UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU

ANA LARA CAPÓSSOLI OTTAVIANI

Olhos abertos, ouvidos ligados: materiais informativos aos

cuidadores sobre uso consistente de dispositivos eletrônicos
aplicados à surdez em bebês.

BAURU

2023
 ANA LARA CAPÓSSOLI OTTAVIANI

Olhos abertos, ouvidos ligados: materiais informativos aos

cuidadores sobre uso consistente de dispositivos eletrônicos
aplicados à surdez em bebês.

Artigo Científico apresentado à Faculdade

de Odontologia de Bauru como parte dos
requisitos para conclusão do curso de
graduação em Fonoaudiologia.

Orientador: Profª. Drª Regina Tangerino

de Souza Jacob

BAURU

2023
 DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a Deus, pois foi Ele que inspirou todas as minhas ações e
ajudou a realizá-las. Para que nEle comece e nEle termine tudo aquilo que eu fizer.

Também dedico aos meus pais e irmãos, Beto, Cláudia, André e Laís, pois sem eles
nada disso seria possível. Eles sonharam, se doaram e se sacrificaram comigo, mas
principalmente, me apoiaram. Com certeza, essa conquista não é só minha, mas
deles também.

Por fim, dedico ao meu noivo, Tiago, nossa cumplicidade foi fundamental para que
esse sonho fosse realizado.
 AGRADECIMENTOS

Agradeço, indubitavelmente, a Deus e a Santíssima Virgem Maria, por me

conduzirem durante todo o período da graduação, serem o principal refúgio das
minhas lágrimas e o motivo de todas as minhas conquistas. Ao Espírito Santo, por
iluminar meus pensamentos, tornando reto todos os meus aprendizados. E, também,
aos meus santos de devoção, Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Gemma
Galgani e Santa Rita de Cássia.

A minha orientadora, Profª Drª Regina Tangerino de Souza Jacob, que além
de estar ao meu lado em praticamente toda minha graduação, me orientando e me
ensinando, também se tornou uma profissional essencial para que eu me
apaixonasse ainda mais pela Fonoaudiologia, deixando marcas em mim, da
profissional que eu desejo ser. Obrigada, professora por tornar esse trabalho
possível, por todo apoio e por acreditar em mim.

Ao meu pai, José Alberto, por ser meu maior inspirador, meu grande exemplo
de determinação. Se hoje sou apaixonada por estudar, foi graças a história da sua
vida e a tudo que sacrificou para que hoje eu estivesse me formando numa
universidade pública.

A minha mãe, Cláudia, por toda sua doação, por todo seu amor e pelo seu
servir. Se não fosse pela sua entrega, pela sua ajuda, pela educação que deu a mim
e pelo seu colo eu jamais chegaria onde estou hoje.

Ao meu irmão, André, reconheço que você, em especial, faz, diariamente,

muitas renúncias por mim. Eu agradeço de coração por tudo isso que você é, por
olhar para mim e ver mais do que sua irmã, mas por ver minha alma e o potencial
que habita nela.

A minha irmã, Laís pois, mesmo com a distância, se manteve no posto de

minha melhor amiga. Me ajudou com minha ansiedade, enxugou minhas lágrimas e
me entendeu. Laís, obrigada por todos os conselhos que você me deu, muito da
minha postura de hoje é reflexo de coisas que um dia você me orientou.

Obrigada, tato e tata, por todo amor e ajuda, sempre levarei um pouco de
vocês comigo, por onde quer que eu esteja e por onde quer que eu vá.
 Ao Tiago, meu parceiro, meu melhor amigo, meu noivo. Você foi meu suporte,
meu porto seguro e o meu maior incentivador. Essa conquista é só mais uma das
quais eu quero passar ao seu lado, obrigada por tornar tudo tão belo, por me ajudar
a olhar sempre além do que meus olhos humanos conseguem enxergar, mas
obrigada, principalmente, por sempre acreditar em mim.

