes e maneiras diversas de orga- mover o diálogo entre diversos conhecimen-
uma infraestrutura de recursos, tais como
ESTRANGEIRA NOS ANOS nização política e social”. tos e saberes” (CANDAU, 2012). Vale salien-
laboratórios de informática em rede, DVDs, tar, portanto, que por ser um componente
livros e outros materiais didáticos. INICIAIS DO ENSINO que pertence à área de linguagens, a Língua
FUNDAMENTAL CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM Estrangeira permite fazer articulações com
A Medida Provisória 746/2016 define outros componentes curriculares, principal-
que a Língua Inglesa deverá ser ensinada A criança traz consigo motivação, desejo e A dicotomia entre teoria e prática precisa mente a Língua Portuguesa, para desenvol-
a partir do 6º ano do Ensino Fundamental, expectativa quanto à aprendizagem de uma ser alinhada por meio de amplos debates e ver a consciência crítica das linguagens que
reconhecendo-a como a língua franca de co- nova língua. Essa atitude favorece o enga- discussões como forma de superar o grande ocorrem nas diversas esferas de circulação.
municação internacional e de práticas inter- jamento dos aprendizes no processo ensi- desafio que é a melhoria de qualidade de en- O reconhecimento e respeito às diferenças
culturais. Ela se torna, portanto, um ponto de no-aprendizagem, já que esse fator faz com sino de um outro idioma. promove uma educação linguística voltada
partida para reflexões sobre língua, poder e que eles sejam atuantes na busca do conhe- para as diversas visões de mundo e para di-
identidade, contribuindo para a conscienti- cimento. Além de permitir que o educando Nos últimos anos, muito se falou em relação ferentes linguagens (verbal, visual, corporal
zação intercultural por parte da sociedade tenha acesso a outras construções sintáticas ao ensino de uma outra língua, pois ele vem e audiovisual) e multiletramentos, criando,
contemporânea. e formas de interagir no mundo, o contato ocorrendo de forma fragmentada e descon- portanto, novas possibilidades de expressar
com outra língua possibilita o crescimento textualizada, com ênfase na sua estrutura. ideias, sentimentos e valores.
Um fator preponderante para alcançar a intelectual, cognitivo, cultural e afetivo. Ou- Surge, assim, a necessidade de uma formula-
melhoria de qualidade do ensino de Língua tro benefício é aproximar as crianças ainda ção de orientações curriculares que pautem No ensino de Língua Inglesa para crianças
Estrangeira é a formação continuada dos mais de sua língua materna: ao fazer com- o ensino de forma crítica, para que a língua é preciso, além de respeitar as especificida-
professores e das equipes pedagógicas. É parações, elas aprofundam conhecimentos seja usada em contextos sociais diversos, “no des de sua forma de aprender, oferecer uma
uso e para o uso”. progressão dentro de um ambiente lúdico.
A produção deve ser gradual e as práticas
Essas orientações didáticas visam a forma- discursivas devem estar voltadas para a sua
ção integral na prática e estão pautadas em realidade, já que o tempo de contato com a
aprendizagens significativas e não apenas no língua estrangeira influenciará a qualidade
sistema de regras que valorizem somente os de produção. Para tanto, é fundamental levar
aspectos estruturais da língua. em consideração alguns aspectos como: o so-
ciointeracionismo, a ludicidade, a aprendiza-
Embora exista a Base Nacional Comum gem significativa por meio do trabalho com
Curricular (BNCC) para nortear os currícu- os gêneros textuais e o letramento digital.
los, é fundamental que haja flexibilidade em
sua aplicação como forma de valorizar as es- O sociointeracionismo, com base nos estu-
pecificidades locais, com vistas a adequações dos de Vygostky (1987), afirma que o pro-
curriculares totalmente contextualizadas. As cesso de ensino-aprendizagem nas escolas
orientações irão nortear as práticas docen- se dá no desenvolvimento humano, por meio
tes, sem se esquecer de levar em considera- de uma interação entre o indivíduo e o meio
ção o conhecimento de mundo que cada alu- físico e social, em que o aprendiz irá viven-
no traz consigo. ciar ricamente seu cotidiano escolar. Nesse
contexto, o professor irá atuar como media-
A Língua Inglesa é utilizada por falantes es- dor/facilitador de oportunidades e aprendi-
148 149
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
zagens, visando a autonomia do aluno. a atividades que lhe são propostas, seja por EIXO ORALIDADE E ESCUTA
LÍNGUA ESTRANGEIRA
computadores e tablets, seja pelo uso de apli-
Cook (1997) afirma que a ludicidade está cativos diversos e redes sociais, possibilitan- 1º E 2º ANOS
presente tanto no universo infantil como no do a atuação de alunas e alunos no mundo das
adulto, em filmes, propagandas, piadas, li- Tecnologias Digitais da Informação e Comuni- APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
teratura e outras artes, além de jogos, brin- cação (TCIs), o que estimula a aprendizagem.
cadeiras etc. Segundo esse mesmo autor, o Em colaboração com o colega e com a
brincar com a linguagem pode estar presen- Dentro do princípio da aprendizagem signi- ajuda da professora ou do professor:
te tanto no nível formal (com sons para criar ficativa, os conteúdos devem ser abordados
padrões de ritmo e com estruturas gramati- por meio de poemas, brincadeiras de roda e •• Participa de situações de
cais para criar paralelismo e padrões) como produção de um cartão, por exemplo, para- intercâmbio oral?
no semântico (com unidades de significado, benizando pelo aniversário, e outros gêneros •• Participa de situações
comunicativas como a
de modo a criar mundos imaginários). Am- textuais. Dessa forma, novos conhecimentos
apresentação (pessoal, dos
bos são importantes nos processos de ensino vão sendo pautados nos já existentes. Já o da
colegas e da família)?
para crianças. Atividades como cantar e atu- interação permite ao aprendiz, no momen-
•• Adéqua a fala a diferentes
ar, fazer gestos e mímicas conforme a letra de to de ouvir uma história infantil em outro interlocutores em situações
música ou trecho de texto ou palavra fazem idioma, compreender a sua trama sem pre- comunicativas?
parte desse universo. Dessa forma, desenvol- cisar entender cada palavra isoladamente. O Participar, em colaboração com
os colegas e com a ajuda da •• Ouve com atenção?
ve-se o gosto pela língua dentro de um con- princípio da formação integral ocorre quan- •• Pede ajuda para adequar a fala a
professora, ou do professor, do
texto de ensino significativo. do a língua for vista como um processo que situações de intercâmbio oral?
intercâmbio oral da vida cotidiana
ocorre em atividades coletivas e culturais, e do cotidiano escolar. •• Expressa-se com clareza ao
Outro fator a ser destacado é a formação utilizando-se mapas e jogos em que a apren- responder comandos simples?
da própria identidade linguística e cultural dizagem ocorra de forma contínua e gradual, •• Preocupa-se em ser
LINGUAGENS
das crianças expostas ao ensino de LE desde relacionando-as ao desenvolvimento de ha- compreendido?
cedo, o que favorecerá o seu desenvolvimen- bilidades de compreensão auditiva e oralida- •• Respeita turno de fala?
to integral (afetivo, cognitivo e social). de nos anos iniciais do Ensino Fundamental •• Recita textos versificados como
e que envolvam escrita e leitura nos anos fi- parlendas, quadras, quadrinhas,
O letramento digital possibilita o engaja- nais. O princípio do currículo em espiral per- trava-línguas, canções e outros
mento discursivo dos alunos nos contextos mite que um mesmo conteúdo possa ser re- gêneros dos campos da vida
variados. A internet tem sido uma fonte ines- tomado em outros momentos, conforme for cotidiana e artístico-literário?
gotável de materiais e de textos de gêneros e necessário, com outro nível de profundidade, •• Usa entonação na recitação?
tipos diversos e autênticos. É necessário que valorizando a construção de conhecimentos
as crianças tenham conhecimentos relativos dentro de uma aprendizagem cíclica.
Planejar e produzir, em colaboração
com as e os colegas e com
•• Planeja e produz para passar
a ajuda da professora ou do
oralmente, por meios digitais,
professor, gêneros do campo da
recados, avisos, convites e
vida cotidiana, que possam ser
receitas, dentre outros gêneros do
repassados oralmente por meio de
campo da vida cotidiana?
ferramentas digitais, em áudio ou
vídeo.
OBJETOS DO CONHECIMENTO
150 151
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
3º ANO 4º ANO
LÍNGUA ESTRANGEIRA
As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º e 2º anos mais os que seguem, As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º, 2º e 3º anos mais os que seguem,
avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia. avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia.
Com autonomia:
•• Formula, ainda que com o apoio •• Faz uso da língua inglesa para falar de
Planejar, com certa autonomia,
das e dos colegas, questões sobre si e de outras pessoas?
discussão oral, do campo de vida
o tema tratado? •• Planeja e apresenta informações
cotidiana e escolar, e participar
•• Emite opinião sobre o tema pessoais e características relacionadas
dela.
tratado? Planejar, com autonomia, a gostos, preferências e rotinas?
discussão oral, do campo de vida •• Ouve com atenção?
cotidiana e escolar e participar •• Formula questões sobre o tema
dela. tratado?
•• Emite opinião sobre o tema tratado?
•• Pede ajuda para adequar a fala a
Com certa autonomia: situações comunicativas?
•• Recita textos versificados e •• Expressa-se com clareza?
Recitar, com certa autonomia,
•• Preocupa-se em ser compreendido?
diferentes gêneros da outros gêneros do campo da vida
cotidiana? •• Respeita turno de fala?
comunicação oral.
LINGUAGENS
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Planejamento, produção, escuta e compreensão de texto oral.
•• Usos da língua inglesa em situações da vida cotidiana e escolar, tais como:
apresentação e identificação pessoal; apresentação e identificação de colegas e da
•• Planejamento, produção, escuta e compreensão de texto oral.
família; e saudações, cumprimentos e despedidas.
•• Usos da língua inglesa em situações da vida cotidiana e escolar.
152 153
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
OBJETOS DO CONHECIMENTO
154
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
3º ANO 4º ANO
LÍNGUA ESTRANGEIRA
As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º e 2º anos mais os que seguem, As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º, 2º e 3º anos mais os que seguem,
avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia. avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia.
•• Planejamento de texto: brainstorming. •• Planejamento de texto: brainstorming e reconhecimento das palavras cognatas.
•• Condições didáticas de produção de texto. •• Condições didáticas de produção de texto.
•• Procedimentos escritores nos contextos de produção. •• Procedimentos escritores nos contextos de produção.
156 157
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º, 2º, 3º e 4º anos mais os que seguem, 1º E 2º ANOS
avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia.
APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
3º ANO 5º ANO
LÍNGUA ESTRANGEIRA
As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º e 2º anos mais os que seguem, As aprendizagens e os indicadores já citados no 1º, 2º, 3º e 4º anos mais os que seguem,
avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia. avançando do trabalho em colaboração para a conquista da autonomia.
Em dupla:
Ler com fluência e com o apoio da Ler com fluência textos diversos •• Lê utilizando pistas escritas dadas no
dupla, textos diversos nos diferentes •• Lê utilizando pistas escritas nos diferentes campos de texto e materiais disponíveis na sala?
campos de atuação (placas de (algumas letras, listas de atuação, utilizando pistas •• Lê utilizando pistas contextuais para
identificação, listas, manchetes de palavras disponíveis na sala linguísticas e contextuais para antecipar, inferir e validar o que está
jornal, legendas, tiras, rótulos etc.), etc.)? antecipar, inferir e validar o que escrito?
utilizando pistas linguísticas •• Lê utilizando pistas contextuais está escrito. •• Lê utilizando algumas estratégias
e contextuais para antecipar, inferir para antecipar, inferir e validar
Ler e compreender, como reconhecimento de cognatos,
e validar o que está escrito. o que está escrito?
silenciosamente, e, em layout, contextos, conhecimento
seguida, em voz alta, com certa prévio e marcas tipográficas.
autonomia e fluência, textos •• Comenta com as e os colegas e/ou
OBJETOS DO CONHECIMENTO curtos com nível de textualidade com a professora, ou o professor, os
adequado. textos lidos silenciosamente?
•• Leitura, compreensão e fluência leitora.
•• Usos da língua inglesa em situações da vida cotidiana e escolar (classroom
language). OBJETOS DO CONHECIMENTO
LINGUAGENS
OBJETOS DO CONHECIMENTO
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
3º ANO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Construção de repertório.
•• Pronúncia.
162 163
Capítulo 4 Áreas do conhecimento LINGUAGENS Língua Estrangeira
5º ANO 4º E 5º ANOS
LÍNGUA ESTRANGEIRA
OBJETOS DO CONHECIMENTO
EIXO DIMENSÃO INTERCULTURAL
•• A presença da língua inglesa no contexto social, familiar e escolar.
1º, 2º E 3º ANOS •• Narrativas e categorias da produção artística e cultural, por meio de sequências
didáticas e projetos interdisciplinares, principalmente com Arte, com vistas a
APRENDIZAGEM ESPERADA INDICADOR analisar a influência das culturas de países de língua inglesa.
OBJETOS DO CONHECIMENTO
164
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
4.2 que os matemáticos desenvolve- toda situação que leva o estudante a colocar variados caminhos – mesmo os não conven-
ram durante séculos, aquela na em jogo seus saberes e oferece algum tipo de cionais – para chegar à solução de um proble-
qual queremos introduzir as crian- dificuldade, impulsionando a busca de solu- ma. A diversidade das estratégias pode ser
ças [...], é a construção de um mun-
MATEMÁTICA
ções em que se produzem novos conhecimen- objeto de análise do grupo e ponto de partida
do matemático por um sujeito. É a tos, modificando (enriquecendo ou reformu- para a apropriação de procedimentos mais
atividade de um sujeito que não é lando) os anteriores. Entender a criança como econômicos utilizados por outras crianças
nem receptor de verdades eternas, produtora de conhecimentos requer prever ou para o estabelecimento de relações com
nem espectador de um mundo pi- situações que possibilitem que ela pense, en- outros procedimentos já trabalhados.
MARCOS DA ÁREA toresco, mas autor de seu saber.” saie, explore, represente, argumente, debata,
(BKOUCHE, 2010) coloque em jogo seus saberes e comunique “Os alunos constroem significado
“Não podemos abordar o tema do ideias com certa independência. baseando-se em suas experiências
ensino e da aprendizagem de Ma- A importância da resolução de problemas e conhecimentos prévios, e refle-
temática sem nos perguntarmos, na área da Matemática é indiscutível. Mas o Em síntese, para que uma situação se cons- tindo sobre sua interação com os
ao mesmo tempo, o que é, em que que se entende por ensinar usando essa es- titua numa situação-problema, é necessário objetos e as ideias. Portanto, nesta
consiste e para que serve fazer Ma- tratégia? Há quem considere que a ativida- reunir três características: etapa é fundamental que partici-
temática!” (CHEVALLARD, BOSCH de com problema é usada para aplicar algo pem em um processo de aprendiza-
& GASCÓN, 2001) mostrado ou ensinado previamente. Outros • ter sentido no campo do conhecimento gem ativo, onde tenham oportuni-
acreditam que os problemas podem ser mo- da criança para que ela possa imaginar dades de interatuar com materiais
Os conhecimentos matemáticos foram gera- tivadores para iniciar um tema. E há os que uma estratégia para resolvê-lo, ainda e instrumentos e de conversar com
dos e se transformaram ao longo da história, propõem a resolução coletiva de um proble- que não seja a correta nem a mais eco- os demais.” (REINO UNIDO, 2009)
em grande parte, como respostas a problemas ma/exemplo no quadro para que, em segui- nômica;
em diferentes contextos sociais e culturais. da, cada criança trabalhe individualmente. • envolver um desafio, pois a estratégia Em toda situação de ensino, a mediação e in-
conhecida não deve ser suficiente nem tervenção do professor são essenciais. Cabe a
A Matemática é uma construção humana. A resolução de um problema matemático eficiente para resolvê-lo, proporcionan- ele criar espaços de participação dos estudan-
Ao perceber os fenômenos ao seu redor, as envolve investigação, busca, experimentação, do a oportunidade de elaboração de tes em que eles vão explicitar, justificar e vali-
pessoas formulam perguntas, investigam respostas, demonstrações e novas perguntas uma nova estratégia e a construção de dar suas produções, oferecendo a oportunida-
e elaboram teorias. Esse corpo de conheci- até a formalização de um conhecimento. Esse um novo conhecimento; e de para que elaborem, aprofundem, avancem,
mentos, construído ao longo dos anos pela percurso entre um problema e sua formali- • ser suficientemente aberto para que sur- aprendam e teçam uma rede de relações que
sociedade, permite interpretar a realidade zação não é linear nem espontâneo e, em al- jam diferentes estratégias de resolução dá sentido aos saberes envolvidos. Durante o
sob um ponto de vista particular. As crian- guns casos, levou milhares de anos. Essa for- que possam ser confrontadas, de modo trabalho autônomo dos estudantes, o profes-
ças, desde muito cedo, participam de diver- ma de trabalhar em Matemática deveria ser a extrair conclusões com base nelas. sor incentiva as crianças a buscar caminhos
sas situações que envolvem conhecimentos também a que caracteriza a atividade na sala de solução, a utilizar os conhecimentos que
matemáticos, como quando acompanham de aula desde o início da escolaridade. Embora seja importante propor problemas possuem, dizendo que podem usar represen-
os adultos às compras, observam a marca- vinculados à vida cotidiana, um desse tipo só tações não convencionais.
