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CADEIAS PRODUTIVAS DE

BOVINOS DE LEITE E DE
CORTE
Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

GRADUAÇÃO
AGRONEGÓCIO

MARINGÁ-PR
2012
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva


Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenação de Marketing: Bruno Jorge
Coordenação Comercial: Helder Machado
Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha
Coordenação de Curso: Silvio Silvestre Barczsz
Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura
Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Luiz Fernando Rokubuiti e Thayla Daiany Guimarães
Cripaldi
Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo
Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Gabriela Fonseca Tofanelo, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina
Kutsunugi e Maria Fernanda Canova Vasconcelos

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR




CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
a distância:
C397 Cadeias produtivas de bovinos de leite e de corte/ Fábio da
Silva Rodrigues - Maringá - PR, 2012.
218 p.

“Graduação em Agronegócio - EaD”.




1. Agronegócio 2. Cadeias produtivas. 3.Bovinos. 4.EaD. I. Tí
tulo.

CDD - 22 ed. 338.1


CIP - NBR 12899 - AACR/2

“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.

Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br
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CADEIAS PRODUTIVAS DE
BOVINOS DE LEITE E
DE CORTE

Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues


APRESENTAÇÃO DO REITOR

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos.
A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para
liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no
mundo do trabalho.

Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos
nossos fará grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso


de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos
brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas


do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-
extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que
contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade.

Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referên-
cia regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de compe-
tências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação
da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social
de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também
pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação
continuada.

Professor Wilson de Matos Silva


Reitor

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Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de
Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se
fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da
realidade social em que está inserido.

Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o
seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação,
determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas
necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que,
independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se
presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.

Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente,
você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada
especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do
material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de
estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para
a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu
processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências
necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa.

Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os
textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos
fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados,
pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os
desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe
estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie
a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma
comunidade mais universal e igualitária.

Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem!

Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo

Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR

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APRESENTAÇÃO

Livro: CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE

Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

Saudações, prezado(a) aluno(a)!

Seja bem-vindo(a) ao estudo das Cadeias Produtivas de Bovinos de Leite e de Corte!

Antes de qualquer coisa, deixe que me apresente: sou o professor Fábio da Silva Rodrigues,
formado em administração pela UEM, Universidade Estadual de Maringá, com especialização
em Economia e Gestão do Agronegócio, também pela UEM e com Mestrado em Agronegócios
pela UFMS, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Se quiser saber mais sobre minha produção acadêmica, científica, sobre as pesquisas
desenvolvidas, artigos, trabalhos e temas de interesse, acesse o link do meu currículo lattes/
CNPq e saiba mais sobre o que pesquiso <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.
jsp?id=K4501271Y9>.

Sou o organizador e responsável pelo desenvolvimento deste livro, em que procurei abordar os
principais temas pertinentes às cadeias produtivas envolvidas. Espero que possa de alguma
forma contribuir com a sua formação nesse processo de aprendizado, que na verdade, é uma
troca de experiências e conhecimentos a respeito dos assuntos pertinentes ao agronegócio,
em específico, das cadeias produtivas de carne bovina e leite.

Quanto ao livro, o mesmo foi organizado e feito especialmente para você, com a finalidade
exclusiva de introduzi-lo no conhecimento das cadeias produtivas de carne bovina e do leite.
Para tanto, é fundamental que ele seja aproveitado da melhor forma possível, visando à melhor
retenção do conteúdo ensinado, pois não basta apenas que façamos leituras superficiais dos
textos, e sim, façamos a retenção do conhecimento.

E como reter conhecimento? Geralmente, somos bombardeados com um excesso de


informações, principalmente oriundas da internet; ou ainda, recebemos na faculdade uma
série de dados e/ou informações que não conseguimos armazenar e apenas guardamos
temporariamente em nossa memória para que tenhamos bom desempenho na prova. Chega
disso!

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O que você precisa fazer é desenvolver a capacidade de assimilar conhecimentos, e
conhecimento é um processo de conversão primeiramente de dados, que são brutos, em
informações e por sua vez de informações, que são organizadas, em conhecimento, que é
aquilo que efetivamente nós levamos daquilo que estudamos.

Desta forma, a função desta apresentação é mostrar algumas contribuições para que você
possa assimilar da melhor forma possível o conteúdo do livro sobre cadeias produtivas da
carne bovina e leite. Para tanto, apresento a organização do mesmo, a divisão das unidades e
faço recomendações de textos, artigos, livros, vídeos e links interessantes que podem facilitar
ainda mais essa retenção do conhecimento, alguns deles presentes no próprio livro e que faço
novamente a recomendação para aprofundamento sobre o tema.

No Livro, sempre são colocadas questões que visam estimular a sua reflexão, caro(a) aluno(a),
para que possa compreender, ter análise crítica e analítica e possa “pensar” o tema estudado,
sob o título de “Reflita” . Sempre que possível, faça essa experiência!

Ao longo do material apresentarei links interessantes para que você possa acessar e saber
mais sobre determinado assunto, sendo desde vídeos até artigos e outros materiais adicionais
sobre o tema estudado.

Em linhas gerais, vamos estudar, conhecer e compreender as principais características da


Cadeia Produtiva da Carne Bovina e do Leite. Em um primeiro momento, estudaremos a
Cadeia Produtiva da Carne Bovina em todos os seus elos, bem como os métodos de produção,
o panorama complexo da carne no mundo e no cenário nacional.

Da mesma forma, em momento posterior, abordaremos estudos sobre a cadeia produtiva


do leite, abrangendo aspectos como produção, consumo, principais países produtores e a
participação do Brasil no cenário mundial, bem como os desafios e oportunidades do setor,
dentre outros aspectos pertinentes.

Saliento que mesmo estudando alguns aspectos técnicos essenciais ao conhecimento e


aprendizado sobre essas cadeias produtivas do agronegócio, que servem de base para o
entendimento do tema, o foco principal deste estudo será a gestão aplicada à Cadeia Produtiva
da Carne Bovina e do leite.

Sempre tenha isso em mente: o que nos interessa é a gestão das cadeias produtivas! Mais

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do que saber produzir carne com qualidade, o importante é saber fazer a gestão da cadeia
produtiva e, por sua vez, dos negócios envolvidos de montante e jusante na cadeia produtiva.
Quanto à produção no agronegócio, o Brasil é imbatível quando nos limitamos ao ambiente
“dentro da porteira”, no entanto, quando chegamos ao ambiente “fora da porteira” é que os
desafios surgem.

Como presumo que você seja, também sou um apaixonado pelos temas do agronegócio. Além
de gostar é importante que nos aprofundemos sobre os temas próprios do agronegócio. Saber
mais sobre cada cadeia produtiva é a nossa obrigação enquanto profissionais e/ou estudantes
de alguma forma vinculados ao mundo do agribusiness.

Uma das mais apaixonantes e importantes áreas de conhecimento do agronegócio é a


bovinocultura. A Bovinocultura de corte tem relevante importância, não somente pelas
propriedades nutricionais contidas em seu principal produto, a carne bovina, que por si só já
seria suficiente, mas tem grande importância econômica e social para o país.

Na Unidade I do nosso material didático, iniciaremos com o conhecimento sobre o que é


uma cadeia produtiva, atentando para os seus aspectos teóricos, bem como seus aspectos
práticos, para podermos então, entender como funciona a Cadeia Produtiva da Carne Bovina
em específico.

Sobre a introdução ao agronegócio e para conhecer seus fundamentos, as questões afeitas


a cadeias produtivas e sistema de commodities, bem como aplicações gerenciais pertinentes
ao agronegócio, as maiores referências são os estudos dos professores Décio Zylberstajn e
Marcos Fava Neves, do grupo PENSA/USP e do professor Mario Otávio Batalha, do grupo
GEPAI-UFSCAR.

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ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. (Coord.),
Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares,
São Paulo: Pioneira, 2000.

BATALHA, M. O. Gestão Agroindustrial. GEPAI


– Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais
/ coordenador Mário Otávio Batalha, 2º ed. São
Paulo: Atlas, 2001.

Na continuidade desta primeira Unidade, vamos estudar, conhecer e compreender as principais


características da Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Estudaremos a cadeia produtiva em
todos os seus elos, bem como os métodos de produção, o complexo panorama da carne no
mundo e no cenário nacional.

Veremos que a Cadeia Produtiva da Carne Bovina é de importância singular para o agronegócio
nacional e para a economia como um todo. A carne bovina ocupa posição de destaque na
pauta de exportações nacionais, contribuindo significativamente para o superávit da balança
comercial observado nos últimos anos, já que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais e
umdos maiores exportadores. Outro fator a ser considerado é a geração de empregos diretos
e indiretos, ligados à montante ou a jusante à Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

Como poderemos observar, a Cadeia Produtiva da Carne Bovina possui elos muito
heterogêneos, onde convivem, desde grandes produtores rurais até pequenos produtores da
agricultura familiar, bem como desde grandes grupos da indústria frigorífica até matadouros

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de pequeno porte. Talvez por isso, os relacionamentos entre os agentes da Cadeia Produtiva
da Carne Bovina apresentam situações de conflito, demonstrado em muitas situações,
coordenação deficitária.

Ainda assim, a Cadeia Produtiva da Carne Bovina apresentou avanços consideráveis nas
últimas décadas. Tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, associações e cooperativas,
coordenação da cadeia, ainda incipiente é verdade, são fatores que contribuíram com o
avanço da qualidade dos produtos. Talvez por isso, a carne bovina seja a proteína animal
preferida entre os consumidores brasileiros, chegando a algo próximo a 40 kg/ano de ingestão
per capita.

O aumento da fiscalização, o controle sanitário (embora ocorressem casos de febre aftosa),


o empenho e profissionalismo de determinados produtores, a deliberação de padrões
de qualidade determinados por órgãos responsáveis, atendendo às novas demandas do
consumidor, tornaram a Cadeia Produtiva da Carne Bovina mais profissionalizada ao longo
dos tempos, fornecendo gradativamente melhores produtos, no que se refere à qualidade
entregue ao consumidor.

Aliado a este processo, entendemos que uma coordenação eficiente da Cadeia Produtiva da
Carne Bovina poderia permitir diversos avanços significativos no funcionamento e na dinâ-
mica, já que alguns benefícios poderiam ser sentidos, tais como a estabilização da oferta de
matéria-prima, garantia de qualidade e quantidade, troca de informações entre os agentes,
aumento da qualidade, acesso a novos mercados, maior representatividade em mercados in-
ternacionais, bem como agregação de valor ao produto, para citar alguns possíveis benefícios.

Como adiantei, a organização da Cadeia Produtiva da Carne Bovina ainda é incipiente, devendo
ser tratado com maior diligência. Embora alguns órgãos tentem organizar o setor, problemas
culturais ainda impedem maior harmonia entre os elos da cadeia produtiva, o que se configura
como “um tiro no pé”, já que a maior prejudicada é a própria cadeia produtiva.

Desta forma, um dos maiores desafios que se apresenta ao nosso país é a manutenção deste
status de grande potência e maior exportador, alcançado no cenário mundial da carne bovina.
Como podemos observar, na Cadeia Produtiva da Carne Bovina, muitos desafios ainda
carecem de superação.

Acredita-se ainda, que muitas barreiras culturais devam ser vencidas, para que a cadeia

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consolide sua posição. A introdução de conceitos de gestão profissional e comercial nas
organizações rurais, nas empresas rurais, é um fator crítico para o sucesso das organizações
que enfrentam problemas na condução de seus negócios. Muitas dessas organizações já
compreenderam essa necessidade de gestão e, por isso, estão à frente dos concorrentes.

Como sugestão de leitura e aprofundamento dos estudos técnico-científicos sobre a Cadeia


Produtiva da Carne Bovina, indico o material desenvolvido e organizado por Alexandre Vaz
Pires, Professor associado do Departamento de Zootecnia da ESALQ/USP.

PIRES, A. V. Bovinocultura de Corte. 1. ed.


Piracicaba: FEALQ, 2010. v. 2. 1510 p.

Outra referência de estudo que pode ser utilizada para o estudo sobre Cadeia Produtivas, em
foco as Cadeias Produtivas do Leite e da Carne Bovina, é a obra organizada por Ivanor Nunes
do Prado e José Paulo de Souza, ambos professores da Universidade Estadual do Maringá.

PRADO, I. N., SOUZA, J. P. (org.) Cadeias


Produtivas: estudos sobre competitividades
e coordenação. Maringá: Eduem, 2007, p.
173.

O foco do livro organizado por Prado e Souza (2007) tem significativa relevância, por tratar dos
aspectos de competitividade e coordenação de cadeias produtivas selecionadas, tais como os

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estudos sobre carne bovina e leite. Vale a pena conferir e se aprofundar sobre o tema.

Na Unidade II estudaremos sobre as Boas Práticas na Produção de Bovinos de Corte. Como


sabemos, a busca pela qualidade se tornou condição essencial na busca por vantagens
competitivas, sobretudo, no período pós-globalização. Alguns ainda afirmam que qualidade
deixou de ser diferencial para ser condição obrigatória para competir em qualquer nível de
mercado ou setor.

No Brasil, principalmente nas duas últimas décadas, temos o CDC - Código de Defesa do
Consumidor – que garante direito a este consumidor; quando alguém descumpre algo que fere
esse consumidor, o mesmo já procura seus direitos, se dirigindo ao PROCON ou outro órgão
de defesa do consumidor. Em suma: os consumidores estão mais informados!

Se no Brasil é assim, pense em nível mundial. Os mercados mais exigentes do mundo, tais
como Europa, Japão, que são tradicionais clientes do agronegócio nacional, atingiram esse
nível de maturidade, sobretudo, no que se refere à exigência de qualidade dos produtos.

E outra questão: quando falamos em alimentos, a questão da qualidade é ainda mais séria,
porque, diferente de outros produtos, os alimentos são ingeridos pelas pessoas, o que
pode causar sérios problemas ou ainda levar o consumidor a óbito caso este não atenda as
legislações vigentes.

Na Cadeia Produtiva da Carne Bovina, alguns esforços têm sido feitos no sentido de garantir a
qualidade do produto, em todas as suas fases de produção, desde o nascimento ou, antes do
nascimento, até o abate ou, após o abate do animal.

Carne orgânica, certificada, rastreabilidade, identificação animal, SISBOV, bem-estar animal,


desenvolvimento sustentável, respeito ao meio ambiente e às pessoas, visão holística
ou sistêmica e gestão são temas que todos devem ter ouvido falar e recentemente foram
introduzidos na discussão da Cadeia Produtiva da Carne Bovina que, no entanto, ainda carece
de maior aprofundamento.

Sem planejamento nada funciona, nem a produção de gado de corte. Aplicar os princípios da
gestão à propriedade rural torna-se imperativo, é lição de casa: planejamento, organização,
direção e controle.

O equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental deixa de ser “papo de ecochatos” como se
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falava anos atrás, para ser uma condição de competição em alguns mercados, principalmente
os mais exigentes. Bem-estar animal e bons tratos no manejo são essenciais, como pode ser
observado, exigência de mercado em muitas ocasiões.

A garantia de procedência dos produtos, em foco a carne bovina, pode ser assegurada pelos
sistemas de identificação, rastreabilidade e certificação. Neste contexto, o papel do SISBOV é
fundamental, sobretudo, na promoção de sua credibilidade. As organizações certificadoras de
alimentos, tais como as que identificam animais como orgânicos ou garantem a procedência
da carne consumida tem tido grande destaque, principalmente quando se atendem mercados
mais exigentes.

Assim, a participação efetiva dos agentes inseridos no ambiente institucional e organizacional


da Cadeia Produtiva da Carne Bovina torna-se essencial, no que tange a garantia da qualidade,
no combate à clandestinidade, a punição aos infratores pela aplicação de penalidades, bem
como pela conscientização da população, sobretudo, pela extinção do consumo de carnes
oriundas de abates clandestinos.

Como sugestão para aprofundamento sobre o tema das Boas Práticas na Criação de Bovinos
de Corte, sugiro que acesse o link abaixo para saber mais sobre o assunto:

<http://www.youtube.com/watch?v=L-cUtTjPVYI>.

Como recomendação para aprofundamentos de leituras referentes ao tema, sugiro a obra


desenvolvida pelos pesquisadores da Embrapa Gado de corte que estabelece importantes
parâmetros para as boas práticas agropecuárias na produção de bovinos de corte.

EMBRAPA GADO DE CORTE. Boas


práticas agropecuárias - bovinos de
Corte. Editor técnico: Ezequiel Rodrigues
do Valle. Campo Grande, MS: Embrapa
Gado de Corte, 2006. 84 p. ISBN 85-
297-0203-4. Disponível em: <http://www.
cnpgc.embrapa.br/>.

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Já na Unidade III de nosso material, procurei apresentar um Panorama da Cadeia Produtiva
da Carne Bovina do Brasil, onde busquei nesta unidade, aprofundar a disponibilização de
conhecimentos e informações a respeito do caso brasileiro.

Quem nunca ouviu falar em Gado Zebu? O gado zebuíno é a principal base do plantel de gado
bovino de corte do Brasil, extremamente adaptado a regiões como o centro-oeste brasileiro. O
nelore é o principal ícone deste tipo de gado, voltado à pecuária de corte.

O fato é que em nosso país este tipo de gado, principalmente no centro-oeste, somados a
outros fatores, encontrou condições ideias de reprodução, em escala comercial. Mas em cada
região brasileira, temos um tipo de raça e maior ou menos adaptação.

Apresentando um breve histórico dos primórdios da pecuária de corte no Brasil podemos


entender e compreender um pouco mais sobre as raças que originaram o atual plantel
brasileiro, que gira em torno de 200 milhões de cabeças, variando para cima ou para baixo,
conforme a fonte de informações estatísticas.

O avanço de pesquisa e desenvolvimento, com introdução de avanços tecnológicos,


principalmente nas técnicas de reprodução e genética, bem como nas alimentares e
nutricionais, somadas a boas práticas de manejo e sanitárias, contribuíram para o avanço do
Brasil na pecuária bovina de corte, guindando o Brasil a condição de líder em exportações
mundiais no setor.

Tornamo-nos os principais exportadores de carne bovina do mundo, graças, dentre outros


fatores, às pastagens vastas, à produção extensiva, ao gado “verde” ou alimentado a pasto, ao
avanço em pesquisa e desenvolvimento, ao baixo custo de produção e aumento gradativo de
credibilidade no cenário internacional.

O Brasil atende diversos mercados ao redor do mundo, dentre eles, mercados de níveis de
exigência significativos, tais como o europeu e japonês. Um destaque se dá à capacidade
de adaptação da indústria nacional às necessidades dos diferentes tipos de consumidores,
permitindo assim, que o Brasil atenda a mercados de escopo, tais como o mercado Halal e
Kosher. O que é Halal? O que é Kosher? Você nunca ouviu falar?! Fique tranquilo!

Uma sugestão de aprofundamento sobre o assunto de abates religiosos é acessar o link abaixo
e saber mais sobre o tema:

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 15


<http://www.sba1.com/pt/videos/brasil/264/abates-religiosos-tem-aumentado-no-brasil>.

Saiba mais sobre a alimentação Kosher:

<http://www.youtube.com/watch?v=5g0NVh1os28>.

<http://www.youtube.com/watch?v=0kS8OZF6e_4&feature=related>.

Acompanhe esta interessante matéria jornalística sobre abate halal no Brasil e entenda mais
sobre o tema:

<http://www.youtube.com/watch?v=RzCKN6kMC_g>.

Um importante aspecto a ser observado é o consumo interno e a concorrência com as outras


proteínas animais. Será que a carne bovina tem “sombra” de outras carnes como o frango e
o porco, por exemplo, ou não, reina líder absoluta na preferência do consumidor brasileiro? O
que temos é que nas duas últimas décadas as concorrentes, carne suína e carne de frango, a
segunda principalmente, apresentaram considerável crescimento de consumo per capita entre
os brasileiros, enquanto a carne bovina apresentou leve e sensível crescimento

Como resposta, temos que alguns esforços, de algumas organizações ou associações, como
o caso da ABIEC, têm contribuído para um melhor desenvolvimento do setor, sobretudo, no
processo de melhoria da imagem da carne brasileira no exterior, como o programa Brazilian
Beef. O SIC, Sistema de Informações da Carne, busca compartilhar e divulgar informações
sobre a cadeia produtiva.

O que temos, é que a melhor coordenação da cadeia produtiva, sobretudo, visando a harmonia
entre os elos, geraria resultados surpreendentes ao setor. O avanço de outras proteínas
animais, como é o caso do frango, enquanto houve um processo de estabilização e/ou pequeno
crescimento do consumo de carne bovina, pode ser um alerta ao setor.

Na Unidade IV, intitulada Panorama da Cadeia Produtiva do Leite, vamos estudar, conhecer
e compreender as principais características desta cadeia produtiva. Estudaremos a cadeia
produtiva em todos os seus elos, bem como os métodos de produção, o complexo panorama
do leite no mundo e no cenário nacional. Mesmo estudando alguns aspectos técnicos
essenciais ao conhecimento e aprendizado sobre essas cadeias produtivas do agronegócio, o
foco principal deste estudo será a gestão aplicada à cadeia produtiva do leite.

16 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


No Brasil, a pecuária leiteira é predicado de pequenos produtores rurais, com pequenas
propriedades, o que a caracteriza com grande importância econômica e social. A baixa
remuneração paga aos produtores rurais é um dos principais problemas do setor, o que não
permite a especialização na atividade e o distancia de muitos dos benefícios dos avanços
científicos, tecnológicos e genéticos do setor.

O desenvolvimento tecnológico, por meio da pesquisa e desenvolvimento, melhoramento


genético, aliado aos esforços na organização da cadeia, sobretudo, por ação dos agentes
ligados ao elo dos laticínios, propiciou uma nova dinâmica e evolução considerável na cadeia,
gerando aumento da produtividade.

No Brasil, houve um aumento de produtividade considerável, embora ainda sejamos apenas


o sexto entre os maiores produtores de leite do mundo, enquanto os Estados Unidos são os
maiores produtores do mundo. Temos muito a progredir!

A introdução de mecanismos para garantia de qualidade do produto, o aumento da fiscalização


e do controle sanitário, a capacitação e desenvolvimento de produtores, como foco a atender
as novas exigências do mercado consumidor, fizeram com que a cadeia se profissionalizasse
e fornecesse gradativamente melhores produtos, entregando maior valor ao consumidor.

A “nova geração” de produtores rurais de leite do Brasil tem, por conscientização ou pelo efeito
das normas, aderido às novas tecnologias, tais como inseminação artificial, FIV, e Transferência
de embrião, e inseminação com sêmen sexado de fêmea, essencial à indústria leiteira.

A massificação do consumo com o leite UHT (longa vida) foi benéfica ao setor, já que
garantiu qualidade ao produto, embora este consumo seja ainda inferior aos padrões mínimos
recomendados pelos órgãos de referência em saúde.

A reestruturação do modelo produtivo do leite no Brasil, sobretudo, com a introdução de


normas específicas de garantia de qualidade, permitiu avanços da cadeia produtiva como um
todo, sobretudo, nos aspectos de produtividade e qualidade do produto.

No entanto, na pecuária leiteira, muitas barreiras culturais precisam ser superadas, para que
a cadeia atinja melhor status no contexto competitivo. A introdução de conceitos de gestão
nas organizações rurais é um fator crítico para o sucesso das organizações que enfrentam
problemas na condução de seus negócios. Muitas já compreenderam essa necessidade de

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 17


gestão na condução dos negócios e, por isso, estão à frente dos concorrentes.

Você já ouviu falar nos cinco passos para a rentabilidade na pecuária leiteira? Acesse o link
abaixo e saiba mais sobre o assunto:

<http://www.youtube.com/watch?v=ltNu_UB3pP0&feature=related>.

Sugestão de leitura: a Embrapa Gado de Leite, além de gerar e adaptar tecnologias para
aprimorar os sistemas de produção de leite no Brasil, preocupa-se também com a difusão e
transferência dessas informações. O livro abaixo indicado contém 500 perguntas respondidas
sobre diferentes aspectos relacionados com a produção de leite por bovinos.

Livro: Coleção 500 Perguntas 500 Respostas. Gado


de Leite - 2. ed. – Embrapa Gado de Leite.

O leitor poderá utilizar o livro para aumentar seus conhecimentos sobre pecuária de leite,
principalmente quanto a aspectos conceituais, para melhor interagir com os agentes de
assistência técnica e extensão rural.

Já na Unidade V abordaremos os desafios e oportunidades existentes na Cadeia Produtiva do


Leite no Brasil, atentando-se a aspectos como gestão pela qualidade, aparato institucional e
perspectivas, dando destaque a Instrução Normativa 51.

Entre no link abaixo e conheça profundamente a Instrução Normativa 51:

<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao

18 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


=visualizar&id=8932>.

Como já vimos, a cadeia produtiva do leite tem grande importância para o agronegócio
brasileiro e para a economia como um todo, sobretudo, pelo seu aspecto socioeconômico.
No entanto, alguns desafios ainda existem, funcionando como barreiras ao desenvolvimento
do setor; da mesma forma, as oportunidades surgem na solução dos problemas e busca de
alternativas viáveis.

A garantia de qualidade é umas exigências do consumidor contemporâneo. Ainda sabemos que


a informalidade, muitas vezes alimentada por bases culturais sólidas por parte do consumidor,
que rejeitam “leite de caixinha” ou “leite de saquinho” e prefere o leite comprado de maneira
informal, o que causa sérios danos a cadeia produtiva do leite e representa sérios riscos a
saúde humana.

E como é a qualidade do leite produzido no Brasil? Será que melhoramos nos últimos anos?
No Brasil sabemos que as diversas mudanças de comportamentos e condutas são ajustadas
ou influenciadas muito mais pela força das normas, regras e leis do que pela simples e pura
conscientização. Será que é aí que entrou em ação a IN 51?

A Instrução Normativa 51, que você estudará com maior profundidade nesta unidade, foi e
ainda é o principal elemento motivador da melhoria da qualidade do leite nos últimos anos. A
IN 51 dispõe, normatiza e regulamenta a produção de leite no Brasil. Assim, temos que a IN 51
de fato contribuiu para a melhora da qualidade do leite brasileiro.

A Instrução Normativa 51, o aumento da fiscalização e a consequente adequação do


consumidor e dos produtores, fez com a qualidade do produto fosse garantida, representado
pela pequena ocorrência de problemas ou escândalos no setor nos últimos anos, quando
comparada a uma ou duas décadas, por exemplo, embora ainda ocorram alguns problemas
como a introdução de soda cáustica no leite, para citar um caso recente.

O investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), representado pelas modernas técnicas


de reprodução, melhoramento genético, somado a busca de melhor coordenação da cadeia
produtiva, aumento da competitividade e maiores exigências sanitárias e quanto à qualidade
propiciou um considerável desenvolvimento da cadeia produtiva do leite no período pós-glo-
balização.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 19


Acompanhe no link a seguir o trabalho didático realizado pelo LIPOA/UEL – Laboratório de
Inspeção em Produtos de Origem Animal da Universidade Estadual de Londrina, onde aborda
a questão dos cuidados com as boas práticas na ordenha do leite.

<http://www.youtube.com/watch?v=udYOLdIMPJ4&feature=related>.

Você já ouviu falar sobre a vaca móvel? Acompanhe o vídeo no link abaixo e saiba mais sobre
o tema e sobre a garantia da qualidade do leite no Brasil:

<http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=143686&chann
el=99>.

No entanto, é fundamental que o pequeno produtor rural esteja inserido neste processo.
Embora algumas prefeituras, associações e cooperativas regionais estejam desenvolvendo
algumas ações para inserção destes pequenos produtores rurais nesta nova pecuária leiteira,
este processo ainda é muito incipiente.

Desta forma, alguns desafios que ainda precisam ser superados são, dentre outros, a
desarticulação entre os elos da cadeia, a carência de uma mais efetiva coordenação, a forte
concentração oligopolizada no elo comprador, bem como o crescimento lento da demanda no
mercado interno.

Bem, caro(a) aluno, seja bem-sucedido nesta empreitada do desafio do conhecimento sobre
temas tão pertinentes e importantes do agronegócio. Transformar dados em informação, e
informação em conhecimento é o que buscamos. Espero que eu tenha conseguido, de alguma
forma, ser um colaborador neste processo de aprendizado.

Aproveite seu tempo e bom estudo!

Prof. Me. Fábio da Silva Rodrigues

20 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


SUMÁRIO
UNIDADE I

A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA

CADEIA PRODUTIVA 29

ANÁLISE DOS ELOS DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA 31

PANORAMA MUNDIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA 33

ANÁLISE DOS PRINCIPAIS PAÍSES PRODUTORES DE CARNE BOVINA DO MUNDO 45

UNIDADE II

BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE

GESTÃO ECONÔMICA E GESTÃO FINANCEIRA 68

FUNÇÃO SOCIAL DO IMÓVEL RURAL 72

RESPONSABILIDADE SOCIAL 74

GESTÃO AMBIENTAL 76

INSTALAÇÕES RURAIS 80

MANEJO PRÉ-ABATE E BONS TRATOS NA PRODUÇÃO ANIMAL 84

FORMAÇÃO E MANEJO DE PASTAGENS 87

SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR 89

IDENTIFICAÇÃO ANIMAL, RASTREAMENTO E CERTIFICAÇÃO 90

CONTROLE SANITÁRIO 96

MANEJO REPRODUTIVO 97

ABATE CLANDESTINO NA BOVINOCULTURA BRASILEIRA: AVANÇOS E DESAFIOS 100


UNIDADE III

PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DO BRASIL

O REBANHO BOVINO BRASILEIRO 128

SISTEMAS DE PRODUÇÃO E TECNOLOGIAS NA PECUÁRIA DE CORTE: ALIMENTAÇÃO


E CRIAÇÃO 132

PRINCIPAIS RAÇAS BOVINAS DE CORTE EXISTENTES NO BRASIL 135

IMPORTAÇÕES 140

PRINCIPAIS MERCADOS E EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS 141

CONSUMO DE CARNE BOVINA NO BRASIL 149

UNIDADE IV

PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE

REBANHO BOVINO LEITEIRO DO BRASIL 174

A INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DO LEITE 177

TIPOS DE LEITE 180

O PROCESSO DE PASTEURIZAÇÃO 184

UNIDADE V

DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE DO BRASIL: GESTÃO


PELA QUALIDADE, APARATO INSTITUCIONAL E PERSPECTIVAS

O PROCESSAMENTO DO LEITE E A GARANTIA DE QUALIDADE 194


SANIDADE DO REBANHO 195

CUIDADOS NA ORDENHA  196

CONCLUSÃO 215

REFERÊNCIAS 217
UNIDADE I

A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA


Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

Objetivos de Aprendizagem

• Estudar as bases conceituais sobre agronegócio e cadeia produtiva.

• Conhecer a Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

• Verificar a estrutura da cadeia da carne bovina.

• Analisar os elos da Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

• Realizar um panorama da Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Breve conceituação sobre agronegócio e cadeia produtiva

• A importância econômica e social da Cadeia Produtiva da Carne Bovina do


Brasil

• A Cadeia Produtiva da Carne Bovina: estrutura, configuração e análise dos


elos ou subsistemas

• Panorama da Cadeia Produtiva da Carne Bovina: produção, exportação,


consumo
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a)!

Bem-vindo(a) aos estudos da Cadeia Produtiva de Carne Bovina!

Como presumo que vocês também sejam, sou um apaixonado pelos temas pertinentes ao
agronegócio. Além de gostar, é importante que nos aprofundemos sobre os temas próprios
do agronegócio. Saber mais sobre cada cadeia produtiva é a nossa obrigação enquanto
profissionais e/ou estudantes de alguma forma vinculados ao mundo do agribusiness

Uma das mais apaixonantes e importantes áreas de conhecimento do agronegócio é a


bovinocultura. A Bovinocultura de Corte tem relevante importância, não somente pelas
propriedades nutricionais contidas em seu principal produto, a carne bovina, que por si só já
seria suficiente, mas tem grande importância econômica e social para o país.

Mais especificamente, nesta fase do curso vamos estudar, conhecer e compreender as


principais características da Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Estudaremos a cadeia
produtiva, em todos os seus elos, bem como os métodos de produção, o panorama do
complexo carne no mundo e no cenário nacional.

Mesmo estudando alguns aspectos técnicos essenciais ao conhecimento e aprendizado sobre


essa cadeia produtiva do agronegócio, o foco principal deste estudo será a gestão aplicada
à Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Mais importante hoje do que saber produzir carne com
qualidade, é saber fazer a gestão da cadeia produtiva e, por sua vez, dos negócios envolvidos
de montante e jusante na cadeia produtiva.

Sabemos que a cadeia produtiva de carne bovina é de importância singular para o agronegócio
nacional e para a economia como um todo. A carne bovina ocupa posição de destaque na
pauta de exportações nacionais, contribuindo significativamente para o superávit da balança
comercial observada nos últimos anos, já que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais e

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 27


um dos maiores exportadores. Outro fator a ser considerado, é a geração de empregos diretos
e indiretos, ligados a montante ou a jusante à Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

A Cadeia Produtiva da Carne Bovina apresentou avanços consideráveis nas últimas décadas.
Tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, associações e cooperativas, coordenação da cadeia,
ainda incipiente, é verdade, são fatores que contribuíram com o avanço da qualidade dos
produtos. Talvez por isso, a carne bovina seja a proteína animal preferida entre os consumidores
brasileiros, com cerca de 40 kg/ano de ingestão.

O aumento da fiscalização, o controle sanitário (embora ocorressem casos de febre aftosa),


o empenho e profissionalismo de determinados produtores, a determinação de padrões
de qualidade determinados por órgãos responsáveis, atendendo as novas demandas do
consumidor, tornaram a Cadeia Produtiva da Carne Bovina mais profissionalizada ao longo
dos tempos, fornecendo gradativamente melhores produtos, no que se refere à qualidade
entregue ao consumidor.

Acredita-se ainda que muitas barreiras culturais devam ser vencidas, para que a cadeia
consolide sua posição. A introdução de conceitos de gestão profissional e comercial nas
organizações rurais, nas empresas rurais, é um fator crítico para o sucesso das organizações
que enfrentam problemas na condução de seus negócios. Muitas dessas organizações já
compreenderam essa necessidade de gestão e, por isso, estão à frente dos concorrentes.

Abordaremos esses temas referentes à Cadeia Produtiva da Carne do Boi e do Leite no


decorrer de nossos estudos, destacando o enfoque da gestão dessa cadeia. Vamos conhecer
um pouco mais sobre a Cadeia Produtiva da Carne Bovina?

28 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


CADEIA PRODUTIVA

Conhecendo a Cadeia Produtiva da Carne Bovina

Fonte: PHOTOS.COM

Prezado(a) aluno(a)! Como já observamos no início deste material, ainda nas páginas
introdutórias, foi possível perceber a importância da Cadeia Produtiva da Carne Bovina para a
economia nacional, embora reconheçamos que existem diversos desafios a serem superados,
muitos deles representados pelas barreiras culturais.

De início, o que podemos dizer é que a produção pecuária tem destaque no contexto nacional,
sendo importante item da pauta de exportações do agronegócio nacional, contribuindo com o
superávit da balança comercial brasileira.

Além desse fato, lembramos que a carne bovina é a proteína animal mais consumida no Brasil,
com cerca de 40% do consumo entre as carnes. A importância da Cadeia Produtiva da Carne
Bovina se demonstra pela ocupação do território nacional, além do que, é responsável por
grande parte dos empregos gerados pelo agronegócio.

Percebe-se que os agentes que compõem a Cadeia Produtiva da Carne Bovina apresentam
grandes diferenças entre si, já que temos desde pecuaristas dotados de recursos financeiros/
capital, até pequenos produtores descapitalizados; desde grandes empreendimentos
frigoríficos, dotados de capital e recursos tecnológicos, capazes e habilitados a atender
todas as normas dos mercados mais exigentes do mundo, bem como pequenos abatedouros,
despreparados para atender tais normas.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 29


Fonte: PHOTOS.COM

As diferenças não param por aí: além disso, contamos com produtores profissionalizados,
que fazem uso dos recursos tecnológicos mais desenvolvidos, adotam refinadas técnicas
de reprodução animal como inseminação artificial (hoje mais comum), fertilização in vitro e
transferência de embriões, por exemplo, até pecuaristas de subsistência, não profissionalizados;
a ocorrência de abatedouros não regulamentados ou clandestinos é outra realidade observada
em nosso país, um contraponto à realidade dos grandes empreendimentos agroindustriais.

Conhecer o funcionamento de qualquer cadeia produtiva, em foco a Cadeia Produtiva da Carne


Bovina, é o passo inicial para compreender a forma de atuar, de administrar organizações
inseridas em um dos elos da cadeia. Com o acirramento da competição mundial, a gestão da
informação tornou-se algo essencial para o sucesso das organizações.

Para tanto, esse material busca expor um panorama da Cadeia Produtiva da Carne Bovina
no contexto mundial e no contexto nacional. Dentre diversas fontes consultadas, a referência
principal para elaboração dos tópicos a seguir é um documento do MAPA – Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, intitulado “Cadeia Produtiva da Carne Bovina”, item de
uma série de publicações sobre cadeias produtivas do agronegócio nacional.

Os organizadores do referido estudo, são os pesquisadores Antônio Marcio Buainain e Mario


Otávio Batalha.

A figura 1 retrata esse conjunto, bem como os principais elos que compõem a Cadeia Produtiva

30 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


da Carne Bovina. Verifica-se, como podemos observar, a existência de cinco subsistemas,
compostos pelos seguintes agentes:

Figura 1. Brasil: Estrutura da cadeia de carne bovina

Fonte: (BRASIL, 2007)

ANÁLISE DOS ELOS DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA


• Subsistema de apoio:

Fornecedores de insumos básicos e transportadores.

• Subsistema de produção de matéria-prima:

Produção agropecuária.

Agentes responsáveis pela cria e engorda dos animais, em atenção à demanda das indús-
trias transformadoras.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 31


• Subsistema de industrialização:

Indústrias de primeira transformação: abate dos animais e obtêm as peças de carne,


obedecendo às necessidades dos demais agentes da cadeia.

Indústrias de segunda transformação: incorporam a carne em seus produtos ou agregam


valor à mesma.

• Subsistema de comercialização:

Atacadistas ou exportadores: responsáveis pela estocagem ou entrega do produto, tornan-


do mais fácil o processo de comercialização.

Varejista: fazem a venda direta da carne bovina ao consumidor final, como açougues e
supermercados.

Empresas de alimentação coletiva/mercado institucional: utilizam a carne como produto


intermediário ou facilitador, como restaurantes, hotéis, hospitais, exércitos, escolas, presí-
dios, empresas de fast food.

• Subsistema de consumo:

Consumidores finais: aqueles que adquirem a carne para o consumo; os consumidores


determinam as características desejadas do produto, gerando informações aos demais
elos da cadeia, sobre essas características demandadas.

Da mesma forma que os subsistemas apresentados, o ambiente institucional influencia


fortemente a competitividade dessa cadeia produtiva. Aspectos relacionados ao comércio
exterior, a evolução macroeconômica, a inspeção, legislação e fiscalização sanitárias,
disponibilidade e confiabilidade de informações estatísticas, legislação ambiental, mecanismos
de rastreabilidade e certificação, sistemas de inovação e outros fatores relacionados à
coordenação dos agentes, influenciam fortemente a dinâmica da cadeia (BRASIL, 2007).

Discutiremos alguns desses pontos nas páginas que seguem.

32 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


PANORAMA MUNDIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA

Tem-se como objetivo nessa unidade, apresentar as relações e o ambiente de negócios no


mercado mundial da carne bovina, considerando o desenvolvimento recente da cadeia, bem
como as perspectivas futuras. O objetivo é analisar a condição atual dos principais fornecedores
e consumidores de carne bovina do mercado mundial, analisando as oportunidades e desafios
dos players. Com base nesta perspectiva, podemos posicionar o Brasil nesse contexto
competitivo.