E as amigas que a universidade me deu, Ana Clara, Gabriele, Gabriela e

Mariana. Vocês foram figuras essenciais para que esse ciclo da faculdade se
tornasse tão especial. Meninas, obrigada por todos os momentos que criamos
juntas, sejam os de dentro da faculdade, como os de passeios e viagens
inesquecíveis. Obrigada por me acolherem nas casas de vocês, mas
essencialmente, por serem casa.
RESUMO

OBJETIVO: Desenvolver materiais informativos sobre a importância da retenção de

dispositivos eletrônicos em bebês para o desenvolvimento da linguagem visando
contribuir para a compreensão dos cuidadores a respeito da temática. MÉTODOS:
Foram encontrados no site "Hearing First" materiais que continham informações a
respeito da importância do uso dos dispositivos eletrônicos para o processo de
aquisição e desenvolvimento da linguagem. Foi realizada a tradução desses
materiais com a autorização dos autores. Participaram da pesquisa 19 indivíduos,
sendo quatro cuidadores de bebês com deficiência auditiva, regularmente
matriculados na Clínica de Fonoaudiologia da FOB-USP ou contatados via mídias
sociais e 15 fonoaudiólogos que atuam na área de Audiologia. Foi aplicado o
instrumento “Patient Education Materials Assessment Tool for Printable Material”
(PEMAT), que contém 24 perguntas. RESULTADOS: Os materiais foram
considerados adequados, com uma pontuação final de 90,9% para compreensão e
88,6% de aplicabilidade. CONCLUSÃO: Os materiais traduzidos demonstraram ser
adequados para o aconselhamento dos responsáveis sobre a perda auditiva, os
dispositivos eletrônicos e a importância do uso efetivo deles para a aquisição e
desenvolvimento da linguagem dos bebês.

Palavras-chave: Dispositivos Eletrônicos Aplicados à Surdez; Perda Auditiva;

Desenvolvimento da Linguagem
INTRODUÇÃO
A audição desempenha um papel fundamental e decisivo no processo de
aquisição e desenvolvimento de fala e linguagem. A detecção precoce de alterações
auditivas é essencial para prevenir ou minimizar os riscos que possam interferir no
desenvolvimento da criança. Estima-se que, no Brasil, de 3 a 5 crianças em 1.000
nascem surdas, aumentando para 2 a 4 em cada 100 nascimentos quando
provenientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (Maia et al. 2012).
Para um melhor prognóstico, o diagnóstico e a intervenção na deficiência
auditiva devem ocorrer antes dos seis meses de vida para garantir o melhor
aproveitamento do potencial auditivo da criança (Miguel et al. 2012).
Além disso, o uso efetivo dos dispositivos eletrônicos, que visam utilizar a
máxima audição residual, interfere nesse prognóstico. É de extrema importância que
as famílias sejam orientadas quanto antes a respeito do uso da amplificação sonora,
para que essa intervenção ocorra no período crítico de desenvolvimento e de
neuroplasticidade cerebral (Novaes et al. 2012).
Durante o desenvolvimento da fala existe uma ordem de sucessão no
processo de aquisição da linguagem oral. Inicia-se com arrulhos, risadas, e o
balbucio repetido segue o início da vocalização, e acaba levando à produção de
palavras simples. A interrupção de alguma dessas etapas acarretará prejuízos
importantes no desenvolvimento da fala e linguagem da criança (Maia et al. 2012).
É por meio da audição que as crianças desenvolvem sua vocalização,
descobrem o significado das palavras e aprendem a construir frases, e, por isso, a
compreensão dos cuidadores sobre a importância do uso efetivo do dispositivo
eletrônico para o acesso ao mundo sonoro é imprescindível para não acarretar
prejuízos no desenvolvimento da linguagem.
Torna-se então evidente a relevância de conscientizar os cuidadores em
relação ao desenvolvimento da fala e linguagem.
Sabe-se que é difícil estabelecer o uso consistente do dispositivo nos
primeiros anos de vida e que os benefícios do uso são maiores quando os
dispositivos são usados por pelo menos 10 horas por dia (Tomblin et al. 2015). O
objetivo deste estudo é desenvolver materiais informativos, que serão
disponibilizados na internet, quanto a importância da retenção dos dispositivos
eletrônicos aplicados à surdez em bebês para o desenvolvimento da linguagem.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo, sob registro CAAE
68823223.0.0000.5417, de acordo com o parecer 6.174.551 (Anexo A) Todos os
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de
maneira digital (Anexo B).
O projeto foi dividido em duas etapas, sendo a primeira delas a elaboração de
materiais informativos sobre a importância da retenção de dispositivos eletrônicos
em bebês para o desenvolvimento da linguagem. Na segunda etapa foi realizada a
validação dos materiais.

