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1.

Fluidos

1
CONCEITOS

2
3

Nos capı́tulos anteriores lidamos com o movimento e comportamento de objetos sólidos.


Nos próximos capı́tulos, estendemos nossa descrição para incluir dois outros estados da
matéria: lı́quidos e gases (1.1). As forças internas exercidas sobre os átomos de um sólido
mantêm cada átomo em um local especı́fico do sólido. Como os átomos não são livres para
se moverem uns em relação aos outros, um pedaço de material sólido tem tamanho e forma
definidos. Em um lı́quido, as forças exercidas sobre as partı́culas * não são fortes o suficiente
para impedi-las de se moverem umas em relação às outras. Conseqüentemente, uma amos-
tra de lı́quido tem um volume definido, mas se ajusta ao formato de seu recipiente. Em um
gás, as partı́culas estão distantes. Elas se movem aleatoriamente e livremente e, portanto,
uma amostra de gás não tem volume nem forma definida.
Lı́quidos e gases são chamados coletivamente de fluidos porque fluem.
Como os fluidos fluem e mudam de forma, não podemos descrever seu comportamento
da mesma forma que descrevemos o comportamento dos sólidos. Quando você olha o fluxo
da água em um rio, por exemplo, não faz sentido falar de ”a velocidade da água”porque
a água pode se mover rapidamente em um ponto e mais devagar em outro, ou pode estar
fluindo em uma direção em um local e em outra direção um pouco mais adiante. Em outras
palavras, ao contrário de um objeto sólido, a água de um rio não pode ser caracterizada por
um simples conjunto de grandezas cinemáticas - o movimento de seu centro de massa e a
rotação em torno desse centro. No entanto, você pode especificar sua velocidade em um local
especı́fico. Em geral, portanto, descrever o movimento de um fluido exige uma aproximação
que associa grandezas como a velocidade não de um corpo como um todo, mas em função
da posição no corpo do fluido.

Figura 1.1: Estados da Matéria


4 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

1.1 Forças em um fluido


A consequência de exercer forças em um fluido é muito diferente do resultado que temos
quando as forças são exercidas em um sólido. Para melhor entendermos a diferença, va-
mos começar examinando como um objeto sólido responde a um conjunto de forças para
as quais a soma vetorial é zero. Nesse caso, o objeto permanece em repouso, mas como ne-
nhum material sólido é perfeitamente rı́gido, o objeto deforma-se quando forças opostas são
exercidas sobre ele. Chamamos essas forças que se opõe de tensão (stress). Um objeto sólido
que recupera sua forma original quando a tensão é removida é chamado de elástico. Além
desse limite elástico, o objeto se deforma permanentemente, até uma certa tensão acima da
qual o objeto quebra, esse é o limite plástico. No intervalo de comportamento elástico, a
quantidade de deformação provocada pela tensão depende das propriedades do material e,
para pequenas deformações, obedece ao que conhecemos como lei de Hooke. Nesse caso a
deformação é lineramente proporcional a grandeza das forças aplicadas. Os átomos de um
sólido estão em posições fixas (na verdade, a posição média desses átomos encontra-se em
posições determinadas), um objeto sólido pode suportar forças aplicadas na sua superfı́cie
de várias maneiras. Um conjunto de forças opostas ao longo da mesma linha de ação (1.2 (a)
provoca ou uma tensão de tração, a qual distende o objeto ou uma tensão compressiva a qual
o comprime. Sob essas tensões, as dimensões do objeto, perpendiculares a linha de ação das
forças, também se altera para compensar a distensão ou compressão ao longo da linha de
ação.

Figura 1.2: Tipos diferentes de tensões provocadsas por forças iguais mas em sentidos opos-
tos e mesma direção em objetos sólidos.
1.1. FORÇAS EM UM FLUIDO 5

Embora tenhamos a compensação na deformação, medidas com precisão mostram que o


volume do objeto aumenta em um pequeno valor quando o objeto é tracionado e diminui por
um pequeno valor quando é comprimido. Quando forças opostas são exercidas perpendicu-
larmente a todas as superfı́cies de um objeto sólido (figure 1.2 (b)), os átomos são puxados
para posições mais próximas um dos outros em todas as direçòes, resultando no que cha-
mamos tensão volumétrica. Essa tensão diminui o volume do objeto. Um terceiro tipo de
tensão, a tensão de cisalhamento, acontece quando as forças opostas são exercidas tangencial-
mente às superfı́cies do objeto sólido (figura 1.2 (c)). Para pequenas forças, a forma do objeto
muda, com uma face retangular deformando-se para um paralelogramo, por exemplo, mas
o volume do objeto não se altera. Vamos examinar agora como um fluido responde a esses
mesmos três tipos de tensão: tração/compressão, volume e cisalhamento. Se colocarmos as
mãos sob a água, paralelas uma a outra e separadas por uma certa distância, e agora as mo-
vermos em direção uma da outra, sentimos uma resistência. As mãos exercem uma força na
água e, como as forças atuam em pares de ação e reação, a água exerce uma força em suas
mãos. Uma vez que as mãos param de mover-se, no entanto, a força exercida pela água desa-
parece. Além disso, quando você remove suas mãos, as moléculas de água não fluem de volta
para onde elas estavam antes de colocar as mãos. Em outras palavras, a água não é elástica
da mesma forma como os materiais sólidos são. Se você comprimir um sólido elástico - uma
bola de borracha, por exemplo - da maneira como você ”comprimiu”a água com suas mãos,
você precisa manter a força se quiseres que a bola continue comprimida. Uma vez remo-
vendo suas mãos, a bola retorna a sua forma original. Isso não acontece para a maioria dos
lı́quidos (água, álcool, gasolina, por exemplo) ou para todos os gases em condições normais;
esses fluidos não são elásticos. Você facilmente verifica que eles não podem suportar tensão
de tração estática ou tensão de cisalhamento. Esses fluidos são conhecidos por não serem vis-
cosos. Lı́quidos como uma geléia ou piche, os quais não se comportam como a água quando
submetidos a tensão de cisalheamento, podem suportar esse tipo de tensão e são conhecidos
como lı́quidos viscosos.
Vamos observar agora como os fluidos se comportam quando submetidos a tensão de
volume. Se você exerce forças no fluido que levam a uma tensão de volume, como na Figura
1.2 (b), o fluido resiste à compressão. Considere agora água em um cilindro com um pistão
e esse sendo empurrado para baixo (figura 1.3 (a). Como a água não tem para onde ir e
como as moléculas de água já estão tão próximas uma das outras como é possı́vel estarem, é
necessário uma força muito grande para alterar o volume da água. Consequentemente, você
rapidamente sente uma força de resistência, crescente, exercida pela água sobre o pistão. Se,
em vez de água, você colocar um gás no cilindro, o gás é comprimido facilmente se você
empurrar o pistão. Isso acontece porque as partı́culas do gás estão longe uma das outras
e podem facilmente serem empurradas uma próxima das outras. A medida que o gás for
comprimido, no entanto, ele exerce uma força sobre o pistão que aumenta de valor. Uma
vez que essa força iguale em valor a força que você aplica no pistão, o sistema alcança o
equilı́brio mecânico (figura 1.3 (b)). Quanto maior a força aplicada, maior será a compressão
do gás.
Assim, um fluido pode sustentar forças que são perpendiculares a suas superfı́cies, desde
que as forças sejam exercidas simultaneamente em todas as suas superfı́cies. Ao empurrar o
pistão da esquerda na Figura 1.3 (c) para dentro sem também empurrar o pistão direito para
dentro, estarı́amos simplesmente empurrando a água e o pistão da direita para fora do tubo.
Da mesma forma, se substituirmos uma seção da parede superior ou inferior do cilindro na
Figura 1.3 (c) por um pistão e, novamente, empurrarmos o pistão da esquerda, terı́amos que
empurrar o pistão da direita e o pistão recém adicionado para dentro, a fim de manter a água
6 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.3: Todos os fluidos resistem à tensão de volume mas enqunto os lı́quidos não são
muito comprimı́veis, os gases são facilmente comprimidos.
1.1. FORÇAS EM UM FLUIDO 7

contida. A partir dessas observações, concluı́mos que, em equilı́brio mecânico, um fluido em


um recipiente exerce uma força (normal) que é distribuı́da ao longo de todas as superfı́cies
do recipiente que está em contato com o fluido, e aquelas superfı́cies exercem sobre o fluido
uma força com a mesma magnitude, mas na direção oposta.
A principal diferença entre gases e lı́quidos é que gases tendem a se comprimir facil-
mente, mudando muito facilmente seu volume e, portanto, sua densidade de massa (massa
por unidade de volume, consulte a seção 1.6 para maiores detalhes), enquanto o volume e
a densidade de massa de um o lı́quido não muda facilmente. Para simplificar, de agora em
diante nós vamos assumir que os lı́quidos com os quais lidamos são incompressı́veis; isto é,
sua densidade de massa e volume são fixos.

Quando um gás é submetido a uma tensão de volume, sua densidade de massa


e volume mudam facilmente. Quando um lı́quido é submetido a uma tensão
de volume, sua densidade e volume de massa podem ser considerados como
inalterados.

Nota 18.1 Na Figura 1.3 (c), suponha que você empurre o pistão esquerdo para
a direita com uma força de magnitude 10 N. (a) Para manter o água no cilindro
em repouso, que força você deve exercer sobre o (idêntico) pistão da direita? (b)
⃗wr
Como a força F c exercida pela água no pistão da direita se compara à força F⃗c
pl
exercida por você no pistaõ da esquerda?

Os dois pistões da Nota 18.1 acima são idênticos. Suponha que dividimos o pistão da
direita na Figura 1.3 em dois, cada um tendo metade da área de superfı́cie do pistão original.
Com isso, espera-se que para manter a água no cilindro em repouso enquanto empurramos o
pistão da esquerda para a direita com uma força de magnitude 10 N, vamos precisar exercer
em cada um dos dois novos pistões uma força de magnitude 5 N. Isso sugere que há uma
proporcionalidade entre área de superfı́cie e força.
Para verificar essa relação com mais detalhes, considere um fluido em equilı́brio mecânico
em um cilindro (Figura 1.4). Forças são exercidas sobre os dois pistões para que o fluido fi-
que sujeito a uma tensão de compressão. Agora imagine um elemento de volume em forma
de calço ou cunha (se estiver com dificuldades de imaginar o que é um calço ou uma cunha,
ambos parecem uma rampa ou um plano inclinado). Como lı́quidos não conseguem sus-
tentar tensões de cisalhamento (resultantes de forças tangentes às superfı́cies da cunha), as
forças exercidas pelo flúido ao redor desse elemento em formato de cunha devem ser per-
pendiculares às suas três superfı́cies. Além disso, devido a cunha estar em repouso, a soma
vetorial dessas forças deve ser zero. Vamos considerar que as três superfı́cies da cunha têm
áreas A1 , A2 e A3 . Cada uma dessas áreas é proporcional ao comprimento do lado correspon-
dente do triângulo tracejado na Figura 1.4 (a), e cada uma está sujeita a uma força normal
exercida pelo fluido ao redor. Vamos denotar essas forças de F ⃗1 , F
⃗2 e F
⃗3 . Quando somamos
vetorialmente esses vetores a resultante é nula, de tal forma que podemos organizá-los em
um triângulo como mostrado na 1.4 (b). Como esses vetores são perpendiculares aos lados
do triângulo tracejado da Figura 1.4 (a), o triângulo da Figura 1.4 (b) é similar ao triângulo
tracejado. Assim, a razão da magnitude das forças F1 :F2 :F3 é igual à razão dos comprimentos
dos lados do triângulo tracejado. Como a dimensão da cunha na direção perpendicular ao
plano do desenho (ou ao plano da folha) é fixa, a área A de cada lado da cunha é propor-
cional ao seu comprimento. Portanto, F1 :F2 :F3 = A1 :A2 :A3 , ou F1 /A1 = F2 /A2 = F3 /A3 . Em
8 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.4: Forças exercidas nos lados de um elemento de volume no formato de um calço