Rebanho bovino mundial

O rebanho mundial de gado bovino, conforme estatísticas consolidadas pelo ANUALPEC 2011,
é de 1,020Bilhões em 2007.
Fonte: PHOTOS.COM

No caso brasileiro, o que se percebe é que, após um crescimento expressivo no período


compreendido entre 1995 e 2005, algo próximo a 28%, deste período em diante o rebanho
brasileiro manteve-se estável, sobretudo, no período de 2004 até o ano de 2009.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 33


34
Tabela 1. Mundo: rebanho mundial de gado bovino* (milhares de cabeça)
País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2010**

Índia 286.079 283.103 285.000 290.000 296.500 303.000 303.500 304.000 304.000 303.100
Brasil** 176.306 176.148 177.248 176.229 171.680 169.462 171.029 174.415 177.964 181.178
China 115.678 114.334 112.354 109.908 104.651 105.948 105.722 105.430 105.060 104.889
Estados Unidos 96.100 94.403 95.018 96.342 96.573 96.035 94.521 93.701 92.550 92.000
União Europeia 91.597 90.375 89.319 89.672 88.463 89.043 88.837 88.300 87.500 86.800
Argentina 53.069 53.968 53.767 54.226 55.664 55.662 54.260 49.057 48.656 49.655
Colômbia 24.828 26.357 27.370 28.452 29.262 30.095 30.775 31.171 31.871 32.571
Austrália 27.870 26.640 27.720 27.782 28.400 28.040 27.321 27.907 28.280 28.955
México 26.011 25.199 24.309 23.669 23.316 22.850 22.666 22.192 21.697 21.252
Rússia 23.500 22.285 21.100 19.850 19.000 18.370 17.900 17.630 16.919 16.320
Venezuela 15.636 15.211 14.770 14.232 13.831 13.515 13.269 13.126 12.771 12.446
Canadá 13.446 14.555 14.925 14.655 14.155 13.895 13.180 13.013 12.288 11.528
Uruguay 12.257 12.609 12.546 12.334 11.915 11.869 11.950 11.828 11.150 11.225
Nova Zelândia 9.760 9.540 9.415 9.465 9.610 9.730 9.715 9.917 9.887 9.944
Egito 6.450 6.550 6.524 6.384 6.219 6.256 6.248 6.200 6.100 6.100
Ucrânia 9.108 7.712 6.992 6.514 6.175 5.491 5.079 4.950 4.871 4.750
Japão 4.524 4.478 4.401 4.390 4.391 4.398 4.423 4.376 4.293 4.263
Coréia do Sul 1.954 1.999 2.163 2.298 2.484 2.654 2.876 3.079 3.319 3.549

Outros Países 29.506 24.650 25.917 29.582 35.818 39.716 36.824 29.303 13.036 15.637

TOTAL  1.032.542 1.020.782 1.018.089 1.020.142 1.015.957 1.020.054 1.011.584 998.685 979.176 980.545
* Estimativa Informa Economics FNP
** Previsão

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Fonte: ANUALPEC 2011.
Produção Mundial de Carne Bovina

O desenvolvimento da produção mundial da carne bovina e de vitelo1 pode ser observado na


Tabela 2. Sabe-se que a produção aumentou consideravelmente entre 1995 e 2005, passando
de algo próximo de 48,5 milhões para 56,185 milhões de toneladas equivalente-carcaça2.

Já no período compreendido entre 2005 e 2009, conforme informações da ANUALPEC (2011),


essa produção manteve-se praticamente estagnada, já que esse volume chegou a 57,431
milhões de toneladas equivalente-carcaça em 2009.

Fonte: PHOTOS.COM

1
O vitelo é um bovino jovem que foi alimentado com leite e algumas vezes com um pouco de pasto ou ração. Quando
alimentado apenas com leite, a carne tem uma cor rosada mais clara; se consumiu pasto ou ração a carne fica mais escura
(porém, ainda rosada) e tem sabor mais acentuado. O vitelo é uma carne muito delicada, de cor rosada, sabor suave, textura
firme e aveludada. É macia e tem maior teor de água que a carne bovina, portanto reduz muito de tamanho quando é cozida.
2
O termo “peso de equivalente-carcaça” designa o peso da carne com osso quando apresentada sob essa forma, mas também
da carne desossada, convertido em carne com osso por meio de um coeficiente.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 35


Tabela 2. Mundo: produção de carnes bovina e de vitelo, principais países (milhões de
toneladas equivalente-carcaça)

PAÍSES 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 **

EUA 12.427 12.039 11.261 11.318 11.980 12.097 12.163 11.891 11.828 11.556

BRASIL* 6.952 7.159 7.577 8.151 8.544 7.808 7.431 7.618 7.778 7.505

UE-27 8.397 8.304 8.245 8.090 8.150 8.188 8.090 7.900 7.870 7.850

CHINA 5.219 5.425 5.604 5.681 5.767 6.134 6.132 5.764 5.550 5.450

ÍNDIA 1.810 1.960 2.130 2.170 2.375 2.413 2.650 2.750 2.850 2.920

ARGENTINA 2.700 2.800 3.130 3.200 3.100 3.300 3.150 3.375 2.600 2.550

AUSTRÁLIA 2.089 2.073 2.081 2.102 2.183 2.172 2.159 2.129 2.080 2.050

MÉXICO 1.725 1.950 1.900 1.725 1.550 1.600 1.667 1.700 1.731 1.775

PAQUISTÃO 925 953 979 1.004 1.300 1.344 1.388 1.457 1.486 1.450

CANADÁ 1.298 1.204 1.500 1.470 1.329 1.278 1.288 1.255 1.285 1.275

RÚSSIA 1.740 1.670 1.590 1.525 1.430 1.370 1.315 1.290 1.300 1.270

COLÔMBIA 710 670 730 750 800 820 861 921 850 850
ÁFRICA DO
645 613 655 679 725 680 678 684 690 690
SUL
USBEQUISTÃO 425 456 494 518 552 551 586 590 600 610
NOVA
588 681 697 661 648 607 644 624 619 605
ZELÂNDIA
PARAGUAY 262 285 325 370 400 380 450 500 550 580

URUGUAY 425 450 544 600 640 560 535 580 575 580
OUTROS
5.902 5.712 6.022 6.171 6.258 7.256 7.335 6.403 6.521 7.097
PAÍSES
TOTAL 54.239 54.404 55.464 56.185 57.731 58.558 58.522 57.431 56.763 56.663

*Estimativa
** Previsão
Fonte: ANUALPEC, 2011

36 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Estados Unidos, Brasil e União Europeia (UE-27) são os principais produtores mundiais de
carne bovina e de vitelo, embora os maiores rebanhos pertençam ao Brasil, Índia e China.

Observa-se que os maiores rebanhos, por si só, não representam um melhor desempenho em
relação à produção de carne bovina. Os Estados Unidos, por exemplo, que ocupam a quarta
posição no ranking dos maiores rebanhos mundiais, lidera a classificação entre os maiores
produtores de carne bovina.

Exportação mundial de carne bovina e de vitelo e consumo dos principais exportadores

Brasil e Austrália encontram-se como os maiores exportadores mundiais de carne bovina.


Com base em dados históricos, verifica-se que até 2003 os Estados Unidos eram os grandes
exportadores mundiais, porém, perderam espaço após os graves problemas de BSE3 em 2002.
Fonte: PHOTOS.COM

O Brasil, ao contrário, ganhou espaço no mercado mundial, já que se observa crescimento


de mais de 900% nas exportações no período de uma década (1995-2005), saltando de algo
próximo a 228 mil toneladas, chegando em, 2006 a superar os 2 milhões de toneladas.

No ano de 2007, as exportações de carne bovina do Brasil atingiram o volume de praticamente


2,2 milhões de toneladas e receita cambial de US$ 5,3 bilhões. Esta participação representou
à época, 28% do mercado internacional, com exportação para mais de 170 países (ABIEC,
2009).

Conforme observado na Tabela 3, o Brasil chegou ao ápice das exportações de carne bovina
no ano de 2007, alcançando o patamar de 2,194 milhões de toneladas, havendo uma seguida

3
Encefalopatia Espongiforme Bovina ou popularmente conhecida como doença da vaca louca.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 37


redução nas exportações, tanto em volume quanto em receita cambial, nos anos de 2008 e
2009, chegando a 1,9 milhões de toneladas no último período referenciado.

Dentre as causas dessa redução nas exportações, destaca-se a crise mundial ocorrida nos
últimos dois anos, como um dos principais causadores desta queda nas exportações. Outro
ponto a ser destacado se refere principalmente em relação às questões cambiais, já que o
Brasil tem sofrido desvantagens em muitas dessas relações comerciais.

No entanto, nota-se que as exportações dos demais países mantiveram-se praticamente


inabaladas, havendo apenas uma queda mais sentida no Brasil. Alguns especialistas destacam
que as restrições impostas pelo mercado europeu à carne bovina do Brasil, sobretudo quanto
a exigências de rastreabilidade animal, descredenciando algumas propriedades habilitadas a
exportação a esses mercados, pode ter influenciado nesse aspecto.

Tabela 3: Exportações Mundiais de carne bovina (mil toneladas equivalente-carcaça)


Países 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011**
Brasil* 929 1.208 1.630 1.857 2.100 2.194 1.829 1.611 1.547 1.795
Austrália 1.343 1.241 1.369 1.388 1.430 1.400 1.407 1.364 1.325 1.325
EUA 1.110 1.142 209 316 519 650 856 878 1.036 1.002
Índia 411 432 492 617 681 678 672 609 700 725
Canadá 657 413 603 596 477 457 494 480 525 530
Nova Zelândia 475 548 594 577 530 496 533 514 510 496
Uruguay 225 282 354 417 460 385 361 376 380 390
Paraguay 80 78 115 193 240 206 233 254 290 310
Argentia 345 382 616 754 552 534 423 655 300 300
União
Europeia 580 438 363 253 218 140 204 148 160 160
Nicáragua 44 49 58 59 68 83 89 101 115 115
México 10 12 19 32 39 42 42 51 60 72
China 37 36 52 76 85 81 58 38 45 42
Jordânia 2 11 11 10 7 7 13 20 30 30
Ucrânia 185 207 111 80 21 50 24 27 28 28
Costa Rica 13 17 16 20 16 17 21 23 23 23
Outros Países -12,7 0,1 44,9 68,7 59,4 150 231 173 179 65
TOTAL 6.433 6.496 6.657 7.314 7.502 7.570 7.490 7.322 7.253 7.408
*Estimativa Informa Economics FNP

** Previsão

Fonte: ANUALPEC 2011

38 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Segundo a ABIEC, no ano de 2010 as receitas com exportações de carne bovina cresceram
16%. No período em análise, as vendas brasileiras de carne bovina ao exterior renderam
US$4,795 bilhões, representando um crescimento de 16% ante os US$ 4,118 bilhões
alcançados no ano de 2009, impulsionado pelo aumento de 18% nos preços praticados (US$
3.897/tonelada).

Quanto ao volume exportado, segundo apurado, houve redução de quase 4% nos embarques,
passando de 1,611 milhão de toneladas em 2009 para 1,547 milhão de toneladas em 2010.

O resultado alcançado em 2010 ficou abaixo das estimativas da ABIEC, que previa US$ 4,9
bilhões de receita cambial no período. No entanto, o volume exportado superou as expectativas
da associação, que previa 1,64 milhões de toneladas.

Já em relação ao consumo de carne bovina e de vitelo, observa-se uma estabilização no


consumo mundial, destacando as posições dos Estados Unidos, UE-27, Brasil e China como
maiores mercados, sendo responsáveis por cerca de 60% do consumo mundial no ano de
2006.

O crescimento no consumo de carne bovina observado na década compreendida entre 1995 a


2005 não se confirmou no período 2005 a 2009, já que nota-se uma estabilização no consumo
dos diversos países.

Para termos uma ideia desse fenômeno, a China, que praticamente havia dobrado o consumo
entre 1996 e 2005, graças ao crescimento econômico do país, o aumento da renda da
população, além de uma gradual mudança nos hábitos de consumo, também sofreu esse
processo de desaceleração entre 2005 e 2009.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 39


Tabela 5 . Mundo: principais mercados consumidores de carne bovina e de vitelo
(milhões de toneladas equivalente-carcaça)

Fonte: USDA (apud ABIEC, 2010)

Como veremos adiante, o consumo per capita de carne bovina e sua comparação com outras
proteínas animais concorrentes é um bom indicador para conhecer melhor a Cadeia Produtiva

40 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


da Carne Bovina, já que atingimos o ponto focal da indústria, o consumidor.

Consumo per capita de carne bovina e comparação com o consumo de outras proteínas
animais

Fonte: PHOTOS.COM
O consumo per capita de carne bovina é um importante indicador a ser analisado. Por meio
do comportamento de consumo, informações importantes são geradas com finalidade de se
verificar o patamar de consumo, a evolução ou não, deste nos mercados consumidores, bem
como a concorrência com outras proteínas animais.

Quais estratégias a cadeia produtiva de carne bovina no Brasil precisa adotar para manutenção e
desenvolvimento da competência da indústria nacional na produção de proteína vermelha?

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 41


Tabela 4: Consumo per capita Mundial de carne bovina (Kg/pessoa/ano*)
Países 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011**
Argentina 62,2 63,4 65,0 65,6 65,5 69,2 67,5 66,5 55,7 54,0
Uruguay 60,3 49,6 56,4 55,5 53,4 51,7 50,6 58,4 55,5 53,9
Brasil 35,0 34,2 33,7 35,2 35,9 30,5 29,6 31,8 32,5 29,6
Estados 44,3 42,5 43,3 42,8 43,0 42,6 41,0 39,8 38,5 37,4
Unidos
Paraguay 30,9 34,3 34,1 28,0 24,7 26,2 31,9 35,3 36,4 37,0
Austrália 36,8 40,9 38,6 37,5 36,5 34,7 35,0 35,0 35,3 34,2
Hong Kong 12,6 13,5 13,6 14,8 14,8 15,0 19,0 24,0 30,3 32,3
Belarus 23,1 21,4 23,3 27,2 30,0 28,2 28,1 29,0 30,2 31,3
Canadá 31,0 33,8 32,0 31,7 31,3 32,4 31,2 30,4 29,5 29,2
Nova 33,6 36,6 28,2 22,7 31,1 29,8 29,5 28,5 28,0 28,0
Zelândia
Kazaquistão 19,9 21,1 22,3 23,4 25,7 27,1 27,3 26,7 26,6 26,5
Chile 21,8 23,1 23,6 24,6 21,6 23,3 21,9 24,0 25,5 25,9
Libano 20,4 22,3 23,5 25,3 24,0 22,7 22,4 24,4 24,1 24,1
Kuwait 8,5 15,6 15,9 26,1 33,9 31,9 26,6 23,8 24,0 23,9
Israel 19,3 20,2 21,2 19,1 22,0 21,3 21,5 22,4 22,0 21,7
Uzbesquistão 16,6 17,7 19,1 19,8 20,7 20,4 21,5 21,4 21,5 21,7
*Quilograma de equivalente carcaça (com osso)
** Previsão

Fonte: USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

Podemos observar na Tabela 5 uma manutenção no consumo de carne de boi ao longo dos
anos nos principais mercados consumidores. Em alguns importantes mercados e com renda
elevada como Estados Unidos e Rússia, constata-se uma redução no consumo nos últimos
anos, principalmente na Rússia.

Esse fato da redução do consumo em alguns países de renda per capita elevada pode ser
justificado pela mudança de hábitos dos consumidores, talvez pelos problemas sanitários
ocorridos, como a BSE em 2002, ou a migração de consumo da carne vermelha para proteínas

42 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


animais, consideradas ou denotadas por alguns consumidores, especialistas ou pesquisadores
como mais saudáveis, com as carnes de aves e peixes, por exemplo, embora existam ainda
muitos mitos divulgados sobre a carne bovina.

Conforme demonstrado no Gráfico 1 a seguir, pode-se notar que, embora as carnes de suíno
e de frango ocupem as primeiras colocações na preferência de consumidores, na relação per
capita, a carne vermelha não apresenta queda de consumo.

Gráfico 1. Países da OCDE4: consumo per capita de carnes, por tipo 1 (kg/habitante/
ano)

Fonte: OCDE (2006, apud Brasil, 2007)

A carne bovina é a proteína animal mais consumida pelos brasileiros. Que esforços a Cadeia Produ-
tiva da Carne Bovina precisa fazer para manter-se na liderança da preferência no mercado nacional?

4
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional e intergovernamental
que agrupa os países mais industrializados da economia do mercado. Tem sua sede em Paris, França. Na OCDE, os
representantes dos países-membros se reúnem para trocar informações e definir políticas com o objetivo de maximizar o
crescimento econômico e o desenvolvimento dos países-membros.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 43


Historicamente o consumo de carne bovina esteve diretamente associado a países e consumidores
de alta renda. No entanto, percebe-se uma diminuição ou estagnação no consumo da carne bovina
em países desenvolvidos. Quais fatores podem estar infl uenciando nessa redução/estagnação do
consumo?

Essa relação pode ser perigosa, já que o dado pode representar um ledo engano numa primeira aná-
lise menos criteriosa. Mesmo não havendo redução no consumo de carne bovina (per capita), ocorreu
um avanço considerável de outras proteínas animais concorrentes na preferência do consumidor, o
que serve como sinal de alerta, já que se acende uma “luz amarela” à Cadeia Produtiva da Carne
Bovina.
Historicamente, os países de alta renda apresentaram maiores níveis de consumo de carne bovina
em relação aos países de menor renda, dentre outras coisas, em virtude do maior custo desta, em
relação à proteína vegetal. Observa-se, no entanto uma estagnação ou diminuição do consumo de
carne bovina nos países mais ricos.
Sobre esse fato, três aspectos podem ser levantados:
I. Já foi atingido o nível de satisfação em relação a esses produtos nos países mais ricos, acontecen-
do o mesmo fenômeno no Brasil.

II. A perda de espaço da carne vermelha para a carne branca, sobretudo, à carne de frango, pois esta
goza de uma melhor imagem perante o consumidor.

III. E por fi m, um aumento de consumo nos países em desenvolvimento, graças ao aumento da renda
e nível de saciedade ainda não atingido.

44 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


ANÁLISE DOS PRINCIPAIS PAÍSES PRODUTORES DE CARNE BOVINA DO
MUNDO

Brasil

Fonte: PHOTOS.COM

O Brasil possui o segundo maior rebanho do mundo, com cerca de 205 milhões de cabeças,
perdendo apenas para a Índia, sendo ainda o segundo maior produtor de carne bovina do
mundo, com cerca de 9,2 milhões de toneladas em 2009, ficando apenas atrás dos Estados
Unidos. No que tange à exportação, o Brasil é o principal ícone neste cenário, respondendo
por cerca de 27% do mercado mundial (ABIEC, 2010; BRASIL, 2007).

Mesmo existindo sérios obstáculos internos que carecem ser superados, a cadeia
agroexportadora de carne bovina do Brasil desfruta de um contexto favorável ao aumento
da produção, das exportações, e consequente consolidação da posição de maior exportador
mundial de “proteína vermelha”.

Essa perspectiva favorável que se apresenta, tem fundamento principalmente no que tange os
aspectos produtivos e possibilidade de expansão do setor, em que pese os recentes fatos da
economia mundial que prejudicaram a Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Brasil como um
todo, sobretudo, nas questões cambiais.

A possibilidade de expansão de produção em novas fronteiras de produção, áreas degradadas,

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 45


regiões não exploradas pela agricultura comercial, associadas ao alto grau de especialização
dos profissionais e ao emprego de técnicas reprodutivas de alto nível, respaldadas pelo apoio
do ambiente institucional, permitem essa possibilidade de crescimento.

A adoção de novas tecnologias tem tornado a pecuária bovina de corte brasileira ainda mais
competitiva. Outros processos para a melhoria da qualidade da carne bovina brasileira, como a
gestão da qualidade, rastreabililidade, certificação, padronização e excelência sanitária devem
cada vez mais ser empregados, para assim, poder o Brasil ter sua posição de líder mundial
consolidada, neste segmento.

Alguns fatores podem ser destacados como pilares do atual panorama da pecuária nacional:

I. O emprego da inseminação artificial nos últimos anos.

II. O avanço científico, tanto em genética animal como melhoria dos solos e pastagens, de-
senvolvimentos de novas cultivares e forrageiras.

III. A ampliação dos projetos de confinamento.

IV. A profissionalização da criação extensiva, pela melhoria das pastagens e genética, gestão
de custos, receitas e despesas, aumento da capacidade de lotação.

V. Melhoria das práticas de sanidade e manejo ambiental.

VI. Capacitação profissional.

VII. Vantagem competitiva originada dos baixos custos de mão de obra e terra, e em com-
paração com outros concorrentes, embora, os custos de produção venham se elevando
nos últimos anos.

Para Foreign Agricultural Service (FAS/USDA, 2005), a liderança do mercado mundial de


carne bovina pelo Brasil não é um fenômeno de curto prazo, já que investimentos em gado e
na indústria da carne permanecem fortes à medida que o Brasil mantém seu foco orientado
para as exportações, sendo estes os diferenciais competitivos do Brasil.

46 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Enquanto muitos países atingiram seus limites de produção, tanto em competência produtiva
quanto em relação às condições edafoclimáticas favoráveis, o Brasil tem possibilidade de
crescimento no curto e médio prazos.

No que se refere aos obstáculos a serem vencidos, destacam-se alguns pontos que devem ser
desenvolvidos na cadeia:

I. Superação das barreiras sanitárias.

II. Aprimoramento do padrão de qualidade e reconhecimento por parte do mercado compra-


dor, dos consumidores.

III. A consolidação de uma melhor coordenação da cadeia, entre todos os seus elos, para a
construção de sinergias e de relações ganha-ganha na cadeia.

IV. Respeito internacional, pela maior representatividade nacional nos fóruns, rodadas e nego-
ciações internacionais.

V. Regulamentação e/ou eliminação, subsídios, barreiras tarifárias e barreiras “pseudosanitá-


rias”.

VI. Agregação de valor ao produto, conforme especificidades dos diferentes mercados.

O documento do MAPA sobre a Cadeia Produtiva da Carne Bovina, onde está sustentado esse
material, apresenta de maneira sintetizada no Quadro 1 um conjunto sintético de aspectos a
serem vencidos pela cadeia de carne bovina no Brasil.

Fonte: PHOTOS.COM

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 47


Quadro 1. Brasil: obstáculos a serem vencidos

1. Diferenciação de produtos: apesar da genética melhorada, o Brasil ainda produz, predominante-


mente, carne com atributos de qualidade que não atendem completamente às exigências de alguns
mercados importantes. A carne produzida no Brasil, a partir de raças zebuínas, possui característi-
cas organolépticas que não seriam bem aceitas no mercado japonês e sul-coreano, por exemplo.
Esses mercados são atendidos normalmente por Austrália e Estados Unidos, que possuem rebanho
com características diferentes do brasileiro (raças de origem européia) e que preferem consumir
animais alimentados a grãos. Vale lembrar que o Brasil não exporta para esses dois países atual-
mente em razão de problemas sanitários. No entanto, é importante que o Brasil possua uma oferta
diferenciada, de acordo com as necessidades dos mercados compradores.

2. Barreiras sanitárias: para a atividade pecuária, são relevantes as metas de eliminação de zoono-
ses e a classifi cação como área livre de aftosa sem vacinação, a certifi cação de propriedades e a
rastreabilidade dos animais; para os frigorífi cos, são relevantes os processos de classifi cação de
carcaças, a certifi cação para exportação, as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e a implantação
de sistemas de gestão da qualidade, como a Análise de Perigos em Pontos Críticos de Controle
(APPCC).

3. Padrão de qualidade: além das práticas de criação e processamento, envolve a pesquisa de mer-
cado, a pesquisa genética e a disseminação das informações, que não podem se alicerçar ex-
clusivamente nas iniciativas das instituições públicas ou entidades representativas. Impõem-se a
necessidade de um modelo empresarial mais agressivo, que tome a liderança dessas atividades.

4. Coordenação da cadeia: uma coordenação efi ciente pode ter vários impactos positivos na dinâ-
mica de funcionamento dessa cadeia agroindustrial. A estabilização da oferta de matéria-prima aos
frigorífi cos, em quantidade e qualidade, seria positiva. A manutenção da qualidade (adequação às
necessidades do consumidor) do produto fi nal que sai dos frigorífi cos é função da qualidade dos
animais entregues para o abate. A avaliação da disponibilidade de animais para o abate também
seria benefi ciada com um planejamento comum ou com a troca de informações entre os agentes da
cadeia.

Fonte: USDA Baseline Projections (2005, apud Brasil, 2007).

48 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Austrália

Fonte: PHOTOS.COM

Com cerca de 27,8 milhões de cabeças, o rebanho australiano ocupava a nona posição no
ranking dos maiores rebanhos do mundo no ano de 2005. Mesmo possuindo cerca de 2% do
rebanho mundial, a Austrália ocupa a sétima colocação na lista dos maiores produtores, tendo
sido a Líder em exportações até 2003, sendo a partir de 2004 esse posto ocupado pelo Brasil
(ABIEC, 2010).

No ano de 2009, esse país respondeu por, aproximadamente, 19,5% do total de carne bovina
comercializada mundialmente, ocupando a segunda posição nesse ranking. A capacidade de
confinamento australiana já superou 1 milhão de cabeças; a indústria de carne australiana tem
aumentado a capacidade de confinamento, tentando atender à preferência japonesa por carne
alimentada a grãos, já que o Japão compra 37% da carne bovina Australiana.

Um ponto que merece ser destacado diz respeito à modernização do atual sistema
de identificação bovina da Austrália. O Governo Federal daquele país financiará, com
aproximadamente US$ 11,6 milhões, o desenvolvimento e implementação do novo Sistema
Nacional de Identificação de Animais - NLIS (BEEFPOINT, 2005 apud BRASIL, 2007).

Argentina

Fonte: PHOTOS.COM

Com o quinto maior rebanho do mundo em 2009, cerca de 50 milhões de cabeças, a Argentina
ocupa a quinta posição entre os maiores produtores mundiais de carne bovina, respondendo

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 49


por cerca de 8% do mercado mundial (ABIEC, 2010).

Gradativamente, a Argentina tem recuperado sua posição nos mercados internacionais. Embora
países como Coreia e Japão só aceitem importar carne in natura de nações declaradas livres
da doença sem vacinação, restrições sanitárias que têm limitado as exportações argentinas
de carne para esses destinos, a carne bovina argentina têm alcançado todo o resto do mundo,
incluindo a União Europeia.

No ano de 2004, a Rússia tornou-se o principal cliente da Argentina, absorvendo 21% do total
de suas exportações, seguido por Israel com 10% e Alemanha com 9% (BRASIL, 2007).

Alguns fatores podem permitir um aumento da oferta de carne Argentina no mercado mundial
a curto e médio prazo. Esses fatores podem permitir um crescimento acelerado do setor nos
próximos anos, posicionando a carne bovina do país no mercado internacional e superando
a participação atual no comércio que foi de 7% em 2006. Entre os fatores favoráveis, estão:

• Registro de país livre de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE).

• Crescimento da demanda de carne Argentina pela Rússia e União Europeia.

• Acesso ao mercado do Canadá e Estados Unidos.

• Tendência de aumento do consumo de carnes no mundo.

• Implementação do sistema nacional de rastreabilidade do gado bovino.

Por fim, faz-se necessário destacar a tendência de aumento do número de animais confinados,
crescimento da produção com alimentação dependente de pastagens, decorrência do avanço
da produção de grãos sobre as áreas de pastagens.

Como último destaque a salientar, temos o fato de que “los hermanos” são os grandes
consumidores mundiais (per capita) de carne bovina, chegando a consumir cerca de 65 kg/

50 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


ano, ou seja, quase o dobro da média brasileira.

Canadá

Fonte: PHOTOS.COM

Os canadenses ocupam a nona posição na lista dos maiores produtores de carne bovina do
mundo, sendo, no entanto o sétimo colocado no ranking dos maiores exportadores mundiais
(ABIEC, 2010).

Os principais compradores de carne bovina do Canadá são os Estados Unidos, com 81,8%
e México, com 15,5%. Conforme declaração do presidente da Federação de Exportação de
Carne Bovina do Canadá (Canada Beef Export Federation – CBEF), planeja-se expandir as
exportações de carne bovina para 800 mil toneladas até 2015, com perspectiva de se reduzir
a dependência em relação ao mercado dos Estados Unidos (BRASIL, 2007).

No entanto, acredita-se que os Estados Unidos devam permanecer como principal cliente dos
canadenses, já que o preço do produto é atrativo, mesmo com a tentativa de abertura de novos
mercados por parte dos canadenses, na intenção de diminuir a dependência já mencionada.
O preço do produto canadense é atrativo.

Estados Unidos

Fonte: PHOTOS.COM

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 51


Mesmo possuindo apenas o quarto maior rebanho mundial, com cerca de 95 milhões de
cabeças, o Estados Unidos se configura como o maior produtor mundial de carne bovina, com
cerca de 11,8 milhões de toneladas.

Outra categoria onde os americanos figuram como líderes se refere aos principais consumidores
mundiais em volume geral; quando abordamos o consumo per capita, os americanos são o
segundo colocado, com cerca de 42,9 kg/ano, ficando atrás dos argentinos, ocupando ainda o
terceiro lugar quando nos referimos aos principais exportadores, este último ranking, liderado
pelo Brasil (ABIEC, 2010; BRASIL, 2007).

Japão e a Coreia do Sul têm sido os principais destinos das exportações norte-americanas de
carne bovina. Entretanto, com o surgimento de casos de BSE nos Estados Unidos, esse fluxo
comercial diminuiu consideravelmente.

De acordo com previsões do USDA (2005), os Estados Unidos reassumiriam suas exportações
para o Japão a partir de 2006, beneficiado pelo acordo comercial bilateral, de outubro de 2004.
Esse acordo permitia a reabertura do comércio de carne bovina entre os dois países desde
que algumas condições de produção fossem seguidas pelos produtores norte-americanos.

Ainda de acordo com as mesmas projeções, as importações de carne bovina dos Estados
Unidos originárias da Nova Zelândia e Austrália devem continuar declinando, particularmente
em razão do aumento da oferta interna. Mesmo considerando esse cenário, os Estados Unidos
devem continuar sendo importadores líquidos de carne bovina nos próximos anos (FAPRI,
2007).

52 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 53
Você Sabe Para Que Serve Um Boi?
Muitas pessoas à primeira vista podem achar que a resposta para essa pergunta é óbvia: para pro-
duzir carne. A resposta não é tão simples assim... ele serve para produzir carne também, mas são
produzidos inúmeros outros produtos a partir de um boi. Muitos desses produtos, nem mesmo os pró-
prios pecuaristas sabem que foram produzidos a partir do produto que ele criou e vendeu ao frigorífi co.
Esse é um assunto muito interessante, e com certeza vai surpreender muita gente, pois a maioria das
pessoas não tem idéia do que um boi pode originar... Não vamos nem comentar sobre a carne, pois
acho que todas as pessoas sabem o destino desse componente.
Vamos então começar pelo componente mais externo do boi: o couro. Além da utilização óbvia para
a confecção de sapatos, cintos e roupas, o couro dá origem à gelatina neutra que será usada na
indústria alimentícia na fabricação de maria-mole, chiclete, suspiros, recheios, coberturas, iogurtes,
sorvetes, cremes, etc.
A gelatina neutra também é usada na clarifi cação de vinho, cerveja e suco de frutas e em produtos die-
téticos. Na indústria farmacêutica ela é utilizada em cápsulas duras ou moles, comprimidos, drágeas,
emulsões, óleos, esponjas medicinais, etc.
Além disso, ela produz a gelatina fotográfi ca que é usada em fi lmes de artes gráfi cas, papéis fotográfi -
cos e fi lmes radiológicos. A gelatina hidrolisada é usada em cosméticos, dietéticos, bebidas, alimentos
líquidos e em outros processos químicos. A gelatina industrial é usada na fabricação de adesivos,
abrasivos, fósforos, capsulação de corantes, etc.
Depois podemos falar de crinas e pelos que serão usadas para produção de escovas de enceradeira,
escovas para armas de fogo, escovas para lavagem de garrafas, vassoura de pelo e brocha de pintor.
Também são usados em luvas de boxe, poétrix (jóias e próteses). Além disto, são usados nos fi ltros
de ar e óleo combustível dos carros.
O sebo produzido tem utilização na indústria química, nos curtumes, nas indústrias de sabão, de
cosméticos, indústria alimentícia, de tintas, de explosivos, indústria farmacêutica, indústria de pneus,
de lápis, fábrica de velas, etc.
Os cascos e chifres são usados em artesanatos, na formação de madrepérola e pérolas artifi ciais. O
produto da moagem entra na composição do pó de extintor de incêndios, o óleo entra na composição
dos óleos da indústria aeronáutica como aditivo no lubrifi cante dos aviões.
A bílis é usada na indústria química e de bebidas e na indústria farmacêutica, onde os sais biliares

54 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


entram na composição de remédios digestivos, reagentes para pesquisas e pomadas para contusões.
A mucosa do estômago é usada na indústria de laticínios para a fabricação do coalho.
Outras mucosas e glândulas são usadas na indústria farmacêutica fornecendo diversas substâncias
como insulina, hormônios da reprodução, enzimas digestivas, outros compostos enzimáticos, histami-
na, heparina, imunoestimulantes, glucagon, oxitocina, somatotrofi na bovina (hormônio do crescimen-
to), neurotransmissores, tiroxina (hormônio da tireóide), cerebrosídeos, etc., sendo estas substâncias
usadas na fabricação de remédios para uso humano.
Além disso, há muitos outros subprodutos aproveitados como, por exemplo: conteúdo rumenal, usado
como adubo orgânico e na produção de biogás, farinha de carne e ossos usada na fabricação de ra-
ções para cães e gatos, os intestinos são usados na fabricação de fi os cirúrgicos, cordas para raquete
de tênis, etc.
Dessa forma, não é exagero nenhum dizer que absolutamente tudo do boi é aproveitado, podemos
dizer de forma simbólica que até o berro é aproveitado, pois pode ser gravado e utilizado em músicas
e trilhas sonoras de fi lmes e novelas.
A pecuária e o abate de bovinos além de gerar riquezas e empregos diretamente, contribui sobrema-
neira para o funcionamento de diversos outros setores. Se o abate de bovinos parar haverá paralisa-
ção direta de 49 dos mais variados segmentos industriais.
A pecuária é, portanto um dos principais geradores de riquezas para o país, e deve passar a ser trata-
da como tal. Para isso é necessária a mobilização de todo o setor para que todas essas informações
cheguem à opinião pública. É para isso que trabalha o SIC, participe você também!

Fonte consultada: folheto elaborado pela APR-MT Associação dos Produtores Rurais do Mato Grosso.
Autor: Leandro Bovo, médico veterinário pela UNESP Jaboticabal e Gerente Administrativo do SIC.

Entre no sites abaixo para entender mais sobre a Cadeia Produtiva da Carne Bovina:
<http://www.cnpgc.embrapa.br>.
<http://www.abcz.org.br/>.
<http://www.sic.org.br/>.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 55


Uma sugestão de leitura que vai contribuir na sua formação de Tecnólogo em Agronegócio é a pu-
blicação SÉRIE AGRONEGÓCIOS, volume 8, Cadeia Produtiva da Carne Bovina. É uma publicação
que foi desenvolvida no âmbito da cooperação técnica promovida entre o Instituto Interamericano de
Cooperação para a Agricultura no Brasil (IICA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) e a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), por
meio do Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/04/005 “Fortalecimento do Ministério da Agricultu-
ra, Pecuária e Abastecimento para o Planejamento Estratégico do Agronegócio”.
Essa publicação está disponível em:
<http://www.braziliancattle.com.br/upload/arquivo/20100211_cadeia_-_tuca_e_batalha.pdf>
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia Produtiva da Carne Bovina /
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, Instituto Interame-
ricano de Cooperação para a Agricultura ; Antônio Márcio Buainain e Mário Otávio Batalha (coordena-
dores). – Brasília: IICA: MAPA/SPA, 2007. 86 p.; 17,5 x 24 cm – (Agronegócios; v. 8)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então, querido(a) aluno(a). Chegamos ao final desta primeira unidade que trata sobre a
Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Como você pôde observar, a carne bovina é uma das mais
importantes proteínas animais, tanto no cenário nacional, como em nível mundial.

O conhecimento sobre o que é uma cadeia produtiva, atentando para os seus aspectos teóricos,
bem como seus aspectos práticos, se fez imprescindível, para podermos então entender como
funciona a Cadeia Produtiva da Carne Bovina em específico.

Foi possível que você pudessem conhecer o funcionamento da Cadeia Produtiva da Carne
Bovina, em especial, a definição de cada elo componente desta cadeia produtiva, destacando
a participação de cada um destes elos, seu papel, sua função, sua atuação.

Como podemos observar, a Cadeia Produtiva da Carne Bovina possui elos muito heterogêneos,
onde convivem, desde grandes produtores rurais até pequenos produtores da agricultura

56 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


familiar, bem como desde grandes grupos da indústria frigorífica até matadouros de pequeno
porte.

Os relacionamentos entre os agentes da Cadeia Produtiva da Carne Bovina apresentam


situações de conflito, demonstrado em muitas situações coordenação deficitária.

Uma coordenação eficiente da Cadeia Produtiva da Carne Bovina poderia permitir diversos
avanços significativos no funcionamento e na dinâmica, já que alguns benefícios poderiam
ser sentidos, tais como a estabilização da oferta de matéria-prima, garantia de qualidade e
quantidade, troca de informações entre os agentes, aumento da qualidade, acesso a novos
mercados, maior representatividade em mercados internacionais, bem como agregação de
valor ao produto, para citar alguns possíveis benefícios.

Você pôde acompanhar quem são os maiores produtores, exportadores, consumidores, e pôde
perceber o desenvolvimento do Brasil neste cenário, sobretudo, nas duas últimas décadas.

Como podemos observar, além de termos um grande rebanho de gado bovino, somos os
maiores exportadores de carne bovina do mundo, o que sem dúvida é resultado de muito
investimento em pesquisa e desenvolvimento, gado tratado a pasto, condições de clima, solo
e relevo favoráveis e adaptação excepcional das raças de origem zebuínas em boa parte do
Brasil.

No caso brasileiro, embora sejamos os maiores exportadores, a carne bovina é ainda


muito consumida no mercado interno, sendo historicamente a preferência da maioria dos
consumidores brasileiros.

No Brasil, o avanço das outras proteínas animais, tais como a carne de frango e a carne suína,
enquanto a carne bovina apresentou estagnação nos últimos anos, pode representar um sinal
de alerta para os membros componentes da Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

A organização da Cadeia Produtiva da Carne Bovina ainda é incipiente, devendo ser tratado
com maior diligência. Embora alguns órgãos tentem organizar o setor, problemas culturais
ainda impedem maior harmonia entre os elos da cadeia produtiva, o que se configura como
“um tiro no pé”, já que a maior prejudicada é a própria cadeia produtiva.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 57


Como podemos estudar ao longo desta unidade, um dos maiores desafios que se apresenta
ao nosso país é a manutenção deste status alcançado, o de grande potência no cenário
mundial da carne bovina e maior exportador mundial, no entanto, na Cadeia Produtiva da
Carne Bovina, muitos desafios ainda carecem de superação.

Aproveitem a oportunidade de estudar e conhecer!

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Qual a proteína animal mais consumida no Brasil? Que esforços a Cadeia Produtiva da
Carne Bovina precisa fazer para manter-se na liderança da preferência no mercado nacio-
nal?

2. Discuta a importância social e econômica da Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Brasil.


Tanto em geração de emprego e renda, bem como no que se refere à contribuição ao su-
perávit da balança comercial brasileira.

3. Como se configura e se constitui a Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Brasil? Quais elos
ou subsistemas a compõem e quais funções desempenham nesse cenário?

4. Discuta a importância do subsistema de apoio na Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

5. Discuta a importância do subsistema de produção de matéria-prima na Cadeia Produtiva


da Carne Bovina.

6. Discuta a importância do subsistema de industrialização na Cadeia Produtiva da Carne


Bovina.

7. Discuta a importância do subsistema de comercialização na Cadeia Produtiva da Carne


Bovina.

8. Discuta a importância do subsistema de consumo na Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

9. Em relação ao contexto mundial da carne bovina, qual o rebanho mundial? Quais os maio-
res rebanhos mundiais por país e qual posição o Brasil ocupa nesse cenário? Faça a
distribuição percentual dos maiores rebanhos mundiais.

