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6º Fórum de

Pesquisa
em Linguagem e Ensino

CADERNO DE RESUMOS

Washington Silva de Farias


Ariane Silva da Costa Sampaio
Emanuela Rodrigues de Oliveira
Hilderlan Sousa Silva
João Vitor Bezerra Laurentino
Vanda Késsia Gomes Galvão
[Organizadores]

2022

Universidade Federal de Campina Grande


Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino
6º FÓRUM DE PESQUISA EM LINGUAGEM E ENSINO

CADERNO DE RESUMOS

Washington Silva de Farias


Ariane Silva da Costa Sampaio
Emanuela Rodrigues de Oliveira
Hilderlan Sousa Silva
João Vitor Bezerra Laurentino
Vanda Késsia Gomes Galvão
[Organizadores]

Campina Grande-PB
2022
Expediente

6o Fórum de Pesquisa em Linguagem e Ensino - 2022


Comissão Científica

Profa. Dra. Denise Lino De Araújo (Coordenadora) Elisa Cristina Amorim Ferreira
Profa. Dra. Naelza De Araújo Wanderley Emanuela Rodrigues de Oliveira
Profa. Dra. Noara Pedrosa Lacerda Francisca Luana Rolim Abrantes
Profa. Dra. Shirley Barbosa Das Neves Porto Hadoock Ezequiel Araujo de Medeiros
Prof. Dr. Washington Silva De Farias Hilderlan Sousa Silva
Alachermam Braddylla Estevam da Silva Jeniffer de Oliveira Barbosa
Alecia Lucelia Gomes Pereira Medeiros João Vitor Bezerra Laurentino
Ariane Silva da Costa Sampaio Larissa Evelyn Santos Oliveira
Carlos Roberto Goncalves da Silva Sheila Vieira Nanes dos Santos Galvão
Danielly Thaynara da Fonseca Silva Vanda Késsia Gomes Galvão

Editoração Revisão

Ariane Silva da Costa Sampaio Ariane Silva da Costa Sampaio


João Vitor Bezerra Laurentino João Vitor Bezerra Laurentino
Vanda Késsia Gomes Galvão Emanuela Rodrigues de Oliveira
Vanda Késsia Gomes Galvão

O Caderno de Resumos do FÓRUM DE PESQUISA EM LINGUAGEM E ENSINO é uma publicação anual dos
trabalhos apresentados no fórum homônimo. Cada edição contém os resumos expandidos dos projetos de pesquisa
desenvolvidos por mestrandos(as) e doutorandos(as) do Programa de Pós-graduação em Linguagem em Ensino,
da UFCG.
Endereço para contato: Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó. Campina Grande-PB. CEP: 58.429-90
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

DADOS INSTITUCIONAIS

Reitor: Antônio Fernandes Filho


Vice-reitor: Mário Eduardo Rangel Moreira Cavalcanti Mata
Pró-reitor de Pós-Graduação: Mário Eduardo Rangel Moreira Cavalcanti Mata
Coordenação da Pós-Graduação em Linguagem e Ensino: Isis Milreu

COMISSÃO ORGANIZADORA DO CADERNO:

Prof. Dr. Washington Silva de Farias


Ariane Silva da Costa Sampaio
Emanuela Rodrigues de Oliveira
Hilderlan Sousa Silva
João Vitor Bezerra Laurentino
Vanda Késsia Gomes Galvão

PARECERISTAS AD HOC

Dr. Alzir Oliveira (UFRN) Dra. Ana Paula Tribesse Patrício Dargel (UEMS)
Dr. Amarino Oliveira de Queiroz (UFRN) Dra. Ana Ramazzina (UNIFESP)
Dr. Antonio Henrique Coutelo de Moraes (UFMT e Dra. Ana Virgínia Lima da S. Rocha (UFRN)
UFR) Dra. Betânia Passos Medrado (UFPB)
Dr. Antonio Roberto Esteves (UNESP e FLC) Dra. Christiane Benatti Rochebois (UFSB)
Dr. Cláudio Henrique Nunes Mourão (UFRGS) Dra. Clara Mayara de Almeida Vasconcelos (UEPB)
Dr. Clecio dos Santos Bunzen Júnior (UFPE) Dra. Dantielli Assumpção Garcia (Unioeste)
Dr. Cristhiano Motta Aguiar (Mackenzie) Dra. Denise Lino de Araújo (UFCG)
Dr. Diego da Silva Vargas (UNIRIO e UFRJ) Dra. Eliana Dias Pafumi (UFU)
Dr. Edmilson Luiz Rafael (UFCG) Dra. Eliane Regina Crestani Tortola (UFPR)
Dr. Francisco Edi de Oliveira Sousa (UFC) Dra. Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin (UFC)
Dr. Francisco Edi Oliveira (UFC) Dra. Gabriella Rodella (UFSB e USP)
Dr. José Edilson de Amorim (UFCG) Dra. Gerenice Ribeiro de Oliveira (UESB)
Dr. José Hélder Pinheiro Alves (UFCG) Dra. Giselda dos Santos Costa (UESPI)
Dr. José Veranildo Lopes da Costa Junior (UFCG) Dra. Glória da Ressurreição Abreu França (UFMA)
Dr. José Wanderley Alves de Sousa (UFPB e UFCG) Dra. Isis Milreu (UFCG)
Dr. Manassés Morais Xavier (UFCG) Dra. Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG/)
Dr. Marcelo Medeiros da Silva (UEPB) Dra. Josilene Pinheiro-Mariz (USP)
Dr. Ricardo Stavola Cavaliere (UFF) Dra. Juliana Bevilacqua Maioli (UNIR/MEL)
Dr. Wagner Rodrigues Silva (UFT) Dra. Kátia Rodrigues Mello Miranda (UNESP-
Dr. Washington S. de Farias (UFCG) Assis)
Dr. Weslei Roberto Candido (UEM Maringá) Dra. Leonor Werneck dos Santos (UFRJ)
Dra. Alyere Silva Farias (UFPB) Dra. Lídia da Silva (UFPR e Unipampa)
Dra. Ana Cristina Biondo Salomão (UNESP e Dra. Márcia Mendonça (UNICAMP)
FCLAR) Dra. Márcia Tavares Silva (UFCG)
Dra. Ana Cristina Marinho Lúcio (UFPB) Dra. Maria Angélica de Oliveira (UFCG)
Dra. Ana Paula Dargel (UEMS) Dra. Maria Augusta Gonçalves de Macedo (UFCG)
Dra. Maria de Fátima Almeida (UFPB)
Dra. Ronice Müller de Quadros (UFSC)
Dra. Rossana Regina Guimarães Ramos Henz (UPE
Dra. Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari e Unicap)
(UNESP– Assis) Dra. Rute Pereira Alves de Araújo (UFCG e UAEd)
Dra. Maria Edileuza da Costa (UFAL) Dra. Selma Alas Martins (UFRN)
Dra. Maria Hozanete Alves de Lima (UFCG) Dra. Silvia Rodrigues Vieira (UFRJ)
Dra. Maria Laura Pozzobon Spengler (UFSC) Dra. Sinara de Oliveira Branco (UFCG)
Dra. Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos (UFRN) Dra. Suzi Marques Spatti Cavalari (UNESP)
Dra. Marileide Dias Esqueda (UFU) Dra. Tatiana Bolivar Lebedeff (UFPEL)
Dra. Naelza de Araújo Wanderley (UFCG) Dra. Verli Fátima Petri da Silveira (UFSM)
Dra. Patrícia Silva Rosas de Araújo (SECT – PB) Dra. Williany Miranda da Silva (UFCG)
Dra. Raquel Beatriz Junqueira Guimarães (PUC –
MG)

MONITORES

Amanda Lopes Bezerra Marciana da Silva Santos


Ana Irís Alves Santos Maria Alanaíza Gomes de Almeida
Andressa Gicelly Matias Sousa Maria Ariane Santos Amaro da Silva
Ashylen da Silva Lima Maria Iviny Araújo Silva
Breno Silva Andrade Maria Layana Andrade
Bruno Alves Xavier Mikaely Kelly Carreiro Araújo
David Naamã Melo de Figueiredo Rayane de Andrade Silva
Fábio Alves Prado de Barros Lima Rayssa Nayara de Oliveira
Jéssica Nascimento da Silva Reinaldo Luiz da Silva Junior
Jessica Rodrigues de Queiroz Rhadyja Gabriely Gonçalves da Silva
José Fernandes Ferreira do Sara Milleny Trajano Marinho
Josefa Yasmin do Nascimento Santos Tercia Cláudia de Araújo Paiva
Júlia Juliêta Silva de Brito Vitória Maria Morais Olinto
Lucenilda Carla do Nascimento Silva Vyctoria Palheta Henriques
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO..................................................................................................................14

RESUMOS - MESTRADO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LITERÁRIOS

LINHA 1: ENSINO DE LITERATURA E FORMAÇÃO DE LEITORES

1 LITERATURA DE CORDEL: O ENCONTRO ENTRE A CRIANÇA E A POESIA NA


ESCOLA
Ana Maria Henrique de Souza
Orientadora: Profa. Dra. Naelza de Araújo Wanderley...........................................................................................17

2“MUÑECAS”: MULHERES, HISTÓRIA E LEITURA DE FICÇÃO DE AUTORIA


FEMININA NAS AULAS DE LÍNGUA ESPANHOLA
Angélica Rose da Silva
Orientadora: Profa. Dra. Isis Milreu.........................................................................................................................21

3 VIVÊNCIAS COM A POESIA DE MÁRCIA KAMBEBA NA SALA


Catharie Brandão de Souza
Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves...................................................................................................24

4 DRAMATIZAÇÃO DO CORDEL NA SALA DE AULA: LEITURA, LEITOR E


RECEPÇÃO DA OBRA O ROMANCE DO CONQUISTADOR, DE LOURDES
RAMALHO
Claudson Faustino
Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves...................................................................................................27

5 VIVÊNCIAS ESTÉTICAS E O ENSINO DAS LITERATURAS DOS PALOPS PARA


A CONTRIBUIÇÃO DA ABORDAGEM INTERCULTURAL NA FORMAÇÃO DOS
ALUNOS DOS CURSOS DE LETRAS DAS IES PARAIBANAS
Elana Gonçalo de Araújo
Orientadora: Profa. Dra. Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega............................................................................30

ISSN - 2526-5024
6 XICA VS CHICA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS OBRAS
MEMÓRIAS DO DISTRITO DIAMANTINO DA COMARCA DO SERRO FRIO E
XICA DA SILVA
Ester Estevão da Silva
Orientador: Prof. Dr. José Edilson Amorim.............................................................................................................33

7 ROMANCE SEIS VEZES LUCAS, DE LYGIA BOJUNGA, NA SALA DE AULA:


CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO DE LEITORES
Gabriele de Oliveira Souza
Orientador: Prof. Dr. José Helder Pinheiro Alves...................................................................................................38

8 LÀ OÙ IL FAIT SI CLAIR EN MOI, DE TANELLA BONI NO ENSINO DE FRANCÊS


COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM ESPAÇO PARA REFLEXÃO NA
FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE
Luana Costa de Farias
Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz.................................................................................................41

9 LITERATURA E CINEMA: A (DE)FORMAÇÃO INTERMIDIÁTICA DA MULHER


NA OBRA POULET AUX PRUNES NO ENSINO DE FRANCÊS COMO LÍNGUA
ESTRANGEIRA
Manuella B. Bitencourt
Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz....................................................................................................44

10 A LEITURA DE LITERATURA FANTÁSTICA NAS AULAS DE ELE: UMA


EXPERIÊNCIA COM CONTOS DE JORGE LUIS BORGES E SILVINA OCAMPO
Regineide Gomes de Cantalice Vidal
Orientadora: Profa. Dra. Isis Milreu........................................................................................................................48

LINHA 2: PRÁTICAS LEITORAS E DIVERSIDADE DE GÊNEROS


LITERÁRIOS

11 A CASA DOS ESPÍRITOS: REPRESENTAÇÕES DA DITADURA NA


LITERATURA E NO CINEMA
Edna Mércia Bezerra Plácido
Orientadora: Profa. Dra. Isis Milreu........................................................................................................................51

12 ENTRE JOÕES E AMORAS: O LIVRO ILUSTRADO INFANTIL PARA UMA


EDUCAÇÃO LITERÁRIA ANTIRRACISTA
Maria Albenize da Silva
Orientadora: Profa. Dra. Márcia Tavares................................................................................................................54

ISSN - 2526-5024
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LINGUÍSTICOS

LINHA 3: ENSINO DE LÍNGUAS E FORMAÇÃO DOCENTE

13 O TRABALHO DOCENTE DOS PROFESSORES DE PORTUGUÊS NO


PROGRAMA DESAFIO NOTA 1000: DAS ORIENTAÇÕES ÀS AÇÕES
REALIZADAS
Adna dos Santos Sousa
Orientadora: Profa. Dra. Williany Miranda da Silva................................................................................................59

14 O PROCESSO ALTERITÁRIO CONSTITUTIVO NA INTERAÇÃO DISCURSIVA


VERBAL DA RELAÇÃO PROFESSOR/ ALUNO NO PROGRAMA SE LIGA NO
ENEM – REVISÃO ON-LINE
Áquila Sartori Mesquita Rocha
Orientadora: Profa. Dra. Eliete Correia dos Santos.................................................................................................62

15 ABORDAGEM DA VARIAÇÃO LEXICAL NO LIVRO DIDÁTICO DE


PORTUGUÊS DO ENSINO MÉDIO DO PNLD 2021: INVESTIGANDO ATIVIDADES
DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
Carlos Álack de Lima
Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio..............................................................................................65

16 ATIVIDADES DE ANÁLISE LINGUÍSTICA SOBRE O FUNCIONAMENTO


TEXTUAL-INTERATIVO DOS ITENS LEXICAIS: INVESTIGANDO O LIVRO
DIDÁTICO DE PORTUGUÊS DO ENSINO MÉDIO DO PNLD 2021
Carlos Roberto Gonçalves da Silva
Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio...............................................................................................69

17 OS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE PROFISSIONAL


DOCENTE A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS NO ÂMBITO DO PROGRAMA DE
RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA
Edvaldo Santos de Lira
Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael.............................................................................................................73

18 ENSINO DE ESCRITA ACADÊMICA EM UM CURSO DE LETRAS-PORTUGUÊS:


DAS ATIVIDADES PROPOSTAS À VOZ DOS PROFESSORES
Francineide Francisca Pacheco
Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Maria da Silva..................................................................................................77

19 PROTAGONISMO DOCENTE COMO ATO RESPONSÁVEL: UMA ANÁLISE


DIALÓGICA DOS DISCURSOS DE PROFESSORES DE LINGUAGENS EM
CONTEXTO DE ENSINO REMOTO
Josenilda Santos Luiz
Orientadora: Profa. Dra. Eliete Correia dos Santos..................................................................................................81

ISSN - 2526-5024
20 O TRATAMENTO PEDAGÓGICO DO LÉXICO DA LÍNGUA INGLESA:
ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO
Larissa Evelyn Santos Oliveira
Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio
Coorientador: Prof. Dr. Ricardo Rios Barreto Filho.................................................................................................85

21 A PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA


ARGUMENTATIVA EM DIFERENTES COMPONENTES CURRICULARES NA
BNCC DO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS
Leonara Nahyane da Silva
Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino de Araújo.....................................................................................................89

22 DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA TRANSPOSIÇÃO INFORMÁTICA


DURANTE O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL EM AULAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Lucas Ribeiro de Morais
Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael.............................................................................................................93

23 OS GÊNEROS ORAIS NO PLANEJAMENTO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO: UMA


ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO À LUZ DA TEORIA BAKHTINIANA
Márcia Pereira Gomes Silva
Orientadora: Profa. Dra. Eliete Correia dos Santos...............................................................................................98

24 REPRESENTAÇÃO DA ATUAÇÃO DOCENTE EM MIGRAÇÃO DE


CONTEXTOS: DO REMOTO AO (NOVO PRESENCIAL)
Marcos Marques Silva
Orientadora: Profa. Dra. Williany Miranda da Silva..............................................................................................102

25 DA BNCC À SALA DE AULA: A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DA LEITURA DE


TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NUMA EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA
RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA
Severino Pequeno da Silva
Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino de Araújo....................................................................................................105

LINHA 4: PRÁTICAS SOCIAIS, HISTÓRICAS E CULTURAIS DE


LINGUAGEM

26 A DESCRIÇÃO DO LÉXICO EM TRÊS FASES DA GRAMATICOGRAFIA DO


SÉCULO XX: ANÁLISE DE GRAMÁTICAS BRASILEIRAS
Emanuela Rodrigues de Oliveira
Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio............................................................................................109

27 COMPETÊNCIAS INTERPRETATIVAS E A FORMAÇÃO DE TILSPS: UM


ESTUDO DE CASO A PARTIR DA SINALIZAÇÃO DO LIVRO INFANTIL ADÉLIA

ISSN - 2526-5024
Jailma da Costa Silva Dantas
Orientadora: Prof. Dra. Sinara de Oliveira Branco.................................................................................................113

28 CINCO, SEIS, SETE, ...: VONTADES DE VERDADE SOBRE A DANÇA E OS


CORPOS QUE DANÇAM FORA DA ORDEM DO DISCURSO DOMINANTE
Morgana Guedes Bezerra
Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira ............................................................................................116

29 TRADUÇÃO, RECEPÇÃO E JOGOS DIGITAIS: UM ESTUDO DE CASO DA


LOCALIZAÇÃO DE CYBERPUNK 2077 PARA O PORTUGUÊS BRASILEIRO
Pedro Henrique de Paiva Gaudencio
Orientadora: Prof. Dra. Sinara de Oliveira Branco.................................................................................................120

30 PSYCHOMACHIA, DE PRUDÊNCIO: TRADUÇÃO METRIFICADA COM


COMENTÁRIOS E NOTAS
Regimário Costa Moura
Orientador(a): Maria Hozanete Alves de Lima......................................................................................................125

31 “TODA VIDA EU CRESCI, MINHA MÃE SEMPRE DIZENDO QUE NÓS ERA
INDÍGENA”: ESTUDO DISCURSIVO DE NARRATIVAS DE TRONCOS VELHOS
SOBRE A IDENTIDADE KARIRI EM CRATO-CE
Zósimo Mota Queiroz
Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira.............................................................................................128

RESUMOS - DOUTORADO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LITERÁRIOS

LINHA 1: ENSINO DE LITERATURA E FORMAÇÃO DE LEITORES

32 NEGRITUDE E ORATURA: MATIZES AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS NA


EDUCAÇÃO LITERÁRIA DE JOVENS E ADULTOS
Aldenora Márcia C Pinheiro Carvalho
Orientadora: Profa. Dra. Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega ..........................................................................133

33 MÃOS QUE DÃO VIDAS: O TEATRO DE JOÃO REDONDO ENTRE O ESPAÇO


MNEMÔNICO DOS BRINCANTES E A VIVÊNCIA PERFORMÁTICA
Hadoock Ezequiel Araújo de Medeiros
Orientadora: Profa. Dra. Naelza de Araújo Wanderley.......................................................................................138

34 UNGULANI BA KA KHOSA NO ENSINO DA LITERATURA MOÇAMBICANA E


O CONTEXTO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE
José Augusto Soares Lima
Orientadora: Profa. Dra. Maria Marta dos Santos Nóbrega..................................................................................142

ISSN - 2526-5024
35 O LIVRO ILUSTRADO E O LIVRO DE IMAGEM EM OBRAS DE ANGELA-
LAGO: LEITURA E MEDIAÇÃO
Marcela de Araújo Lira
Orientador: Prof. José Hélder Pinheiro Alves........................................................................................................147

36 LEITURAS DO ESTRANHO EM CONTOS DE GERALDO MACIEL: ENSINO


HÍBRIDO NA CONSTRUÇÃO DE LEITORES
Marina Macedo Santos Martins
Orientador: Prof. Dr. José Edilson Amorim...........................................................................................................151

37 A CONSTRUÇÃO DO FEMININO NA FORMAÇÃO LITERÁRIA: DIÁLOGOS EM


PONCIÁ VICÊNCIO, DE EVARISTO E SEM GENTILEZA, DE NTSHINGILA
Patrícia Pinheiro-Menegon
Orientadora: Profa Dra Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega............................................................................156

38 ABORDAGENS PLURAIS NO ENSINO BÁSICO DE LÍNGUA INGLESA: POR


UMA LEITURA DE OBRAS AFRICANAS DE AUTORIA FEMININA
Thaise Jordania Porto Dos Santos
Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro Mariz..................................................................................................161

39 A TEMÁTICA DO AMOR CONTRARIADO EM TEXTOS DE ATHAYDE,


SUASSUNA E MELO RESENDE: LEITURA E RECEPÇÕES EM SALA DE AULA
Weber Firmino Alves
Orientadora: Profa. Dra. Naelza de Araújo Wanderley..........................................................................................165

LINHA 2: PRÁTICAS LEITORAS E DIVERSIDADE DE GÊNEROS


LITERÁRIOS

40 AUTOBIOGRAFIAS DE LEITOR E PLURILINGUISMO: UM ESTUDO SOBRE A


FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E LITERATURAS
Emerson Patrício de Morais Filho
Orientadora: Prof. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz
Coorientadora: Prof. Dra. Ferroudja Allouache.....................................................................................................171

41 MATERIALIDADE E MODOS DE NARRAR NO LIVRO ILUSTRADO PARA A


INFÂNCIA: LEITURAS E REFLEXÕES NA FORMAÇÃO DOCENTE
Fabíola Cordeiro de Vasconcelos
Orientadora: Professora Márcia Tavares Silva.......................................................................................................177

42 MILITÂNCIA FEMININA E DITADURA: UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA NO


ENSINO MÉDIO COM O CORPO INTERMINÁVEL, DE CLAUDIA LAGE
Francisca Luana Rolim Abrantes
Orientador: Prof. Dr. José Edilson de Amorim.....................................................................................................182

ISSN - 2526-5024
43 LITERATURA YOUNG ADULT E FORMAÇÃO DE LEITORES: UM ESTUDO DA
RECEPÇÃO DE OBRAS JOVENS ADULTAS EM MEIOS DIGITAIS
Jemima Stetner Almeida Ferreira Bortoluzi
Orientadora: Profa. Dra. Márcia Tavares...............................................................................................................186

44 PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA NA UNIDADE ACADÊMICA DE


EDUCAÇÃO INFANTIL DA UFCG: REPERCUSSÕES NO CONTEXTO FAMILIAR
DE CRIANÇAS EGRESSAS
Maria Betania Barbosa da Silva Lima
Orientadora: Profa. Dra. Márcia Tavares Silva .....................................................................................................189

45 DIÁSPORA, DEPRESSÃO E RETORNO: O CAMINHO DE CASA E REINO


TRANSCENDENTE DE YAA GYASI
Paula de Sousa Costa
Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz..................................................................................................194

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LINGUÍSTICOS

LINHA 3: ENSINO DE LÍNGUAS E FORMAÇÃO DOCENTE

46 DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES DE LINGUAGEM DE ALUNOS


AUTISTAS DO ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS: ADAPTAÇÕES
DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS DE LEITURA
Alachermam Braddylla Estevam Sales
Orientadora: Prof. Dra. Maria Augusta Gonçalves de Macedo Reinaldo.............................................................199

47 MULTIMODALIDADE NAS INTERAÇÕES TELECOLABORATIVAS


INTERCULTURAIS: UM ESTUDO DE CASO
Ana Caroline Pereira da Silva
Orientador: Prof. Fábio Marques de Souza
Coorientador: Prof. Dr. Manassés Morais Xavier..................................................................................................203

48 (RE)CONFIGURAÇÃO DO EIXO ANÁLISE LINGUÍSTICA/SEMIÓTICA A


PARTIR DA BNCC: SABERES DOS PROFESSORES DE PORTUGUÊS DOS ANOS
FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Delane Cristina Galiza Lourenço
Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino de Araújo....................................................................................................207

49 PROFESSORES SURDOS NO ENSINO SUPERIOR E A CONSTRUÇÃO


DIDÁTICA DA LIBRAS COMO L2 CENTRADA O GÊNERO TEXTUAL
Girlaine Felisberto de Caldas Aguiar
Orientadora: Profa. Dra. Maria Augusta Goncalves de Macedo Reinaldo
Coorientadora: Profa. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto................................................................................213

ISSN - 2526-5024
50 LIBRAS NO ENEM: RETEXTUALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE
VIDEOQUESTÕES
João Batista Neves Ferreira
Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino Denise Lino de Araújo
Coorientadora: Profa. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto..............................................................................217

51 SABERES DOCENTES E TECNOLOGIA DIGITAL EM CONTEXTO DE ENSINO


REMOTO
Joice Élida Alves Gonçalves
Orientador(a): Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael.....................................................................................................221

52 ENSINO REMOTO EMERGENCIAL NO CONTEXTO ACADÊMICO: O QUE


DIZEM DOCENTES UNIVERSITÁRIOS?
Maria Lúcia Serafim
Orientador: Prof. Dr. Fábio Marques de Sousa
Coorientador: Prof. Dr. Manassés Morais Xavier..................................................................................................226

53 PERCEPÇÕES POÉTICAS: AS ANTOLOGIAS NA FORMAÇÃO DE LEITORES


Raquel Sousa da Silva
Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves..................................................................................................230

54 SULEANDO A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL: PRÁTICAS


LINGUÍSTICAS-INTERCULTURAIS E DECOLONIAIS NO TELETANDEM
Rickison Cristiano de Araújo Silva
Orientador(a): Prof. Dr. Fábio Marques de Souza..................................................................................................234

55 PRÁTICAS DISCURSIVAS DO PROFESSOR EM CONTEXTO DE ENSINO


REMOTO/HÍBRIDO
Vanessa Luciene Pereira Araujo
Orientadora: Williany Miranda da Silva................................................................................................................241

LINHA 4: PRÁTICAS SOCIAIS, HISTÓRICAS E CULTURAIS DE


LINGUAGEM

56 UM OLHAR DISCURSIVO PARA A MULHER NEGRA EMPREGADA


DOMÉSTICA
Alécia Lucélia Gomes Pereira Medeiros
Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira.............................................................................................246

57 O FUNCIONAMENTO DO DISCURSO SOBRE O FEMINICÍDIO NO FACEBOOK:


ENTRE A REPRODUÇÃO E O DESLOCAMENTO DA MEMÓRIA PATRIARCAL
Ariane Silva da Costa Sampaio
Orientador: Prof. Dr. Washington Silva de Farias..................................................................................................251

ISSN - 2526-5024
58 A ESCOLARIZAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO NAS PRÁTICAS DE LEITURA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA: O CASO DA OBRA DE ARIANO SUASSUNA
Karine Viana Amorim
Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael...........................................................................................................256

59 O TEATRO DE BONECOS POPULAR DO NORDESTE: ESPAÇO


HETEROTÓPICO DE RISO E RESISTÊNCIA
Melissa Raposo Costa
Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira.............................................................................................260

60 ODE ÀS MÃOS: A PRESENÇA DO REAL NAS ARTES SURDAS COMO


MOTIVADORA DO ATO RESPONSÁVEL E HUMANIZADO
Ronny Diogenes de Menezes
Orientador: Prof. Dr. Fábio Marques de Souza
Coorientadora: Profa. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto................................................................................264

61 O ACONTECIMENTO DISCURSIVO DA PANDEMIA DE COVID-19 EM


CIRCULAÇÃO-RELAÇÃO-CONFRONTO DE FATOS E FAKES NOS CAMPOS DAS
MÍDIAS EMPRESARIAIS, ALTERNATIVAS E CONSERVADORAS
Vanda Késsia Gomes Galvão
Orientador: Prof. Dr. Washington Silva de Farias..................................................................................................268

ISSN - 2526-5024
APRESENTAÇÃO

O Fórum de Pesquisa do Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino


(PPGLE-UFCG) é um evento acadêmico-científico anual que tem como objetivo avaliar os
projetos de pesquisa dos/as pós-graduando/as do Programa.
Em sua 6ª edição, ocorrida entre os dias 25 e 28 de abril de 2022, o Fórum de Pesquisa
contemplou a avaliação dos projetos de pesquisa em andamento no PPGLE, em nível de
Mestrado e, pela primeira vez, os projetos em nível de Doutorado.
Em virtude das circunstâncias geradas pela pandemia do COVID-19, o evento foi
efetivado na modalidade não-presencial, sendo todas as atividades realizadas em ambientes
virtuais, totalizando 69 sessões on-line de discussão, sendo 34 referentes a bancas de Mestrado
(21 na área de Estudos Linguísticos e 14 na área de Estudos Literários) e 33 a bancas de
Doutorado (18 na Área de Estudos Linguísticos e 14 na área de Estudos Literários). Contou
ainda com duas conferências, uma de abertura, outra de encerramento, a primeira intitulada De
outro modo e em outro lugar: a constituição do sujeito leitor em ambientes virtuais/digitais,
proferida pela Professora Drª Noara Pedrosa Lacerda, pós-doutoranda do PPGLE; a segunda,
intitulada Sobre a epistemologia nas Letras: entre currículos, saberes e silêncios, proferida
pela Professora Drª Maria Angélica Oliveira, docente colaboradora do Programa.
Os projetos de pesquisa foram avaliados mediante discussão de resumos expandidos
(Mestrado) e de resumos expandidos e plano de tese (Doutorado) previamente disponibilizados
aos/às avaliadores/as. Compuseram as bancas examinadoras 54 docentes externos/as de 40
instituições diferentes e 16 docentes do PPGLE, estes/as orientadores/as dos projetos.
Esses dados demonstram por si a pujança das pesquisas em andamento nas duas áreas
de concentração do PPGLE-UFCG, bem como a interlocução expressiva e diversa estabelecida
com pesquisadores/as de outros programas de pós-graduação do país.
O planejamento e execução do evento ficaram a cargo de uma comissão composta por
docentes-pesquisadores/as do PPGLE, com representatividade de suas 4 linhas de pesquisa,
sendo composta pelos/as professore/as doutores/as Denise Lino de Araújo (Coordenadora
Geral), Naelza de Araújo Wanderley, Shirley Barbosa das Neves Porto e Washington Silva de
Farias. A Comissão foi também integrada pela pós-doutoranda Profa. Dra. Noara Pedrosa
Lacerda e por 15 discentes de Mestrado e Doutorado do PPGLE. Durante sua realização, o
evento contou ainda com o apoio, na qualidade de monitores/as, de 28 discentes dos diferentes
cursos da Unidade Acadêmica de Letras do Centro de Humanidades da UFCG, bem como de
servidores/as intérpretes de Libras.
Este Caderno de Resumos registra, na forma de Resumo Expandido, as propostas de
pesquisa discutidas durante o 6º Fórum, dando visibilidade à pluralidade de investigações em
andamento no PPGLE nos níveis de Mestrado e Doutorado, nas duas áreas e quatro linhas de
pesquisa que o constituem. As propostas apresentadas contemplam questões epistemológicas,

ISSN - 2526-5024 14
teóricas e analíticas acerca de diferentes dimensões da produção do conhecimento sobre as
línguas e a/s linguagem/ns, suas práticas, em especial, em processos educativos, de ensino e
aprendizagem, possibilitando aos/às leitores/as deste Caderno uma oportunidade de diálogo
com as pesquisas em curso no PPGLE-UFCG.
Boa leitura!

A Comissão

ISSN - 2526-5024 15
MESTRADO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
ESTUDOS LITERÁRIOS

Linha 1: Ensino de literatura e formação de


leitores
Linha 2: Práticas leitoras e diversidade de
gêneros literários

ISSN - 2526-5024 16
LINHA 1 - ENSINO DE LITERATURA E FORMAÇÃO DE
LEITORES

LITERATURA DE CORDEL: O ENCONTRO ENTRE A CRIANÇA E A


POESIA NA ESCOLA

Ana Maria Henrique de Souza


Orientadora: Profa. Dra. Naelza de Araújo Wanderley

Resumo: Os estudos disponíveis sobre a Literatura de Cordel e a formação de leitores


evidenciam que esse gênero tem importante contribuição para a formação de leitores. No
entanto, ele precisa ser compreendido como literatura e não como espécie de “receita” a ser
seguida. Nesse sentido, esta pesquisa tem como principal objetivo analisar a recepção dos
cordéis Papo de Sapo, de Hadoock de Aninha, e O Bicho Folharal, de Arievaldo Viana, por
alunos do 5º ano, da primeira etapa do Ensino Fundamental, em uma instituição pública de
ensino, na zona urbana do município de Gado Bravo/PB. Como objetivos específicos,
apontaremos: 1º) Observar como ocorre a vivência e a mediação de textos da Literatura de
Cordel em sala de aula em uma instituição pública, no município de Gado Bravo/PB; 2º)
Investigar as possíveis contribuições de textos da literatura de cordel, centrados na temática dos
animais, para a formação de leitores em turmas de 5º ano da primeira Etapa do Ensino
Fundamental; 3º) Verificar, a partir do desenvolvimento de oficinas de leitura, embasadas na
leitura performática e no método criativo, o envolvimento das crianças com as referidas obras
de cordel, discutindo aspectos, como: recepção, criatividade e performance no desenvolvimento
das atividades com essa literatura em sala de aula. Assim, para cumprir com todos os objetivos
e favorecer a abordagem da Literatura de Cordel na escola, contemplaremos como objeto de
estudo a recepção dos cordéis Papo de Sapo, do poeta Hadoock de Aninha e O Bicho Folharal,
de Arievaldo Viana, por crianças do 5º ano, da primeira Etapa do Ensino Fundamental. A
escolha desse objeto se justifica pela proximidade, que acreditamos existir, entre alguns textos
da Literatura de Cordel e a poesia para crianças, uma vez que há, entre ambas, vários aspectos
em comum, como: a ludicidade, a linguagem, as temáticas próximas ao universo infantil, de
modo a promover o encantamento das crianças, assim como conduzi-las ao universo fantasioso
da leitura literária. Nesse contexto, defenderemos a importância do vínculo entre o lúdico
enquanto elemento integral antecedente a cultura (HUIZINGA, 1993) e o literário de forma que
se construa um encontro entre a criança e a poesia na escola, favorecendo o desenvolvimento
da fantasia, aspecto apresentado por Vigotski (2009), como o alicerce das ações criadoras que

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estão diretamente ligadas a outras modalidades da vida se revelando e favorecendo a
criatividade seja ela artística ou não. Ao discutir sobre a relação entre o real e o imaginário,
Held (1977) enfatiza que ambas as ações são indissociáveis, visto que razão e imaginação são
construídas uma pela outra. Ainda segundo a autora, a literatura enquanto arte atrai o leitor de
maneira genuína sem esperar um retorno ao mundo real, que pode acontecer ou não
imediatamente. Assim, a imaginação requer mediação e diálogo para cultivar a ampliação do
repertório infantil. Desse modo, propomo-nos a responder a seguinte questão de pesquisa:
Como a Literatura de Cordel (cordéis centrados na temática dos animais) pode contribuir com
a formação de leitores nas turmas de 5º ano, da primeira etapa do Ensino Fundamental, de uma
escola da zona urbana, do município paraibano de Gado Bravo? As fontes para o estudo
compõem-se das obras de estudiosos como Robert Jauss (1994) sobre a Estética da Recepção,
Zumthor (2007), com a leitura performática: o Método Criativo, de Bordini e Aguiar (1988),
pois, ao associar em um trabalho de leitura a performance artística e a perspectiva criativa,
acreditamos no protagonismo do discente para a preparação e o desenvolvimento das atividades
pretendidas. Para a discussão acerca da Literatura de cordel, recorremos a estudiosos como
Abreu (1999), Marinho e Pinheiro (2012), Pinheiro (2013, 2018, 2020), Wanderley e Lima
(2021). Sobre a formação do leitor e a mediação em sala de aula, o trabalho fundamenta-se em
autores como Vygotsky (2007), Zilberman (2003), Rouxel (2013) e Coracini (2005), bem como
à Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Fundamental (BNCC-EF, 2017), enquanto
documento oficial curricular que versa sobre a ideia de leitura literária. Em termos
metodológicos, esta pesquisa contemplará uma abordagem qualitativa, pois temos como
objetivo compreender o tema estudado, a Literatura de Cordel, através de teorias que nos
apresentam esclarecimentos sobre nosso objeto de estudo, de maneira a responder a nossa
questão de pesquisa, imergindo no mundo dos significados, das atitudes e das relações humanas,
que não podem ser quantificadas nem mensuradas, mas identificadas e avaliadas. A pesquisa
partirá de um conjunto de procedimentos teóricos, de modo que destacaremos duas estratégias:
a revisão bibliográfica e a pesquisa-ação. A primeira possui relevância na construção teórica,
embasamento e discussão conceitual do trabalho, ou seja, conhecer a temática, tomando como
base trabalhos já publicados, que versam sobre o nosso tema. Enquanto a segunda estratégia
possibilita uma relação direta entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa. Para a coleta dos
dados empregaremos a observação, utilizada em pesquisas qualitativas para mensurar uma
determinada realidade e a entrevista coletiva segundo a sistematização de Neto, Moreira e
Sucena (2002), pois esta nos permitirá aprofundar e identificar as percepções do grupo quanto
à investigação, sempre atentando para as opiniões, expressões, atitudes e comportamentos dos
sujeitos. Acredita-se então que o presente estudo pode contribuir para a reflexão e para a busca
de possibilidades de caminhos para a escolarização do gênero cordel, de forma que, através
desses textos, seja valorizada a vivência prazerosa de uma leitura, em que a cultura popular
esteja presente, instigando as crianças a perceberem a escola como um espaço vivo e dinâmico.
Dessa forma, conceberemos a leitura literária do cordel, integrada ao cotidiano da educação,
como possível contribuição para a formação de leitores em nosso Município, visto que o
aprimoramento da educação representa, sob muitos aspectos, o desenvolvimento da sociedade
como um todo. Perante o exposto, esperamos que este estudo possa contribuir para ampliar o
debate sobre o fortalecimento da escola como espaço prazeroso e de vivência da Literatura de

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Cordel como expressão da cultura popular nordestina em sala de aula, pois o gênero se
configura como um importante recurso para instigar, na escola, o gosto pela leitura, como
também proporcionar aos leitores e aos ouvintes o despertar da autonomia, uma vez que escola
e arte literária precisam ter para as crianças fins educativos, prazerosos, lúdicos, provocativos
da curiosidade e favorecedores do estímulo à criatividade e à descoberta de novos valores.
Palavras-Chave: Recepção; Literatura de Cordel; Leitura Literária; Mediação; Formação de
Leitores.

Referências

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“MUÑECAS”: MULHERES, HISTÓRIA E LEITURA DE FICÇÃO DE
AUTORIA FEMININA NAS AULAS DE LÍNGUA ESPANHOLA

Angélica Rose da Silva


Orientadora: Profa. Dra. Isis Milreu

Resumo: Considerando a problemática que envolve a histórica disjunção entre língua e


literatura voltadas ao contexto do ensino de Línguas Estrangeiras, este projeto de pesquisa toma
como ponto de partida a relação entre mulheres, história e ficção presentes no conto “Muñecas”
(2011), propondo uma experiência didática que considera a leitura de narrativas históricas um
produtivo recurso capaz de possibilitar a formação de leitores. Desse modo, esta pesquisa se
caracteriza como sendo de natureza aplicada, de cunho descritivo, cujos procedimentos de
análise se inserem no campo da pesquisa-ação. No que diz respeito às relações entre a literatura
e a história, propomos uma leitura crítica do corpus principal deste trabalho, ou seja, a narrativa
“Muñecas”, presente no livro Amores Insólitos de Nuestra Historia (2011), da escritora
argentina María Rosa Lojo, visando provocar questionamentos acerca dessa temática. A
referida autora é considerada uma das escritoras latino-americanas contemporâneas de grande
relevância e possui uma extensa e variada produção literária que se divide em poesias, romances
e contos. Também se sobressai na criação de narrativas de ficção histórica, ou de acordo com
André Trouche (2006), inclusas na categoria “narrativas de extração histórica”, em que utiliza
uma perspectiva híbrida que conecta a literatura e a história. Nesses escritos, ela promove uma
releitura de acontecimentos de determinados períodos históricos da Argentina do último século,
dando voz a personalidades que foram excluídas ou silenciadas da historiografia oficial, como
por exemplo, as mulheres. Pensando na relação entre a literatura e a história, percebemos a
importância que esses textos trazem para a preservação de momentos históricos, centralizando
na literatura uma forma de protestar contra a realidade e conservar as memórias vividas
(COSTA JUNIOR, 2017). Assim, neste estudo, pretendemos enfatizar a relação entre mulheres,
história e ficção nas aulas de Espanhol como Língua Estrangeira (E/LE), a partir da leitura do
conto lojeano selecionado, o qual permite a reconstrução do episódio traumático da última
ditadura cívico-militar ocorrida na Argentina, na década de 1970, entre outros eventos. O nosso
objetivo principal é a inserção da obra de autoria feminina latino-americana no ambiente
escolar, verificando como a ficção lojeana contribui com a formação leitora de estudantes da
educação básica. Além disso, objetivamos analisar como foi realizada a reconstrução de
acontecimentos históricos do país a partir da leitura da referida narrativa e refletir sobre como
os personagens femininos foram construídos e/ou reconstruídos no conto lojeano, apontando
suas principais características. Para alcançar nossas metas, realizaremos uma experiência de
leitura em uma turma de espanhol do ensino médio da rede pública estadual. Há três questões
que guiam o presente estudo: a) Como a leitura de “Muñecas”, a partir da perspectiva da
intersecção entre o protagonismo feminismo, a literatura de autoria feminina e a história recente
da Argentina, contribui para a formação de leitores brasileiros? b) Como a autora realiza o

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diálogo com a história de seu país?; e c) Como os personagens femininos foram reconstruídos
no conto de Lojo? A seguir, descrevemos os nossos procedimentos metodológicos através dos
quais serão respondidas as referidas perguntas. O primeiro passo será a pesquisa sobre a autora
e sua obra. Depois discutiremos as relações entre a literatura e a história, bem como a produção
literária recente de autoras latino-americanas. Após esta investigação, analisaremos o conto
selecionado. Em seguida, abordaremos a problemática do ensino de literatura nas aulas de ELE
e suas contribuições para a formação leitora de estudantes da educação básica. Na sequência,
elaboraremos e vivenciaremos uma sequência didática de abordagem do mencionado conto de
Lojo baseada no método do letramento literário, proposto por Cosson (2016), de modo a
orientar as leituras dos participantes da pesquisa. Partindo do exposto, esta pesquisa se justifica
pela necessidade de que as obras de autoria feminina latino-americana sejam amplamente
inseridas no ambiente escolar, deixando de ser apenas um mero instrumento para se estudar a
língua meta. A fundamentação teórico-metodológica desta investigação tem embasamento,
sobretudo, nos estudos acerca do ensino de literatura em línguas estrangeiras, da literatura de
autoria feminina latino-americana e do letramento literário. Entre outros referentes, apoiamo-
nos nos textos de Zolin (2009) sobre a crítica feminista e, quanto a escrita feminina na América
Latina, recorremos à Guardia (2013), além de buscar outras contribuições acerca da literatura e
da história com os aportes de Esteves (2010) e Trouche (2006). Para as questões didáticas,
fundamentamo-nos em Milreu (2019), Brait (2000) e Costa Júnior (2017), bem como em
Cosson (2016). O corpus analítico dessa pesquisa será composto de um questionário prévio
semiaberto, anotações de campo, atividades e o questionário final. Por fim, ressaltamos que,
por se tratar de um estudo que ainda se encontra em andamento, as conclusões só serão possíveis
após a reunião e análise dos dados ao término de sua efetiva aplicação. Desse modo, poderemos
refletir se as leituras dos participantes durante essa pesquisa contribuíram de maneira
significativa para o ensino/aprendizagem de E/LE e para a formação leitora dos participantes
da vivência de leitura literária.
Palavras-Chave: Ensino de literatura nas aulas de ELE; Literatura de autoria feminina latino-
americana; María Rosa Lojo; Literatura e história; “Muñecas”.

Referências

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VIVÊNCIAS COM A POESIA DE MÁRCIA KAMBEBA NA SALA

Catharie Brandão de Souza


Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves

Resumo: As pesquisas voltadas para o trabalho com o poema em sala de aula, no ensino
fundamental, revelam envolvimento dos leitores, quer pelo modo de abordagem, que
prioriza uma interação texto e leitor, quer pelas temáticas próximas ao horizonte de
expectativa deles, como atestam os trabalhos de Bueno (2015), Silva (2016), Batista (2016),
Botelho (2017) e Santos (2019). Se, por um lado, no período de vigência do PNLD, muitos
livros de poemas chegaram à escola pública, por outro, as obras de autores indígenas,
sobretudo no âmbito da poesia, foram quase insignificantes. Existe, portanto, uma lacuna
relativa ao conhecimento sobre a literatura indígena do Brasil, no Ensino Fundamental anos
finais, mesmo sendo um conteúdo obrigatório, conforme a lei nº 11.645/08, que modifica a
lei nº 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena. A necessidade de conhecer a cultura indígena foi percebida durante as
aulas de literatura, em uma escola privada, de ensino fundamental anos finais, no ano de
2021, em uma turma do 9º ano. O que desencadeou esse interesse foi a leitura do livro Órfãos
de Haximu, de Daflon e Daflon (2010), que retoma o conhecido Massacre de Haximu (1993).
A iquietação dos alunos levou-me a querer expandir este conhecimento por intermédio do
desenvolvimento de um projeto, com estudo da literatura indígena, mais especificamente
com poemas indígenas. Das leituras e pesquisas de autores indígenas resultou esta proposta
de projeto de dissertação, cuja questão de pesquisa é a seguinte: a poesia produzida
contemporaneamente por autores indígenas pode contribuir para formação de leitores de
poesia? É possível, a partir destas leituras, colocar em crise certas visões preconceituosas
sobre nossos povos ancestrais? Elegemos como objetivo geral desta pesquisa: Refletir, com
alunos do 7º ano do Ensino Fundamental, sobre convivência com a poesia da autora indígena
de Márcia Kambeba. Quanto aos objetivos específicos, destacamos: 1) analisar aspectos da
poesia de Márcia Kambeba, presentes nos livros Saberes da Floresta e O lugar do Saber
Ancestral; 2) vivenciar com os alunos poemas que favoreçam a aproximação da cultura
ancestral e por fim, 3) investigar a recepção desta poesia, atentando para aspectos da
identidade dos povos ancestrais e possíveis reverberações entre os leitores. Marcia Kambeba
nasceu na aldeia ticuna, em Belém do Solimões (1979), aos oito anos saiu da aldeia para a
cidade, aos quatorze anos fez seus primeiros versos e mais tarde graduou-se e tornou-se
mestra em geografia. Dessa forma, escolhemos esta autora primeiro devido a sua história
que transita entre a aldeia e a cidade, sempre lutando por uma desmistificação da visão
preconceituosa sobre os indígenas. Segundo, porque os seus poemas são apresentados com
um viés educativo, demonstrando a luta dos Kambebas através de aspectos que relacionam
ao cotidiano indígena aos aprendizados com os seus ancestrais, enfatizando a identidade e a
ancestralidade. Essa pesquisa se justifica pela necessidade de diminuir a lacuna deste
conhecimento em sala de aula, visto que isto impossibilita aos alunos terem acesso a uma

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cultura rica, que foi trilhada pelos ancestrais. Como recortes teóricos que orientaram nossa
pesquisa, destacamos: No campo das reflexões sobre a literatura indígena: Almeida (2009),
Cagnet (2015), Dorrico (2021), Graúna (2013), Munduruku (2010 /2017), Potiguara (2019),
Thiel (2012). No campo metodológico lançará mão do método recepcional formulado por
Bordini & Aguiar (1988), acerca da formação de leitores bem como de Oliveira (2018) que
sistematizou uma proposta de método performático. Bajour (2012), Pinheiro (2018) e
Rosemblat (2002) também contribuem com a reflexão relativa a uma abordagem interativa
com o texto literário. Metodologicamente a nossa pesquisa é aplicada, uma vez que gera o
conhecimento através de uma aplicação prática e apresenta uma abordagem bibliográfica
porque também investiga meteriais teóricos e por meio do método qualitativo procura
interpretar um objeto, neste caso os poemas da Marcia Kambeba. Quanto aos procedimentos,
lançaremos mão do método performático, com amparo por conversas literárias. A pesquisa
está dividida em três fases: 1) Planejamento: (preparação teórico-metodológicas, verificação
e leitura da fortuna crítica sobre Marcia Kambeba, aprofundamento da leitura de poemas
presentes nas obras Saberes da Floresta e O Lugar do Saber Ancestral. 2) Prática de sala de
aula: nesta etapa teremos três momentos: A) sondagem diagnóstica: aqui faremos a
visualização do filme “Tainá: a origem” e do depoimento de Marcia Kambeba, gravado
durante o evento Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e Realizadores Indígenas
(2016). A seguir, aplicaremos um questionário para identificarmos o panorama e expectativa
dos alunos em relação ao conteúdo exposto. Para registro das recepções utilizaremos o diário
de leitura, bem como, gravação de vídeo e áudio. B) Leitura dos poemas utilizaremos o
método performático com o mapa sonoro, para que os alunos observem as variadas
entonações que usarão na leitura, utilizando o corpo unido a sua voz; C) em seguida recitarão
os poemas escolhidos para as outras turmas. 3) reflexão sobre os dados e construção de
categorias de análise. Pretendemos, através desta pesquisa, possibilitar uma formação leitora
reflexiva da poesia indígena, escrita pelos próprios nativos.
Palavras-Chave: Poesia indígena; Leitura Performática; Márcia Kambeba.

Referências
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DRAMATIZAÇÃO DO CORDEL NA SALA DE AULA: LEITURA,
LEITOR E RECEPÇÃO DA OBRA O ROMANCE DO CONQUISTADOR,
DE LOURDES RAMALHO

Claudson Faustino
Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves

Resumo: A proposta de ensino de textos teatrais que dialogam com cordéis, visa desenvolver,
dinamicamente, a formação do leitor literário na sala de aula, criando situações e condições
desafiadoras para que os alunos se sintam motivados a ler e discutir suas leituras. A literatura
popular consegue um realce de suas nuances com a leitura em voz alta, ao ser declamada,
cantada, dançada ou encenada performaticamente. Nesse universo estão as cantigas de rodas,
as cirandas, as parlendas, os acalantos, os aboios, repentes, embolada, o cordel e o teatro
popular. Para Cascudo (1984), estas expressões culturais são movimentadas e mantidas pela
tradição oral, e esta tradição é transmitida de geração em geração. Diante dessas expressões, o
teatro de cordel, que é oriundo do universo da narrativa oral em versos, pode ser caracterizado
em sua construção como uma forma dramática híbrida. Para Diógenes Maciel e Valéria
Andrade (2008, p.110), “tal forma reelabora o folheto nordestino em chave dramática, não
apenas pela utilização dos versos, mas na medida em que utiliza as sextilhas, com metrificação
regular em redondinha maior, como veículo para expressão dos diálogos ou excertos
narrativos.” A nossa pesquisa é voltada para o teatro de cordel de Lourdes Ramalho, que
apresenta uma proposta estética voltada à ressignificação das raízes étnico-culturais do universo
popular nordestino. Maria de Lourdes Nunes Ramalho nasceu em 1923, na localidade sertaneja
de Jardim do Seridó, Rio Grande do Norte, vindo, posteriormente, ser radicada em Campina
Grande, Paraíba. O nosso projeto se organiza a partir das seguintes perguntas: como se dará a
recepção do teatro de cordel de Lourdes Ramalho na sala de aula? De que forma a leitura de
uma obra dramatúrgica em verso pode contribuir para a formação de leitores do ensino
fundamental? O teatro de cordel poderá proporcionar aos discentes o gosto pela leitura
dramatizada, que os levará a desenvolver a oralidade, a performance de voz e de corpo.
Trabalhar a performance do texto literário é um desafio para os professores e os alunos na sala
de aula. A voz se torna um suporte para apresentar e representar um texto, sendo a fala a
principal linguagem do corpo. A declamação poética da literatura de cordel é de certa forma
uma performance teatral; é através desse suporte vocal que muitos poetas apresentam seus
folhetos. O Romance do Conquistar é um texto que apresenta um personagem mítico que passa
a utilizar suas espertezas nas feiras-livres das pequenas cidades nordestinas, causando o
encantamento e o desejo nos corações das mulheres. A obra traz discussões a respeito do
homem nordestino que, apesar de enfrentar as dificuldades, está definido como homem valente,
rústico e que, consequentemente, tem a virilidade sexual valorizada. Trabalhar esse tipo de texto
na sala de aula traz a vivência cultural dos alunos, além de incentivar à leitura literária
dramatizada. Dessa maneira, esse estudo tem como objetivo geral refletir sobre como se dará a
recepção da leitura O Romance do Conquistador por alunos do 9ª série do Ensino Fundamental
de uma escola pública do município de Cruzeta, Rio Grande do Norte, e como objetivos
específicos: 1) analisar os personagens e o enredo de O Romance do Conquistador, de Lourdes
Ramalho; 2) discutir temas centrais da peça e vivenciar possibilidades de performances orais
de cenas da peça em estudo; 3) refletir sobre a recepção desse texto pelos alunos, focando nas

ISSN - 2526-5024 27
possíveis aproximações com o horizonte de expectativa deles. Tendo como foco a formação de
leitores de teatro de cordel, tomaremos como fundamentação teórica a teoria da estética da
recepção e do efeito em Iser (1999) e Jauss (1979; 1994) e o método recepcional em Bordini e
Aguiar (1993, p. 15), que ressaltam que as obras literárias são dotadas de polissemia que
permitem extrair “o prazer da leitura”, explorando a imaginação e fazendo repensar “a realidade
concreta”, ajudando a formar sujeitos autônomos e críticos pela leitura literária. No âmbito das
reflexões sobre o ensino de literatura popular teremos como base Abreu (1999) e Maxado
(1980), que destacam a historiografia da literatura de cordel; Marinho e Pinheiro (2012) e
Pinheiro (2007 e 2013), que retratam os direcionamentos dados para uso de folhetos de cordel
na sala de aula; Andrade e Maciel (2005) e Maciel (2008 e 2010), que abordam a pesquisa em
dramatização; Magaldi (1985) que aborda a historiografia e as características do teatro e
Pallottini (1989), que traz a construção da personagem no teatro. Sobre a oralidade e a
performance teremos como base os estudos de Kefalás Oliveira (2018) e Paul Zumthor (1993
e 2007). Esta pesquisa é de natureza qualitativa, com viés etnográfico, uma vez que iremos
coletar dados, aplicar entrevistas, questionários para os alunos, depoimentos escritos e gravados
em vídeos e em áudios, fotografias etc. Para Moreira e Caleffe (2006, p.73), “a pesquisa
qualitativa explora as características dos indivíduos e cenários que não podem ser facilmente
descritos numericamente.”. A pesquisa se dividirá metodologicamente em três momentos que
não se darão necessariamente na ordem que segue. O primeiro contempla um estudo teórico-
metodológico da literatura popular na sala de aula. Esta fase da pesquisa buscará um
embasamento teórico maior por parte do pesquisador, bem como um diagnóstico de
experiências com a literatura popular e seu ensino. O segundo momento diz respeito à leitura
da obra em sala de aula, documentação da recepção para posterior reflexão. O enfoque que visa
permear a leitura literária terá como foco a oralidade, a performance de voz e de corpo e a
declamação poética do aluno leitor/ouvinte. Nesta fase vamos provocar debates e reflexões
sobre o enredo da peça, atento a falas, conflitos, acionando o horizonte de expectativas dos
leitores. No terceiro momento procederemos à reflexão sobre o percurso da recepção,
formulando categorias que serão recolhidas da vivência e que poderão apontar resultados
significativos. A intervenção na sala de aula ocorrerá com o texto O Romance do Conquistador,
de Lourdes Ramalho, que será sugerido aos alunos. O público contemplado será uma turma do
9º ano do ensino fundamental de uma escola pública do município de Cruzeta-RN. O tempo
pode ser flexível, mas a estimativa é que sejam sete semanas que correspondem a 14 aulas.
Dessa forma, os resultados esperados dizem respeito à possibilidade de contribuir com a
formação de leitores.
Palavras-Chave: Teatro de Cordel; Lourdes Ramalho; Recepção; Formação do leitor.

Referências

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São Paulo: COSAC NAIFY, 2007.

ISSN - 2526-5024 29
VIVÊNCIAS ESTÉTICAS E O ENSINO DAS LITERATURAS DOS
PALOPS PARA A CONTRIBUIÇÃO DA ABORDAGEM
INTERCULTURAL NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS DOS CURSOS DE
LETRAS DAS IES PARAIBANAS

Elana Gonçalo de Araújo


Orientadora: Profa. Dra. Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega

Resumo: As literaturas africanas produzidas nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
(PALOP) são literaturas muito recentes e demonstram, entre outros aspectos, a luta contra o
regime colonial imposto nos países africanos. O ensino dessas literaturas nos cursos de Letras
do Brasil, de acordo com Lima (2018), tem seu pioneirismo na UFRJ, no ano de 1970, por meio
de duas antologias elaboradas pelo professor Jorge Fernandes da Silveira, para ser utilizada em
suas aulas de literatura lusitana. Na mesma década, as professoras Maria Aparecida Santilli, da
USP, e Vilma Arêas, na PUC-Rio, também implantaram a leitura de textos africanos de língua
portuguesa como objeto de estudo em suas disciplinas. Pesquisadores e estudiosos da época
criticaram a metodologia adotada por entenderem que os textos produzidos por africanos eram
panfletários e não literários. No século XXI, políticas públicas foram desenvolvidas e
determinaram a inserção do ensino da cultura afro-brasileira e africana na Educação Básica, a
exemplo da Lei 10.639-2003 e da resolução nº 1/2004, que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana. Não obstante essa obrigatoriedade, pesquisas têm demonstrado que
muitos docentes ainda se esquivam em trabalhar com as literaturas produzidas em solo africano,
por razões que vão desde a inexistência de leituras em sua formação inicial quanto pela visão
estereotipada acerca de África. Neste sentido, urge a necessidade de uma educação literária
focada nas elaborações subjetivas dos pesquisadores e na formação da consciência crítica
daqueles que se dispõem a ler e a estudar os textos africanos. Um dos ganhos a leitura e o estudo
dessas literaturas constitui em possibilidades de trocas interculturais que apresentam
implicações psicológicas, sociais, culturais e políticas bastante significativas. A perspectiva
intercultural proporciona uma visão plural das diferentes representações culturais, o que além
de uma educação mais democrática, nos coloca em situação bem mais inclusiva, porque assim,
é possível o leitor se identificar com características que determinem seu estilo de vida e não se
sentir fora dos aspectos culturais trabalhados na escola. Sabendo que interculturalidade
contribui de uma forma significativa no desenvolvimento educacional e vendo que o espaço
escolar é por lei obrigado a trabalhar a cultura afro-brasileira e africana, logo é necessário trazer
à tona as literaturas africanas de língua portuguesa, que além de ter sido por muito tempo
silenciada, nos faz imergir em um processo de reconstrução social, o que nos conscientiza que
a realidade de grupos sociais que muitas vezes não são favorecidos é resultado de um processo
histórico. Para a potencialização do ensino de literaturas africanas de língua portuguesa vemos

ISSN - 2526-5024 30
a perspectiva intercultural como uma abordagem necessária à preparação do docente, que atua
como mediador entre o aluno e a leitura, por entender que a interculturalidade pode trazer uma
inclusão maior dos alunos para o desenvolvimento da leitura literária no ensino básico. Com
isso, a pergunta que irá nortear o trabalho é: Como a compreensão das literaturas africanas de
língua portuguesa pode contribuir para a abordagem intercultural no processo inicial de
formação docente? Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo geral: Analisar como
as literaturas africanas de língua portuguesa podem contribuir para um processo de abordagem
intercultural na formação docente nos alunos do curso de Licenciatura em Letras nas
universidades do estado da Paraíba. E como objetivos específicos: Refletir sobre a inserção das
literaturas africanas de língua portuguesa nos cursos de licenciatura em Letras a partir de seus
documentos parametrizadores; diagnosticar aspectos que ainda precisam de atenção na
compreensão da interculturalidade para a formação do professor leitor literário de literaturas
africanas de língua portuguesa na graduação em Letras; e analisar comparativamente a
importância das literaturas africanas de língua portuguesa e sua interculturalidade para o
processo de formação docente dos colaboradores da pesquisa e matriculados nos cursos de
Letras das IES paraibanas. Como aporte teórico utilizaremos, no que tange a formação do
docente, os postulados que TARDIF (2010) traz em sua obra uma discussão acerca dos saberes
necessários para o trabalho docente em sala de aula; sobre a formação do professor de literatura,
teremos o auxílio de BORDINI E AGUIAR (1998) e COMPAGNON (1999), que mostram
como a literatura é essencial para nos capacitar como cidadãos conscientes. No que diz respeito
à teoria pós-colonial, que nos propõe a promoção das minorias que por muito tempo foram
silenciadas, vamos ter como referencial teórico COSTA; TORRES; GROSFOGUEL (2018) e
BONNICI (2009); sobre o processo de interculturalidade, teremos os estudos de SANTOS
(2003) e CANDAU (2012). A pesquisa é do tipo etnográfica porque incidirá,
predominantemente, na análise das respostas dos alunos acerca da percepção do lugar das
literaturas dos PALOP em seu processo de formação inicial e as expectativas para a sua prática
docente, quando concluir a graduação e passar a interagir no espaço educacional. O percurso
metodológico contemplará duas etapas: inicialmente será feito um levantamento bibliográfico
com o propósito de investigar como os documentos oficiais colocam o ensino das literaturas
africanas de língua portuguesa na graduação, quais espaços e especificidades eles possuem no
ensino superior. Com isso, além de pesquisar as disciplinas que são ofertadas na graduação de
Letras, será feita uma análise da ementa e dos programas das disciplinas, buscando descrever
aspectos de interculturalidade como possibilidade de formulação estéticas. A segunda etapa terá
como objeto de coleta de dados um questionário virtual, a ser distribuído entre os graduandos
que estão na fase final do curso de Letras nas três IES da Paraíba, UFPB, UFCG e UEPB, com
vistas a um demonstrar a atual situação do ensino de literaturas africanas de língua portuguesa
no ensino superior. A esse respeito, a pesquisa também é de caráter exploratório, porque
trabalhará com a análise dos resultados obtidos com a pesquisa de campo, tendo como enfoque
os postulados bibliográficos acerca de formação docente e as orientações dos documentos
oficiais, confrontando-as com os currículos acadêmicos do ensino superior. Esperamos que a
metodologia de análise contribua tanto para descrever o modo como as literaturas africanas são
trabalhadas, quanto para apontar caminhos no sentido de ampliação do repertório dessas leituras
nas IES quanto no processo formativo dos colaboradores envolvidos.

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Palavras-Chave: Literatura; Literatura africana de língua portuguesa; Interculturalidade;
Formação docente.

Referências

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Caderno Seminal Digital, v.29, n. 29, jan./jun. 2018. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/cadernoseminal/article/viewFile/30997/23745. Acesso em: 29 de jan de
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Janeiro: Civilização brasileira, 2003.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

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XICA VS CHICA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS OBRAS
MEMÓRIAS DO DISTRITO DIAMANTINO DA COMARCA DO SERRO
FRIO E XICA DA SILVA

Ester Estevão da Silva


Orientador: Prof. Dr. José Edilson Amorim

Resumo: Desde o período escravocrata a história de homens e mulheres negras foi propagada
em uma perspectiva discriminatória, estereotipada e eurocêntrica por parte da classe dominante,
acarretando uma inferiorização e marginalização histórica, a partir da manipulação das
formações discursivas e ideológicas. Seguindo o mesmo processo de descrição ao qual as
demais figuras negras foram submetidas, a personagem histórica Francisca da Silva de Oliveira,
a “Xica da Silva” tem sua história distorcida, ao ser retratada, constantemente, através de uma
visão de pretensa inferioridade da personagem negra, estereotipada e subalternizada frente às
figuras brancas. Para a constatação desse fato, temos como objeto de estudo a obra documental
Memórias do Distrito Diamantino (1868), de Joaquim Felício dos Santos, na qual Francisca da
Silva de Oliveira aparece, pela primeira vez, como personagem (Chica), e a obra Xica da Silva
(2007), de João Felício dos Santos, o romance histórico que reconstrói a vida de Chica e que
serviu de base para o filme, de mesmo nome, que difundiria, posteriormente, a história da
personagem baseada em referente empírico no cinema nacional. Apesar das obras mencionadas
abordarem o mesmo contexto histórico e relatarem a existência da mesma personagem, a partir
de ideologias crivadas de preconceitos racistas e sexistas, observa-se, no processo de construção
narrativa, particularidades quanto à reconstrução da figura histórica e seu desfecho no enredo.
Diante disso, tomando a literatura como elemento problematizador da história, buscamos
compreender, através de uma reflexão acerca das “verdades históricas” apresentadas em ambas
as narrativas, os agentes constituintes e indicadores das idealizações implícitas nas obras.
Assim, partimos do pressuposto levantado por Foucault (2008), de que a narrativa histórica
consiste em um conjunto de acontecimentos organizados e descritos pelo historiador em que há
uma parcialidade do autor frente aos fatos expostos, de modo a adaptar as “verdades históricas”
segundo a sua ideologia. Para tanto, é possível compreender que a perspectiva e,
consequentemente, o discurso autoral, sobre determinados acontecimentos, é influenciado e
delineado por fatores externos, como o gênero, a época, a etnia, a classe e a visão social do
período o qual o autor está inserido. Isto posto, justificamos a pesquisa mediante a relevância
da discussão, bem como a problematização, acerca da veracidade histórica da participação de
pessoas negras na história do Brasil, especificamente mulheres, através da compreensão de
possíveis recursos narrativos que indiciem a concepção do autor frente aos acontecimentos
reconstruídos. Assim, tomamos como amostra para o estudo deste acontecimento, a personagem
histórica negra Francisca da Silva de Oliveira e sua reconstrução na obra documental Memórias
do Distrito Diamantino e na obra literária Xica da Silva para, a partir de então, responder a

ISSN - 2526-5024 33
seguinte indagação: como a representação da personagem Chica/Xica da Silva nas obras
Memórias do Distrito Diamantino da Comarca de Serro Frio e Xica da Silva reflete a distorção
e demérito da mulher negra no imaginário histórico social da literatura brasileira? Diante do
exposto, objetivamos analisar comparativamente o texto histórico do século XIX, Memórias do
Distrito Diamantino da Comarca de Serro Frio, de Joaquim Felício dos Santos e a obra
ficcional Xica da Silva, escrita no século XX, pelo autor João Felício dos Santos, com o intuito
de investigar a representação da mulher preta Chica da Silva na narrativa literária e histórica
brasileira. A pesquisa irá indicar os elementos discursivos que evidenciam a subjetividade
autoral e, a partir disso, discutir sobre como a manipulação dos fatos históricos, presente nestas
obras, reflete a distorção e o demérito histórico que as mulheres negras foram/são submetidas.
Para tanto, visando alcançar o objetivo proposto, o estudo será construído diante dos seguintes
procedimentos: inicialmente, iremos caracterizar o discurso histórico sobre a personagem na
obra Memórias do Distrito Diamantino Comarca de Serro Frio, de Joaquim Felício dos Santos.
Em seguida, compreenderemos a caracterização literária da personagem no romance Xica da
Silva, de João Felício dos Santos. Logo após, será realizada a comparação da representação da
personagem, buscando detectar repetições e diferenciações, nas duas obras pesquisadas. E, por
fim, iremos evidenciar, a partir dos resultados obtidos, a relação entre a formulação identitária
da personagem Chia/Xica da Silva e a distorção, e demérito da mulher negra no imaginário
histórico social da literatura brasileira. Dessa forma, esta investigação, possibilita o
desenvolvimento de um pensamento crítico, através de um procedimento histórico, acerca da
posição social histórica ocupada pelas mulheres negras, embasada na representação de uma
figura negra feminina na historiografia e literatura brasileira. Diante disso, esta pesquisa é de
abordagem qualitativa, no qual, será utilizado o método comparativo para a explicação dos
fenômenos observados no decorrer do trabalho, dado que, a análise partirá da comparação das
obras investigadas para estabelecer as problematizações existentes na recriação identitária da
personagem, a partir de fragmentos dos textos. Para tanto, este projeto é de natureza
bibliográfica e recorre ao cunho descritivo-analítico para investigar a representação ideológica
que os autores, João Felício dos Santos e de Joaquim Felício dos Santos, construíram acerca da
personagem em questão. Diante disso, por meio dos recortes das obras, será estabelecido uma
correlação entre os dados obtidos durante a pesquisa e o arcabouço teórico-bibliográfico
levantado, de modo a constatar a correlação existente entre a reformulação da personagem
histórica Francisca da Silva Oliveira e a propagação histórica de um pensamento misógino e
discriminatório acerca das mulheres negras na literatura brasileira. Para estruturar a pesquisa,
utilizaremos como arcabouço teórico os conhecimentos de Carvalhal (2006) e Nitrini (2000) no
que tange a análise comparada entre as literaturas investigadas. No que abarca a investigação
da formulação analítica da personagem nas obras, recorreremos ao conhecimento de Aguiar e
Silva (1990), Candido [et. Al] (1974), Franco Júnior (2005), Reis e Lopes (1988) e Brait (1990).
Além disso, utilizaremos os estudos de Andrade (2005), Hutcheon (1991), Jacomel e Silva
(2007), Le Goff (2013) e Schaff (1995) para a compreensão da formulação do discurso histórico
e literário. Nesse contexto, usufruímos das teorias de Bakhtin (2006), Fiorin (2012), Florêncio
[et. Al.] (2009), Foucault (1979; 1996; 1999; 2008), Pêcheux (1997; 2012) e Orlandi (1978;
1998; 2007; 2008; 2010; 2012; 2020), no que abrange a análise do discurso, para compreensão
da perspectiva ideológica presente nas obras investigadas. Para tanto, empregaremos as teorias

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de Esteves (2010) e Lukács (2011), no que abrange a definição do romance histórico
contemporâneo. Por fim, utilizamos os teóricos Abrahão e Soares (2011), Almeida (2019),
Hooks (2014; 2019), Cândido (2006), Davis (2016), Duarte (2000, 2011), Gonzalez [et. Al.]
(1982; 2020), Hall (2000; 2016), Nascimento (2016), Proença Filho (2004), Silva (2013), Souza
(2021) e Vergès (2020), para estabelecer as relações existentes entre as questões sociais das
mulheres negras e afro-brasileiras e a literatura.

