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Contabilidade

Societária
Professor Me. Matheus Henrique Delmonaco
Professor Me. Rodrigo Gaspar de Almeida
Diretor Geral
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Diretor de Ensino e Pós-graduação


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Diretor Administrativo
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Coordenador NEAD - Núcleo


de Educação a Distância
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Paranavaí-PR
UNIFATECIE - CENTRO UNIVERSITÁRIO EAD.
Núcleo de Educação a Distância;
(44) 3045 9898
DELMONACO, Matheus Henrique.
ALMEIDA. Rodrigo Gaspar de.
www.unifatecie.edu.br/site
Contabilidade Societária. Matheus Henrique. Delmonaco.
Rodrigo Gaspar de. Almeida.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2019. 90 p. As imagens utilizadas neste
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORES

Professor Me. Matheus Henrique Delmonaco

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade


Estadual de Maringá (PCO/UEM) - Linha de pesquisa: contabilidade para usuários externos
(2018). Graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá (UEM)
(2015). Participou como bolsista em projeto de pesquisa voltado à Iniciação Científica para
Ensino Médio (PIBIC-EM) - (2011), na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atualmen-
te atua como Coordenador dos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis e Ciências
Econômicas - EAD, do Centro Universitário Cidade Verde – UNIFCV. Tenho interesse em
pesquisas relacionadas ao Mercado Financeiro, Mercado de Ações e Fraudes.

<http://lattes.cnpq.br/2569885539130860>

Professor Me. Rodrigo Gaspar de Almeida

Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá (2018),


Especialista em Administração pela Universidade Paranaense (2010), possui duas gradua-
ções: Gestão Estratégica pela Universidade Paranaense (2010) e Ciências Contábeis pela
Universidade Estadual de Maringá (2015). Atuou em organizações industriais e prestadoras
de serviço: controladoria, planejamento, orçamento, auditoria interna e jurídico (gestão de
contratos). No ano de 2017, realizou o curso nível profissional de Relato Integrado na BSD
Consulting em São Paulo/SP. A partir de 2018, ministrou disciplinas nos cursos de Ciências
Contábeis e Gestão Financeira da Educação a Distância (EAD) do UniCesumar.

<http://lattes.cnpq.br/6488559129142413>
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Caro(a) aluno(a), sejam bem-vindos ao Livro de Contabilidade Societária!


Organizamos este material visando contribuir com a sua formação neste curso
superior e sua atuação no âmbito empresarial. Nesse sentido, reunimos conceitos e legisla-
ções atualizadas, os quais já são convergentes às Normas Internacionais de Contabilidade.
O foco deste material reside na estruturação das demonstrações contábeis, as
quais são um conjunto de informações compulsórias que as organizações evidenciam aos
usuários externos, visando elucidar sua posição patrimonial, financeira, econômica e social.
Nesta perspectiva, na Unidade I, você irá conhecer como é o processo de apro-
vação de uma norma brasileira de contabilidade (as quais convergem com as normas
internacionais de contabilidade), conhecerá as características qualitativas da informação
contábil-financeira e conhecerá o pressuposto da continuidade, o regime de competência
e o regime de caixa. Ainda, na Unidade I, será apresentado o Balanço Patrimonial, os seus
grupos e contas e será enfatizado sobre a sua estrutura segundo a legislação contábil.
Na Unidade II, será discorrido sobre a Demonstração do Resultado, a qual evidencia
as Receitas e Despesas do período. Prosseguindo, será abordado sobre a Demonstração
do Resultado Abrangente, a qual evidencia as alterações no Lucro do Período derivadas
de outros resultados abrangentes (equivalências patrimoniais, ganhos ou perdas atuariais,
ganhos ou perdas cambiais). Ainda, na Unidade II, você conhecerá a Demonstração dos
Lucros ou Prejuízos Acumulados e a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido,
as quais enfatizam a movimentação do Patrimônio Líquido.
Na Unidade III, o foco será em 2 demonstrações contábeis: Demonstração do Fluxo
de Caixa e a Demonstração do Valor Adicionado. A Demonstração do Fluxo de Caixa evi-
dencia a geração do fluxo de caixa decorrente de atividades operacionais, de financiamento
e de investimento. A Demonstração do Valor Adicionado relaciona as riquezas criadas e
distribuídas pela organização, desta forma, torna-se uma demonstração contábil que con-
grega informações financeiras, econômicas e sociais.
A Unidade IV enfatiza as Notas Explicativas. Trata-se de uma demonstração con-
tábil que traz informações complementares à todas as demais demonstrações. As Notas
Explicativas discorrem sobre as políticas contábeis e as bases de mensuração de ativos,
passivos,. itens patrimoniais, receitas e despesas. Por este fato, torna-se indispensável
para a análise das demonstrações contábeis.
Esperamos que sua jornada nesta disciplina seja proveitosa e que você possa ter
êxito na sua conclusão.

Bons estudos!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 6
Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial

UNIDADE II.................................................................................................... 29
Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro

UNIDADE III................................................................................................... 50
Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor
Adicionado

UNIDADE IV................................................................................................... 71
Notas Explicativas
UNIDADE I
Demonstrações Contábeis e Balanço
Patrimonial
Professor Me. Matheus Henrique Delmonaco
Professor Me. Rodrigo Gaspar de Almeida

Objetivos de Aprendizagem
• Discorrer sobre a Lei 6.404/1976 e as principais alterações introduzidas pela Lei
11.638/2007.
• Conhecer as características qualitativas da informação contábil da NBC TG Estrutura
Conceitual: fundamentais e de melhoria.
• Compreender sobre o Regime de Caixa e Regime de Competência.
• Conhecer o Conjunto Completo das Demonstrações Contábeis.
• Discorrer sobre o Balanço Patrimonial: critérios de classificação de grupos e contas.
• Conhecer a estrutura do Balanço Patrimonial conforme a Lei Societária brasileira.

Plano de Estudo
• A Lei 6.404/1976 e as principais alterações introduzidas pela Lei 11.638/2007.
• Características da informação contábil da NBC TG Estrutura Conceitual:
fundamentais e de melhoria.
• Pressuposto da Continuidade Regime de Caixa e Regime de Competência.
• Conjunto Completo das Demonstrações Contábeis.
• Balanço Patrimonial: critérios de classificação de grupos e contas.
• Balanço Patrimonial: estrutura conforme a Lei Societária brasileira.

6
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), na Unidade 1, do livro da disciplina de Contabilidade Societária,


será abordado sobre as características gerais das demonstrações contábeis e sobre o
Balanço Patrimonial.
Primeiramente, será discorrido sobre a Lei 6.404/1976 e as principais alterações
introduzidas pela Lei 11.638/2007 e 11.941/2009. Ressalta-se que a Lei 6.404/1976 é a
Lei que trata das Sociedades Anônimas, enquanto que a Lei 11.638/2007 inseriu o Brasil
no movimento das normas internacionais de Contabilidade, provocando alterações na
estrutura das demonstrações contábeis. Num próximo momento, você irá conhecer as ca-
racterísticas da informação contábil da NBC TG Estrutura Conceitual: que são as caracte-
rísticas fundamentais (relevância e representação fidedigna) e características de melhoria
(Comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade), as quais ajudam
a tornar a informação útil e relevante para fins decisoriais.
Prosseguindo, você irá compreender sobre o Princípio da Continuidade, Regime
de Caixa (reconhecer receitas e despesas no momento em houve o efetivo ingresso ou
saída de caixa ou equivalente de caixa da organização) e Regime de Competência (reco-
nhecer receitas e despesas no momento em que as mesmas ocorreram), nesse sentido,
serão apresentados exemplos de contabilização de fatos geradores de cada um desses
regimes contábeis. Ainda, você irá conhecer qual é o conjunto completo das Demonstra-
ções Contábeis, ou seja, quais demonstrações contábeis as organizações são obrigadas
(compulsoriamente) a evidenciar.
Nos últimos tópicos da Unidade, será discorrido sobre o Balanço Patrimonial, uma
das demonstrações contábeis mais conhecidas pelos usuários da informação. Num pri-
meiro momento, serão vistos os critérios de classificação de grupos e contas do Balanço
Patrimonial. Por fim, você vai conhecer a estrutura do Balanço Patrimonial conforme a Lei
Societária brasileira.
Bons estudos!

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 7


1. A LEI 6.404/1976 E AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI
11.638/2007.

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) a Unidade 1 do Livro de Contabilidade Societária.


Antes de adentrarmos nas especificidades de cada uma das demonstrações contábeis,
iremos discorrer sobre a Lei 6.404/1976 e sobre as alterações introduzidas pela Lei
11.638/2007.
A Lei 6.404/1976 é conhecida como a Lei das S/A, ou seja, é a Lei que dispõe sobre
as Sociedades por Ações. No âmbito brasileiro, a Lei das S/A é considerada a grande revo-
lução do mundo contábil no Século XX. A partir do Capítulo XV, a Lei 6.404/1976 enfatiza
a estrutura das demonstrações contábeis, as quais serão tratadas neste material didático
(BRASIL, 1976; CORBARI; MATTOS; FREITAG, 2012).
Até o ano de 2007, a Lei das S/A servia como referência para que as organizações
(principalmente as sociedades anônimas) estruturassem e publicassem as demonstrações
contábeis (BRASIL, 1976). Contudo, a partir de 2007, o Brasil se inseriu no movimento
mundial de harmonização às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), e devido ao
processo de harmonização contábil, no qual o Brasil está inserido, houve uma ruptura nos
paradigmas envolvendo a Contabilidade Societária, e a Lei 6404/1976 foi atualizada para
incorporar essas adequações (CORBARI; MATTOS; FREITAG, 2012).
Um exemplo das mudanças trazidas pela harmonização do Brasil às normas inter-
nacionais emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB) é o surgimento do

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 8


órgão Comitê dos Pronunciamentos Contábeis (CPC) em 2005. Órgão CPC é responsável
por discutir e traduzir as normas internacionais de contabilidade (IFRS) no âmbito nacional.
Em outras palavras, o órgão CPC, emite os Pronunciamentos Técnicos com base nas IFRS
(CORBARI; MATTOS; FREITAG, 2012).
Para que os CPCs (ou Pronunciamentos Técnicos) sejam aplicados nas organi-
zações brasileiras, há necessidade dos mesmos serem aprovados pelo Conselho Federal
de Contabilidade (CFC). A partir do momento, em que o CFC aprova um Pronunciamento
Técnico, este se torna uma Norma Brasileira de Contabilidade, que deve ser aplicada pelas
organizações para elaboração de suas demonstrações contábeis (Figura 1).

Figura 1: Fluxograma de aprovação de uma Norma brasileira de Contabilidade.

Fonte: elaborado pelos autores (2019).

O CPC, apesar de ser um Pronunciamento Técnico, tem como característica a


abordagem por princípios e não regras. Isso significa que as Normas Internacionais de
Contabilidade trouxeram a possibilidade de o contador realizar julgamentos, por exemplo,
ao definir as bases de uma estimativa, provisão ou ao aplicar uma política contábil. Em
suma, o contador tem que aplicar o princípio da essência sobre a forma, e abandonar
os princípios da prudência e conservadorismo (os quais são característicos do período
pré-convergência às Normas Internacionais de Contabilidade) (CFC, 2011a; CORBARI;
MATTOS; FREITAG, 2012).
Para que você saiba um pouco mais sobre os CPC e o movimento mundial de
harmonização contábil, do qual o Brasil faz parte, no Quadro 1, estão relacionados os
Pronunciamentos Técnicos (ou CPCs) aprovados pelo CFC (até 2019), com a respectiva
resolução do CFC:

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 9


Quadro 01: Normas Brasileiras de Contabilidade.
Documento Título Data Aprovação Resolução do CFC

NBC TG ESTRU-
Estrutura Conceitual para Elaboração e Divul-
CPC 00 02/12/2011 TURA CONCEI-
gação de Relatório Contábil-Financeiro
TUAL
CPC 01 Redução ao Valor Recuperável de Ativos 06/08/2010 NBC TG 01 (R4)
Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e NBC TG 02 (R3)
CPC 02 03/09/2010
conversão de demonstrações contábeis
CPC 03 Demonstração dos Fluxos de Caixa 03/09/2010 NBC TG 03 (R3)
CPC 04 Ativo Intangível 05/11/2010 NBC TG 04 (R4)
CPC 05 Divulgação sobre Partes Relacionadas 03/09/2010 NBC TG 05 (R3)
CPC 06 Operações de Arrendamento Mercantil 06/10/2017 NBC TG 06 (R3)
CPC 07 Subvenção e Assistência Governamentais 05/11/2010 NBC TG 07 (R2)
Custos de Transação e Prêmios na Emissão NBC TG 08
CPC 08 03/12/2010
de Títulos e Valores Mobiliários
CPC 09 Demonstração do Valor Adicionado (DVA) 30/10/2008 NBC TG 09
CPC 10 Pagamento Baseado em Ações 03/12/2010 NBC TG 10 (R3)
CPC 11 Contratos de Seguro 05/12/2008 NBC TG 11 (R2)
CPC 12 Ajuste a Valor Presente 05/12/2008 NBC TG 12
Adoção Inicial da Lei nº. 11.638/07 e da Medi- NBC TG 13
CPC 13 05/12/2008
da Provisória nº. 449/08
CPC 15 Combinação de Negócios 03/06/2011 NBC TG 15 (R4)
CPC 16 Estoques 08/05/2009 NBC TG 16 (R2)
Investimento em Coligada, em Controlada e NBC TG 18 (R3)
CPC 18 07/12/2012
em Empreendimento Controlado em Conjunto
CPC 19 Negócios em Conjunto 09/11/2012 NBC TG 19 (R2)
CPC 20 Custos de Empréstimos 02/09/2011 NBC TG 20 (R2)
CPC 21 Demonstração Intermediária 02/09/2011 NBC TG 21 (R4)
CPC 22 Informações por Segmento 26/06/2009 NBC TG 22 (R2)
Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e NBC TG 23 (R2)
CPC 23 26/06/2009
Retificação de Erro
CPC 24 Evento Subsequente 17/07/2009 NBC TG 24 (R2)
Provisões, Passivos Contingentes e Ativos NBC TG 25 (R2)
CPC 25 26/06/2009
Contingentes
CPC 26 Apresentação das Demonstrações Contábeis 02/12/2011 NBC TG 26 (R5)
CPC 27 Ativo Imobilizado 26/06/2009 NBC TG 27 (R4)
CPC 28 Propriedade para Investimento 26/06/2009 NBC TG 28 (R4)
CPC 29 Ativo Biológico e Produto Agrícola 07/08/2009 NBC TG 29 (R2)
Ativo Não Circulante Mantido para Venda e NBC TG 31 (R4)
CPC 31 17/07/2009
Operação Descontinuada
CPC 32 Tributos sobre o Lucro 17/07/2009 NBC TG 32 (R4)
CPC 33 Benefícios a Empregados 07/12/2012 NBC TG 33 (R2)
CPC 35 Demonstrações Separadas 31/10/2012 NBC TG 35 (R2)
CPC 36 Demonstrações Consolidadas 07/12/2012 NBC TG 36 (R3)
Adoção Inicial das Normas Internacionais de NBC TG 37 (R5)
CPC 37 05/11/2010
Contabilidade
CPC 39 Instrumentos Financeiros: Apresentação 02/10/2009 NBC TG 39 (R5)
CPC 40 Instrumentos Financeiros: Evidenciação 01/06/2012 NBC TG 40 (R3)
CPC 41 Resultado por Ação 08/07/2010 NBC TG 41 (R2)

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 10


CPC 42 Contabilidade em Economia Hiperinflacionária 07/12/2018 NBC TG 42
Adoção Inicial dos Pronunciamentos Técnicos NBC TG 43
CPC 43 03/12/2010
CPCs 15 a 41
CPC 44 Demonstrações Combinadas 02/12/2011 NBC TG 44
Divulgação de Participações em outras Enti- NBC TG 45 (R3)
CPC 45 07/12/2012
dades
CPC 46 Mensuração do Valor Justo 07/12/2012 NBC TG 46 (R2)
CPC 47 Receita de Contrato com Cliente 04/11/2016 NBC TG 47
CPC 48 Instrumentos Financeiros 04/11/2016 NBC TG 48
Contabilização e Relatório Contábil de Planos NBC TG 49
CPC 49 06/04/2018
de Benefícios de Aposentadoria
Contabilidade para Pequenas e Médias Em- NBC TG 1000 (R1)
CPC PME 04/12/2009
presas com Glossário de Termos

Nota 1: A sigla NBC TG significa Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas Gerais.


Nota 2: O R em frente ao número da norma indica que a norma sofreu revisão: R1, primeira revisão; R2, se-
gunda revisão; R3, terceira revisão; R4, quarta revisão;
Fonte: elaborado com base em CFC (2019).

Analisando o Quadro 01, é possível notar que existem pronunciamentos gerais (ou
amplos) como a NBC TG Estrutura Conceitual: e a NBC TG 26 (R5), e pronunciamentos
que são específicos a grupos como: Estoques, Imobilizado, Intangível, e outros pronuncia-
mentos que se referem a contas ou transações específicas como Receitas dos Contratos,
Contabilização de Seguros, Benefícios a Empregados, entre outros (CFC, 2011, 2011a).
Nesta disciplina, não iremos tratar de todos os Pronunciamentos Técnicos ou CPCs,
visto que alguns deles tratam de situações bem específicas e serão estudados com maior
profundidade em outras disciplinas do curso como: Contabilidade Intermediária, Contabili-
dade Avançada, entre outras.
No próximo tópico será explicado sobre as características fundamentais e de me-
lhoria das informações contábeis.

2. CARACTERÍSTICAS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL DO CPC 00: FUNDA-


MENTAIS E DE MELHORIA.

As informações contábeis são a matéria-prima das demonstrações contábeis,


desse modo, elas devem possuir certas características para se tornarem úteis e relevantes
para a tomada de decisão. A NBC TG Estrutura Conceitual traz quais são as características
qualitativas das informações contábeis, as quais estão apresentadas na Figura 02:

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 11


Figura 02: Características da Informação Contábil

Fonte: CFC (2011).

