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EM886 – Laboratório de Calor e Fluidos II

EXPERIÊNCIA Nº 5 – DETERMINAÇÃO DO ARRASTO TOTAL SOBRE UM


AEROFÓLIO EM TÚNEL DE VENTO

1. CONCEITOS ENVOLVIDOS
 Escoamento ao redor de corpos imersos;
 Camada limite;
 Gradiente de pressão e de velocidade no escoamento;
 Arrasto de pressão (ou arrasto de forma) e arrasto de atrito;
 Força de arrasto;
 Coeficiente de arrasto;
 Tubo de Prandtl;
 Pressão estática, pressão dinâmica e pressão de estagnação.

2. OBJETIVO
Determinar o arrasto total sobre um aerofólio com perfil simétrico padronizado
denominado NACA0012.

3. TEORIA
Um corpo de qualquer forma, quando imerso em um fluido em escoamento, está
sujeito a forças e momentos (White, 1986). Estas forças são três: o arrasto, que age
numa direção paralela à direção da corrente livre, e duas forças de sustentação, que
agem em direções ortogonais. A atuação destas forças no corpo causa momentos,
conforme ilustra a Fig.1.

Figura 1. Forças e momentos atuantes em corpo genérico imerso num escoamento.

O experimento apresentado neste documento enfocará apenas a força de arrasto (D).


Na sua forma adimensional, a força de arrasto é expressa pelo coeficiente de arrasto
(CD), que é a razão entre D e uma força característica associada à pressão dinâmica da
corrente livre, (1/2 U2), sendo  a densidade e U a velocidade da corrente livre.
O coeficiente de arrasto é expresso por:

1
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(1)

O fator (1/2) é um tradicional tributo a Euler e a Bernoulli. A área característica do


corpo (A) poderia ser igual a L2 (L é a dimensão linear característica do número de
Reynolds), mas é usual encontrá-la definida como:
(i) A = Área Frontal – é a projeção da área em um plano perpendicular à direção
da corrente livre (é a área “vista” pela corrente livre). É frequentemente
utilizada para corpos ‘rombudos’ ou não-delgados, como esferas, cilindros,
carros, mísseis, etc, ou
(ii) A = Área de Topo – é a projeção da área no plano paralelo à corrente livre (é
a vista de topo). É utilizada para corpos delgados, como perfis de asa e
hidrofólios, ou ainda,
(iii) A = Área Molhada – é a área total de contato do corpo com o fluido,
costumeiramente utilizada para superfícies de cascos de embarcações.
Sabe-se que, em escoamentos com baixa velocidade, o coeficiente de arrasto de um
corpo é uma função apenas do número de Reynolds (Re), ou seja,

(2)

O número de Reynolds é definido em termos da velocidade da corrente livre (U) e de


um comprimento característico do corpo (L) conforme a Eq. (3). Esta dimensão
característica do corpo pode ser a corda (dimensão transversal) ou o comprimento do
corpo, medido em direção paralela à corrente livre.

(3)

A utilização de dados experimentais sobre arrasto ou outras forças exercidas pelo


escoamento em corpos submersos pressupõe o conhecimento das dimensões linear e de
área utilizadas no cálculo do número de Reynolds e do coeficiente de arrasto (isto é,
estes valores são as escalas dos coeficientes medidos).
O arrasto exercido no corpo é composto pelas duas parcelas que aparecem na Eq. (4).
O primeiro termo à direita do sinal de igualdade é o chamado “arrasto de atrito”, pois
resulta da integração do produto entre o tensor das tensões viscosas, w, que age na
superfície, e a área superficial. A outra parcela, chamada de “arrasto de forma”, resulta
da integração da pressão, p, que age sobre a superfície do corpo,

∬ ⃗ ∬ ⃗ (4)

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sendo dS o elemento de área na superfície do corpo e ⃗ a projeção, na direção do


escoamento, do vetor unitário normal à superfície. Se dividirmos todos os termos da Eq.
(4) pela força característica, obteremos uma expressão similar para o coeficiente de
arrasto:

