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Distúrbios

do Sono no
Idoso
S E R V I Ç O D E G E R I AT R I A – H S L / P U C R S
P R M G E R I AT R I A - D A N I L O D E S O U Z A P I N T O
Introdução
• Condição prevalente em 40% dos brasileiros, ainda mais prevalente nos idosos.

• Associada a déficit cognitivo, alterações de humor, aumento do risco HAS, aumento da resistência
insulínica, redução da imunidade, aumento do risco de câncer (mama) e alteração no limiar da dor.

• Risco aumentado de quedas, institucionalização, baixa qualidade de vida e aumento de mortalidade.


Fisiologia do Sono
• Resposta fisiológica regulada homeostaticamente, produzida e controlada pelo núcleo supraquiasmático
hipotalâmico.
Fisiologia do Sono
 O sono é dividido em dois estágios, NREM e REM.

 NREM dividido em três fases (N1, N2, N3) de aprofundamento do sono.

o Majoritariamente durante o sono N3 (ondas lentas / profundo) que atua o sistema glinfático, considerado
uma via perivascular de células da glia responsável pela limpeza de metabólitos do sistema nervoso central.

 No sono REM ocorre os sonhos (bloqueio do estímulo muscular), processo de aprendizado, sono
reparador.

 Nos idosos o sono dura de 5 a 7 horas/noite, sendo o sono mais fragmentado e com maior tendência a
cochilos diurnos. Já no adulto jovem varia de 6,5 a 8,5 horas/noite.
Fisiologia do Sono – Fases
Fisiologia do Sono e a Idade
Fisiologia do Sono e a Idade
Ferramentas Diagnósticas
• Diário do Sono-Vigília;

• Insomnia Severity Index e o


Pittsburgh Sleep Quality Index;

• Actigrafia – comparado com a PSG


tem concordância maior que 90% no
estadiamento de sono-vigília;

• Polissonografia.
INSÔNIA
• Cerca de 30 a 40% dos idosos se queixam de dificuldade para iniciar ou manter o sono ou relatam sono não
reparador, com consequências diurnas (dificuldade de concentração, alterações de humor, fadiga, entre
outras).

• Dificuldade para manter o sono é mais comum do que a dificuldade para iniciá-lo.

• Transtornos neurológicos, dor crônica, distúrbios endócrinos, DPOC, asma, DRGE e ICC podem causar ou
agravar a insônia.

• Várias classes de medicamentos e substâncias podem estar associadas à insônia


Insônia e Medicamentos
Anticolinesterásicos Insônia e pesadelos
Betabloqueadores Pesadelos em alguns casos
Antiparkinsonianos Insônia e pesadelos
Corticosteroides Efeito estimulante, agitação psicomotora
Diuréticos e BCC’s Noctúria
Antidepressivos Insônia inicial ou terminal
Benzodiazepínicos Alteração da cognição, SDE e fragmentação do sono
Opioides Insônia
Diagnóstico
 DSM-5: ocorre pelo menos 3 noites/semana durante pelo menos 3 meses, apesar da oportunidade
adequada de dormir, com prejuízo funcional e sofrimento clinicamente perceptível.

 CID-11: pelo menos 1 mês de sintomas não explicados por outro distúrbio do sono, uso de substâncias
ilícitas e/ou distúrbios médicos e psiquiátricos coexistentes.
Tratamento Não Farmacológico -
1ª Linha de Tratamento
1. Dormir o suficiente
11. Estar atento ao conforto do local onde se está dormindo (tipo de
2. Ter regularidade nos horários de deitar e levantar, inclusive nos finais de semana
colchão, travesseiro, lençol macio)
3. Não forçar o sono
12. Manter o celular desligado ou no silencioso durante a noite
4. Evitar uso de estimulantes como cafeína, nicotina ou álcool no período da tarde
e da noite 13. Desencorajar o uso de nicotina e, na impossibilidade de retirá-la,
tentar reduzi-la e evitar uso à noite
5. Não dormir com fome
14. Usar roupas confortáveis para dormir
6. Deixar o ambiente aconchegante (luz, temperatura e ruído)
15. Evitar luminosidade próximo à cama durante a noite
7. Não levar problemas e preocupações para a cama
16. Evitar cochilos prolongados, acima de 45 min, sobretudo após as 15 h
8. Manter rotina de exercícios físicos, no máximo até 3 h antes de deitar para
dormir 17. Evitar assistir à TV na cama, antes de dormir, e evitar ingerir
alimentos próximo ao horário de dormir
9. Massagem, música suave, banho morno, aquecimento dos pés

10. Dar prioridade para ingestão de alimentos leves e/ou ricos em triptofano 18. Evitar ficar muito tempo na frente do computador próximo ao horário
(ingestão de leite morno com maçã) e bebidas mornas. de dormir
Tratamento Não Farmacológico
• TCC: utilizada quando a higiene do sono não é eficaz. Seis a dez sessões com um terapeuta treinado, focado em
crenças cognitivas e comportamentos contraproducentes que interferem no sono.

