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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

CAMPUS AVANÇADO PREFEITO WALTER DE SÁ LEITÃO


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

PROJETO DE PESQUISA

A LEGALIDADE DA VAQUEJADA COLOCADA EM XEQUE: RELEVÂNCIA


CULTURAL, SOCIAL E ECONÔMICA DA PRÁTICA NA REGIÃO SERIDÓ
ENTRE 1870 E 2022

JALISON BARBOSA DE ARAÚJO


Orientadora:

ASSU/RN
2018
PROJETO DE PESQUISA

Projeto de pesquisa,
apresentado como exigência
para conclusão da disciplina sob
supervisão do Caio Lucas
Moraes.

ASSÚ/RN
2018

Sumário
DELIMITAÇÃO TEMÁTICA 4
JUSTIFICATIVAS 6
OBJETIVOS GERAL/ESPECÍFICOS 7
FONTES E METODOLOGIA 7
REVISÃO BIBLIOGRAFICA 8
QUADRO TEÓRICO 11
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RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo investigar a relevância cultural, social e econômica da vaquejada na
região do Seridó desde o seu surgimento. Buscamos analisar como a vaquejada consegue se manter
tão forte mesmo diante de um cenário onde a prática cultural é colocada em xeque. Trazendo os
discursos de agentes que diretamente estão ligados a esta causa, que além de cultural também se
torna uma atividade econômica importante para a região, se tornado fonte de renda para muitas
famílias. Destacando também as narrativas contrárias à prática, tendo como base a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n° 4.983 que visa fazer-se inconstitucional a lei n° 15.299/2013 do Estado do
Ceará.

INTRODUÇÃO

Delimitação do objeto ou Problematização

Discussão bibliográfica

Justificativa

O processo de transformação da vaquejada nordestina na cidade de São


Rafael/RN a partir da década 1980, período em que a cidade é obrigada (lei ou
decreto na qual faz referência construção da barragem) a se deslocar para
outra localidade devido à construção da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves.
Em 2017, ano no qual a prática esteve em discussão sobre a sua legitimidade
como tradição nordestina é o objeto de estudo proposto por esse projeto de
pesquisa.

Uma tradição nordestina que ao longo dos anos vem por meio dos
discursos das associações tentando torná-la uma prática esportiva, onde no
nordeste tem uma popularidade maior que o futebol segundo Arthur Freire,
Presidente da Federação de vaquejada da Paraíba em entrevista ao Jornal da
Paraíba.
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A vaquejada dá seus primeiros passos na época dos coronéis, tendo em


vista que o gado era criado solto nas matas, de tempos em tempos era
necessário juntar as rezes para contagem devido ao nascimento de bezerros, e
também para tratar de doenças, vez por outra um boi desgarrava do rebanho
então era necessário que o vaqueiro conseguisse pega-lo, puxando pelo rabo e
derrubando.

Para isso, reuniam-se vaqueiros da região com o desafio de juntar o


gado meio a mata fechada, um dos primeiros passos da vaquejada foi a pega
de boi no mato, onde o vaqueiro trajando seu gibão de couro se embrenha na
mata perigosa mais com a certeza de cumprir seu dever.

Os primeiros registros de vaquejada nos modelos atuais foram por volta


de 1870, se no século XIX a prática era apenas uma diversão nos pátios das
fazendas podemos perceber uma grande mudança ao longo desse tempo,
pois, hoje a vaquejada passou de apenas diversão e começa a ser percebida
como um patrimônio cultural segundo a lei 13.364/16 sancionada pela
Presidência da República.

Busca-se trabalhar essa prática a partir dos anos 80 até o ano de 2017
na cidade de São Rafael/RN, pelo fato da vaquejada nesta cidade potiguar ter
um grande número de adeptos, portanto, analisar como eles perceberam esse
processo de transformação da vaquejada ao longo dos anos, onde a vaquejada
deixa de ser apenas uma diversão de fins de semana e passa a ser um
importante meio de geração de renda para milhares de famílias no Nordeste.

