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AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

"O todas as vigentes,


Governo tomará providências que sc
fazem necessárias, para o nascente Império possuir uma es-
apta a defender-lhe quer a extensa costa, quer o rico
quadra
e fértil território e, também, capaz de assegurar o comércio

de seus contínuos portos, de vez que a Providência talhara


o Brasil os mais retos destinos de glória e prosperidade,
para
só ser defendidos com uma Marinha respeitável..."
que podem

Decreto de criação da Marinha — 1822.

(Continuação)

O IMPÉRIO

De 1822 a 1825

"A
ii espaço de 13
permanencia, por
anos, da sede do Governo do Reine

Unido no Rio de Janeiro e a comple-

ta desorganização em cjue as invasões

dos exércitos de Napoleão


puseram
toda a máquina administrativa de Por-

tugal, onde desapareceram os


quase
vestígios de seu antigo estabelecimen-

to naval, tiveram naturalmente


v>-:- \ >/| por
efeito transferir para o da capi-
porto
tal brasileira o centro dos recursos

marítimos da nação. No Poder Marí-


Paulo Lafayette Pinto {jmo d0js Reinos
(jos Unidos, o braço

Capitão-de-Fragata maior da alavanca ficara, do


portanto,
29
lado do Brasil."

Contudo, alguns problemas e


graves
comprometedores tinham de ser resol-

vidos em curto prazo. A jovem Mari-

nha Brasileira ainda não estava


pre-

parada para a importante missão de


consolidar e assegurar a Independên-

cia do Brasil. Assim, foram dados três

passos decisivos, vieram conceder


que
à Marinha as condições, recursos e
meios necessários, indispensáveis ao
desempenho de missão
gloriosa que
lhe fora confiada.
86 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

D se relacionava com a dores apresentam dife-


primeiro quantitativos
reorganização do Ministério da Mari- rentes, sendo difícil reconhecer o mais

nha. Embora o então titular da pasta, correto. O Almirante Jaceguay men-

o Chefe-de-Esquadra Manuel Antônio ciona 98 oficiais como tendo aderido

Farinha, depois Conde de Souzel, ti- à causa da Independência e jurado fi-

vesse aderido à Independência e se delidade ao Imperador.32 Desse mes-

mantido à frente dos negócios da Ma- mo número, compartilha o Almirante

rinha, urgia a nomeação de um brasi- Lucas Boiteux, acrescenta ainda


que
leiro e a reestruturação do Ministério ter sido de 27 o total de oficiais
que
não aderiram. 33
à nova realidade. lá o Dr. Brian Vale

cargo o Capi- contesta esse número, alegando


Foi escolhido para o que
Luiz da Cunha foram 132 adesões mas, excluindo os
tão-de-Mar-e-Guerra
Visconde de Cabo reformados, conclui 94.34 O Al-
Moreira, futuro por

a 28 de outu- mirante Prado Maia, sua vez, in-


Frio, tomou posse por
que
dos brasi- cluindo os e aspi-
bro de 1822. Um poucos guardas-marinha

Marinha Portuguesa, era um rantes, chega ao total de 141.35 No


leiros na

convicto e acatado excelente livro organizado Co-


patriota profissio- pela

longa experiência adquirida missão Brasileira dos Centenários Por-


nal, com

comissões tugueses, sobre os Portugueses na Ma-


em diversas que participa-
da Caiena Francesa em rinha de Guerra do Brasil, o número
ra; captura
atinge 30
de Montevidéu em 1818, re- a 196.
1808 e

belião de Pernambuco e na fracassada De forma, carecia a Ma-


qualquer
viagem de Delamare à Bahia. rinha de os
pessoal para guarnecer

Em ter encontrado as ins- navios. Estava deficiente a ofi-


que pese quanto
talações do Ministério intactas, os ciais experientes e capacitados o
para

meios flutuantes estavam se estragan- comando e ao subal-


quanto pessoal

do falta de manutenção adequada, terno. Em relação a esse último, era


por
o Arsenal da Corte se em ocio- inconveniente manter os
perdia portugueses

os depósitos da Intendência, em maioria a bordo, havia


sidade, pois já

como resultado da corrupção e negli- ocorrido comprovada indisciplina em

estavam cheios de material de alguns navios em ações contra os lusi-


gência,
inferior e deteriorado.30 tanos, durante a expedição de Dela-
qualidade
Ademais, era imperioso conhecer a mare à Bahia.

real situação dos oficiais portugueses Por essa razão, vieram da Inglater-
no País, à ra 437 marujos, obtidos através dos
que permaneceram quanto
fidelidade à nova pátria. esforços pessoais de Caldeira Brant,

a reorganização do Marquês de Barbacena, despen-


Dessa forma, que

Marinha, realizada a deu parte de sua pequena fortuna e


Ministério da

de dezembro, foi acompanha- pediu empréstimos a amigos, para con-


primeiro
seguida, da obrigatorie- cretizar o envio de tão valioso
da, logo em pes-

todos os oficiais da ativa fir- soai.37 Concomitantemente, recorreu-


dade de
-se ao voluntariado indígena e até
marem escrito sua adesão ou não
por
à Independência. A maioria respondeu mesmo escravos foram aceitos como

afirmativamente, belas marinheiros e Com tais pro-


preenchendo grumetes.

de amor à nova con- vidências foi guarnecer os


páginas pátria, possível

forme atestam os documentos manti- nossos primeiros navios, minimizando

dos no Arquivo da Marinha.31 o predomínio português.38

O número de adesões é ainda hoje Por felicidade se encontrava em

um controvertido. Os historia- Londres, ocorreu o brado do


ponto quando
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 87

Ipiranga, Felisberto Cal- de diversas procedências, apesar do


o General

deira Marquês dos de origem inglesa.


Brant Pontes, futuro predomínio

de Do Chile vieram Cochrane, nomea-


Barbacena, em visita particular,
de do Primeiro Almirante e Comandante
desde 1821. Patriota, homem gran-
mais da recém-criada Força Naval Brasi-
de visão, crítico e analista dos

com- leira; Crosbie, comissionado como Ca-


perspicazes, soube muito bem
e seu Capitão-de-
o desenrolar da situação, so- pitão-de-Fragata
preender
-Bandeira; e Grenfell, tantas
bre a a que gló-
qual passou periodicamente
rias legou ao Brasil. Da Inglaterra,
informar, a de maio de 1822,
partir
James Norton foi o mais proeminente.
a José Bonifácio. Foi sua a feliz idéia
Além desses, outros oficiais também
de recomendar a contratação de Lorde
ingressaram na Marinha do Brasil; o
Cochrane e dos homens tinham
que
Conde francês Theodore de Beaurepai-
lutado com ele no Chile: alegava que
"só re, servia à Marinha Portuguesa
seu nome levaria o susto e o ter- que
no Brasil; o americano David Jewet,
ror aos nossos inimigos", acrescentan-
"o residente no País havia alguns anos;
do recrutamento de marinhei-
que inglês John Taylor, casado com
e o
ros britânicos converteria uma força
uma brasileira, comandante da Fraga-
em um leal e efetivo es-
portuguesa
ta Niterói na famosa e legendária epo-
39
quadrão." desse navio, em à
péia perseguição
Escolhido, como não deixar Portuguesa.
poderia Esquadra
de ter sido, Encarregado de Negócios Restava ainda à Ma-
proporcionar
junto ao Governo Inglês, o futuro rinha os meios flutuantes necessários.

Marquês de Barbacena teve participa- Quando D. João VI regressou


para

ção destacada no recrutamento do pes- Portugal, em 1821, permaneceram no

soai necessário à Marinha Brasileira. Porto do Rio de Janeiro os seguintes

Contudo, foram contratados oficiais navios:

Naus —Martim de Freitas —64 canhoes

Principe Real — 84 canhoes

Afonso Albuquerque —Presiganga*


de
Vasco da Gama — 64 canhoes

Fragatas — Uniao — 40 canhoes


J
! —Real Carolina —40 canhoes
Sucesso — 44 canhoes

—Maria da Gloria —30 canhoes


Corvetas
Gaivota — 28 canhoes

— Reino Unido — 22 canh5es


Brigues
Real Pedro —14 canhSes

—Leopoldina j —10 canhoes40


Brigue-Escuna j

* na época os navios serviam de


Termo empregado para que prisão.
88 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Tanto Prado Maia Lucas Santo Antônio. Sofreu


quanto nova remode-
Boiteux mencionam em suas obras lação em 1806, foi rebatizada,
quando
mais duas naus, a Medusa e D. João
pela segunda vez, com o nome de
de Castro. Esses navios, no entanto, Martim Freitas. Recebeu nessa oca-
não foram aproveitados Mari-
pela sião, em homenagem ao nome, uma
nha, provavelmente terem sido
por figura de representava um
proa que
considerados imprestáveis. Seus nomes, molosso com uma chave à boca, razão
inclusive, não constam no Repositório
pela qual passou a ser chamada
po-
de Nomes dos Navios da Esquadra de
pularmente Nau Cão. Finalmente,
Brasileira, razão pela deixamos após novo reparo
qual geral realizado
pelo
de incluí-los nessa relação apresentada. Arsenal de Marinha do Rio de Ja-
Entretanto, tais navios estavam, em neiro, foi rebatizada última vez
pela
sua maioria, em estado ne- com o nome de D. Pedro I, em ho-
precário,
cessitando de reparos grandes e custo- menagem ao Primeiro Imperador do
sos. Das naus, apenas a Martim de Brasil, recebendo, segundo consta,
Freitas foi considerada suscetível de uma figura de representava
proa que
sofrer reparos, tendo a Príncipe Real o busto de D. Pedro 1.43
sido mantida no serviço de defesa do Após um de marasmo e
período
Porto do Rio de Janeiro e a Vasco
ociosidade o Arsenal da Corte renas-
da Gama, inteiramente desguarnecida
ceu com impressionante atividade,
de armamento, para servir como pre- apesar da carência de equipamentos,
siganga.41 Os demais navios foram
material e especializado.
pessoal As
também reparados, sendo a Fragata
atenções a da
para preparação pri-
Sucesso restaurada gratuitamente sob
meira Força Naval Brasileira eram
os auspícios de três patriotas, José
tais, o Imperador
Domingos Moncorvo, João Goulart e que próprio diaria-
mente visitava o Arsenal, acom-
Lourenço Antônio do Rego, fornecen- para

do o Arsenal da Corte tão-somente o panhar pessoalmente os serviços.

velame. Foi rebatizada com o nome Consta ter D. Pedro esculpido o seu

de Niterói.42 próprio busto, para servir de figura

Com inegável esforço, o Arsenal de de proa da nau capitania, veio a


que
Marinha do Rio de Janeiro se dedi- ter o seu nome.44

cou durante alguns meses no preparo Contudo, reconheciam as elites di-


dessas unidades, dando especial ên-
rigentes a insuficiência de meios para
fase a Nau Martim de Freitas, rebati-
as necessidades a
que pouco pouco
zada em março de 1823 com o nome
cresciam. A solução contornar
para
de Pedro /.
as dificuldades financeiras do Gover-
Segundo o Almirante Lucas Boiteux,
no foi proposta Gonçalves Ledo
por
essa nau foi lançada ao mar, após 28
e Luís Pereira da Nóbrega, en-
meses de construção, Arsenal de que
pelo
viaram ao Governo, em 24 de setem-
Marinha da Bahia, aos 29 de janeiro
bro de 1822, uma representação, su-
de 1763, no Governo do 5? Conde
gerindo a abertura de subscrição
dos Arcos, 7? Vice-Rei do Brasil, com po-

pular, mensal, a fim de, com o


o nome de São José e Santo Antônio. pro-
duto dela, se adquirirem navios
Em 1794, sofreu reparos en- para
gerais,
trando no dique do Arsenal reforçar a esquadra. Aceita de
de Lis- pronto

boa, a 1? de abril. Completamente essa idéia^ o Ministro da Fazenda,

reparada, foi rebatizada com o duplo Martim Francisco Ribeiro de Andra-

nome de Infante D. Pedro Carlos e da, tratou de regulamentar tal plano.


BRASILEIRAS 89
AS FORÇAS NAVAIS

24 de de Talvez, tenha sido justamente essa


o foi feito, em janeiro
que
característica geopolítica, retratada na
1823.45
mentalidade do povo, motivou a
O dos brasileiros não que
patriotismo
tão pronta de inúmeros
se fez esperar. O Impe- participação
por próprio
mercante Mai- brasileiros, mesmo com sacrifícios pe-
rador adquiriu o Brigue

vinte e dois nosos, na inestimável colaboração,


pu, de David Jewet, por
contos de réis, e o ofereceu ao Es- o da nossa primeira for-
para preparo
tado. Ademais, com a Im- naval.
juntamente ça
comprou 350 ações do pia-
peratriz, Foi através desse plano de subscri-
no, adiantadamente o corres-
pagando o nascente Im-
ção popular que pôde
pondente a três anos.
contar com recursos para a for-
pério
Mas foram as das pro- Naval lhe
populações mação de um Poder
que
víncias de São João da Barra de Cam- incontestável supre-
deu, desde logo,

de Porto Alegre no Rio Grande marítima na América do Sul,


pos, macia

do Sul e de outras mais, legaram opinião do Almirante Ja-


que conforme,

exemplo ímpar de amor à co- Esse Poder Naval assegurou-


pátria, ceguay.

letando apreciáveis. De ou- -lhe o Domínio do Mar na


quantias guerra que
tras vilas vieram também donativos teve de sustentar, de 1825 a 1828,

como boi e contra a República Argentina, na


em materiais diversos,
histórica Campanha da Cisplatina.47
feijão. Realmente, não a Histó-
pode
ria de milhares de O Poder Naval da Nação é conse-
omitir os nomes
da vontade, esforço e decisão
brasileiros, do interior e do litoral, qüência
de seu É preciso tanto as
até hoje nos sensibilizam esse povo. que,
que por
elites dirigentes, as diversas
comportamento e respon- quanto
patriótico
classes compõem a sociedade bra-
que
sável.40
sileira, desse esforço,
participem que
Esse episódio deve servir como antes de tudo, comum
deve ser, a to-
exemplo de do em
participação povo dos. E isso, torna-se indispensá-
para
assuntos de defesa nacional, muitas haja uma mentalidade
vel que que
vezes indispensável o sucesso das
para convença a todos, civis e militares, o
forças armadas. Importante é tam- uma nação
é o Brasil marí-
quanto
bém reconhecer o do compor- só natural dependên-
peso tima, não pela
tamento das elites dirigentes, nas de-
cia econômica ao mar mas, sobretu-
cisões à segurança nacio-
pertinentes do, pela vulnerabilidade esse mar
que
nal. Imbuídas da necessidade de pos- ao País.
proporciona
suir a Nação os meios bélicos neces-

sários à sua soberania, desenvolveram


As Primeiras Forças Navais
seus esforços na consecução do pre-

paro das forças navais.


Foram os navios surtos no porto
Vale salientar à época da In- de Janeiro os
que, do Rio primeiros, em

dependência, era o Brasil um país 11 de novembro de 1822, a içarem

essencialmente marítimo. Sua popula- nos seus mastros a Bandeira Nacio-

consistia de e meio mi- nal, enquanto davam uma salva de


ção quatro
lhões de habitantes espalhados em 101 tiros, acompanhados forta-
pelas

uma estreita faixa ao longo de uma lezas.

extensa costa, se estendia das O agravamento da situação na Cis-


que
águas do Amazonas, ao norte, até o fez com se organizasse
platina que
Rio da Prata, ao sul. uma divisão naval, para reforçar a
90 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

força do Chefe-de-Esquadra Rodrigo naval era composta dos seguintes

Lobo, sediada no Prata. Essa divisão navios:

I
Fragatas I — Ipiranga (ex-Vniao)
Real Carolina

Corveta — Liberal (cx-Gaivota)

Transportes — Bella Bonita


Sete de Margo
Conde dos Arcos
General Lecor

Brigue-Transporte I — Liguri

Foi-se essa a força naval Em Montevidéu, Colônia do Sacra-


primeira
mento e outros se encontravam
brasileira a operar com os navios has- pontos
os seguintes navios da Coroa Portu-
teando o Pavilhão Nacional. Sob o
guesa, sob o comando do Chefe-de-
Comando do Capitão-de-Mar-e-Guer- -Esquadra Rodrigo Lobo
que, junta-
ra David Jewet, suspendeu do Rio de mente, com seus oficiais, aderiu à In-
Janeiro a 14 de novembro de 1822.48 dependência:

Fragata — Tetis

Escunas — Oriental

Maria Thereza

Luiz de Camdes

D. Alvaro de Costa

Maria Izabel

Izabel Maria

Infante D. Sebastiao

Barca — n? 2
j

Enquanto se davam esses aconteci- de Marinha da Bahia, foi formada


mentos no Sul, outros não menos im-
uma flotilha com sede na Ilha de Ita-
portantes se desenrolavam na heróica
parica, constituída de vários barcos
Bahia. Sob a liderança do bravo João

Francisco de Oliveira Botas, Segun- de pequeno porte, destacando-se os

do-Tenente, Patrão-Mor do Arsenal seguintes:


91
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

Pedro I 50 tripulantes
Barcos Armados D.

de Julho 88 tripulantes
25
67 tripulantes
D. Januária
62 tripulantes
D. Paula
70 tripulantes
Presa

de S. Francisco 65 tripulantes
Vila
68 tripulantes
D. Leopoldina

— da Glória 20 tripulantes
Canhoneira D. Maria

— 109 tripulantes
— Cachoeira (ex-Lusitana)
Escuna

Interessante exemplo da correta uti-


e mais nove baleeiras.
lização de embarcações menores con-
Essa força ficou conhecida como
tra navios O êxito de João
hos- poderosos.
a Flotilha do Recôncavo, tendo
das Botas se traduziu em manter a
tilizado os navios duran-
portugueses lusitana em
força naval permanente
te meses, até a chegada da Esquadra
vigilância, desgastando-a continuamen-
de Cochrane. João das Botas, indis-
te e negando o uso do mar, cujo do-
cutível herói, a ser chamado
passou aparentemente, aos
mínio, pertencia
de Marinheiro da Independência.

