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11-27 iCÍ'
Luciana Vedovaío1
Alba Maria Perfeito2
Resumo
' Aluna do P r o g r a m a de Este artigo faz p a r t e da pesquisa desenvolvida no M e s t r a d o e m
M e s t r a d o e m E õ l u d o s da
Estudos da Linguagem - Linguagem e ensino e dos estudos realizados
Linguagem - Linguagem
e E n s i n o da U n i v e r s i d a d e pelo g r u p o de p e s q u i s a c o o r d e n a d o pela Prof. D r a . Alba M a r i a
Estadual do L o n d r i n a -
Perfeito " E n s i n o Gramatical: um novo olhar para um velho
UEL.
p r o b l e m a " , a m b o s da Universidade Estadual de L o n d r i n a , e tem p o r
; Professora Doutora da
objetivo refletir sobre a análise lingüística, via g ê n e r o d i s c u r s i v o e
U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l de
Londrina - UEL e do teoria e n u n c i a t i v a bakhtina, de p o e m a s . Para tanto, utilizaremos a
p r o g r a m a de M e s t r a d o em
p e r s p e c t i v a e n u n c i a t i v a de B a k h t i n ( 1 9 9 4 , 2 0 0 3 ) , b e m c o m o
E s t u d o s da Linauaucm.
B r o n c k a r t ( 1 9 9 9 , 2 0 0 6 , 2007), no que se refere às c o n d i ç õ e s d e
p r o d u ç ã o , D o l z e S c h n e u w l y (2004), no tocante ao a g r u p a m e n t o d e
gêneros. C o m o s u p o r t e para tal trabalho, a n a l i s a r e m o s o p o e m a " O
menino que carregava água na peneira' 7 de Manoe! de Barros (1999).
Abstract
T h i s article is p a r t of the research developed in the Pos G r a d u a t e in
Studies o f the L a n g u a g e - Language and education and of the studies
carried through for the group of research co-ordinated for Prof. Dra.
A l b a M a r i a P e r f e i t o " G r a m m a t i c a l Education: a n e w to look at f o r
an old p r o b l e m " , both of the State University o f L o n d r i n a , and has
f o r o b j e c t i v e to reflect on the linguistic analysis, saw sort a n d
bakhtina e n u n c i a t i v e theory discursivo, o f p o e m s . F o r in such a
way, w e will use the enunciative perspective of B a k h t i n ( 1 9 9 4 ,
2003), as well as Bronckart ( 1 9 9 9 , 2 0 0 6 , 2 0 0 7 ) , Doiz and Schneuwly
(2004), c o m p l e m e n t e d for texts o f the literary theory, inside o f the
perspective of the theory of literature and society. A s support f o r
such w o r k , w e will a n a l y z e the p o e m " t h e boy w h o loaded w a t e r in
the b o l t e r " o f M a n o e l de Barros (1999).
Rscebido: 3 I-05-2007
Apr«v-ado: 16-10-2007 K e y - w o r d s : P o e m ; enunciation; linguistic analysis.
Uma proposta de análise lingüística 110 p o e m a " O m e n i n o qus
carregava água na p e n e i r a " de M a n o e l de B a r r o s
Introdução
"Lutar com a palavra é uma luta vã". Esse verso de Carlos Drummond de
Andrade materializa a complexidade existente no trabalho com a poesia. U m a vez
que as palavras nos textos poéticos fogem à lógica convencional do signo
lingüístico. Então como tratar o poema na escola? O que dizer do material encontrado
em alguns livros didáticos que de um modo geral apontam respostas objetivas para
conteúdos complexos, sem aproveitar as questões sócio-históricas constituintes
dos poemas, nem mesmo as questões de como as estruturas lingüísticas podem
apontar para os valores estéticos e sócio-históricos do poema.
N o intuito de responder os questionamentos acima, é preciso ressaltar
que h o u v e u m a v a n ç o , em t e r m o s t e ó r i c o s m e t o d o l ó g i c o s , c o n s e g u i d o
especialmente pelas normatizações sugeridas pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais (1998) que, orientadas pela teoria enunciativa de Bakhtin (1929) e
privilegiando o gênerD como eixo de progressão curricular, passou a ter o gênero
como objeto central do trabalho com a linguagem ná escola e, mais do que isso,
passou a observar o texto como a materialidade urna construção sócio-cultural
onde se encontram - e confrontam - os sujeitos do fazer lingüísticos,
Para maior entendimento da mudança ocorrida é preciso que entendamos
que ao considerar gêneros como eixo de progressão curricular houve uma passagem
do estudo da frase - recorte estagnado da realidade social - para o estudo do
enunciado entendido como exemplar de uma sociedade ou ainda de acordo com
Bakhtin (2003, p.262), "cada enunciado particular é individual, mas cada tipo de
utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados" e
assim os textos seriam os lugares da estabilidade onde poderíamos encontrar a
marca ou as marcas das esferas sociais que compõe a sociedade.
