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Resumo - P1 - Estrutural 2

1. Força e Esforço

Força e Esforço são duas grandezas importantes para o estudo da Geologia Estrutural. Os
materiais geológicos são considerados contínuos para fins de simplificação na previsão dos
comportamentos sob deformação.
A força muda a velocidade de um objeto. De acordo com a primeira Lei de Newton, na
ausência de uma força um objeto se move em velocidade constante, ou, um corpo livre se move sem
aceleração. A mudança na velocidade é chamada de aceleração, definida como velocidade dividida
pelo tempo. A força (F), de acordo com a Segunda Lei de Newton, será a massa multiplicada pela
aceleração, e sua unidade será kg.m.s-2.
A força pode ser classificada em dois tipos: a força de corpo, que atua no volume de um
corpo (como a gravidade); e a força de superfície, que atua somente sobre a área superficial de um
corpo (como a expansão de um pistão).
O esforço (stress) é a força por unidade de área, σ = F/A. Ou seja, o esforço é a intensidade
da força, ou uma medida de quão concentrada uma força é. Sua unidade é kg.m-1.s-2 ou N.m-2
(Pascal). Outra unidade comum é o bar, que equivale a aproximadamente 1 atm:

1 bar = 105 Pa = 1 atm


Transformando para kilobar e megapascal (Mpa):
1 kbar = 1000 bar = 108 Pa = 100 Mpa

Portanto, quanto menor a área da força aplicada, maior será o esforço.

1.1 Força e Esforço em 2 dimensões

A força aplicada em uma área pode ser decomposta em uma força normal (Fn), resultando
em um esforço normal, e paralela a superfície (Fs), resultando em um esforço cisalhante. Para
observar a relação da força (F) e esforço (σ) em
um plano, temos a aplicação de uma força
através de um cubo com face ABCD e
comprimento da aresta AB. A força é
decomposta em Fs (força cisalhante - paralela a
superfície) e Fn (força normal - perpendicular a
superfície) em relação a um plano EF que faz
ângulo θ com a superfície superior e inferior.
(Figura a):
σ = F/AB
Fn = F cos θ = σ AB cos θ = σ EF cos2 θ
(AB = EF cos θ)
Fs = F sin θ = σ AB sin θ = σ EF sin θ cos θ
= σ EF 1/2 (sin 2θ)

E os esforços correspondentes (Figura b) são:


σn = Fn/EF = σ cos2 θ
σs = Fs/EF = σ 1/2 (sin 2θ)
Os valores normalizados de Fn e σn no plano com ângulo θ (Figura c) mostram que Fn e σn
serão máximos quando θ for 0 e mínimos quando θ for 90 graus. Os valores normalizados de Fs e σs
no plano com ângulo θ (Figura d) mostram que Fs será mínimo quando θ for 0 e máximo quando
for 90 graus. Já o σs será máximo quando θ for 45 graus (seno 2θ = 1, θ = 45 graus) e mínimo
quando for 0 e 90 graus.

1.2 Força e Esforço em 3 dimensões

Para estudar essas grandezas em um


corpo tridimensional, reduz-se o corpo até o
tamanho de um ponto. O ponto define a
interseção de um número infinito de planos com
orientações diferentes. Portanto, o estado de
esforço nesse ponto, descreverá os esforços
atuando em todos os planos.
Esses esforços atuantes terão direção,
sentido e magnitude. O envoltório que liga todos
esses vetores forma uma elipse - a elipse de
esforço (a). Em três dimensões, forma-se o
elipsoide de esforço (b) com três eixos
principais, σ1 > σ2 > σ3. Se os três eixos
principais são iguais em magnitude, o esforço é
isotrópico, caso sejam diferentes, o esforço é
chamado de anisotrópico. Esses esforços são
ortogonais entre si e apresentam componente de
cisalhamento igual a 0 nos planos onde eles são
perpendiculares.
Uma outra forma de representar esses
esforços é em um cubo infinitesimalmente
pequeno, cujos lados são perpendiculares a cada
uma das faces x, y e z. Então na face
perpendicular ao eixo x, o esforço normal
atuante é σxx e dois cisalhantes, σxz e σxy. No
eixo y, o esforço normal atuante é σyy e dois
cisalhantes, σyx e σyz. No eixo z, o esforço
normal atuante é σzz e dois cisalhantes, σzx e σzy.
Como o corpo está em repouso, as componentes
cisalhantes opostas devem ser iguais.
Dessa forma, para qualquer estado de
esforço dado, existe pelo menos um conjunto de
três planos mutuamente perpendiculares em que
os esforços de cisalhamento são zero.
Estados comuns de esforços