10. No que se refere à produção de carne bovina, quais os maiores produtores mundiais? Qual
a posição do Brasil nesse cenário? Faça uma distribuição percentual dos maiores produto-
res de carne do mundo.

58 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


11. Quais os maiores exportadores de carne bovina do mundo? Que posição o Brasil ocupa
nesse ranking? Faça uma distribuição percentual dos maiores produtores de carne do mun-
do.

12. Em relação ao consumo total, quais os principais países consumidores? Qual a posição do
Brasil? Distribua percentualmente os maiores consumidores de carne bovina.

13. Em relação ao consumo per capita, quais os maiores consumidores de carne bovina do
mundo? Que posição o Brasil ocupa nesse ranking?

14. O que significa a sigla BSE? Explique o histórico e impacto da BSE na produção e consumo
de carne vermelha nos últimos anos.

15. Faça uma análise dos principais produtores mundiais de carne bovina, com destaque para
uma análise mais refinada do Brasil.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 59


UNIDADE II

BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO DE BOVINOS


DE CORTE
Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer um protocolo de Boas Práticas de Produção da Cadeia Produtiva de


Carne Bovina.

• Analisar as etapas que compõem um bom processo de Boas Práticas de Produção


na Produção de Bovinos De Corte.

• Investigar sobre o abate clandestino e as implicações para a segurança do alimento.

• Estudar a questão da qualidade no processo de produção de bovinos de corte.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Boas Práticas de Produção de Bovinos de Corte

• Abate clandestino na bovinocultura brasileira: avanços e desafios

• A gestão da qualidade na produção de bovinos de corte: identificação animal,


rastreabilidade, certificação, bem-estar animal e boi orgânico
INTRODUÇÃO
Como sabemos, prezado(a) aluno(a), a busca pela qualidade se tornou condição essencial
na busca por vantagens competitivas, sobretudo, no período pós-globalização. Alguns ainda
afirmam que a qualidade deixou de ser diferencial para ser condição obrigatória para competir
em qualquer nível de mercado ou setor.

No Brasil, principalmente nas duas últimas décadas, temos o CDC - Código de Defesa do
Consumidor – que garante direito a este consumidor; quando alguém descumpre algo que fere
esse consumidor, todos já ouviram alguém falar a seguinte frase: “Eu vou para o PROCON!”
ou ainda: “Vou procurar os meus direitos”. Ou seja, as pessoas, os consumidores estão mais
informados.

Se no Brasil é assim, pense em nível mundial. Os mercados mais exigentes do mundo, tais
como Europa, Japão, que são tradicionais clientes do agronegócio nacional, atingiram esse
nível de maturidade, sobretudo, no que se refere à exigência de qualidade dos produtos.

E outra questão: quando falamos em alimentos, a questão da qualidade é ainda mais séria,
por que, diferente de outros produtos, os alimentos são ingeridos pelas pessoas, o que pode
causar sérios problemas ou ainda levar o consumidor a óbito, caso este não atenda às legis-
lações vigentes.

Na Cadeia Produtiva da Carne Bovina, alguns esforços têm sido feitos no sentido de garantir a
qualidade do produto, em todas as suas fases de produção, desde o nascimento, ou antes, do
nascimento, até o abate, ou após o abate do animal.

Carne orgânica, certificada, rastreabilidade, identificação animal, SISBOV, bem-estar animal,


desenvolvimento sustentável, respeito ao meio ambiente e às pessoas, visão holística
ou sistêmica e gestão são temas que todos devem ter ouvido falar e recentemente foram
introduzidos na discussão da Cadeia Produtiva da Carne Bovina que, no entanto, ainda
carecem de maior aprofundamento. Quem quiser topar o desafio, pode vir com a gente!

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 63


BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE

Fonte: PHOTOS.COM

A Embrapa Gado de Corte, sediada em Campo Grande-MS, desenvolveu no ano de 2006


um manual de boas práticas de produção de bovinos de corte, por sua vez, integrante do
Programa Embrapa carne de qualidade, que servirá como uma das principais referências deste
tópico estudado. Esse instrumento torna-se, quando bem empregado, importante ferramenta
na gestão do agronegócio da carne bovina.

Sabe-se que o Brasil conquistou posição de destaque no cenário mundial da produção e


exportação de carne bovina nos últimos anos. Dentre outros fatores, os pilares sob os quais
está constituída a Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Brasil, são: i) a crescente qualidade
do sistema de produção nacional; e ii) o aumento de confiança em relação à produção de
alimentos saudáveis, em foco, a produção de carne bovina de qualidade.

No entanto, também se sabe que sem a correta gestão nenhum empreendimento subsiste;
com a gestão do sistema produtivo da carne bovina não é diferente.

Mesmo dispondo de diversas tecnologias, “o sistema produtivo da pecuária bovina não se


mantém sustentável sem a gestão ambiental da propriedade, sem a correta formação e manejo
de pastagens, sanitário, zootécnico e reprodutivo, sem instalações adequadas e, muito menos,
sem a gestão econômica, financeira e social” (EMBRAPA, 2006).

A adoção de boas práticas de produção de carne bovina é fator que contribui para o

64 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


desenvolvimento da produção nacional, fazendo com que esse processo ocorra de maneira
sustentável, ambiental, social e economicamente correta. Neste contexto, um dos principais
objetivos da introdução das boas práticas na produção de carne, se refere a garantir a produção
de alimentos seguros e com atributos de qualidade que atendam aos interesses dos principais
mercados mundiais.

Com essa nova dinâmica, diria, sustentável dinâmica, na produção de carne bovina,
descortinam-se novos horizontes e cenários favoráveis à Cadeia Produtiva da Carne Bovina
brasileira, já que assim, pode o Brasil ser conduzido e mantido na condição de protagonista
(ou pelo menos, um dos grandes atores) no seleto mercado mundial produtor de alimentos
saudáveis, de qualidade superior, livre de restrições não tarifárias e outras imposições do
comércio mundial.

A aplicação desta ferramenta de gestão chamada boas práticas na produção de carne bovina,
visa a consolidar a posição conquistada pelo Brasil nos últimos anos, maior exportador mundial
de carne bovina e segundo no ranking dos maiores produtores.

Alguns fatores foram determinantes para esse status atingido pelo Brasil no cenário mundial
da produção e exportação de carne bovina, dentre eles: i) a busca pela erradicação da febre
aftosa; ii) alimentação do gado a pasto, resultando em qualidade superior do alimento; iii)
condições edafoclimáticas favoráveis5; iv) recursos humanos qualificados; v) extensão
territorial; vi) iniciativa de rastreamento.

A Cadeia Produtiva da Carne Bovina, por meio de seus elos mais à jusante do processo
produtivo (redes varejistas de alimentos, consumidores, organizações não governamentais),
com vistas a assegurar a qualidade e segurança dos alimentos, tem exigido de seus
fornecedores a implantação de mecanismos de controle de qualidade durante todo o processo
produtivo, certificando que seus produtos estão em conformidade com as normas e exigências
de determinados mercados compradores.

5
Condições edafoclimáticas: questões relativas a clima e solo.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 65


Dentre esses sistemas ou ferramentas de controle de qualidade amplamente aceitos no meio,
destaca-se o APPCC (Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), conhecido
internacionalmente como HACCP. Dentre os pontos principais deste sistema, destaca-se a
garantia de alimentos seguros à saúde humana, conferindo ao consumidor um produto de
melhor qualidade ao redor do mundo.

O APPCC tem como um de seus pré-requisitos a implantação preliminar de boas práticas na


produção agropecuária, desde a produção no campo, passando pelos demais elos da cadeia
produtiva, como a indústria frigorífica, por exemplo, garantindo qualidade e segurança do
alimento em todas as etapas do processo produtivo.

Para lembrar, outra exigência de mercado que extrapola os limites dos fatores intrínsecos
e extrínsecos do produto, propriamente dito, se refere à sustentabiidade dos sistemas de
produção, ou seja, a produção deve, além de qualidade do produto, garantir que o processo
seja ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável, pilares do
desenvolvimento sustentável6, sem esquecer, é claro, dos fatores ligados ao bem-estar animal.

Assim, a manutenção da posição alcançada pelo Brasil na “arena” mundial de competição no


segmento da carne bovina, passa pela “lição de casa bem feita”. Os profissionais inseridos
no agronegócio da produção de carne bovina devem estar conscientizados sobre as novas
demandas do mercado consumidor, tanto interna como externamente, garantindo a qualidade
dos produtos ofertados, representados por alimentos seguros, com atributos de qualidade e
conveniência, e preços acessíveis.

A implantação voluntária de um programa de Boas Práticas Agropecuárias (BPA) irá também


possibilitar a identificação e o controle dos diversos fatores que influenciam o processo
produtivo, tornando-o mais seguro e competitivo, propiciando a redução nas perdas durante
esse processo de produção como, por exemplo, um maior planejamento e controle das
6
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração
atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não
esgota os recursos para o futuro. Defende-se que deve se buscar a conciliação entre o desenvolvimento econômico com a
preservação ambiental e justiça social.

66 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


matérias-primas e do produto final, garantindo assim, a possibilidade de ampliação dos
mercados consumidores ao redor do planeta.

A inserção definitiva e consequente manutenção do Brasil na condição de um dos principais


players no ambiente competitivo mundial da carne bovina, bem como o fortalecimento do
mercado interno, passa pela assimilação dos conceitos difundidos nesse programa de boas
práticas de produção de carne bovina.

Se bem atendidas, as recomendações a respeito das boas práticas de produção de carne


bovina podem funcionar como um passo fundamental para se obter controle efetivo da
qualidade para a certificação do produto final. As recomendações realizadas visam atender
as principais demandas para uma produção sustentável de um alimento seguro, visando tanto
o mercado interno como o mercado externo, claro, havendo demandas específicas de alguns
países ou religiões em particular, como o ritual kosher, que é o abate segundo as normas do
judaísmo e o ritual halal, que é o abate segundo as normas islâmicas, por exemplo, normas
estas, que devem ser verificadas com a certificadora credenciada para esse mercado.

Assim, alguns pontos destacados do manual de Boas Práticas Agropecuárias – bovinos de


corte, são os que seguem.

O que pode se entender pela produção sustentável na pecuária de corte? Quais as dimensões do
desenvolvimento sustentável na Cadeia Produtiva da Carne Bovina?

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 67


GESTÃO ECONÔMICA E GESTÃO FINANCEIRA

Fonte: PHOTOS.COM

Trata-se da gestão, gerência, administração, aceitas na prática e para esta finalidade como
“sinônimos” e suas quatro funções básicas: Planejamento, Organização, Direção e Controle.
Uma gestão adequada exige que essas quatro funções, de forma coordenada, sejam aplicadas
às áreas funcionais da empresa, propriedade rural ou empreendimento.

A nova dinâmica de competição em nível mundial, resultado das grandes transformações


sociais, políticas, culturais, tecnológicas e econômicas ocorridas, aumentaram a complexidade
das atividades empresariais de forma geral, inclusive e sobremaneira, afetando o agronegócio.

Esse novo contexto exige uma postura sobre o processo de tomada de decisão nesses
empreendimentos inseridos em uma cadeia produtiva. Ao tomador de decisão, o gestor em
agronegócio, cabe tomar decisões baseadas em fundamentos consistentes, informações
adequadas, além do que deve possuir ou buscar desenvolver habilidades gerenciais que
permitam implantar sistemas de gestão capazes de produzir maior acerto no processo
decisório, bem como um melhor desempenho econômico-financeiro do empreendimento.

Para que um empreendimento inserido no agronegócio seja “bem administrado”, alguns


requisitos mínimos ou ações administrativas essenciais devem ser desenvolvidos, quais sejam:

a) Planejamento: determinar metas a serem alcançadas e decidir formas de alcançá-las;


estabelece o que queremos e o que devemos fazer para chegar lá. É o processo de buscar
antecipar-se aos fatos, tornando possível assim, que se definam os recursos necessários

68 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


para que os mesmos sejam usados da forma mais eficiente e eficaz possível, para atingir
os objetos e metas definidos.

O planejamento compreende a definição de objetivos, metas e ações voltadas para a sua


consecução. No início de cada ano deve-se:

I) Prever receitas e despesas.

II) Programas de investimentos.

III) Estabelecer cronograma de investimentos.

IV) Definir calendários de manejo reprodutivo, alimentar e sanitário.

b) Organização: alocação e coordenação dos recursos necessários para execução do plane-


jamento. Nessa etapa do processo administrativo, o administrador deve buscar alocar os
recursos corretos para as atividades adequadas.

A organização trata de estabelecer as relações entre funções, pessoal e fatores físicos.


A função organização se encarrega, por exemplo, de distribuir insumos, matéria-prima,
mão de obra, maquinários e capital, da melhor forma possível, de maneira que torne mais
produtiva a atuação da organização.

c) Direção: motivar e estimular as pessoas a participarem e se envolverem; realizado pela


gerência. Atualmente se utiliza o conceito de liderar ao invés de dirigir, dado que isso signi-
fica tornar-se o administrador um líder, para que os demais colaboradores, possam assim,
segui-lo, a fim de que motivados e determinados, alcancem as metas e objetivos da orga-
nização.

A direção é uma ação característica do gerente. É a coordenação das ações desejadas, via
ordens e estratégias de motivação. Suas ações são:

I) Preparar e expor com clareza e visibilidade, quadros, murais e cronogramas de execução


de tarefas relativas ao manejo reprodutivo e sanitário do rebanho e ao manejo de pasta-
gens.

II) Cobrar resultados das ações previstas, delegar responsabilidades, definir atribuições e res-
ponsabilidades, designar tarefas a serem executadas, estimulando e motivando os colabo-

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 69


radores ao alcance das metas estabelecidas em planejamento, e provendo recompensas
quando atingidas.

III) Atender os aspectos legais envolvidos com a atividade executada, no que se refere às leis
trabalhistas, previdenciárias, ambientais, fiscais e sanitárias, destacando-se:

- Trabalhista: assinar carteira de trabalho e previdência social (CTPS), fornecer e fazer se-
rem assinados os recibos de pagamento, recolher encargos sociais, pagar férias e 13º
salário, fornecer EPI (Equipamento de Proteção Individual).

- Fiscal: atender exigências das autoridades tributárias federais e estaduais, no que se refere
ao cálculo e recolhimento de impostos nestas esferas.

- Sanitária: vacinar e declarar ações de controle da brucelose e da febre aftosa.

- Ambiental: atender as exigências relacionadas com as áreas de preservação permanente,


reserva legal, licenciamento e liberações ambientais, bem com a disposição de resíduos.

d) Controle: monitoramento do progresso da organização em direção aos objetivos propostos


(feedback). É nessa etapa que o administrador pode verificar se os objetivos estabelecidos
pelo planejamento anteriormente definido foram alcançados, e se correção de rotas, rede-
finição de metas ou objetivos, e novo planejamento sejam necessários.

Corresponde ao acompanhamento das atividades, confrontando-as com os planos desen-


volvidos e corrigindo as falhas identificadas. Deve-se:

- Registrar e manter atualizados as fichas zootécnicas (controle do rebanho e controle sani-


tário).

- Manter o registro de todos os insumos utilizados na propriedade, tais como vacinas, medi-
camentos, defensivos agrícolas, fertilizantes e suplementos alimentares, anotando data de
aquisição, validade e fabricante.

- Registrar as receitas e as despesas (caderno ou planilha eletrônica).

- Consolidar receitas, despesas e resultados para os meses e o ano.

O Quadro 2 elenca algumas recomendações importantes para o bom desenvolvimento do


processo administrativo:

70 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Quadro 2 Recomendações importantes para o bom desenvolvimento do processo administra-
tivo em empreendimentos rurais (pecuária bovina de corte)

- Ter um planejamento e um plano de desenvolvimento formal (escrito) contendo objetivos, meios


para alcançá-los, responsabilidades e cronograma de execução.

- Realizar um adequado processo de seleção, recrutamento e treinamento dos trabalhadores, para


que os mesmos reconheçam suas responsabilidades, funções e recompensas.

- Possuir instalações e equipamentos adequados à escala de produção e a tecnologia empregada.

- Dispor de instrumentos de controle, como fi chas zootécnicas e livro caixa, que podem ou não ser
informatizados.

- Apurar o custo de produção, as margens de lucro, o retorno do investimento, avaliando o desempe-


nho econômico da atividade. Também é interessante calcular indicadores de desempenho fi nanceiro
e econômico, com base no balanço anual, que pode indicar que o negócio está com boa ou má
saúde nesse aspecto.

- A tecnologias de informação e comunicação podem ser interessantes aliadas ao processo de gestão


de negócio. Esse processo de informatização é desejável, no entanto deve ser implantado gradual-
mente, a partir de processos manuais consolidados.

Fonte: adaptado de embrapa Gado de Corte (2006).

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 71


FUNÇÃO SOCIAL DO IMÓVEL RURAL

Fonte: PHOTOS.COM
A questão que se refere à função social do imóvel trata do atendimento a critérios estabelecidos
em lei nas áreas social, ambiental e de produtividade do imóvel rural. O artigo 184 da
Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 8.629 de 25 de fevereiro de 1993 tratam do tema,
ficando a propriedade rural destinada a desapropriação e reforma agrária, caso essa função
social não seja atendida.

A função social é satisfatória quando a propriedade rural alcança índices de produtividade


compatíveis com a região e infraestrutura empregada, utiliza adequadamente os recursos
naturais disponíveis, respeita o meio ambiente e cumpre rigorosamente as legislações sociais
e trabalhistas.

Além dos aspectos legais envolvidos, os aspectos ligados à função social do imóvel
ultrapassam essa questão, já que se tornaram temas relativos às exigências e demandas
do mercado, considerando que consumidores mais exigentes, sobretudo, de mercados como
Europa e Japão, para citar alguns, exigem que o produto que consomem, no caso a carne
bovina, atenda e cumpra com todos esses requisitos.

Mais do que produtos de qualidade, carne bovina de qualidade superior, consumidores (quanto
mais os conscientizados), demandam atenção a outros fatores e aspectos, que extrapolam os
valores intrínsecos e extrínsecos da carne bovina.

72 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Fatores relacionados à questão ambiental, social e bem-estar animal são pontos críticos (de
sucesso ou fracasso) para que a carne bovina brasileira adentre (e se mantenha) em mercados
mais exigentes. A seguir, no Quadro 3, são apresentadas algumas diretrizes relacionadas com
a função social do empreendimento rural produtor de bovinos de corte:

Quadro 3. Diretrizes relacionadas com a função social, de empreendimentos rurais (pecuária


bovina de corte)
Área social

- Elaborar contrato de trabalho e registrar em carteira todos os funcionários.

- Não utilizar trabalho escravo e/ou infantil.

- Efetuar os recolhimentos das contribuições ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

- Proporcionar aos empregados, moradias em boas condições de habitação.

Área ambiental

- Atenção à reserva legal, devendo ser averbada na matrícula da propriedade junto ao Cartório de
Registro de Imóveis.

- Implantar um projeto de recuperação, regeneração ou compensação da Reserva Legal, caso esta


não exista.

- Proteger integralmente da ocupação e do uso as áreas de preservação permanente (Matas ciliares,


várzeas, encostas com mais de 45º.

Índices de Produtividade

- O índice de produtividade é mensurado com base no cálculo de dois índices a saber:

- GUT (Grau de Utilização da Terra): refere-se à utilização adequada dos recursos naturais disponí-

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 73


veis e conservação do meio ambiente.

- GEE (Grau de Efi ciência na Exploração): refere-se ao aproveitamento racional e adequado dos
recursos.

- Para cumprir sua função social, o imóvel terá que atingir ou ultrapassar o GUT e o GEE, respectiva-
mente, iguais a 80% e 100%.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006)

RESPONSABILIDADE SOCIAL
Fonte: PHOTOS.COM

Conforme o Manual de Boas Práticas na Produção de Bovinos de Corte, a responsabilidade


social trata das relações sociais e trabalhistas que regulamentam a participação do trabalhador
rural nos sistemas produtivos, tendo a ética como base, e como parceiros, a cultura e os
valores morais que são inseparáveis.

Algumas diretrizes relacionadas com a área social e trabalhista são destacadas, a seguir, no
Quadro 4.

74 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Quadro 4. Diretrizes relacionadas com a área social e trabalhista de empreendimentos
rurais (pecuária bovina de corte)

Contrato de Trabalho

- Todos os funcionários devem ser registrados e todos os acordos pactuados entre as partes devem
estar registrados.

Exame admissional e demissional

- Ao ingressar no empreendimento rural o empregado deve passar por uma bateria de exames para
verifi cação de sua integridade física, psíquica, com avaliação médica para verifi car a ocorrência de
aptidão ou inaptidão ao trabalho. O mesmo ocorre no processo demissional. Assim, a empresa se
exime de quaisquer problemas anteriores que possam ter ocorrido com o empregado, ou mesmo
após a rescisão.

Previdência Social, FGTS e Contribuição Sindical

- O empregador deve recolher os encargos sociais, conforme determina a legislação vigente. No


caso dos valores descontados dos empregados, como o INSS (empregado), o problema que o em-
pregador deve se atentar, é em relação a chamada apropriação indébita, onde o valor é retido pelo
empregador e não recolhido aos cofres do INSS.

Saúde e higiene, moradia, educação e descanso semanal remunerado

- O empregado deve ter assegurado o direito e acesso a saúde e higiene. Deve receber orientações
sobre o acesso a saúde pública.

- Disponibilizar moradia em condições adequadas de uso; atentar-se para não incorporar os valores
referidos a moradia no salário e observar as orientações sindicais sobre registro desse benefício.

- Os fi lhos menores dos empregados devem ter acesso à educação. Os empregadores devem propi-
ciar condições para essa ocorrência.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 75


- O descanso semanal remunerado, observado na lei, deve ser assegurado.

Capacitação e treinamento, desenvolvimento e segurança do trabalhador

- Os empregados devem receber periodicamente treinamento, no que se refere à execução das tare-
fas a ele incumbidas, bem como no desenvolvimento pessoal.

- A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) estabelece as Normas Regulamentadoras Rurais


(NRR). São obrigações a empregadores e empregados, no que se refere ao fornecimento e uso de
EPI (Equipamento de Proteção Individual) e no treinamento, preparação e capacitação do trabalha-
dor no trato com produtos químicos, veterinários e defensivos agrícolas.

Alimentação

- Caso receba alimentação, o empregado poderá ter descontado em seu salário até 25% do salário
mínimo nacional vigente. Caso o sindicato pregue o não desconto, o valor não poderá ser incorpo-
rado ao salário.

Trabalho escravo e infantil

- O Trabalho escravo e o trabalho infantil são proibidos pela legislação brasileira.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006).

GESTÃO AMBIENTAL

Conforme definição proposta pelo Manual de Boas Práticas de Produção de Carne Bovina da
Embrapa Gado de Corte, a gestão ambiental trata do manejo adequado dos recursos naturais
existentes na propriedade rural, conforme determina a legislação ambiental vigente, bem
como, com relação às boas práticas de conservação do solo, da biodiversidade, dos recursos
hídricos e da paisagem, recursos estes empregados na pecuária bovina de corte.

A gestão ambiental representa no atual cenário competitivo da produção e comércio de carne

76 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


bovina, muito mais do que as essenciais questões de bom-senso e consciência ambiental.
Tornou-se uma exigência de mercado e uma vantagem competitiva, já que aqueles que
atendem essas exigências conferem a si, a seus produtos e as suas marcas, uma imagem de
distinção perante os consumidores!

O nosso país possui umas das legislações ambientais mais amplas e rigorosas, com inúmeras
restrições às ações desenvolvidas no campo. Aqueles infratores ficam sujeitos às multas, perda
de benefícios fiscais, bem como, perda dos direitos de adquirirem financiamentos públicos, e
até mesmo à prisão, como determina a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, chamada “Lei
de Crimes Ambientais”.

A seguir, algumas diretrizes relacionadas com a gestão ambiental na pecuária bovina de corte.

Áreas de preservação permanente

São as áreas protegidas por lei. A modificação destas áreas só será permitida com prévia
autorização do Poder Executivo Federal, quando forem necessários obras ou projetos de
utilidade pública ou interesse social. Devem ser preservadas as florestas e vegetações naturais
nas seguintes condições:

a) Ao longo de rios ou de qualquer curso d’água, com largura mínima de: 30 metros para
cursos d’água com até 10 metros de largura; 50 metros para cursos d’água entre 10 e 50
metros de largura; 100 metros para cursos d’água entre 50 e 200 metros de largura; 200
metros para cursos d’água entre 200 e 600 metros de largura; e 500 metros para cursos
d’água com largura superior a 600 metros de largura.

b) Ao redor de lagos, lagoas ou reservatórios d’água naturais ou artificiais.

c) Nas nascentes em um raio mínimo de 50 metros de largura.

d) No topo de morros, montanhas e serras.

e) Nas encostas ou parte delas, com declividade superior a 45º.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 77


f) Nas bordas de chapadas, em faixa nunca inferior a 100 metros.

g) Nas restingas, como fixadoras de dunas estabilizadoras de mangues.

h) Em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação.

OBS.: a Resolução CONAMA nº 302, de 20 de março de 2002 dispõe sobre essa questão,
quando não especificadas no código florestal.

Reserva Legal Obrigatória


Fonte: PHOTOS.COM

Refere-se às áreas de vegetação nativa ou floresta com importância ecológica reconhecida,


que devem ser mantidas preservadas, excetuando-se as áreas de preservação permanente.
Essa área tem a finalidade de conservar a biodiversidade, assegurando a manutenção das
diversas espécies de fauna e flora existentes.

Essa vegetação não pode ser suprimida, sendo permitido apenas o seu manejo sustentável,
conforme princípios estabelecidos, critérios técnicos e científicos, dependendo de autorização
do órgão competente.

Considerando as diferentes regiões brasileiras, em áreas da Amazônia legal devem ser


preservados 80% de reserva legal, reduzindo para 50% quando existir zoneamento. Regiões

78 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


de cerrado devem preservar 35% de suas áreas de reserva legal, nos demais ecossistemas,
prevalece o percentual de 20%.

Nos casos onde não se observou esses limites e o respeito às leis vigentes, deve-se procurar
profissionais habilitados para iniciar um Projeto de Recuperação de áreas degradadas
(PRADEs).

Licenciamento Ambiental e Autorizações ambientais

A lei nº 6.938/81 determina a obrigatoriedade de licenciamento ambiental quando forem


construídas, instaladas ou ampliadas obras de atividades consideradas efetivas e
potencialmente poluidoras, ou que podem ser causadoras de degradação ambiental.

Atividades não contínuas, como o corte avulso de árvores, limpeza de pastos, aproveitamento
de material lenhoso, extração e frutos nativos e madeiras nativas, queimadas requerem
liberação ambiental, por meio da autorização.

Outras atividades como o uso de recursos hídricos para irrigação e dessedentação dos animais
(saciar a sede dos animais), construção de benfeitorias em área de preservação permanente
e reserva legal, geração de resíduos e efluentes por meio da fabricação e manipulação de
produtos, também carecem de autorização.

Recomendações Importantes:

- Deve-se evitar o acesso do gado às margens dos cursos d’água.

- As queimadas devem ser evitadas, pois elimina toda a forma de vida do solo, prejudicando
sua fertilidade, empobrecendo o solo dentre outros problemas.

- Com práticas desta natureza, problemas como o assoreamento dos rios, erosões, dentre
outros problemas podem ser evitados.

- Um programa de educação ambiental deve ser desenvolvido na propriedade rural, para


que colaboradores e seus familiares assimilem e disseminem a consciência ambiental, a

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 79


partir de atitudes domésticas como dar destino adequado ao lixo, por exemplo.

- O cuidado com a administração dos resíduos é essencial, para que se evite a contamina-
ção da água, solos etc., quais sejam.

- Deve-se, dentre outras coisas: realizar a coleta seletiva do lixo doméstico; guardar tempo-
rariamente as embalagens; efetuar a tríplice lavagem e furar o fundo de embalagens de
produtos químicos; recolher as embalagens vazias de produtos veterinários em locais co-
bertos, como no curral, para armazenamento provisório; e entregar as embalagens vazias
e/ou vencidas nos locais indicados na nota fiscal e/ou órgãos competentes.

INSTALAÇÕES RURAIS

Para que se produza gado com qualidade, as instalações físicas da propriedade rural devem
estar adequadas ao processo de manejo dos mesmos.

As instalações rurais devem ser adequadas de modo a não causar dano ao couro e à carcaça
bovina, e garantir a segurança do pessoal responsável pelo manejo dos animais, já que danos
dessa natureza representam perdas no processo produtivo, considerando que descontos
podem ser realizados pelos frigoríficos no momento do abate.

Esses danos depreciam o valor comercial do gado negociado, reduzindo assim, a rentabilidade
do produtor. Instalações inadequadas podem comprometer a qualidade do produto final, por
causa da ocorrência de hematomas e feridas na carcaça animal, bem como, a presença de
furos, cortes e riscos profundos. Assim, as instalações para a produção de bovinos de corte
devem atender aos aspectos ligados à funcionalidade, resistência, economia e segurança.

Algumas diretrizes relacionadas com as instalações rurais:

a) Cercas

- Devem ser de arame liso, pois as cercas de arame farpado provocam riscos e furos no
couro animal.

80 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


- Lascas, farpas, pregos ou parafusos, bem como outras saliências ou objetos pontiagudos
devem inexistir.

- As cercas elétricas devem possuir voltagem adequada, aterramento e isolamento seguros,


a fim de evitar descargas elétricas e provocar o estresse animal.

Fonte: PHOTOS.COM

b) Curral

- Deve ser construído de forma a permitir o manejo adequado dos animais, com segurança,
conforto e eficiência. As atividades de apartação, marcação, castração, identificação, vaci-
nação, descorna, pesagem, controle sanitário, exames diversos, bem como, embarque e
desembarque de animais.

- O curral deve ser bem localizado, em local de fácil acesso, que facilite o embarque e de-
sembarque de animais, de preferência em local elevado, firme e seco.

- As saliências devem ser eliminadas, tais como ferros, parafusos, pregos e lascas.

- A área deve ser limpa periodicamente, para evitar acúmulo de terra e esterco.

- Pontos de água e energia elétrica devem ser disponibilizados.

- Sempre que possível, a disponibilidade de um banheiro para uso dos funcionários, próximo
ao curral.

- A disponibilidade de recipientes vazios para a coleta de lixo (frascos vazios de vacinas e


medicamentos).

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 81


c) Reservatórios de água, bebedouros e cochos

- Quanto aos reservatórios, os mesmos devem estar preferencialmente em locais mais ele-
vados, de forma a permitir a distribuição por gravidade.

- Deve-se calcular a capacidade do reservatório, em função do número de bebedouros que


serão abastecidos, prevendo-se uma margem de segurança para casos de manutenção no
sistema de água.

- Quanto aos bebedouros, deve-se dar preferência a bebedouros artificiais que possam ser
higienizados e constantemente vistoriados, para oferecer água de boa qualidade.

- Os bebedouros devem ser estrategicamente localizados, em função do número de animais


a serem atendidos, tomando como base o consumo de 50/60 litros de água/dia por animal
adulto.

- Deve-se evitar o uso de açudes, pois a água parada pode representar potencial fonte de
contaminação da leptospirose.

- A qualidade da água dos reservatórios e dos bebedouros deve ser constantemente moni-
torada.

- Quanto aos cochos, devem ser cobertos e estrategicamente posicionados para permitir o
acesso dos animais diariamente.

- Devem ser projetados de forma a garantir espaço adequado e suficiente, para que todos os
animais tenham livre acesso e sem competição.

- Podem ser construídos de madeira serrada, concreto pré-moldado ou tambores, cortados


longitudinalmente.

d) Instalações para confinamento

- Antes de iniciar um projeto de confinamento, consultar o órgão responsável pelo meio


ambiente, antes da construção de instalações e implantação de atividades.

- O confinamento deve estar em área inclinada da propriedade, levemente inclinada, próxi-


ma do centro de manejo e das áreas de produção (milho, cana, sorgo), de preparo (mistu-

82 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


rador, moedor, picador) e de armazenamento e conservação dos alimentos (sacaria, silos
e outros).

Fonte: PHOTOS.COM

- Os cochos de alimentação devem ficar na parte frontal do piquete, para facilitar o forneci-
mento.

- Sempre que possível, disponibilizar sombreamento aos animais, assim proporcionando


conforto térmico, o que pode resultar em ganho de peso.

- Os bebedouros podem ser construídos com material de fácil limpeza e higienização e ser
construído com piso de fácil drenagem ao seu redor.

- Os dejetos devem ser adequadamente tratados, podendo ser utilizados como adubo orgâ-
nico ou biogás.

e) Armazenamento de insumos

- Devem ser armazenado em locais adequados para evitar a deterioração e contaminação


dos produtos.

- Devem estar localizados distante de residências, fontes de água e abrigos para animais.

- Os galpões devem estar livres de aberturas, rachaduras, vazamentos, o que permite a


umidade, entradas de pássaros e outros animais.

- Manter proibição de fumar, correr, beber ou acender fogo no interior do depósito.

- Manter a porta trancada e não permitir o acesso de crianças ou estranhos.

- Controlar data de entrada e saída de produtos do estoque.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 83


MANEJO PRÉ-ABATE E BONS TRATOS NA PRODUÇÃO ANIMAL

Conforme definido pela Embrapa Gado de Corte, constante no manual de boas práticas de
produção agropecuárias – bovinos de corte, o manejo pré-abate e os bons tratos na produção
animal “tratam do conhecimento do comportamento animal e a aplicação de estratégias de
manejo que levam em consideração as necessidades fisiológicas e comportamentais dos
bovinos, com ganhos diretos e indiretos na produção de carne e couro de qualidade”.

O tema do bem-estar animal ganhou destaque nos últimos anos, dado que as demandas do
mercado priorizam sistemas de produção que respeitem o bem-estar animal, do nascimento
ao abate. Em um primeiro momento parece estranho falar em bem-estar bovino, ou pode
representar uma preocupação exagerada; mas além de ser exigência do mercado, sobretudo,
dos mercados mais exigentes, os benefícios da adoção dessa prática de manejo serão sentidos
ao longo do processo.

O conhecimento e o respeito à natureza própria do animal, além de permitir a melhora do seu


bem-estar, proporciona também melhores resultados econômicos, mediante o aumento da
eficiência do sistema produtivo e da melhoria da qualidade do produto.

No Quadro 5 observamos algumas diretrizes em relação aos bons tratos com o gado bovino:

Quadro 5. Diretrizes relacionadas com os bons tratos com o gado bovino de corte
- Garantir espaço mínimo para que os animais possam manter um equilíbrio confortável no grupo.

- Organizar lotes com antecedência para evitar estranhamentos, acidentes de animais com chifre e
machos colocados em um mesmo grupo, bem como não misturar indivíduos estranhos.

- Disponibilizar sombra para bovinos manejados em sistema de produção extensivos e intensivos,


para protegê-los das fortes cargas térmicas.

84 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


- Garantir o fornecimento de água limpa e suplementos nutricionais de qualidade, em quantidade e
qualidades sufi cientes a cada indivíduo.

- No manejo extensivo, distribuir fontes de água na pastagem, para facilitar o acesso sem longas
caminhadas.

- Treinar e instruir os colaboradores que lidam com os animais, a respeito das maneiras adequadas
de manejá-los (do nascimento ao abate), respeitando a biologia da espécie e evitando assim, os
estresses agudos ou crônicos, que poderão resultar na redução da qualidade do produto fi nal.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006)

Reconhecidamente importante, os bons tratos com o gado bovino vêm acompanhado de um


adequado manejo pré-abate, já que diversos estudos demonstram que o manejo pré-abate
influencia significativamente na qualidade da carne, do couro, bem como no aproveitamento
de carcaça.

Considerando o prejuízo já mencionado, decorrente de hematomas e contusões, outro fator,


o estresse animal, vivenciado durante o manejo, na propriedade ou em matadouros mal
planejados, eleva o pH da carne, diminuindo, assim, sua vida útil.

No processo de manejo pré-abate, as etapas mais críticas são as relacionadas com o embarque
e desembarque de animais, onde rotinas inadequadas e procedimentos equivocados terminam
por causar contusões e demais problemas relacionados, resultando em prejuízos financeiros
ao pecuarista.

Empregados mal treinados (ou não treinados) são, em parte dos casos, responsáveis por tais
danos, quando batem ou acuam os animais contra cercas e porteiras. A formação de lotes
novos, para a fase final de produção, pode ser responsável indireta, já que a “ordem social
estabelecida” é quebrada com a chegada de novos indivíduos ao grupo de animais.

Conforme o manual de boas práticas de produção agropecuária para bovinos de corte da

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 85


Embrapa Gado de Corte, alguns procedimentos e rotinas podem ser utilizados durante a vida
do animal e, principalmente, pelo manejo pré-abate, para se preservar a qualidade da carcaça
e do couro bovino.

Algumas diretrizes quanto ao manejo pré-abate são consideradas no quadro 6.

Quadro 6. Diretrizes relacionadas com o manejo pré-abate do gado bovino de corte


- Antes do embarque, agrupar os animais no curral com antecedência, em lotes uniformes, de acordo
com o sexo, a faixa de idade e o peso.

- Evitar apartações e correrias com os animais no momento do embarque.

- Evitar, sempre que possível o uso de aguilhões e choques elétricos.

- Evitar o uso de cães, paus e objetos pontiagudos no manejo e condução dos animais, para evitar a
ocorrência de hematomas, traumatismo e estresse.

- Não embarcar animais doentes junto com animais sadios.

- Verifi car se o embarcadouro oferece condições seguras de procedimento de embarque.

- Respeitar a lotação máxima do caminhão.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006).

A adoção desses procedimentos permite ganhos consideráveis na qualidade do produto final,


bem como reduz custos (perdas) envolvidas no processo produtivo.

86 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Pense como o bem-estar animal pode infl uenciar nos aspectos mercadológicos na Cadeia Produtiva
da Carne Bovina. Como os clientes mais exigentes, sobretudo, do mercado externo, valorizam estas
questões?

FORMAÇÃO E MANEJO DE PASTAGENS


Fonte: PHOTOS.COM

Segundo a Embrapa Gado de Corte, na definição proposta no manual de boas práticas na


produção de bovinos de corte, trata da formação, recuperação e manejo das pastagens, que,
por serem o principal componente da alimentação de bovinos de corte, afetam diretamente a
produtividade, bem como a sustentabilidade do sistema de produção.

As pastagens devem possuir qualidade e quantidade suficientemente adequadas para atender


as demandas nutricionais das diversas categorias de animais, de forma perene, durante o ano
todo. Portanto, na formação de uma pastagem, a escolha das espécies forrageiras adaptadas
ao tipo de exploração, solo e clima da região é o primeiro fator a ser considerado.

Quanto à formação e recuperação das pastagens, antes de iniciar qualquer processo de

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 87


desmatamento em áreas de vegetação nativa deve-se consultar a legislação ambiental. A
escolha das sementes é um ponto fundamental nesse processo, haja vista que as sementes
devem ser adaptadas às condições de clima e solo da região, bem como devem ser liberadas
e autorizadas pelo MAPA.

Além da aquisição de sementes oriundas de fontes legítimas, a compra dos demais insumos
deve ser realizada somente com empresas regularizadas. Outro ponto a ser observado nesse
processo, é o rodízio ou diversificação de pastagens, para evitar o monocultivo ou ainda a
consorciação com gramíneas ou leguminosas.

Uma prática polêmica e muito empregada é a utilização da cama de frango como adubo
orgânico nas pastagens. A adoção deste procedimento pode representar sérios riscos de
contaminação por agentes patogênicos.

Já no que se refere ao manejo da pastagem, sabe-se que quando bem executado, além de
garantir a qualidade e a oferta regular de forragens, permite o prolongamento da vida produtiva
das pastagens, reduzindo os custos de produção.

Para que o manejo ocorra da forma adequada, alguns pontos são fundamentais, tais como:

I) Adequar a taxa de lotação à capacidade de suporte.

II) Não utilizar a queimada como manejo de pastagens, o que além de ser ambientalmente
incorreto, reduz a fertilidade do solo e propicia o aparecimento de erosão.

III) Fazer um planejamento das necessidades alimentares do rebanho.

IV) Realizar controle de ervas daninhas, e sempre que necessário, recompor nutrientes do
solo.