Conforme o CFC (2011), o primeiro grupo de características qualitativas da infor-


mação contábil são as características fundamentais. Portanto, as informações contábeis
devem possuir (i) relevância e (ii) representar fidedignamente um fenômeno.
Para que uma informação contábil possa ser considerada (i) relevante, ela deve ser
capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários, para tanto,
deve ter valor preditivo, valor confirmatório ou ambos. O valor preditivo é a capacidade de
ser utilizada como dado de entrada em processos empregados pelos usuários para reali-
zar projeções. A informação contábil tem valor confirmatório se retroalimentar – servir de
feedback (confirmá-las ou alterá-las). A característica da relevância engloba o conceito de
Materialidade, a qual diz que uma informação é material se a sua omissão ou sua divulga-
ção distorcida puder influenciar decisões que os usuários tomam com base na informação
(CFC, 2011).
Com relação a (ii) representação fidedigna, o CFC (2011) enfatizou que as informa-
ções representam fidedignamente um fenômeno se ela for completa, neutra e livre de erro.
Uma Informação Completa significa que o usuário deve compreender o fenômeno retra-
tado, com as descrições e explicações necessárias. Uma informação neutra é desprovida
de distorções que possa dar maior ou menor peso ou qualquer outro tipo de manipulação
que torne a informação contábil favorável ou desfavorável. Por fim, uma informação livre de

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 12


erros significa que não há erros ou omissões no fenômeno retratado.
Complementando as características qualitativas fundamentais, têm-se as carac-
terísticas qualitativas de melhoria da informação, as quais devem ser aplicadas sempre
que for possível. Elas são: a) comparabilidade, b) verificabilidade, c) tempestividade e d)
compreensibilidade. A comparabilidade (a), é a característica qualitativa que permite que
os usuários identifiquem e compreendam similaridades dos itens e diferenças entre eles
(CFC, 2011).
Já a verificabilidade (b), significa que diferentes usuários, podem chegar a um
consenso, embora não cheguem necessariamente a um completo acordo, quanto ao re-
trato de um fato empresarial. A tempestividade (c) significa ter informação disponível para
tomadores de decisão a tempo de poder influenciá-los em suas decisões. Por último, a
compreensibilidade (d) consiste em apresentar a informação com clareza e concisão (CFC,
2011).
Ademais, é discorrido em CFC (2011), que as organizações tem que observar
o princípio do custo x benefício ao elaborar as informações contábeis. Na aplicação da
restrição do custo, avalia-se se os benefícios proporcionados pela elaboração e divulgação
de informação em particular são provavelmente justificados pelos custos incorridos para
fornecimento e uso dessa informação.

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 13


3. PRESSUPOSTO DA CONTINUIDADE, REGIME DE COMPETÊNCIA E REGI-
ME DE CAIXA.

Os usuários externos avaliam as demonstrações contábeis com o objetivo de veri-


ficar se a organização vai continuar operando no futuro, ou seja, se conseguirá quitar seus
compromissos financeiros, receber as suas vendas a prazo, adquirir matéria-prima e outras
atividades necessárias à sua sobrevivência. Além disso, o usuário necessita perceber se a
organização tem a intenção de negociar seus ativos (vender os ativos) ou continuar operan-
do. Tais informações se referem ao princípio da Continuidade (CFC, 2011, 2011a).
A aplicação do pressuposto de Continuidade é apropriada, quando a administração
concluir que a organização tem capacidade de continuar operando no período mínimo de
doze meses a partir da data do balanço. O grau de consideração depende dos fatos de
cada caso. Caso a organização identifique que não tem condição de continuar operando
nos próximos períodos, deve divulgar tal fato nas demonstrações contábeis (CFC, 2011).
Quanto ao regime contábil, as demonstrações contábeis são elaboradas sob o
regime de competência, exceto para a demonstração dos fluxos de caixa, as qual utiliza o
regime de caixa (CFC, 2011a).
Segundo o CFC (2011a), o regime de competência é utilizado, quando os itens
do ativo, passivo, patrimônio líquido, receitas e despesas satisfazem as definições e os
critérios de reconhecimento e não por ocasião do pagamento ou recebimento dos fluxos
de caixa. Já o regime de caixa, demanda que as organizações registrem os itens do ativo,

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 14


passivo, patrimônio líquido, receitas e despesas quando ocorrer o efetivo pagamento ou
recebimento dos fluxos de caixa. Para compreender a distinção entre os 2 regimes de
competência observe o exemplo abaixo.

Exemplo 1
Em janeiro de 20x1, a Cia Mutante LTDA está elaborando suas demonstrações con-
tábeis para o exercício de 20x0 e para tanto, precisa contabilizar uma venda de mercadorias
de R$ 100.000,00 ocorrida em dez/20x0. O valor referente a essa venda foi negociado em
2 parcelas: 50% referente a uma entrada (à vista) e 50% para fevereiro de 20x1. Qual o
montante seria reconhecido nas demonstrações contábeis de 20x0 se a Mutante LTDA
utilizar o regime de competência? E se a Mutante LTDA utilizar o regime de caixa?
Resposta: Se a Mutante LTDA utilizar o regime de competência, vai reconhecer em
20x0 os R$ 100.000,00 (reconhece no período onde ocorreu a venda).
Por outro lado, se a Mutante LTDA utilizar o regime de caixa, reconhecerá R$
50.000,00 em dezembro de 20x0, e os outros R$ 50.000,00 em fevereiro de 20x1 (reconhe-
ce no período em que recebeu os fluxos de caixa).

Exemplo 2
Em janeiro de 20x1, a Cia Vingadora LTDA está elaborando suas demonstrações
contábeis para o exercício de 20x0 e para tanto, precisa contabilizar uma compra de mer-
cadorias de R$ 300.000,00 ocorrida em novembro/20x0. O valor referente a essa venda foi
negociado em 3 parcelas: 20% referente a uma entrada (à vista) e 40% para dezembro de
20x0 e 40% para janeiro de 20x1. Qual o montante seria reconhecido nas demonstrações
contábeis de 20x0 se a Vingadora LTDA utilizar o regime de competência? E se a Vingadora
LTDA utilizar o regime de caixa?
Resposta: Se a Vingadora LTDA utilizar o regime de competência, vai reconhecer
os R$ 300.000,00 em 20x0 (período onde ocorreu a compra).
Por outro lado, se a Vingadora LTDA utilizar o regime de caixa, reconhecerá R$
180.000,00 em 20x0, e os outros R$ 120.000,00 em 20x1 (período em que houve o desem-
bolso dos fluxos de caixa).

4. CONJUNTO COMPLETO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS.

As demonstrações contábeis são um conjunto de relatórios, os quais evidenciam


a situação patrimonial, econômica, financeira e até operacionais. Conforme a NBC TG 26

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 15


(R5) (CFC, 2011a) o conjunto completo das Demonstrações Contábeis, inclui:
• Balanço Patrimonial (BP);
• Demonstração do Resultado (DR);
• Demonstração do Resultado Abrangente (DRA);
• Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
• Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA);
• Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC);
• Demonstração do Valor Adicionado (DVA) e
• Notas Explicativas.

As demonstrações contábeis devem ser publicadas, no mínimo, anualmente. As


organizações de capital aberto, por exemplo, apresentam as informações trimestralmente
e anualmente (CFC, 2011a).
Ainda, as sociedades anônimas necessitam auditar as suas demonstrações con-
tábeis antes de publicá-las (por um auditor independente) e publicá-las em um jornal de
grande circulação (ou de circulação nas dependências da organização) (CFC, 2011a).
Outras demonstrações (ou relatórios) que são elaborados pelas organizações são:
Formulário de Referência, Relatórios de Administração e Relatórios de Sustentabilidade,
porém, esses relatórios não integram o conjunto das Demonstrações Contábeis conforme
as normas societárias brasileiras (CFC, 2011).
No decorrer do livro, iremos abordar cada uma das demonstrações contábeis,
relacionando suas características, especificidades e modelos de estrutura conforme a
legislação contábil.

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 16


5. BALANÇO PATRIMONIAL: CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DE GRUPOS E
CONTAS.

O Balanço Patrimonial é uma demonstração contábil que enfatiza a posição patri-


monial e financeira da organização em um período específico do tempo (CORBARI; MAT-
TOS; FREITAG, 2012). Destarte, o Balanço Patrimonial demonstra a origem dos recursos
(passivo e patrimonio líquido) e respectivas aplicações (ativos) (Figura 3):

Figura 03: Relação entre Ativos, Passivos e Patrimônio Líquido.

Fonte: elaborado pelos autores com base na NBC TG Estrutura Conceitual (CFC, 2011).

A Figura 03, enfatiza que o total do Ativo será a soma entre o Passivo e o Patrimônio
Líquido (CORBARI; MATTOS; FREITAG, 2012). São exemplos de cada um dos itens que
são evidenciados no Balanço Patrimonial, conforme CFC (2011a) (Quadro 02):

Quadro 02: Exemplos de itens do Balanço Patrimonial.

Ativos Passivo Patrimônio Líquido


• caixa e equivalentes de caixa; • contas a pagar (comer- • capital social inte-
• duplicatas a receber; ciais e outras); gralizado
• provisões; • reservas de lucro.
• estoques;
• obrigações financeiras; • resultado do perío-
• ativos financeiros; • participação de não con- do.
• investimentos; troladores apresentada • ações em tesoura-
• imobilizado; de forma destacada den- ria.
tro do patrimônio líquido;
• intangível;

Fonte: elaborado com base em CFC (2011a).

Conforme a NBC TG Estrutura Conceitual:, para que um item possa ser considera-
do como ativo tem que ser: (i) um recurso controlado pela organização como (ii) resultado
de eventos passados, do qual se espera que (iii) fluam futuros benefícios econômicos para

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 17


a entidade, além disso, é necessário que (iv) a entidade controle os principais riscos asso-
ciados ao ativo. O benefício econômico futuro incorporado a um ativo é o seu potencial em
contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa para a
entidade (CFC, 2011; CORBARI; MATTOS; FREITAG, 2012).
Um ativo geralmente é conversível em caixa ou equivalentes de caixa ou pode ter a
capacidade de reduzir as saídas de caixa, (reduzir os custos de produção). São exemplos
de ativos: caixa, bancos, aplicações financeiras, duplicatas a receber, adiantamento a
funcionários (CFC, 2011a).
Ademais, os ativos podem ter forma física ou não. Os itens do imobilizado, como
equipamentos de produção, prédio da organização, veículos, instalações e computadores
têm forma física. Os itens classificados como Intagíveis, não possuem substância física,
entretanto, têm a capacidade de produzir benefícios econômicos futuros para a entidade.
São exemplos de intangíveis: royalties, patentes e os direitos autorais (CFC, 2011a).
A ausência de gasto relacionado ao Ativo, não impede que um item se qualifique
para reconhecimento no balanço patrimonial. Por exemplo, um terreno doado à organização
(sem ter provocado nenhum gasto para a organização) pode satisfazer à definição de ativo
(CFC, 2011a).
O passivo é uma (i) obrigação presente da entidade, derivada de eventos passa-
dos, que (ii) pode ser mensurada em valores monetários e (ii) cuja liquidação se espera que
resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos. São
exemplos de passivos: contas a pagar por bens e serviços recebidos, impostos a recolher,
empréstimos e financiamentos (CFC, 2011a).
A liquidação de um passivo pode ocorrer, por meio de: pagamento em caixa;
transferência de outros ativos (troca ou permuta); prestação de serviços; substituição da
obrigação por outra; conversão da obrigação em item do patrimônio líquido (pagamentos
baseados em ações) (CFC, 2011a).
Alguns passivos somente podem ser mensurados por meio do emprego de signifi-
cativo grau de estimativa. No Brasil, os passivos reconhecimentos por meio de estimativas
são as provisões. São exemplos: provisão para férias, provisão para 13º salário e provisão
para passivos judiciais (CFC, 2011a).
O patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de dedu-
zidos todos os seus passivos. Por exemplo, na sociedade por ações, recursos aportados
pelos sócios, reservas resultantes de retenções de lucros e reservas representando ajustes
para manutenção do capital podem ser demonstrados separadamente. Tais classificações
podem ser relevantes para a tomada de decisão dos usuários das demonstrações contábeis

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 18


quando indicarem restrições legais ou de outra natureza sobre a capacidade que a entidade
tem de distribuir ou aplicar de outra forma os seus recursos patrimoniais. Podem também
refletir o fato de que determinadas partes com direitos de propriedade sobre a entidade têm
direitos diferentes com relação ao recebimento de dividendos ou ao reembolso de capital
(CFC, 2011a).
A constituição de reservas é, por vezes, exigida pelo estatuto ou por lei para dar à
entidade e seus credores uma margem maior de proteção contra os efeitos de prejuízos.
Outras reservas podem ser constituídas em atendimento a leis que concedem isenções ou
reduções nos impostos a pagar quando são feitas transferências para tais reservas. A exis-
tência e o tamanho de tais reservas legais, estatutárias e fiscais representam informações
que podem ser importantes para a tomada de decisão dos usuários. As transferências de
saldos para tais reservas são apropriações de lucros acumulados, portanto, não constituem
despesas (CFC, 2011a).

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 19


6. BALANÇO PATRIMONIAL: ESTRUTURA CONFORME A LEI SOCIETÁRIA
BRASILEIRA.

A estrutura do Balanço Patrimonial considera a premissa de que o Ativo é a soma


do Passivo e do Patrimônio Líquido. Outrossim, há uma ordem para apresentação de tais
itens ou grupos nessa demonstração contábil.
A primeira classificação dos ativos e passivos no Balanço Patrimonial é a sua
distinção entre circulante e não circulante. O Patrimônio Líquido, devido ser considerado
residual, é um grupo que possui característica de longo prazo, visto que a organização
possui a intenção de continuar operando (Figura 04).

Figura 04: Representação Gráfica do Balanço Patrimonial.

Fonte: elaborado com base em CFC (2011a).

Usualmente, a distinção entre circulante e não circulante considera o período de


12 meses. Por exemplo: se o ativo for realizado em um período inferior a 12 meses é
considerado ativo circulante, já quando é realizado em um período superior a 12 meses é
considerado ativo não circulante. A mesma lógica aplica-se ao passivo circulante.
Para as organizações que fornecem bens ou serviços dentro de ciclo operacional
claramente identificável, a classificação separada de ativos e passivos circulantes e não
circulantes no balanço patrimonial destaca os ativos que se espera sejam realizados dentro
do ciclo operacional corrente, bem como os passivos que devam ser liquidados dentro do
mesmo período. Por exemplo, a organização identificou que seu ciclo operacional é de 1,5
ano, neste caso, a separação entre ativo circulante e não circulante, consideraria o período
de realização de 1,5 ano, igualmente para os passivos.
Uma exceção aplica-se às Instituições Financeiras, as quais evidenciam seus

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 20


ativos e passivos por ordem crescente ou decrescente de liquidez, visto que é uma infor-
mação confiável e mais relevante do que a apresentação em circulante e não circulante
considerando que tais entidades não fornecem bens ou serviços dentro de ciclo operacional
claramente identificável.
Um ativo é classificado como circulante quando satisfizer qualquer um dos seguin-
tes critérios:
• espera-se que seja realizado, vendido ou consumido dentro do ciclo operacional
da entidade (geralmente, dozes meses);
• está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado;
• é caixa ou equivalente de caixa (a menos que sua troca ou uso para liquidação
de passivo se encontre vedada durante pelo menos doze meses).
Todos os demais ativos devem ser classificados como não circulantes. Os ativos
não circulantes incluem os ativos tangíveis, intangíveis e ativos financeiros ou outros ativos
de natureza associada a longo prazo. No Balanço Patrimonial o ativo não circulante deve
ser subdividido em realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível.

Exemplo 3
Em janeiro de 20x1, a Cia Ativa LTDA está elaborando suas demonstrações con-
tábeis para o exercício de 20x0 e para tanto, precisa classificar seus ativos em circulantes
e nao circulantes. Sabe-se que organização efetuou uma venda a prazo de R$ 3.600,00
em dez/20x0 para recebimento em 36 parcelas mensais de R$ 100,00, a primeira parcela
vende em jan/20x1. Qual o montante seria reconhecido nas demonstrações contábeis da
Ativa LTDA como ativo circulante e não circulante?
Resposta: A Ativa LTDA está elaborando seu Balanço Patrimonial para 31/12/20x0,
portanto, o montante a ser reconhecido como circulante, são os valores a receber até
31/12/20x1, no caso, 12 parcelas mensais de R$ 100,00, o restante das parcelas (24 par-
celas) serão reconhecidas como não circulantes. Desta forma, R$ 1.200,00 (12 parcelas
de R$ 100,00) seria considerado como Ativo Circulante e R$ 2.400,00 (24 parcelas de R$
100,00) seria considerado como Ativo Não Circulante.

Exemplo 4
Em janeiro de 20x2, a Cia Ativa LTDA está elaborando suas demonstrações contá-
beis para o exercício de 20x1 e para tanto, precisa classificar seus ativos em circulantes e
nao circulantes. Sabe-se que organização efetuou uma venda a prazo de R$ 3.600,00 em
dez/20x0 para recebimento em 36 parcelas mensais de R$ 100,00. Durante o exercício de

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 21


20x1, a Ativa recebeu 12 parcelas. Qual o montante seria reconhecido nas demonstrações
contábeis da Ativa LTDA em 31/12/20x1 como ativo circulante e não circulante?
Resposta: A Ativa LTDA está elaborando seu Balanço Patrimonial para 31/12/20x1,
dessa forma, ela deve baixar o valor recebido, ou seja, o montante a receber será R$
2.400,00 (R$ 3.600,00 – R$ 1.200,00). O montante a ser reconhecido como ativo circulante,
são os valores a receber até 31/12/20x2, no caso, 12 parcelas mensais de R$ 100,00, o
restante das parcelas (12 parcelas) serão reconhecidas como ativo não circulante. Desta
forma, R$ 1.200,00 (12 parcelas de R$ 100,00) seria considerado como Ativo Circulante e
R$ 1.200,00 (12 parcelas de R$ 100,00) seria considerado como Ativo Não Circulante.

O Passivo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos
seguintes critérios:
• espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional da entidade (geralmen-
te doze meses);
• está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado;
• a entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação do passivo duran-
te pelo menos doze meses após a data do balanço.
Todos os outros passivos devem ser classificados como não circulantes. Por exem-
plo, os passivos financeiros, que proporcionem financiamento em longo prazo (ou seja, não
façam parte do capital circulante usado no ciclo operacional normal da entidade) e cuja
liquidação não esteja prevista para o período de até doze meses após a data do balanço,
são passivos não circulantes.

Exemplo 5
Em janeiro de 20x1, a Cia Passiva LTDA está elaborando suas demonstrações
contábeis para o exercício de 20x0 e para tanto, precisa classificar seus passivos em circu-
lantes e nao circulantes. Sabe-se que organização contraiu um empréstimo de R$ 7.200,00
em dez/20x0 para pagamento em 36 parcelas mensais de R$ 200,00, a primeira parcela
vende em jan/20x1. Qual o montante seria reconhecido nas demonstrações contábeis da
Passiva LTDA como passivo circulante e não circulante?
Resposta: A Passiva LTDA está elaborando seu Balanço Patrimonial para
31/12/20x0, portanto, o montante a ser reconhecido como circulante, são os valores a pagar
até 31/12/20x1, no caso, 12 parcelas mensais de R$ 200,00, o restante das parcelas (24
parcelas) serão reconhecidas como não circulantes. Desta forma, R$ 2.400,00 (12 parcelas
de R$ 200,00) seria considerado como Passivo Circulante e R$ 4.800,00 (24 parcelas de

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 22


R$ 200,00) seria considerado como Passivo Não Circulante.