Esforço Triaxial Geral σ 1 > σ 2 > σ3 ≠ 0


Esforço Biaxial (plano) σ1 > 0 > σ3
Tração uniaxial σ1 = σ2 = 0; σ3 < 0
Compressão uniaxial σ2 = σ3 = 0; σ1 > 0
Esforço ou pressão hidrostática σ 1 = σ 2 = σ3

1.3 O Diagrama de Mohr para esforços

Considera-se um experimento com


um bloco de argila sendo comprimido entre
duas pranchas. Se desenvolverá uma fratura
no bloco (plano de fratura AB) com esforço
de cisalhamento e normal atuantes. O esforço
máximo atuante no bloco é σ1 e o mínimo é
σ3. O plano de fratura AB faz um ângulo θ
em relação a σ3. Dessa forma, obtêm-se:

σn = 1/2 (σ1 + σ3) + 1/2 (σ1 - σ3) cos 2θ


σs = 1/2 (σ1 - σ3) sin 2θ

Para representar graficamente o


esforço normal e cisalhamento em um plano
P qualquer utiliza-se o Diagrama de Mohr.
O Diagrama de Mohr contém dois eixos
perpendiculares, onde σn é a abscissa (eixo x)
e σs é a ordenada (eixo y); com σ1 e σ3
plotados na abscissa, pois eles ocorrem
quando o esforço de cisalhamento é igual a 0.
O plano P é encontrado a partir de um ângulo
2θ no sentido anti-horário a partir de σ1. A
partir da projeção de P, obtêm-se os esforços
de cisalhamento e normal em P. O raio do
círculo de Mohr é: 1/2 (σ1 - σ3); o esforço
médio (origem do círculo) é: 1/2 (σ1 + σ3); e
o esforço diferencial é: (σ1 - σ3).
Outras observações sobre o Diagrama
de Mohr é que existem dois planos com o
mesmo esforço de cisalhamento. Além disso, existem dois planos com esforço normal igual, mas
com esforços de cisalhamento de sinal oposto (isto é, eles agem em direções diferentes nesses
planos).
1.4 Estados comuns de esforços no Diagrama de Mohr

a) Esforço Triaxial Geral: σ1 > σ2 > σ3 ≠ 0


b) Esforço Biaxial (plano): σ1 > 0 > σ3
c) Compressão uniaxial: σ2 = σ3 = 0; σ1 > 0
d) Esforço ou pressão hidrostática: σ1 = σ2 = σ3

1.5 Esforço médio e esforço deviatório


O esforço médio é definido por: σm = (σ1 + σ2 + σ3)/3. Sua diferença em relação ao esforço
total é o chamado esforço deviatório: σtotal = σm + σdev. A pressão litostática é: Pl = ρgh.
O esforço deviatório (anitrópico) causa mudanças na estrutura das rochas, enquanto os esforços
litostáticos/hidrostáticos (isotrópicos) causam mudanças no volume e são mais difíceis de medir.

Obs: O sinal positivo é utilizado para esforços compressivos e negativo para esforços extensionais.
2. Deformação

A deformação descreve coletivamente o deslocamento de pontos em um corpo; em outras


palavras, ela descreve a transformação completa da geometria inicial para a geometria final de um
corpo. Essa mudança inclui:
a) Translação: movimento de um lugar para o outro;
b) Rotação: giro em torno de um eixo;
c) Distorção ou deformação interna (strain): mudança de forma. A deformação interna descreve
mudanças de um ponto em relação a outro; portanto, descreve a distorção de um corpo.

d) Mudança de volume: variação isotrópica de volume/variação anisotrópica de volume


(compactação). A variação isotrópica de volume não possui deformação interna, enquanto a
variação anisotrópica de volume (compatação) apresenta encurtamento axial (deformação
interna), resultado da componente de esforço deviatório (esforços principais com diferentes
magnitudes).
Cada componente de deformação, por sua vez, pode ser descrita por um campo de vetor e
sua soma gera o campo de deslocamento. O campo de deslocamento vai indicar a trajetória das
partículas do ponto inicial e final do corpo. Exemplo:

As setas em (A) são os vetores de deslocamento que conectam as posições inicial e final das
partículas. Em (B, C) Componentes de translação e rotação da deformação mostrada em (A). (D) O
componente de deformação interna (strain); um novo sistema de coordenadas (x', y') é introduzido.
(E) O novo sistema elimina a translação e rotação (B, C) e a deformação interna ocorre por
cisalhamento simples.

