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Universidade Federal do Ceará

Centro de Tecnologia – Depto de Integração Acadêmica e Tecnológica (DIATEC)


Disciplina: Fundamentos de Física – Professora: Talita – Data: ____/____/2019
Nome: __________________________________________ – Matrícula: _____________

Aula 11
Fluidos

Um surfista espera pacientemente, ajoelhado na prancha, pela próxima


onda. Quando vê a onda se aproximar, rema em direção à praia até estar
se movendo quase tão depressa quanto a onda. Quando a onda o alcança,
fica de pé, ajustando constantemente a posição do corpo para manter o
equilíbrio. Como ele consegue acompanhar a onda? Como consegue subir
ou descer a onda?

1. O que é um Fluido?

A física dos fluidos é a base da engenharia hidráulica, um ramo da engenharia com muitas
aplicações práticas. Um engenheiro nuclear pode estudar o escoamento de um fluido no sistema
hidráulico de um reator nuclear após alguns anos de uso, enquanto um bioengenheiro pode estudar o
fluxo de sangue nas artérias de um paciente idoso. Um engenheiro ambiental pode estar preocupado com
a contaminação das vizinhanças de um depósito de lixo ou com a eficiência de um sistema de irrigação.
Um engenheiro naval pode estar interessado em investigar o risco de mergulho em águas profundas ou a
possibilidade de salvar a tripulação de um submarino danificado. Um engenheiro aeronáutico pode estar
interessando em projetar o sistema hidráulico dos flaps que ajudam o avião a pousar. A engenharia
hidráulica é usada até em espetáculos da Brodway, onde enormes cenários são rapidamente montados e
desmontados por sistemas hidráulicos.

Mas antes de estudar as aplicações da física dos fluidos, precisamos responder à seguinte
pergunta: o que é um fluido?

Um fluido, ao contrário de um sólido, é uma substância que pode escoar. Os fluidos assumem a
forma do recipiente onde são colocados. Eles se comportam dessa forma porque um fluido não é capaz
de resistir a uma força paralela à sua superfície. Ou seja, o fluido escoa porque não é capaz de resistir a

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uma tensão de cisalhamento. Algumas substâncias, como o piche, levam um longo tempo para se
amoldar aos contornos de um recipiente, mas acabam por fazê-lo.

Você talvez se pergunte por que os líquidos e gases são agrupados na mesma categoria e
chamados de fluidos. Afinal, você pode pensar que a água é tão diferente do vapor quanto o gelo. Isso,
porém, não é verdade. O gelo, como outros sólidos cristalinos, tem seus átomos organizados em uma
estrutura tridimensional bastante rígida e bem definida, chamada rede cristalina. Nem no vapor nem na
água em estado liquido, percebemos a presença de um arranjo com ordem de longo alcance como este.

2. A Massa Específica e Pressão

Quando discutimos os corpos rígidos, nos interessamos em concentrações de matéria, como


blocos de madeira, bolas de futebol ou barras de metal. As grandezas físicas que utilizamos, neste caso,
e em termos das quais expressamos as leis de Newton, são massa e força. No caso dos fluidos, estamos
mais interessados em substâncias sem uma forma definida e em propriedades que podem variar de um
ponto a outro da substância. Neste caso, é mais útil falar em massa específica e pressão do que em massa
e força.

Massa específica ou densidade

Para determinar a densidade  de um fluido em um certo ponto do espaço, isolamos um pequeno


elemento de volume V em torno de um ponto e medimos a massa m do fluido contido neste elemento
de volume. A densidade é dada por

m

V

Teoricamente, a densidade em um ponto qualquer do fluido é o limite da razão anterior quando o


elemento de volume V em torno do ponto tende a zero. Na prática, supomos que o volume de fluido
que usamos para calcular a densidade, embora pequeno, é muito maior do que um átomo e, portanto,
regular (com a mesma densidade em todos os pontos) e não “granulado” por causa da presença de
átomos. Além disso, em muitos casos, supomos que a densidade do fluido em uma amostra é a mesma
em todos os pontos. Estas duas hipóteses nos permitem escrever a densidade na forma:
m

V
onde m e V são a massa e o volume da amostra, respectivamente. A densidade é uma grandeza e sua
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unidade no SI é o quilograma por metro cúbico.