(5)

A determinação analítica ou numérica do arrasto, Eqs. (4) ou (5), ainda é um desafio


à teoria da mecânica dos fluidos, exceto para uma placa plana ou corpos muito
delgados. Isto se deve ao fenômeno da “separação do escoamento”. A teoria da camada
limite pode determinar o ponto de separação, mas ainda não avalia satisfatoriamente a
pressão (usualmente baixa) na região de separação. E mesmo a própria determinação do
ponto de separação do escoamento pode ser comprometida. Por exemplo, a corrente que
se descola do corpo na região de separação pode causar uma perturbação significativa
no escoamento livre. Nestes casos, a teoria da camada limite pode ser aplicada somente
se a distribuição de pressão no corpo for previamente conhecida (determinada
experimentalmente, por exemplo). A Fig. 6 mostra as distribuições de pressão sobre um
cilindro colocado transversalmente ao escoamento, de acordo com a teoria potencial, e
valores medidos em escoamentos laminar e turbulento.
Em escoamentos subsônicos com número de Reynolds elevado (Re > 1000, por
exemplo), o arrasto de forma pode superar em várias ordens de grandeza o arrasto de
atrito. Entretanto, não se pode generalizar, pois a proporção dependerá da forma do
corpo, isto é, se ela favorecerá ou não a separação hidrodinâmica.
Valores do coeficiente de arrasto para corpos com formas distintas, (a) cilindro, (b)
cilindro com nariz arredondado, (c) cilindro com nariz arredondado e traseira delgada e
(d) cilindro transversal ao escoamento, para escoamentos com ReL > 10000, estão na
Fig. 2.

Figura 2. Coeficientes de arrasto para corpos de formas geométricas diferentes em


escoamentos com ReL > 10000.

Em todos esses casos, a área característica para o cálculo do coeficiente de arrasto foi
a área frontal do corpo. Observa-se que o coeficiente de arrasto para os corpos
rombudos (não delgados), representados em (a), (b) e (d), tem valores entre 2,0 e 1,1. Já

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para o corpo com uma traseira delgada, que previne melhor a separação do escoamento,
Fig. 2(c), há uma substancial redução do arrasto, isto é CD = 0,15! Isto é, se o cilindro
da Fig. 2 (a) é a referência, nota-se que ao arredondar a frente do cilindro, Fig. 2(b),
reduz-se o arrasto em 45%; com a introdução de uma carenagem na parte traseira,
entretanto, a redução do arrasto chega a 93%, Fig. 2(c).
A magnitude dos arrastos de forma e de atrito de um corpo delgado (streamlined)
com razão de aspecto (t/c) variando entre 0,05 a 0,4, está mostrada na Fig. 3, onde t é a
espessura do corpo e c é o comprimento da corda.
Para (t/c)0 a forma do corpo aproxima-se de uma placa plana e o arrasto de atrito
representa 83% do arrasto total. Por outro lado, quando (t/c) aumenta, isto é o corpo
torna-se mais bojudo (arredondado), o arrasto de forma também aumenta.

Figura 3. Influência do arrasto de atrito e de forma no arrasto total para um corpo


delgado (carenado) em função da razão de aspecto (t/c).

Em corpos rombudos, isto é, não delgados, tais como cilindros e placas planas
normais ao escoamento, o arrasto de pressão (ou seja, de forma) é dominante e
corresponde a mais que 90% do arrasto total. Isto pode ser facilmente identificado se
observamos a Fig. 4, que mostra CD em função do Re para corpos de formas variadas.
Para escoamentos com Re > 1000, por exemplo, corpos delgados com formas de placas
planas, aerofólios, pássaros, etc, têm CD < 0,1. Nestes corpos, como visto na Fig. 3, os
arrastos de forma e atrito são igualmente importantes na constituição do arrasto total.
Por outro lado os corpos rombudos, como barra de seção quadrada, cilindro transversal
ao escoamento e placa plana normal ao escoamento, têm CD  1.
A razão para os corpos rombudos apresentarem CD próximo da unidade é que a força
de arrasto total é bem próxima do produto entre a pressão dinâmica e a área frontal.