outras palavras, a razão da magnitude da força exercida pelo fluido em uma superfı́cie e a
área dessa superfı́cie é constante. Essa razão é chamada de pressão, denotada pelo sı́mbolo
P . A pressão é um escalar e é considerada positiva quando um o fluido está sob compressão.
É importante distinguir pressão de força. As duas grandezas estão relacionadas porque
as forças exercidas no fluido causam a pressão. A força, entretanto, é um vetor, enquanto a
pressão é um escalar. Além disso, forças com a mesma magnitude podem causar pressões
muito diferentes dependendo da área da superfı́cie sobre a qual essas forças são exercidas.
Imagine, por exemplo, exercer uma força de 10 N em sua pele utilizando primeiramente a
ponta de um alfinete e depois com a capa de um livro. Mesmo que a força seja a mesma em
ambos os casos, o efeito é muito diferente. Na ponta do alfinete, a pressão causada pela força
de 10 N é muito maior porque a área da superfı́cie da ponta é pequena. A pressão causada
pela ponta do alfinete pode causar dor e o alfinete pode penetrar em sua pele. O livro, no
entanto, espalha essa mesma força de 10 N sobre uma área de superfı́cie muito maior, e assim
a pressão resultante é muito menor.
Outro ponto importante a ter em mente é que forças sempre vêm em pares de interação.
A força exercida por uma parede do recipiente em um fluido (que causa a pressão no fluido)
e a força exercida pelo fluido na parede do recipiente formam um par de interação. A pressão
em um fluido, portanto, faz com que o fluido exerça forças sobre qualquer coisa que esteja
em contato com ele. Por causa da mobilidade das partı́culas em um fluido, a pressão é
transmitida em todas as direções para todas as partes do fluido. No entanto, como os fluidos
não podem suportar tensões de cisalhamento, as forças exercidas pelo fluido nas superfı́cies
do recipiente que ele está contido são sempre exercidas perpendicularmente às superfı́cies.
Em gases, a pressão pode ser apenas positiva. Os lı́quidos, no entanto, podem sustentar
pressões negativas. Por exemplo, se você segurar o recipiente da Figura 1.3 (a) de cabeça
para baixo, conforme mostrado na Figura 1.5 (a) e puxar o pistão para baixo, você sente uma
grande força resistiva, que lhe diz que o lı́quido puxa o pistão para dentro. As moléculas
de água exercem uma força atrativa entre si e nas superfı́cies do recipiente, puxando-as
para dentro conforme você puxa o pistão para baixo. Então, assim como um lı́quido sob
compressão causa uma força para fora que associamos a um pressão positiva, descobrimos
que um lı́quido “esticado” causa uma atração para dentro que associamos a uma pressão
negativa. (você pode tentar verificar isso facilmente. Encha um copo até o topo com água,
coloque um papel mais grosso ou um papelão em cima do vidro, e certigique-se de que não
há nenhum ar entre a superfı́cie da água e o papel. Em seguida, vire o copo de cabeça para
1.1. FORÇAS EM UM FLUIDO 9

Figura 1.5: Lı́quidos conseguem sustentar pressões negativas, enquanto em gases a pressão
só pode ser positiva.

baixo enquanto segura o papel com a palma da sua mão. Se você remover lentamente sua
mão do papel, a água permanece no copo.)
As partı́culas em um gás estão tão distantes umas das outras que interagem apenas
quando colidem, e assim um gás sempre se expande para preencher qualquer recipiente
em que é colocado. Um gás, portanto, não pode sustentar pressão negativa e um pistão
simplesmente cai de um recipiente de gás que é mantido de cabeça para baixo (Figura 1.5
(b)).

Nota 18.2 Considere um copo de plástico cheio de água. (a) A água exerce uma
força no fundo do copo? (b) Nas laterais do copo? (c) A pressão da água é
negativa, zero ou positiva?

As respostas da Nota 18.2 podem ter surpreendido você. O que causa a pressão na água
se a superfı́cie superior do copo com água está aberta para o ambiente e nenhum pistão
está empurrando a água para baixo? A resposta é a gravidade. Imagine que a coluna de
água no copo seja formada por uma pilha de finas “camadas” de água. A gravidade exerce
10 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.6: A gravidade exerce uma força para baixo em um fluido.

uma força em cada camada, o que significa que cada camada empurra para baixo a camada
logo abaixo dela, da mesma forma que um livro pressiona a superfı́cie de uma mesa porque
devido a gravidade. No topo da coluna de água, a atmosfera pressiona para baixo a camada
na superfı́cie.
Para examinar o efeito da gravidade sobre a pressão em um fluido, considere novamente
um tubo cheio de água com pistões idênticos em cada extremidade, mas agora orientamos
o tubo verticalmente (Figura 1.6 (a)). Mesmo que nenhuma força seja exercida no pistão do
topo do recipiente, você tem que exercer uma força para cima na pistão inferior para evitar
que a água caia do tubo. Como o diagrama de corpo livre na Figura 1.6 (b) mostra, quando
você não exerce uma força no pistão superior, a água está sujeita a duas forças: a força de
gravidade (ou o peso) que atua para baixo e uma força para cima de igual magnitude exercida
pelo pistão inferior.1 Assim, a pressão no topo da água é zero (nenhuma força é exercida na
superfı́cie), enquanto a pressão na parte inferior do tubo é diferente de zero.
Agora imagine dividir um lı́quido em um recipiente em duas partes iguais, conforme
mostrado na Figura 1.7 (a). Ignorando qualquer força exercida na superfı́cie superior (vol-
taremos a este problema em breve), vemos nos diagramas de corpo livre na 1.7 (b) que a
metade superior deve ser sustentada contra a força da gravidade pela metade inferior. O
fundo do recipiente, por sua vez, deve suportar ambas as metades. Conseqüentemente, a
pressão no fundo do recipiente é maior do que a pressão no centro.

Nota 18.3 Como a pressão no lı́quido varia com a altura acima do fundo do
recipiente na Figura 1.7?

A conclusão a que você chegou na Nota 18.3 é válida para qualquer lı́quido que esteja em
repouso em um recipiente de qualquer formato:

1 Como veremos mais tarde, a atmosfera exerce uma força em cada pistão, mas o efeito combinado dessas duas
forças é desprezı́vel. Para simplificar, também estamos ignorando as massas dos pistões, que significa que não
há força gravitacional exercida sobre eles e, portanto, o pistão superior não exerce força na água.
1.1. FORÇAS EM UM FLUIDO 11

Figura 1.7: A pressão aumenta com a distância abaixo da superfı́cie porque as camadas do
lı́quido no topo pressionam as camadas inferiores.

A pressão em um lı́quido em repouso e em um recipiente diminui linear-


mente com a altura, independentemente do formato do recipiente

Em um gás, a pressão também diminui com a altura, mas a efeito é muito menos pronun-
ciado porque os gases são muito menos densos do que lı́quidos. Além disso, como os gases
são compressı́veis, a densidade do gás varia com a altura e, portanto, a diminuição da pressão
com altura não é linear. O ar, por exemplo, é mais denso ao nı́vel do mar, onde é compri-
mido por todo o ar acima. Na altitude que a maioria dos aviões costuma viajar (10 km), a
densidade de massa do ar é um terço do seu valor no nı́vel do mar, e a pressão atmosférica é
apenas um quarto do seu valor ao nı́vel do mar.
Ao nı́vel do mar, você está no fundo de um “oceano” de ar. A massa de uma coluna de ar
que tem uma seção transversal do tamanho de uma unha é de aproximadamente 1 kg. em
outras palavras, no nı́vel do mar a atmosfera exerce em cada área do tamanho de uma unha
do seu corpo uma força equivalente à força da gravidade em um objeto de 1 kg. Se somarmos
as magnitudes de todas as forças exercidas em toda a superfı́cie do seu corpo,terı́amos uma
força igual à força da gravidade exercida em x × 104 kg! A força com a qual a atmosfera
empurra para baixo a superfı́cie do seu suco de laranja no café da manhã é mais de quatro
vezes a força com que este livro pressiona seu colo.
Dado que a pressão atmosférica média ao nı́vel do mar é 1 × 105 N/m2 , é evidente que
não podemos ignorar a pressão no topo do lı́quido na Figura 1.7. Como você viu na Nota
18.1, qualquer força exercida em uma superfı́cie de um lı́quido é transmitida para qualquer
parte do lı́quido. Isso significa que se mudarmos a pressão em um recipiente em qualquer
localização, a mudança na pressão é a mesma em todo o lı́quido. Isso é chamado de Princı́pio
de Pascal:

Uma mudança na pressão aplicada a um lı́quido fechado é transmitida sem


diminuição para todas as partes do lı́quido e para as paredes do recipiente
em contato com o lı́quido.
12 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Consequentemente, se a pressão atmosférica no topo de uma coluna de água em um


recipiente aberto para a atmosfera é 1 × 105 N/m2 , a pressão na água perto dessa superfı́cie
também deve ser 1 × 105 N/m2 . Abaixo da superfı́cie, a pressão na água aumenta a medida
que aumentamos a profundidade, uma vez que há mais água empurrando para baixo devido
à gravidade.

Nota 18.4 O quão abaixo da superfı́cie de um recipiente preenchido com água a


pressão será duas vezes o valor na superfı́cie?

1.2 Empuxo
A diminuição da pressão com a altura é responsável pela Força de Empuxo ou só Empuxo,
que é uma força que aponta para cima experimentada por objetos quando eles estão total ou
parcialmente submersos em um fluido. A tendência de certos objetos de flutuar no ar ou na
água é devido a essa força.
Se você segurar um tijolo sob a água com sua superfı́cie superior paralela à superfı́cie
da água, conforme ilustrado na Figura 1.8 (a), a pressão da água na parte inferior do tijolo
é maior do que a pressão no topo, então a força para cima exercido pela água na superfı́cie
inferior do tijolo é maior do que a força para baixo que a água exerce sobre o superfı́cie
superior do tijolo. O diagrama de corpo livre para o tijolo na 1.8 (b) mostra as forças exer-
cidas sobre o tijolo: uma força gravitacional para baixo, uma força para cima exercida por
sua mão, uma força para cima exercida pela água sobre o superfı́cie inferior do tijolo e uma
força para baixo exercida pela água na superfı́cie superior do tijolo. Como a pressão é maior
na parte inferior do tijolo do que na parte superior, as duas forças exercidas pela água no
tijolo soma-se em uma força de empuxo para cima força (1.8 (c)). As forças de empuxo são
indicadas por um sobrescrito b. (Podemos ignorar as forças laterais exercidas pelo água no
tijolo porque elas se anulam.)

Nota 18.5 (a) O que acontece com a diferença de pressão entre a parte superior
e inferior do tijolo na Figura 1.8 (a) quando o tijolo é segurado mais profunda-
mente na água? (b) O que acontece com a diferença de pressão quando aumen-
tamos a pressão na superfı́cie da água? (c) Qual é o efeito da pressão na água
sobre os lados verticais do tijolo? (d) Considere o mesmo tijolo mantido no ar.
O ar exerce uma força de empuxo no tijolo? Em caso afirmativo, em que direção
está essa força?