Palavras-Chave: Xica da Silva; Representação; Personagem; Mulher negra.

Referências

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ROMANCE SEIS VEZES LUCAS, DE LYGIA BOJUNGA, NA SALA DE
AULA: CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO DE LEITORES

Gabriele de Oliveira Souza


Orientador: Prof. Dr. José Helder Pinheiro Alves

Resumo: A leitura de obras literárias no Ensino Fundamental, em escolas públicas, é ainda


bastante restrita. Mesmo que em anos passados muitas obras literárias tenham chegado às
escolas, através do PNBE, não se observa um trabalho constante de incentivo à leitura literária.
Esta ausência se configura numa perda na formação leitora de milhares de jovens. A
aproximação e identificação do sujeito leitor com a obra acarreta o que Azevedo (2004) chama
de comunhão literária, que consiste na carga de interesse que existe entre a pessoa que lê e o
texto. A partir de experiências realizadas ainda na graduação através do Estágio Supervisionado,
a leitura de um romance de uma autora pertencente ao universo infanto-juvenil chamou bastante
atenção. Tratava-se do romance A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga (1976). A narrativa da
escritora é conhecida pelo teor interativo com o seu leitor e por conter temáticas
pertinentes ao universo infanto-juvenil apresentadas através de uma linguagem
coloquial, inventiva, questionadora, com destaque para o uso constante do diálogo como
procedimento que revela o conflito de um modo mais direto. A partir da vivência com livros da
autora em sala de aula e, consequentemente, da recepção do romance e da relação com a sua
escrita, levantou-se a seguinte questão de pesquisa: Que possíveis reverberações pode ter a
leitura de um romance juvenil entre leitores do fundamental Anos Finais? A fim de responder
ao questionamento, elegeu-se os seguintes objetivos: Geral: Refletir sobre a recepção do
romance Seis Vezes Lucas, de Lygia Bojunga (1996), em uma turma de 8º ano de uma Escola
Pública da cidade de Campina Grande. Quanto aos objetivos específicos, destacamos: 1)
Investigar as vivências dos alunos com a leitura de romances; 2) Analisar o romance em questão,
atento a seus temas e linguagem; 3) Refletir sobre a recepção da obra tendo em vista possíveis
reverberações que ela possa ter sobre os leitores. Uma relevância do presente estudo é que,
durante o trabalho a ser desenvolvido, na mediação de discussões, será possível fomentar
diálogos de opiniões e percepções dos discentes a respeito de cada capítulo da obra que lerão.
Pensa-se também no quanto a pesquisa poderá contribuir para com a fortuna crítica da área de
literatura e ensino, bem como de estudos sobre a autora. O estudo buscará apoio teórico em três
âmbitos: a) No âmbito da Estética da Recepção; nomes como Jauss e Iser (1979) no que se
refere à valorização do leitor e a recepção da obra literária, Rouxel (2014) com sua concepção
de Leitura Subjetiva, bem como Bordoni e Aguiar (1988) e Azevedo (2004) acerca da formação
de leitores, suas dificuldades e desafios. b) No âmbito da reflexão sobre o romance juvenil e da
fortuna crítica da escritora, nomes como Gregorin Filho (2011) e Antunes (2019) fomentam
discussões sobre a relação do adolescente com o ato da leitura. Silva (2016), no que se refere à
teoria do romance e suas reflexões sobre o ensino, assim como, Walty e Paulino (1995), no
âmbito da teoria da literatura na escola e na sua fluidez do estudo de gêneros. Alves (2014) e
Coelho (2000), que levantam discussões sobre a literatura e a sala de aula e refletem sobre o
universo de experiência dos discentes. Quanto à fortuna crítica da escritora, conta-se com
Sandroni (1987), que, desde a década de 80 com a obra De Lobato a Bojunga tornou-se uma
das pioneiras nos estudos sobre a autora. Outros autores(as) como Silva (2006), Ando (2011)

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e Azevedo (2019) se debruçam de um modo mais investigativo sobre a escrita de Bojunga e
suas particularidades na área da Literatura infanto-juvenil. c) No âmbito metodológico, a
pesquisa caracteriza-se como uma Pesquisa-Ação, visto que será desenvolvida a partir de um
Estudo de Campo com a experiência em sala de aula, que fundamenta-se no Método
Recepcional e na Leitura Subjetiva. O percurso terá três momentos que muitas vezes se darão
de modo concomitante. Primeiro, faremos um levantamento e leitura da fortuna crítica da autora
e, a seguir, propomos uma observação mais analítica de Seis Vezes Lucas (1996). O
aprofundamento da leitura da obra será de maior importância para, posteriormente, podermos
instigar os leitores na percepção de diferentes níveis do romance. A seguir procederemos ao
conhecimento da escola e dos alunos que serão os sujeitos da leitura. Será aplicado um
questionário ao professor(a) para conhecermos seu trabalho com obras literárias, bem como aos
alunos para detectarmos o horizonte de expectativa deles. De posse desse diagnóstico,
planejaremos nossa intervenção, com destaque para documentar a recepção através de
gravações das aulas e, no formato escrito, com os Diários de Leitura, construindo desse modo
duas modalidades de registro. A partir dos dados obtidos no experimento, passaremos a refletir
sobre seu alcance, elegendo categorias que possam apontar o modo como os leitores dialogaram
com a obra, os limites dos procedimentos escolhidos, suas possíveis identificações com aspectos
do romance, dentre outras questões.
Palavras-Chave: Ensino de Literatura; Formação de Leitores; Lygia Bojunga.

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LÀ OÙ IL FAIT SI CLAIR EM MOI, DE TANELLA BONI NO ENSINO
DE FRANCÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM ESPAÇO PARA
REFLEXÃO NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE

Luana Costa de Farias


Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz

Resumo: Considera-se que ao se estudar uma Língua Estrangeira (doravante LE) o estudante
pode ser inserido em um espaço propício às descobertas linguísticas, desenvolvendo múltiplas
competências ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Nesse âmbito, podemos afirmar
que ao aprender uma nova língua, o aprendiz tem a possibilidade de conhecer a cultura e os
mais diversos aspectos sociais que estão ligados a ela, isso deve ser observado também, quando
se trata do professor em formação inicial, já que ele passa por um processo semelhante de
construção de conhecimento; no nosso caso, enfocamos o ensino do Francês como Língua
Estrangeira (FLE). Notamos com o passar do tempo que diversas metodologias e perspectivas
foram sendo inseridas nas aulas de línguas, bem como a utilização de materiais didáticos e
documentos autênticos como suporte pedagógico. Em se tratando da literatura, renomados
especialistas como Gruca (2010), Séoud (2010), Tagliante (2006) dentre outros, apresentam
reflexões sobre o texto literário em aula de FLE, bem como outros pesquisadores que o abordam
também no contexto acadêmico e nas grades curriculares dos cursos das formações em Letras-
Língua Francesa. Ao trazermos a literatura para o contexto do ensino de língua francesa,
podemos instigar e motivar os aprendizes à leitura literária em LE e auxiliá-los de modo
determinante no desempenho da atividade leitora e na aprendizagem da língua alvo. Dessa
maneira, entendemos que o texto literário tem um papel fundamental no ensino de línguas, pois
o aprendiz passa a ter contato com outras culturas, sendo conduzido às descobertas múltiplas e
a um enriquecimento não somente enciclopédico em língua francesa, mas também linguístico,
cultural e afetivo. No que diz respeito à leitura e à leitura literária em LE, mais especificamente,
compreendemos que o aprendiz se vê adentrando em um contexto de uma língua diferente da
sua, fazendo uso de seu conhecimento de mundo, mobilizando as estruturas cognitivas no ato
da leitura. Desse modo, observamos que a literatura tem um papel importante na formação de
professores de FLE, pois possibilita uma compreensão de questões subjetivas, sociais e até
mesmo históricas. Nesse sentido, oportunizaremos a leitura de uma obra que é produzida fora
da França, ou seja, incitando às novas descobertas literárias em muitos sentidos, pois
trabalharemos com poesia africana de língua francesa, produzida por uma poeta da Costa do
Marfim. Partindo desse ponto, esta pesquisa se justifica pela necessidade de possibilitar aos
professores de FLE em formação inicial um conhecimento sobre a poesia africana de língua
francesa, mais especificamente da escritora Tanella Boni, pelo seu engajamento social,
filosófico e pela qualidade de sua produção poética. Dentre a produção da referida poeta,
selecionamos a antologia intitulada Là où il fait si clair em moi, contendo poemas que abordam
temáticas como o exílio de ser mulher, além de outras que enfocam a escrita de autoria feminina.
Logo, ao trazermos essa poesia para a sala de aula, o estudante da graduação de Letras passa a
ter um maior contato com essa obra e com o gênero lírico, -embora já o tenha tido, de modo
inicial, no ensino regular-, tendo a oportunidade de observar com um olhar mais crítico cada
verso e apreciar a poética. Ao trabalharmos com poesia em aulas de FLE, há uma probabilidade

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de o estudante sentir-se atraído pelas peculiaridades da obra, além de observar a métrica, a rima,
as imagens e todos os outros elementos relacionados a esse gênero. Observamos, também, que
em nosso meio acadêmico, o espaço para se trabalhar poemas em aula de FLE ainda é restrito
tanto para se apreciar a obra, quanto para se discutir e explorar a literatura produzida por
mulheres, justificando mais uma vez a importância de pesquisas como esta. Sendo assim, esta
investigação é norteada pela seguinte pergunta: Como a abordagem de poemas da antologia Là
où il fait si clair em moi, de Tanella Boni pode colaborar para a formação leitora da obra literária
do professor de FLE em formação inicial? Estabelecemos como objetivo geral: Investigar a
repercussão da leitura literária de dois poemas da antologia Là où il fait si clair em moi, de
Tanella Boni em aula de FLE. Como objetivos específicos, temos: a) analisar dois poemas
intitulados Les mots sont em armes préférées e Mémoire de Femme, ponderando sobre o papel
da mulher inserida na sociedade marfinense, estabelecendo-se uma ponte intercultural com a
realidade brasileira; b) observar a reverberação da abordagem dos poemas citados, na formação
inicial de professores de francês, evidenciando as reflexões despertadas a partir da leitura; e por
fim; c) verificar as coadjuvações da leitura literária na formação inicial do professor de FLE, a
partir das trocas interculturais possibilitadas pelos poemas. Nossas reflexões estão ancoradas
no pensamento de Blondeau e Allouache (2008); Gruca (2010); Jover-Faleiros (2009), dentre
outras referências sobre o texto literário em aula de FLE; e, ainda em Vergès (2019) e Hollanda
(2020) para as considerações sobre o papel da mulher na literatura. Para o desenvolvimento
desta pesquisa-ação, ofertaremos um curso de extensão para estudantes da graduação de Letras
Língua Francesa, aberto à comunidade. O curso intitulado La poésie de Tanella Boni em classe
de FLE: courage et résistence, terá carga horária total de 20h, divididas em 10 encontros
síncronos com 2h de duração, cada; e, 10 assíncronos. Devido à pandemia, todos esses
encontros serão realizados de maneira remota, pela plataforma Google Meet. Durante os
encontros, serão realizadas atividades de leitura individual e em grupo bem como a análise dos
poemas pelos estudantes. Haverá momentos, também, para discussões e para compartilhar as
tais leituras realizadas. A presente pesquisa se caracteriza como uma pesquisa-ação, além de
ser documental, bibliográfica e interpretativa, também inserida no âmbito das pesquisas
qualitativas (GERHARDT; SILVEIRA, 2009) e descritivas, uma vez que esse tipo de pesquisa
tem como objetivo principal descrever as características de determinado fenômeno com a
utilização de dados coletados e anotações feitas durante a sua realização. O objeto de estudo
desta pesquisa-ação é formado pelos dois poemas: Les mots sont em armes préférées e Mémoire
de Femme, da antologia Là où il fait si clair em moi, de Tanella Boni e pelas atividades e demais
exercícios feitos pelos estudantes durante o seu desenvolvimento. Tais poemas escolhidos são
importantes por abordarem temas que são necessários para discussão em sala como
desigualdade e discriminação social vivenciados na pele, memórias de casa ainda presentes e
sobre a mulher, inserida em todos esses contextos. Assim, acreditamos que tais leituras podem
envolver o leitor e fazê-lo conhecer a si mesmo e ao outro de modo mais empático,
oportunizando não somente um aprendizado sobre poesia, mas também, uma ampliação do
conhecimento de mundo em face das inúmeras situações e realidades vistas atualmente.
Julgamos importante que pesquisas como essa sejam feitas no campo acadêmico, pois cremos
que contribuam de maneira ímpar para o desenvolvimento dos professores de FLE em formação
inicial e valorizem ainda mais as literaturas de língua francesa produzidas nos mais diversos
espaços e regiões.
Palavras-Chave: Literatura; Poesia marfinense; Língua Francesa; Leitura literária; Tanella
Boni.

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Referências

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TAGLIANTE, Christine. La classe de langue. CLE International: Paris, 2006.

VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Trad. Jamile Pinheiro Dias; Raquel Camargo. São
Paulo: Ubu Editora, 2019.

ISSN - 2526-5024 43
LITERATURA E CINEMA: A (DE)FORMAÇÃO INTERMIDIÁTICA DA
MULHER NA OBRA POULET AUX PRUNES NO ENSINO DE
FRANCÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA

Manuella B. Bitencourt
Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz

Resumo: A imagética está presente em nossa história desde sempre, pois ela traz memórias,
culturas e tradições; as imagens informam e, ligadas à palavra, o potencial comunicativo é
ampliado, estando uma reforçando o que a outra diz, criando, assim, diferentes efeitos de
sentido; e, ao longo dos anos, vemos que as estratégias de verossimilhança tomaram diferentes
graus de complexibilidade. No que tange à literatura, observamos que as obras em quadrinhos
são completas, no sentido de que, ao relacionar texto e imagem, os quadrinhos fazem com que
o espectador tenha uma outra experiência de leitura ao relacioná-la à realidade. Com esse olhar,
a narrativa escolhida como um dos corpora desta pesquisa, Poulet aux Prunes (2008), é uma
obra da autora, cineasta e ilustradora iraniana, Marjane Satrapi; e, apresenta um cronotopo
histórico muito particular, que representa experiências únicas, mesmo sem que os leitores
estejam nos mesmos lugares e na mesma época. A obra nos mostra que os papéis femininos são
determinantes para o desenvolvimento da história em ambas as mídias: quadrinhos e adaptação
cinematográfica. Podemos observar, por exemplo, os diferentes papéis que cada mulher pode
vir a exercer dependendo do contexto histórico-social em que ela vive; o que nos permite
afirmar que uma mesma mulher pode vir a exercer todos esses papéis em diferentes momentos
da vida; pensamento que corrobora ainda mais para a ideia que não se pode colocar a mulher
como algo definitivo e insolúvel (BEAUVOIR, 2019). No que tange à desconstrução e
reconstrução de identidades, vemos que, ao ser adaptada cinematograficamente, ela sofre
mudanças significativas para a compreensão das personagens. A título de exemplificação,
podemos observar que a principal transformação midiática, na adaptação fílmica, é a troca dos
desenhos de Satrapi, pelo live action, o que é um ato ‘real’. Acreditamos que escolha dos
corpora se dá pelo fato de os quadrinhos quebrarem, muitas vezes, as ‘regras’ de
verossimilhança e de fotorrealismo para enfatizar sentimentos ou aparências. Já o cinema live
action trabalha com a verossimilhança, mas pode acrescentar aos atores máscaras, próteses e
maquiagem para transformar, modificar ou potencializar as expressões e sentimentos dos
personagens. Assim, se olharmos as obras sob a ótica da intermidialidade, considerada aqui
como não somente “nós designamos ainda amplamente como “artes” (Música, Literatura,
Dança, Pintura e demais Artes Plásticas, Arquitetura, bem como formas mistas, como Ópera,
Teatro e Cinema) mas também às “mídias” e seus textos”. (CLÜVER, 2006), podemos perceber
que ela permeia toda a obra, sendo elas adaptação (impressa e fílmica), quanto separadamente.
Acrescente-se que de acordo com Eco (2008), a complexibilidade do texto se dá pelo fato de
ele ser entremeado por espaços em branco, interstícios a serem preenchidos pelo leitor, pois

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todo o texto quer que alguém o ajude a funcionar. Pensando nisso, acreditamos que uma das
formas de preencher tais espaços na leitura literária, é através da adaptação cinematográfica,
uma vez que, o cinema transmite o sentimento e o instinto, já que ele consegue reunir imagens
baseando-se em um sistema de organização parecida com o sonho. Isso ocorre porque o filme
atinge diretamente os sentimentos do espectador e toda a sua dificuldade em se expressar
racionalmente é compensada em sua facilidade de despertar sentimentos através das imagens
(GONÇALVES DA SILVA, 2012), enquanto os quadrinhos se estruturam conforme a
disposição impressa de arte e balões em sequência (EISNER, 2005). Na intermidialidade,
quando passa de uma mídia a outra, o leitor/espectador pode dar ênfase a diferentes aspectos da
história, pois no processo de transposição intermidiática é provável que esses aspectos mudem
e passem por transformações radicais, como por exemplo, no texto cinematográfico, vemos a
mobilização da performance visual e do tempo real, os pensamentos das personagens são
mostrados através da expressão facial do ator, da música ou de símbolos escolhidos pelo diretor.
Dessa forma, em alguns aspectos, o filme não pode ajudar o leitor a chegar a uma conclusão
sobre certos eventos e vice-versa, pois é a partir da funcionalidade contextual do significado e,
consequentemente, o trabalho estético que lhe é dado, que o texto literário atinge a polissemia
e a linguagem figurada, de modo que o leitor precise identificá-las para atingir as imagens
construídas através da linguagem verbal e não verbal (SANTOS, 2014). Faz-se necessário, para
viabilizar tal processo, mudar, às vezes, o conteúdo ou toda a informação, adaptando-a ao novo
veículo/mídia, uma vez que nesse novo espaço comunicativo, a centralidade das mídias, como
elementos constitutivos do sentido mesmo das trocas, torna-se cada vez mais proeminente
(GHIRARDI; RAJEWSKY; DINIZ, 2020). Dessa forma, perguntamo-nos: até que ponto a
adaptação fílmica da obra Poulet aux prunes (2008) pode contribuir para a compreensão do
texto literário em contexto de formação leitora de professores de francês como Língua
Estrangeira (FLE) em formação inicial, tendo como foco o desenvolvimento de professores
mais empáticos à cultura do outro? Sendo assim, temos como objetivo geral estudar qual a
contribuição da adaptação fílmica na leitura e compreensão da (de)formação do papel feminino
nas obras Poulet aux Prunes (2008; 2011) em sala de aula de FLE. Para isso, como objetivos
específicos, almejamos: a) Analisar as obras Poulet aux Prunes (2008; 2011), estabelecendo
laços intermidiáticos e interculturais entre o Irã e o Brasil; b) Discutir a presença da mulher e a
sua (de)formação identitária na obra selecionada nas duas mídias bem como evidenciar Marjane
Satrapi como representante da escrita feminina; e, c) Refletir sobre as contribuições que a leitura
literária e a cinematográfica podem oferecer no contexto de ensino/aprendizagem de FLE. Esta
pesquisa está inserida também no paradigma das pesquisas qualitativas, considerando-se o seu
foco enquanto natureza do fenômeno investigado, sendo, portanto, bibliográfica, documental e
exploratória, caracterizando-se como pesquisa-ação (MOREIRA; CALEFE, 2008). Para
alcançarmos os objetivos propostos, a nossa pesquisa está dividia em três fases: a primeira fase
se constituirá da análise da obra selecionada, nas versões quadrinho e fílmica, a fim de
aprofundar as nossas reflexões acerca da intermidialidade, bem como as temáticas que
circundam a obra, com o propósito de estabelecer possíveis laços interculturais entre o Brasil e
o Irã (país em que a obra é ambientada). Na segunda fase, pautaremos as nossas discussões
sobre como o processo intermidiático dos quadrinhos para o cinema ‘constrói’ a (de)formação
dos papéis femininos que permeiam a obra a partir da leitura feita na primeira fase. No mais,

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procederemos à seleção dos excertos que apresentam mais fortemente tais aspectos para serem
trabalhados em sala de aula, a fim de se discutir sobre a importância da representação feminina
enquanto escritora, personagem, cineasta, romancista gráfica etc., levando em conta a
complexidade das transformações midiáticas dão enfatizam o papel feminino na obra. Na
terceira fase, pretendemos realizar a leitura da obra em um curso de extensão ofertado online
para professores de francês em formação, nos períodos iniciais da graduação, partindo-se das
apreciações das obras feitas na primeira fase e, assim, gerar os dados para as análises a partir
das atividades que serão realizadas nas aulas síncronas e nas atividades assíncronas, para dessa
forma, alcançarmos o terceiro objetivo específico de nossa investigação. Esta pesquisa está
ligada à formação leitora de obras literárias de professores de FLE em formação inicial e se faz
relevante quando avaliamos a contribuição que ela pode aportar para a formação de
profissionais de língua francesa, na tentativa de promover o ensino da língua, ligado à
abordagem da obra literária, de forma a ressaltar a sua essência enquanto instrumento que
valorize o diálogo intercultural e interdisciplinar.
Palavras-Chave: História em quadrinhos; Cinema; Intermidialidade; Papéis femininos; FLE.

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ISSN - 2526-5024 46
SATRAPI, Marjane. Poulet aux Prunes. France: L’Association, 2008.

ISSN - 2526-5024 47
A LEITURA DE LITERATURA FANTÁSTICA NAS AULAS DE ELE:
UMA EXPERIÊNCIA COM CONTOS DE JORGE LUIS BORGES E
SILVINA OCAMPO

Regineide Gomes de Cantalice Vidal


Orientadora: Profa. Dra. Isis Milreu

Resumo: Dentre as várias vertentes literárias, a literatura fantástica tem ganhado destaque no
âmbito latino-americano nas últimas décadas. Para Todorov (1975), o fantástico implica não só
uma vacilação entre leitor e herói, mas também uma forma de leitura do mundo. Observamos
que os dados recentes sobre a leitura em nosso país são preocupantes. Segundo a última edição
de Retratos da leitura no Brasil, realizada em 2020, estamos perdendo leitores na faixa entre 11
a 17 anos de idade. Acreditamos que a escola deve cumprir a sua função social e garantir o
direito à literatura de seus estudantes, conforme defende Antonio Candido (2004). Nesse
contexto, verificamos que ainda são escassos os estudos que se debruçam sobre o ensino de
literatura nas aulas de ELE. Para Milreu (2018), não só os professores de língua estrangeira,
mas também de língua materna, enfrentam dificuldades para inserir textos literários em suas
aulas, entre as quais se encontram questões curriculares e metodológicas. Dessa forma, a
presente pesquisa se justifica pelo fato de se debruçar sobre problemas que precisam ser
evidenciados, discutidos e solucionados. Nesse sentido, entendemos que a presença de textos
literários nas aulas de língua espanhola na educação básica, particularmente de contos do gênero
fantástico, pode contribuir significativamente para a formação de leitores. Entre os autores da
literatura fantástica de nosso continente, dois nomes se sobressaem: Jorge Luis Borges (1899 –
1986) e Silvina Ocampo (1903 – 1993), ambos escritores argentinos, contistas, poetas e
criadores de múltiplos mundos imaginários. Por essa razão, o presente projeto recorre às suas
narrativas, especialmente, “El otro” e “Borges y yo”, de Borges, e “La casa de azúcar” e “Los
amigos”, de Ocampo, a fim de discutir a seguinte questão: como a leitura de contos fantásticos
pode contribuir com a formação de leitores em aulas de Língua Espanhola na educação básica?
No intuito de respondê-la, traçamos como objetivo geral de nossa pesquisa investigar como a
leitura de contos de Borges e Ocampo colabora com a formação de leitores nas aulas de
Espanhol em turmas do Ensino Médio. Também estabelecemos dois objetivos específicos para
guiar nossa investigação: analisar os elementos fantásticos presentes nos contos selecionados
dos referidos autores argentinos e examinar as possibilidades de abordagem da literatura
fantástica nas aulas de ELE a partir do tema do duplo. Afinal, “[...] o aprendiz pode, através da
leitura de obras literárias, viajar por ideias, histórias e costumes de um povo, estabelecendo
contato com outras manifestações socioculturais.” (MILREU, 2018, p. 78). Entendemos que a
aproximação dos estudantes com textos literários de outros países, possibilita não só o
desenvolvimento de suas habilidades leitoras e linguísticas, mas sobretudo amplia os seus

ISSN - 2526-5024 48
conhecimentos socioculturais. Nessa perspectiva, Ribeiro e Miranda (2018, p. 169) pontuam
que “[...] o fato de que o texto literário tenha a capacidade de congregar em si múltiplas
referências culturais propicia o ensino a partir de uma perspectiva multicultural, a qual busca
também abolir preconceitos, estereótipos e atitudes discriminatórias através da educação. ” Para
desenvolver nossa pesquisa, dividimos os fundamentos teóricos em dois eixos. O primeiro está
dedicado aos estudos teóricos sobre a literatura fantástica feitos por Paraizo (1998), Roas (2014)
e Todorov (1975), entre outros. Já o segundo é voltado para o ensino de literatura e a formação
de leitores no contexto da educação básica, particularmente, nas aulas de língua espanhola,
tendo como referência os seguintes estudiosos: Milreu (2018), Ribeiro e Miranda (2018),
Nobile (2003), Silva (2003), Tavares (2003) e Zilberman (1988), cujas discussões abarcam a
importância do ensino de literatura, bem como as possíveis estratégias para aprimorar a
abordagem do texto literário nas aulas de espanhol. Tendo em vista os objetivos propostos por
nossa investigação, podemos classificar este trabalho como sendo de natureza qualitativa, pois
esta tem, entre outras características, a imersão do pesquisador no ambiente da pesquisa
(FREGONEZE et al, 2014). Também se enquadra como um estudo de cunho bibliográfico, pois
recorreremos aos estudos realizados anteriormente sobre as temáticas investigadas. Isto posto,
definimos esse trabalho como uma pesquisa-ação por se tratar, como já mencionado, de uma
investigação na qual o pesquisador está direta e ativamente conectado com o objeto pesquisado.
A seguir, descrevemos os procedimentos metodológicos previstos a fim de alcançar os objetivos
traçados. Inicialmente, realizaremos uma pesquisa bibliográfica sobre a formação de leitores no
Brasil e o ensino de literatura nas aulas de língua espanhola. Em seguida, investigaremos os
principais estudos sobre literatura fantástica e as obras de Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo.
O próximo passo será a análise dos contos selecionados dos referidos autores. Para abordar as
narrativas selecionadas nas aulas de língua espanhola do ensino médio, adotaremos o Método
Recepcional, sistematizado por Bordini e Aguiar (1988), dividido em cinco etapas. Durante a
experiência de leitura utilizaremos os seguintes instrumentos de coleta de dados: o uso de
questionários e o diário de campo. Reiteremos a importância desse estudo devido à sua
contribuição não só para a formação de leitores, mas também para a área de estudos sobre o
ensino de literatura em aulas de língua espanhola.
Palavras-chave: Literatura fantástica latino-americana; Ensino de literatura em aulas de ELE;
Leitura literária de contos; Formação de leitores; Borges e Ocampo.

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LINHA 2 - PRÁTICAS LEITORAS E DIVERSIDADE DE
GÊNEROS LITERÁRIOS

A CASA DOS ESPÍRITOS: REPRESENTAÇÕES DA DITADURA NA


LITERATURA E NO CINEMA

Edna Mércia Bezerra Plácido


Orientadora: Profa. Dra. Isis Milreu

Resumo: O contexto da ascensão do fascismo e da ditadura militar do Chile, que culminou com
o golpe ocorrido em 1972, aparece como uma das principais temáticas de nossos objetos de
estudo: o romance A casa dos Espíritos, de Isabel Allende, e sua adaptação cinematográfica
homônima, dirigida por Bille August. O romance foi publicado na Espanha e no Chile em 1982
e veio a público no Brasil em 1984, alcançando um grande público. Posteriormente, em 1993,
ganhou uma adaptação cinematográfica, a qual também foi exitoso. Uma das características
mais marcantes dos enredos está na combinação entre acontecimentos fictícios e episódios
históricos do Chile. Também destacamos como um fator pertinente para a pesquisa, a autoria
feminina do romance, dado que a obra da autora chilena abriu caminho para a visibilidade das
produções de outras autoras latino-americanas, bem como, o tema da ditadura, considerando
sua relevância político-social na contemporaneidade. Esta afirmação é baseada na constatação
de que nos dias atuais houve uma acentuada ascensão de líderes políticos simpatizantes do
fascismo e do autoritarismo em algumas partes no mundo, inclusive no Brasil. Nesse sentido,
abordar tal temática a partir das artes, se faz necessário para perpetuar a memória daqueles que
viveram essa época turbulenta e combateram o autoritarismo, funcionando como um lembrete
da história recente de nosso continente, marcada por regimes tiranos. Além disso, visamos
contribuir com o embasamento crítico das novas gerações de leitores e pesquisadores sobre a
temática ditatorial, colaborando para que essas tragédias não sejam repetidas. Para nortear nossa
pesquisa, partimos dos seguintes questionamentos: De que forma a ditadura foi representada
nas referidas narrativas? Como o período ditatorial foi recriado em ambas as obras? Quais as
semelhanças e diferenças existentes no romance e no filme no que tange a representação do
regime militar? Desse modo, traçamos como objetivo geral investigar como a ditadura foi
representada em A casa dos Espíritos, de Isabel Allende e na sua adaptação cinematográfica
homônima, de Bille August. Já os nossos objetivos específicos são: discutir o papel que a
representação do golpe militar ocorrido no Chile em 1973 ocupa nos enredos das citadas obras
e comparar as semelhanças e divergências existentes entre elas no que concerne a

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ficcionalização do referido período ditatorial. Como aporte teórico nos basearemos nos
seguintes autores: Brito (2006) e Hutcheon (2013), sobre os estudos da adaptação; Chiampi
(2012), Todorov (2004) e Roas (2014), no que tange ao realismo maravilhoso; para tratar da
literatura latino-americana, utilizaremos teóricos como Rama (2005) e Shaw (2005); e, por fim,
sobre a temática literatura e ditadura, recorreremos às investigações de Seligmann-Silva (2003),
Gagnebin (2009; 2010), Figueiredo (2017) e Ricoeur (2007), dentre outros. No que concerne a
metodologia, será realizada uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico e interpretativo
sobre o romance A casa dos espíritos, de Isabel Allende e sua adaptação cinematográfica. Por
sua vez, para a constituição das análises, utilizaremos o método comparativo sob a perspectiva
de Carvalhal (2006). A fim de alcançar os objetivos propostos será realizada uma revisão de
literatura com base nas principais teorias que abrangem a temática da ditadura latino-americana
a partir da leitura de livros, dissertações, teses e artigos, além da investigação da fortuna crítica
das mencionadas obras. A intenção deste passo é delimitar uma base teórica que propicie uma
ampla compreensão sobre as obras, utilizando os métodos analítico-descritivo e comparativo.
A pesquisa seguirá três etapas principais baseadas nos objetivos expostos anteriormente, cujos
procedimentos metodológicos serão descritos a seguir. Na primeira fase, nos debruçaremos
sobre as principais obras teóricas e estudos relevantes que se dedicaram a discutir a temática da
ditadura no Chile e na América Latina, particularmente, no que se refere a sua representação na
literatura e no cinema. Em seguida, investigaremos quais trabalhos abordaram a relação entre
o romance de Allende e sua adaptação cinematográfica. Já na segunda, analisaremos,
separadamente, como a ditadura foi representada em A casa dos Espíritos, de Isabel Allende, e
na adaptação cinematográfica, de Bille August. Por sua vez, na última etapa, compararemos a
representação da ditadura nestas obras através das seguintes categorias de análise: a
caracterização dos personagens principais e o espaço que a ditadura ocupa nas narrativas
selecionadas. Assim, discutiremos, inicialmente, a caracterização dos personagens que se
envolveram com a política nas citadas ficções, tanto os que apoiaram o partido conservador e
os militares quanto os que resistiram ao golpe, examinando quais foram mantidos ou eliminados
nas duas obras, bem como se houve mudança em sua caracterização. Na sequência,
verificaremos o espaço destinado à recriação do período da ditadura militar ocorrida no Chile
em cada narrativa, analisando comparativamente os capítulos utilizados no romance para tratar
diretamente sobre o tema da ditadura e as cenas que recriam este episódio no filme. Para
finalizar, discutiremos a importância da temática para a conclusão dos enredos e o desfecho dos
personagens, assinalando, as semelhanças e as divergências existentes entre ambas as ficções,
no que concerne a representação da última ditatura chilena. Nesse sentido, acredita-se que será
possível analisar produtivamente a mencionada adaptação do romance para o cinema, bem
como refletir sobre o trágico período da história de nosso continente recriado nas obras de
Allende e August.
Palavras-Chave: A Casa dos espíritos; Literatura de autoria feminina; Ditadura; Literatura e
cinema; Literatura latino-americana contemporânea.

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TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.

ISSN - 2526-5024 53
ENTRE JOÕES E AMORAS: O LIVRO ILUSTRADO INFANTIL PARA
UMA EDUCAÇÃO LITERÁRIA ANTIRRACISTA

Maria Albenize da Silva


Orientadora: Profa. Dra. Márcia Tavares

Resumo: A literatura infantil brasileira teve seu início vinculada ao processo de adaptações e
traduções de obras fundamentadas em fontes europeias, o fato de ter passado um longo período
absorvendo um único padrão de narrativas e personagens foi/é determinante para a reprodução,
pelos seus leitores, de práticas excludentes e racistas sobre determinados grupos. Embora esse
movimento, inicial, tenha enfraquecido na contemporaneidade, as marcas de sua influência
literária, com viés colonialista, foram perpetuadas em muitas obras e continuam sendo
identificadas na estética e na temática de algumas produções. Assim, em função da necessidade
de discussão das representações oriundas desse contexto, atualmente, é cada vez maior o
número de estudos1 que problematizam as produções literárias a partir do tratamento dado aos
aspectos étnicos raciais e culturais. No que tange a literatura infantil, há também a influência
desses protótipos em suas concepções de infância, e por sua vez, do ser criança por um único
modelo, sem considerar as diversidades culturais e étnicas de seus leitores. Na constituição do
livro infantil as representações estão presentes também na linguagem visual, assim, as
ilustrações são muito mais que um complemento ao texto escrito, elas funcionam com uma
possibilidade de representar um indivíduo ou grupo sem, necessariamente, concentrar as
afirmações apenas na palavra escrita. Além disso, ao contrário da observação de muitos leitores
adultos, a ilustração é entendida pelo leitor infantil como uma linguagem extremamente
importante, com potencial para interferir como elemento de comunicação na formação da sua
identidade representativa. De modo que “seria imaturo dizer que o livro literário para a infância
não possui características específicas. Essas características se sobressaem de imediato no
aspecto da materialidade do livro: tamanho, formato, ilustração, etc [...]” (DEBUS, 2017, grifo
nosso, p.28). Partindo disso, é pertinente indagar como os fenômenos textuais e plásticos do
livro ilustrado se sobressaem enquanto objeto cultural diante das propostas de desconstrução de
uma tradição literária que reforça estereótipos sobre as pessoas que não atendem aos padrões
literários europeus, e ainda, indagar sobre como se estruturam as produções que sinalizam uma
reeducação literária atenta aos postulados das leis educacionais (10.639/03) reconhecendo a
importância das relações étnicos raciais e do ensino de história e cultura afro-brasileira, bem
como, de estudos sobre os conceitos de racismo e antirracismo, no sentido de trazer reflexões e
provocar mudanças nas condutas de seus leitores. Diante do exposto sobre uma literatura que

1
Personagens Negros na literatura infanto-juvenil no Brasil e em Moçambique (2000-2007): Entrelaçadas vozes
tecendo negritudes. 2010 da Prof. Dr. Maria Anória de Jesus Oliveira; A representação do negro na literatura
brasileira para crianças e jovens: negação ou construção de uma identidade? 2006, da Prof. Dr. Eliane Debus,
dentre outros.

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corresponda a realidade da criança negra, e, considerando que a ilustração pode ser
compreendida como uma linguagem criativa que possibilita fruição estética e experimentação
ao leitor essa pesquisa se concentra em uma abordagem qualitativa, haja vista que, “busca
entender um fenômeno específico em profundidade. Em vez de estatísticas, regras e outras
generalizações, ela trabalha com descrições, comparações, interpretações e atribuição de
significados, possibilitando investigar valores, crenças, hábitos, atitudes e opiniões de
indivíduos ou grupos.” (BOTELHO, 2014, p.18) A partir disso, tem-se um trabalho de natureza
interpretativa-descritiva, no sentido de que, investigamos o livro ilustrado concebendo-o como
documento da literatura infantil contemporânea, que nos dá respaldo para observarmos os
fenômenos da linguagem, da literatura para criança, bem como, da sua representação.
Metodologicamente a presente pesquisa organiza-se em torno de três momentos, que são
norteados por abordagens relativas aos campos da literatura infantil e, respectivamente, das
representações simbólicas na linguagem literária. Primeiramente, delimitamos um recorte
produções que foram publicadas entre as décadas de 2012 a 2022 para identificarmos o espaço
dado a criança negra na literatura infantil, considerando o período de dez anos pelo fato de já
existirem pesquisas em recortes anteriores a este. Depois refletimos sobre as obras
contemporâneas de escritores negros e os prováveis motivos de exclusão delas nos cenários
literários de grande prestígio social. Por fim, analisaremos os elementos formais e plásticos das
ilustrações nas narrativas, em obras de autores negros/as, promovendo uma investigação sobre
o lugar de fala desses escritores. Para tanto, elegemos como corpus, seis obras, sendo elas:
Cadernos de rima do João (2015) ilustrada por Maurício Negro e Edith e a Velha Sentada
(2021) ilustrada por Edson Ikê, ambos escritos por Lazaro Ramos; Amoras (2018) e E foi assim
que eu e a escuridão ficamos amigas (2020) ambas escritas por Emicída e ilustrada por Aldo
Fabrini; Da cor que eu sou (2021) escrito por Andressa Reis e ilustrada por Stefania Magalhães
e com Qual penteado eu vou (2021) escrita por Kiusam de Oliveira e ilustrada por Rodrigo
Andrade. Nosso objetivo geral é investigar como a representação da criança negra no livro
ilustrado pode apresentar potencial estético para a uma educação literária antirracista.
Considerando as especificidades de reflexão sobre o tema, são lançados os seguintes objetivos
específicos: (I) Construir um panorama temático da literatura brasileira entre 2012 e 2022 com
obras de temáticas potencialmente antirracistas; (II) Analisar nas obras com autores negros as
marcas plásticas/textuais que diferenciem os discursos da permanência de estereótipos sobre a
cultura africana e afro brasileira; (III) Verificar quais formas estéticas do livro ilustrado podem
contribuir para uma educação literária antirracista. A partir desses objetivos, busca-se responder
a seguinte pergunta da pesquisa: Na literatura infantil contemporânea quais as marcas da
representação da criança negra, no livro ilustrado, apresentam potencial estético para uma
educação literária antirracista? Partindo disso, a presente pesquisa se justifica pela escassez de
trabalhos que reflitam sobre a influência da literatura/ilustração na formação identitária da
criança negra. Além dessa lacuna, considera-se ainda, em tempos de vigência de
multiletramentos, a necessidade de estudo sobre as linguagens do livro ilustrado como objeto
cultural para a infância e como meio de formação do leitor literário. Outra razão do estudo é
ampliar o espaço literário para pesquisadores, autores, escritores e leitores negros que encontra-
se em expansão ainda limitada. Desta forma, pretendemos lançar mão da junção de elementos
dos seguintes procedimentos para fundamentar os parâmetros das nossas análises: (1) Dialogar

ISSN - 2526-5024 55
com textos pesquisadores e intelectuais que já empreendem anos de estudos sobre a temática
da história e cultura afro-brasileira, contemplando a personagem infantil, sendo alguns deles/as:
Debus (2017), Oliveira (2010), Almeida (2021); (2) Refletir sobre a literatura infantil de autores
negros, a partir da visibilidade de suas produções enquanto literatura que nem sempre irá
atender aos valores dados as categorias de literatura do mercado e do cânone literário,
Dalcastagné (2012) e Ribeiro (2019); (3)- Destacar os elementos paratextuais, no livro ilustrado
e as técnicas de ilustração a partir de Nikolajeva e Scott (2011) e Linden (2011).

Palavras-Chave: Literatura infantil; Livro ilustrado; Educação antirracista; Criança negra.

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RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo. Companhia das Letras.2019.

RAMOS, Lázaro. Cadernos de rima do João. 1. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2016.

RAMOS, Lázaro. Edith e a Velha Sentada. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2021.

ISSN - 2526-5024 57
MESTRADO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS


LINGUÍSTICOS

Linha 3: Ensino de línguas e formação docente


Linha 4: Práticas sociais, históricas e culturais
de linguagem

ISSN - 2526-5024 58
LINHA 3 – ENSINO DE LÍNGUAS E FORMAÇÃO DOCENTE

O TRABALHO DOCENTE DOS PROFESSORES DE PORTUGUÊS NO


PROGRAMA DESAFIO NOTA 1000: DAS ORIENTAÇÕES ÀS AÇÕES
REALIZADAS

Adna dos Santos Sousa


Orientadora: Profa. Dra. Williany Miranda da Silva

Resumo: O trabalho docente é orientado por tarefas e prescrições que, muitas vezes, não são
definidas pelo professor, mas sim por planejadores, por uma hierarquia institucional
(AMIGUES, 2004). Assim programas e projetos, por exemplo, podem ser determinados por
terceiros. No contexto de ensino da rede estadual paraibana, o trabalho do professor é norteado
por alguns programas, tais como o Ouse criar, Integra Paraíba, Celso Furtado, Arte em cena e
o Desafio Nota 1000; sendo este último o contexto da nossa investigação. Tal programa foi
criado pela Secretaria da Educação, Ciência e Tecnologia (SEECT) da Paraíba e tem como
objetivo incentivar a habilidade de escrita dos alunos da rede estadual – estudantes do 9º ano do
ensino fundamental, da 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos)
para o texto dissertativo argumentativo, bem como mobilizar professores de português da rede
paraibana para o trabalho com esse gênero textual. Criado em março de 2020, o programa
Desafio Nota 1000 (doravante DN1000) conta com duas temporadas. A primeira temporada
durou até o mês de janeiro de 2021; a segunda teve início no mês de maio de 2021 e permaneceu
até dezembro do respectivo ano. Nas duas temporadas, a coordenação do referido programa
lançou, semanalmente, um tema e disponibilizou um material didático com textos motivadores
sobre uma proposta temática, um regulamento para cada edição, bem como um Guia de
orientação para avaliação das redações, em grupos do WhatsApp. Tais grupos foram criados
pela coordenação do programa para tratar de informações específicas do DN1000. Nesses
grupos, os professores de português recebiam instruções, informações sobre prazos e horários
de envio das produções dos alunos, assim como documentos norteadores para as ações docentes,
elaborados pela coordenação do programa mencionado. Diante das orientações propostas pelo
coordenador do programa, os professores se mobilizavam para tentar realizar as tarefas
impostas. Posto isso, verificamos a necessidade de compreender a atuação docente nesse
contexto de ensino. Entendemos que essa discussão é, pois, urgente; tendo em vista que as
experiências vivenciadas em tal processo colabora para o desenvolvimento de estratégias para
o ensino da produção de textos em geral. Assim, considerando o cenário apresentado, esta
pesquisa tem como perguntas norteadoras: De que maneira os textos prescritos pelo programa
Desafio Nota 1000 orientaram o trabalho do professor? Será que eles influenciaram a ação
docente do professor de português para além da implementação do programa? Para responder
essas perguntas, elencamos como objetivo geral: Refletir sobre o trabalho do professor de
português no contexto do programa Desafio Nota 1000. De modo específico objetivamos: 1)

ISSN - 2526-5024 59
Identificar as prescrições estabelecidas para a ação docente; 2) Analisar as orientações
fornecidas e o direcionamento para o trabalho do professor na primeira e segunda temporada do
programa Desafio Nota 1000; 3) Verificar as relações entre o trabalho prescrito e o realizado
pelo professor de português em contexto do programa Desafio Nota 1000. Situada no âmbito
dos estudos da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006; 2009) esta pesquisa busca criar
inteligibilidade sobre e com um determinado contexto social que protagoniza o ensino na prática
escolar. A contribuição acontecerá à medida que verificarmos e refletirmos sobre o trabalho
docente do professor de português frente ao contexto do programa Desafio Nota 1000. Em
relação à classificação da pesquisa, ressaltamos que a proposta: 1) tanto seguirá uma abordagem
qualitativa (PRODANOV; FREITAS, 2013), porque seu ambiente natural é fonte direta para
coleta de dados, interpretação de fenômenos e atribuição de significados; 2) quanto será um
estudo exploratório, dado seu caráter de novidade a ser investigado e sua maior familiaridade
com o problema, tornando-o explícito (PRODANOV; FREITAS, 2013). Torna-se relevante,
pois, pontuar que em pesquisas qualitativas as questões são estudadas no ambiente em que elas
se apresentam sem qualquer manipulação intencional do pesquisador. Além disso, esse tipo de
estudo preocupa-se muito mais com o processo do que com o produto (PRODANOV;
FREITAS, 2013). Ainda segundo os autores mencionados, a pesquisa exploratória proporciona
mais informações e esclarecimentos sobre o assunto investigado, o que corrobora com o que é
proposto nesse estudo. Ademais, para a realização desta pesquisa, serão utilizados mais de um
instrumento para obtenção e geração de dados: o primeiro é referente a um formulário criado
para traçar o perfil dos professores participantes do programa Desafio Nota 1000; o segundo
será a realização de entrevistas com o coordenador-responsável e cinco professores que
participaram ativamente do programa. A entrevista é uma técnica em que “o investigador se
apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção de dados
que interessam à investigação” (GIL ,1987, p.113). Nela, abordaremos questões para reflexão e
aprofundamento sobre o funcionamento do programa e a atuação docente nesse contexto.
Destacamos, ainda, que esta pesquisa se valerá da entrevista semiestruturada, que tem como
característica “questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se
relacionam com o tema da pesquisa” (TRIVINOS apud MANZINI, 2004, p.2). Esse tipo de
instrumento permite que o pesquisador elabore perguntas norteadoras prévias e, se houver
necessidade, acrescente outras durante a entrevista, proporcionando ao pesquisador uma maior
liberdade na utilização desse instrumento. As entrevistas semiestruturadas serão realizadas com
cinco professores colaboradores, via Google Meet, de forma individual com cada participante.
Nessa perspectiva, faz-se necessário adotarmos frente ao objeto de investigação, uma postura
ética com os colaboradores. De acordo com Paiva (2005), as ações que envolvem a pesquisa
precisam ser conduzidas de forma ética, para que pesquisadores e participantes não sejam
prejudicados. Diante disso, ressaltamos que os dados gerados serão concedidos e autorizados
mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que preserva a
identidade dos colaboradores da pesquisa, pois conforme as ideias de Celani entendemos que
“é preciso ter claro que pessoas não são objetos e, portanto, não devem ser tratadas como tal;
não devem ser expostas indevidamente. Devem sentir-se seguras quanto a garantias de
preservação da dignidade humana” (CELANI, 2005, p. 107). Pensando nisso, nomearemos os
colaboradores com nomes fictícios, resguardando suas identidades e tornando o processo mais
humano. Ademais, cabe mencionar que selecionaremos textos prescritos pela coordenação do
DN1000 para a discussão e reflexão das orientações contidas nestes materiais que direcionavam
(ou não) a ação docente. Por fim, destacamos que a escolha do corpus se justifica pela
necessidade de compreender e refletir sobre o trabalho docente do professor de português a
partir de um programa da rede estadual da Paraíba. Assim, o quadro teórico que dará suporte a
esta pesquisa contempla discussões fundamentadas no Interacionismo Sociodiscursivo

ISSN - 2526-5024 60
(BRONCKART, 2007, 2008; MACHADO, 2004), bem como sobre o trabalho docente a partir
de Amigues (2004) e Lousada (2004).
Palavras-Chave: Trabalho docente; Ensino; Redação.

Referências

AMIGUES, René. Trabalho do professor e trabalho de ensino. Tradução de Anna Rachel


Machado. In: MACHADO, A. R. (org.). O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva.
Londrina: Eduel, 2004, p. 35-53.

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BRONCKART, J. P. O agir nos discursos: das concepções teóricas às concepções dos


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Desafio Nota 1000. Disponível em: https://paraiba.pb.gov.br/diretas/secretaria-da-educacao-e-


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GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987. p. 113-
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MACHADO, A. R. O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva. Londrina: Eduel,


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MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo:
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PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e. Reflexões sobre ética e pesquisa. Ver. Brasileira
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PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. de. Metodologia do trabalho científico: métodos e


técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. Ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

ISSN - 2526-5024 61
O PROCESSO ALTERITÁRIO CONSTITUTIVO NA INTERAÇÃO
DISCURSIVA VERBAL DA RELAÇÃO PROFESSOR/ ALUNO NO
PROGRAMA SE LIGA NO ENEM – REVISÃO ON-LINE

Áquila Sartori Mesquita Rocha


Orientadora: Profa. Dra. Eliete Correia dos Santos

Resumo: No ano de 2020, o mundo enfrentou situações inimagináveis relacionadas à pandemia


ocasionada pela Covid-19, tanto na área de saúde, como na social. Os impactos da pandemia
também acometeram à Educação e provocaram a mobilização dos profissionais desse meio para
trabalharem na linha de frente em busca de medidas para combater os problemas educacionais
emergentes desse contexto pandêmico. Como forma de lidar com situações inesperadas, os
docentes precisaram adaptar-se à nova realidade mundial, utilizando o ensino remoto, este em
formato on-line. Com o propósito de atender às necessidades dos alunos de darem continuidade
aos estudos, o Estado da Paraíba ganhou destaque, conforme estudo da Fundação Getúlio
Vargas, na implementação da modalidade remota no ano inicial da pandemia. Diante disso,
como contexto de pesquisa foi selecionado o Programa Se Liga no Enem - Revisão On-line,
que em razão da pandemia mundial, foi ofertada a edição em formato on-line - até hoje utilizada
-, transmitida e ofertada por meio das plataformas Google Classroom, YouTube, TV Paraíba
Educa e Rádio Tabajara. Com essa identificação das mudanças na forma do ensinar e uma
perspectiva multiplataforma do Programa, surge a finalidade de pesquisar como acontece a
interação, já que há um novo contexto na relação do processo de ensino e aprendizagem.
Portanto, com o intuito de compreender como acontece a interação entre professor e aluno em
ambiente emergencial e remoto de ensino e aprendizagem, o projeto tem a intenção de investigar
como acontece o processo alteritário constitutivo na interação discursiva nessa relação. Nesse
sentido, este projeto é elaborado com base na consideração de que, em ambientes de
aprendizagem on-line, em período de pandemia da Covid-19, mediados por professores de
Língua Portuguesa, quem ensina se modifica e se transforma para ensinar um outro, com quem
dialoga. Este outro, por sua vez, também se modifica e se transforma para aprender. Pensar
sobre isso é possível pela busca da compreensão dos discursos desse contexto. Tais reflexões
sinalizam a necessidade de se discutir os impactos do ensino remoto na interação discursiva
entre professor de Língua Portuguesa e aluno, em contexto do programa Se Liga no Enem -
Revisão On-line, ancorado no ato responsável e responsivo, apresentado por Bakhtin (2011),
determinado por valores entre o eu e o outro, em encontro dialógico no espaço digital. Diante
dessas considerações, este projeto propõe uma investigação deste problema de ordem social: (1)
Quais os impactos na interação ensino/aprendizagem gerados em aulas virtuais de Língua
Portuguesa após a mudança na metodologia do programa Se Liga no Enem — Revisão On-line?
A resposta a tal problema será apresentada a partir desta outra questão investigativa: (2) Nesse
ambiente pedagógico, como é constituída a alteridade de professor, em interação dinâmica,
interacional e responsiva, em diálogo com seus alunos? No intuito de responder a tais perguntas,
o objetivo geral será: investigar o processo alteritário constituído no ensino de linguagens do
programa Se Liga no Enem — Revisão On-line. Os objetivos específicos serão: (1) identificar
as ações linguísticas constituídas a partir do diálogo com as necessidades dos alunos de aprender
linguagens, no contexto em questão; (2) descrever a alteridade constituída de docente com seus

ISSN - 2526-5024 62
alunos em situações dialógicas nos diferentes canais de comunicação; e (3) analisar a prática
das novas linguagens inseridas em redes dialógicas no ambiente virtual em contexto de ensino
remoto emergencial. Esta proposta de pesquisa fundamenta-se, primeiramente, em uma reflexão
sobre a concepção da Teoria Dialógica da Linguagem (2011), para quem, o diálogo não envolve
apenas o locutor e interlocutor da interação discursiva, mas a recepção ativa do discurso do
outro. Essa recepção ativa não é apenas da compreensão da mensagem, mas também da
incorporação do outro no diálogo, de modo que o outro passe a constituir o sujeito-emissor. O
segundo embasamento teórico busca contextualizar a Alteridade nos estudos dialógicos da
linguagem, escolhida como base para a investigação da proposta de pesquisa. Para Bakhtin
(2011), a alteridade é a relação por meio da qual os indivíduos se constituem, é o que pode ser
entendido do outro e em consonância do que o outro revela de mim. O exercício da alteridade,
em atividade docente, transforma a linguagem com o outro, de maneira que a dinamiza e refaz.
Com isso, todo esse processo a partir da teoria de alteridade se modifica, a depender do
ambiente, momento e público. Portanto, toda essa prática possibilita uma perspectiva do novo
pensar e agir docente, em que a interação é de forma dinâmica, interacional e responsiva. Assim,
transforma-se um processo de alteridade entre professor e aluno, em contexto das linguagens
dialógicas, no ambiente virtual. Por fim, ainda como fundamentação para compreender
multiletramentos e a importância das linguagens e canais de comunicação presentes em
ambiente pedagógico, será utilizado Barton e Lee (2015), os quais afirmam que o espaço de
interação em novas mídias não só oferece novas possibilidades de representação, como também
oportuniza declarações que evocam crenças e realidades distintas às pessoas envolvidas.
Portanto, as plataformas e sites são formulados para que haja engajamento e manifestação a
todo momento. A linguagem para transmissão do conhecimento se modifica à medida que muda
o canal de comunicação, dessa forma, nos ambientes dialógicos em contexto do programa em
questão, será investigado o processo alteritário que ocorre nessa interação entre professor e
aluno. Na busca por desenvolver esta proposta – de compreender como acontece o processo
alteritário constituído no ensino de linguagens do programa Se Liga no Enem — Revisão On-
line – será usada a abordagem qualitativa de estudo exploratório, cujos participantes serão uma
professora de linguagens e a coordenadora de educação tecnológica do programa Se Liga no
Enem - Revisão On-line. A escolha por pesquisa qualitativa veio a partir da necessidade de
observar o fenômeno subjetivo, que segundo Minayo (2009), é suficiente para explicarmos a
situação social. Essa será uma pesquisa do tipo Exploratória, que segundo Gil (2002), tem como
objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições, em que seu
planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilita a consideração dos mais
variados aspectos relativos ao fato estudado. Nesse sentido, será organizado como percurso
metodológico o uso de diferentes instrumentos de geração de dados, ao todo em três momentos.
Em primeiro momento, será enviado um formulário virtual, através do Google Forms, para cada
participante da pesquisa, como forma de esclarecer acerca de todo o processo da pesquisa, bem
como questioná-los, de forma objetiva, a respeito da prática docente na modalidade on-line.
Ainda nesse primeiro momento, o professor será orientado a escolher a temática e dia da aula
para ser observada nos diferentes canais e plataformas. Em um segundo momento, serão geração
de dados, a partir de uma mesma temática de aula escolhida pela professora, em diferentes
plataformas utilizadas neste programa em foco, através de prints, vídeos e áudios. Em um
terceiro momento, será feita uma entrevista semiestruturada e de autoconfrontação, com o
participante individualmente, a partir das respostas apresentadas no formulário. Será
investigado, mediante a entrevista, como a professora e a coordenadora encaram e entendem a
alteridade presente no ato dialógico do agir responsável e responsivo entre professor e aluno
nos diversos canais e plataformas em ambiente virtual. A geração de dados terá a finalidade de
identificar marcas linguísticas que demonstrem como a alteridade se constitui e como acontece

ISSN - 2526-5024 63
a construção de conhecimento em ambiente dialógico e discursivo de aprendizagem em
diferentes canais e plataformas do mesmo programa. No mais, o processo da pesquisa será
desenvolvido em conformidade com a aprovação deste projeto por parte do Comitê de Ética, ao
qual está em processo. Este percurso metodológico contribuirá para a construção e investigação
dos dados desta pesquisa, que se constituirá em gravações das entrevistas, bem como prints e/ou
cópias de atividades que permeiam a interação docente/discente em ambiente virtual.
Palavras-Chave: Alteridade; Interação; Discurso; Ensino remoto; Programa Se Liga no Enem
- Revisão On-line.

Referências

BAKHTIN, Mikhail M. Para uma filosofia do Ato Responsável. São Carlos: Pedro & João Editores,
2010.

BARTON, D.; Lee, C. Linguagem online: textos e práticas digitais. São Paulo: Parábola Editorial,
2015.

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MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 17. ed. Petrópolis: Vozes,
2009.

ISSN - 2526-5024 64
ABORDAGEM DA VARIAÇÃO LEXICAL NO LIVRO DIDÁTICO DE
PORTUGUÊS DO ENSINO MÉDIO DO PNLD 2021: INVESTIGANDO
ATIVIDADES DE ANÁLISE LINGUÍSTICA

Carlos Álack de Lima


Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio

Resumo: No âmbito escolar, um dos instrumentos pedagógicos para o estudo da língua


portuguesa é o Livro Didático (LD), que, como indica Antunes (2012), poderia trazer uma
abordagem mais adequada sobre o estudo do léxico. Bagno (2007), nesse sentido, destaca que
houve alguns avanços em LDs, quando se trata do estudo da variação linguística e, nesse caso,
especificamente da variação lexical (VL). Segundo o autor, ainda há um grande caminho a ser
percorrido para que tenhamos uma abordagem adequada sobre esses fenômenos linguísticos,
que associamos, neste projeto, também ao âmbito lexical. O estudo do léxico nas escolas é
ofertado de maneira muito simplista e descontextualizada, seguindo um formato de ensino
predominantemente tradicional e mecânico. Pouco se levam em conta o funcionamento do
léxico e a relevância da compreensão desse funcionamento para uma aprendizagem mais
qualificada do ensino do português como língua materna. Esse ensino de análise linguística
unicamente pautado no trabalho descontextualizado com a gramática está presente em grande
parte dos LDs que são usados nas escolas, como mostram Bezerra e Reinaldo (2020) e Araújo,
Saraiva e Souza Filho (2021), em suas respectivas análises. Nos LDs analisados por esses
pesquisadores, notou-se que a maioria dos exercícios aponta para um estudo exclusivamente
gramatical, sem que um foco específico fosse dado ao léxico. Sendo assim, em relação à
necessidade de se estudar a VL no Ensino Básico (EB), mais especificamente no Ensino Médio
(EM), e de se pensar em possíveis mudanças em relação à abordagem do estudo do léxico e da
VL nesse nível escolar, que ainda é voltado para uma abordagem unicamente tradicional, com
foco abundante na gramática, este projeto de pesquisa parte da seguinte questão motivadora:
como ocorre o tratamento da variação lexical no Livro Didático de Língua Portuguesa do
Ensino Médio? Essa inquietação surge devido ao que já se sabe acerca do que é praticado nas
escolas sobre o ensino de VL, mesmo tendo o apoio dos LDs, que deveriam, de fato, aderir à
variação da língua e não somente, em sua maior parte, às regras normativas. Ao buscarmos
compreender melhor o tratamento do léxico e da VL no LD de Língua Portuguesa (LP) do EM,
a presente proposta de pesquisa traz uma discussão acerca das concepções do léxico e da VL, a
partir dos estudos da Lexicologia e da Sociolinguística Educacional. Para isso, este trabalho
tem como objetivo geral compreender o tratamento da variação lexical no livro didático de
língua portuguesa do Ensino Médio e, como objetivos específicos, (a) analisar os objetos de
conhecimento relativos à variação lexical nas atividades do livro didático de português do
Ensino Médio; (b) interpretar as concepções de léxico e de variação lexical presentes nessas
atividades; e (c) registrar as perspectivas de análise linguística no livro didático a partir de

ISSN - 2526-5024 65
exercícios que exploram a variação lexical. Para mais, ressaltamos que a pesquisa proposta se
faz pertinente pelo fato de haver, no cenário nacional, poucos trabalhos que abordem o léxico
a partir da Sociolinguística Educacional em materiais didáticos, comprovando o que afirmamos
anteriormente. Ademais, nosso projeto de pesquisa permitirá compreender concepções de
ensino que abordem o léxico como um objeto dinâmico, heterogêneo e contextualizado. A nossa
fundamentação teórica se embasa nos pressupostos dos estudos linguísticos, partindo,
inicialmente, da Sociolinguística Educacional (BAGNO, 2007; BORTONI-RICARDO, 2004;
2005; 2012; FARACO, 2015; VEIRA, 2009; 2018). Entendemos que essa vertente da
Sociolinguística busca respostas para questões educacionais, procurando demonstrar a
relevância do seu estudo de modo contextualizado, o que contempla plenamente a nossa
pesquisa. Além disso, também tratamos de algumas questões relacionadas ao estudo do léxico,
à sua relevância para os estudos linguísticos e às concepções de léxico e ao tratamento da VL
adotados pelos LDs. Para esse debate, nos ancoramos em autores como Villalva e Silvestre
(2014), Batista (2011), Biderman (1987) e Neves (2020). Outros aspectos relevantes para nossa
fundamentação teórica são as perspectivas de análise linguística nos livros didáticos de língua
portuguesa. Referente à AL, apresentamos as três perspectivas, conservadora, conciliadora e
inovadora, identificadas em LDs por Bezerra e Reinaldo (2020), a partir de aspectos
relacionados à gramática tradicional e aos estudos linguísticos contemporâneos. Além disso,
ressaltamos a relevância do LD no ensino de LP a partir de uma abordagem mais ampla sobre
o estudo do léxico, já citado em linhas anteriores (ANTUNES, 2012). A caracterização da nossa
pesquisa se baseia no exposto por Mascarenhas (2014) e Prodanov e Freitas (2013). Entre
alguns aspectos, de acordo com Mascarenhas (2014), nosso trabalho é de abordagem
qualitativa, uma vez que não será evitada a influência do pesquisador sobre o trabalho, o que
define a subjetividade da pesquisa. É do tipo documental, de acordo com Prodanov e Freitas
(2013), principalmente por fazer uso de materiais que ainda não receberam nenhum tipo de
análise, uma vez que nos propomos a fazer uma análise dos LDs utilizados no PNLD 2021. A
geração de dados para a construção do corpus será composta por seis etapas: (i)leitura das
atividades presentes nos LDs; (ii)identificação das atividades de acordo com os critérios
definidos; (iii)verificação do encaixe de cada atividade quanto ao critério correspondente;
(iv)catalogação das atividades, organizando-as de acordo com cada critério; (v)realização de
análise do corpus; (vi)discussão dos resultados da análise retomando o proposto em nossos
objetivos e fazendo relação com as perspectivas de AL em LD. Os critérios adotados para a
construção do corpus desta pesquisa foram definidos conforme as leituras realizadas para nossa
fundamentação teórica. O corpus da nossa pesquisa será constituído por atividades voltadas ao
trabalho com a AL e que abordem a VL. Os procedimentos analíticos a serem adotados serão
distribuídos da seguinte maneira: selecionaremos as atividades relacionadas à AL;
identificaremos em qual dos critérios cada atividade se encaixa; descreveremos a atividade
fazendo a abordagem adequada relacionada aos critérios; faremos a associação de cada
atividade às três perspectivas de Bezerra e Reinaldo (2020); identificaremos a perspectiva
adotada em cada LD; e, de acordo com os pressupostos de Minayo (2009), faremos uma
interpretação dos nossos resultados, após o tratamento realizado por meio de descrição e
análise, para que possamos, então, fazer ligação com as concepções de léxico explanadas em
nossa fundamentação teórica. Por fim, ao final da nossa pesquisa, esperamos que nosso trabalho

ISSN - 2526-5024 66
contribua de forma significativa para o aprimoramento das abordagens feitas em LDs acerca do
estudo da VL de forma que o léxico seja visto como algo dinâmico e que necessita ser visto em
um contexto e nas suas formas variadas. Além de tudo, esperamos também que o nosso trabalho
contribua para uma aproximação entre a sociedade, mais especificamente os professores de
língua portuguesa do EB, e os estudos linguísticos, sobretudo no que diz respeito à variação
linguística.

Palavras-Chave: Análise linguística; Livro didático; Ensino do léxico; Variação e mudança


lexical; Sociolinguística educacional.

