Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Realização
ACOR – Associação
ACOR-RS dos dos
– Associação Conservadores – Restauradores
Conservadores do Rio
– Restauradores doGrande do Suldo Sul
Rio Grande
Organização
Specialitá Eventos
ABRACOR
Caixa Postal 6557 - CEP.: 20030-970
Rio de Janeiro - RJ - 55 (21) 2262 25 91
www.abracor.com.br
Presidente
Solange Zúñiga
Vice-Presidente
Daniela Cristina Silva Camargo
Primeiro Secretário
Maria Julia Faissal Cardoso
Segundo Secretário
Solange Rocha
Primeiro Tesoureiro
Mariana Silva Santana
Segundo Tesoureiro
Mônica Paixão
Coordenador Técnico
Sandra Baruki
Coordenador para Assuntos Internacionais
Luiz Antonio Cruz Souza
Conselho Fiscal
Norma Cianflone Cassares
Franciza Toledo
Lourdes Rossetto
Conselho Administrativo
Ivan Coelho de Sá
Naida Maria Vieira Corrêa
José Carlos Andreoli
Conselho Administrativo
José Dirson Argolo
Jayme Spinelli
Suplentes do Conselho Fiscal
Márcia Regina Pereira Lessa
Suely Deschermayer
Lygia Guimarães
Colaboradores Internacionais
Katriina Simila
M.Silvio Goren
EXPEDIENTE
Esse evento, ora realizado em Porto Alegre em parceria com a Associação de Conserva-
dores e Restauradores de Bens Culturais do Rio Grande do Sul (ACOR-RS), representa o
mais importante encontro de pesquisadores, profissionais e estudantes das áreas do
Patrimônio Cultural atuantes no Brasil e na América Latina. Realizá-lo no Rio Grande do
Sul – cenário mundial de discussões sociais – reforça o pioneirismo desse estado na
realização de projetos que abrangem componentes culturais e sociais do desenvolvimento
sustentável, além de possibilitar um estreitamento de laços com os demais profissionais
atuantes nos países integrantes do MERCOSUL.
As comunicações aqui apresentadas refletem o tema eleito como objeto central deste
congresso – ética e responsabilidade social na preservação do patrimônio cultural - pos-
sibilitando a reflexão sobre os parâmetros de atuação do conservador e restaurador na
preservação do patrimônio histórico e artístico e convidando ao debate sobre a necessida-
de do conhecimento multidisciplinar para a preservação dos bens culturais. Refletem,
ainda, os demais objetivos do congresso, quais sejam possibilitar a discussão e dissemi-
nação de pesquisas e estudos de caso nas áreas relacionadas à ciência da conservação,
apontar para a necessidade de adequação da profissão de conservador-restaurador – cujo
projeto de reconhecimento tramita no Congresso Nacional - às normas de biossegurança
e segurança do trabalho e propiciar o debate de políticas direcionadas à conservação do
patrimônio cultural brasileiro, com ênfase naquelas voltadas à segurança contra o tráfico
ilícito de bens culturais.
Solange Zúniga
Presidente da ABRACOR
COMISSÃO ORGANIZADORA
Comissão Científica
Prof. Dr. Sérgio Conde de Albite Silva - UNIRIO/RJ - Coordenação
Profª. Msc. Adriana Cox Hollós - CONARQ
Profª. Drª. Franciza Toledo - Consultoria em Tecnologia de Conservação Ltda.
Prof. Dr. Luiz Fernando Rhoden, arquiteto - IPHAN/RS
Prof. Dr. Marcus Granato - MAST/RJ
Profª. Drª. Maria Regina Emery Quites - UFMG/MG
Dr. Markus Wilimzig - ACOR/RS
Prof. Dr. Plínio Santos Filho - AERPA
Profª. Msc. Silvana Bojanovski - Biblioteca Nacional/RJ
Profª. Drª. Yacy-Ara Froner Gonçalves - UFMG/MG
Artes Visuais
• Conservação do suporte lycra na obra de Alex Flemming. Andréa Lacerda Bachettini, Naida Maria Vieira Corrêa. 139
• Restauração das obras de Iberê Camargo para exposição Pintura Pura.
Andréa Lacerda, Bachettini, Naida Maria Vieira Corrêa. 143
• Protocolos de estudio de colecciones de nuevas tecnologias: arte eletrónico, vídeo instalaciones y art
net en el departamento de conservación-restauración del MNCARS. Arianne Vanrell Vellosillo. 147
• Descobrindo o passado (a remoção da camada de verniz oxidado de uma aquarela de 1859).
Juçara Quinteros de Farias, Mar Gomes Lobão. 153
• A conservação e restauração de acervos em suporte de papel no Brasil: uma abordagem à luz da história cultural.
Aloisio Arnaldo Nunes de Castro. 159
• Considerações acerca da possibilidade de conservação de arte contemporânea. Humberto Farias de Carvalho. 167
• Arte Sacra Catarinense: a “Fuga para o Egito” e sua Identificação Anatômica.
Márcia Regina Escorteganha Lener, João de Deus Medeiros e Ângela do Valle. 173
• Conservação-restauração de imagens de vestir: conceitos, critérios, estado de conservação e causas de deterioração.
Maria Regina Emery Quites. 179
Bibliotecas e Arquivos
• MCSHJC e AHRS: Relato de experiências nas áreas de conservação e restauração de documentos
manuscritos e impressos. Evangelia Aravanis, Silvia M. J. Breitsameter. 187
• Desinfestação do acervo da Biblioteca Barbosa Rodrigues, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ingrid Beck. 193
• A adoção da encadernação flexível em pergaminho em obras raras restauradas na Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. Tatiana Ribeiro Christo. 199
• Estruturas de encadernações “brasileiras” do século XIX na Coleção Rui Barbosa: um estudo para a preservação
de acervos raros. Edmar Moraes Gonçalves, Luiz Antonio Cruz Souza, Yacy Ara Froner. 201
• Restauração de livros do século XVII da Faculdade de Direito da USP: critérios.
Hélade da Rocha Corrêa, Patrícia de Almeida Giordano. 207
Ciência da Conservação
• Investigações sobre argamassas mistas de revestimento cromáticas em fachadas históricas.
Bettina Collaro G. de Lourenço. 213
• Colorimetria em obra de arte. Renata Casatti, Elvo Calixto Burini. 219
• Desacidificação de documentos impressos em papéis de pasta mecânica parte II: propriedades físico mecânica.
Alessandro Wagner Alves Silva, Alice Jesús Nunes, Antonio Gonçalves da Silva, Maria Luiza Otero D’Almeida. 223
• Estudo comparativo de desempenho de tintas a base de cal e silicato. Marília de Lavra Pinto. 229
• Metodologia para a identificação e autenticação do patrimônio cultural: o caso do Istmo de Recife e Olinda - PE.
Flaviana Lira, Magna Milfont, Mônica Harchambois, Renata Cabral, Rosane Piccolo Loretto, Silvio Mendes Zancheti,
Virginia Pontual. 235
• Reconhecer o risco - estratégia utilizada no arquivo fotográfico da rádio nacional.
Gabriela de Lima Gomes, Luiz Antonio Cruz Souza. 243
• Análises de problemas pós-restauração. Markus Wilimzig. 249
• O estudo da adição da mucilagem de cactos às argamassas históricas no município de Piratini/Rio Grande do Sul,
Brasil. Roberto Luiz Sawitzki. 253
Conservação Preventiva
• Identificação, documentação, armazenamento e gestão do acervo na reserva técnica do Museu de Arte Sacra da UFBA.
Griselda Pinheiro Klüppel, Maria Hermínia Oliveira Fernandez, Ana Vitória Mello de Souza Gomes. 261
• Tratamento climático da sala da reserva técnica e definições ambientais para o acervo armazenado do Museu de Arte
Sacra da UFBA. Griselda Pinheiro Klüppel, Ana Vitória Mello de Souza Gomes. 269
• Conservação e restauração do acervo armazenado na reserva técnica do Museu de Arte Sacra da Universidade Federal
da Bahia. João Carlos Silveira Dannemann, Griselda Pinheiro Klüppel, Ana Vitória Mello de Souza Gomes. 277
• Sistema de controle climático para a Biblioteca Rui Barbosa: preservação da coleção e melhoria das condições de
conforto dos visitantes. Claudia S. Rodrigues de Carvalho, Franciza Toledo, Shin Maekawa, Vincent L. Beltran. 281
• Embalagens de obras de arte – arte em trânsito. Karen Cristine Barbosa. 287
Educação Patrimonial
• Por uma articulação entre teoria e prática no triângulo mineiro: o caso de Uberaba (MG).
Adriana Capretz Borges da Silva Manhas, Adriano Luis de Souza, Max Paulo Giacheto Manhas. 293
• Educação patrimonial ou uma questão de cidadania? Laura di Blasi. 299
11
Anais | Congresso Abracor 2009
12
Anais | Congresso Abracor 2009
BACHETTINI, Andréa Lacerda.
Mestre em História. Especialista em Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis. Especialista em Patrimônio Cultural - Conservação de Artefatos.
Bacharel em Pintura e Gravura. Cons. e Rest. de Bens Culturais Móveis da
Restauratus.
GABINETE DA VICE-GOVERNADORIA DO
Universidades de Parma
e Bologna, veio para o
Brasil em 1910; Lecionou
Exames
A Me. Patrícia Schossler foi contratado pelo
projeto para realização de exames científicos
que foram realizados juntamente com as au-
toras. Foram coletadas microamostras de pon-
14 tos específicos da obra para análise dos mate- Figura 02 – Hall de entrada Antes da Restauração.
Anais | Congresso Abracor 2009
Tratamento Executado Sua restauração se fez necessária devido à 4
É um Álcool
Polivinílico. A fórmula
Primeiramente foram realizados testes de fragilidade em que as pinturas murais e os or- utilizada foi Mowiol, Água
solubilidade para escolha do solvente mais namentos se encontravam. Foi um trabalho Deionizada, Etanol
(3:25:50). Modo de
apropriado para limpeza e testes de adesivos interdisciplinar criterioso, a realização dos preparo: pesar os dois
para fixação da camada pictórica. exames técnicos científicos foi fundamental na primeiros componentes
Depois de saneados os problemas realização da proposta de intervenção. O pro- agitando bem até
dispersar o Mowiol.
arquitetônicos, iniciou-se os tratamentos de cesso de restauração teve a duração de seis Aquecer a uma
restauro das pinturas murais e ornamentos. meses. Quando foi realizada a pesquisa bibli- temperatura entre 80 a
90°C, sob agitação
O tratamento emergencial das pinturas do ográfica, levantamento, registro gráfico e foto- moderada, e manter
forro consistiu na fixação da camada pictórica gráfico, laudos de avaliação do estado de con- nessa temperatura até a
completa dissolução.
com Mowiol4 por aspersão. Logo após foi feita servação das pinturas e elementos decorati- Deixar essa mistura em
a fixação da camada pictórica Mowiol a pin- vos, a avaliação dos locais onde estão situa- repouso até atingir a
cel e pressão onde havia craquelês em des- das as pinturas e suas condições climáticas e temperatura ambiente; Se
necessário, acrescentar
prendimento acentuado. A higienização e lim- de iluminação e elaboração de relatório final. uma pequena quantidade
peza da camada pictórica com pincel macio e Este trabalho se referiu apenas à restaura- de água para compensar
o que evaporou durante a
enzimas naturais. A Consolidação das fissuras ção de uma das salas do prédio e fez parte da dissolução. Acrescentar
e rachaduras foi feita com Primal AC 335. O primeira etapa de restauração do Projeto Ge- o Etanol e homogeneizar.
5
Emulsão aquosa
nivelamento das lacunas foi feito com gesso ral de Restauração do “Palacinho”, que tem elaborada à base de
cola e a reintegração foi feita com aquarela e como Coordenador-Geral o Arq. William Pa- acrílico (metacrilato),
guache da Winsor e Newton. vão Xavier e Produtor Cultural a Associação que forma um filme
transparente de alta
Já os ornamentos decorativos em gesso de Amigos do Palacinho. O projeto atualmen- resistência à luz
policromado do forro foram fixados com te está em fase de captação de recursos para ultravioleta e ao calor, de
excelente durabilidade e
Primal AC33, tanto os ornamentos quanto a ter continuidade. resistência a álcalis. É de
policromia. Já os ornamentos em relevo foram baixa viscosidade,
resistindo bem em
higienizados com pincel com auxílio do aspi- aplicações externas, sem
rador de pó, depois foram limpos com enzimas mostrar amarelamento ou
naturais e com esponja natural com água modificação de sua
elasticidade durante
deionizada. O nivelamento e complementação anos.
de partes faltantes dos ornamentos foram fei-
tos com gesso cola. A reintegração cromática
foi realizada com ouro em pó e resina.
Tratamento emergencial das pinturas painéis
das paredes consistiu na fixação da camada
pictórica com Mowiol por aspersão, e também
com pincel e pressão em áreas localizadas que
apresentavam craquelês em desprendimento.
A higienização e limpeza da camada pictórica
das pinturas dos painéis foram feitas com pin-
cel macio, enzimas naturais. A desalinização
e tratamento em manchas de umidade das
paredes foi através de banhos com esponja
natural com água deionizada com medição
dos sais. O nivelamento das lacunas com ges-
so e cola. A reintegração cromática foi realiza-
da com guache. A aplicação de camada de
proteção foi feito uma mistura de clara de ovo
Figura 03 – Um dos 6 painéis decorativos das paredes laterais do
com timol, o que proporcionou um resultado hall de acesso do Palacinho.
aveludado à camada pictórica, dando uma .
unidade à superfície, que ficava com áreas de
brilhos diferentes principalmente nas áreas de
intervenção.
O tratamento das molduras em gesso dos
painéis constitui-se na remoção das repinturas
da moldura com bisturi que encobriam a pin-
tura original, que apresentava douramento com
pátina escura. O nivelamento foi com gesso e
cola. A reintegração do douramento com ouro
em pó e resina, aplicação de pátina marrom à
têmpera fazendo apresentação estética de acor-
Figura 03 – Detalhe da pintura decorativa dos painéis na técnica de
do com original. estêncil das paredes laterais, com perdas da camada pictórica.
O tratamento dos barrados decorativos das
paredes laterais do hall de acesso constitui-se na
remoção das repinturas da moldura com bisturi,
nivelamento com gesso e cola. A reintegração
do douramento com ouro em pó e resina.
Conclusão
O “Palacinho” é considerado um dos prédi-
os importantes realizados pelo Eng. Armando
Boni, sendo tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Estadual
(IPHAE) por seu valor histórico, cultural, soci-
al. É, sem dúvida alguma, uma obra de grande Figura 05 – Mostra o forro do hall de entrada, com pintura mural
importância para Porto Alegre. e com moldura com ornamentos em relevo. 15
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 06 - A imagem mostra os elementos decorativos das paredes
laterais do hall de acesso
Figura 09 - Limpeza dos ornamentos decorativos em relevo. Figura 12 – Ornamentos decorativos do hall após a restauração.
Bibliografia
ALONSO MARTÍNEZ, Enriqueta Gonzalez. Tratado del Dorado, Plateado y su Policromia, Tecnología, Conservación y Restauración. Valencia: Universidad
Politécnica de Valencia, 1997.
BECKER, Ana Maria. Relatório Técnico – Relatório de visita do CODEC. Porto Alegre: 29/04/1998.
CENNINO, Cennini. Tratado de la pintura – el libro de arte. Barcelona: Edit. Meseguer, 1979.
FUNARTE, Ministério da Cultura. Materiais de arte no Brasil – Análise de tintas a óleo. Rio de Janeiro: 1995.
MAYER, Ralph. Manual do artista – de técnicas e materiais. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
MOERSI, Claudina Maria Dutra. Manual de tinta e pigmentos. Belo Horizonte: FAOP e Banco Interamericano de Desenvolvimento,1998.
MORAES, Júlio Eduardo C. D.. Pintura Mural no Brasil - o início da redescoberta in: Revisa da Biblioteca Mário de Andrade nº 52, SP, 1994, p.131 - 138.
OLIVEIRA, Mário Mendonça. Tecnologia da Conservação e da Restauração Materiais e Estruturas. Salvador: EDUFBA, 2002.
ORTI, Maria Angustias Cabrera. Los métodos de análises físico-quimicos y la história del arte. Granada: Servicio de Puplicaciones de la Universidad de
Granada, 1994.
PINTO, Marília de Lavra. Parecer Técnico nº 16196 referente ao processo nº 1181-1100/95-8 (Tombamento). Porto Alegre: IPHAE, 1996.
TIRELLO, Regina A.. Vila Penteado Prospecção e Restauração das Pinturas Murais da Vila Penteado. São Paulo: FAUUSP, 1993.
WEIMER, Günter (org.). A Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.
Equipe
Me. Andréa Lacerda Bachettini - Coordenação/ Restauradora
Cristiane Maia Auxiliar - Técnica em Restauração
Débora Bertol - Estagiária
Keli Cristina Scolari - Estagiária/ Restauradora
Dra. Lucimar Inês Predebon - Restauradora
Naida Maria Vieira Corrêa - Coordenação/ Restauradora
Me. Patrícia Schossler - Química
Sirlei Schmitt de Toledo - Restauradora
William Pavão Xavier - Arquiteto
Agradecimentos
Agradecemos a toda equipe pelo empenho e dedicação na realização do projeto, em especial ao Arq. William Pavão Xavier, pelo convite para
realização deste projeto; Associação Amigos do Palacinho por ter encaminhado o projeto para as Leis de Incentivo à Cultura; À GVT por ter
patrocinado o projeto através da LIC - Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.
16
Anais | Congresso Abracor 2009
Nunes, Claudia Regina
Graduada e Pós-graduada na EBA/UFRJ, Mestre em Arts pela SUNY, NY, USA
Consultora de Conservação e Restauração IPHAN/Rio
II – Proposta Cromática
Pouco tempo antes da chegada da Famí- do que o Cabido da Catedral também seja
lia Real ao Brasil, os Carmelitas termina- transferido.
vam as obras da Igreja Nossa Senhora do A talha da Igreja que começou a ser exe-
Monte do Carmo. D. João, então Príncipe cutada em 1875 pelo mestre Inácio
Regente, diante da necessidade de se esta- Ferreira Pinto, foi realizada no mais puro
belecer uma Capela Real, eleva a Igreja N. estilo Rococó. Compreendemos por talha
Senhora do Carmo à condição de Capela a forração de madeira das paredes e os fri-
Real e Catedral assinando alvará datado sos e ornatos a este aplicados. Este estilo
de 15 de junho de 1808. A Catedral estava decorativo desenvolveu-se na França no
instalada na Igreja do Rosário, e as obras reinado de Luís XV (1723-74), e muitas
de construção da nova catedral estavam vezes é considerado como uma oposição
muito demoradas, desta maneira é decidi- à sobriedade e profusão dos ornatos do 17
Anais | Congresso Abracor 2009
1
Santos, Luiz
Gonçalves dos (Padre
Barroco, ou como uma versão mais leve e cores como o branco, o bege, o verde claro,
Perereca). Memórias graciosa, sendo uma das suas característi- o rosa claro, prata e ouro.
Para Servir à História do
Reino do Brasil. cas a assimetria. Por cerca de 1760, o Além dos símbolos dos Carmelitas (Mon-
Foto 1
Rococó já era considerado um estilo ultra- te do Carmo e estrelas) também encontra-
Anjo da Capela de
São Pedro, passado na França, entretanto continuava mos representadas na talha da Antiga Sé
Foto 2
Anjo da Capela do
Santíssimo, em moda em outros países como a Ale- várias características do estilo Rococó, tais
possui olhos
amendoados, possui
manha, Áustria e Europa Central. como assimetria, as guirlandas de flores, o
carnação, estilo comum. O Rococó é definido por uma talha leve estilo exótico e oriental, as roccailles.
estilo oriental
e delicada, tendo como principais formas No momento da chegada de D. João ape-
as guirlandas de flores, os roccailles ou for- nas a talha dos nove altares (dois altares nas
mas de conchas, rochas e vegetais, além duas capelas no transcepto, seis altares late-
de elementos exóticos e inspirados no rais na nave central e o altar-mor) estava dou-
Oriente. O Rococó predomina nas artes rada, o restante da Igreja estava “gessado de
decorativas e na Pintura, mas quase não branco”. (Foto 1 e Foto 2)
aparece na Arquitetura. Enquanto os in-
teriores eram de estilo Rococó as facha-
das dos edifícios continuavam no estilo a igreja é nova, muito agradável
barroco e gradualmente tornam-se e forrada a poucos anos de talha;
Neoclássicas. O Rococó é um estilo tem nove altares, onde se vê ouro e
palaciano que procura exaltar o luxo e a pintura, o mais é gessado de bran-
frivolidade da corte francesa. co. O órgão é magnífico. A facha-
No Rococó predominavam também as da da igreja não está concluída,
pois lhe faltam a cimalha real, e o
frontispício....” 1
21
Anais | Congresso Abracor 2009
Equipe:
Coordenação e autoria:
Claudia R. Nunes
Redação Final:
Claudia R. Nunes, Juliana de Assis e Pedro Rocha Fleury
Consultores:
Almir Paredes (Dr. em História da Arte/UFRJ).
Miriam Ribeiro (Drª. em História da Arte/UERJ - Conselho Consultivo do IPHAN)
Jussara Mendes – Historiadora 6a SR/IPHAN
Pesquisadores:
Fernanda da Rosa (desenhos)
Juliana Assis Nascimento (pesquisa histórica e redação final)
Julita Azevedo (pesquisa iconográfica)
Pedro Rocha Fleyry Curado (pesquisa histórica e redação final )
Verônica Pimentel – Fotografias
Bibliografia:
* ALVIM, Sandra. Arquitetura Religiosa no Rio de Janeiro” – Editora UFRJ, RJ, 1997”.
* BUNBURY, Charles James Fox. Narrativa da Viagem e um Naturalista Inglês ao Rio e Janeiro e Minas Gerais (1833 – 1835). Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1943.
* DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. São Paulo: Livraria Martins, 1967.
* LOWENSTERN, Georg Heinrich Von, Barão de. O Barão Lowenstern no Brasil, 1827 - 1829. São Paulo: Comissão Centr. Exec. do Sesq. Centenário
da Independência do Brasil, 1972.
* LUCCOCK, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais no Brasil; tomadas durante uma estada de 10 anos neste país, de
1808 a 1818. São Paulo: Martins, 1942.
* PAREDES, Almir. Dicionário de Artes Plásticas. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2005
* PRADO, J.F. de Almeida. D. João VI e o início da classe dirigente no Brasil (depoimento de um pintor austríaco no Rio de Janeiro). São
Paulo: Nacional, 1968.
* SANTOS, Luiz Gonçalves dos (Padre Perereca). Memórias Para Servir À História do Reino do Brasil. Rio de Janeiro, Editora Valverde,
1943. II Volumes. (o segundo começa na pág. 465)
* SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador- D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998
* TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. Rio de Janeiro e Antanho; impressões de viajantes estrangeiros. São Paulo: Nacional, 1942.
* TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. Visitantes do Brasil colonial, séculos XVI e XVIII. São Paulo: Nacional, 1933.
* VON LEITHOLD, Theodor. O Rio de Janeiro visto por dois prussianos em 1819. São Paulo: Cia.ed. Nacional, 1966.
22
Anais | Congresso Abracor 2009
QUERUZ, Francisco.
Arquiteto e Urbanista. Mestre em Engenharia Civil -UFSM.
Professor - Centro Universitário Franciscano -UNIFRA.
SAAD, Denise S.
Engenheira civil.
Doutora em Engenharia Civil – UFRGS.
Professora Adjunta do Departamento de Estruturas e Construção Civil da UFSM.
Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, Departamento de
Estruturas e Construção Civil
This article relate the conclusions of a master degree dissertation that studied a multiple
case in Vila Belga – Santa Maria/RS, to identify the main agents and mechanisms involved
in that deterioration. The surveys had allowed to have a general view of the most frequent
pathological processes in the residences and, thus, infer on the involved causes in this
process. The results had shown a pathology group that was acting in the constructions and
that they are, in its majority, operating in superficial layers. Could be seen, also, that the
damages originated by climatic and ambiental agents do not possess, in general, dependence
with some specific type of pathology, evidencing improper actions of recklessness, improper
interventions and absense of preventive maintenance in the constructions.
Palavras-chave:
conservação; degradação; patologia; Vila Belga
Introdução
O desenvolvimento de subsídios e políticas lisar os fatores que levaram à degradação da
de preservação patrimonial apresenta-se hoje Vila Belga, um conjunto de edificações tom-
como um processo crescente, merecedor das badas, em 2000, pelo Instituto do Patrimônio
atenções de sociedades que se preocupam Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) e que
com suas heranças, seus bens. O objetivo das foi construído no início do século XX, em San-
diversas entidades envolvidas com essa pro- ta Maria, no Rio Grande do Sul.
blemática deve ser agir, dentro das suas possi- A compreensão dos processos de degrada-
bilidades, de forma a contribuir para que seus ção de edificações históricas construídas no
herdeiros ainda possam ter o direito a presen- município parte de uma devida leitura de con-
ciar bens representativos de suas cidades e, texto. Pode-se perceber uma soma de fatores
assim, refletir e projetar seu futuro. Este traba- que levam ao descaso com os remanescentes
lho iniciou-se com o intuito de auxiliar nesse arquitetônicos em questão, como a falta de
processo de conservação da memória, ao ana- sinergia entre os agentes institucionais, falta
23
Anais | Congresso Abracor 2009
de políticas municipais de preservação e con- O objetivo primeiro deste estudo é, portan-
dições financeiras precárias dos moradores. to, identificar os principais fatores e mecanis-
Porém, esses não são os únicos fatores que mos de deterioração a que estão submetidas
devem ser considerados: não existem estudos as edificações do referido conjunto, por meio
que relacionem as variáveis locais ligadas a do estudo de suas patologias. Para tanto, fo-
clima, sítio e ambiente com as técnicas cons- ram estudados conceitos e classificações liga-
trutivas que eram utilizadas nas edificações do dos aos fatores e mecanismos atuantes e pro-
início do século XX. Essa última constatação é motores de degradações e tornou-se necessá-
importante devido à grande variação de con- ria, também, a realização de um levantamento
dições que podem ser percebidas dentro do de campo em parte das edificações para ob-
Brasil, e mesmo dentro do Rio Grande do Sul, servação das patologias, permitindo, por sua
e o seu entrelaçamento com as diversas for- vez, classificar, listar as suas incidências e re-
mas de se edificar nesse período. conhecer suas possíveis causas.
Figura 01 – Vista panorâmica da rua Ernesto Beck: em outubro de 2004, mostra o mau estado de conservação das edificações e do entorno imediato
(ACERVO DO AUTOR)
2 As edificações
Segundo Lopes1, a Vila Belga é um conjunto do, reduzindo-se, paulatinamente, a quantida-
de edificações com fins residenciais, construído de de passageiros nos trens. A década de 1990
pela Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer foi decisiva para o processo de desmobilização
au Brésil para seus funcionários a partir do ano do sistema ferroviário estatal. O Governo Fede-
de 1907 (Figura 01). A autoria dos projetos foi ral, dentro de um processo de “enxugamento”
atribuída ao engenheiro Gustave Vauthier, en- de sua infraestrutura, privatizou uma série de
tão diretor da empresa belga, e era constituído empresas das mais diversas áreas, como teleco-
de 83 residências unifamiliares, compondo o municações e siderurgia (Companhia Vale do
segundo conjunto habitacional do Estado volta- Rio Doce). A malha ferroviária da RFFSA no Rio
do à classe operária. As edificações apresenta- Grande do Sul foi cedida, em 1997, e por um
vam-se, na maioria, organizadas de forma prazo de 30 anos, para a empresa Ferroviária
geminada. Possuíam boa qualidade construtiva Sul Atlântico, e as benfeitorias, como o conjunto
e, apesar de terem poucas variações de partido, em questão, foram leiloadas 3.
apresentavam resultado formal muito rico. Apesar da comunidade a muito tempo ter o
Nos anos seguintes a 1907, a história da Vila conjunto como de interesse para a história da
Belga esteve sempre entrelaçada à própria histó- cidade, apenas em 1988 o poder público reco-
ria das estradas de ferro que passavam por Santa nhece-o como patrimônio histórico, e em 1997
Maria. Assim, o apogeu no desenvolvimento e efetua o tombamento definitivo das casas. O re-
manutenção das edificações, bem como de seu conhecimento em escala estadual se dá em 2000,
entorno e, ainda, a situação econômica da par- quando ocorre o tombamento da chamada
cela da sociedade dependente desses serviços “mancha ferroviária de Santa Maria” 4. O estado
estavam relacionados diretamente com o cresci- de conservação em que o conjunto edificado
mento das ferrovias. O ano de 1920 marcou o da Vila Belga se encontra hoje é precário. Esse
encampamento, por parte do governo do Rio estado é resultado de uma situação complexa e
Grande do Sul, das estradas de ferro e suas multifacetada, que inclui a omissão e falta de
benfeitorias, posteriormente, no final da década estrutura dos órgãos públicos envolvidos, e tam-
de 1950, da transmissão dos mesmos para o bém a falta de condições financeiras e de infor-
governo federal, com a criação da Rede Ferrovi- mações dos proprietários do conjunto.
ária Federal S/A - RFFSA 2. Os materiais e componentes utilizados para a
A década de 1960 foi marcada pela sucessiva edificação das residências concordavam com
inversão de investimentos das ferrovias para as as tecnologias já utilizadas na cidade no início
rodovias. A partir daí, a situação foi se agravan- do século XX, não introduzindo inovações nes-
24
Anais | Congresso Abracor 2009
possuíssem suas elevações frontais voltadas
para as quatro orientações solares. Assim, ob-
teve-se três unidades habitacionais
direcionadas, respectivamente, para Norte, Sul,
Leste e Oeste, perfazendo o referido montante
de doze. Buscou-se também edificações que
estivessem distribuídas em todos os setores do
sítio, caracterizados pela ruas que compõem
o conjunto. As divisões por orientação solar e
pelo sítio tiveram a intenção de se obter um
resultado que expressasse a totalidade de vari-
Figura 2 – Croquis de modelo de habitação unifamiliar, com a identificação
de seus componentes. (ACERVO DO AUTOR).
áveis envolvidas na geração de danos às
edificações. Os elementos levantados nas
se sentido. A figura 2 mostra um croquis com edificações foram as dimensões, para se che-
esquema construtivo da edificação: gar a um resultado mais confiável, e as degra-
dações nas elevações de cada unidade
3 Metodologia habitacional (as informações do interior das
Os alicerces foram feitos de pedras corta- edificações – como vistas e planta interna –
das, constituindo uma espécie de sapata corri- foram desconsideradas).
da, e projetam-se acima do nível do solo, com- Desenvolveu-se, a partir de então, o levan-
pondo o chamado soco, saliente. As paredes tamento in loco das patologias, através de me-
externas e medianeiras das edificações são de dições e captura em um arquivo fotográfico
alvenaria de tijolos maciços, assentados e re- digital. O passo seguinte no desenvolvimento
bocados com argamassa de cal e areia. Desta- do trabalho foi a transposição dos levantamen-
cam-se, também em argamassa, os trabalha- tos efetuados para o meio digital, com software
dos executados junto às arestas das paredes e tipo C.A.D. (AutoCAD versão 2005), o que
nas bordas das aberturas. Já no interior, as permitiu desenhar, com mais clareza, as aferi-
paredes foram feitas em madeira, garantindo, ções feitas no sítio (figura 3). As fichas resul-
na época, menor peso e maior facilidade de tantes, contendo fotos e desenho técnico, per-
alteração de layout. Quanto às aberturas, são mitiram que fosse feita a tabulação das degra-
de madeira, com janelas tipo guilhotina com dações encontradas, conforme as elevações
vidros pelo lado de fora e escuras interiormen- em que se localizavam. Por meio dessas infor-
te. As coberturas das edificações possuíam te- mações, obteve-se um método de identifica-
lhados com telhas capa e canal, e treliças, ter- ção das patologias basicamente visual,
ças e forros em madeira. Também em madeira desconsiderando outras técnicas.
eram os pisos internos das residências, apoia-
dos em barrotes e afastados do solo, garantin-
do assim a ausência de umidade5.
A identificação dos agentes e mecanismos
de degradação mais frequentes no conjunto,
para fins de quantificação de trabalho, foi feita
por meio de levantamento amostral das pato-
logias encontradas nas elevações. Para tanto,
de um total de 79 unidades habitacionais exis-
tentes hoje no local, estipulou-se um levanta-
mento necessário de 12 unidades.
As edificações escolhidas para o desenvol-
vimento do estudo foram divididas, inicialmen-
te, em quatro grupos correspondentes às que Figura 3 – Exemplo de elevação de edificação levantada, exibindo os
processos de degradação (ACERVO DO AUTOR).
4 Resultados
Os resultados obtidos a partir dos levanta- com a tabulação dos dados permitiu obser-
mentos das edificações foram organizados de var a composição de patologias existente nas
duas formas: a por análise descritiva, que com- edificações selecionadas, assim como perce-
preende a leitura mais direta dos dados obti- ber pormenorizadamente quais são os pro-
dos; e pelo cruzamento dos dados, em que se cessos que incidem sobre cada tipo de orien-
buscou analisar as possíveis relações existen- tação solar. A figura 4 mostra a frequência de
tes entre algumas condições do sítio e os pro- patologias encontradas nas elevações princi-
cessos patológicos encontrados. Adiante são pais das edificações analisadas, e possui im-
descritos os principais resultados derivados portância destacada, pois essas fachadas são
dessas análises. as menos alteradas pelos moradores, uma
consequência direta da proteção exigida pe-
4.1 Análise descritiva las leis de tombamento 6.
A análise descritiva dos resultados obtidos Pode-se perceber que os danos mais encon-
25
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 4 – gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais das edificações.
trados nas amostras foram os seguintes: desa- dência apenas nas patologias de quebra de ele-
gregação do reboco, fissuração de reboco, mentos gerada por ação de cargas mecânicas;
rachaduras nos tijolos, degradação das pintu- e nas voltadas a Leste, percebeu-se dependên-
ras e presença de biofilme. Ao observar essas cia com as rachaduras de tijolos e com a falta
elevações separadamente, por orientação, de materiais. Entre essas dependências, a pre-
percebeu-se que alguns tipos de degradação sença de rachaduras nos tijolos é a única pato-
foram mais frequentes, como nos casos de logia que pode ser relacionada com condições
fissuras no reboco e degradação da pintura climáticas e, consequentemente, com variações
nas elevações voltadas a Norte, e quebras por provindas das diferentes orientações solares.
ação de cargas ou falta de materiais nas volta- As elevações restantes, não orientadas para
das a Sul. a via pública, foram classificadas segundo sua
Já nos casos das outras elevações, não ori- orientação solar e em relação aos lotes
entadas aos logradouros públicos, pode-se lindeiros. Nessas, para a análise das patologi-
perceber com frequência a incidência das se- as, individualmente, usou-se o teste Qui-qua-
guintes degradações, independentemente de drado devido ao total da amostra ser igual a
orientação: 52 elementos. Construíram-se assim tabelas
· degradação nos rebocos, como as fissuras, de contingência com duas linhas e duas co-
a desagregação e também o empolamento; lunas (2x2). Os resultados obtidos indicaram
· remendos no reboco com argamassas à que, nesses casos, degradação e fissura nos
base de cimento; rebocos, rachaduras nos tijolos, fendas na
· fissuras nos tijolos; parede, falta de materiais, degradação na pin-
· ressecamentos e degradações de pinturas tura por intemperismo, corrosão nos metais,
de paredes e elementos em madeira; umidade de infiltração, vegetações, consumo
· biofilme. por insetos e, ainda, biofilme não parecem
estar relacionados com as elevações em que
4.2 Análise de cruzamentos se encontram. As condições climáticas e ori-
A seguir, foram realizados cruzamentos en- entação do lote, expressas nas variações de
tre as variáveis “patologias analisadas” e as orientação solar e nos vãos de iluminação e
“elevações”, a fim de verificar se existiam rela- ventilação, não parecem influenciar na for-
ções de interdependência entre elas. Esses ti- mação dessas patologias em um tipo especí-
pos de cruzamento permitem que se perceba fico de elevação. Essa conclusão é significati-
se existem patologias que são características va para os casos de formação de biofilme e
de alguma elevação. de vegetação, pois as orientações solares
No caso das elevações principais Norte, Sul, eram tidas como importantes meios na ma-
Leste e Oeste, foram construídas tabelas de nutenção da umidade e consequente desen-
contingência com duas linhas e duas colunas volvimento desses processos patológicos.
(2x2). Como o tamanho da amostra era pe- Também é significativa a observação que a
queno, composto por 12 elementos, e existi- degradação das pinturas e degradação e
am várias frequências menores do que cinco fissuras nos rebocos também não estão vin-
(5), não se aplicou o teste Qui-quadrado, e sim culadas a algum tipo de orientação solar. Já
o teste exato de Fisher. Os resultados obtidos em relação à falta de materiais nas elevações,
mostram que a maioria das patologias não apre- o resultado era esperado, já que tal tipo de
senta relação de dependência entre si. Esse tipo patologia está mais relacionado ao abando-
de comportamento é observado na totalidade no e ao vandalismo.
das patologias encontradas das elevações vol- Foram percebidas relações de dependên-
tadas para Norte e Oeste. Nas elevações volta- cia entre patologias e elevações nas seguintes
das para Sul, foi percebida a relação de depen- situações:
26
Anais | Congresso Abracor 2009
- Descolamentos de reboco e elevações tado, já que o mesmo comportamento deveria
Norte (não principais) - esse tipo de compor- ser esperado nas demais elevações voltadas a
tamento pode ser explicado pela grande inci- Norte.
dência de insolação, aliada à umidade pro- - Intemperismo sobre planos de madeira e
vinda das chuvas com vento que costumam elevações Norte e Sul (ambas não principais)
ocorrer na cidade. Porém, esse tipo de com- – enquanto a relação com as primeiras eleva-
portamento deveria também ser percebido ções era esperada, devido à incidência tanto
nas elevações voltadas a Leste, em que de insolação quanto umidade associada a ven-
condicionantes semelhantes ocorrem, o que tos, a constatação de relação nas elevações
não foi percebido. Sul reforça a importância do fator umidade (ou
- Remendos no reboco com argamassas à chuva), já que as mesmas têm uma incidência
base de cimento e elevações Sul (não princi- mínima de insolação durante o ano.
pais) - apesar dos remendos não se constituí- - Apodrecimento por algas, fungos e umida-
rem em uma patologia, demonstram que os de e elevações Oeste e Norte (interna) - as ra-
responsáveis pelas edificações efetuaram con- zões envolvidas nesses tipos de dano incluem
sertos nas camadas de reboco danificadas. a presença de umidade e temperatura adequa-
Essas correções foram possíveis devido ao da, ambas encontradas em fachadas com pe-
fato das elevações estarem voltadas para as quena insolação diária. Os elementos mais
faces interiores das edificações, mais suscetí- danificados por esse tipo de patologia nas
veis às alterações. edificações foram os espelhos dos beirais, o
- Manchamento de pintura e elevações Nor- que pode ser proveniente de goteiras ou
te interna - esse tipo de comportamento pare- destelhamento.
ce demonstrar relação com a incidência de Os outros resultados encontrados foram con-
chuvas com vento, aliada à deficiência de pro- siderados de menor importância para o estu-
teção dos beirais. Também nesse caso, não se do, e não participam desta síntese, mas podem
pode afirmar que essa seja a causa de tal resul- ser encontrados na íntegra deste estudo.
5 Conclusões
Inicialmente, por meio da tabulação dos também consta nas listagens de patologias
dados elaborados nos levantamentos e seu tra- encontradas. As alterações feitas com esse tipo
tamento estatístico, pode-se aferir que os prin- de argamassa demonstram a necessidade dos
cipais danos encontrados estão nas camadas atuais moradores de garantirem a
superficiais das edificações. São casos de de- habitabilidade das residências, apesar da
gradação das pinturas das alvenarias, das aber- inexistência de orientação técnica para tanto.
turas e dos espelhos dos telhados, e da deteri- Os principais problemas que costumam ser
oração dos rebocos e mesmo dos tijolos, ori- encontrados na utilização desse tipo de arga-
ginada pela ação prolongada da umidade, al- massa estão relacionados com a incompatibili-
terações de temperatura e insolação sobre os dade com os substratos, os rebocos e as pintu-
diversos elementos construtivos. A presença ras que caracterizam as edificações. Portanto,
constante de biofilme nas elevações o estudo dos componentes e traços originais
pesquisadas aponta para a incidência de umi- das argamassas de reboco deve ser feito, de
dade por tempo prolongado nesses planos, modo a buscar equivalentes atuais que apre-
assim como a existência de componentes que sentem compatibilidade com os primeiros e
absorvem a água provinda diretamente das que, mesmo assim, não os falsifique. As altera-
chuvas ou de escoamentos falhos das estrutu- ções feitas pelos moradores são percebidas com
ras de cobertura. constância nos levantamentos efetuados e, em
Apesar de menos frequentes, as rachaduras maior quantidade, nas elevações que não es-
nos tijolos e as fendas nas paredes também fo- tão voltadas para o logradouro público, onde a
ram encontradas em algumas edificações levan- liberdade de modificação é maior.
tadas. Nesses casos, é provável que as lesões A correlação elaborada, nos resultados, en-
estejam associadas a algum tipo de alteração tre os danos encontrados e as elevações estu-
no subsolo que dá sustentação às fundações dadas mostrou que grande parte dos itens con-
das edificações. Pôde-se perceber, pelas visitas siderados não apresenta dependência entre
ao local, que ao menos em dois dos casos cita- si, o que atesta que os agentes climáticos e
dos, as edificações estão implantadas muito ambientais que incidem sobre o conjunto não
próximas a um curso d’água, o que pode ter são determinantes para o desenvolvimento de
contribuído para o deslocamento de camadas patologias em elevações específicas. A partir
do solo, tornando o sítio instável. desse entendimento, pode-se avaliar que os
A manutenção das alvenarias das danos encontrados provêm de outras causas,
edificações por meio da utilização de argamas- como negligência, intervenções indevidas e
sas à base de cimento, apesar de não ser um falta de manutenção preventiva. Da mesma
dano por si só, foi considerada aqui como uma forma, pode-se compreender que as condições
alteração indevida, pois não foram levados em impostas pelo entorno, como alteração da ven-
conta os precedentes das edificações e, assim, tilação e da insolação, alteraram a relação de
27
Anais | Congresso Abracor 2009
patologias encontradas em determinadas ele- plantados devem garantir a autenticidade das
vações, o que torna ainda mais importante o edificações em seus materiais e, ao mesmo
estudo do clima urbano e de suas variáveis. tempo, promover a sua utilização sustentável,
Outra constatação, feita a partir dos levanta- pois os bens são dos moradores e também da
mentos realizados, é que alguns danos mais cidade e da comunidade de Santa Maria. Ou-
brandos, como a ausência de pintura das ele- tro ponto imprescindível a considerar é o va-
vações, acabam evoluindo para outros mais lor das edificações enquanto conjunto, ínte-
graves, como a desagregação ou fissuras no gro em suas partes e ambientado ao seu entor-
reboco, pela falta de manutenção durante um no.
grande período de tempo. Esse tipo de com- Partindo-se da premissa que grande parte
portamento, percebido na Vila Belga, ocorre dos danos estão nas camadas superficiais dos
possivelmente devido a um grande período planos edificados, pode-se considerar válida
de inércia dos diversos agentes envolvidos na a possibilidade de reabilitação pela utilização
sua preservação, gerando a situação que se de técnicas de pequeno restauro, ou mesmo
tem hoje. da consideração dos rebocos como superfíci-
A partir das considerações supracitadas, é es de sacrifício, aptas a serem substituídas. Essa
válido considerar que, independentemente de possibilidade ganha mais respaldo ao se con-
qualquer tipo de postura de intervenção que siderar o pequeno valor que o material dos
possa ser adotada, é possível elaborar estraté- planos rebocados possui para a comunidade
gias que garantam a conservação e restaura- se comparado à manutenção do todo
ção das edificações. Os planos a serem im- edificado.
Referências bibliográficas
1- LOPES, Caryl E. J. A Vila Belga. In: LOPES e MULLER (org.). Anais do Seminário: Território, Patrimônio e Memória. Porto Alegre: ICOMOS; Santa
Maria: UFSM, 2001.
2 – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DO ESTADO DA SECRETARIA DA CULTURA DO RIO GRANDE DO SUL.
Patrimônio Ferroviário no Rio Grande do Sul. Inventário das Estações: 1874-1959. Porto Alegre: Palotti, 2002.
3 - SCHLEE, Andrey. Processo de tombamento da estação ferroviária de Santa Maria. Santa Maria: Prefeitura Municipal de Santa Maria/UFSM, 1999.
4 – A lei municipal 2.983/1.988 passou a considerar a Vila Belga Patrimônio Histórico e Cultural de Santa Maria. Já o decreto municipal 161/1.997 faz
o tombamento definitivo das residências. Já o tombamento estadual se deu através do decreto 37.317/1.997.
5 - LOPES, Caryl E. J. A Conpagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil e a Cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, Brasil. Barcelona: UPC,
2002. 224 p. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade Politécnica da Catalunha, 2002.
6 – O trabalho completo pode ser acessado em QUERUZ, Francisco. Contribuição para identificação dos principais agentes e mecanismos de
degradação em edificações da Vila Belga / Francisco Queruz. – Santa Maria, 2007 – Universidade Federal de Santa Maria.
28
Anais | Congresso Abracor 2009
LOURENÇO, Bettina Collaro G.
Arquiteta, doutoranda do Proarq/UFRJ, Fundação Oswaldo Cruz
1
Conceito transcrito
CONDICIONANTES QUE INTERFEREM para a Carta del
Restauro de 1972,
imposta por força de lei
NAS PROSPECÇÕES CROMÁTICAS: às superintendências e
institutos autônomos
italianos, por circular nº
PALÁCIO ITABORAÍ EM PETRÓPOLIS 117 de 06-04-1972 do
Ministero della
Pubblica Instruzione
(RIO DE JANEIRO) 2
Os estudos de
Goethe culminaram
num dos mais
importantes estudos
científicos sobre as
cores, a
Farbenlehre (Doutrina
Este artigo tem o objetivo de abordar os diversos parâmetros que guiam os trabalhos de das Cores), mais
conhecida como
prospecções cromáticas em bens culturais edificados. O estudo parte dos diversos “Teoria das Cores de
Goethe”, editada em
questionamentos realizados ao longo do processo de identificação e catalogação das cores 1810. Goethe
das prospecções pictóricas realizadas no Palácio Itaboraí (Petrópolis, Rio de Janeiro). Os descobriu aspectos que
Newton ignorava sobre
resultados podem variar desde a exposição às intempéries do substrato prospectado, as a fisiologia e psicologia
da cor. Observou a
reações químicas de vernizes e seladores sobre as camadas de pintura, até a mudança de retenção das cores na
retina, a tendência do
catálogos de tintas pelo mercado comercial. Assim, os trabalhos de prospecções precisam olho humano em ver
nas bordas de uma cor
observar e analisar as condicionantes do ambiente que interferem direta e indiretamente nos complementar, notou
que objetos brancos
resultados do levantamento. sempre parecem
maiores do que negros.
Atualmente, o estudo
Palavras-chave: da teoria das cores de
Goethe se divide nas
preservação, metodologia científica, prospecção cromática, pintura. universidades em três
matérias: a cor física
(óptica física), a cor
fisiológica (óptica
This paper approaches the work guidelines of the chromatic researches in cultural heritage fisiológica) e a cor
química (óptica físico-
buildings. The study was based on the discussion which occurred along the identification química).
and cataloguing of the colors in the chromatic research in the Palácio Itaboraí (Petrópolis, 3
Os comprimentos de
onda das lâmpadas
Rio de Janeiro). The results can change from the exposition to the bad weather, the chemical fluorescentes vão
reactions of the painting layers, to the change of catalogs of colorpaints. Therefore, researches produzir uma luz
semelhante a do sol, mas
need to take into account the interference of the environment which compromise direct and a distribuição dos
comprimentos de onda
indirectly the results. é diferente, além de
conter poucos
comprimentos de
ondas vermelhas. Uma
bola vermelha dentro
de uma sala iluminada
1. Introdução com luz fluorescente
aparecerá marrom.
Este artigo tem o objetivo de abordar tamento das superfícies. A abordagem des-
conceitualmente os diversos parâmetros se problema depende da proposta de res-
que guiam os trabalhos de prospecções tauração como um todo, resultante de aná-
cromáticas em bens culturais edificados. lises pormenorizadas do edifício ou conjun-
A iniciativa em realizar este trabalho par- to de edifícios e do ambiente em que estão
tiu, a princípio, pelos diversos inseridos. Todas as decisões relativas às
questionamentos e alterações que foram ações a serem desenvolvidas, incluindo-se
encontradas ao longo do processo de iden- o tratamento de superfície deveriam, de for-
tificação e catalogação das cores das ca- ma articulada, resultar dessa análise, seguin-
madas de pinturas originais das paredes do os princípios basilares que regem a res-
internas e externas do nosso estudo de tauração” (KÜHL, 2004:309).
caso, o Palácio Itaboraí (1892) em Considerando que a edificação escolhida
Petrópolis, cidade serrana do estado do Rio para este estudo de caso, o Palácio Itaboraí,
de Janeiro. Neste aspecto, acreditamos que é eclética, foram registrados inúmeras refe-
a descrição da professora Drª. Beatriz Kühl rências de cores nas esquadrias, paredes, for-
relata de forma clara nossa preocupação: ros, ornamentos e fachadas. Isto se deve,
“[...] uma questão de primordial impor- de acordo com nossas investigações, às di-
tância a ser considerada nas intervenções versas condicionantes que interferiram na
em edifícios de interesse histórico é o tra- leitura da identificação e catalogação da ca- 29
Anais | Congresso Abracor 2009
Fig.1 Fachada do
Palácio Itaboraí. Acervo
mada original. Acreditamos que sejam des- Nesta fase foram realizadas, identificadas e
DPH/COC, 2004. de a exposição da tinta às intempéries do catalogadas diversas prospecções cromáticas
substrato prospectado; as reações químicas das camadas de pinturas originais. A segunda
de vernizes e seladores sobre as camadas de fase, com o escopo de complementar a pri-
pintura; a mudança de catálogo de tintas meira, foi realizada pelo próprio DPH. Nes-
pelo mercado comercial, até a terminolo- ta, foram realizados desenhos com a repre-
gia aplicada para compartimentos e elemen- sentação gráfica das cores e suas localizações,
tos arquitetônicos. A fim de compatibilizar além de compatibilizar as cores anteriormen-
as cores das camadas de pintura originais te catalogadas. Durante a compilação da pri-
com tintas comerciais, foram realizados es- meira fase, identificou-se uma série de
tudos gráficos e avaliações constantes entre condicionantes que interferiram numa leitura
os restauradores e os resultados encontra- clara dos resultados levantados. Dentre estes:
dos. a alteração do catálogo de referência de tintas
Os serviços de intervenção foram realiza- – na primeira fase utilizou-se o catálogo de
cores da Internacional. Enquan-
to que na segunda fase, as re-
ferências foram os Catálogos
da Ypiranga e o da Ibratin; a
terminologia do registro das ca-
madas; a nomenclatura dos
compartimentos distinta; a ter-
minologia de elementos
arquitetônicos (portas,
esquadrias e ornamentos das
fachadas); os condicionantes
climáticos que interferem na
avaliação da umidade (ascen-
dente e/ou descendente); as
condicionantes da técnica de
preparação dos suportes para
pintura de acabamento (verni-
dos na edificação tombada pelo IPHAN em zes ou seladores aplicados sobre as camadas
duas etapas, ambas coordenadas pela equi- de pinturas originais que reagiram quimicamen-
pe do Departamento do Patrimônio Histó- te causando alterações cromáticas).
rico (DPH), da Casa de Oswaldo Cruz, da A partir desta introdução e deste pequeno
Fundação Oswaldo Cruz, no período de mar- histórico dos serviços realizados de prospecções
ço 2006 a outubro 2007. A primeira fase cromáticas no Palácio Itaboraí, traçaremos al-
dos serviços foi executada pela equipe da guns conceitos dos quais consideramos rele-
empresa Arte Memória Restaurações LTDA. vantes na avaliação deste estudo.
A arquitetura sempre tirou partido da co- simbologia, incluídas nisso as cores. As-
loração, seja pela cor de sua substância, seja sim, cada cor carrega consigo uma histó-
pela enfatização das propriedades cromá- ria e uma variedade de significados e de
ticas dos materiais incorporados ou pela funções, que podem variar desde a distin-
introdução de revestimentos cromáticos na ção de tubulações e encanamentos nas
superfície de seus espaços. As cores fa- construções até sua aplicação em instala-
zem parte do espaço que nos cerca, no ções hospitalares enquanto status
entanto são poucas as vezes que paramos terapêutico.
para contemplá-lo, de destingir suas Em se tratando de preservação de
nuances e de explorá-las em projetos de edificações históricas, Cesare Brandi de-
arquitetura (técnica do trompe-l´oeil). fendeu o objetivo fundamental do restau-
Sendo a cor uma realidade sensorial, se- ro afirmando “mantenere in efficeienza,
gundo os estudos de psicologia, estas atu- facilitare la lettura e trasmettere integral-
am sobre a emotividade humana, produ- mente al futuro [os valores essenciais da
zindo sensações de movimento, de pro- obra de arte]”1. Desta maneira não pode-
fundidade e de claridade. Em diferentes mos objetivamente negar a importância da
épocas as sociedades utilizaram códigos cor na definição dos conceitos de “apre-
culturais, isto é, certos elementos de uma sentação visual” dos edifícios históricos.
30
Anais | Congresso Abracor 2009
Ressaltamos ainda, que a pintura de uma ginal, podendo estas, ser de técnicas di-
superfície arquitetônica representa a sua versas.
“pele”, e assim podemos dizer que se tor- Existe assim uma variedade enorme de
na uma “camada de sacrifício” em relação situações que se deve relevar na questão da
ao ambiente, sujeita às várias formas de cor em superfícies arquitetônicas históricas,
deterioração. Por um lado, pelo meio am- onde o quesito básico deva sempre consi-
biente: sol, chuva, poluição, variação de derar o histórico-crítico das edificações,
temperatura. Por outro, às diversas além das técnicas e produtos empregados
repinturas sobre a camada de pintura ori- na época da construção.
Bibliografia
AGUIAR, José. Planear e Projectar a conservação da cor na cidade histórica: experiências havidas e problemas que subsistem. In. Encontro
sobre conservação e reabilitação de edifícios. Lisboa: 3 Encore, 2003, pp. 785-794 (vol.2).
CHAGAS, Elaine. Relatório das prospecções cromáticas do Palácio Itaboraí. Rio de Janeiro: Acervo do DPH/COC/Fiocruz, março de 2007.
GERMANI, Fabris. Fundamentos del proyecto gráfico. Trad. F. Domingo. 2ª ed. Barcelona: Ediciones Don Bosco, 1973.
GUIMARÃES, José Epitácio Passos. A Cal: Fundamentos e aplicações na engenharia civil. 2ª ed. São Paulo: Editora Pini, 2002, pp. 153-163.
KÜHL, Beatriz Mugayar. O tratamento das superfícies arquitetônicas como problema teórico da restauração. ANAIS do Museu Paulista
História e Cultura Material, São Paulo, v.12, 2004, pp.309-330.
RIBEIRO, Nelson Porto. As cores da cidade na América Portuguesa: um estudo iconográfico. In: Anais do Comitê Brasileiro de História da
Arte, 24, Belo Horizonte, 2005. (1 CD)
RIBEIRO, Nelson Porto. Técnicas construtivas tradicionais das alvenarias no Brasil. In: BRAGA, Márcia (Org.). Conservação e restauro:
arquitetura brasileira. Rio de Janeiro: Editora Rio, 2003.
SEMINARA, Enzo. A cor no Rio de Janeiro do século XIX. Arquitetura, v.5, 1987, pp. 28-36.
34
Anais | Congresso Abracor 2009
RHODEN, Luiz Fernando
Arquiteto, Doutor em Arquitetura e Urbanismo
Técnico do IPHAN
A preservação e a conservação
das igrejas setecentistas de origem
portuguesa no Rio Grande do Sul
This paper presents the social, economical and political context where churchs were
build in Rio Grande do Sul, Brazil, during the XVIII century, wich are badly known
nationally. We focus the temples in Rio Grande, Viamão, Triunfo, Taquari and Santo
Amaro. Althought they suffered some interventions in their inner architecture, the ex-
terior aspects remain preserved. These are sober buildings, purportedly build by military
engineers of the southernmost territory.
PALAVRAS-CHAVE:
Arquitetura religiosa; Rio Grande do Sul; século XVIII; engenheiros militares.
Introdução
É comum que os brasileiros de outros esta- Trata-se das igrejas matrizes das atuais
dos, quando se referem ao Rio Grande do Sul, cidades de Rio Grande, Viamão, Triunfo,
citem sua culinária de origem italiana ou sua Taquari e da vila de Santo Amaro, no mu-
arquitetura de origem alemã, ou ainda as in- nicípio de General Câmara.
fluências espanholas de sua cultura da fron- Porto Alegre, não será objeto desta apre-
teira. Poucos sabem ou conhecem aquilo que sentação, porque embora tenha sido povoa-
seria o óbvio: a origem portuguesa do povoa- da no século XVIII, não tem mais nenhum
mento do Rio Grande do Sul. conjunto urbano original daquele período, e
Este trabalho pretende apresentar os primei- sua igreja mais antiga, a de Nossa Senhora
ros conjuntos urbanos e, principalmente, as das Dores, é do início do século XIX. O
primeiras igrejas construídas pelos portugue- mesmo acontecendo com Cachoeira do Sul
ses, no século XVIII, no Rio Grande do Sul e e Rio Pardo, cujas igrejas matrizes foram
seu estado atual de preservação e conservação. descaracterizadas no início do século XX.
O povoamento
Desde o início do século XVIII, as “vaca- e o restante do Brasil, através do litoral.
rias del mar”, como eram denominados os Na época, as terras por onde circulavam
campos onde se reunia o gado introduzido os portugueses no território sulino eram
pelos jesuítas missioneiros, era percorrida as da estreita faixa entre Laguna e Sacra-
por tropeiros e contrabandistas de gado que mento, que denominavam Rio Grande de
visavam abastecer as gerais. Para tanto, foi São Pedro e que se desenvolvia entre as
aberta em 1703, por aqueles preadores, uma lagoas dos Patos, Mangueira e Mirim e o
via de comunicação entre o território sulino mar e ao longo da costa do Rio da Prata até 35
Anais | Congresso Abracor 2009
a Colônia de Sacramento. Porém estas ain- guinte, chegou ao Rio Grande o Governa-
1
Rhoden: 1999: p. 140
2
Idem. p. 141
da eram tímidas incursões dos luso-brasi- dor da Capitania do Rio de Janeiro, Go-
leiros pelo território sulino. mes Freire de Andrade, para iniciar as de-
Em 1727, o General David Marques marcações das fronteiras estabelecidas
Pereira informava que havia sido aberto pelo Tratado de Madri, em 1750. Junto
um caminho do Rio Grande para São Pau- com ele vieram vários engenheiros milita-
lo, por Francisco de Sousa, passando pe- res, que haviam sido contratados para
los Conventos e ligando Araranguá, no li- aqueles serviços.
toral aos campos de Curitiba, no planalto. Tão logo chegou a Rio Grande, Gomes
Era a estrada da serra, segundo caminho Freire de Andrade mandou evacuar a po-
que ligava o sul ao centro do Brasil e que pulação do estreito, que estava com suas
facilitava o percurso tendo em vista não casas quase encobertas pelos cômoros de
precisarem ultrapassar grandes rios. Na re- areia, e estabeleceu a sede da vila junto às
alidade, aquele empreendimento não che- margens do canal.
gou concluir-se, mas foi-lhe dado o impul- No mesmo ano começaram a chegar ao
so inicial. Pouco tempo mais tarde, com o Rio Grande, os casais açorianos, que esta-
auxílio de Cristóvão Pereira de Abreu, o vam em Santa Catarina e que iriam povo-
caminho ficou pronto e por ele começa- ar as missões, que deveriam passar ao do-
ram a passar os animais em direção à feira mínio português.
de Sorocaba, em São Paulo. No deslocamento dos militares, entre os
No mesmo período começaram a povo- quais os engenheiros contratados, e dos
ar os campos às margens dos rios Gravataí casais açorianos, subindo a lagoa dos Pa-
e dos Sinos, com habitantes vindos de La- tos e o rio Jacuí em direção às missões,
guna e de São Paulo. A idéia do governo foram sendo criados pequenos acampa-
português era a de conquistar e conceder mentos, inicialmente com a finalidade de
sesmarias aos tropeiros, que se tornavam apoio às incursões rumo às missões, mas
sedentários. Posteriormente, os militares que se transformaram em importantes nú-
que davam baixa também conseguiram cleos no contexto da incipiente rede urba-
suas sesmarias. na existente no século XVIII, no Rio Gran-
A concessão das sesmarias transformou- de de São Pedro. Trata-se do Porto dos
se, desta maneira, na primeira grande ver- Casais, atual Porto Alegre, Triunfo, Santo
tente do processo de povoamento e urba- Amaro, Rio Pardo e Cachoeira. Esta foi a
nização do território sulino brasileiro1, que segunda vertente de povoamento do terri-
consolidou a ocupação do território por tório sulino, que tinha caráter militar, flu-
parte dos portugueses, estabeleceu uma vial e urbano 2.
base econômica e possibilitou à metrópo- Aos casais açorianos foram prometidas
le a implantação de núcleos urbanos, como inúmeras regalias, através da Provisão Ré-
Viamão. gia de 09 de agosto de 1747. Dentre elas
Em 1736, após várias recomendações estava a criação de povoados para cada
dos Governadores das Capitanias do Rio conjunto de 60 casais, com detalhadas ins-
de Janeiro e de São Paulo e do Conselho truções sobre seus traçados urbanos.
Ultramarino, o Rei D. João V mandou um Das instruções dessa Provisão Régia qua-
esquadra para, entre outras missões, fun- se nada foi aplicado, uma vez que as mis-
dar um presídio nas margens do canal de sões não foram entregues aos portugueses,
saída da lagoa dos Patos para o mar. As- houve a guerra guaranítica na sequência e o
sim, em 19 de fevereiro de 1737, o Briga- Tratado de Madri foi anulado.
deiro José da Silva Pais fundou o Presídio A situação dos casais tornou-se bastante
de Jesus, Maria, José, que deu origem à precária e somente em 1764, o Governa-
atual cidade do Rio Grande, a única povo- dor da Capitania do Rio Grande de São
ação fundada oficialmente no século XVIII, Pedro, José Custódio de Sá e Faria, man-
no território do Rio Grande de São Pedro. dou construir um povoado para os açoria-
O presídio cresceu em torno de dois nos, ao qual deu o nome de São José do
pontos focais: a capela de Jesus, Maria, Tebiquari, atual cidade de Taquari.
José, junto ao forte do mesmo nome e a Quando iniciou o século XIX, havia no
capela de Santana, junto à localidade do território sulino apenas uns poucos povo-
estreito, um pouco mais a oeste e que ser- ados mais significativos, uma vez que a
via de ponto de defesa contra possíveis Capitania esteve em constante estado de
incursões de espanhóis, vindos pela reta- beligerância com seus vizinhos espanhóis,
guarda. Em 1747 a localidade foi elevada fato que impedia a fixação de novos nú-
a vila, com o nome de Vila do Rio Gran- cleos urbanos por questões de segurança.
36 de, só implantada em 1751. No ano se-
Anais | Congresso Abracor 2009
As igrejas setecentistas do Rio Grande do Sul
nalidade desse templo está na composição de maiores, causando a impressão de uma es-
sua fachada, que é formada por três corpos: cala mais ampla de que a do edifício. O
um, central, que é a frente da igreja e dois corpo central tem frontão triangular com
laterais que, de frente, dão a impressão de rebordo curvo formando uma cimalha sali-
duas torres, mas são, na realidade, apenas gros- ente com três níveis de molduras, acompa-
sas paredes, bases dos campanários e que ser- nhando o recorte da superfície. O retábulo-
vem como dois contra-ventamentos, de alve- mor e os altares colaterais em madeira, pro-
naria, justapostos à frontaria, tal como ocorre vavelmente sofreram alterações no século
na igreja de Viamão. Uma grande porta, com XIX. Sua talha tem características popula-
guarnições em pedra de lioz, é a única aber- res.
tura que dá acesso ao interior do templo, na A igreja sofreu um longo processo de
fachada frontal. No pavimento superior, três restauração entre os anos de 2006 e 2008,
janelas, com vitrais não originais, iluminam que resgatou alguns dos seus aspectos ori-
o coro. ginais. É reconhecida como patrimônio
Sua expressão monumental foi nacional brasileiro, juntamente com o con-
alcançada pelas proporções avantajadas das junto de outros 13 edifícios e a praça da
bases das torres. Se comparadas, proporcio- vila, desde 1998.
Taquari - Igreja matriz de São José
A matriz de São José, de Taquari, é outro Em função de todos os problemas apon-
templo que apresenta dúvidas quanto à auto- tados, a igreja de São José levou em torno
ria de seu projeto. Esta igreja esta ligada à de trinta anos para ser concluída e sua úni-
administração de Sá e Faria, no governo da ca torre só foi construída no final do século
Capitania do Rio Grande de São Pedro. XIX. O conjunto apresenta aspecto externo
Aquele engenheiro militar, Governador bastante modesto. Segundo Athos
da Capitania, era o autor do projeto do tra- damasceno, é uma de nossas igrejas de
çado urbano de Taquari e em correspon- menor expressão, como obra de arquite-
dência ao Vice-Rei do Brasil, Conde da tura 7. Além de faltar-lhe porte, suas linhas
Cunha, datada de 1768, afirmava que as são de extrema parcimônia, para não di-
obras da igreja ainda não haviam começa- zer pobreza. Internamente, no entanto, não
do, por falta de recursos. De qualquer deixa de despertar interesse, pela talha
modo, em função dos diversos problemas que a reveste e a ornamenta, especial-
devidos à invasão pelos espanhóis, do mente os altares, de muito bom gosto ar-
porto do Rio Grande, que dificultavam o tístico, e as tribunas laterais, guarnecidas
atendimento das necessidades da Capita- de balaústres de madeira lavrada e
nia, por parte do governo do Rio de Janei- encimadas de dóceis rendilhados. Infeliz-
ro, o projeto da matriz de Taquari deveria mente a nave sofreu algumas intervenções
ser “tão modesto que se pudesse com a ao longo do século XX, que desmonta-
despesa e que servisse para nela se cele- ram dois de seus altares laterais e os subs-
brarem os ofícios divinos aos moradores tituíram por duas capelinhas de feição
locais e não para vanglória nossa”, afirma- neogótica. Esta igreja não possui qualquer
va, em reposta, o Conde da Cunha 6. proteção legal.
Conclusão
Embora algumas das igrejas setecentistas ros, marceneiros. Nossos arquitetos ti-
sulinas sejam contemporâneas de importan- nham formação militar e por aqui quase
tes obras realizadas nas Minas Gerais, no não circularam os tratados de arquitetura.
Rio Grande do Sul nunca houve a opulên- Tudo estava voltado para os problemas
cia e o refinamento da arquitetura e da de- constantes de preservação do domínio
coração interna mineira. territorial português, frente às investidas
As condições políticas, econômicas e dos espanhóis.
sociais da Capitania do Rio Grande de São Frutos deste contexto, as nossas igrejas
Pedro, no século XVIII, não favoreciam não deixam de ter características próprias
maiores investimentos na melhoria da qua- e marcantes, verdadeiros marcos
lidade de vida da população local e nem referenciais nas suas comunidades e me-
o desenvolvimento de atividades artísti- recedoras de serem preservadas, como
cas e artesanais, como entalhadores, importantes testemunhos de nossa his-
douradores, escultores, pedreiros, cantei- tória.
39
Anais | Congresso Abracor 2009
Referências bibliográficas
- Almeida, M. J. “O município de Triumpho”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, nº 43-44, pp. 217-332
- Barreto, A. Bibliografia Sul-Riograndense. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1976. V. II.
- Bonnet, M. Formas em trânsito: as obras de talha da matriz de Nossa Senhora da Conceição de Viamão. In: http://www6.ufrgs.br/artecolonial/
pindorama, 2007.
- Damasceno, A. Artes plásticas no Rio Grande do Sul: 1755-1900. Porto Alegre: Globo, 1971.
- Dreys, N. Notícia descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Porto Alegre: IEL, 1961.
- Etzel, E. O Barroco no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1974.
- Flores, M. Nossa Senhora da Conceição de Viamão, uma comunidade em busca de suas raízes. Veritas, Porto Alegre, v.146, p. 251-264,
1992.
- _______. Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Viamão. Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre – RS, v.25, n.2, p. 265-290, 1999.
- Saint-Hilaire, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1987.
- Volkmer, J. A. Arquitetura religiosa barroca no Rio Grande de São Pedro século XVIII. Porto Alegre, 1994. Não publicado.
- Weimer, Günter., Arquitetos e construtores rio-grandenses na colônia e no império. Santa Maria: EDUFSM, 2006.
40
Anais | Congresso Abracor 2009
NUNES, Maria Anilta,
restauradora, mestre em arquitetura e urbanismo.
Os bens culturais de caráter material são constituídos por forma e matéria, passíveis de
degradação. O objetivo deste trabalho é apresentar os materiais e métodos utilizados no
diagnóstico do estado de conservação da estrutura em madeira de retábulos de igrejas prote-
gidas por legislação municipal e estadual, em Florianópolis, Santa Catarina. Os métodos de
investigação envolvem: identificação das espécies de madeira; levantamento gráfico e foto-
gráfico dos problemas patológicos existentes, técnicas de prospecção tradicionais, como
percussão, e não tradicionais, como a emissão de ondas ultrassônicas. Dos resultados
obtidos constatou-se que o uso do ultrassom favoreceu a confirmação da extensão da dete-
rioração das peças. Os resultados obtidos com a pesquisa auxiliaram a identificação das
alterações ocorridas ao longo da existência das obras em madeira e servirão de base para a
adoção de critérios para sua conservação.
Palavras-chave:
preservação, patrimônio cultural, retábulo em madeira, diagnóstico.
The cultural heritage is composed by form and matter, and liable to be decayed. This
paper intends to present the methods and materials used in the diagnosis of the state of
conservation of the structure in wood of altarpiece of churches protected by Municipal
and State legislation, in Florianópolis, Santa Catarina. The investigation methods involve:
identification of the wooden species; graphical and photographic survey of the existing
pathological problems, traditional and not traditional techniques of inspection, as
percussion or emission of ultrasonic waves. Of the results gotten in the evaluation of
the conservation state it had been evidenced that the use of the ultrasound favoured
the confirmation of the extension of deteriorated parts. The results gotten with the
research had assisted the identification of the alterations carried throughout timber
pieces existence and will add in the adoption of criteria for their conservation.
Keywords:
preservation, cultural heritage, timber altarpiece, diagnosis.
1. Introdução
3. Madeira e Umidade
A madeira tem sido utilizada por sécu- existente no meio até atingir um ponto
los para diferentes finalidades, entre estas, de equilíbrio, o que pode provocar
como suporte estrutural de obras de arte. É inchamento ou retração da peça. Tais va-
sabido que a escolha da espécie de madei- riações podem gerar problemas no supor-
ra está relacionada à função a ser exercida te e na policromia. A umidade além de
e a algumas de suas características influenciar na estabilidade dimensional da
tecnológicas, entre estas, a estabilidade madeira, também atua sobre sua resistên-
dimensional, a permeabilidade, a durabi- cia e durabilidade, podendo facilitar o
lidade e inexistência de defeitos. Conside- surgimento de biodegradação, que são
ra-se que a seleção de madeira empregada mudanças nas propriedades da madeira
na realização de obra de arte esteve relaci- ocasionadas por algum micro-organismo.
onada não só ao aspecto tecnológico, mas Salienta-se que estes efeitos podem ser dis-
também a questões práticas e econômicas, tintos, conforme a espécie da madeira e
aliadas à tradição do artista, sendo normal- as condições ambientais existentes, entre
mente utilizadas madeiras da região estas, a temperatura. Pressupõe-se que a
(UZIELLI, 1998). madeira é considerada seca quando o seu
Por se tratar de matéria orgânica, hete- teor de umidade é igual ou ligeiramente
rogênea, anisotrópica e higroscópica, a inferior ao teor de umidade de equilíbrio
madeira acaba sofrendo alterações em sua médio da região onde esta se insere, di-
conformação. Estas alterações podem es- minuindo assim, a atenuação das varia-
tar associadas ao produto da ação de ções dimensionais e, por conseguinte, as
micro-organismos e insetos xilófagos ou deformações. Para a região de
ocasionadas por mudanças higrométricas Florianópolis, o valor é de o teor de umi-
da madeira que, exposta a condições de dade de equilíbrio médio é 16%
elevada umidade relativa do ar, adsorve a (MARTINS et al 2003).
4. Estudos de caso
5. Materiais e Métodos
Tabela 1 – Apre-
sentação dos valores
médios da velocida-
de de propagação da
onda ultrassônica no
sentido longitudinal
em barrote de Pinho-
do-Paraná seção
10cm x 16cm.
Conclusões
As madeiras identificadas e empregadas na ção de ondas ultrassônicas em áreas de-
execução do retábulo-mor da Igreja Nossa gradadas, sendo mais acentuada nos pon-
Senhora das Necessidades são oriundas da tos onde o teor de umidade na madeira
região e suas propriedades estão de acordo encontrava-se elevado. O uso do ultrassom
com a função exercida. A Peroba favoreceu a confirmação da extensão da
(Aspidosperma pirycollum) é predominan- deterioração das peças, contudo não foi
te nas peças estruturais e o Cedro (Cedrela possível levantar com exatidão a porcen-
fissilis) nos elementos ornamentais. A tagem da área comprometida, tendo em
Capororoca (Rapanea sp) e o Pinho-do- vista a dificuldade em obter-se uma leitu-
Paraná (Araucaria angustifolia) são produ- ra estável do tempo de transmissão da
to de intervenções na estrutura do retábulo- onda em alguns pontos. Acredita-se que
mor da Igreja Nossa Senhora das Necessi- em parte este problema esteja relaciona-
dades. Possivelmente o critério utilizado ao do à superfície irregular, já que em al-
longo dos anos na seleção de madeiras para guns casos a produção da madeira é do
a substituição de peças degradadas tenha tipo falquejada.
se baseado, primeiro, no uso de madeiras Os resultados obtidos com a pesquisa
existentes na região e, em segundo, de es- auxiliaram a identificação das deteriorações
pécies disponíveis no mercado. ocorridas ao longo da existência da estru-
Algumas espécies de madeiras encontra- tura. Como pesquisas futuras, indica-se a
das possuem durabilidade média e, prova- investigação de mais dimensões de seção
velmente devido às condições existentes no transversal para as mesmas espécies. As in-
local, como falta de manutenção, alto teor formações obtidas a partir da identificação
de umidade e ventilação deficiente, apre- da madeira e das condições de conserva-
sentam-se deterioradas. ção são de fundamental importância para
Na aplicação do ultrassom observou-se a elaboração de um plano que vise a pre-
a diminuição da velocidade de propaga- servação dos retábulos. 45
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliografia
ARGAN, G. C.. História da arte como história da cidade. Trad. Pier L.C.. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 280 p.
BURGER, L. M.; RICHTER, H.G.. Anatomia da Madeira. São Paulo: Nobel, 1991. 155p.
GORNIAK, E; MATTOS, J.L.M.. Métodos não destrutivos para avaliação de propriedade da madeira. In: ENCONTRO BRASILEIRO EM
MADEIRA E ESTRUTURAS DE MADEIRA,7, São Carlos. SP. 2000. Anais... São Carlos:USP, 2000.1 CD-ROM.
IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Portaria nº 37-N, 1992, de 3 de abril de 1992. Dispo-
nível em: http://www2.ibama.gov.br/flora/home.htm. Acesso 06 outubro 2004.
ICOMOS. International Council on Monuments and Sites. Brasil. Declaração de Xi’an. Disponível em: HTTP://www.icomos.org.br/xi_an.htm. Acesso
em:08 maio de 2006.
MANGUEL, A.. Lendo Imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. 358 p.
MARTINS et al.. Umidade de equilíbrio e risco de apodrecimento da madeira em condições de serviço no Brasil. Brasil Florestal. Brasília,
n. 76, p. 29-34, 2003.
NUNES, M. A.. Sistemas construtivos e sua preservação: retábulos executados entre os séculos XVIII e XIX, da arquitetura religiosa
de Florianópolis, SC. 2006, 188f.. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Programa de Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo - Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
SOUZA, L. A. C.. Evolução da tecnologia de policromia nas esculturas em minas Gerais no século XVIII: O interior inacabado da Igreja
Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas do Mato Dentro, um monumento exemplar. 1996. 127f.. Tese (Doutorado em
Ciências-Química) – Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1996.
TELES, C. D. M.; Valle, Â. do. Estruturas de madeira: ferramentas para a inspeção e conservação. In: Congresso da Associação Brasileira
de Conservadores-Restauradores de Bens Culturais, 11, 2002, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABRACOR, 2002. P. 135-142.
UZIELLI, L.. Historical overview of panel-making techniques in Central Italy. In: SYMPOSIUN THE STRUCTURAL CONSERVATION OF
46 PANEL PAINTINGS. 1995, Los Angeles. Proceedings… Los Angeles: The Getty Conservation Institute. 1998 p.110-135.
Anais | Congresso Abracor 2009
ZANCHETI, Sílvio
Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1989) e pós-doutorado pela
International Centre For The Study Of The Preservationa And Restoration Of (1996).Professor da
Universidade Federal de Pernambuco/ Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano -
MDU/UFPE. É pesquisador e Presidente do Conselho Administrativo do Centro de Estudos
Avançados da Conservação Integrada (CECI)
LIRA, Flaviana
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE (MDU/UFPE).
É pesquisadora e Diretora associada do CECI.
PICCOLO, Rosane
Mestre em Desenvolvimento Urbano pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Urbano (MDU/ UFPE). É pesquisadora e membro do Conselho Científico do CECI.
Palavras chaves:
autenticidade, cartas patrimoniais, cidades
The condition of their being authentic is a fundamental requisite for attributing heritage
interest to the cultural asset. The “heritage charters” reflect a search for theoretical and
operational understanding of this concept, and thus target the preservation of the cul-
tural heritage. However, even although advances were observed in building up pieces
of theoretical and methodological understanding, there is a latent need for a conceptual
and operational deepening of the notion of authenticity. With the aim of making a
contribution to comprehending this notion in the complex space of the city, this paper
argues for reflecting on authenticity by setting out from two recognizable dimensions
in urban space: objective and constructive authenticity. The perception of these
dimensions is, however, entirely linked to the ability of the city to express itself, that is,
the extent to which its physical attributes should be able to express their truth and
genuineness.
Key-words:
authenticity, heritage charters, cities
Introdução
1. A Noção de Autenticidade
Etimologicamente, autenticidade apare- afirma que, em muitos casos, as pessoas
ce como o substrato do que é autêntico. procuram construir uma identidade autên-
O conceito de autêntico refere-se a ser le- tica e, quando não a alcançam plenamen-
gítimo, genuíno, tanto em relação a ser te, tornam-se inseguras e colocam uma
uma evidência verdadeira de algo, como crença exacerbada na ciência ou na
a pertencer a uma criação humana autô- espiritualidade. Por outro lado, o homem
noma. também encontrou outras formas de
Até a Idade Média, as verdades eram pré- alcançá-la, como através da criação artís-
estabelecidas pelas leis divinas e conven- tica.
ções sociais, segundo relata Taylor (1992). A arte apresenta-se como um veículo de
Com o Iluminismo se dá a ascensão da ci- expressão de sua essência humana, pois é
ência, que passa a atribuir critérios de ra- produzida através de um processo criati-
zão para as questões ligadas a fé. A partir vo que dá especificidade a cada artefato.
desse momento, autêntico passa a signifi- Uma obra produzida por meio de tal pro-
car genuíno, verdadeiro, em oposição ao cesso criativo difere de trabalhos produzi-
falso, desvinculando-se de sua acepção dos como réplicas. Jokilehto (2006, p. 4),
anterior (LOWENTHAL, 1999). Com essa referenciando o pensamento de Martin
mudança de paradigma, da fé para a ra- Heidegger, afirma que “nós podemos di-
zão, Taylor (1992) destaca que o homem zer que quanto mais uma obra represen-
moderno rompe a lógica anterior e torna- tar uma contribuição criativa e inovadora,
se responsável por produzir sua verdade e mais verdadeira e mais autêntica ela é”.
sua própria condição de existência. O exposto revela o conceito de autenti-
Os caminhos por meio dos quais se bus- cidade relativo à obra de arte como meio
ca alcançar a autenticidade perpassam tam- do homem expressar sua essência. Nesse
bém essa discussão, pois refletem a con- mesmo sentido, Ferrara (1998) sugere a
dição do ser humano e sua forma de se noção de “autenticidade reflexiva”. Esta,
relacionar com os demais. Taylor (1992) ainda que subjetiva por se tratar de uma
48
Anais | Congresso Abracor 2009
busca individual, é inerentemente se modo, concorda-se com Lowenthal
intersubjetiva, pois é compartilhada com (1999), ao frisar que as gerações veem a au-
outros indivíduos e por eles validada. tenticidade de diferentes formas, refletindo suas
Levando-se esse pensamento para a ci- necessidades de verdade, padrões e credos nos
dade, constata-se que a verificação da au- usos do seu patrimônio. Desse modo, o espa-
tenticidade se dá a partir de um reconhe- ço e o tempo constituem-se em dois aspectos
cimento coletivo, ou seja, intersubjetivo, essenciais para contextualizar e definir auten-
por meio do qual a sociedade busca sua ticidade. Esta relativização espaço-temporal do
autenticidade. conceito, presente na abordagem de vários au-
A sociedade busca a autenticidade ba- tores, esta igualmente presente nas cartas
seando-se em um conjunto de regras e patrimoniais sobre o tema, como será visto a
valores mutáveis ao longo do tempo. Des- seguir.
4. Considerações Finais
1
BAZIN, 1956.
ELEMENTOS ARTÍSTICOS SOB SÉCULOS
DE HISTÓRIA – VELAR OU REVELAR?
Palavras-chave:
convento, história, estética, restauro
The Santa Maria Convent, a XVIII th century building, in Marechal Deodoro, Alagoas,
Brazil, has been restored since 2007. Some conceptual and esthetics criteria adopted
by restorers of this building will be presented and discussed for one analysis of the
restoration work, in which its value as art work is as relevant as its historic features.
Key words
convent, history, esthetic, restoration
APRESENTAÇÃO
O ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Ao longo do tempo o prédio sofreu
diversas intervenções que introduziram
mudanças no seu aspecto e tipologias
originais. Destacam-se a sumária elimi-
nação das celas dos frades, a demoli-
ção de um muro que existia em frente
do conjunto (ver imagens 1 e 2), o entaipamento
de vãos de portas e janelas, novos pi-
sos colocados sobre os antigos, as vári-
as camadas de repinturas em paredes e
elementos artísticos integrados à arqui-
tetura.