Exemplo 6
Em janeiro de 20x2, a Cia Passiva LTDA está elaborando suas demonstrações con-
tábeis para o exercício de 20x1 e para tanto, precisa classificar seus ativos em circulantes
e nao circulantes. Sabe-se que organização contraiu um empréstimo de R$ 7.200,00 em
dez/20x0 para pagamento em 36 parcelas mensais de R$ 200,00. Durante o exercício de
20x1, a Passiva pagou 12 parcelas. Qual o montante seria reconhecido nas demonstrações
contábeis da Passiva LTDA em 31/12/20x1 como passivo circulante e não circulante?
Resposta: A Passiva LTDA está elaborando seu Balanço Patrimonial para
31/12/20x1, dessa forma, ela deve baixar o valor pago, ou seja, o montante a pagar será R$
4.800,00 (R$ 7.200,00 – R$ 2.400,00). O montante a ser reconhecido como passivo circu-
lante, são os valores a receber até 31/12/20x2, no caso, 12 parcelas mensais de R$ 200,00,
o restante das parcelas (12 parcelas) serão reconhecidas como passivo não circulante.
Desta forma, R$ 2.400,00 (12 parcelas de R$ 200,00) seria considerado como Passivo
Circulante e R$ 2.400,00 (12 parcelas de R$ 200,00) seria classificado como Passivo Não
Circulante.
De acordo com a NBC TG Estrutura Conceitual: o grupo do Balanço Patrimonial,
Patrimônio Líquido, refere-se ao interesse residual nos ativos da entidade depois de dedu-
zidos todos os seus passivos.
São exemplos de itens classificados como Patrimônio Líquido: capital social (re-
cursos aportados pelos sócios), reservas de lucros e reservas para manutenção do capital.
As informações evidenciadas no Patrimônio Líquido permitem que os usuários
identifiquem quais os montantes referem-se a direitos sobre o desempenho da organização,
como o recebimento de dividendos.
Por vezes, a constituição de reservas é exigida pelo estatuto ou por lei para dar
à organização e seus credores uma margem maior de proteção contra os efeitos de pre-
juízos. A existência e o tamanho das reservas legais, estatutárias e fiscais representam
informações importantes para a tomada de decisão dos usuários.

Exemplo 7
Em janeiro de 20x1, a Cia Residual LTDA está elaborando suas demonstrações
contábeis para o exercício de 20x0 e para tanto, precisa classificar apurar o valor do Patri-
mônio Líquido. Sabe-se que organização possui um Ativo Total de R$ 200.000,00, possui
R$ 50.000,00 classificados como passivo circulante e R$ 40.000,00 como passivo não

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 23


circulante. Qual o montante seria reconhecido nas demonstrações contábeis da Residual
LTDA como Patrimônio Líquido?
Resposta: O valor do Patrimônio Líquido da Residual LTDA em 31/12/20x0, será
a diferença entre o Ativo e o Passivo. Considerando que a Residual LTDA possui um Ativo
de R$ 200.000,00 e um Passivo de R$ 90.000,00 (R$ 40.000,00 + R$ 50.000,00), o valor
classificado como Patrimônio Líquido será R$ 110.000,00 (R$ 200.000,00 – R$ 90.000,00).

Na Figura 05, consta um exemplo de estrutura do Balanço Patrimonial elaborado


de acordo com as normas societárias:

Figura 05: Estrutura do Balanço Patrimonial conforme a Legislação Societária.

Fonte: elaborado com base em CFC (2011a).

Conforme se observa na Figura 05, as contas do Balanço Patrimonial são agrega-


das conforme a sua natureza. No ativo, a ordem é a de liquidez, por isso inicia-se pelo ativo
circulante (itens mais líquidos). No Passivo e Patrimônio, por ordem de exigibilidade, nesse
sentido, as contas que possuem vencimento em menor período de tempo são apresentadas
primeiramente, seguidas das obrigações que possuem prazo maior de vencimento.
A seguir, apresentam-se as considerações finais desta Unidade.

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 24


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), na Unidade 1, foi abordado sobre as características gerais das


demonstrações contábeis e sobre o Balanço Patrimonial. Tais conhecimentos corroboram
para a sua aprendizagem na disciplina Contabilidade Societária e no âmbito da Contabili-
dade de forma geral.
Primeiramente, foi discorrido sobre a Lei 6.404/1976 e as principais alterações
introduzidas pela Lei 11.638/2007, por exemplo: a extinção do Ativo Permanente, a cria-
ção do Ativo Imobilizado, a separação entre Ativo Circulante e Não Circulante, etc. Num
próximo momento, você conheceu as características da informação contábil do CPC 00,
nesse sentido você entendeu que as características fundamentais devem estar presentes
no processos de produção de informações contábeis, ao passo que as características de
melhoria corroboram para compreensão da informação evidenciada.
Prosseguindo, você compreendeu a diferença entre o Regime de Caixa e o Regime
de Competência. Ainda, você conheceu o conjunto completo das Demonstrações Contábeis,
que são: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado (DR), Demonstração do
Resultado Abrangente (DRA), Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA),
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), Demonstração do Valor Adicionado (DVA) e
Notas Explicativas.
Nos últimos tópicos da Unidade, foi discorrido sobre o Balanço Patrimonial, uma de-
monstração estática, ou seja, representa o conjunto de bens, direito e obrigações (situação
patrimonial) em um dado período do tempo. Você conheceu os critérios de classificação
de grupos e contas do Balanço Patrimonial (tempo de liquidação do ativo ou realização
do passivo). Por fim, você conheceu a estrutura do Balanço Patrimonial conforme a Lei
Societária brasileira, a qual compreende Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido.
Bons estudos!

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 25


Leitura Complementar

Usuários Externos da Informação.

Caro(a) durante a Unidade I, foi enfatizado que as demonstrações contábeis são


voltadas para os usuários externos. Nesta leitura complementar, você conhecerá quem são
os usuários externos.
As demonstrações contábeis referem-se ao mínimo de informações necessárias
que precisam ser evidenciadas pelas organizações para o bom funcionamento do mercado.
Os usuários internos, têm acesso à informações mais detalhadas (ou então têm acesso à
todas as transações e fatos relevantes), por isso, estes podem estruturar seus relatórios
conforme a sua necessidade informacional.
Nesta perspectiva, os usuários externos têm acesso à informações limitadas e não
se encontram em posição de julgar maiores detalhamentos, porque a organização poderia
retê-las se não houvesse a obrigação legal de divulgação.
São exemplos de usuários externos das demonstrações contábeis:
• Acionistas ou investidores: os quais podem ter interesse em conhecer os mon-
tantes apurados como lucros, destinação de lucros para reservas e valores a
serem distribuídos a títulos de dividendos.
• Fornecedores: os quais podem ter interesse em informações sobre Estoques de
produtos, bem como aspectos relacionados a liquidez ou endividamento.
• Credores: neste grupo podem ser incluídos bancos comerciais ou outros finan-
ciadores, os quais têm interesse em informações sobre a liquidez e rentabilidade
das organizações.
• Governo: este usuário tem interesse na evolução patrimonial, nos valores apu-
rados como Receita de Vendas, Lucros, Folha de pagamento, os quais são
base de cálculo para tributação, ou seja, recolhimento de impostos.
• Comunidade: trata-se de um público afetado pelas atividades da organização,
nesse sentido, buscam informações sobre projetos sociais na comunidade,
redução de impactos ao meio ambiente, estratégias de conservação do meio
ambiente, os quais podem ser apresentadas nas demonstrações contábeis.
• Pesquisadores: estes usuários incluem alunos de graduação ou de outros cur-
sos que acessam as demonstrações contábeis para efetuar estudos científicos.

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 26


• Analistas de Mercado: tal grupo de usuários acessam as demonstrações con-
tábeis para efetuar estimativas de lucro, projeções e indicar a compra ou venda
de títulos patrimoniais (ou ações).
• Para que as demonstrações contábeis consigam satisfazer as distintas necessi-
dades destes inúmeros tipos de usuários externos, há a necessidade das mes-
mas serem elaboradas conforme a estrutura societária, por isso, o arcabouço
legislativo da Contabilidade Societária.

Fonte: elaborado pelos professores com base em CFC (2011).

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 27


Material Complementar

LIVRO
Manual de Contabilidade Societária
Autor: Ernesto Rubens Gelbcke; Ariovaldo dos Santos; Sérgio de
Iudícibus; Eliseu Martins.
Editora: Atlas.

FILME
Fome de Poder
Ano: 2017
Sinopse: O filme retrata a história do empresário que revolucio-
nou o modelo de negócios de uma organização mundial do setor
alimentício. Este filme poderá contribuir com a sua formação ao
abordar facetas do mundo de negócio e ao enfatizar questões
relativas a marca e ativo intangível.

VÍDEO
No link abaixo há explicações sobre a diferença entre os Ativos Circulantes e Ativos Não
Circulantes, os quais são subgrupos do Balanço Patrimonial.
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=sEziQ9oIK5c&list=PLbXEfa3iXrdTET-
zaoJY7KggA10YP3TG44&index=4>. Acesso em: 14 mai. 2019.

UNIDADE I Demonstrações Contábeis e Balanço Patrimonial 28


UNIDADE II
Demonstrações Contábeis
Relacionadas ao Lucro
Professor Me. Matheus Henrique Delmonaco.
Professor Me. Rodrigo Gaspar de Almeida.

Objetivos de Aprendizagem
• Discorrer sobre a Demonstração do Resultado (DR).
• Discorrer sobre a Demonstração do Resultado Abrangente (DRA).
• Abordar sobre a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA).
• Apresentar a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL).

Plano de Estudo
• Demonstração do Resultado (DR).
• Demonstração do Resultado Abrangente (DRA).
• Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA).
• Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL).

29
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), na Unidade 2, do livro da disciplina de Contabilidade Societária,


damos continuidade as demonstrações contábeis. Nesta Unidade, discorreremos sobre a
Demonstração do Resultado (DR), as normas que embasam essa demonstração, como
deve ser estruturada, e as informações nela contida. Prosseguiremos com a Demonstração
do Resultado Abrangente (DRA) que demonstra as alterações no patrimônio líquido de uma
sociedade durante um período, decorrente de transações e outros eventos e circunstâncias
não originadas dos sócios. Na sequência será abordado sobre a Demonstração dos Lucros
ou Prejuízos Acumulados (DLPA), essa demonstração evidencia as alterações e movi-
mentações ocorridas no saldo da conta de lucros ou prejuízos acumulados, no Patrimônio
Líquido. E por fim será explanado sobre a Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido (DMPL), demonstrará as alterações (aumento ou redução) do patrimônio líquido da
entidade durante um período. Essas demonstrações contábeis podem auxiliar na tomada
de decisões dos usuários da contabilidade, pois contém informações relevantes sobre as
companhias.

Bons estudos!

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 30


1. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO (DR)

De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1), que tratada da Apresenta-


ção das Demonstrações Contábeis, as companhias devem apresentar todas as mutações
do patrimônio líquido reconhecidas em cada exercício que não representem transações
entre a empresa e seus sócios em duas demonstrações, para que isso seja possível, duas
demonstrações: Demonstração do Resultado do Período e a Demonstração do Resultado
Abrangente do Período.
A partir da Lei 6.404/1976 que rege as Sociedades por Ações, instituiu a Demons-
tração do Resultado do Exercício – DRE, como obrigatória para as empresas. Dessa forma,
essa demonstração traz consigo o resultado econômico.
A Demonstração do Resultado (DR) é a apresentação, em forma resumida, das
receitas e despesas decorrentes das operações realizadas pela empresa, durante um
período, podendo ser o exercício social, com o objetivo de demonstrar a composição do
resultado líquido do período.
De acordo com o art. 187 da Lei das Sociedades por Ações (6404/76) para fins de
publicação da Demonstração do Resultado do Exercício, devesse seguir uma ordem de
apresentação das receitas, custos e despesas. A demonstração do resultado do exercício
discriminará:

“I - a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abati-


mentos e os impostos;
II - a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e servi-

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 31


ços vendidos e o lucro bruto;
III - as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das re-
ceitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais;
IV – o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despe-
sas;(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
V - o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão
para o imposto;
VI – as participações de debêntures, empregados, administradores e partes
beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições
ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracte-
rizem como despesa;(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
VII - o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do
capital social.
§ 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados:
a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemen-
te da sua realização em moeda; e
b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, cor-
respondentes a essas receitas e rendimentos.” (BRASIL, 1976).

A partir desses conceitos dados pela Lei, pode se perceber que se enquadram
no pressuposto do Regime de Competência no CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para
Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, que implica na confrontação
entre as receitas e as despesas, conforme descrito no item 95 do Pronunciamento Técnico
do CPC supracitado:

“As despesas são reconhecidas na demonstração do resultado com base na


associação direta entre elas e os correspondentes itens de receita. Esse pro-
cesso, usualmente chamado de confrontação entre despesas e receitas (Re-
gime de Competência), envolve o reconhecimento simultâneo ou combinado
das receitas e despesas que resultem diretamente das mesmas transações
ou outros eventos; (...)” (CPC 00, 2011)

Dessa forma, a receita de venda é contabilizada por ocasião da transferência do


controle, e não quando de seu recebimento; o custo do produto vendido, que englobaria
material, mão de obra e demais custos de sua fabricação; as despesas incorridas, sejam
de comercialização ou de administração; a despesa de pessoal (salários e seus encargos)
é reconhecida no mês em que se recebeu tal prestação de serviços, mesmo sendo paga no
mês seguinte; a despesa do Imposto de Renda é registrada no mesmo período dos lucros
a que se refere e não no exercício seguinte, quando é declarada e paga.
De forma complementar à Lei nº 6.404/76, o CPC 26 - R1 (2011) estabelece uma
estrutura mínima para a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), obedecidas tam-
bém as determinações legais, deve ser composto por:

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 32


• receitas;
• custo dos produtos, das mercadorias ou dos serviços vendidos;
• lucro bruto;
• despesas com vendas, gerais, administrativas e outras despesas e receitas
operacionais; parcela dos resultados de empresas investidas reconhecida por
meio do método de equivalência patrimonial;
• resultado antes das receitas e despesas financeiras;
• despesas e receitas financeiras;
• resultado antes dos tributos sobre o lucro;
• despesa com tributos sobre o lucro;
• resultado líquido das operações continuadas; valor líquido dos seguintes itens:
▪ resultado líquido após tributos das operações descontinuadas;
▪ resultado após os tributos decorrente da mensuração ao valor justo menos
despesas de venda ou na baixa dos ativos ou do grupo de ativos à disposição
para venda que constituem a unidade operacional descontinuada;
• resultado líquido do período;
• resultados líquidos atribuíveis:
▪ à participação de sócios não controladores;
▪ e aos detentores do capital próprio da empresa controladora

Exemplo 1: A companhia Lactose LTDA apresentou os seguintes dados extraídos


de sua contabilidade em 2018:
Quadro 01: Dados extraídos de sua contabilidade em 2018 Lactose LTDA.
Lactose S/A - contas em 2018 Valores em R$
Despesas Comerciais 25.000,00
Despesas Administrativas 15.000,00
Receita Bruta 300.000,00
CMV (Custo das Mercadorias Vendidas) 50.000,00
Receitas Financeiras 30.000,00
Depreciação e Amortização 15.000,00
IR e CSLL 35.000,00
Impostos sobre as vendas 75.000,00

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

Sabendo dos valores apresentados pela companhia, estruture a Demonstração do


Resultado do Exercício de 2018:

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 33


Quadro 02: Demonstração do Resultado do Exercício de 2018 Lactose LTDA.

Demonstração do Resultado do Exercício de 2018: Valores em R$


Receita Bruta 300.000,00
(-) Impostos sobre as vendas (75.000,00)
(=) Receita Líquida 225.000,00
(-) CMV (Custo das Mercadorias Vendidas) (50.000,00)
(=) Lucro Bruto 175.000,00
(-) Despesas Operacionais
Despesas Comerciais (25.000,00)
Despesas Administrativas (15.000,00)
Depreciação e Amortização (15.000,00)
(±) Despesas ou Receitas Financeiras
Receitas Financeiras 30.000,00
(=) Lucro ou Prejuízo Operacional 150.000,00
(=) Resultado Operacional antes do IR e CSLL 150.000,00
(-) IR e CSLL (35.000,00)
(=) Lucro Líquido do Exercício 115.000,00

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

O modelo de Demonstração do Resultado apresentado no quadro 2, remetesse ao


modelo proposto pelo o art. 187 da Lei 6.404/76. De acordo com essa legislação estabelece
a DRE inicie com o valor total da receita bruta apurada nas operações de vendas e ser-
viços, subtraindo-se as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos sobre estas
receitas, apurando-se a receita líquida das vendas e serviços.
Entretanto, as normas internacionais de contabilidade, a partir do CPC 47 (2016)
que discorre sobre Receita de Contrato com Cliente, determinam que a divulgação se inicie
pelas receitas líquidas, para conciliar o determinado pela Lei das Sociedade por Ações,
bem como o exigido pela legislação fiscal, escrituram-se as receitas brutas e as diminui-
ções destas receitas, mas a demonstração é feita a partir das receitas líquidas, sendo que
a conciliação entre ambas é evidenciada em notas explicativas.
Ao analisar as normas contábeis, até 2014, os Pronunciamentos Técnicos do CPC
continham várias normas que abordavam questões relacionadas à identificação, reconhe-
cimento, mensuração e divulgação de receita de vendas, todos os pronunciamentos foram
substituídos pelo CPC 47/IFRS 15. Tais substituições foram necessárias, devido a grande
quantidade de normas que orientavam sobre as receitas, porem se tornavam insuficientes
para orientar a contabilização de receitas oriundas de transações mais complexas.
De forma geral, o CPC 47 (2016) é aplicado na contabilização de receitas de to-

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 34


dos os contratos com clientes, nos quais se vendam produtos ou serviços, inclusive de
construção, porém algumas transações de compra e venda estão fora desse pronuncia-
mento, são elas: Contratos de arrendamento dentro do alcance do CPC 06 – Operações
de Arrendamento Mercantil; Contratos de seguro dentro do alcance do CPC 11 – Contratos
de Seguro; Instrumentos financeiros e outros direitos ou obrigações contratuais dentro do
alcance do CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração, do CPC
36 – Demonstrações Consolidadas, do CPC 19 – Negócios em Conjunto, do CPC 35 –
Demonstrações Separadas e do CPC 18 – Investimento em Coligada, em Controlada e
em Empreendimento Controlado em Conjunto; e permutas não monetárias entre entidades
na mesma linha de negócios para facilitar vendas a clientes ou clientes potenciais. Por
exemplo, este pronunciamento não se aplica a contrato entre duas empresas do setor de
óleo e gás que pactuem a permuta de petróleo para satisfazer a demanda de seus clientes
em diferentes locais especificados, de forma tempestiva.