diante de um portugueses.49
Agindo com prudência
Em de de 1823,
forte, soube apro- princípios janeiro
inimigo muito mais
contava a Marinha com a seguinte
veitar as virtudes de seus pequenos
força naval sediada no Rio de Ja-
navios, realizando incur-
periódicas
neiro:

I
Nau —Pedro
de Freitas)
(ex-Martim

I — Ipiranga (ex-Uniao)
Fragatas '
Real Carolina
1 — Niteroi (ex-Sucesso)

da Gloria
Corvetas —Maria
Liberal (ex-Gaivota)

Cacique
Brigues '
(ex-Reino Unido)
|
Real Pedro
Guarani

Rio da Prata
\ Brigue-Escuna —

(tx-Leopoldina)

Escuna — Cossaca
92 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

e mais alguns transportes. Brigue Caboclo, cx-Maipu, em 29 de

março.
A Real Carolina, Aviso de 12
pelo

de maio de 1824, a chamar-se Com a chegada do Almirante Co-


passou

Paraguaçu. O Brigue Guarani foi com- chrane ao Rio de Janeiro, a Í3 de

prado a Brown Watson pela março de 1823, bem como dos ofi-
quantia
de 300 contos de réis. Era o Mercan- ciais e marinheiros contratados, guar-

te Nightingale {Rouxinol). Pouco de- neceu-se a Esquadra da Independên-

pois foi comprado pelo Imperador o cia, constituída dos seguintes navios:

Nau —D. Pedro — 74 canhoes

— Capitania

Fragata — Ipiranga — 52 canhoes

Corvetas — Maria da Gloria — 32 canhoes

— Liberal — 20 canhoes

Brigue —Guarani —16 canhoes

Brigue-Escuna —Real Pedro —10 canhoes

Essa força suspendeu a 1? de abril, Portugal, na epopéia mais de


gloriosa
com a tarefa de submeter as tropas nossa História Naval. A bordo, encon-

do General Madeira à travam-se dois nomes da


portuguesas grandes
nova ordem.50 Incorporou-se, a 29 nossa Marinha: Luiz Barroso Perei-

de abril, a Fragata Niterói, sob o co- ra, imediato, escreveu esse longo
que
mando do Capitão-de-Fragata John e notável cruzeiro, e Joaquim Mar-

Taylor. Lisboa, mais tarde Almirante e


ques

epi- Marquês de Tamandaré, Patrono da


Daí em diante, registraram-se

enchem de Marinha. A Fragata Niterói regressou


sódios notáveis, gló-
que
na à Baía de Todos os Santos, aos 9
ria a nossa História. Vencendo
de novembro de 1823.
Bahia, o Almirante Cochrane partiu
o Maranhão, onde incorporou o Tanto a ação de Cochrane como
para
Brigue São Miguel, rebatizado com a de Taylor, Grenfell e outros, pro-
o nome de Maranhão. Esse navio, piciaram a incorporação de vários

sob o comando do Capitão-Tenente navios. Para se ter uma idéia desse

João Pascoe Grenfell, foi enviado ao fato, na perseguição à Esquadra Por-

Pará para integrar à Nação a última tuguesa, iniciada a 2 de somen-


julho,

província ainda sublevada. te no dia foram apresados


primeiro

Durante esse o Tay- treze (13) transportes com 1 532 pra-


período, jovem
lor, no comando da Fragata Niterói, ças do exército e um coronel, exclu-

a esquadra fugi- sive a equipagem dos referidos na-


perseguiu portuguesa
tiva até a foz do Rio Tejo, vios.51 Além disso, registraram-se
próximo
93
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

com estrela, na linguagem naval, do-


compras de embarcações e adaptações
tada de verdadeiros e dignos homens
de navios mercantes, de modo que
ra- do mar e apoiada pela Nação, como
a Força Naval Brasileira cresceu
bem demonstraram os fatos iniciais de
pidamente.
sua criação.
Muito se tem escrito sobre a nossa
Em 1825, após a consolidação da
Independência, sobre os vultos que
Independência, contava a Marinha
ação enérgica e decisiva contri-
pela
com expressiva força naval, capaz de
buíram a sua efetivação. Não
para
dar cumprimento às missões lhe
resta dúvida alguma todos foram que
que
seriam confiadas.
homens notáveis, patriotas, que por

a Pátria rende sua homenagem. Podemos registrar no Quadro I o


justiça
o rele- significativo número de navios
Mas também é indiscutível já
Ma- construídos em estaleiros nacionais.
vante papel desempenhado pela
Apesar das aquisições e apresamen-
rinha. Sua ação integradora propiciou
de tos de embarcações, foi a construção
a rápida união nacional. Essa fase

naval nacional o maior sustentáculo


nascimento da Marinha foi gloriosa
deve das forças navais durante todo o Im-
sob todos os aspectos. Contudo,
Basta lembrar a média foi
ser ressaltada a do pes- pério. que
participação
na- de dois navios construí-
soai. Foram surgindo a bordo dos praticamente
mais dos anualmente, o permitiu man-
vios os homens do mar que
que,
ter uma esquadra apta e atender às
tarde, souberam manter a integridade
necessidades do País.
e soberania nacional.

Essa de vultos notáveis


geração
serviu de exemplo e inspiração aos

vieram depois, fazendo com que


que
uma Continua no próximo número,
a oficialidade naval mantivesse
século inclusive com as notas corres-
conduta até o
que perdurou
certa, a esta matéria.
seguinte. A Marinha nasceu pondentes
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

(Continuação)

De 1826 a 1855

Terminada a rápida e feliz Campa-

nha da Independência iniciava a Guer-

ra da Cisplatina, tantos esforços


que
exigiu à Nação e especialmente à Ma-
"Com
rinha. o material conquistado à

ex-metrópole, com as novas constru-

e aquisições realizadas na vigên-


ções
cia da luta, conseguia o Im-
gloriosa
ao rebentar a com as
pério, guerra
Províncias Unidas do Rio da Prata,

em 1826, apresentar uma longa lista

de 96 vasos de de todos os
guerra
52
tipos, artilhados com 690 canhões.

Contudo, fazer frente à guerra


para
de corso, autorizada Governo das
pelo
Províncias Unidas contra o florescen-

te comércio marítimo brasileiro, teve

a Marinha sérias e enormes dificulda-


Paulo Lafayette Pinto des. O resultado foi mais favorável

Capitão-de-Fragata ao inimigo. Por outro lado, ao adotar

idêntica medida, não obteve o Impé-

rio semelhante êxito. Isto porque, não

dispondo os inimigos de comércio ma-

rítimo tão significativo, pouco ou

nenhum resultado auspicioso


quase
conseguiu o País.

A Campanha da Cisplatina, onde

mais uma vez a Marinha se destacou

através da bravura, coragem, sacrifí-

cio e competência de seus homens do

mar, terminou em agosto de 1828,

após a assinatura de um protocolo.


130 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"bem
Nessa época tínhamos em serviço de", fazia a seguinte ressalva:
ativo 76 navios com 975 de cumpre não esquecer o custeio
peças que que
artilharia e 8 414 homens de e conservação dos barcos de vapor
guarni-
ção; em reparo se encontravam 15 custam mais o dos navios ordi-
que
embarcações e em construção nos ar- nários das mesmas dimensões,
que
senais, 9 navios, perfazendo um total aliás montar muito maior nú-
podem
de 100 unidades. Era o mais mero de 54
alto bocas de fogo."

grau de atingia a nossa Contudo, os serviços de correio na-


poderio que
Marinha durante o período da nave- vai e a repressão ao tráfico de afri-

gação a vela, tanto pelo número como canos motivaram os responsáveis


pela
pelo valor das unidades a consti- administração naval em adquirir na-
que
tuíam.53 vios a vapor. Assim, em 1825 era
Em 7 de abril de 1831, o Primei- adquirido o Correio Imperial e no
ro Imperador do Brasil abdicava a ano seguinte o Correio Brasileiro, am-
Coroa em favor de seu filho, D. Pedro bos a vapor e construídos na Ingla-
de Alcântara, com apenas 5 anos de terra.

idade. Estabeleceu-se então a Regên- De forma, a construção


qualquer
cia, até em 1840 o jovem monar- de navios a vela diminuiu,
que principal-
ca assumiu o Governo, nele permane- mente devido à falta de recursos fi-
cendo por 49 anos. nanceiros. Em 1835 a força naval
Durante a Regência, ocorreram inú- brasileira era constituída cerca de
por
meras revoluções convulsionaram 82 navios, conforme mostrado no
que
várias províncias, como as do Pará, Quadro II.

Maranhão, Bahia e Rio Grande do Comparando-se os Quadros I e II


Sul, onde a Cabanagem, a Balaiada, pode-se constatar durante o
que pe-
a Sabinada e a Guerra dos Farrapos, ríodo de 1826 a 1835 foram construí-
se estendeu por dez anos e teve dos no País cerca de 14 navios. Foi
que
feição separatista, exigiram muito es- o Arsenal de Marinha da Bahia o
forço e trabalho, além de sacrifícios mais produtivo, com cinco constru-
em vidas humanas, dinheiro e mate- ções, incluindo uma nau, uma fraga-

i al bélico. ta, duas corvetas e uma escuna, se-


Desde o término da Campanha Cis- guido do Arsenal de Marinha do Rio

platina, em 1828, os meios flutuantes de Janeiro, com duas, e dos Arsenais


da Marinha começaram a se estragar, do Pará e Mato Grosso, cada um lan-
devido a escassez de recursos para çando um navio. Ademais, os esta-
mantê-los em condições satisfatórias. leiros do Espírito Santo, Pajuçara em
Ademais, iniciava-se a transição do Maceió, Santos, Pelotas e Paranaguá,
navio a vela o navio a vapor e, lançaram um navio cada, sendo
para que
como sempre ocorre, a dúvida sobre o de Pelotas, primeira vez cons-
pela
caminho seguir dominava a admi- truía um navio a vapor, a Barca
qual
nistração naval. Basta lembrar em Liberal.
que
1843 o Ministro Rodrigues Torres, Nos dez anos seguintes foram cons-
"com
ainda de acordo os truídos no País cerca de 18 navios,
que que
enxergavam grandes vantagens em alguns a vapor. Contudo, o núme-

possuir-se alguns (ainda ro total de navios em atividade de-
que poucos)
barcos de vapor de força, caiu. O Arsenal de Marinha do Rio
grande que
em caso urgente transportar de Janeiro entregou seis navios, en-
pudessem
com facilidade e prontidão de uma o da Bahia e de Pernambuco,
quanto
para outra os socorros de cinco e respectivamente. O es-
província quatro
delas tivesse necessida- taleiro da Ponta da Areia construiu
que qualquer
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 131

duas embarcações a vapor e o esta- No princípio da década de 1970,


leiro de Alaeoas lançou um navio ao durante a administração Adalberto de
mar. Barros Nunes, pensou-se em acabar
Chegou-se a 1845 com uma força com as Escolas de Aprendizes de Ma-
«aval de 71 navios, conforme mos- rinheiros. Duas foram extintas, a de
irado no Quadro III, apesar de alguns Maceió e a da Bahia, uma das mais
serem inservíveis antigas. Não há dúvida que esses cen-
para a guerra.
Os Navios Esmênia, Calíope e Ár- trosde formação de marinheiros con-
•?"•*> construídos no Arsenal da Corte, tinuam atendendo às necessidades da
obedeceram a Esquadra, preparando jovens que irão
do construtor
J°sé Joaquim planos
Ribeiro Pimenta, car- guarnecer os navios com superioridade
Pmteiro do Arsenal sobre os voluntários, colaborando com
havia se aper- a opinião daqueles que dirigiam a Ma-
e'Ç°ado na Europaque em construção
naval. Vale ressaltar rinha há mais de um século atrás. Fe-
ainda a cons- lizmente essa tendência foi contida e
mção de duas barcas a vapor
estaleiro da Ponta pelo as Escolas de Aprendizes continuam
da Areia, em Ni- formando marinheiros aptos a guarne-
eroi, Cassiopeia e Fluminense. A
meira operou contra pri- cerem os navios das forças navais.
os farrapos, no Em 1845 terminava a Guerra dos
Kl° Grande do Sul, e a segunda con-
ra os balaios, no Farrapos, mas três anos após eclodia
Maranhão. em Pernambuco a Revolução Praiera,
Nesse período, de breve duração. Mais uma vez a Ma-
ae outubro de por Decreto de 22
1836, criava-se as Com- rinha interferiu no sentido de manter
Panhias Fixas de Marinheiros, a paz no território nacional. Participou
primei-
passo dado para a formação pro- desse evento a seguinte força naval:
•ssional dos marinheiros,
até então
recrutados.
Depois de sofrer algumas Fragatas — Constituição - Capitania
modificações e ter o seu número su- — D. Afonso
cessivamente
aumentado, por Decreto Corveta — Euterpe
de 26 de março
de 1840, sendo Mi-
listro da Marinha Brigues — Calíope
o Chefe-de-Divisão
Jacintho R. de Canopus
Senna Pereira, recebeu
í denominação de Corpo de Imperiais Legalidade
Marinheiros. Em seguida foi criada a Andorinha
Companhia de Aprendizes de Mari- Capibaribe
nheiros, Pirajá
!°43, que ficou adida ao Corpo até
quando passou a formar uma Cúter — Esperança do Beberibe
companhia distinta.
Segundo Jaceguay, a prática mos- Vapor — Urânia
trou logo a "superioridade do mari- Transporte —Pirapama
nheiro da Companhia de
procedente
Aprendizes sobre o recrutamento sem A Fragata D. Afonso havia chegado
a mais elementar educação. Multipli- ao Porto do Recife, sob o comando
cou-se assim a instituição, instalan- do Capitão-de-Mar-e-Guerra Joaquim
do-se Companhias de Aprendizes em Marques Lisboa, futuro Marquês de
diversas Tamandaré, procedente da Europa. O
províncias, a começar pela
do Pará e sucessivamente Comandante da Força era o Capitão-
por outras
situadas no litoral e também na de -de-Fragata Joaquim José Inácio, de-
Maio Grosso."55 pois Visconde de Inhaúma.
132
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Em 1850, Decreto Imperial


por de atenção. No momento se partir
que
26 de foi
janeiro, pela primeira vez para a construção de dois ou três tipos

preparado um plano a composi- de navios, deixando os demais


para pai*3
ção do material da força naval ou um etapa, o
posterior talvez se obtenha
programa de construção de meios flu- êxito tão almejado várias
por gerações.
tuantes. Compreendia navios a vela e Ainda comentaremos de
por mais
a vapor, sendo a vela: duas fragatas, uma vez tal aspecto, sur-
sempre
que
duas corvetas, 12 brigues e brigues- novos Esse fato é o
-barcas, girem programas.
16 canhoneiras fortes, pata- mais importante dentre os muitos pro-
chos ou brigues-escunas; e a vapor blemas com se defronta a Mari-
que
quatro fragatas de 300 CV, seis cor- de
nha, pois é através de programas
vetas de 220 CV, vapores de
quatro construção se criam forças navais.
que
100 a 160 CV, e seis vapores de 40
No ano seguinte, 1851, a força na-
a 80 CV, num total de 52 embar-
vai brasileira compunha-se de 49 na-
cações.
vios de vela, dos sete desarma-
quais
Esse número de navios seria aumen- 57
dos, e 10 navios a vapor. Nesse ano,
tado em caso de além de ser
guerra o Governo declarou guerra ao ditador
previsto, após a construção dos navios Rosas, de Buenos Aires, e ao General
mencionados, a substituição gradativa Oribe, do Uruguai. Sob o Comando
daqueles fossem atingindo o fim
que do Chefe-de-Esquadra João Pascoe
de sua vida útil. Grenfell, veterano das lutas da Inde-
O ambicioso programa, como todos e da Cisplatina, do
pendência partiu
foram posteriormente elaborados Rio de Janeiro uma força naval com
que
para aumento de nossa força naval, o de reforçar a existente no
propósito
segundo do Almirante Jace- Prata.
palavras

guay, nunca saiu do domínio burocrá- A força naval ficou assim consti-
tico para a realidade. O mesmo Minis- tuída:
tro Vieira Tosta, depois Barão de

Muritiba, o formulou, já no ano —


que Fragatas Constituigao
seguinte, em seu relatório, indicava a Afonso - Capitania*
D.
conveniência de modificá-lo. 56

Corvetas — Uniao
A história tem mostrado, desde essa

tentativa, Dona Januaria


primeira que programas gran-
des e até certo ambiciosos estão Dona Francisca
ponto
fadados ao insucesso. Talvez se- Berenice
por
rem demasiadamente irreais, o di- Euterpe
que
ficulta a sua concretização, os Baiana
planos
de renovação de meios flutuantes aca- Bertioga

bam frustrar a todos, não conse- D. Pedro II*


por
*
cumprir os seus fins. Golfinho
guindo
*
Recife
Já é hora de se aprender um pouco
com a história para não repetir segui- Brigues — Eolo
damente erros há tanto tempo mostra- Caliope
dos. Programas mais simples, e
que Capibaribe
não tentem de uma só vez solucionar
*
Vapores D. Pedro
todas as necessidades de uma força
*
Paraense
naval desejada, devem merecer maior

*
Navios de propulsão a vapor.
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 133

