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- Louis Althusser
“Étienne Balibar
Roger Establet
VOLUMEI! * | ZAHAR
Z
o
E
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Índice
O Objeto
de O Capital
I. Advertência
vezes, militantes
1 Por diversas razões muito profundas, foram de fato, no mais das
ler e compreender
e dirigentes políticos que, sem serem filósofos de ofício, souberam
disso: sua com-
O Capital como filósofos. Lênin é o mais extraordinário exemplo
uma pro-
preensão filosófica de O Capital dá às suas análises econômicas e políticas
que temos de Lênin,
fundidade, um rigor e uma acuidade incomparáveis. Na imagem
o grande dirigente político oculta não raro o homem que se dedicou ao estudo pacien-
que deve-
te, minucioso e aprofundado das grandes obras de Marx. Não é por acaso"
que preced eram a Re-
mos aos primeiros anos de atividade pública de Lênin (os anos
sas da teo-
volução de 1905) tantos textos agudos dedicados às questões mais espinho
ria de O Capital. Dez anos de estudo € meditação de O Capital deram-lhe essa forma-
2) a mais-valia
mid
Digitalizado com CamScanner
O OBJETO DE “O CAPITAL” 19
e =
nio Marx teria apenas celebrado essa união feliz que, como toda fe-
licidade, não tem história, Para nossa infelicidade, sabemos porém
que permanece uma “pequenina” dificuldade: a história da “recon-
versão” dessa dialética, que se impõe “recolocar sobre os pés" para
que ela ande afinal na terra firme do: materialismo.
No caso ainda, não evoco as facilidades de uma interpretação
esquemática, que sem dúvida tem títulos: políticos e históricos, pelo
prazer de tomar distâncias. Essa hipótese da continuidade de objeto
entre a economia clássica e Marx não pertence só aos adversários de
Marx, nem mesmo a alguns de seus partidários: ela surge silenciosa-
mente, em muitas ocasiões, do próprio discurso explícito de Marx,
ou antes, nasce de certo silêncio de Marx que duplica, despercebido,
o seu próprio discurso explícito. Em certos momentos, em certos lu-
gares sintomáticos, esse silêncio surge em pessoa no discurso e o
obriga a produzir malgrado seu, em curtos lampejos claros, invisí-
veis na luz da demonstração, verdadeiros lapsos teóricos: certa pala-
vra que fica no ar, embora pareça inserida na necessidade do pensa-
mento, certo juízo que fecha irremediavelmente, com uma falsa evi-
dência, o próprio espaço que ele parece abrir diante da razão. Uma
simples leitura literal não vê nos argumentos a não ser a continuida-
de do texto. É preciso uma leitura “sintoma para tornar essas lacu-
nas perceptíveis, e para identificar, sob as palavras enunciadas, o
discurso do silêncio que, emergindo no discurso verbal, provoca
nele esses brancos, que são as folhas do rigor, ou os limites extremos
de seu esforço; sua ausência, uma vez atingidos esses limites, no es-
Paço que, não obstante, ele abre.
Darei dois exemplos disso: a concepção de Marx das abstrações
que sustentam o processo da prática teórica, e o tipo de censura que
ele dirige aos economistas clássicos,
+ de um processo de abstração
prévia, sob re o qual ele silencia:
as categorias abstratas poderã o então * “refletir” categorias reais, o
abstrato real que habita Os fen
ômenos empíricos do mundo econó-
mico como a abstração
da sua individualidade. Ainda é possivel ou-
tra formulação da ques tão:
economistas) lá estão a final, as categorias abstratas do início (as dos
e produziram conhecimentos “concre-
tos”, mas não se vê em
que sejam transformadas; parece mesmo que
não tinham de se trans
formar, porque existiam já, desde o início,
numa forma adequad
a a seu objeto, tal como o “'concreto-de-
Pensamento” — que o trabalho científi
co irá produzir - possa apare-
cer como sua concretizaçã o pura e simples, pura e simples autocom-
Plicação, pura e simples autocomposição tida implicitamen
Sua autoconcretização, É desse modo que um silê te por
der-se num discurso explícito ou implícit ncio pode esten-
que Marx nos dá contin
o. Tod a a descrição teórica
ua formal, dado que não questiona à pature
za dessas abstrações iniciais, nem o
problema da adequação a
objeto, em suma, o objeto a que elas
mente, ele não questiona a transformse referem; dado que, correit
ação dessas categorias abstr a
Que não haja equivoco sobre o sentido desse silêncio. Ele faz parte de um discurso
4
determinado, que não tinha por objeto expor os princípios da filosofia marxista, da
teoria da história da produção de conhecimentos, mas determinar as regras de méto-
do, indispensáveis para o tratamento da Economia Política, Marx situava-se, pois, no
seio de um saber já constituído, sem se propor o problema da sua produção. Essa a ra-
zão pela qual ele pode, nos limites desse texto, tratar as “boas abstrações” de Smith e
Ricardo como correspondendo a certo real, e silenciar sobre as condições extraordi-
nariamente complexas que provocaram o nascimento da Economia Política clássica:
pod € deixar em suspenso a questão de saber por que processo pôde ser produzido o
campo da problemática clássica em que o objeto da Economia Política clássica se pô-
de constituir como objeto que dava, em seu conhecimento, certo domínio sobre o
real, embora ainda dominado pela ideologia, É uma exigência para nós que esse texto
metodológico nos leve ao próprio limiar dessa exigência de constituir essa teoria da
Produção dos conhecimentos que coincide com a filosofia marxista; mas é também
uma exigência que devemos a Marx desde que estejumos atentos ao mesmo tempo ao
incabamento teórico desse texto (seu silêncio nesse ponto preciso)
e ao alcance filosó-
fico de sua nova teoria da história (em particular ao que ela nos obriga a pensar: à ar-
ticulação da prática ideológica e da prática científica com as demais práticas, ea his-
tória orgânica e diferencial dessas práticas). Em suma, podemos tratar esse silêncio
nesse texto de dois modos: ou tomando-o como um silêncio evidente por si, porque
tem por conteúdo a teoria da abstração impirista dominante; ou tratando-o como um
limite e problema, Como limite: o ponto extremo a que Marx conduz seu pensamen-
to; mas então, esse limite, longe de nos lançar de novo no campo da filosofia empiris-
ta, abre-nos um campo novo. Como problema: qual é precisamente a natureza desse
campo novo? Temos a nosso dispor agora suficientes estudos de história do saber,
para suspeitar que temos de procurar em vias diferentes dos itinerários do empiris-
mo. Mas nessa procura decisiva, o próprio Marx nos dá princípios fundamentais (a
estruturação e a articulação das diferentes práticas). É através disso que se percebe a
diferença existente entre o tratamento ideológico de um silêncio e de um vazio teóri-
co, € seu tratamento científico; o primeiro tratamento coloca-nos diante de uma clau-
sura ideológica; o segundo diante de uma abertura científica. Com isso podemos ver
imediatamente um exemplo rigoroso da ameaça ideológica que pesa sobre todo tra-
balho científico: a ideologia não apenas espreita a ciência a cada ponto onde falha o
seu rigor como também no ponto extremo em que uma pesquisa atual atinge seus li-
mítes, Nisso, precisamente, é que pode intervir, no próprio nível da vida da ciência, à
atividade filosófica: como a vigilância teórica que protege a abertura da ciência con-
tra a clausura da ideologia, sob a condição, é claro, de não se contentar com o falar
de abertura e fechamento em geral, mas das estruturas típicas, historicamente determi-
nadas, dessa abertura e desse fechamento. Em Materialismo e Empirocriticismo, Lênin
não cessa de lembrar essa existência absolutamente funda
mental, que constitui a fun-
ção específica da filosofia marxista,
ca por sua vez um problema teórico, porque tal como é tomado e re-
cebido, é um conceito não-criticado, e que, como todos os conceitos
“evidentes”, corre o risco de não ter por qualquer conteúdo teórico
senão a função que lhe atribui a ideologia existente ou dominante. É
fazer intervir como solução teórica um conceito cujos títulos não se
examinaram, e que, em vez de ser uma solução, constitui na verdade
um problema. É considerar que se pode tomar a Hegel ou à prátic-.
empirista dos historiadores esse conceito de história e introduzi-lo
em Marx sem qualquer dificuldade de princípio, isto é, sem se pro-
por a questão critica prévia de saber qual é o conteúdo efetivo de um
conceito que se “junte” assim, ingenuamente, como se fosse eviden-
te, ao passo que se impunha, pelo contrário, e antes de tudo, indagar
qual deve ser o conteúdo do conceito de história que a problemática
de Marx exige e impõe.
Sem me antecipar ao que se segue, gostaria de esclarecer algu-
mas questões de principio. Tomarei como contra-exemplo pertinen-
te (logo veremos por que essa pertinência), a concepção hegeliana de
história, o conceito hegelianq do tempo histórico, em que se reflete
para Hegel a essência do histórico como tal.
nuo do tempo, Hegel nada mais fez quanto a isso do que pensar em
sua problemática teórica própria o problema fundamental da práti-
ca dos historiadores, aquele que Voltaire exprimia ao distinguir, por
exemplo, o século de Luís XV do século de Luís XIV; € ainda o
problema principal da historiografia moderna,
lativo” (Feuerbach).