Referências

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MASCARENHAS, S. A. Metodologia científica. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.
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ISSN - 2526-5024 68
ATIVIDADES DE ANÁLISE LINGUÍSTICA SOBRE O
FUNCIONAMENTO TEXTUAL-INTERATIVO DOS ITENS LEXICAIS:
INVESTIGANDO O LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS DO ENSINO
MÉDIO DO PNLD 2021

Carlos Roberto Gonçalves da Silva


Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio

Resumo: Toda prática pedagógica está vinculada a uma teoria, desde a escolha dos conteúdos,
passando pela definição dos recursos metodológicos até a seleção e elaboração de materiais
didáticos. Nesse sentido, é preciso refletir sobre as concepções teórico-metodológicas
subjacentes aos livros didáticos (LDs), uma vez que essas obras são meios importantes para o
trabalho em sala de aula, servindo de apoio para docentes e discentes. Neste projeto,
defendemos que a língua se mostra no uso e realiza-se na interação social; ela é o meio
discursivo e social da interação verbal (ANTUNES, 2014; MARCUSCHI, 2008). Em uma
língua, os componentes de um sistema mais concretamente linguístico são dois: a gramática,
em geral mais prestigiada nas pesquisas e no ensino de língua portuguesa (LP), e o léxico
(ANTUNES, 2007). Defendemos que este último merece maior atenção, tendo em vista que há
uma desvalorização do trabalho com o léxico nas aulas de LP, sendo ele reduzido, muitas vezes,
ao estudo morfológico da formação e estruturação das palavras (ANTUNES, 2012). Ainda,
pensamos que se deva conceber o léxico em função da textualidade, ou seja, com vistas ao
favorecimento da tessitura dos textos, pois as palavras também são a matéria-prima das
produções textuais (ANTUNES, 2012; 2017). Considerando que um importante instrumento no
ensino de LP é o livro didático de português (LDP), destinado às escolas públicas brasileiras a
partir do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), a escolha e o uso
adequado de um bom LD são um ato político, tendo em vista que, muitas vezes, ele funciona
como norteador das práticas pedagógicas e, até mesmo, como currículo (BAGNO, 2013;
RANGEL, 2020). Nesse contexto, propomos a análise da abordagem do funcionamento textual-
interativo do léxico nos LDs do PNLD 2021, em suas obras específicas de Língua Portuguesa,
a fim de se compreenderem as concepções e os fundamentos para o ensino de elementos do
sistema lexical. Buscamos, dessa forma, um diálogo entre a Lexicologia (ANTUNES, 2012;
NEVES, 2020; VILLALVA; SILVESTRE, 2014), a Linguística de Texto (ANTUNES, 2017;
CAVALCANTE, 2016; KOCH, 2021; MARCUSCHI, 2012) e a Linguística Aplicada
(BEZERRA; REINALDO, 2020). Considerando a pressuposta abordagem limitada do léxico
nas aulas e no LDP, propõe-se a investigação acerca do tratamento dispensado ao léxico nos
LDs de língua portuguesa do Ensino Médio do PNLD 2021. Pensando nisso, tencionamos,
como pergunta de pesquisa: Qual é o tratamento dispensado ao funcionamento textual-
interativo dos itens lexicais nas obras didáticas específicas de Língua Portuguesa para o
Ensino Médio, no PNLD 2021? Para que possamos obter respostas a esse questionamento,

ISSN - 2526-5024 69
propomos, como objetivo geral deste trabalho, investigar o tratamento dado ao funcionamento
textual-interativo do léxico nos livros didáticos de Língua Portuguesa aprovados pelo PNLD
2021. Para atingi-lo, elencamos como objetivos específicos: a) identificar os objetos do
conhecimento relacionados ao funcionamento textual-interativo dos itens lexicais; b) analisar
as concepções de léxico verificadas nessas propostas; e c) verificar as perspectivas de análise
linguística, em relação aos itens lexicais, encontradas nas atividades. A proposta tem sua
relevância e justificativa por lançar mão de uma abordagem pouco trabalhada nas pesquisas
sobre o léxico e o ensino, que é a sua relação com a textualidade, trazendo para o centro das
discussões o léxico e a importância do seu conhecimento e domínio para o desenvolvimento de
competências do aluno. Acerca dos pressupostos que nos fundamentam, tratamos inicialmente
do léxico como o mais abstrato dos sistemas linguísticos, devido ao seu caráter de abertura e
renovação constante, podendo ser visto como o conjunto de palavras de uma língua, não sendo
quantificável (BEZERRA, 2004; BIDERMAN, 2001[1978]; CARVALHO, 2014).
Considerando a dificuldade em definir o que é léxico e a diversidade de ideias, Neves (2020)
indica três grandes concepções: a concepção estrutural, em que se realiza a observação de regras
gramaticais, no sentido de regularidades; a concepção cognitiva, que incorpora um aspecto
mentalista e biológico da linguagem; e a concepção textual-interativa, que tem caráter textual
porque se observam as relações da textualidade associadas à organização e funcionalidade do
texto, e interativo porque busca, nos elementos interacionais, material para a análise da
textualidade. É preciso “considerar o ensino do léxico como algo de extrema importância para
o desenvolvimento das competências necessárias aos usos da linguagem verbal” (ANTUNES,
2012, p. 14). O texto, oral ou escrito, constitui-se no objeto de estudo das aulas de língua; tudo
deve convergir para ele (ANTUNES, 2005). Apontamos, ainda, que o texto é visto como “lugar
de interação entre atores sociais e de construção interacional de sentidos” (KOCH, 2021, p. 12).
Tratar de interação significa encarar “a linguagem como atividade, como forma de ação, ação
interindividual finalisticamente orientada” (KOCH, 2007[1993], p. 7). Em relação à
textualidade, nas palavras de Costa Val (1994, p. 5), ela é vista como o “conjunto de
características que fazem com que um texto seja um texto”, e não apenas um aglomerado de
frases. Sobre a análise linguística (AL), ao estudar livros didáticos de língua portuguesa,
Bezerra e Reinaldo (2020) identificam três tendências ou perspectivas de abordagem: a
perspectiva conservadora enfatiza os conhecimentos propostos pela gramática tradicional, a
perspectiva conciliadora elenca influências teóricas advindas da linguística e da tradição
gramatical e a perspectiva inovadora abarca ideais para o estudo da língua ancoradas nas
contribuições da linguística. Metodologicamente, embasamos esta proposta na lógica de
investigação indutiva, pois o ponto de partida principal é o corpus, composto de atividades de
AL que enfocam o funcionamento textual-interativo dos itens lexicais. Tem sua natureza
documental, por analisar documentos que ainda não receberam tratamento analítico ou que
podem ser reelaborados, futuramente, no âmbito do PNLD e se caracteriza pela abordagem
eminentemente qualitativa, por propormos uma análise subjetiva, que não abstrai o objeto de
seu contexto, construindo o corpus em etapas bem delimitadas, além de intenção descritiva, ao
buscar descrever os fundamentos teórico-metodológicos para o trabalho com o léxico nesses
materiais didáticos (CHIZZOTTI, 2006; GIL, 2008; MASCARENHAS, 2018; SOUZA et al.,
2013). Para conceituarmos os LDs, nos valemos sobretudo de Bezerra (2020, p. 47), para quem

ISSN - 2526-5024 70
o LDP é “composto por unidades (lições ou módulos) com conteúdo e atividades preparados a
serem seguidos por professores e alunos, principalmente na sala de aula”. Os procedimentos
metodológicos da nossa pesquisa acontecerão em seis etapas: coleta de atividades de AL,
levantamento das que abordam o funcionamento textual-interativo do léxico, delimitação do
corpus (com critérios ainda a serem estabelecidos), catalogação dos assuntos trabalhados,
análise qualitativa das atividades e discussão acerca das análises. A análise se dará com base
em seis etapas: a descrição das atividades de AL que focalizam o tema em destaque,
identificação dos objetos do conhecimento relacionados a esse funcionamento, análise das
concepções de léxico reveladas, verificação das perspectivas de AL, análise de relações entre a
concepção de léxico e a perspectiva de AL e a reflexão sobre a produtividade dessas atividades
para a formação integral do aluno. Nosso corpus será construído a partir das sete obras
específicas de LP, selecionadas pelo PNLD 2021. A seleção inicial das atividades de AL que
tratam do funcionamento textual-interativo dos itens lexicais será feita, a princípio, com base
na abordagem da coesão lexical, frequência lexical e seleção lexical.
Palavras-Chave: Ensino do léxico; Textualidade; Interação verbal; Análise linguística; Livro
didático de português.

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2014.
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2017.
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20 anos de pesquisas em linguística e literatura. Volume II. Campinas: Pontes, 2019.
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ISSN - 2526-5024 71
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CARVALHO, Orlene Lúcia de Saboia. Léxico. In: FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva; COSTA
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alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: UFMG/ Faculdade de Educação, 2014.
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CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2016.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 2006.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. São
Paulo: Contexto, 2021.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 10. ed. São Paulo: Contexto,
2007[1993].
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? São Paulo: Parábola, 2012.
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(Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
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VILLALVA, Alina; SILVESTRE, João Paulo. Introdução ao estudo do léxico: descrição e análise do
português. Petrópolis: Vozes, 2014.
MASCARENHAS, Sidnei Augusto. Metodologia científica. São Paulo: Pearson Education do Brasil,
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RANGEL, Egon. Livro didático de língua portuguesa: o retorno do recalcado. In: DIONISIO, Angela
Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora. Livro didático de português: múltiplos olhares. Campina
Grande: EDUFCG, 2020. p. 13-24.

ISSN - 2526-5024 72
OS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE
PROFISSIONAL DOCENTE A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS NO
ÂMBITO DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

Edvaldo Santos de Lira


Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael

Resumo: Programas que fomentam práticas docentes como o Programa de Iniciação à Docência
(PIBID) e o Programa de Residência Pedagógica (PRP) exercem papel fundamental na
construção e no desenvolvimento da identidade profissional de licenciandos/as (LIRA et al.,
2020). Eles oportunizam espaço para a imersão dos/as graduandos/as no contexto de ensino e,
principalmente, na compreensão das dimensões do trabalho do/a professor/a. Em se tratando
especificamente do Programa de Residência Pedagógica, esse foi instituído pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), chegando às Instituições de Ensino
Superior (IES) através de seleções públicas que constituem os subprojetos dentro das
universidades, também chamados de Núcleos. A primeira versão do PRP foi lançada em
agosto/2018 (edital nº 06/2018), e vigorou até janeiro/2020. Já a segunda versão foi lançada em
outubro/2020 (edital nº 01/2020) e encerrou as atividades em março/2022. Dentre os objetivos
elencados em ambas as versões, destacamos, para a pesquisa, o fortalecimento da formação de
professores/as que o PRP se propõe a realizar. No âmbito do Programa, cada residente é
acompanhado/a por um/a professor/a preceptor/a na escola-campo, além de um/a professor/a-
orientador/a na universidade. Ademais, eles/elas estão sempre em contato com outros/as
residentes, com o/a coordenador/a do Núcleo e com os/as alunos/as. Essas interações nos levam
às palavras de Amigues (2004), quando o autor defende o trabalho docente como uma atividade
que sempre engloba outros/as. Da mesma forma, observamos a atividade docente como
interacional e interpessoal (MACHADO; BRONCKART, 2009). Os mais variados diálogos que
medeiam as atividades dos/das residentes sempre exigem outrem. Considerando o cenário
apresentado, esta pesquisa2 tem como perguntas suleadoras: como três residentes do curso de
Letras-Inglês da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atuantes no Programa de
Residência Pedagógica, representam a atividade docente em textos no/sobre o trabalho? Quais
as contribuições do Programa de Residência Pedagógica para a construção da identidade
profissional docente desses/as residentes? Para responder às perguntas, elencamos como
objetivo geral: investigar as contribuições do Programa de Residência Pedagógica para a
construção da identidade profissional docente de três residentes de Letras-Inglês, a partir de
suas representações da atividade docente. Como objetivos específicos: 1) identificar
representações textualizadas por três residentes de Letras-Inglês da Universidade Federal da
Paraíba acerca dos objetos constitutivos da atividade docente; 2) verificar de que maneira as
identidades são construídas a partir das representações textualizadas; 3) relacionar as
representações e o processo de construção de identidade profissional docente. Situada na
Linguística Aplicada – LA (MOITA LOPES, 2006) e alinhada ao quadro teórico-metodológico

2
Pesquisa vinculada ao Projeto de Pesquisa Configurações de ensino em práticas multidisciplinares de
linguagem(ns) (PPGLE, 2018-2023), aprovado pelo Comitê de Ética/UFCG – CCAE: 94344318.6.0000.5182 –
Plataforma Brasil.

ISSN - 2526-5024 73
do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), esta pesquisa parte do pressuposto de que a
linguagem exerce papel fundamental e constitutivo nos saberes, nas configurações identitárias
e nas interações que transformam realidades (KLEIMAN, 2013). Parte, também, da
problemática de que por muito tempo uma visão tecnicista persistiu e consistiu em uma
formação de professores/as com enfoque no melhor método, melhor forma de ensinar, tirando
o espaço para a criticidade e a reflexão sobre o ensino de línguas (MILLER, 2013).
Freudenberger (2011) reflete que, até certo tempo, pesquisas não levavam em consideração o
ensino como trabalho (MACHADO, 2004). Essa lacuna resultou em pesquisas que entendiam
o/a professor/a apenas como alguém que realizava as prescrições, sem modificá-las. Assim,
entender o ensino como trabalho significa compreender que o trabalho do/a professor/a vai além
do planejamento de aulas ou domínio de técnicas de ensino (MEDRADO, 2011). É necessário
considerar os vários elementos que constituem a atividade docente. O PRP oportuniza um
espaço maior para a vivência no contexto escolar e, consequentemente, uma imersão
aprofundada no trabalho. Os/as residentes podem compreender e refletir sobre aspectos que,
talvez, outros espaços de formação não possibilitassem compreensão, pelo menos de forma
aprofundada. Ainda, por se tratar de um Programa recente, faz-se necessário investigar como
licenciandos/as que participam do Programa compreendem o trabalho docente e a profissão para
qual estão sendo formados/as. Para atingir os objetivos elencados, nos apoiaremos em
discussões sobre formação e trabalho docente (AMIGUES, 2004; BULEA-BRONCKART;
BRONCKART, 2017; CLOT, 2010; FREUDENBERGER, 2011; MACHADO;
BRONCKART, 2009; MACHADO, 2007; MEDRADO, 2011; MEDRADO; REICHMANN,
2020; MILLER, 2013); identidade (HALL, 2005) e identidade docente (REICHMANN, 2012;
SANT’ANA, 2020). O objeto teórico de investigação desta pesquisa é(são) o(s) processo(s) de
construção identitária docente, a partir de representação(ões) da atividade em textos de
residentes no/sobre o trabalho, mais precisamente, textos produzidos no Núcleo
Multidisciplinar Letras Espanhol/Inglês do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas
(DLEM), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Neste Núcleo, os/as residentes se
engajaram na escrita de relatos reflexivos que eram escritos após cada visita feita à escola-
campo. Nesses relatos, os/as residentes textualizavam suas vivências naquele dia específico na
escola. Para a pesquisa, selecionaremos para constituição do corpus, relatos de três residentes
participantes do Núcleo, que foram produzidos durante as duas versões do Programa. Além dos
relatos, nos valemos de entrevista semiestruturada, visto que ela se configura como mais um
espaço de investigação do trabalho dos/as residentes e como o PRP se insere na vida e identidade
profissional desses/as licenciandos/as. A entrevista aconteceu de forma coletiva e envolveu
os/as três colaboradores/as em uma conversa pautada na compreensão mais geral do Programa
e suas contribuições. Esta pesquisa tem uma abordagem qualitativa, considerando que busca
compreender práticas sociais (DENZIN; LINCOLN, 2006). Por ter como parte do corpus relatos
reflexivos, também se classifica como documental (GIL, 2002). No momento de escrita deste
texto, a geração de dados já foi finalizada. Sendo assim, além dos dados da entrevista, também
temos acesso aos relatos reflexivos dos/as três residentes colaboradores/as. Maria (nome
fictício) participou da segunda versão do Programa. Devido à finalização do curso, teve seu
vínculo encerrado com o Programa no final do primeiro módulo (março/2021) e escreveu 10
relatos reflexivos durante sua vivência no PRP. Pedro (nome fictício) participou da primeira
versão do Programa. Entrou no PRP meses depois do início dessa versão, mais precisamente,
em fevereiro de 2019. Finalizou as atividades em janeiro de 2020 e escreveu 41 relatos durante
sua vivência no Programa. Fernando (nome fictício) participou da primeira versão do Programa.
Se vinculou ao PRP em agosto de 2018 e finalizou suas atividades em janeiro de 2020. No
período, escreveu 57 relatos. Devido a amplitude dos relatos, para a pesquisa, iremos selecionar
10 relatos de cada colaborador/a, a partir do momento que narram o primeiro contato deles/dela

ISSN - 2526-5024 74
com a sala de aula no contexto do Programa. Cabe mencionar que não existia um prazo
irrevogável para realização do upload dos relatos no Google Drive (para que os/as
orientadores/as pudessem ler e comentar), mas havia a recomendação que esse upload fosse
feito na mesma semana de visita. Por fim, para análise do corpus, nos valeremos de um
aprofundamento linguístico-discursivo. Sendo assim, os fragmentos dos relatos e entrevista
serão organizados em categorias de análise que serão construídas a partir dos conceitos
apresentados no quadro teórico da pesquisa.
Palavras-Chave: Programa de Residência Pedagógica; Identidade profissional docente;
Trabalho docente; Representações.

Referências

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ISSN - 2526-5024 76
ENSINO DE ESCRITA ACADÊMICA EM UM CURSO DE LETRAS-
PORTUGUÊS: DAS ATIVIDADES PROPOSTAS À VOZ DOS
PROFESSORES

Francineide Francisca Pacheco


Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Maria da Silva

Resumo: A temática do ensino de escrita acadêmica em cursos de graduação em Letras


Português tem aguçado inquietações tanto relacionadas aos aspectos que envolvem a
construção dessa escrita, quanto ao entendimento que se tem sobre “boas” práticas
pedagógicas. Essas inquietações fundamentam-se em experiências vivenciadas nesses cursos
nos quais puderam ser percebidos diversos desafios enfrentados seja pelos alunos, ao lidarem
com a escrita acadêmica, seja pelos professores, ao ensinarem e avaliarem as escritas dos
discentes. No entanto, Fischer e Dionísio (2011) salientam que é a própria universidade o
espaço privilegiado para o desenvolvimento de habilidades relacionadas à construção da escrita
acadêmica, pois a partir das disciplinas inseridas nos currículos dos cursos, os discentes vão
adquirindo diversos conhecimentos do universo científico e em relação aos quais necessitam
desenvolver novas habilidades relacionadas ao uso da linguagem e à construção da escrita.
Mas, mesmo tendo esse aparato proposto nos currículos dos cursos, Vitoria e Christofoli (2013,
p. 42, grifo dos autores) elencam outros aspectos que também devem ser considerados
importantes, quando pensamos a escrita em contexto acadêmico: “os fundamentos
epistemológicos que norteiam o trabalho docente, as escolhas didático-metodológicas mais
indicadas para realizar um trabalho de escrita consistente e as concepções que costumam cercar
aquilo que se entende por boa escrita”. Tendo em vista que a escrita acadêmica tem
características próprias e níveis de exigência diferentes nas etapas de ensino vivenciadas
anteriormente pelos discentes e por ser tão importante na vida acadêmica como um todo, o
ensino dessa escrita na universidade vem suscitando uma necessidade de estudos que enfoquem
essa realidade. Conforme mapeamento realizado em periódicos da CAPES, SCIELO, Google
Acadêmico, sites do PPGLE, PPGEL, PPGL e outros, há um número considerável de trabalhos
que trazem discussões sobre escrita acadêmica e seu ensino, porém ainda há poucos focando o
ensino de escrita acadêmica no curso de Letras Português (FERREIRA; LOUSADA, 2016;
MENEGASSI, 2003) e, principalmente quando a voz desse ensino é discutida sob a perspectiva
de professores. Assim, esta pesquisa parte da seguinte pergunta: Como professores didatizam
a escrita acadêmica em um curso de Letras Português de uma universidade pública do Piauí?
Por meio desse questionamento, elegemos como objetivo geral: Investigar didatizações da
escrita acadêmica realizadas por professores de um curso de Letras Português de uma
universidade pública do Piauí. Para isso, definimos como objetivos específicos: a) Identificar
objetos de ensino explorados em atividades de escrita acadêmica propostas pelos professores
do curso referido; b) Caracterizar abordagens de ensino de escrita acadêmica subjacentes às
atividades propostas no contexto de investigação referido; c) Analisar a visão desses
professores sobre essa transposição didática envolvendo atividades de escrita acadêmica.
Teoricamente, esta pesquisa ancora-se em três eixos temáticos: O primeiro diz respeito aos
Novos Estudos de Letramento embasado, principalmente, nos trabalhos desenvolvidos por
Street (1994, 2003, 2014) e Gee (1996), nos quais a escrita é concebida como uma prática

ISSN - 2526-5024 77
social situada. Esse eixo contempla também a concepção de escrita acadêmica à luz dos
Letramentos Acadêmicos (LEA; STREET, 1998, 2014). Em contexto brasileiro, destacam-se,
nessa área, pesquisadores como Marinho (2010), Fiad (2011,2017) e Fischer (2007, 2008,
2010). O segundo eixo versa sobre concepções e abordagens de ensino de escrita acadêmica.
Para tanto, fundamenta-se, inicialmente, nas três vertentes de focalização de escrita indicadas
por Garcez (2010) – experimentalista/positivista, cognitivista e sociointercionista. Na
sequência, contempla as abordagens de ensino de escrita acadêmica exploradas por Lea e Street
(1998, 2014) – habilidade de estudo, socialização acadêmica e letramentos acadêmicos –
estabelecendo um diálogo com os discursos sobre escrita elencados por Ivanic (2004) –
habilidade; criatividade; processo; gênero; prática social; prática político social. O terceiro e
último eixo focaliza a transposição didática (CHEVALLARD, 1991), particularmente, os
objetos de ensino – “porções dos conteúdos discursivos e/ou gramaticais [...] que tem o gênero
como megaobjeto de ensino de língua” (LINO DE ARAÚJO, 2014, p. 16). Para tanto, subsidia-
se em Schneuwly e Dolz (2004), que defendem o gênero como objeto de ensino, e em Dolz,
Pasquier e Bronckart (1993), no que se refere às capacidades de linguagem – de ação,
discursivas e linguístico-discursivas – que permitirão explorar elementos
discursivos/linguísticos característicos das possibilidades pedagógicas voltadas para o ensino
de escrita acadêmica. Metodologicamente, o presente estudo está situado no campo da
Linguística Aplicada (MOITA LOPES 2006; 2009; 2013, no paradigma interpretativista sob
uma abordagem qualitativa dos dados (BOGDAN; BIKLEN, 1994; SILVEIRA; CÓRDOVA,
2009; PRODANOV; FREITAS, 2013). Trata-se de uma pesquisa de natureza híbrida, do tipo
experiencial (MICCOLI, 2006) e exploratória (GIL, 2008). O espaço da pesquisa será uma
universidade pública do estado do Piauí, a saber: Universidade Estadual do Piauí- Campus
Professor Possidônio Queiroz, localizada na cidade de Oeiras. Os participantes da pesquisa
serão quatro professores dessa instituição de ensino que ministram a disciplina Iniciação à
Leitura e à Produção de Textos Acadêmicos, cujo foco principal é o ensino de escrita
acadêmica. Assim, serão selecionados 02 professores que já lecionaram essa disciplina nos
últimos dois anos, e 02 professores que estejam ministrando essa mesma disciplina no
momento da geração de dados. A escolha por professores que ministraram/ministram essa
disciplina até pelo menos 2 anos deve-se ao fato de abranger docentes que ministraram essa
disciplina com o mesmo currículo. Tendo selecionado os participantes da pesquisa, será
estabelecido um contato com eles. Em seguida, será realizada uma entrevista semiestruturada
com cada participante, visando a conhecer as atividades de escrita acadêmica por eles
propostas, bem como será solicitado a eles o compartilhamento do plano de curso da disciplina
e do material didático utilizado no decorrer das atividades propostas no ensino da escrita
acadêmica. Esses dados empíricos e documentais serão submetidos à técnica de Triangulação
de Dados (MARCONDES; BRISOLA, 2014). Face ao que está sendo proposto, a relevância
desta pesquisa justifica-se não só pela lacuna de estudos voltados para o ensino de escrita
acadêmica em cursos de Letras Português com foco na voz de docentes, mas também porque
o foco está em dar visibilidade a atividades de escrita acadêmica produtivas e significativas na
área, suscitando o compartilhamento de vivências que deram certo, que proporcionaram
aprendizados, sendo passíveis de serem mobilizadas para outros contextos, guardados os
devidos ajustes. Em virtude dessa compreensão, é possível que o desenvolvimento desta
pesquisa possa também contribuir para que mudanças ocorram na maneira de ensinar escrita a
acadêmica e assim subsidiar o trabalho dos professores nesse ensino, em novas propostas e
compromissos com o ensino de escrita acadêmica.
Palavras-Chave: Letramentos Acadêmicos; Ensino de escrita acadêmica; Objetos de ensino;
Abordagens de ensino.

ISSN - 2526-5024 78
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ISSN - 2526-5024 80
PROTAGONISMO DOCENTE COMO ATO RESPONSÁVEL: UMA
ANÁLISE DIALÓGICA DOS DISCURSOS DE PROFESSORES DE
LINGUAGENS EM CONTEXTO DE ENSINO REMOTO

Josenilda Santos Luiz


Orientadora: Profa. Dra. Eliete Correia dos Santos

Resumo: O professor enquanto sujeito ativo do processo de ensino e aprendizagem contribui


com reflexões diversas, através do ser/fazer docente. Nos últimos anos, têm sido evidenciados
estudos focados no professor como protagonista em contexto de ensino (MOURA; FORSTER,
2012; SALES, 2009). Nesta perspectiva, contemplaremos o “Protagonismo docente”, com
ênfase no agir do professor como sendo um sujeito imerso numa realidade concreta e
comprometido com seus atos. Nosso contexto de pesquisa, refere-se ao momento sócio-
histórico, em que no início do ano de 2020, surgiu de modo inesperado a pandemia do Covid-
19, gerando sérias consequências para o sistema educacional em nosso país, sendo preciso
aderir ao formato de ensino remoto (SOARES, 2020), que é efetivado através do uso das
Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs). Com a visibilidade das TDICs,
passamos a vivenciar um novo momento tecnológico (KENSKY, 2003), influenciando os
modos de ser e agir, por meio da interação professor/aluno (ALVES, 2020). Exercer o
protagonismo docente no contexto de ensino remoto é assumir pontos de vista, visões de
mundo, perspectivas, direcionamentos, diante da realidade vivenciada pelos professores. Os
discursos produzidos por esses sujeitos (professores) em tempos de reinventar-se
profissionalmente, e que circulam e se materializam nas diversas esferas, são sempre carregados
de angústias, desânimo, cansaço e também, podemos destacar expectativas, inovações, o que é
comum numa sociedade atravessada por desafios constantes e superações. Destacamos a
necessidade para olhares a respeito de um novo agir docente, mediante as práticas de ensino
exitosas, bem como críticas realizadas ao ensino remoto, o que muitas vezes desestimulam,
silenciam os professores, impossibilitando-os de agir na ação dialógica com o “eu” e o “outro”,
e comprometem a efetivação de um processo de ensino aprendizagem eficaz, fragmentando a
relação de interação entre professor/aluno. Neste contexto, buscamos responder ao seguinte
questionamento: como tem sido desenvolvido o protagonismo docente de professores de
linguagens dos anos finais do ensino fundamental atuantes em contexto de ensino remoto, à luz
do ato responsável na perspectiva bakhtiniana? Temos como objetivo geral: analisar o
protagonismo docente como ato responsável nos discursos de professores de linguagens dos
anos finais do ensino fundamental atuantes em contexto de ensino remoto. E objetivos
específicos: identificar através dos discursos dos professores as configurações do protagonismo
docente em contexto de ensino remoto; descrever o protagonismo docente a partir do acesso
aos discursos dos professores materializados no ambiente virtual de aprendizagem – Google
Classroom; caracterizar o Professor Protagonista na perspectiva bakhtianna através dos
discursos apresentados. Justificamos a motivação para este estudo, devido às inquietações e

ISSN - 2526-5024 81
tensões vivenciadas por nós professores com o ensino remoto, assim como, possíveis
resistências ao processo de adequação, e em casos particulares, vivências exitosas demonstradas
por esses docentes. E, de modo especial, a necessidade de reinventar-se como sujeitos que
assumem seus atos como resposta responsável frente ao ensino. Por isso, tendo como contexto
de pesquisa a situação atípica que vivenciamos em decorrência da pandemia de Covid-19,
abordaremos o ser/fazer docente como ato e sua constituição única e irrepetível no contexto de
ensino remoto. Faremos isso a partir da concepção bakhtiniana do ato responsável, tendo como
principal aporte teórico as obras de Bakhtin. O conceito de “Ato” considera a manifestação
cultural dos sujeitos, é o se posicionar sócio historicamente (BAKHTIN, 2010), subsidiados
pela Análise Dialógica do Discurso (ADD) (BRAIT, 2006; FRANCELINO; XAVIER, 2014),
que considera o uso da linguagem nas práticas sociais, enquanto estratégia de interação,
constitutiva dos sujeitos e constituída pelos sujeitos (BAKHTIN, 2016). Portanto, se faz
necessário refletir sobre as mudanças nos comportamentos e práticas dos professores, que se
espera a prática do ato docente com uma responsabilidade moral, e reconhecendo-se como
sujeitos insubstituíveis e sem álibi nas expressões dos seus atos responsáveis. Neste sentido, a
perspectiva dialógica tem grande relevância nas pesquisas em ciências humanas, ao considerar
como objeto de estudo, o homem como ser social, que se expressa, fala, se posiciona, apresenta
seu ponto de vista e direciona seu pensamento nas distintas situações de produção dos discursos
(SANTOS, 2013). Reafirmamos à vinculação desta pesquisa em ciências humanas a perspectiva
das relações dialógicas, em que os atos dos sujeitos, através dos discursos não se limitam a
diálogos superficiais; mas, estão relacionados aos discursos produzidos em determinadas
condições e contexto sócio históricos (XAVIER, 2018). A abordagem desta pesquisa é de
natureza qualitativa (MOREIRA; CALEFFE, 2008). No que se refere aos objetivos, a nossa
investigação se classifica como de natureza descritivo-interpretativista (CELANI, 2005). Os
sujeitos da pesquisa serão 05 docentes da área de linguagens atuantes nos anos finais do ensino
fundamental de uma escola pública localizada na Paraíba. O Contexto de geração de dados
recupera o período de pandemia, através do recorte histórico que compreende o período de
março de 2020 a setembro de 2021, em que contemplamos o surgimento da Pandemia do Covid-
19 e suas consequências na educação do país, e especificamente na realidade investigada.
Destacamos os instrumentos e etapas para a geração dos dados: De início, para levantamento
dos perfis dos sujeitos, usaremos o questionário (GIL, 1999), justificamos pela praticidade na
aplicação. Após, realizaremos entrevistas semiestruturadas (CRESWELL, 2007). Esse modelo
de entrevista é flexível, permitindo maior interação entre os envolvidos. Serão realizadas 02
(duas) entrevistas intercaladas: A primeira, após o questionário, sobre a implementação do
ensino remoto e a necessidade de adequação dos atos pedagógicos; A segunda será realizada
após a observação na sala de aula google classroom, e abordará a importância do protagonismo
docente e os atos pedagógicos como resposta responsável no ensino remoto e pós ensino
remoto. O terceiro instrumento será a observação, que perpassa todas as etapas do processo de
coleta de dados, por ser uma pesquisa de cunho descritivo-interpretativista, (JACCOUD;
MAYER, 2008). Constará da inserção da pesquisadora no Google classroom (já arquivada)
para observação da materialização dos discursos dos professores. Atentando-se às postagens de
atividades, vídeos, comunicados, respostas as supostas inquietações dos alunos, entre outras
formas de usos da linguagem. Observaremos os atos pedagógicos nas relações professor/aluno,

ISSN - 2526-5024 82
a metodologia adotada, as aproximações e os distanciamentos entre o que foi dito nas
entrevistas e executado no Google classroom. Os critérios para a análise dos dados são
estabelecidos em três categorias: I- Perfil dos participantes da pesquisa, II- O processo de
comunicação, especificamente, os usos da linguagem através do ensino remoto, e a III-
Caracterização do professor protagonista através dos discursos apresentados e dos
posicionamentos valorativos. Destarte, ao realizarmos pesquisa utilizando a ADD como aporte
metodológico é importante compreendermos o contexto, a relação entre os discursos ditos e
não-ditos, ou seja, considerar aspectos de análise tais como: Quem disse, em que contexto, em
que condições e para quais sujeitos, para que os discursos produzidos possam ser apreendidos.
Portanto, pretendemos analisar os usos da linguagem na dimensão: Do ser professor como
sujeito ético, dos atos responsáveis e do pensar na formação docente. Acreditamos que através
desta pesquisa, possibilitaremos a construção de diálogos, sobre os impactos da pandemia nos
atos pedagógicos, evidenciando o uso das TDICs no processo de ensino e aprendizagem,
realçando a importância da formação do professor e, sobretudo, contribuindo com discussões
sobre o protagonismo docente como ato responsável em tempos de ensino remoto e pós ensino
remoto, a partir de experiências legítimas capazes de apresentar o contexto real e apontar novos
direcionamentos para análises futuras.
Palavras-Chave: Protagonismo Docente; Ato Responsável; Análise Dialógica do Discurso;
Ensino Remoto.

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ISSN - 2526-5024 84
O TRATAMENTO PEDAGÓGICO DO LÉXICO DA LÍNGUA
INGLESA: ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO

Larissa Evelyn Santos Oliveira


Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio
Coorientador: Prof. Dr. Ricardo Rios Barreto Filho

Resumo: Partindo da premissa de que o conhecimento lexical é fundamental para os falantes


ou usuários de determinada língua, já que estes precisam fazer uso de palavras em todos os
contextos do dia a dia e em situações de interação diversas, torna-se viável afirmar a importância
do ensino do léxico nas escolas, pois, por meio deste, é possível promover o desenvolvimento
da oralidade, da leitura, da escrita, da análise e reflexão sobre a língua e também da dimensão
intercultural (BRASIL, 2017). A partir de estudos linguísticos que focam no léxico
(BIDERMAN, 1996; ANTUNES, 2012; KRIEGER, 2014), assumindo a grande relevância
deste para o ensino de Língua Inglesa e entendendo o vocabulário como elemento central na
aprendizagem de um idioma (LEFFA, 2000), esta pesquisa tem como objetivo investigar o
tratamento dado ao léxico nos livros didáticos de Língua Inglesa do Ensino Médio, aprovados
pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) 2021 (BRASIL, 2021). A
escolha de examinar o livro didático se dá em razão da sua ampla difusão e uso nas escolas,
pois, assim como afirma Araújo (2012), o livro didático é um relevante instrumento didático-
pedagógico para muitos professores da Educação Básica, de cursos de idiomas, entre outras
esferas de ensino, sendo que, no contexto educacional brasileiro, principalmente das escolas
públicas, acaba por se tornar, na maioria das vezes, a única fonte de insumo para professores e
alunos. O livro didático, como um dos aspectos externos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem, deve apresentar o léxico de maneira contextualizada, a partir de textos e
enunciados autênticos. O desafio é saber que palavras ensinar, que vocabulário apresentar nos
livros e como fazê-lo (BAIÃO, 2018). A falta de instrução explícita nos documentos
reguladores sobre como ensinar o léxico torna necessário que professores, pesquisadores e
cidadãos, preocupados com uma educação de qualidade, avaliem a eficiência desse recurso
didático e a maneira como ele é utilizado no processo de ensino e aprendizagem (SARMENTO;
LAMBERT, 2016). Além disso, um dos problemas relacionados ao léxico é especificamente o
do aprendizado do vocabulário, em virtude de a aquisição deste ter sido, por certo tempo,
negligenciada pela pesquisa linguística, e esta ter sido assistemática e sem continuidade
(BIDERMAN, 1996). Assim, espera-se, por meio desta pesquisa, conhecer o processo pelo qual
se dá o ensino do léxico de língua inglesa nos livros de inglês aprovados no PNLD 2021,
recorrendo à análise e classificação das atividades propostas e à identificação das concepções
de léxico apresentadas pelos materiais didáticos. Para isso, será preciso, inicialmente, identificar
as atividades de ensino explícito do léxico nos materiais didáticos selecionados. Vale destacar
que há dois tipos específicos de aprendizado de vocabulário em língua estrangeira, o
aprendizado intencional ou explícito, aquele em que as palavras são selecionadas para o estudo

ISSN - 2526-5024 85
e que pode estar integrado às práticas de leitura, escrita etc., e o aprendizado incidental ou
implícito, aquele em que os itens lexicais são incorporados de forma incidental, que abordam
de maneira mais extensiva e predominante outros aspectos que não sejam o vocabulário. Esse
estágio de identificação segue um checklist de sete etapas (CUNNINGSWORTH, 1995): 1)
verificar se a apresentação de vocabulário é central ou periférica; 2) avaliar a quantidade de
vocabulário ensinado; 3) observar se há princípios para a seleção de vocabulário; 4) checar se
há distinção entre vocabulário ativo, passivo ou de sala de aula; 5) identificar se o vocabulário
é apresentado de forma sistematizada e intencional; 6) verificar se os exercícios de aprendizado
de vocabulário contemplam os principais aspectos lexicais citados; 7) identificar se o material
ajuda o aluno a desenvolver suas próprias estratégias de aprendizado de vocabulário, permitindo
que ele expanda seu léxico de forma independente e autônoma. Para isso, nesta pesquisa, é
proposta uma análise qualitativa das atividades lexicais de ensino explícito, ou seja, das
atividades que direcionam o foco do aprendente para o vocabulário, a partir do corpus de duas
obras didáticas específicas: Anytime! Always Ready for Education (MARQUES; CARDOSO,
2020) e Take Action! (RICHTER; LARRÉ, 2020). Em um segundo momento, é realizada a
interpretação e descrição dos dados, por meio da análise do corpus, fundamentadas no quadro
teórico referencial, pelo qual serão estabelecidas relações entre a Linguística Aplicada (BAIÃO,
2018; BEZERRA, 2004; LEWIS, 2008; NATION; NEWTON, 1997; THORNBURY, 2007), a
Lexicologia (NEVES, 2020; ANTUNES, 2007, 2012; KRIEGER, 2014; BIDERMAN, 1996) e
o ensino de Língua Inglesa como língua estrangeira (KRASHEN, 1982; LEFFA, 2000;
RICHARDS; RODGERS, 2001). A princípio, o corpus é classificado em 1) atividades de
vocabulário segregado; 2) vocabulário integrado em atividades baseadas em texto; 3)
aprendizado incidental de vocabulário (THORNBURY, 2007). Entende-se que o vocabulário
pode ser separado em duas grandes categorias de conhecimento: quantas palavras se conhece,
categoria relacionada à questão de quantidade, essencialmente numérica; e a profundidade do
vocabulário, ou seja, o quão bem se conhece essas palavras (NATION, 1990; RICHARDS,
1976). Nesse sentido, a partir do conceito de dimensões de conhecimento da palavra
(CERVETTI et al., 2012), é realizada a classificação nos níveis de: 1) reconhecimento; 2)
definição; 3) exemplificação; 4) contextualização; 5) aplicação e 6) relação. Espera-se, dessa
forma, obter uma visão geral de como o estudo lexical de língua inglesa está se desenvolvendo,
por meio da análise das atividades apresentadas nos materiais didáticos selecionados e
categorização. Por último, após a organização das atividades de acordo com as categorias
estabelecidas, é necessário realizar a descrição das concepções de léxico reveladas pelas
análises das atividades, com base no proposto por Neves (2020), classificando a abordagem do
tratamento do léxico de acordo com as concepções reveladas: estrutural, cognitiva e/ou
concepção textual-interativa. Como objetivo geral, em suma, com o resultado dos
procedimentos descritos, pretende-se apresentar como se configura o trabalho com o léxico nos
materiais didáticos distribuídos nas escolas públicas brasileiras, frente a um contexto de reforma
do Ensino Médio e reformulação dos livros. Mais especificamente, busca-se (i) reforçar a
importância que o desenvolvimento da competência lexical tem no ensino de língua inglesa; (ii)
analisar as atividades de ensino explícito do léxico nos materiais didáticos selecionados; (iii)
descrever as atividades relacionadas aos conhecimentos lexicais e categorizá-las, e (iv)
identificar as concepções de léxico assumidas e/ou reveladas em materiais didáticos. Por isso,

ISSN - 2526-5024 86
em relação aos procedimentos metodológicos, adota-se a pesquisa documental. Vale salientar
que, na análise documental a ser realizada, não importa o número de atividades que exploram a
competência lexical, mas a classificação delas para que, na sequência, seja possível reconhecer
as concepções de léxico reveladas no processo de análise. Por essa razão, destaca-se, mais uma
vez, a importância da abordagem qualitativa para a pesquisa, visto que, por seu intermédio,
dispõe-se de uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas, com a expectativa de
compreender melhor o assunto que está ao alcance (DENZIN; LINCOLN, 2006). Em
conclusão, espera-se que as atividades analisadas sejam capazes de desenvolver sólido e
adequado trabalho com as competências lexicais, devido ao fato de tal competência linguística
ser essencial para a qualidade da ação educativa e o desenvolvimento das habilidades e
competências necessárias para a formação de estudantes proficientes na leitura, na escrita, na
oralidade e nos conhecimentos da língua, uma vez que, valendo-se dessas competências, é que
é possível nomear e caracterizar o mundo ao nosso redor, exercer poder sobre o universo natural
e antropocultural, registrar e perpetuar a cultura (ISQUERDO; KRIEGER, 2004).
Palavras-Chave: Léxico, Livro Didático de Inglês, Concepções de léxico, Atividades Lexicais,
Análise Linguística.

Referências

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THORNBURY, S. How to Teach Vocabulary. Harlow: Pearson, 2007

ISSN - 2526-5024 88
A PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA
ARGUMENTATIVA EM DIFERENTES COMPONENTES
CURRICULARES NA BNCC DO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS
FINAIS

Leonara Nahyane da Silva


Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino de Araújo

Resumo: Em âmbito escolar, o desenvolvimento da competência argumentativa nem sempre


possui um lugar privilegiado (PACÍFICO, 2016). No Ensino Médio, a abordagem do objeto de
conhecimento argumentação, muitas vezes, se restringe “[...] à produção do texto dissertativo-
argumentativo [...] como conteúdo escolar” (PACÍFICO, 2016, p. 198) necessário às demandas
dos vestibulares. No Ensino Fundamental, no entanto, a abordagem desse objeto de
conhecimento, por muito tempo, não se mostrou efetiva, uma vez que os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNS), documento parametrizador da prática pedagógica anterior à
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), preconizavam “[...] o estudo de textos narrativos e
descritivos.” (RIOLFI E COSTA, 2018, p. 781). Nesse sentido, faz-se válido salientar que os
documentos curriculares, enquanto construções sociais que agregam diversas relações de poder,
prescrevem, delimitam e organizam o que deve ser contemplado nos processos de ensino e
aprendizagem e, por isso, “[...] a cultura selecionada e organizada dentro do currículo não é a
cultura em si mesma, mas uma versão escolarizada em particular.” (SACRISTÀN, 2000, p.
128) que prioriza um ou outro objeto de conhecimento e determina em quais etapas esse objeto
deve ser contemplado. Em vista disso, a BNCC, sendo o mais recente documento curricular
proposto pelo Ministério da Educação (MEC), apresenta uma proposta de educação nacional,
basilar e comum, considerando-se as diversas realidades que se evidenciam na sociedade e nas
inúmeras instituições de ensino do Brasil. Como resultado de outras quatro versões, a Base do
Ensino Fundamental, homologada em dezembro de 20173, define-se enquanto um documento
de caráter normativo (BRASIL, 2018) que determina as aprendizagens essenciais a serem
desenvolvidas pelos alunos por meio de sete competências gerais e de competências e
habilidades específicas elencadas para as diferentes etapas de ensino, áreas de conhecimento e
componentes curriculares. Dentre as competências gerais, o documento prescreve a
competência argumentativa4 que deve ser desenvolvida e contemplada em todas as etapas da
Educação Básica e requer que os alunos possam “Argumentar com base em fatos, dados e
informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões
comuns [...]” (BRASIL, 2018, p. 9). Desse modo, a Base se preocupa com o desenvolvimento

3
Em abril de 2018, foi homologado a BNCC em sua versão completa, uma vez que apresentou as prescrições
também para a etapa do Ensino Médio.
4
A competência argumentativa é a sétima competência geral prescrita pela BNCC.

ISSN - 2526-5024 89
integral da competência argumentativa dos alunos e sinaliza a necessidade de as instituições de
ensino e os professores de todas as disciplinas realizarem ações para que essa competência seja
desenvolvida de modo integral. Contudo, em muitos contextos escolares, não se concretizam
os espaços de diálogos necessários à prática da argumentação. Por isso, concordamos com
Pacífico (2016, p. 192), quando defende ser a argumentação “um direito humano [...] que deve
ser exercido no contexto escolar” e nos mais variados componentes curriculares por meio de
“[...] experiências interdisciplinares e de práticas educativas ideológicas.” (RIBEIRO, 1999, p.
109-110). Sendo assim, considerando o lugar dado à competência argumentativa pela BNCC,
nossa pesquisa se orienta a partir do seguinte questionamento: Como está proposto o
desenvolvimento da competência argumentativa em diferentes componentes curriculares
apresentados pela BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais? A fim de responder a esse
questionamento, nos dedicamos a investigar a proposta de desenvolvimento da competência
argumentativa em diferentes componentes curriculares apresentados pela Base para o Ensino
Fundamental Anos Finais. Para tanto, elencamos como objetivos específicos: i. Identificar os
aspectos da argumentação abordados em diferentes componentes curriculares apresentados pela
BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais; ii. Analisar o(s) tratamento(s) dado(s) ao objeto
de conhecimento argumentação nas habilidades de diferentes componentes curriculares
apresentados pela BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais; iii. Comparar as habilidades
propostas em diferentes componentes curriculares; e iv. Avaliar se as habilidades propostas nos
diferentes componentes curriculares propiciam o desenvolvimento da competência
argumentativa de forma colaborativa. Assim, tendo em vista a ausência de pesquisas recentes
que investiguem a BNCC com enfoque para a competência argumentativa em diferentes
componentes curriculares, nos últimos dez anos, conforme levantamento realizado na
Plataforma Scielo e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, esta pesquisa
poderá propiciar resultados significativos e dar continuidade às discussões sobre Currículo,
Transposição Didática, Linguagem e Ensino, instituídas no âmbito do Programa de Pós
Graduação em Linguagem e Ensino (PPGLE). Permitirá o compartilhamento dos resultados
com os pesquisadores das áreas específicas investigadas, para além da área de linguagens e
permitirá, também, desvelar os percursos que devem ser respeitados para o desenvolvimento
da competência argumentativa de forma interdisciplinar e colaborativa, podendo (re)orientar e
apontar novos caminhos para as práticas de ensino instituídas no âmbito da Educação Básica.
Por isso, esta pesquisa se insere no campo da Linguística Aplicada (LA) que, além de se
preocupar com “[...] o entendimento dos problemas sociais de comunicação em contextos
específicos” (KLEIMAN, 1998, p. 55), tem se constituído enquanto uma árvore flexível que
vem se conectando a outras árvores do saber e, por meio da soma desses saberes, “[...] amplia
a visão do objeto, podendo trazer ganhos para todas as partes.” (OLIVEIRA, 2019. P. 106). No
que se refere à abordagem, a presente pesquisa possui abordagem qualitativa, pois se preocupa
“[...] com aspectos da realidade que não podem ser quantificados [...]” (SILVEIRA E
CÓRDOVA, 2009, p. 31), voltando-se para a compreensão e explicação de fenômenos
implícitos que são passíveis de explicitações e possui, dessa forma, enfoque interpretativista
(MOREIRA E CALEFFE, 2008), no qual a linguagem é considerada um sistema simbólico
estabelecido que propicia diversas interpretações. Como nossa investigação tem a competência
argumentativa na BNCC como objeto de estudo, essa pesquisa define-se, portanto, como

ISSN - 2526-5024 90
documental (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009; PRODANOV; FREITAS, 2013) e norteia-se pela
compreensão de documento/monumento (LE GOFF, 1997), uma vez que se faz necessário
compreender as informações e o contexto no qual o documento se situa para interpretar as
nuances que o compõem. Como técnica de seleção do corpus e método de análise,
fundamentaremos nossa investigação na análise documental proposta por Cellard (2012) e na
análise de conteúdo de acordo com Moraes (1999). No que se refere ao corpus a ser investigado,
selecionamos, na BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais, os componentes curriculares:
Língua Portuguesa, que pertence à Área de Linguagens; Ciências, que pertence à Área de
Ciências da Natureza; e História, que pertence à Área de Ciências Humanas, pois foi possível
identificar, após uma leitura inicial, mas atenta e criteriosa do documento, que esses
componentes possuem habilidades e prescrições relacionadas ao desenvolvimento da
competência argumentativa. Em relação aos anos, selecionamos o 9º ano, tendo em vista que
as habilidades relacionadas à competência argumentativa para esse ano se mostraram mais
expressivas nos componentes curriculares selecionados. No que se refere à investigação, nos
apoiaremos teoricamente aos estudos sobre Currículo (SACRISTÁN, 2000; SILVA, 2010),
sobre Competência e Competência Argumentativa (MACEDO, 2002; RIBEIRO, 1999), sobre
Transposição Didática (CHEVALLARD, 1991; PETIJEAN, 2008) e sobre Argumentação
(BAKHTIN, 1997; FIORIN, 2018; PACÍFICO, 2016). Portanto, investigaremos como o
desenvolvimento da competência argumentativa se configura em diferentes componentes e
áreas do conhecimento descrevendo, interpretando e focalizando o que se tem de singular acerca
dessa competência na BNCC, documento de extrema relevância para a educação brasileira.

Palavras-chave: BNCC; Ensino Fundamental; Competência Argumentativa;


Transposição Didática; Língua Portuguesa-Ciências-História.

Referências

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2021.

ISSN - 2526-5024 92
DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA TRANSPOSIÇÃO INFORMÁTICA
DURANTE O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL EM AULAS DE
LÍNGUA PORTUGUESA

Lucas Ribeiro de Morais


Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael

Resumo: Durante a pandemia da COVID-19, com o fechamento das instituições de ensino


pouco depois do início do ano letivo de 2020 em vários locais do país, alunos e professores
foram surpreendidos. Todo o planejamento deveria ser revisto e, agora, mais do que se adaptar
ao ensino remoto, os docentes necessitaram se adaptar a uma realidade cheia de dúvidas e
desafios. Após a continuidade de atividades a distância, surgiram queixas de alunos e
professores sobre diversos pontos: baixa qualidade da conexão com internet, alunos sem
possibilidade de acessar conteúdos, professores sem domínio dessas ferramentas, entre outros.
Mesmo após a retomada do ensino presencial e a passagem para o sistema híbrido pelo país, os
desafios ainda persistem. Em termos de ensino de língua, observando a importância das
múltiplas formas de comunicação, são muitas as variáveis, os desafios e as possibilidades. A
partir desse raciocínio, é preciso pensar nas especificidades e no cenário atual do ensino de
Língua Portuguesa, não ignorando seu percurso até aqui, mas enfatizando quais foram os
desafios e possibilidades enfrentados por docentes de língua durante o ensino remoto,
enxergando as múltiplas realidades do nosso ensino e o contexto ao qual ele foi exposto durante
a pandemia, especialmente a partir da voz docente. A simples utilização de recursos digitais em
substituição à presença física de alunos e professores não foi, por si só, produtiva, e também
não foi, por si só, um processo de Transposição Informática (TI). Esse conceito compreende o
fato de docentes ministrarem conteúdo sem a chamada “informatização” (BALACHEFF,
1994), em que meios digitais são apenas ferramentas de exibição de conteúdo. Problematizando
essa questão, Balacheff (1994) aponta que o processo de TI passa pelo planejamento,
elaboração e execução das aulas, totalmente em ambientes digitais em todo o processo até a
aula, como é o caso do ensino remoto, tendo como parte essencial a interação entre professores
e alunos. Desse modo, observando todos esses aspectos, a questão de pesquisa norteadora do
presente projeto é: quais as possibilidades e desafios enfrentados por professores de Língua
Portuguesa de Campina Grande – PB durante a pandemia da COVID-19 em relação à
Transposição Informática (TI)? Seus objetivos específicos são: a) investigar os desafios e as
possibilidades da Transposição Informática (TI) no ensino de Língua Portuguesa, a partir da
voz de docentes que tenham ministrado aulas no ensino fundamental II e no ensino médio da
cidade de Campina Grande – PB, durante o período do ensino remoto; b) analisar a relação
entre o processo de ensino de Língua Portuguesa e as plataformas digitais de ensino e de
videochamadas, a partir da voz dos docentes entrevistados. A partir de tais objetivos, a pesquisa
é considerada qualitativa, a partir da observação de individualidades e contextos, com o
aprofundamento de questões relevantes para os objetivos propostos (CRESWELL, 2010), em

ISSN - 2526-5024 93
que se buscará “compreender razões, valores e fenômenos” (DICKER, 2009, p. 47), a partir
dos relatos docentes. O processo de geração de dados para a presente pesquisa será realizado
em duas etapas: 1) aplicação de um questionário online e 2) realização de uma entrevista virtual.
Na primeira delas, já em andamento, um link do questionário formulado está sendo enviado a
docentes que se enquadrem nos critérios da pesquisa, ou seja, professores que ministraram aulas
remotas de Língua Portuguesa no ensino fundamental II e no ensino médio de escolas públicas
da cidade de Campina Grande – PB, e que se disponham a participar, ocorrendo esse contato
por email, Whatsapp e Instagram. Aos professores colaboradores, através do questionário,
foram feitas sete perguntas sobre os desafios e possibilidades enfrentados em relação ao ensino
de língua e em relação ao uso de ferramentas virtuais em suas aulas remotas. Um questionário,
para Silva et al. (1997) seria uma forma “previamente estruturada de coletar [...] informações
adicionais e complementares sobre determinado assunto sobre o qual já se detém certo grau de
domínio” (SILVA et al., 1997, p. 410), aspectos que justificam a escolha pela ferramenta, já
que buscamos tanto o complemento a algumas questões quanto o aprofundamento sobre temas
importantes para os objetivos da pesquisa. Já na segunda etapa, aos docentes que se dispuseram
a participar de uma entrevista virtual, houve perguntas complementares às respostas ao
questionário e outras visando ao aprofundamento no ensino remoto de Língua Portuguesa, a
partir especialmente das respostas dadas por cada colaborador. Tal entrevista é semiestruturada
em profundidade, definida por Duarte (2008) como “[...] um recurso metodológico que busca,
com bases em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da
experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer”
(DUARTE, 2008, p. 62). Observando a relevância da experiência pessoal para as questões
propostas pela pesquisa, tal recurso demonstra ser eficiente para 94dition-los, observando a
concepção de um formato que vise dar maior transitividade entre dados e percepções
individuais. Sobre os dados obtidos, busca-se a correlação com teorias sobre Transposição
Didática (CHEVALLARD, 1991; MEDRADO, 2015; RAFAEL, 2016); Transposição
Informática (BALACHEFF, 1994); formação docente continuada (BRONCKART; GIGER,
1998; LIBÂNEO, 2004; GONÇALVES; PETRONI, 2012); letramentos múltiplos e
multimodalidades (BARROSO et al.); Novas Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação (NTIDCs) na educação (COLL; MAURI; ONRUNBIA, 2010) e especificamente
no ensino de Língua Portuguesa (CAIADO, 2011). Como as duas etapas de coletas de dados
foram concluídas, foi possível observar aspectos iniciais em relação às respostas dos
colaboradores. Foram sete perguntas específicas sobre o objeto da pesquisa, sendo cinco
fechadas e duas abertas. De maneira parcial, aparentemente, dez dos onze docentes que
responderam ao questionário consideraram que os desafios do ensino remoto impactaram a
realização das aulas de maneira geral, sem ênfase na Língua Portuguesa, mas um dos
colaboradores relatou que os maiores desafios estiveram nas aulas de produção textual. Já na
entrevista semiestruturada, com a participação de dois desses colaboradores, houve um
aprofundamento na questão da Língua Portuguesa, através de vinte e duas perguntas em uma
entrevista e onze em outra, número que aumentou por conta das respostas que eram dadas.
Nesse aprofundamento, ambos relataram que os maiores desafios estiveram nas aulas de
produção escrita, onde havia uma dificuldade de correção de atividades escritas manualmente,
de reenvio, de interação professor-aluno, de ausência de retorno por parte dos alunos, entre

ISSN - 2526-5024 94
outros. Algumas das possibilidades encontradas foram a utilização de ferramentas com mais
mecanismos de interação entre aluno e professor em textos, como o Google Classroom, e a
busca ativa dos alunos, através de ligações telefônicas e mensagens de texto, entre outros. Com
o avançar da análise dos dados da pesquisa, objetiva-se o aprofundamento analítico nessa e nas
demais questões propostas, com fim de trazer contribuições para o ensino, especialmente em
um período de tantos desafios educacionais e de aprendizagem.

Palavras-chave: Ensino remoto; Ferramentas digitais; Língua Portuguesa; Pandemia;


Transposição Informática;

Referências

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ISSN - 2526-5024 97
OS GÊNEROS ORAIS NO PLANEJAMENTO DIDÁTICO-
PEDAGÓGICO: UMA ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO À
LUZ DA TEORIA BAKHTINIANA

Márcia Pereira Gomes Silva


Orientadora: Profa. Dra. Eliete Correia dos Santos

Resumo: Em todos os contextos em que desenvolvemos atividades de leitura e de escrita,


precisamos lidar com textos que apresentam características estruturais específicas. Devemos
também ser capazes de fazer uso da linguagem adequando à situação de interlocução em que
se dá a atividade discursiva na qual se produz determinado texto. Com base na visão de Antunes
(2014, p. 111), espera-se que a aprendizagem da língua materna, sobretudo, da gramática e de
sua descrição, “encontrem apoio nos usos reais, orais e escritos, do português contemporâneo”.
Para a aquisição de competências de oralidade, leitura e interpretação textual entre os sujeitos,
desde a sua formação na Educação Básica até o nível superior, é fundamental contemplar essa
interação social. A pesquisa surgiu a partir do interesse após as observações feitas durante a
experiência enquanto docente, em que se notou que os gêneros orais, enquanto instrumentos
pedagógicos são pouco explorados e não conseguem atender os anseios de um ensino pautado
no desenvolvimento das competências comunicativas dos alunos, seja no âmbito da leitura, da
fala ou da escrita. Nesse contexto, decorre-se um ensino deficitário quanto à realidade do Ensino
Fundamental II, sobretudo nas dificuldades existentes nas aulas de Língua Portuguesa, não é
possível reproduzir na escola as condições necessárias para que toda produção oral seja uma
produção “real”. Isso acontece já que, no ambiente escolar, nem sempre há ocasião para que
essas situações de oralidade se concretizem. Os alunos, contudo, podem se conscientizar de que
tais situações de comunicação elaboradas em classe são fictícias, principalmente, para que
possam experimentar, arriscar hipóteses, sem medo de errar. Diante disso, surgiu o seguinte
questionamento: De que modo as orientações previstas para o ensino dos gêneros orais no
Ensino Fundamental II são sinalizadas no planejamento didático-pedagógico dos documentos
da Secretaria da Educação do Município de Santa Cruz do Capibaribe-PE? Para fazer essa
investigação, precisaremos observar as estratégias de ensino em Língua Portuguesa, com os
gêneros orais em sua dimensão social. Para responder ao nosso questionamento estabelecemos
como objetivo geral: Investigar o planejamento didático-pedagógico adotado pela Secretaria de
Educação do Município de Santa Cruz do Capibaribe-PE, para o Ensino Fundamental II, a partir
das estratégias de ensino dos gêneros orais no documento oficial de Língua Portuguesa o
Currículo de Pernambuco. Elencamos como objetivos específicos: a) descrever as prescrições
para o ensino dos gêneros orais no planejamento didático-pedagógico a partir dos índices que
revelam um direcionamento do Currículo de Pernambuco; b) analisar as orientações didáticas
para o ensino dos gêneros orais em documentos de planejamento docente de Língua Portuguesa
do Ensino Fundamental II, adotado pela Secretaria de Educação do município de Santa Cruz

ISSN - 2526-5024 98
do Capibaribe-PE; Os pressupostos teóricos que fundamentam o nosso estudo, encontram-se
dividido em três eixos: Gêneros discursivos: fundamentos e abordagens didáticas; O ensino da
língua materna: gêneros discursivos e o planejamento didático-pedagógico; Estratégias de
ensino com gêneros discursivos e sua relação com os gêneros orais. Logo, utilizaremos dos
estudos de diversos autores, dentre os quais podemos citar Antunes (2004, 2014), Bakhtin
(2000, 2006), Faraco (2009), Koch (2006), Marcuschi (2001, 2008), Piletti (1989), Rojo (2006).
Nessa relação entre o texto e a sua situacionalidade, diferentes usos da linguagem permeiam o
nosso dia a dia, reforçando o fato dos gêneros como formas de ação social. Segundo Santos
(2013), de acordo com a concepção dialógica da linguagem instituída pelo Círculo de Bakhtin,
as teorias linguísticas ampliaram seu campo de investigação, a interação torna-se importante
esfera de estudos ao tratar a língua na sua dimensão social, dada a sua imensa heterogeneidade,
embora seja impossível separar texto (enunciado) de gênero discursivo (linguagem em uso),
por seus aspectos internos e seu funcionamento dialógico. De modo abrangente, é fundamental
considerar que os gêneros contemplam diferentes modalidades de linguagem (fala, escrita,
imagens, gestos, movimentos corporais, entre outros) (ROJO, 2006), e podem promover, em
contexto de aprendizagem no ambiente escolar e fora dele, conhecimentos e comportamentos
entre os alunos, potencializando transformações pessoais. De forma a sistematizar essa pesquisa
e suas peculiaridades, passaremos ao seu encaminhamento metodológico. A presente pesquisa
constitui-se do tipo documental situada na área de Estudos Linguísticos, por sua relação com o
ensino e aprendizagem da língua materna, de natureza qualitativo-exploratória, por propiciar
maior familiaridade com o problema, para 99epos-lo mais explícito e procurar explicações de
suas causas e consequências (RICHARDSON, 1999), ao buscar “descrever e interpretar o
fenômeno do mundo em uma tentativa de compartilhar significados com os outros”
(MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 61), vindo ao encontro de nossas necessidades em poder
repensar e levantar hipóteses e questionamentos, responder a perguntas e buscar a compreensão
do procedimento de ensino que levam a novos conhecimentos. Como base para nossa
investigação, uma vez que se faz necessário compreender as informações e o contexto no qual
os documentos o Conteúdo Programático Anual de Língua Portuguesa e o Currículo de
Pernambuco, se situam para interpretar as nuances que o compõem referentes ao ensino dos
gêneros orais no Ensino Fundamental II. Inicialmente, ocorrerá à consulta do Corpus da
pesquisa, em relação ao Conteúdo Programático Bimestral de Língua Portuguesa (Ensino
Fundamental II), como documento norteador da pesquisa, seu acesso será através da Secretária
de Educação do Município de Santa Cruz do Capibaribe-PE e o Currículo de Pernambuco por
meio digital através do site oficial. Contextualizando a coleta de dados da pesquisa, nosso
enfoque será o planejamento didático-pedagógico de Língua Portuguesa do Ensino
Fundamental II em verificar as prescrições para o ensino dos gêneros orais, adotado pelo
Município. Logo, a nossa análise no Currículo de Pernambuco será no componente de Língua
Portuguesa do Ensino Fundamental II, especificamente, no campo jornalístico/midiático por
prescrever a oralidade, através de estratégias de produção participação com os gêneros orais.
Ao permitir uma análise objetiva e sistemática do seu conteúdo, os dados em análise poderão
ser interpretados em três etapas, segundo a análise dialógica do discurso (ADD), procurando
identificar os ditos e não ditos nos documentos em estudo: a) pré-análise, com uma leitura
prévia do planejamento e do Currículo de Pernambuco, para identificar os pontos centrais da

ISSN - 2526-5024 99
pesquisa; b) exploração do material, na seleção de palavras-chave agrupadas em categorias, de
acordo com o contexto; c) tratamento dos resultados, quando os dados brutos forem tratados a
partir dos suportes teóricos e interpretados. No levantamento das especificidades dos gêneros
orais, serão definidos critérios de escolha, bem como de análise dos resultados, para melhor
instrumentalização da pesquisa e caracterização dos objetivos inicialmente apontados. Espere-
se que essa pesquisa possa contribuir para o estudo dos gêneros orais, como viés didático-
pedagógico no exercício docente levando os alunos a refletirem sobre o uso da língua materna
e seu enfoque social.

Palavras-Chave: Gêneros Orais. Planejamento-didático. Currículo de Pernambuco.


Estratégias de Ensino.