ção do tempo e o uso de calendários, com- PROBLEMA MATEMÁTICO será bom se cumprir com esses requisitos.
param sua altura com a de outras crianças, Por outro lado, eles podem ser cumpridos A interação entre os alunos é um elemento
observam e experimentam as propriedades Uma atividade constitui um problema em situações não ligadas à vida cotidiana. central nesse processo, pois a argumentação,
e as formas dos objetos. As crianças, quando matemático para um aluno na medida Por exemplo, quando pedimos que as crian- defesa, justificação, formulação e demons-
apresentadas aos objetos matemáticos, pro- em que envolve um enigma, um desafio ças pensem sobre o que acontece quando se tração só têm sentido em um contexto de
curam compreendê-los, formulam pergun- a seus conhecimentos matemáticos. Para adiciona 10 a um número qualquer. Esse tipo trabalho coletivo.
tas e constroem e reconstroem conhecimen- resolvê-lo, precisa elaborar um certo de questão permite que as crianças elaborem
tos. Reconhecer a existência dos saberes das procedimento e colocar em jogo as noções conclusões gerais. Elas podem ser propostas
crianças acerca dos conteúdos matemáticos que tem disponível, modificando-as e após a resolução de situações mais contextu- O PAPEL DAS EXPLICAÇÕES NAS
e considerá-los na proposta pedagógica é um estabelecendo novas relações. alizadas. Nessas condições, têm sentido para
AULAS DE MATEMÁTICA
passo importante para a construção dos sen- as crianças e se constituem pontos de partida
tidos dos conhecimentos dessa área. para a construção de novos conhecimentos
Um problema é uma situação que admite mesmo sem ter relação com a vida cotidiana. “Que as crianças expliquem! Que
diversas maneiras de resolução, o que impli- argumentem! Que possam rela-
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ca ter o estudante tomando decisões e agindo Para promover esse tipo de trabalho ma- cionar as razões que validam seus
como produtor de conhecimento, não apenas temático na escola, é essencial planejar si- procedimentos, seus resultados,
“A atividade matemática, aquela executor de instruções. Assim, um problema é tuações em que os estudantes desenvolvam suas hipóteses. Que se encontrem
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
com os fundamentos do traba- O JOGO COMO RECURSO teúdo), contribuir com o desenvolvimento “Não se trata apenas de ensinar os
lho que realizam. Que averiguem rudimentos de uma técnica, nem
DIDÁTICO de um conceito já introduzido (jogar durante
a lógica interna das situações às o trabalho com o conteúdo) ou mesmo para mesmo os fundamentos de uma
quais são convocadas. Que toquem verificar uma aprendizagem (jogar ao final cultura científica; as matemáticas
a raiz. Que se sintam com capaci- O jogo é um dos recursos fundamentais do trabalho). neste nível são o primeiro domínio
dade – com liberdade, com auto- para o ensino da Matemática. Tem a vanta- no qual as crianças podem apren-
ridade – para intervir sobre o co- gem de interessar as crianças e de possibili- der os rudimentos da gestão indi-
nhecimento. Que produzam ideias tar a construção de conhecimento dentro de A ANÁLISE DE ERROS PROMOVE vidual e social da verdade. Apren-
usando ideias.” (SADOVSKY, 2007) dem nele – ou deveriam aprender
uma situação coletiva. Além disso, os jogos
AVANÇO DOS CONHECIMENTOS
permitem considerar a diversidade cognitiva nele – não apenas os fundamentos
Um aspecto central para o trabalho mate- da turma – crianças com diferentes saberes de sua atividade cognitiva, como
mático proposto neste documento curricular podem jogar juntas e utilizar suas próprias Os erros são parte do processo de constru- também as regras sociais do deba-
é a organização das interações dos estudan- estratégias. ção de um conhecimento e alguns se baseiam te e da tomada de decisões perti-
tes entre si e com o professor. Guy Brousseau em hipóteses das crianças, que têm sua pró- nentes: como convencer respeitan-
(1986) afirma que “não basta que os estu- Segundo Macedo, Petty e Passos (2005), pria lógica. Compreendê-la e colaborar para do o interlocutor; como deixar-se
dantes resolvam problemas, devem apren- um jogo bem escolhido apresenta, ao mesmo sua superação requer um trabalho sistemá- convencer contra seu desejo ou seu
der também a propor perguntas, a construir tempo, novos desafios e repetição, uma vez tico e coletivo. Interpretar erros cometidos interesse; como renunciar à auto-
e utilizar uma linguagem, a formular racio- que os materiais e as regras são sempre as por outras crianças é rico tanto para os estu- ridade, à sedução, à retórica, à for-
cínios, a provar suas conclusões, a distinguir mesmas. Ao jogar e voltar a jogar, a criança dantes que cometeram erros parecidos como ma, para compartilhar o que será
em que situações um conhecimento é útil e reflete sobre os conteúdos envolvidos e ela- para os que não erraram, mas os identifica- uma verdade comum; do que de-
em quais não, devem aprender, enfim, as re- bora estratégias para jogar cada vez melhor. ram rapidamente, porque precisam justificar pende o uso que os outros fazem de
gras sociais do debate e da tomada de deci- Aprender envolve um complexo e intenso e explicitar as razões de estar errado. seus conhecimentos e da maneira
sões pertinentes”. trabalho de reconceitualizações sucessivas. em que tratam estes problemas de
Essas “idas e vindas” sobre uma mesma situ- verdade... Sou dos que pensam que
Para aprender Matemática, é preciso refle- ação são especialmente favoráveis para que DIREITOS DE APRENDIZAGEM a educação matemática é necessá-
tir sobre as estratégias de resolução, compa- as crianças aprimorem e aprofundem os co- ria para a cultura de uma socieda-
rá-las com outras – como as utilizadas pelos nhecimentos. Dizer que as crianças são sujeitos de direi- de que quer ser uma democracia.”
colegas –, explicar como pensou e argumen- to em suas especificidades, com identidade (BROUSSEAU, 1991)
tar. O confronto de estratégias supõe um pla- Os diferentes tipos de jogos são um cami- pessoal e histórica, não é uma novidade. Em
no reflexivo sobre a resolução e dá lugar a nho para a criança explorar diferentes con- 1959, a Declaração Universal dos Direitos da Incluir a cultura matemática no trabalho
novos problemas. Porém, é preciso ter cons- teúdos matemáticos, como contar oralmen- Criança já orientava os países do mundo in- escolar envolve uma decisão política e ide-
ciência de que as explicações não surgem de te, comparar quantidades, anotar e somar teiro a respeitar as necessidades básicas das ológica. É responsabilidade das instituições
maneira espontânea. Elas emergem à medi- pontos, pensar na relação entre as formas crianças. No Brasil, desde 1990, o Estatuto da educativas gerar meios para transformar os
da que se adota uma posição reflexiva sobre das peças de um quebra-cabeça etc. Nos jo- Criança e do Adolescente (ECA) define que a conhecimentos matemáticos em um bem
o próprio trabalho. gos que favorecem a realização de cálculos, família e o Estado têm obrigação de garantir social, disponível para todos, especialmente
por exemplo, jogar várias vezes possibilita direitos básicos de crianças e adolescentes. para quem só pode ascender a eles por meio
Para tanto, cabe ao professor estimular a memorização de resultados e a utilização da escola pública.
os estudantes a explicar como pensaram e deles nas partidas seguintes. Nesse sentido, Se a função primordial da escola é sociali-
a organizar situações que permitam que as é importante que o professor proponha mo- zar um recorte do conhecimento que a hu-
crianças reflitam e produzam explicações. mentos de reflexão sobre o jogo e as ativida- manidade construiu, é preciso oferecer aos EIXOS ESTRUTURANTES
des nas quais as crianças utilizam os conhe- estudantes a oportunidade de apropriar-se
As discussões coletivas, organizadas pelo cimentos aprendidos. desse conhecimento. Essa abordagem pres- A proposta curricular foi organizada em ei-
professor, funcionam como momento de re- supõe a criação de um espaço de produção xos estruturantes da Matemática de acordo
flexão sobre o trabalho realizado, como um Existem jogos diferentes que podem ser de conhecimentos; um processo coletivo de com as Unidades Temáticas, propostas pela
elemento de descentralização do próprio utilizados na escola com diversos propósi- investigação e reflexão sobre o que se fez e BNCC (2017):
pensamento. Para sistematizar o que foi dis- tos: introduzir um tema, compreender me- de produção de explicações, que permita aos
cutido, o melhor caminho é registrar proce- lhor alguns conceitos, consolidar os já ad- estudantes confiar em suas possibilidades • Números
dimentos, questionamentos e conclusões do quiridos, ganhar agilidade de estratégias ou para resolver problemas e construir conhe- • Geometria
grupo e deixar esses registros afixados em automatizar resultados. Há jogos mais apro- cimentos matemáticos. Essa abordagem con- • Álgebra
cartazes na sala, para que possam ser reutili- priados ou específicos para introduzir um tribui para converter as aulas de Matemática • Probabilidade e Estatística
zados na resolução de novos problemas. conceito (jogar antes da introdução do con- em um espaço para a prática democrática. • Grandezas e Medidas
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
Esses eixos evidenciam algumas relações esse eixo pode ser vinculado aos de Geome- samento. A ideia de número é universal, já os dade é suficiente para...?”
entre os diferentes conteúdos e também tria e Números. sistemas utilizados para representá-los não. • Antecipar resultados ao agregar, jun-
abrem a possibilidade de realizar integra- Essa ideia é diferente da noção de sistema de tar, deslocar, tirar, avançar, retroceder,
ções e estabelecer articulações entre eles ao O eixo Grandezas e Medidas tem forte re- numeração (oral ou escrito) como constru- combinar, repartir certas quantidades.
desenhar as propostas didáticas. Os conte- lação com o eixo Números e é um ótimo con- ção social. A noção de número não antecede Os números cumprem diferentes funções.
údos matemáticos propostos foram selecio- texto para introduzir os números racionais. a aquisição do sistema de numeração, nem Podem ser usados como memória de quanti-
nados com base na sua significatividade e Medir é perguntar quantas vezes uma unida- vice-versa. Essas noções são adquiridas si- dade, para comparar quantidades, para me-
relevância social, com a intencionalidade de de está contida em outra da mesma grande- multaneamente e o conhecimento de uma co- morizar posições, para expressar medidas,
promover avanços nas conceitualizações das za. Ou seja, o processo de medir consiste em labora para a aquisição da outra. Isso significa para calcular e como código.
crianças e, consequentemente, no seu apren- comparar uma quantidade dada de compri- que, desde o 1º ano, as crianças precisam ter
dizado e formação integral. mento, massa, capacidade ou volume com o diversas oportunidades para contar, ordenar, Para ter uma experiência rica na área de
comprimento, massa, capacidade ou volume comparar, antecipar resultados de transfor- Matemática, as crianças terão de utilizar as
O eixo Números visa promover a constru- de outro objeto que se considere como uni- mações de quantidades e também para par- escritas numéricas em situações nas quais
ção do sentido numérico e das operações. dade. O número obtido nesse processo é a ticipar de situações em que seja necessário precisam mobilizar o que já sabem para re-
Este documento propõe o uso dos números medida, que se expressa com números na- comunicar, nomear, ler ou escrever números. solvê-las, como anotar e ler números que
em contextos em que cumprem diferentes turais e também com racionais (expressões ainda não conhecem, usando como base as
funções. Em alguns casos, servem para in- decimais e fracionárias). As crianças constroem conhecimentos so- regularidades que observam na série oral
dicar quantidades; em outros, medidas; em bre os números e sua representação mesmo ou escrita, mesmo que não consigam fazê-lo
outros ainda, ordem ou códigos. Além disso, O eixo Probabilidade e Estatística estuda a antes de entrar na escola, assim não se pode convencionalmente.
enfatiza que os estudantes tenham a oportu- incerteza e o tratamento de dados, articulado ignorar esses conhecimentos na escola. As
nidade de resolver problemas que envolvam com conteúdos dos eixos Números e Grande- crianças devem explorar situações em que os O estabelecimento dessas regularidades é
diferentes significados das operações, mes- zas e Medidas. Esse eixo permite que os estu- números apareçam de maneira completa, sem uma condição necessária para que as crianças
mo antes de dominar técnicas convencionais, dantes possam interpretar, selecionar e orga- fragmentação, criando um ambiente propício comecem a refletir sobre elas, a perguntar-se
para que possam estabelecer relações entre nizar a informação apresentada em diferentes para descobrir regras e regularidades das es- as razões dessas regras e, assim, chegar a ex-
os números envolvidos em um cálculo, entre portadores, como enunciados, tabelas e gráfi- critas e do sistema de numeração utilizado. trair aquilo que a numeração escrita – menos
as diferentes operações e reconheçam que cos, ao mesmo tempo que elaboram procedi- O ensino fragmentado dificulta o trabalho de transparente que a falada, por ser posicional
tipos de problemas uma mesma operação mentos de resolução, analisam e classificam apropriação, pois reduz o objeto de estudo a – não mostra. Exemplo: 86 é diferente de 68,
permite resolver. dados, antecipam resultados e descrevam, ex- uma pequena parte do sistema de numeração são números de famílias diferentes, são lidos
pliquem e prevejam fenômenos. e impede que os alunos observem as regulari- de maneira diferente, porém os dois têm um 6
O eixo Geometria envolve o estudo de no- dades do sistema. e um 8. O que indica o 6 no 68? E no 86?
ções espaciais e de figuras planas e tridimen- Em sala de aula, o trabalho com os diferen-
sionais. Considerar o espaço como objeto de tes eixos estruturantes acontece por meio de Ao longo do Ensino Fundamental, o profes- “Por que partir da interação das
estudo implica abordar tanto o espaço físico sequências didáticas que correlacionam e sor vai propor situações para que as crianças crianças com as escritas numéricas?
como o geométrico. O espaço físico é o que integram diferentes objetos de conhecimen- possam: Porque a numeração escrita é um
se percebe com os sentidos. Já o geométrico, to. Exemplos: problemas aritméticos apoia- objeto social com o qual eles estão
constituído por conjuntos de pontos, figuras dos no contexto de medida, identificação de • Contar coleções cada vez maiores, por em contato antes e fora da escola e
e propriedades que conhecemos por meio de regularidades e padrões em sequência de meio de diferentes estratégias, co- acerca do qual elaboram desde cedo
representações, é uma modelização do espa- figuras geométricas e problemas aditivos e meçando do 1 ou de outros números, conceitualizações próprias – tal co-
ço físico e ajuda a compreendê-lo. multiplicativos sobre a base de tabelas e grá- contando de 1 em 1, de 10 em 10, de mo mostrou diversas investigações
ficos integrando tratamento da informação. 100 em 100, de 2 em 2 e de 5 em 5, em […] Considerar o que as crianças já
O eixo Álgebra tem como finalidade o de- Por essa razão, organizamos os quadros de diferentes disposições (objetos soltos sabem acerca do objeto de conheci-
senvolvimento do pensamento que é enten- objetos de conhecimento e expectativas de ou organizados em forma retangular, mento, desenhar situações didáti-
dido, principalmente, como a identificação aprendizagem interligando alguns eixos. objetos que possam ser deslocados, ou cas que lhes permitam colocar em
de padrões e descrição de regras generali- fixos, como em desenhos). jogo suas conceitualizações e lhes
záveis. A ideia não é aumentar a quantidade • Comparar e ordenar números em dife- ofereça desafios que os convidem a
de conteúdos que os estudantes precisam ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS rentes contextos como “qual vem ime- produzir novos conhecimentos são
condições essenciais para um pro-
aprender, mas abordar a possibilidade de
NÚMEROS diatamente antes de/qual vem imedia-
generalizar, trabalhar com incógnitas e va- tamente depois de...”; “qual está mais jeto didático que aspira articular
riáveis e utilizar uma linguagem própria – a longe do ponto de partida?” os conhecimentos infantis com os
algébrica – para representar relações geo- A noção de número é um conceito abstrato • Comparar quantidades – “Onde tem saberes culturalmente produzidos.”
métricas e entre quantidades. Nesse sentido, que surge de relações lógicas internas do pen- mais?”, “Quem ganhou?”, “Essa quanti- (LERNER, 2005)
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
Identificar o algarismo localizado na posi- necessário para resolver problemas. 1995). A construção e a compreensão de um raciocínio de transformação é caracteriza-
ção das dezenas e o que está na posição das campo conceitual é um processo complexo, do por uma situação dada por um Estado
unidades não é algo complexo. No entanto, É importante esclarecer que, quando se que se estende durante um longo período, por Inicial (Ei), geralmente correspondente a
entender os princípios de agrupamentos re- fala de cálculo mental, trata-se de cálculo meio de aproximações sucessivas ao conceito. números que indicam medidas (quantida-
gulares e a noção de posicionalidade não é pensado, que também pode ser escrito, já Para que as crianças se aproximem da cons- des, grandezas ou valores), que sofrem uma
possível apenas apontando cada um dos al- que, às vezes, as crianças necessitam fazer trução do conceito de adição, é essencial que transformação (T), a qual produz mudanças
garismos. Por exemplo, ao perguntar quan- decomposições ou cálculos intermediários experimentem diversas estratégias de cálculo, em relação ao Estado Inicial, levando a um
tas dezenas e unidades compõem o número para chegar ao resultado desejado. A refle- reconheçam o campo de problemas que uma Estado Final (Ef).
