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Material Teórico
Livro de Cantares/Cântico dos Cânticos
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Livro de Cantares/Cântico dos Cânticos
• Introdução;
• Breve Histórico e Introdução ao Livro De Cântico Dos Cânticos;
• As Questões Místicas e Teológicas do Texto;
• Apresentação e Análise da Estrutura Textual de Cântico dos Cânticos.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Entender os aspectos simbólicos, culturais e místicos do livro de
Cantares/Cântico dos Cânticos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Livro de Cantares/Cântico dos Cânticos
Introdução
O livro conhecido como Cantares, Cantares de Salomão, ou Cântico dos Cân-
ticos é uma pequena, porém grandiosa, obra da Bíblia hebraica, que gerou (e ainda)
gera controversas tanto no mundo judaico como no cristão. Nesta lição, tentaremos
compreender de que modo esse livro foi estruturado e como ele foi recebido nas an-
tigas comunidades israelitas e entre os pais da igreja. Para tanto, abordaremos os te-
mas polêmicos do livro, os quais enfrentaram resistências quanto à sua canonicidade.
Veremos nesta lição que a presente obra foi interpretada e reinterpretada pelos
diversos leitores na história, os quais direcionaram suas leituras em diferentes
frentes: sejam elas literais, simbólicas ou tipológicas. Entenderemos aqui que
Cantares/Cântico dos Cânticos é tanto um livro de amor entre um casal quanto
é a representação mística do casamento entre Deus/Jesus e seu Povo Eleito/Igreja.
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Para facilitar a descrição do título do livro, passaremos a abordar a obra como:
Cântico dos Cânticos.
Vale dizer, porém, que, apesar de tratarmos o livro de Cântico dos Cânticos
dentro do tema de literatura sapiencial, a obra, em si, não é entendida (ou pelo
menos não pode ser classificada) como literatura de sabedoria, a rigor. Grande
parte dos estudiosos defende que os temas característicos de uma obra sapiencial,
tais como: declarações, ditados, conselhos, exortações, etc. não estão presentes
no livro. Por outro lado, há quem considere o Cântico dos Cânticos como uma
cena proverbial estendida: “O livro é uma lição objetiva, um provérbio estendido
ou uma parábola (mãshãl), que ilustra as ricas maravilhas do amor humano, uma
dádiva do amor de Deus” (LASOR, 1999, p. 565). Nessa perspectiva, Cântico dos
Cânticos apenas explora os argumentos sapienciais a respeito do amor, dentro de
um relacionamento.
Autoria e datação
A autoria do livro Cântico dos Cânticos, assim como ocorre em outras obras
da Bíblia, é de difícil precisão. A tradição atribui a Salomão a autoria desse e, por
essa razão, posiciona essa obra entre os livros sapienciais; contudo, há indícios
suficientes que atestam justamente o contrário.
Um dos motivos que colocaram Salomão como o autor do livro foi o fato de a obra
conter referências diretas ao seu nome (1.1; 3.7,9,11). Em 1.1, por exemplo, temos
um caso semelhante ao problema de autoria que se levanta em Salmos. Vejamos:
• No texto hebraico de 1.1, há a seguinte expressão, que traduzimos normalmente
por Cântico dos Cânticos (“O melhor, ou o mais belo”) DE Salomão. O que
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traduzimos por “DE” provém da partícula hebraica le ()ל, a qual pode significar:
“para”, “por”, “à maneira de”, “segundo o padrão de”, ou às vezes “para uso
de”, e não, necessariamente, implica um “DE” autoral:
[...] há outras interpretações possíveis: “para” ou “ao estilo de Salomão”.
