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Palhoça
2019
RAFAEL NIVALDO PORTO DA ROSA
Palhoça
2019
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO 10
2 CAPACIDADE CIVIL 12
2.1 DEFINIÇÃO DE CAPACIDADE CIVIL 12
2.1.1 Do dependente químico 15
2.1.2 Capacidade civil do usuário do dependente químico 17
2.1.2,1 O dependente químico e sua relação ao convívio social 23
3 A INRTENAÇÃO COMPULSÓRIA 25
3.1 CONCEITO DE INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA 26
3.1.1 O princípio da dignidade da pessoa humana 29
3.1.2 O direito à liberdade 32
3.1.3 O direito constitucional à saúde 33
3.1.3.1 Políticas públicas voltadas ao tratamento do dependente químico 35
3.2 DA CONSTITUCIONALIDADE 37
4 CONSTITUCIONALIDADE DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DOS
DEPENDENTES QUÍMICOS 40
4.1 A RESPONSABILIDADE DO ESTADO 40
4.1.1 A atuação do Poder Judiciário na proteção dos direitos 40
4.1.2 A reserva do possível e o mínimo existencial 42
4.2 A CONSTITUCIONALIDADE DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DO
DEPENDENTE QUÍMICO 44
4.2.1 O posicionamento dos tribunais superiores 45
4.2.2 A dignidade da pessoa humana, o direito à saúde, à liberdade: os direitos
fundamentais e a dignidade da pessoa humana 47
5 CONCLUSÃO 50
10
1 INTRODUÇÃO
2 CAPACIDADE CIVIL
1
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 5. Ed. São Paulo: 2015, p. 77.
2
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 5. Ed. São Paulo: 2015, p. 76.
3
GOMES, Orlando. Obrigações. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 172.
13
4
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. v. 1. São Paulo: Atlas, 2001, p. 139.
5
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. v. 1. 29. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 168.
6
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil: Parte Geral e LINDB.
São Paulo: Atlas, 2015, p. 274.
14
legal privilegiado, capaz de preservar seus interesses. Neste sentido José Fernando
Simão atesta que o rol de pessoas incapazes existe para que essas pessoas
recebam especial proteção quando da prática dos atos da vida civil 7.
Logo, Rosenvald confirma ser certo afirmar que a capacidade é a regra e
a incapacidade é a exceção. Não existindo uma diferença, pois a maioria das
pessoas gozam da saúde mental e física para exercer os atos da vida civil. Diante
disto, o poder legislativo por intermédio dos parlamentares quando elaboraram
Código Civil de 2002, optaram por objetivar apenas as modalidades de restrição da
capacidade civil plena, formando um rol taxativo de incapazes 8.
Em consonância com o exposto para elucidar a opção escolhida do poder
legislativo, expomos o conceito de incapacidade de Rodrigues ”a incapacidade é o
reconhecimento da inexistência, numa pessoa, daqueles requisitos que a lei acha
indispensáveis para que ela exerça os seus direitos” 9.
Ante a reflexão por esta definição, entende-se que Rodrigues ao citar os
requisitos do Código Civil responde que não existe o direito positivo em nenhuma
forma sobre as condições indispensáveis para que alguma pessoa exerça os seus
direitos, pois a legislação vigente não determina um dispositivo que menciona os
requisitos para uma pessoa ser diagnosticada apta para o exercício dos seus
direitos.
Ao contrário, a legislação vigente vem seguindo um aspecto negativo
onde é indicado que as pessoas são denominadas capazes. Sendo assim, ao indicar
as modalidades para a normalidade, o Código Civil aponta direito para exceção 10.
Com isso o legislador garante que exista uma interpretação do rol das
incapacidades, não tendo como serem abrangidas outras hipóteses, sendo apenas
no âmbito médico que tem espaço para discricionariedade, porque apenas um
médico pode diagnosticar se a pessoa tem determinadas enfermidades, como
dependência de tóxicos, deficiência mental ou física, transtornos psicológicos ou
comportamentais ou qualquer outra enfermidade que o assola tendo previsão no
ordenamento jurídico.