Participantes
Foram convidados a participar da pesquisa 30 indivíduos, sendo que 19
responderam o questionário. Foram divididos em dois grupos: G1: 4 cuidadores de
bebês de até 24 meses que possuem perda auditiva sensorioneural de qualquer
grau, sendo pacientes regularmente matriculados no Serviço de Saúde Auditiva da
Clínica de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP); e G2:
15 fonoaudiólogos que atuam na área de Audiologia, contatados por meio de mídias
sociais.

Instrumentos e Procedimentos
Foi apresentado para os participantes os materiais informativos desenvolvidos
em formato digital, que contém informações sobre a importância do uso efetivo dos
dispositivos eletrônicos para o desenvolvimento da fala e linguagem.
Depois de acessar todo o material, o avaliador respondeu um questionário
assinalando a resposta que estava de acordo com a sua opinião. O questionário foi
aplicado na forma de formulário eletrônico (Google Forms). Todos foram orientados
a escolher apenas uma alternativa dentre as respostas possíveis. Para avaliação foi
utilizado o instrumento “Patient Education Materials Assessment Tool for Printable
Material” (PEMAT), validado por (Shoemaker, Wolf e Brach, 2014), que contém 24
perguntas (Anexo C), divididas em duas seções: compreensão e aplicabilidade,
sendo 18 itens para a primeira seção e 7 para a segunda, onde cada item tem as
opções “discordo” e “concordo”, e alguns itens a opção “não se aplica”.
Análise de dados
Os dados coletados foram transferidos para uma planilha do Microsoft Excel para
serem analisados por meio da estatística descritiva, que são técnicas e
procedimentos que servem para recolher, organizar, sintetizar e descrever os dados
(Santos, 2007). O material foi considerado como adequado com a obtenção de pelo
menos 70% de concordância na avaliação entre os avaliadores (Shoemaker, Wolf e
Brach, 2014).

RESULTADOS
Etapa 1
Durante a etapa da elaboração dos materiais educativos e na busca na
literatura específica sobre o tema foi observado que o site Hearing First
(https://www.hearingfirst.org/) continha informações a respeito da importância do
uso dos dispositivos eletrônicos para o processo de aquisição e desenvolvimento da
linguagem. O site é internacional e apresenta como missão instruir profissionais e
familiares a fim de garantir que crianças com deficiência auditiva tenham
oportunidades de atingir seu pleno potencial na audição e na linguagem falada e
escrita (HEARING FIRST, 2023).
Foi solicitada a autorização dos autores para tradução e adaptação de quatro
materiais (Quadro 1), a fim de apresentar as informações descritas em linguagem
compatível com as habilidades de compreensão dos responsáveis, uma vez que a
legibilidade do conteúdo é fundamental para alcançar o objetivo do material de
educação em saúde. A tradução foi realizada por meio de parceria com o Curso de
Bacharelado em Tradução do Centro Universitário Sagrado Coração -
UNISAGRADO. Uma estudante do 3º ano do curso realizou as etapas de tradução e
revisão como parte das atividades da disciplina Estágio Supervisionado em
Tradução I. Durante o processo de tradução e revisão, a estudante consultou,
sempre que necessário, a professora orientadora da disciplina de Estágio com
relação ao léxico e às adequações gramaticais. Foram, então, realizadas discussões
com fonoaudiólogos para adequações dos termos utilizados na área.
Quadro 1. Materiais traduzidos do site Hearing First (https://www.hearingfirst.org/)

