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CURSO PARA FORMAÇÃO DE DIRIGENTES DE EAE –

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A METÁFORA DA PRISÃO – parte 1


Geese - TREVO: DEZEMBRO/2009

“Não deis aos cães as coisas santas, nem deites aos porcos
as vossas pérolas, para que não aconteça que as pisem
com os pés, e, voltando-se vos despedacem”.
(Matheus, 6:6)

Na cultura oriental, é costume utilizar metáforas e parábolas para transmitir


ensinamentos transcendentais. Uma delas é a metáfora da prisão.

“Um homem está na prisão: Qual é o seu desejo predominante? Provavelmente, é sair
do confinamento, fugir da prisão. Mas pode ser que não queira fugir. Se alimentar este
desejo, começa a ver as possibilidades de fugas e compreende que, sozinho, não tem
condições de consegui-la, seja porque é necessário cavar por baixo da muralha ou
outras coisas desse tipo. Dá-se conta de que, antes de tudo, deve ter algumas pessoas
que gostariam de fugir com ele. Um pequeno grupo de pessoas que trabalhe em rodízio,
ajudando-se, pode terminar o túnel e evadir-se. Dessa forma, dá-se conta de que
determinado número de pessoas talvez possa fugir. Mas todos não podem, pois
chamaria a atenção e produziria imediatamente uma reação da guarda da prisão. Ou
seja, um não pode e todos não podem, mas um pequeno grupo pode. Além disso, em
que condições? Chega-se à conclusão de que é necessária uma ajuda. É preciso ter
mapas, ferramentas, etc. Devem, portanto, receber ajuda exterior.”

É exatamente, de modo quase literal, a posição do homem da atualidade. Essa prisão


significa realmente que estamos presos às restrições da materialidade.

Nesta metáfora, a prisão do homem é a ilusão da matéria. O primeiro ponto a considerar


é que a ilusão e forte, pois a matéria dá a falsa sensação de liberdade, então o homem
não se sente preso. É necessário, antes de tudo, perceber ou reconhecer essa
condição, caso contrário desejará permanecer na ilusão. Além disso, se esse
reconhecimento não é suficientemente claro, o homem sente-se inseguro só de
imaginar em viver de um modo diferente do que tem vivido. Pensará que, sem os valores
que lhe servem até então, poderia se encontrar numa situação desconhecida, sem
referências, quase “loucura” e, dessa forma, conformar-se em permanecer na prisão.

Outra consideração importante é a de que ninguém pode, pela força, ajudar a


libertação de um homem que não queira ser livre, que deseja exatamente o contrário.
A liberdade é possível, mas só se resultar de vontade persistente, trabalhos prolongados,
grandes esforços e, acima de tudo, esforços conscientes na direção de uma meta
definida.

Voltemos à metáfora da prisão e passemos então a pensar em quais são as


possibilidades que se abrem para aquele que decide fugir. Numa prisão de alto nível de
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segurança, fugir sozinho é muito difícil. E promover uma rebelião para uma fuga em
massa é pior ainda. Então, a saída restante é a de integrar-se a um pequeno grupo de
pessoas que desejem fugir (porque é preciso cavar túneis ou serrar grades e, quase
sempre, um homem sozinho não consegue fazer isso).

Diante das dificuldades, o grupo que se prepara para a fuga precisa encontrar notícias
e, talvez, auxílio, daqueles que escaparam antes, que descobriram as rotas e os meios
para escapar. Há muitas razões pelas quais um homem não consegue fugir sozinho. Mas
um pequeno grupo de pessoas tem condições, pois cada um aproveita o trabalho dos
demais. O que um ganhar, todos do grupo ganham.

Portanto, ninguém escapa da prisão sem a ajuda daqueles que já escaparam. Só eles
têm condições de contar de que modo é praticável a evasão e fazer chegar aos
cativeiros os recursos necessários. Mas um prisioneiro isolado não consegue encontrar
esses homens livres sem entrar em contato com eles. É preciso uma organização (escola
iniciática).