É de suma importância analisar através dos discursos como os agentes


em torno da vaquejada em São Rafael/RN percebem esse momento onde a
vaquejada esteve em foco no congresso nacional, as discussões sobre a
constitucionalidade da prática que movimentou todo o mundo da vaquejada,
busca-se analisar esses fatos através de entrevistas com vaqueiros e outros
participantes da vaquejada na cidade.

A vaquejada atualmente conta com um regulamento da Associação


Brasileira de Vaquejada (ABVAQ) que será analisado e com o intuito de
perceber até onde o regulamento é seguido nas vaquejadas locais e se ele é
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de foto é seguido pelos vaqueiros rafaelenses, tendo em vista a pouca


fiscalização nas corridas da cidade. Regulamento esse que proíbe quaisquer
maus tratos propositais aos animais durante a vaquejada sob pena de
eliminação.

Art. 38 – Os promotores dos eventos, suas equipes de


apoio e organização, assim como os competidores, tem
obrigação de preservar os animais envolvidos no esporte,
sendo que qualquer maltrato proposital aos bois e cavalos
acarretará a responsabilização daquele diretamente envolvido
na ocorrência. (regulamento ABVAQ)

Regulamento esse que mostra o quão é necessário o bem está animal,


pois, o animal é uma das principais estrelas da vaquejada tão importante
quanto o vaqueiro. Busca-se nesse trabalho perceber e analisar através das
falas dos vaqueiros e de outros participantes da vaquejada como essas
relações se dão no meio da vaquejada.

JUSTIFICATIVAS

No meio a académico pouco se aborda essa tradição nordestina embora


seja uma prática onde se pode perceber uma relevância cultural bastante forte,
pois, a figura do vaqueiro nesse meio é tida como um homem forte do sertão.
Analisar essa identidade cultural será uma grande contribuição para a
academia.

No campo social o intuito é fazer com que a comunidade possa perceber


a importância dessa tradição para a manutenção da identidade de uma cultura
de raízes originalmente nordestinas, contudo, é importante analisar porque
muitos ainda percebem a vaquejada como maus tratos aos animais, no entanto
temos o objetivo de investigar a importância econômica dessa prática para a
cidade.
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O intuito de realizar essa pesquisa é perceber como se da o processo de


transformação que a vaquejada vem sofrendo, diante disso, analisar como
esse processo ocorre na cidade de São Rafael/RN, em termos econômicos e
sociais partindo dos discursos dos próprios praticantes da vaquejada.

Meu pai foi vaqueiro, durante cinco anos estive diretamente ligado ao
mundo da vaquejada percebendo ali como era a vaquejada no dia-a-dia, logo,
percebi que seria um bom objeto de estudo,, então meu desafio quanto
pesquisador será analisar essa prática pelo fato de ser um apoiador da
vaquejada e ter muitos amigos que praticam o esporte.

Esta pesquisa tem a finalidade de elaborar um estudo sobre a vaquejada


em uma nova perspectiva, trazendo a realidade da prática em uma cidade
pequena do interior do Rio Grande do Norte, assim preenchendo uma lacuna
nos estudos históricos que até então não representam os pequenos centros e
como essas práticas nordestinas se dão nas pequenas cidades.

A pesquisa será realizada através de fonte oral com vaqueiros da cidade


de São Rafael/RN, e através de fotografias elaboradas pelo pesquisador com
intuito de perceber a partir dessas fotos o processo de transformação tendo em
vista que o próprio parque de vaquejada vem mudando suas estruturas. A
possibilidade também de analisar o regulamento da Associação Brasileira de
Vaquejada (ABVAQ) nele está todas as regras da vaquejada.