Referências
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ISSN - 2526-5024 101


REPRESENTAÇÃO DA ATUAÇÃO DOCENTE EM MIGRAÇÃO DE
CONTEXTOS: DO REMOTO AO (NOVO PRESENCIAL)

Marcos Marques Silva


Orientadora: Profa. Dra. Williany Miranda da Silva

Resumo: De acordo com o dicionário online, representação é ato ou efeito de representar; é


uma imagem que criamos do mundo ou de algum elemento específico. Em outras palavras, é
uma atividade simbólica do colaborador com o mundo que o cerca. Moscovici (1978) aponta
que a representação possui dois objetos indissociáveis: sujeito e objeto. De acordo com esse
autor, a representação é constituída pelas relações humanas, ou seja, é através da interação, que
os sujeitos elaboram funções e comportamentos dentro da comunidade que estão inseridos. De
acordo com Santos (2010), as representações são produzidas nos cenários de trabalho, nos
espaços em que se efetivam as trocas sociais. A sociedade e as práticas contidas nela estão
mudando constantemente com a evolução das tecnologias. Com isso, novos modelos,
paradigmas, conhecimentos e contextos de aprendizagens vão surgindo, apontam Barros,
Henriques e Moreira (2020), corroborando, assim, para uma adoção de novas posturas,
especificamente dos professores, em relação a esse cenário. A mediação digital, principalmente,
na área educacional, com a emergência do ensino remoto, em função da situação pandêmica,
que assombrou toda sociedade e exigiu a atuação do professor no ensino remoto, através das
atividades síncronas e assíncronas, aulas gravadas e on-line passaram a emergirem na
contemporaneidade, após e durante o período pandêmico. Vale lembrar que, inúmeros
professores já utilizavam os espaços online, mas os docentes tiveram que adotar, de maneira
rápida e obrigatória, a utilização de ferramentas online para dar continuidade ao trabalho.
Barros, Henriques e Moreira (2020) afirmam que esse cenário foi de transição para os
professores, os quais se tornaram “Youtubers” produzindo vídeos e aprendendo a utilizar
diversos sistemas usados para videoconferências, como o Skype, Zoom, Google Classroom.
Nesse sentido, Bronckart (1999), afirma que as representações se constituem nas produções
textuais, orais ou escritas, que permitem situar e analisar a contribuição de cada colaborador
para a realização de uma determinada atividade. Diante disso, o tema em foco pretende discutir
a atuação que professores da Rede Estadual possuem após vivenciarem o contexto remoto e
migrar para o ambiente presencial ou semipresencial. Por acreditarmos que a análises dos
discursos dos professores são importantes para compreendermos o seu trabalho, em relação a
sua atuação docente, sua representação que se constrói de si, nas suas experiências que
permeiam a migração do ensino remoto para o presencial, ancoramos na teoria das vozes
enunciativas, abordadas por Brockart (1999). O teórico afirma que seria o autor o responsável
das operações que darão ao texto um aspecto definitivo. Assim, elenca três tipos: a voz do autor
empírico, a voz do personagem e a voz social. Ainda segundo esse autor, é através das análises

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desses discursos que teremos noção das ações desenvolvidas pelos professores, sua finalidade,
sua metodologia, suas responsabilidades que atravessam esse contexto de migração, do online
para o presencial, abordada nessa pesquisa. Com isso, Costa (2012) menciona que as
modalizações são as avaliações / análises formuladas sobre alguns aspectos do conteúdo
temático. Em outras palavras, as modalizações são constituídas por unidades ou conjuntos de
unidades linguísticas chamada de modalidade. Elas contribuem para a interpretação e coerência
pragmática do conteúdo temático presentes nesses discursos. Por isso, Bronckart (1999) lembra
que a análise das modalizações pretende traduzir, por meio de qualquer voz enunciativa, os
diversos comentários, analises e avaliações produzidos acerca de alguns elementos do conteúdo
temático. Considerando o contexto apresentado, nossa pesquisa tem como pergunta norteadora:
que representação profissional é desvelada por professores, em sua atuação docente, a
partir da migração do ensino remoto emergencial para o ensino presencial? Para responder
essa pergunta, elencamos como objetivo geral: Investigar nos discursos dos professores suas
projeções acerca da sua atuação docente, na transição do contexto remoto, para o presencial;
E, como objetivos específicos, os seguintes: a)refletir como os professores modalizam ( ou
organizaram) seus discursos ao argumentarem sobre suas atuação na transição do ensino
remoto para o presencial; b)Analisar quais posturas ( ou práticas) docentes, do contexto
remoto, permaneceram na sua atuação, na migração para o contexto presencial. Para o
desenvolvimento metodológico desta pesquisa, nos fundamentaremos em uma abordagem
qualitativa. Nessa abordagem, lembram Prodanov e Freitas (2013), o ambiente que será
analisado é fonte direta dos dados. Além disso, o pesquisador deterá o contato direto com o seu
ambiente e com o seu objeto de estudo, sem manipulá-los, buscando entender, interpretar
fenômenos sociais inseridos em um contexto (BORTONI-RICARDO, 2008). De natureza
descritiva, o pesquisador registrará e descreverá fatos observados sem modificá-los
(PRODANOV; FREITAS, 2013); e tem como função descrever as características de um
determinado fenômeno. Considerando como objeto teórico a atuação docente, vislumbrando
qual representação que o professor tem dessa atuação, no contexto de migração (online para o
presencial), usaremos como instrumento de geração de dados uma entrevista semiestruturada,
com professores da Rede estadual de ensino, do estado da Paraíba, em que eles argumentem
sobre sua atuação docente, após a vivencia do ensino remoto e migração para o presencial,
envolvendo aspecto do planejamento, uso de materiais e como o contexto anterior (online),
influenciou ou permitiu influenciar no retorno ao presencial. Nos estudos de (MANZINI 1990
/ 1999 apud MANZINI 2004) esse instrumento focaliza em um assunto, em que um roteiro é
confeccionado com perguntas principais, que podem ser complementadas por outras questões
referentes ao tema no momento da entrevista; esse tipo de entrevista pode propiciar o
surgimento de informação de uma mais livre e as respostas não estão controladas em uma
padronização de alternativas.
Palavras-Chave: Representação; Modalizações; Migração.

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Referências
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DA BNCC À SALA DE AULA: A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DA
LEITURA DE TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NUMA
EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

Severino Pequeno da Silva


Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino de Araújo

Resumo: O trabalho docente envolve múltiplos saberes que estão relacionados ao conhecimento
e às experiências de vida dos sujeitos que o exercem. Desse modo, torna-se importante pensar
sobre o contexto de formação, bem como sobre as experiências de ensino para tentar entender
como as ações pedagógicas são didatizadas5 em espaços situados de ensino e aprendizagem.
Cientes de que a formação docente (inicial e continuada) se apresenta como um importante
campo de estudo e observação, tomamos como locus de investigação para esta pesquisa, o
Programa Institucional de Residência Pedagógica (RP) da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG) – campus Campina Grande, especificamente o subprojeto Língua Portuguesa.
Nesse sentido, sabendo que a RP objetiva “promover a adequação dos currículos e propostas
pedagógicas dos cursos de licenciatura às orientações da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC)” (EDITAL CAPES, 01/2020, p. 1-2), vemos uma possibilidade de observar e refletir
sobre esse documento em um contexto situado de formação inicial. Cabe destacar que a BNCC
é o mais recente documento normativo que serve de base para a formulação dos currículos em
estados e municípios. E, por prescrever o que tem sido proposto para o Ensino de Língua
Portuguesa, definindo o conjunto de aprendizagens essenciais que os alunos da educação básica
devem desenvolver (BRASIL, 2018, p. 7), esse documento aparece como importante fonte de
estudo no âmbito da RP. Assim sendo, este projeto de pesquisa focaliza a mobilização das
prescrições da BNCC de Ensino Médio no processo de ensino de leitura de textos de divulgação
científica, especificamente no planejamento e na execução de atividades didatizadas em sala de
aula. A escolha do objeto de ensino leitura de textos de divulgação científica se deu porque ele
possui um significativo e recorrente lugar na BNCC, o que pode influenciar na escolha dos
objetos a serem ensinados no âmbito da RP. Diante desse contexto, partimos da seguinte
pergunta norteadora: Como residentes do subprojeto Língua Portuguesa da RP da UFCG
mobilizam as prescrições da BNCC de Ensino Médio no processo de ensino de leitura de textos
de divulgação científica? A partir deste questionamento, temos como objetivo geral: Investigar
como residentes do subprojeto Língua Portuguesa da RP da UFCG mobilizam as prescrições da
BNCC de Ensino Médio no processo de ensino de leitura de textos de divulgação científica.
Esse objetivo geral desdobra-se nos seguintes objetivos específicos: (1) identificar as
prescrições da BNCC de Ensino Médio no planejamento de atividades de leitura de textos de
divulgação científica; (2) Observar o lugar que a leitura de textos de divulgação científica
ocupará na execução dessas atividades e; (3) analisar as implicações dessa Transposição

5
Neste projeto, o termo Didatização será tratado como sinônimo de Transposição Didática Interna, a qual,
conforme Chevallard (1991), consiste em um processo de adaptação do saber para torná-lo ensinável na escola.

ISSN - 2526-5024 105


Didática para a formação inicial dos residentes. Embora as discussões acerca da RP na área
educacional não sejam novas no Brasil, ainda há uma escassa produção acadêmica que focalize
este programa, sobretudo no que se refere à mobilização das prescrições da BNCC no processo
de ensino e aprendizagem de língua materna. Assim, um dos fatores que justifica esta
investigação é que ela poderá trazer contribuições às discussões sobre os estudos no âmbito da
formação inicial docente. Com relação aos eixos teóricos, destacamos três: (1) Formação
Docente e suas perspectivas (FREIRE, 1986, 2005; NÓVOA, 1999, 2017; PERRENOUD, 2002;
FLORES, 2010); (2) Transposição Didática, Currículo e Planejamento: ações da docência
(CHEVALLARD, 1991; PETITJEAN, 2008; SACRISTÁN, 1998; 2000; SILVA, 2010;
MENEGOLLA E SANT ‟ANNA; 2014); e (3) Campos/Esfera de ação e Prática de Leitura: a
leitura científica na BNCC (NASCIMENTO, 2008; FURTADO, 2020; BRASIL, 2018).
Ancorados nas discussões dos pressupostos teóricos da Linguística Aplicada (LA), buscamos
realizar um estudo integrado entre educação e linguagem, por meio da investigação do processo
de Transposição Didática de um objeto de ensino, no nosso caso, o ensino da leitura de textos
de divulgação científica, em um contexto situado de formação inicial de professores, a RP,
investigação que interessa à LA, visto que, como aponta Moita Lopes (2006, p.13), realizar
pesquisa em LA “é estar ciente das possibilidades de atravessar fronteiras disciplinares e
questionar conceitos convencionais de produzir conhecimento”. Em relação ao tipo de pesquisa
e em consonância com o campo no qual estamos situados, a LA, esta pesquisa se desenvolverá
a partir de um estudo de caso etnográfico (ANDRÉ, 1995) em que há uma associação de uma
perspectiva etnográfica6 no estudo de um caso em particular, no âmbito de um programa
institucional de formação inicial docente, a RP. Quanto à sua natureza, o estudo possui
abordagem qualitativa com enfoque interpretativista (MOREIRA; CALEFFE, 2008). Sobre a
delimitação do corpus de análise e instrumentos de geração de dados, será selecionada uma
dupla7 de alunos residentes (que trabalhem conjuntamente) para serem os
participantes/colaboradores, sob o critério de os sujeitos em questão estarem designados a
elaborarem e didatizarem atividades de leitura de textos de divulgação científica na escola onde
estão alocados. Os dados serão gerados a partir dos trabalhos executados por residentes do
subprojeto - Língua Portuguesa – Campina Grande, no 3° módulo8, cujo período de atuação,
conforme o Edital – PRE n° 04/2021, será de outubro de 2021 a março de 2022. No tocante aos
instrumentos de geração de dados, nos apoiaremos na concepção de estudo de caso etnográfico
apresentado por André (1995, p. 24), que utiliza “técnicas que tradicionalmente são associadas
à etnografia, ou seja, a observação participante, a entrevista intensiva e a análise de
documentos”. Quanto aos procedimentos de análise e tratamento dos dados, utilizaremos a
técnica da análise de conteúdo apresentada por Moraes (1999), que aponta cinco etapas para a
análise de dados: (1) preparação das informações; (2) unitarização ou transformação do

6
Aderimos a uma perspectiva etnográfica pelo fato deste trabalho não se tratar de uma etnografia originalmente
nos moldes da antropologia, a qual supõe um estudo longitudinal de descrição de uma dada cultura, o que não é o
caso da pesquisa ora proposta, cujo foco é o processo de ensino de leitura no âmbito educacional.
7
No Programa de Residência Pedagógica normalmente os alunos realizam as atividades nas escolas-alvo a partir
de duplas selecionadas.
8
Não descartamos a possibilidade de também coletarmos nossos dados a partir dos trabalhos realizados nos
módulos 1 e 2 já concluídos.

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conteúdo em unidades; (3) categorização ou classificação das unidades em categorias; (4)
descrição; e (5) interpretação. Feito isso, os dados serão confrontados a partir de uma
triangulação. Para Aparício (2014, p. 93), a triangulação de dados consiste na “conjugação de
diferentes fontes e tipos de dados com vistas a dar conta dos significados possíveis sobre o
objeto em estudo e a garantir a validade da interpretação por parte do pesquisador”. Além disso,
nos apoiaremos na técnica de triangulação mencionada por Cançado (1994) apud Siqueira
(2014), que apresenta o seguinte roteiro: (1) leitura e releitura atenta dos registros para obter um
panorama global dos dados coletados; (2) releitura, levantando as regularidades, e com isso
buscar o aprimoramento do foco da pesquisa; (3) indexação dos dados para arquivá-los; (3)
descrição do que os participantes fazem, como e porquê e; (4) verificação das semelhanças e
diferenças nas opiniões sempre ancorados nos objetivos propostos. Com isso, teremos um olhar
panorâmico acerca dos dados de modo a buscar atingir os objetivos propostos.

Palavras-Chave: Formação Inicial Docente; Transposição Didática; Ensino de Leitura. A


leitura científica na BNCC.

Referências

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LINHA 4 – PRÁTICAS SOCIAIS, HISTÓRICAS E
CULTURAIS DE LINGUAGEM

A DESCRIÇÃO DO LÉXICO EM TRÊS FASES DA


GRAMATICOGRAFIA DO SÉCULO XX: ANÁLISE DE GRAMÁTICAS
BRASILEIRAS

Emanuela Rodrigues de Oliveira


Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio

Resumo: Para descrever uma língua, um compêndio gramatical explicita a estrutura e o


funcionamento dos sistemas gramatical e lexical, e o faz a partir de diversas possibilidades, a
depender das influências teóricas que nele se subscrevem e do período histórico em que esteja
inserido. Apesar de as gramáticas descreverem os sistemas lexical e gramatical, as pesquisas a
respeito dos processos de gramatização nesses manuais só abordam, em geral, o sistema
gramatical. Identificamos, por isso, a necessidade de uma relação da descrição lexical com a
elaboração de instrumentos gramaticais, avaliando como o léxico também tem lugar nas
descrições empenhadas nos manuais de língua. Elegemos, para tal, as gramáticas brasileiras do
século XX. Para isso, valemo-nos da proposta de Cavaliere (2021) para caracterização do perfil
gramatical no percurso da gramaticografia brasileira do século XX. Segundo o autor, a
gramaticografia do século XX se dividiu em três perfis gramaticais: a gramática filológica, que
descrevia a língua a partir de textos literários clássicos e tinha um forte viés diacrônico em sua
fundamentação teórica; a gramática filológico-estruturalista, que apresentava como
fundamentos o traço de continuidade do modelo filológico em confluência com as teses do
estruturalismo e a perspectiva de descrição prevalentemente sincrônica (língua como sistema);
e a gramática diversificada, que fazia a descrição do português a partir de paradigmas teóricos
emergentes, com uma postura gramatical antinormativista. Posto isso, observaremos, no âmbito
descritivo e interpretativo, como as orientações teóricas gerais da produção gramatical do
século XX repercutem no tratamento dado ao sistema lexical da língua pelas gramáticas
brasileiras desse século, assim como quais orientações estão presentes na abordagem do léxico
nas gramáticas analisadas e quais continuidades e/ou descontinuidades há entre as orientações
gerais e específicas das gramáticas quanto à abordagem do léxico. Imersos nessa compreensão,
temos, como objeto de pesquisa, a descrição do léxico em gramáticas brasileiras do século XX.
Compreendendo que a gramaticografia brasileira foi-se diferenciando ao longo do século XX e
que essa produção gramatical desenvolve uma descrição do léxico que é pouco explorada nos

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estudos da gramaticografia desse período, formulamos os seguintes questionamentos: (i) quais
concepções teóricas percebemos na descrição do sistema lexical das gramáticas brasileiras do
século XX, conforme a periodização de Cavaliere (2021)? e (ii) Durante esse século, em relação
à descrição do sistema lexical das gramáticas, encontramos mais continuidades ou
descontinuidades? Tais questionamentos estão em consonância com o nosso objetivo geral, a
saber: investigar a descrição do léxico ao longo da gramatização brasileira do português no
século XX. Como objetivos específicos, delimitamos: i) identificar a presença e a construção
das concepções teóricas do léxico em gramáticas brasileiras no século XX; ii) descrever a
abordagem do léxico em tais gramáticas; iii) mapear as relações de continuidade e
descontinuidade na abordagem do léxico que as gramáticas analisadas apresentam quando
comparadas. Do ponto de vista teórico, a relevância deste trabalho reside no fato de que não há
pesquisas, até o presente momento, que se propõem a estudar a descrição do léxico em
gramáticas brasileiras do século XX. Altman (2012, p. 29) define como objetivo primordial da
Historiografia da Linguística (HL) “descrever e explicar como se produziu e desenvolveu o
conhecimento linguístico em um determinado contexto social e cultural, através do tempo”.
Com base nesse objetivo definido por Altman (2012), a nossa pesquisa se encaixa na HL por
descrever e explicar como ocorreram as descrições de léxico, em meio ao contexto social e
cultural do século XX, em gramáticas brasileiras desse período. Metodologicamente, pela
própria inserção da pesquisa na HL, que tem o traço da interpretação como tarefa principal do
historiógrafo, avaliamos esta pesquisa como imersa no paradigma interpretativo (MOREIRA;
CALEFFE, 2008). Ademais, por fazermos análise de fontes documentais autênticas –
gramáticas brasileiras do século XX – nossa pesquisa se caracteriza como documental
(SEVERINO, 2007). Ao nos ancorarmos no postulado teórico-metodológico da HL,
compreendemos que algumas fases, com base em Swiggers (2013), são indispensáveis a este
trabalho: a fase heurística, a fase hermenêutica e a fase executiva. Na fase heurística,
realizaremos um levantamento de gramáticas brasileiras publicadas no século XX, a fim de
construir o nosso corpus. Esse levantamento será feito a partir da Cronologia das gramáticas
da língua portuguesa, de Castilho (2016), que reúne toda a gramaticografia do português. A
partir da delimitação da gramaticografia do século XX, selecionamos nosso corpus de seis
gramáticas, duas por perfil gramatical, conforme Cavaliere (2021): (i) do período filológico, a
Gramática expositiva da língua portuguesa (1907), de Eduardo Carlos Pereira, e a Gramática
secundária da língua portuguesa (1927), de Manuel Said Ali; (ii) do período filológico-
estruturalista, a Gramática fundamental da língua portuguesa (1968), de Gladstone Chaves de
Melo, e a Nova gramática do português contemporâneo (1985), de Celso Cunha e Lindley
Cintra; e (iii) do período diversificado, a Moderna gramática portuguesa (1999), de Evanildo
Bechara, e a Gramática de usos do português (2000), de Maria Helena de Moura Neves.
Delimitado o corpus, partimos para a segunda fase do postulado teórico-metodológico da HL,
com base em Swiggers (2013): a fase hermenêutica. Nessa fase, a partir das categorias de
análise estabelecidas em um amplo olhar sobre os dados desta pesquisa, identificaremos em
qual tratamento a descrição do léxico estará inserida, observando se há definições de léxico,
lexema, item lexical, palavra lexical e classe lexical, os processos de ampliação do léxico
abordados e o modo como são descritos, além das propriedades semânticas das classes lexicais
(substantivos, adjetivos e verbos). Por fim, ainda na fase hermenêutica, interpretaremos que

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relações de continuidade e/ou descontinuidade as formas de abordagem ao objeto apresentam
quando comparadas. Essa interpretação, isto é, a nossa análise dos dados, considerará uma
abordagem qualitativa (LAVILLE; DIONNE, 1999). Na fase executiva, demonstraremos os
resultados da investigação realizada.
Palavras-Chave: Descrição lexical; Gramaticografia; Gramáticas novecentistas; Historiografia
da linguística.

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COMPETÊNCIAS INTERPRETATIVAS E A FORMAÇÃO DE TILSPS:
UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DA SINALIZAÇÃO DO LIVRO
INFANTIL ADÉLIA

Jailma da Costa Silva Dantas


Orientadora: Prof. Dra. Sinara de Oliveira Branco

Resumo: Os movimentos dos surdos brasileiros ocasionaram conquistas sociais e acadêmicas,


dentre elas, o direito de ter acessibilidade através do Tradutor e Intérprete de Libras/Português
(TILSP). A necessidade de comunicação da comunidade surda com uma sociedade
majoritariamente oral-auditiva justifica a demanda por estabelecer a comunicação que versa
duas línguas que se apresentam por modalidades distintas, visuo-espacial (no caso da Libras) e
oral-auditiva (no caso da língua portuguesa brasileira). A tradução e interpretação de Libras é
uma profissão relativamente recente, com enfrentamentos e desafios, por exemplo, a lacuna na
Lei 12.319/10, que regulamenta a profissão, sobre a formação e a atuação desses profissionais,
trazendo abertura para que pessoas bilíngues sejam inseridas no mercado de trabalho, visto que
esse tipo de atuação profissional tem alcançado mais visibilidade. Essa visibilidade vem
crescendo, através de lives, ensino remoto, programas de TV, instigando esses indivíduos
(bilíngues), que possuem ideia equivocada de que qualquer bilíngue pode realizar a tarefa do
tradutor e intérprete (ORIGUELA, 2021). Ao ingressarem no mercado de trabalho, entretanto,
esses profissionais não são instruídos sobre a condição bilíngue ser ponto de partida para a
formação profissional (HURTADO, 2005). Para aceitar um trabalho, é necessário que o
intérprete possua fluência, vocabulário e conhecimento da Libras, assim como do
processamento das informações da língua fonte para Libras e vice-versa. É fundamental que
sejam feitas escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo sem perder
a essência do que foi mencionado na língua fonte. Sendo assim, há necessidade de capacitação
e formação para atuar como TILSP para que tanto os TILSPs novatos quanto os experientes
realizem o trabalho com excelência. Desse modo, os estudos sobre Competência Tradutória do
grupo PACTE (2003) das línguas orais, que tem sido referência para a área de Tradução e
Interpretação de Língua de Sinais, na qual pesquisadores da esfera têm buscado adaptar esse
modelo para as especificidades da Libras, servirá de base para nossa pesquisa. Assim sendo,
esta pesquisa tem como objetivo geral identificar e analisar as competências interpretativas
mobilizadas por quatro TILSPs a partir da sinalização do livro infantil ilustrado para infância,
Adélia. Com a finalidade de atingir esse objetivo, formulamos os seguintes objetivos
específicos: i) Categorizar as competências interpretativas identificadas através da sinalização
simultânea realizada pelos TILSPs após estudo da obra; ii) Analisar as competências
interpretativas identificadas na sinalização de Adélia mediante aplicação de entrevista
semiestruturada; e iii) Refletir sobre as implicações do processo de interpretação em Libras para
a formação e capacitação dos TILSPs a partir do estudo das competências interpretativas, bem
como do livro ilustrado para infância, buscando delinear a proposta de um projeto formativo .
Através de minha experiência tenho vivenciado e compartilhado com os TILSPs a necessidade
de formação e capacitação na área, e percebo que é um desejo comum a todos. Essas
necessidades despertaram o interesse em identificar as competências interpretativas de TILSPs
de Instituições Federais, por meio de Adélia, por se tratar de um gênero pouco trabalhado em

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nosso meio, materializando-se na seguinte questão: Quais são as competências interpretativas
aplicadas por TILPs em ato específico de sinalização? Tal reflexão estimulou a proposta de
pesquisa, que busca desenvolver um estudo descritivo e interpretativo envolvendo a atuação
dos TILSPs do ensino superior ao selecionarem as competências interpretativas no ato
interpretativo após leitura e estudo sobre Adélia. Como caminho metodológico, realizaremos
um estudo de caso de cunho qualitativo (observacional, descritivo e exploratório) com quatro
intérpretes do ensino superior, os quais compartilharão o tipo de formação e tempo de
experiência em interpretação. A proposta se delimita em três momentos: no primeiro momento,
ao acolhermos os TILSPs, explicaremos que eles farão a sinalização de um livro para infância,
ocasião em que tanto o livro será apresentado quanto será iniciado um estudo sobre livro
ilustrado para infância através de Adélia, para que tenham conhecimento da história e de como
é narrada. Para o segundo momento, será agendado outro dia, a fim de que os TILSPs tenham
tempo de estudo e pesquisa para realizar a interpretação simultânea da obra. No terceiro
momento, entrevistaremos cada TILSP sobre a experiência de interpretação para identificar
suas opiniões sobre a atividade desenvolvida. Cada uma das etapas será registrada em diário
reflexivo. Os dados serão analisados a partir da observação das gravações dos momentos de
sinalização dos TILSPs, dos diários reflexivos e entrevistas retrospectivas, com o propósito de
identificação de um perfil de competências necessárias aos TILSPs e como consequência, poder
sugerir um perfil formativo. A fundamentação teórica que embasa este estudo inclui conceitos
da tradução abordados por Jakobson e Santos (2017), modalidades de tradução-interpretação
por intermédio de Quadros (2004), juntamente com a localização da Língua de Sinais nos
Estudos da Tradução através do mapeamento conduzido por Holmes (1988), bem como a
Competência Tradutória (CT) do grupo PACTE por Hurtado Albir (2005), Gonçalves (2005)
com o desenvolvimento da CT, Nogueira (2018) evidenciando a CT do TILSP, Quadros (2004)
com o Tradutor Intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa, como também
Santaella (2012) com a leitura de imagens, mais especificamente imagens nos livros ilustrados,
por fim perfil profissional identificado por Kelly (2005); Yaniz e Villardón (2006). Esta
pesquisa pretende contribuir com os Estudos da Tradução de Língua de Sinais, por trazer uma
nova discussão nesta seara em expansão. Vale ressaltar que a pesquisa já foi submetida ao
comitê de ética.
Palavras-Chave: Competência interpretativa; Tradutor-Intérprete de Libras/Português;
Formação do TILSP; Perfil profissional; Livro ilustrado para infância.

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CINCO, SEIS, SETE, ...: VONTADES DE VERDADE SOBRE A DANÇA E OS
CORPOS QUE DANÇAM FORA DA ORDEM DO DISCURSO DOMINANTE

Morgana Guedes Bezerra


Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira

Resumo: A dança está presente em toda a história da humanidade e fez parte do processo de
transformação humana sendo uma das primeiras formas de linguagem e expressão presente
antes de qualquer indício de fala ou escrita. Como forma de demonstrar suas emoções e
exteriorizá-las, foi necessário ao ser humano recorrer ao movimento, ao gesto, e, portanto, à
dança. Ao longo do processo de desenvolvimento das sociedades, as danças ganharam novos
sentidos e significados, de maneira que, além de comunicar, elas também serviram para
caracterizar e expressar elementos culturais. Portanto, a dança se configura como objeto
complexo a partir de suas diversas formas de manifestação, atravessada por diferentes saberes
e poderes que a transformam de modo que, ao longo da história, as práticas corporais passaram
de atividades essenciais para formação do sujeito a práticas condenadas pela sociedade e,
especificamente, por determinadas instituições e dispositivos, a exemplo da religião. Nesse
sentido, as transformações históricas acerca das concepções sobre o corpo, sua valorização ou
desvalorização, impactam diretamente na forma como a sociedade percebe e compreende o
corpo e, por consequência, a linguagem e a expressão corporal. Visto que é possível destacar
as diferentes formas de saber-poder que se materializam em discursos, fazendo do corpo um
território a ser conquistado e dominado, inclusive pela sua expressão na/pela dança. A dança,
é, portanto, atravessada por sentidos e significados provenientes de discursos hegemônicos que
constroem territorialidades e marcam fronteiras, principalmente no que se refere às relações de
gênero, raça, sexualidade e classe social. Logo, ela se inscreve como linguagem que é moldada
e constituída a partir de diversos discursos presentes na sociedade que, consequentemente,
atravessam aos modos como os sujeitos irão vivenciá-la e apreendê-la ao longo da vida, seja na
forma de interdição e/ou exclusão de determinados indivíduos em estilos de danças específicos,
como no caso dos sujeitos masculinos quando inseridos em danças em que prevalecem
estereótipos sexistas associados à feminilidade, bem como, na predominância e valorização de
certos corpos (brancos, magros) em danças historicamente elitizadas, como no caso do ballet
clássico. Dessa maneira, tais discursos fazem com que os corpos que se distanciam das
expectativas hegemônicas da relação corpo/dança sejam tratados de forma desigual,
estereotipada e preconceituosa. Há, portanto, na dança, vontades de verdade que marcam
fronteiras sobre quem pode e quem deve dançar, e, ainda, sobre o quê dançar. Considera-se que
são essas falsas generalidades dos discursos que variam e passam por verdadeiros em que os
territórios são demarcados de modo a garantir uma homogeneidade dessa linguagem, excluindo
determinados sujeitos de sua prática. Nesse aspecto, os discursos sobre a dança e corpos que
dançam constituem modos de subjetivação, pois fazem parte da construção do sujeito e suas
formas de viver e pensar a dança. Embora a dança seja uma linguagem presente na vida de

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todos os seres humanos, a depender dos marcadores sociais e da diversidade de seus corpos, a
sua vivência pode ser limitada ou marcada por desigualdades, visto que alguns sujeitos que se
inserem nela, seja como forma de lazer ou profissionalmente, nem sempre estão de acordo com
os discursos dominantes na sociedade. Dessa forma, há relações de saber e poder que delimitam
e limitam a possibilidade da relação dança/corpo/sujeito, especialmente naqueles que estão
inscritos em lugares marcados socialmente pela desigualdade racial, de gênero e sexualidade.
Considerando tal problemática, esse estudo tem como questão norteadora: Como se constitui a
relação discursiva dança/corpo para sujeitos de diferentes grupos sociais marcados pela
desigualdade na sociedade? Para responder a essa questão, escolhemos como sujeitos de nossa
pesquisa professoras/es de dança, considerando que elas e eles possuem uma experiência íntima
e singular com tal linguagem, uma vez que ela se estende do âmbito pessoal ao profissional.
Desse modo, assumindo em determinado momento papel de centralidade e de modelo, esses
sujeitos vivenciam diferentes perspectivas da dança, que contribuirão como o objetivo geral do
estudo que busca compreender a relação discursiva dança/corpo/sujeito na constituição de
sujeitos professoras/es de dança, especificamente para aquela/es que fazem parte de algum
grupo social marcado pela desigualdade na sociedade. Nesse sentido, buscaremos a partir da
utilização de entrevistas narrativas, os seguintes objetivos específicos: a) Identificar, nas
materialidades das entrevistas realizadas, elementos que remetem a vontades de verdade
dominantes e não dominantes sobre a relação entre a dança e os corpos que dançam ; b)
Caracterizar as formações discursivas que sustentam as narrativas dos/das professoras/es sobre
a relação corpo/dança; c) Discutir as relações de saber-poder implicadas nos discursos sobre
a dança e corpos dançantes. Esta pesquisa é de natureza qualitativa, com enfoque interpretativo
característico desse tipo de estudo, de maneira que modos de subjetivação dos indivíduos serão
relevantes em todo o processo. Assumindo, portanto, pressupostos teóricos e metodológicos
dos estudos discursivos foucaultianos (FOUCAULT, 1996, 2008, 2009,2015), pretende-se,
nesta pesquisa, desvelar os sentidos e significados presentes nos enunciados sobre a dança e
corpos dançantes. Em relação aos procedimentos, a fim de reunir a materialidade que constituirá
o corpus desse estudo, serão realizadas entrevistas narrativas (FLICK, 2009) com quatro
sujeitos, sendo dois homens e duas mulheres, selecionados de acordo com os seguintes critérios:
a) ser professora/professor de dança; b) ser maior de 18 anos; c) ser residente da cidade de
Campina Grande-PB; d) fazer parte de algum grupo social marcado pela desigualdade na
sociedade e/ou na dança (negros/as, pessoas LGBTQIA+ e homens heterossexuais que se
inserem em danças associadas social e culturalmente à estereótipos de feminilidade, como no
caso do ballet clássico). As reflexões serão apoiadas na analítica foucaultiana do discurso e
acontecerá em três momentos: o primeiro, a fim de identificar nas materialidades das entrevistas
realizadas, enunciados que revelam vontades de verdade sobre a dança e os corpos que dançam,
e o segundo, buscando analisar por sua regularidade, a relação desses enunciados com certas
formações discursivas que sustentam as narrativas dos/das professoras/es sobre a relação
corpo/dança, e o terceira momento, em que os dados obtidos acerca do perfil de cada
participante e o lugar social que eles ocupam serão confrontados com enunciados presentes nas
entrevistas a fim de destacar as relações de saber/poder que atravessam a constituição discursiva
desses sujeitos na relação corpo/dança. Serão tomados como referências principalmente os
estudos de Foucault (1996; 2008); Veyne (2011) e Courtine (2012). Ainda, serão discutidas as

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relações de saber-poder com base nos estudos de Foucault (1978;1984). No que se refere às
reflexões acerca do corpo, as discussões serão apoiadas em Courtine (2013), Daolio (2013), Le
Breton (2012) e Mondardo (2009), e acerca da dança, tomaremos como suporte os pensamentos
de Garaudy (1980), Valéry (2011), Faro (1986) e Marques (2012). Espera-se, assim, contribuir
para a compreensão sobre a circulação, reprodução e modificação dos regimes de verdade que
sustentam a relação corpo/dança na atualidade, e ainda, sobre formas atuais de circulação e
resistência de saberes dominados sobre os saberes dominantes quanto à relação corpo/dança.
Ressaltando, ainda, perspectivas para que seja possível olhar o lugar da dança enquanto
linguagem na sociedade, e principalmente dos sujeitos inseridos nessa prática social, de modo
a evidenciar as relações de poder e de resistência que perpassam seus corpos-territórios na
dança.
Palavras-Chave: Dança; Corpo; Vontades de Verdade; Análise do Discurso.

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TRADUÇÃO, RECEPÇÃO E JOGOS DIGITAIS: UM ESTUDO DE
CASO DA LOCALIZAÇÃO DE CYBERPUNK 2077 PARA O
PORTUGUÊS BRASILEIRO

Pedro Henrique de Paiva Gaudencio


Orientadora: Profa. Dra. Sinara de Oliveira Branco

Resumo: O mercado de jogos digitais tem crescido continuamente durante as últimas duas
décadas, encontrando-se atualmente no ápice de sua relevância cultural e econômica; fato
devido, em grande parte, à popularização dos jogos em territórios emergentes, como o Oriente
Médio e a América Latina, região onde o Brasil figura como maior mercado (NEWZOO, 2020).
Apesar disso, ainda são poucos os estudos acadêmicos que se dedicam a esse tema, sobretudo
no Brasil (FRAGOSO, 2017). Considerando-se a formação majoritariamente monolíngue da
população brasileira e o número reduzido de jogos digitais desenvolvidos originalmente em
português brasileiro, o consumo de tais produtos dá-se, significativamente, sob a forma de
traduções, tornando ainda mais expressiva a escassez de estudos voltados para os jogos digitais
no campo dos Estudos da Tradução — segundo mapeamento de pesquisas, apenas 5 trabalhos
de pós-graduação dedicados aos jogos digitais traduzidos e ao seu processo de localização
foram publicados entre 1998 e 2018 em 30 das maiores instituições de ensino superior do país
(BARCELOS; MALTA, 2020). Esta pesquisa surge do intuito de refinar o conhecimento
acadêmico acerca de jogos digitais e suas localizações para o português brasileiro, almejando
melhor compreender as preferências e expectativas do público consumidor e, por conseguinte,
auxiliar as práticas de tradutores e localizadores brasileiros. Tomando Cyberpunk 2077 — jogo
de ação e interpretação de papéis lançado em dezembro de 2020 — e sua recepção como objetos
empíricos, somos guiados pela seguinte pergunta: quais são as opiniões e preferências dos
jogadores brasileiros de Cyberpunk 2077 quanto à sua localização e transcriação? Para
responder a tal indagação, elaboramos o seguinte objetivo geral: investigar a recepção da
tradução de Cyberpunk 2077 pelos jogadores brasileiros, considerando sua localização através
da transcriação e da adaptação cultural. Para atingir esse objetivo, contamos com os seguintes
objetivos específicos: i. Identificar no corpus selecionado a tradução verbal acústica e escrita
(dublagem e legendagem) do jogo, examinando as estratégias de tradução e itens culturais-
específicos. Ii. Coletar dados relativos à recepção do jogo pelos jogadores brasileiros a partir
da aplicação de um questionário que aborde a adequação da tradução e localização do jogo. Iii.
Expor os dados coletados, refletindo sobre as implicações da localização e da transcriação para
a tradução de jogos digitais no Brasil. Diante desses objetivos, seguiremos um percurso
metodológico em quatro momentos. Durante o primeiro momento de nossa pesquisa,
procederemos à seleção de textos e cenas de Cyberpunk 2077, utilizando como critério a
presença de itens culturais-específicos (AIXELÁ, 1999) e suas transcriações. Após a seleção
de cenas, seguiremos para o segundo momento da pesquisa, durante o qual efetuaremos uma
análise qualitativa das cenas através da construção de um corpus paralelo, com o intuito de

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evidenciar, através da comparação entre textos fonte e textos alvo, o processo transcriacional
operado durante a localização do jogo, elucidando suas formas de manifestação concretizadas
no texto traduzido e seu impacto para o jogador brasileiro. No terceiro momento, elaboraremos
um questionário que será digitalmente distribuído, contando com a participação voluntária de
quaisquer jogadores consumidores de Cyberpunk 2077 em português brasileiro. O questionário
conterá os textos dublados ou legendados previamente selecionados, aos quais serão associadas
questões relativas à recepção do texto. Como forma de obter dados quantitativos que possam
ser aliados à análise qualitativa previamente realizada pelo pesquisador, as respostas serão
apresentadas através de escala de Likert (VIEIRA, 2009). Esperamos que o questionário seja
disponibilizado ao público durante o início do segundo semestre de 2023, permanecendo aberto
a respostas por cerca de 3 meses. Durante o quarto e último momento metodológico da pesquisa,
realizaremos a triangulação dos dados advindos da fundamentação teórica, da análise
qualitativa realizada por meio do corpus paralelo e dos dados quantitativos resultantes da
aplicação do questionário. Buscaremos, através da análise e apresentação estatística dos dados,
evidenciar tendências de recepção e a maior ou menor aceitação das traduções por parte dos
jogadores, considerando as formas de manifestação do processo transcriacional na localização
de jogos. A análise se fundamentará no entendimento da localização de jogos enquanto uma
atividade tradutória especializada (O’HAGAN; MANGIRON, 2013), realizada sob a égide da
Tradução Intersemiótica (JAKOBSON, 2000[1958]; PLAZA, 2003). Tratando-se de objetos
multimidiáticos complexos, jogos digitais apresentam aos seus consumidores quatro canais
comunicativos simultaneamente em atividade: signos verbais apresentados visualmente e
acusticamente, bem como signos não-verbais apresentados também de modo visual ou acústico
(DELABASTITA, 1989). Isso significa que, de maneira similar a atividades de Tradução
Audiovisual, como a legendagem e a dublagem, a localização de diálogos e cutscenes em jogos
digitais deve atentar não somente para os signos verbais acústicos, mas para todo o panorama
semiótico da obra. Cabe ao tradutor buscar apoio na redundância de tais canais de modo a
realizar as reformulações textuais necessárias para que o texto traduzido se adéque
temporalmente, mantendo-se em sincronia com a ação na tela, bem como espacialmente, não
comprometendo a visualização de demais itens enquanto se mantém legível (DÍAZ CINTAS;
REMAEL, 2014). Somam-se a tal característica a constante necessidade de adaptação cultural
derivada de pressões exercidas por órgãos nacionais de censura e classificação etária, bem como
o atual paradigma da indústria global de jogos digitais, que propõe a localização como uma
forma de recriar a experiência do jogador fonte na cultura alvo (O’HAGAN; MANGIRON,
2013). Desse modo, a localização de jogos digitais se revela como uma atividade tradutória que
promove a liberdade criativa do tradutor, que deve buscar não a reprodução do texto fonte em
uma língua alvo, mas a recriação de uma experiência ludo-estética em uma nova cultura. Tal
noção pode ser iluminada pelo conceito de transcriação (CAMPOS, 2011), sob o qual o tradutor
busca uma ‘redoação da forma’; uma recriação do modo de intencionar do texto fonte através
da apropriação analógica de signos distintos (PLAZA, 2003). Práticas transcriacionais podem
ser observadas na localização de jogos digitais, por exemplo, sob a forma de substituições de
itens culturais-específicos, de recriação de nomes próprios ou da adição/remoção de sotaques,
gírias, linguagem chula e itens tabu. Apesar de sua ampla difusão, pouco se sabe a respeito da
adequação de tais práticas quanto às expectativas do público consumidor brasileiro, uma vez

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que estudos empíricos na área são ainda escassos. Pesquisas nesse âmbito podem facilitar o
estabelecimento de normas de expectativa dos jogadores brasileiros quanto à localização de
jogos para o português; normas essas que podem indicar quais estratégias resultariam em um
texto alvo mais adequado (CHESTERMAN, 1993, 2007, 2016), impactando, diretamente, a
recepção e acessibilidade de jogos digitais traduzidos no Brasil (GAMBIER, 2009, 2018). O
projeto já foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas da instituição e encontra-se
atualmente sob apreciação ética. Esperamos, mediante a análise dos dados, aprofundar o
conhecimento teórico e empírico da localização de jogos no Brasil, iluminando as práticas
tradutórias correntes associadas a jogos digitais e às expectativas do público brasileiro quanto
ao consumo desses produtos.
Palavras-Chave: Tradução; Recepção; Localização; Transcriação; Jogos Digitais.

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ISSN - 2526-5024 124


PSYCHOMACHIA, DE PRUDÊNCIO: TRADUÇÃO METRIFICADA
COM COMENTÁRIOS E NOTAS

Regimário Costa Moura


Orientador(a): Maria Hozanete Alves de Lima

Resumo: Ao pensarmos na literatura clássica com grandes heróis certamente alguns nomes
surgirão: A Epopeia de Gilgamesh, atribuída a Sin-leqi-unninni; A Lenda de Beowulf; os
clássicos gregos, Odisseia, Ilíada, de Homero, e também a Eneida, de Virgílio. Dentro desse
panteão, estaria Virgílio sozinho como autor de língua latina? Como esperado, a resposta é não.
Junto ao poeta romano e bastante influenciado por ele, está Prudêncio, poeta que viveu entre os
séculos IV e V d.C. Considerado um Horácio ou mesmo um Virgílio cristão (cf. SHANZER,
1989, p. 348), Prudêncio foi um profícuo autor e seus trabalhos desdobraram-se em vários
gêneros: apologias, hinos, discurso político e na literatura épica, nesta que se insere seu magnus
opus, Psychomachia (Batalha da alma). A obra é um épico composto majoritariamente por
hexâmetros dactílicos e se divide em duas partes: um pequeno prefácio, no qual são descritas
as longas batalhas pela fé ao longo da história cristã a partir da figura de Abraão, logo após, as
contendas em que se narram os combates entre sete vícios e sete virtudes. A princípio,
Psychomachia parece ser mais uma entre tantas obras apologéticas desenvolvidas entre os
séculos IV e V com a efervescência do cristianismo, contudo “Psychomachia nos oferece um
grande épico clássico, e faz o melhor ao adaptar a linguagem e técnica de Virgílio para um tema
cristão abstrato.” (THOMSON, 1930, p. 109. Tradução nossa) Nela, são discutidas questões
políticas, filosóficas, históricas e, principalmente, religiosas. A partir disso, a pesquisa se
desenvolve em torno da tradução para o português brasileiro da referida obra. É preciso
compreender que a tradução de uma obra literária não é meramente um trabalho linguístico, o
labor tradutório com textos clássicos se revela imbricado de problemas próprios destas
literaturas primevas. Assumindo a concepção de Benjamin (2008, p. 58) ao considerar que a
tradução “consiste em encontrar, na língua para a qual se traduz, aquela intenção da qual é nela
despertado o eco do original.”, em Psychomachia essa intenção se desdobra na forma e no
conteúdo, quer na utilização de um estilo literário em desuso no século IV, quer em um texto
marcado, ainda que de base cristã, pela amálgama cultural entre a nova fé e o imaginário
romano. Traduzir Psychomachia desconsiderando alguns desses pontos, entendemos como uma
deformação brusca da obra cujo discurso do texto-fonte se perderá no texto-alvo. A fim que não
se perca o efeito estético, então, como traduzir para o português os hexâmetros dactílicos de
Psychomachia? E mais, para que se mantenha no texto traduzido as discussões envolvidas na
obra fonte, como passar para o leitor essa realidade cultural? Para atender ao nosso primeiro
problema, objetivamos utilizar o método de tradução do hexâmetro dactílico para o português
elaborado por Carlos Alberto Nunes na tradução de Psychomachia, em que “Interpretando o
hexâmetro em termos da métrica portuguesa, veremos que se trata de um verso longo com
dezesseis sílabas, paroxítono, com acento predominante na 1ª, 4ª, 7ª, 10ª, 13ª, 16ª sílabas e

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discreta cesura depois do terceiro pé” (1962, p. 39) No que concerne à reprodução dos
elementos e discussões culturais abarcados no texto, também temos como objetivo a redação
de notas explicativas que esclarecem ao leitor os itens típicos da cultura romana ou aspectos
literários que não são facilmente acessíveis na atualidade. Além disso, um outro objetivo é a
elaboração de comentários acerca do processo tradutório com o propósito de elucidar os
caminhos e escolha lexicais fundamentadas nas fontes que sustentam o trabalho de modo que a
tradução, ainda que seja um processo domesticante em sua totalidade, exponha também o que
há de estrangeiro e os meios pelos quais se materializa. Termos como “estrangeirantes” e
“domesticante” partem dos postulados elaborados por Venuti (2019; 2021) para a tradução, sua
teoria será basilar para nosso trabalho. Segundo o teórico, a tradução pode seguir um “método
domesticador, que é uma redução etnocêntrica do texto estrangeiro, [...], e um método
estrangeirante, uma pressão etnocêntrica para deixar registrada a diferença linguística e cultural
do texto estrangeiro” (2021, p. 70) Entre esses dois caminhos, o autor dá preferência ao método
estrangeirante, levar o leitor a conhecer aquilo que lhe é estranho, ao qual também nos filiamos.
Encarar a tradução como uma ferramenta para liberar “o resíduo ao cultivar o discurso
heterogêneo, abrindo o dialeto-padrão e os cânones literários para aquilo que é estrangeiro para
eles mesmos” (VENUTI, 2019, p. 28) Privilegiando esse tipo de tradução, autores da
historiografia da literatura, filósofos e especialista nos corpora prudencianos se farão
igualmente necessários para a construção do texto traduzido com aspectos estrangeirantes e
discurso heterogêneo. Dentre eles, destacamos Mastrangelo (2008) e Pelttari (2019) cujos
trabalhos voltam-se respectivamente para análise e estudo de pontos culturais e linguísticos de
Psychomachia; nos pautaremos também nas fontes primárias que influenciaram Prudêncio na
escrita de sua literatura, como Tertuliano (1977) e Cipriano (2010), autores da filosofia
patrística, a fim de compreender como o pensamento religioso é construído dentro de nosso
corpus. Ademais, para contextualizar vida e obra do autor, se mostram essenciais o trabalho de
Bickel (1982), que expõe os fatores históricos que foram delineando a produção artística da
literatura latina; Elsner e Lobato (2017), cujos trabalhos voltam-se para delinear e apresentar
os aspectos e movimentos estéticos dentro da literatura latina e Paratore (1952), que vem
apresentar aspectos concernentes a vida dos autores e influências dos autores da literatura latina,
em nosso caso, Prudêncio. A partir das contribuições desses autores e os demais que se
apresentem essenciais ao longo da pesquisa, serão elaboras as notas explicativas sobre os termos
inacessíveis da cultura latina, elas se localizarão na parte inferior da página do texto traduzido;
da mesma forma, as fontes de nossa pesquisa nos auxiliarão na construção dos comentários
acerca da tradução com o propósito de esclarecer o processo tradutório e as escolhas lexicais
presentes no texto-alvo. Diferente das notas que se integram à tradução como um hipertexto, os
comentários possuirão uma seção própria após o texto traduzido, configurando-se, nas palavras
de Torres (2017), como um metatexto. É importante salientar que o trabalho lança luz em um
exímio autor de língua latina que influenciou diretamente algumas proposições medievais
acerca da literatura e da arte sacra. Também, traz para língua portuguesa um épico literário que
se apropriou da forma consagrada no classicismo e reverberou entre outros autores medievais.
Nomes como Isidoro de Sevilha, Bráulio de Saragoça, Teodulfo de Orleãs, umas das tantas
personalidades de destaque no pensamento medieval, beberam da fonte prudenciana,
principalmente em Psychomachia. (cf. SOUSA, 1998) Assim, a tradução fomentaria os estudos

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da literatura e língua latina. De modo especial, a tradução metrificada para o português amplia
os estudos na tradução de textos latinos com essa característica que ainda são incipientes. É
importante salientar, que verter para o português a obra prudenciana alimenta não somente as
fontes nos estudos literários clássicos, como também nas áreas da filosofia, história e até mesmo
arquitetura, tendo em vista que Psychomachia reverberou em todos esses campos de estudo.
Palavras-Chave: Literatura Latina; Tradução; Prudêncio; Psychomachia.

Referências

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UFMG, 2008.
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Impressa da Universidade de Coimbra, v. 50, p. 113-125, 1998.
TERTULIANO. Apology. De spectaculis. Tradução de T. R. Glover. Cambridge: Harvard University
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VENUTI, Lawrence. Os Escândalos das Tradução: por uma ética da diferença. Tradução de Pellegrin,
Villela, Esqueda, Biondo. São Paulo: Editora Unesp, 2019.
VENUTI, Lawrence. A Invisibilidade do Tradutor. Tradução de Pellegrin, Villela, Esqueda, Biondo.
São Paulo: Editora Unesp, 2021.

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“TODA VIDA EU CRESCI, MINHA MÃE SEMPRE DIZENDO QUE
NÓS ERA INDÍGENA”: ESTUDO DISCURSIVO DE NARRATIVAS DE
TRONCOS VELHOS SOBRE A IDENTIDADE KARIRI EM CRATO-CE

Zósimo Mota Queiroz


Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira

Resumo: O projeto ora apresentado visa compreender a constituição discursiva da identidade


Kariri em narrativas de troncos velhos situados no município de Crato na região sul do estado
do Ceará, mais precisamente, como reporta Nascimento (2021), nas comunidades Poço Dantas,
Monte Alverne, Areinha, Tabocas, Toca do Índio e áreas de entorno do Açude Umari. Usaremos
a denominação troncos velhos para nos referirmos aos anciãos e anciãs Kariris, pois assim são
referidos/as na comunidade. Denominação também descrita em Arruti (1995) e utilizada em
outras populações ancestrais, por exemplo, os Potiguara localizados no Litoral Norte do estado
da Paraíba como relata Mendonça, Nascimento, Barcellos (2020). Desde o início do processo
de colonização no Brasil houve o apagamento de marcos culturais Kariri diante de diversos
mecanismos historicamente construídos para esse fim. Recentemente, porém, a identidade
Kariri se encontra em processo de revitalização pelo esforço dos descendentes desses povos,
instituições de ensino e de órgãos de apoio. O processo histórico de dominação europeia
dissipou as comunidades pelo Ceará e estados próximos, afastando-as dos costumes ancestrais.
Situação até hoje replicada nos discursos que procuram deslegitimar a ancestralidade dessas
populações, vontades de verdade fundamentadas num discurso de deslegitimação ancestral que
busca desvincular esses sujeitos da identidade Kariri. No entanto, existem também vontades de
verdade (de saber-poder) sobre a identidade Kariri fundadas numa memória de ancestralidade
e na necessidade de reavivamento, resistência, reapropriação, conscientização. Através do
fortalecimento dessas práticas ainda presentes na comunidade e conscientização sobre o leque
de direitos que resguardam bens identitários indígenas e todo seu patrimônio imaterial, os
membros dessas comunidades se apropriam de discursos que reafirmam a ancestralidade,
reagindo contra a imposição da negativa que descaracterizaria os Kariri do Poço Dantas e
demais comunidades tradicionais do município de Crato como povo originário. Relevante notar
que uma das vontades de verdade que se construiu com a perseguição colonial aos povos
originários da região é que essas populações não mais existiriam. A disseminação dessa vontade
de verdade resultou num processo de invisibilização desse povo tradicional, a partir do discurso
colonizador, ainda muito presente, e que possivelmente interfere na representação que esses
sujeitos constroem de suas identidades. Diante desses discursos, para se investigar a identidade
Kariri, torna-se imperativo observar as distintas vontades de verdade/saber/poder que a
constituem. Buscaremos essas relações estabelecidas entre o discurso legitimador da
ancestralidade e o discurso colonial através das narrativas de quem experimentou esse embate
discursivo em diversos acontecimentos históricos. Podemos supor, assim, que as vontades de
verdade (saber/poder) se materializarão nas narrativas dos troncos velhos das comunidades

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indígenas de Crato, oferecendo elementos para compreender o modo como esses sujeitos estão
(re)constituindo, na atualidade, a identidade Kariri. Diante dessas reflexões, surgiram as
seguintes questões: Como se constitui a identidade Kariri nas narrativas dos troncos velhos das
comunidades ancestrais de Crato? Quais elementos das formações discursivas de ancestralidade
e deslegitimação se encontram no discurso do sujeito Kariri? Quais as relações de saber/poder
colocam em tensão essas formações discursivas? Como a identidade Kariri se antagoniza como
vontades de verdade entre os discursos da ancestralidade e da colonização? Como essas relações
refutam o regime dominante de verdade? Logo, propomos o seguinte objetivo geral:
Compreender como se constitui a identidade Kariri a partir de narrativas dos troncos velhos das
comunidades indígenas de Crato, considerando as vontades de verdade dos discursos da
ancestralidade e do discurso colonial. Ainda voltados para as questões suscitadas acima e
desdobrando nosso objetivo geral, definimos ainda os seguintes objetivos específicos: 1.
Entender como se subjetivam os troncos velhos Kariri a partir das formações discursivas
dominante e não dominante existentes na dispersão do discurso Kariri. 2. Investigar quais
elementos caracterizam as vontades de verdade em tensão que permeiam as narrativas dos
troncos velhos do Sítio Poço Dantas, Monte Alverne, Areinha, Tabocas, Toca do Índio. 3.
Examinar quais relações de saber/poder/verdade permanecem em confronto no discurso do
sujeito Kariri e como essas relações contestam o regime de verdade colonizadora dominante.
Compreendemos, então, a significância de nosso trabalho ao expandir as discussões dos estudos
discursivos e culturais sobre a circulação, reprodução e modificação dos regimes de verdade
que sustentam a constituição da identidade Kariri atualmente na região do Cariri. Contribuindo
também para compreender como os sujeitos Kariri se subjetivam em face de sentidos, discursos
e vontades de verdade que os atravessam. Enfim, a pesquisa se mostra relevante por estimular
os estudos locais sobre as formas atuais de circulação e resistência dos saberes dominados,
tendo em vista suas formas de atualização contemporâneas. Pensando em nossa fundamentação
teórica sobre os Kariri, partimos de Melo (2020) ao situar, do ponto de vista histórico e jurídico,
a questão da identidade Kariri e da comunidade de Poço Dantas. O debate que enfocará a
identidade Kariri estará vinculada ao trabalho a partir da discussão sobre história, memória e
estudos culturais presentes em Bosi (2006) e De Certeau (1998). Esse diálogo será enriquecido
ao trazermos o entendimento de Foucault (1995, 1996, 2008 e 2011) sobre o discurso,
vinculando-o com as relações de saber/poder/verdade ao tratar das formas de delimitação e
controle dos discursos. Para obtenção dos dados, depois de prévio contato com a comunidade,
faremos entrevistas narrativas com gravações em áudio e vídeo, mediante autorização dos
participantes9 e com filmagens de aproximadamente duas horas, para registro dos dados
discursivos manifestados pelos entrevistados durante as entrevistas. Escolhemos como
participantes da pesquisa os troncos velhos residentes no Sítio Poço Dantas, Monte Alverne,
Areinha, Tabocas e Toca do Índio por entendermos que nas lembranças deles/delas a história
da comunidade está mais preservada, pois presenciaram diversos acontecimentos que
repercutiram na formação da identidade Kariri. A transcrição seguirá o procedimento sugerido
em Dionísio (2004) ao detalhar a sugestão de transcrição da Análise da Conversação,

9
Haja vista o envolvimento de seres humanos, em obediência às resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho
Nacional de Saúde, este projeto está sob avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Campina Grande-UFCG.

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considerando as orientações do Projeto de Estudo Coordenado da Norma Urbana Linguística
Culta (Projeto NURC). A partir do corpus transcrito, selecionaremos enunciados que nos
remetam a formações discursivas de ancestralidade e de colonização. Para tanto,
consideraremos a regularidade das enunciações proferidas pelos troncos velhos, formulações
estas que estejam vinculadas à ancestralidade ou a sua deslegitimação, permitindo-nos, assim,
vinculá-las à posição de sujeito Kariri e às formações discursivas acima mencionadas.
Considerando-se a dimensão relacional entre os discursos de ancestralidade e de sua negação,
investigaremos as relações entre vontades de verdade que, vinculadas às formações discursivas
da ancestralidade e da colonização, sustentam o discurso dos troncos velhos Kariri. Investigadas
essas relações, poderemos examinar os modos de circulação dos saberes e poderes que
atravessam a constituição da identidade Kariri no discurso dos troncos velhos residentes em
Crato-CE. As etapas anteriores de análise nos subsidiam para delinearmos o modo da
constituição da identidade Kariri. Ou seja, após dialogarmos com e entre a tríade sujeito,
vontades de verdade e relações de saber/poder nos discursos evidenciados em nosso corpus,
entenderemos, a partir das narrativas dos troncos velhos Kariri, a constituição de suas
identidades.

Palavras-Chave: Estudos discursivos; Identidade; Sujeito Kariri; Relações de


saber/poder/verdade.

Referências

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ISSN - 2526-5024 131


DOUTORADO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
ESTUDOS LITERÁRIOS

Linha 1: Ensino de literatura e formação de


leitores
Linha 2: Práticas leitoras e diversidade de
gêneros literários

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LINHA 1 - ENSINO DE LITERATURA E FORMAÇÃO DE
LEITORES

NEGRITUDE E ORATURA: MATIZES AFRICANAS E AFRO-


BRASILEIRAS NA EDUCAÇÃO LITERÁRIA DE JOVENS E ADULTOS

Aldenora Márcia C Pinheiro Carvalho


Orientadora: Profa. Dra. Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega

Resumo: Vimos há alguns anos, desenvolvendo pesquisas sobre a formação literária na


Educação Básica, especificamente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Tais estudos
tiveram início na Especialização e, posteriormente, no Mestrado, quando investigamos sobre o
letramento literário na Educação de Jovens e Adultos 10 (doravante EJA), a partir da leitura de
narrativas míticas da Literatura Antiga de herança greco-romana. Partindo dos estudos
culturais, nos últimos anos, vimos ampliando essas pesquisas em atividades de ensino e
extensão, focalizando contos da Literatura de Língua Portuguesa de matriz africana e afro-
brasileira no âmbito da sala de aula. Considerando esses aspectos de natureza empírica e
apoiados numa perspectiva epistemológica, esta pesquisa apresenta como objeto de
investigação, a construção identitária negra presente no livro didático de Língua Portuguesa da
EJA [COEJA 2013 a 2020], perspectivando a educação literária a partir de contos de tradição
oral de matriz africana e afro-brasileira. Assim, em termos de investigação, observamos uma
abertura de base dialógica enfatizada pelos estudos culturais onde é possível identificar, à guisa
de um enfrentamento teórico dois campos delimitados, quais sejam: de um lado o campo
hermético proposto no currículo normativo e do outro lado o campo refratário das contingências
individuais que circunscrevem a formação literária do sujeito. Nesse sentido, as inferências
acerca da natureza humana, sua construção identitária, os modos de conhecimento, os processos
e expressões culturais e, por conseguinte, a formação literária, emergem imbricadas quando da
elaboração de um currículo, compreendido sobretudo, como um campo dialógico de saberes.
Veremos que no interior dessa discussão o currículo emerge como uma esfera de luta em torno
das significações e das identidades, isto é, “podemos ver o conhecimento e o currículo como
campos culturais, como campos sujeitos à disputa e à interpretação, nos quais os diferentes
grupos tentam estabelecer sua hegemonia”, conforme destaca Silva (2021, p. 134). Com base
nessas relações, buscamos responder às seguintes questões: a organização temática do livro

10
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN Lei Nº 9.394/1996, especifica como modalidades
de ensino: Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Profissional e Tecnológica (EPT), Educação a Distância
(EaD), Educação Especial. Também, Educação Básica do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar
Quilombola e a Educação para Jovens e Adultos privados de liberdade em instituições penais.

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didático de Língua Portuguesa da EJA estabelece modelos culturais condicionantes de uma
identitária negra? De que maneira os modelos culturais legitimados pelo currículo, promovem
formas de produção e reprodução de ideologias acerca da EJA? No tocante à educação literária,
qual a relevância dos contos de tradição oral de matriz africana e afro-brasileira no processo de
autoanálise e reconstrução da identidade negra de jovens e adultos? Assumindo um
posicionamento crítico-analítico, recorreremos aos estudos da teoria do conhecimento
propostos por Hessen (1999), para investigarmos no campo da epistemologia, as composições
subjetivas que derivam da oratura – contos de tradição oral – no que tange à gênese de
narrativas, personagens, lugares e tempos a serem apreendidos no processo de formação
literária. Assim, considerando o delineamento do objeto de pesquisa, estabelecemos como
objetivos específicos: 1) discutir historicamente as condições culturais de acesso à educação de
jovens e adultos no Brasil descrevendo as contingências institucionais da modalidade EJA; 2)
analisar a partir da crítica cultural do currículo, o livro didático de Língua Portuguesa da EJA
identificando a presença e/ou ausência dos textos literários na construção da identitária negra;
3) propor a oratura de matriz africana e afro-brasileira na formação literária na EJA analisando
a contribuição dessa experiência estética no processo de construção e/ou reconstrução da
identidade negra. Em termos de corpus investigativo, entendemos que o livro didático emerge
como uma importante categoria analítica uma vez que diversos direcionamentos pedagógicos
na esfera da educação institucionalizada estão atrelados a ele. Baseados nessa compreensão, é
preciso perspectivar o livro didático como precursor e herdeiro de práticas culturais oriundas
do currículo e, por essa razão, precisam atender às demandas sociais da realidade escolar. Isso
implica dizer que, tanto a educação quanto a cultura em geral permanecem imbricadas num
processo de produção e reprodução de modelos e formas culturais que incidem sobre as
identidades. Assim, partindo da compreensão que tanto as instituições educacionais quanto os
interesses culturais mais amplos apresentam um aparato curricular, importa-nos, sobretudo,
discutir conceitos que emergem das seguintes categorias de análise: i) o currículo normativo e
suas implicações no ordenamento do livro didático de Língua Portuguesa da EJA; ii) a relação
entre os textos literários e a construção da identitária negra presente no livro didático; iii) a
proposição de contos de tradição oral de matriz africana e afro-brasileira na formação literária
na EJA. Em termos socioculturais e educacionais, a relevância desta pesquisa situa-se na
contribuição científica que explicita a EJA no Brasil enquanto a representação de uma dívida
social a ser reparada, assumindo a tarefa de estender a todos o acesso e domínio da escrita e da
leitura como bens sociais, seja na escola ou fora dela. Metodologicamente, desenvolveremos
uma pesquisa de base qualitativa, uma vez que estas revelam, com clareza, as descrições, os
fenômenos, as expressões e os processos socioculturais que envolvem o homem, delineando-a
com base em três aspectos: da finalidade, dos objetivos e da natureza da investigação, conforme
destaca Gil (2008). Nesse sentido, quanto à finalidade, trata-se de uma pesquisa básica que
objetiva reunir os conceitos desde os Estudos Culturais até a Literatura Oral, ampliando tais
discussões para análise e posterior aplicação do conceito de identitária negra, numa perspectiva
epistemológica e dialógica. Quanto aos objetivos, esta pesquisa é descritiva e explicativa, pois
investiga empiricamente, a partir do currículo e do livro didático de Língua Portuguesa da EJA,
os fatores que descrevem e explicam as questões vinculadas ao conjunto de identitária negra.
Também, objetiva explicar e analisar as implicações do contexto histórico, político e social da

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modalidade EJA no Brasil. Quanto à gênese, esta pesquisa é de natureza bibliográfica e
documental, pois objetiva fazer uma revisão da literatura sobre as teorias que norteiam o estudo,
em fontes diversas, tais como: livros, periódicos, entrevistas, banco de dissertações e teses e
outras fontes para levantamento, seleção, leitura e análise de dados. Considerando o objeto de
pesquisa, nos basearemos nos estudos sobre a perspectiva literária e social de Colomer (2003),
que considera a literatura como fenômeno comunicativo e crítico no processo de formação
literária. No campo dos Estudos Culturais, nos basearemos nos estudos de Silva (2021) Bhabha
(2010), Morin (2008), Hall (2006), Giddens (2002) e outros autores cujas teorias
redimensionaram as pesquisas no contexto da crítica cultural na pós-modernidade. No tocante
às questões vinculadas à matriz africana e afro-brasileira e suas implicações na produção
literária, nos embasaremos nos pressupostos de Bonnici (2009), Nóbrega (2019), Munanga
(2012), Fanon (2008), Hooks (2019), Schwarcz (2006) e outros. Objetivando ampliar as
discussões acerca do currículo e do livro didático na educação literária de jovens e adultos, nos
apoiaremos nos estudos de Carvalho (2011), Goodson (2020, 2017) e Sacristán (2000).
Considerando o campo da teoria literária, discutiremos os principais conceitos abordados por
Eagleton (2005), Compagnon (2012), Bosi (2006), Samuel (2002) e Cândido (1973)
relacionando-os aos estudos e pesquisas de Cascudo (2015) que abordam a importância da
oratura nas práticas culturais do Brasil. Para além das questões teóricas e críticas, esta
investigação revela uma necessidade de mitigar espaços na área do ensino de literatura e
formação de leitores, verticalizando, assim, questões conjunturais sobre o complexo processo
de educação literária na EJA no Brasil.

Palavras-Chave: EJA; Currículo; Negritude; Oratura; Educação literária.

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MÃOS QUE DÃO VIDAS: O TEATRO DE JOÃO REDONDO ENTRE O
ESPAÇO MNEMÔNICO DOS BRINCANTES E A VIVÊNCIA
PERFORMÁTICA

Hadoock Ezequiel Araújo de Medeiros


Orientador(a): Profa. Dra. Naelza de Araújo Wanderley

Resumo: Desde os tempos mais remotos que os bonecos fazem parte da vida do homem, sendo
eles representados por meio de objetos ou sombras que ganham vidas através de movimentos e
falas imitando, assim, a cultura de cada povo. Sendo os bonecos um meio de imitar a vida, eles
são uma forma de teatro que é permeado pela magia, pelo mito e pela brincadeira que, muitas
vezes, assumem um lugar de crítica social. No Brasil, as primeiras manifestações desse teatro
“vieram com os primeiros exploradores” e tinham como função a representação religiosa
(BORBA FILHO, 1966, p.67), assumindo, portanto, um papel político e pedagógico. No
Nordeste, foi onde esse teatro mais se destacou, sendo encenado e brincado pelos sítios,
fazendas e em festas de padroeiros pelos mestres do João Redondo – nomenclatura que recebe
o boneco nordestino no RN. Sua presença nessa região é ressignificada e passa a ser reelaborada
pelos próprios mestres bonequeiros, agregando costumes, crenças e ampliando suas
perspectivas de uso como exercício de apropriação e resistência. Diante disso, nossa pesquisa
se dedicará ao traçado de um panorama histórico, valorizando o sentindo de reapropriação e
ressignificação do brinquedo a partir do seu desenvolvimento em terras brasileiras e recortando
sua presença em regiões do RN e o relacionando com o ensino. Ao observarmos o espaço
escolar no RN, pouco se presencia essa manifestação sendo, muitas vezes, apresentada como
pretexto pedagógico, esquecendo a ludicidade e a arte. Dessa forma, temos como objetivo geral
analisar a presença e a recepção do Teatro de João Redondo na sala de aula, com alunos do 8º
ano do Ensino Fundamental II, da rede municipal de ensino, da cidade de São José do Seridó –
RN, a partir da leitura de peças criadas por mestres do João Redondo do Seridó Oriental e
Ocidental e da Serra de Santana, do RN, abrindo espaço importantíssimo no que se refere à
inserção dessa arte como prática pedagógica mais efetiva. Como objetivos específicos, fazer
um levantamento da presença desse teatro, em escolas públicas das regiões em questão,
avaliando como essa brincadeira está presente, também, nas escolas da cidade de São José do
Seridó /RN; investigar se o João Redondo ainda se faz presente na referida cidade como algo
que é parte de uma identidade local e se essa tradição ainda é hereditariamente transmitida no
seio familiar, sendo considerada como elemento de construção de uma identidade cultural.
Assim, além do registro de pesquisa em si, esse objetivo caracteriza bem a importância e
relevância de pesquisas como esta, que traz em seu bojo, um caráter político, de positivação das
expressões culturais manifestadas por outros segmentos de nossa sociedade, contextualizando
práticas culturais da tradição na contemporaneidade como estratégia pedagógica consciente.

