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Faculdade de Engenharia Mecânica

Departamento de Energia

EM - 847 : LABORATÓRIO DE CALOR E FLUÍDOS


DETERMINAÇÃO DO ARRASTO TOTAL EM PERFIL AERODINÂMICO
corpos ‘rombudos’ ou não-delgados, como
1. INTRODUÇÃO esferas, cilindros, carros, mísseis, etc, ou
ii) A = Área de Topo – é a projeção da área
Um corpo de qualquer forma, quando
no plano paralelo à corrente livre (é a vista
imerso em um fluido em escoamento, fica
de topo). É utilizada para corpos delgados,
sujeito a forças e momentos (White, 1986).
como perfis de asa e hidrofólios, ou mesmo
Estas forças são três: o arrasto, que age numa
iii) A = Área Molhada – é a área total de
direção paralela à direção da corrente livre, e
contato do corpo com o fluido,
duas forças de sustentação, que agem em
costumeiramente utilizada para superfícies
direções ortogonais. A atuação destas forças no
de cascos de embarcações.
corpo causa momentos, conforme ilustra a Fig.
1.
Sabe-se que, em escoamentos com baixa
O experimento apresentado neste
velocidade, o coeficiente de arrasto de um corpo
documento enfocará apenas a força de arrasto,
é uma função apenas do número de Reynolds:
representada por D. Na sua forma
adimensional, a força de arrasto é expressa C D = f (Re ) (2)
pelo coeficiente de arrasto, CD, que é a razão
entre D e uma força característica associada à sendo o número de Reynolds definido em
pressão dinâmica da corrente livre, (1/2 U2), termos da velocidade da corrente livre, U, e de
sendo  a densidade e U a velocidade da um comprimento característico do corpo, L. Esta
corrente livre. dimensão característica do corpo pode ser a
O coeficiente de arrasto é, então: corda (dimensão transversal) ou o comprimento
do corpo, medido em direção paralela à corrente
D livre. Assim,
CD = (1)
(1 2)U2 A UL
Re = (3)
O fator (1/2) é um tradicional tributo a 
Euler e a Bernoulli. A área característica do
Assim, a utilização de dados
corpo, A, poderia ser igual a L2 (L é a dimensão
experimentais sobre arrasto ou outras forças
linear característica do número de Reynolds),
exercidas pelo escoamento em corpos
mas é usual encontrá-la definida como:
submersos pressupõe o conhecimento das
dimensões linear e de área utilizadas no cálculo
i) A = Área Frontal – é a projeção da área em
do número de Reynolds e do coeficiente de
um plano perpendicular à direção da
arrasto (isto é, estes valores são as escalas dos
corrente livre (é a área “vista” pela corrente
coeficientes medidos).
livre). É frequentemente utilizada para

Força Sustentação e
g Momento Vertical (yaw)

Força Arrasto e
Corpo Momento de Rolagem
genérico

Força Lateral e
Momento Transversal (Pitching)
U
L

Fig. 1 – Forças e momentos atuantes em um corpo genérico imerso em um escoamento.


1
(não delgados), representados em (a), (b) e (d),
tem valores entre 2 e 1,1. Já para o corpo com
O arrasto exercido no corpo é composto uma trazeira delgada, que previne melhor a
pelas duas parcelas que aparecem na Eq. (4). O
primeiro termo à direita do sinal de igualdade é
o chamado “arrasto de atrito”, pois resulta da
integração do produto entre o tensor das
tensões viscosas, w, que age na superfície, e a
área superficial. A outra parcela, chamada de
“arrasto de forma”, resulta da integração da CD=1.2
pressão, p, que age sobre a superfície do corpo,
 
D =   w  n  dS +  p  n  dS (4)
S S Fig. – 2 – Coeficientes de arrasto para corpos
de formas geométricas diferentes em
sendo dS o elemento de área na superfície do escoamentos com ReL > 10000.