V) Treinar empregados quanto ao manejo adequado, fornecendo EPI (Equipamento de Prote-


ção Individual), quando do uso de defensivos agrícolas.

88 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR

A suplementação alimentar se encarrega da qualidade dos insumos e demais aditivos


empregados na suplementação animal, com vistas a garantir a produção de alimentos
economicamente viáveis e seguros, isentos de resíduos que possam prejudicar a saúde
humana.

A melhoria na eficiência do processo produtivo se torna nítida com a suplementação animal,


resultando no melhor uso das forragens, produzindo, por consequência, carne de melhor
qualidade, abatendo animais mais jovens, mais precoces, com melhor acabamento de carcaça.

No entanto, para a garantia da qualidade em todo o processo de produção, buscando evitar


agentes contaminantes ou resíduos que possam causar problemas à saúde animal e saúde
humana, algumas medidas devem ser adotadas. Uma “regra de ouro” é, estritamente, comprar
produtos aprovados pelo MAPA.

Os insumos componentes dos suplementos alimentares devem ser livres de quaisquer


substâncias que possam comprometer a qualidade do produto final, e por consequência, a
saúde do consumidor, tais como os resíduos de natureza química (agroquímicos e produtos
veterinários), física (corpos estranhos) e biológica (organismos patogênicos).

A aquisição de produtos deve ser realizada com empresas idôneas, que garantam a origem
e procedência de seus produtos. O emprego de antibióticos, hormônios ou promotores de
crescimento como aditivo alimentar é vedado, bem como é proibido o uso de farinha de osso,
farinha de carne, farinha de pena, cama de frango, sebo bovino, dentre outros elementos que
sejam oriundos ou contenham proteínas ou gorduras de origem de outros animais.

As rações ou reservas de suplemento volumoso, tais como silagem, feno ou cana, devem
ser conservadas em locais protegidos, para garantir a qualidade da mesma e deve haver um
planejamento das necessidades dos animais ao longo do ano, prevendo períodos de carência

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 89


de alimentação.

IDENTIFICAÇÃO ANIMAL, RASTREAMENTO E CERTIFICAÇÃO

Conforme definição da Embrapa no Manual de Boas Práticas na Produção de Gado Bovino de


Corte, a identificação animal e o rastreamento tratam das formas de identificação individual e o
registro de ocorrências, que contribuem de maneira significativa na avaliação do desempenho
individual e do rebanho e no rastreamento das informações obtidas ao longo da vida do animal.

Essa identificação individual e consequente registro do histórico de ocorrências do animal,


bem como as práticas de manejo durante a vida do mesmo, são fundamentais para realizar
uma avaliação adequada do desempenho e qualidade do rebanho.

A associação desta prática com procedimentos adequados de Boas Práticas Agropecuárias


permite a garantia ao consumidor de que o alimento que é entregue ao mesmo, é livre de
resíduos contaminantes de qualquer natureza, que possam comprometer a saúde do
consumidor.

Algumas diretrizes básicas do processo de identificação animal são observadas no Quadro 7.

Quadro 7. Diretrizes relacionadas com o processo de identifi cação animal


- Proceder à identifi cação de todos os animais ao nascimento.

- Utilizar um sistema de identifi cação que garanta a verifi cação e a comprovação, ao longo do tempo,
do conjunto de informações numéricas e descritivas, relacionadas com o histórico do animal ou do
grupo de animais manejados.

- Utilizar formas de identifi cação que garantam a individualidade, a fi xação no animal de forma per-

90 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


manente e inviolável. Os tipos mais frequentes de utilização são os brincos auriculares, tatuagem na
orelha, marca a ferro quente e identifi cadores eletrônicos.

- A marca a fogo deve ser utilizada apenas nos locais permitidos pela legislação em vigor, (Lei nº
4.714 de 29 de junho de 1965), ou seja:

a) O gado bovino só poderá ser marcado a ferro candente na cara, no pescoço e nas regiões situadas
abaixo de uma linha imaginária, ligando as articulações fêmuro-rótulo-tibial e húmero-rádio-cubital,
de sorte a preservar de defeitos a parte do couro de maior utilidade, denominada grupon.

b) É proibido o uso de marca cujo tamanho não possa caber em um círculo de onze centímetros de
diâmetros (0,11m).

c) É proibido o emprego de marca de fogo, por parte dos estabelecimentos de abate de gado bovino,
para identifi cação de couros.

- Na necessidade de atender mercados específi cos, observar as normas do sistema de identifi cação,
rastreamento e certifi cação estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006).

Em relação ao rastreamento bovino, seguem no Quadro 8, algumas diretrizes norteadoras do


processo.

Quadro 8. Diretrizes relacionadas com o processo de rastreamento animal


- Manter atualizado o registro individual de ocorrências de todos os animais, tais como: nascimentos,
mortes, controle sanitário e reprodutivo, desempenho produtivo e reprodutivo e suplementos ener-
géticos, protéicos e minerais utilizados entre outros.

- Manter atualizados os arquivos e as fi chas de controle sanitário preventivo ou curativo, sejam eles,
individuais ou por lote, anotando-se a data da ocorrência, número da partida e do lote do medica-
mento utilizado, laboratório e data da validade do produto.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 91


- Exigir a guia de trânsito animal (GTA) no ingresso de animais na propriedade e emitir a mesma para
a saída de animais. Observar a quarentena quando da aquisição de animais.

- Disponibilizar as fi chas e arquivos de controle sanitário aos fi scais do serviço de inspeção sanitária
ofi cial e aos auditores do sistema de rastreamento ligados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), responsável pelo sistema brasileiro de Identifi cação e Certifi cação.

- Comunicar à Certifi cadora responsável todas as movimentações (transferências entre propriedades,


vendas para terceiros, venda para frigorífi cos e compras), sendo necessário o número individual dos
animais e cópia das GTAs.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006).

Além de garantir a qualidade do produto, por meio da garantia de procedência e conhecimento


do histórico do animal, os processos de identificação e rastreabilidade conferem maior
segurança ao consumidor, não mais observado como diferencial competitivo, mas critério
qualificador para competir em mercados mais exigentes.

Conforme documento desenvolvido pelo CIRAD (Centre de Coopération Internationale en


Recherche Agronomique pour le Développement), em outubro de 2002, algumas informações
sobre o SISBOV são apresentadas.

No início de 2002, foi instituído pela Instrução Normativa nº 1 de janeiro de 2002 do MAPA o
SISBOV (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina) a
permissão de que os animais destinados ao abate estejam aptos para serem exportados para
União Europeia na primeira etapa e para outros mercados e mercado interno.

92 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Figura 2 – Brinco de identificação do SISBOV

Fonte: Nelore-MS - <http://www.nelorems.org/noticias/ver/1550/mapa-fara-projeto-piloto-do-sisbov.


html>.

Esse sistema define ações, medidas e procedimentos para identificar, registrar e monitorar,
individualmente, todos os bovinos e bubalinos nascidos no Brasil ou importados.

Segundo definição do MAPA, o objetivo do SISBOV é registrar e identificar o rebanho bovino


e bubalino do território nacional, possibilitando o rastreamento do animal desde o nascimento
até o abate, disponibilizando relatórios de apoio à tomada de decisão quanto à qualidade do
rebanho nacional e importado.

O SISBOV aplica-se em todo o território nacional, às propriedades rurais de criação de bovinos


e bubalinos, às indústrias frigoríficas e às entidades certificadoras, enfim, toda a Cadeia
Produtiva da Carne Bovina. O documento de identificação dos animais registrados no SISBOV
é emitido pelas entidades certificadoras. Esse documento deve constar:

I) Números do animal, do SISBOV e na certificadora.

II) País de origem, raça, sexo.

III) Data e propriedade (com município e estado) de nascimento.

IV) Data e propriedade (com município e estado) de identificação.

V) Identificação da certificadora e logotipo do MAPA.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 93


VI) Sistema de criação e alimentação.

VII) Registro das movimentações.

VIII) Comprovação de informação adicional para a certificação.

IX) Dados sanitários (vacinação, tratamentos e programas sanitários).

No caso de animais importados, deverão ser identificados o país e propriedade de origem,


datas da autorização de importação e de entrada no país, números de Guia e Licença de
Importação e propriedade de destino.

Com a introdução do sistema de rastreabilidade SISBOV, desde a fazenda até o consumidor


final, o Brasil, que foi pioneiro na certificação em nível de frigorífico desde a década de 50,
procura consolidar sua posição atual de exportador de carne segura e de qualidade com um
produto garantido e diferenciado para os consumidores e, desta forma, conquistar a liderança
do mercado mundial.

Também fundamental nesse processo de garantia de qualidade de produtos agropecuários,


em foco a carne bovina, a certificação se refere ao processo de certificar, constatar, enfim,
definir que determinado produto possui os atributos necessários para ser enquadrado em um
específico tipo, qualidade ou classificação de produto, ou atende às regras de um nicho de
mercado, garantindo que esse produto se enquadra nessas normas predefinidas.

Esse mecanismo de garantia de qualidade visa proporcionar ao consumidor ou ao comprador


do produto, a certeza de que a carne bovina que está adquirindo atende às regras, normas,
especificações técnicas previamente estabelecidas, estando em conformidade com elas.

A certificação envolve normas e um órgão certificador, com poder de monitoramento e exclusão.


As atividades de auditoria do sistema são de competência de organismos independentes.

A certificação pode ser fruto de um processo voluntário, onde o frigorífico eleva o nível de

94 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


qualidade de seu produto para atender mercados mais exigentes e oferecer maior qualidade
ao seu consumidor. A empresa que adota tais procedimentos visa melhorar sua imagem
no mercado, agregar valor ao produto, conquistar a confiança do consumidor e aumentar a
credibilidade junto a estes.

Outra modalidade de certificação é o chamado processo compulsório ou obrigatório, surgindo


principalmente quando o mercado possui informações assimétricas e não fornece ao
consumidor um conjunto de informações suficientes para atestar a qualidade de um produto.

No Brasil, vários órgãos atuam na certificação de produtos e serviços (INMETRO, ABNT,


Ministérios). Por exemplo, os produtos orgânicos, para receberem tal certificação e,
consequentemente, selos e posterior emissão do certificado para comercialização, passam
por um exigente processo de enquadramento nestes moldes. No Brasil, o IBD, Instituto
Biodinâmico é internacionalmente aceito como empresa certificadora.

Para exportação da carne bovina, por exemplo, cada mercado possui suas exigências quanto
a padrões de qualidade. As empresas certificadoras tomam como base de seus trabalhos
os parâmetros propostos nas respectivas normas. As normas europeias (CEE) possuem um
protocolo de qualidade para os produtos adentrarem nesses mercados. O padrão GlobalGap,
antigo EurepGap, é integrado por um conjunto de normas que regulamentam a entrada de
produtos em determinados mercados.

O que vem a ser rastreamento, certifi cação e identifi cação animal? Como esses fatores podem infl uen-
ciar na qualidade do produto, bem como no processo de agregação de valor ao produto?

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 95


CONTROLE SANITÁRIO

Nos mercados mais exigentes (hoje até mesmo nos mercados menos exigentes), os aspectos
ligados ao controle sanitário do rebanho são fatores decisivos no processo de aceitação
desses produtos nesses mercados.

As famosas barreiras sanitárias e fitossanitárias, que se referem ao impedimento e/ou


proibições que um produto sofre para adentrar em outro país, em virtude de problemas ligados
a contaminação por agentes biológicos, tais como bactérias, fungos etc.

Uma das formas de se evitar que o produto se enquadre nesse rol de produtos “rejeitados”
é o efetivo controle sanitário. O controle sanitário trata das medidas preventivas e curativas
recomendados para o bom desempenho do rebanho, assegurando a produção de alimentos
saudáveis, conforme determinado pelo manual de boas práticas na pecuária bovina de corte
- Embrapa Gado de Corte.

O controle sanitário se faz importante, considerando que a ocorrência de doenças e parasitas,


quando não controlados, prejudica o desempenho do rebanho como um todo. Quando
executado adequadamente, esse processo permite ganhos comerciais, já que problemas
desta natureza podem comprometer a qualidade do couro e da carne produzidos, dificultando a
comercialização e favorecendo a criação de barreiras sanitárias pelos mercados consumidores.

No Quadro 9, logo abaixo, algumas diretrizes com relação ao controle sanitário são explicitadas:

Quadro 9. Diretrizes relacionadas com o controle sanitário


- Devem ser adotadas medidas preventivas de controle das enfermidades, adotando um cronograma
de controle sanitário e reprodutivo, conforme os programas ofi ciais.

96 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


- Cumprir o calendário de imunização preventiva e obrigatória do rebanho contra a febre aftosa, bru-
celose e raiva.

- Promover o treinamento dos colaboradores quanto à identifi cação de problemas sanitários do reba-
nho, bem como em relação à adequada manipulação das vacinas e medicamentos.

- Em caso de doenças transmissíveis de algum animal, isolar o indivíduo e contatar um médico-


-veterinário, comunicando as autoridades competentes em caso de qualquer problema.

- Atender as normas do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose


(PNCEBT).

- Manter atualizados os controles de vacinação e medicamentos, dispondo aos fi scais e auditores,


essas fi chas.

- Eliminar animais mortos, mediante a queima total da carcaça em local apropriado, para evitar a
contaminação das pastagens e lençol freático.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006).

Além do controle sanitário realizado contras as contaminações mais conhecidas, como a febre
aftosa e brucelose, outros problemas como a raiva, tuberculose, o botulismo, a leptospirose e
a cisticercose bovina devem ser controladas na propriedade rural, para o adequado controle
sanitário.

MANEJO REPRODUTIVO

O manejo reprodutivo se refere às principais práticas de manejo, que visam otimizar o


desempenho reprodutivo e produtivo do rebanho de cria, de forma racional, econômica e sem
promover a degradação ambiental.

Quando falamos em manejo reprodutivo, falamos da “linha de produção” em uma unidade rural
produtora de bovinos de corte. A busca pela maior eficiência produtiva e melhores níveis de

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 97


desempenho nesse processo é o que se espera.

Nesse processo, a exploração comercial do sistema de cria tem por objetivo principal otimizar
a produção de bezerros desmamados. Portanto, a viabilidade econômico-financeira do projeto
vai depender da eficácia e eficiência com que são utilizados os meios disponíveis para melhoria
da produtividade.

Assim, algumas diretrizes relacionadas com o manejo reprodutivo são apresentadas no quadro
10:

Quadro 10. Diretrizes relacionadas com o manejo reprodutivo


- Estabelecer um período de monta é fundamental para defi nir um lote padronizado e homogêneo, o
que tem grande valor comercial, além de disciplinar as demais atividades como controle sanitário,
castração, desmamas etc.

a) A estação de monta deve ser a mais curta possível, ao redor de três meses, podendo começar um
mês após o início das chuvas.

b) As vacas devem ser identifi cadas e separadas em lotes por categoria: novilhas, vacas primíparas e
vacas multíparas.

- Defi nir se o sistema de acasalamento será de monta natural, monta controlada ou inseminação
artifi cial, por exemplo.

- Adequar a melhor relação vaca/touro, ou seja, identifi car o número de vacas ideal para cada indiví-
duo (touro);

- Efetuar o diagnóstico de gestação e descarte de fêmeas não prenhes, podendo ser iniciado a partir
dos 45 dias após o fi nal da estação de monta.

- Realizar o exame andrológico nos touros, assim verifi cando a fertilidade de cada indivíduo, geral-
mente 60 dias antes do início da estação de monta, descartando os animais de baixa fertilidade.

98 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


- Cuidar dos bezerros, desde o processo de desmama, zelando pela redução do estresse dos bezer-
ros.

- Avaliar a condição corporal das vacas ao parto, sobretudo, no que se refere à correção do manejo
alimentar.

- Preparar novilhas para a reposição das vacas descartadas. Recomenda-se que as novilhas estejam
com o peso ao redor de 65% do peso das vacas adultas para serem entouradas.

- Os animais machos devem ser castrados, com vistas a facilitar o manejo, já que torna os animais
mais dóceis, permite a mistura de bois e vacas e elimina distúrbios de conduta sexual. Outra vanta-
gem é que os animais castrados têm uma melhor aceitação no mercado, já que suas carcaças são
consideradas como de maior qualidade.

Fonte: adaptado de Embrapa Gado de Corte (2006).

Quando fazemos a analogia entre agronegócio, no caso, o agronegócio da carne bovina


de corte e os negócios tradicionais a serem geridos como, por exemplo, uma fábrica, uma
indústria, muitos “torcem o nariz”, por julgarem as atividades como extremamente diferentes,
peculiares.

É correto considerarmos as particularidades e distinções de cada atividade, porém, é fato que


a administração desses negócios passa pelos mesmos processos: planejar, organizar, dirigir e
controlar, tal como no princípio administrativo.

Na linha de produção de bovinos de corte, para culminar na carne destinada ao consumidor,


touros e vacas são comparados às máquinas de uma fábrica, de uma indústria. “´Máquinas”
melhores, mais desenvolvidas, são geralmente mais produtivas, mais eficientes e geram
melhores produtos finais. No caso da pecuária bovina de corte, melhores bezerros são os que
gerarão melhor qualidade da carne.

Assim, os mesmos cuidados que os outros negócios demandam no trato com o processo de

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 99


gestão, o agronegócio da carne bovina também exige.

ABATE CLANDESTINO NA BOVINOCULTURA BRASILEIRA: AVANÇOS E


DESAFIOS

Sabe-se que no Brasil trata-se de uma característica marcante dos produtos alimentares, a
ocorrência de mercados paralelos ou informais, que disputam os consumidores com o mercado
ético ou lícito. O problema principal é que quando falamos em informalidade na produção de
alimentos, envolvemos também a segurança do alimento e, consequentemente, isso se torna
uma questão de saúde pública (AZEVEDO; BANKUTI, 2003).

Um destes mercados informais ou paralelos tem base no abate clandestino de bovinos.


Estimativas do ano de 2003 apontavam que cerca de 50% do mercado brasileiro de carne
bovina é dominado por proteínas bovinas animais oriundas e/ou provenientes de abatedouros
clandestinos. A condição para caracterização do abate como clandestino se refere a duas
variáveis fundamentais: a ausência de fiscalização pelo Serviço de Inspeção Federal e a
sonegação fiscal, muitas vezes ocorrendo de forma simultânea.

O abate clandestino se refere às práticas que impedem o controle sanitário, a rastreabilidade,


a identificação da carne, já que com estes procedimentos marginais não existem exames
adequados das carcaças animais, bem como não se observam as normas e procedimentos
sanitários durante a manipulação do animal e/ou das partes.

Os abatedouros clandestinos, em sua maioria, possuem estruturas e condições precárias de


trabalho, já que não possuem água tratada, ratos, moscas, cachorros e urubus têm acesso
livre às instalações, circulando livremente; os equipamentos, facas, vasilhas e demais
utensílios são sujos e sem qualquer assepsia, não existem câmaras frigoríficas e os produtos
são transportados sem nenhum cuidado.

As condições de trabalho são subumanas, onde os trabalhadores que atuam nestes

100 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


abatedouros clandestinos não possuem registro em carteira, trabalham sem equipamentos de
proteção individual (EPI), tais como luvas, gorros, roupas apropriadas, bem como é frequente
a presença de crianças em prática ilegal e criminosa de trabalho infantil.

Nos abatedouros clandestinos, os restos dos animais abatidos, como sangue, carcaça, vísceras
e demais detritos são atirados aos rios sem qualquer tratamento ou ainda abandonados em
terrenos baldios, sem qualquer preocupação com contaminações ao meio ambiente e às
pessoas, causando mau cheiro, poluindo o ar, o solo e as águas.

No ano de 2008, Willadesmon Silva, médico -eterinário e então diretor de Inspeção de Produtos
de Origem Animal da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), escreveu um
artigo no site <http://www.portaldoagronegocio.com.br>, sendo este, base de boa parte das
exposições abaixo realizadas.

Sabe-se que o abate clandestino, considerado uma prática condenável que ocorre de norte a
sul do Brasil, representa um dos mais preocupantes fatores de risco à saúde pública nacional,
pela exposição a agentes infecciosos e parasitários, como aqueles que são transmitidos ao
homem pelos animais, pela ingestão de alimentos de qualidade sanitária duvidosa e pela
contaminação do meio ambiente.

Os abates clandestinos representam um grande desafio para as autoridades sanitárias, porque


impede o controle sanitário efetivo e a rastreabilidade da carne, já que se torna impossível o
exame adequado das carcaças, bem como a não observância de normas e procedimentos
sanitários durante a manipulação do animal, o que fere a legislação e o direito do consumidor.

Na verdade, trata-se de um crime contra os consumidores que precisa ser coibido com
veemência pelos poderes públicos. Esse perigo que representam os abates clandestinos à
saúde do brasileiro são demonstrados pelas doenças transmitidas por alimentos contaminados,
sendo estes, responsáveis por significativos gastos públicos no Sistema Único de Saúde –
SUS.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 101


Mecanismos mais rígidos de Inspeção são fundamentais neste processo, seja por meio do
combate à produção e comercialização de alimentos clandestinos ou de procedência duvidosa,
como pelo aumento da oferta de produtos inspecionados pelas fiscalizações higiênico-
sanitários.

O estado da Bahia pode ser considerado um exemplo da união de lideranças em prol do


combate à clandestinidade no abate de animais. O Ministério Público do Estado da Bahia
liderou uma campanha de combate ao abate clandestino.

A figura 3 apresenta a capa da cartilha de conscientização da população sobre os riscos do


consumo de produtos oriundos da clandestinidade.

Figura 3. Cartilha de conscientização contra o leite e carne clandestinos


Fonte: Ministério Público do Estado da Bahia

102 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Por meio de ações pontuais e específicas, visando a conscientização, com a educação da
população por meio de cartilhas e palestras, fiscalização e denúncias, bem como o requerimento
de ações civis públicas contra infratores, a sociedade civil já colhe resultados positivos.

Na figura 4, podemos observar um dos produtos utilizados pelo Ministério Público do Estado
da Bahia para conscientização da população sobre os riscos do consumo de produtos
clandestinos, um veículo de comunicação em massa, o outdoor.

O interessante é que a propaganda tem como destaque a exigência de carimbo do SIF (Sistema
de Inspeção Federal) como identificador e sinalizador de procedência do produto.

Figura 4. Outdoor – campanha de conscientização sobre abate clandestino - Bahia

Fonte: Ministério Público do Estado da Bahia

O Ministério Público da Bahia, também visando a denúncia de irregularidades no abate


de animais, desenvolveu e espalhou cartazes pelas cidades do estado, visando dar maior
visibilidade a campanha, como podemos observar na figura 5.

Conforme Willadesmon Silva (2008), os abates nos frigoríficos oficiais da Bahia aumentaram,
assegurando a qualidade das carnes comercializadas e a segurança do alimento. No ano de
2007, o Serviço de Inspeção contabilizou o abate de 565 mil bovinos, um acréscimo de 20%
em relação a 2006, bons resultados, que revelam o sucesso contra o abate clandestino, aquele

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 103


sem inspeção oficial.

Figura 5. Cartaz – campanha de conscientização sobre abate clandestino - Bahia

Fonte: Ministério Público do Estado da Bahia

104 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Foram realizadas adequações nas instalações dos frigoríficos registrados; a inauguração de
três novas indústrias nas cidades de Santa Maria da Vitória, Serrinha e Amargosa ajudaram
neste processo. Para se ter uma ideia deste avanço, no ano de 1996 a Bahia possuía oito
matadouros frigoríficos; hoje, são vinte e quatro com inspeção federal ou estadual.

Foi fundamental pra o êxito das ações, a Portaria 304/96, do Ministério da Agricultura, que
regulamenta o abate, o transporte e a comercialização de carnes.

Para esse desenvolvimento ocorrido no caso baiano, várias reuniões com lideranças, tais
como prefeitos, promotores, açougueiros, donas de casa, estudantes, produtores rurais foram
realizadas.

Além das campanhas educativas acima mencionadas, foram realizadas orientações técnicas,
bem como a proposição de novos arranjos produtivos e soluções conciliadoras, afinal, deve-se
levar em conta os aspectos culturais e econômicos que estão envolvidos, considerando ainda
a urgência em transformar a realidade dos abates na Bahia.

Neste processo, foram intensificadas as fiscalizações, apreenderam-se carnes fora dos


padrões, novos polos e regiões foram criados, elevou-se a oferta de carne com qualidade,
melhorando a saúde de nosso povo; mas ainda muito precisa ser feito!

Embora pareça incrível, há os que insistem em promover os abates clandestinos. A atuação


dos municípios, por meio da vigilância sanitária é fundamental no combate ao comércio ilegal,
na educação ambiental e do consumidor. Infelizmente, a adesão de todos ainda é uma utopia,
já que algumas prefeituras e produtores deram pouca importância a esta prática criminosa,
que agride a dignidade humana e desrespeita os consumidores.

O papel do Ministério Público foi decisivo, onde se possibilitou a realização de diagnósticos do


abate em 210 municípios; estes resultaram na interdição de 99 matadouros e locais de abates
clandestinos somente em 2007, além da elaboração de filmes didáticos, cartilhas e impressos,
que hoje são solicitados e distribuídos em todo o Brasil.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 105


Tais medidas devem promover o desenvolvimento rural sustentável, a saúde pública e a
inclusão social. No caso baiano, os programas de segurança alimentar e defesa agropecuária
dinamizam a economia do estado. Só assim, a população ficará livre do abate clandestino,
livre de doenças, restando apenas carne saudável, de qualidade e procedência garantidas.

Em nível de Brasil, Azevedo e Bankuti (2003) comentam que a informalidade representa não
apenas um ganho fiscal, mas, sobretudo, um ganho derivado do aproveitamento de carcaças
que seriam rejeitas por riscos sanitários ou falta de padrão.

Portanto, mesmo que haja redução de impostos, ainda assim a informalidade apresenta
atrativos e proporciona ganhos. A fiscalização deficitária se apresenta como outro sério
problema que ainda faz com que os abates clandestinos permaneçam.

Os mecanismos de coordenação do mercado informal da carne bovina assentam-se em


estruturas de governança particulares, como a integração vertical entre abate e distribuição e
a relação de confiança entre consumidor e açougueiro.

Com base em pesquisa de Buso (2000, apud AZEVEDO e BANKUTI, 2003), cerca de 75% dos
consumidores depositam confiança na segurança do alimento. O que causa espanto, é que
esta confiança não decorre de cerificações sanitárias ou dos órgãos competentes, mas sim,
do relacionamento entre consumidor e ponto de venda.

Assim, como argumentam AZEVEDO e BANKUTI (2003), os problemas relacionados à


informalidade e ao abate clandestino não se sustentam em uma variável apenas, mas em uma
conjunção de diversos fatores do ambiente competitivo e institucional, tais como a elevada
sensibilidade a preço nos estratos sociais de renda inferior e os aspectos culturais próprios do
comércio informal de carne.

106 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


De que maneira o abate clandestino pode comprometer a credibilidade e a competitividade da Cadeia
Produtiva da Carne Bovina?

Como saber se a carne é inspecionada?

No varejo, vários aspectos podem ajudar o consumidor a saber se o produto que ele está comprando
vem de estabelecimento inspecionado. Quando a carne se apresenta em cortes e embalada, a rotula-
gem deve conter todas as informações necessárias para que se saiba que estabelecimento processou
aquele produto, como a logomarca do serviço de inspeção, que contém um número que identifi ca o
estabelecimento, a data do processamento, a data de validade, a temperatura de conservação etc.
Quando está em grandes peças, é possível observar os carimbos de inspeção (de cor azul/roxa, feitos
com tinta atóxica) em cujo interior existe um número que identifi ca o estabelecimento produtor. Se as
peças estiverem em cortes e se não houver nenhuma identifi cação do estabelecimento produtor, o
consumidor deverá exigir do estabelecimento varejista a nota fi scal de compra do produto, o que lhe
permitirá constatar se a carne veio de estabelecimento registrado ou não.
Caso não se comprove a origem da carne, o consumidor deve denunciar o estabelecimento às autori-
dades de saúde pública para que seja feita a verifi cação da qualidade do produto oferecido.
A denúncia pode ser encaminhada à Secretaria da Saúde, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 107


Abastecimento ou à Secretaria de Agricultura ou ainda a organizações não-governamentais, que as
levarão ao conhecimento das autoridades competentes.
Texto elaborado pelo Médico Veterinário Carlos Maurício Leal, diretor do SISP (Serviço de Inspeção
de Produtos de Origem Animal do Estado de São Paulo).
Fonte: <http://www.sic.org.br/inspecao.asp>. Acesso em: 12 abr. 2011.

O Boi orgânico

Muito se fala em produtos orgânicos, quando tratamos do tema da segurança do alimento nos
últimos anos, sobretudo, após os incidentes envolvendo contaminação animal por ingestão de
substâncias de origem duvidosa ou desconhecida, tais como os problemas relacionados aos
casos de BSE – Encefalopatia Espongiforme Bovina, popularmente conhecido como mau da
vaca louca, ocorridos na Europa no final do século passado.

O boi orgânico faz parte de um sistema que tem como premissa o economicamente viável, o
ecologicamente correto e o socialmente justo, pilares do desenvolvimento sustentável. Além
de o animal ser criado de maneira mais saudável, é preciso que o pecuarista não esteja
degradando a natureza e que ele ofereça a seus funcionários boas condições de trabalho e
de vida.

Nas palavras de Resende e Signoretti (2005), podemos considerar que o sistema orgânico
de produção de carne bovina é aquele em que sejam adotadas tecnologias que façam uso
dos recursos produtivos de maneira sustentável, onde haja preservação e ampliação da
biodiversidade do ecossistema local, conservação do solo, água e ar.

Além disso, deve ser independente em relação a fontes energéticas não renováveis e
eliminando os insumos artificiais tóxicos, como os agrotóxicos, organismos geneticamente
modificados e outras substâncias contaminantes que possam prejudicar a saúde da população
e o meio ambiente.

108 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Flávio Dutra Resende e Ricardo Dias Signoretti são pesquisadores científicos da Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - APTA - Polo Regional da Alta Mogiana, um órgão
da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo; estes escreveram um
artigo pontuando algumas questões sobre o sistema orgânico de produção de carne bovina,
que será base principal da discussão que se segue neste tópico, juntamente com o documento
de Diretrizes para o Padrão de qualidade Orgânico Instituto Biodinâmico (2006).

Os consumidores contemporâneos, principalmente nos países desenvolvidos e, mais


recentemente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, têm cada vez mais
buscado consumir alimentos orgânicos. No Brasil, a demanda por orgânicos tem crescido a
uma taxa média de 10% ao ano. Mundialmente, a procura por esses produtos tem aumentado
entre 20 a 30%.

No setor de varejo de alimentos, as grandes redes brasileiras verificaram crescimento de 50%


no mercado de produtos orgânicos. Segundo avaliação realizada por estas redes, os preços
destes produtos a cada dia são mais valorizados, pois existe uma defasagem de 30 a 40%
entre a oferta e a demanda.

No que tange a pecuária orgânica, nos casos de contaminação dos rebanhos bovinos da
Europa tratados com proteína animal, mostrou-se existir enorme desequilíbrio entre a saúde
do homem, a sanidade dos alimentos e a sustentabilidade dos recursos naturais. Desta forma,
a busca do equilíbrio entre a sustentabilidade ecológica da produção passou a ser objetivo de
uma população preocupada com a segurança alimentar, a qualidade e a preservação do meio
ambiente.

Consideradas as condições edafoclimáticas do Brasil, representada por sua grande extensão


territorial, pastagens abundantes e fácil adaptação de animais, se nosso país atender as
exigências dos diversos mercados e organismos internacionais, tem potencial para tornar-se o
maior produtor e exportador de carne orgânica do mundo.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 109


Para que um produto possa ser comercializado como carne bovina orgânica ou seus derivados,
sob selo orgânico, estes devem ser produzidos em unidades de produção orgânica, seguindo
rigorosamente as normas técnicas determinadas por uma empresa de certificação credenciada
junto ao Poder Público.

Ainda, todo o sistema de produção de carne orgânica deve ater-se a uma filosofia holística,
que não se preocupe apenas com a produção de carne, mas sim, dê atenção aos aspectos
sociais e ambientais. Tome como exemplo de norma fora do estrito contexto da produção, a
exigência que todas as crianças da fazenda estejam frequentando a escola.

Uma condição essencial para que a carne seja considerada orgânica é que, ao menos uma
vez ao ano, a empresa certificadora deve realizar visitas, sendo permitido que venham mais
vezes, quando julgar procedente. A finalidade desta visita é manter atualizadas as informações
sobre os produtos certificados como orgânicos.

Em nível mundial, a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM)


é a organização que congrega o setor orgânico e edita e revisa as Normas Básicas de
produção que servem de base para as normas locais de cada país. No Brasil, os principais
órgãos certificadores são o Instituto Biodinâmico (IBD), credenciado pela IFOAM e tem seu
selo aceito em mercados internacionais e a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), que
tem abrangência nacional.

O que signifi ca a sigla IFOAM?


A sigla IFOAM representa, literalmente do inglês – International Federation of Organic Agriculture
Movements, podendo ser traduzido para português como Federação Internacional de Movimentos
da Agricultura Orgânica, entidade que determina os lineamentos básicos para este tipo de sistema
produtivo.
O IFOAM representa o movimento mundial de agricultura ecológica e é uma plataforma de intercâmbio

110 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


e cooperação internacional. Está comprometida com o desenvolvimento holístico dos sistemas agrí-
colas ecológicos, que inclui a conservação do meio e o respeito das necessidades da humanidade.
Entre nos links abaixo e saiba mais sobre a certifi cação de produtos orgânicos:
<http://www.ifoam.org/>.
<http://www.oiabrasil.com.br/prog-organicos-ue-faq.htm>.
<http://www.aao.org.br/>.

Na sequência, serão apresentadas as principais diretrizes do IBD para produção de carne


bovina orgânica, com base em Resende e Signoretti (2005) e IBD (2006).

Princípios gerais para a criação animal e produtos de origem animal:

a) O manejo de animais deve ser considerado como parte integrada de um organismo agro-
pecuário diversifi cado.

b) A criação animal deve contribuir para cobrir a demanda de adubo animal da atividade agrí-
cola da propriedade, criando uma relação solo-planta-animal de reciclagem.

c) Deve haver sustentabilidade entre produção animal e produção de seus alimentos.

d) Na combinação do uso de leguminosas, forragens e estercos, cria-se uma relação entre


agricultura e pecuária que permitirá sistemas de pastagem e agricultura favoráveis à con-
servação e melhoria da fertilidade do solo a longo prazo.

e) O manejo da criação deve levar em consideração o comportamento natural do animal.

f) As espécies e raças de animais escolhidas deverão estar adaptadas às condições locais.

Conversão das propriedades:

Com base na visão do IBD – Instituto Biodinâmico:


Entende-se por conversão o período necessário para se estabelecer um sistema
produtivo viável e sustentável, econômico, ecológico e socialmente correto. Esse
período deve ser suficiente para a descontaminação do solo dos resíduos de agrotóxicos.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 111


Entretanto, poderá ser insuficiente para melhorar a fertilidade do solo e restabelecer o
balanço do ecossistema, mas é o período no qual todas as ações requeridas para
alcançar estes objetivos são iniciadas (IBD, 2006, p.7).

Para a comercialização de carne bovina com o selo de produto orgânico do Instituto


Biodinâmico, deverá ser observado o seguinte:

a) Pastagens e forragens: áreas de pastagem poderão ter período de conversão reduzido


para doze meses se, em período de pelo menos três anos anteriores (a ser provado com
documentação e análises), não se utilizou nenhuma substância proibida por estas Diretri-
zes.

b) Os animais pré-existentes na propriedade e suas crias também deverão passar por período
de conversão.

c) Em propriedades que estão se convertendo para o sistema orgânico e desejam iniciar a


atividade de pecuária, as áreas de produção de forragem, pastagem e os animais compra-
dos de qualquer origem que ainda não seja certificada poderão passar pela sua conversão
simultaneamente, de acordo com os períodos estipulados abaixo: bovinos, para produção
de carne devem passar no mínimo ¾ de sua vida em sistema orgânico, sendo que o perí-
odo absoluto mínimo é de 12 meses.

Origem dos animais

O estabelecimento de rebanho adaptado ao sistema orgânico de produção deve ser visto


como o ideal a ser buscado. Transplantes de embrião e o uso de animais geneticamente
modificados por meio de engenharia genética são proibidos.

a) Os animais devem ser originários de unidades de produção orgânica. Quando animais


orgânicos não estão disponíveis o IBD poderá autorizar animais convencionais comprados
para certificação como orgânico.

b) Os bezerros de corte adquiridos de outras propriedades deverão nascer em áreas certifica-


das orgânicas e de matrizes introduzidas no sistema orgânico pelo menos três meses antes
de seu nascimento.

c) A compra de animais para renovação de rebanho (matrizes) será autorizada até no máximo

112 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


10% do rebanho para bovinos. Porcentagens maiores serão autorizadas conforme o caso
quando ocorrer catástrofe climática, expansão de lotes, introdução de um tipo diferente de
manejo.

Manejo dos animais

Em toda criação, deve-se considerar as necessidades do animal em relação a espaço,


movimentação, ventilação, proteção contra o excesso de luz solar direta, acesso à água e
forragem e comportamento próprio da espécie, para evitar o estresse.

a) É proibido excesso de adubos nas pastagens, colocando excesso de animais antes do


início do processo de certificação, com a finalidade de aumentar-se a produção de massa
verde.

b) Luz natural suficiente, de acordo com as necessidades dos animais, é necessária em qual-
quer estrutura de criação, bem como a proteção contra temperaturas excessivas, luz solar,
vento e chuva. As instalações deverão permitir regulação de arrefecimento, ventilação,
minimização de poeira, temperatura, umidade e concentração de gases.

c) Não serão usados materiais de construção ou equipamentos de produção que afetem a


saúde humana ou dos animais.

d) Mutilações somente serão permitidas para mochação em animais jovens. Castrações tam-
bém somente serão permitidas em animais jovens.

e) As áreas de pastagem deverão ser manejadas de maneira a permitir uma rotação que
viabilize a sua recuperação.

f) Os animais de criação deverão ser protegidos contra predadores e feras.

g) A reprodução dos animais deverá ser natural. Inseminação artificial é permitida. São proibi-
dos os métodos de reprodução, transplante de embriões e clonagem.

h) A amarração dos animais é proibida, salvo para ordenha, manejos específicos de sanidade
ou para animais perigosos.

i) Bezerros, animais jovens ou adultos, bem como outras categorias de rebanhos não deve-

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 113


rão ser mantidos isolados dos outros, após duas semanas do nascimento. O IBD poderá,
excepcionalmente, permitir para machos, animais doentes ou próximos de dar à luz.

j) O desmame será feito em animais jovens após o fornecimento de leite de sua própria espé-
cie dentro de um prazo que leve em conta o comportamento animal relevante da espécie.

Alimentação

Em primeiro lugar é importante salientar que a alimentação forçada é proibida. A alimentação


dos animais deverá ser orgânica. Se não for possível alimentar os animais totalmente com
alimentos de qualidade orgânica, valem as diretrizes abaixo, por tempo limitado a ser estipulado
pelo IBD:

a) a mistura de produtos em conversão é permitida até 20% da necessidade diária em matéria


seca. Se os alimentos em conversão provêm da própria unidade de produção a mistura é
possível em até 60% em matéria seca;

b) os recém-nascidos deverão ser alimentados com leite da mãe ou substitutos (bovinos até
pelo menos três meses);

c) para os ruminantes os volumosos devem corresponder a 60% da alimentação diária (ex-


presso em matéria seca);

d) pelo menos 50% da alimentação deverá ser proveniente da própria unidade, ou ser produ-
zida em cooperação com outras propriedades certificadas na região.

e) alimentos não orgânicos somente poderão ser fornecidos em casos de danos ambientais
não previstos ou eventos provocados não previstos, por um período determinado pela cer-
tificadora.

Para obtenção do selo de produto orgânico INSTITUTO BIODINÂMICO a ingestão máxima


de alimentos convencionais durante todo o ano não deve ultrapassar 10% do total da matéria
seca fornecida. Pode-se concentrar o fornecimento destes alimentos não orgânicos em alguns
períodos, desde que nunca ultrapassem 25% do total ingerido no dia, e 10%, em média, ao
ano.

