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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE DIREITO

GIOVANNA CIARAMICOLI ALOTA- 42181682


GIOVANNA FIEL CRUZ ZACCARO- 32238241

TRABALHO PARA A N1
TEORIA GERAL DA PENA

SÃO PAULO
2023
1) Resuma os problemas da Justiça Criminal enumerados por cada um dos
participantes: Drauzio Varella, Danillo Félix, Emerson Ferreira, Sheila de Carvalho e
Marina Dias Werneck.

Drauzio Varella: O médico trabalhou voluntariamente nos cárceres quando jovem e


no podcast, sua principal crítica ao problema da justiça criminal atualmente é o problema de
hiperencarceramento. Drauzio defende a ideia de que prender abundantemente não vai
resolver o problema de violência, ou seja, é necessário romper, de uma vez por todas, com
o mito de que o direito penal produz resultados na redução do índice de crimes. Ainda,
defende que um dos grandes problemas enfrentados são a reincidência de crimes dos
presos que cumprem sua pena. Isso porque, de acordo com o médico, “violência gera ainda
mais violência”, dessa forma, as condições extremamente precárias, a tortura física e
psicológica no cárcere fazem com que os prisioneiros saiam da prisão ainda piores e
vinculados à facções criminosas. Os desafios, portanto, no atual cenário de
hiperencarceramento, são os de como inovar no campo da resolução (pacífica) de conflitos
sem criar instrumentos aditivos à pena de prisão.
Além disso, a título de exemplificação, Drauzio Varella apresenta um case presente
em seu livro "Carcereiros" no qual um homem, que sempre teve uma estrutura corporal
grande e forte, em sua vizinhança, nunca apresentou comportamentos agressivos ou
demonstrou querer arrumar desavenças com terceiros. Entretanto, ao vivenciar o sistema
carcerário brasileiro, transformou-se em um torturador.

Danillo Félix: Danillo Félix foi preso injustamente em 2020, onde ficou 55 dias na
cadeia por um crime de roubo que não cometeu. Em 2020, uma vitima de um assalto foi à
delegacia e descreveu o assaltante (um homem negro, com cabelos curtos e bigode) no
qual presumiram ser Félix, por conta de uma foto antiga do rapaz, quando na verdade não
era ele, como a própria vítima eventualmente afirmou. Danillo contou como foi sua
experiência na prisão: passou fome, ficou doente, além das torturas psicológicas e
condições precárias que vivia, por um crime que não havia cometido. Ele critica
principalmente a falha nos processos de investigação que costumam envolver jovens
negros e pobres, já que a justiça criminal, age de forma seletiva encarcerando
majoritariamente os pobres e reprimindo movimentos populares. O desafio seria portanto
quebrar essa trajetória de desigualdade de tratamento, seletividade e punitividade na qual
segue a justiça criminal. Seu caso demonstra que um sujeito envolvido com o conflito não
tem “capacidade de sublimação”, ou seja, de sair do próprio conflito já que Félix não teve
uma chance de provar que não tinha sido ele o responsável pelo assalto.
Emerson Ferreira: Preso em regime fechado por tráfico de drogas, Emerson
Ferreira comenta o quanto foi traumatizante a sua experiência na prisão e o quanto as
pessoas estão tentadas a entrar para o tráfico por conta da pobreza. Depois de sair da
cadeia, relata que foi condenado a pagar uma multa de 17 mil reais ao estado, que, se não
o fizesse, perderia documentos essenciais para o exercício da cidadania como o título de
eleitor e o passaporte. Sua principal crítica foi em torno dessa multa, uma vez que a maioria
das pessoas presas por tráfico de drogas são pobres, então, não faria sentido cobrar
valores altos sabendo o juiz que o réu não terá como pagar. Além de que, a obrigação da
justiça criminal é a reinserção do preso na sociedade e removendo o direito de cidadania
dos presos, isso se torna improvável. Dessa forma, de acordo com as palavras de Emerson,
o sistema é “quase como uma prisão perpétua” uma vez que traz consequências para a
vida inteira.