• Terapia de controle de estímulos: ir para a cama apenas quando se sente cansado. Sair da cama se não conseguir
dormir em 15 a 20 minutos e manter um horário fixo de despertar.

• Terapia de restrição do sono: envolve restringir o tempo na cama ao número de horas de sono real, até que a
eficiência do sono melhore.

Após uma semana se não dormiu bem, reduzir 20min deste tempo, assim, sucessivamente até alcançar 85% de
eficiência do sono. Após, aumentar de 20-20min...

• TCC Breve

• Técnicas de relaxamento
Tratamento Farmacológico –
Antidepressivos / Antipsicóticos
• Doxepina (3 a 6mg): único antidepressivo aprovado pela FDA para tratar insônia, efeito seletivo H1, para
insônia de manutenção. Amitriptilina (12.5 a 50mg).

• Mirtazapina (7,5 a 15 mg): efeito antatogonista 5-HT2 e 3, H1 e alfa-2. Não é recomendada para insônia
na ausência de depressão. Meia-vida 20/40h.

• Trazodona (25 a 50 mg): para insônia inicial ou insônia de manutenção. Efeitos terapêuticos significativos
em pacientes com doença de Alzheimer e insônia (aumento sono N3).

Eventos adversos, especialmente ligados ao sistema alfa-adrenérgico (tonturas, arritmias cardíacas,


hipotensão arterial e priapismo), aumento da libido.

• Quetiapina (25 a 50 mg): pouca evidência que suporte o uso e pacientes não psiquiátricos.
Tratamento Farmacológico –
BZD’s e Drogas Z
• O uso prolongado pode causar resistência, dependência, insônia rebote, sedação residual, piora da
coordenação motora, comprometimento cognitivo e aumento do risco de quedas.

• O Zolpidem pode estar associado a reações adversas graves: alucinação, agitação, pesadelo e amnésia
anterógrada.

• A ocorrência de eventos adversos é superior aos benefícios da melhora da qualidade de sono.

• O menos pior: Eszopiclona (1-3mg) ajudando a induzir e manter o sono. Não há síndrome de abstinência e
a insônia rebote foi ocasionalmente descrita.
Tratamento Farmacológico –
Melatonina e Orexina
• Ramelteona (8 mg): agonista do receptor melatoninérgico MT1 e MT2, aprovado pela FDA, para insônia
inicial. Não está associada a dependência, distúrbios de memória, equilíbrio e instabilidade postural.

• Melatonina (3-10mg): facilitador do início do sono. Aprovada na Europa para o tratamento a curto prazo
da insônia em pacientes com mais de 55 anos de idade.

• Antagonistas de receptores de hipocretina (Suvorexanto 10mg): pra insônia inicial e de manutenção.


Risco de sonolência residual. Foi testado em paciente com DA.
Tratamento Farmacológico –
Anticonvulsivantes e Outros
• Pregabalina e Gabapentina: Úteis na insônia comorbida com dor crônica, síndrome das pernas inquietas
(SPI), transtorno dos movimentos periódicos dos membros (MPM) inferiores, ansiedade, fibromialgia.
Deve-se ter atenção para efeitos residuais.

• Anti-Histamínicos

• Valeriana: significância estatística limitada e resultados conflitantes. Não receitar.

• Passiflora: estudos ruins. Não receitar.


SÍNDROME DAS
PERNAS INQUIETAS (SPI)
• Mais frequente na população +65 (pico incidência entre 85-90 anos).

• As mulheres são mais afetadas e em 85% dos casos ocorre associada a MPM-I.

• Fatores associados: história familiar (50%); deficiência de ferro; neuropatia periférica e insuficiência renal,
uso de anti-histamínicos e antidepressivos.

• Diagnóstico:

(1) urgência em movimentar os membros, associada a parestesias e disestesias; (2) sintomas que se iniciam
ou pioram com o repouso; (3) melhora parcial dos sintomas com o movimento; (4) piora dos sintomas no
final da tarde ou à noite; (5) os sintomas não podem ser bem explicados por uma outra condição médica.
Tratamento
• Exercícios de relaxamento, atividade física regular e a TCC.

• 1ª Linha: Gabapentina (300-900mg); Pregabalina (50-75mg).

• 2ª Linha: Pramipexol 0,125 a 0,5 mg/dia; Levodopa (50-200mg) 1h antes de dormir (risco de piora dos
sintomas com os dopaminérgicos).

• Reposição de ferro quando indicada.