12.068, pode-se obter diferentes respostas, xão sobre as relações estabelecidas entre os operação pode resolver e reflitam sobre elas.
todas corretas. 1.200 dezenas e 68 unidades, números envolvidos é o que torna realmen-
1.206 dezenas e 8 unidades ou 1.000 deze- te interessante a inclusão do cálculo mental A distinção entre as diversas classes de
nas e 2.068 unidades. nos primeiros anos da escolaridade. Nesse problemas está baseada, por um lado, em cri-
contexto, o uso da calculadora tem um pa- térios matemáticos e, por outro, em critérios
Outro aspecto a analisar é a forma de “es- pel importante, embora não imprescindível, psicológicos. Ao mesmo tempo que se apoia
crever por extenso”, isto é, escrever o nome porque permite o ensaio e o erro, bem como nos conceitos matemáticos envolvidos e nas
do número com palavras. Vale perguntar: pensar sobre certos processos que, de outra relações que guardam entre si, essa distin- Exemplos Transformação Transformação
qual é o sentido dessas escritas nos primei- maneira, seriam muito mais difíceis. A calcu- ção considera a complexidade que represen- positiva negativa
ros anos? Em que colaboram para o conheci- ladora permite que as crianças operem com tam, para as crianças, diferentes problemas
mento do sistema de numeração? Um intenso os números e busquem relações entre eles de relativos a um mesmo conceito matemático.
trabalho oral é muito mais rico e necessário. maneira simples, e até comprovem que nem Exemplo: embora as três propostas a seguir João tinha
DE TRANSFORMAÇÃO
pode ser objeto de estudo tanto como ferra- tem Ana? Ganhou algumas gude. Perdeu
menta para a resolução de problemas como
BUSCA DO VALOR
de seu tio e ficou algumas e
em si mesmo. É importante, então, propor Para pensar sobre a complexidade envol- Os problemas de adição e subtração envol- com 27. Quantas sobraram
atividades que permitam que os estudantes vida na aprendizagem das operações e na vem relações e significados muito diferentes, bolinhas de gude 5. Quantas
avancem em diversas estratégias de cálculo interpretação de problemas, os aportes de como agregar, avançar, juntar, reunir, unir ti- João ganhou de bolinhas de gude
e compreendam e memorizem um reper- Vergnaud (1991) são extremamente rele- rar, perder retroceder, buscar o complemen- seu tio? João perdeu?
tório de resultados de adições, subtrações, vantes. O autor propõe estudar as aprendiza- to e comparar.
multiplicações e divisões que serão reutili- gens matemáticas com base na perspectiva
zados em outros cálculos (incluindo sua ex- de campos conceituais, distinguindo o cam- João tinha
plicitação e sistematização). O uso do quadro po conceitual dos problemas aditivos (cons-
CAMPO ADITIVO
João ganhou algumas
numérico, entre outros recursos, favorece a tituído pelos diferentes problemas que se 12 bolinhas de bolinhas de
reflexão sobre as sequências numéricas, as resolvem mediante adições ou subtrações) gude de seu tio gude. Perdeu
BUSCA DO ESTADO
adições e subtrações, como acrescentar ou do dos multiplicativos (que se resolvem por 1) Transformação de uma medida inicial e ficou com 27 7 e ficou com
subtrair 10 dele. multiplicações ou divisões). em medida final bolinhas. Quantas 17. Quantas
bolinhas ele tinha bolinhas de
Um trabalho apoiado na observação e análi- Um campo conceitual é “um conjunto de si- Vergnaud defende que o significado de inicialmente? gude ele tinha
INICIAL
se das relações da Tabela Pitagórica possibilita tuações-problema cujo tratamento envolve transformação envolve uma ação ocorrida inicialmente?
que os estudantes construam, paulatinamen- conceitos, procedimentos e representações a partir da situação, de forma direta ou in-
te, o sentido de um repertório multiplicativo, simbólicas em estreita conexão” (Vergnaud, direta, causando aumento ou diminuição. O
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
2) Composição de transformações 3) Composição de duas medidas numa 4) Comparação entre duas medidas CAMPO MULTIPLICATIVO
terceira
A composição de transformações acontece No raciocínio de comparação, os valores Para Vergnaud, os problemas de multipli-
quando há transformações sucessivas no es- O significado de composição, para Vergnaud, não se transformam, apenas se estabelece a cação e divisão envolvem sentidos vincula-
tado inicial, podendo ser ambas positivas ou aparece em problemas que juntam dois esta- ideia de uma comparação entre dois estados. dos à proporcionalidade, às organizações
negativas, ou uma de cada tipo, em qualquer dos para obter um terceiro. Tratam de situa- O autor resume o significado de comparação retangulares e às combinações.
ordem. ções em que basta “juntar”, ou “tirar”, sem que em três proposições envolvendo as opera-
haja nenhuma transformação no ambiente. O ções de adição ou subtração: 1) Proporcionalidade
autor considera três estados: Estado Inicial
Transformação Transformação (Ei), Estado Intermediário (I) e o Estado Final • O valor de referência é conhecido e bus- a) Tenho três pacotes de iogurte. Em cada
EXEMPLOS
positiva negativa (Ef). Dados dois deles, obtém-se o terceiro. ca-se o referido a partir da relação dada. pacote há 4 iogurtes. Quantos iogurtes
• Busca-se o valor de referência a partir tenho?
do referido pela relação dada.
• O valor de referência é conhecido, assim
Hoje pela como o referido e busca-se a relação.
Hoje pela manhã ganhei Segundo Vergnaud, para a criança, é difícil
manhã ganhei 16 figurinhas e discernir o valor de referência do referido, as
15 figurinhas e à tarde dei 7 ao relações existentes entre dois grupos e todas
TRANSFORMAÇÃO
tarde ganhei 12. meu primo. A Numa caixa há 7 chocolates alguns selos tem 27 25 selos
A quantidade quantidade de amargos e 8 chocolates e Maria tem selos e e Márcia c) Paguei R$ 12,00 por 3 garrafas de suco.
de figurinhas figurinhas que eu brancos. Quantos chocolates 32. Se Maria Laura tem tem 7 selos Qual é o preço de uma garrafa?
NEGATIVA
tinha aumentou
TRANSFORMAÇÃO
que eu tinha há nessa caixa? tem 7 selos 15 selos. a mais do
aumentou ou diminuiu? a mais do Quantos que Laura.
ou diminuiu? Quanto? que Marcos, selos Quantos
Quanto? quantos selos Marcos selos tem
POSITIVA
tem Marcos? tem a mais Márcia?
do que
Laura?
João tem João tem João tem d) Pedro tem R$ 12,00 e quer comprar
alguns selos 27 selos e 26 selos e pacotes de bala a R$ 4,00 cada um.
e Laura tem Laura tem Laura tem Quantos pacotes ele poderá comprar?
BUSCA DE UMA DAS
(VERGNAUD, 2009)
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
2) Organizações retangulares • O conjunto numérico envolvido – natu- cíficas voltadas para a análise dos conteúdos dir que saberes usar e testar a solução en-
rais, racionais (decimais ou fracioná- do enunciado a fim de ajudar os estudantes a contrada.
a) Três rapazes e quatro moças querem rios), negativos. entender o que o problema propõe antes de
dançar. Cada rapaz quer dançar com • O “tipo” de número envolvido – “redon- começar a resolvê-lo. Não se trata de explicar Inicialmente, os problemas podem ser cen-
cada moça e cada moça, com cada rapaz. do” ou não, próximos um do outro ou detalhadamente nem dar pistas de como re- trados na comunicação oral e na representa-
Quantos seriam os casais possíveis? não, familiares ou não. solver. A ideia é que todos possam entender ção gráfica das relações espaciais. Com isso, as
(VERGNAUD, 2009) • A grandeza dos números. do que se trata. Além disso, é importante ana- crianças avançam nas suas possibilidades de
• O contexto: figurinhas, população, mo- lisar quais recursos servem para resolver de- comunicar e interpretar oralmente posições e
eda vigente, medidas, área etc. terminado problema. deslocamentos de objetos e podem usar pro-
• A forma como as informações são gressivamente o vocabulário específico tanto
apresentadas: se o enunciado é es- para comunicar posições e relações entre ob-
crito e se segue ou não a ordem jetos quanto para interpretar percursos.
temporária dos fatos. Por exemplo: GEOMETRIA
- Ana comprou uma caixa com
x metros quadrados = 3 metros x 4 metros vários doces. Deu 8 de presen- Como foi dito, o trabalho central nas aulas CONHECIMENTOS GEOMÉTRICOS
te para Camila e ficou com 10 do- de matemática é “resolver problemas”, para
ces. Quantos doces tinha a caixa? que o estudante possa colocar em jogo os O ensino da geometria nos anos iniciais do
- Calcule quantos doces Ana tinha se conhecimentos que possui, questioná-los e Ensino Fundamental tem dois grandes obje-
deu 8 para a Camila e ainda sobraram modificá-los, gerando novos conhecimentos. tivos: o estudo das características e proprie-
10. A geometria tem forte relação com os outros dades das figuras geométricas e o desenvol-
para os números • A apresentação das informações é em eixos da disciplina e a resolução de proble- vimento de um modo de pensar próprio do
x=3x4 um esquema ou diagrama, tabela ou mas se torna um rico instrumento, já que re- saber geométrico, que envolve a antecipação
gráfico. quer a integração de saberes e conhecimen- e a construção de relações desconhecidas
• As informações estão incluídas entre tos desses vários eixos. entre os objetos, baseando-se nas proprieda-
para as dimensões muitas outras ou se os dados forneci- des estudadas.
metros quadrados = dos não são suficientes para resolver o
metros x metros problema. CONHECIMENTOS ESPACIAIS O estudo das características das figuras
Para que as crianças possam construir o geométricas envolve muito mais do que re-
sentido da multiplicação e da divisão, é im- No dia a dia, as crianças utilizam expres- conhecê-las perceptivamente e saber seus
portante que, desde o 1º ano, enfrentem di- sões como na frente de, debaixo de, atrás de, nomes. Envolve enfrentar verdadeiros pro-
3) Combinações versas situações que envolvam noções des- em cima de, que permitem localizar pessoas, blemas que permitam o uso de conhecimen-
sas operações. objetos e lugares. Em função de sua crescen- tos prévios, sua evolução e a busca de uma
a) Uma sala retangular tem 4 metros de te autonomia, as crianças se movem fazendo solução que não está evidente.
comprimento e 3 metros de largura. diferentes percursos e, assim, vão ampliando
Qual é sua área? (VERGNAUD, 2009) INTERPRETAÇÃO DO ENUNCIADO seu marco referencial para localizar objetos, Os problemas de geometria consideram si-
outras pessoas e a si mesmo. Na escola, é im- tuações que têm as seguintes características:
M Muitos professores apontam que a interpre- portante propor atividades para que os alu-
tação dos enunciados é a principal dificuldade nos ampliem os conhecimentos construídos • Ter de usar as propriedades dos obje-
f g h i na área de Matemática. De fato, não é raro que nos contextos extraescolares, reflitam e de- tos geométricos para resolvê-los.
os estudantes utilizem os dados apresentados batam sobre eles, localizando o que é de seu • Colocar o estudante em interação com
a (a, f) (a, g) (a, h) (a, i) de maneira equivocada. Esses erros nem sem- interesse e necessidade usando distintos re- objetos que pertencem a um espaço
pre são fruto de falta de atenção na leitura. ferenciais e relações espaciais, interpretando, conceitualizado, não físico, representa-
R b (b, f) (b, g) (b, h) (b, i) Eles podem indicar que os estudantes sabem descrevendo e organizando percursos reali- do pela figura dos objetos.
que problemas matemáticos são resolvidos zados ou não, de forma oral, escrita ou gráfica. • Ao ver os desenhos, ter de usar mais
c (c, f) (c, g) (c, h) (c, i) com os números que aparecem no enuncia- do que a simples constatação sensorial
do e que é preciso fazer alguma conta. Para O tratamento desses conteúdos na aula de- para resolvê-los.
que as crianças construam estratégias para manda o planejamento de situações especí- • Exigir a validação da resposta apoian-
A complexidade dos problemas não depen- enfrentar de forma mais crítica os problemas ficas, nas quais os conhecimentos relativos do-se nas propriedades dos objetos ge-
de apenas da categoria à qual pertencem e propostos, analisando os enunciados para ve- à orientação e localização sejam pertinentes ométricos.
do lugar da incógnita, mas também de outras rificar quais são os dados necessários para a para resolvê-las, com os estudantes sendo os • Produzir novos conhecimentos com
variáveis, tais como: resolução, o caminho é prever situações espe- responsáveis por buscar uma solução, deci- base nas propriedades das figuras.
176 177
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
• Entre a variedade de problemas que as O estudo de medida aporta novos significa- teado – de 2 em 2, de 5 em 5 etc.), refletir e vel”, “verdadeiro” ou “impossível”, e quantita-
crianças podem explorar, estão aqueles dos aos números e é um contexto adequado discutir sobre a relação entre as operações tivamente, utilizando uma escala numérica.
que pedem a cópia de figuras, a comuni- para o uso das relações “meio” e “quarto”, por de adição e subtração e de multiplicação e Dessa forma, será mais fácil compreender
cação de informações para poder repro- exemplo. Quando, para resolver um problema, divisão. Ao trabalhar com a sequência numé- que alguns eventos da vida diária têm maior
duzi-las, a identificação delas por meio a medição direta não é viável, é preciso pensar rica, por exemplo, elas irão descrever e ge- probabilidade de ocorrer do que outros e
de suas características e a identificação em escolher algum elemento que possa ser neralizar regularidades por meio de diferen- reconhecer a característica aleatória e não
de uma específica em uma dada coleção. transportado e sirva como intermediário na tes representações. Para tanto, é preciso que determinística de fatos e fenômenos do dia
A resolução desses tipos de problemas dá comparação. O importante é que as crianças tenham oportunidade de interagir com uma a dia, bem como espaços amostrais (todos os
sentido ao uso de instrumentos geométricos aprendam a selecionar tanto o instrumento porção suficientemente extensa do sistema casos possíveis de ocorrência de um evento).
para perceber as relações e propriedades mais adequado para medir os diferentes obje- para que observem aquilo que se repete e
das figuras e a precisão dos desenhos. Nesse tos de acordo com suas características como a sistematizem algumas regras, como “depois Existe um número cada vez maior de aplica-
processo, as crianças começam a construir unidade de medida mais adequada. de um número terminado em zero, sempre tivos de computador disponíveis na web que
alguns conceitos sobre as características das vem um número terminado em 1”. podem ser usados para criar gráficos. Cabe
figuras ao mesmo tempo que se apropriam Em relação às medidas de tempo, o calen- ao professor oferecer diversas oportunida-
da linguagem geométrica. dário é um instrumento que informa como se Em relação às regularidades geométricas, as des para organizar os dados de diferentes
registram os dias, as semanas e os meses do crianças poderão elaborar e reproduzir repre- maneiras e discutir as vantagens e desvanta-
ano. sentações gráficas de diferentes formas, in- gens de cada uma. É importante lembrar que
vestigando relações, identificando diferentes o formato escolhido do gráfico deve repre-
GRANDEZAS E MEDIDAS elementos e analisando algumas proprieda- sentar a informação sem parcialidade e deve
des das figuras geométricas que as compõem. ser o mais adequado para representá-la.
As crianças chegam à escola com algu- ÁLGEBRA
mas ideias relacionadas às medidas, sim- É importante promover situações de ob-
plesmente porque as usam diariamente. O pensamento algébrico é, de maneira ge- servação e reflexão sobre padrões, regulari-
Na escola, vão ampliar e desenvolver es- ral, a possibilidade de generalizar, trabalhar dades, relações e propriedades matemáticas, AVALIAÇÃO
ses conhecimentos resolvendo problemas
que envolvam comparação de quantidades
com incógnitas e variáveis e utilizar uma lin-
guagem particular – a algébrica – para repre-
em um ambiente que permita aos alunos ex-
plorar, criar modelos, discutir, argumentar,
EM MATEMÁTICA
(medição direta), utilização de instrumen- sentar relações entre quantidades. Nos anos generalizar e comprovar ideias.
tos (medição indireta), identificação e uti- iniciais do Ensino Fundamental, os estudan- Na Matemática, assim como em outros
lização de unidade de medida convencional tes começam a compreender que na Mate- componentes curriculares, a avaliação é con-
ou não e a utilização de medidas exatas ou mática existem padrões e sequências que siderada como um processo contínuo para
aproximadas. Além disso, as medidas são podem ser generalizados. PROBABILIDADE compreender os processos de pensamento
um excelente contexto para explorar os nú-
meros representados na forma decimal (nú- As crianças vão encontrar diversos padrões
E ESTATÍSTICA dos estudantes e obter informação sobre o
avanço das aprendizagens. Avaliar os conhe-
meros com vírgula). nos números (pares e ímpares, ao contar sal- cimentos matemáticos significa reunir e ana-
A estatística possibilita resumir informa- lisar dados sobre o que sabem os estudantes
ções já conhecidas e fazer inferências acer- a respeito de conceitos e procedimentos ma-
ca das que ainda não se conhece. O trabalho temáticos.
com estatística e probabilidade no Ensino
Fundamental tem como propósito central Quando se considera que todos podem
fazer com que as crianças compreendam aprender Matemática, é necessário oferecer
que os dados podem ser organizados e es- as condições didáticas que permitam que to-
truturados de diversas maneiras. Nessa fase, dos avancem, de diferentes maneiras, levando
o trabalho com estatística pode ter estreita em consideração as diferenças individuais. O
relação com o eixo Números. desafio consiste em avaliar os avanços das
aprendizagens dos estudantes em relação
As crianças terão a chance de coletar dados, aos conhecimentos que possuíam no início
organizá-los e representá-los em diferentes do processo de ensino e o que foi trabalha-
tabelas e gráficos, destacando semelhanças, do, bem como oferecer atividades que verifi-
diferenças e tendências. Poderão expressar quem esses avanços, identificando com mais
as chances de ocorrência de um evento quali- precisão o que foi aprendido e o que preci-
tativamente, usando termos como “imprová- sam aprender. Nesse sentido, a avaliação,
178 179
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
de caráter diagnóstico, permite determinar dos debates realizados. É interessante o pro- APRENDIZAGENS GERAIS
o ponto de partida de cada estudante e do fessor organizar momentos para revisar esses
MATEMÁTICA
grupo e consiste em uma ferramenta poten- registros coletivamente para chegar a uma
1º ANO
te para obter dados e informações sobre a versão comum. Os cadernos e livros devem
aprendizagem antes de começar cada pro- se constituir em instrumento de estudo, em
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
posta de trabalho. que o estudante busque registros do que e de
como aprendeu. Para isso, ele precisa elabo- •• Ouve com atenção a leitura feita pela
A avaliação deve ser acompanhada por pro- rar as próprias sínteses avaliativas, tomando professora ou pelo professor e a opinião
fessores e alunos. Para que tenha validade, os consciência de seus avanços e dificuldades, das e dos colegas?
instrumentos e as estratégias utilizadas pre- enquanto sinaliza o que deve ser objeto de •• Procura compreender a ideia das e dos
cisam estar de acordo com o que se pretende maior atenção. Suas produções originais, com colegas?