Pressão
Considere um pequeno sensor de pressão suspenso em um recipiente cheio de
fluido, como mostra a figura seguinte. O sensor é formado por um êmbolo de área
A que pode deslizar no interior do cilindro fechado que repousa sobre uma mola.
Um mostrador registra o deslocamento sofrido pela mola ao ser comprimida pelo
fluido, indicando assim o módulo F da força normal que age sobre o êmbolo.
Definimos pressão do fluido sobre o êmbolo como
F
p
A
Teoricamente, a pressão em qualquer ponto do fluido é o limite da razão acima
quando a área A de um êmbolo com o centro neste ponto tende a zero.
Entretanto, se a força é uniforme em uma superfície plana de área A, podemos
reescrever a equação anterior como
F
p
A
onde F é o módulo da força normal a que está sujeita a superfície de área A. Quando dizemos que a força
é uniforme em uma superfície, significa que a força está uniformemente distribuída por todos os pontos
da superfície.
Observamos experimentalmente que em um dado ponto do fluido em repouso, a pressão p
definida pela equação anterior tem o mesmo valor, qualquer que seja a orientação do êmbolo. A pressão
é uma grandeza escalar, de forma que suas propriedades não dependem da orientação. A força que age
sobre o êmbolo do sensor é uma grandeza vetorial, mas a equação anterior envolve apenas o módulo da
força, que é uma grandeza escalar.
A unidade de pressão no SI é o newton por metro quadrado, que também é conhecida como
pascal (Pa). Existem outras unidades de medida de pressão. A atmosfera (atm) é, como indica o nome, a
pressão média aproximada da atmosfera ao nível do mar. O torr (nome dado em homenagem a
Evangelista Torricelli, que inventou o barômetro de mercúrio em 1674) também é conhecido como
milímetro de mercúrio (mmHg). Temos também a libra por polegada (psi).

3. Fluidos em Repouso

A figura seguinte mostra um tanque de água (ou outro liquido qualquer) aberto para a atmosfera.
Como todo mergulhador sabe, a pressao aumenta com a profundidade, abaixo da interface ar-água. O
medidor de profundidade usado pelos mergulhadores, na verdade, é um sensor de pressão semelhante ao
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que vimos na figura anterior. Como todo alpinista sabe, a pressão diminui com a altitude acima do nivel
do mar. As pressões encontradas por mergulhares e alpinistas são chamadas pressão hidrostática porque
se devem a fluidos estáticos (em repouso). Vamos agora encontrar uma expressão para a pressão
hidrostática em função da profundidade ou altitude.

Para começar, vamos examinar o aumento da pressão com a


profundidade em um tanque cheio de água. Definimos um eixo vertical
y no tanque, com a origem na interface ar-água e o sentido positivo
para cima. Em seguida, consideramos a água contida num clindro
imaginário circular reto de bases A horizontais, de modo que y1 e y2
(ambos números negativos) são as profundidades abaixo da superficie
das bases superior e inferior do cilindro, respectivamente.

A figura (b) ao lado mostra o diagrama de corpo livre para a


água contida no cilindo. A água se encontra em equilbrio estático, ou
seja, está em repouso, e a resultante das forças que agem sobre ela é

nula. A água está sujeita a três forças verticais: a força F1 age sobre a
superficie superior do cilindro e se deve à coluna de água que está

acima do cilindro. A força F2 age sobre a superficie inferior do
cilindro e se deve à água que está abaixo do cilindro. A força gravitacional que age sobre a água contida

no cilindro está representada por mg , onde m é a massa da água contida no cilindro. O equilíbrio estas
três forças pode ser escrito como

F2  F1  mg

Mas, lembrando da definição de pressão, podemos reescrever as forças da equação anterior como:

F1  p1 A e F2  p 2 A

A massa m de água contida no cilindro pode ser escrita em função da sua densidade, tal que

  m V  m  V , onde V é o volume do cilindro. Como sabemos, o volume de um cilindro pode ser

escrito como o produto da área da sua base e sua altura. Logo, podemos reescrever a massa m como
m  A y1  y 2  . Portanto, temos

p 2 A  p1 A  gA y1  y 2   p 2  p1  g  y1  y 2 

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Esta expressão pode ser usada para determinar a pressão tanto em um líquido (em função da
profundidade) como na atmosfera (em função da altitude). No primeiro caso, suponha que estamos
interessados em conhecer a pressão p a uma profundidade h abaixo da superficie do líquido. Neste caso,
escolhemos o nível 1 como sendo a superfície e o nível 2 como sendo a distância h abaixo do nível 1.
Chamando p0 a pressão atmosférica na superfície, temos

y1  0, p1  pO , y 2   h, p 2  p

Portanto:

p  p 0  gh

Note que a pressão é uma função da profundidade (ou


altitude) do fluido, mas não depende da sua dimensão horizontal.

A pressão em um ponto de um fluido em equilíbrio estático depende da profundidade deste


ponto, mas não da dimensão horizontal do fluido ou recipiente.

Portanto, a expressão que vimos é válida para determinar a pressão hidrostática para um fluido
contido em qualquer recipiente.

4. O Princípio de Pascal

Quando apertamos a extremidade de um tubo de pasta


de dente para fazer a pasta sair pela outra extremidade, estamos
pondo e prática o princípio de Pascal. Este princípio também é
usado na manobra de Heimlich, na qual uma pressão aplicada
ao abdome é transmitida para a garganta, liberando um pedaço
de comida ali alojado. O princípio foi enunciado com clareza

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pela primeira vez em 1652 por Blaise Pascal (em cuja homenagem foi batizada a unidade de pressão do
SI):

Uma variação da pressão aplicada a um fluido incompressível contido em um recipiente é


transmitida integralmente a todas as partes do fluido e às paredes do recipiente.

Vamos demonstrar este princípio. Considere o caso no qual


o fluido incompressível (um fluido incompressível tem densidade
constante apesar das pressões que possa sofrer) está contido em
um cilindro como ilustra a figura seguinte. O cilindro é fechado
por um êmbolo, sobre o qual repousa um recipiente que contém
bolinhas de chumbo. A atmosfera, o recipiente e as bolinhas de
chumbo exercem uma pressão pext sobre o êmbolo e, portanto,
sobre o líquido. A pressão p em qualquer ponto P do liquido é,
portanto,

p  p ext  gh

Vamos adicionar mais algumas bolinhas de chumbo ao recipiente, de modo a aumentar a pext de um
valor pext. Como os valores dos parâmetros , g e h da expressão anterior são constantes, a variação da
pressão no ponto P é dada por

p  pext

Como esta variação de pressão não depende de h, é a mesma para todos os pontos do interior do liquido,
como afirma o princípio de Pascal.

O Princípio de Pascal e o Macaco Hidráulico

A figura seguinte mostra a relação entre o princípio


de Pascal e o macaco hidráulico. Suponha que uma
força externa de módulo Fe seja aplicada de cima para
baixo no êmbolo da esquerda (entrada), cuja área é Ae.
Um líquido incompressível produz uma força de
baixo para cima, de módulo Fs, no êmbolo da direita
(saída), cuja área é As. Para manter o sistema em

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equilíbrio, deve existir uma força para baixo de módulo Fs no êmbolo de saída, exercida por uma carga
 
externa. A força Fe aplicada no lado esquerdo e a força Fs para baixo exercida pela carga no lado

direito produzem uma variação p da pressão do líquido que é dada por

Fe Fs
p  
Ae As

e portanto

As
Fs  Fe
Ae

A equação acima mostra que a força de saída Fs exercida sobre a carga é maior que a força de
entrada Fs se As > Ae, como acontece na figura anterior.

Se deslocarmos o êmbolo de entrada para baixo de uma distância de, o êmbolo de saída se desloca para
cima de uma distância ds de modo que o mesmo volume de líquido incompressível é deslocado pelos
dois êmbolos. Logo,

V  Ae d e  As d s

que pode ser escrita como

Ae
ds  de .
As

Isso mostra que, se As > Ae, o êmbolo de saída percorre uma distância menor que o êmbolo de entrada.

De acordo com as equações anteriores, podemos escrever o trabalho da saída na forma

 A  A 
W  Fs d s   Fe s  d e e   Fe d e
 Ae  As 

que mostra que o trabalho W realizado sobre o êmbolo de entrada pela força aplicada é igual ao trabalho
realizado pelo êmbolo de saída ao levantar uma carga.

