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Palavras-chave: O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo com uma área plantada no ano-safra 2017/18 de 33,347
Amazonas milhões de hectares, distribuídos nos biomas Pampa, Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia. Através de técnicas de
Fechado
sensoriamento remoto mostramos que a nova fronteira agrícola da soja não está mais na Amazônia, mas nas últimas
MATOPIBA
áreas contínuas de Cerrado, presentes na região conhecida como MATOPIBA. A cadeia produtiva da soja vem se
Políticas de conservação
esforçando para apresentar aos seus clientes no exterior uma soja produzida de forma sustentável, sem remoção de
Expansão da soja
florestas. Nossos dados desafiam seu principal programa, a Moratória da Soja na Amazônia, e chamamos a atenção
Fronteira agrícola
para a necessidade de conservação do Cerrado do MATOPIBA, que não é monitorado pela Moratória da Soja.
ÿ
A soja continua a ser um motor do desmatamento nos biomas Amazônia e Cerrado, apesar das políticas de conservação no Brasil.
ÿ Corresponding author at: Geotecnologia Aplicada em Agricultura e Floresta (GAAF), Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Rodovia MT 208, km
147, s/n, Floresta Alta, 78.580-000, MT, Brasil.
E-mail: carlosjr@unemat.br (CAd Silva Júnior).
https://doi.org/10.1016/j.landusepol.2018.12.016 Recebido
em 12 de novembro de 2018; Recebido em formato revisado em 6 de dezembro de 2018; Aceito em 6 de dezembro de 2018
Disponível on-line em 22 de dezembro de
2018 0264-8377/ © 2018 Elsevier Ltd. Todos os direitos reservados.
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Figura 1. Distribuição das áreas de soja nos biomas e estados brasileiros na safra 2017/2018, incluindo a região do MATOPIBA.
encontrar várias limitações para isso. Demonstramos que ajustes na Moratória O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, ocupando originalmente
e em outras políticas devem ser feitos para garantir que a futura expansão da 203 Mha, apresenta mais de 4.800 espécies únicas de plantas e vertebrados,
soja não coloque em risco a biodiversidade nacional do Brasil. Apesar das já perdeu 46% de sua cobertura e o restante ainda inalterado não atinge 20%
evidências de que o cumprimento da Moratória da Soja tem sido elevado e do da área original (Estrasburgo et al., 2017). Apesar da importância da sua
entusiasmo geral pelo Soja Plus, essas duas principais estratégias na indústria diversidade biológica (Myers et al., 2000), apenas 8,28% do seu território está
da soja não conseguem limitar efetivamente os impactos da expansão da soja protegido (MMA, 2018). As maiores áreas contínuas que ainda existem estão
na biodiversidade nacional do Brasil. justamente na região do MATOP-IBA onde se projeta a expansão da soja. Em
2003, o Cerrado compreendia 82% deste território, com pastagens ocupando
12% e culturas 5%. Em uma década ocorreu a conversão de 2,3 Mha em
2. A maior parte da produção de soja não é monitorada pela moratória da soja
lavouras, sendo três quartos dessa área coberta pelo Cerrado (Spera et al.,
2016).
A atual fronteira de expansão da soja não está mais na Amazônia, mas na
Como dito acima, mesmo sob a Moratória da Soja, a expansão da soja
vegetação de Cerrado da região conhecida como MATOPIBA, região que se
ainda coloca em risco a vegetação nativa na Amazônia e no Cerrado. Na
refere às porções de Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Amazônia, a soja pode ocupar muitas regiões ao longo do tempo, embora isso
Bahia, incluindo 337 municípios distribuídos em uma total de 73 Mha (Fig. 1).
possa ocorrer lentamente devido a questões logísticas e de assistência (Lima et al., 2011).
Mapeamos a soja no bioma Pampa ocupando 1.526.267 ha, na Mata Atlântica
Um dos problemas é a falta de silos para estocagem da colheita. Outro problema
8.558.869 ha, no Pantanal 6.351 ha, na Amazônia 4.866.619 ha, no Cerrado
é o excesso de chuvas em algumas regiões que compromete a colheita, mas
18.389.092 ha e na Caatinga não há soja plantada (Figs. 1 e 2). A Amazônia e
que os agricultores estão contornando plantando variedades posteriores de
o Cerrado são responsáveis por 14,59% e 55,14% da soja plantada no território
soja e, em vez de plantar uma segunda safra com milho, plantam capim para
brasileiro, respectivamente. O estado de Mato Grosso, que possui em seu
integração lavoura-pecuária. Embora grande parte da vegetação amazônica
território áreas de Cerrado, Pantanal e Amazônia, ainda continua como o
seja protegida pela ASM e pelo Código Florestal Brasileiro (CF), que exige a
primeiro produtor nacional, com área de 10.460.078 ha e apresentando um
retenção de 80% da floresta como reserva legal nas propriedades, acreditamos
acréscimo de 178.140 ha nesta última safra. Os estados que compõem o
que a soja acabará sendo um fator de desmatamento em novas regiões que
MATOPIBA já somam 4.803.471 ha de soja (MA com 891.409 ha, TO com
ainda ocupam áreas densamente florestadas, como já ocorre em municípios
900.663 ha, PI com 850.127 ha e BA com 2.161.272 ha)
que são grandes produtores. Por exemplo, a soja foi responsável por 29,49%
do desmatamento durante os anos-safra de 2009 a 2017 no período ASM nos
dez maiores municípios produtores do bioma Amazônia em Mato Grosso (Silva
(Figura 2). A área plantada corresponde a 14,4% da cultura do país e apenas
Junior e Lima, 2018) e no bioma respondeu por 98,05% (174.569 ha) das novas
6,5% do território do MATOPIBA e expressa o grande potencial de expansão
áreas de plantio em
que a soja apresenta no Cerrado.