corpo e n a projeção, na direção do
escoamento, do vetor unitário normal à separação do escoamento, Fig. 2(c), há uma
superfície. Se dividirmos todos os termos da Eq. substancial redução do arrasto, isto é C D = 0.15!
(4) pela força característica, obteremos uma Isto é, se o cilindro da Fig. 2 (a) é a referência,
expressão similar para o coeficiente de arrasto: nota-se que ao arredondar a frente do cilindro,
Fig. 2(b), reduz-se o arrasto em 45%; com a
CD = CD,atrito + CD, forma (5)
introdução de uma carenagem na parte trazeira,
A determinação analítica ou numérica do entretanto, a redução do arrasto chega a 93%,
arrasto, Eqs. (4) ou (5), ainda é um desafio à Fig. 2(c).
teoria da mecânica dos fluidos, exceto para uma A magnitude dos arrastos de forma e de
placa plana ou corpos muito delgados. Isto se atrito de um corpo delgado (streamlined) com
deve ao fenômeno da “separação do razão de aspecto (t/c) variando entre 0.05 a 0.4,
escoamento”. A teoria da camada limite pode está mostrada na Fig. 3. Para (t/c) → 0 a forma
determinar o ponto de separação, mas ainda do corpo aproxima-se de uma placa plana e o
não avalia satisfatoriamente a pressão arrasto de atrito representa 83% do arrasto total.
(usualmente baixa) na região de separação. E Por outro lado, quando (t/c) aumenta, isto é o
mesmo a própria determinação do ponto de corpo torna-se mais bojudo (arredondado), o
separação do escoamento pode ser arrasto de forma também aumenta.
comprometida. Por exemplo, a corrente que se Em corpos rombudos, isto é, não
descola do corpo na região de separação pode delgados, tais como cilindros e placas planas
causar uma perturbação significativa no normais ao escoamento, o arrasto de pressão é
escoamento livre. Nestes casos, a teoria da dominante e corresponde a mais que 90% do
camada limite pode ser aplicada somente se a arrasto total. Isto pode ser facilmente
distribuição de pressão no corpo for identificado se observamos a Fig. 4, que mostra
previamente conhecida (determinada o CD em função do Re para corpos de formas
experimentalmente, por exemplo). Veja na Fig. variadas. Para escoamentos com Re > 1000,
6 as distribuições de pressão sobre um cilindro por exemplo, corpos delgados com formas de
colocado transversalmente ao escoamento, de placas planas, aerofólios, pássaros, etc, têm C D
acordo com a teoria potencial, e valores < 0.1. Nestes corpos, como visto na Fig. 3, os
medidos em escoamentos laminar e turbulento. arrastos de forma e atrito são igualmente
Em escoamentos subsônicos com importantes na constituição do arrasto total. Por
número de Reynolds elevado (Re > 1000, por outro lado os corpos rombudos, barra de seção
exemplo), o arrasto de forma pode superar em quadrada, cilindro transversal ao escoamento e
várias ordens de grandeza o arrasto de atrito. placa plana normal ao escoamento têm CD  1.
Entretanto, não se pode generalizar, pois a A razão para os corpos rombudos
proporção dependerá da forma do corpo, isto é, apresentarem CD próximo da unidade é que a
se ela favorecerá ou não a separação força de arrasto total é bem próxima do produto
hidrodinâmica. entre a pressão dinâmica e a área frontal.
Valores do coeficiente de arrasto para
corpos com formas distintas, (a) cilindro, (b)
cilindro com nariz arredondado, (c) cilindro com
nariz arredondado e trazeira delgada e (d)
cilindro transversal ao escoamento, para
escoamentos com ReL > 10000, estão na Fig. 2.
Em todos estes casos, a área característica
para o cálculo do coeficiente de arrasto foi a
área frontal do corpo. Observa-se que o
coeficiente de arrasto para os corpos rombudos
2
6. A curva tracejada é uma distribuição simétrica
obtida da solução do escoamento potencial; as
linhas ‘traço-ponto’ e ‘contínua’
(5b)
(5a)