Exemplo de deformação causada principalmente por translação:

Translação é o componente mais importante em um sistema de cavalgamentos. Setas representam o


deslocamento relativo ao cavalgamento direcionado para ESE (translação) da nappe representada
em cor laranja na Faixa Brasília.
Exemplo de deformação causada principalmente por rotação:

Falhas normais em dominó, que foram rotacionadas para acomodar a deformação em um sistema
extensional.

Outros exemplos de deformações causadas por rotação: falhas lístricas, rotação de ripple marks,
porfiroblastos, etc.

2.1 Deformação Homogênea vs. Heterogênea

- Deformação Homogênea:
a) Linhas originalmente retas permanecem retas;
b) Linhas originalmente paralelas permanecem
paralelas;
c) Círculos se transformam em elipses (ou
elipsoide em 3D);
d) Deformação interna e mudança de volume/
área são constantes em todo o volume de
rocha considerado.
Obs.: Uma deformação homogênea em uma
escala pode ser considerada heterogênea em
outra. Ex.: Um volume de rocha cortado por
falhas; em larga escala, a deformação pode ser
considerada homogênea; em escala menor, as
descontinuidade tornam-se aparentes e a
deformação pode ser considerada heterogênea.

- Deformação Heterogênea:
Quando qualquer uma das restrições de Deformação Homogênea não se aplica.
Na figura abaixo, em (a) estado sem deformação, em (b) deformação homogênea e, em (c)
deformação heterogênea.

2.2 Elipse e elipsoide de deformação

- Linhas materiais conecta elementos (como uma matriz de grãos) que são reconhecíveis ao
longo de uma história de deformação, se comportam como marcadores passivos;
- Em um corpo homogeneamente deformado bidimensional, haverá pelo menos 2 linhas materiais
que não rotacionarão uma em relação à outra;
- Essas duas linhas são os eixos da elipse de
deformação;
- Em um corpo homogeneamente deformado
tridimensional, haverá pelo menos 3 linhas
materiais que não rotacionarão uma em relação
à outra;
- Essas três linhas são os eixos do elipsoide de
deformação (X >Y >Z).
2.3 Deformação finita, incremental e instantânea

- Deformação finita: deformação que compara o estágio inicial e final do corpo;


- Deformação incremental: estágios
pelos quais o corpo passou até chegar
no estágio deformado;
- Deformação instantânea: deformação
incremental de uma magnitude
infinitamente pequena;
- Na figura ao lado, as deformações são
iguais, porque as configurações iniciais
e finais são idênticas. As etapas ou os
incrementos deformacionais pelos
quais essas formas finais foram
alcançadas, entretanto, são muito
diferentes.

2.4 Acumulação de Deformação coaxial e não-coaxial

- Todas as linhas materiais, exceto aquelas que permanecem perpendiculares antes e depois do
incremento da de formação (isto é, seus eixos principais) rotacional uma em relação à outra;
- No caso geral para a deformação interna, os eixos principais de incremento de deformação não
necessariamente permanecem o mesmo ao longo de toda a história. Ou seja, os eixos principais
de incremento de deformação interna rotacionam em direção aos eixos de deformação interna
finita, esse cenário é chamado de acúmulo não-coaxial;
- O caso em que as mesmas linhas materiais permanecem os eixos de deformação a cada
incremento é chamado de acúmulo coaxial.

Deformação não-coaxial (a) e coaxial (b). Os eixos de deformação incremental são diferentes e
sofrem rotação em relação ao estágio final durante a deformação não-coaxial. Na deformação
coaxial, os eixos de deformação incremental são paralelos às mesmas linhas materiais.
2.5 Deformação interna

- Cisalhamento simples (Deformação não-coaxial - eixos rotacionam): É um tipo especial de


deformação interna plana de volume constante. Não há estiramento ou encurtamento de linhas ou
movimento de partículas na terceira direção. A trajetória das partículas é a mesma do campo do
de deslocamento;
- Cisalhamento sub-simples: Esse tipo combina componentes do cisalhamento simples e
componentes de encurtamento ou estiramento (cisalhamento puro);
- Cisalhamento puro (Deformação coaxial - eixos não mudam): É uma deformação plana
(bidimensional*) sem variação de volume com encurtamento em uma direção, compensado por
extensão em outra. As partículas se movimentam simetricamente opostas uma em relação à outra,
com trajetória das partículas formando hipérboles;
- * Alguns geólogos aplicam o termo para deformações coaxiais tridimensionais.