7
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. v. 1. São Paulo: Max Limonad, 1962, p. 64.
8
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil: Parte Geral e LINDB.
São Paulo: Atlas, 2015, p. 273.
9
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. v. 1. São Paulo: Max Limonad, 1962, p. 64.
10
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF: Presidência da
República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.
Acesso em: 8 nov. 2019.
15
11
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral.
Vol. 1. 14 Ed, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 138.
12
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte
Geral. Vol. 1. 14 Ed, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 138.
13
Por substâncias, entende-se aqueles materiais que são definidos como ilícitos pelo Direito.
14
LABATE, Beatriz Caiuby et al. Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008.
p. 13.
16
15
DEA, Hilda Regina Ferreira Dalla et al . A inserção do psicólogo no trabalho de prevenção ao abuso
de álcool e outras drogas. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 24, n. 1, p. 108-115, Mar. 2004.
16
PRATTA, Elisângela Maria Machado; SANTOS, Manoel Antonio dos. The health-illness process
and the chemical dependence: interfaces and evolution. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 25, n. 2,
p. 203, 2009.
17
ARAUJO, Renata Brasil et al. Craving e dependência química: conceito, avaliação e tratamento. J
bras psiquiatr, v. 57, n. 1, p. 57-63, 2008.
17
portanto, que faz com que o uso da substância seja contínuo, tornando o usuário,
por conseguinte, dependente dela.
Dependente químico, portanto, é aquele que é possui as manifestações
que caracterizam a dependência química. Sua relação com a substância se dá de
maneira patológica.
Com esses breves esclarecimentos acerca da dependência química, e de
dependente, pode-se ter um retrato mais apropriado do dependente químico. Com
isso, possibilita-se a identificação da sua capacidade civil, requisito essencial para o
regular desenvolvimento teórico do presente trabalho.
Após o ingresso nesse caminho sem volta que é o vício no uso do crack
diagnosticado por um médico como viciado, a pessoa deixa de ter a sua capacidade
civil plena sendo ela relativa, convertendo-se pela interdição judicial, onde irá
resultar uma assistência por um curador que vai acompanhar o usuário nos atos da
vida civil como expõe Diniz::
Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que por deficiência
mental, tiverem o seu discernimento reduzido (Código Civil, artigo. 4º, II;
Constituição Federal, art.227, §3º, VII, com a redação da Emenda
Constitucional n. 65/2010). Baseado em posição fundada em subsídios mais
recentes da ciência médica-psiquiátrica, o novo Código Civil alarga os casos
de incapacidade relativa decorrente de causa permanente ou transitória.
Assim sendo, alcoólatras ou dipsômanos (os que têm impulsão irresistível
para beber ou os dependentes do álcool), toxicômanos, ou melhor,
toxicodependentes (opiômanos, usuários de psicotrópicos, crack, heroína e
maconha, cocainômanos) ou portadores de deficiência mental adquirida, em
razão, p. ex., de moléstia superveniente (p. ex., psicose, mal de Alzheimer),
que sofram uma redução na sua capacidade de entendimento, não
poderão praticar atos na vida civil sem assistência curador (Código
Civil, art. 1.767, III), desde que interditos 24.
23
ZAFFARONI, Eugenio Rául; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro
Parte Geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 534.
24
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. v. 1. 29. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 190.
25
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. v. 1. 29. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 203.
26
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 184.
20
27
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: Parte Geral. v.1. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 689.
28
BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)Brasília, DF: PResidência da República, 2015.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em:
14 setembro. 2019.
29
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: Direito de Família. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 496.
21
30
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: Parte Geral. V.1. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 689.
31
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF: Presidência da
República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.
Acesso em: 8 nov. 2019.
22
32
BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) Brasília, DF: PResidência da República,
2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso
em: 14 setembro. 2019.
33
BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) Brasília, DF: PResidência da República,
2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso
em: 14 setembro. 2019.