Fig. 5 –Representação esquemática do ponto


de separação escoamento em um cilindro em
regime laminar (a) e turbulento (b).
< Fig. 3 – Influência do arrasto de atrito e de
forma no arrasto total para um corpo delgado
são assimétricas e são valores medidos de
(carenado) em função da razão de aspecto (t/c)
escoamentos de camada limite laminar e
turbulenta. A assimetria na distribuição de
pressão resulta, naturalmente, da separação do
escoamento. A partir do valor máximo de
estagnação frontal, o caso laminar apresenta
uma pressão negativa e constante a partir de
82o. No caso turbulento o ponto de separação
desloca-se para 120o e a distribuição de
pressão é mais simétrica que a do caso laminar:
portanto, o arrasto é menor.
Concluindo, por paradoxal que possa ser,
a transição do escoamento de laminar para
turbulento causa uma redução do arrasto total
Fig. 4 – Coeficientes de Arrasto para corpos bi- do cilindro. Sem dúvida, o arrasto de atrito
dimensionais em função do Reynolds. aumenta quando o escoamento transiciona de
laminar para turbulento. Porém, neste regime e
De maneira aproximada pode-se estimar para esta forma de corpo, a contribuição do
a força total de arrasto considerando que a arrasto de atrito para o arrasto total no cilindro é
diferença de pressão entre as superfícies do muito pequena quando comparado com o
corpo, à montante e à jusante em relação ao arrasto de pressão. Assim como a transição
escoamento, corresponde à pressão dinâmica, laminar-turbulento torna mais simétrica a
(1/2)U2, no ponto de estagnação frontal. Esta distribuição de pressão, ela também reduz o
diferença de pressão vezes a área frontal do arrasto total.
corpo [(1/2)U2A] é, então, uma estimativa do
arrasto total. Isto então justifica o fato, nestes
corpos rombudos, do arrasto de forma ser a
componente dominante no arrasto total.
Ainda com referência à Fig. 4, deve-se
destacar um comportamento peculiar do CD do
cilindro para números de Reynolds variando
entre 105 e 106. Nesta faixa há uma súbita
diminuição do CD de 1.2 para 0.3. Este
fenômeno também é conhecido como “crise do
arrasto” e deve-se a uma transição de regime
laminar para turbulento da camada limite que se
desenvolve na superfície do cilindro. Enquanto a
camada limite laminar separa-se em uma
posição angular de 82 graus (em torno de) a
partir do ponto de estagnação frontal, na
camada limite turbulenta a separação ocorre em
120 graus, veja representação esquemática na
Fig. 5. Ao transicionar de laminar para Fig. 6 – Distribuições de pressão num cilindro,
turbulento, o escoamento na camada limite do causadas por um escoamento: potencial
cilindro consegue extrair mais energia do (teórico), camada limite laminar e turbulenta.
escoamento externo e retardar o ponto de
separação para 120 graus.
A redução do arrasto também pode ser
observada na distribuição de pressão no cilindro
para os diferentes regimes, como mostra a Fig.
3
(a) (b)

Papel lixa

Fig. 7 – Diferenças entre os pontos de separação laminar (a) e turbulento (b)


em uma bola de boliche de 216 mm de diâmetro entrando na água com 7.6 m/s.

A indução da transição laminar-turbulento 2. OBJETIVO


passa então a ser um recurso empregado para
redução de arrasto, neste caso específico. A
O objetivo da experiência discutida neste
Fig. 7 mostra a visualização da entrada na água
documento é a determinação do arrasto total de
de duas bolas de boliche com 216 mm de
um aerofólio, perfil simétrico padronizado:
diâmetro, a uma velocidade de 7.6 m/s (Re =
NACA 0012. O arrasto total (ou o coeficiente de
1.6 106). Na figura (7a) o escoamento é laminar
arrasto) será obtido através da medição do perfil
e o ponto de separação ocorre próximo ao
de velocidades na sua esteira do perfil e da
equador da esfera. Na figura (7b), a mesma
aplicação adequada das equações de
esfera, nas mesmas condições, tem o ponto de
conservação da massa e quantidade de
separação atrasado em relação ao caso (7a)
mivimento linear, em conjunto com premissa
devido à inserção de rugosidade causada por
simplificadoras apropriadas. O experimento será
um papel lixa no nariz da bola. Uma mesma
realizado em um túnel de vento sub-sônico
forma, porém em regime distinto, apresenta um
(Umax = 30 m/s) da marca Plint e Partners. As
arrasto diferente. Uma utilização popular do uso
medidas de velocidade serão obtidas por meio
deste efeito para a redução de arrasto é a
de um tubo de Prandtl (similar ao Pitot)
rugosidade criada na superfície das bolas de
golf.

massa
massa

(0) (1) (1) (2)