PARÂMETROS QUANTITATIVOS

2.6 Deformação em uma dimensão

Para quantificar o estiramento ou


encurtamento de um corpo:
- Elongação: e = (l-l0)/l0
- Estiramento: s = 1+ e = l/l0
- A extensão negativa é chamada
contração.
2.7 Deformação em duas dimensões

- Elipse de deformação: descreve a quantidade de


elongação em qualquer direção num plano de
deformação homogênea;
- Cisalhamento angular: ψ (psi) ↝ Deformação
por cisalhamento simples: γ = tg ψ
- X > Y;
- A) X = 1 + e1; Y = 1 + e2; Elipticidade: R = X/Y
- B) Elongação: e = (l-l0)/l0; estiramento = 1+ e.

* O eixo de estiramento X vai indicar


aproximadamente a direção do transporte
tectônico.

2.8 Deformação em três dimensões

- Descrita pelo elipsoide de deformação;


- Planos principais de deformação: três planos de
simetria ortogonais entre si que se interceptam
ao longo de três eixos conhecidos como eixos
principais de deformação;
- Variação de comprimento ao longo de X, Y e Z,
com X > Y > Z;
- O elipsoide depende de deformação homogênea
e é descrito por três vetores, e1, e2 e e3 que
definem os eixos principais de deformação (X,
Y e Z) e a orientação do elipsoide.

2.9 Deformações notáveis

- (a) Deformação geral (X> Y> Z), (b) extensão atualmente simétrica (X> Y = Z), (c)
encurtamento axialmente simétrico (X = Y> Z), (d) deformação plana (X> 1> Z), e (e)
encurtamento simples (1> Z).
2.10 Diagrama de Flinn

- Diagrama com eixos horizontal e vertical


representando achatamento e extensão
atualmente simétrica, respectivamente;
- Diagonal do diagrama ↝ X/Y = Y/Z (k = 1),
ou seja, deformação plana;
- A diagonal separa a geometria prolata ou em
forma de charuto, no campo superior, da
geometria oblata ou em forma de panqueca,
no caso inferior;
- k de Flinn: k = ((X/Y) - 1)/((Y/Z) - 1).

2.11 Deformação progressiva

- Baseado na diferença entre os estados finais


e iniciais de deformação, pode-se encontrar
o tamanho e a orientação do elipsoide de
deformação incremental neste intervalo e
escrever esse incremento na história da
deformação;
- Se tal intervalo for muito pequeno, obtemos um parâmetro de deformação instantânea ou
infinitesimal;
- As situações de contorno ou condições de contorno (boundary conditions) possibilitam definir se
a deformação ocorreu por cisalhamento simples, sub-simples ou puro, portanto, controlam os
parâmetros de fluxo, que, ao longo do tempo, produzem a deformação;
- Os parâmetros que atuam instantaneamente durante a história de deformação são denominados
parâmetros de fluxo.
- Campo de velocidade: Descreve a velocidade
das partículas em qualquer instante durante a
história da deformação;
- Apófises de fluxo: Linha teóricas que separam
diferentes campos do fluxo. As partículas não
podem cruzar uma apófise, mas podem mover-se
ao longo delas ou repousar-se sobre elas;
- Eixos de estiramento instantâneo (ISA):
Descrevem o estiramento máximo e mínimo em
qualquer instante da deformação;
- Vorticidade: Descreve a rotação das partículas
durante a deformação.

2.12 Apófises de fluxo e Vorticidade

Trajetórias de partículas (em verde) e apófises de fluxo (em azul) de deformações planas. As duas
apófises de fluxo, que descrevem o padrão de fluxo, são ortogonais no cisalhamento puro, oblíquas
no cisalhamento sub-simples e coincidentes no cisalhamento simples. O α refere-se ao ângulo entre
as apófises e Wk é o número de vorticidade cinemática (Wk = cos α).
Na deformação em estado constante (sob fluxo e esforço constante), os ISA e as apófises de fluxo
conservam suas orientações iniciais durante toda a história da deformação, e Wk é constante.

2.13 Deformação finita e incremental

- Deformação finita ou deformação interna (strain) finita ↝ Resultado de toda a história ↝


Matriz de deformação finita;
- Deformação incremental ou deformação interna (strain) incremental ↝ Fração da história
deformacional ↝ Matriz de deformação incremental;
- Multiplicação de matrizes: Um cisalhamento puro seguido por um cisalhamento simples não
resulta na mesma deformação de um cisalhamento simples seguido por um puro, por isso é
necessário saber as etapas de deformação;
- Em alguns casos, a deformação muda de um ponto a outro, deixando para trás condições
registradas durante os estágios iniciais de deformação;
- Por exemplo, a deformação interna pode se acumular nas partes centrais de zonas de
cisalhamento. Então, as margens registram o primeiro incremento de deformação;
- O crescimento de minerais em vários estágios do desenvolvimento do veio também pode
registrar a história da deformação. As fibras refletem os ISA e dão, portanto, informações dos
parâmetros de fluxo.

