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Pesquisa
em Linguagem e Ensino
CADERNO DE RESUMOS
2022
CADERNO DE RESUMOS
Campina Grande-PB
2022
Expediente
Profa. Dra. Denise Lino De Araújo (Coordenadora) Elisa Cristina Amorim Ferreira
Profa. Dra. Naelza De Araújo Wanderley Emanuela Rodrigues de Oliveira
Profa. Dra. Noara Pedrosa Lacerda Francisca Luana Rolim Abrantes
Profa. Dra. Shirley Barbosa Das Neves Porto Hadoock Ezequiel Araujo de Medeiros
Prof. Dr. Washington Silva De Farias Hilderlan Sousa Silva
Alachermam Braddylla Estevam da Silva Jeniffer de Oliveira Barbosa
Alecia Lucelia Gomes Pereira Medeiros João Vitor Bezerra Laurentino
Ariane Silva da Costa Sampaio Larissa Evelyn Santos Oliveira
Carlos Roberto Goncalves da Silva Sheila Vieira Nanes dos Santos Galvão
Danielly Thaynara da Fonseca Silva Vanda Késsia Gomes Galvão
Editoração Revisão
O Caderno de Resumos do FÓRUM DE PESQUISA EM LINGUAGEM E ENSINO é uma publicação anual dos
trabalhos apresentados no fórum homônimo. Cada edição contém os resumos expandidos dos projetos de pesquisa
desenvolvidos por mestrandos(as) e doutorandos(as) do Programa de Pós-graduação em Linguagem em Ensino,
da UFCG.
Endereço para contato: Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó. Campina Grande-PB. CEP: 58.429-90
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
DADOS INSTITUCIONAIS
PARECERISTAS AD HOC
Dr. Alzir Oliveira (UFRN) Dra. Ana Paula Tribesse Patrício Dargel (UEMS)
Dr. Amarino Oliveira de Queiroz (UFRN) Dra. Ana Ramazzina (UNIFESP)
Dr. Antonio Henrique Coutelo de Moraes (UFMT e Dra. Ana Virgínia Lima da S. Rocha (UFRN)
UFR) Dra. Betânia Passos Medrado (UFPB)
Dr. Antonio Roberto Esteves (UNESP e FLC) Dra. Christiane Benatti Rochebois (UFSB)
Dr. Cláudio Henrique Nunes Mourão (UFRGS) Dra. Clara Mayara de Almeida Vasconcelos (UEPB)
Dr. Clecio dos Santos Bunzen Júnior (UFPE) Dra. Dantielli Assumpção Garcia (Unioeste)
Dr. Cristhiano Motta Aguiar (Mackenzie) Dra. Denise Lino de Araújo (UFCG)
Dr. Diego da Silva Vargas (UNIRIO e UFRJ) Dra. Eliana Dias Pafumi (UFU)
Dr. Edmilson Luiz Rafael (UFCG) Dra. Eliane Regina Crestani Tortola (UFPR)
Dr. Francisco Edi de Oliveira Sousa (UFC) Dra. Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin (UFC)
Dr. Francisco Edi Oliveira (UFC) Dra. Gabriella Rodella (UFSB e USP)
Dr. José Edilson de Amorim (UFCG) Dra. Gerenice Ribeiro de Oliveira (UESB)
Dr. José Hélder Pinheiro Alves (UFCG) Dra. Giselda dos Santos Costa (UESPI)
Dr. José Veranildo Lopes da Costa Junior (UFCG) Dra. Glória da Ressurreição Abreu França (UFMA)
Dr. José Wanderley Alves de Sousa (UFPB e UFCG) Dra. Isis Milreu (UFCG)
Dr. Manassés Morais Xavier (UFCG) Dra. Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG/)
Dr. Marcelo Medeiros da Silva (UEPB) Dra. Josilene Pinheiro-Mariz (USP)
Dr. Ricardo Stavola Cavaliere (UFF) Dra. Juliana Bevilacqua Maioli (UNIR/MEL)
Dr. Wagner Rodrigues Silva (UFT) Dra. Kátia Rodrigues Mello Miranda (UNESP-
Dr. Washington S. de Farias (UFCG) Assis)
Dr. Weslei Roberto Candido (UEM Maringá) Dra. Leonor Werneck dos Santos (UFRJ)
Dra. Alyere Silva Farias (UFPB) Dra. Lídia da Silva (UFPR e Unipampa)
Dra. Ana Cristina Biondo Salomão (UNESP e Dra. Márcia Mendonça (UNICAMP)
FCLAR) Dra. Márcia Tavares Silva (UFCG)
Dra. Ana Cristina Marinho Lúcio (UFPB) Dra. Maria Angélica de Oliveira (UFCG)
Dra. Ana Paula Dargel (UEMS) Dra. Maria Augusta Gonçalves de Macedo (UFCG)
Dra. Maria de Fátima Almeida (UFPB)
Dra. Ronice Müller de Quadros (UFSC)
Dra. Rossana Regina Guimarães Ramos Henz (UPE
Dra. Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari e Unicap)
(UNESP– Assis) Dra. Rute Pereira Alves de Araújo (UFCG e UAEd)
Dra. Maria Edileuza da Costa (UFAL) Dra. Selma Alas Martins (UFRN)
Dra. Maria Hozanete Alves de Lima (UFCG) Dra. Silvia Rodrigues Vieira (UFRJ)
Dra. Maria Laura Pozzobon Spengler (UFSC) Dra. Sinara de Oliveira Branco (UFCG)
Dra. Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos (UFRN) Dra. Suzi Marques Spatti Cavalari (UNESP)
Dra. Marileide Dias Esqueda (UFU) Dra. Tatiana Bolivar Lebedeff (UFPEL)
Dra. Naelza de Araújo Wanderley (UFCG) Dra. Verli Fátima Petri da Silveira (UFSM)
Dra. Patrícia Silva Rosas de Araújo (SECT – PB) Dra. Williany Miranda da Silva (UFCG)
Dra. Raquel Beatriz Junqueira Guimarães (PUC –
MG)
MONITORES
APRESENTAÇÃO..................................................................................................................14
RESUMOS - MESTRADO
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6 XICA VS CHICA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS OBRAS
MEMÓRIAS DO DISTRITO DIAMANTINO DA COMARCA DO SERRO FRIO E
XICA DA SILVA
Ester Estevão da Silva
Orientador: Prof. Dr. José Edilson Amorim.............................................................................................................33
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ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LINGUÍSTICOS
ISSN - 2526-5024
20 O TRATAMENTO PEDAGÓGICO DO LÉXICO DA LÍNGUA INGLESA:
ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO
Larissa Evelyn Santos Oliveira
Orientador: Prof. Dr. José Herbertt Neves Florencio
Coorientador: Prof. Dr. Ricardo Rios Barreto Filho.................................................................................................85
ISSN - 2526-5024
Jailma da Costa Silva Dantas
Orientadora: Prof. Dra. Sinara de Oliveira Branco.................................................................................................113
31 “TODA VIDA EU CRESCI, MINHA MÃE SEMPRE DIZENDO QUE NÓS ERA
INDÍGENA”: ESTUDO DISCURSIVO DE NARRATIVAS DE TRONCOS VELHOS
SOBRE A IDENTIDADE KARIRI EM CRATO-CE
Zósimo Mota Queiroz
Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica de Oliveira.............................................................................................128
RESUMOS - DOUTORADO
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35 O LIVRO ILUSTRADO E O LIVRO DE IMAGEM EM OBRAS DE ANGELA-
LAGO: LEITURA E MEDIAÇÃO
Marcela de Araújo Lira
Orientador: Prof. José Hélder Pinheiro Alves........................................................................................................147
ISSN - 2526-5024
43 LITERATURA YOUNG ADULT E FORMAÇÃO DE LEITORES: UM ESTUDO DA
RECEPÇÃO DE OBRAS JOVENS ADULTAS EM MEIOS DIGITAIS
Jemima Stetner Almeida Ferreira Bortoluzi
Orientadora: Profa. Dra. Márcia Tavares...............................................................................................................186
ISSN - 2526-5024
50 LIBRAS NO ENEM: RETEXTUALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE
VIDEOQUESTÕES
João Batista Neves Ferreira
Orientadora: Profa. Dra. Denise Lino Denise Lino de Araújo
Coorientadora: Profa. Dra. Shirley Barbosa das Neves Porto..............................................................................217
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58 A ESCOLARIZAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO NAS PRÁTICAS DE LEITURA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA: O CASO DA OBRA DE ARIANO SUASSUNA
Karine Viana Amorim
Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael...........................................................................................................256
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APRESENTAÇÃO
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teóricas e analíticas acerca de diferentes dimensões da produção do conhecimento sobre as
línguas e a/s linguagem/ns, suas práticas, em especial, em processos educativos, de ensino e
aprendizagem, possibilitando aos/às leitores/as deste Caderno uma oportunidade de diálogo
com as pesquisas em curso no PPGLE-UFCG.
Boa leitura!
A Comissão
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MESTRADO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
ESTUDOS LITERÁRIOS
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LINHA 1 - ENSINO DE LITERATURA E FORMAÇÃO DE
LEITORES
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estão diretamente ligadas a outras modalidades da vida se revelando e favorecendo a
criatividade seja ela artística ou não. Ao discutir sobre a relação entre o real e o imaginário,
Held (1977) enfatiza que ambas as ações são indissociáveis, visto que razão e imaginação são
construídas uma pela outra. Ainda segundo a autora, a literatura enquanto arte atrai o leitor de
maneira genuína sem esperar um retorno ao mundo real, que pode acontecer ou não
imediatamente. Assim, a imaginação requer mediação e diálogo para cultivar a ampliação do
repertório infantil. Desse modo, propomo-nos a responder a seguinte questão de pesquisa:
Como a Literatura de Cordel (cordéis centrados na temática dos animais) pode contribuir com
a formação de leitores nas turmas de 5º ano, da primeira etapa do Ensino Fundamental, de uma
escola da zona urbana, do município paraibano de Gado Bravo? As fontes para o estudo
compõem-se das obras de estudiosos como Robert Jauss (1994) sobre a Estética da Recepção,
Zumthor (2007), com a leitura performática: o Método Criativo, de Bordini e Aguiar (1988),
pois, ao associar em um trabalho de leitura a performance artística e a perspectiva criativa,
acreditamos no protagonismo do discente para a preparação e o desenvolvimento das atividades
pretendidas. Para a discussão acerca da Literatura de cordel, recorremos a estudiosos como
Abreu (1999), Marinho e Pinheiro (2012), Pinheiro (2013, 2018, 2020), Wanderley e Lima
(2021). Sobre a formação do leitor e a mediação em sala de aula, o trabalho fundamenta-se em
autores como Vygotsky (2007), Zilberman (2003), Rouxel (2013) e Coracini (2005), bem como
à Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Fundamental (BNCC-EF, 2017), enquanto
documento oficial curricular que versa sobre a ideia de leitura literária. Em termos
metodológicos, esta pesquisa contemplará uma abordagem qualitativa, pois temos como
objetivo compreender o tema estudado, a Literatura de Cordel, através de teorias que nos
apresentam esclarecimentos sobre nosso objeto de estudo, de maneira a responder a nossa
questão de pesquisa, imergindo no mundo dos significados, das atitudes e das relações humanas,
que não podem ser quantificadas nem mensuradas, mas identificadas e avaliadas. A pesquisa
partirá de um conjunto de procedimentos teóricos, de modo que destacaremos duas estratégias:
a revisão bibliográfica e a pesquisa-ação. A primeira possui relevância na construção teórica,
embasamento e discussão conceitual do trabalho, ou seja, conhecer a temática, tomando como
base trabalhos já publicados, que versam sobre o nosso tema. Enquanto a segunda estratégia
possibilita uma relação direta entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa. Para a coleta dos
dados empregaremos a observação, utilizada em pesquisas qualitativas para mensurar uma
determinada realidade e a entrevista coletiva segundo a sistematização de Neto, Moreira e
Sucena (2002), pois esta nos permitirá aprofundar e identificar as percepções do grupo quanto
à investigação, sempre atentando para as opiniões, expressões, atitudes e comportamentos dos
sujeitos. Acredita-se então que o presente estudo pode contribuir para a reflexão e para a busca
de possibilidades de caminhos para a escolarização do gênero cordel, de forma que, através
desses textos, seja valorizada a vivência prazerosa de uma leitura, em que a cultura popular
esteja presente, instigando as crianças a perceberem a escola como um espaço vivo e dinâmico.
Dessa forma, conceberemos a leitura literária do cordel, integrada ao cotidiano da educação,
como possível contribuição para a formação de leitores em nosso Município, visto que o
aprimoramento da educação representa, sob muitos aspectos, o desenvolvimento da sociedade
como um todo. Perante o exposto, esperamos que este estudo possa contribuir para ampliar o
debate sobre o fortalecimento da escola como espaço prazeroso e de vivência da Literatura de
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Cordel como expressão da cultura popular nordestina em sala de aula, pois o gênero se
configura como um importante recurso para instigar, na escola, o gosto pela leitura, como
também proporcionar aos leitores e aos ouvintes o despertar da autonomia, uma vez que escola
e arte literária precisam ter para as crianças fins educativos, prazerosos, lúdicos, provocativos
da curiosidade e favorecedores do estímulo à criatividade e à descoberta de novos valores.
Palavras-Chave: Recepção; Literatura de Cordel; Leitura Literária; Mediação; Formação de
Leitores.
Referências
ABREU, Márcia. Histórias de cordéis e folhetos. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1999.
AYALA, Maria Ignez Novais. Aprendendo a apreender a cultura popular. In: PINHEIRO, Hélder
(Org.). Pesquisa em literatura. Campina Grande – PB: Bagagem, 2003. p. 83- 119.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura a formação do leitor: alternativas
metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
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http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 06 nov. 2021.
CORACINI, Maria José R. Faria. Concepções de Leitura na (Pós-) Modernidade. In: CARVALHO,
Regina Célia de.; LIMA, Paschoal. (Orgs.). Leitura: Múltiplos Olhares. São Paulo: Ed. Mercado de
Letras, 2005.
CRUZ NETO, Otávio; MOREIRA, Marcelo Rasga. SUCENA, Luiz Fernando Mazzei. Grupos Focais
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http://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/necio_turra/PESQUISA.pdf. Acesso em: 28 fev. 2022.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o Jogo como Elemento na Cultura. São Paulo: Perspectiva, 1993.
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução de Sérgio
Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.
LIMA, Josefina Ferreira Gomes. Literatura de cordel: dos folhetos tradicionais aos modernos livros de
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UNIFAP, Macapá, 2021. E-book. Disponível em: https://www2.unifap.br/editora/files/2021/02/no-
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2012.
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PINHEIRO, Hélder. O que ler? Por quê? A literatura e seu ensino. In: DALVI, M. A.; REZENDE N.
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ROUXEL, Annie. Aspectos metodológicos de ensino da literatura. In: DALVI, M. A.; REZENDE N.
L.; JOVER-FALEIROS. R. (orgs.). Leitura de literatura na escola. São Paulo: Parábola, 2013.
VIANA, Arievaldo; OLIVEIRA, Jô. O Bicho Folharal. Fortaleza: Ed. IMEPH, 2008.
VYGOTSKI, Lev Seminovich. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/Leia/article/view/709. Acesso em: 19 jun. 2020.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Ed. Global, 2003.
ZUMTHOR, Paul. Performance, Recepção, Leitura. 2. ed. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2007.
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“MUÑECAS”: MULHERES, HISTÓRIA E LEITURA DE FICÇÃO DE
AUTORIA FEMININA NAS AULAS DE LÍNGUA ESPANHOLA
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diálogo com a história de seu país?; e c) Como os personagens femininos foram reconstruídos
no conto de Lojo? A seguir, descrevemos os nossos procedimentos metodológicos através dos
quais serão respondidas as referidas perguntas. O primeiro passo será a pesquisa sobre a autora
e sua obra. Depois discutiremos as relações entre a literatura e a história, bem como a produção
literária recente de autoras latino-americanas. Após esta investigação, analisaremos o conto
selecionado. Em seguida, abordaremos a problemática do ensino de literatura nas aulas de ELE
e suas contribuições para a formação leitora de estudantes da educação básica. Na sequência,
elaboraremos e vivenciaremos uma sequência didática de abordagem do mencionado conto de
Lojo baseada no método do letramento literário, proposto por Cosson (2016), de modo a
orientar as leituras dos participantes da pesquisa. Partindo do exposto, esta pesquisa se justifica
pela necessidade de que as obras de autoria feminina latino-americana sejam amplamente
inseridas no ambiente escolar, deixando de ser apenas um mero instrumento para se estudar a
língua meta. A fundamentação teórico-metodológica desta investigação tem embasamento,
sobretudo, nos estudos acerca do ensino de literatura em línguas estrangeiras, da literatura de
autoria feminina latino-americana e do letramento literário. Entre outros referentes, apoiamo-
nos nos textos de Zolin (2009) sobre a crítica feminista e, quanto a escrita feminina na América
Latina, recorremos à Guardia (2013), além de buscar outras contribuições acerca da literatura e
da história com os aportes de Esteves (2010) e Trouche (2006). Para as questões didáticas,
fundamentamo-nos em Milreu (2019), Brait (2000) e Costa Júnior (2017), bem como em
Cosson (2016). O corpus analítico dessa pesquisa será composto de um questionário prévio
semiaberto, anotações de campo, atividades e o questionário final. Por fim, ressaltamos que,
por se tratar de um estudo que ainda se encontra em andamento, as conclusões só serão possíveis
após a reunião e análise dos dados ao término de sua efetiva aplicação. Desse modo, poderemos
refletir se as leituras dos participantes durante essa pesquisa contribuíram de maneira
significativa para o ensino/aprendizagem de E/LE e para a formação leitora dos participantes
da vivência de leitura literária.
Palavras-Chave: Ensino de literatura nas aulas de ELE; Literatura de autoria feminina latino-
americana; María Rosa Lojo; Literatura e história; “Muñecas”.
Referências
BRAIT, B. Língua e Literatura: uma falsa dicotomia. Rev. ANPOLL, Florianópolis, n. 8, p. 187-206,
jan./jun. 2000. Disponível em: https://doi.org/10.18309/anp.v1i8.355 Acesso em: 22 abr. 2021.
COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
COSTA JUNIOR, J. V. L. da. Lembrar para não esquecer: memória, história e ficção em aula de
Língua Espanhola/ José Veranildo Lopes da Costa Junior. Campina Grande-PB, 2017. 159 f:.
Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B9_6p7k-tgLQTlczY2ZHbG5hTWM/view. Acesso
em: 10 abr. 2021.
ESTEVES, A. R. O romance histórico brasileiro contemporâneo (1975-2000). São Paulo: Ed.
UNESP, 2010.
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GUARDIA, S. B. Literatura e escrita feminina na América Latina. Anuário de literatura. Edição
especial – v. 18, n. esp. 1, 2013. Florianópolis. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/2175-7917.2013v18nesp1p15. Acesso em:
01 abr. 2021.
LOJO, M. R. Amores insólitos de nuestra historia. Buenos Aires: Aguilar, 2011.
MILREU, I. A inclusão da literatura de autoria feminina latino-americana nas aulas de ELE: um
desafio contemporâneo. Revista Leia Escola. v. 19, n.1, 2019. Disponível em:
http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/Leia/issue/view/73. Acesso em: 13 abr. 2021.
TROUCHE, A. América: história e ficção. Niterói, RJ: EdUFF, 2006.
ZOLIN, L. O. Crítica Feminista: In: BONICCI, T.; ZOLIN, L. O. (orgs.) Teoria
Literária: Abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Eduem, 2009.
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VIVÊNCIAS COM A POESIA DE MÁRCIA KAMBEBA NA SALA
Resumo: As pesquisas voltadas para o trabalho com o poema em sala de aula, no ensino
fundamental, revelam envolvimento dos leitores, quer pelo modo de abordagem, que
prioriza uma interação texto e leitor, quer pelas temáticas próximas ao horizonte de
expectativa deles, como atestam os trabalhos de Bueno (2015), Silva (2016), Batista (2016),
Botelho (2017) e Santos (2019). Se, por um lado, no período de vigência do PNLD, muitos
livros de poemas chegaram à escola pública, por outro, as obras de autores indígenas,
sobretudo no âmbito da poesia, foram quase insignificantes. Existe, portanto, uma lacuna
relativa ao conhecimento sobre a literatura indígena do Brasil, no Ensino Fundamental anos
finais, mesmo sendo um conteúdo obrigatório, conforme a lei nº 11.645/08, que modifica a
lei nº 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena. A necessidade de conhecer a cultura indígena foi percebida durante as
aulas de literatura, em uma escola privada, de ensino fundamental anos finais, no ano de
2021, em uma turma do 9º ano. O que desencadeou esse interesse foi a leitura do livro Órfãos
de Haximu, de Daflon e Daflon (2010), que retoma o conhecido Massacre de Haximu (1993).
A iquietação dos alunos levou-me a querer expandir este conhecimento por intermédio do
desenvolvimento de um projeto, com estudo da literatura indígena, mais especificamente
com poemas indígenas. Das leituras e pesquisas de autores indígenas resultou esta proposta
de projeto de dissertação, cuja questão de pesquisa é a seguinte: a poesia produzida
contemporaneamente por autores indígenas pode contribuir para formação de leitores de
poesia? É possível, a partir destas leituras, colocar em crise certas visões preconceituosas
sobre nossos povos ancestrais? Elegemos como objetivo geral desta pesquisa: Refletir, com
alunos do 7º ano do Ensino Fundamental, sobre convivência com a poesia da autora indígena
de Márcia Kambeba. Quanto aos objetivos específicos, destacamos: 1) analisar aspectos da
poesia de Márcia Kambeba, presentes nos livros Saberes da Floresta e O lugar do Saber
Ancestral; 2) vivenciar com os alunos poemas que favoreçam a aproximação da cultura
ancestral e por fim, 3) investigar a recepção desta poesia, atentando para aspectos da
identidade dos povos ancestrais e possíveis reverberações entre os leitores. Marcia Kambeba
nasceu na aldeia ticuna, em Belém do Solimões (1979), aos oito anos saiu da aldeia para a
cidade, aos quatorze anos fez seus primeiros versos e mais tarde graduou-se e tornou-se
mestra em geografia. Dessa forma, escolhemos esta autora primeiro devido a sua história
que transita entre a aldeia e a cidade, sempre lutando por uma desmistificação da visão
preconceituosa sobre os indígenas. Segundo, porque os seus poemas são apresentados com
um viés educativo, demonstrando a luta dos Kambebas através de aspectos que relacionam
ao cotidiano indígena aos aprendizados com os seus ancestrais, enfatizando a identidade e a
ancestralidade. Essa pesquisa se justifica pela necessidade de diminuir a lacuna deste
conhecimento em sala de aula, visto que isto impossibilita aos alunos terem acesso a uma
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cultura rica, que foi trilhada pelos ancestrais. Como recortes teóricos que orientaram nossa
pesquisa, destacamos: No campo das reflexões sobre a literatura indígena: Almeida (2009),
Cagnet (2015), Dorrico (2021), Graúna (2013), Munduruku (2010 /2017), Potiguara (2019),
Thiel (2012). No campo metodológico lançará mão do método recepcional formulado por
Bordini & Aguiar (1988), acerca da formação de leitores bem como de Oliveira (2018) que
sistematizou uma proposta de método performático. Bajour (2012), Pinheiro (2018) e
Rosemblat (2002) também contribuem com a reflexão relativa a uma abordagem interativa
com o texto literário. Metodologicamente a nossa pesquisa é aplicada, uma vez que gera o
conhecimento através de uma aplicação prática e apresenta uma abordagem bibliográfica
porque também investiga meteriais teóricos e por meio do método qualitativo procura
interpretar um objeto, neste caso os poemas da Marcia Kambeba. Quanto aos procedimentos,
lançaremos mão do método performático, com amparo por conversas literárias. A pesquisa
está dividida em três fases: 1) Planejamento: (preparação teórico-metodológicas, verificação
e leitura da fortuna crítica sobre Marcia Kambeba, aprofundamento da leitura de poemas
presentes nas obras Saberes da Floresta e O Lugar do Saber Ancestral. 2) Prática de sala de
aula: nesta etapa teremos três momentos: A) sondagem diagnóstica: aqui faremos a
visualização do filme “Tainá: a origem” e do depoimento de Marcia Kambeba, gravado
durante o evento Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e Realizadores Indígenas
(2016). A seguir, aplicaremos um questionário para identificarmos o panorama e expectativa
dos alunos em relação ao conteúdo exposto. Para registro das recepções utilizaremos o diário
de leitura, bem como, gravação de vídeo e áudio. B) Leitura dos poemas utilizaremos o
método performático com o mapa sonoro, para que os alunos observem as variadas
entonações que usarão na leitura, utilizando o corpo unido a sua voz; C) em seguida recitarão
os poemas escolhidos para as outras turmas. 3) reflexão sobre os dados e construção de
categorias de análise. Pretendemos, através desta pesquisa, possibilitar uma formação leitora
reflexiva da poesia indígena, escrita pelos próprios nativos.
Palavras-Chave: Poesia indígena; Leitura Performática; Márcia Kambeba.
Referências
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Editora UFMG, 2009.
BAJOUR, Cecilia. Ouvir nas entrelinhas: o valor da escuta nas práticas de leitura. São Paulo:
Editora Pulo do Gato, 2012.
BATISTA, Marivaldo. A poesia de Alice Ruiz: entre a prática de leitura e recepção. Dissertação.
Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, Campina Grande. 2016.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura - A formação do leitor:
alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
BOTÊLHO, Denilma. Poesia, performance e recepção: um jogo de recusa e sedução entre texto e
leitor. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, Campina Grande, 2017.
BUENO, Marília. Ler é dançar: um olhar sobre a recepção de leitura de poesia com crianças no
ensino fundamental. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, Campina
Grande. 2015.
ISSN - 2526-5024 25
BRASIL. Ministério da Educação. Guia de livros didáticos PNLD 2017: História – Ensino
fundamental anos finais. Brasília: MEC, 2016.
CAGNET, Sueli de Souza. Trilhas literárias indígenas para a sala de aula / Sueli de Souza Cagnet,
Alcione Pauli. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2015.
DORRICO, Julie. A literatura indígena contemporânea no Brasil: a autoria individual e a poética
do eu-nós. (Tese Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
PUCRS, 2021.
GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil / Graça Graúna. -
Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013.
KAMBEBA, Márcia Wayna. O lugar do saber ancestral. 2.ed.– São Paulo: UK’A, 2021.
MUNDURUKU, Daniel. Mundurukando. Participação especial de Ceiça Almeida. São Paulo: Uka
Editorial, 2010.
MUNDURUKU, Daniel. Mundurukando 2: Roda de conversa com educadores. São Paulo: Uka
Editorial, 2017.
OLIVEIRA. O jogo do texto no ensino de literatura: por uma metodologia performativa. In:
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ISSN - 2526-5024 26
DRAMATIZAÇÃO DO CORDEL NA SALA DE AULA: LEITURA,
LEITOR E RECEPÇÃO DA OBRA O ROMANCE DO CONQUISTADOR,
DE LOURDES RAMALHO
Claudson Faustino
Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves
Resumo: A proposta de ensino de textos teatrais que dialogam com cordéis, visa desenvolver,
dinamicamente, a formação do leitor literário na sala de aula, criando situações e condições
desafiadoras para que os alunos se sintam motivados a ler e discutir suas leituras. A literatura
popular consegue um realce de suas nuances com a leitura em voz alta, ao ser declamada,
cantada, dançada ou encenada performaticamente. Nesse universo estão as cantigas de rodas,
as cirandas, as parlendas, os acalantos, os aboios, repentes, embolada, o cordel e o teatro
popular. Para Cascudo (1984), estas expressões culturais são movimentadas e mantidas pela
tradição oral, e esta tradição é transmitida de geração em geração. Diante dessas expressões, o
teatro de cordel, que é oriundo do universo da narrativa oral em versos, pode ser caracterizado
em sua construção como uma forma dramática híbrida. Para Diógenes Maciel e Valéria
Andrade (2008, p.110), “tal forma reelabora o folheto nordestino em chave dramática, não
apenas pela utilização dos versos, mas na medida em que utiliza as sextilhas, com metrificação
regular em redondinha maior, como veículo para expressão dos diálogos ou excertos
narrativos.” A nossa pesquisa é voltada para o teatro de cordel de Lourdes Ramalho, que
apresenta uma proposta estética voltada à ressignificação das raízes étnico-culturais do universo
popular nordestino. Maria de Lourdes Nunes Ramalho nasceu em 1923, na localidade sertaneja
de Jardim do Seridó, Rio Grande do Norte, vindo, posteriormente, ser radicada em Campina
Grande, Paraíba. O nosso projeto se organiza a partir das seguintes perguntas: como se dará a
recepção do teatro de cordel de Lourdes Ramalho na sala de aula? De que forma a leitura de
uma obra dramatúrgica em verso pode contribuir para a formação de leitores do ensino
fundamental? O teatro de cordel poderá proporcionar aos discentes o gosto pela leitura
dramatizada, que os levará a desenvolver a oralidade, a performance de voz e de corpo.
Trabalhar a performance do texto literário é um desafio para os professores e os alunos na sala
de aula. A voz se torna um suporte para apresentar e representar um texto, sendo a fala a
principal linguagem do corpo. A declamação poética da literatura de cordel é de certa forma
uma performance teatral; é através desse suporte vocal que muitos poetas apresentam seus
folhetos. O Romance do Conquistar é um texto que apresenta um personagem mítico que passa
a utilizar suas espertezas nas feiras-livres das pequenas cidades nordestinas, causando o
encantamento e o desejo nos corações das mulheres. A obra traz discussões a respeito do
homem nordestino que, apesar de enfrentar as dificuldades, está definido como homem valente,
rústico e que, consequentemente, tem a virilidade sexual valorizada. Trabalhar esse tipo de texto
na sala de aula traz a vivência cultural dos alunos, além de incentivar à leitura literária
dramatizada. Dessa maneira, esse estudo tem como objetivo geral refletir sobre como se dará a
recepção da leitura O Romance do Conquistador por alunos do 9ª série do Ensino Fundamental
de uma escola pública do município de Cruzeta, Rio Grande do Norte, e como objetivos
específicos: 1) analisar os personagens e o enredo de O Romance do Conquistador, de Lourdes
Ramalho; 2) discutir temas centrais da peça e vivenciar possibilidades de performances orais
de cenas da peça em estudo; 3) refletir sobre a recepção desse texto pelos alunos, focando nas
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possíveis aproximações com o horizonte de expectativa deles. Tendo como foco a formação de
leitores de teatro de cordel, tomaremos como fundamentação teórica a teoria da estética da
recepção e do efeito em Iser (1999) e Jauss (1979; 1994) e o método recepcional em Bordini e
Aguiar (1993, p. 15), que ressaltam que as obras literárias são dotadas de polissemia que
permitem extrair “o prazer da leitura”, explorando a imaginação e fazendo repensar “a realidade
concreta”, ajudando a formar sujeitos autônomos e críticos pela leitura literária. No âmbito das
reflexões sobre o ensino de literatura popular teremos como base Abreu (1999) e Maxado
(1980), que destacam a historiografia da literatura de cordel; Marinho e Pinheiro (2012) e
Pinheiro (2007 e 2013), que retratam os direcionamentos dados para uso de folhetos de cordel
na sala de aula; Andrade e Maciel (2005) e Maciel (2008 e 2010), que abordam a pesquisa em
dramatização; Magaldi (1985) que aborda a historiografia e as características do teatro e
Pallottini (1989), que traz a construção da personagem no teatro. Sobre a oralidade e a
performance teremos como base os estudos de Kefalás Oliveira (2018) e Paul Zumthor (1993
e 2007). Esta pesquisa é de natureza qualitativa, com viés etnográfico, uma vez que iremos
coletar dados, aplicar entrevistas, questionários para os alunos, depoimentos escritos e gravados
em vídeos e em áudios, fotografias etc. Para Moreira e Caleffe (2006, p.73), “a pesquisa
qualitativa explora as características dos indivíduos e cenários que não podem ser facilmente
descritos numericamente.”. A pesquisa se dividirá metodologicamente em três momentos que
não se darão necessariamente na ordem que segue. O primeiro contempla um estudo teórico-
metodológico da literatura popular na sala de aula. Esta fase da pesquisa buscará um
embasamento teórico maior por parte do pesquisador, bem como um diagnóstico de
experiências com a literatura popular e seu ensino. O segundo momento diz respeito à leitura
da obra em sala de aula, documentação da recepção para posterior reflexão. O enfoque que visa
permear a leitura literária terá como foco a oralidade, a performance de voz e de corpo e a
declamação poética do aluno leitor/ouvinte. Nesta fase vamos provocar debates e reflexões
sobre o enredo da peça, atento a falas, conflitos, acionando o horizonte de expectativas dos
leitores. No terceiro momento procederemos à reflexão sobre o percurso da recepção,
formulando categorias que serão recolhidas da vivência e que poderão apontar resultados
significativos. A intervenção na sala de aula ocorrerá com o texto O Romance do Conquistador,
de Lourdes Ramalho, que será sugerido aos alunos. O público contemplado será uma turma do
9º ano do ensino fundamental de uma escola pública do município de Cruzeta-RN. O tempo
pode ser flexível, mas a estimativa é que sejam sete semanas que correspondem a 14 aulas.
Dessa forma, os resultados esperados dizem respeito à possibilidade de contribuir com a
formação de leitores.
Palavras-Chave: Teatro de Cordel; Lourdes Ramalho; Recepção; Formação do leitor.
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VIVÊNCIAS ESTÉTICAS E O ENSINO DAS LITERATURAS DOS
PALOPS PARA A CONTRIBUIÇÃO DA ABORDAGEM
INTERCULTURAL NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS DOS CURSOS DE
LETRAS DAS IES PARAIBANAS
Resumo: As literaturas africanas produzidas nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
(PALOP) são literaturas muito recentes e demonstram, entre outros aspectos, a luta contra o
regime colonial imposto nos países africanos. O ensino dessas literaturas nos cursos de Letras
do Brasil, de acordo com Lima (2018), tem seu pioneirismo na UFRJ, no ano de 1970, por meio
de duas antologias elaboradas pelo professor Jorge Fernandes da Silveira, para ser utilizada em
suas aulas de literatura lusitana. Na mesma década, as professoras Maria Aparecida Santilli, da
USP, e Vilma Arêas, na PUC-Rio, também implantaram a leitura de textos africanos de língua
portuguesa como objeto de estudo em suas disciplinas. Pesquisadores e estudiosos da época
criticaram a metodologia adotada por entenderem que os textos produzidos por africanos eram
panfletários e não literários. No século XXI, políticas públicas foram desenvolvidas e
determinaram a inserção do ensino da cultura afro-brasileira e africana na Educação Básica, a
exemplo da Lei 10.639-2003 e da resolução nº 1/2004, que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana. Não obstante essa obrigatoriedade, pesquisas têm demonstrado que
muitos docentes ainda se esquivam em trabalhar com as literaturas produzidas em solo africano,
por razões que vão desde a inexistência de leituras em sua formação inicial quanto pela visão
estereotipada acerca de África. Neste sentido, urge a necessidade de uma educação literária
focada nas elaborações subjetivas dos pesquisadores e na formação da consciência crítica
daqueles que se dispõem a ler e a estudar os textos africanos. Um dos ganhos a leitura e o estudo
dessas literaturas constitui em possibilidades de trocas interculturais que apresentam
implicações psicológicas, sociais, culturais e políticas bastante significativas. A perspectiva
intercultural proporciona uma visão plural das diferentes representações culturais, o que além
de uma educação mais democrática, nos coloca em situação bem mais inclusiva, porque assim,
é possível o leitor se identificar com características que determinem seu estilo de vida e não se
sentir fora dos aspectos culturais trabalhados na escola. Sabendo que interculturalidade
contribui de uma forma significativa no desenvolvimento educacional e vendo que o espaço
escolar é por lei obrigado a trabalhar a cultura afro-brasileira e africana, logo é necessário trazer
à tona as literaturas africanas de língua portuguesa, que além de ter sido por muito tempo
silenciada, nos faz imergir em um processo de reconstrução social, o que nos conscientiza que
a realidade de grupos sociais que muitas vezes não são favorecidos é resultado de um processo
histórico. Para a potencialização do ensino de literaturas africanas de língua portuguesa vemos
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a perspectiva intercultural como uma abordagem necessária à preparação do docente, que atua
como mediador entre o aluno e a leitura, por entender que a interculturalidade pode trazer uma
inclusão maior dos alunos para o desenvolvimento da leitura literária no ensino básico. Com
isso, a pergunta que irá nortear o trabalho é: Como a compreensão das literaturas africanas de
língua portuguesa pode contribuir para a abordagem intercultural no processo inicial de
formação docente? Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo geral: Analisar como
as literaturas africanas de língua portuguesa podem contribuir para um processo de abordagem
intercultural na formação docente nos alunos do curso de Licenciatura em Letras nas
universidades do estado da Paraíba. E como objetivos específicos: Refletir sobre a inserção das
literaturas africanas de língua portuguesa nos cursos de licenciatura em Letras a partir de seus
documentos parametrizadores; diagnosticar aspectos que ainda precisam de atenção na
compreensão da interculturalidade para a formação do professor leitor literário de literaturas
africanas de língua portuguesa na graduação em Letras; e analisar comparativamente a
importância das literaturas africanas de língua portuguesa e sua interculturalidade para o
processo de formação docente dos colaboradores da pesquisa e matriculados nos cursos de
Letras das IES paraibanas. Como aporte teórico utilizaremos, no que tange a formação do
docente, os postulados que TARDIF (2010) traz em sua obra uma discussão acerca dos saberes
necessários para o trabalho docente em sala de aula; sobre a formação do professor de literatura,
teremos o auxílio de BORDINI E AGUIAR (1998) e COMPAGNON (1999), que mostram
como a literatura é essencial para nos capacitar como cidadãos conscientes. No que diz respeito
à teoria pós-colonial, que nos propõe a promoção das minorias que por muito tempo foram
silenciadas, vamos ter como referencial teórico COSTA; TORRES; GROSFOGUEL (2018) e
BONNICI (2009); sobre o processo de interculturalidade, teremos os estudos de SANTOS
(2003) e CANDAU (2012). A pesquisa é do tipo etnográfica porque incidirá,
predominantemente, na análise das respostas dos alunos acerca da percepção do lugar das
literaturas dos PALOP em seu processo de formação inicial e as expectativas para a sua prática
docente, quando concluir a graduação e passar a interagir no espaço educacional. O percurso
metodológico contemplará duas etapas: inicialmente será feito um levantamento bibliográfico
com o propósito de investigar como os documentos oficiais colocam o ensino das literaturas
africanas de língua portuguesa na graduação, quais espaços e especificidades eles possuem no
ensino superior. Com isso, além de pesquisar as disciplinas que são ofertadas na graduação de
Letras, será feita uma análise da ementa e dos programas das disciplinas, buscando descrever
aspectos de interculturalidade como possibilidade de formulação estéticas. A segunda etapa terá
como objeto de coleta de dados um questionário virtual, a ser distribuído entre os graduandos
que estão na fase final do curso de Letras nas três IES da Paraíba, UFPB, UFCG e UEPB, com
vistas a um demonstrar a atual situação do ensino de literaturas africanas de língua portuguesa
no ensino superior. A esse respeito, a pesquisa também é de caráter exploratório, porque
trabalhará com a análise dos resultados obtidos com a pesquisa de campo, tendo como enfoque
os postulados bibliográficos acerca de formação docente e as orientações dos documentos
oficiais, confrontando-as com os currículos acadêmicos do ensino superior. Esperamos que a
metodologia de análise contribua tanto para descrever o modo como as literaturas africanas são
trabalhadas, quanto para apontar caminhos no sentido de ampliação do repertório dessas leituras
nas IES quanto no processo formativo dos colaboradores envolvidos.
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Palavras-Chave: Literatura; Literatura africana de língua portuguesa; Interculturalidade;
Formação docente.
Referências
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XICA VS CHICA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS OBRAS
MEMÓRIAS DO DISTRITO DIAMANTINO DA COMARCA DO SERRO
FRIO E XICA DA SILVA
Resumo: Desde o período escravocrata a história de homens e mulheres negras foi propagada
em uma perspectiva discriminatória, estereotipada e eurocêntrica por parte da classe dominante,
acarretando uma inferiorização e marginalização histórica, a partir da manipulação das
formações discursivas e ideológicas. Seguindo o mesmo processo de descrição ao qual as
demais figuras negras foram submetidas, a personagem histórica Francisca da Silva de Oliveira,
a “Xica da Silva” tem sua história distorcida, ao ser retratada, constantemente, através de uma
visão de pretensa inferioridade da personagem negra, estereotipada e subalternizada frente às
figuras brancas. Para a constatação desse fato, temos como objeto de estudo a obra documental
Memórias do Distrito Diamantino (1868), de Joaquim Felício dos Santos, na qual Francisca da
Silva de Oliveira aparece, pela primeira vez, como personagem (Chica), e a obra Xica da Silva
(2007), de João Felício dos Santos, o romance histórico que reconstrói a vida de Chica e que
serviu de base para o filme, de mesmo nome, que difundiria, posteriormente, a história da
personagem baseada em referente empírico no cinema nacional. Apesar das obras mencionadas
abordarem o mesmo contexto histórico e relatarem a existência da mesma personagem, a partir
de ideologias crivadas de preconceitos racistas e sexistas, observa-se, no processo de construção
narrativa, particularidades quanto à reconstrução da figura histórica e seu desfecho no enredo.
Diante disso, tomando a literatura como elemento problematizador da história, buscamos
compreender, através de uma reflexão acerca das “verdades históricas” apresentadas em ambas
as narrativas, os agentes constituintes e indicadores das idealizações implícitas nas obras.
Assim, partimos do pressuposto levantado por Foucault (2008), de que a narrativa histórica
consiste em um conjunto de acontecimentos organizados e descritos pelo historiador em que há
uma parcialidade do autor frente aos fatos expostos, de modo a adaptar as “verdades históricas”
segundo a sua ideologia. Para tanto, é possível compreender que a perspectiva e,
consequentemente, o discurso autoral, sobre determinados acontecimentos, é influenciado e
delineado por fatores externos, como o gênero, a época, a etnia, a classe e a visão social do
período o qual o autor está inserido. Isto posto, justificamos a pesquisa mediante a relevância
da discussão, bem como a problematização, acerca da veracidade histórica da participação de
pessoas negras na história do Brasil, especificamente mulheres, através da compreensão de
possíveis recursos narrativos que indiciem a concepção do autor frente aos acontecimentos
reconstruídos. Assim, tomamos como amostra para o estudo deste acontecimento, a personagem
histórica negra Francisca da Silva de Oliveira e sua reconstrução na obra documental Memórias
do Distrito Diamantino e na obra literária Xica da Silva para, a partir de então, responder a
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seguinte indagação: como a representação da personagem Chica/Xica da Silva nas obras
Memórias do Distrito Diamantino da Comarca de Serro Frio e Xica da Silva reflete a distorção
e demérito da mulher negra no imaginário histórico social da literatura brasileira? Diante do
exposto, objetivamos analisar comparativamente o texto histórico do século XIX, Memórias do
Distrito Diamantino da Comarca de Serro Frio, de Joaquim Felício dos Santos e a obra
ficcional Xica da Silva, escrita no século XX, pelo autor João Felício dos Santos, com o intuito
de investigar a representação da mulher preta Chica da Silva na narrativa literária e histórica
brasileira. A pesquisa irá indicar os elementos discursivos que evidenciam a subjetividade
autoral e, a partir disso, discutir sobre como a manipulação dos fatos históricos, presente nestas
obras, reflete a distorção e o demérito histórico que as mulheres negras foram/são submetidas.
Para tanto, visando alcançar o objetivo proposto, o estudo será construído diante dos seguintes
procedimentos: inicialmente, iremos caracterizar o discurso histórico sobre a personagem na
obra Memórias do Distrito Diamantino Comarca de Serro Frio, de Joaquim Felício dos Santos.
Em seguida, compreenderemos a caracterização literária da personagem no romance Xica da
Silva, de João Felício dos Santos. Logo após, será realizada a comparação da representação da
personagem, buscando detectar repetições e diferenciações, nas duas obras pesquisadas. E, por
fim, iremos evidenciar, a partir dos resultados obtidos, a relação entre a formulação identitária
da personagem Chia/Xica da Silva e a distorção, e demérito da mulher negra no imaginário
histórico social da literatura brasileira. Dessa forma, esta investigação, possibilita o
desenvolvimento de um pensamento crítico, através de um procedimento histórico, acerca da
posição social histórica ocupada pelas mulheres negras, embasada na representação de uma
figura negra feminina na historiografia e literatura brasileira. Diante disso, esta pesquisa é de
abordagem qualitativa, no qual, será utilizado o método comparativo para a explicação dos
fenômenos observados no decorrer do trabalho, dado que, a análise partirá da comparação das
obras investigadas para estabelecer as problematizações existentes na recriação identitária da
personagem, a partir de fragmentos dos textos. Para tanto, este projeto é de natureza
bibliográfica e recorre ao cunho descritivo-analítico para investigar a representação ideológica
que os autores, João Felício dos Santos e de Joaquim Felício dos Santos, construíram acerca da
personagem em questão. Diante disso, por meio dos recortes das obras, será estabelecido uma
correlação entre os dados obtidos durante a pesquisa e o arcabouço teórico-bibliográfico
levantado, de modo a constatar a correlação existente entre a reformulação da personagem
histórica Francisca da Silva Oliveira e a propagação histórica de um pensamento misógino e
discriminatório acerca das mulheres negras na literatura brasileira. Para estruturar a pesquisa,
utilizaremos como arcabouço teórico os conhecimentos de Carvalhal (2006) e Nitrini (2000) no
que tange a análise comparada entre as literaturas investigadas. No que abarca a investigação
da formulação analítica da personagem nas obras, recorreremos ao conhecimento de Aguiar e
Silva (1990), Candido [et. Al] (1974), Franco Júnior (2005), Reis e Lopes (1988) e Brait (1990).
Além disso, utilizaremos os estudos de Andrade (2005), Hutcheon (1991), Jacomel e Silva
(2007), Le Goff (2013) e Schaff (1995) para a compreensão da formulação do discurso histórico
e literário. Nesse contexto, usufruímos das teorias de Bakhtin (2006), Fiorin (2012), Florêncio
[et. Al.] (2009), Foucault (1979; 1996; 1999; 2008), Pêcheux (1997; 2012) e Orlandi (1978;
1998; 2007; 2008; 2010; 2012; 2020), no que abrange a análise do discurso, para compreensão
da perspectiva ideológica presente nas obras investigadas. Para tanto, empregaremos as teorias
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de Esteves (2010) e Lukács (2011), no que abrange a definição do romance histórico
contemporâneo. Por fim, utilizamos os teóricos Abrahão e Soares (2011), Almeida (2019),
Hooks (2014; 2019), Cândido (2006), Davis (2016), Duarte (2000, 2011), Gonzalez [et. Al.]
(1982; 2020), Hall (2000; 2016), Nascimento (2016), Proença Filho (2004), Silva (2013), Souza
(2021) e Vergès (2020), para estabelecer as relações existentes entre as questões sociais das
mulheres negras e afro-brasileiras e a literatura.
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ROMANCE SEIS VEZES LUCAS, DE LYGIA BOJUNGA, NA SALA DE
AULA: CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO DE LEITORES
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e Azevedo (2019) se debruçam de um modo mais investigativo sobre a escrita de Bojunga e
suas particularidades na área da Literatura infanto-juvenil. c) No âmbito metodológico, a
pesquisa caracteriza-se como uma Pesquisa-Ação, visto que será desenvolvida a partir de um
Estudo de Campo com a experiência em sala de aula, que fundamenta-se no Método
Recepcional e na Leitura Subjetiva. O percurso terá três momentos que muitas vezes se darão
de modo concomitante. Primeiro, faremos um levantamento e leitura da fortuna crítica da autora
e, a seguir, propomos uma observação mais analítica de Seis Vezes Lucas (1996). O
aprofundamento da leitura da obra será de maior importância para, posteriormente, podermos
instigar os leitores na percepção de diferentes níveis do romance. A seguir procederemos ao
conhecimento da escola e dos alunos que serão os sujeitos da leitura. Será aplicado um
questionário ao professor(a) para conhecermos seu trabalho com obras literárias, bem como aos
alunos para detectarmos o horizonte de expectativa deles. De posse desse diagnóstico,
planejaremos nossa intervenção, com destaque para documentar a recepção através de
gravações das aulas e, no formato escrito, com os Diários de Leitura, construindo desse modo
duas modalidades de registro. A partir dos dados obtidos no experimento, passaremos a refletir
sobre seu alcance, elegendo categorias que possam apontar o modo como os leitores dialogaram
com a obra, os limites dos procedimentos escolhidos, suas possíveis identificações com aspectos
do romance, dentre outras questões.
Palavras-Chave: Ensino de Literatura; Formação de Leitores; Lygia Bojunga.
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LÀ OÙ IL FAIT SI CLAIR EM MOI, DE TANELLA BONI NO ENSINO
DE FRANCÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM ESPAÇO PARA
REFLEXÃO NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE
Resumo: Considera-se que ao se estudar uma Língua Estrangeira (doravante LE) o estudante
pode ser inserido em um espaço propício às descobertas linguísticas, desenvolvendo múltiplas
competências ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Nesse âmbito, podemos afirmar
que ao aprender uma nova língua, o aprendiz tem a possibilidade de conhecer a cultura e os
mais diversos aspectos sociais que estão ligados a ela, isso deve ser observado também, quando
se trata do professor em formação inicial, já que ele passa por um processo semelhante de
construção de conhecimento; no nosso caso, enfocamos o ensino do Francês como Língua
Estrangeira (FLE). Notamos com o passar do tempo que diversas metodologias e perspectivas
foram sendo inseridas nas aulas de línguas, bem como a utilização de materiais didáticos e
documentos autênticos como suporte pedagógico. Em se tratando da literatura, renomados
especialistas como Gruca (2010), Séoud (2010), Tagliante (2006) dentre outros, apresentam
reflexões sobre o texto literário em aula de FLE, bem como outros pesquisadores que o abordam
também no contexto acadêmico e nas grades curriculares dos cursos das formações em Letras-
Língua Francesa. Ao trazermos a literatura para o contexto do ensino de língua francesa,
podemos instigar e motivar os aprendizes à leitura literária em LE e auxiliá-los de modo
determinante no desempenho da atividade leitora e na aprendizagem da língua alvo. Dessa
maneira, entendemos que o texto literário tem um papel fundamental no ensino de línguas, pois
o aprendiz passa a ter contato com outras culturas, sendo conduzido às descobertas múltiplas e
a um enriquecimento não somente enciclopédico em língua francesa, mas também linguístico,
cultural e afetivo. No que diz respeito à leitura e à leitura literária em LE, mais especificamente,
compreendemos que o aprendiz se vê adentrando em um contexto de uma língua diferente da
sua, fazendo uso de seu conhecimento de mundo, mobilizando as estruturas cognitivas no ato
da leitura. Desse modo, observamos que a literatura tem um papel importante na formação de
professores de FLE, pois possibilita uma compreensão de questões subjetivas, sociais e até
mesmo históricas. Nesse sentido, oportunizaremos a leitura de uma obra que é produzida fora
da França, ou seja, incitando às novas descobertas literárias em muitos sentidos, pois
trabalharemos com poesia africana de língua francesa, produzida por uma poeta da Costa do
Marfim. Partindo desse ponto, esta pesquisa se justifica pela necessidade de possibilitar aos
professores de FLE em formação inicial um conhecimento sobre a poesia africana de língua
francesa, mais especificamente da escritora Tanella Boni, pelo seu engajamento social,
filosófico e pela qualidade de sua produção poética. Dentre a produção da referida poeta,
selecionamos a antologia intitulada Là où il fait si clair em moi, contendo poemas que abordam
temáticas como o exílio de ser mulher, além de outras que enfocam a escrita de autoria feminina.
