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FACULDADE ÚNICA

LETRAS LIBRAS

ADRIANA LOPES DO ESPIRITO SANTO

"TECENDO CONEXÕES: CULTURA, LINGUAGEM E EDUCAÇÃO


INCLUSIVA PARA A COMUNIDADE SURDA"

IPATINGA
2023
ADRIANA LOPES DO ESPIRITO SANTO

"TECENDO CONEXÕES: CULTURA, LINGUAGEM E EDUCAÇÃO


INCLUSIVA PARA A COMUNIDADE SURDA"

Estudo Dirigido como avaliação no Curso


de Letras Libras, na disciplina Estudos
Linguísticos I com a tutora Vânia Ferreira
Dias Coelho de Faria.
IPATINGA
2023

TRAZENDO À LUZ: A TRANSFORMAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE SURDOS E


A SUPERADA INFLUÊNCIA DO OUVINTISMO

A história da educação de surdos é uma narrativa que percorre séculos,


repleta de desafios e transformações que refletem diretamente a influência do
ouvintismo. O ouvintismo, definido por Skliar (1998, p. 15 apud MARTINS;
KLEIN, 2012, p. 5), é o conjunto de representações dos ouvintes, a partir do
qual o surdo é compelido a se ver e se narrar como se fosse um ouvinte. Essa
perspectiva distorcida moldou de forma prejudicial o processo de ensino e
aprendizagem das pessoas surdas por muitos anos.
Sob a égide do ouvintismo, os surdos eram rotulados como "anormais"
ou "doentes" o que levou à sua marginalização e exclusão da sociedade. Eles
eram frequentemente rejeitados e, em muitos casos, isolados em asilos, onde
se acreditava que estariam protegidos de sua própria "anormalidade." Tal visão
discriminatória e desrespeitosa para com os surdos era enraizada na
intolerância e ignorância da sociedade em relação à surdez.
Ademais, o poder de decisão sobre a educação dos surdos estava nas
mãos dos ouvintes, que se arrogavam o direito de determinar como os surdos
deveriam aprender. Uma das disputas mais notáveis girava em torno da língua:
se os surdos deveriam se educar por meio da língua de sinais ou da língua
oral. Nesse contexto, os ouvintes frequentemente impunham sua preferência
pela língua oral, ignorando deliberadamente as vantagens da língua de sinais
na educação dos surdos.
Entretanto, ao longo do tempo, a sociedade passou por uma profunda
transformação em sua perspectiva em relação aos surdos, abandonando
gradualmente a visão clínico-terapêutica em favor de uma abordagem
socioantropológica. Esse importante movimento foi marcado por uma série de
acontecimentos notáveis.
Primeiramente, os surdos passaram a ser reconhecidos como cidadãos
com direitos e deveres na sociedade, resultando na criação de oportunidades
educacionais que anteriormente eram inexistentes. A sociedade passou a
perceber os surdos não mais como "anormais" mas como indivíduos com uma
cultura e identidade própria, incluindo sua língua de sinais (LEITE & CABRAL,
2021).
Além disso, o surgimento de educadores dedicados ao ensino de surdos
e o desenvolvimento de diversos métodos de ensino foram fundamentais para
essa transformação. Esses educadores reconheceram a importância da língua
de sinais na educação dos surdos e trabalharam incansavelmente para
promover o ensino inclusivo e a valorização da cultura surda (LEITE &
CABRAL, 2021).
Para contextualizar essa transformação, podemos citar Berthier (1984),
um educador surdo que baseou seu método de ensino na língua de sinais e na
identidade surda, valorizando a cultura e a história dos surdos. No entanto, é
importante mencionar que, apesar desses avanços, o Congresso de Milão de
1880 representou um retrocesso na educação dos surdos, ao proibir o uso de
gestos na comunicação dos surdos e promover o oralismo. A comunidade
surda, no entanto, resistiu a essa imposição do ouvintismo, utilizando
estratégias como a formação de associações e a preservação da língua de
sinais (Skliar, 2005).
Portanto, a transformação da perspectiva da sociedade em relação aos
surdos, abandonando o ouvintismo em favor de uma abordagem
socioantropológica, é um marco fundamental na história da educação de
surdos. Reconhecer a identidade surda, valorizar a língua de sinais e promover
a inclusão são passos cruciais na construção de uma sociedade mais justa e
igualitária para as pessoas surdas. É um processo contínuo que nos lembra da
importância de superar preconceitos e estereótipos, contribuindo para um
mundo mais inclusivo e diversificado.

REFERÊNCIAS
LEITE, Letícia de Souza; CABRAL, Tayna Batista. EDUCAÇÃO DE SURDOS E
COLONIALIDADE DO PODER LINGUÍSTICO. Letras & Letras | Uberlândia | v.37| n. 2 | jul.-
dez. 2021.

SKLIAR, Carlos. Os Estudos Surdos em Educação: problematizando a normalidade. In: SKLIAR, C.


(Org.). A surdez – um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2005.

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