2.14 Deformação pura progressiva

- O eixo de cisalhamento principal maior (X) não rotacional e é sempre paralelo ao ISA1;
- As linhas que são paralelas ao ISA não rotacionam durante a deformação;
- Qualquer outra linha rotaciona em direção a X e ISA1;
- As linhas rotacionam no sentido horário e anti-horário em um padrão simétrico em relação ao
ISA;
- As linhas podem rotacionar do campo de encurtamento para o de estiramento, mas nunca no
sentido contrário.
2.15 Deformação simples progressiva

- Linhas ao longo do plano de cisalhamento


não se deformam;
- Linhas físicas (materiais) rotacionam mais
rápido que os eixos da elipse de deformação;
- O sentido de rotação das linhas ou planos é
o mesmo para qualquer orientação de linha;
- As linhas rotacionam do campo de
encurtamento instantâneo para o de
estiramento instantâneo (para produzir
dobras boudinadas), mas nunca do outro
jeito (nunca boudins dobrados).

2.16 Deformação sub-simples progressiva

- As linhas de qualquer orientação


rotacionam em direção às apófises de
fluxo;
- Existem dois setores de rotação oposta de
linha. O tamanho e a assimetria dos
campos são controlados pelo fluxo das
apófises (direção de cisalhamento);
- As linhas de qualquer direção estão
sendo estiradas ou encurtadas durante
cisalhamento sub-simples;
- As linhas paralelas ao ISA rotacionam.
Apenas aquelas paralelas ao plano de
cisalhamento não rotacionam;
- O eixo longo X do elipsoide rotaciona,
mas mais devagar que no cisalhamento
simples;
- As linhas rotacionam do campo de
encurtamento instantâneo para o de
estiramento instantâneo, mas nunca o
contrário;
- Quanto maior o cisalhamento puro, maior
a retrorotação;
- A linha 1 não é rotacionada, mas é
estirada.
2.17 Situações de Contorno

- Marcadores deformados (A), como seixos ou


ooides, não fornecem informações sobre o tipo de
deformação. Eles podem representar cisalhamento
simples (B), cisalhamento puro (C) ou qualquer
outro tipo de deformação. Por isso é necessário
conhecer as situações de contorno;
- Além disso, a escala é um fator importante a ser
considerado ao estudar a deformação de estruturas.
Um exemplo abaixo ocorre no rifte do Mar do
Norte, em que, localmente, a deformação se dá por
cisalhamento simples, mas, em escala maior, é mais
adequado considerá-la como cisalhamento puro.
Reologia
As rochas apresentam características como se estivessem fluindo, as deformações ocorrem em
escala de milhares e milhões de anos, podendo ocorrer continuamente ou com
descontinuidades.
A reologia estuda como as rochas se comportam frente a deformação analisando a
competência das rochas ou seja compara a resistência (ou rigidez) das rochas em fluir

Equações constitutivas: descrevem a relação entre um esforço e uma deformação

Comportamento rúptil
Rocha perde a continuidade (coesão)

Comportamento dúctil
Mesoscopicamente o material flui como um fluido viscoso

Comportamento plástico
Excede o limite de elasticidade desenvolvendo deformação sem perda de continuidade

Comportamento elástico
Ex: ondas sísmicas

Comportamento viscoso (liquido)


Ex: camada de sal e rochas ultramáficas (centro dos budins com comportamento ruptil)

Comportamento visco-elastico
Um material se comporta de maneira elastica e outro de maneira viscosa
Comportamento elastico-viscosa
Ex: Manto

Comportamento geral linear


Boa representação do comportamento das rochas naturais
Viscoelastico e um elástico-viscoso em serie
Quando retirado o esforço, ocorre uma deformação na viscoelastica que é recuperada e
uma deformação permanente no elástico viscoso

Curva de fluência

Comportamento não linear


Maioria dos materiais
O esforço é aplicado e a deformação acumulada pela componente elástica
Assim que ultrapassa a resistência ao atrito a deformação é permanente
A relação entre a taxa de deformação e o esforço é não linear (curva)

Parâmetros que descrevem os comportamentos

Pressão confinante
Esforço contrário em todos os lados
Com o aumento da pressão confinante + deformação finita acumula de uma forma viscosa
antes de fraturar ou mais resistência da rocha a se fraturar
Quanto maior a pressão confinante mais ductilmente o material se comporta
Folhelho, calcário e arenito, mais variam o comportamento com o aumento da pressão
confinante
Temperatura
Quanto maior a temperatura maior a deformação que os materiais acumulam de maneira
viscosa antes de romper
Deformação acentuada por pressões confinantes maiores

Taxa de deformação (elongação)


Intervalo de tempo que toma para acumular certa quantidade de deformação
Quanto menor a taxa de deformação mais deformação o corpo adquire antes de se romper.

