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Crise do arrasto

A “crise do arrasto”, desempenha um papel importante em situações normais de jogo de futebol.

 A crise do arrasto é redução abrupta que a resistência do ar sofre quando a velocidade da bola
aumenta além de um certo limite. Esse é um fenômeno bem conhecido na dinâmica de fluidos,
embora não seja usualmente tratado nos cursos de Física Básica.

Uma bola de futebol em movimento no ar está sujeita a forças aerodinâmicas causadas pela pressão e
viscosidade do meio. A força resultante pode ser decomposta em duas componentes:

 Arrasto (antiparalelo à velocidade):

A força de arrasto está fortemente relacionada à velocidade V da bola em relação ao ar. Para expressar essa
dependência, é conveniente introduzir o coeficiente de arrasto CA. A força de arrasto FA é escrita como:

1
FA= CApAV ²
2
FA (Força de Arrasto): É a força que age sobre um objeto (aqui, a bola) quando ele se move através de um fluido (como o ar) devido à resistência
do fluido ao movimento. A força de arrasto é medida em newtons (N) e atua na direção oposta à direção do movimento da bola.

CA (Coeficiente de Arrasto): É uma grandeza adimensional que descreve a eficiência com que o objeto (bola) cria arrasto enquanto se move através
do fluido. O coeficiente de arrasto depende da forma e das características superficiais do objeto. Quanto maior o CA, maior será a força de arrasto.
É uma quantidade que precisa ser determinada experimentalmente para objetos específicos.

ρ (Densidade do ar): Representa a densidade do fluido (neste caso, o ar) no qual a bola está se movendo. A densidade é uma medida da
quantidade de massa por unidade de volume do fluido e é geralmente expressa em quilogramas por metro cúbico (kg/m³).

A (Área da secção transversal da bola): Refere-se à área da superfície frontal da bola que está em contato com o fluido (ar) enquanto ela se move.
A área é medida em metros quadrados (m²). A área da secção transversal influencia a quantidade de arrasto que a bola experimenta.

V (Velocidade da bola em relação ao ar): É a velocidade da bola em relação ao fluido circundante (ar) e é geralmente medida em metros por
segundo (m/s). A velocidade é crucial porque afeta a força de arrasto; quanto maior a velocidade, maior será a força de arrasto.

É importante observar que o coeficiente de arrasto é uma grandeza adimensional, o que significa que
depende apenas de quantidades adimensionais igualmente.

 Sustentação (perpendicular à velocidade):

Para uma bola com velocidade significativamente menor que a velocidade do som, a única quantidade
relevante é o número de Reynolds, que pode ser expresso como:

ρ DV
ℜ=
η
Re (Número de Reynolds): É uma grandeza adimensional chamada de Número de Reynolds, representado por "Re". Ele descreve o regime de fluxo
de um fluido (como ar) em torno de um objeto (como uma bola) e é usado para determinar se o fluxo é laminar ou turbulento. Valores baixos de
Re indicam fluxo laminar, enquanto valores altos indicam fluxo turbulento.

ρ (Densidade do ar): É a densidade do fluido (neste caso, o ar) que está ao redor da bola. A densidade é uma medida da quantidade de massa do
fluido por unidade de volume. A unidade típica é quilogramas por metro cúbico (kg/m³).

D (Diâmetro da bola): É o diâmetro da bola, geralmente medido em metros (m). Este valor é importante porque determina a escala do objeto em
relação ao fluido e afeta significativamente o comportamento do fluxo ao redor da bola.

V (Velocidade da bola em relação ao ar): É a velocidade da bola em relação ao fluido circundante (ar) e é geralmente medida em metros por
segundo (m/s). A velocidade é crucial porque influencia a interação entre a bola e o fluido e, portanto, afeta o tipo de fluxo (laminar ou
turbulento).

