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CONCEITOS BÁSICOS

Uma substância no estado líquido ou gasoso é denominada fluído. A distinção entre um sólido e um fluido é baseada na
capacidade da substância resistir a uma tensão de cisalhamento (ou tangencial) aplicada, que tende a mudar sua forma. O sólido
resiste à tensão de cisalhamento aplicada deformando-se, ao passo que o fluido se deforma continuamente sob a influência da
tensão de cisalhamento, não importando quão pequena ela seja. Nos sólidos a tensão é proporcional à deformação, mas nos fluidos
a tensão é proporcional à taxa de deformação. Quando uma força de cisalhamento constante é aplicada, o sólido eventualmente
para de deformar-se num certo ângulo de deformação fixo, enquanto o fluido nunca para de deformar-se e a taxa de deformação
tende para um certo valor.

Considere um bloco retangular de borracha posicionado firmemente entre duas placas.


Quando a placa superior é tracionada com força F, enquanto a placa inferior é mantida fixa, o bloco
de borracha deforma-se, como mostrado na Figura 1-2. O ângulo de deformação (chamado de
deformação por cisalhamento ou deslocamento angular) aumenta proporcionalmente à força
aplicada F. Supondo que não haja deslizamento entre a borracha e as placas, a superfície superior da
borracha é deslocada em um valor igual ao deslocamento da placa superior, enquanto a superfície
inferior permanece estacionária. No equilíbrio, a força líquida que atua sobre a placa na direção
horizontal deve ser nula e, portanto, uma força de mesma intensidade, mas oposta a F deve estar
atuando sobre a placa. A força oposta que se desenvolve na interface placa-borracha devida ao atrito
é expressa por F = t A , onde t é a tensão de cisalhamento e A é a área de contato entre a placa
superior e a borracha. Quando a força é removida, a borracha volta à sua posição original. Tal fenômeno também é observado em
outros sólidos como um bloco de aço, desde que a força não ultrapasse o regime elástico. Se esse experimento for feito com um
fluido (com duas placas grandes paralelas colocadas num grande corpo de água, por exemplo), a camada de fluido em contato com
a placa superior move-se continuamente com a velocidade da placa, não importando quão pequena a força F seja. A velocidade do
fluido decresce com a profundidade devido ao atrito entre as camadas de fluido, chegando a zero na camada em contato com a
placa inferior.

Você se lembra de que na estática a tensão é definida como força por unidade de área e é
determinada dividindo-se a força pela área sobre a qual ela atua. A componente normal da força que
atua sobre a superfície por unidade de área é chamada de tensão normal, a componente tangencial da
força que atua sobre uma superfície por unidade de área é chamada de tensão de cisalhamento
(Figura 1-3). Num fluido em repouso, a tensão normal é chamada de pressão. As paredes que
suportam um fluido eliminam a tensão de cisalhamento e, assim, um fluido em repouso está no
estado de tensão de cisalhamento nulo. Quando as paredes são removidas ou o recipiente do líquido
é inclinado, desenvolve-se uma tensão e o liquido esparrama-se ou move-se para manter a superfície
livre na horizontal. Num líquido, grupos de moléculas movem-se uns em relação aos outros, mas o
volume permanece relativamente constante devido às fortes forças de coesão entre as moléculas.
Como resultado, o líquido toma a forma do recipiente no qual está contido e, no caso de um
recipiente maior sujeito a um campo gravitacional, forma-se uma superfície livre. Um gás, por outro
lado, expande-se até encontrar as paredes do recipiente e preenche todo o espaço disponível. Tal
fato ocorre porque as moléculas estão bastante espaçadas e as forças coesivas entre elas são muito
pequenas. Ao contrário dos líquidos, os gases não formam uma superfície livre.

Considere o escoamento de um fluido num cano estacionário ou sobre uma superfície sólida não porosa (isto é,
impermeável ao fluido). Todas as observações experimentais indicam que um fluido em movimento para totalmente na superfície
e assume velocidade zero (nula) em relação à superfície. Ou seja, um fluido em contato direto com um sólido “gruda” na
superfície devido aos efeitos viscosos e não há escorregamento. Tal fato é conhecido como condição de não-escorregamento.

Os escoamentos em que os efeitos do atrito são significativos chamam-se escoamentos viscosos. Entretanto, em muitos
escoamentos de interesse prático, há regiões (tipicamente regiões afastadas de superfícies sólidas) onde as forças viscosas são
desprezivelmente pequenas comparadas às forças inerciais e de pressão. Desprezar os termos viscosos em regiões de escoamento
não viscoso simplifica bastante a análise, sem muita perda de precisão.