34
FARIAS, Cristiano Chaves de. et al. Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por
artigo. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 240.
23
Tal qual que ocorre com o criminoso que sofre alguma condenação
advinda do Poder Judiciário, o dependente químico, nos mais das vezes, também é
etiquetado35, isso é, ele é estigmatizado, sendo-lhe imposta determinadas defeitos
por conta de sua dependência química.
Com efeito, assim como o criminoso condenado, “a dependência química
já foi considerada pela sociedade um desvio de personalidade que acometia aqueles
com dificuldades de relacionamento” 36. Dessa maneira, cria-se, ainda que de modo
inconsciente, uma exclusão social do dependente químico.
Nesse sentido, portanto, a inserção social do dependente químico deve
ser analisada sob os mais diversos prismas, sob pena de, caso contrário, se cair em
uma análise ingênua da sua situação. Portanto, temas como família, trabalho,
moradia etc são temas que devem ser objeto de uma análise apropriada, dado que
se relacionam com essa abordagem mais abrangente, que abarca o contexto
socioeconômico em que o dependente químico está inserido.
A análise que ora se empreende se torna ainda mais complexa quando se
tem em mente que “no Brasil, o uso de drogas intensifica-se sempre mais, tornando
difícil e complexa sua abordagem”37. Tal conjuntura não é exclusivamente brasileira;
ao contrário, o uso de drogas cresce em escala global. Com efeito, “de acordo com
o Relatório Mundial sobre Drogas de 2012, de 3,4% a 6,6% da população entre 15 e
64 anos é usuária”38
Assim, para que se tenha uma visão mais condizente com a realidade
vivida pelas pessoas que são dependentes químicos, deve-se observar, de início, as
pesquisas referentes a sua situação e que podem, por conseguinte, fornecer essa
visão mais de acordo com a realidade deles.
Desse modo, cabe identificar a relação havida entre os dependentes
químicos e seus familiares39, sendo este o âmbito mais restrito no qual ele está
35
GAY, Doug. Labeling Theory: The New Perspective. The Corinthian, v. 2, n. 1, p. 1, 2000.
36
CAPISTRANO, Fernanda Carolina et al. Impacto social do uso abusivo de drogas para
dependentes químicos registrados em prontuários. Cogitare Enfermagem, v. 18, n. 3, p. 468, 2013.
37
MORAES, Leila Memória Paiva et al. Expressão da codependência em familiares de dependentes
químicos. Revista Mineira de Enfermagem, v. 13, n. 1, p. 34, 2009.
38
SANCHES, Laís Ramos; VECCHIA, Marcelo Dalla. REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL E
REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS DE DROGAS: REVISÃO DA LITERATURA. Psicol. Soc.,
Belo Horizonte , p. 43. v. 30, e178335, 2018 .
24
39
De fato, “a família continua sendo, apesar de todos os defeitos que possa ter, o grupo social no
qual os participantes convivem com maior respeito. O núcleo familiar é onde o amadurecer deve ser
valorizado; é aí que, apesar dos erros, dificuldades e problemas, aprendemos finalmente a ser
adultos responsáveis. Se a família tem regras claras, o jovem terá parâmetros para agir, desde cedo
assumindo responsabilidades de acordo com a própria capacidade. Poderá optar pelo não
cumprimento e, se decidir não fazê-lo, estará aceitando as consequências advindas de seu ato. Pais
que acompanham de perto as atividades dos filhos aprendem a identificar rapidamente um problema
verdadeiro, quase nunca o confundindo com uma simples desculpa por preguiça ou esquecimento”.
(DRUMMOND; DRUMMOND FILHO, 1998, p. 66).
40
ARAGAO, Antonio Teulberto Mesquita; MILAGRES, Elizabete; FIGLIE, Neliana Buzi. Qualidade de
vida e desesperança em familiares de dependentes químicos. PsicoUSF, Itatiba , v. 14, n. 1, p.
1123, abr. 2009.