A princípio, não se tinha conhecimento
de algumas dessas intervenções já que não
foi encontrado nenhum registro que as
referenciasse, exceção feita a uma obra
realizada entre os anos 70 e 80, quando
foi demolido o muro citado acima e foi
colocada a pavimentação no adro (que era vocaram degradações que atingiram o es-
em chão batido). Também nessa época paço edificado e seus recheios decorativos.
foram demolidos os retábulos laterais e Nesse sentido, destacam-se as manchas de
colaterais da nave da capela da Ordem umidade ascendente e descendente nas
Terceira, sob a alegação de que compro- paredes, a desagregação do reboco, a pre-
metiam esteticamente o espaço interno por sença de vegetação ao longo dos topos das
terem sido feitos em alvenaria, no ano paredes, fissuras, danos nas esquadrias, etc.
de1927. Na coberta, especialmente, apareceu o
As dificuldades relativas aos serviços de maior número de problemas, tais como
56
manutenção e conservação preventiva pro- telhamento com quebras e perdas, ataque
Anais | Congresso Abracor 2009
de insetos xilófagos e presença de fungos nas onde houve o contato direto com as pare- 2
BRANDI, 2003
A RESTAURAÇÃO
É especialmente, o desenrolar dos servi- vãos anteriormente fechados foram reaber-
ços atuais, pautados nos modernos princí- tos, valorizando os espaços internos e re-
pios da ciência da restauração, que tem cuperando relações de cheios e vazios das
possibilitado acessar áreas antes sequer fachadas.
imaginadas. Não será possível recuperar todas as per-
Nesse sentido, foram descobertas, sob das, por não haver referências suficientes e/
séculos de história, pinturas murais, assi- ou por não caber mais na condição atual
naturas e datações, elementos subjacentes do antigo convento, já que hoje se trata de
a outros, além de vãos entaipadas. um espaço museográfico.
Considerando que quase não há docu- Os exames estratigráficos feitos nas pa-
mentos gráficos e/ou iconográficos relati- redes, assim como a desmontagem de
vos às etapas de construção do convento, retábulos revelaram pinturas murais
todas essas descobertas veem acrescentan- subjacentes, pinturas essas que contribuí-
do dados ao conhecimento de sua tipologia ram para dar novos significados a ambien-
original bem como tem permitido compre- tes sobre os quais, até então, não se tinha
ender como o edifício era utilizado em sua conhecimento de sua função no conjunto
função antiga. do prédio conventual. Com isso, novos
Diante da evidência da existência de tais valores são agregados ao monumento.
elementos, a equipe envolvida na obra É justamente nessas pinturas murais até
procura valorizar as descobertas em seu então encobertas, que se encontra a gran-
caráter histórico-documental. de contribuição teórica proporcionada
Como pressuposto teórico, as interven- pela obra de restauro em curso: a possi-
ções restaurativas têm respeitado as mar- bilidade de discutir amplamente como
cas do tempo, ou seja, a instância história tratar elementos distintos histórica e es-
da obra de arte, conforme é considerado o teticamente, que se sobrepõem, mas que,
convento. Entretanto, é essa mesma con- por serem igualmente importantes, me-
dição de obra de arte que, como preconiza recem cuidado redobrado no tratamen-
Cesare Brandi 2, nos faz dar prioridade às to e critérios adotados para sua revela-
questões ligadas à estética. Desse modo, ção ou não.
CONCLUSÃO
A obra, em pleno andamento, tem sido paldo e sustentação conceitual, mas não se
conduzida pelos técnicos ali envolvidos, trata de uma “receita”. Cada caso é discuti-
com cuidado já que não existe uma regra do em sua especificidade, levando sempre
rígida a ser obedecida, sendo toda e qual- em conta as demandas da
quer intervenção, amplamente discutida. contemporaneidade, as marcas que o tem-
As respostas vão surgindo à medida que po infligiu ao monumento, mas
se apresentam os questionamentos. A teo- priorizando a valorização da imagem do
ria da restauração é utilizada para dar res- antigo convento franciscano.
57
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibligrafia
BAZIN, Germain. A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Trad. Glória L. Nunes, vol. I e II, Rio de Janeiro: Record, 1956.
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
FERRARE, J. (2001) “The convento of Santa Maria Madalena – Alagoas – in project of preventive conservation”. In: Anais Historical
Constructions Possibilities of Numerical and Experimental Techniques Proceedings of the 3 rd International Seminar. Guimarães/PT, University
of Minho, pp. 1141-1149.
JABOATÃO OFM, Frei Antonio de Santa Maria. Novo Orbe Seráfico Brasílico ou Chronica dos Frades Menores da Província do Brasil, vls.
I, II e III, Recife: Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, 1980 (fac-simile da Ed. De 1859-1861-1862).
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1990
MÉRO, Ernani. Santa Maria Madalena. Maceió: Sergasa, 1995.
REVISTA DO INSTITUTO ARCHEOLÓGICO E GEOGRÁFICO ALAGOANO. Certidão passada pelos officiais da Câmara da Villa das Alagoas
Acerca do Estado de Conservação do Convento de São Francisco – 1759, vol. II, nº 11, dez/1879, pp. 34-35.
TOLEDO, Franciza. (1997) “Museus quentes e úmidos”. In: ABRACOR Boletim, ano IV, nº 3, pp. 6-7.
58
Anais | Congresso Abracor 2009
Restaurador responsável: Antonio Visco Bruno
Licenciatura em desenho e plástica pela UFBA.
Pós-graduação em Conservação e Restauração de Obras de Arte pela Università Internazionalde
dell’Arte (UIA) – Itália.
É restaurador / conservador do Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural da Bahia (IPAC)
Palavras chave
reentelamento, tela de grandes dimensões.
A tela retrátil mede 7,00m de altura por lho em sua parte inferior e é guiado por
2,50m de largura. Seu estado de conser- outro trilho em sua parte superior. Toda a
vação apresenta diversos danos, sendo os lateral esquerda tem a camada pictórica
rasgos e as perdas de tecido as maiores com problemas de desprendimento do
causas de sua deterioração. suporte, provavelmente devido a infiltra-
É feita de um linho bastante fino e assim ções. Há diversas manchas (excremento de
como a base de preparação e camada pic- morcego, tinta PVA e outras não
tórica, todos possuem espessura bastante identificadas). Algumas mossas são eviden-
reduzida. Existe também um forro solto da tes na lateral direita. A pintura encontra-
tela. Ambos os tecidos, forro e tela, estão se recoberta por uma camada sutil de ver-
presos a um chassi, que por sua vez é pre- niz oxidado. Há alterações cromáticas com
so numa moldura que corre sobre um tri- aspecto esbranquiçado e amarronzado.
A retirada da tela do altar aconteceu no Para existir um vão para a passagem da tela
dia 8 de janeiro de 2007. A tela encontra- uma ornamentação vertical da lateral direi-
va-se totalmente faceada. Foram fixadas duas ta foi girada através de dobradiças. A outra
roldanas na parte superior do altar (entre a lateral foi removida, apesar de ter dobradi-
abóbada e o telhado) num tubo horizontal, ças, porque a comprimento do trilho supe-
que por sua vez estava apoiado em duas tor- rior não permitia o necessário deslocamen-
res de andaimes localizadas nas laterais do to da tela para o lado oposto para a sua
camarim. Nessas roldanas foram passadas movimentação.Também foi necessária a re-
cordas que foram presas ao chassi através tirada do barrote inferior horizontal de fe-
de 10 pitons (5 de cada lado vertical) atra- chamento do vão. Neste momento consta-
vés de nós e laços náuticos. Os 12 parafu- tou-se o precário estado de conservação da
sos que fixavam o chassi na moldura retrá- peça devido a galerias generalizadas de
til foram serrados por estarem extremamen- xilófagos.12 pessoas trabalharam nesta re-
te duros para ser removidos. O andaime moção. 6 trabalharam internamente e 6 na
existente dentro do altar para execução dos parte da frente. A descida foi controlada
serviços descritos acima foi então desmon- soltando-se as cordas e baixando a tela pau-
tado para permitir a movimentação da tela. latinamente.
A retirada do chassi da tela e do forro foi seguiu as seguintes etapas: remoção de po-
feita removendo-se os pregos separadamen- eira com aspirador de pó e pincel, limpeza
te de cada tecido. Ao se virar a tela para com varsol. Observação: foram colocadas
baixo foi possível ver uma inscrição pinta- plataformas de madeira suspensas para que
da em vermelho que está do lado direito da os trabalhos a serem executados no centro
tela, esta sendo vista por trás. Lê-se ROMA sejam feitos sem que ninguém se apoie so-
ANNO JUBILAEL MCM. A higienização bre a tela.
As suturas são feitas penteando as fibras ção da tela. A remoção desses remendos foi
do tecido para sua união através de resina feita química e mecanicamente. Foi borri-
epóxi em gel. Foram encontrados rasgos com fada a mistura de água destilada morna e
remendos inadequados, seja pelo uso de um álcool etílico em iguais proporções para
adesivo que sofreu alteração cromática, seja então proceder a remoção mecânica com
pelo volume criado que altera a planifica- bisturi.
As soldagens foram feitas com adesivo para o reentelamento (ver abaixo). Sua
epóxi da marca Araldite 10 minutos. As colagem também foi feita com Araldite.
suturas foram feitas com os fios do ordito. Todo relevo residual do epóxi foi removido
As próteses foram recortadas de acordo com com bisturi e lixamento. Foi aplicada uma
cada perda. O tecido utilizado foi o linho demão do adesivo Beva 371 no verso da
puro da mesma espessura do original. O tela com diluição de 25% em aguarrás mi-
preparo deste tecido foi o mesmo do linho neral.
Reentelamento
Após a secagem do
adesivo mencionado
acima, foi sobreposto
o linho novo prepara-
do (ver especificações
abaixo), para posteri-
ormente receber nova
cobertura de Melinex
para fechamento do
envelope, que cria a
sucção necessária para
o reentelamento. O
equipamento utiliza-
do foi uma caixa de
iluminação, empresta-
da pelo Museu Nacio-
nal de Belas Artes. É
composta de dois módulos com 36 lâm- frente e assim sucessivamente. A caixa de
padas incandescentes de 250 watts cada. iluminação passou duas vezes sobre a tela.
Este conjunto passa por cima da tela sem Tanto a caixa de iluminação, quanto o sis-
tocá--la. tema para criar o vácuo (um compressor
Foram feitas medições de temperatura com mangueiras e ventosas) e o termôme-
com um termômetro digital. Quando a tro foram gentilmente cedidos pelo MNBA.
temperatura chegava a 83 graus centígra- Todo este equipamento foi devolvido no
dos, o equipamento era removido para dia 8 de fevereiro de 2008.
61
Anais | Congresso Abracor 2009
Retirada de faceamento e tensionamento
Para a retirada do faceamento, a tela sões de alguns técnicos consultados, a re-
reentelada foi fixada provisoriamente no tirada do faceamento não acarretou em
chassi. A remoção do papel japonês é fei- perda alguma de pintura. A tela havia sido
ta com aguarrás mineral e chumaços de presa provisoriamente no chassi para re-
algodão. De acordo com os testes previa- moção do faceamento. O tensionamento
mente feitos e diferentemente das previ- definitivo foi em seguida realizado.
Bibliografia
BALDINI, Umberto IL RESTAURO PITTORICO – NELL’UNITÀ DI METODOLOGIA, vol. 1. Florença: Nardini, 1981.
BRAGA, Márcia. COLEÇÃO CONSERVAÇÃO E RESTAURO – vol. 1. Rio de Janeiro: Editora Rio, 2003.
CASAZZA, Ornella. IL RESTAURO PITTORICO – NELL’UNITÀ DI METODOLOGIA vol. 2. Florença: Nardini, 1981.
MENDES, M. e BATISTA, A. C. N. RESTAURAÇÃO – CIÊNCIA E ARTE. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998.
MUNOZ, S. V. TEORIA CONTEMPORANEA DE LA RESTAURACION. Madri: Sintesis, 2003.
63
Anais | Congresso Abracor 2009
64
Anais | Congresso Abracor 2009
TIRELLO. Regina A.
Docente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Estadual de Campinas (FEC-UNICAMP) e Especialista em
conservação e restauro do Centro de Preservação Cultural da
Universidade de São Paulo (CPC-USP).
AUTENTICIDADE E ARQUITETURA:
AS REPINTURAS ANTIGAS E AS
RESTAURAÇÕES RECENTES DA CASA Nº 1
DA RUA ROBERTO SIMONSEN, SÃO PAULO
Este trabalho expõe e discute parte dos resultados de amplo estudo realizado por solici-
tação de órgão preservacionista paulista (DPH-SP) para diagnóstico do atual estado de
conservação dos 30 painéis murais artísticos existentes na Casa nº 1 da rua Roberto
Simonsen, em São Paulo, restaurados em décadas recentes. A opção de restauro adotado
nos murais implicou no recobrimento de inteiros trechos de pinturas íntegras e em reinte-
grações unificadoras de superfícies com características texturais e cromáticas diversas
entre si, em prol de uma potencial unidade estética ambiental. Tal constatação mostra a
necessidade e urgência de rediscutirmos os padrões de ‘autenticidade’ dos objetos histó-
ricos que têm sido oferecidos à fruição pública. Afinal, de que tempo é tudo isso?
Palavras chave:
Casa nº1 da Rua Roberto Simonsen, SP; autenticidade e arquitetura histórica; conserva-
ção e restauro de pinturas murais.
This work exposes and discusses part of the results of a study carried out by solicitation
of a government protection agencie (DPH-SP) for diagnosis of the current state of
conservation of 30 mural artistic existent panels at the Casa nº 1 of the street Roberto
Simonsen, in Sao Paulo, restored in recent decades. In restoration the option adopted
in the murals was covering of whole passages of ancients paintings with repaints and
unifying reintegrations of the surfaces with characteristics of s and colors different
between its, to create a potential aesthetic and environmental unity. It shows the
necessity and urgency of we re-discuss the standards of ‘authenticity’ of the historical
objects that has been offered to the public enjoyment. At last, of which time is it
completely that?
Key words:
Casa nº1 da Rua Roberto Simonsen, SP; authenticity and historical architecture; conservation
and restoration of mural paintings.
Introdução
A Casa nº 1 da rua Roberto Simonsen, centro de São Paulo fez dele objeto de vari-
em São Paulo, um sobrado de 3 pavimen- adas intervenções prediais e de iniciativas
tos e 36 cômodos, com fachadas ornamen- pioneiras de recuperação de murais artísti-
tadas com serralheria artística e lambrequins, cos ornamentais em décadas recentes, quan-
é tido como exemplar destacado de habita- do foram descobertos e restaurados 30 pai-
ção oitocentista paulistana, a despeito das néis, hoje em mau estado de conservação.
supostas alterações físicas e programáticas Por solicitação do Departamento de
que as muitas mudanças de uso, forçosa- Patrimônio Histórico de São Paulo (DPH-
mente, lhe impingiram ao longo de sua vida. SP) realizamos em 2006 um amplo estudo
A potencial excepcionalidade deste edi- diagnóstico para avaliar o estado o atual
fício no contexto histórico construtivo do estado de conservação dos painéis murais
65
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura1
A fachada da artísticos existentes nas escadarias e vestí- sobre a possibilidade de atuação de um
Casa n.1; detalhe da
pintura do Vestíbulo, bulo do edifício como parte integrante de número maior de pintores na casa e da pre-
painéis ornamentais da
escadaria e murais novo projeto de restauro arquitetônico. sença não de um único conjunto de murais
com arabescos e
pássaros do segundo
Nosso trabalho correspondeu à análise originais, mas de dois ciclos decorativos
andar. Arquivo da e apreciação da condição atual destas antigos completos. A distinção destes dois
autora, 2006.
obras restauradas na década de 1990, além ciclos – que comparecem sobrespostos ou
da requerida realização de novas sonda- justapostos nos três pavimentos da Casa nº
gens prospectivas de superfície para iden- 1, mais que dar futuras indicações
tificar ornamentos parietais ou cores anti- operacionais de restauro, lançou novas lu-
gas de interesse em áreas/ambientes que zes para a compreensão da cronologia cons-
eventualmente pudessem não ter sido con- trutiva da casa.
templados nas intervenções processadas No presente texto procuraremos expor
naquela ocasião. sucintamente uma pequena parte dos re-
No entanto, no decorrer da pesquisa in sultados de extenso relatório técnico ilus-
situ, a observação das descontinuidades trado elaborado para o DPH-SP no qual,
das superfícies então consideradas “origi- além do diagnóstico solicitado, foram ar-
nais” (em relação a qual fase de integrida- rolados, discutidos e indicados procedi-
de arquitetônica do edifício?) revelaram mentos operacionais que consideramos
que a casuística a avaliar era diversa daque- adequados para a revisão dos murais já
la inicialmente suposta, relacionada às restaurados da Casa nº 1 com objetivo de
mudanças tonais e produtos usados no res- garantir sua boa preservação futura e
tauro recente. legibilidade documental por parte do pú-
O espectro das modificações notadas nos blico fruidor.
murais era muito maior, e de outra ordem. O intuito deste trabalho, portanto, é o
Os variadíssimos tipos de retoque estético de colocar questões, de contribuir com o
feitos com tinta acrílica prestavam-se ora aprofundamento de discussões a respeito
a encobrir inteiros trechos de pintura ínte- do “padrão de autenticidade” que tem
gra ora a unificar superfícies de caracterís- direcionado o restauro de pinturas murais
ticas texturais e cromáticas bastante diver- em São Paulo e no Brasil. Interessa-nos
sas entre si em prol uma potencial unida- suscitar discussões sobre os critérios que
de estética. vem sendo adotados para a preservação
O aprofundamento dos estudos condu- da nossa cultura material e artísticas que,
ziu a exames pontuais dos materiais com- afinal, é o que justifica qualquer ação de
ponentes que confirmaram as hipóteses restauro e conservação material que se
que formulamos ao início das inspeções queira promover Fugura 1.
cantoneiras: verde e bordô / Ornatos centrais: des da caixa de escada do segundo pavi-
por sobre os tons terrosos-amarelados foi mento que têm como tema principal pássa-
aplicada tinta azul esfumaçada em várias to- ros e flores inseridos em arabescos pinta-
nalidades, ocorrendo o mesmo com os dos de azul.
arabescos e ornatos geometrizados Figura 5.
Figura 4
Acima, a esquerda, as cantoneiras do Vestíbulo com a pintura opaca e grosseira do Pintor B ;a direita, os arabescos amarelos
subjacentes do Pintor A _ 1 Ciclo Ornamental_ em perfeito estado de conservação. Abaixo, painel da escadaria que mostram o bom estado
da primeira pintura sob os repintes do restauro de 1900 que adotou a paleta de cores do Pintor B. Acervo da autora, 2006.
69
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 6
“Restauro
eletrônico” da
Para as já destruídas áreas inferiores dos
configuração ambiental murais do vestíbulo, por exemplo, adotou-
do pavimento térreo/
escadaria no 1° Ciclo se como ‘neutro’ uma cor cinza-chumbo
Decorativo da Casa n°1.
Com base nos estudos que não faz parte da paleta cromática de
realizados restabelece-
mos virtualmente as
nenhum dos dois ciclos decorativos ali re-
valências cromáticas do presentados. O ‘neutro’ cinza em questão
Pintor A, constituindo
novo material de análise, ajuda a confundir ainda mais leituras cro-
norteador de futuras
intervenções. nológicas do edifício na medida que nem
promove a integração visual com o ambi-
ente decorado contíguo, como contribui com
o escurecimento do vestíbulo e adequada
fruição das pinturas artísticas antigas. Esta
pintura escura monocrômica termina cha-
vista histórico testemunhal sua validade é
mando mais a atenção que a parte superior
nula. Esses ambientes restaurados assim
ornamentada que pretende destacar. Proce-
como estão constituem-se em falso históri-
dimento similar foi adotado também nos
co, na medida que interferem negativamente
requadros dos murais da escadaria para unir
na compreensão da cronologia arquitetônica
visualmente o primeiro e segundo pavimen-
do edifício por parte do fruidor ao invés de
to, embora as pinturas desses andares se-
esclarecê-la. Os pavimentos da casa não fo-
jam de épocas distintas.
ram todos construídos na mesma época, em
Como mencionado, na Casa n°1 essa
consequência, as pinturas também não.
opção intervencionista se materializou
Contudo, a linha de intervenção escolhi-
pelo emprego de massas, tintas e resinas
da é de grande aceitação junto ao público
acrílicas, que sobrepostas ou justapostas às
leigo, e por isso vem sendo adotada há anos
pinturas dos dois ciclos antigos, indistinta-
em quase todos os edifícios públicos e pri-
mente, confunde os dois e não representa
vados em que se promovem restauro de
nenhum deles. As molduras de tonalidades
murais na cidade de São Paulo. Mas, há de
acinzentadas, da entrada do edifício ao úl-
se admitir que trata-se de conduta bastante
timo pavimento, impõem uma unidade de
discutível e pouco adequada sob o aspecto
conjunto que provou-se nunca ter existido;
da conservação dos materiais e de suas for-
o que terminou resultando um novo ciclo
mas de aplicação como documento de fa-
híbrido.
zeres artísticos-artesanais do passado. A
Foram sim “recompostas” ambientações
cada restauro deste tipo perde-se mais refe-
antigas na Casa n°1 mas, sob o ponto de
rências da nossa cultura material.
Considerações finais
Atualmente restaura-se mais murais que parte a validade circunstancial da iniciati-
antes, o que efetivamente faz com que se va, as repinturas estilísticas da Casa n°1
amplie nosso repertório ‘iconológico’ so- oferecem-se hoje como ponto de reflexão
bre as ambiências, gostos e preferências privilegiado, incentivador de novas discus-
do habitar de outros tempo, mas a que sões de ordem conceitual por parte dos
custo? Até que ponto a gradativa substitui- órgãos de tutela sobre a conduta a adotar
ção dos materiais e procedimentos tradi- em futuras iniciativas de restauro / conser-
cionais de fatura dessas obras não tem con- vação dos murais deste e de outros edifí-
tribuído para o rápido desaparecimento de cios. Neste sentido, consideramos extre-
‘testemunhos técnicos’ das pinturas mamente positivos os resultados desses
parietais paulistas, tão necessários para o trabalhos de revisão e sondagens realiza-
desenvolvimento de novos estudos dos em 2006, ainda que à primeira vista
direcionados à individualização de produ- sejam perturbadores. Eles repropõem um
tos e sistemas adequados para sua efetiva novo e necessário olhar preservacionista
preservação em chave conservativa? sobre a Casa n°1, um dos ícones
Passada pouco mais de uma década da arquitetônicos mais importantes do Oito-
finalização do restauro desses murais, a centos na cidade de São Paulo.
Bibliográficas
TIRELLO, R. A. A Arqueologia da Arquitetura: um modo de entender e conservar edifícios históricos. Revista CPC, v. 3, p. 145-165, 2006
(www.usp.br/cpc)
TIRELLO, R. A.: Sondagens prospectivas e análise do estado de conservação das pinturas murais artísticas da Casa n.1 da Rua Roberto
Simonsen,SP – Relatório técnico, 96 páginas . Arquivo DPH-SP: São Paulo ,2006 .
70
Anais | Congresso Abracor 2009
FEIBER, Silmara Dias
Arquiteta e Urbanista
Faculdade Assis Gurgacz
Professora Pesquisadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo – CAUFAG
O Período Colonial brasileiro sofreu grande influência das técnicas construtivas portu-
guesas e, longe de considerar estas técnicas como insipientes em sua manifestação, este
artigo busca as raízes do uso da madeira neste período da arquitetura brasileira e a
consequente riqueza de procedimentos que proporcionaram que exemplares, ainda con-
tendo vestígios de autenticidade, chegassem até os dias atuais em plena integridade físi-
ca. Embora este fato tenha ocorrido em diversos cenários brasileiros esta pesquisa focaliza
as investigações num exemplar específico desta arquitetura, dita colonial, localizado no
Sítio Histórico de Morretes, litoral do Estado do Paraná. Como a integridade física de
uma edificação está intimamente vinculada, dentre outros fatores, ao bom estado de
conservação de sua cobertura, se fará um apanhado teórico sobre a metodologia a ser
adotada numa intervenção de restauro em estrutura de cobertura, que garanta uma atitude
ética no que concerne ao uso de materiais originais nas atuais ações de intervenção em
patrimônio cultural edificado.
Palavras-Chave
Madeira; Período Colonial; Arquitetura Brasileira; Morretes-PR.
The brazilian colonial period has great influence from construtive portuguese
techniques and, far from considerate such tecnics as ignorant in their manifestation,
this article seeks the roots of the use of wood in this period of brazilian architecture
and the resulting wealth of procedures that provided that copies, still containing traces
of authenticity, arrived until the present day in full physically integrity. Although this
fact has ocurred in several brazilian scenarios this research focuses on the investigations
in a copy specific exemple of this archtecture, called the Colonial, located in the Historic
site of Morretes coast of Paraná state. As the physically integrity of a build is closely
linked, among other factors, the proper state of repair of its coverage will be an
theoritical overview on the methodology to be adopted in a speech in restoration
structure that ensures coverage of an attitude with regard to ethics the use of original
materials in the current actions of intervention in cultural heritage and buildings.
Keys-words
Wood, Colonial period, Brazilian Architecture, Morretes-PR.
INTRODUÇÃO
72
Anais | Congresso Abracor 2009
A madeira encontrada nesta edificação, Juçara, Euterpe edulis, que além de propor-
assim como em toda a região, é advinda cionar a base do sistema estrutural das co-
da mata nativa da Serra do Mar. A presen- berturas era explorado também para servir
ça abundante de exemplares de madeiras de alimento à população, pois a cabeça de
de lei denuncia a diversidade e qualidade sua estipe forma o que conhecemos como
deste material. Neste estudo busca-se focar palmito, alimento saboroso consumido em
a pesquisa numa característica peculiar diversas regiões do País e do exterior.
deste período que foi o uso do caibro roli- As características desta madeira, segun-
ço nas estruturas de cobertura. Diante des- do Lorenzi (1992, p.279) são: leveza, alta
ta investigação pode-se encontrar a fonte resistência e durabilidade, quando em
material utilizada para esta peça respon- ambiente seco, e tronco retilíneo que em
sável por dar o suporte necessário ao sua fase adulta alcança a dimensão de 10
telhamento. a 20 m de altura tendo o seu diâmetro entre
Esta região, onde se concentra a pesqui- 0,10 a 0,20 m. Assim pode-se utilizar este
sa, faz parte de um complexo denomina- material em diversas etapas da construção
do de Mata Atlântica que percorre desde civil desde as escoras de andaimes até as
o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul. calhas rudimentares. A Casa Rocha Pom-
No período colonial esta faixa foi explora- bo possui este material como integrante
da somente em trechos destinados às pe- do sistema estrutural da cobertura , porém
quenas vilas coloniais e nos fortes respon- a falta de manutenção do telhamento de-
sáveis pela segurança do recém-descoberto vido à construção de um anexo e posteri-
território. A vegetação nativa conta com um or incêndio ocorrido nesta obra agregada
exemplar expressivo tanto em quantidade ao patrimônio cultural está causando di-
como em qualidade, pois possui uma versas patologias que podem vir a ocasio-
morfologia propícia para que fossem ex- nar a perda deste elemento que denuncia
plorados em diversos usos urbanos, den- a autenticidade deste sistema construtivo.
tre eles as edificações. Trata-se do Palmito
5. REFERÊNCIAS
CORREIA, Vitor. A Madeira em Conservação e Restauro – Parte I. A Arte dos Ofícios (Publicação Trimestral). Instituto de Artes e Ofícios.
Universidade Autônoma de Lisboa, 2004.
GONZAGA, Armando Luiz. Madeira: Uso e Conservação. Brasília, DF: IPHAN/MONUMENTA, 2006.
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Arquitetura Brasileira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.
LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil. São Paulo: Editora
Plantarum, 1992.
TINOCO, Jorge Eduardo Lucena. Patologias das Estruturas e Materiais.
CECI - Gestão de Restauro – Módulo II – 7ª edição, 2007.
75
Anais | Congresso Abracor 2009
76
Anais | Congresso Abracor 2009
FONSECA, Daniele Baltz da,
Arquiteta, Mestre em conservação e restauro de monumentos históricos pela
UFBA, Brasil. Professora substituta da FAURB – UFPel.
1
FONSECA, Daniele
ESTUDO CROMÁTICO DA ANTIGA SEDE DA B. da.
Tintas e Pigmentos no
Patrimônio Urbano
FACULDADE DE MEDICINA DA UFRGS Pelotense: um estudo
dos materiais de
pintura do século XIX.
Dissertação (Mestrado
em Arquitetura e
Urbanismo). PPG –
O objetivo deste trabalho foi a elaboração de propostas de pintura para a antiga sede da FAUFBA. Universidade
Federal da Bahia.
Faculdade de Medicina da UFRGS, levando em conta aspectos históricos e estéticos. Cama- Salvador, 2006.
das de pintura de 38 pontos distribuídos por diferentes elementos de composição das facha-
das foram analisadas. Os pontos observados demonstraram que, no passado, haveria a
preferência por tonalidades de cinza amarelado. A prospecção também revelou a provável
sequência: cinza amarelado e ocre, como mais antigas pinturas. Análises em MEV-EDS
foram realizadas para a identificação dos elementos químicos dos possíveis pigmentos das
camadas mais antigas. Para a elaboração das propostas de pintura foram considerados os
dados históricos, os resultados das prospecções e os aspectos perceptivos do prédio em
relação à sua ambiência (fachada ensolarada, amplo espaço para a sua contemplação, tama-
nho da fachada, entre outros).
The purpose of the present work was to set proposals of painting for the former
headquarters of the Medical School from UFRGS, taking into consideration historical and
aesthetical aspects. Painting layers of 38 spots distributed by different elements of
composition of the façades were analysed. The spots observed showed that, in the past,
there was the preference for yellowish gray. The search for layers also showed the probable
sequence: yellowish gray and ochre, as the oldest paintings. Analysis in MEV-EDS were
made in order to identify the chemical elements of the possible pigments of the oldest
layers. For the setting of the proposals of painting, the historical data were analysed, the
results of the searches and the perceptive aspects of the building in relation to its environment
(sunny façade, wide space for its contemplation, size of the façade, among others).
Palavras-chave:
Pintura de monumentos, pintura de fachadas históricas, policromia urbana, interven-
ção cromática em prédios históricos.
1. Introdução
As relações cromáticas que geram efeitos cos, como fotografias antigas e qualquer infor-
visuais na arquitetura e, consequentemente, no mação sobre intervenções e reformas, com os
meio urbano não costumam ser estudados com resultados das prospecções das camadas de tin-
a atenção exigida pelo tema. Geralmente, a tas. São considerados, também, os padrões de
escolha das cores para uma construção é feita pintura mais comumente utilizados para o perí-
através da observação de um catálogo na loja odo histórico correspondente à edificação. Para
de tintas. Esta é uma forma aleatória, cujos a elaboração das propostas de pintura, além das
resultados são pouco previsíveis e só percebi- conclusões deste cruzamento de dados, são con-
dos, de fato, depois de terminada a execução siderados os efeitos perceptivos que o prédio
da pintura. gera no seu ambiente, bem como as cores das
Quando a arquitetura em questão represen- construções mais próximas.
ta um Monumento Histórico, todo o procedi- Como resultado deste estudo, tem-se, não
mento de intervenção no Patrimônio assume só as propostas de pintura com as cores e
uma conduta específica – que assegure a pre- tipologias que levam em conta os aspectos
servação das suas instâncias histórica e artísti- históricos, como também, uma breve co-
ca – inclusive, os procedimentos de pintura.1 letânea sobre a história e os documentos
A metodologia desta pesquisa consiste, ba- que relatam as possibilidades cromáticas
sicamente, no cruzamento dos dados históri- do prédio no passado. 77
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 1
Implantação 2.O Edifício
proposta. Acervo:
arquivo da Faculdade
de Arquitetura e A construção iniciou no dia 29 de julho estatuárias que ornamentariam a platibanda
Urbanismo da PUC-RS.
Figura 2
de 1913 e interrompeu-se no período de e a escada do acesso principal. A implan-
Planta baixa com a
evolução da construção 1914 até 1919, em função da crise gerada tação do prédio proposta por Wiederspahn,
do prédio. Acervo:
Secretaria do pela Primeira Guerra Mundial, a retomada conforme se vê na Figura 1 foi construída ape-
Patrimônio Histórico da
UFRGS.
das obras se deu em 12 de maio de 1919. nas em parte, como se pode notar na Figura 2
Figura 3
marcação dos Houve modificações no projeto original do (evolução da construção).
pontos prospectados.
arquiteto Theo Wiederspahn e o término A inauguração solene do edifício aconte-
da construção ficou sob responsabilidade ceu em 1924. Em 1952 e 1955 foram reali-
do Eng. Pedro Paulo Scheunemann, do es- zadas as respectivas ampliações: a instala-
critório A. Sartori e Cia. Dentre as princi- ção do anfiteatro e do Instituto Anatômico,
pais alterações constam: a eliminação dos na ala direita e a instalação do Instituto de
torreões com cúpula de cobre, o sótão e as Fisiologia e Microbiologia na ala esquerda.
3. Metodologia
A metodologia consiste no levantamento melhor as camadas de pintura).
e análise crítica de dados históricos e esté- A prospecção foi realizada com a aber-
ticos da edificação. tura e observação de 40 pontos distribuí-
3.1. Coleta de dados e análise de mate- dos da seguinte maneira: parede (cor de
rial iconográfico: observando fotografias fundo), 10 pontos; elementos de
antigas dos prédios, embora em preto e modenatura verticais, 09 pontos; elemen-
branco, é possível distinguir diferenças de tos de modenatura horizontais, 01 ponto;
tonalidade (claro/escuro) entre diferentes decoração dos vãos (cercaduras), 08 pon-
elementos de composição das fachadas. tos; esquadrias, 05 pontos; platibanda, 06
Projetos originais e plantas baixas que pontos; sacada, 01 ponto.
mostram a evolução construtiva do monu- As cores das camadas foram observadas a
mento são importantes para a escolha dos olho nu e comparadas com as cores do catá-
pontos onde deverá ser realizada a logo do sistema cromático NCS (Natural
prospecção. (Figura 2, na parte considera- Color System).
da original). Com vista a organizar o material produzi-
3.2. Análise das prospecções das cama- do, foi elaborada uma ficha de levantamen-
das de pintura: o objetivo das prospecções to cromático, partindo do modelo proposto
é observar as cores das camadas de pintu- pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-
ra aplicadas ao longo dos anos até que se tístico do Estado (IPHAE). Os resultados da
descubram as camadas mais antigas. Os prospecção das fachadas foram anotados
locais onde dos pontos de análise foram nessa ficha, constituindo o registro mais com-
escolhidos em função do elemento de pleto do trabalho realizado. Em fichas auxi-
modenatura, da originalidade do pano de liares, as camadas dos pontos mais impor-
fachada, da dificuldade de acesso e da for- tantes foram registradas visualmente com
ma (geralmente as reentrâncias conservam recortes das cores encontradas.
78
Anais | Congresso Abracor 2009
A prospecção mostrou a predominância das reforça a ‘originalidade’ do material avaliado 2
SECRETARIA DO
PATRIMÔNIO
tonalidades de cinza amarelado entre as últi- em relação ao período no qual o prédio foi HISTÓRICO DA
UFRGS/ DIVISÃO DE
mas camadas avaliadas em grande parte dos construído. PESQUISA HISTÓRICA
E DOCUMENTAL.
elementos de composição da fachada. Mati- De modo geral, esta prospecção não Resumo do texto extraído
zes ocres e suas variações foram verificados apontou diferenças de tonalidades entre os do documento de
Fernando Ávila
com frequência entre as penúltimas camadas. elementos de modenatura da fachada, e Carvalho Leite de abril
de 1988.
Esta sequência pode ser avaliada também na entre estes elementos e o fundo da parede.
Figura 4
detalhe da
platibanda, embora no frontão (construído pos- A fotografia mais antiga encontrada também prospecção realizada
teriormente) não tenham sido encontradas não apresenta contrastes que mostrem di- na fachada. Foto:
Natália Naoumova.
estas cores. Outros pontos avaliados nas fa- ferenças na estruturação das tonalidades Figura 5
detalhe da
prospecção realizada
chadas construídas mais tarde também não sobre os planos de decoração da fachada na fachada. Foto:
apresentaram estas camadas de pintura, o que do prédio. Natália Naoumova.
5. Propostas de pintura
A prospecção apontou com clareza uma tos perceptivos resultantes (dinâmica), tam-
tonalidade cinza amarelada como ‘cor ori- bém foram considerados e explicitados a
ginal’ do prédio. Esta tonalidade pode ter seguir.
sido utilizada em todos os elementos de 1) A edificação encontra-se em posição
decoração da fachada, já que não foi pos- de privilegiada leitura visual, com o prin-
sível afirmar se as diferenças tonais encon- cipal acesso na esquina e com amplo es-
tradas fazem parte da tipologia cromática paço aberto na frente, formado pelo cru-
ou se em alguns locais o cinza amarelado zamento das ruas e da praça, que propor-
desbotou ou escureceu. ciona possibilidade de observação a mai-
Nas penúltimas camadas verificaram-se or distância. Há também, a visualização
tonalidades de amarelo ocre. Nas do prédio a partir do viaduto, que propor-
antepenúltimas, vestígios de uma camada ciona uma ampla leitura da sua fachada.
azulada. O monumento está parcialmente encober-
As propostas de pintura consideraram os to por árvores que perdem as folhas no
resultados das prospecções, as tipologias inverno, permitindo a visualização mais
cromáticas dos períodos ecléticos e efei- completa do prédio durante esta estação.
tos perceptivos do monumento no meio Para estes casos, podem ser utilizadas to-
urbano. Da prospecção foram selecionadas nalidades mais suaves, menos saturadas,
as tonalidades a serem utilizadas (conteú- uma vez que não há necessidade de fazer
do, paleta). O modo como as cores devem uma ‘amarração’ visual através da utiliza-
se agrupar nos elementos de modenatura ção de cor mais saturada.
(estruturação) foi estabelecido de acordo 2) O grande tamanho da fachada é con-
com a tipologia do primeiro período siderado na hora de buscar a tonalidade
eclético. Os fatores relacionados aos efei- adequada. Quando pintados com uma cor
80
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 6
proposta do
apenas, as grandes fachadas parecem ainda A partir destas observações, foram elabo- grupo 1, mais próxima
maiores, provocando impacto visual forte. radas propostas de quatro grupos cromáti- das cores mais
antigas, cinzas
Em função disto foi proposto o cos distintos: amarelados mais claros e amarelados.
mentos de composição a leitura do prédio último foram elaboradas propostas em to- Figura 9
proposta do
grupo 4, tonalidades
poderia tornar-se complexa ou até confu- nalidades de verde amarelado por serem esverdeadas, criação
sa, a solução é agrupar elementos decora- consideradas tonalidades adequadas às ca- do efeito visual em
conformidade com o
tivos dentro de três, no máximo quatro racterísticas da implantação do prédio no tamanho e condições
da fachada.
tonalidades diferentes, reservando mais meio urbano do qual faz parte.
uma tonalidade para as esquadrias.
81
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliografia
AGUIAR, José. Cor e Cidade Histórica: Estudos cromáticos e conservação do patrimônio. Lisboa: FAUP publicações, 2001.
ARQUIVO HISTÓRICO DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO. Desenhos do projeto da faculdade de Medicina de autoria
do arquiteto Theo Wiederspahn. Faculdade de arquitetura e Urbanismo, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
FONSECA, Daniele B. da. Tintas e Pigmentos no Patrimônio Urbano Pelotense: um estudo dos materiais de pintura do século XIX.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura: Conservação e Restauro de Monumentos). PPG – FAUFBA. Universidade Federal da Bahia. Salva-
dor, 2006.
NAOUMOVA, N., JAEKEL P.O., - Sustainable preservation of historical urban areas through the improvement of color image In: Brebbia, C.A.
et al. (Ed) The Sustainable City II: Urban Regeneration and Sustainability, Boston: WITPRESS, 2002.
NAOUMOVA, Natália., FONSECA, Daniele. Estudo Cromático do Museu Érico Veríssimo, Cruz Alta-RS. Relatório para a Fundação
Universidade de Cruz Alta. Pelotas, 2005.
NAOUMOVA, Natália., FONSECA, Daniele. Estudo cromático da sede da Prefeitura Municipal de Rio Grande-RS. Relatório à Prefeitura
Municipal de Rio Grande. Pelotas, 2005.
NAOUMOVA, Natalia. Chromatic identification of townscape image. Proc. of the 1st Int. Conf. On Urban Regeneration and sustainability.
Southampton, Boston: Eds. C.A. Brebbia, A. Ferrante, M. Rodriguez & Terra. Witpress, 2000.
Estudo das cores do segundo período eclético, Pelotas/RS. Relatório Técnico da Pesquisa, Pelotas, 2002, Acervo: FAPERGS.NAOUMOVA,
Natalia. História da arquitetura e uso da cor. Anais do II Seminário sobre História da Arquitetura no RS. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – UFPel, 1997.
Policromia das cidades brasileiras através do estudo da linguagem cromática dos estilos arquitetônicos. CD-ROM do XVII Congres-
so Brasileiro de Arquitetos. Rio de Janeiro, 30 de abril a 03 de maio de 2003.
PILLAR, Carmen de Patta. O centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. FAURB-UFRGS: Porto Alegre, 1988.
SECRETARIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, Divisão de pesquisa histórica e documental. Resumo do texto extraído do documento de
Fernando Ávila Carvalho Leite. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Abril de1988.
SHLEE, A. R. O ecletismo na arquitetura pelotense até as décadas de 30 e 40. Porto Alegre: 1993. Dissertação (Mestrado em Arquite-
tura). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, UFRGS.
82
Anais | Congresso Abracor 2009
ALICE, Edison
Arquiteto – Mestre
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
RESTAURO, REVITALIZAÇÃO E
INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA - UFRGS
The Project Rescue of Historical and Cultural Heritage, UFRGS aims to preserve the
cultural legacy that the community of Rio Grande do Sul implemented at the beginning
of the twentieth century, as in the original core of the Federal University of Rio Grande
do Sul. These monuments intended It is the didactic activities, administrative and cultu-
ral. The entire Campus Center stands out in the context, for his outstanding architectural
character, setting two periods of architecture, eclectic and modern, forming a harmonious
whole that identifies the image of UFRGS in the centre of the capital of the state.
ORIGEM DO PROJETO
A UFRGS, através da sua Administração Planejamento físico do Campus Centro.
Central, sensibilizada com a nítida deterio- Planejar a restauração, readequação de
ração e risco de eventuais perdas do seu usos de todos os bens imóveis pertinentes
patrimônio edificado, estabeleceu como uma ao Patrimônio Histórico da UFRGS.
de suas prioridades a recuperação deste con- Orientar e fiscalizar a execução das obras
junto arquitetônico, nos seus diversos Campi. de restauração e/ou de readequação de usos.
Assim, no ano de 1999, foi aprovado pelo Orientar e fiscalizar os trabalhos de con-
Ministério da Cultura – MinC, o Projeto Res- servação do conjunto arquitetônico restau-
gate do Patrimônio Histórico e Cultural da rado, reutilizado e construído.
UFRGS, e em 2000, foi criada a Secretaria Definir critérios de preservação seguindo
do Patrimônio Histórico da UFRGS – SPH / as recomendações difundidas através de
UFRGS, com as atribuições de: Cartas, Declarações e Tratados Nacionais e
Promover a captação de recursos e Internacionais, e orientações dos órgãos fe-
gerenciar a sua aplicação nas obras de res- deral, estadual e municipal - IPHAN, IPHAE
tauração e / ou de readequação de usos. e EPHAC.
84 Fachada Parobé
Anais | Congresso Abracor 2009
OS RECURSOS
Entre as razões para o sucesso do proje-
to, está a captação de recursos realizada
de forma contínua e constante, obtendo-
se sempre resposta da comunidade, que
de alguma forma, tanto como pessoa físi-
ca ou constituída juridicamente contribu-
em para a construção desse processo.
Soma-se a estes fatores, a credibilidade
conquistada através dos resultados obtidos,
aliada ao prestígio que a UFRGS detém
enquanto instituição perante a sociedade,
fatores importantes para o excelente de-
sempenho da campanha. Esta também, se
desenvolve de uma forma contínua e cons-
tante, desde a sua criação há sete anos,
empregando concomitantemente os meios
de comunicação pertencentes à própria
Universidade e espaços doados por mídias
locais. O mix de comunicação da campa-
nha abrange um público-alvo amplo, com
um custo reduzido e contando com os se-
guintes meios de divulgação: Prédio do Observatório - Campus Centro
86
Anais | Congresso Abracor 2009
EQUIPE DA SPH
Secretário de Patrimônio Histórico
CHRISTOPH BERNASIUK - Professor
Secretária Administrativa
ANA LÚCIA DOS SANTOS BRUM STRIEDER – Técnico em Secretariado
Secretaria-Executiva
NOEMIA FATIMA RODRIGUES – Administradora - Diretora
MARIA REGINA INÁCIO DA SILVA – Auxiliar Administrativo
SHEILA FERREIRA SEFRIN – Estagiária
MATEUS GOMES CÓCARO – Estagiário
DOUGLAS DOS SANTOS GONÇALVES – Estagiário de Publicidade
Departamento de Projetos
EDISON ZANCKIN ALICE – Arquiteto – Diretor (Org.)
HONORES MAMBRINI – Arquiteto
PATRICIA BERENSTEIN PEREIRA – Arquiteta
CAMILA DA ROCHA THIESEN – Estagiária de Arquitetura
CAROLINA DA SILVA FLORIANO MACHADO – Estagiária de Arquitetura
PRISCILA GARCIA DE SOUZA – Estagiária de Arquitetura
RAQUEL HAGEN – Estagiária de Arquitetura
SÔNIA MARIA PICCININ – Socióloga
CARLOS EDUARDO SILVEIRA MOURA – Estagiário de Biblioteconomia
Departamento de Obras
LUIZ FRANCISCO PERRONE – Arquiteto - Diretor
PAULO OSVANDRE MAAS – Engenheiro Civil
JOSÉ ASTROGILDO DA ROCHA – Mestre de Obras
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANAIS CIENTÍFICOS. V. 15, n.66. Brasil, Porto Alegre, 1957.
__________. V. 14, n.67. Brasil, Porto Alegre, 1958.
EGATEA – REVISTA DA ESCOLA DE ENGENHARIA. Brasil, Porto Alegre: Escola de Engenharia, 1926.
ESPINDOLA, Susana Sondermann. Implantação Física da UFRGS: da fundação ao campus vale. Porto Alegre: UFRGS, 1979. 232 p.
FACULDADE DE DIREITO DA UFRGS. Livros do centenário da Faculdade de Direito da UFRGS. Brasil, Porto Alegre: Síntese, 2000.
235p.
LEITE, Fernando Ávila de Carvalho. Projeto de Restauração: Instituto de Biociências. Porto Alegre. 1988. 109p.
PAGLIOLI, Elyseu. Relatório: 13 de Agosto de 1952 a 13 de Abril de 1964. Porto Alegre: UFRGS, 1978. 376p.
SECRETARIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO. Dossiês Faculdade de Direito. Divisão de Pesquisa e Documentação, SPH. Porto Alegre:
UFRGS, 2004, 11p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Secretária do Patrimônio Histórico. Patrimônio Histórico e Cultural da UFRGS.
Porto Alegre: UFRGS, 2004. 143p.
___________. Os prédios históricos da UFRGS: atualidade e memória. Porto Alegre: Metrópole, 1998. 63p.
_____________. UFRGS 70 anos. Porto Alegre: Comunicação Impressa, 2004. 224p.
87
Anais | Congresso Abracor 2009
88
Anais | Congresso Abracor 2009
AMBROSIO, Eliana.
Especialista em Conservação/restauração de bens culturais móveis (CECOR), Mestre em História
da Arte (UNICAMP), doutoranda em História da Arte (UNICAMP), Instituição: Docente da Escola de
Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (CECOR-EBA-UFMG),
TOGNON, Marcos.
Mestre em História da Arte (UNICAMP) e Doutor em Storia Della Critica D’arte - Scuola Normale
Superiore Di Pisa. Instituição: Docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Universidade
Estadual de Campinas (IFCH-UNICAMP).
Palavras-chave:
pintura mural, proteção, conservação, patrimônio ferroviário
Estação Guanabara, an old railway station opened around 1890 decade and located
in Campinas, was recently the subject of intervations. Aiming to promote future
restoration, the artistc paintings have been protected during a decoration event that
allowed the building´s revitalization.
In this paper we will discuss the result of the paint protection´s test and the solution
adopted. We will evaluate the use of Paraloid B72, the test done with Filmoplast and
Japonese paper impregnated with Primal AC33 and the problems and cares involving
a work of protection at a historic building in these conditions. In fact, the inovation of
the work was the use of papel tecniches in the protection of wall paintings.
O interior do Estado de São Paulo assis- rio, se quisermos expandir o sentido desta
tiu um interessante fenômeno econômico área moderna do desenho industrial, es-
e cultural na segunda metade do século pecialmente quando estudamos, entre as
XIX que, sem precedentes nacionais, con- várias companhias de estradas de ferro,
tribuiu para constituir uma profícua mani- aquela denominada Mogiana. Fundada em
festação das estruturas ferroviárias, não só 1872, a Companhia Mogiana de Estradas
restrita aos troncos e ramais difusos pelo de Ferro estabeleceu uma atuação invejá-
território paulista, mas também um valio- vel, dinâmica e polivalente entre as suas
so conjunto de edificações ao longo dos parceiras e concorrentes: construiu loco-
trilhos. Esses verdadeiros empreendimen- motivas, gares metálicas, pontes e túneis,
tos ferroviários, sabemos todos, resultavam edificou mais de 70 estações em terras
de acordos políticos, de concentação de paulistas, estabelecendo assim uma mar-
capital rural em território urbano, de es- ca da atuação ferroviária em todos os sen-
tratégias logísticas acordadas entre pares, tidos, sempre ao longo das bacias fluviais
e, especialmente, de uma organização do até o Rio Grande.
mundo do trabalho onde tecnologia e arte Esse “design ferroviário”, instância de
conviviam plenamente com o sentido da elaboração e cultivo de uma coerência for-
qualidade, do decoro e da eficiência. mal ou mesmo de um padrão em toda a
Podemos falar de um “design” ferroviá- produção da Companhia Mogiana, pode 89
Anais | Congresso Abracor 2009
1
A equipe foi formada ser apreciado nas instalações da Estação te realizadas e, em 2007, ocorre uma opor-
por Marcos Tognon
(PREAC-UNICAMP), Guanabara, terceiro posto situado a pou- tunidade até então inédita para um
Eliana Ambrósio
(CECOR-EBA-UFMG e co mais de três quilômetros da cota inicial patrimônio edificado tombado na região:
IFCH-UNICAMP),
Rosaelena Scarpeline
da linha-tronco. Aqui temos já em funcio- ser recuperado para receber, provisoria-
(CMU-UNICAMP), namento, na década de 1890, o Edifício mente, uma mostra de decoração e
Patrícia Scarabelli e
Henrique Anunziata, Administrativo, a pequena cobertura em paisagismo.
representando o
Condepacc. maderia na plataforma isolada e o Arma- Para a UNICAMP significava uma opor-
Figura 1
ESTAÇÃO
zém do Café. tunidade de investimentos de grande por-
GUANABARA, Nas próximas décadas, até o final dos te, em um curto período, que poderiam
foto c. 1900
Coleção MIS - Campinas anos de 1960, a Estação Guanabara ainda viabilizar a ocupação dos dois prédios mais
terá expansões significativas de sua área deteriorados, aquele Administrativo e a
construída, até que nos anos de 1970, com Gare Metálica, com a ampliação das ações
a estatização militar das ferrovias, a do Centro Cultural de Inclusão e Integração
Companhiaa Mogiana será condenada a Social, órgão da Pró-Reitoria de Extensão,
um grande ostracismo e consequente aban- instalado no Armazém do Café desde
dono. 2006; para a organização da Mostra CAM-
Em 1990 a Universidade Estadual de PINAS DECOR representava um novo de-
Campinas ganha, do Governo do Estado, safio ao convidar os profissionais das áre-
um acordo de comodato por 30 anos, para as de arquitetura, decoração e paisagismo,
que recuperasse as estruturas da Estação para intervirem em um edifício histórico
Guanabara e constituísse ali uma “vitrine” reconhecido e revitalizar,
da Universidade e da memória da região, consequentemente, uma área estratégica
como diria o seu maior idealizador, Prof. para o centro da cidade, dada a escala da
Amaral Lapa. É também nesse momento Estação Guanabara junto ao coração de
de posse da UNICAMP que se inicia uma Campinas.
saga de tentativas frustradas de recupera- Coube assim a uma equipe
ção desse patrimônio: primeiro convidan- pluridisciplinar elaborar um conjunto de
do Lina Bo Bardi para fazer uma proposta, critérios de intervenção para orientar os
de resto polêmica e até mesmo avessa às profissionais da mostra CAMPINAS
intenções da Universidade, onde se pre- DECOR 20081 e, antecipadamente, apro-
via uma demolição de dois dos três edifí- var tais critérios junto ao Conselho Muni-
cios concedidos. Esse projeto será revisto cipal de Defesa do Patrimônio Cultural de
posteriormente, sobretudo em função da Campinas. Os resultados dessa Mostra
proteção do Município pelo instrumento constituíram então uma primeira fase da
do tombamento patrimonial, mas apenas plena recuperação da Estação Guanabara,
a partir de 2004 é que a Universidade ope- cabendo a outras fases sucessivas as inter-
ra, criteriosamente, para assumir a área e venções de restauro de grande porte, como
a sua intenção original. Famílias que ocu- as estruturas da Gare Metálica, ou de com-
pavam os espaços da estação são plexidade elevada, como as pinturas artís-
transferidas, obras de conservação de co- ticas murais encontradas no núcleo mais
berturas e de prevenção são paulatinamen- vetusto do Prédio Administrativo.
90
Anais | Congresso Abracor 2009
Justificativa das proteções
Para a Mostra programada entre maio e realização de mais de 150 janelas de
junho de 2008, os profissionais participan- prospecção em todos os espaços do Pré-
tes receberam antecipadamente da orga- dio Administrativo, constituindo um
nização uma prancha técnica, contendo a mapeamento de todas as superfícies
descrição de todas caracterizações dos am- murárias internas, obtivemos um resulta-
bientes (fundações, estruturas murárias, co- do positivo em 5 ambientes, justamente
bertura, revestimentos, caixilhos, instala- com os remanescentes de pinturas deco-
ções e programa de uso futuro para o Cen- rativas que podem ser datadas entre a pas-
tro Cultural da UNICAMP) e uma avalia- sagem do século XIX para o XX, executa-
ção do estado de conservação, indicando das a têmpera, e também outros registros
qual intensidade de renovação ou substi- de base oleosa cujos princípios formais nos
tuição eram possíveis e alertando, quan- remetem aos anos de 1920.
do necessário, a presença de registros mais Nesses ambientes com os registros de
frágeis, como as pinturas murais. pintura se permitiu apenas a cobertura com
Considerando a necessidade dos profis- tinta imobiliária dentro de uma
sionais da Mostra em aplicar tintas imobi- especificação única; se o profissional da
liárias e outros recursos de revestimento Mostra desejava aplicar revestimentos
sobre as estruturas murárias (como tecidos, colantes, ou fazer perfurações para engaste
papéis, cerâmicas, tintas especiais de mobiliário ou acessórios então seria ne-
cimentícias), adotou-se um critério rigoro- cessário a constituição um painel novo so-
so de proteção completa das áreas expos- breposto à parede original, a ser retirado
tas das pinturas artísticas murais. Após a com o fim da exposição em junho de 2008.
mesmos colocados sobre uma camada de Todos estes testes foram repetidos nas pin- Figura 3
Detalhe do
simulado com papel
verniz de Paraloid B72 a 20%. Após a fixa- turas à têmpera e obtivemos resultados se- japonês após sua
ção das proteções aplicamos em cada um melhantes. A única ressalva foi quanto ao remoção. Notar a
migração de pigmento
dos simulados duas camadas de tinta látex uso de papel japonês diretamente sobre a original na camada de
tinta.
e de tinta vinílica e passamos a remoção pintura original. Como a tinta de cobertura
das tiras para avaliar os resultados. possui uma base aquosa, quando esta ul-
trapassa a barreira do papel, ela acaba por
solubilizar os pigmentos da pintura origi-
nal. Ao removermos as tiras de papel, estes
ficam aderidos na tinta de cobertura, con-
forme pode ser verificado na foto abaixo.
Referências bibliográficas
AGRAWAL, O. P. Examination and conservation of wall paintings of Sheesh Mahal, Nagaur. Lucknow, India: N.R.L.C.: Intach Conservation
Centre, 1989 58 p.
BOTTICELLI, Guido; BOTTICELLI, Sandra; BOTTICELLI, Silvia. Metodologia di restauro delle pitture murali. Firenze: Centro Di, 1992 172p.
BURGi, Sergio (org.). Materiais empregados em Conservação-restauração de Bens Culturais. Rio de Janeiro: ABRACOR. 1990.
CARBONARA, Giovanni (org.). Tratatto di restauro architettonico. Turim: Utet, 2000, 4 v.
CATHER, SHARON; COURTAULD INSTITUTE OF ART; GETTY CONSERVATION INSTITUTE, ESTADOS UNIDOS. The conservation of
wall paintings: Proceedings of a symposium organized by the Courtauld Institute of Art and the Getty Conservation Institute. [Los Angeles]:
The Getty Conservation Institute, c1991. 148p.
COMPANHIA Mogyana de Estradas de Ferro e Navegação 1872-1922 – Centenário do Brasil. Campinas: Lynotypia da Casa Genoud, 1922.
KUHL, Beatriz Mugayar. A preservação da arquitetura do ferro em São Paulo. São Paulo: Tese (doutorado), FAUUSP, 1996.
MATOS, Odilon. Café e Ferrovias - a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo: Arquivo do
Estado, 1981.
MONACO, Luciano M. – SANTAMARIA, Armando. Indagini prove e monitoraggio nel restauro degli edifici storici. Nápoles: Edizioni Scientifiche
Italiane, 1998.
MORA, Paolo; MORA, Laura; PHILIPPOT, Paul. Conservation of wall paintings. London: Butterworths, [19-]. 494p.
PEVESNER, N. Historia de las tipologias arquitectônicas, Barcelona:Gustavo Gili, 1980.
PICANÇO, Francisco. Diccionário de Estradas de Ferro e Sciencias e Artes Accessorias. Rio de Janeiro: Imprensa H. Lombaerts, 1891-92.
ROCCHI, Paolo (org.). Trattato sul Consolidamento. Roma: Mancosu, 2003.
SAES, Flávio A. Marques. As ferrovias de São Paulo, 1870-1940: expansão e declínio do transporte ferroviário de São Paulo. São Paulo:
Hucitec, 1981.
SCARABELLI, Patricia Ceroni. Guanabara e Arredores: a formação de um bairro. Dissertação (MESTRADO) - Programa de Mestrado em
Urbanismo. CEATEC: PUC Campinas. 2004.
SAMET, Wendy. Painting Conservation Catalog. AIC.
SILVA, Geraldo Gomes da. Arquitetura do Ferro no Brasil. São Paulo: Ed.Nobel, 1986.
VÁRIOS. Diagnosi e progetto per la conservazione dei materiali dell’architettura. Roma: Edizioni De Luca, 1998.
VÁRIOS.Cartas Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 1995.
VUGMAN, Gitel. Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação (1872-1974): subsídios para estudo de uma estrada de ferro
paulista. 1976. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – USP, São Paulo.
ZEVI, Luca (orgh.). Manuale del Restauro Architettonico. Roma: Mancosu, 2001.
(Endnotes)
A equipe foi formada por Marcos Tognon (PREAC-UNICAMP), Eliana Ambrósio (CECOR-EBA-UFMG e IFCH-UNICAMP), Rosaelena Scarpeline
(CMU-UNICAMP), Patrícia Scarabelli e Henrique Anunziata, representando o Condepacc.
94
Anais | Congresso Abracor 2009
LANER, Márcia Regina Escorteganha.
Mestre em Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo- PósARQ - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Brasil.
Funcionária Estadual da Fundação Catarinense de Cultura, setor: Ateliê de Conservação-
Restauração de Bens Culturais Móveis- ATECOR vinculado à Diretoria de Preservação do
Patrimônio, no cargo de Analista Técnica em Gestão Cultural
METODOLOGIA PARA A
RECONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DAS
INTERVENÇÕES DA CATEDRAL
METROPOLITANA DE FLORIANÓPOLIS
A Catedral Metropolitana de Florianópolis constitui-se patrimônio arquitetônico cultu-
ral com referências significativas do século XVIII. É o marco zero da fundação da Póvoa de
Nossa Senhora do Desterro. Durante seus 230 anos de existência sofreu muitas alterações
arquitetônicas e hoje apresenta um aspecto diferenciado daquele concebido pelo enge-
nheiro militar e o primeiro governador da província de Santa Catharina, José da Silva
Paes. Com o objetivo de identificar e analisar tais modificações foi feito o levantamento
das intervenções arquitetônicas por meio de pesquisa bibliográfica, gráfica e oral; além de
trazer a público as informações coletadas nos Livros Tombo da Cúria Metropolitana de
Florianópolis, comprovando datas e intervenções desconhecidas até então. Com base nos
dados coletados foi possível analisar os fatos e visualizar cronologicamente as alterações
no sistema construtivo tradicional da edificação.
Palavras-chave:
Metodologia. Arquitetura Religiosa. Intervenções de Restauro. Retrospectiva Histórica.
1 INTRODUÇÃO
2 Objetivo e metodologia
2.1 Objetivo Não havia uma linha cronológica que
O objetivo deste artigo é apresentar elucidasse as alterações na Catedral desde a
as diferentes alterações arquitetônicas fundação da “Póvoa de Nossa Senhora do
pelas quais a Catedral Metropolitana de Desterro” no século XVII até os dias atuais.
Florianópolis passou desde o seu pri- Portanto, foi necessária uma investigação nos
meiro projeto, organizando as informa- arquivos da Cúria Metropolitana de Florianópolis
ções em ordem cronológica e forma grá- e da Catedral. Outras fontes de pesquisa fo-
fica. ram: os registros jornalísticos; documentos dos
órgãos de preservação e entrevistas.
2.2 Procedimentos Metodológicos
a) Levantamento Bibliográfico As pesquisas trouxeram ao público o es-
b) Levantamento de Campo (levanta- clarecimento de datas e temas inéditos, con-
mento gráfico e fotográfico/ pesquisa docu- tribuindo com novos indícios sobre as in-
mental/ Entrevistas) tervenções e principalmente os registros dos
c) Reconstituição Histórica Livros Tombo (inéditos), que é a parcela fun-
d) Síntese das Informações Coletadas damental da pesquisa.
96
Anais | Congresso Abracor 2009
próxima à praça central, fazendo conjunto Na virada do século XX, em 1922, ocorre
com a Casa de Governo e demais edificações a grande alteração estrutural do projeto con-
que representavam o poder social e políti- cebido no século XVIII, com intervenções
co, e para a qual convergiam todas as ruas internas e externas. As estruturas parietais
do centro histórico. da nave são literalmente “rasgadas”, fican-
A configuração da Igreja Matriz perma- do um vão aberto onde foi feita a amplia-
nece a mesma até meados do século XX, ção do corpo da nave central, configurando
com suas linhas arquitetônicas e seu con- assim o “transepto”. Também ocorrem
junto edificado, o frontão principal, a por- mudanças com a elevação e ampliação das
tada em cantaria, as torres sineiras, as cape- torres sineiras e os acréscimos decorativos
las laterais e o anexo do Império do Divino (aditamentos), mesclando a arquitetura de
(VEIGA, 2004, p.95). Durante este período aspecto colonial português com elementos
ocorreram apenas obras de manutenção ou arquitetônicos neoclássicos (VEIGA, 1993,
alterações pontuais no entorno como o p.146). Assim, configura-se a passagem de
ajardinamento, a retirada do cemitério e a Matriz à Catedral, permanecendo assim até
alteração do adro e das escadarias. hoje .
97
Anais | Congresso Abracor 2009
da à visitação pública e começa um pro- ainda estão em andamento, fazendo parte
cesso prolongado com obras em todo o de um projeto global de recuperação da
complexo edificado. Estas intervenções Catedral.
4 ANÁLISES
Durante todas as etapas construtivas des- turais. Desta maneira, uma mesma
ta edificação, cujas fundações e estruturas edificação pode, ao longo de sua existên-
parietais possuem materiais construtivos tra- cia, adquirir diferentes acréscimos passan-
dicionais do século XVII, constatou-se que do a agregar ao seu valor arquitetônico as
este monumento arquitetônico foi sempre modificações ocorridas.
objeto de construção e reconstrução, dos Como resultado desta pesquisa, baseado nos
aditamentos, das modificações de adapta- dados coletados, foi elaborada uma leitura das
ção de usos. estruturas parietais e dos pisos através da lo-
A Catedral é um “lugar” onde o seu espa- calização em planta baixa dos elementos cons-
ço físico já transcendeu a função religiosa. trutivos nas diversas intervenções
É um patrimônio material e imaterial e pode arquitetônicas (Figura 5), bem como uma cro-
ser vista também como um espaço nologia das etapas construtivas da Catedral .
museológico, pois é visitada por todos os É impossível dizer a que estilo
tipos de pessoas, independente de credos, arquitetônico pertence ou quais elementos
que ali reverenciam a sua grandiosidade acrescidos devem ser removidos, pois são
como marco da Cidade. Muitos adentram as marcas do tempo e a construção de sua
suas portas para admirar seu conjunto história que estão neles impregnados. Como
arquitetônico, seus bens integrados e mó- salienta a Carta de Brasília, de 1995, onde
veis, mesmo sem possuírem vinculação re- a “autenticidade passa pelo da identidade,
ligiosa, constituindo-se assim um ponto que é mutável, dinâmica e pode adaptar-se
turístico de Florianópolis. e valorizar, desvalorizar e revalorizar os as-
As etapas de intervenções analisadas pectos formais e os conteúdos simbólicos
aconteceram dentro de um contexto social de nossos patrimônios” (INSTITUTO DO
que se modificavam à medida que eram PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO
introduzidos novos costumes e hábitos cul- NACIONAL, 2006).
5 CONCLUSÕES
A contribuição desta reconstituição cro- serido, evidenciando e valorizando a cultu-
nológica das etapas históricas e suas inter- ra de um povo que se espelha e se orgulha
venções arquitetônicas na Catedral Metro- de sua história.
politana de Florianópolis, desde a sua con- Uma das formas de preservar um
cepção até hoje, é uma forma de contribuir patrimônio é conhecer sua história, para
para a preservação deste monumento de assim compreender os fatos e as mudanças
grande significado patrimonial, material e ocorridas e, consequentemente, formar uma
imaterial para todos os catarinenses e tam- base para as medidas de proteção do bem.
bém ressaltar a importância da pesquisa Este foi o objetivo desta pesquisa, investi-
histórica dos materiais e das técnicas tradi- gar as modificações arquitetônicas na Cate-
cionais utilizados nos sistemas construtivos, dral, identificando as várias etapas de inter-
segundo Oliveira (2001) ao resgatar a me- venção dos elementos arquitetônicos, loca-
mória do “fazer”, permite conhecer os ma- lizando-as no espaço e no tempo, contribu-
teriais constitutivos do patrimônio herda- indo assim, para a história da edificação.
do, podendo assim “intervir” no edificado O resultado obtido nesta reconstituição
e seu entorno. A importância da pesquisa histórica proporciona a visualização crono-
no conhecimento das formas e a funciona- lógica das intervenções arquitetônicas, for-
lidade das edificações, com suas técnicas e necendo subsídios para a preservação do
materiais, configuram um contexto que só edificado, e contribuindo para a perpetua-
adquire sentido e valor quando percebido ção da linguagem e da significância deste
como patrimônio vivo e atuante. O resulta- patrimônio. Reconhecendo-o como teste-
do desta pesquisa é compreendido como munho de valores socioculturais e como par-
um resultado estratigráfico dos seus elemen- te significativa do processo de identidade e
tos construtivos e das relações com seu en- da história de Florianópolis.
torno e com a comunidade em que está in- A metodologia desenvolvida no Mestrado
98
Anais | Congresso Abracor 2009
de Arquitetura e Urbanismo - PósARQ, da sequência cronológica das alterações
Universidade Federal de Santa Catarina- arquitetônicas, que foram agrupadas em eta-
UFSC, de 2005 a 2007, foi utilizada para pas e apresentadas sob forma gráfica e de
identificar as alterações arquitetônicas que textos relacionados às circunstâncias tem-
aconteceram ao longo do tempo na porais. A partir das análises e recomenda-
edificação e propiciou a reconstituição ções apresentadas na dissertação, algumas
histórica das intervenções, permitindo a já foram acatadas pelos órgãos de preserva-
organização dos fatos sob forma cronoló- ção e pela empresa executora das obras, tais
gica. Teve como fonte fundamental a co- como: a ampliação do Largo da Catedral,
leta de dados nos Livros Tombo, trazendo fechando a rua lateral para o tráfego; a de-
a público fatos inéditos sobre as fases de molição do acréscimo de 1948 sobre a sa-
intervenções e suas respectivas datações. cristia original de 1773, recompondo-a vi-
Cita os materiais construtivos utilizados sualmente e melhorando a incidência de luz
e suas aplicações, relatórios, contratos, no interior da Capela-Mor, com a valoriza-
propostas, e a justificativa de intervenções. ção dos vitrais (Casa Conrado -1948) e do
As entrevistas e as pesquisas documentais ladrilho original do piso; a escolha da pin-
forneceram importantes informações so- tura externa com base nos dados documen-
bre os procedimentos adotados. Esse con- tais; a orientação na tipologia e datação dos
texto contribuiu esclarecendo dados pou- pisos; a transformação da escadaria princi-
co embasados e influenciando nas atuais pal; a compreensão espacial referente à re-
intervenções que estão ocorrendo desde dução da capela lateral de “Nossa Senhora
2005. das Dores”, onde estão sendo dedicados
Este método de pesquisa e organização estudos específicos de arqueologia e
dos dados resultou na identificação da prospecções.
REFERÊNCIAS
CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro. Florianópolis: Lunardelli, 1979. 2 v.
CURY, Isabelle (Org.). Cartas patrimoniais. 2. ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Cartas patrimoniais. Disponível em: <http://portal.INSTITUTO DO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL.gov.br/portal/paginaInstitucional>. Acesso em: 18 jul. 2006, 19:42.
LIVRO tombo I. Florianópolis, 1727-1871. Francisco Justo Santiago (et. al.). Manuscrito.
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Restauro estrutural: intuição e cálculo. Historical Constructions: proceedings of 3rd - International Seminar of
Historical Constructions. Guimarães - Portugal, 2001.
PELUSO Júnior, Victor Antônio. Estudo da geografia urbana de Santa Catarina. Florianópolis: Editora UFSC, Secretaria de Estado da Cultura e
Esporte, 1991.
VEIGA, Eliane Veras. Florianópolis: memória urbana. Florianópolis: Editora UFSC, FFC Edições, 1993.
______; BASTOS, Maria das Dores de Almeida (Coord.). Atlas do Município de Florianópolis: ocupação humana e paisagem. Florianópolis:
IPUF, 2004.
99
Anais | Congresso Abracor 2009
95
Anais | Congresso Abracor 2009
NUNES, Dulcilia Maneschy Corrêa Acatauassú
arquiteta, especialista em Conservação e Restauro
1
AVÉ-LALLEMANT,
Grande Hotel de Belém – PA: Robert. Viagem pelo
norte do Brasil no
ano de 1859. Trad. de
preservação e memória Eduardo de Lima
Castro. Rio de janeiro:
Ministério da Educação
e Cultura; Instituto
Nacional do Livro,
1961. 2v. (Coleção de
Em 1913, no final do ciclo da borracha, inaugura-se em Belém o Grande Hotel, exem- obras raras; VII), p. 27.
plar significativo da arquitetura eclética que se tornou o maior e mais importante Hotel
construído no Norte do País. Em 1948, foi comprado pela Intercontinental Hotel
Corporation, passando em 1971, por novas negociações de venda que culminaram com a
sua demolição em 1973, apesar das manifestações contrárias que alertavam para a perda
de um patrimônio cultural do Pará. Àquela altura ainda não havia uma lei de preservação
municipal e estadual.
Desta forma, o Grande Hotel, que por décadas foi símbolo de sofisticação e cultura, foi
demolido para ser substituído por outro hotel com o objetivo de modernizar a paisagem
local. Recentemente essa história está sendo reconstruída, para manter na memória um
elo vivido e fortalecer, com a perda, a salvaguarda do patrimônio cultural paraense.
Palavras-chave:
Grande Hotel, Patrimônio, Preservação, Belém.
In 1913, at the end of the rubber cycle, the Grande Hotel was inaugurated in Belém.
The hotel was an important example of the eclectic architecture and became the biggest
and most important hotel built in the North of the country. In 1948 it was acquired by
the Intercontinental Hotel Corporation. New selling negotiations took place in 1971,
leading to its demolition in 1973, in spite of the protests against it, which pointed
towards the loss of a cultural heritage in Pará, since there was no city or state preservation
law at the time.
This way, the Grande Hotel, which stood as a symbol of culture and sophistication
for many decades, was demolished to be replaced by another hotel with the aim of
modernizing the local scenery. Recently this history has been reconstructed with the
objective of connecting to the past, strengthening the loss and preserving the cultural
heritage of Pará.
Introdução
Referências:
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Trad. Mauro W. Barbosa de Almeida. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. (Coleção
Debates, Política, n. 64).
AVÉ-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo norte do Brasil no ano de 1859. Trad. de Eduardo de Lima Castro. Rio deJaneiro: Ministério da Educação
e Cultura; Instituto Nacional do Livro, 1961. 2v. (Coleção de obras raras; VII).
BARROS, Guiães. De Guiães de Barros, as melhores recordações do Grande Hotel. A Província do Pará, Belém, ano 97, n. 24.208, 28-29
out. 1973. Caderno 5, p. 1. Entrevista concedida a Edwaldo Martins.
CHOAY, Françoise. Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade; UNESP, 2001.
COELHO, José Simões. Pará industrial: as grandes oficinas mecanicas. In: Ilustração portugueza: revista semanal dos acontecimentos da vida
portugueza, Lisboa, v. 16, n. 395, p. 349 - 352, 15 set. 1913. (Serie, 2). Edição semanal do jornal O século.
Edart, 1972.
CORRÊA, Dulcilia Maneschy; Nunes, Larissa Corrêa Acatauassú. Hospedagem - primeiros hotéis de Belém In: BONNA, Mário; MENDONÇA,
Beth (ed.). Belém do Pará: guia grande Belém do Grão-Pará: diretório da cidade. Belém: Canomedia, 2008, p. 156-165.
COSTA, Raymundo. O velho e o novo na Belém que muda. A Província do Pará, Belém, ano 98, n. 24.425, 17 de jun. 1974. Caderno 1, p. 3.
ENGENHARIA paraense demonstra sua capacidade. Diário do Pará, Belém, ano 3, n. 558, 26 ago. 1984. Caderno Especial, p. 9.
GRANDE Hotel. Folha do Norte: jornal da manhã, cotidiano e independente, Belém, ano 18, n.6.544,p.1,7.jul. 1913
GRANDE Hotel. O Estado do Pará, Belém, ano XXXVIII, n. 12.509, p. 2, 13 nov. 1947a.
INTERCONTINENTAL (Hotel). 50 anos do InterContinental no Brasil. São Paulo: Marca d’água,1996.
KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os rituais do tombamento e a escrita na História. Curitiba: Editora da UFPR, 2000.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão [et. al.]. 4. ed. Campinas/SP: Ed. da UNICAMP, 1996. (Coleção Repertórios), p. 476.
MEIRA FILHO, Augusto. Belém de agora. A Província do Pará, Belém, ano 98, n. 24.494, 25 ago. 1974. Jornal Dominical. Caderno 3, ano
1, n. 28, p. 5.
MORAES, Marcos Antonio (Org.). Correspondência: Mário de Andrade & Manuel Bandeira. São Paulo: EDUSP; Instituto de Estudos
Brasileiros, 2000. (Coleção Correspondência de Mário de Andrade, 1).
NUNES, Dulcilia Maneschy Corrêa Acatauassú. Entrevista com a Dra. Maria Eugênia Rio sobre o Grande Hotel [ago. 2007]. Belém.
Informação verbal.
ONZE grandes hotéis serão construídos nas mais modernas cidades Sul-Americanas. O Estado do Pará, Belém, ano XXXVIII, n.12.410,
p.1,20 jul. 1947.
OS PROGRESSOS da cidade: o Grande Hotel. O Estado do Pará, Belém, ano 3, n. 830, p. 1, 20 jul. 1913.
ROOSEVELT, Theodore. Através do sertão do Brasil. Trad. de Conrado Erichsen. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. (Cole-
ção Brasiliana. Série 5., v. 232).
RUSKIN, John. A Lâmpada da memória. Apresentação, tradução e comentários críticos: Odete Dourado. Salvador: Mestrado em Arquite-
tura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, 1996. (Pretextos. Série b, Memórias, n. 2). Separata de: RUSKIN, John. The seven
lamps of Architecture. London: George Allen & Unwin, 1927. cap. 6
WALLE, Paul. No Brasil, do rio São Francisco ao Amazonas. Trad. de Oswaldo Biato. Brasília, DF: Senado Federal, Conselho Editorial,
2006. (Edições do Senado Federal, v. 71).
106
Anais | Congresso Abracor 2009
HOROWITZ, Renata Galbinski,
Arquiteta, Especialista em Desenho Industrial.
Escritório de Restauração e Reabilitação do Conjunto Histórico do Hospital Psiquiátrico
São Pedro - Secretaria das Obras Públicas – Secretaria da Saúde - Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul – Governo do Estado do Rio Grande do Sul
RESTAURAÇÃO E REABILITAÇÃO DO 1
Conforme Processo
de Instrução para
Tombamento Hospital
CONJUNTO HISTÓRICO DO Psiquiátrico São Pedro
Portaria nº13/90 de
21.08.1992. Livro
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO Tombo nº 3.Publicado no
Diário Oficial de
26.09.1990.
2
Conforme
CHEUICHE,Edson
Medeiros. 120 Anos do
O presente trabalho relata as atividades desenvolvidas pelo Escritório de Restauração e Hospital Psiquiátrico
São Pedro: Um Pouco de
Reabilitação do Hospital Psiquiátrico São Pedro, instituído pelo Governo do Estado do História. Revista de
Psiquiatria do Rio
Rio Grande do Sul em 2004, tendo por finalidade o gerenciamento de um Projeto Grande do Sul, Agosto
2004, volume 26, Nº2, P-
Arquitetônico de Restauração e Reabilitação Global do Conjunto Histórico do Hospital 118-120-ISSN 0101-
8108
Psiquiátrico São Pedro (HPSP), de Porto Alegre. Este escritório é composto por profissio-
nais da Secretaria das Obras Públicas, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e
Secretaria Estadual da Saúde, em cooperação técnica, e vem trabalhando desde abril de
2005, no sentido de coletar dados, diagnosticar, e elaborar o Projeto Arquitetônico de
Restauração e Reabilitação que deverá abranger a Edificação Centenária e seu entorno.
The present paper is related to the activities developed by the Recycling and
Restoration Office of the Psychiatric Hospital São Pedro in Porto Alegre. This office
was designated by Rio Grande do Sul State Government having the aim of a Global
rehabilitation of this Historical Hospital settled in Porto Alegre.
Professionals of the State Public Building Secretary, Rio Grande do Sul State University
and from the State Health Secretary belong to this office, which was set up through a
Technical Term of Cooperation in December, 2004, and have been systematically
working since April, 2005 in order to collect details and diagnoses, and finally elaborate
an Architectonic Restoration Project to this centenary Hospital.
1. INTRODUÇÃO
É com satisfação que o Escritório de Res- Pedro de Porto Alegre, Estado do Rio
tauração e Reabilitação do Hospital Psi- Grande do Sul. Na continuidade, apre-
quiátrico São Pedro, participa do XIII Con- sentaremos um breve histórico do Con-
gresso Internacional da Associação Brasi- junto, da Edificação Centenária e do Es-
leira de Conservadores e Restauradores critório de Restauração, passando a abor-
de Bens Culturais. Este Escritório é res- dar o projeto arquitetônico em suas eta-
ponsável pelo gerenciamento e elabora- pas realizadas e em andamento; assim
ção do Projeto de Restauração, Reabilita- como, as ações de preservação da Me-
ção e Reciclagem de uso do Conjunto mória Cultural geradas a partir desse tra-
Histórico do Hospital Psiquiátrico São balho, até o momento.
Figura 1
Vista Frontal
Hospício São Pedro
Início do Século XX
dezenove anos, num período que se es- por aberturas ritmadas em arco pleno no Figura 2
Planta Baixa 1º
tende de 1884 a 1903. pavimento térreo que se repetem no pavi- Pavimento - Prédio
Centenário
A autoria do projeto arquitetônico é atri- mento superior em vergas retas. 7 Figura 3
Fachada Prédio
Centenário
buída a Álvaro Nunes Pereira, engenhei- De acordo com a Planta da Cidade de Figura 4
Detalhe
Figura 5
Detalhe
ro chefe da Repartição de Obras Públicas Porto Alegre de 1906 8, o projeto original
à época, ao qual coube também a dire- previa o rebatimento dos seis blocos trans-
ção técnica da obra, segundo relatório da versais, a partir de um eixo paralelo ao cor-
Repartição Obras Públicas de 1882. redor longitudinal, o que resultaria no do-
A Edificação é composta por seis Blo- bro da área hoje existente.
cos de dois pavimentos e porão, interli- Apesar das obras de remodelação e re-
gados transversalmente por um extenso formas mencionadas, a integridade formal
eixo de circulação com cerca de cento e do Prédio se manteve, constituindo-se até
vinte metros (120,00m) de comprimen- hoje no maior legado Arquitetônico do fi-
to, orientado para norte, gerando cinco nal do século XlX de nosso Estado.
pátios internos, numa estrutura tipo Atualmente desenvolvem atividades no Pré-
“pente”. Este partido geral comumente dio Centenário a direção Geral do hospital,
utilizado no século XIX como modelo alguns setores administrativos, o Serviço de
para patrulhamento de grandes contin- Memória Cultural, o Escritório de Restaura-
gentes humanos, já era contestado pela ção, a Oficina de Criatividade, além de sete
bibliografia especializada desde 1837, grupos teatrais autônomos. Esta ocupação se
que apontava o alojamento em pavi- dá sob precárias condições, em cinquenta por
lhões separados como o mais eficiente cento (50%) da área total do prédio, perma-
na tentativa de cura dos pacientes por- necendo cerca de seis mil metros quadrados
tadores de doenças mentais. Prédio em (6.000,00 m²) de área desocupados, em avan-
estilo arquitetônico neoclássico, com pa- çado estado de deterioração.
109
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 6
Projeto
Paisagístico SOP/2002
5- O ESCRITÓRIO DE RESTAURAÇÃO E REABILITAÇÃO DO HPSP
A primeira iniciativa do Governo Estadual de, e a Secretaria de Estado das Obras Públi-
no sentido de promover ações restaurativas cas celebram um termo de cooperação técni-
no Prédio Centenário do Hospital Psiquiátri- ca com vistas ao gerenciamento do Projeto
co São Pedro data de 1985 com a contratação de Restauração e Reciclagem Global do HPSP
de uma Equipe coordenada pelo Arquiteto prevendo a instalação da UERGS no comple-
Edegar Bittencourt da Luz para elaboração xo. Cria-se assim, o Escritório de Restauração
de um Projeto de Restauração dos Blocos A, e Reabilitação do Conjunto Histórico do
B e C do Prédio Centenário do HPSP. Esta HPSP, que vem a instalar-se no 2º pavimento
equipe elabora então, o Projeto de Restau- do Bloco B do Prédio Centenário do hospital
ração da Cobertura e dos Blocos Dois e Três. em março de 2005, iniciando etapa de coleta
As obras são licitadas e vencidas por uma de dados e sistematização de informações que
empresa não especializada em obras de res- servirão de base geral para o Projeto de Res-
tauro, o que acarreta a rescisão do contrato, tauração e Reabilitação do HPSP. O Escritó-
antes da conclusão das mesmas. rio é composto por uma arquiteta da Secreta-
No ano 2000, a Secretária Estadual da Saú- ria das Obras Públicas e uma estagiária, sen-
de institui um Grupo Interdisciplinar de Tra- do a coordenação Geral de um engenheiro da
balho, destinado a elaborar propostas de uso Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.
para o prédio histórico do Complexo do Em agosto de 2007, a Governadora do
Hospital Psiquiátrico São Pedro. Como des- Estado do Rio Grande do Sul institui uma
dobramento do trabalho apresentado por Força Tarefa para elaborar um plano visan-
este grupo, em 2001 os Secretários da Saú- do promover iniciativas para restauração e
de, Obras e Cultura instituem um Grupo de aproveitamento das instalações físicas do
Trabalho Técnico para Restauração e HPSP. Esta Força Tarefa propõe ações pro-
Reciclagem de Uso do HPSP. curando contemplar as duas linhas de in-
Mas é somente em dezembro de 2004 que teresse que perpassam a questão – preser-
a Universidade Estadual do Rio Grande do vação do patrimônio público e racionali-
Sul (UERGS), a Secretaria de Estado da Saú- zação do uso de imóveis do Estado.