Logo, ao trazermos essa poesia para a sala de aula, o estudante da graduação de Letras passa a
ter um maior contato com essa obra e com o gênero lírico, -embora já o tenha tido, de modo
inicial, no ensino regular-, tendo a oportunidade de observar com um olhar mais crítico cada
verso e apreciar a poética. Ao trabalharmos com poesia em aulas de FLE, há uma probabilidade
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de o estudante sentir-se atraído pelas peculiaridades da obra, além de observar a métrica, a rima,
as imagens e todos os outros elementos relacionados a esse gênero. Observamos, também, que
em nosso meio acadêmico, o espaço para se trabalhar poemas em aula de FLE ainda é restrito
tanto para se apreciar a obra, quanto para se discutir e explorar a literatura produzida por
mulheres, justificando mais uma vez a importância de pesquisas como esta. Sendo assim, esta
investigação é norteada pela seguinte pergunta: Como a abordagem de poemas da antologia Là
où il fait si clair em moi, de Tanella Boni pode colaborar para a formação leitora da obra literária
do professor de FLE em formação inicial? Estabelecemos como objetivo geral: Investigar a
repercussão da leitura literária de dois poemas da antologia Là où il fait si clair em moi, de
Tanella Boni em aula de FLE. Como objetivos específicos, temos: a) analisar dois poemas
intitulados Les mots sont em armes préférées e Mémoire de Femme, ponderando sobre o papel
da mulher inserida na sociedade marfinense, estabelecendo-se uma ponte intercultural com a
realidade brasileira; b) observar a reverberação da abordagem dos poemas citados, na formação
inicial de professores de francês, evidenciando as reflexões despertadas a partir da leitura; e por
fim; c) verificar as coadjuvações da leitura literária na formação inicial do professor de FLE, a
partir das trocas interculturais possibilitadas pelos poemas. Nossas reflexões estão ancoradas
no pensamento de Blondeau e Allouache (2008); Gruca (2010); Jover-Faleiros (2009), dentre
outras referências sobre o texto literário em aula de FLE; e, ainda em Vergès (2019) e Hollanda
(2020) para as considerações sobre o papel da mulher na literatura. Para o desenvolvimento
desta pesquisa-ação, ofertaremos um curso de extensão para estudantes da graduação de Letras
Língua Francesa, aberto à comunidade. O curso intitulado La poésie de Tanella Boni em classe
de FLE: courage et résistence, terá carga horária total de 20h, divididas em 10 encontros
síncronos com 2h de duração, cada; e, 10 assíncronos. Devido à pandemia, todos esses
encontros serão realizados de maneira remota, pela plataforma Google Meet. Durante os
encontros, serão realizadas atividades de leitura individual e em grupo bem como a análise dos
poemas pelos estudantes. Haverá momentos, também, para discussões e para compartilhar as
tais leituras realizadas. A presente pesquisa se caracteriza como uma pesquisa-ação, além de
ser documental, bibliográfica e interpretativa, também inserida no âmbito das pesquisas
qualitativas (GERHARDT; SILVEIRA, 2009) e descritivas, uma vez que esse tipo de pesquisa
tem como objetivo principal descrever as características de determinado fenômeno com a
utilização de dados coletados e anotações feitas durante a sua realização. O objeto de estudo
desta pesquisa-ação é formado pelos dois poemas: Les mots sont em armes préférées e Mémoire
de Femme, da antologia Là où il fait si clair em moi, de Tanella Boni e pelas atividades e demais
exercícios feitos pelos estudantes durante o seu desenvolvimento. Tais poemas escolhidos são
importantes por abordarem temas que são necessários para discussão em sala como
desigualdade e discriminação social vivenciados na pele, memórias de casa ainda presentes e
sobre a mulher, inserida em todos esses contextos. Assim, acreditamos que tais leituras podem
envolver o leitor e fazê-lo conhecer a si mesmo e ao outro de modo mais empático,
oportunizando não somente um aprendizado sobre poesia, mas também, uma ampliação do
conhecimento de mundo em face das inúmeras situações e realidades vistas atualmente.
Julgamos importante que pesquisas como essa sejam feitas no campo acadêmico, pois cremos
que contribuam de maneira ímpar para o desenvolvimento dos professores de FLE em formação
inicial e valorizem ainda mais as literaturas de língua francesa produzidas nos mais diversos
espaços e regiões.
Palavras-Chave: Literatura; Poesia marfinense; Língua Francesa; Leitura literária; Tanella
Boni.
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Referências
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Paulo: Ubu Editora, 2019.
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LITERATURA E CINEMA: A (DE)FORMAÇÃO INTERMIDIÁTICA DA
MULHER NA OBRA POULET AUX PRUNES NO ENSINO DE
FRANCÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Manuella B. Bitencourt
Orientadora: Profa. Dra. Josilene Pinheiro-Mariz
Resumo: A imagética está presente em nossa história desde sempre, pois ela traz memórias,
culturas e tradições; as imagens informam e, ligadas à palavra, o potencial comunicativo é
ampliado, estando uma reforçando o que a outra diz, criando, assim, diferentes efeitos de
sentido; e, ao longo dos anos, vemos que as estratégias de verossimilhança tomaram diferentes
graus de complexibilidade. No que tange à literatura, observamos que as obras em quadrinhos
são completas, no sentido de que, ao relacionar texto e imagem, os quadrinhos fazem com que
o espectador tenha uma outra experiência de leitura ao relacioná-la à realidade. Com esse olhar,
a narrativa escolhida como um dos corpora desta pesquisa, Poulet aux Prunes (2008), é uma
obra da autora, cineasta e ilustradora iraniana, Marjane Satrapi; e, apresenta um cronotopo
histórico muito particular, que representa experiências únicas, mesmo sem que os leitores
estejam nos mesmos lugares e na mesma época. A obra nos mostra que os papéis femininos são
determinantes para o desenvolvimento da história em ambas as mídias: quadrinhos e adaptação
cinematográfica. Podemos observar, por exemplo, os diferentes papéis que cada mulher pode
vir a exercer dependendo do contexto histórico-social em que ela vive; o que nos permite
afirmar que uma mesma mulher pode vir a exercer todos esses papéis em diferentes momentos
da vida; pensamento que corrobora ainda mais para a ideia que não se pode colocar a mulher
como algo definitivo e insolúvel (BEAUVOIR, 2019). No que tange à desconstrução e
reconstrução de identidades, vemos que, ao ser adaptada cinematograficamente, ela sofre
mudanças significativas para a compreensão das personagens. A título de exemplificação,
podemos observar que a principal transformação midiática, na adaptação fílmica, é a troca dos
desenhos de Satrapi, pelo live action, o que é um ato ‘real’. Acreditamos que escolha dos
corpora se dá pelo fato de os quadrinhos quebrarem, muitas vezes, as ‘regras’ de
verossimilhança e de fotorrealismo para enfatizar sentimentos ou aparências. Já o cinema live
action trabalha com a verossimilhança, mas pode acrescentar aos atores máscaras, próteses e
maquiagem para transformar, modificar ou potencializar as expressões e sentimentos dos
personagens. Assim, se olharmos as obras sob a ótica da intermidialidade, considerada aqui
como não somente “nós designamos ainda amplamente como “artes” (Música, Literatura,
Dança, Pintura e demais Artes Plásticas, Arquitetura, bem como formas mistas, como Ópera,
Teatro e Cinema) mas também às “mídias” e seus textos”. (CLÜVER, 2006), podemos perceber
que ela permeia toda a obra, sendo elas adaptação (impressa e fílmica), quanto separadamente.
Acrescente-se que de acordo com Eco (2008), a complexibilidade do texto se dá pelo fato de
ele ser entremeado por espaços em branco, interstícios a serem preenchidos pelo leitor, pois
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todo o texto quer que alguém o ajude a funcionar. Pensando nisso, acreditamos que uma das
formas de preencher tais espaços na leitura literária, é através da adaptação cinematográfica,
uma vez que, o cinema transmite o sentimento e o instinto, já que ele consegue reunir imagens
baseando-se em um sistema de organização parecida com o sonho. Isso ocorre porque o filme
atinge diretamente os sentimentos do espectador e toda a sua dificuldade em se expressar
racionalmente é compensada em sua facilidade de despertar sentimentos através das imagens
(GONÇALVES DA SILVA, 2012), enquanto os quadrinhos se estruturam conforme a
disposição impressa de arte e balões em sequência (EISNER, 2005). Na intermidialidade,
quando passa de uma mídia a outra, o leitor/espectador pode dar ênfase a diferentes aspectos da
história, pois no processo de transposição intermidiática é provável que esses aspectos mudem
e passem por transformações radicais, como por exemplo, no texto cinematográfico, vemos a
mobilização da performance visual e do tempo real, os pensamentos das personagens são
mostrados através da expressão facial do ator, da música ou de símbolos escolhidos pelo diretor.
Dessa forma, em alguns aspectos, o filme não pode ajudar o leitor a chegar a uma conclusão
sobre certos eventos e vice-versa, pois é a partir da funcionalidade contextual do significado e,
consequentemente, o trabalho estético que lhe é dado, que o texto literário atinge a polissemia
e a linguagem figurada, de modo que o leitor precise identificá-las para atingir as imagens
construídas através da linguagem verbal e não verbal (SANTOS, 2014). Faz-se necessário, para
viabilizar tal processo, mudar, às vezes, o conteúdo ou toda a informação, adaptando-a ao novo
veículo/mídia, uma vez que nesse novo espaço comunicativo, a centralidade das mídias, como
elementos constitutivos do sentido mesmo das trocas, torna-se cada vez mais proeminente
(GHIRARDI; RAJEWSKY; DINIZ, 2020). Dessa forma, perguntamo-nos: até que ponto a
adaptação fílmica da obra Poulet aux prunes (2008) pode contribuir para a compreensão do
texto literário em contexto de formação leitora de professores de francês como Língua
Estrangeira (FLE) em formação inicial, tendo como foco o desenvolvimento de professores
mais empáticos à cultura do outro? Sendo assim, temos como objetivo geral estudar qual a
contribuição da adaptação fílmica na leitura e compreensão da (de)formação do papel feminino
nas obras Poulet aux Prunes (2008; 2011) em sala de aula de FLE. Para isso, como objetivos
específicos, almejamos: a) Analisar as obras Poulet aux Prunes (2008; 2011), estabelecendo
laços intermidiáticos e interculturais entre o Irã e o Brasil; b) Discutir a presença da mulher e a
sua (de)formação identitária na obra selecionada nas duas mídias bem como evidenciar Marjane
Satrapi como representante da escrita feminina; e, c) Refletir sobre as contribuições que a leitura
literária e a cinematográfica podem oferecer no contexto de ensino/aprendizagem de FLE. Esta
pesquisa está inserida também no paradigma das pesquisas qualitativas, considerando-se o seu
foco enquanto natureza do fenômeno investigado, sendo, portanto, bibliográfica, documental e
exploratória, caracterizando-se como pesquisa-ação (MOREIRA; CALEFE, 2008). Para
alcançarmos os objetivos propostos, a nossa pesquisa está dividia em três fases: a primeira fase
se constituirá da análise da obra selecionada, nas versões quadrinho e fílmica, a fim de
aprofundar as nossas reflexões acerca da intermidialidade, bem como as temáticas que
circundam a obra, com o propósito de estabelecer possíveis laços interculturais entre o Brasil e
o Irã (país em que a obra é ambientada). Na segunda fase, pautaremos as nossas discussões
sobre como o processo intermidiático dos quadrinhos para o cinema ‘constrói’ a (de)formação
dos papéis femininos que permeiam a obra a partir da leitura feita na primeira fase. No mais,
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procederemos à seleção dos excertos que apresentam mais fortemente tais aspectos para serem
trabalhados em sala de aula, a fim de se discutir sobre a importância da representação feminina
enquanto escritora, personagem, cineasta, romancista gráfica etc., levando em conta a
complexidade das transformações midiáticas dão enfatizam o papel feminino na obra. Na
terceira fase, pretendemos realizar a leitura da obra em um curso de extensão ofertado online
para professores de francês em formação, nos períodos iniciais da graduação, partindo-se das
apreciações das obras feitas na primeira fase e, assim, gerar os dados para as análises a partir
das atividades que serão realizadas nas aulas síncronas e nas atividades assíncronas, para dessa
forma, alcançarmos o terceiro objetivo específico de nossa investigação. Esta pesquisa está
ligada à formação leitora de obras literárias de professores de FLE em formação inicial e se faz
relevante quando avaliamos a contribuição que ela pode aportar para a formação de
profissionais de língua francesa, na tentativa de promover o ensino da língua, ligado à
abordagem da obra literária, de forma a ressaltar a sua essência enquanto instrumento que
valorize o diálogo intercultural e interdisciplinar.
Palavras-Chave: História em quadrinhos; Cinema; Intermidialidade; Papéis femininos; FLE.
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A LEITURA DE LITERATURA FANTÁSTICA NAS AULAS DE ELE:
UMA EXPERIÊNCIA COM CONTOS DE JORGE LUIS BORGES E
SILVINA OCAMPO
Resumo: Dentre as várias vertentes literárias, a literatura fantástica tem ganhado destaque no
âmbito latino-americano nas últimas décadas. Para Todorov (1975), o fantástico implica não só
uma vacilação entre leitor e herói, mas também uma forma de leitura do mundo. Observamos
que os dados recentes sobre a leitura em nosso país são preocupantes. Segundo a última edição
de Retratos da leitura no Brasil, realizada em 2020, estamos perdendo leitores na faixa entre 11
a 17 anos de idade. Acreditamos que a escola deve cumprir a sua função social e garantir o
direito à literatura de seus estudantes, conforme defende Antonio Candido (2004). Nesse
contexto, verificamos que ainda são escassos os estudos que se debruçam sobre o ensino de
literatura nas aulas de ELE. Para Milreu (2018), não só os professores de língua estrangeira,
mas também de língua materna, enfrentam dificuldades para inserir textos literários em suas
aulas, entre as quais se encontram questões curriculares e metodológicas. Dessa forma, a
presente pesquisa se justifica pelo fato de se debruçar sobre problemas que precisam ser
evidenciados, discutidos e solucionados. Nesse sentido, entendemos que a presença de textos
literários nas aulas de língua espanhola na educação básica, particularmente de contos do gênero
fantástico, pode contribuir significativamente para a formação de leitores. Entre os autores da
literatura fantástica de nosso continente, dois nomes se sobressaem: Jorge Luis Borges (1899 –
1986) e Silvina Ocampo (1903 – 1993), ambos escritores argentinos, contistas, poetas e
criadores de múltiplos mundos imaginários. Por essa razão, o presente projeto recorre às suas
narrativas, especialmente, “El otro” e “Borges y yo”, de Borges, e “La casa de azúcar” e “Los
amigos”, de Ocampo, a fim de discutir a seguinte questão: como a leitura de contos fantásticos
pode contribuir com a formação de leitores em aulas de Língua Espanhola na educação básica?
No intuito de respondê-la, traçamos como objetivo geral de nossa pesquisa investigar como a
leitura de contos de Borges e Ocampo colabora com a formação de leitores nas aulas de
Espanhol em turmas do Ensino Médio. Também estabelecemos dois objetivos específicos para
guiar nossa investigação: analisar os elementos fantásticos presentes nos contos selecionados
dos referidos autores argentinos e examinar as possibilidades de abordagem da literatura
fantástica nas aulas de ELE a partir do tema do duplo. Afinal, “[...] o aprendiz pode, através da
leitura de obras literárias, viajar por ideias, histórias e costumes de um povo, estabelecendo
contato com outras manifestações socioculturais.” (MILREU, 2018, p. 78). Entendemos que a
aproximação dos estudantes com textos literários de outros países, possibilita não só o
desenvolvimento de suas habilidades leitoras e linguísticas, mas sobretudo amplia os seus
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conhecimentos socioculturais. Nessa perspectiva, Ribeiro e Miranda (2018, p. 169) pontuam
que “[...] o fato de que o texto literário tenha a capacidade de congregar em si múltiplas
referências culturais propicia o ensino a partir de uma perspectiva multicultural, a qual busca
também abolir preconceitos, estereótipos e atitudes discriminatórias através da educação. ” Para
desenvolver nossa pesquisa, dividimos os fundamentos teóricos em dois eixos. O primeiro está
dedicado aos estudos teóricos sobre a literatura fantástica feitos por Paraizo (1998), Roas (2014)
e Todorov (1975), entre outros. Já o segundo é voltado para o ensino de literatura e a formação
de leitores no contexto da educação básica, particularmente, nas aulas de língua espanhola,
tendo como referência os seguintes estudiosos: Milreu (2018), Ribeiro e Miranda (2018),
Nobile (2003), Silva (2003), Tavares (2003) e Zilberman (1988), cujas discussões abarcam a
importância do ensino de literatura, bem como as possíveis estratégias para aprimorar a
abordagem do texto literário nas aulas de espanhol. Tendo em vista os objetivos propostos por
nossa investigação, podemos classificar este trabalho como sendo de natureza qualitativa, pois
esta tem, entre outras características, a imersão do pesquisador no ambiente da pesquisa
(FREGONEZE et al, 2014). Também se enquadra como um estudo de cunho bibliográfico, pois
recorreremos aos estudos realizados anteriormente sobre as temáticas investigadas. Isto posto,
definimos esse trabalho como uma pesquisa-ação por se tratar, como já mencionado, de uma
investigação na qual o pesquisador está direta e ativamente conectado com o objeto pesquisado.
A seguir, descrevemos os procedimentos metodológicos previstos a fim de alcançar os objetivos
traçados. Inicialmente, realizaremos uma pesquisa bibliográfica sobre a formação de leitores no
Brasil e o ensino de literatura nas aulas de língua espanhola. Em seguida, investigaremos os
principais estudos sobre literatura fantástica e as obras de Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo.
O próximo passo será a análise dos contos selecionados dos referidos autores. Para abordar as
narrativas selecionadas nas aulas de língua espanhola do ensino médio, adotaremos o Método
Recepcional, sistematizado por Bordini e Aguiar (1988), dividido em cinco etapas. Durante a
experiência de leitura utilizaremos os seguintes instrumentos de coleta de dados: o uso de
questionários e o diário de campo. Reiteremos a importância desse estudo devido à sua
contribuição não só para a formação de leitores, mas também para a área de estudos sobre o
ensino de literatura em aulas de língua espanhola.
Palavras-chave: Literatura fantástica latino-americana; Ensino de literatura em aulas de ELE;
Leitura literária de contos; Formação de leitores; Borges e Ocampo.
Referências
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leitura crítica de Literatura y enseñanza (2008), de Magnólia Brasil Barbosa do Nascimento e André
Luiz Gonçalves Trouche. In: CLIMACO; MILREU; ORTEGA (orgs.) Ensino de literaturas hispânicas:
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TAVARES, Edson. Literatura na escola: o “assassinato” do gosto literário. João Pessoa: Ideia, 2003.
ISSN - 2526-5024 50
LINHA 2 - PRÁTICAS LEITORAS E DIVERSIDADE DE
GÊNEROS LITERÁRIOS
Resumo: O contexto da ascensão do fascismo e da ditadura militar do Chile, que culminou com
o golpe ocorrido em 1972, aparece como uma das principais temáticas de nossos objetos de
estudo: o romance A casa dos Espíritos, de Isabel Allende, e sua adaptação cinematográfica
homônima, dirigida por Bille August. O romance foi publicado na Espanha e no Chile em 1982
e veio a público no Brasil em 1984, alcançando um grande público. Posteriormente, em 1993,
ganhou uma adaptação cinematográfica, a qual também foi exitoso. Uma das características
mais marcantes dos enredos está na combinação entre acontecimentos fictícios e episódios
históricos do Chile. Também destacamos como um fator pertinente para a pesquisa, a autoria
feminina do romance, dado que a obra da autora chilena abriu caminho para a visibilidade das
produções de outras autoras latino-americanas, bem como, o tema da ditadura, considerando
sua relevância político-social na contemporaneidade. Esta afirmação é baseada na constatação
de que nos dias atuais houve uma acentuada ascensão de líderes políticos simpatizantes do
fascismo e do autoritarismo em algumas partes no mundo, inclusive no Brasil. Nesse sentido,
abordar tal temática a partir das artes, se faz necessário para perpetuar a memória daqueles que
viveram essa época turbulenta e combateram o autoritarismo, funcionando como um lembrete
da história recente de nosso continente, marcada por regimes tiranos. Além disso, visamos
contribuir com o embasamento crítico das novas gerações de leitores e pesquisadores sobre a
temática ditatorial, colaborando para que essas tragédias não sejam repetidas. Para nortear nossa
pesquisa, partimos dos seguintes questionamentos: De que forma a ditadura foi representada
nas referidas narrativas? Como o período ditatorial foi recriado em ambas as obras? Quais as
semelhanças e diferenças existentes no romance e no filme no que tange a representação do
regime militar? Desse modo, traçamos como objetivo geral investigar como a ditadura foi
representada em A casa dos Espíritos, de Isabel Allende e na sua adaptação cinematográfica
homônima, de Bille August. Já os nossos objetivos específicos são: discutir o papel que a
representação do golpe militar ocorrido no Chile em 1973 ocupa nos enredos das citadas obras
e comparar as semelhanças e divergências existentes entre elas no que concerne a
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ficcionalização do referido período ditatorial. Como aporte teórico nos basearemos nos
seguintes autores: Brito (2006) e Hutcheon (2013), sobre os estudos da adaptação; Chiampi
(2012), Todorov (2004) e Roas (2014), no que tange ao realismo maravilhoso; para tratar da
literatura latino-americana, utilizaremos teóricos como Rama (2005) e Shaw (2005); e, por fim,
sobre a temática literatura e ditadura, recorreremos às investigações de Seligmann-Silva (2003),
Gagnebin (2009; 2010), Figueiredo (2017) e Ricoeur (2007), dentre outros. No que concerne a
metodologia, será realizada uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico e interpretativo
sobre o romance A casa dos espíritos, de Isabel Allende e sua adaptação cinematográfica. Por
sua vez, para a constituição das análises, utilizaremos o método comparativo sob a perspectiva
de Carvalhal (2006). A fim de alcançar os objetivos propostos será realizada uma revisão de
literatura com base nas principais teorias que abrangem a temática da ditadura latino-americana
a partir da leitura de livros, dissertações, teses e artigos, além da investigação da fortuna crítica
das mencionadas obras. A intenção deste passo é delimitar uma base teórica que propicie uma
ampla compreensão sobre as obras, utilizando os métodos analítico-descritivo e comparativo.
A pesquisa seguirá três etapas principais baseadas nos objetivos expostos anteriormente, cujos
procedimentos metodológicos serão descritos a seguir. Na primeira fase, nos debruçaremos
sobre as principais obras teóricas e estudos relevantes que se dedicaram a discutir a temática da
ditadura no Chile e na América Latina, particularmente, no que se refere a sua representação na
literatura e no cinema. Em seguida, investigaremos quais trabalhos abordaram a relação entre
o romance de Allende e sua adaptação cinematográfica. Já na segunda, analisaremos,
separadamente, como a ditadura foi representada em A casa dos Espíritos, de Isabel Allende, e
na adaptação cinematográfica, de Bille August. Por sua vez, na última etapa, compararemos a
representação da ditadura nestas obras através das seguintes categorias de análise: a
caracterização dos personagens principais e o espaço que a ditadura ocupa nas narrativas
selecionadas. Assim, discutiremos, inicialmente, a caracterização dos personagens que se
envolveram com a política nas citadas ficções, tanto os que apoiaram o partido conservador e
os militares quanto os que resistiram ao golpe, examinando quais foram mantidos ou eliminados
nas duas obras, bem como se houve mudança em sua caracterização. Na sequência,
verificaremos o espaço destinado à recriação do período da ditadura militar ocorrida no Chile
em cada narrativa, analisando comparativamente os capítulos utilizados no romance para tratar
diretamente sobre o tema da ditadura e as cenas que recriam este episódio no filme. Para
finalizar, discutiremos a importância da temática para a conclusão dos enredos e o desfecho dos
personagens, assinalando, as semelhanças e as divergências existentes entre ambas as ficções,
no que concerne a representação da última ditatura chilena. Nesse sentido, acredita-se que será
possível analisar produtivamente a mencionada adaptação do romance para o cinema, bem
como refletir sobre o trágico período da história de nosso continente recriado nas obras de
Allende e August.