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Também, objetiva-se analisar a recepção dos alunos com a leitura e a performance com os textos
do teatro de João Redondo selecionados durante a pesquisa. Por fim, temos como meta
organizar uma antologia impressa com as peças de João Redondo, recolhidas durante a
pesquisa, de forma que fique disponível na sala de leitura da escola onde será realizada a
experiência e possivelmente nas escolas dos municípios envolvidos na pesquisa. A antologia
terá como objetivos trazer orientações metodológicas de leitura e confecções de bonecos e
enriquecer o acervo das escolas das regiões envolvidas, enquanto material para futuros
pesquisadores e contribuição na divulgação desse teatro, buscando, assim, manter viva a
memória cultural do João Redondo no RN e inspirar o prosseguimento dela em outras
possibilidades e desdobramentos. Nesse contexto, nossa pesquisa se organiza a partir das
seguintes questões: De que maneira o João Redondo está inserido na realidade dos alunos da
rede municipal de ensino, da cidade de São José do Seridó/RN e é parte da identidade cultural
local? Como os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II recepcionarão a leitura e a
dramatização de peças teatrais de João Redondo? Como o teatro de bonecos popular pode
contribuir com a formação literária dos alunos? Justificamos nossa pesquisa, primeiramente,
pela observação que fizemos ao longo dos anos como professor da rede básica de ensino. Ao
desenvolvermos algumas experiências com a leitura de textos literários em sala de aula,
notamos que dificilmente o teatro está presente no ensino fundamental e quando ele vem da
cultura popular é ainda mais distante. Justificamos, ainda, a nossa pesquisa pelas boas vivências
de trabalho com adaptações do cordel para o Teatro de João Redondo em escolas municipais
da cidade de Currais Novos. Um exemplo de boa prática foi a adaptação do cordel A mulher
que vendeu o marido por 1,99, de Janduhi Dantas, no 7º ano do ensino Fundamental, no ano de
2012, em que os alunos apresentaram em forma com o teatro de João Redondo durante as aulas
de Cultura do RN. Em meio a essas vivências citamos, ainda, a encenação e adaptação para o
João Redondo, da peça Maria Roupa de palha, de Lourdes Ramalho, com alunos do 6º ano do
Ensino Fundamental, na Cidade de Currais Novos/RN, também em 2012. No ano de 2019, na
cidade de São José do Seridó -RN, desenvolvemos leituras de algumas peças de João Redondo
durante as aulas de Língua Portuguesa e Arte, com alunos do 9º ano, do Ensino Fundamental
II, propondo-lhes como leitura para encenação, a peça A pomada milagrosa do Dr. Raiz
Charlatan, do grupo Caçuá de Mamulengos, da cidade de Currais Novos – RN. As vivências
com a leitura desses textos tiveram boa aceitação pelos alunos, escola e comunidade. Ainda
salientamos que, consultando as dissertações de mestrado, do Programa de Pós-graduação em
Linguagem e Ensino, pela Universidade Federal de Campina Grande, observamos que de 2006
até 2019, não encontramos pesquisas voltadas para o teatro de bonecos. Também, ao fazer uma
pesquisa sobre trabalhos acadêmicos voltados para o João Redondo, no RN, percebemos que
estão inseridos na área de antropologia, deixando de lado a pesquisa com o ensino. Para nortear
nossa pesquisa, respaldamo-nos primeiramente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC,
2020) no que tange às competências e habilidades necessárias que o aluno deve desenvolver
em sala de aula, incluindo nesse processo o eixo da literatura e outras linguagens. Como
tratamos sobre o teatro popular, tomamos como base teórica os estudos de Borba Filho (1966),
em que traça uma linha histórica sobre o teatro de bonecos desde a antiguidade até sua presença
no Nordeste brasileiro. Para ampliar os estudos do teatro de bonecos, no RN, buscamos aporte
nos estudos de Gomes (2002), por ser este o primeiro pesquisador a escrever e mapear a

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presença desse teatro no estado. Corroborando com os estudos de Gomes, tomaremos como
referência Gurgel (2008) que faz um panorama da presença desse teatro no RN. Por ser um
teatro que apresenta um tom de crítica social, respaldamo-nos em Boal (1996) que considera a
atividade teatral como uma “solução” para os problemas “interpessoais” e social. Com relação
à cultura popular, nos deteremos nos estudos de Xidieh (1976), com reflexões sobre o que é a
cultura popular e como ela se manifesta em comparação a cultura canônica e acrescentamos,
ainda, Ayala (2011), que afirma que, para se conhecer melhor como se manifesta essa cultura,
é preciso conhecer de perto as pessoas envolvidas, ouvir o que elas têm a dizer. Além de estar
inserida no campo do popular, nossa pesquisa se relaciona com a sala de aula, assim,
adotaremos os estudos relacionados à recepção da leitura literária. Para isso, baseamo-nos na
teoria da estética da recepção, tomando como base as reflexões de Jauss (1994), em que destaca
o leitor como sendo elemento importante para a compreensão da obra literária, podendo
construir sentidos para o texto a partir do seu “horizonte de expectativa”. Ainda como
contribuição teórica com esse estudo abordaremos as reflexões de Iser (1979), com a teoria
sobre o efeito, formulando o conceito de “vazios” que a obra apresenta em seu processo de
leitura. Partindo desse princípio, o processo da leitura dos textos literários deve ser norteado
pelo professor, sendo este, incumbido de adotar estratégias que facilitem ao aluno construir suas
próprias interpretações. Nesse sentido, traremos como base, as reflexões em torno da
“subjetividade” acerca das obras, defendida por Jouve (2003), pois para o autor, cada um
“projeta na leitura um pouco de si, o que dialoga com os estudos de Jauss e Iser quando tratamos
da recepção da obra. Sobre as estratégias adotadas em sala de aula no momento da leitura dos
textos, ressaltamos a leitura compartilhada, estudo abordado por Colomer (2007), que defende
a leitura compartilhada como uma forma de construir sentidos coletivamente para o texto a
partir da interpretação dada por cada aluno. Por fim, como o João Redondo requer uma leitura
lúdica e performática, nos determos nos estudos de Zumthor (1997) que afirma que o texto se
“investe” de elementos externos como o “jogo do intérprete”, as “circunstâncias” e o ambiente
onde se é experimentada a leitura. Assim, para que a leitura ganhe sentido, é necessária uma
performance por parte de quem lê. Nesse sentido, nos respaldamos em Zumthor (2001), no que
tange à performance do texto, envolvendo não só a fala, mas também, a linguagem corporal,
sendo este, uma forma de falar e de se expressar. Ao desenvolvermos nossa pesquisa, esperamos
deixar uma contribuição tanto para a cultura popular do RN, como também, para o ensino de
literatura, uma vez que ainda encontramos uma deficiência com relação a materiais de
orientações voltados para a leitura em sala de aula, principalmente, quando pensamos na cultura
popular.

Palavras-Chave: Cultura Popular; Teatro de bonecos; João Redondo; Literatura e ensino;


Recepção da leitura.

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UNGULANI BA KA KHOSA NO ENSINO DA LITERATURA
MOÇAMBICANA E O CONTEXTO DE FORMAÇÃO CONTINUADA
DOCENTE

José Augusto Soares Lima


Orientador(a): Profa. Dra. Maria Marta dos Santos Nóbrega

Resumo: Os estudos literários contemporâneos encontram desafios ao revelarem a dimensão


das culturas africanas e de seus valores estéticos no atual contexto educacional brasileiro. Nessa
perspectiva, ações pedagógicas e investidas didáticas tendo a leitura literária como objeto de
apreciação se deparam com a diversidade de contextos que exigem do mediador (inicialmente,
o professor) conhecimento e repertório de leituras na fundamentação de suas escolhas e seleções
para suas aulas. Nesse sentido, a mediação de práticas que abordem as produções literárias
africanas nas salas de aula brasileiras está regulamentada pela legislação vigente, viabilizando
a implementação de práticas regulares de leitura durante todo o percurso do estudante nos
espaços escolares. É num aparato de estratégias que se torna evidente a ação docente na
empreitada pela conquista do jovem leitor. Arraigada ao fazer do professor está a
responsabilidade das intenções didáticas e pedagógicas que vislumbram a formação da
autonomia do sujeito leitor no contexto escolar (ROUXEL, 2013). Com isso, é possível afirmar
que a literatura é lugar de enfrentamentos culturais e da expressão da pluralidade de vivências
humanas ao redor do mundo. É por meio da aproximação com a obra literária que o leitor é
desafiado na formação de suas experiências de leitura, tendo o repertório de saberes ampliado
e que refletirá numa gama de conhecimentos políticos, históricos, culturais e ideológicos
advindos desse contato pessoal, íntimo. Nesse sentido, é vital o papel mediador do professor na
promoção do respeito às diferenças culturais entre povos em que se ressalta o texto literário,
considerando, sobretudo, a função humanizadora do objeto atravessado pelo valor estético e
visando-o como instrumento para a formação humanista (MACHADO, 2012). A partir desses
aspectos, a inserção das Literaturas africanas de Língua Portuguesa no ensino básico brasileiro
passa por regulamentação legal a partir da lei 10.639/03 e de seus desdobramentos em diretrizes
e cartilhas de implementação nas diversas realidades escolares do país, sendo o trabalho dessas
produções literárias na escola a abertura de possibilidades de abordagens das riquezas culturais
de nações que sofreram as investidas imperialistas da metrópole portuguesa, tendo a ruptura do
poder hegemônico na proclamação das independências locais, surgindo novas interfaces
culturais pelas abordagens críticas do Pós-colonialismo emergente como corrente de
pensamento na Pós-modernidade (LEITE, 2012). A fecundidade das narrativas moçambicanas
modernas revela projetos literários que mesmo com uma origem recente, meados do século XX,
constituem um universo profícuo de reinvenção e re-mitificação de África como estratégia
estético-ideológica (HAMILTON, 1999; NOA, 2017). Para tanto, destacamos a relevância da
ficção de Ungulani Ba Ka Khosa que se estrutura e se fundamenta na crítica aos poderes
políticos, introduzindo versões alternativas e não-oficiais da história às narrativas da versão

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positivista da história nacional moçambicana (LEITE, 2012). No Brasil, Khosa apresenta os
seguintes títulos publicados na atualidade, todas pela Editora Kapulana: O rei mocho (2016),
pertencente à Literatura Infantil, Orgia dos loucos (2016), livro de contos e Gungunhana:
Ualalapi e As mulheres do imperador (2018), volume com a primeira e a última publicação do
autor. Para a concretização do presente projeto de pesquisa, foram selecionadas três das dez
obras do autor como objeto de estudo, são elas: Ualalapi (1987) e As mulheres do imperador
(2018) que compõem o volume Gungunhana (2018), como já mencionado, e ainda, a coletânea
de contos Orgia dos loucos (2016). Dentre as motivações iniciais que nortearam a seleção de
tais obras estão, sobretudo: a) a constituição estética e genológica de cada narrativa; b) a
dimensão bárdica da palavra narrada; c) a história oficial como ponto de partida para a
reinvenção ficcional, além de outros aspectos estéticos e temáticos presentes. Portanto, o ensino
de literatura a partir das produções literárias moçambicanas na Educação Básica brasileira passa
a celebrar a potência discursiva de tessituras que, em Língua Portuguesa, investem numa
mundividência diversa à ocidental. Por esse caminho, conforme já mencionado, a relevância da
mediação docente é ponto decisivo na implementação de práticas leitoras que maximizem a
experiência estética dos textos de África. Para tanto, a formação inicial e continuada do
professor deve contemplar ao estabelecido legalmente e que repercute no redirecionamento do
ensino, tendo o respeito às diversidades como foco, tornando-se problemática a ser refletida e
discutida. Assim sendo, é por esse âmbito que a presente pesquisa envereda, buscando
investigar a formação continuada de professores que a partir de seus repertórios subjetivos
sejam instrumentalizados para implementar metodologias e técnicas de promoção da leitura
literária, correspondendo às demandas do mundo atual. Nesse sentido, surgem-nos reflexões e
inquietações que deram origem às questões basilares: Como se manifestam as formulações
estéticas e genológicas na formação do cânone moçambicano? Como a formação continuada
pode instrumentalizar o docente para o ensino de literatura, tendo como objeto obras de autores
moçambicanos, a partir de práticas metodológicas de ampliação do próprio repertório de
leituras? Tais questionamentos estão direcionados por percepções do pesquisador emanadas de
pesquisa anteriormente desenvolvida no mestrado que abordou tais práticas metodológicas com
a literatura moçambicana na formação inicial docente, tendo um grupo de estudantes do curso
de Letras como foco para a ampliação do repertório por meio das práticas dos Círculos de leitura
(COSSON, 2014), desdobrando-se nas Estratégias de leitura (SOLÉ, 1998). Com isso, foi
traçado o seguinte objetivo geral: Refletir, em contexto de formação continuada docente, acerca
de aspectos estéticos e genológicos nas abordagens da Literatura moçambicana, a partir das
obras Ualalapi (1987), As mulheres do imperador (2018) e Orgia dos loucos (2016), de
Ungulani Ba Ka Khosa, utilizando a metodologia dos Círculos de leituras associada às
Estratégias de leitura. Por sua vez, foram traçados como objetivos específicos: a) Analisar as
obras Ualalapi, As mulheres do imperador e Orgia dos loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa,
visando o levantamento de aspectos na constituição do cânone moçambicano; b) Relacionar o
ensino da literatura, a formação de leitores e os saberes docentes na implementação da Lei
10.639/03 no contexto da Educação Básica; c) Analisar o processo de ampliação dos repertórios
de leituras dos docentes em formação continuada, a partir do contato com obras literárias de
autores moçambicanos, tendo como instrumento Diários de leitura; d) Agenciar o
aprimoramento dos saberes docentes com participantes em contexto de formação continuada

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que atuem em escolas públicas da região de Campina Grande-PB, tendo os Círculos de Leitura
e as Estratégias de leitura como percurso metodológico. Frente a tais objetivos, torna-se
relevante assinalar que a presente pesquisa se delineia por características de uma pesquisa com
finalidade básica, destinando-se à ampliação do conhecimento acerca das literaturas africanas
no processo educativo brasileiro. Além disso, quanto ao propósito, trata-se de uma pesquisa
exploratória por buscar no universo educativo as mais variadas formas de compreender a
formação continuada docente e seus desdobramentos para o ensino de literatura. No tocante ao
método, está alinhada à base qualitativa por encontrar no contexto escolar uma multiplicidade
de variáveis na coleta de dados, tendo, por exemplo, o método bibliográfico como fundamento
da análise, do compartilhamento de leituras e dos apontamentos teóricos que irão respaldar a
abordagem de obras literárias e categorização dos resultados. Diante do exposto, o
desenvolvimento desta pesquisa está norteado pelos princípios da Pesquisa-ação, pois está
vincada em torno de questões empíricas do ensino de literatura, a partir de obras de autores
moçambicanos, problematizando e redefinindo práticas profissionais por meio da formação
continuada de professores que atuam em escolas de Ensino Básico de Campina Grande-PB. O
aporte teórico desse estudo, no tocante às concepções sobre o ensino de literatura, apoia-se nas
discussões de Jouve (2012), Rouxel (2013), Todorov (2009), Zilberman (2012), Petit (2009) e
Guimarães (2014); quanto às reflexões pós-coloniais, fundamentam-se nas pesquisas de
Bonnici (2009), Leite (2013), Noa (2017), Mata (2007), Dutra (2012) e Secco (2012); e quanto
à formação continuada docente na formação de leitores, considerou-se as perspectivas de
Perrenoud (2000), Tardif (2014), Colomer (2007), Girotto e Souza (2010), Cosson (2014) e
Solé (1998).
Palavras-Chave: Literatura moçambicana; Formação continuada; Círculos de leitura;
Estratégias de leitura.

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O LIVRO ILUSTRADO E O LIVRO DE IMAGEM EM OBRAS DE
ANGELA-LAGO: LEITURA E MEDIAÇÃO

Marcela de Araújo Lira


Orientador: Prof. José Hélder Pinheiro Alves

Resumo: A presença corriqueira de imagens em livros de literatura infantil pode levar a uma
percepção equivocada de que toda ilustração tem caráter decorativo ou utilitário, servindo como
suporte para o texto verbal. No entanto, há uma gama de obras, por exemplo, que se
caracterizam não apenas pela presença de imagem e de texto, mas pela carga significativa
advinda dessa relação mútua, em que os dois elementos são indispensáveis para a produção de
sentido. É o caso do livro ilustrado, cujo texto emerge da leitura conjunta de palavras e de
imagens, que mantêm entre si uma inter-relação que está além dessa copresença.
Correspondem, portanto, a obras compostas por duas linguagens distintas que ora se
complementam, ora se contradizem, fazendo surgir, assim, um terceiro texto advindo dessa
leitura conjunta. Porém, é comum que os livros ilustrados sejam tratados como “parte integrante
da ficção infantil, sendo analisados pelos críticos com uma abordagem [unicamente] literária,
discutindo temas, questões, ideologia, de modo que ou “[...] negligenciam o aspecto visual ou
tratam as imagens como estruturas de gênero” (NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011, p. 17). De modo
geral, ainda é restrita a quantidade de pesquisas que contemplem de forma mais específica as
imagens e as relações imagem e texto em livros ilustrados. Há também obras que são compostas
unicamente por ilustrações, sem que haja a presença do texto verbal para compor a história: são
os livros de imagem. Nesses livros, o encadeamento das imagens expressa sentido por si só.
Assim, trata-se de “uma narrativa visual, que aproxima duas condições básicas para sua
realização: a dimensão temporal (sequência linear das imagens) e a dimensão espacial (a lógica
de organização espacial dos elementos que compõem as imagens).” (FRADE; VAL;
BREGUNCI, 2014). Embora seja comum que esse tipo de obra esteja atrelado a um público
ainda não alfabetizado, uma narrativa ilustrada sem palavras é “uma forma extremamente
complicada, já que demanda que o leitor/espectador verbalize a história” (NIKOLAJEVA;
SCOTT, 2011, p. 25). No entanto, essa verbalização não significa criar um texto paralelo ao
que está sendo narrado, mas encontrar formas de expressar o que está posto. Outro aspecto que
comumente passa despercebido pelas pesquisas e pelas análises são os elementos paratextuais
das obras, a saber: capa, título, guardas, folha de rosto, entre outros (GENETTE, 2018), o que
é problemático, considerando que a materialidade do livro tem se mostrado cada vez mais
relevante no que diz respeito à produção e à recepção dos livros de literatura infantil
contemporâneos. É possível assumir que esse descuido com o aspecto visual e material desses
objetos esteja relacionado à enorme predominância dos estudos voltados para a análise do texto
literário verbal, tornando restrito o arcabouço teórico acerca das ilustrações e dos paratextos no
âmbito da literatura infantil. De modo geral, isso ajuda a entender as razões pelas quais pessoas
adultas perdem a capacidade de ler os livros ilustrados e livros de imagem, chegando mesmo a

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ignorar o conjunto e a encarar as ilustrações como meros elementos decorativos
(NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011). Em muitos casos, inclusive, as ilustrações não são apenas
negligenciadas, mas também excluídas do processo de ensino e de aprendizagem. Acreditamos
ser essencial, portanto, que mediadores sejam levados a exercitar a capacidade de ler imagens
para que possam escolher, indicar e trabalhar livros ilustrados junto às crianças, considerando
que, em muitos casos, é no contexto escolar que a grande maioria das crianças têm acesso a
livros. Desse modo, trata-se de um processo de “educar” o olhar para a leitura que está além do
texto verbal unicamente. Aqui, buscamos dar continuidade à pesquisa desenvolvida no
mestrado que culminou na dissertação intitulada Articulações entre palavras e imagens em
livros ilustrados: estratégias de leitura, defendida em 2016. Além de aprofundar esse estudo,
o ampliamos para abarcar também o livro de imagem, por 148studa148ra-lo parte fundamental
do processo de formação do leitor. Assim, nos propomos a realizar uma investigação em torno
desses objetos e, para tanto, destacamos como questões para esta pesquisa: (1) como podem ser
definidos e categorizados os livros de literatura infantil que contemplam palavras e imagens e
(2) de que modo os conhecimentos teóricos e metodológicos acerca dessas obras podem
contribuir para formação de leitores? Mais exatamente, nosso estudo tem como objetivo geral
investigar as relações palavras-imagens-paratextos em obras de Angela-Lago; e, como
objetivos específicos, (1) discutir as diferentes concepções que definem categorias de livros que
contemplam palavras, imagens e paratextos na literatura infantil; (2) ler de forma analítica obras
de Angela-Lago que abrangem as diferentes categorias de livros com imagens; e (3) elaborar
propostas de leitura para a abordagem dessas obras pelo mediador em sala de aula. Conquanto
entendamos que a leitura literária se trate de um processo íntimo e pessoal, reconhecemos que
é possível sugerir caminhos para a leitura desses objetos, de modo que consideramos
fundamental pensar uma metodologia que abarque a obra como um todo. Essa pesquisa é
qualitativa e de caráter interpretativo, isto é, “procura entender, interpretar fenômenos sociais
inseridos em um contexto” (BORTONI-RICARDO, 2018, p. 34), podendo este ser, por
exemplo, a sala de aula. Buscamos estabelecer propostas de análise e interpretação que
abarquem palavras, imagens e paratextos, visando sempre a realização de uma abordagem
global das obras. Para tanto, o percurso metodológico a ser seguido compreende três momentos,
a saber: 1) leitura e discussão de obras de caráter teórico sobre as relações entre palavras,
imagens e paratextos na literatura infantil. Essa etapa tem caráter bibliográfico e dará suporte
aos momentos posteriores da pesquisa; 2) leitura e análise detida das obras que comporão o
corpus (LAGO, 1982, 1990,1994) Nesse momento, lançaremos mão do que Auerbach (1998)
denomina de Método Interpretativo, que consiste em, diante da obra, deixar “à discrição do
intérprete um certo campo de ação: pode escolher e dar ênfase como preferir. Contudo, aquilo
que afirma deve ser encontrado no texto” (AUERBACH, 1998, p. 501). Esse procedimento,
embora tenha sido pensado para o texto literário verbal, pode ser adaptado às especificidades
do nosso objeto, que solicita concomitantemente autonomia e direcionamento. Segundo Bosi
(1988, p. 285): “a compreensão não impõe critérios explicativos absolutos e excludentes”, mas
uma ambivalência “estrutural e inerente ao estilo do intérprete, que transita do texto alheio para
o seu próprio [...] [mantendo] em estado de alerta as antenas para captar as vibrações e o tom
da obra” (BOSI, 1998, p. 286). Por fim, a 3) elaboração de propostas de mediação de leitura de
obras para o contexto de sala de aula. Aqui, não se trata da elaboração de sequências didáticas,

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mas de apontar caminhos, visando uma educação do olhar para a percepção da complexidade e
da riqueza dos objetos em estudo. Segundo Peter Hunt (2010), ainda existe a premissa de que
a escrita destinada a crianças deve ser necessariamente simples. No entanto, tal suposição é
insustentável e não passa de uma “perspectiva ingênua da relação entre leitor e texto e uma total
falta de entendimento tanto das habilidades da criança leitora quanto da forma como os textos
operam” (HUNT, 2010, p. 48). Sendo assim, com base no que foi exposto, compreendemos que
a maneira mais contundente de desmistificar tal premissa é mudando a maneira de enxergar e
abordar essa produção. Dessa forma, entendemos que há uma necessidade crescente de
pesquisas que busquem conciliar um olhar científico para as obras de literatura infantil como
um todo, ao invés de isolar seus elementos constitutivos e estudá-los desvencilhados uns dos
outros. É importante que fique claro que o objetivo maior do ensino de literatura em sala de
aula é formar leitores capazes não somente de ler o que lhes é proposto no ambiente escolar,
mas de, como leitores literários, se engajarem em uma comunidade, e construírem, por meio da
arte (literatura e ilustração), sentidos para o mundo que o cerca. E isso só é possível se o
responsável por essa formação também tiver esse olhar. Compreendemos, ainda, que é
fundamental valorizar a intuição, tanto dos leitores quanto dos mediadores, considerando, para
além do conhecimento acerca do objeto, sua sensibilidade e vivência. Acreditamos, portanto,
que tal sensibilidade pode e deve ser ensinada e aprendida.

Palavras-Chave: Angela-Lago; Literatura Infantil; Livro ilustrado; Livro de imagem;


Paratextos.

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ISSN - 2526-5024 150


LEITURAS DO ESTRANHO EM CONTOS DE GERALDO MACIEL:
ENSINO HÍBRIDO NA CONSTRUÇÃO DE LEITORES

Marina Macedo Santos Martins


Orientador: Prof. Dr. José Edilson Amorim

Resumo: A formação do leitor continua sendo um desafio para o ensino de literatura nas
escolas, uma vez que as aulas costumeiramente continuam baseadas na memorização de
características das obras e no estudo dos períodos literários que marcaram a história da literatura
brasileira. Quanto a estas, sabemos da importância dos alunos 151odific-las, mas não como
objeto único e primeiro da aula de literatura, tornando o que deveria ser principal, a leitura,
como objeto secundário. Muitas vezes o cerne do problema está no fato de que alguns diretores,
gestores e professores não compreendem o impacto que a leitura pode ter na vida do aluno,
tendo em vista que, como Zilberman (2012) frisa, a linguagem é o principal mediador entre o
homem e o mundo. Por isso, privar ou ofertar pouco espaço à leitura é formar o cidadão pela
metade. Ainda no âmbito escolar, destacamos uma questão relevante quando consideramos a
sociedade tecnológica em que vivemos: a posição ainda marginal que a Internet ocupa no ensino
de literatura, o que causa estranhamento por ser um dos meios de comunicação mais utilizados
pelos alunos e pelos brasileiros de modo geral, por isso podendo ser uma alternativa para
aproximar o alunado da leitura. Dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento
da Sociedade da Informação (CETIC) indicam que 82% das escolas brasileiras têm acesso à
Internet atualmente, o que nos leva a pensar que um trabalho híbrido para o ensino de literatura
é, em vários contextos, possível, o que possibilitaria o desenvolvimento de competências e
habilidades diferentes e complementares àquelas apreendidas no ambiente escolar. Portanto,
diante destas questões, organizamos nossa pesquisa conferindo um papel de protagonismo à
leitura, tendo como objetivo geral propor e aplicar uma sequência didática de ensino híbrido
com ênfase na leitura, para turmas de 2º ano do ensino médio, a partir de contos do paraibano
Geraldo Maciel, conhecido pelos amigos como Barreto, em que o “estranho” (categoria atrelada
ao fantástico) seja central na narrativa. Além disso, temos como objetivos específicos: i)
investigar a qualidade da recepção que os alunos têm dos contos (entendendo por qualidade a
compreensão que o aluno demonstra ter da narrativa a partir de um diálogo produtivo com esta);
ii) analisar como o estudo do “estranho” nos contos pode contribuir para estimular a formação
do aluno leitor de ensino médio; iii) refletir se (e como) a sequência de ensino híbrido proposta
favoreceu a formação do leitor. Para tanto, como dito anteriormente, nos valeremos da literatura
do autor contemporâneo paraibano Geraldo Maciel, que durante sua carreira de escritor
publicou três livros de contos: Aquelas Criaturas Tão Estranhas” (1995), Inventário de
Pequenas Paixões (2000) e O Concertista e a Concertina (2006), além do romance Peccata
Mundi (2012). Apesar dos poucos anos de carreira literária, Geraldo Maciel recebeu, ainda em
vida, o reconhecimento da relevância de sua literatura no cenário paraibano. Após publicar seu

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primeiro livro, recebeu o Prêmio de Escritor Revelação pela Secretaria de Cultura do Estado da
Paraíba; em 2004, o Prêmio de Melhor Escritor pelo Correio das Artes, além do Prêmio Cidade
do Recife, referente ao romance Peccata Mundi, em 2008. Cabe ressaltar, também, que a
escolha do autor se concretiza, dentre outros fatores, pela diversidade impressa no tratamento
dado aos seus contos, ora representados sob uma ótica crítica e realista sobre a sociedade, caso
dos contos “O barbeiro”, “O velho do terceiro andar” e “Carnaval”; ora apresentados através
de uma aura fantasiosa e estranha, como nas narrativas “O carro”, “A grande explosão” e
“Aquelas criaturas tão estranhas”. O gênero fantástico está presente em todas as obras de contos
do autor (o que também justifica nossa escolha por esta categoria), causando no leitor, por
vezes, a sensação de estranhamento, incerteza e hesitação, tão próprias desse gênero e que
podem contribuir para aguçar a curiosidade do leitor e quebrar, de certa forma, o seu horizonte
de expectativas, por não ser comumente um gênero tão presente na sala de aula. Em nossa tese,
a fim de discutir sobre o ensino de literatura e a formação do leitor nos embasamos em Jauss
(1979) e Iser (1996) e nos conceitos basilares da Estética da Recepção como o horizonte de
expectativas e o efeito estético, por exemplo, essenciais quando falamos de leitura literária e
consideramos o leitor como protagonista neste processo. Além disso, fundamentamo-nos em
Colomer (2007) e Cosson (2014) que trazem uma metodologia de ensino de literatura similar,
apesar dos nomes distintos. Cosson denomina sua metodologia de “Círculos de leitura” e
Colomer de “Leitura compartilhada”; ambos, porém, ressaltam como características principais
destas proposições a dimensão coletiva e social inerente à leitura, além de valorizarem a figura
do aluno, dando a ele voz e vez. Nas palavras de Colomer: “a ressonância de uma obra no leitor
se produz sempre no interior de uma coletividade” (p.146- grifos nossos). Assim, a autora
propõe que o leitor compartilhe sua recepção individual com a sua “comunidade cultural”, que
pode contestá-la, modificá-la, complementá-la ou reafirmá-la, enriquecendo a leitura e
tornando-a coletiva, social, devendo a escola assumir o papel de ponte para essa prática.
Ademais, para além das discussões de ensino de literatura em sala de aula, fez-se necessário
conceituar a modalidade de ensino híbrido, que alia as mídias digitais ao ambiente tradicional
de ensino. Bacich, Tanzi Neto, Trevisani (2015), Moran (2002), Orofino (2005) e Prensky
(2001), trazem discussões sobre metodologias e conceituações relacionadas ao ensino híbrido
e discussões sobre a importância da Internet na educação e no desenvolvimento de diferentes
habilidades e competências, como, por exemplo, a independência no processo de escolha dos
caminhos percorridos através de links e hiperlinks e a construção de autonomia através dessas
decisões. Trazemos também, como aporte teórico relacionado ao gênero conto, Arturo (2011),
Cortázar (2008), e Gotlib (2001), que discutem sobre as suas principais características, a síntese
própria do gênero e também a dificuldade de elaboração de uma tese própria do conto, que
possui características estruturais muito próximas do gênero romance. Por fim, discorreremos
também sobre o fantástico e o estranho, que serão objetos de análise nos contos escolhidos para
a pesquisa, respaldando-nos no texto “A arte como procedimento”, no qual o formalista russo
Chklóvski (2013) conceitua o “estranhamento”, ponto de partida relevante para início de nossas
discussões sobre o estranho. Além disso, nos embasaremos em Freud (2020), que discorre sobre
o conceito de infamiliar (ou estranho) à luz da psicanálise; em Todorov (2017), que faz
definições sobre o fantástico, o estranho e o maravilhoso, classificando essas categorias e
explicando-as; e em Bráulio Tavares (2005; 2007; 2011), que reflete sobre os contos fantásticos

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e do inconsciente, por vezes, à luz do pai da psicanálise e de suas experiências de leitura com o
gênero. Além disso, o autor traz discussões sobre os elementos que são ou não essenciais para
caracterização do gênero fantástico, como o medo e a hesitação do leitor. Tendo apresentado,
portanto, um panorama de nosso aporte teórico, destacamos a seguir o percurso metodológico
de nossa pesquisa. Por se tratar de uma proposta de sequência didática a ser aplicada em sala
de aula e em um blog, podemos definir a pesquisa como um estudo empírico de natureza
aplicada e com caráter de pesquisa-ação, na medida em que objetivamos não apenas relatar as
aulas vivenciadas e experiências de leitura, mas também refletir sobre elas, de modo que a nossa
prática docente bem como a recepção dos alunos serão elementos cruciais a serem investigados.
O experimento será realizado com uma turma de 2º ano do Ensino Médio do IFPB de Campina
Grande e as aulas e o blog contemplarão contos do livro O concertista e a concertina (2006),
do autor Geraldo Maciel, trabalhando especificamente os textos: “O amor é quase eterno”, “A
grande explosão”, “O coveiro”, “Doença, silêncio ou segredo?”, “Depois que sai a lua” e “O
carro”; nos quais o “estranho” perpassa a construção da narrativa. Além disso, adotaremos uma
metodologia participativa, na qual o professor terá papel de mediador (PETIT, 2009)
estimulando o diálogo em sala de aula em relação aos contos lidos e permitindo que o aluno se
posicione de modo crítico e criativo diante dos textos, não minando a sua voz, mas
incentivando-a. Para tanto, como base metodológica, adotaremos a leitura compartilhada
proposta por Colomer (2007), considerada pela autora como “base da formação de leitores”
(p.106), justamente pelo papel coletivo e social atribuído a essa prática. No blog, por sua vez,
utilizaremos recursos audiovisuais e imagéticos que este meio possibilita, como vídeos, figuras,
fotos, cores, diferentes fontes; acreditando que eles podem enriquecer a experiência dos alunos
nesse ambiente e com os contos. Os seis contos do experimento serão disponibilizados na
página de diferentes formas: transcritos; em vídeo ou áudio, para que os alunos possam ter
contato com essas leituras de diferentes formas. Eles também poderão enviar a sua leitura de
outros contos do autor em áudio e vídeo além de participar dos espaços dos “Círculos de
leitura”, baseados na metodologia de Cosson (2014), local onde poderão compartilhar online as
suas experiências com os textos, interagindo conosco e entre si e ressignificando essas leituras
através dos comentários e interpretações dos seus colegas. O núcleo da proposta é focar no
alunado e em sua recepção aos contos considerando a sua voz como essencial para preencher
os vazios e ressignificar os sentidos presentes nos contos, além de inseri-los como protagonistas
deste processo de formação leitora, o que nos impulsiona a adotar uma metodologia
participativa na sala de aula e no blog. Com isso, esperamos responder às seguintes questões:
i) Os contos que tematizam o estranho, de Geraldo Maciel, contribuem para estimular a leitura
crítica e criativa de alunos do 2º ano do ensino médio? ii) A experiência de ensino híbrido no
ensino de literatura pode constituir-se efetivamente como elemento proveitoso e favorável à
leitura, desenvolvimento e aprendizagem dos participantes do experimento? Assim, esperamos
contribuir para o protagonismo da leitura na aula de literatura e para a valorização da
experiência e recepção dos alunos aos textos, princípios que consideramos basilares para a
formação de leitores.

Palavras-Chave: Leitura; Estranho; Geraldo Maciel; Ensino híbrido; Recepção.

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ISSN - 2526-5024 155


A CONSTRUÇÃO DO FEMININO NA FORMAÇÃO LITERÁRIA:
DIÁLOGOS EM PONCIÁ VICÊNCIO, DE EVARISTO E SEM
GENTILEZA, DE NTSHINGILA

Patrícia Pinheiro-Menegon
Orientadora: Profa. Dra. Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega

Resumo: Nas últimas décadas, percebemos que, no Brasil, a mudança de paradigmas e a


vigência de um novo aporte legal11 voltado para o funcionamento da educação contribuiu para
o reconhecimento e fortalecimento de diversas minorias, configuradas em gênero, etnia, pessoa
com necessidades especiais e outras heterogeneidades amplamente identificadas. A partir dessa
realidade, enfocaremos nesta pesquisa o protagonismo da mulher negra, considerando o cenário
sociocultural na esfera da educação literária. Examinando os dispositivos legais, podemos
considerar que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, estabelecidas pela Lei
nº 10.639/2003 e alterada pela Lei nº 11.654/2008 que inseriu, dentre outras providências, a
História e a Cultura Indígena, constituem conquistas relevantes nesse quadro legal contribuindo
para as investigações desenvolvidas nos últimos anos no Brasil. Contemporaneamente, não
obstante ocupar um espaço de base legal, a educação literária de matriz africana e afro-brasileira
assume, sobretudo, um caráter científico, uma vez que investiga os sujeitos envolvidos no
contexto educacional, considerando a realidade escolar. Nessa compreensão, as pesquisas que
interrogam sobre a leitura literária na escola e a formação do leitor literário, consideram que
essa atividade não se situa exclusivamente no campo lúdico ou fruitivo do ser humano, antes
porém, levam o leitor à ampliação de conhecimentos, aquisição de novas vivências e reflexão
sobre o seu cotidiano, conforme preceitua Nóbrega (2014) Esses estudos revelam que essa
leitura é, particularmente, uma atividade de base cognitiva, portanto, uma atividade complexa
que exige, dentre outras competências e habilidades, o “desenvolvimento do pensamento, a
organização dos conhecimentos prévios do leitor e, também, a agudeza da memória”, de acordo
com Jouve (2012). Nesse sentido, é sabido que, o ato de leitura é uma atividade individual, cuja
interpretação decorre de uma natureza subjetiva. Assim, assumindo um viés memorialista –
inicialmente, como professora na Educação Básica e, posteriormente no Ensino Superior, desde
o Mestrado, temos desenvolvido pesquisas bibliográficas e pesquisação acerca da leitura
literária, enfocando, a formação leitora na Escola Básica. Nessa jornada, constatamos que a
Literatura tem sido um instrumento imprescindível no estímulo à imaginação humana,
conforme Pinheiro-Menegon (2015). Por esse olhar, considerando o campo da Linguagem e
Ensino, a conjuntura atual e a importância das pesquisas que tratam sobre a educação literária,
esta pesquisa de Doutorado investiga, no âmbito da Educação das Relações Étnico-Raciais, a
formação do leitor-literário no contexto da Educação Básica, por ser essa fase escolar
fundamental para o seu desenvolvimento. Assim, considerando a importância de conhecer e ler
obras de autoria feminina que abordem questões como o racismo e suas implicações na

11
Diz respeito à Lei nº 10.639/2003.

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problematização do protagonismo da mulher negra e o lugar de silenciamento dessa mulher
devido a heteronormatividade patriarcal, apresentamos como investigação, um estudo sobre a
ruptura desse silenciamento a partir do diálogo literário entre dois romances contemporâneos:
Ponciá Vicêncio (2003), da brasileira Conceição Evaristo e Sem gentileza (2016), da sul-
africana Futhi Ntstingila. Elaboramos como objetivo geral: Investigar, no âmbito da formação
do leitor-literário da Educação Básica, a construção do feminino a partir do diálogo entre as
protagonistas Ponciá, do romance Ponciá Vicêncio (2003), de Evaristo e Mvelo, do romance
Sem gentileza (2016), de Ntshingila. Com o intuito de alcançar o objetivo geral, temos os
seguintes objetivos específicos: a) Examinar a legislação vigente, analisando os itinerários
formativos (BNCC) que integram e contemplam a temática africana e afro-brasileira para a
Educação Básica; b) Discutir o protagonismo da mulher negra na Literatura contemporânea
brasileira em diálogo com a Literatura africana pós-colonial, a partir da leitura dos romances
Ponciá Vicêncio (2003), de Evaristo e Sem gentileza (2016), de Ntshingila c) Analisar os efeitos
da leitura literária desses romances em sala de aula, suas contribuições, (considerando o diálogo
entre as personagens-protagonistas Ponciá e Mvelo), e aspectos vinculados à resistência e à
subalternidade da mulher na formação do leitor-literário. Sob o nosso prisma, levar essas obras
literárias para a sala aula é dar suporte para que os estudantes compreendam a importância da
Literatura de autoria feminina, reverberando em uma educação igualitária, com seres humanos
mais tolerantes e que se respeitem mutuamente. A seleção dos romances, objeto de nosso
estudo, orienta-nos para uma ruptura com a ideia hegemônica da existência de um cânone
literário que, historicamente, privilegiou a literatura de matriz europeia. Entendemos que dar
visibilidade à autoria feminina brasileira e à africana pós-colonial é dar, igualmente, voz à
representação de mulheres “cujas trajetórias foram historicamente ignoradas”, conforme
postulado pela própria Ntshingila (2016). Assim, buscamos investigar e responder, às seguintes
questões: 1) considerando os itinerários formativos previstos na legislação, de que maneira as
aulas de Literatura do Ensino Médio abordam a construção do feminino nas temáticas étnico-
raciais no cotidiano escolar? 2) considerando o mercado editorial contemporâneo e o
protagonismo do negro, como a Literatura Brasileira e a Literatura Africana pós-colonial podem
contribuir para a afirmação de um discurso de resistência para o leitor-literário? 3) considerando
a experiência estética no contexto da educação literária e a construção do feminino, quais
aspectos presentes nos romances Ponciá Vicêncio (2003) e Sem gentileza (2016), contribuem
para a formação do leitor-literário na Educação Básica? Estes questionamentos assumem um
espaço importante no campo das Ciências Humanas, uma vez que pesquisam a formação do
leitor-literário a partir do diálogo entre a Literatura Brasileira e a Literatura Africana pós-
colonial na voz de escritoras negras contemporâneas. Com o intuito de responder a esses
questionamentos e desenvolvermos esta pesquisa, inicialmente, examinaremos a legislação
vigente, analisando os itinerários formativos (BNCC) que integram e contemplam a temática
africana e afro-brasileira para a Educação Básica. Discutiremos ainda o protagonismo da
mulher negra na Literatura contemporânea brasileira em diálogo com a Literatura Africana pós-
colonial a partir da leitura literária dos romances Ponciá Vicêncio (2003), da brasileira
Conceição Evaristo e Sem gentileza (2016), da sul-africana Futhi Ntstingila. Em seguida,
proporemos a leitura e discussão coletiva das obras em estudo, para estudantes do 2º ano do
Ensino Médio, em uma escola de aplicação em São Luís/MA. Nessa etapa da pesquisa,
caracterizada como pesquisação, além da leitura, discutiremos as obras e proporemos

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atividades12 que abordem as temáticas presentes nos romances, a saber: memória, estupro,
violência doméstica, subalternidade, dentre outros, destacando como tais temáticas derivam em
insurgência para a resistência. Analisaremos as contribuições da leitura dos referidos romances,
considerando aspectos vinculados à resistência feminina ante às adversidades experienciadas.
Ainda em termos metodológicos, recorreremos aos dados consolidados a partir da pesquisa de
campo – intitulada A África está em nós: contos africanos de Angola e Moçambique em Língua
Portuguesa para o ensino de base intercultural, (PINHEIRO-MENEGON, 2015). Para nortear
esta pesquisa utilizaremos como fundamentos teóricos, os estudos de Munanga (2008), Moore
(2010), Aguessy (2007), Cuti (2010), Duarte (2014; 2018), Fanon, (2020), refletindo sobre
conceitos (deslegitimados) que fomentaram a desvalorização da cultura africana e afro-
brasileira implantadas na Escola Básica no Brasil. Também nos ancoramos no pensamento de
Compagnon (2012), que relaciona o caráter epistemológico projetado no indivíduo ao status
artístico da obra literária. Considerando os saberes e as habilidades no processo da leitura,
enfocaremos as cinco dimensões estabelecidas por Jouve (2012), que privilegiam a experiência
leitora do indivíduo. No tocante às questões vinculadas à leitura literária e a formação do leitor-
literário na Escola Básica, serão fundamentadas inicialmente, a partir de Bordini e Aguiar
(1993), Cosson (2007), Silva (2010), Goodson (2007), Brasil (2008; 2013; 2017). Utilizaremos
os estudos e teorias críticas acerca dos estudos pós-coloniais em Bonnici (2009; 2012), Chaves
(2009), Bernd (1988), Figueiredo (2010; 2017). Considerando que discutiremos acerca da
produção literária de autoria feminina, encontramos também em Gonzalez (2020) Hill-Collins
(2000), Saffioti (2015), Spivak (2010), Vergès (2020), Zinani (2017) e demais estudos,
argumentos que nos ajudam a desenvolver reflexões sobre a Literatura Africana pós-colonial e
o lugar da mulher na sociedade contemporânea. Em uma perspectiva teórico-metodológica,
quanto à natureza esta é uma pesquisa aplicada, pesquisação, de abordagem qualitativa, de
caráter bibliográfico e documental, com objetivos descritivo-interpretativos. Dessa forma, a
análise dos corpora documental, teórico, literário e dados da pesquisação nos permitirão
investigar os diversos campos entre estes, portanto, os que são considerados relevantes para a
área da Linguagem e Ensino, a saber: a formação do leitor-literário na Educação Básica.

Palavras-Chave: Literatura Afro-brasileira e africana; Construção do feminino; Formação


Literária; Pós-colonialismo; Memória.

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1988.

12
Seguiremos aqui a proposta de Sequência Didática assentada nas orientações de Bordini e Aguiar (1993) –
que, utilizando os pressupostos teóricos da Estética da Recepção, elaboraram um método de ensino de leitura de
obras literárias – acerca dos procedimentos e da sistematização necessária às práticas voltadas para a formação
do leitor-literário.

ISSN - 2526-5024 158


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ABORDAGENS PLURAIS NO ENSINO BÁSICO DE LÍNGUA
INGLESA: POR UMA LEITURA DE OBRAS AFRICANAS DE
AUTORIA FEMININA

Thaise Jordania Porto dos Santos


Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro Mariz

Resumo: As redes sociais, bem como os impulsos tecnológicos ocasionados pela globalização,
têm o papel de nos conectar e nos tornar cada vez mais cientes da diversidade cultural e
linguística que se faz presente neste mundo que vive em uma era digital. Pesquisas
contemplando temas envolvendo a interconexão mundial, através de ferramentas online,
fortaleceram estudos e ganharam ainda mais espaço, especialmente após as novas adaptações
remotas geradas como consequência dos impactos sociais da Covid-19 na educação. Isso nos
leva a considerar que também precisamos repensar metodologias e refletir sobre novas formas
de trabalharmos com o ensino da língua inglesa (LI), ligado às discussões que abordem a
tolerância e a sensibilidade para as diferenças linguísticas e, ainda, que promovam uma abertura
para expandir o conhecimento e os horizontes culturais dos aprendizes ainda na fase da
educação básica. É importante mencionar que a própria Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) propõe que o ensino da LI esteja voltado para a criação de novas estratégias
relacionadas à participação mais ativa e ao engajamento crítico do estudante no mundo plural.
Portanto, faz-se necessário que o ensino de inglês como língua estrangeira (ILE) expanda o
contato e as relações, estabelecendo pontes interculturais e intercontinentais para que possamos
alcançar formas de ensino baseadas no conhecimento do Outro e das suas diferenças linguísticas
e sociais. Segundo Hall (2014), é por meio das diferenças que as identidades são multiplamente
construídas. Por esta razão, neste trabalho enfatizaremos a relevância de vincularmos os
diálogos sobre identidade e diferença a todas as práticas educacionais da modernidade. O que
nos inquietou e nos fez pensar sobre o ensino da língua inglesa ligado às abordagens plurais, a
literatura e ao continente africano foi o fato de o ensino de ILE ainda ser, geralmente, abordado
de forma tradicional nas escolas, levando em conta apenas a parte estrutural/gramatical da
língua, conforme constatamos em pesquisa anterior, quando trabalhamos em uma pesquisa-
ação com um grupo de estudantes do curso de Letras-Inglês na Universidade Federal de
Campina Grande- UFCG. (SANTOS, 2018). Assim, entendemos que a formação de
professores continua nesse mesmo caminho e o que temos visto é que apesar de os documentos
nacionais para o ensino básico reiterarem a importância de tratarmos da pluralidade cultural nas
aulas de inglês, o ensino de língua estrangeira na educação básica ainda está enraizado em
práticas metodológicas ultrapassadas no contexto da contemporaneidade. Expressões artísticas
e culturais de outros países que fujam dos pilares Americanos ou Britânicos, como é o caso dos
poemas, contos e canções africanas, por exemplo, não são vistos como uma prioridade ou como
uma ponte para diálogos em uma aprendizagem mais contextualizada com o mundo. Dessa

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forma, a presente pesquisa justifica-se e mostra-se, sobretudo, importante para pensarmos em
um ensino de inglês que não seja, em sua maioria, focado em si e fechado para as diversas
possibilidades de enriquecimento crítico e cultural que surgem durante a aprendizagem de uma
LE. Nesse sentido, a diversidade linguística presente no continente africano nos possibilita
pensarmos nas abordagens plurais como ferramentas que contribuirão para que tenhamos um
ensino de inglês mais dinâmico e significativo para o aprendiz. Nesta pesquisa, pretendemos
investigar e discutir a seguinte questão: De que modo as abordagens plurais podem auxiliar no
processo de aprendizagem da língua Inglesa no ensino básico, a partir de textos literários
africanos de autoria feminina? Compartilhamos do pensamento de Escudé (2000), quando este
afirma que devemos fazer com que os aprendizes encontrem pontes de conhecimento
linguísticos e culturais para que possam refletir sobre uma aprendizagem de língua estrangeira
de forma natural e prazerosa. Assim, buscaremos alcançar o seguinte objetivo geral: Averiguar
o efeito das abordagens plurais para o ensino de língua inglesa, a partir de obras literárias de
autoras africanas. Quanto aos objetivos específicos, pretendemos: discutir o papel do ensino da
língua inglesa em um mundo contemporâneo plurilíngue; avaliar a relevância das abordagens
plurais para o ensino e a aprendizagem de inglês para os alunos do ensino básico; identificar
como a leitura literária de textos africanos de autoria feminina se constitui como importante
perspectiva na formação do aprendiz, observando-se as tensões entre as relações de alteridade
que se constituem neste processo; e, refletir sobre como o ensino de uma língua pode ser
mediado pela leitura literária de obras de autoras africanas, a partir das abordagens plurais. Para
alcançarmos os objetivos propostos, em um primeiro momento, refletiremos acerca do papel e
dos desafios do ensino e da aprendizagem da LI na educação básica do Brasil, através de uma
revisão bibliográfica na leitura de estudiosos como Dias (1999), Freitas (2004), Santos (2011),
Morin (2014), Calvet (2013), Rajagopalan (2005), etc. Em seguida, à luz das reflexões sobre a
política intercultural, levaremos em conta o quadro teórico-metodológico das abordagens
plurais (CANDELIER, et al. 2007), nos embasaremos nas contribuições de Câmara (2020),
Käfer (2013), Doyè (2005) Brohy (2008), Candelier (2003), Hawkins (1999) e Hall (2014),
para discutirmos as contribuições das abordagens plurais para o ensino de LE. Ademais,
partindo de reflexões acerca do plurilinguismo, destacaremos, tal qual afirma Souza (2013, p.
22), que “trata-se não apenas da diversificação na oferta de línguas para que os alunos aprendam
mais do que o inglês, enquanto língua dominante na comunicação internacional, mas de
experiências socioculturais diversas, dinâmicas e reais”. Nessa perspectiva, traremos as
considerações de pesquisadores que desenvolveram teses e dissertações pautando-se no uso
dessas ferramentas como recursos a serem utilizados não apenas para trazer benefícios para o
ensino da língua inglesa unicamente, mas, sobretudo, para abrir novos percursos que visem à
ampliação dos horizontes de expectativas dos aprendizes no que diz respeito às outras línguas
e/ou culturas diferentes da nossa. No que concerne à abordagem da literatura na sala de aula da
língua inglesa, concordamos com Souza (2013), quando este afirma que os textos literários
compõem uma das mais consideradas fontes de conhecimento para o ensino e para a
aprendizagem de uma língua materna e/ou estrangeira. Isso é relevante para nossa pesquisa
“uma vez que saímos da esfera superficial dos idiomas para contemplarmos a vida, seus
diferentes estilos de vida, dependendo dos autores, lugares e suas culturas” (SOUZA, 2013, p.
18). Assim, apresentaremos os contos e poemas de autoras africanas, a exemplo de Angele

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Bassole (Costa do marfim), Agnès Agboton (Benin), Yaa Giasi (Gana) e da Ama Ata Aidoo
(Gana) como pontes para inclusão de atividades que utilizem as abordagens plurais na aula de
LI. Quanto à metodologia, visamos desenvolver uma pesquisa-ação, o que, para Thiollent
(2005) é uma pesquisa social que envolve uma ação em que o pesquisador, juntamente com os
participantes da pesquisa estão envolvidos, com o objetivo de resolver um problema coletivo.
Assim, considerando que trabalharemos em um curso de extensão online para estudantes do
ensino básico no qual desenvolveremos atividades com as abordagens plurais, exclusivamente,
para esses alunos, estaremos todos envolvidos no mesmo processo. Dessa forma, reiteramos
que este será um caminho propício para alcançar os nossos objetivos, respondendo à nossa
pergunta de pesquisa. Apresentaremos, aos participantes, contos, poemas e atividades de
literatura que contemplem a temática proposta, para que possamos abordá-las no ensino de ILE,
juntamente com a proposta da introdução da temática africana na sala de aula. Dessa forma,
como corpus de nossa pesquisa traremos atividades e questões a serem trabalhadas na sala de
aula a partir dos contos The girl who can, da ganense Ama Ata Aidoo, das obras como Mas
Allá del mar de arena: una mujer africana en España, da autora Agnès Agboton e Amargos
como os frutos, de Ana Paula Tavares, dentre outras que abordam temáticas que perpassam pelo
patriarcalismo, pelos enraizamentos da exploração de raça e classe e pelas lutas que reivindicam
um maior espaço feminino nessas culturas. Por fim, reiteraremos a importância de pensarmos
em uma pedagogia de ensino que leve em consideração a temática do feminismo decolonial,
sob a ótica de Vergès (2020) para que possamos, além de desconstruir estereótipos negativos
envolvendo a mulher negra e o continente africano, contribuir para os movimentos de
resistência contra as marcas particulares da colonialidade em nossa sociedade.
Palavras-Chave: Ensino básico; Língua inglesa; Abordagens Plurais; Plurilinguismo;
Literatura africana;

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A TEMÁTICA DO AMOR CONTRARIADO EM TEXTOS DE
ATHAYDE, SUASSUNA E MELO RESENDE: LEITURA E
RECEPÇÕES EM SALA DE AULA

Weber Firmino Alves


Orientadora: Profa. Dra. Naelza de Araújo Wanderley

Resumo: Nesta pesquisa estudamos a aplicabilidade em sala de aula do método recepcional


com obras da literatura popular escritas no século XX, por três autores nordestinos paraibanos
arraigados em outros estados: João Martins Athayde, com o cordel Romance de Romeu e
Julieta, Ariano Vilar Suassuna, com a peça A história de Amor de Romeu e Julieta, e José
Camelo de Melo Resende, com o cordel Grandes aventuras de Armando e Rosa conhecidos
pôr “Côco Verde” e “Melancia”. Essas obras dialogam interdiscursivamente com a temática
do amor contrariado, compondo uma tradição literária cuja trama remonta às mais antigas
manifestações literárias ocidentais. Athayde constrói um folheto com o reconto da tragédia
clássica de amor difundida na pena de Shakespeare; Suassuna, por sua vez, adapta esse cordel
numa peça. Esses dois autores fazem adaptações e estabelecem um juízo de valor diferente
sobre a decisão do jovem Romeu. Resende, entretanto, escreve uma narrativa de amor
contrariado devido à oposição do pai da moça, sendo que o desfecho permite a realização
amorosa em vida pelas artimanhas dos amantes. Assim, este projeto destaca estas três obras da
literatura popular nordestina, levantando os seguintes questionamentos: Como os estudantes de
uma turma de 1ª Série do Ensino Médio da educação pública recepcionam o cancioneiro popular
com temática do amor contrariado no cordel Romance de Romeu e Julieta, de João Martins de
Athayde e na sua adaptação na peça A história do Amor de Romeu e Julieta, de Ariano
Suassuna? Que impressões revelam os estudantes quando comparam a trama clássica do amor
contrariado com um desfecho que o torna possível, no cordel Grandes aventuras de Armando
e Rosa conhecidos pôr “Côco Verde” e “Melancia”, de José Camelo de Melo Resende? De
que modo a mediação da literatura popular nordestina pode contribuir para a formação do leitor
de Ensino Médio? A pesquisa pressupõe a hipótese de que os discentes da educação básica se
interessam pelo tema do amor, bem como o fato de que tais adolescentes conhecem diversos
enredos de amor, oriundos da literatura, do cinema ou da tradição oral. Deste modo, a recepção
e a apropriação do palimpsesto europeu no tecido literário nacional, em contato com a cultura
popular, produzem uma obra nacional autônoma com reflexos da visão dos autores, que, por
sua vez, não será, necessariamente, igual à realizada pelos seus leitores. As obras destes autores
se constituem como um profícuo campo de pesquisas da literatura e da cultura regional, ao
tempo em que tematizam as experiências humanas em diálogo com a realidade sociocultural.
Nesse sentido, esse projeto de pesquisa elege o seguinte objetivo geral: Investigar, em uma

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turma da 1ª série do curso Técnico Integrado ao Ensino Médio, do IFPB – Campus Campina
Grande, a recepção de textos populares nordestinos com a temática do amor contrariado, numa
perspectiva de mediação para a formação leitora, a partir dos seguintes textos: os folhetos
Romance de Romeu e Julieta, de João Martins de Athayde, Grandes aventuras de Armando e
Rosa conhecidos pôr “Côco Verde” e “Melancia”, de José Camelo de Melo Resende e a peça
A história do Amor de Romeu e Julieta, de Ariano Suassuna. Pormenorizando, propomos
desenvolver os seguintes objetivos específicos: discutir aspectos teóricos relacionados à
literatura popular nordestina, à tradição literária que tematiza o amor “contrariado”, aos
conceitos de intertextualidade e interdiscursividade, à mediação docente, recepção e formação
de leitores; investigar com os alunos, por meio de uma atitude comparativa entre as
convergências e divergências das três obras, a maneira como elas se tornaram herdeiras de uma
tradição literária, que tematiza o amor contrariado; problematizar com os estudantes o juízo de
valor estabelecido pelos autores nordestinos, ao final dos cordéis, no que tange à tomada de
decisão das personagens; identificar com os estudantes a intertextualidade e a
interdiscursividade existente entre o cordel de Athayde e a peça de Suassuna; avaliar a recepção
da temática do amor contrariado na visão dos estudantes diante das possibilidades de desfechos
diferentes entre os enredos dos cordéis de Athayde e de Resende. Justificamos a pesquisa por
dar continuidade ao nosso percurso de investigação em torno da literatura nordestina,
ampliando a perspectiva de estudo com cordelistas, visando o ensino da arte literária para a
formação do jovem leitor. O projeto está atrelado à linha de pesquisa “Ensino de Literatura e
Formação de Leitores”, na área de concentração “Estudos Literários”, do PPGLE, da UFCG,
pelo viés da investigação com o método recepcional e pelo estudo da literatura popular.
Ademais, há importância em estudos que investiguem métodos que favoreçam a formação de
leitores, a exemplo do método recepcional. O nosso projeto associa esse método a uma
experiência estética com a literatura popular que, por muito tempo, não foi valorizada por sua
capacidade estética de fabulação e significados. Por outro lado, a literatura popular brasileira,
principalmente o gênero cordel, assumiu, junto ao seu público leitor, o compromisso de
traduzir, através de um processo de recepção e reescrita, algumas obras da literatura universal,
refletindo ou refratando narrativas clássicas. A pesquisa também contribui com o estudo da
literatura popular, que, hierarquicamente, foi desconsiderada pela historiografia literária, não
obstante a riqueza estética e discursiva de romances como os de Athayde e de Resende. Além
disso, no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, não há qualquer trabalho que proponha
a aplicação do método recepcional na sala de aula com as obras escolhidas, sobretudo, de acordo
com o recorte temático do amor contrariado. A fundamentação teórica da pesquisa considera as
contribuições de diversos autores, dentre os quais destacamos: Lajolo (1985; 1993), Candido
(2004), Machado (2002) e Rouxel (2013), que colaboram acerca da importância do ensino de
literatura na escola para a formação do leitor, bem como Cosson (2006) com o letramento
literário; para discutir a Literatura Popular, contamos com Xidieh (1976), Cascudo (2012),
Wanderley (2014), Diégues Jr (1973), Abreu (1999; 2004), Ribeiro (1987), Tavares (2007), e
Santini (2005), e, sobre a necessidade de sua presença na escola, Pinheiro (2008), Alves (2013),
Marinho e Pinheiro (2012), e Haurélio (2013); Ingarden (1965), Jauss (1994), Iser (1996; 1999)
e Zilberman (1989), ajudam-nos a entender o processo de recepção do texto literário, bem como
Bordini e Aguiar (1988) que nos apresentam o método recepcional; para entender o professor

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como mediador na formação do jovem leitor, seguiremos as discussões de Petit (2009a; 2009b);
devido à relação intertextual existente entre os textos, a teoria da intertextualidade será
desenvolvida a partir de Kristeva (2005), e Samoyault (2008), com contribuições de Fiorin
(2006), acerca da interdiscursividade, Genette (2006), sobre a literatura de segunda mão, e
Hutcheon (2011), sobre a teoria da adaptação; classificaremos os folhetos nordestinos de amor
contrariado, conforme definição de Abreu (2004) e faremos discussões sobre a temática do
amor a partir das ideias de Sócrates, em “O Banquete”, de Platão (1991), Rougemont (1988),
Konder (2007), entre outros. Metodologicamente, esta pesquisa é do tipo qualitativa, pois
propõe a coleta dos dados pelas interações sociais do pesquisador com o objeto de estudo,
embora também tenha um viés quantitativo, pois avaliará os formulários de respostas dos
estudantes para construir gráficos descritivos sobre sua formação leitora. Quanto aos seus
objetivos, é uma pesquisa exploratória e descritiva, e, acerca das estratégias de coleta de dados,
tem um caráter de campo, utilizando os seguintes instrumentos: interações com os alunos em
sala; duplo questionário; conversas em grupo de WhatsApp; produção textual, através do Diário
de Leitura e outras atividades propostas. Acerca do procedimento, é uma pesquisa ação, pois
há um envolvimento ativo do pesquisador com o objeto pesquisado. Os participantes da
pesquisa serão alunos do 1º ano do ensino médio integrado a algum curso técnico do IFPB -
Campus Campina Grande, com uma intervenção de 8 encontros compostos por 2 aulas de 50
minutos, cada, totalizando 16 horas/aula. A execução da pesquisa está distribuída nas seguintes
etapas: revisão bibliográfica; intervenção em sala de aula, na qual executaremos uma sequência
didática expandida (COSSON, 2006), sob o pano de fundo das cinco etapas do Método
Recepcional (AGUIAR; BORDINI, 1988); e, por fim, análise e interpretação dos dados
coletados. Os textos literários serão disponibilizados para todos os participantes e lidos na
íntegra com os alunos, de modo a permitir uma análise da recepção em sala de aula. No primeiro
e no último encontro com os estudantes, aplicaremos o questionário de sondagem para avaliá-
los antes e após as intervenções. Durante as aulas, aplicaremos atividades dialogais em torno
dos textos estudados, dando a voz aos alunos e permitindo a produção escrita. Ao final, espera-
se destacar dados que demonstrem as possíveis contribuições da literatura popular na formação
destes jovens leitores por meio do método recepcional, bem como avaliar o interesse deles pelo
enredo do amor contrariado, ampliando seus horizontes de expectativa. Atualmente, o projeto
está submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa, aguardando parecer para iniciar a execução.
Palavras-Chave: Literatura popular; Amor contrariado; Método recepcional; Formação do
leitor; Sala de aula.