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 35


2. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE (DRA)

O CFC (2011a), seguindo as normas internacionais de contabilidade e CPC 26 - R1


(2011), instituiu a obrigatoriedade de elaboração da Demonstração do Resultado Abran-
gente (DRA). Essa demonstração apresenta as receitas, despesas e outras mutações que
afetam o patrimônio líquido, mas que não são reconhecidas (ou não foram reconhecidas
ainda) na Demonstração do Resultado, seguindo o que determinam os Pronunciamentos,
Interpretações e Orientações que regulam a atividade contábil. Tais receitas e despesas
são identificadas como “outros resultados abrangentes” e, de acordo com o CPC 26 - R1
(2011) compreendem os seguintes itens:
a) variações na reserva de reavaliação quando permitidas legalmente (veja
Pronunciamentos Técnicos CPC 27 – Ativo Imobilizado e CPC 04 – Ativo
Intangível);
b) ganhos e perdas atuariais em planos de pensão com benefício definido
reconhecidos conforme item 93A do Pronunciamento Técnico CPC 33 – Be-
nefícios a Empregados;
c) ganhos e perdas derivados de conversão de demonstrações contábeis de
operações no exterior (ver Pronunciamento Técnico CPC 02 – Efeitos das
Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis);
d) ajuste de avaliação patrimonial relativo aos ganhos e perdas na remen-
suração de ativos financeiros disponíveis para venda (ver Pronunciamento
Técnico CPC 48 – Instrumentos Financeiros);
e) ajuste de avaliação patrimonial relativo à efetiva parcela de ganhos ou
perdas de instrumentos de hedge em hedge de fluxo de caixa (ver também
CPC 48).

A Demonstração do Resultado Abrangente pode ser apresentada dentro da De-


monstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), como veremos no mais para
frente, ou através de relatório próprio, sendo que o CPC sugere que se faça uso da apre-
sentação na DMPL. Quando apresentada em demonstrativo próprio, a DRA tem como
valor inicial o resultado líquido do período apurado na DRE, seguido dos outros resultados
abrangentes, conforme estrutura mínima para a Demonstração do Resultado Abrangente
estabelecida pelo CPC 26 (R1):

• resultado líquido do período;


• cada item dos outros resultados abrangentes classificados conforme sua natu-
reza (exceto montantes relativos ao item c;
• parcela dos outros resultados abrangentes de empresas investidas reconhecida
por meio do método de equivalência patrimonial; e
• resultado abrangente do período.

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 36


A DRA, pelas normas internacionais, pode ainda ser apresentada como continuida-
de da DRE, mas no Brasil o CPC determinou que fosse como um relatório à parte.

Quadro 03: Demonstração do Resultado Abrangente de 2018.

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE EM 31.12.X0 - R$


Lucro Líquido do Exercício   272.000,00
Parcela dos Sócios da Controladora 250.000,00  
Parcela dos Não controladores 22.000,00  
(-) Ajustes de Instrumentos Financeiros   60.000,00
Tributos sobre Ajustes de Instrumentos Financeiros   20.000,00
Equivalência Patrimonial sobre Ganhos Abrangentes de
Coligadas   30.000,00
Ajustes de Conversão do Período   260.000,00
(-) Tributos sobre Ajustes de Conversão do Período   90.000,00
Outros Resultados Abrangentes Antes da Reclassificação   160.000,00
Ajustes de Instrumentos Financeiros Reclassificados para
Resultado   10.600,00
Outros Resultados Abrangentes   170.600,00
Parcela dos Sócios da Controladora 164.600,00  
Parcela dos Não Controladores 6.000,00  
Resultado Abrangente Total (6)    
  442.600,00  
Parcela dos Sócios da Controladora 414.600,00  
Parcela dos Não Controladores 28.000,00  

Fonte: Modelo adaptado do Apêndice A do CPC 26 – R1 (2011)

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 37


3. DEMONSTRAÇÃO DOS LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS (DLPA)

A Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados é uma das demonstrações


obrigatórias para as sociedades limitadas e outros tipos de empresas que são tributadas
com base no Lucro Real, de acordo com a legislação do Imposto de Renda. De acordo com
o Art. 176 da lei n° 6.404/76:
“Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na es-
crituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras,
que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e
as mutações ocorridas no exercício:
 I - balanço patrimonial;
 II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados;
 III - demonstração do resultado do exercício;
 IV - demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação dada pela Lei nº 11.638,de
2007)
 V - se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. (Incluído pela
Lei nº 11.638,de 2007)” (BRASIL, 1976).

Essa demonstração segundo Ribeiro (2017) é um relatório contábil que evidencia


o movimento ocorrido na conta Lucros ou Prejuízos Acumulados durante o exercício social.
De acordo com o § 2º do artigo 186 da Lei nº 6.404/76 a Demonstração dos Lucros ou
Prejuízos Acumulados poderá ser incluída na Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido (DMPL), se elaborada e divulgada pela companhia, pois não inclui somente o mo-
vimento da conta dos lucros ou prejuízos acumulados, mas também o de todas as demais

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 38


contas do patrimônio líquido. Veremos sobre a DMPL na seção 4 desse capítulo.
As empresas brasileiras lidam com uma série de obrigações acessórias, que de-
vem ser evidenciadas para o Governo, tornando esse trabalho burocrático. Além disso, ao
informar estes dados aumenta a transparência do empreendimento, dando credibilidade
à empresa. A Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DPLA) fornece infor-
mações de extrema importância para os usuários da contabilidade, pois a partir dessa de-
monstração é possível identificar os períodos em qual houve lucros e prejuízos, facilitando
o entendimento da viabilidade econômica para determinados investimentos, pode-se citar
como exemplo, a compra de novos equipamentos ou a expansão do negócio.
Na seção IV da lei n° 6.404/76 o Art.186 explica o que a demonstração dos lucros
ou prejuízos acumulados deverá discriminar:
“I - o saldo do início do período, os ajustes de exercícios anteriores e a corre-
ção monetária do saldo inicial;
II - as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício;
III - as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros in-
corporada ao capital e o saldo ao fim do período.
§ 1º Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas
os decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da
retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não
possam ser atribuídos a fatos subsequentes.
§ 2º A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá indicar
o montante do dividendo por ação do capital social e poderá ser incluída
na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e
publicada pela companhia.” (BRASIL, 1976).

A partir da Lei n° 11.638/07, a conta Lucros ou Prejuízos Acumulados foram ex-


cluídos do Patrimônio Líquido, mantendo apenas a conta Prejuízos Acumulados. A partir
dessa nova legislação, as companhias de sociedade por ações, devem destinar todo o lucro
líquido apurado no final de cada exercício social, utilizando-o na compensação de prejuízos
acumulados, para constituir reservas, para o aumento de capital ou na distribuição aos
acionistas. Por orientação do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, essa proibição fi-
cou restrita às sociedades por ações. Assim, as demais companhias constituídas sob outra
forma jurídica que não a de sociedade por ações, podem manter no Balanço Patrimonial,
a conta Lucro Acumulados ou a conta Lucros ou Prejuízos Acumulados com saldo credor
para futuras destinações.
Para se elaborar a DLPA, basta coletar os dados diretamente do Livro Razão das
contas envolvidas. A DLPA pode ser apresentada no seguinte Modelo, conforme o Quadro
4 a seguir:

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 39


Quadro 04: Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA).

Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)


Companhia:
Exercício findo em:
Descrição X0 X1
1. Saldo no Início do Período
2. Ajustes de Exercícios Anteriores
3. Saldo Ajustado
4. Lucro ou Prejuízo do Exercício
5. Reversão de Reservas
6. Saldo a Disposição
7. Destinação do Exercício

Reserva Legal

Reserva Estatutária

Reserva para Contingência

Outras Reservas

Dividendos Obrigatórios (R$ por ação)

Juros sobre Capital Próprio


8. Saldo no Fim do Exercício

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

A seguir temos um exemplo de DLPA:

A companhia Lactose S/A apurou um lucro líquido de R$ 650.000,00 no exercício


de 2018. Sabe-se que a companhia tinha R$ 21.000,00 de Reserva para Contingência e
R$35.000,00 de Reserva Legal no período anterior (2017). Segundo o estatuto da compa-
nhia, ela deve destinar para Reserva Legal 5% do lucro líquido do exercício, para Reserva
Contingência 3%, e o restante a companhia distribui em Dividendos Obrigatórios, sabendo
que a empresa tem 1.000.000 (um milhão) de ações. Elabore a Demonstração dos Lucros
ou Prejuízos Acumulados do exercício de 2018:

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 40


Quadro 05: Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) 2018
Lactose LTDA.

Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)


Companhia: Lactose LTDA
Exercício findo em: 31 de Dezembro de 2018
Descrição 2017 2018
1. Saldo no Início do Período
2. Ajustes de Exercícios Anteriores
3. Saldo Ajustado
4. Lucro ou Prejuízo do Exercício R$700.000,00 R$ 650.000,00
5. Reversão de Reservas
6. Saldo a Disposição
7. Destinação do Exercício
R$ 35.000,00 R$ 32.500,00
Reserva Legal

Reserva Estatutária R$ 21.000,00


R$ 19.500,00
Reserva para Contingência R$ 0,642
Outras Reservas
R$0,598
Dividendos Obrigatórios (R$ por ação)

Juros sobre Capital Próprio


8. Saldo no Fim do Exercício R$ 0,00 R$ 0,00

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

No exemplo da companhia Lactose S/A, por se tratar de uma sociedade por ações,
o seu lucro do período deve ser distribuído, não podendo ser acumulado, de acordo com Lei
n° 11.638/07. Dessa forma o saldo no final do exercício sempre será R$ 0,00 em períodos
em que a companhia tiver lucro.

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 41


4. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)

A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido evidencia as alterações que


ocorreram no patrimônio líquido das organizações em termos globais (novas integralizações
de capital, resultado do exercício, ajustes de exercícios anteriores, dividendos, ajuste de
avaliação patrimonial etc.) e em termos de mutações internas (incorporações de reservas
ao capital, transferências de lucros acumulados para reservas e vice-versa etc.)
A DMPL nunca foi obrigatória pela Lei das Sociedades Anônimas n°6.404/76, mas
a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a partir da Instrução n° 59/86 passou a exigir
das companhias de capital aberto a publicação. A partir do Pronunciamento Técnico CPC
26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, aprovado pela CVM em sua Delibera-
ção n°595/09 e pelo CFC n° 1.185/09. Assim, a DMPL passou a fazer parte do conjunto
completo das demonstrações contábeis, sendo assim, obrigatória às companhias de capital
aberto, substituindo a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA).
As informações disponibilizadas na DMPL são de suma importância para a tomada
de decisão dos usuários da contabilidade, uma vez que indica as movimentações ocorridas
durante o período nas diversas contas que compõe o Patrimônio Líquido, demonstrando a
o fluxo de uma conta para outra, indicando o valor de origem, acréscimo ou diminuição no
Patrimônio Líquido. Ao entender o conceito da DMPL, pode se verificar que essa demons-
tração é mais importante que a DLPA, pois além de evidenciar a movimentação de todas
as contas do Patrimônio Líquido, e não somente dos Lucros ou Prejuízos Acumulados,
também indica claramente a formação e a utilização de todas as reservas, e não apenas
das originadas por lucros.
A DMPL complementa as demais demonstrações, como o Balanço Patrimonial e
da Demonstração do Resultado, pois ela pode ser utilizada para tomada de decisão dos
usuários contábeis. Essa demonstração é importante para as companhias que possuem
um Patrimônio Liquido formado por diversas contas com muitas transações. A formação e
a utilização das reservas, originadas ou não pelos lucros estarão disponibilizadas na DMPL.
A utilização dessa demonstração pelas companhias que para avaliam seus investimentos
permanentes em coligadas e controladas, pelo método de equivalência patrimonial se torna
muito útil para tomada de decisões.
O Pronunciamento Técnico CPC 26 - R1 (2011) – Apresentação das Demonstrações
Contábeis, traz os requisitos gerais, estruturas e conteúdo básico para apresentação da
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, segundo o item 106 do CPC 26 - R1
(2011), “A entidade deve apresentar na demonstração das mutações do patrimônio líquido”:

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 42


• O resultado abrangente do período, apresentando separadamente o
montante total atribuível aos proprietários da entidade controladora e o
montante correspondente à participação de não controladores;
• Para cada componente do patrimônio líquido, os efeitos da aplicação re-
trospectiva ou da reapresentação retrospectiva, reconhecidos de acordo
com o Pronunciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança
de Estimativa e Retificação de Erro;
• Para cada componente do patrimônio líquido, a conciliação do saldo no
início e no final do período, demonstrando-se separadamente (no míni-
mo) as mutações decorrentes:
• do resultado líquido;
• de cada item dos outros resultados abrangentes; e
• de transações com os proprietários realizadas na condição de pro-
prietário, demonstrando separadamente suas integralizações e as
distribuições realizadas, bem como modificações nas participações
em controladas que não implicaram perda do controle.

Segundo o CPC 26 – R1 (2011), para cada componente do patrimônio líquido, a


entidade deve apresentar, ou na demonstração das mutações do patrimônio líquido ou nas
notas explicativas, uma análise dos outros resultados abrangentes por item. O patrimônio
líquido deve apresentar o capital social, as reservas de capital, os ajustes de avaliação
patrimonial, as reservas dos lucros, as ações ou quotas em tesouraria, os prejuízos acu-
mulados, se legalmente admitidos os lucros acumulados e as demais contas exigidas pelos
Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo CPC. A entidade deve apresentar, na demons-
tração das mutações do patrimônio líquido ou nas notas explicativas, o montante de divi-
dendos reconhecidos como distribuição aos proprietários durante o período e o respectivo
montante dos dividendos por ação.
A preparação da DMPL traz de forma simples e coordenada, as movimentações que
ocorreram durante o exercício nas diversas contas ou subgrupos do Patrimônio Líquido,
como: Capital Social, Reservas de Capital, Reservas de Lucros, Reservas de Reavaliação
(quanto permitida por Lei), Ajustes de Avaliação Patrimonial, Lucros ou Prejuízos Acumula-
dos etc. Essa movimentação deve ser extraída dos registros contábeis.
As contas que estão classificadas no Patrimônio Líquido podem ser impactadas por
variações de inúmeros motivos, na quais podem ou não afetar o patrimônio total.
Dos itens que afetam o patrimônio total de acordo do CFC (2011a) são:
• Acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício.
• Redução por dividendos.
• Redução por pagamento ou crédito de juros sobre o capital próprio.
• Acréscimo por reavaliação de ativos (quando permitida por Lei).
• Acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos
(após transitarem pelo resultado).

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 43


• Acréscimo por subscrição e integralização de capital.
• Acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das
ações integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor nomi-
nal.
• Acréscimo pelo valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de
subscrição.
• Acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures (após transitar
pelo resultado).
• Redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda.
• Acréscimo ou redução por ajustes de exercícios anteriores.
• Redução por reversão da Reserva de Lucros a Realizar para a conta de
dividendos a pagar.
• Acréscimo ou redução por outros resultados abrangentes.
• Redução por gastos na emissão de ações.
• Ajuste de avaliação patrimonial.
• Ganhos ou perdas acumulados na conversão etc.

Dos itens que NÃO afetam o patrimônio total de acordo do CFC (2011a) são:

• Aumento de capital com utilização de lucros e reservas.


• Apropriações do lucro líquido do exercício, por meio da conta de Lucros
Acumulados, para a formação de reservas, como Reserva Legal, Reser-
va de Lucros a Realizar, Reserva para Contingência e outras.
• Reversões de reservas patrimoniais para a conta de Lucros ou Prejuízos
Acumulados (conta transitória).
• Compensação de Prejuízos com Reservas etc.

A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido pode ser elaborada de duas


formas segundo o CPC 26 – R1 (2011), com ou sem a evidenciação da Demonstração do
Resultado Abrangente (DRA).
Quadro 06: Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)

Reservas
de Capital,
Opções Reser- Lucros ou Outros Re- Patrimônio
Capital So-
Outor- vas de Prejuízos sultados Líquido
cial Integra-
gadas e Lucros Acumula- Abrangen- Consolida-
lizado
Ações em (2) dos tes (3) do
Tesouraria
(1)
Saldos Iniciais
Aumento de Capital
Gastos com Emissão de
Ações
Opções Outorgadas Re-
conhecidas

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 44


Ações em Tesouraria Ad-
quiridas
Ações em Tesouraria
Vendidas
Dividendos
Transações de Capital
com os Sócios
Lucro Líquido do Pe-
ríodo
Ajustes Instrumentos Fi-
nanceiros
Tributos s/ Ajustes Ins-
trumentos Financeiros
Equiv. Patrim. s/ Ganhos
Abrang. de Coligadas
Ajustes de Conversão do
Período
Tributos s/ Ajustes de
Conversão do Período
Outros Resultados
Abrangentes
Reclassific. p/ Resultado
– Aj. Instrum. Financ.
Resultado Abrangente
Total
Constituição de Reser-
vas
Realização da Reserva
Reavaliação
Tributos sobre a Realiza-
ção da Reserva de Rea-
valiação
Saldos Finais

Fonte: Modelo adaptado do Apêndice A do CPC 26 – R1 (2011)

Observa-se que, no modelo apresentado pelo CPC 26 (R1), a coluna de Lucros ou


Prejuízos Acumulados evidencia as informações que seriam divulgadas pela Demonstração
dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), prevista na Lei n o 6.404/76, mas caída em
desuso, por Deliberação da CVM e Resolução do CFC citadas anteriormente, quando a
DMPL passou a ser incluída como uma demonstração contábil obrigatória.
Pode se seguir os procedimentos abaixo para a elaboração da DMPL:

a) abrir um papel de trabalho, ou uma planilha eletrônica, dividido em colunas, no


qual se transcrevem, no topo de cada coluna, os nomes das contas ou sub-
grupos, reservando espaço na primeira coluna para descrição da natureza das
transações, e a coluna final para o patrimônio líquido total; no caso de demons-
tração consolidada, há a coluna da subsoma das contas que representam o

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 45


patrimônio líquido dos sócios da controladora, o que como regra é o patrimônio
líquido da própria controladora.
b) saldo de abertura – transcrever os saldos de cada conta ou subgrupo na data
do Balanço final do exercício anterior. Somar os saldos por conta/subgrupo para
preencher a coluna patrimônio líquido total;
c) adicionar ou subtrair os movimentos ocorridos nas referidas contas, no período,
abrindo linhas para cada natureza de transação, primeiramente as relativas às
transações de capital com os sócios;
d) adicionar ou subtrair os movimentos ocorridos nas contas próprias relativas aos
resultados abrangentes, começando pelo resultado líquido do período, depois
os demais resultados abrangentes e, finalmente, as reclassificações para o
resultado;
e) adicionar ou subtrair os movimentos das demais mutações internas do patrimô-
nio líquido;
f) totalizar, ao final, as colunas, cujos saldos devem coincidir com os saldos do
Balanço Patrimonial, e totalizar também as linhas.

Ao analisar o momento de decidir quais contas serão apresentadas de forma ana-


lítica na própria estrutura da DMPL ou em quadros e notas complementares, a companhia
deve levar em consideração a relevância e materialidade. A divulgação de uma quantidade
excessiva de colunas na DMPL, incluindo contas que não apresentam saldos materiais, não
contribui para maior transparência e relevância das demonstrações contábeis, já que difi-
culta a visualização e compreensão das mutações patrimoniais que ocorreram no período.
A companhia, visando, dar maior transparência as suas informações a divulgação de forma
analítica podem serem feitas tanto em notas explicativas quanto em quadros auxiliares.