114 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Figura 6. Selo de qualidade – certificado orgânico - IBD

Fonte: IBD – Instituto Biodinâmico

Quando o consumidor compra a carne bovina no varejo, acredita, mas não tem completa certeza da
procedência do produto consumido. Será que a carne vendida como produto orgânico nos pontos
de venda, de fato é? O consumidor da carne orgânica brasileira pode confi ar? Pense e discuta no
ambiente virtual.

A alimentação de inverno dos bovinos deverá ser a mais diversificada possível. O ideal é
utilizar pastagens de inverno, capineiras, bancos de proteínas, tubérculos, silagem, feno etc.
Outros alimentos deverão ser considerados como complemento.

O uso de tortas de oleaginosas, farelos, polpas de cacau ou citros e outros similares será
permitido desde que se tenha certeza de sua origem (sem contaminação com agrotóxicos
e resíduos de solventes) e de que não sejam transgênicos. Rações elaboradas a partir de
resíduos animais (cama de frango, farinha de carne, farinha de sangue, pó de osso e outras)

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 115


serão totalmente excluídos, com exceção de peixes, crustáceos e derivados.

Medidas sanitárias e medicamentos

Os cuidados com a saúde e bem-estar dos animais dependem de os seguintes princípios


preventivos estarem sendo observados:

a) Escolha da raça apropriada, adaptada e resistente.

b) Aplicação de manejo apropriado aos animais, satisfazendo às necessidades da raça, que


promove a resistência a doenças e infecções.

c) Fornecimento de alimentação de alto valor biológico, com exercícios e rotação de pasto,


que estimulem a resistência e imunidade natural dos animais.

d) Manejo em densidade/m² ou hectare que permita o bem-estar do animal e que iniba proble-
mas de saúde.

Com as medidas acima, deverá ser possível manejar animais de maneira natural e limitar
os problemas de saúde ao máximo. Se for necessário um manejo terapêutico, este deverá
ser preferencialmente natural, recorrendo-se a medicamentos sintéticos somente em último
caso, sem levar o animal ao sofrimento desnecessariamente, mesmo que isso leve à perda da
certificação orgânica.

O tratamento de animais acidentados ou de animais com medicamentos sintéticos, sempre


que o manejo permitir será em ambientes separados dos animais saudáveis.

A aplicação e uso de medicamentos veterinários no manejo orgânico seguem os seguintes


princípios:

a) Uso de produtos fitoterápicos, homeopáticos, acupuntura e minerais prioritariamente.

b) Caso a doença ou problema não tenham solução, poderão ser aplicados medicamentos
sintéticos ou antibióticos, sempre com acompanhamento do veterinário responsável.

116 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


c) O uso preventivo de medicamentos sintéticos alopáticos ou de antibióticos é proibido.

d) O uso de hormônios para indução de cio ou para estimular produtividade, além dos promo-
tores de crescimento como antibióticos e coccidiostáticos, são proibidos.

e) Vacinas obrigatórias por lei são permitidas. Vacinas profiláticas também são permitidas, se
as doenças estiverem ocorrendo na região de forma endêmica ou epidêmica.

f) Não é permitida a indução ao parto, exceto se aplicado a animais especificamente por


razões médicas ou por recomendação do veterinário.

g) Os animais tratados com medicamentos sintéticos alopáticos ou antibióticos deverão ser


identificados por lote ou, em caso de grandes animais, individualmente.

Deverá haver registro de toda e qualquer administração de medicamentos a animais à disposição


do inspetor. Antes da administração, a consulta ao Instituto Biodinâmico é recomendável e, no
caso de quimioterápicos proibidos ou restritos por estas Diretrizes, a consulta é indispensável.

A aplicação destes medicamentos deverá ter o acompanhamento e autorização com receita


médica.

O prazo de carência para o uso dos produtos de origem animal de animais tratados de forma
alopática sintética ou com antibióticos é de o dobro do tempo recomendado pelo fabricante.

Se um lote de animais for tratado de forma alopática sintética ou com antibiótico mais do
que três vezes ele perderá a certificação, devendo cumprir o prazo de carência para a sua
liberação como orgânico.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 117


Transporte e abate

Fonte: PHOTOS.COM

a) As atividades de transporte e abate deverão minimizar, tanto quanto possível, o estresse do


animal (deve considerar-se um tempo para o descanso dos animais). A distância transporte
até o abatedouro deve ser a menor possível.

b) O meio de transporte deve ser adequado a cada espécie animal. Os animais devem ser
alimentados de preferência com alimentos orgânicos e ter água disponível durante o trans-
porte, dependendo do clima e da distância.

c) Deve-se evitar o contato dos animais com animais já abatidos.

d) Os animais devem ser insensibilizados antes de abatidos. O uso de dióxido de carbono


é proibido. O uso de estímulos elétricos para condução animal é proibido, assim como
métodos de abate lentos e ritualísticos. Não deverão ser administrados tranquilizantes ou
estimulantes sintetizados quimicamente, antes ou durante o transporte.

e) Animais de sexos diferentes não deverão, se possível, ser transportados juntos, devendo
ser conduzidos de maneira pacífica.

f) Ao longo do transporte e durante o abate deverá haver uma pessoa responsável pelo bem-
-estar do animal.

g) O manejo dos animais no transporte e abate será o mais calmo e apropriado/gentil possí-
vel. O uso de bastões elétricos e instrumentos do gênero são proibidos.

h) O transporte dos animais da propriedade para o abatedouro não deverá exceder oito horas.
Exceções poderão ocorrer se o operador apresentar justificativas e esclarecer como será
minimizado o estresse.

118 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Identificação dos animais e produtos de origem animal – Rastreabilidade

Os animais e produtos de origem animal devem ser identificados com número de lote, tipo
de produto, data de processamento e peso, ao longo de todas as fases da cria, preparo,
processamento e comercialização.

Como comentário final sobre os procedimentos básicos para certificação do boi orgânico,
Resende e Signoretti (2005) argumentam que os consumidores brasileiros, semelhantes aos
europeus, têm procurado consumir produtos com os selos de sua confiança. Estes selos
conseguem transmitir credibilidade, transparência e confiança. O que o Brasil deve fazer é
investir em uma marca da carne brasileira orgânica, para garantir expansão das exportações.

Na busca constante por segurança do alimento, justiça social e preservação do meio ambiente,
os consumidores estão cada vez mais exigentes. Com o aumento da credibilidade das marcas,
novos mercados poderão ser conquistados; o Brasil precisa investir neste segmento, com uma
legislação eficiente e uma campanha nacional de conscientização do setor produtivo.

Uma sugestão de leitura interessante sobre o assunto discutido nesta unidade é o “Documento 129”
da Embrapa Gado de Corte - Campo Grande, que trata sobre as BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO
DE BOVINOS DE CORTE.
Esse documento você pode acessar pelo link:
<http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc129/>.
Entre lá e confi ra!

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 119


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então, prezado(a) aluno(a), tínhamos como objetivos principais nesta unidade II, explorarmos
os assuntos pertinentes às boas práticas na produção de bovinos de corte. Neste contexto,
foi possível analisar, além das boas práticas do setor, a produção orgânica de carne bovina, a
questão da clandestinidade, o SISBOV, os aspectos ambientais envolvidos e a necessidade de
sustentabilidade da pecuária bovina de corte.

Os esforços da Embrapa Gado de Corte e Associados na promoção da carne bovina brasileira


de qualidade se justificam pela necessidade de estabelecimento definitivo do status do Brasil
como país que produz carne bovina com excelência, bem como pela atenção às novas
demandas do mercado consumidor, buscando utilizar-se de alimentos dotados de qualidade.

Como foi possível observar, sem planejamento nada funciona, nem a produção de gado de
corte. Aplicar os princípios da gestão à propriedade rural torna-se imperativo... é lição de casa:
planejamento, organização, direção e controle.

O equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental deixa de ser “papo de ecochatos” como se
falava anos atrás, para ser uma condição de competição em alguns mercados, principalmente
os mais exigentes. Bem-estar animal e bons tratos no manejo são essenciais, como pôde ser
observado, e é exigência de mercado em muitas ocasiões.

A garantia de procedência dos produtos, em foco a carne bovina, pode ser assegurada pelos
sistemas de identificação, rastreabilidade e certificação. Neste contexto, o papel do SISBOV é
fundamental, sobretudo, na promoção de sua credibilidade. As organizações certificadoras de
alimentos, tais como as que identificam animais como orgânicos ou garantem a procedência
da carne consumida, tem tido grande destaque, sobretudo, quando se atendem mercados
mais exigentes.

Enfim, a participação efetiva dos agentes inseridos no ambiente institucional e organizacional


torna-se essencial no que tange a garantia da qualidade, no combate à clandestinidade,
àpunição aos infratores pela aplicação de penalidades, bem como pela conscientização da
população.

120 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. O que é e qual a importância da adoção de boas práticas de produção na pecuária de
bovinos de corte? Discuta.

2. O que pode se entender pela produção sustentável de carne bovina? Quais as dimensões
do desenvolvimento sustentável na Cadeia Produtiva da Carne Bovina?

3. O que é o APPCC (HACCP) e como se aplica na pecuária bovina de corte? Aprofunde a


pesquisa em fontes diversas e discuta como esse sistema pode contribuir com a qualidade
do produto final.

4. Qual a importância do processo administrativo (planejamento, organização, direção e con-


trole) no processo de gestão de uma organização inserida no agronegócio da produção de
carne bovina, sobretudo, no que se refere a gestão econômico-financeira?

5. O que trata a responsabilidade social em um projeto de pecuária bovina de corte? Cite


alguns pontos que devem ser devidamente administrados para que a imagem da organiza-
ção perante a sociedade e perante os consumidores não seja comprometida.

6. Qual a importância da gestão ambiental na produção de bovinos de corte? Discuta algumas


recomendações importantes relacionadas à boa gestão ambiental na produção de bovinos
de corte.

7. Qual a importância de instalações rurais adequadas para a pecuária bovina de corte? Dis-
cuta e aponte algumas recomendações importantes.

8. O que vem a ser bem-estar animal? Discuta por que os bons tratos na produção animal
tornaram-se importantes fatores na cadeia produtiva de carne bovina, bem como essa
questão afeta os mercados consumidores, sobretudo, os mercados internacionais mais
exigentes.

9. O que vem a ser rastreamento, certificação e identificação animal? Como esses fatores
podem influenciar na qualidade do produto, bem como no processo de agregação de valor
ao produto?

10. Qual a importância do manejo sanitário na propriedade rural? Neste contexto, discuta a im-
portância da questão sanitária na Cadeia Produtiva da Carne Bovina e quais os principais
obstáculos a serem superados pelo Brasil.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 121


UNIDADE III

PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DA


CARNE BOVINA DO BRASIL
Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

Objetivos de Aprendizagem

• Apresentar um breve histórico da pecuária de corte no Brasil.

• Realizar um panorama da cadeia produtiva de carne bovina do Brasil.

• Conhecer mercados, consumo e particularidades.

• Desvendar brevemente o papel das organizações, instituições e associações de


apoio e fomento à Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Brasil.

• Traçar uma breve perspectiva dos cenários futuros.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• As origens históricas da pecuária de corte no Brasil – breve histórico

• Panorama da bovinocultura brasileira: rebanho, regiões produtoras e sistemas


de produção

• Características mercadológicas da Cadeia Produtiva da Carne Bovina do


Brasil: consumo, sazonalidade, mercado interno, principais mercados
internacionais e mercados específicos (halal e kosher)

• O papel das instituições, associações e órgãos de apoio no fomento e


promoção da carne bovina brasileira

• Perspectivas da Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Brasil


INTRODUÇÃO

Então, caro(a) aluno(a), podemos seguir mais adiante no aprofundamento sobre a Cadeia
Produtiva da Carne Bovina? Confiante que sim, procurarei nesta unidade aprofundar a
disponibilização de conhecimentos e informações a respeito do caso brasileiro.

Quem nunca ouviu falar em Gado Zebu? Apresentando um breve histórico dos primórdios
da pecuária de corte no Brasil podemos entender e compreender um pouco mais sobre as
raças que originaram o atual plantel brasileiro, que gira em torno de 200 milhões de cabeças,
variando para cima ou para baixo conforme a fonte de informações estatísticas.

O fato é que em nosso país, este tipo de gado, principalmente no centro-oeste, somados a
outros fatores, encontrou condições ideais de reprodução, em escala comercial. Mas em cada
região brasileira, temos um tipo de raça e maior ou menos adaptação.

O avanço de Pesquisa e desenvolvimento, com introdução de avanços tecnológicos,


principalmente nas técnicas de reprodução e genética, bem como nas alimentares e
nutricionais, somadas a boas práticas sanitárias e de manejo, contribuíram para o avanço do
Brasil na pecuária bovina de corte, guindando o Brasil à condição de líder em exportações
mundiais no setor.

O Brasil irá atender diversos mercados ao redor do mundo, dentre eles mercados de níveis
de exigência significativos, tais como o europeu e japonês. Um destaque se dá a capacidade
de adaptação da indústria nacional, às necessidades dos diferentes tipos de consumidores,
permitindo assim, que o Brasil atenda a mercados de escopo, tais como o mercado Halal e
Kosher. O que é Halal? O que é Kosher? Você nunca ouviu falar?! Fique tranquilo!

Um importante aspecto a ser observado é o consumo interno e a concorrência com as outras


proteínas animais. Será que a carne bovina tem “sombra” de outras carnes como o frango e
o porco, por exemplo, ou não, reina líder absoluta na preferência do consumidor brasileiro?
Veremos!

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 125


PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DO BRASIL

A busca por informações com credibilidade e de fonte oficiais e de origem conhecida é


condição essencial para um bom estudo sobre uma cadeia produtiva. Em foco, a Cadeia
Produtiva da Carne Bovina tem desenvolvido e mantido importantes fontes de informação para
a comunidade em geral.

Uma destas fontes importantes é o SIC – Serviço de Informação da Carne do Brasil. Com
base nas informações contidas e disponibilizadas no SIC e em outras fontes, é possível se
aprofundar em conhecimentos e informações sobre a pecuária de corte do Brasil.

O SIC foi uma das principais fontes de pesquisa a respeito dos temas abordados na sequência,
principalmente tendo como base o artigo de Ferraz e Figueiredo Junior (2003), disponibilizado
no portal, juntamente com as informações da ABIEC, do IBGE, do MAPA e da Embrapa Gado
de Corte.

As origens históricas da pecuária de corte no Brasil – breve histórico

Você se lembra dos livros de história? Espero que sim. Agora, caso não esteja se lembrando
muito bem, vamos resgatar alguns assuntos que nos interessam para entendermos como o
Brasil se tornou essa potência na pecuária mundial.

Segundo os historiadores e pesquisadores, os primeiros registros da atividade pecuária no


Brasil se dão ainda no período de colonização, no século XVI, quando foram introduzidos
os primeiros bovinos vindos de Cabo Verde, em uma das expedições de exploração do atual
território nacional.

Esta primeira introdução do gado bovino em solo brasileiro foi realizada onde hoje se localiza o
estado da Bahia. Já no século XVII, outros animais teriam chegado à capitania de São Vicente.

O emprego do gado bovino neste período inicial se referia ao uso na tração animal, onde o

126 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


mesmo tinha maior valor. Está lembrado da exploração da cana-de-açúcar como atividade
produtiva e comercial desta época do Brasil Colônia? Então, o gado era utilizado principalmente
para a movimentação dos moinhos nos engenhos de cana-de-açúcar.

O gado bovino também era utilizado no transporte de mercadorias em geral, bem como servia
de alimento para os escravos. Ainda, com a presença da atividade açucareira na região litorânea
do Brasil Colônia, o gado bovino foi consideravelmente útil para expansão e penetração em
novas regiões, sobretudo, no processo de interiorização, do litoral para o continente, mais
precisamente, para onde se encontra atualmente os estados de Goiás e Minas Gerais, por
exemplo.

Já no século XVII, com base em relatos históricos, estavam envolvidas na atividade não mais
do que 13 mil pessoas e um rebanho de cerca de 650 mil cabeças (SIC, 2011).

Na porção do extremo sul do Brasil Colônia, onde se encontra atualmente o estado do Rio
Grande do Sul, como decorrência do processo de colonização, foi desenvolvida uma atividade
pecuária baseada no uso da alimentação de pasto nativo. Até o século XIX, foi grande o
crescimento do rebanho nacional, graças à chegada de animais europeus, mais adaptados às
condições climáticas das regiões do sul.

Mais precisamente no século XIX, com a introdução do gado zebuíno no país, conseguem-se
condições ótimas de adaptação, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e daí
para as demais localidades, sendo que, atualmente, o Brasil possui um dos maiores rebanhos
comerciais de zebuínos do planeta.

No processo de alimentação dos animais, que sempre foi basicamente à pasto, foi grande
e positiva a influência da introdução de gramíneas do gênero das braquiárias, que de certa
maneira revolucionaram a bovinocultura brasileira de corte, sobretudo, nas regiões de solos
considerados mais fracos.

Com a introdução do gado zebuíno no chamado “cerrado”, foi permitida uma exploração de

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 127


maior nível da atividade, com sistemas que utilizavam pastagem nativa e passaram para
sistemas mais intensivos de produção, fazendo uso destas pastagens chamadas artificiais ou
(as que foram introduzidas), ou seja, mais produtivas, permitindo o crescimento da pecuária
nestas regiões.

Após o período marcado pelas duas grandes guerras mundiais, a partir do século XX, o mundo
concebeu a ideia de que o Brasil poderia se transformar em um dos maiores fornecedores de
carne bovina para o mundo.

Desta forma, muitos programas de incentivos, inclusive financeiros, foram criados para levar
o gado zebuíno e a braquiária, para as regiões chamadas de novas fronteiras agropecuárias,
zonas de expansão localizadas nas regiões Norte e Centro-Oeste do país.

Atualmente, podemos observar claramente a valorização das terras destas regiões, que
antes eram vendidas “a preço de banana” e hoje têm preços mais condizentes com suas
potencialidades de produção. O avanço para essas terras, que um dia tiveram que ser
“abertas” para a introdução da agropecuária, trouxe também o desenvolvimento regional com
o crescimento das cidades.

O REBANHO BOVINO BRASILEIRO


Fonte: PHOTOS.COM

Segundo dados do Economics FNP, o rebanho bovino brasileiro em 2005 era de 175,055
milhões de cabeças. Segundo estatísticas do final do ano de 2008, o rebanho brasileiro teve

128 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


uma queda de cerca de 3% durante esse ano, chegando a algo próximo a 169,868 milhões
de cabeças. Estatísticas oficiais e mais recentes do IBGE, afirmam que em 2008 o rebanho
nacional era de exatamente 202.287.191 animais.

No entanto, é importante salientar a discrepância entre as estatísticas de diferentes fontes. Por


exemplo, conforme o Anuário da Pecuária Brasileira (ANUALPEC, 2005), do Instituto FNP, o
rebanho bovino de corte brasileiro era estimado em 166 milhões de cabeças para o mesmo
ano.

Porém, em uma coisa temos certeza: que essa dúvida provavelmente nunca será dirimida!
Na verdade, não nos interessa saber exatamente, qual a quantidade de cabeças de gado
existentes no Brasil, ainda porque existem muitos criatórios clandestinos, muitos projetos
pecuários na região de fronteira, em recônditos rincões, o que torna impossível a precisão
desses números.

A diferença na contagem do rebanho pode também ser atribuída à metodologia utilizada para
efetuar esses levantamentos, sobre a definição de bovinos de corte, bovinos leiteiros e mistos.

O que precisamos compreender é a dinâmica que envolve a cadeia produtiva como um todo,
nos diversos elos que a compreendem. Devemos saber situar o Brasil no cenário competitivo
mundial, identificar a empresa onde atuamos, esteja em quaisquer dos elos da cadeia, a
montante ou a jusante, ou o nosso projeto pecuário, ou ainda a propriedade rural onde atuamos.

Principais regiões da bovinocultura de corte no Brasil


Fonte: PHOTOS.COM

Embora não exista uma regionalização oficial da pecuária nacional, de acordo com um trabalho
realizado pelos pesquisadores da Embrapa, Arruda e Sugai (1994), foi possível serem definidas

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 129


bases de uma regionalização, onde são identificadas 44 regiões de produção de pecuária
bovina: cinco no Noroeste do país, cinco no Norte, nove no Nordeste, onze no Centro-Oeste,
nove no Sudeste e cinco no Sul (FERRAZ; FIGUEIREDO JUNIOR, 2003).

Com base em dados do IBGE (2010) com relação ao rebanho bovino nacional do ano de 2008,
as regiões brasileiras apresentam a seguinte configuração produtiva na pecuária de corte,
ou seja, a região Centro-Oeste é responsável por 34,08% do rebanho nacional, a Norte com
19,34%, seguidos das outras três regiões, Sudeste com 18,69%, Nordeste com 14,26% e Sul
apresentado 13,63%.

A partir de 2003, alguns dos estados mais tradicionais na produção pecuária nacional como
Paraná, São Paulo e Goiás apresentaram praticamente uma estagnação no número de
animais, ao passo que outros viram o seu rebanho diminuir nesse período.

O que se nota na divisão geográfica da produção de bovinos de corte no Brasil, é que a região
Centro-Oeste se mantém na liderança de produção nacional, havendo nos últimos dez anos,
uma diminuição e/ou estagnação dos plantéis das regiões sudeste e sul e um crescimento na
produção nas regiões Norte e Nordeste.

Desta forma, o que podemos compreender, com base nos dados e informações analisados,
é que vem se consumando nos últimos anos uma mudança na “geografia do boi”, já que a
produção pecuária tem se deslocado para a Região Centro-Oeste e, mais recentemente, para
a Região Norte.

Em 2011, a região Centro-Oeste possuía o maior rebanho nacional, representando quase 1/3
do total do rebanho. O estado do Mato Grosso detém hoje a maior participação neste total,
alcançando aproximadamente 11% em 2008, com mais de 20 milhões de cabeças de gado.

Podemos acompanhar na Tabela 6 a participação de cada Unidade de Federação brasileira na


composição do rebanho bovino nacional:

130 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Tabela 6. Rebanho bovino brasileiro (efetivo por Estado, número de cabeças)

REGIÕES 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
NORTE 26.898.537 28.295.793 29.525.043 30.656.917 31.237.539 32.266.275 33.646.656 35.606.111 34.496.002 37.895.512
RO 7.886.167 8.260.225 8.562.626 8.746.366 8.649.683 8.710.121 8.978.492 9.363.027 9.547.784 9.926.860
AC 1.386.010 1.488.476 1.589.002 1.689.359 1.784.474 1.912.198 2.047.184 2.214.169 2.239.183 2.476.736
AM 1.018.998 1.076.903 1.130.903 1.197.077 1.266.076 1.367.336 1.492.631 1.627.95 1.672.755 1.638.981
RR 504.302 524.429 535.920 554.651 572.516 601.661 635.508 674.528 681.360 705.942
PA 10.015.155 10.753.854 11.513.129 12.263.376 12.811.552 13.437.708 14.073.318 15.035.994 15.360.958 15.825.413
AP 59.598 59.432 59.180 59.785 60.151 62.732 65.657 69.657 70.707 72.590
TO 6.028.306 6.132.474 6.134.265 6.146.303 6.093.118 6.174.520 6.353.866 6.621.611 6.883.255 7.248.991
NORDESTE 24.829.106 24.970.816 25.175.921 25.747.665 26.032.760 26.564.111 27.126.372 27.861.494 27.788.347 28.416.572
MA 5.068.748 5.215.585 5.294.586 5.534.514 5.645.657 5.769.808 5.915.675 6.088.652 6.148.598 6.247.691
PI 1.637.639 1.619.991 1.589.994 1.605.663 1.594.708 1.607.624 1.631.940 1.671.731 1.687.025 1.676.744
CE 2.223.269 2.159.157 2.131.820 2.132.512 2.125.427 2.143.753 2.196.850 2.260.377 2.254.401 2.209.313
RN 972.053 956.055 947.383 959.024 973.683 993.397 1.016.568 1.047.499 1.029.885 1.019.591
PB 1.322.923 1.295.924 1.270.742 1.282.750 1.303.478 1.316.828 1.333.637 1.354.117 1.284.244 1.290.666
PE 2.055.496 2.034.388 2.017.753 2.051.570 2.079.518 2.208.408 2.275.750 2.341.181 2.278.050 2.300.830
AL 964.969 946.805 926.211 925.870 913.530 903.474 903.059 911.115 891.332 946.045
SE 951.687 939.669 938.518 953.156 955.898 958.284 969.947 990.672 969.573 959.880
BA 9.632.323 9.803.243 10.058.914 10.302.606 10.440.861 10.662.534 10.882.948 11.196.149 11.245.240 11.765.812
SUDESTE 37.150.579 37.704.333 37.646.460 36.964.309 35.582.651 34.115.144 33.669.215 33.767.354 33.182.446 33.382.247
MG 27.726.959 22.191.418 22.159.055 21.914.431 21.425.712 20.727.895 20.686.487 20.811.690 20.364.363 20.524.395
ES 1.743.662 1.761.633 1.788.369 1.806.565 1.789.518 1.799.836 1.847.880 1.918.891 2.006.224 2.106.840
RJ 1.973.303 2.015.353 2.063.372 2.059.720 2.003.852 1.994.030 2.037.364 2.098.359 2.127.468 2.198.929
SP 11.706.655 11.735.929 11.635.664 11.183.592 10.363.569 9.593.384 9.097.485 8.938.414 8.684.390 8.552.720
SUL 37.150.579 37.704.333 37.646.460 36.964.309 35.582.651 34.115.144 33.669.215 33.767.354 33.182.446 33.382.247
PR 10.015.583 9.926.649 9.805.247 9.555.761 9.153.996 8.897.835 8.664.710 8.549.329 8.494.960 8.369.671
SC 3.490.956 3.546.383 3.576.038 3.581.146 3.586.476 3.715.075 3.876.500 4.017.012 4.177.441 4.275.950
RS 12.489.909 12.207.397 11.788.298 11.349.298 11.148.126 11.313.210 11.623.521 12.008.548 12.509.410 12.846.903
C.OESTE 57.317.486 58.348.061 58.597.424 57.199.890 53.781.149 51.458.696 51.289.978 51.458.878 51.904.705 54.853.460
MS 20.308.361 19.969.533 19.503.708 18.771.084 17.405.568 16.414.831 16.505.779 16.569.375 16.644.742 17.373.278
MT 19.639.320 20.624.124 21.084.758 20.682.740 19.582.504 18.818.043 18.736.503 18.883.347 19.193.985 20.562.328
GO 17.294.532 17.677.767 17.930.343 17.666.218 16.714.661 16.146.312 15.967.126 15.992.168 16.012.093 16.831.100
DF 75.272 76.636 78.616 79.848 78.415 79.510 80.571 83.989 83.255 86.753

BRASIL 172.182.156 174.999.462 176.114.432 175.055.670 170.522.697 168.330.347 169.896.954 173.268.726 174.090.818 180.040.323

*Efetivo do Rebanho existente em 31 de dezembro de cada ano.

Fonte: Informa Economics FNP (Estimativa)

Para esse desenvolvimento nas diversas regiões produtivas do Brasil, o que se percebeu nos
últimos anos, é que o uso de algumas tecnologias permitiu ampliar e desenvolver cada região,
sendo que algumas destas tecnologias são amplamente difundidas atualmente, tais como a

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 131


suplementação mineral, pelo uso dos mais diversos sais minerais e proteicos e de vermífugo
para controle de parasitos.

O avanço destas novas tecnologias aliados ao emprego de raças e cruzamentos mais


adaptados para cada região e suas particularidades (principalmente em termos de condições
climáticas), permitiram um desenvolvimento mais rápido da agropecuária brasileira.

Outro fator de extrema importância é o avanço da agricultura sobre as áreas de pastagens nos
últimos anos, principalmente sobre as áreas de pastagens degradadas. Sobretudo, em regiões
como sul e sudeste, onde houve essa diminuição da quantidade de animais em proporção a
média nacional, isso pode ser explicado, basicamente, pela boa perspectiva, principalmente,
para os grãos, para os anos que se seguem.

Em outras palavras, a liderança da região Centro-Oeste, o avanço do rebanho nas regiões


norte e nordeste e a diminuição proporcional do rebanho das regiões sul e sudeste, podem ser
explicados pela utilização destas pastagens degradadas, com baixa lotação por hectare, ou
ainda, pela prática da pecuária não profissional, para atividades próprias da agricultura como,
por exemplo, o crescimento das plantações de cana-de-açúcar, principalmente nas regiões sul
e sudeste.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO E TECNOLOGIAS NA PECUÁRIA DE CORTE:


ALIMENTAÇÃO E CRIAÇÃO

Grosso modo, quanto aos tipos de produção, a pecuária pode ser dividida em intensiva ou
extensiva. A pecuária extensiva é desenvolvida em grandes áreas, grandes extensões
de terras; o gado é criado solto, geralmente sem grandes investimentos em tecnologia de
produção, investimentos financeiros nem recursos e técnicas veterinárias importantes.

Já a chamada pecuária intensiva, por sua vez, é aquela que é praticada utilizando-se grande
monta de recursos financeiros, bem como de técnicas e recursos tecnológicos de última

132 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


geração, sendo exemplos: confinamento de gado, reprodução por meio de inseminação
artificial, fertilização in vitro (FIV), transferência de embrião (TE), controle via satélite etc.

O gado criado em sistemas extensivos e semi-intensivos, deve ter sua alimentação baseada
em pastagens de gramíneas, onde se utiliza largamente diversos tipos de braquiárias. Este
tipo de alimentação se justifica em regiões como Sudeste e, principalmente, a região Centro-
-Oeste. Nestas regiões, de grandes propriedades, trabalha-se muito a escala de produção, em
sistemas extensivos e semi-intensivos.

Já no caso dos confinamentos, os animais são alimentados exclusivamente no cocho, sem a


participação de pastoreios. Nestas situações, os animais recebem alimentação devidamente
equilibrada, com origem exclusiva de proteína vegetal.

Os sistemas mais intensivos, por consequência de maiores custos, são para o gado em fase
de acabamento ou também chamada fase final de engorda, bem como para os animais de
elite, tais como o gado de pista ou de exposição.

O que se enquadra como sistema de semiconfinamentos é um mix dos dois sistemas


apresentados anteriormente, ou seja, criação extensiva e intensiva. Neste tipo de criação, os
animais recebem pasto e suplementação (mineral e proteica), bem como ração (parte de sua
dieta, além do capim) em cochos.

Quando comparamos os sistemas e cruzamos com as diferentes regiões do Brasil, pode-se


considerar que os mesmos ocorrem da seguinte forma: nas regiões Centro-Oeste, Norte e
parte da região Sudeste, podem ser encontrados com mais intensidade sistemas mais exten-
sivos, ou seja, grandes propriedades com pastagem em sua grande maioria.

Por sua vez, nas regiões Sul e Sudeste, existe uma maior presença de sistemas mais
intensificados, tais como os confinamentos e os semiconfinamentos, o que também é
encontrado na região Centro-Oeste.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 133


Na fase de terminação do gado, ou seja, de finalização da engorda para abate dos bovinos a
pasto, os animais são alimentados basicamente pelas pastagens existentes.

No caso das pastagens de inverno (geralmente de leguminosas ao invés de gramíneas), nesta


época do ano, se utiliza este tipo de forrageiras para alimentar os animais dos estados mais
ao Sul do Brasil, visto que o inverno (com suas características de baixa temperatura, pouca
quantidade de água e incidência de luz) impede o crescimento vegetativo das gramíneas e é
mais intenso no Sul (FERRAZ; FIGUEIREDO JUNIOR, 2003).

Na pecuária de corte, o rebanho ainda pode ser classificado em sistemas de produção, que
envolvem as fases de criação dos bovinos. Desta maneira, eles seriam divididos em: Cria,
Recria e Engorda.

A fase de cria, como o próprio nome sugere, abrange desde a fêmea apta para a reprodução,
seja por inseminação artificial ou cobertura via estação de monta, monta natural, ou seja, com
touros, até a fase de desmama do bezerro, que ocorre, em média, dos seis aos oito meses de
vida.

Passada esta fase, entra em cena a chamada fase de recria, que se estende desde o período
de desmama do animal até momentos antes de adentrar para a fase de engorda. Nesta fase, o
bovino se apresenta bem desenvolvido, no entanto, ainda com a classificação de gado magro.

A engorda, ou fase de terminação, é a terceira e última fase de criação. Neste ponto, os animais
são devidamente acabados, chegando a pesos que podem variar entre 16 a 20 arrobas (uma
arroba equivale a 15 quilos) no caso dos machos e de 12 a 16 arrobas para as fêmeas.

O tipo de acabamento, cobertura de carcaça, nível de gordura, bem como peso dos animais,
variam conforme a demanda mercadológica sobre aquele produto. Conforme a região ou
mercado a qual se destina este produto, o mesmo deve atender às características particulares
e preferências dos mesmos.

134 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


O chamado ciclo completo de produção ocorre quando um produtor rural, um pecuarista,
decide atuar nos três sistemas de criação, chamado de ciclo completo, como também existem
os que atuam em apenas um deles ou em dois deles.

A escolha sobre qual tipo de sistema utilizar se deve muito à estrutura de cada propriedade
rural, bem como aos preços pelos quais os animais deverão ser comercializados.

Assim, pecuaristas podem migrar de um sistema (de engorda) para outro (de cria), por exemplo,
quando os preços dos bezerros estão em alta, ou ainda, quando a arroba do boi gordo está em
alta, produtores se voltam, por exemplo, apenas para a fase de engorda e, deixam de atuar nas
demais fases de criação do gado.

Quais as vantagens e desvantagens dos tipos de criação bovina extensiva e intensiva? Em qual região
brasileira cada modelo se adaptou melhor? Existe um tipo de raça adequada a cada tipo de produção?
Refl ita e discuta no ambiente virtual.

PRINCIPAIS RAÇAS BOVINAS DE CORTE EXISTENTES NO BRASIL

Naturalmente, prezado(a) aluno(a), a introdução de gado bovino no Brasil e, posterior adaptação


desses animais, teve como base as características de clima de cada região de nosso país.
Para cada tipo de região do Brasil, um tipo de animal de uma determinada origem, encontrou
condições de se adaptar e se desenvolver satisfatoriamente.

Sabemos que dentre as raças bovinas presentes no Brasil, a zebuína é a de maior importância,
sobretudo, em termos econômicos, sem ser injusto com as demais raças, sendo que a raça

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 135


predominante é a Nelore. Passados anos de seleção dessa raça, o país é um exemplo de
desenvolvimento e adaptabilidade do nelore.

Em relação às outras raças zebuínas importantes no Brasil, deve-se dar destaque a raça Gir,
sobretudo, pelo seu cruzamento com a raça holandesa, resultando em uma raça híbrida de
dupla aptidão (carne e leite) denominada Girolando.

Outras raças, como Guzerá e Brahman, são igualmente muito importantes, especialmente
pelos seus cruzamentos que deram origem as raças Santa Gertrudes, Braford e Brangus
(FERRAZ; FIGUEIREDO JUNIOR, 2003).

Capacidade de adaptação! Esse é o que podemos dizer que é o diferencial das raças zebuínas
que se adaptaram ao Brasil por sua rusticidade e características genéticas, se adequaram às
condições de clima quente das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e à predominância do
sistema extensivo de criação do gado bovino adotado no Brasil.

É claro que, considerando suas características genéticas, os zebuínos são raças que oferecem
menor rendimento de carcaça e menor precocidade sexual, quando comparado com as raças
taurinas. No entanto, apresentam vantagens consideráveis, já que possuem uma carne com
menor teor de gordura, mais magra, principalmente por se adaptarem a sistemas de produção
extensivos de baixo custo.

O outro grande grupo de raças bovinas, além dos zebuínos, são as raças de corte taurinas,
também denominadas europeias. Destacam-se nesta região as raças Hereford, Aberdeen
Angus, Charolesa, Marchigiana, Chianina, Simental, Caracu, e Limousin entre outras. A
região sul do Brasil, por características de clima mais ameno e adequado as raças europeias,
apresentou condições ideais para a reprodução destas raças em solos brasileiros (FERRAZ;
FIGUEIREDO JUNIOR, 2003).

Ainda segundo Ferraz e Figueiredo Junior (2003), um fenômeno que ocorreu nos últimos anos
foi o chamado cruzamento, também chamado por muitos de cruzamento industrial, quando

136 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


orientado cientificamente, que visa de um modo geral, unir as virtudes das diferentes raças.
Por exemplo, associando a produtividade das raças taurinas com a rusticidade das raças
zebuínas.

Para efeito de exemplo, podemos pegar o caso brasileiro da raça Canchim (raça brasileira
desenvolvida a partir do cruzamento da raça Charolesa com a Nelore), Santa Gertrudes
(raça resultante do cruzamento da raça taurina Shorthorn e a zebuína Brahman) e Brangus
(cruzamento da raça taurina Angus com a raça zebuína Brahman) (FERRAZ; FIGUEIREDO
JUNIOR, 2003).

Em definição, o cruzamento industrial é o cruzamento entre indivíduos de raças diferentes,


onde o touro é de raça definida, buscando aumentar a eficiência na produção de carne.

Para Padilha (2004, apud ZADRA, 2008), a principal razão para se proceder com o cruzamento
industrial é obter produtividade e lucratividade na produção animal, por meio do aumento
da eficiência produtiva. O animal, produto que é resultado deste processo de cruzamento
industrial, deverá combinar o elevado potencial de produção da raça de clima temperado com
a adaptação da raça tropical.

Conforme argumenta Zadra (2008), outros termos muito falados nos últimos tempos no mundo
da pecuária bovina de corte são as chamadas raças sintéticas e compostas. Segundo o autor,
a raça sintética é formada por duas raças com grau de sangue fixado, visando manter bons
níveis de adaptabilidade e heterose (a média do valor genético da progênie seja superior ao
valor genético dos pais).

Por exemplo, temos uma raça chamada sintética quando temos um produto que é resultado do
cruzamento entre um animal, com proporções definidas de sangue de cada raça. Por exemplo,
na raça Braford, que é resultado da combinação de 5/8 de hereford + 3/8 de Zebú.

Já a chamada raça composta é formada por 3 ou mais raças. As raças compostas mais usadas
no Brasil são Stabilizer, Beefmaster e Montana, sendo a última a raça mais conhecida dentre

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 137


os compostos. Para se ter um exemplo, o Montana é resultado de uma “equação”, poderíamos
assim dizer, entre a combinação de ½ de sangue bonsmara, ¼ de Red Angus e ¼ de Nelore.
(ZADRA, 2008).

Embora considerando as características específicas de cada raça e seus variados


cruzamentos, várias polêmicas ainda existem, sobretudo, quanto às classificações destes
animais. A diferenciação e o pagamento que é resultado desta classificação ainda são
conflituosos, principalmente quando existem valores diferenciados no pagamento do gado,
questões mercadológicas, que ainda carecem de solução.

Sazonalidade e ciclo da pecuária bovina de corte

O fator sazonalidade é uma característica marcante da maioria das cadeias produtivas do


agronegócio, em foco na Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Essa particularidade acarreta
uma série de consequências na dinâmica do funcionamento dos agentes que atuam em cada
elo da cadeia produtiva.

Uma das principais consequências é a volatilidade dos preços recebidos pelos produtores
rurais, ao longo do ano, já que esta referida volatilidade pode ser observada tanto nos elos de
produção, como nos elos de consumo.

Segundo o Novíssimo Dicionário de Economia (1999):


Sazonalidade é a variação que ocorre numa série temporal nos mesmos meses do ano,
mais ou menos com a mesma intensidade. Embora o termo seja associado às estações
do ano, é utilizado de maneira mais livre para indicar variações que podem ocorrer em
espaços mais curtos, como meses, quinzenas ou semanas e até fins de semana. Tem
muita aplicação na explicação de movimentos de preços de produtos agrícolas cujas
safras e entressafras correspondem a períodos determinados do ano. No entanto, pode
também ser aplicado no campo das receitas tributárias, quando a receita de um imposto
aumenta ou diminui em determinado período do ano.