MOVIMENTOS PERIÓDICOS
DOS MEMBROS (MPM)
• Episódios repetitivos de movimentos estereotipados, involuntários e recorrentes dos MMII (pododáctilos,
joelhos, quadril), duram de 0,5 a 10 segundos e ocorrem na primeira metade da noite.

• MPM ocorrem em 85% dos pacientes com SPI.

• O diagnóstico definitivo é realizado pela PSG, com registro da atividade do músculo tibial anterior.

• Tratamento igual da SPI.

• Opioides em casos refratários (oxicodona, metadona).


TRANSTORNO COMPORTAMENTAL
DO SONO REM (TCSREM)
• Perda da atonia muscular normal durante o sono REM, com aumento do tônus mentoniano e da atividade
motora muscular dos MMII. Na maioria das vezes os sintomas são leves.

• Ocorrência acima dos 60 anos, mais comum em homens (9:1).

• O paciente pode também se levantar e caminhar em torno de si mesmo ou da cama; lançar as pernas e os
braços para fora dela; chutar; socar; iniciar uma atividade complexa como comer.

• Em 15 a 47% dos casos pode preceder em anos o diagnóstico de Parkinson.

• Relacionado também com outras neurodegenerações: Lewy, Alzheimer e AMS.


Diagnóstico e Tratamento
• História clínica, corroborado pela PSG (tônus muscular excessivo no queixo e movimentos de perna
durante o sono REM).

• 1ª Escolha: Melatonina (3-18mg)

• 2ª Escolha: Clonazepam (0.25-1mg). Não usar em demências e na SAHOS.

• Outras opções: Rivastigmina ou Donepezila; Pamipexol; Clozapina; Quetiapina; Carbamazepina.

• Tricíclicos, ISRS e Mirtazapina, podem piorar ou precipitar o quadro de TCSREM.


SÍNDROME DA APNEIA/HIPOPNEIA
OBSTRUTIVA DO SONO (SAHOS)
• Episódios recorrentes de obstrução parcial ou total da via respiratória superior durante o sono.

• Resultando em dessaturação da oxi-hemoglobina e despertares noturnos frequentes, com consequente


sonolência excessiva durante o dia.

• É fator de risco independente para: HAS; AVC; Sd Coronariana; Arritmias.

• Fatores de risco: sexo masculino; IMC elevado; circunferência pescoço >40cm; alterações craniofaciais.
Diagnóstico e Tratamento
• História clínica + Polissonografia.

• O tratamento de primeira linha é a administração de pressão positiva nas vias respiratórias.

• CPAP / BPAP (necessidade altas pressões e na apneia central) / APAP (apneia do SREM e posicional)
Tratamento
•  A pressão do CPAP é obtida idealmente por meio
da titulação por PSG de noite inteira.

•  Indicações: SAHOS moderada e grave;


sonolência diurna excessiva associada à SHAOS;
HAS refratária; cardiopatias.

•  Aparelhos intraorais, projetam a mandíbula


para frente ou evitam a queda da língua. Usados
na SAHOS leve e moderada.
Tratamento
• Não Farmacológicas: evitar decúbito dorsal; perder peso; evitar álcool e tabaco; evitar sedativos.

• Medicamentos que aumentam o tônus das VAS: ISRS; Anticolinesterásicos; Mirtazapina; Trazodona.

 OBSERVAÇÕES:

• SAHOS de causa central ocorre na ausência de obstrução de fluxo respiratório. Pode ocorrer após AVC.

• Cheyne-Stokes pode ocorrer em até 40% dos pacientes com ICFE <45%.

• Nestes casos é mais indicado o BPAP.


BIBLIOGRAFIA
• Tratado de Geriatria e Gerontologia - Elizabete Viana de Freitas, Ligia Py. - 5. ed. - Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2022 - ISBN 978-85-277-3877-4.

• Insônia: Do Diagnóstico ao Tratamento - Andrea Bacelar, Luciano Ribeiro Pinto Jr. – São Caetano do
Sul, SP: Difusão Editora; São Paulo: Associação Brasileira do Livro, 2019. - ISBN 978-85-7808-495-0.

• Sleep disorders in the elderly: a growing challenge - Kamalesh K. GULIA, Velayudhan Mohan KUMAR
- PSYCHOGERIATRICS 2018; 18: 155–165 - DOI :10.1111/psyg.12319.

• Sleep disorders in the elderly: Diagnosis and management - Keisuke Suzuki, Masayuki Miyamoto,
Koichi Hirata - J Gen Fam Med. 2017;18:61–71. - DOI: 10.1002/jgf2.27.

• Sleep Disturbance, Sleep Disorders and Co-Morbidities in the Care of the Older Person - Christine E.
Mc Carthy - Med. Sci. 2021, 9, 31. - DOI: 10.3390/medsci9020031.

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