η (Viscosidade do ar): É a viscosidade dinâmica do fluido (neste caso, o ar), medida em quilogramas por metro por segundo (kg/(m·s)). A
viscosidade é uma medida da resistência interna do fluido ao movimento relativo das camadas adjacentes. Quanto maior a viscosidade, mais
resistente é o fluido ao fluxo, e isso influenciará o tipo de fluxo ao redor da bola.
Para pequenos números de Reynolds, onde Re≪1, o coeficiente de arrasto é dado pela fórmula de Stokes:

C A=24 / ℜ
CA (Coeficiente de Arrasto): É uma grandeza adimensional que descreve a eficiência com que o objeto (neste caso, a bola) cria arrasto enquanto se
move através do fluido (como o ar). O coeficiente de arrasto depende da forma e das características superficiais do objeto. Quanto maior o valor
de CA, maior será a força de arrasto experimentada pelo objeto em um dado regime de fluxo. Neste contexto, CA é calculado usando a fórmula de
Stokes.

Re (Número de Reynolds): É uma grandeza adimensional chamada Número de Reynolds, representado por "Re". Ele descreve o regime de fluxo de
um fluido (como o ar) em torno de um objeto (como a bola) e é usado para determinar se o fluxo é laminar ou turbulento. Quando o valor de Re é
muito pequeno, como indicado por Re≪1, isso significa que o fluxo em torno da bola é predominantemente laminar.

A crise do arrasto ocorre quando a camada limite torna-se turbulenta. Isso acontece devido a uma camada
de ar que fica bem próxima à superfície da bola, chamada de "camada limite". Essa camada é formada
porque as moléculas de ar grudam na bola quando ela se move. A camada limite afeta a resistência do ar.

Quando a bola está se movendo devagar, a camada limite fica bem "grudada" na bola, e o ar flui suavemente
ao redor dela. A resistência do ar é controlada principalmente pela "gordura" do ar, chamada viscosidade.
Isso acontece quando o número de Reynolds é baixo (Re < 20). Mas, quando a bola está rápida o suficiente, a
camada limite não gruda tanto e se separa da bola na parte de trás. Isso cria uma área de baixa pressão atrás
da bola, puxando-a para trás. A diferença entre as pressões na frente e atrás da bola começa a ser o principal
fator que causa a resistência do ar. Isso acontece quando o número de Reynolds é alto (Re > 20).

A crise do arrasto ocorre quando a camada limite fica "bagunçada" ou turbulenta. Isso faz com que a camada
limite se aguente melhor e não se separe tão cedo da bola. Como resultado, a bola enfrenta menos
resistência do ar, pois a área de baixa pressão atrás dela diminui.

A crise do arrasto ocorre em situações específicas:

 Baixo Número de Reynolds: Quando o número de Reynolds é baixo (Re < 20), a camada limite
envolve completamente a esfera, e o fluxo de ar ao redor dela é laminar. Nesse caso, a resistência do
ar é dominada pela viscosidade do ar.
 Alto Número de Reynolds: À medida que o número de Reynolds aumenta (Re > 20), a camada limite
se separa da esfera na parte posterior. Isso cria uma esteira de baixa pressão atrás da esfera. Essa
separação da camada limite reduz a pressão na parte de trás da esfera e faz com que a diferença
entre as pressões dianteira e traseira comece a dominar a resistência do ar.

A textura da superfície também influencia a crise do arrasto. Superfícies rugosas, como as encontradas em
bolas de golfe com cavidades, podem atingir a crise do arrasto em números de Reynolds mais baixos do que
superfícies lisas. A rugosidade induz turbulência na camada limite, o que diminui a resistência do ar em altas
velocidades.

 Um baixo número de Reynolds é bom porque torna as coisas mais controláveis. Isso significa que a
bola se move de forma mais previsível, é mais fácil de controlar e pode ir mais rápido.

 Um alto número de Reynolds pode ser bom se você quer que a bola vá ainda mais rápido, mas isso
torna a bola menos previsível e mais difícil de controlar.