Participar de discussões
•• Participa dos momentos de discussão
avaliar. Ao conhecer o que sabem os estudan- erros e correções posteriores, por exemplo,
coletivas, procurando
tes, o professor pode (re)planejar o ensino devem ficar registradas nos cadernos. Assim, coletiva sobre a resolução de problemas
interpretar as ideias dos
enquanto os estudantes, por sua vez, podem ele poderá retomar seu processo de aprendi- propostos em aula?
colegas e comunicar as próprias
tomar consciência de quais conhecimentos zagem e verificar seus avanços. estratégias de resolução. •• Procura explicar como resolveu o
realmente dominam e quais são seus pon- problema proposto?
tos fracos. Os alunos só se responsabilizarão Para que os estudantes aprendam a ma- •• Participa das atividades em grupo,
pelo próprio processo de aprendizagem se neira própria de produzir conhecimento contribuindo para o trabalho, expondo
puderem observar seu progresso e valorizar matemático, é necessário que a avaliação suas ideias e considerando as das e dos
colegas?
sua capacidade de resolver problemas utili- contemple também os processos e modos
zando conhecimentos matemáticos. Nessa do fazer matemático, apoiando-se em dife-
perspectiva, é importante que eles partici- rentes ferramentas, como a observação da
pem ativamente da avaliação das atividades, participação da criança nas tarefas grupais,
sejam elas individuais ou grupais, para que o tipo de perguntas que faz e as explicações EIXOS NÚMEROS/ÁLGEBRA/PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA
tomem consciência do que estão aprenden- que formula, entre outras. Por esse ângulo, a
do e se comprometerão cada vez mais com avaliação precisa considerar o processo de 1º ANO
seu próprio processo de aprendizagem. elaboração e formulação das produções indi-
viduais e coletivas, a participação nas discus- APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
As correções também merecem atenção, sões ou debates, a formulação de argumen-
pois devem guiar o aluno em seu trabalho tos para defender sua forma de resolver ou
autônomo frente ao estudo. Assim, é impor- refutar outras, bem como a possibilidade de
tante propor que os estudantes registrem as compreender e justificar procedimentos uti- •• Reconhece a utilização dos números no
principais ideias discutidas e as conclusões lizados por outros colegas. dia a dia como indicador de quantidade,
ordem, medida e código (calendário,
numeração de páginas, telefone,
registros de contagens, uso do dinheiro
etc.)?
Familiarizar-se com a •• Consulta portadores numéricos (como
organização posicional do calendário, fita métrica e quadro
nosso sistema de numeração, numérico) para ler e escrever números?
elaborando hipóteses sobre
•• Socializa as descobertas sobre escritas
a leitura e escrita de números
numéricas relativas a números
para comparar e ordenar
familiares?
números naturais.
•• Formula hipóteses para ler e escrever
números, apoiada nos conhecimentos
que possui relativos a sequência oral e
escrita de números redondos?
•• Aproxima-se da leitura e da escrita
correta dos números?
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
1º ANO
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
APRENDIZAGENS GERAIS
MATEMÁTICA
OBJETOS DE CONHECIMENTO
186
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
subtrações como:
2º ANO
a - b = 10? (exemplos: 15 - 5; 30 - 20; 84 - 74)
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
100 + a = __? (exemplos: 100 + 4; 100 + 20;
100 + 35)
•• Lê e produz escritas numéricas,
Formular hipóteses sobre o identificando algumas regularidades do
100 - a = __? (sendo a múltiplo de 10,
funcionamento do sistema de sistema de numeração decimal?
exemplo: 100 - 30 = __ )
numeração, considerando a •• Compara e ordena números naturais
quantidade de algarismos e apoiando-se nas características do a + b = 100? (exemplos: 75 + 25 = 100,
a posição que os algarismos sistema de numeração decimal? 32 + 68 = 100)
ocupam no número. •• Explicita os critérios adotados para
Construir e ampliar repertório
comparar números? •• Conhece e utiliza dobros e metades de
de resultados memorizados
de adições e subtrações, números de dois algarismos? (12 + 12;
e compor e decompor 25 + 25; 42 + 42)
•• Utiliza diferentes estratégias para números naturais de diversas •• Utiliza resultados de cálculos conhecidos
quantificar elementos de uma coleção? maneiras. para resolver outros cálculos de adições e
subtrações?
•• Explora diferentes estratégias para
quantificar elementos de uma coleção: •• Utiliza diferentes estratégias de cálculo
Estimar, contar e comparar
contagem um a um, formação de pares, aproximado para resolver problemas que
quantidades de objetos em
agrupamentos e estimativas? não exijam cálculo exato?
coleções fixas e móveis,
dispostos de forma ordenada •• Explora relações de comparação entre •• Reconhece expressões equivalentes
e desordenada, utilizando coleções (ser maior que, ser menor que, (147 = 50 + 50 + 47; 147 = 100 + 47;
diferentes estratégias para estar entre, ter mais um, ter mais dois)? 147 = 40 + 60 + 30 + 17)?
quantificá-los e apresentando •• Apresenta o resultado por meio de •• Explora a decomposição aditiva das escritas
o resultado por meio de gestos, oralmente ou utilizando registro numéricas para realizar cálculos que
registros. (desenhos ou símbolos)? envolvem a adição e a subtração (exemplos:
24 + 37 = 20 + 4 + 30 + 7 = 50 + 11 = 61)?
•• Recita a sequência numérica em escalas
ascendentes e descendentes, de 1 em 1, •• Conhece e utiliza a técnica operatória
de 2 em 2, de 5 em 5, de 10 em 10? convencional de adição (sem reserva)?
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
OBJETOS DE CONHECIMENTO
MATEMÁTICA
•• Localização de objetos e pessoas no espaço a partir de referências e indicação de •• Identifica valores de cédulas e
mudança de direção e sentido. Resolver problemas que moedas?
envolvam identificação e
•• Esboço de percursos e plantas simples. •• Resolve problemas que envolvem
estabelecimento de equivalência
•• Representação de objetos com base em diferentes pontos de vista. troca entre cédulas e moedas?
de valores entre moedas e
•• Identificação de relações entre figuras geométricas planas, como quadrado, cédulas do sistema monetário •• Utiliza estratégias pessoais de cálculo
retângulo e triângulo, por meio de atividades como as de dobradura, colagem etc. brasileiro. para conversão de cédulas para
•• Exploração de características de figuras geométricas planas e espaciais, como moedas e de moedas para cédulas?
cubos, pirâmides, prismas, esferas, cones e cilindros.
•• Exploração de padrões geométricos em situações diversas.
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
APRENDIZAGENS GERAIS
•• Resolve problemas de adição e
MATEMÁTICA
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
4º ANO 4º ANO
200
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
202 203
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
4º ANO
•• Estabelece relações entre décimos, centésimos
e milésimos em expressões decimais com 1/10,
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES 1/100 e 1/1.000, apoiando-se em unidades
monetárias ou em medidas de comprimento,
•• Resolve os problemas propostos com autonomia? massa e capacidade?
•• Seleciona a estratégia adequada para obter o Resolver problemas •• Reconhece que, em uma unidade dividida em 10
resultado: contagem, decomposição, técnica que envolvam partes iguais, cada uma corresponde a um décimo
operatória convencional e outras, dependendo do ler e escrever e que em uma unidade dividida em 100 partes
problema? números racionais, iguais, cada uma corresponde a um centésimo,
•• Lê o enunciado com autonomia? de uso frequente, representando simbolicamente décimos e
•• Faz estimativas ou arredondamentos de números representados na centésimos?
naturais? forma decimal ou •• Utiliza expressões decimais e fracionárias para
•• Resolve problemas que envolvem o tratamento fracionária. expressar distância, capacidade e massa?
de séries proporcionais e com organizações •• Lê, escreve e compara números racionais, de uso
retangulares, utilizando distintos procedimentos frequente, representados na forma decimal ou
para a multiplicação e a divisão? fracionária?
•• Resolve problemas de vários passos com as quatro •• Resolve problemas que envolvem números
Resolver e elaborar operações e diferentes modos de apresentar racionais de uso frequente?
problemas de a informação?
adição, subtração,
•• Identifica a ausência ou a pertinência de dados
multiplicação e
para a resolução de problemas?
divisão, com números
•• Registra os procedimentos e as estratégias
naturais, envolvendo
utilizadas na resolução de problemas de forma
seus diferentes
clara e organizada? Explorar
•• Identifica regularidades em sequências numéricas
significados.
•• Resolve problemas selecionando a estratégia regularidades, em
Calcular o resultado compostas por múltiplos de um número natural?
de cálculo mais adequada, segundo os números sequências numéricas
de adição, subtração, •• Identifica um elemento faltante em uma sequência
e cálculos envolvidos? recursivas, compostas
multiplicação e numérica composta por múltiplos de um número
•• Utiliza a informação contida na escrita numérica por múltiplos de um
divisão de números natural?
para desenvolver métodos de cálculo – número natural.
naturais, por meio de
decomposição, arredondamento, aproximação
diversas estratégias,
e enquadramento?
apoiando-se em
resultados conhecidos •• Seleciona a estratégia de cálculo mais adequada,
e propriedades do segundo os números e cálculos envolvidos no Investigar o número
•• Busca o número desconhecido para tornar
sistema de numeração problema? desconhecido que
•• Utiliza a informação contida na escrita numérica verdadeira uma igualdade? Por exemplo:
e das operações, torna verdadeira
observando sua para desenvolver métodos de cálculo – uma igualdade que
decomposição, arredondamento, aproximação 1.234 = 500 + ___ + 30 + 4
adequação à situação envolve as operações
e enquadramento? 1.359 = 2.000 – 600 – ___
proposta. fundamentais com
•• Investiga regularidades para multiplicar ou dividir 8 x 14 = 2 x ___ x 14
números naturais.
um número natural por 10, 100 e 1.000 e utilizá-las
em cálculos?
•• Faz cálculo mental e escrito de multiplicações,
apoiando-se em resultados conhecidos e
propriedades do sistema de numeração ou
operações (para multiplicar por 15, multiplica
primeiro por 10 e depois por 5)?
•• Faz estimativa para avaliar a adequação de um
resultado obtido?
•• Utiliza técnicas operatórias convencionais e
calculadora para resolver problemas do campo
aditivo e multiplicativo?
204
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
206
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
APRENDIZAGENS GERAIS
MATEMÁTICA
5º ANO
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
OBJETOS DE CONHECIMENTO
MATEMÁTICA
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
EIXOS GEOMETRIA/ÁLGEBRA
•• Reconhece, nomeia e representa
MATEMÁTICA
212 213
Capítulo 4 Áreas do conhecimento MATEMÁTICA Matemática
214 215
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
4.3 zidos pelos impérios africanos, asiáticos e, CURIOSIDADE NATURAL de Ciências está a serviço do entendimento
mais tarde, pelos povos das Américas, foram da realidade e esse entendimento será al-
incorporados ou deram base à ciência euro- O direito de aprender Ciências também cançado com a reflexão sobre os problemas
CIÊNCIAS
peia, sem que fosse dado o devido crédito está intimamente relacionado com o desen- que, de preferência envolvam a realidade
aos seus produtores. volvimento de uma atitude inquieta e incon- local. Tão importante quanto os objetos de
DA NATUREZA
formada de não aceitação do que está posto conhecimento (as teorias da Ciência) é a
A humanidade, em seu processo histórico, sem uma explicação convincente. Incentivar aprendizagem de como responder e de como
elaborou interpretações sobre a sua relação a curiosidade das crianças é papel da escola. elaborar perguntas. A criança que consegue
com a natureza, ao mesmo tempo que desen- Em geral, as crianças têm uma curiosidade expressar sua curiosidade por meio de uma
volveu formas sistematizadas de investigar natural, que se expressa nas perguntas que fa- pergunta bem elaborada tem mais chances
O mundo está permeado pelos construtos esses fenômenos. Compõe o corpo dessa he- zem nos diferentes meios sociais. Essa atitude de manter-se curiosa em sua trajetória es-
das Ciências da Natureza e suas tecnologias. rança cultural os conhecimentos produzidos curiosa vai se esvaindo à medida que a crian- colar. Para isso, é claro, a escola precisa per-
Percebe-se facilmente isso quando se depara pela Física, Química, Biologia, Geologia, Pe- ça começa a entender as regras implícitas mitir e incentivar a enunciação de perguntas
com a sofisticação dos aparelhos utilizados dologia, Oceanografia e Astronomia, que nos do sistema escolar tradicional e percebe que pelos estudantes. (ABREU, FORASTIERI &
no dia a dia, bem como pela rápida supera- anos iniciais do Ensino Fundamental irão suas perguntas não são valorizadas. Percebe BEJARANO, 2013; CARVALHO, 2007, 2008;
ção deles por equipamentos cada vez mais configurar a área de Ciências da Natureza. que, ao invés disso, a memorização de concei- CARVALHO et al, 1998, MORTIMER & SCOTT,
avançados. Porém, ao analisar o mundo cul- Cabe aos sistemas de ensino possibilitarem o tos, definições e termos que é recompensada. 2003)
tural, nota-se que as Ciências da Natureza acesso ao legado cultural produzido na histó- Isso influencia a criança a ver o mundo esco-
participam de forma muito mais profunda ria da humanidade e levarem à apropriação lar como local de cumprimento de uma série A prática social das pessoas, configura-
da estrutura social. Os construtos dessa área deles pelo estudante. Para isso, é necessário de atividades burocráticas ao invés de um da como suas formas de perceber e intera-
vão além dos objetos físicos e se manifes- enfrentar a crença de que estudar Ciências local de descoberta e questionamento da rea- gir com o mundo, é uma fonte de questões
tam de forma marcante no pesamento e nos é algo destinado às elites, pois todas as pes- lidade. Fomentar uma cultura de curiosidade que levarão à problematização. Diversas
construtos teóricos. soas necessitam desse conhecimento para é o principal desafio das escolas ao trabalhar pedagogias brasileiras (histórico-crítica e
expandir a visão de mundo e entender as com as Ciências. Não é difícil escutar profes- freireana) e o movimento das questões so-
As Ciências da Natureza permitem perce- intricadas relações existentes na sociedade sores dos anos finais do Ensino Fundamental ciocientíficas (QSC) do ensino de Ciências
ber o mundo de maneira diferenciada, sofis- contemporânea. (PINHEIRO, 2016; MESSE- afirmando que, atualmente, os jovens só são têm em comum a ideia de que o processo de
ticando a forma de pensar sobre e de inter- DER NETO, 2016) curiosos quando os temas das aulas envolvem aprendizagem nessa área do conhecimen-
pretar a realidade. As sociedades do século sexualidade, alimentação e dietas. Isso revela to é mais efetivo e profundo se for iniciado
XXI explicam e intervêm no mundo com as O direito de aprender Ciências da Natureza dois fatos preocupantes: toda a curiosidade com base na prática social do sujeito. Das
contribuições das Ciências da Natureza, que envolve o direito de se apropriar de conheci- das crianças não resiste ao fim dos anos ini- tensões e contradições percebidas pelos es-
interagem com contribuições das Ciências mentos em diferentes dimensões. Uma delas ciais do Ensino Fundamental e a visão dos do- tudantes ao refletir sobre sua vivência social
Sociais e de outras formas de conhecimento. envolve o desenvolvimento de atitudes, pro- centes de que é o objeto de conhecimento o surgem e são enunciados os problemas mais
Portanto, aprender Ciências é um direito das cedimentos e de uma visão sociopolítica, que responsável por despertar a curiosidade dos genuínos e mobilizadores, as perguntas que
crianças, pois ele fundamenta outros direi- na BNCC é apresentada como as competên- estudantes. Qualquer objeto de conhecimento disparam os esforços de aprendizagem no
tos como o de experimentar, analisar, com- cias a serem desenvolvidas na área. A outra de Ciências pode ser usado para incentivar a sentido de uma compreensão do mundo e
preender, interpretar, questionar e intervir dimensão a ser levada em conta na educação curiosidade, isso depende mais da metodo- intervenção na realidade. No caso de Cama-
na realidade. As Ciências da Natureza dão científica é a abordagem conceitual, pois o logia do ensino e da forma como o tema será çari, a escola deve estar sensível às questões
essa fundamentação para que esses direitos processo de letramento científico exige mais trabalhado em sala do que do objeto de co- socioambientais que envolvem o Rio Cama-
sejam acessados tanto no futuro como tam- que os aspectos procedimentais e atitudi- nhecimento em si. (CANIATO, 1983; ARMS- çari, as praias da orla, o polo petroquímico,
bém imediatamente, pois a criança já está nais: é necessário compreender fatos, leis e TRONG, 2018; ESPINOZA, 2010; ANGETTI & a urbanização da sede e dos distritos, os mo-