Palavras-Chave: A Casa dos espíritos; Literatura de autoria feminina; Ditadura; Literatura e
cinema; Literatura latino-americana contemporânea.
Referências
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NITRINI, Sandra: Literatura Comparada: história, teoria e crítica. São Paulo: Edusp, 1997.
PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira. Manual de pesquisa em estudos linguísticos. São Paulo:
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ENTRE JOÕES E AMORAS: O LIVRO ILUSTRADO INFANTIL PARA
UMA EDUCAÇÃO LITERÁRIA ANTIRRACISTA
Resumo: A literatura infantil brasileira teve seu início vinculada ao processo de adaptações e
traduções de obras fundamentadas em fontes europeias, o fato de ter passado um longo período
absorvendo um único padrão de narrativas e personagens foi/é determinante para a reprodução,
pelos seus leitores, de práticas excludentes e racistas sobre determinados grupos. Embora esse
movimento, inicial, tenha enfraquecido na contemporaneidade, as marcas de sua influência
literária, com viés colonialista, foram perpetuadas em muitas obras e continuam sendo
identificadas na estética e na temática de algumas produções. Assim, em função da necessidade
de discussão das representações oriundas desse contexto, atualmente, é cada vez maior o
número de estudos1 que problematizam as produções literárias a partir do tratamento dado aos
aspectos étnicos raciais e culturais. No que tange a literatura infantil, há também a influência
desses protótipos em suas concepções de infância, e por sua vez, do ser criança por um único
modelo, sem considerar as diversidades culturais e étnicas de seus leitores. Na constituição do
livro infantil as representações estão presentes também na linguagem visual, assim, as
ilustrações são muito mais que um complemento ao texto escrito, elas funcionam com uma
possibilidade de representar um indivíduo ou grupo sem, necessariamente, concentrar as
afirmações apenas na palavra escrita. Além disso, ao contrário da observação de muitos leitores
adultos, a ilustração é entendida pelo leitor infantil como uma linguagem extremamente
importante, com potencial para interferir como elemento de comunicação na formação da sua
identidade representativa. De modo que “seria imaturo dizer que o livro literário para a infância
não possui características específicas. Essas características se sobressaem de imediato no
aspecto da materialidade do livro: tamanho, formato, ilustração, etc [...]” (DEBUS, 2017, grifo
nosso, p.28). Partindo disso, é pertinente indagar como os fenômenos textuais e plásticos do
livro ilustrado se sobressaem enquanto objeto cultural diante das propostas de desconstrução de
uma tradição literária que reforça estereótipos sobre as pessoas que não atendem aos padrões
literários europeus, e ainda, indagar sobre como se estruturam as produções que sinalizam uma
reeducação literária atenta aos postulados das leis educacionais (10.639/03) reconhecendo a
importância das relações étnicos raciais e do ensino de história e cultura afro-brasileira, bem
como, de estudos sobre os conceitos de racismo e antirracismo, no sentido de trazer reflexões e
provocar mudanças nas condutas de seus leitores. Diante do exposto sobre uma literatura que
1
Personagens Negros na literatura infanto-juvenil no Brasil e em Moçambique (2000-2007): Entrelaçadas vozes
tecendo negritudes. 2010 da Prof. Dr. Maria Anória de Jesus Oliveira; A representação do negro na literatura
brasileira para crianças e jovens: negação ou construção de uma identidade? 2006, da Prof. Dr. Eliane Debus,
dentre outros.
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corresponda a realidade da criança negra, e, considerando que a ilustração pode ser
compreendida como uma linguagem criativa que possibilita fruição estética e experimentação
ao leitor essa pesquisa se concentra em uma abordagem qualitativa, haja vista que, “busca
entender um fenômeno específico em profundidade. Em vez de estatísticas, regras e outras
generalizações, ela trabalha com descrições, comparações, interpretações e atribuição de
significados, possibilitando investigar valores, crenças, hábitos, atitudes e opiniões de
indivíduos ou grupos.” (BOTELHO, 2014, p.18) A partir disso, tem-se um trabalho de natureza
interpretativa-descritiva, no sentido de que, investigamos o livro ilustrado concebendo-o como
documento da literatura infantil contemporânea, que nos dá respaldo para observarmos os
fenômenos da linguagem, da literatura para criança, bem como, da sua representação.
Metodologicamente a presente pesquisa organiza-se em torno de três momentos, que são
norteados por abordagens relativas aos campos da literatura infantil e, respectivamente, das
representações simbólicas na linguagem literária. Primeiramente, delimitamos um recorte
produções que foram publicadas entre as décadas de 2012 a 2022 para identificarmos o espaço
dado a criança negra na literatura infantil, considerando o período de dez anos pelo fato de já
existirem pesquisas em recortes anteriores a este. Depois refletimos sobre as obras
contemporâneas de escritores negros e os prováveis motivos de exclusão delas nos cenários
literários de grande prestígio social. Por fim, analisaremos os elementos formais e plásticos das
ilustrações nas narrativas, em obras de autores negros/as, promovendo uma investigação sobre
o lugar de fala desses escritores. Para tanto, elegemos como corpus, seis obras, sendo elas:
Cadernos de rima do João (2015) ilustrada por Maurício Negro e Edith e a Velha Sentada
(2021) ilustrada por Edson Ikê, ambos escritos por Lazaro Ramos; Amoras (2018) e E foi assim
que eu e a escuridão ficamos amigas (2020) ambas escritas por Emicída e ilustrada por Aldo
Fabrini; Da cor que eu sou (2021) escrito por Andressa Reis e ilustrada por Stefania Magalhães
e com Qual penteado eu vou (2021) escrita por Kiusam de Oliveira e ilustrada por Rodrigo
Andrade. Nosso objetivo geral é investigar como a representação da criança negra no livro
ilustrado pode apresentar potencial estético para a uma educação literária antirracista.
Considerando as especificidades de reflexão sobre o tema, são lançados os seguintes objetivos
específicos: (I) Construir um panorama temático da literatura brasileira entre 2012 e 2022 com
obras de temáticas potencialmente antirracistas; (II) Analisar nas obras com autores negros as
marcas plásticas/textuais que diferenciem os discursos da permanência de estereótipos sobre a
cultura africana e afro brasileira; (III) Verificar quais formas estéticas do livro ilustrado podem
contribuir para uma educação literária antirracista. A partir desses objetivos, busca-se responder
a seguinte pergunta da pesquisa: Na literatura infantil contemporânea quais as marcas da
representação da criança negra, no livro ilustrado, apresentam potencial estético para uma
educação literária antirracista? Partindo disso, a presente pesquisa se justifica pela escassez de
trabalhos que reflitam sobre a influência da literatura/ilustração na formação identitária da
criança negra. Além dessa lacuna, considera-se ainda, em tempos de vigência de
multiletramentos, a necessidade de estudo sobre as linguagens do livro ilustrado como objeto
cultural para a infância e como meio de formação do leitor literário. Outra razão do estudo é
ampliar o espaço literário para pesquisadores, autores, escritores e leitores negros que encontra-
se em expansão ainda limitada. Desta forma, pretendemos lançar mão da junção de elementos
dos seguintes procedimentos para fundamentar os parâmetros das nossas análises: (1) Dialogar
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com textos pesquisadores e intelectuais que já empreendem anos de estudos sobre a temática
da história e cultura afro-brasileira, contemplando a personagem infantil, sendo alguns deles/as:
Debus (2017), Oliveira (2010), Almeida (2021); (2) Refletir sobre a literatura infantil de autores
negros, a partir da visibilidade de suas produções enquanto literatura que nem sempre irá
atender aos valores dados as categorias de literatura do mercado e do cânone literário,
Dalcastagné (2012) e Ribeiro (2019); (3)- Destacar os elementos paratextuais, no livro ilustrado
e as técnicas de ilustração a partir de Nikolajeva e Scott (2011) e Linden (2011).
Referências
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MESTRADO
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LINHA 3 – ENSINO DE LÍNGUAS E FORMAÇÃO DOCENTE
Resumo: O trabalho docente é orientado por tarefas e prescrições que, muitas vezes, não são
definidas pelo professor, mas sim por planejadores, por uma hierarquia institucional
(AMIGUES, 2004). Assim programas e projetos, por exemplo, podem ser determinados por
terceiros. No contexto de ensino da rede estadual paraibana, o trabalho do professor é norteado
por alguns programas, tais como o Ouse criar, Integra Paraíba, Celso Furtado, Arte em cena e
o Desafio Nota 1000; sendo este último o contexto da nossa investigação. Tal programa foi
criado pela Secretaria da Educação, Ciência e Tecnologia (SEECT) da Paraíba e tem como
objetivo incentivar a habilidade de escrita dos alunos da rede estadual – estudantes do 9º ano do
ensino fundamental, da 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos)
para o texto dissertativo argumentativo, bem como mobilizar professores de português da rede
paraibana para o trabalho com esse gênero textual. Criado em março de 2020, o programa
Desafio Nota 1000 (doravante DN1000) conta com duas temporadas. A primeira temporada
durou até o mês de janeiro de 2021; a segunda teve início no mês de maio de 2021 e permaneceu
até dezembro do respectivo ano. Nas duas temporadas, a coordenação do referido programa
lançou, semanalmente, um tema e disponibilizou um material didático com textos motivadores
sobre uma proposta temática, um regulamento para cada edição, bem como um Guia de
orientação para avaliação das redações, em grupos do WhatsApp. Tais grupos foram criados
pela coordenação do programa para tratar de informações específicas do DN1000. Nesses
grupos, os professores de português recebiam instruções, informações sobre prazos e horários
de envio das produções dos alunos, assim como documentos norteadores para as ações docentes,
elaborados pela coordenação do programa mencionado. Diante das orientações propostas pelo
coordenador do programa, os professores se mobilizavam para tentar realizar as tarefas
impostas. Posto isso, verificamos a necessidade de compreender a atuação docente nesse
contexto de ensino. Entendemos que essa discussão é, pois, urgente; tendo em vista que as
experiências vivenciadas em tal processo colabora para o desenvolvimento de estratégias para
o ensino da produção de textos em geral. Assim, considerando o cenário apresentado, esta
pesquisa tem como perguntas norteadoras: De que maneira os textos prescritos pelo programa
Desafio Nota 1000 orientaram o trabalho do professor? Será que eles influenciaram a ação
docente do professor de português para além da implementação do programa? Para responder
essas perguntas, elencamos como objetivo geral: Refletir sobre o trabalho do professor de
português no contexto do programa Desafio Nota 1000. De modo específico objetivamos: 1)
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Identificar as prescrições estabelecidas para a ação docente; 2) Analisar as orientações
fornecidas e o direcionamento para o trabalho do professor na primeira e segunda temporada do
programa Desafio Nota 1000; 3) Verificar as relações entre o trabalho prescrito e o realizado
pelo professor de português em contexto do programa Desafio Nota 1000. Situada no âmbito
dos estudos da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006; 2009) esta pesquisa busca criar
inteligibilidade sobre e com um determinado contexto social que protagoniza o ensino na prática
escolar. A contribuição acontecerá à medida que verificarmos e refletirmos sobre o trabalho
docente do professor de português frente ao contexto do programa Desafio Nota 1000. Em
relação à classificação da pesquisa, ressaltamos que a proposta: 1) tanto seguirá uma abordagem
qualitativa (PRODANOV; FREITAS, 2013), porque seu ambiente natural é fonte direta para
coleta de dados, interpretação de fenômenos e atribuição de significados; 2) quanto será um
estudo exploratório, dado seu caráter de novidade a ser investigado e sua maior familiaridade
com o problema, tornando-o explícito (PRODANOV; FREITAS, 2013). Torna-se relevante,
pois, pontuar que em pesquisas qualitativas as questões são estudadas no ambiente em que elas
se apresentam sem qualquer manipulação intencional do pesquisador. Além disso, esse tipo de
estudo preocupa-se muito mais com o processo do que com o produto (PRODANOV;
FREITAS, 2013). Ainda segundo os autores mencionados, a pesquisa exploratória proporciona
mais informações e esclarecimentos sobre o assunto investigado, o que corrobora com o que é
proposto nesse estudo. Ademais, para a realização desta pesquisa, serão utilizados mais de um
instrumento para obtenção e geração de dados: o primeiro é referente a um formulário criado
para traçar o perfil dos professores participantes do programa Desafio Nota 1000; o segundo
será a realização de entrevistas com o coordenador-responsável e cinco professores que
participaram ativamente do programa. A entrevista é uma técnica em que “o investigador se
apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção de dados
que interessam à investigação” (GIL ,1987, p.113). Nela, abordaremos questões para reflexão e
aprofundamento sobre o funcionamento do programa e a atuação docente nesse contexto.
Destacamos, ainda, que esta pesquisa se valerá da entrevista semiestruturada, que tem como
característica “questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se
relacionam com o tema da pesquisa” (TRIVINOS apud MANZINI, 2004, p.2). Esse tipo de
instrumento permite que o pesquisador elabore perguntas norteadoras prévias e, se houver
necessidade, acrescente outras durante a entrevista, proporcionando ao pesquisador uma maior
liberdade na utilização desse instrumento. As entrevistas semiestruturadas serão realizadas com
cinco professores colaboradores, via Google Meet, de forma individual com cada participante.
Nessa perspectiva, faz-se necessário adotarmos frente ao objeto de investigação, uma postura
ética com os colaboradores. De acordo com Paiva (2005), as ações que envolvem a pesquisa
precisam ser conduzidas de forma ética, para que pesquisadores e participantes não sejam
prejudicados. Diante disso, ressaltamos que os dados gerados serão concedidos e autorizados
mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que preserva a
identidade dos colaboradores da pesquisa, pois conforme as ideias de Celani entendemos que
“é preciso ter claro que pessoas não são objetos e, portanto, não devem ser tratadas como tal;
não devem ser expostas indevidamente. Devem sentir-se seguras quanto a garantias de
preservação da dignidade humana” (CELANI, 2005, p. 107). Pensando nisso, nomearemos os
colaboradores com nomes fictícios, resguardando suas identidades e tornando o processo mais
humano. Ademais, cabe mencionar que selecionaremos textos prescritos pela coordenação do
DN1000 para a discussão e reflexão das orientações contidas nestes materiais que direcionavam
(ou não) a ação docente. Por fim, destacamos que a escolha do corpus se justifica pela
necessidade de compreender e refletir sobre o trabalho docente do professor de português a
partir de um programa da rede estadual da Paraíba. Assim, o quadro teórico que dará suporte a
esta pesquisa contempla discussões fundamentadas no Interacionismo Sociodiscursivo
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(BRONCKART, 2007, 2008; MACHADO, 2004), bem como sobre o trabalho docente a partir
de Amigues (2004) e Lousada (2004).
Palavras-Chave: Trabalho docente; Ensino; Redação.
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de Linguística Aplicada, v. 5, n.1, 2005.
ISSN - 2526-5024 61
O PROCESSO ALTERITÁRIO CONSTITUTIVO NA INTERAÇÃO
DISCURSIVA VERBAL DA RELAÇÃO PROFESSOR/ ALUNO NO
PROGRAMA SE LIGA NO ENEM – REVISÃO ON-LINE
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alunos em situações dialógicas nos diferentes canais de comunicação; e (3) analisar a prática
das novas linguagens inseridas em redes dialógicas no ambiente virtual em contexto de ensino
remoto emergencial. Esta proposta de pesquisa fundamenta-se, primeiramente, em uma reflexão
sobre a concepção da Teoria Dialógica da Linguagem (2011), para quem, o diálogo não envolve
apenas o locutor e interlocutor da interação discursiva, mas a recepção ativa do discurso do
outro. Essa recepção ativa não é apenas da compreensão da mensagem, mas também da
incorporação do outro no diálogo, de modo que o outro passe a constituir o sujeito-emissor. O
segundo embasamento teórico busca contextualizar a Alteridade nos estudos dialógicos da
linguagem, escolhida como base para a investigação da proposta de pesquisa. Para Bakhtin
(2011), a alteridade é a relação por meio da qual os indivíduos se constituem, é o que pode ser
entendido do outro e em consonância do que o outro revela de mim. O exercício da alteridade,
em atividade docente, transforma a linguagem com o outro, de maneira que a dinamiza e refaz.
Com isso, todo esse processo a partir da teoria de alteridade se modifica, a depender do
ambiente, momento e público. Portanto, toda essa prática possibilita uma perspectiva do novo
pensar e agir docente, em que a interação é de forma dinâmica, interacional e responsiva. Assim,
transforma-se um processo de alteridade entre professor e aluno, em contexto das linguagens
dialógicas, no ambiente virtual. Por fim, ainda como fundamentação para compreender
multiletramentos e a importância das linguagens e canais de comunicação presentes em
ambiente pedagógico, será utilizado Barton e Lee (2015), os quais afirmam que o espaço de
interação em novas mídias não só oferece novas possibilidades de representação, como também
oportuniza declarações que evocam crenças e realidades distintas às pessoas envolvidas.
Portanto, as plataformas e sites são formulados para que haja engajamento e manifestação a
todo momento. A linguagem para transmissão do conhecimento se modifica à medida que muda
o canal de comunicação, dessa forma, nos ambientes dialógicos em contexto do programa em
questão, será investigado o processo alteritário que ocorre nessa interação entre professor e
aluno. Na busca por desenvolver esta proposta – de compreender como acontece o processo
alteritário constituído no ensino de linguagens do programa Se Liga no Enem — Revisão On-
line – será usada a abordagem qualitativa de estudo exploratório, cujos participantes serão uma
professora de linguagens e a coordenadora de educação tecnológica do programa Se Liga no
Enem - Revisão On-line. A escolha por pesquisa qualitativa veio a partir da necessidade de
observar o fenômeno subjetivo, que segundo Minayo (2009), é suficiente para explicarmos a
situação social. Essa será uma pesquisa do tipo Exploratória, que segundo Gil (2002), tem como
objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições, em que seu
planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilita a consideração dos mais
variados aspectos relativos ao fato estudado. Nesse sentido, será organizado como percurso
metodológico o uso de diferentes instrumentos de geração de dados, ao todo em três momentos.
Em primeiro momento, será enviado um formulário virtual, através do Google Forms, para cada
participante da pesquisa, como forma de esclarecer acerca de todo o processo da pesquisa, bem
como questioná-los, de forma objetiva, a respeito da prática docente na modalidade on-line.
Ainda nesse primeiro momento, o professor será orientado a escolher a temática e dia da aula
para ser observada nos diferentes canais e plataformas. Em um segundo momento, serão geração
de dados, a partir de uma mesma temática de aula escolhida pela professora, em diferentes
plataformas utilizadas neste programa em foco, através de prints, vídeos e áudios. Em um
terceiro momento, será feita uma entrevista semiestruturada e de autoconfrontação, com o
participante individualmente, a partir das respostas apresentadas no formulário. Será
investigado, mediante a entrevista, como a professora e a coordenadora encaram e entendem a
alteridade presente no ato dialógico do agir responsável e responsivo entre professor e aluno
nos diversos canais e plataformas em ambiente virtual. A geração de dados terá a finalidade de
identificar marcas linguísticas que demonstrem como a alteridade se constitui e como acontece
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a construção de conhecimento em ambiente dialógico e discursivo de aprendizagem em
diferentes canais e plataformas do mesmo programa. No mais, o processo da pesquisa será
desenvolvido em conformidade com a aprovação deste projeto por parte do Comitê de Ética, ao
qual está em processo. Este percurso metodológico contribuirá para a construção e investigação
dos dados desta pesquisa, que se constituirá em gravações das entrevistas, bem como prints e/ou
cópias de atividades que permeiam a interação docente/discente em ambiente virtual.
Palavras-Chave: Alteridade; Interação; Discurso; Ensino remoto; Programa Se Liga no Enem
- Revisão On-line.
Referências
BAKHTIN, Mikhail M. Para uma filosofia do Ato Responsável. São Carlos: Pedro & João Editores,
2010.
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2009.
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ABORDAGEM DA VARIAÇÃO LEXICAL NO LIVRO DIDÁTICO DE
PORTUGUÊS DO ENSINO MÉDIO DO PNLD 2021: INVESTIGANDO
ATIVIDADES DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
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exercícios que exploram a variação lexical. Para mais, ressaltamos que a pesquisa proposta se
faz pertinente pelo fato de haver, no cenário nacional, poucos trabalhos que abordem o léxico
a partir da Sociolinguística Educacional em materiais didáticos, comprovando o que afirmamos
anteriormente. Ademais, nosso projeto de pesquisa permitirá compreender concepções de
ensino que abordem o léxico como um objeto dinâmico, heterogêneo e contextualizado. A nossa
fundamentação teórica se embasa nos pressupostos dos estudos linguísticos, partindo,
inicialmente, da Sociolinguística Educacional (BAGNO, 2007; BORTONI-RICARDO, 2004;
2005; 2012; FARACO, 2015; VEIRA, 2009; 2018). Entendemos que essa vertente da
Sociolinguística busca respostas para questões educacionais, procurando demonstrar a
relevância do seu estudo de modo contextualizado, o que contempla plenamente a nossa
pesquisa. Além disso, também tratamos de algumas questões relacionadas ao estudo do léxico,
à sua relevância para os estudos linguísticos e às concepções de léxico e ao tratamento da VL
adotados pelos LDs. Para esse debate, nos ancoramos em autores como Villalva e Silvestre
(2014), Batista (2011), Biderman (1987) e Neves (2020). Outros aspectos relevantes para nossa
fundamentação teórica são as perspectivas de análise linguística nos livros didáticos de língua
portuguesa. Referente à AL, apresentamos as três perspectivas, conservadora, conciliadora e
inovadora, identificadas em LDs por Bezerra e Reinaldo (2020), a partir de aspectos
relacionados à gramática tradicional e aos estudos linguísticos contemporâneos. Além disso,
ressaltamos a relevância do LD no ensino de LP a partir de uma abordagem mais ampla sobre
o estudo do léxico, já citado em linhas anteriores (ANTUNES, 2012). A caracterização da nossa
pesquisa se baseia no exposto por Mascarenhas (2014) e Prodanov e Freitas (2013). Entre
alguns aspectos, de acordo com Mascarenhas (2014), nosso trabalho é de abordagem
qualitativa, uma vez que não será evitada a influência do pesquisador sobre o trabalho, o que
define a subjetividade da pesquisa. É do tipo documental, de acordo com Prodanov e Freitas
(2013), principalmente por fazer uso de materiais que ainda não receberam nenhum tipo de
análise, uma vez que nos propomos a fazer uma análise dos LDs utilizados no PNLD 2021. A
geração de dados para a construção do corpus será composta por seis etapas: (i)leitura das
atividades presentes nos LDs; (ii)identificação das atividades de acordo com os critérios
definidos; (iii)verificação do encaixe de cada atividade quanto ao critério correspondente;
(iv)catalogação das atividades, organizando-as de acordo com cada critério; (v)realização de
análise do corpus; (vi)discussão dos resultados da análise retomando o proposto em nossos
objetivos e fazendo relação com as perspectivas de AL em LD. Os critérios adotados para a
construção do corpus desta pesquisa foram definidos conforme as leituras realizadas para nossa
fundamentação teórica. O corpus da nossa pesquisa será constituído por atividades voltadas ao
trabalho com a AL e que abordem a VL. Os procedimentos analíticos a serem adotados serão
distribuídos da seguinte maneira: selecionaremos as atividades relacionadas à AL;
identificaremos em qual dos critérios cada atividade se encaixa; descreveremos a atividade
fazendo a abordagem adequada relacionada aos critérios; faremos a associação de cada
atividade às três perspectivas de Bezerra e Reinaldo (2020); identificaremos a perspectiva
adotada em cada LD; e, de acordo com os pressupostos de Minayo (2009), faremos uma
interpretação dos nossos resultados, após o tratamento realizado por meio de descrição e
análise, para que possamos, então, fazer ligação com as concepções de léxico explanadas em
nossa fundamentação teórica. Por fim, ao final da nossa pesquisa, esperamos que nosso trabalho
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contribua de forma significativa para o aprimoramento das abordagens feitas em LDs acerca do
estudo da VL de forma que o léxico seja visto como algo dinâmico e que necessita ser visto em
um contexto e nas suas formas variadas. Além de tudo, esperamos também que o nosso trabalho
contribua para uma aproximação entre a sociedade, mais especificamente os professores de
língua portuguesa do EB, e os estudos linguísticos, sobretudo no que diz respeito à variação
linguística.