8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A despeito de sua magnitude e privilegi- o num Centro Integrador de diferentes áre-
ada localização, o Conjunto Histórico do as do conhecimento humano é, sem dúvi-
Hospital Psiquiátrico São Pedro remete à da, um desafio. Seus 124 anos de história
idéia de uma pequena cidade, com uma encontram-se preservados pela imponência
organização espacial peculiar e hermética. do prédio histórico, que já há muito apre-
Se o objetivo é incluir e revitalizar, faz-se senta elevado grau de deterioração, sendo
necessária a criação de pontos de diálogo cada vez mais urgente a necessidade de
entre as cidades intra e extramuros, que obras visando sua recuperação. Um empre-
certamente surgirão a partir da reabilita- endimento desta envergadura poderá ser a
ção global do Conjunto. Romper com o médio e longo prazo uma referência, no
estigma de lugar para a loucura e exclu- entanto, exige grande e constante
são, capaz de gerar medo, transformando- mobilização do governo e da sociedade.
111
Anais | Congresso Abracor 2009
BIBLIOGRAFIA:
CHEUICHE, Edson Medeiros. 120 Anos do Hospital psiquiátrico são Pedro: Um Pouco de História. Revista de Psiquiatria do Rio grande
do Sul, volume 26, Nº2, P-118-120-ISSN 0101-8108, Agosto 2004.
DOCUMENTO CINEMATOGRÁFICO INSTITUCIONAL, Serviço de Memória Cultural, Hospital Psiquiátrico São Pedro, 1929.
GODOY , Jacintho, Günter. Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edição do Autor, 1955.
HOROWITZ, Renata Galbinski. Análise do Conjunto Histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP) Revista de Psiquiatria do Rio
grande do Sul, volume 28, Nº2, P-111-112-ISSN 0101-8108, Agosto 2006.
TREBBI, A.A. Planta da Cidade de Porto Alegre Capital do Estado do Rio Grande do Sul, Editora Livraria do Commercio, 1906.
PROCESSO DE INSTRUÇÃO PARA TOMBAMENTO Hospital Psiquiátrico são Pedro nº 035 – 12.03/91.5 Secretaria da Cultura do
Estado do Rio Grande do Sul, 1991.
RELATÓRIO DE ATIVIDADES GERAIS, Seção de Estatística, Hospital Psiquiátrico São Pedro, 1957.
WADI, Yonissa Marmitt. Palácio Para Guardar Doidos: Uma História das Lutas pela Construção do Hospital de Alienados e da Psiquiatria
no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2002.
LISTA DE FIGURAS:
Fig.1-Vista Frontal HPSP – Fonte: Acervo Serviço de Memória Cultural do Hospital Psiquiátrico São Pedro, início do século XX.
Fig.2–Planta Baixa 1º Pavimento Prédio Centenário – Fonte: Levantamento Cadastral Escritório de Restauração e Reabilitação do
Hospital Psiquiátrico São Pedro, Responsável Técnico: Arquiteta Renata Galbinski Horowitz, 2008.
Fig.3–Fachada Prédio Centenário – Fonte: Levantamento Fotográfico Escritório de Restauração e Reabilitação do Hospital Psiquiátrico
São Pedro, 2007.
Fig.4–Detalhe Prédio Centenário - Fonte: Levantamento Fotográfico Escritório de Restauração e Reabilitação do Hospital Psiquiátrico
São Pedro, 2007.
Fig.5–Detalhe Prédio Centenário - Fonte: Levantamento Fotográfico Escritório de Restauração e Reabilitação do Hospital Psiquiátrico
São Pedro, 2006.
Fig.6–Projeto Paisagístico - Fonte: Divisão de Paisagismo da Secretaria das Obras Púbicas do Estado, Responsáveis Técnicos:
Arquiteta Aída J. Rosek, Arquiteto Fernando Eckart, Arquiteta Suzana R. Silveira, 2002.
112
Anais | Congresso Abracor 2009
Sílvio Mendes ZANCHETI ,
Arquiteto, Doutor USP)
Virgínia PONTUAL,
Arquiteto, Doutor USP
Rosane PICCOLO,
Arquiteto, Mestre UFPE)
Palavras-chave:
Identificação patrimonial, metodologia, inventário, Alagoas.
This paper presents a methodology for the identification of material heritage. The
methodology was applied to the cities of Água Branca, Olho d’Água do Casado and
Delmiro Gouveia, in the State of Alagoas, the West Region of the Low São Francisco
River. The methodology integrates historical analysis with urban morphology analysis
in situ. The application of the method led to the identification of 29 goods. The majority
of the identified goods are still with their original features or with small changes that
do not threat their authenticity. The set of goods is a significant collection of historical
and artistic values of the Brazilian memory.
2. Os resultados
O resultado norteador do processo de patrimoniais para a região. Esses bens con-
identificação foi a narrativa histórica sobre têm valores culturais (histórico, artístico,
o desenvolvimento da região do Baixo São arquitetônico, urbanístico e paisagístico)
Francisco, no atual Estado de Alagoas, que que merecem uma tutela por parte da soci-
ao lado do levantamento in situ, permiti- edade brasileira, e especialmente a nordes-
ram selecionar um conjunto de 29 bens tina.
3. Conclusões
Mesmo com limitações de recursos para A qualidade do acervo também pode ser
sua realização, este trabalho destaca-se no aferida pela autenticidade dos bens. Em ge-
cenário dos estudos de identificação ral, observou-se um alto nível de autentici-
patrimonial do Brasil, por ser um dos pou- dade mesmo que, em alguns casos, a inte-
cos a realizar um levantamento de caráter gridade material dos bens não fosse muito
integrado do ponto de vista da abrangência boa. A maioria dos bens identificados tem
da área geográfica, do período histórico e ainda os aspectos externos e os materiais de
das tipologias dos bens. A partir deste es- construção originais e, em alguns casos ex-
tudo é perfeitamente possível realizar um cepcionais, o mobiliário original. A exceção
trabalho de identificação da paisagem cul- mais importante a essa constatação é a vila
tural do sertão com a adição de outros es- operária da Pedra (Delmiro Gouveia) que está
tudos, principalmente do patrimônio bastante descaracterizada e com perda signi-
ambiental e da cultura imaterial. ficativa de sua autenticidade. Felizmente,
A região dos municípios de Água Bran- mesmo nesse caso, foi possível identificar
ca, Delmiro Gouveia e Olho D’Água do um conjunto de bens urbanísticos e
Casado possui um acervo de bens que se arquitetônicos que permitem conservar, para
destaca tanto pela quantidade como pela as futuras gerações, testemunhos autênticos
qualidade dos seus bens patrimoniais. da vila.
117
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliografia
ANDRADE, M. C. O Processo de Ocupação do Espaço Regional do Nordeste. Recife: Sudene, 1979.
AVÉ-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo Norte do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro/ Ministério da Educação e Cultura, 1961.
BONFIM, Luiz Ruben F. de A. Estrada de Ferro Paulo Afonso – 1882-1964. Paulo Afonso: Serviços Gráficos e Técnicos Ltda, 2001.
CORREIA, Telma de Barros. Pedra, Plano e Cotidiano Operário no Sertão. Campinas: Papirus, 1998.
CUNHA, Euclides. Os Sertões. Rio de Janeiro: Paulo de Azevedo Ltda, 1957.
GARDNER, George. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Universidade São Paulo, 1975.
HALFELD, Henrique Guilherme F. Atlas e relatório concernente a exploração do Rio de São Francisco desde a Cachoeira da Piaba até ao
Oceano Atlântico, 1852-1854. Rio de Janeiro: Lithographia Imperial, 1860.
MARROQUIM, Ad. Terra das Alagoas – MCMXXII. Roma: Editori Maglione & Strini. Succ. E.esches 1922. Edição Fac-Similar. Brasil, 2000.
PINTO, E. História de uma Estrada-de-ferro do Nordeste. Rio de Janeiro: José Oympio, 1949.
118
Anais | Congresso Abracor 2009
Sílvio Mendes ZANCHETI,
Arquiteto, Doutor USP
Franciza TOLEDO,
Arquiteta, Doutora UCL
Rosane PICCOLO,
Arquiteta, Mestre UFPE
Marina RUSSEL,
Arquiteta, Especialista FAFIRE
Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI)
OS LIMITES DO RESTAURO: 1
Este trabalho
somente foi realizado
IMPASSES PROJETUAIS1
pelo apoio do World
Monuments Fund -
“The Robert W. Wilson
Challenge for
Conserving Our
Heritage” que está
custeando parte das
obras de conservação.
Palavras-chave:
Reintegração Estética, Pintura em Madeira, Simulação Virtual, Olinda.
A metodologia de intervenção
A metodologia de intervenção de conser- históricos e simbólicos da Sacristia.
vação dos forros utilizada pelo CECI apoiou- O objetivo da atividade de conservação
se na teoria contemporânea da conservação foi estabelecido como a da revalorização
e restauração (Viñas 2005). Foi organizada do espaço da sacristia, pela melhoria do
em quatro fases principais: o estabelecimen- aspecto pictórico do forro pintado, que
to da significância cultural do objeto de con- reforça o simbolismo religioso (o recebi-
servação, a definição dos objetivos da ativi- mento dos estigmas por São Francisco) e
dade de conservação, a definição de diretri- revaloriza os aspectos estéticos e históri-
zes para a ação de conservação e a implanta- cos do local.
ção do trabalho. Os resultados das três pri- Foram estabelecidas quatro diretrizes de
meiras fases orientaram a abordagem para o intervenção, calcadas na citada teoria de
conhecimento das características físico-ma- conservação. A primeira refere-se à manu-
teriais do objeto. tenção da autenticidade da matéria e do
A significância foi estabelecida em rela- processo construtivo pelo qual a matéria
ção a dois atores principais: os Irmãos Ter- foi constituída, pelos quais podem ser
ceiros e os visitantes. Para os Irmãos Ter- transmitidos os principais valores do bem
ceiros, a sacristia é um lugar de veneração cultural. A segunda versa sobre a mínima
religiosa, pois nela está a imagem de São intervenção possível, balizada pelos obje-
Francisco recebendo os estigmas de Cris- tivos da atividade de conservação, como
to, e o ambiente onde o celebrante prepa- meio de assegurar a manutenção da inte-
ra-se para as liturgias. Os visitantes, por gridade material e, especialmente, da
sua vez, valorizam os aspectos artísticos, pátina. A terceira diretriz reporta-se à uti-
120
Anais | Congresso Abracor 2009
lização de materiais e técnicas tradicionais, reversibilidade à intervenção.
sempre que possível. Em casos imperati- Seguindo essa abordagem metodológica,
vos de utilização de materiais sintéticos, e a partir de testes e estudos, ponderaram-
devem-se preceder estudos e análises es- se os possíveis benefícios e prejuízos so-
pecíficos de compatibilidade e adaptação bre as peças, quer isoladamente quer no
aos materiais originais. Por fim, a última contexto dos conjuntos, antes de se em-
diretriz é voltada à garantia de máxima preender as ações.
O conhecimento do objeto
A reintegração cromática
Paralelamente aos trabalhos de festou na busca do equilíbrio entre melho-
nivelamento, foram iniciados os trabalhos rar a visibilidade da obra (o objetivo prin-
de reintegração da policromia ou apresen- cipal) e a manutenção do máximo de au-
tação estética pelo preenchimento das la- tenticidade artística e histórica (material),
cunas faltantes. Este estágio da obra, em especialmente da pátina.
especial, exige uma reflexão sobre os pos- Nesse sentido as reintegrações concentra-
síveis modos de conciliação da teoria à ram-se nas áreas onde predominam as re-
prática da conservação na condução do presentações de elementos arquitetônicos,
projeto, onde a execução técnica deve ser como frisos, listéis e balaústres e evitou-se a
orientada e refletir a decisão intelectual. ações nas partes com figuração orgânica,
O maior desafio das intervenções como as floreiras e rocalhas. No caso do
conservativas no forro da sacristia foi a medalhão de São Francisco optou-se pelo
delimitação do nível e da extensão das preenchimento das mínimas lacunas somen-
ações de recuperação dos danos pelas te nas áreas não figurativas.
perdas das áreas pictóricas – as lacunas. Partiu-se do princípio de que a reinte-
Pelo estado de conservação de quase de gração da imagem da camada pictórica às
ruína do forro, ficou claro que a atitude suas lacunas, por reprodução, se constitui
seria de minimizar o aspecto de degrada- em uma medida não-recomendada, já que
ção da pintura e maximizar leitura dos or- não é possível se inserir com legitimidade
122
namentos artísticos. Esse desafio se mani- naquele momento em que o artista criou
Anais | Congresso Abracor 2009
a parte que agora está ausente. Desse modo, cou se diferenciar do restante da obra por
reintegrar a lacuna à camada pictórica sem meio da utilização de uma técnica e de to-
deixar os vestígios da ação, pressupõe uma nalidades de cores distintas das encontra-
falsa idéia de contemporaneidade com o das na obra original. O pontilhismo, como
restante da obra. A intervenção deve se li- meio de diferenciação de técnica, e as co-
mitar a favorecer a fruição estética daquilo res, em um tom abaixo daquele originário,
que resta e que se apresenta como obra de foram utilizados na reintegração das lacu-
arte, sem utilizar o recurso das “integrações nas. As lacunas pequenas (até 8 cm2) rece-
analógicas”. Este conceito, lançado por beram uma aguada nas mesmas cores
Cesare Brandi (1977), designa um méto- sugeridas pelos seus contornos sendo em um
do de recomposição da imagem fundado tom mais baixo. As lacunas médias (até 80
na analogia, onde os elementos formais de cm2) foram reintegradas pela técnica do
um primeiro conjunto podem ser transpos- pontilhismo onde foram utilizadas sempre
tos a um segundo, desde que eles guar- três cores, isto é, um fundo e duas outras
dem entre si uma relação biunívoca. Por nos pontos coloridos. As lacunas maiores e
biunívoca, entende-se que seja a relação as grandes perdas, onde o suporte (a madei-
entre dois conjuntos distintos, onde cada ra) esteve aparente, não foram objetos de
elemento do primeiro corresponde a ape- reintegração, mas somente de ajuste da cor
nas um elemento do segundo. Como a onde a base (cor branca) ainda estivesse
imagem original e a reproduzida aparente, com uma pintura homogênea em
analogicamente não mantêm entre si esta cor que não ressaltasse visualmente a per-
relação biunívoca em sua dimensão tem- da, relativamente ás zonas com camadas
poral, apenas na formal, o recuso da pictóricas. Nessas áreas de perda, as tonali-
integração analógica não foi utilizado. dades das cores dos fundos variavam con-
A reintegração da camada pictórica bus- forme as cores das áreas anexas.
Conclusão
O CECI realizou uma série de ensaios de gração das lacunas devolveu a unidade à
reintegração virtual das lacunas da pintura obra que se constitui em uma legítima ema-
do forro para verificar quais técnicas, cores nação da sua própria imagem pictórica,
e tonalidades se adequavam melhor aos mantendo a sua autenticidade e sem incor-
objetivos de revalorização pictórica e sim- rer em um ato de falsificação.
bólica dos forros. Foram realizados ensaios Entretanto, até o momento da redação
de extensão da reintegração que começavam deste artigo, não foi possível aferir se o
com a reintegração das pequenas lacunas, objetivo de revalorização da sacristia, pela
passavam para as médias e as grandes, até intervenção no forro, foi alcançado junto
atingir a reintegração total, com base em aos seus dois principais usuários: Irmãos
suposições do restauro estilístico. Os en- Terceiros e visitantes. Esse fato deve-se à
saios foram muito importantes para que a não utilização das simulações virtuais como
equipe de especialistas e de restauradores elemento de negociação dos objetivos.
pudesse alcançar uma compreensão comum Recomenda-se, portanto, que as simulações
sobre os objetivos, a estratégia a ser segui- sejam preparadas antes das principais fases
da e os procedimentos técnicos a serem de intervenção e que não sejam somente tra-
empregados. balhadas no nível da percepção técnica, mas,
Pelo modo como foi conduzida, a reinte- também, no dos usuários.
Bibliografia
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração, “Apostila teórica para o tratamento das lacunas”. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
GETTENS, Rutherford J. e George L. STOUT. Painting Materials: A Short Encyclopaedia. New York: Dover Publications Inc. 1966.
HOENIGER, Catheleen. “The Restoration of the Early Italian ‘Primitives’ during the 20th Century: Valuing Art and Its Consequences”.
JAIC Volume 38, Number 2, Article 3. 1999.
ICOMOS Principles for the Preservation and Conservation-Restoration of Wall Paintings (2003). http://www.international.icomos.org/
charters/wallpaintings_e.htm
MASSING, Ann. “Restoration Policy in France in the Eighteenth Century”. Studies in the History of Painting Restoration. London:
Archetype. 1998.
MORA, Paolo, Laura MORA e Paul PHILIPPOT. “Problems of Presentation”. Historical and Philosophical Issues in the Conservation of
Cultural Heritage. Los Angeles: The Getty Conservation Institute. 1996.
PHILIPPOT, Albert e Paul PHILIPPOT. “The Problem of Integration of Lacunae in the Restoration of Paintings”. Historical and
Philosophical Issues in the Conservation of Cultural Heritage. Los Angeles: The Getty Conservation Institute. 1996.
PHILIPPOT, Paul. “Historic Preservation: Philosophy, Criteria, Guidelines II”. Historical and Philosophical Issues in the Conservation of
Cultural Heritage. Los Angeles: The Getty Conservation Institute. 1996.
VÉLIZ, Zahira. “The Restoration of Paintings in the Spanish Royal Collections, 1734-1820”. Studies in the History of Painting Restoration.
London: Archetype. 1998.
VIÑAS, Salvador. Teoria Contemporânea de la Restauración. Madrid:..............2004.
123
Anais | Congresso Abracor 2009
124
Anais | Congresso Abracor 2009
Virgínia Pontual,
Arquiteta, Doutora em História Urbana. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI)
Mônica Harchambois,
Arquiteta, Especialista em Gestão do Patrimônio Cultural. Centro de Estudos Avançados
da Conservação Integrada (CECI)
Renata Cabral,
Arquiteta, Mestra em Arquitetura e Urbanismo. Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada (CECI)
Magna Milfont,
Historiadora, Doutoranda em Desenvolvimento Urbano. Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI)
Rosane Piccolo,
Arquiteta, Mestra em Desenvolvimento Urbano. Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI)
Palavras chave:
Patrimônio, interpretação, divulgação, Recife.
The São Pedro Courtyard, heritage protected by IPHAN in Recife, is one of the sets
most uprightly of Santo Antônio district and testifies the diversity of the traditional
popular manifestations of Pernambuco. However, despite its great attractive potential,
the courtyard does not integrate the itineraries developed by travel agencies. For this,
the tourist divulgation and interpretation of the courtyard constitute a way of propagation
of the values and conservation of the urban and architectural space. The website “São
Pedro Courtyard: Tourism and Popular Tradition in Pernambuco” constitutes one of
the products of a project selected for Program MONUMENTA to be executed by the
Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI). This website aimed
the divulgations of the values of the place in order to attract visitors, adding value to
the experience. The content and registers of the way this website was carried through
is the object of this paper.
Key words:
Heritage, interpretation, divulgation and Recife.
Introdução
O conjunto urbano e arquitetônico do igreja com a simplicidade das edificações
Pátio de São Pedro, bem tombado pelo do entorno, o conjunto apresenta grande
IPHAN no Recife, é composto pela Igreja unidade urbanística e é um dos mais ínte-
de São Pedro dos Clérigos e pelo casario gros do bairro de Santo Antônio. O Pátio
que a circunda. Além da beleza que resul- de São Pedro testemunha, também, a di-
ta do contraste formado pela riqueza da versidade das manifestações populares tra- 125
Anais | Congresso Abracor 2009
dicionais de Pernambuco, tendo sido clas- grama MONUMENTA para ser executado
sificado por Gilberto Freyre como o lugar pelo Centro de Estudos Avançados em Con-
“mais recifense do Recife”. Entretanto, servação Integrada (CECI), com financiamen-
apesar do seu grande potencial atrativo, to do Governo Federal mediante contrato
não integra os roteiros desenvolvidos pe- de empréstimo com o Banco Interamericano
las agências de turismo. O aumento da de Desenvolvimento (BID). O material pro-
atividade turística poderia favorecer a con- duzido procurou diluir, em textos fluidos e
servação do lugar, contribuindo, ainda, interessantes, com design elegante e
para a consolidação das atividades cultu- envolvente, o conteúdo denso das interpre-
rais incentivadas pelo poder público nos tações acadêmicas sobre a história, a
bairros centrais do Recife. morfologia e a cultura atual do Pátio.
O site “Pátio de São Pedro: Turismo e Tra- Este artigo discorre sobre o caminho
dição Popular em Pernambuco” constitui um percorrido para a construção do site, que
dos produtos do projeto intitulado “Divul- buscou divulgar o Pátio de São Pedro de
gação Turística do Pátio de São Pedro dos modo a atrair o visitante, acrescentando
Clérigos no Recife”, selecionado pelo Pro- valor à experiência da visitação.
2. A interpretação histórica
3. A interpretação morfológica
O conjunto urbano e arquitetônico do Pátio as apresentam vergas retas ou em arco abati-
de São Pedro é composto pela Igreja de São do, sendo marcadas por molduras em pedra
Pedro dos Clérigos, pelo pátio e por 63 ou argamassa. Os telhados, na maior parte,
edificações, entre casas térreas e sobrados que são cobertos por telha cerâmica canal, tipo
circundam os quatro lados da igreja. calha e bica, e exibem suas cumeeiras parale-
Este conjunto está sob a proteção do Insti- las à rua, ou seja, paralelas às faces da igreja.
tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Na- Praticamente todos os telhados encontram-se
cional (IPHAN). A igreja e o pátio estão en- parcialmente escondidos pelas platibandas que
quadrados na categoria de Conjuntos Anti- se elevam das fachadas e criam calhas para o
gos, inscritos no livro de tombo do IPHAN escoamento de águas pluviais. O desenho
sob o número 187, Livro de Belas Artes, fo- urbano do pátio de São Pedro constitui-se em
lha 33 em 20 de junho de 1938. um dos principais elementos invariantes do
Os edifícios que cercam a igreja são na local.
maioria casas térreas, registrando-se a pre- O estado de conservação (quanto à inte-
sença de três sobrados de dois pavimentos gridade física) e preservação (quanto à ca-
e doze sobrados de um pavimento. A mai- racterização) destes imóveis ilustra uniformi-
or incidência de sobrados altos está na qua- dade em certos trechos. Os edifícios que
dra frente à fachada da igreja, criando um estão localizados em torno ao Pátio de São
diálogo entre volumes de altos gabaritos. Pedro são aqueles que apresentam o melhor
Os sobrados, de uma forma geral, se desta- estado no conjunto, com exceção dos imó-
cam no conjunto pela sua altura diferenci- veis que estão sendo recuperados. As de-
ada do restante e pelo requinte de suas fa- mais edificações em torno da igreja encon-
chadas, que se apresentam como as mais tram-se razoavelmente conservadas e pre-
ornadas, com frisos, entablamentos, balcões servadas, apesar de terem sido observadas
e número superior de vãos. algumas intervenções.
As casas térreas são edifícios vernaculares Enfim, o traçado urbano e o conjunto
tradicionais de duas portas, geminadas dos edificado ainda mantém bom nível de inte-
dois lados, com fachadas em argamassa, gridade, constituindo-se em um lugar de
excetuando-se poucos edifícios que se apre- grande valor rememorativo, embora os usos
sentam revestidos por azulejos, cerâmica e tenham sido bastante modificados desde o
ladrilho. As portas e janelas das casas térre- final da década de 1960.
5. A participação da comunidade
Paralelamente às pesquisas históricas e micas realizadas, como manifestações re-
morfológicas, foram realizadas três ofici- ligiosas, presença negra, vestígios do ur-
nas pedagógicas e decisórias, com a par- banismo holandês e da ocupação portu-
ticipação da comunidade e de autorida- guesa, riqueza artística do barroco, não
des governamentais. Nesses momentos, eram suficientemente conhecidos pela co-
os técnicos do CECI puderam analisar a munidade, que se mostrou admirada com
relação da comunidade com a história do a relevância dos valores presentes no lu-
lugar. Foi possível observar, a partir do gar em que vivem.
contato com os proprietários e locatários O lançamento oficial do produto final
de imóveis do Pátio de São Pedro, que o do projeto ocorreu na terceira e última
aspecto da história mais lembrado por oficina. A comunidade mostrou-se extre-
eles era o da história da boemia, mamente sensibilizada ao ver o seu coti-
vivenciada a partir da década de 1960. diano retratado nos vídeos e depoimentos
Temas ressaltados nas pesquisas acadê- que integram o site.
6.Estrutura do site
O site resultante do Projeto de Divul- ção é composto pelos links: Visita Virtu-
gação Turística do Pátio de São Pedro está al; Eventos Culturais; Arte e Gastronomia;
assim estruturado: na página principal do Anfitriões do Pátio; História do Lugar e
site, o internauta encontra um ambiente Saiba Mais.
virtual que remete à essência do Pátio; O site www.patiodesaopedro.ceci-
há uma faixa superior construída a partir br.org é uma peça de multimídia elegan-
do desenho das fachadas do casario e da te, convidativa aos internautas, com in-
igreja (planta do final do século XX, per- formações confiáveis e de qualidade, ten-
tencente ao acervo do IPHAN) e ouve-se do atendido aos propósitos estabelecidos
uma música barroca; o menu de navega- pelas instituições financiadoras.
129
Anais | Congresso Abracor 2009
Principais referências bibliográficas:
ARAÚJO, Rita de Cássia. Carnaval do Recife: a alegria guerreira. Estudos Avançados. São Paulo, n.29, vol.11, 1997.
BARBOSA, Pe. Antonio. Igreja de São Pedro dos Clérigos, Recife, 1728. (fac-símile da 1ª edição). Recife: Governo Estado Pernambuco/
Secretaria Educação, Cultura e Esporte/ Fundarpe, 1993.
BAZIN, Germain. Originalidade da arquitetura barroca em Pernambuco. Arquivos. Recife, n. 7-20, pp. 171-177, 1945-51.
CARDOZO, Joaquim. Notas sobre a antiga pintura religiosa em Pernambuco. RSPHAN. Rio de Janeiro, n.3, pp. 45-62, 1939.
CASCUDO, Luis Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Global, 2000.
CAVALCANTI, Carlos B. O Recife e seus Bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1991.
CORD. Identidades Étnicas, Irmandade do Rosário e Rei do Congo: sociabilidades cotidianas recifenses – século XIX. Campos - Revista de
Antropologia Social, América do Sul. Vol.4, pp. 51-63, 2005.
COSTA, Pereira. Anais Pernambucanos. 2° ed. Recife: Fundarpe, 1983.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO: 21/04/1986; 18/02/1987; 21/04/1987; 07/04/1988; 24/04/1988; 17/07/1988; 21/07/1988; 25/07/1988; 02/07/
1988; 11/08/1988; 04/09/1988; 08/10/1988.
FREYRE, Gilberto. Livro do Nordeste, comemorativo do 1º centenário do Diário de Pernambuco. Recife: Arquivo Público Estadual, 1979.
______. Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1934.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Prefeitura da Cidade do Recife/ Departamento de Documentação e Cultura,
s.d.
MEDEIROS, Amaury. A Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife. Recife: CEPE, 2002.
MENEZES, José Luiz Mota. Dois monumentos do Recife: São Pedro dos Clérigos e Nossa Senhora da Conceição dos Militares. Recife:
Fundação de Cultura da Cidade do Recife,1984.
______. Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife. Universitas. n.10, 1971.
PIO, Fernando. Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife (roteiro turístico). Recife: Empresa Metropolitana de Turismo, s/d.
PREFEITURA DO RECIFE. Projeto de revitalização do Pátio de São Pedro. Acompanhamento arqueológico, ALBUQUERQUE, Marcos.
Recife, 23 de março de 2000.
SILVA, Leonardo Dantas. A corte dos reis do Congo e os maracatus do Recife. Ciência & Trópico. Recife, n. 2, v. 27, pp. 363-384, 1999.
SMITH, Robert Chester. Igrejas, casas e móveis: aspectos de arte colonial brasileira. Recife: MEC/UFPE/IPHAN, 1979.
SOUZA, Fernando Guerra. A Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife. Recife: Universitária UFPE, 1990.
130
Anais | Congresso Abracor 2009
ASTORGA, Jorge Garro
Arquiteto e urbanista, aluno mestrando em urbanismo no PROURB
FAU UFRJ. Bolsista FAPERJ DT1 (2006 - 2007), Centro de
Memória e Informação. Plano de Conservação Preventiva do
Museu-Casa de Rui Barbosa – Coordenação do Projeto: Claudia
S. Rodrigues de Carvalho, Arquiteta Dsc. Núcleo de
Preservação Arquitetônica da Fundação Casa de Rui Barbosa
Palavras-chave:
CONSERVAÇÃO - PREVENÇÃO - COBERTURA - MUSEU
This paper focuses the “Plano de Conservação Preventiva do Museu de Rui Barbosa”,
his inspection, nomenclature and diagnosis methodology for the mounting of the roof
maintenance and conservation routine, in order to maintain the last great restauration of
the museum and trying to avoid another expressive intervention.
Among “conservation” we can find the preventive actions, like inspection, maintenance
actions, small repairs and the repair actions, like rectificating great lacks of conformity.
The conservation guide is not the most important aspect, but the understanding by the
associates of the institution who will become aware about how important is to preserve
and that they are helping to avoid a great intervention.
Sob o Plano de Conservação Preventiva títulos, em 37 mil volumes. São livros so-
do Museu Casa de Rui Barbosa [1], trata- bre os mais variados ramos do conhecimen-
mos dos elementos de madeira do Museu. to, destacando-se as obras jurídicas - pode-
A casa foi adquirida em 1893 por Rui ria se dizer que ele possuía as legislações
Barbosa, o grande jurista e orador Brasilei- de todos os países”. [4]
ro, que se consagrou na Conferência de “Conservar es intentar substraer algo, de
Haya. Na casa permaneceu até 1923, ano los efectos reales del tiempo, es decir, es
de sua morte. A construção é em estilo luchar contra el tiempo. La conservación es
neoclássico e foi concluída em 1850, com entonces, una manifestación de nuestra
influência da missão francesa no Brasil, relación con el pasado, ya sea como
onde praticamente se recriou o Neoclássico, representación y materialización del pasado,
com mestres como Grandjean de Montigny en el presente y para el futuro. Por lo tanto,
[2] e discípulos, um deles José Maria la noción del tiempo está siempre implíci-
Jacintho Rebello [3]. Em 1930 se inaugu- ta en nuestra práctica de conservación.
rou como o primeiro museu brasileiro des- Conservamos un pasado que cumple unas
te gênero, Museu Casa, com a finalidade determinadas funciones en el presente, y que
de abrigar seus bens pessoais e a sua biblio- debemos transmitir íntegramente a las
teca. generaciones futuras.
“A biblioteca que Rui Barbosa organizou La conservación de los bienes culturales,
ao longo de sua vida, que foi adquirida pelo suele distinguir, con matices particulares,
governo brasileiro em 1924, reúne 23 mil las áreas o estadios generales de la
131
Anais | Congresso Abracor 2009
preservación: la conservación y la A cobertura é uma das partes mais im-
restauración, ambos correspondientes a un portantes, ela pode ser considerada a redoma
solo proceso, es decir, el museológico y de vidro que guarda uma outra casca e seu
patrimonial. conteúdo, se ela se rompe coloca em risco
La preservación, referida a las condiciones o conteúdo. Assim, no museu teríamos da-
favorables del ambiente físico y material en nos na arquitetura e no acervo.
que deben encontrarse las colecciones, se “También hay que comentar, que en esta
identificaba ya de hecho con la conservación vida, todo precisa de un mantenimiento para
preventiva, y se diferenciaba de la conservar el bien de cualquier naturaleza,
restauración o proceso interventivo, de lo pero lo que está comprobado es que las
que es la propia conservación patrimonial propiedades de los edificios no se acuerdan
o museológica. “ [5] de que existe una cubierta hasta que “Santa
Esta pesquisa tratou dos elementos de Bárbara truena”, es decir, al recibir las de-
madeira do Museu, coberturas, forros e pi- nuncias de los moradores de la última plan-
sos. Inicialmente se fez um reconhecimen- ta, ante el fenómeno de que llueve dentro
to do edifício e de seus bens móveis em de sus casas.
conjunto com restauradores (de papel e te- Estos problemas o molestias se pueden
cidos) e se ouviu a direção do museu e os paliar efectuando unas inspecciones perió-
técnicos da manutenção e equipe de lim- dicas a la cubierta del edificio y no agotar o
peza. Desta forma com o uso de fichas para alargar las garantías de las empresas
cada cômodo, surgiu a primeira apreensão instaladoras del material
do edifício e seu acervo. impermeabilizante, y avisar al técnico re-
Comprovaram-se relações entre as pato- parador en el momento de tener cualquier
logias que afetam a arquitetura que geram tipo de filtración de agua de lluvia proce-
consequências sobre os bens móveis. São dente de la cubierta y que en muchos ca-
infiltrações descendentes e ascendentes, sos, estas filtraciones son originadas por el
desníveis nos pisos, a ação do microclima mal uso de la misma.”[6]
e problemas com as instalações prediais. As estruturas das coberturas do século XIX
Na época da pesquisa se estava implantan- utilizam-se da tesoura, em forma de triân-
do o sistema de controle ambiental no edi- gulo, têm a hipotenusa como linha, os
fício, nas áreas onde estão os móveis com catetos como pernas, ao centro o pendural
os livros, estantes. Trata-se de um controle com escoras ou asnas e entre as tesouras as
de humidade e temperatura de modo a man- terças (cumeeira, terças e frechal). Sobre as
ter uma média constante entre as oscilações terças os caibros e sobre estes as ripas onde
que foram observadas durante um se apoiam as telhas cerâmicas do tipo fran-
monitoramento prévio. cesas. O telhado do sobrado tem 90m2 com
O museu tem forma poligonal com a par- 4 tesouras e a parte baixa em H tem 665m2
te principal em forma de H e uma outra em com 30 tesouras.
forma de L. A primeira parte parece ser a Com este trabalho se preparou uma nova
mais antiga e tem um nível térreo, subsolo nomenclatura, colocando siglas (letras) para
(espécie de cave, que teve seu piso rebaixa- os elementos e números para as quantida-
do) e um segundo nível, em sobrado. Já a des, tornando assim, mais fácil a identifi-
parte em L está no nível do solo. cação quando necessário tanto para a dire-
ção do Museu como para a manutenção. nos sobre os telhados estão relacionados
Com este material e visitas se preparou diretamente aos danos internos e no entre
um diagnóstico do estado de conservação forro. É comum onde há algum tipo de re-
dos elementos que compõem as cobertu- paro improvisado, que ocorram reflexos di-
ras, gerando uma planilha com o estado dos retos na parte externa, deformações e danos
elementos de cada telhado. Os danos exter- internos. Algumas calhas estão com proble-
132
Anais | Congresso Abracor 2009
Resumo do estado de conservação das coberturas
mas de trasbordo e desníveis inadequados. neiras. Estas ações são serviços básicos que
Com este diagnóstico se prepararam as contemplam pequenos reparos.
propostas de intervenção, recomendações e Ações de Reparo - As ações de reparos
as ações para a Manutenção Conservativa, são um conjunto de serviços necessários para
que atendem às orientações do Plano de a correção de diversas inconformidades en-
Conservação Preventiva. contradas durante a preparação do Projeto
Disto surge o plano de propostas para as de Conservação Preventiva. São intervenções
coberturas do Museu Casa de Rui Barbosa, maiores e mais abrangentes. É uma diretriz
que são medidas a curto (medidas do Plano, manter a conformação deixada
emergenciais e de curto prazo), médio e pela última grande obra, realizada nos anos
longo prazos. A Manutenção Conservativa 90 .
visa proporcionar um meio fácil de fazer uma Mas estes não são os aspectos mais im-
inspeção periódica, rotineira, permitindo portantes, não são o manual de conservação
avaliar o avanço da deterioração e executar e o caderno de recomendações, mas sim, o
as medidas necessárias para que estas mes- entendimento que os membros da institui-
mas possam ser minimizadas ou até ção e usuários do Museu passam a ter sobre
estancadas. Todas as intervenções devem ser a importância de cada vez mais se preservar,
com materiais contemporâneos e ter solu- que vão evitar a grande intervenção.
ções reversíveis, não alterando a parte estéti- “Restauración de un objeto implica la
ca do edifício e sem criar um falso histórico. realización de elecciones subjetivas: qué con-
Na implantação temos três módulos: servar en el caso de la conservación, y qué y
Ações Preventivas - Serviços basicamente cómo restaurar en el caso de la restauración.
de inspeção e preparação de relatórios para Cada elección que se realiza determina en
que se tenha um registro dos acontecimen- buena medida qué objetos formarán el
tos nas coberturas que servirão de base para patrimonio que llegará a las generaciones fu-
a tomada de decisão. turas, y en qué estado llegarán -aunque ese
Ações de Manutenção - As ações de ma- estado puede no ser el adecuado... Similar-
nutenção são referentes às não conformida- mente, el aprecio contemporáneo por pintu-
des encontradas nas ações de inspeção roti- ras con una superficie homogénea y satinada,
133
Anais | Congresso Abracor 2009
o por fachadas con tonos vívidos y aspecto de también los usuarios futuros. Como se afir-
recién pintadas, puede evolucionar en otros ma en la Carta de Cracovia, cualquier
sentidos. Cuando esto ocurra, las acciones de intervención de Restauración implica
Restauración que se practican en la actualidad decisiones, selecciones y responsabilidades
podrían condicionar las posibilidades de relacionadas con todo el patrimonio, incluso
adaptación de los objetos a nuevos gustos y con aquellas partes que aunque no tienen un
necesidades; los usuarios de los objetos no significado específico en la actualidad, pueden
son tan sólo los usuarios presentes, sino tenerlo en el futuro.”[7]
Conclusões
A restauração da arquitetura é, na maio- onde um determinado grupo ou seu agente
ria das vezes, pensada apenas em seu aspecto representante decidem o que se deve preser-
técnico, buscam-se fórmulas que possam re- var para as novas gerações.
cuperar ou retardar processos de deterioração O monumento recebe do homem uma ação
dos sistemas e materiais construtivos. Não há cíclica de resignificação. Croqui de Jorge
uma atenção especial para seu interior e, em Astorga.
muitos casos, nem para questões históricas “Tratar a matéria é algo difícil, mas se trata
ou sociais. As indagações por quê? e para quê? de um problema exclusivamente técnico. Por
nem sempre fazem parte das temáticas de uma outro lado, transmitir uma mensagem é um
intervenção. problema cultural de outra amplitude, e as-
Esta investigação junto ao Plano de Con- sim, a aproximação varia de acordo com o
servação Preventiva do Museu Casa de Rui fundo cultural de cada país, época, ou forma-
Barbosa, coloca a restauração arquitetônica e ção.
artística lado a lado, seguindo as orientações Um bem cultural carrega ao mesmo tempo
da conservação preventiva para a salvaguarda a sua história e a sua estética e sua restaura-
do patrimônio, incluindo a ção não é nem um simples reparo de rotina
interdisciplinaridade e criando uma nova nem uma renovação: trata-se de um ato críti-
temática ao redor da restauração. Não há ago- co, resultado de um compromisso entre o ri-
ra uma pressão apenas pela intervenção, mas gor histórico sem nada acrescentar de “novo”
sim, por uma ampla discussão sobre a toma- e a exigência estética que incide sobre todas
da de decisões preventivas para preservar este as traições do tempo, danos e acidentes que
monumento histórico. perturbaram a sua leitura.
A salvaguarda do nosso patrimônio O gosto romântico da “ruína” fez aceitar a
construído e natural é sem dúvida o objetivo destruição irremediável das obras do passa-
principal das ações da preservação para as fu- do: apagar a passagem do tempo, renovar, fazer
turas gerações. Mas, estas ações nos trazem crer que a obra saiu aqui do atelier de um
as preocupações com a manutenção, a con- artista, é um “falso histórico”. [9]
solidação e a restauração. Desde ali surgem A conservação preventiva pode parecer uma
estudos mais aprofundados sobre os materi- expressão incoerente visto que a restauração
ais e de seus processos de deterioro. do patrimônio se dedica a retardar os proces-
“Grande parte do conhecimento que adqui- sos de deterioração dos monumentos, o que
rimos sobre a cultura humana no passado se na realidade pode ser interpretado como uma
baseia em evidências materiais que resistiram ação preventiva. A própria salvaguarda do
a diversos processos de deterioração: o ambi- patrimônio é preventiva, já que não existe um
ente construído ou os seus vestígios, os obje- estado do monumento em que o mesmo se
tos históricos e as obras de arte. Assim é que conserve como em um frigorífico. Mas os graus
grande parte dos esforços para a preservação de ação destas intervenções de restauro são os
de um bem cultural se concentra em ações que podem definir melhor a conservação pre-
focadas nos processos de deterioração dos ventiva que pode ser utilizada na arquitetura
materiais, seja para tratar seus efeitos seja para de monumentos. Uma ação mais incisiva e
identificar e mitigar suas causas”[8] em curto prazo é claramente uma interven-
A eleição de proteger determinado monu- ção de restauração e uma ação com determi-
mento depende dos valores históricos e cul- nada periodicidade e, em menor escala, com
turais de cada sociedade e de cada época. Es- ações localizadas será a conservação preven-
tes fatores nos levam a um determinado bem, tiva. Esta última tenta de todo modo evitar
e isto pode ser um ato coletivo ou unilateral, que a restauração, assim como a grande inter-
134
Anais | Congresso Abracor 2009
venção, aconteça. tre distintos especialistas y así lograr un
“…Por lo tanto, para realizar una buena verdadero trabajo de equipo.”[10]
conservación preventiva será imprescindible Tanto no Brasil como nos países da Améri-
elaborar un programa previo de actuación, ca Latina, que possuem realidades econômi-
adaptado a los lugares y a las colecciones a cas e sociais muito similares, cabem bem os
proteger. Las acciones urgentes y a la desespe- termos prevenção e planejamento para evitar
rada suponen, en la mayoría de los casos, una as grandes intervenções, que em muitos casos
solución tardía que se aplica ya sobre los daños são danosas, e na sua maioria são muito mais
que la acción preventiva pretendía evitar. caras.
Actuar sobre las causas cuando los efectos o “Umas poucas folhas de chumbo, postas a
la enfermedad ya han afectado a los objetos tempo sobre o telhado, umas poucas folhas
sería tener una concepción muy terapéutica. mortas e gravetos varridos a tempo salvarão
En general podemos decir, que la tanto o telhado como as paredes da ruína.
conservación preventiva, poco a poco, se ha Olhe para o velho edifício com um cuidado
creado un espacio y una identidad en el mun- ansioso, guarde-o o melhor que você puder e
do de la protección del patrimonio, y ha ido a qualquer custo de qualquer influência de
englobando aspectos cada vez más variados. dilapidação. Conte as suas pedras como se você
Por ello, su aplicación práctica supone una contasse as jóias de uma coroa, coloque guar-
tarea multidisciplinar en la que, lejos de todo das em torno dele como você colocaria para
dogmatismo, toda acción debe ir precedida guardar uma cidade sitiada, grampeie com fer-
de un exhaustivo análisis, registro de datos y ro onde estiver cedendo, sustente com escoras
control continuado de los sucesivos resulta- onde estiver caindo, não se importe sobre a
dos, ya que cada intervención es un caso úni- invisibilidade da ajuda: melhor uma muleta
co y diferente. Por tanto, es imposible asignar do que um membro perdido, e faça isto terna-
esta tarea a un solo responsable o especialis- mente e reverentemente e continuadamente e
ta. Más bien es necesario buscar la muitas das gerações ainda por vir e para passar
coordinación y articulación de las tareas en- desfrutarão da sua sombra.”[11]
Referências
[1] http://www.casaruibarbosa.gov.br/claudia_carvalho/preventiva.pdf O projeto de conservação preventiva do Museu Casa de Rui Barbosa (Jornada
Museológica: notícias sobre museus casas, Papéis Avulsos 43) (PDF)
[2] Arquiteto da missão francesa no Brasil, 1776-1850. Projetou a Praça do Mercado, A Real Academia de pintura, escultura e arquitetura, que
depois foi Academia das Artes, o Solar de Grandjean, entre outros.
[3] Arquiteto brasileiro discípulo de Grandjean, projetou a Casa do Barão de Itamaraty.
[4] http://www.casaruibarbosa.gov.br/template_01/default.asp?VID_Secao=108
[5] MILAGROS, Vaillant Callol- Uma Mirada Hacia La Conservación Preventiva De Patrimônio.
[6] Restauración y Rehabilitación de Edificios, José Coscollano Rodríguez, Thomson Paraninfo, España 2003.
[7] Salvador Muñoz Vinãs. TEORIA CONTEMPORANEA DE LA RESTAURACION .
[8] Claudia S. R. Carvalho - Doutora em Arquitetura - Fundação Casa de Rui Barbosa. 2007.
[9] Ségolène Bergeon do Instituto Francês de Obras de Arte. Paris/França. Actuel La Sauvegard du Patrimoine Culturel - 1994 . Tradução - Yamila
Astorga Garro)
[10] MILAGROS, Vaillant Callol- Uma Mirada Hacia La Conservación Preventiva De Patrimônio.
[11] John Ruskin - The Seven Lamps of Architecture - 1880 (Tradução - Yamila Astorga Garro)
135
Anais | Congresso Abracor 2009
136
Anais | Congresso Abracor 2009
Artes Visuais
137
Anais | Congresso Abracor 2009
138
Anais | Congresso Abracor 2009
BACHETTINI, Andréa Lacerda.
Mestre em História. Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis.
Especialista em Patrimônio Cultural - Conservação de Artefatos. Bacharel em Pintura e Gravura.
Cons. e Rest. de Bens Culturais Móveis da Restauratus.
1
MARCONDES,1998.
CONSERVAÇÃO DO SUPORTE 2
CALVO, 197.
5
NICOLAUS, 343.
Solução não aquosa
impregna o papel com
produtos que neutralizam
os ácidos existentes, não
deforma o papel, previne a
Este trabalho tem por objetivo apresentar o processo de restauração de duas obras do oxidação, não apresenta
nenhum efeito sobre as
artista contemporâneo Alex Flemming, dois “Torsos Masculinos”, de 1983, executados tintas o papel.
na técnica de serigrafia. O artista utilizou tinta acrílica para impressão sobre o suporte
lycra sintética, que foram colados em algodão e em pôsteres de eucatex.
This paper presents the restoration of two silkscreens from contemporary artist Alex
Flemming, both named “Torso Masculino” and dated 1983. The artist printed with acrylic
on lycra, wich was pasted on cotton and then in eucatex posters.
Palavras-chave:
Lycra, Serigrafia, Arte Contemporânea. Conservação e Restauro.
Introdução
Este trabalho trata da restauração de duas ternacionais de São Paulo. Em 2001-2002, fo-
obras do artista contemporâneo Alex tografou corpos esbeltos, sobre estas imagens,
Flemming. Nascido em São Paulo, em 1954, foram desenhados mapas de áreas de conflitos
Flemming surgiu no meio artístico nos anos e de guerras. Atualmente, mora em Berlim,
70, e trabalhando com gravuras sobre o coti- mas viaja com frequência ao Brasil.
diano e contestação sociopolítica, dedicou As obras aqui apresentadas são dois torsos
toda a sua pesquisa a conflitos sociais e pai- masculinos, de 1983, executado na técnica de
xões humanas. A partir de 1981, começou a serigrafia, quando o artista utilizou tinta acrílica
pintar intensamente, nos anos 90, realizou sobre suporte lycra sintética, que foram cola-
uma série de pinturas biográficas que utiliza- dos em algodão e pôsteres de eucatex. As obras
vam como suporte suas próprias roupas. Pos- medem 79 x 99,2cm, mas cada obra é com-
teriormente passou a recolher e pintar cadei- posta por quatro módulos que medem 39,5X
ras, poltronas e sofás usados, nos quais apli- 9,6cm aparafusados uns aos outros.
cava letras, que formavam textos de notícias O trabalho de restauro destas duas obras que
de jornais. têm como suporte a lycra foi um desafio, devi-
Também atuou como professor da do ao estado de conservação em que as obras
Kunstakademie de Oslo. Expôs no Brasil e ex- se apresentavam: muito fragilizadas, com per-
terior, participou de Panoramas de Arte Atual da da coloração e elasticidade e infestadas por
Brasileira, no MAM/SP e diversas Bienais In- ataque de insetos xilófagos.
Metodologia
A metodologia para este trabalho de res- gráfica; diagnóstico do estado de conser-
tauração consistiu-se no levantamento bi- vação das obras; entrevista com o artista
bliográfico visando à fundamentação teó- sobre a técnica de execução dos Torsos
rica; estudo da técnica de execução das Masculinos; elaboração de uma proposta
obras através de exames organolépticos e de tratamento intervenção; tratamento de
com luzes especiais e documentação foto- restauro; elaboração do relatório.
140
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 3: A imagem mostra parafusos oxidados e excrementos de insetos. Figura 9: Descolamento dos tecidos em banho de água deionizada.
Figura 4: A imagem os grampos oxidados. Figura 10: Descolamento do tecido de algodão da lycra água deionizada.
Figura 5: Higienização com Wishab pó Figura 11: Velinação do suporte lycra com papel japonês e cola neu-
tra.
Figura 7: Limpeza com pincel. Figura 13: Novos suportes rígidos revestidos de fórmica.
Figura 8: Descolamento das bordas. Figura 14: Cada módulo foi revestido com folha de papel de pH neutro.
141
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 15: Depois do papel foi colocado o Non Wovem. Figura 18: Montagem da obra.
Figura 16: O módulo rígido foi colocado sobre o tecido de lycra velinado. Figura 19: “Torso Masculino” nº 1 após o tratamento.
Figura 17: Módulo já com o tecido de lycra. Figura 20: Verso da obra Torso Masculino nº 1.
Conclusão
Alex Flemmig é considerado um dos gran- neste momento é que se passou a conhecer
des artistas de sua geração, portanto a preser- melhor as partes que constituíam as obras.
vação de sua obra é de grande importância A etapa de descolamento dos suportes de
para história de arte, ainda mais para arte con- tecidos dos suportes rígidos foi trabalhosa, mas
temporânea. não apresentou complicações.
A restauração dos dois “Torsos Masculinos” Um momento importante deste trata-
se fez necessária devido à fragilidade em que mento foi velinação do suporte lycra em
as obras encontravam-se, o trabalho mostrou- papel japonês, para manter a impressão
se interessante não só pelos problemas estru- sem deformações. Com esta técnica con-
turais que apresentava, mas também pelo tipo seguiu-se um resultado satisfatório, con-
de suporte que o artista trabalhou. A lycra é segui-se dar uma estabilidade ao suporte
um material relativamente novo, e é quase lycra.
nula a bibliografia sobre a conservação e res- A última etapa deste tratamento foi a mon-
tauração deste tipo de suporte. tagem dos módulos que seguiram o
O processo de restauração constituiu basi- mapeamento realizado anteriormente.
camente em nove etapas. Dando continuidade ao trabalho ainda fo-
Foi realizado o tratamento inicial, que cons- ram realizados: levantamento, registro e ava-
tituiu da limpeza superficial e da liação do estado de conservação dos dois
desmontagem das obras. Estes foram procedi- “Torsos Masculinos”; entrevista com o artista
mentos simples, mas de grande importância, Alex Femming realizado por e-mail.
Bibliografia
BARBOSA, Ana Mae. Alex Flemming. Coleção Artista Brasileiro. São Paulo; EDUSP e Imprensa Oficial, 2004.
CALVO, Ana. Conservación y restauración Materiles, técnicas y propriedades de la A a da Z. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1997.
CANTON, kátia. Alex Flemming, uma poética. São Paulo: Metalivros 2002.
DE PAULA, Teresa Cristina. Tecidos e sua conservação no Brasil: museus e coleções. São Paulo: Museu Paulista da USP,2006.
Flemming, Alex (flemming13@aol.com). De Berlin para POA. E-mail to Andréa Bachettini (bachetta@terra.com.br). 31 março de 2008.18:28.
GOMES, Sônia de Conti e MOTTA, Rosemery Tofani. Técnicas alternativas de conservação: recuperação de livros, revistas folhetos e mapas. 2
ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG,1997.
MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de termos artísticos. Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 1998.
SPINELLI JÚNIOR, Jayme. A conservação de acervos bibliográficos & documentais. Rio de janeiro: Fundação Biblioteca nacional Dep. De
Processos Técnicos, 1997.
http://brasiliavirtual.info/tudo-sobre/alex-flemming/
http://www.alexflemming.com
142
Anais | Congresso Abracor 2009
BACHETTINI, Andréa Lacerda.
Mestre em História. Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis.
Especialista em Patrimônio Cultural - Conservação de Artefatos. Bacharel em Pintura e
Gravura. Cons. e Rest. de Bens Culturais Móveis da Restauratus.us.com.br
Este trabalho trata da preparação de 10 obras de Iberê Camargo para exposição Pintura
Pura, realizada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. A exposição teve curadoria
da Prof. Dra. Icleia Borsa Cattani da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As obras
restauradas apresentavam sujidades generalizadas, fungos, craquelês, desprendimento da
camada pictórica e oxidações.
This paper regards the preparation of ten Iberê Camargo´s paintings to Pintura Pura
exposition, hosted by Iberê Camargo Foundation, in Porto Alegre. The show was curated
by Dr. Icleia Borsa Cattani, from Rio Grande do Sul Federal University. The pieces were
widely soiled, had fungus, crackles, paint film cleavage and oxidations.
Palavras-chave:
Iberê Camargo, Pintura, Arte Brasileira, Conservação /Restauração.
Introdução
Este trabalho trata da preparação de 10 social. O pintor referia-se à sua luta diária
obras de Iberê Camargo para exposição Pin- na arena, o ateliê, e às armas que usava, os
tura Pura, realizada na Fundação Iberê pincéis e as tintas. A criação provocou
Camargo, em Porto Alegre. A exposição nele, seguidamente, angústia e insatisfa-
teve curadoria da Prof. Dra. Icleia Borsa ção com o resultado obtido. Pintar era uma
Cattani da Universidade Federal do Rio missão”.1
Grande do Sul. Segundo a curadora, “Iberê Os suportes das obras selecionadas são di-
Camargo mergulhou fundo, mais profun- ferentes, incluindo tela, madeira e papel, que
damente do que a maioria dos artistas, nas receberam camadas espessas de óleo, uma
questões da pintura. Isso foi o que marcou característica do trabalho do artista. Quanto
sua obra ao longo de intensa trajetória: no ao estado de conservação as pinturas apresen-
aprendizado e na maturidade artística, a tavam sujidades generalizadas, fungos,
entrega, a exigência, os questionamentos, craquelês, desprendimento da camada pictó-
a urgência foram os mesmos, independen- rica e oxidações O processo de restauração
temente do seu nível de conhecimento e foi intenso, de dedicação exclusiva, e teve a
de experiência e do seu reconhecimento duração de um mês.
Figura 7 – Obra: Carretéis com Figura. Figura 8 – Obra: Tudo Te é Falso e Inútil.
Estado de Conservação
Quanto ao estado de conservação das obras A obra Desdobramento II apresentava
a grande maioria apresentava sujidades gene- excrementos de insetos e problemas de despren-
ralizadas, fungos, craquelês, desprendimento dimento da camada pictórica, nas cores pretas,
da camada pictórica e oxidações. principalmente na região da assinatura. Algu-
A obra Figura II tinha em toda sua superfície mas áreas da camada pictórica, nas cores ama-
uma opacidade que não permitia a visualização relo e ocre, apresentavam esbranquiçamento,
de cores nas pinceladas do artista, a pintura ainda na parte inferior central.
mesmo tendo um tom monocromático apre- As obras Carretel Azul e Caixa D’água apre-
sentava cores muito sutis nas pincelas, que fi- sentavam sujidades, fungos e perdas da
cavam imperceptíveis com esta opacidade, ain- policromia nas bordas da pintura.
da havia grandes craquelês que formavam Já as obras Composição e Contraste apre-
144 fissuras na região central da pintura. sentavam sujidades, fungos, desprendimento
Anais | Congresso Abracor 2009
2
São ceras semi-sintéticas
obtidas de derivados de
petróleo, não produzem
amarelamento, são neutras
e se fundem a 65°.
3
Essência de Terebentina
e Álcool Etílico (50:50). “A
Essência de Terebentina é
o termo vulgar para a
designação de resinas
(líquidas, semi-líquidas ou
glutinosas) que são
extraídas do terebinto e de
outras plantas coníferas e
terebintáceas. É feito de
extratos vegetais, um
líquido obtido por
destilação da resina de
pinheiros, sendo usado na
Figura 9 – Obra: S/ título. Figura 10 – Obra: S/ título. mistura de tintas, vernizes
e polidores. A fórmula é:
C10H16 (aprox.)” In: http://
da camada pictórica nas áreas de azul e preto As duas obras sobre papel apresentavam www.quinari.com.br/loja/
index.php?page=shop.
e perdas da policromia. uma camada espessa de fungos, manchas ao product_details&fly
page=shop.flypage&
A obra Carretéis com Figura apresentava redor da camada pictórica da migração do product_id=151&category_id=
somente sujidades e fungos. óleo para o papel. A obra em papel com 19&manufacturer_id
=0&option=
A obra Tudo Te é Falso e Inútil apresentava carretéis apresentava fitas adesivas e rasgos com_virtuemart&Itemid
=44&vmcchk=1
sujidades, fungos e áreas com esbranqui- nas bordas, um deles colado com papel ja- 4
NICOLAUS, 343.
çamento da camada pictórica. ponês.
5
Solução não aquosa
impregna o papel com
produtos que neutralizam
os ácidos existentes, não
to já descrito acima. As áreas com deforma o papel, previne a
oxidação, não apresenta
esbranquiçamento foram tratadas com mis- nenhum efeito sobre as
tura resina3 e álcool, fazendo uma regenera- tintas o papel.
Bibliografia
BARBOSA, Karem Cristine. Perboyre – a possibilidade do uso de produtos menos tóxicos em um trabalho de restauração. Belo Horizonte: Cecor –
Escola de Belas Artes – UFMG, 1998.
BRANDI, Cesare. Teoria del restauro. Torino: Piccola Biblioteca Einaudi, 1977.
CALVO, Ana. Conservación e Restauración Materiales, técnciasy procedimientos de la A a la Z. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1997.
CATTANI, Icleia Barsa. Pintura Pura. Porto Alegre: 2004. http://www.iberecamargo.org.br/content/ exposicoes/texto_icleia.asp
CENNINO, Cennini. Tratado de la pintura – el libro de arte. Barcelona: Edit. Meseguer, 1979.
DOENER, Max. Los materiales de pintura y su empleo en el arte. Barcelona: Editorial Reverté S. A.,1978.
FUNARTE, Ministério da Cultura. Materiais de arte no Brasil – Análise de tintas a óleo. Rio de Janeiro: 1995.
HAYES, Colin. Guia completo de dibujo y pintura, tecnicas y materiales. Madrid: Ed. Blume,1980.
KLEINER, L. Masschelein. Los solvants; Cour de conservation. Bruxelles: Institut Royal du Patrimoine Artitique, 1994.
KÜPPERS, Harold. Fundamentos de la teoria de los colores. Barcelona: Editorial Gustavo Gill S. A., 1980.
MARTOS. Daz. Restauración y conservación del arte pictórico. Madrid: Arte Restauro, 1975.
MAYER, Ralph. Manual do artista – de técnicas e materiais. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
MELLO, Neiva. Pintura Pura resume a alma pictórica do mestre do expressionismo. Assessoria em Comunicação da Fundação Iberê Camargos.
Porto Alegre: 2004. http://www.iberecamargo.org.br/content/upload/press_room/
Fundação%20Iberê%20Camargo%20inaugura%20exposição%20de%20obras%20do%20mestre%20e%20ganha%20nova%20parceria.doc
MENDEZ, Marylka e BAPTISTA, Antônio Carlos N.. Restauração; ciência e arte. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora UFRJ / IPHAN, 1998.
MOERSI, Claudina Maria Dutra. Manual de tinta e pigmentos. Belo Horizonte: FAOP e Banco Interamericano de Desenvolvimento,1998.
MOTTA, Edson. Restauração de pinturas em descolamento. Rio de Janeiro: IPHAN, 1969.
______e SALGADO, Maria Luísa G.. Iniciação à pintura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1976.
______. Restauração de pinturas; aplicações de encaústica. Rio de Janeiro,s/d.
NICOLAUS, Knut. Manual de restauração de cuadros. Köln: Könemann, 1999.
ORTI, Maria Angustias Cabrera. Los métodos de análises físico – quimicos y la história del arte. Granada: Servicio de Puplicaciones de la
Universidad de Granada, 1994.
CASA DO RESTAURADOR. Produtos para Conservação e Restauro. pdf. Cd. São Paulo:2005.
RCM – GUIA DE PRODUTOS CONSERVACIÓN PREVENTIVA. Restauració, conservació, materiales. Barcelona: s/d.
STOUT, George L.. Restauración y conservación de pinturas. Madrid: Editorial Tecnos S. A.,1960.
Agradecimentos
146 À Fundação Iberê Camargo por ter viabilizado a restauração. A Prof. Dra. Icléia Borsa Cattani, curadora da exposição Pintura Pura
Anais | Congresso Abracor 2009
VANRELL V., Arianne
Historiadora de Arte y Conservadora y Restauradora de Bienes Culturales,
en la Universidad de Paris I, Pantheon-Sorbonne. Francia.
Diploma de Estudios Avanzados en Conservación y Restauración en la
Universidad Complutense de Madrid. España.
Actualmente realizando la Tesis Doctoral.
Conservadora-Restauradora de Instalaciones y Nuevos Medios en el
Departamento de Conservación y Restauración del Museo Nacional Centro
de Arte Reina Sofía –MNCARS-, Madrid, España.
Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía
Departamento de Conservación-Restauración
Calle Santa Isabel 52, 28012 Madrid, España
Palabras Chave:
Intercambio de conocimientos, Estudio, Comprensión, Evaluación de Riesgos,
Documentación de calidad
The importance and the increasing number of Art Installations, Electronic Art, Art
Net and New Media in publics and private collections purpose us a new challenges in
art conservation and the changing role of conservators and restorers in order to guarantie
the correct transmission of the meaning of the art work thought new exhibitions.
The use of new media and the difficulties of conservation, preservation, maintance
and restoration aims to increase the quality of the documentation and the artist
participation, to optimize the physical and conceptual conservation, and increase our
comprehension of these art works to reduce the risks in lost of significance.
A presença cada vez malhor de instalaçoes da arte, arte eletrónico, arte net e novos
méios nas coleçoes públicas e privadas propor novos problemas para a conservaçao e
uma mudanza importante do papel do conservador e restaurador que facilite a correta
exposiçao das obras em exhibiçoes sucessivas.
A utilicaçao de novas tecnologías e as dificuldades para a conservaçao, mantenimento
e restauraçao precisam duma melhor documentaçao e da participaçao dos artistas
para garantir a conservaçao física e concetual das obras, melhorando nossa comprençao
e evitando pertas do significado na trasmiçao da messagem do artista.
Artista : Evru,
Obra: “Tecura”
Exposición “Máquinas & Almas,
arte digital y nuevos medios”,
MNCARS, del 26 de junio al 13 de
noviembre de 2008.
Público interactuando con la obra.
149
Anais | Congresso Abracor 2009
Conclusión:
La diversidad de las Instalaciones de Arte de consulta y diseminación de la
nos exige una gran flexibilidad y una con- información que nos permita transmitir y
tinua adaptación en el estudio de cada conservar todo su significado a través de
propuesta a través de una comprensión de montajes futuros, evaluando los riesgos de
la obra y de sus elementos fundamentales, pérdida de información y estableciendo
el planteamiento e ideas del artista, una protocolos de actuación según las
documentación adecuada y mecanismos necesidades de cada pieza.
150
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliografía
ALLEN, Rebecca, “Arte y realidad en un mundo liminar”, en el Catálogo “Máquinas & almas, arte digital y nuevos medios”, Museo Nacional
Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, España, 2008. Pp. 41-43.
BOSCO, Roberta y CALDANA, Stefano, “Arte y museo frente al público 2.0”, en el Catálogo “Máquinas & almas, arte digital y nuevos
medios”, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, España, 2008. Pp. 50-52.
BROKENHOF, A.W., LUGER, T., ANKERSMIT, H., BERGEVOET, F., SCHILLEMANS, R., SCHOUTENS, P., MULLER, T., KIERS, J., MUETHING
G., and WALLER, R.. “Risks Assessment of Museum Amstelkring: Application to an historic building and its collections and the consequences
for preservation management”; en Preprints del 14th ICOM-CC Triennial Meeting, La Haya, Holanda. 2005. Pp. 590-596.
BROKENHOF, Agnès W., “Collection Risk Management – The Next Frontier”; Presentado en el CMA, Conferencia sobre la protección del
patrimonio cultural, , Ottawa, Canadá, Enero de 2006.
BROKENHOF, Agnès W. “Inside Installations: Developing a methodology for risk assessment of Modern Art Installations”, Instituut Collectie
Nederland, 2006.
FRANK, Meter, “Las instalaciones del videoarte: el entorno televisivo”, en el Catálogo “Primera generación. Arte e imagen en movimiento,
[1963-1986]”, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, España, 2006. Pp.63-76.
GOMEZ-BAEZA, Rosina, “El impacto de la tecnología digital en la producción artística de nuestro tiempo”, en el Catálogo “Emergentes”
LABoral Centro de Arte y Creación Industrial, Gijón, España, 2008. Pp. 12-13.
GORDON, Craig, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, “Knowledge management and information exchange”, en el Booklet de
Resutados del Proyecto Europeo “Inside Installations”, Editado por Tatja Scholte (ICN) y Paulien ´t Hoen (SBMK), Países Bajos, 2007. Pp.
61-63.
HEYDENREICH, Gunnar, Restaurierungszentrum Dusseldorf, “Documen-tation Model (2IDM)”, en el Booklet de Resutados del Proyecto
Europeo “Inside Installations”, Editado por Tatja Scholte (ICN) y Paulien ´t Hoen (SBMK), Países Bajos, 2007. Pp. 48-49.
HUYS, Frederika y DE BUCK, Anne, Stedelijk Museum Actúele Kunst (S.M.A.K.), “Artist Participation”, en el Booklet de Resutados del
Proyecto Europeo “Inside Installations”, Editado por Tatja Scholte (ICN) y Paulien ´t Hoen (SBMK), Países Bajos, 2007. Pp. 45-47.
LAURENSON, Pip. “Authenticity, change and loss in the conservation of time-based media installations”. Presentada en el seminario-taller
del Proyecto Inside Installations sobre Theory and Semantics, Maastricht, Mayo de 2006. Pp.18.
LAURENSON, Pip. Tate Modern. “The preservation of installations” , en el Booklet de Resultados del Proyecto Europeo “Inside Installations”,
Editado por Tatja Scholte (ICN) y Paulien ´t Hoen (SBMK), Países Bajos, 2007. Pp. 41-44.
PAUL, Christiane, “El medio de la respuesta”, en el Catálogo “Máquinas & almas, arte digital y nuevos medios”, Museo Nacional Centro de
Arte Reina Sofía, Madrid, España, 2008. Pp. 47-49.
SCHOLTE, Tatja y TE BRAKE-BALDOCK, Karen, Instituut Collectie Nederlands, “Introduction” en el Booklet de Resutados del Proyecto
Europeo “Inside Installations”, Editado por Tatja Scholte (ICN) y Paulien ´t Hoen (SBMK), Países Bajos, 2007. Pp. 5.
SCHOLTE, Tatja, Instituut Collectie Nederlands, “Theory and semantics” en el Booklet de Resutados del Proyecto Europeo “Inside Installations”,
Editado por Tatja Scholte (ICN) y Paulien ´t Hoen (SBMK), Países Bajos, 2007. Pp. 58-60.
SICHEL Berta, “Primera generación. Arte e imagen en movimiento, 1963-1986”, en el Catálogo “Primera generación. Arte e imagen en
movimiento, [1963-1986]”, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, España, 2006. Pp. 15-40.
SZEEMANN, Harald, “El vídeo, los mitos y el museo”, en el Catálogo “Primera generación. Arte e imagen en movimiento, [1963-1986]”,
Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, España, 2006. Pp. 79-88.
VANRELL V., Arianne y ROTAECHE, Mikel, “Preservación y reinstalación de Instalaciones de Arte”, 6ª Jornada de Conservación de Arte
Contemporáneo del Grupo Español del International Institute of Conservation (GEIIC). Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Febrero
de 2005. Pp.107-116.
VANRELL V., Arianne, “Metodología y casos de estudios en Instalaciones de Arte”. Actas del XII Congreso Internacional del ABRACOR (en
CD), Fortaleza, Brasil. Agosto-Septiembre 2006.
VANRELL V., Arianne, “Proyectos de Estudio en el MNCARS”. Actas del XII Congreso Internacional del ABRACOR (en CD), Fortaleza,
Brasil. Agosto-Septiembre 2006.
VANRELL V., Arianne, “Videoarte: La evolución tecnológica. Nuevos retos para la conservación. Reflexiones sobre la colección de videoarte
del MNCARS”. 8ª Jornada de Conservación de Arte Contemporáneo del Grupo Español del International Institute of Conservation (GEIIC).
Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Febrero de 2007. Pp.109-110.
VANRELL V., Arianne, “Prevención del riesgo de pérdida de información en el montaje de exposiciones y conservación de Instalaciones de
Arte”, en las Actas del III Congreso del GEIIC: “La conservación infalible, de la teoría a la realidad”, Oviedo, España, 2007. Pp. 315-319.
VANRELL V., Arianne, “Protocolos de Estudio en Instalaciones de Arte en el MNCARS”. Conferencia realizada en la Escuela Superior de
Restauración del Principado de Asturias, Avilés, España, 19 de Noviembre de 2007. (Actualmente en imprenta).
VANRELL V., Arianne, “La Evolución del conservador-restaurador en la preservación de nuevas formas de expresión”. Espacio Fundación
Telefónica, Buenos Aires, Argentina, Participación en el Seminario de Arte Electrónico realizado 16 de Abril de 2008. (Actualmente en
imprenta).
VANRELL V., Arianne, “Protocolos de Estudio de Colecciones de Arte Electrónico, Vídeo Instalaciones y Art Net en el Departamento de
Conservación-Restauración del MNCARS”. Actas del XIII Congreso Internacional del ABRACOR, Porto Alegre, Brasil. Abril 2009. (En
preparación).
WIJERS, Gaby y KALLINEN, Sami, Netherlands Media Art Institute, Montevideo, “Video documentation of installations”, en el Booklet de Resulta-
dos del Proyecto Europeo “Inside Installations”, Editado por Tatja Scholte (ICN) y Paulien ´t Hoen (SBMK), Países Bajos, 2007. Pp. 36-37.
151
Anais | Congresso Abracor 2009
152
Anais | Congresso Abracor 2009
FARIAS Jucara Quinteros
Paper Conservator- Master in conservation of Cultural materials- University of Canberra- Australia
Senior Conservator of the Conservation Laboratory-Chamber of Deputies- Brasilia- Brazil
The conservation treatment of the watercolour View of Launceston looking east from
Cataract Hill c.1859 by Frederick Strange presented some important challenges for the
Queen Victoria Museum and Art Gallery conservation staff. It involved putting together
the skills of the paper and paintings conservation departments to apply a relatively
new technique for varnish removal from paper, assessing the risks of the proposed
treatment and meeting a deadline for an exhibition opening. The thorough examination
of the work and conservation treatment uncovered part of its complex history of
successive restorations and revealed an incredible amount of previously unseen detail
in the depiction of Launceston’s colonial streetscapes.
KEYWORDS:
Conservation treatment, watercolour, varnish, varnish oxidation
PALAVRAS-CHAVE:
restauração, verniz, oxidação, aquarela
Introduction
Technical examination
Support
Initial examination revealed that the ‘systems’(Carlyle 2001). Today many
watercolour was painted on a thick and examples of this practise of stretching
slightly textured watercolour paper, works on paper have survived.
adhered to 2 canvases and mounted on a Detailed examination of the
strainer. Artwork had also been folded over watercolour’s support and the tacking
the edge of the strainer on the top and right edges led to the conclusion that the
sides and glued to the strainer bars. artwork had been modified in size at least
The first layer of canvas appeared to be twice and mounted on a smaller strainer,
original or to have been applied very soon by folding all edges of the work and
after the execution of the watercolour. It cutting down the left and right sides of
is not uncommon to find watercolours that the work. The reason for the last re-
have been mounted onto canvas and mounting, which gave the painting its
stretched either prior to the execution of current dimensions, probably was to hide
the work or very soon after. There was a silverfish damage on the artwork. Second
lot of interest in the second half of the 19th canvas was most likely applied during this
century in the process of putting works of process, when painting was re-mounted
art together and the longevity of into its current strainer.
Surface layers
The watercolour’s surface was covered results revealed a layer of gelatine on top
with a very thick layer/layers of varnish and of the paper, which could be the ‘varnish
a great deal of overpainting, occurred layer’ in itself, or a size applied to the paper
during previous restorations. Mountains by the artist before coating the work with
and sky areas, creases and tears were a resinous varnish. In the 19th century, it
heavily overpainted, generally with a was common to use a layer of glue or
brown colour. Over time, the varnish had gelatine as a preliminary size aiming to
oxidised, becoming very dark and keep the varnish coat even (Carlyle 2001).
obscuring the fine detail. It is unknown if The original varnish was either removed
the watercolour was originally varnished and/or covered by subsequent layers of
by the artist or if all present layers of varnish varnish applied in successive restorations.
have been applied during posterior The present layer/s of varnish was
restorations. Overpaints seemed to have predicted to be a natural resin (probably
been applied in a more recent restoration, mastic) because of its yellowed
probably with oil paint, as they matched discolouration and its fluorescence under
the colour of the discoloured varnish. UV light (NAS 2004) as well as from
Samples taken from the image folded further investigation into the records of
over the edge, which appeared to have previous restorations carried out in the
original varnish on it, were analysed with 1950s at the National Gallery of Victoria-
an IR spectrophotometer [1]. The analysis Australia.
Condition assessment
The watercolour was found to be in poor detracting the visual appearance of the
condition. The chemical and physical artwork and accelerating the paper and
154 changes of the varnish layer were paint layer deterioration. In some areas,
Anais | Congresso Abracor 2009
Figure 1
Watercolour View
varnish had formed an ‘orange peel’ of Launceston looking
effect. In addition, the oxidized and east from Cataract Hill
c.1859 before
discoloured varnished was obscuring conservation treatment
Framing
After treatment, the new framing for the colonial-style frame, constructed with
watercolour had to considered, as the ori- musk veneer and with a gilt slip (Hay
ginal frame of the watercolour had been 2006). This frame was styled from the ori-
lost and the contemporary frame made for ginal veneer frame for the painting Port
it in the 1970s was unsuitable. Curators Arthur, 1850 by Hawkins (QVMAG
decided to frame the watercolour in a new collection).
Conclusion
View of Launceston looking east from be carried out afterward. However, time and
Cataract Hill revealed some amazing detail budget limitations did not impede a
that was previously unseen, such as the collaborative conservation approach based on
artist’s original colours and brush strokes, the the most advanced techniques and materials
fine detail of the churches, public buildings available for both varnish removal and
and the river edge of Launceston. The new treatment of paper artefacts.
mounting also exposed a section of the work This treatment also showed how a
that was previously covered, by having been methodical and thorough visual
folded over the back of the strainer, and examination can uncover much information
which included two colonial houses about the history of the object and the
previously unseen (see figure 4). materials constituting it.
This successful treatment was fruit of the The authors would like this project to set
collaboration of paper and paintings an example for further collaboration and
conservation skills. One area could have note interconnection between different
done without the other. It was also an example conservation disciplines. Many components
of a complex treatment that was undertaken of the traditional disciplines of objects,
with a very limited timeline, to allow for the paintings and paper have large overlaps and
artwork to be included in an exhibition. collaboration ands sharing of knowledge
These circumstances and the lack of between them is essential to achieve the
equipment did not allow for extensive best results in the conservation of cultural
research or materials analysis, which had to material.
157
Anais | Congresso Abracor 2009
BIBLIOGRAPHY
Carlyle, L 2001, The Artist’s Assistant. Oil Painting Instruction Manuals and Handbooks in Britain 1800-1900. With reference to Selected
Eighteenth-century Sources, Archetype Publications, London.
Hay, J 2006, ‘Completed frame report’, Conservation Department, QVMAG, Launceston
Lake, R & Mulford, T 2002, ‘A stranger to the town: the life of colonial painter Frederick Strange’, Australiana, vol. 1, no. 3, pp. 68-89, 94
Mulford, T 1997, Tasmanian Framemakers 1830-1930. A directory, Queen Victoria Museum and
Art Gallery, Launceston
Petukhova,T 1992, Removal of varnish from paper artifacts, The Book and Paper Group ANNUAL, vol.11.
Ramsden, A 2007 Unpublished notes on William Frederick Petterd, Queen Victoria Museum and Art Gallery, Launceston
The National Archives of Scotland: The conservation treatment of the Royal Botanic Gardens- Edinburgh. (Webpage) Retrieved 22 March,
2007, from www.nas.gov.uk
158
Anais | Congresso Abracor 2009
Aloisio Arnaldo Nunes de Castro
Graduado em Artes Plásticas – UFJF, Especialista em Tecnologia Educacional – UFJF,
Especialista em Evolução da Linguagem Visual – UFJF, Mestre em História – UFJF.
Conservador-Restaurador de Bens Culturais
Laboratório de Conservação e Restauração de Papel do Museu de Arte Murilo Mendes – UFJF
1
CHARTIER, Roger.
A conservação e restauração de acervos em Por uma sociologia
histórica das práticas
culturais. In: A História
suporte de papel no Brasil: Cultural: entre práticas
e representações.
Lisboa: DIFEL, 1990. p.
uma abordagem à luz da História Cultural 14.
Esta comunicação tem por objetivo apontar investigações acerca da trajetória histó-
rica da conservação e restauração de acervos em papel no Brasil, tendo como recorte
cronológico a primeira década do século XX até os anos de 1990. Utilizando-se da
análise bibliográfica, documental e do exercício da história oral, esta pesquisa exami-
na os marcos teóricos, os paradigmas e as influências internacionais e as políticas que
alicerçaram a inserção e a construção dessa disciplina especializada no âmbito brasi-
leiro.
Palavras-chave:
Papel; Patrimônio Cultural; História da Conservação e Restauração; Práticas e narrati-
vas preservacionistas.
This paper has goal to investigate, based on Cultural History, the historical trajectory
of paper conservation-restoration in Brazil since the first decade of the 20th century
until the years 1990s. This research uses bibliographic, documental and oral history
analysis. It examines theoretical points, paradigmas, international influences and cul-
tural policy that are basic idea to the insertion and construction of this subject in
Brazilian context.
Introdução
Considerações finais
O exame das narrativas, práticas e repre- de muitas décadas, um lugar de primazia
sentações – demarcadas no campo da con- e hegemonia na arena preservacionista. No
servação e restauração de papel - encami- julgamento e na escolha dos bens dignos
nhou-se no sentido de compreender a gêne- de preservação, poder-se-ia dizer que, la-
se da construção cultural preservacionista, mentavelmente, o patrimônio sobre papel
forjada em meio à rede de trocas simbólicas ficou preterido por não apresentar os con-
dos múltiplos atores e instituições sociais. siderados apelos históricos, artísticos, es-
No que diz respeito aos critérios de téticos e econômicos capazes de atrair a
valoração do bem cultural e, atenção preservacionista. Onde fundou-se
consequentemente, das escolhas do essa valoração desigual? Seriam as obras
patrimônio a ser preservado por parte do de arte em suporte de papel categorizadas
Estado, os dados analisados nesta pesqui- como “artes menores”? Seriam os acervos
sa nos permitiram entrever que os acervos em papel desprovidos de representação sim-
bibliográficos, documentais e as obras de bólica no processo de construção das iden-
arte em suporte de papel - enquanto cate- tidades históricas e culturais da nação?
goria tipológica de bens culturais - não ocu- Desse modo, podemos concluir que, mui-
param, desde a criação do Decreto-Lei nº. to embora a preservação de algumas cate-
25 de 1937, posição relevante e merece- gorias de acervos em papel - como acervos
dora de preservação. Ao contrário, verifi- os bibliográficos de valor excepcional e os
camos - na noção de “excepcionalidade” manuscritos raros - tenha sido juridicamen-
que norteou historicamente a prática de te instaurada a partir do Decreto-Lei nº. 25
preservação do Estado brasileiro - que o de 1937, é somente a partir da década de
patrimônio edificado, os monumentos 1980 que a conservação-restauração de pa-
emblemáticos, as pinturas de cavalete, as pel alcança visibilidade no cenário
esculturas policromadas e demais objetos preservacionista brasileiro.
museológicos sempre detiveram, ao longo Com relação ao modelo educacional, cabe
164
Anais | Congresso Abracor 2009
ressaltar que a inexistência de uma forma- portanto, nos conceitos estabelecidos pela
ção sistemática por meio da graduação aca- conservação preventiva. Tal constatação é
dêmica, na área de preservação de papel, evidenciada nas ementas das disciplinas de
constituiu-se num grave fator que compro- preservação de papel ministradas dos cur-
meteu, sobremaneira, o desenvolvimento da sos universitários e nas grades curriculares
disciplina no âmbito brasileiro. Conforme dos cursos de graduação e pós-graduação.
se pode analisar, foram as instituições de- Nesse sentido, observa-se a ampliação das
tentoras de acervos e outras iniciativas iso- atividades e da atuação do conservador-res-
ladas que, ao longo das últimas décadas, taurador de papel no Brasil, ou seja, muda-
por meio de um ensino informal, acabaram se o perfil do profissional outrora centrado
por oferecer treinamentos práticos, estágios numa ação de caráter micro, para o emergir
supervisionados e cursos de curta duração de um novo profissional pautado numa vi-
com vistas a suplantar a evidente lacuna são ampla, interdisciplinar, comprometida,
educacional. portanto, com aspectos culturais, científi-
Não obstante o discurso e metodologia cos, políticos, gerenciais e administrativos.
científica que se pretendeu implementar no Ao nos debruçarmos sobre a trajetória
Brasil, a conservação-restauração de acervos histórica da conservação e restauração de
em papel no Brasil foi interpretada, ao lon- papel no Brasil, por meio de diferentes fios
go das cinco últimas décadas do século narrativos, concluímos, à luz do pensamen-
passado, como uma prática curativa, pon- to bourdieusiano, os esforços empreendi-
tual e intervencionista, voltada para o bem dos pelos agentes sociais no sentido da
cultural deteriorado. O conservador-restau- “criação de campo simbólico”, da “inven-
rador de papel era concebido como um in- ção de uma categoria social” e “às lutas
divíduo paciente, meticuloso e dotado de por formas de classificação social”, forja-
habilidades manuais e artísticas – da em meio: à apropriação do conhecimen-
notadamente oriundo da formação acadê- to científico como base normativa da dis-
mica em Artes Plásticas - e sua atuação es- ciplina, à implantação de laboratórios e
tava caracterizada por um fazer operacional, de núcleos de conservação e restauração, à
bem como por um labor silencioso e isola- criação de associações de representação da
do em laboratórios de conservação e restau- classe, à elaboração de código de ética, à
ração. Esta prática reducionista deve ser ex- implantação da graduação universitária em
tinguida e atualmente pode-se constatar o conservação e restauração de bens cultu-
direcionamento para uma linha de menor rais e à luta pela regulamentação da pro-
intervenção, além do chamamento ao diá- fissão do conservador-restaurador de bens
logo no planejamento de trabalho norteado, culturais no País.