Já se disse que a filosofia hegeliana era um “empirismo especu
função da estrutura do todo que estudam, não indagam sob uma for-
ma verdadeiramente conceptual: constatam simplesmente que há di-
ferentes tempos na história, variedades de tempo, tempos curtos,
durações médias e longas durações, e se contentam com o notar suas
interferências como produtos do seu encontro: não relacionam,
“pois, essas variedades, como variações na estrutura do todo que, no
entanto, rege diretamente a produção dessas variações; são antes
tentados a relacionar essas variedades - como variantes mensuráveis
pela duração - ao tempo comum, ao tempo ideológico contínuo
de
que falamos. O contra-exemplo de Hegel é, pois, pertinente, porque
representativo das ilusões ideológicas toscas da prática corrente e da
prática dos historiadores, não apenas daqueles que não propõem
questões, mas inclusive daqueles que propõem questões, dado que
essas questões estão em geral relacionadas não com a questão funda-
mental do conceito de história, mas com a concepção ideológica do
tempo.
dos membros
Tudo está aí; essa coexistência, essa articulação
entre si, não po-
do “ sistema social”, o apoio mútuo das relações
sucessão, do tem-
dem ser pensados na “lógica do movimento, da
, como demons-
po”, Se tivermos presente no espírito que a “lógica”
abstração do “movi-
trou Marx em Miséria da Filosofia, é tão-só a
em pessoa, como a
mento'* e do “tempo”, que são aqui invocados
preciso
origem da mistificação proudhoniana, concebe-se que seja utura
lugar a estr
inverter a ordem da reflexão, e pensar em primeiro s-
específica da totalidade para compreender tanto a forma da coexi
rtante: a €s-
Com isso fica esclarecida uma nova questão impo
um todo orgânico
trutura do todo é articulada como à estrutura.de
bros e relações no todo está
hierarquizado. A coexistência dos mem
nte, que introduz certa or-
sujeita à ordem de uma estrutura domina
ng) dos membros e das rela-
dem específica na articulação (Gliederu
ções:
e as
é uma produção determinada,
Em todas as formas d e sociedade, ões
ibuem a todas as demais produç
relações engendradas por ela, que atr e a sua importância (In-
e às relaçõesengendradas por es tas a sua posição
trodução, p. 170.)
erv amo s aqu i uma que stã o fun damental: essa dominância
Obs minação de
de certa estrutura de que Marx nos oferece ilustração (do
a produção industrial sobre a
uma forma de produção, por exemplo,
e reduzir-se ao primado de
produção mercantil simples, etc.) não podelementos com à estrutura
um centro, tanto quanto a relação dos a da essência interior a seus
não pode reduzir-se à unidade expressiv eficá-
s, Ess a hie rar qui a rep res enta apenas à hierarquia da o so-
fenôme no
entre os diferente
cia existente cada s “níveis” ou instâncias do tod
a hie-
cial, Como um dos níveis é por sua vez estruturado, ess
quia, o grau € índice de eficácia
rarquia representa portanto a hierar presentes No todo: €
existentes entre os diferentes níveis estruturados
sobre estrutu-
a hierarquia da eficácia de uma estrutura dominante
ras subordinadas e seus elementos, Em outro trabalho mostrei que,
de uma estrutura sobre as
RA er, sOncadiaa, essa “dominância”remetia ao princípio da deter-
minação “er nes ge bm conjuntura
rein q La hs ncia das estruturas não-econômicas pela
cia" era a condição ao 168 determinação em última instân-
dos
8 Necenticdaço e da inteligibilidade
deslocamentos das nTn Horatauia da eficácia, ou do deslo-
camento da “dominância” na
últi e os níveis estruturados do todo; que
só essa “determinação em última instância” permitia escapar ao re-
dade e à inevitabili-
Esse princípio é que fund amenta a possibili pectivamente à
dem res
dade de histórias diferentes q ue correspon
nos autoriza à falar de
cada um desses “níveis”. Esse princípio é que que das ideologias, de uma
história
uma história das religiões, de uma
ória da arte, de uma história das
história da filosofia, de uma hist
mas, pelo contrário, nos Impon-
ciências, sem jamais nos dispensar,
ncia relativa de cada uma des-
do-a obrigação de pensar a independê
hist ória s na dep end ênc ia esp ecí fica que articula os diferentes
sas se
al. Esta a razão pela qual,
níveis uns com os outros no todo soci
s histórias diferentes, que são ape
temos o direito de constituir essa
poderíamos contentar com O
nas histórias diferenciais, não nos toriadores de nos-
constatar - como o fazem não raro os melhores his
rela-
sa época - a existência do tempo e de ritmos diferentes, sem os
cionar com o conceito de sua diferença, isto é, com à dependência
-
típica que os fundamenta na articulação dos níveis do todo. Portan
o fazem alguns historiadores mod,ern€ os,
to, não basta dizer, comoerente que
que há periodizações dif s segundo os diferentes termos
os, outros longos, impõe-se
cada tempo possui seus ritmos, uns lent nças de ritmos e de escan-
pensar esses diferentes ritmos, essas difere
de deslocamento €
do, em seus fundamentos, no tipo de articulação, s
ess es dif ere nte s tempos entre si. Digamo tar
db a Dad ni s além, que não nos devemos con ten
com o refletir Rj A mai áveis,h
exi : veis € mensur
stência de tempos visí
io, absolutamente necessário, propor a questão
qu : ,
mas
da E do , por
ência de tempos invisíveis, ritmos e escansões invist-
| Para atender a essa exigência, temos uma vez mais que purificar
nosso conceito de teoria da história, de modo radical, de toda conta-
minação pelas evidências da história empírica, pois sabemos que
essa “história empírica” nada mais é que o aspecto desnudo da ideo-
logia empirista da história. Devemos, contra essa tentação empirista
dos.
cujo peso é imenso - e que no entanto não é sentido pelo comum
pe-
homens, e inclusive por certos historiadores, como não é sentido
los homens deste planeta o peso da enorme camada atmosférica que
“os esmaga -, ver e compreender claramente, sem qualquer equi-
pode ser empírico, Isto
voco, quê o conceito de história não mais
é, histórico no sentido vulgar, que, como já dizia Spinoza, 0 conceito
à
de cão não pode ladrar. Devemos conceber do modo mais rigoroso
en-
necessidade absoluta de libertar a teoria da história de qualquer
volvimento com a temporalidade “empírica”, com à concepção
ideológica do tempo que a sustenta e encobre, com essa noção ideo-
suD-
lógica de que a teoria da história possa, enquanto teoria, estar
metida às determinações “'concretas” do “tempo histórico”, sob O
pretexto de que esse “tempo histórico” constituiria seu objeto.
Não devemos alimentar ilusão sobre a força incrível desse pre-
constitui O estofo do
conceito, que a todos nós domina ainda, e quea confundir o objeto do
historicismo contemporâneo, e que nos levaria
en-
conhecimento com o objeto real, afetando o objeto de conhecim
de que ele € conheci-
“to das “qualidades” próprias do objeto real
mento, O conhecimento da história não é histórico, tanto quanto
esse
não é açucarado o conhecimento do açúcar. Mas antesseráqueneces
sem dúvida
princípio singelo “penetre” nas consciências,
Sária uma “história” inteira, Contentemo-nos por ora com O escla-
recimento de alguns pontos. Cairíamo s, com efeito, na ideologia do
sse-
tempo contínuo-homogênco-contemporâneo a si, caso relacioná
mos a esse único e mesmo tempo as diferentes temporalidades há
onio PprANonadas, como outras tantas descontinuidades = no
sobrevivências ana pensássemos então como atrasos € ade
nesse tempo deu esigualdades de desenvolvimento parçor, ins-
tituindo, de nen ima, a despeito de nossas recusas, sta ram pr
mediríamos essas o tempo de referência, na continuida e do 1
esigualdades. Muito pelo contrário, temos de
€ unica-
considerar essas diferenças de estruturas temporais como,
dos diferentes
mente como, índices objetivos do modo de articulação
conjunto do todo.
elementos ou diferentes estruturas na estrutura de
r na história esse
Isso equivale a dizer que, se não podemos efetua
“corte de essência”, há de ser na unidade específica da estrutura
ito desses pretensos
complexa do todo que devemos pensar O conce
de desenvolvimento
atrasos, avanços, sobrevivências, desigualdades nte da
nte histórico real: o prese
que co-existem na estrutura do prese tem,
nciais não
difere
conjuntura. Falar de tipos de historicidade em que pu-
pois, sentido algum em referência a um tempo de base
os.
dessem ser medidos esses atrasos e avanç
r que O sentido último da
Por outro lado, isso equivale a dize
do avanço, etc. deve ser procurado
linguagem metafórica do atraso,
rut ura do todo , no luga r pró pri o deste ou daquele elemento,
na est plexidade do todo.