Título em inglês Endereço Tipo Objetivo Título do

eletrônico material
traduzido

1. Familiar Sounds https://www.heari E-book Auxiliar pais e Audiograma

Audiogram - ngfirst.org/m/reso profissionais a dos Sons
Understanding urces/7734 entenderem sobre a Familiares -
Your Child’s perda auditiva com Entendendo
Hearing explicações e a Audição
definições acessíveis da Sua
sobre o audiograma, a Criança
perda auditiva e o (Anexo D)
desenvolvimento da
linguagem.

2. Tips For Keeping https://www.heari Infográfic Oferecer dicas e Dicas para

Hearing Devices ngfirst.org/m/reso o opções de acessórios Manter os
On Little Ears urces/7876 para ajudar a manter Aparelhos
os dispositivos Auditivos
auditivos na orelha nas
das crianças. Orelhinhas
(Anexo E)

3. Daily Listening https://www.heari Folheto Informar sobre formas Checagem

Checks for Babies ngfirst.org/m/reso de verificação do Auditiva
urces/38 fuincionamento Diária para
adequado dos Bebês
dispositivos (Anexo F)
eletrônicos e para
garantir que o bebê
esteja percebendo e
ouvindo essas
informações.

4. Hearing Aid https://www.heari Folheto Informar sobre as Orientações

Orientation ngfirst.org/m/reso partes e peças dos sobre
urces/7155 aparelhos auditivos, Aparelhos
seu funcionamento, Auditivos
como manuseá-lo e (Anexo G)
higienizá-lo
adequadamente.

O material 1 (Anexo D) traz informações sobre os termos e vocabulários

utilizados no diagnóstico da perda auditiva, informa aos leitores sobre o tipo, grau e
configuração da perda auditiva. Também traz conceitos pertinentes sobre o
audiograma e audiograma dos sons familiares, “vagem da fala” e os Sons do Ling,
visando proporcionar aos familiares uma compreensão adequada do diagnóstico da
criança, do quanto ela escuta sem os dispositivos eletrônicos e como o uso
adequado desses dispositivos é benéfico para o processo de aquisição e
desenvolvimento da linguagem.

Figura 1. Imagem do E-Book: Entendendo a audição da sua criança

O material 2 (Anexo E) é um infográfico que expõem aos cuidadores dicas de

como garantir a retenção dos dispositivos eletrônicos. Aborda sugestões de
condutas a serem realizadas no caso de resistência à utilização pelas crianças, além
de mostrar ferramentas e acessórios que ajudam os dispositivos a permanecerem
nas orelhas, como fitas, tiaras e cordões.

Figura 2. Imagem do Infográfico: Dicas para manter os aparelhos auditivos nas orelhinhas
 O material 3 (Anexo F) contém instruções de como deve ser realizada a
checagem auditiva diária em bebês, mostrando sua importância para garantir que os
dispositivos eletrônicos estejam transmitindo as informações completas de fala para
o cérebro e assegurar que a criança esteja percebendo essas informações.

Figura 3. Imagem do Guia da checagem auditiva diárias em bebês

O material 4 (Anexo G) visa conscientizar os responsáveis quanto ao

manuseio, higiene e recursos dos Dispositivos Eletrônicos. Evidencia quais são seus
componentes, quais cuidados devem ser tomados, em relação à limpeza e quais
ações contribuem para a integridade dos dispositivos.