A vantagem do macaco hidráulico é a seguinte:

Com um macaco hidráulico, uma certa força aplicada ao longo de uma dada distância pode ser
transformada em uma força maior aplicada ao longo de uma distância menor.

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Como o produto da força pelo deslocamento permanece inalterado, o trabalho realizado é o
mesmo. Entretanto, é uma grande vantagem poder exercer uma força maior. Muitos de nós, por exemplo,
não temos força para levantar um automóvel, mas podemos fazê-lo usando um macaco hidráulico, ainda
que tenhamos que movimentar a alavanca do macaco por uma distância muito menor que a percorrida
pelo automóvel em uma série de movimentos curtos.

5. O Princípio de Arquimedes

A figura seguinte mostra uma estudante em uma piscina, manuseando em saco de plástico muito
fino (de massa desprezível) cheio de água. Ela observa que o
saco e a água nele contida estão em equilíbrio estático, ou
seja, não tendem a subir ou a descer. A força gravitacional

para baixo Fg que a água contida no saco está submetida

deve ser equilibrada por uma força resultante para cima


exercida pela água que está do lado de fora do saco.


Esta força resultante para cima é uma força FE que
recebe o nome de força de empuxo. Ela existe porque a pressão da água que envolve o saco aumenta
com a profundidade. Assim, a pressão na parte inferior do saco é maior que na parte superior, o que
equivale a dizer que as forças a que o saco está submetido devido à pressão são maiores em módulo na
parte inferior do saco do que na parte superior. Algumas destas forças estão
representadas na figura ao lado, onde o espaço ocupado pelo saco foi deixado
vazio. Note que os vetores que representam as forças na parte inferior do saco
são mais compridos que os vetores que representam as forças na parte
superior do saco. Quando somamos vetorialmente todas as forças exercidas
pela água sobre o saco, as componentes horizontais se cancelam e a soma das

componentes verticais é o empuxo FE que age sobre o saco.


Como o saco de água está em equilíbrio estático, o módulo de FE é

igual ao módulo mfg da força gravitacional Fg que age sobre o saco com

água: FE  m f g . O índice f indica fluido. Em palavras, o módulo do empuxo

é igual ao peso da água no interior do saco.

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Na figura (b) anterior, trocamos o saco de água por uma pedra que ocupa um volume exatamente
igual ao espaço vazio da figura (a) anterior. Dizemos que a pedra desloca a água, ou seja, ocupa o
espaço que de outra forma seria ocupado pela água. Como a forma da cavidade não foi alterada, as
forças na superfície da cavidade são as mesmas que quando o saco com água estava no lugar. Assim, o
mesmo empuxo para cima que agia sobre o saco com água agora age sobre a pedra, ou seja, o módulo
FE do empuxo é igual a mfg, o peso da água deslocada pela pedra.


Ao contrário do saco com água, a pedra não está em equilíbrio estático. A força gravitacional Fg

para baixo que age sobre a pedra tem um módulo maior que o empuxo para cima, como mostra o
diagrama do corpo livre na figura (b). Assim a pedra acelera para baixo, descendo até o fundo da piscina.

Vamos agora preencher a cavidade da figura (a) com um pedaço de madeira como mostra a
figura (c). Mais uma vez, nada mudou em relação às forças que agem sobre a superfície da cavidade, de
modo que o módulo FE do empuxo é igual a mfg, o peso da água deslocada. Como a pedra, o pedaço de
madeira não está em equilíbrio estático. Neste caso, porém, o módulo da força gravitacional Fg é menor
que o módulo FE do empuxo, de modo que a madeira acelera para cima, subindo até a superfície.

Nossos resultados para o saco, a pedra e a madeira se aplicam a qualquer fluido e podem ser
resumidos no princípio de Arquimedes:


Quando um corpo está total ou parcialmente submerso em um fluido, uma força de empuxo FE exercida
pelo fluido age sobre o corpo. A força é dirigida para cima e tem um módulo igual ao peso mfg do fluido
deslocado pelo corpo.

De acordo com o princípio de Arquimedes, o módulo da força de empuxo é dado por

FE  m f g

onde mf é a massa de fluido deslocado pelo corpo.