al na com
peculiar a determinado nível estrutur rencial é, pois, ter absoluta
dife
Falar de temporalidade histórica em sua articulação própria, a
de situ ar o luga r, e pens ar,
obrigação
de cert o ele men to ou de cert o nível na configuração atual do
função
articulação desse elemento em fun-
todo; é determinar a relação de a em função das demais es-
utur
ção dos demais elementos, dessa estr o que veio a ser chamado de
sua
; é ser obr iga do a defi nir
truturas
ou sub det erm ina ção , em função da estrutura de
sobredetermi naç ão outra
ção do todo ; é ter a obrigação de definir o que em
determ ina ce de
de índice de determinação, índi
linguagem poderíamos chamar men to ou à estrutura em que o,
stã
estã o dot ado s o ele
eficácia de. que do todo. Por índice de eficácia
na est rut ura de con jun to
atualmente os domi-
s ent end er o cará ter de determinação mais OU men
podemo os “parado-
tanto, sempre mais OU men
nante ou subordinado, por dados no mecanismo atual
do to-
ele men to ou estr utur a
xal”, de um ia da conjuntura, indispensáve
l à
nad a mai s é do que a teor
do. E isso
teoria da história
a int enç ão ap ro fu nd ar essa análise, que está quase
Não é mi nh r duas conclusões
toda por ser elabor ada. Vou limitar-me à extrai cro-
princípios: uma , ref ere nte aos conceitos de sincronia e dia
desses to de história,
ao concei
nia e, a outra, referente é claro que o par
dissemos tem um sentido objetivo,
1º Se o que
-di acr oni a é O lug ar de um desconhecimento, pois a tomá-
sincronia já que
por con hec ime nto fic a-s e no vazio epistemológico, isto é, -
Jo
no pleno ideológico, precisamente
a ideologia tem medo do vazio - tempo seria
de uma história cujo
no cerne da concepção ideológicaâneo
contínuo-homogêneo-contempor a si, Se essa concepção ideo-
aparece o par. En-
lógica da história e de seu objeto cai, também des
ção
tretanto, uma coisa dele permanece: o que é visado pela opera
, precisa-
epistemológica de que esse par é a reflexão inconsciente
despojada de
mente essa operação epistemológica em si, uma vez
nada tem a
sua referência ideológica. O que é visado pela sincronia
mas, pelo
ver com a presença temporal do objeto como objeto real, ou-
e a presença de
contrário, tem a ver com outro tipo de presença,
to, não o tempo
tro objeto: não a presença temporal do objeto concre
mas a presença
histórico da presença histórica do objeto histórico,
a análise teórica,
(ou o “tempo”) do objeto de conhecimento da própri
rônico é tão-só a
a presença do conhecimento. Por conseguinte, o sinc
os diferentes ele-
concepção das relações específicas existentes entre
do todo; é o conheci-
mentos € as diferentes estruturas da estrutura mam
que a transfor
mento das relações de dependência e articulação no sen-
num todo orgâ nico, num sistema. O sincrônico é a eternidade
de sua complexidade.
tido spinozista, ou conhecimento adequado rica con-
sucessão histó
precisamente isso o que Marx distingue da
creto-real, ao perguntar:
a apenas do movimento, da
Com efeito, como é que a fórmula lógic
corpo da sociedade, no qual todas
sucessão, do tempo, poderia explicar o
ltaneamente .e se sustentam mu-
as relações econômicas coexistem simu
tuamente? (Misêre de la Philosophie, p. 120.)
=
1 Cf.t, |, cap. 1, parágrafo 13, críti ca do empi rism o la-
mal-entendido, que essa
* Acrescento, para evitar qualquer ardo de “dia crôn ico” ,
corrente do conceito bast
tente que frequenta hoje o emprego ricas . Por exem plo, a
das transformações histó
não atinge evidentemente a realidade essa real idad e (o
a outro. Se quisermos designar
passagem de um modo de produção remos
as) como sendo a “diacronia”, não esta
fato da transformação real das estrutur estát ico) ou,
histórico (que jamais é puramente
com isso designando senão o próprio el. Mas
o que se transforma de modo visív
por uma distinção interior ao histórico, (“o
transformações, não mais se está no real
quando se quer pensar O conceito dessas aca-
que atua à dialética epistemológica que
diacrônico”), mas no conhecimento, em conc eito , € O “des envo lvi-
real em si: o
bamos de expor, a propósito do “diacrônico” se mais adiante o texto de Balibar.
to a isso, veja-
mento das suas formas”, Quan
em camas.
o
*
+ Vs .
Althusser adverte, no início deste livro, sobre O caráter de in
Esta referência
do a Plekhanov exemplifica |
plifica isso. acaban
idamento da obra,
sobrea História (Editorial Presença, Lisboa 1970 pio poderá verificar em Reflexões
Mme Pompadour dentro de um contexto boi 1355.) que Plekhanov alude a
ter minado de condições
e a
. -
sociais único
ga que é possívela influência de indivíduos. Critica, isto sim, Sainte-Beuve, por bus-
explicações históricas em fatos de alcova, (N. do T.)
cientes”, quer dizer, o conceito é por naturezh fulho e truz essa falha
inscrita na sua própria natureza de conceito: € q consciência desse
pecado original que lhe faz ubdicar de qualquer pretensão de defintr
o real, que se “define” a si mesmo na produção histórica das formas
de sua gênese, Partindo disso, se propusermos u questão do estatuto
da definição, isto é, do conceito, seremos obrigados a conferir-lhe
um papel bem diverso da sua pretensão teórica: um papel “prático”,
bem próprio para “o uso corrente”, um papel de designação geral,
sem qualquer função teórica, Paradoxalmente, vale notar que En-
gels, que começou por cruzar os termos implicados na sua questão,
chega, como conclusão, a uma definição cujo sentido lhe é também
cruzado, isto é, deslocado em relação ao objeto que ele visa, dado
que nessa definição puramente prática (corrente) do papel de con-
ceito científico, ele nos dá de fato com que nutrir uma teoria de uma
das funções do conceito ideológico: a função de alusão e de indica-
dor práticos.
Eis a que ponto leva o desconhecimento da distinção funda-
i-
mental que Marx nitidamente assinalara entre o objeto do conhec
das formas” do
mento e o objeto real, entre o “desenvolvimento
rias reais
conceito no conhecimento e o desenvolvimento das catego e à
conhecimento
na história concreta: a uma ideologia empirista do
O Capital. Não sur-
identificação do lógico e do histórico no próprio depen-
questão
preende que tantos intérpretes girem em círculos na probl emas refe-
s dessa identificação, se é verdade que todos os
dente
Capital pressupõem,
rentes à relação do lógico com o histórico em O
relação como correspon-
uma relação que não existe. Imagine-se essa
constantes nes-
dência biunívoca direta dos termos das duas ordens
história real), imagi-
ses dois desenvolvimentos (o do conceito, o de dos termos
inversa
ne-se essa mesma relação como correspondência
o fundo da tese de Della
das duas ordens de desenvolvimento (este é hipóte-
saímos da
Volpe e de Pietranera que Ranciêre analisa), e não erro po-
se de uma relaçã o onde não existe relação alguma. Desse
ramente prática: as
dem-se tirar duas conclusões, A primeira é intei
ema são graves, na
dificuldades encontradas na solução desse probl
resolver um
verdade insuperáveis; se já nem sempre é possível
se há
roblema existente, pode-se estar certo de que de modo algum
de resolver um problema que não existe." A segunda conclusão é
" Devemos a Kant poder suspeitar que problemas que não existem possam ensejar
prodigiosos esforços teóricos e a produção mais ou menos rigorosa de soluções tão
fantasmagóricas quanto seu objeto, pois a filosofia de Kunt pode em grande parte ser
concebida como a teoria da possibilidade da existência de “ciências” sem objeto (me-
tafísica, cosmologia, psicologia racional). Se não se tiver ânimo de ler Kant, pode-se
AI A mm
Até que seja feito o estudo científico das condições que produ-
ziram a primeira forma “esquerdista” desse humanismo e desse his-
toricismo, estamos aptos a identificar o que, em Marx, podia autori-
zar então essa interpretação e o que não deixa, evidentemente, de
Justificar sua forma recente aos olhos dos leitores atuais de Marx.
“Não nos espantaremos ao descobrir que as mesmas ambigiidades
de formulação que nutriram uma leitura mecanicista e evolucionista,
autorizaram igualmente uma leitura historicista: Lênin nos deu mui-
tos exemplos do fundamento teórico comum do oportunismo e do
esquerdismo, para que esse encontro paradoxal não nos embarace.