A "crise do arrasto" é boa porque ajuda a reduzir a resistência do ar, permitindo que a bola se mova mais
facilmente, mas pode tornar o controle da bola um pouco mais complicado. Portanto, é uma questão de
equilíbrio entre velocidade e controle.
Uma bola se torna mais controlável em baixos números de Reynolds porque, nesse caso, o fluxo de ar ao
redor da bola é suave e previsível. Isso significa que você pode prever como a bola vai se comportar e aplicar
forças para controlar sua trajetória com mais facilidade. É semelhante a dirigir um carro em uma estrada reta
e tranquila, onde é mais fácil manter o controle.

Por outro lado, uma bola se torna mais rápida em altos números de Reynolds porque o fluxo de ar ao redor
dela se torna mais turbulento e eficiente. A turbulência ajuda a reduzir a resistência do ar, permitindo que a
bola se mova mais rapidamente. É como dirigir um carro em uma estrada larga e reta, onde a resistência do
ar é menor, permitindo que o carro atinja velocidades mais altas.

O efeito Magnus
Outro fenômeno aerodinâmico importante para a compreensão da jogada é o efeito Magnus, causado pela
rotação da bola, que gira em torno de seu centro. Uma força de sustentação (perpendicular à velocidade)
passa a agir sobre ela, conhecida como a força de Magnus. Esta força pode ser escrita como:

⃗ 1 ω×⃗
⃗ V
F M = Cs ρ AV 2
2 |⃗ V|
ω×⃗

F M : Esta é a força de Magnus. É a força resultante do efeito Magnus que atua sobre um objeto em movimento, como uma bola, devido à sua
rotação. A direção e magnitude dessa força dependem da velocidade, da densidade do fluido circundante (geralmente o ar), da área da seção
transversal do objeto e da velocidade angular de rotação.

Cs: Este é o coeficiente de sustentação de Magnus. É uma constante que depende das características específicas do objeto em rotação, como sua
forma, textura da superfície etc. O coeficiente Cs é uma medida da eficácia do efeito Magnus em gerar sustentação ou força de Magnus.

ρ: Representa a densidade do fluido em que o objeto está se movendo. Geralmente, no contexto do esporte, como o futebol, o fluido é o ar, e a
densidade do ar varia com a altitude e as condições atmosféricas.

A: Representa a área da seção transversal do objeto que está em contato com o fluido. Em uma bola de futebol, por exemplo, isso seria a área da
superfície esférica da bola que está enfrentando a direção do movimento.

V: É a velocidade do objeto em relação ao fluido (geralmente o ar). Esta velocidade é geralmente medida em relação ao ar circundante.

ω ⃗: Representa o vetor de velocidade angular. Indica a velocidade de rotação do objeto e sua direção. O símbolo "⃗" indica que é um vetor,
portanto, também leva em consideração a direção da rotação.

ω ⃗×V ⃗: Isso denota o produto vetorial entre o vetor de velocidade angular (ω ⃗) e o vetor de velocidade linear (V ⃗). O produto vetorial resulta em
um vetor perpendicular ao plano formado pelos dois vetores de entrada.

|ω ⃗×V ⃗ |: Este é o valor absoluto ou magnitude do vetor resultante do produto vetorial entre ω ⃗ e V ⃗. Representa a magnitude da força de
Magnus.

 O efeito Magnus é o fenômeno que ocorre quando uma bola, como uma bola de futebol, gira
enquanto se move pelo ar. Esse movimento de rotação cria diferenças na pressão do ar em torno da
bola, fazendo com que ela desvie de sua trajetória original.

Chute de futebol: Imagine um jogador de futebol chutando a bola. Se ele chutar a bola com um toque de
efeito, fazendo-a girar rapidamente enquanto está no ar, você pode notar o efeito Magnus em ação. A
rotação da bola criará diferenças na pressão do ar ao seu redor, fazendo-a curvar-se durante o voo. Isso é
frequentemente usado por jogadores para fazer a bola seguir um caminho curvo, dificultando a defesa do
goleiro.
Arremesso de beisebol: Em arremessos de beisebol, como o arremesso rápido ou o arremesso de curva, o
efeito Magnus é essencial. O arremessador gira a bola enquanto a lança em direção ao rebatedor. A rotação
causa variações na pressão do ar sobre a bola, fazendo-a se mover de maneiras imprevisíveis. Isso pode
dificultar a tarefa do rebatedor de acertar a bola.