S. C. S. C.
Região do Perfil Região da Esteira
4
Fig. 8- (8a) representação esquemática dos perfil a ser estudado e das superfícies de controle (0-1) e (1-
2) para aplicação da equações apropriadas. (8b) Visualização dos perfis de velocidade na esteira.
Fluído: água, velocidade: 3.4 cm/s, espessura do perfil: 8 mm; Re = 280, técnica de visualização: bolhas
de hidrogênio, reproduzido da referência [3].

presença da superfície sólida causa um retardo


3. DESCRIÇÃO QUALITATIVA DO na velocidade devido ao não deslizamento do
ESCOAMENTO fluido. O escoamento próximo ao corpo sólido,
devido o seu elevado Reynolds, caracteriza-se
por um regime de camada limite. Definindo uma
Nesta seção é realizada uma breve superfície de controle, SC (linha traço-ponto),
análise qualitativa do escoamento ao redor do cujos limites são demarcados por (0) e (1),
perfil estudado. Devido às diferenças entre o conforme ilustra Fig. 8a, e aplicando-se a
escoamento à montante e à jusante do perfil, o conservação da massa no VC, observa-se que
campo de velocidades será dividido em duas na região do perfil há uma expulsão de massa
regiões. Uma delimitada entre a região à do VC devido à desaceleração do fluido. Por
montante do perfil (corrente livre, escoamento sua vez, na região da esteira, o perfil de
não-perturbado) até seu bordo de fuga; a outra, velocidades é formado logo após bordo de fuga
do bordo de fuga até uma certa distância à do aerofólio, pela coalescência dos perfis de
jusante, região conhecida como esteira. Por velocidade da parte superior e inferior, veja Fig.
conveniência, elas passarão a ser denominadas 8a. A depressão que se visualiza na parte
por região do perfil e região da esteira, como central do perfil de velocidades é resultante da
indicado na Fig. 8a. Os perfis de velocidades desaceleração do fluído região, causada por
nas regiões do perfil e da esteira estão efeitos viscosos que ocorrem na camada limite.
representados esquematicamente também na Este déficit de velocidade é recuperado à
Fig. 8a. Pode-se notar que na região do perfil a
seção (0-2)
U0, p0
massa

Seção (0)
U0, p0
x

massa (1)
(0) (2)

Fig.9 – Definição das fronteiras da SC: seções (0), (2) e (0-2); dos perfís de
velocidades nas seções (0) , (1) e (2) e; dos tubos de corrente (fundo cinza claro) .

5
medida que o escoamento avança à jusante do seção (0) o fluxo é não perturbado e apresenta
corpo, veja Fig. 8. Aplicando-se um balanço de um perfil uniforme de velocidades. Na seção (2),
massa no VC demarcado por (1-2) verifica-se longe o suficiente do bordo de fuga, o perfil
um influxo de massa do escoamento externo apresenta ainda um déficite de velocidade
para o VC, conforme representado na Fig. 8a. O porém é quase uniforme. Podemos escolher a
perfil de velocidades na esteira também é seção 2 como aquela de saída do túnel, onde a
caracterizado por um escoamento de camada pressão também é po. Assim, pode-se afirmar
limite. Na visualização da Fig. 8b observa-se que tanto na seção (0) como na (2) a pressão
que o gradiente de velocidades na esteira não estática é ‘praticamente’ p0, isto é, a pressão
se estende por mais que duas vezes a atmosférica, uma característica deste túnel de
espessura do aerofólio na direção transversal vento, especificamente, e também a pressão na
ao escoamento. Finalizando, espera-se que, se corrente livre. Nas laterais da SC, seção (0-2),
a seção (2) for posicionada muito afastada da está afastada na direção y do perfil de tal modo
seção (1) - o bordo de fuga, o perfil em (2) será que as linhas de corrente apresentam uma
coincidente com o perfil em (0). Assim, a curvatura quase nula, isto é, são ‘quase’
expulsão de massa na região do perfil será paralelas assim também pode-se afirmar que
igualada ao seu influxo na região da esteira. em (0-2) a pressão estática atuante é
coincidente com p0 . Nesta seção ainda há um
3.1.- MÉTODO INTEGRAL fluxo de massa que cruza a SC(0-2) devido à
desaceleração do fluido pelo perfil.
O arrasto total exercido no perfil pode ser A escolha adotada para SC permite uma
determinado experimentalmente através do simplificação na forma da Eq (7) para a direção
cálculo da variação da quantidade de (x). Observando-se que para a SC escolhida a
movimento linear do escoamento em um volume pressão é uniforme e constante ao longo de
de controle que envolva o escoamento. O VC todo o contorno, vem que a contribuição do
deve compreender desde a região à montante termo de pressão é nula:
até a região da esteira do perfil. As equações 
básicas a utilizar são, então, as
 p 0ndA =  