OBJETIVOS GERAL/ESPECÍFICOS

Compreender como as transformações da vaquejada se deram na


cidade de São Rafael/RN, através dos discursos dos vaqueiros da cidade,
analisar como eles percebem essas mudanças, contextualizando a partir de
estudos realizados anteriormente, e diante de todo esse processo de
transformação perceber quão essa prática hoje é importante para a
economia da região. Diante desse cenário trazer à tona 2017, ano em que a
vaquejada passa por um importante momento na sua história, desde a tentativa
de proibição da pratica até a legitimação da vaquejada como patrimônio cultural
e imaterial do Brasil.
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Segue alguns objetivos específicos:

● Analisar a origem da vaquejada;


● Investigar como os vaqueiros da cidade percebem esse processo de
transformação nas corridas em São Rafael/RN
● Refletir a PEC da vaquejada: como os agentes percebem esse processo
que torna a vaquejada patrimônio cultural imaterial do Brasil
● Problematizar o quanto essa mudança se preocupa com o bem-estar
animal a partir do regulamento (ABVAQ)

FONTES E METODOLOGIA

Esta pesquisa tem o intuito de analisar como o vaqueiro rafaelense


percebe as transformações em torno da vaquejada ao longo dos anos,
portanto, trata-se de uma pesquisa de cunho cultural e social, pois, será objeto
de estudo a figura do vaqueiro e as vaquejadas, levando em consideração o
quão importante é essa pratica cultural para a sociedade, busca-se além de
perceber as transformações analisar o quanto a vaquejada interfere na vida
cotidiana do sujeito. Para que isso seja possível iremos trabalhar com a história
oral que é uma importante ferramenta de pesquisa que aqui será a base, pois,
a partir dos discursos será construída essa pesquisa, em torno dessas
transformações, e de como a vaquejada passa de apenas uma diversão e se
torna um negocio de onde muitas famílias tiram seu sustento.

O método da história oral hoje é bastante importante e trará sem dúvida


muitos resultados a essa pesquisa, pois, como discorre Verena Alberti “a
história oral é hoje um caminho interessante para se conhecer e registrar
múltiplas possibilidades que se manifestam e dão sentido a formas de vida e
escolhas de diferentes grupos sociais, em todas as camadas da sociedade.”

As possibilidades que a fonte oral trará a esse trabalho serão diversas


pelo fato de fazer essa relação com o passado, trabalhando com a memória
desses agentes da vaquejada. Verena Alberti descreve sobre a função da
história oral quando diz que “a história oral está em permitir o estudo das
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formas como pessoas ou grupos efetuaram e elaboram experiências, incluindo


situações de aprendizado e decisões estratégicas”.

A partir desses discursos outras possibilidades fontes poderão e devera


surgir, como fotografias, é muito comum que os vaqueiros tenham em seu
arquivo pessoal, se possível será também trabalhado com essa ferramenta que
possibilitara uma maior compreensão dessas transformações principalmente na
estrutura das vaquejadas.

REVISÃO BIBLIOGRAFICA

Partindo de obras que analisa as vaquejadas e também do vaqueiro,


busca-se aqui analisá-las e comentar a respeito de cada uma delas, assim,
dando embasamento teórico a esta presente pesquisa.

Audrey Freitas Tapety discute em seu trabalho as representações do


vaqueiro piauiense e busca “compreender como foi gestada a identidade
cultural deste sujeito social”. Tapety discorre bastante partindo de um viés de
análise sobre a identidade desse sujeito embora ele consiga fazer essa
discussão em torno do vaqueiro, chega um momento em sua pesquisa que ele
apresenta dois tipos de vaqueiros o primeiro é o vaqueiro de fazenda e o
segundo é o vaqueiro de corrida.

Hoje é muito comum encontrar nas vaquejadas pessoas que tratam essa
prática como hobby, não é surpresa, médicos, advogados, prefeitos “correndo
boi”, hoje é normal, o que não existia logo quando a vaquejada surge no
Nordeste como discorre Eloisa Maria de Faria na década de 90 “o ritmo desse
evento ocorrido atualmente nas cidades difere completamente das
características que modelaram a festa no passado, onde os protagonistas eram
o homem do campo”.