Quão grande é a força de empuxo que é exercida sobre um objeto submerso total ou par-
cialmente em um fluido? Para um objeto que tem uma seção transversal retangular, como
o tijolo na 1.8 (a), podemos determinar as pressões no topo e a parte inferior do objeto:
multiplique as pressões pela área da superfı́cie para obter as duas magnitudes das forças e,
em seguida, tome a diferença dessas magnitudes para obter a força de empuxo. Entretanto,
muitos objetos não possuem uma seção transversal retangular. Considere, por exemplo, o
objeto totalmente submerso na Figura 1.9 (a). Mesmo se soubermos a pressão em cada lo-
cal da superfı́cie do objeto, calcular a força de empuxo exercida pela água sobre o objeto
é um bem complicado. Entretanto, sabemos que se removermos o objeto da água, a água
preenche o espaço anteriormente ocupado por ele (Figura 1.9 (b)). Dizemos então que esse
1.2. EMPUXO 13

Figura 1.8: A razão pelo qual objetos que estão parcial ou totalmente submersos em um
fluido experimentam uma força de empuxo.

Figura 1.9: A força exercida pela gravidade sobre o volume de lı́quido deslocado por um ob-
jeto submerso é igual em magnitude ao flutuante força exercida pelo lı́quido sobre o objeto.

volume de água dentro do limite definido pelo objeto foi deslocado pelo objeto quando ele
está totalmente submerso. A Figura 1.9 (c) mostra o diagrama de corpo livre para esse vo-
lume deslocado de água. Como toda a água está em repouso, sabemos que a soma vetorial
das forças exercidas sobre o volume de água dentro do limite deve ser zero. Duas forças são
exercidas sobre esse volume de água: a gravidade atuando para baixo, que é exercida pela
Terra e uma força de empuxo exercida pela água ao redor daquele volume limitado. Dado
que a soma vetorial dessas duas forças é zero, sabemos que a força de empuxo exercida sobre
a água dentro do limite deve ser para cima e igual em magnitude à magnitude da força de
gravidade exercida pela Terra (força peso) na água dentro do limite.
Como a força de empuxo exercida pela água ao redor do volume limitado na Figura 1.9
(a) não pode depender da natureza do material dentro do limite, temos uma maneira de
determinar a força de empuxo exercida sobre um objeto de forma arbitrária:

Um objeto total ou parcialmente submerso em um fluido experimenta uma


força de empuxo para cima que é igual em magnitude à magnitude da força de
gravidade exercida sobre o fluido deslocado pelo objeto. O volume do fluido
deslocado é igual ao volume da porção submersa do objeto.

Essa afirmação é chamada de Princı́pio de Arquimedes. Observe que não há referência
à forma ou composição do objeto submerso: o único fator que importa é o volume do fluido
deslocado.
14 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.10: O conceito de volume deslocado pode ser usado para determinar a força de
empuxo em objetos flutuando e submersos.

Nota 18.6 Se a força de empuxo exercida sobre um objeto é sempre igual em


magnitude à força da gravidade exercida sobre o fluido deslocado pelo objeto,
por que um tijolo colocado em um barril água afunda?

Agora que sabemos como determinar o empuxo exercido sobre um objeto, podemos en-
tender porque alguns objetos flutuam e outros afundam. Como mostra a Nota 18.6, um tijolo
afunda porque a força da gravidade exercida pela Terra nele (força peso) é maior do que a
força da gravidade exercida pela Terra (força peso) em um volume igual de água (igual em
magnitude ao empuxo). Como a soma vetorial dessas duas forças é direcionada para baixo,
o tijolo afunda a menos que seja segurado.
Quando a força de empuxo é maior em magnitude do que a força da gravidade exercida
(força peso) sobre um objeto totalmente submerso na água, o objeto acelera em direção à su-
perfı́cie do água quando você o solta. Um bloco de madeira lançado sob a água, por exemplo,
sobe para a superfı́cie, e assim a força da gravidade exercida pela Terra no bloco (força peso)
é menor do que a força da gravidade (força peso) exercida sobre um volume igual de água
(1.10 (a)). Uma vez que flutua na superfı́cie, apenas parte do bloco está submerso, e agora
o volume de água deslocado é menor que o volume do bloco (1.10 (b)). Como o bloco está
em repouso na superfı́cie, a força da gravidade exercida pela Terra sobre ele (força peso) e o
empuxo exercido pela água deve ser igual em magnitude, como mostrado na Figura 1.10 (c).
Objetos feitos de materiais que normalmente afundam podem ser feitos para flutuar.
Basta projetar os objetos de tal forma que o volume de água que eles desloquem seja grande o
suficiente para compensar a força da gravidade (força peso) exercida sobre eles. Por exemplo,
um navio de aço flutua embora um bloco de aço afunda. A razão para isso é ilustrada na
Figura 1.11: enquanto a força de a gravidade exercida no navio (força peso) for menor do
que a força da gravidade (força peso) exercida sobre o volume de água deslocado pelo navio,
a força de empuxo será grande o suficiente para manter o navio flutuando. Como o casco de
um navio é oco, o volume de água deslocado é muito maior que o volume do aço.
1.3. ESCOAMENTO DE FLUIDOS 15

Figura 1.11: Navios de aço podem flutuar mesmo que o aço afunde. O interior oco do navio
faz com que o volume de água deslocado pelo navio seja maior do que o volume de aço. As-
sim, a força de empuxo para cima exercida sobre o navio é maior do que a força gravitacional
para baixo exercida sobre o aço (força peso).

Nota 18.7 Inicialmente temos uma panela com uma pedra em seu interior. O
conjunto flutua na água. Suponha agora que você amarre a pedra ao fundo da
panela com uma corda muito leve, de tal forma que o conjunto panela + pedra
seja igual ao esquema da Figura 1.12. Se a combinação ainda flutua, o volume
de água deslocado quando a rocha está amarrada ao fundo da panela é, maior,
igual ou menor que o volume de água deslocado quando a rocha está dentro da
panela?

Figura 1.12: Nota 18.7

1.3 Escoamento de Fluidos


Até agora restringimos nosso estudo aos fluidos em repouso. Agora nós vamos voltar nossa
atenção para os fluidos em movimento; esse movimento é geralmente conhecido como esco-
amento do fluido. Quando o escoamento é tal que o a velocidade do fluido em qualquer local
é constante, tal como quando a água se move através de um tubo, o escoamento é dito ser
laminar. Nem todo escoamento é laminar. Por exemplo, o movimento da fumaça quando
essa se desloca para cima ou o movimento da água no rastro deixado por um grande navio
16 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

quando navega, são caracterizados por mudanças caóticas. Tal escoamento é considerado
turbulento.
Para entender melhor o escoamento de um fluido, vamos introduzir o conceito de linhas
de fluxo ou linhas aerodinâmicas, que são linhas desenhadas para representar os caminhos
que as partı́culas fazem em um fluido em movimento. Essas linhas de fluxo podem ser tornar
visı́veis injetando fumaça em um fluxo de gás (1.13) ou tinta em um fluxo de lı́quido (Figura
1.14).

Figura 1.13: Linhas de fluxo sobre um carro.

Figura 1.14: Linhas de fluxo ao redor de um cilindro.

Quando o escoamento é laminar, como nas Figuras 1.13 e 1.14, as linhas de fluxo mantêm
sua forma e posição. Em escoamentos turbulentos, as linhas de fluxo são irregulares e muitas
vezes se enrolam em redemoinhos, que são regiões de fluido em movimento circular chama-
das de vórtices (Figura 1.15).
O que determina se o escoamento de um fluido por um objeto estacionário vai ser laminar
ou turbulento são a velocidade do fluxo, a forma do objeto e a resistência do fluido a uma
tensão de cisalhamento (sua viscosidade). Para um fluido com viscosidade nula e que não
poussi atrito ao fluir pelas superfı́cies de um objeto, as linhas de fluxo apenas se curvam em
torno de um objeto com bordas arredondadas (Figura 1.16 (a)). Exceto onde o fluido tem
que sair do caminho do objeto, a velocidade do escoamento é a mesma em todos os lugares.
em tais situações, o padrão das linhas de fluxo nas regiões posteriores ao objeto é o mesmo
1.3. ESCOAMENTO DE FLUIDOS 17

Figura 1.15: Escoamento turbulento ao redor de um cilindro.

que o padrão das linhas de fluxo quando o fluido incide no objeto. (Vale mencionar que
fluidos “totalmente não viscosos” não existem, mas examinar esses modelos simplificados
nos fornecem uma intuição útil do problema.)
A Figura 1.16 (b) mostra o padrão de escoamento para um fluido com viscosidade não
nula se movendo em uma velocidade baixa. As linhas linhas de fluxo têm a mesma forma
observada para um fluido não viscoso da Figura 1.16 (a), mas o padrão de velocidades é
muito diferente nos dois casos. Na superfı́cie do objeto, o fluido viscoso na Figura 1.16 (b)
é estacionário por causa do atrito entre o fluido e a superfı́cie. Bem acima e bem abaixo da
superfı́cie do objeto, o fluxo não é afetado pela presença do objeto. Entre esses dois extremos,
a velocidade do escoamento aumenta de camada para camada. Como a viscosidade é dife-
rente de zero, as camadas adjacentes de fluido exercem forças de cisalhamento umas sobre
as outras, com camadas que se movem mais rapidamente tentando acelerar camadas que se
momevem mais lentamente e camadas com menor velocidade diminuindo a velocidade das
camadas que se movem mais rápido. Por fim, temos que esse “atrito” entre as camadas de
fluido causa dissipação de energia.
À medida que aumentamos a velocidade de escoamento, os torques causados pelas forças
que as camadas adjacentes exercem umas sobre as outras tornam-se tão grandes que o fluxo
desenvolve vórtices e se torna turbulento (Figura 1.16 (c)). O rastro turbulento ao lado e na
parte posterior do objeto é irregular e causa uma dissipação de energia significativa.

Nota 18.8 Em vez de um escoamento laminar passando por um objeto esta-


cionário como na Figura 1.16 (a), considere um objeto em movimento com ve-
locidade constante através de um fluido estacionário. Você espera que as linhas
de fluxo em torno do objeto assumam o mesmo padrão apresentado na Figura
1.16 (a) ou diferente?

Para evitar turbulência e minimizar a dissipação de energia em escoamentos com altas


velocidades, uma opção é otimizar os objetos, ajustando sua forma de modo a manter o fluxo
aerodinâmico ao seu redor. Por exemplo, quando um objeto tem uma extremidade da frente
arredondada e extremidade traseira na forma de uma cauda longa e cônica, como na Figura
1.16 (d), o rastro turbulento ocorre em uma pequena região, e o padrão das linhas de fluxo é
18 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.16: Se o escoamento do fluido passando por um objeto estacionário é laminar ou


turbulento, isso depende da velocidade do fluido, da sua viscosidade e da forma do objeto.

semelhante aos fluxos de baixa velocidade ilustrados nas Figuras 1.16 (a) e (b). Na superfı́cie
de um objeto com design aerodinâmico, como o da Figura 1.16 (d), o fluido é estacionário,
mas a velocidade do escoamento aumenta rapidamente ao longo de uma camada fina. Fora
dessa camada, o escoamento assemelha-se ao de um fluido não viscoso.
Agora que temos uma noção geral do escoamento de fluido, vamos analisar o escoamento
através de um tubo. Em um tubo de diâmetro fixo, as linhas de fluxo são todas paralelas às
paredes do tubo. Para um fluido não viscoso (ideal) escoando através desse tubo, a velocidade
do fluxo é a mesma em todos os lugares e o tubo não oferece resistência ao escoamento
(Figura 1.17 (a)). Para qualquer fluido viscoso escoando com baixa velocidade, a velocidade
de escoamento é zero nas paredes do tubo e assume seu maior valor no centro (Figura 1.17
(b)). Para escoamentos com alta velocidade, a velocidade não varia muito em todo o diâmetro
do tubo, caindo apenas em uma camada limite (Figura 1.17 (c)). Quanto maior a velocidade,
mais fina é a camada limite.