p 0 d = 0 .
SC Teorema VC 0
correspondentes ao balanço de massa e de Gauss
quantidade de movimento. A equação de
balanço de massa em regime permanente é Já a força de campo é ortogonal è direção
expressa como: x. Consequentemente é nula pois gx = 0:
   gx d = 0 . (8)
 U  ndA = 0 , (6) VC
SC
Isto posto, a componente na direção (x)
onde U é a velocidade do fluido que cruza a SC,
da Eq. (7) é reduzida para dois termos, o
n a sua normal e  a densidade do fluido. A balanço de quantidade de movimento e a força
equação integral da quantidade de momento, mecânica:
para regime permanente é:

(  
)
 U  U  ndA =
  
 pndA +  gd + Fmecânica (7) ( 
)
 U  U  ndA = Fmecânica, x . (9)
SC
 SC

 VC

 SC
variação força força
momento pressão campo
A força mecânica é uma força que cruza
A equação (7) é de natureza vetorial e, a SC, é a ação do perfil sobre o fluido (ou sobre
portanto, compreende três equações escalares o VC). Fisicamente, é a força mecânica exercida
distintas correspondentes a cada direção de por um suporte onde o perfil está preso, suporte
umsistema de eixos cartesiano. Considerando este que cruza a SC. Ela existe para manter o
que o eixo x seja coincidente com a direção do perfil estacionário, para que não seja carregado
fluxo de ar não perturbado – a corrente livre -, o pela corrente de ar. O arrasto total, D, é a
arrasto total também coincide com esta direção, reação a esta força, isto é, a força que o fluido
por definição. Assim, a idéia central para se exerce no perfil. Assim, a relação entre a força
determinar o arrasto total é determinar as mecânica e o arrasto total é:
componentes x das integrais que constituem o
balanço de quantidade de movimento, Eq. (7). Fmecânica,x = −D , (10)
Para tanto, é necessário determinar
experimentalmente os valores de velocidade e e a forma final da Eq. (9) fica sendo:
pressão que atuam na SC.
O primeiro passo é a definição da SC. A (  
)
 U  U  ndA = - D . (11)
figura 9 ilustra as fronteiras escolhidas para SC
definir a SC. Ela é a forma retangular que
A integral de superfície é avaliada nas
envolve o perfil (linha traço-ponto). As seções
quatro faces do SC:
(0) e (2) são a entrada e a saída da SC. Na
6
( 
 U0  U0  n 0 dA + ) ( 
 U 2  U 2  n 2 dA ) O método de Jones (Schlichting, 1962)
propõe duas modificações que permitem a
SC( 0 ) SC( 2 )
.(12) determinação do arrasto total, conforme Eq.
+

( 
 U02  U02  n 02 dA = ) -D (16), porém com os valores experimentais
SC( 0 − 2 ) medidos na seção(1) (1), evitando assim as
incertezas resultantes da diferença (U0- U2). As
O terceiro termo à direita do sinal de modificações são:
igualdade é o fluxo de quantidade de movimento
através de 0-2, isto é, o produto do fluxo de 1) O fluxo de massa(2) ao longo de um tubo de
massa através de 0-2 com a velocidade naquela corrente entre as seções (1) e (2), veja Fig.
face. O fluxo de massa em 0-2 também é a 9, relaciona as velocidades U1 e U2 :
diferença entre os fluxos de massa que entram U1dy 1 = U 2 dy 2 (17)
e saem do VC. Ele é escrito:
2) Segundo Jones, o escoamento ocorre sem
(02) = -  (U2 − U0 )dA