Pressão de poro de fluido


Pressão dentro do material, (fluido intergranular, fluido de desidratação)
Quanto maior a pressão de fluido de poro, menor a pressão de confinamento (pressão
efetiva)
Quanto menor for maior a quantidade de deformação o material adquire de uma forma
viscosa ou ruptil antes de se romper

Curva de fluencia (esforço diferencial constante)


Amolecimento e endurecimento da deformação
Resumo P1 – Geologia Estrutural 2

Estruturas Rúpteis

1. Deformação rúptil
A deformação rúptil é caracterizada por um processo não reversível, onde a mesma gera
um rompimento instantâneo das ligações cristalinas de forma rápida e localizada, sendo
representada através de uma descontinuidade na rocha. Pode ser evidenciada pelo crescimento
de fraturas na rocha e/ ou pelo movimento sobre essas fraturas já formadas. É característica da
deformação na crosta superior, ocorrendo quando os esforços se acumulam e excedem o limite
local de resistência à ruptura da rocha.

1.1. Mecanismos de deformação


As condições físicas no regime rúptil, promovem mecanismos de deformação rúptil,
como o deslizamento friccional ao longo de contatos de grãos, rotação e fratura de grãos.
Em rochas sedimentares fracamente consolidadas, o deslizamento friccional ocorre ao
longo dos limites existentes entre os grãos e os espaços dos poros permitem que os grãos se
movam uns em relação aos outros, resultando no acúmulo do deslizamento friccional nas
bordas por rotação e translação dos mesmos. Esse mecanismo é conhecido como fluxo
particulado ou fluxo granular.
Já em rochas com baixa porosidade (ou com Deslizamento friccional – para
esforço suficientemente alto nas áreas de contato entre que ocorra, é necessário que a
grãos), esse processo de deslizamento friccional, resistência ao deslizamento,
provoca o esmagamento dos grãos e a formação de causada pela fricção seja
fraturas intergranulares ao longo dos contatos entre superada.
os grãos e a rotação dos mesmos. Este processo é
denominado catáclase. Por fim, os fragmentos
resultantes do esmagamento dos grãos, fluem durante O fraturamento intergranular é
o cisalhamento e dão origem ao que é conhecido como presente em rochas porosas,
fluxo cataclástico. porém é menos frequente.

Figura 1: Figura esquemática ilustrando os processos de fluxos granular e cataclástico


2. Fraturas
Uma fratura é definida como, qualquer descontinuidade nas propriedades mecânicas
(resistência ou rigidez) do material, com aspecto plano ou subplano, delgada em uma direção
de esforço e formada por esforços internos e externos. Podem ser divididas, principalmente,
em fraturas de cisalhamento e fraturas extensionais.

2.1. Fraturas de cisalhamento


As fraturas de cisalhamento, são fraturas que apresentam um movimento relativo,
paralelo ao plano de fratura. Dependendo das propriedades da rocha e dos esforços, as fraturas
de cisalhamento, desenvolvem-se geralmente em ângulos de 20° a 30° a σ1, com tendência a
formação de pares conjugados cuja bissetriz é justamente a direção de esforço σ1.
São características de ambientes da superfície da crosta, mas podem se desenvolver
próximas à transição rúptil-dúctil, formando faixas largas e zonas de fluxo cataclástico.

2.2. Fraturas extensionais


As fraturas extensionais, são aquelas que apresentam extensão perpendicular às paredes
da rocha por pequeno esforço diferencial. São preenchidas por gás, fluidos, rocha ou minerais.
Juntas, fissuras, veios e diques são exemplos de fraturas extensionais.
Idealmente, as fraturas extensionais • Juntas – fraturas naturais na
desenvolvem-se perpendicularmente e σ3 e paralelas rocha que não apresentam
a σ1. Do ponto de vista da deformação, as fraturas deslocamento mensurável.
extensionais desenvolvem-se perpendicular à
• Fissuras – fraturas
direção de estiramento e paralelamente ao eixo de
preenchidas por ar ou
compressão.
fluídos.
• Veios – fraturas preenchidas
por material hidratado.
• Diques – fraturas
preenchidas por rocha
proveniente de outro local.

