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ROTEIRO APRESENTAÇÃO SEMINÁRIOS

Movimentos Sociais
Desde a década de 1970, por meio da atuação da Igreja Católica introduzindo a Pastoral dos
Pescadores, inicia-se o movimento de politização e a luta pelas territorialidades de pesca no
país;

O sistema no qual as Colônias dos Pescadores representa atua sob os desígnios do interesse
estatal, portanto, federalizadas e confederadas, possuem demandas aquém daquelas vividas
por pescadores artesanais, principalmente àqueles em áreas de conflito;

Em outubro de 1985 é realizado pela Confederação Nacional dos Pescadores, em Brasília, o


Seminário da Pesca Artesanal, reunindo 400 pescadores. A luta permeava o cenário político, ou
seja, entender o pescador enquanto uma categoria política buscando emancipação econômica,
política e social. Ademais, também buscavam reorganizar a estrutura política das Colônias,
buscando protagonismo dos pescadores nas sucessivas gestões;

“Apresenta-se o evento com a finalidade de aproximar o pescador dos setores representativos


do povo brasileiro de forma a proporcionar um amplo debate que permita consolidar as bases
da Constituinte da Pesca, que deverá se traduzir em marco definitivo na história do pescador
brasileiro." (pg. 104);

A partir do encontro, ficou estabelecido a constituição de delegados estaduais e a realização


de diversas assembleias afim de construírem políticas públicas de acordo com as
especificidades regionais e geográficas dos territórios pesqueiros;

SILVA (1993), observa que o processo passou por alguns percalços, em alguns Estados não
houve eleição dos delegados e os deslocamentos para as reuniões do movimento dificultavam
a participação dos pescadores, que ainda contavam com opositores no próprio seio da
categoria, como os presidentes das Federações de Pescadores de São Paulo e Pará, por
exemplo, que boicotavam as propostas mais avançadas politicamente.

A constituição estabeleceu em seu artigo 8. Artigo 8º “a livre associação, não interferência do


poder público, autonomia, unicidade sindical, entre outros, marcando legalmente o fim da
tutela sobre as Colônias de Pescadores.” (pg.106).

Tendo em vista a continuidade da luta buscando sua ampliação e enraizamento na esfera


nacional, decide-se criar o Movimento Nacional dos Pescadores após o ato constituinte de 88.

A luta pela representatividade da categoria nos espaços de decisão antecedia a esfera dos
encontros, sendo em Santarém-PA, em 1982, o ato pioneiro de exclusão das Colônias aqueles
que não possuírem relação direta com a pesca. No Maranhão, em 1986, decidem pela
sucessão da gestão das colônias orientadas a ocupação de funcionários públicos, passando a
ser ocupada por pescadores. É também do Maranhão o ato que emergiu o seguro-defeso
diante de desastres ambientais dos quais o Estado deveria indenizar pescadores que não
pudessem pescar.

A mesma luta foi travada a partir da inserção de mulheres presidindo Colônias, diante do
machismo enraizado pela sociedade, obstinando marisqueiras de Pernambuco a ocuparem
esse lugar de protagonismo feminino que também é uma luta política.
Logo diferentes interesses políticos dentro das colônias e sindicatos, inclusive barrando lutas
coletivas, fizeram nascer associações de base comunitária, estas por sua ordem dificultaram o
entendimento jurídico da mobilização, principalmente no que tange as questões de
financiamento, parcerias, entre outras.

Precisava-se sistematizar as demandas tendo em vista o desenvolvimento social e econômico


de pescadores artesanais, para isso, entre 1985 e 1991 ecoou o interesse pela criação de um
Ministério ou Secretária Especial destinada a promover e receber as demandas dos
pescadores, haja vista a relevante atuação da pesca artesanal aos mercados locais.

“As conclusões do V Encontro Nacional dos Pescadores, organizado em Olinda, em 1991, pelo
MONAPE, apontam para uma reivindicação semelhante: " Seja criada uma Secretaria de Pesca,
independente de Ministérios, que se estenda aos Estados e Municípios. Essa Secretaria deve
desenvolver uma política de pesca nacional com a participação de segmentos da sociedade
que representam a pesca artesanal, juntamente com o Conselho deliberativo para
acompanhar a secretaria." (MONAPE, 1991). (pg. 114)”

Em 1998 foi criado o Departamento de Pesca e Aquicultura subordinado ao Ministério da


Agricultura, contudo, pouco se avançou na construção de políticas publicas consistentes para o
setor, fato esse desencadeado pela transição da SUDEPE para o IBAMA no final dos anos 80,
onde a solidez das perspectiva ambiental sobressaiu a outras discussões da economia
pesqueira, tais como fomento, crédito, comercialização (pg. 115).

O fator positivo foi a descentralização do DPA entre estados e municípios, possibilitando


maiores saltos na obtenção de demandas comunitárias, encontros, fóruns de discussões.

“A presença do fomento à pesca em nível municipal tem se mostrado bastante eficaz para o
atendimento de parte das demandas dos pescadores, através da viabilização de estruturas de
comercialização e conservação de pescado, desenvolvimento de políticas municipais de
maricultura, implantação de infra-estruturas e mesmo criação de sistemas municipais de
informação. É evidente que o apoio à pesca, em especial à pesca artesanal deriva da
consciência dos administradores da importância do setor no quadro do município (pg. 116)”.

Economia Pesqueira
“A cadeia de intermediação do pescado talvez seja uma das mais longas presentes no setor
primário. Aliando-se ao fato da perecibilidade do peixe enquanto mercadoria, estes fatores
resultam numa brutal transferência de renda do pescador para os setores de distribuição e
comercialização do pescado (pg. 118).”