Menciono ambigiiidades de formulações. No caso ainda, esco-
ramo-nos numa realidade cujos efeitos já avaliamos: Marx, que ca-
balmente produziu em sua obra a distinção que o separa de seus pre-
decessores, não pensou - e este é o destino comum de todos os cria-
dores - com toda a nitidez desejável o conceito dessa distinção; Marx
não pensou teoricamente, sob forma adequada e desenvolvida, o
conceito e as implicações teóricas do seu esforço teoricamente revo-
lucionário. Ora, ele o pensou, na melhor das hipóteses, nos concei-
tos em parte tomados a outros, e sobretudo nos conceitos hegelianos
- O que introduz um efeito de deslocamento entre o campo semânti-
co original em que são colhidos esses conceitos, e o campo dos obje-
tos conceptuais aos quais são aplicados; ora, ele pensou essa diferen-
ça por si mesma, mas parcialmente, ou no esboço de uma indicação,
na procura obstinada de equivalentes, '' mas sem chegar de todo a
enunciar na adequação de um conceito o sentido original rigoroso
do que produzia. Esse deslocamento, que só pode ser revelado e re-
duzido mediante uma leitura crítica, faz objetivamente parte do pró-
prio texto do discurso de Marx. *
“Gramsci; “Não, as forças mecânicas nunca levam a melhor na história: são os ho-
mens, são a consciência e o espírito que modelam o aspecto exterior é acabam sempre
por triunfar... contra a lei natural, contra o curso fatal das coisas impôs-se a vontade
tenaz do homem”, (Texto publicado em Rinacitá, 1957, pp. 149-158. Citado por Ma-
rio Tronti no Siudi Gramsciant, Editori Riuniti, 1959, p. 306.)
Sob esse aspecto, seria necessário dedicar um estudo completo às suas metáforas
típicas, à sua proliferação em torno de um centro que elas têm por missão cercar, não
podendo chamá-lo pelo seu nome próprio, o de seu conceito,
* Esse deslocamento e sua necessidade não são peculiares de Marx, mas de todo es-
forço de fundação cientifica e de toda produção científica em geral: seu estudo exige
uma teoria da história da produção dos conhecimentos é uma história do teórico,
cuja necessidade sentimos ainda aqui.
ele formulara. " O mesmo vale para todos os demais grandes criado-
res da economia politica clássica. Os mercantilistas nada mais fize-
ram do que refletir o seu próprio presente, fazendo a teoria monetá-
ria da política monetária do seu tempo. Os fisiocratas apenas refleti-
ram o seu próprio presente, esboçando uma teoria genial da mais-
valia, mas da mais-valia natural, a do trabalho agrícola, em que se
podia ver o trigo crescer e o excedente não-consumido de um traba-
lhador agrícola produtor de trigo passar aos celeiros do fazendeiro:
assim fazendo, eles nada mais enunciavam do que a própria essência
do seu presente, o desenvolvimento do capitalismo agrário nas planí-
cies férteis da Bacia Parisiense, que Marx enumera: * a Normandia,
a Picardia, a lle-de-France (Anti-Diiring, Ed Soc., cap. X, p. 283).
Também os fisiocratas não puderam passar além da sua época; só
chegaram a conhecimentos na medida em que a época lhes oferecia
numa forma visível e os produzira para a sua consciência: descre-
viam, em suma, o que viam. Terão Smith e Ricardo ido além, e terão
descrito o que não viam? Passaram além de sua época? Não. Se che-
garam a uma ciência que foi coisa diferente da simples consciência
do seu presente é que a consciência deles continha a verdadeira au-
tocrítica daquele presente. Como foi possível então aquela autocriti-
ca? Na lógica dessa interpretação, hegeliana em seu princípio, so-
mos tentados a dizer: atingiram na consciência de sua época presen-
te a própria ciência, porque essa consciência era, como consciência,
o
a sua própria autocrítica, e portanto ciência de si.
Em outras palavras: a característica de seu presente vivo € ViVI-
do, que o distingue de todos os demais presentes (do passado)é que,
de
pela primeira vez, esse presente produzia em si sua própria crítica
a clén-
sí, que ele possuía, pois, esse privilégio histórico de produzir
cia de si na própria forma da consciência de si. Mas ele traz um NO
me: é o presente do saber absoluto, em que consciência e ciência S€
identificam, e onde a verdade pode ser lida em livro aberto nos fenô-
menos, se não diretamente, pelo menos com pouco esforço, dado
que nos fenômenos estão realmente presentes, na existência empiri-
ca real, as abstrações em que repousa toda a ciência histórico-social
considerada, |
haver falado
O segredo da expressão do valor - diz Marx logo após
ia de todos os trabalhos devi-
de Aristóteles -, a igualdade e a equivalêncho
do a serem, e na medida em que são trabal humano, só podem ser deci-
E]
Não é falso, sem dúvida; mas quando relacionamos essa limitação diretamente
'
à
“história” no caso ainda, de invocar à
simplesmente o t
conceitoo (deo-
ideo
ó stória”, corremos o risco,
ógico de história,
Engels, juntamente com “outras províncias francesas”, No CO
*
iraro meração é de
que faz do Quadro de Quesnay. (N. do T.)
Ou ainda:
de-
... é preciso que o mundo da mercadoria se tenha completamente e
esta verdad
senvolvido antes que, da própria experiência se extraia
temente uns
científica: que os trabalhos privados, executados independen
do sistema social
dos outros, embora se entrelacem como ramificações
reduzidos à sua
espontâneo da divisão do trabalho, são constantemente
medida social proporcional...
(O Capital, 1, 87.)
enquanto
A descoberta científica... de que os produtos do trabalho,
s do trabal ho human o gasto na sua
valores, são a expressão pura e simple ...
mento da human idade
produção assinala uma época no desenvolvi
(O Capital, 1, 86.)
cismo absoluto”?
ad
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O OBJETO DE “O CAPITAL" N
15 “Se nos ativermos à definição que B. Croce oferece da religião, caso de uma con-
vida, e se essa norma de vida não
cepção do mundo que se transforme em norma de
ada na vida prática, os homens em
for tomada no sentido livresco, mas norma realiz
camente e em que em suas ações
maioria são filósofos, na medida em que agem prati
práticas... está implicitamente contida A concepção do mundo, uma filosofia.
1 Materialismo Storico, p. 21.
pção do mun-
ora porém, coloca-se o problema fundamental de toda conce
o” e “fé”, caso que
do, de toda filosofia que se tornou movimento cultural, “religiãcontida nesta última
produziu uma atividade prática e uma vontad e, e que se acha
íamos dizer, se ao termo
como premissa teórica implícita (uma “ideologia + poder
o de uma conce pção do mundo, que
ideologia se der justamente o sentido mais elevad
econômica, em todas as
se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade
manifestações da vida individual e coleti va),
de ideoló-
“Em outros termos, o problema que se coloca é o de conservar a unida
essa ideolo gia...”
gica no bloco social, que é cimentado e unificado precisamente por | a
(Ibidem, p. 7.)
Ter-se-á observado que a concepção de uma ideologia que se manifesta “implici-
tamente” na arte, no direito, na atividade econômica, “todas as manifestações da
vida individual e coletiva” está muito próxima da concepção hegeliana,
ntem a “hegemonia”
“intelectual coletivo” !* (o Partido), que gara
cepção do mundo”
de uma classe dominante impondo a sua “con
todos os homens: €
(ou ideologia orgânica) na vida quotidiana de
iavélico cuja herança
entender sua interpretação de O Príncipe maqu
o em condições novas,
é retomada pelo partido comunista modern
exprime essa necessidade,
etc. Em todos esses casos, Gramsci apenas
teoricamente inerente ao
não apenas prática, mas conscientemente,
então apenas um dos as-
marxismo. O historicismo do marxismo é
concebida, é apenas a sua
pectos e efeitos de sua própria teoria bem
a da história real deve
própria teoria coerente consigo: uma teori
o outrora O fizeram outras
também entrar na história real, com
ade quanto às grandes reli-
“concepções do mundo”. O que é verd próprio marxismo,
giões deve ser com mais forte razão quanto ao
da diferença que existe entre
não apenas a despeito mas por causa , dado
em razão da sua originalidade filosófica
ele e essas ideologias,
incluir o sentido prático de sua
que a sua originalidade consiste em
própria teoria. "
e
te
“Todos os homens são filósofos” (p, 3),
Dado que agiré sempre agir politicamente, não se poderá dizer que à filosofia real Ce
cada um está inteiramente contida em sua política?... não see pode,
a críticapois,de destaca” ds
uma concep-
Josofia da política, e pode-se mesmo mostrar que a escolha
ção do mundo são também um fato político” (p. 6).
deveria aglf
Se é verdade que toda filosofia é a expressão de uma sociec tade, ela qual
sobre a sociedade, determinar certos efeitos, positivos e negativos; à medida na
vi-
ela ape é a medida de seu alcance histórico, dado que ela não é “elucubraç do” indi
dual, mas “fato histórico” (pp. 23-24),
dia 4 Manaiidada 4 MMA com a filosofia é imanente no materialismo... A propo-
erp atirei mr as o alemão é herdeiro da filosofia clássica alemã contém pre-
car popa a do de história com filosofia"... (p. 217). Cf, as pp. 232-234.
ada aos 1 GeMASHA de “historicismo”, tomado nesse sentido, traz um nome
presiso no marniama: o problema da união da teoria com a prática, mais especlal-
p ema da união da teoria marxista com o movimento operário.