Figura 2: A – Fratura extensional; B – Fratura de cisalhamento.

Em ambientes próximos a superfície, onde os valores de σ3 tendem a ser negativos,


fraturas extensionais se formam em condições em que pelo menos um dos esforços é
extensional, formando estruturas chamadas de fraturas tensionais. Porém, as mesmas também
podem ocorrer em regiões mais profundas da litosfera por conta da presença de altas pressões
de fluídos.

3. Critérios de ruptura
A envoltória de Mohr-Coulomb, diz que a reta envoltória é traçada na tangente do
círculo de Mohr, a partir dos valores de σ1 e σ3 (tensões mínima e máxima) no momento de
ruptura, onde o ângulo que σ3 faz com o plano de tensão normal, indicando as tensões
cisalhante e a normal no momento de ruptura. É importante evidenciar que é considerado que
o plano de fratura sempre contém σ2.

Para que seja possível abranger todas as faixas de esforços é necessário utilizar vários
critérios de ruptura, como por o de Griffith para fraturas extensionais, o de Coulomb para
fraturas de cisalhamento e o de Von Mises para deformação plástica.
Geologia Estrutural II
Resumo módulo I

Aluno: Rafael Pessoa C. Lucatelli

Deformação dúctil: dobras e dobramentos


O que são dobras?
Dobras são estruturas que se formam quando camadas ou bandas são transformadas em
formas curvadas, arqueadas ou enrugadas. É observada uma grande variedade de formas
e tamanhos (desde microescala até escala regional). A forma interna pode revelar algumas
condições sob as quais se formaram.
Onde se formam?
O principal ambiente de formação de dobras são os limites convergentes de placas
tectônicas. Outros ambientes são:
 Complexos de subducção.
 Região de antearco, intra-arco e retro-arco.
 Arco magmático.
 Outros.
Sobre a deformação dúctil:
A deformação dúctil preserva a continuidade de estruturas e camadas originalmente
contínuas e descreve um tipo de deformação dependente da escala, que pode formar-se
por vários mecanismos de deformação.
Um material dúctil é aquele que acumula deformação permanente ou flui sem
fraturamentos macroscópicos perceptíveis, ao menos até o ponto em que o limite de
resistência seja excedido.
Estruturas dúcteis são comuns em rochas metamórficas, ou seja, estruturas que sofreram
deformação nas crostas média e inferior.
Descrição geométrica:
A melhor observação para o estudo de dobras é em seção perpendicular à superfície axial.
Em geral, as dobras são formadas por uma charneira que liga dois flancos com
orientações distintas. A charneira pode ser aguda e nítida, mas, geralmente, sua curvatura
é gradual, definindo uma zona de charneira.
As dobras não necessariamente têm a regularidade de uma função matemática, mas é
possível aplicar o conceito de amplitude e comprimento de onda. Em rochas compostas
por múltiplas camadas, as dobras podem repetir-se de forma similar na direção do traço
axial. Essas dobras são chamadas de harmônicas. Se as dobras diferirem em
comprimento de onda ou forma ao longo do traço axial, ou se desaparecerem nessa
direção, elas são consideradas dobras desarmônicas.
O ponto de máxima curvatura em uma camada dobrada, localizado no centro da zona de
charneira, é denominado ponto de charneira. Os pontos de charneira conectam-se para
formar uma linha de charneira, que é, em geral, curva, mas quando aparece como uma
linha reta é denominada eixo de dobra.

Um importante elemento geométrico das


dobras é a cilindricidade. Dobras com linha
de charneira retilíneas são dobras cilíndricas.
A superfície axial ou plano axial, se for
perfeitamente plana, conecta as linhas de
charneira de duas ou mais superfícies
dobradas. O traço axial de uma dobra é a linha
de intersecção da superfície axial com a
superfície de observação em afloramento ou
seção geológica. A superfície envoltória liga
todas as linhas de charneira formando um
plano.

A atitude de uma dobra é descrita pela atitude de sua superfície axial e de sua linha de
charneira. Esses dois parâmetros podem ser lançados em um diagrama de classificação
de dobras, observado abaixo:
Mergulho da superfície axial x Caimento da linha de charneira

Simetria e ordem:
- Dobras simétricas (ortorrômbicas): superfície axial bissecta o ângulo interlimbos e é
perpendicular à superfície envoltória.
- Dobras assimétricas (monoclínicas): superfície axial não bissecta o ângulo interlimbos
e é oblíqua a superfície envoltória.
- Vergência: direção horizontal contida no plano do perfil da dobra, no qual o flanco
superior e mais longo da dobra assimétrica aparenta ter-se movido causando a rotação do
flanco mais curto. É contrária a direção de mergulho do plano axial.