Tênis de mesa: No tênis de mesa, o efeito Magnus pode ser observado quando um jogador aplica um "spin"
na bola. A rotação faz com que a bola mude de direção inesperadamente quando bate na mesa, dificultando
a previsão e a devolução do oponente.

Golfe: Em algumas tacadas de golfe, especialmente ao fazer uma curva na bola, os golfistas podem aplicar o
efeito Magnus. A rotação da bola afeta sua trajetória pelo ar e pode ajudar os jogadores a contornar
obstáculos no campo.

Gol que Pelé não fez


A análise da jogada de futebol do "gol que Pelé não fez" na Copa do Mundo de 1970, entre Brasil e
Tchecoslováquia em Guadalajara, foi conduzida a partir de um vídeo da jogada digitalizado em formato AVI
em um computador PC/Windows. Cada quadro do vídeo foi salvo como uma imagem BMP, permitindo a
extração da posição da bola em cada quadro. Para obter as coordenadas tridimensionais da bola, foram feitas
suposições sobre a trajetória, incluindo a suposição de que a bola se moveu em um plano vertical. A posição
inicial da bola foi determinada com base em seu contato com o chão no momento do chute, e a localização
do plano vertical foi determinada pelo trajeto da bola em relação ao poste esquerdo do gol tcheco. Com base
nesses dados, foram obtidos os parâmetros iniciais do chute de Pelé e a posição final da bola, incluindo a
velocidade de queda e a distância percorrida no ar. A análise revelou que a bola permaneceu no ar por 3,20
segundos e caiu a uma distância de 59,5 metros do ponto de origem
Posteriormente, ocorreu uma investigação sobre o papel da crise do arrasto e do efeito Magnus na jogada de
Pele ao chutar uma bola de futebol. Para isso, foram realizados cálculos numéricos da trajetória da bola com
base em várias condições iniciais e parâmetros, incluindo o coeficiente de arrasto, a densidade do ar, o
coeficiente de Magnus, a velocidade de crise e a frequência de rotação da bola.

Os resultados revelaram que a crise do arrasto teve um impacto significativo na dinâmica da bola chutada
por Pele, reduzindo o arrasto após o chute. Além disso, o efeito Magnus, gerado pela rotação da bola, criou
uma força de sustentação considerável ao longo de toda a trajetória da bola.

Os pesquisadores concluíram que tanto a crise do arrasto quanto o efeito Magnus desempenharam papéis
cruciais na trajetória da bola de futebol chutada por Pele. Tentativas de descrever o chute sem considerar
esses fenômenos não obtiveram bons resultados, destacando a importância desses aspectos na
aerodinâmica da bola.

No geral, o estudo mostrou que a compreensão do chute de Pele requer a consideração desses fenômenos
aerodinâmicos, e as simulações subsequentes fornecerão uma visão mais clara dos eventos em questão.

1. Quais são as forças aerodinâmicas que atuam na bola de futebol que são discutidas pelo artigo?

2. Quais as expressões que descrevem estas forças? Identifique quais são os seus termos.

3. Quais são as variáveis necessárias para determinar a força de arrasto? Quais valores os autores sugerem
utilizar?

4. Como os autores justificam utilizar a expressão da força de arrasto proporcional ao quadrado da


velocidade? Em que situações esta expressão é válida?

5. Descreva com suas palavras a “crise do arrasto”?

6. Quais as implicações descritas pelos autores do fenômeno denominado “crise do arrasto”?

7. Como os autores justificam o seu interesse em “O gol que Pelé não fez”? Qual das justificativas você
considera mais interessante?

8. Descreva o efeito Magnus a partir das informações encontradas no artigo. Como este efeito alterou a
trajetória da bola?
9. Como os autores justificam o emprego de ferramentas computacionais para a realização da simulação?

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