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Sistema extensivo versus sistema silvipastoril intensivo para pecuária de leite

na Amazônia Brasileira: produtividade, benefícios socioeconômicos e
ecossistêmicos para mitigação e...

Conference Paper · May 2015

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Gabriel Cardoso Carrero Murilo M. F. Bettarello

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3° Congreso Nacional de Sistemas Silvopastoriles - VIII Congreso Internacional de Sistemas Agroforestales

Sistema extensivo versus sistema silvipastoril intensivo

para pecuária de leite na Amazônia Brasileira: produtividade,
benefícios socioeconômicos e ecossistêmicos para
mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
G. C. Carrero; M.M. Bettarello; A. Vicente; M. Alcântra, M.C. Cenamo.

Resumo

Este trabalho apresenta os resultados preliminares após 214 dias de implantação e adaptação de um módulo de sistemas sil-
vipastoris intensivos (SSPI) em Apuí, Amazonas, Brasil. O SSPI compreende 4,4 hectares dividido em 22 piquetes com 9
linhas com 403 árvores madeiráveis e leguminosas. Os resultados preliminares mostram que este sistema comporta 227% mais
unidades animais (U.A.) por hectare (from 1,08 to 3,5 U.A./ha) que produziram 11% mais leite por indivíduo comparado ao
sistema de uso extensivo anterior. A produção de leite por hectare/ano passou de 1.197 para 7.163 litros. A área necessária para
suportar as 15,5 vacas em lactação também diminuiu cerca 70%. Este aumento de produtividade foi proveniente da recuperação
do solo, do pastejo rotacional e do acesso mais próximo à água. O aumento da produtividade vai atingir o seu máximo quando
as árvores estiverem exercendo sua função no sistema, a suplementação na seca for fornecida, juntamente com uma melhora
da genética do rebanho. Concluímos que que o SSPi é uma alternativa que aumenta a produtividade, os benefícios socioeco-
nômicos e contribui para as mudanças climáticas ao aumentar a resiliência e diversidade dos sistemas e reduzir a necessidade
de desmatar novas áreas.

Palabras clave:

Abstract

We present the preliminary results of implementation of a module of 4,4 ha of Intensive Silvipastoril System (ISPS) for dairy
production in Apuí, Amazonas, Brazil. The ISPS comprises 22 divisions with 9 lines planted with 403 leguminous and valued
timber trees. The preliminary results show that this ISPS carries 227% more animal units per hectare, and produced 11% more
milk per animal compared to the old extensive pasture system used. The milk production rocketed from 1,197 to 7,163 liters
per ha/year. The area of pasture needed to support the 15,5 lactating cows diminished around 70%. This gain in productivity
was due to the pasture recuperation and partitioning and closer access to water. The gain in productivity will reach its maxi-
mum when trees are playing their role in the system, supplementary fodder is provided and improved the genetic of the herd.

and adaptation to climate change through increasing resilience and diversity of the productive system and reducing the need to
deforest new areas.

Key words:

.
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – Idesam. Rua Barão de Solimões, 12, Flores- Manaus-AM, Brasil. CEP:
69058-250. E-mail: gabriel.carrero@idesam.org.br