eu
ligiões ou ideologias inclusive “orgânicas” e o marxismo, que
jmanen-
" rf Por exemplo: “A filosofia da práxis decorre certamento da concordo aroma es-
tista da reali nlti
calidade, mas na medida em que esta última foi | p purificadao humanismo... não
peculativo, e reduzida à pura história ou historicidade, ou ao pur concepção
apenas a filosofia da práxis está ligada ao imanentismo, mas também sun, -à como
subjetiva da realidade, na medida mesma em que explicando
ela a inverte, como que
fato acal, dh
como “subjetividade histórica de um grupo social,
"fato histórico,
se apresenta como fenômeno de “especulação” filosófica e é simplesmente UN o con-
dade prática, a forma de um conteúdo concreto social e o modo de conduzir ico, P
moral...” (Materialismo Stortem +
oo da sociedade para se constituir uma unidade acontecimentos, tura
* Ouainda: “Be é necessário, no eterno transcurso dos
PS
eee quais a realidade não poderia ser compreendida, será preciso
Ra Maio indispensável, determinar e lembrar que à realidade em je dE
balho a rpm caglidade, se é que podem ser distinguidos logicamente, eve
e abro pea pa como unidade inseparável” (ibidem, p. 216). texto,
no segundo
' ' spread
Í hmpesdem ep ogsasai ho tão pyaantas
sta-especulativá is Ao
icismo: à gem, tidade
do conceito com q objeto real (histórico), ir a
ag
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O OBJETO DE “O CAPITAL” 75
da história huma-
ciência, e que deve tornar-se ideologia “orgânica”
ogia (uma ideo-
na, produzindo nas massas uma nova forma de ideol
s se viu) - essa
logia que repousa agora numa ciência - o que jamai
sci, e, absorvido
ruptura não é verdadeiramente refletida por Gram
cas da penetração da
que está pela exigência e pelas condições práti plano a
relega a segundo
“filosofia da práxis” na história real, ele
conseqiiências teóricas €
significação teórica dessa ruptura € suas
vezes a reunir sob um mesmo
práticas. Ele tende também frequentes
erialismo histórico) e a filo-
termo a teoria científica da história (mat
, e a pensar essa unidade
sofia marxista (materialismo dialético)
ou como “ideologia” afinal
como uma “concepção do mundo”
e inclusive a pensar à relação
comparável às antigas religiões. Tend
com o modelo da relação de
da ciência marxista com a história real
oricamente dominante e atuante)
“uma ideologia “orgânica” (hist
a pensar essa relação da teoria
com a história real; e em definitivo de
marxi sta com a histó ria real com o modelo da relação
científica
diret a que expli ca muito bem a relação de uma ideologia
o
expressã
é que reside, ao que me parece, O
orgânica com o seu tempo. Nisso de Gramsci. Nisso é que ele
stáve l do hista ricis mo
princípio conte ca problemática teórica in-
à linguagem
encontra espontaneamente
ismo”.
dispensáveis a todo “historic
dar-se um sentido teoricamente
A partir dessas premissas, pode aradas
já citei no início - porque, amp
historicista às fórmulas que elas assumem também
por todo o con texto que acabei de assinalar, o mais
em Gra msc i - e se vou agora tentar desenvolver,
esse sentido não
sam ent e pos sív el em tão bre ve espaço, suas implicações, é
rigoro dade histórica
to par a cen sur ar Gra msc i (que tem muita sensibili mas
tan essário, suas distâncias),
não tom ar, qua ndo nec
e teórica para cujo conhecimento pode tor-
para tornar vISisível uma
lógica latente g-
re en sí ve is alg uns de seu s efeitos teóricos que ficariam ent
nar comp ele inspira
no con tex to do pró pri o Gramsci ou daqueles que
mático s
ém neste caso, proponho-me a expor,
ou podem a ele aderir. Tamb sto ric ista” de certos textos de O
pós ito da lei tur a “hi
como o fiz a pro ini r menos esta ou aquela inter-
sit uaç ão- lim ite , e def
Capital, uma Colletti, Sartre e outros) do
que O
(Gr ams ci, Del la Vol pe,
pretação e que,
da pro ble mát ica teó ric a que paira sobre suas reflexões
camp o
seus conceitos, problemas ou solu-
vez por outra, surge em alguns de |
ções, to-
a esse fim , e com ess as res salvas, que não são de estilo,
Par
ago ra a fór mul a: O mar xis mo deve ser concebido como-um
marei
sto ric ism o abs olu to” com o tese sintomática, que permitirá pôr em
“hi
latente. Como entender, em nossa
evidência toda uma problemática mo é
Gramsci? Se o marxis
presente perspectiva, essa afirmação de
|
en de nt ntes
es . de Gram sci sobre a ciênci a. Materialismo Storico,
r inas su
rpre
“Cf. Cf. asas papág € iência é também uma superestrutura, uma ideologia”
re al id ad e u
54-57. "Em
li mbém
4 p. Il62,
S6) cf. ta
.
ico, p. 160.
: Materialismo Stor
24
Sobre O conceito
ei E
de mediação, cf. tomo 1, cap. |, parágrafo 18.
aid
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O OBJETO DE “O CAPITAL” 79
es
esmi s razõeses estrutu rais, O efeito inverso: em Sartre
“ Pode observar-se, pelas mesma
sta transforma-se em filosofia.
pode também dizer-se qu ea ciência da história marxi
ao estatuto de
Essa historicização da filosofia a reduz então
uma metodologia histórica: '
deira num período de-
Pensar uma afirmação filosófica como verda vel
ria, isto é, como expressão necessária e indissociá
terminado da histó
s determinada, mas ul-
de uma ação histórica determinada, de uma práxi do posterior, sem cair
perio
trapassada e “esvaziada” do seu sentido num
, o que significa conceber
no ceticismo e no relativismo moral e ideológico mental difícil... O autor
a filosofia como historicidade, é uma operação filosofia da práxis como
de
[ Bukharin ] não consegue elaborar o conceito f-
como filosofia, como a unica
“metodologia histórica”, nem esta última
consegue propor nem resolver, do ponto de
losofla concreta, isto é, não
propôs e tentou resolver do
vista da' dialética real, o problema que Croce se
ponto de vista especulativo.
13
”
Essa sub-repção
sub- ; é comum em todas as interpretações humanistas do marxismo,
o na
tempo, dado que ela nada mais é que esse mesmo tempo tomad
os homens a
captura de um reflexo especular, precisamente para que
ucionário
aceitem. É por essa razão essencial que o humanismo revol
o ideológico
dos ecos da Revolução de 17 pode servir hoje de reflex
com preocupações políticas ou teóricas variadas, umas ainda apa-
suas origens.
rentadas, € outras mais ou menos estranhas às
plo, de cau-
Esse humanismo historicista pode servir, por exem
ou pequeno-burguesa,
ção teórica a intelectuais de origem burguesa dramáticos, a
nticamente
que propõem, e às vezes em termos aute
membros ativos de uma his-
questão de saber se são de pleno direito
temem, fora deles. Eis talvez
tória que se faz, como eles O sabem ou contida na
inteiramente
a questão mais profunda de Sartre. Ela está
sofia insuperável da nossa
sua dupla tese de que o marxismo é “a filo
fi losófica vale uma hora de
época” e que nenhuma obra literária ou
gente reduzido pela exploração
dor diante do sofrimento de um indi
nessa dupla declaração de
imperialista à fome e à agonia. Tomado
por um lado, e por outro à cau-
fidelidade a uma idéia do marxismo, verdadei-
convence de que pode
sa de todos os explorados, Sartre se
das “Palavras” que ele pro-
ramente desempenhar um papel, além
a história da nossa época, por
duz é toma por derrisórias, na inuman
atribui a toda racionalidade
uma teoria da “razão dialética” que
rica ), com o a toda dial étic a (revolucionária) a peculiar origem
(teó
. O humanismo historicista àS-
transcendental do “ projeto” humano da liberdade
forma de uma exaltação
sume desse modo em Sartre a
livremente em seu combate, ele
humana em que, comprometendo-se os oprimidos, que, desde a longa
s
comunga com a liberdade de todo
avos, lutam para sempre por um
noite esquecida das revoltas de escr
pouco de luz humana, de
O mesmo humanismo, com peq uena
mudança de ênfase, po
por,
a conjuntura € as necessidades:
servir a outras causas, segundo
o prot esto cont ra os erro s € OS crimes do periodo do “culto
exemplo,
punidos, a esperança de
à personalidade”, a impaciência deta,os etc.ver Quando esses sentimentos
uma verdadeira democracia socialis
tico s que rem obte r um fun dam ento teórico, procuram-no Sem-
polí
mos conceitos: neste ou naquele
pre nos mesmos textos e nos mes
17 (e daí essas edições do
teórico surgido do grande período de pós-
ão por certas fórmulas equi-
jovem Lukács e de Korsch, e essa paix
anistas de Marx; suas obras
vocas de Gramsci), ou nos textos hum
no “hu man ism o real ”, na “alienação”, no “conere
da juventud e;
to”, na história, filosofia ou psicologia “concretas”,
1 2x
1
lapso é do sonho
caso com o do sintoma, do
Pode-se, por analogia, comparar €5S€
“plenitude do desejo”.