Foi com alguns navios dessa força O advento da propulsão a hélice na


naval nossa Marinha ocorreu com a aquisi-
que o Chefe-de-Esquadra Gren-
tell, a bordo da Fragata D. Afonso, ção dos Navios Magé, Beberibe, Via-
capitania, operou o belo feito da cé- mão e Jequitinhonha, construídos na
lebre Passagem do Tonelero, em 17 Inglaterra em 1854. É oportuno frisar
compra desses
de dezembro de 1851. Essa batalha, que o crédito para a
3 primeira da nossa história em navios foi obtido no Congresso Nacio-
tomaram que nal pelo Ministro da Marinha, Conse-
parte navios a vapor, permi- lheiro Zacarias de Góis Vasconcelos.
tiu a livre navegação do Rio Paraná,
assegurando, como mais tarde na Designado como encarregado da en-
comenda e da fiscalização, o Capitão-
9uerra do Paraguai, o domínio flu- -de-Fragata Joaquim Raimundo de La-
vial, indispensável ao êxito da cam-
Panha. Participaram dessa batalha os maré, depois Visconde de Lamare, foi
seguintes navios: Fragata D. Afonso, o responsável pela escolha do tipo de
Corvetas D. Pedro II, Recife, Dona propulsão. Assim, graças à sua visão,
Francisca, União, Brigue Calíope e a Força Naval Brasileira cedo ingres-
Vapor D. Pedro.™ sou na moderna e eficaz propulsão a
hélice.
A ação dos navios a vapor, espe-
cialmente Entretanto, no mesmo ano era cons-
da Fragata de rodas truído no Arsenal de Marinha do Rio
&¦ Afonso, serviu dissipar os
para pre- de Janeiro o primeiro navio de guer-
conceitos
que ainda dominavam al- ra a hélice, a Canhoneira Ipiranga,
Suns setores da Marinha contra os na- sob os planos do engenheiro naval
vios a vapor. No ano seguinte era Napoleão Levei.
mcorporada a Fragata Amazonas, Pode-se verificar no Quadro IV que
imortalizada treze anos mais tarde na
o número de navios a vapor e mesmo
decisiva Batalha de Riachuelo.
com propulsão a hélice é bastante
Afastadas as últimas restrições con- significativo, quase um terço do total.
tra os navios a vapor a Marinha pas- A partir dessa época começou a su-
Sou a incorporar embarcações desse
tipo com mais freqüência. Muitas en- premacia do navio a vapor sobre os
de vela, ainda que muitos fossem mis-
comendas foram feitas a nações es- tos, isto é, com os dois tipos de pro-
trangeiras,
principalmente à Inglater- pulsão.
ta, onde se registrava grande desen-
volvimento tecnológico. No entanto, Outro fato a ser considerado no
através da contratação de engenheiros Quadro IV é o número de navios no-
e projetistas navais estrangeiros foi vos apresentados, cerca de 24, sendo
Possível a construção de vários navios 19 construídos no País. Mantinha-se
em arsenais e estaleiros nacionais. assim um razoável ritmo de constru-
O estaleiro da Ponta da Areia, en- ção, incluindo os arsenais de marinha
tre 1849 a 1850, lançou três corvetas, e os estaleiros particulares. O Arsenal
de casco de madeira e propulsão a de Marinha do Rio de Janeiro cons-
vapor, todas construídas sob a respon- truiu 7, o da Bahia 3, os de Mato
sabilidade do engenheiro inglês Tho- Grosso e Pernambuco, 1 cada, o es-
maz Butler Dodgson, além dos Vapo- taleiro da Ponta da Areia, e os de
res D. Pedro e Paraense. Dirigia esse Saúde, Campos e Santa Catarina, 1
estaleiro, de que era proprietário o cada.
notável João Evangelista de Souza, Chegou dessa forma a Marinha ao
Barão de Mauá. ano de 1855 com razoável força na-
134
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

vai composta de navios modernos, do- são a hélice, um pO"


proporcionando
tados com canhões raiados e der naval respeitável.
propul-

BIBLIOGRAFIA

29. JACEGUAY, Arthur e FREITAS, Carlos Vidal de Oliveira. Marinha-Memória. In;

Livro do Centenário (1500-1900), v. II, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional,


1901, p. 98.

30. VALE, Brian. Estratégia, Poder Marítimo e a Criação da Marinha do Brasil,


1822-23. In: Navigator, Subsídios a História Marítima do Brasil. Rio de
para
Janeiro, Serviço de Documentação Geral da Marinha, n° 4, dezembro de 1971,

p. 8.
31. SILVA, Theotônio Meirelles. Apontamentos para a História da Marinha de Guerra
Brasileira. Rio de Janeiro, 1882, p. 9.

32. JACEGUAY, op. cit., p. 99.

33. BOITEUX, Lucas Alexandre. A Marinha Imperial e outros Ensaios. Rio de Janeiro,
Imprensa Naval, 1954, p. 33-4.

34. VALE, Brian. op. cit., p. 19.

35. PRADO MAIA, João. A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império.


Rio de Janeiro. José Olympio Editora, 1965, p. 59-60.

36. OS PORTUGUESES na Marinha de Guerra do Brasil. Comissão Brasileira dos

Centenários Portugueses. Rio de Janeiro, 1940, p. 393.

37. BOITEUX, op. cit., p. 85.

38. PRADO MAIA, op. cit., p. 61.

39. VALE, Brian. op. cit., p. 12-3.

40. MENDONÇA, Mário F. e VASCONCELOS, Alberto. Repositório de Nomes dos

Navios da Esquadra Brasileira. Rio de Janeiro, Serviço de Documentação Geral

da Marinha, 3? edição, 1959.

41. CAMINHA, João Carlos Gonçalves. Formação da Marinha Imperial. In: Navigator.
Subsídios para a História Marítima do Brasil, n" 10, dez., 1974, Rio de Janeiro,
Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1974, p. 19.

42. CAMINHA, op. cit., p. 19.

43. BOITEUX, op. cit., p. 103 e seguintes.


44. GREENHALGH, Juvenal. O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História.
v. I. Rio de Janeiro, Editora A Noite, 1951, p. 114; e BOITEUX, op. cit., 114.
p.
45. PRADO MAIA, op. cit.,
p. 54.
46. SILVA, Theotônio Meirelles, op. cit., p. 99 e seguintes.
47. JACEGUAY, op. cit., p. 103.
48. BOITEUX, op. cit., p. 27.
49. PEDREIRA, Pedro Tomás. Itaparica e as Lutas pela Independência na Bahia. In:
Navigator. Subsídios para a História Marítima do Brasil, n° 12, dez., 1975,
SDGM, Rio de Janeiro, p. 9,11 e seguintes.
50. VALE, Brian. op. cit., p. 20, chama a atenção para essa data, pois, por equívoco,
Lorde Cochrane lançou em seu diário o dia 3 de abril como a data em que a
força naval suspendeu, erro esse que tem sido repetido pela maioria dos escritores.
51. BOITEUX, op. cit., p. 133 e seguintes.
52. BOITEUX, op. cit., p. 225.
53. PRADO MAIA, op. cit., p. 120.
54. JACEGUAY, op. cit., p. 107.
55. JACEGUAY, op. cit., p. 113.

56. JACEGUAY, op. cit., p. 118-9.

57. JACEGUAY, op. cit., p. 119.

58. FROTA, Guilherme de Andréa. Passagem de Tonelero uma página de Glória da


Marinha Brasileira. In: Revista do Clube Militar. Rio de Janeiro, nov./dez.,
1978, p. 9-10.
(Continua no próximo número).
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

(continuação)

De 1856 a 1889

l\ pós o satisfatório ritmo de cons-


trução de navios de guerra verificado
no País nos últimos dez anos e a
compra de dez canhoneiras no ano de
1857, oito na Inglaterra e duas na
França, motivada pela iminência de
um rompimento com o Paraguai, a
força naval brasileira decaiu pela fai-
ta de renovação adequada. A des-
preocupação com o incremento do
nosso Poder Naval resultou no humi-
lhante episódio da Questão Christie,
em 1862, quando a nação reconheceu
Paulo Lafayette Pinto a impotência de sua Marinha para
Capitão-de-Fragata enfrentar possíveis agressões.
A indignação popular diante do ve-
xatório incidente resultou na promo-
ção de nova subscrição pública, a
fim de angariar recursos para a cons-
trução de navios de guerra. Não
obtendo o mesmo resultado da subs-
crição realizada à época da Indepen-
dência, foi, contudo, suficiente para
se encomendar à França o nosso pri-
meiro navio encouraçado — o Brasil.
Esse navio tinha o casco de ferro,
novidade na estrutura dos navios bra-
sileiros, armado com onze. bocas-de-
68 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

-fogo de diferentes calibres e máqui- sente a nossa Armada, de algumas


nas com potência de 250 HP. Custou fragatas e corvetas de primeira ordem
1.560,000 francos. do sistema misto."
Ainda que sem o sucesso desejado Essa situação perdurou praticamen-
mais uma vez o povo deu provas de te durante todo o segundo reinado,
sua compreensão para os problemas onde os orçamentos aprovados anual-
pertinentes à segurança nacional. Pela mente eram insuficientes para que a
segunda vez a participação dos brasi- Marinha dispusesse de recursos para
leiros é decisiva para impulsionar e preparar uma força naval poderosa e
incrementar o nosso Poder Naval. respeitável. Alega, ainda, o Barão de
Esse fato serve de lição importante Jaceguai, que grande parte das ver-
para os dias de hoje. É imprescindível bas orçamentárias era destinada à
que haja um correto e real entendi- manutenção de navios do serviço de
mento da nação para os seus proble- polícia costeira e fluvial. Tais fatos
mas de segurança nacional. Não basta podem ser estendidos ao período re-
que a Marinha deseje uma expressiva publicano, conforme veremos, e mes-
e respeitável força naval, mas sim que mo aos dias de hoje, onde a escassez
seja essa uma aspiração nacional — de recursos financeiros impede a ex-
almejada pelo povo e executada por pansão da Esquadra Brasileira.
seus representantes. Porque somente A única exceção verificada foi du-
assim será possível desenvolver a rante a Guerra do Paraguai, o que
construção de navios de guerra, seus proporcionou o rápido aumento dos
equipamentos e armas, que requerem meios flutuantes. Contudo, é preciso
vultosos investimentos e esforços. que se reconheça que mesmo durante
Apesar da acentuada diminuição no os anos das vacas magras os enge-
ritmo de construção naval, data dessa nheiros navais, projetistas e constru-
época a construção da Corveta Nite- tores mantiveram um lento mas eficaz
rói, o maior navio misto construído trabalho, principalmente de estudos e
no País. Com planos do Engenheiro aperfeiçoamento, que possibilitou a
naval Napoleão Levei teve a quilha partir de 1865 o vertiginoso incremen-
batida em 4 de maio de 1857, sendo to das atividades de construção naval.
lançado ao mar somente em 4 de É importante frisar que o Enge-
abril de 1862. Deslocava 1819 tone- nheiro naval Napoleão Levei cons-
ladas. truiu em 1854 o primeiro navio a hé-
Essa demora na sua construção de- lice, sem que até essa data houvesse
monstrou claramente a pouca impor- aportado em nosso País uma embar-
tância que se passou a dar aos meios
cação com tal tipo de propulsão. Da
flutuantes. É oportuno recordar as pa-
mesma forma, "a construção do En-
lavras do Ministro Paes Barreto, no
seu relatório apresentado ao Parla- couraçado Brasil representou um sal-
mento em 1860: "os recursos ordiná- to no nosso andar rotineiro, salto que,
rios do orçamento mal chegam para com certeza, não se teria tentado se
a conservação dos navios que possuí- a guerra civil que se fazia então nos
mos e construção de alguns pequenos Estados Unidos não tivesse oferecido
vasos destinados a substituir os que o espetáculo das proezas do Encou-
se vão inutilizando, e que são indis- raçado Merrimac em H a m p t o n-
-Roads." 5»
pensáyeis ao serviço e polícia dos nos-
sos portos e costas. Entretanto, nin- Esse acompanhamento de perto do
guém desconhece a necessidade, que desenvolvimento náutico mundial pro-
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 69

piciou sempre à Marinha sua constan- Entre o relatório do Ministro Araú-

te modernização. Contudo, durante Brusque, datado de 19 de abril de


jo

períodos mais recentes a administra- 1864, e o Quadro V, inclui os <


que
ção naval tem custado um a navios existentes, recebidos, adquiri-
pouco
acompanhar as modernas Marinhas. dos e em construção durante o ano

de 1865, constata-se uma diferença de


Ao iniciar-se a década de 1860,
nossa 24 embarcações, 19 novas ou em
força naval compunha-se de 50

navios construção e 5 adquiridas. É bem ver-


armados e dez desarmados,
sendo dade a esse número se
37 a vapor e 23 a vela. Dos que pode

50 acrescentar alguns transportes fretados


navios em atividade somente 27

foram para o transporte de tropas para o tea-


considerados em estado bom,

regular 60 tro de operações.


ou satisfatório.

Outro fato bastante interessante é a


Em 1863, dos 43 navios em ativi-
verificação somente a partir de
dade, a Fragata Constituição servia que
fins de 1864 início de 1865 começa-
de escola de tiro e depósito
prática
ram a surgir os navios en-
de marinhagem; ser primeiros
nove não podiam
couraçados na composição da Esqua-
considerados navios de
perfeitos guer-
dra Brasileira. O Arsenal de Marinha
ra e um não ser considerado
podia
do Rio de Janeiro lançou o Encoura-
navio de A força ficava, assim,
guerra.
Tamandaré, navio des-
reduzida a navios. çado primeiro
32
se tipo construído no País.
A realidade era em meados de
que "Os
navios de vapor, o casco de
1864, às vésperas da deflagração do
ferro e a couraça foram a eloqüente
conflito contra o Paraguai, o Ministro
da representação da Revolução Industrial
Marinha Araújo Brusque relatava
na Guerra do Paraguai. Nunca se fez,
o seguinte do estado do ma-
quadro
"com- no Brasil, esforço de semelhan-
terial de da Armada: guerra
guerra
te. Nunca o surto de desenvolvimento
põe-se, atualmente, a nossa força na-
vai da Marinha foi tão eloqüente, fruto
de 42 navios, 13 de vela e 29
a vapor, montando 239 bocas de fogo, das imposições do estado de belige-

de rância. Nunca os fatos mostraram


guarnecidas por 2 787 praças pré
e 602 oficiais do corpo da Armada com tanta evidência a necessidade de

e outras classes de embarque. Entre- se manter sempre uma razoável força

tanto, nove não eram considerados naval atualizada nas modernas técni-

navios de só ser cas, não para a conquista, nem para o


guerra, pois podiam
empregados no serviço de gosto dos espíritos belicosos, mas para
paquetes.
Além desses, conservam-se desarma- a segurança do Estado e a certeza de

dos uma corveta, um brigue, uma ca- uma defesa eficaz garanta os ci-
que
nhoneira 61 dadãos amantes de sua
a vapor e um transporte." pátria."63

Para suprir as necessidades navais O notável esforço empreendido pelo


o Ministro Araújo Brusque idealizou Arsenal da Corte pôde ser traduzido

uma força naval composta de 46 na- pela construção, no período de 1865

vios assim constituída: três corvetas a 1869, dos seguintes navios: três En-

do de couraçados — Tamandaré, Barroso e


porte da Niterói e seis corvetas

350 HP, todas de casco de madeira Rio de Janeiro; seis Monitores-encou-

e hélice; canho- raçados — Pará, Rio Grande, Ala-


propulsão a
quinze
neiras de 150 HP, de 100 HP, goas, Piauí, Ceará e Santa Catarina-,
quinze
todas de de ferro, re- duas Canhoneiras — Taquari e Lame-
casco podendo
62 —
ceber couraça, se necessário. go~, duas Bombardeiras Pedro
70 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Afonso e Forte de Coimbra; uma Cor- dispunha de mais de 70% de seu to-

veta — Vital de Oliveira; e o tal a construção de novos na-


peque- para
no Vapor Levei. Dessa forma, em vios e para o reparo e manutenção

cinco anos construiu o Arsenal de Ma- dos existentes. De um total de sete

rinha do Rio de Janero 15 navios, ini- mil e contos de réis, cerca


quinhentos
ciando, em 1869, a construção do de cinco mil estavam assim divididos:

Encouraçado Sete de Setembro, so-


64
mente concluída em 1874. Arsenais — 1560:785$432

Além desses navios, o Arsenal da —


Força Naval 1287:629$000
Corte manteve com eficácia os navios
Materiais — 2150:000$000 66
da Esquadra, realizando reparos cons-

tantes, bem como construiu um nú-


De 1864 a 1870, conforme men-

mero enorme de pequenas embarca-
cionado, a Esquadra Brasileira prati-
ções, especialmente escaleres, apetre-
camente duplicou, de 42 na-
passando
chos e equipamentos necessários a
vios para cerca de 90.
equipagem de bordo.
"o
Segundo Jaceguai, máximo do
Acrescenta-se aos méritos do Arse-
poder de nossa força naval foi atin-
nal a sua capacidade em construção,
gido em princípios de 1868,
quando
demonstrada, nesse período conside-
a nossa esquadra em operações reali-
rado, diversas vezes, sobressain-
por zou o forçamento das fortificações de
do o tempo dispendido para prontifi- Humaitá. Então o número de unida-
car o encouraçado — o Ta-
primeiro des, de diferentes forma-
graus, que
mandaré. Teve a sua batida
quilha vam o total da força naval do Impé-
em 31 de de 1865 e foi lan-
janeiro rio, atingiu a 75, montando 290 pe-
ao mar menos de cinco meses 67
çado de artilharia."
ças
#0
depois, a 26 de junho de 1865.
Já Porto e Albuquerque afirma
que
O fator propiciou tal na
principal que Administração Cotegipe, no pri-
feito foi, sem dúvida, a contínua ati- "o
meiro semestre de 1869, Império
vidade dos engenheiros, técnicos e
do Brasil tinha a mais força
poderosa
projetistas navais, em momento naval de sua história
que até então." Eram
algum deixaram de se dedicar à cons- 84 navios, sendo dezesseis encoura-
trução naval. Isso ocorreu durante
çados, quarenta e oito sem couraça,
todo o Segundo Reinado, marco im- doze lanchas a vapor, duas bombar-

portante do nosso desenvolvimento deiras e seis navios 68


a vela."
tecnológico. Mesmo nos em
períodos é bem ambos histo-
provável que
restrições financeiras impediam a
que riadores não estivessem considerando
construção de navios de os
guerra, os inúmeros navios transportes freta-
engenheiros e técnicos navais conti-
dos pela Marinha durante praticamen-
nuavam a desenvolver estudos e pro- te todo o transcorrer da Como
guerra.
jetos, mantendo-se atualizados e pron- exemplo, citamos alguns desses na-
tos para iniciarem constru-
qualquer vios fretados em diversas fases do
ção de navios.
conflito: Diligente, Arinos, Teixeira