O escoamento dos fluidos é classificado como interno ou externo, dependendo do fato de o fluido ser forçado a escoar
num canal confinado ou sobre uma superfície. O escoamento sem limitação de um fluido sobre uma superfície, tal como uma
placa, um arame ou um cano, é um escoamento externo. O escoamento num tubo ou dueto é um escoamento interno se o fluido
estiver inteiramente limitado por superfícies sólidas.

Um escoamento é classificado como compressível ou incompressível dependendo do nível de variação da densidade


durante o escoamento. A incompressibilidade é uma aproximação, e um escoamento é dito ser incompressível se a densidade
permanecer aproximadamente constante em todos os lugares. Portanto, o volume de cada porção do fluido permanece inalterado
durante o decorrer de seu movimento quando o escoamento (ou o fluido) for incompressível. As densidades dos líquidos são
essencialmente constantes e desse modo o escoamento dos líquidos é tipicamente incompressível. Portanto, os líquidos são
usualmente designados como substâncias incompressíveis. Por exemplo, uma pressão de 210 atm. atuando sobre água líquida
causa mudança no valor da densidade da água líquida a 1 atm. de somente 1%. Gases, por outro lado, são altamente
compressíveis. A mudança de pressão de apenas 0,01 atm., por exemplo, causa uma mudança de 1% na densidade do ar
atmosférico.

Alguns escoamentos são suaves e ordenados enquanto outros são um tanto caóticos. O movimento altamente ordenado
dos fluidos caracterizado por camadas suaves do fluido é denominado laminar. A palavra laminar origina-se do movimento de
partículas adjacentes do fluido agrupadas em “lâminas”. O escoamento dos fluidos de alta viscosidade como os óleos com baixas
velocidades é tipicamente laminar. O movimento altamente desordenado dos fluidos que ocorre em velocidades altas e é
caracterizado por flutuações de velocidade é chamado de turbulento. O escoamento de fluidos de baixa viscosidade como o ar em
altas velocidades é tipicamente turbulento. O regime do escoamento tem grande influência sobre a potência requerida para
bombeamento. Um escoamento que se alterna entre laminar e turbulento é chamado de transitório. Os experimentos realizados
por Osborne Reynolds, nos anos 1880, resultaram na criação do número adimensional denominado número de Reynolds, Re,
como o parâmetro-chave para a determinação do regime do escoamento em canos.

Um escoamento de fluidos é dito ser natural ou forçado, dependendo de como o movimento do fluido foi iniciado. No
escoamento forçado, o fluido é obrigado a fluir sobre uma superfície ou num tubo com o uso de meios externos como uma
bomba ou uma ventoinha. Nos escoamentos naturais, qualquer movimento do fluido é devido a meios naturais tal como o efeito
de flutuação, que se manifesta como a elevação do fluido mais quente (e, portanto, mais leve) e na descida do fluido mais frio (e,
portanto, mais denso).

Os termos em regime permanente e uniforme são usados frequentemente na engenharia e assim é importante ter uma
compreensão clara de seus significados. O termo em regime permanente implica não haver mudança com o passar do tempo. O
oposto de regime permanente é em regime não permanente. O termo uniforme implica não haver mudança com a localização em
uma região específica. Esses significados são consistentes com seu uso rotineiro (distribuição uniforme etc.). Os termos em
regime não permanente e transiente são usados, com frequência como intercambiáveis, entretanto não são sinônimos. Em
mecânica dos fluidos, em regime não permanente é o termo mais genérico que se aplica a qualquer escoamento que não seja em
regime permanente, mas transiente é usado tipicamente para escoamentos que estão se desenvolvendo. Quando se dá partida no
motor de um foguete, por exemplo, há efeitos transitórios (é criada pressão dentro do motor do foguete, o escoamento é acelerado
etc.) até que o motor se acomode e opere regularmente. O termo periódico refere-se ao tipo de escoamento em regime não
permanente no qual o escoamento oscila em tomo de um valor médio em regime permanente.