envolvida em sua prática social, vivenciando teorias produzidos pelas Ciências da Nature- DELIZOICOV, 2003; ASTOLFI, 2007) dos de vida das comunidades tradicionais e,
o mundo e tentando compreendê-lo, sendo za em seu percurso histórico. Esse conheci- principalmente, as questões que tencionam
afetada por tudo que acontece na sociedade. mento produzido pelos cientistas sofre um O trabalho com a curiosidade exige a ela- o entorno da escola. (HODSON, 2004, 2010,
(CARVALHO, 2007, 2008; CARVALHO et al., processo de recontextualização didática tor- boração de problemas, que se manifestam 2011; CONRADO & NUNES NETO, 2018)
1998, ESPINOZA, 2010; ANGETTI & DELI- nando-se conhecimento escolar configuran- como perguntas. Não há ensino nem apren-
ZOICOV, 2003; ASTOLFI, 2007) do-se como objetos de conhecimento. Apren- dizagem de Ciências da Natureza sem per- A IMPORTÂNCIA DAS PERGUNTAS
der Ciências exige a articulação dessas duas guntas. Um desafio para as escolas é romper
Por mais que seja atribuída aos europeus, dimensões, de forma que não sejam tomadas com o modelo tradicional de ensino, em que Outra aprendizagem necessária, nesta área,
a ciência hoje é vista como um construto de como estanques ou mutuamente excluden- o professor coloca no quadro o título da aula é formular hipóteses cada vez que se elabora
toda a humanidade. Muitas ideias filosóficas tes. Este Referencial Curricular tratará des- e explica os objetos de conhecimento para os uma pergunta. Para chegar a uma hipótese,
e uma infinidade de conhecimentos produ- sas duas dimensões. alunos de maneira “aproblemática”. O ensino o estudante precisa de tempo para pensar e
216 217
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
elaborar a sua ideia. Isso demanda cuidado lem os materiais e desafiem seu raciocínio outros flutuam? Por que o Sol parece se mo- com o mundo das Ciências da Natureza. Para
por parte dos docentes, no sentido de não na tentativa de compreender o que estão ver? Por que o ar entra nos pulmões quando o estudante, é frustrante ter de memorizar
dar respostas rapidamente, de perguntar aos manipulando. Essas atividades ganham em o diafragma abaixa? “Por que?” é a pergunta uma lista de termos novos, cujo significado
estudantes o que eles acham que vai aconte- profundidade quando acompanhadas de um mais importante nas aulas de Ciências. Mas não é bem compreendido, e depois empregá-
cer e também por que acontece o fenômeno. tempo para formular hipóteses, que pode como respondê-la? Os estudantes podem ler -los, sem dominá-los, em processos que ain-
Perguntar é fundamental, porém disponibili- ser valorizado com a pergunta: “Como você sobre a teoria, realizar buscas na internet, as- da não compreende. Por isso, aqui há a prio-
zar algum tempo para que a criança elabore acha que vai acontecer?” Após sistematizar sistir a vídeos que tentam explicar o fenôme- rização dos processos, pelo entendimento do
sua hipótese é tão importante quanto chegar as hipóteses e realizar a experimentação, a no, discutir com os colegas sobre as leituras e que está sendo observado ou estudado, mes-
à teoria a ser estudada. Sistematizar as hipó- observação e a descrição dos fenômenos é os vídeos e, por fim, o professor pode ajudá- mo que nas fases iniciais das sequências di-
teses que surgem é uma maneira de valorizar estimulada com a pergunta: “Como aconte- -los a sistematizar o conhecimento. Busca-se, dáticas os estudantes se expressem utilizan-
as ideias da turma, criando uma cultura de ceu?” (ABREU, FORASTIERI & BEJARANO, assim, uma postura ativa do estudante, que do termos do cotidiano, explicando-os com
que esses momentos sempre estarão presen- 2013; CARVALHO et al., 1998; MORTIMER & não vai, simplesmente, copiar a explicação suas próprias palavras. O ganho dos termos
tes nas aulas de Ciências. (ABREU, FORAS- SCOTT, 2003) do professor. (ABREU, FORASTIERI & BEJA- novos deve acontecer após um entendimen-
TIERI & BEJARANO, 2013; CARVALHO, 2007, RANO, 2013; CARVALHO et al., 1998; MORTI- to dos processos. Exemplo: um estudante vai
2008; CARVALHO et al, 1998, MORTIMER & Essa forma de organizar o ensino de Ciên- MER & SCOTT, 2003) entender que um objeto de ferro exposto à
SCOTT, 2003; ARMSTRONG, 2018; ESPINO- cias prioriza o desafio ao raciocínio e o de- água e ou ao ar irá “enferrujar” pela “união”
ZA, 2010; ANGETTI & DELIZOICOV, 2003; senvolvimento de uma série de habilidades Mas como saber se o aluno compreendeu do ferro com oxigênio; compreendido isso,
ASTOLFI, 2007) e a dimensão procedimental do conteúdo. As a nova teoria ou simplesmente memorizou? poderá usar oxidar em vez de enferrujar, e
atividades de experimentação aparecem no E todos aqueles termos novos? Para con- reação no lugar de união, pois os termos no-
Ora, se os problemas se manifestam como início da sequência didática envolvidas por seguir a compreensão da teoria, é preciso vos se encaixarão em um pensamento que
perguntas e, com base neles são elabora- mistério e provocação. avançar para outro discurso – a generaliza- faz sentido. (BROWN, 2010; 2011)
das hipóteses, para manter a investigação ção, que envolve a elaboração de descrições
em curso outras perguntas devem ser colo- Já as perguntas do tipo “por que” exigem ou explicações independentes de um contex- Aprender Ciências também é aprender a ler
cadas no desenvolvimento das sequências um grau de abstração maior que as pergun- to específico. (MORTIMER & SCOTT, 2003). e a escrever Ciências. Não há como dissociar
didáticas. Em Ciências, há dois tipos muito tas do tipo “como”. Ao perguntarmos sobre Generalizar é uma operação abstrata que, a aquisição da linguagem científica da aqui-
importantes de perguntas que ajudarão a or- o porquê de algo, solicita-se uma explicação. segundo os trabalhos de Vygotsky, ocorre sição da língua materna. A organização dos
ganizar o raciocínio das crianças: as do tipo No caso das aulas de Ciências Naturais, as na formação mental dos conceitos científi- dados e a comunicação das hipóteses, obser-
“como acontece” e as perguntas do tipo “por explicações científicas. Teorias não podem cos, extraindo da teoria que está sendo en- vações e conclusões são processos que en-
que acontece”. (ABREU, FORASTIERI & BEJA- ser ensinadas como se ensina descrições, sinada os elementos essenciais para poder volvem o desenvolvimento da oralidade e da
RANO, 2013; CARVALHO et al., 1998; MORTI- pois essas dependem da observação. Al- aplicá-la a diferentes exemplos ou contextos. escrita. O acesso às novas teorias está aliado
MER & SCOTT, 2003) guém pode descrever quais corpos flutuam Generalizar é libertar-se do contexto, é sair à aprendizagem da leitura. As escolas po-
ou afundam baseado apenas em suas ob- do exemplo estudado e conseguir perceber a dem interpretar que, para estudar Ciências,
As perguntas do primeiro tipo servem para servações. Já as teorias não são observáveis. teoria em novos exemplos. (ABREU, FORAS- é pré-requisito ler e escrever. Aqui, defende-
alcançar duas aprendizagens importantes: a Ninguém consegue observar densidade, por TIERI & BEJARANO, 2013; CARVALHO et al., -se algo diferente: pode-se aprender a ler e a
observação e a descrição de fenômenos. Ob- exemplo. Ela é um construto teórico, uma 1998; MORTIMER & SCOTT, 2003) escrever com situações originadas pelo estu-
servar não é simplesmente olhar: é preciso ferramenta de explicação elaborada por vá- do das Ciências Naturais. No esforço de ex-
um olhar guiado, direcionado, que tenta cap- rias pessoas para explicar a flutuação. Com pressar o que observou em uma atividade de
tar o que é importante. Ninguém nasce sa- base na observação, o aluno pode constatar PROCESSOS ANTES, experimentação, a criança utilizará a escrita
bendo observar; essa é uma habilidade que que não é a massa que importa para flutuar,
NOMENCLATURA DEPOIS que domina para comunicar-se com sua tur-
é aprendida. No Ensino Fundamental, o pro- pois objetos de muita massa (uma melancia, ma. Nessas situações, surgem desafios para
fessor deve atuar como um guia para ajudar um navio) flutuam e objetos de pouca mas- aprender mais sobre como escrever.
o estudante a focar nos detalhes que impor- sa podem afundar. Se não é pela observação, Ao estudar teorias em Ciências da Nature-
tam em uma atividade de observação, que vai então, como faremos para ensinar teorias? za, é importante priorizar o entendimento
levar à capacidade de descrever fenômenos. (ABREU, FORASTIERI & BEJARANO, 2013; dos processos à nomenclatura. Tradicio- OS OBJETOS DE CONHECIMENTO
A descrição envolve enunciar as mudanças, CARVALHO et al., 1998; MORTIMER & SCOTT, nalmente, a ciência escolar sobrecarrega os
o antes e o depois de um sistema. (ABREU, 2003) estudantes de novos termos, configurando Até aqui, discutimos a dimensão procedi-
FORASTIERI & BEJARANO, 2013; CARVALHO algumas aulas como verdadeiros glossários. mental dos conteúdos e o desenvolvimento
et al., 1998; MORTIMER & SCOTT, 2003) A apropriação de modelos teóricos requer Esse excesso de termos científicos nas aulas de habilidades necessárias à enculturação
esforços de quem ensina e de quem apren- foi identificado como produtor de estresse científica. Esses aspectos foram priorizados
As atividades de experimentação são uma de. Um passo inicial é usar perguntas do tipo nos estudantes, além de ser um dos fatores porque, historicamente, são negligenciados
oportunidade para que as crianças manipu- “por que?”. Por que alguns objetos afundam e que levam os jovens a não se identificarem no ensino tradicional. A preocupação, até
218 219
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
agora, foi ressaltar as aprendizagens neces- as consequências socioambientais do desen- do a formação de conceitos, dá-se em dois a com construtos da perspectiva de Paulo
sárias a uma abordagem de Ciências da Na- volvimento científico e tecnológico. Esse eixo níveis: primeiro e primariamente na esfera Freire aplicada à educação (SANTOS, 2008)
tureza: elaborar problemas, realizar ativida- dialoga com a Educação Ambiental, inves- social, como categoria interpsicológica, para e a abordagem por questões sociocientíficas
des de experimentação, formular hipóteses, tigando problemas socioambientais locais só depois ser internalizada e tornar-se fenô- (CONRADO & NUNES-NETO, 2018) discutem
observar, descrever fenômenos, levantar e suas causas políticas e econômicas para meno intrapsicológico. (VYGOTSKY, 2007; de forma profunda a relação entre a Ciência
dados (inclusive por entrevistas e estudo do uma reflexão global. Ações como reciclagem 2009) e suas tecnologias nos problemas sociais e
meio) e sistematizá-los, ler, escrever e dese- e compostagem são vistas como necessárias, ambientais.
nhar. Dar o devido valor a essas aprendiza- porém insuficientes para lidar com as ques- Nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
gens não significa negar a importância da di- tões ambientais, pois elas são originadas dificilmente uma criança conseguirá pensar Quanto ao uso da linguagem, Bakhtin es-
mensão conceitual dos conteúdos ou objetos pelo modo de produção capitalista. O eixo por conceitos. Logo, as ações pedagógicas tabelece a ideia de que a linguagem social é
de conhecimento, como diz a BNCC. saúde vai além do conhecimento sobre do- devem privilegiar a aprendizagem pela per- um tipo específico usado por um grupo so-
enças ou de uma abordagem biomédica para cepção dos fenômenos no cotidiano e sua cial situado no tempo e no espaço (WERTS-
Os objetos de conhecimento recomenda- configurar-se como a busca pela promoção tentativa de explicação, sem apelar para defi- CH, 1991). Nesse sentido, o estudante tenta
dos para as situações de ensino em Camaçari de saúde por meio da perspectiva socioam- nições, que nessa fase serão apenas convites se comunicar utilizando a linguagem social
são apresentados neste Referencial dividi- biental, em que a saúde e a qualidade de vida à memorização. Uma criança não precisa de- da ciência escolar. O foco dessa análise está
dos nas três unidades temáticas propostas são dependentes de fatores biológicos, psico- finir solo nem saber seus horizontes. Afinal, na formação dos enunciados: entender um é
na BNCC: Matéria e Energia, Vida e Evolução lógicos, econômicos, culturais e ambientais. quantos adultos saberiam essas coisas? Mes- confrontá-lo com outros e elaborar uma res-
e Terra e Universo. Elas aparecem em todos (LOUREIRO; LAYRARGUES & CASTRO, 2009; mo não pensando por conceitos, a criança posta, povoando o discurso com contrapala-
os anos do Ensino Fundamental para serem LOUREIRO, 2012; MARTINS & FORASTIERI, tem condições cognitivas de aprender Ciên- vras (WERTSCH, 1991). Percebe-se a apro-
aprofundadas à medida que os estudantes 2015) cias de forma contextualizada, com relevân- priação das ideias científicas pelo estudante
desenvolverem as habilidades. cia social. A criança pode pesquisar sobre os quando ele é capaz de enunciá-las povoan-
diferentes tipos de solo, realizar experimen- do o discurso com a própria linguagem. Ao
Desde os primeiros anos de escolaridade, AS BASES DAS ORIENTAÇÕES tação sobre permeabilidade, relacionar suas adotar o referencial de Bakhtin, não se pode
as crianças têm direito ao acesso ao patri-
DESTE REFERENCIAL condições à agricultura e incomodar-se com considerar como indício de aprendizagem a
mônio intelectual desenvolvido pela huma- a sua poluição e perda. repetição do que é falado pelo professor ou
nidade. Elas necessitam ser introduzidas ao do que está nos livros. Só há aprendizagem
conhecimento físico e químico por meio de Dialogamos e personalizamos a relação do Esse conhecimento psicológico orienta a se ocorre ressignificação. Porém, nesse pro-
objetos de conhecimentos da unidade temá- ensino de Ciências de Camaçari com a BNCC, progressão das aprendizagens. No primeiro cesso, o significado dos conceitos científicos
tica Matéria e Energia. Física e Química vi- com uma abordagem sociocultural, que traz ciclo dos anos iniciais, as abordagens sobre devem ser preservados em suas característi-
sam o entendimento e o reconhecimento de uma nova socialização e uma forma de en- os objetos de conhecimento devem se situ- cas básicas.
processos, ainda sem cálculos, enunciação de culturação na comunidade da Ciência. Não ar mais no campo do concreto. Tocar, ver e
definições nem abordagem atômica ou mo- encaramos aprender como desenvolvimen- cheirar ainda tem muita relevância. Já nos
lecular, mas se ocupam de responder às per- to cognitivo autônomo e solitário. Os funda- anos finais do Ensino Fundamental, os ob- ARTICULANDO AS DIMENSÕES
guntas mais importantes dessas áreas “Como mentos psicológicos dessa ideia remontam jetos de conhecimento ficam mais abstratos,
DO ENSINO DE CIÊNCIAS
a matéria e a energia se comportam?” e “De à psicologia histórico-cultural iniciada por a própria discussão de temas como energia,
que são feitas as coisas do mundo?” Por isso Vygotsky, Luria, Leontiev e outros. A visão densidade ou pressão exige mais abstração.
a importância dessa unidade temática, larga- de desenvolvimento cognitivo autônomo é Nessa fase, também é importante investir no Com base na concepção de ensino de Ci-
mente negligenciada pelo ensino tradicional. ampliada, tornando os aspectos culturais, discurso generalização. Todo o procedimen- ências aqui exposta, surge a necessidade de
sociais e do desenvolvimento dimensões im- tal (hipotetizar, observar etc.) deve progredir articular todas as dimensões da educação
Esses objetos de conhecimento são per- portantes a serem consideradas no entendi- nos anos iniciais, de forma que a criança ga- científica, de forma a orientar a comunidade
passados por três eixos – Tecnologia, Am- mento da aprendizagem (SEPULVEDA, et al., nhe autonomia nesses processos. escolar para a tomada de decisões. A propos-
biente e Saúde – que orientam os enfoques 2011). Eles “...aparecem complementando se ta a seguir apresenta as inter-relações entre
a serem trabalhados em sala de aula. O eixo não suplantando a pesada ênfase anterior A perspectiva sociocultural da Educação as aprendizagens esperadas, os indicadores
Tecnologia valoriza as alterações que os hu- sobre a aprendizagem individual e a cogni- não se limita à abordagem psicológica, pois a de avaliação para perceber essas aprendiza-
manos realizam nos processos naturais a fim ção” (LEMKE, 2001). A perspectiva sobre o aplicação direta desses princípios em sala de gens, as unidades temáticas e os objetos de
de modificar o meio. Muitos desses esforços aprender, aqui, baseia-se na psicologia histó- aula sem a mediação de uma pedagogia pode conhecimento.
são guiados mais que pela tentativa de me- rico-cultural, que enquadra a aprendizagem incorrer em risco de uma nova onda de mo-
lhorar a qualidade de vida das pessoas, e como fenômeno social – visão que faz perce- dismos baseados em “psicologismo” na Edu-
também por interesses econômicos e políti- ber a sociedade como central no processo de cação. Entre as pedagogias compatíveis, a
cos. O eixo Ambiente enriquece as aborda- formação de conceitos. Vygotsky considera pedagogia histórico-crítica (SAVIANI, 2013;
gens de Ciências ao trazer a reflexão sobre que toda operação mental superior, incluin- PINHEIRO, 2016; MESSEDER NETO, 2016),
220
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
1º ANO 1º ANO
CIÊNCIAS
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Corpo humano – Sistema sensorial (visão, tato, olfato, paladar, audição), saúde
auditiva e visual.