»w
- que para Freud é a
e um pouco antes:
Isso faz pensar nos antigos químicos antes do advento da ciência da
química: pelo fato de que a manteiga comestível, que na vida quotidiana
se chama manteiga simplesmente (segundo o costume nórdico), tem uma
consistência frouxa, eles chamaram os extratos butirosos,os cloretos,
de
manteiga de zinco, manteiga de antimônio, etc. (249).
v CIO) Capital, |, prefácio, p. 17. Marx fala da “nova terminologia criada” por ele,
Ora, eis que em 1774 Priestley produziu uma espécie de ar, que “'a-
chou tão puro ou tão isento de flogístico que, comparativamente, o ar co-
mum cera já viciado”. Chamou-o de ar desflogistizado. Pouco tempo de-
pois, Scheele produziu na Suécia a mesma espécie de ar, e demonstrou a
sua presença na atmosfera. Ademais, verificou que esse gás desaparecia
quando nele se queimava um corpo, ou queimando-se um corpo no ar
“comum; chamou-o de “ar de fogo”...
”.
o nocusto:
todo é nadaato menos
próprio que o caminho
de fundação da filosofia
fundada por
da ciência da história.
2 O mesmo acontece tanto na história do saber como na história social: nela encon-
tramos gente que “nada aprendeu nem nada esqueceu”, sobretudo se ussistiram uo
espetáculo instalados nos camarotes de primeira fila,
objeto, não raro a tal ponto diferente da antiga que se pode legitima-
mente falar de um objeto novo; = a história da matemática desde ini-
cios do século XIX até hoje, ou a história da física moderna são ricas
de mutações desse gênero. O mesmo acontece, com mais razão ainda,
quando uma ciência nova nasce - quando cla se destaca do campo da
ideologia com a qual rompe para nascer: esse “desprender-se"' teórico
provoca sempre, inevitavelmente, uma transformação revolucionária
da problemática teórica, c uma modificação igualmente radical do oh-
jeto da teoria, Neste caso, pode falar-se propriamente de revolução,
de salto qualitativo, de modificação referente à estrutura mesma do
objeto. “ O novo objeto pode:conservar ainda algum vínculo com o
antigo objeto ideológico, e podemos encontrar nele elementos que
pertenciam também ao objeto antigo: mas o sentido desses elemen-:
tos muda com a nova estrutura que precisamente lhes confere senti-
do. Essas semelhanças aparentes, referentes a elementos isolados,
podem enganar um olhar superficial que ignore a função da estrutu-
ra na constituição do sentido dos elementosde um objeto, precisa-
mente como certas semelhanças técnicas referentes a elementos iso-
lados podem iludir os intérpretes que classificam sob a mesma cate-
goria (“sociedades industriais”) estruturas diferentes como o capita-
lismo e o socialismo contemporâneos. Na verdade, essa revolução
teórica, visível na ruptura que separa uma ciência nova da ideologia
de que nasce, repercute profundamente no objeto da teoria que, por
sua vez, no mesmo momento, é o lugar de uma revolução - e torna-
se adequadamente um objeto novo. Essa mutação no objeto
pode
constituir, exatamente como a mutação na problemática correspon-
dente, objeto de um estudo epistemológico: rigoroso. E como é por
um mesmo e único movimento que se constituem tanto a nova
problemática como o objeto novo, o estudo dessa dupla mutação
nada mais é que um mesmo estudo que decorre da disciplina que re-
flete sobre a história das formas do saber e sobre o mecanismo de
sua produção: a filosofia,
cria Do, eis-nos no limiar de nossa questão: qualé É aja
Eres "a econômica fundada por Marx em O Capitai; Q de
jeto de O Capital? Que diferença específica distingue o objeto
Marx do objeto de seus predecessores?
» .
i Exemplo disso; o “objeto” de Freud é radicalmente novo em relação ao RN rr "
à ideologia psicológica
consciente, que nada tem oua ver
filosófica de seus predecessores. O objeto de Freud 60 m,
com os objetos, por mais numerosos que 5€ qua
de todas as variedades da psicologia moderna. Pode mesmo conceber-se Que à
Principal de toda disciplina nova consiste em pensar a diferença específica
do
ri
er uir
e que ela descobre, em distingui-lo rigorosamente do objeto antigo e em AA
o nCeitos
ta 1 | que iênciia necessários para pensá-lo. É nesse trabalho teórico fun
uma próprios
ciênc
nova adquire
à o direi
frei to efeti| vo à autonomia.
”
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O OBJETO DE “O CAPITAL” 107
os
b) Essa concepção empirista-positivista dos fatos econômic
aqui da “bana-
não é, porém, tão “banal” como pode parecer. Falo
espaço homogê-
lidade” do espaço plano de seus fenômenos, Se esse
to, à
neo não remete à profundeza de seu conceito, remete, no entan
teórico
certo mundo exterior a seu próprio plano e que assegura O papel
de o sustentar na existência, e de o fundar. O espaço homo gêneo dos
minad a com o:
fenômenos econômicos implica uma relação deter -
mundo dos homens que produzem, distribuem, recebem e conso
Poli:
mem, É a segunda implicação teórica do objeto du Economia e
0 é em Smith
tica, Essa implicação nem sempre étão visível quanto
pela Eco-
Ricardo; pode ficar latente e não ser diretamente tematizada À Econo-
nomia: ela nem mesmo é essencial à estrutura do objeto.
à “u-
mia Política relaciona os fatos econômicos às nec ssidades (ou
ten-
tilidade"") dos sujeitos humanos como à sua origem, Tem, pois,
dência a reduzir os valores de troca aos valores de uso e estes últi-
i-
mos (as “riquezas”, para usarmos a expressão da Economia cláss
ca) às necessidades dos homens. É: ainda a afirmação de |, Simiand
(citado por Lalande); “Em que um fenômeno é econômico? Em vez de
ico
defintr esse fenômeno pela consideração das riquezas (termo cláss
na tradição francesa, mas que não é o melhor), parece-me prefe rível
acompanhar os economistas recentes, que tomam como noção central
nd
a satisfação das necessidades materiais” (Lulande, |, 188), Simia
O conceito de Henci
"sociedade civil”,
Maria presente nos textos de maturação de Mark arx, &
con o
ca, é; “nteme nte e retoma
ambíguo Por Gramsci, para designar a esfera da existência econdmjmi-
d eve serdo retira
E
tomado não para contrapor: do do v ocabulário teórico marxi ista - à menos queAblico, e seja
3
isto é, um efei ico, masmas oo “privado
se o econômico ao político, ” ao pu
mico. “priva
feito combinado do direito e da ideologia jurídico-política sobre O € conô-
por sua vez dada. Ela, e só ela, permite de fato declarar económicos
os fenômenos grupados no espaço da Economia Política: são econô-
micos na medida em que efeitos (mais ou menos imediatos ou “me-
diatizados”) das necessidades dos sujeitos humanos, em suma, do
que faz do homem, ao lado de sua natureza racional (animal racio-
nal), loquaz (animal loquax), que ri (ridens), político (politicum), mo-
ral e religioso, um sujeito de necessidades (homo oeconomicus). É a
necessidade (do sujeito humano) que define o econômico da Econo-
mia. O dado do campo homogêneo dos fenômenos econômicos nos é
dado, pois, como econômico por essa antropologia silenciosa. Mas
então, olhando-se mais de perto, essa antropologia “que dá” é que
vem a ser, a rigor, o dado absoluto! A menos que nos remetamos à
Deus para fundamentá-la, isto é, ao Dado que se dá a si mesmo,
causa sui, o Deus-Dado. Deixemos essa questão, em que vemos bas-
tante bem que não existe nunca um dado no primeiro plano da cena
a não ser por uma ideologia doadora que se coloca por trás, à qual
não temos de pedir contas, e que nos dá o que bem entende. Se não
formos vê-la nos bastidores, não vemos o ato de seu “dom”: ela de-
saparece no dado, como todo trabalho em sua obra. Somos seus es-
pectadores, isto é, seus mendigos.