41
SANCHES, Laís Ramos; VECCHIA, Marcelo Dalla. REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL E
REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS DE DROGAS: REVISÃO DA LITERATURA. Psicol. Soc.,
Belo Horizonte , p. 41. v. 30, e178335, 2018 .
42
SANCHES, Laís Ramos; VECCHIA, Marcelo Dalla. REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL E
REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS DE DROGAS: REVISÃO DA LITERATURA. Psicol. Soc.,
Belo Horizonte , p. 42. v. 30, e178335, 2018.
43
NIMTZ, Miriam Aparecida et al. Legal and work-related impacts in the life of chemically dependent
individuals. SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas, v. 12, n. 2, p. 74, 2016.
25
maneira ínfima o foco na questão social e da eficácia das políticas públicas voltadas
aos dependentes químicos”44.
Nessa conjuntura, destarte, o que se vê de modo cristalino é a ausência
de uma sistematização no que diz respeito à proteção do dependente químico por
parte do Poder Público.
Adicionalmente, há uma vasta série de consequências para com seus
familiares e seu desenvolvimento social, de maneira que a inserção social do
dependente químico é demasiadamente dificultosa e precária, não obstante certas
políticas públicas realizadas pelo Estado, que, contudo, são feitas de maneira
assistemática e não resolvem a situação do dependente químico de um modo
estrutural.
3 A INRTENAÇÃO COMPULSÓRIA
§ 4º A internação voluntária:
46
BRASIL. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 10
de out. 2019.
27
§ 5º A internação involuntária:
Art. 23-A.
[...]
§ 7º Todas as internações e altas de que trata esta Lei deverão ser
informadas, em, no máximo, de 72 (setenta e duas) horas, ao Ministério
Público, à Defensoria Pública e a outros órgãos de fiscalização, por meio de
sistema informatizado único, na forma do regulamento desta Lei.
47
BRASIL. Lei n. 13.840, de 5 de abril de 2019. Altera as Leis nos 11.343, de 23 de agosto de
2006, 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de
dezembro de 1997, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de
14 de setembro de 1993, 8.069, de 13 de julho de 1990, 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e
9.503, de 23 de setembro de 1997, os Decretos-Lei nos 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621,
de 10 de janeiro de 1946, e 5.452, de 1º de maio de 1943, para dispor sobre o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários ou dependentes
de drogas e para tratar do financiamento das políticas sobre drogas Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm. Acesso em: 10 de out. 2019.
28
48
BRASIL. Lei n. 13.840, de 5 de abril de 2019. Altera as Leis nos 11.343, de 23 de agosto de
2006, 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de
dezembro de 1997, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de
14 de setembro de 1993, 8.069, de 13 de julho de 1990, 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e
9.503, de 23 de setembro de 1997, os Decretos-Lei nos 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621,
de 10 de janeiro de 1946, e 5.452, de 1º de maio de 1943, para dispor sobre o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários ou dependentes
de drogas e para tratar do financiamento das políticas sobre drogas Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm. Acesso em: 10 de out. 2019.
49
FERREIRA, Pablo Henrique de Abreu. A constitucionalidade da internação compulsória dos
usuários dependentes químicos de drogas. Âmbito jurídico. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-constitucionalidade-da-internacao-
compulsoria-dos-usuarios-dependentes-quimicos-de-drogas/. acesso em 13 out. 2019.
29
50
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. p.106.
51
RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p. 206.
52
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2007, p. 68.
53
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2007, p. 77.
30
55
PAULO, Vicente. Direito Constitucional descomplicado. 3. ed., rev. E atualizada. Rio de Janeiro :
Forense ; São Paulo : METODO : 2008. p. 107.
56
MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 378.
32
que prevejam tal instituto. Referida questão será explanada no terceiro capítulo do
presente trabalho.
Por todo o exposto, se vê que a dignidade humana pode vir a colidir com
a instituição compulsória, dado que, como decorrência da dignidade, o ser humano
dever ser considerado livre, o que pode ser, em tese, violado pela internação
compulsória.