•• Materiais: características, diversidade, transformações e destinação (lixo,
•• Respeito à diversidade.
reutilização, reciclagem e consumo).
•• Higiene ambiental: gerenciamento dos resíduos sólidos, esgotamento sanitário.
222
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
1º ANO 2º ANO
CIÊNCIAS
OBJETOS DO CONHECIMENTO
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
2º ANO 2º ANO
CIÊNCIAS
OBJETOS DO CONHECIMENTO
227
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
OBJETOS DO CONHECIMENTO
3º ANO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
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Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
4º ANO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
230 231
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências
5º ANO 5º ANO
CIÊNCIAS
Identificar situações de
•• Aplica o princípio da conservação •• Busca informações, sistematiza-as
transformação e conservação
da energia ao funcionamento de e elabora representações sobre
da energia, observando esses
diversos aparatos tecnológicos? diversas tecnologias que surgiram
processos nas diferentes Investigar o universo e as
•• Identifica reações químicas e tecnologias para pesquisa espacial.
da pesquisa espacial?
tecnologias.
misturas em situações cotidianas? •• Representa e explica as fases da
Identificar situações de Investigar a diversidade de
•• Reconhece os impactos
Lua?
transformação da matéria por corpos celestes e fenômenos
socioambientais da produção de •• Busca informações e elabora
reações químicas, observando astronômicos.
energia e de novos materiais em representações sobre a
esses processos nas diversas
Camaçari e no Brasil? diversidade de componentes
tecnologias.
astronômicos do Universo?
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Tipos e transformação de energia.
•• Transformações reversíveis e não reversíveis dos materiais – reações químicas e •• Constelações e mapas celestes.
misturas. •• Movimento de rotação da Terra.
•• Periodicidade das fases da Lua.
•• Tecnologias e pesquisa espacial.
5º ANO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Nutrição do organismo.
•• Hábitos alimentares.
•• Corpo humano – integração entre os sistemas digestório, respiratório e circulatório.
•• Saúde e corpo humano.
•• Saúde e sexualidade.
•• Respeito à diversidade.
232 233
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
4.4 Assim, sabia-se, por exemplo, que o estado dessa proposta não foi sentido diretamente teúdos sociais e ações – se renovam. Isso im-
CIÊNCIAS HUMANAS
de São Paulo era o maior produtor de café e na escola, posto que ela nunca foi efetivada pacta todos os campos de ação humana, em
concentrava também a produção industrial; como base de reforma curricular. Sua impor- especial aqueles que lidam com informação e
Minas Gerais produzia leite e minérios etc. tância fundamental foi pautar o debate em cultura, como a escola.
torno dos conteúdos e metodologias a serem
GEOGRAFIA
Do ponto de vista metodológico, isso per- trabalhados na escola. Um primeiro aspecto importante é a perda
durou como forma dominante até o final da do “monopólio da informação”, o que signi-
década de 1970: o professor apresentava os “Achei muito produtivo e fica que os conteúdos disponíveis na – ou
conteúdos do “ponto”, que eram memoriza- esclarecedor no que se refere a disponibilizados pela – escola podem ser
dos, que seriam cobrados nas avaliações, como ensinar Geografia de forma acessados em tempo real em qualquer lugar.
MARCOS DO sem que houvesse maior preocupação com crítica, libertadora, deliberativa.” Além disso, os conteúdos se transformam em
COMPONENTE os contextos nos quais os estudantes esta-
vam inseridos. Nessa concepção, o mundo Maria Brito dos Santos
alta velocidade e deixam de ter a centralida-
de na educação escolar, que agora é trans-
é uma externalidade desse ser aprendente, Carvalho, professora da Escola ferida para a capacidade de aprendizagem.
A entrada da Geografia nos currículos esco- conforme nos aponta Straforini (2004). Municipal do Gravatá Isso não significa que a escola tenha perdido
lares do Brasil se deu de forma indireta em importância, pois há uma diferença entre o
meados do século XIX. A unidade nacional No processo de redemocratização do país O mercado editorial do livro didático, sen- acesso à informação e o processo de produ-
era um tema relevante, desafiando as frag- do início da década de 1980, os currículos tindo o processo de renovação em curso, ção de conhecimento, que depende de uma
mentações políticas e espaciais do território. escolares foram questionados nos conteúdos inicia uma grande mudança de conteúdo e série de habilidades trabalhadas não apenas,
Já no início do século XX, diversas foram as – identificados com os poderes estabeleci- abordagens, de tal forma que o modelo Ter- mas principalmente, na educação escolar. Ao
iniciativas para aumentar o conteúdo cien- dos e nos métodos de trabalho, considerados ra-Homem vai perdendo espaço. Diversos te- estudar os conteúdos, estamos ensinando
tífico da Geografia escolar. Os temas mais autoritários e, na maioria das vezes, inefi- mas que até então não eram abordados pas- uma série de habilidades necessárias à cons-
relevantes eram a constituição de um povo cientes para a formação dos cidadãos. Isso sam a ser centrais no ensino de Geografia. tituição de um sujeito aprendente.
brasileiro e as desigualdades regionais tanto levou a uma série de debates em torno de
na perspectiva ambiental como na social. que conteúdos ensinar e como ensiná-los. A Assim, o ensino de Geografia deve promo-
proposta de renovação do ensino de Geogra- GLOBALIZAÇÃO E REVOLUÇÃO ver um caminho formativo para um trabalho
Com base nesses temas, constituiu-se uma fia da Coordenadoria de Estudos e Normas
TECNOLÓGICA preocupado com uma Educação Geográfica
espécie de “tradição” da Geografia escolar Pedagógicas de São Paulo (Cenp) foi a mais em que os procedimentos de observação,
que, influenciada pelo positivismo da pro- radical e modelar nesse debate. Ali se anun- descrição e leitura, com base em diferentes
dução acadêmica, ocupava-se da localização, ciava uma nova Geografia escolar influen- Na década de 1990, os Parâmetros Cur- linguagens, sejam tomados como objetos de
descrição e quantificação dos componen- ciada, principalmente, pelo movimento que riculares Nacionais (PCNs), mesmo com o ensino e aprendizagem para cada uma das
tes do espaço, seguindo o modelo descritivo ficou conhecido como Geografia Crítica, que ecletismo interno, significaram um avanço séries, e postos em movimento com os temas
Terra-Homem: iniciava-se uma descrição do postulava compreender o espaço por meio importante da Geografia escolar, uma vez da geografia escolar que possuam relevância
quadro natural para depois caracterizar o ho- da experiência dos estudantes nos diversos que já havia em curso um movimento in- social e que, portanto, façam parte do currí-
mem (assim mesmo, no singular) que habita- contextos, em diálogo com a nova Geogra- tenso de transformação. No entanto, muitas culo das escolas.
va o ambiente e suas atividades econômicas. fia que se construía na academia. O impacto permanências – ou resistências – podem ser
sentidas até hoje. Exemplos disso são o for- Nessa abordagem, o compromisso funda-
te acento nos conteúdos conceituais como mental é analisar o vivido, para ler e escrever
referência central dos currículos; uma certa o mundo, aprimorar a leitura do mundo em
distância entre os conteúdos estudados na tensão entre o já sabido e o ainda por saber e,
disciplina e os contextos sociais nos quais as para isso, é preciso que os alunos sejam esti-
ações educativas se desenvolvem; e os mate- mulados a pensar o espaço de forma dinâmi-
riais utilizados que, vinculados ao mercado ca, desenvolvendo o raciocínio geográfico
editorial, raramente dialogam com a diversi- por meio de alguns princípios como analo-
dade das situações escolares. gia, conexão, diferenciação, distribuição,
extensão, localização e ordem.
O processo de globalização em curso tem
como algumas de suas características mais Sendo assim, a Geografia deve se ocupar
marcantes a facilitação do acesso à informa- da construção de conjuntos temáticos que
ção, produto da revolução tecnológica, e a possuam relevância social e didáticas que
velocidade com que o mundo – objetos, con- permitam ao aluno desenvolver habilidades
234 235
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
e estratégias de produção de conhecimento tanto, o mundo globalizado é heterogêneo e de aspectos do real que precisam conhecer. A ções melhores, que vai muito além de lei-
e contribua para a melhoria das possibilida- o lugar é a base de referência a partir da qual geografia escolar, suas categorias e concei- tura simples de textos escritos ou material
des de interpretação do mundo no qual estão se constrói uma consciência do mundo. tos, devem contribuir como ferramentas que cartográfico. “É fazer a leitura do mundo
inseridos, a partir do lugar. ajudam no entendimento do mundo e não da vida, construído cotidianamente e que
Os estudos deslocam-se da vida diária para como ponto de chegada dos estudos. expressa tanto as nossas utopias, como os
Segundo Correia e Faria, as “revelações subjetivas dos significados limites que nos são postos, sejam eles do
que as pessoas manifestam ao serem inter- O que se busca é um ensino da Geografia âmbito da natureza, sejam do âmbito da so-
“Isso significa que não basta apre- rogadas sobre as condições geográficas do que favoreça “o desenvolvimento autônomo ciedade (culturais, políticos, econômicos)”.
sentar aspectos da realidade como lugar que habitam”. (RIVERA, 2012) de cada indivíduo e o torne apto a uma inter- (CALLAI, 2005)
algo pronto e acabado, como uma venção mais responsável no mundo em que
dimensão externa à sociedade e in- Diversas são as discussões atuais em torno vivem” (BNCC, 2017). Assim, No processo de produção de conhecimento
dependente das ações dos diferen- da educação escolar que valorizam um tra- que permite essa leitura do mundo da vida,
tes sujeitos, mas sim com base em balho a partir do lugar. Isso, no entanto, não “O conhecimento geográfico, compreendi- habilidades como observação, leitura de
problemas que devem ser devida- significa, como em alguns autores e propos- do dessa forma, deve contribuir para o des- textos escritos e produção textual, leitura e
mente investigados e significados. tas de trabalho, condenar os estudantes ao locamento das geografias espontâneas, em construção de mapas etc. vão sendo traba-
Da mesma forma, deve-se incenti- estudo do lugar, mas pensar o mundo a partir um processo contínuo de (re)construção do lhadas e constituem-se em instrumentos que
var os estudantes a formular alter- do lugar. conhecimento de tal forma que permita uma ensinam a estudar – certamente, uma res-
nativas possíveis para a superação melhor interpretação do mundo. É por meio ponsabilidade social da escola.
das situações que trazem dilemas. Situar a educação geográfica nessa con- dos conceitos – essa construção intersubjeti-
Daí, os conteúdos das disciplinas cepção é, antes de tudo, tomar a experiência va – que melhor se pode interpretar o mundo.” As estratégias de produção de conhecimen-
– conceitos, categorias, teorias de mundo dos sujeitos como referência – e (CORREIA & FARIA, 2017) to e o conhecimento produzido não se sepa-
– aparecem como recursos de en- como problema – de tal forma que os indiví- ram, por isso podemos dizer que uma ma-
tendimentos que podem ajudar duos se sintam motivados a desafiar aquilo Ensinar Geografia na perspectiva do pen- neira de aprender a ler é aprendendo a ler o
na formulação de juízos qualifica- que sabem e contribuir para a sua interpre- sar geograficamente requer desenvolver um mundo; e escrever, aprendendo a expressar
dos sobre o real, e que contribuem tação do mundo. pensamento conceitual que possibilite uma entendimentos do mundo, cartografá-lo, em
para orientar comportamentos e mudança na relação dos sujeitos com o mun- todas as suas marcas de (con)vivências dos
ações no espaço.” (CORREIA & FA- Segundo Doreen Massey, do, no qual o espaço “jamais está acabado, homens. O termo (con)vivência foi criado
RIA, 2017) nunca está fechado”, concepção que se apro- tendo como aporte a concepção de que “o es-
“(...) nós carregamos conosco ima- xima da proposta da BNCC: paço da sua vivência é a construção do espa-
Essa forma de pensar a educação geográ- gens mentais do mundo, do país ço em movimento e realizações”, as quais são
fica está em acordo como o que preconiza em que vivemos (...), da rua ao “(...) é preciso superar a aprendi- resultados dos encontros e desencontros dos
a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) lado. (...). Todos nós levamos tais zagem com base apenas na descri- diferentes grupos sociais ao longo do tempo
como contribuição da Geografia para a edu- imagens. Elas podem, por vezes, ção de informações e fatos do dia e do espaço (RIVERA, 2012). Sendo assim, o
cação escolar: “desenvolver o pensamento estar em conflito ou até mesmo ser a dia, cujo significado restringe-se papel da Geografia escolar é “ler o mundo da
espacial estimulando o raciocínio geográfico a causa de conflito. E refletir sobre apenas ao contexto imediato da vida” como resultado dos encontros e desen-
para representar e interpretar o mundo em essas coisas e falar sobre elas pa- vida dos sujeitos. A ultrapassagem contros da vida em sociedade; é aprender a
permanente transformação e relacionando rece-me um bom caminho para co- dessa condição meramente descri- pensar o espaço vivido e nos anos iniciais,
componentes da sociedade e da natureza” meçar a examinar o que significa tiva exige o domínio de conceitos com ou sem ela; é melhorar as possibilida-
.(BRASIL: 2018) “pensar geograficamente”. (MAS- e generalizações. Estes permitem des de leitura do mundo com a ampliação de
SEY, 2017) novas formas de ver o mundo e de repertório.
Nessa perspectiva, há uma maior possibi- compreender, de maneira ampla e
lidade de o estudante compreender melhor crítica, as múltiplas relações que “(...) as crianças devem ser desa-
que o saber humano e as suas experiências PENSAR GEOGRAFICAMENTE conformam a realidade, de acor- fiadas a reconhecer e comparar
se estruturam e reestruturam no mundo vi- do com o aprendizado do conhe- as realidades de diversos lugares
vido, um mundo tornado global, mas não Essa é a concepção da nova Geografia es- cimento da ciência geográfica.” de vivência, assim como suas se-
único, singular. Como ensina Milton Santos: colar que compreende que todos têm uma (BRASIL, 2017) melhanças e diferenças socioes-
“O espaço se globaliza, mas não é mundial “mente geográfica”, que necessita ser estimu- paciais, e a identificar a presença
como um todo, senão como metáfora. Todos lada para “pensar geograficamente” o mundo Portanto, o que se propõe é que os estu- ou ausência de equipamentos pú-
os lugares são mundiais, mas não há espaço a partir do lugar. Isso se realiza com proble- dantes compreendam que ler e escrever so- blicos e serviços essenciais (como
mundial. Quem se globaliza, mesmo, são as mas que incentivam os estudantes a desafiar bre o mundo é se apropriar de um conjunto transporte, segurança, saúde e
pessoas e os lugares” (SANTOS, 2007). Por- o que já conhecem e se lançar na investigação de ideias que permite produzir interpreta- educação)”. (BRASIL, 2017)
236 237
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
É importante ressaltar que, para atender reflexão e ação – de práxis – e, portanto, de rios cotidianos onde se desenvolve a vivên- didática – e caminhe no sentido de produzir
a essa nova finalidade, a Geografia escolar formação permanente. Castellar salienta que cia e os cidadãos se educam, são educados e condições para o aprimoramento dos enten-
deve se basear na relação entre a experiên- o professor precisa munir-se de aprendem no desempenho diário de sua co- dimentos do sentido de ser e de estar em um
cia vivida e as teorias, rejeitando fórmulas munidade” (op. cit.). Ao assumir esses funda- mundo partilhado. Há um conjunto de apren-
predeterminadas de “explicação” do espaço. “(...) conhecimentos didáticos e pe- mentos e pressupostos, o ensino da Geografia dizagens que são estratégias de produção de
É preciso superar, inclusive, uma visão cien- dagógicos sobre o estudante – seu escolar avança para ensinar e aprender como conhecimento, todas com função epistêmica.
tificista da Geografia escolar, para incorporar processo de desenvolvimento inte- uma relação intersubjetiva que se realiza nos É preciso, portanto, adotar estratégias de
novas possibilidades de entendimento. lectual, social, psicológico, emocio- espaços de (con)vivência. Isso implica ação estudo (produção de conhecimento) como
nal –, sobre a escola e suas relações educacional como um ato político de dimen- objetos de ensino e, principalmente, conce-
Nessa direção, com a sociedade nos contextos são pública, que se debruce sobre problemas ber a aprendizagem como uma ação que os
determinados; sobre as políticas de relevância social real, ocupe-se do proces- estudantes desenvolvem no contexto escolar,
“Não se ensinam ou aprendem coi- educacionais locais, nacionais, ar- so de formação dos estudantes – relevância orientados pelos professores.
sas, mas relações estabelecidas em ticuladas com as orientações mais
entendimento mútuo e expressas gerais de organismos que repre- FUNDAMENTO PRESSUPOSTOS – A GEOGRAFIA...
