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Protetização de Amputados
Protetização de Amputados
PEDRO MASIERO
ROBERTO ARAÚJO ENÉAS
■■ INTRODUÇÃO
A protetização de amputados de membros inferiores (MMII) é um tema muito complexo, visto
que possui muitas variáveis – desde os níveis de amputação, os tipos de cirurgia, a prótese
aplicada, a reabilitação e a situação psicossocial do paciente e dos familiares em questão. Este
artigo descreve a abordagem sobre os aspectos relacionados às amputações e suas respectivas
próteses, a reabilitação e os principais aspectos técnicos a serem observados na prática
profissional associada à protetização.
A reabilitação é um fator de fundamental importância, visto que, se não houver uma execução
adequada, o paciente não conseguirá voltar às suas atividades de vida diária de forma compatível
com sua atual situação. A situação psicológica talvez seja a principal condição para que uma
pessoa com amputação retorne às suas atividades sociolaborativas com plenitude. Um indivíduo
motivado, embora com condições físicas desfavoráveis, é um candidato a ser reabilitado com
melhores resultados do que um paciente desmotivado e com boas condições físicas.
Este artigo aborda diversas questões relacionadas ao complexo universo das amputações e
próteses, e descreve o quanto esse tema é interessante sob o ponto de vista técnico-científico.
Embora a literatura seja escassa, tentou-se, por meio de uma revisão de artigos e da prática
profissional dos autores, descrever os principais pontos relativos a essa temática.
■■ ESQUEMA CONCEITUAL
Definições
Interfalangianas e
metatarsofalangianas
Amputação de Lisfranc
Amputação de Chopart
Amputação de Pirogoff
Níveis de amputação e
Amputação de Syme
protetização correspondente
Amputação transtibial
Desarticulação do joelho
Amputação transfemoral
Desarticulação do quadril,
desarticulação sacroilíaca e
hemicorporectomia
Caso clínico
Conclusão
Sabe-se que existem definições bem mais complexas e completas a respeito desses termos.
No caso das amputações congênitas, que são ausências ou malformações ocorridas no período
embrionário, não podem ser definidas como corte completo ou não.
■■ endopróteses;
■■ endoesqueléticas;
■■ exoesqueléticas.
A B
O termo endoesquelético sugere uma prótese do tipo modular ou tubular, ou seja, montada módulo
a módulo, geralmente com sistema de conexões que permitem ajustes de altura e alinhamento,
por exemplo. Já as próteses exoesqueléticas são confeccionadas em blocos de madeira ou
poliuretano, com reduzidas possibilidades de ajustes após finalizado o processo de fabricação –
por esse motivo, são cada vez menos fabricadas.
Mais tarde, a introdução da anestesia, por Wells e Morton, e da assepsia, por Lister, completou
o progresso de aperfeiçoamento das amputações.6 Após as duas guerras mundiais, que
praticamente produziram um exército de amputados, muito se desenvolveu sobre amputações e
próteses. Hoje, a amputação é vista como um tratamento que, muitas vezes, gera o alívio da dor
e que se constitui no único modo de se voltar a andar.
■■ problemas vasculares;
■■ traumas;
■■ tumores;
■■ amputações congênitas.
Diversos autores citam estatísticas sobre as causas de amputações, porém isso não pode ser
levado em conta para uma população geral, visto que a maioria dos estudos é baseada em
amostragens pequenas ou em locais (hospitais, centros de reabilitação) onde existe uma pré-
disposição a determinada causa – por exemplo, em um hospital especializado em traumatologia,
a grande maioria das amputações será por trauma.
LEMBRAR
Os problemas vasculares eram o grande responsável pelos altos índices nos
números de amputados.
Hoje, com o avanço nos processos de revascularização, os cuidados com o pé diabético, entre
outros fatores, somado ao grande número de acidentes de trânsito, principalmente por motos, os
problemas vasculares dividem esse cenário com os traumas de trânsito. Não que não exista ainda
um grande número de amputados de etiologia vascular, mas os amputados por traumatismos são
cada vez mais comuns, principalmente indivíduos jovens do sexo masculino.