Faria vai além quando fala que a vaquejada tenha sido descaracterizada
pelo fato de ter deixado de ser uma prática exclusiva do homem do campo e
p8assando a ser urbanizada e cheia de normas, como vemos nesse trecho do
seu trabalho:
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Este desvio não só afastou ou distanciou o vaqueiro em


participações quantitativas nas vaquejadas, como também
proporcionou a descaracterização dessa festa transformando
em um ato urbano com conotações meramente festivas
(FARIA, Eloise Maria. 1993)

Podemos perceber um primeiro aspecto de transformação na vaquejada


que é em torno de seus participantes antes apenas o homem do campo, o
vaqueiro da fazenda, atualmente outros personagens estão inseridos na
vaquejada, porém, diferente de Faria percebo essa prática ainda muito ligada
ao sertanejo ao homem do campo.

É de grande importância perceber através dos discursos como o


vaqueiros percebem essa entrada de outros personagens na vaquejada, se
isso modificou de alguma forma o sentido da prática, e se esses agentes veem
essa descaracterização proposta pela Eloisa Maria Faria.

Francisco Janio Filgueira Aries trás o vaqueiro em outra perspectiva que


se aproxima mais das questões de gênero aonde ele vem discutir sobre a
masculinidade desse sujeito nas vaquejadas. A discussão em torno da figura
do vaqueiro é de certa forma uma tentativa de compreender a identidade desse
sujeito social como discute Tapety em sua dissertação. Para que possamos
discutir sobre a identidade do vaqueiro o como ele é representado temos que
analisar esse sujeito partindo também para uma discussão entorno da
masculinidade que a figura o vaqueiro representa nessa pratica da vaquejada
como apesenta Aries:

Um enfoque da vaquejada envolvendo as relações de gênero e


dos vaqueiros se torna preciso quando inclui observações
amplas do contexto da diversidade sociocultural desse evento.
(ARIES, Francisco Janio Filgueira.)

Aries concentra seu trabalho nas questões que revelam os significados


associados aos vaqueiros nas vaquejadas do Rio Grande do Norte.

Ambas as linhas de investigação são necessárias para que possamos


compreender o que o vaqueiro representa para o nordeste, no entanto, a
busca-se nessa pesquisa analisar como esse sujeito entende o processo de
transformação que a vaquejada vem sofrendo ano após ano, tendo em vista
que a prática passa por uma série de mudanças e chegou a ser discutido sobre
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sua legalidade ou não no ano de 2017, temos o intuito de perceber como o


vaqueiro rafaelense percebe esse momento e quanto à vaquejada se faz
importante para sua vida, pelo fato de ser uma das mais antigas tradições
nordestinas.

Todas essas discussões trarão contribuições para esse trabalho, no


entanto, discutir como os personagens percebem as transformações na
vaquejada preenche uma lacuna nos estudos históricos a respeito do tema,
onde muito se discute a identidade do vaqueiro e da pouca ênfase para como
esse agente percebe o seu papel nas mudanças ocorridas na vaquejada.

Euclides da Cunha em Os Sertões discorre sobre as características do


vaqueiro do final do século XIX, onde tem na imagem do vaqueiro aquele
homem sem ter passado pela infância ou pelo menos não usufruído dela, tendo
sempre a realidade da seca presente em sua vida, assim se fazendo um
homem forte, um sertanejo acostumado as dificuldades impostas pela vida:

Atravessou a mocidade numa intercadência de catástrofes.