No entanto, parece que a investigação no que se refere ao poema ficou
distante dessa discussão, pois basta que observemos trabalhos didáticos que
usam este gênero como pretexto para o estudo da Língua Portuguesa sem observar
como a estruturação do mesmo é determinada por valores extraiingüísticos ou
valores sócio-históricos.
Sob esse aspecto, é fundamental a consideração feita por Gebara (2002,
p.25) que "ao exigir-se que o aluno analise o texto literário, utilizando uma série de
questões objetivas, com resposta única, em muitos casos, condiciona-se um
comportamento com fins funcionais", ou seja, tornamos nossos educandos
automatizados em relação ao texto poético, restringindo o horizonte de construção
de sentidos, limitando o tempo de contato com a poesia, tratando o texto poético
como simples pretexto para questões gramaticais e formais, também limitamos a
construção utópica de cidadãos mais preparados para agir com e pela linguagem.
Desse modo, a abordagem pretendida com o texto poético é justamente a
de torná-lo cotidiano, o de tratá-lo como parte do universo de leitura dos educando
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L u c i a n a Vedo vaio - A l b a M a r i a P e r f e i t o
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Uma proposta de análise lingüística 110 poema "O menino qus
carregava água na peneira" de Manoel de Barros
E p a r a a t e n d e r as c o n d i ç õ e s a c i m a , os a u t o r e s a p r e s e n t a m u m q u a d r o 3
contendo a base de trabalho c o m gêneros e e m nota de rodapé os autores explicam
q u e d e i x a m , p r o p o s i t a l m e n t e o t r a b a l h o c o m o p o e m a de f o r a d o e s t u d o , p o r n ã o
a c r e d i t a r e m q u e seja p o s s í v e l u m a g r u p a m e n t o n e s s e s e n t i d o .
N o entanto, o p o e m a circula no espaço da escola. E é de suma importância
que os p o e m a s constituam-se em objeto de estudo e c o m o apoio para a inclusão
t r a t a r e m o s o p o e m a e m e s t u d o d e n t r o do q u e A l b a M a r i a P e r f e i t o , c h a m o u d e
ordem do versejar:
3
O q u a d r o s i n t e t i z a d o r d o a g r u p a m e n t o n ã o foi r e p r o d u z i d o no p r e s e n t e t r a b a l h o , m a s e n c o n t r a -
s e na b i b l i o g r a f i a citada.
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Luciana Vedo vaio - Alba Maria Perfeito
J
Poema em anexo.
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U m a proposta de análise lingüística 110 p o e m a " O m e n i n o q u s
carregava água na p e n e i r a " de M a n o e l de Barros
a mãe reparou que o menino/gostava mais do vazio/do que do cheio. Falava que os
vazios são maiores e até infinitos/; com o tempo descobriu que escrever seria o
mesmo que carregar água na peneira; o menino aprendeu a usar as palavras./viu
que podia fazer peraltagens com as palavras
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L u c i a n a Vedo vaio - A l b a Maria P e r f e i t o
As condições de produção
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U m a proposta d e análise lingüística 110 p o e m a " O m e n i n o qus
carregava á g u a na p e n e i r a " de M a n o e l de Barros
A construção composicional
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L u c i a n a Vedo v a i o - A l b a Maria Perfeito
Desse modo. o ritmo também fica garantido pela repetição, bem como a
manutenção do tema, uma vez que a escolha do conjunto lexical é determinante
para o entendimento das relações sócio-históricas e no caso em pauta a recorrência
das estruturas constrói um feito de sentido que reforça a importância do discurso
materno, conforme pontuou Rodari (1982), "imaginoso e poético" no fazer poético
e aproxima o enunciador dos enunciatários pela utilização de falares de um campo
mais lúdico.
Em relação à pontuação, excetuando-se dois versos, todos os outros
apresentam ponto final ou não apresentam ponto de nenhuma espécie. No verso
"Até fez uma pedra dar flor!" a presença do ponto de exclamação, de acordo com
Salvatore D'Onofrio, pode ser chamado como "apóstrofe", ou ainda,
No verso "A mãe falou: meu filho você vai ser poeta", há presença de um
elemento catafórico. Assim, adaptando para nosso contexto de análise a teoria de
Geraldi (1997), podemos identificar também uma operação de explicitação de forças
iiocucionárias, além disso, os versos: "vai carregar água na peneira/ você vai encher os
vazios com suas peraitagens", instituem além do efeito de previsão, uma espécie de
ordem: como se a antecipação feita pela mãe determinasse o caminho a ser seguido,
efeito de sentido garantido pela utilização, em especial, de verbos no infinito.