Sheila de Carvalho: Como integrante do comitê nacional ao combate a tortura (este


que investigou todos os acontecimentos e crimes combatidos na ditatura militar), Sheila de
Carvalho tem como principal crítica a prática de tortura que ocorre nas prisões. Afirma que
as pessoas efetivamente envolvidas nas situações problemáticas são desprezadas, seus
direitos fundamentais são violados e suas expectativas frustradas: "Não faz parte da pena o
tratamento indigno” . Defende ainda que o sistema é um bloqueio a um verdadeiro processo
de humanização, já que a ideia de que “sem punição severa e igual, não há justiça penal”,
prejudica muito o tratamento que os presidiários recebem dentro e fora das prisões.
Sendo assim, a prática é algo divergente dos principais objetivos que a reclusão tenta
remediar e com isso causa confusão da ideia de justiça, porque quando um indivíduo é
submetido a uma sentença condenatória, têm seu direito de liberdade perdido, porém ainda
deve ter todos os outros direitos protegidos pela Constituição.

Marina Dias Werneck: Diretora Executiva do IDD (Instituto do Direito de Defesa),


Marina Dias Werneck critica principalmente a falta de cuidado que se existe ao produzir
provas, como no caso do Danilo Félix. A classificação antecipada de determinado fato como
crime é prejudicial à busca por uma solução efetiva e satisfatória dos conflitos, impedindo
outras interpretações e possibilidades de resolução de cada caso. Ainda, critica também a
pena de multa que é aplicada em pessoas muito pobres, tornando cada vez mais difícil o
novo começo do preso fora do crime. Dessa forma, propõe que, para tal ciclo vicioso se
finde, há a implicância direta no desenvolvimento de novas formas de se pensar o conceito
de justiça além dos muros da penitenciária, apresentando assim a ideia de justiça
restaurativa, que têm como princípio, que a execução de um crime não acontece do nada.
Portanto, nessa tentativa de reconciliação, é posto a vítima e o autor, frente a frente, para
que através do diálogo sejam resolvidos os problemas desencadeados por aqueles delitos e
que dessa forma seja compreendido a motivação que levou o indivíduo a cometer tais atos.
Esse tipo de conciliação tem como forma observar com mais cautela as questões
estruturais que influenciam um crime.

2) A partir das informações trazidas no programa, e considerando a decisão do STF


na ADPF 347 em que é reconhecida a existência do “estado de coisas
inconstitucional” no sistema prisional brasileiro, responda as perguntas a seguir:
a) Quais são os principais desafios enfrentados pelo sistema prisional brasileiro
atualmente? E quais seriam possíveis soluções para enfrentar esses desafios?
b) Qual é o perfil dos presos no Brasil? E como as desigualdades sociais e
econômicas afetam o sistema prisional do país?
c) De que forma a superlotação e as condições precárias das prisões brasileiras
afetam a saúde e a segurança dos presos? E como isso pode contribuir para a
violência e criminalidade dentro das prisões?

Com base no podcast, na ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito


Fundamental) 347 e nos conhecimentos gerais sobre o problema do sistema prisional atual,
é possível concluir que, os principais desafios enfrentados pelo sistema prisional brasileiro
são o de como solucionar o problema de hiperencarceramento, já que as reformas criadas
como um caminho alternativo as punições, acabam por se corromper dentro do sistema, ou
seja, convertem-se em penas aditivas e não cumprem seus objetivos de substituir as
prisões, muito pelo contrário. Ainda, é necessário romper com o mito de que o direito penal
produz resultados na redução do índice de crimes, uma vez que, as chances do presidiário
sair da cadeia filiado a uma facção criminosa e cometendo crimes ainda mais graves é
muito maior. Além disso, há a falha no sistema de não cumprir com as previsões normativas
no que se refere aos direitos e garantias dos presos o que, há muito tempo se sabe,
efetivamente não ocorre, dificultando a reinserção deles na sociedade e dessa forma
contribuindo para que continuem no mundo do crime.

A insatisfação com a forma como os conflitos são administrados pelo sistema de


justiça criminal tradicional, que já ocorre há muito tempo, fez com que surgisse o conceito
de justiça restaurativa que projeta-se como mecanismo apto a reduzir os índices e o tempo
de encarceramento e em que os direitos fundamentais são efetivamente observados e
garantidos. Entende-se que a justiça restaurativa seria uma ótima solução para enfrentar os
desafios anteriormente mencionados, uma vez que a sua adoção no Brasil poderá reduzir
tanto o uso da justiça criminal quanto os índices de encarceramento, de forma a colaborar
para a redução da incidência dos tentáculos do sistema penal na sociedade através de
mecanismos como a mediação, que visam atender às necessidades especialmente da
vítima, antes de satisfazer unicamente os interesses punitivos do Estado determinando que
o acontecido não é nada mais do que um fato típico, ilícito e culpável e que, portanto,
merece a reprimenda estatal, sem qualquer finalidade reparatória para a vítima.