As amputações decorrentes de membros não sadios, como no caso das gangrenas infecciosas,
dos tumores e em algumas insuficiências vasculares, a sensação, muitas vezes, é de alívio da dor
e do desconforto, levando o paciente a uma situação mais satisfatória.
Na prática profissional, não é incomum encontrar pacientes com amputações sempre otimistas e
alegres sobre o processo de reabilitação, alguns assistidos por psicólogos, outros felizes em razão
de uma segunda chance após um trágico acidente, em que é presente a sensação hegemônica
de sobrevivência. Em todos os casos, sempre é bom a equipe se posicionar com sensatez e
profissionalismo frente às inúmeras possibilidades comportamentais que acompanham um
paciente com amputação.
REABILITAÇÃO
Um programa de reabilitação de amputados inclui desde a cirurgia – ou até mesmo antes, em
alguns casos – até a possível protetização. Seria impossível, na opinião dos autores deste artigo,
ter um programa padrão ou um protocolo único, visto que os pacientes amputados apresentam-se
de diferentes formas clínicas, e inúmeras possibilidades terapêuticas que podem ajudá-los nas
diferentes fases.
Citam-se como algumas das inúmeras variáveis que influenciam a elaboração de um processo de
reabilitação:
■■ idade;
■■ gênero;
■■ doenças associadas;
■■ membro oposto à amputação;
■■ qualidade do coto;
■■ possibilidade de ser utilizada uma prótese adequada (fator econômico ou assistencial);
■■ fatores culturais e sociais do paciente;
■■ estado psicológico do amputado e de sua família.
■■ pré-amputação;
■■ pós-amputação.
■■ pré-protetização;
■■ protetização;
■■ pós-protetização.
Pós-protetização
A fase pré-amputação só estará presente como fase de reabilitação nos casos de cirurgias eletivas.
A amputação de MI apresenta diferentes formas de alterações músculoesqueléticas, variando,
entre outras questões, de acordo com a:
■■ topografia da lesão;
■■ técnica cirúrgica empregada;
■■ causa da amputação;
■■ idade do paciente.
Deve-se acompanhar o paciente desde o atendimento imediato até após a cirurgia, com a
finalidade de evitar contraturas deformantes em consequência de posicionamentos inadequados
no leito e de amenizar os processos de aderências na região da cicatriz e adjacências, visto que
se trata de uma grande cirurgia. Nesse momento, a equipe multidisciplinar inicia o trabalho de
preparação do coto para possível protetização, se for o caso.
Há evidências de que a estimulação transcutânea possa beneficiar cerca de 60% dos doentes
com dor fantasma e no coto de amputação.8 Em alguns casos, o pós-operatório é doloroso e de
difícil intervenção. Passada a fase de cicatrização, inicia-se a protetização, seja ela com uma pré-
prótese ou uma prótese de pilão (atualmente, menos usada).
deve ser prorrogada, ou simplesmente não indicada. Para ser possível a reabilitação com prótese,
o paciente necessita ter critérios mínimos de indicação, tais como:
ATIVIDADE
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Resposta no final do artigo
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Resposta no final do artigo
I – Os problemas neurológicos estão entre algumas das causas mais comuns das
amputações.
II – Atualmente, os amputados por traumatismos são cada vez mais comuns,
principalmente indivíduos jovens do sexo masculino.
III – Para todos os casos de amputação, há um protocolo único a ser seguido.
A) Apenas a I.
B) Apenas a II.
C) Apenas a III.
D) Apenas a I e a II.
Resposta no final do artigo
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a II, a III e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Resposta no final do artigo
A) Médico.
B) Médico e fisioterapeuta.
C) Fisioterapeuta, psicólogo e ortesista/protesista.
D) Médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional,
nutricionista e ortesista/protesista.