165
Anais | Congresso Abracor 2009
166
Anais | Congresso Abracor 2009
CARVALHO, Humberto Farias.
Conservador-restaurador e arte educador. Mestrando em artes
visuais da linha de pesquisa crítica e história da arte UFRJ.
humbertofarias@hotmail.com
1
DANTO, Arthur C.
Considerações acerca da possibilidade de Após o Fim da Arte: a
arte contemporânea e
os limites da história.
conservação de arte contemporânea. São Paulo: Odysseus
Editora, 2006. p.
2
VIÑAS, Salvador
Muñoz. Teoría
Contmporánea de la
Restauración. Madrid:
Esta comunicação pretende abordar as consequências, os efeitos do tempo sobre as obras de Editorial Síntese, 2004.
p. 80, tradução nossa.
arte contemporânea, e de que maneira pensar a conservação e a restauração destas. 3
VIÑAS, op. cit. , p. 18.
Palavras-chaves:
Passagem do tempo; conservação; arte contemporânea. Utilização de datashow.
IL. 1. Fotografia. Mira Schendel, têmpera e folha de ouro sobre ges- IL. 2. Fotografia. Mira Schendel, têmpera e folha de ouro sobre ges-
so e madeira sem título 1987. Observação, fotografia realizada após so e madeira sem título 1987. Fotografia realizada sob microscópio
a restauração. FONTE: Fotografia do autor. de luz polarizada ampliada 200x. FONTE: Fotografia do autor.
168
Anais | Congresso Abracor 2009
11
Dentro da análise
mada pictórica. Acreditamos que um con- de transgressão realizado pela arquitetura na semiológica, significado é
servador/restaurador, seguindo os postula- natureza como dilaceração da superfície da uma dimensão do signo que
se apresenta como conceito,
dos da teoria de Brandi, faria retoques nas terra. Smithson valida o fetichismo do relativo a uma determinada
cultura.
áreas de perda, de modo que pudessem ser material oriundo da natureza, e propõe a 12
FOSTER, Hal; KRAUSS,
reconhecidos, para não se criar um “falso “fissura”13 como possibilidade maior de Rosalind; BOIS, Yve-Alain;
BUCHLOH, Benjamin H. D.
artístico”. Na folha de ouro nada se faria, desvincular a matéria ao objeto de arte. A Arte desde 1900. Madrid:
Ediciones Akal, 2006. p.
pois é importante para a instância histórica desmaterialização do objeto físico para 505-508.
13
SMITHSON, Robert. Uma
preservar a passagem do tempo sobre o Smithson significa que nada é sólido, tudo Sedimentação da Mente:
material, também com o intuito de não se é permeável. Em um de seus trabalhos mais projetos da terra. In:
FERREIRA, Gloria;
criar um “falso artístico”. significativos a Spiral Jetty (IL. 3.), consiste COTRIM, Cecília (orgs.).
Escritos de Artistas: anos
É possível que Greenberg ficasse satis- em um grande deslocamento de enormes 60/70. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2006. p. 191.
feito com o posicionamento de Brandi, e quantidades de rocha e terra que se projeta 14
KRAUSS, Rosalind.
até mesmo com o tratamento do pseudo- da margem para o interior sobre um grande Caminhos da Escultura
Moderna. São Paulo: Martins
restaurador que aplicou tinta (PVA) sobre a lago salgado em forma de espiral. Fontes, 2001. p. 336.
VALLE, Ângela do
Departamento de Eng. Civil CTC- UFSC
Palavras-chave:
Patrimônio Cultural; Identificação anatômica; História; Arte Sacra.
It The art sacra “Escape for Egypt” is a valuable artistic workmanship for the religious
patrimony of the State of Santa Catharina. It cut in wood, policromada and golden, acquired
in 1902 pela Cathedral Metropolitan of Florianópolis, coming da region do Tirol na
Austria.It is known as being a sculpture executed in wood “tília Grandisflora”. To inquire
if this affirmation, executed analyses with the objective to identify its botanical species,
The examinations and analyses for the anatomical identification whom it made possible
to prove the species used in the Cut is a unit of gimnosperma- “pinacea” species is not a
unit of angiosperma- “tiliacea” .
For the patrimonial preservation, it is important to carry through analyses to the types of
materials that compose the patrimonial workmanships, therefore this it determines its
patologias, influences in the procedures of conservation and restoration of the cultural
goods, minimizes the degradation processes
Key-words:
Cultural patrimony; Anatomical identification; History; Art sacra.
1 INTRODUÇÃO
A centenária imagem “Fuga para o Egito” Florianópolis, um conjunto esculpido em
é uma das mais belas e valiosas obras sa- madeira feito pelo “artífice Demetz”, de
cras que compõem o acervo de bens cultu- “Gröden”, no “Tirol” Austríaco, hoje Itá-
rais móveis do Estado de Santa Catarina. lia, representa a cena bíblica da “Fuga para
Em “30 de maio de 1902” Foi adquirida o Egito”, a obra é entalhada em madeira
pela Catedral Metropolitana de “Tília Gransdiflora” e o “Pe. Francisco Topp
173
Anais | Congresso Abracor 2009
1
Entrevista realizada em
18 de agosto de 2005,
inaugura a imagem que custou 2 contos” era a prática que se tinha conhecimento na
onde Pe. Pedro Koheler (Livro tombo II- 1902 a 1930, p. 09). época. O produto aplicado durante o ba-
declara:
“quanto a esta imagem Esta obra foi esculpida em dois blocos de nho reagiu ao longo do tempo deixando um
de Nossa Senhora do
Desterro, conhecida madeira de procedência européia, executa- aspecto escurecido sobre a policromia e
também como Fuga para o
Egito, de Hans Demertz,
da por Ferdinand Demetz da Academia douramento da imagem, que por muito tem-
de Greden, no Tirol, Gröden- Áustria. É uma talha em madeira, po pensou ser o seu aspecto natural da obra.
Áustria, por mais
pesquisa que eu tivesse policromada e dourada, um dos blocos é a Ao serem realizadas prospecções em
feito nos meus estudos
para aquele folheto, que imagem de São José caminhando, (dimen- 2005, observou-se que é possível recuperar
levei ao conhecimento do
Osvaldo Rodrigues
sões: 1.96 X 81 X 76 cm (altura x largura X a policromia e o douramento da obra, ape-
Cabral e do prof. Osvaldo profundidade), o outro bloco representa Nos- sar de existirem desgastes, craquelês, inter-
Pauli – são historiadores,
e mais um outro professor sa Senhora e o Menino Jesus montados em venções inadequadas e perdas pontuais.
de história, então eu
procuro ser, eu acho que um burro (dimensões: 2.31 X 1.67 X 63 cm Com o objetivo de devolver seu aspecto
os dados históricos devem
ser precisos; não posso
(altura x largura X profundidade). Ela está cromático original da policromia e do
colocar filosofia do exposta na nave central da Catedral, com douramento, além de eliminar o ataque re-
achismo; então, não
encontrei nenhum dado de placa de identificação fixada ao seu lado. corrente de insetos xilófagos, pretende-se
quando esta imagem teria
vindo para o Brasil.
Na década de 1950, sua estrutura estava executar um processo de restauração nesta
Alguns acham ser do bem comprometida pela infestação de in- imagem, que ocorrerá durante o conjunto
século dezoito; não
sabemos. O fato é que setos xilófagos. de obras de intervenção que estão em anda-
temos um registro que ela
veio aqui para Para tentar eliminar esta patologia a ima- mento desde 2005 em todo o complexo da
Florianópolis em 1902.
Portanto, ela está aqui em
gem foi submersa em um tanque onde rece- Catedral Metropolitana de Florianópolis e
Florianópolis há 103 anos beu um banho com produtos químicos. Esta seu acervo sacro.
e ela é em madeira, Tília
Grandiflora – Lindenhous
– em alemão, Lindenhous 2 AFIRMAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE A ESPÉCIE DA
é bonito – madeira bonita.
E eu soube, mais ou
MADEIRA QUE COMPÕE A TALHA
menos que havia uma,
esta, uma grande As afirmações aqui apresentadas servem dois blocos de cedro”. (Diagrama, 2005,
indústria, na Áustria, que,
na época, confeccionavam como justificativa para a pesquisa de iden- p.02). (grifo nosso).
imagens; agora, isto devia
se pesquisar lá para tificação anatômica da madeira, que é o Outro enfoque que merece esclarecimen-
saber de quando mais ou
menos... desde quando
suporte da obra sacra e demonstra que his- to é em relação ao termo popularmente usa-
começou esta indústria, toricamente a informação divulgada com do para denominar esta obra como uma es-
quem sabe eles teriam
algum dado sobre esta relação à espécie botânica da madeira, es- cultura, mas o correto seria chamá-la de ta-
imagem que é tão
admirada”. tavam equivocadas. As afirmações históri- lha, pois segundo ÁVILA (1996, p. 176) e
cas referentes a “Fuga para o Egito”, são: Damasceno (1987, p. 42) a designação ta-
- “obra entalhada em madeira “tília lha, que faz parte do conjunto referencial das
Grandisflora” (SALLES, 1995, p. 49)² . esculturas e geralmente é executada em ma-
- “[...]é em madeira, Tilia grandiflora – deira, se refere à obra entalhada onde a re-
Lindenhous – em alemão, Lindenhous é presentação gráfica tem só uma face e o ver-
bonito, madeira bonita”.( entrevista: Padre so é desbastado ou entalhado. E o termo es-
Pedro Koheler, 18/08/2005)¹. cultura é referente à representação gráfica
- Técnica-escultura em dois blocos de ma- tridimensional (exemplo: estátua), em que
deira “Tília Grandifolia” dourada e policromada se pode observa frente e verso com represen-
(placa de identificação ao público, exposta na tação da forma e da volumetria esculpida.
nave centra da Catedral). (grifo nosso) Mas o enfoque principal da pesquisa tra-
- “[...] escultura “Fuga para o Egito” do ta da identificação anatômica da madeira,
artista tirolês Demetz, que apresenta em como veremos a seguir.
3 OBJETIVO
O Objetivo desta pesquisa é identificar a espécie de madeira da talha, por meio de
análise macroscópica e microscópica, coletando assim dados relevantes para os procedi-
mentos de restauração da obra e esclarecer algumas denominações históricas.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos utilizados durantes 3. Coleta de amostras;
esta pesquisa, foram: 4. Análises Laboratoriais- Identificação
1. Pesquisa Histórica da obra; anatômica da madeira;
2. Diagnóstico do estado de conservação; 5. Síntese das Informações Coletadas.
174
Anais | Congresso Abracor 2009
2
Em 1902 era anexado
5 Diagnóstico do estado de conservação ao acervo da Igreja um
conjunto esculpido em
Arriaga (2002) defende que: “[...] o pri- desgaste; fissuras; desprendimentos pontu- madeira pelo artista
Joham Demetz, de
meiro passo antes de uma intervenção e ais; pequenas perdas generalizadas; áreas Groding uma cidade do
conhecer seu estado para definir o tipo de com desgaste. Tirol Austríaco, hoje
Itália. A obra entalhada
atuação e também conhecer as patologias - Douramento: com oxidação; acúmulo em madeira “tília
Grandisflora”
que afetam as estruturas[...]”. A mesma re- de sujidade de forma generalizada (poeira, representa a cena
bíblica da “fuga para o
comendação se manifesta na Carta de Res- excremento de insetos); pequenas fissuras; Egito”, quando José
tauro de 1972 – Itália (CURY, 2000): áreas com desgaste; pequenas perdas gene- tangenciando o burrinho
transportava Nossa
“[...] a primeira operação a realizar, antes ralizadas. Senhora e o Menino
Jesus. A obra é
da intervenção, em qualquer obra de arte - OBS: ocultamento da superfície por executada em dois
blocos de madeira e
pictórica e escultórica, é um conhecimento substâncias não identificada, que com o segundo peritos que
cuidadoso de seu estado de conservação. Em passar do tempo empregou um aspecto es- examinaram seu valor
artístico é incalculável.
tal reconhecimento se inclui a comprovação curo a imagem. Representa uma
relíquia do estilo
dos diferentes extratos materiais que com- Com base no diagnóstico efetuado perce- barroco e uma das
põem a obra [...] e a determinação das dife- beu-se a necessidade de averiguar o suporte obras artísticas mais
valiosas do patrimônio
rentes épocas através das estratificações.” (madeira) que constitui a imagem para en- religioso do estado de
Santa Catarina
Isto demonstra a importância do diagnósti- tender os motivos da infestação generaliza- (SALLES, 1995, p. 49).
co e da inspeção como ações pré-intervenção da no interior da obra, mas que pouco afe-
nos processos de conservação-restauração. tou as policromias e o douramento, estes
Em setembro de 2005, foram realizados foram afetado mais esteticamente pelo ba-
procedimentos investigativos através da ins- nho químico do que pelo ataque de insetos
peção visual e de percussão, para análise xilófagos.
do estado de degradação da obra sacra, com Outra precaução em relação à obra, é que
o objetivo de identificar as patologias, onde se não forem executados procedimentos
constatou-se: adequados de intervenção, poderá colocar
- Suporte (madeira): acúmulo de poeira em risco a integridade da obra, pois sua
de forma generalizada; galerias e excremento estrutura interna está totalmente tomada por
de insetos xilófagos generalizada; metais galerias de insetos xilófagos e as interven-
oxidados (pregos); preenchimento inadequa- ções inadequadas que foram acontecendo
do com argamassa; pequenas perdas gene- ao longo do tempo, deixaram resquícios de
ralizadas; áreas com desgaste. variados materiais incompatíveis a estrutu-
- Camada pictórica (policromia): acúmulo ra física da madeira e das policromias, alte-
de poeira de forma generalizada; craquelês; rando o aspecto original da obra.
175
Anais | Congresso Abracor 2009
usadas na construção. ou perpendicular aos anéis de crescimento;
Por se tratar de um organismo heterogê- - Longitudinal tangencial (T):
neo constituído por células disposta e orga- tangenciando os anéis de crescimento, ou
nizadas em diferentes direções, o aspecto da perpendicular aos raios.
madeira varia de acordo com a face observa- “Além da aparência, também o compor-
da. Para estudos anatômicos, adotam-se os tamento físico-mecânico da madeira difere
seguintes planos convencionais de corte: em cada um destes três sentidos, fenômeno
- Transversal (X): perpendicular ao eixo conhecido como anisotropia. Por apresen-
da árvore; tar essa peculiaridade, a madeira é um ma-
- Longitudinal radial (R): paralelo aos raios terial anisotrópico” (BURGER, 1991, p. 38).
7. Conclusão:
Acreditava-se que a espécie fosse “Tilia te na talha, pois essa patologia encontra-se
grandiflora”, da família Tiliaceae, popular- ativa na estrutura da madeira. Uma caracte-
mente chamada de “tilia”, mas, por meio rística a ser considerada é que as coníferas
das análises de identificação anatômica da são geralmente de massa específica mais
madeira, foi possível constatar que a espé- baixa e absorvem melhor os produtos quí-
cie de madeira da talha não é um exemplar micos curativos.
de Tiliaceae, mas sim um exemplar de Portanto fica comprovado a importância
gimnosperma uma espécie da família da pesquisa e identificação dos materiais e
Pinaceae. É importante mencionar que por como isso pode contribuir em vários cam-
meio de análises posteriores mais detalha- pos de atuação e até esclarecer afirmações
das, envolvendo amostras adicionais, será históricas. No caso da preservação
possível identificar a espécie botânica for- patrimonial, é importante caracterizar a
necedora da madeira, determinando assim tipologia dos materiais para, com isso, com-
a espécie da madeira que serve como su- preender suas reações ao longo do tempo e
porte para a policromia e o douramento. prescrever os tratamentos mais indicados nos
Com base na estrutura anatômica da ma- processo de intervenção, pois a composi-
deira é possível fazer a indicação do produ- ção dos materiais determina o comporta-
to apropriado no combate a infestações de mento da estrutura física das obras de arte
insetos xilófagos, problema que é recorren- perante as patologias, influindo nos proce-
176
Anais | Congresso Abracor 2009
dimentos mais adequados de conservação- minimizar os processos de degradação, di-
restauração dos bens culturais. minuir os custos das restaurações ou até
Com o conhecimento dos materiais e suas evitá-las, e também promover a preserva-
reações pós-intervenções é possível ção do patrimônio cultural brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRIAGA, Francisco. et.al. Intervención en estruturas de madera. Madri: Asociación de Intervención Técnica de las Industrias de la Madera e
Corcho (AITIM), 2002.
ÁVILA, Afonso. Barroco mineiro: glossário de arquitetura e ornamentação. 3. ed. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos
Históricos Culturais, 1996.
BURGER, Luiza Maria e RICHTER, Hans Georg. Anatomia da madeira. São Paulo: Editora Nobel,1991.
CATEDRAL METROPOLITANA DE FLORIANÓPOLIS. Histórico, Florianópolis, 2001. Neste site foi pesquisado sobre datas e fatos históricos
referentes à Catedral Metropolitana de Florianópolis. Disponível em: <http:cat.arquifloripa.org.br/história>. Acesso em: 28 ago 2006, 08:45
CURY, Isabelle (Org.). Cartas patrimoniais. 2ª ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000.
DAMASCENO, Suely (org.). Glossário de Bens Móveis (Igrejas Mineiras). Ouro Preto: Instituto de Artes e Cultura / UFOP, 1987.
Diagrama- Relatório do Projeto de intervenção na cobertura da Catedral Metropolitana de Florianópolis, Arquivo da Catedral Metropolitana de
Florianópolis, 2005.
LIVRO tombo II. Florianópolis, 1896-1902. Vigário Padre Francisco Topp. Manuscrito.
SALLES, Sandra Makowieck. As imagens sacras de valor histórico existentes nas igrejas e capelas de Florianópolis: séculos XVIII e XIX.
Florianópolis: UDESC/ CEART, 1995.
MAINIERI,Calvino e CHIMELO, João Peres. Fichas de Características das Madeiras Brasileiras. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas,
Divisão de Madeira- Publicação IPT, nº 1791, 1978
SERCK-DEWAIDE, Myriam, COELHO, Beatriz( trad.). Breve história da evolução dos tratamentos das esculturas. Boletim do Centro de Estudos
da Imaginária Brasileira- CEIB. v. 9, nº31, p. 3, Belo Horizonte, jul-2005.
177
Anais | Congresso Abracor 2009
178
Anais | Congresso Abracor 2009
QUITES, Maria Regina Emery
Profa. Dra. de Conservação-Restauração de Esculturas
Policromadas em Madeira
Centro de Conservação Restauração de Bens Culturais
Móveis - Cecor - Escola de Belas Artes Universidade
Federal de Minas Gerais
1
QUITES, 2006.
CONSERVAÇÃO-RESTAURAÇÃO DE IMAGENS
DE VESTIR: CONCEITOS, CRITÉRIOS, ESTADO
DE CONSERVAÇÃO E CAUSAS DE
DETERIORAÇÃO
É importante enfatizar uma revisão dos conceitos sobre esta relegada categoria escultórica,
bem como, o resgate e preservação deste grande acervo, demonstrando sua relevância para
a história da arte. Estas imagens são uma particular interpretação da escultura devocional
e, principalmente, uma importante manifestação da cultura brasileira, que deve ser valo-
rizada e preservada. Na preservação de uma imagem de vestir são fundamentais estudos
metodológicos que visem uma compreensão global de seus aspectos conceituais, históri-
cos, estéticos, iconográficos, sociais, religiosos e técnicos. Somente este estudo funda-
mentado justifica uma proposta criteriosa de preservação deste acervo.
It is important to emphasize the need for a revision of the concepts of this less well
known sculptural category, as well as, the rescue and preservation of this important
collection, demonstrating their relevance for art history. These images are a particular
interpretation of devotional sculpture and, mainly, an important manifestation of
Brazilian culture that should be valued and preserved. For the preservation of “de
vestir” images, methodological studies which aim at the global understanding of their
conceptual, historical, aesthestic, iconographic, social/religious and technical aspects
are of fundamental importance. Only this well-founded study justifies a judicious
proposal for the preservation of this collection.
PALAVRAS-CHAVE:
imagem de vestir, escultura, conservação-restauração
INTRODUÇÃO
Este trabalho faz parte de uma tese de fora da Igreja como também que sejam ador-
doutorado1 (Endnotes) que teve como ob- nadas de forma escandalosa, dentro da tôni-
jetivo primordial aprofundar o estudo so- ca geral, que diz respeito à decência das ima-
bre as imagens de vestir, considerando que gens sagradas. Em particular, as Constituições
esta categoria escultórica tem sido quase proíbem que se façam novas imagens de ves-
sempre negligenciada pelos pesquisado- tir, mandando que as imagens de vulto sejam
res. Sua grande aceitação no Brasil, através feitas de corpos inteiros, de maneira que se
dos séculos, é fundamental para entender escusem os vestidos, por serem assim mais
o seu grande valor, como imagem decentes. E é ordenado que as imagens de
devocional e, consequentemente, como vestir antigas, sejam adornadas de forma que
importante documento histórico e social não se possam notar indecências nos rostos,
de nossa cultura. vestidos ou toucados. Apesar desta proibição,
Relembremos que o Concílio de Trento, o seu uso continuou normalmente e novas
no capítulo referente às “Sagradas Ima- imagens são encomendadas nos séculos XVIII
gens”, e consequentemente as Constitui- e XIX. Nas Constituições, há recomendação
ções Primeiras da Bahia2, de 1707, proí- aos visitadores e demais ministros, que fa-
bem que as imagens sejam levadas para çam exames nas sagradas imagens, se há al-
179
Anais | Congresso Abracor 2009
2
CONSTITUIÇÕES da
guma indecência, erro ou abuso. Nos rela- tes, feitas em tecidos importados e acessó-
Bahia, 1853, v. 4, p. 256.
3
TRINDADE, 1998. tos das Visitas Diocesanas de Dom Frei José rios, que eram renovados a cada ano, du-
4
TREXLER, 1991. p.
195-231.p.195 da Santíssima Trindade3 que abarca o perío- rante as procissões ou festas. Finalmente,
5
BAZIN, 1963. p. 194.
do de 1820 e 1835, na Diocese de Mariana, podemos ainda questionar a alcunha de
não encontramos nenhuma proibição às imagens populares, longe de qualquer eru-
imagens de vestir, no entanto, há sempre dição. Podemos constatar sim, que existem
uma preocupação de ressaltar a “decência” muitas imagens de fatura popular, muitas
das imagens e o seu caráter de “devota e vezes, prejudicadas pelo excesso de cama-
respeitável”. das de repinturas sobre as carnações. Entre-
tanto encontramos imagens de vestir de fa-
Queremos fazer algumas considerações tura primorosa, principalmente consideran-
sobre os “estigmas” que as imagens de do as cabeças, mãos e, em alguns casos,
vestir carregam. Em primeiro lugar, sua também os pés. Esculturas inclusive execu-
função essencialmente processional é tadas por bons mestres, como por exemplo,
questionável, pois podemos encontrar seu Aleijadinho.
uso também em retábulos, principalmen- Bazin5 foi instigante ao questionar se as
te em Minas Gerais, bem como seu tama- imagens de vestir constituíam a essência
nho reduzido (miniaturas), para serem uti- ou a decadência da imagem devocional
lizadas em oratórios, o que demonstra, cla- no Brasil. Apesar de não responder objeti-
ramente, outras funções devocionais. Em vamente à sua própria pergunta, acredita-
segundo lugar, seu uso apenas por ques- mos que esta imaginária é a essência da
tões de realismo e semelhança também imagem devocional na cultura religiosa
pode ser relativizado. Concordamos com brasileira, se considerarmos que possuem
Trexler4 , acreditando que as motivações características que, a tornam mais afeitas
do uso de vestir as imagens, nunca tenham à aproximação do devoto, pois o fiel dela
funcionado apenas dentro de um único se aproxima, a ponto de trocar sua roupa,
objetivo, o de tornar estes objetos mais colocar sua cabeleira, doar uma veste,
convincentes, e sim ultrapassarem o dese- passar um perfume, usar suas roupas e
jo do realismo visual. Durante milênios o acessórios como relíquias sagradas, pedin-
fato de “vestir as imagens” foi uma parte do ou agradecendo um milagre alcança-
comum da vida lúdica, da vida espiritual do. O santo deixa de ser um intermediá-
e cultual (devocional) de muitos povos. O rio para compartilhar “humanamente” da
ato devocional que levou e ainda leva o vida de seus devotos e em troca recebe
fiel a vestir uma imagem, doar uma peru- roupas, jóias, festas, etc.
ca ou uma veste é parte integrante de sua Sem pretender fazer uma apologia às
relação como o sagrado, e mais importan- imagens de vestir, considero que elas pos-
te do que simplesmente, poder lhe pare- suem uma técnica e estética próprias, di-
cer mais real. Em terceiro lugar, também ferente de outras categorias escultóricas,
queremos questionar sua condição de es- e sua função devocional faz com que sua
cultura de menor valor, mais econômica e utilização seja múltipla, servindo a
de decadência em relação à escultura retábulos, procissões, conjuntos
policromada em madeira. Se as imagens cenográficos efêmeros, sermões e mesmo
de vestir foram utilizadas desde o século imagens miniaturas que provavelmente
XVI até o século XX, podemos inferir que serviam a oratórios e outros fins
não são uma forma escultórica de deca- devocionais. Enfim, são essenciais ao tea-
dência, ou seja, sempre foram usadas tro sacro da arte religiosa.
concomitantemente às imagens de talha Sob o aspecto da técnica construtiva
inteira douradas e policromadas. As ima- elaboramos uma classificação fundamen-
gens de vestir, segundo nossa classifica- tada na pouca bibliografia existente e no
ção, possuem várias modalidades, desde exaustivo trabalho feito in loco, nas ima-
aquelas que têm toda a definição do corpo gens estudadas. Ressaltamos que esta
ou anatomizadas, até aquelas com gradea- classificação tem por base definir a ter-
dos de ripas, denominadas de roca. Consi- minologia “imagens de vestir” como um
deramos sim, que há uma economia e sim- grande grupo que possui subdivisões, que
plificação nesta diferenciação entre as ima- classificam as esculturas de acordo com
gens de vestir e que, muitas vezes, o traba- o seu sistema construtivo do mais com-
lho mais primoroso era executado apenas plexo ao mais simplificado. As imagens
na cabeça, mãos e pés. Podemos observar, de vestir, de acordo com sua estrutura
que seus custos são relativos, se considerar- formal, podem ser subdivididas em qua-
mos a economia com a talha e a policromia, tro grupos: “imagens cortadas ou desbas-
180 mas contabilizarmos os gastos com as ves- tadas”, “imagens de corpo inteiro ou
Anais | Congresso Abracor 2009
anatomizadas”, “imagens de roca” e roca é sempre uma imagem de vestir, mas
Figura 1
Intervenções
amarrando os
“imagens de corpo inteiro/roca”. nem sempre uma imagem de vestir é uma braços
Figura 2
Intervenções
Enfatizamos então que “uma imagem de imagem de roca”. nas articulações
dos braços
Figura 3
Deterioração
ESTADO DE CONSERVAÇÃO / CAUSAS DE DETERIORAÇÃO nas ripas
A imagem de vestir está inserida dentro locação de ganchos para fixar o braço, quan-
de um contexto maior que é o das escultu- do a articulação não possui mais a eficácia
ras policromadas em madeira, no entanto, necessária para manter os braços na posi-
apresentando deteriorações específicas, de- ção desejada. Outra intervenção feita para
vido a suas características próprias, tais manter os braços na posição desejada, é
como: suporte - que, no nosso caso, é ba- amarrá- los com cordas em volta do pesco-
sicamente constituído pela madeira; ço da imagem, o que dificulta o ato de ves-
policromia que na maioria das vezes é tir a escultura. Figura 1 e 2 É muito importante
esmerada somente nas carnações, cabelos, o conhecimento preciso da técnica utiliza-
bases, atributos ou mesmo uma policromia da na articulação, por-
simplificada, de uma cor única. E as ves- tanto a confeção de
tes naturais que geralmente são compos- fac-símiles destas pe-
tas de superposição de peças de tecidos ças é fundamental
variados, além de perucas, atributos, aces- para a pesquisa, pro-
sórios, andores, etc. piciando a compreen-
Em se tratando das imagens de vestir os são de sua funcionali-
problemas apresentados no suporte - ma- dade. No caso das
deira são basicamente aqueles que encon- imagens que possuem
tramos na escultura em geral, ou seja, de- articulações que, ori-
terioração biológica causada principalmen- ginalmente, foram co-
te por térmitas (cupins), sendo o ataque bertas por couro
de coleópteros (brocas) e fungos, mais ra- policromado, na mai-
ros. São também comuns, os problemas oria das vezes há ape-
de fissuras e rachaduras causados por pro- nas resquícios do cou-
blemas constitutivos ou por má condição ro original ou interven-
de conservação, como presença de muita ções grosseiras, feitas
umidade ou altas variações de umidade com o próprio couro
relativa do ar. ou com tecido. Como
Podemos afirmar que o problema mais o processo de coloca-
comum encontrado é a deterioração das ção do couro era feito
articulações. Esculturas que possuem arti- no momento da exe-
culações e que foram feitas para serem cução da carnação, são
manuseadas têm maior possibilidade de claros os exemplos, do
sofrerem problemas, se este manuseio é fre- resquício do couro ori-
quente, ou mesmo, se feito de forma ina- ginal sob a camada de
dequada, podendo forçar as peças ou sofrer preparação.
impactos mecânicos, que levam a várias Outro problema específico está relaciona-
deteriorações. As articulações são peças do às ripas de madeira que compõem a roca,
muitas vezes executadas com madeira mais geralmente feitas de madeira inferior à quali-
resistente, porém podem perder sua durabi- dade das partes mais importantes, sendo mais
lidade natural, se em más condições de susceptíveis aos ataques biológicos, às fratu-
conservação. É muito comum encontrarmos ras, e consequentemente às perdas. É muito
estas peças atacadas por insetos, emperradas, comum encontrarmos substituições de ripas,
sem movimento algum, quebradas, com evidenciando-se madeira
intervenções inadequadas e amarradas por diferente e mais nova.
cordas e fios de metal ou mesmo aparafu- Outro problema muito
sadas, quando estão desgastadas e sem fir- frequente é a falta de uma
meza. Encontramos articulações feitas com ou mais ripas, causando
madeira bastante resistente, como o desequilíbrio estrutural à
jacarandá, no entanto, devido ao esforço obra. São comuns tam-
sofrido, esta peça se rompeu. Há casos em bém, as intervenções ina-
que o ataque de térmitas é tão acentuado dequadas com pregos,
que a peça torna-se totalmente oca e sem arames, barbantes e pa-
resistência para executar a função para a qual rafusos prendendo as ri-
foi executada. Encontramos também a co- pas. Figura3
181
Anais | Congresso Abracor 2009
6
LÓPEZ, LE GAC,
RABELO, BARREIRO,
Por sua condição técnica, partes como Do ponto de vista técnico, as várias cama-
BAGLIONI, 2002, p. 272. cabeças, troncos, braços, antebraços, co- das de tintas aplicadas através dos sécu-
xas, pernas e pés podem ser soltos, encai- los, podem deturpar as características for-
xados por pinos ou fixados às ripas, ou mais originais da obra, escondendo a ta-
articulações e consequentemente estão su- lha. Camadas aplicadas mais recentemen-
jeitos aos mesmos problemas citados an- te, muitas vezes, por pessoa não qualifica-
teriormente, principalmente o seu do, se apresentam muito grosseiras e de
desmembramento, gerando muitas vezes qualidade inferior, muitas vezes deixando
perdas, ou substituição das peças. As ba- a imagem como uma “caricatura” do que
ses das esculturas sempre muito ela foi um dia: olhos esbugalhados, sobran-
simplificadas cumprem a função de fixar celhas pretas e grossas, lábios vermelhos
as imagens nos seus andores, e por isto, vivos e tintas escorridas. Estas camadas
são alvo de grande número de interven- grossas estão sujeitas à presença de
ções, apresentando muitos pregos, orifí- craquelês, desprendimentos e perdas da
cios, fraturas e perdas. Há também peças policromia, devido a variações de umida-
de reforço ou mesmo complementações de relativa.
de partes quebradas. A cabeça pode fazer As vestes em tecido natural são o mate-
parte do bloco do tronco ou ser um bloco rial mais frágil que compõem esta cate-
separado, nesta última condição, de ca- goria escultórica, portanto sujeitas a mai-
beça móvel, encontramos fraturas nos pi- ores deteriorações.
nos de encaixe, fixação inadequada com A indumentária em tecido está subme-
pregos, ripas e arames. Geralmente a ca- tida às alterações próprias dos têxteis:
beça possui mais de um orifício para co- sujidades, degradação fotoquímica de
locação de resplendores e uma infinidade corantes, perda de coesão devido à oxida-
de pequenos orifícios ou pontas de tachas ção das fibras, à ruptura de suas costuras,
ou alfinetes de metal, que eram coloca- ataque biológico segundo a natureza das
dos para fixar a peruca na cabeça, como fibras (vegetais ou animais), e também ao
podemos constatar através das radiografi- fator humano como rasgos e inserção de
as das imagens. Há, com muita incidên- elementos metálicos (alfinetes, tachas,
cia, rachaduras e fratura dos olhos de vi- ganchos), que por sua oxidação causam
dro, fragilizados por sua técnica e pelo manchas irreversíveis nos tecidos e con-
manuseio, se quebram facilmente, mui- tribuem para a deterioração das fibras.
tas vezes sofrendo intervenções, com Estas vestes formam parte substancial e
complementação de outros materiais, ou indissolúvel do aspecto formal destas es-
mesmo uma repintura recobrindo os olhos culturas, que têm a particularidade espe-
de vidro e escondendo a técnica original. cífica de serem vestidas e, portanto são
Também, devido ao manuseio, a face submetidas a tensões inerentes à função
seccionada para colocação dos olhos de que desempenham. 6
vidro pode se soltar e causar muitas inter- Quanto às cabeleiras naturais, ou pe-
venções com posteriores repinturas. O rucas, não encontramos nenhuma que ti-
tronco das imagens pode ter uma infini- vesse características de uma peça antiga,
dade de pregos, tachas e alfinetes que são são todas novas, e no geral estão
colocados para prender as vestes de teci- despenteadas, com os fios embaraçados
do no corpo. ou desfalcados. No entanto, as imagens
Quanto à policromia, que em geral se que mantém sua função devocional pos-
refere mais às carnações, podemos afirmar suem suas cabeleiras bem cuidadas e per-
que o problema principal são as repinturas. fumadas.
deveriam sempre estar “decentes”. O nú- substituição das vestes e a preocupação das
mero de intervenções, às vezes, é tão gran- ordens religiosas com a “decência” das
de que deforma a imagem, no entanto, imagens. Muitas vezes a substituição das
queremos questionar aqui o reconheci- vestes é também um ato de devoção, como
mento que os devotos têm desta imagem, constatamos ainda hoje na festa de São
que do ponto de vista do fiel, não são Roque em Mariana. É obvio que imagens
repinturas grosseiras, ou intervenções pos- “desativadas” do ponto de vista devocional
teriores, mas exatamente a forma como devem ter suas vestes preservadas, pois são
aquela imagem é venerada através dos legítimas da imagem, no entanto é inad-
séculos. Gostaríamos de argumentar a fa- missível a um restaurador impedir uma tro-
vor da manutenção de repinturas em ima- ca de vestes de uma imagem devocional
gens devocionais de vestir, não necessari- “ativa”, pois em primeiro lugar está a fun-
amente por seu valor histórico em detri- ção religiosa para a qual ela foi criada.
mento de seu valor estético, mas princi- Apesar de ser um objeto de valor históri-
palmente por seu valor devocional. Res- co e artístico, não cabe ao conservador ti-
taurar uma imagem de devoção, em bus- rar seu mérito devocional.
ca de seus valores estéticos e originais e
devolvê-la irreconhecível para seus fieis é
inconcebível para uma restauração
criteriosa. Outra consideração, diz respei-
to à pequena área que fica visível sob as
vestes e peruca, que consequentemente, não
demanda uma remoção de repintura, devi-
do principalmente à visão de conjunto da
obra.
É raro encontrarmos alguma veste mais
antiga preservada, mas temos como exem-
plo, no Museu Sacro, no Rio de Janeiro, a
imagem de Nossa Senhora da Conceição,
que apresenta rica veste possivelmente do Constatamos em várias localidades estu-
século XIX. Figura 4 É necessário que haja um dadas, o desmembramento de todo um acer-
empenho por parte dos profissionais da con- vo, transformando as imagens em fragmen-
servação no Brasil para tos desconexos, devido a perda de sua fun-
que se faça um traba- ção devocional. Figura 5 É possível também,
lho de valorização encontramos em museus ou até mesmo
deste acervo, abandonadas em depósitos nas igrejas, ima-
conscientizando os gens de vestir sem suas vestes ou perucas,
detentores deste isto demonstra uma atitude de “menor va-
patrimônio para sua lor” dos responsáveis, em relação a estas
adequada conserva- imagens. As imagens de vestir são exibidas
ção, mesmo que em “nuas” e sem suas perucas, ostentando para
muitos casos, tais ves- seus visitantes ou fiéis, sua engenhosa e
tes das imagens, tra- curiosa técnica de construção, no entanto,
dicionalmente poderi- elas não foram concebidas para serem apre-
am ser substituídas, ciadas desta forma. Mesmo fora de seu con-
por ocasião das festi- texto religioso, sua concepção original im-
vidades. Mesmo que plica a presença de vestes, perucas, etc. Jus-
as comunidades fa- tifica-se que tais imagens sejam apresenta-
çam questão de subs- das ao público como um “esqueleto” ou
tituir as vestes todo ano, por várias ques- um “manequim”, quando já perderam sua
tões ligadas à devoção, podemos neste caso função devocional? Creio que quando se trata
fazer um trabalho de valorização das vestes de fragmentos não temos o que discutir, no
substituídas, na intenção de mostrar que elas entanto, quando toda sua estrutura está pre-
podem ser conservadas, preservando a me- sente e é reconhecida em seus aspectos
mória das ofertas dos devotos através dos iconográficos, estéticos e históricos, não
anos. vejo impedimentos para que esta veste seja
No geral, no acervo estudado, temos feita, como de costume e através dos sécu-
como premissa básica a substituição das los. Portanto, considero que a 183
Anais | Congresso Abracor 2009
complementação das vestes e perucas dentro vestir. O diagnóstico correto analisa as possí-
de um contexto religioso ou mesmo veis discrepâncias entre a condição física do
museológico se justifica plenamente. Contu- objeto e as possíveis alterações em seus signi-
do, não descartamos a possibilidade da expo- ficados, analisando o nível de interferência e
sição de sua curiosa técnica construtiva even- questionando se tal intervenção é justificá-
tualmente, ou mesmo, de fazer uma demons- vel. A análise de possíveis discrepâncias de-
tração paralela através de documentação fo- verá considerar fatores estéticos, históricos, de
tográfica. autenticidade e de funcionalidade. E acredi-
Consideramos que, em se tratando de ima- tamos que partindo desta metodologia pode-
gens devocionais o conservador restaurador mos pensar critérios para a imagem de vestir,
deve ter o maior cuidado ao estudar, estabe- fundamentados em seus reais significados.
lecer critérios, ou mesmo praticar a conserva- E acreditamos que, partindo de uma
ção-restauração das imagens de vestir, pois metodologia de trabalho, podemos estabe-
para seus fiéis, na maioria das vezes, o im- lecer critérios fundamentados no real signi-
portante é a manifestação da imagem que o ficado da imagem de vestir, que é uma parti-
devoto venera, a quem pede ou agradece suas cular interpretação da escultura devocional
graças alcançadas. e principalmente uma importante manifes-
É importante elaborar um modelo para pen- tação de nossa cultura, que deve ser valori-
sar a conservação-restauração das imagens de zada e preservada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAZIN, Germain. Aleijadinho e a escultura barroca no Brasil, Rio de Janeiro: Record, 1963.
CONSTITUIÇÕES Primeiras do Arcebispado da Bahia. Por Dom Sebastião Monteiro da Vide. São Paulo: Typographia 2 de dezembro,
1853. 5 v.
FLEXOR, Maria Helena Ochi. Imagens de vestir na Bahia. In: COLÓQUIO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA ARTE, 5, 2001, Faro,
Portugal. Actas... Faro: Universidade do Algarve, 2001. p. 275-293.
GÓMEZ Teresa; CRUZ, Raimundo; POZA, Isabel. The conservation and restauration of a processional image: the Christ of the expiration.
In: CONSERVATION OF IBERIAN AND LATIN AMERICA CULTURAL HERITAGE. 1992, London: IIC, 1992. p.21-28.
GONZÁLEZ GÓMEZ, Juan Miguel; RODA PEÑA, José. Imaginería procesional de la Semana Santa de Sevilla. Sevilla: Universidad de
Sevilla, 1992. 228 p.
GONZÁLEZ LÓPEZ, Maria José. La conservación de la escultura policromada en ambiente eclesiástico: problemática y mantenimiento.
Boletim ADCR. Lisboa, n. 10/11, p. 12-20, set. 2001.
SILVEIRA, Luciana. Reflexões sobre a prática de conservação- restauração de têxteis no Brasil In: tecidos e sua conservação no
Brasil: Museus e Coleções. São Paulo: Museu Paulista da USP, 2006. p. 65
LÓPEZ, Maria José González et al. A escultura policromada religiosa dos séculos XVII e XVIII: estudo comparativo das técnicas,
alterações e conservação em Portugal, Espanha e Bélgica. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE LISBOA Policromia: a escultura
policromada religiosa dos séculos XVII e XVIII: estudo comparativo das técnicas, alterações e conservação em Portugal, Espanha e
Bélgica., 2002, Lisboa. Actas... Lisboa: Instituto Português de Conservação e Restauro, 2002. p.272-279.
PALOMERO PARAMO, Jesús Miguel. Guia de la Macarena: Hermandade de Nuestra Señora Del Santo Rosário, Nuestro Padre Jesús
de la Sentencia y Maria Santisima de la Esperanza Macarena. Sevilla: Guadalquivir Ediciones, 1993. 69 p.
PAULA, Teresa Cristina Toledo de (Ed.). Tecidos e sua conservação no Brasil: museus e coleções. São Paulo: Museu Paulista da USP,
2006. 378 p.
QUITES, Maria Regina Emery. Imagem de vestir: revisão de conceitos através de estudo comparativo entre as ordens terceiras
franciscanas no Brasil. Campinas, 2006. Tese de doutorado apresentada à Universidade Estadual de Campinas. Orientador: Luciano
Migliaccio.
QUITES, Maria Regina Emery. A imaginária processional na Semana Santa em Minas Gerais: estudo realizado nas cidades de
Santa Bárbara, Catas Altas, Santa Luzia e Sabará. 1997. Dissertação (Mestrado em Artes) - Universidade Federal de Minas Gerais,
Escola de Belas Artes. Orientador: Beatriz Ramos de Vasconcelos Coelho.
TREXLER, Richard C. Habiller et deshabiller les images: esquise d’une analyse. In: DUNAND, Françoise; SPRESER, Michel; WIRTH,
Jean (Diret.) L’image et la production du sacré. Paris: Meridiens Klincksieck, 1991. p. 195-231.
TRINDADE, José da Santíssima, Dom Frei, Visitas pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade (1821-1825). Belo Horizonte:
Fundação João Pinheiro; Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 1998, 446 p. (Mineiriana, Série
Clássicos).
WEBSTER, Susan Verdi. Art and ritual in golden-age spain sevillian confraternities and the processional sculpture of holly week
New Jersey: Princeton University Press Princeton, 1998.
184
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliotecas
e Arquivos
185
Anais | Congresso Abracor 2009
186
Anais | Congresso Abracor 2009
ARAVANIS, Evangelia
Dra. em História pela UFRGS e conservadora-restauradora
voluntária do AHRS, Porto Alegre – RS
BREITSAMETER, Sílvia M. J.
Bel. Direito URI-FW; Acadêmica de História PUC-RS;
Conservadora-restauradora voluntária do AHRS; Porto Alegre – RS
Palavras-chave:
MCSHJC e AHRS – restauração – documentação histórica
Key words:
MCSHJC e AHRS – restoration - historical documentation
Banho de limpeza
1 - Método elementar pesquisar o tipo de costura, material em-
Colocar água quente na cuba (60º). Para pregado na confecção das capas, tipos de
cada litro de água, 1 g. de sabão ou sabone- papéis usados na obra original, para que se
te neutro ralado, duas colheres de sopa de pudesse proceder à restauração de determi-
CMC e 100 ml de álcool etílico, tudo mui- nadas obras.
to bem misturado. Mergulhar o documento Após a restauração dos documentos, eles
por 20min; se necessário, repetir a opera- quase sempre retornavam ao seu local de
ção. origem, pois se tratavam de obras raras e
2 – Banho de enxágue frequentemente pesquisadas pelos
Fazer passar o documento por banho de consulentes frequentadores do Arquivo.
água morna ou um pouco mais fria que a Mas, para uma melhor preservação, volta-
do banho anterior, para possibilitar a con- vam para o acervo em envelopes de papéis
tração gradativa das fibras e tirar o exces- adequados a sua conservação. Envelopes
so de sabão. Só então se passa para uma estes individuais, confeccionados com pa-
segunda cuba com água a temperatura péis com reserva alcalina e sob medida para
ambiente. Troque a água ao menos três cada obra.
vezes. Na busca de prevenir e retardar a degra-
3 – Banho de desacidificação dação natural dos documentos históricos,
Colocar água na cuba e adicionar e para uma melhor conservação e adequa-
hidróxido de cálcio ou carbonato de cálcio do manuseio das obras, o AHRS adotou
diluído de véspera, para decantar (para cada regras específicas para consultar as obras
litro de água, 1 colher de cafezinho). Mistu- do acervo, que foram repassadas aos
rar bem e colocar o documento de molho atendestes e destes aos consulentes, que
por 20 min. Se a água amarelar, deve-se re- consiste, basicamente, na obrigatoriedade
petir este banho com uma nova mistura. do uso de luvas de látex por parte do pú-
Quando não era seguro fazer a imersão, blico pesquisador, independente de ser
procedia-se à alcalinização através de obra rara ou não.
borrifadores manuais, deitando-se o docu- O acervo do AHRS consiste de fundos,
mento sobre papéis mata-borrão. que por sua vez trata-se de coletâneas par-
A finalidade é neutralizar a acidez do ticulares e públicas de determinados as-
papel, estabilizar o pH (ideal 7) e deixar suntos, pertinentes à história, cultura e tra-
uma reserva alcalina. dição do Rio Grande do Sul e Brasil. Algu-
Eram empregadas as técnicas à medida mas obras tratam de guerras, revoltas e
que as obras necessitavam reestruturação, revoluções nas quais o RS e o Brasil esti-
reforço de festo, carcelamento, enxertos, veram envolvidos. São obras raras e úni-
velaturas, laminação, etc. cas, que, sem a efetiva guarda e proteção
Por diversas vezes se fez necessário da instituição, perdem-se para sempre.
CONCLUSÃO
Nas duas instituições abordadas nesse tra- estão sob suas guardas.
balho, observamos que não há conservado- Os seus acervos, mesmo deteriorados,
res-restauradores efetivos ou que façam parte rasgados, ácidos e inadequados para ma-
do quadro de funcionários. Não existem nuseios e pesquisa, até porque são obras
profissionais preparados e designados a tra- únicas e raras, ainda assim são
190 tar e restaurar os documentos e livros que disponibilizados à pesquisa, e estão ao al-
Anais | Congresso Abracor 2009
cance do público. É rara a retirada de aces- se degradando diariamente, e não passa um
so do público a essas obras. dia que uma obra saia do acesso público
Quando são retirados para uma futura para a situação de fora de pesquisa por es-
recuperação e restauração, esta só acon- tar degradada e deteriorada. São obras que
tece pela boa vontade de voluntários e passam para a manutenção ou deixam de
funcionários de outros setores, os quais, circular por não se prestarem mais ao ma-
por vezes, possuem um pequeno conhe- nuseio e a leitura.
cimento e, mesmo assim, doam parte de Testemunha desta realidade é o fato de
seus tempos ao salvamento da história. não haver no Estado, nem mesmo na Capi-
Em ambas as instituições observou-se tal, estabelecimentos comerciais que
uma maior preocupação na disponibilizem, de forma qualificada, papéis,
disponibilização ao público das obras dos couros, materiais de uso e consumo especí-
acervos, sem uma maior preocupação na ficos à restauração de livros e documentos,
preservação da história através dos docu- obrigando ao conservador-restaurador bus-
mentos, ou em sua conservação-restaura- car fora do Estado o que necessita.
ção para o correto manuseio. A guarda e valorização da memória e
Encontramos salas de guardas de acer- da história é algo novo em nossa socieda-
vo muito bem iluminadas e, por vezes, de. Somos um país de pouco mais de qui-
com correntes de ar direto sobre os pa- nhentos anos e não podemos comparar
péis, ficando as obras expostas a todo tipo nossa cultura preservacionista à de países
de agressão externa, além das lâmpadas como Itália, França, China, entre outros.
fluorescentes, com raios UV diretamente Mas, nem mesmo assim, deixamos de
focadas sobre o acervo. nos preocupar com o que temos, pois re-
Em sua maioria, não se trata de má von- centemente, em uma visita à Secretaria de
tade, descaso ou desconhecimentos dos Obras e a uma biblioteca de bairro, pude-
diretores do AHRS, MCSHJC e de outros mos constatar que não é só nas institui-
órgãos, e sim uma total falta de políticas ções que trabalhamos que encontramos
públicas que visem disponibilização de tamanha degradação e perda de acervo.
verbas e de previsão orçamentária para a Cremos que a situação encontrada nos
efetiva preservação destes acervos históri- acervos do AHRS e no MCSHJC retrata a
cos em nosso Estado. situação das demais instituições do Estado
Não temos no Rio Grande do Sul cen- e quiçá do Brasil. É uma realidade
tros de formação de conservadores-restau- preocupante e que deveria ser de extrema
radores e o não reconhecimento desta pro- atenção dos órgãos públicos, pois, sem
fissão não propicia que as instituições te- investimentos e profissionalização de pes-
nham em seus quadros profissionais con- soas qualificadas para exercerem a con-
servadores-restauradores, bem como não servação-restauração de forma efetiva e
determinam espaços adequados às ativi- eficaz nas instituições de Arquivos e Mu-
dades destes profissionais. seus do Estado e País, em breve teremos
Ainda assim, observa-se nestas institui- pouco a relatar e a preservar de nossa his-
ções aqui relatadas que os acervos estão tória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANCO, Zelina Castelo. Encadernação: História e Técnica. São Paulo. HUCITEC, 1978.
BECK, Ingrid. Manual de Conservação de Documentos. Rio de Janeiro, Ministério da Justiça, 1985.
CAMBRAS, Josep. Encadernação. Lisboa. Editorial Estampa, 2004.
CANAL, Maria Fernanda. Conservar y Restaurar Papel. Espanha. Ed. Parramón, 2005.
CASTRO, JAIME. Arte de tratar o livro. Porto Alegre. Sulina, 1969.
COBRA, Maria José Távora. Pequeno Dicionário de Conservação e Restauração de Livros e Documentos. Brasília. Ed. Cobra Pages, 2003.
CLEARY, John Mc; CRESPO, Luiz. El Cuidado de Libros y Documentos. Espanha. Editorial Clan, 2001.
CORUJEIRA, Lindaura Alban. Conserve e Restaure seus Documentos. Salvador. Editora Itapuã, 1971.
DUARTE, Zeny. Preservação de Documentos. Salvador. EDUFBA, 2003
FERRERO, Enrico. Lárte Del Libro. Instituto Pio XI. Roma. 1969.
FONSECA, Vitor Manoel Marques da; GOUGET, Alba Gisele Guimarães. Documentos do Período Colonial: Considerações para tratamento
técnico. Rio de Janeiro. Ministério da Justiça, 1985.
FREITAS, Adelma Maria de; Brandão, Emiliana, et. al. Curso Sobre Conservação e Restauração de Livros e Documentos e de Encaderna-
ção. Brasília. 1988. Apostila de instrução de curso, Departamento de Imprensa Nacional – DIN/MJ.
FREITAS, Maria da Conceição Gomes de. Manual de Conservação de Documentos. Porto Alegre. 2001. Apostila de instrução de curso.
GIORDANO, Cláudio. Trad.; Aldo Manuzio - Editor, Tipógrafo, Livreiro. Cotia - SP. Ateliê Editorial. 2004.
GOMES, Sônia de Conti. Técnicas Alternativas de Conservação. Belo Horizonte. Editora UFMG, 1992.
GREENFIELD, Jane. Como Cuidar, Encadernar e Reparar Livros. Portugal. Ed. CETOP, 1988.
LUCCAS, Lucy; SERIPIERRI, Dione – Conservar para não restaurar. Brasília. Thesaurus, 1995.
MIDDLETON, Bernard C. Restauración de Encuardenraciones en Piel. Espanha. Editorial Clan, 2001.
MORAES, Rubens Borba de. O Bibliófilo Aprendiz. Rio de Janeiro. Casa da Palavra, 2005.
MOTTA, Edson; SALGADO, Maria Luiza Guimarães. O papel: problemas de conservação e restauração. Petrópolis. Museu de Armas
Ferreira da Cunha, 1971.
MUSARRA, Aldo. Encuadernacion – Manual para principiantes. Buenos Aires. Editorial Jorge A. Duclout, 1946.
PALETTA, Fátima Aparecida Colombo; YAMASHITA, Marina Mayumi. Manual de Higienização de livros e documentos encadernados. São
Paulo. Ed HUCITEC, 2004.
PAULA, Teresa Cristina Toledo de. Introdução à Conservação de Têxteis e Materiais Assemelhados. Porto Alegre. 2002. Apostila de instru-
ção de curso.
RIBERHOLT, K; DRASTRUP, A, Técnica de la Encuadernación. Espanha. Progensa, 1989.
SERIPIERRI, Dione. et. al. Manual de Conservação Preventiva de documentos – Papel e Filme. São Paulo. EDUSP, 2005.
191
Anais | Congresso Abracor 2009
192
Anais | Congresso Abracor 2009
BECK, Ingrid
Museóloga e Conservadora, Mestre em Ciência da Informação.
Consultora autônoma para projetos de preservação documental.
DESINFESTAÇÃO DO ACERVO DA
BIBLIOTECA BARBOSA RODRIGUES, DO
JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO
Em 2006, a Biblioteca Barbosa Rodrigues, através da Associação de Amigos do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro, buscou o apoio junto ao Programa Petrobras Cultural, através da
Lei de Incentivo à Cultura, para a desinfestação de seu valioso acervo e a implantação de um
programa de conservação preventiva.
A presente comunicação tem por objetivo relatar o desenvolvimento de uma metodologia
inovadora que empregou atmosfera anóxia obtida com absorvedores de oxigênio. O tratamen-
to das coleções deu-se de forma massiva, quando a infestação atingia a quase 100% (periódi-
cos) e pontual, quando a infestação podia ser identificada com a inspeção dos volumes.
Em vários países a tecnologia de absorção de oxigênio já é amplamente utilizada para a
conservação de alimentos, de produtos farmacêuticos e também de acervos culturais, mais
precisamente no acondicionamento de acervos muito frágeis bem como na descontaminação
microbiológica e no controle de insetos. Sua utilização mais ampla no Brasil é apenas uma
questão de tempo.
A partir das características fisilógicas e metabólicas dos insetos e das condições ambientais
que são fortemente interferentes no processo de desinfestação por anóxia, foram estabelecidos
os procedimentos de desinfestação para esta Biblioteca. É importante frisar que em nosso País
há uma grande diversidade climática e que cada tratamento deve ser adequado a condições
ambientais específicas.
Os trabalhos foram iniciados com o diagnóstico de conservação do acervo e o mapeamento
da infestação. Este levantamento mostrou que na maioria dos casos o mau estado de conser-
vação, as sujidades e as condições climáticas adversas são facilitadores para a infestação.
Uma das dificuldades encontradas, a falta de espaço, que é uma situação muito comum nas
bibliotecas exigiu a adequação da metodologia para o tratamento dos volumes nas próprias
estantes.
Além de apresentar os materiais e equipamentos utilizados, o texto descreve os cuidados
necessários, como a selagem adequada das bolsas para a garantia da condição anóxia por todo
o período de tratamento e o monitoramento permanente do oxigênio residual, para assegurar
a eficácia na mortandade de todas as fases de desenvolvimento dos insetos.
Após o tratamento, os volumes desinfestados foram higienizados folha a folha, para a
remoção dos detritos dos insetos. Com o mapeamento dos volumes infestados será possível
monitorar em continuidade a redução da população destes insetos dentro do acervo. Por outro
lado, a continuidade deste monitoramento possibilita a identificação imediata de eventuais
focos de reinfestação e o seu controle.
O método mostrou-se especialmente adequado para acervos documentais, pela possibilida-
de da desinfestação pontual e localizada nas áreas de depósito em ações preventivas, evitan-
do-se assim os tratamentos massivos.
Palavras-chave:
Desinfestação; anóxia; preservação documental.
193
Anais | Congresso Abracor 2009
1. Introdução
No período compreendido entre agosto de A metodologia incluiu o diagnóstico, a
2007 e maio de 2008 realizou-se a desinfestação desinfestação a limpeza folha a folha. O
do acervo da Biblioteca Barbosa Rodrigues, do tratamento foi realizado no prazo de dez
instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do meses, e abrangeu todo o acervo da biblio-
Rio de Janeiro, como parte do projeto para a teca, num total de 30.581 volumes, dos
implantação de uma sistemática continuada quais 6.438 foram desinfestados,
de manejo integrado de pragas. correspondendo a 21% do acervo.
194
Anais | Congresso Abracor 2009
3. Fatores principais que influenciam na mortandade dos insetos em atmosferas anóxias
Segundo Maekawa, (1998) embora seja mentos realizados em temperaturas mais
inquestionável a eficácia de atmosferas com altas.
baixo teor de oxigênio para eliminar os in- Umidade relativa
setos, o exato mecanismo fisiológico da Como descrito anteriormente, os insetos
anóxia não é compreendido completamen- perdem água durante a exposição a atmos-
te. Os entomólogos observaram que a sen- feras anóxias, por evaporação. A taxa da eva-
sibilidade às baixas concentrações de oxi- poração depende da umidade do ar e au-
gênio variam de acordo com a espécie, o menta em um ambiente seco.
estágio de desenvolvimento e as circunstân- Tempo de exposição
cias ambientais a que os insetos foram ex- Maekawa concluiu, com base nos relatos
postos durante o tratamento com anóxia. das pesquisas por ele levantadas (Bursell,
São mais suscetíveis ao tratamento os in- 1970, Soderstrom, Mackey e Brandl, 1986,
setos com mobilidade, no caso os adultos e Valentin e Preusser, 1990), que todos os
e as larvas, do que os relativamente inati- estágios da maioria dos insetos anobídeos
vos, como as pupas e os ovos. Observou-se podem ser erradicados em oito dias, em
que os insetos são capazes de restaurar toda concentrações de oxigênio abaixo de 0.3%,
a função do corpo após uma exposição de a uma umidade relativa de 50% e tempera-
até um dia, mas morrem se o tempo da ex- tura não inferior a 25°C. Para garantir a
posição for prolongado. Os investigadores erradicação total de todos os insetos em um
concordam que a desidratação é o mecanis- tratamento do anóxia o cientista recomen-
mo mais importante influenciando a mor- da, entretanto, respeitar um período de
talidade do inseto durante a exposição às quatorze dias sob as circunstâncias acima,
atmosferas anóxias. considerando o prazo de dois dias para o
Temperatura estabelecendo da condição anóxia, mais uma
Segundo Maekawa (1998), diversos es- margem de segurança de 50% acima do tem-
tudos (Bursell, 1970; AliNiazee 1972; po de sobrevivência experimentalmente com-
Lindgren e Vincent,1970; Navarro e provada. Observa ainda que em temperatu-
Calderon 1980; Soderstrom, Mackey, e ras abaixo de 25°C o tempo de tratamento
Brandl, 1986; Rust e Kennedy 1995) mos- deve ser ampliado em cerca de 50% a cada
traram o aumento das taxas metabólicas e diminuição de 5°C. Assim, a 20°C o tempo
do consumo de oxigênio nos insetos quan- de tratamento deveria ser de vinte e dois dias,
do se elevou a temperatura. A abertura dos mas alerta que estas condições não se apli-
espiráculos para controlar a temperatura do cam para todos os insetos pesquisados: os
corpo provoca a perda de água. Estes dois mais resistentes não morrerão, e por isto não
fenômenos podem explicar a elevação da recomenda tratamentos em anóxia em tem-
taxa de mortalidade dos insetos em trata- peraturas abaixo de 25°C.
195
Anais | Congresso Abracor 2009
As amostras microbiológicas foram então Observou-se que a atividade biológica
inoculadas em tiras limpas de pergaminho e dos micro-organismos foi retardada notavel-
expostas às várias combinações de UR (33%, mente quando o nível do oxigênio era de
43%, 50%, 75%, 85%, e 100%) e concen- 1% ou inferior e a UR abaixo de 50%.
trações de oxigênio (0.1%, 1%, 5%, e 20%) Quando o oxigênio foi reduzido a somente
em atmosferas do nitrogênio. Sua taxa de 0.1%, com a UR de 50% , após 3 dias o
crescimento foi monitorada determinando a número dos micro-organismos estacionado.
radioatividade que o dióxido de carbono pro- Por outro lado, após somente 10 horas de
duziu após aproximadamente três dias, pela exposição a uma UR de 45% no nível o
população heterogênea de fungos e bactéri- mais baixo do oxigênio (0,01%) observou-
as, que cresceram nas tiras do pergaminho. se o controle da atividade biológica.
5. O passo a passo
A metodologia de desinfestação por meio Os plásticos de barreira possuem baixa
de anóxia, utilizando apenas absorvedores permeabilidade ao oxigênio, evitando assim
de oxigênio é eficaz e de fácil aplicação, que a atmosfera anóxia no interior das bol-
comparada a outros métodos que utilizam sas seja contaminada pelo oxigênio da at-
gases. Aplica-se tanto no tratamento mosfera exterior. São confeccionados com
massivo, quando a infestação abrange todo 5 ou mais camadas de diferentes plásticos,
o acervo, como no controle pontual, para como polietileno, polipropileno, nylon e
evitar que uma infestação pequena se am- poliéster, unidas por coextrusão.
plie, em uma sistemática de conservação Alguns cuidados devem ser observados
preventiva. rigorosamente no momento da inserção dos
A higienização do acervo após a volumes nas bolsas, para não comprometer
desinfestação é uma etapa imprescindível a condição anóxia.
nesta metodologia. Desde o início, na me- · O plástico de barreira não deve ter
dida em que são inspecionados, separam- arranhões, sequer vincos, sob o risco de rom-
se os volumes que não apresentam indícios perem-se as camadas termo-aderidas ou
de infestação, e estes devem ser limpos coestrudadas, permitindo a passagem de
imediatamente, folha a folha e retornar para oxigênio da atmosfera externa para o interi-
a estante (também higienizada). Esta lim- or das bolsas.
peza minuciosa é importante, porque nela · Antes de serem inseridos nas bolsas
podem aparecer outros volumes com sinais de barreira, os volumes devem estar livres
de infestação que não foram detectados de objetos pontiagudos ou ser envolvidos
durante a primeira inspeção. em material macio e poroso, para evitar
Já os volumes infestados são limpos so- danos nas paredes internas das bolsas. A
mente após o tratamento de desinfestação, mesa onde as bolsas são preparadas deve
isto é, quando saem da anóxia, depois de 2 igualmente estar sempre limpa e protegida
ou 3 semanas, e também serão limpos fo- com um revestimento de não-tecido.
lha a folha. - Os absorvedores de oxigênio apresen-
A atmosfera anóxia é obtida pela conjun- tam-se na forma de sachês de um plástico
ção de diferentes recursos: microporoso contendo óxido de ferro em
· bolsas de plástico de alta barreira; pó e ácido ascórbico, entre outros. A
· saches absorvedores de oxigênio; tecnologia dos absorvedores baseia-se na
· indicadores de oxigênio residual; oxidação de pó de ferro.
· sachês de sílica gel; - O cálculo da quantidade de absorvedores
· indicadores de umidade. para a obtenção da anóxia é feito com base
Os volumes em tratamento de no volume (metragem cúbica) de cada bol-
desinfestação devem ser inseridos em uma sa em centímetros. Um centímetro cúbico
bolsa de plástico de alta barreira, juntamente (cm³) equivale a 1 ml. Com este cálculo
com a quantidade adequada de absorvedores obtêm-se o volume de oxigênio contido na
para a obtenção da atmosfera anóxia, abai- bolsa. Considerando-se que há 21% de oxi-
xo de 0,3% de oxigênio. Para monitorar a gênio no ar, divide-se o volume (cm³) de ar
condição anóxia durante todo o tempo de por 5. Por exemplo, se uma bolsa mede 20
tratamento é inserido um indicador de oxi- x 30 x 20 cm, tem 12.000 cm³. Divididos
gênio em cada bolsa. por 5, chega-se a 1.200 cm³ ou 1,2 litros
196
Anais | Congresso Abracor 2009
de oxigênio. A quantidade de absorvedores umidade a ser reduzida.
deve ser correspondente à sua capacidade de - No fechamento das bolsas, a faixa de
absorver o volume de oxigênio calculado. selagem precisa ter no mínimo 1 cm de lar-
- Inserem-se os absorvedores de oxigênio gura. Deve-se observar a temperatura corre-
procurando evitar que fiquem acumulados. ta para a selagem, pois a faixa de selagem
Idealmente devem ser espalhados nas late- não pode conter danos por superaquecimen-
rais das bolsas, evitando inclusive o seu con- to, bolhas de ar ou vincos.
tato direto com os livros, uma vez que libe- - O manuseio da bolsa contendo o mate-
ram calor e água ao eliminarem oxigênio. rial em tratamento deverá ser cuidadoso, e
- Sobre uma cartela devem ser anotados: a bolsa é colocada sobre uma superfície
a data, o número da bolsa, a quantidade de plana e lisa, coberta com um não tecido,
absorvedores. Fixa-se um sensor de oxigê- para evitar abrasão. Deve-se evitar a exposi-
nio, que se torna azul quando detecta oxi- ção direta à luz solar.
gênio e volta a se tornar rosa em condições No caso da desinfestação realizada na
de anóxia. Opcionalmente coloca-se um Biblioteca Barbosa Rodrigues, os volumes
indicador de umidade, para que a umidade foram inseridos em bolsas pequenas, medin-
no interior da bolsa também possa ser do 60 x 40 cm, reunindo de 5 a 8 volumes.
monitorada durante o tratamento. Com isto resolveu-se o problema de falta de
- A cartela deve ficar em uma posição de espaço na Biblioteca, permitindo que os vo-
fácil visualização. O número da bolsa de- lumes fossem dispostos em suas próprias
verá remeter à listagem com o seu conteú- prateleiras. Isto possibilitou tratar um gran-
do. de volume de obras, simultaneamente.
- Quando a umidade relativa do ar é ele- Decorrido o tempo de exposição à anóxia,
vada, acima de 50%, recomenda-se acres- de 15 a 22 dias, os volumes são
centar sílica-gel, em quantidade a ser defi- higienizados para remover todos os resídu-
nida, de acordo com o volume da bolsa e a os e os insetos mortos.
197
Anais | Congresso Abracor 2009
que aumenta a necessidade de utilizar um de fungos. A umidade relativa do ar, na fai-
dessecativo. xa de 70%, não impediu, segundo nossa
Na Biblioteca Barbosa Rodrigues o trata- experiência, a mortandade dos insetos em
mento foi realizado sem o uso de sílica- 100%, mas levou-se em conta que esta
gel, exceto nos casos em que foi utilizada a umidade iria exigir o aumento do tempo de
anóxia para o controle de contaminações exposição à anoxia, de 15 para 22 dias.
Bibliografia
CABRERA, Brian J. Insecta: Coleoptera: Anobiidae. University of Florida, 2008. Disponível em: http://edis.ifas.ufl.edu/IN385 acesso em 2/2/2009.
SELWITZ Charles; MAEKAWA, Shin. Inert Gases in the Control of Museum Insect Pests. ©1998 by the J. Paul Getty Trust.
CRIPPA, Agnaldo; SYDENSTRICKER,Thais H. D.; AMICO,Sandro C. Desempenho de filmes multicamadas em embalagens termoformadas. In:
Polímeros vol.17 no.3 São Carlos July/Sept. 2007 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
14282007000300006&script=sci_arttext&tlng=en.Acesso em 5/3/2009.
MAEKAWA, Shin ; ELERT, Kerstin. The use of oxygen-free environments in the control of museum insect pests. In: Tools for Conservation. 2003
Getty Conservation Institute.
SOUZA CRUZ, Renato; FERREIRA SOARES, Nilda de Fátima; GERALDINE, Robson Maia. Avaliação do volume de oxigênio absorvido por
sache absorvedor de oxigênio em diferentes temperaturas e umidades relativas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cagro/v32n5/27.pdf Acesso
em 10/2/2009.
VALENTIN, Nieves Chapter 3: Biodeterioration Control. In:Oxygen-free museum cases. In:Research in Conservation/Oxygen Free Museum
Cases. Edited by
MAEKAWA, Shin. 1998 Getty Conservation Institute.
VALENTIN, Nieves; PREUSSER; Frank. Controle de insetos por gases inertes em museus, arquivos e bibliotecas. In: Emergências com Pragas
em Arquivos e Bibliotecas, pp. 35 a 46. Rio de Janeiro. Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos. Arquivo Nacional, 2ª. ed. 2001.
198
Anais | Congresso Abracor 2009
CHRISTO, Tatiana Ribeiro.
Chefe do Laboratório de Restauração da Biblioteca Nacional;
Bacharel em Gravura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de
Janeiro; Curso Monográfico de Restauração de Livros pela Escola de Artes Aplicadas e
Ofícios Artísticos, Madri, Espanha, com bolsa de estudos da CAPES; Pós-graduação em
Organização, Planejamento e Direção de Arquivos, Universidade Federal Fluminense/
Arquivo Nacional; Estágio com duração de quatro meses no Laboratório de Restauração
da Biblioteca Nacional de Madri, Espanha, com bolsa de estudos da CAPES; Estágio com
duração de dez meses nos Laboratórios de Restauração e Encadernação de Obras Raras
da Biblioteca Huntington, Pasadena, Califórnia, EUA, com bolsa de estudos das Fundações
GETTY e LAMPADIA; Curso Internacional de Restauração e Conservação de Materiais de
Biblioteca com duração de dois meses em Veneza, Itália, com bolsa parcial de estudos da
UNESCO; Curso do ICCROM sobre Conservação Japonesa em Quioto, Japão, com bolsa
de estudos do governo japonês.
The following text presents the Limp Vellum Binding with conservative purpose of
rare books restored through Leaf Casting Machine in the National Library of Rio de
Janeiro, Brazil.
PALAVRAS-CHAVE:
Diretrizes de preservação, Acervos raros, Encadernação flexível em pergaminho.
BIBLIOGRAFIA
1- CLARKSON, Christopher. The Florence flood of November 1966 & its aftermath. National Diet Library Newsletter, NDL, Tokyo, n. 135,
fev. 2004. Disponível em: <http://www.ndl.go.jp/en/publication/ndl_newsletter/135/Lecture0312-1.pdf>
Acesso em 21 jul. 2008.
2 - CLARKSON, Christopher. Limp Vellum Binding and its potential as a conservation type structure for the rebinding of early printed
books. Red Gull Press, Hitchin, Herts: 1982)
3 - GIUFFRIDA, Barbara. Limp and Semi-Limp Vellum Bindings: Part 1, Designer Bookbinders Review, n. 4, p. 2-7, 1974.
4 - GIUFFRIDA, Barbara. Limp and Semi-Limp Vellum Bindings: Part 2, Designer Bookbinders Review, n. 5, p. 2-13, 1975.
5 - ESPINOSA, Robert. The Limp Vellum Binding: a Modification. The New Bookbinder n. 13, p. 27-38, 1993.
6 - FROST, Gary. Historical Paper Case Binding and Conservation Rebinding. The New Bookbinder, n. 2, p. 64-67, 1982.
7 - FROST, Gary. Historical Paper Case Binding and Conservation Rebinding: Conservation Paper Cover and Case Construction Rebinding.
The Guild of Bookworkers Journal, v. 22, n. 1, p. 29-38, fall/winter1983.
8 - HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. Rio de Janeiro: Salamandra, 1997.
9 - HONEY, Andrew. Andrew Honey reviews: Limp vellum binding and its potential as a conservation type structure for the rebinding of early
printed books. The Paper Conservator, Institute of Paper Conservation, Londres, n. 29, p. 73-74, 2005. Disponível em:
<http://www.conservation-by-design.co.uk/pdf/73-74PaperConservator29.pdf.>
Acesso em 21 jul. 2008.
10- LINDSAY, Jen. A Limp Vellum Binding Sewn on Alum-tawed Thongs. The New Bookbinder, n. 11, p. 3-19, 1991.
200
Anais | Congresso Abracor 2009
Edmar Moraes Gonçalves
Conservador-Restaurador
Fundação Casa de Rui Barbosa
Autores:
Edmar Moraes Gonçalves – Fundação Casa de Rui Barbosa
Yacy Ara Froner – Universidade Federal de Minas Gerais
Luiz Antonio Cruz e Souza - Universidade Federal de Minas Gerais
This paper describes a research developed on the bookbinding structures of the Rui
Barbosa’s collection, which belongs to XIX century, with the goal of preserve them,
keeping its originality and style.
Palavras-chave:
Conservação-restauração de livros, estrutura de encadernação, encadernações brasilei-
ras, preservação de encadernações.
Figura 1 Figura 2
Figura 3
Fizemos uma busca por amostragem na servar é que no caso dessas encaderna-
coleção (FIG. 7) e separamos vários exem- ções feitas pela Livraria Briguiet, existe
plares para serem estudados. Um grupo dois estilos de encadernações bem dife-
muito grande desses livros foi encaderna- rentes, uma seguindo o estilo francês
do pela “Livraria F. Briguiet & Cia” – Rio (que são aquelas mais luxuosas) e outras
de Janeiro. Livraria essa que Rui Barbosa em um estilo mais simples (feitas com
fazia a maioria de suas encomendas de materiais inferiores e possivelmente po-
encadernações e suas novas aquisições. deriam ter sido feitas no Brasil). E com-
Como afirma LACOMBE (1984), Rui man- parando com outro grupo também muito
dava encadernar seus livros em Paris. Nes- presente na coleção, encadernados nas
te grupo, que são a maioria dos livros se- oficinas do “Instituto dos Surdos Mudos”
lecionados (FIG. 8) que podemos identificadas por etiquetas aderidas nas
identificá-los através de gravação a ouro folhas de rosto dos livros, podemos che-
com o nome da livraria localizado no in- gar a conclusão que utilizaram os mes-
terior da capa ao alto e a direita. mos tipos de materiais. Outro grupo tam-
Há nessa coleção encadernações simi- bém significativo de livros identificados
lares a esse grupo, cujos materiais utili- com etiquetas de outras livrarias e
zados poderíamos afirmar que são da mes- encadernadores brasileiros como: B. L.
ma origem. Outra coisa que pudemos ob- Garnier, Laemmert & Cia, etc.
Figura 8
livros selecionados
Figura 7
coleção RB
203
Anais | Congresso Abracor 2009
Uma vez feita a seleção dos livros, passa- forço do lombo, etc. Em algumas encader-
mos ao estudo das estruturas de costuras das nações, esta visualização tornou-se impossí-
mesmas. Primeiro separamos em grupos por vel, por apresentarem costuras muito aperta-
Livrarias, Oficinas, Encadernadores etc. Fi- das dificultando sua visualização. Somente
zemos uma documentação fotográfica deta- com o desmonte das obras foi possível uma
lhada de todos os livros selecionados por análise completa de sua estrutura. Ao mes-
grupos. Após isso, foi feito um estudo com- mo tempo foram preenchidas fichas técni-
parativo visual das estruturas de todas elas, cas individuais com informações detalhadas
para saber se há diferença de estilos entre sobre cada uma delas descrevendo como são
elas. Trata-se de um exame feito tomando suas estruturas internas. Depois selecionamos
como base o centro dos cadernos dos livros, algumas de diferentes grupos onde foram
onde podemos verificar como a costura foi desmontadas, analisadas, mapeadas suas es-
executada. Nesta etapa, é possível visualizar truturas e feita à identificação dos materiais
como a costura foi constituída e qual linha utilizados. Durante esses processos, foram
utilizada, mas, não se pode verificar qual foi feitas ilustrações demonstrando fielmente
o material que serviu de suporte para a cos- como foram executadas essas estruturas na-
tura como: cordas, barbantes, cadarços, re- quela época.
Conclusões
Após executarmos todas as etapas de in-
vestigações sobre as encadernações existen-
tes na coleção Rui Barbosa, levantarmos as
oficinas de encadernações e tipografias da
época no Rio de Janeiro. Chegamos às se-
guintes conclusões:
Todas foram extintas ou mudaram de
nome. Como existe um número conside-
rado de encadernações executadas na Ofi-
cina de Encadernação do Instituto dos Sur-
Figura 9 – livros que foram desmontados
dos Mudos presentes na coleção, demos
um tratamento especial e constatamos que
após ter passado por várias mudanças de
nome, infelizmente encerraram suas ativi-
dades gráficas e de encadernações no ano
de 1990, já com o nome de Instituto Naci-
onal de Educação de Surdos. A única que
existe até hoje é a Oficina de Encaderna-
ção da Imprensa Braille, pertencente ao
Instituto Benjamin Constant, instituição
criada por D. Pedro II em 1856 com o
nome de Imperial Instituto dos Meninos
Cegos, mas claro, com transformação de Figura 10 – desmonte e mapeamento
sua qualidade na encadernação.
Através das encadernações selecionadas,
estudadas e comparadas com os manuais
da mesma época, podemos afirmar que suas
estruturas são similares. Ou seja, essas en-
cadernações que comprovadamente foram
feitas aqui no Brasil no século XIX, utiliza-
ram os mesmos materiais e tipos de estru-
turas iguais os de estilo francês da mesma
época. Isso justifica porque foram os fran-
ceses, os primeiros a chegarem aqui no Rio
de Janeiro com sua mão-de-obra especializa-
da e passam a partir de então a treinar os Fgura 11 – detalhe de uma estrutura
brasileiros nessa arte de encadernar. Pode- Fontes: coleção Rui Barbosa.
mos também confirmar através dos exem- terão suas estruturas reconstituídas nova-
plos ilustrados (FIG. 9 - 14) de livros da mente seguindo informações detalhadas fei-
coleção desmontados e que tiveram suas tas em suas fichas técnicas preservando a
204 estruturas estudadas. Essas encadernações originalidade de cada obra.
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 12 – estrutura de encadernação da Oficina de Encadernação da Imprensa Nacional. Exemplo
de uma estrutura de costura simples e sequencial, com lombo serrotado e que a linha passa por todos
os nervos (suporte de costura) em cada caderno.
Obs.: Essas ilustrações acima descrevem algumas das estruturas estudas durante a
pesquisa e que faz parte de um estudo maior de dissertação de mestrado em Conserva-
ção, na EBA/UFMG que será defendida no segundo semestre deste Ano.
Bibliografia
BERGER, Leopoldo. Manual prático e ilustrado do encadernador. 2. Ed. Rio de Janeiro: Agir, 1946.
DUDIN, René Martin. Arte del encuadernador y dorador de libros. Madrid: Ollero & Ramos, 1997.
FOOT, Mirjam. The binding historical and book conservator. The Institute of Paper Conservation, 1984.
FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA. Rui, sua casa e seus livros. Rio de Janeiro: FCRB, 1980.
GREENFIELD, P. B. Headbands: how to work them. London: Oak Knoll Books, 1990.
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2006.
HOLLANDER, Annette. Bookcraft: how to construct note pad covers, boxes and other useful items. Van Nostrand Reinhold Company, 1974.
IPERT, Stéphane, ROME-HAYCINTHE, Michèle. Restauración de libros. Tradução de Esther García Regalado. Madrid: Fundación Germán
Sánchez Ruipérez, 1992.
LACOMBE, Américo Jacobina. A sombra de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1984.
MCMURTRIE, Douglas C. O Livro. Impressão e fabrico. 2. ed.Trad. Maria Luisa Saavedra Machado. Lisboa: Fundação Galouste Gulbenkian.,
1982.
MORAES, Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz. 3. ed. Brasília: Briquet de Lemos; Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1998.
RUIZ, Elisa Garcia. Introducción a la codicologia. Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 2002.
205
Anais | Congresso Abracor 2009
206
Anais | Congresso Abracor 2009
CORRÊA, Hélade da Rocha
Conservadora-restauradora
Contracapa Oficina de Encadernação S/C Ltda - ME
The purpose of this work is to present the criteria to choose the procedure during the
restoration of 17th century books of Law School of University of São Paulo.
In this process four groups of books with similar characteristics about its conservation
were identified and defined the procedures to be realized: original binding conservation,
restoration of original binding, substitution of inadequate binding and lost binding/
new binding - the support (paper) in all situations are also treated.
The adopted criteria are presented with details in each one of the cases related to the
analysis of conservation status, documentation, procedures and supplies. The adopted
principles to define inappropriated binding and conservation binding are also discussed.
D. Ausência de encadernação
Estado de conservação apresentando
suporte em mau estado, ne-
cessitando sempre de trata-
mento aquoso, e,
consequentemente, de des-
monte. Encadernações perdi-
das; mesmo havendo algumas
informações, estas não são su-
Foto 3: Corte superior guilhotinado, perda de texto.
ficientes para reconstituição.
Como no caso anterior, do livro; uso de material inadequado.
aqui também não houve a pre- A encadernação contemporânea em si, não
ocupação de evitar o desmon- seria problemática se princípios de conser-
te. vação fossem conhecidos e aplicados. Um
Na maioria dos casos, os tratamento adequado ao suporte, o uso de
principais agentes de deteri- materiais de qualidade arquivística, como
oração encontrados foram: no caso das guardas, a confecção de costura
ataque de insetos e micro-or- resistente que permita boa abertura, o res-
Foto 1:
Inscrição
ganismos, umidade, sujidades, manipula- peito à integridade da obra (manutenção do
oxidada. ção e interferências anteriores. Em relação formato original, sem uso da guilhotina foto
ao suporte, os exemplares apresentavam 3, em nenhuma hipótese), se adotados, as-
folhas rendilhadas, com manchas, rasgos e segurariam a conservação da obra indepen-
perdas, laminações antigas (às vezes na pá- dente do tipo de encadernação. As enca-
gina inteira, prejudicando a leitura), inscri- dernações contemporâneas, mesmo quan-
ções manuscritas oxidadas (foto 1) presen- do em bom estado, foram substituídas por
ça de veneno, fungos e detritos. Quanto à novas de conservação, pois elas, além de
208 encadernação, havia dois casos distintos: tudo, não apresentavam nenhum valor his-
Anais | Congresso Abracor 2009
tórico que merecesse ser salvaguardado.
Para as encadernações de conservação,
seguimos os padrões das encadernações
antigas em pergaminho, que comprovaram
sua durabilidade através do tempo - tanto
pela estrutura quanto pelo material de re-
vestimento. Uma característica fundamen-
tal de qualquer encadernação de conser-
vação é a reversibilidade, de técnicas e
materiais. O pergaminho é um material de
conservação por excelência, principalmen-
te pela alcalinidade, resistência e durabi-
lidade, compensando inclusive suas carac- Foto 4: Encadernação original a ser mantida.
terísticas negativas, como o fato de ser tórico que justificasse sua preservação, as
higroscópico. Linha de linho foi usada para etapas do processo foram meticulosamen-
a costura, feita sobre nervos de couro ao te documentadas para futura remontagem.
alúmen, assim como para o cabeceado; Na obra Directorii Confessariorum
reforço da lombada foi realizado com pa- (1668) de Antonio A. Spititu Sancto, resta-
pel japonês 30gr/m² e cola de amido; guar- va apenas o revestimento em couro da
das, em papel Ingres 90gr/m² da Fabriano; encadernação original. Com base nas in-
reforço interno da capa com cartão neutro formações tanto do couro como do corpo
de acordo com as dimensões do livro, lom- do livro (como estilo da encadernação,
bada caligrafada com autor e título. tamanho e localização dos nervos) foi rea-
Sempre que as condições do suporte lizada nova encadernação sobre a qual se
permitiram, a integridade da encaderna- aplicou o revestimento original (fotos 5 e
ção foi mantida evitando seu desmonte. 6), sendo esta a intervenção mais radical.