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Figura 4. Coeficientes de arrasto para corpos bidimensionais em função do Reynolds.

De maneira aproximada pode-se estimar a força total de arrasto considerando que a


diferença de pressão entre as superfícies do corpo, à montante e à jusante em relação ao
escoamento, corresponde à pressão dinâmica, (1/2)U2, no ponto de estagnação frontal.
Esta diferença de pressão vezes a área frontal do corpo [(1/2) U2A] é, então, uma
estimativa do arrasto total. Isto então justifica o fato, nestes corpos rombudos, do arrasto
de forma ser a componente dominante no arrasto total.
Ainda com referência à Fig. 4, deve-se destacar um comportamento peculiar do CD
do cilindro para números de Reynolds variando entre 105 e 106. Nesta faixa há uma
súbita diminuição do CD de 1,2 para 0,3. Este fenômeno também é conhecido como
“crise do arrasto” e deve-se a uma transição de regime laminar para turbulento da
camada limite que se desenvolve na superfície do cilindro. Enquanto a camada limite
laminar separa-se em uma posição angular de aproximadamente 82º a partir do ponto de
estagnação frontal, na camada limite turbulenta a separação ocorre em 120º, conforme
mostrado na representação esquemática na Fig. 5. Na transição de laminar para
turbulento, o escoamento na camada limite do cilindro consegue extrair mais energia do
escoamento externo e retardar o ponto de separação para 120º.

Figura 5. Representação esquemática do ponto de separação escoamento em um


cilindro em regime laminar (a) e turbulento (b).

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A redução do arrasto também pode ser observada na distribuição de pressão no


cilindro para os diferentes regimes, como mostra a Fig. 6. Cp é o coeficiente de pressão,
P é a pressão sobre a superfície da esfera em Ɵ e P é a pressão dinâmica no ponto de
estagnação frontal. A curva tracejada é uma distribuição simétrica obtida da solução do
escoamento potencial; as linhas ‘traço-ponto’ e ‘contínua’ são assimétricas e são valores
medidos de escoamentos de camadas limites laminar e turbulenta. A assimetria na
distribuição de pressão resulta, naturalmente, da separação do escoamento. A partir do
valor máximo de estagnação frontal, o caso laminar apresenta uma pressão negativa e
constante a partir de 82o. No caso turbulento o ponto de separação desloca-se para 120o
e a distribuição de pressão é mais simétrica que a do caso laminar: portanto, o arrasto é
menor.
Concluindo, por paradoxal que possa ser, a transição do escoamento de laminar para
turbulento causa uma redução do arrasto total do cilindro. Sem dúvida, o arrasto de
atrito aumenta quando o escoamento passa de laminar para turbulento. Porém, neste
regime e para esta forma de corpo, a contribuição do arrasto de atrito para o arrasto total
no cilindro é muito pequena quando comparado com o arrasto de pressão. Assim como
a transição laminar-turbulento torna mais simétrica a distribuição de pressão, ela
também reduz o arrasto total. A indução da transição laminar-turbulento passa então a
ser um recurso empregado para redução de arrasto, neste caso específico.

Figura 6. Distribuições de pressão num cilindro, causadas por um escoamento: potencial


(teórico), camada limite laminar e turbulenta.

Na figura 6, Cp é o coeficiente de pressão, P é a pressão sobre a superfície da esfera


em Ɵ e é a pressão dinâmica no ponto de estagnação frontal.
A figura 7 mostra a visualização da entrada na água de duas bolas de boliche com
216 mm de diâmetro, a uma velocidade de 7,6 m/s (Re = 1,6 106).