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 46


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), na Unidade 2, foi abordado sobre as demonstrações que envolvem


as movimentações que afetam o Patrimônio Líquido. Analisamos os conceitos que envol-
vem a Demonstração do Resultado (DR), Demonstração do Resultado Abrangente (DRA),
Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados (DLPA) e Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido (DMPL). Tais conhecimentos corroboram para a sua aprendizagem
na disciplina Contabilidade Societária e no âmbito da Contabilidade de forma geral. Vimos
que a Demonstração do Resultado é um tipo de demonstração que tem como objetivo
principal compilar as informações da companhia a fim de formar o resultado líquido do
exercício, ou seja, o lucro ou prejuízo do período. A DRA demonstra as variações sofridas
no patrimônio líquido que poderão futuramente transitar pelo resultado ou serem alocados
diretamente para a conta Lucros ou Prejuízos Acumulados. A DLPA é utilizada para mostrar
as mudanças que ocorreram no Patrimônio Líquido no período e onde ele foi aplicado. A
DMPL demonstra todas as movimentações ocorridas no patrimônio líquido da organização
em determinado período, além da formação de todas as reservas. Essas demonstrações
tem um papel fundamental na tomada de decisões por parte usuários da contabilidade, pois
concentram informações de relevantes para a tomada de decisões.

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 47


Leitura Complementar

Caso Eron: Um dos maiores escândalos contábeis

Schmitt, Cecília. Entenda o Caso Enron.

O ano de 2001 pode ser considerado como determinante para a economia mundial.
Não só pelo atentado ao World Trade Center, mas por um acontecimento que mudará para
sempre a relação entre empresas e investidores. Tão alarmada e discutida (motivo de mais
de 50 reportagens em publicações de peso), a queda da Enron abala o mercado mais do
que a queda das torres gêmeas. Com seu pedido de concordata, suas ações que já haviam
caído de 90 dólares (agosto de 2000) atingiram um mínimo de 11 centavos em janeiro de
2002. Como pode um gigante com capitalização de mais de 50 bilhões de dólares implodir
em apenas um ano? A 6° maior empresa de energia do mundo em capitalização de merca-
do. Um conglomerado sediado em Houston, Texas, que faturou US$101 bilhões de dólares
em 2000. A 7° maior empresa dos EUA em faturamento segundo a publicação Fortune 500.
A Enron tem 25.000 milhas de gasodutos e uma rede de fibra óptica de 18.000 milhas.

Para entender o caso todo, que envolve os movimentos contábeis utilizados pela
Enron, acesse:
http://www.provedor.nuca.ie.ufrj.br/eletrobras/artigos/schmitt1.htm

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 48


Material Complementar

LIVRO
Curso de Contabilidade Avançada em IFRS e CPC
Autor: Marcelo Cavalcanti Almeida
Editora: Atlas.

FILME
Margin Call - O Dia Antes do Fim
Ano: 2011
Sinopse: O filme retrata a crise financeira de 2008 e o papel dos
responsáveis em todo o processo. A trama se passa durante as 24
horas que antecederam o início da crise e tem como palco central
uma corretora imobiliária. Destarte, serão vislumbrados como
agem os tomadores de decisão, que são os usuários da Contabi-
lidade Societária.

VÍDEO
Neste vídeo é comentado sobre um assunto polêmico no mundo contábil, qual seja o pa-
trimônio líquido. É explicado se o Patrimônio Líquido é um grupo contábil (juntamente com
Ativos e Passivos) ou se é subgrupo do Passivo.
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=WfrHwDJy6PM&t=9s>. Acesso em: 14
mai. 2019.

UNIDADE II Demonstrações Contábeis Relacionadas ao Lucro 49


UNIDADE III
Demonstração do Fluxo de Caixa e
Demonstração do Valor Adicionado
Professor Me. Matheus Henrique Delmonaco.
Professor Me. Rodrigo Gaspar de Almeida.

Objetivos de Aprendizagem

● Conhecer a Demonstração dos Fluxos de Caixa.


● Calcular o Fluxo de Caixa conforme o método direto e método indireto.
● Compreender conceitos sobre a Demonstração do Valor Adicionado
● Elaborar uma Demonstração do Valor Adicionado.

Plano de Estudo
● Demonstração do Fluxo de Caixa.
● Estrutura da Demonstração do Fluxo de Caixa conforme Método Direto e Indireto.
● Demonstração do Valor Adicionado.
● Estrutura da Demonstração do Valor Adicionado conforme legislação societária.

50
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), na Unidade III, será discorrido sobre a Demonstração do Fluxo


de Caixa e sobre a Demonstração do Valor Adicionado. O montante apurado como Caixa
é um indicador financeiro que representa o valor disponível para transferência a qualquer
organização ou pessoa, para que a organização possa atingir os seus objetivos. E o Valor
Adicionado, é uma forma de a organização demonstrar à sociedade e demais stakeholders
qual é a sua contribuição (riqueza distribuída) em valores monetários.
Primeiramente, você irá conhecer a Demonstração do Fluxo de Caixa, nesse senti-
do, você terá contato com as definições de Caixa e Equivalentes de Caixa, e será abordado
sobre a norma contábil específica para apurar o fluxo de caixa das organizações, qual
seja a NBC TG 3 – Demonstração do Fluxo de Caixa. Nesse tópico, você conhecerá as
definições dos três tipos de fluxo de caixa das organizações.
Prosseguindo, você irá conhecer como calcular o Fluxo de Caixa de acordo com a
legislação societária. Ressalta-se que o Fluxo de Caixa é obtido pela soma dos 3 fluxos de
caixa quais sejam fluxos operacionais, investimentos e financiamentos. Os métodos para
apuração do fluxo de caixa são: método direto e método indireto.
O tópico seguinte servirá para compreender conceitos sobre a Demonstração do
Valor Adicionado, a qual também faz parte das demonstrações contábeis, no entanto, não
é compulsória para todas as organizações, apenas para um grupo restrito de organizações.
Nesse sentido, você irá conhecer o que é valor adicionado, o que é riqueza gerada, riqueza
distribuída, entre outros conceitos abordados na NBC TG 09 – Demonstração do Valor
Adicionado, o qual é específico dessa demonstração contábil.
Por fim, você irá compreender como elaborar uma Demonstração do Valor Adiciona-
do, assim, você irá calcular os montantes de riqueza gerada, bem como resolver exercícios
sobre distribuição de riqueza, além de conhecer a estrutura da Demonstração do Valor
Adicionado segundo legislação societária.
Bons estudos!

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 51


1. DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA.

Caro(a) aluno(a), até a Unidade II, as demonstrações contábeis apresentadas,


foram elaboradas sob o Princípio da Competência, o qual determina que a organização
deve reconhecer receitas e despesas assim que os critérios de reconhecimento forem sa-
tisfeitos (mesmo sem ter o efetivo recebimento dos fluxos de caixa, por exemplo as vendas
a prazo). Assim, o valor apurado como Lucro pode não corresponder ao valor de Caixa nas
organizações.
Nesta Unidade, você aprenderá a calcular o Fluxo de Caixa das organizações,
que é um indicador financeiro das atividades da organização e necessário para honrar os
compromissos financeiros das organizações. Se uma organização vende seus produtos
a prazo e paga seus fornecedores de matéria-prima à vista, se não tiver cuidado pode ter
dificuldades financeiras em período futuros e ter que recorrer a empréstimos bancários para
saldar suas dívidas.
Menciona-se que antes da Lei 11.638/2007, as organizações apresentavam as
informações sobre os Fluxos de Caixa na Demonstração das Origens e Aplicações dos
Recursos (D.O.A.R). Com o advento das normas internacionais de Contabilidade e dada a
Relevância do tema Caixa nas organizações, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
aprovou a NBC TG 03 – Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) (CFC, 2016). Assim, a
DFC é um dos relatórios que compõem o conjunto das demonstrações contábeis.
O CFC (2016) traz as seguintes definições para Caixa das Organizações (Quadro 01):

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 52


Quadro 01: Definições e Termos envolvendo Fluxo de Caixa do CPC 03.

Caixa Compreende numerário em espécie e depósitos bancários dis-


poníveis.
Equivalentes de Caixa São aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que
são prontamente conversíveis em montante com baixos riscos.
Fluxos de caixa Referem-se as entradas e saídas de caixa e equivalentes de
caixa.

Fonte: elaborado com base em CFC (2016 p. 3).

O montante de Caixa ou equivalente de Caixa, representa um montante que pode


ser transferido facilmente a qualquer indivíduo ou organização. Diferente de um item do
estoque ou um item do imobilizado o qual demora a se tornar caixa ou fluxo de caixa (possui
menor liquidez).
Além disso, as informações sobre o Caixa são relevantes para os usuários da
informação, tendo em vista que o reconhecimento de despesas e receitas pelo regime de
competência pode acarretar distorções na apuração do Lucro (por exemplo os accruals).
O CFC (2016) denotou que existem 3 tipos de fluxos de caixa nas organizações
(Quadro 02):

Quadro 02: Tipos de Fluxo do Caixa das organizações conforme o CPC 03.

Fluxo de Caixa das Ativi- São as principais atividades geradoras de receita da entidade
dades operacionais e outras atividades que não são de investimento e tampouco
de financiamento.
Fluxo de Caixa das Ativi- Referem-se à aquisição e à venda de ativos de longo prazo
dades de Investimento e de outros investimentos não incluídos nos equivalentes de
caixa.
Fluxo de Caixa das Ativi- Resultam em mudanças no tamanho e na composição do capi-
dades de Financiamento tal próprio e no capital de terceiros da entidade.

Fonte: elaborado com base em CFC (2016, p. 3).

Os 3 fluxos de caixa (operacionais, financiamento e investimento) são somados e


resultam no fluxo de Caixa do Período (CFC, 2016).
São exemplos de atividades que geram entradas e saídas de Fluxo de Caixa das
atividades operacionais (Quadro 03):

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 53


Quadro 03: Exemplos de entradas e saídas de Caixa das atividades operacionais

Entradas de Caixa das atividades operacio- Saídas de Caixa das atividades opera-
nais cionais
Recebimentos de caixa pela venda de produ- Pagamentos de caixa a fornecedores de
tos, mercadorias e prestação de serviços matéria-prima ou outro insumo de produ-
ção.
Recebimentos de caixa decorrentes de royal- Pagamentos de salários dos funcionários
ties, honorários, comissões e outras receitas.
Recebimentos de caixa por seguradora ou ou- Pagamentos de impostos sobre o fatura-
tros benefícios da apólice mento

Fonte: elaborado com base em CFC (2016, p. 5).

São exemplos de atividades que geram entradas e saídas de Fluxo de Caixa das
atividades de investimento (Quadro 04):

Quadro 04: Exemplos de entradas e saídas de Caixa das atividades de investimento

Entradas de Caixa das atividades de investi- Saídas de Caixa das atividades de


mento investimento
Recebimentos de caixa resultantes da venda de Pagamentos em caixa para aquisição
equipamentos ou outros imobilizados. de ativo imobilizado ou intangíveis de
longo prazo.
Recebimentos de caixa provenientes da venda de Pagamentos em caixa para aquisição
instrumentos patrimoniais ou de dívida. de instrumentos patrimoniais ou de dí-
vida de outras entidades.
Recebimentos de caixa pela liquidação de adian- Adiantamentos em caixa e emprésti-
tamentos ou amortização de empréstimos conce- mos feitos a terceiros.
didos a terceiros.

Fonte: elaborado com base em CFC (2016, p. 6).

São exemplos de atividades que geram entradas de Fluxo de Caixa das atividades
de financiamento (Quadro 05):

Quadro 05: Exemplos de entradas e saídas de Caixa das atividades de financiamento

Entradas de Caixa das atividades de finan- Saídas de Caixa das atividades de


ciamento financiamento
Caixa recebido pela emissão de ações ou ou- Pagamentos em caixa a investidores
tros instrumentos patrimoniais. para adquirir ou resgatar ações da enti-
dade.
Caixa recebido pela emissão de debêntures, Amortização de empréstimos e financia-
empréstimos, notas promissórias e outros títu- mentos.
los de dívida.
Fonte: elaborado com base em CFC (2016, p. 7-8).

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 54


Outrossim, a apuração do montante de lucro, considera receitas e despesas que
não provocam entradas ou saídas de caixa, no entanto, diminuem o lucro. São exemplos
de receitas e despesas que não provocam a saída de caixa, mas que reduzem o valor do
Lucro: despesas com depreciação de ativos imobilizados, reconhecimento de provisões
para perdas com processos judiciais, provisão para férias e 13º salários, entre outros.
Assim, a DFC irá demonstrar aos usuários quais recebimentos e pagamentos foram
efetivamente realizados no período de apuração. A importância da gestão de Caixa de uma
organização se justifica pelo fato de que uma organização que negligencia os prazos de
pagamento junto aos fornecedores, clientes ou instituições de crédito pode incorrer em des-
pesas financeiras (pagamento de juros e multa) e dependendo do valor, pode apresentar
um desencaixe no fluxo financeiro da organização.
Destarte, um alto montante em Caixa não sinaliza uma boa gestão Financeira, haja
vista que aquele montante poderia estar aplicado e rendendo juros (receitas financeiras).
Para que você possa aplicar os conceitos abordados acima, será apresentado um
exercício resolvido, que exemplificará a apuração do saldo de fluxo de caixa. Cabe men-
cionar, que ainda não se trata da estrutura da DFC, é apenas um exemplo de apuração de
caixa.

Exercício Resolvido 1

A organização Varejista LTDA (fictícia) deseja apurar o saldo em caixa em


31/12/20x1. Ocorreram as seguintes entradas de fluxos de caixa decorrentes das atividades
operacionais:
Outubro/20x1 – Receitas de Venda de Mercadorias R$ 400.000,00, sendo que
até 31/10/20x1, foram recebidos R$ 140.000,00 e em 10/11/20x1 serão recebidos R$
260.000,00.
Novembro/20x1: Receitas de Venda de Mercadorias R$ 500.000,00, sendo que
até 30/11/20x1, foram recebidos R$ 200.000,00 e em 10/12/20x1 serão recebidos R$
300.000,00.
Dezembro/20x1: Receitas de Venda de Mercadorias R$ 600.000,00 sendo que até
30/12/20x1, R$ 300.000,00 e em 10/01/20x2 serão recebidos R$ 300.000,00 (esse valor
não vai compor o fluxo de caixa, porque é referente ao próximo período, irá ser informado
no Balanço Patrimonial como duplicatas a receber).
Ocorreram as seguintes saídas de fluxos de caixa decorrentes das atividades ope-
racionais:

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 55


Outubro/20x1: compra de matéria prima por R$ 60.000,00, sendo que 50% foram
pagos à vista (em 10/10/20x1) e os demais para pagamento em 10/11/20x1. Mão de Obra
(Funcionários): R$ 88.000,00. Aluguel: R$ 6.000,00. Pagamento de Impostos sobre a Re-
ceita: R$ 122.660,00. Pagamento de Impostos sobre o Lucro R$ 50.000,00.
Novembro/20x1 – compra de matéria prima por R$ 50.000,00, sendo que 50%
foram pagos à vista (até 30/11/20x1) e os demais para pagamento em 10/12/20x1. Mão de
Obra (Funcionários): R$ 88.000,00. Aluguel: R$ 6.000,00. Pagamento de Impostos sobre a
Receita: R$ 122.660,00. Pagamento de Impostos sobre o Lucro R$ 40.000,00.
Dezembro/20x1 – compra de matéria prima por R$ 40.000,00, sendo que 50%
foram pagos à vista (até 31/12/20x1) e os demais para pagamento em 10/01/20x2. Mão de
Obra (Funcionários): R$ 88.000,00. Aluguel: R$ 6.000,00. Pagamento de Impostos sobre a
Receita: R$ 140.500,00. Pagamento de Impostos sobre o Lucro R$ 36.000,00.
Em 01/10/20x1, a organização Varejista possuía um saldo em Caixa de R$
10.000,00.
Com base nestas informações, qual foi o saldo em Caixa da Varejista LTDA?

Resolução = Perceba que nos meses de novembro de dezembro haverá recebi-


mentos e pagamentos referentes a receitas e despesas de meses anteriores. Ademais, há
a informação de um saldo inicial de R$ 10.000,00. Para melhor visualização do fluxo de
caixa e para auxiliar no cálculo do saldo de caixa de dezembro/20x1, vamos elaborar um
quadro com os valores de receitas e despesas fornecidos:

Quadro 06: Apuração do Saldo do Caixa da Varejista LTDA.

Mês Outubro Novembro Dezembro


Descrição
Saldo Inicial R$ 10.000,00 - (R$ 146.600,00) R$ 1.740,00
(+) Entradas de Cai- R$ 140.000,00 R$ 460.000,00 R$ 600.000,00
xa
Recebimentos á Vista R$ 140.000,00 R$ 200.000,00 R$ 300.000,00
de Serviços (30/10/20x1) (30/11/20x1) (30/12/20x1)
Recebimentos a Pra- R$ 0,00 R$ 260.000,00 R$ 300.000,00
zo de Serviços (10/11/20x1) (10/12/20x1)
(-) Saídas de Caixa (R$ 296.660,00) (R$ 311.600,00) (R$ 315.500,00)
Compras de Insumos R$ 30.000,00 R$ 25.000,00 R$ 20.000,00
à vista (31/10/20x1) (30/11/20x1) (30/12/20x1)
Compras de Insumos R$ 0,00 R$ 30.000,00 R$ 25.000,00
a prazo (10/11/20x1) (10/12/20x1)
Mão de Obra R$ 88.000,00 R$ 88.000,00 R$ 88.000,00

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 56


Aluguel R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 R$ 6.000,00
Impostos sobre a Re- R$ 122.660,00 R$ 122.600,00 R$ 140.500,00
ceita
Impostos sobre o R$ 50.000,00 R$ 40.000,00 R$ 36.000,00
Lucro
(=) Saldo Final (- R$ 146.660,00) R$ 1.740,00 R$ 286.240,00

Fonte: elaborado pelos autores.

O saldo do Caixa em 31/12/20x1 é R$ 286.240,00. Caso o gestor da Varejista


LTDA fosse avaliado pelo objetivo de manter o saldo positivo em todos os meses do último
trimestre de 20x1, no mês de outubro/20x1, não teria cumprido seu objetivo porque teve um
caixa negativo.
Caro(a) aluno(a), da mesma forma que nos exercícios anteriores, perceba que o
saldo inicial de um mês é o saldo final do mês anterior. No exercício resolvido, o saldo inicial
do mês de novembro foi o saldo final de outubro, o saldo inicial de dezembro foi o saldo final
de novembro.