Um sistema é definido como uma quantidade de matéria ou região do espaço escolhida para
estudo. A massa ou região fora do sistema é denominada vizinhança. A superfície real ou imaginária que
separa o sistema de sua vizinhança é chamada de fronteira (Figura 1-23). A fronteira de um sistema pode
ser fixa ou móvel. Observe que a fronteira é a superfície de contato compartilhada tanto pelo sistema
como pela vizinhança. Matematicamente falando, a fronteira tem espessura nula e assim não contém
qualquer massa nem ocupa volume no espaço. Os sistemas são considerados fechados ou abertos
dependendo se uma massa fixa ou um volume no espaço forem escolhidos para estudo. Um sistema
fechado (também conhecido por massa de controle) consiste em uma quantidade fixa de massa, e
nenhuma quantidade de massa pode cruzar sua fronteira. Porém, a energia sob a forma de calor ou de
trabalho pode cruzar sua fronteira, e o volume de um sistema fechado não precisa ser fixo. Se, como um
caso especial, nem a energia puder cruzar a fronteira, o sistema é chamado de sistema isolado. Considere
o dispositivo pistão-cilindro mostrado na Figura 1-24. Digamos que queiramos determinar o que acontece
quando o gás nele contido é aquecido. Como estamos focalizando nossa atenção no gás, ele é nosso
sistema. As superfícies internas do pistão e do cilindro formam a fronteira e como não há massa cruzando
sua fronteira, ele é um sistema fechado. Observe que a energia pode cruzar a fronteira e parte da fronteira
(a superfície interna do pistão, neste caso) pode se mover. Exceto 0 gás, todo 0 resto, incluindo o pistão e o cilindro, formam a
vizinhança. Um sistema aberto ou volume de controle, como é denominado frequentemente, é uma região do espaço selecionada
apropriadamente. Em geral compreende um dispositivo que inclui escoamento de massa, tal como um compressor, turbina ou
bocal. O escoamento através desses dispositivos é mais bem estudado selecionando-se dentro do próprio dispositivo a região a ser
usada como volume de controle. Ambas, massa e energia, podem cruzar a fronteira do volume de controle.

PROPRIEDADES DOS FLUÍDOS


A matéria é constituída de átomos, que são amplamente espaçados na fase gasosa. Entretanto, é conveniente
desconsiderar a natureza atômica de uma substância e vela como uma matéria contínua homogênea sem buracos, isto é, um meio
contínuo. A idealização do meio contínuo permite-nos tratar as propriedades como funções de pontos e considerar que as
propriedades variam continuadamente no espaço sem saltos de descontinuidade. Tal hipótese é válida desde que o tamanho do
sistema considerado seja grande em relação ao espaço entre as moléculas. Esse é o caso em praticamente todos os problemas,
exceto alguns casos específicos. A idealização do meio contínuo está implícita em muitas afirmações que fazemos, tal como “a
densidade da água num copo é a mesma em qualquer ponto”.

Densidade é definida como massa por unidade de volume:

O inverso da densidade é o volume específico v, que é definido como volume


por unidade de massa. A densidade de uma substância depende, em geral, da
temperatura e da pressão. A densidade da maioria dos gases é proporcional à
pressão e inversamente proporcional à temperatura. Líquidos e sólidos, por outro lado, são substâncias essencialmente
incompressíveis e a variação de sua densidade com a pressão usualmente é desprezível. Algumas vezes, a densidade de uma
substância é dada em relação à densidade de uma substância muito conhecida. É então chamada de gravidade específica ou
densidade relativa e é definida como a razão entre a densidade de uma substância e a densidade de alguma substância padrão a
uma temperatura especificada (usualmente água a 4°C, para a qual q = 1000 kg/m^). Isto é.

O peso de uma unidade de volume de uma substância é chamado de peso


específico e é expresso como:

Por exemplo, água a 10°C transforma-se em vapor e forma bolhas em locais (tais como regiões das extremidades das hélices ou
lados da sucção de bombas) onde a pressão cai abaixo de 1,23 kPa. As bolhas de vapor (chamadas de bolhas de cavitação visto
que formam “cavidades” no líquido) quebram-se à medida que são afastadas das regiões de baixa pressão, criando ondas de
choque altamente destrutivas e com pressões extremamente altas. Esse fenômeno é uma causa comum para a queda de
desempenho e mesmo erosão das pás de hélices, sendo chamado de cavitação, e é uma consideração relevante no projeto de
turbinas hidráulicas e bombas. A cavitação deve ser evitada nos sistemas de escoamento (ou pelo menos minimizada) visto que
reduz o desempenho, gera vibrações e ruídos irritantes e causa avarias no equipamento. Os picos da pressão que resultam da
grande quantidade de bolhas que se desfazem próximo de uma superfície contínua durante um período de tempo longo causam
erosão, corrosão na superfície, falha por fatiga e destruição eventual dos componentes ou da maquinaria. A presença de cavitação
num sistema de escoamento é percebida pelo seu som sibilante característico.

Quando dois corpos sólidos em contato se movimentam um em relação ao outro, desenvolve-se uma força de atrito na
superfície de contato, em direção oposta ao movimento. Para movermos uma mesa sobre um piso, por exemplo, temos que aplicar
uma força sobre a mesa, na direção horizontal de intensidade tal que supere a força de atrito. A intensidade da força requerida para
movimentar a mesa depende do coeficiente de atrito entre a mesa e o piso. A situação é semelhante quando um fluido se move em
relação a um sólido ou quando dois fluidos se movem um em relação ao outro. Movemo-nos com relativa facilidade no ar, mas
não tanto na água. O movimento em óleo é ainda mais difícil, como observamos pelo movimento de descida de uma bola de gude
lançada num tubo cheio de óleo. Parece haver uma propriedade que representa a resistência interna do líquido ao movimento ou à
“fluidez”, e essa propriedade é a viscosidade. A força que um fluido em movimento exerce sobre um corpo na direção do
escoamento é chamada de força de arrasto, e sua intensidade depende, em parte, da viscosidade.

