Debbie Harry: Musa do Blondie recorda carreira, analisa
mercado atual e assume: ‘Éramos todos meio lunáticos’
OGLOBO
Irineu Marinho (1876-1925)
CRISE DIPLOMÁTICA
Lula compara
guerra em Gaza
ao Holocausto,
e Israel reage
Netanyahu diz que fala é ‘vergonhosa’ e
convoca embaixador brasileiro em Tel Aviv
O governo de Israel convocou o embaixa-
dor brasileiro em Tel Aviv “para uma dura
conversa de repreensão” após o presidente
Lula ter comparado a guerra em Gaza ao
Holocausto. “O que está acontecendo na
Faixa de Gaza não existe em nenhum outro
momento histórico, aliás, existiu, quando
GUGA CHACRA
Criticar é legítimo, mas comparar
ao Holocausto é antissemita PÁGINA 21
MÁRCIA FOLETTO
Megadespedida. Milhares de foliões do Monobloco desfilam no circuito da Rua Primeiro de Março, no Centro, no último dia do calendário oficial de blocos do Rio de Janeiro
HEGEMONIA BRABA
Corinthians chega
a tri consecutivo da
Supercopa feminina
Rotina vencedora das “brabas”,
como são chamadas as jogadoras do
Corinthians, continuou ontem, quando
venceram o Cruzeiro e conquistaram
seu terceiro título seguido da Supercopa.
Ronaldo, dono da SAF da Raposa,
reclamou de erro do VAR. CADERNO DE ESPORTES
SEGUNDO CADERNO
(1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO, SEGUNDA-FEIRA, 19 DE FEVEREIRO DE 2024 ANO XCIX - Nº 33.068 • PREÇO DESTE EXEMPLAR NO RJ • R$ 6,00
DIVULGAÇÃO/KIKO FERRITE
OBITUÁRIO/ABILIO DINIZ
Empresário
ajudou a moldar
o varejo no Brasil
Um dos empresários mais influentes do
Brasil, Abilio Diniz morreu ontem aos 87
anos. Seu tino empreendedor transformou
o Pão de Açúcar, uma doceria fundada por
seu pai, em um gigante do varejo nacional.
O vice-presidente Alckmin, políticos e
executivos lamentaram sua morte. PÁGINA 12
CÚPULA NO RIO
Reforma da ONU será o foco do
Brasil no encontro do G20 PÁGINA 22
MOSSORÓ
Presidente sugere conivência
em fuga de detentos
Ao se manifestar pela primeira vez
sobre a fuga de dois detentos do presídio
federal de Mossoró, o presidente
Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou Lula sugeriu que houve conivência:
Lula em entrevista a jornalistas estrangei- “cavaram um buraco, e ninguém viu”.
ros na Etiópia. O primeiro-ministro israe- Fuga foi registrada por só uma câmera,
lense, Benjamin Netanyahu, disse que a fa- com baixa qualidade. PÁGINAS 7 e 8
la foi “vergonhosa”. Representantes da co-
munidade judaica, dentro e fora do Brasil,
repudiaram as declarações de Lula. PÁGINA 21 — Voltamos!
Gastos com Previdência se
aproximam de R$ 1 trilhão
DEMÉTRIO MAGNOLI FERNANDO GABEIRA As despesas do governo com
Os palanques de Putin servem à Visões do apocalipse ajudam aposentadorias e pensões do INSS podem
esquerda e à extrema direita PÁGINA 3 a analisar o mundo PÁGINA 2 chegar a R$ 1 trilhão já em 2025. PÁGINA 11
Rio se despede da
folia com show na
Sapucaí e megabloco
O tradicional Desfile das Campeãs foi
precedido por um show comandado por
Anitta em homenagem aos 40 anos do
Sambódromo. Mais de 20 blocos, entre eles
o Monobloco, tomaram as ruas do Rio na
despedida da folia. E, em 2025, o carnaval
carioca vai “importar” paulistas: Mangueira
e Salgueiro contrataram os carnavalescos
da Vai-Vai e da Mocidade Alegre. PÁGINA 15
GUITO MORETO
Sambódromo. Anitta canta ao lado do tio Capoeira Machado
MIGUEL SCHINCARIOL/AFP
Papa-títulos. CARIOCA
Depois de, em 2023,
vencerem todas
Payet comanda
virada e
as competições
de que participaram,
goleada do
corintianas
festejam seu primeiro Vasco
título em 2024
Com grande atuação do
craque francês, Vasco
Festa dobrada. ganha do Botafogo por
Um dos destaques 4 a 2 e se aproxima
do jogo, Lucas Piton da classificação para
comemora seu gol e o semifinais do torneio.
filho que vai nascer CADERNO DE ESPORTES
PETER ILICCIEV/AGENCIA ENQUADRAR
2 |
Opinião do GLOBO
PGR mostra que
plenário deve rever
decisões de Toffoli
Recurso de Gonet traz argumentos
convincentes para que caso Odebrecht
seja levado aos 11 ministros do STF
O B
procurador-geral da Repú-
blica, Paulo Gonet, apre-
sentou na semana passa-
da recurso contra a deci-
são individual provisória
do ministro Dias Toffoli, do Supremo
Tribunal Federal (STF), de suspender
o pagamento de multas da Odebrecht
(atual Novonor), previstas no acordo
de leniência firmado em 2016 na Ope-
ração Lava-Jato. Gonet pede que a deci-
são seja reconsiderada por Toffoli ou
avaliada com urgência pelos 11 minis-
tros no plenário do STF, e não pela Se-
gunda Turma, que reúne apenas cinco
ejulga os casos da Lava-Jato.
A Procuradoria-Geral da República
(PGR) apresenta duas boas razões em
seu recurso. Primeiro, aponta seme-
lhança do caso com a Arguição de Des-
cumprimento de Preceito Fundamen-
tal 1.051, que pede ampla suspensão de
multas e já é analisada no plenário, sob
arelatoria do ministro André Mendon-
ça. Segundo, diz Gonet, não falta “rele-
vância singular” ao tema, dada a impor-
tância dos acordos da Odebrecht no
contexto de combate à corrupção.
Quando suspendeu os pagamentos
da Odebrecht no fim de janeiro, Toffoli
afirmou que a medida era necessária
Representação feminina em câmaras
municipais traduz limite das cotas
Apesar de lei exigir um mínimo de
30% de candidatas, nas capitais elas
somam apenas 18% das vereadoras
R
eportagem recente do
GLOBO constatou a
dificuldade de consoli-
dar a representação das
mulheres no Legislati-
vo. Em nenhuma das câmaras
municipais das 26 capitais brasi-
leiras a bancada feminina chega a
ocupar um terço dos assentos, de
acordo com dados do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Ao to-
do , elas somam 18% das vereado-
ras nessas cidades e 16% no Brasil
todo. Isso apesar de a legislação
obrigar os partidos a preencher
uma cota de no mínimo 30% das
candidaturas com mulheres.
Na Câmara de Vereadores de
Porto Alegre, as mulheres ocu-
pam 30,5% das vagas, índice mais
alto do país. O segundo lugar fica
com Belo Horizonte, com 26,8%,
ou 11 de 41 vereadores. São Paulo
tem o maior número absoluto de
vereadoras — 12, ou 23,6% do to-
tal. No Rio são dez, ou 19,6%. Em
João Pessoa, Paraíba, apenas
uma, ou 3,7%, percentual mais
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porque a defesa precisava ter acesso e
tempo para analisar as mensagens en-
tre o então juiz Sergio Moro e os procu-
radores de Curitiba, obtidas ilegalmen-
te e investigadas na Operação Spoo-
fing. A suspeita, segundo Toffoli, era
ter havido pressão ilegal para o fecha-
mento dos acordos de leniência. Ha-
via, nas palavras dele, “dúvida razoável
sobre o requisito da voluntariedade”.
Gonet demonstra que o pedido não fa-
zia sentido, pois a Odebrecht está em
posse das mensagens desde setembro.
A PGR também rebate a tese da coa-
ção. Lembra que o grupo empresarial
era um dos mais bem-sucedidos do pa-
ís, auxiliado pelos melhores escritórios
de advocacia. “Se viam ameaças de me-
didas constritivas injustas, certamente
que ouviriam das bancas de renoma-
dos advogados as perspectivas de supe-
ração e correção de que a ordem jurídi-
ca dispõe”, escreve Gonet no recurso.
Noutros trechos, reconhece que houve
comportamentos censuráveis de agen-
tes públicos, mas nega intimidação ir-
resistível. Lembra também que sem-
pre há pressão nesse tipo de situação.
No pedido de suspensão do paga-
mento das multas, a Odebrecht solici-
tou a extensão de uma decisão de 2020
baixo em todo o país. Os índices
mais altos de participação femi-
nina estão no Sudeste e no Sul, os
mais baixos no Norte e Nordeste.
A dificuldade de aumentar a re-
presentatividade feminina reve-
la que a política de cotas nas can-
didaturas não tem sido suficien-
te. É certo que a cota também pas-
sou a ser financeira — por emen-
da constitucional, 30% do fundo
eleitoral do partido precisa ser
destinado a candidatas. Mas o in-
centivo se tornou nas últimas
eleições uma usina de fraudes.
Ministério Público e Justiça
eleitorais costumam impugnar
diversas candidaturas falsas, lan-
çadas apenas para driblar a lei. As
candidatas laranjas têm algumas
características comuns. Não fa-
zem campanha, recebem votação
baixíssima, e o dinheiro que re-
cebem do fundo eleitoral costu-
ma ser repassado a outros candi-
datos. Escândalos do tipo têm se
repetido a cada eleição. É preciso
tornar a fiscalização mais rigoro-
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do STF. Na ocasião, a Corte permitiu
que o hoje presidente Luiz Inácio Lula
da Silva obtivesse acesso a provas do
acordo de leniência da Odebrecht. Na
visão de Gonet, falta pertinência à ten-
tativa de vincular os dois casos. A inten-
ção da defesa de Lula era conhecer os
dados nos autos. A da Odebrecht agora
é “encontrar subsídios que lhe socor-
ram o intuito de impugnar o pacto”. O
recurso da PGR lembra que a Odebre-
cht não argumenta ter mentido ao de-
nunciar casos de corrupção. “A prática
de crimes foi efetivamente reconheci-
da pela empresa e por seus executivos,
em confissões e com entrega de docu-
mentos comprobatórios.”
Desde que assumiu a PGR, Gonet
tem sido ágil nos recursos a decisões in-
dividuais de Toffoli em favor de empre-
sas envolvidas em escândalos de cor-
rupção. Já recorreu contra liminar que
suspendeu o pagamento de multa de
R$ 10,3 bilhões prevista no acordo de
leniência do grupo J&F, dos irmãos Jo-
esley e Wesley Batista, no âmbito da
Operação Greenfield. As inconsistên-
cias apontadas por Gonet nas decisões
de Toffoli deixam cada vez mais clara a
urgência de os temas serem avaliados
pelo plenário completo do STF.
sa e as punições mais duras.
No Brasil, só em 1932 o direito de
votar foi dado à mulher. Ainda as-
sim, mediante certas condições:
ser casada, autorizada pelo marido
e, se viúva ou solteira, ter condição
de comprovar renda própria. Dois
anos depois as restrições foram
suspensas. O voto das mulheres só
se tornou obrigatório em 1946, co-
mo o dos homens.
O que falta para ampliar a pre-
sença das mulheres na política?
Não há fórmula pronta. Os limi-
tes revelados pelas cotas de-
monstram que, além dos incenti-
vos legais, os partidos precisam ir
a campo defendendo em seus
programas causas que interes-
sem à mulher, estimulando a mi-
litância partidária delas e atrain-
do jovens mulheres para seus
quadros. Mas o mais importante
vale para homens também: os
partidos conquistarão maior
adesão se tiverem legitimidade e
souberem apresentar propostas
com valor para a sociedade.
SUCURSAIS
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Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO
Artigos
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FERNANDO
GABEIRA
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O apocalipse
de carnaval
aby do Brasil pautou o debate de carnaval. Atenção,
todos: estamos em Apocalipse, o arrebatamento
tem tudo para acontecer entre cinco e dez anos, procu-
rem o Senhor! Houve contestação imediata de Ivete
Sangalo, mas essas palavras — apocalipse e arrebata-
mento —têm força até para invadir um alegre carnaval.
Ambas são expressões religiosas. Arrebatamento
é o resgate dos fiéis antes de tudo acabar. Gosto tam-
bém de Armagedom, a batalha decisiva entre as for-
ças do bem e do mal. Quem sabe não aparece num
trio elétrico do próximo carnaval? Apocalipse, ar-
rebatamento, Armagedom e talvez Megido, o lugar
onde as tropas se concentram para a batalha?
Dá música, e o apocalipse pode ser cantado de
ponta a ponta no Brasil. Estamos em apocalipse,
Valdemar, a PF fechou o cerco contra Bolsonaro.
Estamos em apocalipse, anunciam as lojas para di-
vulgar suas liquidações de verão.
Estamos em apocalipse, dirão alguns ecologistas,
avaliando os dados das mudanças climáticas. Em apo-
calipse estão também os moradores de Maceió, com a
cidade afundando pela exploração de sal-gema e, ao
mesmo tempo, investindo R$ 8 milhões no carnaval
do Rio para promover o prefeito e Arthur Lira.
Já tivemos uma visão mais branda de apocalipse
no livro de Umberto Eco “Apocalípticos e integra-
dos”. Ali se discutia a posição sobre a cultura de mas-
sa. Apocalípticos viam nela uma decadência, como
a Escola de Frankfurt. Otimistas, como Marshall
McLuhan, viam novas possibilidades graças à inte-
gração que criaria uma aldeia global.
Depois disso, veio a internet. O apocalipse agora é di-
ferente. Fake news, ataque a reputações, golpes na de-
mocracia. No princípio, havia muita es-
Visão de perança: não se tratava mais de um espec-
Baby do Brasil, tador passivo, mas de alguém que intera-
estritamente ge com as notícias. O mundo avançaria.
religiosa, é na Creio que Baby tocou num ponto in-
verdade um teressante, sem perceber que sua visão,
instrumento estritamente religiosa, é na verdade um
para analisar instrumento para analisar o mundo.
o mundo Vejo apocalípticos entre a torcida do
Flamengo; a do Corinthians no mo-
mento está cheia deles; eles estão por toda parte.
Se falo sobre a profecia de Baby com certa leveza, é
porque ela nos dá entre cinco e dez anos para o arrebata-
mento. Isso coincide mais ou menos com minha expec-
tativa de vida. De certa forma, em termos pessoais, o
apocalipse é inevitável: está dentro do prazo.
Aorientação dela é procurar o Senhor, garantir a vi-
da depois da morte. Tenho minhas dúvidas quanto a
isso. Possivelmente, o apocalipse virá, e restarão na
face do planeta apenas máquinas remoendo inces-
santemente os antigos pensamentos humanos, reela-
borando ao infinito nossas loucuras, produzindo arti-
ficialmente novos apocalipses, arrebatamentos, ar-
magedons e, se possível, novos carnavais.
De qualquer forma, apesar das críticas que sofreu,
Baby merece agradecimentos. O que teríamos para falar
de pessoas pulando e cantando num calor infernal? Ale-
gorias, comissão de frente, harmonia e samba-enredo?
Além do mais, de cinco a dez anos é um tempo razoá-
vel. Imaginem se muitos tivessem apenas esse hori-
zonte de vida? Os punks eram meio sombrios porque
não viam futuro. O grito de Baby nos abre caminho pe-
lo menos para viver o presente, sabendo que estamos
simplesmente driblando suas profecias, talvez mace-
tando o apocalipse, como defendeu Ivete Sangalo.
Minha única participação no carnaval foi documen-
tar o desfile do bloco Loucura Suburbana. O samba-en-
redo é uma defesa da loucura. Se alguém gritasse ali no
Engenho de Dentro que estamos em apocalipse, procu-
rem o Senhor, seria possível perguntar “mas qual se-
nhor?”, se há tantos sambando entre nós. Estamos em
apocalipse? Mas isso já foi há tanto tempo, Baby. Esta-
mos cantando precisamente para esquecer.
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OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024 Opinião | 3

_ SEG _ Fernando Gabeira _ Demétrio Magnoli (quinzenal) _ Miguel de Almeida (quinzenal) _ Edu Lyra (quinzenal) _ Irapuã Santana (quinzenal) _ Washington Olivetto (quinzenal)
_ TER_ Merval Pereira _ Carlos Andreazza _ QUA_ Vera Magalhães _ Elio Gaspari _ Bernardo Mello Franco _ Roberto DaMatta (quinzenal) _ QUI_ Merval Pereira _ Malu Gaspar
_ SEX_ Vera Magalhães _ Flávia Oliveira _ Pedro Doria _ Bernardo Mello Franco _ SÁB_ Carlos Alberto Sardenberg _ Eduardo Affonso _ Pablo Ortellado _ DOM_ Merval Pereira _ Dorrit Harazim _ Bernardo Mello Franco

DEMÉTRIO
MAGNOLI ARTIGO

Jogo limpo
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e lucrativo
Dois palanques WESLEY

para Putin
CARDIA

A ntes do 24 de fevereiro de 2022, os es-

tadistas ocidentais que foram a Mos-
O mercado de apostas esportivas
on-line experimentou cresci-
mento notável, quase quintuplicou
cou para dissuadir Putin de invadir a seu tamanho de 2020 para 2022. Es-
Ucrânia sentaram-se na ponta de uma se fenômeno mundial e seu dinamis-
mesa interminável, como suplicantes di- mo demonstram o interesse do pú-
ante de um czar. Celso Amorim sentou-se blico. No Brasil, a regulamentação
na mesma posição humilhante em março do setor —efetivada pela Lei 14.790/
de 2023, quando transmitiu a solidarieda- 2023 —chegou para dar transparên-
de de Lula a um ditador com ordem de pri- cia e segurança aos consumidores.
são emitida pelo Tribunal Penal Interna- Alegislação não apenas trouxe clare-
cional. Tucker Carlson teve tratamento za jurídica ao setor, mas também esta-
distinto. No Kremlin, há pouco, entrevis- beleceu medidas cruciais para lidar
tou Putin separado apenas por uma inti- com desafios delicados. A tributação
mista mesinha de centro. Não era jorna- de empresas e apostadores visa a ga-
lismo, mas propaganda política. rantir a integridade do mercado, pre-
Carlson, ex-âncora da Fox News, notório venindo lavagem de dinheiro, assegu-
arauto da direita nacionalista dos Estados rando o jogo responsável e evitando
Unidos, exercitou o esporte da desinforma- manipulação de resultados.
ção inteligente. A entrevista, com mais de O Ministério da Fazenda, agora em-
duas horas, deveria ser editada em duas par- poderado pela nova lei, pode solicitar a
tes. Uma delas destina-se ao Partido Repu- remoção de sites de empresas não licen-
blicano, ao Congresso dos Estados Unidos e ciadas, promovendo a transparência e a
à base social de Trump. Na outra, controla- segurança dos usuários. A imposição de
da por Putin, o líder russo fala a sua própria transações apenas por meio de empre-
audiência — ao nacionalismo grão-russo. Na passagem mais curiosa, Putin sugere sa, tal como narrada pelos cavaleiros da sas de pagamento autorizadas pelo Ban-
O segmento dirigido ao público externo é que, desde o fim da Guerra Fria, as agências Grande Rússia. A Ucrânia não é uma nação co Central e a necessidade de certifica-
ritmado por previsíveis perguntas de Carl- de inteligência dos Estados Unidos sabota- legítima, mas o berço da Rússia eterna. A se- dos para sistemas eletrônicos atestam o
son, que embutem as respostas desejadas. A ram as oportunidades de aproximação es- paração da Ucrânia, nascida de erros imper- compromisso com a legalidade e a con-
“operação militar especial” russa é uma tratégica com a Rússia ensaiada pelos che- doáveis dos bolcheviques, é uma violação formidade. Ganham o mercado, o go-
ação defensiva provocada pelo “Ocidente fes dos dois Estados. A entrevista ocorreu cultural e religiosa abominável. A guerra verno e os brasileiros, que se divertirão
coletivo”. A expansão da Otan ameaçava a dias antes da eliminação, na prisão, de Ale- restaura uma verdade sagrada estabelecida num ambiente seguro e controlado.
integridade e a segurança russas. A revolu- xei Navalny. Sem corar, diante de um dita- no século IX. A nova era regulatória também es-
ção popular de 2014 que derrubou o gover- dor célebre pelas sistemáticas mortes “mis- Esse segundo palanque, em que Putin fala tabelece padrões para publicidade,
no russófilo da Ucrânia foi um golpe de Es- teriosas” de seus críticos, Carlson aprova para os seus, é contraindicado para a es- dirigindo ações apenas para maiores
tado tramado pelos Estados Unidos. A Ucrâ- alegremente a tese de que os Estados Uni- querda lulista. Mas não fará mal nenhum à de idade, incluindo advertências so-
nia foi “nazificada” para servir como aríete dos são governados por forças diabólicas direita bolsonarista, que tende a acreditar bre a importância de jogar com res-
contra a Rússia. ocultas. Faz sentido: em sua campanha de em verdades eternas e nações naturais. ponsabilidade e rejeitando a ideia do
Há pouco, num comício, Trump decla- retorno à Casa Branca, Trump exibe-se co- Na encenação propagandística, nem tudo jogo como fonte de renda. Ele deve
rou que renegaria o artigo 5º do Tratado mo o condottierido povo em combate contra é desinformação. Putin registra, aguda- ser apenas uma diversão.
da Otan, em que está inscrito o compro- o “Estado profundo”. mente, que as sanções à Rússia fracassaram Além disso, a lei prevê a destinação
misso de defesa mútua entre os Estados A esquerda lulista gostará dessa parte da e que o uso do dólar como arma de guerra dos impostos e de 12% do montante ar-
Unidos e seus aliados. Prometeu, ainda, entrevista tanto quanto a extrema direita tem efeitos negativos de longo prazo para os recadado pelas em-
erguer um “domo de ferro” de mísseis an- bolsonarista. Lá, encontram-se as alega- Estados Unidos. Igualmente, constata que Regulação presas (gross gaming
timísseis para proteger os Estados Unidos ções protocolares usadas no Brasil, pelas não é realista o objetivo de impor uma der- de apostas revenues) para seto-
de ataques balísticos. Uma superpotência duas torcidas uniformizadas, para justificar rota militar estratégica à Rússia. esportivas on-line res cruciais, como
isolada num casulo militar, uma política a guerra imperial russa. Mas, num ponto crucial, Putin sonha trouxe não só educação, saúde, tu-
internacional baseada em esferas de in- O segmento dirigido ao público russo acordado. Ao contrário do que profetiza, a controle, mas rismo, segurança pú-
fluência, o abandono da Ucrânia — eis a abrange uma confissão espontânea das mo- ferida aberta entre o povo russo e o ucrania- também blica, esporte e segu-
receita estratégica do candidato republi- tivações verdadeiras da invasão. Durante os no jamais cicatrizará. Seja qual for o desen- oportunidade ridade social. Isso re-
cano. É em nome dela que Carlson sen- primeiros 25 minutos, Putin oferece a Carl- lace da guerra, a Rússia perdeu a Ucrânia de fortalecer presenta um com-
tou-se à mesa íntima de Putin. son uma aula completa sobre a História rus- para sempre. Foi isso que ele fez. a economia promisso do setor
em contribuir para o
desenvolvimento do país.
A estimativa de arrecadação anual
ARTIGO com a receita derivada do setor regula-
do varia de R$ 6 bilhões a R$ 12 bi-
Lições de uma tragédia lhões. Estima-se que serão R$ 3 bilhões
apenas com autorizações para operar
no Brasil já em 2024. Esse montante
reflete o potencial econômico inexplo-
de passagem com 72 moradias provisórias e as- tos, mais de 700 novas moradias em São Sebas- rado que agora será destinado ao bene-
MARCELO segurou o uso temporário de 300 apartamentos tião —186 no início do mês em Maresias e 518 fício de todos os brasileiros.
BRANCO prontos e ainda desocupados num conjunto ha- previstas para hoje na Baleia Verde. A constatação recente de que bra-
bitacional no município vizinho de Bertioga, Obras que normalmente demandam três sileiros gastaram R$ 54 bilhões em
onde havia 900 unidades sem comercialização. anos foram concluídas em dez meses, desta- apostas on-line no ano passado em