Cada elemento de uma encadernação traz O resultado é uma dedução de como seria
consigo informações relevantes que, quan- o original, pois pode-se saber onde se loca-
do refeita, sofre alterações inevitáveis, por lizavam os nervos, mas não assegurar como
exemplo: a remoção do revestimento é eles eram, o mesmo acontecendo com os
uma operação radical, que pode demais elementos (costura, fixação das pas-
comprometê-lo totalmente causando inclu- tas). Esta dedução tem respaldo também no
sive sua perda; da mesma forma, ao se conhecimento prévio da história e das téc-
reencadernar uma obra desmontada, a nicas de encadernações antigas.
substituição de materiais originais por con- Em outras situações, em obras que esta-
temporâneos torna-se inevitável. Nesta si- vam mais intactas, mais elementos pude-
tuação foram realizados limpeza, ram ser preservados e informações mais
hidratação e enxertos no revestimento, precisas, resultaram em uma reconstituição
consolidação de cantos e coifas, fixação mais fiel. Um exemplo é a obra De virtute,
de cabeceados e guardas, conforme a ne- et sacramento poenitentiae, tractatus...
cessidade de cada caso. (1678) de Francisco Soares, conforme foto
Sendo imprescindível o tratamento do su- 7, onde se vê a posição dos nervos, costu-
porte e o consequente desmonte da obra, ra, fixação das pastas, reforços da lomba-
quando havia encadernação de valor his- da e cabeceados.
Conclusão
Era imprescindível a realização deste proje- O resultado final desta etapa foi devolver
to dado o estado de deterioração em que o às obras sua possibilidade de manuseio se-
acervo de obras do século XVII da biblioteca guro, quando imprescindível (elas não se en-
da Faculdade de Direito da USP se encontra- contram digitalizadas). A necessidade de con-
va. A importância se ressalta em como o pro- sulta é uma realidade, pois em mais de uma
jeto foi desenvolvido, ou seja, primeiro a dis- situação foram priorizadas obras que esta-
cussão e criação de parâmetros a serem segui- vam sendo aguardadas para consulta por pes-
dos, para somente depois dar início a sua exe- quisadores. Por estas razões, pela importân-
cução. A troca de informações e experiências cia do acervo, e pelo volume de obras que
entre responsáveis pelo acervo e conservado- ainda necessitam de tratamento, espera-se
res-restauradores, além de ter função educativa, que o projeto tenha continuidade, e neste
evita a perda de testemunhos e execução de caso os critérios a serem seguidos já estão
procedimentos inadequados ou equivocados. estabelecidos.
Bibliografia:
ADAM, C. Restauration des manuscrits et des livres anciens. Puteaux: Erec, 1983.
BIBLIOTHECA Universitatis: Acervo Bibliográfico da Universidade de São Paulo. Séculos XV e XVI. São Paulo: Edusp; Imprensa Oficial,
2000.
BROWN, Margaret. Boxes for the protection of rare books: their design and protection. Washington: Library of Congress, 1982.
FEBVRE, Lucien; MARTIN, Henry-Jean. O aparecimento do livro. Trad. Fulvia M . L. Moretto, Guacira Marcondes Machado. São Paulo:
Unesp; Hucitec, 1992. Original francês.
IPERT, Stéphane; Rome-Hyacinthe, Michèle. Restauración de libros. Madri: Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 1992.
210 McMURTRIE, Douglas C. O livro. Trad. Maria Luísa Saavedra Machado. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1969. Original inglês.
Anais | Congresso Abracor 2009
Ciência da
Conservação
211
Anais | Congresso Abracor 2009
212
Anais | Congresso Abracor 2009
LOURENÇO, Bettina Collaro G.
Arquiteta, doutoranda do Proarq/UFRJ,
Fundação Oswaldo Cruz
Orientadora:
Rosina Trevisan M. Ribeiro (Proarq/UFRJ)
1
Edificação principal do
INVESTIGAÇÕES SOBRE ARGAMASSAS Núcleo Arquitetônico
Histórico de
Manguinhos (NAHM),
MISTAS DE REVESTIMENTO CROMÁTICAS também conhecido
como Castelo da
Fiocruz, inserido no
EM FACHADAS HISTÓRICAS Campus da Fiocruz,
Manguinhos, Rio de
Janeiro. Ver:
Benchimol, Jaime L.
(coord.). Manguinhos
do Sonho à Vida – A
Ciência na Belle
Époque. Casa de
Oswaldo Cruz, Fiocruz.
Durante muitos anos as argamassas de revestimento da maioria das edificações de valor Rio de Janeiro, 1990,
pp. 109-129.
histórico eram baseadas em argamassas de cal. Mas o mundo especialista em restauro, 2
“A linguagem
com a introdução do cimento Portland e aplicação de diversos sistemas de pintura, vem arquitetônica
denominada neo-
questionando o emprego de pequenas quantidades de cimento Portland como aditivo nas mourisca surgiu na
produção brasileira
argamassas de cal, ou até mesmo, a durabilidade das recomposições dos revestimentos dentro das releituras
introduzidas pelo
antigos com argamassas e pinturas novas mais fortes. O interesse de realizar um estudo Ecletismo, que vigorou
entre a segunda
mais aprofundado e científico sobre a preservação destes revestimentos em edificações metade do século XIX e
a década de 1930”.
históricas, surgiu a partir de testes laboratoriais e in loco realizados nas Fachadas do Caminhos da
Arquitetura em
Pavilhão Mourisco da Fundação Oswaldo Cruz, juntamente com resultados de Projetos Manguinhos. Renato da
Gama-Rosa Costa
de Pesquisa, com apoio do CNPq. (org.), Casa de
Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, 2003, pp.101.
Palavras-chave:
preservação, testes laboratoriais, argamassas, pintura.
For many years, plasters and renders in most buildings of historical value were based
on lime mortars. But the world became expert in restorations, with the introduction of
the Portland cement and the application of various painting systems are questioning
the use of small quantities of Portland cement as an additive in the lime mortar, or
even the durability of old plasters with stronger mortars and new paintings. The interest
of conducting a more thorough and scientific study on the preservation of these plasters
in historic buildings arose from in-loco laboratory tests performed in Facades of the
Oswaldo Cruz Foundation Mourisco Pavilion, together with results from Research
Projects, with support from CNPq.
1. Introdução
A iniciativa em realizar este trabalho par- camada de pintura original à base de cal
tiu, a princípio, pelo fascínio das superfí- das argamassas de revestimento desta
cies coloridas remanescentes em edificação histórica em estilo neo-
edificações históricas. Uma vez que, a ci- mourisco 2, tombado pelo Instituto do
ência do restauro solicita uma investiga- Patrimônio Artístico Nacional (IPHAN),
ção na qual seja sempre avaliado o estado em 1981.
de conservação do suporte, o presente es-
tudo traça considerações nas argamassas de “A conservação deve se valer do con-
revestimentos em edificações do final do junto de disciplinas capazes de contribuir
século XIX ao início do séc. XX na cidade para o estudo e a salvaguarda de um bem.
do Rio de Janeiro e de nossa experiência As técnicas empregadas devem, em prin-
acumulada na preservação dos revestimen- cípio, ser de caráter tradicional, mas pode-
tos das fachadas do Pavilhão Mourisco1 se, em determinadas circunstâncias, uti-
(1905). Esta experiência foi determinante lizar de técnicas modernas, desde que se
na escolha do tema pelas inúmeras difi- assentem em bases científicas e que sua
culdades e investigações realizadas ao longo eficácia seja garantida por uma certa ex-
de quase dez anos, na procura do melhor periência acumulada.” (CARTA DE BUR-
material a ser utilizado na preservação da RA, 1980, Art.4, pp.284).
213
Anais | Congresso Abracor 2009
3
O Alhambrismo, termo A relação da técnica construtiva aplicada
dado a uma estética
adotada pela burguesia na concepção deste bem edificado e o esti-
européia do século XIX na
Europa, a linguagem neo-
lo desta arquitetura foi um dos primeiros
árabe, surgindo para questionamentos, uma vez que o objeto em
valorizar a imagem do
islamismo arquitetônico questão, as argamassas de revestimento das
enquanto arte. Visto antes
com sobriedade, e evocado fachadas do Pavilhão Mourisco, remete a
depois, pelo espírito
romântico, como uma
uma estética adotada nos palácios de
magia especialmente Alhambra, principal modelo referencial, de-
atrativa. In: Anais do XXI
Colóquio Internacional de nominada Alhambrismo3. Esta influência
Historia del Arte – La
aboliciòn del arte. La estética encontrada na rica ornamentação
Alhambra de Oriente: la
restauracion del patrimônio
das fachadas, despertou a investigar a op-
monumental ção do engenheiro-arquiteto português Luiz
hispanomusulmán y el
medievalismo islámico, Moraes Jr.4 ter aplicado, na época da cons-
José Manuel Rodríguez
Domingo, Oaxaca, 1997, trução do Pavilhão Mourisco, uma camada Figura1: Vista Pav. Mourisco Acervo DPH/COC, 2004.
pp.116.
4
Engenheiro-arquiteto
de pintura à base de cal pigmentada sobre
português responsável as argamassas mistas (cimento, areia e cal)
pelos projetos dos
pavilhões inseridos no de revestimento das fachadas. Acreditamos
Núcleo Arquitetônico de
Manguinhos. Reza a que Moraes era sintonizado com o seu tem-
lenda, que Moraes
começou a trabalhar
po, no que diz respeito ao uso de técnicas
depois de um encontro com tradicionais aliadas às mais modernas, como
Oswaldo Cruz em um dos
vagões do trem da o cimento, mas preso à tradição da lingua-
Leopoldina durante o
trajeto de ambos para seus
gem historicista que reveste o Pavilhão
trabalhos. Moraes Mourisco.
trabalhava nas obras de
reforma da Igreja da Neste estudo valeremos de uma
Penha, da cidade do Rio de
Janeiro. (NA) metodologia científica, onde tomaremos
5
Os dois Projetos de
Pesquisas apresentados
como base a descrição dos ensaios
neste estudo foram cedidos laboratoriais na caracterização de amos-
plenamente pelo DPH/
COC, foram estes: tras de argamassas e dos testes in loco do
1)Reintegração das
Argamassas Históricas, da sistema de pintura à base de cal realiza-
Rede de Materiais e
Estruturas, Edital 042/
dos nas fachadas do Pavilhão Mourisco.
2001, CNPq - Ministério Além disto, traçaremos alguns conceitos
de Ciência e Tecnologia
(MCT)/Fiocruz(2002- dos quais consideramos relevantes na ava-
2004); 2)Preservação das
Argamassas Cromáticas liação do estado de conservação destas
Históricas. Estudo de
caso: Fachadas do
superfícies arquitetônicas históricas.
Pavilhão Mourisco, Edital Figura 2: Detalhe da argamassa de revestimento ornamental. Mancha
050/2006, CNPq-MCT/ mais escura à direita, área com grande absorção das águas de chuva.
Fiocruz (em desenvolvi- (foto da autora, 2007).
mento 2007- 2009). Ambos
do acervo DPH/COC – 2. Metodologia e ensaios realizados
Fiocruz/RJ.
6
Todas as análises
laboratoriais, em se
Considerando a teoria moderna de res- testes laboratoriais de diversas amostras das
tratando de material tauração, diversas questões se destacaram argamassas de revestimento do Pavilhão
construtivo histórico
original, devem ser no decorrer dos trabalhos de restauração Mourisco. Observou-se que o desgaste das
realizadas em laboratório
especializado e desenvolvidos no Núcleo Arquitetônico argamassas nesta edificação ocorreu com
credenciado pela Rede
Histórico de Manguinhos: a compatibili- intensidades diversas conforme sua exposi-
Brasileira de Laboratórios
de Ensaios (RBLE). dade física, química e mecânica (absorção, ção ao intemperismo, assim como, as di-
fissuração, desgaste, resistência, coloração, versas épocas de intervenções, onde os
porosidade e granulometria) entre arga- aditivos para recomposição das argamassas
massas históricas e argamassas novas; a foram modificando de acordo com suas
reconstituição do traço original no proces- especificidades (volume, forma e dimen-
so de reintegração das argamassas através são). Estes ensaios foram descritos e con-
de testes diversos e complementares, pois templados em dois projetos de pesquisa
a reconstituição de traço é uma operação desenvolvidos pelo DPH/COC, com apoio
bastante delicada; a utilização de produ- do CNPq5. No primeiro projeto foram ob-
tos contemporâneos, como aditivos orgâ- tidos resultados dos testes laboratoriais das
nicos, na reconstituição do traço original amostras das argamassas escolhidas, e que
das argamassas; a aplicação de produtos forneceram dados comparativos de seus
atuais na proteção de argamassas e a re- materiais constituintes. Neste aspecto, con-
composição do aspecto original na reinte- tribuindo no sentido de avaliar se existe
gração das lacunas das argamassas de re- proximidade química e mineralógica en-
vestimento. tre as mesmas, e se as patogenias desen-
A fim de obter dados científicos para es- volvidas foram as mesmas.
tas investigações, foram realizados diversos Os testes laboratoriais6 realizados no
214
Anais | Congresso Abracor 2009
Instituto de Pesquisa Tecnológica de São cujos dados da análise química encon- 7
Testes realizados em
laboratório e in locco.
Paulo (IPT/SP) e no Instituto Nacional de tram-se registrados no Manual de Resis- Os resultados destes
fazem parte do projeto
Tecnologia do Rio de Janeiro (INT/RJ) des- tência dos Materiais (USP – POLI - GRÊ- de pesquisa Fiocruz/
CNPq com parceria do
tas amostras de argamassas estudadas fo- MIO, 1905). IPT/SP - Laboratório de
ram: análise mineralógica por difratometria Na segunda fase do projeto de pesquisa, Materiais de
Construção Civil
de raios x - utilizada para identificar os com os dados obtidos dos resultados das (LMCC), do Centro de
Tecnologia de Infra-
minerais presentes, especialmente na pas- análises laboratoriais, a investigação pro- estrutura de Obras e
da Indústria
ta; análise petrográfica - aplicada, mais curou relacionar o estado de conservação Mineradora Pagliato
recentemente, em argamassas históricas da argamassa de revestimento do Pavilhão Ltda - Minercal. Todo o
material de tinta para
visando obter informações sobre as fa- Mourisco com a camada de pintura à base os testes foi fornecido
pela Minercal. In:
ses da argamassa (pasta, agregados e va- de cal existente. Para tal, foram realizados Avaliação de sistema
zios), a zona de interface e a formação os testes de compatibilidade física e esté- de pintura e tinta à
base de cal para
de produtos secundários; análise tica, com caracterização da pintura origi- restauro, Relatório
técnico do IPT/SP n. 88
granulométrica por peneiramento e se- nal e sua aplicabilidade nas argamassas 216-205, acervo DPH/
COC, 2006; Avaliação
dimentação - visa caracterizar o agrega- existentes, nos seguintes ensaios7: identi- de desempenho de
do utilizado, quantificando as frações ficação da resina por espectrofotometria no pinturas à base de cal,
Relatório técnico IPT/
granulométricas e classificando-o segun- infravermelho (ASTM D 3677); identifica- SP n. 99 675-205,
acervo Minercal, 2008.
do SHEPARD (1954) - a fração agregado ção qualitativa dos constituintes
é separada da fração aglomerante por ata- inorgânicos cristalinos por difratometria de
que ácido baseado no método proposto raio X; espectrometria de fluorescência de
por KATZ, FRIEDMAN (1965); análise quí- raio X; resistência de aderência do sistema
mica - aplicada com vistas à reconstituição de pintura com fita adesiva – corte em X
de traço. ou em grade (ASTM D 3359); poder de co-
As técnicas aplicadas para análise e ca- bertura de tinta seca (NBR 14942); resis-
racterização da argamassa são comple- tência à abrasão úmida (NBR 14940); ex-
mentares entre si. Em argamassas anti- posição ao intemperismo artificial – CUV
gas, para as quais as características dos por 600h (ASTM G 154); avaliação dos
materiais são desconhecidas, é usual ado- efeitos da exposição ao intemperismo arti-
tar cimentos sem adições minerais, tipo ficial – CUV; permeabilidade à água antes
CP-I, como referência de cálculo. Primei- e após o intemperismo; choque térmico (10
ro pela disponibilidade atual desse tipo ciclos); avaliação dos efeitos da exposição
de cimento no mercado nacional, e se- ao choque térmico. Nestes testes, o siste-
gundo, por ser quimicamente semelhan- ma de pintura avaliado foi constituído por
te aos cimentos antigos, àqueles dispo- uma tinta orgânica e um hidrofugante de
níveis no Brasil no início do séc. XX, silicone à base de solvente.
Figuras 3, 4 e 5 –
(3) Catalogação in locco da referência de cor da camada de pintura original da argamassa de revestimento da
fachada do Pavilhão Mourisco.
(4) Aplicação in locco da pintura nova à base de cal pigmentada sobre a argamassa de revestimento original;
(5) teste de resistência de aderência do sistema de pintura à base de cal com fita adesiva – corte em X ou em
grade (ASTM D 3359). (Fotos da autora, 2007)
5. Considerações Finais
As investigações sobre argamassas de re- bamento ou proteção.
vestimento são inúmeras, porém este estudo No que diz respeito à preservação do Pavi-
focalizou a importância da compreensão da lhão Mourisco como monumento
relação do substrato com a camada de pin- arquitetônico histórico de valor inestimável,
tura, denotando assim a possibilidade de torna-se fundamental a conservação dos ma-
especificar um produto adequado para pre- teriais construtivos originais em sua máxima
servação de cada material construtivo origi- totalidade possível. Deste modo, os testes
nal dos nossos monumentos. Os produtos a realizados em campo e a resistência por par-
serem especificados numa preservação de te dos restauradores em não aplicar um pro-
argamassas de revestimento devem sempre duto de mercado não compatível com o su-
conjugar o substrato com a pintura de aca- porte original, determinaram os resultados.
217
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliografia
COSTA, Renato da Gama-Rosa (Org.). Caminhos da Arquitetura em Manguinhos. Casa de Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2003.
DOMINGO, José Manuel Rodríguez. La Alhambra de Oriente: la restauracion del patrimônio monumental hispanomusulmán y el medievalismo
islámico. In: Anais do Coloquio Internacional de Hisória del Arte – La aboliciòn del arte, Oaxaca, 1997.
O´HARE, Graham. Lime mortars and renders: the relative merits of adding cement. Artigo do The Building Conservation Directory, 1995.
Tradução de Antônio de Borja Araújo, 2003.
MANUAL DE RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS. Publicação promovida pelo Grêmio Politécnico – Associação de alunos da escola Politécni-
ca de São Paulo. Primeira edição, São Paulo, 1905. Biblioteca do IPT / São Paulo.
TAVARES, Martha Lins. Tese de doutorado: A conservação e o restauro de revestimentos exteriores de edifícios antigos – uma metodologia
de estudo e reparação. Faculdade de Arquitetura de Lisboa, Universidade Técnica, Lisboa, 2003.
VEIGA, Maria do Rosário. Intervenções em revestimentos antigos: conservar, substituir ou...destruir. In: Anais do 2 Encontro sobre Patolo-
gias e Reabilitação de edifícios, Porto, 2006.
218
Anais | Congresso Abracor 2009
CASATTI, Renata
Especialista em Conservação e Restauro / Papel
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
O MAC/USP integra em seu acervo, 6700 obras de arte, cujo suporte é papel, sendo
submetido a uma demanda de exposições bastante intensa.
Uma parceria entre MAC (Renata Casatti) e POLI (Elvo Calixto Burini Junior / Fernando
Josepetti Fonseca) foi estabelecida, a fim de realizar medições colorimétricas em pontos
previamente mapeados de algumas obras de arte, antes e depois de serem expostas,
para verificação de mudanças na policromia e suporte, devido à incidência de luz.
O objetivo é sistematizar as medições, com estudos dos limites já existentes em litera-
tura e análises de novos parâmetros, uma vez que a tecnologia e ciência avançaram.
O Museu de Arte Contemporânea da Uni- Com isto, espera-se melhor atender as ne-
versidade de São Paulo integra em seu acer- cessidades curatoriais, preservando,
vo, 6700 obras de arte, cujo suporte é pa- concomitantemente, a integridade física das
pel. O fluxo de mostras dessas obras é gran- obras.
de e variável, considerando as exposições O objetivo principal da pesquisa é defi-
no próprio MAC e os empréstimos, para ins- nir em números, a incidência de luz, con-
tituições nacionais e internacionais. cedendo um caráter científico nas argu-
A literatura diz que 70 lux é o máximo mentações que os especialistas em con-
permitido de incidência de luz sobre obra servação e restauro de museus necessitam
de arte em papel e que, exceder esse núme- colocar a cada exposição, para que não
ro pode haver comprometimento, tanto do haja ocorrência de esmaecimento de
suporte, quanto da camada pictórica. Esse policromia e alteração de suporte, devido
número pode se reduzir quando se trata de à luz excessiva ou inadequada.
obras de arte com policromias mais suscetí- Uma idéia que nasceu na tentativa de aten-
veis. O Laboratório de Conservação e Res- der as necessidades curatoriais de um mu-
tauro de Papel do MAC, em parceria com seu, cujo acervo é contemporâneo e que as
Pesquisadores da Escola Politécnica da Uni- reclamações são constantes devido à baixa
versidade de São Paulo e do Instituto de luminosidade a que as obras são expostas.
Eletrotécnica e Energia, iniciou um projeto Essa é uma pesquisa onde não pode haver
de pesquisa para fundamentar esses dados. alterações cromáticas ou de suportes, pois
A intenção inicial foi realizar medições estamos falando de obras de arte e
colorimétricas em pontos previamente patrimônio público. Portanto, a análise cons-
mapeados de algumas obras de arte, antes tante dos dados, inclusive de eventuais pro-
e depois de serem expostas, para verifica- blemas que possam ocorrer em determina-
ção de mudanças na policromia e supor- das exposições, é que vão dar os indicativos
te, devido à incidência de luz. Criar uma de qual caminho tomar. Está em fase embri-
metodologia de registros, para constantes onária e a intenção é que em um futuro pró-
estudos, análises e conclusões. Uma vez ximo, haja uma sistematização do procedi-
coletados números suficientes de dados, a mento descrito.
intenção é obter maior flexibilidade nos Paralelamente a esse objetivo central,
parâmetros fixados pela literatura, ou en- estamos analisando o que ocorre com a ca-
tão, a definição de que não há mada pictórica de obras de arte que são sub-
maleabilidade em incidência de luz sobre metidas a tratamentos convencionais de con-
papel. servação e restauro. Com essas medições,
A pesquisa também objetiva buscar adap- poderemos analisar cientificamente, possí-
tações e alternativas nas instalações dos es- veis perdas de policromia, uma vez que a
paços expositivos (como tipos de lâmpadas mesma sofre modificação com a
e filtros em vidros de proteção frontal) para neutralização dos ácidos, presentes antes do
a obtenção de uma maior incidência de luz. tratamento. Nessa vertente, com certeza
219
Anais | Congresso Abracor 2009
conseguiremos resultados mais concretos e rá- facilita a execução do trabalho. A Escola Poli-
pidos, tanto que os resultados apresentados são técnica da Universidade de São Paulo conce-
de uma obra de Aldo Bonadei que passou por de apoio científico, assim como o equipamen-
tratamento de restauro. to necessário (colorímetro).
O MAC possui elementos para que a coletâ- A apreciação dos dados, visa fundamentar
nea de dados possa ser realizada (medição dos os parâmetros existentes. Atualizá-los, tendo
pontos mapeados, tanto em obras que serão como base os equipamentos modernos de pro-
expostas, como também as que serão tratadas). teção dos espaços expositivos. Com isso, criar
E a demanda com que as obras são expostas novos conceitos, além dos já existentes.
222
Anais | Congresso Abracor 2009
Antonio Gonçalves da Silva
Arquivo Nacional
DESACIDIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS
IMPRESSOS EM PAPÉIS DE PASTA MECÂNICA
Parte II: PROPRIEDADES FÍSICO MECÂNICA
Palavras-chave:
Desacidificação, restauração, papéis, celulose.
Introdução
Parte experimental
Foram utilizados os produtos convencionais empregados na desacidificação de documen-
tos em suporte papel, empregando como amostra um papel jornal cedido pelas Organizações
Globo e para o experimento os seguintes reagentes, materiais, e equipamentos:
- água desmineralizada;
- hidróxido de Cálcio Ca(OH)2 P.A;
- hidróxido de sódio (NaOH) P.A. ;
- cuba em alvenaria com dimensões de 0,90x1,20m;
- telas de Nylon;
- tecido sintéticos marca villene;
- condutivímetro;
- pHmetro; e
- ebulidor de água.
Nas amostras de papel jornal foram empregados os seguintes tratamentos:
Tratamento I: método água fria – banho com água fria ( 22- 22,5°C) durante 10 minutos
Tratamento II: método água quente - banho com água quente (80°C) durante10 minutos
Tratamento III: método de desacidificação convencional do Arquivo Nacional SILVA ( 2000)
Tratamento IV: método soda – alemão – KOURA ( 1983).
Tratamento V: método soda - desenvolvido pelo Arquivo Nacional
Notas:
a) Legenda:
Tratamento sem: refere-se a amostra não submetida a nenhum dos tratamentos
Tratamento I: método água fria – banho com água fria ( 22- 22,5°C)
Tratamento II: método água quente - banho com água quente (80°C) durante10 min
Tratamento III: método de desacidificação convencional do Arquivo Nacional
Tratamento IV: método soda – alemão – conforme KOURA ( 1983).
Tratamento V: método soda - desenvolvido pelo Arquivo Nacional
b) Para simplificar a tabulação dos resultados na tabela são apresentados apenas os valores obtidos para a direção longitudinal de
fabricação do papel.
c) o número entre parênteses referem ao desvio padrão de dez determinações.
Referências Bibliográficas
GIORGI, R.; CECCATO, M.; SCHETINO,C. ; BAGLIONI, P. Nanotechnologies for conservation of cultural heritage: paper and canvas. Langmuir,
[s.l.], v.18, n. 21, p.8198-8203, 2002 . Disponível em:< http://pubs.acs.org/subscribe/journal/langd5/browsed.html.> Acesso em: 30/07/2008
GUERRA, Rogelio A. Quimica de la Patología del Papel : Processos de desacidificación em la conservación de los libros. cap 13, In: CURSO
DE RESTAURAIÓN DE DOCUMENTOS ANTIGUOS. São Paulo,1992 [ Textos]. São Paulo, 1992
INTERNATIONAL STANDART ORGANIZATION. Moist heat treatment at 80 degrees and 65 % relative humidity. In:______. ISO 5630-3- Paper
and board: Accelerated ageing.[s.l.], 1996. Disponível em: <http://www.iso.org. > Acesso em;29/07/08
INTERNATONAL ORGANIZATION FOR STANDARTIZATION -ISO
international management standards. Copenhagen,1996.
KOURA, A. New method for saving old paper. Darmstad: [s.n.], 1983.KOLAR, Jana. Aging and stabilization of alkaline paper. International
Preservation News, Paris, n. 19, p.32 - 36, July,1999. Disponível em: <http://www.ifla.org/VI/4ipn.html> . Acesso em:29/07/2008
LIENARDY, A. ; VAN DAMA, P. Pratical Deacidification. Restaurator, [s.l.] v. 11, n.1, p. 1-21, 1990.
SILVA, Antonio Goçalves et alli. Desacidificação de documentos impressos em papéis de pasta mecânica. In Congresso da ABRACOR, 10.;
2000, são Paulo. Anais...São Paulo: ABRACOR2000. p. 131-135.
SILVA, Antonio Goçalves et alli. Estudo comparativo entre métodos de desacidificação. In: Congresso da ABRACOR, 12.; 2006,Fortaleza.
Disponivel em: http://www.abracor.com.br/novosite/congresso/resumos.pdf
TECHNICAL ASSOCIATION OF THE PULP AND PAPER INDUSTRY. Test Methods 1994 -1995. Atlanta, 1994.
228
Anais | Congresso Abracor 2009
PINTO, Marília de Lavra
Arquiteta Urbanista
Instituição: IPHAE (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado – RS)
1
Adaptação do projeto
ESTUDO COMPARATIVO DE DESEMPENHO nº. 02:115.29-013/
anexo A da ABNT.
2
Adaptação de método
DE TINTAS À BASE DE CAL E SILICATO francês para medir a
absorção d’água
(Methode a la pipe).
Palavras-chave:
pintura; tintas à base de cal e silicato.
Introdução
As tintas para obras de restauração e con- técnica, são muitas vezes contraditórias, e
servação arquitetônica, necessitam apre- as descrições das técnicas e materiais tradi-
sentar características especiais, para alcan- cionais usados no passado chegam até nós
çar o desempenho adequado sobre os já com alterações que resultam em diferen-
substratos históricos, geralmente mais po- tes produtos e formas de produção. O que
rosos, e pela própria técnica construtiva das há em comum, é a necessidade de cuidado
edificações (fundações rasas), e a longa especial em todas as etapas da produção da
exposição às intempéries, mais sujeitos à cal, desde a escolha da matéria-prima, os
presença da umidade, sais e agentes processos de calcinação, hidratação e
poluentes. Devido a essas características, carbonatação, para que se tenha um bom
a grande permeabilidade ao vapor d’água, produto final. As tintas à base de cal são
é uma propriedade da cal não encontrada secularmente utilizadas, e aplicadas sobre
nas tintas sintéticas, que traz grande van- rebocos de cal, interagem com o este, con-
tagem no seu uso. solidando o revestimento e protegendo a
As informações da literatura clássica e alvenaria.
Objetivos específicos
Comparar o desempenho de cales de di- tas foram aplicadas sobre reboco de arga-
ferentes procedências encontradas no massa de cal, traço 1:3, e reboco de arga-
mercado local, em relação à massa mista, de cal, cimento e areia, tra-
permeabilidade à água, permeabilidade ao ço 1:2:12. Os ensaios foram adaptados dos
vapor d’água, e pulverulência, através de projetos 02:115.29-013 (permeabilidade à
ensaios qualitativos e quantitativos. As tin- água) e 02:115.29-017 (permeabilidade ao
229
Anais | Congresso Abracor 2009
vapor d’água) da ABNT para serem realiza- rar o desempenho em relação à
dos em corpos-de-prova; adaptação do mé- pulverulência. Os ensaios foram realiza-
todo do “cachimbo”, que avalia a dos nas instalações do Laboratório do
permeabilidade à água na parede vertical, NORIE/PPGEC/UFRGS, e as tintas cedidas
além de ensaios qualitativos para compa- pelos respectivos fabricantes.
O ensaio consiste em deslizar uma lixa (vermelha), nº. 200, no sentido de cima para
baixo, com certa pressão, sobre uma pequena área escolhida da superfície pintada.
230
Anais | Congresso Abracor 2009
Material:
- Recipientes de vidro em forma de cachimbos; mastique para vedação.
Procedimento de ensaio:
- Colocação dos “cachimbos” na parede; fixação com mastique.
- Encher a coluna com água, até o nível zero.
- A cada minuto, anotar o deslocamento d’água indicado na escala, durante 15 minutos.
Considerações:
Os ensaios sobre o testemunho de arga- A tinta C+CAS está entre as tintas de me-
massa de cal apresentou gráfico com cur- lhor desempenho nas duas argamassas, com
va bastante diferenciada em relação ao resultados próximos às tintas de silicato. En-
testemunho, demonstrando o efeito de tre as tintas de silicato, a tinta F apresentou
proteção das tintas de cal; já o testemu- comportamento mais constante e melhor
nho de argamassa mista, não apresentou desempenho (menor permeabilidade à
gráfico tão diferenciado, devido às conhe- água), sobre as duas argamassas, na argamas-
cidas propriedades hidráulicas do cimen- sa de cal chegando a menos de 0.5, afastan-
to, embora com maior proporção de cal do-se de todas as outras tintas.
na argamassa. A tinta E (silicato) apresentou bom de-
Há grande variabilidade entre as diferen- sempenho em relação às demais tintas nas
tes tintas. As tintas A e B, encontram-se duas argamassas, sendo o melhor sobre
num patamar intermediário, sendo que a argamassa mista (abaixo de 1.0). Na arga-
tinta B apresenta pontos de leitura quase massa de cal, está próximo à tinta C+CAS,
coincidentes, nas duas argamassas. A tin- com desempenho inferior à tinta F
ta C, apresenta grande dispersão entre os (silicato). Na argamassa mista, está com-
3 pontos de leitura na argamassa mista, patível com a tinta C+CAS e a F. Tintas
chegando num dos pontos a se aproximar que apresentaram o melhor desempenho
das tintas C+CAS/ E/ F (silicato). nas duas argamassas. (gráfico 2).
Uso de aditivos
A caseína foi usada como aditivo na pro- comportamento mais estável e baixa
porção de 6%, nas cales A, B, C. O uso do permeabilidade sobre as duas argamassas.
aditivo não apresentou mesmo efeito para A pasta de cal importada (c/ aditivos),
as diferentes cales testadas. A cal D, já é com caseína, apresentou melhor desem-
comercializada com aditivos, conforme penho que uma das tintas de silicato.
informação do fabricante. Observa-se que a caseína, em propor-
A cal A com caseína, apresentou pior ções aproximadamente idênticas, produ-
desempenho do que sem o aditivo. ziu diferentes resultados quando adicio-
A cal C com caseína, embora com um nada a diferentes cales, e a tinta
deslocamento inicial maior (provavelmen- comercializada com fixador, apresentou
te devido ao preenchimento de algum va- pior desempenho em relação à
zio na argamassa), apresentou o melhor permeabilidade à água, o que leva a con-
desempenho das cales neste quesito, pró- cluir que os aditivos podem levar a resul-
xima à tinta F (silicato), que apresentou tados opostos ao que se espera deles. 231
Anais | Congresso Abracor 2009
Ensaio quantitativo de permeabilidade ao Pesagem dos conjuntos
vapor d’água sobre substrato de argamassa A primeira pesagem dos
conjuntos (vidro contendo água,
em corpos-de-prova. com os corpos-de-prova
pintados tapando a superfície
Ensaio conforme projeto de norma superior – aberta - sem tocar na
água, vedados com mastique).
02:115.29-017 da ABNT, com alterações.
Após aplicação da tinta, os corpos-de- (T1); um testemunho de argamassa de cal
prova permaneceram sobre superfície ho- (T1ca); e sete corpos de prova de argamas-
rizontal, durante 20 dias; foi colocada no sa mista com aplicação das tintas: A,
frasco de vidro 60ml de água destilada; A+CAS, B, C, D, E, F.
temperatura de (25+/- 2)°C; umidade re- Os conjuntos foram pesados durante 7
lativa do ar de (60+/-5)%, borda do frasco dias, conforme a norma. Foram conside-
fechada pelo CP. Foram realizados inici- rados apenas os CPs de argamassa mista
almente ensaios com 9 corpos-de-prova, (por tempo insuficiente para
sendo um testemunho de argamassa mista complementação dos ensaios).
G – variação de massa (em gramas); t – possível realizar os testes com caseína nas
tempo em que ocorreu G (em dias). demais tintas.
Observa-se que, na realização do ensaio A tinta A, sem caseína, e a B se aproxi-
com corpos-de-prova de argamassa, esta está mam do testemunho.
sendo avaliada junto com a tinta, porém este A tinta F, de silicato, contrariamente ao
dado não é significativo para este estudo. esperado de uma tinta de silicato, dimi-
Conforme o gráfico, as cales sem aditivos nuiu a permeabilidade ao vapor, apresen-
apresentaram valores próximos ou superi- tando um dos piores resultados. A tinta E
ores ao testemunho, não diminuindo a apresentou permeabilidade bem acima do
permeabilidade ao vapor apresentada pelos testemunho.
corpos-de-prova. A tinta que apresentou maior
A tinta A+CAS apresentou pior resulta- permeabilidade ao vapor d’água foi a C.
do - a presença da caseína diminuiu a O estudo foi apenas comparativo, não
permeabilidade ao vapor d’água (esta tin- se estabelecendo parâmetros recomendá-
ta também apresentou pior resultado no veis de desempenho das tintas em relação
ensaio de permeabilidade à água). Não foi à permeabilidade à água e ao vapor d’água.
232
Anais | Congresso Abracor 2009
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- As causas do comportamento diferenci- lhor desempenho em relação à
ado das cales são de difícil avaliação, na permeabilidade à água, e um bom desem-
fase final de aplicação. O processo de pro- penho em relação à permeabilidade ao
dução da cal passa por muitas etapas, até o vapor.
produto final, fator que dificulta a avalia- - As tintas de silicato são reconhecidas
ção da matéria-prima em si. A realização como de desempenho superior em rela-
de testes da qualidade da cal, já demons- ção à resistência à passagem da água, e
tra um indicativo do produto. permeabilidade ao vapor, porém apresen-
- O estudo experimental teve caráter tam alto custo. O ensaio demonstra que o
exploratório, utilizando métodos simplifi- desenvolvimento de uma tinta à cal com
cados, devido às limitações de tempo, re- desempenho similar, além de ideal, devi-
cursos e condições de realização. Contou do ao baixo custo da cal, é também possí-
com número relativamente extenso de pro- vel.
dutos e um número limitado de testes, re- - Quanto ao uso de aditivos, observou-
sultando em dados suficientes para indi- se que podem alterar o comportamento das
car alguns comportamentos das cales. Para cales, nem sempre no sentido desejado,
resultados conclusivos, seria necessário confirmando dados da literatura
maior número de dados, o que iria pesquisada.
extrapolar os limites desta pesquisa. Os - O uso da caseína apresentou resulta-
dados coletados, entretanto, demonstram dos opostos em relação à permeabilidade
a validade da realização de testes simples, à água, conforme as diferentes tintas em
para avaliar determinadas características que foi aplicada. A tinta A com caseína,
dos produtos antes da sua aplicação em apresentou o pior desempenho. Já a tinta
obra, permitindo maior segurança na C (pasta de cal de referência), apresentou
especificação, quanto ao futuro desempe- bom desempenho, não sendo possível aqui
nho. avaliar se os resultados alcançados se de-
- Apesar de alguma variabilidade decor- vem ao aditivo ou à diferente qualidade
rente das condições do ensaio, foi possí- das tintas. Em relação à permeabilidade ao
vel verificar que as cales de diferentes pro- vapor d’água, a caseína alterou o compor-
cedências apresentam comportamento di- tamento da tinta em que foi aplicada, di-
ferenciado em relação às características minuindo a permeabilidade, porém não
analisadas. foram testadas outras tintas, para verificar
- O estudo comparativo com o produto a incidência deste comportamento.
comercializado, demonstra a grande vari- - Pode-se observar, pelos dados encon-
abilidade existente. trados, da grande variabilidade dos pro-
- O ensaio comprovou as propriedades dutos, que é importante a realização de
da tinta à cal de oferecer um bom acaba- testes simples antes da aplicação das tin-
mento, e de preencher os vazios do rebo- tas em obra, para que se possa utilizar os
co de cal. Em poucos dias após a aplicação melhores produtos, e também influir, in-
da última demão de tinta, as fissuras na ar- centivando para que as empresas produto-
gamassa de cal (provavelmente decorren- ras tenham melhor controle sobre a maté-
tes de problemas nos materiais, e da exe- ria-prima que colocam no mercado.
cução rápida) tornaram-se imperceptíveis, - A revisão bibliográfica, assim como as
permanecendo visíveis apenas nos locais respostas e declarações de profissionais
onde foram aplicadas tintas de silicato. experientes no uso da cal, na área de res-
- Em relação às tintas de silicato, obser- tauração, tanto arquitetônica como da pin-
vou-se que uma delas (tinta F) apresentou tura mural, a pesquisa técnica realizada na
melhor resistência à permeabilidade à USP, e exemplos mundiais – antigos e atu-
água, porém pior desempenho à passagem ais - apontam a cal como um material de
do vapor d’água, resultado que não grande valor e atualidade, fundamental em
corresponde ao esperado de uma tinta de obras de restauração e com possibilidades
silicato. Já a tinta E, apresentou comporta- mais amplas de utilização, desde que se-
mento semelhante à tinta de cal de me- guindo padrões de qualidade.
233
Anais | Congresso Abracor 2009
Referências
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto 02:115.29-017. [recebido por e-mail (kai.uemoto@poli.usp.br) em 08/11/2005].
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto 02:115.29-013. [recebido por e-mail (kai.uemoto@poli.usp.br) em 08/11/2005].
BRANDI, C. Teoria da Restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
CINCOTTO, M. A. Influência da matéria-prima e dos fornos de calcinação nas características da cal virgem. 1986. Tese (Doutorado em Engenharia)
- Escola
Politécnica da USP. São Paulo.
HURLBUT, J.D. Manual de Mineralogia, vol 2. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S.A., 1969.
GUIMARÃES. J. E. P. A Cal – Fundamentos e Aplicações na Engenharia Civil. São Paulo: Pini, 1997.
AGUIAR, J. Cor e cidade histórica. Porto: FAUP, 2002.
KANAN, M.I. Manual de argamassas rebocos e tintas para uso em conservação. “Disponível em http://www.icomos.org/~ikanan”. Acesso em
03/10/05.
MINKE, G. Manual de construccion em tierra, 2 ed. Editorial Fin de Siglo, 2005.
POSSER, N. D.; WILLIMZIG, M. Influência de diferentes argamassas na difusão de vapor de tintas. NORIE/UFRGS. Porto Alegre, 2003
SANTOS, A. R.dos. Pintura à cal: uma poderosa arma no combate à erosão. A tecnologia cal-jet. [artigo recebido por e-mail
(kai.uemoto@poli.usp.br) em 08/11/05].
UEMOTO, K. L.; AGOPYAN, V.; OLIVEIRA, M.C.B. Cal hidratada para caiação: influência da morfologia do cristal da matéria-prima nas suas propri-
edades. 2005.
UEMOTO, K. L. Pintura à base de cal. São Paulo: IPT 2030, 1993.
UEMOTO, K. L. Pintura à base de cal. 1991. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica da USP. São Paulo.
YOUNG, R. A. Inovations in limewash. [artigo recebido por e-mail (Isabel.11sr@iphan.gov.br) em 2005 – tradução nossa].
VITRÚVIO. Da Arquitetura. São Paulo: Editora Hucitec/ Fundação para a Pesquisa Ambiental, 1999.
A monografia completa Estudo Comparativo de Tintas a base de Cal e Silicato pode ser encontrada na Biblioteca PPGEC/NORIE/UFRGS.
234
Anais | Congresso Abracor 2009
PONTUAL, Virgínia
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1998). Professora da Universidade
Federal de Pernambuco/ Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU/UFPE. É
pesquisadora e membro dos Conselhos Administrativo e Científico do Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada (CECI)
ZANCHETI, Sílvio
Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1989) e pós-doutorado pela
International Centre For The Study Of The Preservationa And Restoration Of (1996). Professor da
Universidade Federal de Pernambuco/ Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU/
UFPE. É pesquisador e Presidente do Conselho Administrativo do CECI.
LIRA, Flaviana
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE (MDU/UFPE).
É pesquisadora e Diretora associada do CECI.
MILFONT, Magna
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE (MDU/UFPE).
É pesquisadora da do CECI.
HARCHAMBOIS, Mônica
É graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Gama Filho (1988). É pesquisadora e diretora
associada do CECI.
CABRAL, Renata
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Carlos (2003). É pesquisadora do CECI.
PICCOLO, Rosane
Mestre em Desenvolvimento Urbano pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano
(MDU/ UFPE). É pesquisadora e membro do Conselho Científico do CECI.
Palavras-chave:
patrimônio cultural, metodologia, identificação, autenticação.
Key-words:
cultural heritage, methodology, identification, autentication.
235
Anais | Congresso Abracor 2009
INTRODUÇÃO
Na atualidade, evidencia-se o crescente contribuir para a supressão dessa lacuna, ao
interesse pelo conhecimento do apresentar uma metodologia de identifica-
patrimônio cultural como um ato de ção e autenticação do patrimônio cultural.
rememoração de outras experiências A discussão desses desafios conceituais e
vivenciadas, no entanto no Brasil esse doutrinários está feita tomando como refe-
patrimônio é comumente apresentado sem rência empírica o Istmo de Olinda e Recife
a devida identificação e autenticação, seja – pequena lingueta de areia que no passado
quanto à sua dimensão material, seja quan- foi reduto de fortificações e local envolto
to à imaterial. em lendas e mistérios –, por possuir signifi-
A lacuna da identificação histórica é pro- cativa história, ser objeto de tombamento
blemática, pois é a história que revela a federal e de reconhecimento internacional.
cultura do lugar e os significados atribuí- O artigo, que é composto de três partes,
dos no tempo. O processo de autentica- está estruturado de modo a seguir um enca-
ção por meio da atribuição de valor ao deamento expositivo que permita compre-
patrimônio cultural e de certificação de sua ender como se deu a construção da
autenticidade e integridade está também metodologia, como foi aplicada em um
a carecer de estudos e pesquisas. objeto empírico e quais os resultados obti-
O presente artigo propõe-se, assim, a dos.
240
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliografia
APLIN, Graeme. Heritage: identification, conservation and management. Oxford University Press, 2002.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992.
AYMONINO, C. O significado das cidades. Lisboa : Editorial Presença, 1984
DEL RIO, V. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo : Pini, 1990.
BRANDI, C. Teoria da restauração. Cotia, SP : Ateliê Editorial, 2004.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
CHOAY, F. A alegoria do patrimônio; tradução de Luciano Vieira Machado - São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP, 2001.
CONNOR, S. Teoria e Valor Cultural. São Paulo: Edições Loyola, 1994.
CURY, Isabelle. (Org.). Cartas Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 2000.
FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa: Presença, 1985.
FONSECA, Marília Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da politíca federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ
– MINC - IPHAN, 1997.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária. 1987.
FREIRE, Doia; PEREIRA, Lígia Leite. In MURTA, Stela Maris & ALBANO, Celina (org.). Interpretar o Patrimônio. Um exercício do olhar. Belo
Horizonte, Editora UFMG/Território Brasilis, 2002.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990. LE GOFF, Jacques. A história nova. 2ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1993.
————————————. História e memória. 4ª ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1996.
GOFF, Jaques, e ots. A nova história oral, Lisboa: Edições 70, 1983.
KOLSDORF, M. A apreensão da forma da cidade. Brasília: Editora da UnB, 1996.
LACERDA, N. Os valores das estruturas ambientais urbanas: considerações teóricas. In ZANCHETI, S.M. ; JOKILEHTO, J. (ORG.). Gestão do
Patrimônio Cultural Integrado. CECI- Ed. da Universidade Federal de Pernambuco, 2002.
MONTENEGRO, Antônio Torres. História oral e memória: a cultura popular revisitada. São Paulo: Contexto, 1992.
PANERAI, P. Análise urbana. Brasília : Editora Universidade de Brasília, 2006.
PEREIRA, L. V. A leitura da imagem de uma área urbana como preparação para o planejamento / ação da sua reabilitação. Lisboa : Laboratório
Nacional de Engenharia Civil, 1996.
PRINS, Gwin. História Oral. In: BURK, Peter (org.). A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo : Editora UNESP, 1992, p.192.
PORTELLI, A. O que faz a história oral diferente. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História
da PUC-SP. (Projeto História: Cultura e Representação) São Paulo, n. 14, fev.1997, p. 25-39.
RIEGL, A. El culto moderno a los monumentos. Madrid : Visor Dis. S.A., 1999.
VEYNE, Paul. Como se escreve a história. 3ª ed. Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1995.
ZANCHETI, S.M. ; JOKILEHTO, J. (ORG.). Gestão do Patrimônio Cultural Integrado. CECI- Ed. da Universidade Federal de Pernambuco, 2002.
241
Anais | Congresso Abracor 2009
242
Anais | Congresso Abracor 2009
GOMES, Gabriela de Lima,
Comunicação Social, Mestre em Artes, Universidade Federal de
Minas Gerais, Professora do Departamento de Fotografia, Teatro
e Cinema da Escola de Belas Artes
1
GOMES, 2008.
Reconhecer o risco - estratégia utilizada no arquivo 2
PAVÃO, 1997.
PALAVRAS-CHAVE:
Preservação fotográfica, arquivos marginais, gerenciamento de risco, digitalização
Introdução
Encontrar arquivos de fotografias ou docu- A curiosidade em conhecer as fotografias
mentos institucionais carregados de valor das Rainhas do Rádio foi o estímulo para o
patrimonial não é difícil na atualidade. Insti- reconhecimento deste patrimônio documen-
tuições públicas e privadas, das mais diver- tal. O reencontro com um Arquivo que se
sas funções, produzem e acumulam docu- mantém à margem da instituição Rádio Na-
mentos textuais, iconográficos e digitais. E, cional do Rio de Janeiro. À margem, por
na maioria das vezes, tais instituições, não que sua produção é, exclusivamente, sono-
sabem como cuidar desta produção. ra.
O objeto
Partiremos com uma sucinta apresenta- de 1940 e 1960. As ampliações foram feitas
ção do objeto de estudo e seu estado de em papel revelação 2 . A estrutura é constitu-
conservação, seguidos dos gráficos resul- ída por substâncias orgânicas e inorgânicas
tantes do diagnóstico. sobrepostas em camadas: o suporte de pa-
O recorte privilegiou as provas fotográficas pel, uma camada de barita e a emulsão foto-
em preto e branco registradas entre os anos gráfica, mistura de gelatina e prata filamentar. 243
Anais | Congresso Abracor 2009
3
MURCE, 1976, p.71.
4
Edna Dantas concedeu
entrevista à pesquisado-
ra no dia 9 de abril de
2007 na Rádio Nacional
do Rio de Janeiro.
5
Disponível em: <http://
www.cbmerj.rj.gov.br>.
Acesso em: mar. 2007.
6
SAROLDI, 2005, p.
192.
O contexto
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro é re- foi idealizado em 1980, durante a gerência
conhecida por ter sido responsável pela de Jorge Guimarães Marcelo, com o propó-
transformação da vida social dos brasilei- sito de reintegrar o acervo doado ao Museu
ros ao produzir mitos populares. Renato da Imagem e do Som do Rio de Janeiro 6 .
Murce 3 afirma que “a Rádio Nacional foi Alberto Luiz da Silva Santos, auxiliar admi-
a própria essência do rádio no Brasil por nistrativo, realiza pesquisas para a progra-
cerca de duas décadas”. mação da emissora e às terças e quartas-
O edifício “A Noite”, Praça Mauá, n°7, feiras de 14 às 17 horas recebe visitantes e
abriga, até hoje, a emissora. Instituição le- consulentes.
gislada pelo Governo Federal e pertencen- Estão registradas no controle de catalo-
te à Radiobrás (Empresa Brasileira de Ra- gação do arquivo fotográfico da Rádio Na-
diodifusão), ligada à Presidência da Repú- cional 494 imagens, sendo que 313 foto-
blica por meio da Secretaria de Comuni- grafias foram catalogadas entre 1982 e
cação de Governo e Gestão Estratégica. 1984 e as outras 181 foram catalogadas
Edna Dantas 4 , chefe do Escritório Regi- em 2003. Desse total, 46 imagens estão
onal da Rádio Nacional, relata sobre a pre- desaparecidas e 7 são fotografias em co-
ocupação da instituição em conservar suas res pós 1970. Logo, fizeram parte da pes-
coleções, no entanto, não existe verba quisa 441 imagens.
dedicada à manutenção das coleções. O arquivo de provas fotográficas foi for-
Em uma sala no 21° andar do edifício mado a partir de imagens produzidas por
“A Noite” região portuária e tráfego inten- fotógrafos que acompanhavam a progra-
so está guardado o arquivo fotográfico da mação da Rádio e por doações realizadas
Rádio Nacional. Edifício equipado com pelos artistas e produtores dos programas
escadas externas e brigada de incêndio. radiofônicos.
Tanto a portaria do edifício, quanto a da O estado de conservação é preocupante
emissora possuem vigilância. Segun- devido à manipulação e acondicionamen-
do o Corpo de Bombeiros Militar do Esta- to. As fotografias estão montadas em pas-
do do Rio de Janeiro 5, o edifício “A Noi- tas de argola fixadas em cartolinas ácidas
te” não sofreu nenhum tipo de desastre com cantoneiras de fita adesiva, além de
ambiental ou criminoso. apresentarem diversas intervenções ocor-
O setor de pesquisa da Rádio Nacional ridas durante os anos de uso.
244
Anais | Congresso Abracor 2009
O resultado do diagnóstico
Após o diagnóstico de cada elemento as encontradas em três situações de de-
fotográfico da Rádio Nacional, passamos gradação: por intervenção, por manipu-
a ter uma visão geral sobre o Arquivo. lação e ambiental. Os gráficos, a seguir,
Com o intuito de esclarecer o estado apresentam o resultado deste levanta-
de conservação dividimos as ocorrênci- mento.
245
Anais | Congresso Abracor 2009
7
HANDBOOK: Risk
management A realização do diagnóstico do estado de indícios de sulfuração e/ou mau
guidelines. Joint
Australian/New
conservação das provas fotográficas da Rá- processamento. Apesar dos vasos de plan-
Zealand Standard, AS/ dio Nacional nos revelou que, mesmo com tas da sala de guarda, meio facilitador à
NZS 4360, 2004.
as flutuações recorrentes da umidade relati- proliferação de insetos, não encontramos
va e da temperatura, o Arquivo apresenta furos ou marca de roedores e apenas cin-
uma pequena parte das possíveis caracterís- co imagens possuem excrementos de in-
ticas de degradação decorrentes da falta de setos. Tal evidência demonstra que nem
controle ambiental. Como a proliferação de sempre o meio ambiente com temperatu-
fungos, craquelês e ondulações. ra e umidade relativa inadequadas é o prin-
As características mais recorrentes foram cipal causador da degradação.
manchas e amarelecimento, que podem ser
O reconhecimento do risco
Após o reconhecimento da política ca onde as fotografias estão alocadas não está
institucional; das características ambientais ameaçada pelas forças físicas da natureza;
e urbanas da região e do bairro; estruturais 2. CRIMINOSO - podemos apontar como
do edifício; as condições climáticas da sala um fator problemático a falta de segurança
de guarda; o armazenamento e o acondici- do acervo quando disponível a consulta.
onamento do arquivo e seu o estado de con- Segundo os dados apresentados acima, 46
servação seguiremos com alguns dos proce- imagens foram roubadas da seção durante
dimentos metodológicos de gerenciamento seus 25 anos de existência;
de risco. 3. FOGO - o edifício possui brigada de
De acordo com o guia Risk Management incêndio;
Guidelines7 , o termo “gerenciamento de 4. ÁGUA - a tubulação de água é exter-
risco” significa a compreensão da cultura, na ao prédio;
dos processos e das estruturas, do objeto 5. PESTE - apenas 1,11% das provas
inserido na instituição, a fim de detectar apresentam danos causados por insetos ou
as oportunidades potenciais e administrar roedores;
os efeitos adversos. 6. POLUENTES - a poluição e o
Metodologias baseadas em tabelas com processamento inadequado são dois fato-
estimativa de vida e escalas com valores de res a serem considerados, pois
risco foram desenvolvidos nos últimos anos contabilizamos um terço das imagens com
para facilitar a administração das coleções. amarelecimento;
ABC risk assessment scales for museum 7. LUZ/UV - as provas da emissora não
collections¬, criada por Stefan Michalski em são utilizadas em exposições e estão acon-
2006 apresenta uma escala baseada em per- dicionadas em pastas com proteção;
guntas em relação à coleção, tais como: 8. TEMPERATURA - a temperatura da
A: Com que rapidez e com que frequência sala de guarda não sofre fortes alterações;
a degradação ocorre? 9. UMIDADE RELATIVA - a variação da
B: Quanto de valor é perdido em cada umidade não alcança as provas fotográfi-
objeto afetado? cas a ponto de originar craquelês e despren-
C: Quanto do valor total do arquivo é dimento da gelatina do suporte de papel;
afetado? 10. DISSOCIAÇÃO - uma causa bastan-
Cada resposta possui um valor pré-de- te preocupante é quanto ao contexto das
terminado e o resultado da soma dos valo- imagens, que não foi descrito durante sua
res das respostas A, B e C nos demonstra- produção e hoje fica à mercê de lembran-
rá os riscos mais eminentes. ças de funcionários ou pessoas remanes-
Os 10 possíveis agentes de degradação centes que vivenciaram a época áurea da
identificados no arquivo de fotografias da emissora, ocasionando no futuro a
Rádio Nacional foram: dissociação informação.
1. FORÇAS FÍSICAS - a região geográfi-
246
Anais | Congresso Abracor 2009
A análise do cenário nos evidenciou que os fatores de maior preocupação são a ação
criminosa, os poluentes, a manipulação e a dissociação da informação.
Podemos dizer que parte significativa das provas fotográficas da Rádio Nacional foi
afetada por algum tipo de intervenção ou sofre até mesmo danos causados pelo meio
ambiente. [C= 4]
A+B+C=11
247
Anais | Congresso Abracor 2009
Ao conferirmos a magnitu-
de de risco verificamos que as
provas fotográficas da Rádio
Nacional possuem alta priori-
dade. Ou seja, perda significa-
tiva de valores no período de
uma década ou perda total em
cem anos. Estes valores são
comuns em instituições onde
a conservação preventiva nun-
ca foi prioridade ou onde pre-
ciosos artefatos estão expostos
em locais de fácil roubo.
Para ampliar o acesso des-
te Arquivo, permitir que ele
seja revisto e reencontrado
sugerimos a elaboração de
um protocolo de digi-
talização potencializando a
pesquisa teórico-prática e
transformando-a em um pilo-
to incentivador para uma po-
lítica de divulgação do
patrimônio cultural.
No entanto, é preciso real-
çar que a realização da
digitalização requer atenção
especial para as normas de
captação da imagem e
armazenamento das cópias
digitais. A preservação digital
é de extrema importância.
Devemos ficar atentos e
acompanhar as transformações
tecnológicas, pois a obsolescência do materi- das provas fotográficas da Rádio Nacional
al eletrônico é rápida. A revisão deve aconte- e criar um Arquivo digital “vivo”,
cer no tempo máximo de cinco anos, mas circulante, que não se torne “morto”, es-
recomenda-se uma revisão anterior a esse pra- tanque, guardado em discos rígidos e
zo. DVDs. Conhecer, reconhecer, preservar,
Pretendemos com as ações do reencon- divulgar, publicar, prover acesso e usar as
tro e da digitalização preservar o Arquivo imagens é a prioridade desta pesquisa.
Bibliografia
BESSER, H. Digital longevity. In: SITTS, Maxine (Ed.). Handbook for digital projects: a management tool for preservation and access.
Andover MA: Northeast Document Conservation Center, 2000. p. 155-166.
GOMES, Gabriela de Lima. Ver para crer: um novo olhar para os arquivos fotográficos. Dissertação (Mestrado em Artes) – Escola de
Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
PAVÃO, Luís. Conservação de coleções de fotografia. Lisboa: Dinalivro, 1997.
PEDERSOLI, José Luis. Principles of risk management. Apresentação Safeguarding Sound and Image Collections. ICCROM, Internatinal
Course. Brasil, 2007.
MICHALSKI, Stefan. Scales for Calculating Magnitude of Risks. Apresentação Preventive Conservation: ReducingRisks to Collections.
ICCROM-CCI, International Course. Canadá, 2006.
MURCE, Renato. Bastidores do Rádio: fragmentos do rádio de ontem e de hoje. Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1976.
SÚÑIGA, Solange Setta Garcia. Divagações mais ou menos contemporâneas acerca das coleções de imagens. In: Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – Fotografia, n° 27, 1998.
248
Anais | Congresso Abracor 2009
Markus Wilimzig
Biólogo, Dr. rer nat.
Consultor para análises de danos nos Monumentos Históricos
Após o término da restauração da Antiga Igreja Matriz de Dois Irmãos, Rio Grande
do Sul, apareceram manchas pretas em vários pontos das suas paredes internas. A
origem dessas manchas está nas eflorescências salinas de carbonato de magnésio.
Com as análises, também foram constatadas altas concentrações de sais das formas
nitrato de magnésio e nitrato de sódio. A distribuição desses sais é diferente nas áreas
pretas e nas áreas sem preto.
After finishing the restoration of the church Antiga Igreja Matriz at the city of Dois
Irmãos in Rio Grande do Sul, Brazil, was noticed the appearance of different areas
with black coloration. This thin black crust consists of magnesium carbonate. Also
have been analyzed high concentrations of magnesium and sodium nitrate salts at
various places of the walls. The concentrations of these salts were different in black
and non black areas.
Introdução
Materiais e métodos
Para as análises de sulfato e nitrato, foram tos da microscopia eletrônica foram feitos
usados Teststäbchen da empresa Merck. O no Institut für Werkstofftechnik / Amtliche
cloreto foi analisado com nitrato de prata. Materialprüfungsanstalt, em Bremen, Alema-
Os demais sais foram analisados com méto- nha com Dr. Herbert Juhling. Para os ensai-
dos microquímicos. A umidade das provas os microbiológicos, as provas foram diluí-
foi analisada com o método de Darr. As aná- das em NaCl 0,9% e as diluições distribuí-
lises de refratometria de raios-X como as fo- das nas placas de Nutrient Broth.
249
Anais | Congresso Abracor 2009
Resultados e discussão
A primeira análise das camadas de re- uma camada consistente de Mg, O e C na
boco demonstrou os seguintes resultados: cor preta; e segundo, uma contaminação
O reboco foi aplicado em uma ou duas com sais nitratos.
mãos e depois foi colocada uma camada Primeiro: a análise de refratometria de
de reboco fino, como fundo da tinta. To- raios-X mostrou que a camada preta con-
das as argamassas são de cal-dolomita. tém só os íons de magnésio, oxigênio e
Acima da argamassa fina, constata-se a carbonato, como a figura 5 demonstra:
camada preta, como se pode ver na figura
3. A tinta foi feita à de base de cal com
adição de cola branca e pigmento.
Bibliografia
Wilimzig M., E. Bock (1995): Endangerement of mortars by nitrifiers, heterotrophic bacteria and fungi. Biodeterioration and
Biodegradation 9:195-199.
Nägele E.W. (1992): Die Rolle von Salzen bei der Verwitterung von mineralischen Baustoffen, WTA – Schriftenreihe Heft 1.
251
Anais | Congresso Abracor 2009
252
Anais | Congresso Abracor 2009
SAWITZKI, Roberto Luiz
Arquiteto.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do RS
PALAVRAS-CHAVE:
Argamassa, Revestimento,Restauração Metodologia, Aditivos Orgânicos.
On its life trajectory, mankind has always appropriate the benefits of using the resources
offered by nature. Man learned therefore how to make use of natural resources, in order
to improve the physical and chemical properties of the materials used in its buildings.
Among the uses of organic additives, there are oral accounts about the incorporation of
the cactus into mortars used for the construction of historic buildings in the municipality
of Piratini, situated in the State of Rio Grande do Sul, basically during 19th and 20th
centuries. The present survey has two main objectives: The first one is to establish,
through laboratorial tests, the most probable composition (basically lime, sand and silt)
of those mortars used in the buildings under state protection, both in mass and in volu-
me. The second one is to prove whether there are in fact benefits in the addition of
cactus to those mortars and, if they exist, which they are. As soon as the benefits of this
addition are proved, the technology can be employed in the elaboration of mortars that
will be used to fill in the gaps existing in historic buildings.
KEY WORDS:
Mortar, Rendering, Restoration, Methodology, Organics Additives.
INTRODUÇÃO:
A existência de relatos orais sobre a adi- da desapropriação da sesmaria de José
ção de mucilagem de cactos às argamas- Antônio Alves (Almeida, 1997, pg. 15).
sas elaboradas para as primeiras constru- Esta sesmaria foi dividida em 48 datas de
ções executadas no município de Piratini, campo as quais foram doadas a casais aço-
Estado do Rio Grande do Sul, foi o mote rianos para ali se fixarem e cultivarem as
inicial desta pesquisa. O Estado do Rio terras, não podendo vendê-las por no mí-
Grande do Sul foi colonizado pelos portu- nimo cinco anos. Quando da declaração de
gueses a partir do séc. XVIII. A cidade de Independência do Rio Grande do Sul, que
Piratini surgiu no final do século através aconteceu durante a Revolução Farroupilha 253
Anais | Congresso Abracor 2009
(1835 e 1845), Piratini tornou-se sua pri- mistura dos componentes das argamassas
meira capital, permanecendo no ideário históricas de Piratini ocasionou uma série
popular rio-grandense-do-sul como a capi- de orientações técnicas incorretas nas obras
tal deste período revolucionário. Devido ao de restauro, acarretando acréscimo às pato-
ocaso sofrido após o final da guerra, e prin- logias existentes. A comprovação da adição
cipalmente durante o séc. XX, a cidade dos cactos às argamassas foi obtida com
manteve seu centro histórico relativamente antigo construtor local, que ouviu de seus
íntegro. Seu centro histórico possui o mai- mestres pedreiros referências sobre a utili-
or número de prédios tombados na esfera zação de cactos nas argamassas, porém es-
estadual do interior do estado, bem como tes não especificaram os benefícios da uti-
três bens tombados em nível federal além lização deste aditivo orgânico. Esta espécie
de dezenas de prédios tombados em nível é popularmente conhecida como tuna
municipal. No âmbito municipal, as tenta- colunar (foto 05), identificada cientificamen-
tivas para preservação do patrimônio histó- te como “Cereus
rico iniciam-se em 1952 com a aprovação hildmaniannus”(Scheinwar, 1985, pg.
da Lei n0 13/52, que institui os imóveis de 105), porém não havia comprovação cien-
interesse cultural para preservação. Esta le- tífica de seus benefícios. Os ensaios neces-
gislação protetora inicial decorre da visão sários para a comprovação dos seus benefí-
preservacionista do arquiteto Francisco cios foram estabelecidos em duas etapas,
Riopardense de Macedo, ocasionando a sendo a primeira a identificação da propor-
criação do primeiro Plano Diretor no Esta- ção de mistura tanto em massa como em
do do Rio Grande do Sul com delimitação volume da argamassa dos prédios
de um centro histórico, contando também pesquisados (basicamente cal, areia e argi-
com listagem de imóveis de interesse cul- la, ou silte). Para a comprovação dos bene-
tural e regramento para novas edificações. fícios da adição da mucilagem de cactos
Posteriormente, no ano de 1984 foi apro- foram elaborados corpos-de-prova com ar-
vada a lei nº 767/84, que delimita o cen- gamassa de cal e areia com e sem a adição
tro histórico, bem como disciplina o uso e da mucilagem de cactos.
ocupação do solo no mesmo. Os corpos-de-prova com mucilagem fo-
As construções do centro histórico de ram elaborados com dois percentuais de
Piratini possuem como técnica construti- massa verde incorporada, também visan-
va predominante a alvenaria de pedra ou do uma comparação entre resultados.
tijolos, com assentamento em argamassa Devido à ausência de normatização no
de barro, ou cal e areia. Porém, todos os âmbito nacional, para alguns ensaios foi
prédios pesquisados, em número de 13, necessária a utilização de normas de paí-
apresentam revestimento em argamassa de ses como Portugal e Itália, bem como em
cal e areia. casos específicos as normas brasileiras ti-
O desconhecimento das proporções de veram que sofrer pequenas adaptações.
METODOLOGIA:
No princípio da pesquisa foi realizada a tórica. Após essa etapa foram elaborados
coleta das amostras e a identificação da es- os corpos-de-prova para a realização dos
pécie de cactos utilizada na elaboração das ensaios finais. Observado o período neces-
argamassas históricas. Para a coleta das ar- sário para carbonatação dos corpos-de-pro-
gamassas históricas foi elaborado um va, foram realizados os ensaios finais (En-
extrator composto por um cilindro metáli- saio de Resistência à Compressão Axial,
co dentado, o qual foi girado contra os Ensaio de Tração por Compressão Diametral
rebocos, retirando-se as amostras, as quais (Ensaio Brasileiro), Massa Unitária –
foram colocadas em recipientes apropria- Picnômetro de Hubbar, Ensaio de Absorção
dos e identificadas (foto 01). Em seguida por Capilaridade, Ensaio de Porosidade à
foram iniciados os ensaios para determi- Água, Envelhecimento Acelerado com
nar o traço, a granulometria da areia e o Na2SO4) e, finalmente, a análise dos resul-
ataque dos sais solúveis na argamassa his- tados.
OS ENSAIOS FINAIS
A Moldagem dos Corpos-de-Prova
RESULTADOS
Nos ensaios realizados constatou-se que maior presença de vazios na argamassa, po-
as argamassas históricas possuem uma gran- dendo ser um agente incorporador de ar. O
de variedade de traços, evidenciando peque- ensaio em que houve resultados negativos foi
no controle tecnológico em sua elaboração, o de envelhecimento acelerado, no qual as
encontrando-se extremos de traços como casa amostras com a incorporação de mucilagem
de Darwig Lucas (1:2,70; cal areia), seme- de cactos tiveram pior desempenho, eviden-
lhante ao traço recomendados por Vitruvio ciando a possibilidade de acelerar a degrada-
(1:3; cal e areia); bem como traços com ção, necessitando melhor investigação. Nas
menor quantidade de aglomerante (1: 7,55; argamassas com incorporação de 60 g de massa
cal e areia) como na casa do Comendador verde, em todos os ensaios os resultados fo-
Moreira Fabião. ram inferiores, evidenciando ser excessiva essa
Nos ensaios laboratoriais (30 g de massa quantia de massa verde. Porém, constatou-se
verde de cactos) houve aumento considerável ao final a dos resultados a possibilidade de
nas resistências à compressão axial e diametral, resgate da incorporação de cactos às argamas-
e também um maior isolamento hídrico al- sas utilizadas no preenchimento de lacunas
cançado nos ensaios de absorção por nas obras de restauro em Piratini, recuperan-
capilaridade. No ensaio de porosidade à água do esta tecnologia e a importância desta es-
houve um acréscimo absorção evidenciando pécie de cactos junto à população local. 257
Anais | Congresso Abracor 2009
Bibliografia
ALMEIDA, Davi. História do Município de Piratini- Roteiro Histórico e Sentimental. 2. ed. Piratini: Gráfica C.E.A.J., 1997. 131 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT).
______ NBR 7215/1996. Cimento Portland – Determinação da resistência à compressão, Rio de Janeiro, 1996.
______ NBR 7222/1993. Argamassas e Concretos – Determinação da resistência à tração por compressão diametral de corpos-de-prova cilíndricos,
Rio de Janeiro, 1993.
______ NBR 13279, 1995. Argamassas para assentamento de paredes e tetos – Determinação da resistência à compressão, Rio de
Janeiro, 1995.
______ NBR 12766, 1992. Rochas para Revestimentos – Determinação da massa específica aparente e absorção d’água aparente, Rio de
Janeiro, 1992. (Utilizada com a Normal 4/80).
Doc. Normal 04/80, Distribuizione del volume dei pori in funzione del loro diâmetro.CNR – ICR. Roma: Comas Gráfica, 1985.
Doc. Normal 11/85, Assobimiento d água per capilaritá – Coefficente di assorbimimento capillare CNR –ICR. Roma, 1985
ESPECIFICAÇÃO LNEC - 88.26, Agregados –Ensaio de Alteração pelo Sulfato de Sódio ou pelo Sulfato de Magnésio, LNEC, Lisboa,
Portugal, 971.
NORMA MERCOSUR, NM77:96, 1996. Concreto - Preparação das bases dos corpos-de-prova e testemunhos cilíndricos para ensaio de
compressão. Comite Mercosur de Normalizacion, 1996.
SCHEINVAR, Léia. Cactáceas, in Flora Ilustrada Catarinense, Itajaí: Editada por Raulino Reitz, 1985, 384 p.
258
Anais | Congresso Abracor 2009
Conservação
Preventiva
259
Anais | Congresso Abracor 2009
260
Anais | Congresso Abracor 2009
KLÜPPEL, Griselda Pinheiro. Arquiteta
Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Professora Adjunto IV da Faculdade de
Arquitetura da Universidade Federal da Bahia
Identificação, Documentação,
Armazenamento e Gestão do Acervo na Reserva
Técnica do Museu de Arte Sacra da UFBA.
The Sacred Art Museum of the UFBA is located in the 17th-century former Convent
and Church of Santa Teresa in Salvador, Bahia, and hosts one important collection of
sacred art in Brazil. A project for the Implementation of a Storage Room and Treatment
of MAS’s collection, was developed supported by Caixa Econômica Federal under the
Adoption of Cultural Entities Program. The first step of the project was the identification,
documentation and quantification of the storage collection. An individual index card
was created and another label was developed identifying handling guidelines and
treatment instructions customized to the material. The collection was properly stored
following recommended procedures for the local hot and humid climate conditions.
The collection was packaged in polyethylene boxes and special trays and stored in
compact shelving. Each piece received an individual cover made of a synthetic fabric
named TNT, to protect it from dust particles.
Palavras-chave:
reserva técnica, identificação e documentação de acervo, suportes e armazenamento
de coleções.
1. Introdução
O Museu de Arte Sacra (MAS), localiza- biliários, pertencentes não apenas ao mu-
do no conjunto arquitetônico construído seu, mas também, a irmandades e igrejas
no século XVII, do antigo Convento e Igreja de Salvador e de outras cidades baianas ce-
de Santa Teresa em Salvador, Bahia, e abri- didas sob o regime de comodato. Fazem
ga uma das maiores coleções de arte sa- parte ainda do acervo os bens artísticos
cra do Brasil, constituída de esculturas de integrados aos edifícios, como altares, pa-
madeira, terracota, marfim, entre outros inéis de azulejos tipo figurativo e de tape-
materiais, pinturas, objetos e alfaias de prata, te, painéis de madeira, pias em mármore,
ouro e metais, paramentos litúrgicos e mo- mobiliário, como o grande arcaz da sacris-
261
Anais | Congresso Abracor 2009
tia, entre outros, que ampliam e enrique- tratados, a saber: Identificação, Documen-
cem as coleções do Museu. tação e Dimensionamento do Acervo; Aná-
O Projeto de Implantação da Reserva lise, Tratamento e Acondicionamento do
Técnica com Tratamento do Acervo Arma- Espaço para a RT; Elaboração dos Suportes
zenado foi financiado pela Caixa Econô- para Armazenamento, (abrangendo essa
mica Federal, na primeira edição do Pro- etapa o mobiliário e as embalagens) e o Tra-
grama de Adoção de Entidades Culturais. tamento do Acervo. Apresentaremos espe-
Os trabalhos foram separados segundo cificamente os procedimentos para identi-
quatro procedimentos metodológicos es- ficação, documentação, acondicionamen-
pecíficos considerando os objetos a serem to e gestão do acervo armazenado.
2. Documentação e dimensionamento do acervo
A primeira etapa de execução do projeto posição e necessidades quanto ao mobiliá-
foi o processo de identificação, documen- rio para armazenamento.
tação e dimensionamento do acervo em re- Com base nas fichas de identificação do
serva, para a concepção e formatação do acervo foram elaboradas as etiquetas de
espaço da RT e do mobiliário necessário identificação individual das peças arma-
para sua armazenagem. Iniciando os proce- zenadas segundo dois tamanhos: um ge-
dimento de levantamento do acervo foi cri- ral para a maioria das obras, com 100 X
ada uma ficha técnica de Identificação In- 60 mm, e outro em tamanho reduzido de
dividual da Peça, tomando como base a 68 X 36 mm, para os objetos pequenos a
identificação já utilizada pelo setor de do- serem armazenados em caixas
cumentação do MAS, considerando entre seus Para identificação das peças, segundo
principais itens: o objeto, catego-
ria, coleção, datação, técnica/ ma-
terial, dimensões, peso, estado de
conservação, n° de inventário e fo-
tografia da obra de frente, de perfil
e/ ou de costas, para sua melhor ca-
racterização.
Os trabalhos de identificação e
preenchimento das fichas, além
dos membros da equipe do proje-
to, contam com a participação das Figuras 1 e 2 – Detalhes das etiquetas utilizadas nas peças grandes e nas
peças pequenas.
museólogas Mirna Conceição
Brito Dantas e Edjane Cristina Rodrigues sua materialidade foi criada uma tabela de
da Silva e da conservadora Selma cores e marcadas nas etiquetas (ver Figu-
Dannemann, responsáveis pelo acervo do ras 1 e 2). Dessa maneira, pode-se identi-
MAS. O levantamento das coleções foi ficar, imediatamente, o suporte da peça
definido considerando uma sequência por antes mesmo de ler a ficha, indicando o
técnica construtiva de grupo de peças. Na maior cuidado que deve ser tomado no
definição das dimensões foi considerada manuseio da mesma, seu peso, ou a mai-
também uma folga entre 5 a 10 cm além or fragilidade material correspondente.
da dimensão original, para determinar o
volume geral do acervo e poder garantir As etiquetas foram confeccionadas em
no seu armazenamento espaços necessá- papel Filipaper Granitto cor natural, 180
rios para manuseio e movimentação ade- gramas, neutro, e as etiquetas presas nas
quados das obras nas prateleiras, e ou nos peças com fio de silicone de 0.8mm de
suportes. Esses dados foram processados espessura. Usamos esse material por ser
em tabelas Excel o que permitiu a separa- neutro e mais higiênico, em substituição
ção, em forma de listagem, de todo acer- ao barbante de algodão, anteriormente
vo a ser armazenado; a determinação do utilizado no MAS.
quantitativo de peças, por tipologia e
materialidade; a área e o volume por peça Foi procedida à catalogação e documen-
e por coleções; e, segundo suas técnicas tação fotográfica de todo acervo armaze-
construtivas. Essas informações possibili- nado, em meio digital, e montado o ban-
taram determinar o volume total do acer- co de dados para acesso e controle da
vo a ser armazenado, e serviu como movimentação do acervo dentro e fora da
parâmetro indicador na definição da ca- Reserva Técnica, assim como, a localiza-
pacidade requerida das áreas da sala, dis- ção de cada peça dentro do mobiliário.
262
Anais | Congresso Abracor 2009
3. Mobiliário e critérios de armazenamento
A partir do conhecimento do volume, ou
cubagem, do acervo a ser armazenado foi
feito o pré-dimensionamento para a defini-
ção do mobiliário necessário, de acordo
com a diversidade das coleções e as dimen-
sões e formato da sala disponibilizada para
a RT (ver Figura 3). Foram também estabe-
lecidos os tipos de embalagens que seriam
necessários e quais os materiais mais ade-
quados a serem utilizados para acondicio-
namento das peças e o quantitativo neces-
sário para armazenar convenientemente o
acervo existente, e permitir ainda espaços
para sua ampliação. Figuras 3 – Exemplo dos esquemas de montagem das peças
Verificou-se a necessidade de um mó- para dimensionar o mobiliário
Figuras 4 e 5
Detalhe externo das
laterais vazadas e
aspecto do móvel
deslizante.
263
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 6 – Planta de distribuição das obras no mobiliário da Reserva Técnica.
De acordo com a distribuição das jane- na mais fácil a movimentação das peças
las, do mapeamento climático interno da pelos técnicos responsáveis pelo setor e
sala e da diversidade tipológica e dos su- pelo pessoal encarregado de manutenção
portes do acervo foi estabelecido um e movimentação das obras. Considerando
zoneamento para distribuição das peças o grande número de esculturas de tama-
segundo suas características, diferentemen- nhos intermediário e pequeno, outro cri-
te da arrumação anterior do MAS que con- tério para sua organização foi separar os
siderava a origem da coleção para seu santos homens e as santas mulheres. Essa
agrupamento. Ficou definido que a cole- norma foi estabelecida para facilitar a pes-
ção de metais, com total predominância quisa e identificação das obras nas prate-
de prataria, se localizaria no móvel fixo leiras (ver Figura 7).
de cabeceira do mobiliário deslizante, e Todas a peças de prata com grandes di-
nos dois módulos seguintes, numa maior mensões verticais foram dispostas nos su-
proximidade com a fachada norte, por ser portes de madeira já existentes no MAS,
a que teria as janelas abertas por maior que receberam tratamento para melhor
período de tempo e, com isso, esse espa- acondicionar as peças. Ainda obedecen-
ço da sala sofreria maior flutuação termo- do ao critério ambiental de
higrométrica, o que não viria a ocasionar armazenamento esses suportes, com as
nenhum prejuízo, ou risco, para a conser- varas e tocheiros de prata, foram alocados
vação preventiva desse tipo de acervo. Na próximos à fachada norte (ver Figura 8).
sequência seriam dispostos os trainéis para
Figuras 7 e 8
telas, gravuras, etc., seguido das esculturas Peças
armazenadas
de madeira e por fim as peças de terracota e nas prateleiras...
outros suportes. As peças maiores de
terracota, por serem mais pesadas, e as de
grandes dimensões ficam armazenadas, em
sua grande maioria, no armário fixo próxi-
mo a parede sul da sala (ver Figura 6). Con-
siderando a grande inércia térmica das pa-
redes, e as análises procedidas, essa parede
não apresentou ganhos térmicos diferencia-
dos do restante da sala mesmo no verão e o
móvel foi instalado com afastamento de 10
cm em relação a essa superfície, criando-se
um colchão de ar para maior proteção do
acervo.
As coleções foram dispostas nas estan-
tes obedecendo ao critério material e da
sua dimensão em altura, dispondo-se as
obras maiores e mais pesadas nas estantes
mais baixas, seguidas das peças de altura
intermediária e nas estantes mais elevadas
foram dispostas às peças menores. Assim,
além de ser feita uma distribuição racio- ...e varas
nal do peso no móvel e facilitar seu deslo- processuais em
suportes de
camento, esse organização, também tor- madeira.
264
Anais | Congresso Abracor 2009
4. Embalagens e acondicionamento do acervo
Verificou-se a necessidade de embalagens outra camada de polietileno de 20 mm ou
especiais para acondicionar das peças de de 40 mm (a depender das peças que iri-
metal de pequenas dimensões, a exemplo am ser armazenadas), sendo esta última
das coroas e jóias, assim como para as co- moldada, de acordo com a morfologia de
leções de têxteis, como alternativas para cada peça a ser armazenada. Com isto,
maior proteção e controle dessas peças, e todos os objetos acondicionados ficaram
melhor aproveitamento das prateleiras, sem estruturalmente estabilizados, e com mai-
a necessidade de gavetas que implicariam or segurança contra choques e atritos en-
no aumento do custo do mobiliário. O re- tre elas, além de permitir identificação vi-
quisito principal para o desenvolvimento sual rápida na ausência de qualquer peça
dessas caixas foi à escolha dos materiais, dentro das caixas ou das prateleiras, pelo
que precisavam ser rígidos para suportar o vazio deixado no seu lugar pré-definido
peso das peças, sem deformação no seu (ver Figuras 9 e 10). Foi fixada, na base da
manuseio, e serem totalmente inertes, sem caixa, sob a primeira camada de
emissão de substâncias químicas que pu- polietileno uma manta de TNT da largura
dessem trazer danos posteriores as peças da caixa para cobrir todas as peças após
armazenadas. Foram utilizadas chapas de sua fixação, para proteção contra
polipropileno de estrutura alveolar (tipo particulados ou sujidades que possam en-
polionda) com gramatura de 800 g/m², e trar pelos respiradouros da caixa.
espessura de 3 mm, na cor branca, evitan-
do-se, também, problema de alteração cro-
mática nas peças pelo efeito da luz através
da caixa.
Foram definidos três modelos de caixas:
Caixas para têxteis com tampa solta de
sobrepor, com 1200 X 800 X 120 mm,
dimensionadas para acondicionar a maior
peça do vestuário sacro, sem receber ne-
nhuma dobra, no caso a casula. Caixas de
900 x 600 x 180 mm, para peças peque-
nas de metal, com a tampa acoplada e cai-
xas para as jóias e peças avulsas de tama-
nho reduzido. Para essas peças foram uti-
lizadas caixas de polionda industrializada
de tamanho A4, na cor branca, e seu
armazenamento, por segurança, foi feito
dentre de uma gaveta no móvel deslizante.