A, O Consumo
Podemos começar pelo consumo, que parece diretamente impli-
cado pela antropologia, dado que põe em causa o conceito de “ne-
cessidades”" humanas. Ora, Marx mostra, na Introdução de 57, que
TE
tongue tia
- mas não cabe faz ê-l o aqui - 0 estudo dessas
ni fasclaanto M du a
oe ele ox o Ne, nesas questão capital, se distingue do S
coemond
nça essencial - ver como ele explica 0 “« du
“cegueira”. o Açao? Eq q sua difereento” incríveis de Smith, que são a Pula ta sente à
absurdo" A ge 0» 0 “esquecim
necessidade de ma toda a economia moderna, e ver entim por qu Iv € Ro
gado ao extremo Eça quatro ou cinço vezes essa crísõe tica, como se nt y lo ponto dode
ópi ca esc obr irí amo s, ent re out ras con clu s pertinentes « a fejona
vista epistemol mente re ue
COM a consi à ao, que
Bic ds o “equívoco enorme” de Smith está diretu code peQnÔMI-
Cos consider;deração exclusiva do capitalista individual,
udos fora do| odo, como os sujeitos a plobal. “00!EMim O daOU
é portanto de co sujeitos
ú
sujeitos últimos do p
ys do processo global.
determinante
tras palavras, verÍ;
(Referências
Cobtca|, 197.218
21 0-228; Doutrinas, essenciais: ç; 75-210, V, 12
o) caplivlo, IV. |
B, A Distribuição
Tendo em vista que a distribuição apareceu como um fator es-
sencial de determinação das necessidades - ao lado da produção, ve-
Jamos o que acontece com essa nova categoria, À distribuição apre-
senta-se também sob um duplo aspecto. Ela é não só distribuição
O SS
C. A Produção
Toda produção é, segundo Marx, caracterizada por dois ele-
transfor-
mentos indissociáveis: o processo de trabalho, que explica a
delas va-
mação que o homem inflige às matérias naturais para fazer
minação das
lores de uso, é as relações sociais de produção sob a deter
quais esse processo de trabalho é executado. Examinaremos um
rela-
após outro esses dois tópicos: o processo de trabalho (a) e as
ções de produção (b).
a) O processo de trabalho
de trabalho refere-se às condições mate-
A análise do processo
riais e técnicas da produção.
dade a pro»,
O processo de trabalho... a atividade que tem por finali
s naturais às necessida-
dução de valores de uso, a apropriação dos objeto
inter câmbi o material entre o ho-
des humanas é a condição necessária do
da vida humana, inde-
“mem e a natureza, uma condição natural eterna
antes co-
pendente por isso mesmo de todas as suas formas sociais, sendo
“mum a todas as formas sociais (1, 186).
s simples que
Esse processo reduz-se à combinação de elemento
do homem, ou tra-
são em número de três: “...1) a atividade pessoal
o trabalho atua; 3)
balho propriamente dito; 2) O objeto sobre o qual
de trabalho inter-
o meio pelo. qual ele atua” (I, 181). No processo que, utili-
vém, pois, um dispêndio da força de trabalho dos homens,
rumentos de traba-
zando segundo regras (técnicas) adequadas inst ria.
(seja maté
lho determinados, transforma o objeto de trabalho
a) em produto
bruta, seja matéria já trabalhada, ou matéria-prim
útil,
inare-
Essa análise ressalta dois caracteres essenciais que exam
do proces-
mos sucessivamente: a natureza material das condições
no pro-
so de trabalho; o papel dominante dos meios de produção
cesso de trabalho,
Primeiro aspecto. Todo dispêndio produtivo da força de traba-
lho supõe para seu exercício condições materiais que se reduzem to-
das à existência da natureza, seja bruta, seja modificada pela ativi-
dade humana, Quando Marx escreve que “o trabalho é antes de
tudo um processo que se passa entre O homem e a natureza, proces-.
so no qual o homem assegura, regula e controla, por sua própria ati-
cal
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O OBJETO DE “O CAPITAL” 121
do desenvolvimen-
Os meios de trabalho são não apenas as medidas
indicadores (Anzeiger)
to da força de trabalho humano, mas também os
das relações sociais nas quais se produz...
s-
Com isso descobrimos que a unidade homem-natureza, expre
tempo € imedia-
sa pelo grau de variação dessa unidade, é ao mesmo relações sociais
tamente a unidade da relação homem-natureza e das
modo de produção con-
em que a produção se efetua, O conceito de
de.
tém, pois, o conceito da unidade dessa dupla unida
b) As relações de produção
Encontramo-nos assim diante de uma nova condição do proces-,
de produ-
so de produção, Após as condições materiais do processo
é de
a
o texto
Sobre todas essas questões, apenas esboçadas neste capítulo, veja-se
Ex)
que o ho-
cão, em que se exprime a natureza específica da relação
com a natureza, temos agora de estudar as condições
mem mantém
de produção. Es-
sociais do processo de produção: as relações sociais
ões exis-
sas novas condições referem-se ao tipo específico de relaç
tentes entre os agentes da produção em função das relações existentes
entre esses agentes de uma parte e de outra os meios materiais da
produção. Esse esclarecimento é fundamental: porque as relações
sociais de produção não são de modo algum redutíveis a simples rela-
ções entre os homens, a relações que ponham em causa apenas os ho-
mens, e portanto às variações de uma matriz universal, a intersubjetivi-
dade (reconhecimento, prestígio, luta, dominação e servidão, etc.).
As relações sociais de produção em Marx não põem em cena os ho-
mens sós, mas põem em cena, nas combinações específicas, os agen-
tes do processo de produção, e as condições materiais do processo de
produção. Insisto neste ponto, por uma razão que se une à análise que
Ranciêre fez de certas expressões de Marx, em que, numa terminolo-
gia ainda inspirada em sua filosofia antropológica de juventude, se
podia ser tentado a contrapor, literalmente, as relações dos homens
entre si às relações das coisas entre si. Ora, nas relações de produção
estão implicadas necessariamente relações entre os homens e as coi-
sas, tais que as relações dos homens entre si são definidas ali por re-
lações rigorosas existentes entre os homens e os elementos materiais
do processo de produção.
De que modo pensa Marx essas relações? Ele as pensa como
uma “distribuição” ou uma “combinação” (Verbindung). Ao falar
da distribuição, na Introdução (p. 161), escreve Marx:
vo ooo
a oo ienes da produção em grupos funcio
isso distri-
f
lações dos agentes da produção entre O no processo produtivo. As re-
si resultam então das relações
típicas que mantém com os meios
de produção (objeto, instrumen-
tos), e de sua distribuição em grupo
S determinados
funcionalmente em suas relações com os meios de pro eCRE
locali
ea
trutura da produção. pela es-
Não posso estender-me aqui na aná
li
de “combi nação”, e de suas diferentes
este ponto, à exposição de Balibar. É formas; Temeto o leitor , para
teórica do conceito de “combinação” pode dará oo à natureza
anteriormente sob forma crítica, de que o marxism alirmação, feita
ricismo: visto que O conceito marxista de história
pio da variação das formas dessa “combinação” QEapo s UM histo-
OUSa no pinci-
tir apenas sobre a natureza particular dessas rela
Soo catia de insis-
que são notáveis sob duplo aspecto, ses de Produção,
Vimos, no texto que acabo de citar, Ma
nada forma de combinação dos elementos dispor ttar que determi-
cessariamente certa forma de dominação e de sujeição inicava ne-
ISpensável
de sua épo-
não tendo jamais concebido, assim como toda a cultura
“combi-
ca, que um “fato” pode ser à existência de uma relação de
nação”, de uma relação de complexidade, consubstancial ao modo
de produção como um todo, dominando o seu presente, suas crises,
eco-
seu futuro, determinando como lei de sua estrutura a realidade
nômica inteira, até no pormenor visível dos fenômenos empíricos -
ao mesmo tempo que permanecendo invisível em sua própria evidên-
cia ofuscante.
possuir a qualidade de um
Pri Ê
ads dd
dado 9 econôm
ta jatamen te visível, não pode
ico observá vel, etc.), dado que sua identifi-
ap cade O conceito da estrutura econômica, que
Glvéis é AA por sua vez exi-
estrutura do modo de produção (seus diferent
ta culações específicas) - visto que sua identificação su es
Ra
deve ser cova StUÇãO do seu conceito. O conceito d O Econômico
como o Pe Astruído para cada modo de produção, do
modo q neeito de cada um dos demais “níveis” pertence
9
nômic: de produção: o Político,
político o ideológi
o: co, etc. Toda da a ciênc:.
sa NES ag
ica depende,
do conceit , pois » COMO qualquer outraà ciência,
Al al da CONstru
Ncia na
eco.
to de
gUMA entre a teor seu objeto,
O. Sob e s : “*Tução
30b essa condição, não há contradiçã
eoria
da Economia e a teoria da História; pel do al.
* Pelo contra.
“um
CF. capítulo 3,
À
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O OBJETO DE “O CAPITAL” 137
Teg.
obrigação de remanejar na prática a problemática existente no
rico para poder pensar O seu objeto: a filosofia em condições de re.
fletir no Teórico, pelo esclarecimento de uma nova forma de racio-
nalidade (cientificação, apoditicidade, etc), essu subversão ocasiona.
da pelo surgimento de uma ciência como essa, assinalaria então por
sua existência uma escansão decisiva, uma revolução na história do
Teórico.
Parece que Marx nos oferece precisamente um exemplo dessa
importância, se tivermos em mente o que já. dissemos em outra
oportunidade sobre o retardo necessário à produção filosófica dessa
nova racionalidade, e até mesmo de certos recalcamentos históricos
que algumas revoluções teóricas podem sofrer. O problema episte-
mológico colocado pela modificação radical do objeto da Economia
Politica por Marx pode ser formulado desta maneira: mediante que
conceito pode pensar-se o novo tipo de determinação, que acaba de ser
identificado como a determinação dos fenômenos de uma região dada
pela estrutura dessa região? De modo mais geral, por meio de que
conceito, ou de que conjunto de conceitos, pode pensar-se a determina-
ção dos elementos de uma estrutura, e as relações estruturais existen-
tes entre esses elementos, e todos os efeitos dessas relações, pela eficá-
ou de que
cia dessa estrutura? E, a fortiori, por meio de que conceito,
uma estru-
conjunto de conceitos pode pensar-se a determinação se
tura subordinada por uma estrutura dominante? Em outras palavras,
como definir o conceito de uma causalidade estrutural?