59
BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 11 out. 2019.
34
A primeira das leis que buscou completar esse mister (i.e., de promover o
acesso universal à saúde) foi a já citada lei 10216 de 2001, que tratou das pessoas
60
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 7.
ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 901.
61
HIRDES, Alice. A reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re) visão. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro , v. 14, n. 1, p. 297-305, Feb. 2009 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000100036&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13 Out. 2019.
62
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 7.
ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 901.
63
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p.
837.
35
com deficiência, além dos dependentes químicos. Referida lei procurou “reafirmar as
diretrizes do Sistema Único de Saúde e garantir àqueles com transtornos mentais
em decorrência do uso de substâncias psicoativas os serviços de saúde e
assistência.”64.
Posteriormente, no ano de 2002, foram criados os Centros de Atenção
Psicossocial, Álcool e outras drogas (CAPS AD), buscando concretizar a política de
proteção integral ao usuário de drogas dependente químico 65.
Em 2006, com a lei 11.343, chamada de lei de drogas, criou-se o
SISNAD. Suas finalidades estão explicadas no referido diploma legal:
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico
ilícito de drogas e define crimes.
[...]
64
FRITZ, Railana Gomes. A (in)constitucionalidade da medida de internação compulsória do
dependente químico. 2015. 66 f. TCC (Graduação) - Curso de Direito, Fundação Universidade
Federal de Rondônia – Unir, Cacoal, 2015. p. 15.
65
FRITZ, Railana Gomes. A (in)constitucionalidade da medida de internação compulsória do
dependente químico. 2015. 66 f. TCC (Graduação) - Curso de Direito, Fundação Universidade
Federal de Rondônia – Unir, Cacoal, 2015. p. 15.
66
BRASIL.Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Regulamento Institui o Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras
providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 10 de out. 2019.
36
3.2 DA CONSTITUCIONALIDADE
humanos e, em conformidade com a própria constituição (artigo 5º, §2º) 69. possuem
status de norma constitucional70.
A inconstitucionalidade, ademais, pode-se ser de duas espécies:
inconstitucionalidade formal e inconstitucionalidade material 71.
Por inconstitucionalidade formal, quer-se dizer que a norma, conduta ou
ato, é incompatível com a Constituição no sentido de não ter seguido o rito por ela
previsto para o nascimento da norma jurídica 72
Assim, as normas jurídicas devem ser feitas por quem, dentro do poder
estatal, recebeu tal incumbência da Constituição. Mais ainda, devem tratar de tema
autorizado por essa mesma constituição. O que aqui se diz, em última análise, nada
mais é do que a competência estabelecida constitucionalmente para a elaboração
de normas jurídicas73.
Além disso, não basta que as normas jurídicas sejam feitas por quem de
direito e possuam o conteúdo em conformidade com a constituição. É necessário,
adicionalmente, que elas venham ao mundo jurídico pelo instrumento adequado.
Assim, por exemplo, impensável que uma norma jurídica cujo conteúdo seja
exclusivo de lei complementar seja publicado por lei ordinária 74.
Por outro lado, inconstitucionalidade material significa que a
incompatibilidade com a constituição é diversa. Nela, a incompatibilidade não se
refere à competência que fora violada, tampouco ao instrumento jurídico em que a
norma veio a mundo jurídico. Na verdade, nessa espécie de inconstitucionalidade,
há uma incompatibilidade material: o conteúdo vinculado é contrário às disposições
contidas na constituição. É o caso, por exemplo, de uma lei infraconstitucional que,
alterando o Código Penal, inclua uma pena que não seja permitida pelo texto
constitucional, verbi gratia:
art. 5º
69
BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 11 out. 2019.
70
MARTINS, Flávio. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p.
579.
71
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p.
599.
72
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p.
599.
73
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p.
600.
74
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p.
600.
38
[...]
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis75
75
BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 11 out. 2019.