Os fluidos para os quais a taxa de deformação é proporcional à tensão de cisalhamento são chamados de fluidos
newtonianos, em homenagem a Sir Isaac Newton, que os definiu primeiro em 1687. A maioria dos fluidos comuns tais como
água, ar, gasolina e óleos são fluidos newtonianos. Sangue e plásticos líquidos são exemplos de fluidos não newtonianos.

Nessas e em outras observações práticas, as gotas líquidas comportam-se como


pequenos balões esféricos cheios com o líquido, e a superfície do líquido age como uma
membrana elástica esticada sob tensão. A força de tração que causa tal tensão atua no sentido
paralelo à superfície e é devida às forças atrativas entre as moléculas do líquido. A intensidade
de tal força por unidade de comprimento é denominada tensão superficial tr, e geralmente é
expressa na unidade N/m (ou Ibfpé em unidades inglesas). Tal efeito é também denominado
energia superficial e é expresso na unidade equivalente N • m/m^ ou J/m^. Nesse caso, cr^
representa o trabalho de estiramento que é preciso realizar para aumentar a área da superfície do
líquido uma unidade.

Para visualizarmos como a tensão superficial surge, mostramos na Figura 2-20 uma vista
microscópica considerando duas moléculas líquidas, uma na superfície e outra dentro do corpo
líquido. As forças atrativas aplicadas na molécula que está no interior do líquido pelas moléculas circundantes equilibram-se
devido à simetria. Mas as forças atrativas que atuam sobre a molécula da superfície não são simétricas e as forças atrativas
aplicadas pelas moléculas de gás acima da superfície geralmente são muito pequenas. Portanto, há uma força atrativa resultante
atuando sobre a molécula da superfície do líquido que tende a puxar as moléculas da superfície para o interior da massa líquida.
Essa força é equilibrada pelas forças repulsivas das moléculas abaixo da superfície que estão sendo comprimidas. O efeito da
compressão resultante causa a redução da área de superfície do líquido. Essa é a razão para as gotículas do líquido adquirirem a
forma esférica, que tem a área de superfície mínima para um dado volume.
(Dutra consequência interessante da tensão superficial é o efeito capilar, que é a ascensão ou depressão de um líquido num tubo
de pequeno diâmetro imerso no líquido. Tais tubos finos ou canais de escoamento confinado são chamados de capilares. A subida
de querosene num pavio de algodão inserido no reservatório de uma lamparina de querosene é devido a este efeito. O efeito
capilar também é parcialmente responsável pela subida da água à copa de árvores altas. A superfície livre curva de um líquido
num tubo capilar é chamada de menisco.

PRESSÃO E ESTÁTICA DOS FLUÍDOS


A pressão é definida como uma força normal exercida por um fluido por unidade de área. Só falamos de pressão quando
lidamos com um gás ou um líquido. O equivalente da pressão nos sólidos é a tensão normal. Como a pressão é definida como a
força por unidade de área, ela tem unidade de newtons por metro quadrado (N/m^), que é denominada pascal (Pa). Ou seja: 1 Pa =
1 N/m

A pressão é força de compressão por unidade de área, e ela dá a impressão de ser ura vetor. Entretanto, a pressão era
qualquer ponto de ura fluido é igual em todas as direções. Ou seja, ela tem intensidade, mas não uma direção específica e, por
isso, ela é uma quantidade escalar. Isso pode ser demonstrado considerando um elemento fluido em forma de uma pequena cunha
unitário de comprimento (na página) em equilíbrio. As pressões médias nas três superfícies são P1, P2 & P3 & & força que age
sobre uma superfície é o produto da pressão média pela área da superfície.

Um dispositivo que se baseia nesse princípio é chamado de manômetro, normalmente


usados para medir diferenças de pressão pequenas e moderadas. Um manômetro consiste
principalmente em um tubo em forma de U, de vidro ou plástico, contendo um ou mais fluidos como
mercúrio, água, álcool ou óleo. Quando se prevê diferenças de pressão elevadas, fluidos pesados
como o mercúrio são usados, o que mantém 0 tamanho do manômetro em um nível gerenciável.
A pressão atmosférica é medida por um dispositivo chamado de barômetro. Dessa forma, a pressão atmosférica é
chamada com frequência de pressão barométrica,

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