em conceitos que, por sua vez, são sentam diferentes projetos para a
construções históricas, isto é, nun- sociedade global, tendo como refe- ...como disciplina científica, deve assumir os objetos de estudo com uma
ca dadas de vez, mas sempre reto- rência os lugares de vivências, ou perspectiva de totalidade em permanente mudança e transformação,
madas por sujeitos em interação seja, suas especificidades”. (CAS- RELATIVIDADE enquanto a educação geográfica deve considerar os temas do ensino e
e movidos por interesses práticos TELLAR, 2012) aprendizagem como objetos contingentes, em transformação e dinâmicos,
no mundo em que vivem. Em vez modificados no espaço e no tempo.
de o professor operar com concei- Partindo desses pressupostos, a Geografia
tos que já aprendeu e na forma em escolar apresenta-se como um objeto essen- ...tem a tarefa de abordar seus objetos de conhecimento de maneira
que os aprendeu e que agora só ne- cialmente histórico-cultural. O espaço é visto manejável, pois estão marcados pelo sentido e efeito da mutação histórica.
cessitariam ser reproduzidos nos como produto social e produtor da socieda- FLEXIBILIDADE Em transformação, a educação geográfica deverá exibir os processos
e pelos alunos, trata-se, no ensino, de numa dialética entre tempo-espaço que didáticos de forma reacomodável, posto que os processos sociais são
de ele e os alunos produzirem, em incertos e estão em movimento.
demanda a criação de condições favoráveis
entendimento comum, os conceitos para melhorar as aprendizagens, buscando
com que irão operar para enten- uma riqueza conceitual e metodológica com ...deve acudir a realidade para decifrar o interessante e inaudito da realidade
derem as relações com que lidam. foco nas “operações de problematização, ORIGINALIDADE como objeto de estudo, e o ensino tem de converter o ato educativo
Trata-se de inventar, em cada situ- conceitualização e desenvolvimento do pen- em um cenário de possibilidades para revelar o acento curioso insólito,
ação e por cada nova comunidade samento complexo, em marcos intersubjeti- extraordinário e diferente do objeto de ensino.
de sujeitos, os conceitos com que vos de trabalho”. (GUREVICH, 2012)
irão operar sobre os temas que ...deve motivar a pesquisa de temáticas pouco comuns, originais e de
analisam.” (MARQUES, 2000) Para trabalhar nesse sentido, a proposta é ABERTURA relevância social. No ensino, é inquietante assumir o trabalho pedagógico
emprestada dos fundamentos metodológicos e didático, em função dos interesses e necessidades dos estudantes e da
A Geografia escolar, pensada nessa pers- da relatividade, flexibilidade, originalida- comunidade.
pectiva, tende a favorecer uma aprendizagem de, abertura, complexidade, deliberado
significativa, pois se apresenta em diálogo e dimensão pública propostos por Rivera ...deve assumir a explicação do espaço geográfico e sua dinâmica espacial,
com os diversos contextos e toma os conte- (2012), que convida a refletir sobre a neces- COMPLEXIDADE no marco do paradigma da complexidade. Implica investigar os problemas
údos da Geografia – assim como as demais sidade de usar uma “metodologia geográfica geográficos com base nas referências múltiplas e complexas em suas
áreas de conhecimento – como instâncias de sustentada pelo formato da capacidade ana- determinações.
mediação da relação dos sujeitos com o mun- lítica e crítica, enquanto reflexão aprofunda-
do no qual estão inseridos. da para debater dialeticamente as contra- ...deve abordar os problemas ambientais e geográficos com efeito intencional
dições de sua comunidade e de seu mundo DELIBERADO e o ensino deve reivindicar o desenvolvimento de processos pedagógicos
Essa proposta de renovação depende de globalizado” (leia quadro na página oa lado). e didáticos que formem um cidadão com responsabilidade social.
um trabalho de apropriação, por parte dos
professores, de aspectos ligados ao debate Assim, o professor precisa estar constan- ...deve conceber o conhecimento como uma produção coletiva de caráter
teórico-metodológico de renovação da dis- temente se redirecionando, refletindo os DIMENSÃO público, comprometido com a compreensão de aspectos ligados ao mundo
ciplina e de tomar suas práticas como re- critérios, as condições e as intervenções do PÚBLICA comum (partilhado) e fomentador da intervenção no espaço social no
ferência de investigação e ressignificação, seu trabalho didático, pautado em um “olhar sentido de melhorá-lo.
concebendo o espaço escolar como sendo de científico e pedagógico em direção aos cená-
Fonte Adaptado de RIVERA (2012), por CORREIA, Marcelo (2018)
238 239
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
•• Eu e o grupo.
•• O indivíduo e os diversos agrupamentos sociais: família, comunidade do bairro, •• Aspectos culturais da cidade e sua diversidade.
escola. •• A cidade e o campo: diferenciações e aproximações.
•• A casa, o bairro, a escola. •• Centro e periferia: uma relação socioespacial.
2º ANO
4º ANO
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
•• Percebe e descreve a importância
Observar e descrever o lugar como
dos grupos sociais na produção e
categoria de reconhecimento e de
reprodução do espaço? Identificar e reconhecer •• Identifica e valoriza o que é
(con)vivência.
•• Descreve como os grupos sociais as diferentes etnias e suas próprio nas distintas culturas
Identificar e descrever as diferenças convivem nos diferentes espaços contribuições para a formação da para a construção da cultura local,
e semelhanças dos hábitos dos do bairro ou da comunidade? cultura local, regional e brasileira. regional e brasileira?
grupos sociais do bairro ou da
•• Reconhece que viver em
comunidade nos diferentes
sociedade requer uma convivência
espaços.
e interações entre as pessoas?
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Formação e expansão do território (local, regional e brasileiro).
•• Pertencimento ao mundo e a um lugar. •• O bairro, parte da cidade, parte do estado, parte do país: escalas espaciais.
•• Grupos sociais e identidades. •• O bairro e a cidade como espaços de convivência (públicos).
•• Urbanidade no bairro: observação da paisagem e identificações.
240 241
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
população local, regional e aspectos da população local, Descrever e estabelecer relações seus espaços de (con)vivência?
brasileira. regional e brasileira? simples entre os elementos de •• Identifica e descreve semelhanças
Identificar e descrever os grupos •• Reconhece e reflete sobre as lutas diferentes naturezas (natural, e diferenças dos usos dos seus
étnico-raciais e étnico-culturais do dos grupos étnico-raciais e etnico- social e cultural) com a vida social espaços de (con)vivência?
município e comparar com outras -culturais e suas relações com os nos espaços de (con)vivência.
localidades. interesses políticos e econômicos?
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
242 243
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
3º ANO 4º ANO
GEOGRAFIA
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• As paisagens: os elementos naturais e sociais e suas significações.
•• Diversidade cultural e o território.
•• Paisagens naturais e humanizadas.
•• Estruturas espaciais de circulação e os movimentos.
5º ANO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Hierarquia urbana.
•• Campo e cidade.
•• Produção e reprodução do espaço geográfico.
244 245
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
ocorre a construção física e social de (con)vivência como uma ao trabalho, lazer e consumo; •• Identifica e descreve o conjunto de
dos espaços de (con)vivência. construção social histórica? e comparar o centro com a objetos socioespaciais (densidade,
periferia. qualidade e estado de conservação)
e seus usos?
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• As profissões: as artes do fazer e sua importância social.
•• As moradias como habitação.
•• Atividades econômicas.
•• Setores da economia (primário, secundário e o terciário).
2º ANO
4º ANO
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
•• Reconhece as atividades e as
Observar e descrever as atividades •• Compreende as transformações
relações de trabalho no município
tradicionais e contemporâneas do Identificar as consequências da técnicas e científicas realizadas
de Camaçari e as diferencia de
município de Camaçari (pescadores, ação antrópica na produção e pelas sociedades ao longo do
seus entornos?
marisqueiras, feirantes, reprodução do espaço geográfico tempo?
•• Localiza e diferencia espaços
comerciantes, ambulantes etc.). (local, regional e brasileira). •• Investiga as adequações de
segundo sua composição e
Analisar e descrever as marcas Refletir sobre a importância apropriação social da natureza na
atividade, no que se refere ao
existentes na paisagem, dos diferentes tipos de trabalho produção social do espaço?
trabalho, lazer e consumo?
comparando imagens de um (campo e cidade) para a •• Identifica e valoriza o que é
•• Identifica e analisa mudanças e
mesmo lugar em diferentes construção dos espaços de próprio nas distintas culturas
permanências do lugar ao longo
tempos. (con)vivência. para a construção da cultura local,
do tempo?
regional e brasileira?
•• Trabalho e profissões nos lugares: a importância social do trabalho – técnicas e •• Atividades econômicas do campo e da cidade.
materiais. •• Meios de circulação e produção.
246 247
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
Descrever as mudanças
socioespaciais e ambientais •• Reconhece e descreve os impactos
ocorridas ao longo do tempo socioespaciais e ambientais ocorridos na Observar e expressar em •• Expressa de forma simples, por
CIÊNCIAS HUMANAS
histórico nas áreas urbanas natureza, oriundos do desenvolvimento diferentes linguagens (desenhos, meio de diferentes linguagens
e rurais. técnico e científico informacional? fotos, textos, brincadeiras, mapas (desenhos, fotos, textos,
Analisar a importância do •• Identifica e compara os diferentes mentais etc.) o seu dia a dia nos brincadeiras etc.), os seus espaços
desenvolvimento técnico tipos de energia utilizados na produção espaços de (con)vivência. de (con)vivência?
científico informacional. industrial, agrícola e extrativista e na vida
Analisar os papéis dos cotidiana?
diferentes agentes (público, •• Reconhece e descreve os papéis dos
privado e social) na produção diferentes agentes na produção e
reprodução do espaço geográfico? OBJETOS DO CONHECIMENTO
e reprodução do espaço
geográfico.
OBJETOS DO CONHECIMENTO
Compreender e aplicar os
princípios de localização e posição •• Aplica e elabora diferentes formas
dos objetos (referenciais espaciais, de representação (desenhos,
como frente e atrás, esquerda mapas mentais, maquetes) para
e direita, em cima e embaixo, representar componentes da
dentro e fora) por meio de paisagem dos lugares de
representações espaciais da sala (con)vivência.
de aula e da escola.
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Orientação.
•• Localização da casa e da escola em relação ao bairro.
•• Elaboração de mapas mentais e croquis da situação do bairro.
•• Representação espacial da natureza.
248 249
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
3º ANO 5º ANO
GEOGRAFIA
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
•• Cartografia: elaboração de mapas de diferentes escalas. •• Elementos da natureza (chuva, vento, calor etc.).
•• Legenda como estratégia de comunicação. •• Hábitos e variação da temperatura.
•• Elaboração de maquetes simples.
250 251
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS Geografia
2º ANO 4º ANO
GEOGRAFIA
Compreender e reconhecer a
importância do solo e da água
para a vida, identificando seus •• Reconhece e descreve a Descrever as diferentes paisagens
diferentes usos (plantação e importância e os impactos dos naturais (relevo, cobertura vegetal,
•• Reconhece as especificidades do
extração de materiais, entre outras usos dos recursos naturais (solo hidrografia etc.) e antrópicas dos
CIÊNCIAS HUMANAS
funcionamento da natureza?
possibilidades) e os impactos e água) na cidade e no campo? seus ambientes de (con)vivência.
•• Investiga as adequações de
desses usos no cotidiano da cidade Identificar as consequências da
apropriação social da natureza na
e do campo. ação antrópica na produção e
produção social do espaço?
reprodução do espaço geográfico
(local, regional e brasileira).
OBJETOS DO CONHECIMENTO
3º ANO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
OBJETOS DO CONHECIMENTO
252 253
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS História
HISTÓRIA
mento que envolvem tempo, espaço e identi- os alunos à cultura do escrito, é o de conse- duzindo História e Geografia como compo-
dade e relações sociais, econômicas, políticas, guir que todos os seus ex-alunos cheguem a nentes com campo de estudo específicos e
culturais e religiosas, nas trajetórias do pas- ser membros plenos da comunidade de leito- perspectiva crítica e analítica, evidenciando,
sado, do presente e do futuro. A produção do res e escritores”. (LERNER, 2002) inclusive, a interdisciplinaridade própria das
conhecimento histórico leva em consideração áreas em questão. Segundo Horn e Germina-
CONCEPÇÃO DA ÁREA DE os sujeitos, as fontes e os documentos, bem Ao levar em consideração a leitura e escri- ri, para uma proposta curricular de História,
HISTÓRIA NO ENSINO como as realidades das alunas e dos alunos
na sua condição de existir e se relacionar com
ta do mundo, com a mediação do professor
e da professora, o ensino de História para
o ensino desse componente “[...] deverá ter
como função básica a superação do saber en-
FUNDAMENTAL outros sujeitos e habitar um determinado es- crianças promoverá aprendizagens, confor- ciclopédico e fragmentado” (2006).
paço, interagindo socialmente. me o grau de maturidade das faixas etárias
Para contextualizar o ensino de História do Ensino Fundamental I, considerando sen- A consolidação da divisão de Estudos So-
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, é Nesses processos de ensino e aprendiza- timentos negativos e positivos, identidade, ciais em História e Geografia ocorreu na
preciso compreender que ele é realizado por gem, a História dialoga com o universo da pertencimento, solidariedade, espírito críti- primeira década do século XXI. Observa-se
professores e professoras que possuem for- criança e com o lugar em que ela se encontra, co e valores, aliados ao desenvolvimento dos que o Programa Nacional do Livro Didáti-
mação em Pedagogia e que as alunas e os alu- sendo importante reunir nessas concepções estudos do tempo, espaço e da memória. co (PNLD), o Guia de Livros didáticos da 1ª
nos, oriundos da Educação Infantil, estão em as relações com o brincar, ler, escrever, inter- à 4ª série trazia títulos na área de Estudos
pleno processo de amadurecimento e devem, pretar, identificar, comparar, contextualizar e A gestão da sala de aula deve se importar Sociais. Embora os objetivos e as especifici-
portanto, avançar em sua trajetória escolar analisar – aprendizagens que fazem parte da com as metodologias e utilização dos mate- dades das áreas formadoras, História e Ge-
ao mesmo tempo que desenvolvem suas ca- construção do conhecimento de História. riais didáticos disponíveis para proporcio- ografia, estivessem evidentes, somente no
racterísticas cognitivas e afetivas. nar aos alunos e às alunas a organização de PNLD de 2004 é que se consagra a divisão
O ensino de História deve sempre assegu- repertórios culturais para compreensão do das disciplinas, uma vez que expressava-se
Ensinar História para crianças requer a rar o direito de ler e escrever que todo es- tempo e espaço vividos por eles. nos estudos dos especialistas a necessidade
compreensão de que esses sujeitos têm de- tudante que entra na escola possui. Até o de se rever a concepção de Estudos Sociais
veres e direitos a serem assegurados na es- término do Ensino Fundamental, estamos Aos estudantes cabe aprender a interpretar para os anos iniciais do Ensino Fundamental.
cola. Por isso, é preciso garantir que o am- falando de crianças e adolescentes, na con- a história individual como resultado de um
biente de aprendizagens seja lúdico, levando dição de sujeitos aprendentes, portanto é es- passado, compreendendo os hábitos, a cultu- Essas transformações tornaram-se mais
em conta as vivências cotidianas do aluno, sencial garantir a essas crianças, sujeitos de ra, os valores, as tradições, as tecnologias de divulgadas ao serem sistematizadas nos Pa-
para que o desenvolvimento intelectual re- direito, a compreensão da sua condição de uma época. Segundo a Base Nacional Comum râmetros Curriculares Nacionais (PCNs), de
flita as noções dos componentes curriculares seres diversos, dos deveres compreensíveis Curricular, o compromisso de uma educação 1997, em que uma série de diretrizes consi-
dos anos iniciais do Ensino Fundamental. neste nível e das possibilidades de melhorar integral busca a formação e o desenvolvi- derava a necessidade de uma mudança cur-
o mundo em que vivem de forma a torná-lo mento humano global, “o que implica com- ricular e programática aliada a uma práxis
Em se tratando do componente curricular um lugar com oportunidades iguais para to- preender a complexidade e a não linearida- pedagógica que evidenciasse o novo perfil do
da área de Ciências Humanas, as concepções dos. Segundo Lerner (2002), “o desafio que a de desse desenvolvimento, rompendo com ensino de História, desde as séries iniciais do
da área remetem às categorias do conheci- escola enfrenta hoje é o de incorporar todos visões reducionistas que privilegiam ou a Ensino Fundamental até o Ensino Médio. Com
dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimen- os PCNs, buscou-se, para professores de His-
são afetiva”. (BRASIL, 2018) tória, a assunção do papel de pesquisadores
do conhecimento histórico e de sua própria
prática, de modo que não mais desempenhem
SEPARAÇÃO SAUDÁVEL apenas a função de meros reprodutores do
conteúdo histórico. Para Fonseca (2003), dis-
Durante determinado período, o ensino cutir o ensino de História, hoje, “[...], é pensar
dessa disciplina esteve vinculado ao compo- os processos formativos que se desenvolvem
nente curricular chamado Estudos Sociais, o nos diversos espaços, é pensar fontes e formas
que privilegiou uma visão reducionista tan- de educar cidadãos, numa sociedade comple-
to da área de História quanto de Geografia. xa marcada por diferenças e desigualdades”.