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Figura 7. Diferenças entre os pontos de separação laminar (a) e turbulento (b) em uma
bola de boliche de 216 mm de diâmetro entrando na água com 7,6 m/s.

Na figura (7a) o escoamento é laminar e o ponto de separação ocorre próximo ao


equador da esfera. Na figura (7b), a mesma esfera, nas mesmas condições, tem o ponto
de separação atrasado em relação ao caso (7a) devido à inserção de rugosidade causada
por um papel lixa no nariz da bola. Uma mesma forma, porém em regime distinto,
apresenta um arrasto diferente. Uma utilização popular do uso deste efeito para a
redução de arrasto é a rugosidade criada na superfície das bolas de golfe.

4. SISTEMA EXPERIMENTAL
O arrasto total e o coeficiente de arrasto serão obtidos através da determinação do
perfil de velocidades na esteira do perfil e da aplicação adequada das equações de
conservação da massa e de quantidade de movimento linear, em conjunto com
premissas simplificadoras apropriadas. O experimento será realizado em um túnel de
vento sub-sônico (velocidade máxima em torno de 30 m/s) da marca Plint e Partners
(Fig. 8).

Figura 8. Fotografia do túnel de vento sub-sônico.


As medidas de velocidade serão obtidas por meio de um tubo de Prandtl (similar ao
Pitot), mostrado na Fig. 8.

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4.1 Descrição qualitativa do escoamento


Nesta seção é realizada uma breve análise qualitativa do escoamento ao redor do
perfil estudado. Devido às diferenças entre o escoamento à montante e à jusante do
perfil, o campo de velocidades será dividido em duas regiões. Uma delimitada entre a
região à montante do perfil (corrente livre, escoamento não-perturbado) até seu bordo
de fuga; a outra, do bordo de fuga até uma certa distância à jusante, região conhecida
como esteira. Por conveniência, elas passarão a ser denominadas por região do perfil e
região da esteira, como indicado na Fig. 9a. Os perfis de velocidades nas regiões do
perfil e da esteira estão representados esquematicamente também na Fig. 9a.
É possível notar que na região do perfil a presença da superfície sólida causa um
retardo na velocidade devido ao não deslizamento do fluido. O escoamento próximo ao
corpo sólido, devido o seu elevado Reynolds, caracteriza-se por um regime de camada
limite. Definindo uma superfície de controle, SC (linha traço-ponto na Fig. 9a), cujos
limites são demarcados por (0) e (1), e aplicando-se a conservação da massa no VC,
observa-se que na região do perfil há uma expulsão de massa do VC devido à
desaceleração do fluido. Por sua vez, na região da esteira, o perfil de velocidades é
formado logo após o bordo de fuga do aerofólio, pela coalescência dos perfis de
velocidade da parte superior e inferior.

(a) Perfis de velocidades na região do perfil e na região da esteira

(b) presença da superfície sólida causa um retardo no perfil.


Figura 9. (a) Representação esquemática dos perfil a ser estudado e das superfícies de
controle (0-1) e (1-2) para aplicação da equações apropriadas; (b) Visualização dos
perfis de velocidade na esteira. Fluído: água, velocidade: 3,4 cm/s, espessura do perfil: 8
mm; Re = 280, técnica de visualização: bolhas de hidrogênio (Japan Society of
Mechanical Eng., 1989).

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A depressão que se visualiza na parte central do perfil de velocidades é resultante da


desaceleração do fluído na região, causada por efeitos viscosos que ocorrem na camada
limite. Este déficit de velocidade é recuperado à medida que o escoamento avança à
jusante do corpo, como mostrado na Fig. 10.

Figura 10. Definição das fronteiras da SC: seções (0), (2) e (0-2); dos perfís de
velocidades nas seções (0), (1) e (2) e; dos tubos de corrente (fundo cinza claro).