Um exemplo de sazonalidade de consumo, que afeta a dinâmica de produção e comercialização


da cadeia produtiva de carne bovina pode ser observado no mercado europeu. No inverno

138 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


europeu há um aumento na demanda por carnes mais baratas, dianteiros, por exemplo, para
uso em ensopados; já no verão, cresce a demanda por carnes nobres, basicamente traseiros
(BRASIL, 2007).

Para ajustar o desequilíbrio entre oferta e demanda, os frigoríficos europeus promovem


exportações alternadas dos respectivos excedentes, de acordo com as estações do ano.
No Brasil não ocorre essa acentuada sazonalidade da demanda, o que permite um perfil de
exportações mais ajustado, privilegiando as exportações das carnes nobres, de maior valor
(BRASIL, 2007).

O “ciclo do boi”, que está associado à renovação do rebanho e às oscilações do mercado,


é outro ponto que merece ser destacado. A ocasião de preços baixos, custos elevados ou
exigências tecnológicas associadas à adoção de práticas gerenciais equivocadas demandam
investimentos e/ou comprometem a receita do produtor rural.

Como resposta, os pecuaristas liquidam parte de suas matrizes, reduzindo a capacidade


produtiva no curto e médio prazo. O nível deficitário de oferta eleva os preços e estimula
novos investimentos, aumentando gradualmente os níveis de produção. Os dois principais
indicadores de ciclo são os preços do boi em pé, de mais fácil constatação e o descarte
de matrizes. Historicamente, os ciclos brasileiros do preço do boi gordo eram observados,
aproximadamente, a cada seis anos.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 139


IMPORTAÇÕES

Fonte: PHOTOS.COM

A cada ano as importações brasileiras de carne bovina e de gado vêm diminuindo. Paraguai,
Argentina e Uruguai são as principais origens das importações brasileiras, sendo inexpressivo
o seu volume, em relação às exportações brasileiras, representando proporcionalmente cerca
de 1,5% das exportações.

Percebe-se uma redução gradual nas importações brasileiras nos últimos anos, conforme
pode ser observado no Gráfico 2.

Gráfico 2. Brasil: importações de carne7 bovina

Fonte: MDIC apud Brasil (2007).

7
Nota: Compreende as NCMs (Nomenclatura Comum do Mercosul) de 0201.10.00 a 0201.30.00, de 0202.10.00
a 0202.30.00, de 0206.10.00 a 0206.29.90, 0210.20.00, 0504.00.11 e 1602.50.00.

140 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


PRINCIPAIS MERCADOS E EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS

Fonte: PHOTOS.COM

Conforme argumentam Prado e Souza (2009, p. 85), “o Brasil produz uma carne bovina
ecologicamente correta e saudável”. Diversos problemas sanitários encontrados em outras
partes do mundo não acontecem aqui no Brasil, tais como mal da vaca louca dentre outros.

A carne brasileira é exportada para diversas regiões do mundo, atendendo a mais de 170
países. Os principais destinos das exportações da carne bovina brasileira podem ser
observados na Tabela 7.

Como podemos notar, quando considerados conjuntamente, os países da União Europeia


representam o maior destino das exportações brasileiras de carne bovina.

Vale ainda destacar o papel da Rússia e do Egito nas importações do produto brasileiro. Esses
dois países têm aumentado sistematicamente o consumo do produto nacional e tornaram-se
importantes clientes das empresas brasileiras.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 141


Tabela 7. Exportação brasileira de carne bovina industrializada* (por destino)
2007 2008 2009 2010
Países M US$ Ton. US$/t M US$ Ton. US$/t M US$ Ton. US$/t M US$ Ton. US$/t
Reino Unido 162.455 60.191 2.699 188.793 50.730 3.722 157.555 45.594 3.456 157.215 42.476 3.701
Estados Unidos 285.644 62.517 4.569 279.846 51.179 5.468 223.148 43.200 5.166 76.346 13.531 5.642
Países Baixos 43.169 13.695 3.152 65.609 14.518 4.519 33.355 8.444 3.950 39.496 8.876 4.450
Ítalia 41.933 10.253 4.090 69.043 10.615 6.504 35.548 6.336 5.610 39.226 5.443 7.206
Alemanha 15.705 4.869 3.226 28.746 5.356 5.367 23.967 4.973 4.820 17.853 3.474 5.139
Bélgica 9.254 2.719 3.404 18.791 3.559 5.280 14.947 3.812 3.921 16.582 4.006 4.139
Egito 9.230 3.616 2.553 11.589 3.713 3.121 6.685 2.154 3.104 15.934 4.601 3.463
Canadá 9.543 3.734 7.616 7.616 2.449 3.110 9.083 2.834 3.205 11.853 3.372 3.515
Japão 6.526 2.006 13.505 13.505 3.396 3.977 16.558 4.553 3.637 10.878 3.151 3.453
França 7.653 2.380 3.216 12.345 2.749 4.492 10.885 2.845 3.826 10.259 2.365 4.338
Suécia 6.783 2.485 2.730 14.208 3.054 4.652 8.235 2.403 3.426 8.056 2.119 3.802
Outros 96.096 41.024 2.342 143.242 48.997 2.925 109.105 36.216 3.013 94.527 30.989 3.050
Total Processado 693.992 209.487 3.313 853.331 200.294 4.260 649.105 163.363 3.973 498.224 124.403 4.005
Total Equiv. Carcaça** 523.717 500.735 408.408 311.008

*NCM: 1602.50.00

** Para conversão equivalente carcaça, o total processado foi multiplicado pelo fator 2,5.

Fonte: Informa Economics FNP/SECEX

142 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Tabela 8. Exportações Brasileiras de carne bovina industrializada (tonelada equivalente-
carcaça*)
Ano JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total
2006 38.887 33.377 44.996 38.821 43.088 45.242 44.010 50.213 37.191 48.310 43.681 39.893 507.709
2007 46.388 40.290 46.539 47.789 51.614 43.842 41.112 42.831 40.749 45.475 38.787 38.291 523.717
2008 47.923 39.371 36.836 40.752 40.586 45.113 45.793 39.115 36.877 49.078 37.506 41.784 500.735
2009 33.673 30.019 39.504 35.367 35.636 35.871 33.772 32.331 33.561 34.965 30.114 33.596 408.408
2010 27.764 29.330 37.605 32.861 28.266 23.806 25.156 26.025 27.314 20.527 14.047 18.309 311.008
Média 41.020 36.070 42.078 38.996 41.320 40.081 39.737 40.669 38.053 43.170 36.990 39.200

*Para conversão em equivalente a caraça, o total processado foi multiplicado pelo ator 2,5.

Tabela 9. Exportações brasileiras de carne bovina “in natura” (tonelada equivalente-


carcaça*)
Ano JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total

2006 105.116 92.481 122.108 98.142 138.724 139.885 150.007 167.367 137.876 145.170 157.900 137.159 1.591.936

2007 140.830 149.862 163.020 137.298 179.538 136.918 126.604 143.367 128.044 137.124 128.801 98.539 1.670.175

2008 119.333 99.278 190.491 116.196 127.003 106.799 121.297 124.596 134.044 115.880 73.557 79.818 1.328.241

2009 73.411 85.579 106.606 110.615 97.526 116.767 106.746 94.310 134.739 107.144 102.272 101.359 1.202.889

2010 87.114 96.502 104.087 101.802 117.323 125.153 132.102 124.559 100.552 99.245 71.684 76.109 1.235.553

Média 104.784 101.717 121.558 116.987 163.972 129.993 134.282 138.648 99.873 119.762 110.940 100.530  

*Eq. Carcaça = Carne sem osso x 1,3 + carne com osso

Fonte: Informa Economics FNP/SECEX

Alguns importantes mercados de escopo da carne bovina brasileira podem ser mencionados,
dentre eles, os produtos identificados como Halal, onde o animal deve ser abatido segundo as
normas islâmicas e os produtos Kosher, segundo as normas do judaísmo.

Conforme argumentam Prado e Souza (2009, p. 96) "a obtenção de um melhor posicionamento
no mercado pode se consolidar por intermédio da capacidade de atendimento ou adaptação a
critérios específicos identificados e estabelecidos no ambiente competitivo".

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 143


Essa capacidade de adaptação e flexibilidade da indústria nacional de carne bovina pode ser
um diferencial no setor exportador. Mais abaixo, explanaremos com detalhes sobre cada um
destes dois importantes mercados da carne bovina brasileira, que podem ser considerados,
neste contexto de mercados, específicos ou diferenciados.

Qual foi o impacto da BSE (mal da vaca louca) na produção, exportação e consumo da carne bovina
brasileira? Se existiu algum impacto, este foi positivo ou negativo? Pense a respeito.

Leia o texto abaixo que trata dos costumes islâmicos e judaicos de como deve ser o abate dos
animais conforme os seus preceitos religiosos.
O que é Halal?
Segundo o Alcorão, livro sagrado da religião islâmica, o alimento é considerado Halal (permitido para
consumo), quando obtido de acordo com os preceitos e as normas ditadas pelo Alcorão Sagrado e
pela Jurisprudência Islâmica. Esses alimentos não podem conter ingredientes proibidos, tampouco
parte deles.
A Sharia, que é o conjunto de leis do islamismo, proíbe o consumo de todo e qualquer tipo de alimento
modifi cado geneticamente, assim como produtos minerais e químicos tóxicos que causem danos à
saúde.
Peixes e outros animais aquáticos são permitidos, desde que não se enquadrem no quesito anterior-
mente citado. Animais que vivem tanto na terra quanto em água são proibidos (crocodilos e seme-
lhantes).
Produtos de origem vegetal são considerados Halal, contanto que não tenham efeito alucinógeno e
não causem intoxicação ou malefícios à saúde de quem os consome.

144 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Em sentido literal, Halal é uma palavra árabe que significa legal, permitido. Todos os alimentos são
considerados halal, exceto:
• Carne de porco e seus derivados.
• Animais abatidos de forma imprópria ou mortos antes do abate.
• Animais abatidos em nome de outros que não seja Alá.
• Sangue e produtos feitos com sangue.
• Álcool e produtos que causem embriaguez ou intoxicação.
• Produtos contaminados com algum dos produtos acima.
Animais como os bovinos, caprinos, ovinos, frangos podem ser considerados Halal, desde que sejam
abatidos segundo os Rituais Islâmicos, denominados de Zabihah ou Zabiha.
A técnica de abate Halal deve seguir os seguintes passos:
• O animal deve ser abatido por um muçulmano que tenha atingido a puberdade. Ele deve pronun-
ciar o nome de Alá ou recitar uma oração que contenha o nome de Alá durante o abate, com a face
do animal voltada para Meca.
• O animal não deve estar com sede no momento do abate.
• A faca deve estar bem afiada e ela não deve ser afiada na frente do animal. O corte deve ser no
pescoço em um movimento de meia-lua.
• Deve-se cortar os três principais vasos (jugular, traquéia e esôfago) do pescoço.
• A morte deve ser rápida para evitar sofrimentos para o animal.
Ainda sobre os produtos cárneos, o abate deve seguir os procedimentos do ritual Halal. Não é permi-
tido o abate de animais como porcos, cachorros e semelhantes animais com presas (tais como tigres,
elefantes, macacos, dentre outros), pestilentos (ratos, centopéias, escorpiões), pássaros predadores
e criaturas repulsivas.
De acordo com as exigências das Embaixadas dos países islâmicos, o abate Halal deve ser realizado
em separado do não-Halal, sendo executado por um mulçumano mentalmente sadio, conhecedor dos
fundamentos do abate de animais no Islã.
As normas básicas a serem seguidas para o abate Halal são:
- Serão abatidos somente animais saudáveis, aprovados pelas autoridades sanitárias e que estejam
em perfeitas condições físicas.
- A frase “Em nome de Alá, o mais bondoso, o mais Misericordioso” deve ser dita antes do abate.
- Os equipamentos e utensílios utilizados devem ser próprios para o Abate Halal. A faca utilizada
deve ser bem afiada, para permitir uma sangria única que minimize o sofrimento do animal.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 145


- O corte deve atingir a traquéia, o esôfago, artérias e a veia jugular, para que todo o sangue do
animal seja escoado e o animal morra sem sofrimento.
- Inspetores mulçumanos acompanharão todo o abate, uma vez que eles são os responsáveis pela
verificação dos procedimentos determinados pela Sharia.
É importante ressaltar que o abate e processamento Halal vislumbra produzir alimentos seguros e
que tragam benefícios à saúde de quem os consome. Portanto, higiene e sanidade são requisitos
imprescindíveis para os operadores e suas vestimentas, equipamentos e utensílios empregados no
processo, evitando assim a contaminações por substâncias não-Halal.
Por esta razão, todo o preparo, processamento, acondicionamento, armazenamento e transporte de-
vem ser exclusivos para os produtos Halal, que obrigatoriamente são certificados e rotulados confor-
me a lei da Sharia.
O rótulo deve conter o nome do produto, número do SIF, nome e endereço do fabricante, do importa-
dor e do distribuidor, marca de fábrica, ingredientes, código numérico identificador de data, carimbo ou
etiqueta para identificação Halal e país de origem.
No caso de produtos de carne primária, também devem constar a data do abate, da fabricação e do
processamento.
Certificadoras de abate Halal no Brasil:

Centro de Divulgação do Islã Cibal Halal


para a América Latina <www.cibalhalal.com.br>
<www.gah.com.br>
JÁ O ABATE KOSHER
É a definição dada aos alimentos preparados de acordo com as Leis Judaicas de alimentação. A Torá
exige que bovinos e frangos sejam abatidos de acordo com essas Leis, num ritual chamado Shechita.
Apenas uma pessoa treinada, denominada Shochet, é apta a realizar esse ritual. Antes do Shechita é
realizada uma oração especial chamada Beracha.
O objetivo desse ritual é fazer a degola do animal ainda vivo e assim provocar uma morte instantânea,
sem dor. É utilizada uma faca especial, bem afiada. O corte deve atingir a traquéia, o esôfago e as

146 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


principais veias e artérias do pescoço. Deve haver uma intensa sangria do animal.
Após o abate, um inspetor verifi ca os órgãos internos do animal para procurar alguma anormalidade
fi siológica que torne a carne não-Kosher. Hoje em dia, todo o processo Kosher, inclusive a salga, é
feito no próprio frigorífi co sob a supervisão de um Rabino, que garante que o alimento é Kosher. Os
produtos Kosher também possuem um selo que certifi ca que todo o processo para a produção do
alimento seguiu as exigências da Torá.
Fonte: <http://www.abiec.com.br/3_hek.asp>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Por que o Brasil tem tanto sucesso no atendimento a mercados tão exigentes quanto os que exigem
produtos certifi cados como Kosher e Halal? Que vantagens o Brasil tem perante seus concorrentes
mundiais?

Em linhas gerais, o Brasil tem gozado de excelente reputação em mercados específicos, tais
como Halal e Kosher, pois como nenhum outro país do mundo, nosso país tem como uma
de suas características principais, a capacidade de adaptação às diferentes exigências dos
distintos mercados consumidores, dentre eles, os referidos acima.

No Quadro 11, além de verificarmos os atuais mercados consumidores do Brasil para a carne
bovina Halal brasileira, mercado este composto, por cerca de 1,5 bilhão de muçulmanos que
existem no mundo, podemos observar potenciais mercados para expansão da cadeia produtiva
de carne bovina do Brasil.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 147


Quadro 11. Mercados atuais e potenciais mercados halal
Fontes: Camardelli e Abiec (2005, apud Brasil, 2007)

A cadeia agroexportadora da carne bovina no Brasil, pela qualidade e imagem positiva do seu
produto, (produzido basicamente a pasto), pelo nível tecnológico empregado na criação, abate
e processamento, pelo aparato genético que desenvolveu e pelo espaço de que ainda dispõe
para aumentar a produção interna – com a recuperação de pastagens e com a inserção de
áreas de culturas pelo sistema integrado Lavoura-Pecuária, tende a consolidar sua liderança
nas exportações mundiais.

148 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


CONSUMO DE CARNE BOVINA NO BRASIL

Fonte: PHOTOS.COM

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne – ABIEC (apud De Zen
et al.; 2008), atualmente o país tem embarcado ao exterior cerca de 20% do total produzido de
carne bovina, ficando o restante (80%) para abastecimento do mercado interno.

Como pode ser observado, o principal mercado da indústria de carne bovina brasileira é o
mercado doméstico, o mercado interno, que absorve cerca de 80% da produção nacional,
podendo ele ser separado em dois grupos, conforme aponta De Zen et al. (2008): o conjunto
constituído pelos consumidores de baixa renda, que estão preocupados com a quantidade a
ser consumida, no entanto, sensíveis a preço e o outro grupo, formado pelos consumidores de
alto poder aquisitivo, preocupados com a qualidade do produto.

Conforme aponta De Zen et al. (2008), o consumo de carne bovina como fonte de proteína
animal é um hábito consolidado em nosso país. Para se ter uma ideia, do ano de 1994 a 2006,
cresceu cerca de 13,5% o consumo per capita de carne bovina no Brasil, conforme dados de
2008 da ABIEC. A partir de 1999 o consumo apresenta-se constante, principalmente devido
ao aumento do consumo de carne de frango.

Assim, podemos dizer que a carne bovina vem apresentando um crescimento pouco
acentuado na última década, em relação ao consumo per capita. Na tabela 10, é realizada
uma comparação entre o consumo das três principais proteínas animais presentes no cardápio
do brasileiro, sendo elas, carne de frango, carne suína e carne bovina.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 149


Tabela 10. Brasil: consumo per capita de carnes (kg/habitante/ano)

Fonte: Autor, com base em: Associação Brasileira de Exportadores de Frango (Abef), Associação Brasileira da
Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), SRF/MF, Secex/MDIC, MAPA, Embrapa, IBGE,
CNPC, Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte e nas Secretarias Estaduais de Agricultura (2006 apud
BRASIL, 2007)
Fonte: PHOTOS.COM

Dentre as possíveis explicações, esse crescimento modesto está associado, tanto ao


comportamento dos preços no mercado interno, em relação à valorização do produto no

150 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


mercado internacional, bem como no que se refere à estagnação do poder de compra da
população.

Em oposição ao que se observa no caso da carne bovina, a carne de frango apresenta


significativo crescimento nos últimos 15 anos. Esse fato pode ser explicado em razão da
dificuldade dos segmentos da população de baixa renda em ampliar o consumo da carne
bovina, mais cara que a de frango.

Além desse fato, em relação ao aumento do consumo de carne de frango, observa-se que as
camadas mais abastadas da população estão diminuindo o consumo de carne vermelha, não
sendo nesse caso, o preço a variável que justifica esse comportamento.

A imagem que esses consumidores fazem da carne bovina é que a mesma é menos saudável
e de mais difícil digestão, tendo as chamadas carnes brancas, principalmente de peixes e
aves, uma melhor imagem junto ao consumidor, em relação às carnes vermelhas.

Conforme Prado e Souza (2009, p. 82) “existe uma crendice popular de que a carne vermelha
é prejudicial à saúde humana, por estar relacionada a doenças cardiovasculares e ao alto teor
de gordura”. No entanto, conforme apresentam os autores em diversos trabalhos acadêmicos
(PRADO et al.; 2003; PADRE et al.; 2006; KAZAMA et al.; 2008), existem resultados que
divergem desta crendice, onde apontam que a carne bovina apresenta percentual de colesterol
inferior ao limite considerado prejudicial a saúde humana (50 mg 100 g1 de músculo).

Interessante, é dar destaque aos estudos de Zen et al. (2008), que traçam de perspectivas
para o consumo da carne bovina do Brasil, fazendo simulações sobre o cenário futuro da
cadeia produtiva, considerando algumas variáveis, tais como as estimativas da produção total
e o PIB per capita.

Neste estudo citado, os autores trabalham, no primeiro cenário, considerado otimista, com
uma estimativa de taxa de crescimento do PIB per capita de 6%. Já em um cenário pessimista,
esta variação do PIB per capita é de 3,0%. E para um cenário intermediário, estima-se que

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 151


haverá variação na taxa de crescimento do PIB per capita de cerca de 5%.

Todos estes cenários foram colocados em diferentes níveis de produção, isto é, a taxa de
crescimento da produção total do país poderá assumir 3 valores, 3%, 4,7% e 7% ao ano. Os
períodos estimados se referem aos anos de 2007, 2010, 2013, 2017.

Apresentando os resultados, de forma geral, temos que com um acréscimo de 3% ao ano no


PIB per capita e dada uma taxa de produção crescente de 3% ao ano, poderá haver em 2017
um excedente de 3,55 milhões de toneladas de carne bovina. Neste panorama o consumo per
capita foi de 40,56 quilos/habitante/ano (DE ZEN et al.;, 2008).

Quando aplicamos ao modelo uma taxa de crescimento do PIB per capita de 6% ao ano e uma
taxa de crescimento da produção de 7% ao ano, nota-se que o excedente se torna ainda maior,
sendo da ordem de 9,11 milhões de toneladas. Neste caso, tem-se um incremento no consumo
que passa a ser de 44,75 quilos/habitante/ano (DE ZEN et al.; 2008).

Portanto, mesmo trabalhando com uma margem pessimista de crescimento, menor que a taxa
dos últimos onze anos da produção de carne bovina e da renda per capita, o modelo mostra
que o setor da pecuária nacional caminha para um excesso de produto no mercado interno, o
que precisa ser acompanhado de perto para que os impactos sejam positivos para a Cadeia
Produtiva da Carne Bovina como um todo.

Faça uma comparação entre os principais tipos de carnes consumidas no Brasil. Como se desenvolve
o consumo da carne bovina nos últimos anos, em comparação com as outras proteínas animais?
Pense e discuta.

152 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Frigoríficos

Fonte: PHOTOS.COM

A capacidade de abate da indústria frigorífica do Brasil é de algo próximo a 45 milhões de


cabeças/ano, o que torna o parque industrial brasileiro de processamento da carne bovina
bastante significativo.

As plantas industriais habilitadas à exportação são dotadas de tecnologia e aptas a atender


as exigências do mercado internacional, desde aspectos ligados à produtividade, qualidade e
sanidade, bem como no que se refere à flexibilidade e capacidade de adaptação às demandas
dos diferentes mercados consumidores.

Nota-se no elo frigorífico, a instalação de confinamentos como uma estratégia em fase


de consolidação. Essa ação permite aos frigoríficos menor dependência em relação
aos fornecedores de matéria-prima e possibilitam a programação do abate, já que evita
sazonalidades na entrega de bois para abate, reduzindo o custo de compra, operação e
diminuindo a taxa de ociosidade de seu ativo permanente.

Essa estratégia iminente não torna os frigoríficos independentes dos fornecedores de bois,
a matéria-prima da produção de carne. Mesmo com a estratégia de integração entre os elos
de fornecimento de matéria-prima e processamento, é inevitável que tais estabelecimentos
ainda recorram aos pecuaristas ou aos novos estabelecimentos de engorda, em face das

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 153


expectativas de abertura de novos mercados e a concorrência entre os frigoríficos nacionais
pela matéria-prima.

No que se refere à coordenação da cadeia, são necessários avanços no desenvolvimento de


relações de parcerias entre pecuaristas e frigoríficos, estreitando o relacionamento entre os
agentes.

Essas parcerias podem assumir as formas contratuais, associativismo, cooperativismo,


ou ainda, o compartilhamento de informações, além da busca de ações que permitam a
distribuição equilibrada dos ganhos ao longo dos elos da cadeia produtiva.

O estabelecimento da relação ganha-ganha entre os diversos agentes, permite a redução


dos custos de operação e transação ao longo dos elos da cadeia. Além da coordenação da
cadeia, o desenvolvimento de sistemas confiáveis de rastreabilidade8 dos animais ainda é um
dos desafios a serem enfrentados.

A distribuição dos custos e receitas ao longo da cadeia, por meio dos mecanismos de
precificação e informação, especialmente na relação entre pecuaristas e frigoríficos, ainda
parecem deficientes. Faz-se urgente a definição de mecanismos que possam permitir uma
precificação mais clara do animal a ser abatido e, portanto, menos sujeita à controvérsia entre
os agentes da cadeia. A tipificação de carcaças associadas a informações detalhadas de
rastreabilidade são elementos importantes para a definição desses mecanismos.

Busca de excelência na organização da Cadeia Produtiva da Carne Bovina no Brasil -


Casos

Caso 1 – ASPRANOR e a carne bovina orgânica

A ASPRANOR á a Associação Brasileira de produtores de animais orgânicos. O foco principal

8
Rastreabilidade Bovina é a identificação da origem de um produto desde o campo até chegar ao consumidor, acompanhando
todos os eventos, ocorrências, manejos, transferências e movimentações do animal, mesmo depois de seu abate, garantindo
a sanidade e qualidade do produto.

154 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


desta associação é ser sinônimo de carne com origem, qualidade reconhecida, certificado
de procedência, controles adequados em toda a vida do animal, do nascimento ao abate e,
principalmente, carne orgânica, como consta na página oficial da associação.

Na fase inicial, a ASPRANOR congrega produtores de carne bovina, tendo no futuro, pretensões
de se agregar outras proteínas animais, tais como suínos, ovinos entre outros.

Os associados a esta entidade se intitulam, como palavras do presidente Henrique Balbino,


“uma classe de produtores diferenciados”. O diferencial dos adeptos a Aspranor é produzir
carne com qualidade, e seguir alguns preceitos, princípios e/ou diretrizes, tais como: a
harmonia da produção de gado bovino com os recursos naturais; respeito e cuidado com e
pelo ser humano; zelo pelo bem-estar animal, pelo conforto animal.

Seus produtos são certificados pelo IBD, um dos mais notáveis institutos certificadores
do mundo. A diferenciação dos produtores associados à ASPRANOR é tão grande, que o
presidente sentencia da seguinte forma: “pedimos aos deuses da sabedoria que nos protejam
e ajudem a divulgarmos nossa ciência, em prol de um mundo melhor”.

Figura 7. Selo da ASPRANOR – carne bovina orgânica


Fonte: <http://www.aspranor.com.br/abertura.html>. Acesso em: 12 abr. 2011

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 155


Tendo em vista a atenção às necessidades dos consumidores contemporâneos, que
exigem alimentos saudáveis e de procedência conhecidas e reconhecidas como livres
de contaminações, a ASPRANOR garante que sua carne é orgânica, livre de substâncias
químicas, livre de técnicas ultrapassadas, totalmente em conformidade com os mercados mais
exigentes do mundo.

Em todas as etapas do processo produtivo, do pasto ao frigorífico, cada detalhe é


cuidadosamente arquitetado com base na etologia, ciência que estuda o comportamento
animal. Os cuidados com os currais, sem pregos, pontas e arames que possam machucar os
animais são detidamente pensados, sempre tendo como foco o menor estresse animal.

Responsabilidade social é questão básica na ASPRANOR. A associação preza pelo bem-


estar dos colaboradores e suas famílias, onde todos são registrados e possuem condições
dignas de vida, com casas com luz elétrica, água encanada. Todos são treinados para os
cargos que ocupam e têm garantida a educação para os filhos.

Quanto à conservação ambiental, para cumprir os requisitos básicos para que um produto
seja considerado orgânico, algumas medidas devem ser tomadas. As terras precisam estar
comprovadamente livres completamente de agrotóxicos, sendo exigido um período de carência
para áreas que tenham sido usadas para atividades que fizeram uso de agrotóxicos.

A preservação das florestas, áreas de preservação ambiental, nascentes de rios, bem como
a fauna da região são características básicas das áreas onde são produzidos os animais da
ASPRANOR.

Outro aspecto fundamental aos intentos da produção orgânica da Aspanor se refere à


segurança do alimento. A carne produzida pela ASPRANOR é de excelente qualidade, sendo
seguidas várias normas de segurança para esta finalidade.

No cardápio do gado orgânico, além da pastagem em quantidade e qualidade necessárias ao


bom desenvolvimento dos animais, os mesmos recebem outros alimentos, tais como casca de

156 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


soja não transgênica e farelo de algodão.

Estes insumos alimentares são de procedência garantida, quando adquiridos de terceiros, ou


ainda têm origem nos próprios associados da ASPRANOR, que obedecem a uma série de
normas e exigência de produção dos mesmos.

Para que o controle seja mais efetivo, cada animal possui uma ficha de controle, onde se
registra toda a vida deste animal, desde o primeiro dia de vida até o abate. Informações sobre
peso, alimentação, vacinas, são exemplos das contidas nestas fichas individuais.

Aos animais orgânicos são administradas as vacinas, como ocorre com os animais
convencionais. A diferença que existe, é que se algum animal é acometido por alguma doença,
bem como algum controle preventivo que possa ser necessário, são empregados produtos
fitoterápicos e/ou homeopáticos no tratamento dos mesmos.

A ASPRANOR vem desenvolvendo parcerias com algumas organizações de importante


atuação na sociedade, como a ONG WWF-Brasil. No ano de 1998, o WWF-Brasil criou o
Programa Pantanal para sempre e em 2003, passou a apoiar a pecuária orgânica certificada
na região. No ano de 2004, foi firmada uma parceria entre WWF-Brasil e Aspanor.

O grupo JBS-Friboi, a maior processadora de proteína animal do mundo, aposta no organic


beef, a sua marca de carne orgânica, certificada pelo IBD e chancelada pela ASPRANOR. Com
diversos cortes à disposição do consumidor, desde fraldinha, costela e músculo, passando por
coxão mole, maminha, filé mignon e picanha, a empresa ocupa posição de vanguarda neste
cenário.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 157


Caso 2 – O Papel da ABIEC na defesa dos interesses do setor exportador de carne
bovina brasileira

Histórico da ABIEC

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes – ABIEC foi criada no ano de
1979, a partir da necessidade que os exportadores de carne bovina do Brasil sentiam de uma
participação mais atuante e agressiva na defesa dos interesses do setor no contexto mundial.

Nesta época, o Brasil tinha uma atuação ainda muito tímida no mercado mundial da carne. A
série de exigências e protecionismos de mercados, ainda existentes neste setor, atrapalhava a
atuação das empresas nacionais, dificultando suas atividades comerciais.

Com a criação da ABIEC, o que representou um marco para o setor e para a economia
brasileira, seus associados passaram a ter voz e a serem respeitados em âmbito internacional,
o que facilitou a interlocução das empresas nacionais com outras corporações ao redor do
mundo, bem como agentes institucionais, governamentais, associações e outros agentes do
comércio internacional da carne bovina.

Os ganhos obtidos após o advento da ABIEC extrapolaram os limites da defesa dos


interesses dos associados, já que além da associação atuar buscando o desenvolvimento
técnico, profissional e social das empresas, apoia e trabalha conjuntamente com os governos
estaduais e federais na promoção da saúde pública e sanidade animal, por meio da execução
dos programas sanitários.

Nosso país estabeleceu acordos sanitários com vários países, ao mesmo tempo em que o setor
produtivo e a ABIEC aceleraram sua profissionalização, buscando com êxito novos mercados.

E os resultados da atuação da ABIEC já começam a ser sentidos. Por meio de parcerias com
a APEXBRASIL - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ABIEC
e seus associados têm participado de diversas feiras internacionais

158 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Participações em eventos, como: SIAL em Paris, França; World Food Moscow, em Moscou,
Rússia; Gulfood em Dubai, Emirados Árabes Unidos e a Anuga, em Colônia, Alemanha são
exemplos. Ainda, foram realizados workshops em parceria com Embaixadas brasileiras ao
redor do mundo, além, de receber autoridades e formadores de opinião que visitam a cadeia
produtiva da carne com o objetivo de promoção do produto brasileiro no exterior.

Esforço e dedicação são “palavras de ouro” quando falamos em associativismo, sobretudo,


no mundo do agronegócio e principalmente na Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Ao cumprir
todas as etapas, a ABIEC apresenta os resultados, que são positivos, conquistas de uma
realidade.

Por exemplo, há uma década a carne brasileira nem ao menos constava na pauta dos temas
discutidos nos fóruns internacionais. O Brasil vendia pouco mais de US$ 500 milhões por ano.
Hoje a realidade é bem diferente!

O Brasil ocupa, desde 2004, a liderança no ranking de maior exportador de carne bovina em
volume e em 2006, pela primeira vez, ocupou o primeiro lugar também em receita cambial.
Em 2008 o Brasil atingiu a cifra de US$ 5,3 bilhões, aumentando em 10 vezes o valor de suas
exportações em um período inferior a 10 anos (ABIEC, 2011).

A ABIEC é hoje um dos principais exemplos da importância e da força do associativismo no


contexto global. A ABIEC se tornou a principal representante do setor na área internacional de
regulamentação comercial, exigências sanitárias e a abertura de mercados.

É com este cenário que a ABIEC está trabalhando e continuará lutando para fortalecer a
imagem de seus associados e do Brasil no exigente mercado mundial.

Missão e objetivos da ABIEC

A missão da ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, conforme


consta na página oficial da associação é:

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 159


Defender os interesses do setor exportador de carne bovina nos âmbitos nacional e
internacional. Engendrar esforços para a redução das barreiras comerciais tarifárias
e não-tarifárias e promover os produtos brasileiros e a imagem do País no exterior
com vistas à abertura e consolidação de mercados. Garantir a representação do setor
nos fóruns nacionais e internacionais de modo a influenciar a tomada de decisões
e o processo normativo e legislativo que afetam o comércio internacional de carnes
bovinas.
Fonte: <http:// www.abiec.com.br>. Acesso em: 12 abr.2011
Nesta busca pela defesa dos interesses do setor exportador da carne bovina do Brasil, o
que tem reflexos na Cadeia Produtiva da Carne Bovina como um todo, a ABIEC tem como
diretrizes das ações a serem realizadas, os seguintes objetivos, e se pauta nos mesmos nos
seguintes termos:

• Congregar, coordenar, representar e defender os interesses das indústrias exportadoras de


carnes industrializadas e “in natura” de todo o país, promovendo estudos e buscando solu-
ções para os problemas gerais e específicos da classe junto a órgãos públicos ou privados.

• Promover campanhas de esclarecimento de opinião pública sobre questões ligadas à ex-


portação de carnes.

• Colaborar com os poderes públicos e outras entidades de classe em tudo que se relacionar
com os mercados interno e externo de carnes.

• Interceder, em caráter conciliatório, quando solicitada, para solucionar divergências entre


seus associados ou entre eles e outros exportadores.

• Promover reuniões, congressos e exposições, visando o desenvolvimento das exportações


de carnes.

• Colaborar com terceiros, inclusive com entidades estrangeiras de objetivos análogos, em


estudos e pesquisas sobre problemas vinculados às exportações de carnes.

• Organizar e oferecer aos seus associados serviços e assistência relacionados com os pe-
culiares interesses da atividade de exportação de carnes.

• Promover a carne bovina brasileira por meio do Programa de Marketing “Brazilian Beef”,
por meio da participação em feiras, realização de workshops, e quaisquer eventos que
venham a auxiliar na disseminação da marca pelo mundo, para que o Brasil se consolide

160 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


no topo do ranking mundial de exportadores de carne bovina.

• Aumentar o número de mercados compradores da carne bovina brasileira.

Perspectivas da Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Brasil

Como observado, alguns obstáculos ainda precisam ser superados para que o Brasil, de fato,
se consolide como o maior dentre os exportadores de carne bovina do mundo. A adoção de
boas práticas na produção de carne bovina tem se tornado uma das demandas mais urgentes
nas pautas de negociação dos compradores internacionais.

Bem-estar animal, respeito ao meio ambiente, responsabilidade social, passaram a ser termos
comuns na Cadeia Produtiva da Carne Bovina, como podemos observar na unidade II. Os
mercados mais exigentes, como a União Europeia, por exemplo, aumentam seus padrões de
qualidade, salientando a necessidade de excelência na questão sanitária, identificação animal,
rastreabilidade e certificação quando exigido.

No Brasil, como fatos positivos, a tecnologia aplicada, a produção de carne bovina promoveu
um considerável crescimento na produtividade nacional. Práticas como a inseminação artificial,
transferência de embrião e fertilização in vitro 9 estão sendo disseminadas por produtores em
toda a cadeia produtiva, promovendo o aumento da qualidade e produtividade do rebanho
nacional.

A introdução da gestão profissional nos projetos pecuários deve permitir melhores indicadores
de desempenho e produtividade na Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Além disso, indicadores
como, taxa de lotação das propriedades e ganho de peso dos animais, também demonstram
evoluir positivamente.

Uma tendência que parece se acentuar, é a da especialização na produção pecuária. Essa


9
A fertilização in vitro (FIV) é uma técnica de reprodução medicamente assistida que consiste na colocação, em ambiente
laboratorial, (in-vitro), de um número significativo de espermatozoides à volta de cada ovócito, procurando obter embriões de
qualidade a transferir posteriormente para a cavidade uterina de uma receptora.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 161


especialização consiste, em um primeiro momento, na ampliação do número e capacidade de
estabelecimentos específicos para engorda.

Os dois próximos passos devem ser a disseminação de estabelecimentos especializados em


reprodução e a criação voltada para mercados que demandem produtos diferenciados para
mercados específicos.

Em relação às exportações futuras, as expectativas são positivas, sendo, contudo, necessários


esforços para superar barreiras internas e externas.

Questões técnicas como os aspectos sanitários, certificação, identificação de animais como


no método Sisbov10 e infraestrutura são pontos a serem discutidos por governo, instituições,
pecuaristas e frigoríficos para manter a posição de liderança do Brasil no ranking dos maiores
exportadores.

A consolidação de sistemas de caracterização de produtos diferenciados como, por exemplo,


marcas coletivas ou selos de origem, associados aos diferentes mercados mundiais, é um
dos caminhos que a cadeia produtiva deve seguir; essas questões estão relacionadas com
a coordenação da cadeia, sobretudo, nos elos que envolvem os pecuaristas e a indústria de
abate e processamento.

Sobre as barreiras externas, a eliminação de barreiras comerciais e “barreiras sanitárias


fictícias” com características de barreira comercial, é outro aspecto que merece atenção por
parte dos órgãos responsáveis do governo.

Questões ligadas ao acesso do produto brasileiro a mercados estrangeiros, à redução de


quotas e tarifas que prejudicam a entrada de produtos brasileiros em mercados estrangeiros, à
eliminação ou diminuição de subsídios em países importadores ou concorrentes e à celebração
de acordos internacionais de comércio, são vitais para a consolidação dos mercados atuais e
ampliação da participação no mercado mundial.

10
SISBOV: Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos. Tem como objetivo registrar e
identificar o rebanho bovino e bubalino do território nacional possibilitando o rastreamento do animal desde o nascimento até o
abate, disponibilizando relatórios de apoio à tomada de decisão quanto à qualidade do rebanho nacional e importado.

162 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Uma sugestão de leitura é o livro “Conceitos sobre a produção, com qualidade, de carne e leite em
bovinos” do professor Ivanor, que você tem a sua disposição aí na sua biblioteca do polo.
Sinopse
O livro aborda a produção de carne e leite, dentro do conceito atual de produção moderna com qua-
lidade dos alimentos, os processos atuais do uso de fontes alternativas de energia (canola, gordura
protegida, linhaça, etc.) e a produção e viabilidade de embriões em ruminantes. São onze capítulos
relacionados com a produção, com qualidade, de carne e leite, com destaque para o uso de sistemas
alternativos com manipulação da dieta.
PRADO, Ivanor Nunes do. Conceitos sobre a produção, com qualidade, de carne e leite em
bovinos. Maringá: Eduem (2004, p. 301).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi possível observar ao longo desta unidade III, bem como das duas unidades
anteriores sobre Cadeia Produtiva da Carne Bovina, e tendo como base as perspectivas acima
apresentadas, é fundamental que os agentes integrados à cadeia, de montante a jusante,
busquem melhor coordenação, sobretudo das Informações ao longo da cadeia.

Os esforços de algumas organizações ou associações, como o caso da ABIEC, têm contribuído


para um melhor desenvolvimento do setor, sobretudo no processo de melhoria da imagem da
Carne brasileira no exterior, como o programa Brazilian Beef. O SIC, Sistema de informações
da carne, busca compartilhar e divulgar informações sobre a cadeia produtiva.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 163


No Brasil, o gado zebu, em especial, encontrou condições ideais de reprodução e adaptação,
fazendo com que o país se tornasse uma das principais referências no setor, tanto em
produção, plantel, como exportação.

Tornamos-nos os principais exportadores de carne bovina do mundo, graças dentre outros


fatores, às pastagens vastas, à produção extensiva, ao gado “verde” ou alimentado à pasto, ao
avanço em pesquisa e desenvolvimento, ao baixo custo de produção e aumento gradativo de
credibilidade no cenário internacional.