N o transcorrer de quase um ano desde as chu-

vas extremas que assolaram o Litoral Nor-
te, é imperativo refletir sobre o esforço integra-
Foram soluções rápidas que proporcionaram
segurança a famílias desamparadas.
Em seguida, dirigimos esforços à busca de ter-
cando a capacidade técnica das equipes do
governo de São Paulo. Essa eficiência reforça
a decisão acertada da gestão Tarcísio de Frei-
sites situados no exterior destaca
não apenas a popularidade crescen-
te dessa forma de entretenimento,
do do governo de São Paulo, nas mais variadas renos para a construção de moradias definiti- tas de fortalecer e modernizar a CDHU, em mas também a necessidade urgente
frentes, para a pronta resposta no atendimento vas, enfrentando desafios geográficos conside- vez de fechá-la, como foi cogitado por admi- de trazer esses consumidores para o
à população afetada por inundações e desliza- ráveis no relevo acidentado, único e recortado nistrações passadas. Quando a população do mercado regulado brasileiro.
mentos e para reconstruir a infraestrutura ur- pela Serra do Mar, como Litoral Norte mais precisou, recebeu apoio A regulamentação é uma resposta
bana e viária da região. Estabelecemos o de São Sebastião. Em de uma empresa pública que respondeu apropriada para lidar com essa reali-
Em meio a um cenário trágico, provocado por um marco em São tempo recorde, viabiliza- prontamente. O trabalho avança agora em dade. A Associação Nacional de Jo-
um evento climático inédito no país, a Compa- Sebastião que se mos duas áreas nos bair- novas frentes, e o diálogo com os moradores é gos e Loterias (ANJL) esteve ao lado
nhia de Desenvolvimento Habitacional e Urba- tornará modelo ros de Baleia Verde e Ma- parte essencial dele. Nosso objetivo é garan- do governo e do Congresso ao longo
no (CDHU) esteve presente desde o primeiro para medidas resias, implementando tir segurança e dignidade para todos. do processo legislativo. Agora, man-
dia para garantir que as famílias das áreas mais públicas de soluções inovadoras para Ao revisitarmos as ações do governo de São tém sua abordagem proativa na fase
afetadas de São Sebastião pudessem recomeçar reconstrução estabilização do solo e Paulo no Litoral Norte desde fevereiro de 2023, de elaboração de normas pela Fazen-
avida sob um teto digno e seguro. pós-desastres usando construções mo- nosso sentimento é de gratificação. A atuação da para viabilizar a aplicação da lei.
As determinações do governador Tarcísio dulares — tecnologia até dedicada das equipes da CDHU — em união Ao observarmos o cenário, é evidente
de Freitas sempre foram em favor da solida- então inédita nas políticas públicas de habita- com os times das outras secretarias, autarquias que o interesse pelas apostas on-line
riedade plena da gestão paulista à popula- ção de São Paulo. e empresas estaduais que apoiaram a recons- continuará crescendo. Mas a nova lei
ção atingida por desastres e de facilitar ao Sob a orientação permanente do governador, trução de São Sebastião —proporcionou medi- não criou ou incentivou as apostas ou
máximo a retomada da normalidade. Na superamos a morosidade da burocracia com das rápidas, eficazes e seguras para as famílias jogos. Apenas impôs regras a um mer-
atuação emergencial de pronta resposta, a normativas emergenciais para facilitar desa- que enfrentaram perdas. Em menos de um ano, cado que sempre existiu. Daí seu méri-
CDHU destinou equipes sociais para cadas- propriações. Em seguida, iniciaram-se obras de superamos todas as adversidades e estabelece- to. A regulação trouxe consigo não só
trar as famílias afetadas e iniciar o atendi- estabilização nos terrenos, principalmente em mos um marco que, sem dúvida, se tornará mo- medidas de controle, mas também uma
mento provisório, estabelecendo alicerces Baleia Verde, onde o nível do solo foi elevado delo para medidas públicas de reconstrução oportunidade única para fortalecer a
sólidos para o planejamento de novas mora- para impedir que os imóveis fossem atingidos pós-desastres naturais em nosso país. economia do Brasil.
dias definitivas. por inundações. Com tecnologia de ponta e
Para atendimento urgente a quem perdeu tu- ações inovadoras dentro e fora dos canteiros de Marcelo Branco é secretário de Desenvolvimen- Wesley Cardia é presidente da Asso-
do nos desastres, a CDHU construiu uma vila obras, conseguimos entregar, em prazos inédi- to Urbano e Habitação do Estado de São Paulo ciação Nacional de Jogos e Loterias
4 |
Política
ZERANDO O JOGO
Governo recua, acena com prazo para pagar
emendas e tenta debelar crise com Congresso
VICTORIA ABEL, JENIFFER
GULARTE, CAMILA TURTELLI
E SÉRGIO ROXO
politica@oglobo.com.br
BRASÍLIA
N a tentativa de amenizar o
momento turbulento
com o Congresso, impulsio-
nado pelo veto do presiden-
te Luiz Inácio Lula da Silva a
R$ 5,6 bilhões em emendas
de comissão, o governo pre-
para uma série de acenos
aos parlamentares. O prin-
cipal deles é instituir um ca-
lendário para o pagamento
das verbas indicadas por
congressistas, demanda an-
tiga do Parlamento. O Palá-
cio do Planalto também si-
nalizou que vai manter dis-
tância da eleição para a pre-
sidência da Câmara, que já
movimenta deputados, e há
ainda negociações para des-
travar o repasse de recursos
do Ministério da Saúde.
Os movimentos ocorrem
em um início de ano em
que, mal os trabalhos do Le-
gislativo recomeçaram, a
pressão sobre o Executivo
subiu de tom. Na sessão de
volta do Congresso, o presi-
dente da Câmara, Arthur Li-
ra (PP-AL), fez um discurso
repleto de recados diretos.
Ele afirmou que o Orça-
mento “pertence a todos”,
não só ao Executivo, e co-
brou o cumprimento de
acordos — mensagem dire-
cionada ao ministro Ale-
xandre Padilha (Relações
Institucionais), com quem
está rompido. O acirramen-
to da tensão levou a um en-
contro com Lula, em que
combinaram que o jogo, de
agora em diante, “está zera-
do”, segundo disseram in-
terlocutores de ambos.
RECUO SOB PRESSÃO
Nesta toada, o governo pla-
neja a apresentação de um
cronograma para a libera-
ção de emendas com pro-
gramações de empenho até
julho, mês limite para o de-
sembolso de verbas aos mu-
nicípios antes das eleições
municipais de outubro. A
ideia é que o calendário do
Planalto substitua aquele
elaborado pelos deputados
e incluído na Lei de Diretri-
zes Orçamentárias (LDO),
mas vetado por Lula.
A negociação vem na se-
quência de outra trava que
irritou parlamentares: as
Vai ser um calendário
(para pagamento de
emendas) exequível,
melhor do que
havia sido proposto
(pelo Congresso).
Os parlamentares
compreendem que é
impossível o Parlamento
determinar a execução.
Não é realista
_ do pelo deputado — hoje,
Randolfe Rodrigues,
líder do governo no Congresso
Animosidade. Plenário da Câmara: o pano de fundo do embate travado entre governo e Congresso é a disputa por maior controle do Orçamento da União
emendas de comissão,
aprovadas pelo Congresso
com o montante de R$ 16,6
bilhões, foram reduzidas a
R$ 11 bilhões. Como O
GLOBO mostrou, esse ins-
trumento tem sido usado
para repassar recursos a ba-
ses eleitorais sem transpa-
rência sobre o verdadeiro
responsável. Por trás das
aprovações e vetos, está a
disputa entre Executivo e
Legislativo em torno do
controle do Orçamento.
— Vai ser um calendário
exequível, melhor do que
havia sido proposto. Os par-
lamentares compreendem
que é impossível o Parla-
mento determinar a execu-
ção. Não é realista — disse o
líder do governo no Con-
gresso, senador Randolfe
Rodrigues (sem partido-
AP), segundo o qual as trata-
tivas estavam em andamen-
to antes mesmo da crise
mais recente.
Para parlamentares da ba-
se, a previsibilidade nos re-
passes pode ajudar a acal-
mar os ânimos.
— Vamos apresentar esse
cronograma como um com-
promisso oficial do gover-
no. O formato do documen-
to ainda será definido —dis-
se o deputado Carlos Zarat-
tini (PT-SP), que coorde-
nou a atuação do governo no
Congresso nas discussões
sobre a Lei Orçamentária
Anual (LOA).
Em outro gesto, Lula
afirmou a Lira que não vai
interferir na sucessão do
comando da Casa, em fe-
vereiro de 2025. Segundo
interlocutores, o presi-
dente acrescentou que o
governo não vai atuar
contra o candidato apoia-
o mais cotado é Elmar
Nascimento (União-BA),
BOA VIZINHANÇA
Governo prepara uma série de acenos ao Congresso
CALENDÁRIO PARA
XX PAGAMENTO DE EMENDAS
O governo planeja a apresentação de um
cronograma para a liberação de emendas
com programações de empenho
até julho
Crescimento das emendas de comissão (em R$)
Outro motivo de
irritação foi o veto de
Lula a R$ 5,6 bilhões de
emendas de comissão.
Esse instrumento tem
sido usado para
repassar recursos a
bases eleitorais sem
transparência
sobre o verdadeiro
responsável.
DESTRAVAR
RECURSOS DA SAÚDE
Ao longo da semana
passada, governistas
afirmaram que mais de
Uma portaria publicada
pelo Ministério da
Saúde vai possibilitar
ainda que estados e
municípios sejam
abastecidos com outra
fonte de recursos:
ELEIÇÃO PARA A
PRESIDÊNCIA DA CÂMARA
Lula afirmou a Lira que não vai
interferir na sucessão do
comando da Casa, em fevereiro
de 2025.
nome que alas do Planalto
veem com ressalvas. Lira
deseja ser o condutor do
processo e, na conversa,
ambos concordaram que
ainda é cedo para iniciar
os debates.
De acordo com articula-
dores do governo, a única
Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO
BALANÇO DE 2023 PARA
ACESSAR
Só 17 deputados não se ausentaram APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Levantamento aponta que a maior parcela dos 'caxias' são da base de Lula O QR CODE
BRENNO CARVALHO/ 06-07-2023
so que levou ao impeach-
ment. Na reunião, Lira tam-
bém acertou que terá um ca-
nal mais direto com Lula de
agora em diante.
Da conversa, saiu ainda
um esboço de acerto em
outro tema que vinha in-
comodando o Congresso:
o represamento de recur-
sos no Ministério da Saú-
de. Lira e outros parla-
mentares chegaram a
apresentar um requeri-
mento direcionado à mi-
nistra Nísia Trindade pe-
dindo explicações sobre
critérios para o direciona-
mento de verbas. Houve o
pedido de Lira para um en-
contro entre técnicos do
Congresso e do Planalto
para que fosse possível
chegar a uma conclusão
sobre o assunto.
Ao longo da semana passa-
da, governistas afirmaram
que mais de R$ 2 bilhões em
emendas alocadas na Saúde
começaram a ser pagas. De
acordo com congressistas, o
acordo era que o valor fosse
alcançado ainda no ano pas-
sado, mas o montante parou
em cerca de R$ 300 mi-
lhões. Uma portaria publi-
cada pelo Ministério da
Saúde vai possibilitar ainda
que estados e municípios
sejam abastecidos com ou-
tra fonte de recursos: R$ 17
bilhões que não foram usa-
Insatisfação: dos durante a pandemia de
Esse prazo substituiria o que foi incluído Covid-19. Ainda que a pasta
na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ressalte que faz destinações
pelos parlamentares, mas vetado pelo baseadas em critérios técni-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. cos, a ação nas bases eleito-
rais em uma área sensível,
em ano de eleição munici-
2020 2021 2022 2023 2024 pal, poderá funcionar como
um agrado aos parlamenta-
7,2 11 res das regiões beneficiadas.
819 0 474 bilhões bilhões
milhões milhões
VETOS PRESIDENCIAIS
Na conversa para aparar
Em meio ao
orçamento secreto,
Valor foi
inchado durante
Congresso previa
R$ 16,6 bilhões,
arestas, Lira pediu a Lula
esse tipo de emenda as negociações mas Lula vetou também uma sinalização
não foi utilizada da PEC da R$ 5,6 bilhões, de que haverá mais atenção
pelo Congresso Transição gerando reações
aos vetos presidenciais,
principalmente em proje-
em emendas alocadas na tos que passaram por longa
Saúde começaram a discussão no Congresso e
ser pagas.
envolveram acordos, in-
que não foram usados durante
clusive, com a base gover-
a pandemia de Covid-19. nista. O projeto de lei sobre
R$ 2 os agrotóxicos, por exem-
bilhões plo, foi aprovado com um
Insatisfação: texto relatado pelo líder do
PT no Senado, Fabiano
O presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL) e outros parlamen-
Contarato (PT-ES), após
tares chegaram a apresentar um tramitar por mais de 20
R$ 17 requerimento direcionado à anos. Os vetos feitos por
ministra Nísia Trindade pedindo
bilhões
explicações sobre critérios para
Lula ao projeto, bandeira
o direcionamento de verbas. da bancada ruralista, cau-
saram forte irritação entre
os parlamentares.
No Palácio do Planalto,
Insatisfação:
a intenção é atender às de-
Alas do Palácio do Planalto mandas dos parlamenta-
veem com ressalvas o líder
do União Brasil, deputado res para conseguir avan-
Elmar Nascimento (BA), hoje çar na pauta econômica o
o mais cotado para disputar com
o apoio de Lira.
máximo possível até ju-
nho, já que as eleições mu-
EDITORIA DE ARTE
nicipais devem impor ou-
hipótese de o Planalto tra- ma Rousseff, quando o PT tro ritmo ao Congresso no
balhar para interferir na lançou, em 2015, o deputa- segundo semestre. Mes-
eleição seria se houvesse do Arlindo Chinaglia (SP) mo com uma ampla alian-
chance de um candidato para enfrentar Eduardo Cu- ça, o governo não tem
bolsonarista se viabilizar na nha, então no MDB, na Câ- uma base sólida para
corrida, cenário hoje dis- mara. Eleito presidente da aprovar todas as pautas
tante. Lula também não Casa, Cunha se tornou o que deseja e terá que ne-
quer repetir o que avalia co- principal algoz da petista, gociar, projeto a projeto,
mo um erro do governo Dil- contra quem abriu o proces- como fez ano passado.
 OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024
Lula entra na articulação e deve encontrar líderes
Presidente planeja convidar lideranças da Câmara e do Senado, dirigentes partidários, além de Lira e Pacheco, para conversas.
Interesse do Planalto é destravar pautas como regulamentação da reforma tributária e medidas para aumentar a arrecadação
JENIFFER GULARTE
jeniffer.gularte@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
-
D e volta de uma viagem
oficial à África, o presi-
dente Luiz Inácio Lula da
Silva deve se dedicar nesta
semana a convidar líderes
da Câmara e do Senado,
além de dirigentes de parti-
dos, para uma série de en-
contros. A estratégia tem
como objetivo melhorar a
relação com o Congresso di-
ante de ruídos recentes, co-
mo os que envolvem o veto
presidencial a uma parcela
das emendas de comissão.
Os presidentes da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL) e do
Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), também de-
vem ser chamados.
Na lista de propostas de
interesse do governo que se-
rá apresentada pelo presi-
dente estão a regulamenta-
ção da reforma tributária,
programas para aumentar
acesso ao crédito, projetos
relacionados à transição
ecológica e medidas que au-
mentam a arrecadação. É es-
te último item, porém, que
enfrenta mais resistências
após o governo editar Medi-
da Provisória (MP), no fim
do ano passado, para sus-
pender a desoneração da fo-
lha de pagamentos e benefí-
cios do Programa Emergen-
cial de Retomada do Setor
de Eventos (Perse).
O líder do União Brasil
no Senado, Efraim Filho
(PB), autor do projeto que
prorrogou a desoneração,
afirma que aproveitará o
encontro para sugerir a
Lula que envie as medidas
por meio de projeto de lei,
em vez de Medida Provisó-
ria. Assim, segundo ele, os
parlamentares terão mais
tempo para discutir e che-
gar em um consenso com o
Palácio do Planalto.
CONSELHO DE LIRA
Em um café da manhã com o
presidente na sexta-feira de
carnaval, Lira argumentou
com Lula que ele precisava
retomar diálogos com po-
líticos, parlamentares e su-
geriu que começasse cha-
mando os líderes partidá-
rios. A avaliação de aliados
do presidente da Câmara é
que o governo ainda patina
na articulação política.
Lira está rompido com o
ministro Alexandre Padi-
lha (Relações Institucio-
nais), responsável pela ar-
ticulação com o Congres-
so. O presidente da Câmara
acusa o auxiliar de Lula de
não cumprir acordos.
No Planalto, o entorno
do presidente afirma que o
planejamento para as reu-
niões já estava previsto an-
tes mesmo da conversa de
Lula com Lira. Parlamen-
tares, no entanto, avaliam
Reaproximação. Em encontro com Lula, Lira recomendou que ele retomasse o diálogo com a classe política
que o governo deve ser
cauteloso ao se aproximar
dos líderes, para não pas-
sar a imagem de que está
atropelando a presidência
do Senado e da Câmara,
que têm o controle da pau-
ta de votações.
No ano passado, o Pla-
nalto precisou cancelar
uma reunião que Lula te-
ria com líderes da Câmara
após ser informado que
parte dos convidados tam-
bém havia sido chamada
para acompanhar Lira em
um debate com empresá-
rios em São Paulo. Na épo-
ca, articuladores políticos
do governo consideraram
que o parlamentar agiu
para esvaziar o encontro
com o presidente.
Recentemente, em outro
episódio semelhante, líde-
res da Câmara também
cancelaram uma agenda
com o ministro da Fazen-
da, Fernando Haddad,
após Lira demonstrar des-
contentamento por não ter
sido chamado. Agora, con-
CRISTIANO MARIZ/ 28-08-2023
tudo, tanto o presidente da
Câmara quanto o do Sena-
do devem participar.
Durante o carnaval, Lira
foi convidado pelo gover-
nador da Bahia, Jerônimo
Rodrigues (PT), para um
almoço no Palácio de On-
dina, sede do Executivo lo-
cal. O encontro reuniu
parlamentares e ministros
de Lula, entre os quais
Paulo Teixeira (Desenvol-
vimento Agrário) e Celso
Sabino (Turismo). A inter-
locutores que encontrou
Política | 5
em Salvador, o presidente
da Câmara disse não que-
rer briga, mas que quer
construir um canal mais
direto com o presidente.
INFIDELIDADE
Apesar de ter incorporado
partidos do Centrão, como
Republicanos, PP e União
Brasil ao governo, com a
distribuição de ministé-
rios, o governo Lula não
conseguiu construir uma
maioria sólida no Congres-
so e precisa negociar vota-
ções caso a caso.
Levantamento do GLO-
BO mostrou que, em mé-
dia, 55% dos deputados do
PP se alinharam ao Palácio
do Planalto em votações da
Casa em março do ano pas-
sado, quando ainda não in-
tegravam a base aliada. Já
em dezembro, três meses
depois de assumir o Minis-
tério do Esporte, esse índi-
ce foi de 53%. Já no Repu-
blicanos o índice foi de
57% para 55% no mesmo
período. Esse último pas-
sou a comandar a pasta de
Portos e Aeroportos.
Esse cenário não está res-
trito aos “neo aliados”. Re-
publicanos e PP têm índice
de governismo semelhan-
tes aos registrados por par-
tidos que ocupam ministé-
rios desde o início do ter-
ceiro mandato de Lula, co-
mo União, PSD e MDB.
6 | Política Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO

Bolsonaro cria
EDILSON DANTAS/01-01-2023 BRENNO CARVALHO/ 18-10-2023

aresta em nove
cidades por
restrição ao PSD
Ex-presidente declarou que não apoiará
sigla de Kassab nas eleições municipais,
criando impasses em SP, SC e GO

LUÍSA MARZULLO
luisa.castro@oglobo.com.br
passe ocorre em São José dos
Campos. O prefeito Ander-
-
son Farias assumiu em mar-

“D eixo claro: PSD do

Kassab eu não apoio
ninguém, tá ok?”, diz Jair
ço de 2022 após o atual vice-
governador, Felício Ramuth
(PSD), renunciar para con-
Kassab. Presidente do PSD se equilibra entre os governos Lula e Tarcísio

esquerda. O que vai mover à reeleição do ex-presiden-

Bolsonaro. Ex-presidente afirmou que não apoiará candidatos do PSD

que pode contar comigo — Em outras duas cidades,

Bolsonaro (PL) em áudio di-
vulgado pelo jornal “O Esta-
do de S.Paulo” e confirmado
pelo GLOBO. A decisão de
Bolsonaro atrapalha alian-
ças para as eleições munici-
pais já pré-definidas em ci-
dades espalhadas por três
estados: Santa Catarina,
São Paulo e Goiás.
Apesar de ter três minis-
térios do governo Lula, o
presidente do PSD, Gilber-
to Kassab, é secretário de
Governo da gestão Tarcísio
de Freitas (Republicanos),
em São Paulo. O governa-
dor é ex-ministro de Bolso-
naro e a principal aposta da
oposição para disputar o
Palácio do Planalto em
2026, já que o ex-presiden-
te está inelegível.
Em São Paulo, o maior im-
correr na chapa de Tarcísio.
Farias é filiado ao PSD e tem
em sua base na Câmara Mu-
nicipal vereadores do PL .
—Tenho o apoio do gover-
nador Tarcísio e do vice-go-
vernador Felício, ambos vo-
tam em São José dos Cam-
pos. Meu arco de alianças é o
mesmo da coligação de
2020, os partidos que hoje
integram a minha base —
disse Farias ao GLOBO.
Em Goiás, comandado
por Ronaldo Caiado (Uni-
ão), a aresta está em Rio
Verde. O pré-candidato do
PSD é o ex-deputado esta-
dual Lissauer Vieira, que é
próximo do PL e chegou a
ser convidado para se filiar
ao partido.
—As eleições municipais
não são movidas por direita e
cada partido é a conjuntura
local: as ligações afetivas, as
tradições que ligam esses
grupos. Por isso que determi-
nar um fator nacional acaba
não funcionando — avalia o
cientista político da Univer-
sidade Federal do Rio de Ja-
neiro (UFRJ), Paulo Baía.
VICE NA CHAPA
Já em Santa Catarina, esta-
do governado por Jorginho
Mello (PL), há impasses em
ao menos sete municípios.
Um deles é a capital, Floria-
nópolis. Topázio Neto assu-
miu a prefeitura em março
de 2022, após o prefeito Ge-
an Loureiro (União) renun-
ciar para concorrer a gover-
nador. Topázio chegou a
gravar vídeos em apoio a
Bolsonaro e declarou apoio
te. As negociações são para
que o PL indique o vice na
sua chapa em busca de um
novo mandato:
—O PL ainda não oficializou
(o apoio), mas há uma conver-
sa direta entre o prefeito e o go-
vernador Jorginho Mello (que
também é presidente estadual
da sigla) —afirma o secretário
municipal de Comunicação,
Bruno Oliveira.
Nesta disputa há um outro
nome da direita colocado: o do
ex-deputado estadual Pedro
Silvestre (PP).
O cenário conflituosa
também se desenha em
Chapecó, onde o bolsona-
rista João Rodrigues (PSD)
concorrerá à reeleição.
—Nossa amizade vai além
da política, antes mesmo
dele ser presidente. Ele sabe
afirma o prefeito.
Nos bastidores, o nome da
deputada federal Carol de
Toni (PL) chegou a ser colo-
cado, mas articuladores
apontam que a parlamentar
não teria interesse em con-
correr neste momento.
Cotada para a disputa em
Criciúma, a deputada federal
Júlia Zanatta (PL) não des-
carta a possibilidade de o par-
tido apoiar o secretário mu-
nicipal de governo Arleu da
Silveira (PSD), que será indi-
cado pelo atual prefeito, Cle-
sio Salvaro, para a sucessão.
— Quero seguir no man-
dato de deputada, mas nem
sempre a gente faz o que te-
mos vontade. A minha preo-
cupação é: quem irá falar do
Bolsonaro na eleição muni-
cipal? — questiona Zanatta.
Herval d’Oeste e Joaçaba,
dois bolsonaristas foram re-
crutados pelo PSD: o vice-
prefeito Jair da Rosa e o vere-
ador Juliano Pedrini, respec-
tivamente, que irão disputar
o pleito com a benção do PL.
O destino mais incerto de
Bolsonaro em Santa Catarina
é em São José. O prefeito Or-
vino de Ávila (PSD) será can-
didato e a ex-prefeita Adelia-
na dal Pont pode concorrer
pelo PL. Há, no entanto, um
terceiro nome cotado: o do
ex-diretor da Polícia Rodo-
viária Federal Silvinei Vas-
ques. Preso desde agosto,ele é
acusado de ter usado a
máquina pública para inter-
ferir no processo eleitoral de
2022. Caso Vasques consiga
disputar, a expectativa é que
Bolsonaro esteja ao seu lado.

A TrIlOgIa
EsTá CoMpLeTa!
O TeRcEiRo e
ú Lt I m O v O l U m E d A
s É r I e b E sT- s E l L e R d E
LaUrEnTiNo GoMeS

Nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa identidade nacional quanto a
escravidão. Conhecê-lo ajuda a explicar o que fomos no passado, o que somos hoje e também
o que seremos daqui para a frente. Em um texto impactante e ricamente ilustrado com imagens
e gráficos, Laurentino Gomes lança o terceiro volume de sua obra, resultado de 6 anos de
pesquisas, que incluíram viagens por 12 países e 3 continentes.

NAS LOJAS ON-LINE, LIVRARIAS E EM E-BOOK

 OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024 | 7

RIO GRANDE DO SUL PARA

Brasil
ACESSAR

Ministros repudiam abordagem policial APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Homem negro foi detido após denunciar ter sido ferido com faca por idoso branco O QR CODE

CAÇADA EM MOSSORÓ

‘NINGUÉM VIU’
Lula sugere conivência na fuga de presídio
federal, enquanto Lewandowski adota cautela
RICARDO STUCKERT REPRODUÇÃO
JENIFFER GULARTE nais, reféns e cinco mortes,
E CAMILA TURTELLI
brasil@ oglobo.com.br
sendo três delas decapitações.
BRASÍLIA O motim levou os dois a se-
-
rem transferidos para o presí-

O presidente Luiz Inácio Lu-

la da Silva se manifestou
pela primeira vez ontem sobre
a fuga inédita de dois detentos
da penitenciária federal de
Mossoró, no Rio Grande do
Norte, e afirmou que é preciso
apurar se houve conivência. O
petista disse que é preciso sa-
ber como os detentos “cava-
ram um buraco e ninguém
viu.” O ministro Ricardo
Lewandowski (Justiça), por
sua vez, ressaltou que o caso
está sendo investigado e que é
preciso respeitar a presunção
de inocência. A Federação Na-
cional dos Policiais Penais Fe-
derais (Fenappf) reagiu e clas-
sificou como “totalmente ir-
responsáveis” declarações que
sugerem ter havido corrupção
de agentes de segurança.
—Queremos saber como es-
ses cidadãos cavaram buraco e
ninguém viu. Só faltaram con-
tratar escavadeira —disse Lula
em coletiva de imprensa na
Etiópia, onde estava em via-
gem oficial. —Não quero acu-
sar, mas teoricamente parece
que teve conivência de alguém
do sistema lá dentro. (...) É a
primeira vez que foge alguém
desses presídios. Isso significa
que pode ter havido relaxa-
mento e precisamos saber de
quem —acrescentou.
FACÇÕES
Os fugitivos foram identifi-
cados como Rogério da Sil-
va Mendonça, 36, conheci-
do como Tatu, e Deibson
Cabral Nascimento, 34. Li-
gados ao Comando Verme-
lho, ambos são do Acre e es-
tavam na Penitenciária Fe-
deral de Mossoró desde 27
de setembro de 2023.
Em julho do ano passado, a
dupla participou de uma re-
belião em presídio de segu-
rança máxima em Rio Bran-
co. Houve roubo de armas e
ferimentos de policiais pe-
Cobrança. Lula afirmou que fugitivos ‘só faltaram contratar escavadeira’ para sair da penitenciária
‘Não dá > O professor Francisco
para sair Augusto Cruz de Araujo, do
de lá sem Instituto Federal do Rio Gran-
ajuda’, diz de do Norte (IFRN/UAB), deu
professor aulas por dois anos na Peni-
tenciária Federal de Mossoró,
de onde dois detentos fugi-
ram na última quarta-feira.
Araujo disse ao GLOBO que os
protocolos de segurança do
local são “exemplares” e que
não acredita que seja possível
deixar o presídio sem que haja
facilitação por parte de algum
funcionário. Leia o relato:
> “Estudei em Mossoró e
estive nas celas da peniten-
ciária ainda antes de sua
inauguração. Fiquei fascina-
do, é uma estrutura de shop-
ping. Tudo limpo, bem ventila-
do, com muitas câmeras por
todos os lados.
> Fiz mestrado em Ciên-
cias Sociais e estudei segu-
rança pública, sempre
estive ligado a essa temáti-
ca. Em 2017, eu estava
fazendo um projeto na
Penitenciária de Alcaçuz
quando ocorreu a rebelião
mais violenta da história do
Rio Grande do Norte. Pela
minha experiência na área
prisional, fui convidado
naquele ano pelo reitor do
IFRN a coordenar cursos
para os apenados de Mos-
Busca. Rogério Mendonça é um dos fugitivos
REPRODUÇÃO
Fuga. Deibson Nascimento também é procurado
soró que haviam passado > Em 2018, uma colega me
no Enem e conseguiram se levou para mostrar as
matricular no ensino supe- celas. Não reconheci o
rior pelo Sisu. buraco que é exibido na
foto que foi divulgada.
> Passei dois anos tendo que Aquela imagem mostra
me submeter ao rigor da uma estrutura com aspec-
segurança do sistema federal, to velho, precarizado, e o
eu ia lá a cada 15 dias. Nada de presídio federal não é
metal tem a entrada permiti- assim. Também não imagi-
da, nem zíper ou botões, e os no como um preso conse-
próprios policiais penais são guiria quebrar uma parede
obrigados a passar por detec- daquelas, de concreto
tores na entrada e na saída. aberto, sem fazer barulho.
Até o diretor da penitenciária
passa por esse procedimento. > Acredito muito na hipóte-
Existem portões à prova de se de que houve facilitação
explosões, cercas eletrifica- por parte de alguém lá de
das, em todo canto há câme- dentro para que ocorresse
ras, é um Big Brother. uma fuga.”(Nicolas Iory)
dio federal de Mossoró , cria-
do com o objetivo de isolar lí-
deres de facções criminosas
do restante da massa carcerá-
ria. Mendonça e Nascimento
estavam em celas individuais.
FALHAS
O ministro da Justiça foi on-
tem a Mossoró acompanhar
as buscas. Ele adotou, po-
rém, um tom diferente de
Lula e evitou afirmar que
houve conivência:
— Tenho que afirmar que
em nosso regime demo-
crático vigora a presunção
de inocência. Portanto, en-
quanto as investigações não
terminarem, não podemos
afirmar que houve conivên-
cia de quem quer que seja.
Lewandowski, no entanto,
defendeu punições caso seja
comprovado que houve falha
no sistema de segurança do
presídio. Como mostrou o co-
lunista Lauro Jardim, do GLO-
BO, relatório de inteligência
da unidade prisional elabora-
do por autoridades policiais
em maio de 2021, ainda no go-
verno de Jair Bolsonaro, apon-
ta que 124 câmeras de segu-
rança estavam sem funcionar.
Um segundo documento, de
setembro de 2023, já na atual
gestão, relata problemas de se-
gurança no chamado shaft,
área onde ficam as tubulações.
Odocumento alertava que era
preciso resolver o problema
“com urgência”, uma vez que o
shaft poderia ser acessado a
partir da cela se um preso re-
solvesse retirar a luminária —
o que aconteceu na fuga dos
dois detentos.
A Federação Nacional dos
Policiais Penais Federais afir-
mou ser prematuro dizer que
houve conivência. “As inves-
tigações ainda estão em cur-
so e é muito cedo para chegar
aesta conclusão”, disse a enti-
dade, em nota.

Buscas já duram cinco dias, sem prazo para acabar perguntaram onde esta-
vam, demonstrando esta-
rem desnorteados.

Ministro da Justiça alegou que a ‘complexidade’ do terreno, com matas e grutas, é um ponto de dificuldade para os trabalhos SEGURANÇA
Após a invasão da casa,
REPRODUÇÃO
Lewandowski afirmou que
BRASÍLIA
esparsas. É um trabalho de Barreiras. uma das preocupações das
-
busca complexo. Buscas pelos autoridades policiais tam-

Edetentos
m Mossoró para acompa-
nhar as buscas pelos dois
que fugiram da pe-
nitenciária federal, o minis-
tro Ricardo Lewandowski
(Justiça) afirmou ontem
que não há prazo para a cap-
tura. Ele alegou que a com-
plexidade do terreno é um
ponto de dificuldade para os
trabalhos, que já duram cin-
co dias e mobilizam 500 po-
liciais em dois turnos
—O terreno é complexo,
coberto por mata, em uma
zona rural e com uma área
extensa. Além de ter rodovi-
as, existem vias e pequenas
estradas. O local tem casas
A força-tarefa montada
acredita que os dois fugiti-
vos da Penitenciária Federal
de Mossoró, no Rio Grande
do Norte, não foram para
muito longe e ainda estão
dentro de um raio de 15 qui-
lômetros do próprio presí-
dio. Lewandowksi levantou
a possibilidade de eles esta-
rem escondidos em uma
gruta ou em alguma casa
abandonada.
Segundo o ministro,
apesar de as equipes utili-
zaram sensores térmicos,
para localizar os fugitivos,
os equipamentos não são
eficazes caso eles estejam
em um local fechado.
Na sexta-feira, os dois fu-
gitivos, Rogério da Silva
Mendonça, 36, conhecido
como Tatu, e Deibson Ca-
bral Nascimento, 34, inva-
diram uma casa a pouco
mais de dois quilômetros da
penitenciária e fizeram um
casal como refém. De acor-
do com investigadores, eles
pediram comida, queriam
dois detentos
mobilizam 500
policiais,
divididos em dois
turnos
ver notícias sobre a fuga e
roubaram celulares. A du-
pla ficou no local por cerca
de quatro horas, não pediu
dinheiro e fugiu a pé. O rela-
to dos moradores é que eles
bém é a segurança dos mo-
radores, que, segundo ele,
estão assustados.
— Nós também estamos
muito preocupados com a
segurança da população.
Queremos garantir a segu-
rança da população do en-
torno, que está legitima-
mente assustada com o que
houve —disse o ministro
da Justiça.
Antes, na mesma madru-
gada da fuga, os dois deten-
tos invadiram um rancho a
cerca de sete quilômetros da
unidade prisional. Do local,
foram levados comida, pa-
res de tênis e fósforo.
8 | Brasil Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO

CAÇADA EM MOSSORÓ

Saída de presos
REPRODUÇÕES TV GLOBO
Operação. ria Nacional de Política Pe-
Detentos naiL, os outros quatro presí-
retiraram dios de segurança máxima

foi registrada
luminária — em Brasília, Campo
da cela, Grande, Porto Velho e Ca-
abriram tanduvas (PR) — , a área do
buraco shaft é coberta com uma laje

por somente
na parede de concreto, que impede o
e fugiram acesso ao pátio.