Aplicando-se um balanço de massa no VC demarcado por (1-2) verifica-se um fluxo


de massa do escoamento externo para o VC, conforme representado na Fig. 9a. O perfil
de velocidades na esteira também é caracterizado por um escoamento de camada limite.
Na visualização da Fig. 9b observa-se que o gradiente de velocidade na esteira não se
estende por mais que duas vezes a espessura do aerofólio na direção transversal ao
escoamento. Finalizando, espera-se que, se a seção (2) for posicionada muito afastada
da seção (1) (bordo de fuga), o perfil em (2) será coincidente com o perfil em (0).
Assim, a expulsão de massa na região do perfil será igualada ao fluxo do escoamento
externo para o VC na região da esteira.

4.2 Método integral


O arrasto total exercido no perfil pode ser determinado experimentalmente através do
cálculo da variação da quantidade de movimento linear do escoamento em um volume
de controle que envolva o escoamento. O VC deve compreender desde a região à
montante até a região da esteira do perfil. As equações básicas a utilizar são, então, as
correspondentes ao balanço de massa e de quantidade de movimento. A equação de
balanço de massa em regime permanente é expressa como:

∫ ⃗ ⃗ (6)

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Onde U é a velocidade do fluido que cruza a SC, n a sua normal e  a densidade do


fluido. A equação integral da quantidade de momento, para regime permanente é:

⃗ ( ⃗ ⃗
∫ ⏟ ) ∫ ⏟⃗ ∫ ⏟ (7)

A equação (7) é de natureza vetorial e, portanto, compreende três equações escalares


distintas correspondentes a cada direção de um sistema de eixos cartesiano.
Considerando que o eixo x seja coincidente com a direção do fluxo de ar não perturbado
(corrente livre), o arrasto total também coincide com esta direção, por definição. Assim,
a ideia central para se determinar o arrasto total é determinar as componentes x das
integrais que constituem o balanço de quantidade de movimento, Eq. (7). Para tanto, é
necessário determinar experimentalmente os valores de velocidade e pressão que atuam
na SC. O primeiro passo é a definição da SC. A Fig. 9 ilustra as fronteiras escolhidas
para definir a SC. Ela é a forma retangular que envolve o perfil (linha traço-ponto). As
seções (0) e (2) são a entrada e a saída da SC. Na seção (0) o fluxo é não perturbado e
apresenta um perfil uniforme de velocidades. Na seção (2), longe o suficiente do bordo
de fuga, o perfil apresenta ainda um déficit de velocidade, porém é quase uniforme.
Podemos escolher a seção 2 como aquela de saída do túnel, onde a pressão também é p0.
Assim, pode-se afirmar que tanto na seção (0) como na (2) a pressão estática é
‘praticamente’ p0, isto é, a pressão atmosférica, uma característica deste túnel de vento,
especificamente, e também a pressão na corrente livre. Nas laterais da SC, seção (0-2), o
escoamento está afastado, na direção y, do perfil de tal modo que as linhas de corrente
apresentam uma curvatura quase nula, isto é, são ‘quase’ paralelas assim também pode-
se afirmar que em (0-2) a pressão estática atuante é coincidente com p0. Nesta seção
ainda há um fluxo de massa que cruza a SC (0-2) devido à desaceleração do fluido pelo
perfil.
A escolha adotada para SC permite uma simplificação na forma da Eq. (7) para a
direção(x). Observando-se que para a SC escolhida a pressão é uniforme e constante ao
longo de todo o contorno, vem que a contribuição do termo de pressão é nula:

∫ ⃗ ⏟ ∫ (8)

Já a força de campo é ortogonal à direção x. Consequentemente é nula, pois gx = 0:

∫ (9)
Com isso, a componente na direção (x) da Eq. (7) é reduzida para dois termos, o
balanço de quantidade de movimento e a força mecânica:

∫ ( ⃗ ⃗ ) (10)

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A força mecânica é uma força que cruza a SC, é a ação do perfil sobre o fluido (ou
sobre o VC). Fisicamente, é a força mecânica exercida por um suporte onde o perfil está
preso, suporte este que cruza a SC. Ela existe para manter o perfil estacionário, para que
não seja carregado pela corrente de ar. O arrasto total, D, é a reação a esta força, isto é, a
força que o fluido exerce no perfil. Assim, a relação entre a força mecânica e o arrasto
total é:

(11)

E a forma final da Eq. (10) fica sendo:

∫ ( ⃗ ⃗ ) (12)

A integral de superfície é avaliada nas quatro faces do SC:

∫ ( ⃗ ⃗ ) ∫ ( ⃗ ⃗ ) ∫ ( ⃗ ⃗ )
(13)

O terceiro termo à esquerda do sinal de igualdade é o fluxo de quantidade de


movimento através de 0-2, isto é, o produto do fluxo de massa através de 0-2 com a
velocidade naquela face. O fluxo de massa em 0-2 também é a diferença entre os fluxos
de massa que entram e saem do VC. Ele é escrito por:

̇ ∫ (14)

Se admitirmos agora que a componente na direção x da velocidade ⃗ na seção (0-2)


coincide com a velocidade da corrente livre, isto é U0-2,x=U0, podemos substituir a Eq.
(14) em (13) para chegar a:

∫ ∫ ∫ (15)

Agrupando e simplificando os termos da equação (15), com SC(0) = SC(2), tem-se


que:

∫ (16)

Vale lembrar que, para o perfil bidimensional em questão, o elemento de área, dA, é
o produto do diferencial de altura, dy, e a largura b do perfil. O arrasto total fica então

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sendo:
∫ (17)
Onde +yo e –yo são as posições verticais superior e inferior do escoamento na esteira,
(seção 2) no limite da ocorrência do escoamento não perturbado. A Eq. (17) mostra que
o produto entre a diferença de velocidade (U0- U2) com o fluxo de massa na seção (2)
resulta no arrasto total exercido pelo perfil no corpo.

4.3 Método de Jones


Apesar da equação (17) ser correta, ela não é factível de aplicação para se determinar
experimentalmente o arrasto (pelo menos com a instrumentação de que dispomos). Na
seção (2) o perfil de velocidades já se recompôs e a velocidade U2 já é muito próxima
de Uo, induzindo uma elevada incerteza na medição da diferença (U0 - U2).
O método de Jones (Schlichting, 1968) propõe duas modificações que permitem a
determinação do arrasto total, conforme Eq. (17), porém com os valores experimentais
medidos na seção (1), evitando assim as incertezas resultantes da diferença (U0 - U2).
As modificações são:
1) O fluxo de massa(2) ao longo de um tubo de corrente entre as seções (1) e (2) na
Fig. 10, relaciona as velocidades U1 e U2 :
(18)

2) Segundo o método de Jones, o escoamento ocorre sem perdas entre as seções (1) e
(2), isto é, a pressão total H permanece constante(3) ao longo de cada tubo de corrente
entre as seções (1) e (2):
H1 = H2 (19)
(1)
Ao se adotar a seção (1) para medição tem que se assegurar que a vazão expulsa pela
face (0-2) da SC na seção (1) seja coincidente com aquela determinada na seção (2).
(2)
A escolha da SC indicada na Fig. 10 garante que a vazão mássica expulsa na seção
(2) possa ser calculada por meio das medidas na seção (1). A Eq. (14) modifica-se
para:

̇ ̇ ∫

e a Eq. (15) para (com A0 = A2):

∫ ∫ ∫

Deve-se destacar que o fluxo de momento na seção (2) é calculado a partir da vazão
mássica em (1) pela velocidade em (2). A equação acima tem a mesma forma da Eq.
(15).
(3)
A equação de Euler ao longo de uma linha de corrente assegura que para cada linha
de corrente H se conserva, H1=H2. Assim sendo, a velocidade U2 é determinada pela
Eq. (22).