Figura 1.17: Padrões de velocidades para o escoamento de um fluido através de um tubo de


diâmetro fixo.

Vamos considerar o escoamento em um tubo que possui uma constrição (Figura 1.18
(a)). Para simplificar as coisas, ignoramos qualquer turbulência ou efeitos da camada limite.
O primeiro ponto a ser notar é que as linhas de fluxo devem se aglomerar na parte estreita
1.3. ESCOAMENTO DE FLUIDOS 19

(constrição) do tubo . (Uma linha de fluxo não pode ter um fim, pois isso isso significaria que
uma partı́cula do fluido se movendo ao longo dessa linha iria parar.) Portanto, a densidade
das linhas fluxo é maior na parte estreita do que na parte larga do tubo.

Figura 1.18: Esquema exemplificando o que acontece com as linhas de fluxo quando um
fluido flui de uma região mais larga de um tubo para uma região mais estreita.

Se o fluxo for laminar, a massa do fluido passando pelo ponto 1 em um determinado


intervalo de tempo na parte larga do tubo deve ser igual à massa do fluido passando pelo
ponto 2 na parte estreita durante o mesmo intervalo de tempo (Figura 1.18 (b)). (Se isso
não ocorresse, haveria um acúmulo de massa entres esses dois pontos e o fluxo não seria
laminar.) Conseqüentemente, em um determinado intervalo de tempo, o deslocamento ∆x2
de uma partı́cula do fluido passando pela parte estreita é maior que o deslocamento ∆x1 de
uma partı́cula do mesmo fluido movendo-se através da parte larga. Isso significa que o fluido
flui mais rápido na parte estreita do tubo, onde a densidade das linhas de fluxo é maior, do
que na parte larga.
20 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Um fluido escoendo acelera quando a região que ele atravessa é estreita e de-
sacelera quando a região pelo qual ele passa se alarga. A densidade de linhas
de fluxo reflete as mudanças na velocidade do fluxo: Quando as linhas de
fluxo em um escoamento laminar se aproximam, a velocidade do escoamento
aumenta; quando elas se distanciam, a velocidade do escoamento diminui.

Esse princı́pio se aplica a cada partı́cula de um fluido em movimento. Assim, cada


partı́cula deve acelerar à medida que se move em uma linha de fluxo da parte larga do
tubo para a estreita. Isso significa que o fluido ao redor dessa linha de fluxo deve exercer
uma força para a direita na partı́cula enquanto a partı́cula está se propagando na parte do
tubo que possui forma cônica do tubo (é a parte intermediária entre a parte larga e a parte
estreita) na Figura 1.18. Como a força exercida nas partı́culas do fluido é uma medida da
pressão no fluido, a pressão é maior na parte larga do tubo do que na a parte estreita.

Quando a velocidade do fluxo em um fluxo laminar aumenta, o a pressão no


fluido diminui.

Este efeito é, às vezes, chamado de Efeito Bernoulli após o fı́sico suı́ço ter sido o primeiro a
descrever a diferença de pressão quantitativamente. A diferença de pressão ocorre ao longo
das linhas de fluxo. Como não há escoamento na direção perpendicular a uma linha de fluxo,
a pressão deve ser a mesma através de linhas de fluxo vizinhas.
Existem muitos exemplos do efeito Bernoulli. Durante uma tempestade, ventos fortes
soprando sobre o telhado de uma casa fazem com que a pressão acima do telhado seja menor
do que a pressão do ar parado dentro de casa, criando uma força para cima sobre o telhado.
Em circunstâncias extremas, essa força pode ser grande o suficiente para levantar o telhado
da casa. Quando um grande caminhão passa por um carro parado, o ar em alta velocidade
entre o carro e o caminhão têm uma pressão mais baixa do que o ar parado do outro lado do
carro e, consequentemente, o carro é puxado em direção ao caminhão.
Outro exemplo conhecido são as curvas que parecem desafiar a gravidade de uma bola se
propagando pelo ar enquanto gira rapidamente. Figura 1.19 (a) mostra uma vista superior de
uma bola de beisebol lançada com uma rotação no sentido anti-horário. Por causa do atrito
entre a superfı́cie da bola e o ar, o ar é arrastado enquanto a bola se move pelo ar. Figura
1.19 (b) mostra o movimento do ar visto de um referencial se movendo junto com a bola. O
movimento do ar devido o giro da bola, aumenta o fluxo de ar que passa pela bola, fazendo
com que o ar atrás da bola seja desviado para a direita e o ar à esquerda da bola se mova mais
rápido do que o ar à direita. A deflexão do ar significa que o a direção do momento do ar se
desloque para a direita, e essa mudança deve ser acompanhada por uma mudança de mesma
magnitude do momento da bola, porém para a esquerda. Por outro lado, de acordo com o
efeito Bernoulli, a pressão no ar do lado esquerdo da bola é menor que a pressão exercida
pelo ar à direita, causando uma força para a esquerda na bola. Ambos os efeitos fazem a bola
desviar sua trajetória para a esquerda. Da mesma forma, uma bola de tênis com “top spin”
(que significa que o topo da bola gira na direção de propagação da bola) tenha sua trajetória
curvada para baixo. (Uma traduçãoo para “top spin” seria giro para cima)
As “covinhas” ou sulcos na superfı́cie das bolas de golfe aumentam o atrito entre o ar e
a superfı́cie da bola realçando o efeito da rotação. Uma bola de golfe atingida por um taco
recebe um “backspin” (o oposto do top spin, ou seja, o topo da bola gira na direção contrária à
direção de propagação da bola) rápido por causa da inclinação da face do taco. O “backspin”
força o ar atrás da bola para baixo, fazendo com que a bola experimente uma força de baixo
1.4. EFEITOS DE SUPERFÍCIE 21

Figura 1.19: Movimento de uma bola girando conforme visto (a) do referencial da Terra e
(b) de um referencial movendo-se junto com a bola. Como o ar é arrastado junto com a
superfı́cie da bola, o ar se move mais rápido à esquerda da bola e mais lentamente à direita
da bola.

para cima, que a levanta e faz com que ela percorra um caminho maior do que se não tivesse
girando. Essa “subida” que a bola experimenta quando recebe um “backspin” compensa a
perda de alcance devido à resistência do ar. (uma tradução para “backspin” seria giro para
trás)

Nota 18.9 O teto de tecido de um carro conversı́vel costuma inchar quando o


carro está em altaa velocidadea, mesmo quando a parte superior está bem ajus-
tada e sem vento preso embaixo ele. Explique o que causa esse “inchamento”.

1.4 Efeitos de superfı́cie


Uma caracterı́stica que diferencia lı́quidos e gases é que os lı́quidos têm uma superfı́cie bem
definida, mas os gases não. Se você colocar um gás em um recipiente aberto, o gás escapa.
Um lı́quido, no entanto, permanece no recipiente em que é colocado, e pequenas quantidades
de lı́quido colocadas sobre uma superfı́cie sólida formam gotas. Em cada caso, o lı́quido tem
uma superfı́cie bem definida que o separa do ar ao seu redor. Em pequena escala - isso é,
para pequenas quantidades de lı́quido e para pequenos objetos - esssa superfı́cie se comporta
como uma membrana elástica, fazendo com que pequenos volumes de lı́quido forme gotas e
sejam capazes de sustentar pequenos objetos, como partı́culas de poeira ou aranhas d’água.
Podemos entender o comportamento das superfı́cies lı́quidas considerando o que acon-
tece na escala molecular. Quando as partı́culas em um fluido estão distantes, elas não exer-
cem nenhuma força uma na outra (Figura 1.20). À medida que se aproximam, a interação en-
tre as partı́culas tem componentes atrativa e repulsiva. A uma distância de alguns diâmetros
de uma partı́cula, as partı́culas exercem forças atrativas, chamadas de forças coesivas, umas
sobre as outras. Quando a separação entre as partı́culas se torna menor que o diâmetro de
22 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

uma partı́cula, elas resistem fortemente a serem empurradas para mais perto, resultando
em forças repulsivas muito fortes. Em um gás, as partı́culas se movem a uma velocidade tão
grande e suas distâncias de separação são tão grandes que as forças coesivas são insignifican-
tes. Em outras palavras, as partı́culas de gás essencialmente não interagem exceto quando
colidem e exercem forças repulsivas umas nas outras.

Figura 1.20: Interação entre partı́culas de um fluido no estado gasoso, quando as partı́culas
estão distantes, e no estado lı́quido, quando elas estão mais próximas.

Forças coesivas desempenham um papel importante em lı́quidos. O pistão na Figura 1.5


(a) permanece em sua posição por causa das forças coesivas no lı́quido, por exemplo. Da
mesma forma, se você apertar água pura sem ar presente no meio de duas placas lisas, uma
força enormemente grande é necessária para separar os pratos.
As forças coesivas entre as partı́culas fazem com que a superfı́cie do lı́quido atue como
uma folha elástica esticada que tende a minimizar a área da superfı́cie. Para entender como
isso acontece, compare as forças exercidas sobre uma partı́cula no interior de um lı́quido
com as forças exercidas em uma partı́cula na superfı́cie. A partı́cula no interior experimenta
forças de atração de vizinhos em todas as direções, e a soma vetorial dessas forças é zero.
Na superfı́cie, no entanto, não há vizinhos acima da partı́cula, e assim a soma vetorial das
forças coesivas aponta para dentro do lı́quido perpendicular à superfı́cie. As partı́culas da
superfı́cie não podem se mover para o lı́quido, no entanto, como elas são puxadas para den-
tro, elas experimentam uma forte repulsão para fora devido partı́culas vizinhas no interior.
Por causa da atração para dentro em todas as partı́culas da superfı́cie, um pequeno vo-
lume de lı́quido tende a se organizar na forma de uma esfera (Figura 1.21). Em um gás, não
1.4. EFEITOS DE SUPERFÍCIE 23

há atração entre as partı́culas vizinhas e, portanto, uma coleção de partı́culas de gás tendem
a se separar, expandindo-se em todas as direções que possuem espaço vago. Para manter
as partı́culas de um gás juntas, você pode colocá-las dentro de um balão. O balão esticado
empurra para dentro as partı́culas do gás, exercendo uma força sobre elas fazendo com que
fiquem juntas. O efeito de atração para dentro que as partı́culas de superfı́cie em um lı́quido
sofrem é muito parecido com a força exercida por um balão nas partı́culas de um gás. A
superfı́cie do lı́quido, portanto age como uma membrana que está sob tensão e matém o
lı́quido junto em uma forma esférica.

Figura 1.21: As forças coesivas entre as moléculas em um lı́quido fazem com que a superfı́cie
do liquido atue como uma folha elástica esticada. Consequentemente, pequenos volumes de
um lı́quido tendem a adotar uma forma esférica.

Assim como um balão inflado está sob tensão, também podemos dizer que a superfı́cie
de um lı́quido possui uma tensão superficial. Na ausência de gravidade, a tensão superfi-
cial faz com que até mesmo grandes volumes de um lı́quido adquiram uma forma esférica
(Figura 1.22). Na presença da gravidade, no entanto, as gotas de um lı́quido não são perfei-
tamente esféricas, com gotas maiores se achatando mais do que as gotas menores. O motivo
24 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

da diferença em como gotas muito grandes e pequenas perdem sua forma esférica é de-
vido ao fato de que apenas as partı́culas na superfı́cie da gota são puxadas para a forma
esférica. A gravidade, no entanto, atrai todas as partı́culas em um volume, não apenas aque-
las na camada superficial. Colocando isso de de outra forma, temos que, como o nome diz,
a tensão superficial é um efeito de superfı́cie, enquanto a atração gravitacional é um efeito
volumétrico.