Essas caixas receberam reforço interno de
chapa de polipropileno de 800g/m², fixa-
dos com braçadeiras de nylon.
Para definição das caixas diversos mo-
delos reduzidos foram elaborados em pa-
pelão, estudando-se os recortes necessári-
os para montagem e os tipos de fechamen-
to. Foram confeccionadas caixas de pape-
lão no tamanho real para os modelos sele-
cionados, e elaborados moldes em pape-
lão rígido, para auxiliar a marcação e cor-
tes das chapas de polipropileno, buscan-
do-se a otimização dos cortes das placas,
para reduzir o desperdício desse material.
Após corte e dobragem, as caixas foram
montadas e fixadas com braçadeiras de
nylon, eliminando-se o uso de colas e ade-
sivos que poderiam trazer problemas para
as obras armazenadas.
A base dessas caixas recebeu uma ca-
mada de espuma de polietileno expandi-
Figuras 9 e 10 – Detalhes de peças em gaveta e suporte
do de 10 mm e sobre esta foi colocada moldado para fixação de segurança.
265
Anais | Congresso Abracor 2009
As coleções de têxteis (paramentos ecle-
siásticos como casulas, alvas, estolas, toa-
lhas, etc.), utilizadas em cerimônias religi-
osas, estavam originalmente penduradas
em cabides e muitas delas apresentavam
problemas de desgaste e esgarçamento das
fibras por tração e atrito. Foi proposto o
seu acondicionamento horizontal, nas cai-
xas de chapa de polipropileno, para evitar
maiores desgastes aos tecidos. A base das
caixas recebeu uma camada de manta
acrílica sobre as quais foi colocada outra
camada de Tecido Não Tecido, na cor
branca, e sobre esta disposta a peça (ver Fi-
guras 11 e 12).
Cada caixa recebeu dois conjuntos de
paramentos, e entre cada peça, foi colo-
cada outra camada de TNT para evitar atri-
to, migração de cores, ou outros danos
entre as peças, e facilitar sua manipulação,
levantando-se o suporte de TNT sem de-
sarrumar ou enrugar os demais objetos.
Cada caixa recebeu identificação visual
frontal e lateral com fotografia e número de
registro de cada peça.
As caixas para armazenamento das
indumentárias e dos tecidos receberam
furos laterais regulares, respiradouros, para
se prevenir a criação de microclimas em seu
interior. Estas caixas foram termo-
higrometricamente analisadas, demons-
trando-se a adequação dessa solução para
o clima local.
Como a área do Museu onde está a Re-
serva Técnica recebe muitas partículas em
suspensão, provenientes da poluição aé-
rea do tráfego intenso de veículos na Aveni-
da Contorno, dos barcos que transitam na
Baía de Todos os Santos, e cloreto de sódio
Figuras 11 e 12 – Antigo armazenamento de indumentárias,
proveniente do aerosol marinho, foi propos- novo acondicionamento em caixas.
267
Anais | Congresso Abracor 2009
268
Anais | Congresso Abracor 2009
KLÜPPEL, Griselda Pinheiro,
Arquiteta, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Professora
Adjunta IV da Faculdade de Arquitetura da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
O Museu de Arte Sacra da UFBA, instalado no Convento e Igreja de Santa Tereza obras
do século XVII, abriga uma importante coleção de arte sacra do Brasil. Para ele foi desen-
volvido o projeto de Implantação da Reserva Técnica com Tratamento do Acervo, patroci-
nado pela Caixa Econômica Federal no Programa Adoção de Entidades Culturais. A nova
Reserva Técnica (RT) foi passivamente acondicionada utilizando-se as condições do edi-
fício e do entorno, e o auxílio de equipamentos mecânicos garantindo as condições ne-
cessárias para preservação do acervo no clima quente e úmido. O forro e as janelas do
edifício foram tratados para reduzir os ganhos térmicos e a penetração de água no interior
da sala. Foi proposto um Plano Integrado para a RT constituído de três partes: Programa de
conservação preventiva do edifício e acervo; Roteiro para prevenção a situações de risco e
emergência, e um Manual de gerenciamento e uso da RT.
The Sacred Art Museum of the UFBA is located in the 17th-century former Convent
and Church of Santa Teresa in Salvador, Bahia, and hosts one important collection of
sacred art in Brazil. A project for the Implementation of a Storage Room and Treatment
of collection, was developed supported by Caixa Econômica Federal under the Adoption
of Cultural Entities Program. The storage room was prepared with passive and
mechanical environmental controls, adapted to the hot and humid climate, take
advantage of the natural resources of the building and the external climatic conditions
whenever possible. The ceiling and windows were treated to reduce the temperature
inside the room and rain water penetration. To complement an integrated plan for
preventive conservation was elaborated, consisting of a guide for risk and emergency
prevention, a program for the building and collection, and a manual for management
and use of the storage vault.
Palavras-chave:
reserva técnica, tratamento climático; correção e condicionamento ambiental e con-
servação preventiva.
1. Introdução
Para definir o novo local da Reserva Téc- tes análises e coletas de dados para cada
nica foi procedida análise de seis espaços uma das salas: Análise das relações com o
que já haviam sido cogitados para a im- entorno imediato, considerando a orien-
plantação da RT, dentro do conjunto tação, a radiação solar direta e a ventila-
arquitetônico que constitui o Museu, igre- ção natural incidente por fachadas; as con-
ja e convento, sendo eles: o Salão Nobre – dições físicas, sob o ponto de vista de “fra-
onde estava armazenado grande parte do gilidade” e riscos pela existência de “pon-
acervo; a Ermida – sugerido pela direção do tes térmicas” e frente às vulnerabilidades
MAS; a Salas dos técnicos no 3o. andar – físicas do edifício. Diagnóstico de conser-
para onde foi realizado o projeto original; a vação e danos aparentes nas salas e seus
Sala da Exposição Temporária – sugerido no componentes arquitetônicos (piso, forro,
Diagnóstico de Conservação; a Sala da Res- janelas, etc.). Análise das condições de se-
tauração – sugerida em antigo projeto de gurança e Avaliação de riscos ao acervo e
técnicos do MAS e o Depósito, atual acessibilidade, considerando a localização
almoxarifado – sugerido no Diagnóstico de da área na edificação e as possibilidades
Conservação (Klüppel, et al 1998). para evacuação e salvamento das coleções
Desconsideramos para análise o depósito ao em situações de emergência, e/ ou sinistros.
lado da entrada da Igreja por sua adaptação Análise ambiental do comportamento
exigir obras civis de custo muito elevado higrotérmico interno através da coleta de
que não poderiam ser cobertos pelos recur- dados de temperatura (Ta) e umidade re-
sos aprovados pela Caixa Econômica Fede- lativa (UR) do ar. Para esses levantamen-
ral. tos foram utilizados aparelhos específicos:
Na avaliação da capacidade dos espa- psicrômetro, termoanemômetro, termôme-
ços possíveis para abrigar a RT, sob a óti- tro de superfície, e posteriormente registra-
ca das condições ambientais necessárias, dores contínuos (dataloggers) de Ta e UR.
garantindo a conservação preventiva do Após tratamento dos dados obtidos, proces-
acervo armazenado, foram feitas as seguin- sados em tabelas e gráficos do programa
270
Anais | Congresso Abracor 2009
Excel, foi procedida a análise comparativa Definido o Salão Nobre para a implanta-
entre as distintas salas. Dessa etapa analíti- ção da Reserva Técnica, a Direção do MAS
ca participou das avaliações a Dra. Franciza se responsabilizou em garantir algumas prer-
Toledo, como consultora ambiental e de rogativas necessárias para adequação desse
conservação. espaço e as obras civis, que não estavam
Com base nos critérios acima definidos originalmente previstas no orçamento do
consideramos que o local tecnicamente mais Projeto, sendo elas: verificação da capaci-
adequado para a futura Reserva Técnica, se- dade de carga do piso da sala para receber o
ria a sala de Exposições Temporárias (ver Fi- peso do mobiliário deslizante com o acer-
gura 1). Entretanto, por considerar a impor- vo; inspeção, recuperação e tratamento con-
tância funcional da permanência dessa fun- tra ataque de xilófagos no telhado, no forro
ção no mesmo local a direção do MAS, jun- e no piso da sala, visto que, no diagnóstico
tamente com parte de sua equipe técnica, havia sido constatada a presença de cupins
disponibilizou o Salão Nobre e a Ermida para ativos no interior da sala, cuja origem de-
escolha do local para implantação da RT, veria ser detectada e procedida à imuniza-
sendo também descartada a possibilidade de ção necessária.
uso das salas dos técnicos e do Laboratório Grande parte do acervo estava armazena-
de Restauração, por questões inerentes ao fun- da no Salão Nobre. Para iniciar as interven-
cionamento do MAS. Após novas análises ções do projeto da Nova Reserva Técnica,
mais detalhadas entre esses dois espaços, este acervo foi deslocado para outro espaço
confirmamos a inviabilidade de instalação provisório, a Sala da Ermida. A vistoria e
da RT nas salas da Ermida por ser um dos adaptação do local provisório e o transpor-
piores locais, tanto sob o ponto de vista te das obras e foi de inteira responsabilida-
ambiental e vulnerabilidade ao entorno, de do MAS e sua equipe técnica, tendo em
quanto à segurança do acervo, em caso de vista os cuidados necessários para movimen-
sinistros. tação do acervo.
Figuras 1, 2 e 3 – Esquema analítico de fuga da sala de Exposição temporária; local do Salão Nobre, atual Reserva Técnica e aspecto
da sala antes da intervenção, com infiltrações aparentes e presença de cupins.
271
Anais | Congresso Abracor 2009
poral, com ventos de noroeste. A esse falta do forro com as paredes e na base inferior
de estanqueidade das esquadrias acrescen- das janelas da fachada oeste; caminhos de
ta-se o desgaste da cercadura de arenito, já cupins de solo, já extintos nas paredes sul;
bastante erodida pelo atrito e uso, fazendo e excrementos de cupins sobre distintas
com que a inclinação da base do peitoril áreas do piso (ver Figura 3). Estes poden-
para o interior da sala seja mais acentuada do ser provenientes de infestações no for-
que para o exterior, facilitando, sobrema- ro, no telhado, ou no próprio piso.
neira, o escorrimento de águas para dentro Para reduzir a incidência e/ ou as possi-
da sala. bilidades da ocorrência desses problemas
Quanto aos danos físicos no espaço que afetariam de diferentes maneiras o
arquitetônico e elementos complementa- espaço interno da futura Reserva Técnica
res a sala não apresentava nenhum pro- algumas medidas de correção foram toma-
blema, sob a ótica de sua integridade físi- das e serão detalhadas a seguir:
ca. Apenas verificamos manchas de
escorrimento de águas pluviais nas juntas
Figuras 6 e 7 – Manta de lã de rocha e coberta de Tyvek, e a terminação da manta na calha periférica do forro.
Figuras 8, 9 10 e 11 – Aspecto da janela sem intervenção; vidros com películas para teste; aspecto final da janela com revestimento
de Tyvek e aspecto da pestana e peitoril de madeira, acrescentados à janela.
5. Conclusões
O sistema instalado funciona origem provável é a contaminação aérea re-
alternadamente com as condições sultante do tráfego intenso da Avenida Con-
ambientais do lugar, e assegura a conser- torno e o incremento de poluição proveni-
vação preventiva do acervo, a redução dos ente das embarcações da Marina da Contor-
custos na sua manutenção e o racionamen- no e da Baía de Todos os Santos. Para prote-
to do uso da energia elétrica. Para garantir ger do acervo foi testado climaticamente um
essas condições estabelecemos rotinas e tecido não tecido e proposto a cobertura de
critérios para aproveitamento das condi- todas as peças armazenadas.
ções externas do tempo, os horários do dia Complementando a implantação da RT
e as estações do ano, e as necessidades do foi elaborado um Plano Integrado de Con-
acionamento dos equipamentos mecâni- servação Preventiva composto de três par-
cos complementares. tes: Programa de Conservação Preventiva
Durante a instalação da RT foi verifica- do Edifício e Acervo; Roteiro para Preven-
do o acúmulo de um particulado de colo- ção a Situações de Risco e Emergência, e
ração escura, muito fino depositado sobre um Manual de Gerenciamento e Uso da
o mobiliário e na cobertura das peças, cuja Reserva Técnica.
6. Referências Bibliográficas
KLÜPPEL G. et al. Diagnóstico de Conservação: Museu de Arte Sacra. Salvador, 1998. 275
Anais | Congresso Abracor 2009
276
Anais | Congresso Abracor 2009
DANNEMANN, João Carlos Silveira,
Arquiteto e Urbanista (FAUFBA), Mestre em Artes Visuais (EBA / UFMG),
Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis
(CECOR / EBA / UFMG), Professor Assistente da EBA / UFBA
Projeto para implantação da Reserva Técnica Prof. Edgard Santos no Museu de Arte
Sacra da Universidade Federal da Bahia (MAS). Diagnóstico do estado de conservação
e tratamento das coleções para armazenagem na reserva técnica.
Diagnosis and treatment of the collections stored in the Sacred Art Museum of the
Federal University of Bahia.
Palavras-chave:
Conservação – Restauração – Armazenagem - Acervos
Introdução
O Museu de Arte Sacra da UFBA (MAS) foi Dra. Maria Hermínia Hernandez e o restau-
aberto ao público em 1959, adaptado em uma ro das coleções sob coordenação do Prof.
edificação do século XVII, antigo Convento João Dannemann. Complementando a equi-
de Santa Teresa de Ávila, em Salvador. Abri- pe, a arquiteta Ana Vitória Gomes foi res-
ga uma das maiores coleções de arte sacra da ponsável pela logística e processos executi-
América do Sul, incluindo esculturas, pintu- vos. O projeto foi financiado pelo Progra-
ras, ourivesaria, paramentos litúrgicos e mo- ma de Adoção de Entidades Culturais da
biliário histórico. Bens artísticos integrados ao Caixa Econômica Federal no ano de 2006,
edifício, como retábulos, painéis de azulejos sendo concluído em 2007, contemplando
e forros pintados complementam o acervo do todo o acervo armazenado no espaço da re-
importante museu. serva técnica do MAS, incluindo
O trabalho aqui apresentado faz parte mapeamento, estudo, diagnóstico do esta-
do projeto para a implantação da reserva do de conservação e intervenção para resta-
técnica Professor Edgard Santos, no referi- belecer a integridade das obras. Descreve-
do museu, tendo como Coordenadora-geral remos aqui, sucintamente, a metodologia
a Professora Griselda Pinheiro Klüppel. A adotada para o tratamento das coleções
coordenação da documentação do acervo ar- selecionadas.
mazenado foi responsabilidade da Profa.
Tratamento do Acervo
Para iniciar os procedimentos técnicos de acondicionamento (caixas e capas), bem
diagnóstico, tratamento e embalagem das como para armazenar o material a ser utili-
coleções, o layout do Setor de Conservação zado nas mesmas, como placas de
e Restauração do MAS foi revisto, polietileno expandido, polipropileno e
redistribuindo-se o mobiliário e os equipa- papelão, rolos de TNT e de polietileno.
mentos do local de forma a atender ao gran- Devido ao grande número de obras em
de número de obras selecionadas para o tratamento ao mesmo tempo, fez-se neces-
projeto. Foi necessário também criar espa- sário utilizar um instrumento para a siste-
ço para a confecção das embalagens de matização da coleta de dados sobre cada 277
Anais | Congresso Abracor 2009
exemplar. Para esse fim, criou-se uma ficha vação. O conceito utilizado para esta se-
para diagnóstico, um documento tipo check- leção considerou que os exemplares com
list. Nesta ficha, além da identificação, ma- possibilidades de participar do rodízio da
teriais constituintes e tipologia, foram apon- área de exposição do museu fossem res-
tados os seus problemas de conservação e taurados, para poderem cumprir essa fi-
sugeridos os procedimentos técnicos para o nalidade. Na restauração desses exempla-
tratamento, com espaço para o registro de res deu-se ênfase à higienização,
materiais utilizados em cada etapa, indivi- desinfestação e consolidação dos supor-
dualizando a abordagem e ao mesmo tempo tes, refixação e apresentação estética das
possibilitando a avaliação de forma ágil do camadas pictóricas. Obras de menor
acervo de forma conjunta. Essa documenta- representatividade, e, por esse motivo,
ção complementou as outras de praxe, como sem chances de serem expostas no MAS,
o registro fotográfico, codificação e marca- foram apenas conservadas, com ênfase na
ção. sua higienização e desinfestação quando
Além da determinação do estado de con- necessária, eliminando-se as chances de
servação de cada obra, o diagnóstico pos- contaminação do ambiente da reserva téc-
sibilitou o estabelecimento das priorida- nica. O tratamento das coleções de ima-
des, ou seja, a sequência de tratamento das ginária e pinturas foi priorizado, pela
coleções, em função do seu grau de dete- maior demanda de tempo necessário nas
rioração, sendo definidos os casos graves intervenções dessas tipologias. O mobili-
e prioritários (emergências, infestações etc) ário e coleções de ourivesaria foram tra-
e a ordem de transferência para o Setor de tados posteriormente, por apresentarem
Conservação e Restauração do MAS. menores problemas. Por último, foram
A partir do diagnóstico individual, em higienizados os têxteis, para permitir a sua
função do estado de conservação e da qua- armazenagem segura e no futuro recebe-
lidade estética, artística e relevância his- rem tratamento específico. De forma ge-
tórica, determinou-se o grau de tratamen- ral, a sequência de tratamento das cole-
to para cada obra, restauração ou conser- ções, obedeceu à ordem abaixo:
Conclusão
O Museu de Arte Sacra da UFBA é um firmado entre a Arquidiocese de Salvador e
grandioso guardião das nossas referências a Universidade Federal da Bahia, vem
culturais. Armazena exemplares valiosos, implementando as suas instalações, dentro
expoentes da manifestação luso-brasileira das recomendações da conservação preven-
voltada para a fé e a religiosidade. Em meio tiva, contornando de forma exemplar as
século de existência, a partir do Convênio implicações de uma adaptação museográfica
279
Anais | Congresso Abracor 2009
em uma edificação antiga. tado de conservação. Além dos objetivos
A implantação da Reserva Técnica Pro- já mencionados, este projeto permitiu o
fessor Edgard Santos, no Museu de Arte estabelecimento de intercâmbio com ins-
Sacra da UFBA, complementou a tituições de ensino superior como Escola
infraestrutura da instituição e permitiu o de Belas Artes da UFBA e Universidade
correto acondicionamento e Católica do Salvador, recebendo estudan-
armazenamento de suas coleções, contri- tes de graduação para estágios relaciona-
buindo para a sua preservação. Para se- dos com acervos históricos e sua preser-
rem armazenados, cerca de 1000 exem- vação, além de contribuir para a inclusão
plares de diversas tipologias foram adequa- social de jovens aprendizes, egressos da
damente tratados em um período de 12 Fundação da Criança e do Adolescente
meses, após cuidadoso diagnóstico do es- (FUNDAC).
Figuras 1 e 2 – Processo de limpeza de têxteis: Etapas de limpeza mecânica e aspiração à baixa velocidade, para evitar danos.
Figuras
11 e 12
Detalhes do
Figuras 9 e 10 – Estagiários trabalham na apresentação estética da escultura; a estudante em primeiro processo de
plano, deficiente visual é auxiliada pelos colegas em uma vivência sensorial da restauração. Detalhes remoção
da escultura Cristo Morto restaurada. mecânica
de repintura.
280
Anais | Congresso Abracor 2009
Shin Maekawa
The getty Conservation Institute, LA, USA
Claudia S. Rodrigues de Carvalho
FUndação Casa de Rui Barbosa/ MinC, RJ , Brasil
Franciza Toledo
Conservare Ltda., RE, Brasil
Vincent Beltran
The Getty Conservation Institute, LA USA
1
MAEKAWA, S.,
SISTEMA DE CONTROLE CLIMÁTICO PARA A TOLEDO, F. (2003)
“Sustainable Climate
Control for Historic
BIBLIOTECA RUI BARBOSA: PRESERVAÇÃO DA Buildings in Hot and
Humid Regions.”
Management of
COLEÇÃO E MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE Environmental Quality: An
International Journal Vol.
14, No. 3: 369-382.
CONFORTO DOS VISITANTES MAEKAWA, S., GARCIA
MORALES, M. (2006)
“Low-Cost Climate
Control System for
Museum Storage Facility
on Tenerife Island.”
Uma estratégia de controle climático que se traduzisse em uma alternativa à forma padrão Apresentado no 25º
International Conference
de condicionamento de ar foi projetada para a biblioteca do Museu Casa de Rui Barbosa, no of Passive and Low
Energy Architecture
Rio de Janeiro, Brasil. A partir de diagnósticos do edifício, da coleção, bem como análise (PLEA 2006) em Geneva,
das condições ambientais foram desenvolvidas e executadas estratégias para melhoria do Suiça,
MAEKAWA,S.,
clima interior. Em paralelo ao reparo do envelope do edifício e do rejuvenescimento dos BELTRAN, V., TOLEDO,
F. (2007) “Testing
detalhes construtivos originais, que visavam o controle passivo do ambiente, foi instalado Alternatives to
Conventional Air-
um sistema de controle climático. Este sistema, localizado no porão e no entre-forro de Conditioning in Coastal
Georgia.” APT Bulletin,
modo a preservar a visualidade dos ambientes, é baseado na ventilação e na desumidificação Vol 38, No. 2-3
Association of
para promover a preservação da coleção na biblioteca. Ao longo do percurso do visitante a Preservation Technology
International: p3-11.
velocidade do ar circulante foi aumentada de modo a melhorar as condições de conforto Apresentado no Annual
Meeting of APT
humano por convecção. A conservação de energia foi incorporada ao sistema através do uso International, em Atlanta,
da ventilação, quando o ar exterior está seco e fresco; da recirculação do ar desumidificado GA.
Palavras-chave:
Controle Ambiental, Conservação Preventiva, Sustentabilidade, Preservação Integrada
Edifício & Coleções, Economia de energia, Conforto.
INTRODUÇÃO
281
Anais | Congresso Abracor 2009
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – do de 630 m3). As salas contêm a coleção de
IPHAN, no Rio de Janeiro, foi identificado livros de Rui Barbosa em armários e estantes
como local ideal para se testar a aplicabilidade feitos sob medida. Dada a significância e
da estratégia de controle climático em um vulnerabilidade desta coleção, esta área foi
contexto onde o conforto humano era uma selecionada para o projeto de melhoria cli-
consideração importante. A coleção de Rui mática.
Barbosa inclui obras de arte, mobiliário, e os Em 2004, um projeto foi iniciado entre o
diversos automóveis, destacando-se a biblio- Instituto Getty de Conservação - GCI e a Fun-
teca, com mais de 30.000 títulos, preservada dação Casa de Rui Barbosa, com o objetivo de
em seu local original. melhorar as condições internas da casa, pro-
A biblioteca, situada no primeiro andar do movendo o conforto humano dentro de um
edifício da alvenaria do século XIX, ocupa ambiente estável e seguro para as coleções. Esta
cinco salas interconectadas: Sala Constitui- iniciativa foi um projeto único de melhoria
ção, Sala Civilista, Sala Casamento Civil, Sala climática para casas históricas no Brasil, onde
Código Civil, e Corredor Ruiano. As cinco a preservação das coleções e do edifício, o con-
salas têm uma área total de 165 m2, com um forto do visitante, e a sustentabilidade foram
pé direito de 3,8 m (e volume total aproxima- abordados conjuntamente.
A Metodologia
A maior ameaça às coleções, em regiões lativa em menos de 65%, para proteger a
quentes e úmidas, é biodeterioração, e o coleção de deteriorações biológicas e me-
ataque de fungos e bactérias. Isto pode ser cânicas, com pequena variação de tempera-
controlado mantendo a umidade relativa tura. Deste modo, o controle climático pode
ambiente menor que 65%. Os danos mecâ- ser tecnologicamente simples e economi-
nicos, como rachaduras e deformações, camente sustentável. A temperatura do ar
podem ser controlados através de um ambi- da biblioteca foi limitada a 28ºC, quando o
ente com umidade relativa estável, que li- conforto humano é significativamente afeta-
mita suas dilatações higrométricas. A de- do, e teve como fim evitar a possibilidade
gradação química, como o envelhecimento de condensação na coleção e no edifício.
e a oxidação, é considerada uma ameaça Era importante manter a ambiência his-
menor nessas regiões, uma vez que o pro- tórica na biblioteca, de modo que a estéti-
cesso é relativamente lento, e a maioria das ca original do edifício (exterior e interior)
coleções já atingiu estágios quimicamente deveria permanecer intacta. Isto significou
estáveis em reservas técnicas e espaços nenhuma alteração nas paredes nem nos
expositivos. Entretanto, o processo pode ser tetos do edifício. Por último, o edifício é
retardado mantendo o ambiente refrigera- frequentemente visitado por estudantes,
do, mais seco e escuro. consequentemente, quantidades adequadas
O controle da temperatura e da umidade de ar fresco devem ser fornecidas na biblio-
relativa do ar é tecnicamente difícil e caro, teca para sua segurança e conforto.
especialmente em edifícios históricos, e por O projeto foi desenvolvido em quatro eta-
isso o projeto para controle climático da pas: diagnóstico, desenvolvimento da estra-
Bilioteca Rui Barbosa visou a manutenção tégia, execução, monitoramento e
de um ambiente estável, com umidade re- melhorias.
DIAGNÓSTICO:
A avaliação do envelope do edifício re- 1980, para que o espaço fosse utilizado para o
velou que muitas portas e janelas não esta- armazenamento e exposições temporárias. O
vam funcionando bem e, por isso, permiti- edifício possui características originais de
am a infiltração de grandes quantidades de exaustão do ar quente, consistindo em espa-
ar exterior. Foram examinadas as caracterís- ços abertos nos perímetros dos tetos, no ático,
ticas originais do edifício referentes ao con- e em telhas cerâmicas permeáveis encaixadas.
forto térmico, assim como sua proteção Entretanto, a instalação de uma subcobertura
contra a umidade elevada. As aberturas do tipo Tyvek sob as telhas (para impedir a infil-
porão, projetadas originalmente para venti- tração da água da chuva e da poeira) obstruiu a
lar a umidade do espaço, foram fechadas remoção do ar quente do ático.
com janelas de vidro, instaladas nos anos A avaliação ambiental registrou um ático
282
Anais | Congresso Abracor 2009
quente e um porão úmido. Estes espaços quado da biblioteca Rui Barbosa.
estavam provavelmente impactando o cli- A coleção das obras de arte, de mobiliá-
ma na biblioteca . A prática de abrir janelas rio e de livros na biblioteca. A avaliação da
para ventilação provocava grandes flutuações mobília mostrou que estava em boas con-
de temperatura (22-34°C) e umidade relati- dições. Entretanto, muitas das portas das
va (40-90%) do ar, assim como altos ní- estantes de livros estavam desalinhadas ou
veis de poluição do ar no edifício. Entre- tortas, tendo por resultado um mal fecha-
tanto, o clima dentro das estantes de li- mento. A maioria dos livros foi afetada pelo
vros não era úmido (RH menor que 70%) processo de acidificação de papéis típicos
e permanecia muito estável. Além disso, do século XIX; alguns sofreram danos me-
uma quantidade menor de poluentes cânicos, devido aos maltratos, e ataques de
oxidantes do ar foi encontrada nos armári- fungos e insetos; e muitos foram afetados
os (Fig. 6), indicando que eles proporcio- pelo acúmulo de poeira, devido a uma com-
navam um microambiente protetor, prote- binação de um ambiente empoeirado e a
gendo os livros do ambiente pouco ade- falta de limpeza periódica.
ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO
As recomendações das avaliações acima rão deveria ser ventilado mecanicamente,
foram combinadas para produzir estratégi- equipando-se janelas com filtros de partí-
as de conservação para a biblioteca. Primei- culas para se manter um espaço limpo e
ramente, o envelope do edifício precisou seco. Uma vez que a instalação do sistema
ser reparado para reduzir a infiltração de ar, de controle climático ocorreria no porão e
e as características originais de controle cli- no sótão, estaria escondido dos visitantes e
mático do edifício deveriam ser seria inteiramente reversível.
restabelecidas, tanto quanto possível. As Os dados do clima no Rio de Janeiro, de
melhorias do clima no porão e no sótão 2001 a 2005, coletados por uma estação
foram consideradas especialmente importan- meteorológica independente2 mostraram que
tes. As janelas e as portas da biblioteca de- a ventilação é viável somente 10% do tem-
veriam ser mantidas fechadas para eliminar po, se nós exigimos condições menores que
o ar exterior empoeirado, poluído e instá- 28°C e menores de 70%.
vel. Os livros deveriam ser limpos e retornar As quantidades adequadas de ar fresco
às estantes cujas portas já tinham sido re- devem ser fornecidas para a segurança e o
paradas para fecharem corretamente. Os li- conforto de ocupantes e visitantes. De sua
vros seriam assim protegidos das flutuações experiência operacional, a equipe de funcio-
da umidade relativa e dos impactos da po- nários da FCRB determinou o número máxi-
luição do ar e da poeira no microambiente mo de visitantes na biblioteca em 50, base-
das estantes. ada no arranjo atual da mobília e no percur-
Um sistema de controle climático deve- so do visitante. A Sociedade Americana de
ria ser instalado no porão da biblioteca para Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração,
fornecer ar fresco, limpo, filtrado e/ou con- e Condicionamento de Ar (ASHRAE) reco-
dicionado em 55-65% e 22-28° C às salas menda que o ar fresco a ser fornecido é de
da biblioteca usando ventilação e oito litros por segundo por a pessoa3.
desumidificação. O ar insuflado, um pou- Estimando-se que a biblioteca tem uma
co mais quente do que aquele fornecido por infiltração de ar exterior de 1-1,5 trocas de
sistemas típicos de ar-condicionado, foi ar por a hora, foi determinado que o siste-
selecionado para evitar a condensação em ma de controle climático precisaria de mais
dutos de insuflação de ar e em áreas que 2 trocas de ar por hora, de ar fresco, duran-
cercam as grelhas difusoras. Um ventilador te as horas de visitação (8 am - 6 pm), a fim
de exaustão deveria ser instalado no sótão de limitar a concentração de dióxido de
para reduzir a acumulação de calor. O po- carbono em menos de 1000 ppm.
283
Anais | Congresso Abracor 2009
A unidade “split” foi projetada para operar dois sensores de temperatura e umidade re-
sempre conjuntamente com a bobina de lativa do ar, situados fora do edifício e na
reaquecimento, situada imediatamente abai- biblioteca.
xo da unidade para trabalhar como um As sequências operacionais consistem de
desumidificador alinhado. À exceção do ventilação, desumidificação, e hibernação,
ventilador de exaustão no sótão, todos os havendo condições que indiquem a neces-
outros componentes estão instalados no sidade da operação simultânea da ventila-
porão da biblioteca. Esses equipamentos são ção e desumidificação, seja para reduzir a
conectados através de uma série de dutos umidade, seja para evitar temperaturas su-
de metal no porão, assim como no sótão. periores a 28ºC.
O ar exterior e o ar recirculado passam atra- Há três tipos de condições operacionais
vés de filtros G3 situados nas extremidades que determinam a modalidade de operação
da fonte de insuflação e de retorno do do sistema: as horas de funcionamento do
desumidificador, antes de serem delicada- museu, a umidade relativa, e a temperatu-
mente liberados na biblioteca através de 30 ra. Segue um sumário das condições
grelhas difusoras distribuídas por todo operacionais e dos correspondentes modos
assoalho da biblioteca, ao longo dos per- operacionais do sistema.
cursos do visitante). Os difusores do tipo Hora Operacional: Durante as horas de
espiral foram usados para permitir um gran- operação do museu, o sistema de controle
de fluxo de ar com uma velocidade limita- climático funciona no modo ventilação ou
da de ar vertical. no modo híbrido. Em ambos, o ar fresco é
O ar de retorno é tomado nas aberturas garantido na biblioteca para promover a
do duto encontradas no lado oeste do segurança e o conforto do visitante. O sis-
assoalho da biblioteca e canalizadas à en- tema pode selecionar o modo
trada da unidade desumidificadora. O ar de desumidificação, mas, quando as horas de
exaustão é tomado das aberturas originais visita terminam, o ar da biblioteca é total-
de ventilação nos perímetros dos tetos de mente recirculado, através do
madeira nas Salas Casamento Civil, desumidificador, até que a umidade relati-
Civilista, Código Civil, assim como no va na biblioteca seja reduzida a 65%.
Corredor Ruiano. A Sala Constituição tem Umidade Relativa: O sistema de contro-
um teto de estuque e, consequentemente, le seleciona o modo ventilação quando a
não tem aberturas de ventilação. Uma gran- umidade relativa na biblioteca é maior que
de câmara fechada foi criada no espaço do 65% e a umidade relativa exterior é menor
sótão acima das salas da biblioteca. O ven- que 65% e a temperatura menor que 28°C.
tilador de exaustão extrai o ar da câmara Se a umidade relativa exterior está acima
através de um duto e transfere-o ao exteri- de 65%, o modo desumidificação ou o
or, através de uma clarabóia, perto da bi- modo híbrido serão selecionados, dependen-
blioteca. do da hora do dia.
Uma unidade programável de controle Temperatura: A temperatura foi adiciona-
lógico (PLC) com relógio interno, também da à sequência operacional do sistema para
situado no porão da biblioteca, controla o promover o conforto térmico dos visitantes,
equipamento de ventilação e de limitando a temperatura da biblioteca a va-
desumidificação. O PLC é programado para lores inferiores a 28°C. Consequentemente,
executar as sequências operacionais basea- é aplicável somente durante as horas de ope-
das nas condições climáticas levantadas por ração do museu (8 am - 6 pm).
MONITORAMENTO E MELHORIAS
284
Anais | Congresso Abracor 2009
tes da instalação do sistema . As concentra- seco, e mais limpo. Janelas e portas fechadas
ções de dióxido de nitrogênio foram redu- também reduziram a luz solar direta e os ruí-
zidas em 30% em relação aos valores que dos do exterior, podendo ter contribuído para
antecederam à instalação do sistema. o conforto dos visitantes.
Dois tipos de partículas, de 1 a 5 mícron No curso da operação do sistema, o cli-
e de 0.3 a 1 mícron, foram examinados. As ma na biblioteca desviou da condição pro-
partículas maiores mostraram uma diminui- jetada, em função da complexidade do pro-
ção de 75% a 85% em concentrações, na Sala grama original do PLC. Por outro lado, ini-
Constituição, após a instalação do sistema. cialmente foi difícil, identificar no merca-
Foi feito levantamento junto aos visitantes do empresa de manutenção capaz de lidar
para identificar o nível de conforto obtido e com a concepção pouco usual do sistema.
os comentários dos visitantes são de que este Atualmente, o sistema tem manutenção pre-
ambiente é mais leve do que o restante da ventiva e corretiva, e as rotinas lógicas es-
casa, em função do ar estar mais fresco e mais tão sendo simplificadas para evitar desvios.
CONCLUSÃO
Um sistema de controle climático, base- ção do edifício histórico e da coleção, as-
ado em ventilação e desumidificação, foi sim como a avaliação ambiental sistemáti-
implantado com sucesso num museu-casa, ca, forneceram subsídios para o estabeleci-
em região de clima quente e úmido. Um mento de uma estratégia de controle climá-
ambiente de preservação estável para a co- tico integrada à preservação do edifício.
leção e o edifício histórico foi estabelecido Este projeto de controle climático, que
e mantido, com a umidade relativa menor produziu com sucesso um ambiente para a
que 65%, permitindo variações de tempe- preservação da coleção, garantindo o con-
ratura entre 22°C e 28°C e evitando a forto humano, estabeleceu um parâmetro
condensação (ou a umidade elevada) no metodológico para aplicação desta estraté-
interior do edifício, demonstrando a viabi- gia sustentável, simples e de baixo custo
lidade de se promover o conforto humano, para melhoria do clima nas instituições cul-
através de um nível mais baixo de umida- turais em climas quentes e úmidos.
de, de uma sensação de limpeza do ar, da Este projeto foi financiado pela Fundação
eliminação da luz solar direta, e da redução Vitae (São Paulo, Brasil). Os autores dese-
dos níveis de ruído. jam agradecer à Fundação e à Sra. Gina Ma-
O sucesso do projeto foi atribuído a um chado, então gestora da área de cultura, pelo
projeto, execução, e avaliação bem apoio financeiro e logístico, assim como o
estruturados. Os diagnósticos de conserva- seu incentivo durante todo o projeto.
285
Anais | Congresso Abracor 2009
286
Anais | Congresso Abracor 2009
BARBOSA, Karen Cristine
Especialista em Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis – CECOR - UFMG
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand-MASP
O objetivo deste trabalho é salientar a importância que tem uma embalagem adequada
a cada obra durante seu transporte, além da essencial presença do courier durante todo o
trajeto de transferência. Como o MASP possui obras-primas em seu acervo que são fre-
quentemente requisitadas para participação em exposições no mundo inteiro enfatiza-se
que estas embalagens sejam devidamente elaboradas para atender adequadamente sua
função. É apresentado neste trabalho o complexo conjunto de caixas construídas para
embalar as 73 esculturas de Edgar Degas.
This work intends to emphasize how important is to elaborate special and safe crates
to transport art work and the fundamental job of the courier escorting them. As MASP
has in its collection relevant master pieces that are frequently requested from important
museums around the word it is important to have the adequate construction and
functionality of these safe crates. The example of the crates that MASP projected to
bring the 73 sculptures from Edgar Degas will be presented.
Palavras-chave:
embalagem, Degas, courier, transporte, trânsito
Introdução
Caixa com abertura frontal sem as esculturas Caixa com abertura frontal com as esculturas
Conclusão
Cada vez mais constatamos que uma boa requisitadas para empréstimos, e procurar-
embalagem e o cuidadoso acompanhamen- mos proteger o máximo que podemos, seja
to do courier são primordiais para a seguran- com proteção no verso das pinturas, vidros
ça de uma obra de arte em trânsito. Contu- especiais e/ou vitrines microclimatizadas, res-
do, mesmo com todos os cuidados já men- peitamos, antes de mais nada o estado de
cionados, é importante lembrar que obras conservação de uma obra, sua fragilidade e
frágeis NÃO devem ser emprestadas. No histórico. É importante conhecer a obra e ze-
MASP, apesar de termos sempre nossas obras lar pela sua conservação, acima de tudo.
290
Anais | Congresso Abracor 2009
Educação
Patrimonial
291
Anais | Congresso Abracor 2009
292
Anais | Congresso Abracor 2009
MANHAS, Adriana Capretz Borges da Silva (1)
Arquiteta, Mestre em Engenharia Urbana e Doutora em Ciências Sociais
Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Mestrado em Dinâmicas
do Espaço Habitado (DEHA) - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
The study proposes a link between a private university located in the “Triângulo
Mineiro”, UNIUBE, and a non-profit institution that can raise funds and manage the
project of restoration of works belonging to the architectural heritage of Uberaba which
is known “house of Rua Lauro Borges.” The works also include the adequacy of the
building of the School of Arts Uniube, harboring the courses of Architecture, Design
and other futures. With this activity, the University implements the proposal to join the
teaching and research to work and social practice, as provided in LDB 1996. This
proposal arose from experiences made by 2008 in the course of Architecture and the
professors of Design, History of Architecture and Technical Retrospective, authors of
this work, and concrete examples from the Universidade Federal de Alagoas.
PALAVRAS-CHAVE:
Uberaba, ecletismo, restauração, patrimônio arquitetônico
Introdução
Na cidade de Uberaba, localizada na re- os cursos de arquitetura), sobretudo na área
gião do Triângulo Mineiro (MG), há um sig- de patrimônio arquitetônico. O Município
nificativo acervo de edifícios do período do conta com um órgão público atuante na área
Ecletismo, Art Déco, Neocolonial e Moder- de preservação, que é o CONPHAU (Con-
nismo, resultantes do período de apogeu da selho do Patrimônio Histórico e Artístico
economia zebuína entre as décadas de 1920- de Uberaba), responsável por inventariar e
1960. Entretanto, nota-se a falta de articu- realizar os tombamentos em nível munici-
lação entre as pesquisas históricas realiza- pal, mas que não se articula com a Univer-
das dentro das universidades da região (prin- sidade. Por outro lado, anualmente, um
cipalmente particulares, as quais mantém número significativo de pesquisas é finan- 293
Anais | Congresso Abracor 2009
ciado por instituições de fomento (CNPQ, taneamente pelos autores deste trabalho, que
CAPES e FAPEMIG), resultando em traba- é o Projeto de Pesquisa intitulado “Quadro
lhos de alta qualidade, mas que acabam da Arquitetura em Uberaba” e a inserção
não saindo do âmbito teórico. Pouco se de estagiários da disciplina de Técnicas
aproveita para a efetivação de trabalhos Retrospectivas para a restauração da Câma-
de preservação do patrimônio construído, ra Municipal de Uberaba; a segunda parte
que necessita de ações em caráter apresenta a proposta para a restauração do
emergencial, visto que é rápida a perda “Casarão Lauro Borges”, com a transforma-
das edificações devido ao precário estado ção na sede da Escola de Artes da Uniube,
de conservação. nos moldes da “Casa de Dona Yayá”, em
No estudo de caso apresentado, é feita São Paulo, que abriga o atual Centro de Pre-
uma proposta de trabalho a partir de reali- servação Cultural da USP, seguida de uma
zações em andamento na Universidade de proposta semelhante já realizada, que são
Uberaba (UNIUBE-MG), nos moldes das os projetos desenvolvidos na disciplina de
regiões do País com tradição em educação Técnicas Retrospectivas da Faculdade de Ar-
patrimonial, que mantém as equipes de tra- quitetura e Urbanismo da Universidade Fe-
balho em “oficinas-escolas”. A primeira deral de Alagoas (UFAL), geridas pela Fun-
parte deste artigo apresenta as experiências dação Universitária de Desenvolvimento
educacionais individuais e integradas espon- de Extensão e Pesquisa (FUNDEPES).
O presente trabalho tem por objetivo fi- de Interiores, já existentes, além de outros
nal transformar o antigo “Casarão da Rua na área de artes que possam a vir ser cria-
Lauro Borges”, um exemplar representante dos.
do ecletismo que integra o patrimônio Edificado no ano de 1914 sobre porão
arquitetônico da cidade, pertencente à Fun- no alinhamento da via pública em um
dação Educacional Uberabense, na futura único pavimento, o casarão constitui um
Escola de Artes da Uniube, abrigando os dos primeiros exemplares do ecletismo na
cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design cidade com recuo frontal e jardim lateral, 295
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura1: Casarão da Rua Lauro Borges. Fotos: Raquel Prata. Desenhos: Renata Pinheiro Gutierrez Borges
e o único ainda restante com ornamenta- pectivas”; 2. Instituição sem fins lucrativos,
ção em relevo, que dissolve o volume pe- como a Fundação Educacional
sado do paralelepípedo. A prancha apre- Uberabense, que possa gerir projetos de
sentada na pesquisa, contendo plantas e restauração ou captar recursos para sua
fotos, foi reproduzida na Figura 1 a seguir: realização a partir da utilização da Lei
Para a viabilização do projeto do casarão Rouanet, bem como contratar os profissi-
da Rua Lauro Borges, deverá ser feita uma onais especializados para a execução das
articulação entre 1. Universidade: que obras.
sediará o projeto de pesquisa, financian- A proposta é inspirada no projeto que
do materiais ou disponibilizando bolsas de criou o Centro de Preservação Cultural da
Pesquisa e Iniciação Científica por parte USP, sediado na antiga “Casa de Dona
de órgãos de fomento, bem como recru- Yayá”, um bem tombado, representante do
tando estagiários e cedendo espaço físico ecletismo, localizado no bairro da Bela
para os canteiros de obras de restaurações Vista, em São Paulo, e que foi incorpora-
296 praticadas na disciplina “Técnicas Retros- do à USP após o falecimento da proprietá-
Anais | Congresso Abracor 2009
ria. O Centro de Preservação já constitui, seus bens e direitos para promover e sub-
em si, um estudo arquitetônico e social, sidiar, com os rendimentos auferidos, pro-
pois unem-se valores históricos da casa aos grama de desenvolvimento do ensino,
da memória social, os interessantes aspec- pesquisa e extensão, bem como ativida-
tos técnicos e artísticos ao de testemunho des técnicas e administrativas específicas;
de costumes. A USP decidiu que o imóvel b) prestar serviços técnico-científicos
abrigaria a sede do Centro de Preservação remunerados à Universidade e à comuni-
Cultural (CPC), órgão da Pró-Reitoria de dade;
Cultura e Extensão Universitária, que pas- c) executar mediante convênios, contra-
sou a assumir a responsabilidade pelo uso tos e acordos, inclusive atividades de ad-
e conservação da casa, incluindo a prática ministração universitária, no campo da
de aproximação da instituição com a soci- assistência ao estudante, de artes gráficas,
edade. A obra teve a duração de quatorze de administração hospitalar e de radiodi-
anos e desenvolveu-se em quatro fases: a fusão educativa;
primeira, entre 1989 e 1991, constituída d) promover a divulgação dos resultados
de estudos históricos prospectivos e levan- de pesquisas;
tamentos subsidiários às intervenções de e) instituir prêmios de estímulo e reco-
restauro e conservação do bem, teve iní- nhecimento a pesquisadores que tenham
cio com a implementação de um cantei- contribuído ou venham a contribuir para
ro-escola, na segunda fase, entre 1991 e o desenvolvimento científico, técnico e
1998, foram executados os serviços de cultural da comunidade alagoana;
manutenção e conservação geral do imó- f) conceder bolsas de estudo em nível
vel, contando com órgãos de preservação de graduação e pós-graduação;
estatais; a terceira fase teve início com a g) utilizar canal de radiodifusão, sem fi-
criação de uma “Comissão Especial “Casa nalidade comercial, destinado a veicular
de Dona Yayá”, com o objetivo de elabo- programas educativos, consoante as dire-
rar plano de restauração e ocupação da trizes da política nacional de educação do
casa, seguindo para o restauro de murais Ministério da Educação e Cultura;
artísticos realizado pelo programa “Identi- h) desempenhar outras atividades espe-
ficação, Consolidação e Restauração de cíficas e inerentes as suas finalidades es-
Pinturas Murais” do CPC, nos moldes do senciais (Manual para Elaboração de Pro-
canteiro-escola, finalizando com o restau- grama ou Projeto, 2005, p.11).
ro das fachadas externas, azulejaria inter- A Fundação Educacional Uberabense,
na, jardins e implantação de redes de infra- mantenedora da UNIUBE e também pro-
estrutura (LANNA & PRATA, 2006). prietária do casarão, seria a responsável
No decorrer da elaboração desta propos- pela captação de recursos e parcerias para
ta, foi verificado que algumas universida- a obra, do projeto à execução, nos mol-
des federais já contratam fundações cria- des da FUNDEPES. O trabalho teria início
das para gerir as obras (de acordo com a com o restauro do casarão sob coordena-
Lei n.8958, de 20 de dezembro de 1994), ção do restaurador e também autor deste
como é o caso da Fundação Universitária projeto, escolhido por notório saber. O
de Desenvolvimento de Extensão e Pes- projeto para a readequação do edifício e
quisa (FUNDEPES), que tem por objetivo transformação em Escola de Artes poderia
apoiar o desenvolvimento de programas e ser escolhido por meio de concurso públi-
projetos de ensino, pesquisa, extensão e co, o que daria mais credibilidade e visi-
desenvolvimento institucional da Univer- bilidade à iniciativa, envolvendo profissi-
sidade Federal de Alagoas (UFAL), com onais das mais diversas localidades, bem
suas diretrizes estabelecidas no Programa como alunos e ex-alunos.
de Apoio à UFAL para o Desenvolvimen- Os estagiários seriam recrutados dentro
to de Ações Integradas para o Estado de do próprio corpo discente do Curso de
Alagoas (PROUFAL). Arquitetura e Urbanismo, Design de Inte-
A FUNDEPES é uma entidade de direito riores e Engenharia Civil, tanto para as
privado, sem fins lucrativos, credenciada obras de restauro como para a reconversão
no Ministério da Educação e Ministério da do edifício (e possível ampliação), moder-
Ciência e Tecnologia, que objetiva apoiar nização e adequação das instalações,
as atividades desenvolvidas pela Univer- ambientação de interiores e programação
sidade em todos os campos de atuação (Lei visual, sob coordenação de arquitetos tam-
nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994). bém docentes do curso. Assim como nas
Conforme estabelecido em seu Estatuto, experiências relatadas, esta medida con-
são objetivos da FUNDEPES: tribuiria para a formação de mão-de-obra
a) explorar economicamente parte de especializada na cidade, bem como have- 297
Anais | Congresso Abracor 2009
ria economia com a hospedagem, uma vez cretizaria a missão da Universidade em as-
que não seria necessário o recrutamento sociar ensino, pesquisa e extensão, de
de profissionais em grandes centros. acordo com a LDB de 1996.
Por fim, esta proposta de trabalho con-
Nota
Durante o processo de elaboração desta clusiva da Faculdade de Arquitetura e Ur-
proposta até sua aceitação para publica- banismo e no Programa de Mestrado em
ção, a docente do Curso de Arquitetura e Dinâmicas do Espaço Habitado, onde se
Urbanismo da Universidade de Uberaba encontra lotada atualmente, juntamente
(MG), Adriana Capretz Borges da Silva com Max Paulo Giacheto Manhas, que tam-
Manhas, ingressou, por meio de concurso bém assina este artigo. No entanto, a pro-
público, na Universidade Federal de posta aqui apresentada terá prosseguimen-
Alagoas (AL), para lecionar como profes- to com o Professor Adriano Luís de Souza
sora adjunta em regime de dedicação ex- e outros professores do CAU-UNIUBE.
Referências Bibliográficas
FUNDEPES - MANUAL PARA ELABORAÇÃO DE PROGRAMA OU PROJETO NO ÂMBITO DA PROUFAL, Universidade Federal de Alagoas,
2005. Disponível em : <http://www.ufal.edu.br/ufal/> Acesso em 10 jan.2009.
LANNA, Ana Lúcia Duarte Lanna & PRATA, Juliana Mendes. O CPC-USP e a Casa de Dona Yayá: questões de gestão de um patrimônio. In:
Revista do Centro de Preservação Cultural da USP, São Paulo, v.1, n.1, p. 06-15, nov. 2005/ abr. 2006.
298
Anais | Congresso Abracor 2009
DI BLASI, Laura
Arquiteta e Urbanista
Especialista em Restauro e Reciclagem de Edificações
Mestranda em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura
e Urbanismo da UFF
Gerente de Projetos e Obras da Secretaria de Patrimônio Cultural
da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL OU
UMA QUESTÃO DE CIDADANIA?
Palavras-chave:
Educação, Patrimônio Cultural, Memória, Identidade.
The awareness of cultural values is the feasible feasible way to prevent the
homogenization of knowledge and crushing one society culture, caused, primarily, by
the indiscriminate absorption of exogenous factors, caused by the globalization.
The citizen must be aware and engaged in political decisions to have the freedom
and the right to choose their paths. Do not allow its history, its symbols, traditions and
knowledge to being used so irresponsible or be finally erased.
The practical method of education is promoted in order to stimulate consciousness,
dissemination and enhancement of cultural heritage and aimed to strengthen the
identity of a community and the exercise of citizenship.
Key Word:
Education, Cultural Heritage, Memory, Identity.
Introdução
[...] esse passado, além do mais, es- [...] Um dos problemas com que se
tirando-se por todo o trajeto de volta à defrontam os países no mundo moder-
origem, ao invés de puxar para trás, no é a perda da identidade cultural,
empurra para frente, e, ao contrário do isto é, a progressiva redução dos valo-
que seria de esperar, é o futuro que res que lhes são próprios, de peculia-
nos impele de volta ao passado [...]. ridades que lhes diferenciam as cultu-
(ARENDT, 1972, p.37) ras. [...]
(MAGALHÃES, 1997, p.54)
De forma alguma significa aceitar sub-
missa e passivamente os valores do passa- Neste sentido, é imprescindível que os
do, mas ter a certeza de que lá são encon- cidadãos tenham uma condição de vida
tradas as raízes, os elementos fundamen- que lhes permitam conhecer e entender
tais, enfim, a matriz que irá construir as seus direitos e os bens que lhes são caros
bases e as referências da identidade cultu- para, então, poder exercer ativamente o
ral de um povo. seu papel de guardião.
No entanto, constitui um aspecto rele- Somente o cidadão plenamente consci-
vante e preocupante da atualidade o fato ente e engajado nas decisões políticas pos-
de que estamos em uma época onde tudo sui a liberdade e o direito de escolher seus
que é produzido por uma sociedade é pas- caminhos e não permitir que sua história,
sível de adquirir um valor simbólico e se seus símbolos, tradições, saberes sejam
transformar em bem de consumo. Na cha- usados de maneira irresponsável ou, até
mada “Era Cultural” a cultura se expandiu mesmo, esquecidos ou apagados.
A Educação Patrimonial
Segundo definição literal, educação é o balho, nas instituições de ensino e pesqui-
“processo de desenvolvimento da capaci- sa, nos movimentos sociais e organizações
dade física, intelectual e moral do ser hu- da sociedade civil e nas manifestações
mano”1. culturais.
Conforme o Artigo 1º da Lei nº 9.394/ Portanto, o papel primordial do proces-
86, que estabelece as Diretrizes e Bases so ensino/aprendizagem é interagir com o
da Educação Nacional, os processos meio, buscar e transmitir conhecimentos
formativos do indivíduo são desenvolvidos e desenvolver a capacidade intelectual dos
nas suas várias áreas de atuação: na vida indivíduos, visando formar e transformar
familiar, na convivência humana, no tra- cidadãos conscientes e críticos.
300
Anais | Congresso Abracor 2009
2
Decreto-Lei Nº 25, de
Quanto às questões do patrimônio cultu- preender o presente e agir sobre ele”. 30 de novembro de
ral, vários estudos, documentos nacionais Para o bom desempenho do processo, é 1937, que “Organiza a
proteção do patrimônio
e internacionais relacionados ao tema men- imprescindível que os agentes responsá- histórico e artístico
nacional.”
cionam a educação como ferramenta fun- veis pela aplicação do trabalho educacio-
3
Documento Final da
damental para a preservação dos testemu- nal recebam treinamento apropriado para, Reunião Técnica de
nhos das civilizações. posteriormente, desenvolver as atividades Pirenópolis, ocorrido
em 03 de dezembro de
No âmbito nacional, a importância da com o grupo. O tema poderá ser inserido 2004, disponível em:
http://www.iphan.
educação nas discussões acerca do tema nas várias disciplinas do currículo escolar. gov.br/forum/
patrimônio cultural é destacada desde o A proposta tem por objetivo, primeira- modules.php?
name=Content&pa=
início da história oficial da preservação de mente, que os alunos identifiquem o obje- showpage&pid=1
Acesso em 02/10/2007.
bens culturais no Brasil, no Decreto-Lei nº to, função ou significado a ser estudado;
25, datado de 19372. Em 1970, o documen- aprofundem e fixem o conhecimento perce-
to gerado a partir do 1º Encontro de Autori- bido; desenvolvam a capacidade de análise e
dades de Estado ligados à área cultural, o julgamento crítico para, finalmente, se envol-
Compromisso de Brasília, aponta para a verem afetivamente e, a partir de então, desen-
necessidade de inclusão nos currículos es- volver o sentimento de pertencimento em re-
colares de nível fundamental, médio e su- lação aos bens culturais.
perior, matérias que versem sobre o conhe- O assunto tomou proporções de grande
cimento e a preservação das manifestações importância no contexto cultural nacional.
e tradições culturais nacionais. Em 2004 a Reunião Técnica de Educação
A museóloga Maria de Lourdes Horta, Patrimonial promovida pelo Instituto do
no entanto, destaca que o termo Educa- Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
ção Patrimonial, somente começou a ser - IPHAN, ocorrida em Pirenópolis (GO),
introduzido no universo educacional bra- constatou a necessidade de incluir a Edu-
sileiro a partir do 1º Seminário sobre o Uso cação Patrimonial como área estratégica
Educacional de Museus e Monumentos, no planejamento das ações voltadas para
realizado em 1983, no Museu Imperial de a preservação do patrimônio cultural. 3
Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. Em 2005 aconteceu o 1º Encontro Naci-
Segundo a museóloga, Educação onal de Educação Patrimonial, em São Cris-
Patrimonial é um instrumento de “alfabe- tóvão (SE), representando para o IPHAN
tização cultural”, que busca, a partir de uma reflexão sobre as ações educativas
situações cotidianas, desenvolver a curio- desenvolvidas ao longo dos anos e
sidade e o interesse dos alunos sobre os objetivando promover a elaboração das
processos e manifestações culturais, per- diretrizes de uma política institucional no
mitindo-lhes “reconhecer o passado, com- campo da educação patrimonial.
Considerações Finais
A diversidade de culturas e patrimônios direitos. Tem a liberdade e o discernimento
existentes no mundo são fontes insubstituíveis de escolher e determinar os signos e valores
de informações sobre as riquezas espirituais testemunhos de suas referências no presen-
e intelectuais da humanidade. te e merecedores de permanecerem como
Neste contexto, o papel fundamental da portadores de mensagens espirituais às ge-
educação é, antes de tudo, atribuir valor rações futuras.
ao ser humano. A missão de educar deve Espera-se, assim, que a conscientização
estar engajada na tarefa de reduzir as dife- da importância do patrimônio cultural seja
renças sociais existentes, principalmente um ato natural e resultante de todo o pro-
nas sociedades do Terceiro Mundo, cesso de formação e valorização do cida-
provocadas pela falta ou, pior, pela mani- dão como o verdadeiro dono de todo o
pulação das informações, que mantém os patrimônio que o cerca.
indivíduos alijados do processo de forma-
ção político-sociocultural. É necessário que [...] tentar fazer com que a comuni-
o processo educacional invista na forma- dade, nos seus afazeres e na sua vida,
ção e construção de sujeitos capazes de se conscientize de sua ambiência cul-
perceber a lógica do mundo que o rodeia e, tural. Isto é, procurar dar a comunida-
a partir do fortalecimento deste conhecimen- de um status de vida que lhe permita
to, se tornarem conscientes de seus direitos entender por que determinado bem
e deveres, articulados e participantes na está sendo preservado. Em outras pa-
constituição de uma sociedade que harmo- lavras, a própria comunidade é a me-
nize os interesses individuais e coletivos. lhor guardiã de seu patrimônio. [...].
Uma sociedade participativa possui a fa- Aloísio Magalhães (1999, p. 189)
culdade de vigiar e reivindicar pelos seus
Referências Bibliográficas
[1] ARANTES, Otília Beatriz F. Cultura da Cidade: Animação sem Frase. in Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 24.
MinC, 1996, pp. 229-240
[2] ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972.
[3] ARGAN, Giulio Carlo. A História da Arte como História da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
[4] ARROYO,Michele Abreu. Educação Patrimonial ou a Cidade como Espaço Educativo?
Disponível em
http://www.arnaldogodoy.com.br/html_cores/hps/revista04_artigo_michelearroyo.htm Acesso em 02/10/22007.
[5] CASCO, Ana Carmen Amorim Jara. Sociedade e educação patrimonial. Disponível em: <http://www.revista.iphan.gov.br/
materia.php?id=131>. Acesso em 02/10/2007.
[6] CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP, 2001
[7] COSTA, Alcidea Coelho. Educação patrimonial como instrumento de preservação.
Disponível em <http://caminhosdofuturo.com.br/site_artigos/materia.php?id=5>
Acesso em 02/10/22007.
[8] CURY, Isabelle (org). Cartas Patrimoniais. 3ª ed. rev. aum. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004.
[9] EAGLETON, T. Ideologia Uma introdução. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista: Editora Bontempo, 1997.
[10] GONZALES-VARAS, Ignacio. Conservación de Bienes Culturales: Teoria, Historia, Principios y Normas. Madrid, Ed. Catedra, 2006
(1999 1a. ed).
[11] HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUMBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial .
Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.
[12] INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO ARTÍSTICO NACIONAL.
Documento Final Pirinópolis: Reunião Técnica de Educação Patrimonial. 2004. http://www.iphan.gov.br/forum/
modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=1.
Acesso em 02/10/2007.
[13] MAGALHÃES, Aloísio, E Triunfo? A questão dos bens culturais no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Fundação Roberto Marinho,
1997.
[14] ORIÁ, Ricardo. Educação Patrimonial: conhecer para preservar. Disponível em: <http://www.educacional.com.br/articulistas/
articulista0003.asp>. Acesso em 02/10/2007.
[15] QUEIROZ, Moema Nascimento. A Educação Patrimonial como Instrumento de Cidadania. Disponível em: http://www.revistamuseu.com.br/
artigos_asp?id=3562.
Acesso em 02/10/2007.
[16] VON ZUBEN, Newton Aquiles. O “Homo Faber” e a Mundanidade no Pensamento Político de Hannah Arendt. Acessível em: http://
www.fae.unicamp.br/vonzuben/homofab.html. Acesso em 02/10/2007.
302
Anais | Congresso Abracor 2009
Ética e
Responsabilidade
Social
303
Anais | Congresso Abracor 2009
304
Anais | Congresso Abracor 2009
VIEIRA, Felipe Koeller Rodrigues
Aviador formado pela Academia da Força Aérea (1997); Mestre em
Museologia e Patrimônio (2009) – UNIRIO/MAST;
GRANATO, Marcus
Engenheiro metalúrgico pela UFRJ (1980); D.Sc. em Engenharia
Metalúrgica e de Materiais pela COPPE/UFRJ (2003); professor e
vice-coordenador do Mestrado em Museologia e Patrimônio
(UNIRIO/MAST); Coordenador de Museologia do MAST. Museu de
Astronomia e Ciências Afins - MAST/MCT
ÉTICA DA CONSERVAÇÃO E O
PATRIMÔNIO AERONÁUTICO
OS PROCESSOS DE RESTAURAÇÃO E
CONSERVAÇÃO DE AERONAVES NO
MUSEU AEROESPACIAL
O trabalho discute o patrimônio aeronáutico e analisa os conceitos de conservação e
restauração segundo Violet-le-Duc, Ruskin, Boito e Brandi. Segue-se uma revisão bibliográ-
fica sobre a conservação do patrimônio industrial e a discussão sobre a manutenção do
estado de funcionamento de máquinas musealizadas. São estudados os processos de restau-
ração e de conservação de aeronaves realizados no Museu Aeroespacial (MUSAL), identifi-
cando, na práxis e no discurso dos envolvidos, quais são as concepções éticas de restauração
e conservação presentes. É observada a influência dos princípios e métodos utilizados pela
manutenção aeronáutica naquelas concepções. Verificou-se uma tendência da equipe de
restauração trabalhar no sentido de restabelecer as condições originais das aeronaves e, em
alguns casos, reestruturando o objeto a uma configuração prévia escolhida.
Palavras-chave:
Ética da Conservação, Patrimônio Aeronáutico, Restauração, Aeronaves.
ABSTRACT: This paper discusses the aeronautical heritage and analyzes the concepts of
conservation and restoration according to Violet-le-Duc, Ruskin, Boito and Brandi. A
bibliographical revision is followed on the conservation of the industrial heritage and the
quarrel on the maintenance of the state of functioning of musealized machines. The
aircraft conservation and restoration processes in use at the Brazilian Air and Space Museum
(MUSAL) are studied, identifying, in the praxis and the speech of the involved ones,
which are the adopted ethical conceptions of restoration and conservation. It is observed
the influence of the principles and methods used for the aeronautical maintenance in
those conceptions. A trend of the restoration team was verified to work in the direction to
reestablish the original conditions of the aircraft and, in some cases, reorganizing the
object to a previous chosen configuration.
Key-words:
Conservation Ethics, Aeronautical Heritage, Restoration, Aircrafts.
O Patrimônio Aeronáutico é uma parcela do atual é ressaltada por Tom Crouch, che-
do patrimônio cultural, podendo ser estu- fe do Departamento de Aeronáutica do
dado como parte do patrimônio industrial Smithsonian National Air and Space
e técnico-científico. Ainda assim, a impor- Museum, ao afirmar que “a história do sé-
tância de seu aspecto histórico para o mun- culo vinte foi moldada em larga medida pelo
305
Anais | Congresso Abracor 2009
fato dos seres humanos poderem voar” [1]. mesmos, orientando a sua transmissão às
O Comitê Internacional para a Conserva- futuras gerações e preservando os atributos
ção do Patrimônio Industrial (cuja sigla em responsáveis pelo seu valor simbólico, con-
inglês é TICCIH) é o comitê científico do forme comentado por Tim Thorne [5] e
ICOMOS – Internacional Council on Philip Ward [6].
Monuments and Sites - dedicado ao estu- A preservação dos aspectos originais do
do, à proteção, à promoção e à interpreta- patrimônio e a pesquisa das fontes que con-
ção do patrimônio industrial. Entre suas re- ferem a origem do objeto são fundamentais
alizações destaca-se a elaboração da Carta para o reconhecimento da sua autenticida-
de Nizhny Tagil sobre o Patrimônio Indus- de, como destacado no trecho a seguir, re-
trial, em 17 de julho de 2003, na qual está sultado da Conferência de Nara, realizada
definido que: no Japão em 1994. [7]
O patrimônio industrial compreende os A conservação do patrimônio cultural em
vestígios da cultura industrial que possuem suas diversas formas e períodos históricos é
valor histórico, tecnológico, social, fundamentada nos valores atribuídos a esse
arquitetônico ou científico. Estes vestígios patrimônio. Nossa capacidade de aceitar
englobam edifícios e maquinaria, oficinas, estes valores depende, em parte, do grau de
fábricas, minas e locais de processamento confiabilidade conferido ao trabalho de le-
e de refinação, entrepostos e armazéns, cen- vantamento de fontes e informações a res-
tros de produção, transmissão e utilização peito destes bens. O conhecimento e a com-
de energia, meios de transporte e todas as preensão dos levantamentos de dados a res-
suas estruturas e infraestruturas, assim como peito da originalidade dos bens, assim como
os locais onde se desenvolveram atividades de suas transformações ao longo do tempo,
sociais relacionadas com a indústria, tais tanto em termos de patrimônio cultural
como habitações, locais de culto ou de edu- quanto de seu significado, constituem re-
cação. [2] quisitos básicos para que se tenha acesso a
As principais categorias de bens aeronáu- todos os aspectos da autenticidade.
ticos são abrangidas por esta definição: as (UNESCO, ICCROM, ICOMOS, 1994,
aeronaves, que são meios de transporte; os p.2.)
aeródromos, que compreendem edifícios e Por outro lado, nem todas as pessoas e
infraestrutura ligada à aeronáutica; e os instituições que lidam com o patrimônio
aeroclubes e escolas de aviação, que são aeronáutico têm conhecimento e/ou utili-
locais de educação por sua própria nature- zam estes conceitos. A existência de outras
za. [3] formas de lidar com o patrimônio aeronáu-
Os aeródromos e edifícios mencionados, tico, podem ser observadas em diversos lo-
aí incluídos os hangares destinados ao abri- cais do mundo [8]. O uso desse patrimônio
go das aeronaves de diversos tipos, estão e sua restauração para condições de utiliza-
contidos, também, na definição da Carta ção plena, isto é, condições de vôo, tem
de Paris, de 1962, enquanto componentes conseqüências éticas e práticas relativas à
de paisagens e sítios. autenticidade e à segurança de vôo. [9]
A aplicação do conceito de monumento Apesar disso, deve-se levar em conta o
à maquinaria e aos meios de transporte, re- contexto exposto na Declaração de Sofia,
alizado pela Carta de Nizhny Tagil, permi- de 1996, [10] que dá abertura a novas for-
te a extensão dos conceitos de conservação mas de interpretação do conceito de con-
e restauração contidos na Carta de Veneza, servação.
de 1964, para bens do patrimônio aeronáu- A História ensina e as transformações
tico. Somando-se a estas, também são apli- sociais decorrentes de seu dinamismo per-
cáveis ao manejo dos citados objetos, às mitem constatar que o conceito de
operações de conservação, preservação, res- patrimônio cultural se encontra em cons-
tauração, manutenção, reconstrução e adap- tante processo de evolução. Em
tação, conforme definidas pela Carta de consequência, a conservação dos testemu-
Burra, de 1980. [4] nhos tangíveis e intangíveis do passado não
Com isso, as intervenções realizadas em constitui apenas uma questão de juízo ati-
aviões, balões, helicópteros e dirigíveis pas- ço e estético, mas também um tema de atu-
sam a possuir uma série de documentos ação prática. Isto implica que não mais se
balizadores de ações que visam aumentar a aceite a idéia de que a doutrina da conser-
longevidade e garantir a autenticidade dos vação seja estática e, doravante, sejamos
306
Anais | Congresso Abracor 2009
convocados a considerar o patrimônio cul- pode, tampouco, ser efetuado sem levar em
tural em função do contexto geral, levando- consideração, de forma crítica, as reais prá-
se em conta a diversidade e a especificidade ticas existentes no campo. A análise das
das culturas. (ICOMOS, 1996, p.1). diferentes abordagens faz parte intrínseca
Assim, o estudo do patrimônio aeronáu- deste estudo, uma vez que objetiva, tam-
tico não pode ser efetuado sem o bém, o entendimento dos significados e
embasamento nos principais documentos valores ligados à aeronáutica e seu
existentes sobre patrimônio, porém não patrimônio.
307
Anais | Congresso Abracor 2009
manutenção aeronáutica. O projeto de uma expõem exemplares acidentados ou partes
aeronave incorpora componentes críticos que de destroços originados de sítios terrestres
seguem uma programação rígida de inspe- ou submarinos.
ções. Essas inspeções frequentemente inclu- A variedade dos exemplos citados permi-
em a substituição programada de peças e te observar que as práticas de conservação e
sistemas. Peter Meehan [19] explica que os restauração do patrimônio aeronáutico des-
objetos industriais podem ser desmontados critas na literatura abrangem desde as mais
em partes componentes em um processo profundas intervenções, à semelhança dos
reversível que permite que os mesmos se- trabalhos de Viollet-le-Duc, até o não
jam reparados durante sua vida de trabalho intervencionismo declarado, seguindo a fi-
e que os tratamentos dispensados aos acer- losofia de Rukin. A influência de Boito tam-
vos de veículos de transporte são os mes- bém é observada nos processos de documen-
mos utilizados tipicamente na maioria das tação do estado das peças e pesquisa da
áreas da conservação do patrimônio indus- origem dos componentes. A filosofia de
trial. restaurar a função original do objeto com o
Edward McManus [20] apresenta uma for- cuidado de evitar os falsos históricos, pos-
ma alternativa de tratamento, a conserva- tulada por Brandi, também influencia, di-
ção das aeronaves no estado em que foram retamente, os trabalhos de conservação do
encontradas. Diversos museus do mundo patrimônio aeronáutico.
308
Anais | Congresso Abracor 2009
vas ao Correio Aéreo Nacional e do aniver- com décadas de experiência na FAB e na
sário da Aviação de Transporte da Força Aé- aviação civil. Essa experiência é necessária
rea Brasileira (FAB). Nestas ocasiões, o anti- e bem-vinda, uma vez que os familiariza
go avião desfila taxiando perante os vetera- com os objetos e métodos empregados nos
nos e demais participantes da solenidade. processos. Não é incomum que o restaura-
Muitas aeronaves do acervo do MUSAL dor ou conservador de uma aeronave
foram adquiridas ou coletadas em um esta- musealizada tenha trabalhado como mecâ-
do de quase completa destruição [22]. Nes- nico do mesmo modelo durante os seus anos
tes casos, o processo de restauração durou de serviço ativo. Todas as entrevistas mos-
alguns anos ou mesmo mais de uma déca- traram a forte ligação emocional entre os
da. Como exemplo de restauração, citado componentes da equipe e o trabalho nas
orgulhosamente pelos participantes da equi- aeronaves, bem como a percepção de con-
pe que foram entrevistados, encontra-se a tinuidade entre o trabalho de outrora, como
aeronave Focke Wulf FW-58 Weihe. Após mecânicos de aviões, e o presente, como
ser localizado, em 1978, por uma equipe restauradores e conservadores de aeronaves
do MUSAL, constatou-se que este avião, musealizadas.
construído em 1941, na antiga Fábrica do São fases comuns da restauração das ae-
Galeão, segundo os planos originais ale- ronaves mais antigas, construídas em ma-
mães, sofrera um incêndio que quase o des- deira e tela, a desmontagem, a desentelagem
truiu por completo. A restauração desta ae- da fuselagem e das asas, a reentelagem e
ronave demandou uma extensa pesquisa no pintura. Alguns exemplares são pintados
Brasil e na Alemanha, entretanto a sua re- para representar aeronaves de especial im-
cuperação foi considerada de grande inte- portância, como o P-47 da exposição está-
resse pelo MUSAL, pois se trata do único tica, que serviu como aeronave de treina-
exemplar deste tipo no mundo. mento em Natal e Fortaleza, mas está ca-
De uma forma diametralmente oposta, racterizado como uma das aeronaves que
um motor radial pertencente a uma aerona- voou no 1º GAC, durante a guerra, tendo
ve T-6 acidentada no litoral de Pernambuco sido perdida na Itália, causando a morte do
na década de 1960, e recuperado quarenta piloto, o Aspirante-Aviador Frederico
anos depois, é exposto ao público no esta- Gustavo dos Santos.
do de conservação em que foi retirado do A observação em campo mostrou que esta
mar, mostrando o efeito da corrosão mari- experiência prévia contribui, às vezes, para
nha e a incrustação de conchas de moluscos. a ocorrência de incorporações indevidas de
A análise desta ação de restauração traz à componentes não originais das aeronaves.
mostra similaridades à prescrição feita pela Em alguns casos de ausência de peças, prin-
Carta de Nizhny Tagil para a reconstrução cipalmente nas áreas das aeronaves que es-
de sítios industriais [23]: tarão à vista do público, são instaladas pe-
A reconstrução, ou o retorno a um estado ças “semelhantes”, sem nenhuma indicação
anteriormente conhecido, deverá ser consi- clara para os observadores leigos, como no
derada como uma intervenção excepcional caso de alguns instrumentos não originais
que só será apropriada se contribuir para o colocados no painel de aeronaves sem ca-
reforço da integridade do sítio no seu con- pota. Tal ação é justificada por alguns com-
junto, ou no caso da destruição violenta de ponentes da equipe como necessária para a
um sítio importante. (TICCIH, 2003, p.12). integridade estética da aeronave. Outros,
A equipe de artífices do MUSAL é com- porém, criticam o que consideram um fal-
posta por vários especialistas em aviação, so histórico, algumas vezes não claramente
muitos dos quais mecânicos aeronáuticos documentado.
Conforme lembra Christopher Terry [24], antigos e para o uso dos objetos, revelados
os museus são repositórios de objetos e são por suas marcas e desgastes causados pelo
vistos muitas vezes como armazéns de co- uso cotidiano.
nhecimento acumulado. Os objetos Sobre o uso das peças de acervo
musealizados documentam épocas passa- musealizadas, Marcus Granato [25] afirma
das, servindo como fontes históricas para que “os curadores não podem comprome-
pesquisas sobre as tecnologias e projetos ter a integridade dos objetos, preservados
309
Anais | Congresso Abracor 2009
NOTAS DAS CITAÇÕES
[1] Crouch, 1997, p. 13.
para as gerações futuras, colocando-os em as marcas geradas pela abrasão atmosférica
[2] TICCIH, 2003, p. 3. funcionamento e expondo-os a riscos des- típica dos voos.
[3] Milbrooke, 1998, p. 7.
[4] Cury, 2004. As cartas necessários de danos e mal uso”. A utilização de técnicas de anastilose e
patrimoniais podem ser
consultadas através da Apesar de alguns exemplares do acervo preenchimento exige, como em outras ca-
página do IPHAN na
internet. Disponível em: <
do MUSAL serem mantidos em condição tegorias do patrimônio, a adoção de princí-
http://portal.iphan.gov.br > de vôo, a efetiva utilização dessas aerona- pios de ação que permitam distinguir o
[5] Thorne, 1997, p. 17.
[6] Ward, 1982, p. 6. ves restringe-se ao acionamento dos moto- material original do adicionado. Este com-
[7] UNESCO, ICCROM,
ICOMOS. Conferência de res e, em ocasiões especiais, à movimenta- portamento carrega em si a ética de preser-
Nara. 1994. p. 2.
[8] McManus, 1994, p. 10.
ção no solo. Voar uma aeronave histórica é vação da verdade histórica do objeto con-
[9] ICOMOS. Declaração duplamente arriscado, é difícil manter um servado. Da mesma forma, a mudança de
de Sofia. 1996, p.1
[10] Muñoz Viñas, 2005, p. piloto familiarizado com equipamentos configuração de um exemplar, com a ado-
3-7.
[11] Muñoz Viñas, 2005, p. antigos e devidamente treinado para voar a ção das características de outra aeronave do
67.
[12] Brandi, 2004, p. 26-39.
aeronave. Esta pode, por outro lado, conter mesmo modelo, deve ser exposta de forma
[13] Muñoz Viñas, 2005, p. danos ocultos ou deteriorações dos materi- clara para o público, para não se tornar um
183.
[14] Granato, 2007, p. 130. ais impossíveis de serem controlados, é di- falso histórico.
[15] Brenni, 1999, p. 22.
[16] Milbrooke, 1998, p. 20.
fícil obter peças de reposição e prever a fa- O desafio de conservar, até em condições
[17] Muñoz Viñas, 2005, p. diga de componentes ao longo dos anos. de voo, um acervo cada dia mais antigo,
27-29.
[18] Milbrooke, 1998, p. 38. Por fim, um acidente pode destruir para revela a dedicação e o cuidado acurado de
[19] Meehan, 1999, p. 11 e
15. sempre informações sobre um exemplar do todos os integrantes do museu com os exem-
[20] McManus, 1994, p. 9.
[21] Thorne, 1997, p. 16.
patrimônio aeronáutico tão arduamente plares conservados.
[22] Drummond, [198?], p. conservado. A discussão sobre como conservar e
240-243.
[23] TICCIH, 2003, p.12. Da mesma forma, a re-configuração de restaurar os exemplares do patrimônio ae-
[24] Terry, 1997, p. 27.
[25] Granato, 2007, p. 129. um exemplar para um estado anterior ronáutico permanece atual. Como teste-
[26] Flopp, 1997, p. 4.
descaracteriza as modificações realizadas munha Michael Flopp [26], o trabalho
durante a sua vida em serviço, apagando para dos conservadores nos museus de avia-
sempre marcas históricas que são fontes de ção continua sendo um desafio. Como
valiosas informações para historiadores e outros museus aeronáuticos, o Museu
estudiosos da aviação. A remoção da pintu- Aeroespacial lida com um acervo que
ra altera as características da aeronave, uma representa a fronteira da tecnologia hu-
vez que dificilmente a nova cobertura terá mana. O uso deste patrimônio com
a mesma composição química da que foi parcimônia e respeito permitirá a sua
retirada. E mesmo que a tenha, a nova cor compreensão no presente e o seu usufru-
não terá o desgaste dos anos sob o sol, nem to pelas gerações vindouras.
REFERÊNCIAS
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Tradução de Beatriz Mugayar Kühl. São Paulo: Ateliê Editorial, Coleção Artes & Ofícios, 2004.
BRENNI, Paolo. Restoration or repair? The dilemma of ancient scientific instruments. In: Reversibility: does it exists? London: British Museum,
1999 (British Museum Occasional Paper, 135). p. 19-24.
CROUCH, Tom D. Asas: uma história da aviação: das pipas à era espacial. Rio de Janeiro: Record, 2008. Prólogo. p.11-28.
CROUCH, Tom D. Risky business: some thoughts on controversial exhibitions. Museum international: air and space museums (UNESCO, Paris).
Oxford (UK) and Cambridge (USA): Blackwell Publishers. n°195 (vol 49, n°3), July–September 1997. p.8-13.
CURY, Isabelle (org). Cartas patrimoniais. Brasília: IPHAN, 2004. Coleção Edições do Patrimônio. 3 ed.
DRUMOND, Cosme Degenar. O museu aeroespacial brasileiro. São Paulo: Aero, [198_?].
ESCRITÓRIO INTERNACIONAL DOS MUSEUS. Recomendação Paris paisagens e sítios. Paris, 1962. 8 p.
FLOPP, Michael A. Air and space museums come of age. Museum international: air and space museums (UNESCO, Paris). Oxford (UK) and
Cambridge (USA): Blackwell Publishers. n°195 (vol 49, n°3), July–September 1997. p.4-7.
GRANATO, Marcus. Conservação e restauração de instrumentos científicos históricos. in: Museu de Astronomia e Ciências Afins. Conservação
de acervos. Rio de Janeiro: MAST, 2007. MAST Colloquia v. 9. p. 121-144.
ICOMOS, Conselho Internacional de Monumentos e Sítios. Carta de Burra. 1980. 5 p.
__________. Carta internacional sobre conservação e restauração de monumentos e sítios. Veneza, 1964. 4 p.
__________. Declaração de Sofia. XI Assembléia Geral do ICOMOS. 1996. 2 p.
MCMANUS, Edward. Aircraft restoration practice and philosophy. Cultural Resource Management. Washington: U.S. Departament of the Interior,
National Park Service, 1994. v. 17. n.4. p. 8-10. Disponível em: <http://crm.cr.nps.gov/archive/17-4/17-4-2.pdf> Acesso em: 31/07/2008 10:01:55.
MEEHAN, Peter M. Is reversibility an option when conserving industrial collections? In: Reversibility: does it exists? London: British Museum, 1999
(British Museum Occasional Paper, 135). p. 11-15.
MILBROOKE, Anne. Guidelines for evaluating and documenting historic aviation properties. Washington: U.S. Departament of the Interior, National
Park Service, 1998. 55p. Disponível em: <http://www.nps.gov/history/nr/publications/bulletins/aviation/NRB43.pdf>. Acesso em: 28/07/2008 14:25:31.
MUÑOZ VIÑAS, Salvador. Contemporary theory of conservation. Oxford: Elsevier, 2005. 239p.
TERRY, Christopher J. Canada’s technology museums go on-line. Museum international: air and space museums (UNESCO, Paris). Oxford (UK)
and Cambridge (USA): Blackwell Publishers. n°195 (vol 49, n°3), July–September 1997. p.26-27.
THORNE, Tim. A wing and a prayer. Museum international: air and space museums (UNESCO, Paris). Oxford (UK) and Cambridge (USA):
Blackwell Publishers. n°195 (vol 49, n°3), July–September 1997. p.14-21.
TICCIH. Carta de Nizhny Tagil. Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial, 2003. Traduzida pela APPI – Associação
Portuguesa para o Património Industrial. Disponível em: <http://www.mnactec.cat/ticcih/pdf/NTagilPortuguese.pdf>. Acesso em: 15/05/2008
22:56:17.
UNESCO, ICCROM, ICOMOS. Conferência sobre a autenticidade em relação a convenção do patrimônio mundial. Carta de Nara. 1994. 3 p.
WARD, Philip R. La conservation: l’avenir du passé, in Museum, Paris: UNESCO. vol. XXXIV, nº1, 1982, p.6-9.
310
Anais | Congresso Abracor 2009
VIANA, Filomena Mata.
Arquiteta, Ms. em Ciência da Arquitetura pela FAU/UFRJ.
Professora da Universidade da Amazônia-UNAMA
1
Silvio Burratino
ARTE NA OBRA: MELHADO. Gestão,
Cooperação e
Integração para um
uma experiência de responsabilidade Novo Modelo Voltado à
Qualidade do Processo
do Projeto na
social em obra de restauro Construção de
Edifícios. São Paulo,
Escola Politécnica da
Universidade de São
Paulo, 2001, p..85.
Tese (Livre Docência)
Palavras-chave:
Patrimônio Arquitetônico; Restauração; Responsabilidade social; Sustentabilidade.