Resposta no final do artigo
A seguir, serão vistos os seguintes aspectos relevantes da reabilitação dos amputados – coto de
amputação, dor fantasma, treinamento de marcha e prótese.
COTO DE AMPUTAÇÃO
O membro residual, mais conhecido como coto de amputação, refere-se à parte do membro em
que é realizado o encaixe da prótese, ou seja, é o local onde as forças emitidas pelo paciente se
transformam em movimentos pendulares e por onde também o corpo do paciente recebe as forças
de reação do solo provenientes do caminhar. Esses “novos membros” infelizmente nem sempre
são ideais, alguns por seletividade no atendimento de emergência (priorizou-se salvar a vida e
não o membro), outros por serem considerados de importância secundária pela equipe médica.
A B
LEMBRAR
Aproximadamente 80% das amputações de MMII são realizadas em pacientes
com doença vascular periférica e/ou diabetes. Portanto, o cirurgião vascular deve
conhecer os principais fatores cirúrgicos que influenciam a protetização desses
indivíduos.9
Para muitos autores e profissionais, o encaixe protético é a área mais importante da prótese, ou
seja, não adianta o paciente adquirir o componente mais sofisticado do mercado se o coto não
permite tal utilização, ou se o encaixe foi construído de forma inadequada.
Hoje, pode-se contar com a tecnologia de encaixes para amenizar alguns problemas recorrentes
nos cotos de amputações. As interfaces que podem ser aplicadas entre o coto e o encaixe estão
cada vez mais aperfeiçoadas em relação a uma forma mais anatômica possível e também quanto
aos materiais utilizados. Atualmente, os termoplásticos, os liners e, principalmente, os sistemas de
suspensões têm se mostrado grandes aliados em proporcionar conforto e segurança a pacientes
amputados.
DOR FANTASMA
A primeira descrição para o termo membro fantasma partiu de Silas Weir Mitchell em 1872.10
A famosa sensação fantasma que muitos pacientes referem após perder um membro está
associada à manutenção do córtex somatossensorial, que tem a função de projetar o esquema
corporal dos membros. As sensações podem vir de diferentes formas, como choques, coceira,
aperto, queimação, etc.
frequência, à qual se chama dor fantasma (Figura 7). Essa dor geralmente diminui nos seis
primeiros meses após a amputação, embora muitos ainda possam experimentar alguns episódios
de dor fantasma anos depois.
Existem algumas teorias para explicar a dor fantasma, e uma delas fundamenta a dor em
decorrência da irritação da terminação nervosa seccionada, ou seja, o neuroma. Alguns autores
não aceitam essa ideia, pois inúmeras cirurgias para retirada do neuroma não representam êxito.
Alguns pacientes podem experimentar o efeito telescopagem, ou seja, uma imagem projetada
no mapa cortical relacionada à sensação de um membro mais curto, o que pode ser justificado
pelo aumento de conexões neuronais após a lesão. Alguns autores atribuem a esse fenômeno a
causa da dor fantasma.
Atualmente, a dor fantasma pode ser tratada com medicação (antidepressivos tricíclicos),
fisioterapia (eletroanalgesia) ou neurectomias proximais.
Os autores deste artigo já protetizaram indivíduos com 25 anos de idade sem comorbidades que
só foram autorizados a realizar a marcha sem apoio após 100 dias, e indivíduos com 70 anos de
idade, com histórico de hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes melito (DM) associados
que ficaram independentes das muletas após 30 dias de reabilitação pós-protetização.
LEMBRAR
Não se consegue estabelecer um protocolo que atenda a grande variedade de
apresentações clínicas em amputados.
Na fase de protetização, é indicada uma progressão em relação aos apoios utilizados: barras
paralelas, muletas bilateralmente, apoio unilateral na paralela com membro superior contralateral
à amputação, muleta unilateralmente do lado oposto à amputação, bengalas e sem apoio.
Os alongamentos como ferramentas de reabilitação (Figuras 9 e 10), muitas vezes são esquecidos
embora sejam muito eficazes para a melhora da postura nesses pacientes.