Fez-se homem, quase sem ter sido criança (...) Compreendeu-
se envolvido em combate sem tréguas, exigindo-lhe
imperiosamente a convergência de todas as energias (...) Fez-
se forte, esperto, resignado e prático. (CUNHA, 1998, P.52)

Cunha também apresenta uma discussão em torno das vaquejadas


daquele período, que em linhas gerais discorre como se organizaria as
corridas, sendo ainda sem a estrutura do parque de vaquejada que existe hoje,
as corridas eram livres na caatinga, convidados vaqueiros das fazendas
vizinhas, no reunir do gado também da vizinhança, assim ia se organizando a
pratica que ainda tinha um sentido apenas de diversão, “escolhido um lugar
mais ou menos central, as mais das vezes uma várzea complanada e limpa,
(...) Congrega-se a vaqueirama das vizinhanças, distribuem-se as funções que
cada um caberão na lide.” (CUNHA, 1998. P. 55-56)

Podemos perceber alguns aspectos das vaquejadas de hoje, portanto, a


permanência de algumas características como o reunir do gado das fazendas
circunvizinhas hoje ainda é bastante comum, como também o convite a esses
vaqueiros da região. A grande mudança de um período para o outro, podemos
analisar que esta na estrutura da vaquejada, onde em sua origem eram
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corridas abertas nas caatingas como podemos perceber nesse trecho


discorrido por Cunha:

o touro largado ou o garrote vadio e geral refoge a revista.


Afunda na caatinga Segue-o o vaqueiro . Cose-lhe no rastro.
Vai com ele às últimas bibocas. Não o larga; até que surja o
enseo para um ato decisivo: alcançar repentinamente o
fugitivo , de arranco; cair logo para o lado da sela, suspenso
num estribo e fortíssimo, de banda, derrubá-lo pesadamente
em terra (CUNHA, 1998. P 56)

Fica claro nesse trecho como se davam as corridas de boi, apesar de


todas as transformações sofridas pela vaquejada, ainda preserva alguns
aspectos como as forma na derrubada onde o vaqueiro se equilibra no estribo
inclinando-se para o lado e puxando a res com o intuito de derruba-la

QUADRO TEÓRICO

Nesta presente pesquisa serão trabalhados alguns conceitos que


possibilitarão o desenvolvimento do trabalho, memória, cultura popular,
tradição são alguns conceitos bases para que possamos compreender e
analisar o sentido desta pesquisa.

Ramon Barroncas que escreve A memória, o esquecimento e o


compromisso do historiador, percebe a memória como um serie de vestígios e
partir desses rastros o historiador pode transformá-la em fonte como podemos
perceber nesse trecho a seguir:

Esses registros que permanecem em maior ou menos número


representam para o historiador uma ferramenta importante para
seu oficio. São esses indícios que o historiador transforma em
fontes para seus estudos: uma base que auxilia no
conhecimento. (BARRONCAS, P. 125)

Trabalhar com a memória é uma grande desafio, pois, o oficio do


historiador é problematizar a fonte e quando se trata da fonte oral o desafio é
ainda maior, pois, não se deve tomar como verdade os discursos que serão
apresentados, deve ser feito a crítica antes de tornar aquele discurso como
uma fonte para qualquer pesquisa que se deseja realizar.
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A memória se apresenta em duas perspectivas, a memória individual e


coletiva, a primeira apresenta as vivências de um único individuo, a coletiva
são as que representam a memória de um grupo e são esses campos que
permitem um laço com a identidade seja individual ou coletiva.

Ao trabalhar com a memória temos que ter consciência que o


esquecimento fará parte e estará presente em qualquer trabalho que se busque
trabalhar com a história oral. Paul Ricoeur analisa o esquecimento da seguinte
forma “O esquecimento é ligado ao processo de “re”memorização, essa busca
para reencontrar a as memórias perdidas, que, embora tornadas indisponíveis,
não estão realmente desaparecidas.” Ricoeur afirma que essa indisponibilidade
de memória diz respeito a conflitos inconscientes.

Outro conceito que é importante ser analisado e discutido nesta


pesquisa é o de cultura tendo em vista que a vaquejada torna-se para o povo
nordestino uma pratica carregada de valores culturais, onde a figura do
vaqueiro torna-se defensor dos valores culturais dessa tradição nordestina.