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A pressão total é definida como a soma das pressões estática e dinâmica do


escoamento e, para cada plano, são definidas por:

(20)

Substituindo a Eq. (18) na Eq. (17):


∫ (21)

Sabendo que p0 = p2 (= pressão atmosférica) e utilizando as Eqs. (19) e (20), é


possível escrever as velocidades U0, U1 e U2 como:

√ (22)

Utilizando a Eq. (22) é possível escrever a Eq. (21) em função das pressões
manométricas lidas diretamente pelo tubo de Prandtl, isto é,

∫ √ (√ √ ) (23)

Ou, expressando o arrasto na forma do coeficiente de arrasto, conforme definido pela


Eq. (1),

∫ {√ ( √ )} ( ) (24)

O cálculo deste CD baseia-se na área molhada do aerofólio, A = b.c, onde b e c são,


respectivamente, a largura e a corda do aerofólio. Portanto A = 0,0695 m2.
Tanto a Eq. (23) quanto a Eq. (24) devem ser integradas ao longo de toda a seção (1).
Em ambos os casos o integrando difere de zero somente na porção da região 1 onde
existe diferença de velocidade na esteira.

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4.4 Implementação numérica


A equação (24) é a equação de trabalho que permitirá calcular o coeficiente de
arrasto do perfil. Para diferentes posições ao longo do eixo y, deverão ser determinadas
as diferenças de pressão indicadas na equação. Depois será calculado o integrando da
equação para cada ponto de medida. Teremos assim um conjunto de n pares de valores
[i,(y/c)] onde i é dado pela Eq. (25):

√ ( √ ) (25)

Como as medições ao longo do eixo y serão discretas, deverá ser utilizado um


procedimento de integração numérica, como a fórmula de Simpson:

[ ] (26)

Onde y equivale ao passo, no caso y=1 mm, ik é o valor do integrando da Eq. (25)
para o ponto de posição yk na seção (1) do túnel.

4.5 Procedimento
Os equipamentos utilizados nesta experiência são o túnel de vento PLINT &
PARTNERS, de seção quadrada de 457 mm e o aerofólio NACA 0012, de seção
simétrica (Fig.11).

Figura 11. Dimensões do aerofólio NACA 0012, Largura de 457 mm.


b/c = 0,12 c = 152,4 mm b = 18,3 mm

Figura 12. Tubo de Prandtl.

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Serão também utilizados dois manômetros de coluna de líquido afixados na lateral do


próprio túnel, além de um de coluna de álcool (marca MERIAM) e uma sonda de
velocidades tipo Prandtl.
A sonda Prandtl tem o mesmo princípio de funcionamento que um tubo Pitot,
diferenciando-se apenas no formato (Fig. 13).

Figura 13. Localização dos pontos de determinação de pressões no tunel de vento.

Essa sonda possui um orifício frontal, onde se mede a pressão total (H), e outro
lateral, onde se mede a pressão estática do escoamento (p0). A diferença entre estas
pressões permite-nos calcular a velocidade do escoamento no ponto em que a
extremidade da sonda está localizada, utilizando a Eq. (22).
A sonda está ligada ao manômetro MERIAM. O túnel possui um mecanismo para
deslocar esta sonda na direção ‘y’ comandado por um volante, com uma régua graduada
de 2 em 2 mm.
Na figura 13 estão indicados os pontos de medição destas pressões no túnel de vento.
Como se observa, temos mais de uma opção para a determinação das pressões (total e
estática) da corrente livre: na parede do túnel e na sonda Prandtl. Mas, como veremos
no laboratório, os pontos de tomadas de pressão na parede do túnel resultam em valores
ligeiramente diferentes das mesmas pressões lidas na sonda Prandtl. Estas pequenas
diferenças são devidas a efeitos aerodinâmicos que aparecem por causa da diferença de
tamanhos dos orifícios das tomadas de pressão, posição dos mesmos, alinhamento da
sonda, etc.
Para a determinação da velocidade da corrente livre do túnel, medindo a diferença de
pressões com as tomadas na lateral do mesmo, deve ser então utilizada uma equação
ajustada:

15
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(27)
A constante “K” de ajuste na Eq. (27) vale 0,965 segundo o fabricante, entretanto,
medidas experimentais mostraram que o valor dessa constante é de 1.05 para
velocidades do gás superiores a 20 m/s.