Figura 9 – Alongamento.
Fonte: Cedida por Ortomol.
Em alguns casos, a prótese pode se tornar contraindicada, seja por uma questão
de incompatibilidade com o quadro clínico do paciente (hipertensão descontrolada,
cardiopatia grave ou nefropatia avançada, por exemplo), ou mesmo pelo fato de a
prótese não fazer parte dos planos de tratamento desse paciente. Alguns cotos de
amputações não permitem a utilização de uma prótese, e, por vezes, o paciente prefere
se adaptar com muletas ou cadeira de rodas a enfrentar o processo de protetização.
ATIVIDADE
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I, a II e a III.
C) Apenas II e a III.
D) A I, a II, a III e a IV.
Resposta no final do artigo
11. Descreva uma sequência de reabilitação voltada para a marcha funcional em pessoas
com amputação unilateral de MI durante o processo de protetização.
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Resposta no final do artigo
INTERFALANGIANAS E METATARSOFALANGIANAS
As amputações de pododáctilos podem acontecer de forma parcial (na articulação interfalangiana)
ou total (desarticulação metatarsofalangiana). As interfalangianas apresentam menor deformidade
e pouco prejuízo funcional ao equilíbrio e à marcha. As amputações metatarso-falangianas, devido
à ausência do(s) dedo(s), apresentam uma sobrecarga do(s) metatarso(s) no solo, principalmente
na fase final do apoio (o impulso). Quando essas amputações ocorrem no hálux, o prejuízo
funcional e a deformação do 2º pododáctilo são mais consideráveis.
A B
AMPUTAÇÃO DE LISFRANC
Em 1815, o médico francês Dr. Jaques Lisfranc iniciou um tipo de amputação na articulação
tarsometatarsiana, a qual foi denominada amputação de Lisfranc (Figura 16).
LEMBRAR
Do ponto de vista funcional, o osso cuneiforme medial e a base do primeiro metatarso
são vitais para o equilíbrio do mediopé. Esses dois ossos recebem a inserção dos
músculos tibial anterior, tibial posterior e fibular longo. Portanto, a manutenção
dessas inserções ou a reinserção desses tendões (após a retirada da base do hálux)
tende a estabilizar o coto nesse nível.
dessa técnica na sua descrição original; entre elas, as mais importantes alterações são:13
A falta de cobertura tecidual da extremidade distal dos cuneiformes poderá causar áreas de
atrito na fase final de apoio, fazendo com que o paciente compense essa falta em sua marcha,
diminuindo o passo oposto à amputação. A descarga do peso pode ser transferida em parte para
o arco longitudinal medial residual, na tentativa de aliviar o coto distalmente.
A B
AMPUTAÇÃO DE CHOPART
A amputação de Chopart (Figura 18) faz referência ao médico francês Dr. Frances Chopart, por ter
proposto o nível de desarticulação transtarsal, em 1792.
O equilíbrio e a base de sustentação ficam reduzidos quando o corpo é deslocado para frente,
pois existe um deslocamento posterior e lateral do centro de gravidade lateral para o membro não
amputado e para trás, devido à perda do apoio anterior (antepé), como ilustra a Figura 20, a seguir.
A protetização do amputado no nível Chopart pode ser realizada de várias formas, dependendo
do posicionamento do coto. Na região distal, recomenda-se um material macio, podendo ser de
Plastazote®, poliforme, Poron® ou um encaixe distal com meia pré-fabricada de silicone no formato
de Chopart ou similar. Pode também ser utilizada uma prótese em silicone com acabamento
estético semelhante ao membro não amputado (Figura 21).
As duas formas mais comuns de se protetizar uma amputação de Chopart seriam associadas a um
tipo de órtese de pé e tornozelo (ankle foot orthosis), a qual estaria acoplada à perna do paciente.
A confecção pode ser realizada pela região anterior ou posterior da perna, e o material utilizado
pode ser em resina e fibra de carbono ou polipropileno.