Figura 1.22: O astronauta Kevin Ford observa uma bolha d’água flutuar livremente entre
ele e a câmera a bordo da Estação Espacial Internacional. Quando nenhuma grande força
gravitacional está envolvida, mesmo um grande volume de lı́quido adota uma forma esférica.

A analogia entre a tensão superficial e a tensão em balão de borracha nos permite tirar
algumas conclusões. Considere, por exemplo, o balão cheio de ar da Figura 1.23. A borracha
na extremidade não inflada do balão é menos esticada do que a borracha na parte inflada e,
portanto, há menos tensão na borracha não inflada do que na borracha inflada. (você deve
ter notado que os balões são mais macios e mais facilmente de se apertar onde estão menos
inflados.) Para entender como a tensão em um balão se relaciona com sua forma e com a
pressão do ar dentro do balão, responda a seguinte Nota primeiro.

Nota 18.10 Como que a pressão do ar na parte não inflada do balão na Figura
1.23 se compara com a pressão do ar na parte inflada?.

A resposta para a Nota 18.10 surpreendeu você? Como pode uma parte do balão ser
mole e outra parte dura se a pressão do ar é a mesma em todos os lugares dentro do balão?
O motivo tem a ver com o raio de curvatura, que é o raio do cı́rculo que utilizamos como
aproximação para o formato curvo do ponto sob consideração. Como mostra a Figura 1.24,
o raio de a curvatura é diferente nas duas partes. A pressão do ar deve ser a mesma nas
duas partes, como você aprendeu na Nota 18.10, e a força interna exercida pela superfı́cie
de borracha do balão no ar interno é causada pela tensão na borracha. Como você pode ver,
comparando os diagramas de corpo livre para um pequeno segmento da superfı́cie na Figura
1.24 (a) e (b), quanto menor o raio de curvatura, menor será a força de tensão necessária
para fornecer uma determinada força interna. Na parte do balão onde o raio de curvatura
é menor, o ângulo das forças de tensão é grande e, portanto, forças menores de tensão se
1.4. EFEITOS DE SUPERFÍCIE 25

Figura 1.23: Um balão parcialmente inflado. A tensão é maior onde a borracha é a mais
esticada.

somam e resultam na mesma soma vetorial que é obtida na parte do balão com maior raio
de curvatura. na verdade, quando o raio é menor, a borracha é menos esticada e, portanto, a
força de tensão é menor.

Em uma membrana elástica envolvendo um gás, a tensão na membrana au-


menta com o aumento do raio de curvatura, mas a pressão é a mesma em todos
os lugares dentro do volume envolvido pela membrana, como exigido pelo
princı́pio de Pascal.

A situação é diferente com lı́quidos porque a superfı́cie de um lı́quido não é exatamente


como uma membrana de borracha esticada. Em particular, a tensão superficial em um
lı́quido é determinada inteiramente pelas forças coesivas entre as partı́culas do lı́quido, que
é constante independentemente da forma da superfı́cie do lı́quido. Então as forças de tensão
exercidas sobre um determinado segmento infinitesimalmente fino da camada superficial
que separa o lı́quido e o gás são as mesmas, independente de qual seja o raio de curvatura da
superfı́cie. Como mostrado na Figura 1.25, essas forças de tensão constantes que são exer-
cidas sobre um segmento da superfı́cie de uma gota causa uma força maior apontando para
dentro da gota quando o raio de curvatura é pequeno. Como o segmento está em repouso,
essa força para dentro no segmento deve ser equilibrado pelas forças exercidas pelo lı́quido
e pelo ar em cada lado da camada superficial. A força apontando para fora da gota exercida
pelo lı́quido no segmento é, portanto, maior do que a força apontando para dentro da gota
exercida pelo ar no segmento. Como essas forças tem origem nas pressões que o fluidos sente
em ambos os lados da superfı́cie, podemos concluir que a pressão do lı́quido no lado côncavo
da superfı́cie deve ser maior que a pressão exercida pelo ar do lado de fora da gota. Vamos
chamar essa diferença de diferença de pressão na superfı́cie:

Conforme o raio de curvatura da superfı́cie de um lı́quido diminui, a


diferença de pressão na superfı́cie aumenta, com a pressão sendo maior no
lado côncavo da superfı́cie.
26 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.24: A razão pela qual o balão na Figura 1.23 possui uma pate não inflada. Como a
pressão do ar deve ser a mesma em todos os lugares dentro de um balão, as áreas com um
pequeno raio de curvatura devem ter forças de tensão com magnitude menor do que as áreas
com um raio de curvatura maior.

Essa afirmação e a afirmação em negrito anterior, que descreve a pressão em um gás


envolvido por membrana, são consequências da lei de Laplace, que relaciona a curvatura da
superfı́cie com a tensão superficial e com a pressão em um lı́quido.
A tensão superficial permite que pequenos insetos andem na superfı́cie da água e que
pequenos objetos flutuem na superfı́cie de um lı́quido. Por exemplo, se você colocar cuida-
dosamente um clipe de papel de aço na superfı́cie da água, ele permanece lá, embora um
clindro de aço mais espesso afunde (Figura 1.26 (a)). Existem duas maneiras de explicar
isso. A primeiro é invocar a lei de Laplace: A superfı́cie da água abaixo do clipe de papel é
côncava para cima, assim a pressão acima da superfı́cie é maior do que a pressão logo abaixo
dela. Essa pressão logo abaixo da superfı́cie onde o clipe de papel está em repouso é a pressão
atmosférica, enquanto a pressão acima da superfı́cie onde o clipe de papel está é a pressão
1.4. EFEITOS DE SUPERFÍCIE 27

Figura 1.25: Como a tensão superficial em um lı́quido é independente da forma da superfı́cie


do lı́quido, uma pequena esfera desse lı́quido tem uma pressão interna maior do que uma
esfera maior.

atmosférica mais a pressão causada pelo clipe na superfı́cie.


A segunda maneira de explicar por que o clipe de papel flutua está ilustrada na Figura
1.26 (b), que mostra o diagrama de corpo livre para o segmento da superfı́cie logo abaixo do
clipe de papel e para o clipe de papel. As forças de tensão superficial equilibram a força que
aponta para baixo F ⃗ns exercida pelo clipe de papel no segmento da superfı́cie. Essa força para
baixo, F⃗ns , forma um par de interação com a força para cima F
⃗sn exercida pelo segmento da
superfı́cie no clipe de papel, que equilibra a força da gravidade para baixo no clipe de papel
e faz o clipe de papel flutuar.

Nota 18.11 (a) Qual é a diferença entre a pressão logo abaixo da superfı́cie da
água em uma piscina e a pressão do ar logo acima dela? (b) A pressão dentro
de uma gota de chuva é maior, igual ou menor que a pressão ao seu redor? (c)
Como a pressão dentro de uma pequena gota de chuva se compara com a pressão
dentro de uma gota de chuva maior?

Uma superfı́cie lı́quida que entra em contato com uma superfı́cie sólida forma um ângulo
28 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.26: A tensão superficial permite que clipes de papel flutuem na água.

com a superfı́cie sólida (Figura 1.27). Esse ângulo, chamado de ângulo de contato, é o mesmo
para uma determinada combinação lı́quido-sólido (Figura 1.27 (a)).2 O ângulo de contato
é definido como o ângulo entre a superfı́cie sólida e a reta tangente à superfı́cie do lı́quido
no ponto onde o lı́quido e sólido se encontram; o ângulo de contato é sempre medido com
relação ao lı́quido. Se o ângulo de contato for menor que 90◦ , dizemos que o lı́quido molha
a superfı́cie sólida (Figura 1.27 (b)). Se ângulo de contato for maior que 90◦ , como na Figura
1.27 (a), o lı́quido não molha a superfı́cie; ele forma gotas em vez de se espalhar e molhar a
superfı́cie.
O ângulo de contato é fortemente influenciado por quão plana e limpa é a superfı́cie
sólida e pela presença de impurezas no lı́quido. Por exemplo, a água se transforma em gotas
em uma superfı́cie de parafina, mas ao adicionar um pouco de sabão na água faz com que a
gota se espalhe e molhe a superfı́cie da parafina.
O ângulo de contato de um lı́quido em uma superfı́cie sólida é devido a ação combinada
entre as forças coesivas das partı́culas no lı́quido e as forças de aderência ou forças aderentes3
entre as partı́culas do lı́quido com os átomos da superfı́cie do sólido. Considere, por exem-
plo, uma partı́cula no ponto onde a superfı́cie do lı́quido encontra o a superfı́cie do sólido
(Figura 1.28). Esta partı́cula do lı́quido está sujeita a uma força coesiva exercida pelas ou-

2 O gás que envolve o lı́quido e o sólido também afeta o ângulo de contato. Como esse efeito, geralmente, é
muito pequeno, devemos ignorá-lo.
3 Forças coesivas são exercidas entre partı́culas semelhantes. Forças de aderência ou forças aderentes são
exercidas entre partı́culas diferentes.
1.4. EFEITOS DE SUPERFÍCIE 29

Figura 1.27: Pequenas gotas são quase esféricas; gotas maiores se achatam. Para uma deter-
minada combinação de superfı́cie lı́quida e superfı́cie sólida, o ângulo de contato é fixo e não
depende do tamanho ou formato da gota.

tras partı́culas do lı́quido ao redor (perceba pela Figura 1.28 que podemos aproximar essa
região por um formato de calço ou cunha) e a uma força de aderência exercida pela superfı́cie
sólida. Por simetria, a força coesiva deve estar orientada ao longo da bissetriz da cunha ou
calço. Da mesma forma, a força de aderência deve ser perpendicular à superfı́cie sólida. (Se
a força de aderência não fosse perpendicular à superfı́cie sólida, haveria um fluxo na direção
tangente à superfı́cie em resposta a qualquer componente tangencial dessa força.) Ignorando
os efeitos da gravidade (que são muito pequenos em uma única partı́cula), podemos dizer
que a soma vetorial das forças exercidas sobre a partı́cula do lı́quido é dada pela soma da
força coesiva e da força de aderência. Como o lı́quido não pode sustentar qualquer força de
cisalhamento, a soma vetorial das forças em qualquer partı́cula na superfı́cie deve ser sem-
pre perpendicular à superfı́cie (ver seção 18.1). Dadas as direções dessas duas forças e sua
soma vetorial, suas magnitudes relativas são fixas. Por exemplo, para um lı́quido que molha
um sólido com um ângulo de contato de 60◦ ou menor, a força de aderência é sempre maior
que a força coesiva (Figura 1.28 (a)), enquanto que para uma situação em que o lı́quido não
molha a superfı́cie sólida,a força coesiva é sempre maior do que a força de aderência (Figura
1.28 (b)).
O ângulo de contato também determina a forma das bordas da superfı́cie de um lı́quido
quando essa superfı́cie está em contato com as paredes de um recipiente (Figura 1.29). Em
um tubo muito estreito, chamado de capilar (devido a palavra cabelo em Latin), a superfı́cie
de um lı́quido é curva. Essa superfı́cie curva, chamada de menisco, é côncava quando o
lı́quido molha as paredes do capilar (Figura 1.29 (a)) e convexo quando o lı́quido não molha
(Figura 1.29 (b)). Analisando de perto a borda da superfı́cie de um lı́quido em um copo, você
30 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.28: Diagramas de corpo livre para uma partı́cula em uma interface gás-lı́quido-
sólido, sendo que o lı́quido (a) molha e (b) não molha a superfı́cie.

pode determinar se o lı́quido molha ou não o copo.

Figura 1.29: A forma côncava ou convexa da superfı́cie de um lı́quido em um capilar é


determinada pelo ângulo de contato.