39
Por ter esse dever determinado por lei, caberá ao Poder Judiciário, no
contexto do que aqui se discute, fazer com os direitos e garantias fundamentais
sejam preservados, sobretudo porque, conforme já afirmado alhures???, a
internação compulsória é medida excepcional.
Exposta a atuação do Poder Judiciário, cabe analisar, nesse contexto, a
ideia da reserva do possível e do mínimo existencial, que se relacionam de modo
íntimo com a temática ora em comento.
76
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. O Poder Judiciário e a sua vinculação aos direitos
fundamentais. Âmbito Jurídico. Disponível em:https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/o-poder-judiciario-e-a-sua-vinculacao-aos-direitos-fundamentais/ . Acesso em: 08 nov.
2019.
77
TAVARES, André Ramos. Direito Constitucional Econômico. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense: São
Paulo: Método, 2011. p. 129.
78
BRASIL. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 10
de out. 2019.
41
79
ELBERT, Fabiana Okchstein. Reserva do possível e a efetividade dos direitos sociais no
direito brasileiro. 1. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2011. p. 114.
80
ELBERT, Fabiana Okchstein. Reserva do possível e a efetividade dos direitos sociais no
direito brasileiro. 1. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2011. p. 114.
81
COSTA, Eliane Rodrigues da Silva. A lesividade excessiva frente a pouca efetividade da internação
compulsória do dependente químico. Conteúdo Jurídico. Disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/51052/a-lesividade-excessiva-frente-a-pouca-
efetividade-da-internacao-compulsoria-do-dependente-quimico. Acesso em: 07 nov. 2019.
42
82
SARLET, Ingo Wolfgang; ZOCKUN, Carolina Zancaner. Notas sobre o mínimo existencial e sua
interpretação pelo STF no âmbito do controle judicial das políticas públicas com base nos direitos
sociais. Rev. Investig. Const., Curitiba , v. 3, n. 2, p. 115-141, Aug. 2016 . Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2359-56392016000200115&lng=en&nrm=iso.
Acesso em: 08 Nov. 2019. Epub Apr 15, 2019. http://dx.doi.org/10.5380/rinc.v3i2.46594.
83
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. O Poder Judiciário e a sua vinculação aos direitos
fundamentais. Âmbito Jurídico. Disponível em:https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/o-poder-judiciario-e-a-sua-vinculacao-aos-direitos-fundamentais/ . Acesso em: 08 nov.
2019.
43
84
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. O Poder Judiciário e a sua vinculação aos direitos
fundamentais. Âmbito Jurídico. Disponível em:https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/o-poder-judiciario-e-a-sua-vinculacao-aos-direitos-fundamentais/ . Acesso em: 08 nov.
2019.
85
TAVARES, André Ramos. Direito Constitucional Econômico. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense: São
Paulo: Método, 2011. p. 129.
44
Superiores, sobre a discussão que ora se expõe. Por conta disso, antes de se
passar a identificação dos contornos teóricos e doutrinários dessa discussão, cabe,
antes, expor as manifestações do Tribunais Superiores.
86
MONTEIRO, Tatiana Aparecida Rodrigues. Judicialização da saúde: atuação do Poder Judiciário
nas internações de dependentes químicos e outras drogas. Jus. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/52668/judicializacao-da-saude-atuacao-do-poder-judiciario-nas-internacoes-
de-dependentes-quimicos-e-outras-drogas. Acesso em: 05 nov. 2019.
87
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 635659. Relator: Gilmar Mendes.
São Paulo, 20 de agosto de 2015. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE635659.pdf. Acesso em: 01 Nov. 2019.
45
88
GOIÁS. Tribunal de Justiça de Goiás. Apelação Cível 00455870920198090085. Relator: Fausto
Moreira. Data de julgamento: 02/10/2019. Disponível em:
https://tj-go.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/764689346/apelacao-cpc-455870920198090085/inteiro-
teor-764689347?ref=juris-tabs Acesso em: 01 Nov. 2019. Grifo nosso.
46
89
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 396648/SP. Relator: Ministro Raul Araújo.
