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ROTEIRO “MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE

BRÁS CUBAS”
TURMA: 2ºA BV
(CORTINAS FECHADAS)
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver (Brás Fantasma)
dedico como saudosa lembrança (Outro Brás)
estas memórias póstumas (TODOS)

(CORTINAS SE ABREM)
Cenário: Um caixão lateral como "portal". Personagens (Marcela, Eugênia,
Vigília, Nhá Lolo, Prudencio, Lobo Neves, Pai de Brás, Quincas Borba)
cobertos com um longo pano branco, distribuídos pelo palco.
Uma poltrona com um lençol branco.

BRÁS FANTASMA: Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo
princípio ou pelo fim, isto é, se começaria pelo meu nascimento ou pela minha
morte. Bom, vou começar pelo fim. Morri às 14h de uma sexta-feira de agosto
de 1869. Tinha 64 anos, era solteiro e fui levado ao cemitério por 11 amigos.
(olhar vazio) Morri justamente no momento de ficar famoso, criando um
remédio milagroso: emplasto Brás Cubas (suspira, em tom de remorso).
(Brás fantasma retira o lençol de Quincas Borba e relembra de seu
antigo amigo nostalgicamente)
BRÁS FANTASMA: ahhh! Fui melhor amigo de um dos grandes filósofos do
meu tempo, Quincas Borba, o criador do humanitismo… (pequena pausa)
Para completar meus grandes feitos, me envolvi com diversas mulheres, me
formei em direito em Portugal, tive sucesso na minha carreira de político e me
destaquei como escritor. (pequena pausa) Agora que meu fim foi explicado,
gostaria de citar brevemente a minha juventude. Nasci no dia 20 de outubro
de 1805 e sempre fui um menino muito calmo e gentil, que gostava muito de
brincar, principalmente de cavalinho.
(Nesse momento, Brás fantasma tira o lençol de Prudêncio, Brás mudo
entra e monta nele, andando pelo palco)
(Brás mudo sai e Prudêncio é coberto por Brás fantasma)
BRÁS FANTASMA: Voltando ao tema dos amores, ao decorrer da minha
adolescência e vida adulta, tive quatro romances de destaque, o primeiro foi
com uma espanhola chamada Marcela.
(Brás fantasma descobre Marcela, que vai ao encontro de Brás mudo,
que por sua vez lhe dá uma joia e eles andam de mãos dadas)
BRÁS FANTASMA: Marcela amou-me incondicionalmente por onze meses,
mas curiosamente me largou quando passei a não mais lhe dar presentes.
(Marcela larga a mão de Brás mudo e Brás fantasma a cobre novamente;
Brás mudo sai)
BRÁS FANTASMA: Depois que meu romance com Marcela acabou, fui para
Portugal e lá foquei na vida acadêmica, desprezando amores e me dedicando
ao Direito. Quando voltei, conheci Eugênia, a flor da moita, uma jovem muito
bela, mas coxa.
(Brás mudo entra, Brás fantasma descobre Eugênia e ela vai mancando
em direção a ele e lhe dá um abraço)
(Eles andam juntos, de mãos dadas, até que Brás mudo se separa e fala
sozinho ‘’ porque bela se coxa, por que coxa se bela’’ e sai de cena)
(Brás fantasma cobre Eugênia de novo)
BRÁS FANTASMA: Pouco depois da minha frustração com Eugênia, (Brás
fantasma fala com excitação) conheci o grande amor da minha vida: Virgília.
Nosso amor era como uma planta que crescia muito rápido, inesperadamente,
e permaneceu mesmo quando ela se casou com Lobo Neves, importante
político. (Brás fantasma descobre Virgília)
(Brás mudo se aproxima de Virgília de forma romântica)
VIGÍLIA: (trêmula e apreensiva) Cuidado Brásinho, ele pode chegar a
qualquer momento.
(Brás fantasma descobre Lobo Neves e ele vai a procura de Vigília)
VIGÍLIA: (desesperada) Rápido Brás, ele está chegando, se esconda
(Brás mudo sai de fininho)
(Virgília e Lobo Neves são cobertos novamente)
BRÁS FANTASMA: E assim fomos vivendo nossas aventuras, com ela ao
meu lado até minha morte. (suspira)
(depois de uma pequena pausa, entra o Outro Brás Cubas, rindo e com
um olhar de desdém para o Brás fantasma)
OUTRO BRÁS (rindo): Você é uma piada mesmo…
BRÁS FANTASMA (surpreso): Quem? Eu? (aponta para si mesmo)
OUTRO BRÁS: E quem mais poderia ser?
BRÁS FANTASMA (irritado): Quem você acha que é para falar isso?! Ou
melhor, quem é você, rapaz?! (aponta para ele)
OUTRO BRÁS (rindo): Ora, o que você acha? Eu sou você, o Brás Cubas!
BRÁS FANTASMA (rindo nervosamente): Você só pode ser um grande
mentiroso mesmo, como poderia existir outro de mim se já estou morto?
(Outro Brás vai em direção a Prudêncio e tira o lençol dele; Prudêncio
olha ao redor, confuso)
PRUDÊNCIO: O que deseja, senhor?
OUTRO BRÁS (ordenando): Prudêncio, diga quem eu sou.
PRUDÊNCIO: Você é o meu senhor, Brás Cubas. (o outro Brás lança um
olhar de provocação para o Brás fantasma e cobre ele novamente)