Os diagramas de corpo livre para uma partı́cula no ponto onde a superfı́cie do lı́quido
encontra a parede sólida co copo são mostrados na Figura 1.30 para um menisco côncavo e
um menisco convexo. Observe a semelhança com os diagramas de corpo livre da Figura 1.28.
A formação de um menisco é responsável pela elevação do nı́vel de um lı́quido em um
capilar, como mostra a Figura 1.31. Como o menisco é côncavo, a pressão no ponto P no
lı́quido, logo abaixo do menisco, deve ser menor que a pressão atmosférica logo acima do
1.4. EFEITOS DE SUPERFÍCIE 31

Figura 1.30: Diagramas de corpo livre para uma partı́cula na interface gás-lı́quido-sólido,
sendo que o lı́quido (a) molha e (b) não molha uma superfı́cie vertical.

menisco. A pressão em Q, um ponto diretamente abaixo de P e na mesma altura que a su-


perfı́cie do lı́quido em torno do capilar, deve ser a mesma que a pressão em R (caso contrário,
o lı́quido escoaria de modo a eliminar qualquer diferença de pressão horizontal). Como a su-
perfı́cie em R é plana, não há diferença de pressão na superfı́cie e, portanto, sabemos que
a pressão em R (e, portanto, a pressão em Q) é igual à pressão atmosférica. A diferença
de pressão entre os pontos P e Q faz com que uma força de empuxo apontada para cima
seja exercida pelo lı́quido no tubo entre os pontos P e Q, causando um aumento do nı́vel
do lı́quido (às vezes chamado de elevação capilar) até que a a força da gravidade para baixo
(força peso) exercida sobre o lı́quido que subiu pelo capilar se equilibre com a força para
cima devido a a diferença de pressão. Conforme ilustrado na Figura 1.32, a elevação capilar
é mais pronunciada em um tubo estreito. Quanto mais estreito for o tubo, menor será o raio
de curvatura do menisco. Como sabemos da lei de Laplace, um raio menor de curvatura
significa uma maior diferença de pressão em todo a superfı́cie e, portanto, uma maior força
para cima sobre o lı́quido.

Figura 1.31: A diferença de pressão na superfı́cie côncava de um lı́quido que molha as pare-
des de um capilar faz com que o lı́quido suba no tubo, um fenômeno denominado elevação
capilar.
32 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.32: Quanto mais estreito for o tubo, maior será a elevação capilar.

Nota 18.12 Explique por que os efeitos de superfı́cie não podem suportar um
grande cilindro sólido feito do mesmo material que uma agulha.
Análise Quantitativa

33
34 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

1.5 Pressão e gravidade

⃗ c exercida por um fluido na


Definimos a pressão no fluido como a razão entre a força Ffs
superfı́cie e a área A dessa superfı́cie:

Ffc s
P≡ (1.1)
A

Pressão é um escalar e sua unidade no Sistema International (SI) é chamada de pascal


(Pa), em homenagem ao cientista francês Blaise Pascal:

N
1 Pa ≡ 1 (1.2)
m2

Na prática ,essa unidade é muito pequena e utilizamos com frequência kPa ≡ 1000 Pa. Por
exemplo, a pressão atmosférica média no nı́vel do mar é Patm = 101, 3 kPa ≡ 1 atm. Observe
que a unidade 1 atm não é uma unidade do sistema SI. Uma unidade alternativa, que se
aplica mais facilmente ao SI é o bar. Nesse caso , 1 bar ≡ 100 kPa e vale, aproximadamente, a
pressão atmosférica na Terra no nı́vel do mar.
Consideremos uma caixa fechada na qual não há absolutamente nenhum átomo ou molécula.
A pressão é zero porque nenhuma partı́cula exerce força sobre as paredes da caixa. Dizemos
que temos um vácuo perfeito. Na prática, isso não existe, sendo impossı́vel remover todos os
átomos de uma região de espaço. Em muitos casos práticos, no entanto, uma pressão inferior
a 1 Pa pode ser considerado como vácuo. Há, no entanto, ”diferentes nı́veis de vácuo”. Por
exemplo, no interior do anel de armazenamento de elétrons da atual fonte de luz sı́ncrotron
brasileira, Sirius, o vácuo é inferior a 10−7 Pa.
Há várias contribuições para a pressão em um fluido: i) força gravitacional exercida no
fluido pela Terra; ii) o movimento do fluido;, iii) para um fluido lı́quido, a tensão devido a
curvatura da superfı́cie do fluido; iv) as colisões entre as partı́culas do fluido e destas com
as paredes do compartimento que o contém, em particular no caso de gases. Discutiremos
nesse capı́tulo os três primeiros casos enquanto que o efeito das contribuições das colisões
será discutido no capı́tulo 7 (19 no Mazur) para o caso de um gás.
Vamos começar pela pressão atmosférica. É esperado que a pressão mude com a alti-
tude, consequência da atração da gravidade pela Terra e da compressibilidade do gás. Essa
compressibilidade altera a densidade do ar em função da altitude tornado a relação entre
a pressão atmosférica e a altitude algo complexo (isto é, não linear). Ver figura 1.33. Para
pequenas variações da altitude, é possı́vel aproximar a variação da pressão com a altitude
por uma dependência linear.
1.5. PRESSÃO E GRAVIDADE 35

Figura 1.33: Variação da pressão atmosférica com a altitude, acima do nı́vel do mar.

Exemplo: Considere um livro sobre uma mesa, no nı́vel do mar, com a frente voltada
para cima. O livro tem altura de 0,28 m, largura de 0,22 m e espessura de 50 mm; massa de
3,0 kg. Compare a força exercida pela atmosfera com a força da gravidade.
O resultado desse exemplo necessita uma explicação. Como é possı́vel erguer o livro que
está sobre a mesa? O que acontece é que a atmosfera atua em todas as direções. Mesmo
com o livro sobre a mesa, há uma fina camada de ar entre o livro e a mesa que se encontra
praticamente na mesma pressão, equilibrando as forças. Se fizéssemos um vácuo entre o
livro e a mesa, seria quase impossı́vel erguer o livro.
Diferente dos gases, lı́quidos são praticamente incompressı́veis. Podemos então consi-
derar a densidade de massa do lı́quido como sendo uniforme. Isso simplifica a obtenção da
variação da pressão em um lı́quido em função da altura. Para isso, consideremos a figura ??
onde vamos considerar um cilindro do lı́quido, como mostrado na figura, com volume V e
seção de área A. O equilı́bro de forças na direção vertical (ver figura (b)) é

X
⃗c + F
⃗cy = F
F ⃗c + F
⃗ G → Fcy = P1 A − P2 A − mg = 0 (1.3)
1cy 2cy Ecy

onde m é a massa do lı́quido. Como a densidade de massa do lı́quido, ρ, é constante,


temos

m = ρV = ρA(y2 − y1 )g (1.4)

Temos então,

P1 A − P2 A − ρA(y2 − y1 )g = 0 (1.5)
→P1 + ρgy1 = P2 + ρgy2 (lı́quido estacionário) (1.6)
36 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.34: Modelo para descrever como a pressão em um lı́quido varia com a altura.

Temos então que a grandeza P + ρgy tem o mesmo valor em todo o lı́quido. Em parti-
cular, pontos em um plano horizontal qualquer do lı́quido encontram-se a mesma pressão.
Podemos aplicar para um ponto na superfı́cie do lı́quido (ver figura ??) o que permite obter
a pressão em qualquer profundidade do lı́quido:

P = Psuperf icie + ρgd (lı́quido estacionário) (1.7)


onde d é a profundidade do ponto onde estamos calculando a pressão, em relação a
superfı́cie do lı́quido.
O termo que contém g é a contribuição da interação gravitacional na pressão e é conhe-
cido como pressão hidrostática.

Figura 1.35: Volume cilı́ndrico no lı́quido definido a partir da superfı́cie do lı́quido. A


pressão no topo do cilindro é igual a pressão atmosférica.

Considere agora dois tubos preenchidos com o mesmo lı́quido e conectados na parte
inferior (ver figura 1.36). A força exercida sobre a superfı́cie do lı́quido, P A, é diferente em
cada tubo. No entanto, calculando a pressão nos pontos 1 e 2, temos

P1 = Patm + ρgd1 (1.8)


P2 = Patm + ρgd2 (1.9)
1.5. PRESSÃO E GRAVIDADE 37

Como a pressão deve ser a mesma, P1 = P2 , temos d1 = d2 . Ou seja, o lı́quido tem a mesma
altura nos dois tubos. Esse resultado é consequência do fato da pressão ser a mesma. Se não
fosse assim, a diferença de pressão faria o lı́quido fluir até equilibra as pressões, o que ocorre
quando d1 = d2 .

Figura 1.36: O lı́quido atinge o mesmo nı́vel para dois tubos conectados, independentemente
da forma dos tubos.

Finalmente vamos considerar a flutuabilidade. Consideremos o volume de lı́quido da


b
figura ??. Ele é mantido no lugar pela força de flutuabilidade, Flv (onde estamos utilizando
a terminologia do Mazur e o ı́ndice superior ”b”refere-se a buyouancy, flutuabilidade em
inglês), exercida pelo lı́quido no entorno do lı́quido considerado. A soma vetorial das forças
sobre o volume de lı́quido deve ser nula:
X
⃗b + F
⃗v = F
F ⃗G = 0 (1.10)
lv Ev

Como o valor da força da gravidade no volume do lı́quido é ρV g, temos para a força de


flutuabilidade exercida pelo lı́quido que circunda o volume de lı́quido

b
Flv = ρV g (1.11)

A direção da força é sempre oposta a da gravidade. Podemos generalizar para qualquer


objeto, o, em qualquer fluido, f :

Ffb o = ρf Vdesl g (1.12)

onde Vdesl é a quantidade de lı́quido deslocada pelo volume do objeto. O equilı́brio entre
a força da gravidade no objeto e a força de flutuabilidade indica que o objeto flutua:

Ffb o = Feo
G
→ ρf Vdisp g = ρ¯o Vo g (1.13)

onde a barra em cima de ρ indica o valor médio. Para um objeto que flutua, o volume
submerso é inferior ao volume deslocado:

ρ¯o ρ¯o
Vdesl = Vo → <1 (1.14)
ρf ρf

ou seja,
38 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

ρ¯o < ρf → objeto flutua (1.15)


ρ¯o > ρf → objeto afunda (1.16)
No caso em que ρ¯o = ρf temos a flutuabilidade neutra e o objeto pode ficar inerte em
qualquer parte do lı́quido.

1.6 Trabalhando com a pressão


Vamos considerar algumas aplicações com a pressão. Em primeiro lugar, temos que ter uma
metodologia para medirmos a pressão. Na maior parte dos casos, o que medimos é o que se
chama de pressão de calibre. Isto é, medimos a pressão em relação a atmosfera. Um exem-
plo de instrumento de medida é o manômetro (ver figura 1.37. Essencialmente, é um tubo
preenchido com um lı́quido, em forma de U. Conecta-se uma das ”pernas”do tubo com o
gás cuja pressão queremos medir enquanto que a outra ”perna”está aberta para a atmosfera.
Comparando a pressão no fundo do U calculada pelos dois lados do tubo, temos

Pf undo = Patm + ρgydireita (1.17)


Pf undo = P + ρgyesquerda (1.18)
→ P = Patm + ρgh (1.19)
Observe que o que medimos é a pressão relativa a pressão atmosférica.

Figura 1.37: Manômetro. A diferença de nı́vel entre as duas pernas do manômetro fornecem
a pressão P dentro do gás.

O barômetro é um instrumento que nos permite medir a pressão atmosférica (ver figura
1.38). Nesse caso, a altura da coluna do lı́quido nos dá diretamente a pressão atmosférica,
Patm = ρgh.
1.6. TRABALHANDO COM A PRESSÃO 39

Figura 1.38: Barômetro. A altura da coluna do lı́quido no tubo fornece a pressão atmosférica.