Flutuação

Quando você vê um navio flutuando no mar, feito de aço e


pesando toneladas, talvez você tenha feito a seguinte pergunta: por que
então, um pequeno pedaço de aço, como uma colher de chá, afunda
facilmente em um balde com água? Mas você já deve saber que uma lata de alumínio, vazia, flutua, mas
cheia, afunda. Novamente, a explicação deve-se primeiramente ao peso dos corpos.

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Considere um recipiente contendo um líquido em repouso - por exemplo, água em um balde.
Agora imagine uma porção de volume deste líquido, como mostrado na figura ao lado. Devido à 2ª lei
de Newton, as forças que atuam sobre esta porção de massa se anulam. Quais são estas forças? A
primeira, o peso, atuando para baixo; a segunda, atuando para cima, causada pela diferença de pressão
entre a parte inferior e superior desta porção. A este último tipo de força dá-se o nome de empuxo e
deve-se às diferenças de pressão ao longo da direção vertical em um fluido.

Quando pousamos um pedaço de madeira na superfície de uma piscina, a madeira começa a


afundar na água porque é puxada para baixo pela força gravitacional. À medida que o bloco desloca
mais e mais água, o módulo FE da força de empuxo, que aponta para cima, aumenta. Finalmente, FE se
torna igual ao módulo Fg da força gravitacional e a madeira pára de afundar. A partir desse momento, o
pedaço de madeira permanece em equilíbrio estático e dizemos que está flutuando. Em todos os casos:

Quando um corpo flutua em um líquido, o módulo FE da força de empuxo que age sobre o corpo é igual
ao módulo Fg da força gravitacional a que o corpo está submetido.

Mesmo sem entenderem nada a respeito do empuxo e muito menos sobre Arquimedes, os peixes sobem
e descem dentro d’água se utilizando deste fenômeno físico. Constituídos de uma bolsa de ar, eles
regulam a densidade de seus corpos inflando e secando de ar esta bolsa. Assim, para mover para cima, o
peixe aumenta seu volume (diminui sua densidade), e para baixo
contrai seu volume (aumenta sua densidade). Já no caso dos
submarinos, o movimento vertical é controlado pelo aumento ou
diminuição do peso.

No mundo natural, quem também regula seu peso para controlar


seu movimento dentro d’água é o crocodilo. Para poder nadar
um pouco abaixo da linha d’água, escondendo-se melhor da presa, o crocodilo come pedras! Você seria
capaz de ver o crocodilo da figura ao lado se estivesse tomando banho nesse rio?

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Tente fazer um ovo flutuar na água. Depois dissolva sal
de cozinha na água, até que o ovo flutue. Qual a densidade do
ovo comparada à densidade da água da torneira? E quando
comparada à densidade da água salgada? Você já deve ter
ouvido falar que, no Mar Morto, na Palestina, uma pessoa pode
flutuar facilmente com parte considerável do seu corpo fora da
água. Que propriedade específica dessa água torna isso
possível?

6. Fluidos Ideais em Movimento

Até aqui tratamos apenas do estudo em fluidos estáticos, em repouso. Esta área do conhecimento
da Física chama-se Hidrostática. Agora vamos considerar o
escoamento de fluidos. Podemos citar vários exemplos de
movimentos de fluidos: na superfície da Terra, os ventos são
um exemplo de escoamento do ar atmosférico; no mar, temos
as correntes marítimas; na sua casa, a água que passa pelas
tubulações hidráulicas; no seu corpo, a circulação sangüínea.
Falando nisso, você “já tirou sua pressão?”

O movimento de fluidos reais, a Hidrodinâmica, pode ser bastante


complexo e ainda não está perfeitamente compreendido. Por esta razão, vamos
discutir apenas o movimento de um fluido ideal, que é mais fácil de analisar
matematicamente, mas que permitem uma boa aproximação para muitas
situações reais, como as descritas acima. Nosso fluido ideal satisfaz quatro
requisitos, que estão relacionados ao seu escoamento:

1. Escoamento laminar. No escoamento laminar, a velocidade do fluido em


um ponto fixo qualquer não varia com o tempo, nem em módulo nem em
orientação. O escoamento suave da água no centro de um rio de águas calmas é
estacionário; o escoamento da água em uma corredeira, não. A figura ao lado
mostra a transição do escoamento laminar para o escoamento turbulento em um fluxo de fumaça. A
velocidade das partículas de fumaça aumenta à medida que sobem; para um certo valor crítico da
velocidade, o escoamento muda de laminar para turbulento.