4.6. Procedimento experimental


Determinação da velocidade do ar na corrente não perturbada do túnel:
1) Meça a pressão barométrica e a temperatura ambiente.
2) Feche a entrada de ar do soprador do túnel, ligue o soprador com a entrada de ar
fechada e logo após, abra completamente a válvula.
3) Meça o valor da pressão dinâmica (H0 - p0), máxima nas tomadas de pressão do
túnel
4) Meça a pressão estática manométrica, (p0 - patm) da corrente livre com a tomada na
parede do túnel.
5) Posicione a sonda 8 mm atrás do bordo de fuga do aerofólio (a sonda já estará
nesta posição). Determine (H1 - p0) e (H1 - p1), fazendo uma varredura de 10 divisões da
escala de posicionamento para cima da posição zero da sonda e 10 divisões para baixo
(cada divisão correspondendo a 1 mm). A determinação das pressões pode ser feita
simultaneamente ligando dois manômetros às tomadas de pressão correspondentes. Para
a medida de H1-p0 troque as mangueiras do manômetro inclinado.
6) Divida o valor obtido para a pressão dinâmica máxima em três partes: feche a
válvula de admissão do túnel até chegar em torno do valor de 1/3 da pressão dinâmica
máxima, repita novamente as medições indicadas nos itens 3 e 4 acima. Em seguida
repita a varredura das diferenças de pressão, indicada no item 5, para a nova condição
de velocidade.
7) Após desligar o ventilador do túnel, feche a válvula de entrada de ar.

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS


1) Para as duas condições operacionais aplicadas, calcule a velocidade da corrente
livre do ar (U0), considerando como correta a medição realizada na sonda, equação (22).
Considere que o fator “K” de ajuste da equação (27) é igual a 1.05.
2) Calcule os números de Reynolds correspondentes às duas condições, utilizando a
corda do aerofólio como dimensão característica.
4) Verifique as leituras das diferenças de pressão realizadas. Lembre que pela lei de
conservação da energia elas devem ser:
(H0 - p0 )  (H1 - p0 ) e
(H0 - p0 )  (H1 - p1)
Estas desigualdades aproximam-se da igualdade para posições ‘y’ afastadas do
aerofólio. Se as suas medidas não cumprem estas relações, discuta como corrigi-las com
base nos resultados do item 2 acima.

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EM886 – Laboratório de Calor e Fluidos II

5) Trace as curvas do integrando em função da altura y [Eq. (25)], para as duas


condições de operação no túnel.

√ ( √ ) (25)

6) Determine o coeficiente de arrasto para as duas condições de operação calculando


numericamente a integração indicada na equação (24) (método de Simpson).
7) Calcule a incerteza dos coeficientes de arrasto obtidos. Dado que o coeficiente foi
calculado através de uma integração numérica, a incerteza pode ser obtida através do
método de propagação de incertezas. A incerteza na medida da coordenada “y” pode ser
desprezada, já que se trata de um valor pré-fixado.
8) Procure na literatura valores do coeficiente de arrasto para o perfil NACA 0012 e
compare com os obtidos em suas medições.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abbott, I. H.; von Doenhoff, A. E., Theory of Wing Sections: Including a Summary of
Airfoil Data, Dover Books on Aeronautical Engineering, 1959.
Fox, R. W. ; McDonald, A.T., Introdução à Mecânica dos Fluídos, Ed. Guanabara Dois,
1981.
Japan Society of Mechanical Engineers, “Visualized Flow”, Pergamon Press, 1989.
Schlichting, H.; Boundary Layer Theory, McGraw-Hill, 1968. Cap. 9 e Cap. 25.
White, F. M., Fluid Mechanics, McGraw Hill, 2nd Ed., 1986.

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