M ; (13) perdas entre as seções (1) e (2), isto é, a
pressão total H permanece constante(3) ao
longo de cada tubo de corrente entre as
seções (1) e (2):
Se admitirmos agora que a componente na
 H1 = H2, (18)
direção x da velocidade U na seção (0-2)
coincide com a velocidade da corrente livre, isto A pressão total é definida como a soma
é U02x=U0, podemos substituir a Eq. (13) em (12) das pressões estática e dinâmica do
para chegar a: escoamento e, para cada plano, são definidas
por:
1
U02
-  U0 (U0 dA ) +  U 2 (U 2 dA ) H0 = P0 +
2
SC( 0 ) SC( 2 ) 1
, (14) H1 = P1 + U12 . (19)
+ U0   (U0 − U 2 )dA = -D 2
1
SC( 0 − 2 ) H 2 = P2 + U 22
2
Agrupando-se e simplificando-se os
termos da equação (14) tem-se que: Substituindo-se Eq. (17) na Eq. (16) tem-
se que:
D =  U2  (U0 − U2 )dA
(15) +y0
D = b   U1  (U0 − U2 )dy1 , (20)
Vale lembrar que, para o perfil bi- −y0
dimensional em questão, o elemento de área,
dA, é o produto do diferencial de altura, dy, e a Sabendo-se que p0=p2 (a pressão
largura b do perfil. O arrasto total fica então atmosférica) e utilizando-se Eqs. (18) e (19)
sendo: pode-se escrever as velocidades U0, U1 e U2
como:
+ y0
D = b   U 2  (U 0 − U 2 )dy , (16)
− y0
(1) Ao se adotar a seção (1) para medição tem que se
onde +yo e –yo são as posições verticais assegurar que a vazão expulsa pela face (0-2) do SC na
seção (1) seja coincidente com aquela determinada na
superior e inferior do escoamento na esteira, no seção (2).
limite da ocorrência do escoamento não (2) A escolha da SC indicada na Fig. 9 garante que a vazão
perturbado. A Equação (16) mostra que o mássica expulsa na seção (2) possa ser calculada por meio
produto entre a diferença de velocidade (U0- U2) das medidas na seção (1), a Eq. (13) modifica-se para:
+ y0
com o fluxo de massa na seção (2) resulta no M02 = M01 = −b     (U1 − U0 )dy1
arrasto total exercido pelo perfil no corpo. −y0
e a Eq. (14) para:
+ y0 + y0 + y0
3.2.- MÉTODO DE JONES -  U0 (U0dy ) +  U2 (U1dy ) + U0  (U0 − U1 )dA = - D b
Apesar da equação (16) ser correta, ela - y0 - y0 - y0

não é factível de aplicação para se determinar deve-se destacar que o fluxo de momento na seção (2) é
experimentalmente o arrasto (pelo menos com a calculado a partir da vazão mássica em (1) pela velociade
em (2). A equação acima tem a mesma forma da Eq. (20).
instrumentação de que dispomos). Na seção (2)
o perfil de velocidades já se recompôs e a (3)A equação de Euler ao longo de uma linha de corrente
velocidade U2 já é muito próxima de Uo, assegura que para cada linha de corrente H se conserva,
induzindo uma elevada incerteza na medição da H1=H2. Assim sendo, a velocidade U2 é determinada pela
Eq. (21).
diferença (U0- U2).
7
U0 = 2
(H0 − P0 ) pressão estática da corrente livre, p1=p0.

U1 = 2
(H1 − P1 ) (21)
3.3.-IMPLEMENTAÇÃO NUMÉRICA

A equação (23) é a equação de trabalho
U2 =
(H − P0 )
2 1 que permitirá calcular o coeficiente de arrasto
 do perfil. Para diferentes posições ao longo do
eixo y, deverão ser determinadas as diferenças
Utilizando-se Eq. (21) pode-se escrever a de pressão indicadas na equação. Depois será
Eq. (20) em função das pressões manométricas calculado o integrando da equação para cada
lidas diretamente pelo tubo de Prandtl, isto é, ponto de medida. Teremos assim um conjunto
de n pares de valores [i,(y/c)] onde i é dado pela
Eq. (24):

c = corda

b/c = 0,12 c = 6 pol. b = 0,72 pol.

Fig. 10 - Dimensões do aerofólio NACA 0012.