A habilidade de Salomão como compositor de cânticos é conhecida em
razão de 1 Reis 4.32 (cf. SI 72, 127), mas seu relacionamento com esses
poemas de amor é obscuro. É difícil justificar as tentativas de ajustar o
amor e a lealdade aqui expressa aos padrões salomônicos de casamentos
e concubinatos políticos (veja 1 Rs 11). (LASOR, 1999, p. 558)
Para muitos críticos, Cântico dos Cânticos não é uma obra única, mas um
conjunto de poemas de amor, organizado num período posterior. Entretanto, vale
ressaltar que, mesmo nessa hipótese, o livro compõe uma unidade literária, que
está focada no relacionamento amoroso de um casal:
[...] se trata de uma coleção de vários poemas de amor individuais, uns mais
curtos, outros mais longos, reunidos em um “livro” porque compartilham
os temas comuns do gênero “Poesia de Amor”. [...] há, porém, uma
coesão interna ao redor do tema central da excitação e entrega mútua dos
apaixonados. (CARR, 1989, p. 205-206)
A datação dos poemas de Cântico dos Cânticos é muito complexa, pois o texto
que chegou até nós contém poucas referências históricas conclusivas, que pode-
riam nos guiar para o período de sua produção. Entretanto, ainda assim, podemos
elencar alguns pontos importantes relacionados à datação:
• Como o livro contém palavras de origem aramaica e grega (jônica), alguns
estudiosos tendem a localizá-lo no período de dominação helênica da região da
Palestina (330 a.C). Entretanto, o impacto das línguas aramaicas e gregas não
é exclusivo dessa época. As monarquias israelitas já estabeleciam comércios
com os povos falantes de aramaico e grego, antes de 330 a.C;
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• Palavras de origem persa e algumas descrições sobre a glória de Salomão
são características relevantes, para que alguns críticos identifiquem o livro no
período de dominação Persa da Palestina (entre Neemias e o ano de 350 a.C);
• Para outros analistas, a glória do reinado de Salomão descrita no livro não
está distante da realidade de sua época. Eles entendem que os poemas podem
pertencer ao período de Salomão, com compilação de redator(es) final(is),
numa época próxima ao exílio babilônico:
Ainda que o próprio Salomão provavelmente não tenha sido o autor, boa
parte do ambiente e do tom reflete sua época. Assim como Provérbios, o
núcleo ou centro de Cântico dos Cânticos pode ter sido transmitido (talvez
oralmente), aumentado por um editor anônimo inspirado e dele recebido sua
forma atual. Por volta do período do exílio, ele teria organizado e colecionado
cânticos de amor tradicionais israelitas. (LASOR, 1999, p. 558-559)
• Há uma linha de estudos que defende o livro de Cântico dos Cânticos como
originário de um culto ritualístico antigo, anterior, inclusive, ao período patriar-
cal no Egito (3000 a 2000 a.C.).
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UNIDADE Livro de Cantares/Cântico dos Cânticos
• Apesar da linha de estudos que associa o Cântico dos Cânticos a cultos ritu-
alísticos canaanitas, não encontramos os elementos presentes desses cultos na
obra hebraica, como: rituais de fertilidade, rituais a Baal etc.;
• A bebida alcóolica como um elemento de sedução ou embriaguez é comum
nas poesias de amor do antigo Oriente. Esse fato, porém, não ocorre em
Cântico dos Cânticos, com uma possível exceção de (Ct. 5.1);
• As questões de ciúmes e da fidelidade é outro tema presente nos poemas do
antigo oriente, mas que não tem paralelo em Cântico dos Cânticos. Há,
porém, estudiosos que entendem a existência de dois homens no livro: o rei
Salomão e um pastor. Contudo, essa proposição é questionável no texto.
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tira a conclusão óbvia disto: “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à
sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. Ora, um e outro, o homem e
sua mulher, estavam nus, e não se envergonhavam” (Gn. 2:24s). O cumpri-
mento do ato criador está na unidade, no apoio, na abertura de um perante
o outro, e de ambos perante Deus. (CARR, 1989, p. 197)
Com base nisso, apesar do apreço que os autores Bíblicos têm pela moralidade
sexual, há na Bíblia um profundo respeito pela relação de amor entre casais. E,
por essa razão, a questão do conhecimento e da sexualidade ganharam na Bíblia
uma dimensão teológica que superou, inclusive, as fronteiras humanas. Essa leitura
transcendente e mística da sexualidade permitiu, por exemplo, a associação do
matrimônio humano com o relacionamento entre Deus e Israel (como no caso de
Oseias); Cristo e a Igreja (Jesus como esposo e Igreja como noiva).
Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons
Explor
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UNIDADE Livro de Cantares/Cântico dos Cânticos
Para entendermos melhor essa questão, vejamos as possíveis leituras que podem
ser feitas em Cântico dos Cânticos:
• Leitura alegórica:
Para aqueles que viam com maus olhos as questões sexuais pertinentes ao li-
vro, a leitura alegórica era uma excelente saída, uma vez que era muito difícil
lidar com um livro que, inclusive, não tivesse qualquer menção direta a Deus
ou a temas transcendentes.
Alguns estudiosos tratam Ct. 8.6 como uma referência ao nome de Yahweh ()יהוה,
Explor
na qual o texto traria a forma abreviada de seu nome “labaredas de Yah” – Shal.
he.be.te.YAH ()שלהבתיה.
• Leitura tipológica:
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original do texto. Em outras palavras, Salomão pode ser tanto ele mesmo
como um tipo de Deus ou Jesus:
A interpretação típica não provê um sentido “diferente” que substitui o
sentido que o texto parece apresentar, porém, dá uma dimensão adicional
ao significado já presente no texto. Isto se assemelha ao assim chamado
“cumprimento duplo” das profecias messiânicas do Velho Testamento.