Referências
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ATIVIDADES DE ANÁLISE LINGUÍSTICA SOBRE O
FUNCIONAMENTO TEXTUAL-INTERATIVO DOS ITENS LEXICAIS:
INVESTIGANDO O LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS DO ENSINO
MÉDIO DO PNLD 2021
Resumo: Toda prática pedagógica está vinculada a uma teoria, desde a escolha dos conteúdos,
passando pela definição dos recursos metodológicos até a seleção e elaboração de materiais
didáticos. Nesse sentido, é preciso refletir sobre as concepções teórico-metodológicas
subjacentes aos livros didáticos (LDs), uma vez que essas obras são meios importantes para o
trabalho em sala de aula, servindo de apoio para docentes e discentes. Neste projeto,
defendemos que a língua se mostra no uso e realiza-se na interação social; ela é o meio
discursivo e social da interação verbal (ANTUNES, 2014; MARCUSCHI, 2008). Em uma
língua, os componentes de um sistema mais concretamente linguístico são dois: a gramática,
em geral mais prestigiada nas pesquisas e no ensino de língua portuguesa (LP), e o léxico
(ANTUNES, 2007). Defendemos que este último merece maior atenção, tendo em vista que há
uma desvalorização do trabalho com o léxico nas aulas de LP, sendo ele reduzido, muitas vezes,
ao estudo morfológico da formação e estruturação das palavras (ANTUNES, 2012). Ainda,
pensamos que se deva conceber o léxico em função da textualidade, ou seja, com vistas ao
favorecimento da tessitura dos textos, pois as palavras também são a matéria-prima das
produções textuais (ANTUNES, 2012; 2017). Considerando que um importante instrumento no
ensino de LP é o livro didático de português (LDP), destinado às escolas públicas brasileiras a
partir do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), a escolha e o uso
adequado de um bom LD são um ato político, tendo em vista que, muitas vezes, ele funciona
como norteador das práticas pedagógicas e, até mesmo, como currículo (BAGNO, 2013;
RANGEL, 2020). Nesse contexto, propomos a análise da abordagem do funcionamento textual-
interativo do léxico nos LDs do PNLD 2021, em suas obras específicas de Língua Portuguesa,
a fim de se compreenderem as concepções e os fundamentos para o ensino de elementos do
sistema lexical. Buscamos, dessa forma, um diálogo entre a Lexicologia (ANTUNES, 2012;
NEVES, 2020; VILLALVA; SILVESTRE, 2014), a Linguística de Texto (ANTUNES, 2017;
CAVALCANTE, 2016; KOCH, 2021; MARCUSCHI, 2012) e a Linguística Aplicada
(BEZERRA; REINALDO, 2020). Considerando a pressuposta abordagem limitada do léxico
nas aulas e no LDP, propõe-se a investigação acerca do tratamento dispensado ao léxico nos
LDs de língua portuguesa do Ensino Médio do PNLD 2021. Pensando nisso, tencionamos,
como pergunta de pesquisa: Qual é o tratamento dispensado ao funcionamento textual-
interativo dos itens lexicais nas obras didáticas específicas de Língua Portuguesa para o
Ensino Médio, no PNLD 2021? Para que possamos obter respostas a esse questionamento,
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propomos, como objetivo geral deste trabalho, investigar o tratamento dado ao funcionamento
textual-interativo do léxico nos livros didáticos de Língua Portuguesa aprovados pelo PNLD
2021. Para atingi-lo, elencamos como objetivos específicos: a) identificar os objetos do
conhecimento relacionados ao funcionamento textual-interativo dos itens lexicais; b) analisar
as concepções de léxico verificadas nessas propostas; e c) verificar as perspectivas de análise
linguística, em relação aos itens lexicais, encontradas nas atividades. A proposta tem sua
relevância e justificativa por lançar mão de uma abordagem pouco trabalhada nas pesquisas
sobre o léxico e o ensino, que é a sua relação com a textualidade, trazendo para o centro das
discussões o léxico e a importância do seu conhecimento e domínio para o desenvolvimento de
competências do aluno. Acerca dos pressupostos que nos fundamentam, tratamos inicialmente
do léxico como o mais abstrato dos sistemas linguísticos, devido ao seu caráter de abertura e
renovação constante, podendo ser visto como o conjunto de palavras de uma língua, não sendo
quantificável (BEZERRA, 2004; BIDERMAN, 2001[1978]; CARVALHO, 2014).
Considerando a dificuldade em definir o que é léxico e a diversidade de ideias, Neves (2020)
indica três grandes concepções: a concepção estrutural, em que se realiza a observação de regras
gramaticais, no sentido de regularidades; a concepção cognitiva, que incorpora um aspecto
mentalista e biológico da linguagem; e a concepção textual-interativa, que tem caráter textual
porque se observam as relações da textualidade associadas à organização e funcionalidade do
texto, e interativo porque busca, nos elementos interacionais, material para a análise da
textualidade. É preciso “considerar o ensino do léxico como algo de extrema importância para
o desenvolvimento das competências necessárias aos usos da linguagem verbal” (ANTUNES,
2012, p. 14). O texto, oral ou escrito, constitui-se no objeto de estudo das aulas de língua; tudo
deve convergir para ele (ANTUNES, 2005). Apontamos, ainda, que o texto é visto como “lugar
de interação entre atores sociais e de construção interacional de sentidos” (KOCH, 2021, p. 12).
Tratar de interação significa encarar “a linguagem como atividade, como forma de ação, ação
interindividual finalisticamente orientada” (KOCH, 2007[1993], p. 7). Em relação à
textualidade, nas palavras de Costa Val (1994, p. 5), ela é vista como o “conjunto de
características que fazem com que um texto seja um texto”, e não apenas um aglomerado de
frases. Sobre a análise linguística (AL), ao estudar livros didáticos de língua portuguesa,
Bezerra e Reinaldo (2020) identificam três tendências ou perspectivas de abordagem: a
perspectiva conservadora enfatiza os conhecimentos propostos pela gramática tradicional, a
perspectiva conciliadora elenca influências teóricas advindas da linguística e da tradição
gramatical e a perspectiva inovadora abarca ideais para o estudo da língua ancoradas nas
contribuições da linguística. Metodologicamente, embasamos esta proposta na lógica de
investigação indutiva, pois o ponto de partida principal é o corpus, composto de atividades de
AL que enfocam o funcionamento textual-interativo dos itens lexicais. Tem sua natureza
documental, por analisar documentos que ainda não receberam tratamento analítico ou que
podem ser reelaborados, futuramente, no âmbito do PNLD e se caracteriza pela abordagem
eminentemente qualitativa, por propormos uma análise subjetiva, que não abstrai o objeto de
seu contexto, construindo o corpus em etapas bem delimitadas, além de intenção descritiva, ao
buscar descrever os fundamentos teórico-metodológicos para o trabalho com o léxico nesses
materiais didáticos (CHIZZOTTI, 2006; GIL, 2008; MASCARENHAS, 2018; SOUZA et al.,
2013). Para conceituarmos os LDs, nos valemos sobretudo de Bezerra (2020, p. 47), para quem
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o LDP é “composto por unidades (lições ou módulos) com conteúdo e atividades preparados a
serem seguidos por professores e alunos, principalmente na sala de aula”. Os procedimentos
metodológicos da nossa pesquisa acontecerão em seis etapas: coleta de atividades de AL,
levantamento das que abordam o funcionamento textual-interativo do léxico, delimitação do
corpus (com critérios ainda a serem estabelecidos), catalogação dos assuntos trabalhados,
análise qualitativa das atividades e discussão acerca das análises. A análise se dará com base
em seis etapas: a descrição das atividades de AL que focalizam o tema em destaque,
identificação dos objetos do conhecimento relacionados a esse funcionamento, análise das
concepções de léxico reveladas, verificação das perspectivas de AL, análise de relações entre a
concepção de léxico e a perspectiva de AL e a reflexão sobre a produtividade dessas atividades
para a formação integral do aluno. Nosso corpus será construído a partir das sete obras
específicas de LP, selecionadas pelo PNLD 2021. A seleção inicial das atividades de AL que
tratam do funcionamento textual-interativo dos itens lexicais será feita, a princípio, com base
na abordagem da coesão lexical, frequência lexical e seleção lexical.
Palavras-Chave: Ensino do léxico; Textualidade; Interação verbal; Análise linguística; Livro
didático de português.
Referências
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OS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE
PROFISSIONAL DOCENTE A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS NO
ÂMBITO DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA
Resumo: Programas que fomentam práticas docentes como o Programa de Iniciação à Docência
(PIBID) e o Programa de Residência Pedagógica (PRP) exercem papel fundamental na
construção e no desenvolvimento da identidade profissional de licenciandos/as (LIRA et al.,
2020). Eles oportunizam espaço para a imersão dos/as graduandos/as no contexto de ensino e,
principalmente, na compreensão das dimensões do trabalho do/a professor/a. Em se tratando
especificamente do Programa de Residência Pedagógica, esse foi instituído pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), chegando às Instituições de Ensino
Superior (IES) através de seleções públicas que constituem os subprojetos dentro das
universidades, também chamados de Núcleos. A primeira versão do PRP foi lançada em
agosto/2018 (edital nº 06/2018), e vigorou até janeiro/2020. Já a segunda versão foi lançada em
outubro/2020 (edital nº 01/2020) e encerrou as atividades em março/2022. Dentre os objetivos
elencados em ambas as versões, destacamos, para a pesquisa, o fortalecimento da formação de
professores/as que o PRP se propõe a realizar. No âmbito do Programa, cada residente é
acompanhado/a por um/a professor/a preceptor/a na escola-campo, além de um/a professor/a-
orientador/a na universidade. Ademais, eles/elas estão sempre em contato com outros/as
residentes, com o/a coordenador/a do Núcleo e com os/as alunos/as. Essas interações nos levam
às palavras de Amigues (2004), quando o autor defende o trabalho docente como uma atividade
que sempre engloba outros/as. Da mesma forma, observamos a atividade docente como
interacional e interpessoal (MACHADO; BRONCKART, 2009). Os mais variados diálogos que
medeiam as atividades dos/das residentes sempre exigem outrem. Considerando o cenário
apresentado, esta pesquisa2 tem como perguntas suleadoras: como três residentes do curso de
Letras-Inglês da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atuantes no Programa de
Residência Pedagógica, representam a atividade docente em textos no/sobre o trabalho? Quais
as contribuições do Programa de Residência Pedagógica para a construção da identidade
profissional docente desses/as residentes? Para responder às perguntas, elencamos como
objetivo geral: investigar as contribuições do Programa de Residência Pedagógica para a
construção da identidade profissional docente de três residentes de Letras-Inglês, a partir de
suas representações da atividade docente. Como objetivos específicos: 1) identificar
representações textualizadas por três residentes de Letras-Inglês da Universidade Federal da
Paraíba acerca dos objetos constitutivos da atividade docente; 2) verificar de que maneira as
identidades são construídas a partir das representações textualizadas; 3) relacionar as
representações e o processo de construção de identidade profissional docente. Situada na
Linguística Aplicada – LA (MOITA LOPES, 2006) e alinhada ao quadro teórico-metodológico
2
Pesquisa vinculada ao Projeto de Pesquisa Configurações de ensino em práticas multidisciplinares de
linguagem(ns) (PPGLE, 2018-2023), aprovado pelo Comitê de Ética/UFCG – CCAE: 94344318.6.0000.5182 –
Plataforma Brasil.
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do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), esta pesquisa parte do pressuposto de que a
linguagem exerce papel fundamental e constitutivo nos saberes, nas configurações identitárias
e nas interações que transformam realidades (KLEIMAN, 2013). Parte, também, da
problemática de que por muito tempo uma visão tecnicista persistiu e consistiu em uma
formação de professores/as com enfoque no melhor método, melhor forma de ensinar, tirando
o espaço para a criticidade e a reflexão sobre o ensino de línguas (MILLER, 2013).
Freudenberger (2011) reflete que, até certo tempo, pesquisas não levavam em consideração o
ensino como trabalho (MACHADO, 2004). Essa lacuna resultou em pesquisas que entendiam
o/a professor/a apenas como alguém que realizava as prescrições, sem modificá-las. Assim,
entender o ensino como trabalho significa compreender que o trabalho do/a professor/a vai além
do planejamento de aulas ou domínio de técnicas de ensino (MEDRADO, 2011). É necessário
considerar os vários elementos que constituem a atividade docente. O PRP oportuniza um
espaço maior para a vivência no contexto escolar e, consequentemente, uma imersão
aprofundada no trabalho. Os/as residentes podem compreender e refletir sobre aspectos que,
talvez, outros espaços de formação não possibilitassem compreensão, pelo menos de forma
aprofundada. Ainda, por se tratar de um Programa recente, faz-se necessário investigar como
licenciandos/as que participam do Programa compreendem o trabalho docente e a profissão para
qual estão sendo formados/as. Para atingir os objetivos elencados, nos apoiaremos em
discussões sobre formação e trabalho docente (AMIGUES, 2004; BULEA-BRONCKART;
BRONCKART, 2017; CLOT, 2010; FREUDENBERGER, 2011; MACHADO;
BRONCKART, 2009; MACHADO, 2007; MEDRADO, 2011; MEDRADO; REICHMANN,
2020; MILLER, 2013); identidade (HALL, 2005) e identidade docente (REICHMANN, 2012;
SANT’ANA, 2020). O objeto teórico de investigação desta pesquisa é(são) o(s) processo(s) de
construção identitária docente, a partir de representação(ões) da atividade em textos de
residentes no/sobre o trabalho, mais precisamente, textos produzidos no Núcleo
Multidisciplinar Letras Espanhol/Inglês do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas
(DLEM), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Neste Núcleo, os/as residentes se
engajaram na escrita de relatos reflexivos que eram escritos após cada visita feita à escola-
campo. Nesses relatos, os/as residentes textualizavam suas vivências naquele dia específico na
escola. Para a pesquisa, selecionaremos para constituição do corpus, relatos de três residentes
participantes do Núcleo, que foram produzidos durante as duas versões do Programa. Além dos
relatos, nos valemos de entrevista semiestruturada, visto que ela se configura como mais um
espaço de investigação do trabalho dos/as residentes e como o PRP se insere na vida e identidade
profissional desses/as licenciandos/as. A entrevista aconteceu de forma coletiva e envolveu
os/as três colaboradores/as em uma conversa pautada na compreensão mais geral do Programa
e suas contribuições. Esta pesquisa tem uma abordagem qualitativa, considerando que busca
compreender práticas sociais (DENZIN; LINCOLN, 2006). Por ter como parte do corpus relatos
reflexivos, também se classifica como documental (GIL, 2002). No momento de escrita deste
texto, a geração de dados já foi finalizada. Sendo assim, além dos dados da entrevista, também
temos acesso aos relatos reflexivos dos/as três residentes colaboradores/as. Maria (nome
fictício) participou da segunda versão do Programa. Devido à finalização do curso, teve seu
vínculo encerrado com o Programa no final do primeiro módulo (março/2021) e escreveu 10
relatos reflexivos durante sua vivência no PRP. Pedro (nome fictício) participou da primeira
versão do Programa. Entrou no PRP meses depois do início dessa versão, mais precisamente,
em fevereiro de 2019. Finalizou as atividades em janeiro de 2020 e escreveu 41 relatos durante
sua vivência no Programa. Fernando (nome fictício) participou da primeira versão do Programa.
Se vinculou ao PRP em agosto de 2018 e finalizou suas atividades em janeiro de 2020. No
período, escreveu 57 relatos. Devido a amplitude dos relatos, para a pesquisa, iremos selecionar
10 relatos de cada colaborador/a, a partir do momento que narram o primeiro contato deles/dela
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com a sala de aula no contexto do Programa. Cabe mencionar que não existia um prazo
irrevogável para realização do upload dos relatos no Google Drive (para que os/as
orientadores/as pudessem ler e comentar), mas havia a recomendação que esse upload fosse
feito na mesma semana de visita. Por fim, para análise do corpus, nos valeremos de um
aprofundamento linguístico-discursivo. Sendo assim, os fragmentos dos relatos e entrevista
serão organizados em categorias de análise que serão construídas a partir dos conceitos
apresentados no quadro teórico da pesquisa.
Palavras-Chave: Programa de Residência Pedagógica; Identidade profissional docente;
Trabalho docente; Representações.
Referências
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ENSINO DE ESCRITA ACADÊMICA EM UM CURSO DE LETRAS-
PORTUGUÊS: DAS ATIVIDADES PROPOSTAS À VOZ DOS
PROFESSORES
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social situada. Esse eixo contempla também a concepção de escrita acadêmica à luz dos
Letramentos Acadêmicos (LEA; STREET, 1998, 2014). Em contexto brasileiro, destacam-se,
nessa área, pesquisadores como Marinho (2010), Fiad (2011,2017) e Fischer (2007, 2008,
2010). O segundo eixo versa sobre concepções e abordagens de ensino de escrita acadêmica.
Para tanto, fundamenta-se, inicialmente, nas três vertentes de focalização de escrita indicadas
por Garcez (2010) – experimentalista/positivista, cognitivista e sociointercionista. Na
sequência, contempla as abordagens de ensino de escrita acadêmica exploradas por Lea e Street
(1998, 2014) – habilidade de estudo, socialização acadêmica e letramentos acadêmicos –
estabelecendo um diálogo com os discursos sobre escrita elencados por Ivanic (2004) –
habilidade; criatividade; processo; gênero; prática social; prática político social. O terceiro e
último eixo focaliza a transposição didática (CHEVALLARD, 1991), particularmente, os
objetos de ensino – “porções dos conteúdos discursivos e/ou gramaticais [...] que tem o gênero
como megaobjeto de ensino de língua” (LINO DE ARAÚJO, 2014, p. 16). Para tanto, subsidia-
se em Schneuwly e Dolz (2004), que defendem o gênero como objeto de ensino, e em Dolz,
Pasquier e Bronckart (1993), no que se refere às capacidades de linguagem – de ação,
discursivas e linguístico-discursivas – que permitirão explorar elementos
discursivos/linguísticos característicos das possibilidades pedagógicas voltadas para o ensino
de escrita acadêmica. Metodologicamente, o presente estudo está situado no campo da
Linguística Aplicada (MOITA LOPES 2006; 2009; 2013, no paradigma interpretativista sob
uma abordagem qualitativa dos dados (BOGDAN; BIKLEN, 1994; SILVEIRA; CÓRDOVA,
2009; PRODANOV; FREITAS, 2013). Trata-se de uma pesquisa de natureza híbrida, do tipo
experiencial (MICCOLI, 2006) e exploratória (GIL, 2008). O espaço da pesquisa será uma
universidade pública do estado do Piauí, a saber: Universidade Estadual do Piauí- Campus
Professor Possidônio Queiroz, localizada na cidade de Oeiras. Os participantes da pesquisa
serão quatro professores dessa instituição de ensino que ministram a disciplina Iniciação à
Leitura e à Produção de Textos Acadêmicos, cujo foco principal é o ensino de escrita
acadêmica. Assim, serão selecionados 02 professores que já lecionaram essa disciplina nos
últimos dois anos, e 02 professores que estejam ministrando essa mesma disciplina no
momento da geração de dados. A escolha por professores que ministraram/ministram essa
disciplina até pelo menos 2 anos deve-se ao fato de abranger docentes que ministraram essa
disciplina com o mesmo currículo. Tendo selecionado os participantes da pesquisa, será
estabelecido um contato com eles. Em seguida, será realizada uma entrevista semiestruturada
com cada participante, visando a conhecer as atividades de escrita acadêmica por eles
propostas, bem como será solicitado a eles o compartilhamento do plano de curso da disciplina
e do material didático utilizado no decorrer das atividades propostas no ensino da escrita
acadêmica. Esses dados empíricos e documentais serão submetidos à técnica de Triangulação
de Dados (MARCONDES; BRISOLA, 2014). Face ao que está sendo proposto, a relevância
desta pesquisa justifica-se não só pela lacuna de estudos voltados para o ensino de escrita
acadêmica em cursos de Letras Português com foco na voz de docentes, mas também porque
o foco está em dar visibilidade a atividades de escrita acadêmica produtivas e significativas na
área, suscitando o compartilhamento de vivências que deram certo, que proporcionaram
aprendizados, sendo passíveis de serem mobilizadas para outros contextos, guardados os
devidos ajustes. Em virtude dessa compreensão, é possível que o desenvolvimento desta
pesquisa possa também contribuir para que mudanças ocorram na maneira de ensinar escrita a
acadêmica e assim subsidiar o trabalho dos professores nesse ensino, em novas propostas e
compromissos com o ensino de escrita acadêmica.
Palavras-Chave: Letramentos Acadêmicos; Ensino de escrita acadêmica; Objetos de ensino;
Abordagens de ensino.
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Referências
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ISSN - 2526-5024 80
PROTAGONISMO DOCENTE COMO ATO RESPONSÁVEL: UMA
ANÁLISE DIALÓGICA DOS DISCURSOS DE PROFESSORES DE
LINGUAGENS EM CONTEXTO DE ENSINO REMOTO
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tensões vivenciadas por nós professores com o ensino remoto, assim como, possíveis
resistências ao processo de adequação, e em casos particulares, vivências exitosas demonstradas
por esses docentes. E, de modo especial, a necessidade de reinventar-se como sujeitos que
assumem seus atos como resposta responsável frente ao ensino. Por isso, tendo como contexto
de pesquisa a situação atípica que vivenciamos em decorrência da pandemia de Covid-19,
abordaremos o ser/fazer docente como ato e sua constituição única e irrepetível no contexto de
ensino remoto. Faremos isso a partir da concepção bakhtiniana do ato responsável, tendo como
principal aporte teórico as obras de Bakhtin. O conceito de “Ato” considera a manifestação
cultural dos sujeitos, é o se posicionar sócio historicamente (BAKHTIN, 2010), subsidiados
pela Análise Dialógica do Discurso (ADD) (BRAIT, 2006; FRANCELINO; XAVIER, 2014),
que considera o uso da linguagem nas práticas sociais, enquanto estratégia de interação,
constitutiva dos sujeitos e constituída pelos sujeitos (BAKHTIN, 2016). Portanto, se faz
necessário refletir sobre as mudanças nos comportamentos e práticas dos professores, que se
espera a prática do ato docente com uma responsabilidade moral, e reconhecendo-se como
sujeitos insubstituíveis e sem álibi nas expressões dos seus atos responsáveis. Neste sentido, a
perspectiva dialógica tem grande relevância nas pesquisas em ciências humanas, ao considerar
como objeto de estudo, o homem como ser social, que se expressa, fala, se posiciona, apresenta
seu ponto de vista e direciona seu pensamento nas distintas situações de produção dos discursos
(SANTOS, 2013). Reafirmamos à vinculação desta pesquisa em ciências humanas a perspectiva
das relações dialógicas, em que os atos dos sujeitos, através dos discursos não se limitam a
diálogos superficiais; mas, estão relacionados aos discursos produzidos em determinadas
condições e contexto sócio históricos (XAVIER, 2018). A abordagem desta pesquisa é de
natureza qualitativa (MOREIRA; CALEFFE, 2008). No que se refere aos objetivos, a nossa
investigação se classifica como de natureza descritivo-interpretativista (CELANI, 2005). Os
sujeitos da pesquisa serão 05 docentes da área de linguagens atuantes nos anos finais do ensino
fundamental de uma escola pública localizada na Paraíba. O Contexto de geração de dados
recupera o período de pandemia, através do recorte histórico que compreende o período de
março de 2020 a setembro de 2021, em que contemplamos o surgimento da Pandemia do Covid-
19 e suas consequências na educação do país, e especificamente na realidade investigada.
Destacamos os instrumentos e etapas para a geração dos dados: De início, para levantamento
dos perfis dos sujeitos, usaremos o questionário (GIL, 1999), justificamos pela praticidade na
aplicação. Após, realizaremos entrevistas semiestruturadas (CRESWELL, 2007). Esse modelo
de entrevista é flexível, permitindo maior interação entre os envolvidos. Serão realizadas 02
(duas) entrevistas intercaladas: A primeira, após o questionário, sobre a implementação do
ensino remoto e a necessidade de adequação dos atos pedagógicos; A segunda será realizada
após a observação na sala de aula google classroom, e abordará a importância do protagonismo
docente e os atos pedagógicos como resposta responsável no ensino remoto e pós ensino
remoto. O terceiro instrumento será a observação, que perpassa todas as etapas do processo de
coleta de dados, por ser uma pesquisa de cunho descritivo-interpretativista, (JACCOUD;
MAYER, 2008). Constará da inserção da pesquisadora no Google classroom (já arquivada)
para observação da materialização dos discursos dos professores. Atentando-se às postagens de
atividades, vídeos, comunicados, respostas as supostas inquietações dos alunos, entre outras
formas de usos da linguagem. Observaremos os atos pedagógicos nas relações professor/aluno,
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a metodologia adotada, as aproximações e os distanciamentos entre o que foi dito nas
entrevistas e executado no Google classroom. Os critérios para a análise dos dados são
estabelecidos em três categorias: I- Perfil dos participantes da pesquisa, II- O processo de
comunicação, especificamente, os usos da linguagem através do ensino remoto, e a III-
Caracterização do professor protagonista através dos discursos apresentados e dos
posicionamentos valorativos. Destarte, ao realizarmos pesquisa utilizando a ADD como aporte
metodológico é importante compreendermos o contexto, a relação entre os discursos ditos e
não-ditos, ou seja, considerar aspectos de análise tais como: Quem disse, em que contexto, em
que condições e para quais sujeitos, para que os discursos produzidos possam ser apreendidos.
Portanto, pretendemos analisar os usos da linguagem na dimensão: Do ser professor como
sujeito ético, dos atos responsáveis e do pensar na formação docente. Acreditamos que através
desta pesquisa, possibilitaremos a construção de diálogos, sobre os impactos da pandemia nos
atos pedagógicos, evidenciando o uso das TDICs no processo de ensino e aprendizagem,
realçando a importância da formação do professor e, sobretudo, contribuindo com discussões
sobre o protagonismo docente como ato responsável em tempos de ensino remoto e pós ensino
remoto, a partir de experiências legítimas capazes de apresentar o contexto real e apontar novos
direcionamentos para análises futuras.
Palavras-Chave: Protagonismo Docente; Ato Responsável; Análise Dialógica do Discurso;
Ensino Remoto.