304
 Area 1: Producción agropecuaria y forestal en los sistemas silvopastoriles y agroforestales
Introdução
O uso da terra na Amazônia brasileira se baseia na pecuária
extensiva, adotada em 75% das áreas desmatadas (Barreto
et al., 2013). Com média nacional de 1 unidade animal por
- rebanho bovino do Estado do Amazonas, com 140.000 cabe-
zônia as médias são menores quanto mais longe de centros
0,6 a 0,75 unidades animais por hectare. Para se reduzir o
desmatamento deve-se aumentar a produtividade, liberando
terras para conservação e outros usos (Martinelli et al., 2010,
Lambin e Meyfroidt, 2011, Barreto et al. 2013, Para transfor-
mar os solos degradados em sistemas silvipastoris intensivos
- Fearnside, 2011). Estes agricultores familiares dependem da
nutrientes para acelerar a produção de biomassa e melhorar a
matéria orgânica do solo (Calle et al, 2012). SSPIs aumentam
a resiliência do solo à degradação e à perda de nutrientes, se-
questra grandes quantidades de carbono (1,2 a 6,1 toneladas/
ha/ano) (Ibrahim et. al., 2010; Udawatta e Jose, 2011), reduz
emissões de gases de efeito estufa (Nair et al., 2011) e con-
tribui para proteger recursos hídricos (Chará, 2010) e liberar
terras degradadas para proteção.
A agricultura familiar é responsável por 58% da produção de
leite no Brasil, que cresceu 4,5 vezes em 10 anos, 7 para 32
bilhões de litros anuais (IBGE, 2006). Na região Norte o in-
cremento foi de apenas 0,4 vezes passando de 846 milhões
para 1,22 bilhões de litros, representando 5,7% da produção
nacional. O potencial de crescimento é grande, visto a gran-
de quantidade de agropecuaristas e a dependência de impor-
tar produtos lácteos de outras regiões do Brasil para suprir
a demanda do Norte, sendo que a produtividade da região é
bastante baixa.
Na região sul do Amazonas, no município de Apuí, a expan-
Materiais e métodos
A região de Apuí (Figura 1) apresenta altitude média de 135
m acima do nível do mar, com relevo plano a moderadamente
ondulado (Radambrasil, 1978), precipitação anual está en-
Figura 1:
são da fronteira agrícola continua a ter taxas crescentes de
desmatamento, enquanto na Amazônia como um todo tem
reduzido desde 2006 (Inpe, 2014). Apuí tem o segundo maior
ças (ADAF, 2014) com cerca de 30% deste rebanho de dupla
aptidão, para carne e leite (IDAM, 2012). Em Apuí, embora
haja uma terça parte do pecuaristas que parecem ter motivos
especulativos para com a produção pecuária de corte, cerca
de um terço ainda são pequenos agricultores familiares que
migraram de regiões do sul e sudeste do Brasil para tentar a
vida com a produção agropecuária na Amazônia (Carrero e
para a sustentabilidade, principalmente pela geração regular
et
2001).
Em Apuí, desde 2011, o Idesam e parceiros já testaram um
modelo de pastejo rotacional semi-intensivo de cria, que se
mostrou uma opção viável para produtores de gado de corte,
obtendo receitas médias de 3,3 vezes e taxa interna de retorno
marginal de até 15% maiores que o sistema de pastejo extensi-
vo (Carrero et al., 2014). Para produtores de leite, desde 2013
o Idesam está testando os SSPI, que conseguem manter taxas
ainda maiores de lotação (até 4,5 UA/ha) sendo menos depen-
dentes de insumos externos e menos susceptíveis à variação
de secas (Calle et al. 2012; Calle et al. 2013). Combinando
pastagens melhoradas, arbustos forrageiros e árvores madei-
reiras e leguminosas, o SSPI pode ser pastoreado diretamente
realizando também o manejo sustentável da água (Murgueitio
e Solorio 2008). Este trabalho apresenta os resultados prelimi-
nares na implantação e adaptação de um módulo de SSPI na
Amazônia Brasileira.
tre 2800-3100 mm e a temperatura média anual é de 26°C.,
2013). O tipo de solo predominante é latossolo vermelho-
305
3° Congreso Nacional de Sistemas Silvopastoriles - VIII Congreso Internacional de Sistemas Agroforestales

para as árvores, depois aplicado herbicida, calcário e adubo.