A par desse fato, a concor- de Freitas, Paraná, Marquês de Ca-


guerra
reu para o Governo Imperial de- xias, Pedro II, Pirajá, Riachuelo,
que
dicasse maiores recursos financeiros Santa Cruz, Gonçalves Martins, São
ao setor naval, o in- José, São Paulo, Susan Bearn, Whi-
possibilitando
cremento da construção de navios de teinch, Wipper, Marcílio Dias, Lima

guerra. Em 1865, o orçamento naval e Silva, Lamego, Juparaná, José São


AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 71

Romão, Jaguaribe, Jaguaretê, Gucâ- Além desses, contava a Flotilha de

curu, Golfinho, General Osório, Gene- Mato Grosso com cinco Canhoneiras

ral — Anhambaí, Cuiabá, Corumbá, Alfa


Argolo, Galgo, Dona Francisca,

Dezesseis e Jauru, e do pequeno Vapor fluvial


de Abril, Brasil, Berenice,
Paraná. No entanto, somente a Ca-
Anicota etc. Ademais, outras pequenas
nhoneira Anhambaí estava armada
embarcações auxiliares devem ter sido
69
com duas bocas de fogo.
omitidas, é
pois provável que próximo
ao fim da a nossa força naval Durante o conflito dois navios fo-
guerra
tivesse atingido a 90 navios, ou mes- ram destruídos, o Jequitinhonha e o

mo um mais. Rio de Janeiro, muitos incorporados e


pouco
Apesar do expressivo número de substituídos, de modo a cada mo-
que
navios construídos no País, inclusive mento a força naval brasileira dispu-

nos estaleiros a Marinha nha de uma composição diferente. Da


privados,
teve de recorrer ao exterior com- mesma forma, foram muitos os trans-
para

plementar as suas necessidades. As- afretados, alguns apenas


portes para
sim, adquiriu na França cinco navios em face das necessida-
uma comissão,
e na Inglaterra, seis. Depois dessa de tropas e de material
des de envio
fase somente em 1873 foi reiniciada em operações.
as forças
para
a aquisição de navios no estrangeiro.
Levy Scavarda apresenta uma rela-
A ação da Marinha na Guerra do
de 59 navios e mais 10 lanchas
ção
Paraguai é demais conhecida e,
por tendo de operações
como participado
por isso, deixaremos de descrevê-la,
de durante o longo conflito.70
guerra
pois estenderia de muito esse traba-
Após o fim das hostilidades, rapi-
lho. Contudo, citaremos a força naval
damente decresceu o número de uni-
sediada no Prata, ali fora
que para
dades da Esquadra Brasileira. Já no
participar da Campanha Oriental, ini-
ano de 1871 a nossa força naval se
ciando depois as ações contra a Re-
restringira a 56 navios. A redução
pública Paraguaia:
acentuada do orçamento naval deve
Fragata | Amazonas
ter sido o motivo de tão
principal
Corvetas Niterdi drástica medida. Esse número dimi-

Recife nuiu ainda mais, atingindo em 1875

Paraense a 42 unidades, conforme mostra o

Quadro VI.
Belmonte
Contudo, verificar nesse
Jequitinhonha podemos
mesmo o expressivo número
Beberibe quadro
de navios com menos de dez
Parnaiba jovens,
anos. Somente o Arsenal de Marinha
Itajai
do Rio de Janeiro construiu doze na-
ragua'a
Canhoneiras A vios no de 1865 a 1875,
período por-
Ipiranga
tanto, mais de um ano, além de
Araguari por
se encontrar com o Cruzador Par-
Iguatemi
naíba na carreira. Por outro lado,
Mearim
foram adquiridos 14 novos navios no
Ivcd
estrangeiro, sete na França e sete na
Maracana
Grã-Bretanha.
Taquari
Em a acentuada redução
que pese
Transportes Peperiagu brasileira, a renovação
da força naval
IguaQU.
dos meios flutuantes foi expressiva,
72 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

a manutenção de uma Estados Unidos da América, e da uti-


propiciando
esquadra moderna. Chegou-se a en- lização de novos armamentos.

comendar a um estaleiro do Tâmisa O torpedo automóvel Whitehead


um encouraçado de 9310 to- foi um exemplo marcante de
grande progres-
neladas de deslocamento, de poder so no setor de armamentos. Criou-se

ofensivo e defensivo igual ao dos mais ainda uma oficina de fabricação e de

fortes vasos congêneres então reparos de torpedos.


que
existiam ou achavam-se em constru- Adquiriu-se na Grã-Bretanha dois

ção nas Marinhas da Europa. Rece- novos Encouraçados, Riachuelo e o


o
beu o nome de Independência, mas Aquidabã. Riachuelo
O foi conside-
foi vendido à Grã-Bretanha em 1878, rado, na opinião dos técnicos da épo-

já estava guarnecido e pron- ca das nações marítimas mais adian-


quando
to para iniciar a viagem para o País.71 tadas, como um modelo em seu gê-

Em fins de 1879, a 19 de novem- nero. Durante algum tempo foi o en-

Porto couraçado mais veloz existia.73


bro, partiu do do Rio de Janei- que

ro a Corveta Vital de Oliveira Apesar de ter diminuído o ritmo de


para
a viagem de circunavegação construção o Arsenal da Corte cons-
primeira
realizada navio brasileiro. Essa truiu sete novos navios até 1885 e
por
corveta foi construída no Arsenal de havia batido a do maior navio
quilha
Marinha do Rio de Janeiro sob de brasileiro até hoje construí-
pia- guerra

nos de Napoleão Levei e máquinas de do no País, o Cruzador Tamandaré,

Matos e Braconnot. Era um navio de 4 537 toneladas de deslocamento.

O Arsenal da Bahia construiu mais


misto. Essa viagem demorou 430 dias,

sendo 268 dias de navegação e 162 dois navios e o de Pernambuco, um,

de em diversos de to- o Transporte Pirapama. Dos estalei-


paradas portos
dos os continentes. ros, somente o da Saúde, no Rio de

Janeiro, entregou um navio de guerra


Nesse período inaugurou-se o se-
à Marinha nesse período.
gundo dique seco do Arsenal da Cor-

te, aberto em rocha viva e ao lado O Quadro VIII apresenta uma re-

do construído na Ilha das lação de 40 navios, registrando-se,


primeiro
Cobras. Data também dessa época a portanto, um ligeiro decréscimo em

do Arsenal de Marinha relação ao anterior. Praticamente, essa


prontificação
* foi a última força naval do
de Ladário, em Mato Grosso, com período

capacidade atender à manuten- monárquico.


para

ção da flotilha destinada à defesa do Ao final dessa década, formou-se


alto-Paraguai e seus afluentes.72 a Esquadra de Evoluções, cujo pri-

Em 1880, a nossa força naval era meiro Chefe foi o Barão de Jaceguai.

composta de 48 navios, sendo 14 en- O Imperador chegou a presenciar as

couraçados. Registrou-se, nessa última primeiras manobras e foi grande a

década notável desenvol- repercussão teve na época. En-


do Império, que
vimento do naval, da tretanto, medida de economia, foi
material através por

aquisição de modernos navios, da extinta pouco depois para desgosto

construção naval no País, dos conhe- de seu Chefe.

cimentos técnicos adquiridos Finalmente, a 27 de outubro de


pelos
oficiais, tanto na Europa nos 1888 do Rio de Janeiro, sob
quanto partiu

* Arsenal de Mato Grosso na Cidade de Corumbá e foi


O antigo estava situado
desativado após a construção do novo em Ladário, hoje Base Naval de Ladário.
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 73

o Comando do Capitão-de-Mar-e- cios, restiíuídos. Para


generosamente
-Guerra
Custódio José de Melo, o cá trouxeram homens de valor, habi-

Cruzador Almirante Barroso, litados souberam no


para profissionais, que
realizar a segunda viagem de circuna- desempenho de suas funções transmi-

vegação de nossa Marinha. O Almi- tir ensinamentos à


preciosos primeira
rante Barroso, todo de construção de marinheiros brasileiros. A
geração
nacional, inclusive a máquina esses homens do mar, estrangeiros
pro- por
pulsora, regressou a 29 de de nascimento, rendemos à homenagem
julho
1890, sob regime republicano. de nossa
já gratidão.74

Encerra-se assim, o áureo Sob as ordens desses oficiais come-


período
da Marinha do Brasil. çaram a nascer os homens do mar

brasileiros e futuros chefes navais.


CONSIDERAÇÕES FINAIS Entre eles, Joaquim Marques Lisboa,

depois Almirante e Marquês de Ta-


Foi, sem dúvida, o Império uma
mandaré, Patrono da Marinha.
época marcante a Marinha. Des-
para
de a sua Entre os conflitos participou,
criação até a Proclamação que
da República dois merecem destaque, pois repre-
soube a Marinha man-
ter-se em sentaram ainda os períodos em as
condições de desempenhar que
a sua missão Houve, forças navais brasileiras alcançaram o
precípua. por
vezes, em o nível dese- apogeu. A Campanha da Cisplatina
períodos que
jado caíra além do esperado, chegan- propiciou a formação de oficiais e

do mesmo a comprometer a sua ima- marinheiros afetos aos mais duros la-

gem tão duramente conquistada em bores do mar, preparando comandan-

penosas campanhas. Mas foram tes experientes à profissão e conhece-


pe-
ríodos de exceção. dores da naval. Já, sua
guerra por
Ainda fossem indesejáveis, os vez, o conflito contra a República
que
inúmeros conflitos ocorridos durante Paraguaia, sustentada em rios duran-

o Império a formação de te cinco anos, só formara aguer-


propiciaram gente

pessoal capaz, bem como forçaram o rida, mas sem o mesmo preparo para
desenvolvimento de todas as ativida- a náutica.
profissão
des inerentes à das forças
preparação Contudo, fato notável merece
que
navais. Ademais, a constante inter- destaque é cerca de 45% dos ca-
que
venção da Marinha nas muitas discór-
e primeiros-tenentes da
pitães-tenentes
dias ocorridas no nosso País, certa- Armada se encontravam na área de
mente concorreu o estado de
para combate e mais de 80% dos se-
que
prontidão, tão necessário a uma for- também estavam en-
gundos-tenentes
ça armada. na luta. Isto fez com toda
gajados que
Certamente foram muitcs os erros essa geração de oficiais, cujo protóti-
cometidos. Mas, indiscutivelmente, os foi Saldanha da Gama e con-
po que
acertos sobrepujaram ou- tou com Von Hoonholtz, Felinto Per-
quaisquer
tros desvios ou falhas, de modo ry, Castro e Silva, Marques Leão,
que
o saldo legado se tornou em lição Custódio de Melo e Wandenkolk, ini-
que
merece ser aprendida. ciasse sua carreira na Marinha debai-

foi um exem- xo de fogo, o certamente, os in-


A criação da Marinha que,

Acertadamente as fluenciou pelo resto da vida.75


pio de sabedoria.

elites responsáveis e o povo participa- Mas a par das glórias conquistadas

ram e depositaram nesse empreendi- nas duras batalhas, souberaiji os res-

mento esperanças e sacrifí- ponsáveis pela Administração Naval


grandes
74 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

dar a importância devida a prepara- Brasil-Marítimo, ou seja, era reconhe-


ção das forças navais. E não só adqui- cida a importância do mar para a jo-
riram modernos navios nos adiantados vem nação. Tempos houve em que
centros estrangeiros como, principal- essa nação era marítima, assim en-
mente, canalizaram esforços para a tendida tanto pelas elites dirigentes
infra-estrutura indispensável à criação quanto pelo povo, que por mais de
e manutenção das esquadras. uma vez deram provas concretas da
A média de navios construídos du- importância com que viam as coisas
rante o Império foi, praticamente, de ligadas à Marinha, mesmo que com
dois navios por ano, o que comprova sacrifícios penosos.
a real capacidade de construção da Que a história nos ensine essas li-
Marinha Imperial. Tal feito, fruto do ções, mostrando o rumo certo, para
saber dos chefes de então na difícil que erros não sejam repetidos desne-
escolha do rumo a seguir, foi resul- cessariamente.
tado dos esforços de muitos homens Guarnecida por verdadeiros homens
dedicados à construção naval. Nomes do mar, corajosos guerreiros, capaci-
como Braconnot, Levei, Batista, Cân- tados engenheiros e indiscutíveis pa-
dido Brasil, devem ser lembrados jun- triotas, a Marinha desempenhou no-
tamente com os dos heróis de guerra, tável papel na consolidação e integri-
pois foram eles os responsáveis pela dade do nascente país. Alicerçada em
construção de um sem número de sólida e eficaz capacidade de constru-
navios que constituíram as forças na- ção naval, de oportunas aquisições
vais, que tanto engrandeceram a nos- externas de modernos navios, a Força
sa Pátria. Naval Brasileira pôde garantir os obje-
"Não foi um sonho a engenharia tivos nacionais e manter as tradiçõ:s
naval na Monarquia, como se viu. Foi marinheiras herdadas de seus ante-
uma realidade árdua, mas que aca- passados.
bou por triunfar, vencendo inúmeros Respeitada mundialmente, a Mari-
obstáculos que se apresentaram."T6 nha Imperial foi um exemplo que
A supremacia de navios nacionais foi deve ser seguido, pelo esforço, dedi-
uma constante na formação das for- cação, capacidade profissional e serie-
ças navais brasileiras. dade de seus maiores, que legaram à
Mas se não bastasse tudo isso, é História páginas gloriosas de um Bra-
preciso lembrar que o período impe- sil marítimo, grande e capaz de por si
rial representou ainda uma época de só, governar o seu destino.
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

"Quando
Davi saiu a campo com o gigante, ofereceu-lhe
Saul as suas armas, mas ele não as quis aceitar. Com armas
alheias ninguém pode vencer, ainda que seja Davi. As ar-
mas de Saul só servem a Saul e as de Davi, a Davi, e mais
aproveita um cajado e a funda própria que a espada e a
lança alheia."

VIEIRA. Sermão da Sexagésima.

(continuação)

A REPÚBLICA

De 1889 a 1935

A República trouxe maus ventos

para as Forças Navais Brasileiras. A

instabilidade do novo regime e a es-

cassez de recursos financeiros causa-


1
ram a diminuição do ritmo de cons-

trução naval e, posteriormente, a sua

completa paralisação. Isto impediu a

renovação de meios flutuantes, com


^*iii
f
\W& a freqüência desejada, desprovendo as

forças navais da vitalidade indispen-

sável ao seu fortalecimento.


Paulo Lafayette Pinto
Contudo, o ano de 1890 ainda foi
Capitão-de-Fragata
profícuo, tendo sido lançados ao mar

pelo Arsenal de Marinha do Rio de

Janeiro os seguintes navios: Cruzador

Tamandaré, de 4 537 1. de desloca-

mento, cujo preço de 3 700 000$000

talvez tenha influenciado a desconti-

nuidade da construção de navios de

guerra no País; dois Monitores-Flu-

viais, Maranhão e Pernambuco, e a

Canhoneira Cananéia, de 2 100t. de

deslocamento, lançada em 11 de ju-


77
nho de 1900.

