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Movimentos Sociais
Desde a década de 1970, por meio da atuação da Igreja Católica introduzindo a Pastoral dos
Pescadores, inicia-se o movimento de politização e a luta pelas territorialidades de pesca no
país;
O sistema no qual as Colônias dos Pescadores representa atua sob os desígnios do interesse
estatal, portanto, federalizadas e confederadas, possuem demandas aquém daquelas vividas
por pescadores artesanais, principalmente àqueles em áreas de conflito;
SILVA (1993), observa que o processo passou por alguns percalços, em alguns Estados não
houve eleição dos delegados e os deslocamentos para as reuniões do movimento dificultavam
a participação dos pescadores, que ainda contavam com opositores no próprio seio da
categoria, como os presidentes das Federações de Pescadores de São Paulo e Pará, por
exemplo, que boicotavam as propostas mais avançadas politicamente.
A luta pela representatividade da categoria nos espaços de decisão antecedia a esfera dos
encontros, sendo em Santarém-PA, em 1982, o ato pioneiro de exclusão das Colônias aqueles
que não possuírem relação direta com a pesca. No Maranhão, em 1986, decidem pela
sucessão da gestão das colônias orientadas a ocupação de funcionários públicos, passando a
ser ocupada por pescadores. É também do Maranhão o ato que emergiu o seguro-defeso
diante de desastres ambientais dos quais o Estado deveria indenizar pescadores que não
pudessem pescar.
A mesma luta foi travada a partir da inserção de mulheres presidindo Colônias, diante do
machismo enraizado pela sociedade, obstinando marisqueiras de Pernambuco a ocuparem
esse lugar de protagonismo feminino que também é uma luta política.
Logo diferentes interesses políticos dentro das colônias e sindicatos, inclusive barrando lutas
coletivas, fizeram nascer associações de base comunitária, estas por sua ordem dificultaram o
entendimento jurídico da mobilização, principalmente no que tange as questões de
financiamento, parcerias, entre outras.
“As conclusões do V Encontro Nacional dos Pescadores, organizado em Olinda, em 1991, pelo
MONAPE, apontam para uma reivindicação semelhante: " Seja criada uma Secretaria de Pesca,
independente de Ministérios, que se estenda aos Estados e Municípios. Essa Secretaria deve
desenvolver uma política de pesca nacional com a participação de segmentos da sociedade
que representam a pesca artesanal, juntamente com o Conselho deliberativo para
acompanhar a secretaria." (MONAPE, 1991). (pg. 114)”
“A presença do fomento à pesca em nível municipal tem se mostrado bastante eficaz para o
atendimento de parte das demandas dos pescadores, através da viabilização de estruturas de
comercialização e conservação de pescado, desenvolvimento de políticas municipais de
maricultura, implantação de infra-estruturas e mesmo criação de sistemas municipais de
informação. É evidente que o apoio à pesca, em especial à pesca artesanal deriva da
consciência dos administradores da importância do setor no quadro do município (pg. 116)”.
Economia Pesqueira
“A cadeia de intermediação do pescado talvez seja uma das mais longas presentes no setor
primário. Aliando-se ao fato da perecibilidade do peixe enquanto mercadoria, estes fatores
resultam numa brutal transferência de renda do pescador para os setores de distribuição e
comercialização do pescado (pg. 118).”
Inconstância nas capturas, fato comum na pesca extrativa, pois ora é muita fartura, ora não é.
Isso de certo modo os impedem de firmarem contratos de fornecimento de pescado.
“Acredito que estes exemplos ilustram a complexidade da situação dos financiamentos para a
pesca. Valores de parcelas incompatíveis com a produção, apetrechos inadequados e
burocratização dos agentes financeiros limitam e impedem o acesso ao crédito por parte dos
pescadores. Estes, em ação muitas vezes bastante prudente, não se envolvem com o banco,
afinal, são lógicas distintas que estão em jogo: a lógica do setor primário extrativista e a lógica
do setor financeiro. Não é difícil deduzir quem subordina quem (pg. 123).”
Acordos de Pesca
Em razão do crescimento das discussões de cunho ambiental, articulado a questão da
sobreexploração da ictiofauna e a necessidade de se construir políticas articuladas a órgãos de
fiscalização para o monitoramento, assim como sistematizar um quadro no qual possibilitasse
a resolução de denuncias e crimes ambientais.
Durante os anos 90, dois momentos tornaram orgânicos os movimentos pela demarcação de
lagos e proibição de práticas e equipamentos de pesca. O primeiro deles ocorreu em função da
ECO-92, sendo elaborado o Tratado Sobre a Pesca difundido a importância da pesca artesanal
na reprodução da vida de pescadores, camponeses do campo, das várzeas amazônicas, das
áreas litorâneas, marinhas, de águas interiores. Em seguida, em torno dos encontros realizados
pelo Movimento Nacional dos Pescadores – MONAPE, em Juazeiro-BA, foram discutidas
denuncias sobre a degradação dos ecossistemas litorâneos a partir da ação de industrias,
especulação imobiliária, desmatamentos, queimadas despejos de vinhoto e mercúrio, aterro
de manguezais e lagoas, assoreamentode rios e derramamento de petróleo.
Não cabe entretanto criar uma imagem ideal do pescador ecologicamente correto. É um
produtor em busca de sua reprodução social que por vezes desrespeita os ciclos de
reprodução do pescado. No entanto, a percepção de que a queda da produtividade na pesca
afeta diretamente seu modo de vida e que a degradação dos ambientes afeta-o diretamente
têm levado à elaboração de propostas e à busca de alianças para a solução de seus
problemas.” (pg. 127).
Pressupõe antecipadamente superar a visão romantizada dos sujeitos que vivem nas áreas de
várzea através do pensamento idílico com que materializam sua existência, seja na atividade
produtiva ligada a pesca, a agricultura ou pequena pecuária, pois a partir disso entende-se o
isolamento social como algo inato a essas populações, fato refutado em virtude dos incautos
que não cessam as lutas pelo acesso aos serviços mais básicos (pg. 129).