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LINHA 2 – PRÁTICAS LEITORAS E DIVERSIDADE DE
GÊNEROS LITERÁRIOS

AUTOBIOGRAFIAS DE LEITOR E PLURILINGUISMO: UM ESTUDO


SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E
LITERATURAS

Emerson Patrício de Morais Filho


Orientadora: Prof. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz
Coorientadora: Prof. Dra. Ferroudja Allouache

Resumo: Para diversos especialistas da área, um dos maiores aportes para a didática da
literatura nos últimos anos consiste em levar em consideração as práticas efetivas dos sujeitos-
leitores. Uma das maneiras de se observar essas práticas e que tem se tornado significativamente
utilizada entre os pesquisadores, é por meio das autobiografias de leitor dos sujeitos-leitores em
formação. Com este olhar, esta pesquisa se origina a partir de algumas inquietações suscitadas
pelos dados identificados em nossa pesquisa de mestrado (MORAIS FILHO, 2020), na qual
realizamos um levantamento por amostragem junto a professores de línguas estrangeiras
(doravante LE) de todo o Brasil e identificamos que alguns professores formadores afirmaram
que, de forma geral, os estudantes do curso de Letras tinham uma formação literária “muito
escassa” e alguns professores afirmaram não trabalhar obras literárias em suas aulas por não
gostarem desse tipo de leitura. Por considerar a formação dos cursos de Letras em uma
perspectiva ampla e abrangente, isto é, a de formação de professores de línguas e literaturas,
entendemos a ausência de interesse pela literatura por parte de alguns professores e estudantes
de Letras como algo que merece ser investigado com maior profundidade, pois revela, ao nosso
ver, uma lacuna grave na formação desses professores. Além disso, concordamos com o autor
Daniel Pennac, quando citado por Séoud (1997, p. 117), ao afirmar que “alguém que não gosta
de ler é alguém que acredita não gostar de ler”, isto é, alguém que afirma não gostar de literatura,
sobretudo em se tratando de professores de línguas, é alguém que não teve experiência
suficiente com a leitura literária. Em outras palavras, é alguém que pode ter tido uma formação
literária, por assim dizer, deficitária. Outro problema que identificamos em nossa pesquisa de
mestrado diz respeito ao desconhecimento, - por parte da maioria dos professores participantes
(52,7%) -, da abordagem da Intercompreensão (doravante IC). Essa abordagem representa um
“novo” paradigma no ensino de línguas, pois ela se apoia nos conhecimentos prévios dos
estudantes, tanto de sua língua materna como de outras LE conhecidas por eles, para a
construção de competências plurilíngues. A IC tem também o objetivo de despertar o interesse

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dos estudantes ao aprendizado de outras línguas, isto é, um objetivo preventivo a essa forma de
“patologia” que Tyvaert (2008, p. 270) chama de “alergia às línguas”, além de dotar os
aprendizes de certo número de ferramentas heurísticas de caráter metalinguístico utilizáveis ao
longo do percurso de aprendizagem de línguas (DABÈNE, 1996, p. 18). Outrossim, a IC
permite superar alguns dos pressupostos introduzidos pelas abordagens monolíngues (ou, no
melhor dos casos, bilíngues) que criam um entrave no desenvolvimento da competência
plurilíngue, quais sejam: desconfiança extrema dos cognatos, temor em misturar as línguas, o
falante nativo como modelo de desempenho etc. (SILVA, 2012, p. 92). Consideramos, portanto,
que o conhecimento dos princípios didático-metodológicos da IC e das abordagens plurais de
ensino são fundamentais na formação de professores de LE a fim de superar os velhos
paradigmas de ensino e de ampliar os horizontes dos professores em formação. Na presente
pesquisa, partimos desses problemas investigativos e no intento de conhecer suas causas, a fim
de buscar estratégias para superá-los, formulamos a seguintes perguntas de pesquisa: Qual a
relação dos estudantes de LEM com a leitura literária? Quais as contribuições da produção
de autobiografias de leitor na formação de professores de línguas e literaturas? Qual o espaço
atribuído ao plurilinguismo e pluriculturalismo nas formações dos cursos de LEM? Quais os
benefícios da Intercompreensão para a formação de professores de LE? Para responder a essas
perguntas, elaboramos o seguinte objetivo geral: Analisar as reverberações interculturais,
identitárias e afetivas no âmbito da formação de professores de língua e literatura, por meio da
produção de autobiografias de leitor e da intercompreensão de línguas românicas. A fim de
alcançarmos o objetivo geral, formulamos os seguintes objetivos específicos: 1. Identificar a
relação dos estudantes (professores em formação) com a leitura, sobretudo literária, por meio
das suas autobiografias de leitor: representações, modos de leitura, biblioteca interior etc. 2.
Analisar as possíveis contribuições da escrita de autobiografias de leitor para a formação de
professores de línguas e literaturas: identidade do leitor, valor heurístico dessas produções etc.
3. Analisar os Projetos Pedagógicos dos cursos de Letras Estrangeiras Modernas no intento de
identificar o espaço atribuído ao plurilinguismo e pluriculturalismo no currículo desses cursos.
4. Investigar sobre os benefícios da intercompreensão de línguas românicas na formação de
professores de línguas e literaturas. Os fundamentos que norteiam esta pesquisa são os da
didática da literatura, baseado em Rouxel (2013), Ledur e De Croix (2005); De Croix e Dufays
(2004); Bemporad (2020), Picard (1984), Louichon (2010), Petit (2009), etc. Baseamo-nos
também na noção de ethos discursivo, desenvolvido por Maingueneau (2008) e na noção de
habitus de Bourdieu (1972). No que concerne aos fundamentos da intercompreensão, apoiamo-
nos em Coste, Moore e Zarate (2009), Caddéo e Jamet (2013), Candelier et al. (2009), Escudé
e Janin (2010), De Carlo (2011), Carrasco, Degache e Pishva (2008), entre outros. Além disso,
também dialogamos com noções da Linguística Aplicada (LADO, 1957; FRIES, 1945;
KELLERMAN, 1979, 1980; JORDENS 1979), da Linguística Comparativa (CORDER, 1980ª,
1980b; VINCENT, 1982), da Psicolinguística (CAMMAROTA; GIACOBBE, 1986;
SELINKER, 1972), da Didática de Línguas (KRASHEN, 1981, 1982; KRASHEN; TERRELL,
1983; BESSE; PORQUIER, 1984; DABÈNE, 1975), entre outas, acerca do papel da língua
materna e de outras LE no processo de apropriação da língua-alvo. Quanto aos procedimentos
metodológicos, utilizamos dois tipos: documental e de pesquisa-ação. A etapa documental da
nossa pesquisa consiste na coleta dos Projetos Pedagógicos dos cursos de Letras Estrangeiras

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Modernas das instituições públicas de ensino superior da Região Nordeste, a fim de
identificarmos a existência de disciplinas voltadas para a formação didático-pedagógica desses
profissionais e analisar suas ementas no intento de identificar se há nessas disciplinas uma
proposta de formação ao plurilinguismo e pluriculturalismo e para as abordagens plurais de
ensino. Em um segundo momento, empreenderemos uma pesquisa-ação junto a estudantes dos
cursos de Letras da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG): Letras-português,
Letras-português-francês, Letras-espanhol e Letras-inglês. Esta pesquisa será desenvolvida em
uma disciplina optativa de Intercompreensão de Línguas Românicas. Ao longo da disciplina,
buscaremos, por um lado, analisar as contribuições das abordagens plurais de ensino na
formação de professores de LE por meio dessa formação, mas também objetivamos conhecer
as representações iniciais dos estudantes em relação ao papel da L1 e de outras LE nas
atividades em sala de aula. Por outro lado, buscaremos conhecer o perfil leitor dos estudantes e
analisar suas autobiografias de leitor. A produção de autobiografia de leitor na formação
docente, sobretudo de professores de línguas e literaturas, são instrumentos muito eficazes,
tanto no que concerne à formação desses profissionais, como enquanto instrumento de pesquisa,
voltada para o campo da didática da literatura. O ato de verbalizar suas condutas, seus
sentimentos, seus interesses, suas representações, faz o sujeito se descrever e se representar e,
por meio disso, refletir e se posicionar (BEMPORAD, 2020). Portanto, o ato de falar de si
através da sua relação com a leitura pode ser deflagrador de uma conscientização metacognitiva
no leitor-aprendiz, pois ela o sensibiliza a se questionar sobre seus gostos, seus hábitos, suas
atitudes e aptidões, além de expressar seus prazeres e apreensões (LEDUR; DE CROIX, 2005).
Essa autoanálise é importante na formação de professores de línguas, pelo fato de ela os ajudar
a se projetar na sua futura profissão, em busca de respostas e de estratégias em relação às
perguntas e constatações seguintes: “sem referências ou paixões, como aconselhar um livro?
Como posso ouvir a rejeição pela leitura se nunca a conheci?” (LEDUR; DE CROIX, 2005, p.
34). Aliada às abordagens plurais de ensino, essas produções tornam-se ainda mais
enriquecedoras, pois permite ampliar os horizontes linguísticos-culturais dos estudantes.

Palavras-Chave: Letras Estrangeiras Modernas; Formação Leitora; Autobiografias de leitor;


Memórias de leituras. Formação didático-pedagógica. Abordagens plurais de ensino.

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MATERIALIDADE E MODOS DE NARRAR NO LIVRO ILUSTRADO
PARA A INFÂNCIA: LEITURAS E REFLEXÕES NA FORMAÇÃO
DOCENTE

Fabíola Cordeiro de Vasconcelos


Orientadora: Professora Márcia Tavares Silva

Resumo: A formação de leitores proficientes, capazes de ler textos com diferentes


características, utilizando distintas estratégias de leitura, ainda é um grande gargalo da educação
básica brasileira. Por isso, reflexões sobre os processos de formação leitora desde os anos
escolares iniciais permanecem sendo muito necessárias. Nesses anos, tal formação pode ter
como fundamental elemento impulsionador o acesso significativo e frequente aos livros de
literatura infantil, cuja produção vem se caracterizando por excelência qualitativa em diversos
aspectos. Usufruir dessa qualidade demanda, além da convivência significativa com as obras,
especialmente em situações em que sua leitura é mediada por sujeitos com maior experiência
cultural (VYGOTSKY, 2009), principalmente o aprendizado de como lê-las, de como
considerar as suas peculiaridades para, de modo eficaz, construir sentidos e fruir (ARENA,
2010). Nessa direção, o livro ilustrado para a infância, caracterizado por materialidade e
formato variados (LINDEN, 2011; SALISBURY; STYLES, 2013; NIKOLAJEVA; SCOTT,
2011; RAMOS, 2020), pode desempenhar relevante papel. A formação do leitor desse livro,
cuja principal marca é uma profunda interação entre texto e imagens, da qual emerge a
veiculação dos sentidos, não pode prescindir, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, de sua
abordagem efetiva e integral, o que inclui as interrelações que nele ocorrem entre aspectos da
materialidade e possibilidades narrativas. Portanto, considerar o livro ilustrado em sua
totalidade requer entender que sua leitura vai além da interpretação da integração texto/imagem,
uma vez que implica debruçar-se sobre todos os elementos de sua composição material (capa,
guardas, contracapa, tipografia, formato, diagramação, tipo de papel, tamanho, cores, entre
outros) (NAVAS; RAMOS, 2020; GENETTE, 2009; MENEGAZZI; DEBUS, 2018; MATTOS
et al., 2016) e as maneiras como eles concretizam diferentes intenções e modos de narrar. A
formação escolar do leitor do livro ilustrado para a infância, assim, demanda a participação
crucial do mediador da leitura, o professor, a quem compete atentar a tais aspectos e ensinar a
lê-los (COLOMER, 2003; 2017; GIROTTO; SOUZA, 2010). Entretanto, dada a falta de um
consistente e ampliado conhecimento de tais interrelações na composição das obras e dos
sentidos que elas propõem, é comum, em situações de leitura de livros ilustrados junto às
crianças, que tais aspectos sejam relegados ou, quando considerados, tratados de maneira
superficial, desse modo empobrecendo, quando não inviabilizando, as possibilidades de uma
plena compreensão das obras. Entretanto, é na leitura mediada do livro ilustrado, a partir do
conhecimento sólido sobre esse objeto, suas características e possibilidades narrativas
amparadas nos aspectos de sua materialidade, que o professor pode intervir, auxiliando

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sobremaneira a formação das crianças para o domínio de capacidades leitoras profundas e
fundamentais (SOUZA, 2018; SOLÉ, 1998) e para o apreço à literatura. Considerando que
iniciativas de formação docente, incluídas as continuadas (BURLAMAQUE, 2006; GATTI,
2017), podem se constituir como espaço importante ao conhecimento desse livro e, em
decorrência, da mediação de sua leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a pesquisa
parte das seguintes indagações: de que modos, no contemporâneo livro ilustrado para a criança,
as formas de narrar se concretizam por meio da materialidade e viabilizam a construção dos
significados e as formas de ler? Como a formação continuada do professor para ler o livro
ilustrado e compreender as formas de narrar nele concretizadas por meio da materialidade do
objeto pode fomentar a sua abordagem e a constituição leitora da criança na escolaridade
inicial? Compreendendo a necessidade de o professor leitor desse livro ser mobilizado a
planejar e mediar as situações de partilha de sua leitura na prática pedagógica, auxiliando as
crianças a se apropriarem ativamente dos requisitos necessários à compreensão integral das
obras, o que demanda entender como nelas os elementos da materialidade concretizam as
intenções narrativas, a pesquisa tem como objetivo geral investigar, em iniciativa de formação
continuada do professor leitor do livro ilustrado para a infância, capacidades para compreender
como nesse objeto a os aspectos materiais viabilizam os modos de narrar e para pensar sua
abordagem nos anos iniciais da escolaridade. Como objetivos específicos, 1) refletir sobre como
os recursos narrativos se concretizam na materialidade de livros ilustrados para a infância
contemporâneos e sua repercussão na elaboração dos sentidos nessas obras; 2) discutir a
mediação da leitura desse livro nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com foco nas
interrelações que nele se dão entre os recursos materiais e narrativos, e 3) analisar as
potencialidades desse livro para a formação de leitores nessa etapa da Educação Básica.
Metodologicamente, o estudo fundamenta-se numa abordagem de pesquisa qualitativa
(MINAYO, 2016) e tem caráter aplicado e cunho descritivo (GIL, 2002; TRIVIÑOS, 1987).
Constitui-se a partir do desenvolvimento de uma iniciativa de formação continuada online,
voltada a doze professores de diferentes municípios paraibanos, a fim de ampliar os seus
conhecimentos acerca do livro ilustrado para a infância, de favorecer o seu entendimento sobre
como nele os modos de narrar se concretizam materialmente e, com base nisso, para pensar
sobre como abordá-lo efetivamente nos primeiros anos escolares, de modo a desenvolver
importantes capacidades leitoras das crianças. Com tal propósito, compreende quatro principais
etapas. A primeira consiste na seleção do corpus, na escolha de seis livros ilustrados para a
infância que subsidiarão o desenvolvimento da formação e, ao final desta, a construção, pelos
docentes participantes, de propostas de exploração da leitura de um livro específico. A segunda
é a realização de entrevista semiestruturada, com vistas a conhecer características do perfil dos
professores cursistas em relação à formação acadêmica e profissional, à atuação docente, às
práticas relativas à literatura infantil e ao livro ilustrado para a infância, além dos
conhecimentos acerca desse objeto, de sua leitura e abordagem na escolaridade inicial, dados
fundamentais à definição e estruturação da iniciativa de formação. A terceira, a realização de
dois módulos de um curso online, com duração total de vinte horas. O primeiro módulo é
voltado à exploração do livro ilustrado para a infância e de sua materialidade, a fim de favorecer
o entendimento da repercussão desta nas formas de narrar propostas por diferentes obras. Tem
o objetivo de fomentar, no mediador da leitura desse livro, a ampliação do conhecimento desse

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objeto e das possibilidades para lê-lo integralmente, atentando aos modos como os distintos
elementos materiais dão concretude à narrativa. O segundo módulo é dirigido à reflexão sobre
as possibilidades de abordagem do livro ilustrado para a infância nos anos escolares iniciais, de
modo a favorecer a exploração, na situação de leitura compartilhada, das formas de narrar que
neles se concretizam através de suas características materiais. Nessa ação formativa, o objetivo
é instar os professores a construir, primeiro coletiva, e depois individualmente, propostas para
a leitura de livros ilustrados nos anos iniciais do Ensino Fundamental, refletindo sobre as
perspectivas de, na sua leitura compartilhada, desenvolverem-se nas crianças possibilidades de
leitura do livro ilustrado e do texto literário nele situado. Por fim, na etapa da análise de dados,
com base na Análise de Conteúdo proposta por Laurence Bardin (BARDIN, 2015; FRANCO,
2003), serão contempladas as fases de pré-análise, com organização do material coletado; de
descrição analítica, com estudo aprofundado e mais intenso do material coletado, orientado
pelo referencial teórico; e de interpretação inferencial desse material, no intuito de desvendar
seus conteúdos latentes. Nessa perspectiva, através da ordenação, da classificação e da
interpretação dos dados (as obras selecionadas como fundamento da formação, as falas dos
professores participantes na entrevista semiestruturada, as colocações e leituras ocorridas ao
longo dos encontros formativos e as propostas para a leitura de um livro ilustrado para a infância
construídas ao final da formação), acontecerão o tratamento e a análise do material coletado nas
etapas anteriores, articulando-o à teoria, a fim de se atingirem os objetivos propostos na
pesquisa e de se responderem às questões que a norteiam. O estudo trará contribuição à área de
formação de leitores ao possibilitar reflexões sobre essa formação nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, ainda marcada por significativas dificuldades, atrelando-a à leitura do livro
ilustrado para a infância, em sua riqueza material e narrativa, de modo a realçar o papel crucial
do professor mediador, de seu conhecimento e intervenção para aproximar as crianças desse
relevante objeto cultural e de sua leitura como caminhos ao desenvolvimento da proficiência
leitora.

Palavras-Chave: Livro ilustrado para a infância; Materialidade; Leitura; Formação Docente;


Formação de Leitores.

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ISSN - 2526-5024 181


MILITÂNCIA FEMININA E DITADURA: UMA EXPERIÊNCIA DE
LEITURA NO ENSINO MÉDIO COM O CORPO INTERMINÁVEL, DE
CLAUDIA LAGE

Francisca Luana Rolim Abrantes


Orientador: Prof. Dr. José Edilson de Amorim

Resumo: A presente pesquisa surgiu a partir de leituras de obras contemporâneas que


configuram o autoritarismo brasileiro, como Júlia: nos campos conflagrados do Senhor (2020),
de Bernado Kucinski, Tropical Sol da Liberdade (2012), de Ana Maria Machado, Azul corvo
(2014), de Adriana Lisboa, entre outras. Ao ler algumas narrativas que tratam desse período,
percebemos que tanto em obras de autorias masculinas, quanto de escritos femininos, quase não
há menção ao protagonismo das mulheres militantes. E quando há, limitam-se a 182eriód-las a
segundo plano, ou seja, como a namoradinha, a esposa, a mãe e a irmã. Também denotamos
que com a constituição da Comissão Nacional da Verdade (CNV), instalada em 16 de maio de
2012, foram lançados outros olhares sobre as informações de casos de tortura, morte e
desaparecimento, realizados nas dependências militares, oficiais ou clandestinas, o que
acarretou a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre essa realidade censurada,
fomentando, dessa maneira, a criação de obras reveladoras acerca do totalitarismo hegemônico.
Além disso, com os relatos das mulheres militantes para a CNV, os (as) escritores(as) puderam
tomar conhecimento de várias violências praticadas às presas políticas nas salas de torturas
para, assim, produzirem obras que tematizassem esse horror. A exemplo disso, podemos citar
a escritora e roteirista Claudia Lage que, a partir do acesso a alguns documentos da CNV, obteve
informações acerca não só desse período de extrema violência, mas também da participação
das mulheres na luta contra a ditadura militar para criar o seu romance O corpo interminável
(2019), cuja narrativa aborda não só a tentativa de apagamento dos horrores perpetrados pela
ditadura, o desconhecimento de algumas pessoas acerca desse período, o trauma sequencial, o
papel colaboracionista por parte da sociedade para manter o regime, mas também a violência
imposta ao corpo feminino e as experiências das presas políticas vividas tanto nas salas de
torturas, na clandestinidade, quanto no momento de morte. Diferentemente de algumas obras
literárias cujas guerrilheiras assumem um papel secundário, na narrativa de Claudia Lage, o
modo de configuração do sofrimento das mulheres resistentes ao regime arbitrário torna-se
inovador. Isto porque elas são registradas não apenas enquanto participantes dos
acontecimentos, mas também a partir do processo de vivências que as torna sujeitos da história.
Na perspectiva das configurações literárias, Regina Dalcastagnè (1996, p.15) enfatiza que as
obras sobre esse período de graves violações de direitos humanos ajudam a entender as
vivências “[...]daqueles que foram massacrados por acreditarem que podiam fazer alguma coisa
pela história do país”. Com base nessas reflexões iniciais, o nosso estudo parte da problemática
de que há uma invisibilidade da participação ativa das mulheres e de suas experiências
corporais, vivenciadas no contexto da ditadura militar nas narrativas ficcionais. Considera-se
que as mulheres desempenharam papel ativo nos movimentos estudantis, partidos, sindicatos e
organizações clandestinas, rompendo com as funções que lhes estavam propostas pela cultura
tradicional, porém essas atividades não são apontadas como fatores relevantes nas discussões
sobre esse período histórico, nem figuradas nessa perspectiva de militância na estética literária.
Tendo em vista essa problemática, o nosso estudo dá-se a partir dos seguintes questionamentos:
a) O romance O corpo interminável, de Claudia Lage pode levar o aluno a ter uma visão crítica

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e significativa acerca da relação da mulher com a ditadura militar? B) Como os atos de torturas
ao corpo feminino são retratados na narrativa em estudo? C) De que maneira os conflitos das
personagens militantes são configurados nessa obra? O objetivo principal desse estudo é
analisar, no romance O corpo interminável, de Claudia Lage, os modos de representação da
mulher enquanto figura militante no período da ditadura no Brasil com alunos do 2° ano do
ensino médio a partir do Método Recepcional. Como objetivos específicos, temos: a) Examinar
a partir da Autobiografia de leitor, desenvolvida por Anne Rouxel (2013), o conhecimento dos
discentes, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Celso Mariz, acerca de obras
que configuram o período da ditadura militar no Brasil; b) Trabalhar o romance O corpo
interminável, de Cláudia Lage a partir do Método Recepcional, proposto por Aguiar e Bordini
(1988) em sala de aula, focalizando, assim, tanto a participação das guerrilheiras na luta contra
o regime, quanto a violência lhes imposta; c) Refletir sobre do modo como os alunos
compreendem não só a relação da mulher com a ditadura, mas também os traumas ocasionados
pelo autoritarismo brasileiro a partir dos personagens principais configurados na narrativa de
Claudia Lage. A presente pesquisa faz parte de um estudo qualitativo, de caráter exploratório,
uma vez que está centrada nos posicionamentos subjetivos dos educandos em relação ao
romance de Claudia Lage. Os participantes de nossa pesquisa serão os educandos do 2° ano do
ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Celso Mariz, localizada numa
comunidade cigana, da cidade de Sousa-PB. Os dados dessa pesquisa serão coletados através
da Autobiografia de leitor, por meio da qual buscaremos conhecer a identidade literária dos
alunos e, a partir dela, investigar o perfil desses educandos enquanto sujeitos- leitores e as suas
vivências com o texto literário. Também aplicaremos dois questionários, a fim de verificar não
só o conhecimento deles acerca de narrativas que tematizam a ditadura militar no Brasil e a
importância de se trabalhar esse assunto em sala de aula, mas também a recepção desses
discentes em relação à obra estudada, à temática abordada e o contexto que permeia essa
narrativa. Assim, intentando alcançar os objetivos estabelecidos, alguns caminhos serão
percorridos. O primeiro deles diz respeito ao estudo bibliográfico sobre o tema pesquisado e
que será posto em prática durante toda a vigência da pesquisa. O segundo passo diz respeito à
intervenção de leitura com a obra 13O corpo Interminável, de Claudia Lage, em sala de aula.
Para trabalhar esse romance, no contexto escolar, utilizaremos as principais etapas do Método
Recepcional, desenvolvido pelas pesquisadoras Aguiar e Bordini (1988). Através dessa
metodologia, elaboramos uma sequência didática a partir das etapas principais desse método, a
saber: a) Sondagem do horizonte de expectativa do leitor- Aplicação de uma autobiografia de
leitor e de um questionário acerca do conhecimento dos alunos e dos professores de Língua
Portuguesa sobre literatura que retrata não só o horror perpetrado pelo regime, mas também a
militância feminina; b) Atendimento do horizonte de expectativa do leitor- Apresentação de
alguns relatos de mulheres que foram atingidas de maneira direta ou indireta pelas barbaridades
do regime e leitura da obra O corpo interminável, de Claudia Lage; c) Questionamento do
horizonte de expectativa do leitor- Aplicação de um questionário envolvendo perguntas sobre
o romance em exame; d) Ampliação do horizonte de expectativa do leitor- Apresentação do
documentário A torre das donzelas, oficina de pinturas que retratam cenas do romance O corpo
interminável e, por fim, uma mesa-redonda acerca da participação da militância feminina contra o
regime ditatorial no Brasil. Para desenvolver esta pesquisa, serão adotadas as reflexões de Colling
(2015), Eurídice Figueiredo (2017), Regina Dalcastagnè (1996, 2008), Rosa (2013), Tânia
Pellegrini (1996) sobre Literatura, ditadura e militância feminina; e as concepções de Ensino e
Formação Leitora de: Aguiar e Bordini (1988), Bajour (2012), Lígia Cademartori (2009),

13
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética. No momento, estamos aplicando a experiência de
leitura com os alunos da Escola Celso Mariz.

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Michèle Petit (2008), Rildo Cosson (2016), entre outras. Espera-se que essa pesquisa propicie
aos discentes não só uma compreensão mais ampla, crítica e significativa do autoritarismo
brasileiro, mas também que eles possam analisar tanto a relação da mulher com a ditadura,
quanto a violência praticada às guerrilheiras durante esse período.

Palavras-chave: Literatura sobre ditadura; Militância feminina; O corpo interminável; Claudia


Lage; Formação do leitor.

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LITERATURA YOUNG ADULT E FORMAÇÃO DE LEITORES: UM
ESTUDO DA RECEPÇÃO DE OBRAS JOVENS ADULTAS EM MEIOS
DIGITAIS

Jemima Stetner Almeida Ferreira Bortoluzi


Orientadora: Profa. Dra. Márcia Tavares

Resumo: A pesquisa em andamento tem como objetos de investigação a Literatura Young Adult
(YA) e a Literatura Jovem contemporâneas, bem como seus leitores. Nela, planejamos nos
debruçar sobre obras destas literaturas, escritas por autores que vêm produzindo intensamente
nos últimos anos, além das recepções destas em ambientes virtuais. As razões principais que
nos motivaram a proceder com a presente investigação surgiram tanto da percepção, advinda
de uma década em sala de aula, que aponta para o fato de que a leitura que interessa ao leitor é
uma leitura que forma leitores, quanto da escassez de pesquisas acadêmicas sobre as Literaturas
YA e Jovem contemporâneas, bem como seus aspectos constitutivos e papel nas práticas
leitoras. Este trabalho justifica-se, então, não apenas pela preocupação em realizar uma pesquisa
voltada para a investigação da recepção de obras pouco ou nada estudadas pela academia, mas
também por buscar entender e sistematizar a compreensão acerca do próprio gênero em tela,
além de analisar o efeito estético que provocam no leitor. Deste modo, desenharam-se assim
nossas questões de pesquisa: (1) sob que aspectos as Literaturas YA e Jovem contemporâneas
possuem potencialidades para formar leitores literários? (2) e de que maneira leitores comuns
e especialistas recebem, em meio digital, algumas dessas obras? Uma vez que a Literatura YA
se fez presente no Brasil muito recentemente – marcadamente com o fenômeno da saga do
menino bruxo Harry Potter, na primeira década dos anos 2000 -, percebemos que ainda é
preciso ampliar bibliografia, definições e estudos acerca de suas especificidades em território
nacional. Para tanto, estabelecemos como objetivo geral investigar a recepção em meio digital
das obras Um milhão de finais felizes (MARTINS, 2018), A lista do ódio (BROWN, 2019) e O
ódio que você semeia (THOMAS, 2020), entre leitores diversos. Como objetivos específicos,
almejamos primeiramente examinar os aspectos gerais que constituem as Literaturas YA e
Jovem, sopesando a importância dos temas fraturantes como fator relevante de atratividade
leitora; em seguida analisar o efeito estético provocado pelas três obras que constituem nosso
escopo, tanto em leitores comuns quanto naqueles especializados, em quatro plataformas
digitais (Instagram, YouTube, Skoob e Amazon); e, finalmente, avaliar as possíveis contribuição
das obras YA e Jovens na formação de leitores literários. Eleger o ambiente virtual como terreno
para coleta de dados deveu-se a dois fatores principais: o fato que a profusão de imagens hoje
parece ter mudado fundamentalmente a expectativa do leitor em relação ao próprio objeto livro,
passando a internet a ser lugar natural de exposições e retextualizações dos efeitos estéticos
proporcionados pela leitura de livre escolha de sujeitos das gerações Y e Z; e à nossa percepção
preliminar de que a utilização da internet como suporte para escolher, avaliar e divulgar leituras
populariza-se vertiginosamente e desponta como um potencial aliado na formação do leitor por

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sua capilaridade, visibilidade e acessibilidade. No tocante aos fundamentos teóricos, a fim de
dar conta dos aspectos que nos parecem mais relevantes para o presente estudo, construímos
um caleidoscópio para olhar investigativamente para as Literaturas YA e Jovem. Ele é
constituído por estudos acerca do gênero Young Adult estadunidense (CART, 2016 e ROSS,
2006) e da Literatura Juvenil no Brasil (CECCANTINI, 2000), de pesquisas sobre adolescência
(CALLIGARIS, 2010) e juventudes (GROPPO, 2000), além das contribuições da Estética da
Recepção (ISER, 1996) e da Teoria do Efeito Estético (JAUSS, 1994) e dos estudos sobre
formação de leitores (ABREU, 2006 e BRITTO, 2015). No tocante ao método, são duas as
perspectivas metodológicas centrais nas quais se alicerça a presente proposta de pesquisa: a
primeira de abordagem qualitativa e a segunda de natureza descritiva-interpretativa com
inspiração netnográfica. A abordagem qualitativa se deve a preocupação com aspectos da
realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e interpretação da
dinâmica de determinadas relações sociais. Elegemos tal abordagem pois acreditamos que ela
seja capaz de melhor viabilizar a compreensão das práticas leitoras em meios digitais sobre as
quais temos a intenção de nos debruçar. O procedimento metodológico utilizado será o
descritivo-interpretativo, e deverá se valer da leitura e do cotejo de obras circunscritas no
universo literário jovem adulto, e em como tais textos são recebidos por leitores especializados
e comuns, por meio dos vazios preenchidos e da constituição de sentido construída durante a
leitura. Pretendemos, assim, identificar os diálogos entre a opinião crítica do leitor
especializado e a do leitor comum sobre as obras escolhidas para compor o corpus do trabalho.
Algumas concepções e procedimentos da netnografia irão nos auxiliar pelo fato de, em nossa
pesquisa, intentarmos obter algumas repostas explorando as interações que acontecem em
contextos culturais da internet. Nesse sentido, serão utilizados prints de postagens, comentários,
memes, bem como transcrições de vídeo-resenhas e reels, por exemplo. A curadoria destes
dados deverá se organizar por meio da análise das características dos indivíduos investigados,
suas interações, experiências de leitura e as manifestações de suas recepções, atentando ao
modo como estas, a partir das aderências teóricas que elencamos na seção anterior, estabelecem
conexões entre a percepção e a interpretação dos fenômenos estudados. O critério para escolha
das obras se deu pela classificação indicativa das mesmas (todas figuram nas listas de livros
YA das principais livrarias e sites de leitura do país), presença de temas fraturantes
(homossexualidade versus religião em Um milhão de finais felizes; massacre escolar, bullying
e suicídio em A lista do ódio; racismo e violência policial em O ódio que você semeia), e
popularidade (segundo classificação em listas dos mais vendidos na categoria YA em sites
especializados). Como instrumentos de coleta, as plataformas digitais e fontes de dados
escolhidos foram Vídeo Resenhas do YouTube, Resenhas do Skoob, Posts do Instagram e
Comentários de leitores na seção “Avaliações dos clientes” da Amazon. Os perfis dos leitores
que farão parte da pesquisa serão selecionados levando em conta a formação acadêmica, o
número de seguidores e a idade dos sujeitos. Sendo a internet um canal de acesso rápido a
informação em tempo real, o consumo de vários tipos de publicações faz parte de uma nova
conjuntura comunicacional e impacta diretamente as novas formas de compartilhar leituras.
Neste contexto, os espaços de resenhas literárias ganham destaque nesses meios digitais devido
à facilidade de acesso e à diversidade de trocas de experiências e, ao promoverem o contato
com o texto literário, materializados nestas plataformas em formato de vídeos curtos, cards de

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humor ou sarcasmo, textos lacônicos e comentários em postagens, podemos encontrar resenhas,
impressões, indicações, juízos de valor, discussões, que proporcionam uma nova e ampla
possibilidade de formação de leitores. Sendo assim, em linhas gerais, o estudo irá se
desenvolver abordando três aspectos: o cotejo das obras, a voz do leitor especialista e a voz do
leitor comum em ambientes virtuais. A partir da análise das obras selecionadas, serão
levantadas as possibilidades de leitura que as mesmas oferecem, considerando seus elementos
narrativos e temáticos. Já as vozes dos leitores levarão à depreensão de suas impressões de
leitura, da recepção dos temas, compreensão das estruturas, a fim de identificar as variáveis que
os levaram a apreciar ou a rejeitar a obra. Aqui importa investigar se estes leitores ao entrarem
em contato com as obras em tela, ficaram tão somente nos dados de identificação ou
conseguiram perceber os vazios significativos das mesmas e preenchê-los. Isto se dará por meio
da análise dos conteúdos dos perfis selecionados, além da observância e consideração das
interações, interpretações, construções de sentido e consciência dos estabelecimentos de inter-
relações com o mundo e com o outro destes sujeitos.

Palavras-Chave: Literatura Young Adult; Literatura Jovem; Formação de Leitores

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THOMAS, Angie. O ódio que você semeia. Tradução Regiane Winarski. 16. Ed. Rio de Janeiro:
Galera Record, 2020.

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PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA NA UNIDADE ACADÊMICA DE
EDUCAÇÃO INFANTIL DA UFCG: REPERCUSSÕES NO CONTEXTO
FAMILIAR DE CRIANÇAS EGRESSAS

Maria Betania Barbosa da Silva Lima


Orientadora: Profa. Dra. Márcia Tavares Silva

Resumo: A literatura infantil é algo que encanta a criança desde o nascimento, seja mediante a
oralidade, por meio de canções, das brincadeiras com a linguagem, das histórias que lhe são
contadas, seja por meio do objeto livro, com o qual mantém um relacionamento singular. Nesse
sentido, as vivências com o texto literário devem acontecer desde a mais tenra idade, uma vez
que a literatura infantil contribui para a emancipação e ampliação dos conhecimentos do leitor
infantil, favorece a liberdade de sair do mundo real e adentrar no ficcional e, a partir dessa
experiência, perceber a realidade de outras formas e transformá-la, “o que permite ler não
apenas a obra, mas também e, principalmente, o mundo, o ‘outro’ e a si mesmo” (SOUZA;
MARTINS NETO; GIROTTO, 2016, p. 196). A Educação Infantil, primeira etapa educativa
da criança, é momento propício para o início da sua formação leitora. Nessa fase, o estímulo à
leitura é fundamental para o desenvolvimento das suas capacidades criativa e imaginativa.
Kaercher (2001) aponta que é justamente nesse período que a criança inicia suas primeiras
leituras de mundo e produz significados e sentidos com base no que vê, ouve, percebe, sente e
imagina. De fato, os textos literários têm uma função transformadora na vida desse leitor porque
contribuem para a formação da consciência crítica, favorecendo o conhecimento de diferentes
culturas, a percepção dos diversos modos de vida e o reconhecimento de si e do outro por meio
de tais apreensões. Contudo, favorecer a apropriação ativa dessa linguagem por ela requer a
mediação de um adulto ou de uma pessoa mais experiente. Na escola, esse papel é exercido
pelo professor que, em sua prática cotidiana, precisa oportunizar o contato das crianças com
diversos gêneros textuais para ampliar o seu universo cultural e favorecer o processo de
letramento, em geral, e de letramento literário, em particular. Entretanto, essa formação não
deve acontecer apenas no contexto escolar, mas, também, no familiar. Nele, mães, pais, irmãos,
irmãs, avôs e avós, entre outros atores, desempenham um papel importante no desenvolvimento
dos hábitos de leitura e no processo formativo das crianças (SOBRINO, 2000). Na nossa
atuação como professora na Unidade Acadêmica de Educação Infantil (UAEI) da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), cuja Proposta Pedagógica defende a importância da
leitura literária e, portanto, desenvolve várias práticas para fomentar a formação do leitor
literário, vimos, há algum tempo, refletindo sobre a nossa responsabilidade com essa formação
e sobre a participação da família nesse processo. Essas reflexões têm como ponto de partida a
rápida passagem das crianças pela Educação Infantil. No caso da UAEI, elas só frequentam a

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instituição dos 2 anos aos 5 anos e 11 meses de idade, o que reforça a necessidade de investirmos
nas práticas com a literatura infantil para que, nesse período, aproveitem ao máximo as
vivências com o literário. Considerando que a UAEI tem buscado fomentar práticas de
incentivo à leitura literária e envolver as famílias e que não há estudos que investiguem se as
vivências realizadas na instituição repercutem na continuidade de tais práticas no contexto
familiar, após a saída das crianças da instituição, surgiu o interesse por desenvolver esta
pesquisa. Diante desse contexto, as seguintes questões norteiam a nossa proposta de pesquisa:
as práticas de leitura literária desenvolvidas pela UAEI têm repercutido para que as crianças
continuem se interessando pelos livros de literatura infantil e pelas práticas leitoras após a saída
da instituição?; As ações desenvolvidas pela UAEI para envolver as famílias na formação
leitora das crianças têm favorecido a compreensão delas a respeito da importância dessa
participação?; As famílias continuam participando, junto às crianças, desse processo formativo?
Como? Para responder essas questões, traçamos como objetivo geral: investigar a repercussão
das práticas de leitura literária desenvolvidas pela Unidade Acadêmica de Educação Infantil da
UFCG nas vivências com a literatura infantil no âmbito familiar de crianças egressas. Como
objetivos específicos buscamos: a) Mapear as práticas desenvolvidas pela UAEI para fomentar
a formação do leitor literário e como a instituição envolve as famílias nessas práticas; b)
Averiguar como as famílias percebem as práticas de fomento à leitura literária desenvolvidas
pela UAEI e o envolvimento das crianças nelas; c) Conhecer como as famílias avaliam a sua
participação na formação da criança para a leitura de literatura infantil e a influência das
propostas da instituição nesse processo; d) Identificar se as crianças egressas e suas famílias
continuam vivenciando as práticas de leitura de literatura infantil no contexto familiar e quais
são estas práticas. Teoricamente nos pautamos nos estudos de Rocha; Lessa; Buss-Simão
(2016), Kramer (2011), Sarmento (2007), Sarmento e Pinto (1997), Corsaro (2011), para
abordar as concepções de criança e infâncias. No que se refere à Educação Infantil, literatura
infantil, formação do leitor literário e práticas leitoras, contamos com Kaecher (2001), Corsino
(2010)), Mello (2016), Souza, Martins Neto e Girotto (2016), Coelho (2000), Parreiras (2009),
Cadermatori, (2010), Colomer (2017), Paulino e Cosson (2009), Cosson (2006;2010) entre
outros. Quanto às reflexões a respeito da escola e família fundamentamo-nos em Ariès (2006),
Barbosa (2009), Campos e Rosemberg (2009), Bondioli e Mantovani (1998), Sambramo
(2009), Oliveira (2012), Silva; Luz (2016), que reafirmam a corresponsabilidade entre as duas
instituições como forma de assegurar a formação integral da criança. Sobre mediação leitora
recorremos a Vygotsky (1994), Melo (2007), Arena (2010) Vagula e Balça (2016), Girotto e
Souza (2016). Do ponto de vista metodológico, adotamos uma abordagem qualitativa
(MINAYO, 2006). Trata-se de um estudo exploratório e descritivo do tipo estudo de caso, pois
busca descrever fatos e fenômenos de uma determinada realidade (TRIVIÑOS, 2009). No caso,
o nosso interesse recai sobre a UAEI e a abordagem adotada permitirá explorar os significados
atribuídos pelas famílias de crianças egressas no ano de 2019 acerca das práticas de leitura
literária desenvolvidas pela instituição e as repercussões dessas práticas no contexto familiar
dessas crianças. Como sujeitos da pesquisa, teremos um variado grupo de participantes que
serão fundamentais para atingirmos os objetivos definidos. Assim, embora o nosso foco seja a
família, além de escutar algumas delas, juntamente com as crianças egressas, ouviremos as
professoras, a coordenadora pedagógica da instituição e a responsável pela biblioteca. No

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tocante à participação das crianças na pesquisa, consideramos de fundamental importância,
visto que se trata do processo de formação leitora delas. Nesse sentido, concordamos com
Carvalho e Müller (2010) ao destacarem a relevância das próprias crianças terem seus pontos
de vista considerados nas investigações científicas que tratam de temáticas que as envolvem.
Os autores coadunam com uma perspectiva ética e metodológica em que as pesquisas sejam
realizadas com a participação das crianças e não somente sobre elas. Nesse contexto,
compreendemos a necessidade de um conjunto de procedimentos éticos específicos que, de
acordo com Fernandes (2016), incluem desde a apresentação da pesquisa, o preenchimento do
Termo de Assentimento Livre e Esclarecido pelas crianças e do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido por seus pais e/ou responsáveis, até a devolutiva dos resultados. A coleta de dados
será realizada a partir da consulta de documentos que orientam o fazer pedagógico da UAEI,
da aplicação de um questionário junto às famílias para traçar o seu perfil socioeconômico, e de
entrevistas semiestruturadas (RICHARDSON, 1999), com todos os participantes adultos, por
meio da plataforma Google Meet. Pensando nas especificidades das crianças, optamos pela roda
de conversa (ALESSI, 2014). Tal instrumento possibilitará maior interação entre pesquisadora
e crianças por se tratar de uma prática recorrentemente vivenciada pelas crianças na escola. A
análise dos dados será realizada com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise
de Conteúdo, caracterizada por Bardin como “uma técnica de investigação que tem por
finalidade a descrição objetiva, sistemática e qualitativa do conteúdo manifesto da
comunicação” (BARDIN, 2016, p. 19). Acreditamos que esta pesquisa nos ajudará a
compreender a importância das práticas de leitura literária realizadas nos contextos escolar e
familiar das crianças da Educação Infantil e as relações estabelecidas por elas, posteriormente,
com o livro, a leitura e o texto literários. A pesquisa também poderá contribuir com professores
e pesquisadores que se preocupam com a formação do leitor literário desde a Educação Infantil
e também para que familiares possam entender sua importância na formação de suas crianças.

Palavras-Chave: Práticas leitoras; Educação Infantil; UAEI; Literatura infantil; Família.

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DIÁSPORA, DEPRESSÃO E RETORNO: O CAMINHO DE CASA E
REINO TRANSCENDENTE DE YAA GYASI

Paula de Sousa Costa


Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz

Resumo: O mundo tem passado por crises como a pandemia da Covid-19 e guerras no Oriente
Médio e na Europa – recentemente, com o conflito entre Rússia e Ucrânia - que geram grandes
problemas como deslocamentos, traumas e transtornos socioemocionais. Dessa forma, discutir
a relação entre diáspora, trauma e depressão tem sua relevância no contexto mundial, uma vez
que a Organização Mundial de Saúde estima que cerca de mais de 300 milhões de pessoas no
mundo apresentam o quadro depressivo14. Na perspectiva literária, essa temática encontra
espaço ao longo dos movimentos, épocas e estilos. Desde a antiguidade, encontramos
referências dessa enfermidade mental quando o próprio Aristóteles faz essa relação entre a
melancolia e a genialidade ou quando o rei Salomão escreve o livro de Eclesiastes e afirma que
tudo no mundo é vaidade. O conceito de depressão, portanto, passou por várias transformações
até chegar à concepção que se conhece hoje. Na Antiguidade, pessoas que apresentavam esse
sentimento de profundidade e melancolia eram relacionadas à genialidade, tal como homens
que se destacavam nas artes, filosofia etc. Na Idade Média, passa a ser sinônimo de loucura e
surge o preconceito quanto à manifestação dessa doença. Na Renascença, período da
florescência das artes e ciências, a melancolia começa a ser vista em uma perspectiva biológica,
filosófica e psicológica. Somente depois do século XVIII, com as transformações da Revolução
Francesa e Industrial e o advento da psiquiatria, como um ramo da medicina, chega-se ao termo
e definição da depressão, tal como se conhece hoje. No âmbito de nossa pesquisa, apresentamos
a obra de uma escritora ganesa, Yaa Gyasi, uma vez que traz nas entrelinhas de suas obras a
conjuntura de diáspora, guerras e conflitos sociais, com muita sensibilidade. A autora ganesa
trabalha a depressão na perspectiva contemporânea de uma doença mental pelo viés biológico
e emocional, mas, também como produto dos males sociais. A partir deste ponto de vista,
levantamos a tese da existência de uma relação entre diáspora e depressão nas obras estudadas,
visto que as pessoas em experiência diaspórica estão mais suscetíveis a desenvolver o quadro
depressivo, devido à mudança de ambiente, cultura e principalmente aos conflitos gerados pelo
racismo e pela discriminação social. Dessa forma, esta pesquisa tem como corpus dois
romances: O Caminho de casa (2017) e Reino transcendente (2021) que revelam a problemática
do movimento diaspórico africano para o ocidente, destacando-se em ambas as narrativas, a
personagem feminina. No primeiro romance, vislumbramos uma história épica desse

14
Organização Pan-Americana da Saúde. Depressão. 2022. Disponível em:
https://www.paho.org/pt/topicos/depressao. Acesso em: 24/02/ 2022.

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movimento de migração do povo africano para a América, desde o início do tráfico negreiro até
os dias atuais. Enquanto na segunda narrativa, é contextualizada a vivência daqueles que
buscaram o ‘sonho americano’, mas encontraram uma realidade conturbada pelo preconceito e
pela violência. Diante dessa problemática, temos como perguntas de pesquisa: Como a mulher
negra é representada nos romances O Caminho de casa (2017) e Reino Transcendente (2021),
diante do contexto diaspórico? Como a depressão assume uma representação nas obras? Quais
aspectos dos romances apresentam um retorno à memória? Desenvolveremos nossas reflexões,
ancoradas nos estudos de Peres (2010), Ramos (2010), Mendes, Viana e Bara (2021) e Freud
(2006) sobre psicanálise e psicologia para fundamentar e compreender os aspectos que
configuram a história e concepção da melancolia e depressão. Para tratar da relação entre
trauma, racismo e doenças mentais abordaremos os estudos de Lacan (2002), o qual traz
relevantes proposições sobre o aumento do racismo pós-colonial dirigidos aos imigrantes. Com
o intuito de refletir a importância da escrita feminina na sociedade contemporânea, tomaremos
como base as ponderações de Zolin (2009) e Figueiredo (2020) que trazem significativas
contribuições sobre a escrita literária feminina emergente, como forma de dar espaço e voz às
mulheres. Maldonado-Torres, Bernadino-Costa e Grosfoguel (2018) dão-nos os argumentos
para discutir e embasar as reflexões pelo viés do pensamento decolonial e afrodiaspórico,
trazendo à tona a gama de conflitos desenvolvida nos dois romances, em uma perspectiva de
quebra de paradigmas construídos pelos moldes coloniais. Ainda Santos (2008) nos dá suporte
nessa discussão, pois traz relevantes contribuições acerca das diásporas históricas,
fundamentando essa importante temática e possibilitando a configuração de uma relação entre
a diáspora, trauma que gera depressão e o retorno à memória como um caminho a reconstrução
do ‘eu’. Desse modo, temos como objetivo geral deste estudo analisar a relação entre diáspora
e depressão pelo prisma da decolonialidade nas obras O Caminho de casa (2017) e Reino
transcendente (2021), da autora ganesa Yaa Gyasi, levando em consideração a conjuntura
sociocultural diaspórica em um mundo pós-moderno, mediante colonização e escravidão
presentes na narrativa. Nossos objetivos específicos são: a) Averiguar nos dois romances os
processos de desumanização dentro dos contextos de opressão característicos da colonialidade,
como o racismo, sexismo e violência; b) Investigar a relação entre o comportamento de
depressão e de movimento de diáspora, bem como, experiências traumáticas vividas e
manifestadas pelas personagens das obras em estudo; c) Analisar como as relações de gênero
se revelam diante do pensamento colonial patriarcal e a subalternidade da mulher; e, d)
Examinar a importância do resgate da memória para as personagens negras afrodescendentes,
enquanto sentimento de pertencimento e também como caminho para conhecer a própria
história. Este trabalho se justifica numa perspectiva social e acadêmica, uma vez que irá discutir
sobre a literatura de autoria feminina florescente, trazendo uma autora ganesa, jovem, mas com
dois romances aclamados pela crítica internacional, contribuindo dessa forma para os estudos
femininos de literatura, fortalecendo e reafirmando os laços que as palavras geram na nossa
sociedade. Entendemos, ainda, que este estudo pode possibilitar uma discussão sobre essas
obras no contexto nacional diante dos raros trabalhos realizados sobre a autora em nosso
território, destacando-se que não foram identificados trabalhos sobre Reino Transcendente
(2021), aqui no Brasil, sendo, portanto, este relevante pelo caráter de ineditismo. Outro aspecto
relevante desta pesquisa é trabalhar a relação entre diáspora e depressão, problemática sem
expansão de discussões no nosso meio acadêmico; logo, possibilita discussões e construção de
ideias expandindo os estudos dentro deste escopo. Este estudo delineia-se dentro dos
parâmetros de uma pesquisa qualitativa, pois busca analisar fatos sociais dentro do contexto

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literário realizando esse paralelo entre literatura e sociedade. Segundo os objetivos, classifica-
se como descritiva, pois discute e descreve a problemática do contexto diaspórico como
possível fonte para desenvolvimento do quadro depressivo nas obras estudadas. Também tem
cunho bibliográfico visto a necessidade de leitura de um acervo literário e crítico teórico a
respeito das temáticas já mencionadas anteriormente para coleta e análise de dados. Assim, no
primeiro capítulo, desenvolveremos um breve panorama histórico a respeito da melancolia e da
depressão, buscando enquadrar dentro da história secular e literária a construção das
concepções que passaram pelos séculos em um viés histórico e científico, discutindo como a
depressão passou a ser entendida como uma enfermidade mental. Além disso, será ilustrada
dentro do contexto artístico literário, a representação dessas transformações de pensamento e
conceituação revelando as ideias distintas entre os séculos. No segundo capítulo, discorreremos
acerca da diáspora, também trazendo um panorama histórico, mostrando que ainda é um
movimento recorrente em nossa contemporaneidade. Buscaremos elucidar também por meio
do pensamento decolonial, o qual possibilitará refletir sobre as questões sociais, econômicas e
políticas que influenciaram a marginalização do povo negro e afrodescendente. Ademais,
analisaremos a representação feminina nas obras dentro desse contexto de estar à margem da
sociedade e suscetível ao adoecimento do corpo e da mente. No terceiro capítulo,
averiguaremos como a autora delineia esse processo de reconstrução da identidade por meio de
um voltar para suas memórias, do encontro com sua história fundamentada em suas raízes
familiares. Os dois romances trazem referências que revelam personagens em suas buscas por
raízes africanas. Esse retornar à base, ao que formou sua identidade, consolida-se como um
fenômeno subjetivo e psíquico que nos leva a retomar os estudos sobre psicologia e psiquiatria.
Enfim, este trabalho contribui significativamente para compreensão da literatura como meio de
humanização e construção do conhecimento, além de disseminar e validar os escritos de autoria
feminina.

Palavras-chave: Literatura de autoria feminina; Diáspora; Depressão; Pensamento


Decolonial.

Referências

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Zouk, 2020. 384 p.

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Sigmund Freud. v. l.2, p. 99-122). Rio de Janeiro: Imago, 2006.

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LACAN, J. Televisão. Outros Escritos. Zahar: Rio de Janeiro, 2002.

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MALDONADO-TORRES, N. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões
básicas. Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Organizadores Joaze Bernardino-Costa, Nelson
Maldonado-Torres, Ramón Grosfoguel. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.

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https://www.paho.org/pt/topicos/depressao. Acesso em: 24/02/2022.

RAMOS, M. Narcisismo e depressão: um ensaio sobre a desilusão. Periódicos Eletrônicos em


Psicologia: Estudos de Psicanálise, Belo Horizonte, v. 34, n. 34, p. 71-78, dez. 2010. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372010000200010#2. Acesso
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SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes.
Epistemologias do Sul. 2009.

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http://books.scielo.org/id/yf4cf/epub/macedo-9788538603832.epub. Acesso em: 15/07/ 2021.

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DOUTORADO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS


LINGUÍSTICOS

Linha 3: Ensino de línguas e formação docente

Linha 4: Práticas sociais, históricas e culturais


de linguagem

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LINHA 3 - ENSINO DE LÍNGUAS E FORMAÇÃO DOCENTE

DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES DE LINGUAGEM


DE ALUNOS AUTISTAS DO ENSINO FUNDAMENTAL ANOS
FINAIS: ADAPTAÇÕES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS DE
LEITURA

Alachermam Braddylla Estevam Sales


Orientadora: Prof. Dra. Maria Augusta Gonçalves de Macedo Reinaldo

Resumo: Diversos autores, entre eles Leffa (2011) e Moita Lopes (2006), descrevem a
Linguística Aplicada (LA) como um campo de investigação (in)disciplinar que aborda questões
sociais envolvendo as diferentes formas de linguagem e que dialoga com outras áreas do
conhecimento para compreender questões do mundo atual. No âmbito do processo de ensino de
línguas, podemos destacar que uma dessas questões se refere à formação do professor para
realidades escolares que apresentam cada vez mais diversidades de diferentes naturezas. Nos
dias atuais, por exemplo, mais estudantes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista
(TEA) estão ingressando no universo escolar. Segundo dados do CDC (Center of Diseases
Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe um caso de
autismo a cada 110 pessoas. Estima-se que o Brasil, com seus 200 milhões de habitantes, possua
cerca de dois milhões de autistas. Apesar da quantidade de pessoas que possuem o diagnóstico,
boa porcentagem da população mundial não conhece e não está apta a lidar com essa realidade.
Dentre os incluídos nessa porcentagem, destacamos os professores e outros profissionais da
educação. No caso dos professores de Língua Portuguesa, essa realidade pode ser consequência
da lacuna nos cursos de formação inicial de Letras no país. Alia-se a essa lacuna a falta de
investimento em cursos de formação continuada com fornecimento de material didático-
pedagógico sobre a temática, bem como da falta de investimentos na educação básica, em
termos de estrutura física, docente e pedagógica das escolas. Na busca por propostas de avanços
para o ensino de línguas, deparamo-nos com inúmeras discussões a respeito do papel da escola
no desenvolvimento de competências linguísticas dos alunos. Para tanto, a escola precisa
desenvolver práticas pedagógicas que auxiliem na apropriação da linguagem em função da
produção de conhecimentos necessários ao desenvolvimento humano. Partindo desse princípio
e da relevância da temática para a formação docente, entendemos que a prática pedagógica do
professor de língua deve estar pautada na valorização das diferenças e nos princípios de
individualização de ensino-aprendizagem como processos indissociáveis, que poderão auxiliar,
de maneira efetiva, os alunos no seu desenvolvimento. Orientando-nos por esse entendimento,
formulamos os seguintes questionamentos: 1) Que especificidades linguísticas devem ser
consideradas na elaboração de material didático-pedagógico para alunos autistas do Ensino
Fundamental Anos Finais, visando à sua inclusão no ambiente escolar? 2) Como as adaptações

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didáticas nos eixos do ensino da leitura podem contribuir para o desenvolvimento das
capacidades de linguagem de alunos autistas nessa fase da escolarização? Com o intuito de
responder a essas questões, temos como objetivo geral investigar a relação entre o processo de
elaboração e aplicação de material didático-pedagógico e o desenvolvimento das capacidades
de linguagem em leitura por dois alunos autistas do Ensino Fundamental Anos Finais em uma
escola pública municipal de ensino regular. Para atingir esse objetivo, de modo específico,
precisaremos: a) Identificar e descrever as dificuldades de leitura de dois alunos autistas na
disciplina Língua Portuguesa; b) Elaborar e implementar adaptações didáticas fundamentadas
nas capacidades de linguagem para esses alunos autistas do Ensino Fundamental Anos Finais;
c) Analisar os possíveis efeitos/impactos dessas adaptações didáticas sobre o desenvolvimento
das capacidades de linguagem, relacionados com a leitura desses alunos. A temática enfocada
nessa pesquisa tem motivação de ordem prática e teórica. A primeira resulta de uma experiência
pessoal da pesquisadora enquanto professora substituta de uma escola particular da cidade de
Campina Grande-PB, ao deparar-se com a realidade de duas turmas do 9º ano, com três alunos
autistas. Essa situação a motivou buscar conhecimentos e possibilidades didático-pedagógicas
que a ajudassem no ensino-aprendizagem daqueles alunos em salas de aulas regulares, com
média de 40 alunos. A dificuldade em lidar com a situação decorreu, principalmente, da falta
de conhecimentos da professora sobre como adaptar as atividades, de forma que melhor
atendessem às dificuldades (por exemplo, a não compreensão de enunciados com instruções ou
solicitações simples), em decorrência da falta de concentração nas aulas e atividades que
despertassem o interesse dos alunos em questão. A motivação de ordem teórica se alia às
inquietações iniciais, e está representada pela necessidade de suporte teórico, didático e
pedagógico para profissionais da educação, incluindo professores de Língua Portuguesa do
Ensino Fundamental Anos Finais, visto que boa parte dos cursos de licenciatura ainda não
aborda o TEA na grade curricular. Por essa razão, a pesquisa caracteriza-se como uma ação
docente frente aos desafios enfrentados no ensino e aprendizagem de leitura e produção de
textos por alunos autistas em salas de aula regulares. Portanto, a tese inicial é a de que o
processo de elaboração/adaptação didático-pedagógica voltado para as dificuldades e
necessidades específicas possibilita o desenvolvimento das capacidades de linguagem de alunos
autistas. Em função das questões formuladas e dos objetivos pretendidos, estabelecemos três
eixos teóricos. O primeiro constitui-se dos estudos aplicados sobre formação do profissional de
línguas, associados aos estudos e dispositivos legais sobre educação inclusiva no Brasil. Para
isso, recorreremos aos trabalhos de Kleiman (2019), Fernandes e Silva (2016), Celani e
Medrado (2017), entre outros. O segundo constitui-se de definições sobre o autismo, adotadas
em vários campos de estudo do tema, os quais têm contribuído para a compreensão da
identidade das pessoas autistas, do seu processo de escolarização e da sua constituição através
da abordagem histórico-cultural, sob a perspectiva Vygotskiana (2007). E no terceiro eixo
refletiremos sobre as contribuições de autores interacionistas sociodiscursivos
(BRONCKART,1999; MAGALHÃES E CRISTÓVÃO, 2018; LOUSADA, 2020), que
abordam o ensino de língua centrado no gênero como ação de linguagem e suas implicações
para a construção de material didático contemplando as capacidades de linguagem do aprendiz.
Em termos metodológicos, a pesquisa relaciona o trabalho do professor, a linguagem, o ensino
e a aprendizagem de Língua Portuguesa. Inserindo-se no paradigma científico, não positivista,

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caracteriza-se como qualitativa, de cunho colaborativa (MAGALHÃES, 1994): a professora e
a pesquisadora serão coparticipantes ativos e sujeitos na construção do conhecimento, tendo em
vista o aprimoramento profissional de ambas. No que concerne à geração de dados, a pesquisa
compreenderá quatro etapas, conforme caracterização a seguir: Etapa I, caracterizada como
exploratória, coletamos dados acerca do ambiente e dos sujeitos da pesquisa, realizamos um
mapeamento de nosso campo de pesquisa, ou seja, do ambiente escolar em que a proposta
interventiva será realizada (THIOLLENT, 2011). A coleta do material (Livro didático,
atividades elaboradas pela professora-colaborador e respostas dos alunos) ocorreu no período
de maio a dezembro de 2021, em aulas que aconteciam nas terças e quintas-feiras no contexto
de ensino remoto. Nosso público-alvo é constituído por dois alunos com TEA, ambos com 13
anos de idade de uma turma do 7º ano do período diurno da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Rômulo Gouveia da cidade de Campina Grande-PB. A comunidade onde a escola
está inserida é de nível socioeconômico baixo, e os alunos, majoritariamente, da zona urbana,
são oriundos de regiões periféricas; Etapa II, diagnóstica em desenvolvimento, realizamos
entrevistas semiestruturadas com os pais dos alunos participantes e com a professora
colaboradora da pesquisa. As respostas dadas pelos participantes servirão de subsídios às
reflexões na triangulação dos dados, principalmente, no que concerne ao posicionamento desses
sujeitos em relação ao contexto socio-histórico-cultural dos participantes. A pertinência dessa
etapa está na compreensão de que o contexto sociocultural que envolve o universo escolar se
destaca como de fundamental importância para a elaboração de atividades didáticas
interventivas que visem o desenvolvimento das capacidades de linguagem relacionadas ao eixo
leitura dos alunos autistas. Além disso, nessa fase também examinamos as observações das
aulas e catalogamos as principais dificuldades encontradas relacionadas ao contexto de ensino
e aprendizagem da leitura e produção de texto pelo público-alvo da pesquisa. Como resultado
desse levantamento, as dificuldades encontradas na efetivação do trabalho com a leitura dizem
respeito a condições de trabalho da professora e a condições externas ao trabalho de sala de
aula. A professora-colaboradora relatou que os maiores empecilhos que enfrenta se devem à
falta de interesse dos alunos pela leitura, as dificuldades em relação às interpretações textuais,
a condições de trabalho adequadas e de recursos didáticos, limitando seu trabalho ao uso, quase
exclusivo, do livro didático. No ensino remoto, vários problemas foram relatados, por não
possuírem um dispositivo de uso próprio, sendo na maioria das vezes o aparelho eletrônico de
seus pais que servia como suporte para assistirem às aulas. Também foi perceptível na
observação das aulas que o trabalho com a efetivação da leitura se torna lento e muitas vezes
desprovido de avanços significativos pela questão da assiduidade nas aulas, o que
impossibilitava um trabalho de intervenção mais específico e intensivo da professora-
colaboradora com os alunos. Assim, buscamos um aprofundamento teórico por meio da
retomada de estudos que sustentam essa pesquisa, tendo como foco os problemas detectados
no contexto observado; Etapa III, caracterizada como interventiva de cunho colaborativo, a qual
consistirá na elaboração de adaptações didático-pedagógicas resultantes da observação das
aulas, conversa com família e com a professora além da análise do contexto. Nessa etapa, serão
desenvolvidas Sequências Didáticas voltadas para as prescrições da Secretaria de Educação
Municipal quanto às temáticas previstas para o(s) bimestre(s) letivo(s) em foco no momento da
intervenção; Etapa IV, voltada às análises dos resultados obtidos na Etapa III, tendo em vista

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os dados coletados, pois retomaremos o diagnóstico estabelecido na primeira etapa e o
confrontaremos com a análise do processo de implementação das adaptações didáticas, tendo
como objetivo evidenciar o desenvolvimento das capacidades de linguagem do público-alvo
dessa pesquisa.
Palavras-Chave: TEA; Capacidades de linguagem; ISD; Leitura;

Referências

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Línguas. In: FORTKAMP, M.B.M.; TOMITCH, L.M.B. Aspectos da Lingüística Aplicada: Estudos
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prática crítica. The Especialist, v. 19, n. 2, p. 169-184, 1994.

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MULTIMODALIDADE NAS INTERAÇÕES TELECOLABORATIVAS
INTERCULTURAIS: UM ESTUDO DE CASO

Ana Caroline Pereira da Silva


Orientador: Prof. Fábio Marques de Souza
Coorientador: Prof. Dr. Manassés Morais Xavier

Resumo: As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (doravante TDICs)


possibilitaram um aumento considerável na produção e uso de textos multimodais. Cores, luzes,
sons e movimentos passaram a compor os textos nos ambientes de interação digital. No
contexto atual, as interações em que predomina a fala também foram ampliadas pelo uso das
tecnologias digitais. Por meio dos smartphones, por exemplo, é possível realizar vídeo
chamadas para ouvir e ver a pessoa com quem estamos conversando. Conforme Kress e Van
Leeuwen (1998, p.186) “Todos os textos são multimodais. A língua sempre tem de ser realizada
por meio de, e vem acompanhada de, outros modos semióticos”. Concordamos com a afirmação
dos autores, porém nosso foco está relacionado à forma como as TDICs alteraram nossa
maneira de efetuar a comunicação em sociedade e, consequentemente, como isso afetou os
processos de ensino-aprendizagem que ocorrem dentro e fora das escolas. Ao considerarmos
este fato nas aulas de línguas adicionais15, em que atuamos como docentes, e ao longo da nossa
pesquisa de mestrado, enfatizamos os textos multimodais que circulam no ambiente digital e
que são produzidos a partir da manipulação de programas específicos no contexto do “Projeto
Intercult: aprendizagem colaborativa e intercultural de línguas via teletandem”. Diante da nossa
vivência como docente e das pesquisas já realizadas sobre o contexto de ensino-aprendizagem
em teletandem (TELLES, 2009; BENEDETTI, 2010; RAMMÉ, 2014; SILVA, 2018),
compreendemos que essa prática é um terreno fértil para realização de pesquisas que
contribuam para ampliar as possibilidades de ensinar e aprender línguas adicionais. Além disso,
através do teletandem, é possível aproximar pessoas com culturas diferentes que estão
separadas por milhares de quilômetros, proporcionando intercâmbios que só seriam possíveis
através de viagens que são inacessíveis para alguns estudantes de línguas. Nos últimos anos,
foram desenvolvidas diversas pesquisas de mestrado e doutorado a respeito do teletandem no
contexto brasileiro. A maioria delas está relacionada às interações realizadas na UNESP como
parte das atividades que acontecem dentro do projeto temático FAPESP- Teletandem Brasil:

15
Utilizamos, assim como Souza (2015), ao longo deste trabalho, o termo “adicionais”, e não “estrangeiras”, para
nos referirmos às línguas não maternas porque consideramos que o termo “estrangeiro” tem conotações que
remetem ao que é alheio, diferente, oposto. A partir da observação de Almeida Filho (1993, p, 15) de que aprender
Língua Estrangeira “é crescer numa matriz de relações interativas na língua-alvo que gradualmente se
desestrangeiriza para quem a aprende” e tendo em vista que a língua, para ser aprendida precisa se desestrangeirizar
num complexo contínuo, julgamos mais adequado nomeá-la como uma língua adicional, e não estrangeira.

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Línguas estrangeiras para todos16. Para Telles (2009, p.18), essa iniciativa “liberta nossos
jovens do isolamento deste país com dimensões continentais. Além disso, também, abre espaços
para que eles entrem em contato intercultural com a diversidade das múltiplas culturas
existentes em nosso planeta”. Esse contato entre múltiplas culturas foi descrito em nossa
pesquisa de mestrado, desenvolvida no âmbito do Intercult17 (SILVA, 2018). A partir da
referida investigação, entramos em contato com o corpus de análise da pesquisa18, composto
por vários materiais, a saber, trechos transcritos a partir das filmagens das interações, textos
multimodais produzidos pelos participantes ao longo das atividades propostas e fichas de
acompanhamento. Os vídeos das interações entre os participantes da pesquisa, uma estudante
brasileira e um estudante argentino, chamaram a nossa atenção. A apreciação deste material
possibilitou que percebêssemos uma série de gestos, expressões faciais, posturas etc. que
desempenharam papel imprescindível para as interações. A multimodalidade foi essencial às
negociações feitas pelo par, bem como à compreensão das mensagens ao longo das conversas.
Essa percepção motivou uma busca por investigações que analisassem essas especificidades da
linguagem no contexto de aprendizagem de língua adicional em telecolaboração. Assim,
realizamos uma busca no banco de teses e dissertações da CAPES, em abril de 2020, utilizando
o termo teletandem e encontramos cinquenta trabalhos. Nas pesquisas encontradas é possível
observarmos várias referências aos recursos multimodais. Moretti (2020) ressalta os gestos
como estratégia de interação, ao longo do processo de ensino-aprendizagem; Kaneoya (2008)
assegura que através do teletandem é possível que os parceiros reconheçam os gestos,
expressões faciais, hesitações um do outro e que essas manifestações funcionam como feedback
entre os parceiros; Zakir (2015, p.148) afirma que “Ao assistir aos vídeos das interações,
elementos como postura, gestos, imagens, entonação da voz, movimentos do rosto e do corpo
na webcam ajudam a compor a caracterização da dinâmica das interações”. Realizamos também
uma busca no Google acadêmico e localizamos o artigo de Debras e Hourdel (2019) sobre
gestos no contexto de ensino-aprendizagem em tandem face a face, produzido na França.
Assim, surgiu a inquietação que originou nossa pergunta de pesquisa: Que contribuições a
multimodalidade aporta às relações dialógicas e interculturais nas interações telecolaborativas
para ensino-aprendizagem de línguas adicionais? Inicialmente, levantamos a tese de que as
negociações feitas pelos interagentes, o entendimento das mensagens ao longo das conversas,
as tensões geradas a partir do encontro das duas culturas, a manutenção das parcerias, entre
outros acontecimentos são possíveis com a influência da multimodalidade como integrante das
relações dialógicas e interculturais que ocorrem no teletandem. Estabelecemos, então, como

16
O projeto teletandem teve início em 2006 e ganhou visibilidade internacional, pois apresentou evidências de
potencial educacional, colaborativo e linguístico, ao promover contato intercultural on-line e comunicação por
videoconferência entre estudantes de línguas adicionais. Disponível em: http://www.teletandembrasil.org/brief-
history.html. Acesso em: 12 de abril de 2017.
17
Na região Nordeste, desde 2015, está em andamento o projeto de extensão interinstitucional “Intercult:
aprendizagem colaborativa e intercultural de línguas via teletandem” concebido e coordenado pelo Professor Dr.
Fábio Marques de Souza.
18
A referida pesquisa de mestrado intitulada Multimodalidade na aprendizagem colaborativa de português e
espanhol como línguas adicionais teve como objetivo promover e analisar a aprendizagem colaborativa e
intercultural entre adolescentes brasileiros e argentinos via teletandem, com a mediação das TDICs, de professores
e textos multimodais.

ISSN - 2526-5024 204


objetivo da nossa proposta de investigação, analisar as contribuições que a multimodalidade
aporta às relações dialógicas e interculturais nas interações telecolaborativas para ensino-
aprendizagem de línguas adicionais/estrangeiras. Temos como objetivos específicos:
compreender como o estudo da multimodalidade pode enriquecer as pesquisas em tandem e
contribuir com o processo de mediação desenvolvido pelos professores, nas atividades
telecolaborativas de ensino-aprendizagem de línguas adicionais. Para alcançarmos nossos
objetivos, optamos por realizar uma pesquisa qualitativa e exploratória, através de um estudo
de caso com base em Leffa (2006) e Moita Lopes (2006). O material para mapeamento e análise
da multimodalidade será um corpus (12 horas de gravação das interações) que foi originado
através do Projeto Intercult. Mapearemos os recursos multimodais utilizados pelos interagentes
e elaboraremos os panoramas multimodais através da ferramenta Eudico Linguistic Annotator
(ELAN)19. Ao discutirmos sobre o aspecto multimodal, lançaremos mão dos estudos
desenvolvidos por Kress e Van Leeuwen (2001). Para fundamentar nossas reflexões sobre a
perspectiva dialógica e intercultural iremos tomar por base as ideias de Bakhtin e o seu Círculo.
A metodologia de análise dos dados que adotaremos será baseada na Análise Dialógica do
Discurso para explorarmos os processos de negociação de sentido nos contextos
telecolaborativos e estruturarmos a análise dos recursos multimodais no Intercult.