Figura 4. Imagem do Guia de orientações sobre aparelhos auditivos

Etapa 2
A avaliação foi composta por 19 individuos, sendo eles: 15 fonoaudiólogos
atuantes na área da Audiologia, com idades entre 22 e 49 anos, 13 do sexo feminino
e 2 do sexo masculino, e 4 responsáveis de crianças com deficiência auditiva, com
idades entre 18 e 35 anos, do sexo feminino. Todos os avaliadores residem no
estado de São Paulo.
Em relação a avaliação, os materiais receberam a pontuação total de
compreensão de 90,9%. Na tabela 3 é possível observar que, dentre os tópicos que
não atingiram o máximo de concordância, apenas um avaliador discordou sobre a
clareza dos termos médicos, sobre o uso da voz ativa, sobre o uso de fotografias
claras e objetivas e sobre o uso de tabelas simples. Dois ou mais indivíduos
discordaram sobre a necessidade de fazer cálculos no material, sobre a divisão em
sessão curtas do conteúdo, sobre a presença de recursos visuais para facilitar a
compreensão do texto, sobre o uso do apoio visual para reforçar o conteúdo e sobre
a presença de um sumário.
A pontuação total da aplicabilidade do material foi de 88,6%. Houve
concordância total (100%) no tópico que diz respeito à utilização de recursos visuais
que permitem que o leitor aja de acordo com as instruções de maneira mais fácil.
Nos demais tópicos, houve discordância de um a quatro participantes, no que se diz
a forma como são descritas as ações no material, sobre o fornecimento de
instruções simples ou exemplos de como realizar cálculos e sobre como utilizar
gráficos, tabelas ou diagramas.
Com base nesses valores, os materiais são classificados como adequados,
visto que apresentam mais do que 70% de concordância na avaliação entre os
avaliadores.

Figura 5. Compreensão e Aplicabilidade dos materiais segundo a PEMAT

Item Porcentagem de
respostas

COMPREENSÃO

Tópico: Conteúdo

O material indica seu propósito claramente

O material não contém informações que distraiam o leitor de seu

propósito

Tópico: Escolha de palavras e títulos

O material usa linguagem comum e cotidiana

Termos médicos são usados apenas para familiarizar os leitores.

Quando usados, os termos médicos são claramente definidos.

O material usa a voz ativa

Tópico: Uso de números

Os números que aparecem nos materiais são claros

e fáceis de entender

O material não espera que o leitor faça cálculos

Tópico: Organização

O material divide ou “quebra” a informação em sessões curtas

As sessões (partes) do material têm títulos informativos

O material apresenta as informações em uma

sequência lógica

O material apresenta um sumário

Tópico: Layout e Design

O material usa “pistas” visuais para chamar a

atenção para pontos-chave (exemplos: flechas,
caixas, fontes em negrito, destaques)

Tópico: Uso de recursos visuais

O material usa recursos visuais sempre que possível

para facilitar a compreensão (exemplo: ilustrações e
esquemas)

Os recursos visuais reforçam o conteúdo

apresentado e não distraem o leitor
Os recursos visuais do material possuem títulos e legendas claros

O Material usa ilustrações e fotografias claras e objetivas

O material usa tabelas simples, com linhas e colunas curtas e

simples

O material identifica claramente ao menos uma ação que o leitor

pode realizar

Pontuação total (concordância):

APLICABILIDADE

O material dirige-se diretamente ao leitor ao

descrever ações

O material divide as ações descritas em passos claros e possíveis de

serem executados

O material fornece uma ferramenta tangível, objetiva, sempre que

puder ajudar o leitor (exemplos: checklists, sugestões de cardápios)

O material fornece instruções simples ou exemplos de como realizar

cálculos

O material explica como utilizar os gráficos, tabelas ou diagramas

para realizar ações

O material utiliza recursos visuais sempre que esses permitiriam ao

leitor agir de acordo com as instruções de maneira mais fácil

Pontuação total (concordância):