Conforme já foi enfatizado nas Unidades anteriores, as atividades operacionais


das organizações são as que merecem maior atenção dos gestores dessas organizações.
Desse modo, o gerenciamento do fluxo de caixa das atividades operacionais deve receber
maior atenção. Os fatores que podem afetar o fluxo de caixa operacional são o prazo de
recebimento dos serviços, o prazo de pagamento de fornecedores, entre outras.
Todavia, as atividades operacionais não são as únicas que compõem o fluxo de
caixa total das organizações, têm-se ainda as atividades de investimento e atividades de
financiamento (CFC, 2016).
A seguir, serão apresentados 2 exercícios resolvidos para ilustrar o cálculo desses
dois tipos de fluxos de caixa.

Exercício Resolvido 2

A organização Industrial LTDA deseja apurar o seu fluxo de Investimento em 20x1.


Ocorreram os seguintes fatos na Industrial LTDA: R$ 150.000,00 relativos à venda de imo-
bilizado, R$ 15.000,00 referentes a recebimento de adiantamentos feitos a funcionários,
R$ 200.000,00 referentes a pagamento de compra de imobilizado. Qual foi o saldo final do
caixa da Industrial LTDA?

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 57


R= O primeiro passo é separar as atividades de entradas e saídas de caixa:
Entradas R$ 165.000,00: R$ 150.000,00 venda de imobilizado
R$ 15.000,00 recebimento de adiantamento.
Saídas R$ 200.000,00: R$ 200.000,00 referentes a compra de imobilizado.

Somando as entradas e subtraindo as saídas: R$ 165.000,00 – R$ 200.000,00


Fluxo de Caixa dos Investimentos: (R$ 35.000,00).

O saldo em 20x1 referente ao fluxo de investimento da Industrial LTDA é um prejuí-


zo de R$ 35.000,00. Isso significa que as atividades de investimento reduziram o Caixa da
Industrial LTDA em 20x1.

Exercício Resolvido 3

A organização Atacadista S/A deseja apurar o seu fluxo de Financiamento em 20x1.


Ocorreram os seguintes fatos na Atacadista S/A: recebimento de R$ 30.000,00 relativos
a emissão de ações na bolsa de valores, R$ 1.500,00 referentes a emissão de títulos de
dívida, R$ 20.000,00 referentes a pagamento de amortizações de empréstimos. Qual foi o
saldo final do fluxo de caixa de financiamento da Atacadista S/A?

R= O primeiro passo é separar as atividades de entradas e saídas de caixa:


Entradas R$ 31.500,00: R$ 30.000,00 emissão de ações
R$ 1.500,00 emissão de título de dívidas.
Saídas R$ 20.000,00: R$ 20.000,00 referentes a amortização de empréstimos.

Somando as entradas e subtraindo as saídas: R$ 31.500,00 – R$ 20.000,00


Fluxo de Caixa dos Investimentos: R$ 11.500,00.

O saldo em 20x1 referente ao fluxo de financiamento da Atacadista S/A é R$


11.500,00.

Exercício Resolvido 4

A organização Alvo Certo LTDA deseja conhecer o seu fluxo de caixa total de 20x1.
Sabe-se que ela teve os seguintes resultados em 20x1: saldo do fluxo operacional: R$

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 58


286.240,00, saldo do fluxo de investimento (R$ 35.000,00) (prejuízo) e saldo do fluxo de
financiamento R$ 11.500,00. Qual o fluxo de caixa de 20x1 da Alvo Certo LTDA?

R= Para apurar o fluxo de caixa total, soma-se os 3 tipos de fluxos de caixa, quais
sejam: operacional, investimento e financiamento.
Fluxo de Caixa Total: R$ 286.240,00 – R$ 35.000,00 + R$ 11.500,00
Fluxo de Caixa Total: R$ 262.740,00

O Fluxo de Caixa Total da Alvo Certo LTDA em 20x1 foi R$ 262.740,00.

Mais uma vez, reforça-se que as organizações necessitam reconhecer os seus


fluxos de caixa, porque há diferenças entre os montantes reconhecidos como lucro e os va-
lores efetivamente recebidos. A negligência da gestão financeira pode tornar a organização
inadimplente, acarretar o pagamento de multas e juros, etc (CPC, 2016).
No próximo tópico, será apresentada a estrutura da Demonstração dos Fluxos de
Caixa (DFC) conforme as normas brasileiras de contabilidade, nesse sentido, serão apre-
sentados os métodos: direto e indireto.

REFLITA
O Caixa ou equivalente de Caixa têm como característica possuir alta liquidez.
Fonte: o autor.

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 59


2. ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA CONFORME MÉ-
TODO DIRETO E INDIRETO.

Com relação à estrutura de elaboração da DFC, o CFC (2016), nos itens 18 a 21,
enfatiza-se que a organização deve apresentar os 3 tipos de fluxo de caixa, quais sejam:
atividades operacionais, de investimento e financiamento.
Especificamente, o fluxo de caixa das atividades operacionais pode ser elabora-
do segundo o Método Direto (demonstra as principais classes de recebimentos brutos e
pagamentos brutos) e Método Indireto (evidencia ajustes ao lucro líquido ou o prejuízo é
ocasionados pelos efeitos de transações que não envolvem caixa) (CFC, 2016).
Logo, quando a organização apresentar o fluxo operacional pelo método direto, a
DFC é classificada como DFC elaborada pelo método direto, da mesma maneira, quando
o fluxo operacional é elaborado pelo método indireto, a DFC é classificada como DFC
elaborada pelo método indireto. (CFC, 2016)
Conforme o CFC (2016), quando a organização elabora a DFC pelo método direto,
apresenta as informações sobre as principais classes de recebimentos brutos e de paga-
mentos brutos. São exemplos de contas apresentadas: montante de vendas, dos custos
dos produtos, mercadorias ou serviços vendidos.
Quando a organização apresenta a DFC pelo método indireto, inicia a demons-
tração pelo fluxo de caixa líquido advindo das atividades operacionais, o qual é apurado
ajustando ao lucro líquido (ou prejuízo), os efeitos de: (a) variações ocorridas no período
nos estoques e nas contas operacionais a receber e a pagar; (b) itens que não afetam o
caixa, tais como depreciação, provisões, tributos diferidos, ganhos e perdas cambiais não
realizados e resultado de equivalência patrimonial quando aplicável.
Ressalta-se que a organização pode apresentar a DFC por ambos os métodos.
Mas, quando optar pelo Método Direto, deve apresentar em notas explicativas a conciliação
entre o lucro líquido e o fluxo de caixa líquido das atividades operacionais. Tal conciliação
deve apresentar, separadamente, por categoria, os principais itens dos ajustes ao lucro
líquido ou prejuízo para apurar o fluxo de caixa líquido das atividades operacionais.
A seguir, apresenta-se os 2 métodos de elaboração da DFC conforme o CFC (2016).
No Quadro 07, refere-se ao modelo indireto da DFC e o Quadro 08, refere-se ao método
direto da DFC.

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 60


Quadro 07: Exemplo de DFC elaborada pelo Método Direto.

Demonstração do Fluxo de Caixa elaborada pelo Método Direito


Organização Exemplo LTDA
Período: 01/01/20x1 a 31/12/20x1 (em reais)
20x1 20x0
Fluxo de Caixa das atividades operacionais
(+) Recebimentos de clientes
(-) Pagamento a fornecedores e empregados
(-) Juros pagos
(-) Imposto de renda e contribuição social pagos
(-) Imposto de renda na fonte sobre dividendos recebidos
(=) Caixa líquido gerado pelas atividades operacionais
Fluxos de Caixa das atividades de investimento
(-) Compra de Imobilizado
(+) Recebimento pela venda de equipamento
(+) Juros recebidos
(+) Dividendos Recebidos
(=) Caixa líquido consumido pelas atividades de investimento
Fluxo de caixa das atividades de financiamento
(+) Recebimento pela emissão de ações
(+) Recebimento por empréstimo a longo prazo
(-) Pagamento de passivo por arrendamento
(-) Dividendos pagos
(=) Caixa líquido consumido pelas atividades de financiamento
Aumento líquido* de Caixa e equivalentes de caixa
*(aqui, soma-se os 3 tipos de caixas líquidos)
Caixa e equivalentes de caixa no início do período
Caixa e equivalentes de caixa no fim do período

Fonte: elaborado pelos autores com base em CFC (2016).

Quadro 08: Exemplo de DFC elaborada pelo Método Indireto.

Demonstração do Fluxo de Caixa elaborada pelo Método Indireto


Organização Exemplo LTDA
Período: 01/01/20x1 a 31/12/20x1 (em reais)
20x1 20x0
Fluxo de Caixa das atividades operacionais
Lucro líquido antes do IR e CSLL
Ajustes por:
Depreciação
Perda cambial
Resultado de equivalência patrimonial
Despesas de juros
Aumento nas contas a receber de clientes e outros
Diminuição nos estoques

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 61


Diminuição nas contas a pagar – fornecedores
Juros pagos
Imposto de renda e contribuição social pagos
Imposto de renda na fonte sobre dividendos recebidos
(=) Caixa líquido gerado pelas atividades operacionais
Fluxos de caixa das atividades de investimento
Compra de Imobilizado
Recebimento pela venda de equipamento
(+) Juros recebidos
(+) Dividendos Recebidos
(=) Caixa líquido consumido pelas atividades de investimento
Fluxo de caixa das atividades de financiamento
(+) Recebimento pela emissão de ações
(+) Recebimento por empréstimo a longo prazo
(-) Pagamento de passivo por arrendamento
(-) Dividendos pagos
(=) Caixa líquido consumido pelas atividades de financiamento
Aumento líquido* de Caixa e equivalentes de caixa
*(aqui, soma-se os 3 tipos de caixas líquidos)
Caixa e equivalentes de caixa no início do período
Caixa e equivalentes de caixa no fim do período

Fonte: elaborado pelos autores com base em CFC (2016).

Perceba que da mesma forma que as outras demonstrações contábeis, a DFC


apresenta informações referente ao período anterior para que haja comparabilidade das
informações.
A Demonstração do Fluxo de Caixa é compulsória para todas as organizações con-
forme a NBC TG 26 e compõe o grupo das demonstrações contábeis. No próximo tópico
será apresentada a Demonstração do Valor Adicionado (DVA).

3. DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO.

A Demonstração de Valor Adicionado (DVA) é uma demonstração Compulsória


para as Sociedades Anônimas (artigo 176 da Lei das S/A). As demais organizações não
têm a obrigação de apresenta-la junto ao conjunto de demonstrações contábeis, contudo
a sua apresentação é incentivada pelos órgãos reguladores e legisladores (BRASIL, 1976;
CFC, 2008).
Dentre o conjunto das normas brasileiras de Contabilidade, as quais são conver-
gentes às normas internacionais de Contabilidade, há um pronunciamento específico sobre
a DVA, qual seja, o NBC TG 09 – Demonstração do Valor Adicionado (CFC, 2008). Isso se

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 62


dá ao fato do alto poder informativo da DVA aos usuários da informação.
A DVA deve proporcionar informações relativas à riqueza criada pela entidade em
determinado período e a forma como tais riquezas foram distribuídas. Desta forma, enten-
de-se que as informações da DVA são, além de financeiras, informações econômicas e
sociais. Um exemplo é a contribuição da organização para a formação do Produto Interno
Bruto de um município, ou estado, ou País (CFC, 2008).
Conforme o CFC (2008), Valor adicionado representa a riqueza criada pela organi-
zação, a qual é mensurada pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos
de terceiros. O Valor adicionado também contempla o valor adicionado recebido em trans-
ferência, ou seja, produzido por terceiros e transferido à entidade como o recebimento de
dividendos, recebimento de doações ou subvenções governamentais.
Outra definição específica da DVA, abordada em CFC (2008) é em relação a Re-
ceita de venda de mercadorias e produtos. No CFC (2008) é enfatizado que as receitas
representam os valores reconhecidos na contabilidade como Receitas pelo regime de
competência e incluídos na demonstração do resultado do período (CFC, 2008).
Segundo o CFC (2008), um insumo adquirido de terceiros representa os valores
relativos às aquisições de matérias-primas, mercadorias, materiais, energia, serviços, etc.
que tenham sido transformados em despesas do período. Ressalta-se que os insumos
permanecem nos estoques antes de serem incorporados aos produtos, nessas situações,
não compõem a formação da riqueza criada e distribuída da DVA.
Conforme o CFC (2008), para enfatizar a distribuição da riqueza, a DVA deve deta-
lhar, ao menos, as seguintes informações:
• pessoal e encargos;
• impostos, taxas e contribuições;
• juros e aluguéis;
• juros sobre o capital próprio (JCP) e dividendos;
• lucros retidos/prejuízos do exercício.
Um exemplo de utilização da DVA é quando uma prefeitura decide apoiar a instala-
ção de uma fábrica na sua cidade devido a riqueza criada pela organização. Nestes casos,
a apresentação da DVA pode subsidiar uma decisão sobre a instalação de uma empresa
em uma comunidade (Município, Estado e a própria Federação) (CFC, 2008).
Outra característica da DVA é que ela pode ser adaptada e ser elaborada por seg-
mento (tipo de clientes, atividades, produtos, área geográfica e outros) (CFC, 2008). No
próximo tópico será apresentada a estrutura da DVA segundo a legislação societária.

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 63


4. ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO CONFORME
LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA.

No Anexo I, do CFC (2008), é apresentado um modelo da estrutura da DVA, o qual


está exposto no Quadro 9:

Quadro 09: Modelo de Estrutura da DVA.

Em mi- Em mi-
lhares de lhares de
DESCRIÇÃO
reais reais
20X1 20X0
1 – RECEITAS
1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços
1.2) Outras receitas
1.3) Receitas relativas à construção de ativos próprios
1.4) Provisão para créditos de liquidação duvidosa – Reversão / (Constituição)
2 – INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS
(inclui os valores dos impostos – ICMS, IPI, PIS e COFINS)
2.1) Custos dos produtos, das mercadorias e dos serviços vendidos
2.2) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros
2.3) Perda / Recuperação de valores ativos
2.4) Outras (especificar)
3 – VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2)
4 – DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO
5 – VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3-4)
6 – VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA
6.1) Resultado de equivalência patrimonial
6.2) Receitas financeiras
6.3) Outras
7 – VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6)
8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO
8.1) Pessoal
8.1.1 – Remuneração direta
8.1.2 – Benefícios
8.1.3 – F.G.T.S
8.2) Impostos, taxas e contribuições
8.2.1 – Federais
8.2.2 – Estaduais
8.2.3 – Municipais
8.3) Remuneração de capitais de terceiros
8.3.1 – Juros
8.3.2 – Aluguéis
8.3.3 – Outras

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 64


8.4) Remuneração de capitais próprios
8.4.1 – Juros sobre o capital próprio
8.4.2 – Dividendos
8.4.3 – Lucros retidos / Prejuízo do exercício
8.4.4 – Participação dos não-controladores nos lucros retidos (só p/ consolidação)

Fonte: CFC (2008).

A DVA, portanto, é elaborada em 2 blocos: a Formação da Riqueza (até o item 8


do Quadro 9) e a Distribuição da Riqueza (item 8 do Quadro 9). E os montantes apurados
como (a) Formação da Riqueza e (b) Distribuição de Riqueza devem ser iguais (CFC, 2008).
Com relação à primeira parte da DVA, a qual enfatiza a criação de riqueza, ela evi-
dencia, principalmente, as Receitas, Insumos adquiridos de terceiros e valores recebidos
por transferências.
As receitas compreendem: venda de mercadorias e produtos e serviços (inclui os
valores dos tributos incidentes sobre essas receitas como o ICMS, IPI, PIS e COFINS),
Outras receitas e provisão para créditos de liquidação duvidosa (CFC, 2008).
Já os insumos adquiridos por terceiros, representam os montantes de custos dos
produtos vendidos, materiais, energia-elétrica, serviços de terceiros, perda e recuperação
de ativos, depreciação, amortização e exaustão (CFC, 2008).
O valor adicionado recebido em transferência evidenciam o resultado antes da
equivalência patrimonial (pode ser receita ou despesa), receitas financeiras (receitas finan-
ceiras e variações cambiais) e outras receitas (dividendos recebidos por investimentos em
coligadas) (CFC, 2008).

Exercício Resolvido 4.

A organização Lucro Certo S/A, deseja apurar o montante de Valor Adicionado


Total a Distribuir da sua DVA. Têm-se os seguintes saldos apurados na Demonstração do
Resultado:

Venda de Mercadorias R$ 150.000,00


Provisão para crédito de liquidação duvidosa R$ 1.000,00
Custos dos produtos vendidos R$ 80.000,00
Energia Elétrica R$ 2.500,00
Receitas Financeiras R$ 1.000,00
Dividendos Recebidos R$ 5.000,00

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 65


Qual é o valor adicionado total a distribuir?

Resolução = O primeiro passo é verificar se todas as contas compõem o grupo de


valor adicionado a distribuir, para tanto, elas têm que ser: receitas, insumo de terceiros ou
valor recebido em transferência de terceiros.
Neste exercício, todos os valores se enquadram em uma das três categorias, por-
tanto, basta somá-los:

Receitas = R$ 151.000,00 (R$ 150.000,00 + R$ 1.000,00).


Insumos adquiridos por terceiros = R$ 82.500,00 (R$ 80.000,00 + R$ 2.500,00)
Valor Recebido em Transferências = R$ 6.000,00
Total = R$ 239.500,00.

O valor total adicionado é R$ 239.500,00.

A segunda parte da DVA evidencia a distribuição da riqueza. Nesta parte da DVA


é que a organização consegue demonstrar a sua contribuição para pessoal (funcionários),
governo, para terceiros e para os proprietários.
Com relação ao Pessoal, ou funcionários, os dados da DVA são extraídos da De-
monstração do Resultado. São exemplos: Remuneração direta (valores relativos a salários,
13º salário, honorários da administração, férias, comissões, horas extras, participação de
empregados nos resultados, etc), Benefícios (assistência médica, alimentação, transporte,
planos de aposentadoria, etc) e FGTS (valores depositados em conta vinculada dos em-
pregados). Esta parte da DVA enfatiza a riqueza criada para os funcionários (CFC, 2008).
A riqueza distribuída ao Governo é enfatizada pelos montantes de Impostos, taxas
e contribuições. Aqui são demonstrados os valores relativos ao imposto de renda, contribui-
ção social sobre o lucro, contribuições ao INSS. É subdivido em Impostos Federais: IRPJ,
CSSL, IPI, CIDE, PIS, COFINS. Inclui também a contribuição sindical patronal; Estaduais:
o ICMS e o IPVA. Municipais: o ISS e o IPTU (CFC, 2008).
A Remuneração de capitais de terceiros referem-se aos valores pagos ou creditados
aos financiadores externos de capital. São exemplos: Juros, Aluguéis, royalties, franquia,
direitos autorais, etc (CFC, 2008).
A Remuneração de capitais próprios são os valores relativos à remuneração atribuí-
da aos sócios e acionistas. São exemplos: Juros sobre o capital próprio (JCP) e dividendos,
Lucros retidos e prejuízos do exercício (CFC, 2008).