Essa simples questão teórica resume em si mesma à prodigiosa
descoberta cientifica de Marx: a da teoria da história e da economia
ão
política, a de O Capital. Resume-a como uma prodigiosa quest
fico de
teórica contida “'em estado prático” no descobrimento cientí
Marx, a questão que Marx “praticou” em sua obra, à qual deu por
sem lhe produzir o conceito
resposta a sua própria obra científica,
numa obra filosófica do mesmo rigor.
Essa simples questão era a tal ponto nova € imprevista que en-
-
cerrava aquilo com que estourar todas as teorias clássicas da causa
lidade - ou algo que a tornasse desconhecida, a fizesse passar des-
percebida, e ser sepultada antes mesmo de nascer. ”
De modo esquemático, pode dizer -se que a filoso fia clássi ca (O
Teórico existente) dispunha em tudo e por tudo de dois sistemas de
conceitos para pensar a eficácia: o sistema mecanicista de origem
cartesiana, que reduzia a causalidade a uma eficácia transitiva €
analítica. [Essa causalidade não era adequada para pensar à eficácia
de um todo sobre os seus elementos, à não ser ao preço de distor-
ções fora do comum (como se vê na “psicologia” ou na “biologia”
de Descartes). Dispunha-se, entretanto, de um segundo sistema,
concebido precisamente para explicar a eficácia de um todo sobre 0º
-Á
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O OMPTO DECO CAPITAL! 139
o 6
seus elementos; o concelto lelbniziano de expressão, Vase model
que domina todo o pensamento de Hegel, Mas supõe em seu princl-
pio que o todo, de que se trata, seja redutível a um princípio de inte-
rioridade peculinr, Isto é, redutivel a uma essôncia Interior, da qual
os elementos do todo não passam então de formas de expressão fe-
nomênicas, estando o princípio Interno da essência presente em cada
ponto do todo, de modo que n enda Instante se possa escrever a
equação, imediatamente adequada; certo elemento (econômico, poll-
tico, jurídico, literário, religioso, etc, em Hegel) = essência Interna do
do
rodo. Vinha-se de fato um modelo que permitia pensar a eficácia ia-
essênc
todo sobre cada um de seus elementos, mas essa cntegoria
interna/fenômeno exterior, para ser em todos os lugares e em todos
“
da tota-
os instantes aplicável a cada um dos fenômenos decorrentes
te
lidade em questão, pressupunha certa natureza do todo, preelsamen
expres-
essa natureza de um todo “espiritual”, em que cada elemento é
ti-
vivo de toda a totalidade, como “pars totalts”, Em outras palavras,
todo
nha-se de fato em Leibniz e Hegel uma categoria da eficácia do de
sobre os seus elementos ou partes, mas sob condição absoluta
que o todo não fosse uma estrutura, |
como pos
Se o todo for estabelecido como estruturado, isto é,
unidade
suindo um tipo de unidade inteiramente diversa do tipo de não so-
do todo espiritual, o mesmo acontece; torna-se impossível
tura sob a ca
mente pensar a determinação dos elementos pela estru
e analítica e transitiva, é ainda mais, torna-se
tegoria de causalidad
global de
impossível pensá-la sob a categoria de causalidade expressiva Propo
enos, r-se
uma essência interior unívoca imanente a seus fenômpela estrutura do
pensar a determinação dos elementos de um todo no maior
todo era estubelecer um problema absolutamente novo ito filo-
de nenhum conce
embaraço teórico, porque não se dispunha teóric
sófico tlaborado para resolvê-lo, O único o que teve a ousadia
inaudita de estabelecer esse problema o de lhe esboçar uma primeira
solução foi Spinoza, Mas a história, como sabem os, sepultou-o nas
é que
trevas du noite, Só com Marx, que todavin o conhecia pouco,
desse rosto macerado,
começamos escussumente u adivinhar os traços
genéri-
Nada mais faço aqui do que ret mar, sob a forma mais
eu, um problema teórico fundamenta Le drumútico, do qual us expo
que se truta
sições precedentes nos deram uma Idéia pree isa, Afirmo as VIAS, dl
de um problema fundamental, pois é eluro « jue, por outr
lingllística o
teoria contemporânea, tanto em psle unúliso como em o em fisteu,
nas demais disciplinas como u biologln, o talvez mesm dela, 0 “Pros
es
velo a enfrentá-lo, sem perceber que Mura, muito ant
se de um problema teóri»
duzira", no sentido próprio, Afirmo tratar ndo O
co «dramático, dado que Marx, que ” produziu” esse problema,
de causalidade estrutural
* Expressão de J, A. Miller para caracterizar uma forma
descoberta em Freud.
Ê
Do
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O OBJETO DE “O CAPITAL” 143
4
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O OBJETO DE “O CAPITAL” 145
ução
e de circulação. Até agora, a tomei como principal ilustração Apre
qual
ção. Este O motivo pe lo a
18).
explicação teórica (1,
No entanto, submete
Marx escolheu, pois, O exemplo inglês. ele
esse mesmo exempl o a notável “purificação”, visto que, segundo
ara, a anál ise é feita sob con diç ão de supor que o seu ob-
mesmo decl o duas classes em confronto (situa-
jeto não com pre end e jam ais senã
lqu er exe mpl o no mun do) e que o mercado mundial por
ção sem qua ão capitalista, o que
inteiro está submetido ao mundo da produç
, o que Marx estuda não é
também está fora da realidade. Portanto um
O exe mpl o ingl ês, não obstante clássico e puro, mas
nte
propriame
inex iste nte, pre cis ame nte o que ele chama de “média ideal”
exempl o dificuldade
o de pro duç ão capi tali sta. Lênin ressaltou essa
sur la théorie de la réalisation de
do mod
man ife sta nas Nou vel les rem arq ues
o IV, pp. 87-88):
1899 (Oeuvres, ed. francesa, tom
ito ocupa
o no proble ma que há mu
Detenhamo-nos por um moment o da rea lização?
o valor científico ver dadeir
a atenção de Strouvé: qual é abs trata de
as as demais teses da teoria
Exatamente o mesmo de tod oluta é
Se Str ouv é per tur bad o com O fato de que “a realização abs
Marx. lidade”,
de modo nenhum a sua rea
o ideal da produção capitalista, mas is leis do capitalismo descobertas
dema
fá-lo-emos lembrar que todas as capita-
exat amen te do mesmo modo que o ideal do
por Marx se traduzem “Nosso objetivo”, escrevia
lismo e de modo nenhum a realidade dele.
rna do modo de produção capl
Marx, “é representar a organização intemédia ideal”. A teoria do capital
talista apenas, por assim dizer, em sua força de tra-
receba o valor integral de sua
pressupõe que o trabalhador o nenhum à realidad. A
balho. Tal é o ideal do capitalismo, mas de mod inteira se ac he dividi-
ola
besvia da renda pressupõe que a população agríc assala-
capitalistas e em trabalhadores
E e proprietários da terra, em à reali dade.
jados. Tal é o ideal do capit alismo, mas de modo nenhum
teoria da realização press upõe uma distribuição proporcional da produ-
nenhum a sua re alidade.
ção, Tal é o ideal do capitalismo, mas de modo
o,
Lêni de Marx,
E ar do que retomar a linguagem
Sora al” na expressão “média ideal”,
a idealidade do objeto dy mo “ide realidade histórica efetiva.
Não seria preciso limos mui arx com a
madilhas do empirismo uito longe neslesa oposição para cair nas ar-
os que Lênin desig-
na a teoria de Marx Dos Mo orsiudo se mbrarm
Hapcida naturalmente ao a reto-h hiisthoóriparece astim : Suit
as forma vá E
e o Lh noncR
d Ho capitalismo, AMasx,, co eb enR do e a fepod sao
tuga
aiero
ação AA
de (idéalité) como ma ide
ceptualidade de seu objeto, e a smádia! cs prio dr SOMA simples con-
eúdo do concei-
nos dá com o que avaliar o que nos resta a fazer - e que é imenso,
para definir com todo o rigor desejável essas vias e esses meios, Se é
certo que a humanidade só se propõe tarefas que está em condições
de realizar (sob condição de não dar a essa fórmula uma conotação
historicista), ainda assim é preciso que a humanidade adquira exata
consciência da relação existente entre essas tarefas e suas capacida-
des, e que ela aceite passar pelo conhecimento desses termos e sua
relação, e portanto pelo questionamento dessas tarefas e capacida-
des, para definir os meios próprios para produzir e dominar
seu fu-
turo. Na falta disso, e até na “transparência" de suas novas relações
econômicas, ela correria o risco, como já teve a experiênci
a nos si-
lêncios do terror - e como pode ter uma vez mais nos anseios
do hu-
manismo, correria o perigo de entrar, com a consciência
pura, num
futuro ainda carregado de perigos e de sombras,
Observações
L. Althusser