DISCUSSÃO
Mundialmente, a deficiência auditiva é um dos déficits sensoriais mais
recorrentes na população, sobretudo nas crianças (Rodrigues-Sato, Almeida, 2018).
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, a
deficiência auditiva atingiu aproximadamente 466 milhões de pessoas, ou seja, 6,1%
da população mundial e, deste total, 34 milhões (7%) são crianças (World Health
Organization, 2018). A perda auditiva é um problema grave que, quando não
detectado e tratado precocemente pode causar atrasos no desenvolvimento de
linguagem, problemas sociais e emocionais, falhas no âmbito acadêmico e
posteriormente na vida adulta em termos de mercado de trabalho, empregabilidade
e relações pessoais. Porém, a detecção e intervenção precoce por meio do uso de
dispositivos eletrônicos e adequada reabilitação, podem minimizar as consequências
da deficiência auditiva e, assim, promover melhor qualidade de vida destes
indivíduos (Northern, Downs, 2002).
Por esse motivo, o Joint Commitee of Infant Hearing e o Comitê
Multiprofissional em Saúde Auditiva (COMUSA) recomenda que a triagem seja
realizada até um mês de vida, o diagnóstico até os 3 meses e a intervenção iniciada
até os 6 meses da criança. Este critério é denominado meta 1-3-6. Para os serviços
que cumprem a meta 1-3-6 recomenda-se a antecipação do tempo em dois meses
para diagnóstico, e três meses para intervenção, denominada de meta 1-2-3 (Joint
Committee on Infant Hearing, 2019). Torna-se evidente então, a importância da
intervenção precoce para o desenvolvimento da linguagem, o que é reforçado no
material 1 (Anexo D), nas páginas 8 e 9. É possível observar nesse material
informações a respeito do impacto do grau da perda auditiva e de que o uso precoce
e adequado dos dispositivos eletrônicos associado à terapia fonoaudiológica, torna
possível que os sons da fala cheguem ao cérebro da criança.
Além disso, sabe-se que o acesso à linguagem de alta qualidade, para bebês
e crianças pequenas usuárias de tecnologias auditivas, é considerado satisfatório
quando a criança faz o uso diário mínimo de 10 horas (Tomblin et al. 2015). O
material 2 (Anexo E), traz instruções sobre o tempo do uso dos dispositivos para que
enquanto a criança estiver acordada, não perca a oportunidade de ouvir e se
desenvolver. Traz dicas de como manter os aparelhos auditivos nas orelhas, pois
algumas crianças apresentam resistência em sua utilização.
 Os dispositivos eletrônicos possibilitam que crianças com deficiência auditiva
tenham acesso aos sons da fala, o que permite o aprendizado da linguagem oral
(Lisa et al. 2014). Contudo é importante garantir que a criança esteja recebendo
todos os sons da fala e uma das formas de assegurar isso é pela realização da
checagem auditiva diária pelos responsáveis. O material 3 (Anexo F) orienta os
responsáveis sobre a importância e a forma como deve ser realizada a checagem
auditiva diária por meio dos Sons do Ling.
Dessa maneira, pode-se afirmar que o envolvimento dos pais no processo de
intervenção é um fator importante para resultados positivos no desenvolvimento da
linguagem em crianças com deficiência auditiva (Moeller et al. 2021). Após o
diagnóstico, uma das principais etapas do processo de intervenção é a do
aconselhamento feito pelos profissionais da saúde. Esse aconselhamento norteia os
responsáveis das crianças com deficiência auditiva, pois fornece diferentes
informações relacionadas ao processo de reabilitação (Medina, 2017). Essas
informações são fundamentais para transmitir aos responsáveis as implicações no
desenvolvimento e o impacto positivo da intervenção precoce e apropriada, a fim de
garantir seu envolvimento no processo.
É sabido que o uso de materiais educacionais é recomendado como
ferramenta facilitadora para o profissional. Da mesma forma, a entrega desses
materiais, seja em formato multimídia ou impresso, favorece ao paciente um suporte