produtores tem em média fazendas de cerca de 345 hectares
(Carrero e Fearnside, 2011), embora os produtores leiteiros
considerados agricultores familiares possuem em média 240
- X 40cm. Dessas árvores, 225 (56%) são leguminosas de 10
da e 2% outros usos (Idesam, 2014).
A área principal de estudo compreende em uma propriedade
rural familiar de140 hectares, sendo 101 ha de pastagens e 37
familiar é de 134 cabeças com cerca 60% sendo ¾ zebuíno e
30% ½ zebuíno. Representa 110 Unidades Animais (U.A.),
com capacidade animal de 1,09 U.A./ha antes da implantação
do SSPI. As principais características químicas do solo franco
argilo arenoso desta unidade são típicas dos solos de baixa
fertilidade da Amazônia: pH = 4,1 (dissolvido em CaCl2) P re-
sina = 3, CTC = 51; H+Al = 46, K% = 94;Ca% = 6,84 (CTC:
mmolc/dm3) e V%=10,1.
A implantação do SSPI realizada de fevereiro a março de 2014
num retângulo de 220 por 160 metros, de 4,4 hectares ocupado
pela gramínea Brachiaria brizantha que foi recuperada com
2 toneladas de calcário dolomítico (PRNT 92%) e 150kg de
superfosfato simples por hectare. No sentido mais comprido,
foram abertas faixas a cada 20m para a implantação das árvores
- riamente durante a ordenha nos meses de junho à dezembro
toca com trator de pneu de 75 cv e gradagem apenas nas linhas
Foi realizado o plantio de 403 árvores de 18 espécies em 9
linhas com espaçamento 5 X 20m, com 500g de composto
orgânico e 200g de calcário dolomítico por cova de 40cm
espécies: Inga edulis; Gliricidia sepium; Erythrina poepi-
; Dipterix odorata; Leucaena
leucocephala var. cunningham; Copaifera glycycarpa e C.
piresii; Schizolobium amazonicum e Stryphnodendron pul-
cherrimum. As 8 espécies madeiráveis com óleos, frutos e
látex são
e Manilkara huberi.
Entre as árvores nas linhas foram plantadas 4 estacas de mar-
garidão (Tithonia diversifolia). Adicionalmente, foi realizado
o plantio de um banco de sementes e forragens com 1500m²
de Leucaena leucocephala var. cunningham e 1500m² de mar-
garidão para fornecer forragem para o gado na época da seca.
Após o plantio das mudas foram construídas cercas duplas
-
lado o sistema hidráulico para garantir água em cada piquete.
Os animais foram soltos na área em 15 de maio de 2014, e
monitoramento de suas produções leiteiras foi realizado dia-
de 2014, totalizando 7 meses ou 214 dias avaliados.

Resultados e discussão
Os resultados do monitoramento da produção leiteira resultou
em 18.489 litros (média de 2.641 litros/mês) para os 214 dias,
cerca de 5 vezes mais que a média do pastejo extensivo . O
número médio de vacas na área foi de 15,5 vacas, com uma
lotação média de 3,5 vacas por hectare (Tabela 1).
Ao extrapolar para um ano completo a produção seria de
7.167 litros de leite por hectare ano, com uma média de 86,4
litros de leite por dia. A produção de leite pode ser ainda
maior, visto que os meses entre janeiro a maio é período de
chuvas, aumentando a produtividade do capim e podendo su-
portar maior lotação de animais lactantes.
Ao comparar os resultados obtidos com o SSPI com os dados
obtidos no diagnóstico produtivo antes da anterior à sua im-
plantação e considerando a quantidade de vacas em lactação
- de produtividade do SSPI ainda não foi atingido, sendo o
dutividade e renda por hectare aumentaram 263%, liberando
10 hectares (69%) da área anteriormente utilizada pelo siste-
ma extensivo (Tabela 2). As árvores e arbustos ainda estão no
início de seu desenvolvimento, não atuando ainda como fonte
de matéria orgânica para melhoria da fertilidade do solo, nem
como barreiras para o vento, diminuindo a perda de água da
pastagem por evapotranspiração.
É sabido que a inadequada suplementação de concentrados
explica a baixa produtividade de leite por unidade de área do
sistema produtivo extensivo (Tourrand et al., 1998). As vacas
desse estudo, além de serem de genética pouco produtiva, não
receberam ainda suplementação, e também ainda não estão
desfrutando do microclima que as árvores propiciarão.
Estes fatores somados indicam que o potencial de aumento

Tabela 1. Parâmetros avaliados do SSPI em comparação à média do sistema extensivo de Apuí.