Entretanto, para se ter uma idéia

mais correta da triste realidade da


82 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

época, o Monitor-Fluvial Pernambuco voltosos quanto pelos legalistas, e


só foi incorporado em 1910 e o Ma- empregados durante o conflito.
ranhão, somente quarenta anos de- A Força Naval Brasileira foi divi-
pois, em 1931, com o nome trocado dida em duas forças. Uma, a Esqua-
para Vitória. Voltou, porém, à car- dra Legal, colocada sob o comando
reira para sofrer modificações, sendo do Almirante Jerônimo Francisco
finalmente lançado ao mar em 22 de Gonçalves e a outra, a Esquadra Re-
dezembro de 1938, rebatizado para voltosa, sob o comando do Almirante
Paraguaçu.78 Custódio de Mello e, posteriormente,
Nos Arsenais de Marinha de Per- do Almirante Luís Felipe Saldanha
nambuco e Bahia foram lançados em da Gama.
1892 dois navios de instrução, o Re- Para combater a Esquadra Revol-
cife e o Pirajá, respectivamente. Antes, tosa o Governo Floriano adquiriu no
o ainda produtivo Arsenal de Marinha estrangeiro alguns navios de pequeno
do Rio de Janeiro lançou duas peque- porte, especialmente canhoneiras. Es-
nas canhoneiras-fluviais de 801. de sas embarcações foram grupadas em
deslocamento, Juruena e Jutaí, que Salvador, Bahia, onde o Almirante
permaneceram sempre incorporadas à Jerônimo Gonçalves iniciou os seus
Flotilha do Amazonas. preparativos para organizar a Esqua-
No entanto, as desavenças políticas, dra Legal.
registradas nos primeiros anos da Re- O único combate naval registrado
nesse conflito ocorreu a 16 de abril
pública, culminaram com uma guerra
civil, que passou à História com o de 1894, quando o Encouraçado
nome de Revolta da Armada, desas- Aquidabã, em poder dos revoltosos,
trosa sob todos os aspectos para a foi atingido por um torpedo autopro-
Marinha. Além da perda e afastamen- pulsado, lançado do Caça-Torpedeiro
Gustavo Sampaio, na barra norte de
to de inúmeros oficiais e chefes navais,
Santa Catarina.
o caos em que se afundou provisória-
mente a Nação provocou, como não A constituição da Esquadra Legal,
poderia deixar de ser, a descontinui- em 1894, era a seguinte:
dade administrativa, a paralisação de
muitos setores produtivos e o aumen-
Bahia — permane-
to do endividamento externo.
Encouraçado ceu sempre em
Durante a Revolta da Armada al- Montevidéu
guns navios foram destruídos no ano
de 1893, podendo-se citar os seguintes:
Tiraden>es
Monitor Javari e o Transporte a va- Cruzadores Niterói
por Madeira, ambos postos a pique A ndrada
na entrada da barra do Rio de Janei-
ro; a Canhoneira Marajó, incendiada Corveta Parnaíba
pelos florianistas; Canhoneira Cabe-
deio, explodiu no Pará; e o Encoura-
São Salvador
çado Sete de Setembro, incendiado no Vapores de Guerra Itaipu
Porto do Rio de Janeiro. Santos
Por outro lado, vários navios mer-
cantes foram armados, tanto pelos re-
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 83

Gustavo Sampaio Rebocadores Luci

Pedro A fonso armados Gil Bias

Silvado Guanabara

Pedro Ivo Standard

Tamborim — ficou Vulcano

o Gloria
guardando
do Rio Bittencourt
Torpcdeiras J01"1?
de Janeiro
Sabino V ieira —
ficou A imore
guardando
Porto Vapores Vitoria
o do Rio
de Janeiro 79

Transportes Itabira
Itauna
A Esquadra Revoltosa compreen- Itacolomi
Tramandai
dia 42 navios, varios
incluindo mer-
Curitiba
cantes armados. Ondina
A sua constituigao
Penedo
era a seguinte:
Uniao
Oceano
Industrial 80

Javari
Encourayados Sete de Setembro
Esses dois anos de convulsão inter~
A quidaba
na, 1893-1895, não só dividiram a
Marinha como, inter-
principalmente,
Re publico romperam as atividades referentes à
Cruzadores de ago Tamandare
construção de navios de Em
guerra.

que pese a de navios exis-


quantidade
tentes em 1895 — VIII,
Guanabara Quadro pra-
Cruzadores ticamente a mesma de
de Trajanc dez anos an-
madeira Liberdade tes, o poder combatente estava dimi-
nuído. Primeiro idade avançada
pela
dos navios depois
Paquetes principais, pela
armados Jupiter
ern pouca atualização da Força Naval e,1
cruzadores Mercurio
Marte finalmente, estado de
pelo precário
Paraiba conservação de muitos navios.
Pereira da Cunha
Durante toda a década de 90, o
Urano
Palas principal motivo o retardamento
para
Meteoro e, finalmente, a estagnação da Esqua-
Esperanto dra Brasileira residiu no
problema fi-
iris
nanceiro. Uma declaração explícita de:
I
Rui Barbosa constitui uma descrição,
em linhas dessa conjuntura,
Marcilio Dias gerais,
Torpedeiras Araguari "a
feita de maneira sucinta: situação
lguatemi financeira do não
país permite o de-,
senvolvimento do naval do
poderio
Brasil. 81
. ."
Avisos Laguna

Adolfo de Barros As despesas envolveram as;


que
campanhas de 1893-95 — Revolta
84 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Armada, de 1895-97 — Canudos a o reduzia substancialmente


e que o po-
disputa, referente ao Acre, com a Bo- der combatente real. 82

lívia, drástica redução ds "Durante


provocaram esses anos, o Brasil se de-
verbas orçamentárias destinadas a re- frontou incessantemente com o drama
novação dos meios flutuantes. Os da- da rejeição, não só de espe-
propostas
dos seguintes mostram claramente cíficas
que de reformas navais mas tam-
à fatia maior do bolo orçamentário
bém de programas de reorganização e

passou prioritariamente para o Exér- reconstrução da Marinha. Em 1903,


cito: com exceção de dez vasos de guerra,
a Marinha Brasileira não possuía
outros navios dotados do
Percentual do orga- quaisquer

Ano mento mínimo valor militar."83


national
destinado ao Chegou-se, assim, ao ano de 1905
Exertito
com uma Força Naval bastante precá-
ria e obsoleta, principalmente consi-

1892 12,6% derando o rápido avanço no desen-

1893 18,2% volvimento tecnológico naval. No


1894 31,9%
Quadro IX, podemos constatar a ida-
1895 25,3%
de elevada da maioria dos navios.
1896 15,9%
1897 16,9% Mais uma vez, reportando a década

anterior, 1890-1900, a 5 de dezembro

de 1896 era decretada a lei tor-


Fonte: Balança da Receita e Despesa que
da
nava privativa a navios nacionais a
República, 1892-1897. Imprensa Na-
cional. Rio de Janeiro — 1898. navegação de cabotagem. Isto causou

um rápido crescimento da Marinha

Isso não impediu, contudo, a Marcante, a contar, em


que que passou
Administração Naval apresentasse 1898, com 388 navios a vela, num
pe-
riodicamente de reapare- total de 26 637 t. e 212 vapores com
programas
lhamento e modernização da Força 70 650 t.84

Naval Brasileira, "forçoso


sem conseguisse Tornava-se, apa-
que portanto,
infelizmente a sua aprovação Go- relhar o núcleo futuro Poder
pelo do Naval
verno. Dessa forma, decresceu do País, visto a ninguém se
paula- que, pode
tinamente o nosso Poder Naval, em furtar a esta convicção, o Brasil há de
virtude do envelhecimento da maioria ser uma marítima,
potência queiram-no
dos navios, do obsoletismo e da 85
pre- ou não."

cariedade dos meios flutuantes.


Mas as discussões e estudos sobre a
Apesar dos obstáculos financeiros e constituição da futura Força Naval
da inexistência de um programa de Brasileira causou, durante essa déca-
construção naval, algumas unidades da e o seguinte, hesitações
período
foram adquiridas no exterior, desta- na Administração Naval,
graves que,
cando-se os Encouraçados Deodoro e de certa forma, repercutia negativa-
Floriano, ambos encomendados à mente no Governo aprovação
para
França e lançados ao mar em 1898 dos eram, então, apre-
programas que
e 1900, respectivamente. sentados.

Em 1900 a Força Naval Brasileira A voltava-se entre a


polêmica pre-
dispunha de 63 unidades, muitas em ferência vasos de
pelos grandes guer-
precário estado de conservação e ra, poderosos mas caros e dispendio-
outras destinadas ao serviço auxiliar, sos, ou navios, mais
pelos pequenos
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 85

baratos e menos exigentes quanto à nhecendo a importância de se possuir


conservação. Não era novidade o uma Força Naval respeitável empreen-
tema, como ainda hoje ocorre entre deram muitos esforços em prol da
as escolas estratégicas, mas uma re- aprovação do programa de renovação
petição de outras épocas. da Esquadra Brasileira. 89
Séculos antes o Padre Vieira emitia O programa apresentado pelo Mi-
interessante conceito sobre os nistro Júlio de Noronha, previsto para
peque-
nos e grandes navios de então. "As ser realizado no decurso de seis a oito
caravelas são escolas de fugir, e de anos, era constituído das seguintes
fazer covardes homens do mar, e de unidades:
entregar aos inimigos, do
primeiro
tiro, a substância do Brasil. Proíba-se 3 encouraçados de 12 500 a
as caravelas, e
que em seu lugar na- 13 000t. de deslocamento;
veguem os portugueses em naus 3
gran- cruzadores couraçados de
des e bem artilhadas, as
quais, pelo 9 200 a 9 700E;
contrário, serão as escolas em
que as 6 torpedeiras de 1301.; « •«
armas do Reino terão tão valentes
soldados no mar como na terra." 86 6 torpedeiras de 50 t.;
O episódio do torpedeamento do 3 submarinos; e
Âquidabã deve ter influenciado muito 1 vapor carvoeiro, capaz de car-
as decisões da época, à semelhança do regar 6 mil t. de combustível. M
ocorrido, nos tempos atuais, após o
afundamento do Contratorpedeiro is- Finalmente, em 1905 o programa
raelense Eilath, de 1 7001.
por lan- foi aprovado e posto em execução.
chás lança-míssil egípcias de 75 t. de Sofreu, contudo, nos anos subseqüen-
deslocamento.87 tes, modificações, principalmente pela
Em abril de 1904, o Ministro da Administração Alexandrino de Alen-
Marinha, Almirante Júlio César de car, até a sua total interrupção por
Noronha reconhecia "o estado completa falta de recursos financeiros.
precá-
no em que se achava o nosso material Em 1910, dois encouraçados, dois
flutuante e bem assim pugnava pela cruzadores e seis contratorpedeiros es-
sua reconstituição",
que considerava tavam sendo submetidos a provas de
uma obra ingente e inadiável, me- mar. Seu custo até então havia sido
diante a concessão de um crédito, de aproximadamente 5 250 mil libras
que
faculte o início de algumas constru- esterlinas. 91
ções." 8s A rápida evolução dos grandes na-
O Ministro Noronha acabou conse- vios, especialmente os encouraçados,
guindo os recursos financeiros neces- fez com que a cada ano surgissem
sários para implementar o seu progra- novos tipos, transformando os ante-
ma. Mas para isso foi fundamental a riores em praticamente peças de mu-
Participação das elites dirigentes e do seu. Por essa razão, o programa foi
Legislativo. Homens como Barão do modificado pelo então Ministro Ale-
Rio Branco, Chanceler Rui Barbosa, xandrino Faria de Alencar, que con-
Alexandrino de Alencar, Belfort Viei- siderou melhor evitar "despesas exces-
ra, Pinheiro Machado. Senadores: sivas com a aquisição de material de
Thomaz Cavalcanti, Alcindo Guana- pouco valor." 92 Mas tentou, por sua
bara, Laurindo Pitta e Homero Ba- vez, encomendar o Cruzador Ria-
tista, deputados, entre outros, reco- chuelo, de 30 5001., que, devido ao
86 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

atraso na sua construção, à situação A este seguiu-se o novo invento de


financeira do País e a conflagração Luís de Melo Marques, à seme-
que
européia, terminou sendo vendido ao lhança do seu antecessor, também ex-
Governo Turco ainda inacabado. um modelo
perimentou com sucesso,
A Marinha acabou adquirindo dois em 1901, mas da mesma forma
que
encouraçados, dois cruzadores, dez não foi construído. Entretanto, o mais
contratorpedekos e dois rebocadores interessante dos esforços em construir
de alto-mar na Grã-Bretanha, três um submarino nacional foi o do en-
submarinos e um navio-tênder de sub- tão Tenente Emílio Hess. O seu pro-
marinos na Itália, além de algumas foi submetido a meticulosos estu-
jeto
outras embarcações de pequeno por- dos Casas Whitehead, Krupp e
pelas
"que
te. O Quadro X apresenta uma Força Fairfield, se prontificaram a exe-
Naval já mais moderna a anterior cutá-lo, amparando, assim, a compe-
que
(Quadro IX), mas acentua a presen- tência de seus engenheiros especialistas

de navios de invento 94
ça origem externa. A o brasileiro."

predominância de vasos de guerra Lamentavelmente esse tam-


projeto
construídos no País deixa de existir
bém se perdeu nos entraves burocrá-
a partir dessa época.
ticos e provavelmente na indecisão ou
Foi justamente essa decisão, de se
falta de visão dos responsáveis
comprar no pelos
exterior uma esquadra
destinos da Marinha. A História não
completa, o fato marcante desse pro-
pode ser alterada nem muito menos
grama apresentado e posto em exe-
são válidas suposições modifi-
cução pela Administração Júlio César que

de Noronha e alterado Ministro o seu andamento. Mas certa-


pelo quem
Alexandrino Faria de Alencar. Mas mente estaríamos hoje construindo os

se não bastasse tão nefasta providên- nossos submarinos, a exemplo de mui-

cia, uma guinada de 180° no rumo tos outros e solidificando o


países,
até então seguido Marinha, esse Poder Naval Brasileiro, se ti-
pela (sic)
período concorreu para o fim das ati- véssemos no desabrochar deste século
vidades de construção naval.
executado, menos, um desses
pelo
Desde o final do século passado que projetos.
entre os muitos estudos sobre a reno-
O grande mérito das ante-
vação dos meios flutuantes destaca- gerações
riores foi incentivar as ati-
ram-se os referentes aos submarinos. justamente
vidades de pesquisa e desenvolvimen-
O Segundo-Tenente maquinista Luís
to concernentes à construção naval.
Jacinto Gomes apresentou um projeto
Através de metódicos e constantes es-
e chegou a fazer experiência com um
tudos e desenvolvimentos de
protótipo miniaturizado, conforme no- projetos

pôde a Marinha Imperial deslanchar


tícia da época, divulgada
pela impren-
"Realizou-se seus de construção naval.
sa em abril de 1901: programas

ontem a experiência do Mesmo não fosse exeqüível a


submarino que
Jacinto Gomes. No tanque de natação construção no País, mais válido seria

da Escola Naval, em do construir no estrangeiro um navio


presença
Vice-Almirante Jaceguai, Contra-Al- projetado por brasileiros. Isso ocor-

mirante Guillobel, lentes e alunos da reu, por exemplo, com relação ao

Escola Naval, o Segundo-Tenente ma- Transporte a vapor Purus, construído

Luís Jacinto Gomes fez na- na Inglaterra em 1874, sob do


quinista planos
vegar o modelo de latão de cerca de Engenheiro Naval Primeiro-Tenente

um metro de comprimento."93 Napoleão Levei.95


AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 87

O Programa Júlio de Noronha— Em 1914 rebentou, na Europa, a

Alexandrino de Alencar concedeu, a Primeira Grande Guerra. Por essa ra-

bem da verdade, momentaneamente zão, a Marinha mantinha suas unida-


"acima
uma Força Naval des operando ao longo da costa
poderosa, para
das Marinhas da Rússia e da França, fazer o Estado de neu-
prevalecer país

a esses novos vasos de guerra" tro. Os navios da Esquadra estavam


quanto
e de todas as Marinhas da América divididos em três divisões:

Latina. 96 o
Mas seria necessário
que
Brasil efetuasse compras freqüentes

manter Força Naval atuali- Sul — Cruzadores Barroso, Re-


para sua

zada e se beneficiar com isso Rio Grande do


pudesse pública,
a longo Tal con- Sul e Bahia, Aviso José
prazo. procedimento,
tudo, exigiria despesas superiores à Bonifácio e contra-
quatro
capacidade nacional e, tor- torpedeiros, sob o coman-
portanto,
nara-se inexeqüível. A repetição desse do do Almirante Pedro

erro em futuro conforme ve- Max de Frontin.


próximo,
remos, trouxe as mesmas desastrosas

conseqüências. Centro — Encouraçados Minas Ge-

Mas, apesar de tudo, a Força Naval rais e São Paulo,


quatro
Brasileira, incluindo os navios ainda contratorpedeiros, três

em construção, era considerada a submarinos e a Defesa Mi-

nona entre as marítimas da nada, sob o comando do


potências
época. 97 Almirante Francisco Mat-

Em 1908 foi realizada com sucesso tos.

a terceira viagem de circunavegação.


Norte — Encouraçados Deodoro e
O Navio-Escola Benjamin Constant,

sob Floriano, Cruzador Tira-


o comando do Capitão-de-Fragata

Antônio Coutinho Gomes Pereira, dentes, Contratorpedeiro

suspendeu do Rio de Janeiro em 22 Timbira e Canhoneiras

de regressando a 16 de de- Missões, Acre e Teffé, sob


janeiro,
zembro ao mesmo Durante essa
porto. o comando do Almirante
viagem, o navio brasileiro recolheu a
João Carlos Moura dos
bordo alguns náufragos en-
japoneses 99
Santos.
contrados numa ilha do Pacífico,

acontecimento marcou
que profunda-
mente a visita do nosso navio-escola A 26 de outubro de 1917 o Brasil

ao Império Nipônico. declarou-se em estado de com


guerra

Em 1916, Decreto n<? 12 167 o Império Alemão, após inúmeros


pelo
de 23 de agosto, foram criadas as Es- afundamentos de navios mercantes

colas e de Submersíveis. brasileiros. Em conseqüência do esta-


de Aviação

Era a nação sul-americana a do de foi decidido enviar à


primeira guerra
incorporar ao Poder Naval a moderna Europa uma Divisão Naval para re-

arma — 98 o Brasil aos aliados.


aviação naval. Isso, no en- presentar junto
tanto, agravou ainda mais os Essa divisão, denominada Divisão Na-
parcos
recursos financeiros disponíveis. vai em Operações de Guerra, DNOG,
88 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

foi confiada ao comando do Contra- Frontin e era constituída dos seguin-


-Almirante Pedro Max Fernando de tes navios:

Cruzadores Rio Grande do Sul n° 1 (Capitania)

Bahia n? 2

Contratorpedeiros Piaui n? 3

Rio Grande do n° 4
Norte
Paraiba n"? 5

Santa Catarina n" 9

Cruzador-Auxiliar Belmonte n° 6

Rebocador Laurindo Pitta n"? 8 100

Essa força suspendeu de Fernando o Almirante Grant, Comandante da


"Recomendo
de Noronha com destino a Freetown Esquadra de Gibraltar:

(Serra Leoa), a 1? de agosto de 1918. muito especialmente a Divisão Naval

Durante a travessia do Atlântico, no Brasileira. Entre navios de sete na-

terceiro dia de viagem, foi avistado ções, tive sob as minhas ordens,
que
um submarino CT Rio Grande os brasileiros só me causaram satis-
pelo
103
do Norte, o atacou decisivamen- fação."
que
te.101 A DNOG regressou ao Brasil em
"A
façanha do afundamento des- 23 de maio de 1919, atracando no
se submarino, reconhecido e consta-
Recife, e logo após, a 9 de junho,
tado pelo Almirantado Britânico, é
chegava ao Rio de Janeiro. Ainda
com inteira justiça atribuída ao CT
nesse mês de junho a DNOG é des-
Rio Grande do Norte, soube al-
que,
feita.
vejar a torreta, enquanto visível, com

vários Em sua última Ordem do Dia, de


disparos de canhão, investiu

decidida e veiozmente sobre esse alvo, n<? 39 e datada de 25 de junho de

lançando no local em o subma- 1919, o Almirante Pedro de Frontin,


que
"Todo
rino desapareceu e em sua rota Comandante da DNOG, disse:
pro-
vável número de bombas de militar, até o momento da guerra,
grande
102 em dívida a sua Ao
está com pátria.
profundidade."
saldarmos agora essa dívida, conti-
Apesar das 156 baixas sofridas em

Dacar em conseqüência da es- nuamos com o compromisso ainda


gripe
na força brasi- maior de resguardá-la dos perigos
panhola que grassou
leira, a DNOG se houve muito bem, conseqüentes dessa guerra mundial,

mantendo elevado moral e represen- em o inimigo, vencido, pretende


que
tando dignamente a Marinha do Bra- lançar aos povos felizes e prósperos

sil. Referindo-se à DNOG, em rela- a semente da discórdia social e a se-

tório ao Almirantado Britânico, disse gregação das Nações.


AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 89

"Os
marinheiros da Divisão Naval esforços pesados do pessoal
querendo
100
em Operações de Guerra sem exce- e correndo riscos perigosos.

Ção, em vista da confiança fundada No entanto, a Administração Naval

neles depositaram, tomaram o continuou a insistir em aquisições ex-


que
compromisso de honra de serem os ternas ao invés de voltar-se a
para
primeiros a sobreguardar a ordem e construção de navios no País. Antes
a integridade do nosso formoso mesmo do término da Grande Guerra
Brasil." 104
então Ministro Alexandrino de

Alencar, em relatório
seu para o ano
Além da DNOG, a contribuição do
"a
Brasil de 1918, alegava Esquadra
o esforço de guerra dos que
para
o Brasil possui satisfez, parcial-
Aliados foi representada outros que
por
meios, mente, ao tempo de sua formação, ao
como:
problema político do País. . mas
a) Envio, à Inglaterra, de um gru- "a
que mal poderia manter inviolabi-
po de aviadores navais destinados a
lidade da costa e a garantia dos mares
treinar cooperar com a Royal Naval
e territoriais" época não ha-
(naquela
Air Service -logo depois, através da
víamos ainda incorporado o mar de
fusão com a Royal Flying Corps, 107
200 milhas). Propunha o Almi-
transformada RAF —
na valente
rante Alexandrino adquirir no exte-
Royal Air Force;
rior, mesmo sabendo nenhum país
que
b) envio, o francês, de fornecer, um cruzador tipo
para front poderia
uma Missão Médica Especial, chefia- scout de 4 500 t., cinco destroyers de

da Dr. Nabuco de Gouveia; e 2001. e cinco submarinos de 1


pelo

trinta mil t.
c) afretamento, à França, de

navios ex-alemães, dos confiscados No seguinte, o Almirante Go-


ano

pelo nosso Governo.105 mes Pereira, então Ministro da Mari-

Sem dúvida, a expressiva nha, considerando a Esquadra inade-


participa-
ção do Brasil no esforço de e mal preparada, conforme ex-
guerra quada
aliado representado DNOG. em seu relatório para o ano de
está pela posto
Entretanto durante cerca de 50 anos 1919, um novo programa,
propunha
a Marinha desconheceu compreendendo a aquisição dos se-
praticamente
o çuintes navios: cruzadores de
evento, não realizando cerimônias quatro

tão 4 mil e 5 mil t., cinco contratorpedei-


que comemorassem e divulgassem

notável ros de 1 mil a 1 200 t., três submari-


feito. Somente a partir de

1972, nos de 800 t., 6 submarinos de 250 t.,


o Vice-Almirante José
quando
um navio-mineiro (sic) e um navio-
Uzeda era comandante do 1? Distrito
-tanque a usar o
Naval, recomeçaram as solenidades (começava-se
108
referentes espe- óleo).
à Grande Guerra e,

cialmente, à DNOG. E assim a Marinha, ela-


prosseguiu
borando grandiosos, sonhando
Contudo, apesar do êxito da cam- planos
com uma Esquadra e mo-
panha empreendida, as dificuldades poderosa
derna, tentando sempre adquirir na-
enfrentadas Marinha man-
pela para
ter vios no exterior.
os navios em condições operativas

colaboraram mostrar o erro na Por essa razão, navios foram


para poucos
aquisição daquelas unidades. Mesmo incorporados a nossa Força Naval. Os

os navios componentes da DNOG, últimos navios construídos no País

mereceram cuidados especiais, a Marinha foram dois iates presi-


que para
freqüentemente sofriam avarias, re- denciais, Tenente Rosa e Tenente Ri-
90 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

beiro, lançados ao mar, respectiva- elaborados após a Revolução não sa-


mente, em 1910 e 1911. O primeiro tisfaziam as necessidades da Mari-
foi construído pela Organização Lage, nha."110 Pela franqueza que usou,
na Ilha do Viana, e o segundo, pelos traduzindo a realidade dessa época,
Estaleiros Caneco, ambos no Rio de transcrevemos as palavras proferidas
Janeiro. pelo Presidente Getúlio Vargas, em
Em 1922 eclodiu no Rio de Janeiro 9 de novembro de 1941, que retratam
uma revolta militar, cujos focos prin- a situação da Marinha, bem como as
cipais se manifestaram no Forte de conseqüências do rumo assumido a
"Tempos
Copacabana, na Escola Militar do partir da virada do século:
Realengo e na Vila Militar. Essa re- houve em que nossa Esquadra foi a
volução notabilizou-se pelo episódio maior da América. Não pudemos, po-
dos "18 do Forte", onde remanescen- rém, conservá-la no mesmo nível
tes do Forte de Copacabana, liderados e estacionamos lamentavelmente. As
pelo Capitão Siqueira Campos, tom- causas imediatas desse retardamento
baram na praia de Copacabana, em residem, como é sabido, na transfor-
5 de julho de 1922. mação dos veleiros em navios a vapor
No entanto, no dia seguinte, uma e da construção de madeira em ferro.
Força Naval, composta dos Encoura- O papel a que fomos relegados, de
simples produtores de matérias-pri-
çados São Paulo e Minas Gerais e
mas, o destino rural que aceitamos
pelo CT Paraná, suspendeu da Baía
de Guanabara para neutralizar os ca- obrigou-nos a essa regressão. Porque
nhões do Forte de Copacabana. Era parar é verdadeiramente retroceder.
comandada pelo Vice-Almirante Pe- Embora possuíssemos meios para o
dro Max Fernando de Frontin, então desenvolvimento da indústria náutica,
Chefe do Estado-Maior da Armada, fechamos os nossos estaleiros e volta-
mos a uma situação colonial, com-
que içou o seu pavilhão a bordo do
CT Paraná. prando navios, comprando combustí-
vel, encomendando feito o que podia-
Após trocas de tiros entre o Encou- mos fazer. Assim acontecia com a
raçado São Paulo (19 tiros) e o Forte Marinha de Guerra e a de Comércio.
(10 tiros), este último, atingido, ren- Quando assumi o Governo (em
deu-se. No mesmo dia a Força Naval, 1930), os últimos navios adquiridos
comandada pelo Almirante Frontin, ainda não estavam pagos, porque de-
regressou a seu fundeadouro. Estava víamos os empréstimos contraídos
encerrada a Revolução de 1922, onde
episódios memoráveis engrandeceram para custeá-los; já estavam velhos,
contavam mais de vinte anos. A Ma-
as páginas de nossa História. 109 rinha sobrevivia graças ao espírito
A Força Naval Brasileira permane- patriótico dos nossos homens do mar,
ceu praticamente estagnada até a dé- alentados pela recordação das glórias
cada de 30, quando um plano prag- passadas, pela confiança nos destinos
mático foi aprovado e executado. O do Brasil."111
Quadro XI apresenta a constituição A triste realidade herdada em 1930,
da nossa Força Naval em 1925, basi- era conseqüência natural do rumo as-
camente semelhante a de dez anos sumido na primeira década do século,
antes.
"A Marinha quando se abandonou por completo
padecia, em 1930, do a construção de navios no País. Não
mesmo mal-estar que sofrerá em 1900. tínhamos mais engenheiros e técnicos
Até mesmo os projetos de reformas navais habilitados a projetar navios,
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 91

nem muito menos unidades industriais O impasse em se encontrava


que

capazes a Marinha, diante da imperiosa neces-


de o material ne-
proverem
sidade de renovar sua Esquadra, pre-
cessário. Assim, a constituição da
cisava ser vencido a custo.
Força Naval em 1935, mostrada no qualquer
E esse custo exigiu, como não poderia
Quadro XII, além de ser basicamente
deixar de ser, esforços e,
grandes
a mesma de vinte anos atrás, estava
fé na capacidade na-
principalmente,
em situação e cional de construir e seus
precária possuía pouco preparar
valor militar. navios.
próprios
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

(continuação)

De 1936 a 1955

Após a Revolução de 1930, seguiu-


-se o Levante Paulista em 1932, con-

correndo para a instabilidade política,


agravada pela crise econômica.

Ademais, a situação internacional ain-

da se encontrava abalada desde a de-

econômica de 1929 e ressen-


pressão
tia-se dos erros cometidos no Armistí-

cio da Grande Guerra. A Marinha

viveu, assim, os primeiros anos da

década de trinta hesitante e com rumo

incerto.

A da ascensão do Almirante
Lafayette Pinto partir
Paulo
Henrique Aristides Guilhem como Mi-
Capitão- de-Fragata
nistro da Marinha, foram iniciados os

estudos a elaboração
primeiros para
de um de renovação da Es-
programa
é bem verdade a primei-
quadra, que
ra intenção foi dotar a nossa Força

Naval com navios modernos e de

logicamente fora das


grande porte,
nacionais.
possibilidades

Em 15 de de 1932, o Minis-
junho
tro da Marinha, Almirante Aristides

Guilhem, determinava ao Estado-

-Maior da Armada apresentasse


que
um Programa Naval de Renovação do

Meio Flutuante capaz de atender às


118 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

necessidades mínimas da defesa na- capitais em aparelhamento


grandes
cional. Após apreciação Almi- cujos não encontravam
pelo produtos con-
rantado, o programa ficou assim cons- sumidor e, assim, não se construía por
tituído: dois cruzadores de 8 5001.; não haver material apropriado, não
nove contratorpedeiros de 1 500t.; se material
produzia por não haver
submarinos-de-esquadra de 850 construção. Era indispensável
quatro desfazer
a 900 t.; dois submarinos-mineiros de este equilíbrio, e foi o fez a Admi-
que
750 a 800 t.; seis navios-mineiros-var- nistração Naval
preparando os seus
redores de 600 t.; três navios-tanque; arsenais e estaleiros a
para iniciar
dois diques-flutuantes e duas cá- construção de navios com material
breas.112 importado, formando assim o opera-

Esse no entanto, só mui- riado para, no futuro, as in-


programa, quando
to foi levado a efeito. dústrias brasileiras o ma-
parcialmente produzirem
O obstáculo foi, sem dúvida, terial, utilizá-lo fazendo obra exclusi*
principal
vãmente 113
o financeiro, tendo em vista nacional."
que gran-
de parte dos navios seria Concretizando esse há
previstos pensamento,
adquirida no estrangeiro. Contudo, muito desejado oficialidade na-
pela
chegou-se a encomendar à Inglaterra vai, e estando o Arsenal de
já pronto
seis contratorpedeiros e à Itália, três Marinha da Ilha das Cobras — AMIC,

submarinos. A encomenda à Ingla- ao coube encargo, a


qual pesado
terra foi cancelada por aquele Administração Naval a mo-
país planejou
após o início do conflito com a Ale- dernização da Esquadra com a sua
manha nazista, enquanto os submari- quase completa renovação. O Pro-
nos foram recebidos em março de grama de Renovação, teve início
que
1938, oficial em 11 de de 1936, com
junho
o batimento da do Monitor
Dessa forma, só restou uma alter- quilha
Parnaíba, constituiu um notável em-
nativa para a consecução do
plausível
— naval preendimento em se empenhou o
a construção no que
programa
Ministro Guilhem.
País. Convencida, de era
pois, que "Paralelamente,
essa a única solução, a Administração iniciavam-se estudos

Guilhem a envidar todos os para prosseguimento da construção do


passou
seus esse in- Monitor Paraguaçu, ex-Vitória, cuja
esforços para efetivar

tento. quilha batida em 11 de de


junho
1890, com a denominação de Mara-
As palavras do então Ministro Gui-
nhão, foi lançado ao mar e
lhem retratam de forma clara e precisa quarenta
um anos depois, isto é, em 11 de
a sua convicção na construção naval ju-
nho de 1931, com o nome de Vitória,
no País, bem como expressam as ra-
ficando encostado sem as suas
zões da nossa estagnação nesse setor: que
obras fossem terminadas. Modificados

certo este empreendimento
que os seus anteriores, foi final-
planos
nunca foi tentado nos últimos cinqüen-
mente lançado ao mar, como Para-
ta anos ter havido uma radical
por em 22 de dezembro de 1938,
guaçu,
transformação nos métodos de cons-
para, valendo a experiência com a
trução, com a substituição da madeira
construção de seu irmão, o Parnaíba,
pelo ferro, e terem as indústrias evo-
este lançado ao mar um ano antes,
luído vertiginosamente, evolução o
que em 6 de novembro de 1937, treinar
Brasil não acompanhou. Além disso,
o nosso operariado. Ambos,
posterior-
as usinas modestamente foram sur-
que mente, foram incorporados à Flotilha
não se animavam a dispender de 114
gindo Mato Grosso."
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 119

Em seguida são batidas as quilhas


das Corveta Carioca e Cananéia quadra ainda durante a guerra, refor-
em çando a Força Naval Brasileira.
" de novembro de 1937, lançadas ao
Nessa mesma época foi iniciada a
mar em 28 de outubro de 1938 e in-
c°rporadas em 16 de setembro de construção dos caça-submarinos de
1939. Seguiram-se Cabedelo, Carave- casco de madeira da classe Pirajú,
las, Camocim e Camaquã, esta última tendo sido os dois primeiros, Pirajú e
de triste memória, todas sob Pirambu, incorporados em 21 de fe-
planos vereiro de 1947. Construídos no Esta-
de engenheiros navais brasileiros, ten-
do à frente o Contra-Almirante Júlio leiro Mauá, constituíram-se nos se-
Regis Bittencourt.110 guintes navios: Pirajú, Pirambu, Pira-
nha, Piraúna, Pirapiá e Piraquê, este
O ritmo imprimido era vibrante e as último teve como derradeira missão
atividades de construção naval empol- receber os restos mortais do primeiro
gavam a todos, merecendo da Admi- Imperador do Brasil, D. Pedro I, em
"istração Naval a 1972.
prioridade requeri-
da. O entusiasmo do Ministro Guilhem
era a motivação maior Contudo, a participação do Brasil
que fazia do na Segunda Guerra Mundial e a ne-
^MlC o berço de muitos navios que
cessidade de meios bélicos para fazer
comporiam a nossa Esquadra, forjan-
"as frente à crescente ameaça dos subma-
do, assim, conforme suas
palavras, rinos nazistas em nossas águas fize-
armas destinadas à
garantia da nossa ram com que um número razoável de
soberania no mar." 116
navios fosse recebido dos Estados Uni-
Entre 20 de julho de 1940 e 8 de dos da América. Esse reforço, conse-
setembro de 1941 foram lançados os
qüência da Lei de Empréstimos e Ar-
CT Marcílio Dias, Mariz e Barros e rendamentos da nação norte-america-
Greenhalgh, incorporados em 29 de na "Lend and Lease", foi constituído
"ovembro de 1943, participando ainda por oito"B",
contratorpedeiros de 1 300 t.
do final da Segunda Guerra Mundial. classe oito caça-submarinos de
Os CT da classe "A", Amazonas, casco de aço de 335 t. classe "G", e
Araguaia, Ajuricaba, Acre, Araguari oito caça-submarinos de casco de ma-
deira de 108 t. da classe "/". Estava,
Ç Apa, tiveram as suas construções
iniciadas durante o ano de 1940. O assim, formada a Força Naval que du-
Primeiro a ser lançado ao mar foi o rante toda a guerra garantiu a nossa
CT Amazonas, em 29 de novembro soberania marítima em águas do
de 1943. No entanto, a sua incorpo- Atlântico Sul e que pode ser vista no
ração só ocorreu em 11 de junho de Quadro XIII.
1949. O último da série a ser incor. As operações navais brasileiras se
Porado foi o CT Araguari, em 21 de iniciam antes mesmo do estado de
julho de 1960, 14 anos deoois de seu "Os
guerra com as nações do Eixo.
lançamento ao mar. Era o sinal mais anos de 1940 e 1941 encontram os
claro da nova guinada no rumo esco- navios ligeiros da Esquadra Brasileira
'hido para a preparação da nossa em plena atividade no mar, quer em
Força Naval. águas nacionais como estrangeiras."117
Ainda no início da década de 40 o Após os afundamentos de inúmeros
Estaleiro Mauá construiu seis corvetas navios mercantes brasileiros por sub-
da classe Henrique Dias, de 813 t. ini- marinos alemães e italianos, o Gover-
cialmente encomendadas pela Marinha no declarou o Estado de guerra em
Britânica. Foram incorporados à Es- todo o território nacional a 31 de
120 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

agosto de 1942 e, a 16 de setembro, te a FNN dominava os mares, numa

a mobilização geral. extensão ia de sua base, em Re-


que
cife, a Dacar, a Trinidad, a Gibral-
A 5 de outubro de 1942 foi criada
118
tar."
a Força Naval do Nordeste, sob o co-