SABONETE COMO “REBOCO’’

uma câmera
A estimativa de peritos do
Instituto Nacional de Cri-
minalística é que os deten-
tos levaram mais de três dias
para retirar a luminária e
Investigação tem só um registro, e de má abrir o buraco da fuga.
Ainda segundo a reporta-
qualidade. Relatório sigiloso traz caso de gem, está comprovado que
eles usaram uma mistura de
2019 não gravado por falha no sistema Vulnerável.
Relatório sabonete e papel higiênico
aponta como uma espécie de reboco
falhas nos para camuflar os buracos nas

A s investigações sobre a
primeira fuga realizada
em um presídio de seguran-
ça máxima no Brasil, ocorri-
da em Mossoró (RN) na últi-
ma quarta-feira, contam
com uma única imagem do
monitoramento de câmeras
feitas na penitenciária fede-
ral. O trecho do vídeo, obti-
do pelo Fantástico, da TV
Globo, e divulgado ontem,
mostra a má qualidade no
registro da saída de Rogério
da Silva Mendonça e Deib-
son Cabral Nascimento.
Na tela é possível ver dois
pequenos pontos brancos,
que seriam os fugitivos pas-
sando por baixo das telas de
proteção, rastejando. A pou-
ca qualidade pode ter preju-
dicado o monitoramento. A
fuga aconteceu às 3h da ma-
drugada de quarta-feira,
mas os agentes penitenciá-
rios só detectaram a falta
dos presos por volta das 5h.
O Fantástico também apre-
sentou dados da Divisão de
Inteligência da Penitenciá-
ria Federal em Mossoró. En-
tre as informações do rela-
tório constam falhas nos
procedimentos de seguran-
ça e na estrutura da unidade
em 2019. Entre os relatos
está a tentativa de fuga de
um integrante da facção cri-
minosa Primeiro Comando
da Capital (PCC), em de-
zembro daquele ano.
O homem estava preso na
unidade e fugiu do pátio de
banho de sol, pegou a espin-
garda de um agente e passou
a fazer ameaças. A ação, no
entanto, não foi registrada
porque, segundo o relatório,
já faltavam câmeras e o sis-
tema de gravação apresen-
tava problemas.
Como mostrou o colunista
Lauro Jardim, do GLOBO,
124 das 192 câmeras de segu-
rança estavam sem funcio-
nar, de acordo com relatório
produzido em maio de 2021.
Fotos feitas durante a pe-
rícia e distribuídas pelo Mi-
nistério da Justiça mostram
um buraco na parede da ce-
la, por onde a dupla teria es-
capado. Uma das hipóteses
é que os detentos tenham
retirado pedaços de ferro, os
vergalhões, das paredes da
cela, e usado como ferra-
menta para retirar a luminá-
ria. A reportagem do Fan-
tástico indica que possivel-
mente os vergalhões foram
retirados da estrutura das
mesas e das camas, feitas de
concreto. A dupla teria en-
rolado o uniforme na barra
para fazer menos barulho.
Após passarem pelo bura-
co aberto na parede, os cri-
minosos acessaram o shaft
(tubulação), e tiveram o tra-
balho de tirar uma das telhas
procedimentos
de segurança
e na estrutura
da unidade
em já em 2019
de lugar e pular para o pátio.
Os presos acessaram o
terraço, onde havia um can-
teiro de obras, cercado por
um tapume. Operários que
trabalhavam na obra duran-
te o dia acessavam essa área
e deixaram as ferramentas
no local, entre elas, um ali-
cate, que os fugitivos pega-
ram para cortar o alambra-
do da penitenciária.
De acordo com a Secreta-
paredes. O sabonete também
foi usado para deixar o bura-
co da fuga mais escorregadio.
O programa mostrou o
controle para entrar na pe-
nitenciária, que conta com
quatro pontos de checa-
gem, e as duas celas indivi-
duais de Rogério e Deib-
son. O pavilhão em que os
presos estavam é chamado
de Regime Disciplinar Di-
ferenciado (RDD), e é
composto por 12 celas de
isolamento. O local foi de-
socupado para a investiga-
ção. Segundo o blog de Ju-
lia Dualibi, no g1, por ser
RDD, as celas não possuí-
am vistorias diárias.
De acordo com a investi-
gação, a dupla teria agido
de forma coordenada, ao
mesmo tempo e com a mes-
ma técnica para escapar.
Os fugitivos continuam
sendo procurados pela po-
lícia nos arredores.
OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024
Estados manterão bolsas, mesmo com o Pé-de-Meia
Com a soma dos benefícios locais e federal, jovens da Bahia, Santa Catarina, Alagoas e Goiás vão receber entre
R$ 300 e R$ 770 mensais, além de bônus ao se formarem. Profissionais da educação apontam queda na evasão escolar
BRUNO ALFANO
bruno.alfano@extra.inf.br
-
Ealunos
stados que já oferecem
bolsas de estudo para
de escolas públicas
vão manter seus programas
mesmo com a criação do Pé-
de-Meia, projeto do gover-
no federal que pagará para
os estudantes de todo o país
frequentarem as aulas. Com
isso, jovens de Bahia, Santa
Catarina, Alagoas e Goiás
vão receber entre R$ 300 e
R$ 770 mensais, além de bô-
nus ao se formarem.
Os programas de bolsas fo-
ram criados durante a pande-
mia para tentar conter a alta
da evasão com o fechamento
das escolas e a procura de tra-
balho por adolescentes po-
bres que precisavam contri-
buir para a renda das famí-
lias. O modelo é inspirado
em ações de outros países,
como o Jóvenes en Acción,
projeto colombiano que paga
até R$ 5,9 mil a alunos do en-
sino médio. Em 2017, um es-
tudo da Universidade de los
Andes descobriu que o pro-
grama implementado em
2013 diminuiu pela metade a
evasão nesta etapa do ensino.
Em Goiás, a taxa de evasão
caiu de 18,5% em 2019 para
9%, no ano passado, de
acordo com a secretária de
Educação do estado, Fátima
Gavioli. Com a regra de cor-
tar o pagamento nos meses
em que o estudante tem
menos de 75% de presença,
o programa ajuda a detectar
rapidamente quem deixou
de ir às aulas.
— Esse monitoramento
substituiu a busca ativa tra-
dicional — explica Gavioli,
referindo-se ao processo de
identificação dos faltosos,
que em seguida são procura-
dos por uma equipe da esco-
la, às vezes com outros estu-
dantes, ou da secretaria.
TEMPO INTEGRAL
Como o pagamento é feito
em cartão, o estado acompa-
nha como o dinheiro é gasto.
Com o Pé-de-Meia, o gover-
no de Goiás enviou um pro-
jeto de lei à Assembleia Le-
gislativa para diminuir o va-
lor dos alunos de tempo par-
cial de R$ 100 para R$ 50 e
aumentar de R$ 100 para R$
200 os de tempo integral,
em que o estudante fica mais
de sete horas diárias em au-
la, que estão no CadÚnico.
—Muitas vezes esses jovens
deixam de estudar na escola
integral. Querem trabalhar
ANTÔNIO
GOIS
antonio.gois@jeduca.org.br
Equívocos no
debate sobre gasto
O gasto público com educação no Brasil —
considerando todas as esferas — foi de R$
520 bilhões em 2022, ou 5,2% do PIB. A infor-
mação consta do relatório “Despesa por Fun-
ção do Governo Geral”, publicado no mês pas-
sado pelo Tesouro Nacional. Sempre que divul-
gados, esses dados alimentam uma necessária
discussão sobre a qualidade do investimento,
mas geram também simplificações e equívo-
Brasil | 9
HERMES DE PAULA/10-10-2023
Auxílio.
Alunos em sala:
programas de
bolsas foram
criados durante
a pandemia
para tentar
conter a alta da
evasão escolar
motivada
pela busca
por trabalho
monitor de sala, um projeto
ENTENDA O PÉ-DE-MEIA da rede em que o estudante
ganha para ajudar o profes-
QUEM TEM CONHEÇA AS BOLSAS DE ESTUDO sor. Com o Pé-de-Meia, vão
DIREITO? DOS ESTADOS ser mais R$ 200. Isso signifi-
Dois grupos ca R$ 500, quase o salário de
recebem o SANTA
benefício GOIÁS BAHIA CATARINA** ALAGOAS 30 horas para trabalhar co-
mo jovem aprendiz (em tor-
Quem tem Todos os Alunos de todas Estudantes do Alunos do no de R$ 650), e R$ 5,5 mil
estudantes as etapas ensino médio ensino médio
Alunos do
ensino médio de
Alunos do
ensino médio na
direito?
do ensino escolares cujas cujas famílias
ao fim do ano — são 11 me-
14 a 24 anos cujas modalidade de educação de médio famílias estão estão no ses de pagamentos.
famílias estão jovens e adultos de 19 a 24 no CadÚnico CadÚnico — Vários amigos pararam
inscritas no anos cujas famílias estão
CadÚnico inscritas no CadÚnico de faltar —conta o jovem. —
O que 75% de 75% de 75% de Ter mais
precisa presença e presença presença de 90% de Comprei um celular, meu
fazer? tirar pelo presença material escolar, várias coi-
QUAL menos 6
sas. Até roupa nova já com-
VALOR? em cada
disciplina prei. Com essa parcela a
R$ 1 mil mais, vou ajudar em casa.
por ano Qual R$ 111,92 R$ 150 por R$ 568 R$ 100 para alunos de
No estado, só recebe
?
R$ 200 de aprovação R$ 200 valor? por mês mês para um
filho e mais
mensais tempo parcial e R$ 150 para
alunos de tempo integral; quem atingir 90% de pre-
mensais
R$ 50 para mais R$ 2 mil quando o sença (sem recorte de ren-
cada irmão estudante se formar
esse dinheiro o dinheiro fica por fazer da) e isso alcança mais de
pode ser retido até o final o Enem
sacado do ensino médio Valor total R$ 3,7 mil R$ 4,9 mil R$ 6,5 mil R$ 5,3 mil do governo do estado 70% da rede de ensino mé-
ao fim do do governo do governo do governo (aluno do tempo parcial) dio do estado.
do estado do estado do estado
ensino
R$ 6,9 mil do governo do estado
— Essa parceria com o go-
O QUE médio* verno federal é de extrema
R$ 9,2 mil R$ 9,2 mil R$ 9,2 mil (aluno do tempo integral)
PRECISA do governo do governo do governo importância, sobretudo se
federal federal federal R$ 9,2 mil do governo federal
FAZER? considerarmos que parte
Total significativa da população
Só a matrícula na
escola já garante a R$ 12,9 MIL R$ 14,1 MIL R$ 15,7 MIL R$ 14,5 MIL R$ 16,1 MIL alagoana está na chamada
Ter mais de linha de pobreza — diz Ro-
80% de primeira parcela (aluno do (aluno do tempo
presença de R$ 200
tempo parcial) integral) seane Vasconcelos, secretá-
ria de Educação de Alagoas.
*Considerando alunos que comecem a estudar no 1º ano do ensino médio em 2024 **A lei que criou o programa prevê que a bolsa seja encerrada no fim de 2024 EDITORIA DE ARTE O Pé-de-Meia foi lançado
em janeiro e prevê beneficiar
num subemprego, em que ga- Meia, a deputada federal Ta- no caso de alunos que preci- vai ganhar R$ 400, a escola 2,4 milhões alunos do Ensino
nhem R$ 300, R$ 400. A es- bata Amaral (PSB-SP) afir- sam ajudar com as contas de vai ganhar essa disputa. Médio e 170 mil estudantes
cola de tempo integral sofre ma que o valor de R$ 200 é casa. Para Gavioli, a com- Aluno da rede estadual de entre 19 e 24 anos do progra-
um esvaziamento por isso — atrativo para manter a pre- plementação do programa Alagoas, Lucas Sabino, de 17 ma de Educação de Jovens e
afirma a secretária. sença dos jovens, mas ainda estadual faz a balança pen- anos, recebeu em 2023 R$ Adultos (EJA). Devem ser in-
Criadora do projeto de lei não consegue competir der mais para a sala de aula. 100 do programa de bolsa vestidos na política cerca de
que deu origem ao Pé-de- com o mercado de trabalho — Se para estudar o aluno estadual e R$ 200 para ser R$ 20 bilhões até 2026.
cos. Um primeiro erro é restringir a análise ape-
nas ao percentual do PIB e compará-lo com a
to é muito repetido também quando a OCDE
divulga o relatório anual “Education at a
ferior a 30%. Ou seja, continuaríamos a léguas
de distância dos países ricos nesse indicador.
média de países desenvolvidos, hoje muito se-
melhante à do Brasil. Esta é uma medida rele-
Glance”. O documento mostra que, em dóla-
res já ajustados ao poder de compra, nosso in-
Outro fator comumente ignorado é a natu-
reza peculiar do ensino superior brasileiro.
vante do esforço proporcional comparado ao vestimento público anual por aluno no supe- Por aqui, 79% dos universitários estão em ins-
de outras nações, mas é insuficiente para con- rior é praticamente o mesmo da média da tituições privadas, ante 29% da média da OC-
cluir, só a partir dela em conjunto com os resul- OCDE (US$ 14.735 x US$ 14.839), ao passo DE. Além disso, as públicas concentram mais
tados do Pisa, que estamos gastando mal. que, na educação básica, a discrepância é de 90% da pesquisa nacional, o que encarece
Uma razão do equívoco nessa análise é que enorme (US$ 3.583 x US$ 10.949). seus custos por aluno. Mesmo assim, a USP,
ela ignora o histórico de investimento maior Um dado quase sem- universidade nacional de melhor avaliação
dos países ricos. Como resultados educacio-
nais mensurados no presente são fortemente
Um primeiro erro pre omitido nessa com-
é restringir a paração é que, no caso
em rankings internacionais, gastava por aluno
em 2017, de acordo com estudo publicado em
influenciados pelos indicadores do passado
(a escolaridade e renda dos pais, por exem-
plo, é o principal fator a explicar o desempe-
análise do gasto brasileiro, estamos falan-
com educação ao do de um universo de 2
percentual do PIB milhões de universitá-
julho de 2019 na revista da Fapesp, 8% do veri-
ficado no MIT, 9% em Stanford ou 16% em
Harvard, apenas para citar algumas universi-
nho dos filhos), é irrealista imaginar que, as- e compará-lo com rios em instituições pú- dades privadas americanas no topo de
sim que igualássemos a proporção do PIB das
nações desenvolvidas, imediatamente alcan-
çaríamos os mesmos resultados. Outro dado
a média de países blicas, frente a mais de
desenvolvidos 38 milhões de alunos em
escolas municipais, esta-
rankings internacionais.
Nenhum dos argumentos acima inviabiliza
o debate sobre a necessidade permanente de
nem sempre citado é que o PIB per capita bra- duais e federais na educação básica. Mesmo se, mais eficiência no gasto público. É fato que te-
sileiro, sendo muito menor, resulta também numa absurda hipótese de o poder público ze- mos vários problemas a serem enfrentados, cu-
num gasto por aluno muito inferior. rar seu investimento no ensino superior e dire- ja análise não caberia no curto espaço desta co-
Outro equívoco frequente no debate é infe- cionar o valor totalmente para a educação bási- luna. Mas, até para que o diagnóstico seja mais
rir que nosso principal problema seria de pri- ca, o incremento por aluno na educação infan- preciso e trate das verdadeiras feridas, é neces-
oridade entre setores. Esse tipo de argumen- til e nos ensinos fundamental e médio seria in- sário antes fugir de explicações simplistas.
10 | Segunda-feira 19.2 .2024
Saúde
VOCÊ MERECE
Síndrome do impostor afeta mais
as mulheres e deve ser combatida
PATRICIA FERNÁNDEZ MARTÍN*
Do El País
-
“T enho medo de que os
outros me avaliem.”
“Sinto que meus sucessos
foram resultado do acaso.”
“Tenho medo de que pesso-
as importantes descubram
que não sou tão capaz quan-
to pensam.” “Certamente,
parece bobagem o que que-
ro dizer.” São infinitas as fra-
ses que refletem a síndrome
do impostor. Até Meryl
Streep se reconheceu nelas.
Esse fenômeno foi descrito
em 1978 pelas psicólogas
americanas Pauline Clance e
Suzanne Imes. Na época, de-
finiram-no como um senti-
mento intenso de falsidade
em relação à imagem de
competência experimenta-
da por pessoas com alto nível
acadêmico. De acordo com
as estatísticas, até 50% das
pessoas reconhecidas convi-
vem com essas sensações.
Em 2000, Joan Harvey e
seus colaboradores associa-
ram a síndrome a determi-
nados traços de personali-
dade, como autoexigência
elevada e autocrítica, per-
feccionismo e baixo nível de
autocompaixão.
Aqueles que se sentem as-
“Os papéis de sim costumam se responsa-
gênero fazem bilizar pelos erros e detestar
com que elogios. Quando recebem
elas sofram cumprimentos, consideram
mais desse que seus sucessos são uma
problema questão de sorte ou resultado
quando de ninguém perceber suas
ocupam deficiências. Se veem como-
posições de fraudes porque estão desem-
liderança ” penhando um papel que não
_ lhes corresponde. Têm medo
do fracasso e negam suas ha-
“É aconselhá- bilidades, às vezes de manei-
vel cultivar o ra inconsciente. Para com-
autoconheci- pensar o medo da derrota,
mento e preparam tudo em excesso
perceber as ou procrastinam, fazendo
habilidades um esforço final enorme. Es-
e forças se fenômeno ocorre mais em
próprias, ambientes competitivos.
e aumentar É oportuno diferenciar
a compaixão entre uma sensação ocasio-
em relação às nal e a situação tornar-se al-
nossas falhas” go constante. Um sinal de
CIÊNCIA
Natalia Pasternak
Microbiologista, presidente do IQC,
professora na Universidade de Columbia
(EUA) e FGV-SP e autora dos livros Ciência
no Cotidiano e Contra a Realidade
Johanna
Döbereiner, 100
EleirasteJohanna
ano comemoramos o centenário de
Döbereiner, a cientista brasi-
que marcou a história da agricultura,
da biotecnologia e do feminismo. Nasceu
na antiga Tchecoslováquia (hoje República
Tcheca) em 1924, numa região que foi ocu-
pada pela Alemanha nazista. No pós-guer-
ra, seus pais, apesar de sempre terem lutado
contra o regime nazista, foram mandados
para um campo de trabalho, como muitos
cidadãos alemães. Johanna conseguiu fugir
com os avós para a Alemanha Oriental.
| OGLOBO
OLFATO APURADO PARA
ACESSAR
Seu cheiro pode indicar problemas APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Cientistas investigam ligação entre odores corporais e doenças O QR CODE
FREEPIK
alerta é que nenhum suces- rio que ainda é difícil de — isso ajuda a questionar a Na seleção de pessoal, os Estrutural.
so é suficiente, causando romper. A síndrome surge linguagem. Também é acon- avaliadores costumam se Síndrome
uma insatisfação crônica, na adolescência e se intensi- selhável cultivar o autoco- concentrar em qualidades co- afeta mais
ou que a alta exigência ultra- fica em momentos específi- nhecimento e perceber as mo confiança e carisma, e as mulheres,
passa o âmbito profissional cos da vida adulta, como du- habilidades e forças próprias, muito pouco na competência muito em razão
e afeta o social ou familiar. rante a maternidade, quan- trabalhar os falsos sentimen- ou humildade. Focar nessas do contexto
Se os níveis de estresse au- do é necessário fazer esfor- tos de culpa e aumentar a últimas características redu- histórico
mentam muito, existe risco ço dobrado para demons- compaixão em relação às ziria os contextos coercitivos. e social
para a saúde física. trar o valor profissional. nossas falhas . Também é útil Outra medida útil seria que as
Alguns estudos indicaram reduzir os hábitos compulsi- organizações implementas-
que os sintomas afetam mais COMBATE vos de trabalho, aceitar os sem políticas de igualdade de
as mulheres. Os papéis de gê- Nos livros “El sindrome de la elogios e saber desfrutar do gênero, promoção da diversi-
nero fazem com que elas so- impostora” (A Síndrome do que se faz. A conscientização dade e igualdade salarial.
fram mais desse problema Impostor, em tradução livre), sobre o viés de gênero, tanto Para as futuras líderes, se-
quando ocupam posições de de Cadoche e Montarlot, ou individual quanto coletiva- ria interessante buscar mo-
liderança tradicionalmente “No lo haré bien” (“Não Farei mente, é fundamental. delos e mentoras que servis-
associadas aos homens. Bem”), de Emma Vallespinós, Nas empresas, é possível sem de referência, que aju-
A origem desse quadro e são propostas recomendações combater esse síndrome com dem as mulheres a se apoia-
seu impacto maior entre as para combater a síndrome. lideranças saudáveis, que fo- rem mutuamente, arrisca-
mulheres podem ter raízes O primeiro passo seria mentem a confiança e a coo- rem-se, se assim desejarem,
históricas. O livro “Mulhe- identificá-la e perceber o que peração, combatendo os jul- mas também aceitarem que
res e Poder”, da historiadora a desencadeia. Em seguida, gamentos e preconceitos têm o direito de continuar
Mary Beard, mostra como, suavizar a autocrítica e anali- competitivos, que desencora- sendo comuns.
desde as civilizações anti- sar quão imprecisas são cer- jam as pessoas mais cautelo- *Patricia Fernández Mar-
gas, as mulheres foram rele- tas avaliações, comparando- sas e sensíveis a se envolve- tín é psicóloga no Hospital Ra-
gadas a um papel secundá- as com as opiniões dos outros rem em níveis mais elevados. món y Cajal de Madri.
Sua mãe faleceu no campo de prisionei-
ros, mas o pai, que era químico, conse-
no solo capturam o nitrogênio do ar, con-
vertendo-o em compostos de que as plan-
pela alternativa biológica, economizando
anualmente um valor estimado em US$ 2
guiu escapar e emigrou para o Brasil. Jo- tas precisam para seu crescimento, num bilhões, e tornando o Brasil competitivo no
hanna o seguiu em 1950, já formada em processo chamado fixação de nitrogênio. mercado externo.
agronomia pela Escola Superior Técnica Estas bactérias geralmente estão presentes O programa iniciado com a soja fez tanto
de Munique, e naturalizou-se brasileira em nódulos nas raízes de plantas legumi- sucesso que Johanna Döbereiner começou
em 1956. Foi chefe do Instituto Nacional nosas. A cientista suge- a pesquisar também bactérias fixadoras em
de Pesquisa em Ecologia e Agricultura Seu trabalho riu a introdução destas simbiose com outras plantas, não somente
Experimental, que deu origem à Embra- de pesquisa bactérias na cultura de em leguminosas. Obteve sucesso com gra-
pa Agrobiologia, e seu trabalho de pes- revolucionou soja, dispensando o míneas, cereais e tubérculos, como batata e
quisa revolucionou a agricultura no Bra-
sil, promovendo estudos pioneiros de
técnicas de agricultura sustentável.
a agricultura
no Brasil, com
fertilizante químico.
Isso não só acelerava o
estudos pioneiros crescimento das plan-
mandioca. Um caso de sucesso digno de no-
ta foi a descrição de uma bactéria que fazia
simbiose com cana de açúcar.
Johanna estudava bactérias fixadoras de
nitrogênio, como alternativa ao uso de fer-
de técnicas
sustentáveis
tas, mas também tor-
nava todo o processo
Embora tenha sido agraciada com diver-
sos prêmios, incluindo uma indicação para
tilizantes químicos. Além do desafio cien- muito mais barato. o Nobel de Química, Johanna nunca se tor-
tífico, também teve que encarar uma área
de pesquisa dominada por homens, em
uma época em que as mulheres ainda não
A grande sacada dela foi introduzir a bac-
téria nas sementes da soja. Quando essas se-
mentes “infectadas” germinavam, as plan-
nou conhecida pela população brasileira.
Faleceu em 2000, aos 75 anos.
Mulheres cientistas notáveis como Jo-
participavam de forma tão ativa na ciência e tas formavam nódulos com bactérias nas ra- hanna Döbereiner não podem cair no es-
no mercado de trabalho. ízes, que funcionavam como verdadeiras quecimento. É nosso dever honrar a memó-
Desafiou ainda a mentalidade vigente: a usinas de fixação de nitrogênio. Assim, a so- ria dela e contar sua história para jovens ci-
maioria dos cientistas acreditava que ferti- ja produzia seu próprio adubo. Além da sim- entistas, que ainda hoje encontram tantos
lizantes químicos eram essenciais para au- biose de bactérias com a soja, Johanna iden- obstáculos na progressão da carreira. Jo-
mentar a produção, e alternativas biológi- tificou mais nove espécies de bactérias ca- hanna foi eternizada no nome de duas bac-
cas nunca seriam capazes de alcançar o pazes de fixar nitrogênio. Graças aos estu- térias: Cluconacetobacter johannae sp. e
mesmo sucesso. dos da pesquisadora, os agricultores brasi- Azospirillum doebereinerae sp. Que seja eter-
Algumas espécies de bactérias presentes leiros conseguiram substituir o fertilizante na também em nossa memória.
OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024
Economia
BOMBA-RELÓGIO
R$ 1 TRILHÃO
Gastos com Previdência se aproximam de marca
histórica, e analistas defendem revisão de regras
RENAN MONTEIRO
renan.monteiro@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
P ouco mais de quatro anos
após a Reforma da Previ-
dência, de 2019, os gastos
com aposentadorias, pen-
sões e benefícios previden-
ciários no setor privado vão
passar de R$ 900 bilhões este
ano e podem chegar a R$ 1
trilhão já no ano que vem ou
no máximo em 2026. A des-
pesa elevada já consome cer-
ca de 40% do Orçamento pú-
blico sem contar os gastos
com juros. Especialistas de-
fendem novas revisões nas
regras para evitar uma explo-
são de despesas.
Além do Regime Geral de
Previdência Social (RGPS),
que paga despesas do INSS,
outras contas da União inclu-
em a previdência dos servido-
res públicos, dos pensionistas
e militares inativos, bem co-
mo aposentados bancados
pelo Fundo Constitucional
do Distrito Federal. No soma-
tório, a despesa somou mais
de R$ 1 trilhão em 2023.
—De 2020 para cá, a des-
pesa tem crescido a uma taxa
de 7,3% ao ano. Mesmo se vo-
cê tirar a inflação, ainda há
um crescimento real alto. E
R$ 1 trilhão pode ser atingido
já em 2025. Um trilhão de re-
ais só para a Previdência é
muito dinheiro. Não tem tri-
butação que sustente isso —
analisa William Eid Junior,
diretor do Centro de Estudos
em Finanças da Fundação
Getulio Vargas (FGVcef).
Os gastos previstos no Orça-
“Um trilhão mento são de R$ 908 bilhões,
de reais valor próximo ao ano passado,
só para a mas que especialistas conside-
Previdência ram subestimados.
é muito —Na nossa perspectiva, o
dinheiro. número que consta no Orça-
Não tem mento está abaixo do que de-
tributação ve ser realizado. Os benefí-
que sustente cios emitidos pela Previdên-
isso” cia aumentaram muito em
_ 2023 e seguem nessa cres-
William cente — afirma Vilma Pinto,
Eid Junior, diretora da Instituição Fiscal
diretor do Independente (IFI).
Centro de
Estudos em IMPACTO NAS CONTAS
Finanças Felipe Salto, economista-
da Fundação chefe da Warren Investi-
Getulio Vargas mentos e ex-secretário da
(FGVcef) Fazenda e Planejamento de
São Paulo, estima que os
“O número gastos chegarão a R$ 925,6
que consta no bilhões. Uma primeira rea-
Orçamento valiação será feita em mar-
está abaixo ço, quando as informações
do que deve da execução das despesas e
ser realizado. receitas do primeiro bimes-
Os benefícios tre serão divulgadas.
emitidos pela — Esse ajuste, se necessá-
Previdência rio, como achamos que será, DESPESAS Evolução dos gastos com benefícios
aumentaram vai dificultar a vida da Fa- EM ALTA
muito zenda e do Planejamento
em 2023 e para entregar um primário 1000
seguem nessa (resultado das contas públi- 800
crescente” cas) melhor neste ano —
_ afirma Salto. 600
Vilma Pinto, Ele também considera 400
diretora da que a aceleração dos gastos
Instituição em relação ao PIB preocupa 200
Fiscal porque pode indicar que
Independente uma nova mudança no regi-
(IFI) me viria a ser necessária Fonte: Tesouro Nacional
dentro de alguns anos:
— É uma bomba-relógio,
ainda que eu não veja essa
questão para o curto prazo
— afirma Salto.
INFORMALIDADE ELEVADA
O governo gasta mais do que
arrecada com o Regime Ge-
ral de Previdência Social
(RGPS), que paga as contas
do INSS. Essa diferença
cresceu a uma média anual
de 6,3% de 2013 a 2022, se-
gundo o último relatório de
contas do Tribunal de Con-
tas da União (TCU). Nesse
ritmo, o déficit, por si só,
atingiria R$ 1 trilhão em
2045, conforme o relatório
do Ministério da Fazenda.
O economista e especia-
lista em contas públicas
Raul Velloso defende um
“equacionamento previ-
denciário” para equilibrar
o rombo. Para ele, é possí-
vel “arrumar a casa” sem
precisar de outra emenda
constitucional.
— Não é mais reforma
(constitucional). É trans-
formar o regime que existe
hoje em um regime que pre-
cisa ser capitalizado. Você
coloca lá ativos (como re-
cursos de empresas públi-
cas) e toma uma série de
providências (infraconsti-
previdenciários no Brasil (R$ bilhões)
778 789
0
2017 2018
*Previsão
ARGENTINA
Pobreza chega a 57,4% em janeiro
NA WEB Patamar é o maior já registrado no país vizinho nos últimos 20 anos
tucionais). Mesmo com as
regras que existem hoje, vo-
cê consegue reduzir esse pe-
so drasticamente — afirma.
Hoje o Brasil está no regi-
me de repartição simples.
Quem está na ativa, contri-
buindo para o INSS, paga
os benefícios dos aposen-
tados e aqueles sem condi-
ções de trabalhar e contri-
buir, como pessoas com de-
ficiência.
Washington Barbosa, es-
pecialista em direito previ-
denciário, afirma que é pre-
ciso mexer em fraudes, ter
agilidade na execução dos
débitos (contribuições não
recolhidas), revisar os parâ-
metros da metodologia de
cálculo das alíquotas e no fi-
nanciamento.
Tudo isso seria possível
sem precisar da via consti-
tucional, segundo o espe-
cialista. Para além da ques-
tão estrutural —como a po-
pulação idosa crescendo
em ritmo maior que a po-
pulação jovem — outro
problema apontado por es-
pecialistas é o grau de in-
formalidade e o contingen-
te de pessoas que estão no
mercado de trabalho, mas
sem contribuir.
—Além da ilegalidade, te-
mos novas formas de traba-
836
813 825
2019 2020 2021
lho, como motoristas de apli-
cativos, pessoas que traba-
lham com mídias sociais, e até
influenciadores digitais, que
não estão contribuindo. São
profissionais, e a Previdência
ainda não está adequada a isso
—avalia Barbosa.
PREOCUPAÇÃO COM RURAL
A maior preocupação de es-
pecialistas é com o regime
rural do INSS, que tem re-
gras específicas. Há, por
exemplo, a possibilidade de
contribuição anual e não
mensal. Além disso, quem
trabalha no campo precisa
ter ao menos 60 anos (ho-
mens) e 55 anos (mulhe-
res). Para os trabalhadores
urbanos, a idade mínima é
de 65 anos (homens) e 62
anos (mulheres).
A arrecadação do INSS
com o regime rural foi de R$
8,5 bilhões em 2023, queda
de 5,3%. A despesa, por outro
lado, teve alta de 10,3%, pas-
sando de R$ 157,4 bilhões em
2022 para R$ 173,6 bilhões
no ano passado. As receitas
com contribuições de em-
pregados e empregadores co-
brem cerca de 80% das des-
pesas com benefícios. No
segmento dos trabalhadores
rurais, representaram em
torno de 5% dos gastos.
913 908*
846
2022 2023 2024
EDITORIA DE ARTE
| 11
PARA
ACESSAR
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PARA
O QR CODE
LUCAS TAVARES/14-4-2023
Fábio Giambiagi, econo- Diagnóstico.
mista e colunista do GLO- Especialistas
BO, calculou que a conta citam problemas
dos benefícios rurais, que para a
era da ordem de 0,5% do PIB Previdência,
em 1995, é de 1,7% do PIB como o
atualmente. “Cedo ou tar- envelhecimento
de, as regras de aposentado- da população,
ria rural precisarão ser mo- a informalidade
dificadas, porque são in- e o aumento
compatíveis com a perspec- do número de
tiva demográfica do país”, brasileiros que
escreveu. não contribuem
Por outro lado, a discussão
sobre eventual mudança de
alíquota dos trabalhadores
rurais deve ser precedida de
estudos sobre as reais condi-
ções dos trabalhadores, de-
fende a advogada e especia-
lista em direito previden-
ciário, Thais Riedel:
—O Brasil ainda é muito
rural. É importante a gente
fazer cálculo atuarial.
Identificar qual o risco mé-
dio do brasileiro. Isso pre-
cisa ser auferido.
REVISÃO DE GASTOS
Contrária à ideia de uma
nova reforma, a equipe
econômica vem focando
em medidas infralegais
para buscar o controle do
gasto, como tentativa de
evitar fraudes. Ainda este
ano, o Ministério da Previ-
dência estima uma econo-
mia de R$ 10 bilhões com a
implementação de medi-
das para diminuir as des-
pesas previdenciárias.
As ações citadas pela pas-
ta de Carlos Lupi, em nota,
incluem revisão de benefí-
cios por incapacidade tem-
porária e auxílio-acidente,
prevenção de fraudes pre-
videnciárias, e cobrança
administrativa de benefí-
cios indevidos, além da
melhora da infraestrutura
de atendimento.
 12 | Economia Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO

SEG _ Rachel Maia (quinzenal) _Ricardo Henriques (quinzenal)_ TER _ Míriam Leitão _ QUA _ Zeina Latif _ QUI _ Míriam Leitão _ SEX _ Fabio Giambiagi (quinzenal)_Rogério Furquim Werneck (quinzenal) _ SÁB _ Carlos Góes (mensal) _ Alvaro Gribel (quinzenal) _ DOM _ Míriam Leitão

DIVULGAÇÃO
OBITUÁRIO Diniz queria ser professor,
Abilio Diniz/ EMPRESÁRIO, 87 ANOS mas adiou o sonho após a pro-
Popularidade. posta feita pelo pai para tocar o

Um empreendedor Além da faceta de

empresário de
sucesso, Abilio Diniz
negócio da família. Formado
em Administração de Empre-
sas na Fundação Getúlio Var-

cuja história se
atraía a atenção do gas, recentemente o empresá-
público por rio montou um curso sobre li-
compartilhar nas derança e gestão, onde lecio-

entrelaça com a
redes imagens da nou presencialmente. Sempre
família, de viagens e que era perguntado sobre o le-
seus pensamentos gado que queria deixar para a

do varejo nacional
sociedade, dizia que nunca se
preocupava com isso. Sua
principal preocupação em vi-
da, afirmava, era ser uma pes-
soa feliz, que faz o bem e com-
Admirado pelo tino nos negócios e conhecido partilha o conhecimento.
pela paixão pelos esportes, fez do Pão de
AMIGOS LAMENTAM A MORTE
Açúcar, fundado por seu pai, um sucesso O vice-presidente Geraldo
Alckmin (PSB-SP) escre-
veu em uma rede social que
JOÃO SORIMA NETO São Paulo, onde frequenta- Abilio Diniz era um dos
E GLAUCE CAVALCANTI
economia@oglobo.com.br
va as missas. O convite para grandes empresários do pa-
SÃO PAULO E RIO ouvir o empresário na igreja ís. “Sua vitalidade, dedica-
-
chegou aos fiéis pelo Face- ção ao trabalho e fé no Brasil

A história do varejo brasilei-

ro e do empresário Abilio
dos Santos Diniz estão entre-
book: “Encontro de fé e ci-
dadania com Abilio Diniz”.
Com seu temperamento
formaram grandes lições de
vida. Que seu exemplo con-
tinue a inspirar as próximas
laçadas. Tanto que há alguns forte, Abilio encarou ao lon- gerações de empresários no
anos o jornal britânico Fi- go de sua trajetória profissio- Brasil”, escreveu.
nancial Times escreveu que nal algumas brigas homéri- O presidente da Câmara,
Diniz era um “herói” para os cas. A primeira delas foi com Arthur Lira (PP-AL), disse
consumidores brasileiros da- sua própria família, nos anos ter perdido um amigo. “O
da sua perseverança à frente 1990. O pai dele, Valentim, país perdeu um exemplo de
do negócio fundado por seu decidiu dar parte das ações empreendedor, de compe-
pai, o português Valentim da empresa aos filhos: Abilio, tência. Sempre viu o Brasil
dos Santos Diniz. Alcides, Arnaldo, Vera, Sônia com otimismo, com espe-
A rede de supermercados e Lucília. As ações foram di- rança e fé inquebrantável
Pão de Açúcar, que nasceu co- vididas de acordo com a par- no nosso futuro”, afirmou.
mo uma doceria, em 1948, ga- ticipação do trabalho de cada O presidente do Senado,
nhou este nome pelo amor um na empresa. Rodrigo Pacheco (PSD-
que o imigrante criou pelo Pão Abilio, o primogênito e MG), lembrou que Abilio
de Açúcar assim que chegou mais ativo no Pão de Açúcar, participou ativamente das
de navio ao Rio de Janeiro, em recebeu a maior parte. En- transformações do setor pro-
1929, e avistou a beleza da pai- quanto cada um dos filhos dutivo. “Teve papel funda-
sagem. A doceria transfor- recebeu 8% — e as filhas mental no desenvolvimento
mou-se num império e Abilio apenas 2% — Abilio ficou econômico e social do país”,
em um dos mais icônicos em- com 16% da companhia. A afirmou em rede social.
preendedores brasileiros. decisão do pai abriu uma dis- O ex-governador de São
Críticos apontavam seu puta entre os irmãos pelo co- Paulo João Doria afirmou
temperamento forte e a ob- mando da companhia e o que a contribuição de Abilio
sessão pelo poder como seus Pão de Açúcar por pouco para o empreendedorismo e
principais defeitos. Mas, no não quebrou. Até mesmo a desenvolvimento econômi-
mercado, essas duas caracte- mãe Floripes abriu um pro- co do Brasil deixa um grande
rísticas sempre foram vistas cesso contra o marido e o legado.
como essenciais para seu su- primogênito. Só em 1994, Jean-Charles Naouri, pre-
cesso no varejo nacional. Do- um acordo foi assinado ga- sidente do grupo Casino Gui-
no de uma fortuna estimada rantindo a ele o controle da chard-Perrachon, escreveu
em US$ 2,4 bilhões pela revis- companhia. Lucília, a irmã em comunicado que o legado
ta Forbes, ele ocupava em caçula, foi a única a perma- de Abilio Diniz será sempre
agosto de 2023, a posição necer no grupo trabalhando lembrado “como um dos
1.272 no ranking global de com o irmão mais velho. maiores nomes do varejo ali-
pessoas mais ricas do mundo. Já sob sua liderança, em mentar no mundo”. “Abílio
Entre os brasileiros, Abilio 1995, o Pão de Açúcar fez sua foi um empreendedor incan-
não era só o pop star do varejo, oferta pública inicial de ações sável e que acima de tudo ja-
admirado por sua riqueza e (IPO) na Bolsa de Valores de mais abandonou seu otimis-
obstinação pelo trabalho: ele São Paulo, obtendo US$ 112,1 mo com o Brasil”, afirmou.
ganhou notoriedade como milhões. Foi o primeiro lança- O Grupo Carrefour, onde
um homem apaixonado por mento de ações de uma vare- Diniz era vice-presidente do
esportes — e torcedor fervo- jista do ramo de alimentos na Conselho de Administração,
roso do São Paulo Futebol antiga Bovespa (hoje B3). afirmou em nota que o em-
Clube, cidadão religioso e que Dois anos depois, a empresa presário foi "um exemplo de
buscava sempre uma vida levantou US$ 172,5 milhões Abilio deixou a empresa, que Henrique Simonsen. Avalia- ser humano, que deixa para
saudável. Escreveu livros con- na Bolsa de Nova York. passou a ser chamada de GPA. va, porém, ter sido uma es- sempre seu nome e sua mar-
tando sobre suas crises pesso- Ele classificou a assinatura do pécie de década perdida para ca na história do nosso país"
ais e profissionais e, mais re- SEQUESTRO EM 1989 contrato com o Casino como o ele por não ter conseguido fa- “Sua vitalidade, Em nota, a Península Parti-
centemente, tornou-se apre- Foi nos anos 1990, que come- maior erro de sua vida no zer muito pelo Brasil e ter se dedicação ao trabalho e cipações, empresa de investi-
sentador de televisão num çou a se desenhar a principal mundo dos negócios. dedicado pouco a sua empre- mentos da família de Abilio,
programa de entrevistas. batalha do empresário no Amigos e pessoas próximas sa. Daquela época, guardava fé no Brasil formaram na qual ele atuava como pre-
Era ativo em redes sociais, mundo dos negócios. Em ao empresário eram unâni- uma lição: empresário não grandes lições de vida. sidente do Conselho de Ad-
com mais de 845 mil segui- 1999, Diniz articulou um mes em afirmar que um episó- deve se meter em política. Que seu exemplo ministração, afirmou: “Um
dores no Instagram e 1,3 mi- acordo com o grupo francês dio mudou profundamente Por isso, em entrevistas, evi- continue a inspirar as dos maiores e mais inovado-
lhão no Facebook, onde Casino, um dos gigantes do va- sua vida, tornando-o mais ape- tava fazer críticas pesadas ao res empresários do Brasil,
mostrava fotos do cotidiano rejo global, que adquiriu 25% gado ainda à espiritualidade e governo — seja de que linha próximas gerações de Abilio sempre se guiou pelos
empresários no Brasil”
com a família, suas viagens
de férias, além de postar al-
do capital do Pão de Açúcar. à família. Em dezembro de
Em 2005, o sócio minoritário 1989, o dono do Pão de Açúcar
fosse. Para ele, era importan-
te que a população sempre _ valores que construiu ao lon-
go de sua vida, pautada pela
guns de seus pensamentos francês aumentou sua partici- foi vítima de um sequestro, no mantivesse a esperança na Geraldo Alckmin (PSB-SP), fé, pela disciplina, pelo amor
pessoais sobre a vida e os ne- pação para 50% para que o Pão Jardim Europa, em São Paulo, prosperidade do país. Mas vice-presidente da República à família e ao seu país.”
gócios. Era esse outro lado de Açúcar reduzisse suas dívi- quando estava a caminho do nunca negou ser fã de cartei- O empresário morreu neste
de Abilio Diniz, além da fa- das. Mas com uma condição: trabalho. Os dez sequestrado- rinha de Lula. “O país perdeu um domingo em São Paulo, aos 87
ceta de empresário de su- que o comando fosse passado res, incluindo chilenos, brasi- Abilio Diniz nasceu em 28 exemplo de anos de idade. Ele deixa cinco
cesso, que também atraía a aos franceses em 2012. leiros e canadenses, pertenci- de dezembro de 1936, em filhos, esposa, netos e bisne-
curiosidade das pessoas. Em 2011, o mercado come- am ao grupo MIR (Movimien- São Paulo. Casou-se pela pri- empreendedor, de tos. Conhecido por ter trans-
çou a especular que Diniz vi- to de Izquierda Revoluciona- meira vez em 1960, com Au- competência. Sempre formado o Grupo Pão de Açú-
CATÓLICO FERVOROSO nha se aproximando do Carre- ria). Eles pediram US$ 30 mi- riluce, com quem teve os fi- viu o Brasil com car na maior rede varejista do
A mesma obstinação pelos four, principal rival do Casino, lhões para libertá-lo. Durante lhos Ana Maria, João Paulo, otimismo, com país, Diniz estava internado
negócios e pelos esportes, e tentava uma fusão. Diniz seis dias, Diniz ficou num mi- Pedro Paulo e Adriana. O se- no hospital Albert Einstein, e
Abilio manteve pela religi- abriu uma disputa com o Casi- núsculo cativeiro ouvindo gundo matrimônio, com esperança e fé foi vítima de insuficiência res-
ão. Como sua mãe, a tam- no, mas os franceses consegui- música country. A polícia des- Geyze Marchesi, veio em inquebrantável piratória em função de uma
bém portuguesa, Floripes ram barrar a união do Pão de cobriu o esconderijo e conse- 2004. Da união, nasceram no nosso futuro” pneumonite. O velório ocorre
Diniz, o empresário era ca- Açúcar e do Carrefour, usando guiu libertá-lo sem que o res- Rafaela e Miguel. Um dos _ na manhã de hoje no Salão
tólico fervoroso. Há alguns o contrato assinado pelo em- gate fosse pago. mais duros golpes na vida Arthur Lira (PP-AL), Nobre do Estádio do Morum-
anos, ele chegou a fazer uma presário brasileiro. Em agosto Entre 1979 e 1989, Abilio pessoal do empresário foi a presidente da Câmara bi, do São Paulo Futebol Clu-
palestra no altar da igreja de de 2012, o Casino assumiu o foi membro do Conselho morte, em 2022, de seu filho be, time de coração do empre-
Santa Rita de Cássia, no controle do Pão de Açúcar. No Monetário Nacional a convi- João Paulo, aos 58 anos, víti- sário. O enterro será restrito
bairro de Mirandópolis, em ano seguinte, após um acordo, te do economista Mario ma de enfarto. aos familiares.

Rachel Maia Excepcionalmente, a coluna desta semana foi publicada apenas no site do GLOBO.
OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024
Rio
A BATALHA DA AREIA
Rivalidade entre facções do tráfico se estende
à fronteira de praia entre Copacabana e Leme
Agressão e retaliação. A Praia do Leme: após vendedor de milho com os cabelos pintados de vermelho ser agredido na areia, colegas que trabalham em Copacabana, onde favelas são dominadas pelo CV, decidiram revidar e a confusão se espalhou
GIULIA VENTURA
giulia.ventura@oglobo.com.br
-
A rivalidade entre as fac-
ções Comando Verme-
lho (CV) e Terceiro Coman-
do Puro (TCP) emergiu
num dos principais cartões-
postais do Rio: o trecho da
praia entre Copacabana e
Leme. Em três dias, do fim
de janeiro ao início deste
mês, episódios de violência
— brigas e espancamentos
que estariam relacionados
com os grupos criminosos
— foram registrados nas re-
des sociais. A confusão, de
acordo com ambulantes, re-
duziu consideravelmente a
circulação de banhistas nas
áreas atingidas.
A segmentação da praia,
segundo pessoas que traba-
lham ou frequentam a área
em conflito, seria resultado
de um acordo tácito estabe-
lecido entre traficantes ri-
vais. Um ambulante, que
não quis ser identificado,
contou que o estopim para
a briga foi o momento em
que cinco vendedores de
milho cozido, que tinham
cabelos pintados de verme-
lho (fato interpretado co-
mo uma menção ao CV),
entraram no Leme, região
onde há comunidades do-
minadas pelo TCP.
A ação foi considerada
uma afronta à divisão de
território estabelecida en-
tre os grupos rivais. Um dos
vendedores chegou a ser
agredido. Em retaliação,
colegas dos vendedores en-
traram no Leme munidos
de pedaços de madeira nas
mãos. Em um dos vídeos, AS FAVELAS NA REGIÃO
dois homens aparecem caí- A Avenida Princesa Isabel é a fronteira das áreas das facções
dos na beira do mar e são
socorridos por salva-vidas
que trabalham no local.
CV
— O pessoal do CV tam-
bém não gostou quando os
vendedores de bala do Le-
me foram para Copacaba-
na. Eles tinham o esquema
deles por lá. Depois disso,
veio a história dos vende-
dores de milho — conta
um vendedor.
Segundo barraqueiros da
região, episódios similares
aconteceram na terça-feira,
Pavão-Pavãozinho
dia 30, na quarta-feira, 31, e
na quinta-feira, 1º de feverei-
ro. As restrições, de acordo
com todos que foram ouvi-
dos, era apenas para vende-
dores de bala e de milho.
FACA NA CINTURA
Os casos não chegaram à Po-
lícia Civil, que não tem re-
gistros de ocorrência relaci-
onados a esses episódios. Na
12ª DP (Copacabana), dele-
gacia mais próxima dos con-
flitos, não havia inquéritos
abertos sobre as confusões
na praia, segundo informa-
ram investigadores ao GLO-
BO. Também não há in-
quérito aberto sobre essa di-
visão territorial nas praias
de Copacabana e do Leme.
Outro ambulante ouvido
pelo GLOBO contou que
não estava sabendo da
confusão até segunda-fei-
ra, quando andou até a al-
tura do Copacabana Pala-
ce, entre os postos 2 e 3 da
orla, para vender seus pro-
| 13
TRAGÉDIA NA TIJUCA PARA
ACESSAR
Idosa morre ao cair de ônibus APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Polícia Civil investiga como foi a queda de passageira de 89 anos O QR CODE
MÁRCIA FOLETTO
firmou tal acerto ou quando confusão se negaram a re-
isso aconteceu, ele creditou ceber atendimento médi-
o cessar-fogo ao carnaval. co. Ambulâncias do Samu
TCP
Outra das pessoas ouvidas
pelo GLOBO, sob com-
preensível condição de ano-
foram solicitadas, mas, em
seguida, dispensadas.
Em nota, a Polícia Militar
BOTAFOGO
Morro da
nimato, afirmou que a “bar- afirmou que o material di-
Av.
Babilônia Chapéu
Pr i
Mangueira reira” entre as praias não é vulgado nas redes sociais
nce
um acordo entre chefes do sobre o ocorrido “deve tor-
sa
Ladeira dos
tráfico nos morros, mas res- nar-se objeto de procedi-
Isa
Tabajaras LEME
bel
trição imposta pelos pró- mento investigativo”. A
R.
a
tic prios moradores, por medo: corporação disse também
Si
ân
qu
t l
A
— Os moradores das fave- que as praias do Leme e de
eir
ida
aC
Morro dos en
A v las do Terceiro Comando fi- Copacabana fazem parte
am
Cabritos
cam naquela área ali do Le- do roteiro da Operação Ve-
po
s
COPACABANA me. Na outra parte, a de Co- rão, que ocorre em todo o
pacabana, moradores, por estado, “intensificando o
Cantagalo- exemplo, do Cantagalo-Pa- policiamento empenhan-
vão-Pavãozinho, que é do do equipes policiais de uni-
Comando Vermelho, prefe- dades operacionais”.
rem ficar por lá. Isso é algo Já a Polícia Civil diz que o
que existe há anos — afirma Departamento-Geral de
um trabalhador da orla. Polícia da Capital (DGPC)
N
informa que, por meio das
EDITORIA DE ARTE OPERAÇÃO VERÃO delegacias distritais, diver-
Segundo ele, a briga deflagra- sas ações são realizadas pa-
da por causa da cor do cabelo ra prevenir crimes em bair-
dutos. Na ocasião, ele diz dos vendedores de milho en- ros da Zona Sul e prender
ter sido parado por um ho- volveu uma pequena parcela suspeitos de envolvimento
mem que tinha uma faca da população que levanta nesses delitos, como a Ope-
“O pessoal do CV na cintura. Foi questiona- bandeiras para facções: ração Vigilância Integrada.
também não gostou do bem em frente ao hotel — Bandido mesmo não “Todos os casos registra-
quando os vendedores cinco estrelas sobre onde desce para a praia. O que dos nas delegacias são in-
costumava guardar seu acontece é que alguns le- vestigados com o objetivo
de bala do Leme foram material, explicou que era vantam bandeiras. Muitos de identificar e prender os
para Copacabana”
_ do Leme e recebeu o ulti-
mato: ele não deveria vol-
desses vendedores de mi-
lho são do Jacaré, de Man-
autores de crimes. O
DGPC reforça a importân-
Vendedor ambulante tar ali. Por medo, mesmo guinhos, que são de áreas cia de a população regis-
que trabalha no Leme tendo ouvido rumores so- controladas por facção ri- trar ocorrência e utilizar o
bre uma suposta pacifica- val do TCP. Mas também Disque-Denúncia para
“Bandido mesmo não ção, ele passou a evitar Co- tem muitos ambulantes apresentar informações
desce para a praia. O que pacabana e limitar sua que moram nessas regiões e que levem à localização e à
área de atuação ao Leme. que são neutros, que não le- prisão dos criminosos”, diz
acontece é que alguns Um terceiro homem tam- vantam bandeiras. a nota da Polícia Civil.
levantam bandeiras” bém comentou sobre a situ- Segundo o Corpo de A instituição acrescenta
_ ação, mas disse que “os lados Bombeiros, todas as víti- que trabalha em conjunto
Trabalhador que atua já entraram em acordo”. mas acolhidas pelos salva- com a Polícia Militar para
nas areias de Copacabana Apesar de não saber quem vidas no primeiro dia de coibir práticas criminosas.
14 | Rio Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO

FOTOS DE GABRIEL DE PAIVA

Bárbara e
carnaval:
uma paixão
que vem da
infância
Intérprete de Aline,
protagonista da
novela “Terra e Pai-
xão”, da TV Globo,
que terminou em
janeiro, a atriz Bár-
bara Reis esbanjou
simpatia no Cama-
rote Quem O GLO-
BO, onde assistiu ao
Desfiles das Cam-
peãs, no sábado.
Torcedora da cam-
peã Viradouro, ela
contou que sua rela-
ção com a Passarela
do Samba vem des-
de a infância:
— Eu morava na
Praça da Bandeira e
sempre vinha com a
minha mãe ver os
carros alegóricos na
concentração. Já
assisti aos desfiles
de fora, da arqui-
bancada e desfilan-
do. Sempre é uma
emoção única.

‘Estou vivendo a
Avenida há mais
de 50 anos’
Suzana Vieira foi ovacionada ao che-
gar ao Camarote Quem O GLOBO na
noite de sábado. Animada como sem-
pre, ela lembrou carnavais passados e
falou da saudade que sente de passar
pela Marquês de Sapucaí.
—Tenho vontade de voltar a desfilar.
Estou vivendo a Avenida há mais de
50 anos —disse Suzana, que é Gran-
de Rio de coração e já foi convidada
para desfilar pela Beija-Flor. —A
Beija-Flor e a Grande Rio são ami-
gas, elas têm uma parceria. Então,
acho que não teria problema.
Aatriz também revelou que ficou
“maravilhada” com a fantasia de Paolla
Oliveira à frente da bateria da Grande
Rio e não economizou elogios.
—Paolla é um espetáculo. Que fanta-
sia! A bunda dela é uma loucura. Ela
está uma graça —afirmou Suzana, A mulher mais inspiradora
que fez questão de defender que não
existe idade para desfilar. —Quando Rainha do Camarote Quem O GLOBO, Deborah Secco encerrou o carnaval
vejo uma senhora de 90 anos sam- com uma homenagem à Madonna: —Madonna é a mulher mais à frente de seu
bando nessa Avenida, vejo que não tempo na minha geração. Ela mexeu diretamente comigo sobre liberdade femi-
tem idade para nada. nina e sexualidade. Minha busca pessoal é ser cada vez mais parecida com ela.

‘Foi tudo muito intenso. ‘Este ano foi muito

Desfilei, fiz show’ especial para as mulheres’
Usando um vestido de tule e pedra- Em cartaz com “Minha vida em Mar-
ria nas cores da Unidos da Tijuca, te”, Mônica Martelli também fez ques-
escola da qual é rainha de bateria, a tão de ver as campeãs ao vivo.
cantora Lexa foi uma das atrações do —Assisti aos desfiles pela TV; não tive
Camarote Quem O GLOBO durante tempo de vir. Mas hoje (sábado) vim
o Desfile das Campeãs: —Foi tudo correndo da peça para cá. A gente sai
muito intenso. A lembrança desse do palco com muito pique —disse a
carnaval é de ter feito tudo. Desfilei, atriz, exaltando o enredo da Portela,
fiz show. Eu estou acostumada com a “Um defeito de cor”: —Este ano foi
loucura, mas é muito cansativo. muito especial para as mulheres.