SSPi avaliado* Média Média anterior
Parâmetro Jun Jul Ago Set Out Nov Dez SSPi* eextensivo**
Dias 30 31 31 30 31 30 31 30 30
Vacas em lactação 13 14 15 16 17 17 16 15,5 4,8
U.A./hectare 2,9 3,3 3,4 3,6 3,9 3,9 3,6 3,5 1,08
Litros/mês 2.122 2.537 2.604 2.690 2.750 2.965 2.821 2.641 727
Litros/dia 71 82 84 90 89 99 91 86 24
Litros/vaca/dia 5,5 5,7 5,6 5,6 5,2 5,7 5,7 5,6 5,0
Litros/ha/mês 482 577 592 611 625 674 641 600 105
Área Unidade (ha) 4,4 4,4
* Dados da pesquisa; ** dados diagnóstico (IDESAM, 2014).
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 Area 1: Producción agropecuaria y forestal en los sistemas silvopastoriles y agroforestales

Tabela 2. Comparação entre sistema silvipastoril intensivo e sistema extensivo anterior de pastejo para um rebanho de 15,53 vacas em pro-
priedade rural familiar em Apuí.
Parâmetro Silvipastoril Intensivo* Pastoril Extensivo** Razão (%) SSPI/Extensivo
Área utilizada (Hectares) 4,4 14,4 -69%
Lotação (Vacas/Hectare) 3,5 1,08 227%
Leite produzido (litros/vaca/dia) 5,56 5,0 11%
Litros/dia 86,3 77,7 11%
Leite produzido (litros/ha/ano) 7.163 1.971 263%
0%
263%
* Dados da pesquisa; ** dados diagnóstico (IDESAM, 2014).

aumento apenas devido à recuperação de manejo rotacional
das pastagens. Na próxima estação seca será providenciado
forragem proteica suplementar de -
cephala e cana de açúcar, o que deverá, em conjunto com a
maior qualidade do microclima, resultar em aumento de pro-
dução de leite por dia. Com a genética de ¾ a ½ zebuíno das
vacas atuais e com o pastejo intensivo rotacional, a produção
aumentou de 5,0 litros vaca/dia para 5,6 litros, provavelmente
devido à melhoria das pastagens e curtas distancias, Caso se
introduza vacas mais produtivas, a produtividade poderia do-
brar facilmente.
O SSPI tem liberar cerca de 70% de áreas para conservação e
outros usos, reduzir a quantidade de se desmatar novas áreas
aumentada junto com os serviços ecossistêmicos e a renda do
produtor. Este modelo pode ganhar escala mais facilmente
com um mecanismo de pagamento por serviços ambientais.
Sem isso, a assistência técnica e o acesso ao crédito rural são
os fatores limitantes (Carrero et al., 2014), já que as técnicas
para manejar o gado e as árvores ainda estão sendo conheci-
das e os custos de implantação do SSPI são cerca de 6 vezes
mais do que o sistema extensivo (Calle et. al. 2012).

Conclusões
Apesar de recente implantado no sul do Amazonas, o mo-
delo de SSPI avaliado tem potencial de reduzir a necessi-
dade de desmatar novas áreas ao aumentar em 263% a pro-
dutividade por hectare, somente pela divisão e recuperação
das pastagens. Quando as árvores estiverem funcionais no
sistema e as vacas estiverem recebendo suplementação de
concentrados, os ganhos poderão atingir de 4 a 8 vezes a
produtividade do sistema extensivo, ainda mais se melhorar
a genética leiteira do rebanho. O SSPI se mostrou indicado
para pequenos produtores de leite na Amazônia, pois pode
facilmente triplicar a produtividade por área além de reduzir
a necessidade de insumos externos, aumentar a resiliência
do solo, a diversidade e o estoque de carbono. O SSPI ainda
contribui para reduzir em três vezes a necessidade de pasta-
gens assim reduzir o potencial de emissões provenientes do
desmatamento tropical.

Agradecimentos

-
sultoria pelo apoio técnico, à Prefeitura de Apuí e ao produtor rural Lourizete Morais pela parceria. Aos técnicos Julio Fabiano
Almeida, Gleisson H. D’Avila e Kátia Schmidt pelo apoio de campo.

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