Entre as principais aplicações dos princı́pios que estudamos estão os sistemas hidráulicos.
Figura 1.39(a) representa um sistema hidráulico básico, que permite transmitir a força de
uma região a outra. Figura 1.39(b) exemplifica um tı́pico sistema de freiamento. Nesses
casos, o lı́quido utilizado é algum tipo de óleo.

Os sistemas hidráulicos permitem ampliar significativamente a força. Para verificar isso,


consideremos a figura 1.40. O equilı́brio das pressões no lı́quido nos dá

P2 + ρgh = P3 = P1 (1.20)

Se o lı́quido no sistema é um óleo, em geral podemos ignorar o termo ρgh uma vez que a
densidade do óleo é muito pequena. Logo, temos

F1 F A
P1 = P2 → = 2 → F2 = 2 F1 (1.21)
A1 A2 A1
40 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.39: Sistemas hidráulicos permitem levantar cargas pesadas ou exercer forças bem
fortes.
1.7. EQUAÇÃO DE BERNOULLI 41

Figura 1.40: Sistemas hidráulicos para multiplicar as forças.

1.7 Equação de Bernoulli


Até o momento discutimos como um fluido se comporta quando estático. Vamos agora es-
tudar o caso de um fluido em movimento. Para isso consideraremos o caso mais simples, de
um fluxo laminar de um fluido não viscoso em um tubo cônico como na figura 1.41. Para
isso, vamos olhar para dois pontos, 1 e 2, respectivamente nas regiões larga e estreita do
tubo. O volume de fluido que entra no tubo no ponto 1 é A1 |∆x1 | onde A1 é a seção de área
da parte larga do tubo. Se a densidade de massa do fluido no ponto 1 é ρ1 , então, a quan-
tidade de massa que entra no ponto 1 é m1 = ρ1 A1 |∆x1 |. Da mesma forma, para o ponto 2,
temos m2 = ρ2 A2 |∆x2 | com as definições equivalentes. Como o fluxo é laminar, a velocidade
de fluxo em cada posição não muda com o tempo, ou seja, não pode haver variação de massa
no tubo. Com isso, a massa que sai do ponto 1 tem que ser a mesma que entra no ponto 2
durante o mesmo intervalo de tempo ∆t:

ρ1 A1 |∆x1 | = ρ2 A2 |∆x2 | (fluxo laminar de um fluido não-viscoso) (1.22)

Figura 1.41: Fluxo de um fluido em um tubo cônico.

Se as velocidades do fluxo nos pontos 1 e 2 são v1 e v2 , respectivamente, temos |∆x1 | =


v1 ∆t e ∆x2 | = v2 ∆t. De onde obtemos

ρ1 A 1 v 1 = ρ2 A 2 v 2 (fluxo laminar de um fluido não-viscoso) (1.23)


42 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Essa é a equação de continuidade. Basicamente, ela expressa quantitativamente a ideia


de que a massa de fluido que passa pelo ponto 2 é a mesma que entra no ponto 1.
Para um fluido incompressı́vel, a densidade de massa é a mesma em todas as partes do
tubo. Nesse caso, temos

A1 v1 = A2 v2 (fluxo laminar de um fluido não-viscoso) (1.24)


Um fluido flui mais rapidamente na parte estreita do que na parte larga.
Vamos reescrever essa equação introduzindo a grandeza Q ≡ taxa de fluxo volumétrico :

V
Q≡ , [Q] = L3 T −1 , SI : [Q] = m3 /s (1.25)
∆t
Portanto, para um fluido incompressı́vel,

Q1 = Q2 (1.26)
Vamos analisar agora a relação da presssão no fluido com a velocidade de fluxo. Para
isso, consideramos a figura 1.42. Na parte conceitual desse capı́tulo, vimos que para o fluido
acelerar em uma região onde o tubo se estreita, a pressão tem que ser maior na parte larga.
No ponto 1, os parâmetros que temos são a seção de área A1 , a velocidade do fluido v1 , a
pressão P1 e a altura vertical (em relação a uma origem qualquer) y1 . Respectivamente, para
o ponto 2, A2 , v2 , P2 , y2 . Vamos considerar agora o sistema como sendo formado pela Terra e
o fluido entre os pontos 1 e 2 e analisar a variação de energia do sistema.

Figura 1.42: Variação com a altura de um fluxo volumétrico de um fluido.

No intervalo de tempo ∆t, o sistema deslocou um volume de fluido da esquerda para


a direita. Pela equação de continuidade sabemos que m1 = m2 . Vamos aplicar a relação
∆E = W . Nessas condições, as únicas formas de energia são a energia cinética e a energia
potencial. A variação de energia cinética é
1 1 1
∆K = m2 v22 − m1 v12 = m(v22 − v12 ) (1.27)
2 2 2
e a variação de energia potencia gravitacional é
1.7. EQUAÇÃO DE BERNOULLI 43

∆U G = m2 gy2 − m1 gy1 = mg(y2 − y1 ) (1.28)


A variação de energia é, portanto,
1
∆E = ∆K + ∆U G = m(v22 − v12 ) + mg(y2 − y1 )
2
Como o sistema não é fechado, temos que considerar as forças exercidas nas extremida-
⃗1 e F
des, F ⃗2 , lembrando que no ponto de aplicação dessas forças ocorrem os deslocamentos
xF1 e ∆⃗
∆⃗ xF2 . No ponto 1, a força e o deslocamento estão no mesmo sentido,

W1 = F1x ∆xF1 = +P1 A1 v1 ∆t (1.29)


enquanto que no ponto 2 estão em sentido opostos,

W2 = F2x ∆xF2 = −P2 A2 v2 ∆t (1.30)


e o trabalho total é

W = P1 A1 v1 ∆t − P2 A2 v2 ∆t (1.31)
Podemos re-escrever a equação de continuidade para um fluido incompressı́vel na forma
A1 v1 ∆t = A2 v2 ∆t. Av∆t é o volume de massa do fluido m que flui para (ou de) uma seção do
tubo que está sendo considerada. Pela definição de densidade de massa, temos V = m/rho, e
podemos escrever
m
= A1 v1 ∆t (1.32)
ρ
e então
m
W= (P − P ) (1.33)
ρ 1 2
Substituindo na equação ∆E = W , temos
1 m
m(v22 − v12 ) + mg(y2 − y1 ) = (P1 − P2 ) (1.34)
2 ρ
ou,
1 1
P1 + ρgy1 + ρv12 = P2 + ρgy2 + ρv22 (1.35)
2 2
válida para um fluxo laminar de um fluido não viscoso incompressı́vel. Essa é a equação
de Bernoulli que, juntamente com a equação de continuidade, é a base da hidrodinâmica
de fluidos incompressı́veis. É de se esperar que ela não se aplica para gases, que são com-
pressı́veis. No entanto, para um fluxo de gás com velocidades moderadas (diferenças de al-
tura que não sejam significativas), a variação de pressão pode ter pouco efeito na densidade
do gás e a equação de Bernoulli pode ser uma aproximação razoável.
Como os pontos 1 e 2 são arbitrários, nosso resultado nos diz que a grandeza P +ρgy+ 12 ρv 2
é a mesma em qualquer posição do fluxo do fluido. Para um fluido estacionário, onde v = 0,
recuperamos o resultado já obtido. Se os pontos estão a mesma altura, temos
1 1
P1 + ρv12 = P2 + ρv22 (1.36)
2 2
44 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

que confirma o que tı́nhamos discutido na seção conceitual: a pressão é maior onde a
velocidade de fluxo é menor e vice-versa.

1.8 Viscosidade e tensão superficial


Até aqui, na discussão do fluxo de um fluxo, ignoramos a dissipação de energia. Como
vimos na seção conceitual, a viscosidade de um fluido é a resistência do fluido à tensão de
cisalhamento. A dissipação de energia ocorre tanto em gases como em lı́quidos e em ambos
temos uma viscosidade não nula. Consideremos, por exemplo, duas placas planas separadas
por um fluido (figura 1.43). A placa inferior é mantida fixa enquanto a placa superior é
deslocada no plano da placa. A fricção entre as camadas adjacentes do fluido exige uma
⃗p,ext para mover a placa superior a uma velocidade constante v. Experimentalmente,
força F
observamos que a força é proporcional a área superficial da placa superior e a velocidade v, e
inversamente proporcional a distância d entre as placas. Como a força é em sentido oposto a
velociade da placa superior, podemos escrever para a placa movendo-se na direção positiva
de x:

vx
Ff px ≡ −ηA (1.37)
d
A constante de proporcionalidade η (letra grega ”eta”) é a viscosidade de um fluido. No
sistema SI a unidade é 1 Pa.s = 1 kg/(m.s). Quanto maior a visosidade do fluido, maior será
a dissipação de energia do fluido na medida que as camadas do fluido passam uma pelas
outras. A dissipação reflete o trabalho realizado pela placa sobre o fluido levando a maior
energia térmica desse.

Figura 1.43

A razão vx /d nos dá uma dependência linear da velocidade com a posição das placas.
Podemos expressá-la entre segmentos infinitesimais do fluxo, ou seja, na forma dvx /dy, que
é o gradiente de velocidade, ou a medida da taxa na qual as camadas do fluido se movem em
relação às camadas de fluido adjacentes. Isso nos permite generalizar a aplicação da equação
para a viscosidade,

dvx
Ff px = −ηA (1.38)
dy

A viscosidade em geral é pequena (ver tabela 1.1) e os fluidos frequentemente são utiliza-
dos como lubrificantes. Gases tem viscosidades ordens de grandeza inferiores que lı́quidos.
Em geral, nos lı́quidos a viscosidade diminui quando a temperatura aumenta. Para os gases
temos o oposto, aumentando a viscosidade a altas temperaturas.
1.8. VISCOSIDADE E TENSÃO SUPERFICIAL 45

Tabela 1.1: Viscosidade dos fluidos

Em muitas situações, o fluido flui em tubos, como por exemplo, a distribuição de água
em canos ou o fluxo de sangue nas artérias, as quais envolvem fluxo laminar em tubos
cilı́ndricos. Nesses casos, as camadas do lı́quido em contato com o tubo encontram-se em
repouso e a medida que nos deslocamos para o centro do tubo a velocidade das camadas
aumenta até o seu máximo no centro do tubo.

Vamos analisar esses casos, considerando um fluido em um cilindro com o fluxo na


direção x positiva (ver figura 1.44). Vamos considerar o cilindro de fluxo, tracejado na fi-
gura, com raio r, em um tubo de comprimento l e raio R. A fricção entre o fluido cilı́ndrico
e as camadas de fluido adjacente dão origem a uma força F ⃗ visc que é exercida no cilindro na
fc
direção negativa de x. Essa força exige uma diferença de pressão ∆P entre os extremos do
clindro. Em um fluido viscoso, a pressão deve diminuir na medida que o fluido move-se ao
longo do cilindro. Para um movimento em velocidade constante, temos:

⃗ pressao + F
X
⃗c = F
F ⃗ visc = 0 (1.39)
fc fc
46 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.44: No equilı́brio mecânico, a força devido a pressões nas duas extremidades do
fluido em um cilindro definido pelas linhas tracejadas deve ser equilibrada pela força de
viscosidade que se opõe ao movimento no cilindro.