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 OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024 Rio | 15

Tempo
TEMPERATURA SOL E LUA Nasc. 5H43 Cheia Ming. Nova Cresc.
> 40º 37º/40º 33º/36º 29º/32º 12º/14º
25º/28º 20º/24º 16º/19º 12º/15º < 12º Poente 18H29 24/02 03/03 10/03 18/02

PREVISÃO Sol Nublado Nublado Pancadas Nublado Chuvas e Geada MARÉ Hora BAIXA 0h41m 5h51m BAIXA 13h03m 18h43m
parcialm. de chuva c/ chuvas trovoadas Altura 0,5m ALTA 1,1m 0,3m ALTA 1,1m

27°
Macapá Fortaleza
BRASIL RIO Porciúncula
19° Previsão
ZONA
SUL
ZONA
NORTE
ZONA
OESTE
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
PROBABILIDADE
DE CHUVA
Boa Vista 24°/ 30° 23°/ 32° Temporais no ES, em MG, GO, Dia começando com sol e Bom Jesus do 28°
25°/ 37° Natal
DF, MT e MS. Chuva forte no temperaturas em elevação. Itabapoana 20° HOJE 23°/29° 22°/31° 22°/31° 22°/32° Alta
São Luís 25°/ 32°
Belém Nordeste com potencial de Chance de pancadas 30°
AMANHÃ 23°/28° 22°/30° 22°/30° 22°/31° Alta
Manaus 24°/ 28° João Itaperuna NORTE São Francisco 29°
24°/ 31°
24°/ 29° danos no sul do MA, PI e moderadas a forte entre tarde 20°
de Itabapoana 22°
Pessoa Santo Antônio 29° QUARTA 23°/29° 22°/31° 22°/31° 22°/32° Alta
25°/ 32° oeste da BA. Tempo instável e noite na maior parte do de Pádua 20°
Porto Velho
24°/ 30°
Teresina Recife no Sul e pancadas irregulares estado. No litoral, a chuva é 30° São João 29° QUINTA 23°/30° 22°/32° 22°/32° 22°/33° Alta
24°/ 28° no SE e Norte. mais irregular. São Fidélis 30° da Barra 21°
25°/ 31° 21° Campos
Rio Branco Palmas Maceió
22° SEXTA 26°/32° 25°/34° 25°/34° 25°/34° Alta
23°/ 29° Santa Maria 24°
23°/ 30° 25°/ 33°
29° Paraíba SERRANA Madalena 18° SÁBADO 26°/34° 25°/36° 25°/36° 25°/38° Alta
Brasília Salvador Aracaju 21° do Sul Nova 22°
Cuiabá Friburgo 16°
24°/ 33° 17°/ 24° 25°/ 33° 24°/ 33° 24° Visconde 28°
26°
Teresópolis
DOMINGO 27°/34° 26°/36° 26°/36° 26°/38° Alta
Valença 30°
Vitória 13° de Mauá 18° Casimiro 30° Macaé
Campo Grande 18° 22°
23°/ 30° 29° Volta de Abreu 21°
20°/ 28° 29° 18° Redonda Barra 31° Cachoeiras Rio das 30°
Belo Horizonte Resende Petrópolis de Macacu
18° do Piraí 19° Ostras 22°
19°/ 25° 29° Barra 25° 28° Silva Jardim
Goiânia
18° Mansa 31° Duque 17° 29° 27° Praias - Impróprias: Barra de Ondas - Ondas: 0,5 a 1,0 Ventos - Rajadas de vento
20°/ 27° Rio de Janeiro SUL 19° Búzios
22°/ 31° 24° de Caxias LAGOS 22° 20° Guaratiba, Botafogo, metro. Ondulação de sul. variando entre 51 a 70 km/h.
29°
31° Araruama
27° Flamengo e Leblon. Melhores locais: Arpoador,
São Paulo Mangaratiba 31° Rio de 21° Cabo Frio
22°
22°
Janeiro Niterói
Maricá Saquarema 20° Macumba e Prainha.
20°/ 30° Angra 29°
31° 31° 28°
dos Reis METROPOLITANA 24°
Porto Alegre Florianópolis Curitiba 22° 22° 21° informações: Inea informações: Ricosurf
30°
21°/ 29° 21°/ 28° 17°/ 26° Paraty
21°

Sapucaí
GABRIEL DE PAIVA

tem show de
famosos e voo
de parapente
Anitta, Zeca e Alcione cantaram em tapete
vermelho antes do Desfile das Campeãs.
‘Paraglider’ surpreendeu o público

oito anos, quando eu vi o meu

amigo Gui Pádua descendo
de paraquedas e, depois,
quando vi drones na Sapucaí,
LÍVIA NEDER E BERNARDO ARAUJO
granderio@oglobo.com.br
eu tive certeza. Eu nunca des-
filei, então, agora foi a minha
-
estreia —explicou. Palco iluminado. Zeca Pagodinho e Anitta no show em homenagem aos 40 anos do Sambódromo: apresentação abriu os desfiles das seis primeiras colocadas

F oi com um gosto de passado

que chegou ao fim o Desfile
das Campeãs (e, com ele, o car-
Num show em homena-
gem aos 40 anos do Sam-
bódromo, na verdade um
MARCO TERRANOVA/RIOTUR
de cor”, base do enredo, ga-
nhou no carnaval, com
com a leitura mais clara pos-
sível, com muito açúcar —
naval da Sapucaí), na manhã curto desfile, Anitta esten- exemplares esgotados: disse ele, que não deixou de
de ontem. Depois de uma noi- deu um tapete vermelho e — Acho que isso prova elogiar os colegas Tarcísio
te que começou com um show caminhou ao lado de seu tio que o carnaval é um dos Zanon e a dupla Gabriel
inédito, com Anitta, Zeca Pa- Capoeira Machado, que é da maiores meios de comuni- Haddad-Leonardo Bora,
godinho, Alcione e Neguinho Velha Guarda Show do Im- cação do Brasil. respectivamente da campeã
da Beija-Flor, a campeã e a vice pério Serrano. Depois, ou- Viradouro e da Grande Rio,
não apareceram inteiras para tros famosos se juntaram à DE SÃO PAULO PARA A SAPUCAÍ terceira colocada.
o público: um carro alegórico artista. Como a apresenta- Salgueiro e Grande Rio se A escola de Ramos, no en-
da segunda colocada Impera- ção começou no setor 3, o apresentaram com animação tanto, não repetiu o desfile de
triz Leopoldinense teve pro- povo do setor 1, popular, vai- e rainhas badaladas, respecti- uma semana antes: os balões
blemas e não entrou na Aveni- ou o início, quando a funkei- vamente Viviane Araújo e Pa- que encantaram o público
da, prejudicando a passagem ra cantava “Alguém me avi- olla Oliveira. Enquanto as não vieram, e o último carro,
da Viradouro. A vencedora co- sou”, e só passou a aplaudir campeãs voltavam à Sapucaí, que representava o misticis-
meçou seu desfile já com dia quando Zeca entrou. duas gigantes do carnaval ca- mo da lua e das marés, teve di-
claro, às 6h15, e terminou de- Luz do dia. A apresentação da Viradouro: atraso após carro da Imperatriz quebrar rioca comunicavam, pelas re- ficuldades e acabou não en-
pois das 7h, para um Sambód- SABRINA SATO SE DESDOBRA des sociais, seus novos carna- trando. O problema maior fi-
romo ainda cheio. Aprimeira escola a desfilar foi ceu. A rainha de bateria da Vi- Aplaudido pelos fãs, Mar- valescos, ambos vindos de cou para a Viradouro, que não
Outra novidade foi um a Unidos de Vila Isabel, sexta la, Sabrina Sato, empreendeu tinho da Vila voltou à Sapu- São Paulo: a Mangueira, séti- conseguia passar por causa do
voo de paraglider sobre a colocada com o enredo “Gba- uma maratona particular: do caí ainda recebendo cum- ma colocada, contratou Sid- carro da coirmã atravessado
Passarela, no meio de um la —Viagem ao templo da cri- Rio ela voou para São Paulo, primentos pelo aniversário ney França, que estava na Vai- no caminho. Depois de cerca
show de luzes, repetindo o ação”, reedição de 1993. Dos para desfilar na Gaviões da Fi- de 86 anos, durante o desfile Vai, e o Salgueiro, quarto, de meia hora de silêncio, os
homem voador de Joãosi- dois integrantes de peso que el, quarta colocada no Grupo da escola. Sobre o resultado, roubou o bicampeão Jorge integrantes da bateria conse-
nho Trinta em 2001, no des- passaram mal no desfile da se- Especial paulistano: ele manteve o bom humor: Silveira, da Mocidade Alegre. guiram entrar e começaram a
file da Grande Rio. Durante gunda-feira de carnaval, o in- —É uma maratona, mas o — Foi bom. Pensei que ia A Imperatriz, além da mu- tocar, para entreter o público.
cerca de cinco minutos, o térprete Tinga se disse me- importante é ver todos os tra- ganhar o carnaval, mas che- sa Rafa Kalimann, tinha o O desfile em si começou já
piloto Rafael Goberna deu lhor do pique de pressão e se balhadores do carnaval dan- gamos às campeãs. carnavalesco popstar Lean- com dia claro e fora da ordem:
rasantes na Avenida, saindo apresentou normalmente, e o do o seu melhor. Meu costei- A atriz Taís Araújo, desta- dro Vieira, que se disse feliz o carro abre-alas acabou vin-
da Praça da Apoteose, ao carnavalesco Paulo Barros, ro me machucou aqui e aqui que na Portela, disse que fi- com o vice-campeonato, do antes da comissão de fren-
som do “Ita”, do Salgueiro. que está com contrato reno- (mostrando o ombro e as cos- cou satisfeita com a divulga- embora esperasse o bi. te, com sua badalada serpente
—Essa ideia surgiu há uns vado para 2025, não apare- tas), mas está tudo bem. ção que o livro “Um defeito — Eu tento fazer o desfile rastejando no chão.

Os tambores do Monobloco na despedida da folia dia. Ela saiu da Sapucaí e foi

direto curtir o Monobloco:
—Estou muito feliz em
Gigante do carnaval de rua fez homenagem a Jorge Aragão no último desfile deste ano no circuito da Primeiro de Março poder levar alegria e muita
diversão para o público,
numa festa tão democrática
MÁRCIA FOLETTO
como o carnaval.
LUCAS FREITAS
granderio@oglobo.com.br
positor. Outros 20 blocos dos e não está bagunçado — Nos dez desfiles de mega-
foram ontem às ruas. observou Marli. blocos no Centro, os foliões
-
No meio da multidão e da A operadora de caixa tiveram que passar por pon-

O s tambores começaram
a soar cedo no centro do
Rio na despedida do carna-
val de 2024. Era o Mono-
bloco, que fez o décimo e
último desfile deste ano no
circuito da Rua Primeiro de
Março. Com o tema “Toca
esse tambor”, inspirado na
música composta por Jorge
Aragão para a agremiação,
os organizadores fizeram
uma homenagem ao com-
animação, as amigas Vânia Talita Gomes, de São Gon- tos de revista da PM, que
Fernandes, Claudia Arruda, çalo, tirou uma folga para
Marli Ferreira e Vanessa aproveitar a festa:
apreendeu mais de 800 ob-
jetos cortantes no período.
Santana que saíram de Caxi- — O Monobloco é de lei. Outra medida de seguran-
as estavam dispostas a fechar É o melhor. ça implantada em todo o
o carnaval com chave de Fabrício Andrade, do Com- estado durante o carnaval foi
ouro. Já é tradição o grupo plexo da Maré, disse que pular o sistema de monitoramento
participar de pelo menos um no Monobloco foi o melhor facial operado pela PM. O
bloco na cidade do Rio. Elas jeito de encerrar o carnaval: software levou à prisão 11
elogiaram a infraestrutura —Isso aqui é demais. foragidos da Justiça. Desde
no Monobloco. Que energia! sua implantação no réveil-
— Há muitos policiais, os Acantora Thaís Macedo lon, foram 24 detenções.
Destaque. A cantora Thaís Macedo desfila na frente da bateria do bloco vendedores estão organiza- nem cochilou nesse último Colaborou Isabelle Resende
16 | Rio
Leitores
MENSAGENS CARTAS@OGLOBO.COM.BR
As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Leitores. O GLOBO, Rua Marquês de Pombal 25, CEP 20.230-240. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail cartas@oglobo.com.br
Não importa o nome
Fundamental coluna de Dorrit
Harazim a deste domingo
(“Duas raças”). As atrocidades
sofridas por crianças
palestinas. Holocausto ou
genocídio. Não importa o nome
que queiram dar. Essa covardia
precisa ser detida agora.
HERBERT LUIZ ROLLEMBERG CRUZ
RIO
Vizinhança
A vizinhança sempre foi um
problema social. Políticos
e algumas vezes a própria
sociedade resolvem esse
problema criando guetos e
muros que camuflam a existência
daqueles que incomodam e não
se enquadram na paisagem.
Assim faz Israel! Passa para o
vizinho aquilo que ele não tem
propriedade para resolver. Criar
a paz é difícil, então passa pro
outro a sua incapacidade de lidar
com a crise, e que o outro se vire!
O mau vizinho age assim: põe o
som alto e dane-se a vizinhança.
Estaciona seus carros nas vagas
dos outros sem se incomodar, faz
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O leitor deve checar os resultados também em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
muros de contenção ou
pressionam a construção deles
e se vangloriam de, assim,
encontrarem a solução ideal.
O deslocamento compulsivo
de um povo é a representação
da falência de um Estado que
encontra na soberba a prática
de isolar e punir os rejeitados.
E assim caminha a Humanidade:
uns ignoram o sofrimento do
outro, outros rejeitam essa
prática desumana, de forma
veemente, mas nada podem
fazer, e alguns ainda se acham
vitoriosos no embate. E a crise
humanitária se alastra como
uma praga que nos alerta.
E se fosse com a gente?
SOLANGE BORGES
RIO
Campanha em curso
Em artigo na edição de domingo
deste jornal, (“Agência da ONU
deve acabar, pelo bem dos
palestinos”), Igor Sabino afirma
que países suspenderam
financiamento à agência da ONU
para os refugiados palestinos,
UNRWA, com base em acusações
de Israel de que funcionários seus
teriam ligações com o Hamas e
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nas três localidades.
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carteirinha do Clube
(física ou digital na
validade). O conceito
das casas foi desen-
volvido com base
na identificação do
espírito carioca com
a cultura das tapas,
uma das formas mais
sociais de se comer na
Espanha (sempre em
pequenas porções e
com pratos comparti-
lhados entre amigos).
Saiba mais on-line.
Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO
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de que teriam participado tradição dos outros quatro avião da FAB para caçar os
dos ataques de 7 de outubro, irmãos, faculdade de Medicina. fugitivos, seguindo pegadas e Festa em Angra
inclusive mantendo reféns em Domingo 18 de fevereiro: depois peças de roupa no descampado
cativeiro. O que ele não diz é que de ler no GLOBO “A linha tênue”, em torno do presídio. Seria algo Não sei se caiu do céu ou se foi
Israel, tendo prometido fazê-lo, de Merval Pereira; “Duas raças”, na linha dos Trapalhões ou dos proposital. A verdade é que,
ainda não apresentou qualquer de Dorrit Harazim; “O papel dos Irmãos Marx? depois que os dois condenados
prova a esse respeito, nem ele as empresários”, de Bernardo Mello PATRICIA PORTO DA SILVA fugiram da prisão em Mossoró,
apresenta. Tampouco menciona Franco; “O risco do golpe para os RIO a mídia teve de mudar de assunto
que os acusados são apenas 12 militares”, de Míriam Leitão, fiquei e parar de enfocar os erros de
funcionários entre 30 mil e que, inquieto, com trovões cerebrais. Bolsonaro e família e seguidores.
a despeito da falta de provas, a Mas convicto para dizer: quem Declarações levianas Eles devem estar festejando.
UNRWA já os demitiu e conduz sabe mais pessoas acordem, pois MARIÚZA PERALVA
uma investigação sobre as há dois tipos de Homo sapiens, Nosso atual ministro NITERÓI, RJ
denúncias. Os indícios são os decentes e os indecentes. da Justiça, Ricardo
de que esta é tão somente Quanto ao texto “A agência da Lewandowski, poderia ter
uma campanha política para ONU deve acabar”, Igor Sabino, sido mais feliz nas suas Ganância
desacreditar a principal agência o autor, deveria ler o texto de declarações iniciais sobre a
de ajuda aos refugiados Dorrit (e os outros citados) e fuga dos presos em Mossoró. Segundo carta de Fábio Coutinho
palestinos no momento mais considerar reescrevê-lo. Seria Era só dizer que aguardava (“Um defeito de preço”, 15 de
crítico de Gaza, com falta de experiência das grandes. a perícia no local para então fevereiro), livro no Brasil é uma
hospitais e a maior parte de sua MAURO ROMERO LEAL PASSOS expor as hipóteses plausíveis fortuna. Mal sabe a maioria da
população dormindo em tendas, NITERÓI, RJ para o ocorrido! Mas agentes população que livros são imunes
à mercê da fome, das penitenciários “relaxados” a impostos e isentos quanto a
intempéries, das doenças por conta do carnaval ficou contribuições previdenciárias.
e dos bombardeios. Em suma, ‘Prison Break Brasil 2’ muito feio para o ministro! Ninguém me convence de que o
uma desumanidade. Vamos aguardar a finalização preço decorre de direitos autorais,
MARTIM CARDOSO Estou só aguardando o das apurações, levantar o impressão, armazenamento e
RIO documentário “Fuga em tapete e de lá tirar toda sorte distribuição, enquanto os autores
Mossoró” ou “Como desperdiçar de fatos concretos e ganham mixaria, e a escala de
recursos da segurança pública, esclarecedores para que nós, impressão permite economias
De sereno a inquieto deixando detentos escaparem cidadãos, não sejamos feitos valiosas. Espero não precisar
de uma penitenciária de de bobos com declarações soletrar do que se trata tamanha
Sábado 17 de fevereiro: fui segurança máxima”. O toque levianas. ganância.
dormir sereno, feliz como de humor ficará por conta da CARLA EDEL RUTH JOFFILY BEZERRA
poucos, o caçula seguiu a força-tarefa desembarcando do RIO RIO
PODCAST
Como navegar Ao Ponto
A tela inicial destaca o Em Editorias, Publicado a partir
conteúdo on-line que pode o leitor consegue acessar das 6h, de segunda a
ser atualizado suas seções preferidas sexta, com análises e
informações sobre o
principal tema do dia
Em Biblioteca, as matérias Ao clicar no símbolo, o leitor
salvas do aplicativo ficam pode salvar uma matéria Como ouvir
guardadas para leitura posterior Está disponível
no site do GLOBO
e nas plataformas
Em Banca, o leitor pode O time de colunistas de podcast
baixar a edição impressa em do GLOBO está reunido em
duas versões: jornal e texto um único lugar no app
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OCirco Voador, na taneado pelo saxofo-
Lapa, recebe no próximo nista Thiago França a O preparador físico Carlos Alberto Parreira disse
dia 23 uma “dobradinha” partir de 2012. Inicial- ontem que a seleção brasileira usará o mesmo
de shows aguardados mente um baile de métodos de treinamento individual que utilizou
pelo público: os do músico Carnaval, a iniciativa se na Copa de 70, com uma variação: as cargas de
Douglas Germano e da transformou em bloco trabalho de cada jogador serão mais intensas
Espetacular Charanga do e, hoje, já tem seis para que a equipe fique tão veloz quanto as
França. Cantor e composi- discos gravados. Assi- europeias. Na convocação anunciada ontem por
tor, Germano lançou o nante O GLOBO assiste Zagallo quatro estreantes: Mirandinha, Enéas,
primeiro álbum em 2009 às apresentações com Paulo César (Internacional) e Alfredo.
e, desde então, veio se 50% OFF em ingressos O presidente Médici criou ontem, por decreto, o
dedicando a gravações àvenda antecipada- Parque Nacional da Amazônia, que, com um milhão
solo e a parcerias com mente. Veja on-line. de hectares, será a maior reserva florestal do país.
Segunda-feira 19.2.2024
NEGÓCIOS&LEILÕES
INDICAÇÃO GEOGRÁFICA
AGREGA VALOR AOS PRODUTOS
Certificação do INPI que atesta a qualidade e a procedência de determinados produtos tem
potencial de elevar os preços no mercado de 20% a 50%, em média
P
rodutos que são associa-
dos de imediato a uma
localização tendem a ser mais
valorizados, uma vez que a
vinculação a um local ressal-
ta características únicas.
A tendência vem levando
produtores a associar suas
marcas a esse rótulo, o que
no Brasil é regulamenta-
do através do Instituto Na-
cional de Propriedade In-
dustrial (INPI), responsável
pela concessão da chama-
da “Indicação Geográfica”.
O processo, já difundido
em outros países, no Brasil
é recente. Ainda assim, há
mais de 120 reconhecimen-
tos nacionais sendo feitos
no país.
O próprio INPI estima,
com base em estudos
nacionais e internacionais,
que o selo de “Indicação
Geográfica” tem potencial
de elevar o preço do produto
de 20% a 50%, em média.
No entanto, esse percen-
tual pode ser muito maior
à medida que os produtores
melhorarem a divulgação.
Um dos casos notórios
de valorização ocorridos
no Brasil foi o do queijo da
Serra da Canastra, de Minas
Gerais, que nos últimos anos
teve o valor de sua cotação
no marcado triplicada.
O produto foi um caso de
“Indicação de Procedência”,
categoria do título geográ-
fico que evoca a ligação
histórica com a região.
No entanto, há também
outra classif icação, a
“Denominação de Origem
Controlada” (DOC), que
comprova também a influ-
ência de fatores naturais e
técnicos únicos nos produ-
tos. Foi o caso da cachaça de
Paraty, reconhecida recente-
mente como DOC pelo INPI.
A aguardente da cidade
do litoral sul fluminense,
que já tinha a “Indicação de
Procedência”, teve agora
reconhecidas as qualida-
des sensoriais únicas, que
são fruto de condições
Imóveis recheiam a agenda
da semana pós-carnaval
Ofertas de opções residenciais e comerciais estão em vários
bairros da capital e no interior e também em outros estados
N a primeira semana
pós-carnaval, poucos
leiloeiros retomaram suas
agendas de pregões. Um
deles é Paulo Botelho, que
comanda uma série de
leilões de imóveis. Começa
batendo o martelo hoje, às
12h, para loja na Barra da
Tijuca (R$ 450 mil), apar-
tamentos em Ipanema (R$
2,1 milhões), na Barra (R$
1,2 milhão e R$ 2,5 milhões)
e para casas em Rocha
Miranda (R$ 70 mil), Vila
Isabel (R$ 1,3 milhão), na
Barra (R$ 8 milhões), no
EXEMPLOS DE FORA
A “Indicação Geográfica” é uma certificação que
atesta a qualidade, a tradição e a popularidade
de produtos de uma determinada região do país.
No exterior, o Vinho do Porto e o Champagne
da França são exemplos conhecidos.
climáticas, relevo da região
e técnica artesanal.
O título foi concedido
a pedido da Associação
dos Produtores e Amigos
da Cachaça Artesanal de
Paraty (Apacap), que se
prepara agora para colocar
o selo nas garrafas. A inicia-
tiva vai beneficiar os produ-
tores locais que seguirem
as exigências da entidade
e ajudar a economia local
como um todo.
— Já na safra deste ano
serão levadas em conta as
exigências para o uso do selo
a partir do ano que vem. A
classificação vai valorizar a
bebida e estimular a expor-
tação para os Estados Unidos
e países da Europa, onde a
“Denominação de Origem”
é bem-vinda e difundida.
O turismo também tende
a ganhar, aumentando o
número de visitas aos alam-
biques de Paraty — avalia
Lúcio Gama, da Cachaçaria
Pedra Branca.
Estácio (R$ 900 mil) e na
Penha (R$ 300 mil).
No mesmo horário, dispo-
nibiliza para lances uma casa
no município de Maricá, na
Região dos Lagos (R$ 500
mil), onde também está em
oferta um terreno (R$ 180
mil), assim como em Tanguá
(R$ 180 mil) e Araruama
(R$ 15 mil), também na
Região dos Lagos, e um
prédio em Padre Miguel (R$
10 milhões), além de sala
comercial em Jacarepaguá
(R$ 220 mil). Em Guarapari
(ES), oferta apartamento
| Classificados
CONTEÚDO PATROCINADO PRODUZIDO POR
O reconhecimento exige
estudos, reunião de docu-
mentos e pesquisas cien-
tíficas, em determinados
casos, o que pode envolver
universidades públicas. É
um trabalho árduo e longo.
O Sebrae Rio é parceiro de
projetos com esse objetivo
e incentiva a mobilização
de produtores que tenham
potencial para receber o
reconhecimento.
— É um investimento
que compensa. A indicação
tem enorme potencial de
agregar valor, e o resultado
vai depender de ações de
marketing adequadas e um
branding que gere reconhe-
cimento dos consumidores
— explica Marcelo Aguiar,
coordenador de Inovação e
Consultoria do Sebrae Rio.
MODA PRAIA
A moda praia de Cabo Frio,
na Região dos Lagos, trilha
o caminho do reconheci-
mento. A cidade é um polo
Belo Horizonte. Na região
central da capital mineira
fica o imóvel mais caro
dos pregões da semana
| OGLOBO | 17
GLAB.GLOBO.COM
Cachaça de Paraty.
Aguardente acaba de ter
a Denominação de Origem
Controlada reconhecida
industrial de peças para
banhos de mar há mais de
40 anos — é uma referência
nacional e internacional e
antecipa tendências para o
setor. A tradição e a neces-
sidade de valorização das
peças mobilizam os empre-
sários locais para obter o
deferimento do INPI e a
criação do selo.
— Nós nos inspiramos
no queijo da Canastra e
na cachaça de Paraty. O
PEDRO TRUFFI/GETTY IMAGES
RHJ/GETTY IMAGES
reconhecimento vai agregar
mais valor à moda praia de
Cabo Frio, e queremos esta-
belecer critérios de qualidade
para quem aderir ao selo —
afirma Fabrícia Costa, sócia
da marca Sal de Areia.
Produtos agrícolas tam-
bém têm potencial para
ganhar o reconhecimento
de “Indicação Geográfica”,
sobretudo os orgânicos. É o
caso do arroz Anã de Porto
Marinho, em Cantagalo
avaliado em R$ 850 mil. Nos
mesmos dia e horário, apre-
goa veículos, máquinas e
equipamentos.
Ainda hoje, às 12h, Jonas
Rymer também está à frente
do leilão de vários imóveis,
iniciando pela oferta de
dois apartamentos: um
com 92 metros quadrados
e duas vagas de garagem,
na Barra da Tijuca (R$ 880
mil), e outro de 116 metros
quadrados e uma vaga, em
Copacabana (R$ 1,17 milhão).
Depois apregoa duas lojas de
rua no Centro do Rio (R$ 541
mil cada), salas comerciais
também na área central da
capital (R$ 180 mil) e loja
no Leblon (R$ 1,4 milhão),
além de casa de 298 metros
quadrados em Teresópolis,
na Região Serrana do Rio (R$
2,3 milhões).
No mesmo pregão, serão
ofertados imóveis em outros
estados, como um andar
JOÃO EMÍLIO
Imóveis,
veículos e
equipamentos
WIRESTOCK/GETTY IMAGES
Queijo da Canastra.
Produto de Minas
Gerais teve sua
cotação triplicada após
a obtenção do selo
(RJ). As sementes foram
trazidas do exterior, mas,
na região que é banhada
pelo Rio Paraíba do Sul,
encontraram condições
climáticas muito propícias
e únicas. O cultivo, feito por
gerações nas últimas seis
décadas, não leva adubação
e tem secagem especial.
O cereal tem um sabor
típico que o difere dos
encontrados nos super-
mercados e qualidade
reconhecida por chefs de
restaurantes renomados,
mas a distribuição comer-
cial ainda é irregular.
— Contamos com o apoio
do Sebrae e da Embrapa
nesse processo, mas há
um longo caminho a ser
percorrido para que o exce-
dente seja comercializado
em maior escala, porque
a região é ainda bastante
isolada — conta João
Bôsco de Paula, membro da
Associação de Produtores
do Arroz Anã.
inteiro em edifício comer-
cial com área total de 850
metros quadrados no Centro
de Belo Horizonte/MG (R$ 3
milhões) e mais dois conjun-
tos de salas comerciais
também na capital mineira
(R$ 416,5 mil cada), além de
duas salas comerciais em
Franca/SP, cada uma avaliada
em R$ 479,4 mil.
Amanhã, também às 12h,
Rymer comanda pregão de
apartamentos em Botafogo
(R$ 292,3 mil) e no Humaitá
(R$ 818,5 mil), ambos na
Zona Sul do Rio. Os bens
não arrematados voltarão
a leilão na quarta e na quin-
tafeira, no mesmo horário.
Hoje, quarta e quinta-feira,
às 14h, Rogério Menezes
promove pregões de veícu-
los multimarcas, com a ofer-
ta de 230 unidades de bancos
e seguradoras. O primeiro
leilão será on-line, os demais,
on-line e presenciais.
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 OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024 | 21

APÓS MORTE DE NAVALNY PARA

Mundo
ACESSAR

Nobel de Literatura compara Putin a Hitler APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Escritora bielorrussa Svetlana Alexievich alertou para riscos vindos do Kremlin O QR CODE

ABIR SULTAN/AFP BRENNO CARVALHO /26-1-2024

ro são uma “escandalosa com-
binação de ódio e ignorância”,
e que se tratou de “uma clara
expressão antissemita”.
Para a Confederação Israeli-
ta do Brasil (Conib) foi uma
“distorção perversa da realida-
de” que “ofende a memória
das vítimas do Holocausto e
seus descendentes”. A Conib
disse, ainda, que “Israel está se
defendendo de grupo terroris-
ta que invadiu o país, matou
mais de mil pessoas, promo-
veu estupros em massa, quei-
mou pessoas vivas e defende
em sua Carta de fundação a eli-
minação do Estado judeu”. Em
nota, o Hamas agradeceu Lula
pela comparação.
Anteontem, Lula afirmou
que o momento é “propício”
para se resgatar tradições hu-
manistas e que isso implica
condenar as agressões dos dois
lados no conflito entre Israel e
Hamas, defendendo a criação
de um Estado Palestino “livre e
soberano, reconhecido como
membro pleno da ONU”.
Críticas a Lula. Netanyahu afirmou em Jerusalém que declarações “cruzaram a linha vermelha” Histórico de polêmicas. Outros posicionamentos do governo Lula já incomodaram Israel antes —Ser humanista hoje impli-
ca condenar os ataques perpe-
trados pelo Hamas contra civis

CRISE DIPLOMÁTICA
israelenses e demandar a liber-
tação imediata de todos os re-
féns. Ser humanista impõe
igualmente o rechaço à res-

Israel convoca embaixador do Brasil

posta desproporcional de Isra-
el, que vitimou quase 30 mil
palestinos em Gaza, em sua
ampla maioria, mulheres e cri-
anças, e provocou o desloca-

após Lula comparar Gaza ao Holocausto

mento forçado de mais de
80% da população.