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Uma proposta de análise lingüística 110 poema "O menino qus
carregava água na peneira" de Manoel de Barros
as imagens da iníância, imagens que uma criança pôde fazer, imagens que um poeta
nos diz que uma criança fez, são para nós manifestações da infância permanente.
São imagens da solidão. Falam da continuidade dos devaneios da grande infância e
dos devaneios do poeta.
5
Para m a i o r e s i n f o r m a ç õ e s ver B E C H A R A , E v a n i l d o . Moderna Gramática Portuguesa, 37.ed.
r e v . a m p l . R i o d e Janeiro: L u c e m a , 2 0 0 i . p. 4 6 2 - 539.
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L u c i a n a Vedo vaio - A l b a Maria Perfeito
a poesia não quer ser livre; ela inventa sua própria liberdade no esvaziamento
semântico das palavras, deixando-as abandonadas à existência estética. Percebemos
que significante poético está vazio, oco de significado, porque ele aparece
justaposto a outros de maneira inusitada. O vazio tão apreciado pelo poeta
pantaneiro surgirá como possibilidade de manifestar a liberdade poética em todo
seu mistério e desmesura (RODRIGUES, 2006, p.75).
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U m a p r o p o s t a de análise lingüística 110 p o e m a " O m e n i n o qus
c a r r e g a v a á g u a na p e n e i r a " d e M a n o e l de B a r r o s
mais do vazio do que do cheio/falava que o vazio são maiores e até infinitos". E os
vazios são os lugares do sentido, ou seja, a palavra não vem com a significação
pronta. Os efeitos são construídos de acordo com os fios estabelecidos entre o
enunciador e o enunciatário.
Ao materializar a escritura poética como uma peraltagem de criança, um
despropósito, o autor reforça o caráter de brincadeira com as palavras. A valoração
é feita por metáforas como a construída para explicar o que é escrever e o que é ser
poeta: primeiro "a mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um
vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos/ a mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água/o mesmo que criar peixes no bolso/" e depois "a mãe falou: meu
filho você vai ser poeta./você vai carregar água na peneira a vida toda".
Outro ponto a ser analisado trata-se das vozes enunciativas que para
Bronckart podem ser definidas como
??
L u c i a n a Vedo v a i o - A l b a M a r i a P e r f e i t o
Encaminhamentos pedagógicos
Considerações finais
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U m a proposta de a n á l i s e lingüística 110 p o e m a " O m e n i n o qus
carregava á g u a na p e n e i r a " de M a n o e l de Barros
Referências Bibliográficas
BARROS, Manoel de. In. LEITE, Maristela Petrili de Almeida e SOTO, Pascoal,
(org). P a l a v r a s d e e n c a n t a m e n t o . São Paulo: Moderna, 2001. v.l. (Série Literatura
em minha casa)
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L u c i a n a V e d o v a i o - A l b a Maria Perfeito
GEBARA, Ana Elvira Luciano. A poesia na escola: jeitura e análise de poesia para
crianças. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção aprender e ensinar com textos, v.l 0)
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997. (Coleção Texto e Linguagem).
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, Ritmos. 7. ed. São Paulo: Ática, 1 991. (Série
Princípios, n.06)
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Uma proposta de análise lingüística 110 poema " O menino qus
carregava água na peneira" de Manoel de Barros
R O D A R ] , Gianni. G r a m á t i c a d a f a n t a s i a . T r a d u ç ã o de A n t o n i o N e g r i n i . S ã o Pauio:
S u m m u s , 1982.
R O D R I G U E S . R i c a r d o A l e x a n d r e . A poética d a d e s u t i l i d a d e i u m p a s s e i o p e l a p o e s i a
de M a n o e l d e B a r r o s . S ã o P a u l o , 2 0 0 6 . D i s s e r t a ç ã o ( M e s t r a d o e m L i t e r a t u r a ) -
Universidade Federal do Rio de janeiro. Disponível e m : <www.letras.ufij.br/ciencialit/
t r a b a l h o s / r i c a r d o a l e x a n d r e _ j ) o e s í a . p d f > A c e s s o e m : 2 3 de d e z . d e 2 0 0 6 .
Anexo
O s v e r s o s g r i f a d o s m a r c a m o p r o c e s s o a n a f o rico.
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