Essa fixação do calcâneo na face tibial da articulação tibiotalar tem o objetivo de otimizar a
descarga do peso distalmente e minimizar a discrepância nos MMII, quando comparada
à discrepância ocasionada na amputação transmaleolar (Syme), que figura entre 4 e 7cm. A
presença do calcâneo na região distal permite uma deambulação sem auxílio de prótese, embora
exista um prejuízo funcional relacionado com a alavanca de flexão plantar, assim como com a
redução da base anterior de apoio do membro.
Uma vantagem desse nível de amputação é a cobertura do coto por um tecido de melhor qualidade,
contribuindo, assim, para um bom coxim distal. A protetização nesse nível é possível, desde que
exista um componente low profile, ou seja, uma peça de “perfil baixo” que possibilite a colocação
da prótese sem aumentar o tamanho total do membro amputado.
A amputação transmaleolar, também conhecida de Syme (Figura 23), é assim chamada em função
de seu criador, James Syme, que a propôs em 1843.15
É realizada uma desarticulação ao nível da articulação tibiotalar com transecção óssea dos
maléolos, objetivando uma melhor conformação do coto na região distal (Figura 24). Alguns
autores recomendam a descarga do peso distalmente; entretanto, na prática clínica dos autores
deste artigo, são raros os pacientes que conseguem suportar a descarga distal, então normalmente
opta-se pela transferência de pressão para uma região suprajacente, sendo sugerido o tendão
patelar e a distribuição uniforme de carga pelo coto.
O coto, por sua vez, por se tratar de um tipo longo, e geralmente atrofiado na região do tríceps
sural, dificulta o encaixe dentro da prótese em razão do volume distal. A região distal, sendo um
pouco mais larga do que qualquer parte da região proximal, demanda a utilização de uma janela
posterior (Figuras 26A e B) para a passagem do coto até o encaixe total, ou a utilização de um
cartucho de poliforme de anatomia cônica (Figuras 27A e B), ou um liner sob medida, assim
permitindo a colocação do coto na prótese sem que o mesmo sofra pressão ao calçá-la.
A B
A B
A utilização de liners permite uma conformação mais uniforme do coto, além de proporcionar
conforto e proteção, já que, na maioria dos casos, esses cotos possuem pouco revestimento de
tecidos moles, em decorrência da atrofia.
AMPUTAÇÃO TRANSTIBIAL
A amputação transtibial (Figura 28) é toda remoção cirúrgica realizada entre a desarticulação do
tornozelo e a DJ. Cracteriza-se pela transecção da tíbia e da fíbula.
Figura 28 – Amputação
transtibial.
Fonte: Cedida por Ottobock.
A B
Figura 29 – Corte transversal de um coto transtibial (A) e seu respectivo encaixe protético (B).
Fonte: Cedida por Ottobock.
A amputação transtibial pode ser dividida em três níveis, amputação transtibial em terço proximal,
medial e distal – devendo ser considerada a importância funcional da articulação do joelho
na reabilitação e na facilidade para colocação e remoção da prótese e na deambulação mais
fisiológica dos pacientes amputados (Figura 30).17
estão:
Esses tipos de encaixe diferenciam-se pela área do coto que envolvem e por zonas de pressões e
alívios específicos a cada formato. Para a prótese estar fixa ao coto durante a fase de balanço da
marcha, o encaixe deve apresentar o que se chama de suspensão.
Nos encaixes KBM, PTS e PTK, existem pressões supracondilianas realizadas pelo encaixe
protético que garantem essa fixação/suspensão. Já no formato PTB, faz-se necessária uma
correia supracondiliana ou um coxal, o qual, atualmente, tem sua fabricação praticamente extinta,
dada a evolução ocorrida nos sistemas de suspensão protética (Figuras 31A e B).
A B
Figura 31 – Esquema de encaixe PTB (A) e esquema de encaixe KBM (B).
Fonte: Cedida por Ottobock.