HISTÓRICO CONTURBADO
Esta não é a primeira vez que
posicionamentos de Lula so-
bre a guerra em Gaza incomo-
CAMILA TURTELLI israelense afirmaram, em ca- nhã [hoje]”. O colunista do ricos que suspenderam o fi- dam os israelenses. Em janei-
E JENIFFER GULARTE
internacio@oglobo.com.br
ráter reservado, que Israel ain- GLOBO Bernardo Mello nanciamento à Agência da ro, o embaixador de Israel no
BRASÍLIA da discute quais serão as ações Franco informou que o embai- ONU de Assistência aos Refu- Brasil, Daniel Zonshine, la-
-
adotadas em relação à fala de xador Frederico Duque Estra- giados da Palestina no Oriente “Trata-se de banalizar mentou o apoio brasileiro à

A pós o presidente Luiz Iná-

cio Lula da Silva (PT) ter
comparado ontem, em entre-
vista coletiva na Etiópia, as
mortes de palestinos em Gaza
ao extermínio de judeus na
Alemanha nazista de Adolf Hi-
tler, o governo de Israel anun-
ciou que irá repreender o em-
baixador brasileiro em Tel
Aviv. O primeiro-ministro is-
raelense, Benjamin Netanya-
hu, disse que “as palavras do
presidente do Brasil são vergo-
nhosas e graves” e que ele “cru-
zou uma linha vermelha”. Do
lado brasileiro, fontes diplo-
máticas ouvidas pelo GLOBO
afirmaram que estão tomando
pé da situação antes de se ma-
nifestarem, até para evitar que
haja novos ruídos na já contur-
bada relação entre os dois paí-
ses. O Itamaraty não se mani-
festou oficialmente.
Representantes do governo
Lula, além do repúdio público.
No X (ex-Twitter), Netanyahu
escreveu: “Trata-se de banali-
zar o Holocausto e de tentar
prejudicar o povo judeu e o di-
reito de Israel se defender. Isra-
el luta pela sua defesa e pela ga-
rantia do seu futuro até a vitó-
ria completa e faz isso ao mes-
mo tempo que defende o direi-
to internacional”.
‘VERGONHOSAS E GRAVES’
Na sequência, o premier disse
ter decidido “convocar imedi-
atamente o embaixador brasi-
leiro em Israel para uma dura
conversa de repreensão”. O
ministro das Relações Exterio-
res de Israel, Israel Katz, escre-
veu: “As palavras do presiden-
te do Brasil são vergonhosas e
graves. Ordenei aos funcioná-
rios do meu gabinete que con-
voquem o embaixador do Bra-
sil para uma repreensão ama-
da Meyer foi convocado para
uma reunião hoje, na qual de-
ve se limitar a ouvir as queixas
etransmiti-las ao Itamaraty.
O presidente, que retornou
ontem ao Brasil, foi convidado
para discursar, no último sába-
do, na sessão de abertura da
cúpula da União Africana. Ele
também teve reuniões bilate-
rais com líderes do continente
e com o primeiro-ministro da
Autoridade Nacional Palesti-
na, Mohammad Shtayyeh. No
encontro, Lula criticou tanto
Israel quanto o grupo terroris-
ta palestino Hamas, que ata-
cou o país em 7 de outubro,
deixando mais de 1.100 mor-
tos e cerca de 250 reféns.
Ontem, porém, Lula com-
parou a ofensiva israelense em
Gaza — que já deixou mais de
28 mil mortos, mais de 1% da
população do enclave — ao
Holocausto ao criticar países
Próximo (UNRWA, na sigla o Holocausto e de tentar
em inglês). As doações foram
interrompidas após o governo prejudicar o povo judeu
ação movida pela África do Sul
contra seu país na Corte Inter-
nacional de Justiça (CIJ). Os
israelense denunciar que fun- e o direito de Israel sul-africanos acusam as auto-
cionários do órgão haviam se defender” ridades israelenses de comete-
participado do ataque terroris- _ rem um “genocídio” em Gaza.
ta do Hamas a Israel em outu- Benjamin Netanyahu, Em Brasília, a oposição criti-
bro. A UNRWA, por sua vez, primeiro-ministro de Israel cou a fala de Lula. O deputado
anunciou uma investigação e federal Kim Kataguiri (União-
afastou “vários” acusados. SP) apresentou uma moção de
—O que está acontecendo “O que está repúdio ao presidente, e o se-
na Faixa Gaza não existe em acontecendo na Faixa nador Ciro Nogueira (PP-PI)
nenhum outro momento his- Gaza não existe em afirmou no X que é “vergo-
tórico, aliás, existiu, quando nenhum outro momento nhoso” comparar a operação
Hitler resolveu matar os ju- israelense em Gaza ao Holo-
deus —disse Lula na Etiópia. histórico, aliás, existiu, causto. Parlamentares apoia-
quando Hitler resolveu dores de Bolsonaro também se
CRÍTICAS matar os judeus” pronunciaram contra, assim
As declarações provocaram _ como o ministro André Men-
críticas de representantes da Lula, em entrevista donça, do Supremo Tribunal
comunidade judaica dentro e coletiva Federal. Sem mencionar as
fora do Brasil. O presidente do na Etiópia declarações de Lula, o magis-
Memorial do Holocausto Yad trado pregou equilíbrio à di-
Vashem, em Jerusalém, Dani plomacia brasileira e citou o
Dayan, disse no X que as “ver- endosso brasileiro à denúncia
gonhosas palavras” do brasilei- da África do Sul na CIJ.

ANÁLISE do, e explico os motivos.
Lula aparenta ver uma
Crítica sobre ação israelense é excepcionalidade nas ações
legítima, mas comparação com de Israel, como se nada
similar tivesse ocorrido nas
Holocausto, antissemitismo últimas décadas. Mas posso
GUGA CHACRA internacio@oglobo.com.br citar uma série de conflitos
comparáveis. Os EUA, que
jamais foram atacados pelo
Iraque, destruíram o país
metidas na Etiópia, Congo
e Sudão, assim como ocor-
reram crimes contra a Hu-
manidade na Síria. Por que
Lula não viu nada similar?
Chama a atenção também
o presidente brasileiro se-
guir relutante em criticar
ditaduras da América Lati-
na, como Venezuela e Nica-
mas daquele genocídio. In-
sisto, é legítimo criticar e
condenar Israel pelas ações
militares em Gaza, ainda
que o governo Netanyahu
use a também legítima justi-
ficativa de esta ser uma res-
posta ao atentado terrorista
do Hamas em 7 de outubro,
quando mais de 1.200 israe-
Não creio que Israel elimina-
rá o Hamas, pois fracassou
no passado em Gaza e nas
duas décadas de ocupação
do Sul do Líbano, que deixou
como resultado o surgimen-
to do grupo xiita libanês
Hezbollah, a mais poderosa
milícia militar do planeta.
Mas episódios históricos

C rimes de guerra clara-

mente têm sido cometi-
dos pelas forças israelenses
na Faixa de Gaza na respos-
ta ao atentado terrorista do
Hamas. São quase 30 mil
mortos, a maioria mulheres
e crianças palestinas. A
Cidade de Gaza, a maior do
território, foi completa-
mente destruída nos bom-
bardeios. Mais de 1 milhão
de palestinos foram força-
dos a deixar suas casas. O
presidente Lula, portanto,
não estaria errado se questi-
onasse e criticasse Israel
por essas ações militares.
Mas Lula erra de maneira
gravíssima ao compará-las
com o Holocausto, quando
seis milhões de judeus fo-
ram mortos em escala in-
dustrial pelo regime nazis-
ta. Para dar uma dimensão
da gravidade, nenhum líder
árabe fez comparação simi-
lar até o momento. E a de-
claração pode, sim, ser vista
como antissemita, como vê
a Conib, principal entidade
judaica do Brasil. Concor-
em uma guerra na qual
morreram centenas de mi-
lhares de civis iraquianos.
Há dois anos, a Rússia inva-
diu a Ucrânia, onde tam-
bém comete atrocidades e
sequestrou milhares de
crianças ucranianas. A Ará-
bia Saudita e os Emirados
Árabes bombardearam
funerais, casamentos e
escolas no Iêmen. O Azer-
baijão levou adiante, no ano
passado, uma limpeza étni-
ca de mais de 100 mil armê-
nios. Atrocidades são co-
rágua, onde a repressão a
opositores se intensifica.
Tampouco condena Vladi-
mir Putin pela invasão da
Ucrânia e a morte do oposi-
tor Navalny. Por que é tão
mais fácil criticar Israel?
Não é errado condenar o
governo israelense pelas
ações em Gaza, mas e o
Egito, que Lula acabou de
visitar? Não é governado
por um ditador repressor?
Ao comparar Gaza com o
Holocausto, Lula faz uma
provocação aos judeus, víti-
lenses e alguns estrangeiros
foram mortos, mulheres
estupradas e cerca de 240
pessoas, incluindo bebês,
capturados pelo grupo.
Discordo da forma como
os israelenses vêm condu-
zindo a guerra em Gaza,
desproporcional, e avalio
que um cessar-fogo neste
momento salvaria a vida de
milhares de crianças e civis
palestinos, levaria à liberta-
ção de reféns e acalmaria os
ânimos na fronteira Israel-
Líbano e no Mar Vermelho.
como o Holocausto, o Po-
rajmos (genocídio do povo
roma, também cometido
pelos nazistas), e os genocí-
dios armênio (cometido
pelos turcos) e em Ruanda
não devem ser comparados
entre si ou com outros
eventos na História da Hu-
manidade. Lula deveria se
concentrar apenas no que
acontece em Gaza e manter
a postura brasileira de de-
fender a paz e a solução de
dois Estados negociada por
israelenses e palestinos.
22 | Mundo
G20 no Rio: Brasil deve focar em reformas na ONU
País vê simpatia dos EUA para realização da discussão sobre modificação do Conselho de Segurança, tema que será tratado
no encontro dos chanceleres das maiores economias do planeta, que acontece na capital fluminense nesta semana
ELIANE OLIVEIRA
elianeo@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
-
Egiõesmconflitos
um mundo marcado por
em diferentes re-
e disputas geopolíticas
entre grandes potências mili-
tares — como Estados Uni-
dos, Rússia e China —o Brasil
patrocinará, na quarta-feira e
na quinta-feira, um encontro
de chanceleres do G20 no Rio
de Janeiro. É o primeiro gran-
de evento de dois anos de in-
tensa atividade diplomática
para o Brasil, que em 2024
preside o grupo das maiores
economias do planeta, e em
2025 estará à frente do Brics
—grupo recém-ampliado pa-
ra 10 membros —e sediará a
COP30, a reunião climática
anual da ONU. No comando
dessas três agendas, o Brasil
pretende reforçar sua posição
geopolítica internacional.
Nessa primeira reunião de
alto nível entre representantes
das maiores economias do
mundo, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva pretende dar o
pontapé inicial em direção à
negociação de uma ampla re-
forma no Conselho de Segu-
rança da ONU. Esse é um dos
pilares da presidência brasilei-
ra do G20, que vai até o fim do
ano. Para atingir esse objetivo,
oBrasil crê ter apoio dos países
em desenvolvimento e recebe
sinais de que a Casa Branca
não vai se opor às discussões.
LIDERANÇA DO SUL GLOBAL
Os EUA, que até pouco tempo
resistiam a esse debate, agora
já admitem discutir ajustes no
sistema ONU como um todo,
segundo interlocutores do
governo brasileiro ouvidos
pelo GLOBO. A expectativa é
que o secretário de Estado dos
EUA, Antony Blinken, chefe
da diplomacia americana e
que chega amanhã ao Brasil,
reforce essa posição no en-
contro de chanceleres.
De olho em um papel de li-
derança no Sul Global, Lula
conta com o apoio de países
em desenvolvimento do G20
para emplacar as propostas do
Brasil no grupo, baseadas em
três pilares: combate à fome;
desenvolvimento sustentável;
País-anfitrião. Faixas e totens referentes à liderança do Brasil no G20 já compõem a paisagem do Aterro do Flamengo
e reforma da governança glo-
bal. Para isso, ele participou,
na semana passada, de encon-
tros com nações da Liga Árabe
eda União Africana, no Egito e
na Etiópia, respectivamente.
O objetivo do Brasil na reu-
nião desta semana é iniciar os
debates sobre mudanças na
ONU. O passo seguinte é pro-
mover, em setembro deste
ano, à margem da Assembleia-
Geral da ONU, em Nova York,
um encontro com a participa-
ção de todos os países, não ape-
nas os do G20.
Conforme definiu um di-
plomata, a ideia agora é “dar
um empurrão na reforma da
ONU”. Se houver êxito, o go-
verno Lula usará a iniciativa
como um grande avanço e fe-
chará com chave de ouro a
presidência do G20 pelo Bra-
sil, na cúpula de líderes do
bloco, que acontecerá em no-
vembro deste ano, no Rio.
O Conselho de Segurança
da ONU vai completar 79
anos em outubro e é conside-
rado por muitos pouco repre-
sentativo e ineficiente. Um
dos principais problemas
apontados pelo Brasil é o po-
der de veto dos cinco mem-
bros permanentes — EUA,
China, Reino Unido, França
e Rússia. Não importa qual
seja a decisão, se um desses
países não concordar, nada
sai do papel. O Brasil há déca-
das busca mudanças.
‘G4’ NÃO FOI ADIANTE
OBrasil defende a maior parti-
cipação dos países em desen-
volvimento no organismo.
Chegou a formar um grupo, o
G4, que reunia também ou-
tros candidatos: o Japão, a Ale-
manha e a Índia. Mas não hou-
ve avanço e hoje se busca colo-
car representantes de todas as
regiões do planeta, entre elas
América Latina e África.
Diplomatas brasileiros ar-
gumentam que, também
por meio da reforma da
ONU, será possível enfren-
tar desafios gigantescos que
fazem parte da agenda mun-
dial. São exemplos o comba-
te à pobreza, a adoção de
medidas para mitigar os
efeitos das mudanças cli-
máticas e a regulação da in-
teligência artificial.
País terá dois anos
de intensa atividade
diplomática à frente
de G20, Brics e COP30
Em uma avaliação reserva-
da, integrantes do governo
Lula acreditam que o pilar
mais polêmico e com mais
chances de desavenças é o
que trata das mudanças nas
instituições multilaterais, in-
cluindo ONU e organismos
de crédito — o G20 não tem
poder de decisão, embora
seus posicionamentos de or-
dem política possam influen-
ciar a ordem mundial.
Doutora em Relações Inter-
nacionais e professora da
Fundação Escola de Sociolo-
gia e Política de São Paulo,
Flavia Loss ressalta que a pre-
sidência brasileira no G20 em
2024 coincide com um turbu-
lento cenário internacional e
um momento de enfraqueci-
mento da ONU. Ela avalia
que o cenário é ideal, do pon-
HERMES DE PAULA/16-2-2024
to de vista político, para que o
Brasil retome essa discussão
e faça propostas de reforma
alinhadas aos interesses de
outros países em desenvolvi-
mento. E destaca que a inici-
ativa também interessa a
própria ONU, que tem lidado
com a indiferença de alguns
países desenvolvidos e ques-
tionamentos constantes so-
bre a sua relevância.
—Dificilmente, o Brasil e
os outros países em desen-
volvimento conseguirão re-
desenhar a ordem internaci-
onal, ou mesmo conseguir
uma alteração no Conselho
agora. Mas trazer a discussão
para a mesa e engajar as soci-
edades civis é um passo im-
portante para uma futura
mudança —diz Loss.
TEMAS URGENTES
Na reunião do Rio, a expectati-
va é que os chanceleres do G20
também discutam “temas ur-
gentes”, como a guerra entre
Rússia e Ucrânia e o conflito
entre Israel e o grupo terrorista
palestino Hamas, que causou
grave crise humanitária na
Faixa de Gaza. Como candida-
to a uma vaga permanente no
organismo, Lula sempre criti-
ca, nos fóruns internacionais
de que participa, como no últi-
mo fim de semana, a inativida-
de e a incapacidade do Conse-
lho de Segurança de resolver
essas questões.
Alexandre Peres, escritor,
doutor em Direito Internacio-
nal e professor da Escola de
Magistratura da Justiça Mili-
tar da União, lembra que os
cinco membros permanentes
têm um importante poderio
militar e não devem querer
Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO
KENA BETANCUR /AFP/7-2-2024
Ofensiva
diplomática. O
secretário-geral
da ONU, António
Guterres, fala
diante da
Assembleia
Geral da
organização em
Nova York: Brasil
quer aumentar
número de
membros
permanentes
do Conselho de
Segurança
perder seu poder de veto, prin-
cipalmente os EUA.
—Os EUA podem até lançar
essa narrativa [de concordar
com mudanças], mas jamais
abrirão mão da sistemática de
vetos. Este poder de veto é um
dos principais motivadores da
hegemonia americana nas re-
lações internacionais —diz.
ARússia, por exemplo, inva-
diu a Ucrânia de forma ilegal,
segundo a interpretação de na-
ções ocidentais e de Kiev. O
Conselho de Segurança da
ONU apresentou uma resolu-
ção condenando Moscou, que
foi vetada pelos próprios rus-
sos. Os EUA, por sua vez, ve-
tam praticamente todas as re-
soluções contra Israel, um de
seus mais próximos aliados.
Com isso, fica claro que cada
membro permanente defen-
de muito mais seus interesses
particulares do que a verdadei-
ra manutenção da paz e segu-
rança internacionais.
ORGANISMOS ECONÔMICOS
A reforma da governança glo-
bal abrange não apenas o
Conselho de Segurança da
ONU, que ficará a cargo da
reunião de chanceleres. Pela
proposta do Brasil, é preciso
promover ajustes em pratica-
mente todos os organismos
multilaterais de crédito, co-
mo o Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) e o Banco
Mundial, como disse o chan-
celer Mauro Vieira em entre-
vista ao GLOBO publicada
ontem. A parte econômica,
que inclui a preocupação com
as dívidas de países, entre eles
os africanos, está sob a batuta
do Ministério da Fazenda.
O Brasil assumiu a presi-
dência do G20 em dezembro
de 2023 e terminá seu man-
dato em novembro deste ano,
com a reunião de líderes do
bloco no Rio. Até lá, são espe-
rados mais de cem eventos no
país e em cidades mundo afo-
ra. No fim do mês, por exem-
plo, haverá uma reunião de
ministros da Fazenda e presi-
dentes dos bancos centrais
em São Paulo.
OG20 é formado por 19 pa-
íses e dois grupos regionais: a
União Africana e a União Eu-
ropeia. Os países que inte-
gram o G20 representam cer-
ca de 85% do Produto Inter-
no Bruto (PIB) mundial,
mais de 75% do comércio e
cerca de dois terços da popu-
lação do planeta.
 OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024
ESPORTES
esporteglb@oglobo.com.br
Letal. Vegetti comemora um de seus dois gols sobre o Botafogo no clássico. Resultado mostra solidez do trabalho de Ramón Díaz, mesmo com carências no elenco, e recoloca o cruz-maltino na zona de classificação às semifinais do Carioca
NOCAUTE
Vitória do Vasco reflete
superioridade psicológica e
tática em relação ao Botafogo
JOÃO PEDRO FRAGOSO
joao.fragoso@oglobo.com.br
-
M elhor clássico disputa-
do no Carioca até
aqui, a partida entre Bota-
fogo e Vasco, no Nilton
Santos, ontem, deixou al-
guns recados em relação às
equipes. O mais nítido de-
les é que o cruz-maltino de
Ramón Díaz é, a esta altura
da temporada, o time do
Rio mais sólido no aspecto
tático, embora não tenha a
mesma qualidade técnica
dos três rivais. Apesar de
contar com dois zagueiros
reservas no já tradicional
trio defensivo, o cruz-mal-
tino foi melhor ao longo de
quase toda a partida, a ex-
ceção dos primeiros 25
minutos. Assim, com óti-
ma atuação de Payet e o
reencontro de Vegetti com
as redes, o time de São Ja-
nuário venceu por 4 a 2 e
tomou do rival o lugar na
zona de classificação às se-
mifinais do Estadual.
Riso tímido. Eduardo, com dois golaços, teve tarde positiva, apesar de revés
Para o Botafogo, o diag-
nóstico é o oposto. Por mais
que tenha tido bons mo-
mentos ao longo do ano e
um ótimo início de clássico,
a equipe segue inconstante
e apresentando os mesmos
erros. Os dois primeiros
ARTHUR BARRETO/BOTAFOGO
gols do Vasco — Galdames,
após passe de Payet, na eta-
pa inicial, e Piton, em assis-
tência de David, no primei-
ro lance da fase final — saí-
ram depois de jogadas em
que o cruz-maltino teve um
atleta na entrada da área
com enorme liberdade para
encaixar o melhor passe.
Essa já era uma deficiên-
cia notória do alvinegro de
Tiago Nunes em jogos ante-
riores. Há um buraco siste-
mático entre a linha de defe-
sa e os meio-campistas que
o time tem dificuldade
crônica para corrigir. Além
disso, o gol marcado por Ve-
getti, de pênalti, o terceiro
do Vasco, saiu após falha de
Hugo, prejudicado pelo
péssimo passe de Gatito
Fernández, que tem sido
destaque negativo neste iní-
cio de temporada.
INÍCIO MOVIMENTADO
Ao contrário do que o placar
indica, o Botafogo começou
o clássico melhor que o Vas-
co. Tanto é que marcou com
Victor Sá aos 2 minutos, em
lance que foi anulado por im-
pedimento com o auxílio do
árbitro de vídeo, e depois
com Eduardo, aos 21, para va-
ler, em golaço de fora da área.
No entanto, o alvinegro co-
RODRIGO RIO OPEN,
CAPELO NO JOCKEY
Dilema da dívida A hora e a vez
do Corinthians de Arthur Fils
PÁGINA 2 PÁGINA 4
ALEXANDRE DURÃO/ZIMEL PRESS
Durante todo o Carioca, o
Botafogo tem dado indícios
de que ainda sofre com as fe-
ridas que a derrocada no Bra-
sileiro de 2023 deixou.
— Nós vamos evoluir atra-
vés de uma sequência de re-
sultados positivos e de refor-
ços que vão encorpar o gru-
po. Porque muitos jogadores
estão pedindo para ter se-
quência fora da equipe para
parar de carregar essa carga
tão forte. Então, você tem
que ter mais jogadores de ní-
vel compatível para manter
o Botafogo competindo em
alto nível — afirmou o trei-
nador Tiago Nunes.
O Vasco, por outro lado,
meçou a dar espaços demais sempre esteve bem psico-
atrás, sofreu o empate e per- logicamente sob o coman-
deu o controle da partida. do de Ramón Díaz, mesmo
Há um outro fator que pa-
rece ser oposto entre os dois
times: a questão mental.
em momentos mais duros
da última temporada. Fir-
me, o cruz-maltino ainda
chegou ao 4 a 1 no clássico
depois de Vegetti acertar o
2 4 travessão e a bola bater nas
costas de Gatito. Por fim,
Eduardo, em mais um gola-
ço, desta vez de bicicleta,
Botafogo Vasco fechou o placar.
Gatito, Damián Léo Jardim, Rojas, — Sempre falamos o mes-
Suárez (Mateo Maicon e Léo;
Ponte), L. Halter, Paulo Henrique
mo, tanto com Ramón quan-
A. Barboza e Hugo; (Puma), Zé Gabri- to com o grupo: clássico é vi-
Danilo Barbosa el (Praxedes), da ou morte. Pode não jogar
(Marlon Freitas), Galdames (Lucas
Tchê Tchê (Kauê) e Eduardo), Payet
tão bem, mas sabe que tem
Eduardo; Savarino (Mateus Carva- que lutar. Viemos de uma es-
(Júnior Santos), lho) e Lucas Piton; cola de River x Boca, onde
Tiquinho e V. Sá
(Emerson Urso).
David (Adson)
e Vegetti. Téc.:
perde e morre. Essa é a men-
Téc.: Tiago Nunes. Ramón Díaz. talidade que o grupo está ad-
quirindo. E seguimos lutan-
Gols: 1T: Eduardo, aos 20min, e Galdames, do, vamos seguir até o final
aos 28min; 2T: Piton, aos 38seg, Vegetti, — declarou o auxiliar cruz-
aos 22min e aos 37min, e Eduardo, aos
40 min. Árbitro: Wagner do Nascimento maltino Emiliano Díaz.
Magalhães. Cartões amarelos: Diogo No sábado, o Vasco encara
Barbosa, Júnior Santos e E. Urso (BOT). o Volta Redonda. Já o Botafo-
Galdames, Paulo Henrique, Puma e R. Díaz
(VAS). Público: 23.171 pagantes, 25.673
go enfrenta o Audax. Antes,
presentes. Renda: R$ 1.243.800,00. nesta quarta, duela com o
Local: Estádio Nilton Santos. Aurora pela Libertadores.
2 | Esportes Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO

RODRIGO em que está a Caixa Econômica Federal no

caso do estádio do Corinthians —problema
CAPELO que está sem solução há muitos anos e con-
tinua sem desfecho.
O assunto voltou ao noticiário por causa da
recente e frustrada tentativa de chegar a um
novo acordo, para viabilizar o pagamento da
Twitter: @rodrigocapelo dívida que o clube tem com o banco público.
No fim do mandato de Duílio Monteiro Al-
ves, o Corinthians ofereceu o contrato de na-
A sofrida dívida ming rights e uma operação envolvendo pre-
catórios. A Caixa recusou. Agora, no início da
cê recebe R$ 1 milhão do governo”. Sacou?
O Corinthians pretendia ir ao mercado
comprar os precatórios de um monte de gen-
te, para então dar esses precatórios na mão da
Caixa e quitar a sua dívida rapidamente. O
Corinthians se daria bem, porque pagaria
muito menos e se livraria do problema logo.
Já a Caixa passaria a ter o governo como cre-
dor dela. A questão é que não se faz esse tipo
de operação com banco
O problema é público. Se a Caixa acei-
dificílimo porque tasse, abriria um prece-
para lá de R$ 700 milhões e não paga, o que a
Caixa vai fazer? Executar o estádio e leiloar?
Vender para o Santos?
Épor isto que o Corinthians negocia, enrola,
mas não resolve. Por um lado, é verdade que a
taxa de juros atual faz com que qualquer dívida
desse tamanho machuque o devedor. Por mais
que se pague muito todo mês, a dívida em si
baixa pouco. Por outro lado, o clube tem fatu-
ramento de centenas de milhões de reais. Por
que não usar bilheteria, sócio-torcedor, patro-
cínio para pagar o estádio? Pois o futebol seria

do Corinthians
administração de Augusto Melo, a nova dire-
toria viajou a Brasília para recomeçar a nego-
ciação. Não se sabe no que dará.
Essa história de precatórios vale ser recapi-
tulada. O precatório é uma dívida que o go-
não se vê solução. dente perigoso para ela prejudicado, ao não dispor desse dinheiro. E,
O Corinthians mesma em relação a vá- na real, a Caixa não sabe o que fazer.
não é um devedor rios outros credores. O problema é dificílimo porque não se vê
comum. Já a Voltemos ao cerne do solução. O Corinthians não é um devedor co-
Caixa não pode problema. Por que a mum. É um clube popular que está afundado

D iz um ditado nem tão popular que, se vo-

cê tem uma dívida de R$ 1 milhão com o
banco, o problema é seu. Se a dívida for de
R$ 1 bilhão, o problema é do banco. A quan-
tidade de zeros muda a perspectiva sobre
quem está em desvantagem, porque indica
o tamanho do risco assumido por cada uma
das partes. Esta é mais ou menos a situação
verno — seja cidade, Estado ou União — tem
com alguém. Digamos que esse alguém te-
nha o direito de receber R$ 1 milhão ao longo
de dez anos, tanto faz o motivo. Ele pode rece-
ber conforme o prazo, ou, se tiver pressa ou
necessidade, pode vender o título para outra
pessoa por um valor muito mais baixo. “Você
me dá R$ 100 mil, eu te dou o precatório, e vo-
aceitar o calote Caixa está enrascada no
caso do estádio? Pois as
garantias de pagamento são frágeis e não pa-
rece haver meios para obrigar o clube a fazer o
desembolso. Se um cidadão faz o financia-
mento de um apartamento, mas não paga as
parcelas, o banco toma o imóvel dele e vende
para outro. Se o Corinthians tem uma dívida
em dívidas — e nem em campo tem vencido,
o que só piora o humor. Já a Caixa não pode
aceitar o calote, pois, banco público que é, a
repercussão negativa prejudicaria a imagem
do governo, do presidente Lula e do PT. Fica-
mos assim. Negocia, renegocia, vai para Bra-
sília, tira foto com ministro. Ninguém resol-
ve. Todo mundo sofre, mas sofre aos poucos.