Palavras-Chave: Multimodalidade; Relações dialógicas; Relações interculturais;


Telecolaboração.

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ISSN - 2526-5024 206


(RE)CONFIGURAÇÃO DO EIXO ANÁLISE LINGUÍSTICA/SEMIÓTICA
A PARTIR DA BNCC: SABERES DOS PROFESSORES DE PORTUGUÊS
DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Delane Cristina Galiza Lourenço


Orientadora: Profª. Drª. Denise Lino de Araújo

Resumo: No Brasil, os documentos parametrizadores e normativos de educação (LDB, PCN,


1998/1999/2000; DCN, 2001; OCEM, 2006) orientam para um currículo, em relação ao ensino
de Língua Portuguesa (LP), que deve abarcar fatores enunciativos e discursivos relacionados
às práticas da linguagem, de uso e reflexão, e não mais voltado apenas para o domínio da
gramática normativa/descritiva. Com base nesses pressupostos, o ensino de língua materna,
como um todo, passou por um redimensionamento no sentido de que as práticas de língua(gem)
devem ocorrer, de forma articulada, por meio da leitura, da escrita, da oralidade e da análise
linguística. Essa última, em particular, descrita inicialmente por Geraldi (1984) e Franchi
(1987), trouxe uma mudança significativa, pois tirou o foco do ensino de gramática tradicional
(normativa/prescritiva/conceitual), ao propor o trabalho com o texto em diversos níveis (textual,
discursivo, estilístico, metalinguístico) (GERALDI, 2001[1984]). Assim, motivou a reflexão
sobre o uso da linguagem em seus variados níveis e em diferentes situações, extrapolando o
nível da palavra e da frase, principais unidades de análise no estudo gramatical. Considerando
a prática de análise linguística (AL) como eixo articulador dos demais eixos de ensino, esse
componente está presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento curricular
homologado, em sua totalidade, em dezembro de 2018, de caráter normativo e que define as
aprendizagens para os alunos da educação básica. Esse documento ainda apresenta a semiótica
acrescida à análise linguística como um eixo de aprendizagem que concebe o texto em suas
diversas manifestações. A investigação acerca do tratamento dado ao eixo Análise
linguística/Semiótica (AL/S) na BNCC foi iniciada, no âmbito de nossas pesquisas, em nível
de mestrado (LOURENÇO, 2019). Nesse trabalho, constatamos que o documento resgata, de
forma pendular, aspectos historicamente introduzidos no ensino de língua). Contudo,
evidenciamos que a BNCC parece deixar uma lacuna no tocante à construção de uma proposta
de aprendizagem de AL/S que relacione tanto o que está previsto para ser aprendido dos
elementos estruturais da língua, quanto o que está previsto para ser aprendido dos elementos
textuais-discursivos. Assim como da delimitação do papel do professor no processo de ensino
e aprendizagem dos objetos de conhecimento. Assim, partimos da hipótese de que esse suposto
vazio deixado pela BNCC em relação ao eixo AL/S poderá ser preenchido pelas propostas
curriculares dos estados e/ou dos municípios, pela produção de materiais didáticos, e pela (re)
configuração dos saberes e do trabalho prescrito e realizado, a partir desse documento, pelo
professor, uma vez que a politica de ensino não depende exclusivamente de um documento
nacional oficial. Ademais, a BNCC orienta que “os conteúdos dos componentes curriculares
sejam contextualizados de acordo com a realidade dos sistemas de ensino” (BRASIL, 2018, p.

ISSN - 2526-5024 207


16), com “o intuito de permitir que os sistemas e as redes de ensino, as escolas e os professores
organizem seus currículos e suas propostas pedagógicas com a devida adequação aos seus
contextos” (BRASIL, 2017, p. 197, grifos nossos). Com isso, comungamos com a ideia de
Bunzen (2011) de que alguns aspectos históricos das práticas curriculares prescritas em
documentos oficiais têm forte implicação na seleção de saberes relacionados à escola. É
também o que nos apontam os estudos de Aparício (2006; 2007) e Silva (2008) que analisam,
no âmbito do trabalho prescrito e do realizado (cf. SACRISTÁN, 2000), como textos oficiais e
livros didáticos legitimados pelo Governo estariam instituindo determinadas concepções e
práticas sobre o ensino de gramática ou de análise linguística na escola. Sendo assim, essas
prescrições sobre o ensino de AL/S dar-se-á num “efeito cascata”, visto que os destinatários da
BNCC, intrinsicamente, são todos os envolvidos com a educação básica no Brasil,
principalmente os encarregados da implementação da BNCC, ocorrida a partir da construção
dos currículos locais (estaduais, distrital e municipais), da produção dos livros didáticos, dos
projetos políticos pedagógicos das escolas, dos programas de ensino dos professores e, por fim,
nas práxis da sala de aula. Portanto, dentre os destinatários envolvidos estão os professores da
educação básica, os quais são os responsáveis diretos pelo desenvolvimento dos alunos. Nesse
sentido, nossa tese é a de que os docentes são, a priori, os principais destinatários das
prescrições que formam a BNCC, uma vez que cabe ao professor o planejamento didático da
proposta normativa estabelecida na BNCC, nas propostas estaduais, nos projetos políticos
pedagógicos da escola, nos planos pedagógicos curriculares, com isso é relevante ressaltar a
necessidade de que haja um processo de reflexão sobre a (re) configuração do eixo AL/S
(BNCC, 2018) a partir dos saberes docentes e não apenas de apontamentos acerca da adequação
ou não do professor às propostas didáticas em voga. Diante disso, esta pesquisa está inserida
no campo transdisciplinar da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2001), na sua interface
com a educação, pois tratamos de contextos de ensino de língua, de currículo prescrito e de
saberes docentes, e para o qual a linguagem é vista como resultado dos significados socialmente
construídos em práticas discursivas. Por fim, este trabalho está vinculado à linha de pesquisa
“Ensino de Línguas e formação docente”, na área de concentração “Estudos linguísticos”, do
Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina
Grande e será norteada pelas seguintes questões☹i) Que concepção (ões) os professores de
português apresentam sobre o eixo AL/S a partir da BNCC? (ii) De que forma ocorre a
(des)continuidade do eixo AL/S na BNCC, no dizer e nos saberes mobilizados pelos professores
de português dos anos finais do ensino fundamental?(iii) Que possíveis efeitos de um workshop
podem ser observados no dizer e nos saberes didatizados pelo professor acerca da (re)
configuração eixo AL/S conforme a BNCC? Propomos como objetivo geral: investigar o dizer
e os saberes mobilizados pelos professores acerca do eixo AL/S, a partir da BNCC. Como
objetivos específicos, almejamos: a) identificar a(s) concepção(ões) de AL/S, a partir da
BNCC, no dizer e nos saberes mobilizados pelo professor; b) apontar a (des)continuidade do
eixo AL/S na BNCC, no dizer e nos saberes dos professores de português dos anos finais do
ensino fundamental; c) analisar os possíveis efeitos do workshop de formação docente na (re)
configuração do dizer e dos saberes dos docentes sobre o eixo AL/S conforme a BNCC. A
metodologia empreendida caracteriza-se como de natureza qualitativa e interpretativista, no
seio de uma Linguística Aplicada crítica e transdisciplinar (MOITA LOPES, 2001), através de

ISSN - 2526-5024 208


uma pesquisa descritiva (MOREIRA; CALEFFE, 2008), explorátória (GIL, 2002) e
colaborativa (BORTONI-RICARDO, 2011; IBIAPINA, 2008). Os principais subsídios teóricos
fundamentam-se nos estudos acerca dos Saberes Docentes e Formação do Professor (FREIRE,
1996; NÓVOA, 1992, 2009; PIMENTA, 1995; SHULMAN, 1987; TARDIF, 2014). Além de
estudos sobre currículo (SACRISTAN, 1998; SAVIANI, 1998, SILVA, 2017 entre outros),
análise linguística (GERALDI, 1984; MENDONÇA, 2006; BEZERRA e REINALDO, 2013)
e semiótica, no viés social e multimodal (HODGE e KRESS, 1988; KRESS e LEEUWEN,
2001; DIONÍSIO, 2014) com vistas ao alcance dos objetivos delimitados. Para geração de
dados, utilizaremos como instrumentos de pesquisa: o formulário de inscrição, o workshop
(com professores de Língua Portuguesa dos anos finais do ensino fundamental do Brasil), além
de análise de livros didáticos realizado pelos professores participantes, da elaboração de
atividades e roteiro de aprendizagem com base no eixo Análise linguística/Semiótica a partir
da BNCC. Assim, o presente estudo, além de ter como intuito aprofundar a investigação
realizada na dissertação (LOURENÇO, 2019), justifica-se pela necessidade de pesquisas sobre
textos que prescrevem o trabalho do professor (BNCC, livros didáticos, roteiros de
aprendizagem), mais especificamente, no tocante à prática de AL/S na BNCC. Conforme
podemos comprovar a partir do levantamento realizado por Giareta (2021) sobre a produção de
conhecimento no Brasil referente à BNCC entre 2014 a 2020. Além disso, o currículo é objeto
privilegiado de trabalho nos conselhos nacional, estaduais e municipais de educação, uma vez
que compete a estes estabelecer as diretrizes e bases curriculares dos diferentes níveis e
modalidades de educação. Com isso, as propostas curriculares e os livros didáticos têm um forte
impacto no ensino, pois orientam, de algum modo, o que ensinar, por que ensinar, como ensinar
e como avaliar. A partir dessa investigação e da produção do workshop pretendemos contribuir
para o entendimento do processo de (re)configuração da AL/S, num “efeito cascata”, ou seja,
da BNCC (2018) para os materiais didáticos que orientam o dizer e mobilizam os saberes
docentes e compreender como o binômio AL/S é retextualizado e didatizado pelos professores.

Palavras-Chave: Análise linguística/Semiótica; Base Nacional Comum Curricular; Saberes


docentes.

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PROFESSORES SURDOS NO ENSINO SUPERIOR E A CONSTRUÇÃO
DIDÁTICA DA LIBRAS COMO L2 CENTRADA O GÊNERO TEXTUAL

Girlaine Felisberto de Caldas Aguiar


Orientadora: Profa. Dra. Maria Augusta Goncalves de Macedo Reinaldo
Coorientadora: Profa. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto

Resumo: A pesquisa tem como objeto de estudo a docência universitária de surdos e a


construção de um saber-agir/saber-fazer sequência didática para o ensino de um gênero da
Libras como segunda língua (L2) destinado à prática de viso-leitura e de produção textual
sinalizada. A minha formação e trajetória no ambiente acadêmico como surda professora no
campo universitário foi a base fundamental para esse interesse. É nesse sentido que procuro
entender, da perspectiva desses sujeitos, surdos como eu, as suas experiências docentes
significativas. A justificativa está na busca de aprofundar meus estudos, como professora surda,
para ensinar a disciplina Libras para ouvintes nos diversos cursos de graduação. A pesquisa está
orientada pelas perguntas: 1) O que as falas dos professores sobre o conteúdo e metodologia
informam sobre sua visão de língua e ensino de língua? 2) como os surdos professores
mobilizam seu saber-fazer sobre o gênero entrevista com especialista para construção de uma
sequência didática considerando a viso-leitura e a produção sinalizada como competência e
habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos ouvintes? E 3) Quais as contribuições de uma
ação didática para os surdos professores colaboradores voltada para a construção de sequência
didática de Libras como L2 embasada no ensino centrado no gênero de divulgação científica,
no caso, entrevista com especialista? Para responder às questões de pesquisa, proponho como
objetivo geral: investigar o papel da docência universitária, centrada na metodologia de
construção de uma sequência didática para o ensino de Libras como L2 para graduandos
ouvintes. E como objetivos específicos, pretendo: - descrever a visão de língua e de ensino de
língua subjacente às falas dos professores sobre o conteúdo e metodologia utilizados para ensino
de Libras como L2; - identificar a abordagem adotada pelos professores na construção da
sequência didática de viso-leitura e produção sinalizada de um exemplar do gênero entrevista
com especialista; - explicar a presença de fatores culturais da Libras na construção de sequência
didática destinada a alunos graduandos ouvintes de Libras como L2, e – analisar a repercussão
sobre o agir docente com foco na construção de sequência didática no contexto de ensino de
Libras como L2. Nesta pesquisa, defendo a tese de que o saber docente na ação didática de
surdos professores colaboradores contribuirá para que outros surdos professores universitários
de Libras como L2 compreendam a discussão sobre a construção de sequências didáticas e
assim possam reconhecer as dimensões ensináveis de um gênero. Três eixos teóricos orientam
o estudo. O primeiro eixo está representado pelas contribuições do ISD, campo interdisciplinar
que reúne as contribuições das vertentes da análise/descrição de gênero textual (BRONCKART,
1999; 2006; 2008); da didática de línguas com foco na modelização didática do gênero (DE
PIETRO e SCHNEUWLY, 2003; DOLZ e SCHNEUWLY, 2004; MACHADO e
CRISTÓVÃO, 2006; CARNIN e ALMEIDA, 2015; BRONCKART, 2017; BULEA e
BRONCKART, 2017); e do agir docente (BRONCKART, 2006; MACHADO, 2007;
STROBEL, 2015, entre outros). O segundo eixo está constituído pelas discussões relacionadas

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ao professor surdo e ensino de Libras – L2 (GESSER, 2012; ALBRES, 2016), englobando estilo
e conteúdo do letramento visual (DONDIS, 2003); e o letramento visual em Libras na atuação
de professor surdo, sua aplicação a partir de ferramentas de ensino (LEBEDEFF, 2010;
TAVEIRA e ROSADO, 2017). O terceiro eixo se constitui do saber docente como experiências
e significativos para o professor universitário (TARDIF, 2014); de vídeos como objetos de
aprendizagem para o ensino de línguas (LEBEDEFF e SANTOS, 2014; LEBEDEFF, 2017); e
da visão sobre o ensino de L2, que envolve aprendizagem e aquisição (LEFFA, 1988). A
metodologia da pesquisa pode ser descrita sob três aspectos: (1) o tipo de pesquisa – qualitativa
(MALHERIOS, 2011) e colaborativa da pesquisa-ação (TAVEIRA e ROSADO, 2017); (2) o
lócus e os sujeitos colaboradores, representados por 10 professores surdos da disciplina Libras
para graduandos ouvintes, em 4 câmpus da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG):
Campina Grande (sete), Cuité (um), Patos (um) e Cajazeiras (um); e (3) as etapas da pesquisa e
constituição do corpus para análise: na primeira etapa, diagnóstica, uso dos seguintes
instrumentos: – a) questionário com questões de múltipla escolha e de resposta curta,
respondido após o preenchimento de um formulário enviado por meio do grupo no WhatsApp
(grupo oficial PROF. LIBRAS DA UFCG) e b) entrevista semiestruturada inicial,
contemplando: (I) dados dos professores universitários Libras; (II) aspectos da formação dos
professores; (III) perspectiva de ensino de Libras como L2 na Graduação; (IV) formas de
planejamento, material para aula e ministração de aula; (V) percepção dos professores surdos
como professores de alunos ouvintes; e (VI) proposta dos professores sobre a produção de
sequência didática a partir de um videotexto sinalizado – entrevista com um especialista. Os
dados resultantes dessa etapa I serão base para análises das concepções do letramento visual, de
formação, experiência com produção de sequência didática e ministração das aulas de Libras
como segunda língua para graduandos ouvintes. Na segunda etapa, intervenção
colaborativa/interativa/coletiva – curso de curta duração (30 horas-aula), sob a responsabilidade
da pesquisadora: foco na atividade didática orientada pelas contribuições sobre letramento
visual e modelização didática do gênero entrevista com especialista, esfera científica. Dados
complementares nos documentos prescritivos: atividades sinalizadas, roteiro de aula, didáticos
produzidos pelos professores surdos, antes e após a interação. Esses dados serão selecionados,
transcritos e interpretados a partir de categorias analíticas depreendidas do referencial teórico
que sustenta a Tese: - o trabalho do professor surdo sobre o ensino de Libras e as atividades
relacionadas à viso-leitura e à produção sinalizada, - implicações dos letramentos visual e
científico na intervenção do professor surdo (experiência visual, linguagem visual: verbal e não-
verbal, e signo visual como texto), o modelo didático de gênero e a construção de sequência
didática a partir de uma entrevista com especialista. Na terceira etapa, caracterizada como
avaliação, os dados gerados nas etapas I e II deverão complementar a pesquisa e será aplicado
mais um instrumento, entrevista final. Considerando necessidade de garantir a presença dos
professores, o curso será ministrado na modalidade remota experienciado positivamente durante
o período da pandemia de COVID-19 e possível de ser mantido para esta pesquisa. As
gravações, etapas I entrevista inicial e III entrevista final, serão na modalidade sinalizada,
plataforma Google Meet e/ou Zoom. Os resultados e impactos esperados, a partir desse projeto
de pesquisa, são discussão e ações relativas à: a) identificação do perfil do professor surdo para
o ensino de Libras como L2 para ouvintes graduandos no ensino superior; b) descrição da
experiência dos professores surdos no ensino de Libras como L2 para alunos ouvintes; c)
ressignificação pelos surdos professores a prática de ensino de L2 para graduandos ouvintes; e
d) produção científica com a divulgação dos resultados parciais e finais da pesquisa da tese.
Assim, esta pesquisa, se configura como uma possibilidade de atuação no ensino superior da
UFCG, favorecendo a ressignificação das práticas dos surdos professores de Libras como L2
da instituição.

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Palavras-Chave: Trabalho do docente surdo; Libras como segunda língua; Gênero
entrevista com especialista; Sequência didática; Letramento visual.

Referências

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LIBRAS NO ENEM: RETEXTUALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE
VIDEOQUESTÕES

João Batista Neves Ferreira


Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino Denise Lino de Araújo
Coorientadora: Profa. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto

Resumo: Desde o início dos anos 2000, o contexto paradigmático educacional na comunidade
surda brasileira passou por diversos processos de mudança nessas duas primeiras décadas do
século XXI. As reivindicações pela oferta de exames vestibulares em Língua Brasileira de
Sinais (Libras), especificamente a vídeoprova, são uma das pautas da comunidade surda
brasileira desde 2013 (REZENDE, 2020), pois a acessibilidade a materiais e provas em Libras
deveria existir desde a educação básica. No contexto educacional dos surdos, também quando
pensamos no ingresso no ensino superior, a ausência da Libras reflete ainda os anos de educação
de surdos no paradigma de negação do direito linguístico, o clínico-terapêutico. A exigência
pela oferta do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Língua Brasileira de Sinais
(Libras) resultou na conquista do modelo de vídeoprova, nosso objeto de estudo. Dessa forma,
o Enem em Libras e o processo de retextualização acontecido para sua criação teve a primeira
edição acontecida em 2017 em sua versão de teste e só nos anos seguintes este exame passou a
ser uma modalidade de prova possível para os candidatos surdos que fizerem a opção por seu
modelo sinalizado. As provas de 2017, 2018 e 2019 estão publicadas em versão integral na
plataforma para compartilhamento de vídeos (Youtube) e disponibilizadas também no site do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP
(http://enemvideolibras.inep.gov.br/). O motivo pelo qual escolhemos abordar o tema é o desejo
de compreender como as estratégias de retextualização se comportam de acordo com as
disciplinas e conteúdos contidos no Enem 2019. Propomos um estudo e análise de quais são as
estratégias de retextualização acontecidas na vídeoprova sinalizada e pelo procedimento de
descrição de semelhanças e diferenças entre as áreas de conhecimentos, compreender como
funciona esse processo. A partir de nossas considerações iniciais, temos como perguntas de
pesquisa: Como acontece o processo de retextualização da prova Enem 2019? Como se
comportam as vídeoquestões das áreas de conhecimentos: Ciências Humanas, Ciências da
Natureza, Linguagens e Códigos e Matemática ao serem vertidas para a Libras? A pesquisa
possui como objetivo geral analisar e explicar os processos de retextualização de vídeoquestões
na prova em Libras do Enem no ano de 2019. Para isso, definimos como objetivos específicos:
a) Definir os processos de retextualização acontecidos para a construção de vídeoquestões da
prova do Enem para a Libras; b) Caracterizar os aspectos constitutivos das vídeoquestões nas
disciplinas Matemática, Português, Biologia e História; c) Relacionar os processos de
retextualização (de disciplinas) aos conteúdos avaliados no Enem. Para distinguir os processos
no primeiro objetivo específico consideramos a retextualização a partir da ideia de transposição
de questões do texto impresso em língua portuguesa (em que há o papel como suporte) e o texto
visual em Libras (suporte em vídeo). Para a caracterização no segundo objetivo específico
levaremos em conta descrever os elementos multimodais no corpus, dentre eles o suporte de
texto (escrito), uso de imagens e aplicação/estratégia da sinalização. Para o terceiro objetivo
específico pretendemos identificar e analisar semelhanças e/ou diferenças de processos entre as
áreas de conhecimento investigadas. Para tanto, nossa pesquisa buscará referencial teórico em

ISSN - 2526-5024 217


diversas áreas da linguística e da produção audiovisual, a saber: a retextualização, a
multimodalidade, os gêneros textuais em diálogo direto com a estrutura da língua de sinais e a
produção audiovisual que pode ser utilizada para a acessibilidade dos surdos ao conteúdo da
prova. Para tal, baseamo-nos no modelo do gênero prova, mas também nos processos de
retextualização e recursos multimodais que passam a configurar esse gênero quando se trata de
uma prova gravada em vídeo. Assim, vimos com Marcuschi (2008, 2010) que a retextualização
pode ocorrer tanto entre textos escritos, quanto entre textos orais. Nessa mesma esteira,
Travaglia (1993) coloca que a retextualização é uma nova textualização, isto é, um processo de
transformação de um texto em outro do mesmo gênero ou de gênero diferente. Ao tratarmos do
conceito de multimodalidade, faremos pensando em tecnologias digitais e como diferentes
formas de linguagem – escrita, oral, visual – em interação podem ser utilizadas para criação do
mesmo Exame Nacional, mas em vídeoprova (DIONÍSIO, 2005; 2014; KRESS; VAN
LEEUWEN, 2009; ROJO, 2012). Todas essas diferentes formas de linguagem são consideradas
quando pensamos nas potencialidades das tecnologias para as práticas de ensino que explorem
a visualidade na cultura surda e língua de sinais (LACERDA; LODI, 2014; ROJO, 2009, 2012;
ROJO; MOURA, 2012). Segundo Gil (2002), é preciso considerar como os procedimentos
metodológicos são utilizados. Assim, cada tipo de pesquisa ou diálogo do pesquisador com os
dados pressupõe um método pelo qual ele encaminha o estudo do tema de interesse. Desse
modo, os fundamentos metodológicos e a natureza da pesquisa estão apoiados nas
argumentações de Bogdan e Bilken (1994), Esteban (2010), Gil (1994), Cervo, Bervian e Silva
(2007), Esteban (2010), Kozinets (1998, 2010), Amaral, Viana e Natal (2008), Silveira e
Córdova (2009), sendo esta uma pesquisa de abordagem qualitativa conforme Ludke e André
(2015), podendo ser caracterizada como aplicada, documental, netnográfica. A pesquisa será
feita em plataforma virtual, especificamente no site do INEP, onde estão disponíveis as provas
em Libras do Enem 2019. A escolha do Enem 2019, se deu, inicialmente, a partir de uma análise
assistemática, pois esse exame, especificamente, parece apresentar uma mudança de modelo
com relação ao Enem escrito e às gravações das provas em Libras dos anos 2017 e 2018.
Percebem-se aperfeiçoamentos no novo modelo de material e apresentação de conteúdo
materializado nas suas vídeoquestões, ou seja, a apresentação dos enunciados e opções de
respostas da vídeoprova em Língua Brasileira de Sinais funcionam de modo diferente das
edições anteriores. Neste trabalho inicial, nosso procedimento de conhecimento do corpus de
estudo se deu a partir da funcionalidade da internet, que permite assistir aos vídeos, reconhecer
a sua organização, sua produção e a edição das vídeoquestões. De posse das vídeoquestões
nosso trabalho será identificar os processos de retextualização, seus aspectos multimodais e
estratégias do audiovisual. Os dados coletados serão constituídos de um quadro de disciplinas
nas quatro áreas abordadas no exame: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências
Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas
Tecnologias, especificamente nas disciplinas Português, História, Biologia e Matemática. Pelo
aspecto interdisciplinar da prova, foi necessário realizar a triagem das vídeoquestões (VQ) de
cada conteúdo da área de conhecimento. Assim, quanto às disciplinas coletamos aleatoriamente
as vídeoquestões em Libras no canal do INEP, disponíveis em plataforma virtual pública e
possível de ser acessada, de modo a contemplar todas as áreas do conhecimento, visto que os
princípios de construção são os mesmos e replicáveis em todas elas: a retextualização que
ocorre na tradução do texto escrito para a Libras e nos elementos multimodais. De um total de
180 questões e suas respectivas alternativas, selecionamos nove (VQ17, VQ19, VQ41, VQ53,
VQ98, VQ99, VQ159, VQ168, VQ170) como objetos de nosso estudo, em função de uma
prévia percepção da presença, ou no mínimo predominância, de alguns elementos multimodais
na construção das videoquestões da prova em Libras, em que acredita-se na visão do
pesquisador surdo, se tratarem das que melhor ilustram esta pesquisa por enfatiza-los e

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possuírem o claro uso destes aspectos, partilhados por todas ou pela maioria das videoquestões,
características essas relacionáveis aos processos de retextualização. Para facilitar a coleta de
dados e a observação sistemática da quantidade de vídeoquestões por área e conteúdo, por meio
da ferramenta Print Screen capturamos as telas das cenas desses vídeos que consideramos
relevantes para representar nossa análise. As vídeoquestões foram selecionadas tendo em vista
os itens examináveis dos processos de retextualização e de utilização dos elementos
multimodais (texto escrito, imagens e aspecto da sinalização), sejam eles presentes ou não. A
pesquisa realizar-se-á com verificação da estrutura desenvolvida com a sistemática análise das
vídeoquestões, buscando por semelhanças e diferenças que ocorrem no momento da construção
das questões sinalizadas, no processo de retextualização do texto escrito para o sinalizado e na
utilização dos modos de registro e edição utilizados para os elementos multimodais da prova.
Entrevemos em nossas primeiras análises que as perguntas apresentam uma estrutura com
recursos multimodais e características de retextualização, das quais mostram-se dentro das
operações descritas por Marcuschi (2008, 2010) de acréscimo, reformulação, substituição,
adaptação e reordenação. São acrescidas ao gênero vídeoprova em Libras por meio da operação
de acréscimo, as legendas, imagens e gráficos.

Palavras-Chave: Vídeoprova; ENEM 2019; Libras; Retextualização.

Referências

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ISSN - 2526-5024 220


SABERES DOCENTES E TECNOLOGIA DIGITAL EM CONTEXTO
DE ENSINO REMOTO

Joice Élida Alves Gonçalves


Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael

Resumo: Durante a pandemia do COVID-19, muitas escolas de educação básica no Brasil


precisaram se reinventar e buscar meios para fazer com que os estudantes permanecessem
aprendendo, ainda que não da mesma maneira, porém, amenizando, assim, os prejuízos
suscitados pela suspensão de aulas presenciais que ocorreu em todo o país, além de outras
nações. Com a notável popularização e acesso relativamente facilitado das tecnologias digitais
aos estudantes, inúmeras redes de ensino básico utilizaram meios virtuais para alcançar os
discentes e fornecer-lhes subsídios com vistas à obtenção de conhecimento e prosseguimento
do ano letivo. Assim, o ensino remoto20 foi uma alternativa encontrada diante da situação
enfrentada, embora saiba-se que vários alunos ficaram excluídos desse processo, por exemplo,
por não terem acesso à internet. No interior do Ceará, a 17ª Coordenadoria Regional de
Educação (CREDE17), em março de 2020, orientou que os professores passassem a também
fazer uso das tecnologias digitais como forma de minimizar os danos relativos à aprendizagem
que estivessem por vir. Nesse contexto, acredita-se que foi um desafio para professores de
Língua Portuguesa, bem como, para professores de outros componentes curriculares, os quais
foram, de certa forma, surpreendidos ao precisarem adequar suas práticas de trabalho e
propostas de ensino às telas e dispositivos digitais sem que houvesse preparo prévio para isso.
Vale ressaltar, ainda, que no interior do estado, com a escassez de recursos, como a má
qualidade da internet e a situação socioeconômica precária de grande parte dos discentes, esse
desafio tornou-se ainda maior, exigindo dos docentes tomadas de decisões e ações que
contribuíssem para a efetivação do ensino. Tardif (2010) apresenta diversos saberes que julga
intrínsecos ao trabalho docente, como por exemplo, os experienciais. Quanto a isso, entende-se
que parte dos saberes experienciais mobilizados durante o ensino remoto, deu-se com relação
ao trato com a tecnologia, ao passo que, ao usar a tecnologia digital disposta no ensino remoto,
o professor não buscou conhecimentos que fossem somente sistematizados nos compêndios e
diretrizes pedagógicas, mas demonstrou conhecimentos para além do que seria concebido como
recurso pedagógico habitual. Além disso, como professora que vivenciou o referido momento
histórico, entende-se que, no âmbito das práticas de ensino, ficou evidente que gêneros textuais
digitais ganharam ainda mais relevância, como no caso dos podcasts, videoaulas,
videoconferências, chats, entre outros, cuja multiplicidade de linguagens e as várias utilidades

20
Termo popularizado por Priscila Cruz, presidente executiva da ONG Todos Pela Educação, em entrevista ao
Roda Viva, programa da TV Cultura, em 13/04/2020. Disponível em: https://youtu.be/DJEKzpbXXzg. Acesso em
14 abr. 2020.

ISSN - 2526-5024 221


dos recursos tecnológicos, conforme Lévy (2004, p.27), além da interação e imprevisibilidade
das situações de ensino, contribuem para se considerar a docência, sobretudo nesse contexto,
como atividade complexa. Chega-se a essa reflexão porque, de acordo com Morin (2006, p.
13): a Complexidade “é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações,
determinações, acasos [...]”, e compreende-se que tais elementos caracterizaram fortemente o
período de ensino remoto. Dessa maneira, a partir da contextualização apresentada, e com base
nos estudos sobre Tecnologia digital, Saberes docentes e Complexidade, propõe-se como
principal pergunta de pesquisa, a seguinte: Quais saberes docentes predominaram no contexto
do ensino remoto, atrelados às tecnologias digitais, a partir da percepção de professores de
Português do Ensino Médio da CREDE 17 – Interior do Ceará, considerando a atividade
docente como atividade complexa, no referido momento histórico? Diante disso, como tese a
ser defendida nesta pesquisa, propõe-se que, para o ensino remoto se efetivar, há saberes
específicos requeridos na prática docente, envolvendo a tecnologia digital, considerando a
atividade docente como uma atividade complexa no citado contexto. Defende-se isso, porque,
durante o ensino remoto, professores de Língua Portuguesa da CREDE 17, interior do Ceará,
exploraram a tecnologia digital de diversas maneiras, e, através de suas perspectivas, pode-se
compreender os saberes docentes envolvidos e que se sobressaltam em tais situações de ensino.
Por sua vez, como forma de justificar este estudo, entende-se que a docência como atividade
complexa se contrapõe às ideias cartesianas e newtonianas que propõem uma linearidade nas
ações humanas e nos acontecimentos do mundo, e, consequentemente nas práticas de ensino,
uma vez que, Paiva (2006, p. 91), ao definir a natureza complexa, determina que “um sistema
complexo não é um estado, mas um processo. Cada componente do sistema pertence a um
ambiente construído pela interação entre suas partes.”. Seguindo essa lógica, as muitas
mudanças ocorridas nas configurações de ensino durante o período pandêmico, além da
subjetividade dos docentes, bem como dos discentes, a imprevisibilidade nos momentos de
ensino, as falhas dos recursos tecnológicos utilizados, a modificação no tempo de aula, e, como
um destaque: a transposição do conteúdo às telas, sem preparo prévio para isso por parte dos
docentes, são apenas alguns dos fatores que possibilita analisar-se a situação apresentada à luz
dos estudos da Complexidade. Pode-se justificar, ainda, este estudo, partindo de uma questão
subjetiva, já que, por assumir identidade tanto de professora, como de pesquisadora, e por ter
vivenciado o momento de pandemia, utilizando a tecnologia digital para o ensino de português
e inglês na educação básica, inquietações foram surgindo sobre como os demais professores
lidaram com a situação, tendo como foco os saberes docentes envolvidos e quais contribuições
pode-se filtrar disso para as práticas de ensino pós pandemia. Além disso, é importante
investigar perspectivas de professores de língua portuguesa sobre as alternativas criativas que
lhes surgiram e os recursos tecnológicos ou gêneros textuais digitais utilizados, já que não
houve formação prévia específica para isso, além de discutir se, segundo eles, o uso de tais
recursos contribuiu (ou não) para o processo de ensino/aprendizagem de língua materna, no
caso de o professor não estar fisicamente presente. É cabível, ao mesmo tempo, investigar as
práticas de ensino mediadas pelos recursos digitais que foram empreendidas para tentar fazer
com que os estudantes que possuíssem acesso à rede, dessem prosseguimento ao ano letivo,
pois, não há garantias de que situações como essa não voltem a acontecer, e, diante disso,
sistematizar o conhecimento relativo às potencialidades e/ou falhas das tecnologias digitais para

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o ensino de língua portuguesa, torna-se bastante relevante. Nesse seguimento, utilizar-se-á
como orientação teórica, as contribuições de autores tais quais: Morin (1997, 2006, 2010,
2011), Tardif (2010), Paiva (2006), Barton e Lee (2015), Rojo e Barbosa (2015), Coscarelli
(2019), Dudeney, Hockly e Pegrum (2016), Kenski (2012), Marcuschi (2005), Lévy (2004),
Gomes (2016), Leffa (2016), Chartier (1998), entre outros. Como objetivos desta pesquisa,
pode-se explicitar como o objetivo geral: Analisar os saberes docentes mobilizados no ensino
remoto com a tecnologia digital, a partir da percepção de professores de Língua Portuguesa do
Ensino Médio da 17ª Coordenadoria Regional de Educação – Interior do Ceará, considerando
a atividade docente como atividade complexa no referido momento histórico. Quanto aos
objetivos específicos, almeja-se: Identificar quais os saberes docentes envolvidos no ensino
remoto com a tecnologia digital, partindo da perspectiva de professores de Português da
CREDE 17, interior do Ceará, apontando elos com estudos teóricos pertinentes; Investigar
aspectos que permitam considerar a atividade docente, durante o ensino remoto, como atividade
complexa, tendo como base os estudos sobre o Paradigma da Complexidade; Investigar
potencialidades e/ou falhas dos recursos tecnológicos digitais para o ensino de língua materna,
ao considerar as que foram apontadas pelos professores participantes da pesquisa. Quanto ao
aspecto metodológico, compreende-se que a presente pesquisa se classifica como um estudo de
caso, já que, segundo Yin (2005) o estudo de caso é proposto quando o foco da pesquisa se
encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. Este
trabalho ainda se configura como uma pesquisa de abordagem qualitativa, que para Marconi e
Lakatos (2009) é uma metodologia que fornece análises mais detalhadas e consistentes sobre
estudos e investigações. Para o presente estudo, serão consideradas contribuições de professores
de Língua Portuguesa que, durante o ensino remoto de 2020/2021 estavam em exercício docente
em turmas de Ensino Médio, da 17ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação
do Estado do Ceará, pelo menos um professor de cada município. A saber, a referida CREDE
contempla escolas de munícipios situados no interior do Estado, os quais são: Icó, Umari,
Baixio, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira, Cedro e Várzea Alegre. Os dados serão coletados
mediante questionários e entrevistas e serão analisados sob a ótica da teoria de Análise de
Conteúdo, de Bardin (2011). Este estudo vincula-se à área de Estudos Linguísticos e à linha de
pesquisa Ensino de Línguas e Formação Docente, em que se compreende sua pertinência ao
configurar-se como uma forma de trazer para a academia questões relativas à educação básica,
estreitando esse elo, que, por vezes, parece tão distante, fornecendo aos estudos sobre ensino,
sobretudo de língua portuguesa, um aparato que favoreça adentrar um pouco mais ao universo
do nível de ensino em questão, ao mesmo tempo em que busca estabelecer parâmetros teóricos
bem definidos.

Palavras-Chave: Ensino remoto; Saberes docentes; Tecnologia digital; Complexidade.

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ENSINO REMOTO EMERGENCIAL NO CONTEXTO ACADÊMICO:
O QUE DIZEM DOCENTES UNIVERSITÁRIOS?

Maria Lúcia Serafim


Orientador: Prof. Dr. Fábio Marques de Sousa
Coorientador: Prof. Dr. Manassés Morais Xavier

Resumo: O amplo desenvolvimento tecnológico apresenta suas interferências nas práticas


sociais e, portanto, nos processos de formação e atuação docentes. Atravessamos profundas
transformações no campo da linguagem e das Tecnologias Digitais da Informação e da
Comunicação que afetam diretamente na relação do docente com as tecnologias em suas
práticas, quando da compreensão da tecnologia como instância em que diferentes e novas
práticas sociais, culturais e de linguagem emergem. É, portanto, já em processos de exigências
desta necessidade de formação e atuação que fomos atravessados por uma pandemia que se
instaurou em 2020 com a COVID-19, afetando a educação como um todo, demarcando uma
série de desafios para as esferas social, política, econômica, educacional, dentre outras.
Especialmente no Brasil e no cenário educacional, em 17 de março de 2020, o Diário Oficial
da União publicou, por meio da Portaria Nº 343, a suspensão das aulas presenciais no período
de 30 dias ou enquanto durasse a pandemia. O Conselho Nacional de Educação (CNE), de
forma a apoiar e legalizar a utilização do ensino remoto21, em 28 de abril de 2020, lançou
parecer tornando favorável a reorganização do calendário escolar de modo a possibilitar o
cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual,
sendo este homologado, em 29 de maio de 2020, pelo Ministério da Educação. Uma realidade
pandêmica que convocou mudanças à educação presencial, desafiando os docentes em seu
exercício didático-pedagógico frente a imperativos de trabalho com o Ensino Remoto
Emergencial22: modalidade de ensino e de aprendizagem mediada por plataformas digitais, com
aulas síncronas em tempo real e com sala virtual e aplicativos para organização dos conteúdos,
tarefas, notificações se utilizando de atividades comunicativas síncronas e assíncronas,
alterando formas de ensinar e de aprender a partir de multiletramentos digitais, em todos os
níveis e modalidades de ensino, não sendo diferente para os docentes do ensino superior,

21
Portaria Nº 343, de 17 de março de 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-
de-17-de-marco-de-2020-248564376. Acesso em: 10 de junho 2021.

22
Consideramos a expressão ensino remoto legalizada pelo Ministério da Educação e Conselho Nacional de
Educação e acrescenta-se o termo emergencial por se entender uma situação inscrita na realidade do tempo
pandêmico, como forma experiencial encontrada para se transitar com as incertezas do agir nesta complexidade.
Para isso, tomamos a referência de Hodges, Trust, Moore, Bond e Lockee (2020, p. 02): “Uma experiência de
aprendizado online bem planejada é muito diferente dos cursos oferecidos online em momentos de crises ou de
desastres. Escolas e universidades que trabalham para manter o ensino durante a pandemia do COVID-19 devem
entender essas diferenças ao avaliar esse ensino remoto de emergência”.

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especificamente, dos cursos de licenciaturas, ou seja, os formadores de professores. As
universidades enfrentaram o desafio pandêmico da COVID-19 nos anos de 2020 e 202123,
enquanto impulsionaram o ensino e a aprendizagem e procuraram agir nesta emergência de
saúde pública que conduziu docentes, estudantes, gestores e funcionários ao isolamento social.
As Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação e os multiletramentos se tornaram
imperativos ao trabalho docente, de modo particular no ensino superior. No ano de 2020, em
curto espaço de tempo, foi preciso adaptação e reinvenção de uma experiência pessoal e
presencial para uma demanda de Ensino Remoto Emergencial empírica entre o prescrito24 e o
realizado. Tendo como referência o Ensino Remoto Emergencial, preocupa-nos as marcas que
todo este processo pode ter deixado na construção do trabalho docente, se, por assinalar a
repetição de modelos massivos que subutilizam o potencial das tecnologias para a educação;
se, como forma de enfrentamento, criação e recriação na travessia, na crise; se, como
necessidade de (re)formação dos formadores de professores. A intimidação trazida pela
COVID-19 apresentou desafios peculiares às instituições de ensino superior, fazendo com que
todas as partes envolvidas precisassem tomar atitudes extraordinárias, diante de uma situação
nunca antes vivenciada. Diante do exposto, a presente proposta de Tese de Doutorado tem como
objeto de estudo o trabalho docente em contexto de Ensino Remoto Emergencial e vincula-se,
junto ao Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de
Campina Grande, à área de Estudos Linguísticos e à linha de pesquisa Ensino de Línguas e
Formação Docente: linha que se interessa por sujeitos e contextos de ensino e de aprendizagem,
bem como pelos campos dos saberes sobre o trabalho docente, especialmente no cenário desta
investigação, em situação de Ensino Remoto Emergencial. Os objetivos levantados na pesquisa
são: Geral - investigar como o Ensino Remoto Emergencial afetou os docentes dos Cursos de
Letras da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG) em seu trabalho no tocante à (re)formação de suas práticas com
multiletramentos digitais; e Específicos - descrever o Ensino Remoto Emergencial pelo ponto
de vista dos docentes dos Cursos de Letras; analisar os documentos oficiais da UEPB e da
UFCG para apreender a respeito das prescrições que orientaram as atividades de ensino remoto
nessas instituições; e analisar a (re)formação do docente formador sobre sua prática, através
dos seus depoimentos no tocante às suas vivências com tecnologias e multiletramentos digitais
para atender às demandas didáticas em ensino remoto. No sentido de alcançar os objetivos
descritos, destaca-se a questão problematizadora que orienta a pesquisa: que indícios revelam
(re)formações das práticas dos docentes dos Cursos de Letras pesquisados no que se refere aos
multiletramentos digitais em função das demandas do Ensino Remoto Emergencial prescritas
pelas instituições para as atividades em contexto de pandemia? Defender-se-á como tese que o
trabalho do docente formador no contexto acadêmico sofreu efeitos de (re)formação acarretadas
pelo Ensino Remoto Emergencial em seus aspectos de adaptação, recriação e/ou
subversão/resistência no que concerne à exigência de atuar com tecnologias e práticas

23
Algumas universidades ainda atuam no Ensino Remoto Emergencial nos meses iniciais do corrente ano (2022).

24
Com referência em Amigues (2004), as prescrições entendidas como os construtos sociais que dizem de maneira
mais ou menos clara a tarefa que o trabalhador deve realizar.

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multiletradas digitais, em resposta ao tempo pandêmico por COVID-19. A construção teórica
da tese é guiada pelos fundamentos da Teoria Dialógica da Linguagem, a partir das
contribuições de Bakhtin e o Círculo, em Bakhtin (2017, 2016, 2010), Volóchinov (2018) e de
autores que difundem a concepção dialógica de linguagem, como Brait, (2020, 1997), Faraco
(2009), dentre outros. No que se refere ao trabalho docente, a tese recebe contribuições da
Linguística Aplicada, por meio de estudiosos como Moita Lopes (2006), Cavalcante (2004);
quanto ao que toca o Ensino Remoto Emergencial, as produções de Hodges (2020), Santos
(2020, 2003, 2021), Santaella (2021), dentre outros; e com as Tecnologias Digitais da
Informação e da Comunicação e Multiletramentos, com os aportes teóricos advindos de Buzato
(2009), Rojo (2019, 2012, 2009), Street (2014, 1993), Dudeney, Hockly, Pegrun (2016), como
correntes teórico-metodológicas que subsidiam a investigação do estudo. Do ponto de vista da
metodologia, esta consiste numa pesquisa de base qualitativa, interpretativista, documental e
descritiva e para este horizonte contamos com os contributos de Bakhtin (2017), Moita Lopes
(1994) e Santos (2003). A geração de dados ocorreu entre os meses de fevereiro a abril de 2022,
junto ao conjunto de docentes efetivos e substitutos do Departamento de Letras e Artes – DLA,
da Universidade Estadual da Paraíba, campus I – UEPB, e da Unidade Acadêmica de Letras –
UAL, da Universidade Federal de Campina Grande, campus I – UFCG. E no que se refere aos
instrumentos, estes consistem: na aplicação de um questionário estruturado enviado pelo
Google Forms; entrevista individual por pauta realizada pelo Google Meet, com gravação de
áudio via aplicativo pelo smartphone; e concomitante, o exame e descrição das resoluções da
UEPB e da UFCG, documentos oficiais das instituições que regeram o trabalho docente no
Ensino Remoto Emergencial. Para fins de sistematização dos dados gerados, serão realizadas
triangulações no intuito de organizar a análise a ser empreendida. Em se tratando dos resultados
pretendidos pela pesquisa, espera-se: problematizar os efeitos do ensino remoto na
(re)formação do agir docente pela compreensão de suas vozes no contexto acadêmico;
evidenciar se o Ensino Remoto Emergencial tenha colaborado para a pedagogia social dos
multiletramentos no horizonte da linguagem e ensino; e oferecer uma tese que funcione como
uma referência para os estudos sobre o trabalho docente no cenário do Ensino Remoto
Emergencial.
Palavras-chave: Teoria Dialógica da Linguagem; Trabalho docente; Ensino Remoto
Emergencial; (Re)formação do formador; Ensino superior.

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PERCEPÇÕES POÉTICAS: AS ANTOLOGIAS NA FORMAÇÃO DE
LEITORES

Raquel Sousa da Silva


Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves

Resumo: Esta investigação está vinculada à linha de pesquisa “Ensino de Literatura e Formação
de Leitores”, na área de Estudos Literários, do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e
Ensino, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Não é preciso ir longe para
compreender que, no trabalho com o poema na escola, sobretudo no nível médio de ensino, há
pouca reflexão acerca da poesia, principalmente se comparado às inúmeras pesquisas voltadas
à poesia infantil, e as obras já publicadas para essa fase nem sempre alcançam um nível estético
desejável, como aponta a pesquisa de Silva (2009). É possível observar também a existência de
um atrelamento do ensino da poesia aos estilos de época, acarretando todos os problemas que
esse modelo traz e que já foi bastante problematizado, como sugere Pinheiro (2006). Diante
desse contexto pouco favorável, vislumbramos a oportunidade do trabalho com antologias
poéticas, podendo ser organizadas por temas, por formas, por épocas, com autores individuais,
dentre outras possibilidades. Nesse início de século, tem surgido, no mercado editorial
brasileiro, algumas antologias voltadas para o leitor jovem, como indicam alguns paratextos,
prefácios e comentários de quarta capa. Refletir sobre essa produção se constitui não somente
um desafio, mas também uma necessidade. Pensando nisso, buscamos conhecer quais critérios
regem a publicação dessas antologias, bem como saber quais autores são mais mencionados e
quais temas e formas são mais recorrentes. Nossa investigação vai ao encontro da necessidade
do público jovem de conhecer e de discutir poemas com diversidade de temas, de formas e de
autores, a fim de também contribuir com abordagens metodológicas de caráter mais interativo
no trato com a poesia juvenil em sala de aula. Atentamos também para a necessidade de mais
discussões acerca do lugar da poesia destinada aos jovens, no âmbito da literatura, pois na maior
parte das vezes que se pensa em literatura juvenil é priorizado o texto em prosa. Enquanto
problemas para esta pesquisa, destacamos: Que abordagens teóricas e metodológicas são
recorrentes em estudos que tratam do ensino de poesia? Quais os possíveis critérios de escolhas
de poemas podem ser observados nas antologias voltadas aos leitores jovens? Com isso,
traçamos como objetivo geral para a investigação aqui proposta: discutir teórica, crítica e
metodologicamente propostas de formação de jovens leitores de poesia e produzir uma
antologia temática com indicações de abordagem do poema em sala de aula. Em relação aos
objetivos específicos, propusemos: 1) investigar as abordagens teóricas e metodológicas
recorrentes em obras que tratam do ensino de poesia; 2) analisar antologias poéticas destinadas
ao público jovem, atentando para critérios de seleção dos poemas; e 3) organizar uma antologia
temática comentada com propostas de abordagens metodológicas de caráter interativo para a
formação de jovens leitores. Quanto às perspectivas metodológicas de pesquisa, este estudo é
de cunho bibliográfico e documental. Elegemos esse procedimento por lidarmos com material

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teórico, crítico e literário, bem como com documentos norteadores do ensino de poesia e
programas de distribuição de livros literários que contemplam o texto poético na escola. Já em
relação à abordagem, esta pesquisa é de cunho qualitativo, pois contemplará análises de
poemas. A primeira perspectiva mencionada diz respeito à necessidade de aprofundamento dos
estudos bibliográficos sobre e da obra poética dos mais variados autores brasileiros da segunda
metade do século XX aos dias atuais. O intuito é estudar as autorias e as temáticas existentes,
bem como seu contexto sociocultural e o que dizem as vozes críticas a respeito de sua escrita,
a fim de respaldar a proposição de abordar de diferentes modos alguns poemas desses autores
em sala de aula. Ainda sob essa primeira ótica, também será necessário um estudo mais
abrangente sobre as abordagens teóricas e metodológicas que fundamentam este trabalho, a
saber: as discussões em relação à Estética da Recepção (JAUSS, 1979; 1994); (BORDINI;
AGUIAR, 1993) e sobre a Teoria do Efeito Estético (ISER, 1996; 1999), que nos ajudarão a
não considerar o público de nossas propostas como alunos abstratos, traçando um perfil de leitor
que a atual realidade nos apresenta, seja pela base psicológica, sociológica ou biológica. A
segunda perspectiva em questão tem um caráter metodológico de pesquisa que diz respeito ao
viés analítico, por meio do estudo de antologias existentes e da elaboração de propostas
metodológicas para o ensino de poesia na escola, a partir da antologia comentada a ser
construída. Dito isso, justifica-se o procedimento bibliográfico e documental, com abordagem
qualitativa nesta pesquisa, pois um trabalho com objetivos exploratório, descritivo e analítico
exigem um olhar criterioso para as análises, pautado na dimensão qualitativa da proposta
apresentada. Em relação à pesquisa bibliográfica, recorremos aos postulados de Eva Maria
Lakatos e Marina de Andrade Marconi (1992; 2001), e em relação às discussões para uma
pesquisa também com um viés qualitativo – especialmente quando formos analisar as
antologias já existentes – buscamos os fundamentos de Menga Lüdke e Marli Eliza Dalmazo
Afonso de André (1986) e de Joel Martins (1989). Assim, entendemos que esta é uma pesquisa
de natureza básica. A seguir, apresentamos alguns passos da metodologia desta pesquisa. Na
primeira etapa, discutiremos sobre uma base teórica, crítica e metodológica a respeito da
formação de jovens leitores de poesia, com vistas a produzir antologias temáticas comentadas
com proposições de abordagem do texto poético em sala de aula. Em uma segunda etapa,
abordaremos obras e estudos que tratam do ensino de poesia, a fim de construir um estado da
arte das bases teóricas e metodológicas que são recorrentes nelas, bem como observar seus
possíveis limites, suas repetições, suas contribuições etc. Na terceira etapa, analisaremos
antologias poéticas destinadas ao público jovem, atentando para critérios de seleção dos
poemas. Buscaremos conhecer os critérios predominantes e lacunares nas antologias a partir da
leitura delas, as quais podem seguir um viés temático, formal, predominando determinados
autores, uma perspectiva cronológica, histórica etc. Na última etapa, construiremos uma
antologia poética temática comentada com propostas de abordagens metodológicas de caráter
interativo para a formação de jovens leitores. Alguns autores que têm a preocupação com a
natureza do texto poético ou se debruçam sobre o trabalho com poesia em sala de aula ratificam
nossas discussões, como Maria da Glória Bordini (1991), José Hélder Pinheiro Alves (2008;
2018), Zizi Trevizan (2002) e Renata Junqueira de Souza (2012). É necessário possibilitar aos
alunos uma aproximação ao texto poético, de modo que a mediação leitora seja dada a partir da
tessitura da própria poesia, em que seu conteúdo e sua forma sejam relacionados com o universo

ISSN - 2526-5024 231


dos jovens. As escolhas teóricas que aqui apontamos nos ajudam a pensar em critérios de
escolhas de poemas das antologias, além do critério temático. Com a construção de uma
antologia de poemas comentada, haverá a possibilidade de potencializar nos leitores,
professores e alunos, uma aproximação da poesia, a partir da construção de um material que
também pode ser norteador de práticas docentes com o texto poético em sala de aula. Portanto,
com esta pesquisa será possível contribuir, por meio das discussões teóricas, críticas e
metodológicas, para o ensino de poesia. Assim, estaremos mais próximos de romper com
práticas que prezam apenas pela estrutura do poema, ou pela biografia dos autores, ou ainda
por movimentos literários, sem considerar os aspectos estéticos das construções poéticas e a
diversidade de recepção leitora etc. pelo qual ela está sujeita há muitos anos e que tem por
consequência o afastamento dos possíveis leitores com interesse pela poesia, sejam eles
professores ou alunos.

Palavras-chave: Poesia juvenil; Ensino de poesia; Formação de leitores; Antologias poéticas.

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SULEANDO A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL:
PRÁTICAS LINGUÍSTICAS-INTERCULTURAIS E DECOLONIAIS NO
TELETANDEM25

Rickison Cristiano de Araújo Silva


Orientador: Prof. Dr. Fábio Marques de Souza

Resumo: Sulear significa dar visibilidade à ótica do Sul, apresentando uma disposição crítica
diante às ideias geradas em torno do Norte, da lógica eurocêntrica que o considera como
referência universal e superior em detrimento ao Sul (CAMPOS, 1991). Nesse sentido, ao
adotar esse posicionamento em nossas epistemes, vivências, práticas e formações, nos
remetemos a Santos (1995) que propõe as Epistemologias do Sul como uma forma de buscar
identificar e legitimar os conhecimentos produzidos por aqueles que foram, ao longo da história,
marginalizados, oprimidos, silenciados e excluídos. Para tanto, segundo o estudioso, “uma
epistemologia do Sul assenta em três orientações: aprender que existe o Sul; aprender a ir para
o Sul; aprender a partir do Sul e com o Sul” (SANTOS, 1995, p. 508). O Sul aqui apresentado
não se refere, necessariamente, tão somente ao Sul geográfico, mas sim ao Sul epistêmico que
busca ouvir e dar visibilidade aos que foram e ainda são invisibilizados. Desse modo, o
pensamento apresentado por Santos (1995) é compreendido, ao longo de nossas reflexões,
como uma metáfora e convite para Sulear a educação linguística e a formação de professores
de língua espanhola (SILVA JÚNIOR; MATOS, 2019), proporcionando que esses dois
contextos estabeleçam diálogos com as Vozes do Sul (MOITA LOPES, 2006, 2013;
KLEIMAN, 2013). Assim posto, a Linguística Aplicada (LA), em sua vertente contemporânea,
traz essas questões como uma agenda de pesquisa e de produção de conhecimento, quando
Moita Lopes (2006, p. 31) pontua que é “inadequado construir teorias sem considerar as vozes
daqueles que vivem as práticas sociais que queremos estudar”, isto é, há uma “necessidade de
um outro sujeito para a LA: as vozes do Sul” (MOITA LOPES, 2006, p. 96). Nessa linha de
pensamento, Kleiman (2013) propõe “Sulear” nossas práticas, epistemes, pesquisas e os
currículos das universidades que estão há bastante tempo fundamentados e sedimentados na
hegemonia do Norte, defendendo um olhar para o Sul, bem como a promoção do diálogo Sul-
Sul. Em suas palavras, a pesquisadora propõe “trazer outras vozes latino-americanas, a fim de
‘sulear’ (orientar para o Sul) o debate e questionar a hegemonia ocidental do Norte, ainda
imperante na definição dos nossos problemas de pesquisa” (KLEIMAN, 2013, p. 40). Segundo
Alexandre (2019), a América Latina pode ser considerada como uma das representantes das
Vozes do Sul, tendo em conta as marcas da colonialidade que ainda se fazem presentes. Nesta
perspectiva, ao direcionar nossa atenção para a formação de professores de espanhol, bem como
para o processo de ensino-aprendizagem dessa língua, acreditamos que se faz necessário Sulear

25
Agradecemos à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ) pelo apoio financeiro dado a
esta pesquisa.

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nossos currículos, bem como nossas práxis que ainda apresentam marcas coloniais, de modo a
dar protagonismo as Vozes do Sul, compreendidas aqui como às identidades hispano-
americanas e latino-americanas que fazem parte dos “diferentes grupos marginalizados (pela
classe social, sexualidade, gênero, raça, etc.)” (MOITA LOPES, 2006, p. 95), que ainda são
ocultadas, silenciadas e esquecidas em nosso contexto. Essa invisibilidade, de forma específica
da América Latina, de acordo com Paraquett (2013) e Souza (2014), acontece devido a fatores
sócio-históricos, econômicos e políticos, já que a Espanha apresentou por tanto tempo uma forte
influência e participação no ensino de espanhol, acarretando o distanciamento e invisibilidade
da América Latina. Destarte, Lessa (2013) nos lembra que esse silenciamento das vozes do Sul
se dá devido a reprodução de discursos colonialistas acerca da América Latina, colocando-a
numa posição de inferioridade, quando comparada à Europa. Segundo Irineu (2014), os cursos
de formação de professores de espanhol no Brasil apresentam-se, no decorrer da história, como
um dos responsáveis por realizar esse silenciamento. Essa perspectiva faz com que ratifiquemos
a ideia de que a não presença das Vozes do Sul na educação linguística e na formação de
professores de espanhol está ligada ao colonialismo. Esse fator acontece, conforme analisa
Zolin-Vesz (2013), por circular ainda no imaginário das pessoas a crença da Espanha como
único país em que a língua espanhola é falada, resultando na ideia de que “o país é o lugar por
excelência em que se fala a língua espanhola. Os demais países do mundo hispânico se tornam
invisíveis” (ZOLIN-VESZ, 2013, p. 56). Em vista disso, as identidades hispano-falantes latino-
americanas acabam sendo colocadas em um local de inferioridade, “pois os sistemas coloniais
são a base da construção das nossas estruturas sociais e, consequentemente, do entendimento
de mundo e de quem tem a permissão de protagonizá-lo” (SILVA JÚNIOR; MATOS, 2019, p.
106). Ignorar essas questões no quadro formativo dos futuros professores de espanhol significa
negligenciar o caráter político e o compromisso social que nós docentes dessa língua
apresentamos para com nossos alunos da educação básica, bem como promover, mais uma vez,
o silenciamento da “voz da periferia dessa macrorregião ainda tão discriminada e
homogeneizada.” (ALEXANDRE, 2019, p. 145). Dessa maneira, defendemos a
decolonialidade (QUIJANO, 2005; MIGNOLO, 2010) e a interculturalidade crítica (WALSH,
2010; PARAQUETT, 2018) como uma agenda, um caminho possível para uma educação,
linguística e literária, que pode viabilizar e promover o protagonismo das mais diversas
identidades não hegemônicas presentes na formação dos professores de espanhol e,
futuramente, nas salas de aula. Neste horizonte, a partir da nossa experiência e estudo anterior
(SILVA, 2020), acreditamos que o Teletandem integrado ao currículo do curso de Letras –
Espanhol apresenta-se como um excelente contexto para promover o contato de futuros
professores de espanhol com as Vozes do Sul, suscitando, consequentemente, o suleamento e o
desenvolvimento de práticas linguísticas-interculturais e decoloniais ao longo da atividade
telecolaborativa ao possibilitar que eles aprendam a partir do Sul e com o Sul (SANTOS, 1995;
MOITA LOPES, 2006; 2013; KLEIMAN, 2013). O Teletandem é considerado como um
contexto virtual, autônomo, colaborativo e intercultural de aprendizagem de línguas

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estrangeiras (TELLES, 2009; SILVA; SOUZA, 2019) que, através de interações síncronas 26
entre falantes de diferentes línguas e culturas, a partir de temáticas interculturais, possibilita
trocas linguísticas e interculturais. Para além disso, corroboramos a ideia de que essa prática
telecolaborativa apresenta-se como um contexto, por excelência, para a formação de
professores de línguas (TELLES, 2009; KFOURI-KANEOYA, 2009; VIEIRA-ABRAHÃO,
2010; SILVA, 2020). Assim, nossa pesquisa de doutorado busca responder a seguinte pergunta
guarda-chuva: Qual o lugar do suleamento na formação inicial de professores de língua
espanhola e da educação linguística intercultural e decolonial em espanhol?, desdobrando-se
em mais três perguntas, a saber: i) Quais Vozes do Sul perpassam a formação dos professores
de espanhol?; ii) Que sentidos e práticas linguísticas-interculturais e decoloniais são
desenvolvidas pelos participantes a respeito das vozes do Sul durante as sessões de
telecolaboração?; iii) Qual a contribuição e potencialidade das interações e mediação no
Teletadem na compreensão das Vozes do Sul e das práticas interculturais e decoloniais de uso
e ensino da língua, na formação de professores de espanhol?. Nosso objetivo geral é investigar
o processo de suleamento na formação inicial de professores de língua espanhola e da educação
linguística intercultural e decolonial em espanhol. Como objetivos específicos, pretendemos: a)
Observar e identificar a (não) presença das Vozes do Sul na formação dos professores de
espanhol da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB); b) Analisar as práticas linguísticas-
interculturais e decoloniais que perpassam a formação inicial dos professores de língua
espanhola via telecolaboração em uma perspectiva suleada; c) Verificar se e de que forma as
sessões de interação e mediação no Teletandem Institucional Integrado às atividades da
disciplina “Práticas de intercâmbio linguístico-cultura via Teletandem”, no curso de Letras –
Espanhol da UEPB podem potencializar a compreensão das Vozes do Sul e das práticas
interculturais e decoloniais de uso e ensino da língua na formação de professores de espanhol.
Posto isto, para alcançarmos desenvolver nossa pesquisa, nossas discussões serão divididas em
três eixos teóricos, a saber: i) Linguística aplicada contemporânea e as Vozes do Sul na
formação de professores de espanhol (CAMPOS, 1991, 2019; SANTOS, 1995, 2009ª, 2009b,
2018; MOITA LOPES, 2006, 2013; KLEIMAN, 2013; PENNYCOOK, 2006; SILVA
JÚNIOR; MATOS, 2019; MATOS; SOUSA, 2022; dentre outros); ii) Telecolaboração e
Teletandem (O’DOWD, 2018; DOOLY; O’DOWD, 2018; TELLES, 2009; VASSALLO;
TELLES, 2009; BENEDETTI, 2010; MESSIAS; TELLES, 2020; dentre outros); iii) Pedagogia
decolonial (QUIJANO, 1992, 2005, 2009; MIGNOLO, 2010; BALLESTRIN, 2013; MOTA
NETO, 2016); pedagogia intercultural (MATOS; PARAQUETT, 2018; PARAQUETT, 2018;
WALSH, 2005, 2009, 2010) e currículo decolonial (MATOS, 2020ª; 2020b; SILVA, 2021
[1999]). Metodologicamente, desenvolveremos uma investigação no campo da Linguística
Aplicada em sua vertente contemporânea que traz consigo uma perspectiva crítica, política,
responsiva e comprometida com as práticas sociais (MOITA LOPES, 2006, 2013; KLEIMAN,

26
As interações têm duração, de forma geral, de 60 minutos, destinando 25 minutos para cada língua, de modo
que os alunos desempenhem diferentes papéis durante a prática, isto é, ora aprendiz da língua estrangeira, ora
professor (tutor) da sua língua materna ou da língua que é proficiente. Os 10 minutos restantes são destinados para
que eles realizem os feedbacks. Logo após a sessão de interação, os interagentes, alunos brasileiros e estrangeiros,
realizam as sessões de mediação compartilhando suas dúvidas, experiências e aspectos linguísticos e/ou culturais
presentes ao longo das interações, com vistas a potencializar pedagogicamente o processo de aprendizagem na LE.

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2013). É uma pesquisa de natureza qualitativa (ANDRÉ, 1995; LUDKE; ANDRÉ, 1986) e
netnográfica (KOZINETS, 2014). Nossos dados serão coletados e gerados durante as práticas
de Teletandem Institucional Integrado (ARANHA; CAVALARI, 2014) desenvolvidas no
Componente Curricular “Práticas de intercâmbio linguístico-cultura via Teletandem”, no curso
de licenciatura em Letras – Espanhol, da Universidade Estadual da Paraíba, campus 1, em que
brasileiros, professores em formação inicial de espanhol, realizarão semanalmente, a partir de
temas previamente selecionados, as sessões de interação com alunos mexicanos, da
Universidad Nacional Autônoma de México (UNAM), realizados pela Mediateca27, e sessões
de mediação com o pesquisador e a professora mediadora mexicana. Desse modo, nossos
participantes serão os discentes do curso de Letras – Espanhol, matriculados no componente
curricular em questão. Adotaremos os seguintes instrumentos de coleta e geração de dados:
questionário inicial, as gravações das sessões de interação e mediação no Teletandem, diários
de bordo produzidos semanalmente após a prática telecolaborativa, bem como a realização de
uma entrevista semiestruturada.
Palavras-Chave: Sulear; Decolonialidade; Interculturalidade; Teletandem; Formação de
professores de espanhol.