(CARR, 1989, p. 186)
• Leitura dramática:
Por outro lado, Cântico dos Cânticos carece de uma série de elementos per-
tinentes ao drama, como: progressão narrativa, estrutura definida de começo
meio e fim, desenvolvimento de temas, caráteres, conflitos (exceto brevemente
em 3.1-4; 5.2-7), entre outros.
• Leitura natural ou literal:
Nesta leitura, Cântico dos Cânticos é lido como um conjunto de poemas que
tratam de amor, sentimentos e sexualidade. Se retomarmos o exemplo anterior
de Salomão, nesta perspectiva, ele é, simplesmente, um homem apaixonado
que se relaciona com sua amada.
O paradoxo germinal do Cântico é a união de duas pessoas por intermédio
do amor. Os amantes buscam um ao outro por meio do mundo e da
linguagem que os separa e envolve. O corpo é o meio dessa busca e é o
limite entre o mundo e o eu. (ALTER, 1997, p. 328)
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Mais de uma vez, o recurso básico utilizado para manifestar essa natureza poética
é o Paralelismo:
À semelhança de inúmeras outras passagens do Velho Testamento,
Cantares tem forma poética. concorda-se, de modo geral, quanto à
natureza-básica do hebraico, e da poesia antiga do Oriente Próximo, que
se denominaria paralelismo [...] considerado “rima de pensamentos”, ao
invés de “rima de palavras”. Esta rima de pensamentos pode envolver a
repetição de uma idéia. (CARR, 1989, p. 198)
Vejamos, mais uma vez, o funcionamento dessa técnica com base na exposição
do artigo contido em El libro de los Salmos en su contexto literário (cf. FARIA,
2005, p. 9-15):
Tipos de paralelismo:
• Sinonímico: a segunda ideia é sinônima da primeira ideia;
• Sintético: a segunda ideia sintetiza a primeira ideia, adicionando um novo
elemento, complementando-a;
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• Antitético: a segunda ideia contradiz a primeira ideia;
• Morfológico: neste tipo de paralelismo, podem ocorrer todas as possibilidades
anteriores (sinonímico, sintético e antitético), mas, no lugar de ideias, o poeta
(ou o salmista) utiliza classes de palavras e estruturas sintáticas, como nomes
próprios, pronomes, advérbios, adjuntos adverbiais etc.
Sua mão esquerda está sob minha e com a mão direita me abraça cabeça,
Notem que o trecho “com a mão direta” complementa o sentido da primeira parte
(“sua mão esquerda”) e proporciona o sentido final de envolver completamente a
pessoa amada.
me puseram por guarda de vinhas; mas a minha própria vinha eu não pude guardar
(Shelahayikh) pardes rimonim ‘im peri megadim keparim ‘im neradim [Teus brotos] são pomar de
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ְשׁלָחַ יִ � פַּ ְרדֵּ ס ִרמֹּ ונִ ים ﬠִ ם פְּ ִרי ְמג ִָדים כְּ פָ ִרים ﬠִ ם־נְ ָר ִדים׃ romãs com frutos preciosos:
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Como você pode notar, a tradução dificilmente consegue dar conta desse recur-
so fonético, que é percebido nos versículos citados apenas no idioma hebraico.
Nesse versículo, palavras distintas com sons de P, R, D, M se aproximam e
criam uma dimensão nova e metafórica de significado, por meio do som;
• Comparação
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
#199: Cantares
DEGASPARI, Paulo et al. #199: Cantares, 22 de out. 2012. Podcast. 1 MP3 (59 min.).
http://www.irmaos.com/199-cantares/
Livros
Bíblia de Jerusalém
São Paulo: Paulus, 2004.
História de Israel
BRIGHT, John. Trad. Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: Paulus, 1978.
Eclesiastes e Cantares, introdução e comentário
EATON, Michael A; CARR, G. Lloyd. Trad. Oswaldo Ramos. São Paulo: Vida Nova, 1989.
Introdução ao Antigo Testamento
LASOR, William S. Trad. Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999.
Dicionário Bíblico
MCKENZIE, John L. Trad. Álvaro Cunha et al. São Paulo: Paulus, 1983.
O livro dos provérbios na interpretação exegética de D. Jerónimo Osório: aspectos filológicos
RODRIGUES, Manuel Augusto. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
Instituto de Estudos Clássicos, 1992.
Leitura
El libro de los Salmos en su contexto literario
FARIA, Jacir de Freitas. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana/Ribla, 52.
Petrópolis: Vozes, 2005.
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Referências
ALTER, Robert; KERMODE, Frank (org.). Guia Literário da Bíblia. Trad. Raul
Ficker. São Paulo: Unesp, 1997. p.263-341
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