Corinthians conquista tri da Supercopa feminina

Campeãs de tudo o que disputaram na temporada passada, ‘Brabas’ mantêm hegemonia ao vencer o Cruzeiro
por 1 a 0 em Itaquera; dono da SAF da Raposa, Ronaldo reclama de gol anulado com a participação do VAR

MIGUEL SCHINCARIOL/AFP

O superfavorito Corinthi-
ans derrotou o Cruzeiro
ontem por 1 a 0, em seu está-
dio, a Neo Química Arena, e
conquistou o tricampeona-
to consecutivo da Superco-
pa do Brasil feminina. Em
2022, as paulistas haviam
sido campeãs contra o Grê-
mio e, em 2023, bicampeãs
ao golear o Flamengo.
O gol do título foi marcado
por Duda Sampaio, de falta,
logo no início do segundo
tempo. O Cruzeiro chegou a
balançar a rede rival no co-
meço do jogo, aos seis minu-
tos, e também aos 42 do se-
gundo tempo, mas ambos os
gols foram anulados pelo
árbitro de vídeo.
O Corinthians vinha de
uma temporada de suces-
so. No ano passado, foram
quatro títulos conquista-
dos em quatro disputados
(Supercopa, Brasileirão,
Paulista e Libertadores).
Já o Cruzeiro buscava o
primeiro troféu nacional
de sua história no futebol
feminino, após bater na
trave na Série A2 de 2019.
Mesmo com pressão cru-
zeirense, o primeiro tempo
terminou 0 a 0. A força ofen-
siva do time mineiro foi a
partir dos contra-ataques
Doce rotina.
Jogadoras do
Corinthians
puxados pela camisa 10 festejam com
Byanca Brasil. Pelo lado do Duda Sampaio
Corinthians, Duda e Porti- o gol que deu
lho foram os destaques da o título da
etapa inicial. Aos 42 minu- Supercopa para
tos, Milene quase encobriu o time paulista
a goleira rival em cabeçada
após escanteio.
Logo aos 2 minutos do se-
gundo tempo, o Corinthi-
ans abriu o placar com gol
de Duda Sampaio. A camisa
27 cobrou falta direto para a
meta, e Taty Amaro espal-
mou para dentro do gol.
Outro lance de destaque
no segundo tempo foi de
Gabi Portilho, que recebeu
lançamento e invadiu a área
cruzeirense. A camisa 18 fi-
nalizou por cobertura, e a
bola bateu no travessão —
no rebote, Jaque mandou
por cima do gol.
Aos 41 minutos, Byanca
Brasil balançou a rede do zeirense por causa de um natural de ataque... Se fosse mos — disse o ex-jogador. por 1 a 0, nas quartas de fi-
Corinthians. A camisa 10 toque de mão. Após a par- ao contrário, no sentido que O Corinthians chegou à nal, e fez 3 a 0 no Kinder-
recebeu a bola dentro da tida, Ronaldo, dono da a bola fosse rebatida na mão decisão após eliminar Inter- mann, na semifinal.
área, saiu da marcação e fi- SAF do Cruzeiro, recla- da zagueira, não seria pênal- nacional, por 4 a 2, nas quar- Com o título, o Corinthi-
nalizou com segurança. mou do lance. ti. Acho que isso penaliza tas de final, e Ferroviária, ans levará R$ 600 mil em
Mas o empate não valeu: o — A regra é muito ruim. uma jogada de ataque, mas por 2 a 0, na semi. Já o Cru- premiação. Já a Raposa fica-
VAR anulou o gol da cru- Uma jogada com posição é a regra, e nós a respeita- zeiro venceu o Real Brasília rá com R$ 400 mil pelo vice.

Meio-campistas Gerson e Allan nograma de reequilíbrio

muscular e controle de Terans alerta Fluminense
viram desfalques no Flamengo
cargas que poderia colo-
car Allan à disposição de
Tite já no início de março.
para jogo na altitude
Mas o afastamento por Tricolor viaja hoje para Quito, onde se ambientará
Exames revelam quadros de infecção renal e dengue de atletas rubro-negros conta da doença vai ampli- antes do duelo com a LDU pela ida da Recopa
ar esse prazo.
A última partida de Al-
MARCELO CORTES/FLAMENGO/27-1-2024
lan pelo Flamengo foi a vi-

A bruxa está solta no Fla-

mengo. Em dois bole-
tins médicos divulgados
ao longo do dia de ontem, o
rubro-negro confirmou as
baixas dos meio-campis-
tas Allan e Gerson para o
duelo de amanhã com o
Boavista pelo Campeona-
to Carioca. Eles têm qua-
dros de dengue e infecção
renal, respectivamente.
Allan foi o primeiro a ter
a situação médica divulga-
da. Com três jogos dispu-
tados pelo rubro-negro na
temporada, o volante
apresentou febre e mial-
gia. Exames realizados na
última sexta-feira revela-
ram o diagnóstico de den-
gue, em meio à epidemia
da doença pela qual passa a
cidade do Rio de Janeiro.
O jogador enfrentaria
um trabalho físico especi-
al no clube. Segundo o site
ge, estava previsto um cro-
tória por 3 a 0 sobre o Vol-
ta Redonda, no dia 10 des-
te mês. Ele foi desfalque
Lnaisíder e com classificação
contra o Bangu, na quin-
ta-feira passada.
Já durante a tarde de on-
tem, o Flamengo infor-
mou que Gerson fora di-
agnosticado com hidro-
nefrose — inchaço no rim
—com infecção renal.
O jogador foi levado ao
hospital para passar por
exames ao se queixar de
dores abdominais ontem,
no CT do Ninho do Urubu.
Ainda segundo o clube, o
Coringa foi avaliado por
um especialista e perma-
necerá internado para
exames complementares
e tratamento.
Amanhã, às 21h30, no
Maracanã, o Flamengo en-
frenta o Boavista pela no-
na rodada do Estadual.
Uma vitória recolocaria o
Baixa. Gerson permanecerá internado para fazer novos exames e tratamento rubro-negro na liderança.
encaminhada às semifi-
do Estadual, o Flumi-
nense vira a chave, a partir
de hoje, para a disputa da
Recopa Sul-Americana. O
tricolor embarca nesta se-
gunda-feira para Quito, no
Equador, onde enfrentará a
LDU na quinta-feira, no Es-
tádio Casa Blanca.
A viagem com antecedên-
cia estava decidida há cerca
de uma semana, visando a
uma melhor adaptação à al-
titude. A cidade equatoria-
na fica a 2.850 metros acima
do nível do mar.
— Vai ser um jogo muito
difícil. Mas temos um time
muito qualificado, que ga-
nhou a Libertadores. Vai ser
um grande jogo. Se conse-
guirmos ficar com a bola, vai
ser tudo mais fácil. A bola é
muito rápida (na altitude).
Você cansa mais. O impor-
tante vai ser ficar com a bola
e fazer o nosso jogo — afir-
mou o meia-atacante Te-
rans, após a vitória por 1 a 0
sobre o Madureira, no sába-
do. O uruguaio atuava no
Pachuca, do México, em re-
gião também de grande alti-
tude (quase 2.500 metros).
A principal dúvida do tri-
color é o atacante Keno, que
sentiu dores no calcanhar
esquerdo e foi ausência das
listas de relacionados para o
clássico com o Vasco e para a
partida diante do Madurei-
ra. Yony González (pancada
no joelho) e Marlon (gastro-
enterite) também ficaram
fora do confronto de sábado.
Quando voltar do Equa-
dor, o Fluminense fará o
clássico com o Flamengo já
no próximo domingo, pelo
Campeonato Carioca. Pos-
teriormente, na quinta-fei-
ra, dia 29, terá o segundo e
decisivo jogo com a LDU, no
Maracanã, às 21h30.
OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024 Esportes | 3

GLYN KIRK/AFP/3-2-2024 WOLVERHAMPTON/18-2-2024 DARREN STAPLES/AFP/3-2-2024

Desejado. João Pedro, hoje no Brighton, já desperta interesse de outros times Polivalente. Volante João Gomes tem sido decisivo para Wolves até com gols Boa notícia. Vinicius Souza tem ido bem, apesar de campanha do Sheffield

BRENO ANGRISANI E VITOR SETA

esporteglb@oglobo.com.br
-
Os brasileiros nante que alguém com 23
anos consiga produzir uma
performance dessa contra o
O Brighton, por sua vez,
pagou 34 milhões de euros
(R$ 188 milhões na cotação
grande fase nesta tempora-
da. O defensor já foi eleito o
jogador do mês da equipe

U
‘lado B’ que
m gol de cabeça e uma jo- Tottenham fora de casa. de maio do ano passado) pa- inglesa três vezes em cinco
gada iniciada com bom Não há como seguir a lista ra tirá-lo do Watford. Em votações, enquanto o volan-
passe na entrada da própria de destaques da Premier Le- novembro, João Pedro foi te vem ganhando seu espaço
área e finalizada com cate- ague sem falar no atacante convocado pela primeira no elenco e marcou recen-

se destacam
goria na área adversária. Foi João Pedro, do Brighton. O vez para a seleção brasileira. temente o seu primeiro gol
assim que o volante João Go- jovem de 22 anos soma oito na temporada.
mes, ex-Flamengo e hoje no gols e duas assistências no DUPLA DO FOREST — Murillo tem muita qua-
Wolverhampton, decidiu Campeonato Inglês e foi Outro que se destaca na lidade. É um zagueiro muito

um jogo difícil contra o Tot-
tenham, fora de casa (2 a 1),
no sábado. Foram apenas o
segundo e o terceiro gols do
jogador de 23 anos pelo clu-
be inglês, onde já se tornou
peça importante no meio-
campo. E mais uma prova do
cenário de destaque de atle-
tas brasileiros “menos bada-
lados” na maior liga do
mundo — o que tem se tor-
nado cada vez mais comum.
A Premier League está
acostumada a ver as grandes
estrelas do futebol mundial
brilharem em seus grama-
dos. Nesta temporada, não é
diferente, mas desta vez os
jogadores renomados estão
dividindo os holofotes com
importantes atletas do fute-
bol brasileiro, que se desta-
cam em meio a craques, seja
em posições de protagonis-
mo ou como pilares técni-
cos e táticos de suas equipes.
Gomes é o terceiro jogador
na Inglaterra
Acostumada a grandes estrelas, Premier
League testemunha nesta temporada a
evolução de talentos menos badalados
em número de desarmes na
Premier League, com 74 no
total, atrás apenas de Vinicius
Souza e do português João Pa-
lhinha. Ele tem sido o grande
ponto de equilíbrio da equipe.
— Sinto que posso ficar
ainda melhor. Nosso treina-
dor me dá muita liberdade
para ser o jogador que quero
e, às vezes, pisar na área. Tu-
do o que estou vivendo hoje
tem o toque dele. É quem
me dá confiança, me ani-
ma... Espero poder retribuir
o máximo que puder — dis-
se Gomes, que atua ao lado
de Matheus Cunha (lesio-
nado na partida), autor de
nove gols na Premier Lea-
gue nesta temporada.
O treinador Gary O’Neil
comemorou a recuperação
do volante de um pequeno
problema físico a tempo pa-
ra a partida, que “combina-
ria com o brasileiro”:
— Ficaríamos sem a bola,
mas compactaríamos e bus-
caríamos pressionar para
recuperá-la, como ele fez.
Foi excelente. É impressio-
eleito o melhor jogador do
time no mês de janeiro.
Nos últimos dias, ele vem
se recuperando de uma le-
são na coxa. Mas, nos cinco
jogos mais recentes em que
esteve em campo, marcou
seis vezes, incluindo um
hat-trick sobre o Sheffield
na Copa da Inglaterra.
Somando todas as compe-
tições, seu desempenho é
melhor ainda. O jovem ata-
cante, que trocou o Flumi-
nense pelo Watford ainda
em 2019, foi o primeiro bra-
sileiro das cinco grandes li-
gas europeias a chegar a 15
gols em 2023/24.
—Ele está se tornando um
jogador de alto nível. Espero
que, no ano que vem, eu con-
siga (seguir) trabalhando com
ele, mas vai ser muito difícil —
afirmou o técnico Roberto de
Zerbi no mês passado, indi-
cando um forte interesse do
mercado sobre o atacante.
competição é o volante Vi-
nicius Souza, que já enchia
os olhos do técnico Jorge Je-
sus, em 2019, quando ainda
estava no sub-20 do Fla-
mengo, mas só mostrou que
o português tinha razão cin-
co anos depois, no Campeo-
nato Inglês.
O jovem de 24 anos é um
dos poucos destaques do
lanterna Sheffield United e
está entre os três jogadores
com o maior número de de-
sarmes por jogo da Premier
League. Vinicius Souza fez
93 em 24 rodadas e pode
chegar perto do brasileiro
com maior número neste
fundamento — Lucas Leiva
é o detentor do recorde his-
tórico, com 108, segundo os
dados do perfil DataFut.
Rivais em São Paulo, Da-
nilo, ex-Palmeiras, e Muril-
lo, ex-Corinthians, são com-
panheiros de equipe no Not-
tingham Forest e vivem
rápido, tem boa construção,
mas eu não olho só para as
coisas boas. No que já está
bom é melhor não mexer, só
melhorar. Agora, existem
aspectos de jogo que ele tem
que melhorar. Não pode-
mos esquecer que o traba-
lho fundamental de um za-
gueiro é defender (risos) —
avaliou o treinador Nuno
Espírito Santo à ESPN, ci-
tando as idas ao ataque.
A Premier League tem si-
do um celeiro dos craques
brasileiros. São 30 — 8,3%
dos estrangeiros da liga,
atrás apenas dos 31 france-
ses. Além dos menos bada-
lados, outros nomes, estes
sim mais conhecidos e que
frequentemente são lem-
brados nas convocações da
seleção, vivem temporada
de destaque na Inglaterra,
como Richarlison, Matheus
Cunha, Douglas Luiz e Bru-
no Guimarães.

Homem-gol
garante
vitória suada
FOTO: GLYN KIRK/AFP

Autor de gols nas últimas

seis partidas do Manches-
ter United, o dinamarquês
Rasmus Hojlund (foto) foi
vital na vitória suada por 2
a 1 dos Diabos Vermelhos,
ontem, sobre o modesto
Luton Town, fora de casa,
no Campeonato Inglês.
O centroavante abriu o
placar com menos de um
minuto de jogo, após uma
entregada de Bell que o
deixou de frente para o
gol. Pouco tempo depois,
aos 6, fez o segundo em
sobra na entrada da área.
O jogo só parecia tranqui-
lo para o United, que viu o
Luton diminuir quatro
minutos mais tarde com
Morris e pressionar até o
fim pelo empate, enquan-
to desperdiçava oportuni-
dades de ampliar. A parti-
da terminou com 43
finalizações somadas.
Na Espanha, o Real Madrid
apenas empatou (1 a 1)
com o Rayo Vallecano,
mas segue líder isolado.
4 | Esportes
JOÃO PEDRO FONSECA
E TATIANA FURTADO
esporteglb@oglobo.com.br
-
D
ois anos atrás, o espanhol
Carlos Alcaraz desem-
barcou na Cidade Maravi-
lhosa para conquistar, aos
18 anos, o Rio Open, primei-
ro título de ATP 500 de sua
carreira. Foi como um tram-
polim: depois do torneio,
ele partiu para voos mais al-
tos, com a vitória em dois
Grand Slams e a chegada a
número 1 do ranking mun-
dial. Neste ano, especial por
marcar a décima edição do
principal evento de tênis da
América do Sul, outro pro-
dígio pretende usar as qua-
dras do Jockey como plata-
forma pessoal: Arthur Fils.
O francês de 19 anos tem
hoje um currículo seme-
lhante ao de Carlitos à época
— sua principal conquista é
um ATP 250, em Lyon, em
maio do ano passado. Mas o
hype é um tanto diferente.
Enquanto o espanhol desde
cedo, para o bem e o mal,
convivia com o rótulo de no-
vo Nadal, o francês é uma fi-
gura mais discreta. Prova
disso é que, na última sexta-
feira, quando, acompanha-
do de sua entourage, visitou
o Cristo Redentor, foi pouco
incomodado para pedidos
de fotos. Em vez disso, era
comum ouvir turistas, até
mesmo os franceses, per-
guntarem à reportagem do
GLOBO: quem é ele?
SONHO OLÍMPICO
Embora pretenda impressi-
onar os brasileiros de forma
imediata — sua estreia no
Rio Open será contra o cari-
oca João Fonseca, em parti-
da ainda a ser marcada —,
Fils terá a oportunidade ide-
al para conquistar os cora-
ções de seus compatriotas
em pouco mais de cinco me-
ses, na Olimpíada de Paris.
Número 36 do mundo ho-
je, ele está dentro da “nota
de corte” para se classificar
aos Jogos: os 56 primeiros
do ranking da ATP no dia 10
de junho, ou seja, logo após
Roland Garros, entrarão na
chave, com o limite de qua-
tro atletas por país. Fils é o
terceiro melhor francês,
atrás de Ugo Humbert, que
aos 25 anos vive um bom
momento, e do experiente
Adrian Mannarino, de 35.
O desejo de fazer bonito
na própria casa está por trás
da decisão de Fils de partici-
par da gira sul-americana de
saibro, em um momento em
que boa parte dos tenistas se
Mulheres se destacam no Mundial de Esportes Aquáticos
Ana Marcela Cunha, bronze na maratona, e Mafê, que ganhou os holofotes na natação ao quebrar recordes, encabeçam a lista
DOHA
-
A s mulheres foram o des-
taque do Brasil no Mun-
dial de Esportes Aquáticos,
encerrado ontem, em Do-
ha, no Catar. Ana Marcela
Cunha encabeça essa lista.
Assim como Viviane Jung-
blut, ela conquistou a vaga
olímpica para Paris-2024 na
maratona aquática (10 km).
Foram quinta e 14ª coloca-
das na prova, respectiva-
mente. Além disso, Ana
Marcela levou a medalha de
bronze nos 5 km, a única do
Brasil neste Mundial.
Esta foi a 17ª medalha da
atleta baiana de 31 anos em
campeonatos desse calibre.
São, ao todo, 16 em Mundi-
ais de Esportes Aquáticos e
uma no Mundial de Águas
Abertas, disputado no Ca-
nadá, em 2010.
Na natação, cinco reveza-
Em ascensão no circuito,
Arthur Fils pode fazer do
Rio Open seu trampolim
Francês de 19 anos aumenta presença em torneios de saibro de olho
em Paris-2024 e diz que tenta aprender com oscilações de desempenho
Objetivo. Arthur Fils está entre os 40 melhores tenistas no ranking da ATP e quer conquistar, no Rio, o título mais importante da carreira
concentra na quadra dura,
com Indian Wells e Miami
no horizonte, já em março:
— Esse é um dos motivos
sim. Os Jogos Olímpicos se-
rão no saibro, o que é incrí-
vel, e estamos aqui para jo-
gar mais tempo nesse piso
antes de Roland Garros —
diz o francês, também con-
firmado no 250 de Santiago,
no Chile, na semana que
vem, e no 250 de Estoril, em
Portugal, em abril.
A jornada de Fils pelo sai-
bro não começou como es-
perado. Em Buenos Aires,
na semana passada, ele foi
derrotado pelo sérvio Du-
mentos do Brasil garanti-
ram vaga em Paris: 4x100m
e 4x200m livre masculino e
feminino, além do 4x100m
medley misto.
Entre eles, destaque para o
4x200m livre feminino, que
conquistou o quarto lugar pe-
la primeira vez na História.
Com Maria Fernanda Costa,
Stephanie Balduccini, Aline
Rodrigues e Gabrielle Roncat-
to, o Brasil quebrou o recorde
sul-americano que durava oi-
to anos (7min52seg71).
BRILHO ‘TARDIO’
Nas provas individuais, Ma-
ria Fernanda Costa, a Mafê,
brilhou. Ao lado de Gabriel-
le Roncatto, alcançou uma
final inédita nos 400m li-
vre, na qual obteve o quarto
lugar, e foi quinta nos
200m. E ainda garantiu
dois recordes sul-america-
nos individuais e dois índi-
san Lajovic, 58º do ranking,
em sets diretos logo na es- Bia perde
treia. O Rio Open, portanto, na estreia
aparece como a chance de em Dubai
decolar. E ele conta com um
especialista. O francês é
treinado pelo espanhol Ser-
gi Bruguera, bicampeão de
Roland Garros em 1993 e
1994, e figura bem conheci-
da dos brasileiros amantes
do tênis. Foi adversário de
Gustavo Kuerten na final do
seu primeiro título no piso
parisiense, em 1997.
— Fiquei satisfeito com o
meu desempenho no saibro
no ano passado, mas, neste,
só joguei uma vez e perdi.
Ela. Bronze de Ana Marcela Cunha nos 5 km é a única medalha do Brasil no Mundial de Esportes Aquáticos em Doha
ces olímpicos.
Mafê, nadadora carioca de
21 anos, começou tarde na
modalidade, aos 14, e ga-
nhou os holofotes nesta
> Beatriz Haddad Maia
sofreu uma dura derrota
ontem, quando foi bati-
da de virada pela italiana
Jasmine Paolini, núme-
ro 24 do ranking, ainda
na estreia do WTA 1000
de Dubai, nos Emirados
Árabes, com parciais
de 4/6, 6/4 e 6/0.
> O revés de Bia se
torna mais incômodo
porque ela começara
bem o confronto. Depois
de vencer o primeiro set,
chegou a ficar uma
competição. Ela conta que tímulo de treinar ao lado das
há um ano se considerava melhores do país e sob a ba-
longe da elite feminina. tuta de Fernando Possenti,
A virada de chave, segun- ex-técnico de Ana Marcela
do Mafê, aconteceu pelo es- por cerca de dez anos e um
Segunda-feira 19.2 .2024
BEATRIZ ORLE
quebra acima no segun-
do. Mas, a partir do 4/2,
seu desempenho na
partida se deteriorou.
Ela perdeu dez games
em sequência, levando
um pneu no terceiro set.
Paolini tem se mostrado
uma pedra no sapato
de Bia, já que venceu os
três duelos entre elas.
> Agora, a brasileira
segue para o WTA 500
de San Diego, que ante-
cederá os torneios 1000
em Indian Wells e Miami.
MANAN VATSYAYANA/AFP/7-2-2024
| OGLOBO
Preciso ver como irei nos
torneios até Paris — ponde-
ra Fils, cauteloso com as os-
cilações de desempenho. —
O tênis é um esporte com-
plicado. Perdemos quase to-
da semana. Pode ser que, no
Rio, eu perca na primeira ro-
dada de novo e, em Santia-
go, seja campeão. É o tênis.
Eu me dedico a todas as par-
tidas. Se ganhar, ótimo. Se
perder, ótimo também, por-
que eu aprendo e levo isso
para o torneio seguinte.
Fils demonstra a resiliên-
cia de quem está envolvido
com vitórias e derrotas des-
de os 5 anos, quando deu os
primeiros passos no tênis
num clube local. Lá e hoje,
ao seu lado, a presença cons-
tante do pai Jean-Philippe,
ex-jogador de basquete.
Ele é o porto seguro de um
jovem que aceita as imposi-
ções da vida de um atleta de
alto nível e que nem sempre
combinam com os hormô-
nios da juventude.
—Não é fácil. Eu adoraria
ter mais tempo com meus
amigos em Paris, mas é o
que há. Ao menos, eles en-
tendem, minha família
também. As pessoas impor-
tantes para mim entendem.
Quando estou em Paris, eu
os vejo, e às vezes eles me
acompanham nos torneios.
A gente dá um jeito.
Enquanto busca seu lugar
ao sol no ranking mundial
—nenhum francês chegou à
liderança na era moderna
do jogo —, Fils se inspira em
outro esporte em que a
França tem muito mais su-
cesso. O tenista se orgulha a
ponto de dizer, no conside-
rado país do futebol, que sua
seleção é melhor que a bra-
sileira. E que eles também
têm um dos melhores joga-
dores do mundo.
— Se falamos de antes, o
Brasil (é superior), com Ro-
naldo e Ronaldinho. Agora, a
França, com Mbappé e tudo
mais —garante Fils, que ape-
nas deu um sorriso ao ser
questionado quem era me-
lhor, Mbappé ou Neymar.
MELIGENI AVANÇA
Ontem, Felipe Meligeni se
tornou o primeiro brasileiro
a furar o qualifying e chegar
à chave principal do tor-
neio, com vitória sobre o ar-
gentino Juan Manuel Ce-
rúndolo por 2 sets a 0 (parci-
ais de 6/3 e 7/6). Já Matheus
Pucinelli foi derrotado pelo
francês Corentin Moutet,
também por 2 a 0, com par-
ciais de 6/4 e 6/3.
dos responsáveis pelo ouro
olímpico da atleta. Possenti
comanda um grupo de sete
atletas, entre eles Fernando
Scheffer (medalhista em
Tóquio-2020), Gabriela
Roncatto e Beatriz Dizotti.
Entre os homens, Gui-
lherme Costa foi o único
que conseguiu avançar às fi-
nais. Pela terceira edição de
Mundial seguida, ele che-
gou à decisão dos 400m li-
vre. Além disso, foi oitavo
nos 200m livre.
O nado artístico brasileiro
também figurou em finais
no Catar. O dueto misto, for-
mado por Anna Giulia Velo-
so e Bernardo Santos, che-
gou às finais do livre e do
técnico. Bernardo também
fez História ao colocar o
Brasil em sua primeira final
de Campeonato Mundial no
solo (a equipe livre também
foi à final da disputa).
Já a seleção brasileira de
saltos ornamentais esteve
em duas finais e teve como
melhor resultado o 13º lugar
de Anna Lúcia dos Santos e
Luana Lira, no trampolim
3m sincronizado.
 OGLOBO | Segunda-feira 19.2 .2024

SEGUNDO CADERNO segundocaderno@oglobo.com.br

CELESTE SLOMAN/NYT/27-8-2019
CARLOS HELÍ DE ALMEIDA
Especial para O GLOBO

A voz de Debbie Harry, vo-

calista e alma da banda
Blondie, é inconfundível.
A vida com o Blondie.
“Não éramos realmente
orientados para os
Mesmo quando ela surge negócios, nenhum de
meio fria e algo sinistra na nós da banda.
narração de “So unreal” Tudo que o fizemos
(2023), documentário da foram apostas, era
americana Amanda Kra- lançar os dados e ver o
mer sobre o caráter proféti- que ia dar”
co do cinema ao imaginar a
relação da sociedade com a
tecnologia, é possível reco-
nhecer a fala doce e calman-
te que hipnotiza gerações
desde o momento em que
“Heart of glass” (1978) se
tornou o primeiro hit mun-
dial do grupo de rock sur-
gindo na cultura under-
ground de Nova York.
—Senti que deveria modu-
lar uma voz sem corpo, mas
que não fosse necessaria-
mente robótica. Queria criar
uma personagem narradora
—conta Debbie, de cabelos
agora naturalmente platina-
dos, aos 78 anos, durante o
Festival de Roterdã, onde
“So unreal” ganhou premiè-
re europeia. — O texto que
Amanda escreveu para o fil-
me é incrível, e isso me deu
confiança para encontrar
um tom para narrá-lo, sem
precisar falsificar ou provo-
car arrepios nos outros.