visual com intuito de recordar, posteriormente, as informações obtidas no ambiente
clínico (Nakamura, Almeida, 2018).
A literatura destaca, ainda, a importância de materiais educacionais em
multimídia na retenção de informações na área da saúde. Nessa perspectiva, é
necessário considerar os fatores que influenciam a memorização das orientações
dadas visto que, a maior parte das informações fornecidas podem ser esquecidas
imediatamente. Por isso, a utilização dessas ferramentas possibilita que o paciente
seja orientado novamente, quantas vezes desejar e necessitar, em seu domicílio
(Campos, Oliveira, Blasca, 2010).
Diante do exposto, verifica-se que os materiais traduzidos são ferramentas
facilitadoras, tanto para auxiliar os profissionais e os responsáveis durante o
aconselhamento, e posteriormente, em seu domicílio servirem de ferramenta para
orientação e esclarecimento de dúvidas que possam surgir. Os materiais descritos
no Quadro 1 ficarão alocados no site Hearing First, no repositório USP e no site do
Laboratório de Acessibilidade Auditiva e Audiologia Educacional da FOB-USP.
A literatura evidenciou três formas de explicar o diagnóstico da perda auditiva
para os cuidadores, sendo elas: descrições baseadas na classificação da perda
auditiva, no índice de audibilidade ou por simulação (Wizeman, Mc Creery, Walker,
2023).
O material 1 (Anexo D) descreve a perda auditiva usando como base o
caráter da classificação e a literatura confirma que essa descrição é benéfica.
Entretanto, a descrição por meio do índice de audibilidade (SII) gera maior nível de
preocupação aos responsáveis (Sapp et al. 2023). A medida do Índice de
Inteligibilidade de Fala - Speech Intelligibility Index (SII) determina a proporção de
informações de fala audível e útil para o ouvinte, com alta correlação com a
inteligibilidade de fala (Novaes et al. 2016).
Sugere-se, portanto, que sejam desenvolvidos materiais, que, além da
descrição por classificação, contenham explicações sobre o SII. Esta medida
fornece a quantidade de informação de fala audível ao indivíduo com e sem o uso da
amplificação, sendo uma maneira de quantificar a relação entre o sinal de fala e os
scores de reconhecimento de fala (Novaes et al. 2018). Neste sentido, entende-se
que há relação positiva entre audibilidade com dispositivos eletrônicos e o
desenvolvimento de linguagem (Moeller, Tomblin, 2015).
Somado a esse ponto, esse estudo também apresentou como limitação o
número reduzido de avaliadores que são cuidadores de crianças com perda auditiva.
Sugere-se a continuidade dessa pesquisa, coletando uma maior amostra da opinião
desses responsáveis. Também sugere-se que sejam elaborados questionários
separados para avaliação de cada material e que contenha a possibilidade dos
avaliadores inserirem sugestões e comentários após as seções do questionário.
Apesar desses pontos, os materiais em saúde apresentados se mostraram
como uma ferramenta adequada para auxiliar na compreensão da importância do
uso dos dispositivos eletrônicos para o desenvolvimento da linguagem, além de
trazer informações sobre manuseio, higiene e características dos dispositivos
eletrônicos.
CONCLUSÃO
Os materiais traduzidos demonstraram ser adequados para o
aconselhamento dos responsáveis sobre a perda auditiva, os dispositivos eletrônicos
e a importância do uso efetivo deles para a aquisição e desenvolvimento da
linguagem dos bebês.
REFERÊNCIAS

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Epub 2023 Jan 11. PMID: 36627755; PMCID: PMC10271969.
Anexo A - Parecer Consubstanciado do CEP
Anexo B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Anexo C - Parecer Consubstanciado do CEP
Anexo D - Audiograma dos Sons Familiares - Entendendo a Audição da Sua Criança
Anexo E - Dicas para Manter os Aparelhos Auditivos nas Orelhinhas
Anexo F - Checagem Auditiva Diária para Bebês
Anexo F - Orientações sobre Aparelhos Auditivos