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 66


Exercício Resolvido 5.

A organização Lucro Certo S/A, apurou o montante de R$ 239.500,00 como Valor


Adicionado Total a Distribuir e deseja conhecer o montante que cada grupo receberá.

Pessoal 40%
Governo 35%
Remuneração de Capital de Terceiros 20%
Remuneração de Capital Próprio 5%

Qual é o valor adicionado distribuído a cada um dos grupos na DVA?

Resolução = para resolver este exercício, basta aplicar os percentuais sobre o


montante valor a distribuir, qual seja R$ 239.500,00.
Assim:

Pessoal = R$ 95.800,00 (R$ 239.500,00 x 40%).


Governo = R$ 83.825,00 (R$ 239.500,00 x 35%).
Remuneração de Capital de Terceiros = R$ 47.900,00 (R$ 239.500,00 x 20%).
Remuneração de Capital Próprio = R$ 11.975,00 (R$ 239.500,00 x 5%).
Total = R$ 239.500,00.

A seguir, serão dispostas as considerações finais da Unidade III.

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 67


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), na Unidade III, foi discorrido sobre a Demonstração do Fluxo de


Caixa e sobre a Demonstração do Valor Adicionado. Conforme foi visto a apuração do Caixa
é um indicador financeiro que representa o valor disponível para transferência a qualquer
organização ou pessoa, para que a organização possa atingir os seus objetivos. E o Valor
Adicionado, é uma forma de a organização demonstrar à sociedade e demais stakeholders
qual é a sua contribuição (riqueza distribuída) em valores monetários.
Num primeiro momento, você conheceu a Demonstração do Fluxo de Caixa, nesse
sentido, você teve contato com as definições de Caixa e Equivalentes de Caixa, e foi abor-
dado A NBC TG 03 – Demonstração do Fluxo de Caixa. Nesse tópico, você conheceu as
definições dos três tipos de fluxo de caixa das organizações, quais sejam: operacional, de
investimento e financiamento.
Prosseguindo, você conheceu como calcular o Fluxo de Caixa de acordo com a
legislação societária. Ressalta-se que o Fluxo de Caixa é obtido pela soma dos 3 fluxos de
caixa quais sejam fluxos operacionais, investimentos e financiamentos. Os métodos para
apuração do fluxo de caixa são: método direto e método indireto.
O tópico seguinte serviu para compreender conceitos sobre a Demonstração do
Valor Adicionado, a qual também faz parte das demonstrações contábeis. Nesse sentido,
você conheceu o que é valor adicionado, o que é riqueza gerada, riqueza distribuída, entre
outros conceitos abordados no CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado, o qual é
específico dessa demonstração contábil.
Por fim, você irá compreendeu como elaborar uma Demonstração do Valor Adicio-
nado, assim, você calculou os montantes de riqueza gerada, bem como resolveu exercícios
sobre distribuição de riqueza, além disso, foi demonstrada a estrutura da Demonstração do
Valor Adicionado segundo legislação societária.
Bons estudos!

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 68


Leitura Complementar

RESPONSABILIDADE SOCIAL E A DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

Em um artigo publicado em 2008, no periódico Desenvolvimento em Questão, os


autores César Eduardo Stevens Kroetz e Marguit Neumann, verificaram a relação entre a
Responsabilidade Social Corporativa e a Demonstração do Valor Adicionado. Adicional-
mente, os autores discorreram sobre a Teoria dos Stakeholders.
A relação entre a Responsabilidade Social Corporativa e a Demonstração do Valor
Adicionado, se dá pelo interesse da organização em questões além das financeiras, como
o interesse por aspectos ambientais e sociais.
A relação entre a Teoria dos Stakeholders e a Demonstração do Valor Adicionado
reside na necessidade da entidade relatar aos stakeholders como ela entende e trata as
questões em que eles estão envolvidos.
Portanto a Demonstração do Valor Adicionado, não pode ser vista apenas como
um instrumento de cumprimento da legislação societária. Dado o potencial informativo da
DVA, a mesma pode ser utilizada para propiciar o engajamento da organização com os
stakeholders e para relatar práticas de Responsabilidade Social Corporativa.
Exemplos de informações que a DVA propicia para a organização: riqueza distri-
buída para funcionários, riqueza distribuída para governo (estadual, municipal e federal),
riqueza para distribuída para terceiros financiadores da organização e riqueza distribuída
para funcionários.
Para muitas organizações, a DVA não é compulsória, e a sua elaboração reforça a
intenção da organização em se preocupar com questões sociais e ambientais.

Fonte: KROETZ; NEUMANN (2008).

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 69


Material Complementar

LIVRO
Gestão do Fluxo de Caixa: perspectivas estratégica e tática.
Autor: Fábio Frezatti
Editora: Atlas.
Sinopse: O objetivo do livro é discorrer sobre o fluxo de caixa das
organizações. Traz a discussão de conceitos e proporciona a visão
de como elaborar fluxo de caixa de forma detalhada. Destarte, traz
exemplos de análises gerenciais envolvendo finanças, liquidez,
capital de giro, entre outros.

FILME
Capital C: The Crowdfunding Revolution
Ano: 2013.
Sinopse: O filme Capital C é o primeiro documento dedicado ao
movimento do crowdfunding (financiamento coletivo). Neste sen-
tido, o filme foca nas armadilhas que a era digital pode propiciar a
estes tipos de investimentos.

WEB
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).
No link abaixo do site do SEBRAE consta uma planilha que as organizações podem utilizar
para estruturar seu fluxo de caixa. Salienta-se que o SEBRAE é uma Instituição voltada
para assessoria no controle das atividades das organizações.
WEB: Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/planilha-ajuda-
-a-fazer-fluxo-de-caixa-da-sua-empresa,adf8d53342603410VgnVCM100000b272010aR-
CRD>. Acesso em: 14 abr. 2019.

UNIDADE III Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 70


UNIDADE IV
Notas Explicativas
Professor Me. Matheus Henrique Delmonaco.
Professor Me. Rodrigo Gaspar de Almeida.

Objetivos de Aprendizagem

• Apresentar conceitos e definições das Notas Explicativas.

• Discorrer sobre o conteúdo mínimo a ser divulgado nas Notas Explicativas.

• Abordar as alterações introduzidas nas Notas Explicativas pela OCPC 07.

Plano de Estudo

• Conceitos e Definições sobre Notas Explicativas.

• Conteúdo mínimo das Notas Explicativas.

• Alterações introduzidas nas Notas Explicativas pela OCPC 07.

71
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), na Unidade 4, do livro da disciplina de Contabilidade Societária,


falaremos sobre as notas explicativas e sua importância para os usuários das demonstra-
ções contábeis. A evidenciação das informações está ligada a quantidade e qualidade das
informações que atende as necessidades dos usuários das demonstrações contábeis. As
notas explicativas surgem como forma de complementar às demonstrações, sendo parte
integrante das mesmas. Veremos que as notas explicativas podem estar expressas na
forma descritiva, quadros ou até mesmo englobar as demonstrações contábeis, visando
esclarecer as informações e a situação da organização.
Discorreremos sobre o conteúdo mínimo exigido, que devem ser divulgados nas
notas explicativos, pelos órgãos reguladores e pela Lei das Sociedades por Ações. Tra-
remos um exemplo de nota explicativa publicado por uma companhia listada na bolsa de
valores do Brasil, para demonstrar a forma como é expresso a informação aos usuários das
demonstrações. Será abordado também sobre a OCPC 07 - Evidenciação na Divulgação
dos Relatórios Contábil-Financeiro de Propósito Geral, que busca orientar no momento de
elaborar uma nota explicativa, sendo primordial existir materialidade e relevância.
As notas explicativas são fundamentais e necessárias para que os usuários da
contabilidade tenham informações materiais e relevantes que podem auxiliar na tomada
de decisões, elas complementam as demonstrações contábeis. Ao elaborar uma nota
explicativa busca-se pela facilitação da compreensão das informações pelos usuários das
informações contábeis, visando reduzir as dúvidas e possíveis questionamentos desses
usuários, em relação aos meios pelos quais determinados resultados foram obtidos.

Bons estudos!

UNIDADE IV Notas Explicativas 72


CONCEITOS E DEFINIÇÕES SOBRE NOTAS EXPLICATIVAS

A contabilidade tem grandes desafios, um deles é em relação à evidenciação das


demonstrações. Com a intenção de evidenciar aos usuários da contabilidade com infor-
mações materiais e relevantes, surgem as notas explicativas que são informações com-
plementares às demonstrações contábeis, mas que é parte integrante das mesmas. Ela é
considerada importante no processo de informação, pois tem resultado numa divulgação
mais ampla de eventos e dados relevantes (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 2010).
As Notas Explicativas são parte obrigatória e importante do processo de divulgação,
uma vez que contribuem para um melhor entendimento do conteúdo das demonstrações
contábeis. Nelas estão presentes informações que são fundamentais para se realizar uma
análise realmente informativa sobre a saúde financeira de uma empresa, pois contêm as
principais práticas contábeis utilizadas pela companhia (LOURENÇO, 2014).
Segundo Hungarato e Costa (2005) para que as necessidades dos usuários das
demonstrações contábeis sejam atendidas e a evidenciação é um dos objetivos da contabi-
lidade, as Notas explicativas são informações complementares que buscam esclarecer de
modo transparente os resultados e a situação financeira da empresa. É fundamental que as
empresas prestem informações das variações do seu patrimônio.
A quantidade e principalmente a qualidade de informações que visam atender às
necessidades dos usuários das demonstrações contábeis. Segundo Bernardo (2015) a
qualidade das notas explicativas é uma preocupação de usuários, preparadores e audi-

UNIDADE IV Notas Explicativas 73


tores. A partir disso, diferentes órgãos internacionais têm expedido orientações técnicas
com o objetivo de aperfeiçoá-las. De acordo com Gelbcke et al (2018) as notas explicativas
devem conter informações objetivas, sem excesso de informações irrelevantes. O excesso
prejudica a evidenciação e não propicia uma base adequada de informação para o usuário,
que é a razão de ser da Contabilidade.

Para Hendriksen e Van Breda (2010) existem algumas vantagens e desvantagens


sobre as notas explicativas, conforme a figura 1 abaixo:
Figura 1: Vantagens e desvantagens de notas explicativas

Fonte: Adaptado de Hendriksen e Van Breda (2010)

Segundo Hendriksen e Van Breda (2010) as notas explicativas não devem de ser
usados como substituto de classificação, avaliação e descrição apropriadas nas demonstra-
ções, tampouco devem contradizer ou repetir informações já contidas nas demonstrações.
No próximo tópico falaremos sobre como as notas explicativas devem ser divul-
gadas, o conteúdo mínimo exigido pela Lei das Sociedades por Ações regulamente que
devem ser evidenciadas nas notas explicativas, e quais informações os Pronunciamentos
Técnicos – CPC e o Conselho Federal de Contabilidade – CFC recomendam evidenciar nas
notas explicativas.

UNIDADE IV Notas Explicativas 74


CONTEÚDO MÍNIMO DAS NOTAS EXPLICATIVAS

A Lei das Sociedades por Ações prevê, em seu art. 176, que as notas explicativas
com informações relevantes referentes às Demonstrações Contábeis, sejam publicadas. As-
sim a Lei estabelece que “as demonstrações serão complementadas por Notas Explicativas
e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessárias para esclarecimento
da situação patrimonial e dos resultados do exercício” (BRASIL,1976).
As Notas Explicativas visam fornecer as informações necessárias para esclareci-
mento da situação patrimonial, ou seja, de determinada conta, saldo ou transação, ou de
valores ou itens relevantes relativos aos resultados do exercício, ou, ainda, para menção
de fatos que podem alterar futuramente tal situação patrimonial.
Uma nota explicativa também pode estar relacionada as Demonstrações Contá-
beis, como Demonstração do Valor Adicionado, Demonstração dos Lucros ou Prejuízos
Acumulados. É o exemplo do valor relativo a Ajustes de Exercícios Anteriores por mudança
de prática contábil, ou por retificação de erros de exercícios anteriores, que deverá ser
esclarecido por uma nota explicativa.
O art. 176 da Lei das Sociedades por Ações menciona as bases gerais e as notas
explicativas a serem incluídas nas demonstrações contábeis:
I – apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações
financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas
para negócios e eventos significativos;
II – divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no
Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demons-
trações financeiras;

UNIDADE IV Notas Explicativas 75


III – fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstra-
ções financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação ade-
quada; e
IV – indicar:
a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especial-
mente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de
constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender
a perdas prováveis na realização dos elementos do ativo;
b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, pa-
rágrafo único);
c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações
(art. 182, § 3o);
d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias presta-
das a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes;
e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a
longo prazo;
f) o número, espécies e classes das ações do capital social;
g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício;
h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, § 1o);
i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham,
ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resulta-
dos futuros da companhia. (BRASIL,1976).

Ainda em seu artigo 177 a Lei das Sociedades por Ações menciona estabelece que
devem ser indicados em Notas Explicativas os efeitos das mudanças de critérios contábeis.
De acordo com a Lei 6.404/76 os principais fatos que ocasionam ou devem ser expressos
em notas explicativas estão relacionados a seguir.
A entidade deve divulgar em suas demonstrações contábeis os principais critérios
de avaliação dos elementos patrimoniais. Mas deve apenas divulgar os critérios que se re-
firam a itens que sejam materiais ou relevantes. O objetivo de divulgar uma nota explicativa
explicando as práticas exercidas pela entidade permite aos usuários o conhecimento das
práticas contábeis que possam interferir numa melhor compreensão da situação patrimonial
e financeira da empresa e de suas operações. Essa informação é útil, pois, dependendo das
práticas contábeis utilizadas pela empresa, os resultados poderão sofrer variações. Assim,
permite aos usuários determinarem a comparabilidade das demonstrações contábeis da
empresa de um para outro período ou a comparação da posição financeira e dos resultados
das operações dessa empresa com a de outras. Portanto, a companhia deve divulgar as
práticas contábeis adotadas para todas as suas principais operações e elementos patrimo-
niais. (BRASIL,1976).
A entidade deve divulgar, nas notas explicativas, informação acerca dos pressupos-
tos relativos ao futuro e outras fontes principais de incerteza nas estimativas ao término do

UNIDADE IV Notas Explicativas 76


período de reporte que possuam risco significativo de provocar ajuste material nos valores
contábeis de ativos e passivos ao longo do próximo exercício social.
De acordo com o art. 243 da lei 6404/76 outro item sobre o qual há necessidade
de divulgação de informações nas notas explicativas, referem-se especificamente aos in-
vestimentos em coligadas e controladas. Assim, estabelece ainda que o relatório anual da
administração deve relacionar os investimentos da companhia em sociedades coligadas e
controladas e mencionar as modificações ocorridas durante o exercício. Devem ser preci-
sas e detalhadas as informações sobre as sociedades coligadas e controladas, bem como
sobre suas relações com a companhia. (BRASIL,1976).
A entidade deve divulgar os ônus reais constituídos sobre os elementos do ativo, as
garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes. Os
ônus e as garantias estão normalmente ligadas a empréstimos e financiamentos contraídos
pela entidade, ou mesmo por fornecedores de equipamentos, que exigem, como garantia
à liquidação do empréstimo, a hipoteca dos bens financiados ou mesmo de outros bens
imóveis, de maquinismos, de equipamentos ou de outros bens da empresa. Devem estar
expressas em nota a forma de atualização (correção monetária, variação cambial etc.), a
taxa de juros, as datas de vencimentos e as garantias das obrigações a longo prazo.
Se a entidade obtiver outras responsabilidades ou contingências, deverão estar
expressas em notas explicas, fazendo menção a sua origem. As contingências fiscais ou
trabalhistas, são oriundas de autuações fiscais ou de práticas adotadas pela empresa,
quando há dúvidas sobre sua legalidade ou sobre a adequação de seu procedimento fiscal.
De acordo com o art. 176 da Lei no 6.404/76 (BRASIL,1976)., devem ser divulga-
dos em nota explicativa: o número, as espécies e as classes das ações que compõem o
capital social, e, para cada espécie e classe, a respectiva quantidade e, se houver o valor
nominal. De forma adicional, devem ser divulgadas, também, as vantagens e preferências
conferidas às diversas classes de ações, conforme norma estatutária. De acordo com a Lei
6.404/76 deve ser especificado em nota explicativa:
• O limite de aumento autorizado, em valor do capital e em número de ações, e
as espécies e classes que poderão ser emitidas;
• O órgão competente para deliberar sobre as emissões (Assembleia Geral ou
Conselho de Administração);
• As condições a que estiverem sujeitas as emissões;
• Os casos ou as condições em que os acionistas terão direito de preferência
para subscrição, ou de inexistência desse direito;
• Opção de compra de ações se houver, aos administradores, empregados ou

UNIDADE IV Notas Explicativas 77


pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou sociedade sob seu
controle.
Existe também a obrigatoriedade da menção, em nota específica, dos Ajustes
de Exercícios Anteriores, contabilizados no exercício diretamente na conta de Lucros ou
Prejuízos Acumulados. Os ajustes se referem ao efeito de mudanças de práticas contá-
beis inseridas durante o exercício pela sociedade, ou à retificação de erros de exercícios
anteriores não atribuíveis a fatos subsequentes, ou a mudanças de estimativas contábeis.
Quando houver tais ajustes, a empresa deverá mencioná-los em uma nota específica,
descrevendo-os.
Os eventos subsequentes são itens particularmente importantes a serem divulga-
dos em notas explicativas, quando houver fatos ocorridos subsequentemente à data de
encerramento do exercício até a elaboração para publicação, que tenham efeito relevante
sobre a situação patrimonial ou financeira da empresa ou efeitos sobre seus Resultados
Futuros. Segundo o CPC 24 (2009), os eventos subsequentes são aqueles que, favoráveis
ou desfavoráveis, ocorrem entre a data final referente a um período das demonstrações
contábeis e a data de autorização para emitir as demonstrações. O CPC 24 (2009) que se
referem aos eventos subsequentes, não específica o que seriam os eventos favoráveis e
desfavoráveis. Dessa forma, pelo entendimento que se tem sobre as orientações dos pro-
nunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos de Contábeis, as demonstrações
emitidas pela empresa têm por finalidade informar os usuários da contabilidade sobre os
eventos que ocorrem e afetam a empresa. Assim, os eventos subsequentes favoráveis
e desfavoráveis são os que trazem aspectos positivos e negativos respectivamente aos
resultados da empresa.
O CPC 24 (2009) faz distinção entre aqueles eventos subsequentes que originam
ajustes e os que não originam ajuste nas demonstrações. Os eventos subsequentes que
originam ajustes nas demonstrações devem ser reconhecidos nas demonstrações an-
teriores, uma vez que tais eventos estão conectados com situações que já existiam na
data final do período contábil, como é o caso de algumas provisões. Quando identificado
um evento subsequente que origina ajustes, os valores reconhecidos anteriormente nas
demonstrações devem ser corrigidos. Já os eventos subsequentes que não originam ajus-
tes nas demonstrações são aqueles eventos relevantes que aconteceram após o final do
período contábil e antes da autorização das demonstrações, onde sua não divulgação pode
influenciar as decisões econômicas dos usuários das demonstrações contábil-financeira
elaborada pela entidade. Tais eventos subsequentes devem ser divulgados em notas ex-
plicativas, contendo a natureza do evento subsequente e a declaração do efeito financeiro,