Após ampliação dos estudos específicos de
ambas as áreas relacionadas à Educação, No final do século XX, a área de História le-
em meados dos anos 1980, estados como gitimou seu espaço e os professores apresen-
São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná substitu- taram algumas atividades inovadoras que
íram gradativamente a disciplina de Estudos buscaram empreender as mudanças, bem
Sociais em seus planos curriculares, intro- como atentar para as transformações advin-
254 255
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS História
das das demandas da disciplina. Afirma Ma- volvimento da disciplina para crianças e os isso, uma fragmentação e um esvaziamento Desse modo, os caminhos do ensino de His-
cedo (2005): pedagogos consideram os estudos da edu- de estudos que revelem um domínio concei- tória para crianças no município de Camaça-
cação mais generalista. Ou seja, há lacunas tual e metodológico, atendendo à construção ri deverá garantir que os estudantes se reco-
“Para este processo de ressignifica- curriculares tanto para quem se forma em de um currículo cheio de intenções quanto à nheçam como sujeitos do processo histórico
ção e de repolitização do currículo, História quanto para quem se forma em Pe- transmissão do conhecimento social. e reflitam sobre sua própria história, relacio-
é preciso a ação de espíritos aber- dagogia, confirmando a necessidade de apro- nando-a com o lugar em que vivem e com os
tos, destemidos, improgramáveis, fundamento nessa área, já que os professo- Dessa realidade, o segundo elemento do outros sujeitos com quem convivem, com-
rigorosos e, acima de tudo, respon- res de História não estão preparados para trinômio se desdobra e o ensino estará atre- preendendo e utilizando conceitos do com-
sáveis.” os anos iniciais do Ensino Fundamental e os lado a essa visão curricular que reproduz e ponente curricular História. Portanto, esta
pedagogos, com uma formação generalizada, mantém os poderes que a escola organiza. proposta curricular terá o compromisso de
Da nossa perspectiva, a multirreferência não recebem aprofundamento nas especifici- Cabe aqui repetir a pergunta que Moreira e possibilitar um ensino e uma aprendizagem
no currículo deve se dar num círculo de re- dades da disciplina. Silva fazem (2005): “Que forças fazem com que garantam à criança a consciência sobre
lações, de comunicações, onde, por exemplo, que o currículo oficial seja hegemônico e que si mesma e seus hábitos, a compreensão da
um conhecimento seja remetido a outro, Mesmo com essa discussão fronteiriça, o forças fazem com que esse currículo aja para cultura e do ambiente que ela vive, conhe-
como forma de não se conceber o antropos- conhecimento de História ocorre na Educa- produzir identidades sociais que ajudam a cendo e reconhecendo realidades próprias e
social sem o biológico, o biológico sem o físi- ção Infantil e no Ensino Fundamental, pro- prolongar as relações de poder existentes?” das outras pessoas do ambiente escolar, da
co, e assim por diante. Enfim, numa rede de porcionado por currículos elaborados por família, do bairro, da cidade e do mundo. Em
solidariedade dialógica e ousada. pedagogos e aulas ministradas pelos profes- Mesmo com o fim quase total da discipli- História, as relações do tempo e espaço com
sores pedagogos. Sendo assim, torna-se im- na Estudos Sociais nos currículos brasilei- base nas semelhanças e diferenças, nas per-
O ensino de História caminhou significati- portante – e, mais que isso, necessário – que ros, existe um resíduo na formação docente manências e mudanças e no universo social
vamente no sentido de diversificar a práti- as pesquisas de ambas as áreas se debrucem e na organização dos planos de curso que se da criança são bases para a potencialidade
ca pedagógica, buscando metodologias que para uma maior qualificação dos currículos apega a um ensino cronológico e factual, es- do ensino de História, afirmam Fermiano e
atendessem às mudanças ocorridas naquele e da formação dos professores. Ao invés de vaziado da proposta identitária suscitada an- Santos (2014):
cenário. Nessa perspectiva, uma das mudan- se afastar, deve-se acompanhar e consubs- teriormente, que atendia às orientações po-
ças atende aos estudos de Vygotsky que sa- tanciar os estudos de maneira que as bases líticas e ideológicas da ditadura civil militar “Uma forma de levar a criança a
lientam, quanto à formação da cidadania e teóricas e práticas se consolidem para uma no Brasil. Essa problemática fica evidenciada conhecer a realidade que a cerca é
criação de responsabilidade social nas crian- educação mais significativa e baseada na au- nas afirmações de Nemi e Martins (1996): estimulá-la a observar semelhan-
ças desde pequenas, que “o aspecto básico tonomia do pensamento das crianças. ças e diferenças, permanências e
da educação era trabalhar a consciência indi- “Na maioria das escolas, quando se mudanças. A partir daí, ela desco-
vidual para a participação na sociedade por inicia o ensino de História, as pri- bre que todos possuem história. O
meio da internalização de conceitos”. (NEMI O TRINÔMIO FORMAÇÃO- meiras informações que chegam maior potencial do ensino de His-
aos alunos tratam da trajetória dos tória é, pois, contribuir para loca-
& MARTINS, 1996)
-ENSINO-APRENDIZAGEM
portugueses até alcançar o Brasil, lizar a criança no seu contexto e,
Numa perspectiva construtivista, dialógica ignorando o que existia antes. O assim, torná-la capaz de se reco-
e interdisciplinar desde os anos iniciais até Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, objetivo das aulas é, quase sempre, nhecer como ser humano dentro de
o Ensino Médio, são propostas da área as vi- destaca-se um trinômio que precisa ser tra- o mesmo: apresentar os heróis e as um sistema de relações sociais que
sitas a campo, os seminários, as pesquisas balhado com as professoras e os professores: datas fundamentais e as ‘conquis- foi formado ao longo do tempo.”
orientadas, a apresentação de trabalhos di- formação-ensino-aprendizagem em História tas’ da sociedade brasileira desde o
versificados, as produções de leitura e escri- e a sua correlação com a concepção curricu- descobrimento. A aprendizagem em História – o terceiro
ta, as pastas memoriais, os registros de extra- lar dos planos de curso e o livro didático. Os conflitos, os movimentos popu- aspecto do trinômio – indica as relações com
polações, os debates, as rodas de conversas, lares, cujos líderes não são identi- os outros componentes curriculares que as
as observações etc. Nesse universo, cabe de- A primeira questão que se impõe revela que ficados, e a trajetória silenciosa da crianças dos anos iniciais do Ensino Funda-
limitar o que se adéqua às crianças dos anos a formação nos cursos de Magistério, Normal população em seu árduo cotidiano mental devem fazer, uma vez que a área de
iniciais do Ensino Fundamental, diversificar Superior e Pedagogia, ao longo do processo não são lembrados. Ciências Humanas abrange os conceitos de
o trabalho e dialogar interdisciplinarmente histórico das regulamentações do Ensino Se considerarmos o enorme poder tempo e espaço que dialogam para que ocor-
com as outras áreas de conhecimento. Fundamental no Brasil, grosso modo, não político e social que adquirem as ra a compreensão do sujeito no local da sua
apresenta força nem densidade na formação populações que dominam o saber História e a partir dela para o mundo.
Os estudos sobre o ensino de História nos específica, gerando um ensino polivalente sobre suas histórias, é de se inda-
anos iniciais do Ensino Fundamental tor- sem um substrato ontológico e epistemoló- gar quem teria interesse em limi- A organização dos conteúdos e métodos
nam-se um campo de pesquisa em fronteira: gico de áreas tão diversas tratadas nos anos tar as informações aos heróis e da- deste componente tem a incumbência de
os historiadores questionam sobre o desen- iniciais. A formação docente apresenta, com tas ‘destacados’.” permitir a interpretação de diferentes visões
256 257
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS História
da História para que a criança desenvolva cimento, uma vez que, desta ma- HISTÓRIA, ESCRITA E LEITURA um passado obscuro e distante da realidade
autonomia para suas próprias leituras. Com neira, os sujeitos podem inserir-se, dos estudantes, o tempo presente é analisado
isso, posteriormente, a consciência da rea- a partir de um pertencimento, nu- Outro aspecto a ser sublinhado é o fato de sob a perspectiva de processo, transformação,
lidade vai proporcionar a ela os saberes de ma ordem de vivências múltiplas e os professores nos anos iniciais, principal- rupturas, permanências, causalidades, seme-
seus direitos e deveres no processo de cons- contrapostas na unidade e diver- mente do 1º e 2º anos, estão com a atenção lhanças e diferenças, que vão sendo moldadas
trução da cidadania e do desenvolvimento da sidade do real”. voltada para o processo de aquisição da lei- com base nos múltiplos olhares de todos que
solidariedade entre os alunos e as alunas e tura e da escrita e, por vezes, secundarizam fazem História. Afirma a BNCC:
na comunidade. Para além das concepções O LIVRO DIDÁTICO o ensino de História. A proposta é que essas
“A história não emerge como um da-
baseadas no pressuposto das crianças como
E A TRANSPOSIÇÃO disciplinas trabalhem em conjunto com Lín-
sujeitos históricos, com base na realidade do gua Portuguesa. Aos professores, fica claro do ou um acidente que tudo explica:
lugar e no contexto em que essas crianças os objetivos do ensino de Língua Portuguesa ela é a correlação de forças, de en-
vivem, o ensino e a aprendizagem de Histó- O saber histórico proposto para as crianças e Matemática, porém, no que se refere ao en- frentamentos e da batalha para a
ria colabora para a formação do pensamento dos anos iniciais do Ensino Fundamental en- sino de História, percebe-se uma indefinição produção de sentidos e significados,
crítico, educa para a construção da cidadania, frenta questões que envolvem as transposi- ou mesmo uma incompreensão da sua im- que são constantemente reinterpre-
desenvolve a solidariedade e educa para a di- ções didáticas das discussões recentes, rela- portância, já que relatos afirmam que quan- tados por diferentes grupos sociais
versidade, na medida em que trabalha com cionadas à historiografia. Estudos feitos em do algum imprevisto altera o tempo pedagó- e suas demandas – o que, conse-
as novas temáticas que transversalizam o co- livros didáticos demonstram, segundo Oli- gico, as disciplinas de História, Geografia e quentemente, suscita outras ques-
nhecimento de todas as áreas, como cultura veira (2003), que as realidades espaço-tem- Ciências são colocadas à parte. tões e discussões.” (BRASIL, 2018)
afro-brasileira e indígena, direitos humanos, porais apresentam encadeamentos diferen-
corpo, biografias, história regional etc. tes, superficiais, simplificações e ausência As discussões na área do ensino de História Dessa forma, ao se pensar na proposta curri-
da diversidade e de conflitos; a historicidade frente à BNCC trazem uma gama de críticas e cular para os anos iniciais da Rede Municipal
É necessário também realçar, nos direitos das experiências sociais é pouco explorada posicionamentos de especialistas no que diz de Camaçari, é preciso levar em conta que a
de aprendizagens, o desenvolvimento do e as problematizações entre passado e pre- respeito às abordagens. Algumas críticas re- criança parte do seu “eu” para o encontro do
pensamento crítico para a formação da cons- sente não são evidenciadas; a teorização ferem-se às competências e habilidades que “outro”, descobrindo a si mesma como sujeito
ciência crítica. Segundo Paulo Freire (1996), metodológica inexiste; simplificações expli- são voltadas para um cidadão que atende a histórico e aprendendo com o outro sobre as
é necessário que a injustiça seja percebida cativas, que demonstram desconhecimento lógica liberal do mercado. Além disso, con- diferenças e pluralidades que identificam as
para possibilitar aos sujeitos inserirem-se no da produção historiográfica recente, em que sidera-se que todo o avanço da área de pes- realizações da humanidade ao longo do tem-
processo histórico. A consciência crítica pos- temas atuais são reduzidos e simplificados; quisas do ensino da disciplina voltado para po. Para tanto, o processo de aprendizagem
sibilita a inscrição dos sujeitos na realidade há construções inadequadas de conceitos e o pensamento crítico, a consciência históri- é permeado pela identificação, comparação,
para melhor conhecê-la e transformá-la, for- categorias do conhecimento histórico; e o co- ca e o desenvolvimento da aprendizagem a contextualização, interpretação e análise, de
mando-o para enfrentar, ouvir e desvelar o nhecimento histórico não é tratado com base cidadania retrocede para uma concepção de modo a proporcionar a autonomia do pensa-
mundo, procurando o encontro com o outro, em problematizações e fontes. sucessão cronológica e “saltos temporais” mento e a crítica a essa produção histórica.
estabelecendo um diálogo do qual resulta o que, segundo Domingues (2017), exigirão
saber. Para Schmidt e Garcia (2005): Observa-se, então, num segmento em que abstrações impossíveis de serem feitas com Antes de apresentar o quadro das aprendi-
o livro didático para disciplinas específicas é crianças no 4º e 5º anos. zagens esperadas, é necessário entender que,
“[...] torna necessário que profes- de suma importância, que há a necessidade em História, existem aprendizagens comuns
sores e alunos busquem a renova- de uma maior discussão sobre o conheci- A BNCC afirma que organiza o Ensino Fun- aos objetos de conhecimento que perpassam
ção dos conteúdos, a construção mento de História produzido nos anos ini- damental em cinco áreas e que elas favore- por todo o ano letivo. A aprendizagem não se
de problematizações históricas, ciais do Fundamental. cem a comunicação entre os conhecimentos encerra nos objetos de conhecimento e ler,
a apreensão de várias histórias e saberes dos diferentes componentes curri- escrever, interpretar, relacionar, comparar,
lidas a partir de distintos sujei- Para a superação desses desafios, o profes- culares. Cada uma tem um papel importante articular, opinar, observar, reconhecer, identi-
tos históricos, das histórias silen- sor é o sujeito fundamental na construção na formação integral dos alunos e há particu- ficar, criticar e pesquisar são conteúdos a se-
ciadas, histórias que não tiveram do currículo. É na parceria de pedagogos e laridades entre os anos iniciais e os finais, por rem desenvolvidos na relação ensino-apren-
acesso à História. Assim, busca-se historiadores que se pode vislumbrar alter- se considerar as características do alunado, dizagem, pois se configuram como caminhos
recuperar a vivência pessoal e nativas aos caminhos propostos, pois é na as especificidades e as demandas dessa fase para a leitura e interpretação do mundo, tão
coletiva de alunos e professores e reflexão colaborativa e no entendimento de da escolarização. O que se propõe no currí- importante para o ensino voltado para a au-
vê-los como participantes da re- superar as limitações e barreiras que se pode culo de História para as crianças perpassa o tonomia, crítica, cidadania e solidariedade.
alidade histórica, a qual deve ser produzir um ensino de História voltado para desenvolvimento da noção de tempo histó- Neste primeiro quadro, essas aprendizagens
analisada e retrabalhada, com o as crianças, que as respeite como sujeitos rico e a compreensão dos instrumentos que estão reunidas e dialogam com o quadro de
objetivo de convertê-la em conhe- históricos de direito e com a possibilidade de auxiliam os historiadores na produção desse competências específicas de História para o
cimento histórico, em autoconhe- realizar uma formação de qualidade. conhecimento. Longe de valorizar a ideia de Ensino Fundamental da BNCC (2018).
258 259
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS História
EIXO MUNDO PESSOAL: MEU LUGAR NO MUNDO, EU, MEU GRUPO SOCIAL E MEU TEMPO
APRENDIZAGENS COMUNS A TODOS OS ANOS
1º ANO
HISTÓRIA
Articular a curiosidade com a pesquisa escolar sobre os temas de História vivenciando
a produção de hipóteses, a observação, a busca por explicações e a comunicação e ex-
APRENDIZAGENS ESPERADAS INDICADORES
pressão dos dados por desenhos, leitura e escrita.
Valorizar e vivenciar uma atitude curiosa diante dos problemas que podem ser investi- Reconhecer a própria
gados pelas diferentes ciências. identidade por meio de sua •• Identifica e expressa fatos da sua vida
história pessoal. pessoal, em família e na escola?
1. Retirar informações básicas de imagens (fotografias, mapas, desenhos etc.) Compreender a família como •• Reconhece e descreve os sujeitos que
e construir pequenos textos relacionando fenômenos no tempo e espaço. grupo a ser caracterizado no compõem a família e as relações de
CIÊNCIAS HUMANAS
tempo e espaço, identificando parentesco?
2. Organizar de forma clara e simples um projeto de investigação (decidir sobre nome e sobrenome.
o objeto de investigação, usar a entrevista como mecanismo de investigação e
organizar dados).
261
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS História
•• Identifica o bairro em que mora EIXO A COMUNIDADE E SEUS REGISTROS, AS FORMAS DE REGISTRAR AS EXPERIÊNCIAS
HISTÓRIA
cotidianas?
vive, identificando as marcas da cidade?
históricas que a caracteriza. •• Identifica as questões sociais, como
OBJETOS DO CONHECIMENTO ruas pavimentadas, conservação de
moradias, esgotamento sanitário etc.,
que envolvem os bairros da cidade?
•• Identidade, nome e sobrenome, família, memória e tempo.
•• Antes, agora e depois; ontem, hoje e amanhã; os dias da semana; os meses do •• Reconhece a formação étnico-racial
ano; calendário; periodizações; bairro; profissões. de sua família?
Relatar o seu núcleo familiar •• Identifica as várias formações étnico-
e perceber seus ascendentes -raciais da família na sua cidade?
pelos grupos étnico-raciais •• Relata a predominância étnico-racial
formadores da história da de sua família?
cidade. •• Problematiza a questão da
diversidade e do respeito ao
diferente?
262 263
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS História
•• Relaciona os profissionais que são EIXO AS PESSOAS E OS GRUPOS QUE COMPÕEM A CIDADE E O MUNICÍPIO; O LUGAR EM
HISTÓRIA
266 267
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS História
•• Reflete sobre o uso da escravidão EIXO POVOS E CULTURAS: MEU LUGAR NO MUNDO E MEU GRUPO SOCIAL; REGISTROS
HISTÓRIA
269
Capítulo 4 Áreas do conhecimento CIÊNCIAS HUMANAS
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Referências
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