Referências
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O TRATAMENTO PEDAGÓGICO DO LÉXICO DA LÍNGUA
INGLESA: ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO
ISSN - 2526-5024 85
e que pode estar integrado às práticas de leitura, escrita etc., e o aprendizado incidental ou
implícito, aquele em que os itens lexicais são incorporados de forma incidental, que abordam
de maneira mais extensiva e predominante outros aspectos que não sejam o vocabulário. Esse
estágio de identificação segue um checklist de sete etapas (CUNNINGSWORTH, 1995): 1)
verificar se a apresentação de vocabulário é central ou periférica; 2) avaliar a quantidade de
vocabulário ensinado; 3) observar se há princípios para a seleção de vocabulário; 4) checar se
há distinção entre vocabulário ativo, passivo ou de sala de aula; 5) identificar se o vocabulário
é apresentado de forma sistematizada e intencional; 6) verificar se os exercícios de aprendizado
de vocabulário contemplam os principais aspectos lexicais citados; 7) identificar se o material
ajuda o aluno a desenvolver suas próprias estratégias de aprendizado de vocabulário, permitindo
que ele expanda seu léxico de forma independente e autônoma. Para isso, nesta pesquisa, é
proposta uma análise qualitativa das atividades lexicais de ensino explícito, ou seja, das
atividades que direcionam o foco do aprendente para o vocabulário, a partir do corpus de duas
obras didáticas específicas: Anytime! Always Ready for Education (MARQUES; CARDOSO,
2020) e Take Action! (RICHTER; LARRÉ, 2020). Em um segundo momento, é realizada a
interpretação e descrição dos dados, por meio da análise do corpus, fundamentadas no quadro
teórico referencial, pelo qual serão estabelecidas relações entre a Linguística Aplicada (BAIÃO,
2018; BEZERRA, 2004; LEWIS, 2008; NATION; NEWTON, 1997; THORNBURY, 2007), a
Lexicologia (NEVES, 2020; ANTUNES, 2007, 2012; KRIEGER, 2014; BIDERMAN, 1996) e
o ensino de Língua Inglesa como língua estrangeira (KRASHEN, 1982; LEFFA, 2000;
RICHARDS; RODGERS, 2001). A princípio, o corpus é classificado em 1) atividades de
vocabulário segregado; 2) vocabulário integrado em atividades baseadas em texto; 3)
aprendizado incidental de vocabulário (THORNBURY, 2007). Entende-se que o vocabulário
pode ser separado em duas grandes categorias de conhecimento: quantas palavras se conhece,
categoria relacionada à questão de quantidade, essencialmente numérica; e a profundidade do
vocabulário, ou seja, o quão bem se conhece essas palavras (NATION, 1990; RICHARDS,
1976). Nesse sentido, a partir do conceito de dimensões de conhecimento da palavra
(CERVETTI et al., 2012), é realizada a classificação nos níveis de: 1) reconhecimento; 2)
definição; 3) exemplificação; 4) contextualização; 5) aplicação e 6) relação. Espera-se, dessa
forma, obter uma visão geral de como o estudo lexical de língua inglesa está se desenvolvendo,
por meio da análise das atividades apresentadas nos materiais didáticos selecionados e
categorização. Por último, após a organização das atividades de acordo com as categorias
estabelecidas, é necessário realizar a descrição das concepções de léxico reveladas pelas
análises das atividades, com base no proposto por Neves (2020), classificando a abordagem do
tratamento do léxico de acordo com as concepções reveladas: estrutural, cognitiva e/ou
concepção textual-interativa. Como objetivo geral, em suma, com o resultado dos
procedimentos descritos, pretende-se apresentar como se configura o trabalho com o léxico nos
materiais didáticos distribuídos nas escolas públicas brasileiras, frente a um contexto de reforma
do Ensino Médio e reformulação dos livros. Mais especificamente, busca-se (i) reforçar a
importância que o desenvolvimento da competência lexical tem no ensino de língua inglesa; (ii)
analisar as atividades de ensino explícito do léxico nos materiais didáticos selecionados; (iii)
descrever as atividades relacionadas aos conhecimentos lexicais e categorizá-las, e (iv)
identificar as concepções de léxico assumidas e/ou reveladas em materiais didáticos. Por isso,
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em relação aos procedimentos metodológicos, adota-se a pesquisa documental. Vale salientar
que, na análise documental a ser realizada, não importa o número de atividades que exploram a
competência lexical, mas a classificação delas para que, na sequência, seja possível reconhecer
as concepções de léxico reveladas no processo de análise. Por essa razão, destaca-se, mais uma
vez, a importância da abordagem qualitativa para a pesquisa, visto que, por seu intermédio,
dispõe-se de uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas, com a expectativa de
compreender melhor o assunto que está ao alcance (DENZIN; LINCOLN, 2006). Em
conclusão, espera-se que as atividades analisadas sejam capazes de desenvolver sólido e
adequado trabalho com as competências lexicais, devido ao fato de tal competência linguística
ser essencial para a qualidade da ação educativa e o desenvolvimento das habilidades e
competências necessárias para a formação de estudantes proficientes na leitura, na escrita, na
oralidade e nos conhecimentos da língua, uma vez que, valendo-se dessas competências, é que
é possível nomear e caracterizar o mundo ao nosso redor, exercer poder sobre o universo natural
e antropocultural, registrar e perpetuar a cultura (ISQUERDO; KRIEGER, 2004).
Palavras-Chave: Léxico, Livro Didático de Inglês, Concepções de léxico, Atividades Lexicais,
Análise Linguística.
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ISSN - 2526-5024 88
A PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA
ARGUMENTATIVA EM DIFERENTES COMPONENTES
CURRICULARES NA BNCC DO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS
FINAIS
3
Em abril de 2018, foi homologado a BNCC em sua versão completa, uma vez que apresentou as prescrições
também para a etapa do Ensino Médio.
4
A competência argumentativa é a sétima competência geral prescrita pela BNCC.
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integral da competência argumentativa dos alunos e sinaliza a necessidade de as instituições de
ensino e os professores de todas as disciplinas realizarem ações para que essa competência seja
desenvolvida de modo integral. Contudo, em muitos contextos escolares, não se concretizam
os espaços de diálogos necessários à prática da argumentação. Por isso, concordamos com
Pacífico (2016, p. 192), quando defende ser a argumentação “um direito humano [...] que deve
ser exercido no contexto escolar” e nos mais variados componentes curriculares por meio de
“[...] experiências interdisciplinares e de práticas educativas ideológicas.” (RIBEIRO, 1999, p.
109-110). Sendo assim, considerando o lugar dado à competência argumentativa pela BNCC,
nossa pesquisa se orienta a partir do seguinte questionamento: Como está proposto o
desenvolvimento da competência argumentativa em diferentes componentes curriculares
apresentados pela BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais? A fim de responder a esse
questionamento, nos dedicamos a investigar a proposta de desenvolvimento da competência
argumentativa em diferentes componentes curriculares apresentados pela Base para o Ensino
Fundamental Anos Finais. Para tanto, elencamos como objetivos específicos: i. Identificar os
aspectos da argumentação abordados em diferentes componentes curriculares apresentados pela
BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais; ii. Analisar o(s) tratamento(s) dado(s) ao objeto
de conhecimento argumentação nas habilidades de diferentes componentes curriculares
apresentados pela BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais; iii. Comparar as habilidades
propostas em diferentes componentes curriculares; e iv. Avaliar se as habilidades propostas nos
diferentes componentes curriculares propiciam o desenvolvimento da competência
argumentativa de forma colaborativa. Assim, tendo em vista a ausência de pesquisas recentes
que investiguem a BNCC com enfoque para a competência argumentativa em diferentes
componentes curriculares, nos últimos dez anos, conforme levantamento realizado na
Plataforma Scielo e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, esta pesquisa
poderá propiciar resultados significativos e dar continuidade às discussões sobre Currículo,
Transposição Didática, Linguagem e Ensino, instituídas no âmbito do Programa de Pós
Graduação em Linguagem e Ensino (PPGLE). Permitirá o compartilhamento dos resultados
com os pesquisadores das áreas específicas investigadas, para além da área de linguagens e
permitirá, também, desvelar os percursos que devem ser respeitados para o desenvolvimento
da competência argumentativa de forma interdisciplinar e colaborativa, podendo (re)orientar e
apontar novos caminhos para as práticas de ensino instituídas no âmbito da Educação Básica.
Por isso, esta pesquisa se insere no campo da Linguística Aplicada (LA) que, além de se
preocupar com “[...] o entendimento dos problemas sociais de comunicação em contextos
específicos” (KLEIMAN, 1998, p. 55), tem se constituído enquanto uma árvore flexível que
vem se conectando a outras árvores do saber e, por meio da soma desses saberes, “[...] amplia
a visão do objeto, podendo trazer ganhos para todas as partes.” (OLIVEIRA, 2019. P. 106). No
que se refere à abordagem, a presente pesquisa possui abordagem qualitativa, pois se preocupa
“[...] com aspectos da realidade que não podem ser quantificados [...]” (SILVEIRA E
CÓRDOVA, 2009, p. 31), voltando-se para a compreensão e explicação de fenômenos
implícitos que são passíveis de explicitações e possui, dessa forma, enfoque interpretativista
(MOREIRA E CALEFFE, 2008), no qual a linguagem é considerada um sistema simbólico
estabelecido que propicia diversas interpretações. Como nossa investigação tem a competência
argumentativa na BNCC como objeto de estudo, essa pesquisa define-se, portanto, como
ISSN - 2526-5024 90
documental (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009; PRODANOV; FREITAS, 2013) e norteia-se pela
compreensão de documento/monumento (LE GOFF, 1997), uma vez que se faz necessário
compreender as informações e o contexto no qual o documento se situa para interpretar as
nuances que o compõem. Como técnica de seleção do corpus e método de análise,
fundamentaremos nossa investigação na análise documental proposta por Cellard (2012) e na
análise de conteúdo de acordo com Moraes (1999). No que se refere ao corpus a ser investigado,
selecionamos, na BNCC do Ensino Fundamental Anos Finais, os componentes curriculares:
Língua Portuguesa, que pertence à Área de Linguagens; Ciências, que pertence à Área de
Ciências da Natureza; e História, que pertence à Área de Ciências Humanas, pois foi possível
identificar, após uma leitura inicial, mas atenta e criteriosa do documento, que esses
componentes possuem habilidades e prescrições relacionadas ao desenvolvimento da
competência argumentativa. Em relação aos anos, selecionamos o 9º ano, tendo em vista que
as habilidades relacionadas à competência argumentativa para esse ano se mostraram mais
expressivas nos componentes curriculares selecionados. No que se refere à investigação, nos
apoiaremos teoricamente aos estudos sobre Currículo (SACRISTÁN, 2000; SILVA, 2010),
sobre Competência e Competência Argumentativa (MACEDO, 2002; RIBEIRO, 1999), sobre
Transposição Didática (CHEVALLARD, 1991; PETIJEAN, 2008) e sobre Argumentação
(BAKHTIN, 1997; FIORIN, 2018; PACÍFICO, 2016). Portanto, investigaremos como o
desenvolvimento da competência argumentativa se configura em diferentes componentes e
áreas do conhecimento descrevendo, interpretando e focalizando o que se tem de singular acerca
dessa competência na BNCC, documento de extrema relevância para a educação brasileira.
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ISSN - 2526-5024 92
DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA TRANSPOSIÇÃO INFORMÁTICA
DURANTE O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL EM AULAS DE
LÍNGUA PORTUGUESA
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que se buscará “compreender razões, valores e fenômenos” (DICKER, 2009, p. 47), a partir
dos relatos docentes. O processo de geração de dados para a presente pesquisa será realizado
em duas etapas: 1) aplicação de um questionário online e 2) realização de uma entrevista virtual.
Na primeira delas, já em andamento, um link do questionário formulado está sendo enviado a
docentes que se enquadrem nos critérios da pesquisa, ou seja, professores que ministraram aulas
remotas de Língua Portuguesa no ensino fundamental II e no ensino médio de escolas públicas
da cidade de Campina Grande – PB, e que se disponham a participar, ocorrendo esse contato
por email, Whatsapp e Instagram. Aos professores colaboradores, através do questionário,
foram feitas sete perguntas sobre os desafios e possibilidades enfrentados em relação ao ensino
de língua e em relação ao uso de ferramentas virtuais em suas aulas remotas. Um questionário,
para Silva et al. (1997) seria uma forma “previamente estruturada de coletar [...] informações
adicionais e complementares sobre determinado assunto sobre o qual já se detém certo grau de
domínio” (SILVA et al., 1997, p. 410), aspectos que justificam a escolha pela ferramenta, já
que buscamos tanto o complemento a algumas questões quanto o aprofundamento sobre temas
importantes para os objetivos da pesquisa. Já na segunda etapa, aos docentes que se dispuseram
a participar de uma entrevista virtual, houve perguntas complementares às respostas ao
questionário e outras visando ao aprofundamento no ensino remoto de Língua Portuguesa, a
partir especialmente das respostas dadas por cada colaborador. Tal entrevista é semiestruturada
em profundidade, definida por Duarte (2008) como “[...] um recurso metodológico que busca,
com bases em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da
experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer”
(DUARTE, 2008, p. 62). Observando a relevância da experiência pessoal para as questões
propostas pela pesquisa, tal recurso demonstra ser eficiente para 94dition-los, observando a
concepção de um formato que vise dar maior transitividade entre dados e percepções
individuais. Sobre os dados obtidos, busca-se a correlação com teorias sobre Transposição
Didática (CHEVALLARD, 1991; MEDRADO, 2015; RAFAEL, 2016); Transposição
Informática (BALACHEFF, 1994); formação docente continuada (BRONCKART; GIGER,
1998; LIBÂNEO, 2004; GONÇALVES; PETRONI, 2012); letramentos múltiplos e
multimodalidades (BARROSO et al.); Novas Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação (NTIDCs) na educação (COLL; MAURI; ONRUNBIA, 2010) e especificamente
no ensino de Língua Portuguesa (CAIADO, 2011). Como as duas etapas de coletas de dados
foram concluídas, foi possível observar aspectos iniciais em relação às respostas dos
colaboradores. Foram sete perguntas específicas sobre o objeto da pesquisa, sendo cinco
fechadas e duas abertas. De maneira parcial, aparentemente, dez dos onze docentes que
responderam ao questionário consideraram que os desafios do ensino remoto impactaram a
realização das aulas de maneira geral, sem ênfase na Língua Portuguesa, mas um dos
colaboradores relatou que os maiores desafios estiveram nas aulas de produção textual. Já na
entrevista semiestruturada, com a participação de dois desses colaboradores, houve um
aprofundamento na questão da Língua Portuguesa, através de vinte e duas perguntas em uma
entrevista e onze em outra, número que aumentou por conta das respostas que eram dadas.
Nesse aprofundamento, ambos relataram que os maiores desafios estiveram nas aulas de
produção escrita, onde havia uma dificuldade de correção de atividades escritas manualmente,
de reenvio, de interação professor-aluno, de ausência de retorno por parte dos alunos, entre
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outros. Algumas das possibilidades encontradas foram a utilização de ferramentas com mais
mecanismos de interação entre aluno e professor em textos, como o Google Classroom, e a
busca ativa dos alunos, através de ligações telefônicas e mensagens de texto, entre outros. Com
o avançar da análise dos dados da pesquisa, objetiva-se o aprofundamento analítico nessa e nas
demais questões propostas, com fim de trazer contribuições para o ensino, especialmente em
um período de tantos desafios educacionais e de aprendizagem.
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OS GÊNEROS ORAIS NO PLANEJAMENTO DIDÁTICO-
PEDAGÓGICO: UMA ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO À
LUZ DA TEORIA BAKHTINIANA
ISSN - 2526-5024 98
do Capibaribe-PE; Os pressupostos teóricos que fundamentam o nosso estudo, encontram-se
dividido em três eixos: Gêneros discursivos: fundamentos e abordagens didáticas; O ensino da
língua materna: gêneros discursivos e o planejamento didático-pedagógico; Estratégias de
ensino com gêneros discursivos e sua relação com os gêneros orais. Logo, utilizaremos dos
estudos de diversos autores, dentre os quais podemos citar Antunes (2004, 2014), Bakhtin
(2000, 2006), Faraco (2009), Koch (2006), Marcuschi (2001, 2008), Piletti (1989), Rojo (2006).
Nessa relação entre o texto e a sua situacionalidade, diferentes usos da linguagem permeiam o
nosso dia a dia, reforçando o fato dos gêneros como formas de ação social. Segundo Santos
(2013), de acordo com a concepção dialógica da linguagem instituída pelo Círculo de Bakhtin,
as teorias linguísticas ampliaram seu campo de investigação, a interação torna-se importante
esfera de estudos ao tratar a língua na sua dimensão social, dada a sua imensa heterogeneidade,
embora seja impossível separar texto (enunciado) de gênero discursivo (linguagem em uso),
por seus aspectos internos e seu funcionamento dialógico. De modo abrangente, é fundamental
considerar que os gêneros contemplam diferentes modalidades de linguagem (fala, escrita,
imagens, gestos, movimentos corporais, entre outros) (ROJO, 2006), e podem promover, em
contexto de aprendizagem no ambiente escolar e fora dele, conhecimentos e comportamentos
entre os alunos, potencializando transformações pessoais. De forma a sistematizar essa pesquisa
e suas peculiaridades, passaremos ao seu encaminhamento metodológico. A presente pesquisa
constitui-se do tipo documental situada na área de Estudos Linguísticos, por sua relação com o
ensino e aprendizagem da língua materna, de natureza qualitativo-exploratória, por propiciar
maior familiaridade com o problema, para 99epos-lo mais explícito e procurar explicações de
suas causas e consequências (RICHARDSON, 1999), ao buscar “descrever e interpretar o
fenômeno do mundo em uma tentativa de compartilhar significados com os outros”
(MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 61), vindo ao encontro de nossas necessidades em poder
repensar e levantar hipóteses e questionamentos, responder a perguntas e buscar a compreensão
do procedimento de ensino que levam a novos conhecimentos. Como base para nossa
investigação, uma vez que se faz necessário compreender as informações e o contexto no qual
os documentos o Conteúdo Programático Anual de Língua Portuguesa e o Currículo de
Pernambuco, se situam para interpretar as nuances que o compõem referentes ao ensino dos
gêneros orais no Ensino Fundamental II. Inicialmente, ocorrerá à consulta do Corpus da
pesquisa, em relação ao Conteúdo Programático Bimestral de Língua Portuguesa (Ensino
Fundamental II), como documento norteador da pesquisa, seu acesso será através da Secretária
de Educação do Município de Santa Cruz do Capibaribe-PE e o Currículo de Pernambuco por
meio digital através do site oficial. Contextualizando a coleta de dados da pesquisa, nosso
enfoque será o planejamento didático-pedagógico de Língua Portuguesa do Ensino
Fundamental II em verificar as prescrições para o ensino dos gêneros orais, adotado pelo
Município. Logo, a nossa análise no Currículo de Pernambuco será no componente de Língua
Portuguesa do Ensino Fundamental II, especificamente, no campo jornalístico/midiático por
prescrever a oralidade, através de estratégias de produção participação com os gêneros orais.
Ao permitir uma análise objetiva e sistemática do seu conteúdo, os dados em análise poderão
ser interpretados em três etapas, segundo a análise dialógica do discurso (ADD), procurando
identificar os ditos e não ditos nos documentos em estudo: a) pré-análise, com uma leitura
prévia do planejamento e do Currículo de Pernambuco, para identificar os pontos centrais da
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pesquisa; b) exploração do material, na seleção de palavras-chave agrupadas em categorias, de
acordo com o contexto; c) tratamento dos resultados, quando os dados brutos forem tratados a
partir dos suportes teóricos e interpretados. No levantamento das especificidades dos gêneros
orais, serão definidos critérios de escolha, bem como de análise dos resultados, para melhor
instrumentalização da pesquisa e caracterização dos objetivos inicialmente apontados. Espere-
se que essa pesquisa possa contribuir para o estudo dos gêneros orais, como viés didático-
pedagógico no exercício docente levando os alunos a refletirem sobre o uso da língua materna
e seu enfoque social.
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Dissertação 116f. (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Pernambuco – UFP, Recife, 2010.
Resumo: O trabalho docente envolve múltiplos saberes que estão relacionados ao conhecimento
e às experiências de vida dos sujeitos que o exercem. Desse modo, torna-se importante pensar
sobre o contexto de formação, bem como sobre as experiências de ensino para tentar entender
como as ações pedagógicas são didatizadas5 em espaços situados de ensino e aprendizagem.
Cientes de que a formação docente (inicial e continuada) se apresenta como um importante
campo de estudo e observação, tomamos como locus de investigação para esta pesquisa, o
Programa Institucional de Residência Pedagógica (RP) da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG) – campus Campina Grande, especificamente o subprojeto Língua Portuguesa.
Nesse sentido, sabendo que a RP objetiva “promover a adequação dos currículos e propostas
pedagógicas dos cursos de licenciatura às orientações da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC)” (EDITAL CAPES, 01/2020, p. 1-2), vemos uma possibilidade de observar e refletir
sobre esse documento em um contexto situado de formação inicial. Cabe destacar que a BNCC
é o mais recente documento normativo que serve de base para a formulação dos currículos em
estados e municípios. E, por prescrever o que tem sido proposto para o Ensino de Língua
Portuguesa, definindo o conjunto de aprendizagens essenciais que os alunos da educação básica
devem desenvolver (BRASIL, 2018, p. 7), esse documento aparece como importante fonte de
estudo no âmbito da RP. Assim sendo, este projeto de pesquisa focaliza a mobilização das
prescrições da BNCC de Ensino Médio no processo de ensino de leitura de textos de divulgação
científica, especificamente no planejamento e na execução de atividades didatizadas em sala de
aula. A escolha do objeto de ensino leitura de textos de divulgação científica se deu porque ele
possui um significativo e recorrente lugar na BNCC, o que pode influenciar na escolha dos
objetos a serem ensinados no âmbito da RP. Diante desse contexto, partimos da seguinte
pergunta norteadora: Como residentes do subprojeto Língua Portuguesa da RP da UFCG
mobilizam as prescrições da BNCC de Ensino Médio no processo de ensino de leitura de textos
de divulgação científica? A partir deste questionamento, temos como objetivo geral: Investigar
como residentes do subprojeto Língua Portuguesa da RP da UFCG mobilizam as prescrições da
BNCC de Ensino Médio no processo de ensino de leitura de textos de divulgação científica.
Esse objetivo geral desdobra-se nos seguintes objetivos específicos: (1) identificar as
prescrições da BNCC de Ensino Médio no planejamento de atividades de leitura de textos de
divulgação científica; (2) Observar o lugar que a leitura de textos de divulgação científica
ocupará na execução dessas atividades e; (3) analisar as implicações dessa Transposição
5
Neste projeto, o termo Didatização será tratado como sinônimo de Transposição Didática Interna, a qual,
conforme Chevallard (1991), consiste em um processo de adaptação do saber para torná-lo ensinável na escola.
6
Aderimos a uma perspectiva etnográfica pelo fato deste trabalho não se tratar de uma etnografia originalmente
nos moldes da antropologia, a qual supõe um estudo longitudinal de descrição de uma dada cultura, o que não é o
caso da pesquisa ora proposta, cujo foco é o processo de ensino de leitura no âmbito educacional.
7
No Programa de Residência Pedagógica normalmente os alunos realizam as atividades nas escolas-alvo a partir
de duplas selecionadas.
8
Não descartamos a possibilidade de também coletarmos nossos dados a partir dos trabalhos realizados nos
módulos 1 e 2 já concluídos.
Referências
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SANTAELLA, Lúcia. Como eu ensino leitura de imagens. 1 ed. São Paulo. Melhoramentos Ltda. 2012
Resumo: A dança está presente em toda a história da humanidade e fez parte do processo de
transformação humana sendo uma das primeiras formas de linguagem e expressão presente
antes de qualquer indício de fala ou escrita. Como forma de demonstrar suas emoções e
exteriorizá-las, foi necessário ao ser humano recorrer ao movimento, ao gesto, e, portanto, à
dança. Ao longo do processo de desenvolvimento das sociedades, as danças ganharam novos
sentidos e significados, de maneira que, além de comunicar, elas também serviram para
caracterizar e expressar elementos culturais. Portanto, a dança se configura como objeto
complexo a partir de suas diversas formas de manifestação, atravessada por diferentes saberes
e poderes que a transformam de modo que, ao longo da história, as práticas corporais passaram
de atividades essenciais para formação do sujeito a práticas condenadas pela sociedade e,
especificamente, por determinadas instituições e dispositivos, a exemplo da religião. Nesse
sentido, as transformações históricas acerca das concepções sobre o corpo, sua valorização ou
desvalorização, impactam diretamente na forma como a sociedade percebe e compreende o
corpo e, por consequência, a linguagem e a expressão corporal. Visto que é possível destacar
as diferentes formas de saber-poder que se materializam em discursos, fazendo do corpo um
território a ser conquistado e dominado, inclusive pela sua expressão na/pela dança. A dança,
é, portanto, atravessada por sentidos e significados provenientes de discursos hegemônicos que
constroem territorialidades e marcam fronteiras, principalmente no que se refere às relações de
gênero, raça, sexualidade e classe social. Logo, ela se inscreve como linguagem que é moldada
e constituída a partir de diversos discursos presentes na sociedade que, consequentemente,
atravessam aos modos como os sujeitos irão vivenciá-la e apreendê-la ao longo da vida, seja na
forma de interdição e/ou exclusão de determinados indivíduos em estilos de danças específicos,
como no caso dos sujeitos masculinos quando inseridos em danças em que prevalecem
estereótipos sexistas associados à feminilidade, bem como, na predominância e valorização de
certos corpos (brancos, magros) em danças historicamente elitizadas, como no caso do ballet
clássico. Dessa maneira, tais discursos fazem com que os corpos que se distanciam das
expectativas hegemônicas da relação corpo/dança sejam tratados de forma desigual,
estereotipada e preconceituosa. Há, portanto, na dança, vontades de verdade que marcam
fronteiras sobre quem pode e quem deve dançar, e, ainda, sobre o quê dançar. Considera-se que
são essas falsas generalidades dos discursos que variam e passam por verdadeiros em que os
territórios são demarcados de modo a garantir uma homogeneidade dessa linguagem, excluindo
determinados sujeitos de sua prática. Nesse aspecto, os discursos sobre a dança e corpos que
dançam constituem modos de subjetivação, pois fazem parte da construção do sujeito e suas
formas de viver e pensar a dança. Embora a dança seja uma linguagem presente na vida de
Referências
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Resumo: O mercado de jogos digitais tem crescido continuamente durante as últimas duas
décadas, encontrando-se atualmente no ápice de sua relevância cultural e econômica; fato
devido, em grande parte, à popularização dos jogos em territórios emergentes, como o Oriente
Médio e a América Latina, região onde o Brasil figura como maior mercado (NEWZOO, 2020).