Atendemos mercados exigentes ao redor do mundo, como o caso da Europa; atendemos


mercados como o Halal e o Kosher, demonstrando capacidade de adaptação; grandes grupos
econômicos do setor são brasileiros; mas ainda percebemos que muito ainda precisa ser feito.

A melhor coordenação da cadeia produtiva, sobretudo, visando a harmonia entre os elos,


geraria resultados surpreendentes ao setor. O avanço de outras proteínas animais, como é o
caso do frango, enquanto houve um processo de estabilização e/ou pequeno crescimento do
consumo de carne bovina, pode ser um alerta ao setor.

Livro - Cadeias produtivas – estudo sobre competitividade e coordenação.


Ivanor Nunes do Prado e José Paulo de Souza – org. (2009).
Importantes sites para pesquisa sobre o mercado da carne bovina:
<http://www.abiec.com.br/index.asp> - Associação Brasileira das indústrias exportadoras de carne.
<www.iica.org.br> - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura.
<www.gah.com.br/pt/halal_market.asp>.
<www.agricultura.gov.br/portal/page?_pageid=33,5459468&_dad=portal&_schema=PORTAL>.

164 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Qual o rebanho bovino nacional? Quais os estados que apresentam os maiores rebanhos?

2. O que se entende pela expressão “mudança da geografia do boi” na pecuária nacional?

3. Defina sazonalidade. Como essa variável afeta a dinâmica da cadeia produtiva de carne
bovina?

4. O que se entende pela expressão “ciclo do boi”?

5. O Brasil importa carne bovina? Caso sim, discuta quais são os principais fornecedores e o
grau de dependência do Brasil, caso exista.

6. Quais os principais mercados compradores do Brasil?

7. O que é o mercado halal? Que princípios os norteiam? Quais os principais mercados do


Brasil nesse segmento?

8. Em relação ao consumo interno, qual a imagem que o consumidor nacional faz da carne
bovina?

9. Faça uma comparação entre as principais proteínas animais consumidas no Brasil. Como
se desenvolveu o consumo da carne bovina nos últimos anos, em comparação com as
outras proteínas animais?

10. Qual a capacidade de abate da indústria frigorífica nacional? Quais estratégias o elo frigo-
rífico adota ou pode adotar para desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Carne Bovina?

11. Pesquise o que é criação extensiva e criação intensiva de gado bovino. Quais as vantagens
e desvantagens de cada sistema de produção?

12. No que se refere aos mecanismos de coordenação, você acredita que a Cadeia Produtiva
da Carne Bovina é bem coordenada?

13. Pesquise sobre cooperativismo, associativismo e alianças estratégicas na produção pecu-


ária. Discuta como essas alternativas podem contribuir com o desenvolvimento da Cadeia
Produtiva da Carne Bovina.

14. Pesquise sobre a rastreabilidade na cadeia bovina. Discuta como esse mecanismo pode
assegurar qualidade ao consumidor e representar relações ganha-ganha em toda cadeia
produtiva.

15. Como a gestão profissional pode contribuir e gerar melhores resultados aos agentes orga-
nizacionais ligados a Cadeia Produtiva da Carne Bovina?

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 165


16. O que é o Sisbov? Como esse instrumento pode contribuir com a Cadeia Produtiva da
Carne Bovina?

17. Pesquise sobre as barreiras tarifárias, barreiras sanitárias e protecionismo na Cadeia


Produtiva da Carne Bovina.

18. Quais aspectos culturais precisam ser trabalhados para que avanços consideráveis
ocorram na cadeia?

19. Como a tecnologia e genética podem contribuir com o desenvolvimento da Cadeia Produtiva
da Carne Bovina? Defina FIV, inseminação artificial e transferência de embrião.

166 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


UNIDADE IV

PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE


Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

Objetivos de Aprendizagem

• Traçar um panorama da cadeia produtiva do leite.

• Analisar os elos da cadeia produtiva do leite.

• Conhecer a indústria de processamento do leite.

• Entender a tipificação de produtos.

• Investigar sobre as barreiras ao aumento do consumo de leite no Brasil.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Panorama da cadeia produtiva do leite: legislação, fiscalização, produtividade


e tecnologia e rebanho

• Estrutura da cadeia produtiva do leite do Brasil: análise dos elos e dinâmica


do setor

• A indústria de processamento do leite: classificação e tipificação de produtos

• Como estimular o consumo do leite no Brasil? Experiências internacionais


bem-sucedidas
INTRODUÇÃO

Nesta fase do curso vamos estudar, conhecer e compreender as principais características da


Cadeia Produtiva do Leite. Estudaremos a cadeia produtiva em todos os seus elos, bem como
os métodos de produção, o complexo panorama do leite no mundo e no cenário nacional.
Mesmo estudando alguns aspectos técnicos essenciais ao conhecimento e aprendizado sobre
essas cadeias produtivas do agronegócio, o foco principal deste estudo será a gestão aplicada
à Cadeia Produtiva da Carne Bovina.

O desenvolvimento tecnológico, por meio da pesquisa e desenvolvimento, melhoramento


genético, aliado aos esforços na organização da cadeia, sobretudo, por ação dos agentes
ligados ao elo dos laticínios, propiciou uma nova dinâmica e evolução considerável na cadeia,
gerando aumento da produtividade.

A introdução de mecanismos para garantia de qualidade do produto, o aumento da


fiscalização e do controle sanitário (embora ocorressem casos de febre aftosa), a capacitação
e desenvolvimento de produtores, como foco a atender as novas exigências do mercado
consumidor, fizeram com que a cadeia se profissionalizasse e fornecesse, gradativamente,
melhores produtos, entregando maior valor ao consumidor.

Na pecuária leiteira, muitas barreiras culturais precisam ser superadas, para que a cadeia atinja
melhor status no contexto competitivo. A introdução de conceitos de gestão nas organizações
rurais é um fator crítico para o sucesso das organizações que enfrentam problemas na
condução de seus negócios. Muitas já compreenderam essa necessidade de gestão na
condução dos negócios e, por isso, estão à frente dos concorrentes.

Abordaremos esses temas com detalhes no decorrer dos nossos estudos, destacando o
enfoque da gestão aplicado à cadeia produtiva do leite.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 169


PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE

As profundas mudanças ocorridas no mundo, sobretudo, nas duas últimas décadas,


impulsionaram as organizações a se adequarem às novas condições concorrenciais exigidas
neste novo ambiente competitivo que se apresenta. A indústria leiteira, também inserida neste
processo de mudanças precisou se adequar às novas demandas do setor.
Fonte: PHOTOS.COM

Muitas mudanças econômicas ocorreram neste período, é fato, mas principalmente, as


alterações de cunho tecnológico, nas legislações e no processo de informação do consumidor,
contribuíram para que a cadeia produtiva do leite se tornasse mais profissional, embora
existam exceções.

Antes era muito comum a ocorrência de problemas sanitários com o leite, adição de produtos
estranhos ou substâncias proibidas, mas com a introdução de leis mais severas, ou ainda e
mais precisamente, a Instrução Normativa 51, que abordaremos adiante, a qualidade do leite
passou a ser mais fiscalizada e garantida, agregando valor ao produto.

No Brasil, nas últimas duas décadas a produção de leite elevou-se consideravelmente,


chegando a dobrar nesse espaço de tempo. Grande parte desse aumento da produção se
deve ao aprimoramento tecnológico ocorrido na cadeia produtiva do leite, já que nesse período
estima-se que houve um aumento de produtividade nas vacas leiteiras (de 700 litros/vaca/ano
para 1.400 litros/vaca/ano); a exploração de novas fronteiras, como estados do Centro-Oeste
e Norte do país também contribuíram com o aumento da produção de leite no país.

Santos et al. (2001 apud PRADO; SOUZA, 2009) estimam que a produção mundial de leite
atinja os 478 bilhões de litros, sendo Estados Unidos, Índia, Rússia, França e Alemanha
os principais produtores mundiais. O Brasil ocupa a sexta posição no ranking dos maiores
produtores de leite do mundo, sendo o maior produtor da América Latina, ficando à frente
da Argentina, referência na produção mundial de leite. No entanto, o Brasil ainda perde para

170 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


seus concorrentes principais quando falamos na relação produtividade litros/vaca/ano. Eis a
principal questão.

Em relação à estrutura fundiária do Brasil, destaca-se que a maciça maioria é composta


de pequenos produtores rurais, com produção basicamente destinada à subsistência, não
especializados e sem escala de produção de leite. Acredita-se que esse fator atrasou a
produção leiteira brasileira.

Apesar do desenvolvimento recente observado na cadeia produtiva de leite do Brasil, a


reclamação que faz coro entre os produtores rurais é a baixa remuneração da atividade.
Esse fato não permite que o produtor torne-se um produtor especializado da cadeia leiteira,
não realizando investimentos em genética, maquinários, ração e suplementos alimentares e
capacitação de pessoal.
Fonte: PHOTOS.COM

De outro lado, a reestruturação do modelo de produção de leite permite, ao mesmo tempo,


gerar desenvolvimento tecnológico e aumento considerável da produtividade leiteira, no
entanto, podendo gerar um grave problema social, já que nem todos os produtores podem
estar preparados às mudanças, novas normas e regras da produção leiteira, gerando, por
exemplo, o abandono da atividade ou o êxodo rural.

Gomes (1999 apud PRADO; SOUZA, 2007) relata que o Brasil passou por sensíveis mudanças
na produção leiteira nas últimas duas décadas. Dentre elas, podemos destacar:

a) A liberação do preço em 1991, que de 1945 até 1991 foi tabelado, o que causava estagna-
ção e desestímulo a produção leiteira.

b) A abertura econômica, que proporcionou a liberação dos mercados internacionais, das im-
portações de produtos a custos menores, estimulando a indústria nacional, desenvolvendo
a competitividade.

c) A estabilidade econômica, que propiciou aumento da renda e poder de compra do consu-


midor, consequentemente aumentando a demanda.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 171


d) A concorrência com produtos lácteos importados, principalmente do MERCOSUL.

e) A massificação do consumo de leite Longa Vida, UHT11, que teve impactos significativos em
toda a cadeia produtiva do leite.

Além desses fatores citados, cabe destacar o estabelecimento de multinacionais em território


nacional, o que acirrou a competição entre as empresas nacionais e estrangeiras; as novas
exigências sanitárias, como a introdução de normas, por exemplo, a instrução normativa 51,
o que focou o aumento da qualidade do produto; e a introdução de tecnologia apurada na
produção leiteira, desde a genética até mecanismos de conservação e medição de qualidade
do leite.

Pudemos observar que esses fatos citados têm origem no processo de globalização, ocorrido
no início da década de 1990. O que se pode entender disso? É que em tempos de globalização,
mais do que nunca, é imprescindível ser competitivo e na pecuária leiteira isso significa possuir
baixos custos de produção, investir em qualidade, alimentação do gado, genética e tecnologia,
bem como zelar pela qualidade do produto entregue.

Os que não se adequarem a essa nova realidade, fatalmente estão fadados a ser excluídos
do mercado, por força da competitividade e do aumento do nível de exigência do consumidor.
A exclusão de produtores ineficientes do mercado pode ocorrer, pois a tecnologia e a mão de
obra que antes estavam inertes quanto ao desenvolvimento, avançaram, em consequência
dos fatos anteriormente citados.

Um dos investimentos que demandam altas cifras dos produtores é a genética animal, embora
venha a cada ano tornando-se uma realidade mais próxima de pequenos produtores e venha
se democratizando a cada ano, tornando-se mais acessível aos pequenos e médios. Os
programas de inseminação artificial12 desenvolvidos pelas empresas privadas e por prefeituras
municipais têm melhorado a qualidade do rebanho nacional gradativamente.

Além da técnica de reprodução animal fazendo uso da inseminação artificial, que está se
popularizando a cada dia entre os produtores rurais, outras técnicas desenvolvidas, como a
11
Leite Longa Vida é o leite tratado por um processo denominado Ultrapasteurização, UAT (Ultra Alta Temperatura) ou UHT
(do inglês Ultra High Temperature).

Inseminação artificial é a introdução mecânica do sêmen no aparelho reprodutivo da fêmea. É preciso que fique claro que o
11

homem apenas deposita o sêmen no aparelho reprodutivo da fêmea; a fecundação, ou seja, a união do espermatozoide com o
óvulo e a formação de um novo animal ocorrem naturalmente, sem a interferência do homem.

172 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


fertilização in vitro (FIV), transferência de embriões e inseminação artificial com sêmen sexado
em laboratório, são exemplos do avanço tecnológico da pecuária leiteira.

Quais os principais desafi os e oportunidades da cadeia produtiva do leite no Brasil?

REBANHO BOVINO LEITEIRO DO BRASIL

Em relação ao rebanho nacional, o Brasil abriga diversas raças, algumas para corte, outras
para leite e outras raças com dupla aptidão, ou seja, carne e leite. Por possuir diversidade de
solos e climas, as raças leiteiras possuem diferentes adaptações de acordo com a região que
se localizam, no entanto, se destacando três grupos principais:

a) O gado Zebu: é uma espécie bovina cuja característica principal é uma saliência muscu-
lar no dorso, popularmente conhecida como cupim. Essa espécie foi e ainda é essencial
na formação do rebanho bovino nacional; produtores importaram alguns exemplares de
Zebuínos, sobretudo, o Nelore, base do plantel nacional, da Índia, berço do zebu, onde os
animais são considerados sagrados e não utilizados para o consumo humano. Naquele
país existem mais de 50 raças zebuínas. No Brasil, existe algo próximo a 10 raças (Nelore,
Nelore Mocha, Gir, Gir Mocha, Guzerá, Sindi, Brahman, Tabapuã, Cangaiam, Indubrasil).
O zebu brasileiro é selecionado para produção de carne ou leite, sendo que algumas raças
apresentam dupla aptidão. Na produção leiteira, raças zebuínas leiteiras como a Gir e a
Guzerá são as mais utilizadas.

b) O gado Mestiço: é o animal misturado, cruzado, mestiço. De duas raças, surge um tipo
próprio para ser empregado em determinadas situações ou projetos pecuários; o gado
mestiço pode ser elaborado a partir de planejamento, do cruzamento de raças específi cas
com determinado fi m, sendo isso positivo, ou sem critérios, sendo esse método inade-
quado e improdutivo. O gado girolando é um bom exemplo da união de duas raças, Gir e
holandês para a fi nalidade de produção de leite.

c) O gado Europeu: raças europeias especializadas para a produção de leite, como a Holan-
desa, a Parda-Suíça e a Jersey, são as mais utilizadas nos rebanhos nacionais.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 173


Fonte: PHOTOS.COM

Nota-se o predomínio de rebanhos derivados do cruzamento entre raças zebuínas e europeias,


como o caso do gado Girolando, predominante na produção leiteira do Brasil, que é o resultado
do cruzamento entre a raça Holandesa (europeia) e a raça Gir (zebuína). Segundo a Embrapa
Gado de Leite, cerca de 70% da produção de leite no Brasil é originada de vacas mestiças
holandês-zebu, onde as raças holandesas predominam nos cruzamentos.

Estrutura da Cadeia Produtiva do Leite do Brasil

Em relação à estrutura da cadeia produtiva do leite no Brasil, podemos observar que a


formação da mesma apresenta-se similar às demais cadeias do agronegócio. No que se refere
aos elos de produção e transações típicas na cadeia, observa-se a presença dos seguintes
elos de produção:

a) Fornecimento de insumos e equipamentos: os fornecedores de insumos são compostos


pelas casas agropecuárias, que são os fornecedores de ração, insumos, sal, medicamen-
tos, vacinas, latões, seringas, sementes de capim e acessórios; pelos revendedores de má-
quinas, que vendem tanques de refrigeração, máquinas de ordenha e demais acessórios.
As empresas fornecedoras de genética e tecnologia de produção animal, como semens,
fertilizações in vitro, embriões, são exemplos de empresas pertencentes a este elo. Estas
organizações oferecem insumos e tecnologia para a produção de leite e impactam o custo
de produção, em função do seu poder de oligopólio13.

b) Produção primária: genericamente, os produtores primários são classificados em dois


grupos: especializados e não especializados. Especializados são os produtores de ativida-
de intensiva, tendo a produção leiteira como principal atividade econômica da propriedade.
Caracterizam-se por investimento em tecnologia de produção, investimento em genética
superior e rebanhos especializados para a produção leiteira. Não especializados são os

13
Oligopólio: poucas empresas vendendo para um conjunto grande e disperso de produtores e com forte poder de determinar
o preço de venda.

174 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


produtores rurais que adotam técnicas de produção rudimentares, pela criação extensi-
va, somente à pasto. Os produtores especializados apresentam excelente desempenho
produtivo, em contrapartida, gerando altos custos de produção, o que torna esses mais
vulneráveis às situações de crise e preço baixo do leite.

c) Processamento: são responsáveis pela captação e processamento do leite in natura e


atuam diretamente no controle de qualidade do produto fornecido pelos produtores. Re-
muneram os produtores rurais conforme a qualidade do produto entregue, isto mediante
análises laboratoriais da qualidade do leite, considerando desde volume entregue, quali-
dade do produto, presença de sólidos e teor de gordura do leite. Segundo Jank e Galan
(1999), os processadores são classificados em empresas multinacionais, grupos nacionais,
cooperativas de produtores de leite e pequenos laticínios.

d) Distribuição: o setor de distribuição é o elo da cadeia responsável por fazer com que o
leite ou derivado deste chegue à mesa do consumidor na mais perfeita condição de con-
sumo; é representado por supermercados, padarias e mercearias, no caso do varejo, e
por atacadistas; no Brasil, o setor varejista de alimentos, representado, sobretudo, pelos
supermercados, exerce forte poder sobre as agroindústrias, determinando a margem de
comercialização do produto, em muitos casos. Podem ser identificados dois grupos dis-
tintos no segmento distribuidor, o formal, constantemente fiscalizado e sob as normas da
vigilância sanitária e leis específicas do setor, e o informal, o qual está à margem dessa
realidade, pois esquiva-se da fiscalização e monitoramento constante.

e) Consumidor Final: o consumidor de alimentos torna-se a cada dia mais exigente. Com o
leite não foi diferente! O consumidor demanda tanto o leite fluido, longa vida ou o pasteuri-
zado, bem como seus derivados, como manteigas e mussarelas. Nota-se um crescimento
relativo no consumo de leite nos últimos anos, justificado pelo aumento da população,
crescimento da renda e poder de compra e mudança de hábitos alimentares dentre outros
fatores.

As configurações das cadeias produtivas seguem características próprias das regiões onde
estão inseridas. Em cada cidade, cada estado, haverá uma configuração própria, conforme
os agentes e instituições que atuam em cada cenário. Um modelo esquematizado da cadeia
produtiva do leite é apresentado a seguir na figura 8, tendo como referência a cadeia produtiva
de leite do estado de Mato Grosso do Sul.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 175


Figura 8. A Cadeia produtiva do Leite de Mato Grosso do Sul
Fonte: adaptado de Michels. I. Leite, coleção cadeias produtivas de Mato Grosso do Sul. Campo
Grande: UFMS, 2002, p.29

A INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DO LEITE


Fonte: PHOTOS.COM

Podemos definir a indústria leiteira como o elo da cadeia produtiva do leite responsável por
adquirir e processar a matéria-prima básica, obtendo a partir deste processo uma gama
de produtos que podem ser divididos em duas grandes categorias: linha fria, em que há a
necessidade de resfriamento e a linha seca, que não necessita de refrigeração, conforme
classificação proposta por Jank e Galan (1999):
a) Linha Fria: há necessidade de resfriamento da matéria-prima para transporte e manuten-
ção nos locais de comercialização, destacando-se os leites pasteurizados (A, B, C), bebi-
das lácteas, petit-suisse, manteigas, iogurtes, além de alguns tipos de queijos. Pode-se
incluir nessa categoria o creme de leite fresco.

b) Linha Seca: não há necessidade de resfriamento da matéria-prima para transporte e es-


tocagem, sendo destaques dessa categoria o leite esterilizado (longa vida), leite em pó e
alguns queijos de massa dura. Podem-se acrescentar nessa categoria os cremes de leite
esterilizado e o leite condensado.
176 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância
É fundamental que futuros gestores do agronegócio conheçam um pouco mais sobre o produto
básico da cadeia bovina leiteira, o leite.

O leite: como estimular o consumo?

Fonte: PHOTOS.COM

Para compreendermos a cadeia produtiva do leite é essencial que o gestor de agronegócio


tenha domínio sobre as informações relativas aos produtos gerados a partir da matéria-prima
básica da cadeia, o leite. Uma série de produtos processados é gerada a partir do leite, produto
que faz parte da cesta de alimentos do brasileiro.

O leite de vaca sempre foi considerado um rico produto alimentício para a dieta humana, sendo
uma fonte importante de nutrientes, especialmente proteínas e cálcio. O leite também serve
como base para uma série de produtos derivados e como ingrediente básico na produção de
alimentos industrializados.

Nos últimos anos a mídia veicula notícias que de certa forma prejudicam a cadeia leiteira,
sobretudo, quando o assunto é a lactose e a rejeição ao seu consumo. A lactose tem causado
seríssimos problemas em relação à comercialização do leite, devido à existência de pessoas
que apresentam restrição ao consumo do leite de vaca e podem acarretar sérios danos
digestivos.

O marketing positivo é uma importante ação para melhorar a imagem do leite perante o
consumidor. Por meio de um plano de marketing institucional, os agentes da cadeia, juntamente
com os órgãos de interesse da classe, governo, associações e sindicatos, poderiam fazer uso
de mídias de acesso em massa à população, para promover o consumo de leite.

Tal fato ocorre nos Estados Unidos, onde celebridades, artistas de Hollywood e demais

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 177


formadores de opinião aparecem em propagandas e mensagens publicitárias de grande
circulação tomando leite de vaca ou tratando seus filhos com esse alimento. Tal exemplo
poderia ser seguido no Brasil para popularizar o consumo do produto.

O BC Dairy Foudation é uma organização sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento


do consumo do leite. A organização, que desde 1974 atua na promoção e no incentivo do
consumo de leite, apresenta comerciais com o tema “Beba mais leite!”.

As ações da fundação, que atua na região canadense de British Columbia, abordam estas
questões referentes ao consumo do leite, focando de maneira engraçada o tema, por meio de
comerciais com o tema “Must Drink More Milk”, algo que traduzido seria “devemos beber mais
leite!”.

Figura 9. Cartaz da campanha de incentivo ao consumo de leite


Fonte: <http://bcdairyfoundation.ca/>. Acesso em: 12 abr. 2011

Acesse o link abaixo e saiba mais sobre o papel da BC Dairy Foundation, acompanhando inclusive
algumas das propagandas desenvolvidas para a promoção e o incentivo ao consumo do leite no
Canadá.
<http://www.youtube.com/watch?v=zXfAi1FMWbI&feature=related>.

O leite de vaca possui ricas gorduras em sua composição, com grande aplicação na indústria

178 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


de alimentação e na culinária. A presença de minerais e vitaminas, tendo mais destaque o
cálcio, são importantes ao consumo humano, sendo recomendado às pessoas que apresentam
problemas nos ossos, como a osteoporose, sobretudo, às mulheres.

TIPOS DE LEITE

Conforme a Instrução Normativa 51 o leite pode ser classificado de acordo com sua obtenção
e processamento em: Leite tipo A, Leite tipo B, Leite tipo C, Leite Pasteurizado e Leite Cru
Refrigerado. A legislação define estas classificações de acordo com os métodos de produção
do leite (que envolvem manejo, sanidade, instalações, ordenha) e de seu processamento,
especialmente levando em consideração a qualidade química e sanitária do leite.

a) Leite Tipo A

De acordo com a normativa 51, o leite para ser considerado tipo A deve cumprir uma série de
requisitos. O Leite Pasteurizado tipo A deve ser classificado quanto ao teor de gordura em:
integral, padronizado, semidesnatado ou desnatado, produzido, beneficiado e envasado em
estabelecimento denominado Granja Leiteira, observadas às prescrições contidas no presente
Regulamento Técnico.

Em relação à designação de venda, o leite tipo A pode ser:

a) Leite Pasteurizado tipo A Integral.

b) Leite Pasteurizado tipo A Padronizado.

c) Leite Pasteurizado tipo A Semidesnatado.

d) Leite Pasteurizado tipo A Desnatado.

É interessante observar que o leite A só pode ser pasteurizado e o processo é fechado, ou


seja, a produção e processamento ocorrem na propriedade.

b) Leite Tipo B
Conforme a IN 51, Entende-se por Leite Cru Refrigerado tipo B o produto definido neste
Regulamento Técnico, integral quanto ao teor de gordura, refrigerado em propriedade
rural produtora de leite e nela mantido pelo período máximo de 48h (quarenta e oito
horas), em temperatura igual ou inferior a 4ºC (quatro graus Celsius), que deve ser
atingida no máximo 3h (três horas) após o término da ordenha, transportado para

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 179


estabelecimento industrial, para ser processado, onde deve apresentar, no momento
do seu recebimento, temperatura igual ou inferior a 7ºC (sete graus Celsius).

Entende-se por Leite Pasteurizado tipo B o produto definido neste Regulamento Técnico,
classificado quanto ao teor de gordura como integral, padronizado, semidesnatado ou
desnatado, submetido à temperatura de 72 a 75ºC (setenta e dois a setenta e cinco graus
Celsius) durante 15 a 20s (quinze a vinte segundos), seguindo-se resfriamento imediato até
temperatura igual ou inferior a 4ºC (quatro graus Celsius) e envase no menor prazo possível,
sob condições que minimizem contaminações.

Designação (denominação de venda):

a) Leite Cru Refrigerado tipo B.

b) Leite Pasteurizado tipo B Integral.

c) Leite Tipo C

De acordo com a Normativa 51


Entende-se por Leite Cru tipo C o produto definido neste Regulamento Técnico, não
submetido a qualquer tipo de tratamento térmico na fazenda leiteira onde foi produzido
e integral quanto ao teor de gordura, transportado em vasilhame adequado e individual
de capacidade até 50 litros e entregue em estabelecimento industrial adequado até as
10 h do dia de sua obtenção.

Se aceita como Leite Cru Refrigerado tipo C o produto após ser entregue em temperatura
ambiente até as 10h do dia de sua obtenção, em Posto de Refrigeração de leite ou
estabelecimento industrial adequado e nele ser refrigerado e mantido em temperatura igual
ou inferior a 4ºC; o Leite Cru tipo C, após sofrer refrigeração em Posto de Refrigeração, pode
permanecer estocado nesse Posto pelo período máximo de 24h, sendo remetido em seguida
ao estabelecimento beneficiador.

É permitida a manutenção do Leite Cru Refrigerado tipo C em uma determinada indústria por
no máximo 12h, até ser transportado para outra indústria, visando processamento final, onde
deve apresentar, no momento do seu recebimento, temperatura igual ou inferior a 7ºC. Em se
tratando de Leite Cru tipo C, obtido em segunda ordenha, deve o mesmo sofrer refrigeração na
propriedade rural e ser entregue no estabelecimento beneficiador até as 10h do dia seguinte
à sua obtenção, na temperatura máxima de 10ºC, enquanto perdurar a produção desse tipo
de leite.

180 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


É entendido ainda como Leite Pasteurizado tipo C o produto definido neste Regulamento Téc-
nico, classificado quanto ao teor de gordura como integral, padronizado a 3% m/m, semi-
desnatado ou desnatado, submetido à temperatura de 72 a 75ºC durante 15 a 20 segundos,
seguindo-se resfriamento imediato em aparelhagem a placas até temperatura igual ou inferior
a 4ºC e envase no menor prazo possível, sob condições que minimizem contaminações.

Em pequenos laticínios pode ser realizada a pasteurização lenta “Low Temperature Long
Time”, ou seja, “Baixa Temperatura/Longo Tempo”) para produção de Leite Pasteurizado para
abastecimento público ou para a produção de derivados lácteos, nos termos do presente
Regulamento, desde que: i) O equipamento de pasteurização a ser utilizado cumpra com
os requisitos operacionais ditados pelo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
Produtos de Origem Animal - RIISPOA e pelo Regulamento Técnico específico, no que for
pertinente. ii) O envase seja realizado em circuito fechado, no menor tempo possível e sob
condições que minimizem contaminações; não é permitida a pasteurização lenta de leite
previamente envasado em estabelecimentos sob Inspeção Sanitária Federal.

O leite tipo C pode ter as seguintes denominações de venda:

I. Leite Cru tipo C.

II. Leite Cru Refrigerado tipo C.

III. Leite Pasteurizado tipo C Integral.

IV. Leite Pasteurizado tipo C Padronizado.

V. Leite Pasteurizado tipo C Semidesnatado.

VI. Leite Pasteurizado tipo C Desnatado.

Deve constar a expressão: “Homogeneizado” na rotulagem do produto quando for submetido


a esse tratamento.

c) Leite cru refrigerado

Segundo a normativa 51,


entende-se por Leite Cru Refrigerado o leite e mantido nas temperaturas exigidas,
conforme Regulamento Técnico, transportado em carro-tanque isotérmico da
propriedade rural para um Posto de Refrigeração de leite ou estabelecimento industrial
adequado, para ser processado.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 181


Designação (denominação de venda)

- Leite Cru Refrigerado.

d) Leite Pasteurizado

Conforme a Instrução Normativa 51, o Leite Pasteurizado é o leite fluido elaborado a partir do
Leite Cru Refrigerado na propriedade rural, que apresente as especificações de produção, de
coleta e de qualidade dessa matéria-prima contidas em Regulamento Técnico próprio e que
tenha sido transportado a granel até o estabelecimento processador.

O Leite Pasteurizado definido deve ser classificado quanto ao teor de gordura como integral,
padronizado a 3% m/m, semidesnatado ou desnatado, e, quando destinado ao consumo
humano direto na forma fluida, submetido a tratamento térmico na faixa de temperatura de
72 a 75ºC durante 15 a 20 segundos, seguido de resfriamento imediato até temperatura igual
ou inferior a 4ºC e envase em circuito fechado no menor prazo possível, sob condições que
minimizem contaminações.

Em estabelecimentos de laticínios de pequeno porte pode ser adotada a pasteurização lenta


Low Temperature, Long Time, Baixa Temperatura/Longo Tempo em português para produção
de Leite Pasteurizado para abastecimento público ou para a produção de derivados lácteos,
nos termos do presente Regulamento, desde que:

I. O equipamento de pasteurização a ser utilizado cumpra com os requisitos dispostos pelo


Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos Animal - RIISPOA ou em Re-
gulamento Técnico específico, no que for pertinente.

II. O envase seja realizado em circuito fechado, no menor tempo possível e sob condições
que minimizem contaminações.

III. A matéria-prima satisfaça às especificações de qualidade estabelecidas pela legislação


referente à produção de Leite Pasteurizado, excetuando-se a refrigeração do leite e o seu
transporte a granel, quando o leite puder ser entregue em latões ou tarros e em tempe-
ratura ambiente ao estabelecimento processador no máximo 2 horas após o término da
ordenha.

Designação (denominação de venda)

Deve ser denominado “Leite Pasteurizado Integral, Padronizado, desnatado ou semi-


desnatado, deve constar na rotulagem a expressão “Homogeneizado”, quando o produto for
182 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância
submetido a esse tratamento.

O PROCESSO DE PASTEURIZAÇÃO

O objetivo do processo de pasteurização do leite é a eliminação de todos os microrganismos


patogênicos, não ocorrendo eliminação das bactérias que deterioram o leite, já que
as temperaturas empregadas na pasteurização são mais brandas, consequentemente
sobrevivendo os microorganismos. O leite pasteurizado deve ser mantido refrigerado (5º C) e
possui um tempo de prateleira médio de 5 dias.

Basicamente, se utilizam dois tipos de processos de pasteurização:

a) Pasteurização lenta

É um método pouco empregado devido a sua demora, alto consumo de energia e redução
de apenas 95% dos microrganismos, consistindo no tratamento térmico do leite a 65ºC por
um tempo de 30 minutos. A pasteurização lenta pouco altera a qualidade do leite, sendo mais
adequada para pequenos produtores que desejem produzir queijos ou outros derivados do
leite, considerando que o custo com equipamentos é pequeno.

b) Pasteurização HtSt

É procedimento padrão da indústria leiteira, sendo realizado um tratamento térmico mais


elevado, cerca de 75ºC, e em menor tempo, (algo próximo a 15 a 20 segundos). O processo
rápido e intermitente permite o tratamento de grande quantidade de leite, tendo 99,5% de
eficiência na eliminação de microrganismos, acarretando algumas alterações na composição
do leite.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 183


Processo UHT (Ultra High Temperature)

Fonte: PHOTOS.COM
Conforme a Portaria nº 370 de 04 de setembro de 1997 do MAPA - Ministério da Agricultura e
do Abastecimento, define-se como leite UHT (Ultra High Temperature) o leite homogeneizado
que foi submetido a uma temperatura entre 130ºC e 150ºC, por um tempo de 2 a 4 segundos,
mediante um processo térmico de fluxo contínuo, imediatamente resfriado a uma temperatura
inferior a 32ºC e envasado sob condições assépticas em embalagens estéreis e hermeticamente
fechadas.

O tratamento UHT permite obter um produto estéril, ou seja, um produto que não contém
microrganismos capazes de se desenvolver nas condições normais de armazenamento e
comercialização. Essa técnica permite uma longa conservação do leite de consumo sem a
necessidade de refrigeração.

Como estudamos anteriormente, o tratamento térmico elimina os microrganismos patogênicos,


porém não causam destruição dos esporos termorresistentes do leite. O termo “comercialmente
estéril” é aplicado porque existem microrganismos que sobrevivem ao processamento UHT,
mas não são capazes de crescer em condições normais de armazenagem do produto e causar
deterioração do mesmo.

O processo UHT é popularmente conhecido como “leite longa vida”, ou o “leite de caixinha”.
Neste tratamento o aquecimento é altíssimo, o que acarreta não só a eliminação de patógenos,
mas de quase todos os microrganismos (99,99%), possibilitando o armazenamento e
aumentando o tempo de prateleira para mais de 4 meses.

Por todas essas características, o leite longa vida é a forma preferida de comercialização para
os grandes varejistas, devido à facilidade no transporte e armazenamento, possibilitando as
compras em grandes lotes, facilitando também para o consumidor.

Um dos aspectos a salientar em relação ao leite UHT é o caso das embalagens tetra Pak e

184 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


a “lenda urbana” mitificada em relação à reutilização e repasteurização do leite. Um boato
lançado dizia que o número no fundo da embalagem se refere ao número de vezes que o
leite “venceu” e foi repasteurizado. Além de ser ilegal e antiético, os custos operacionais com
logística em recolher, retirar, reprocessar o leite seriam maiores do que produzir outro leite.

Conforme informação do site da Tetra Pak, empresa do ramo de embalagem do produto,


algumas questões precisam ser dirimidas, com relação à qualidade e procedência do leite.

Como a massifi cação do consumo leite UHT (longa vida) contribui para o avanço da cadeia produtiva
de leite do Brasil?

Conheça mais sobre a Instrução Normativa 51:


<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao
=visualizar&id=8932>.
Conheça mais sobre a Embrapa Gado de Leite
<http://www.cnpgl.embrapa.br/>.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 185


CAMPOS, Everton Molina; NEVES, Marcos Fava (coordenadores). Planejamento e gestão estraté-
gica para o leite em São Paulo. 1. ed. - São Paulo: SEBRAE, 2007. ISBN: 978-85-7376-068-2.
Disponível em: <http://www.pensa.org.br/anexos/biblioteca/552008171151_LIVRO_LEITE_WEB.
pdf>.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então, prezado(a) aluno(a), como está indo o estudo sobre as cadeias produtivas da carne e
do leite? Está sendo vantajoso? Sugiro que você aproveite a oportunidade de conhecer sobre
essas duas importantes cadeias do agronegócio nacional e se aprofunde nos conhecimentos
e informações, tendo como base as referências sugeridas dentre outras.

Acabamos de conhecer um pouco mais sobre uma das mais importantes cadeias produtivas
do agronegócio nacional, a cadeia produtiva do leite. Podemos observar que, no Brasil, houve
um aumento de produtividade considerável, embora ainda sejamos apenas o sexto entre os
maiores produtores de leite do mundo, enquanto os Estados Unidos são os maiores produtores
do mundo. Temos muito a progredir!

No Brasil, a pecuária leiteira é característica de pequenos produtores rurais, com pequenas


propriedades, o que a caracteriza com grande importância econômica e social. A baixa
186 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância
remuneração paga aos produtores rurais é um dos principais problemas do setor, o que não
permite a especialização na atividade e os distancia de muitos dos benefícios dos avanços
científicos, tecnológicos e genéticos.

No entanto, a “nova geração” de produtores rurais de leite do Brasil, tem, por conscientização
ou pelo efeito das normas, aderido às novas tecnologias, tais como inseminação artificial,
FIV, e transferência de embrião, e inseminação com sêmem sexado de fêmea, essencial à
indústria leiteira.

A massificação do consumo com o leite UHT (longa vida) foi benéfica ao setor, já que
garantiu qualidade ao produto, embora este consumo seja ainda inferior aos padrões mínimos
recomendados pelos órgãos de referência em saúde.

A reestruturação do modelo produtivo do leite no Brasil, sobretudo, com a introdução de


normas específicas de garantia de qualidade, permitiu avanços da cadeia produtiva como um
todo, sobretudo, nos aspectos de produtividade e qualidade do produto.

Aproveitem a oportunidade de estudar e conhecer!

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Qual a posição do Brasil no cenário mundial de produção de leite? Quais os maiores pro-
dutores mundiais?

2. Quais os principais desafios e oportunidades da cadeia produtiva do leite no Brasil?

3. A cadeia produtiva de leite passou por diversas mudanças nas últimas décadas no Brasil.
Discuta quais foram as principais mudanças observadas nesse período.

4. Como a massificação do consumo de leite UHT (longa vida) contribui para o avanço da
cadeia produtiva de leite do Brasil?

5. Como as modernas tecnologias de produção e genética contribuíram com o desenvolvi-


mento da cadeia produtiva do leite?

6. O que são as técnicas de reprodução animal e genética, denominadas FIV, sexagem de


sêmen, transferência de embrião e inseminação artificial? Defina e comente como essas
técnicas contribuíram com o avanço da cadeia produtiva de leite.

7. Quais as principais raças nacionais? Quais as que mais se disseminaram na produção


CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 187
leiteira no Brasil e quais são as naturalmente mais produtivas nesse segmento de leite?

8. Qual a estrutura da cadeia produtiva do leite no Brasil? Defina e discuta como se configu-
ram os elos e qual a contribuição de cada um deles na cadeia.

9. Caracterize e discuta o elo de fornecimento de insumos e equipamentos, destacando a


importância do mesmo para a cadeia produtiva do leite.

10. Caracterize e discuta o elo de produção primária, destacando a importância do mesmo


para a cadeia produtiva do leite.

11. Caracterize e discuta o elo de processamento, destacando a importância do mesmo para a


cadeia produtiva do leite.

12. Caracterize e discuta o elo de distribuição, destacando a importância do mesmo para a


cadeia produtiva do leite.

13. Caracterize e discuta o elo consumidor final, destacando a importância do mesmo para a
cadeia produtiva do leite.

14. Em relação à indústria de processamento do leite, estabeleça a diferença entre os tipos de


leite e suas aplicações.

15. Sabe-se que a garantia da qualidade do produto é um imperativo na sociedade atual. Como
o gestor de agronegócio pode contribuir nesse processo?

16. Qual a importância do processo de pasteurização na garantia de qualidade, higiene e con-


dições sanitárias do leite?

17. O que é o processo UHT?

18. Entre no site da empresa Tetra Pak e pesquise em relação à qualidade do leite, os seguin-
tes pontos:

- Verdades e mitos sobre o reprocessamento do leite.

- Significado dos números no fundo da embalagem.

- Uso de conservantes no leite longa vida.

- Preocupação ambiental da caixinha longa vida.

188 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


UNIDADE V

DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA CADEIA


PRODUTIVA DO LEITE DO BRASIL: GESTÃO
PELA QUALIDADE, APARATO INSTITUCIONAL
E PERSPECTIVAS
Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer as formas de processamento do leite.