Inconstância nas capturas, fato comum na pesca extrativa, pois ora é muita fartura, ora não é.
Isso de certo modo os impedem de firmarem contratos de fornecimento de pescado.

Nesse sentido, segundo o autor, as cooperativas ou associações surgem no tangenciamento


das escalas de produção e a relação direta entre a categoria de pescadores nesse processo,
visto que apesar da iniciativa no âmbito das ideias se apresentar como alternativa frente a
falta de assistência do setor, compromete-a a relação individualista (homo economicus) com
que pescadores pensam e se organizam enquanto unidade, além disso, a questão da estrutura
organizacional deliberando e acentuando as estruturas de poder, seja no trabalho ou na
manutenção da infraestrutura se assemelha a exploração vivenciada em empresas
distanciadas dos preceitos cooperativos (pg. 118).
As colônias de pescadores também atuam dentro desse circuito produto, especialmente com a
infraestrutura ofertada durante as atividades, sejam elas primárias que permeiam as capturas,
ou no armazenamento e comercialização, impedindo com que pescadores sejam reféns de
atravessadores. No entanto, algumas experiencias de organização dentro da instituição podem
servir de base a outras gestões pelo país, à exemplo de Itapissuma – PE, Carutareba-MA,
Cananéia – SP e Ilhéus-BA.

Do ponto de vista da aquisição de equipamentos, muitos pescadores encontram dificuldades


de ordem burocrática ou ausência total de assistência. Segundo pesquisas, estima-se que no
setor, as linhas de crédito sejam ofertadas através das instituições: Banco do Nordeste no
Brasil – BNB, Fundo Constitucional de Financiamento do Norte – FNO e do Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF.

“Acredito que estes exemplos ilustram a complexidade da situação dos financiamentos para a
pesca. Valores de parcelas incompatíveis com a produção, apetrechos inadequados e
burocratização dos agentes financeiros limitam e impedem o acesso ao crédito por parte dos
pescadores. Estes, em ação muitas vezes bastante prudente, não se envolvem com o banco,
afinal, são lógicas distintas que estão em jogo: a lógica do setor primário extrativista e a lógica
do setor financeiro. Não é difícil deduzir quem subordina quem (pg. 123).”

Acordos de Pesca
Em razão do crescimento das discussões de cunho ambiental, articulado a questão da
sobreexploração da ictiofauna e a necessidade de se construir políticas articuladas a órgãos de
fiscalização para o monitoramento, assim como sistematizar um quadro no qual possibilitasse
a resolução de denuncias e crimes ambientais.

Na região norte, um dos primeiros encontros a discutir a questão pesqueira inserida no


discurso de políticas ambientais ocorreu em Óbidos-PA, em 1984, onde as conclusões
apontaram para a “preservação das nascentes, capinzais e matas ciliares, proibição de pesca
com artespredatórias, proibição da captura de peixes jovens, filhotes e ovados e a não
permissão da pesca de embarcações geleiras comerciais nos lagos de arrimo das
comunidades(FURTADO, 1993).” (pg. 125).

Durante os anos 90, dois momentos tornaram orgânicos os movimentos pela demarcação de
lagos e proibição de práticas e equipamentos de pesca. O primeiro deles ocorreu em função da
ECO-92, sendo elaborado o Tratado Sobre a Pesca difundido a importância da pesca artesanal
na reprodução da vida de pescadores, camponeses do campo, das várzeas amazônicas, das
áreas litorâneas, marinhas, de águas interiores. Em seguida, em torno dos encontros realizados
pelo Movimento Nacional dos Pescadores – MONAPE, em Juazeiro-BA, foram discutidas
denuncias sobre a degradação dos ecossistemas litorâneos a partir da ação de industrias,
especulação imobiliária, desmatamentos, queimadas despejos de vinhoto e mercúrio, aterro
de manguezais e lagoas, assoreamentode rios e derramamento de petróleo.

O primeiro acordo surgiu em Alagoas, decorrente da parceria institucional do IBAMA dispondo


de portaria estadual e da atuação das Colônias dos Pescadores, congregando demandas
consensuais sobre artes proibidas e autorizadas no estado. Depois o estado do Paraná, mais
especificamente na cidade de Paranaguá também adotou a iniciativa. Pernambuco na
sequencia. Maranhão, Rio Grande do Sul, Ceará, Amapá, Santa Catarina e São Paulo.
“Estes exemplos certamente não são os únicos, nem talvez os mais relevantes, porém revelam
que pescadores e suas comunidades atuam junto às questões ligadas ao ambiente e a
preservação dos recursos. Certamente sua visão diferencia-se daquelas trazidas por outros
setores sociais, uma vez que o ambiente está imbricado de forma direta nas relações do
pescador com seu objeto de trabalho. Seria aquela natureza pouco mediada pelo trabalho
humano.

Não cabe entretanto criar uma imagem ideal do pescador ecologicamente correto. É um
produtor em busca de sua reprodução social que por vezes desrespeita os ciclos de
reprodução do pescado. No entanto, a percepção de que a queda da produtividade na pesca
afeta diretamente seu modo de vida e que a degradação dos ambientes afeta-o diretamente
têm levado à elaboração de propostas e à busca de alianças para a solução de seus
problemas.” (pg. 127).

Pressupõe antecipadamente superar a visão romantizada dos sujeitos que vivem nas áreas de
várzea através do pensamento idílico com que materializam sua existência, seja na atividade
produtiva ligada a pesca, a agricultura ou pequena pecuária, pois a partir disso entende-se o
isolamento social como algo inato a essas populações, fato refutado em virtude dos incautos
que não cessam as lutas pelo acesso aos serviços mais básicos (pg. 129).

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