As forças nas faces do lı́quido cilı́ndrico podem ser escritas em termos das respectivas
pressao pressao
pressões: F1 = P1 (πr 2 ) e F2 = P2 (πr 2 ). A força na segunda interface vai na direção
oposta ao movimento, portanto, com sinal negativo. A área do lı́quido cilı́ndrico é 2πrl e
temos então

dvx
(P1 − P2 )(πr 2 ) + η(2πrl) =0 (1.40)
dr
ou ainda,

(P1 − P2 )(πr 2 ) (P − P )
−dvx = dr = 1 2 rdr (1.41)
η(2πrl) 2ηl
Integrando entre r e R e a velocidade entre vx (valor em r) e 0 (valor em R), temos

0
P1 − P2 1 2 R
Z  
− dvx = r (1.42)
vx 2ηl 2 r
P −P
→ vx = 1 2 (R2 − r 2 ) (1.43)
4ηl

válido para um fluxo laminar em um tubo cilı́ndrico. Este resultado mostra que a veloci-
dade varia com o quadrado de r e o valor máximo ocorre no centro do tubo (r = 0).
Como temos uma variação da velocidade do fluido com r, a taxa de fluxo volumétrico
não é mais a expressão simples Av. Para calcular esse e valor, vamos considerar uma camada
cilı́ndrica de espessura dr (ver figura 1.45). A seção de área da camada é dA = 2πrdr e
contribui para a taxa total do fluxo volumétrico com um valor dado por

(P1 − P2 ) 2 2 π(P1 − P2 ) 2
dQ = vx dA = vx (2πrdr) = (R − r )(2πrdr) = (R r − r 3 )dr (1.44)
4ηl 2ηl
1.8. VISCOSIDADE E TENSÃO SUPERFICIAL 47

Integrando entre r = 0 e r = R, obtemos a taxa de fluxo volumétrico no cilindro para um


fluxo laminar em um tubo cilı́ndrico:

πR4
Q= (P − P ) (1.45)
8ηl 1 2

Essa é a lei de Poiseuille e mostra que uma alta viscosidade leva a uma baixa taxa de
fluxo volumétrico.

Figura 1.45: Cada camada cilı́ndrica (linhas tracejadas) contribui com um valor dQ para taxa
de fluxo volumétrico do tubo.

Até aqui consideramos as forças no volume do fluido. Vamos voltar agora a examinar as
forças nas superfı́cies do fluido. Vimos, anteriormente, que essas forças causam uma tensão
superficial na superfı́cie e são responsáveis pela forma das gotas de um lı́quido e pela subida
em capilares.
Um dispositivo para medirmos a tensão superficial está exemplificado na figura 1.46.
Um fio metálico em forma de U tem conectado a ele um fio móvel formando um circuito
retangular. Quando o circuito é mergulhado em uma solução de sabão, um filme de sabão
se forma no circuito mantendo o fio móvel estacionário. Para que haja esse equilı́brio, uma
força deve compensar a ação da gravidade sobre o fio. A única força existente é a exer-
G
cida pelo filme de sabão, ou seja, Ff w = FEw (onde utilizamos os ı́ndices do Mazur para
f=film/filme, w=wire/fio e E=Earth/Terra). A espessura do filme MUDA quando deslo-
camos o fio, espichando-o. O que se observa é que o valor de Ff w não se altera quando
movemos o fio para cima e para baixo, ou seja, a espessura do filme não é importante. Expe-
rimentalmente, encontramos também que a força é proporcional ao comprimento l do fio. A
constante de proporcionalidade,

Ff w
γ≡ (1.46)
2l

é o que chamamos de tensão superficial do lı́quido que forma o filme. O fator 2 no


denominador leva em consideração a existência de duas superfı́cies no filme. A unidade de
γ no SI é N /m. A tabela 1.2 dá o valor da tensão superficial para vários lı́quidos em contato
com o ar.
48 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Figura 1.46: Força exercida por um filme lı́quido em um fio devido a tensão superficial do
filme.

Tabela 1.2: Tensão superficial de lı́quidos em contato com o ar.

Podemos também analisar o problema da tensão superficial em termos da energia asso-


ciada com a superfı́cie do lı́quido. Se movermos o fio por um valor ∆xF , o trabalho realizado
pelo filme sobre o fio é W = Ff wx ∆xF . Como F ⃗f w aponta na direção positiva de x, temos
F = +2lγ e, portanto, W = 2lγ∆xF = −2γ∆A, onde ∆A é a variação da área superficial do
filme (quando o fio move-se de ∆xF a área diminui de l∆xF = −∆A). Quando movemos o fio
para baixo, a área aumenta e, nesse caso, ∆A > 0 e o trabalho realizado pelo filme sobre o
fio é negativo. Consequentemente, o trabalho realizado pelo fio sobre o filme é positivo (a
energia do filme aumenta). Para onde vai essa energia? Como discutimos anteriormente, au-
mentando a superfı́cie, aumentamos a quantidade de partı́culas (moléculas) do lı́quido que
vão para a superfı́cie. Para cada partı́cula na superfı́cie, nós reduzimos o número de ligações
entre partı́culas, dessa forma a energia associada com o trabalho realizado que devido ao
1.8. VISCOSIDADE E TENSÃO SUPERFICIAL 49

movimento do fio para baixo e, consequentemente, quebrando as ligações quı́micas entre


as partı́culas vizinhas para levá-las a superfı́cie. Em outras palavras, a tensão superficial
pode ser interpretada como a energia necessária para aumentar a área superficial do lı́quido.
Quanto maior a tensão superficial do lı́quido, maior será a energia necessária para aumentar
a área superficial de uma amostra de lı́quido por um certo valor.
Vimos também, na seção anterior, que a tensão superficial é responsável pela diferença
de pressão em uma superfı́cie lı́quida curva. Para encontrar a relação entre tensão superficial
e a diferença de pressão, vamos considerar um corpo esférico lı́quido como na figura 1.47 (a).
O raio da esfera é R e a tensão superficial é γ. A pressão do lı́quido no interior é Pint e no
exterior Pext . Consideremos as forças exercidas em um hemisfério como ilustrado na figura
1.47(b). Como o hemisfério permanece em repouso, a soma vetorial das forças devido a
diferença de pressão e a tensão superficial deve ser zero:
pressao tensaosup
X
Fhemi,x = Fx + Fx =0 (1.47)

Figura 1.47: Modelo para derivar a relação entre a tensão superficial e a diferença de pressão
em uma superfı́cie lı́quida curva. As forças devido a tensão superficial são todas dirigidas
perpendicularmente à seção circular e as forçass devido a diferença de pressão são dirigidas
para fora.

A força devido a diferença de pressão é perpendicular a superfı́cie do hemisfério. As


componentes que não estão na direção x vão se cancelar e podemos escrever a força como
sendo a diferença de pressão vezes πR2 . A força devido à tensão superficial é exercida ao
longo do perı́metro do hemisfério, o qual tem comprimento l = 2πR. O valor da força da
tensaosup
tensão superficial é Fx = 2lγ = 4πRγ, onde deixamos o fator 2 de fora uma vez que
estamos lidando com apenas uma superfı́cie. O resultado que temos é

(Pint − Pext )πR2 − 2πRγ = 0 (1.48)



→Pint − Pext = (1.49)
R
e é válido para uma superfı́cie esférica.
Essa equaçao é a forma quantitativa da lei de Laplace para superfı́cies esféricas.
Para superfı́cies cilı́ndricas pode-se mostrar que essa equação tem a seguinte forma:
γ
Pint − Pext = (1.50)
R
50 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

1.9 Problemas

Atividade 1.1 Um lı́quido viscoso está fluindo através do tubo na Figura 1.48. Se o
fluxo for laminar, classifique a velocidade do lı́quido nos pontos 1–4 em ordem cres-
cente de velocidade.

Figura 1.48

Atividade 1.2 35. Um balão parcialmente inflado e de formato irregular é mostrado


na Figura 1.49. Classifique os pontos na superfı́cie do balão em ordem de (a) aumento
da tensão na membrana e (b) aumento da pressão no interior.

Figura 1.49

Atividade 1.3 Um vaso sanguı́neo tem um diâmetro de 3,20 mm porque está parcial-
mente obstruı́do pelo colesterol. Você deseja remover colesterol suficiente para dobrar
a taxa de fluxo de volume do sangue através do vaso, sem alterar sua velocidade. Qual
deve ser o novo diâmetro do vaso? Suponha que o sangue não seja viscoso e o fluxo
seja laminar.

Exercı́cio 1.1 Dois blocos de madeira do mesmo tamanho flutuam em um tanque,


conforme mostrado na Figura P18.19. O bloco 1 tem dois terços de seu volume sub-
merso e o bloco 2 tem um terço de seu volume submerso. Determine a razão ρ1 /ρ2 das
densidades de massa dos blocos.
1.9. PROBLEMAS 51

Figura 1.50

Exercı́cio 1.2 O fluxo laminar de um fluido viscoso exibe o efeito Bernoulli? A equação
de Bernoulli (Eq. 1.35) se aplica a esse lı́quido?

Exercı́cio 1.3 Quando uma mangueira de jardim com um diâmetro de saı́da de 20 mm


é direcionada diretamente para cima, o fluxo de água sobe até uma altura de 0,15 m.
Em seguida, use o polegar para cobrir parcialmente a abertura de saı́da, de modo que
seu diâmetro seja reduzido para 10 mm. Quão alto a água sobe agora? Ignore o arrasto
e suponha que a abertura menor que você cria com o polegar é circular.

Exercı́cio 1.4 Em um elevador hidráulico de estação de serviço, o diâmetro do pistão


grande é 200 mm e o diâmetro do pistão pequeno é 30 mm. A força é exercida no pe-
queno pistão por um compressor de ar. (a) Quanta pressão manométrica o compressor
deve fornecer para erguer um carro de 1.500 kg? (b) Se o carro tiver que ser elevado a
1,8 m do chão, que distância o pistão pequeno deve percorrer?

Exercı́cio 1.5 75. Um grande balde cilı́ndrico com área de base A e altura H está cheio
de água. Um pequeno orifı́cio na área a é feito no fundo do balde para que a água
comece a vazar. Quanto tempo leva para o balde ficar vazio?

Problema 1.1 Em uma galáxia muito, muito distante, um planeta composto de um


lı́quido incompressı́vel de densidade de massa uniforme ρ tem massa mplaneta e raio R.
Determine a pressão a meio caminho entre a superfı́cie e o centro do planeta.

Problema 1.2 (a) Considere um fluido cuja densidade de massa r varia com a altura y
acima do nı́vel do mar. Use a Eq. 1.6, P1 + ρgy1 = P2 + ρgy2 , para obter uma expressão
que mostra como dP , a mudança na pressão ao longo de uma coluna de fluido de
altura infinitesimal dy, varia com y. (b) Usando a simplificação de que a densidade
de massa do ar em qualquer altura y acima do nı́vel do mar é proporcional à pressão
atmosférica naquela altura, integre a equação diferencial que você encontrou na parte
a) para obter uma expressão que mostra como a pressão atmosférica varia com altura
y acima do nı́vel do mar.
52 CAPÍTULO 1. FLUIDOS

Problema 1.3 Uma pessoa normal não pode andar sobre a água. Qual deveria ser a
tensão superficial de um lı́quido hipotético se ela permitir que um homem de 50 kg o
faça? Pense em cada pé como um cilindro de raio 4 cm e comprimento 31 cm, que pesa
25 kg. Andar sobre a água faz com que este cilindro fique meio submerso. Como esse
valor se compara à tensão superficial da água? Ignore os efeitos de flutuabilidade.

Problema 1.4 Um tronco cilı́ndrico de comprimento l e raio R flutua horizontalmente


meio submerso em um lı́quido de densidade de massa ρ. (a) Pela integração direta
da pressão sobre a superfı́cie do tronco, calcule a soma vetorial das forças ascenden-
tes exercidas sobre o tronco pelo lı́quido. (b) Mostre que sua resposta na parte a) é
consistente com o princı́pio de Arquimedes.
1.9. PROBLEMAS 53

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