CONTINUA...
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A METÁFORA DA PRISÃO – parte 2


Geese - TREVO: JANEIRO/2010

Perg. 919: “Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao
arrastamento do mal?
Resp.: Um sábio da antiguidade já vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”.
(Allan Kardec – Livro dos Espíritos)

Prosseguimos com a segunda parte deste artigo, que apresenta a metáfora da prisão,
como alusão às restrições que a condição da materialidade impõe à consciência do
homem, como ser espiritual.

Ninguém escapa da prisão sem a ajuda daqueles que já escaparam. Só eles têm
condições de contar de que modo é praticável a evasão e fazer chegar aos cativos os
recursos necessários. Mas um prisioneiro isolado não consegue encontrar esses homens
livres, nem entrar em contato com eles. É preciso uma organização.

Assim, ele deve dar-se conta de ser prisioneiro; depois, ele deve fugir; além disso, ter
parceiros que também queiram fugir e, finalmente, receber ajuda de fora e fazer
esforços para escapar. Nenhuma dose de fé ou oração cava o túnel para ele. E há um
detalhe muito importante: aquele que foge não sabe o que encontrará do lado de fora.

Mencionamos também que para a fuga é necessária uma organização. Essa


organização é a escola iniciática.

Sem uma escola não se consegue os meios para escapar do cativeiro da ilusão da
matéria. Uma escola significa que há pessoas que já estão fugindo, ou, de certo modo,
estão se preparando para fugir. Uma escola só começa com a ajuda de outra escola,
daqueles que se evadiram antes. Eles transmitem certas idéias, um plano definido,
determinado conhecimento – são as ferramentas.

Eis o essencial: um grupo é o começo de tudo. Um homem só, nesse processo de fuga,
dificilmente alcança algum resultado. Um grupo dirigido tem capacidade de fazer
muito por sua libertação.

Um ponto importante a considerar e que, sem uma maior observação de si, parece
difícil saber que o nosso objetivo é fugir. A questão é que a ilusão é poderosa e, sem
esforço e observação atenta de si mesmo, o homem não percebe que é um prisioneiro
da matéria.

Liberdade, liberação. Esta deve ser a meta do homem. Tornar-se livre, escapar da prisão
– eis aquilo porque um homem deve lutar, assim que se torna consciente da sua
situação, mesmo que por breves momentos. Para ele, é a única saída, pois nada mais
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é possível, enquanto permanecer detido, interior e exteriormente. Mas não há como


libertar-se exteriormente, enquanto permanecer preso interiormente. Por isso, para se
tornar livre, deve antes conquistar a liberdade interior.

A primeira razão da prisão interior do homem é a sua ignorância e, acima de tudo, a


ignorância de si mesmo. Sem o conhecimento de si, sem a compreensão do seu
progresso e das suas capacidades, o homem não pode ser livre, não se governa e
permanece prisioneiro, joguete das forças que agem sobre ele.

Allan Kardec, em outros contextos, utiliza a metáfora da prisão em diversos momentos


na codificação. Exemplificando: questão 936 de O Livro dos Espíritos: “Figuremos dois
amigos que se encontrem na mesma prisão. Ambos alcançarão um dia a liberdade,
mas um a obtêm antes do outro” e no item 7 do capítulo 3 de O Evangelho Segundo o
Espiritismo: “Pois bem, figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma
penitenciária, um sítio malsão, e ele é simultaneamente tudo isso.(...) Do mesmo modo
que do hospital saem os que curam, e da prisão os que cumpriram suas penas, o homem
deixa a Terra, quando está curado de suas enfermidades morais”.

É por isso que, nos ensinamentos antigos, a primeira exigência feita àquele que se
iniciava no caminho da libertação era: “Conhece-te a ti mesmo”.

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