Capitão-de-Mar-e-Guerra A Marinha empregou, durante a


mando do

Alfredo Carlos Soares Dutra, guerra, 55 navios de guerra em ope-


poste-
riormente a Contra-Almi- rações bélicas. Mas foi, sem dúvida,
promovido
rante, nele até o fim da a Força Naval do Nordeste a expres-
permanecendo
Segundo suas próprias pala- são máxima da participação da Mari-
guerra.
"a
vras, Força Naval do Nordeste, nha na Segunda Guerra Mundial. A

FNN — compunha-se inicialmente de sua constituição, ao término do con-


seis unidades (1943). À medida flito, era a seguinte:
que
se fazia mais intenso o ataque dos
Além do expresivo número de na-
submarinos eixistas, o Governo foi in-
vios, a Força Naval do Nordeste rea-
corporando àquela divisão outras uni-
lizou, ainda nas de seu co-
dades, até formar um total de 39 na- palavras
mandante, Almirante Soares Dutra,
vios. Pouco a pouco, paralelamente, "104
foi se ampliando seu raio de ação e, comboios para o Exército Bra-

nos últimos meses antecederam o sileiro, inclusive as penosas e difíceis


que
término da na Europa, somen- escoltas a Gibraltar, levar os es-
guerra para
calões de nossa Força Expedicioná-
1=0
ria."
Tender Belmonte
O número total de comboios reali-
(Capitania)
zado pelas diversas Forças Navais

i Brasileiras, tínhamos ainda a Força


Cruzadores i Rio Grande do Sul
Naval do Sul e a do Norte, além da
Bahia
já citada Força Naval do Nordeste,

atingiu a elevada soma de 446, repre-

Marcilio Dias sentando cerca de 20 milhões de to-


Mariz e Barron
neladas, no valor aproximado de 60
GreenhaJgh
bilhões de cruzeiros. A extensão das
Contratorpedeiros Bertioga, Beberibe,
Bracui, Bauru, Bae- rotas percorridas esses comboios
por
pendi, Benevente, foi calculada em 600 mil milhas marí-
Babitonga, Bocaina
timas, ou cerca de trinta vezes a volta

ao mundo sobre o equador.121

Carioca, Cabedelo, A da Força Naval do


participação
Corvetas Caravelas, Can a-
Nordeste foi de 254 comboios, con-
neia, Camocim, Ca-
tando 2 688 navios aliados, represen-
maqua, Rio Branco
tando 15 137 900 toneladas. Ainda

com as do Almirante Soares


palavras
Guapore, Gurupi, "nossos
Dutra, navios efetivaram 59
G uai b a, Gurupd,
ataques comprovados a submarinos
Guajara, Goiana,

Caca-Submarinos G r a j au, Grauna. inimigos e, se não nos foi dada a ven-


Javari, Jutai, Jurud, tura de afiançar a destrui-
podermos
Juruena, Jaguarao,
ção de nenhum deles, foi-nos conce-
Jaguaribe, J a c u i,
119
Jundiai119
Jundiai dido o de apenas termos
privilégio
um — Pelotaslóide, dos
perdidos
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 121

2 688 navios entregues a nossa guar- lhas defensivas e, mais tarde, depois
da. Ademais, "arrancamos ao oceano de declarada a guerra, a primeira a
472 vidas de homens que nele se de- lançar-se em operações ofensivas;
batiam, náufragos de navios torpedea- além de ativa durante todo o período
dos ou de aviões caídos ao mar." 122 de guerra, seus esforços precederam e
A Marinha Mercante Brasileira so- procederam a esse período, pois, ainda
íreu, no período de 14 de fevereiro em setembro de 1945, seus navios se
de 1942 a 23 de outubro de 1943, a mantêm no meio do Atlântico, em
Perda de 31 navios, totalizando posições determinadas, espaçadas de
133 587 toneladas, dos quais 20 do quatrocentas milhas uma das outras,
Lóide Brasileiro. Dentre 1 734 tripu- formando, assim, extensa ponte de
lantes e 758 passageiros, morreram ou navios, ponte sobre a qual transitam
desapareceram dos primeiros 469 e incessantemente, dia e noite, aviões
dos últimos 502, num total de 971 americanos que, partidos da Europa
Pessoas.123 e de regresso aos Estados Unidos,
atravessam o Atlântico na direção Da-
A Marinha perdeu três navios, um
car—-Natal." 125
Por torpedeamento, outro por expio-
são e o terceiro por acidente no mar. Após o término da guerra, a Força
O Navio-Auxiliar Vital de Oliveira foi Naval Brasileira possuía navios novos
torpedeado em 19 de julho de 1944, e modernos e cerca de 20 unidades
Perecendo 99 pessoas; a Corveta Ca- construídas no País, número já bas-
tnaquã afundou próximo a Recife em tante expressivo. Ademais, encontra-
21 de julho de 1944, morrendo 34 vam-se em construção seis contrator-
homens, entre eles o seu comandante, pedeiros da classe A e seis caça-sub-
o Capitão-de-Corveta Gastão Montei- marinos de casco de madeira da classe
ro Moutinho; finalmente, o Cruzador Piranha. Tal fato garantia a renova-
Bahia, após uma explosão, afundou ção e abria perspectivas de fortaleci-
em 4 de julho de 1945, morrendo 333 mento da nossa Força Naval.
Pessoas, inclusive o seu comandante, Esse legado impressionante, fruto
o Capitão-de-Mar-e-Guerra Garcia da dedicação e idealismo da adminis-
D'Ávila Pires de Carvalho e Albu- tração firme e pragmática do Almi-
querque. O total de mortos, nesses rante Guilhem, não foi compreendido
três naufrágios, elevou-se a 466, nú- nem teve seguidores capazes de dar
mero equivalente às perdas sofridas continuidade ao trabalho iniciado.
Pela FEB — Força Expedicionária Nova guinada de 180° foi dada, vol-
Brasileira — em toda a Campanha da tando-se ao rumo semelhante à pri-
Itália, meira década do século. Evidente-
que foi de 470. Deste total, 364
foram mortos em combate, 60 aciden- mente, a lição não havia sido apren-
tados, 9 por doença, 4 afogados e 6 dida.
Por causas diversas. A comparação A Marinha resolveu então formu-
desses dados evidencia o valor real lar seus programas baseados na aqui-
das perdas humanas sofridas pelo sição de navios no exterior. Talvez
Brasil com a Campanha Submarina tentada pelas facilidades apresentadas
no Atlântico.124
pelos Estados Unidos da América,
Como bem observa o Almirante através de seus programas logísticos,
Carlos Penna Botto, a Marinha do a Administração Naval abandonou
Brasil "é a primeira Força brasileira não só a construção naval mas prin-
mobilizada, a primeira a iniciar patru- cipalmente o desenvolvimento das in-
122 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

dústrias de base, indispensáveis à indústria não produzia e nos se-


que
complementação da construção de ria indispensável adquirir no estran-
navios. Nem mesmo chapas
geiro. de aço de

No início da década de 1950 são alta tensão ainda e as


produzíamos
adquiridos dois cruzadores ligeiros, dimensões eram inadequadas, tanto
Tamandaré e Barroso, de sua à construção
procedência quanto qualidade,
norte-americana, contando de navios 126
já de guerra."
quase
vinte anos. Em seguida, a Adminis- Tal alegação, cômoda sob muitos
tração do Almirante Guillobel enco- aspectos, diferia significativamente das
mendou ao Japão e à Holanda diver-
palavras do Ministro Guilhem profe-
sos navios e embarcações de "Os
pequeno ridas em 1939: resultados, ver-
porte. Esses navios, em sua maioria dadeiramente satisfatórios, obtidos
destinados a serviços auxiliares,
pouco com a construção dos dois monitores
fortaleceram a Esquadra Brasileira.
e com andamento da construção dos
Assim sendo, do Japão vieram navios-mineiros, a confian-
qua- justificam
tro navios-transporte e da Holanda, depositávamos na
ça que possibilidade
dez corvetas, destinadas à e de construirmos contratorpedeiros."127
patrulha
salvamento, seis rebocadores de Ademais, o custo dos
porto navios cons-
da classe Voluntários e seis avisos da truídos naquela época foram, indis-
classe Rio Doce, para o transporte de cutivelmente, menores se houves-
que
pessoal. sem sido adquiridos no exterior.

Na administração seguinte, sendo O entusiasmo contagiante do Almi-


titular o Almirante Alves Câmara, fo- rante Guilhem, traduzido nas pala-
ram adquiridos os Navios-Hidrográ- vras
proferidas quando do lançamen-
ficos Sirius e Canopus, de procedência to ao mar do Monitor Paraguaçu, cm

japonesa, que propiciaram à Diretoria 22 de dezembro de 1938 — "este Ar-


de Hidrografia e Navegação a expan- senal, tanto
que produziu no tempo
são de suas atividades. do Império, volve, após largos anos

Podemos constatar no XIV de atividade restrita, à antiga


Quadro ativida-

o número total de navios aumen- de, e assim sem


que prosseguirá desfale-
tou, mas cimentos. As suas máquinas e os
permaneceu praticamente seus
inalterada a de unidades martelos continuarão a trabalhar
quantidade com
combatentes. O número de navios de intensidade cada vez maior, coope-
origem nacional também continuou o rando na laboriosa e patriótica cons-
mesmo, insofismável da trução da do 128 —
prova parali- grandeza Brasil"
zação das atividades de construção foi anulado descrença daqueles
pela
naval. nos anos 50 conduziam os destinos da
Marinha.
É oportuno analisarmos as razões

apresentadas Almirante Renato O Almirante Guillobel, em suas


pelo
de Almeida Memórias, "O
Guillobel, Ministro da dá o seu testemunho:
Marinha entre 1950 e 1954, época falso nacionalismo, considerava
que
em se decidiu comprar navios no naquela época
que possível construir no
"pDuco
exterior. Dizia ele impor- Brasil sem o das indústrias
que preparo
tava se tratasse de construções de base, derivava da
que demagogia igno-
navais no estrangeiro ou no País, rante e ingênua
por- de uns e do espírito
em nada se alteraria a necessida- negocista de muitos outros!
que Todos
de de disponibilidade de divisas como eu, a construção
para queriam, naval
a compra de materiais a nossa no nosso País, mais
que ainda estava lon-
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 123

ge o dia em nos li- tanto esforço e dedicação exigiu da-


que poderíamos
bertar totalmente do estrangeiro para gente. Voltávamos ao estágio de
quela
a construção dos navios de guerra, simples compradores de navios de
particularmente daqueles onde o ma- de usarmos as armas de Saul,
guerra,
terial
especializado é empregado em de deixarmos de fazer aquilo éra-
que
^rga escala, era
como os da atual mos capazes. Retrocedíamos volunta-
atômica." 129
riamente ao subdesenvolvimento inde-

Em 1955, um após a mudança sejável, tanto trabalho exigiu,


ano que
da Administração anos antes, dos com maior visão,
Naval, com a cons- que,
trução compreenderam a corre-
no Arsenal de Marinha do Rio problemática
de Janeiro ta da das Forças Navais.
de três navios-hidrográfi- preparação
cos de e
45 metros, Argus, Orion As conseqüências de tais políticas
Taurus,
restabeleceu-se o entusiasmo só aparecem tempos depois,
quando
"Um
Pela construção naval no País. é tarde demais remediá-las. O ime-

detalhe a sua
técnico desses navios foi diatismo de certas administrações na-
Superestrutura
construída inteiramente vais em a curto dotar
querer, prazo,
c'e alumínio, conjunto de chapas e a Marinha de forças navais poderosas,
de
perfilados executados à solda elé- causou a adoção de medidas compro-
trica.
Foi esta a primeira vez tal vadamente ineficazes e
que prejudicais.
serviço
estrutural se executou no Melhor seria se houvessem deixado
Brasil." 130
certo o Poder Naval de-
por período
Embora a Administração Guillobel crescente e até mesmo fraco, mas ti-
tivesse vessem a coragem e a consciência de
somado um enorme número de
realizações, alicerçariam a
a sua decisão de comprar forjar as bases pre-
que
a'guns comprome- futura dos meios flutuantes
navios no exterior paração
muito o desenvol- em nosso território. Legariam, então,
^u, provavelmente,
vimento nos anos se- seguintes os meios neces-
da Esquadra às gerações
guintes. sários à construção de navios de guer-

Mas mesmo, ra, à consolidação do Poder Naval e,


o pior, imperdoável
foi a da obra conseqüentemente, à das
verdadeira destruição preparação
iniciada Guilhem, Forças Navais Brasileiras.
pelo Almirante que
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS

(FINAL)

. .De 1956 a 1975

A de 1956 se abriu o
partir para
Brasil a escalada do desenvolvimento.

Infelizmente a Marinha não se inte-

grou, como desejável, na caminhada

desenvolvimentista se iniciava.
que

Permaneceu, assim, a Administra-

ção Naval no mesmo rumo delineado

no início da década, usufruindo das

facilidades proporcionadas acor-


por
1^,1 dos militares em vigor. Recebendo o
^0>C apoio logístico de necessitava
A ,,, eft lBHySopflBo M - •¦ -- ,v. . dos
que
Estados Unidos da América para
Paulo Lafayette Pinto manter a atual Força Naval, pouco se

Capitão-de-Fragata preocupou em dinamizar o setor pro-

dutivo, paralisando, por


quase que
completo as atividades do Arsenal de

Marinha do Rio de Janeiro.

Ao final dos anos cinqüenta, são

adquiridos navios no exterior,


que,
apesar de usados, fortaleceram a Es-

existente. Vale destacar a


quadra
compra do primeiro navio-aeródromo

a compor nossa Força Naval — o

Minas Gerais de origem inglesa. Re-

modelado e modernizado na Holan-

da nos Estaleiros Verolme o Navio-


-Aeródromo Minas Gerais concedeu
100 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

nova dimensão ao Poder Naval bra- mostra claramente o grande número

sileiro, no cenário sul-americano. de navios em idade avançada. Os dois

Navios-Escolas, Guanabara e Almi-


Tal fato, outro lado, deu iní-
por
rante Saldanha, deixam de constar da
cio a um conflito interno envolvendo
relação. O fora vendido para
a Aviação Naval, durante muitos primeiro
que,
Portugal onde, rebatizado com o nome
anos, o relacionamento en-
prejudicou
de Sagres, ainda serve, nos dias de
tre a Força Aérea Brasileira e a Ma-
hoje, à formação da jovem oficiali-
rinha, bem como o do po-
progresso
dade lusitana. O saudoso Cisne Bran-
der aeronaval, indispensável às forças
co, por sua vez, foi transformado em
navais modernas.
navio-oceanográfico, no Arsenal de
As outras aquisições foram reali-
Marinha, abrindo novo campo de ati-
zadas nos Estados Unidos da Améri-
vidade para a Marinha. O único na-
ca, cedeu, mediante contrato de
que vio-escola a ser o Custódio de
passou
arrendamento, período de cinco
por
Mello, navio-transporte de tropas e
anos, renováveis, dois submarinos e
material adaptado, durante
da classe que quase
contratorpedeiros
quatro 20 anos 1957 a 1975)
"P". (de só reali-
Ainda fossem mais moder-
que zou uma única viagem de circunave-
nos e bem equipados em comparação
"A" "M", gação, em 1968.
aos sofridos classes e tal

era na Mari- Apesar da polêmica sobre essa de-


tipo de acordo pioneiro
vez, em nossa his- cisão, é indiscutível a ausência
nha. Pela primeira que

tória, arrendávamos navios de dos veleiros-escolas deixaram irrepa-


guerra.
rável lacuna na formação marinheira
Mais tarde, no início da década dos
das gerações de oficiais e praças a
60, ainda adquirimos outros dois con-
daquela época. O desenvolvi-
e Santa Catarina, partir
tratorpedeiros, Piauí
mento tecnológico naval, a evolução
no mesmo método. Somente dez anos
tática, provinda da sofisticação dos
depois, a Administração Barros Nunes
sensores e armas, e a modernização
comprou em definitivo todos esses
dos equipamentos navais não justifi-
navios.
cam a ausência de navios a vela na
Em 1960 é realizada a primeira
básica dos futuros homens
operação UNITAS, em conjunto com preparação
do mar. Tanto assim, as moder-
as Marinhas Norte-Americana, Ar- que
nas e tradicionais Marinhas do mun-
gentina e Uruguaia. Trazendo, inicial-
do mantêm seus veleiros, mais volta-
mente, novos e significativos ensina-
das para a correta e adequada forma-
mentos táticos, mantém-se até os dias
de seus marinheiros do sim-
de hoje como uma excelente oportu- ção que
saudosismo exibicionista.
nidade de adestramento com Mari- pies

nhas estrangeiras. Na década de 70, Por essa época, vinha a Marinha

outros exercícios conjuntos com For- exercendo rigorosa fiscalização no

Navais estrangeiras a ser mar territorial, de 12 milhas, da


ças passaram pesca
realizados com benefícios acentuados realizada estrangeiros. Era o lito-
por
o adestramento de nossa Esqua- ral nordestino muito
para procurado pelos
dra. lagosteiros franceses, o forçava
que

Em 1965 a nossa Força Naval não a Marinha manter intensa vigilância.

só estava reduzida, em comparação Depois de vários apresamentos de

a dez anos antes, como, barcos franceses, protestos diplomáti-


principal-
mente, envelhecida. O Quadro XV cos e incidentes de ordem política,
As FORÇAS navais brasileiras 101

"Acredita
resolveu a França, adotando a mulou a seguinte
poli- pergunta:
tica das canhoneiras, enviar um navio será contemporâneo de uma forte
que
de dar aos seus Esquadra e de Forças Navais real-
guerra para proteção
pescadores. mente brasileiras?" Responderam ne-

Essa tentativa de ferir a soberania 92%, sendo 70%


gativamente que
nacional foi retrucada Brasil atribuíram o ceticismo à instabilidade
peio que,
Para a área a Fernando de do País e a falta de planeja-
próxima política
Noronha, Esquadra a mento, enquanto 22% não confiavam
mandou sua
fim de na mentalidade dominante na classe;
fazer prevalecer seus direitos
em águas dos restantes, 3% não tinham opi-
nacionais. Despreparada