Apesar disso, ainda são poucos os estudos acadêmicos que se dedicam a esse tema, sobretudo
no Brasil (FRAGOSO, 2017). Considerando-se a formação majoritariamente monolíngue da
população brasileira e o número reduzido de jogos digitais desenvolvidos originalmente em
português brasileiro, o consumo de tais produtos dá-se, significativamente, sob a forma de
traduções, tornando ainda mais expressiva a escassez de estudos voltados para os jogos digitais
no campo dos Estudos da Tradução — segundo mapeamento de pesquisas, apenas 5 trabalhos
de pós-graduação dedicados aos jogos digitais traduzidos e ao seu processo de localização
foram publicados entre 1998 e 2018 em 30 das maiores instituições de ensino superior do país
(BARCELOS; MALTA, 2020). Esta pesquisa surge do intuito de refinar o conhecimento
acadêmico acerca de jogos digitais e suas localizações para o português brasileiro, almejando
melhor compreender as preferências e expectativas do público consumidor e, por conseguinte,
auxiliar as práticas de tradutores e localizadores brasileiros. Tomando Cyberpunk 2077 — jogo
de ação e interpretação de papéis lançado em dezembro de 2020 — e sua recepção como objetos
empíricos, somos guiados pela seguinte pergunta: quais são as opiniões e preferências dos
jogadores brasileiros de Cyberpunk 2077 quanto à sua localização e transcriação? Para
responder a tal indagação, elaboramos o seguinte objetivo geral: investigar a recepção da
tradução de Cyberpunk 2077 pelos jogadores brasileiros, considerando sua localização através
da transcriação e da adaptação cultural. Para atingir esse objetivo, contamos com os seguintes
objetivos específicos: i. Identificar no corpus selecionado a tradução verbal acústica e escrita
(dublagem e legendagem) do jogo, examinando as estratégias de tradução e itens culturais-
específicos. Ii. Coletar dados relativos à recepção do jogo pelos jogadores brasileiros a partir
da aplicação de um questionário que aborde a adequação da tradução e localização do jogo. Iii.
Expor os dados coletados, refletindo sobre as implicações da localização e da transcriação para
a tradução de jogos digitais no Brasil. Diante desses objetivos, seguiremos um percurso
metodológico em quatro momentos. Durante o primeiro momento de nossa pesquisa,
procederemos à seleção de textos e cenas de Cyberpunk 2077, utilizando como critério a
presença de itens culturais-específicos (AIXELÁ, 1999) e suas transcriações. Após a seleção
de cenas, seguiremos para o segundo momento da pesquisa, durante o qual efetuaremos uma
análise qualitativa das cenas através da construção de um corpus paralelo, com o intuito de
Referências
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Resumo: Ao pensarmos na literatura clássica com grandes heróis certamente alguns nomes
surgirão: A Epopeia de Gilgamesh, atribuída a Sin-leqi-unninni; A Lenda de Beowulf; os
clássicos gregos, Odisseia, Ilíada, de Homero, e também a Eneida, de Virgílio. Dentro desse
panteão, estaria Virgílio sozinho como autor de língua latina? Como esperado, a resposta é não.
Junto ao poeta romano e bastante influenciado por ele, está Prudêncio, poeta que viveu entre os
séculos IV e V d.C. Considerado um Horácio ou mesmo um Virgílio cristão (cf. SHANZER,
1989, p. 348), Prudêncio foi um profícuo autor e seus trabalhos desdobraram-se em vários
gêneros: apologias, hinos, discurso político e na literatura épica, nesta que se insere seu magnus
opus, Psychomachia (Batalha da alma). A obra é um épico composto majoritariamente por
hexâmetros dactílicos e se divide em duas partes: um pequeno prefácio, no qual são descritas
as longas batalhas pela fé ao longo da história cristã a partir da figura de Abraão, logo após, as
contendas em que se narram os combates entre sete vícios e sete virtudes. A princípio,
Psychomachia parece ser mais uma entre tantas obras apologéticas desenvolvidas entre os
séculos IV e V com a efervescência do cristianismo, contudo “Psychomachia nos oferece um
grande épico clássico, e faz o melhor ao adaptar a linguagem e técnica de Virgílio para um tema
cristão abstrato.” (THOMSON, 1930, p. 109. Tradução nossa) Nela, são discutidas questões
políticas, filosóficas, históricas e, principalmente, religiosas. A partir disso, a pesquisa se
desenvolve em torno da tradução para o português brasileiro da referida obra. É preciso
compreender que a tradução de uma obra literária não é meramente um trabalho linguístico, o
labor tradutório com textos clássicos se revela imbricado de problemas próprios destas
literaturas primevas. Assumindo a concepção de Benjamin (2008, p. 58) ao considerar que a
tradução “consiste em encontrar, na língua para a qual se traduz, aquela intenção da qual é nela
despertado o eco do original.”, em Psychomachia essa intenção se desdobra na forma e no
conteúdo, quer na utilização de um estilo literário em desuso no século IV, quer em um texto
marcado, ainda que de base cristã, pela amálgama cultural entre a nova fé e o imaginário
romano. Traduzir Psychomachia desconsiderando alguns desses pontos, entendemos como uma
deformação brusca da obra cujo discurso do texto-fonte se perderá no texto-alvo. A fim que não
se perca o efeito estético, então, como traduzir para o português os hexâmetros dactílicos de
Psychomachia? E mais, para que se mantenha no texto traduzido as discussões envolvidas na
obra fonte, como passar para o leitor essa realidade cultural? Para atender ao nosso primeiro
problema, objetivamos utilizar o método de tradução do hexâmetro dactílico para o português
elaborado por Carlos Alberto Nunes na tradução de Psychomachia, em que “Interpretando o
hexâmetro em termos da métrica portuguesa, veremos que se trata de um verso longo com
dezesseis sílabas, paroxítono, com acento predominante na 1ª, 4ª, 7ª, 10ª, 13ª, 16ª sílabas e
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9
Haja vista o envolvimento de seres humanos, em obediência às resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho
Nacional de Saúde, este projeto está sob avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Campina Grande-UFCG.
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ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
ESTUDOS LITERÁRIOS
10
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN Lei Nº 9.394/1996, especifica como modalidades
de ensino: Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Profissional e Tecnológica (EPT), Educação a Distância
(EaD), Educação Especial. Também, Educação Básica do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar
Quilombola e a Educação para Jovens e Adultos privados de liberdade em instituições penais.
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Resumo: Desde os tempos mais remotos que os bonecos fazem parte da vida do homem, sendo
eles representados por meio de objetos ou sombras que ganham vidas através de movimentos e
falas imitando, assim, a cultura de cada povo. Sendo os bonecos um meio de imitar a vida, eles
são uma forma de teatro que é permeado pela magia, pelo mito e pela brincadeira que, muitas
vezes, assumem um lugar de crítica social. No Brasil, as primeiras manifestações desse teatro
“vieram com os primeiros exploradores” e tinham como função a representação religiosa
(BORBA FILHO, 1966, p.67), assumindo, portanto, um papel político e pedagógico. No
Nordeste, foi onde esse teatro mais se destacou, sendo encenado e brincado pelos sítios,
fazendas e em festas de padroeiros pelos mestres do João Redondo – nomenclatura que recebe
o boneco nordestino no RN. Sua presença nessa região é ressignificada e passa a ser reelaborada
pelos próprios mestres bonequeiros, agregando costumes, crenças e ampliando suas
perspectivas de uso como exercício de apropriação e resistência. Diante disso, nossa pesquisa
se dedicará ao traçado de um panorama histórico, valorizando o sentindo de reapropriação e
ressignificação do brinquedo a partir do seu desenvolvimento em terras brasileiras e recortando
sua presença em regiões do RN e o relacionando com o ensino. Ao observarmos o espaço
escolar no RN, pouco se presencia essa manifestação sendo, muitas vezes, apresentada como
pretexto pedagógico, esquecendo a ludicidade e a arte. Dessa forma, temos como objetivo geral
analisar a presença e a recepção do Teatro de João Redondo na sala de aula, com alunos do 8º
ano do Ensino Fundamental II, da rede municipal de ensino, da cidade de São José do Seridó –
RN, a partir da leitura de peças criadas por mestres do João Redondo do Seridó Oriental e
Ocidental e da Serra de Santana, do RN, abrindo espaço importantíssimo no que se refere à
inserção dessa arte como prática pedagógica mais efetiva. Como objetivos específicos, fazer
um levantamento da presença desse teatro, em escolas públicas das regiões em questão,
avaliando como essa brincadeira está presente, também, nas escolas da cidade de São José do
Seridó /RN; investigar se o João Redondo ainda se faz presente na referida cidade como algo
que é parte de uma identidade local e se essa tradição ainda é hereditariamente transmitida no
seio familiar, sendo considerada como elemento de construção de uma identidade cultural.
Assim, além do registro de pesquisa em si, esse objetivo caracteriza bem a importância e
relevância de pesquisas como esta, que traz em seu bojo, um caráter político, de positivação das
expressões culturais manifestadas por outros segmentos de nossa sociedade, contextualizando
práticas culturais da tradição na contemporaneidade como estratégia pedagógica consciente.
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Resumo: A presença corriqueira de imagens em livros de literatura infantil pode levar a uma
percepção equivocada de que toda ilustração tem caráter decorativo ou utilitário, servindo como
suporte para o texto verbal. No entanto, há uma gama de obras, por exemplo, que se
caracterizam não apenas pela presença de imagem e de texto, mas pela carga significativa
advinda dessa relação mútua, em que os dois elementos são indispensáveis para a produção de
sentido. É o caso do livro ilustrado, cujo texto emerge da leitura conjunta de palavras e de
imagens, que mantêm entre si uma inter-relação que está além dessa copresença.
Correspondem, portanto, a obras compostas por duas linguagens distintas que ora se
complementam, ora se contradizem, fazendo surgir, assim, um terceiro texto advindo dessa
leitura conjunta. Porém, é comum que os livros ilustrados sejam tratados como “parte integrante
da ficção infantil, sendo analisados pelos críticos com uma abordagem [unicamente] literária,
discutindo temas, questões, ideologia, de modo que ou “[...] negligenciam o aspecto visual ou
tratam as imagens como estruturas de gênero” (NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011, p. 17). De modo
geral, ainda é restrita a quantidade de pesquisas que contemplem de forma mais específica as
imagens e as relações imagem e texto em livros ilustrados. Há também obras que são compostas
unicamente por ilustrações, sem que haja a presença do texto verbal para compor a história: são
os livros de imagem. Nesses livros, o encadeamento das imagens expressa sentido por si só.
Assim, trata-se de “uma narrativa visual, que aproxima duas condições básicas para sua
realização: a dimensão temporal (sequência linear das imagens) e a dimensão espacial (a lógica
de organização espacial dos elementos que compõem as imagens).” (FRADE; VAL;
BREGUNCI, 2014). Embora seja comum que esse tipo de obra esteja atrelado a um público
ainda não alfabetizado, uma narrativa ilustrada sem palavras é “uma forma extremamente
complicada, já que demanda que o leitor/espectador verbalize a história” (NIKOLAJEVA;
SCOTT, 2011, p. 25). No entanto, essa verbalização não significa criar um texto paralelo ao
que está sendo narrado, mas encontrar formas de expressar o que está posto. Outro aspecto que
comumente passa despercebido pelas pesquisas e pelas análises são os elementos paratextuais
das obras, a saber: capa, título, guardas, folha de rosto, entre outros (GENETTE, 2018), o que
é problemático, considerando que a materialidade do livro tem se mostrado cada vez mais
relevante no que diz respeito à produção e à recepção dos livros de literatura infantil
contemporâneos. É possível assumir que esse descuido com o aspecto visual e material desses
objetos esteja relacionado à enorme predominância dos estudos voltados para a análise do texto
literário verbal, tornando restrito o arcabouço teórico acerca das ilustrações e dos paratextos no
âmbito da literatura infantil. De modo geral, isso ajuda a entender as razões pelas quais pessoas
adultas perdem a capacidade de ler os livros ilustrados e livros de imagem, chegando mesmo a
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Resumo: A formação do leitor continua sendo um desafio para o ensino de literatura nas
escolas, uma vez que as aulas costumeiramente continuam baseadas na memorização de
características das obras e no estudo dos períodos literários que marcaram a história da literatura
brasileira. Quanto a estas, sabemos da importância dos alunos 151odific-las, mas não como
objeto único e primeiro da aula de literatura, tornando o que deveria ser principal, a leitura,
como objeto secundário. Muitas vezes o cerne do problema está no fato de que alguns diretores,
gestores e professores não compreendem o impacto que a leitura pode ter na vida do aluno,
tendo em vista que, como Zilberman (2012) frisa, a linguagem é o principal mediador entre o
homem e o mundo. Por isso, privar ou ofertar pouco espaço à leitura é formar o cidadão pela
metade. Ainda no âmbito escolar, destacamos uma questão relevante quando consideramos a
sociedade tecnológica em que vivemos: a posição ainda marginal que a Internet ocupa no ensino
de literatura, o que causa estranhamento por ser um dos meios de comunicação mais utilizados
pelos alunos e pelos brasileiros de modo geral, por isso podendo ser uma alternativa para
aproximar o alunado da leitura. Dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento
da Sociedade da Informação (CETIC) indicam que 82% das escolas brasileiras têm acesso à
Internet atualmente, o que nos leva a pensar que um trabalho híbrido para o ensino de literatura
é, em vários contextos, possível, o que possibilitaria o desenvolvimento de competências e
habilidades diferentes e complementares àquelas apreendidas no ambiente escolar. Portanto,
diante destas questões, organizamos nossa pesquisa conferindo um papel de protagonismo à
leitura, tendo como objetivo geral propor e aplicar uma sequência didática de ensino híbrido
com ênfase na leitura, para turmas de 2º ano do ensino médio, a partir de contos do paraibano
Geraldo Maciel, conhecido pelos amigos como Barreto, em que o “estranho” (categoria atrelada
ao fantástico) seja central na narrativa. Além disso, temos como objetivos específicos: i)
investigar a qualidade da recepção que os alunos têm dos contos (entendendo por qualidade a
compreensão que o aluno demonstra ter da narrativa a partir de um diálogo produtivo com esta);
ii) analisar como o estudo do “estranho” nos contos pode contribuir para estimular a formação
do aluno leitor de ensino médio; iii) refletir se (e como) a sequência de ensino híbrido proposta
favoreceu a formação do leitor. Para tanto, como dito anteriormente, nos valeremos da literatura
do autor contemporâneo paraibano Geraldo Maciel, que durante sua carreira de escritor
publicou três livros de contos: Aquelas Criaturas Tão Estranhas” (1995), Inventário de
Pequenas Paixões (2000) e O Concertista e a Concertina (2006), além do romance Peccata
Mundi (2012). Apesar dos poucos anos de carreira literária, Geraldo Maciel recebeu, ainda em
vida, o reconhecimento da relevância de sua literatura no cenário paraibano. Após publicar seu
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Resumo: As redes sociais, bem como os impulsos tecnológicos ocasionados pela globalização,
têm o papel de nos conectar e nos tornar cada vez mais cientes da diversidade cultural e
linguística que se faz presente neste mundo que vive em uma era digital. Pesquisas
contemplando temas envolvendo a interconexão mundial, através de ferramentas online,
fortaleceram estudos e ganharam ainda mais espaço, especialmente após as novas adaptações
remotas geradas como consequência dos impactos sociais da Covid-19 na educação. Isso nos
leva a considerar que também precisamos repensar metodologias e refletir sobre novas formas
de trabalharmos com o ensino da língua inglesa (LI), ligado às discussões que abordem a
tolerância e a sensibilidade para as diferenças linguísticas e, ainda, que promovam uma abertura
para expandir o conhecimento e os horizontes culturais dos aprendizes ainda na fase da
educação básica. É importante mencionar que a própria Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) propõe que o ensino da LI esteja voltado para a criação de novas estratégias
relacionadas à participação mais ativa e ao engajamento crítico do estudante no mundo plural.
Portanto, faz-se necessário que o ensino de inglês como língua estrangeira (ILE) expanda o
contato e as relações, estabelecendo pontes interculturais e intercontinentais para que possamos
alcançar formas de ensino baseadas no conhecimento do Outro e das suas diferenças linguísticas
e sociais. Segundo Hall (2014), é por meio das diferenças que as identidades são multiplamente
construídas. Por esta razão, neste trabalho enfatizaremos a relevância de vincularmos os
diálogos sobre identidade e diferença a todas as práticas educacionais da modernidade. O que
nos inquietou e nos fez pensar sobre o ensino da língua inglesa ligado às abordagens plurais, a
literatura e ao continente africano foi o fato de o ensino de ILE ainda ser, geralmente, abordado
de forma tradicional nas escolas, levando em conta apenas a parte estrutural/gramatical da
língua, conforme constatamos em pesquisa anterior, quando trabalhamos em uma pesquisa-
ação com um grupo de estudantes do curso de Letras-Inglês na Universidade Federal de
Campina Grande- UFCG. (SANTOS, 2018). Assim, entendemos que a formação de
professores continua nesse mesmo caminho e o que temos visto é que apesar de os documentos
nacionais para o ensino básico reiterarem a importância de tratarmos da pluralidade cultural nas
aulas de inglês, o ensino de língua estrangeira na educação básica ainda está enraizado em
práticas metodológicas ultrapassadas no contexto da contemporaneidade. Expressões artísticas
e culturais de outros países que fujam dos pilares Americanos ou Britânicos, como é o caso dos
poemas, contos e canções africanas, por exemplo, não são vistos como uma prioridade ou como
uma ponte para diálogos em uma aprendizagem mais contextualizada com o mundo. Dessa
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Resumo: Para diversos especialistas da área, um dos maiores aportes para a didática da
literatura nos últimos anos consiste em levar em consideração as práticas efetivas dos sujeitos-
leitores. Uma das maneiras de se observar essas práticas e que tem se tornado significativamente
utilizada entre os pesquisadores, é por meio das autobiografias de leitor dos sujeitos-leitores em
formação. Com este olhar, esta pesquisa se origina a partir de algumas inquietações suscitadas
pelos dados identificados em nossa pesquisa de mestrado (MORAIS FILHO, 2020), na qual
realizamos um levantamento por amostragem junto a professores de línguas estrangeiras
(doravante LE) de todo o Brasil e identificamos que alguns professores formadores afirmaram
que, de forma geral, os estudantes do curso de Letras tinham uma formação literária “muito
escassa” e alguns professores afirmaram não trabalhar obras literárias em suas aulas por não
gostarem desse tipo de leitura. Por considerar a formação dos cursos de Letras em uma
perspectiva ampla e abrangente, isto é, a de formação de professores de línguas e literaturas,
entendemos a ausência de interesse pela literatura por parte de alguns professores e estudantes
de Letras como algo que merece ser investigado com maior profundidade, pois revela, ao nosso
ver, uma lacuna grave na formação desses professores. Além disso, concordamos com o autor
Daniel Pennac, quando citado por Séoud (1997, p. 117), ao afirmar que “alguém que não gosta
de ler é alguém que acredita não gostar de ler”, isto é, alguém que afirma não gostar de literatura,
sobretudo em se tratando de professores de línguas, é alguém que não teve experiência
suficiente com a leitura literária. Em outras palavras, é alguém que pode ter tido uma formação
literária, por assim dizer, deficitária. Outro problema que identificamos em nossa pesquisa de
mestrado diz respeito ao desconhecimento, - por parte da maioria dos professores participantes
(52,7%) -, da abordagem da Intercompreensão (doravante IC). Essa abordagem representa um
“novo” paradigma no ensino de línguas, pois ela se apoia nos conhecimentos prévios dos
estudantes, tanto de sua língua materna como de outras LE conhecidas por eles, para a
construção de competências plurilíngues. A IC tem também o objetivo de despertar o interesse
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O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética. No momento, estamos aplicando a experiência de
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Resumo: A pesquisa em andamento tem como objetos de investigação a Literatura Young Adult
(YA) e a Literatura Jovem contemporâneas, bem como seus leitores. Nela, planejamos nos
debruçar sobre obras destas literaturas, escritas por autores que vêm produzindo intensamente
nos últimos anos, além das recepções destas em ambientes virtuais. As razões principais que
nos motivaram a proceder com a presente investigação surgiram tanto da percepção, advinda
de uma década em sala de aula, que aponta para o fato de que a leitura que interessa ao leitor é
uma leitura que forma leitores, quanto da escassez de pesquisas acadêmicas sobre as Literaturas
YA e Jovem contemporâneas, bem como seus aspectos constitutivos e papel nas práticas
leitoras. Este trabalho justifica-se, então, não apenas pela preocupação em realizar uma pesquisa
voltada para a investigação da recepção de obras pouco ou nada estudadas pela academia, mas
também por buscar entender e sistematizar a compreensão acerca do próprio gênero em tela,
além de analisar o efeito estético que provocam no leitor. Deste modo, desenharam-se assim
nossas questões de pesquisa: (1) sob que aspectos as Literaturas YA e Jovem contemporâneas
possuem potencialidades para formar leitores literários? (2) e de que maneira leitores comuns
e especialistas recebem, em meio digital, algumas dessas obras? Uma vez que a Literatura YA
se fez presente no Brasil muito recentemente – marcadamente com o fenômeno da saga do
menino bruxo Harry Potter, na primeira década dos anos 2000 -, percebemos que ainda é
preciso ampliar bibliografia, definições e estudos acerca de suas especificidades em território
nacional. Para tanto, estabelecemos como objetivo geral investigar a recepção em meio digital
das obras Um milhão de finais felizes (MARTINS, 2018), A lista do ódio (BROWN, 2019) e O
ódio que você semeia (THOMAS, 2020), entre leitores diversos. Como objetivos específicos,
almejamos primeiramente examinar os aspectos gerais que constituem as Literaturas YA e
Jovem, sopesando a importância dos temas fraturantes como fator relevante de atratividade
leitora; em seguida analisar o efeito estético provocado pelas três obras que constituem nosso
escopo, tanto em leitores comuns quanto naqueles especializados, em quatro plataformas
digitais (Instagram, YouTube, Skoob e Amazon); e, finalmente, avaliar as possíveis contribuição
das obras YA e Jovens na formação de leitores literários. Eleger o ambiente virtual como terreno
para coleta de dados deveu-se a dois fatores principais: o fato que a profusão de imagens hoje
parece ter mudado fundamentalmente a expectativa do leitor em relação ao próprio objeto livro,
passando a internet a ser lugar natural de exposições e retextualizações dos efeitos estéticos
proporcionados pela leitura de livre escolha de sujeitos das gerações Y e Z; e à nossa percepção
preliminar de que a utilização da internet como suporte para escolher, avaliar e divulgar leituras
populariza-se vertiginosamente e desponta como um potencial aliado na formação do leitor por
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Resumo: A literatura infantil é algo que encanta a criança desde o nascimento, seja mediante a
oralidade, por meio de canções, das brincadeiras com a linguagem, das histórias que lhe são
contadas, seja por meio do objeto livro, com o qual mantém um relacionamento singular. Nesse
sentido, as vivências com o texto literário devem acontecer desde a mais tenra idade, uma vez
que a literatura infantil contribui para a emancipação e ampliação dos conhecimentos do leitor
infantil, favorece a liberdade de sair do mundo real e adentrar no ficcional e, a partir dessa
experiência, perceber a realidade de outras formas e transformá-la, “o que permite ler não
apenas a obra, mas também e, principalmente, o mundo, o ‘outro’ e a si mesmo” (SOUZA;
MARTINS NETO; GIROTTO, 2016, p. 196). A Educação Infantil, primeira etapa educativa
da criança, é momento propício para o início da sua formação leitora. Nessa fase, o estímulo à
leitura é fundamental para o desenvolvimento das suas capacidades criativa e imaginativa.