Figura 2. Gráfico de pontos e caixas das áreas de soja presentes nos biomas e estados brasileiros para a safra atual (SojaMaps, 2018).
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Figura 3. Espacialização das áreas de soja plantadas no bioma Amazônia em desacordo com a Moratória da Soja na safra 2017/2018 e desmatamento
entre agosto de 2008 e dezembro de 2017 (PRODES/INPE). Os valores do Índice de Vegetação Melhorado – EVI ((2,5(ÿNIR – ÿRed)/(ÿNIR+6ÿRed-7,5ÿBlue+1)) foram
estabelecido a partir do produto MOD13Q1 das imagens compostas de 16 dias (Heute et al., 1997), processadas na nuvem (Gorelick et al., 2017), derivadas de uma série temporal em
Outubro/2017 a Setembro/2018. Com os resultados dos tamanhos das áreas de soja em desacordo, foi apresentada a análise de densidade (canto inferior esquerdo), que
permitiu a identificação do padrão descrito e de áreas com padrões anômalos. Para tanto, foi submetido à utilização do estimador Kernel Density
^ -
n
( fhx( ) = ÿ
1
)
pediátrico = 1 K (
xXi
h
) para identificar as regiões com ocorrências de menores e maiores áreas de desacordo (Smith et al., 2015).
última safra do estado. Safra 2017/2018 contabiliza 6.504 a busca pela sustentabilidade vem primeiro do fortalecimento do poder público
polígonos em desacordo com a ASM em todos os estados amazônicos e plataformas como SojaMaps para monitoramento das áreas de soja e
totaliza 134.052 ha desmatados que foram ocupados com a soja do a intensificação das atividades agrícolas. Ainda existem muitas áreas
Julho de 2008 (Fig. 3). O Cerrado, por outro lado, não faz parte da ASM já abertas e ocupadas por pecuária de baixa produtividade que poderia
e o FC exige apenas a retenção de 20% a 35% da área com intensificar e limpar áreas para cultivo de soja sem a necessidade de
vegetação nativa como reserva legal. Esses fatores, aliados à baixa maior desmatamento (Strassburg et al., 2017). Esta intensificação começa com a
preços, áreas mecanizadas e regimes de chuvas tornam as terras no MAT-OPIBA simples renovação das pastagens, o que contribui para o aumento da sua
tão atraentes para os produtores de soja. Por fim, também identificamos o capacidade de suporte e para a mitigação das emissões de gases com efeito de estufa.
entrada da soja no Pantanal, que é a maior planície de inundação do gases de efeito estufa (GEE), e devem ser estimulados e melhor aproveitados dentro do
do planeta e considerado pelas Nações Unidas como Património Mundial Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) do governo brasileiro
Sítio e Reserva da Biosfera. Um ecossistema frágil que pode ser comprometido (Silva et al., 2018). A conversão do uso da terra para novas áreas de agricultura na
pelo assoreamento e pelos agroquímicos da soja. fronteira agrícola do Cerrado compensou a economia
Todos os factos expostos comprometem a sustentabilidade impulsionada deste gerado na emissão de GEE na Amazônia no mesmo período
cultura promovida pela cadeia da soja no Brasil. ABIOVE (Brasil (Noojipady et al., 2017). A mudança no uso da terra apenas no Cerrado
Associação da Indústria de Óleos Vegetais), que é o principal promotor foi responsável pela liberação de 248 milhões de tCO2e em 2016, maior
da ASM, é categórica ao afirmar que não adere à moratória no Cerrado. Nas que a emissão da indústria brasileira no mesmo período (SEEG,
palavras do seu secretário-geral em evento 2018).
na Europa em 2017 “Não abriremos mão do direito do produtor brasileiro de
converter áreas do Cerrado em produção de alimentos”, em resposta 3. Considerações finais
a um movimento de organizações não-governamentais liderado pela WWF (World
Wildlife Fund) que apresentam a proposta de desmatamento zero para o Os fatos acima sugerem certa cautela quando falamos de soja e
Fechado (ABIOVE, 2018b). sustentabilidade hoje. A soja continua a ser um motor do desmatamento
Sugerimos que representantes da cadeia produtiva da soja, e, consequentemente, comprometendo as metas assumidas no clima
setores da sociedade civil e o governo brasileiro precisarão vir acordos de redução na emissão de GEE assinados pelo Brasil. Lá
juntos novamente para discutir a conservação das últimas áreas contínuas ainda há um longo caminho a percorrer e até lá a ABIOVE precisará se desenvolver melhor
do Cerrado brasileiro, como tem sido feito com a Floresta Amazônica. O mecanismos para garantir a não aquisição de soja produzida em
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áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia e terá que ser mais flexível em sua biomas/fechados.
Myers, N., Mittermeier, RA, Mittermeier, CG, Fonseca, GB, Kent, J., 2000. Biodiversidade
posição, até agora irredutível, em relação ao desmatamento e à moratória no
hotspots para prioridades de conservação. Natureza 403, 853–858.
Cerrado. Caso contrário, os esforços da ASM e da “Soja Plus” nada mais serão do Noojipady, P., Morton, DC, Macedo, MN, Victoria, DC, Huang, C., Gibbs, HK, Bolfe, EL, 2017. Emissões
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