A criação dos liners, ou seja, meias de proteção aplicadas entre o encaixe e a pele para propiciar
maior conforto, permitiu o desenvolvimento de outras suspensões. O sistema Shuttle Lock
(Figura 32) consiste na aplicação de um pino na extremidade distal do liner que se acopla ao
encaixe por meio de uma trava.
O liner sem a conexão distal (o pino) pode ser utilizado com uma joelheira de vedação e uma
válvula de expulsão automática de ar no encaixe protético. Nesse caso, a suspensão é realizada
pela vedação do sistema de ar dentro do encaixe, sendo denominada válvula de expulsão.
Existe um sistema capaz de realizar uma sucção contínua do ar de dentro do encaixe, (bomba de
sucção contínua de ar) (Figura 33), responsável por minimizar as forças incidentes sobre o coto,
proporcionando maior fixação da prótese e conforto para o paciente.
A amputação de DJ (Figura 34) foi evitada durante muito tempo, sendo substituída pela amputação
transfemoral de Gritti-Stokes (transcondiliana). Na DJ, a cicatrização localiza-se geralmente na
região posteroinferior do coto. Em geral, a fixação do tendão patelar é feita nos ligamentos cruzados
do joelho, visando à estabilização da patela e melhor eficácia na atuação do quadríceps.
Figura 34 – DJ.
Fonte: Cedida por Ottobock.
A primeira amputação de DJ realizada nos Estados Unidos data de 1824.18 Existe uma grande
discussão na literatura sobre esse tipo de amputação. Alguns autores não recomendam a DJ, em
função da redução de possibilidades de componentes protéticos e também pela conformação do
coto, com uma extremidade volumosa (devido à manutenção da patela e dos côndilos femorais).
Outros autores divergem desse pensamento, recomendando a DJ por permitir um braço de
alavanca melhor e pela possibilidade de descarga distal no coto durante a fase de apoio da
marcha, o que propicia vantagens biomecânicas, quando comparada à descarga isquiática.
Em determinadas situações, existe uma convergência de pensamento sobre a DJ, como no caso
de pacientes em fase de crescimento (onde ocorre a manutenção da epífise de crescimento distal).
Para o nível do joelho, é indicada a descarga distal, pois a alavanca longa gera um
grande controle sobre a prótese.
AMPUTAÇÃO TRANSFEMORAL
A amputação transfemoral (Figura 36) refere-se a toda remoção cirúrgica realizada entre a DJ e a
desarticulação de quadril, incluindo a amputação transcondiliana, ou Gritti-Stokes.
Figura 36 – Amputação
transfemoral.
Fonte: Cedida por Ottobock.
■■ encaixe;
■■ joelho;
■■ complemento;
■■ pé.
Figura 37 – Esquema de
prótese transfemoral.
Fonte: Cedida por Ottobock.
A prescrição de uma prótese transfemoral pode ser iniciada pelo encaixe ou soquete, pois é nesse
componente que o paciente descarrega o peso do corpo e absorve as forças de reação ao solo.
É no encaixe protético que o paciente percebe o conforto ou desconforto ao usar a prótese, assim
como as sensações do joelho e do pé protético, o peso da prótese e a sua suspensão na fase de
balanço da marcha.
LEMBRAR
Os cotos usados com liners (meias de conforto) podem ser adaptados aos diferentes
formatos.
no qual o apoio isquiático é mantido em oposição ao controle de rotação do fêmur. Possui bordas
anteriores e posteriores mais baixas do que o convencional, permitindo, dessa forma, maior
conforto ao sentar em superfícies rígidas, já que parte do glúteo do paciente fica em contato
direto com o assento, diferentemente dos outros encaixes. O rebaixamento anterior permite um
maior conforto, assim como uma maior liberdade de movimentos de flexão do quadril.19 Esse
encaixe permite um menor gasto energético durante a marcha e uma estabilidade rotacional
do coto.