Para ação era exigida, após es- nião formada e 5% achavam


que que
forços "SIM." 131
estóicos, a Força Naval brasi-
'eira
conseguiu se fazer representar
Em 1965, e pelo Quadro XV pa-
P°r três contratorpedeiros — Pará,
demos verificar, os navios de nossa
Paraná
e Pernambuco, todos navios
Força Naval eram, em sua maioria,
americanos
arrendados, para confron-
oriundos da Segunda Guerra Mundial,
trar-se
com a Fragata Tartu, francesa,
já velhos e obsoletos em comparação
c]ue desafiava a autoridade nacional.
às modernas unidades dotadas de mis-
Esse episódio, ocorrido em feverei- seis e sensores altamente sofisticados.
r° de 1963 e conhecido como a Mais uma vez a Marinha se mantinha
Guerra
da Lagosta, explorado indiferente ao desenvolvimento do
politi-
camente
pelo então Ministro Pedro material naval e à evolução tática-
Paulo -estratégica
Araújo Suzano, serviu apenas ocorriam no mundo.
que
Para provar o era deficiente e Estagnávamos
quanto passivamente, cobrindo
obsoleta
a nossa Esquadra. A reper- os olhos a uma realidade desafiadora.
cussão
na
oficialidade foi dra-
jovem Durante a Guerra dos Seis Dias,
maticamente
negativa, contribuindo
entre o Egito e Israel, lan-
pequenas
Para uma sob to-
postura pessimista, chas lança-míssil de 751;
d°s (LLM)
os aspectos, indesejável.
de fabricação soviética, afundaram o

O descalabro da Administração Fe- Contratorpedeiro Eilath, de 1 7001.,


deral, de origem
a inflação, o caos inglesa, construído durante
galopante
Político, a desordem e a a Segunda Guerra Mundial e dotado
generalizada
Perigosa e nefasta infiltração comu- de armamento convencional. Foram

n*sta lançados mísseis superfície-


resultaram na deflagração da quatro
-superfície STYX,
Revolução surpreenderam
de 31 de março de 1964. que
o velho capitânia israelense, afun-
que
Mas mesmo após a ascensão da vi- 132
dou sem esboçar reação.
toriosa
e desejada Revolução, a Ma-
rinha Pouco depois, novamente as pe-
ainda se ressentia do marasmo
embarcações lança-míssil,
e indiferença quenas que
à sua própria sorte.
a oficialidade brasileira não recónhe-
Abalada motins e insubordina-
por cia como eficazes, demonstraram ex-
Ç°es, nos dias antecederam à Re-
que celente desempenho nas Guerras do
v°lução,
a Marinha iner- Yom Kippur e do Bengladesh, ata-
permaneceu
t(; e adormecida algum tempo cando navios mercantes, bombardean-
por
amda.
Esse desalento foi comprovado do e no caso das lanchas da
portos
P°r uma efetuada com trin- classe SAAR, israelense, derrubando
pesquisa
ta capitães-tenentes, aos se for- mísseis lançados inimigo.133
quais pelo
102 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Àinda adormecida, a Constituía-se de 160 novos navios,


permanecia

Marinha a se adestrar uma alguns caros e inacessíveis a nossa


para guer-

ra ocorrera vinte anos antes, sem capacidade industrial e tecnológica, o


que
a sua mo- obrigava a buscar no exterior a
desenvolver esforços para que
"Somente sua aquisição. O Quadro XVI mostra
dernização e atualização. a
o plano inicial do Estado-Maior da
12 de março de 1967 o Presidente da
Armada e o aprovado pelo Presidente
República proferia sua decisão a res-
da República, bastante reduzido, tota-
peito do Programa de Construção Na-
lizando 66 navios, mas, ainda assim,
vai, vinha sendo estruturado pela
que
grandioso para a nossa Marinha.
Marinha desde 1965, como resultado
Esse programa representava um dis-
dos trabalhos de planejamento inicia-
pêndio da ordem de 350 milhões de
dos com o Plano Diretor em 1963".134
dólares, sendo somente as fraga-
que
O Plano de Renovação e Amplia- tas, submarinos e varredores, te-
que
ção de Meios Flutuantes, proposto riam de ser construídos no exterior,

pelo Estado-Maior da Armada, à se- representavam cerca de 300 milhões


melhança dos anteriores, de dólares. Nessa época, 1967, a si-
pecava pelo
dimensionamento muito amplo tor- tuação econômica brasileira era re-
nando-se, desde logo, inexeqüível. seguintes dados:
presentada pelos

Produto Interno Bruto — 32 368,3 milhoes de dolares

"
Exportagoes — 1 654,0 "

Importagoes 1 "
441,2 "

Di'vida Externa 3 "


607,0 "

Fonte: CACEX.135

Podemos constatar o Progra- Como seria de esperar, o


que programa
ma de Renovação e Ampliação dos naval foi e,
paralisado posteriormen-
meios flutuantes da Marinha atingia te, abandonado. Assim, em 1975 a

a cerca de 9% da dívida externa, ou Administração Naval iniciava novos


21% das exportações, ou ainda 24% estudos a formulação de um
para pia-
das importações. Se tais índices fos- no de reaparelhamento da Marinha.
sem aplicados aos valores de 1975, o A lição histórica ainda não estava

programa naval atingiria a cerca de aprendida.


dois bilhões de dólares, ou mais, de-
Em pese o irrealismo do
que pro-
pendendo do parâmetro aferido.
grama ora analisado, a Administração

Esses fatos teriam de levar o Barros Nunes teve o mérito de ini-


plano
em ao fracasso, ou me- ciá-lo, dar à cons-
questão pelo procurando partida
nos a descontinuidade, uma vez trução no País de navios de
que guerra.
não haveria recursos cumpri-lo Foram e construídos no
para projetados
integralmente. A situação fora agra- Brasil os navios-patrulha-fluvial, na-

vada crise do surgida vio-faroleiro, balizadores, avisos-hi-


pela petróleo,
ao final de 1973, drográficos e outras poucas embarca-
provocando graves
repercussões na economia nacional. ções. No Quadro XVII já podemos
AS FORÇAS NAVAIS BRASILEIRAS 103

observar um crescente número de na- de renovação e ampliação dos meios


vios de origem nacional, embora a flutuantes, não se abriam perspectivas
predominância permaneça estrangeira. para a expansão das Forças Navais.
Por outro lado, com a ampliação E pior, o novo programa em elabo-
do mar territorial para 200 milhas ração esbarrava no comprometido or-
marítimas, em 1970, os encargos de çamento naval, sem possibilidades de
fiscalização das águas nacionais se ser viabilizado a curto prazo. Volta-
ampliaram consideravelmente. Era ne- vamos, portanto, a uma situação in-
cessário, mais do desejável, fruto da insistência em que-
que nunca, dotar as
Forças Navais de navios adequados rer, rapidamente e através de aquisi-
para o cumprimento dessa árdua tare- ções externas, redimensionar o nosso
fa. No entanto, o engajamento da Poder Naval.
Marinha, em tão vultoso empreendi- A ausência de um programa rea-
mento, deixou-a sem recursos ou cré- lista, baseado na construção de navios
ditos para satisfazer as novas neces- de guerra no País, o conseqüente des-
sidades. preparo dos órgãos responsáveis pela
Considerando que a construção de construção naval e a falta de ativida-
novas unidades ainda demandaria des relacionadas à pesquisa e ao de-
muito tempo, a Administração Barros senvolvimento, voltadas para o pro-
Nunes resolveu adquirir dos Estados jeto de navios, causaram um novo
Unidos da América oito contratorpe- adormecimento da Marinha.
deiros, usados, oriundos do final da
Segunda Guerra Mundial, remodela- CONCLUSÃO
dos na década de 60, ainda em con- É importante, nesta fase conclusi-
dições de prestar serviços à Marinha va, frisarmos alguns pontos relevantes
e. principalmente, de "permitir uma dessa retrospectiva histórica. Vimos,
fase de transição mais suave."1'0 A na primeira parte, o quanto represen-
esses contratorpedeiros foram acres- tou para a Marinha o trabalho desen-
cidos algumas unidades, também de volvido pelos portugueses em relação
origem norte-americana, à construção naval. Exímios constru-
que vieram
Preencher carências constatadas nas tores, legaram a sua técnica, o seu co-
forças Navais brasileiras. nhecimento e a sua experiência à nas-
Em 1975 verificamos, através do cente geração de oficiais brasileiros,
Quadro XVII,
que havia novamente que, em pouco tempo, aprimoraram
uma melhoria na composição da For- e desenvolveram-na.
Ça Naval brasileira, pela inclusão de A par dos esforços realizados para
modernas unidades, concedendo um a criação das primeiras Forças Na-
aumento do nosso Poder Naval. Con- vais, através de aquisições e apresa-
tudo, a supremacia de navios mentos de navios estrangeiros e por-
cons-
truídos no exterior dominava ampla- tugueses, a contínua atividade em-
a configuração das Forças preendida no setor de construção na-
Isente
Navais. vai possibilitou o real incremento e
manutenção da Esquadra. E, mais do
A realidade, no entanto, era um
Pouco diferente daquela mostrada no que isso, propiciou a radical mudança
do fabrico de navios em madeira e a
mencionado Quadro XVII. Isto vela para os de casco de ferro e pro-
c|ue, com a por-
paralisação do programa pulsão a vapor, anos mais tarde.
104 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

É um erro de ingenuidade ou de to- dos rios para caminharmos ter-


pela
tal desconhecimento a afirmação de ra, em flagrante desrespeito a dadi-

foi essa mudança tecnológica vosa natureza enriquece a nação


que que que
o declínio do nosso Poder brasileira. Foram séculos jogados no
provocou
Naval. A expressiva de lixo do descaso e da sandice de
quantidade pre-
navios de ferro e a vapor construídos tensos e inconseqüentes líderes ou

no monárquico comprova o responsáveis pelos destinos nacionais.


período
"A
dominávamos a moderna téc- nação marítima, cujo governo en-
quanto
nica de construção de navios de colhe os ombros à sorte do
quanto
seu Poder Naval, é nação destinada
guerra.
ao deperecimento e à consumpção
Verificamos, os muitos navios
pois,
inclusi- mais deploranda. Por outro lado, sem-
aqui projetados e construídos,

o pre uma nação afirma o seu valor


ve as máquinas, fortaleceram que
que
além no mar, dominando-o com a sua fro-
nosso Poder Naval e projetaram
Brasil. ta, esta nação tem-se assegurado a vi-
fronteira a gloriosa Marinha do

Levei, Batista, tória na guerra, a na


Foram homens como grandeza paz."137

Braconnot e Cândido Brasil, entre os A mentalidade deve ser entendida,

muitos dignificaram a nossa en- conforme os ensinamentos do Coman-


que
naval, souberam manter dante A. C. P. de Lima Porto, bri-
genharia que
sempre viva a atividade de construçãi lhante instrutor da Escola de Guerra

naval, indispensável a formação das Naval, como sendo o resultado da

Forças Navais. Mais uma vez, rende- aglutinação de três fatores: conheci-
mos a nossa homenagem a esses he- mento, vontade e tempo. Se não nos
róis das pranchetas e carreiras. falta o conhecimento, ur-
precsamos
Como marco final de uma era inve- gentemente ativar a vontade,
para
o lançamento do Cruzador Ta- novamente termos a mentalidade ma-
jável,
mandaré, em 1890, o maior navio de rítima sedimentada, indispensável
para

guerra até hoje construído no País, a constituição de Forças Navais c:m-

estabeleceu o início de um declínio patíveis com a grandeza dessa Nação.

lamentável e com conseqüências ter- Por outro lado, vimos também


que,
rivelmente lastimáveis. desde o primeiro programa de reno-

Tais acontecimentos, a de inú- vação dos meios flutuantes, datado de


par
meros fatores condicionantes, foram o 1850, até dias recentes, todos os pia-
resultado de uma nova mentalidade nejamentos morreram
prematuramen-
implantada no Brasil. Viramos as te. Tal fato deve servir de inspiração

costas para o mar, abandonamos o se assumir outro rumo nos


para que
valioso legado de nossos antepassados conduza convenientemente ao destino

e partimos para uma continentalidade almejado. A escolha de um tipo ds

exageradamente creditada. Uma na- navio, o mais necessá-


provavelmente
com um litoral de 4 mil milhas rio, a sua construção em
ção, quantidade
marítimas, fazendo, conseqüentemen- razoável, de modo a manter durante

te, fronteira com centenas de países, um considerável essa ativida-


período
é, antes de tudo, marítima. de, e o seu aperfeiçoamento,
parecem

Sem dúvida, foi assim ser as sugestões depreendidas do


que passa- pre-

mos de e fabricantes de sente estudo. Depois, outros mais,


projetistas
navios construtores de estradas gradativamente, através de projetos
para
e Deixamos de lado os leitos cuidadosos e realizados à luz da tec-
pontes.
AS forças navais brasileiras 105

nologia nós dominada, até a Naval ou concedendo aos aspirantes


por que
experiência e os recursos a um diploma de engenheiro, é desça-
propiciem
concretização de ambições maiores. racterizar o de mais importante
que
Planos amplos e estão fadados ter — homens do mar.
globais precisamos
ao insucesso. Pelo menos, é o nos
que Talvez tenha sido essa avaliação
mostra a verdade histórica.
no confuso co-
precipitada, gerada
Mas se realmente desejamos o cres-
nhecimento da evolução da sociedade
cimento da Marinha, especialmente
brasileira, afastou vocações e es-
que
de suas Forças Navais, torna-se im-
forços em do crescimento e mo-
prol
prescindível uma ação nacional para dernização das Forças Navais. Prepa-
o reconhecimento dessa necessidade.
rar homens do mar, deve
primeiro
E convencer as elites dirigen-
preciso centros
ser a missão única dos nossos
tes e o através de esforços
povo, que de formação. Depois, sim, aprimorá-
estóicos, em outras épocas, legaram
-los, conforme as necessidades de cer-
exemplos dos mais notáveis, a enga-
tos setores, mesmo não sejam
que
jarem nessa caminhada comum. Não
essencialmente operativos.
será buscando em si mesmo a
que
Por fim, acreditar somos capa-
Marinha conseguirá alcançar os ideais que
zes de constituir as nossas Forças Na-
estabelecidos, há tanto tempo, por
vais, com os nossos recursos, com a
inúmeras de homens do mar.
gerações
nossa com a tecnologia
Ativar gente, que
as sociedades de Amigos da "a
desfrutamos. Vale lembrar
Marinha, naval, que
reavivar a reserva
tecnologia importada, além do seu
através de, exemplo, de
por promo-
alto custo e de sua inatualidade, nem
Ções periódicas de seus integrantes,
incentivar sempre se adapta às condições reais
e publicar estudos e traba-
dos países em desenvolvimento, onde
lhos divulguem é im-
que o quanto
a distribuição dos fatores de produção
portante para o País o mar e, conse-
é diferente da se observa nas na-
qüentemente, as Forças Navais, elos que

ções avançadas. O processo de sua


de segurança de uma nação marítima,
adaptação exige investimentos adicio-
são medidas indispensáveis a
para
nais a tornam ainda mais onero-
conscientização da mentalidade marí- que

tima. sa. A etapa a chegou a revolução


que
tecnológica no Brasil exige a dedica-
Os tempos mudam. Mas não signi-
fica de esforços a conquista de
tenhamos alterar certos ção para
que que
caminhos crescente autonomia."
assumidos simplesmente

Porque vivemos em outra época. Foi Ademais, não se pode admitir,

o Brasil o do mundo a numa fase de desen-


primeiro país principalmente
criar as Escolas de Aprendizes da volvimento, a segurança nacional
que
Marinheiro, chegamos a 17 seja relegada a segundo A ex-
possuir plano.
delas, reconhecido e apro- da Marinha Mercante Nacio-
pioneirismo pansão
veitado mais tarde outras nações. nal deve ser acompanhada, necessa-
por
A tentativa de destruir esse empreen- riamente, fortalecimento do Po-
pelo
"nenhuma
dimento, comprovadamente salutar der Naval. Isto na-
porque
durante tantos anos, foi um erro soberana eximir-se do dever
que ção pode
poderá ter ainda tristes conseqüências. de aparelhar-se atender aos no-
para
Da mesma forma, o desprestígio da vos tipos de ameaça a está sujei-
que
profissão de Oficial de Marinha, ta."138 Nem o Brasil, nem nenhum

adaptando-se o currículo da Escola outro constituir e


país, poderá jamais
106 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

conservar uma frota eficiente e dura- dade material, se não persegue opções

doura, sejam forem os tamanhos se não atende a aspirações


quais próprias,

e tipos dos navios a compuserem, espontâneas, mas a gostos induzidos,


que
sem no se criem e se não é um elixir; é um solvente. Uma
que próprio país
recursos a'imen- nação só se mantém soberana, na ver-
armazenem os para
139 dadeira acepção da pela ori-
tá-la e dar-lhe vida." E, mais ain- palavra,
de seu destino..."140
da, não se tem o direito hoje de com- ginalidade

decisões Se os nossos esforços visarem a


prometer as das gerações que
Pesquisa, o Desenvolvimento e a
nos sucederão, devem receber
que
Construção Naval de Navios de Guer-
como legado uma estrutura básica,
ra, estaremos proporcionando os re-
a escolha do rumo
que permita que
cursos indispensáveis para o incre-
melhor convier, no futuro, à nação
mento e fortalecimento das Forças
brasileira.
Navais brasileiras. E, então sim, virá
"Não
existe desenvolvimento au- as nossas Forças Navais
o dia em
que
têntico sem invenção, e o desenvolvi- serão novamente respeitáveis e pode-
mento não faz uma nação, rosas, caracterizando um Poder Naval
postiço

mas um mercado. A compatível com a grandeza do Brasil.


própria prosperi-

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