Keywords:
Architectural Heritage; Restoration; Social Responsibility; Sustainability.
1 - INTRODUÇÃO
2 – O PROJETO DE RESTAURO
Um projeto de restauro tem, dentre ou- to quanto possível”. Portanto, esses valo-
tros, o objetivo de salvaguardar o bem res, históricos e estéticos, dão à obra a
arquitetônico e seu patrimônio integrado. qualidade de obra de arte, e sendo cada
Todo projeto arquitetônico, deve envolver obra um exemplar único, a prática da Res-
um amplo conhecimento interdisciplinar, tauração exige uma formação bastante es-
que deve manter um fluxo contínuo de in- pecífica e criteriosa.
formações. “É muito importante reconhe- Um projeto específico de restauração
cer que deve haver integração entre os arquitetônica pressupõe atividades que en-
agentes envolvidos no processo, para que volvem a pesquisa histórica do edifício,
ocorra uma qualidade global”. Sendo as- concepção e desenvolvimento do proje-
sim, como o projeto de restauro se trata to, realização e documentação da execu-
de um projeto arquitetônico com ção da obra, conservação preventiva e em
especificidades, a interdisciplinaridade se se tratando de edifícios considerados mo-
torna ainda mais ampla, visto que envol- numentos, de valor histórico para a socie-
ve conhecimentos específicos de cada dade, é importante haver a divulgação e
edifício. difusão dos procedimentos para que a co-
O artigo 2º da Carta de Veneza ² reforça munidade entenda e participe do proces-
essa afirmativa, pois ele aborda a restaura- so. Além dessas características ressalta-se
ção dos monumentos, como uma discipli- a importância de motivar a participação
na que reclama a colaboração de todas as da comunidade para que ela possa se in-
ciências e técnicas que possam contribuir serir no processo, fazendo com que o
para o estudo e a salvaguarda do patrimônio arquitetônico seja apropriado
patrimônio monumental. Porém, convém pela mesma, com o intuito de viabilizar a
ressaltar que “a restauração atua especifi- fluidez de todo o processo, além de pro-
camente nos valores históricos e estéticos mover a sustentabilidade do edifício e da
da obra de arte, restituindo tais valores tan- obra de restauro.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos grandes desafios contemporâ- é preciso que ações promovam o resgate da
neos, das ações de preservação e restau- autoestima, buscando sempre mostrar que a
ração do patrimônio é agregar e sistemati- relação entre a sociedade e seu patrimônio
zar atividades de cunho social, que pos- possa se tornar uma relação de reciprocida-
sam estabelecer uma aproximação mais de, onde a sociedade pode assegurar a vita-
concreta entre o patrimônio e a comuni- lidade do patrimônio e o patrimônio possa
dade, decorrentes de seu usufruto e ma- corroborar com a sua inclusão, estabelecen-
nejo, de gerar emprego, renda e oportuni- do uma interação entre ambos.
dades econômicas. Essas ações, em conjunto, objetivam
Além disso, a participação da comuni- aproximar a comunidade ao patrimônio
dade é essencial para que diminuam os arquitetônico em restauração, pois se acre-
impactos negativos em diversas atividades, dita que a partir de seu reconhecimento, a
como é o caso das intervenções de restau- sociedade se apropria do mesmo e com-
ro, pois ela pode contribuir para o sucesso preende a necessidade das intervenções
das ações, reduzindo ou impedindo a rá- restaurativas. Portanto, além de participar
pida degradação do lugar ou do patrimônio deste processo, amplia-se o valor do
histórico, pois, o reconhecimento, de um patrimônio arquitetônico e das ações em-
patrimônio pode acentuar a compreensão preendidas para sua preservação, promo-
e sua valorização, ficando garantida a vendo uma sociedade mais participativa e
sustentabilidade do projeto de restauro, consciente da importância da restauração,
contribuindo para fortalecer a identidade preservação, conservação e manutenção
cultural e a paisagem urbana. do patrimônio arquitetônico, garantindo a
Como muitas vezes, a sociedade não re- sustentabilidade e a inclusão social em
conhece a importância da sua participação, todo o processo.
Bibliografia
CRUZ, Ernesto. Igrejas de Belém. Belém: Falangola, 1974.74 p.
CURY, Isabelle. (org.). Cartas Patrimoniais. 2ª ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000.384p.
LEAL, Monsenhor Américo. A Igreja da Sé. Belém: Falangola, 1979. 134 p.
MELHADO, Silvio Burrattino. Gestão, Cooperação e Integração para um Novo Modelo Voltado à Qualidade do Processo do Projeto na
Construção de Edifícios. São Paulo, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2001. 235 p. Tese (Livre Docência)
RESTREPO, Beatriz R. Manual de Prevención y Primeros Auxilios. Instituto Colombiano de Cultura. 1985.
SACHS, I. Desenvolvimento: includente, sustentável. Rio de Janeiro: Ed. Garamond/SEBRAE, 2004.
316
Anais | Congresso Abracor 2009
CAVALCANTI-BRENDLE, Maria de Betânia Uchôa
Arquiteta, PhD em Urban Design, Especialista em Conservação Arquitetônica – ICCROM
Universidade Católica de Pernambuco
1
Neste contexto, a
This article discusses urban and architectural interventions in the built environment
of contemporary cities of historic interest. It searches for design references for the
insertion of new architectures in the preexisting city urban fabric taking into
consideration some of the international recommendations for the preservation of cul-
tural property as well as theories of conservation and some of the guiding principles of
the Modern Movement relating to the old city with a critical evaluation of the dialectic
relationship between the new and the old. Taking as a conceptual background the
coherence between the present and the continuity of the urban and architectural history,
it aims at providing authenticity and legibility for the built environment of the
contemporary city.
Palavras-chave:
Intervenção, Preexistências, Patrimônio Contemporâneo.
Toda intervenção arquitetônica ou urba- anterior. Esta posição, segundo Tafuri (1979:
na na cidade apresenta uma relação de uni- 39), tem Brunelleschi como protagonista da
formidade ou de antítese com a primeira vanguarda artística no sentido
preexistência. A uniformidade é expressa moderno1 ao romper com a continuidade
pela absorção de tipologias pretéritas e se histórica das experiências figurativas
utiliza de sintaxes anacrônicas que se dis- arquitetônicas e urbanas em sua intenção
tanciam da contemporaneidade através da de autonomamente construir uma nova his-
mimese, recriação, cópia, imitação, falsi- tória em Florença. Ele toma a antiguidade
ficação e/ou repetição. Faz-se necessária clássica como referencial para superar a agre-
muita cautela ao empregar termos como gação e a empiricidade do espaço urbano e
releitura, reinterpretação, diálogo respeito- o repertório decorativo medieval. Assim,
so, entre outros, pois estes, têm sido utili- intervenções como a cúpula da Igreja de
zados muitas vezes pela comunidade aca- Santa Maria del Fiore (1417-34), as basílicas
dêmica para aceitar e/ou justificar o uso de San Lorenzo e do Santo Spirito, e a
mimético da história na produção do am- Rotunda degli Angeli, demonstram a ruptu-
biente construído contemporâneo. Por ra da estrutura preexistente românico-góti-
outro lado, a antítese estabelece contras- ca da cidade com a inserção de elementos
tes muito nítidos com a preexistência e robustos da gramática renascentista. Ao in-
aproxima-se da posição dialética de nega- serir objetos modernos no tecido urbano pré-
ção da reprodução de objetos existente de Florença, Brunelleschi demons-
arquitetônicos formulados em um tempo tra que “história urbana e intervenção são
317
Anais | Congresso Abracor 2009
2
Carta de Atenas,
Artigo 70.
complementares em sentido dialético”. O
3
Para utilizar a anti-historicismo das novas intervenções
classificação de Otília
Arantes em “O lugar da confronta-se com as preexistências consti-
arquitetura depois dos
modernos”. tuindo um fenômeno natural se observado
pela ótica de fidelidade à história, autenti-
cidade estética, tectônica e urbana que não
Figura 01: A
recorre à repetição epidérmica de lingua- cúpula de
gens arquitetônicas nem a postulados ur- Brunelleschi
para a Igreja
banos pretéritos. de Santa
Maria del
O Movimento Moderno também adota Fiore em
Florença.
a antítese na inserção da nova arquitetura
no ambiente construído. A Carta de Ate- simplista ou releitura de linguagens figura-
nas (1933), documento que reúne as reco- tivas e adequar à nova forma construída aos
mendações do IV CIAM (Congresso Inter- parâmetros urbanos e arquitetônicos das
nacional de Arquitetura Moderna), preexistências. Nem reproduzir formas, or-
posiciona-se claramente contra a cópia do namentos e decorativismos do passado. Es-
passado na construção de edifícios novos tas são características de intervenções rotu-
considerando-a uma falsidade e mentira. ladas como revivals presentes em algumas
O Artigo 70 enfatiza: “O emprego de esti- correntes da produção da arquitetura dita
los do passado, sob pretextos estéticos, nas pós-moderna que surge a partir da década
construções novas erigidas nas zonas his- de 1970, que Lina Bo Bardi lucidamente
tóricas, tem consequências nefastas”. Re- define como “retromania”, e que Lúcio Cos-
conhecendo o valor do patrimônio históri- ta (1995: 424) resume a um equívoco: “O
co das cidades, o CIAM, sem negar o valor equívoco é que os arquitetos contemporâ-
da história, defende uma postura dialética, neos, no seu afã de não repetir formas con-
ainda hoje atual, entre a relação do edifício sagradas válidas, se arvorem em “pós-mo-
antigo e do novo que não tolera o “empre- dernos”... eles deveriam pensar em fazer
go de estilos do passado”, enfatizando a arquitetura simplesmente”.
autenticidade da nova arquitetura Nestas intervenções que refletem
(Cavalcanti-Brendle: 2007). recorrências do passado e negação do pre-
As obras-primas do passado nos mostram sente (Rob e Leon Krier), aberrações
que cada geração teve sua maneira de pseudo-classicistas (Ricardo Bofill), metá-
pensar, suas concepções, sua estética, re- foras e anedotas (Michael Graves), farsas
correndo, como trampolim para sua ima- e pastiches (Quinlan Terry), fragilidade
ginação, à totalidade de recursos técnicos conceitual e vocabulário frívolo3 (Éolo
de sua época. Copiar servilmente o passa- Maia), a autenticidade histórica da cidade
do é condenar-se à mentira, é erigir o fal- é violada e em muitos casos o novo não
so como princípio, pois as antigas condi- se distingue nem qualifica o antigo
ções de trabalho não poderiam ser (Cavalcanti:1999).
reconstituídas e a aplicação da técnica Recentemente, a reconstrução mimética
moderna a um ideal ultrapassado sempre de edifícios e áreas destruídas pelos bom-
leva a um simulacro desprovido de qual- bardeios da Segunda Guerra Mundial na Ale-
quer vida2. manha como, entre outros, a Frauenkirche
Intervir em áreas antigas não significa Dresden e de todo seu entorno (o
apenas realizar uma acomodação tipológica Neumarkt), o Berlinschloss (em andamen-
Figuras 02 e 03:
Reconstrução da Catedral de Dresden e do Neumarkt.
Fonte: Cartões Postais e Cavalcanti-Brendle, 2007.
318
Anais | Congresso Abracor 2009
4
O projeto vencedor do
concurso de autoria de
Carlos Leão, uma
proposta neo-colonial,
foi rejeitado por Lúcio
Costa que indicou o
arquiteto Oscar
Niemeyer para
desenvolver o projeto.
5
Lúcio Costa (1940) in:
Lia Motta (1987: 109) A
SPHAN em Ouro Preto.
Uma história de
conceitos e critérios.
6
O Operacional
Guidelines for the
Implementation of the
World Heritage
Convention”, diz que:
Figuras 04 e 05: “Estilo patrimônio” em Ouro Preto. “Integrity is a measure of
Fonte: Cavalcanti-Brendle, 2007. the wholeness and
intactness of the natural
and/or cultural heritage
to), e o Braunschweig Einkaufzentrum e em Já em 1940, Lúcio Costa, em correspon- and its attributes”
(UNESCO, 2005).
menor escala, a reconstrução total de uma dência a Rodrigo de Mello Franco de
edificação do século XVIII no centro de Andrade, então diretor da SPHAN, defen-
Ouro Preto, alerta para a necessidade de dendo o projeto de Oscar Niemeyer para
atitudes e reflexões teóricas e conceituais o Grande Hotel Ouro Preto4 argumenta:
que fundamente a definição de diretrizes “(...) a boa arquitetura de um determina-
de intervenção alternativas às operações do período vai sempre bem com a qual-
epidérmicas de falsificação e imitação quer período anterior. O que não combi-
estilística e de “cosmética urbana” que a na com coisa nenhuma é falta de arquite-
cidade contemporânea vivencia em grande tura”.5
escala patrocinadas por poderosas campa- A antítese não representa necessariamen-
nhas de marketing e de media. te a colisão com a forma da cidade tradici-
No Brasil, intervenções empregando-se onal como argumenta Cesare Brandi
características estilísticas e linguagens (1963) através da defesa da preservação
arquitetônicas do passado foram em parte da dupla polaridade histórica e estética,
produtos de uma atuação conservadora do renegando tanto a falsidade histórica quan-
IPHAN (Vieira: 2006), e são visíveis, por to à ofensa estética. É importante destacar
exemplo, nas cidades de Ouro Preto e que a teoria Brandiana está voltada para o
Mariana, onde as edificações novas den- restauro da obra de arte. Faz-se necessá-
tro do perímetro da cidade antiga não se rio uma reflexão teórica no sentido de
distinguem das antigas gerando uma ano- apreender desta as contribuições pertinen-
malia urbana denominada “estilo tes para o campo das intervenções em áre-
patrimônio”, e que atualmente ainda é o as históricas a exemplo da crítica realiza-
referencial popular para as construções da pelo autor na reconstrução do Campa-
novas no centro antigo (Cavalcanti- nário de Veneza.
Brendle: 2007).
Sobre as ruínas da igreja de St. Kolumba, cujo primeiro lugar foi o projeto de Peter
em Colônia, Alemanha, destruída pelo bom- Zumthor. Além da preservação das ruínas
bardeio da Segunda Guerra Mundial, foi ins- do edifício medieval, foi exigido ainda a
talado o Museum Kolumba, projeto premi- incorporação ao novo projeto da capela
320 ado de um concurso de 167 participantes construída por Gottfried Böhm nos anos
Anais | Congresso Abracor 2009
Figura 08 e 09: Exterior e interior do Kolumba Museum, projeto de Peter Zumthor, Colônia, Alemanha.
Fonte: Cavalcanti-Brendle, 2007.
O projeto de Oscar Niemeyer para o ções do restauro crítico proposto por Cesare
Grande Hotel de Ouro Preto (1940), Brandi nos anos 60 em sua Teoria do Res-
construído poucos anos depois da funda- tauro. Niemeyer respeita a instância histó-
ção do Serviço do Patrimônio Histórico rica ao inserir uma edificação francamente
(1937), até hoje se apresenta como uma li- moderna em meio ao casario colonial, ao
ção de inserção de uma arquitetura contem- mesmo tempo em que considera a instân-
porânea em um contexto histórico. O Gran- cia estética ao utilizar elementos tradicio-
de Hotel de Ouro Preto antecipa as orienta- nais como a telha de barro, muxarabis e os 321
Anais | Congresso Abracor 2009
terraços. Este é um exemplo de respeito ao a sua expressão formal dificilmente fugi-
passado através da proposição de uma ar- ria do epíteto de pastiche, desqualificando
quitetura contemporânea de qualidade. a arquitetura contemporânea e fazendo
Mais de meio século após esta interven- empalidecer a antiga.
ção pioneira, tem-se um exemplo que faz A pressão política e o marketing retórico
eco às propostas historicistas e carece da empreendido por segmentos da socieda-
autenticidade da primeira intervenção co- de defendendo posições conservadoras e
mentada. Voltamos à estaca zero. Trata-se há muito ultrapassadas, apesar de despro-
do preenchimento da lacuna urbana resul- vidos de autoridade científica foram mais
tante do incêndio ocorrido no ano de 2003 eficazes que a comunidade acadêmica, na
em um casarão da Praça Tiradentes. Uma rápida produção de uma falsificação esté-
perda inestimável ao patrimônio nacional tica que compromete a autenticidade do
que merecia um tratamento urgente e con- tecido urbano do centro de Ouro Preto.
dizente com o valor histórico e artístico Intervenções como o Grande Hotel de
do conjunto urbano da cidade, patrimônio Ouro Preto e o Kolumba Museum eviden-
cultural brasileiro e mundial. Discutindo ciam alternativas de coexistência entre o
o assunto ainda em 2003, a professora presente e o passado na construção da ci-
Odete Dourado reconhece a polêmica da dade contemporânea sem recorrer à uti-
questão, alerta a comunidade acadêmica lização nostálgica da história. Outros
para a necessidade de reflexão sobre a exemplos como o Museu Rodin, do Estú-
natureza de intervenção a ser adotada, dio Brasil Arquitetura, e a Pinacoteca de
expressando de maneira contundente a sua São Paulo de Paulo Mendes da Rocha (ao
postura conceitual e teórica: contrário da Sala São Paulo), permitem a
Apesar de seus aspectos claramente dis- integridade, legibilidade e compreensão
cutíveis, um deles está fora de qualquer do edifício antigo e a inserção
questionamento: o velho casarão está ir- contrastante de elementos arquitetônicos
remediavelmente perdido, nada poderá do presente necessários a sua nova funci-
trazê-lo de volta. Reconstruí-lo na sua apa- onalidade. Afinal o objetivo maior ainda
rência de casarão do século XVIII, mesmo é a preservação do patrimônio construído
com a utilização de materiais contempo- da cidade e a incorporação da
râneos e simplificação formal – na tentati- contemporaneidade como valor artístico
va velada de evitar um falso histórico – e arquitetônico.
não camuflaria um atentado contra a arte:
ARANTES, Otília. O lugar da arquitetura depois dos modernos. São Paulo: Nobel-Edusp, 1993.
BRANDI, Cesari. Teoria da Restauração. São Paulo: Artes e Ofícios, 2004.
CAVALCANTI-BRENDLE, Maria de Betânia Uchoa. Frauenkirche Dresden. Reconstrução ou Montagem Cênica. In: Revista Continente
Multicultural. Recife, 2007.
CAVALCANTI, Maria de Betânia de Andrade Uchoa. A dialética construtiva entre o antigo e o contemporâneo. Boletim Óculum. São Paulo:
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-USP, 1999.
COSTA, Lúcio. Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995.
DOURADO, Odete. Por um Restauro Urbano: novas edificações que restauram cidades monumentais. In: Revista RUA. N.8, pp.8-13.
Salvador: Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFBA, 2003.
ERZBISCHÖFLICHES DIÖZESANNMUSEUM KÖLN. Kolumba. Ein Architekturwettbewerb in Köln. Köln: Walter König Köln, 1997.
JOKILETHO, Jukka. Conceitos e Idéias sobre preservação. In: Gestão do Patrimônio Cultural Integrado. pp.11-20. Recife: CECI-ICCROM-
UNESCO-UFPE, 2002.
LENCASTRE, Paulo de (ed.) “Queira Deus”. Invenção & Tradição em Arquitetura. Lisboa: Civilização Editora, 2007.
MOTTA, Lia. A SPHAN em Ouro Preto. Uma história de conceitos e critérios. In: Revista do Patrimônio Histórico Nacional, N.22, pp.108-122.
Rio de Janeiro, 1987.
PEHNT, Wolfgang. Diözesanmuseum Kolumba in Köln. Peter Zumthor. Ein Haus für Sinn und Sinne. Baumeister B11. pp.48-63. München,
2007.
RUSKIN, John. A Lâmpada da Memória. Apresentação, tradução e comentários críticos por Odete Dourado. (Título original: The Lamp of
Memory. In: The Seven Lamps of Architecture, 1849). Pretextos, Série b, Memórias,2. Salvador: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da
UFBA, 1996.
TAFURI, Manfredo. Teorias e História da Arquitectura. Lisboa: Editora Presença/Martins Fontes, 1979.
UNESCO. Operational Guidelines for the Implementation of the World Heritage Convention. Paris, 2005.
VIEIRA, Liliane de Castro. As tipologias arquitetônicas de Ouro Preto no século XX: Estudo comparativo entre os inventários de 1949 e
2002. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA. Salvador, 2006.
VIEIRA, Natália Miranda. O lugar da história na cidade contemporânea. Bairro do Recife & Pelourinho. Dissertação de Mestrado apresen-
tada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA. Salvador, 2000.
VIEIRA, Natália Miranda. Gestão de sítios históricos: valor cultural e valor econômico em programas de revitalização em áreas históricas.
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Urbano da UFPE. Recife: 2006.
ZUMTHOR, Peter. Thinking Architecture. Basel: Birkhäuser – Publishers for Architecture, 2006.
323
Anais | Congresso Abracor 2009
324
Anais | Congresso Abracor 2009
ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira de
Arquitetura e urbanista pela UFBA (2002)
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA (2006)
Doutorando em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA
Técnico em Arquitetura e Urbanismo da 7ª S.R./IPHAN em Salvador/BA
Listing a building means not only creating a tool to guarantee its integrity but also
means to the official recognition of its cultural values. Based on that, this paper analyses
the construction, by the listings made by IPHAN in his first 31 years of existence, of a
national identity based on baroque – especially the one from Minas Gerais – and on
modern architecture of carioca school. On its second part, based on the transformations
of the concept of identity in the last forty years and in a survey of heritage listed since
then by IPHAN and some of the most important Brazilian State’s Cultural Heritage
Institutes, we discuss the role of the last, created from the 1960’s on, in the enlargement
of the concept of built heritage and in the constitution of plural and diversified regional
identities.
Palavras-chave:
preservação do patrimônio cultural, políticas públicas, identidade, IPHAN
Segundo Anthony Giddens, “a com as quais nós nascemos, mas são for-
modernidade produz certas formas soci- madas e transformadas no interior da re-
ais distintas, das quais a mais importante é presentação. Nós só sabemos o que signi-
o estado-nação.” (GIDDENS, 2002: p. 21). fica ser ‘inglês’ devido ao modo como a
De fato, ao longo deste período que cha- ‘inglesidade’ (Englishness) veio a ser re-
mamos de modernidade e que, a grosso presentada – como um conjunto de signi-
modo, tem início com o Século das Luzes ficados – pela cultura nacional inglesa.
e a Revolução Francesa (embora suas ori- Segue-se que a nação não é apenas uma
gens mais distantes possam ser encontra- entidade política mas algo que produz
das no Renascimento), dois conceitos fun- sentidos – um sistema de representação
damentais e profundamente inter-relacio- cultural. As pessoas não são apenas cida-
nados são identidade e nação. A identida- dãos/ãs legais de uma nação: elas partici-
de nacional é uma construção cultural pam da idéia da nação tal como represen-
moderna que substituiu outras identidades tada em sua cultura nacional. Uma nação
mais tradicionais e geograficamente mais é uma comunidade simbólica e é isso que
restritas, como as identidades locais ou explica seu ‘poder para gerar um sentimen-
regionais. Como afirma Stuart Hall: to de identidade e lealdade’.
As identidades nacionais não são coisas As culturas nacionais são uma forma 325
Anais | Congresso Abracor 2009
distintivamente moderna. A lealdade e a (ibid., pp. 50-51)
identificação que, numa era pré-moderna Embora profundamente moderno, o dis-
ou em sociedades mais tradicionais, eram curso da identidade nacional não se fun-
dadas à tribo, ao povo, à religião e à re- damenta apenas no presente e em se pro-
gião, foram transferidas, gradualmente, jetar para o futuro, mas vai buscar no pas-
nas sociedades ocidentais, à cultura naci- sado mitos fundacionais que lhe dêem res-
onal. As diferenças regionais e étnicas fo- paldo:
ram gradualmente sendo colocadas, de [O mito fundacional é] uma estória que
forma subordinada, sob aquilo que Gellner localiza a origem da nação, do povo e do
chama de ‘teto político’ do estado-nação, seu caráter nacional num passado tão dis-
que se tornou, assim, uma fonte poderosa tante que eles se perdem nas brumas do
de significados para as identidades cultu- tempo, não do tempo ‘real’, mas de um
rais modernas” (HALL, 2005: pp. 48-49 – tempo ‘mítico’. Tradições inventadas tor-
grifos nossos) nam as confusões e os desastres da histó-
Ainda segundo Stuart Hall, a formação ria inteligíveis, transformando a desordem
do discurso da nação se baseia em grande em ‘comunidade’ (...). (ibid., pp. 54-55)
parte na “narrativa da nação, tal como é Daí a importância do passado – e da
contada e recontada nas histórias e nas li- construção de mitos fundacionais e da in-
teraturas nacionais, na mídia e na cultura venção de tradições – na formação dos
popular” (ibid., p. 52): discursos sobre a identidade nacional:
Essas fornecem uma série de estórias, O discurso da cultura nacional não é (...)
imagens, panoramas, cenários, eventos his- tão moderno como aparenta ser. Ele cons-
tóricos, símbolos e rituais nacionais que trói identidades que são colocadas, de
simbolizam ou representam as experiênci- modo ambíguo, entre o passado e o futu-
as partilhadas, as perdas, os triunfos e os ro. Ele se equilibra entre a tentação de
desastres que dão sentido à nação. [... Essa retornar a glórias passadas e o impulso por
narrativa] dá significado e importância à avançar ainda mais em direção à
nossa monótona existência, conectando modernidade. (ibid., p. 56)
nossas vidas cotidianas com um destino No caso brasileiro, a criação do IPHAN1
nacional que preexiste a nós e continua em 1937, em plena ditadura Vargas, é bas-
existindo após nossa morte. (loc. cit.) tante representativo do processo de cons-
Hall observa que, na formação do discur- trução de uma identidade nacional. Enten-
so da nação, há uma “ênfase nas origens, dendo o tombamento não somente como
na continuidade, na tradição e na um instrumento legal destinado a garantir
intemporalidade”. Este discurso representa a integridade de um determinado bem,
a identidade nacional como primordial e mas também como um reconhecimento
os “elementos essenciais do caráter nacio- oficial dos seus valores culturais, é inegá-
nal permanecem imutáveis, apesar de to- vel que a constituição do acervo dos bens
das as vicissitudes da história”. Ele “está lá tombados pelo IPHAN ao longo dos seus
desde o nascimento, unificado e contínuo, primeiros 31 de existência – a chamada
‘imutável’ ao longo de todas as mudanças, fase heróica, em que Rodrigo Mello Fran-
eterno” (HALL, op. cit.: p. 53). As identida- co de Andrade esteve à frente do órgão
des nacionais, portanto, são construções de (1937-1967) – representou uma importante
sentido, símbolos, representações: e decisiva ferramenta na construção de
As culturais nacionais são compostas uma versão da história da arquitetura bra-
não apenas de instituições culturais, mas sileira que se consolidou, ao longo dos
também de símbolos e representações. anos, como dominante e hegemônica.
Uma cultura nacional é um discurso – um Segundo Maria Cecília Londres Fonse-
modo de construir sentidos que influen- ca, “não só mineiros, como cariocas,
cia e organiza tanto nossas ações quanto paulistas e outros passaram a identificar em
a concepção que temos de nós mesmos Minas o berço de uma civilização brasi-
(...). As culturas nacionais, ao produzir leira, tornando-se a proteção dos monu-
sentidos sobre ‘a nação’, sentidos com os mentos históricos e artísticos mineiros –
quais podemos nos identificar, constroem e, por consequência, do resto do País – par-
identidades. Esses sentidos estão contidos te da construção da tradição nacional.”
nas estórias que são contadas sobre a na- (FONSECA, 2005: pp. 92-93)
ção, memórias que conectam seu presen- Embora nos pareça mais apropriado fa-
te com seu passado e imagens que dela lar em construção da identidade nacional
são construídas. Como argumentou do que da tradição, pois esta última esta-
Benedict Anderson (1983), a identidade ria incluída na primeira, esta citação de
326 nacional é uma ‘comunidade imaginada’. Maria Cecília Londres Fonseca nos pare-
Anais | Congresso Abracor 2009
ce bastante esclarecedora do papel que o indo para que a arte brasileira litorânea pou-
tombamento dos exemplares – monumen- co se distinguisse da portuguesa, da qual
tos religiosos, civis e sítios urbanos – refe- constitui uma continuação lógica, quando
rentes aos ciclos do ouro e do diamante não cópia autêntica. (VASCONCELLOS,
localizados em Minas Gerais, 2004: p. 119)
complementados por outros edifícios e Assim, a partir da Era Vargas, o samba,
conjuntos barrocos situados na Bahia, em o futebol e a arquitetura colonial – nesta
Pernambuco, no Rio de Janeiro e em ou- última, com destaque para a obra do mu-
tros estados, tiveram na construção de uma lato Aleijadinho – passam a ser apresenta-
identidade brasileira a partir da Era Vargas. dos como representações máximas da
Como afirma Mariza Veloso Motta San- mestiçagem que caracteriza a identidade
tos na sua análise sobre a origem do nacional, em um processo de invenção de
IPHAN, o barroco “foi sacralizado como tradição, conforme conceito desenvolvi-
índice de primordialidade, de do por Eric Hobsbawn e Terence Ranger
exemplaridade na constituição da nossa (1997).
tradição cultural, uma vez que foi pensa- A arquitetura moderna brasileira da es-
do como origem” (SANTOS, 1996: p. 85). cola carioca, liderada por Lúcio Costa,
Deste barroco, o IPHAN destacou a pro- espelhada em Le Corbusier e tendo Oscar
dução realizada na longínqua região das Niemeyer como seu principal representan-
Minas Gerais no século XVIII como sendo te, é apresentada pelo intelectuais do
a mais autêntica, a verdadeira e original IPHAN como uma versão nativa e
arquitetura brasileira, distinta daquela pro- tropicalizada do modernismo internacio-
duzida na metrópole e mesmo nas regi- nal, com ligações ancestrais com a arqui-
ões litorâneas da colônia, como observa tetura tradicional brasileira: enfim, um
Sylvio de Vasconcellos, um dos maiores moderno “ancorado” no passado e no na-
estudiosos do barroco brasileiro e o mais cional. Lúcio Costa, o principal responsá-
importante colaborador do IPHAN em vel, na condição de Diretor da Divisão de
Minas Gerais nas primeiras décadas de Estudos e Tombamentos do IPHAN entre
atuação do órgão: 1937 e 1972, pelo estabelecimento dos
Foram estas mesmas dificuldades que, parâmetros e critérios utilizados na cons-
em grande parte, possibilitaram a carac- tituição do acervo de bens tombados bra-
terização das construções mineiras, a pon- sileiro, sempre ressaltava as relações en-
to de lhes conferirem uma fisionomia qua- tre a arquitetura moderna brasileira e a tra-
se peculiar (...). dição nacional:
As realizações litorâneas, no domínio Assim como Antônio Francisco Lisboa,
das artes, desenvolveram-se paulatina- o Aleijadinho, em circunstâncias muito
mente no decorrer dos séculos, acompa- semelhantes, nas Minas Gerais do século
nhando lentamente, e com atraso, a evo- XVIII, ele [Oscar Niemeyer] é a chave do
lução artística européia contemporânea. enigma que intriga a quantos se detêm na
As congregações religiosas sediadas na admiração dessa obra esplêndida e nume-
faixa marítima valiam-se frequentemente rosa devida a tantos arquitetos diferentes,
dos modelos, profissionais e orientações desde o impecável veterano Affonso
metropolitanos. Importavam ainda ele- Eduardo Reidy e dos admiráveis irmãos
mentos inteiros das construções: pedras, Roberto, de sangue sempre renovado, ao
altares, imagens, pinturas. Tudo contribu- civilizado arquiteto Mindlin, transferido
Figura 01 – Esquema desenhado por Lúcio Costa “demonstrando” a evolução da casa brasileira, do século XVII até a década de 1930
(COSTA, 1937)
327
Anais | Congresso Abracor 2009
1
Tendo em vista as
diversas denominações
para aqui de São Paulo e às surpreendentes entre as culturas componentes do Reino
que o órgão federal realizações de todos os demais, tanto da Unido, mas da hegemonia efetiva da cul-
responsável pela
preservação do velha guarda, quanto da nova geração e até tura ‘inglesa’, localizada no sul, que se
patrimônio cultural
brasileiro teve desde a dos últimos conscritos. (COSTA, 2007: p. representa a si própria como a cultura bri-
sua criação, em 1937,
como Serviço do
197) tânica essencial, por cima das culturas es-
Patrimônio Histórico e Para Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e os cocesas, galesas e irlandesas e, na verda-
Artístico Nacional
(SPHAN), optamos por outros arquitetos modernos ligados à es- de, por cima de outras culturas regionais”
utilizar a sigla atual
IPHAN, independente- cola carioca de matriz corbusiana – inclu- (HALL, op. cit.: p. 60). Analogamente,
mente do período
abordado
sive ele próprio, que certamente não se podemos dizer que, do ponto de vista do
2
Para uma análise mais inclui na lista por sua excessiva modéstia patrimônio edificado, a construção de uma
aprofundada do
processo de rejeição à – correspondem a uma versão moderna e identidade cultural brasileira entre as dé-
arquitetura eclética
durante a fase heróica do atualizada do mítico Aleijadinho. cadas de 1930 e 1960 se deu a partir do
IPHAN e o sucessivo – e
lento – processo de
Assim, durante a fase heróica, o tomba- reconhecimento, através do tombamento,
incorporação destes mento de bens da arquitetura colonial – da arquitetura barroca e das cidades colo-
bens ao acervo tombado
do órgão federal, cf. particularmente do Barroco mineiro – foi niais espalhada pelas regiões de ocupação
ANDRADE JUNIOR,
2008.
acompanhado do tombamento de obras da mais antiga (principalmente Bahia, Minas
escola carioca da arquitetura moderna: já Gerais e Rio de Janeiro e, em menor esca-
a partir de 1947 o IPHAN passou a inscre- la, Pernambuco), da arquitetura
ver nos Livros de Tombo uma série de neoclássica produzida por Grandjean de
obras da arquitetura e do urbanismo mo- Montigny e outros arquitetos atuantes no
dernos, a começar pela Igreja de São Fran- Rio de Janeiro no segundo e no terceiro
cisco, na Pampulha, em Belo Horizonte, quartéis do século XIX, e da arquitetura
projetada por Oscar Niemeyer e inaugu- moderna da Escola Carioca (Oscar
rada apenas quatro anos antes. Seguiram- Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Eduardo
se três outras obras modernas, todas loca- Reidy, Attilio Correia Lima, etc.).
lizadas no Rio de Janeiro: o prédio do Mi- O levantamento realizado por Silvana
nistério da Educação e Saúde Pública, atual Rubino (op. cit.) demonstra que a seleção
Palácio Capanema, tombado em 1948 (e dos bens representativos da identidade
inaugurado quatro anos antes); a Estação nacional não era limitada somente em ter-
de Hidroaviões, inaugurada em 1938 e mos estilísticos, tipológicos ou cronológi-
tombada em 1956; e o Parque do cos, mas também em termos geográficos.
Flamengo, tombado em 1965 ainda duran- Dos 689 bens tombados pelo IPHAN ao
te a execução do projeto de Affonso Eduar- longo dos 31 anos que correspondem à
do Reidy. fase heróica, nada menos que 492 (72,2%
Silvana Rubino observa que Lúcio Cos- do total) estão localizados em apenas qua-
ta e outros gestores do IPHAN ligados à tro estados: Minas Gerais (165 bens ou
vanguarda arquitetônica e artística moder- 23,9% do total), Rio de Janeiro (140 bens
na, como Alcides da Rocha Miranda e ou 20,3% do total), Bahia (131 bens ou
Carlos Drummond de Andrade, “fizeram 19,9% do total) e Pernambuco (56 bens
do tombamento uma instância de auto- ou 8,1% do total).
consagração – pois este é sempre uma Esta concentração está profundamente
medida de proteção e consagração – ao ligada à hegemonia que as identidades
inscrever suas próprias obras. E ao inscre- nacionais impuseram sobre as identidades
ver os marcos modernos criados por eles, regionais ou locais. Como observa Stuart
deixaram de lado obras do mesmo perío- Hall, “na história moderna, as culturas
do ou do período imediatamente anteri- nacionais têm dominado a ‘modernidade’
or” (RUBINO, 1996: p. 105). e as identidades nacionais tendem a se
Enquanto isso, a outras manifestações sobrepor a outras fontes, mais
arquitetônicas, como toda a arquitetura particularistas, de identificação cultural.”
eclética produzida nas últimas décadas do (HALL, op. cit.: p. 67)
século XIX e nas primeiras décadas do sé- Segundo Zygmunt Bauman, “a identida-
culo XX, por exemplo, era continuamente de nacional (...) nunca foi como as outras
negado o status de patrimônio nacional, identidades. Diferentemente delas, que
de forma a não abrir concessões no pro- não exigiam adesão inequívoca e fideli-
cesso de construção de uma identidade dade exclusiva, a identidade nacional não
nacional alicerçada no binômio arquite- reconhecia competidores, muito menos
tura barroca e arquitetura moderna – esta opositores” (BAUMAN, 2005: p. 28):
última apresentada como uma evolução da Cuidadosamente construída pelo Estado
arquitetura colonial.2 e suas forças (...), a identidade nacional
Stuart Hall observa que “a cultura ‘britâ- objetivava o direito monopolista de traçar
328 nica’ não consiste de uma parceria igual a fronteira entre ‘nós’ e ‘eles’. (loc. cit.).
Anais | Congresso Abracor 2009
No que se refere às identidades regionais identidade nacional era inevitável:
ou locais, Bauman afirma que “a identida- A ‘identidade nacional’ foi desde o iní-
de nacional só permitiria ou toleraria essas cio, e continuou sendo por muito tempo,
outras identidades se elas não fossem sus- uma noção agonística e um grito de guer-
peitas de colidir (fosse em princípio ou oca- ra. Uma comunidade nacional coesa so-
sionalmente) com a irrestrita prioridade da brepondo-se ao agregado de indivíduos do
lealdade nacional” (loc. cit.): Estado estava destinada a permanecer não
Ser indivíduo de um Estado era a única só perpetuamente incompleta, mas eter-
característica confirmada pelas autorida- namente precária – um projeto a exigir
des nas carteiras de identidade e nos pas- uma vigilância contínua, um esforço gi-
saportes. Outras identidades, ‘menores’, gantesco e o emprego de boa dose de for-
eram incentivadas e/ou forçadas a buscar ça a fim de assegurar que a exigência fos-
o endosso-seguido-de-proteção dos órgãos se ouvida e obedecida. (...) Nenhuma des-
autorizados pelo Estado, e assim confir- sas condições seria atendida não fosse pela
mar indiretamente a superioridade da superposição do território domiciliar com
‘identidade nacional’ com base em decre- a soberania indivisível do Estado – que,
tos imperiais ou republicanos, diplomas como sugere Agamben (seguindo Carl
estatais e certificados endossados pelo Schmitt), consiste antes de mais nada no
Estado. Se você fosse ou pretendesse ser poder de exclusão. Sua raison d’être era
outra coisa qualquer, as ‘instituições ade- traçar, impor e policiar a fronteira entre
quadas’ do Estado é que teriam a palavra ‘nós’ e ‘eles’. O ‘pertencimento’ teria per-
final. Uma identidade não-certificada era dido o seu brilho e o seu poder de sedu-
uma fraude. Seu portador, um impostor – ção, junto com a sua função integradora/
um vigarista. (loc. cit.) disciplinadora, se não fosse constantemen-
A partir da década de 1960, ao concei- te seletivo nem alimentado e revigorado
to, dominante na modernidade clássica, pela ameaça e prática da exclusão
da identidade como algo permanente e (BAUMAN, op. cit.: pp. 27-28).
estável foi contraposta a idéia de identida- Assim, traçando, impondo e policiando
de como diferença e transformação. Segun- a fronteira entre ‘nós’ e ‘eles’, o acervo de
do Stuart Hall, na contemporaneidade “di- bens selecionados para tombamento pelo
ferentes divisões e antagonismos sociais IPHAN – entendidos como referências
(...) produzem uma variedade de diferen- materiais da identidade cultural nacional
tes ‘posições de sujeito’ – isto é identida- – foi, como vimos, excluindo toda a pro-
des – para os indivíduos”, desarticulando dução eclética, justificando tratar-se de
as identidades estáveis do passado e abrin- produção realizada a partir de modelos e
do a possibilidade de criação de novas referências estrangeiros. Como afirmou
identidades, fazendo com que “a estrutu- Gustavo da Rocha-Peixoto (2000: p. 22),
ra da identidade permaneça aberta”, em “o tombamento do ecletismo [pelo
“uma concepção de identidade muito di- IPHAN], mais que esquecido, foi explici-
ferente e muito mais perturbadora e pro- tamente rejeitado”. Afinal, tratava-se da
visória do que as (...) anteriores”. (HALL, produção “deles”, que deveria a todo cus-
op. cit.: pp. 17-18). to ser distinguida da “nossa” produção –
Embora não haja consenso entre os au- isto é, o barroco dos séculos XVI a XVIII e
tores que se dedicam a analisar o concei- a arquitetura moderna de matriz interna-
to de identidade cultural na cional mas “abrasileirada” de Oscar
contemporaneidade sobre se nos encon- Niemeyer, Lucio Costa e outros. A inclu-
tramos em uma etapa que pode ser consi- são desde o início (1938), neste acervo
derada como uma alta modernidade ou referencial da “nossa” identidade nacional,
modernidade tardia (GIDDENS, 2002), ou da obra neoclássica produzida pelo fran-
ainda modernidade líquida (BAUMAN, cês Gandjean de Montigny no Rio de Ja-
2005), ou se estamos em uma pós- neiro na primeira metade do século XIX é
modernidade (HARVEY, 2003; JAMESON, justificada por ele ter buscado se adaptar
2004), todos parecem aceitar como ine- ao clima tropical brasileiro.3
gável que a noção de identidade cultural Buscando acompanhar os novos concei-
hoje está baseada nos conceitos de tos dominantes de identidade cultural, nas
descontinuidade, ruptura e deslocamento, últimas décadas o IPHAN tem buscado
em um processo de “fragmentação ou repensar a noção de valor nacional – ba-
‘pluralização’ de identidades” (HALL, op. seado na identidade nacional – que pre-
cit.: p. 18). dominou na primeira fase da sua atuação,
Zygmunt Bauman entende que o ocaso passando a incorporar, a partir da década
– ou pelo menos a desconstrução – da de 1960 e, mais intensamente, a partir da 329
Anais | Congresso Abracor 2009
década de 1980, uma série de exemplares 1965, foi tombado o Parque Henrique
de estilos e linguagens arquitetônicas an- Lage, incluindo um palacete eclético
tes desprezados. Segundo Maria Cecília construído em 1927, se constituindo no
Londres Fonseca, as mudanças no concei- primeiro bem cultural tombado em nível
to de identidade cultural promovidas na estadual no Brasil. Segundo Gustavo Ro-
contemporaneidade, associadas a um mai- cha-Peixoto, a preservação do Parque Lage
or envolvimento da sociedade civil nas “seria quase impossível de acordo com os
ações de preservação e salvaguada do rigorosos critérios de seleção de bens para
patrimônio cultural, “repercutiram, sem tombamento que vigoravam naquele mo-
dúvida, numa política pública fundada mento” (ROCHA-PEIXOTO, 1990: 01).
sobre o valor simbólico da nacionalidade O significado do tombamento do Parque
e conduzida por uma instituição estatal Lage pela DPHA-GB só pode ser correta-
que gozava de alto grau de autonomia em mente dimensionado tendo em vista que
relação aos movimentos da sociedade.” ele já havia sido tombado pelo IPHAN em
(FONSECA, 2005: p. 197): 1957 e que este tombamento foi revoga-
Na medida em que os próprios atores do, em 1960, pelo Presidente Juscelino
dessa política passam a pôr em dúvida não Kubitschek, que se utilizou de uma prer-
só a força política e simbólica da idéia de rogativa legal que permite ao Presidente
nação como também seu papel de únicos da República cancelar, em caráter excep-
porta-vozes dos grupos sociais na constru- cional, o tombamento de bens do
ção do patrimônio nacional, torna-se im- patrimônio nacional, desde que atenden-
perioso buscar novos caminhos. (loc. cit.). do a interesse público. O tombamento do
Entretanto, não obstante nas últimas dé- Parque Lage pelo Governo do Estado da
cadas o IPHAN tenha progressivamente Guanabara foi acompanhado da solicita-
passado a reconhecer através do tomba- ção de re-tombamento pelo IPHAN, feita
mento exemplares das arquiteturas pelo Governador Carlos Lacerda. Esta so-
eclética, Art Nouveau, art decô e da ar- licitação, contudo, não foi atendida.
quitetura do ferro e industrial produzida a A partir de 1965, a DPHA-GB assumiu
partir da segunda metade do século XIX, o um papel importantíssimo na preservação
acervo de bens tombados em nível fede- dos exemplares das arquiteturas até então
ral ainda é em sua esmagadora maioria desprezadas pelo IPHAN. Pouco mais de
formado por construções e conjuntos ur- três meses depois do tombamento do Par-
banos do período colonial. Além disso, que Lage, é a vez da DPHA-GB realizar o
percebe-se claramente uma diferença en- primeiro tombamento de um edifício em
tre a atuação do órgão nas diferentes regi- estilo neocolonial no Brasil: o Instituto de
ões do País: enquanto naqueles Estados de- Educação do Rio de Janeiro, construído
tentores de um acervo colonial signifi- entre 1927 e 1930 em “estilo missiones”,
cativo, como Bahia, Minas Gerais e foi tombado em 20 de outubro de 1965,
Pernambuco, o reconhecimento da arqui- não somente pelo reconhecimento da sua
tetura do século XIX através do tombamen- importância histórica como mais tradicio-
to federal ocorreu apenas de forma nal instituição de formação de professores
incipiente, em Estados cuja ocupação é do País, mas também como exemplar re-
mais recente, como Rio Grande do Sul e presentativo do estilo neocolonial em voga
São Paulo, a quantidade de edifícios dos entre as décadas de 1920 e 1940. A estes
séculos XIX e XX tombados pelo IPHAN é dois tombamentos realizados pela DPHA-
muito mais significativa. GB se seguiram outros, de importantes
Quem tem tido um papel mais significa- bens construídos na cidade do Rio de Ja-
tivo neste processo de ampliação do con- neiro no século XIX e nas primeiras déca-
ceito de patrimônio e, assim, contribuin- das do século XX e que até então não ha-
do na (re)construção de identidades regi- viam sido reconhecidos como patrimônio
onais e locais, são os órgãos estaduais de cultural pelo IPHAN.
preservação do patrimônio cultural, cria- Após a fusão entre os Estados do Rio de
dos a partir de meados da década de 1960. Janeiro e da Guanabara, em 1974, a atua-
O primeiro órgão estadual de patrimônio ção da DPHA-GB – agora transformada em
cultural a surgir no Brasil foi a Divisão de Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio de Janeiro (INEPAC) – passou a re-
da Guanabara (DPHA-GB), criada em 31 alizar tombamentos de edifícios ecléticos
de dezembro de 1964. O papel da DPHA- construídos nas primeiras décadas do sé-
GB na incorporação ao patrimônio daque- culo XX em outras cidades fluminenses. A
les bens historicamente rejeitados pelo partir de 1983, pontes, mercados, estações
330 IPHAN é referencial: em 15 de julho de ferroviárias e coretos construídos no final
Anais | Congresso Abracor 2009
3
Adolfo Morales de Los
do século XIX e no início do século XX utilização de búzios, conchas, cacos de Rios Filho, um dos
com elementos estruturais metálicos im- azulejos e detritos industriais como faróis primeiros – se não o
primeiro – a se dedicar
portados da Inglaterra, da França e da Ale- de automóveis, a Casa da Flor teve seu à obra de Grandjean de
Montingy, afirma que
manha passam a ser também objeto de tombamento solicitado ao INEPAC através não lhe foi “indiferente
o meio brasileiro.
tombamento pelo INEPAC. de um abaixo-assinado com quase duas mil Procurou adaptar-se ao
Os tombamentos pelo INEPAC destes assinaturas produzido pela população e mesmo, como são
provas incontestes: o
bens arquitetônicos antes marginalizados visitantes da região, demonstrando como traçado pompeiano da
mansão da Rua
prosseguem em marcha acelerada e, atu- a participação da sociedade desempenha General Polidoro – com
almente, parte significativa do acervo tom- um papel fundamental neste processo de o grande beiral que
possuía; a feição,
bado por aquele órgão corresponde a bens ampliação conceitual do patrimônio reco- também pompeiana, do
seu solar na Gávea,
deste período. Segundo Gustavo Rocha- nhecido pelos órgãos oficiais. No parecer com a bela galeria
porticada; a
Peixoto, em que se posiciona a favor o tombamen- manutenção do
A preocupação em preservar bens to, o arquiteto Ítalo Campofiorito, mem- carácter colonial no
edifício do Seminário
arquitetônicos fora do espectro ainda res- bro do Conselho de Tombamento do de São Joaquim; a
varanda semi-circular
trito de atuação do, então, IPHAN, foi uma INEPAC e relator deste processo, afirma: da Rua do Passeio (...)”
(MORALES DE LOS
das vertentes principais da ação dos ór- Aparentemente insólita e bizarra, essa RIOS FILHO, 1941: p.
gãos estaduais desde o início de sua ativi- fabricação onírica (‘eu sonho para fazer e 254).
4
Silvana Rubino
dade (...). A antiga DPHA e, já no novo faço’) tem efeitos visuais tão lindos e ines- observa que, em toda a
“fase heróica” do
Estado do Rio, o INEPAC centraram o co- perados quanto os muros do Park Guell de IPHAN (1937-1967), o
órgão federal não
meço de sua tarefa preservadora na arqui- Antonio Gaudi em Barcelona, com que é tombou nenhum edifício
tetura eclética, e mesmo modernista. Até freqüentemente comparada. Trata-se, sem construído durante a
Primeira República.
o início da década de 60 a arquitetura tom- dúvida, de um traço vital da vertente po- 5
Originalmente se
chamava Conselho de
bada no Brasil era praticamente toda dos pular e traumatizada de nossa arte, um bem Defesa do Patrimônio
períodos colonial e imperial e estava res- cultural de valor, curiosamente tão cele- Histórico, Artístico e
Turístico do Estado de
trita aos grandes exemplares isolados e de brado, mas ainda não incorporado ao São Paulo
(CONDEPHAT), tendo
valor excepcional. O primeiro diretor do patrimônio oficial. Considerando a sua be- incluído o termo
“Arqueológico” somente
INEPAC, Alex Nicolaeff, escreveu sobre leza e o seu caráter genuinamente popular no ano seguinte à sua
aquele momento: “Além da quase total e atendendo ás diretrizes culturais da nova criação.
ZAMPIER, Ângela.
Graduada em Desenho Industrial pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Especialista em Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis pelo CECOR.
The contemporary conservation theory brings new self questionings to the restoration
professionals. That way, we intend to adequate our restoration work of the marouflages
of the “Paço Municipal de Curitiba” (the historic Curitiba city administration center) to
the new statements conservation theory, without diminish Cesari Brandi’s fundamen-
tal theory valid until present days. The complex re-restoration process undergoing in
the paintings exemplify that the interdisciplinary debates is fundamental and that is
possible to do a careful job using both theories.
PALAVRAS-CHAVE:
MAROUFLAGE - RE-RESTAURAÇÃO - ÉTICA - CONSERVAÇÃO
FICHA TÉCNICA
Obra: Restauro e reciclagem do Paço Municipal de Curitiba (1914-1916).
Tombamento: Monumento Federal 1986.
Local: Praça Generoso Marques, Curitiba – Paraná.
Empresa executora: Emadel Engenharia e Obras.
Responsável Técnico: Arquiteto Humberto Fogassa (crea/pr 20293-D).
INTRODUÇÃO
O restauro de uma obra envolve inúme- – 1925). Dentre essas, 4 grandes figurati-
ros detalhes que devem ser ordenados e vas e 17 menores não figurativas. Ao mes-
levados em conta na mesma proporção de mo tempo havia a necessidade de se criar
forma a possibilitar a intervenção. um ambiente de trabalho compatível para
No trabalho de restauração das podermos realizar a intervenção, já que,
marouflages do Paço Municipal de as telas não necessitavam ser removidas do
Curitiba, estas questões foram muito bem teto e teriam de ser trabalhadas in loco, si-
estudadas e discutidas, etapa por etapa, multaneamente aos trabalhos de reforma do
para que, ao final, alcançássemos um re- edifício. Ou seja, em paralelo com a mão-
sultado prudente, respeitando todas as pre- de-obra especializada dos restauradores, o
missas da teoria da restauração. trabalho de reciclagem do prédio envolvia
De início tínhamos um grande desafio: uma ampla equipe de engenharia civil com-
trabalhar com o mesmo critério utilizado posta por: pedreiros, marceneiros, eletricis-
em atelier adaptando para uma obra de tas, etc., todos executando os trabalhos ao
grande porte. 40 metros quadrados de tela, mesmo tempo e no mesmo espaço.
divididos por molduras de gesso forman- Procuramos utilizar da melhor forma a
do um conjunto de 21 telas, todas atribuí- interdisciplinaridade existente, buscando
das ao pintor paranaense João Ghelfi (1890 sempre que todos se fizessem entender, 335
Anais | Congresso Abracor 2009
desde a firma de engenharia, o arquiteto res- resolvidas seriam empecilhos que colocari-
ponsável, a restauradora que gerenciou to- am em risco a boa execução de um trabalho
dos os trabalhos e, a equipe de restauro. de restauração criterioso. Outras questões
Diversas vezes nos deparamos com a difi- mais tarde se impuseram e, da mesma for-
culdade de justificar para uma empresa ma, foram discutidas entre todos.
habituada com trabalhos de grande porte, O próximo ponto analisado foi a unida-
a necessidade de um trabalho de restaura- de que o conjunto das telas exprimia e
ção que, frequentemente é pormenoriza- como deveríamos proceder respeitando
do. Minúsculos pontos imperceptíveis ao esta coesão. Embora cada tela apresentas-
olho nú destreinado e que levam muito se um nível de estado de conservação dis-
tempo para serem tratados. tinto, no final do processo todas deveriam
Neste sentido a restauradora Luciane ter a mesma leitura estética, formando as-
Ribas, responsável por gerenciar a equi- sim a unidade potencial do conjunto. Além
pe e os trabalhos de restauro, manteve do estado de conservação, a qualidade da
sempre um excelente diálogo com a fir- técnica também era diferente. As telas fi-
ma de engenharia e sua equipe. O arqui- gurativas, sem dúvida, chamavam mais a
teto responsável, Humberto Fogassa, por nossa atenção, mas, o critério aplicado te-
sua vez, foi sensível ao perceber que a ria que ser o mesmo em todas.
restauração das telas tinha um prisma di- Ao chegarmos em acordo a respeito des-
ferente da pintura mural e merecia outro tes pontos e dos critérios que iríamos se-
tipo de debate e critério. guir, estes nos nortearam para debater as
Estas foram questões iniciais que mere- questão seguintes.
ceram nossa atenção. Se não fossem bem
RE-RESTAURAÇÃO
A questão principal que se colocou dian- or ameaçava a integridade da obra e alte-
te de nós foram as intervenções anteriores e rava a leitura da tela.
o nosso trabalho de re-restauração. Clara- Além disso, a legitimidade estava sendo
mente sabíamos que nossa intervenção era ofendida, já que a tela possuía uma gran-
absolutamente pertinente e necessária. Mes- de porcentagem de repintura que ultrapas-
mo assim, não era possível nos eximir de sava as fronteiras das lacunas, distorcendo
cometer excessos na remoção dos tratamen- o desenho e criando novos sentidos para
tos anteriores e muito menos de reincidir alguns elementos da pintura. Não nos cabe
no erro precedente. julgar a intervenção anterior, visto que,
A re-restauração é tema freqüente nos pertence a outro período onde se difundi-
trabalhos contemporâneos, desde os anos am outras técnicas e critérios. Ainda as-
1980, e já foi largamente discutida por meio sim, não podemos deixar de lembrar que
de estudiosos da conservação. TOLLON já na década de 1960, BRANDI (2004)
(1995) propõe que existam dois tipos de assinalava em sua Teoria da Restauração
significado para o termo re-restauração: o que, no que concerne a legitimidade, bus-
primeiro seria de recuperar a autenticida- ca-se desenvolver a unidade potencial dos
de da obra, ou seja, voltar ao estado origi- fragmentos retraçando a unidade originá-
nal; e o segundo, de apenas restabelecer a ria, embora sempre se limitando a desen-
leitura estética e não a autenticidade. O volver as sugestões implícitas nos própri-
autor também chama a atenção para o os fragmentos. Evitando assim, cometer um
parâmetro usado para guiar a re-restaura- falso histórico ou uma ofensa estética ide-
ção, onde o viés histórico seria um argu- alizando ou modificando a idéia original.
mento contra a re-intervenção. Por outro Sabemos também que na Teoria Con-
lado, o mote estético justificaria a nova res- temporânea da Conservação segundo
tauração, e, sendo assim, apenas aspectos VIÑAS (2005), a objetividade e a busca
técnicos importantes poderiam sustentar o pela verdade são temas ultrapassados.
argumento da re-restauração. Dessa maneira, devemos assumir o cará-
Neste sentido, entendemos que a nossa ter subjetivo da restauração tentando, ex-
intervenção não buscou recuperar o esta- tirpar os excessos cometidos por “peritos”
do original, e sim, apenas, restituir a leitu- da verdade. Dentro deste conceito temos
ra e a unidade potencial da obra. No caso a questão da reversibilidade que foi trata-
das marouflages os aspectos técnicos jus- da como uma utopia pela teoria contem-
tificaram a re-restauração, juntamente com porânea e foi substituída pelo conceito da
os problemas estéticos. Pois o uso de ma- re-tratabilidade. Uma vez que, segundos
teriais inadequados na intervenção anteri- os estudiosos da conservação, nenhum tra-
336
Anais | Congresso Abracor 2009
tamento é inteiramente reversível, embo- “reempregar” os mesmos materiais e técnicas
ra, possa admitir a sua re-tratabilidade. e, sim, para substituir por outros mais moder-
Deste modo procuramos, mesmo subjeti- nos e adequados. Afinal, de que valeria a nossa
vamente, limitar nossa intervenção no senti- remoção se fôssemos apenas remontar a mes-
do de remover o tratamento anterior até onde ma linha de atuação encontrada. Neste senti-
se achava necessário e sempre buscando do, quando decidimos remover a repintura,
utilizar técnicas e materiais re-tratáveis, des- que, em muitos casos estava distorcendo a
de o tratamento estrutural até a reintegração idéia original, no momento da reintegração
pictórica. Ainda que os debates sobre a pro- deveríamos respeitar estritamente as frontei-
posta de tratamento fossem abordados de ras das lacunas, sem perpretar como antes um
maneira subjetiva, sempre ficou claro que falso histórico e uma ofensa estética.
não “removeríamos” para simplesmente
TRATAMENTO REALIZADO
Começamos o tratamento realizando o necessárias a remoção da grossa camada
mapeamento do estado de conservação. de cera que estava camuflando muitos
Antes disso, não poderíamos imaginar cortes e algumas perdas de suporte.
quantos problemas o conjunto de 21 telas Após a limpeza, remoção de verniz e
apresentava. Os principais danos que cha- repintura, aplicamos verniz para servir de
maram nossa atenção foram os cortes no interface e assinalar o início de nossas in-
interior da tela ocasionados pela remoção tervenções, uma vez que este cria uma
e recolocação das marouflages na inter- barreira entre o original ou, em alguns
venção anterior, e, que confirmamos por casos, entre a intervenção anterior e nos-
aparecerem apenas em telas que tinham sas adições, servindo como uma espécie
sido removidas no passado. Ou seja, nem de registro. Fato este de suma importância
todas apresentavam os cortes, somente as para uma restauração futura, que terá mais
que foram retiradas na intervenção anteri- facilidade para distinguir o histórico de
or. Em seguida observamos que estas mes- intervenções pelo qual a obra passou.
mas telas, pelo fato das bordas estarem sob Posteriormente à interface, pudemos ini-
um cordonete, foram recortadas para faci- ciar a aplicação de enxertos, visto que as
litar a sua remoção. Constatamos este fato telas, apesar de possuírem reentelamento,
quando retiramos um pedaço do cordão e não possuíam enxertos nas perdas de su-
notamos a permanência do pedaço de porte e estas eram facilmente reconhecí-
borda recortada ainda colado. Haviam te- veis, pois haviam sido reintegradas direta-
las não figurativas com mais de 58 cortes, mente no tecido do reentelamento sem
que estavam mascarados com camadas que houvesse, ao menos, algum tipo de
grossas de cera pigmentada, caracterizan- nivelamento. Com exceção de algumas
do, mais uma repintura de cera, do que telas não figurativas que possuíam a ca-
um nivelamento propriamente. Além dis- mada de cera pigmentada que exercia tam-
so, após exames com luz UV, pudemos bém o papel de nivelamento.
ter noção da quantidade de repintura exis- A etapa seguinte constituiu-se do
tente e como esta se sobrepunha à tela, nivelamento e, em seguida, a reintegração
muito além das lacunas. das lacunas. Nesta fase, novamente, de-
O tratamento propriamente dito foi ini- batemos muito a respeito dos critérios e
ciado com a limpeza superficial, seguin- técnicas que deveriam ser utilizadas. É
do-se da remoção de verniz oxidado e re- certo que, apesar da complexidade que
moção parcial da repintura nas telas figu- envolve a limpeza e remoção de verniz e
rativas. Decidimos remover apenas a repintura, a etapa da reintegração é o que
repintura grotesca que distorcia os traços mais se destaca ao olhar do público em
originais. Nestes locais o restaurador an- geral, pois de fato, é o evento que devol-
terior não respeitou nem o princípio de ve a unidade potencial e a leitura da obra.
legitimidade e nem o de legibilidade enun- É justamente por essas mesmas questões
ciado por BRANDI (2004), sendo assim, que a reintegração deve ser sumariamen-
nossa ação foi justificada. Após as figurati- te embasada nos critérios da teoria da res-
vas, passamos para limpeza e remoção de tauração, já que em mesma medida pos-
verniz nas telas não figurativas. Estas, ape- sui a capacidade de restituir, ou também
nas em casos específicos, sofreram a re- danificar e distorcer, contrariando os pre-
moção de repintura, onde apresentavam ceitos já tão discutidos como o da legiti-
repinturas grosseiras que destoavam de midade e legibilidade.
todo o conjunto de telas não figurativas. Optamos por empregar a técnica do
Houve casos igualmente em que foram pontilhismo, levando em conta a questão 337
Anais | Congresso Abracor 2009
da legibilidade, onde a intervenção deve peitando a idéia original do artista.
ser sempre reconhecível. No entanto, se- De fato, a etapa da reintegração é crucial
gundo BRANDI (2004), sem infringir a e muito perigosa, porque pode colocar a
própria unidade, ou seja, invisível a uma perder todo um longo processo pautado e
certa distância, embora, quando próxi- bem sucedido. Neste sentido, buscamos a
mo, reconhecível de imediato sem a ne- melhor técnica e os melhores materiais,
cessidade da utilização de instrumentos da mesma forma como procedemos em
especiais. todas as outras etapas. Novamente temos
Utilizamos tintas próprias para restaura- que consignar o mérito, em grande parte,
ção e reversíveis com solvente, garantin- à restauradora e ao arquiteto responsável
do dessa maneira a re-tratabilidade da que sempre procuraram proporcionar os
obra, tão almejada pelos teóricos contem- materiais necessários por nós solicitados.
porâneos da conservação e de fundamen- Sem este apoio seria impossível realizar
tal importância, pois, não é lícito impedir um trabalho sério e criterioso.
uma restauração futura. Finalizamos os trabalhos com a etapa da
Além disso, as fronteiras da lacuna fo- apresentação estética e por sequência a do
ram respeitadas sempre, assegurando a verniz final. A apresentação estética foi
manutenção da legitimidade da obra, por- necessária em algumas regiões onde ha-
quanto, não cometemos um falso históri- via abrasionamentos e estes estavam in-
co e muito menos um ultraje estético, res- terferindo na leitura da obra.
CONCLUSÃO
É do nosso entendimento que um trabalho embasadas e registradas.
de restauração bem-sucedido deve estar de Deste modo, princípios como da legibilidade
acordo com os parâmetros teóricos da con- e legitimidade - da teoria clássica - como os de
servação. Com esta visão, procuramos in- subjetividade e re-tratabilidade - da teoria con-
cessantemente adequar nossas reflexões aos temporânea - foram colocados em prática com
conceitos clássicos, pois estes ainda são caráter de igualdade.
basilares para a teoria da restauração, e con- Em conclusão, acreditamos ter obtido
ceitos contemporâneos. Acreditamos que as sucesso em nossa intervenção, abordan-
premissas teóricas foram respeitadas na prá- do criteriosamente cada etapa e com a res-
tica em todo o processo e podemos afirmar ponsabilidade necessária ao patrimônio
que todas as intervenções foram devidamente cultural e artístico de Curitiba.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
TOLLON, Françoise. Algumas questões sobre re-restauração. Anais do IV Colóquio Internacional de ARAAFUS. Paris: Araafu, 1995.
VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoria contemporânea da conservação. In: CALEY, Thomas (org.) Técnicas inglesas de conservação e
restauração de pinturas de cavalete. São Paulo: [s.n.], 2005.
338
Anais | Congresso Abracor 2009
Valéria de Mendonça
Coordenadora do Núcleo de Conservação e Restauro
Instituição: Pinacoteca do Estado de São Paulo
The conservation records stored at the archives of the Pinacoteca do Estado are a
small sample within the history of restoration and conservation in São Paulo. In 2003
the Conservation Department introduced a project in order to organize and preserve
the records about all sort of documents that refers to the restoration or any other sort of
works executed on the collection. The aim of this presentation is to point out the
criteria adopted, bringing to light how the few and obsolete information and data were
recuperated and how it became the basis for the future plans to warrant the continuity
of all the existing information, as a documental archive. There will be also some
considerations such as ethic commitments, once engaged professionals at the Brazilian
artistic heritage, aiming to motivate and give new perspectives to the young
professionals, with little experience, to guarantee the preservation of records and its
role in the future preservation of our cultural heritage.
Palavras-chave:
Código de ética/ procedimentos/ preservação/ arquivo documental
340
Anais | Congresso Abracor 2009
TRINDADE, Ana Lígia
Bibliotecária formada pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, atuando na Biblioteca Martinho Lutero da
Universidade Luterana do Brasil (Canoas-RS). Pós-
graduada no Curso de Especialização em Dança pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Bailarina, coreógrafa e professora de Dança Clássica na
cidade de Canoas, Cachoeirinha e Gravataí – RS
PALAVRAS-CHAVE:
Memória da dança – Direitos autorais – Notação coreográfica – Registro de proprieda-
de intelectual
It thinks dances like cultural patrimony is going to understand her subject to record,
inventory, and needing all the safeguards for to be preserved. And when we start from
this idea we have an encounter immediately with a paradoxical challenge that patrols
all of the incorporeal property and in particular it dances, since we know about the
imposed limits by the specificity of this language that despite of have the body, so
palpable, as raw material, has the movement, so ephemeral, like language. The
copyright protects the expression of ideas in the works published and done not publish
in the artistic area, reserving for his authors the exclusive right of reproduce his works.
The Graham’s case illustrates the copyright is important for protect choreographers in
the transmission of his choreographic works. Due to the exclusive, ephemeral nature
of the choreography, is essential grasp it dances in a determined form of notation for
record of copyright.
KEYWORDS:
Memory of the dances – copyright – choreographic Notation – Record of intellectual estate
1 INTRODUÇÃO
A memória só existe quando cuidamos fugir, desaparecer...
dela. Isso é fato. A memória é a referên- “A memória é uma evocação do passa-
cia. De onde partimos? Para onde vamos? do” (CHAUÍ, 2003, p. 138). Conforme
O que aconteceu no meio do caminho? E Chauí, memória é a capacidade humana
por aí vai. Em toda área encontramos para reter e guardar o tempo que se foi,
memorialistas, aqueles que se dedicam a salvando-o da perda total. A lembrança
não deixar a memória morrer, escapar, conserva aquilo que se foi e não retornará
341
Anais | Congresso Abracor 2009
jamais. É nossa primeira e mais fundamen- Todo conhecimento que nos é transmitido
tal experiência do tempo. é fruto do acúmulo de milhares de anos de
Como consciência da diferença tempo- trabalho, elaboração e transmissão de conhe-
ral - passado, presente e futuro -, a memó- cimento humano, ou seja, muitas mentes
ria é uma forma de percepção interna cha- pensaram e produziram muito para que te-
mada introspecção, cujo objeto é interior nhamos o volume de conhecimento gerado e
ao sujeito do conhecimento: as coisas pas- acumulado até hoje, que é constantemente
sadas lembradas, o próprio passado do acrescido e retransmitido para as gerações fu-
sujeito e o passado relatado ou registrado turas. Todo conhecimento deve ser transmiti-
por outros em narrativas orais e escritas. do, pois corre o risco de se deteriorar, perder-
Além dessa dimensão pessoal e se no tempo. (TELLES, 2003, p. 83)
introspectiva (interior) da memória, é pre-
ciso mencionar sua dimensão coletiva ou É obrigação e responsabilidade de cada
social, isto é, a memória objetiva gravada nos geração, á sua maneira, contribuir de al-
monumentos, documentos e relatos da His- guma forma para o acréscimo do conheci-
tória de uma sociedade. mento humano.
Na comunidade que trabalha com arte culo teatral é a memória do conjunto de sen-
contemporânea, é quase unânime a idéia sações de um espectador ou um crítico, mas
de que a arte trata, antes de qualquer outra não é um espetáculo. O que temos na histó-
coisa, de si mesma. Raramente pensamos ria dessas obras, então, é um conjunto de
nas consequências disso para o conceito e vestígios de que elas existiram, não a pró-
a prática de uma herança cultural. Se a arte pria história (AVELLAR, 2007, p. 4).
trata da arte, a obra de arte fala, ao mesmo
tempo, de toda a história cultural, de toda A dança, no entanto, apesar de momen-
a sua genealogia, e também, da maneira tânea, deixa traços na memória, como sen-
como se insere nesta história cultural. Isso timento, como experimentação ou como
pode parecer simples se pensamos em ter- imagem. Imagem que deve ser captada,
mos de um quadro, uma edificação, um li- descrita, perpetuada. Manifestação artísti-
vro, uma sinfonia, um filme. Torna-se pro- ca que exige registro e disseminação.
blema quando chegamos a um espetáculo A dança é uma arte efêmera, isto é, no
cênico, uma execução musical, uma recita- momento em que ela se realiza ela também
ção (AVELLAR, 2007). se desfaz, só ficando presente na memória
Qual seria a diferença na relação entre de quem teve a oportunidade de presenciá-
essas duas categorias de obras e a herança la. A dança é diferente das artes visuais tra-
cultural? Segundo Avellar (2007), em rela- dicionais que uma vez feitas ficam imortali-
ção à primeira, fica evidente que as própri- zadas e preservadas nos museus. Por esta
as obras iluminam qualquer registro sobre razão é importante que se investigue e re-
elas. A construção teórica sobre um deter- gistre a dança e seu contexto.
minado quadro e seu pintor, o estudo de Desde que a dança é executada como
um movimento cinematográfico, ou a his- uma arte, a sobrevivência de todo o traba-
tória da dramaturgia ocidental, giram em lho da dança depende do que está sendo
torno de objetos concretos e contemporâ- preservado com a tradição ou do que está
neos: o próprio quadro, a cópia do filme, o sendo escrito em algum formulário. Onde
conjunto de peças de teatro. Em relação à a tradição é contínua e ininterrupta, onde
segunda categoria, conforme Avellar, como se muda no estilo e a interpretação (inevi-
temos obras que desaparecem no próprio tável quando bailarinos diferentes execu-
ato de sua criação, podemos contar apenas tam o mesmo material) pode ser corrigida
com seu registro em outro meio, e com a e a dança será preservada em seu formu-
memória dos que as presenciaram. lário original. Mas quando uma tradição é
quebrada (se, por exemplo, as tradições
Fácil perceber que se trata, então, de culturais de um grupo étnico misturam-se
uma herança precária, ou até mesmo falsa: nas de outro), as danças que seguem po-
o vídeo que registra um espetáculo de dan- dem, não somente, mudar radicalmente,
ça pode ser dança, mas não é um espetácu- mas pode mesmo desaparecer. Por esta
lo, o disco contendo uma execução musi- razão os métodos de registro da dança (no-
cal pode ser música, mas não é uma execu- tação coreográfica) são importantes na pre-
342 ção musical, a memória sobre um espetá- servação de sua história.
Anais | Congresso Abracor 2009
3 PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DA DANÇA
Hoje em dia já dispomos de mais recur- cênico simultaneamente. A vídeo-câmera
sos para preservação da memória de dan- requer luz especial e um cuidado extra na
ças, assim como uma maior consciência da orientação da lente. Programas, figurinos
importância destes para a reconstrução pos- originais, notação musical, entrevistas
terior na manutenção do acervo histórico jornalísticas, desenho de luz, detalhes da
de nossa cultura artística do movimento produção, entre outras possibilidades são
humano. Há várias maneiras de se recons- também fonte de pesquisa para uma re-
truir uma dança. A forma mais antiga de construção bem feita. Estas são algumas
aprender uma dança é através das memóri- razões do porquê todos os tipos de docu-
as dos bailarinos, onde há a transmissão de mentos e registros são necessários para a
geração para geração. Entretanto, os bailari- dança, inclusive o desenvolvimento de
nos perdem detalhes e tendem a incorporar seus sistemas de notações específicos.
seus próprios estilos no movimento. Este Quando verificamos o registro especifi-
problema aumenta quando os bailarinos camente com o objetivo de ter um traba-
aprendem de pessoas que não participaram lho armazenado para perpetuação da in-
do processo coreográfico original. Há tam- formação, observamos a existência de vá-
bém hoje o registro audiovisual, que provê rios tipos: gravação em vídeo, DVD, im-
um acesso instantâneo e muito valioso para pressão de programas, reportagens em jor-
a dança. A imagem audiovisual é, entretan- nais e revistas, fotos, e até mesmo, o figu-
to, bidimensional, perde clareza e visibili- rino do espetáculo é uma forma de regis-
dade, não indica todas as ações do espaço tro da obra.
REFERÊNCIAS
AVELLAR, Marcello Castilho. O corpo é a memória da dança. 2007. Disponível em: <www.idanca.net> Acesso em : 29 out. 2007.
CHAUÍ, Marilena. A memória. In: ______. Convite á filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003. Unid. 5, Cap. 3, p. 138-142.
CUNHA, M. B. Desafios na construção de uma biblioteca digital. Ciência da Informação, Brasília, v. 28, n. 3, p. 257-268, set./dez., 1999.
DOLLAR, Charles M. Archival theory and information technologies: the impact of information technologies on archival principles and
methods. Macerata: University of Macerata Press, 1992.
INNARELLI, Humberto Celeste. Palestra “Documentos digitais e sua fragilidade em relação ao suporte”. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL
DE BIBLIOTECAS DIGITAIS, 2., 2004, São Paulo. Palestra... São Paulo: UNICAMP, 2004.
THE MARTHA Graham Legacy. Londondance, 2005. Disponível em: < http://www.londondance.com/content.asp?CategoryID=1300> Acesso
em: 14 nov. 2007.
MAYNARD, Kim. Copyright and dance. Public Knowledge, Washington, 2007. Disponível em: < www.publicknowledge.org/blog/2156>
Acesso em: 12 nov. 2007.
TELLES, Fernando da Silva. Educação: transmissão de conhecimento. In: CALAZANS, Julieta; CASTILHO, Jacyan; GOMES, Simone
(Coords.). Dança e educação em movimento. São Paulo: Cortez, 2003.
VALLE JR., Eduardo Alves do. Sistemas de Informação Multimídia na Preservação de Acervos Permanentes. Belo Horizonte: Univer-
sidade Federal de Minas Gerais, 2003. Dissertação (Mestrado em Ciência da Computação), Universidade Federal de Minas Gerais, 2003.
Disponível em: <http://www.npdi.dcc.ufmg.br/orientacoes/mestrado/edujr/dissertacao.pdf> Acesso em: 29 out. 2007.
346
Anais | Congresso Abracor 2009
CERCEAU, Marcelo
Superior incompleto
Conservador / Restaurador autônomo
Marcelo Cerceau Restaurações
Palavras-chave:
restauro, matéria-prima, molde, reciclável.
This work was developed in order to present an alternative process in the production
of main pattern (molds) used in restoration of historical safekeeping buildings. The
process consists mainly in utilizing a raw-mater fully recycled (reused) which is
conquered by substituting the silicone bi-component, which is commonly applied in
the manufacturing of the main patterns (molds) by thermo-fusible sticking-plaster. A
thermo processing equipment is used to melt the sticking-plaster to be resulted into the
main pattern (mold) for the restoration. Due to this process, besides the preservation of
the environment, it provides no waste of time and very low costs.
Key-words: restore, raw material, shapes mold, recycled.
INTRODUÇÃO
A preocupação com o meio ambiente já curso de minha atuação profissional, de-
há muito deixou de ser um problema ape- parei-me com a necessidade de confecci-
nas das esferas administrativas federais, es- onar alguns moldes. Atualmente o proces-
taduais e municipais. Cada vez mais se faz so convencional utiliza como matéria-pri-
necessário que tenhamos atitude, que to- ma os silicones bi-componentes. A partir
memos esta responsabilidade como pesso- do momento em que tive a oportunidade
al. Dessa forma, poderemos contribuir para de manipular tal material, pude tomar ci-
transformar o mundo e mudar a história e o ência da excessiva quantidade de resídu-
futuro do planeta que desejamos deixar para os que seriam descartados no meio ambi-
os nossos filhos e netos. Seguindo este ra- ente, dada a impossibilidade de
ciocínio procuro no dia-a-dia, em meu tra- reaproveitá-los.
balho, desenvolver novas metodologias Deve-se ter presente que é uma preocu-
que, além de me proporcionar praticidade pação constante entre os ambientalistas o
e economia, possam atender à exigência destino da matéria-prima que não compor-
da preservação do meio ambiente. ta total reciclagem. Tendo em vista que a
Atuo profissionalmente na conservação biosfera não é capaz de absorver todos
e restauração de elementos decorativos in- esses resíduos, é forçoso reconhecer que
tegrados à fachada e interiores de prédios tais substâncias geram graves problemas
tombados pelo patrimônio histórico. No quando descartadas, dentre eles a polui-
347
Anais | Congresso Abracor 2009
ção e o próprio aquecimento global. constatar o enorme desperdício de maté-
No intuito de encontrar soluções para ria-prima no processo de confecção de
enfrentar tal problema uma série de me- moldes e estudar hipóteses de modifica-
canismos têm sido criados. Um dos exem- ção nesse processo, visualizei a possibi-
plos dessa preocupação é a destinação que lidade de empregar uma matéria-prima al-
hoje se dá à areia utilizada pela indústria ternativa que não fosse tão agressiva ao
siderúrgica: graças ao trabalho de uma meio ambiente. Ademais, a utilização de
Química Industrial esta areia, antes des- tal processo não só atendeu aos objeti-
cartada aos milhões de toneladas no meio vos perseguidos, mas mostrou-se extrema-
ambiente, pode ser reaproveitada pela in- mente lucrativa, vez que propiciou uma
dústria de pavimentação em até 70%. redução considerável de custos e de tem-
O presente trabalho tem por objetivo po. Passa-se à apresentação do projeto de-
descrever o mecanismo que encontrei para senvolvido e à descrição de seus resulta-
contribuir à preservação ambiental. Após dos.
PROJETO DESENVOLVIDO
CONCLUSÃO
A partir dos dados demonstrados, per- forme se afirmou no início deste traba-
cebe-se que soluções simples podem re- lho, é necessário que cada um de nós faça
solver problemas extremamente comple- a sua parte para contribuir na construção
xos. Com efeito, pela simples substitui- de um mundo melhor para os nossos fi-
ção de uma matéria-prima por outra, lo- lhos e netos. Acredita-se que com a pro-
grou-se não apenas a redução dos custos posta ora apresentada podemos contribuir
e do tempo, como também atender às exi- de alguma forma no alcance desse objeti-
gências de preservação ambiental. Con- vo.
E A MEMÓRIA URBANA?
Alguns aspectos do processo de
proteção do bairro carioca do Leblon
Palavras-chave:
Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac). Conservação Urbana. Patrimônio Cul-
tural. Rio de Janeiro. Leblon.
This communication brings results of the survey conducted in the period 2004-2008,
aiming to the analysis of urban policy in Rio de Janeiro, over the period 1992-2006, focusing
on the use of the instrument of urban protection, called Protection Area of the Cultural
Environment (Apac), created in 1988 and consolidated by the City Plan in 1992.
In the context of the implementation of Apacs on the city was seconded the period 2001-
2006 due to the fact that characterize a deliberate aim to control and direct urban growth
of the city with Apacs by mares. The period begins for the establishment of Apac of Leblon
neighborhood, ordered by mares under the very troubled and controversial context. The
analysis of the event contributes with new elements to the discussion of the subject and
reveal unusual and serious consequences to the neighborhood of Leblon as well to the city.
Keywords:
Protection Area of Cultural Environment (Apac). Urban Conservation. Cultural Heritage.
Rio de Janeiro. Leblon.
Introdução
A partir de 1979, face ao quadro urba- de, Gamboa, Santo Cristo e parte do Cen-
nístico da cidade, caracterizado por suces- tro/Sagas (1985-1988), ocorridos através de
sivas e radicais operações de renovação mobilização comunitária alavancaram essa
urbana de partes expressivas de seu sítio, tendência que, gradativamente, alcançou
a proteção urbana passou a representar todas as regiões da cidade.
uma concreta alternativa às comunidades Em virtude desse processo, a partir de
de bairros da cidade, principalmente aque- 1988, a legislação carioca passou a contar
les situados na sua Área Central. O Proje- com o primeiro instrumento urbanístico
to Corredor Cultural (1979) e a proteção específico, voltado à proteção de áreas ur-
dos bairros de Santa Teresa (1984), Saú- banas, denominado inicialmente Área de 351
Anais | Congresso Abracor 2009
1
Pesquisa realizada em
2007 por ocasião da
Proteção Ambiental (Apa) e mais tarde con- a partir de todo o processo que originou o
elaboração de tese de sagrado no Plano Diretor da Cidade (1992) instrumento Apac e a sua atual aplicação.
doutoramento em
urbanismo, defendida sob a denominação de Área de Proteção Ao tomarmos contato com diversos au-
em 17/04/2008 no
Programa de Pós- do Ambiente Cultural (Apac), aplicável em tores mundiais ligados ao tema, observa-
Graduação em
Urbanismo (PROURB)
áreas urbanas com relevância cultural. mos que a conservação urbana e os
da Faculdade de É importante observar que devido aos consequentes instrumentos para realizá-la,
Arquitetura e Urbanismo
da UFRJ. efeitos urbanísticos imediatos causados pela da maneira como vem sendo empreendida
sua aplicação, a Apac passou a ser conside- no mundo, enseja o triunfo da forma sobre
rada por associações de moradores, como o conteúdo cultural impondo uma barreira
espécie de antídoto contra os processos de a ser vencida por teóricos e técnicos atu-
degradação e as consequências da especula- antes na área de conhecimento. A tendên-
ção urbana que impõem a perda de qualida- cia de associação de áreas urbanas históri-
de de vida das comunidades. cas às atividades da indústria turística vem
O instrumento de proteção urbana pas- se consolidando desde os anos 1960,
sou também a ser apontado pela indústria como principal alternativa de viabilizar
da construção civil como responsável pelo economicamente a conservação do
“engessamento” e a degradação da cida- patrimônio arquitetônico das cidades, es-
de, ameaçando o setor com a diminuição pecialmente as latino-americanas. Esta
de suas atividades e a consequente estagna- postura, ao longo dos anos, induziu à de-
ção do mercado imobiliário. O quadro con- formação e à falsificação de sítios históri-
tribui para a formação de jogo político que cos, artigo cada vez mais destacado como
alimenta os meios de comunicação e trans- fator de diferenciação das cidades, num
formam as Apacs em manchetes diárias nos mundo cada vez mais globalizado e
jornais cariocas, alcançando também os tri- paisagisticamente homogêneo. O fenôme-
bunais. no é criticado por vários autores, tais como,
Ultimamente, o Poder Executivo Muni- Françoise Choay (2001), Ramon Gutierrez
cipal passou também a ver nas Apacs um (2004), Andréas Huyssen (2000), Henri
poderoso instrumento de controle de uso Pierre Jeudy (2005), Otília Arantes (2001),
e ocupação do solo, tendo em vista às dentre outros, que, de forma unânime,
consequências imediatas da sua aplicação denunciam a formação de uma onda sau-
e a falta de uma política urbana clara, de- dosista caracterizada pela valorização das
corrente de um debate aberto à população paisagens históricas.
carioca. Cabe destacar que a equivocada No entanto, ao analisarmos a conserva-
interpretação do instrumento, juntamente ção urbana como vem se desenvolvendo
com o boicote imposto pela prefeitura ao na cidade do Rio de Janeiro, observamos
Plano Diretor que, até hoje, nunca foi re- que a experiência carioca acrescenta, ao con-
visto, caracterizaram as gestões municipais, texto teórico mundial, um inédito aspecto
a partir de 1993. O quadro contribuiu efe- que deve ser cuidadosamente avaliado, ou
tivamente para a transformação do instru- seja, a utilização deliberada de instrumen-
mento de proteção da memória urbana ca- tos legais de proteção no planejamento da
rioca em instrumento, única e exclusiva- cidade, a despeito de discussões e debates
mente, de planejamento urbano, cada vez com a sua população organizada.
mais distante da sua função principal. A pesquisa realizada na Apac-Leblon
Em função disso, todas as Apacs (2001)1 revelou dados estarrecedores acer-
estabelecidas na cidade, no período 2001- ca dos efeitos da proteção urbana imposta
2006, foram criadas a partir de decretos ao sítio da cidade sem um devido debate e
municipais, incidindo principalmente sobre monitoramento de seus resultados. O qua-
os bairros da zona sul da cidade, área con- dro aponta para uma urgente revisão da atu-
flagrada e valorizada em termos imobiliári- al política urbana e de conservação do
os. O contexto formado é caracterizado patrimônio cultural em vigor, face às graves
pelo distanciamento entre a teoria e a prá- consequências urbanísticas, administrativas,
tica, a idealização e a realidade, observada sociais e econômicas impostas à cidade.