Kaercher (2001) aponta que é justamente nesse período que a criança inicia suas primeiras
leituras de mundo e produz significados e sentidos com base no que vê, ouve, percebe, sente e
imagina. De fato, os textos literários têm uma função transformadora na vida desse leitor porque
contribuem para a formação da consciência crítica, favorecendo o conhecimento de diferentes
culturas, a percepção dos diversos modos de vida e o reconhecimento de si e do outro por meio
de tais apreensões. Contudo, favorecer a apropriação ativa dessa linguagem por ela requer a
mediação de um adulto ou de uma pessoa mais experiente. Na escola, esse papel é exercido
pelo professor que, em sua prática cotidiana, precisa oportunizar o contato das crianças com
diversos gêneros textuais para ampliar o seu universo cultural e favorecer o processo de
letramento, em geral, e de letramento literário, em particular. Entretanto, essa formação não
deve acontecer apenas no contexto escolar, mas, também, no familiar. Nele, mães, pais, irmãos,
irmãs, avôs e avós, entre outros atores, desempenham um papel importante no desenvolvimento
dos hábitos de leitura e no processo formativo das crianças (SOBRINO, 2000). Na nossa
atuação como professora na Unidade Acadêmica de Educação Infantil (UAEI) da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), cuja Proposta Pedagógica defende a importância da
leitura literária e, portanto, desenvolve várias práticas para fomentar a formação do leitor
literário, vimos, há algum tempo, refletindo sobre a nossa responsabilidade com essa formação
e sobre a participação da família nesse processo. Essas reflexões têm como ponto de partida a
rápida passagem das crianças pela Educação Infantil. No caso da UAEI, elas só frequentam a
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Resumo: O mundo tem passado por crises como a pandemia da Covid-19 e guerras no Oriente
Médio e na Europa – recentemente, com o conflito entre Rússia e Ucrânia - que geram grandes
problemas como deslocamentos, traumas e transtornos socioemocionais. Dessa forma, discutir
a relação entre diáspora, trauma e depressão tem sua relevância no contexto mundial, uma vez
que a Organização Mundial de Saúde estima que cerca de mais de 300 milhões de pessoas no
mundo apresentam o quadro depressivo14. Na perspectiva literária, essa temática encontra
espaço ao longo dos movimentos, épocas e estilos. Desde a antiguidade, encontramos
referências dessa enfermidade mental quando o próprio Aristóteles faz essa relação entre a
melancolia e a genialidade ou quando o rei Salomão escreve o livro de Eclesiastes e afirma que
tudo no mundo é vaidade. O conceito de depressão, portanto, passou por várias transformações
até chegar à concepção que se conhece hoje. Na Antiguidade, pessoas que apresentavam esse
sentimento de profundidade e melancolia eram relacionadas à genialidade, tal como homens
que se destacavam nas artes, filosofia etc. Na Idade Média, passa a ser sinônimo de loucura e
surge o preconceito quanto à manifestação dessa doença. Na Renascença, período da
florescência das artes e ciências, a melancolia começa a ser vista em uma perspectiva biológica,
filosófica e psicológica. Somente depois do século XVIII, com as transformações da Revolução
Francesa e Industrial e o advento da psiquiatria, como um ramo da medicina, chega-se ao termo
e definição da depressão, tal como se conhece hoje. No âmbito de nossa pesquisa, apresentamos
a obra de uma escritora ganesa, Yaa Gyasi, uma vez que traz nas entrelinhas de suas obras a
conjuntura de diáspora, guerras e conflitos sociais, com muita sensibilidade. A autora ganesa
trabalha a depressão na perspectiva contemporânea de uma doença mental pelo viés biológico
e emocional, mas, também como produto dos males sociais. A partir deste ponto de vista,
levantamos a tese da existência de uma relação entre diáspora e depressão nas obras estudadas,
visto que as pessoas em experiência diaspórica estão mais suscetíveis a desenvolver o quadro
depressivo, devido à mudança de ambiente, cultura e principalmente aos conflitos gerados pelo
racismo e pela discriminação social. Dessa forma, esta pesquisa tem como corpus dois
romances: O Caminho de casa (2017) e Reino transcendente (2021) que revelam a problemática
do movimento diaspórico africano para o ocidente, destacando-se em ambas as narrativas, a
personagem feminina. No primeiro romance, vislumbramos uma história épica desse
14
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Resumo: Diversos autores, entre eles Leffa (2011) e Moita Lopes (2006), descrevem a
Linguística Aplicada (LA) como um campo de investigação (in)disciplinar que aborda questões
sociais envolvendo as diferentes formas de linguagem e que dialoga com outras áreas do
conhecimento para compreender questões do mundo atual. No âmbito do processo de ensino de
línguas, podemos destacar que uma dessas questões se refere à formação do professor para
realidades escolares que apresentam cada vez mais diversidades de diferentes naturezas. Nos
dias atuais, por exemplo, mais estudantes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista
(TEA) estão ingressando no universo escolar. Segundo dados do CDC (Center of Diseases
Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe um caso de
autismo a cada 110 pessoas. Estima-se que o Brasil, com seus 200 milhões de habitantes, possua
cerca de dois milhões de autistas. Apesar da quantidade de pessoas que possuem o diagnóstico,
boa porcentagem da população mundial não conhece e não está apta a lidar com essa realidade.
Dentre os incluídos nessa porcentagem, destacamos os professores e outros profissionais da
educação. No caso dos professores de Língua Portuguesa, essa realidade pode ser consequência
da lacuna nos cursos de formação inicial de Letras no país. Alia-se a essa lacuna a falta de
investimento em cursos de formação continuada com fornecimento de material didático-
pedagógico sobre a temática, bem como da falta de investimentos na educação básica, em
termos de estrutura física, docente e pedagógica das escolas. Na busca por propostas de avanços
para o ensino de línguas, deparamo-nos com inúmeras discussões a respeito do papel da escola
no desenvolvimento de competências linguísticas dos alunos. Para tanto, a escola precisa
desenvolver práticas pedagógicas que auxiliem na apropriação da linguagem em função da
produção de conhecimentos necessários ao desenvolvimento humano. Partindo desse princípio
e da relevância da temática para a formação docente, entendemos que a prática pedagógica do
professor de língua deve estar pautada na valorização das diferenças e nos princípios de
individualização de ensino-aprendizagem como processos indissociáveis, que poderão auxiliar,
de maneira efetiva, os alunos no seu desenvolvimento. Orientando-nos por esse entendimento,
formulamos os seguintes questionamentos: 1) Que especificidades linguísticas devem ser
consideradas na elaboração de material didático-pedagógico para alunos autistas do Ensino
Fundamental Anos Finais, visando à sua inclusão no ambiente escolar? 2) Como as adaptações
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VYGOTSKY, Lev S. A construção do pensamento e da linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2000.
15
Utilizamos, assim como Souza (2015), ao longo deste trabalho, o termo “adicionais”, e não “estrangeiras”, para
nos referirmos às línguas não maternas porque consideramos que o termo “estrangeiro” tem conotações que
remetem ao que é alheio, diferente, oposto. A partir da observação de Almeida Filho (1993, p, 15) de que aprender
Língua Estrangeira “é crescer numa matriz de relações interativas na língua-alvo que gradualmente se
desestrangeiriza para quem a aprende” e tendo em vista que a língua, para ser aprendida precisa se desestrangeirizar
num complexo contínuo, julgamos mais adequado nomeá-la como uma língua adicional, e não estrangeira.
16
O projeto teletandem teve início em 2006 e ganhou visibilidade internacional, pois apresentou evidências de
potencial educacional, colaborativo e linguístico, ao promover contato intercultural on-line e comunicação por
videoconferência entre estudantes de línguas adicionais. Disponível em: http://www.teletandembrasil.org/brief-
history.html. Acesso em: 12 de abril de 2017.
17
Na região Nordeste, desde 2015, está em andamento o projeto de extensão interinstitucional “Intercult:
aprendizagem colaborativa e intercultural de línguas via teletandem” concebido e coordenado pelo Professor Dr.
Fábio Marques de Souza.
18
A referida pesquisa de mestrado intitulada Multimodalidade na aprendizagem colaborativa de português e
espanhol como línguas adicionais teve como objetivo promover e analisar a aprendizagem colaborativa e
intercultural entre adolescentes brasileiros e argentinos via teletandem, com a mediação das TDICs, de professores
e textos multimodais.
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19
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Resumo: Desde o início dos anos 2000, o contexto paradigmático educacional na comunidade
surda brasileira passou por diversos processos de mudança nessas duas primeiras décadas do
século XXI. As reivindicações pela oferta de exames vestibulares em Língua Brasileira de
Sinais (Libras), especificamente a vídeoprova, são uma das pautas da comunidade surda
brasileira desde 2013 (REZENDE, 2020), pois a acessibilidade a materiais e provas em Libras
deveria existir desde a educação básica. No contexto educacional dos surdos, também quando
pensamos no ingresso no ensino superior, a ausência da Libras reflete ainda os anos de educação
de surdos no paradigma de negação do direito linguístico, o clínico-terapêutico. A exigência
pela oferta do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Língua Brasileira de Sinais
(Libras) resultou na conquista do modelo de vídeoprova, nosso objeto de estudo. Dessa forma,
o Enem em Libras e o processo de retextualização acontecido para sua criação teve a primeira
edição acontecida em 2017 em sua versão de teste e só nos anos seguintes este exame passou a
ser uma modalidade de prova possível para os candidatos surdos que fizerem a opção por seu
modelo sinalizado. As provas de 2017, 2018 e 2019 estão publicadas em versão integral na
plataforma para compartilhamento de vídeos (Youtube) e disponibilizadas também no site do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP
(http://enemvideolibras.inep.gov.br/). O motivo pelo qual escolhemos abordar o tema é o desejo
de compreender como as estratégias de retextualização se comportam de acordo com as
disciplinas e conteúdos contidos no Enem 2019. Propomos um estudo e análise de quais são as
estratégias de retextualização acontecidas na vídeoprova sinalizada e pelo procedimento de
descrição de semelhanças e diferenças entre as áreas de conhecimentos, compreender como
funciona esse processo. A partir de nossas considerações iniciais, temos como perguntas de
pesquisa: Como acontece o processo de retextualização da prova Enem 2019? Como se
comportam as vídeoquestões das áreas de conhecimentos: Ciências Humanas, Ciências da
Natureza, Linguagens e Códigos e Matemática ao serem vertidas para a Libras? A pesquisa
possui como objetivo geral analisar e explicar os processos de retextualização de vídeoquestões
na prova em Libras do Enem no ano de 2019. Para isso, definimos como objetivos específicos:
a) Definir os processos de retextualização acontecidos para a construção de vídeoquestões da
prova do Enem para a Libras; b) Caracterizar os aspectos constitutivos das vídeoquestões nas
disciplinas Matemática, Português, Biologia e História; c) Relacionar os processos de
retextualização (de disciplinas) aos conteúdos avaliados no Enem. Para distinguir os processos
no primeiro objetivo específico consideramos a retextualização a partir da ideia de transposição
de questões do texto impresso em língua portuguesa (em que há o papel como suporte) e o texto
visual em Libras (suporte em vídeo). Para a caracterização no segundo objetivo específico
levaremos em conta descrever os elementos multimodais no corpus, dentre eles o suporte de
texto (escrito), uso de imagens e aplicação/estratégia da sinalização. Para o terceiro objetivo
específico pretendemos identificar e analisar semelhanças e/ou diferenças de processos entre as
áreas de conhecimento investigadas. Para tanto, nossa pesquisa buscará referencial teórico em
Referências
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21
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de-17-de-marco-de-2020-248564376. Acesso em: 10 de junho 2021.
22
Consideramos a expressão ensino remoto legalizada pelo Ministério da Educação e Conselho Nacional de
Educação e acrescenta-se o termo emergencial por se entender uma situação inscrita na realidade do tempo
pandêmico, como forma experiencial encontrada para se transitar com as incertezas do agir nesta complexidade.
Para isso, tomamos a referência de Hodges, Trust, Moore, Bond e Lockee (2020, p. 02): “Uma experiência de
aprendizado online bem planejada é muito diferente dos cursos oferecidos online em momentos de crises ou de
desastres. Escolas e universidades que trabalham para manter o ensino durante a pandemia do COVID-19 devem
entender essas diferenças ao avaliar esse ensino remoto de emergência”.
23
Algumas universidades ainda atuam no Ensino Remoto Emergencial nos meses iniciais do corrente ano (2022).
24
Com referência em Amigues (2004), as prescrições entendidas como os construtos sociais que dizem de maneira
mais ou menos clara a tarefa que o trabalhador deve realizar.
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Resumo: Esta investigação está vinculada à linha de pesquisa “Ensino de Literatura e Formação
de Leitores”, na área de Estudos Literários, do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e
Ensino, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Não é preciso ir longe para
compreender que, no trabalho com o poema na escola, sobretudo no nível médio de ensino, há
pouca reflexão acerca da poesia, principalmente se comparado às inúmeras pesquisas voltadas
à poesia infantil, e as obras já publicadas para essa fase nem sempre alcançam um nível estético
desejável, como aponta a pesquisa de Silva (2009). É possível observar também a existência de
um atrelamento do ensino da poesia aos estilos de época, acarretando todos os problemas que
esse modelo traz e que já foi bastante problematizado, como sugere Pinheiro (2006). Diante
desse contexto pouco favorável, vislumbramos a oportunidade do trabalho com antologias
poéticas, podendo ser organizadas por temas, por formas, por épocas, com autores individuais,
dentre outras possibilidades. Nesse início de século, tem surgido, no mercado editorial
brasileiro, algumas antologias voltadas para o leitor jovem, como indicam alguns paratextos,
prefácios e comentários de quarta capa. Refletir sobre essa produção se constitui não somente
um desafio, mas também uma necessidade. Pensando nisso, buscamos conhecer quais critérios
regem a publicação dessas antologias, bem como saber quais autores são mais mencionados e
quais temas e formas são mais recorrentes. Nossa investigação vai ao encontro da necessidade
do público jovem de conhecer e de discutir poemas com diversidade de temas, de formas e de
autores, a fim de também contribuir com abordagens metodológicas de caráter mais interativo
no trato com a poesia juvenil em sala de aula. Atentamos também para a necessidade de mais
discussões acerca do lugar da poesia destinada aos jovens, no âmbito da literatura, pois na maior
parte das vezes que se pensa em literatura juvenil é priorizado o texto em prosa. Enquanto
problemas para esta pesquisa, destacamos: Que abordagens teóricas e metodológicas são
recorrentes em estudos que tratam do ensino de poesia? Quais os possíveis critérios de escolhas
de poemas podem ser observados nas antologias voltadas aos leitores jovens? Com isso,
traçamos como objetivo geral para a investigação aqui proposta: discutir teórica, crítica e
metodologicamente propostas de formação de jovens leitores de poesia e produzir uma
antologia temática com indicações de abordagem do poema em sala de aula. Em relação aos
objetivos específicos, propusemos: 1) investigar as abordagens teóricas e metodológicas
recorrentes em obras que tratam do ensino de poesia; 2) analisar antologias poéticas destinadas
ao público jovem, atentando para critérios de seleção dos poemas; e 3) organizar uma antologia
temática comentada com propostas de abordagens metodológicas de caráter interativo para a
formação de jovens leitores. Quanto às perspectivas metodológicas de pesquisa, este estudo é
de cunho bibliográfico e documental. Elegemos esse procedimento por lidarmos com material
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TREVIZAN. Zizi. Poesia e ensino: antologia comentada. 3. Ed. São Paulo: Arte & Ciência, 2002.
Resumo: Sulear significa dar visibilidade à ótica do Sul, apresentando uma disposição crítica
diante às ideias geradas em torno do Norte, da lógica eurocêntrica que o considera como
referência universal e superior em detrimento ao Sul (CAMPOS, 1991). Nesse sentido, ao
adotar esse posicionamento em nossas epistemes, vivências, práticas e formações, nos
remetemos a Santos (1995) que propõe as Epistemologias do Sul como uma forma de buscar
identificar e legitimar os conhecimentos produzidos por aqueles que foram, ao longo da história,
marginalizados, oprimidos, silenciados e excluídos. Para tanto, segundo o estudioso, “uma
epistemologia do Sul assenta em três orientações: aprender que existe o Sul; aprender a ir para
o Sul; aprender a partir do Sul e com o Sul” (SANTOS, 1995, p. 508). O Sul aqui apresentado
não se refere, necessariamente, tão somente ao Sul geográfico, mas sim ao Sul epistêmico que
busca ouvir e dar visibilidade aos que foram e ainda são invisibilizados. Desse modo, o
pensamento apresentado por Santos (1995) é compreendido, ao longo de nossas reflexões,
como uma metáfora e convite para Sulear a educação linguística e a formação de professores
de língua espanhola (SILVA JÚNIOR; MATOS, 2019), proporcionando que esses dois
contextos estabeleçam diálogos com as Vozes do Sul (MOITA LOPES, 2006, 2013;
KLEIMAN, 2013). Assim posto, a Linguística Aplicada (LA), em sua vertente contemporânea,
traz essas questões como uma agenda de pesquisa e de produção de conhecimento, quando
Moita Lopes (2006, p. 31) pontua que é “inadequado construir teorias sem considerar as vozes
daqueles que vivem as práticas sociais que queremos estudar”, isto é, há uma “necessidade de
um outro sujeito para a LA: as vozes do Sul” (MOITA LOPES, 2006, p. 96). Nessa linha de
pensamento, Kleiman (2013) propõe “Sulear” nossas práticas, epistemes, pesquisas e os
currículos das universidades que estão há bastante tempo fundamentados e sedimentados na
hegemonia do Norte, defendendo um olhar para o Sul, bem como a promoção do diálogo Sul-
Sul. Em suas palavras, a pesquisadora propõe “trazer outras vozes latino-americanas, a fim de
‘sulear’ (orientar para o Sul) o debate e questionar a hegemonia ocidental do Norte, ainda
imperante na definição dos nossos problemas de pesquisa” (KLEIMAN, 2013, p. 40). Segundo
Alexandre (2019), a América Latina pode ser considerada como uma das representantes das
Vozes do Sul, tendo em conta as marcas da colonialidade que ainda se fazem presentes. Nesta
perspectiva, ao direcionar nossa atenção para a formação de professores de espanhol, bem como
para o processo de ensino-aprendizagem dessa língua, acreditamos que se faz necessário Sulear
25
Agradecemos à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ) pelo apoio financeiro dado a
esta pesquisa.
26
As interações têm duração, de forma geral, de 60 minutos, destinando 25 minutos para cada língua, de modo
que os alunos desempenhem diferentes papéis durante a prática, isto é, ora aprendiz da língua estrangeira, ora
professor (tutor) da sua língua materna ou da língua que é proficiente. Os 10 minutos restantes são destinados para
que eles realizem os feedbacks. Logo após a sessão de interação, os interagentes, alunos brasileiros e estrangeiros,
realizam as sessões de mediação compartilhando suas dúvidas, experiências e aspectos linguísticos e/ou culturais
presentes ao longo das interações, com vistas a potencializar pedagogicamente o processo de aprendizagem na LE.
Referências
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formação de professores de espanhol no Brasil. Revista abehache, n. 15, p. 139-154, 2019. Disponível
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Resumo: Desde as primeiras lutas feministas, por direitos, já houve uma separação nítida entre
as lutas das mulheres brancas e a exclusão das mulheres negras. Estas não foram representadas
pelos movimentos organizados por aquelas, conforme Davis (2016). Em 1851, Soujourner
Truth, ao questionar sobre se ela não era mulher “E eu não sou uma mulher?”, por não está
enquadrada dentro das pautas feministas de mulheres brancas, já deixou marcada essa falta de
espaço, de lugar, de visibilidade dada à mulher negra. Sua realidade, de ex-escravizada não
condizia com as lutas pelos direitos feministas defendidas pelas mulheres brancas, na época. O
que percebemos é que a consolidação do próprio movimento feminista brasileiro, como já
apontou Lelia Gonzales (1981), já denunciava um lugar de opressão à mulher negra. Lugar que
a escravidão deixou como legado até os dias atuais. Há um passado escravista que aponta para
uma base racista, refletida na organização econômica e política da sociedade atual. Desta forma,
há uma relação entre o capitalismo, que sempre foi de cunho eurocêntrico, com o trabalho e a
raça. Fatores como gênero, raça e classe tornam-se importantes para os estudos que busquem
compreender quem é a mulher negra, o racismo, a opressão de classe, enfim, as formas como
está estruturada nossa sociedade. Nesse quadro, inserimos o trabalho doméstico. Trabalho
atribuído, devido a uma herança colonial, em uma porcentagem maior, a mulheres negras, já
que, neste período, as mulheres negras que não trabalhavam no campo foram fadadas aos
serviços domésticos. O fato de a mulher negra ser associada ao serviço doméstico está
interligado diretamente ao longo tempo em que ex-escravizada tiveram que se submeter a este
serviço. Inclusive, no sul dos Estados Unidos, a escravidão foi sinônimo para o termo
“instituição doméstica”, conforme Davis (2016). Um cenário que ainda é visível na atualidade.
Segundo o Boletim Mulheres Negras, 1° trimestre 2021, “As mulheres representaram 93,2%
do trabalho doméstico sem carteira, sendo 61,6% mulheres negras.” Um trabalho, portanto,
tipicamente negro e feminino. Assim, trazer esta realidade sob um viés discursivo que aponte a
mulher a partir da interseccionalidade, torna-se imprescindível, sobretudo, quando pensamos
na representação deste sujeito através dos discursos que atravessam o arquivo selecionado para
análise. Conforme Foucault (2012), arquivo são enunciados que se estabelecem como
acontecimentos singulares, é um conjunto de discursos que está condicionado aos
conhecimentos produzidos em determinada época, os quais delimitam tanto o que pode ser dito,
Referências
Boletim Mulheres Negras no Mercado de Trabalho - 1° trimestre 2021. Disponível em: <
https://www.facamp.com.br/pesquisa/economia/npegen/mulheres-negras-no-mercado-de-
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28
Essa pesquisa conta com suporte financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ),
Termo nº 07/2021.
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Referências
29
A minissérie foi produzida pela Rede Globo de Televisão e exibida pela primeira vez neste canal em 1999.
Devido ao sucesso da minissérie e baseado nela, foi lançado um filme de mesmo nome, no ano 2000. Em 2014 e
2020, a minissérie foi reexibida, respectivamente, no Canal Viva e novamente na Rede Globo.
30
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WUjcJNtSaqU&t=119s
31
A sigla TBPN será utilizada no projeto para fazer referência ao Teatro de Bonecos Popular do Nordeste.
32
Edições da Revista Mamulengo disponibilizadas digitalmente:
https://abtbcentrounimabrasil.wordpress.com/revista-mamulengo/edicoes-anteriores/
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verso. 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012, p. 115 – 161.
Resumo: Todos os dias vivenciamos situações que ativam os nossos sentidos. Cheiros, cores,
sons, texturas e sabores nos lembram pessoas, lugares e situações que vivemos. Esse processo
é possível pela linguagem e, sendo ela uma estrutura imaterial, evoca da memória os
acontecimentos e experiências, produzindo novos significados e podendo nos conduzir a algo
novo. Através do ato pensar, todas essas experiências, sentidas em nossos corpos, se somam a
um enorme repertório de acontecimentos que, assim, compõem nossas recordações e nos
auxiliam a significar e ressignificar o mundo, e realizar ato responsável perante o outro
(BAKHTIN, 2010). Os artistas sempre se valeram do diálogo e evocação de experiências em
direção às coisas do mundo para criar suas obras (BAKHTIN, 2019b). Através de diversas
linguagens, eles contam histórias e nos fazem senti-las em nossos corpos, algumas vezes nos
fazendo acreditar que estamos em outro lugar, sentindo odores, sabores e causando arrepios nos
pelos de nossos braços. Essa sensação de Presença do que está fisicamente ausente é inerente
ao uso da linguagem e dá ao discurso uma função dupla. Enquanto para o emissor ele é uma
realidade, o receptor recria essa realidade sob a ótica de suas próprias vivências
(BENVENISTE, 1976). Nesse sentido, podemos confirmar que “o homem sentiu sempre e os
poetas frequentemente cantaram o poder fundador da linguagem, que instaura uma realidade
imaginária, anima as coisas inertes, faz ver o que ainda não existe, traz de volta o que
desapareceu” (BENVENISTE, 1976, p. 27). Esse poder fundador também está presente nas
artes surdas, e com sua fruição é possível sentir em nossos corpos outras realidades e
264essignifica-las a partir de nossas experiências. Entendemos as artes surdas do mesmo modo
que Menezes (2017, p. 78) ao explicitar que elas são “produções registradas nos mais diversos
suportes..., e que foram criadas por pessoas que pertencem a uma comunidade Surda e que, em
seu escopo, transmitem a cultura, as lutas, os anseios, os medos e as alegrias de seus membros”.
Essas artes revelam muito sobre os povos Surdos e nelas podemos encontrar piadas, contos,
romances, poemas, relatos, pinturas, fotografias, competições de poesia, novelas e outras
formas de arte. A temática desse gênero, na maioria das vezes, aborda a relação entre Surdos e
ouvintes e o ser Surdo em meio a uma sociedade de falantes da língua portuguesa (MENEZES
& SOUZA, 2019), desse modo surge um novo mundo de significações que os ouvintes
desconhecem. Esse desconhecimento nos levou a realizar uma pesquisa no Programa de
Formação de professores da UEPB. Nesse processo, inicialmente adentramos no conceito de
literatura Surda, porém, com o prosseguimento dos trabalhos, foi possível constatar que esse
termo não é capaz de comportar todas as possibilidades criativas das artes surdas e isso nos
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