• Estudar os princípios de qualidade do produto.

• Conhecer os pilares da Instrução Normativa 51.

• Identificar os maiores produtores mundiais de leite.

• Estudar a produtividade, custo e gestão na cadeia produtiva do leite.

• Verificar as considerações e perspectivas sobre a cadeia produtiva do leite do


Brasil.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• O processamento do leite e a garantia de qualidade

• A Instrução Normativa 51 é vilã ou heroína? Fatores legais e normativos e


seus impactos na cadeia produtiva do leite

• Produtividade e comparativo com outras potências mundiais na produção


leiteira

• Os desafios e oportunidades da cadeia produtiva de leite do Brasil

• Considerações e perspectivas sobre a cadeia produtiva do leite do Brasil: o


quanto ainda temos que crescer?
INTRODUÇÃO

Como já foi possível compreender na unidade IV, a cadeia produtiva do leite tem grande
importância para o agronegócio brasileiro e para a economia como um todo, sobretudo, pelo
seu aspecto socioeconômico. No entanto, alguns desafios ainda existem, funcionando como
barreiras ao desenvolvimento do setor; da mesma forma, as oportunidades surgem na solução
dos problemas e busca de alternativas viáveis.

A garantia de qualidade é uma das exigências do consumidor contemporâneo. Ainda sabemos


que a informalidade, muitas vezes alimentada por bases culturais sólidas por parte do
consumidor, que rejeitam “leite de caixinha” ou “leite de saquinho” e prefere o leite comprado
de maneira informal, o que causa sérios danos a cadeia produtiva do leite e representa sérios
riscos à saúde humana.

E como é a qualidade do leite produzido no Brasil? Será que melhoramos nos últimos anos?
Aguarde e veremos. No Brasil, sabemos que as diversas mudanças de comportamentos e
condutas são ajustadas ou influenciadas muito mais pela força das normas, regras e leis do
que pela simples e pura conscientização. Será que é aí que entrou em ação a IN 51?

A Instrução Normativa 51, que você estudará com maior profundidade nesta unidade, dispõe,
normatiza e regulamenta a produção de leite no Brasil. E será que a IN 51, de fato, contribuiu
para a melhoria da qualidade do leite de vaca brasileiro? Veremos.

Adianto que veremos sobre os investimentos realizados em P&D – Pesquisa e desenvolvimento,


na cadeia produtiva do leite. Neste ínterim, abordaremos como o pequeno produtor rural se
insere neste contexto, ou melhor, se o pequeno produtor rural está ou não incluído e/ou inserido
neste desenvolvimento tecnológico, tendo acesso ao mesmo.

Será que a cadeia leiteira do Brasil é conduzida por um bom processo de coordenação? As
forças entre os elos ou agentes são iguais ou desiguais?

É isto que veremos agora!

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 191


O PROCESSAMENTO DO LEITE E A GARANTIA DE QUALIDADE

Uma série de processos industriais deve ser empregada para garantia da qualidade do leite
como, por exemplo, o tratamento térmico visando à eliminação de microrganismos. No entanto,
muitos consumidores preferem consumir o leite cru, não tratado termicamente, pois acreditam
que este possui melhores valores nutritivos e menor presença de matéria líquida, “menos
aguado”.
Fonte: PHOTOS.COM

O gestor de agronegócio deve procurar informar e conscientizar os indivíduos dos problemas


relacionados a este tipo de comportamento. Para termos uma ideia, o leite industrializado
passa por um processo de fiscalização, o que não ocorre na produção informal. Da mesma
forma, os processos térmicos como a pasteurização não acarretam aumento de água no leite
e por último, o leite naturalmente contém mais de 80% de água em sua composição.

O mais grave problema do consumo de leite cru está relacionado à sua qualidade sanitária, pois
o leite pode ser veículo para transmissão de uma série de patógenos. Na informalidade não se
conhece a qualidade do manejo sanitário do rebanho, nem da ordenha, coleta e transporte do
leite, contribuindo para aumentar os riscos de contrair doenças via leite.

Os processos térmicos aplicados ao leite têm como objetivos principais a eliminação de

192 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


microrganismos patogênicos do leite e o aumento do tempo de conservação do mesmo, o
tempo que o produto permanece na prateleira. Conforme determina a legislação brasileira
vigente, todo leite deve passar pelo processo de pasteurização para ser consumido e todos os
derivados do leite devem ser produzidos a partir de leite pasteurizado.

Quais estratégias o gestor em agronegócio e outros agentes da cadeia produtiva do leite, podem
adotar para conscientizar o consumidor dos riscos de consumo do “leite cru” ou leite clandestino?

SANIDADE DO REBANHO

O leite que chega ao consumidor deve gozar de excelente qualidade; a garantia dessa
qualidade está ligada à procedência do produto, em princípio, no que se refere à saúde animal,
pois quaisquer variações como infecções, tais como as dos tetos ou glândulas mamárias -
mastite ou mamite - irão acarretar um leite que contém grande presença de microrganismos,
menor durabilidade e, consequentemente, de menor qualidade.

Daí a importância de um manejo dentro das boas práticas de produção de leite, primando pela
boa gestão sanitária. A higienização dos tetos e equipamentos ligados à ordenha, antes e após
o processo de coleta são essenciais nesse processo, além de outras técnicas e processos,
com vistas a garantir a qualidade e sanidade do produto.

A busca pela qualidade na produção de leite depende também da conscientização do


consumidor, já que ao consumir o produto in natura, se sujeita ao contágio de algumas doenças

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 193


provenientes do animal. Em virtude disso, a importância dos processos térmicos industriais
como a pasteurização l e tratamento UHT, que eliminam os microrganismos nocivos ao ser
humano.

A importância do colaborador, da mão de obra empregada na produção do leite é essencial


para garantir a sanidade adequada e a qualidade do produto, sendo assim, um aspecto
importante à gestão de recursos humanos na propriedade.

CUIDADOS NA ORDENHA

Os cuidados com a ordenha do leite é tão ou mais fundamental do que o processamento


do produto. Tanto na retirada mecanizada como na manual, alguns cuidados são essenciais
para a manutenção da qualidade do leite. A Instrução Normativa 51 de 18/09/2002 do MAPA
– Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – determina práticas que mantenham
o padrão de qualidade do leite em todas as etapas do processo, normas estas, a que os
produtores de leite tiveram que se adaptar.

Na ordenha devem se destinar especial atenção aos cuidados com higiene e desinfecção de
todos os equipamentos e utensílios que terão contato com o leite, como a ordenha mecânica e
os recipientes de coleta. Os colaboradores responsáveis pela ordenha também devem manter
assepsia, sendo que os mesmos deverão ser treinados e conscientizados da importância de
sua função no processo global de qualidade.

As instalações devem ser adequadas para a retirada do leite, tais como a sala de ordenha e o
local destinado à manipulação do leite. Quando possível, a utilização de aleitamento artificial
também é benéfica e necessária, pois permite que apenas as vacas sejam colocadas na sala
de ordenha.

194 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Refrigeração e transporte do leite

Fonte: PHOTOS.COM
Conforme orientado pela Instrução Normativa 51, após a retirada do leite, o mesmo deve
ser mantido em baixa temperatura, com o propósito de diminuir a atividade microbiana. Os
equipamentos de refrigeração devem ser capazes de refrigerar até temperatura igual ou
inferior a 4º (quatro graus Celsius), no caso de refrigeração por expansão direta e temperatura
igual ou inferior a 7º (sete graus Celsius), no caso de tanque de refrigeração por imersão.

Levando em consideração que o transporte do leite para as unidades de processamento é


realizado geralmente apenas no período da manhã, obviamente, se torna necessário este
processo, especialmente quando se realizam duas ou mais ordenhas.

Além da refrigeração do leite na propriedade antes do transporte, o mesmo deverá ser mantido
refrigerado durante o transporte, de forma a evitar a proliferação de microrganismos, garantindo
assim, a manutenção de sua qualidade até a chegada no laticínio.

Recomenda-se que o tempo decorrido entre a ordenha inicial e seu recebimento no


estabelecimento beneficiador deve de ser no máximo 48 horas, sendo ainda estabelecido
como ideal, um período de tempo não superior a 24 horas.

PRESENÇA DE ANTIBIÓTICOS

A ocorrência de antibióticos ou outros inibidores de crescimento microbiano no leite pode


gerar uma série de problemas de saúde aos consumidores, podendo acarretar a incidência de

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 195


alergias, bem como favorecer o aparecimento de microrganismos resistentes aos antibióticos,
diminuindo assim, a eficiência dos mesmos em tratamentos curativos. O produtor deve ter
atenção especial sobre esse tema, para que a qualidade do seu produto não seja comprometida.

Sabendo que o leite é utilizado em processos industriais, o acúmulo de antibióticos, naturalmente


afeta a atividade microbiana benéfica e necessária na produção de alguns produtos derivados
por processos fermentativos, especialmente na fabricação de iogurte. Desta forma, o
rendimento industrial do leite na produção de derivados acaba sendo prejudicado.

No que se refere ao leite exportado, a detecção de antibióticos limita a expansão para mercados
exigentes e, consequentemente, diminui a competitividade do leite brasileiro frente a nossos
competidores no mercado internacional.

A forma de controle adotada pela cadeia produtiva do leite para coordenar as ações de gestão
da qualidade do produto, é a penalização dos produtores que não zelam pela qualidade do
produto, tais como a presença de resíduos antibióticos.

Nesse processo, torna-se fundamental o papel do gestor de agronegócio, pela conscientização


da necessidade da utilização de boas práticas de produção, respeitando a legislação vigente,
balizando-se pela Instrução Normativa 51.

Aspectos Legais Instrução Normativa 51

Quem não se cansou de assistir nos noticiários da televisão ou acompanhar nos jornais
escritos, sobre escândalos envolvendo a produção de leite? Desde a introdução de elementos
estranhos ao produto, bem como a qualidade precária de conservação da qualidade do mesmo,
por muito tempo o consumidor foi penalizado, por não ter mecanismos institucionais e legais
que garantissem a qualidade do produto, considerando todo o processo produtivo, desde os
primeiros elos, o produtor e seus fornecedores, passando pelo processador, até chegar aos
elos finais da cadeia produtiva, os distribuidores e consumidores.

196 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


A falta de controle foi uma realidade durante muito tempo em nosso país, sendo que na grande
maioria dos produtores de leite, não refrigeravam o leite após sua retirada e nem durante
o transporte. Quem já morou, conviveu ou percorreu estradas rurais, já deve ter notado a
presença de latões de leite deixados na “cabeceira do carreador”, para serem coletados pelo
caminhão do laticínio.

Semelhante a isso, o transporte responsável pela coleta do leite era precário. Tratava-se apenas
de um caminhão normal, em alguns casos com uma cobertura de lona para, precariamente,
proteger o leite, o que de fato comprometia a qualidade do leite.

Conforme citado no decorrer do livro, a Instrução normativa 51, do MAPA, é a legislação


principal que regulamenta e normatiza a produção do leite, tornando-se um fundamental
instrumento na garantia e manutenção da qualidade do leite.

A IN 51 regulamenta todo o processo produtivo do leite, atentando-se para aspectos ligados a


produção, identificação, qualidade, coleta e transporte do leite refrigerado, sendo importante
destacar que independentemente do produtor ou tipo de leite produzido é atualmente
obrigatório o processo de resfriamento do leite na propriedade e a realização do transporte a
granel e refrigerado, contribuindo assim, para a melhoria da qualidade do leite.

Essa obrigação a todos os produtores de leite, independente do seu porte, gerou uma
preocupação social, considerando que os custos iniciais para aquisição dos equipamentos
para ordenha e resfriamento do produto eram considerados altos. Esse impacto sobre os
pequenos produtores poderia ter causado a derrocada de muitos, o que definitivamente não
ocorreu.

Graças ao financiamento realizado pelas instituições financeiras, fornecedores, ou ainda,


pelas empresas coordenadoras da produção de leite (o setor laticínio), pequenos produtores
de leite puderam equipar-se, adequando-se às exigências legais. A utilização de tanques
comunitários e associações de coleta para vários pequenos produtores mudaram a percepção

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 197


dos produtores e demais agentes da cadeia em relação às novas exigências da IN 51, passando
de “vilã à heroína”, sendo vista hoje como sendo benéfica para a cadeia produtiva.

A Instrução normativa 51 foi positiva ou negativa para os produtores de leite? Em que ajudou e em
que atrapalhou?

Considerações e Perspectivas sobre a Cadeia Produtiva do Leite do Brasil

Ao final de 2008 formou-se uma incerteza em relação ao mercado de leite no Brasil. Os


preços em queda no varejo de leite longa vida, a consequente redução no preço do atacado,
associado à formação de estoques na indústria criaram um cenário pessimista para a cadeia
produtiva do leite (NOGUEIRA, 2009).

Mesmo com esse cenário, o preço médio nacional pago ao produtor no começo de 2009,
referente ao leite entregue em dezembro de 2008 manteve-se estável, em um valor próximo
a R$ 0,58 (cinquenta e oito centavos) por litro. Esse preço se manteve até o ano de 2010,
pelo menos no início deste ano, quando o preço médio do Brasil chega a R$ 0,60 (sessenta
centavos) por litro (MILKNET, 2010).

Considerando os valores referentes ao mês de janeiro de 2011, o preço médio do leite no Brasil
chegou a R$ 0,72 (setenta e dois centavos) por litro (MILKNET, 2011).

Mesmo com essa surpreendente manutenção no preço pago ao produtor, é praticamente


impossível fazer uma previsão sobre a tendência da cadeia, ou sobre os desdobramentos da
crise mundial e o reflexo na cadeia de lácteos (NOGUEIRA, 2009).

198 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


O que se nota é que a produção leiteira vem crescendo de maneira significativa no Brasil,
especialmente na última década, tendo atingindo no ano de 2007 a marca expressiva de 26,1
bilhões de litros de leite/ano. Segundo a Embrapa Gado de Leite, as estimativas atualizadas
em dezembro de 2008 para a produção de 2008 de leite no Brasil, indicavam a produção de
27 bilhões de litros de leite/ano (EMBRAPA GADO DE LEITE, 2008). Informações do SIDRA/
IBGE (2010) confirmam (e superam) essa perspectiva, apurando um total de 27.579.383 litros
produzidos no ano de 2008.

Pudemos observar um crescimento significativo na produção leiteira nacional nos últimos 30


anos, de cerca de 143% da produção nacional, já que em 1980 a produção leiteira correspondia
a cerca de 11,1 bilhões de litros/ano e atualmente chega a aproximadamente 27 bilhões de
litros de leite (EMBRAPA GADO DE LEITE, 2008).

Já em relação ao rebanho nacional, esse teve menor crescimento nesse mesmo período de
três décadas. Para termos uma ideia, em 1980 o rebanho nacional de vacas ordenhadas era de
16,5 milhões de cabeças em 1980; hoje, o rebanho nacional é de pouco mais de 21,4 milhões
de cabeças, representando um crescimento de cerca de 29% nesse período (EMBRAPA,
2008).

Diante desses números, podemos considerar que houve um considerável aumento no


desempenho e produtividade da cadeia produtiva do leite no Brasil. A produtividade do
rebanho nacional apresentou relativo crescimento nesse período, porém, ainda sendo aquém
das potencialidades nacionais; em 1980 a relação média de produtividade por vaca era de 676
litros/vaca/ano, passando em 2008 para 1261 litros/vaca/ano, conforme projeções (EMBRAPA
GADO DE LEITE, 2008).

A substituição de vacas de menor produtividade por animais de genética superior, a introdução de


legislação específica como a IN 51 para normatizar e regulamentar a produção, a coordenação
mais organizada da cadeia, propiciaram esse desenvolvimento e a profissionalização de
projetos leiteiros rurais podem explicar esse desenvolvimento da cadeia produtiva de leite do

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 199


Brasil.

No entanto, mesmo com o crescimento observado nos últimos anos, a cadeia leiteira nacional
ainda necessita de avanços consideráveis. Para efeito de comparação, enquanto a média
nacional de produção foi cerca de 1200 kg/vaca/ano, na Holanda, a média de produção foi
de mais de 9000 kg/vaca/ano, o que significa que para produzir o mesmo que uma vaca da
Holanda, seriam necessárias 8 vacas do rebanho brasileiro (TABCHOURY, 2009).

Ainda assim, o Brasil ocupa posição de destaque no cenário mundial da produção de leite,
sendo o sexto maior produtor mundial de leite, conforme podemos observar na tabela 11, logo
a seguir:

Tabela 11. Produção Brasileira de leite (Mil Litros)

REGIÃO 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
NORTE 1.063.363 1.066.854 1.140.600 1.191.874 1.220.889 1.309.279 1.313.680 1.364.910 1.382.071
RO 500.212 503.261 567.726 600.639 615.562 671.658 674.159 1.364.910 721.614
AC 28.429 27.090 20.896 21.010 21.294 21.378 20.087 710.958 20.378
AM 17.664 17.870 18.096 18.204 18.617 18.772 17.714 19.472 17.798
RR 5.305 4.872 4.376 3.541 3.237 .077 2.737 17.632 2.535
PA 370.905 372.151 385.296 403.830 416.904 444.661 449.342 2.507 459.529
PA 1.078 675 376 383 372 336 283 163.116 248
TO 139.770 140.935 143.834 144.267 144.903 149.397 149.359 244 159.970
NORDESTE 2.491.821 2.586.629 2.695.237 2.844.568 2.881.847 3.028.918 3.003.903 150.982 3.141.236
MA 128.787 129.040 130.381 132.630 133.128 136.649 132.329 132.973 134.777
PI 65.915 64.029 65.962 66.211 66.421 67.870 65.428 65.048 65.031
CE 513.796 541.126 565.734 576.991 561.841 597.480 599.444 613.790 628.130
RN 175.692 188.116 208.756 219.907 228.294 242.462 242.944 252.657 253.783
PB 214.044 228.821 232.065 242.502 237.053 253.078 254.905 263.229 267.177
PE 393.390 369.612 372.882 439.893 448.618 466.069 456.814 473.094 480.402
AL 183.202 194.570 196.163 191.340 194.239 200.678 195.604 195.518 201.159
SE 109.031 125.358 135.376 145.302 147.364 153.018 149.902 155.203 163.223
BA 707.965 745.957 787.918 829.792 864.889 911.615 906.532 933.470 947.555
SUDESTE 7.691.154 7.815.556 7.891.524 7.967.260 8.075.325 8.397.563 8.175.211 8.216.926 8.173.806
MG 5.528.575 5.643.919 5.714.642 5.778.970 5.893.045 6.153.228 6.013.024 6.055.347 5.969.410
ES 354.512 358.419 382.144 392.829 408.150 434.556 433.193 444.557 470.596

200 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


RJ 450.051 452.118 470.006 467.980 476.257 499.093 489.701 494.407 5.094.448
SP 1.358.016 1.361.100 1.324.732 1.327.481 1.297.873 1.310.686 1.239.294 1.222.616 1.224.351
SUL 5.133.923 5.312.353 5.652.808 5.895.963 6.230.777 6.729.920 6.774.671 7.025.117 7.214.791
PR 1.620.320 1.718.239 1.874.303 1.949.133 2.048.486 2.211.800 2.225.005 2.314.607 2.328.126
SC 1.062.992 1.170.566 1.287.859 1.339.514 1.435.581 1.561.513 1.583.182 1.671.380 1.742.503
RS 2.450.611 2.423.548 2.490.647 2.607.316 2.746.710 2.956.607 2.966.483 3.039.130 3.144.162
C.OESTE 2.826.435 2.874.334 2.922.377 2.991.198 3.024.908 3.188.402 3.146.290 3.191.752 3.282.080
MS 367.684 373.327 379.997 384.511 393.154 410.056 400.337 406.243 411.166.
MT 465.057 470.826 483.923 491.340 496.222 528.863 527.662 535.754 559.931
GO 1.971.915 2.008.172 2.036.333 2.096.159 2.116.159 2.229.339 2.198.645 2.230.357 2.291.539
DF 21.779 22.009 22.124 19.188 19.373 20.143 19.607 19.398 19.444
BRASIL 19.206.696 19.655.725 20.302.546 20.890.864 21.433.746 22.654.082 22.413.756 22.883.689 23.193.984

Fonte: Informa Economics FNP

Segundo estatística da FAO, a produção mundial corresponde a 560,4 bilhões de kg/leite/ano,


sendo nessa ordem, Estados Unidos, Índia, China Rússia, Alemanha e Brasil os seis maiores
produtores mundiais. O Brasil é o líder na produção de leite na América Latina, superando a
produção Argentina, considerada mundialmente como referência na produção leiteira.

Podemos observar que o Brasil ocupa a 6ª posição no ranking dos maiores produtores de leite
de vaca do mundo. Conforme estatísticas consolidadas de 2007 da FAO, a produção do Brasil
foi de 25,3 bilhões kg/leite/ano, representando 4,5% da produção mundial. O líder mundial em
produção de leite é o EUA, com uma produção de 84,1 bilhões kg/leite/ano, respondendo por
15% da produção mundial (FAO apud EMBRAPA, 2008).

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 201


Tabela 12. Produção de leite (em 1000L) no Brasil por região geográfica e unidade da
federação

Fonte: IBGE (2010)

202 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Com base nos dados do IBGE (2010), nota-se que as regiões sul e sudeste concentram a
principal parte da produção nacional, respondendo por cerca de 66% da produção nacional.
Conforme se pode observar na Tabela 12, o estado de Minas Gerais é o maior produtor
nacional de leite, sendo responsável pela produção de 27,7% do total nacional.

Destaque deve ser dado ao desenvolvimento da produção de leite nos três estados do sul do
Brasil, já que a produção praticamente dobrou no período compreendido entre 2000 e 2008.

No entanto, um dos pontos que precisa ser desenvolvido ainda no Brasil é a estimulação do
consumo de leite no mercado interno. Conforme dados de Ponchio, Gomez e Paz (2005),
com base em estatísticas da FAO, SECEX e FGV, em relação ao consumo, estima-se que o
brasileiro beba cerca de 130 litros de leite por ano, tendência observada na última década.

Constata-se que o volume per capita consumido no Brasil ainda está aquém do mínimo
recomendado pela OMS – Organização Mundial da Saúde - que é de cerca de 180 litros de
leite por ano em média, variando essa média conforme a idade e necessidade diária de cada
grupo de indivíduo.

O que se nota é que não existe uma expectativa de crescimento no consumo, já que as
estatísticas demonstram manutenção do consumo na última década, com pequena variação.

A população de países em desenvolvimento como o Brasil, com o aumento da renda da


população, tendem a suprir primeiramente as necessidades alimentares básicas, mas no caso
brasileiro, recentes pesquisas como a POF/IBGE mostraram uma estagnação no consumo,
graças, dentre outras coisas, a concorrência com outras bebidas, como os sucos de frutas
em embalagem longa vida, chás, bebidas alcoólicas e refrigerantes (ALVIM, MARTINS E
CARVALHO, 2005).

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 203


Além do produto básico, o leite, os produtos derivados também devem ser analisados, já que
na propriedade rural, são importantes agregadores de valor. A tabela 13 apresenta um desses
exemplos, que se refere ao consumo mundial per capita de queijos.

Tabela 13. Consumo mundial per capita de queijo (Kg) de 1996 a 2000.

Fonte: USDA apud SEAB (2000)


(1) estimativas

Neste estudo, observa-se que os maiores consumidores de queijo do mundo são os franceses,
consumindo cerca de 22,5 quilos de queijo por ano, seguidos por italianos e holandeses. Os
brasileiros encontram-se no nono lugar desse ranking, figurando abaixo dos argentinos, por
exemplo, que consomem cerca de 11,6 quilos de queijo por ano, já que consumimos apenas
2,7 quilos de queijo por ano.

O estudo do panorama da cadeia produtiva do leite permitiu que fosse possível conhecer
melhor a mesma, entendendo o funcionamento do mercado, bem como podendo conhecer
quais variáveis influenciam nesse contexto. O que fica evidente é que o gestor em agronegócio
precisa estar informado e preparado para este cenário apresentado, desde o controle de

204 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


qualidade da produção, aos processos de formação de preço, aos cuidados com os custos, a
atenção ao mercado, consumo, importação e exportação dentre outros aspectos.

Análise de custos

Tal como ocorre na pecuária de corte, o componente que representa a maior parte dos custos
variáveis na pecuária leiteira é a alimentação dos animais, representando cerca de ¾ dos
custos de produção. Além da ração, volumosos, concentrados e suplementos minerais, outros
itens que compõem a planilha de custos variáveis são:

a) Mão de obra permanente (demanda mais intensa devido à ordenha e à alimentação de


vacas em lactação e bezerros).

b) Mão de obra familiar, a qual pode ser considerada no desempenho das atividades relacio-
nadas ao leite ou na administração da propriedade.

c) Material Genético, na forma de reprodutores ou inseminação artificial.

d) Medicamentos e Vacinas.

e) Energia Elétrica e combustíveis.

f) Manutenção das Instalações e Equipamentos.

g) Custo de transporte do leite.

h) Assistência Técnica.

i) Impostos e taxas.

Dos custos fixos, um importante item que assume um papel cada vez mais relevante na
composição dos custos, é o de oportunidade da terra, especialmente em áreas com elevado
valor e em sistemas extensivos. Também é necessário considerar a depreciação de máquinas
e benfeitorias, assim como, a remuneração do capital investido.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 205


Desafios e oportunidades na cadeia de produção leiteira do Brasil

Alguns pontos são fundamentais para que possamos compreender a dinâmica que envolve
a cadeia produtiva do leite, bem como as restrições que acontecem na cadeia leiteira. Para
tanto, é importante salientar as seguintes características básicas desta cadeia produtiva:

• A Cadeia apresenta grande quantidade de produtores de leite, em muitos casos desorgani-


zados, desarticulados, não envolvidos em associações e cooperativas.

• Existe uma diversidade de tamanhos e padrões de produção; desde grandes projetos lei-
teiros até produção de leite para subsistência.

• Forte concentração no elo da produção de insumos.

• Pequena quantidade de compradores de leite (Laticínios).

• Grande concentração da rede varejista.

• Pouca diferenciação no Produto (leite).

• Aumento no consumo de produtos concorrentes (leite de soja e derivados, além de outras


bebidas).

• Facilidade na importação de leite (associada à variação cambial e ao subsídio internacio-


nal).

• Dificuldade para exportação (associada à qualidade do leite, problemas sanitários e tarifa-


ção pelos países compradores).

• Crescimento lento da demanda.

206 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


Qual o consumo médio de leite do brasileiro? Esse consumo está acima ou abaixo dos níveis mínimos
recomendados? Como fazer para estimular o mercado interno de leite?

Esses fatores e seus desdobramentos determinam uma cadeia na qual o grupo mais numeroso,
os produtores, possui pouca influência na formação de preços dos insumos e no preço pago
pelo leite, sendo mantida uma política de preços pós-fixados que, praticamente, transferem
todos os riscos e potenciais prejuízos da cadeia para o produtor.

Embora vivamos o livre mercado, as instruções, leis, normas e regulamentos, além do


fundamental foco na qualidade do produto, devem visar também regulamentar e organizar a
cadeia de forma efetiva, sobretudo, no que se refere a garantia de preços mínimos ou planos
emergenciais mais efetivos em épocas críticas.

Além do aspecto legal e normativo, os produtores, laticínios, representantes de órgãos de


classe, além das instituições, organizações e os órgãos do governo ligados a cadeia produtiva
do leite devem atentar-se para esses fatos e consolidar, fortalecer, estruturar a cadeia de
forma sustentada, tornando a distribuição de ônus e bônus mais nítida, clara e justa por toda
a cadeia.

Conheça a Associação Brasileira dos Produtores de Leite:


<www.leitebrasil.org.br/>.
Entenda mais sobre qualidade do leite acessando o site do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite:

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 207


<http://www.cbql.com.br/>.
Milkpoint é um importante centro de informações sobre o leite.
<http://www.milkpoint.com.br/>.
Acesse estas fontes de pesquisa e bons estudos!

DE BRITO, Acácio Sânzio; NOBRE, Fernando Viana; FONSECA, José Ronil Rodrigues
(Orgs.).Bovinocultura leiteira: informações técnicas e de gestão. – Natal: SEBRAE/RN, 2009. 320 p.
ISBN 978-85-88779-24-2. Disponível em <http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/59F7F001
3C0E7280832576EB00692AFE/$File/Livro%20Bovinocultura%20Leiteira.pdf>.

208 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


No site do CONSELEITE-PARANÁ você vai encontrar diversas informações sobre o valor de
referência do leite no Estado do Paraná, entre outras informações sobre o conselho.
O principal objetivo do CONSELEITE-PARANÁ é a busca de soluções conjuntas, pelos produ-
tores rurais e indústrias, para problemas comuns do setor lácteo paranaense. A sua criação
surgiu pela necessidade de se estabelecer, mediante entendimento entre produtores rurais e
indústrias, formas alternativas para a remuneração da matéria-prima (leite) ao produtor parana-
ense que pudessem reduzir os conflitos que se estabeleceram entre estes e as indústrias após
a desregulamentação do setor no país iniciada na década de 90. Tais alternativas devem tam-
bém favorecer o desenvolvimento sustentável, tanto da produção de leite como da produção
de seus derivados no Estado do Paraná, bem como contribuir para a melhoria da qualidade do
leite e derivados produzidos no Estado (CONSELEITE, 2003).
Acesse o site <http://www.sistemafaep.org.br/Faep/conseleite/> e confi ra!

Lá você também vai encontrar o Manual do Conseleite-Paraná. Faça a leitura e entenda como
funciona esse conselho.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 209


CONSELEITE PARANÁ http://www.sistemafaep.org.br/Faep/conseleite/

Diretoria Atenção
VALORES PROJETADOS DE REFERÊNCIA DA
MATÉRIA-PRIMA (LEITE) PARA MARÇO/11
1- Valores de referência posto plataforma e posto
Câmara Técnica
propriedade
FEVEREIRO
Matéria-prima MARÇO/11
(valores finais)
Estatuto Por uma decisão da diretoria do Conseleite Paraná foram suprimidos os valores de
Maiores Valores de referência (leite acima do padrão)
referência POSTO PLATAFORMA (quando o produtor paga o frete) em função de
todas as empresas do Conseleite terem assumido o pagamento do frete no percurso
da propriedade até a indústria.
Regulamento Posto Propriedade 0,7254 0,7429
Para os casos de outras empresas em que o produtor pague o frete, ao preço posto
Valores de Referência para o leite padrão propriedade deve ser somado o valor do frete.
Resoluções
Exemplo: Em uma negociação em que produtor e indústria tomam como base o
Posto Propriedade 0,6308 0,6460 valor referência do leite padrão em julho que foi R$ 0,7093/litro, temos duas
Circulares situações:

Menores Valores de Referência (leite abaixo do padrão) 1.1-Quando a indústria paga o frete
Perguntas e Respostas Ao valor de R$0,7093 cabe apenas o desconto de 2,3% (R$0,0163) referente a taxa
Posto Propriedade 0,5735 0,5873 de CESSR
O valor pago ao produtor será R$ 0,7093 – R$ 0,0163=R$ 0,6930
Pegue aqui o Kit Os valores de referência da tabela são para a matéria-prima leite
“posto propriedade”, o que significa que o frete não deve ser 1.2-Quando o produtor paga o frete , por exemplo de R$
palestra do descontado do produtor rural.
Conseleite (em 0,04/litro
formato Power Point) Nos valores de referência está inclusa a CESSR (ex-Funrural) de Ao valor de R$0,7093 deve ser somado R$ 0,04 e depois descontado 2,3%
Aplicativo 2,3% a ser descontada do produtor rural.
O valor pago ao produtor será R$0,7493 –0,0172 =R$ 0,7321
Conseleite -
Paraná Clique aqui e veja a resolução que originou esses dados. 2- Revisão dos custos de produção
Versão 1.0. Clique A Câmara Técnica do Conseleite promoveu ampla revisão dos custos de produção
do leite ao produtor e dos custos industriais , o que resultou em mudanças na
aqui...
participação da matéria prima nos produtos industrializados, conforme mostra a
Faça o download circular nº 1/2009.
do Manual do Programa Leite das
Crianças A aplicação dos valores revisados da participação da matéria prima foi a razão dos
Conseleite (em Download em versão Microsoft Power valores de referência não terem apresentado queda (dos valores projetados em
formato Acrobat Reader) 14/7/2009 para os valores finais de julho), apesar da queda verificada no preço da
Point® (709Kb)
maioria dos produtos neste período.

210 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


CONSELEITE - PARANÁ
www.sistemafaep.com.br/Faep/conseleite

1 de 1 11/04/2011 01:54 PM
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado(a) aluno(a)! Sabemos da importância do agronegócio do leite, sobretudo, no que se


refere à geração de renda e empregos diretos e indiretos, ligados à montante ou a jusante à
Cadeia Produtiva do Leite, sendo uma atividade extremamente importante do ponto de vista
social e econômico.

Com vimos na unidade V, a relevância da cadeia produtiva do leite também se concretiza e


se faz importante por manter o homem no campo. Ao evitar o êxodo rural e garantir renda ao
produtor rural, a produção leiteira, além do seu papel econômico exerce grande importância
social.

O investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), representado pelas modernas técnicas


de reprodução, melhoramento genético, somado a busca de melhor coordenação da cadeia
produtiva, aumento da competitividade e maiores exigências sanitárias e quanto à qualida-
de, propiciou um considerável desenvolvimento da cadeia produtiva do leite no período pós-
-globalização.

No entanto, é fundamental que o pequeno produtor rural esteja inserido neste processo.
Embora algumas prefeituras, associações e cooperativas regionais estejam desenvolvendo
algumas ações para inserção destes pequenos produtores rurais nesta nova pecuária leiteira,
este processo ainda é muito incipiente.

E a famosa IN 51? A Instrução Normativa 51, o aumento da fiscalização e a consequente


adequação do consumidor e dos produtores, fez com que a qualidade do produto fosse
garantida, representado pela pequena ocorrência de problemas ou escândalos no setor nos
últimos anos, quando comparada a uma ou duas décadas, por exemplo, embora ainda ocorram
alguns problemas como a introdução de soda cáustica no leite, para citar um caso recente.

Desta forma, alguns desafios que ainda precisam ser superados são, dentre outros, a
desarticulação entre os elos da cadeia, a carência de uma mais efetiva coordenação, a forte
concentração oligopolizada no elo comprador, bem como o crescimento lento da demanda no
mercado interno.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 211


ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Quais estratégias o gestor em agronegócio e outros agentes da cadeia produtiva do leite
podem adotar para conscientizar o consumidor dos riscos de consumo do “leite cru”?

2. Que medidas devem ser adotadas para garantir a qualidade do leite e eliminar os proble-
mas sanitários?

3. De que forma o manejo adequado pode contribuir com a boa qualidade do leite? Qual a
importância do treinamento dos colaboradores para esse fim?

4. Quais os cuidados com refrigeração e transporte do leite que podem ser adotados para
melhor qualidade do produto final?

5. Qual a influência da presença de antibióticos no leite? O que isso pode acarretar ao produ-
tor, laticínios e consumidor final?

6. O que é Instrução Normativa 51?

7. Qual a principal função da Instrução Normativa 51?

8. A Instrução normativa 51 foi positiva ou negativa para os produtores de leite?

9. Em que a Instrução Normativa 51 contribui com a qualidade do leite e seus derivados?

10. Quais foram os benefícios do consumidor final com a Instrução Normativa 51?

11. Compare e explique a diferença de desempenho da cadeia produtiva de leite da Holanda e


do Brasil.

12. Qual a produção de leite do Brasil? Qual a média da produtividade nacional? Comente o
avanço ocorrido nas últimas três décadas na produção leiteira.

13. Quais as razões que justificam o desenvolvimento da produtividade da cadeia produtiva do


leite do Brasil?

14. Quais as perspectivas e tendências da cadeia produtiva do leite do Brasil? Discuta.

15. Quais os maiores produtores de leite de vaca no mundo? Qual posição ocupa o Brasil
nesse cenário?

16. Qual o consumo médio de leite do brasileiro? Esse consumo está acima ou abaixo dos
níveis mínimos recomendados?

17. Quais estratégias podem ser adotadas para o desenvolvimento do consumo de leite no
Brasil?

18. Quais os desafios e oportunidades da cadeia produtiva do leite do Brasil? Discuta.

212 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a)! Quando da organização do material a ser pesquisado, desde a escolha


das fontes, dos materiais, livros e documentos que serviriam de base para nossas pesquisas,
dos artigos, teses e dissertações que comporiam o alicerce de nosso material, sempre tivemos
em mente que o principal interesse é ele facilitar a absorção do conhecimento.

Apresentamos muitos dados, muitas informações e isto é próprio do agronegócio! A transição


entre ler, estudar, entender, assimilar e, de fato, conhecer é um processo pessoal e individual.
Cada pessoa aprende de um jeito, mas sabemos que transformar todo esse conteúdo em
informação é o que você precisa.

Para tanto, a proposta do guia didático é que o mesmo tenha servido de fato como um
“manual de instruções”, ou melhor dizendo, como um roteiro ou guia de orientações de estudo.
A experiência de estar à frente deste projeto, organizando, pesquisando e proporcionando
a construção de um material atual sobre as cadeias produtivas da carne bovina e leite é
gratificante.

Neste material, podemos acompanhar como é vasta a infinidade de informações e dados a


respeito destas cadeias estudadas e como é importante que você consiga sintetizar, apreender,
captar os diversos dados e informações recebidas e transformá-las em conhecimento.

Alerto que você deve sempre buscar se aprofundar mais sobre os temas, já que apenas
indicamos os caminhos e as suas primeiras noções ou contatos com o tema estudado é
condição essencial que busque nas referências estudadas como base para a construção
do material de estudo, nos sites indicados, nas associações, nos sites governamentais e de
instituições de ensino e pesquisa saber sempre mais sobre os temas.

O esforço de organizar um material que agregue teoria, dados, informações atualizadas, a


visão acadêmica e a visão das empresas, bem como a introdução de exemplos do mundo
real se justifica quando buscamos trazê-los para a realidade dos temas sem empobrecer a
discussão, ou seja, a busca pela perfeita simetria entre a teoria e a prática.

Na primeira unidade abordamos a Cadeia Produtiva da Carne Bovina em aspectos introdutórios,


conhecendo a cadeia, verificando a estrutura da mesma, analisando os elos que compõem
esta cadeia, bem como fazendo um panorama.

CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância 213


Na segunda unidade demos destaque às boas práticas envolvidas na produção da carne bovina,
focando a questão da qualidade em todos os elos, conhecendo um protocolo de boas práticas
de produção, bem como abordando temas mais atuais como a questão da clandestinidade
no setor e as alternativas de agregação de valor, como a produção de gado bovino orgânico.

Na terceira unidade foi traçado um panorama mais detalhado da Cadeia Produtiva da Carne
Bovina do Brasil, apresentando desde um breve histórico a conhecer detalhes sobre o mercado
interno, tais como consumo, particularidade e perspectivas do setor, bem como detalhes dos
produtos exportados pelo Brasil.

A quarta unidade foi dedicada à cadeia produtiva do leite, sendo que primeiramente é realizado
um panorama da cadeia produtiva do leite no Brasil, seu posicionamento no cenário mundial,
conhecendo os elos, tipos de produtos e a indústria leiteira nacional. Na quinta unidade dá-se
destaque à questão da qualidade do leite, como foco nos estudos da IN 51, bem como apon-
tando desafios e oportunidades enfrentados no setor.

Assim, mais uma vez agradeço a oportunidade de estar participando desta fase tão importante
de sua vida. Espero que de alguma forma tenha contribuído e peço desculpas por eventuais
falhas de ordem humana e/ou técnicas.

O desejo que fica é que tudo aquilo que foi aqui transmitido seja útil no seu dia a dia, tanto
acadêmico quanto profissional e que você se torne disseminador de dados e informações a
respeito do agronegócio, levantando discussões, reflexões, questionamentos e contribuições,
proporcionando a construção e solidificação do conhecimento sobre o tema das cadeias
produtivas da carne bovina e leite.

Atenciosamente,

Professor Me. Fábio da Silva Rodrigues

214 CADEIAS PRODUTIVAS DE BOVINOS DE LEITE E DE CORTE | Educação a Distância


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