( )
+ y0 
(22) H1 − P1 H1 − P0 
D = 2b   H1 − P1  H0 − P0 − H1 − P0 dy1 i=2  1 − (24)
− y0 H 0 − P0  H 0 − P0 

ou, expressando-se o arrasto na forma do Como as medições ao longo do eixo y serão


coeficiente de arrasto, conforme definido pela discretas, deverá ser utilizado um procedimento
Eq. (3), de integração numérica, como a fórmula de
Simpson:
+ y0  H − P  H1 − P0   y1 

CD = 2   1 1
 1 − d  (23)
−y0  H − P 
 H 0 − P0   c  1 y i 0 + 4i1 + 2i 2 + 4i 3 + 2i 4 + ....  (25)
 0 0  Integral =
3 c + 2in − 4 + 4in − 3 + 2in − 2 + 4in −1 + in 
O cálculo deste CD baseia-se na área
molhada do aerofólio, A = b.c, onde b e c são, onde y equivale ao passo, no caso y=1 mm,
respectivamente, a largura e a corda do ik é o valor do integrando da Eq. (24) para o
aerofólio. ponto de posição yk na seção (1) do túnel.
Tanto a Eq. (22) quanto a Eq. (23) devem
ser integradas ao longo de toda a seção (1). Em
ambos os casos o integrando difere de zero 4. EQUIPAMENTOS
somente na porção da região 1 onde existe
diferença de velocidade na esteira. A equação
(22) transforma-se na Eq. (16) quando a Os equipamentos utilizados nesta
pressão estática na seção (1) for igual a experiência são o túnel de vento PLINT &

tomada de pressão estática

.
(H - P)
.
direção do
escoamento
tomada de pressão total
8
Fig. 11 - Tubo de Prandtl
PARTNERS, de seção quadrada de 18” e o lidas na sonda Prandtl. Estas pequenas
aerofólio NACA 0012, de seção simétrica diferenças são devidas a efeitos aerodinâmicos
(Fig.10). Serão também utilizados dois que aparecem por causa da diferença de
manômetros de coluna de líquido afixados na tamanhos dos orifícios das tomadas de pressão,
lateral do próprio túnel, além de um de coluna posição dos mesmos, alinhamento da sonda,
de álcool (marca MERIAM) e uma sonda de etc.
velocidades tipo Prandtl. Para a determinação da velocidade da
A sonda Prandtl têm o mesmo princípio corrente livre do túnel, medindo a diferença de
de funcionamento que um tubo Pitot, pressões com as tomadas na lateral do mesmo,
diferenciando-se apenas no formato (ver Fig. deve ser então utilizada uma equação ajustada:

H0T= pressão total


corrente livre

P0T= pressão estática


corrente livre

P0S= pressão estática corrente livre

H0S= pressão total


corrente livre

Fig. 12 - Localização dos pontos de determinação de pressões no tunel de vento

11). Ela possui um orifício frontal, onde se mede


1
a pressão total (H), e um outro lateral, onde se v 0 2 = K (Ho - p o ) , (26)
mede a pressão estática do escoamento. A 2
diferença entre estas pressões permite-nos A constante “K” de ajuste na Eq. (26) vale
calcular a velocidade do escoamento no ponto 0,965..
em que a extremidade da sonda está localizada,
utilizando a Eq. (21).

A sonda está ligada ao manômetro 5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL


MERIAM. O túnel possui um mecanismo para
deslocar esta sonda na direção ‘y’ comandado - Determinação da velocidade do ar na corrente
por um volante, com uma régua graduada de 2 não perturbada do túnel:
em 2 mm.
Na Fig. 12 estão indicados os pontos de 1) Meça a pressão barométrica e a
medição destas pressões no túnel de vento. temperatura ambiente.
Como se observa, temos mais de uma opção
para a determinação das pressões (total e 2) Posicione a sonda de velocidade à frente do
estática) da corrente livre: na parede do túnel e aerofólio (caso for utilizar este
na sonda Prandtl. Mas, como veremos no procedimento).
laboratório, os pontos de tomadas de pressão
na parede do túnel resultam em valores 3) Feche a entrada de ar do soprador do
ligeiramente diferentes das mesmas pressões túnel.: ligue o soprador com a entrada de ar
9
fechada e logo após, abra completamente a 2) Para as duas condições, calcule a
válvula. velocidade do ar na seção de teste do túnel,
considerando como correta a medição
4) Meça o valor da pressão dinâmica (H0 - P0), realizada na sonda, equação (21), e calcule
máxima o fator “K” de ajuste da equação (26). O valor
a) nas tomadas de pressão do túnel indicado pelo fabricante do túnel para esta
b) nas tomadas de pressão na sonda (se constante é de K = 0,965.
for este o caso).
3) Calcule os números de Reynolds
5) Meça a pressão estática manométrica, (P0 - correspondentes às duas condições,
Patm), da corrente livre: utilizando a corda do aerofólio como
i) Com a sonda ainda na posição à frente do dimensão característica.
aerofólio deixando ligada ao manômetro
somente a tomada de pressão estática, P0 e 4) Verifique as leituras das diferenças de
liberando o outro extremo para a atmosfera pressão realizadas. Lembre que pela lei de
(se for este o caso). conservação da energia elas devem ser:
ii) Da mesma forma, meça com a tomada na
parede do túnel. (H0 − p 0 )  (H1 − p 0 ) e
(H0 − p 0 )  (H1 − p1 )
6) Com a máxima abertura da entrada do
soprador, ajuste o aerofólio para ângulo de
ataque zero (lembre que justo atrás do estas desigualdades se aproximam da
aerofólio, em posição horizontal, teremos o igualdade para posições ‘y’ afastadas do
menor valor da diferença (H1 - p1). aerofólio. Se as suas medidas não
cumprem estas relações, discuta como
7) Posicione a sonda 8 mm atrás do bordo de corrigi - lhas com base nos resultados do
fuga do aerofólio. Determine (H1 - p0), e item 3 acima.
(H1 - p1), fazendo uma varredura de 10
divisões da escala de posicionamento para 5) Trace as curvas do integrando em função
cima da posição zero da sonda e 10 da altura y :
divisões para baixo (cada divisão  H1 − P0 
H1 − P1  y  (24)
correspondendo a 1 mm). A determinação i=2  1 − x  
H0 − P0  H0 − P0  c
das pressões pode ser feita 
simultaneamente ligando dois manômetros
às tomadas de pressão correspondentes. para as duas condições de operação no
túnel.
8) Divida o valor obtido para a pressão
dinâmica máxima em três partes: feche a 6) Determine o coeficiente de arrasto para as
válvula de admissão do túnel até chegar duas condições de operação calculando
em torno do valor de 1/3 da pressão numericamente a integração indicada na
dinâmica máxima, repita novamente as equação (23) (método de Simpson).
medições indicadas nos itens 2 a 7, acima,
referentes à determinação de velocidade 7) Calcule a incerteza dos coeficientes de
do ar e correções nas leituras de pressão. arrasto obtidos. Dado que o coeficiente foi
e repita a varredura das diferenças de calculado através de uma integração
pressão, indicada no item 7, anterior a numérica, a incerteza pode ser obtida
este, para a nova condição de velocidade. através do método de propagação de
incertezas (erro provável). A incerteza na
9) Após desligar o ventilador do túnel, feche a medida da coordenada “y” pode ser
válvula de entrada de ar. desprezada, já que se trata de um valor pré
- fixado.

8) Procure na literatura valores do coeficiente


de arrasto para o perfil NACA 0012 e
6. RELATÓRIO compare com os obtidos em suas
medições.
1) Para as duas condições operacionais
aplicadas, calcule a velocidade da corrente
livre do ar, considerando como correta a 7. BIBLIOGRAFIA
medição realizada na sonda, equação (21),
e calcule o fator “K” de ajuste da equação
(26). O valor indicado pelo fabricante do [1] - Fox&McDonald, “Introdução à Mecânica
túnel para esta constante é de K = 0,965. dos Fluídos”, Edit. Guanabara Dois, 1978,
Cap. 8, parte E.

10
[2] - Schlichting, H.; “Boundary Layer Theory” ,
McGraw-Hill, 1968. Cap. 9 e Cap. 25.
[3] - Japan Society of Mechanical Engineers,
“Visualized Flow”, Pergamon Press, 1989.
[4] – F.M. White, “Fluid Mechanics’, 2nd Ed.
McGraw Hill, 1986.

APÊNDICE

Viscosidade do Ar seco a 1 atm:

T 
(oC) (N.s/m2)
0 1.71x10-5
10 1.76x10-5
20 1.81x10-5
30 1.86x10-5
60 2.00x10-5
100 2.18x10-5

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