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2. Escoamento incompressível. Supomos, como para fluidos em repouso, que nosso fluido ideal é
incompressível, ou seja, que sua densidade tem um valor uniforme e constante, independente de
pressões externas.

3. Escoamento não-viscoso. Em termos coloquiais, a viscosidade de um fluido é uma medida da


resistência que o fluido oferece ao escoamento. Assim, por exemplo, o mel resiste mais ao escoamento
do que a água e, portanto, é mais viscoso do que a água. A viscosidade dos fluidos é análoga ao atrito
entre os sólidos; ambos são mecanismos através dos quais a energia cinética de objetos em movimento
pode ser transferida para sua energia térmica. Na ausência de atrito, um bloco desliza com velocidade
constante em um plano horizontal. Analogamente, um objeto imerso em um fluido não-viscoso não
experimenta uma força de arraste viscosa e se move com velocidade constante através do fluido. O
cientista inglês Lorde Rayleigh observou que em um fluido ideal, as hélices de um navio não
funcionariam, mas por outro lado, em um fluido ideal um navio (uma vez em movimento) não precisaria
de hélices!

4. Escoamento irrotacional. Embora, a rigor, não seja necessário, vamos também supor que o
escoamento é irrotacional. Para entender o que significa esta propriedade, suponha que um pequeno grão
de areia se move com o fluido. Se o escoamento é irrotacional, este grão de areia não gira em torno de
um eixo que passa pelo seu centro de massa, embora possa girar em torno de um outro eixo qualquer. O
movimento de uma roda gigante, por exemplo, é rotacional, enquanto o movimento dos passageiros é
irrotacional.

Podemos observar o escoamento de um fluido traçador, que pode ser constituído por gotas de
corante injetadas em vários pontos de um liquido ou por partículas de fumaça misturadas a um gás. Cada
gota ou partícula de um traçador torna visível uma linha de fluxo, que é a trajetória seguida por um
pequeno elemento do fluido. Sabemos que a velocidade de uma partícula é sempre tangente à sua

trajetória. Neste caso, a partícula é o elemento de fluido e sua velocidade v é sempre tangente a uma
linha de fluxo. Por esta razão, duas linhas de fluxo jamais se cruzam; se o fizessem, uma partícula que
chegasse ao ponto de intersecção poderia ter, ao mesmo tempo, duas velocidades distintas, o que seria
um absurdo.

7. Equação da Continuidade

Você provavelmente já observou que é possível aumentar a velocidade da água que sai de uma
mangueira de jardim fechando parcialmente o bico da mangueira com seu dedo polegar. Esta é uma

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demonstração prática do fato de que a velocidade v da água depende da área da secção transversal reta
através da qual a água escoa.

Vamos agora deduzir uma expressão


que relaciona v e A no caso do escoamento
laminar de um fluido ideal através de um tubo
de secção reta variável, como mostra a figura
seguinte. O escoamento acontece da esquerda
para a direita e o segmento de tubo mostrado
(parte de um tubo mais longo) tem
comprimento L. A velocidade do fluido é v1 na
extremidade esquerda e v2 na extremidade
direita. A área da secção reta do tudo é A1 na
extremidade esquerda e A2 na extremidade
direita. Suponha que em um intervalo de
tempo t um volume de fluido v entre no
segmento de tubo pela extremidade esquerda (este volume está representado em lilás na figura seguinte).
Como o fluido é incompressível, um volume igual V deve sair pela extremidade direita do tubo (o
volume em verde na figura seguinte).