O bairro do Leblon
Considerações finais
A experiência da proteção do bairro do mais eficazes e coerentes com a realidade
Leblon deixa clara a necessidade da pre- física, social e econômica da cidade. O
feitura particularizar critérios de proteção amplo debate da questão da conservação
e de conservação, monitorar constante- urbana com os setores da construção civil
mente resultados e impactos gerados pela também é fundamental nesse processo, e
implantação de Apacs na cidade, sob ris- buscaria mitigar a histórica e aguda oposi-
co de gerar graves problemas urbanísticos ção existente entre os interesses e propósi-
para a cidade, a curto-médio prazo. O pro- tos dos dois setores (patrimônio cultural e
cesso, sem dúvida, contribuiria para a for- construção civil), visando um melhor con-
356 mulação de instrumentos de conservação vívio entre a conservação de áreas urbanas
Anais | Congresso Abracor 2009
e a produção imobiliária da cidade. A tare- gradativamente, os efeitos contrários à con-
fa, sem dúvida, é árdua, porém não é im- servação urbana observados, até então, na
possível, a partir do momento em que haja opinião pública carioca.
a plena conscientização de governantes e Parece óbvio que o processo de discus-
comunidades da necessidade do constante são e debates sobre o planejamento da ci-
debate e confronto de idéias. dade, que inclui o instrumento Apac deve
Numa perspectiva mais ampla, conclui- ter continuidade. Técnicos e governantes
se que as Apacs devem ser definitivamen- precisam entender que a memória coleti-
te encaradas pelo poder público e as co- va é o fator que motiva toda e qualquer
munidades da cidade como conseqüênci- iniciativa de proteção e conservação de
as de uma política urbana democrática e áreas urbanas. Ela é inerente à população
coletivamente debatida e não um instru- carioca como um todo. Não é privilégio
mento que a determine. de poucos. O planejamento urbano é a
A participação efetiva de comunidades principal ferramenta capaz de viabilizar,
no processo de planejamento da cidade social e economicamente, a inserção des-
e, por consequência, no de conservação ur- sas áreas no processo de gestão do solo da
bana, é imprescindível e contribuiria sobre- cidade. O entendimento dessas, dentre
maneira para a diminuição de equívocos de outras premissas teóricas, conduziria na-
avaliação, bem como a imposição de valo- turalmente a uma discussão com a socie-
res apenas recorrentes entre intelectuais e dade civil carioca organizada muito mais
urbanistas. Essa participação se daria através ampla e transparente que remeteria à for-
de debates e programas informativos que di- mulação de uma política urbana mais jus-
vulgariam de forma transparente os objeti- ta e adequada para a cidade, que obvia-
vos e consequências da proteção e da con- mente incluiria a Apac como elemento
servação urbana. Só assim, seria possível capaz de garantir a sua imprescindível di-
mitigar e até, quem sabe, reverter versidade cultural e paisagística.
Bibliografia
ABREU, Maurício de A. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLAN-RIO/Jorge Zahar, 1987.
ARANTES, Otília. Urbanismo em fim de linha. São Paulo: Edusp, 2001.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade/UNESP, 2000.
COMPANS, Rose. Empreendedorismo urbano – Entre o discurso e a prática. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
CURY, Isabelle (org). Cartas patrimoniais. 3ª ed. rev. aum. - Rio de Janeiro: IPHAN, [1995] 2004.
GUTIÉRREZ, Ramón. Transferências, creatividad y rutina em los centros históricos de iberoamerica: políticas e improvisaciones, in Topos –
Revista de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v.1, n.2, p. 26-35, jan./. 2004.
HUYSSEN, Andréas. Seduzidos pela Memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.
JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.
PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO/SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, TURISMO E ESPORTE. Rio de Janeiro uma
cidade no tempo. Prefeitura do Rio de Janeiro, 1992.
Textos disponíveis na internet
ZYLBENBERG, Sônia. Histórico do bairro do Leblon, disponível em www.rio.rj.gov.br/patrimonio/apac/patrimonio_leblon.htm, visitado em
18/11/2007.
357
Anais | Congresso Abracor 2009
358
Anais | Congresso Abracor 2009
NUNES, Carmen L. da Silveira
Arquiteta
BECHSTEDT, Roberto
Arquiteto
PRADO, Rossanna
Antrop
1
O espaço embaixo do
RODOVIÁRIA DE PORTO ALEGRE E SEU Viaduto da Conceição é
ocupado por um terminal
de ônibus
ENTORNO COMO PATRIMÔNIO intermunicipais.
2
AEIC: Área Especial de
Interesse Cultural.
Introdução
Apresentamos a seguir o “Projeto de quatro integrantes do grupo, em dezem-
Revitalização da Área da Rodoviária de bro de 2007, tendo recebido conceito
Porto Alegre e seu Entorno”. O presente “A”.
trabalho teve início durante o Curso de A escolha da área recaiu sobre a Estação
Especialização em Patrimônio Cultural Rodoviária Central de Porto Alegre e seus
em Centros Urbanos, promovido pelo arredores por sua vocação como Porta da
PPG-PROPUR/Urbanismo, da Faculdade Cidade, justificada pela importância como
de Arquitetura/UFRGS, concluído pelos pólo atrator nos limites do Bairro Centro.
A área da Rodoviária
Com uma localização privilegiada, cen- fluxos persistem no tempo e no espaço,
tral, às margens do Lago Guaíba, a área alavancados há mais de 200 anos pela vo-
como um todo sofreu com o processo de cação do comércio popular e das funções
crescimento urbano desordenado, que a re- de embarque e desembarque para abasteci-
legou ao abandono. Marcada por sucessi- mento do Centro. O seu uso constante con-
vos aterros, a presença da Viação Férrea e figura uma vitalidade intrínseca à área dada
de inúmeras edificações históricas, consti- pelos usuários – que chegam, saem, traba-
tui-se em importante testemunho da evolu- lham e circulam neste extremo do Centro.
ção urbana da capital gaúcha, incluindo não Inaugurada em 1970, a Estação Rodoviária
apenas seus méritos como também suas Central de Porto Alegre acompanhou o cres-
mazelas. Por seu forte caráter popular e “à cimento da cidade e atende seu público
margem” do Rio, sua história é pouco co- dentro das expectativas, até hoje.
nhecida, o que coloca em constante amea- Os Objetivos deste estudo, sem entrar no
ça o legado do Patrimônio Histórico e Cul- sistema de distribuição viária do Centro
tural, presente no cotidiano dos porto- foram, basicamente: caracterizar o local
alegrenses como característica do Centro até como Atrator social, grande porta de entra-
hoje. da e saída da Capital; promover a
A Rodoviária de Porto Alegre e seu entor- revitalização da área, através da recupera-
no, apesar dos serviços 24h, não causam ção edilícia, dos espaços urbanos e das re-
uma boa impressão ao viajante: pouca si- lações sociais; incrementar o uso para pro-
nalização, tumulto do tráfego e profusão teção e manutenção (resgate) do patrimônio
popular – gera estranhamento, até que se material e imaterial; e garantir
entendem as lógicas envolvidas neste anti- sustentabilidade econômica em conformi-
go processo de mobilidade urbana. Esses dade com seus diversos grupos sociais.
Metodologia: Áreas
Durante orientação docente, em atelier, área selecionada foi dividida com base nas
desenvolvemos estudo aprofundado para per- características morfológicas encontradas, or-
cepção ambiental, histórica, morfológica, denadas pelo critério da antiguidade. Foram
espacial e social. Devido à sua riqueza, a identificadas 6 áreas distintas: a Área 1 co-
359
Anais | Congresso Abracor 2009
incide com o perfil natural da península, potencial turístico pouco aproveitado, nos
situada na orla do Guaíba, razão por que propomos a: a) Promover atividades para
nela encontramos as edificações mais anti- garantir a preservação do rico patrimônio
gas – quando era Balneário – e próximo ao edificado (Eixo Voluntários da Pátria Histó-
Mercado, como artéria comercial. A Área 2 rica), e a sustentabilidade econômica e so-
caracteriza-se pela presença de edifícios cial local, revitalizando a Área. Através da
comerciais, alguns dos quais tornaram-se rápida implementação de melhorias de bai-
ícones no cenário da arquitetura porto- xo custo, dar luz às potencialidades turísti-
alegrense, tais como o Ed. Ely e o Ed. Cha- cas e culturais já estruturadas, porém des-
ves e Almeida. A Área 3 destaca-se pela conexas; b) Usar acessos, vazios urbanos e
presença de armazéns e depósitos que ser- edificações ociosas, ampliando eixos de uso
viram de apoio às atividades da Viação Fér- diurno e noturno nos acessos monitorados
rea, presente ali até 1970. A Área 4 foi con- à Rodoviária, garantindo a segurança do vi-
formada pela presença da Estação Rodoviá- ajante; opções de espaços verdes na área
ria, com a instalação de diversos hotéis em central (praças, parques fechados e abertos,
seu entorno imediato. A Área 5 é o espaço etc.), c) Promover a acessibilidade geral a
viário por excelência, resultante da pré-exis- pedestres, muito complicada; d)
tência da Viação Férrea1. A Área 6, antiga Implementar ações para os grupos de usuá-
Doca das Frutas, é a que maior proximida- rios identificados: viajantes - regionais, na-
de mantém com a orla do Guaíba – não cionais e internacionais; cidadãos em des-
guardando, entretanto, nenhuma relação locamento; motoristas; comerciantes; con-
com a Voluntários da Pátria Histórica em sumidores de toda ordem; fiéis de diversos
virtude da separação física causada pela credos; excluídos sociais (catadores, prosti-
Cortina de contenção do Muro da Mauá. É tutas, etc); e) Consolidar um circuito de
importante registrar que todas as áreas, à serviços populares de Inclusão Social e
exceção da 1, foram criadas pela sucessão sustentabilidade já presentes na área – res-
de aterros . taurante popular, posto de coleta de óleo
Como Estratégias de Intervenção, partin- comestível, triagem de lixo seco, etc;
do de uma localização privilegiada (Cen- normatizar os usos e resgatar a cidadania
tro), com intensa vitalidade comercial e na área.
Metas
Considerando a área como Porta de En- do rebaixamento da via, com acesso inter-
trada da Capital e Ponto de distribuição dos no por esteiras rolantes, para embarque e
fluxos da cidade – “XIS” da Rodoviária, e desembarque; identidade visual dos táxis;
respeitando as suas peculiaridades de uso · Entrada integrada ao Trensurb, por
apresentamos, como propostas : acesso interno p/ transbordo;
· Inclusão da área como AEIC2 pela · Criação do Túnel das Bicicletas, vão
Prefeitura Municipal de Porto Alegre; de travessia/acesso (por baixo da Rua da
· Comunicação visual de Apresentação Conceição) com Bicicletário e estruturas de
da Cidade – capital do Rio Grande do Sul – apoio às Ciclovias da área central;
e Sinalização Turística Internacional, con- · Criação de Praça do Miolo, no mio-
forme normas do IPHAN/MinC; lo do quarteirão da área A2 – chegada da
· Qualificação das ambiências da Área nova passarela, acesso seguro às igrejas e
– recuperação das edificações, pavimenta- sobrados da Cel. Vicente;
ção, alargamento dos passeios, iluminação, · Hotel 1 Real , no antigo prédio do
sinalização, mobiliário urbano, segurança IRGA (conforme Central do Brasil/RJ);
e acessibilidade universal; · Remodelação do Posto da Chevrolet
· Segurança: Central de na Av. Júlio de Castilhos (posto de gasoli-
Monitoramento específica para acessos à na, loja de conveniências e bar, equipado
Rodoviária; com antiguidades);
· Concurso para a elaboração de dese- · Criação da Praça do Tempo, com a
nho para a Nova Passarela, configurando-a instalação de um relógio monumental;
como Pórtico, definidor de identidade vi- · Criação da Praça da Rodoviária, no
sual – referência espacial (Laçador, via Ae- terreno contíguo ao Terminal (Secretaria de
roporto; e Nova Passarela, via Rodoviária); Segurança Pública do Estado / ex-RFFSA),
· Criação do Túnel dos Táxis, através como Área Verde do Centro, espaço de es-
360
Anais | Congresso Abracor 2009
pera e contemplação, e acesso seguro à resgate da história do local com enfoque de
Rodoviária; Turismo Cultural (Projeto Roteiro Turístico
· Instalação na Rodoviária: “Painel do 3MUSEUS);
Santiago”, do renomado cartunista gaúcho · Criação do Bairro Boêmio; recupe-
Santiago, confecção de dois painéis colori- ração do conceito das antigas Casas de Di-
dos em azulejos, no Saguão de Entrada versão; Salões de Baile; estruturas com Lei
(10x3m), apresentando e valorizando a iden- Seca nos arredores da Rodoviária;
tidade cultural do Estado ao retratar, com · Criação do Museu do Sexo e do
humor, cenas e causos do interior do RS Trottoir das Gurias; – no acesso da Rua
(Metrô de Madrid); Garibaldi, com iluminação cênica, sex-
· Instalação do Núcleo de Apoio ao shops, cafés e livrarias especializadas, gale-
Viajante, no pavimento superior da Rodo- rias de arte erótica, salões de beleza, moda
viária, para informações turísticas em ge- de profissionais do sexo;
ral: hotéis, roteiros e gastronomia; dados · Vitrines da luz vermelha, nas
acerca de órgãos nacionais e internacionais, edificações centenárias, para resguardo cli-
consulados e demais serviços públicos (rede mático e visual das profissionais do sexo
de ensino, empregos, etc); fomentar o turis- (Amsterdam);
mo interno e rural; · Reabilitação de edificações centená-
· Elaboração do Guia de Curiosidades rias para comércio, moradia e habitação po-
da Rodoviária (nº visitantes, nº pastéis, pular, conforme especificações do GECC;
metros de papel higiênico, litros de com- plano de uso dos estacionamentos;
bustível, quilos de café, etc.); piadas e · Eco-sustentabilidade e Inclusão so-
cartuns; cial: eco-zoneamento sustentável/Bairro Eco-
· Guia de Hotéis Baratos, em profu- lógico com estruturas de apoio e sinaliza-
são na área, heranças do trem e da Sta. Casa; ção específicas: Ciclovias, estrebarias, be-
· Guia do Corredor Cultural da Volun- bedouros, paradas para carroças e carrinhos
tários – Caminho Novo/ Voluntários Histó- (tração humana);
rica, contendo diretrizes para utilização, · Cozinha e horta comunitárias, inte-
qualificação urbanística e ambiental do Eixo gradas ao Restaurante Popular já existente
da Rua Voluntários da Pátria até o Mercado (Min. Desenv. Social e Combate à Fome/
Público, revertendo a degradação física pelo BR) em lotes c/ pouco ou nenhum uso;
uso comercial, residencial e turístico (con- · Posto do GAPA, creches e
forme Corredor Cultural - Rio de Janeiro/ ambiências, privilegiando a ventilação e
RJ); insolação;
· Instauração da Escola de Ofícios, · Implementação de Usina de
para demandas de hotéis e de autônomos, Reciclagem, com ênfase em fornecimento
em conjunto com a Escola de Ofícios Anti- de matéria-prima para indústrias – pilar de
gos – qualificação técnica da mão-de-obra, sustentabilidade;
essencial p/ recuperação das edificações · Loja de Dècor-Lixo, com objetos de
históricas (conforme Talleres de Ofícios – design assinados, confeccionados em suca-
Bs. Aires). ta;
· Elaboração de projeto paisagístico · Tombamento Patrimonial do Edifí-
para o Complexo Viário da Conceição (A5), cio Ely.
que use a água como elemento de resgate · Criação do Grupo Executivo do Cor-
da percepção ambiental do Rio e a modifi- redor Cultural – GECC –, cujo objetivo é
cação antrópica do lugar (aterro); coordenar e articular as ações de Gestão do
· Criação do Parque do Rio, incorpo- Patrimônio Histórico e Cultural presente na
rando a praça do Frigorífico, com anfitea- área da Rodoviária e seu entorno. Tendo
tro, estacionamento e agenda de “Cinema como modelo o Corredor Cultural /RJ, essa
no Casco”; aproveitar o muro para configurá- gestão dar-se-á com órgãos da Administra-
lo como parque fechado; trajeto da Ciclovia, ção Pública, empresas privadas e associa-
conectando a Zona Norte com Zona Sul, ções civis da área, buscando estabelecer
para travessia segura pelo Centro; acesso mecanismos de atuação, assessorar a restau-
pela Rodoviária através da Entrada Integra- ração e normatizar a recuperação edilícia,
da/Trensurb; captar e otimizar recursos e valorizar o teci-
· Criação do Museu do Transporte, do social multifacetado.
361
Anais | Congresso Abracor 2009
Haveriam ainda propostas envolvendo xo custo e ligeira execução, ser
as especificidades de uso do espaço in- implementadas pela Municipalidade, vi-
terno da Estação Rodoviária, a serem dis- sando otimizar a Rodoviária enquanto
cutidas com a Direção da Concessioná- equipamento urbano de uma Capital, res-
ria e os responsáveis pelo Condomínio. taurando relações, edifícios e ambiências,
As modificações propostas aqui contem- ao privilegiar o uso e a preservação da
plam necessidades que podem, com bai- Área para o futuro.
Conclusão
Pretende-se aqui fazer um convite à apre- cal a posição de pólo de referência de En-
ciação de uma gama variada de propostas trada da Cidade, resgatando os valores
para um futuro pautado pelo respeito à vo- identitários e respeitando a pluralidade so-
cação de um lugar, numa territorialidade cial ali encontrada, sob o prisma do
singular como a das cercanias da Rodoviá- Patrimônio Cultural Urbano.
ria de Porto Alegre. Acreditamos que a vi- Ainda que essa reflexão tenha se consti-
são patrimonialista é capaz de dar respos- tuído a partir de um exercício acadêmico,
tas para revitalização da área, otimizando o “Projeto de Revitalização da Área da Ro-
as heranças materiais e imateriais, e apre- doviária e seu Entorno” poderá desencadear
sentar propostas no âmbito da recuperação modificações essenciais que valorizem a
arquitetônico-ambiental, inclusão social e identidade, a memória e a história do Cas-
turismo cultural. Dessa forma, elaboramos co Patrimonial da área Central de Porto
o estudo com o objetivo de restituir ao lo- Alegre.
Referências Bibliográficas
ALBANO, Celina e Stela Maris Murta (Org). Interpretar o Patrimônio, um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG, Território Brasilis, 2002.
AMARAL, Henrique. Porto Alegre vista do céu. Editora Porto Alegre: Tomo Editora, 2005.
AQUÍ PATRIMONIO: una apuesta al Patrimonio Barrial. Intervenciones 2004-2005. 1ª ed-Buenos Aires: Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires,
2005.
COHEN, Nahoum. Urban Planning Conservation and Preservation. New York: McGraw-Hill, c2001.
Corredor Cultural: Como Recuperar, Reformar ou Construir seu Imóvel/RIOARTE, IPLANRIO. – Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro., 1985.
FRANCO, Sérgio da Costa – Porto Alegre: Guia Histórico, 4ª Ed. – Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006.
FRANCO, Sergio da C., Filho Noal,Valter Antonio. Os viajantes olham Porto Alegre:1890-1914.Sta Maria :Anaterra, 2004.
LEFÈBVRE, Henri apud RAMOS, Aluísio Wellichan. Fragmentação do espaço da/na cidade de São Paulo: espacialidades diversas do bairro da
Água Branca em questão. São Paulo, 2001. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo.
MACEDO, Francisco Riopardense – Porto Alegre, Origem e Crescimento. Série Corona, POA, UND Editora, 1999.
MACIEL, João Moreira – Relatório do Projeto de melhoramentos e Orçamentos da Intendencia Municipal de Porto Alegre, 1914 – Oficinas “A
Federação”, 1927.
MENEGAT, Rualdo e Almeida Gerson.(org). Desenvolvimento Sustentável e Gestão Ambiental nas cidades. Porto Alegre .UFRGS,2004.
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO de Porto Alegre. Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre. CORAG, 2005.
PESAVENTO, Sandra J. – História do Rio Grande do Sul, 9 Ed. – Porto Alegre – Mercado Aberto, 2002.
PLAN DE MANEJO del Casco Historico de la Ciudad de Buenos Aires. Gobierno de Buenos Aires. Dirección General del Casco Historico.
Buenos Aires. 2005.
RICHARDSON, Phyllis. Grandes ideas para pequeños edificios. Lucas Dietrich, Editor. Ed. Gustavo Gili/2002.
SANTIAGO. O melhor do Macanudo Taurino. Porto Alegre: L&PM, 1997.
SOUZA, Célia Ferraz de e Muller, Dóris M. - Porto Alegre e sua Evolução Urbana, 2ª Ed. – Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2007.
VERISSIMO, Luiz Fernando e Fonseca, Joaquim da. Traçando Porto Alegre. Porto Alegre: Artes e Ofícios Ed., 1994.
362
Anais | Congresso Abracor 2009
Reconhecimento e
Formação Profissional
363
Anais | Congresso Abracor 2009
364
Anais | Congresso Abracor 2009
Arq. DE ORELLANA Rojas, Juan Eduardo.
Introducción “Global”
Para los países latinoamericanos en vías preparado cuadros dirigentes, conocedores
de desarrollo, con pasados similares de aris- de la compleja problemática que vivimos;
tocracia y oligarquía, acostumbrados a conscientes de lo que se puede hacer y con-
gobiernos dictatoriales que representaban vencidos de lo que se debe hacer. No
esos intereses, defensores de una cultura politizados ni gobernados por ideologías
verdadera, la postmodernidad (tanto apasionadas. No se pide un absoluto
arquitectónica, cuanto filosófica) y la positivismo ni el triunfo de una tecnocracia
globalización (económica y comunicativa) pseudoneoliberal que, como hemos visto,
importadas, han generado cambios en las ha fracasado rotundamente. Se cayó en la
estructuras de la cultura, aún en su trampa de formar profesionales “socializa-
infraestructura. Pero, no ha sucedido lo dos” en extremo, sin los conocimientos
mismo, o en el mismo nivel, en el campo mínimos de las culturas existentes y pre-
de las superestructuras ideológicas, de casi cedentes; o de dirección y gestión del es-
ninguna disciplina, entre ellas, la Política y tado, en tanto defensa nacional; o de
la economía, pero, ante todo, en las políti- comunicación según niveles sociales,
cas culturales. Nuestros países han estado económicos o culturales; las excepciones
acostumbrados a estos gobiernos a la regla lo son por formación familiar. Se
dictatoriales de “coroneles” o generales, cayó, luego, en la trampa, de la
represivos, generalmente de baja Universidad-empresa o de la universidad
instrucción, sujetos a fuertes pasiones al servicio de la empresa, entendiendo a
paranoides, posicionados de espaldas al ésta como generadora de empleos y, por
bien común y en busca de sus propios lo tanto, salvadora de bienestar común,
intereses y de los suyos o de quienes los símbolos de progreso. Es más, se ha fo-
mantenían en el poder, ignorantes de lo que mentado profesionales aguerridamente
se debía hacer; inconscientes de lo que se competitivos para sobresalir, a tal extre-
podía hacer e incapaces de entender la mo que existen programas “Reality shows”
complejidad de la problemática. A pesar de para “eliminar” al contendiente, como el
los cambios, aún en la etapa democrática patrocinado por el millonario Donald
que se vive, ello no ha cambiado en nuestras Trump: El Aprendiz, y otros similares.
clases dominantes, pese a la peligrosa Se produjo, profesionales
efervescencia de participación (muchas veces “revolucionarios” sin base técnica, en un
soliviantada por campañas de primer momento; y “yuppies” sin
desinformación por grupos extremistas o sensibilidad social, más recientemente. Ya
ultranacionalistas) en el pueblo llano. tarde se ha caído en cuenta que lo que se
Los grupos de poder siguen gobernando, ha provocado es una fuerte crisis laboral,
bien de manera abierta o como el poder primero, financiera, después y ya, hace
tras el poder. Cambiaron de piel, los lo- muy pocos meses, económica. Es eviden-
bos se vistieron de ovejas, entendieron te que la culpa no es exclusiva de los
que, por el camino que iban, el planeta, gobernantes y la casta que los mantiene
sería inviable para los seres humanos y, en el poder. También lo es de los
los más progresistas, han cambiado sus profesionales, quienes al ver la ineficacia
costumbres respecto a emisiones de gases, final de sus acciones y de su accionar (es
contaminación de las aguas y desperdicio probable que técnicamente intachables) no
de energía, tornando la vista hacia recur- corrigieran sus métodos, estrategias y
sos energéticos más limpios. Las industrias enfoques, bassdos en una
se han hecho “limpias” y se ha aumenta- retroalimentación y corrección permanen-
do el consumo para bajar costos, pero lejos tes (feed back).
de hacer el consumo (primario, secundario El ideal social de la empresa, que daría
y terciario) extensivos a todo ciudadano, trabajo con remuneración justa nunca se
lo que se ha hecho es hacerlos intensivos. cumplió y el espejismo de las universida-
Las elites dominantes, cada vez consumen des y centros técnicos de capacitación
más y requieren de más dinero para ello. profesional, sólo sirvió para proveer de
Por eso decimos que en el campo socio- “capital humano” para enriquecer a los
político y en el económico no ha habido más ricos facilitando de capital intelectual
366 cambio alguno. Las universidades no han a las empresas. La tecnología de punta, fue
Anais | Congresso Abracor 2009
utilizada para recortes de personal y aumen- tos como el mercantilismo o el estado gi-
to de responsabilidad laboral (con aumento gante y competidor con el ámbito privado,
de horas de trabajo, o sin ello) y no se se piensa reestructurar la economía, hallar,
utilizaron los impuestos con fines sociales o en palabras del presidente de Francia, Nicolas
educativos. No se creó identidad nacional o Zarkoszy, un nuevo orden mundial, no se
regional; no se rescató la cultura como medio está considerando la educación ni la
de cohesión social. No se usó la mayor formación humana de crecimiento personal,
productividad para mejorar salarios. propios de la postmodernidad en la agenda.
Ahora que las bolsas han colapsado (con- No se ha considerado tampoco en la inclusión
juntamente con el patrimonio en peligro); de las diferentes etnias en la identidad de las
ahora que el falso neoliberalismo y el li- naciones y se mantiene la idea de una sola
beralismo a ultranza quedan tan obsole- cultura.
Bibliografía
BOURDIEU, Pierre. La Distinción Criterio y bases sociales del gusto. Trad. Mª del Carmen Ruiz de Elvira. Madrid, Altea, Taurus, Alfaguara
S.A. 1991
DE SOTO, Hernando: El Misterio del Capital ¿porqué el capitalismo triunfa en occidente y fracasa en el tercer mundo? 1ª Ed. Lima, Ed.
El Comercio, 1999.
FUKUYAMA, Francis. El fin de la Historia y en último hombre. Traducción P. Elias. 1ª Ed. 1ª Reimpr. Buenos Aires, Planeta, 1992
GUZMÁN, Danilo. “El Ethos Filosófico”, en Praxis Filosófica Nº24 (ISSN 0120-4688) Cali, Universidad del Valle, enero/junio 2007.
MARCONI, Paolo. Voces “Conservare e Restaurare” en Enciclopedia Treccani. Roma, Istituto Treccani.
372
Anais | Congresso Abracor 2009
Segurança e
Políticas Institucionais
373
Anais | Congresso Abracor 2009
374
Anais | Congresso Abracor 2009
SERPA GOUVEIA, Fabíola Bristot
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Palavras-chave:
Conservação, Incêndio, Patrimônio, Prevenção
Introdução
A segurança contra incêndios tem como cios ou centros históricos, pode ser consi-
objetivos fundamentais: a proteção da vida derada uma abordagem atual de conserva-
humana, de modo a garantir condições se- ção. (ARAÚJO et al, 200-)
guras de escape, e do patrimônio, com a A incidência de incêndios em edifícios
manutenção da estabilidade estrutural do históricos pode ser explicada, em parte, por
edifício, bem como a possibilidade de aspectos específicos que potencializam o
extinção do incêndio através de sistemas risco de incêndio, e que podem vir a difi-
de proteção. No entanto, além do caráter cultar ou até mesmo impedir a extinção das
essencial da salvaguarda da população, é chamas antes do colapso estrutural da
necessário ressaltar a relevância da preser- edificação. São estes aspectos: as caracte-
vação de objetos, edifícios ou sítios histó- rísticas construtivas, implantação, idade,
ricos/ arqueológicos, que também possu- ocupação e instalações.
em valor inestimável tanto para uma cida- De um modo geral, as regulamentações
de, país, como, até mesmo, para a Huma- vigentes referentes à segurança contra in-
nidade. (ONO, 2004) Desta maneira, a cêndios se aplicam às edificações novas,
prevenção aos riscos, levando em consi- sendo inadequadas à garantia da proteção
deração os aspectos ambientais, os impac- de edificações que abrigam o patrimônio
tos e os riscos ás estruturas físicas de edifí- histórico, artístico ou cultural, devido à 375
Anais | Congresso Abracor 2009
especificidade de suas características. As 2001, e NFPA 914: Fire Protection in
normas prescrevem a aplicação de siste- Historic Structures. Estas normas destacam
mas de combate a incêndios, tais como o estabelecimento de planos de emergên-
proteção por extintores ou hidrantes, que cia, critérios mínimos para implementação
acabam por não minimizar os riscos de um de um programa de prevenção contra in-
princípio de incêndio. (NETTO, 1998) cêndio, medidas de segurança para novas
Atualmente, no contexto da segurança construções e reformas de edificações exis-
contra incêndio em edificações históricas, tentes, manutenção preventiva e corretiva
os principais documentos de referência aos e particularidades dos diferentes usos de
projetistas são as normas americanas NFPA edificações históricas ou que abrigam acer-
909 – Protection of cultural resources, vos histórico-culturais. (ONO, 2004)
e exaustão de fumaça e sistemas de extinção alguns casos, como nas vigas e pilares, foram
de incêndio, verificando-se as formas ideais combinados madeira e concreto. As novas es-
para cada situação (sprinklers – água ou gás). truturas inseridas no teatro, como as três no-
As estruturas de madeira pré-existentes foram vas escadas de emergência, foram executadas
reforçadas com elementos resistentes ao fogo em estrutura de aço, devido à sua
(90 minutos) devidamente verificados. Em reversibilidade.
Considerações finais
Na preservação contra incêndio em vel aplicação na proteção contra incêndio em
patrimônio histórico é necessário observar, patrimônio histórico edificado, tendo em
primeiramente, quais os aspectos a serem vista que esta abordagem permite que exi-
protegidos: o edifício em si, os objetos nele gências funcionais, de caráter qualitativo,
contido ou ambos. Para o estabelecimento sejam convertidas em metas quantitativas de
destes objetivos, é necessário o entendi- projeto, com a indicação de níveis mínimos
mento e aplicação dos conceitos da preser- de segurança a serem alcançados.
vação histórica. A utilização do método da análise do ris-
No que se refere à aplicação dos elemen- co global de incêndio consiste em uma fer-
tos de segurança contra incêndio em ramenta para a aplicação do sistema de pro-
edificações históricas, a problemática con- jeto baseado em desempenho em edifícios
siste em encontrar soluções que atendam o históricos, uma vez que, por meio deste, é
nível de proteção adequado com o menor possível conhecer qual a probabilidade de
impacto possível sobre o edifício. Desta ocorrência de um incêndio em uma dada
maneira, pode-se afirmar que o sistema de edificação e, assim, estabelecer níveis mí-
projeto baseado em desempenho é de viá- nimos de proteção para a mesma.
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Silvia M. S. de, SOUZA, Vicente C. M. de, GOUVEIA, Antônio M. C. de. Análise de risco de incêndio em cidades históricas
brasileiras: a metodologia aplicada à cidade de Ouro Preto. In: Rev. Int. de Desastres Naturales, Accidentes e Infraestructura Civil. Vol.5(1)
p.55 a 67, 200-.
BUKOWSKI, Richard W, NUZZOLESE, Vincenzo, BINDO, Mirella. Performance-based fire protection of historical structures. In: Fire Technology,
p.39 a 51, 2008. Disponível em: http://fire.nist.gov/bfrlpubs/fire03/PDF/f03027.pdf, acesso em 15/04/2008.
HENRIQUES, Fernando. A conservação do patrimônio: teoria e prática. In: ENCORE, 2003, LNEC, Lisboa, 12p. Artigo técnico.
GOUVEIA, Antônio M.C. Análise do risco de incêndio em sítios históricos. Brasília, DF. IPHAN/ Monumenta, 2006.
MATTEDI, Domenica L. Uma contribuição ao Estudo do Processo de Projeto de Segurança Contra Incêndio Baseado em Desempenho.
2005. 228p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) Departamento de Engenharia Civil. Universidade Federal de Ouro Preto – Escola
de Minas, Ouro Preto, 2005.
MEACHAM, Brian, TUBBS, Beth, BERGERON, Denis, SZIGETI, Francoise. Performance system model: a framework for describing the
totality of building performance. In: International Conference on Performance based Codes and Fire Safety Design Methods. 2002.
Melbourne,15p.
MENEZES, Marluci, TAVARES, Martha L. A imagem da cidade como patrimônio vivo. In: ENCORE, 2003, LNEC, Lisboa, 10p. Artigo técnico.
NAPPI, Sérgio C.B. Notas de aula da disciplina de Introdução ao Projeto de Restauro. PósArq – UFSC, Florianópolis, SC, 2007.
NETTO, Carlos Garmatter. Incêndios em edificações de interesse de preservação: necessidades de uma nova abordagem. NUTAU, 1998,
São Paulo, 6p. Artigo técnico.
ONO, Rosária. Proteção do patrimônio histórico-cultural contra incêndio em edificações de interesse de preservação. Palestra apresentada
na Fundação Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro, 2004.
380
Anais | Congresso Abracor 2009
SERPA GOUVEIA, Fabíola Bristot
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
This article deals with the importance of integration of fire safety elements in the
phase of projects for interventions in built historic heritage. The Brazilian norms and
regulations are only sources of information for elaboration of projects and they are
only applied to new constructions, being inefficient to protection of historic building
against fires. In view of that prevention to risks is considered one of them pillars of the
current boarding of conservation of the historic heritage, the objective of this work is
to describe the main measures of security that must be foreseen in the intervention
projects in historical buildings, as well as the constructive systems that must be implanted
so that the structure resists a fire or that they prevent the propagation of the fire.
Palavras-chave:
Incêndio, prevenção, projeto, reabilitação
Introdução
O fogo foi e continua sendo um elemen- sidade por meio do crescimento do inte-
to essencial ao desenvolvimento resse acadêmico acerca deste tema. No
tecnológico. Hoje, passados alguns milha- entanto, ainda há muito a ser pesquisado,
res de anos da história da humanidade, o planejado e aplicado no que se refere a
fogo faz parte do cotidiano porém , de este assunto e cobrir demandas que rei-
tempos em tempos, normalmente por des- vindicam modernização e segurança.
cuido nosso, age com sua natureza selva- De acordo com HANSSEN (1993), num
gem e destruidora, consumindo em pou- incêndio, além das perdas diretas, repre-
cas horas patrimônios em cuja construção sentadas pela perda do patrimônio e even-
e crescimento foram investidos vários tualmente de vidas, há outras perdas, di-
anos, muito esforço e recursos econômi- tas indiretas, tão ou mais importantes,
cos, deixando a coletividade privada dos como por exemplo:
serviços e bens produzidos pelo estabele- - Perdas de vidas, ferimentos, defor-
cimento atingido. mações e distúrbios emocionais;
São evidentes as consequências que os - Perdas para a comunidade, diminui-
incêndios causam à sociedade, tanto no ção da produção, redução no mercado de
âmbito social como no econômico e, prin- negócios, empregos e impostos;
cipalmente, humano. Atualmente, nota-se - Danos pela água de extinção, de-
uma maior preocupação por parte da so- molições, ação da fumaça e calor;
ciedade no que se refere à segurança con- - Deficiência nos valores segurados
tra incêndios, e isso reverbera na Univer- e indenizações insuficientes; 381
Anais | Congresso Abracor 2009
- Lucros cessantes, perda de merca- seja efetivo e econômico. Todos os mem-
dos e de campanhas publicitárias; bros da equipe do projeto convencional
- Custos de reconstrução, busca de devem incluir em seus campos de atua-
capital e créditos, aluguel de locais provi- ção específicos a consideração das condi-
sórios, compra apressada de equipamen- ções de emergência que podem criar os
tos. incêndios. O quanto antes forem conheci-
No contexto da preservação do dos e estabelecidos os objetivos de segu-
patrimônio histórico, pode-se afirmar que rança contra incêndios e se tomarem as
os sítios históricos que sofreram interven- medidas de cálculo e desenho respectivas,
ções de revitalização tiveram seus edifíci- mais eficazes e econômicos serão os re-
os componentes adaptados para receber sultados.
novos usos (reabilitação), com a finalida- Atualmente, no Brasil, percebe-se a ten-
de de integrá-los a uma nova dinâmica dência de não inserção dos elementos de
social e econômica das cidades segurança contra incêndios tanto em pro-
(PROCORO, DUARTE, 2006). Com isso, jetos de intervenção em patrimônio histó-
novos materiais de acabamento, sistemas rico, quanto em projetos arquitetônicos de
construtivos e equipamentos necessários edifícios novos. As normas e regulamen-
ao desenvolvimento das novas atividades tações brasileiras são fontes únicas de in-
foram inseridos neste contexto, resultan- formação para a elaboração de projeto. Em
do na introdução de riscos de incêndio que geral a legislação brasileira sobre o assun-
anteriormente não existiam. (MITIDIERI; to é falha. Algumas de nossas leis e nor-
IOSHIMOTO, 1998) mas técnicas falam em sistemas de prote-
Neste sentido, a segurança contra incên- ção, preventivos ou de combate, mas não
dios pode ser conceitualmente definida estabelecem obrigatoriedade.
como uma série de medidas e recursos in- Além disso, as regulamentações vigen-
ternos e externos à edificação, bem como as tes referentes à segurança contra incêndi-
possíveis áreas de risco adjacentes, as quais os se aplicam às edificações novas, sendo
viabilizam o controle de um incêndio. inadequadas à garantia da proteção de
Pode-se afirmar que os objetivos essenci- edificações que abrigam o patrimônio his-
ais da segurança contra incêndio são: a pro- tórico, artístico ou cultural, devido à
teção da vida humana, de modo a garantir especificidade de suas características. As
condições seguras de escape, e do normas prescrevem a aplicação de siste-
patrimônio em geral, com a manutenção mas de combate a incêndios, tais como
da estabilidade estrutural do edifício, bem proteção por extintores ou hidrantes, que
como a possibilidade de extinção do incên- acabam por não minimizar os riscos de um
dio através de sistemas de proteção, devi- princípio de incêndio. Estes sistemas,
damente planejados na fase de projeto para exceto os móveis, exigem requisitos míni-
intervenção em edificações históricas. mos para a sua implantação em uma
Os cuidados para prevenção de incên- edificação, como a disponibilidade de es-
dios vão desde os procedimentos adotados paço físico e estabilidade estrutural, os
para o restauro da edificação, incluindo a quais, no caso de edificações já existentes
seleção de materiais compatíveis e ou de limitada intervenção, acabam por
incombustíveis adequados, até os sistemas ter o seu atendimento dificultado ou até
de prevenção e combate ao fogo. Em in- mesmo impossibilitado. (NETTO, 1998)
tervenções em edifícios históricos, as ques- O projeto de proteção contra incêndios,
tões relativas à segurança contra incêndio desta maneira, não deve ser considerado
devem ser cuidadosamente observadas simplesmente um cumprimento mínimo
devido à sua influência na segurança dos dos requisitos de segurança prescritos em
usuários, bem como a garantia da conti- uma norma. De maneira inversa, o proje-
nuidade dos bens culturais para as gera- to deve contemplar questões não previs-
ções futuras. tas na legislação e fazer parte da elabora-
A análise integral e consciente da segu- ção do projeto de intervenção em edifíci-
rança contra incêndios em edifícios deve os históricos, de modo a garantir não so-
formar parte do processo de elaboração mente a economia, mas principalmente a
de projetos para intervenções em segurança de seus usuários e a salvaguar-
patrimônio histórico edificado para que da do patrimônio histórico e cultural.
Na maioria das cidades brasileiras os cri- pos de Bombeiros, são empíricos, dificil-
térios para distribuição de unidades de Cor- mente baseando-se em projetos ou estudos.
382
Anais | Congresso Abracor 2009
As unidades são simplesmente espalhadas que vidas sejam perdidas e prejuízos incal-
pela área interna ao perímetro urbano ou, culáveis aconteçam (NFPA, 1987).
ainda mais frequentemente, são concentra-
das em uma única base ou quartel, com a Neste sentido, pode se dizer que o su-
incumbência de atender a toda uma região. cesso de uma operação de combate a um
Esta tendência de concentrar vários veícu- incêndio depende essencialmente do se-
los num único ponto, conjugada com a fal- guinte:
ta de critérios para instalação das bases de - - Do tempo decorrido entre o mo-
partida das viaturas incrementa em dema- mento de sua irrupção e o início dos tra-
sia a demora para atendimento das chama- balhos de extinção;
das de emergência, ou seja o tempo respos- - - Da área que o fogo conseguiu do-
ta médio é muito superior ao máximo minar neste lapso de tempo;
admissível. - - Da velocidade de combustão do
A maior ou menor possibilidade de não material e de seu poder calorífico.
permitir o desenvolvimento de um incên- O quadro no 1 descreve as várias fases
dio depende do momento em que o fenô- de uma operação de emergência, desde
meno é descoberto, da rapidez com que quando é ativada através de uma solicita-
assume grandes proporções e do tempo ção de socorro, até a saída de cena da
decorrido entre a descoberta do fogo e o unidade que atendeu a chamada, no tér-
início do combate (tempo resposta). mino do serviço no local da ocorrência.
Como se observa na figura 1, os primei- Na prática o tempo de viagem t 9-t 8
ros minutos são vitais em operações de corresponde ao fator de maior pondera-
atendimento a emergências para se evitar ção no somatório de todos os tempos que
compõem o tempo resposta ou, em ou-
tras palavras, da demora do atendimento
de uma chamada de emergência, sendo
que, na maioria dos casos, ele ainda é
acrescido pela dificuldade de se locali-
zar com rapidez o local do incidente. O
tempo de viagem depende de vários fa-
tores tais como existência de vias adequa-
das, condições de tráfego, tipo de veícu-
lo disponível, obstáculos, etc., porém
Figura 1 Diagrama da possibilidade de sucesso na extinção de depende principalmente da distância en-
um incêndio em relação ao tempo de atendimento (fonte: Manual
do NFPA, 1987).
tre o incidente e a base da unidade de
emergência.
Quadro 1 - Tempo de resposta em sistemas de emergência
As unidades para atendimento de emergências devem ser distribuídas na região de estudo de maneira que a distância média até o ponto
mais provável de ocorrência do sinistro, por ser o elemento mais importante para formação do tempo de viagem, seja a menor possível.
383
Anais | Congresso Abracor 2009
Incêndio em edifícios históricos
A incidência de incêndios em edifícios devido a ausência de separação corta-fogo
históricos pode ser explicada, em parte, por entre as edificações, juntamente com a gran-
aspectos específicos que potencializam o de quantidade de materiais combustíveis
risco de incêndio, e que podem vir a difi- estocados no interior das mesmas, aliado à
cultar ou até mesmo impedir a extinção das dificuldade de acesso aos edifícios pelo
chamas antes do colapso estrutural da corpo de bombeiros ocasionada pelas ruas
edificação. São estes aspectos: demasiadamente estreitas ocupadas por
Características Construtivas: Grande veículos estacionados. (ONO, 2004)
parte das edificações de interesse de pre- Outros exemplos mais recentes são os
servação são caracterizadas pelo uso de incêndios ocorridos em Mariana (MG),
alvenarias com características estruturais Ouro Preto (MG), Pirenópolis (GO) e
autoportantes e de vedação apenas em Florianópolis (SC).
suas paredes externas, enquanto que suas O incêndio ocorrido na Igreja de Nossa
compartimentações internas (pavimentos, Senhora do Carmo, em janeiro de 1999,
escadas, divisórias) e coberturas são cons- na cidade de Mariana, MG, destruiu gran-
tituídas predominantemente por madeira. de parte do piso de madeira, dois altares
Implantação: De maneira geral, nos cen- laterais e todo o telhado, incluindo a pin-
tros urbanos históricos a implantação das tura barroca original do seu forro. Esta
edificações se dá junto ao alinhamento edificação, concluída em 1784, havia pas-
predial, de modo a ocupar toda a testada sado por um processo de restauração de 4
do terreno e, em alguns casos, ocupando anos e se destacava entre as construções
inteiramente o terreno. Além disso, tem- coloniais mineiras devido a peculiaridade
se as ampliações irregulares nos miolos de de sua arquitetura. A unidade do corpo de
quadra, que acabam por definir comuni- bombeiros mais próxima se localizava na
cações internas entre edificações, bem cidade de Ouro Preto, ocasionando uma
como edifícios geminados com as mesmas considerável demora no atendimento da
características, os quais configuram uma ocorrência.
edificação única delimitada pela via pú- Um outro incêndio mais recente, no Bra-
blica. Deste modo, verifica-se a possibili- sil, foi o ocorrido na Igreja Nossa Senhora
dade de propagação de incêndio de uma do Rosário de Pirenópolis, GO, em setem-
edificação para outras em seu entorno. bro de 2002, o qual destruiu completamen-
Idade: A idade da edificação acaba por te o edifício, datado da primeira metade
potencializar o risco de incêndio e sua pro- do século XVIII, em taipa de pilão, e havia
pagação quando não são realizados os ser- sido restaurado em 1999. (ONO, 2004)
viços de manutenção do edifício propria- Em abril de 1994, um incêndio ocorreu
mente dito e de suas instalações. nas instalações do Hospital de Caridade,
Ocupação: Grande parte dos edifícios em Florianópolis, SC atingindo e destruin-
históricos situados nas áreas centrais das do cerca de 70% da área construída. Este
cidades acabam por adquirir um caráter edifício é composto pela capela, construída
comercial e de serviços gerais sem as de- em 1762, e pelo hospital, inaugurado em
vidas adequações. (NETTO, 1998) 1789, constituindo-se como um dos prin-
Instalações: De maneira geral, para ade- cipais referenciais urbanos da paisagem do
quação ao uso atual, são adaptadas às centro de Florianópolis.
edificações históricas instalações elétricas Em agosto de 2005, um incêndio na ala
e de GLP, muitas vezes sem esquerda do Mercado Público de
dimensionamento adequado. Florianópolis, SC, destruiu toda a área in-
Um dos incêndios de repercussão mun- terna deste lado do complexo, a qual pre-
dial em centros urbanos históricos foi o cisou ser inteiramente reconstruída. O
ocorrido em 1988 no bairro do Chiado, edifício foi construído no ano de 1898, em
na Baixa Pombalina, em Lisboa, Portugal, substituição ao antigo mercado, o qual foi
o qual destruiu 18 edifícios datados do demolido em 1896 após 45 anos de funci-
século XVIII. O incêndio se desenvolveu onamento.
Problemas de vizinhança
O principal problema de implantação de responsáveis pela intervenção no
edificações de centros históricos é a rela- patrimônio histórico.
ção com os edifícios vizinhos: geralmente O acesso de viaturas do Corpo de Bom-
são geminados ou demasiadamente pró- beiros é outro fator a considerar. Isto é
ximos uns dos outros. Esta característica particularmente importante no caso de
favorece a possibilidade da transmissão do conjuntos com vários prédios no mesmo
fogo do prédio contíguo e, até mesmo, de local, sendo somente um com a frente para
incêndios no outro lado da via pública, e a via pública, com o acesso aos demais
deve ser considerado pelos profissionais via pilotis ou passagens estreitas.
Compartimentação
A compartimentação consiste em dividir inclusive, da capacidade operacional do
a edificação em locais compartimentados, Corpo de Bombeiros da cidade.
isto é, em zonas divididas entre si por sepa- De maneira geral, nos sítios históricos é
rações corta fogo. Este zoneamento deve ser comum a existência de edificações geminadas
planejado, se possível, separando zonas de apresentando elementos de
diferentes usos, isolando as rotas de fuga e compartimentação em condições precárias.
os vazios internos que possam servir como Aliado a esse fato, é usual a adaptação de
rotas de fumaça (DIAMANTES, 2005). novos usos a estes edifícios sem preocupa-
Consiste essencialmente em circundar o ção com o isolamento adequado entre os
local a ser compartimentado por paredes, mesmos. Um outro fator é a rusticidade ou
forros e entrepisos resistente a um certo deterioração dos acabamentos e vedações das
número de horas de fogo e calor. Este nú- edificações históricas, o que vem a ocasionar
mero de horas é função da provável dura- diferença de resistência ao fogo entre juntas
ção do incêndio que possa ocorrer nos de compartimentação. (GOUVEIA, 2006)
ambientes circundantes, e que depende,
Considerações Finais
Na preservação contra incêndio em As exigências de proteção não são so-
patrimônio histórico é necessário observar, mente as existentes em normas e código
primeiramente, quais os aspectos a serem de obras ou de proteção contra incêndio.
protegidos: o edifício em si, os objetos nele O profissional não deve se ater às exigên-
contido ou ambos. Para o estabelecimen- cias mínimas, nem sempre suficientes em
to destes objetivos, é necessário o enten- algumas localidades e casos específicos,
dimento e aplicação dos conceitos da pre- como em edifícios ou sítios históricos, mas
servação histórica. Neste sentido, pode-se sim estudar soluções técnicas mais conve-
afirmar que o objetivo principal da segu- nientes e eficientes, considerando, além do
rança contra incêndios é o estabelecimen- ponto de vista econômico, a salvaguarda
to de um programa adequado de proteção, do patrimônio para as gerações futuras.
com o menor impacto possível sobre o Faz-se necessário, portanto, que o pró-
edifício, ou seja, garantindo a integridade prio edifício possua equipamentos que
e o caráter histórico do mesmo. permitam um combate imediato ao prin- 385
Anais | Congresso Abracor 2009
cípio de incêndio pelos próprios ocupantes autoprotegido para impedir a propagação do
da edificação, assim como sistemas de ori- incêndio. Os elementos do projeto devem
entação e alarme que possibilitem a evacu- considerar os recursos locais disponíveis
ação das pessoas em tempo hábil, sem pâ- para lutar contra o fogo. Não se pode espe-
nico ou atropelos que, frequentemente, cau- rar que as guarnições de bombeiros propor-
sam mais vítimas que o próprio fogo. cionem a completa proteção dos ocupantes
O conceito de criar segurança contra in- e bens de um edifício e mais, esta deverá
cêndio baseia-se na filosofia de que o edifí- estar apoiada pelas defesas ativas e passivas
cio, por si mesmo, deve ser projetado para do edifício, para conseguir uma razoável
permitir a extinção manual do fogo e estar segurança frente aos efeitos do sinistro.
Referências bibliográficas
DIAMANTES, David. Principles of fire prevention. Thompson. New York, 2005.
GOUVEIA, Antônio M.C. Análise do risco de incêndio em sítios históricos. Brasília, DF. IPHAN/ Monumenta, 2006.
HANSSEN, Cláudio A. Curso de proteção contra incêndios. Edeme, Florianópolis, 1993
MITIDIERI, Marcelo L; IOSHIMOTO, Eduardo. Proposta de Classificação de Materiais e Componentes Construtivos com relação ao Com-
portamento Frente ao Fogo– Reação ao Fogo. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, São Paulo, BT/PCC/222, 25 p., 1998.
NETTO, Carlos Garmatter. Incêndios em edificações de interesse de preservação: necessidades de uma nova abordagem. NUTAU, 1998,
São Paulo, 6p. Artigo técnico.
NFPA - National Fire Protection Association. Manual de protección contra incêndios. 16a ed. Editorial Mapfre, SA. Madrid, 1987.
ONO, Rosária. Proteção do patrimônio histórico-cultural contra incêndio em edificações de interesse de preservação. Palestra apresentada
na Fundação Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro, 2004.
PROCORO, Andreza, DUARTE, Dayse. Uma nova maneira de pensar sobre o gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos
históricos. XXVI ENEGEP, 2006, Fortaleza, CE, 9p. Artigo técnico.
SEITO, Alexandre Ito. Fumaça de incêndio. In Tecnologia de Edificações. Editora Pini, São Paulo, 1988.
386
Anais | Congresso Abracor 2009
ALMEIDA, Thais Helena de.
Conservadora-restauradora, Especialista em Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis, (UFRJ, 1989) e Mestre em Cultura e Identidade, (UFV, 2005).
Laboratório de Restauração, Biblioteca Nacional.
BOJANOSKI, Silvana.
Conservadora-restauradora, Especialista em Conservação de Obras em Papel
(UFPr, 1999) e Mestre em História (UEM, 2007).
Centro de Conservação e Encadernação, Biblioteca Nacional.
Palavras-chave:
políticas de preservação – biodeterioração – acervos documentais – produtos químicos.
Key-Words:
preservation policies – biodeterioration – archival and library materials – chemical products.
Introdução
Muitos dos produtos químicos aplicados cípio mostrou-se eficaz no controle de in-
em acervos são os mesmos utilizados no setos nos centros urbanos, na agricultura
controle de pragas na agricultura ou no e como suporte dos programas de comba-
combate a epidemias causadas por inse- te e controle de insetos vetores de doen-
tos vetores de doenças. Diante disso é pre- ças. No entanto, o DDT, um organoclorado
ciso inicialmente entender o processo de com elevado poder residual e moderada-
desenvolvimento, comercialização e regu- mente tóxico, não é biodegradável, sendo
lamentação desses produtos. acumulativo nos tecidos de animais por
A partir de 1940, com a evolução da ci- anos. Também se mostrou carcinogênico
ência e a descoberta de novos inseticidas, em cobaias (FIOCRUZ, 2008).
houve uma revolução na metodologia de O uso de inseticidas sintéticos desde
controle de pragas na agricultura e nas áre- então tem aumentado, surgindo novas clas-
as urbanas. A descoberta dos compostos ses de praguicidas, substituindo os
orgânicos sintéticos possibilitou a geração organoclorados que já não conseguiam
de imensa gama de produtos, classificados controlar os insetos, pois com a continui-
como organoclorados, clorofosforados, dade de pesadas doses destes, eram sele-
organofosforados, carbamatos, piretróides, cionados indivíduos mais tolerantes, con-
dinitro compostos, cloronitrofenol, etc. figurando resistência ao produto. Diante
(SUCEN, 2008). da constatação da sua persistência no meio
O lançamento do DDT (Dicloro-Difenil ambiente e acúmulo nos organismos, mui-
388 Tricloroetano), no final dos anos 40, a prin- tos países criaram legislações restritivas ao
Anais | Congresso Abracor 2009
3
A lista de POPs,
uso dos organoclorados. Internacional de químicos potencialmen- conhecida como
Os Organofosforados, produzidos tam- te tóxicos, para a troca de informações so- “dúzia suja”, inclui os
seguintes inseticidas:
bém na década de 40, vieram substituir os bre produtos químicos. Em 1985 a Orga- DDT, aldrin, dieldrin,
clordano, endrin,
organoclorados. Apesar de serem nização das Nações Unidas para a Alimen- heptacloro, mirex,
toxafeno.
biodegradáveis e permanecerem por mui- tação e a Agricultura – FAO (Food and (CALAZANS, 2004)
to pouco tempo no ambiente, seu grau de Agricultures Organization of the United
toxidade, que varia do extremamente tó- Nation) adotou o Código Internacional de
xico ao de baixa toxidade, sendo respon- Conduta sobre Distribuição e Utilização
sável por grande número de casos de into- de Pesticidas. “As Diretrizes de Londres”,
xicações e mortes no País. Outro grupo em 1987, tratou de produtos químicos no
importante é o dos carbamatos, que che- Comércio Internacional que foi base para
garam ao mercado por volta de 1950. Seus a criação do Prior Informed Consent (PIC),
derivados atuam como inseticidas, envolvendo regras internacionais entre pa-
nematicidas e fungicidas. Os piretróides íses exportadores e importadores sobre a
foram comercializados a partir de 1976, comunicação prévia quando qualquer tran-
substituindo os orgafosforados. Os sação for estabelecida, objetivando a ex-
piretróides têm sido bastante empregados portação de produtos perigosos que este-
na área da saúde e na agricultura devido à jam proibidos ou severamente restritos no
sua alta eficiência, sendo necessária me- mercado interno. Convenções como a da
nor quantidade de produto ativo, resultan- Basiléia sobre Movimentos
do em menor contaminação nas aplica- Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e
ções. Em geral é seguro para mamíferos e de Depósito Final, em 1992, a Convenção
não se registrou acúmulo de resíduos no do PIC, a Convenção do POP – com o ob-
ambiente. (SUCEN, 2008). jetivo de reduzir ou eliminar emissões e
Na década de 70 já se percebia uma pre- descargas de poluentes orgânicos persisten-
ocupação com as questões ambientais. A tes no meio ambiente, de 2001, demons-
Conferência de Estocolmo sobre o meio tram, segundo Calazans (2004), a preocu-
ambiente, em 1972, foi um marco decisi- pação internacional em relação à utiliza-
vo para a consolidação destas discussões. ção de produtos químicos como agentes
A partir de então se passou a estudar mé- poluentes.
todos de aplicação mais apropriados e uma No panorama nacional, apesar das preo-
política de uso racional dos praguicidas cupações de organismos internacionais em
que respeitasse o meio ambiente. Os controlar esses produtos, o Brasil
praguicidas urbanos tinham então que incrementou na década de 70 programas
atender a maiores exigências quanto à se- de desenvolvimento que incluíam a im-
gurança e persistência no ambiente. plantação de fábricas para a produção de
(SUCEN, 2008). agrotóxicos e, já na década de 80, pratica-
Segundo CALAZANS (2004) o planeta foi mente triplicou o uso de defensivos agrí-
inundado por DDT e BHC, tanto na agri- colas. (GONÇALVES, 2004).
cultura como em campanhas de saúde pú- Com a criação do Conselho Nacional
blica. Ainda hoje esses produtos se encon- do Meio Ambiente – CONAMA, em
tram amplamente distribuídos pelo meio 1981, o Brasil iniciou sua Política Naci-
ambiente e são facilmente encontrados onal do Meio Ambiente. É de 1998 a Lei
como contaminantes de alimentos. Em re- de Crimes Ambientais que classifica
lação ao tempo de desativação dos produ- como crime a produção, processamento,
tos orgânicos, alguns são capazes de per- embalagem, importação, exportação,
manecer ativos por 30 anos, resultando na comercialização, fornecimento, transpor-
contaminação do meio ambiente e no te, armazenamento, guarda, depósito ou
desequilíbrio biológico. Denominados uso de produtos ou substâncias tóxicas,
POP‘s – Poluentes Orgânicos Persistentes perigosas ou nocivas à saúde humana ou
– são produtos químicos com alta tóxidade, ao meio ambiente, em desacordo com
persistindo intactos e movendo-se por lon- exigências estabelecidas em Lei
gas distâncias através do meio ambiente.3 (CALAZANS, 2004).
Preocupados com o comércio, manuseio, Somente em 1985 a Portaria n°329 de
distribuição, utilização, armazenamento e 02 de setembro proibiu em todo o territó-
formulação de produtos químicos, na dé- rio nacional a comercialização e distribui-
cada de 70, órgãos internacionais adota- ção de alguns produtos agrotóxicos
ram medidas de controle destas questões. organoclorados. Constam dessa portaria os
De acordo com Calazans (2004), em 1976 organoclorados, como o BHC, DDT,
o Programa das Nações Unidas para o Meio Lindane, Pentaclorofenol, que como se
Ambiente – PNUMA instalou o registro verá a seguir, constam na bibliografia 389
Anais | Congresso Abracor 2009
4
No banco de dados
ainda constam os
pesquisada da área de conservação e restau- ativamente de convenções internacionais
produtos: o baygon (ou ração e também são citados nas entrevistas para a proteção do meio ambiente, mas
propoxur), da família dos
carbamatos, a vapona realizadas com as instituições. segundo Calazans (2004), não as ratificou
(ou diclorvós), da família
dos organofosforados. E O Brasil tem, desde então, participado nem as internalizou.
ainda, ácido bórico,
brometo de metila,
cumacloro, K-Otrine, Produtos químicos utilizados no controle de
ortofenilfenol, óxido de
etileno, fosfina e timol. pragas em acervos identificados na pesquisa bibliográfica
(BURGI et all, 1990)
Na primeira etapa do estudo, para identi- que seja o inseto atacante, o pó extermina-
ficar quais os produtos químicos utilizados rá. CASTRO (1969, p. 176)
no controle de pragas em bibliotecas e ar- Na obra “O Bibliófilo Aprendiz”, Rubens
quivos ao longo do tempo, considerou-se Borba de Moraes, que atuou em impor-
uma lista de produtos relacionados no “Ban- tantes bibliotecas brasileiras na década de
co de dados: materiais empregados em con- 40, recomenda no texto “Bicho, mofo e
servação-restauração de bens culturais”. Essa outras calamidades” o uso do DDT em pó
obra resultou do levantamento, organizado nas obras e o líquido nas estantes. De acor-
por Sérgio Burgi, Marylka Mendes e Anto- do com esse autor: “Caso encontre um bi-
nio Carlos N. Baptista em 1990, dos pro- cho, retire e isole imediatamente o volu-
dutos químicos utilizados na área de con- me, desinfete todos os que estão pertos,
servação e restauração. No capítulo sobre desinfete a prateleira, desinfete tudo com
inseticidas, rodenticidas e fungicidas cons- abundância de DDT. Só coloque o doen-
tam, dentre outros produtos, os seguintes te no lugar depois de alguns meses e fique
organoclorados: BHC, paradiclorobenzeno, vigiando toda a estante em perigo.”
pentaclorofenol (pó da china).4 Essa obra é (MORAES, 2005, p. 97)
uma referência importante porque identifi- Referências sobre o uso de
ca que, na década de 90, os profissionais pentaclorofenol também foram encontra-
da área de conservação e restauração ainda das em CORUJEIRA (1973), COBRA (2003)
continuavam utilizando produtos e MOTTA (1971). Uma solução de
organoclorados que já haviam sido legal- pentaclorofenol com álcool etílico, tam-
mente proibidos pela Portaria n°329 de 02 bém conhecido como pó da china, foi
de setembro de 1985. indicada por Edson Motta na obra “O Pa-
O contexto de uso intensivo de pel – problemas de conservação e restau-
pesticidas se reflete na literatura da área ração” para limpeza e desinfecção de es-
de conservação e restauração. Desde os tantes e também como prevenção contra
anos de 1940 até meados da década de insetos. Esse autor afirma ainda:
1980, são encontradas em várias obras Inseticida e, simultaneamente, fungicida
recomendações de uso de vários pesticidas é o PENTACLOROFENOL. A forma
organoclorados. molhável, que é também solúvel em álco-
A referência ao uso do DDT foi encon- ol absoluto, pode ser aplicada em solução
trada em várias obras. (CASTRO, 1969; de 2%, diretamente sobre o livro, com pin-
GUARNIERI, 1980; MORAES, 2005; cel ou algodão, juntos às costuras e entre
MOTA, 1971; FLIEDER, 1983) os cadernos que compõem o volume. O
CASTRO (1969), por exemplo, recomen- PENTACLOROFENOL protege ainda as
da utilizar DDT até mesmo nos materiais lombadas de couro contra o desenvolvi-
utilizados na encadernação, como as co- mento de fungos. (MOTTA, 1971, p.76)
las e fios de cânhamo. Esse autor recomen- A partir dos anos 1980 observa-se uma
da pulverizar periodicamente nas estantes mudança na literatura da área de conser-
o NEOCID, um derivado do DDT, para vação, recomendando-se a partir de então
tornar os livros imunes aos insetos. Esse a aplicação de fumigações em ambiente
autor descreve como aplicar o pesticida fechado ou em câmaras. O óxido de
nos livros: etileno foi considerado muito eficiente no
Nos livros antigos, suspeitos de conta- controle de insetos e de micro-organismos
minação, pulveriza-se o NEOCID entre o (FLIEDER, 1983), sendo intensivamente
dorso e o falso-dorso. Abrindo-se o livro utilizado em bibliotecas e arquivos de vá-
ao centro, totalmente, o couro do dorso rios países. No entanto, partir da metade
se afasta, permitindo a introdução do pó. dos anos 1980, verificou-se que a exposi-
Pondo-se o livro de pé e abrindo-se as fo- ção crônica ou acima de determinados li-
lhas à maneira de fole de acordeon, pul- mites a esse gás poderia aumentar os ris-
veriza-se com o aparelho pulverizador de cos de leucemia, de tumores no cérebro e
pó; fecha-se o livro conservando entre as de outros tipos de cânceres, além de oca-
folhas o pó que haja penetrado. Qualquer sionar alterações nos cromossomos e afetar
390
Anais | Congresso Abracor 2009
5
Em GUARNIERI
o sistema reprodutivo. (HENGEMIHLE, etileno em câmaras especiais de vácuo. (1980) o timol aparece
2008). Entre outros produtos químicos usados associado com cloreto
de mercúrio ou com o
Na literatura brasileira, referência sobre estavam vapores de cristais de timol, cloreto de mercúrio
mais éter e benzina,
o uso do óxido de etileno aparece em ortofenil fenol e aldeído fórmico. O timol conhecida como
fórmula de
BECK (1985) e nos Anais da Biblioteca era empregado por muitos conservadores Hetherington.
Nacional (1991) onde se registra que na e curadores de acervo devido a facilidade
década de 1980 pensou-se em utilizar o de seu uso em câmaras de fabricação do-
óxido de etileno associado ao gás freon, méstica. Mas hoje sabemos que todos es-
mas não chegou a concretizar-se tal práti- tes produtos químicos podem ser prejudi-
ca. Sabe-se que nessa época houve a pro- ciais às pessoas e objetos. O óxido de
posta de compra de uma câmara denomi- etileno, por exemplo, é extremamente tó-
nada Mallet para tratamento do acervo da xico aos seres humanos, mesmo em pe-
Biblioteca Nacional e do Arquivo Nacio- quenas quantidades, e pode ser retido pelo
nal. A proposta era realizar nesse equipa- material após o tratamento. O timol, que
mento fumigações com brometo de metila é assimilado por inalação ou contato com
para erradicar insetos e a desinfecção e a pele, pode acarretar danos imediatos ou
esterilização de contaminações fúngicas a longo prazo para a saúde. (OGDEN,
com o óxido de etileno. (MALLET, 1984) 2001, p. 21)
No entanto esse equipamento não chegou A partir dos anos 90 observam-se mu-
a ser efetivamente utilizado. danças no cenário de controle de pragas
Também a partir dos anos 1980 aparece em museus, bibliotecas e arquivos com a
na literatura a recomendação da fosfina (ou divulgação de propostas de tratamentos
gastoxin ou phostoxi). (BECK, 1985; alternativos utilizando o congelamento,
LUCCAS, 1995) A fosfina é um fumigante gases inertes ou CO2. (FREITAS, 1994;
vendido na forma de pastilhas, largamen- GONÇALVES, 2008; OGDEN, 2001,
te utilizado na agricultura e em produtos PRICE, 2001; SCHÄEFER, 2008; SILVA,
armazenados. FLORÃO et all (2008) res- 1994;). O desenvolvimento e adoção des-
salta sua alta toxicidade e registra os óbi- ses novos tratamentos na área de conser-
tos ocorridos nas mais diferentes situações, vação de acervos, em um primeiro mo-
salientando o desvio de seu uso para fina- mento resultam da constatação de que a
lidades suicidas. BECK (1985) afirma que aplicação de produtos químicos não resol-
durante vários anos o Arquivo Nacional via efetivamente a ação das pragas em
contratou os serviços de desinfestação pe- acervos, além de colocar em riscos a saú-
riódica do acervo, mediante o uso de pas- de das pessoas. Contudo, a busca de trata-
tilhas de fosfeto alumínio (fostoxin) em mentos alternativos também reflete um
ambientes lacrados. No entanto, segundo contexto mais amplo de preocupações
essa autora, em 1981 especialistas da área com à preservação do meio ambiente,
consideraram esse método obsoleto por- devendo-se ainda considerar as restrições
que se verificou que a fosfina deixava re- de uso de produtos agrotóxicos impostas
síduos tóxicos e agressivos para o papel. pela legislação desde os anos 80.
Outro produto bastante citado na litera- Análise dos dados do questionário apli-
tura é o timol (MOTA, 1971; DUVIVIER, cado nas instituições
s.d.; COBRA, 2003; SILVA Filho, 2008; Os dados obtidos nos questionários apli-
LUCCAS et all, 1995) Trata-se de cristais cados nas instituições confirmam o uso de
incolores, muito solúvel em álcool e utili- vários produtos que foram citados ou re-
zado como fungicida.5 De acordo com in- comendados na literatura da área de con-
formações de BURGI et all (1990), o timol servação e restauração e também apontam
é capaz de causar vômito, diarréia e de- para a mudança de procedimentos nas úl-
pressão cardíaca. Pode também ocasionar timas décadas.
manchas em determinados tipos de papéis. A primeira pergunta questionou se a ins-
OGDEN (2001) alerta sobre os proble- tituição entrevistada possuía uma política
mas decorrentes dos tratamentos realiza- específica para o controle de pragas. As
dos com fumigações e afirma: respostas foram positivas em cinco insti-
Até recentemente, a fumigação foi um tuições (38,5%) e negativas em oito
método comum de sustar o crescimento (61,5%). Considerando-se que essa ques-
dos fungos, mas hoje já não é mais reco- tão está relacionada com um processo de
mendada. A fumigação é perigosa para as efetivação de ações de preservação, pre-
pessoas e alguns objetos, e não garante que visivelmente as respostas positivas foram
estes fiquem permanentemente livres do dadas pelas instituições que possuem se-
mofo. Há uma década, os materiais mofa- tor de conservação-restauração implanta-
dos eram expostos a vapores de óxido de do e um corpo técnico atuante. Por outro 391
Anais | Congresso Abracor 2009
lado, no questionário, a maioria das insti- quais produtos químicos estão sendo apli-
tuições afirmou que adotam ações relaci- cados nos ambientes de acervo.
onadas com a conservação preventiva. Em relação à aplicação no ambiente de
Todas realizam o controle de alimentos nos guarda, foi citado o uso dos seguintes pro-
ambientes; 84,6% fazem manutenção, vis- dutos químicos: querosene nas estantes,
toria e limpeza do ambiente; 61,53% fa- naftalina, gel inseticida (sem identificar o
zem controle de rotas de entrada de pra- produto), fosfina, K-Otrine, piretróides
gas e monitoramento do acervo. microencapsulados (para baratas), iscas gra-
Outra pergunta, questionando sobre qual nuladas (para ratos), iscas para cupim.
o tratamento físico-químico atualmente Sobre os produtos químicos aplicados ao
aplicado no controle de pragas, aponta longo do tempo diretamente nos acervo,
para o não uso de produtos químicos di- os entrevistados indicaram os seguintes:
retamente no acervo. Em relação ao trata- BHC (ou Lindane) e DDT (inseticidas
mento específico do acervo, uma institui- organoclorados), timol (fungicida), vapona
ção (7,7%) apontou o uso do congelamen- (inseticida organofosforado), ortofenilfenol
to e três (23%) utilizam ou estão implan- e preventol (fungicidas), lysoform
tando o tratamento com atmosfera anoxia (formoldeído fungicida).
ou CO2. A fumigação em câmara de gás, Dentre esses produtos químicos citados,
ainda utilizando o timol, foi apontada por conforme já foram apontado anteriormen-
uma única instituição. te, os mais preocupantes em termos de
Um grande número de instituições toxidade e efeitos perniciosos para a saú-
(69,23%) afirma realizar somente a de humana e meio ambiente são os
desinfestação do ambiente, ação realiza- organoclorados. Se agruparmos as respos-
da por uma empresa comercial contrata- tas para BHC e DDT e incluirmos resposta
da. No entanto, na questão sobre quais os indicando o uso de um “pó branco” não
produtos químicos utilizados no presente identificado, encontraremos respostas in-
ou no passado, das instituições que disse- dicando o uso até os anos 80 desse tipo
ram realizar a desinfestação do ambiente, de produto, em 46% das instituições. Duas
somente uma declarou acompanhar a apli- instituições relataram que, mesmo não
cação e saber quais os produtos utilizados havendo notícias de aplicação desses pro-
pela empresa contratada. Ou seja, no uni- dutos nos seus acervos, em algum momen-
verso de instituições entrevistadas, os téc- to receberam e incorporaram acervos con-
nicos diretamente responsáveis pelo acer- taminados em locais anteriores.
vo não têm conhecimento ou controle de
Conclusão
A pesquisa bibliográfica mostrou que em leira que regula o uso dos produtos que fo-
décadas anteriores foram aplicados no con- ram ou ainda estão sendo utilizados em
trole da biodeterioração em acervos docu- acervos. Inclusive foi identificada publica-
mentais vários produtos químicos desenvol- ção recente recomendando a utilização de
vidos para o controle e eliminação de pra- produtos químicos legalmente proibidos.
gas na área da agricultura e no combate de Também falta conhecimento e controle,
epidemias provocadas por insetos vetores por parte dos responsáveis dos acervos,
de doenças. sobre os produtos utilizados quando da
Contudo não foi encontrado na literatu- contratação de empresas para realizar
ra brasileira da área de conservação e res- desinfestações do ambiente.
tauração estudo específico sobre a utiliza- Tanto a bibliografia como os questioná-
ção desses produtos em acervos documen- rios confirmaram o uso indiscriminado dos
tais, bem como informações quanto a inseticidas em décadas anteriores, o que
toxidade, periculosidade e riscos para a pode ter levado a contaminação de acer-
saúde dos seres humanos e efeitos vos e de pessoas que tiveram contato com
colaterais nocivos para o acervo. O único esses materiais. No entanto, ainda são es-
trabalho encontrado que apontou essas cassas as discussões sobre esses problemas.
questões foi o “Banco de Dados” elabora- Faltam recomendações de segurança para
do por BURGI et all (1990). manusear acervos contaminados, qual o
Constatou-se no estudo que a ausência tipo de Equipamentos de Proteção Indivi-
de algumas discussões é preocupante. Tan- dual (EPIs) necessários, como proceder
to as respostas dos questionários como a para identificar os contaminantes, etc. A
bibliografia consultada indicam que os exceção é o Caderno Técnico publicado
profissionais da área de conservação e res- pela Associação Paulista de Conservado-
tauração desconhecem a legislação brasi- res e Restauradores de Bens Culturais em
392
Anais | Congresso Abracor 2009
2004, que reúne vários artigos que discu- centes com a redução da aplicação de pro-
tem os riscos existentes no trabalho dos dutos químicos diretamente sobre os acer-
profissionais conservadores-restauradores. vos e a busca de procedimentos alternati-
Por outro lado, constatou-se uma signi- vos, menos agressivos ao ser humano, ao
ficativa e positiva mudança em anos re- meio ambiente e também aos acervos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE CONSERVADORES RESTAURADORES DE BENS CULTURAIS. Caderno Técnico APCR, ano 1, n.1, São
Paulo, 2004.
BECK, Ingrid. Manual de conservação de documentos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1985.
BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Portaria n. 329 de 2 set. 1985. Disponível em: <http://e-
legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=568&word=Portaria>. Acessado em 30 mai. 2008.
BURGI, Sérgio; MENDES, Marylka; BAPTISTA, Antonio Carlos Nunes. (Org.) Banco de dados: materiais empregados em conservação-
restauração de bens culturais. Rio de Janeiro: ABRACOR, 1990.
CALAZANS, Maria Elvira Borges. Agentes perigosos e poluidores: aspectos legais nacionais e internacionais. Caderno Técnico APCR, ano 1,
n.1, São Paulo. 2004. p. 7-13.
CALLOL, Milagros Vaillant. Biologia aplicada a la conservación de documentos y manuscritos elaborados em papel como suporte. Rio
de Janeiro, set. 2007. 138 f. Apostila de curso ministrado na Fundação Casa de Rui Barbosa.
CARRASCO, Gessonia Leite de Andrade. Contaminação do acervo do Arquivo Histórico de Joinville por inseticidas organoclorados. Caderno
Técnico APCR, ano 1, n.1, São Paulo, 2004. p. 50-53.
CASTRO, Jayme. A arte de tratar o livro. Porto Alegre: Edição Sulina, 1969.
COBRA, Maria José Távora. Pequeno dicionário de conservação e restauração de livros e documentos. Brasília: Edições Cobra Pages,
2003.
CORUJEIRA, Lindaura Alban. Métodos de prevenção e eliminação de fungos em materiais bibliográficos. Revista de Biblioteconomia de
Brasília, v. 1 n. 1, jan./jun. 1973. Disponível em: <http://164.41.105.3/ portalnesp/ojs-2.1.1/index.php/RBB/article/viewFile/15/8>. Acessado em
24 jun 2008.
DUVIVIER, Edna May. Como preservar. [Rio de Janeiro]: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, [198?]
FIOCRUZ. Controle químico e biológico: perspectivas. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/editora/ media/05-PMISB04.pdf>. Acessado
em 16 jun. 2008.
FLIEDER, Françoise; DUCHEIN, Michel. Libres et documents d´archives: sauvegarde et conservation. Paris: Unesco, 1983.
FLORÃO, A. et all. Fosfina: riscos. Visão Acadêmica, Curitiba, v. 5, n. 2, p. 101-108, jul.-dez. 2004.
FONSECA, Edson Nery da. Conservação de bibliotecas e arquivos em regiões tropicais. Brasília: Edições ABDF, 1975.
FREITAS, Noel D. Controle entomológico para acervos infestados por Anobiidae pelo método de congelamento profundo. In: CONGRESSO DA
ABRACOR, 12, 1994, Petrópolis. Anais. Rio de Janeiro: ABRACOR, 1994. p. 67.
GONÇALVES, Francisco Marcos. Agrotóxicos: controle de saúde dos trabalhadores. Goiânia: CONGRESSO ANAMT, maio 2004. Apre-
sentação em PowerPoint. Disponível em <http://www. seguracaetrabalho.com.br/download/agrotoxicos-goncalves.ppt>. Acessado 3 jun. 2008.
GONÇALVES, Edmar Moraes. Uso de gás inerte em câmara hermética de fumigação: tratamento de acervos atacados por pragas: estudo de
caso. Disponível em: <http://www.
casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/preservacao/FCRB_Gas_Inerte_camera_hermetica_fumigacao.pdf>. Acessado em 16 jun. 2008.
GUARNIERI, Alice Camargo. Notas sobre o mofo nos livros e papéis. 2.ed. São Paulo: Museu da Indústria, Comércio e Tecnologia de São
Paulo, 1980.
HENGEMIHLE, Frank et all. Desorption of residual ethylene oxide from fumigated library materials. Preservation Research and Testing
Series, n. 9502. Disponível em <http://www.loc.gov/preserv/rt/fumigate/ fume.html>. Acessado em 29 maio 2008.
LUCCAS, Lucy; SERIPIERRI, Dione. Conservar para não restaurar: uma proposta para preservação de documentos em bibliotecas. Brasília:
Thesaurus, 1995.
MALLET S. A. Traitment dês Archives. Paris: Mallet Entreprise Generale de Construction d´usines, 1984. [Exposição de tratamentos de
arquivos realizada na autoclave Mallet.]
MORAES, Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz. 4.ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.
MOTTA, Edson; SALGADO, Maria Luiza Guimarães. O papel: problemas de conservação e restauração. Petrópolis: Museu de Armas Ferreira
da Cunha, 1971.
OGDEN, Sherelyn. A proteção de livros e papel contra o mofo. In: Emergências com pragas em arquivos e bibliotecas. Rio de Janeiro:
CPBA; Arquivo Nacional, 2001. (Projeto CPBA; 26 a 29) p. 25-34.
PRICE, Lois Olcott. Como lidar com uma contaminação de mofo: instrução em resposta a uma situação de emergência. In: Emergências com
pragas em arquivos e bibliotecas. Rio de Janeiro: CPBA; Arquivo Nacional, 2001. (Projeto CPBA; 20 a 25) p. 25-34.
ROCHA, Solange. Higienização ambiental e de acervos. In: CONGRESSO DA ABRACOR, 12, 1994, Petrópolis. Anais. Rio de Janeiro:
ABRACOR, 1994. p. 198.
SCHÄEFER, Stephan. Desinfestação com métodos alternativos, atóxicos e integrado de pragas (MIP) em museus, arquivos, e acervos
& armazenamento de objetos em atmosfera modificada. Revista da APCR, n. 1, São Paulo, 2002. (versão modificada) Disponível em:
<http://www.aber.org.br/v2/pdfs/ MIP_Anoxia_ABER.pdf>. Acessado em 15 jun. 2008.
SILVA, Carla de C. Os xilófagos, os tratamentos de controle da deterioração biológica nas obras de arte com suporte de madeira e o processo
de fumigação com gases inertes. In: CONGRESSO DA ABRACOR, 12, 1994, Petrópolis. Anais. Rio de Janeiro: ABRACOR, 1994. p. 258.
SILVA Filho, José Tavares da. Conservação preventiva em acervos bibliográficos. Disponível em: <http://www.forum.ufrj.br/biblioteca/
artigo.html>. Acessado em 12 jul. 2008.
SUCEN. Capítulo 1: Praguicidas. In: ______. Segurança em controle químico de vetores. Disponível em: <http://www.sucen.sp.gov.br/
docs_tec/seguranca/cap11pra.pdf>. Acessado em 16 jun. 2008.
SPINELLY, Jayme. A conservação de acervos bibliográficos e documentais. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1997.
_______. Introdução à conservação de acervos bibliográficos: experiência da Biblioteca Nacional. In: Anais da Biblioteca Nacional, v. 111.
Rio de Janeiro, 1993. p. 63-116.
393
Anais | Congresso Abracor 2009
394
Anais | Congresso Abracor 2009