José Lisboa Moreira de Oliveira discorre sobre o conceito de cultura, e


através de sua análise podemos perceber que a cultura não é algo natural e
sim de cunho social que esta sempre em mudança, não é algo genético isso
fica evidente no discurso de Oliveira quando diz que:

A cultura não é uma herança genética, mas o resultado da


inserção do ser humano em determinados contextos sociais. É
a adaptação da pessoa aos diferentes ambientes pelos quais
passa e vive. Através da cultura o ser humano é capaz de
vencer obstáculos, superar situações complicadas e modificar
o seu habitat, embora tal modificação nem sempre seja a mais
favorável para a humanidade, como podemos perceber
atualmente. Desse modo a cultura pode ser definida como algo
adquirido, aprendido e também acumulativo, resultante da
experiência de várias gerações. (OLIVEIRA, Jose Lisboa
Moreira de)

Portanto, fica claro que para Oliveira a cultura segue um processo de


mudanças constante, e que não nasce com o sujeito ela pode ser adquirida ou
aprendida pela convivência com determinados grupos.
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Leonardo Barci Castriota vem esclarecer esse processo de mudança


através de uma perspectiva antropológica, onde discorre sobre os sistemas
culturais e suas transformações.

A Antropologia reforça essa perspectiva ao apontar para o fato


de que todos os sistemas culturais, mesmo aqueles
tradicionais, estão em contínuo processo de modificação. Não
haveria, assim, uma cultura estática, e o próprio processo de
transmissão incorporaria possibilidades de mudanças, através
das quais as culturas se mantêm flexíveis e podem absorver as
inevitáveis variações trazidas pelo tempo. (CASTRIOTA, 2014)

Fica claro que cultura não é algo estático, mas sim algo que esta em
constante mudança e que os sujeitos possam adquiri-la ao longo das vivencias,
e também um processo de acumulo que possibilita a sua inserção a
determinado grupo social.

Roque de Barros Laraia fala que humano não é somente o produto da


cultura, mas, também seria produtor de cultura, por esse fato esse processo de
mudança da cultura pode ocorrer em uma velocidade elevada.

Edward Shils da uma definição do que seria tradição quando diz que
“qualquer coisa que é transmitida ou passada do passado para o presente (...)
tendo sido criada através de ações humanas (...) pensamento e da imaginação,
ela é passada de uma geração para a próxima" (SHILS, 1981, p. 12).

O conceito de tradição se faz necessário a essa pesquisa tendo em vista


que a vaquejada é tida como uma prática que atravessa gerações nesse
contexto é tida como uma das mais importantes tradições nordestinas, Laraia
analisa que:

a ligação que a tradição estabelece entre o passado e o


presente é mais complexa do que poderia parecer à primeira
vista: se as tradita são permanências do passado, elas existem
no presente, onde desempenham normalmente a função de
emprestar sua chancela de autoridade a atos do presente.
(LARAIA, 2014)

Esta ligação com o passado é muito forte na vaquejada tendo em vista


que é uma pratica que é muitas das vezes passadas de pai para filho, com
isso, atravessando gerações.

FONTES:
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Regulamento da Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ)

REFERÊNCIAS:

AIRES, Francisco Janio Filgueira. O “espetáculo do cabra macho”: o estudo


sobre o vaqueiro nas vaquejadas no Rio Grande do Norte. Natal-RN, 2008.

CASTRIOTA, Leonardo Barci. A QUESTÃO DA TRADIÇÃO: Algumas


considerações preliminares para se investigar o saber-fazer tradicional. Belo
Horizonte/MG, 2010.

CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: três, 1984.

FARIA, Eloisa Maria de. ESTUDO DA VAQUEJADA INSERIDA NO


CONTEXTO DO SERTANEJO RURAL: o vaqueiro. Natal, 1993.

LARAIA, Roque de Barros. CUTURA: um conceito antropológico. 14.ed. Rio de


Janeiro-RJ, 200.

PINSKY, Carla. FONTES HISTORICAS. 2.ed. São Paulo, contexto, 2008.

TAPETY, Audrey Freitas. “O VAQUERO NO PIAUÍ”: representações e práticas


socioculturais (1960 a 2000). Teresina-PI, 2007.

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