Os encaixes confeccionados para cotos revestidos por liners podem manter qualquer formato,
inclusive com os mesmos sistemas de suspensão aplicados em amputações transtibiais (Shuttle
Lock, sistema de válvula de expulsão e o de expulsão contínua de ar).
■■ mecânicos;
■■ pneumáticos;
■■ hidráulicos;
■■ eletrônicos;
■■ computadorizados.
Com essa quantidade de combinações, pode-se ter uma grande variedade de joelhos à disposição
de quem irá prescrevê-los, sendo de fundamental importância a associação do funcionamento do
joelho com os objetivos biomecânicos propostos. Ademais, o peso do joelho deve ser compatível
com a capacidade funcional do usuário.
A hemipelvectomia pode ser considerada como a perda somente da metade da pelve, podendo
ser mantido o restante do segmento a partir do fêmur. A hemipelvectomia geralmente acontece em
pacientes com tumores restritos ao ilíaco e, em alguns casos, os ortopedistas fazem tentativas de
reconstruções pélvicas.
Desarticulação
sacroilíaca
Desarticulação
do quadril
ATIVIDADE
A) Chopart.
B) Pirogoff.
C) Syme.
D) Lisfranc.
Resposta no final do artigo
A) Pé dinâmico.
B) Pé Sach.
C) Pé articulado.
D) Pé em fibra de carbono.
Resposta no final do artigo
14. São encaixes utilizados na protetização de uma pessoa com amputação transtibial:
15. Para qual tipo de paciente é indicado um joelho mecânico com sistema de trava
manual?
A paciente foi encaminhada ao hospital de referência em trauma (Instituto Dr. José Frota/
Fortaleza – IJF). O trauma na sua perna esquerda resultou em múltiplas fraturas do
MI esquerdo e lesão nervosa periférica. A equipe médica optou por amputação a nível
transfemoral (1/3 distal) após quatro dias de internação. Após a realização da cirurgia, a
paciente teve alta hospitalar no sétimo dia de internação e foi encaminhada à reabilitação.
ATIVIDADE
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Resposta no final do artigo
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Resposta no final do artigo
18. Quais formatos de encaixe podem ser utilizados na paciente em questão, levando-se
em consideração que a cirurgia eletiva foi realizada em boas condições técnicas (sem
espícula óssea e com bom tensionamento dos tecidos e bom braço de alavanca)?
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Resposta no final do artigo
Recomenda-se que o paciente que sofre uma amputação seja acompanhado por uma equipe
multidisciplinar composta por médicos, fisioterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais,
entre outros profissionais. O motivo de tantos profissionais estarem envolvidos se deve à alta
complexidade de todo o processo – desde o momento da amputação (em alguns casos, até antes)
até a alta do paciente.
Existem diversos tipos de componentes protéticos, assim como materiais e técnicas empregadas
para a confecção de próteses. Pôde-se notar que, após o período das grandes guerras, o número
de amputados aumentou drasticamente, motivando pesquisas e investimentos nessa área, o que
representou uma grande evolução de conhecimento.
Atualmente, o universo que recebe os pacientes com amputação é bem diferente de antigamente.
Antes, os amputados viviam escondidos, com próteses tentando aparentar um membro anatômico
– agora, muitos deles fazem questão de mostrar sua prótese, a beleza e a funcionalidade dos
componentes.
O conhecimento difundido através da mídia e das redes sociais acaba gerando desejos e expectativas
nos amputados, o que pode ser um aspecto positivo ou negativo, do ponto de vista motivacional
na reabilitação. Todo esse conjunto de informações técnicas, o desenvolvimento tecnológico e os
cuidados terapêuticos fazem com que o fisioterapeuta procure atualização contínua.
Atividade 3
Resposta: B
Comentário: Os problemas neurológicos não estão entre as causas mais comuns das amputa-
ções, as quais compreendem os problemas vasculares, os traumas, os tumores e as amputações
congênitas. Não há um programa padrão ou um protocolo único a ser seguido em casos de
amputação. Deve-se estudar caso a caso.