‘NÃO NEGO CONVITES’

A filmografia de Debbie in-
clui trabalhos com diretores
como James Mangold (“Pai-
xão muda”, 1995), Peter
Greenaway (“As maletas de
Tulse Luper”, 2003), e Isa-
bel Coixet (“Minha vida
sem mim”, 2003). As parti-
cipações em filmes ficaram
mais escassas nas últimas
décadas — até porque o
Blondie voltou, embora re-
configurado, e de vez em
quando sai em turnê — mas
ela se diz aberta a propostas.
—Não nego convites para
cinema porque não recebo
muitas ofertas. Não tenho
mais como competir na in-
dústria, por causa da minha
idade. Mas, sabe, até gosto
da ideia de fazer algo como a
M, a chefe do Serviço Secre-
to Britânico, da série James
Bond. Não seria legal? —
pergunta, em tom sugestivo.
A cantora, que desenvol-
veu substancial carreira no
cinema em paralelo com a
música, particularmente
após a separação do grupo
original, em 1982, atua no
novo documentário como
narradora invisível, mas
também surge na tela em
um dos trechos de “Video-

NOVAS
drome — A síndrome do toda a arte de “Alien —O oi- bandas a incorporar o rap,
medo” (1983), um dos pri- tavo passageiro” (1979), de em “Rapture”, ajudando a
meiros sucessos comerci- Ridley Scott, ao visual de popularizar o gênero que
ais de David Cronenberg. O seu primeiro álbum solo, o veio do gueto ao longo dos

AVENTURAS
thriller de terror do diretor iconoclasta “Kookoo”. anos 1980. Mas também pa-
canadense é um dos princi- —Giger teve carta branca, gou caro quando o grupo co-
pais pontos de referência não interferimos em nada. meçou a flertar com a disco
do filme de Amanda, pois Mas tudo parecia uma lou- music na virada daquela dé-
foi um dos primeiros a tra- cura, a comunicação era cada, no auge do movimen-

DA ETERNA
balhar com realidade virtu- complicada. Mas ele tinha to que queria enterrar o som
al, numa época em que o acabado de ganhar um Os- das discotecas.
termo nem existia. car (por seu trabalho em “Ali- — Perdi muitos amigos
—Não sabíamos o que era en”)! Ele era suíço. Creio por causa disso. Foi uma
“virtual” na época. Minha que aprender inglês não fos- loucura — lembra a intér-

personagem não existia na
nossa realidade, era uma es-
pécie de avatar, não sabía-
mos como descrevê-la. Não
sabíamos o que ela era ou o
que fazia com os outros per-
sonagens — diverte-se Deb-
bie, que divide os créditos de
“Videodrome” com James
Woods. — Também não ha-
via um final para o filme e is-
so deixava as pessoas bastan-
te nervosas, e o atormenta-
vam com essas coisas. Que-
ria trabalhar com Cronen-
berg de qualquer maneira. E
até hoje ele está por aí.
Debbie admite que ela e
Chris Stein, cofundador do
Blondie e seu ex-compa-
MUSA DO ROCK
‘NÃO TENHO MAIS COMO COMPETIR
NA INDÚSTRIA, POR CAUSA DA MINHA
IDADE’, DIZ DEBBIE HARRY,
QUE, AOS 78 ANOS, USA A VOZ QUE
CATIVOU O MUNDO COM A BANDA
BLONDIE EM DOC SOBRE TECNOLOGIA,
LEMBRA AMIGOS COMO ANDY WARHOL
E CONTA QUE GOSTARIA
DE ATUAR EM FILME DO 007
nheiro, sempre se orienta-
ram “por buscar algo dife-
rente” em tudo que faziam.
Quando a banda começou a
fazer videoclipes, lembra a
cantora, tudo era meio
“primitivo”: encontrar
uma boa iluminação, sin-
cronizar os lábios com a
música e “parecer fofos”
para a câmera. Em 1981,
ela se arriscou a incorporar
o estilo futurista do desig-
ner H.R. Giger, que criou
se a prioridade dele, e nós
não estávamos aprendendo
alemão rápido o suficiente.
Então tudo foi uma questão
de energia — ri a musa, que
também chegou a escrever
uma canção com o autor cy-
berpunk William Gibson,
hoje considerado um visio-
nário da internet.
‘BARATAS CULTURAIS’
O Blondie foi oficialmente
lançado em 1974 e tocou pe-
lo circuito boêmio alterna-
tivo de Manhattan, berço de
outros artistas como Patti
Smith e Iggy Pop, antes de se
tornar um fenômeno plane- AGENDA ATUAL DE SHOWS
tário. Foi uma das primeiras DO BLONDIE, NA PÁGINA 2
prete de “Call me”, canção-
tema do filme “O gigolô
americano” (1980), de Paul
Schrader. — Foi uma era
emocionante de se fazer
parte. Não éramos realmen-
te orientados para os negó-
cios, nenhum de nós da ban-
da. Tudo que o fizemos fo-
ram apostas, era lançar os
dados e ver o que ia dar. Éra-
mos baratas culturais, e a ce-
na da cidade era inspiradora
em todos os sentidos. Conti-
nuamos jogando os dados e,
eventualmente, tivemos
que sair de Nova York.
2 | Segundo Caderno Segunda-feira 19 .2 .2024 | OGLOBO
DIVULGAÇÃO
MARI TEIXEIRA
mariana.teixeira@oglobo.com.br DEPOIS DO
SUCESSO NO
EMuseu
ra dia quando Maz pisou
no palco montado no
do Amanhã, na Pra-
Antes da hora.
“É muito doido
ver esse CARNAVAL,
ça Mauá, região portuária reconhecimento.
DJ MAZ FAZ AS
do Rio. O sol obrigava a pla- Eu e minha equipe
teia da festa Boma a balan- colocamos como MALAS PARA
çar seus leques e aumentava meta estar no
a responsabilidade do DJ. O Coachella em TOCAR NO
dever era manter todo mun- 2025/2026, no FESTIVAL
do entretido naquela terça- mínimo... Não
feira de carnaval mesmo acreditei quando CALIFORNIANO
que passasse das 5h30. recebi o e-mail
EM ABRIL.
Nada que Maz já não tenha deles, diz o DJ
feito por aí e agradado públi- ‘ESTAMOS
co e crítica. Munido de reper-
tório que mistura o orgânico VIVENDO UMA
das percussões e tambores BRAZILIAN
com elementos eletrônicos,
principalmente da house STORM’, DIZ ELE
music, cumpriu seu papel e
chamou atenção de gente
grande. Tanto que, em abril, como chegou ao resultado
o carioca de 31 anos tocará final. — Busquei um som
em um dos mais bem concei- orgânico e acabou se apro-
tuados festivais do mundo, o ximando do afro house. Na
Coachella, na Califórnia minha cabeça os timbres
(EUA), e, em julho, estará na eletrônicos demais não soa-
Bélgica para o um dos maio- vam tão bem. Tentei com
res eventos de música ele- umas três ou quatro músi-
trônica, o Tomorrowland. cas diferentes até chegar na
— É muito doido ver esse “Banho de folhas”. Quando
reconhecimento. Eu e mi- ouvi sabia que era ela.
nha equipe colocamos co- O estilo deu tão certo que,
mo meta estar no Coachella em 2023, ele chegou à posi-
em 2025 ou 2026, no míni- ção número um mundial no

PASSAPORTE CARIMBADO
mo... Não acreditei quando Beatport — serviço em que
recebi o e-mail deles — con- DJs disponibilizam seus ca-
ta o DJ e produtor musical, tálogos para venda e compra
acrescentando que não bas- de músicas e samples.
ta lançar boas músicas, mas
é preciso traçar estratégias,
ser visto pelas pessoas cer-
tas e trabalhar na perfor-
PARA COACHELLA Suas produções, sendo a
mais recente “Brisa” (músi-
ca autoral interpretada por
Jéssica Gaspar), ganharam
mance ao vivo. tava um pouco sem rumo e tava só tocar. A concorrên- um remix de sonoridade —Eu nunca tinha escuta- espaço nos sets e recebe-
decidiu passar o réveillon cia é enorme e se você não afro house da música de Lu- do uma música eletrônica ram apoio de nomes como
BANHO DE MAR E FOLHAS daquele ano no Universo for produtor musical além edji Luna “Banho de folhas” com vocal em português Black Coffee, CamelPhat e
Mesmo com uma formação Paralello —festival de músi- de DJ dificilmente você se que conta com mais de 12 que tivesse me pegado de Vintage Culture.
musical desde criança por ca eletrônica que acontece destaca. Em 2015 lancei mi- milhões de plays só no Spo- verdade e eu tinha isso na — Acho que estamos vi-
influência do avô e de ter na praia de Pratigi, na Ba- nha primeira música. tify e 1,3 milhão de visuali- cabeça. Mas eu precisava vendo uma “brazilian
participado de algumas hia. Lá, teve “visões” e “sen- Maz foi evoluindo e deci- zações no YouTube. de um lançamento que fa- storm” de DJs e produtores
bandas, foi só na virada do sações” que o levaram para diu abrir seu próprio selo, A ideia era mesmo fazer lasse com a massa, que fosse brasileiros e isso mostra a
ano de 2013 para 2014 que música de vez: Dawn Patrol, para não per- um hit com vocal em por- menos nichado, e eu e mi- profissionalização da ce-
Thomaz Prado decidiu que — Voltei e comecei a estu- der sua liberdade e se lançar tuguês, mas não foi sim- nha equipe decidimos in- na. O Brasil é muito rico,
transformaria o hobby em dar produção musical por- quando bem entendesse. O ples. Meses separaram a vestir na voz em português tem muita coisa a explorar
coisa séria. Ele conta que es- que eu sabia que não adian- grande hit veio em 2022, ideia da execução. — conta Maz, explicando —opina Maz.

CONTINUAÇÃO DA CAPA

‘ÉRAMOS TODOS MEIO LUNÁTICOS’ DIVULGAÇÃO

A crise do Blondie liberou

Debbie Harry para mais
aventuras nas telas. Contra-
die e outros grupos da épo-
ca, como o Ramones e o
Talking Heads, do vocalista
(Ginsberg) surgindo do na-
da, usando um de seus lon-
gos vestidos pretos. Vivía-
do grupo sueco Abba, repre-
sentado por avatares. Mas
Debbie ainda não tem certe-
cenou com Alec Baldwin e David Byrne, e de outros ar- mos intensamente, e querí- za se a música do grupo tem
Hanna Schygulla na comé- tistas lendários, há muito se amos participar daquele algum apelo às novíssimas
dia policial “Para sempre Lu- foi. Ela lembra com certa momento de alguma forma. gerações. Não que esteja
lu” (1986), do palestino melancolia da convivência Gostaria que Johnny Thun- muito preocupada com isso:
Amos Kollek. Foi dirigida por com amigos e companhei- ders ainda estivesse vivo, —É uma coisa sobre a qual
Martin Scorsese em “Life ros que também já se foram, adoraria ouvir o que ele es- não posso fazer nada a res-
lessons”, um dos três seg- como Johnny Thunders, creveria agora, porque fala- peito. Os tempos mudam,
mentos do longa-metragem guitarrista e vocalista de va de coisas tocantes —diz a os gostos mudam, a tecnolo-
“Contos de Nova York” banda The New York Dolls, cantora. — Quando os avi- gia muda. O que temos é a
(1989). Mas é a comédia mu- o poeta beatnik Allen Gins- ões atingiram as Torres Gê- sinceridade da música que
sical “Hairspray — E éramos berg e o papa da pop art meas fiquei primeiro choca- fazemos. Gostamos da pre-
todos jovens” (1988), do Andy Warhol (“ele me ensi- da, com raiva, e depois com- sença física, por que faría-
sempre extravagante John Com o Blondie. Debbie hipnotiza gerações desde “Heart of glass” (1978) nou muito a ouvir os ou- pletamente triste. O único mos um show virtual? É um
Waters, que lhe traz memó- tros”), e que deixaram sua pensamento que tive foi: objetivo espiritual, mais do
rias divertidas de um set. las, outros eram maníacos preta Velma Von Tussle, mu- marcas na cidade muito an- “Oh, Deus, gostaria que fos- que econômico. Trata-se de
—A gente não queria que sexuais, mas todos só queri- lher que promove crenças tes de sua gentrificação. sem os anos 1970 de novo!”. sobreviver, ganhar dinheiro
“Hairspray” terminasse, de am saber de dançar. Todos racistas na TV que dirige. — Éramos todos meios lu- O Blondie já tem shows suficiente para comer, mas
tão divertido que era. Havia nós nos sentíamos bem e, re- Debbie Harry ainda mora náticos, sabe? A geração be- agendados para o próximo o show físico é alimento em
muitas crianças e jovens ato- almente, só queríamos dan- em Nova York, mas diz que a at andando pelas ruas do verão no Hemisfério Norte outra forma. Não vejo como
res no elenco, alguns eram çar e nos divertir — recorda cultura boêmia e under- Lower East Side de Manhat- —e sem essa de shows virtu- receber isso de avatares.
aspirantes a grandes estre- Debbie, que no filme inter- ground que inspirou o Blon- tan. Eu encontrava Allen ais, como a turnê “virtual” (Carlos Helí de Almeida)

HORÓSCOPO Cláudia Lisboa

ÁRIES (21/3 A 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Libra. Regente: Marte.
Ainda que sua autonomia lhe proporcione grandes
realizações, agora será importante perseguir os objetivos que
você compartilha com amigos e parceiros. Abra o olhar e
caminhe em consonância com o coletivo.
CÂNCER (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Capricórnio. Regente: Lua.
Você preferirá estar na sua própria companhia ao
longo do dia, refletindo sobre questões pessoais e acalmando o
ritmo interno. Respeite seu tempo e preserve um espaço de
intimidade para se escutar melhor.
LIBRA (23/9 A 22/10)Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo. Signo
complementar: Áries. Regente: Vênus.
A melhor forma de lidar com os desafios emocionais
que você enfrentará agora será trazendo mais leveza e doçura
para a sua vida. Observe os eventuais sentimentos desconfortá-
veis e garanta-lhe mais prazer.
CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) Elemento: Terra. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar: Câncer. Regente: Saturno.
Você deverá encarar as diferentes opiniões ao seu
redor com curiosidade, compreendendo que é a diversidade
que fará com que as trocas sejam verdadeiramente ricas e
engrandecedoras. Aprenda com o outro.

TOURO (21/4 A 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Escorpião. Regente: Vênus.
Você irá se deparar com diferentes oportunidades e
caminhos neste momento, e o melhor a seguir será aquele que
fará seu coração bater mais forte. Conecte-se com seus senti-
mentos e legitime suas paixões.
LEÃO (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Aquário. Regente: Sol.
O dia será eficiente para refletir sobre sua jornada
recente com atenção e crítica, percebendo as estratégias que
auxiliam seu crescimento e também aquelas que precisam ser
aperfeiçoadas. Aprimore-se.
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)Elemento: Água. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Touro. Regente: Plutão.
Você reconhecerá o valor de um ombro amigo para os
momentos em que precisará de apoio e orientação. Busque boas
companhias ao se deparar com um conflito ou decisão impor-
tante. Permita-se ser amparado.
AQUÁRIO (21/1 A 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Leão. Regente: Urano.
Você estará mais sensível aos comentários alheios e
poderá se deixar levar por um gesto pouco afetivo ou uma palavra
mais ríspida. Tenha em mente que cada um tem sua forma de se
expressar. Acolha-se.

GÊMEOS (21/5 A 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio.
Para que você possa realizar os objetivos e planos
que terá em mente neste momento, o mais importante será se
basear nas condições e ferramentas de que você verdadeira-
mente dispõe. Apoie-se na realidade.
VIRGEM (23/8 A 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Peixes. Regente: Mercúrio.
As aventuras e sonhos que você almeja viver, serão
mais facilmente realizados agora. O mais importante será
elaborar o caminho de maneira realista e cuidadosa. Materialize
suas intenções com consciência.
SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)Elemento: Fogo. Modalidade: Mutável. PEIXES (20/2 A 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Gêmeos. Regente: Júpiter. Signo complementar: Virgem. Regente: Netuno.
Para traduzir suas emoções com eficiência e clareza, Você está começando um novo ciclo e poderá, com
você deverá, antes de tudo, investigar a si mesmo com honestida- isso, renovar ideias e pensamentos obsoletos. Abra-se para esse
de. O autoconhecimento lhe trará a segurança necessária. Obser- movimento e deixe que antigas convicções se desdobrem com
ve-se atentamente. novos conhecimentos. Renove-se.

Editor: Marcelo Balbio (balbio@oglobo.com.br). Editor assistente: Eduardo Rodrigues (earodrigues@oglobo.com.br) . Diagramação: Gustavo Amaral (gdamaral@edglobo.com.br)
oglobo.com.br/cultura Telefones: Redação:2534-5703. Publicidade: 2534-4310 publicidade@oglobo.com.br Correspondência: Rua Marquês de Pombal 25, 4º andar. CEP 20.230-240
OGLOBO | Segunda-feira 19.2.2024
Para “Luz”, nova série
infantojuvenil da Netflix,
com direção-geral de
Thiago Teitelroit.
A produção é uma graça e
reúne muitos talentos.
Para o loteamento de
horários na RedeTV!,
problema que se agrava no
fim de semana. Há atrações
religiosas e programas de
vendas e de sorteios.
JOGOS
LOGODESAFIO
POR SÔNIA PERDIGÃO
N N T A
A palavras de 5 letras ou mais. 3. Achar outras palavras (de 4 letras ou
S
CI
E T I A N
instância, néscia, saci, tácita.
antenista// INSTANTÂNEA. Com a sequência de letras CI: acinte, anciã, cine, cinta, estância, incitante,
testa, tinta// ananás, antena, atenta, insana, intata, isenta, sineta// intensa, sentina, tenista// instante//
Solução: Anais, ânsia, antes, etnia, inane, inata, nênia, nesta, santa, seita, tanta, tênia, tênis, tensa,
SOLUÇÃO
Segundo Caderno | 3
_ SEG_Play_ TER_Play_ QUA_Play_ QUI_Patrícia Kogut_ SEX_Play_ SÁB_Play_ DOM_Patrícia Kogut
PLAY Por Anna Luiza Santiago
Com Gabriel Menezes, Giulia Costa e Laís Malek • oglobo.globo.com/play • anna.santiago@oglobo.com.br • colunaplay
LEO ROSÁRIO/GLOBO
Os tios... Personagem Temas urgentes...
inesquecível
Casal no filme “Marte Um”, O projeto “Falas” terá um
Rejane Faria e Carlos Eis a primeira foto novo formato na Globo este
Francisco voltarão a formar de Irandhir Santos ano. Os episódios
um par em “Pablo e Luisão”, em “Renascer” mostrarão experimentos
série de Paulo Vieira para o como Tião Galinha, sociais, com simulações de
Globoplay. Eles viverão vivido por Osmar situações absurdas, mas
Vera e Zé, os tios do Prado na primeira muito comuns. O primeiro,
humorista, que será versão. Catador de para o Dia Internacional da
interpretado por um ator caranguejo, ele é Mulher, já foi gravado e será
mirim na trama. casado com Joana apresentado por Paolla
(Alice Carvalho) e Oliveira e Taís Araujo.
...E a vizinha sonha com
melhores condições ...E mais
Patrícia Pinho também de vida. Após ter
estará na história como ajuda do padre Pela primeira vez, haverá
Zélia, uma vizinha da família Santo (Chico Diaz) uma edição dedicada ao Dia
protagonista. Os atores estão e do pastor Lívio de Luta da Pessoa com
fazendo leituras de texto. (Breno da Matta), Deficiência, em setembro.
conseguirá um
Para as redes sociais emprego na fazenda A cunhada
de Egídio (Vladimir
Raphael Vianna, do elenco Brichta). Saiba Elen Clarice, que viveu a
do “Vai que cola”, estrelará, mais sobre a companheira de Henfil
com Sarah Cintra, o curta história no site (Humberto Carrão) na série
“Tramataia”. O roteiro é de “Betinho”, do Globoplay,
Tarcísio Lara Puiati, fará par com Bruno
ex-colaborador de novelas Gagliasso no filme “Por um
da Globo. Estreia no fio”. O ator será Paulo, irmão
próximo dia 4. de Drauzio Varella.
QUADRINHOS
MACANUDO Liniers
Foram encontradas 28 palavras: 16 de 5 letras, 7 de 6 letras, 3 de 7
letras, 1 de 8 letras, 1 de 9 letras, além da palavra original. Com a
sequência de letras CI foram encontradas 10 palavras. VOU PRECISAR DE UM BARCO MAIOR.
Instruções: Este jogo tem os seguintes objetivos: 1. Encontrar a
palavra original utilizando todas as letras contidas apenas no quadro
maior. 2. Com estas mesmas letras formar o maior número possível de
mais) com o auxílio da sequência de letras do quadro menor. As letras
só poderão ser usadas uma vez em cada palavra. Não valem verbos,
plurais e nomes próprios.
VOU PRECISAR DE UM APETITE MENOR.
NADA COM COISA ALGUMA José Aguiar
FORA DE FOCO Eduardo Arruda
A
T
I
O CORPO É PORTO André Dahmer
BICHINHOS DE JARDIM Clara Gomes
A VIDA É UM RISCO Adão Iturrusgarai
3/eeg — rai. 5/stand. 7/neemias.
BANCO
4 | Segundo Caderno Segunda-feira 19.2 .2024 | OGLOBO
_ SEG_ Joaquim Ferreira dos Santos _ TER_ Leo Aversa_ QUA_ Ana Paula Lisboa (quinzenal) _ Martha Batalha (quinzenal)_ QUI_ Cora Rónai_ Luis Fernando Verissimo _ SEX_ Ruth de Aquino_Nelson Motta_ SÁB_ José Eduardo Agualusa_ DOM_Cacá Diegues

JOAQUIM FERREIRA redor, quase me matou.

“Desculpe”, continuou.
DOS SANTOS Ele freou a um centímetro da minha po-
segundocaderno@oglobo.com.br ética condição humana, a de um cidadão
que naquele momento desfrutava pacifica-
mente da felicidade suprema de andar meio
“Mas, vovô, você reclama de tudo.”
A calçada é um dos subgêneros da crônica
carioca e já houve quem a usasse como inspi-
ração para falar do show luxuoso que as
amendoeiras deram no inverno de 1959. Pas-
savam modas, flanavam moças de Ban-Lon

B.O. NO desligado, sem sentir os pés no chão, pela

calçada do bairro onde morava e se achava
protegido do mundo mau lá longe.
vinho, soprava um amor suave, de leve nuvem
solta na brisa. Tudo isso, expliquei ao Eduar-
do, era bonito, tinha até um escritor chamado

LUGAR DA Eduardo, meu neto, 11 anos, teve como tra-

balho escolar nesses primeiros dias de ano leti-
vo a definição dos gêneros literários, e me fez a
João do Rio — mas a cidade mudou. Agora é
preciso tirar os olhos da nuvem, prestar aten-
ção nos buracos e reciclar o humor para os no-

CRÔNICA pergunta de um milhão — o que é uma crôni-

ca? Zuenir Ventura diz que é tudo aquilo posto
dentro do fio de diagramação do jornal e em ci-
vos tempos. Um homem freia a bicicleta
elétrica importada a um guidom do teu nariz
—e é impossível a crônica não reclamar.
ma se escreve “Crôni- “O senhor tem razão”, disse o sujeito ao ou-

T odo mundo que eu conheço tem uma histó-

ria parecida, quase foi morto na mesma si-
tuação, mas agora chegou minha vez de lavrar
“Não foi por mal”, balbuciou o falso distinto.
O homem que quase me levou desta para
as cucuias tinha um ar de sofisticação con-
O ESBARRÃO
NA CALÇADA É
ca”. Eu arrisquei bre-
vidades do tipo é um
texto leve, sobre miu-
vir o zorra! exclamativo do meu espanto — e,
aboletando-se novamente ao selim de sua ar-
ma, talvez com Sinatra murmurando “That’s
SUBSTITUÍDO POR
oBoletim de Ocorrência na primeira pessoa. temporânea. Não seria surpresa para esta dezas do cotidiano, e life” no fone que lhe ocupava os ouvidos, se-
O homem que semana passada quase me coluna se ainda estivesse embriagado pelo ATROPELAMENTO que permite ao autor guiu em frente como se nada houvera.
matou estava longe de ter as feições lombrosi- torpor do jet lag, recém-chegado talvez de DE BICICLETA, E abusar da subjetivida- O esbarrão na calçada, estopim outrora de
anas consagradas nos livros de criminologia. uma viagem à Suíça. Lá, comera os melho- ISSO ESPANTA A de, como se levasse a um caso de amor relatado por Fernando Sa-
Pelo contrário. Bem-apessoado, roupa espor- res chocolates e comportara-se com a edu- POSSIBILIDADE vida em voz alta. Se bino, tinha sido substituído pelo atropela-
tiva da Track&Field, parecia livre de qualquer cação exigida nos ambientes civilizados. DE NUVENS possível, salpicar a mento de bicicleta, e eu expliquei ao Eduar-
suspeição. Cuidado, leitor, com esse novo pa- Aqui, trepado numa bicicleta de uns R$ 50 história com algum do que isso definitivamente espanta a possi-
drão. É tão perigoso quanto o das antigas. Ao mil, o homem perdera a noção das boas re- ROMÂNTICAS humor — e foi aí que bilidade de nuvens românticas sobrevoa-
fracassar na tentativa de me mandar desta pa- gras de convivência no espaço público e, SOBREVOAREM Eduardo estranhou, rem os parágrafos da crônica de 2024. Não
ra a pior, ele até posou de educado: contaminado pelo desregramento geral ao OS PARÁGRAFOS mandando a real: sei se ele botou isso no trabalho da escola.

DIVULGAÇÃO
MARIANA ROSÁRIO
mariana.rosario@sp.oglobo.com.br
FRISCO (TEXAS, EUA)
Arte e ousadia.

A lém dos truques de tra-

pézio, saltos em distân-
cia e da impressionante es-
Artistas do Cirque Du Soleil
apresentam número com torre
de cadeiras encaixadas uma a
calada em uma torre de ca- uma no espetáculo “Crystal”:
deiras encaixadas uma a dois milhões de espectadores
uma, a companhia multina- em todo o mundo
cional de espetáculos Cir-
que du Soleil decidiu elevar
ainda mais o nível de difi-
culdade de seu show e de-
senvolveu um espetáculo
que inclui patinação (com
manobras elaboradas) no
gelo. Chamada de “Crystal”,
a apresentação faz parte do
catálogo da companhia des-
de 2017, mas será vista pela
primeira vez no Brasil a par-
tir de junho, com datas no
Rio (entre 13 e 23 de junho
na Rioarena) e em São Paulo
(entre 5 de julho e 6 de outu-
bro no Parque Villa-Lobos).
No enredo, o público é
apresentado a Crystal, uma
jovem que enfrenta confli-
tos típicos do amadureci-
mento: caso da dificuldade
de conectar-se com paren-
tes, bullying escolar e a bus-
ca pela própria identidade.
Com a ajuda de um bocado
de fantasia — o que inclui
um mundo paralelo que a jo-
vem descobre ao mergulhar
em lago de gelo—, o enredo
se baseia em cerca de hora e
meia de acrobacias diversas,
que ocupam o solo congela-
do, rampas de patins sus-

AVENTURA GELADA
pensas e estruturas pendu- lo. Para a estrutura de pati-
lares presas ao teto. nação do Parque Villa-Lo-
Em cena, revezam-se 44 bos, será preciso montar
artistas, entre patinadores e uma tenda de 20 metros de

DO CIRQUE DU SOLEIL
acrobatas. Parte deles conta altura e capacidade para 3,5
com um aparelho de GPS mil pessoas sentadas, mai-
preso ao figurino, o que per- or do que a ocupação que
mite que 28 projetores de ví- um espetáculo do tipo cos-
deo acompanhem seus mo- tuma praticar no país.

CHEGA AO BRASIL
vimentos no palco, criando A organização não abre va-
bonitos cenários que bro- lores, mas estima que inves-
tam aos olhos e desapare- tiu para a chegada de Crystal
cem em segundos. ao Brasil quase o dobro do
praticado em um show do
HÓQUEI NO AR atração e que foi competi- COMPANHIA tória que estamos contan- dança e por conta de um Cirque “tradicional” .
A habilidade vista em palco, dor da modalidade nos Esta- do e os aspectos técnicos amalucado palhaço que vez —O gelo é o maior chama-
vale dizer, não foi gestada dos Unidos. MULTINACIONAL exigidos para a exibição — ou outra aparece no inter- riz, vamos dizer que esta-
somente pela própria com- Embora já tenha sido visto diz Crystal, a diretora. — O valo das cenas, deslizando mos quebrando a barreira
panhia: para compor “Crys- por mais de dois milhões de APRESENTA enredo é sobre uma adoles- sobre patins e protagoni- do gelo. Mas é mais que isso,
tal”, a equipe lançou mão de pessoas globalmente, o es- ESPETÁCULO cente, já vimos muitas his- zando quedas (ensaiadas, é as projeções são muito im-
atletas de patinação tanto petáculo segue sob ajustes tórias sobre essa fase da vi- claro), com a única função pactantes— diz Stephanie
para as coreografias de solo, em seu enredo. É o que con- ‘CRYSTAL’, da, mas não no Cirque. de despertar risadas. Mayorkis, da IMM, realiza-
com piruetas e passos que ta a diretora artística Crys- O PRIMEIRO COM Acho que muitas pessoas Os adultos, por sua vez, dora dos espetáculos do Cir-
lembram uma dança, como tal Manich (que, apesar de podem se conectar com es- não devem ficar deslocados que du Soleil no Brasil. —
para o episódio mais “radi- ter o mesmo nome do espe- PATINAÇÃO NO sa coisa de ter sido motivo na apresentação: há mo- Estamos há quase dois anos
cal”, em que rapazes traja- táculo, entrou quando ele já de piada na escola, ou da mentos em que a alta perfor- trabalhando para viabilizar
dos como jogadores de estava viajando o mundo). GELO E TRAMA desconexão com os pais. É mance corporal dos artistas a vinda do espetáculo. É um
hóquei brotam no ar. A profissional, que passou CENTRADA NAS um show que fala sobre a impressionam, caso da cena desafio a parte.
— Sempre estive cercado a liderar a equipe do espetá- criação de um artista. com trapézio entre a prota- As vendas de ingressos co-
de outros patinadores, en- culo em novembro, diz que- DESCOBERTAS DA Embora a história pareça gonista e um rapaz que faz as meçam na próxima quinta
tão normalmente não havia rer ajustar alguns “fios sol- ADOLESCÊNCIA um tanto mais profunda do vezes de seu par romântico. para clientes do cartão Porto
pessoas sendo alçadas ao ar tos na narrativa”, embora que normalmente se vê em Bank. A partir de 12 de mar-
(na pista). Não é normal pa- não planeje fazer mudanças atrações infantis, o show ‘MEGATENDA’ EM SP ço, o público em geral pode-
ra nós, patinadores, ver tan- substanciais nos shows. consegue ser atrativo para Toda a inventividade tam- rá adquirir seus tickets.
tas coisas acontecendo so- — Já mudamos algumas as crianças, justamente pe- bém inaugurou desafios,
bre as nossas cabeças — di- coisas e vamos ajustar ain- lo efeito visual causado pe- principalmente no que se A repórter viajou a convite
verte-se Michael Helgren, da o final do show. É desafi- las projeções em vídeo, pe- refere aos meses de tempo- da IMM, organizadora do
um dos performers solo da ador o balanço entre a his- los bonitos números de rada da atração em São Pau- Cirque du Soleil no Brasil