Data de julgamento: 27/06/2017. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/484045812/
habeas-corpus-hc-396648-sp-2017-0087932-2?ref=serpAcesso em: 01 Nov. 2019.
90
BRASIL. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 10
de out. 2019.
91
BRASIL. Lei n. 13.840, de 5 de abril de 2019. Altera as Leis nos 11.343, de 23 de agosto de
2006, 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de
dezembro de 1997, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de
14 de setembro de 1993, 8.069, de 13 de julho de 1990, 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e
9.503, de 23 de setembro de 1997, os Decretos-Lei nos 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621,
de 10 de janeiro de 1946, e 5.452, de 1º de maio de 1943, para dispor sobre o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários ou dependentes
de drogas e para tratar do financiamento das políticas sobre drogas Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm. Acesso em: 10 de out. 2019.
47
92
MENDES, Karyna Rocha. Curso de Direito da Saúde. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 44.
93
COELHO, Isabel, OLIVEIRA, Maria Helena Barros de; Internação compulsória e crack: um
desserviço à saúde pública. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-11042014000200359. Acesso em 07 ago. 2016.
94
COELHO, Isabel, OLIVEIRA, Maria Helena Barros de; Internação compulsória e crack: um
desserviço à saúde pública. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-11042014000200359. Acesso em 07 ago. 2016.
48
95
PANSIERI, Flávio. Liberdade no pensamento ocidental, A. Enciclopédia jurídica da PUC-SP.
Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo:
Teoria Geral e Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André
Luiz Freire (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.
Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/114/edicao-1/liberdade-no-pensamento-
ocidental,-a.
49
5 CONCLUSÃO
Por tudo o que aqui fora exposto, pode-se afirmar que a internação
compulsória é instrumento manifestamente constitucional.
As alegadas violações à dignidade da pessoa humana são baseada em
interpretações equivocadas e limitadas do referido conceito. Igualmente, a noção de
que o direito à liberdade possa, pura e simplesmente, fundamentar a exposição do
indivíduo à inaudita degradação causada pelas drogas é uma ideia absolutamente
incorreta.
A defensa da inconstitucionalidade da internação compulsória, destarte, é
equivocada. E Isso por duas razões principais.
A primeira é a de que o indivíduo dependente químico não pode ser
isolado do contexto sociológico, econômico e histórico em que está inserindo. Desse
modo, o apelo ao direito à liberdade já se mostra equivocado, dado que a liberdade,
por mais que se reconheça a autonomia do indivíduo, nunca se dá em um vácuo
contextual; na verdade, o dependente químico sempre está em relação com outro,
sejam familiares, sejam amigos. Desse modo, os danos causados por uma pretensa
liberdade ilimitada não se coadunam com a intenção do constituinte que, por certo,
estava ciente do que aqui se diz acerca da limitação da liberdade.
A segunda, por outro lado, refere-se ao fato de que a dignidade humana,
uma vez entendida essa limitação ao direito à liberdade, tem de ser entendida como
meio de se preservar o usuário de drogas dependente químico do mau uso que faz
de sua liberdade.
Há ainda uma terceira razão: o direito à saúde, que preconiza o acesso
universal e igualitário, não pode ser, convenientemente, esquecido pelo poder
público em uma situação tão extrema quanto a dependência química. Daí que o
direito à saúde, quando acertadamente entendido, impõe que haja o tratamento do
usuário de drogas dependente químico, ainda que contra sua vontade, vez que é
dever do Poder Público dar a seus cidadãos uma saúde digna e apropriada.
Por tudo isso, já se observa que a internação compulsória, longe de violar
os preceitos constitucionais supracitados (dignidade da pessoa humana, saúde e
liberdade), na verdade, faz com que eles sejam garantidos na prática, de modo que
50
REFERÊNCIAS
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DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. v.
1. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
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chemically dependent individuals. SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool
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Geral e LINDB. São Paulo: Atlas, 2015.
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TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 5. Ed. São Paulo: 2015.
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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. 14ª ed. São Paulo: Atlas,
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