Vergência da esquerda para direita (--->).


Dobras parasíticas: dobras de segunda ou terceira ordem que tem vergência em direção a
charneira (padrões Z, M e S).
Classificações importantes:
- Ângulo interflancos.

- Curvatura da zona/região da charneira.


- Quanto a convexidade:

Antiforme: dobra que é convexa


para cima independentemente da
sucessão estratigráfica que aí se
verifica, se normal ou se invertida.
Sinforme: dobra côncava para cima
independentemente da sucessão
estratigráfica se normal ou
invertida.
Antinclinal: dobra convexa para
cima em uma sequência de camadas
com sucessão estratigráfica normal.
Sinclinal: dobra côncava para cima
em uma sequência de camadas com
sucessão estratigráfica normal, mais
jovens para cima.
Observar que toda a sinclinal é um
sinforme, mas nem todo sinforme é
sinclinal.
Critérios geopetais: indicadores da ordem do empilhamento estratigráfico.

Relação acamamento vs foliação: se um flanco e uma foliação estão mergulhando para o


mesmo sentido e o flanco mergulha com maior ângulo, a camada está invertida.
Classificação de Ramsay:
Descritiva das formas geométricas e chega-se às características genéticas das dobras.
Utiliza-se as isógonas de mergulho que são as linhas de igual inclinação da camada. É
baseada no grau de curvatura interno e externo da dobra.

Classe 1: isógonas convergentes ao arco interno.


1A – zonas de charneira adelgaçadas.
1B – espessura das camadas constantes (dobras paralelas).
1C – flancos ligeiramente adelgaçados.
Classe 2 (dobras similares): isógonas paralelas ao traço axial.
Classe 3: isógonas divergentes em relação ao arco interno.
Geometrias especiais:
Dobras kink: dobras pequenas (<1m) com flancos retos e charneiras estreitas. Comum em
rochas laminadas.
Dobras en chevron: equivalentes maiores em relação a kink.
Dobras pitigmáticas: irregulares e isoladas. Camadas com competências contrastantes.
Dobras com duplo caimento: linha de charneira muda a curvatura ao longo do seu
comprimento.
Mecanismos de dobramento:
Dobramento ativo (flambagem e flexura).
Dobramento passivo: ocorre quando as camadas têm pouco contraste mecânico. Ocorre
em migmatitos (alta temperatura) ou regiões de zona de cisalhamento.
Dobramento ativo:

Comum gerar dobras do tipo 1B.


Parte externa da camada competente é estirada e
a parte interna encurtada, separadas por uma
superfície neutra.
Mecanismos envolvidos:
- Flexura ortogonal.
- Deslizamento flexural.
- Fluxo flexural.
Dobramento passivo:

Acamamento não exerce influência sobre o


dobramento (não participa do mecanismo da
dobra).
Comum a formação de dobras similares (classe
2).
Formam em qualquer tipo de deformação
dúctil.
- Dobras de arrasto.
- Dobras em zona de cisalhamento.
- Rochas monominerálicas.
Dobramento ativo: flexura.

Esforço ortogonal às camadas.


Exemplos: boudins, acima de rampas de
cavalgamento, acima de falhas reativadas,
acima de intrusões rasas e diápiros de sal.
Mecanismo de dobramento flexural:

- Geram dobras do tipo 1B.


- Deslizamento flexural: contraste entre as
camadas ou forte anisotropia mecânica. Mais
comum na crosta superior.
- Fluxo flexural: crosta inferior ou rochas menos
competentes.
- Característica marcante: superfície de
deformação nula na charneira.

Mecanismo de flexura ortogonal:


Linhas ortogonais permanecem ortogonais ao longo da deformação.
Estiramento da parte externa e encurtamento da interna.
Só ocorre em dobras abertas. A medida que fecha o ângulo interlimbos passa para
deslizamento ou fluxo flexural.
Padrões de redobramento:
Causas: orogênese superposta, fases de deformação progressiva com geração de dobras
sucessivas ou em fases de deformação sucessivas num mesmo ciclo.
- Tipo 1: padrão de domos e bacias (caixa de ovos).
- Tipo 2: padrão de meia lua.
- Tipo 3: padrão em laço ou chama.
Dobras em bainha:

Formadas principalmente em zonas de


cisalhamento.
Rotação da linha de charneira até o
paralelismo com os planos de
cisalhamento.

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