Podemos usar este volume V comum às duas extremidades para


relacionar as velocidades e áreas. Para isso, consideramos primeiramente
a figura seguinte, que mostra a vista lateral de um tubo de secção reta
uniforme de área A. Na figura (a), um elemento e do fluido está prestes a
passar pela reta tracejada perpendicular ao eixo do tubo. Se a velocidade
do elemento é v, durante um intervalo de tempo t o elemento percorre
uma distância x  vt ao longo do tubo. O volume V do fluido que
passa pela reta tracejada durante este intervalo de tempo t é

V  Ax  Avt

Aplicando a equação acima às duas extremidades do segmento do tubo da figura anterior, temos:

V  A1v1 t  A2 v 2 t

ou seja,

A1v1  A2 v 2

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Esta relação entre a velocidade e a área da secção reta é chamada de equação da continuidade para o
escoamento de um fluido ideal. Ela nos diz que a velocidade do escoamento aumenta quando a área da
secção reta através da qual o fluido escoa é reduzida (como acontece quando fechamos parcialmente o
bico da mangueira de jardim com o dedo).

A equação anterior se aplica não só a um tubo real, mas


também a qualquer tubo de fluxo, um tubo imaginário limitado por
linhas de fluxo. Um tubo de fluxo se comporta como um tubo real
porque nenhum elemento de fluido pode cruzar uma linha de fluxo.
Assim, todo o fluido contido em um tudo de fluxo permanece
indefinidamente em seu interior. A figura ao lado mostra um tubo de
fluxo na qual a área da secção reta aumenta de A1 para A2 no sentido do escoamento. De acordo com a
equação anterior, com o aumento da área, a velocidade deve diminuir (e isto está representado pelo
maior espaçamento entre as linhas de fluxo no lado direito da figura). De modo semelhante, o menor
espaçamento entre as linhas de fluxo revela que a velocidade de escoamento é maior.

E equação anterior pode ser reescrita como

RV  Av  constante

onde RV é a vazão do fluido (volume que passa por uma secção reta por unidade de tempo). A unidade
de vazão no SI é o metro cúbico por segundo (m3/s). Se a densidade  do fluido for uniforme, podemos
multiplicar  pela massa para obter a vazão mássica Rm (massa por unidade de tempo):

Rm  RV  Av  constante

A unidade de vazão mássica no SI é o quilograma por segundo (kg/s). A equação anterior nos diz que a
massa que entra no segmento do tubo da figura anterior por segundo deve ser igual à massa que sair do
segmento, por segundo. Ou seja, a equação da continuidade representa a conservação da massa.

8. A Equação de Bernoulli

A figura seguinte mostra um tubo através do qual um fluido ideal escoa com vazão constante.
Suponha que, em um intervalo de tempo t, um volume V do fluido, de cor violeta na figura, entra pela

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extremidade esquerda (entrada) do tubo e um volume igual, de cor verde sai pela extremidade direita
(saída). Como o fluido é incompressível, com uma massa especifica constante , o volume que sai deve
ser igual ao volume que entra.

Sejam y1, v1 e p1 a altura, velocidade e pressão do fluido que


entra do lado esquerdo e y2, v2 e p2 os valores correspondentes do
fluido que sai do lado direito. Aplicando ao fluido as leis de
conservação da energia, vamos mostrar que esses valores estão
relacionados através da equação

1 2 1
p1  v1  gy1  p 2  v 22  gy 2
2 2

1 2
onde o termo v é chamado de energia cinética específica (energia
2
cinética por unidade de volume) do fluido. A equação anterior pode
ser escrita na forma

1 2
p v  gy  constante
2

As duas equações anteriores são formas equivalentes da equação de


Bernoulli, que tem este nome em homenagem a Daniel Bernoulli, que estudou o escoamento de fluidos
no século XVIII. Assim como a equação da continuidade, a equação de Bernoulli não é um princípio
novo, ma simplesmente a reformulação de um princípio fundamental muito conhecido, em uma forma
mais adequada para a mecânica dos fluidos. Ou seja, a equação de Bernoulli é a aplicação da
conservação de energia para um elemento de fluido. Como teste, vamos aplicar a equação de Bernoulli
para um fluido em repouso, fazendo v1 = v2 =0 na equação anterior. Logo:

p 2  p1  g ( y1  y 2 )

Uma previsão importante da equação de Bernoulli surge quando supomos que y é constante (y =
0, por exemplo), ou seja, a altura do fluido não varia. Neste caso, temos:

1 2 1
p1  v1  p 2  v 22
2 2

ou seja,

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Se a velocidade de um fluido aumenta enquanto ele se move horizontalmente ao longo de uma linha de
fluxo, a pressão do fluido diminui, e vice-versa.