Sabe-se que o perfil dos presos no Brasil são de maioria pobre e negro, dessa
forma, conclui-se que o sistema de justiça criminal brasileiro segue uma trajetória de
seletividade e punitividade voltada a desigualdade de tratamento desses grupos
vulneráveis. Essa desigualdade afeta de maneira significativa o sistema prisional do país
por gerar uma revolta e contribuir para um sistema ainda mais violento. Os presidiários não
se sentem capazes de reverter a situação em que se encontram por conta de tanta
repressão, dessa forma, acabam por se juntar em facções criminosas como uma garantia
que terão condições de vida melhores das quais estavam antes de entrarem na cadeia, já
que o sistema dificulta muito a inclusão do preso na sociedade após cumprir sua pena. A
título de exemplificação, há o exemplo da multa, expresso no podcast, no qual o preso deve
ao estado valores absurdamente altos após sair da cadeia, e que se não pagarem, o que a
maioria não têm condições, não terão direito à uma documentação nem exercer sua
cidadania. Portanto, conclui-se que, enquanto a justiça criminal agir de forma seletiva,
encarcerando majoritariamente os pobres, haverá maior violência.

Além disso, a superlotação e as condições precárias das prisões brasileiras afetam


de forma preocupante a saúde e a segurança dos presos, uma vez que, enfrentam
problemas como falta de estrutura, falta de higiene, má alimentação, uso liberado de
drogas, além dos maus tratos acobertados. Observa-se que o governo despreza tais
problemas existentes dentro do sistema carcerário brasileiro, e desta forma acabam abrindo
espaço para a criminalização e marginalização. O presídio está com sua capacidade
superlotada, e devido a este fato, acaba por não garantir os direitos pertinentes às pessoas
indicados no artigo 5º inciso XLIX da Constituição Federal Brasileira: “é assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral”.
Ademais, a partir do momento em que há uma superlotação nos presídios, o Estado
perde o controle da situação e do que acontece diariamente ali dentro, deixando assim
brechas para que as Facções Criminosas possam ocupar a liderança do lugar, motivando
muitas vezes pessoas que nunca tiveram interesse em participar desses atos
inconstitucionais se filiar a estes com o objetivo de se proteger dentro da cadeia. Como
ficou nítido no exemplo trazido por Drauzio Varella no podcast, onde um indivíduo que
nunca foi de arrumar confusão na sociedade se tornou uma pessoa muito agressiva ao
longo do tempo que esteve recluso na penitenciária.
O conceito de “estado de coisas inconstitucional’, como reconhece a ADPF 347,
visa “enfrentar situações de violações graves e sistemáticas dos direitos fundamentais cujas
causas sejam de natureza estrutural, isto é, decorram de falhas estruturais em políticas
públicas adotadas pelo Estado, exigindo uma atuação conjunta de diversas entidades
estatais.” Ou seja, combater todos os problemas enraizados na estrutura do sistema
carcerário, como por exemplo a implementação da realização da audiência de custódia em
até 24 horas após a prisão do indivíduo (algo conquistado através da ADPF), pois através
desses feitos, há uma diminuição do número de pessoas presas que são inocentes.
Portanto, conclui-se que por conta da prisão não cumprir a sua função de
ressocializadora, observa-se que a criminalidade vem aumentando e na maioria das vezes
os crimes são cometidos por pessoas que já passaram pelo sistema prisional, ou seja, a
reincidência é o que ocorre na grande maioria dos casos tendo em vista que os presos que
saem do presídio e não conseguem se reinserir na sociedade voltam a praticar atos ilícitos
para garantir sua subsistência. Sendo de extrema necessidade a mudança na estrutura do
programa penitenciário, para que deixe de ser algo punitivo e passe a ser uma forma de
compreender os motivos que desencadeiam as pessoas a cometerem esses ilícitos e assim
possam mudar esses problemas na sociedade através de campanhas promovidas pelo
governo brasileiro.

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