Atividade 4
Resposta: D
Atividade 5
Resposta: D
Comentário: No processo de pré-amputação e pós-amputação e, consequentemente, na reabi-
litação quando da protetização do paciente, todos os profissionais em questão têm a devida
importância.
Atividade 6
Resposta: D
Comentário: A equipe multidisciplinar deve estar presente em todas as fases da reabilitação,
compartilhando e debatendo informações para um melhor prognóstico do paciente amputado. Em
uma amputação traumática imediata, a fase de pré-amputação pode não aparecer como parte
da reabilitação. Dessa forma, o programa de reabilitação terá início após a amputação. Deve-se
acompanhar o paciente desde o atendimento imediato até após a cirurgia, com a finalidade de
evitar contraturas deformantes em consequência de posicionamentos inadequados no leito e de
amenizar os processos de aderências na região da cicatriz e adjacências.
Atividade 7
Resposta: B
Comentário: Na protetização de um paciente com amputação de MI, as comorbidades associadas
devem ser consideradas. O neuroma doloroso e o edema podem, em alguns casos, inviabilizar
o processo de adaptação da prótese. O aumento de temperatura do coto pode sugerir processo
inflamatório. Segundo diversos autores, quanto menor o coto de amputação, maior o gasto
energético do paciente. Portanto, a alternativa B (boa força, sensibilidade e conformação cônica
do coto) apresenta aspectos positivos a serem considerados durante a avaliação.
Resposta: D
Comentário: Nas amputações congênitas, a dor fantasma e o neuroma doloroso não se fazem
presentes. Contudo, faz-se necessário um acompanhamento radiológico e clínico dos MMII. As
fases de crescimento, a obliquidade pélvica e a dinâmica de marcha são fundamentais para essas
avaliações, que devem ocorrer com frequência, visto que o paciente está na fase de crescimento.
Atividade 9
Resposta: D
Atividade 10
Resposta: C
Comentário: A sensação fantasma que muitos pacientes referem após perder um membro está
associada à manutenção do córtex somatossensorial, que tem a função de projetar o esquema
corporal dos membros. As sensações podem vir de diferentes formas, como choques, coceira,
aperto, queimação, etc. Entre 90 a 98% das pessoas que perdem um membro experimentam a
sensação de dor fantasma imediata à amputação.
Atividade 11
Resposta: Na fase de protetização, é indicada uma progressão em relação aos apoios utilizados:
barras paralelas, muletas bilateralmente, apoio unilateral na barra paralela com membro superior
contralateral à amputação, muleta unilateralmente do lado oposto à amputação, bengalas,
deambulação sem apoio, aplicação de obstáculos (escada e rampa).
Atividade 12
Resposta: A
Comentário: Todas as alternativas fazem referência às amputações parciais do pé, embora apenas
o nível de Chopart se encaixe na descrição citada.
Atividade 13
Resposta: C
Comentário: O pé articulado promove uma força de reação ao solo incompatível com a marcha
do amputado transtibial, pois ocorre um aumento do gasto energético, uma sobrecarga do tendão
patelar, tendenciando, assim, um genu recurvatum e a atrofia do quadríceps.
Atividade 14
Resposta: A
Comentário: Os encaixes KBM, PTB, PTS são confeccionados para amputados transtibiais,
enquanto os encaixes de contensão e o quadrilátero, para os amputados transfemorais.
Atividade 15
Resposta: D
Comentário: Pacientes ativos e com capacidade de controlar a estabilidade da prótese na fase
de apoio, não são recomendados joelhos com trava, independente do nível de amputação ser
transfemoral ou desarticulação de quadril. O sistema de trava de joelho não pode ser utilizado em
pacientes transtibiais.
Atividade 16
Resposta: O paciente se encontra na fase de pré-protetização.
Atividade 18
Resposta: O encaixe a ser utilizado deve ser o soquete quadrilátero, ou o soquete CAT-CAM,
também conhecido como soquete de contensão isquiática (ovo longitudinal).
■■ REFERÊNCIAS
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