Isso significa que nas regiões em que as linhas de fluxo estão mais concentradas (ou seja, em que a
velocidade é maior) a pressão é menor, e vice-versa.

A relação entre variações de velocidade e variações de pressão faz sentido quando consideramos
um elemento de fluido. Quando um elemento se aproxima de uma região estreita, a pressão mais elevada
atrás dele o acelera, de modo que ele adquire maior velocidade. Quando o elemento se aproxima de uma
região mais larga, a pressão maior à frente o desacelera, de modo que ele adquire uma velocidade menor.

E equação de Bernoulli é estritamente válida apenas para fluidos ideais. Quando forças viscosas
estão presentes, parte da energia é convertida em energia térmica. Na demonstração que se segue, vamos
supor que o fluido é ideal.

Demonstração da Equação de Bernoulli

Vamos considerar como nosso sistema o volume inteiro do fluido


ideal da figura ao lado. Vamos aplicar a lei de conservação de
energia para este sistema quando ele se move do estado inicial (a)
para o estado final (b). O fluido que está entre os dois planos
verticais separados por uma distância L na figura não muda suas
propriedades durante o processo; precisamos nos preocupar
apenas com as mudanças que ocorrem nas extremidades de
entrada e saída.

Para começar, aplicamos a lei de conservação da energia


na forma do teorema do trabalho e energia cinética:

W  K

que nos diz que a variação da energia cinética do nosso sistema


deve ser igual ao trabalho total realizado sobre o sistema. A
variação da energia cinética é uma conseqüência da variação da
velocidade do fluido entre as extremidades do tubo e é dada por

1 1
K  mv 22  mv12
2 2 ,
1

K  V v 2  v1
2
2 2

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onde m  V é a massa do fluido que entra em uma extremidade e sai pela outra extremidade
durante um pequeno intervalo de tempo t.

O trabalho realizado sobre o sistema tem duas origens. O trabalho Wg realizado pela força

gravitacional ( mg ) sobre o fluido de massa m durante a subida da massa do nível de entrada até o
nível de saída, que é dado por

W g  mg  y 2  y1 
.
W g   gV  y 2  y1 

Este trabalho é negativo, por o deslocamento acontece para cima e a força gravitacional aponta para
baixo.

Algum trabalho também precisa ser realizado sobre o sistema (na extremidade de entrada) para
empurrar o fluido para dentro do tubo e pelo sistema (na extremidade de saída) para empurrar o fluido
que está mais adiante no tubo. O trabalho realizado por uma força de módulo F, agindo sobre uma
amostra do fluido contida em um tubo de área A para mover o fluido a uma distância x é:

W  Fx   pAx   p Ax   pV

O trabalho realizado sobre o sistema é, portanto, p1 V , e o trabalho realizado pelo sistema é  p 2 V .


A soma dos dois trabalhos é dada por

WP   p 2 V  p1 V
WP   p 2  p1 V

Logo, a conservação de energia pode ser escrita como

W  W g  WP  K

 gV  y 2  y1    p 2  p1 V 
1
2

V v 22  v12 
1 1
 gy 2  p 2  v 22   gy1  p1  v12
2 2

ou seja

1 2 1
p1  v1  gy1  p 2  v 22  gy 2
2 2

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As aplicações do princípio de Bernoulli estão fortemente presentes em nossa volta. Da tecnologia
aeronáutica aos esportes. Basta olhar para um avião que voa para dar um dos exemplos, ou um efeito na
bola dado por um jogador de tênis ou de futebol. Para o caso dos aviões, suas asas são projetadas para
que o ar mova-se acima com mais rapidez do que em baixo. Isto provoca uma diferença de pressão de
baixo para cima, gerando uma força de pressão de sustentação. A figura abaixo mostra o princípio de
sustentação de uma asa. O fluxo de ar sobre a asa é mais rápido do que na parte inferior. Pelo princípio
de Bernoulli, a pressão na parte de cima da asa fica menor do que em baixo. Devido a esta diferença de
pressão, uma força de baixo para cima FS, como o empuxo, faz com que a asa tenha sustentação
aerodinâmica.

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