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PRÁTICAS DISCURSIVAS DO PROFESSOR EM CONTEXTO DE
ENSINO REMOTO/HÍBRIDO

Vanessa Luciene Pereira Araujo


Orientadora: Williany Miranda da Silva

Resumo: Desde 2016, quando, no final da graduação em Letras-Língua Portuguesa, na


Universidade Federal de Campina Grande-PB, matriculei-me na disciplina Estágio de Língua
Portuguesa, no Ensino Médio, pude conhecer e vivenciar a produção de materiais didáticos
digitais. A prática envolveu a elaboração de módulos e videoaulas direcionados para a Educação
Básica, especificamente, para candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Embora já tivesse cursado outras disciplinas de estágio, o envolvimento com o ambiente virtual
me traria reflexões investigativas e desafiadoras para os próximos anos. A produção dos
materiais didáticos abarcou os conteúdos “Leitura multimodal”, “Variação linguística”,
“Concordância verbal e nominal” e “Produção do texto dissertativo-argumentativo”. Nessa
direção, tanto os módulos como as videoaulas foram publicados em um canal no You Tube,
intitulado “Enem na palma da mão”
(https://www.youtube.com/channel/UCSkVZmh0xB2ddNZ73_f_8LQ), cujo projeto envolveu
a participação de 17 graduandos, prestes a concluir o curso de Letras, possibilitando assim, uma
experiência que evidenciaria instigações sobre a prática e sinalizaria uma docência atrelada às
transformações futuras. A partir desta participação no Projeto “Enem na palma da mão”, posso
dizer que as inquietações e indagações que circundam o ensino de Língua Portuguesa no
contexto tecnológico têm estado presentes em minha vida, enquanto pesquisadora. No segundo
semestre de 2016, iniciei uma pesquisa em nível de mestrado, no Programa de Pós-graduação
em Linguagem e Ensino da UFCG, na qual foram investigados os conteúdos de Língua
Portuguesa abordados nas videoaulas do Projeto em questão. Para tanto, mesmo tendo
participado da disciplina de estágio, distanciei-me, enquanto pesquisadora, para compreender
melhor a complexidade dos objetivos empreendidos, não mais encontrando-me como
participante, mas como pesquisadora que tem acesso aos materiais disponíveis ao público em
um canal no Youtube. Ao final do mestrado, defendi a dissertação denominada “Conteúdos de
Língua Portuguesa em videoaulas do Projeto “Enem na palma da mão”, cuja investigação
buscou analisar as estratégias de abordagem das videoaulas associadas às concepções de ensino
(SILVA, 2018). Neste projeto, em nível de doutorado, retorno às indagações que permeiam o
contexto digital, distancio-me mais uma vez, enquanto pesquisadora, para melhor atender ao
estudo pretendido, sendo que com um olhar para as práticas do professor em meio à modalidade
de ensino remoto/híbrido e tendo como objeto de pesquisa não mais os módulos e videoaulas,
porém direcionando-me para as práticas de ensino dos ex-estagiários da disciplina, atualmente
professores que utilizam o ensino remoto/híbrido como alternativa para a continuidade das
aulas de Língua Portuguesa. Não significa que deixaremos de olhar para a trajetória dos sujeitos,
tendo em vista que ela pode suscitar respostas para os objetivos traçados, por sinalizarem

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participantes específicos que tiveram uma experiência anterior com materiais didáticos digitais.
Sendo assim, evidenciamos uma pesquisa que traz as atuais práticas em meio à pandemia e que
aponta longitudinalmente para a adaptação dos materiais utilizados no ensino virtual. Segundo
Pfromm Netto (2011), o terceiro milênio apresenta uma trajetória marcada por transições,
rupturas e inovações, porém a pandemia não contribuiu com esse percurso de modo gradual.
Percorremos um processo educacional desconectado do tempo de aquisição de habilidades e
competências para a linguagem tecnológica. Embora alunos e professores estejam inteirados
com o uso de aplicativos, jogos, plataformas, entre outros, visualizar o contexto escolar
destituído das aulas presenciais de modo tão acelerado exigiu uma adequação e imersão digital
sem precedentes. O tempo foi atropelado pela urgência em lidar com planejamentos, gravações
e aulas virtuais, como também uso de materiais didáticos que excedem e põe em evidência a
modalidade de ensino remoto/híbrido como saída para a continuidade das práticas de ensino.
Ao considerar esta realidade, esta pesquisa objetiva defender a tese de que a retextualização
fundamenta as práticas docentes adaptáveis ao ensino remoto/híbrido, reconfigurando o objeto
de ensino, regulando as ferramentas necessárias e adequando os conteúdos. No propósito de
defendê-la, constituem-se como perguntas para essa investigação, em nível de doutorado: O
que são estratégias de retextualização nas práticas discursivas dos professores alvo em
exercício? Quais saberes foram mobilizados para o exercício docente no ensino remoto/híbrido?
Qual a relação entre a formação dos sujeitos professores e a atuação docente durante a
pandemia? No propósito de respondê-la, estabelecemos como objetivo geral investigar a
ressignificação das práticas discursivas dos professores no referido contexto e, de modo
específico, identificar os aspectos que caracterizam o processo de retextualização nas suas
práticas discursivas; descrever os saberes mobilizados pelos sujeitos na transição para o ensino
remoto/híbrido; e estabelecer a articulação longitudinal entre a formação e atuação docente.
Essa investigação constitui-se pela importância em dar visibilidade aos desafios vivenciados
pelos docentes em meio ao contexto pandêmico. Ao dimensionar a nova realidade escolar do
professor, adaptações e retextualizações de planos de aula, materiais didáticos e ferramentas
tecnológicas tornaram-se parte do trabalho docente. Além disso, essa pesquisa possibilita
repensar o processo de formação do professor e sua atuação em sala de aula frente às demandas
e urgências da prática. Não há como encarar as transformações que a pandemia trouxe para o
âmbito educacional, sem problematizá-las e refletir acerca do que essa modalidade
reconfigurou e tem apontado para os próximos anos de prática de ensino. Sendo assim, este
projeto de tese contribui com a linha de pesquisa “Ensino de Línguas e Formação Docente” e
com o Projeto “Configurações de ensino em práticas multidisciplinares de linguagem (ns)” do
Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino por oportunizar um olhar analítico para o
trabalho docente em torno da sua prática em contexto emergente. No que se refere aos
fundamentos teóricos, seguem quatro principais eixos: o primeiro deles enfatiza os estudos
acerca da “Formação e atuação docente frente às demandas da prática”, por subsidiar as
discussões que versam o trabalho do professor interligado com a formação docente, de modo a
refletir e contribuir com as práticas e desafios enfrentados no contexto de ensino. Quanto à
compreensão das “Práticas discursivas dos professores em exercício”, o presente estudo está
ancorado na perspectiva metodológica do interacionismo sociodiscursivo, por aludir a análise
do trabalho educacional. Tal inserção visa uma melhor compreensão da retextualização

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realizada pelos professores para a adaptação dos materiais utilizados em contexto de ensino
remoto/híbrido, de modo a compreender a organização de seu trabalho, bem como seus saberes
mobilizados (LOPES, 2007). Na sequência, discorremos acerca da “Transposição didática” e
processo de “Retextualização” por compreender que as transformações adaptativas para o
ensino remoto/híbrido foram preponderantes no trabalho do professor. Além disso, destacamos
reflexões que norteiam o “Contexto escolar na era digital”, tendo em vista que a pesquisa está
relacionada ao âmbito tecnológico. Tal estudo situa-se em um lugar complexo, instável, incerto,
conflituoso, imprevisível, desafiador, que não compartilha do conhecimento dualista fundado
em distinções dicotômicas, mas que busca investigar as práticas discursivas de professores que
vivenciaram a modalidade de ensino emergencial para, então, tentar compreender o âmbito
social, político, humano presente neste processo transitório do ensino presencial-remoto-
híbrido vivenciado pela educação (SANTOS, 2004; SCHӦN, 2000). Nesse sentido, vinculamo-
nos ao paradigma emergente por sua conexão com os desafios sociais contemporâneos, cujas
exigências relacionam-se à superação da fragmentação do conhecimento (BEHRENS, 2013).
Tal inserção associa-se aos estudos da Linguística Aplicada que têm como objetivo essencial a
problematização da prática de uso da linguagem na práxis humana, direcionando-se para as
“vozes do Sul”, assegurando que a produção do saber que destitui o sujeito, apaga a sua história
e não dá conta das reais necessidades sociais. (FREIRE, LEFFA, 2013, p. 59; MOITA LOPES,
2015; 2016). Baseada nessa perspectiva, a investigação tem características de natureza
qualitativa e, de modo mais específico, trata-se de um estudo de caso, por intentar “um exame
detalhado de um ambiente, de um simples sujeito ou de uma situação em particular” (GODOY,
1995). Significa dizer que os professores participantes fizeram parte de um estágio docência
específico com o uso de ferramentas tecnológicas, diferenciando-se de outros profissionais que
também estão atuando no contexto de ensino remoto/híbrido, mas que não tiveram a
oportunidade de vivenciar uma formação atrelada ao meio digital como os egressos do Projeto
“Enem na palma da mão”. No que diz respeito à origem dos dados investigados, a pesquisa a
ser desenvolvida pode ser considerada híbrida, ao ancorar-se em fontes de origem direta e
indireta. O primeiro conjunto de dados de fonte direta é formado pela elaboração de um
questionário de perguntas abertas para ser aplicado com os professores do Projeto, tendo em
vista o atendimento à pergunta de pesquisa e objetivos empreendidos. Por serem questões
abertas, asseguram uma abrangente variabilidade interpretativa (GERHARDT; SILVEIRA,
2009). Ademais, utilizaremos a técnica designada como grupo focal, objetivando aprofundar as
respostas apresentadas no questionário e conduzir os participantes de modo menos diretivo e
mais interativo, como forma de facilitar a condução da discussão e buscar compreender como
os professores estão atuando, por meio de suas práticas, nesse cenário remoto/híbrido
vivenciado no “novo normal” trazido pela pandemia da Covid-19(GONDIM, 2003; SILVA,
2012). Na sequência, atrelado ao grupo focal, pediremos permissão para observarmos a uma
das aulas remotas/híbridas dos professores participantes, visando associar a voz dos sujeitos a
sua atuação e uso das práticas discursivas no âmbito de ensino.
Palavras-Chave: Formação docente; Atuação docente; Ensino remoto/híbrido;
Retextualização; Práticas discursivas.

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Referências

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LINHA 4 - PRÁTICAS SOCIAIS, HISTÓRICAS E
CULTURAIS DE LINGUAGEM

UM OLHAR DISCURSIVO PARA A MULHER NEGRA EMPREGADA


DOMÉSTICA

Alécia Lucélia Gomes Pereira Medeiros


Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira

Resumo: Desde as primeiras lutas feministas, por direitos, já houve uma separação nítida entre
as lutas das mulheres brancas e a exclusão das mulheres negras. Estas não foram representadas
pelos movimentos organizados por aquelas, conforme Davis (2016). Em 1851, Soujourner
Truth, ao questionar sobre se ela não era mulher “E eu não sou uma mulher?”, por não está
enquadrada dentro das pautas feministas de mulheres brancas, já deixou marcada essa falta de
espaço, de lugar, de visibilidade dada à mulher negra. Sua realidade, de ex-escravizada não
condizia com as lutas pelos direitos feministas defendidas pelas mulheres brancas, na época. O
que percebemos é que a consolidação do próprio movimento feminista brasileiro, como já
apontou Lelia Gonzales (1981), já denunciava um lugar de opressão à mulher negra. Lugar que
a escravidão deixou como legado até os dias atuais. Há um passado escravista que aponta para
uma base racista, refletida na organização econômica e política da sociedade atual. Desta forma,
há uma relação entre o capitalismo, que sempre foi de cunho eurocêntrico, com o trabalho e a
raça. Fatores como gênero, raça e classe tornam-se importantes para os estudos que busquem
compreender quem é a mulher negra, o racismo, a opressão de classe, enfim, as formas como
está estruturada nossa sociedade. Nesse quadro, inserimos o trabalho doméstico. Trabalho
atribuído, devido a uma herança colonial, em uma porcentagem maior, a mulheres negras, já
que, neste período, as mulheres negras que não trabalhavam no campo foram fadadas aos
serviços domésticos. O fato de a mulher negra ser associada ao serviço doméstico está
interligado diretamente ao longo tempo em que ex-escravizada tiveram que se submeter a este
serviço. Inclusive, no sul dos Estados Unidos, a escravidão foi sinônimo para o termo
“instituição doméstica”, conforme Davis (2016). Um cenário que ainda é visível na atualidade.
Segundo o Boletim Mulheres Negras, 1° trimestre 2021, “As mulheres representaram 93,2%
do trabalho doméstico sem carteira, sendo 61,6% mulheres negras.” Um trabalho, portanto,
tipicamente negro e feminino. Assim, trazer esta realidade sob um viés discursivo que aponte a
mulher a partir da interseccionalidade, torna-se imprescindível, sobretudo, quando pensamos
na representação deste sujeito através dos discursos que atravessam o arquivo selecionado para
análise. Conforme Foucault (2012), arquivo são enunciados que se estabelecem como
acontecimentos singulares, é um conjunto de discursos que está condicionado aos
conhecimentos produzidos em determinada época, os quais delimitam tanto o que pode ser dito,

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quanto aquilo que necessita ser reativado, lembrado, conservado. Para a realização da pesquisa,
faremos uso do seguinte arquivo: (1) Livro Eu, empregada doméstica (Preta-Rara, 2019) e a
(2) Série em quadrinhos: Confinada (6 setembro de 2020). O livro Eu, empregada doméstica
(2019), de autoria de Joyce Fernandes (Preta-Rara), contém relatos de empregadas domésticas
ou de pessoas ligadas a elas. O livro surgiu a partir de uma página do facebook “Eu, Empregada
Doméstica”, criada em 2016. Uma hashtag (#Eu, empregada doméstica) que viralizou nas redes
sociais, em que Joyce Fernandes, rapper e historiadora, denunciava episódios de sua vida
quando trabalhou como empregada doméstica. São relatos que vão desde o final do século XX
até os dias atuais (publicação do livro). Já as Webtrinhhas Confinada têm como idealizadores
Leandro Assis e Triscila Oliveira e são formadas por sessenta episódios, que circulam no
instagram “leandro_assis_ilustra”, no período que vai de 2020 a 2021, época marcada pela
pandemia, ocasionada pelo SARS-CoV-2, vírus responsável pela Covid-2019. A série em
quadrinhos escolhida para análise, Confinada, traz duas personagens centrais, a mulher negra
(empregada doméstica) e a mulher branca (patroa) em um contexto da pandemia, no qual são
colocados em cena à organização social do trabalho, a figura da mulher negra e o trabalho
doméstico. As narrativas retratam o cotidiano de uma influencer digital e o lugar da empregada
doméstica negra, fazendo emergir discursos que envolvem questões sociais, culturais,
econômicas, políticas. Pensar em nosso corpus como arquivo, na perspectiva foucaultiana, é
não restringir os discursos ao que foi dito ou a quem disse, mas, trazer os efeitos de verdades
construídos em determinada época, que justificam e sustentam sobre quem é o sujeito mulher
negra empregada doméstica em nossa época. A escolha do corpus, bem como o momento atual,
pandemia, possibilita-nos organizar a pesquisa a partir de um recorte temporal que situa a
mulher negra empregada doméstica em três momentos: No período da escravidão no Brasil; A
partir da Lei Complementar 150/2015 (Pec das Domésticas); E, no momento atual: contexto da
Pandemia (2020 e 2021). Diante este cenário nosso interesse resultou no seguinte
questionamento: como se dá o processo de objetivação e subjetivação do sujeito mulher negra
empregada doméstica, no Brasil, no arquivo: webtirinha Confinada, de Leandro de Assis e
Triscila Oliveira, nos relatos de empregadas domésticas presentes no livro Eu, empregada
doméstica (Preta-Rara)? Através desta questão, nosso objetivo geral é compreender como se dá
a objetivação e subjetivação do sujeito mulher negra empregada doméstica, no Brasil, no
arquivo: webtirinha Confinada, de Leandro de Assis e Triscila Oliveira e nos relatos de
empregadas domésticas presentes no livro Eu, empregada doméstica (Preta-Rara). A fim de
alcançá-lo, elencamos os seguintes objetivos específicos: (1) Traçar um apanhado histórico
sobre quem é a mulher negra dentro do contexto da escravidão, no Brasil, situando o serviço
doméstico; (2) Analisar como os efeitos de verdade são produzidos nas relações entre o saber
cultural, o saber profissional e o saber emocional/pessoal acerca do sujeito mulher negra
empregada doméstica, após a escravidão e com a existência de saberes legais; (3) Apresentar
como as formas de des-obediência caracterizam o sujeito mulher negra empregada doméstica e
sua relação com a patroa; (4) Situar as webtirinhas, os relatos e os comentários como práticas
discursivas inscritas em uma rede de memória marcada por relações de poder/saber/verdade. A
pesquisa enquadra-se na análise foucaultiana do discurso, estando, portanto, imersa dentro dos
estudos teórico-metodológicos propostos por Michel Foucault, através do método
arquegenealógico, que nos permite descrever o discurso com valor de acontecimento

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atravessado por jogos de saber-poder-verdade. A natureza da pesquisa que realizaremos, em
virtude do corpus a ser analisado bem como dos procedimentos que serão cumpridos na análise,
pode ser considerada como qualitativa (MOREIRA; CALEFFE, 2008). Quanto ao tipo da
pesquisa, a ser realizada, podemos classificá-la como sendo documental. Este tipo de pesquisa
caracteriza-se por sua “fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não”
(IDEM, 2008, p.74). Desse modo, consideraremos as webtirinhas e o livro como documentos
escritos que podem permanecer circulando na sociedade, como denúncia, como reflexão. O
caminho teórico a ser percorrido será possível através dos Estudos discursivos centrados em
Foucault, com foco para os conceitos sobre vontade de verdade, saber e relações de poder, uma
vez que são conceitos que controlam a ordem estabelecida em um dado discurso, sendo
responsável pela constituição do sujeito. Definimos como suporte teórico para entender a
mulher negra empregada doméstica, estudos sobre o racismo/racialidade, a partir de: Almeida
(2018), Mbembe (2018), Munanga (2016,2019), Fanon (2008), Carneiro (2011). Com Angela
Davis (2016), Carla Akotirene (2020), Lelia Gonzalez (1981), Patricia Hill Collins (2021),
Sirma Bilge (2021), traremos apontamentos sobre questões que envolvem a interssecionalidade,
assim como estudos Pós-coloniais e suas influências na representação do sujeito mulher negra
empregada doméstica, hoje. Dentro das nossas discussões refletimos, também, sobre a
(des)obediência do sujeito em estudo, a partir de Frederic Gros (2018). Um estudo sobre a
mulher negra empregada doméstica, a partir da linguagem, justifica-se por nos permitir
compreender questões raciais, de gênero e classe presentes nos discursos que atravessam as
vozes das webtirinhas e dos relatos. Discursos estão sendo praticados e têm sido responsáveis
por construir o objeto que estamos analisando, o sujeito mulher empregada doméstica na
atualidade, através da materialidade textual que aponta alguns valores que foram enraizados na
sociedade ao mesmo tempo em que emergem, dentro da nossa realidade, como resistência.
Pensar a construção dos sentidos e deste sujeito, sua migração na história, é possível quando
trazemos um estudo que situa a linguagem na perspectiva discursiva, sendo este um ponto
diferencial de nossa pesquisa. Nossa pesquisa ainda possibilita um avanço nos estudos sobre o
sujeito mulher negra, tendo em vista que, de acordo do Angela Davis (2016), nossa literatura
restringe os debates sobre este sujeito a objetificação sexual. Acreditamos que no arquivo
(webtrinhas e os relatos), selecionado para análise, há um atravessamento de discursos que traz
vontades de verdade, de poder e de saber responsáveis por objetivar e subjetivar a mulher negra
empregada doméstica com base no período da escravidão, ao mesmo tempo que há uma
constituição de um sujeito que busca resistir a este lugar de servidão. Acreditamos que há,
portanto, a existência de um paradoxo entre liberdade e assujeitamento na constituição do
sujeito mulher negra empregada doméstica.

Palavras-Chave: Linguagem; Discurso; Poder-Saber-Verdade; Mulher Negra Empregada


Doméstica.

Referências

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O FUNCIONAMENTO DO DISCURSO SOBRE O FEMINICÍDIO NO
FACEBOOK: ENTRE A REPRODUÇÃO E O DESLOCAMENTO DA
MEMÓRIA PATRIARCAL28

Ariane Silva da Costa Sampaio


Orientador: Prof. Dr. Washington Silva de Farias

Resumo: A produção de sentidos sobre as mulheres na sociedade ocidental é atravessada pela


memória de dominação e de resistência. Essa memória, enquanto dizeres outros que ressoam
em nosso dizer (PÊCHEUX, 2015), (re)produz imagens para o sujeito mulher e moldam as
formas de representação desse sujeito no social. A memória patriarcal é, assim, a rede de
sentidos dominante que reproduz um sistema de dominação e opressão ao qual as mulheres são
submetidas e, ao mesmo tempo, um processo de silenciamento das desigualdades sociais entre
homens e mulheres ao longo da história (SAFFIOTI, 2015). Essa memória estabilizou, como
práticas comuns, modos de violência exercidas contra mulheres, entre elas o feminicídio,
compreendido como assassinato de mulheres por razão de seu gênero. O termo ficou
amplamente conhecido no Brasil a partir da criação e implementação da Lei nº 13.104, em
março de 2015, que incorporou ao Código Penal a nova modalidade de homicídio qualificado
como o crime “contra a mulher por razões da condição de sexo feminino” (BRASIL, 2015).
Seu uso é de grande importância para a compreensão social dessa violência, uma vez que,
denominar feminicídio, em contraste com homicídio, confere uma dimensão política ao
problema (PASINATO, 2011). Na mídia, notícias sobre esses crimes têm tido cada vez mais
destaque. Os modos como os casos são apresentados têm sido alvo de críticas pelos movimentos
feministas, por promoverem a espetacularização dos casos, na maioria das vezes abordados
através de sensacionalismo ao culpabilizar a vítima e não seu assassino. Segundo Miranda
(2017), é necessário que os meios midiáticos adotem uma perspectiva de gênero ao noticiarem
crimes violentos contra mulheres, evitando uma comunicação sexista e, por conseguinte, a
perpetuação de formas de violência simbólicas contra as mulheres. Ainda de acordo com a
autora, a forma como essas informações são passadas ao público não contribui para a
problematização da violência (SAFFIOTI, 2015) como resultado de uma estrutura social que
precisa ser combatida. As práticas sociais de produção da informação, contudo, não são
homogêneas, mas heterogêneas e complexas, constituindo-se de campos midiáticos que
também são heterogêneos e plurais. Em nossa pesquisa investigaremos os campos: das Mídias
Tradicionais Dominantes (MTD) e das Mídias Alternativas Feministas (MAF). Cada um deles,
com suas práticas discursivas vinculadas a lugares discursivos específicos, refletirá um modo
de funcionamento do discurso sobre o feminicídio. Em vista disso, escolhemos o espaço do
facebook como lugar de observação dessas mídias no intuito de responder a nossa questão

28
Essa pesquisa conta com suporte financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ),
Termo nº 07/2021.

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central: Como funciona o discurso sobre o feminicídio em páginas de facebook vinculadas aos
campos discursivos midiáticos tradicional (MTD) e alternativo feminista (MAF) em face da
retomada e deslocamento da memória do patriarcalismo? Nossa questão central se desdobra
nos seguintes questionamentos: 1) Como se constituem as posições dos sujeitos enunciadores
e comentadores das páginas de facebook consideradas acerca do feminicídio, tendo em vista os
lugares discursivos de mídia tradicional e mídia alternativa dessas páginas? 2) Levando em
consideração que todo discurso é um efeito das “redes de memória e dos trajetos sociais nos
quais irrompe”, bem como um trabalho no espaço dessas redes e trajetos (PÊCHEUX, 2015a,
p. 56), como se dá a reprodução/repetição e deslocamento/ruptura de sentidos sobre o
feminicídio estabilizados na rede de memória patriarcal nas páginas de facebook analisadas? 3)
Como esses funcionamentos se relacionam com os processos simbólicos e sociais de construção
e representação identitária – legitimação, contestação e projeção (CASTELLS, 2018) – do
sujeito mulher? A partir dessas questões, temos como objetivo geral em nossa pesquisa
investigar o funcionamento do discurso sobre o feminicídio em páginas de facebook vinculadas
aos campos da MTD e da MAF, a fim de compreender a reprodução/repetição ou
deslocamento/ruptura dos sentidos da memória patriarcal, bem como sua repercussão nos
processos de construção simbólica da identidade do sujeito mulher. Para isso, buscamos: 1)
analisar como se constituem as posições dos sujeitos enunciadores e comentadores das páginas
de facebook quanto ao feminicídio, considerando os lugares discursivos de mídia tradicional
dominante e mídia alternativa feminista dessas páginas. 2) investigar os processos de
reprodução/repetição e deslocamento/ruptura de sentidos sobre o feminicídio estabilizados na
rede de memória patriarcal nas páginas de facebook analisadas. 3) compreender a relação entre
esses funcionamentos e os processos simbólicos e sociais de construção e representação
identitária (legitimação, contestação e projeção) do sujeito mulher. Defendemos a tese que o
discurso digital sobre o feminicídio em páginas de facebook de MTD e de MAF mobiliza
espaços diferentes de memória patriarcal, seja reproduzindo ou deslocando sentidos, resultando
em efeitos de apagamento, atenuação e denúncia do feminicídio enquanto crime de gênero
Nossas hipóteses acerca da reprodução e o deslocamento da memória que estruturam a
produção de sentidos sobre o feminicídio no facebook resulta em dois processos de
interpretação: 1) um processo de retomada/repetição da memória patriarcal constituindo uma
rede discursiva de apagamento ou atenuação do caráter de gênero do crime feminicídio através
dos efeitos de responsabilização da vítima pelo crime, de justificação do crime por meio do
argumento de passionalidade e de atenuação da responsabilidade do sujeito-criminoso; 2) um
processo de deslocamento/ruptura da memória patriarcal constituindo uma rede discursiva de
denúncia da natureza de gênero do feminicídio por meio dos efeitos de sentidos que situam o
feminicídio como uma questão estrutural e evidencia o sujeito mulher como vítima de crime de
gênero. Quanto à posição dos sujeitos enunciadores das páginas, acreditamos que os processos
de retomada/repetição ou deslocamento da memória patriarcal não são homogêneos aos lugares
de mídia (MTD x MAF), uma vez que há possibilidade de deslocamento dessa memória tanto
nas páginas de MAF quanto nos de MTD. Nas páginas de MAF, entretanto, a retomada da
memória patriarcal se dá mediante deslocamento e ruptura dos pré-construídos dessa memória,
tendo em vista sua desregularização. Já na posição dos sujeitos comentadores, em ambos os
lugares, há uma tendência à identificação e à contraidentificação com a posição dos

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enunciadores das páginas. Nossa pesquisa se sustenta na Análise do Discurso Pecheutiana
(ADP) quanto à relação discurso, sujeito e memória (PÊCHEUX, [1975] 2014, 2015a, 2015b)
e entre lugar discursivo e posição sujeito (PÊCHEUX, [1975] 2014; GRIGOLETTO, 2007).
Teremos ainda a contribuição dos estudos de mídias (WOITOWICZ, 2009; CHARAUDEAU,
2013; DOWNING, 2004), na caracterização das MTD e das MAF, e dos estudos feministas
(SAFFIOTI, 1987, 2015; SEGATO, 2003, 2013, 2021; PASINATO, 2011; LAGARDE, 2004,
2008), acerca do conceito de patriarcado, violência contra a mulher e feminicídio. Nossa
pesquisa é de natureza discursiva, nosso corpus se classifica como de arquivo (COURTINE,
2014) e será construído a partir de sequências discursivas (SD) recortadas de postagens e
comentários sobre feminicídios retirados das páginas de facebook do G1 e do Cidade Alerta,
representantes da MTD, e das páginas TODAS Fridas, Não Me Kahlo, Feminismo sem
demagogia-original, Ventre Feminista e Empodere Duas Mulheres, representantes das MAF.
As SD serão montadas a partir de redes de formulações que articulem feminicídio às
determinações de raça, classe e gênero. A análise dessas redes incidirá de modo particular na
designação do sujeito mulher vítima, sujeito homem criminoso e do crime de gênero. As
materialidades significantes consideradas serão os textos, fotos, manchetes, entre outras,
trazidas nas postagens e comentários. Nossa pesquisa exploratória inicial recuperou 257
postagens sobre o feminicídio nas páginas de MTD (G1 -121; Cidade Alerta – 136) e 163 nas
de MAF (TF – 23; NMK – 9; FSD – 57; EDM – 40; VF – 34). Nosso projeto insere-se na área
de concentração dos Estudos Linguísticos, na linha de pesquisa de Práticas sociais, históricas e
culturais de linguagem no que concerne às questões sobre linguagem, cultura e discurso,
entendidas como práticas de linguagem pensadas enquanto processos políticos e simbólicos de
representação e constituição de sujeitos e sentidos e construção e reconstrução de memórias.
Nossa pesquisa faz parte do projeto geral “Formas de significação do sujeito político brasileiro
na contemporaneidade: discurso, memória e identidade(s)”, coordenado pelo Professor Dr.
Washington Silva de Farias. A relevância de nossa pesquisa se estabelece pela necessidade de
compreender como o discurso midiático digital sobre o feminicídio mobiliza a memória
patriarcal, reproduzindo imagens sobre o sujeito mulher que contribuem para a manutenção da
violência de gênero, e também como pode favorecer movimentos de resistência, projetando
novas formas de se conceber os sujeitos mulheres e de atuar sobre as violências às quais esses
sujeitos estão expostos. Logo, conhecer como o discurso sobre o feminicídio funciona em
campos de mídias diferentes é entender como essa violência é estruturada e quais são as
possibilidades para sua desestruturação.

Palavras-chave: Discurso; Memória; Mídias; Feminismo; Feminicídio.

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A ESCOLARIZAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO NAS PRÁTICAS DE
LEITURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: O CASO DA OBRA DE ARIANO
SUASSUNA

Karine Viana Amorim


Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael

Resumo: O livro é considerado um capital cultural objetivado (BOURDIEAU, 1998) tanto do


indivíduo como da sociedade, fazendo parte de nossa cultura e do nosso cotidiano, seja na
igreja, na política, na escola, entre outros espaços. Considerando como material didático
presente e indispensável nas escolas brasileiras de educação básica espera-se que o livro, seja
em forma de trecho, fragmento ou obra completa, faça parte do processo de escolarização da
literatura através de práticas de leitura nas diversas disciplinas curriculares, sobretudo, na área
de Linguagens, de acordo com a BNCC. Partindo desse pressuposto, a presente pesquisa
analisará as formas de escolarização do texto literário através das práticas de leitura
desenvolvidas a partir da obra de Ariano Suassuna, por alunos e professores, em três escolas
públicas na cidade de Taperoá, no estado da Paraíba, posto que há uma identificação entre o
escritor e a própria constituição de sua obra com a cidade e com o Sertão, representando o lugar,
as pessoas, os costumes, a cultura e assim gerando um reconhecimento da identidade e da
história de vida dos leitores da cidade (NEWTON JÚNIOR, 2000). Assim, acreditamos que a
obra (completa ou trechos) de Ariano Suassuna está presente nas práticas sociais de linguagem
na escola, tanto nas aulas das disciplinas da área de Linguagens como em outras áreas. Como
objetivos, foram elencados: o geral – mapear e analisar o processo de escolarização da obra de
Ariano Suassuna através de práticas de leitura em diversas disciplinas de 3 escolas públicas na
cidade de Taperoá-PB; e os específicos – (1) Identificar e categorizar professores e disciplinas
que utilizam a obra de Ariano Suassuna no processo de escolarização da literatura nas escolas
de Taperoá-PB; (2) Analisar os modos de inclusão e de tratamento didático no processo de
escolarização da obra de Ariano Suassuna nas 3 escolas de educação básica na cidade de
Taperoá-PB e (3) Identificar e analisar as práticas de leitura desenvolvidas por alunos no
processo de escolarização da obra de Ariano Suassuna. Como questões de pesquisa, foram
propostas: (1) Quais obras de Ariano Suassuna são conhecidas e lidas para e pelos estudantes e
professores das escolas de Taperoá – PB? (2) De que forma a obra de Ariano Suassuna é inserida
nas escolas públicas de Taperoá – PB para estudantes e professores? (3) Como professores e
estudantes leem a obra de Ariano Suassuna? (4) Ao entrar na escola, a obra passa a ser objeto
de estudo de quais disciplinas? Metodologicamente, esta pesquisa tem uma abordagem
qualitativa (CHIZZOTTI, 2003) e (PAIVA, 2019) e de cunho etnográfico (SIQUEIRA, 2014).
De acordo com Paiva (2019), “A pesquisa qualitativa acontece no mundo real com o propósito
‘de compreender, descrever e, algumas vezes, explicar fenômenos sociais, a partir de seu

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interior, de diferentes formas’ (FLICK, 2007, p. ix.). Tais formas incluem análise de
experiências individuais ou coletivas, de interações, de documentos (textos, imagens, filmes ou
música), etc.”. Enquanto qualitativa, esta investigação se debruça sobre uma comunidade
específica: a comunidade escolar taperoaense, na qual a obra de Ariano Suassuna tem um
registro bastante fecundo, seja no tocante à materialidade deixada pelo autor e seus familiares
na cidade, seja pela própria importância que o autor tem no cenário artístico e literário nacional.
Para o desenvolvimento da pesquisa em questão, os procedimentos metodológicos foram
divididos em três etapas, quais sejam: (1) Construindo a coleta de dados – etapa a distância e
em realização; (2) – Coleta de dados – Etapa presencial e ainda não realizada e (3) Construção
dos dados – etapa já iniciada. Na etapa 1, foram realizadas as seguintes ações: Conversa por
telefone com a professora Jane Áurea, atual secretária de educação da Prefeitura de Taperoá-
PB para apresentar a minha pesquisa; Solicitação dos dados dos professores e das escolas
municipais e das estaduais; Elaboração de um grande quadro contendo os seguintes dados das
escolas municipais e estaduais: Quantidade de alunos, professor, disciplina, série, situação,
telefone e e-mail; Seleção das 3 escolas mais antigas da cidade: EMEF Cel. Pedro de Farias –
787 alunos, EMEF e EJA Felix Daltro – 680 alunos e ECI Melquíades Vilar – (ainda não temos
essa informação); Seleção de alguns professores da área de Linguagens e de Humanas da escola
ECI Melquíades Vilar; Contato por e-mail com alguns professores via e-mail para uma primeira
conversa via Google Meet; Seleção (indicação) de 7 professores da área de Linguagens (3 de
Língua Portuguesa, 1 de Artes e 1 de Língua Inglesa), de Humanas (1 de História) e de Ciências
da Natureza (1 de Física) da escola ECI Melquíades Vilar e realização de 6 entrevistas via
Google Meet, orientadas, com as perguntas previamente elaboradas: (a) Quais obras de Ariano
Suassuna são conhecidas e lidas para e pelos estudantes e professores das escolas de Taperoá –
PB?; (b) De que forma a obra de Ariano Suassuna é inserida nas escolas de Taperoá – PB para
estudantes e professores?; (c) Como professores e estudantes leem a obra de Ariano Suassuna?
E (d) Ao entrar na escola, a obra passa a ser objeto de estudo de quais disciplinas?). Na etapa
2, serão realizadas as seguintes fases presenciais: Marcação e realização das entrevistas com
todos os professores selecionados previamente; Catalogação dos documentos de planejamento
referentes ao trabalho dos professores com a obra de Ariano Suassuna: planos de aulas,
sequência didática, projeto de ensino ou de letramento, entre outros; Entrevista e/ou aplicação
de questionários com alunos a partir de indicação de professores ou de alguma situação
específica; Visita ao Museu “Casa Ariano Suassuna”, à Biblioteca Municipal, às Bibliotecas
das escolas selecionadas e à Fazenda Carnaúba. E, por fim, na etapa 3, serão realizadas as
seguintes ações: Transcrição das entrevistas realizadas; Elaboração de um quadro relativo às
práticas de leitura dos entrevistados e Finalização da análise dos dados. Vale ressaltar que
haverá a construção de um diário fotográfico de todas as etapas presenciais da geração de dados.
A nossa pesquisa se situa no âmbito teórico e metodologicamente da Linguística Aplicada
(Moita Lopes, 2006, 2013 e 2017), (Aparício, 2014) e (Siqueira, 2014) por observar a
escolarização e presença do texto literário (Batista, 2008) nas diversas práticas de leitura no
espaço escolar, como uma prática de linguagem que vai além das aulas de língua portuguesa e
de literatura. Entendendo ser uma área interdisciplinar, também contamos com apoio da
Sociologia da Prática, representada aqui por Pierre Bourdieu com os conceitos de Capital
Cultural (objetivado, incorporado e institucionalizado) (Bourdieu, 1988) e de conceito de

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Campo (Bourdieu, 1983) e (Monteiro, 2018). Considerando a escola como um microcosmo do
campo educacional, observa-se o desenvolvimento de práticas de leitura do texto literário
(BORDINI; AGUIAR, 1993) a partir da aquisição do capital cultural por parte de alunos e
professores (agentes). O capital cultural adquirido de forma objetivada é transmitido, através
de um tipo de deslizamento, da forma incorporada dentro da escola, entre seus agentes: alunos
e professores. E essa transmissão pode ocorrer em práticas sociais de linguagem, tanto nas aulas
da área de Linguagens como em outras áreas – Humanas e Ciências da Natureza. Além desses
conceitos, também serão discutidos os conceitos de cultura e de representação (HALL, 2016),
leitura como prática cultural (CHARTIER; BOURDIEAU, 2011), práticas de leitura
(DIPIETRI, 2007), letramento literário (COSSON, 2021).

Palavras-Chave: Escolarização; Prática de leitura; Texto literário; Escola; Ariano Suassuna.

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O TEATRO DE BONECOS POPULAR DO NORDESTE: ESPAÇO
HETEROTÓPICO DE RISO E RESISTÊNCIA

Melissa Raposo Costa


Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira

Resumo: A obra O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é um dos maiores sucessos da


TV e do cinema do brasileiro. Saiu das páginas dos livros para as telas e seus personagens são
sempre garantia de diversão para públicos bastante diversificados. Muitos não sabem, mas
tanto o filme29 quanto a série de TV são adaptações de três obras de Ariano Suassuna: o próprio
livro O auto da Compadecida e as peças Torturas de um coração e O santo e a porca. Torturas
de um coração tem como personagem principal um homem negro, Benedito, rechaçado por
todos da cidade. Seus maiores desafetos são Vicentão, o valentão, e o Cabo Setenta, homem da
lei. Marieta é o objeto do desejo de todos eles e, na tentativa de conquistá-la, Benedito, graças
à sua esperteza, força e brutalidade, consegue traçar um plano para ficar com Marieta e vingar-
se de Vicentão e do Cabo. À procura de mais informações sobre Torturas de um coração,
encontramos uma entrevista de Ariano Suassuna concedida ao Programa Roda Viva, da TV
Cultura, em 06 de maio de 200230. No início dessa entrevista, o autor faz referência ao
personagem Benedito e afirma que sua criação foi diretamente influenciada pelos personagens
do Teatro de Bonecos, cujos espetáculos tiveram bastante relevância na infância do autor e,
posteriormente, na criação de suas obras literárias. Diante dessa informação, iniciamos uma
pesquisa mais específica sobre o Teatro de Bonecos Popular do Nordeste (TBPN 31) e
observamos, a partir da leitura dos textos tradicionais dessa arte, que a construção discursiva
dos personagens desse teatro evidencia/denuncia o racismo, o machismo e enaltecem a luta das
minorias por posições de poder em nossa sociedade. Diante dessa percepção, fizemo-nos um
questionamento inicial: o TBPN pode ser compreendido, numa perspectiva discursiva, como
um espaço que possibilita a determinados sujeitos dizerem o que não pode ser dito em outras
circunstâncias? A partir dessa questão, apresentamos como objetivo geral do nosso projeto
analisar a constituição do TBPN como um espaço heterotópico de resistência assim reconhecido
a partir da construção discursiva de seus personagens tradicionais. Defendemos a tese que essa
construção evidencia e denuncia discursos racistas e machistas historicamente surgidos e
mantidos em nossa sociedade ao mesmo tempo em que contribui para alimentar outras vontades

29
A minissérie foi produzida pela Rede Globo de Televisão e exibida pela primeira vez neste canal em 1999.
Devido ao sucesso da minissérie e baseado nela, foi lançado um filme de mesmo nome, no ano 2000. Em 2014 e
2020, a minissérie foi reexibida, respectivamente, no Canal Viva e novamente na Rede Globo.
30
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WUjcJNtSaqU&t=119s
31
A sigla TBPN será utilizada no projeto para fazer referência ao Teatro de Bonecos Popular do Nordeste.

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de verdade, saber e poder como representação de resistência através da arte popular no Nordeste
brasileiro. Nesse sentido, as relações de poder, saber e verdade mobilizadas e evidenciadas na
materialidade discursiva nos textos tradicionais do TBPN são o nosso objeto de pesquisa.
Diante dessa proposta, nossos objetivos específicos são: 1. descrever a história e as
características do teatro de bonecos no mundo e no Brasil, especificamente na Região Nordeste,
onde defenderemos que ele se constitui como um espaço heterotópico de resistência; 2. analisar
o TBPN como um espaço outro onde é possível construir um sujeito negro herói; 3. analisar a
constituição discursiva do sujeito mulher no TBPN evidenciando as continuidades e
descontinuidades nessa construção. Acreditamos que nossa pesquisa faz-se relevante diante das
justificativas que seguem. Primeiramente, pelo vasto material encontrado para o
aprofundamento da pesquisa, incluindo várias edições de uma revista dedicada exclusivamente
à arte do TBPN, publicada no Brasil desde 1973. O segundo motivo refere-se à produção
acadêmica sobre o TBPN, tendo em vista que encontramos alguns estudos na área de artes
cênicas, porém, nenhum trabalho na área de Linguística, especificamente na perspectiva
discursiva. O terceiro e último motivo é a necessidade de um olhar cuidadoso e atento para a
arte popular do Nordeste do Brasil como elemento de representação da resistência dos excluídos
em nossa sociedade. Seguindo os nossos objetivos, propomos um estudo do tipo descritivo-
interpretativo, e em relação às fontes de informação e coleta dos dados nossa pesquisa
classifica-se como documental, tendo como corpus: a) Textos tradicionais do TBPN de
diversos autores e de origem oral que foram transcritos e publicados na Revista Mamulengo e
no livro Fisionomia e espírito do mamulengo, de Hermilo Borba Filho (1966); b) O Dossiê do
Registro do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste (2014), documento produzido para o
reconhecimento do TBPN como patrimônio cultural do Brasil; c) 14 Edições da Revista
Mamulengo disponibilizadas virtualmente e publicadas entre os anos de 1973 até 1989. 32
Propomos uma análise do corpus baseada na arqueologia e na genealogia de Foucault. Segundo
Gregolin (2007, p. 92), “o método arqueológico tenta compreender a irrupção dos
acontecimentos discursivos, investigando as condições (histórico-sociais) que possibilitaram o
seu aparecimento”. A fase genealógica da nossa pesquisa será destinada a olhar nosso corpus
com o objetivo de responder às seguintes questões: como se formam as séries de discursos?
Quais as condições para seu aparecimento, sua sobrevivência, sua variação? Nessa etapa,
abordaremos mais profundamente às questões relacionadas aos discursos e aos sujeitos na sua
relação com o poder. Para a realização da nossa pesquisa, propomos dividi-la em duas grandes
etapas baseadas nos objetivos específicos que apresentamos anteriormente. A primeira etapa
será destinada à leitura e análise do Dossiê do Registro do Teatro de Bonecos Popular do
Nordeste e das 14 edições da Revista Mamulengo com o objetivo de escolhermos os textos a
partir dos quais faremos a nossa análise. A segunda etapa será destinada à construção dos
capítulos da tese, às visitações a museus e às leituras teóricas, as quais dividimos em três
grandes grupos: 1º grupo – leituras acerca dos estudos discursivos, privilegiando os estudos
foucaultianos (conceitos de subjetividade, verdade, saber, poder, heterotopia, discurso entre
outros); 2º grupo – leituras teóricas referentes ao teatro de bonecos (Commmedia Dell´Arte,

32
Edições da Revista Mamulengo disponibilizadas digitalmente:
https://abtbcentrounimabrasil.wordpress.com/revista-mamulengo/edicoes-anteriores/

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história e características dessa arte no mundo e no Brasil, textos tradicionais do TBPN, 14
edições da Revista Mamulengo, publicadas entre 1973 e 1989, entre outras); 3º grupo – leituras
teóricas decoloniais (racismo, feminismo, representação, estereótipos entre outras). Para esse
segundo momento da pesquisa, como dito anteriormente, também sugerimos a visitação a
alguns museus que possuem acervos importantes sobre o TBPN, dentre os quais, o Museu do
Homem do Nordeste, o Museu da Imagem e do Som de Pernambuco, ambos localizados na
cidade de Recife, e o Espaço Tiridá, situado em Olinda. Diante do exposto, sugerimos que a
tese seja escrita em três capítulos. No capítulo 1, propomos a construção de um apanhado
histórico sobre o Teatro de Bonecos no mundo e, especificamente, no Nordeste brasileiro, onde
defenderemos que ele se constitui como um espaço heterotópico de resistência. Como aspectos
teóricos para esse capítulo, nos basearemos em Foucault (2013), Santos (1979), Borba Filho
(1966), dentre outros. No capítulo 2, analisaremos as vontades de verdade, saber e poder que
estão relacionadas à construção discursiva do sujeito negro nos textos tradicionais do TBPN.
Defenderemos que os bonecos e a “brincadeira” foram utilizados pelos mestres brincantes como
uma forma de resistência, tendo em vista que os bonecos podiam dizer aquilo que os
bonequeiros não estavam autorizados a falar. Propomos um momento especial para tratarmos
do TBPN como essa “brincadeira” e dos vastos significados dessa palavra no contexto de
resistência que essa arte representa. Moreira (2019), Hall (2016), Albuquerque (2011), Foucault
(2012), dentre outros, serão utilizados para a construção teórica desse capítulo. No capítulo 3,
propomo-nos a investigar as vontades de verdade, saber e poder que estão relacionadas à
construção discursiva do sujeito mulher nos textos tradicionais do TBPN. Nesse capítulo,
analisaremos a manutenção de discursos machistas e as fortes relações entre raça, classe e
gênero que se evidenciam quando a personagem feminina surge nos textos tradicionais do
TBPN. Davis (2016), Foucault (2010;1986;1979), Hooks (2019), entre outras, serão leituras
teóricas fundamentais para a construção desse capítulo. Acreditamos que o caminho de pesquisa
que aqui sugerimos e apresentamos nos capítulos acima descritos nos fará comprovar a tese
anteriormente apresentada com o auxílio das leituras teóricas e a partir do detalhamento das
análises discursivas dos textos selecionados.

Palavras-Chave: Teatro de Bonecos Popular do Nordeste (TBPN); Heterotopia; Resistência;


Verdade; Saber; Poder.

Referências

ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez,
2011.

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Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1966.

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Cassimiro Coco, Babau e João Redondo. Junho, 2014. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/dossie_teatros_bonecos.pdf. Acesso em: 08 de
ago. 2021.

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uma trajetória filosófica. Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Tradução: Vera Portocarrero
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ODE ÀS MÃOS: A PRESENÇA DO REAL NAS ARTES SURDAS COMO
MOTIVADORA DO ATO RESPONSÁVEL E HUMANIZADO

Ronny Diogenes de Menezes


Orientador: Prof. Dr. Fábio Marques de Souza
Coorientadora: Profa. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto

Resumo: Todos os dias vivenciamos situações que ativam os nossos sentidos. Cheiros, cores,
sons, texturas e sabores nos lembram pessoas, lugares e situações que vivemos. Esse processo
é possível pela linguagem e, sendo ela uma estrutura imaterial, evoca da memória os
acontecimentos e experiências, produzindo novos significados e podendo nos conduzir a algo
novo. Através do ato pensar, todas essas experiências, sentidas em nossos corpos, se somam a
um enorme repertório de acontecimentos que, assim, compõem nossas recordações e nos
auxiliam a significar e ressignificar o mundo, e realizar ato responsável perante o outro
(BAKHTIN, 2010). Os artistas sempre se valeram do diálogo e evocação de experiências em
direção às coisas do mundo para criar suas obras (BAKHTIN, 2019b). Através de diversas
linguagens, eles contam histórias e nos fazem senti-las em nossos corpos, algumas vezes nos
fazendo acreditar que estamos em outro lugar, sentindo odores, sabores e causando arrepios nos
pelos de nossos braços. Essa sensação de Presença do que está fisicamente ausente é inerente
ao uso da linguagem e dá ao discurso uma função dupla. Enquanto para o emissor ele é uma
realidade, o receptor recria essa realidade sob a ótica de suas próprias vivências
(BENVENISTE, 1976). Nesse sentido, podemos confirmar que “o homem sentiu sempre e os
poetas frequentemente cantaram o poder fundador da linguagem, que instaura uma realidade
imaginária, anima as coisas inertes, faz ver o que ainda não existe, traz de volta o que
desapareceu” (BENVENISTE, 1976, p. 27). Esse poder fundador também está presente nas
artes surdas, e com sua fruição é possível sentir em nossos corpos outras realidades e
264essignifica-las a partir de nossas experiências. Entendemos as artes surdas do mesmo modo
que Menezes (2017, p. 78) ao explicitar que elas são “produções registradas nos mais diversos
suportes..., e que foram criadas por pessoas que pertencem a uma comunidade Surda e que, em
seu escopo, transmitem a cultura, as lutas, os anseios, os medos e as alegrias de seus membros”.
Essas artes revelam muito sobre os povos Surdos e nelas podemos encontrar piadas, contos,
romances, poemas, relatos, pinturas, fotografias, competições de poesia, novelas e outras
formas de arte. A temática desse gênero, na maioria das vezes, aborda a relação entre Surdos e
ouvintes e o ser Surdo em meio a uma sociedade de falantes da língua portuguesa (MENEZES
& SOUZA, 2019), desse modo surge um novo mundo de significações que os ouvintes
desconhecem. Esse desconhecimento nos levou a realizar uma pesquisa no Programa de
Formação de professores da UEPB. Nesse processo, inicialmente adentramos no conceito de
literatura Surda, porém, com o prosseguimento dos trabalhos, foi possível constatar que esse
termo não é capaz de comportar todas as possibilidades criativas das artes surdas e isso nos

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levou a adotar o conceito de Escritas Surdas. Além disso, na pesquisa, percebemos que os
estudantes do ensino básico trazem consigo várias crenças equivocadas ligadas às pessoas
surdas e por meio do contato com essas Escritas elas podem ser repensadas, seguindo um
possível caminho para a reconfiguração dessas crenças. Nesse processo, foi possível perceber
que há um elemento comum a todos os humanos, mas que recebe um alto destaque em
praticamente todas as artes surdas, as mãos. Elas surgem como protesto, defesa, expressam
medo e revolta, conclamando o espectador a olhar o surdo e perceber as suas subjetividades.
Assim, ficou clara a necessidade de ampliar os estudos sobre essa temática, pois foram
encontrados poucos trabalhos que adentrassem nos aspectos discursivos das artes produzidas
por Surdos, e, principalmente, não encontramos investigações que estudassem como a mão
reflete e refrata o ser e estar Surdo em meio a uma sociedade majoritariamente ouvinte. Levando
em consideração carência de estudos na área, torna-se fundamental que os ouvintes possam
adentrar no mundo do surdo e sentir a presença de algo que lhe é alheio, pois, por séculos, os
ouvintes têm definido e limitado a participação de pessoas surdas na sociedade. Com isso, surge
em nosso trabalho a hipótese de que as mãos são uma ferramenta ideológica e social que nos
humaniza e se tornam um ponto de intersecção entre Surdos e ouvintes no processo de
(re)construção e correlação de nossas identidades. Desse modo, pretendemos responder a
seguinte questão: Como a presença das mãos nas Artes Surdas podem nos conduzir ao ato
responsável e humanizado perante o outro-surdo? A partir disto, o objetivo desta tese é
compreender, sob uma perspectiva historicista e decolonial, como a reflexão sobre a
infraestrutura de exclusão e segregação, por meio da aparição das mãos na arte surda, pode
conduzir ao ato responsável e humanizado. Todo o nosso trabalho está fundamentado na
filosofia do ato responsável que entende que nem o teoricismo puro nem o historicismo dão
conta de compreender os atos humanos (BAKHTIN, 2010; SOBRAL, 2019). Do mesmo modo
que a concepção de presença de Gumbrecht (2010), filósofo alemão que percebeu que a
hermenêutica de sentido, sozinha, não podia dar conta de alguns efeitos que as linguagens levam
os humanos a sentir. Para esse autor, produção de presença são todos os efeitos nos corpos
humanos causados por atos reais (GUMBRECHT, 2010). Bakhtin (2010) nos apresenta dois
mundos, o real/vida – em que vivemos e realizamos nossos atos – e o teórico o qual existe fora
do ato, sendo ele o mundo teórico/cultura. Tanto Gumbrecht (2010) quanto Bakhtin (2010)
propõem uma união entre esses mundos. Para Gumbrecht essa união permitirá compreender os
eventos de maneira mais completa através de amalgamações entre vida e cultura, enquanto,
para Bakhtin, esta união é o que permite a realização do que ele chama de ato responsável. Para
que possamos trilhar o caminho para o ato responsável e humanizado, segundo Bakhtin (2010),
é preciso experimentar o real, ou seja, as vivências do outro. Para isso, é preciso que
compreendamos os contextos históricos e sociais que fazem parte de uma infraestrutura. Desse
modo, para refletirmos e chegarmos ao ato responsável perante o outro-surdo, precisamos
conhecer a infraestrutura que culminou na aparição das mãos surdas como um símbolo de
resistência de dupla importância para os povos surdos. Primeiro como signo ideológico da
humanidade e, ainda, como a principal ferramenta de comunicação e interação entre o surdo e
o mundo. Assim, procuramos estabelecer um pensamento participante, no qual o eu-ouvinte
procurará agir sempre considerando o outro-surdo a partir do ato-pensar tendo como base as
artes surdas, pois somente com o pensamento não indiferente é possível que o eu-ouvinte aja

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de forma responsável perante o outro-surdo. Na busca para entender como as Escritas Surdas
podem contribuir para a humanização dos ouvintes ante as pessoas Surdas adotamos uma
abordagem qualitativa de cunho exploratório, conduzida por meio de uma pesquisa de base
dialógica, por isso social. Essa escolha foi necessária, pois como Bakhtin (2019b), rejeitamos a
concepção burguesa e elitista de fetichização da obra de arte como uma entidade completa e
fechada que só pode ser descrita do ponto de vista estético. A partir disso, entendemos a arte
como um signo ideológico que é fruto de uma complexa infraestrutura que precisa ser
considerada no momento da análise da obra (BAKHTIN, 2019ª; BAKHTIN, 2019b). Para isto,
foi necessário, analisar os fatos de maneira abrangente. Isto implicou, primeiramente, em ter
uma visão geral do contexto associando-o aos dados gerados na investigação sob a luz dos
teóricos discutidos neste trabalho. Para essa etapa utilizamos os princípios da Análise Dialógica
do Discurso (BRAIT, GONÇALVES, 2021; BAKHTIN, 2019b), na qual procuramos
considerar a indissociabilidade entre autor, espectador, obra e contexto sociológico de produção
(BAKHTIN, 2019b). Durante todo o processo de construção desta tese, procuramos nos
concentrar em autores surdos brasileiros de diversas regiões do país e que pouco ou nunca foram
objetos de estudo por pesquisadores brasileiros. Além disso, procuramos abordar obras de
autores surdos negros, indígenas, mulheres, LGBTQIA+ e outras minorias que estão presentes
dentro da comunidade surda. Até o momento, através dos dados gerados, constatamos que há
dezenas de artistas surdos que divulgam suas produções nas redes sociais e que em suas obras
as mãos têm um lugar privilegiado. Além disso, foi possível perceber que a região sudeste é a
que tem o maior número de artistas surdos, porém é a que menos produz estudos acadêmicos
sobre a arte surda.

Palavras-Chave: Libras; Literatura; Artes; Visualidade; Cultura.

Referências

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BAKHTIN, M. (Volochínov). Marxismo e filosofia da linguagem. 1. ed. Trad. Grillo, S; Américo, E.
V. São Paulo: Editora 34, 2019ª.
BAKHTIN, M. (Volochínov). A palavra na vida e a palavra na poesia. 1. ed. Trad. Grillo, S; Américo,
E. V. São Paulo: Editora 34, 2019b.
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral. São Paulo, EDUSP, 1976.
BRAIT, B.; GONÇALVES. J. C. Corpos espelhados nas dobras da arte e da vida: A desumanização. In:
BRAIT, B.; GONÇALVES. J. C. (org.). Bakhtin e as artes do corpo. São Paulo: Hucitec, 2021.
GUMBRECHT, H. U. Produção de Presença – o que o sentido não consegue transmitir. Ed. PUC- Rio,
Rio de Janeiro, 2010.
MENEZES, R. D; SOUZA, F. M. Escritas Surdas na Escola: Novos horizontes literários. Mentes
Abertas, São Paulo, 2019.
MENEZES, R. D. As escritas Surdas como artefatos culturais mediadores de reflexões a respeito das
crenças sobre a surdez. 2017. 155 f. Dissertação (Mestrado em Formação de Professores). Universidade
Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2017.

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SOBRAL, A. Filosofia primeira de Bakhtin: roteiros de leitura comentada. Mercado de Letras, Campinas,
2019.

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O ACONTECIMENTO DISCURSIVO DA PANDEMIA DE COVID-19
EM CIRCULAÇÃO-RELAÇÃO-CONFRONTO DE FATOS E FAKES
NOS CAMPOS DAS MÍDIAS EMPRESARIAIS, ALTERNATIVAS E
CONSERVADORAS

Vanda Késsia Gomes Galvão


Orientador: Prof. Dr. Washington Silva de Farias

Resumo: Em março de 2020, a mudança do status de epidemia para pandemia de covid-19


demarcou que viveríamos um acontecimento histórico singular, atravessado por discursividades
heterogêneas e paradoxais quanto à representação dos sujeitos e sentidos nesse momento.
Relembrando graves doenças do passado, o acontecimento histórico da pandemia do
coronavírus transformou-se em acontecimento discursivo (ORLANDI, 2020), afetando a língua
hoje, num “ponto de encontro de uma atualidade e uma memória” (PÊCHEUX, 2008, p. 17),
ao implicar (des)regulação dos sentidos sobre a doença nas redes de memória dela, sendo essas
redes “um espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de
conflitos de regularização...” (PÊCHEUX, 1999, p. 56). Isso trouxe à tona termos negacionistas
da enfermidade e da pandemia, tais como “comunavírus”, “vachina” ou “fraudemia”, que se
relacionam aos tensionamentos entre, pelo menos, duas redes de memória principais: uma
produz sentidos da pandemia de coronavírus como verdade e outra como farsa, cujas posições
indicam filiações político-ideológicas para negação ou reafirmação de determinados aspectos
do vírus ligados à natureza, enfrentamento e tratamento da covid-19. Diante desse quadro, tendo
como fundamento teórico principal a análise do discurso materialista vinculada à Michel
Pêcheux, entendemos que os sentidos em circulação nessas duas redes podem tanto se
relacionar quanto se confrontar no percurso de (des)regularização da memória. O que se dá em
razão de tais redes serem constituídas por uma heterogeneidade complexa de saberes e posições
em disputa, oriundos de diversos campos, dentre eles: 1) o médico-científico, com discussões
sobre o status da crise sanitária, se epidemia, pandemia ou uma alegada “fraudemia”; o político,
cercado de tensões expressas nas divergências do Poder Público (federal, estadual e municipal)
acerca do enfrentamento e tratamento da enfermidade, além do debate entre defesa da vida
versus economia; e 3) o jornalístico, que será nosso foco principal de estudo, na crise
informativa, relacionada à heterogeneidade das posições dos diferentes tipos de mídia, que
fazem a mediação de toda essa gama de sentidos para a sociedade, sendo a lente que as pessoas
tiveram para ler o acontecimento histórico pandêmico. Nessa perspectiva, então, a produção de
sentidos de qualquer notícia mantém relação interdiscursiva que articulará posicionamentos
antagônicos e contraditórios, identificados tanto com o jornalismo científico, legitimado no que
domina na ciência — na rede de memória que significa a pandemia como verdade, veiculando
o que está em séria investigação —, quanto o jornalismo negacionista das informações
dominantes na ciência — na rede de memória que significa a pandemia como farsa —; ambas

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as redes com palavras que circulam podendo mudar de sentido a depender de quem as pronuncia
(PÊCHEUX, 1995). Assim, mobilizando significados para a pandemia de formas diferentes,
no funcionamento do discurso jornalístico teríamos o que entendemos como rede de memória
da pandemia como fato (viés científico) e rede de memória da pandemia como fake (viés
negacionista), sendo aquela perpassada pelo interdiscurso que domina na ciência e esta
perpassada pelos por discursos que negam o conhecimento científico dominante, e carregam,
portanto, as fake news: notícias falsas sobre a pandemia, num “processo de torção discursiva
realizado sob o efeito de uma identificação ideológica” (INDUSRKY, 2019, p. 29). Importante
sinalizar ainda que as informações em circulação no jornalismo também passam por um
processo de escolha que é ideológico, logo, mesmo sendo fato comprovado cientificamente,
uma mídia particular pode escolher não publicar ou publicar diferente de outra. Por isso, a noção
de Dela-Silva (2011, p. 151) para acontecimento jornalístico: “[...] enquanto referente, com
uma existência material no mundo, um acontecimento enquanto um fato que se inscreve na
história do dia a dia”, nos interessa para entender os vários lugares e posições a partir dos quais
este acontecimento histórico/discursivo/jornalístico foi significado. Dessa maneira, sabendo
que o campo jornalístico comporta variadas orientações ideológicas, investigaremos a
pandemia enquanto acontecimento discursivo para compreender sua discursivização como fato
e fake em três campos específicos de mídia informativa: 1) o de orientação corporativa e
neoliberal, no qual estão os grandes conglomerados de imprensa, também conhecido como
Mídia Empresarial (ME), mais marcado pelas posições dominantes do conhecimento médico-
científico, cuja cobertura jornalística da pandemia foi marcada pela identificação com posições
da rede de memória da pandemia como fato, embora abarque posições não predominantes de
ordem negacionista, identificada com a rede de memória da pandemia como fake; 2) o de Mídia
Alternativa (MA), que também circula a pandemia enquanto fato, como a ME, mas possuindo
com esta relações de contra-identificação, especialmente nas questões econômicas dos
protocolos de saúde pública no contexto pandêmico; e 3) de tendências conservadoras e
reacionárias, que se projeta como Mídia Conservadora (MC), é dominantemente negacionista
e mantêm relações de confronto com as MT e MA, filiando-se mais aos sentidos de que a
pandemia não é tal como circulou nos demais campos. Esclarecemos que mesmo não havendo
consenso nos estudos da comunicação sobre essa caracterização das mídias, a assumimos com
base nas proposições de Castells (2017), Becker (2009) e Woitowicz (2009), cujos argumentos
nos ajudarão a complementar esta pesquisa. Nesse contexto, queremos responder a seguinte
questão central: como o acontecimento histórico da pandemia de covid-19 se constituiu em
acontecimento discursivo jornalístico, em face da circulação-relação-confronto dos sentidos da
informação nelas para pandemia como fato e como fake, nas materialidades publicadas por
meio de mídias informativas brasileiras na internet. No desdobramento em questões
secundárias, temos: 1) Considerando a heterogeneidade do campo da mídia jornalística no
ambiente digital, como se constituem as posições-sujeito e efeitos de sentido sobre a pandemia
por veículos representativos dos espaços da ME, MA e MC em relação aos funcionamentos da
rede de memória da pandemia como fato e da rede de memória da pandemia como fake? 2)
Como essas posições e efeitos de sentido se articulam com os lugares sociais e discursivos dos
veículos de mídia considerados? 3) De que maneira regiões do interdiscurso (memória social e
histórica dos sentidos) entram em jogo na circulação-relação-confronto dessas posições e

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efeitos? Com base nesses questionamentos, nosso objetivo geral é compreender a constituição
do acontecimento discursivo jornalístico da pandemia de covid-19, considerando a circulação-
relação-confronto dos sentidos presentes nas materialidades de diferentes mídias do campo
empresarial, alternativo e conservador, em como circularam a pandemia enquanto fato e
enquanto fake. Como objetivos específicos, temos: 1) Caracterizar como se constituem as
posições-sujeito e efeitos de sentido sobre a pandemia por veículos dos campos da ME, MA e
MC em relação aos funcionamentos da rede de memória da pandemia como fato e da rede de
memória da pandemia como fake; 2) Compreender como essas posições e efeitos de sentido se
articulam com os lugares sociais e discursivos dos veículos de mídia escolhidos; 3) Analisar a
maneira como as regiões do interdiscurso entram em jogo na circulação-relação-confronto
dessas posições e efeitos. Nossa proposta de pesquisa é, portanto, de natureza qualitativa e
interpretativa (GIBBS, 2009), a partir dos conceitos centrais de acontecimento discursivo e
memória discursiva. Nas análises, trabalharemos com sites nacionais que sejam representativos
da diversidade político-ideológica do campo jornalístico brasileiro na disputa pelos sentidos da
pandemia. Até o momento, fizemos um levantamento de 50 veículos e escolhemos nove deles,
com três de cada campo específico. Do campo discursivo da ME, elegemos como objeto de
análise a Folha de São Paulo e a CNN Brasil, predominantemente filiadas a uma posição da
rede de memória da pandemia como fato. Ainda no campo da ME, filiando-se a uma posição
negacionista não-dominante, teremos a Jovem Pan. Do campo da MA, selecionamos Agência
Pública, Brasil de Fato e Brasil 247, também predominantemente filiada às posições da rede de
memória da pandemia como fato. Por fim, da MC, selecionamos os portais Brasil sem Medo,
Conexão Política e Pleno News, de filiadas predominantemente às posições negacionistas da
pandemia. A temporalidade que nos norteará na seleção e montagem das sequências discursivas
que comporão nosso corpus de análise abrange nove principais acontecimentos enunciativos
ocorridos durante a pandemia, entre março de 2020 e março de 2022, relacionados aos
confrontos jornalísticos sobre a letalidade e origem do vírus, protocolos de distanciamento
social na defesa da vida versus ausência de protocolos em defesa da economia, medidas de
prevenção ao contágio, reabertura comercial e escolar, tratamento precoce e vacinação. Nossas
hipóteses são: 1) a produção de sentidos nos campos da ME e MA ocorre numa tensão entre
alianças e divergências de posições, bem como entre a estabilização e desestabilização de uma
rede de memória que desde o início significa a pandemia enquanto fato, amparada no que
domina como efeito de evidência no campo médico-científico, porém, ainda dentro da ME, as
posições negacionistas não predominantes serão identificadas com as mídias conservadoras,
negando tais efeitos de evidência. Majoritariamente, ME e MA textualizam sentido a partir de
processos discursivos que mobilizam saberes sobre a proteção da vida, necessidade de medidas
preventivas de contágio, rejeição de tratamento precoce, cautela com reaberturas e direito à
vacinação. 2) Dadas as diferenças político-ideológicas nas posições da ME e MA, os pontos de
confronto serão de cunho econômico, em referência aos momentos de reabertura econômica e
escolar ou visibilidade das pessoas mais vulneráveis afetadas desproporcionalmente pela
pandemia. Quanto a essas questões, a produção de sentidos sobre a pandemia pela ME e MA
estaria marcada pela contra-identificação; 3) Já a MC demarcaria um confronto com as duas
mídias anteriores, tendo em vista um investimento de sentidos na perspectiva da estabilização
da memória negacionista da pandemia. A posição conservadora estaria identificada com

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discursos não dominantes do campo médico-científico, e outros predominantes dos campos
religioso e do político também, sobretudo no espaço da extrema direita, segundo a qual a
pandemia seria uma “fraudemia” em muitos aspectos, logo, estaria nela a maior repetição de
saberes da pandemia como fake. Também trabalhamos com a hipótese de que o negacionismo
têm nuances complexas, pois nem sempre a nega explicitamente. Em vez disso, tende-se,
dominantemente a minimizar, distorcer, silenciar ou ecoar a suposição conspiratória com
relação à existência, efeitos e combate ao coronavírus. Acreditamos na relevância desta
pesquisa em nível de doutorado por entender que ela acrescentará conhecimento sobre os modos
de produção de informação pelas mídias brasileiras no contexto contemporâneo da chamada
"pós-verdade" e do "negacionismo científico" (D'ANCONA, 2018), que colocam em crise as
bases políticas e ideológicas da concepção dominante da interpretação da realidade baseada em
"fatos" ou “fakes”. Contribuiremos também para agregar referencial às pesquisas sobre a relação
que há entre língua, processos históricos e discursivos, algo relevante na linha para a qual
propusemos nosso trabalho, pois ela investiga práticas de linguagem em seus processos
simbólicos. Um diferencial último nosso é problematizar as mídias conservadoras, pois são
ligadas à emergência da “nova” direita no Brasil, crescentes e carentes de análise, compondo o
segmento mais emblemático na circulação-relação-confronto das redes de memória na
pandemia, por estar nela a predominância da posição negacionista.

Palavras-chave: Pandemia de Covid-19; Acontecimento Discursivo; Circulação-Relação-


Confronto; Redes de memória.

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