UNIDADE IV Notas Explicativas 78


não originando ajustes nas demonstrações contábeis.
Alguns exemplos de eventos subsequentes que são relevantes de serem divulga-
dos em notas explicativas:
• ocorrência de um sinistro por incêndio nas dependências da empresa, ocorrido
posteriormente à data do Balanço, mas antes da data de sua publicação;
• processo em andamento na Justiça, que tenha tido uma solução definitiva, ou
algum novo fato importante relativo a esse processo, ocorrido no período poste-
rior à data do Balanço e antes;
• alteração na legislação fiscal que possa trazer reflexos significativos para a
empresa, favoráveis ou desfavoráveis;
• importantes negociações em andamento, como a contratação de novos emprés-
timos, ou mesmo o reescalonamento de dívidas já existentes ou renegociações
das taxas de juros;
• decisão tomada pela empresa de paralisação de determinada linha de produção
ou mesmo do lançamento de novo produto no mercado, que possa afetar subs-
tancialmente as operações futuras da companhia;
• lançamento no mercado, por concorrente, de produto que substitua integral-
mente produto da companhia, afetando substancialmente suas operações;
• venda do controle acionário ou de parcela significativa das ações da empresa
ou incorporação de outra empresa;
• variações bruscas nas taxas de câmbio e seus reflexos nas demonstrações
contábeis e informações trimestrais, indicando: (I) composição das obrigações
em moeda estrangeira; (II) variação da moeda estrangeira usada no empréstimo
ou financiamento, em relação à moeda brasileira; (III) variação dos principais
indexadores aplicados aos empréstimos e financiamentos em moeda nacional,
para fins de comparação com a variação cambial no mesmo período; (IV) os
montantes dos ativos e passivos em moeda estrangeira, os riscos envolvidos, o
grau de exposição a esses riscos, as políticas e instrumentos financeiros ado-
tados para diminuição do risco, bem como o montante das receitas e despesas
decorrentes da variação cambial.
O Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) sobre a Apresentação das Demonstrações
Contábeis, aprovado pela Deliberação CVM no 676/11 e pela Resolução CFC no 1.376/11
dispõe que as notas explicativas devem seguir alguns critérios: apresentar informação
acerca da base para a elaboração das demonstrações contábeis e das políticas contábeis
específicas utilizadas, de acordo com os itens 117 a 124; divulgar a informação requerida

UNIDADE IV Notas Explicativas 79


pelos Pronunciamentos Técnicos, Orientações e Interpretações do CPC que não tenha
sido apresentada nas demonstrações contábeis; e prover informação adicional que não
tenha sido apresentada nas demonstrações contábeis, mas que seja relevante para sua
compreensão.
As notas explicativas devem ser apresentadas de forma sistemática, assim a enti-
dade deve considerar os efeitos sobre a compreensibilidade e comparabilidade das suas
demonstrações contábeis. Cada item das demonstrações contábeis deve ter referência
cruzada com a respectiva informação apresentada nas notas explicativas.
O CPC 26 R1 (2011) ainda dar exemplos de ordenação ou agrupamento sistemático
das notas explicativas, na qual incluem:
a) dar destaque para as áreas de atividades que a entidade considera mais
relevantes para a compreensão do seu desempenho financeiro e da posi-
ção financeira, como agrupar informações sobre determinadas atividades
operacionais;
b) agrupar informações sobre contas mensuradas de forma semelhante,
como os ativos mensurados ao valor justo; ou
c) seguir a ordem das contas das demonstrações do resultado e de outros
resultados 12 abrangentes e do balanço patrimonial, tais como:
i) declaração de conformidade com os Pronunciamentos Técnicos,
Orientações e Interpretações do CPC);
ii) políticas contábeis significativas aplicadas;
iii) informação de suporte de itens apresentados nas demonstrações
contábeis pela ordem em que cada demonstração e cada rubrica se-
jam apresentadas; e
iv) outras divulgações, incluindo:
1) passivos contingentes e compromissos contratuais não reco-
nhecidos; e
2) divulgações não financeiras, por exemplo, os objetivos e as
políticas de gestão do risco financeiro da entidade.

De acordo com o CPC 26 – R1 (2011) os principais fatos que ocasionam ou devem


ser expressos em notas explicativas estão relacionadas a seguir
• Composição de contas;
• Demonstração do cálculo por ação;
• Lucro por ação e dividendo por ação;
• Segregação entre circulante e não circulante;
• Seguros;
• Arrendamento mercantil;
• Transações entre partes relacionadas;
• Tributos sobre o lucro;
• Variações cambiais e conversão de demonstrações contábeis;
• Demonstrações contábeis consolidadas;

UNIDADE IV Notas Explicativas 80


• Debêntures;
• Subvenções governamentais;
• Benefícios a empregados (planos de aposentadoria e pensões);
• Divulgação de Instrumentos Financeiros;
• Disponibilidades;
• Ações em tesouraria;
• Empresas em fase pré-operacional;
• Capacidade ociosa;
• Continuidade normal dos negócios;
• Remuneração dos administradores;
• Vendas ou serviços a realizar;
• Juros sobre capital próprio;
• Estoques;
• Ativos especiais;
• Equivalência patrimonial;
• Demonstrações condensadas;
• Ativo intangível;
• Incorporação, fusão e cisão;
• Voto múltiplo;
• Custos de transação e prêmio na emissão de papéis;
• Programa de recuperação fiscal (REFIS);
• Ativo imobilizado;
• Perdas estimadas em créditos de liquidação duvidosa;
• Opções de compra de ações;
• Despesas e receitas financeiras;
• Instrumentos financeiros derivativos;
• Adoção de nova prática contábil e mudança de política contábil;
• Correção de erros de períodos anteriores;
• Mudanças em estimativas contábeis;
• Informações por segmento de negócio;
• Informações sobre concessões;
• Ativo não circulante mantido para venda e operação descontinuada;
• Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes;
• Entidades de propósito específico (EPEs);
• Paradas programadas;
• Redução ao valor recuperável de ativos;
• Contratos de seguro;
• Ajuste a valor presente;

UNIDADE IV Notas Explicativas 81


• Combinação de negócios;
• Investimento em coligada e em controlada;
• Demonstração intermediária;
• Evento subsequente;
• Propriedade para investimento;
• Ativo biológico e produto agrícola;
• Receitas; e
• Demonstrações separadas;

Para que os usuários das demonstrações contábeis possam avaliar a situação da


empresa e seus resultados, podendo analisar os índices de rentabilidade, de liquidez e en-
tre outros para sua tomada de decisão, é muito importante que se conheça qual é o objetivo
social da empresa, ou seja, qual é sua atividade, suas bases de operações e mercado e
qual o estágio do empreendimento, se a empresa estiver em implantação ou em expansão.
Por esse fato, é muito oportuna e necessária essa divulgação.
Exemplo de nota explicativa, divulgada por uma entidade de capital aberto na bolsa
de valores do Brasil na B3:

Figura 02:Notas Explicativas Banco do Brasil

Fonte: Notas Explicativas Banco do Brasil (2017)

A figura acima demonstra a evidenciação dos Benefícios a Empregados que o


Banco do Brasil adota, assim como suas políticas de distribuição.

UNIDADE IV Notas Explicativas 82


ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS NAS NOTAS EXPLICATIVAS PELA OCPC 07

Como o processo de elaboração das notas explicativas não é algo trivial e nem
rigidamente padronizado, os contadores, profissionais incumbidos de tal missão, devem
constantemente ponderar: o que, quando e como divulgar. No entanto, comumente, perce-
be-se a elaboração de notas explicativas com conteúdo irrelevante, com informação dema-
siada ou com uma literatura tão complexa, que o usuário da contabilidade não consegue
compreender as informações veiculadas nesses demonstrativos (Dias Filho, 2000).
A partir da Orientação - OCPC 07 (2014), notoriamente deixou clara a elaboração
das notas explicativas, num trabalho inédito em nível mundial, resumindo tudo o que as
normas dizem a respeito de evidenciação, com a já clássica conclusão: só se deve divulgar
o que for relevante, ou seja, o que puder influenciar usuários externos em suas decisões. O
que não for relevante simplesmente não deve ser divulgado.
A OCPC 07 (2014) foi elaborada considerando as diretrizes propostas pelo CPC 00
– Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, do
CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis e da Lei das Sociedades por
Ações n° 6.404/76, visando estabelecer que as informações materiais e relevantes devem
sempre ser divulgadas e evidenciadas nas demonstrações contábeis-financeiras. Caso a
entidade não tenha informações relevantes e materiais a serem divulgadas, não deve a
entidade fazer divulgação daquilo que não seja útil ou material. O que é explicito no item 31
do CPC 26 (R1): “A entidade não precisa fornecer uma divulgação específica, requerida por

UNIDADE IV Notas Explicativas 83


um Pronunciamento Técnico, Interpretação ou Orientação do CPC, se a informação não for
material.”
De acordo com o OCPC 07 (2014) o objetivo do relatório contábil-financeiro de pro-
pósito geral, “é fornecer informações contábil-financeiras acerca da entidade que reporta
essa informação que sejam úteis a investidores existentes e em potencial, a credores por
empréstimos e a outros credores, quando da tomada de decisão ligada ao fornecimento de
recursos para a entidade”.
As informações consideradas úteis são aquelas revestidas das características
qualitativas fundamentais do relatório contábil-financeiro. Essas características, conforme
esse mesmo Pronunciamento Conceitual Básico, item QC5, são “relevância e representa-
ção fidedigna”. Dessa forma uma informação contábil-financeira relevante é aquela capaz
de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários. E a informação
é material se a sua omissão ou sua divulgação distorcida puder influenciar decisões que os
usuários tomam com base na informação contábil-financeira acerca de entidade específica
que reporta a informação.
De acordo com a orientação OCPC 07 (2014) a ordem de apresentação das notas
explicativas, após aquelas relativas ao contexto operacional e à declaração de confor-
midade, pode seguir a ordem de relevância dos assuntos tratados, obedecida sempre a
exigência de referência cruzada entre as notas e os itens das demonstrações contábeis
ou a outras notas a que se referem. E enquanto na redação das notas não deve haver,
na medida do possível, repetição de fatos, políticas e informações outras para fins de não
desvio da atenção do usuário.

UNIDADE IV Notas Explicativas 84


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade. Verificamos a importância que


as notas explicativas exercem dentro das demonstrações contábeis, e sua essência para
tomada de decisões pelos usuários das demonstrações. As Notas Explicativas visam for-
necer as informações necessárias para esclarecimento da situação patrimonial, ou seja, de
determinada conta, saldo ou transação, ou de valores relativos aos resultados do exercício,
ou para menção de fatos que podem alterar futuramente tal situação patrimonial. As notas
explicativas tem como objetivo evidenciar informações referentes as demonstrações con-
tábeis.
Vimos como a orientação OCPC 07 (2014) busca orientar no momento de elabora-
ção de uma nota explicativa, pois é primordial que uma nota explicativa só seja divulgada
se existir materialidade e relevância. Dessa forma as informações que não exista materia-
lidade, relevância e que não afetará o usuário das informações, não deverá ser divulgado.
Outro ponto que a OCPC 07 (2014) orienta é a não repetição de conteúdo dentro das de-
monstrações contábeis, ou de informações que possam confundir os usuários a tomarem
decisões.
Ao longo das unidades verificamos como as demonstrações contábeis são
distribuídas, quais delas são exigidas pela legislação brasileira 6.404/76, 11638/07, quais
são recomendados pelo Pronunciamento Técnico CPC 26 – R1 (2011) e Conselho Fede-
ral de Contabilidade (CFC), e como as demonstrações são importantes para os usuários
da informações contábeis. As demonstrações contábeis são uma representação monetária
estruturada da posição patrimonial e financeira em determinada data e das transações rea-
lizadas por uma entidade durante um período.
O objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações sobre a posição pa-
trimonial e financeira, o resultado e o fluxo financeiro de uma entidade, que são úteis para
uma ampla variedade de usuários na tomada de decisões. As demonstrações contábeis
também mostram os resultados do gerenciamento, pela Administração, dos recursos que
lhe são confiados

UNIDADE IV Notas Explicativas 85


Leitura Complementar

Demonstrações Financeiras de companhias listadas na


Bolsa de Valores do Brasil (B3)

Os links direcionarão o(a) aluno(a) às demonstrações contábeis-financeiras divul-


gadas por algumas companhias listadas na Bolsa de Valores do Brasil - B3, dentro delas
será possível notar como as demonstrações e as notas explicativas estão integradas.

Magazine Luiza:
https://ri.magazineluiza.com.br/Download/ITR-DFP-?=Tp4bxceKH46nJfI7OQiGCg==

Sanepar:
http://ri.sanepar.com.br/ptb/1720/RelatriodeAdmeDemonstraesContbeis2018.pdf

Vale:
http://www.vale.com/PT/investors/information-market/financial-statements/FinancialState-
mentsDocs/BRGAAP%204T18%20-%20Final.pdf

Itaú:
https://www.itau.com.br/relacoes-com-investidores/Download.aspx?Arquivo=EintnpeHiG-
DhGHpP/+MJjw==

UNIDADE IV Notas Explicativas 86


Material Complementar

LIVRO
Manual de Contabilidade Societária
Autor: Moisés Melo; Sergio Barbosa.
Editora: Freitas Bastos Editora.

FILME
Enron — Os mais espertos da sala
Ano: 2006
Sinopse: O filme traz a história da Enron, uma empresa norte
americana que ficou famosa devido escândalos envolvendo as
suas finanças. O filme tem a capacidade de contribuir com a sua
aprendizagem em Contabilidade Societária ao ilustrar os efeitos
da evidenciação de indicadores (ou números) incorretos.

VÍDEO
Este vídeo traz uma animação, na qual os personagens explicam sobre as Notas Explicati-
vas, as quais compõem as demonstrações contábeis.
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=0bu_eZhpxHI>. Acesso em: 14 mai.
2019.

UNIDADE IV Notas Explicativas 87


REFERÊNCIAS

_____. NBC TG 09 – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO. Ano: 2008. Disponível em:


<http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1138. pdf>. Acesso em: 20 jun. 2019.
_______. NBC TG 26 (R5). Disponível em: < http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCT-
G26(R5).pdf>. Acesso em: 03 jun. 2019. Ano: 2011a.
_______. NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL. Disponível em: < http://www1.cfc.org.br/sisweb/
SRE/docs/RES_1374.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2019. Ano: 2011.
BRASIL. Lei n°. 11.941/09, de 27 de maio de 2009. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.
gov.br >. Acesso em 03 jun. 2019.
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de Dezembro de 1976. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/
legin/fed/lei/1970-1979/lei-6404-15-dezembro-1976-368447-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso
em: 03 jun. 2019.
BRASIL. Lei nº. 11.638/07. Brasília, de 28 de dezembro de 2007. Acesso em: 03 jun. 2019.
COMITE DOS PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). Site do CPC, aba Conheça o CPC.
Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/CPC/Conheca-CPCA>. Ano: 2019.
Conselho Federal de Contabilidade (CFC). NBC TG 03 (R2) – DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS
DE CAIXA. Ano: 2016. Disponível em: < http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codi-
go=2016/NBCTG03(R3)&arquivo=NBCTG03(R3).doc>. Acesso em: 20 jun. 2019.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (CFC). Site do CFC, normas completas. Disponível
em: https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de- contabilidade/normas-completas/. Acesso em:
03 jun. 2019. Ano: 2019.
CORBARI, Ely Célia; MATTOS, Marinei Abreu; FREITAG, Viviane da Costa. Contabilidade Socie-
tária. Curitiba-Pr: InterSaberes, 2012.
Dias Filho, J. M. (2000). A linguagem utilizada na evidenciação contábil: uma análise de sua
compreensibilidade à luz da teoria da comunicação. Caderno de Estudos, FIPECAFI, 13(24),
38-49.
GELBCKE, Ernesto Rubens et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as socieda-
des de acordo com as normas internacionais e do CPC. 2018.
HUNGARATO, Arildo; COSTA, Alexander Ferreira. Uma Contribuição para Entendimento das
Notas Explicativas das Empresas Brasileiras do Setor Elétrico de Distribuição sob a Ótica da
Contabilidade Societária. 2005.
KROETZ, C, S..; NEUMANN, M. (2008). Responsabilidade Social e a Demonstração do Valor
Adicionado. Desenvolvimento em Questão, 6 (11), 153-178.
Lourenço, I. C. (2014). Notas explicativas: uma visão internacional. Revista FIPECAFI, 1(1),
10-15.
RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade intermediária. Editora Saraiva, 2017.

UNIDADE IV Notas Explicativas 88


CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final do Livro de Contabilidade Societária!


O objetivo das demonstrações contábeis é evidenciar informações úteis e relevan-
tes aos usuários externos, para demonstrar sua posição patrimonial, financeira, econômica
e social.
Na Unidade I, você você verificou que as Normas Brasileiras de Contabilidade
são aprovadas pelo Conselho Federal de Contabilidade, e aprendeu que existem 2 tipos
de características qualitativas da informação quais sejam fundamentais e de melhorias.
Ademais, você teve contato com os conceitos de continuidade, regime de competência
e regime de caixa. Ainda, na Unidade I, você conheceu o Balanço Patrimonial, os ativos
(circulante e não circulante), passivos (circulante e não circulante) e patrimônio líquido.
Na Unidade II, você conheceu a Demonstração do Resultado, a qual evidencia o
desempenho (ou performance) da organização e a Demonstração do Resultado Abran-
gente a qual evidencia as alterações no Lucro do Período derivadas de outros resultados
abrangentes (equivalências patrimoniais, ganhos ou perdas atuariais, ganhos ou perdas
cambiais). Por fim, na Unidade II, você verificou que a Demonstração dos Prejuízos ou Lu-
cros Acumulados pode ser incluída na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
(porque ambas tratam do Patrimônio Líquido e a última é mais completa).
Na Unidade III, o foco residiu em 2 demonstrações contábeis: Demonstração do
Fluxo de Caixa e a Demonstração do Valor Adicionado. Nesse sentido, você compreendeu
como apurar o Fluxo de Caixa de uma organização pelo método Direto e Indireto da De-
monstração do Fluxo de Caixa. Outrossim, você aprendeu a estruturar uma Demonstração
do Valor Adicionado demonstrando as riquezas criadas e distribuídas pela organização.
A Unidade IV enfatizou as Notas Explicativas, as quais contêm informações des-
critivas e complementares às Demonstrações Contábeis. Foi demonstrado a estrutura das
Notas Explicativas e discorrido sobre a OCPC 07.
Esperamos ter contribuído para a sua formação.
Bons estudos!

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