OUTRO BRÁS (ironicamente): Quer mais alguma prova?
BRÁS FANTASMA (chocado): Acho que não é necessário, mas o que você
veio fazer aqui?
OUTRO BRÁS (incisivo): Eu estou aqui porque já não aguentava mais ouvir
você cuspindo mentiras sobre nossa vida sem parar. Quero que as pessoas
saibam quem é Brás Cubas de verdade!
BRÁS FANTASMA (arrogante, mas nervoso): Pode falar o que quiser, mas
nada vai mudar a minha vida bem sucedida e sem arrependimentos.
OUTRO BRÁS (exaltado): Olha aí você mentindo novamente! Para começar,
você nunca teve sucesso em nada: nunca exerceu a profissão de direito,
nunca casou, foi um desgosto para sua família e o seu principal amor lhe
trocou por outro! (Brás fantasma olha assustado, balançando a cabeça
negativamente)
BRAS FANTASMA (tentando se redimir e provar seus sucessos): Estou
farto das suas acusações contra mim! Você não sabe o que está dizendo,
olhe quantas pessoas me amavam. (vai descobrindo cada um, orgulhoso)
OUTRO BRÁS: Certo, mas deixe que eles falem o que realmente pensam de
você.
BRÁS FANTASMA: Tudo bem! Meu querido pai, o que você tem a dizer sobre
o seu amado filho?
PAI DE BRÁS CUBAS (fala de forma ríspida): Você nunca correspondeu às
minhas expectativas, Bras. Quis que você se casasse com Virgília e fosse
político, mas você conseguiu estragar tudo. É uma chaga pro nome dos
Cubas! (o fantasma recebe a fala em completo choque)
PRUDÊNCIO (concorda): Não se esqueça das suas violências contra mim.
Sempre fui maltratado e a melhor coisa que me aconteceu foi receber a
alforria quando seu pai morreu.
BRAS FANTASMA (bastante irritado): Não seja ingrato, Prudêncio.
Lembre-se que se não fosse por mim, você estaria abandonado na rua,
provavelmente morto! Você sabe como eu sempre tratei bem as pessoas.
QUINCAS BORBA (interrompe, indignado): Você sabe que não era bem
assim, Brás. Lembra-se daquela vez que você me desprezou só porque eu
morava na rua? (antes que Brás possa falar, Eugenia já interrompe a
conversa)
EUGENIA (irritada): Eu também sofri com seus desprezos, Brás. Ou você
acha que eu não percebi que você me largou só porque eu sou coxa? Além
de arrogante, você é covarde.
BRAS FANTASMA (tentando se defender): Você acha que eu não sei como
é ser largado? Minha primeira paixão só me amou pelo dinheiro e também me
deixou.
MARCELA (revoltada): Não se justifica um erro com outro, Brás. Eu me
arrependi depois, já você cometeu esse mesmo erro, causando o sofrimento
de outras pessoas. (o fantasma tenta se justificar, mas Lobo Neves
interrompe)
LOBO NEVES (furioso): É isso mesmo, não venha se pagar de coitadinho,
ou vai ignorar o fato de que você fingia ser meu amigo, enquanto mantinha
um relacionamento com Virgília, minha amada esposa!
BRÁS FANTASMA (ríspido): O que eu tinha com Virgília era verdadeiro e
você nunca será capaz de entender, porque ela nunca te amou de verdade.
Diga Vigília, diga o quanto você me amou.
VIRGÍLIA (se aproximando de Lobo Neves, responde a Brás; tom
melancólico): Eu te amei, Brásinho, te amei como nunca amei ninguém, mas
você sempre me pressionou para fugirmos, e eu não podia simplesmente
abandonar tudo. Você não aceitou isso muito bem e toda aquela paixão foi
desaparecendo. Você precisa assumir os seus erros não só comigo, mas com
todos aqueles ao seu redor, e parar de querer se esconder atrás de mentiras.
(o fantasma fica sem palavras, atônito)
OUTRO BRAS (em tom provocativo): Você já pode pedir perdão a todos,
Brás. Eu avisei que essas suas farsas iam cair uma hora ou outra.
QUINCAS BORBA: Vamos, Brás, peça desculpas.
VIRGÍLIA: Você sabe o que o certo a se fazer.
(todos começam a falar na mesma hora e ir em direção ao fantasma,
apontando o dedo para ele)
TODOS (aumentando o tom de voz): Peça desculpas, chega de mentiras!
(AS MULHERES FALAM: Você é um covarde, sempre nos enganou)
(OS HOMENS FALAM: Você precisa pagar pelo que fez)
BRÁS FANTASMA (gritando rudemente): CALEM A BOCA!

(As luzes se apagam e todos saem de cena)


(Quando as luzes se acendem, Brás Fantasma está sentado na poltrona,
com as mãos no rosto, arrependido)

BRÁS FANTASMA (com enorme remorso): A verdade, meus amigos, é que


eu estava tentando me enganar esse tempo todo, não alcancei a celebridade,
não fui ministro, não conheci o casamento, mas pelo menos não precisei
comprar o pão com o suor do meu rosto. Para completar, não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
(O fantasma sai cabisbaixo e a luz continua focada na poltrona)
(A cortina vai fechando)
FIM.

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