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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO

DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
CURSO DE FILOSOFIA

Juliana Yoshie Fujii

“A verdade segundo Hesíodo”

Maringá 2022
Podemos observar que na República de Platão sua concepção mítica e a
teoria platônica do conhecimento têm uma mesma estrutura, que é chamada no
discurso filosófico de “dialética”. A dialética se firmou na condenação da poesia
hesiódica e homérica. Através do título “ Mito e Verdade em Hesíodo e Platão” as
concepções de linguagem e verdade. Na Teogonia de Hesíodo sobre a verdade das
Musas, tornou-se um desafio à inteligência hermenêutica dos helenistas; já o trecho
do Livro II da República de Platão, sobre o mito e a poesia, a crítica e a condena.
Quando mencionamos o Hesíodo entendemos o que é a doutrina da verdade
e a teoria do conhecimento platônicas. Encontramos na obra de Platão bem mais
que a condenação da poesia e sim a hermenêutica do mito, bem como critérios para
a compreensão dos versos de Hesíodo e outros poetas. A Teogonia, no tocante ao
hino das musas, traz uma implícita descrição da ontologia mítica de Theós/Theoí
tomando o devido cuidado para não banalizarmos simplesmente a tradução destes
termos. Podemos perceber que é pretenso compreender o que significa em Hesíodo
e para os gregos arcaicos.
Podemos ter um direcionamento a respeito sobre a noção mítica dos Deuses.
A direção em pensar esta noção mítica é que podemos obter do Livro II da
República, onde Platão fala de theologías.
Em Teogonia encontramos a concepção Hesiódica da linguagem descrita
como encontra a verdade pela interpretação de musas. No verso 24, encontramos a
palavra Mýton, sinônimo de Lógos e Épos. As palavras mýthos, lógos e épos
designam o ato de fala, designando a experiência da linguagem documentada em
Hesíodo. Os versos trazem implícito um conceito de mito como forma de linguagem,
podemos observar a realidade humana definida pelas Musas, traduzida por: “ vis
infâmias e ventres só”, onde “ventres” seria uma metonímia da condição humana,
distintos da vida divina.
Já os Deuses isentos dessas características mortais seriam “imortais” ,
“sempre vivos”, mas curiosamente As Musas seriam senhoras cujo domínio seriam
as mentiras e as revelações.
A natureza da verdade neste contexto se subdivide em quatro graus de
presença da verdade. Entre os homens e a participação destes na verdade, na
República temos o conceito de imagem (eikón) da linha que pede que imaginemos
uma imagem de linha. Encontramos quatro graus de verdade e conhecimento
nomeados na ordem das palavras: pseudéa etýmoisin, homofa e por fim alethéa.
Não somente nomeadas por graus;mas como se articulam os graus, onde é
definida pela língua grega como sintaxe. A ambiguidade sintática encontrada nos
versos traduz a ambiguidade dos graus de verdade indicados. O discorrer do
contexto textual denota o desdobramento acerca do tema das Deusas no que se
refere ao dito: “ somos mentirosas muitas vezes”.
Temos dois elementos: o acesso dos homens à verdade como a emblemática
garantia da verdade do canto. Através das articulações das palavras, chegamos à: “
sabemos dizer muitas mentiras” alterando o sentido descritivo do modo. A palavra
etýmoisin encontrada uma única vez na Teogonia aparecendo algumas vezes na
Odisséia e Ilíada, significa a verdade cuja a realidade o homem pode comprovar por
si mesmo pela verificação.
Só podemos considerar a tradução da palavra por “fatos” quando da
integridade de sua concretude significando “coisas reais” assim como os “fatos”
notamos também o sentido da palavra homofa, (“símeis”) e pseudea pollá (“muitas
mentiras”), então constatamos a relação entre a “ similitude” as “ muitas mentiras” e “
fatos”. As concepções e as colocações etimológicas dos termos são complexos,
mas podemos presumir quais as palavras das Musas abarcam todo o âmbito da
verdade em seus quatro graus, sendo aí distinguidos e definidos, recíprocos em sua
ambígua unidade.
A concepção mítica de verdade está atrelada a doutrina platônica da verdade
e teoria do conhecimento, através destas formas de linguagem alcançamos a
concepção hesiódica em pleno sentido. É notado que a princípio as “ mentiras” se
contrapõem aos “ fatos” e os excluem, e num segundo passo, os “fatos’ se
contrapõem as “ mentiras” e as excluem. Num passo três “ mentiras '' e “fatos” estão
unificados a partir desse graus de verdade que mostra o passo das “ revelações” das
Musas mesmas.
As Musas cantam o presente; o passado e o futuro, a totalidade do ser e do
acontecer, inserindo os ouvintes temporariamente nesses acontecimentos. A
reiteração do jubiloso canto das Musas no Olimpo e Teogonia, explícita a imagem e a
imitação em seus cantos. As Musas além de interpelarem Hesíodo, inspiram a ele
um canto para que se cante no futuro e passado, concedendo-lhe um cetro de louro.
O aedó, o advindo, o arauto e orador também o portam como emblema da
palavra, podendo ser cumprida por sua verdade.
Já em Platão podemos adentrar a respeito da formulação em termos
filosóficos dessa experiência da linguagem como mito e a concepção mítica da
verdade como alethéa. Quando um sofista em Platão resolve contar o hino de
Prometeu, percebemos um intercâmbio nos termos da experiência da linguagem
como mito e dons antidoros.
O uso do mito em Platão se dá por justamente não haver algo melhor além da
ginástica para o corpo e música para a alma, neste contexto temos música por ‘
dons das Musas”. Nos deparamos também com os princípios da hermenêutica do
mito, sendo esses princípios dialéticos junto ao discurso filosófico. Notamos uma
perturbação envolvendo lógois e lógon, em que Sócrates substitui a palavra lógois
por mýthous.
Há reveses entre a situação e aplicação de conceitos falso e verdadeiro que
se fazem necessárias para a compreensão do mito. Já expressões como “ mentir
bem” , “ mentiras com nobreza” ou “ belas mentiras”, são recursos educativos dos
guardiões e reis filosófos. Já quanto ao termo bem, este se encontra problematizado,
em suma, encontramos a ambiguidade das Musas, como em Platão.
Para conter essa ambiguidade estão os princípios de hermenêutica do mito e
a exclusão da poesia tradicional do currículo escolar. Toda a controvérsia frente a
poesia, termina na condenação e exclusão da Teogonia como mentira e sem nada de
bom e verdadeiro.
Podemos observar a conotação da palavra theológicas e sua implicação,
também aspectos sobre a imagem da linha de Platão, essa teoria do conhecimento
é apresentada como uma imagem rica e complexa, e que tem por anterioridade a do
sol, e posteriormente temos a da caverna.
Atrelados a esse elementos, temos inerente a imagem, a ambiguidade, o
verdadeiro e o falso. Notamos a afetação causada pela imagem, que resulta na
articulação de aspectos sensíveis e inteligíveis.
A problemática com a poesia no livro II da República, reside em elementos
como a associação à ginástica (corpo) e relação com mito entre outros aspectos, no
decorrer acerca da demarcação da imagem, temos a formulação de que: Todo Deus
é bom, e é causa de bens, e este bem possui três distinções: 1) entre os visíveis e a
cada um deles, 2) entre os sensíveis e inteligíveis, 3) entre os inteligíveis e a causa
deles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TORRANO,J.Mito e verdade em Hesíodo e Platão.
Letras Clássicas, [S,l],n.2,p.11-26.1998.

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